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A IRRETROATIVIDADE DA LEI NO DIREITO BRASILEIRO Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho Consultor da União Procurador da Fazenda Nacional de Categoria Especial Professor de Direito Tributário da Universidade Católica de Brasília Diretor Executivo do Centro de Estudos Victor Nunes Leal O princípio da irretroatividade da lei, que está ligado à intangibilidade dos direitos adquiridos, é tradicional no nosso Direito, desde a Constituição do Império do Brasil de 1824, que, no seu art. 179, § 3º, rezava que disposição legal não terá efeito retroativo. A primeira Constituição da República brasileira, de 1891, no seu art. 11, inciso 3º, vedava aos Estados, como à União, a prescrição de leis retroativas. O Estatuto Político de 1934 introduziu, no seu art. 113, inciso 3º, tal garantia, com a redação hoje corrente: A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A garantia da irretroatividade da lei só não foi tratada, em nível constitucional, pelo Estatuto outorgado de 1937. Contudo, a Constituição seguinte, de 1946, no seu art. 141, § 3º, restabeleceu plenamente o princípio de que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, redação repetida na Constituição de 1967 (art. 150, § 3º) e pela Emenda Constitucional nº 1, de 1969 (art. 153, § 3º). A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no seu art. 5º, XXXVI, também reproduz a mesma redação: a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A legislação ordinária, em consonância com o postulado constitucional expresso ou com sua ausência, cuidou também da matéria. A antiga Lei de Introdução ao Código Civil (Lei nº 3.071, de 01.01.16), no seu art. 3º, dispunha: "A lei não prejudicará, em caso algum, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito ou a coisa julgada. § 1º. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele possa exercer, como aqueles cujo começo de exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida, inalterável a arbítrio de outrem. § 2º. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 3º. Chama-se coisa julgada, ou caso julgado, a decisão judicial, de que já não caiba recurso." A Lei de Introdução ao Código Civil, de 1942 (Decreto-Lei nº 4.657, de 04.09.42), no seu

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A IRRETROATIVIDADE DA LEI NO DIREITO BRASILEIROOswaldo Othon de Pontes Saraiva FilhoConsultor da UnioProcurador da Fazenda Nacional de Categoria EspecialProfessor de Direito Tributrio da Universidade Catlica de BrasliaDiretor Executivo do Centro de Estudos Victor Nunes LealOprincpiodairretroatividadedalei,queestligadointangibilidadedosdireitosadquiridos,tradicionalnonossoDireito,desdeaConstituiodoImpriodoBrasilde1824, que, no seu art. 179, 3,rezava que disposio legal no ter efeito retroativo. Aprimeira Constituio da Repblica brasileira, de 1891, no seu art. 11, inciso 3, vedava aosEstados, como Unio, a prescrio de leis retroativas.OEstatutoPolticode1934introduziu,noseuart.113,inciso3,talgarantia,comaredao hojecorrente: A lei noprejudicarodireitoadquirido,oatojurdicoperfeitoeacoisajulgada.Agarantiadairretroatividadedaleisnofoitratada,emnvelconstitucional, pelo Estatuto outorgado de 1937.Contudo, a Constituio seguinte, de 1946, no seu art. 141, 3, restabeleceu plenamenteo princpio de que a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisajulgada,redaorepetidanaConstituiode1967(art.150,3)epelaEmendaConstitucional n 1, de 1969 (art. 153, 3).AConstituiodaRepblicaFederativadoBrasilde1988,noseuart.5,XXXVI,tambmreproduz a mesma redao: a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeitoeacoisajulgada.Alegislaoordinria,emconsonnciacomopostuladoconstitucionalexpresso ou com sua ausncia, cuidou tambm da matria.AantigaLeideIntroduoaoCdigoCivil(Lein3.071,de01.01.16),noseuart.3,dispunha:"A lei no prejudicar, em caso algum, o direito adquirido, o ato jurdico perfeito ou acoisa julgada. 1. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou algum por elepossaexercer,comoaquelescujocomeodeexercciotenhatermoprefixo,oucondio preestabelecida, inaltervel a arbtrio de outrem. 2. Reputa-se ato jurdico perfeito o j consumado segundo a lei vigente ao tempoem que se efetuou.3.Chama-secoisajulgada,oucasojulgado,adecisojudicial,dequejnocaiba recurso."A Lei deIntroduoaoCdigoCivil,de1942(Decreto-Lein4.657,de04.09.42),noseuart. 6, tendo em vista que o Estatuto Poltico de 1937 no continha preceptivo da vedaodeaplicaodaleinovaemprejuzodosdireitosadquiridos,dispunhaquealeinovaterefeito imediato e geral, no atingindo, no entanto, salvo disposio expressa em contrrio,as situaes jurdicas definitivamente constitudas e a execuo dos atos jurdicos perfeitos.Dessemodo,opreceitosupracitadotoleravaaretroatividadedaleinova,desdequehouvesse disposio expressa nesse sentido.Com o regresso, na Carta Magna de 1946, do princpio da irretroatividade no que tange aosdireitos adquiridos, o texto do art. 62 do DL n 4.657/42 tornou-se incompatvel com o art.141,3,damencionadaConstituio,razopelaqualaLein3.238,de01.08.57,omodificou para outra vez inserir, nesse art. 6, a regra tradicional no Direito brasileiro comodiretriz de direito intertemporal:"Aleiemvigorterefeitoimediatoegeral,respeitadosoatojurdicoperfeito,odireito adquirido e a coisa julgada. 1. Reputa-se ato jurdico perfeito o j consumado segundo a lei vigente ao tempoem que se efetuou.2.Consideram-seadquiridos,assim,osdireitosqueseutitular,oualgumporele, possa exercer, como aquelescujocomeo do exerccio tenha termo prefixo, oucondio preestabelecida inaltervel, a arbtrio de outrem. 3. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a deciso judicial de que j no caibarecurso."Importanotarque,arigor,tudosereduzaorespeitoasseguradoaosdireitosadquiridos,valedizer,atojurdicoperfeitoecoisajulgadaso,apenas,possveiselementoscriadoresde direitos adquiridos.Direito adquirido o que j se incorporou definitivamente ao patrimnio de seu titular, emfacedaocorrnciadefatoidneoaproduziraconseqnciadanormavigenteaotempodessefato,demodoquenemleinovanemfatoposteriorpossamalterartalsituaojurdica.Ressalte-se, contudo, que o que no pode ser atingido pelo imprio da lei nova o direitoadquirido,jamaisodireitoempotencialouasimplesexpectativadedireito,umavezqueno se pode admitir direito adquirido a adquirir um direito.Deveserenfatizadoqueumadaspeculiaridadesdenossaordemconstitucional-acompanhada,nesseaspecto,apenaspelaConstituiomexicanae,decertaforma,pelanorte-americana-justamenteagarantiaqueoferecenosentidodequeleinovaterefeito imediato e geral e disciplinar, em regra, atos e fatos e os respectivos efeitos a partirde sua vigncia, no podendo, jamais, prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeitoe a coisa julgada. Ou seja, o limite do efeito imediato e at retroativo o direito adquiridono sentido amplo.NaEuropa,diversamente,conformenosdonotciaespecialmenteosautoresitalianosefranceses,oprincpiodairretroatividadedaleiestabelecido,emregra,emleiordinria,vinculando o magistrado, mas no o legislador.Assimmesmo,noBrasil,autoresdonveldeARNOLDOWALDeMARIAHELENADINIZdefenderamatesedequeleideordempblicapoderiaserretroativa,equeaincidnciaimediatadaleipermitiriaaincidnciadaleinovasobreosefeitosdosatosefatospretritos, desde que esses efeitos ocorressem a partir do incio da vigncia da lei nova.Todavia,nosjulgamentosdaRepresentaon1.451-DF(pub.inRTJ127/789-809)edaADIn n 493-0-DF (pub. in RT 690/176-690), a nossa Corte Constitucional, conduzida pelosvotos do Relator de ambos os feitos, o emrito Ministro Jos Carlos Moreira Alves, assentoua mxima da melhor doutrina ptria no sentido de que a garantia de irretroatividade da lei,associadaaoprincpiodosdireitosadquiridos,seaplicatantoemrelaoleidedireitopblicoquantoleidedireitoprivado,ouquantoleideordempblicaquantoleidispositiva.NosupracitadovotodaRepresentaodeInconstitucionalidade,oExmSr.MinistroMOREIRA ALVES salientou:"Alis,noBrasil,sendooprincpiodorespeitoaodireitoadquirido,aoatojurdicoperfeitoecoisajulgadadenaturezaconstitucional,semqualquerexceoaqualquerespciedelegislaoordinria,notemsentidoaafirmaodemuitos-apegados ao direito de pases em que o preceito de origem meramente legal - dequeasleisdeordempblicaseaplicamdeimediato,alcanandoosefeitosfuturosdo ato jurdico perfeito ou da coisa julgada, e isso porque, se se alteram os efeitos, bvioqueseestintroduzindomodificaonacausa,oquevedadoconstitucionalmente."Novoto da AoDireta de Inconstitucionalidaderetromencionado,oSr.MinistroMOREIRAALVES ratificou esse entendimento, com as seguintes palavras:"Nodireitobrasileiro,oprincpiodorespeitoaoatojurdicoperfeitoeaodireitoadquiridodenaturezaconstitucional,enoexcepcionadesuaobservnciaporpartedolegisladorleiinfraconstitucionaldequalquerespcie,inclusivedeordempblica, ao contrrio do que sucede em pases como a Frana, em que esse princpioestabelecidoemleiordinria,e,conseqentemente,noobrigaolegislador(quepode afast-lo em lei ordinria posterior), mas apenas o juiz, que, no entanto, em setratandodeleiordinriadeordempblica,podeaplic-lo,noentenderdemuitos,retroativamente, ainda que ela silencie a esse respeito."Na mesma ADIn, consta da sua ementa:"Sealeialcanarosefeitosfuturosdecontratoscelebradosanteriormenteaela,ser essa lei retroativa (retroatividade mnima), porque vai interferir na causa, que um ato ou fato ocorrido no passado."Poroutrolado,notrioque,tendomudadoamoeda,obviamenteopagamentodeumaobrigao anterior ter de ser feita com a nova moeda criada, no havendo como invocar-sedireito adquirido ao cumprimento da prestao ou ao recebimento em moeda que no maisexiste.Noentanto,noquerespeitaalteraodendicesdecorreomonetria,oSupremoTribunalFederalanuicomaaplicaodenovoindexadorsprestaesdecorrentesdesituaes jurdicas anteriores que vencerem a partir do incio da eficcia da nova lei, desdeque seja preservada, o mais possvel, a realidade econmica.Nocaso,porexemplo,daalteraodendicesdeatualizaomonetriaemrelaoaoscontratos da previdncia privada (RTJ 115/379), insta trazer colao a seguinte explicaodopreclaroMinistroLUIZOCTAVIOPIRESeALBUQUERQUEGALLOTTI,externadanojulgamento da ADIn n 493-0-DF:"No caso das entidades de previdncia privada, hoje vrias vezes lembrado, sucedeuo contrrio(daaplicaodaTRaoscontratosdefinanciamentodacasaprpria):osalrio mnimo tornara-se um ndice economicamente ativo, pelo acrscimo de umaparcela de produtividade, a par da reavaliao do custo dos bens de consumo, e foi,ento,substitudoporumndiceabsolutamenteneutro,queeraacorreomonetriadovalordasobrigaesreajustveis.Aqui,sepretendeoinverso:substituir um ndice neutro por um ndice economicamente ativo."Em resumo, o Supremo Tribunal Federal deixou firmado que o respeito ao direito adquirido,aoatojurdicoperfeitoecoisajulgada,erguidoemgarantiaconstitucional,abrange,indistintamente, leis de direito privado e de direito pblico, e refere-se, com igual fora, aosfactapraeteritaeaosfactapendentia,valedizer,alcanaosefeitosdosfatosanteriores,ocorridos na vigncia da lei nova, sucedendo, nesse caso, a sobrevivncia da lei j revogadaou a sua ultratividade.Valeressaltar,tambm,queagarantiadosdireitosadquiridossedirigeleiinfraconstitucional,enoConstituio.Assim,nohdeseinvocardireitoadquiridocontratextoconstitucionaldecorrentedostrabalhosdopoderconstituinteoriginrioouderivado, conforme mansa e pacfica jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal.Assim, embora esta questo esteja, no momento, sendo alvo de novas reflexes, estou que,porexemplo,emendaconstitucionalpodeextinguiroureduzirumdireitoadquiridodecorrente de lei infraconstitucional.Oque,semdvida,seriainconstitucional,aomeusentir,queemendaconstitucionalapresentasse tendncia a extinguir o alcance da prpria norma constitucional asseguradoradodireitoadquirido,como,porexemplo,nahiptesedeemenda,aoalterararedaodoincisoXXXVIdoart.5daLeiMaior,dispusesse,comoexceodagarantia,queleisdeordem pblica poderiam retroagir.Nesse caso, haveria leso chamada clusula ptrea do art. 60, 4, IV, da Carta Polticade 1988, que determina que no seja objeto de deliberao a proposta de emenda tendentea abolir os direitos e garantias individuais.Apropsito,emtrabalhointitulado"TributaonoMercosul"(publicadonolivroPesquisasTributrias,quecuidoudomesmotema,coordenadopeloProf.IVESGANDRAMARTINS,SoPaulo:EditoraRevistadosTribunaiseCentrodeExtensoUniversitria,1997,pp.497-498), tive a oportunidade de ponderar que a regra do art. 60, 4, IV, no comportatodosequaisquerdireitosexplcitosnaConstituio,massomenteaquelesmaisdoqueimportantes,ouseja,osessenciais,universais,inerentespessoahumana,aschamadasliberdadesclssicasdefeioindividualistaouexercidascoletivamente.Interpretaoemsentido contrrio congelaria praticamente toda a Constituio brasileira de 1988.No que tange s leis interpretativas, elas obedecero Constituio, desde que no vulnereaincolumidadedassituaesjurdicasdefinitivamenteconsolidadas(ADinn605-DF,Rel.Ministro Celso de Mello, in RTJ 145/463-490).Cumpre destacar o Informativo STF n 57, referente aos dias 9 a 13 de dezembro de 1996,queestampaaseguintedecisodenossaCorteConstitucional,noquetangeaodireitoadquirido e retroatividade:"EnquantogarantiadoindivduocontraoEstado,aregraqueasseguraaintangibilidade do direito adquirido e do ato jurdico perfeito (CF, art. 5, XXXVI) noimpedeoEstadodedisporretroativamente,medianteleiousimplesdecreto,embenefciodoparticular.Combasenesseentendimento,a(1)TurmaconfirmouacrdodoTribunaldeJustiadoDistritoFederal,que,fundadoemdecretodoExecutivolocal(Dec.10.349/87),determinaraacorreomonetriadovalordecontratofirmadocomaAdministraoemdezembrode1986,adespeitodainexistnciadeclusuladereajuste.RE184.099-DF,Rel.Min.OctvioGallotti,10.12.96."Mencione-se, de passagem, que, no mbito do nosso Direito Constitucional-Tributrio, o art.150, caput e III, a, da Carta Poltica de 1988 veda Unio, aos Estados, ao Distrito FederaleaosMunicpiosexigirtributoemrelaoafatosgeradoresocorridosantesdoinciodavigncia da lei que os houver institudo ou aumentado.Cumpre destacar que a jurisprudncia do excelso Supremo Tribunal Federal vem mantendooentendimentoconsagradonoverbetedesuaSmulan584,nosentidodeque"aoimpostoderendacalculadosobreosrendimentosdoano-baseaplica-sealeivigentenoexerccio financeiro em que deve ser apresentada a declarao". conferir, por exemplo, oREn104.259-RJ,RelatoroExmSr.MinistroCordeiroGuerra(RTJ115/1336),oREn197.790-6-MG,RelatoroExmSr.MinistroIlmarGalvo(DJUde21.11.97),e,maisrecentemente,oRE194.612-1-SC,RelatoroExmSr.MinistroSydneySanches(DJUde08.05.98).Deve ser ressaltado que a lei de tributao no deve retroagir para alcanar fatos geradoresdo tributo ocorridos antes da publicao da lei, mas pode ter repercusso em relao a fatosposterioresaoaperfeioamentodecontratoscelebradosentreparticulares.Ningumtemdireitoadquiridomantenadasregrasdetributaoexatamentecomoelasestavamnomomento da celebrao de um negcio jurdico (STF, AGRSS 775-1-SP, in DJU de 23.02.96,e AGRSS 819-6-SP, in DJU de 13.06.97).Os entes da Federao recebem da Constituio o poder de tributar, para que assim possamcumprirsuasatividadesemproldarealizaodobemcomum.Notemoadministradoodireito de obstar a que incida sobre seus bens e negcios nova regra jurdica de tributaono que concerne aos fatos geradores sucedidos aps a publicao da lei tributria, mesmoque esses bens tenham sido adquiridos ou os contratos tenham sido celebrados antes da leique instituiu ou aumentou o tributo.Deve ser ponderado, no entanto, que a chamada iseno onerosa, vale dizer, concedida porprazocertoeemfunodedeterminadascondies,bemcomooutrosbenefciosfiscais,autorizados por lei e contratados entre o Fisco e o contribuinte, geram o instituto de direitoadquirido em favor do contribuinte (STF, RE 169.880-2-SP, in DJU de 19.12.96), podendo oFisco,apenasnoscasosdeno-cumprimentodascondiesedosrequisitosporpartedapessoabeneficiria,suspenderobenefcio,medianteodevidoprocessolegal,oumesmocass-lo quando j esgotado o prazo do favor legal.Parenteticamente, mencione-se que o STF, ao cuidar decontratos BEFIEX, decidiu, no querespeitasisenesdetributosestaduaisemunicipaisconcedidaspelaUnio,soboplioda Constituio pretrita, que as revogaes, em face da proibio de concesso, por parteda Unio, diante do mandamento do art. 151, III, da CF/88, tero de observar a sistemticadoart.41,1e2,doADCT.Emprincpio,elassomenteocorreriamdoisanosapsapromulgaodaatualCarta,dadoquenoconfirmadaspeloEstado-membro.Todavia,seconcedida a iseno por prazo certo e mediante condies, ocorre em favor do contribuinteoinstitutododireitoadquirido(CTN,art.178;CF,art.5,XXXVI;ADCT,art.41,2;Smula n 544-STF). Isto , na espcie, a revogao suceder aps o transcurso do prazodaiseno(REn169.880-2-SP,Rel.ExmSr.MinistroCarlosVelloso,pub.inDJUde19.12.96).Vale avivar que, por ocasio do julgamento da j mencionada Representao n 1.451-DF,oSupremoTribunalFederal,porunanimidadedevotos,decidiuquealeitributriaquetransforma obrigao de dinheiro em obrigao de valor no pode alcanar retroativamentefatos geradores ocorridos antes de sua publicao (in RTJ 127/789 a 809).Quantoaplicaoretroativadaleitributria,oCdigoTributrioBrasileiro,noseuart.106,dispequealeiaplica-seaatooufatopretrito,emqualquercaso,quandosejaexpressamente interpretativa, excluda a aplicao de penalidade infrao dos dispositivosinterpretados, ou, tratando-se de ato no definitivamente julgado, quando deixe de defini-locomo infrao e quando comine penalidade menossevera que a prevista na leivigenteaotempo de sua prtica.Outrossim,naesferadoDireitoConstitucionalPenal,oart.5,XXXIX,danossaLeiSupremarezaquenohcrimesemleianteriorqueodefina,nempenasemprviacominao legal. Permite o inciso XL do mesmo art. 5 a retroatividade da lei to-somentepara beneficiar o ru.No campo do Direito Processual, vale reafirmar a prevalncia do princpio da irretroatividadedalei.Oprincpiotempusregitactumfazcomqueosatosprocessuaisrealizadossoboimpriodaleianteriorsejammantidos,tendoasnovasnormasprocessuaisaplicabilidadeimediatanoqueconcerneaorestantedoprocesso.Dessemodo,h,porexemplo,direitoadquirido ao recurso j interposto quando da entrada em vigor da lei que o extingue.Antes de encerrar, cabe dizer que, obviamente, o direito adquirido no estranho ao DireitoAdministrativo.NoqueconcernesrelaesdaAdministraoPblicacomoservidor,assevere-seque,comoh,naespcie,umarelaoestatutriaouinstitucional,nenhumbicejurdicohaque se alterem as normas que disciplinam essa relao, colhendo ao servidor, de imediato,o novo regime.Aesserespeito,OSupremoTribunalFederalindeferiumedidacautelaremaodiretadeinconstitucionalidadepropostapeloConselhoFederaldaOrdemdosAdvogadosdoBrasil-OABcontraoart.24deMedidaProvisria,quevedaoexercciodaadvocacia,foradasatribuiesinstitucionais,aosservidoresocupantesdascarreiras:AdvogadodaUnioeAssistenteJurdicodaAdvocacia-GeraldaUnio;ProcuradorFederal;DefensorPblicodaUnio; Procurador da Fazenda Nacional, Procurador do Banco Central do Brasil, ProcuradordoINSS;eaosservidoresquepercebemaRetribuioVariveldaComissodeValoresMobilirios-RVCVMeaRetribuioVariveldaSuperintendnciadeSegurosPrivados-RVSUSEP.primeiravista,entendeu-senohaverplausibilidadejurdicanaargiodeinconstitucionalidade por ofensa ao princpio do direito adquirido (CF, art. 5, XXXVI) quantoaosservidores que ingressaramnascitadascarreirasantesdanormaproibitiva,tendoemvista a jurisprudncia do STF no sentido de que inexiste direito adquirido a regime jurdico(ADIn 1.754-9/DF, Rel. Min. Sydney Sanches).Transcreve-se trecho da Ementa suprafocalizada:"2.PacficatambmaorientaodaCorte,nosentidodequenotemoservidorpblicodireitoadquiridoaumdeterminadoregimejurdico,podendo,porlei,sersubmetido a outro, ditado pelos interesses da Administrao Pblica, desde que noimpliqueviolaodeoutrasnormasdaprpriaConstituio,quelheasseguremdireitos,como,porexemplo,ado2doart.39,comasremissesquefaz.Hiptese, porm, inocorrente, na Medida Provisria em foco." (DJU de 6/8/99).Isso,noentanto,nosignificaquenosurjamdireitosadquiridosdarelaoentreaAdministraoeoservidor,conforme,alis,ajurisprudnciaremansosadoAugustoPretrio (a ttulo ilustrativo: RE n 82.881-SP, Rel. Min. Eloy da Rocha, in RTJ 79/268-288).Bibliografia:ALVES, Jos Carlos Moreira. Votos publicados in RTJ n 127 e RT n 690.RJ 270 - ABR/2000 - DOUTRINA 17BATALHA, Wilson de Sousa Campos. Direito intertemporal, Rio de Janeiro : Forense, 1980.BEVILQUA, Clvis. Teoria Geral do Direito Civil. 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