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0 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA NEUROCIÊNCIA APLICADA À EDUCAÇÃO INFANTIL E A CAPOEIRA PEDAGÓCICA Por: Camila Monique Batista Orientadora Profª. Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

NEUROCIÊNCIA APLICADA À EDUCAÇÃO INFANTIL E A CAPOEIRA

PEDAGÓCICA

Por: Camila Monique Batista

Orientadora Profª. Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

NEUROCIÊNCIA APLICADA À EDUCAÇÃO INFANTIL E A CAPOEIRA

PEDAGÓGICA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Neurociência Pedagógica.

Por: Camila Monique Batista

2

AGRADECIMENTOS

A minha querida mamãe que me deu todo apoio, incentivo e amor, ao meu padrinho Joaquim que sempre acreditou em mim e no meu sucesso, meus irmãos Cintia Gabriela e Fabio Batista pelo companheirismo e amor que tiveram por mim, meus amigos Tatiana, Taynah e Karla que me ajudaram nas épocas de prova dúvidas tiveram sempre ao meu lado.

3

DEDICATÓRIA

A Fabiano da Silva Andrades meu professor de

Capoeira, Anderson Adriano, e aos grandes

Mestres que ajudaram no crescimento e

valorização da Capoeira, e a todos capoeiristas

que verdadeiramente tem o objetivo de fazer que

a Capoeira seja fio condutor da aprendizagem de

crianças, adolescentes e principalmente de

adultos.

A minha mãe Sonia Maria Batista, pelo apoio,

confiança e segurança que me transmitiu durante

minha vida toda.

4

RESUMO

Este presente estudo busca através de pesquisas bibliográficas

mostrar um pouco do histórico da neurociência desde seu surgimento até sua

evolução, evidenciando alguns dos estudiosos que influenciaram na sua

propagação no ambiente educacional. E ainda, procura esmiuçar toda a parte

anatômica da circuitaria cerebral para depois adentrar na parte neurológica. A

partir daí, abordar identificando como se dá o processo de armazenamento da

memória, e qual a relação do ensino da capoeira com o controle neural

enfatizando os hemisférios e para finalizar buscar entender de que forma a

musica da capoeira pode ser via de estímulos para ativação das redes

neurais. Toda esta pesquisa será meio de entender afundo o funcionamento

de toda a circuitaria cerebral e comprovar que estas duas ciências, Capoeira e

Neurociência, tem correlação neurofisiológica.

Palavras chaves: Neurociência, Capoeira, redes neurais, memória,

música.

5

METODOLOGIA

Para o aprofundamento deste estudo, foi escolhida a pesquisa

bibliográfica que terá como base textos, estudos e vivências riquíssimas de

autores que tem conhecimentos amplos no assunto, Capoeira na Educação

Infantil e na Neurociência Pedagógica.

Este estudo se caracterizará como pesquisa bibliográfica, baseando-

se em afirmações e questionamentos retirados de textos escritos por autores

reconhecidos. Em algumas situações inclui relatos de pessoas que vivenciam,

de alguma forma, o problema aqui tratado. Não há, pois, estudo de campo, as

respostas apresentadas às questões de estudo são de cunho teórico.

A pesquisa passou pelas seguintes etapas:

(a) primeiro realizei um levantamento de textos que tratam do tema,

considerando particularmente a atualização dos mesmos e a vida profissional

do autor: sua vivência / experiência na educação infantil / da capoeira. Terá

prioridade, também, aos textos mais recentes, redigidos na última década.

Este levantamento inclui tanto os textos que foram ou não aproveitados no

corpo do meu texto;

(b) a partir deste levantamento geral, foi selecionado os que tinham

significativa relação com o estudo; então, foi feito uma leitura mais ampla dos

mesmos para identificar as partes que poderiam ser aproveitadas;

(c) identificadas às partes que poderiam compor o trabalho, passou-

se a realizar uma leitura em profundidade das mesmas, de modo a poder

organizar os temas que seriam abordados nesta pesquisa. Assim, os trechos

de interesse foram separados segundo sua maior ou menor relação com os

temas escolhidos;

(d) com as partes selecionadas e organizadas, passamos a redigir

os capítulos da Monografia que são os seguintes:

Capítulo I- Histórico da Neurociência

1.2 – Entendendo o funcionamento da base neurofisiológica na execução

dos movimentos da Capoeira

6

Capítulo II - Identificar como é o processo de armazenamento da memória

na aprendizagem

Capítulo III-Relação do ensino da capoeira ao controle dos hemisférios:

controle neural

Capítulo IV – Compreender como a música pode ser via de estímulo para a

ativação das redes neurais

(e) elaborada a Monografia no seu todo, será feito o

levantamento de todos os autores usados no texto, com vistas à organização

da parte das Referências (bibliográficas e digitais), incluída ao final deste

relatório.

(f) por último, a Monografia foi submetida à avaliação no âmbito da

disciplina Metodologia da Pesquisa e monografia.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – Histórico da Neurociência 10

1.1 Entendendo o funcionamento da base neurofisiológica na execução dos

movimentos da capoeira 11

1.1.1 Sistema Nervoso Periférico 12

1.1.2 Sistema Nervoso Central 19

1.1.3 O movimento da capoeira no sistema motor 29

CAPÍTULO II-Identificando como é o processo de armazenamento da memória

na aprendizagem 32

2.1 Tipos e características da memória 35

2.2.2 A arte de esquecer 36

2.2.3 A atenção 38

2.2.4 Distribuição da atenção 40

2.2.5 A aprendizagem e a memória 41

CAPÍTULO III-A relação do ensino da capoeira ao controle dos hemisférios:

controle neural 43

CAPÍTULO IV-Compreendendo como a música pode ser via de estímulo para

a ativação das redes neurais 54

4.1 A capoeira e sua musicalidade 54

CONCLUSÃO 65

BIBLIOGRAFIA 67

WEBGRAFIA 69 ÍNDICE 70

8

INTRODUÇÃO

Com a evolução da neurociência permitiu, atualmente, visualizar

cada parte do cérebro vivo em ação, do maior circuito até a sinapse no

diminuto espaço entre neurônios. Agora é possível registrar a atividade elétrica

de uma única molécula no cérebro. Através de técnicas que vem sendo

utilizadas pode-se entender o extraordinário fluxo de estudos científicos sobre

a mente e o cérebro, sobre o processo de pensamento e aprendizagem, nos

processos neurológicos que ocorrem durante o pensamento e a aprendizagem

e no desenvolvimento de competências.

Uma fase bem importante para a vida do ser humano é a infância. E

nela que se pode definir como o período de maior maleabilidade do cérebro e

predisposição a aprender certas habilidades. Por isso, a criança tem maior

facilidade em aprender algo novo e incorporar essa experiência toda a sua

vivencia anterior e aos padrões mentais.

A neurociência veio a contribuir muito no processo de ensino e

aprendizagem dentro dos ambientes educacionais. Ela possibilitou entender o

mecanismo de como o humano aprende e guarda saberes, como se dá

aprendizagem, como os estímulos influenciam no processo de ensino-

aprendizagem nos circuitos neurais tendo origem no conhecimento dos

estudos do sistema nervoso central.

Para acrescentar a todo este processo de ensinar podemos

entender que hoje a Capoeira Pedagógica também tem cunho educacional e

ajuda simultaneamente com a neurociência a desvendar e traçar novas

estratégias para que os cérebros possam assimilar informações motivadas por

aulas prazerosas que sejam fonte de estimulo para que toda a circuitaria possa

ser ativada e assim este estudo verificará a correlação entre estas duas

ciências. Com isso, este estudo, contém os seguintes capítulos:

Capítulo I- Histórico da Neurociência

9

Capitulo II - Identificar como é o processo de armazenamento da

memória na aprendizagem

Capitulo III-Relação do ensino da capoeira ao controle dos

hemisférios: controle neural

Capitulo IV – Compreender como a música pode ser via de estímulo

para a ativação das redes neurais

10

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA

Para começar a discussão acerca do que acontece dentro do corpo

humano, como são produzidos os movimentos da capoeira, primeiramente

deve-se abordar alguns detalhes do objeto de estudo em questão, a

neurociência. Para então, traçar o que consiste seu significado, o histórico do

seu surgimento e a sua evolução sobre: como era e de como hoje se

apresenta dentro do âmbito educacional.

Segundo Relvas (2009, pg.75): “A neurociência é um estudo da

realização física do processo de informação no sistema nervoso humano e

animal.” Onde compreende a neurofisiologia, a neuroanatomia e a

neuropsicologia. Entender como funciona o cérebro é algo muito complexo e

demanda pesquisas minuciosas e experimentos que comprovem ou não

hipóteses que serão levantadas sobre a sua funcionalidade.

As pesquisas sobre a mente humana originou-se o que hoje pode se

chamar neurociência, onde estudiosos pensavam que esta mente surgia por

intermédio da encarnação cerebral, ou seja, através de um espírito imaterial.

Com esta ideia, começou-se a questionar qual era a relação da mente e do

cérebro, qual a contribuição que a neurociência tem com a consciência, com a

cognição e com o cérebro, desta forma iniciou estudos que abordavam os

temas da neurociência desde antigamente até nos dias de hoje.

Pode–se citar, então entre eles:

• Hipócrates- que achava que mente e cérebro era uma única coisa.

• Aristóteles – dizia que a mente existia e que ficava dentro do coração.

• Galeno – no Cristianismo, acreditava que a sede dos humanos eram os

ventrículos e que também tinha a capacidade intelectual do homem.

• Andreas Vesalius - no século XVI afirmava que nada tinha a ver a

capacidade de intelectual do ser humano com os ventrículos.

Na história antiga ainda existiam pesquisadores que contribuíram

com todo este descobrimento da neurociência, tal como Descartes que

descobriu a mente no cérebro e fez uma ligação com a glândula pineal. Onde

11

explicava as atividades do corpo pelos princípios mecânicos, físico e cérebro

funcionavam. Ainda pode-se, mencionar Franz Joseph Gall que ilustrou com

precisão as circunvoluções corticais que em 1790 veio a ser denominado como

cranioscopia – estudo de localização do cerebral, e Johann Spurzheim se

atentou sobre a relação clinica das lesões experimentais e estimulações

localizadas através da experiência de Gall, as 27 regiões, que depois veio a

ser descobertas mais 8.

E Tomas Foster que denominou os estudos de Gall e Spurzheim

de frenologia que vem do termo grego “ pererenos”, que quer dizer, para a

mente. Já Luigi Ronald constatou uma fissura no cérebro que recebeu o seu

nome depois, Pierre Broca trouxe a tona a semelhança anatômica das afasias

e acabou descobrindo uma área no cérebro que veio a ter o nome de Broca,

que é responsável pela fala.

Existiu ainda, Pierre Flourens, que desenvolveu a pesquisa

experimental, onde método usado para localização de lesões no cérebro, Carl

Wernicke responsável pela descoberta de uma área no cérebro que tem

ligação entre a fala e uma região específica do cérebro ao fazer e a

compreensão da linguagem.

Citar alguns poucos exemplos de estudiosos que começaram a

expandir, disseminar esta ciência que hoje é conhecida por Neurociência ajuda

a entender um pouco da sua trajetória e desta forma, acaba sendo mais

prazeroso embarcar nesta profunda imensidão de conceitos e de

possibilidades.

1.1 Entendo o funcionamento da base neurofisiológica na execução dos

movimentos da Capoeira

Para adentrar no funcionamento dos movimentos

neurofisiologicamente deve-se entender como é constituído toda esta

circuitaria neuronal, pois toda sua constituição é altamente complexa e

específica para cada parte do corpo.

Com base na neuroanatomia compreendesse um pouco melhor a

sua divisão e suas funções, sendo fundamental para situar a pesquisa em

questão. Então, para isto primeiramente e importante perceber

12

anatomicamente como o sistema nervoso central é dividido, e que é desta

forma: Sistema Nervoso Periférico e Sistema Nervoso Central.

Figura. 1.0- Divisão do Sistema Nervoso anatomicamente

Fonte: Bear, M.F., Connors, B. W.,& Paradiso, M.A., Neurociências – Desvendando o sistema nervoso . 2ª edição- Porto Alegre: Artmed, 2002

1.1.1 Sistema nervoso periférico

Começar a explicar a estrutura do Sistema Nervoso Periférico é

necessário para se entender como ele é composto, e que se constitui de

gânglios, de terminações nervosas e de nervos.

Os gânglios se apresentam como aglomerados de corpos celulares

de neurônios, e são os nervos que fazem a ligação do SNC aos órgãos

periféricos que tem a cor esbranquiçada com formato de cordões, e as

terminações nervosas que se localizam nas extremidades dos axônios mais

exatamente nos seus prolongamentos que se interligam com células efetoras e

células nervosas.

13

Nervos

Os nervos são cordões esbranquiçados compostos de feixes de

fibras nervosas reforçadas por tecidos conjuntivos que ligam ao sistema

nervoso central aos órgãos periféricos. E tem a função de conduzir por meio

das fibras os impulsos nervosos do sistema nervoso central (impulsos

aferentes), estas fibras são constituídas em geral por mielínicas com

neurilema. Estas estruturas são altamente vascularizadas.

Os nervos, segundo Meneses (2006 ,pag,51),

Os nervos periféricos são cordões com aspectos esbranquiçados que fazem a conexão do sistema nervoso central com o resto do corpo. São formados por fibras nervosas aferentes(cutâneas, viscerais e motoras) e/ ou eferentes (somáticas e viscerais).

A condução dos impulsos nervosos sensitivos (ou aferentes)

acontece através dos prolongamentos periféricos dos neurônios sensitivos.

Estes neurônios que têm seu corpo localizado nos gânglios das raízes dorsais

dos nervos espinhais e nos gânglios de alguns nervos cranianos.

Nervos espinais

Originam-se da medula espinal que é formado pelas raízes dorsal e

ventral que saem da medula espinhal. O nervo espinhal é a porção que passa

para fora das vértebras através do forame intervertebral.

14

Fonte: www.infoescola.com Figura 1.2

Nervos cranianos

São aqueles que se originam no encéfalo onde fazem as conexões

com esta mesma região. Na sua maioria ligam-se ao tronco encefálico, exceto

aos nervos olfatórios e o óptico, que se ligam respectivamente ao telencéfalo e

ao diencéfalo. As fibras dos nervos cranianos podem ser classificadas em

aferentes e eferentes. Os dois tipos de fibras (aferentes e eferentes) são

divididas em somáticas e viscerais que podem ser gerais ou específicas.

15

Figura 1.3

Fonte: http://www.ebah.com.br/

Terminações nervosas

São fibras nervosas das extremidades periféricas dos nervos que

modificam sua origem dando origem a formações mais ou menos complexas,

podendo se apresentar de dois tipos: sensitivas ou aferentes (receptores) e

motoras ou eferentes. Quando estimuladas com energia de forma adequada

(luz, calor outra coisa fonte) dão origem a impulsos nervosos que vão até as

fibras que se localizam na extremidade.

16

Figura 1.4

Fonte : http://pt.slideshare.net/

Estas terminações são divididas em dois tipos que se subdividem

em :

• Sensitivas ou aferentes

Receptores gerais: ocorrem em todo corpo, havendo maior

concentração na pele. Em sua maioria apresenta estruturas mais simples que

a dos receptores especiais, podendo ser de dois tipos:

• Livres: são os mais frequentes e surgem das redes nervosas sub-

epiteliais e ramificam-se entre as células da epiderme.

17

Figura 1.5

• Encapsulados: são mais complexas, pois existe ramificação da

extremidade dos axônios dentro da capsula conjuntiva, também chamado de

corpúsculos sensitivo da pele.

• Receptores especiais: os receptores estão restritos a uma

determinada área. São mais complexos. Ex.: visão (retina), audição e equilíbrio

(orelha interna), gustação (língua e epiglote) e olfação (cavidade nasal).

• Existem determinados receptores, altamente especializados,

capazes de captar estímulos diversos. Tais receptores, chamados receptores

sensoriais, são formados por células nervosas capazes de traduzir ou

converter esses estímulos em impulsos elétricos ou nervosos que serão

processados e analisados em centros específicos do sistema nervoso central

(SNC), onde será produzida uma resposta (voluntária ou involuntária). A

estrutura e o modo de funcionamento destes receptores nervosos

especializados é diversa.

18

Tipos de receptores:

1) Exteroceptores: respondem a estímulos externos, originados

fora do organismo.

2) Proprioceptores: os receptores proprioceptivos encontram-se no

esqueleto e nas inserções tendinosas, nos músculos esqueléticos (formando

feixes nervosos que envolvem as fibras musculares) ou no aparelho vestibular

da orelha interna. Detectam a posição do indivíduo no espaço, assim como o

movimento, a tensão e o estiramento musculares.

3) Interoceptores: os receptores interoceptivos respondem a

estímulos viscerais ou outras sensações como sede e fome.

Em geral, os receptores sensitivos podem ser simples, como uma

ramificação nervosa; mais complexos, formados por elementos nervosos

interconectados ou órgãos complexos, providos de sofisticados sistemas

funcionais.

Terminações nervosas motoras podem ser: 1. Somáticas – relacionam com as fibras musculares estriadas

esqueléticas através das placas motoras, se apresentando como fibra

colinérgica. Na placa motora, a terminação axônica emite finos ramos

contendo pequenas dilatações, os botões sinápticos, de onde é liberado o

neurotransmissor.

Figura 1.6

Fonte:www.emescam.br

19

1.1.2 Sistema nervoso central

Esta estrutura é de tamanha importância para todo o

funcionamento do corpo humano, das ações e dos comportamentos, pois é

nele que todas as informações energéticas são captadas e decodificadas.

Assim como fala Brandão, (pag.25):

“O sistema nervoso funciona como um dispositivo capaz de perceber variações energéticas do meio externo ou interno no organismo, analisar essas variações quanto à sua qualidade, intensidade e localização para, finalmente, organizar comportamentos que constituam uma resposta adequada ao estímulo que foi apresentado ao indivíduo.“

O Sistema Nervoso Central encontra-se no interior da cavidade

craniana, no encéfalo que é subdivido em duas partes em: cérebro, tronco

encefálico, cerebelo e no canal vertebral, na medula espinal.

O cérebro anatomicamente falando, corresponde ao prosencefalo

que é divido em telencéfalo e diencéfalo, o mesencéfalo não se divide e já o

rombencéfalo se divide em metencéfalo (ponte e cerebelo) e mielencéfalo

(bulbo). Agora, podem-se analisar estas estruturas do Sistema Nervoso Central

mais detalhadamente partindo da medula espinal.

20

Medula espinal

Fonte : NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Figura. 1.7 – Medula espinal

A medula espinhal é envolvida pelos ossos da coluna vertebral e

em continuidade com o tronco encefálico. Esta estrutura tem formato caudal

que recebe e é o maior condutor de informações da pele, das articulações, dos

músculos, das vísceras que dá origem a 31 pares de nervos espinais que se

dividem em 6 pares que são: cervical superior, dilatação cervical, dorsal,

lombar, cone terminal e filamento terminal. A medula espinhal consegue se

comunicar com o corpo através dos nervos espinhais que formam o sistema

nervoso periférico, nervos estes que surgem da medula pelos espaços

existentes entre cada vertebra da coluna vertebral. Para cada nervo associa-se

a medula conforme a raiz dorsal e a raiz ventral.

Ela é constituída de corpos celulares dos neurônios localizados na

sua parte central (área acinzentada ao corte transversal), e das vias

ascendentes e descendentes que estão localizadas na periferia (aspecto

esbranquiçado).

Ao centro da medula existe uma figura que se assemelha a “letra H”,

nas partes anteriores a esta é denominada de cornos ventrais e nas partes

posteriores de cornos dorsais. A parte central desta região é chamada de

21

coluna ou corno intermédio-lateral (de T1a L2e de S2a S4) e contém neurônios

autonômicos pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo.

Na região denominada como corno ventral onde se localiza as

terminações nervosas dos axônios que levam informações motoras dos

centros superiores, ocorre as sinapses com os corpos celulares denominados

neurônios motores ou motoneurônios, de onde os axônios saem para inervar

nos músculos.

É na região do Corno dorsal que existem as terminações das células

ganglionares que saem da raiz dorsal que assim trazem as informações

sensoriais da periferia. Nesta estrutura as fibras sensoriais estão altamente

organizadas.

Encéfalo

É a parte do SNC dentro do crânio, sendo dividida em três partes:

cérebro, cerebelo e tronco encefálico.

Cérebro

Este é divido anatomicamente em lobos.

Os cinco lobos cerebrais são:

Fonte: http://www.lookfordiagnosis.com/

Figura 1.8

1. Lobo Frontal - possui três áreas distintas e complementares:

Córtex motor primário

Motricidade voluntária

Córtex pré-motor

22

Integração dos atos motores e sequências de ações aprendidas

Córtex pré-frontal

Planejamento e análise de consequências das ações futuras

Conexões:

Sistema límbico

Córtex pré-motor

Formação reticular

Hipotálamo

Amígdala

Hipocampo

Estruturas subcorticais

2. Lobo Parietal – possui três áreas distintas:

Área anterior: somatossensorial primária

• Recebe as sensações corporais

o Tato

o Dor

o Temperatura

Área posterior : somatossensorial de associação

• Integração, interpretação e analise de sensações

• Reconhecimento corporal pela propriocepção

• Localização espacial pela visão

Área de Wernicke : compreensão da linguagem

• Em parte no lobo parietal e em parte no lobo temporal

• Agrupa palavras para formar um pensamento coerente

3. Lobo Temporal - possui funções bem diversas:

Área auditiva primária

• Recebe as informações auditivas

Área auditiva secundária

• Integra as informações com as existentes na memória

23

• Busca compreender o que está sendo ouvido

Área de Wernicke (parte)

Área visual terciária

• Lembrança de rostos e objetos

• Processamento visual geral

Memória

• Verbal e não-verbal

Controle Emocional

• Personalidade

• Controle de tendências egocêntricas

• Controle da agressividade e paranoia

4.Lobo Occipital – possui diversas áreas especializadas, e é divida

normalmente desta forma:

Área visual primária

• Recebe as informações visuais

Área visual secundária

• Integra as informações com as existentes na memória

• Busca compreender o que esta sendo visto

Áreas especializadas

Reconhecimento da dor

• Integração das imagens em movimentos

• Estabelecimento da distância entre si e um objeto ou entre um

objeto e si

• Percepção visual de profundidade

5.Lobo da Ínsula - é um lobo interno, normalmente

torna-se visível a partir do afastamento dos lobos temporal e frontal/parietal,

especialmente pelo sulco lateral. Possui funções relacionadas com:

24

Correlações emocionais

• Associação de sons, cheiros ou sabores com conteúdo emocional

Percepção de estímulos

• Especialmente estímulos desagradáveis, angustiantes

Necessidades conscientes

• Fome

• Dor

• Necessidade de se drogar

Telencéfalo

Fonte : http://www.lookfordiagnosis.com/ Figura1.9

Constitui os hemisférios cerebrais direito e esquerdo separados

pela fissura longitudinal do cérebro.

A camada superficial dos hemisférios é chamada de córtex cerebral

e que mede de 2 a 6 mm de espessura. É composta de substância cinzenta,

que é formada por agrupamento de corpos celulares e na estrutura cerebral o

córtex possui giros (massa cerebral) e sulcos (espaços entre os giros).

25

Diencéfalo

Fonte:/www.google.com.br

Figura 2.0

O diencéfalo juntamente com o mesencéfalo são partes do cérebro

mais desenvolvidas. Eles são intimamente ligados, porém possuem

características distintas. O diencéfalo é situado na parte mediana na face

interior do cérebro e, é composto das seguintes regiões: hipotálamo, tálamo,

epitálamo e subtálamo.

• Hipotálamo – localizada no encéfalo abaixo do tálamo e

acima da hipófase. E considerada um das estruturas mais importantes

do sistema nervoso. Possui dimensão pequena e é formado por células

de matéria cinzenta, e ainda se conecta com outras estruturas do corpo

humano. Além disso, controla o comportamento emocional e várias

condições internas do corpo, como por exemplo, temperatura e a

vontade de comer e beber que são denominadas funções

neurovegetativas internas do encéfalo.

• Tálamo - encontra-se acima do sulco hipotalâmico, e faz

parte do sistema límbico. E constituído de substância cinzenta e

apresentam duas grandes massas ovoides de tecido nervoso, com uma

extremidade anterior pontuda, o tubérculo anterior do tálamo e outra

26

posterior, bastante proeminente, o pulvinar do tálamo. Os dois ovóides

talâmicos estão unidos pela aderência intertalâmica e relacionam-se

medialmente com o III ventrículo, a porção posterior, apresenta uma

grande eminência, que se projeta sobre os corpos geniculados lateral e

medial. O corpo geniculado medial faz parte da via auditiva, o lateral da

via óptica.

• Epitálamo - localizado na parte superior e posterior do

diencéfalo. Contém formações endócrinas e não endócrinas. A

formação endócrina é a mais importante, pois é a glândula pineal. As

formações não endócrinas são os núcleos da habênulas, situados no

trigono da habênula, nas comissuras das habênulas, nas estrias

medulares estrias medulares e na comissura posterior. Com exceção da

comissura posterior, todas as formações não endócrinas do hepitálamo

pertencem ao sistema límbico, estando, pois, relacionadas com a

regulação do comportamento emocional.

• Subtálamo - esta compreendida na zona de transição entre

o diencéfalo e o tegumento do mesencéfalo. Sua visualização é melhor

em cortes frontais do cérebro. Verifica-se que ele se localiza abaixo do

tálamo, sendo limitado lateralmente pela cápsula interna e medialmente

pelo hipotálamo. Esta situado na transição com o mesencéfalo, e

algumas estruturas mesocefálicas estendem-se até o subtálamo, como

um núcleo rubro, a substância negra e a formação reticular, constituindo

esta chamada de zona incerta do subtálamo. O subtálamo apresenta

formações de substância branca e cinzenta, sendo a mais importante o

núcleo subtalâmico. Lesões no núcleo subtalâmico provocam uma

síndrome conhecida como hemibalismo, caracterizada por movimentos

anormais das extremidades.

27

Cerebelo

Fonte : http://fisioterapiapucminas.blogspot.com.br/

Figura: 2.1

É um órgão do sistema nervoso que se origina da parte dorsal do

metencéfalo que se localiza dorsalmente ao bulbo e a ponte. E constituído de

um centro de substância branca, o corpo medular do cérebro, onde concentra-

se as laminas brancas do cerebelo. Ele recebe impulsos sensitivos de

articulações, músculos, tendões, olhos, órgãos de equilíbrio, sendo

assim responsável pelos reflexos e pelos movimentos, atuando

também no tônus muscular.

28

Tronco encefálico

Fonte: http://www.afh.bio.br/

Figura 2.2

É uma estrutura do encéfalo que fica entre o tálamo e medula

localizando-se ventralmente ao cerebelo. Constituído por corpos de neurônios

que se juntam em núcleos e fibras nervosas que se agrupam em feixes

chamados tractos, fascículos ou lemniscos. Possui estruturas como o bulbo, o

mesencéfalo e a ponte. Algumas destas estruturas são responsáveis pelas

funções básicas para a manutenção da vida como: a respiração, o batimento

cardíaco e a pressão arterial.

Mesencéfalo

Fica localizado entre a ponte e o cerebelo. Esta estrutura pode ser

chamada também de pedúnculo cerebral. E nesta área que passam os

estímulos que saem e vão para o cérebro, além de ter estruturas que

controlam a postura e ativação do córtex cerebral.

Ponte

Está situada abaixo do mesencéfalo, local onde fazem as principais

conexões fronto-ponto-cerebelares por intermédio dos núcleos pontinos.

.

29

Bulbo

Fonte: www.abcdamassagem.com.b

Figura 2.3

É uma porção inferior do tronco encefálico, simultaneamente há

outros órgãos como o mesencéfalo e a ponte que estabelecem comunicação

entre o cérebro e a medula espinhal. A forma do bulbo lembra um cone

cortado, no qual a substância branca é externa e a cinzenta interna. É um

órgão condutor de impulsos nervosos e também está relacionado com funções

vitais.

1.1.3 O movimento da capoeira no sistema motor

Depois de entender um pouco das estruturas que compõem o

sistema nervoso agora o desafio e adentrar no mecanismo da execução dos

movimentos da capoeira no nosso corpo.

Para Kandel (pag. 641) “Mover as coisas é tudo o que a

humanidade pode fazer, e, para isso, o único executor é o musculo, seja para

sussurrar uma sílaba ou derrubar uma floresta”.

Para tamanho repertório de movimento que o ser humano tem, ele

conta com 640 músculos esqueléticos.

Os movimentos começam a serem processado através de

informações sensoriais corporais e do meio externo, os centros motores e a

medula espinal transmitem comandos neurais que realizam movimentos

intencionais e coordenados que agem sobre os músculos, causando

30

contrações e gerando os movimentos que são denominadas eferências

motoras. As aferências sensoriais ocorrem através da informação cinemática

que envolve posição, velocidade, aceleração da mão, ângulos articulares e

comprimentos dos músculos sem referências as forças determinantes que os

causam e da informação cinética que são aquelas forças geradas ou

experimentadas pelo corpo.

Para tamanha complexidade do processamento da ação do

movimento o sistema motor esta dividido em uma hierarquia funcional e cada

nível varia conforme as tomadas de decisões.

O primeiro nível é o mais superior e mais abstrato está ligado ao

córtex pré-frontal, pois busca a relacionar a intencionalidade do movimento, o

segundo é direcionado ao plano motor envolvendo e fazendo interação entre a

área parietal posterior e as áreas pré-motoras do córtex cerebral.

As características espaciais de um movimento são especificadas

pelo córtex pré- motor tendo como base a informação sensorial dada pelo

córtex parietal posterior acerca do ambiente e da sua posição do corpo no

espaço.

O terceiro é o mais inferior e o que coordena os detalhes temporais

e espaciais das contrações musculares necessárias para a execução do

movimento planejado. Coordenação é produzida pelo córtex motor primário,

tronco encefálico e medula espinal.

Em atividades que exigem mais elaboração tal com é o caso da

capoeira tem no córtex motor o ponto de partida. Pois é ele que conecta e dá

continuidade ao processo iniciado em áreas sensoriais e de associações do

córtex cerebral.

O córtex motor está situado no giro pré central que corresponde à

área 4 de Brodmann, onde existem células gigantes de 50 a 80 um de

diâmetro em formato de pirâmides chamadas de células piramidais ou células

de Betz. Essas células piramidais permitem a ligação através de canais direto

do cérebro para os neurônios do corno ventral da medula, os motoneurônios.

Os motoneurônios são denominados vias finais comuns, pois e através deles

que incidem os neurônios das vias reflexas, da via piramidal ou da

31

extrapiramidal, e as contrações musculares ou respostas motoras ocorrem em

ultima analise , o resultado de sua ativação.

O sistema piramidal possibilita é a via motora direta entre o córtex,

tronco encefálico e a medula espinal, pois são e a saída dos impulsos motores

dirigidos para execução dos movimentos programados, organizados e

elaborados nas zonas motoras secundárias e terciárias do córtex frontal.

32

CAPÍTULO II

IDENTIFICAR COMO É O PROCESSO DE

ARMAZENAMENTO DA MEMÓRIA NA APRENDIZAGEM

Para situar os leitores deste estudo, será feita uma sequência de

como se dá este processo de aprendizagem mediante ao armazenamento das

informações.

Primeiramente é preciso definir, o que é memória:

Segundo Izquierdo,(2011, p.11): “Memória significa aquisição,

formação, conservação e evocação de informações”. Esta curiosa capacidade

mental forma a base de nosso conhecimento, está envolvida com a orientação

no tempo e no espaço e nas habilidades intelectuais e mecânicas do corpo do

ser humano.

As memórias são feitas por células nervosas (neurônios), se

armazenam em redes de neurônios e são evocadas pelas mesmas redes

neuronais ou por outras (fig.1).

Fig.1 (esquema básico de um neurônio)

Fonte : https://sinapsaprender.wordpress.com/2014/02/24/sobre-sinapses-e-aprendizagem/

É um processo complexo, que envolve troca de informações entre

os neurônios, através da transmissão sináptica, explicada abaixo por Houzel

(1999,site Cérebro Nosso de Cada Dia):

“...o que permite que a atividade elétrica de um neurônio influencie a atividade elétrica do neurônio seguinte é a transmissão sináptica, o processo de transformação de um sinal elétrico em um sinal químico, e deste sinal químico de volta em um sinal elétrico - agora, no neurônio do outro lado da sinapse. A sinapse, portanto, é esse local onde a atividade de

33

um neurônio é capaz de influenciar a atividade do outro neurônio (fig.2). Essas substâncias liberadas são os neurotransmissores, ou neuromoduladores, dependendo de sua ação sobre a célula pós-sináptica”.

Fig.2 (transmissão sináptica)

Fonte : http://www.cerebronosso.bio.br/sinapses/

A memória não está localizada em uma estrutura isolada no

cérebro; ela é um fenômeno biológico e psicológico envolvendo um conjunto

de sistemas cerebrais que funcionam juntos:

O lobo temporal está localizado abaixo do osso temporal (acima das

orelhas), assim chamado porque os cabelos nesta região geralmente são os

primeiros a ser tornarem brancos com o tempo. Alguns estudos apontam esta

região como sendo particularmente importante para armazenar eventos

passados.

(Fig.3) Fonte : http://meucerebro.com/

Nesta região também existe um grupo de estruturas interconectadas

entre si que parece exercer a função da memória para fatos e eventos

(memória declarativa), entre elas está o hipocampo, as estruturas corticais

circundando-o e as vias que conectam estas estruturas com outras partes do

cérebro:

34

(Fig.5) Fonte : http://www.cerebromente.org.br/n01/memo/memoria.htm

• O hipocampo: ajuda a selecionar onde os aspectos importantes para fatos

e eventos serão armazenados e está envolvido também com o

reconhecimento de novidades e com as relações espaciais, tais como o

reconhecimento de uma rota rodoviária.

• A amígdala: se comunica com o tálamo e com todos os sistemas

sensoriais do córtex, através de suas extensas conexões. Os estímulos

sensoriais vindos do meio externo como som, cheiro, sabor, visualização e

sensação de objetos, são traduzidos em sinais elétricos, e ativam um

circuito na amígdala que está relacionado à memória, o qual depende de

conexões entre a amígdala e o tálamo. Conexões entre amígdala e

hipotálamo, onde as respostas emocionais provavelmente se originam,

permitem que as emoções influenciem a aprendizagem, porque elas ativam

outras conexões da amígdala para as vias sensoriais, por exemplo, o

sistema visual.

• O Córtex pré-frontal: tem um papel importante na resolução de problemas

e planejamento do comportamento. Uma razão para se acreditar que o

córtex pré-frontal esteja envolvido com a memória, é que ele está

interconectado com o lobo temporal e o tálamo.

2.1. Tipos e características da Memória: Existem diferentes categorias de memórias, entre elas estão:

• A memória ultra-rápida: a retenção não dura mais que alguns

segundos;

35

• A memória de curto prazo (ou curta duração): que pode durar

minutos ou horas e serve para proporcionar a continuidade do

nosso sentido do presente;

• A memória de longo prazo (ou de longa duração): que estabelece

traços duradouros (pode durar dias, semanas ou mesmo anos). O

processo de armazenar novas informações na memória de longa

duração é chamado de consolidação. Izquierdo (2011, p.45),

De acordo com Izquierdo (2011, p.25), a nossa capacidade de

lembrar eventos não se reflete na operação de um único sistema de memória,

mas em uma combinação de no mínimo duas estratégias usadas pelo cérebro

para adquirir informação. As principais são:

• Memória operacional: ela mantém a informação viva durante poucos

segundos ou minutos, enquanto ela está sendo percebida ou

processada. Armazenamos em nossa memória operacional, o local

onde estacionamos o automóvel, uma informação que será necessária

até o momento de chegarmos ao carro, por exemplo.

• Memória declarativa (ou explícita): é a memória para fatos e eventos,

por exemplo, lembrança de datas, fatos históricos, números de telefone,

etc. Reúne tudo o que podemos evocar por meio de palavras (daí o

termo declarativa). Dividida em:

• Episódica: quando envolve eventos datados, relacionados

ao tempo. Usamos a memória episódica, por exemplo, quando

lembramos do ataque terrorista em 11 de setembro;

• Semântica: Abrange a memória do significado das

palavras (do latin "significado"), usamos este tipo de memória

ao aprender que Einstein criou a teoria da relatividade, ou que

a capital da Itália é Roma.

• Memória não-declarativa (ou implícita): Se difere da explícita

(declarativa) porque não precisa ser verbalizada (declarada). É a memória

para procedimentos e habilidades, por exemplo, a habilidade para dirigir,

jogar bola, dar um nó no cordão do sapato e da gravata, etc. Pode ser de

quatro subtipos:

36

• Memória adquirida e evocada por meio de "dicas" Priming (Izquierdo, 2011, p 34): memória de representação perceptual - que corresponde à imagem de um evento, preliminar à compreensão do que ele significa. Um objeto, por exemplo, pode ser retido nesse tipo de memória implícita antes que saibamos o que é, para que serve. Considera-se que a memória pode ser evocada por meio de "dicas".

• Memória de procedimentos - refere-se às habilidades e

hábitos. Conhecemos os movimentos necessários para dar um

nó em uma gravata, nadar, dirigir um carro, sem que seja

preciso descrevê-lo verbalmente.

• Memória associativa e Memória não-associativa: Estas

duas últimas estão ligadas a algum tipo de resposta ou

comportamento. Empregamos a memória associativa, por

exemplo, quando começamos a salivar pelo simples fato de

olhar para um alimento apetitoso, por termos, em algum

momento de nossa vida associado seu aspecto ou cheiro à

alimentação. Por outro lado, usamos a memória não

associativa quando, sem nos darmos conta, aprendemos que

um estímulo repetitivo, por exemplo, o latido de um cãozinho,

não traz riscos, o que nos faz relaxar e ignorá-lo.

2.2.2 A arte de esquecer

A memória é tão fundamental ao homem quanto o esquecimento de

certos dados, fatos ou acontecimentos. O excesso de informações e os ruídos

da nossa sociedade vêm afetando nossa saúde mental. Temos a necessidade

de "apagar" algumas lembranças para nosso bem estar. De acordo com

Izquierdo(2010), em seu livro “A arte de Esquecer”:

“De fato, é preciso esquecer, ou pelo menos manter longe da evocação certas lembranças que nos perturbam, como aquelas de medos, humilhações, desencantos amorosos e outros maus momentos. Já pensou se nos lembrássemos de todos os nossos fracassos? Passaríamos metade da vida nos remoendo. Para nossa paz de espírito, por meio de um mecanismo de autoproteção, o cérebro simplesmente inibe determinadas memórias, um fenômeno que os psicanalistas

37

chamam de repressão. E isso ocorre o tempo todo, mesmo sem percebermos".

O cérebro humano, apesar de ser fantástico processa e armazena

informações de forma limitada. Para reter novos dados a mente precisa de

intervalos de descanso e também deixar de lado memórias desnecessárias.

Seria incrível caso nos lembrássemos de cada palavra, som, gesto, imagem,

cheiro ou cada sensação que passa ao longo das nossas vidas, porém nosso

cérebro não consegue armazenar tantos dados assim.

Para Izquierdo (2010), a arte de esquecer é um dos fenômenos

mais importantes da memória, já que possibilita a mente abrir novas janelas

para adquirir mais informações.

Izquierdo (2010) ressalta também a importância dos intervalos de

descanso da mente para recompor a capacidade de absorção do

conhecimento:

"Sabe-se que o ser humano apresenta oscilações em sua capacidade de atenção, cujas ondas duram aproximadamente noventa minutos. Logo após absorver um certo número de informações consecutivas, dependendo da densidade, precisamos de um descanso para metabolizar tais dados".

Por mais que a memória humana seja muito ampla e resistente,

Izquierdo (2010), afirma em seu vídeo: “Memória”, que a nossa memória

atualmente trabalha no limite, principalmente por causa do excesso de

informações e ruídos da nossa sociedade. Somos bombardeados por

informações, vindas da televisão, computadores, celulares, internet, ipod, ipad

e outras coisas mil. Até agora não chegamos ao limite do que nossa memória

de trabalho pode suportar, porém já percebemos que todo este ruído vem

afetando e muito nossa saúde mental.

Em seu livro "Silêncio, por Favor", Izquierdo (2011) defende a

necessidade de escapar muitas vezes deste ambiente cheio de ruídos para

conseguir pensar e articular-se com profundidade:

"O ruído não é só auditivo, é visual, linguístico e multisensorial. O ruído não nos deixa distinguir os sinais que realmente nos interessam e por isso nos incomoda. Afirmo que não são os

38

estímulos em si que nos perturbam, pois os humanos estão ai para receber, analisar, filtrar e guardar informações, o problema é que estamos construindo um mundo no qual o principal hoje é o ruído e não os sinais".

Para Izquierdo (2010), as pessoas vêm absorvendo tantos códigos,

valores, ícones e imagens que acabam por não conseguir pensar com

profundidade em quase nada, o que atrapalha paralelamente a memorização,

a percepção e a sensibilidade. Nesse sentido, Izquierdo (2010) afirma que é

preciso selecionar os sinais em meio a tantos ruídos, que só poluem nossa

mente:

"Temos que discriminar informação de ruído, separar o joio do trigo, tanto para evitarmos absorver coisas que não valem a pena ser evocadas, saturando o cérebro de mediocridades, como também obtermos mais qualidade de vida, já que teremos mais tempo para fazer o que realmente importa, como, por exemplo, amar, pensar, ser nós mesmos".

2.2.3 Atenção

No que se refere a selecionar informações, uma maneira importante

pela qual a percepção se torna consciente é através da atenção que, em

essência, é a focalização consciente e específica sobre alguns aspectos ou

algumas partes da realidade. Assim sendo, nossa consciência pode,

voluntariamente ou espontaneamente, privilegiar um determinado conteúdo e

determinar a inibição de outros conteúdos vividos simultaneamente. De acordo

com, James (1890):

“Todos sabem o que é atenção. É tomar posse da mente, de forma clara e vívida, de um dos muitos que parecem ser os objetos e linhas de pensamento simultaneamente possíveis...”

Em qualquer ambiente existem vários estímulos que podem chegar

ao cérebro para serem processados. Sensações táteis, visuais, olfativas e

nossos próprios pensamentos estão presentes todo o tempo, mesmo quando

não nos damos conta deles.

39

Existem diferentes redes neurais que processam diferentes

estímulos. Então, em outras palavras, atenção pode ser definida como a

atividade neural que facilita o processamento de determinada informação

selecionada e inibe o processamento de informações concorrentes.

Toda essa atividade serve para que informações preferenciais sejam

processadas de forma eficiente, até porque se acredita que o sistema nervoso

tenha capacidade limitada de processamento. Mas fato é que ao focar a

atenção em alguma tarefa, realiza-se essa tarefa mais facilmente e de uma

forma melhor do que se não tivesse focado a atenção. Inclusive aprender e

memorizar determinada informação, isso porque atenção e memória são

processos cognitivos altamente interligados e, em alguns casos, até

dificilmente dissociados.

Uma série de fatores pode modificar a eficácia da atenção mesmo

dentro dos limites da normalidade. Vários estados emocionais podem alterar a

capacidade de atenção, ora alterando sua intensidade, ora alterando sua

tenacidade ou sua vigilância. Sob a influência de determinados alimentos, de

bebidas alcoólicas e de substâncias farmacológicas, a atenção também pode

experimentar alterações em seu rendimento e em sua eficiência.

Para que uma lembrança seja eficaz é indispensável à compreensão

do objeto sobre o qual se destina a atenção, condição essa que depende da

afetividade e do interesse.

40

2.2.4 Distribuição da Atenção

(Fig. 5) Fonte:http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/07/nosso-cerebro-

e-um-orgao-fantastico-e.html

A atenção da pessoa, num determinado momento pode estar

distribuída de várias maneiras no campo da realidade. Pode estar concentrada

num único objeto, dando-se pouca atenção ao resto, pode estar espalhada,

sem que uma parte específica esteja predominantemente em foco ou, por fim,

pode estar dividida entre vários objetos, quando então a pessoa procura

prestar atenção, simultaneamente, a duas ou mais coisas. Quanto maior a

divisão da atenção entre objetos, maior a perda de qualidade da atenção dada

a cada parte.

Atenção pode ser entendida como um holofote em uma peça de

teatro: facilita o que quer que seja visto e oculta e dificulta a visão do que não

se deseja que seja visto (fig. 6).

41

(Fig.6) Fonte : http://neuroeduca.wix.com/blog#!o-que-e-atencao/czvb

2.2.5 Aprendizagem e memória

Segundo Marta Relvas (2010), "Aprender é uma questão de foco,

organização e ritmo neural”. A aprendizagem é uma associação de memória,

atenção, concentração, interesses, desejos, estímulos intrínsecos

(neurotransmissores/hormônios) e extrínsecos (informações externas do

ambiente) que permeiam a mente e o cérebro humano.

O cérebro sozinho não possui função nenhuma, ele só estabelece

um funcionamento quando em conjunto com outros sistemas que se

interconectam, recebem e respondem aos estímulos para realizar um potencial

de atividades elétricas e químicas.

A forma de aprender está relacionada ao recebimento de estímulos

que são captados pelos sentidos. Esses estímulos conhecidos como

informações (som, visão, tato, gustação, olfato) chegam ao tálamo que é uma

estrutura no cérebro que tem a função de receber esses estímulos e reenviá-

los para áreas específicas que são responsáveis na elaboração, decodificação

e associação dessas informações. O tálamo funciona como um “aeroporto” e

junto com o hipotálamo, as amígdalas cerebrais (responsável pela emoção), e

42

o hipocampo (responsável pela memória de longo prazo), promovem as

lembranças e a aprendizagem significativa.

A prática pedagógica aparece neste contexto, mostrando caminhos

para o professor tornar-se um mediador do como ensinar com qualidade

através de recursos pedagógicos que estimulem o aluno a pensar. De acordo

com Relvas (2010), torna-se fundamental para o professor promover os

estímulos corretos no momento certo para que o aluno possa integrar, associar

e entender. Esses estímulos quando captados e aplicados no cotidiano, podem

ser transformados em uma aprendizagem significativa e prazerosa no processo

escolar.

É fundamental destacar a função da escola, pois transmite valores e

ideias que servem como espelho da sociedade em que se insere, mostrando

sob qual código ético se tecem as relações. Representam também a cultura no

espaço e no tempo físico em que a criança permanece fora de seu lugar de

origem, a família.

É importante o educador estar atento a estas questões, pois a

escola necessita junto com a família preparar para os desafios da vida

profissional, pessoal e emocional.

43

CAPÍTULO III

A RELAÇÃO DO ENSINO DA CAPOEIRA AO CONTROLE

DOS HEMISFÉRIOS: CONTROLE NEURAL

Mesmo tendo sua origem controversa e o seu surgimento está ligado ao

bojo das camadas populares, a capoeira vem adentrando em instituições de

cunho particular e publico de forma fervorosa e avassaladora, assim afirma

Jean Adriano.

Podendo ser capaz de estar presente na maioria das escolas,

universidades, academias e em outros estabelecimentos em pouco tempo. Ela

está se firmando cada vez mais em vários países e se expandindo de forma

impressionante pelo mundo.

Ao longo de sua história a Capoeira passou por diversas transformações

até se tornar um meio possível para educar. Para que ela fosse aceita,

ganhou-se uma nova roupagem, embasando-se de fundamentos filosóficos,

científicos e teóricos para se explicar os ensinamentos da Capoeiragem. Essas

transformações não ocorrem somente na forma que a capoeira iria se

apresentar, mas também naqueles que iriam mostrá-la para nós, isso se deu

através dos profissionais. Os educadores (mestres, professores e instrutores

de capoeira) passaram a estudá-la e entendê-la verdadeiramente e encará-la

de forma profissional, assim estabelecendo uma seriedade na sua relação com

o mundo e com o educando.

Desta forma, a sociedade pode ter acesso aos conhecimentos da

capoeira, que consequentemente teve a possibilidade de conhecer e

decodificar os símbolos que fundamentam a prática de ensino da Capoeira.

A Capoeira vem se inserindo de forma bastante significante em

ambientes escolares, em particular na Educação Infantil. Para ser

desenvolvido em ambientes da Educação Infantil, hoje o seu ensino é feito de

forma sistematizada e planejada.

44

Hoje a capoeira é um misto de dança, luta, jogo, arte e folclore que vem

sendo vivenciada por crianças de 0 a 5 anos. Conforme afirma Falcão (1998, p

60) “o ensino da capoeira na escola não tem o compromisso de aperfeiçoar a

técnica dos gestos em relação a um padrão preestabelecido, mas exercitá-la

com objetivos crítico-emancipatório. Deve-se olhar para a capoeira como algo

a ser estudado e não somente praticado.

Sendo assim ela tem inúmeras vertentes para ser explorada e um vasto

campo a ser utilizado para fins educativos.

Com sua inserção no ambiente escolar, somos levados a discutir seu

caráter político, socializador e de igualdade racial, conforme favorece a

integração dos sujeitos, numa abordagem igualadora e homogenia.

Algo que veio a reforçar sua legitimidade foi Lei 10.639 vem para dar

conta disso, tendo o intuito de consertar o erro da história no que se refere às

práticas culturais da comunidade negra africana e brasileira.

Segundo Bonfim (2004, pag. 2) A capoeira é fruto dessas práticas

culturais, que advém de referenciais negros e de trocas simbólicas fortemente

marcadas pelas condições de vida desumanas as quais o negro no Brasil foi

submetido. A sanção da Lei 10.639/2003 e da Resolução CNE/CP/2004 é um

passo inicial rumo à reparação humanitária do povo negro brasileiro, pois abre

caminho para a nação adotar medidas para corrigir os danos materiais, físicos

e psicológicos resultantes do racismo e de formas conexas de discriminação.

Diante da publicação da Lei, o Conselho Nacional de Educação aprovou o

parecer CNE/CP 3/2004, que institui as Diretrizes Curriculares para a

Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-

Brasileira e Africanas a serem executadas pelos estabelecimentos de ensino

de diferentes níveis e modalidades, cabendo aos sistemas de ensino, no

âmbito de sua jurisprudência, orientar e promover a formação de professores e

supervisionar o cumprimento das Diretrizes.

Essa Lei tem caráter plural, pois sua aplicação é de responsabilidade da

comunidade escolar como um todo, o maior desafio que se tem referente a

isso é a superação do preconceito de todos que fazem parte do corpo docente

45

e discente. Um dos papéis que o professor deve desempenhar e tornar

possível a superação das desigualdades raciais e sociais. A Capoeira tem

uma dinâmica bastante interessante, pois reuni pessoas de várias posições

sociais e as mantém em total harmonia.

A LEI Nº 10.639, Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,

que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no

currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e

Cultura Afro- Brasileira".

Com essa LEI, o ensino da capoeira teve um grande respaldo no âmbito

das políticas publicas. Pois, esta Lei institui o ensino de assuntos e história da

África nos currículos escolares, dessa forma a Capoeira ganha mais força no

sistema educacional brasileiro, porque acaba sendo reconhecida como

conteúdo riquíssimo para o acervo cultural do aluno, desenvolvendo não

somente o aspecto motor, mas também o cognitivo e afetivo-social.

Além disso, acaba representando a integração entre diferentes

componentes curriculares como história, educação física, geografia, física,

artes plásticas, música e outros, além de mobilizar os setores do desporto,

turismo, meio ambiente, saúde, segurança, etc... Dessa forma, se torna um

componente curricular também.

Tendo em vista que desenvolvimento psicomotor da capoeira é

caracterizado por um processo progressivo e continuo onde se dá a evolução

da cognição, da afetividade, da motricidade, da comunicação e da

sociabilidade de forma global, simultânea e integrada. A estimulação do

desenvolvimento psicomotor é essencial para a facilitação das aprendizagens

escolares. A via corporal é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e

orgânicas. Portanto, o movimento exerce papel fundamental para o

desenvolvimento integral do ser humano. Pode-se dizer que existe relação

direta entre o desenvolvimento psicomotor e a aprendizagem da leitura e da

escrita dentre outras também, pois a Capoeira consegue trabalhar de forma

integral o ser humano. A criança tem grande necessidade em movimentar-se,

46

porque a qualidade do seu comportamento motor vai depender do seu

desenvolvimento. Assim os aspectos do desenvolvimento motor até uma idade

mais avançada não devem ser descuidados, mas sim encorajados e

estimulados tanto quanto possível. Durante a prática da capoeira as pessoas

são conduzidas a um contato direto com o movimento. Ao executar as

atividades específicas da capoeira o praticante demonstra potencializar

aspectos básicos da motricidade humana. Ao trabalhar a capoeira pode

oferecer benefícios importantes no desenvolvimento motor e cognitivo,

principalmente no trabalho conjunto entre ritmo e jogo. Quando se trabalha a

capoeira busca-se a desenvolver, de forma integrada, os três domínios da

aprendizagem: psicomotor, afetivo-social e cognitivo.

O ensino da capoeira veio a contribuir para o processamento de

informações originadas do córtex cerebral, pois é ele quem produz as

contrações ou somente a intenção de contrações, pensar o movimento. Para

que haja um ganho de forças, é necessário que inúmeras estruturas se

conectem para elaborar, executar e controlar os eventos motrizes. Isso a

neurociência também explica através de fontes confiáveis.

Essas elaborações mentais do sistema atuam de forma cruzada.

Pois as fibras axonais descem pelo córtex cerebral através do braço posterior

da cápsula interna e formam a via córtico-espinal originados das células

piramidais, que seguem por um cruzamento no bulbo do tronco encefálico que

vão constituir o trato-córtico-espinal lateral. O trajeto segue até o funículo

lateral da medula, conduzindo as ordens que irão controlar os movimentos

voluntários dos músculos que estabelecem os vários membros do nosso corpo.

Assim como diz Brandão( ,pag 53) :

O feixe de fibras desse sistema recebe o nome “piramidal” porque ele percorre, na altura do bulbo, uma estrutura denominada pirâmide. Ele consiste de axônios descendentes do “trato piramidal” e das áreas do córtex nas quais eles se originam. As fibras “piramidais” descendentes do bulbo formam os tratos córtico-espinais e descem pelo funículo lateral na substância branca da medula.

47

Fonte : Brandão, Marcus Lira. A base biológica do comportamento. Introdução a

neurociência. 2004. IneC Instituto de neurociência e comportamento

Figura (7)

Nem todos os processamentos das informações das fibras se

cruzam, assim uma minoria das fibras de via córtico-espinal continua o trajeto

inicial originando assim a via córtico-espinal anterior e permanecendo ate o

funículo anterior da medula, sendo, desta forma, responsável pelo controle

voluntário dos músculos axiais e da cintura pélvica. Devido as suas estruturas

anatômicas as fibras que se cruzam permitem o controle que o cérebro exerce

de forma contralateral.

Para Brandão ( 2004, pg. 54):

Na altura do bulbo, cerca de 80% das fibras da “via piramidal” cruzam para o outro lado do tronco encefálico (decussação das pirâmides) e descem no quadrante póstero-lateral da medula (trato córtico-espinal lateral). Um número menor de fibras que não cruzam no bulbo (trato córtico-espinal anterior) desce no quadrante ântero-lateral da medula, mas essas fibras não chegam a alcançar a

48

medula lombar, terminando nos diversos níveis segmentares mais altos, quando então cruzam para o lado oposto.

Fonte: Brandão, Marcus Lira. A base biológica do comportamento. Introdução a

neurociência. 2004. IneC Instituto de neurociência e comportamento

Figura(8)

Todo este processo de estimulo e resposta é desencadeado através

das movimentações e da pratica da capoeira. Onde os praticantes são

desafiados a executar movimentos voluntários que possibilitam ao aluno a

desafiar a sua motricidade.

Como conceitua Amaral (2014, pag.117), que a motricidade é o

resultado de traduções e organizações perceptivas e motoras, expressa em

49

movimentos. Sendo assim o movimento humano e denominado como tradução

perceptivo-motoras que o individuo desenvolve, aprende e estabelece no seu

organismo.

Ao aprender a capoeira o praticante através de aulas os praticantes

são convidados ao longo dos anos a repetirem movimentações básicas de

forma sistemática tendo em vista que esta movimentação seja automatizada

para então formar uma quantidade de significativa de aparatos reflexos.

Além disso, a capoeira trabalha as funções dos hemisférios

cerebrais: esquerdo e direito. Hoje se sabe que o hemisfério direito controla o

lado esquerdo e que o esquerdo controla o lado direito. Por isso, é normal que

alguns indivíduos prefiram processar as informações em um dos lados ou em

ambos. O que confirmado por Alencar (1993, pag.58):

O que teria sido proposto aqui é que cada hemisfério teria sua especificidade: o esquerdo seria mais eficiente nos processos de pensamentos descrito como verbal, logico , enquanto o hemisférios direito seria especializado em padrões de pensamentos lógicos e analíticos que enfatiza a percepção , síntese e o arranjo geral das ideias.

O hemisfério esquerdo e direito têm suas caraterísticas. Tal como

aparece na tabela a seguir:

HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFERIO DIREITO

FUNÇÃO VERBAL: SELECIONA

PALAVRAS PARA DESCREVER,

DEFINIR

FUNÇÃO NÃO VERBAL: PERCEBE

AS COISAS ATRAVÉS DE IMAGENS

SIMBOLICA: USA SIMBOLOS PARA

REPRESENTAR A HABILIDADE

PASSO A PASSO.

CONCRETA: CONCEBE COISAS EM

SUA INTEGRALIDADE.

ANALITICA: DESENVOLVE A

HABILIDADE

SINTETICA: AGRUPA

INFORMAÇÕES E FORMA NUM

TODO.

50

ABSTRATA: SELECIONA PEQUENA

PARTE DA INFORMAÇÃO PARA

REPRESENTAR O TODO.

ANALÓGICA: CMPREENDE

RELAÇÕES E PERCEBE

SEMELHANÇAS.

TEMPORAL: MARCA O TEMPO E A

SEQUÊNCIA.

NÃO TEMPORAL: NÃO POSSUI

SENSAÇÃO DE TEMPO.

RACIONAL: BUSCA RAZÃO NOS

FATOS

INTUITIVA: PREFERE SEGUIR

PALPITES OU AMOSTRAS

LÓGICA: EXTRAI CONCLUSÕES

LÓGICAS

Os hemisférios cerebrais possuem formas distintas de processar a

informação e cada hemisfério controla a metade oposta do corpo humano (ex.:

a mão esquerda é controlada pelo hemisfério direito). O hemisfério esquerdo é

responsável pela linguagem verbal, pelo pensamento lógico e abstrato e pelo

cálculo. E já o hemisfério direito controla a percepção das relações espaciais, a

formação de imagens e o pensamento concreto. Pode-se dizer que o

hemisfério esquerdo é o lado intelectual enquanto o hemisfério direito está

ligado à arte e imaginação.

Ainda relativamente ao cérebro, é neste órgão que se localizam a

sensibilidade consciente, a mobilidade voluntária e a inteligência, ao mesmo

tempo que coordena as ações voluntárias e comanda atos inconscientes.

Mesmo os hemisférios cerebrais tendo uma estrutura simétrica,

ambos com os dois lóbulos que emergem do tronco cerebral e com áreas

sensoriais e motoras, certas funções intelectuais são desempenhadas por um

único hemisfério. Geralmente, o hemisfério dominante de uma pessoa ocupa-

se da linguagem e das operações lógicas, enquanto que o outro hemisfério

controla as emoções e as capacidades artísticas e espaciais. Em quase todas

as pessoas destras e em muitas pessoas canhotas, o hemisfério dominante é

51

o esquerdo. Esses dois hemisférios são conectados entre si por uma região

denominada corpo caloso.

Para exemplificar um pouco mais sobre as funções de cada

hemisférios (figura 9 )

Fonte:http://cristalfanucci.blogspot.com.br/2014/12/radiestesia-e-radionica.html

Figura (9)

Portanto, aprender capoeira vai muito além do que jogar a perna

para cima e bater palmas. A apreender capoeira é se familiarizar com suas

principais conexões cerebrais e se organizar reorganizar através de novas

aprendizagens, é reagir e perceber o mundo onde vive, e buscar mecanismos

pra ativar as redes neurais através de associações para melhorar o ensino e

reativar memórias para consolidar a aprendizagem.

Ensinar capoeira significa estimular em grau máximo o

desenvolvimento das habilidades, competências e potencialidades de um ser

humano podem ter, pois ela modifica o praticante de dentro para fora e fora

para dentro. Pois é uma arte, jogo, dança e luta.

Além dos inúmeros benefícios fornecidos ao corpo pelas pratica da

capoeira, pode-se também podem promover mudanças significativas em nossa

52

inteligência. Como cita Daniel Amen (2013) em Mude seu cérebro, mude seu

corpo, a atividade física é o comportamento mais importante que o ser humano

pode ter para aumentar a função cerebral e manter a aparência jovem do seu

corpo. (p. 127). Ao se exercita o coração bombeia mais sangue para todo o

corpo, inclusive para o cérebro, aumentando o fluxo de sangue que chega até

ele, fornecendo mais oxigênio, nutrientes e glicose, ampliando assim a

capacidade cerebral. Esses exercícios intensificam a comunicação neuronal,

melhoram a produção de novos neurônios e aumentam à quantidade dos

neurotransmissores, que são substâncias responsáveis por levar informação

de uma célula nervosa à outra.

Na reportagem especial da Revista Galileu (2013) diz que: Qualquer

tipo de exercício faz bem para o sistema nervoso, mas as atividades aeróbicas (correr,

caminhar, andar de bicicleta, nadar) são mais eficientes no aumento do fluxo de

sangue para o cérebro e na produção das substâncias químicas que regulam o

sistema neurotransmissor. Os neurônios existentes se tornam capazes de fazer mais

conexões. Neste processo os neurotransmissores mais beneficiados são a gaba, a

dopamina, a norepinefrina, o glutamato e a serotonima, cada uma com sua função

específica. A gaba, por exemplo, é importantíssima no controle de atividade

excessiva, enquanto a dopamina atua no controle de ação, motivação, atenção e

movimento, já a norepinefrina é responsável pela ativação do sistema nervoso central,

melhorando o estado de alerta, concentração e vigilância, o glutamato age na

neuroplasticidade cerebral, o que ajuda o cérebro a se adaptar e promover novas

conexões neuronais, por fim, a serotonima controla a liberação de hormônios,

regulação do sono e do apetite, quando ocorre alteração na sua quantidade interferem

no humor, na aprendizagem, na ansiedade e no estado de depressão.

De acordo com Amen (2013): Se você estimula esses neurônios

novos através da interação mental ou social, eles se conectam com outros

neurônios e melhoram a aprendizagem. Isso indica que é necessário se

exercitar consistentemente para estimular um crescimento contínuo de células

novas no cérebro.

Por isso, praticar a capoeira Pedagógica é excelente para sua saúde

mental e corporal. Quando se pratica capoeira estamos trabalhando

fundamentos que a neurociência explica como fundamental para o

desenvolvimento do ser humano. A capoeira juntamente com neurociência

53

busca trabalhar e entender quais são as vias de estímulos para aprendizagem,

de que forma juntas podem acrescentar no processo de ensino da capoeira.

54

CAPÍTULO IV

COMPREENDENDO COMO A MÚSICA DA CAPOEIRA

PODE SER VIA DE ESTÍMULO PARA A ATIVAÇÃO DAS

REDES NEURAIS

4.1A capoeira e a musicalidade Com sua institucionalização como esporte nacional por Vargas, a

Capoeira passa a ter sua importância ampliada. A partir da década de 1970 ela

ganha o mundo passando ser praticada, de forma sistemática, em mais de 120

países, como África, Israel, China, Estados Unidos, França, Nova Zelândia,

Chile, Argentina, México dentre outros. (FALCÃO, 2008).

De acordo com Egle (2011, sp) sua prática vem sendo difundida em

escolas e universidades, academias e projetos sociais e estima-se que mais de

6 milhões de pessoas pratiquem o esporte no Brasil.

Segundo Zulu (1995), a Capoeira é um patrimônio cultural brasileiro

singular que não deve ser tratado de forma isolada pelas áreas com as quais

tem interface e sua compreensão só será possível quando ela for analisada a

partir de diferentes dimensões..

Esta Capoeira que se apresenta como Pedagógica tem por objetivo

trabalhar os aspectos sociais, afetivos e psicomotores dos alunos,

possibilitando a estes sujeitos a prática da autonomia, da emancipação e de

suas potencialidades. Conforme Santos, (1983, p. 119) upud Freitas (2006,

p.79):

Numa concepção didática consideramos a Capoeira uma atividade física completa, pois atua de maneira direta e indireta sobre os aspectos cognitivos, afetivo e motor. Sendo encarada como lúdica e instrucional, articula atividades de desenvolvimento visomotor com desenvolvimento artístico e social levando a criança a estabelecer relações a partir dela própria, fato que torna a Capoeira multidirecional, uma vez que permitirá, desde que adequadamente conduzida, desenvolver na criança noções de equilíbrio e disciplina.

55

As vertentes trabalhadas pela Capoeira Pedagógica como as

cantigas, o ritmo, o jogo e a sua história são importantes para o

desenvolvimento infantil. Trabalhando com essas vertentes, o professor pode

explorar a musicalidade, a motricidade, a percepção sensorial, além de

desenvolver a afetividade e a inclusão social de seus alunos. A prática da

Capoeira pode ainda ser um elo para o desenvolvimento da linguagem, leitura,

escrita e da lógica matemática.

Na vertente ‘musicalidade’, por exemplo, a Capoeira Pedagógica

trabalha a expressão da oralidade e outros aspectos do desenvolvimento

infantil. Suas cantigas recheadas por ditos populares e parábolas, traduzem

posturas morais, cívicas e afetivas. O manuseio dos instrumentos musicais

utilizados na execução da roda de Capoeira ajuda na coordenação motora fina

o que possibilita a melhoria da escrita por parte dos educandos. Através da

musicalidade os alunos são ainda convidados a diferenciarem os tipos de

toques do berimbau e com isso a mudança de ritmo, trabalhando juntamente à

motricidade a percepção sensorial. Portanto, esta arte é altamente musical

seja, tocada ou cantada, o ritmo é parte indissociável de seu ensino. Sendo

assim, a musicalidade é muito importante na prática do educando.

Aprender capoeira é aprender a musicalidade através dos seguintes

os sentidos: tato, visão e audição, e isto, reflete de forma direta nos cérebros

aprendentes.

Por ser altamente musical proporciona inúmeros estímulos que são

captados pelo nosso corpo e certa forma são decodificados por células

especializadas do nosso sistema nervoso central.

A musicalidade da capoeira, é feita através das cantigas que

constituem estímulos sonoros diferentes que são captados pelo córtex auditivo

e por intermédio do sistema auditivo acabam sendo convertidos em energia

elétrica.

A audição tem função de analisar e organizar os estímulos sonoros

que são recebidos de fontes e localizações diversificadas, organizando-se ou

não em grupos com ligações entre eles. Isso ocorre dependendo da dimensão

do elemento musical, seja por: frequência, amplitude, posição temporal ou

outros elementos.

56

Quando se presta atenção na música, o cérebro dá respostas que

envolvem diversas regiões cerebrais, seja quando o tocador esta tocando

algum instrumento ou cantando, neste processo são ativadas as áreas do

córtex motor e do cerebelo que estão envolvidas com o planejamento e com

execução de movimentos específicos e precisos ligados ao tocar ou cantar

determinada música.

Para Cunha ( 2010, pag 5) :

O que os estudos de Levitin e outros neurocientistas vão indicar é que as atividades e o processamento musicais mobilizam quase todas as áreas do cérebro identificadas até o momento, “indo de encontro à antiga e simplista idéia, de que a arte e a música são processadas no hemisfério direito do cérebro, e a linguagem e a matemática, no esquerdo”

Toda esta ativação acontece através dos estímulos em áreas

cerebrais que são propagados por impulsos nervosos com a função de

transmitir a outros neurônios, músculos e glândulas.

Estes impulsos nervosos surgem do corpo celular do neurônio que

por intermédio do axônio passa para o dendrito que assim transmite os

impulsos ao corpo celular.

Os neurônios são células especializadas que recebem conexões

específicas, que executam funções de apropriação e de transmissão de

decisões de algum evento particular a outros neurônios que estão relacionados

com determinado evento, ou seja, conduzem informações, sentimentos e

funções inconscientes e involuntárias do sujeito.

Esta célula é composta por (figura ):

• Corpo celular- é a parte mais importante da célula, pois, é

nela que estão às informações genéticas. Onde estão o

núcleo e as organelas, tal como, complexo golgiense,

lisossomos, ribossomos, corpúsculo de nissl, mitocôndrias e o

reticulo endoplasmático.

• Dendritos- são prolongamentos ramificados que

desempenham a função de ampliar a área de captação dos

estímulos nervosos externos a célula.

57

• Axônio - é o fio condutor para os estímulos criados pelo corpo

celular como resposta aos estímulos recebidos.

Figura (10)

Fonte:http://exercicios.brasilescola.com/exercicios- biologia/exercicios-sobre-

neuronios.htm

Os prolongamentos do neurônio que geralmente são longos e

numerosos que formam circuitos, os circuitos neurais ou redes neurais.

Estas redes são combinações de diversos tamanhos e

complexidade de neurônios. As redes podem ser simples, mas na sua maioria,

existem dois ou mais redes que interagem para executar um grau crescente de

complexidade para efetivar funções ainda mais complexas.

Conforme o tamanho e a forma dos prolongamentos, os neurônios

são classificados em:

58

Figura(11)

Fonte: http://pt.dreamstime.com/ilustra%C3%A7%C3%A3o-stock-tipos-de-neur-

nios-image52092345

• Unipolares: um único prolongamento a partir de um pólo do corpo

celular (soma)

• Bipolares: tem dois prolongamentos em polos diferentes do corpo

celular, sendo que os dendritos levam informação para a célula e o

axônio transmite essa informação para outras células.

• Pseudo-unipolar: o prolongamento que emerge do corpo celular se

divide em dois, ambos atuando como axônios, um dirige-se para a

periferia (pele, músculos) e o outro dirige-se para a medula espinal.

• Multipolares: tem apenas um axônio e muitos dendritos. Representam

o tipo de neurônio mais comum do sistema nervoso nos mamíferos

Através dos neurônios que são conduzidos os impulsos nervosos

que acabam sendo direcionados em várias direções. Estes impulsos são

transmitidos em direção ao corpo celular, passando e sendo encaminhado aos

59

dendritos. Geralmente, cada neurônio transmite impulsos apenas de seu

axônio e só recebe de axônios de ouros neurônios. Essa dinâmica de

transmissão de impulsos dependente de estruturas altamente especializadas

para dar origem, as sinapses.

Miranda Vilela( 2012) citado por Almeida( 2012) :

“Nos explica que sinapse é um junção especializada em que um terminal axonal faz contato com outro neurônio ou tipo celular. As sinapses podem ser elétricas e químicas (maioria). Para ela, as sinapses elétricas, mais simples e evolutivamente antigas, permitem a transferência direta da corrente iônica de uma célula para outra. Em invertebrados, as sinapses elétricas são comumente encontradas em circuitos neuronais que medeiam respostas de fuga. (Almeida apud Miranda Vilela, 2012, p. 37 )”

As sinapses ocorrem através da comunicação entre os neurônios e

quando acontece a passagem do sinal eletroquímico. Neste processo os

neurônios mantêm distância, ou seja, não se tocam. Esta distância este

pequeno espaçamento entre eles e denominado fenda sináptica, onde um

neurônio pré-sináptico se liga a outro neurônio pós- sináptico. Este sinal

nervoso e transmitido ao longo da membrana do neurônio passando pelos

axônios e dendritos até outros neurônios formando uma rede de comunicação,

ou seja, a rede neural.(figura )

60

Fonte: www.tecmundo.com.br

Figura (12)

Esta rede neural é responsável por toda comunicação entre o vasto

numero de neurônios existentes no corpo humano para que ocorra a

consolidação da aprendizagem. Tal como diz Relvas (2009, pag. 41),

Para tanto, o cérebro necessita de uma intrincada rede de circuito neurais, conectando suas principais áreas sensoriais e motoras, ou seja, grandes concentrações de neurônios capazes de armazenar , interpretar e emitir eficientes a qualquer estimulo, tendo também a capacidade de , a todo instante, em decorrência de novas informações , provocar modificações e rearranjos em suas conexões sinápticas , possibilitando novas aprendizagens.

O efeito da música no cérebro humano é bastante satisfatório,

principalmente em crianças que suscita grande diversidade de funções e

memórias; a memória explícita (consciente e intencional); e a memória

implícita.

A vivência musical possibilita que cada criança seja desafiada

adquira experiências musicais novas, sendo assim desafiadas a cada

momento. Essas novas experiências, influenciam na organização das áreas

cerebrais, e ajudam para que as redes neurais sejam rearranjadas através das

sinapses e que as outras já existentes possam ser reforçadas, e que outras

61

respostas sejam se tornar possíveis. Todo este processo chama plasticidade

cerebral. Assim com Relvas define (2012, pag.119) :

A plasticidade cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do sistema nervoso central, ou seja, é a sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a capacidade que o cérebro tem em se remodelar em função das experiências do sujeito, reformulando as suas conexões em virtude das necessidades e dos fatores do meio.

Nas crianças começa desde seu nascimento assim através dos

processos são desencadeados em diversas atividades cerebrais, e desta

forma, os seus neurônios se expandirão e se organizarão em grandes redes de

processamentos.

Por isso, que a relação que o ser humano estabelece com o meio

produz ampla modificação no cérebro possibilitando uma constante adaptação

e aprendizagem ao decorrer da vida.

A musicalidade é grande fonte de estimulo para que a criança

desenvolva estratégias de intervenção em diversas funções e atividades, o que

implica inúmeros benefícios na forma de percepção e entendimento do

indivíduo. Funções relacionadas à memória, controle de atenção, criatividade,

habilidades motoras, capacidade de planejar e organizar, além de equilíbrio

emocional que são favorecidas com a prática da música tocada e cantada,

como é o caso da capoeira.

Com a execução musical áreas do cérebro, a exemplo do cerebelo,

do tronco cerebral, incluindo os sistemas cognitivos mais avançados, como o

córtex motor (lobo pariental) e as regiões vinculadas ao planejamento, nos

lobos frontais — a parte mais avançada do cérebro, contando também com o

recrutamento do córtex visual (lobo occipital), utilizado para o processamento

da decodificação da marcação do ritmo dos instrumentos da bateria da

capoeira, tal como: berimbau, atabaque, agogô e pandeiro.

Sem dúvida, a música, é um dos maiores estímulos que podemos

oferecer ao desenvolvimento pleno de uma criança. A formação musical, além

de explorar a execução de um instrumento, inclui também a capacidade de

discriminar sons, através de diversos jogos de reconhecimento auditivo;

62

estimula a expressão corporal, desenvolvendo a capacidade de utilizar o corpo

para manifestar, através de gestos e movimentos mais amplos, a escuta

sonora; e incentiva a criação musical, contemplando atividades de

improvisação e composição com planejamento prévio que para é muito

requisitado aos praticantes da capoeira, pois é ensinado a marcação do toque

e com a pratica o praticante vai desenvolvendo e criando suas variações , mas

sem perder o compasso de toda ritualidade para assim manter a harmonia do

ritmo sem fugir da cadencia do toque.

É importante que o estudo de música envolva todos os aspectos

acima citados, para garantir melhor desempenho de todas as áreas e o amplo

aproveitamento dos benefícios da prática musical.

Para exemplificar de que forma acontece o processamento foi

traçado um pequeno resumo deste processo abaixo :

A atividade musical mobiliza o neocórtex e o cérebro reptiliano

(cerebelo, áreas do tronco cerebral e amígdala cerebral) que excitam as

células ciliares (receptoras) do ouvido interno dos centros do tronco cerebral e

que captada a intensidade do som através das fibras que entram em ação e,

assim os estímulos sonoros nas células ciliares são levados pelo nervo auditivo

até o córtex auditivo (lobo temporal).

E a especialização hemisférica do lado direito tem a função da

discriminação do contorno melódico, conteúdo emocional e timbres e o lado

esquerdo: ritmo, duração, métrica e discriminação da tonalidade. O córtex

auditivo estimula o hipocampo, cerebelo, amígdala e núcleo de accumbens.

E já Lobo frontal decodificação da estrutura e ordem temporal da música Assim como explica Octaviano (2010, pag 5):

Após o som ser transmitido por moléculas através do ar, ele chega ao tímpano, que se agita para dentro ou para fora, conforme a amplitude e volume do som que recebe, e também da altura desse som, isto é, se ele é grave ou agudo. Entretanto, nesse estágio, o cérebro recebe apenas uma informação incompleta, sem distinção do

63

que o barulho realmente representa – se ele é de vozes, do vento, de máquinas etc. O resultado final, decodificado pelo cérebro, representa uma imagem mental do mundo físico, que é gerado a partir de uma longa cadeia de eventos mentais.

Figura (13)

O processamento musical se dá em 3 etapas: percepção musical,

reconhecimento e emoção. Córtex auditivo primário e o giro temporal superior

são áreas responsáveis pela percepção musical.

O córtex primário é sensível a percepção do tom, enquanto o de

associação auditiva é sensível aos processamentos mais complexos lineares

como a melodia e não lineares como a Harmonia. O ritmo é processado no

cerebelo, nos gânglios basais e nos lobos temporais superiores. O

reconhecimento música e a emoção envolve o orbito-frontal e o sistema

límbico, eles estão envolvidos com a memória musical e com as emoções

ligadas a música.

Para Cunha ( 2010, pag.12) :

O ato de ouvir música começa nas estruturas subcorticais (núcleos cocleares, tronco cerebral e cerebelo) e avança para o córtex auditivo bilateralmente. Acompanhar uma música ou estilo musical familiar aciona outras regiões, como o

64

hipocampo – o centro da memória – e subseções do lobo frontal. Acompanhar o ritmo, marcando com os pés ou apenas mentalmente, mobiliza as redes cerebelares de regulação temporal. Já o ato de fazer música, cantando ou tocando algum instrumento – mobiliza também os lobos frontais no planejamento do comportamento, bem como o córtex motor – lobo parietal – e o córtex sensorial, para a percepção tátil, por exemplo, da digitação de um instrumento.

O córtex auditivo primário recebe os aferentes talâmicos do núcleo

geniculado medial, que por sua vez se conecta por meio de redes com o córtex

de associação auditiva, sistemas mesolímbico e outros córtices

multissensoriais.

O processamento da música é algo bem complexo ainda, mas

diante deste capitulo pode-se ter uma visão minimalista deste processo e da

sua importância no ensino formal e principalmente da Capoeira Pedagógica,

pois a musicalidade e ritualidade são fonte ricas de conhecimento no mundo

da Capoeira.

No intuito de mostrar como se dá o processo da ativação das redes

neurais busca-se a explicação na neurociência como se processa este

estimulo.

65

CONCLUSÃO

Durante muito tempo, mesmo com tantas informações, sobre os

meios de como ensinar algo dentro da sala de aula, passou a ser um desafio

constante aos profissionais. A circulação e velocidade das informações

acontecem em larga escala e para isto deve-se saber ao que recorrer para

entender o processo de ensinar e de aprender. Conhecer o mecanismo ou

simplesmente a possibilidade de como os alunos que aprendem virou algo

bem mais próximo, pois hoje, pode-se contar com ciências de tamanha

importância para o processo de ensino-aprendizagem.

A neurociência é uma ciência que veio para ajudar e mostrar que o

cérebro esta cada vez mais se tornando um órgão de tamanha importância

para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor do ser humano. Tendo base

o estudo do sistema nervoso central, pois é ele que capta e processa as

informações do meio externo e interno.

Tal como diz Brandão (2004, pag. 25):

O sistema nervoso funciona como um dispositivo capaz de perceber variações energéticas do meio externo ou interno no organismo, analisar essas variações quanto à sua qualidade, intensidade e localização para, finalmente, organizar comportamentos que constituam uma resposta adequada ao estímulo que foi apresentado ao indivíduo.

Por isso, aprender requer a atividade seja fonte de potencialização

dos neurônios e das redes neurais. Com a neurociência este caminho da

aprendizagem ficou mais nítido e passível de compreensão.

Mesmo tendo toda esta ajuda da neurociência pode-se ver que

outras ciências, veem para reforçar as teorias da aprendizagem, explicar o

processo de associação dos conhecimentos e salientar a sua importância de

no ensino. Para isto, a Capoeira Pedagógica evidencia que o sistema nervoso

central é de grande importância para sua pratica. Porque este sistema capta e

decodifica as informações através de estruturas que possibilitam a

comunicação de toda a circuitaria cerebral.

66

Além disso, a capoeira é fonte inesgotável de estimulo, pois se

trabalha com processamento do movimento no cérebro, e como este acontece

dentro do cérebro, e quais as áreas que são ativadas sem contar que se

explica como se dá a aquisição e o processo de armazenamento da memória e

de que forma isso ocorre e quais estruturas são responsáveis por isso.

Ao considerar que a neurociência tem correlação com a capoeira,

buscou-se atrelar uma relação da capoeira com o controle dos hemisférios ,

´para isto foi necessário adentrar no processo motor que também é estimulado

pela Capoeira Pedagógica. Pois é através da movimentação corporal

proporcionada pela Capoeira que o ser humano tem a possibilidade de se

trabalhar as aquisições cognitivas e afetivas. E ainda, evidencia como ocorre o

processamento das informações vinda do córtex cerebral, local onde são

produzidas as contrações ou a intenção de se mexer, e ainda, ao executar os

movimentos as respostas motoras acontecem de forma cruzada em sua

grande maioria e com isso a prática da capoeira força que o aluno

compreenda e internalize o movimento que se deseja executar. Assim, os

hemisférios são locais onde acabam sendo ativados para melhor compreensão

da informação motora levada ao cérebro, pois a capoeira ajuda e muito no

controle neural dos hemisférios. Sem contar com a questão musical que ativa

inúmeras áreas cerebrais.

Portanto, a neurociência e a capoeira são completamente ligados e

interligados, pois compartilham de inúmeros processos cerebrais e de suas

ativações. Na verdade um faz a parte de estimulação e o outro de entender

como este estímulo é processado no corpo do ser humano.

67

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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70

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA 10

1.1 - Entendendo o funcionamento da base neurofisiológica na execução dos

movimentos da Capoeira 11

1.1.1 – Sistema Nervoso Periférico 12

1.1.2 – Sistema Nervoso Central 19

1.1.4 – O movimento da Capoeira no Sistema motor 29

CAPÍTULO II

IDENTICANDO COMO É O PROCESSO DE ARMAZENAGEM DA MEMORIA

NA APRENDIZAGEM 32

2.1 Tipos de características de memórias 34

2.2.2 Arte de esquecer 36

2.2.3 A atenção 38

2.2.4 Distribuição da atenção 40

2.2.5 A aprendizagem e memória 41

CAPITULO III

A RELAÇÃO DO ENSINO DA CAPOEIRA AO CONTROLE DOS

HEMISFERIOS: CONTROLE NEURAL 43

71

CAPÍTULO IV

COMPREENDENDO COMO A MÚSICA DA CAPOEIRA PODE SER VIA DE

ESTIMULOS PARA A ATIVAÇÃO DAS REDES NEURAIS 54

4.1 A capoeira e a musicalidade 54

CONCLUSÃO 65

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 67

WEBGRAFIA 69

ÍNDICE 70