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ARTIGO 04 Estudo correlacional entre atenção, inteligência e memória em uma amostra de candidatos à CNH. Cristiano Esteves | Tábata Cardoso A Psicologia do Trânsito é uma das principais áreas de atuação do psicólogo que trabalha com avaliação psicológica na atualidade, principalmente por sua relevância social e seu caráter preventivo. Segundo Rueda (2009, p. 183): “A psicologia do trânsito apresenta-se como uma forma de estudar de uma maneira concreta as variáveis psicológicas que poderiam influenciar o modo dos motoristas se comportarem e de que forma esse comportamento poderia levá-los a envolver-se em acidentes de trânsito (AT) ou colocar-se em situações de risco”. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) e o Conselho Nacional do Trânsito (CONTRAN) regulamentaram a prática da avaliação psicológica no trânsito, uma vez que essa função é exclusiva do psicólogo. A Resolução 425 do CONTRAN (CONTRAN, 2012) ressalta que dentre as características que devem ser avaliadas em processos de avaliação para o trânsito pode-se citar a memória, a inteligência e a atenção, além da personalidade uma vez que estas são importantes para realização das tarefas do dia a dia, como dirigir, por exemplo. Considerando que a memória, a inteligência e a atenção são três funções cognitivas que estão ligadas a resolução de problemas, o objetivo desse estudo foi verificar a relação entre estes construtos em uma amostra de candidatos à CNH. Participaram da pesquisa 300 pessoas, com idades entre 18 e 59 anos (M= 27,64 e DP= 10,97), sendo 191 (63,7%) do sexo masculino e 109 (36,3%) feminino. Referente à escolaridade, a maior parte tinha o ensino médio (63,7%), enquanto o restante ficou distribuído entre o fundamental (28,7%) e superior (7,7%). Os instrumentos utilizados foram o Teste de Memória Visual - TM-Vi (Cardoso, no prelo), o Teste de Inteligência Geral - R-1 (Alves, 2002) e o Teste de Atenção Concentrada - AC (Cambraia, 2003). Para verificar a relação entre a Memória Visual, a Inteligência e a Atenção Concentrada foram calculadas as Correlações de Pearson entre os totais de pontos do TM-Vi, do R-1 e do AC. A correlação informa se há um relacionamento entre as variáveis estudadas, ou seja, quando os escores de uma variável mudam, os escores da outra também mudam (Dancey & Reidy, 2006).

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ARTIGO 04

Estudo correlacional entre atenção, inteligência e memória em uma amostra de candidatos à CNH.Cristiano Esteves | Tábata Cardoso

A Psicologia do Trânsito é uma das principais áreas de atuação do psicólogo que trabalha com avaliação psicológica na atualidade, principalmente por sua relevância social e seu caráter preventivo. Segundo Rueda (2009, p. 183):

“A psicologia do trânsito apresenta-se como uma forma de estudar de uma maneira concreta as variáveis psicológicas que poderiam influenciar o modo dos motoristas se comportarem e de que forma esse comportamento poderia levá-los a envolver-se em acidentes de trânsito (AT) ou colocar-se em situações de risco”.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) e o Conselho Nacional do Trânsito (CONTRAN) regulamentaram a prática da avaliação psicológica no trânsito, uma vez que essa função é exclusiva do psicólogo. A Resolução 425 do CONTRAN (CONTRAN, 2012) ressalta que dentre as características que devem ser avaliadas em processos de avaliação para o trânsito pode-se citar a memória, a inteligência e a atenção, além da personalidade uma vez que estas são importantes para realização das tarefas do dia a dia, como dirigir, por exemplo. Considerando que a memória, a inteligência

e a atenção são três funções cognitivas que estão ligadas a resolução de problemas, o objetivo desse estudo foi verificar a relação entre estes construtos em uma amostra de candidatos à CNH.

Participaram da pesquisa 300 pessoas, com idades entre 18 e 59 anos (M= 27,64 e DP= 10,97), sendo 191 (63,7%) do sexo masculino e 109 (36,3%) feminino. Referente à escolaridade, a maior parte tinha o ensino médio (63,7%), enquanto o restante ficou distribuído entre o fundamental (28,7%) e superior (7,7%). Os instrumentos utilizados foram o Teste de Memória Visual - TM-Vi (Cardoso, no prelo), o Teste de Inteligência Geral - R-1 (Alves, 2002) e o Teste de Atenção Concentrada - AC (Cambraia, 2003).

Para verificar a relação entre a Memória Visual, a Inteligência e a Atenção Concentrada foram calculadas as Correlações de Pearson entre os totais de pontos do TM-Vi, do R-1 e do AC. A correlação informa se há um relacionamento entre as variáveis estudadas, ou seja, quando os escores de uma variável mudam, os escores da outra também mudam (Dancey & Reidy, 2006).

Nunes e Primi (2010) afirmam que a correlação esperada entre testes que avaliam construtos relacionados deve estar entre 0,20 e 0,50. Considerando que a Memória, a Inteligência e a Atenção são construtos relacionados, os resultados deste estudo estão dentro dos parâmetros apresentados por estes autores.

Ou seja, os resultados deste estudo mostram que pessoas que têm maior desempenho no teste de memória tendem a ter melhores resultados nos testes de inteligência e de atenção concentrada.

As correlações foram todas positivas e significantes. Isso indica que um aumento no total de pontos do teste de memória TM-Vi tende a ser acompanhado por um aumento no total de pontos dos testes de Inteligência e de Atenção Concentrada.

Rueda (2006) realizou uma pesquisa para verificar a relação entre memória e inteligência em 51 candidatos a CNH em Minas Gerais, utilizando o TEPIC-M e o TCR e encontrou uma correlação estatisticamente significante entre os dois testes (0,36).

Em outra pesquisa, Rueda (2009) investigou a relação entre a atenção concentrada e a memória em 207 pessoas na cidade de Aracaju, sendo 119 estudantes universitários e 89 candidatos a CNH. Utilizou o TEPIC-M e o TEACO-FF e encontrou resultados semelhantes com correlações significantes entre 0,26 e 0,53.

Cristiano EstevesPsicólogo pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorando em Avaliação Psicológica pelo Programa de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP. Autor de capítulos de manuais de testes e artigos científicos na área de Avaliação Psicológica e coautor do livro "O Teste Palográfico na Avaliação da Personalidade". Gerente do Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento do Grupo Vetor. Ministra cursos na área de avaliação psicológica.

Tábata CardosoPossui graduação em Psicologia (2007) e especialização em Psicopedagogia (2009) pelo Centro Universitário de Santo André; curso de extensão em Psicometria (2008) pela Universidade Federal do Amazonas; mestrado em Psicologia da Saúde (2013) - Área de concentração: Processos Psicossociais - pela Universidade Metodista de São Paulo. Atualmente é pesquisadora na área de Psicologia na Vetor Editora. Tem experiência em construção e validação de testes e escalas para avaliação do comportamento e das habilidades humanas. Autora da Escala dos Pilares da Resiliência (EPR) publicada pela Vetor Editora.

Referências:Alves, I. C. B. (2002). Teste de Inteligência Não Verbal (R-1). Manual. São Paulo: Vetor Editora.Cambraia, S. V. (2003). Teste de Atenção Concentrada (AC). Manual. São Paulo: Vetor Editora.Cardoso, T. (no prelo). Teste de Memória Visual (TM-Vi). Manual. São Paulo: Vetor Editora.CONTRAN (2012). Resolução n. 425, de 27 de novembro de 2012. Disponível em: <http://www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/(Resolu%C3%A7%C3%A3o%20425.-1).pdf>.Dancey, C.P., & Reidy, J. (2006). Estatística sem matemática para psicologia usando SPSS para Windows. Porto Alegre: Artes Médicas.

Os resultados apontaram que as correlações entre o TM-Vi, o R-1 e o AC variaram entre 0,378 e 0,441. A correlação entre o TM-Vi e o R-1 foi moderada (0,441), já as correlações entre o TM-Vi e o AC (0,378) e entre o R-1 e o AC (0,394) foram baixas, apesar de estatisticamente significantes (Sisto, 2007; Dancey & Reidy, 2006).

Ainda que os três instrumentos avaliem construtos diferentes, é possível considerar que há uma relação entre eles , uma vez que o fator g está ligado a todas as funções cognitivas. Conclui-se que as três funções estudadas são intercorrelacionadas, mas também possuem diferenças específicas que as distinguem, o que ressalta a importância da avaliação desses aspectos para obtenção da CNH.

Outras considerações:

Resultado de outras pesquisas:

Nunes, C. H. & Primi, R. (2010). Aspectos técnicos e conceituais da ficha de avaliação dos testes psicológicos. Em: Conselho Federal de Psicologia (Org.). Avaliação Psicológica: Diretrizes na regulamentação da profissão (pp. 101-128). Brasília: CFP.Rueda, F. J. M. (2006). Memória e inteligência em avaliação psicológica pericial. Psic – Revista de Psicologia da Vetor Editora, 7(1), 59-68.Rueda, F. J. M. (2009). Atenção Concentrada e memória: evidências de validade entre instrumentos no contexto da psicologia do trânsito. Psicologia: Teoria e Prática, 11 (2), 182-195.Sisto, F. F. (2007). Delineamento correlacional. In M. N. Baptista & D. C. Campos. Metodologia de pesquisa em ciências: análises quantitativa e qualitativa. Rio de Janeiro: LTC.

* Essa pesquisa contou com a colaboração de Fernanda Louise Lourenço, Salete Pacheco Dario, Vanea Freccia Santos de Souza e Daniela Regina da Silva, do Programa de Pós-Graduação em Avaliação Psicológica da Psicoshop.

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