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02/05/2016 Navalha na carne... dos pobres, por Ana Fonseca | GGN http://jornalggn.com.br/noticia/navalha-na-carne-dos-pobres-por-ana-fonseca#.VyM19YQpxP0.facebook 1/5 Navalha na carne... dos pobres, por Ana Fonseca Navalha na carne... dos pobres por Ana Fonseca Uma tragédia se avizinha e voa rasante sobre as casas e as vidas de milhões de brasileiras e brasileiros. Já chegam à praça as primeiras informações sobre o que poderia vir a ser o governo Temer para a área social, notadamente no Programa Bolsa Família (BF). Veiculada em matéria publicada hoje (28/04) no jornal O Estado de São Paulo, e em entrevista recente (25/04) do ex-pesquisador do IPEA Ricardo Paes de Barros, a proposta é que o BF tenha foco apenas nos 5% mais pobres, sem deixar claro se o percentual é relativo à população brasileira total ou às famílias beneficiárias do programa. Vejamos as consequências, num ou noutro cenário. Tomando como referência os dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), referentes a março deste ano, o BF transfere renda para 13,8 milhões de famílias. Se o tal foco nos 5% mais pobres for relativo a todas as famílias brasileiras (64,7 milhões/PNAD/IBGE) significa que apenas 3,2 milhões permaneceriam no programa. Uma exclusão, portanto, de 10,6 milhões de famílias. O segundo cenário é ainda mais perverso. Se o tal foco nos 5% mais pobres for relativo ao total de famílias beneficiárias do BF (13,8 milhões), restaria apenas 0,7 milhão de famílias no programa. A exclusão saltaria para 13,2 milhões! Ver conteúdo 10 Ver conteúdo 10 Ver conteúdo 2 Papel da mídia é domesticar população para nova fase do neoliberalismo Anastasia, o impeachment, e as 'pedaladas' dos governadores Excepcionalidade política e neoliberalismo: Europa e Brasil, por Antonio Baylos Senadores pró-impeachment votaram a favor da mudança da meta fiscal Anuncie Posts recentes Mais comentados do dia Segunda-Feira, 02/05/16 Cadastre-se Login Assinar 3.2K

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SEX, 29/04/2016 - 07:11

Navalha na carne... dos pobres, por AnaFonseca

Navalha na carne... dos pobres

por Ana Fonseca

Uma tragédia se avizinha e voa rasante sobre as casas e as vidas de milhões de brasileiras e

brasileiros.

Já chegam à praça as primeiras informações sobre o que poderia vir a ser o governo Temer para a

área social, notadamente no Programa Bolsa Família (BF). Veiculada em matéria publicada hoje

(28/04) no jornal O Estado de São Paulo, e em entrevista recente (25/04) do ex-pesquisador do

IPEA Ricardo Paes de Barros, a proposta é que o BF tenha foco apenas nos 5% mais pobres, sem

deixar claro se o percentual é relativo à população brasileira total ou às famílias beneficiárias do

programa.

Vejamos as consequências, num ou noutro cenário. Tomando como referência os dados oficiais do

Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), referentes a março deste ano, o BF transfere renda

para 13,8 milhões de famílias. Se o tal foco nos 5% mais pobres for relativo a todas as famílias

brasileiras (64,7 milhões/PNAD/IBGE) significa que apenas 3,2 milhões permaneceriam no

programa. Uma exclusão, portanto, de 10,6 milhões de famílias. O segundo cenário é ainda mais

perverso. Se o tal foco nos 5% mais pobres for relativo ao total de famílias beneficiárias do BF

(13,8 milhões), restaria apenas 0,7 milhão de famílias no programa. A exclusão saltaria para 13,2

milhões!

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Essas primeiras informações disponíveis trazem uma única certeza: o BF que contribuiu para

retirar da miséria dezenas de milhões de brasileiros(as), é celebrado no mundo inteiro e referência

para dezenas de países, já não será mais um programa de inclusão, mas de exclusão.

Na entrevista, PB, como é conhecido o pesquisador, defende que o BF está “inchado”.

O método para “desinchar” é o seguinte: “o cara tem um certo nível educacional, mora numa casa

boa e num lugar com qualidade de vida”, então não é pobre e deve ser cortado do programa,

conclui. Certamente ele sabe que renda é um conceito econômico que trata de fluxo, já móveis,

utensílios e características do domicílio são patrimônio, que é estoque. Essa confusão, proposital

ou não, descarta a lógica da proteção permanente, pois basta que o cidadão tenha acumulado uns

eletrodomésticos e tenha uma casa do Minha Casa, Minha Vida, para virar "classe média".

Portanto, “toca a tua vida aí”, diz PB.

Se o provedor(a) de um grupo familiar ficou sem renda (fluxo) do trabalho, mas ele conta com um

certo patrimônio (TV, computador, aparelho de som) que é o estoque, terá de se desfazer desses

bens para suprir a falta de renda? Essa é a singela diferença entre renda e estoque.

A palavra-chave para “desinchar” é eficiência. Nenhuma palavra sobre taxação de fortunas,

impostos sobre heranças, tributo progressivo. A suposta eficiência é dirigida aos pobres e PB

deixa muito claro quem irá pagar o pato num governo Temer: “tem gente que vai sofrer”. A

eficiência é alocativa, ou seja, o governo gasta com quem "não precisa", embora destine ao BF

apenas 0,5% do PIB e apesar de cada R$1 investido no programa adicionar R$1,78 ao PIB,

segundo o IPEA.

O empenho nos cortes faz esquecer que 3,5 milhões de famílias já saíram do BF, resultado de

rotinas de revisão/averiguação cadastral e de desligamentos voluntários.

Em nenhum momento o entrevistado menciona a população rural, justamente onde se concentra

uma parcela significativa da população mais pobre, tanto em termos monetários quanto

multidimensionais. Irão acabar com o PRONAF e o MDA? A inclusão produtiva rural será extinta? A

ideia é que os jovens rurais consigam um trabalho formal? Nada de agricultura familiar? A

intenção é estimular a emigração?

A abordagem sobre o PRONATEC beira ao delírio. Barros diz que não podem ser ofertados cursos

“às cegas”. Por isso faz a inacreditável proposta de entregar um cartão a quem procura emprego

para, após encontrar uma vaga, fazer o curso apropriado. Ele desconhece a existência de mesas

de pactuação locais, com os agentes econômicos, para identificação das demandas do mercado de

trabalho e oferta dos cursos.

Serei repetitiva: Uma tragédia se avizinha e voa rasante sobre as casas e as vidas de milhões de

brasileiras e brasileiros.

A América Latina e o Caribe (ALC) já passaram por uma experiência semelhante. Na década de

1980 e 1990, a maioria dos países da região enfrentou uma crise econômica severa que se

manifestou na redução do Produto Interno Bruto e em taxa de inflação e desvalorização sem

precedentes. A receita aplicada foi chamada de “reformas estruturais˜. O resultado foi que a

população pobre de 18 países da ALC saltou de 40,5% para 44%, entre 1980 e 2000, e a extrema

pobreza se manteve incólume: 18,6%.

As reformas significaram privatização de empresas e serviços públicos, recortes no emprego

público, alterações substantivas na previdência social, nos sistemas de saúde etc. É por ponte

semelhante que querem jogar a todos e a nossos direitos conquistados. É o caminho de volta

para o Mapa da Fome.

Paes de Barros esteve ausente da formulação do BF, seja no governo de transição em novembro

e dezembro de 2002, seja na Câmara de Políticas Sociais, instalada em abril de 2003, ou na equipe

encarregada de apresentar a proposta de unificação que deu origem ao BF. Mesmo assim, o

entrevistado sempre foi – reiteradamente – um entusiasta que não poupou elogios ao programa.

Por que razões as fortes críticas de “inchaço”, agora?

Indagado sobre contatos recentes com Moreira Franco, homem forte do vice-presidente Michel

Temer, PB foi evasivo: “não estou muito conectado com o mundo”. Não é verdade, mas é

gracioso.

ANA FONSECA é pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp. Foi

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4 comentários

Secretária-Executiva do Programa Bolsa Família (2003) e Secretária Extraordinária do

Plano Brasil Sem Miséria (2011).

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Bolsa Família programas sociais Michel Temer caos pobreza vidas

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andre domingos

o meu maior temor ...saberseg, 02/05/2016 - 01:13

o meu maior temor ...saber que a população mais pobre é que mais uma vez será a primeira a sofrer,num país que não se combate nunca a corrupção, e muitos discriminam bravamente o assistencialismo. éde envergonhar qqr um :(

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andre domingos

era que eu mais temia .... aseg, 02/05/2016 - 01:09

era que eu mais temia .... a população mais simples mais uma vez é quem vai mais sofrer .

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Claudio Rocha

Navalha na carne....dos pobressex, 29/04/2016 - 10:51

Até onde irá o PB, falso pai do Bolsa Família? Ainda não sei, as notícias são ruins. Pelo sim, pelo não,sugiro que o governo Dilma guarde com atenção um estudo a ele encomendado, e financiado, em 2002 econcluso em 2003 onde "validava" o cadastro único que, na época, não cruzava dados com nenhumaoutra fonte, não permitia atualizar o status de grávida para mãe, que foi feito na pressa da "corrida dasbolsas" dos ministros de fhc então pré candidatos, Serra, Paulo Renato e o PFL nas minas e energia.

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sergior

Se Ricardo Paes de Barrossex, 29/04/2016 - 09:49

Se Ricardo Paes de Barros tiver um mínimo de decência, retornaria aos estudos ou se aposentaria emdefinitivo, depois desse passa-moleque. Ah! Mas ele é ligado ao PMDB e ao PSDB. Não sabe o que éisso: decência.

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Ivan Pedro

Pergunta :sex, 29/04/2016 - 08:05

o que farão so brasileiros diante disto ? Reagirão como seres dignos ou apenas, covardemente, irão

que derruba licenciamento

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o que farão so brasileiros diante disto ? Reagirão como seres dignos ou apenas, covardemente, irãobuscar a acomodação ?

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Marco Vitis

Ruptura Jásex, 29/04/2016 - 09:41

Ivan

O Brasil precisa passar por uma ruptura social.

Este é um momento histórico para a ruptura.

Devemos sair às ruas, mobilizar para uma greve geral, parar o país e meter na cadeia Cunha, Temere suas quadrilhas. Nada de acomodação.

Em SP teremos atos no sábado e no domingo. Quem tem consciência precisa agir...

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