a capoeira adaptada

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM CINCIA DA MOTRICIDADE HUMANA

A CONTRIBUIO DA CAPOEIRA ADAPTADA NA MELHORIA DE ASPECTOS SOCIAIS EM PESSOAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS

por Rosangela Ruffato Pereira

PROJETO DE PESQUISA APRESENTADO COMO REQUISITO OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM CINCIA DA MOTRICIDADE HUMANA

FEVEREIRO / 2007

ROSANGELA RUFFATO PEREIRA Aluna do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia da Motricidade da Universidade Castelo Branco

A CONTRIBUIO DA CAPOEIRA ADAPTADA NA MELHORIA DE ASPECTOS SOCIAIS EM PESSOAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS

Projeto de pesquisa apresentado como requisito obteno do ttulo de Mestre em Cincia da Motricidade Humana.

Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2007.

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A CONTRIBUIO DA CAPOEIRA ADAPTADA NA MELHORIA DE ASPECTOS SOCIAIS EM PESSOAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS

Elaborada por Rosangela Ruffato Pereira Aluna do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco - RJ

BANCA EXAMINADORA

Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2007.

___________________________________ Orientador: Professor Dr. Manoel Jos Gomes Tubino

____________________________________ Professor Dr. Jorge Frana Motta

____________________________________ Professor Dr. Vernon Furtado

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Agradecimentos

Primeiramente agradeo a Deus por ter me permitido viver este momento acadmico. Agradeo ao meu orientador, Manoel Gomes Tubino e ao Prof Eugnio da Silva Correia que me deram a oportunidade ingressar no curso de mestrado acreditando em minha fora de vontade em crescer profissionalmente. Agradeo tambm a Abigair Madureira pelo apoio em todos os momentos de necessidades, ao longo dos meus estudos.

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Dedicatria

Dedico este trabalho a Deus, ao meus pais Jair Gomes Pereira (in memorian) e Therezinha Ruffato Pereira pela minha educao, e aos meus familiares. A todos os meus alunos especiais e seus pais, que me ensinaram a am-los e respeit-los. Aos meus alunos e amigos da Educao Fsica e capoeira adaptada e a todas as pessoas que me apoiaram durante essa difcil fase de pesquisa onde, dificuldades e limitaes foram superadas com a ajuda de todo o corpo docente da Universidade castelo Branco e a enorme generosidade da amiga Nazar Dias .

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RESUMO A CONTRIBUIO DA CAPOEIRA ADAPTADA NA MELHORIA DE ASPECTOS SOCIAIS EM PESSOAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS Por: Rosangela Ruffato Pereira Orientador: Manoel Gomes Tubino No. de Palavras: 252

A capoeira, numa concepo didtica considerada uma atividade fsica completa, pois atua de maneira direta e indireta sobre o aspecto cognitivo, afetivo e motor do ser humano. A capoeira e sua contribuio social, tanto para no portadores de necessidades especiais quanto para os portadores, ainda pouco cientificamente estudada, e isto estimulou a realizao deste trabalho com o objetivo de verificar contribuio da melhoria dos aspectos sociais atravs do esporte adaptado. A Capoeira melhora o tnus muscular, permite maior agilidade, flexibilidade e ampliao dos movimentos. Tambm auxilia o ajuste postural, o esquema corporal, a coordenao dinmica. Desenvolve a fora, proporciona a liberao de sentimentos como a agressividade e o medo, levando o ser humano a adquirir uma condio fsica mais satisfatria e um comportamento mais socializado. A amostra foi do tipo intencional e foi constituda de quarenta participantes sendo vinte e trs do gnero masculino (dezesseis portadores de Sndrome de Down e sete com Deficincia Mental) e dezessete do gnero feminino (nove portadores de Sndrome de Down e oito com Deficincia Mental). Inicialmente foram selecionadas oito categorias: auto-estima, estilo de vida, sade, cooperao, incluso social, convivncia humana, condio fsica e longevidade. O instrumento utilizado foi um questionrio estruturado contendo questes direcionadas ao tema de estudo e foi aplicado aos pais dos praticantes da capoeira adaptada. Conclui-se que a prtica da capoeira desenvolve, de forma integrada os trs domnios de aprendizagem do ser humano: psicomotor, afetivo social e cognitivo, tendo uma relevncia maior no desenvolvimento dos seguintes aspectos sociais: incluso social, auto-estima, cooperao e convivncia humana. Palavras-chave: capoeira adaptada, aspectos sociais, portadores de necessidades especiais.

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ABSTRACT THE CONTRIBUITION OF ADAPTED CAPOEIRA ON THE IMPROVEMENT OF SOCIAL ASPECTS FOR PEOPLE OF SPECIAL NEEDS By: Rosangela Ruffato Pereira Adviser: Manoel Jos Gomes Tubino Number os words: 280

Capoeira, in a didatic conception, is considered to be a complete physical activity, as it acts, in a direct and in an indirect way, under cognitive, afective and motor aspects, of the Human Being. Capoeira and its social contribution, either to people who have special needings or those who have not, is not theme of enough scientifical researches, and that stimulated the realization of this work, with the purpose of verifying the contribution of the improvement on social aspects through adapted sports. Capoeira improves muscle tonus, allows higher agility, flexibility and enlargement of the moviments. It also works on the postural adjustment, corporal scheme, dinamic coordenation. It develops strength, stimulates the liberation of feelings like agressiveness and fear, driving human being to acquire a more satisfying physical condition and a more socialized behaviour. The samples kind was the intentional one, and it was constituted of fourty elements: twenty three of male gender (sixteen with the Down syndrome and seven with mental deficiency) and seventeen of the feminine gender (nine with the Down syndrome and eight with mental deficiency). At the beginning it was selected eight categories: self-esteem, life style, health, cooperation, social inclusion, human convivence, physic condition and longevity. The instrument utilized was an estrutured questionnaire containning questions directed to the theme that was being studied, and it was applied to the parents of adapted capoeira practicioners. It is concluded that the practice of capoeira develops, in an integrated way, all the three ranges of human being learning: psicomotor, social-afetive and cognitive, having a major relevance on the development of the following social aspects: social inclusion, self-esteem, cooperation and human convivence. Key-words: adapted capoeira, social aspects, people of special needs

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LISTA DE ANEXOS

Pginas 1. Quadro de Valores.............................................................................................. 2. Modelo de Questionrio...................................................................................... 3. Modelo de Validao do Questionrio................................................................ 4. Termo de Participao Consentida..................................................................... 5. Resoluo 196/96 Conselho Nacional de Sade de 10/10/1996.................... 6. Declarao de Salamanca.................................................................................. 89 90 92 95 97 108

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LISTAS DE GRFICOS Pgina Quadro 1..................................................................................................... Grfico 1 ..................................................................................................... Grfico 2 ..................................................................................................... Grfico 3 ..................................................................................................... Grfico 4 ..................................................................................................... Grfico 5 ..................................................................................................... Grfico 6 ..................................................................................................... Grfico 7 ..................................................................................................... Grfico 8 ..................................................................................................... Grfico 9 ..................................................................................................... Grfico 10 ................................................................................................... Grfico 11.................................................................................................... Grfico 12 ................................................................................................... Grfico 13 ................................................................................................... Grfico 14 ................................................................................................... Grfico 15 ................................................................................................... Grfico 16 ................................................................................................... Grfico 17 ................................................................................................... Grfico 18 ................................................................................................... Grfico 19 ................................................................................................... Grfico 20 ................................................................................................... 28 61 62 62 63 64 64 65 66 66 67 67 68 68 69 70 70 71 71 72 72

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Grfico 21 ................................................................................................... Grfico 22 ................................................................................................... Grfico 23 ................................................................................................... Grfico 24 ................................................................................................... Grfico 25 ................................................................................................... Grfico 26 ................................................................................................... Grfico 27 ................................................................................................... Grfico 28 ...................................................................................................

73 74 74 75 76 77 79 80

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SUMRIO Pgina Resumo....................................................................................................... Lista de anexos........................................................................................... Lista de grficos.......................................................................................... CAPTULO I A IMPORTNCIA DA CAPOEIRA ADAPTADA COMO ESPORTE NA MELHORIA DE ASPECTOS SOCIAIS DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS.................................... Introduo................................................................................................... Inserindo na Cincia da Motricidade Humana............................................ Objetivos .................................................................................................... Objetivo Especfico .................................................................................... Questo de Estudo .................................................................................... Justificativa e Relevncia do estudo .......................................................... Delimitao de estudo ............................................................................... Conceitos Bsicos ...................................................................................... CAPTULO II OS CAMINHOS METODOLGICOS ............................... Modelo de Estudo ...................................................................................... Esquema de Desenvolvimento E Organizao do Estudo ........................ Amostra ...................................................................................................... Instrumentos do Estudo ............................................................................. Validao do Questionrio ......................................................................... Coleta de Dados ........................................................................................ CAPTULO III REFERENCIAL DE APOIO AO ESTUDO........................ Portadores de Necessidades Especiais ..................................................... 06 08 09 13 13 18 19 19 20 20 21 21 25 25 27 26 28 29 29 31 3111

Sntese sobre a Deficincia Mental e Sndrome de Down.......................... Esporte Adaptado no Esporte Contemporneo.......................................... Viso de Esporte segundo Parlebas........................................................... A Capoeira: Histrico e Caractersticas...................................................... CAPTULO IV APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS Em relao Incluso Social...................................................................... Em relao Auto-estima........................................................................... Em relao Cooperao.......................................................................... Em relao Convivncia Humana............................................................ Resultado Geral.......................................................................................... CAPTULO V CONCLUSES E RECOMENDAES ........................... REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................

36 39 41 50 61 61 65 68 72 75 82 84

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CAPTULO IA IMPORTNCIA DA CAPOEIRA ADAPTADA COMO ESPORTE NA MELHORIA DE ASPECTOS SOCIAIS DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

INTRODUO A Declarao Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Organizao das Naes Unidas (ONU) em 10 de dezembro de 1948, aponta em seu artigo 1: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e dotados que so de razo e conscincia, devem comportar-se fraternalmente uns com os outros. Santos (2003) comenta essa tendncia em olhar para a pessoa com deficincia sob este prisma. Por este princpio norteador que no campo da Educao:todas as escolas deveriam acomodar todas as crianas independentemente de suas condies fsicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingsticas ou outras. Deveriam incluir crianas deficientes e superdotadas, crianas de rua e que trabalham, crianas de origem remota ou de populao nmade, crianas pertencentes a minorias lingsticas, tnicas ou culturais e crianas de outros grupos em desvantagem ou marginalizados... (CARVALHO, 2002).

O Esporte, como um dos fenmenos mais marcantes da transio do sculo XX para o sculo XXI, teve na Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte (UNESCO/1978), o seu marco de mudana de paradigma. A Carta, com a premissa do direito de todos s prticas esportivas remeteu as formas ou manifestaes de exerccio deste direito passaram a ser: o esporte na escola, o esporte-lazer ou comunitrio e o esporte de desempenho (TUBINO; SILVA, 2006). A Carta Internacional da Educao Fsica e do Esporte (UNESCO, 1978), no seu artigo 1 estabelece que A prtica da Educao Fsica e do Esporte um direito fundamental de todos e que o exerccio deste direito :.....(d) deve ser oferecido,13

atravs de condies particulares adaptadas s necessidades especficas, aos jovens, at mesmo s crianas de idade pr-escolar, s pessoas idosas e aos deficientes, permitindo o desenvolvimento integral de suas personalidades (TUBINO, 2000). A Carta de Educao Fsica e Esportes da UNESCO estabelece o direito de todos, e seus programas inclusive aos grupos menos favorecidos da sociedade. O desenvolvimento econmico e social, a rede existente de servios sociais para toda a populao, a redistribuio de recursos e do rendimento, e a melhoria das condies de vida da populao so pr-requisitos para implementao de um programa de preveno e reabilitao, como pode ser observado no Programa Mundial de Ao Relativo s pessoas deficientes, elaborado, na Assemblia Geral das Naes Unidas (ROSADAS, 1989). A partir dessas observaes volta-se h algum tempo atrs, no to distante assim, quando se preocupava com os primeiros contatos com pessoas ainda muito mal compreendidos pela sociedade, que aportam alguns desses diferentes tipos de limitaes, impedimentos e deficincias, pois mal atendidas pela rea de educao e sade em geral, em relao rea de convivncia, inclusive educao fsica, onde a atuao desta ainda pretensiosamente voltada para a proliferao de tcnicas que privilegiam os resultados imediatos e performticos, quase voltados para o esporte e a otimizao dos movimentos corporais. Existe hoje no Brasil, um nmero crescente de pessoas que portam algum tipo de deficincia, vtimas de acidentes de trabalho, vtimas de agresses fsicas, da subnutrio, da falta de higiene, da poluio do ambiente, de cuidados pr e ps-natais adequados, vtimas de doenas que acabam por deixar seqelas irreversveis em seu portador (ROSADAS, 1989).14

Segundo o Censo (IBGE, 2000), 24,5 milhes de brasileiros apresentam algum tipo de deficincia ou incapacidade (limitao para atividade) isso significa que 14,5% da populao brasileira estariam aptos a beneficiar-se das leis e dos programas relacionados melhoria de qualidade de vida destes segmentos. Baseando-se na estatstica nacional, dentro da Secretaria Municipal de Assistncia Social do Rio de Janeiro (SMAS), existem aproximadamente 10% da populao que so portadores de deficincias, sendo que na sua grande maioria encontram-se em comunidades carente. O incio da prtica do esporte adaptado no Brasil deu-se atravs da iniciativa de duas pessoas, que procuraram os servios de reabilitao nos Estados Unidos, na dcada de 1950, aps ficarem deficientes fsicos em decorrncia de acidentes. Foram os Srs. Robson Sampaio de Almeida, ento residente no Rio de Janeiro e Srgio Serafin Del Grande, da cidade de So Paulo (ARAJO, 2004). No entanto, mesmo sendo a Educao Fsica e o Esporte Adaptado reas de estudo emergente, a quantidade de informaes sobre as variadas deficincias era suficientemente grande a ponto de que os procedimentos metodolgicos aplicados no trabalho com pessoas portadoras de necessidades especiais fosse pautado na apenas pela boa vontade e intuio de alguns, mas por informaes provenientes de resultados de estudos e pesquisas. Estudos indicam que as inmeras dificuldades enfrentadas pelas pessoas portadoras de deficincia num pas como o Brasil, cujas caractersticas scioeconmico-culturais levam pessoa portadora de deficincia o enfrentamento histrico de uma srie de dificuldades tais como: a discriminao, a segregao social, a dificuldade de acesso e permanncia no mbito educacional. Os entraves para participao real no mercado de trabalho, dentre outros problemas sociais, tem15

provocado pesquisas no mbito da ps-graduao stricto em Educao Fsica e Esportes no Brasil Este fato tem contribudo para a superao dessas barreiras, pois apesar disto, ainda so muitos escassos os estudos voltados para essa temtica, alm das perspectivas e crticas adotadas pela maioria das pesquisas existentes. A Educao Fsica e Esporte Adaptado constituem uma rea que tem como objetivo de estudo a motricidade humana para PNEEs (Pessoas com Necessidades Educativas Especiais), adequando metodologias de ensino para o atendimento s caractersticas de cada portador de deficincia, respeitando suas diferenas individuais(OLIVEIRA, COSTA E SO CARLOS, 2003). A Educao Fsica/Esporte na escola inclusiva se constitui em uma grande rea de adaptao ao permitir a participao de crianas e jovens em atividades fsicas adequadas as suas possibilidades, proporcionando que sejam valorizados e se integrem num mesmo mundo. O programa de Educao Fsica quando se adapta ao aluno portador de deficincia, possibilita ao mesmo a compreenso de suas limitaes e capacidades, auxiliando-o na busca de uma melhor adaptao (SANTOS, 2003). Incluir, quer dizer que podemos deixar pertencer, adaptando-os em todos os aspectos, mostrando-os o que podemos fazer, para que e com quem utilizar o seu corpo fazendo-o aprender atravs de atividades no s especficas, mas

transformadoras e adaptadas (ALVES, 2003). Por outro lado, a capoeira encontra-se com o papel de resgate a cidadania essas pessoas de comunidade de baixa renda, elevando a auto-estima, e principalmente incluso junto sociedade. A importncia pedaggica da capoeira, numa concepo didtica, recai no fato de que considerada uma atividade fsica completa, pois ela atua de maneira direta e16

indireta sobre o aspecto cognitivo, afetivo e motor do ser humano. Sendo encarada como lgica educacional, articula atividades de desenvolvimento visomotor com desenvolvimento artstico-social, levando a criana a estabelecer relaes a partir dela prpria, fato que torna a capoeira multidirecional, uma vez que permitir, desde que adequadamente conduzida desenvolver na criana noes de equilbrio fsico juntamente com o mental e a disciplina. Segundo Brando (2003), esporte e atividade fsica quase se confundem, quando o assunto o trabalho com deficientes. H deficincias que inibem a prtica do esporte, ou este pode at piorar a condio do praticante. Mas a atividade fsica vale-se do esporte como fator motivacional, tornando-se atividade fsica esportiva. A sociedade precisa entender que o objetivo do esporte adaptado para o portador de deficincia melhorar a qualidade de vida do indivduo, facilitando suas atividades cotidianas. Da mesma forma Castro (2005) declara, os benefcios que podemos encontrar nas atividades adaptadas so nicos. Com essas atividades podemos, ao mesmo tempo, proporcionar aos participantes progressos de desenvolvimento em aspectos fisiolgico, psicolgico, social e cognitivo. Outro fator relevante que independente da idade ou das condies fsicas das pessoas, as atividades adaptadas se mostram teis tambm no setor de reabilitao e tambm auxiliam os participantes a enfrentar os problemas, a ter sucesso, a alcanar metas e socializar. As atividades no tm a inteno de ser a salvao de todos os problemas, mas sim tem como objetivo proporcionar melhor qualidade de vida para todos.

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INSERO NA MOTRICIDADE HUMANA A Cincia da Motricidade Humana descobre na deficincia uma raiz social e poltica. No h pessoas deficientes, h pessoas diferentes. De educao especial bem possvel que todos precisem. Por isso, a Cincia da Motricidade Humana, assumindo a poca atual e no seu discreto, mas tenaz plantio de mais cincia e melhor conscincia definem a sade como a capacidade de o ser humano tentar superar as suas limitaes atuais, de modo, a concretizar o seu projeto de vida, visando um bem estar holstico ou sistmico. A Cincia da Motricidade Humana ao estudar a energia para o movimento intencional da transcendncia, afirma que o ser humano supera e supera-se, no processo de construo da sua identidade prpria. Segundo Maturana (1999) apud Manuel Srgio (2003), afirma que a emoo fundamental, que torna possvel a histria da hominizao, o amor sem a aceitao do outro na convivncia, no h fenmeno social. necessrio compreender a fenomenologia dos indivduos praticantes da capoeira como objeto terico e formal da CMH (Cincia da Motricidade Humana), mais especificamente em uma perspectiva scio-cultural, verificando, analisando,

interpretando e classificando suas condutas motoras intencionais. O objeto prtico do estudo so as condutas motoras e o comportamento motor relativos prtica da Capoeira. A compreenso fenomenolgica do objeto de estudo pesquisado foi num contexto cultural, no utilizando a compreenso fenomnica (bio-fsica). Na opinio de Beresford (2000), a compreenso femonenolgica acontece quando:Compreendemos fenomenologicamente um fenmeno quando indagamos sobre suas causas e variaes de sentido essencial em uma determinada circunstncia, facticidade e corporeidade, ou seja, 18

quando buscamos os nexos mediatos de antecedncia, de conseqncia e de interdependncia, capazes de nos esclarecer sobre o contexto cultural (historicidade + natureza) de uma vida existncia humana, ou sobre a estrutura dos aspectos relacionados com o fentipo de um fato (fenmeno ou de um objeto de estudo investigado).

O produto final da cultura do Ser do Homem o somatrio dos aspectos fenomnicos e fenomenolgicos. O tema do estudo: A Contribuio da Capoeira Adaptada na Melhoria de aspectos scias em Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais pode ser inserido na CMH na rea da cultura e corporeidade, segundo a linha de pesquisa.

OBJETIVO GERAL O estudo se prope a verificar se a capoeira pelas suas caractersticas de esporte-luta e esporte-dana pode melhorar os aspectos sociais em portadores de necessidades especiais (Sndrome de down e Deficientes mentais).

OBJETIVOS ESPECFICOS 1 - Avaliar na literatura existente sobre a Sndrome de Down e Deficincia Mental em relao s prticas esportivas. 2 - Resgatar o desenvolvimento da prtica esportiva adaptada no Brasil. 3 Discutir a capoeira como uma modalidade esportiva no contexto do Esporte Contemporneo.

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QUESTO DE ESTUDO Uma nica questo est inserida no presente estudo: A capoeira pode ser um instrumento de melhora na integrao e aumento da auto-estima de portadores de necessidades especiais?

JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DO ESTUDO A capoeira uma modalidade muito praticada no Brasil e est caracterizada por Tubino, Garrido e Tubino (2006) na corrente de Esportes e Identidade Cultural. Porm no h muita produo cientfica que colabore sobre inmeros aspectos referentes a essa modalidade esportiva e cultural. Sendo assim o presente estudo justifica-se na falta de trabalhos cientficos envolvendo a capoeira e ainda na tentativa de achar mais uma alternativa para pessoas portadoras de necessidades especiais quanto a melhora de sua auto-estima e integrao social atravs do esporte adaptado. A capoeira e sua contribuio social, tanto para no portadores de necessidades especiais quanto para os portadores, ainda pouco cientificamente estudada. Ento, os resultados dessa pesquisa sero contribuies indiscutveis para esta rea de estudo e para profissionais de diversas reas que trabalham ou no com pessoas portadoras de necessidades especiais, por leigos, por familiares dos mesmos portadores, como fonte de consulta para eventuais intervenes na condio da auto-estima desse grupo social. Numa concepo didtica, a Capoeira considerada e aceita numa lgica educacional, onde articula atividades de desenvolvimento visomotor com

desenvolvimento artstico social, levando a criana a estabelecer relaes a partir dela20

prpria, fato que torna a Capoeira multidirecional, uma vez que permitir, desde que adequadamente conduzida, desenvolver na criana noes de equilbrio fsico juntamente com o mental e a disciplina. Assim a Capoeira, como uma fonte inesgotvel de riquezas pelas vrias formas de ser ministrada, oferece ao praticante uma prtica bem orientada, assim como aprender a escolher as vrias linhas com as quais mais se identifica, sem excluir nenhum dos aspectos que abrangem o universo de nossa arte. Um estudo que possibilita um avano do conhecimento na interveno de pessoas portadoras de Sndrome de Down e deficientes Mentais, utilizando a Capoeira, deve ser considerado dos mais relevantes.

DELIMITAO DO ESTUDO Sendo a capoeira uma das atividades relevantes no contexto brasileiro, o estudo delimita-se pela bibliografia existente e pela amostra possvel obtida ento para o desenvolvimento do mesmo. Delimita-se a obter a amostra na AABB - Tijuca (Associao Atltica Banco do Brasil), com pessoas portadoras de necessidades especiais que esto inseridos no programa da capoeira adaptada e inclusiva.

CONCEITOS BSICOS Para efeito deste estudo, definir-se- alguns termos com a finalidade de fidedignizar e integrar o entendimento gerado neste e evitar interpretaes equivocadas sobre o que aqui est descrito.

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AUTO-ESTIMA. Trao de personalidade em correspondncia com o valor que um indivduo atribui a sua pessoa. o resultado da comparao que o sujeito faz entre si mesmo e outros indivduos significativos para ele (DORON; PAROT, 2002). COOPERAO. Em sentido geral, que se aplica a partir do nvel biolgico, a cooperao a atividade pela qual entidades agem conjuntamente para realizar um fim. No nvel mais elevado, a cooperao poder, enfim, ser considerada como uma atitude moral, que encontra a sua razo na prpria gnese das idias de razo e de humanidade (DORON; PAROT, 2002). CONVIVNCIA. Ato ou efeito de conviver; relaes ntimas; familiaridade, convvio, viver em comum com outrem (CUNHA, 1986) CONDIO HUMANA. A expresso tende a suplantar a de natureza humana para designar a situao singular e nica de cada homem no mundo fsico e social e na histria (JAPIASSU; MARCONDES, 1990). DEFICINCIA. Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da mdia, oriundo do perodo de desenvolvimento, concomitante com limitaes associadas a duas ou mais reas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivduo em responder adequadamente s demandas da sociedade, nos seguintes aspectos. Comunicao, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na famlia e comunidade, independncia na locomoo, sade e segurana, desempenho escolar, lazer e trabalho (BRASIL 1994:14). DEFICINCIA MENTAL. Esse tipo de deficincia caracteriza-se por registrar funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da mdia, oriundo do perodo de desenvolvimento, concomitantemente com limitaes associadas a duas ou mais

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reas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivduo responder adequadamente s demandas da sociedade (AADM, 1992 apud BRASIL/SEESP/MEC, 1994). ESPORTE. fenmeno scio-cultural, que tem no jogo o seu veculo cultural e na competio o seu elemento essencial e que nas suas diferentes formas, contribui para a formao e aproximao dos seres humanos ao reforar o desenvolvimento de valores como a moral, a tica, a solidariedade, a fraternidade e a cooperao, o que torna num dos meios mais eficazes para a convivncia humana (TUBINO, 2005). ESPORTE-EDUCAO. responsabilidade pblica assegurada pelo Estado, dentro ou fora da Escola, tem como finalidade democratizar e gerar cultura atravs de modalidades motrizes de expresso de personalidade do indivduo numa estrutura de relaes scias recprocas e com a Natureza, a sua formao corporal e as prprias potencialidades, preparando-o para o lazer e o exerccio da cidadania, evitando a seletividade, com vistas a uma sociedade livremente organizada, cooperativa e solidria (MENEZES COSTA, 1989). ESPORTE ADAPTADO. Experincias esportivas modificadas ou especialmente designadas para suprir as necessidades especiais de indivduos. O mbito do esporte adaptado exclui a integrao de pessoas portadoras de deficincias com pessoas normais (WINNICK, 2004). ESTILO DE VIDA. Expresso empregada para traduzir a unidade da personalidade psquica, organizada a partir da escolha de valores, que contribui para a coeso da imagem de si no mundo exterior (DORON; PAROT, 2002). INCLUSO SOCIAL. o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e,

simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papeis na sociedade. A23

incluso social constitui, ento, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excludas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre solues e efetivar a equiparao de oportunidades para todos (SASSAKI, 1997, p.3). INTEGRAO. um processo dinmico de participao das pessoas num contexto relacional legitimando sua interao nos grupos sociais. A integrao implica em reciprocidade (BRASIL/SEESP/MEC, 1994). Para Glat (1995), a integrao um processo espontneo e subjetivo, que envolve direta e pessoalmente o relacionamento entre seres humanos. LONGEVIDADE. Vida longa, dilatada; Qualidade de longevo, que tem muita idade; grandevo, idoso (CUNHA, 1986) PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS. entendida como um termo abrangente que define a pessoa como a que apresente, em carter permanente ou temporrio, algum tipo de deficincia fsica, sensorial, cognitiva, mltipla, condutas tpicas ou altas habilidades, necessitando por isso de recursos especializados para desenvolver mais plenamente seu potencial e/ou superar ou minimizar suas dificuldades (BRASIL / 1994). SADE. Estado de equilbrio e completo bem-estar fsico, mental e social (OMS) SNDROME DE DOWN. Anomalia de crianas com trissomia do cromossomo 21, mais conhecida como mongolismo, devido proximidade de aparncia com os mongis. uma doena congnita que se caracteriza por apresentao de plpebras ablquas, nistagmo (cochilo, ato de dormitar), orelhas pequenas, nariz pequeno, pescoo largo, mo e dedos curtos, penes pequeno, adiposidade, cabelos lisos e bonitos, dficit mental, problemas respiratrios e movimentao lenta. As crianas com Sndrome de

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Down apresentam-se geralmente dceis e interessados no aprendizado, mas mostramse inseguras, principalmente em relao as irregularidades do solo e altura.

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CAPTULO II OS CAMINHOS METODOLGICOSEste captulo demonstra o modelo de estudo, o tipo de pesquisa, a seleo da amostra, o desenvolvimento do instrumento da pesquisa, a construo do instrumento de pesquisa, a sua validao e o tratamento de dados.

Modelo de estudo Esta investigao caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, do tipo de investigao Survey com questionrio e com delineamento ex post facto. Thomas e Nelson (2002) advertem quanto a importncia da pesquisa descritiva ao afirmar que ela um estudo de status e amplamente utilizada na educao e nas cincias comportamentais. Os autores consideram que o valor da pesquisa descritiva se baseia na observao, na anlise e na descrio objetiva e completa dos fatos o que possibilita a resoluo dos problemas e, conseqentemente, leva melhoria das situaes prticas. Flegner & Dias (1995) corroboram tambm com esta idia ao discorrer que o mtodo descritivo utilizado para a obter informaes acerca de condies existentes, com respeito as variveis ou condies numa situao. O tipo de pesquisa utilizada a investigao (survey) que usado no s para descrever condies atuais, mas tambm para fazer as comparaes destas condies com critrios predeterminados ou para avaliao de eficincia dos problemas (FLEGNER & DIAS 1995)

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O delineamento ex post facto freqentemente chamado de comparao causal e pode se utilizar de variveis que ocorrem na seleo dos indivduos ou dos fatos onde elas podem ou no estar presente de maneira forte ou fracas. Assim, ao se estudar grupos diferentes se tentam determinar os antecedentes diferenciais e leva-se em considerao a comparao entre dois ou mais grupos, um dos quais contm prrequisitos, supostamente, os antecedentes em questo, e o outro no (FLEGNER, 1995). Os fenmenos de situaes reais do campo de interveno sero analisados ligando os fatos ao seu conhecimento, observam-se as disposies recprocas das diferentes partes do todo e as suas relaes com os problemas envolvidos com os mesmos. Segundo Gil (1991), basicamente neste delineamento so tomadas como experimentais situaes que se desenvolvem naturalmente e trabalha-se sobre elas como se estivessem submetidas a controles".

Esquema de Desenvolvimento e Organizao do Trabalho A pesquisa pode ser expressa por esquema de desenvolvimento e organizao do trabalho que expe os passos seguidos numa lgica, de acordo com as necessidades que o prprio estudo requeria durante o seu desenvolvimento. Para se entender melhor o desenvolvimento do estudo, faz-se necessrio uma visualizao atravs do esquema a seguir:

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CAPTULO I - O Problema - Introduo - Objetivos - Questo de Estudo - Justificativa e Relevncia - Delimitao de Estudo - Conceitos Bsicos CAPTULO II Caminhos Metodolgicos - Modelo de Estudo - Esquema de desenvolvimento estudo - Amostra - Instrumento do estudo

Desenvolvimento da Pesquisa (Categorias, Instrumentos e Validao) Seleo das categorias Hierarquizao especialistas Seleo das categories Elaborao do questionrio com as 4 categorias mais votadas Validao do questionrio por especialistas Elaborao definitivo do questionrio e pelos

CAPTULO III Referencial de Apoio ao Estudo - Portadores de Necessidades Especiais - Sntese sobre a Deficincia Mental e Sndrome de Down - Esporte Adaptado no Esporte Contemporneo - Viso de Esporte segundo Parlebas - A Capoeira: Histrico e Caractersticas ( Capoeira Adaptada para Deficiente Mental e Sndrome de Down)

CAPTULO IV Apresentao e Discusso dos Resultados

Aplicao do questionrio coleta dos dados

CAPTULO V Concluses e Recomendaes

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Amostra A amostra principal do tipo intencional ou proposital foi constituda de 40 participantes sendo 23 do gnero masculino (16 portadores de Sndrome de Down e 07 com Deficincia Mental) e 17 do gnero feminino (09 portadores de Sndrome de Down e 08 com Deficincia Mental). Foi estabelecido como critrio de seleo, praticantes de capoeira adaptada, a pelo menos 1 (um) ano de prtica da modalidade, todos sitiados na cidade do Rio de Janeiro. Devido dificuldade de respostas dos participantes foram solicitados os depoimentos dos pais, no preenchimento do questionrio.

Instrumentos do Estudo O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi um questionrio estruturado contendo questes direcionadas ao tema de estudo. Inicialmente foi selecionado de acordo com a literatura 08 (oito) categorias que foram: auto-estima, estilo de vida, sade, cooperao, incluso social, convivncia humana, condio fsica e

longevidade, e suas respectivas definies, voltadas para o esporte adaptado (capoeira). Esse instrumento inicial foi submetido a 15 profissionais da rea de Educao Fsica que trabalham diretamente com portadores de necessidades especiais. A inteno era que o entrevistado ordenasse os conceitos dos valores de acordo com o grau de importncia. Foram atribudos valores de 01 (um) a 08 (oito), onde o 1 (um) correspondeu ao menor valor de classificao e o 08 (oito) o maior valor atribudo, objetivando coletar dados sobre os valores mais importantes no esporte adaptado (capoeira). No caso de resultados iguais em nmero de pontuao, a categoria que obteve o maior nmero de notas altas teve ascendncia sobre a outra. Em seguida foi confeccionado o questionrio com base nos quatro valores mais29

voltados, sendo 3 (trs) perguntas relacionadas a cada valor, perfazendo um total de 12 perguntas. Este instrumento foi construdo por etapas, descritas a seguir, validado por quatro doutores, e aplicado aos pais dos praticantes da capoeira adaptada. VALORES 1 Lugar: Incluso Social 2 Lugar: Auto-Estima 3 Lugar: Cooperao 4 Lugar: Convivncia Humana 5 Lugar: Sade 6 Lugar: Condio Fsica 7 Lugar: Estilo de Vida 8 Lugar: Longevidade PONTOS 110 91 80 70 62 51 50 26

QUADRO 1 Valores relacionados a partir da incidncia de votos

Os valores mais votados e considerados para efeito do estudo foram: Incluso social, auto-estima, cooperao e convivncia humana.

Validao do questionrio As categorias (valores) mais votadas pelos especialistas foram extradas do questionrio inicial. O questionrio teve seu contedo analisado detalhadamente e validado por professores, mestres e doutores atuantes nas reas de Educao Fsica e Educao. De acordo com o parecer, e sugestes dos validadores foi formulado o questionrio definitivo, que foi novamente analisado e validado pelos mesmos. Dessa forma foi estabelecido o instrumento do estudo definitivo, o questionrio estruturado, possibilitando o desenvolvimento da pesquisa (vide Anexo 2).

Coleta de Dados Aps a aplicao do questionrio, na amostra, os dados foram coletados pelo prprio autor, no contato direto com os pais dos alunos de capoeira adaptada e30

realizada no segundo semestre de 2006. respeito da aplicao do questionrio de uma forma direta, Richardson (1985), enuncia que desta forma, existe menos possibilidade de os entrevistados no responderem o questionrio ou de deixarem algumas perguntas em branco. Assim sendo, o mesmo autor, complementa afirmando que no contato direto, o pesquisador pode explicar e discutir os objetivos da pesquisa e do questionrio, responder as dvidas que os entrevistados tenham em certas perguntas. Para complementar a coleta de dados foi feita entrevistas de carter informal com os capoeiristas, com intuito de reforar os resultados obtidos. Desta forma, tentouse eliminar possveis tendncias para ceder a sugestes no seu uso. Este processo sustentado por Gressler (1983), quando enuncia que:Entre os principais propsitos da entrevista encontram-se o de auxiliar na identificao das variveis e suas relaes, sugerir hipteses e guiar outras fases da pesquisa, coleta de dados afim de comprovar hipteses e suplementar outras tcnicas de coleta de dados.

Em resumo, pode-se afirmar que o questionrio evidenciou ter o seu raio de atuao suficiente para caracterizar os conjuntos de acontecimentos no incio deste captulo. Entretanto, notou-se que a sua estabilidade interna se mostrou aceitvel, possibilitando chegar as informaes necessrias ao estudo. Assim sendo, as questes formuladas apresentaram um grau de objeo harmnico com a capacidade interpretativa dos informantes.

Tratamento Estatstico Foi realizada somente a Estatstica Descritiva em funo da convergncia ao tipo de pesquisa, o que encontra respaldo em Costa Neto (2002) e Bunchaft Kellner (1999). Portanto, aplicou-se a anlise de freqncia absoluta e relativa.31

CAPTULO III REFERENCIAL DE APOIO AO ESTUDO

A finalidade deste captulo foi desenvolver uma reviso de literatura de apoio ao estudo, sobre portadores de necessidades, onde foi feita uma sntese sobre a Deficincia Mental e a Sndrome de Down. A seguir, investigou-se a viso do Esporte Contemporneo, abordando-se em especial o esporte adaptado e a viso de Esporte segundo Parlebas. Por ltimo, nesta mesma perspectiva investigou-se a histria da capoeira e as caractersticas da capoeira dentro do contexto do esporte adaptado.

PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS Hoje, a questo da incluso permeia nosso discurso poltico, no somente na rea de deficincias. E ele tem que ser coerente, com nossa prtica, tanto internamente, como movimento, quanto na nossa relao com o pblico em geral. Segundo Santos (2003), necessrio que mudemos o sistema de valores que define vencer como acumular smbolos de prestgio que fazem uma pessoa se sentir superior a outras pessoas. Vencer quando se preenche seu potencial pessoal e passa a criar uma vida com qualidade e dignidade para si e para todos, onde a vida no um jogo de criana que necessita de vencedores e perdedores. O preconceito e a discriminao so a base de excluso. Por outro lado, o conceito de incluso holstico e somente pode existir com sucesso se for absorvido e trabalhado por toda a sociedade, em conjunto. Entre os velhos paradigmas havia inicialmente a institucionalizao, onde todos os que eram diferentes eram segregados, tratados, em isolamento do contexto social.

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Mais tarde vieram os padres de normalizao e integrao, atravs dos qual a sociedade desejava adaptar ou encaixar aqueles considerados diferentes ao status quo existente uma sociedade que exclui tudo que no se adapta inteiramente sua estrutura. Valores como tolerncia, solidariedade e cooperao devem perder seu estigma quase que religioso e se tornarem parte de nossas vidas dirias conceitos para serem praticados verdadeiramente, com a mente e com corao. Segundo Santos et al. (2001), o conceito de incluso pode ser traduzido por oportunidade de ampliao do olhar para as diferentes realidades, ocasionando condies iguais de desenvolvimento para todas as crianas. Integrao um processo espontneo e subjetivo, que envolve direta e pessoalmente o relacionamento entre seres humanos (GLAT, 1995). Se no levarmos em conta o aspecto psicossocial, corre-se o risco de tornarem-se reducionistas. A integrao social surgiu como oposio prtica da excluso social, em seu sentido total, eram consideradas invlidas, inteis e incapazes para trabalhar. Nas ltimas dcadas tem sido o tema mais discutido no Brasil. Atualmente a prtica da integrao social d-se de trs formas, segundo Sassaki (1997): 1) Pela insero das pessoas com deficincia que conseguem utilizar os espaos fsicos e sociais, os programas e servios, sem nenhuma modificao da sociedade (escola, comum, empresa, clube, etc). 2) Pela insero das pessoas portadoras de deficincia que necessitam de alguma prestao especfica no espao fsico comum, no procedimento da atividade

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comum, a fim de s ento, estudar, trabalhar, ter lazer, conviver com pessoas no deficientes; e, 3) Pela insero de pessoas com deficincia em ambientes separados dentro dos sistemas gerais. Exemplo: escola especial junto comunidade. Segundo Sassaki (1997), incluso social seria o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em estudos sistemas sociais gerais, pessoas em necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papis na sociedade. Trata-se de um processo bilateral no quais as pessoas, ainda excludas, e a sociedade buscam equacionar problemas, decidir sobre solues e efetivar a equiparao de oportunidades para todos. Para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada a partir da compreenso de que ela que precisa ser capaz de atender as necessidades de seus membros. A prtica da incluso social repousa nos seguintes princpios: aceitao das diferenas individuais, valorizao de cada pessoa, a convivncia dentro da diversidade humana e a aprendizagem atravs da cooperao. Correr (2003) discutiu em seu artigo a importncia de se levar em considerao a qualidade de vida de pessoas com deficincia principalmente no perodo em que passam da adolescncia para a vida adulta. O autor faz uma reflexo terica sobre os aspectos envolvidos na questo da qualidade de vida. Relaciona a perspectiva subjetiva e a perspectiva objetiva: as escolhas pessoais e as convenes universais; as necessidades pessoais e as expectativas sociais; as intervenes pessoais e as polticas de desenvolvimento da sociedade. O estudo concluiu que qualidade de vida deve ser compreendida por esse complexo conjunto de fatores, segundo os quais, o34

sujeito deve adquirir alguns domnios especficos para que desempenhem de maneira satisfatria os papis adultos. Segundo Xavier (2000) a tarefa mais importante do educador ensinar a criana a conviver, a se situar como pessoa dentro do grupo. Para isso necessrio que se ofeream experincias que faam com que ela descubra o seu mundo, as relaes entre as coisas e as pessoas, entre sua pessoa e os outros e, principalmente, que descubra as suas prprias possibilidades e tenha a oportunidade de fazer pleno uso delas. importante ressaltar que o desenvolvimento varia de indivduo para indivduo e que as prticas pedaggicas na escola tem de ser estabelecidas de acordo com as necessidades dos educandos levando em conta seu desenvolvimento cognitivo e biopsicosocial. Verbrugge e Gette (1994) apud Correr (2003), apontam a deficincia como um produto resultante da relao entre o sujeito (que pode ou no ser portador de patologias) e as exigncias do meio em que ele vive. Este meio pode oferecer-lhe condies de participao promovendo mudanas e/ou adaptaes nas demandas da vida comunitria, ou pode tambm desconsiderar suas diferenas e suas dificuldades de acesso. Omote (1995) apud Correr (2003), faz a leitura da deficincia como uma condio social embora aparentemente iniciada na considerao da diferena, construda socialmente, a partir de desvalorizao por parte da audincia social. Aranha (1995 apud CORRER, 2003) prope ser a deficincia uma condio social caracterizada pela limitao ou impedimento da participao da pessoa diferente nas diferentes instncias do debate de idias e de tomada de decises na sociedade.

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Desde a Idade Mdia, as relaes da sociedade com a pessoa com deficincia foram marcadas por prticas de eliminao fsica, de eliminao social, fonte de piedade, de intolerncia, de curiosidade e de estudo (ROCHA, 1997 apud CORRER, 2003). Halpern (1993 apud CORRER, 2003), discutiu em seu artigo a importncia de se levar em considerao a qualidade de vida de pessoas com deficincia, principalmente no perodo em que se passam da adolescncia para a vida adulta. O autor faz uma reflexo terica sobre os aspectos envolvidos na questo da qualidade de vida. Os estudos reconhecem a importncia de serem criados recursos e colocados disposio de todos, para que todos possam acess-los e assim se sentirem realizados tanto no plano das necessidades objetivas (alimentao, vesturio, moradia, sade e educao) como plano das necessidades subjetivas (satisfao pessoal, felicidade, filosofia de vida, preferncia por tipo de lazer). Os suportes para o lazer destacam-se como sendo procedimentos que possibilitam pessoa com deficincia a vivncia do prazer de realizar uma atividade, sem presso, sem compromissos de eficincia e sem obrigatoriedade. Ao sujeito com deficincia e importante que seja viabilizado o acesso a lugares e atividades como: pesca camping, festas, passeio em parques pblicos, visita a parentes ou amigos, cinema, teatro, circo, e todo e qualquer divertimento que esteja disponveis aos demais cidados.

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SNTESE SOBRE A DEFICINCIA MENTAL E SNDROME DE DOWN No existem os diferentes, os especiais, os excepcionais. Cada criana tem a sua diferena, sua especialidade, sua excepcionalidade. Diversidade humana deveria ser a palavra de ordem, estampada em letras garrafais em cartazes espallhados pelo mundo no dia das crianas, no dia dos professores, no Dia das Mes, dos Pais, etc. A reside o paradigma da liberdade. Buscar o normal como acreditar em mula sem cabea, em bicho papo, em curumim, em sereia encantada (WEMECK, 2002). Segundo (LEJEUNE, 1991), a Sndrome de Down foi descrita pela primeira vez h mais de um sculo (1866) por um mdico ingls, Dr. John Langdon Down. Assim este autor classificou as crianas com essa sndrome como mongis devido s semelhanas fsicas, para os ocidentais, que estas tinham com os mongis, povo asitico. Segundo Pueschel (1995), normalmente encontramos 46 cromossomos em cada clula humana normal. Estes cromossomos esto dispostos em pares, conforme seu tamanho. So 22 pares de cromossomos regulares (autossomos) e dois cromossomos do sexo, que so o XX na mulher e XY no homem, totalizando 46 cromossomos em cada clula normal. Metades dos cromossomos de cada indivduo so derivadas e a outra metade da me. As clulas germinativas (espermas e vulos) tm somente metade do nmero de cromossomos encontrado normalmente em outras clulas do corpo. Tem-se ento 23 cromossomos no vulo e 23 cromossomos no esperma. Em condies normais, quando o esperma e o vulo se unem (fecundao) no momento da concepo, haver um total de 48 cromossomos na primeira clula (WERNECK, 1992; PUESCHEL, 1995).37

Segundo Pueschel (1993) enumerou-se os seguintes possveis fatores que podem causar a sndrome de Down, fatores como: exposio ao raio X, administrao de certas drogas, problemas hormonais ou imunolgicos, espermatocidas e infeces virais especficas podem vir a concorrer como aparecimento da Sndrome de Down. Entretanto, h um forte argumento atravs de estudos, que indica que a idade materna avanada aumenta o risco de nascimento de crianas portadoras de sndrome de Down (LEFVRE, 1981; MUSTAECHI, 1992). O esporte direcionado s pessoas de deficincia mental surgiu quando Eunice Kenndy Shriver convidou um grupo de crianas com deficincia mental para participarem de um churrasco e de jogos externos em sua casa. Foi quando percebeu que seus convidados apresentavam um potencial maior do que o atribudo a eles. Assim, tiveram incio as Olimpadas Especiais, em 1962, nos Estados Unidos atravs da Fundao Kennedy, um programa nacional de atividades esportivas que oferece a oportunidade de reunir crianas, praticarem esportes e treinar para competies anuais em muitas modalidades. Entretanto j existia na Europa alguma atividade esportiva para pessoas portadoras de deficincia mental, com carter demonstrativo

(PUESCHEL, 1995). No Brasil, o esporte para portadores de deficincia mental teve seu incio em 1973, com a Federao Nacional das APAES. Criou-se a Olimpada Nacional das APAES, realizada a cada 2 anos. Rosadas (1989) define o perfil do portador de deficincia mental, como sendo aquele indivduo que embora apresente grau de inteligncia abaixo da mdia, possui condies de receber programa curricular adaptado s suas condies pessoais, e

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alcanar ajustamento social e ocupacional. Na idade adulta pode tambm alcanar independncia econmica parcial ou total. No entanto, existem diferentes definies de deficincia mental, em funo dos critrios em que se baseiam segundo a Associao Americana de Deficincia Mental:Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da mdia oriunda do perodo de desenvolvimento, concomitantemente com limitaes associadas a duas ou mais reas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivduo em responder adequadamente s demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicao, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na famlia e comunidade, independncia na locomoo,sade, e segurana. Desempenho escolar, lazer e trabalho (BRASIL, MEC/SEESP, 1994).

As caractersticas da deficincia mental so muito variadas e dependem do nvel intelectual, sendo o comprometimento motor e as dificuldades de adaptao social as mais evidentes. Bueno e Resc (1995) apresentam as caractersticas dos portadores de deficincia mental que podem ser sintetizadas em: escasso equilbrio e locomoo deficitria; baixa resistncia cardiovascular e baixo condicionamento fsico; dificuldades de coordenao em movimentos complexos e manipulativos; problemas na linguagem; dficit de ateno e memria, falta de motivao e dificuldade de adaptao social. As caractersticas apresentadas e os nveis de desenvolvimento de cada uma delas so mais ou menos evidentes de acordo com o grau de deficincia apresentada pelo sujeito. O programa de atividades fsico adaptada para deficientes mentais busca trabalhar suas capacidades, considerando suas limitaes e necessidades individuais. Os objetivos bsicos de um programa so: desenvolver e/ou adquirir capacidade fsica e habilidade motora, buscar maior equilbrio pessoal do educando, conseguir hbitos de

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comportamento que assegurem certa autonomia e independncia e desenvolver atitudes que facilitem a integrao social do sujeito (BUENO; RESC, 1995). Muitas crianas com deficincia apresentam atrasos no desenvolvimento de auto-estima, conscincia corporal e espacial e coordenao, e exibem dficits de conscincia espacial, seqncia motora e sincronia (AYRES, 1972)

O ESPORTE ADAPTADO NO ESPORTE CONTEMPORNEO O esporte exerce um papel fundamental no desenvolvimento somtico e funcional de todo indivduo. Para o portador de deficincia, respeitando-se as suas limitaes e capacidades, o esporte tem importncia inquestionvel. Embora o progresso significativo no que diz respeito aos servios educacionais para pessoas portadoras de deficincias seja relativamente recente, o uso da atividade fsica ou do exerccio como tratamento mdico ou terapia no novo. O exerccio teraputico remonta China, por volta de 3000 a.C. Sabe-se que os antigos gregos e romanos reconheciam o valor mdico e teraputico do exerccio. Entretanto, o conceito de educao ou atividade fsica voltada para suprir as necessidades especiais dos portadores de deficincia um fenmeno recente. Os esforos para servir a essa populao por meio da educao fsica e do esporte s receberam ateno significativa durante o sculo XX apesar de terem se iniciado nos Estados Unidos durante o sculo XIX. Segundo Tubino et al. (2006) as prticas esportivas para pessoas com deficincias comeam a ser estimuladas principalmente no perodo ps-Segunda Guerra Mundial, devido ao grande nmero de amputados e internos em hospitais dos pases litigantes daquele conflito internacional. Por outro lado, existiam paraplgicos e40

pessoas com outras deficincias, inclusive mentais, que no estavam ainda contemplados com as oportunidades do esporte. Esporte Adaptado designa o esporte modificado ou criado, para suprir as necessidades especiais dos portadores de deficincia. Pode ser praticado em ambientes integrados, em que os portadores de deficincia interagem com noportadores de deficincia, ou em ambientes segregados, nos quais a participao esportiva envolve apenas portadores de deficincia. Com base nessa definio, por exemplo, o basquetebol um esporte regular, ao passo que o basquetebol em cadeira de rodas seria considerado um esporte adaptado. O termo esporte adaptado, em parte, mais adequado que esporte para portadores de deficincia, porque estimula e incentiva a participao e a Excelncia em diversos ambientes. Educao Fsica/ Esporte Adaptado designa um programa individualizado de aptido fsica e motora, habilidades e padres motores fundamentais e habilidades de esportes aquticos e dana, alm de jogos e esportes individuais e coletivos; um programa elaborado para suprir as necessidades especiais dos indivduos.

Normalmente, o verbo adaptar tem sentido de ajustar ou modificar. Enquadra-se nessas definies e envolve a modificao de objetivos, atividades e mtodos, afim de suprir necessidades especiais. Engloba componentes tradicionais associados educao fsica adaptada, inclusive os que se destina a corrigir, habilitar ou remediar. A Educao Fsica Adaptada uma subdisciplina da Educao Fsica que permite uma participao segura pessoalmente satisfatria e bem sucedida, suprindo as

necessidades especiais dos alunos (WINNICK, 2004). O propsito de um programa de Esportes adaptados estabelecer um rumo. A finalidade de um programa especfico deve ser coerente como objetivo (ou misso) do41

rgo a qual est ligado, e tambm com o programa disponvel para os no-portadores de deficincias. importante que esses propsitos sejam adequados ao

desenvolvimento. Partiremos do pressuposto de que a finalidade dos Esportes Adaptados melhorar o desenvolvimento pessoal ideal e traz benefcios sociedade. Segundo Tubino et al. (2006), o esporte contemporneo pode ser classificado quanto formalidade, quanto ao seu sentido e quanto s correntes esportivas, sendo que neste ltimo, encontramos a classificao que incluem os esportes adaptados. Existem vrias classificaes sobre as correntes esportivas, que tambm podem ser chamadas de vertentes esportivas ou ainda categorias esportivas. Aps anlises de contedo nestas classificaes concebeu-se uma classificao sntese, na qual cada corrente ou categoria se apresenta com uma caracterstica predominante. Os esportes Adaptados representam apenas uma das 11 correntes esportivas identificadas pelo autor. A corrente esportiva Esportes Adaptados, o prprio nome j diz tudo, so esportes adaptados a pessoas com necessidades especiais. Tambm so chamados de Esportes para Deficientes, Esportes para Portadores de Deficincia ou ainda Esportes para Necessitados Especiais. Esses esportes constituem-se em prticas esportivas que receberam modificaes, sob a perspectiva de adaptao, nas regras e nos equipamentos, para que se ajustem s pessoas com necessidades especiais. Os Esportes Adaptados so disputados em vrias categorias como: paralisados cerebrais, em cadeiras de rodas, com viso prejudicada, amputados, portadores de deficincias mentais, anes e outras. As caracterizaes das pessoas portadoras de deficincias vm da Declarao dos Direitos das Pessoas Deficientes (Organizao das Naes Unidas, 1975) que, no42

seu artigo primeiro, reconhece como pessoa deficiente qualquer ser humano incapaz de assegurar a si mesmo, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrncia de suas capacidades fsicas ou mentais. Por esta conceituao, observa-se que para a ONU, a deficincia est na pessoa, mas no a pessoa. Esta afirmao est consensuada na intelectualidade internacional, inclusive a do Esporte. Os Jogos Paraolmpicos (Paraolympic Games), realizados a cada quatro anos, constituem-se na principal competio internacional do Esporte para Deficientes. Existem os Jogos Paraolmpicos de Vero e os de Inverno. Os Jogos Paraolmpicos so equivalentes s Olimpadas, e esto voltadas principalmente aos atletas portadores de deficincias fsicas ou comprometimentos visuais. Os primeiros Jogos Paraolmpicos ocorreram em Roma, 1960 mesmo ano em que os italianos sediaram os jogos da XVII Olimpada. A esses primeiros jogos compareceram 400 atletas de 23 pases. A partir da, as Olimpadas e os Jogos Paraolmpicos vm sendo realizadas paralelamente e, sempre que possvel, acontecem na mesma cidade. Os Jogos Paraolmpicos que comearam como um evento com fortes implicaes sociais e fins teraputicos tornaram-se o evento esportivo mais importante para os portadores de deficincia. A cada quatro anos, a participao de atletas de elite nos Jogos Paraolmpicos uma prova de progresso alcanado em termos de qualidade e competitividade atltica. Os Jogos Paraolmpicos so reconhecidos pelo Comit Olmpico Internacional (COI) e sancionado pelo Comit Paraolmpico Internacional (IPC), organizao que membro do COI (WINNICK, 2004). As Federaes Internacionais de Esportes Adaptados promovem seus campeonatos mundiais e internacionais especficos, onde as principais entidades so:43

International Paralympic Committee (IPC), Cerebral Palsy International Sport and Recreation Association (CP-ISRA), International Blind Sports Federation (IBSA), International Sports Federation for Persons with an Intellectual Disability (FID), International Sports Organization of the Disabled (ISOD), International Stoke Mandeville Wheelchair Games Federation (ISMWGF), Comit International des Sports ds Sourds (CISS) e Special Olympics International (SOI). Um fator dos mais importantes para o desenvolvimento do Esporte para Deficientes foi a promulgao da Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte (UNESCO, 1978), a qual, no seu primeiro artigo, estabelece o direito de todos s prticas esportivas. Atualmente, alm dos Jogos Para Pan Americanos, existem os Jogos Para Pan Africanos, os Far East Games e as Olimpadas Especiais. Embora tenha comeado a ser praticado pelo sexo masculino, o Esporte Adaptado tem obtido uma participao crescente do sexo feminino. A tecnologia contribuiu decisivamente para o Esporte para Deficientes, com avanos importantes nas cadeiras de rodas, nas prteses e adaptaes de equipamentos. Ela serviu para a potencializao das performances dos para atletas. Os Esportes Adaptados constituem-se de Esportes Convencionais Adaptados por um lado e por outro, de modalidades esportivas especialmente criadas para deficincias especficas das pessoas. Tubino et al (2006) classifica os Esportes Adaptados da seguinte forma: Esportes Terrestres Adaptados com Cadeira de Rodas, Esportes Adaptados para Amputados, Esportes Adaptados para Deficientes Visuais, Esportes Adaptados para mais de uma categoria de Deficientes, Esportes Adaptados para Pessoas com Paralisia cerebral e Deficincias Mentais, Esportes Adaptados44

praticados na gua, Esportes Adaptados e Praticados no Gelo e na Neve e Esportes Adaptados Areos. Especificamente nesta pesquisa, utilizamos os Esportes Adaptados com Cadeira de Rodas e Esportes Adaptados para Pessoas com Deficincias Mentais.

VISO DO ESPORTE SEGUNDO PARLEBAS De nada serve acumular centenas de tcnicas e de procedimentos didticos se no conseguimos dar-lhes um sentido fundamental no marco da Educao Fsica. Durante muito tempo se tem buscado este princpio fundamental no conceito movimento. Pierre Parlebas, socilogo francs, traz um importante fundamento da sociologia do esporte, que servir de base para o estudo das dimenses scio-culturais do esporte na formao do cidado, portador de necessidade especial, a chamada ao motriz, sendo que para ele qualquer conduta esportiva, est baseada em uma ao consciente, seguindo uma lgica interna, de acordo com as relaes entre seus praticantes e destes com o meio fsico. Segundo Parlebas (1988), a educao fsica uma pedagogia das condutas motoras, onde o conceito de conduta motriz coloca no centro da cena o indivduo em ao e as modalidades motrizes de expresso de sua personalidade. O indivduo em ao uma pessoa que toma e armazena informao, que concebe e executa estratgias motoras. Baseando-se nisso a Educao Fsica pode converter-se em uma autntica escola de tomada de decises. Tal como vemos, estamos longe da simples noo de movimento.

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O conceito de conduta motora tem um interesse de ter em conta simultaneamente as duas vertentes da atividade fsica: por uma parte, os dados observveis e objetivos dos comportamentos motores (deslocamentos no espao e no tempo, gestos aparentes, contatos e relaes com os outros), por outro lado os riscos subjetivos da pessoa em ao (suas percepes e sua motivaes, sua tomada de informao e de deciso,sua afetividade e seus fenmenos inconscientes. Tubino (2002) refora o conceito acima, ao afirmar que Parlebas estabeleceu uma teoria em oposio ao que norteava a Educao Fsica, ao tirar o foco do movimento para o Ser em movimento. Os fundamentos da Praxeologia Motriz de Parlebas segundo Tubino (2002) que mais se encaixam no estudo so a conduta motriz e a motricidade, que tambm um fato social, em que toda conduta motriz testemunha uma cultura. A abordagem praxeolgica constitui-se numa sociomotricidade que compreende as condutas motrizes do indivduo, que so aes motrizes colocadas no seu contexto, e representada como a dimenso social da conduta humana. A abordagem praxeolgica de Parlebas constitui-se numa sociomotricidade que compreende as condutas motrizes do indivduo que so as aes motrizes colocadas no seu contexto. A sociomotricidade apresentada como a dimenso social da conduta humana Para Parlebas, a Educao Fsica chamaria-se Pedagogia das Condutas Motrizes, pois segundo ele as estruturas motrizes so as referncias para a aprendizagem motriz e de sua articulao pedaggica e esto na base dos comportamentos motores.

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As aes motrizes que podem ser explicadas por conceitos psicossociais (cooperao, oposio, inter-relao com o meio fsico) e socioculturais

(institucionalizao, regras, organizao oficial, competio) somente podem ser interpretadas pelas suas lgicas internas, que so definidas por Parlebas como o sistema de aspectos pertinentes da situao ludomotriz e suas conseqncias prxicas. Parlebas classifica as prticas motrizes em quatro categorias: 1) Prticas sem interao motriz 2) Prticas com interaes motrizes antagnicas (entre adversrios) 3) Prticas com interaes motrizes exclusivamente cooperativas (p.ex. montanhismo, no iatismo) 4) Prticas com interaes motrizes conjugadas de oposio e de cooperao (p.ex., esportes coletivos). SOCIOMOTRICIDADE PSICOMOTRICIDADE

* Prticas motrizes com interaes * Prticas motrizes sem interao motriz motrizes exclusivas de cooperao * Prticas motrizes com interaes

* Prticas motrizes com interaes motrizes antagnicas motrizes conjuntas de cooperao e oposio

Segundo Tubino (2002) para Parlebas na praxeologia motriz, o contexto sempre influencia a ao motriz e o objeto cientfico de base constitudo pelas condutas motrizes centradas nos alunos. As modalidades esportivas representam os contextos de base.

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Tendo em vista os tpicos citados anteriormente, pode-se perceber que a teoria de Parlebas um dos pontos mais importantes no referencial da presente pesquisa, pois, percebemos que os esportes que recebem uma maior ateno da mdia e que aparecem e cuja prtica se impe s crianas na escola, nem sempre so os esportes para os quais se dirigem as preferncias espontneas das pessoas. Dessa forma, aps muita investigao, Parlebas (1988) desenvolveu sua tese em seu livro Sociologie du Sport. Parlebas (1988), inicialmente classificou as prticas esportivas em categorias de acordo com o meio fsico no qual ocorrem, sendo ambiente selvagem ou domstico, sendo que nesse ltimo podem ainda ser classificados como padronizado ou nopadronizado. Em relao interao entre os praticantes, podem-se classificar os esportes como: de cooperao, oposio ou a combinao de ambos. Com base nesta classificao, possvel ainda determinar categorias de jogos desportivos pela combinao entre as classificaes. Por exemplo, a capoeira pode ser classificada como um esporte domstico padronizado de acordo com o ambiente, e de cooperao e oposio pela interao entre os participantes. Posteriormente, Parlebas (1987) prope um segundo critrio, de acordo com a complexidade estrutural das modalidades esportivas, que se pode classificar como mais ou menos complexa a estrutura de cada esporte. de suma importncia para esta pesquisa no s a classificao dos esportes segundo a teoria da ao motriz, mas a maneira pela qual Pierre Parlebas chega a tal classificao. O ponto de partida a teoria dos jogos esportivos. Os trs grandes tipos de jogos so: os jogos determinados; os jogos de puro azar; e os jogos que no so de puro azar. Existe uma diferenciao geral entre dois48

tipos de jogos esportivos, segundo um critrio scio-institucional que so: os jogos esportivos institucionais, que so consagrados pelas instituies sociais; e os jogos esportivos no institucionais (jogos tradicionais), que no desfrutam do mesmo reconhecimento institucional. Ao definir Jogo Esportivo, Parlebas (1987), ainda utiliza dois critrios: a situao motriz e a codificao; onde o jogo esportivo deve ter a motricidade como carter principal, como sua prpria realidade, no podendo ser um critrio secundrio ou facultativo. A codificao do jogo em regras, por sua vez, diferencia os jogos esportivos dos jogos quase-esportivos que no possuem um sistema de regras preciso que estrutura as relaes scio-motoras, transformando o jogo em um sistema funcional. E a partir destes quase-jogos, representativos das inovaes, das invenes e aventuras, que nascem numerosos esportes. Parlebas (1987) define os trs traos que definem o esporte: situao motriz, competio e institucionalizao. Para Parlebas, segundo um carter sociolgico o esporte o conjunto finito e numervel das situaes motrizes codificadas sob forma de competio e institucionalizadas. J existem vrias classificaes dos esportes quanto ao local da prtica, o material utilizado, o nmero de participantes, o gasto energtico e vrias outras. Porm, precisa-se de uma classificao que veja o esporte do ponto de vista sistmico: Todo jogo um sistema. Nele esto em interao os jogadores entre si e os jogadores com o entorno fsico (PARLEBS, 1987). Baseado nesta viso de esporte como um sistema psicossocial que Parlebas declina sua principal classificao dos esportes, visto anteriormente, classifica trs

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categorias: interao do praticante com o meio fsico, interao do praticante com os co-praticantes (como cooperao ou como oposio motriz). Nos jogos onde no existe interao significativa entre os praticantes so classificados como jogos psicomotores, enquanto queles onde h esta interao so chamados jogos sociomotrizes. Com tal classificao, Parlebas (1987) ressalta a importncia do aspecto social do jogo esportivo. Valorizando ainda mais a perspectiva scio-cultural do esporte, Parlebas (1987) afirma ser este um exemplo de contrato social: O jogo esportivo antes de tudo um corpo de regras que regem as condies da prtica, fixa as modalidades de interao e define cada ludo-sistema considerado. A regra indispensvel ao esporte, e tambm sociedade. A mudana da regra modifica o jogo esportivo, o sistema e as interaes com o meio e com os outros. O fato que existem critrios universais e objetivos que caracterizam os jogos esportivos. a partir destes critrios que Parlebas pretende estruturar os jogos e as relaes ludomotrizes. Porm, cabe salientar que existem variaes etnomotrizes dos critrios universais. Tais variaes podem ser entre uma sociedade e outra (interculturais) ou dentro de uma mesma sociedade, entre as classes, grupos (intraculturais). Uma importante parte do estudo de Parlebas a anlise da rede de comunicaes motrizes. Na busca de um aspecto comum a todos os esportes e que possa ser considerado um critrio para a anlise sociolgica da prtica esportiva, o autor encontra na interao motriz a unidade mnima de anlise para seu estudo. Falaremos de interao motriz quando durante a realizao de uma tarefa motriz, o

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comportamento de um participante influa de maneira observvel no comportamento dos outros participantes (PARLEBS, 1988). Dessa forma, pode-se concluir segundo a Teoria de Parlebas que a capoeira um esporte domstico padronizado, onde ocorre a interao entre os participantes atravs da cooperao e oposio. Baseado no Princpio de Incluso (TUBINO, 2006) permite a insero da participao dos portadores de necessidades especiais, e tambm, que o esporte constitui-se num ponto de convergncia entre outras culturas, ou seja, estabelecendo interfaces entre os diversos regionalismos da cultura brasileira. Os Princpios da Incluso e da Participao no permitem que nenhum educando fique marginalizado das prticas esportivas, do contrrio no teriam vivncias, experincias motoras necessrias que contribuiriam na sua formao para cidadania. Sendo o esporte um meio educativo, capaz de propiciar experincias e aprendizagem de respeito aos cdigos, adversrios e companheiros de equipe, elevao da auto-estima, de suma importncia que todos, inclusive os necessitados especiais, sejam includos e participem de todas as situaes, podendo-se inclusive alterar-se as regras, adaptando-as para que todos tomem parte das prticas esportivas.

A CAPOEIRA: HISTRICO E CARACTERSTICAS (CAPOEIRA ADAPTADA PARA DEFICIENTE MENTAL E SNDROME DE DOWN)

Segundo Castro (2005) h quase quatrocentos anos, aps a invaso portuguesa s terras que chamaram de Brasil, com a chegada dos negros africanos seqestrados51

e/ou comprados no continente de alm mar, surgiu a capoeira. Manifestao cultural brasileira, fruto da (re) criao do negro africano no Brasil, a capoeira cada vez mais vem sendo compreendida como uma linguagem polissmica que permite a interao entre atores diversificados, com sentidos diversos e em contexto diferentes, sendo hoje concebida, tambm, como importante meio de educao. Quanto origem do termo e da prtica esportiva, h uma diversidade entre os pesquisadores. Vale lembrar os estudos de Cmara Cascudo (apud Soares, 1994) que, atravs de anlise de relatos de viajantes portugueses, defende elementos nativos africanos na origem da capoeira. Segundo este autor, existe em Angola uma dana cerimonial de iniciao, praticada entre grupos das regies de Mocupe e Mulondo, realizada durante as festas do Mufico, rito de puberdade das moas do grupo, que executado dentro de um grande crculo de pessoas da tribo que marcam a cadncia de movimentos batendo palmas. Dentro da roda, dois jovens realizam a dana da zebra, ou ngolo, qual, imitando movimentos de animais, tentam atingir o rosto do oponente com os ps. Cascudo observa diversas similaridades entre esta prtica e a capoeira. Alm desse ritual existe a Bassula, luta de pescadores da regio de Luanda, que teria contribudo para a constituio da capoeira carioca, assim como outras prticas. Segundo Lbano Soares (2001), estudos recentes apontam para a constituio de danas marciais negras em outras sociedades americanas como Cuba e Martinica. Segundo Xavier (2005), os primeiros relatos sobre a prtica da capoeira datam do sculo XVIII, mas somente no sculo XIX essa manifestao alcanou visibilidade social de grandes propores. A capoeira difundiu se pelos diferentes estados do pas, mas os locais de maior relevncia para o desenvolvimento desta tradio

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atualmente em suas duas correntes fundamentais, alm da grande diversidade de subdivises so os estados do Rio de Janeiro e Bahia. Com a chegada do sculo XIX a capoeira transforma-se em um fenmeno social constante nos grandes centros urbanos. Segundo Holloway citado por Freitas (1995), at a metade do sculo XIX a capoeira era utilizada pelos escravos da cidade do Rio de Janeiro em brigas e discusses. Na maioria das vezes deixando grande nmero de mortos e feridos. No decorrer da histria notria a vinculao do termo jogo, luta capoeira, isto confirmado na literatura especfica, desde a sua gnese em ttulos de livros e peridicos existentes, pelos pesquisadores que abordaram o tema (PERELLI, 2004). Ainda o mesmo autor, relata que no final do sculo XIX, a capoeira comeou a ganhar contornos de luta, jogo, dana, folclore, dependendo do momento e conjuntura poltica e social em que o pas atravessava. Segundo Freitas (2001), a capoeira uma atividade fsica bem brasileira, supostamente criada pelos negros no Brasil, em funo das necessidades da histria da poca. Atualmente a capoeira est conquistando espaos importantes que at ento no tinha conquistado. O importante da capoeira, como revela a evoluo da sua prpria histria, de enraizar-se nas comunidades e reparties para tomar o seu devido lugar que de direito. Atualmente, a Capoeira faz parte como disciplina obrigatria de alguns cursos de Licenciatura em educao Fsica, em vrias universidades do Brasil. Em agosto de 1999, iniciou-se a primeira turma de Capoeira, do Curso Seqencial de Capoeira, baseada na nova lei de Diretrizes e Bases do MEC, na Universidade Gama Filho.

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Ruffato (2001), afirma que a capoeira na Educao Fsica apresenta-se por excelncia desenvolvendo as atividades fsicas de base, ao mesmo tempo em que atua com eficincia na melhoria das condies gerais do indivduo estimulando a autoconfiana, formao do carter e da personalidade. Segundo Arajo (2004), sendo a capoeira umas das atividades culturais relevantes no contexto cultural brasileiro, e aps quase quatro sculos de existncia, constatamos que ela assume atualmente diversos contornos de expressividade que marcam fortemente os campos etnogrficos, esportivos, educacionais e ldicos da sociedade brasileira, sendo, na atualidade, difundida e conhecida em muitos pases nos diversos continentes, essencialmente, como prtica de defesa pessoal. Ainda o mesmo autor considera esta atividade uma expresso de aspectos plurais, no s evidenciadas atravs das emanaes anteriormente referidas, mas tambm nas suas expresses como matria de ensino, como atividade ldica e mais recentemente como esporte. a capoeira um fenmeno scio-cultural que certamente recupera o valor e a importncia da comunidade negra transferida e escravizada no Brasil colonial e imperial e que, trazendo elementos da sua cultura, proporcionaram conjuntamente com outros elementos de cultura de outros povos que pra o nosso pas acorreram por fatores diversos nos distintos perodos histricos brasileiros, a formao da bagagem cultural do povo brasileiro, onde esta arte apresenta um alto grau de representatividade. A origem do esporte adaptado de fcil localizao no tempo e na literatura. Porm, ao definirmos a que esporte os refere, torna-se vivel a sua localizao. Assim o esporte praticado atualmente pelos portadores de necessidades especiais teve seu

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incio aps a Segunda Guerra Mundial, que ser o ponto de referncia (RUFFATO, 2001), A Capoeira Inclusiva j existe h 15 anos, e respeita as limitaes e capacidades do PNE e o esporte tem importncia inquestionvel. A capoeira vem tendo destaque muito grande, no s como esporte, mas, no caso dos portadores de deficincia, ela atua, verdadeiramente, como terapia. Considerando sempre a etapa mental, cronolgica e motora do indivduo, propicia um desenvolvimento orgnico mais satisfatrio, melhora o tnus muscular, permite maior agilidade, flexibilidade e ampliao dos movimentos. Auxilia o ajuste postural, bem como o esquema corporal, a coordenao dinmica e, ainda desenvolve a agilidade e fora. Vale ressaltar que a capoeira proporciona a liberao de sentimentos como a agressividade e o medo, levando o ser humano a adquirir uma condio fsica mais satisfatria e um comportamento mais socializado (CASTRO, 2005). Ribeiro (1992), afirma que na prtica impossvel abranger tudo que tem importncia e nos auxilia na compreenso e no tratamento integral das crianas deficientes. Desenvolver suas potencialidades nos planos fsicos, intelectual, moral e social, bem como estimular atitudes sociais, desibinio e esprito participante so objetivos que esta proposta deseja alcanar. Ao se preparar uma equipe procura-se conseguir individual ou coletivamente, resolver as situaes que se enfrentam, estabelecendo metas e etapas a serem vencidas, como forma de estgio. Ainda o mesmo autor, complementa que capoeira terapia para o deficiente uma fase onde a maior tcnica a perfeio de todos os movimentos realizados, e o desafio a superao e, sobretudo, a realizao da atividade. A adaptao o desenvolvimento e a perfeio da aprendizagem, e, ambos so fatores relacionados55

com o adequamento fsico atravs de tarefas distribudas e, evidenciando o domnio e o desempenho da cada um. Como no deficiente h um dficit de uma, ou algumas habilidades, til a adaptao e socializao desta clientela. Em diversos ncleos de atividades fsicas e sociais o ensino da capoeira est presente e uma opo, inclusive para portadores de deficincias fsicas e mentais. Atravs da prtica da Capoeira, o trabalho estes ncleos visa proporcionar ao portador de deficincia o seu bem estar fsico e mental, a melhora da qualidade de vida e, conseqentemente, o aprimoramento de seu relacionamento com a famlia e da integrao com a comunidade, de uma forma ldica (RAPOSEIRO apud FREITAS, 2001). Segundo Campos, apud Ribeiro (1992) a capoeira pode ser classificada com base em sete diferentes perspectivas relacionadas sua prtica: 1) Capoeira dana e arte, a arte se faz presente atravs da msica, ritmo, canto, instrumento, expresso corporal e criatividade de movimentos. tambm um riqussimo tema para as artes plsticas, literrias e cnicas. Na dana, as aulas devero ser dirigidas no sentido de aproveitar os movimentos da capoeira, desenvolvendo flexibilidade, agilidade, destreza, equilbrio e coordenao motora, indo busca da coreografia e da satisfao pessoal. 2) Capoeira folclore uma expresso popular que faz parte da cultura brasileira, e que deve ser preservada, promovendo a participao dos alunos, tanto na parte prtica, como na parte terica.

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3) Capoeira lazer, como prtica no-formal, atravs das rodas espontneas, realizadas nas praas, colgios, universidades, festas de largo, etc. 4) Capoeira Esporte, como modalidade esportiva institucionalizada em 1972, pelo Conselho Nacional de Desportos, ela mesma dever ter um enfoque especial para a competio, estabelecendo-se treinamentos fsicos, tcnicos e tticos. 5) Capoeira Luta, representa a sua origem e sobrevivncia atravs dos tempos, na sua forma mais natural, como instrumento de defesa pessoal, genuinamente, brasileiro. Dever ser ministrada com o objetivo de Capoeira-combate e de defesa. 6) Capoeira Educao apresenta-se como um instrumento importantssimo para a formao integral do aluno, desenvolvendo o fsico, o carter, a personalidade e influenciando nas mudanas de comportamento.

Proporciona ainda um auto-conhecimento e uma anlise crtica das suas potencialidades e limites. Na Educao Especial, a capoeira encontra campo frutfero junto aos portadores de deficincia Fsica. 7) Capoeira Filosofia de vida, muitos so os adeptos que se engajam de corpo e alma, criando dessa forma uma filosofia prpria de vida, tendo a capoeira como elemento smbolo, a at mesmo usando-a para a sua sobrevivncia. Para Ribeiro (1992), no jogo de Capoeira a ocasio em que so evidenciadas capacidades motoras tais como agilidade, destreza, coordenao motora e flexibilidade, constituindo o espao onde o capoeirista desenvolve a criatividade, jogando para57

recrear zelando pelo respeito de camaradagem. Nesta prtica deve desenvolver, de forma integrada, os trs domnios de aprendizagem do ser humano: psicomotor, afetivo social e cognitivo. Ainda o mesmo autor, afirma que a espontaneidade e descontrao so fatores que possibilitam o relacionamento adequado para as atividades propostas, sendo o dilogo a forma de acesso personalidade de cada um. Freitas (2001) conclui que a criana brinca, no s para satisfazer suas necessidades bsicas, mas tambm para atravs delas, aliadas s suas fantasias, dar um significado sua prpria existncia, pois na roda e capoeira a msica a sua senha. No mundo da criana o brinquedo sua vida. O mesmo autor complementa ainda dizendo que as brincadeiras so importantes para os domnios cognitivos, motor e afetivo social, precisando se trabalhar estas reas de forma homognea para que a criana tenha um desenvolvimento holstico. Assim, atravs das brincadeiras o professor poder obter um melhor desenvolvimento na coordenao motora, no estmulo visual, criatividade, auto-estima, automatizao de movimentos das crianas, administrando assim, melhor o tempo e o espao dentro de um movimento. Para Freitas (2001) a preocupao ensinar da melhor maneira possvel, sem ferir os princpios da capoeira e da humanidade. Com isso desenvolve um trabalho especfico com tcnicas adaptadas para as crianas respeitando suas individualidades biolgica e social. Ribeiro (1992), afirma que ao se preparar uma equipe procura-se conseguir, individual ou coletivamente, resolver as situaes que se enfrentam, estabelecendo metas e etapas a serem vencidas, como formas de estgio. Ainda o mesmo autor complementa que capoeira-terapia para o deficiente uma fase onde a maior tcnica a perfeio de todos os movimentos realizados, e o desafio a superao e, sobretudo,58

a realizao da atividade. A adaptao o desenvolvimento e a perfeio de aprendizagem, e ambos so fatores relacionados com o adequamento fsico atravs das tarefas distribudas, evidenciando o domnio e o desempenho de cada um. Como no deficiente h um dficit de uma, ou algumas habilidades, til a adaptao e socializao desta clientela. A fisioterapeuta Portugal, citada por Ribeiro (1992) acrescenta que a capoeira vem tendo destaque, no s como esporte, mas no caso dos portadores de deficincia, onde pode atuar, verdadeiramente, como terapia. Considerando sempre a etapa mental, cronolgica e motora do indivduo, propicia um desenvolvimento orgnico mais satisfatrio, melhora o tnus muscular, permite maior agilidade, flexibilidade e ampliao dos movimentos. A capoeira auxilia ainda o ajuste postural, o esquema corporal, a coordenao dinmica, bem como desenvolve agilidade e fora. Outro ponto fundamental que a capoeira no promove riscos tais como fadiga muscular e alteraes articulares e sseas, que podem ocorrer em outras prticas. As contraes musculares, provocadas por seus movimentos, so precisas em relao fora, velocidade e ritmicidade. Portugal citado por Ribeiro (1992) ressalta que a capoeira proporciona a liberao de sentimentos como agressividade e medo, levando, o portador de deficincia a adquirir uma condio fsica mais satisfatria e um comportamento mais socializado. Ribeiro (1992) afirma que no perodo da prtica da capoeira ocorre diminuio da agressividade e das agitaes psicomotoras presentes, freqentemente, nessas crianas, por falta de uma atividade especfica. Notou tambm um melhor

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desenvolvimento fsico, um amadurecimento psquico mais rpido e, que elas adaptavam-se mais facilmente sociedade. M. Neto apud Ribeiro (1992) reafirma a importncia da capoeira alternativa para essa clientela, e, reitera que a partir desse trabalho houve diminuio do perodo (neurolpticos e tranqilizantes), assim como a diminuio do perodo de permanncia dessas crianas no servio de atendido uma vez que obtinham alta antes do tempo previsto, sendo rapidamente reintegradas ao convvio social, participando de atividades com crianas consideradas normais. Ribeiro (1992) conclui que o deficiente capaz de responder a qualquer estmulo que lhe seja endereado, desde que haja pacincia, carinho e muito amor para realizar qualquer atividade proposta. A preocupao maior ser com os objetivos a serem alcanados e com o que o aluno pode conseguir. Castro (2005) cita em suas consideraes finais que a capoeira inclusiva uma prtica incipiente na sociedade atual onde nota-se, infelizmente certo preconceito com os PPNE. Verificou-se tambm atravs da observao do participante, que algumas crianas deram seus primeiros passinhos na roda de capoeira. Mdicos, fisioterapeutas e psiclogos s vezes no conseguem explicar o que se passa na roda, pois alguns cadeirantes que nunca andaram, conseguem ficar de p. Outros que passam anos em fisioterapia no conseguiram ficar em p, mas numa roda de capoeira conseguem. A professora definiu como felicidade de fazer o que gosta, de saber que livre pra fazer o que quer expressar o que sente. Ali o lugar que ele tem para extravasar tudo o que ele quer. A capoeira proporciona a liberao de sentimentos como a agressividade e o medo, levando o ser humano a adquirir uma condio fsica mais satisfatria e um comportamento mais socializado. Observou-se, portanto que efetivamente a capoeira60

representou uma atividade inclusiva, auxiliando a criana PPNE em diferentes aspectos. As melhorias dos PPNE foram principalmente satisfao pessoal e incluso social, com a melhoria na qualidade de vida. Nas aulas de capoeira inclusiva pode-se notar que todos os contedos so trabalhados, desde os golpes mais simples at os mais complexos, como floreios, maculel. O batizado, inclusive, onde os alunos ficam eufricos e felizes em saber que superaram mais um obstculo. Nestor (2001) explica que o batizado de capoeira representa o momento em que os indivduos recebem a sua primeira graduao no grupo. Nesse dia eles deixam de ser pagos (quem foi batizado), pois durante esse evento costume entre os grupos dar um apelido ao capoeirista. O apelido uma tradio desde os tempos que a capoeira era considerada uma arte marginal e os capoeirista