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22-10-2008
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Nutrição e Hidratação em Fim deNutrição e Hidratação em Fim de Vida
Nutricionista Sónia VelhoUnidade de Nutrição e DietéticaInstituto Português de Oncologia de Lisboa-Francisco GentilCongresso Nacional de Cuidados Paliativos 2008
A importância da alimentação ao longo do ciclo da vida
Religiosos,Factores Fisiológicos,
Socio-economicosCulturais,
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Modelo de cuidados paliativos
Terapia de modificação da doença
C ti ã i t ã li tiCurativa, recuperação, intenção paliativa
Cuidados de suporte
Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134--4141
Morte6 mesesApresentação da doença
Intervenção NutricionalTratamentos anti-infecção
Controlo da dor/sintomas
Intervenção nutricional centrada no doente
Intervenção nutricional em fim de vida:Objectivo Geral
ç
Qualidade de Vida
Como se define a qualidade de vida?
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Intervenção nutricional em fim de vida:Objectivos específicos
Definidos com base nas necessidades do doente;
Tempo de sobrevida expectável
Estadio da doença
Objectivos específicos:Objectivos específicos:
Controlar a sintomatologia
Proporcionar conforto
Manter a capacidade funcional
Controlo da sintomatologia
Dietoterapia:Anorexia/alteração doAnorexia/alteração do paladar
Náusea/ vómitos
Diarreia/ obstipação
Disfagia
Xerostomia
• Promover um padrão alimentar com melhor tolerância
• Quando possível… evitar dietas restritivas
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Conforto
Evitar alimentação/hidratação forçada:Inapropriada → afronta à dignidade do doenteAumenta o risco de aspiraçãoPode provocar desconforto ↓↓↓ Qualidade de Vida
32 Doentes oncológicos terminais: • 63% anorexia marcada e 62% sem sede
DeLegge H M e col; Gastr Endos (2005) 62(6):952DeLegge H M e col; Gastr Endos (2005) 62(6):952--99
• Fome/sede debeladas com ↓ quantidades de alimentos/líquidos
Ponderar Dieta Zero Diálogo aberto com os familiares
Dieta zero
Efeitos fisiológicos da Dieta Zero
Nenhum alimento per os:
• Cetogénese e libertação de opioides no cérebro
Desidratação:
• não provoca dor
Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134--4141
opioides no cérebro
inibição da sensação de fome
• nem desconforto, desde que a cavidade oral seja humedecida
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Capacidade funcional
Estado nutricional massa muscularEstado nutricional massa muscular
Intervenção nutricionalpode disfarçar a acentuada deterioração do estado nutricional…
não reverte a caquexia nem altera o prognóstico… não reverte a caquexia, nem altera o prognóstico
Capacidade funcional
Manter ou melhorar a ingestão alimentar:Tratamento farmacológico dos sintomasTratamento farmacológico dos sintomas
Estimuladores do apetite
Aconselhamento dietético
Suplementos alimentares
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Suplementos AlimentaresMito ou realidade?200 Kcal
20g de proteína
250 Kcal
10g de proteína
2,5 dl de Leite gordo;
1 Peça de fruta;
Expectativa? Preço? Sabor dos alimentos?
ç ;
1 Colher de leite em pó;
4 Bolachas Maria;
1 Colher de farinha láctea
Intervenção Nutricional em fim de vida
Privilegiar a alimentação por via oral
Nutricionista/DietistaAconselhamento dietéticoPersonalização da dieta
A maioria dos doentes consegue manter uma ingestão satisfatória por via oral
Nutrição Artificial em fim de vida?
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Nutrição Artificial - DefiniçãoNutrição EntéricaNutrição Parentérica
Sonda nasogastricanasogastrica
Total
CVC
Parcial
Veia periférica
Gastrostomia
Jejunostomia
Excessivamente/Inadequadamente utilizada
Nutrição Artificial
Protocolos de Nutrição Artificial
Diminuição da frequência de nutrição artificial
melhoria na utilização dos recursos
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Nutrição Artificial (NA)
Contra-indicações:
“American Society for Parenteral and Enteral Nutrition”American Society for Parenteral and Enteral Nutrition(A.S.P.E.N.):
Esperança de vida < 1 mêsDoentes oncológicos esperança de vida < 3 meses
ou Índice de Karnofsky ≤ 50%ou OMS performance status >2
Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134--4141
Inexistência de evidência cientifica de beneficioRecusa do doente
Nutrição Artificial: Quando iniciar?
Avaliar o rácio risco/beneficio associado à Nutrição artificial
RiscoBenefício
Planas M, Camilo M, Clinical Nutrition (2002) 21(4):355Planas M, Camilo M, Clinical Nutrition (2002) 21(4):355--6161
Esclarecer vantagens/desvantagens: Decisão Informada
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VantagensPermite o fornecimento de nutrientes e a hidratação
Alguns estudos mostram que a NA pode:
melhorar/manter a capacidade funcionalse tolerada, melhorar a qualidade de vidadiminuir a sensação de fadigamelhorar a sensação de bem estardiminuir a perda ponderalproporcionar conforto a familiares e cuidadores
Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134--41;Morss S,Am J Hosp Pallia Med (2006); 23(5):36941;Morss S,Am J Hosp Pallia Med (2006); 23(5):369--77; 77; Moyniham T e col; J Clinc Oncol (2005), 23(25):6256Moyniham T e col; J Clinc Oncol (2005), 23(25):6256--9.9.
…mas, raramente aumenta a sobrevivência
Escassez de evidência cientifica, estudos com resultados contraditórios
DesvantagensFalsas expectativas
Custos
Análises periodicasAnálises periodicas
Oclusão das vias de acesso, necessidade/avaria de bomba infusora, etc.
Limitação na mobilidade durante a perfusão
Infecções do catéter ou estoma; pneumonia de aspiração
Sintomas gastrintestinais
Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134Fuhrman M P e col; Nutr Clinc Pract (2006) 21:134--4141
A nutrição artificial raramente contribui para melhorar a qualidade de vida
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Nutrição Artificial
Testar a adequação da NA
Moynihan T e col; J Clinic Oncol (2005), 23(25):6256Moynihan T e col; J Clinic Oncol (2005), 23(25):6256--99
Testar a adequação da NA
Se objectivos não atingidos, interromper a NA
Situação melhor aceite pelos familiares
Tipo de Nutrição Artificial?Nutrição EntéricaNutrição Parentérica
Sonda nasogastrica
Total
CVC
Parcial
Veia periférica
nasogastrica
Gastrostomia
Jejunostomia
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Nutrição EntéricaTubo digestivo funcionante
Ingestão cronicamente inferior a 50%
Contra-indicação:Obstrução intestinal Ileus paralítico
Complicações:
Diarreia graveMalabsorção extrema (mucosite)
E f t tPneumonia (aspiração)Diarreia
EnfartamentoEstase Gástrica
Sonda nasogástrica (SNG) <4 semanas
Gastrostomia Endoscópica Percutânea (PEG)>3-4 semanas
Nutrição Entérica (NE)
Menos complicações e custos comparativamente à
nutrição parentérica
Fácil de instituir em ambulatório
Escassez de estudos que demonstrem beneficio da NE
Chernoff R e col, Nutr Clinc Pract (2006); 21:142Chernoff R e col, Nutr Clinc Pract (2006); 21:142--6; Morss S,Am J Hosp Pallia Med (2006); 23(5):3696; Morss S,Am J Hosp Pallia Med (2006); 23(5):369--77.77.
qem doentes em cuidados paliativos
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Um caso…
Sexo feminino, 65 anos
Diagnóstico:Linfoma da amígdala
Tratamento: Quimioterapia
• Destruição do tecido neoplásico; risco elevado de aspiração
Intervenção nutricional:SNG → PEG + NP (tolerava baixo débito)
Voltou para os Açores
Nutrição Parentérica
Tubo digestivo não funcionanteIndicada quando a NE e a alimentação per os não são viáveis
O íex.: Obstrução intestinal, ileus paralítico, etc.
Complicações:
Metabólicas (podem ocorrer por deficiente planeamento) • Hiperglicémia, colestase, alteração da função hepática, alteração
d b l híd i di li id i
• Técnicas• Associadas à inserção do cateter• Flebite
do balanço hídrico, dislipidemia
Sépticas• Infecção no local do cateter
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“Parenteral nutrition prolongs the survival of patients associated with malignant gastrointestinal obstruction.”
Estudo rectrospectivoEstudo rectrospectivo
115 doentes (54% ♀, 46%♂)
Doentes com obstrução gastrointestinal maligna
Fan BG; J Parenter Enteral Nutr (2007) 31(6):508Fan BG; J Parenter Enteral Nutr (2007) 31(6):508--1010
Resultados: nos doentes que fazem NP é de esperar uma maior esperança de vida
Um caso…Sexo feminino, 44 anos
Diagnóstico:Carcinomatose peritoneal
Tratamento:Quimioterapia
Sub-oclusão intestinal:
• Tolerância para pequenas quantidades de alimentos
Intervenção Nutricional:Intervenção Nutricional:Aconselhamento dietético: Identificação dos alimentos com melhor tolerância
Nutrição parentérica em ambulatório
Mantém as tarefas do seu quotidiano
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Quando parar a Nutrição Artificial?
Reavaliar regularmente o equilíbrio entre as vantagens/ desvantagens associadas à NA
Basear a decisão nas premissas que levem à descontinuação da intervenção médica
Diálogo aberto com os familiares/cuidadores
Hidratação artificial (HA)
Vias: endovenosa, entérica ou subcutânea
Argumentos contra a implementação de HA:Ausência de sede
Pode prolongar processo da morte
↓ edema/ascite
↓ Débito glomerular ↓ urina→Anestésico natural
Querido A, Guarda H Manual de Cuidados Paliativos (2006)Querido A, Guarda H Manual de Cuidados Paliativos (2006)
↓ Débito glomerular, ↓ urina→Anestésico natural
↓ Consciência e ↓ sofrimento
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Hidratação artificial
Argumentos a favor da HA:Sensação de conforto
Não existe evidência em concreto que a hidratação possa
prolongar a vida
Melhoria da obstipação
↓ do risco de úlceras de pressão
Evita a confusão mental, fadiga e irritabilidadeEvita a confusão mental, fadiga e irritabilidade
São precisos mais estudos para determinar a influência da hidratação na qualidade de vida
Hidratação Subcutânea: Hipodermoclise
Vantagens:Baixo risco de trombose ou hemorragia significativag g
Fácil manipulação
Infusão corre por gravidade
O local de punção mantém-se por alguns dias
Diminui a necessidade de internamento
Complicações:Edema, equimose, infecção do local de punção
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“Patient’s and Relative’s Perceptions About Intravenous and Subcutaneous Hydration”Estudo transversal: 55 doentes e 48 familiares
90-95% dos familiares e dos doentes consideram que a HA é:
útilútil
pode melhorar a condição clínica
com efeito psicológico benéfico
“Knowledge and Beliefs About End-of-Life Care and the Effects of Specialized Palliative Care: A Population-Based S
Mercadantes S, J Pain Symptom Manage (2005) 30:354Mercadantes S, J Pain Symptom Manage (2005) 30:354--58;Morita T,e col, J Pain Symptom Manage, (2006); 58;Morita T,e col, J Pain Symptom Manage, (2006); 31:30631:306--316 316
Survey in Japan”
Estudo transversal; amostra: 5000 população geral→3061; 866 luto33-50% concordava que a NA e a HA deveria ser mantida até à morte15-30% indicou que a NA e a HA podem aliviar sintomas
“Se Considera la Hidratación y la Nutrición Artificial como un Cuidado Paliativo?”
Estudo Transversal:
256 participantes: 91 utentes do sistema nacional de saúde, 80
enfermeiros, 47 farmacêuticos e 38 médicos
Hidratação: Utentes/profissionais de saúde = Cuidado básico
Nutrição Artificial:
70% d t t id d bá i
Valero M A, e col, Nutr Hosp.(2006); 21 (6):680Valero M A, e col, Nutr Hosp.(2006); 21 (6):680--685685
• 70% dos utentes: cuidado básico
• 45-65% dos Prof. de saúde: tratamento médico
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Nutrição e Hidratação em fim de vida: na prática
Doente
Nutrição e Hidratação
Familiares/ Cuidadores
Profissionais de saúde
ConclusãoPrivilegiar a via oral:
Aconselhamento dietético para minimizar sintomas
→ aporte energético e hídrico satisfatório para o doente
A maioria não necessita ou benificia de Nutrição Artificial
Existem excepções…
Cuidados nutricionais centrados no doenteCuidados nutricionais centrados no doenteBaseada nos objectivos e na definição individual de qualidade de vida