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FATEBRA FACULDADE TEOLÓGICA DO BRASIL “Entidade Educacional Com Jurisdição Nacional” Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.fatebra.com.br APOSTILA – 17 ESTUDOS SOBRE A INQUISIÇÃO TOTAL – 36 PAGINAS 3 - ASSUNTOS! Inquisição Nunca Mais As Figueiras da Inquisição - I As Figueiras da Inquisição - II INQUISIÇÃO NUNCA MAIS ESTUDO SOBRE A INQUISIÇÃO Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.fatebra.com.br AOS LEITORES Este trabalho é um esboço, um ensaio, um estudo, em que condensamos diversos fatos relacionados com a INQUISIÇÃO. O assunto, de tão vasto, não se esgota nestas páginas. As dificuldades enfrentadas pela Igreja de Cristo através dos séculos devem ser conhecidas por todos os cristãos. Os católicos precisam 1 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected]

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FATEBRAFACULDADE TEOLÓGICA DO BRASIL“Entidade Educacional Com Jurisdição Nacional”

Professor Dr. Antony Steff Gilson de OliveiraReverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB

www.fatebra.com.br

APOSTILA – 17ESTUDOS SOBRE A INQUISIÇÃO

TOTAL – 36 PAGINAS3 - ASSUNTOS!

Inquisição Nunca Mais As Figueiras da Inquisição - I As Figueiras da Inquisição - II

INQUISIÇÃO NUNCA MAISESTUDO SOBRE A INQUISIÇÃOProfessor Dr. Antony Steff Gilson de OliveiraReverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRBwww.fatebra.com.br

AOS LEITORESEste trabalho é um esboço, um ensaio, um estudo, em que condensamos diversos fatos relacionados com a INQUISIÇÃO. O assunto, de tão vasto, não se esgota nestas páginas. As dificuldades enfrentadas pela Igreja de Cristo através dos séculos devem ser conhecidas por todos os cristãos. Os católicos precisam conhecer a história negra de sua igreja. Os evangélicos não devem esquecer os heróis da fé, os homens que, com ousadia, romperam com as tradições, com o poder eclesiástico de sua época, e ajudaram na implantação de uma igreja reformada, livre do poder papal, submissa a Jesus, e tendo a Bíblia Sagrada como única regra de fé e prática. Conhecer um pouco dos horrores dos tribunais eclesiástico é descobrir o quão difícil foi a caminhada até os dias atuais. Os alicerces de nossa fé ficam mais fortalecidos quando nos miramos no exemplo de nossos irmãos do passado, "atribulados mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados, perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos", pois "BEM-AVENTURADOS SOIS VÓS, QUANDO VOS INJURIAREM E PERSEGUIREM E, MENTINDO, DISSEREM TODO O MAL CONTRA VÓS POR MINHA CAUSA" (Mateus 5.11).A lista dos mártires e perseguidos parece não ter fim. A Igreja Católica estava disposta a vigiar e manter sob seu domínio todo o universo do pensamento humano. Qualquer um que ousasse defender suas idéias - científicas, religiosas, ou em qualquer área -, em desacordo com a interpretação do Vaticano, era considerado um herético, e, por isso, por esse crime, julgado e condenado. Era quase impossível aos

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hereges se livrarem da tortura e da fogueira.Pelo modo cruel como os protestantes foram massacrados; pela forma cruel com que subjugaram alguns, sob tortura; em razão dos milhões que perderam a vida nas Cruzadas, nas fogueiras ou de outras maneiras, e por muitas outras práticas assassinas e injustas usadas no decorrer de vários séculos de INQUISIÇÃO, não vacilamos em afirmar que esse monstruoso Santo Ofício foi UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE... todavia, um crime que não mais se repetirá, NUNCA MAIS. Louvado seja nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O AUTOR

INQUISIÇÃO: SIGNIFICADO E OBJETIVOTambém chamada de Santo Ofício, INQUISIÇÃO era a designação dada a um tribunal eclesiástico, vigente na Idade Média e começos dos tempos modernos. Esse Tribunal, instituído pela Igreja Católica Romana, tinha por meta prioritária julgar e condenar os hereges. A palavra "herege" significa aquele que escolhe, que professa doutrina contrária ao que foi definido pela Igreja como sendo matéria de fé. Então, todos os que se rebelavam contra a autoridade papal ou faziam qualquer espécie de crítica à Igreja de Roma eram considerados hereges. INQUISIÇÃO é o ato de INQUIRIR: indagar, investigar, pesquisar, perguntar, interrogar judicialmente. Os hereges seriam os "irmãos separados", os "protestante", os "crentes", os "evangélicos" de hoje.Em suma, a INQUISIÇÃO foi um tribunal eclesiástico criado com a finalidade de investigar e punir os crimes contra a fé católica. Da Enciclopédia BARSA, vol 7, pags. 286-287 extraímos o seguinte: " Heresia, no sentido geral é uma atitude, crença ou doutrina, nascida de uma escolha pessoal, em oposição a um sistema comumente aceito e acatado. É uma opinião firmemente defendida contra uma doutrina estabelecida. A Igreja Católica, no seu Direito Canônico, estabelece uma distinção entre heresia, apostasia e cisma. Assim diz este documento: "Depois de recebido o batismo, se alguém, conservando o nome de cristão, nega algumas das verdades que se devem crer com fé divina e católica ou dela duvida, é HEREGE. Se afasta-se totalmente da fé cristã, é APÓSTATA. Se recusa submeter-se ao Sumo Pontífice (o Papa) ou tratar com os membros da Igreja aos quais está sujeito, é CISMÁTICO" (Direito Canônico 1.325, párag. 2). Então, por esse raciocínio e decreto de Roma, os milhões de crentes no mundo são hereges e cismáticos porque negam muitas das "verdades" da fé católica, não se submetem ao Sumo Pontífice, e só reconhecem Jesus Cristo como autoridade máxima da Igreja.De acordo com o que foi noticiado em janeiro/98 pelos jornais, a Igreja Católica Romana resolveu abrir os arquivos do Santo Ofício ou Inquisição, colocando-os à disposição dos pesquisadores. Nesses arquivos constam 4.500 obras sob fatos e julgamentos de quatro séculos da Igreja Católica, conforme noticiado. A abertura desses processos é de muita valia para os pesquisadores, historiadores e interessados em conhecer um pouco mais do passado negro da Igreja de Roma. Nem por isso a humanidade deixou de conhecer as crueldades, as chacinas, o extermínio, as torturas que tiraram a vida de milhões de hereges. Os arquivos do Vaticano vão mostrar, certamente, com mais detalhes, como foram conduzidos os processos sumários e quais os métodos usados para obter confissões e retratações. Todavia, a guarda a sete chaves dessas informações não impediu que o mundo tomasse conhecimento dos crimes cometidos pelos tribunais inquisitórios. A História não pode ser apagada.

O INÍCIO DAS PERSEGUIÇÕESEmbora a Inquisição tenha alcançado seu apogeu no século XIII, suas origens remontam ao século IV:

o herege espanhol Prisciliano foi condenado à morte pelos bispos espanhóis no ano de 1385; no século X muitos casos de execuções de hereges, na fogueira ou por estrangulamento; em 1198 o Papa Inocêncio III liderou uma cruzada contra os "ALBIGENSES" (hereges do sul da

França), com execuções em massa; em 1229, no Concílio de Tolouse, foi oficialmente criada a Inquisição ou Tribunal do Santo

Ofício, sob a liderança do Papa Gregório IX;

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em 1252, o Papa Inocêncio IV publicou o documento intitulado "AD EXSTIRPANDA", em que vociferou: "os hereges devem ser esmagados como serpentes venenosas". Este documento foi fundamental na execução do diabólico plano de exterminar os hereges. As autoridades civis, sob a ameaça de excomunhão no caso de recusa, eram ordenadas a queimar os hereges. O "AD EXSTIRPANDA" foi renovado ou reforçado por vários papas, nos anos seguintes: Alexandre IV (1254-1261); Clemente IV (1265-1268), Nicolau IV (1288-1292); Bonifácio VIII (1294-1303) e outros. Inocêncio IV autorizou o uso da tortura.

OS MÉTODOS DE TORTURANo seu "Livro das Sentenças da Inquisição" (Liber Sententiarum Inquisitionis) o padre dominicano Bernardo Guy (Bernardus Guidonis, 1261-1331), "um dos mais completos teóricos da Inquisição", descreveu vários métodos para obter confissões dos acusados, inclusive o enfraquecimento das forças físicas do prisioneiro". Usava-se, dentre outros, os seguintes processos de tortura: a manjedoura, para deslocar as juntas do corpo; arrancar unhas; ferro em brasa sob várias partes do corpo; rolar o corpo sobre lâminas afiadas; uso das "Botas Espanholas" para esmagar as pernas e os pés; a Virgem de Ferro: um pequeno compartimento em forma humana, aparelhado com facas, que, ao ser fechado, dilacerava o corpo da vítima; suspensão violenta do corpo, amarrado pelos pés, provocando deslocamento das juntas; chumbo derretido no ouvido e na boca; arrancar os olhos; açoites com crueldade; forçar os hereges a pular de abismos, para cima de paus pontiagudos; engolir pedaços do próprio corpo, excrementos e urina; a "roda do despedaçamento funcionou na Inglaterra, Holanda e Alemanha, e destinava-se a triturar os corpos dos hereges; o "balcão de estiramento" era usado para desmembrar o corpo das vítimas; o "esmaga cabeça" era a máquina usada para esmagar lentamente a cabeça do condenado, e outras formas de tortura. Com a promessa de irem diretamente para o Céu, sem passagem pelo purgatório, muitos homens eram exortados pelos inquisidores para guerrearem contra os hereges. No ano de 1209, em Beziers (França), 60 mil foram martirizados; dois anos depois, em Lauvau (França), o governador foi enforcado, sua mulher apedrejada e 400 pessoas queimadas vivas. A carnificina se espalhou por outras cidades e milhares foram mortos. Conta-se que num só dia 100.000 hereges foram vitimados.Depois de acusados, os hereges tinham pouca chance de sobrevivência. Geralmente as vítimas não conheciam seus acusadores, que podiam ser homens, mulheres e até crianças. O processo era sumário. Ou seja: rápido, sem formalidades, sem direito de defesa. Ao réu a única alternativa era confessar e retratar-se, renunciar sua fé e aceitar o domínio e a autoridade da Igreja Católica Romana. Os direitos de liberdade e de livre escolha não eram respeitados. A Igreja de Roma, sob o pretexto de que detinha as chaves dos céus e do inferno e poderes para livrar as almas do purgatório e perdoar pecados, pretendia ser UNIVERSAL, dominar as nações mediante pressão sob seus governantes e estabelecer seus domínios por todo o Planeta.

CRUELDADE E MATANÇAA seguir, um relato sucinto do extermínio de hereges.A matança dos valdenses - Um dos primeiros grupos organizados a serem atormentados foram os valdenses. Valdenses eram chamados "os membros da seita, também chamada Pobres de Lião, fundada pelo mercador Pedro Valdo por volta de 1170, na França. Inspirada na pobreza evangélica, repudiava a riqueza da Igreja Católica". O grupo organizado por Pedro Valdo, um rico comerciante, cria que todos os homens tinham o direito de possuir a Bíblia traduzida na sua própria língua. Acreditavam, também, que a Bíblia era a autoridade final para a fé e para a vida. Os valdenses se vestiam com simplicidade - contrapondo-se à luxúria dos sacerdotes católicos - , ministravam a Ceia do Senhor e o Batismo, e ordenavam leigos para a pregação e ministração dos sacramentos. "O grupo tinha seu próprio clero, com bispos, sacerdotes e diáconos". Tal liberdade não era admitida pela Igreja Católica porque não havia submissão ao Papa e aos seus ensinos. Os valdenses possuíam a Bíblia traduzida na sua língua materna, o que facilitou a pregação da Palavra. Outros grupos sucumbiram diante das ameaças e castigos impostos pelos romanistas. Os valdenses, todavia, resistiram. Na escuridão das cavernas, cada

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versículo era copiado, lido e ensinado. Na Bíblia encontraram a Luz - uma luz forte que inunda corpo, alma e espírito... uma luz chamada Jesus. Os valdenses foram, certamente, os primeiros a se organizarem como igreja, formar seu próprio clero e enviar missionários para outras regiões na França e Itália. Tudo com muito sacrifício e sob implacável perseguição.Essa liberdade de ação motivou os líderes romanos a adotarem medidas duras contra a "seita". Uma bula papal classificou os valdenses como hereges e, como tal, condenados à morte. A única acusação contra eles era a de que "tinham uma aparência de piedade e santidade que seduzia as ovelhas do verdadeiro aprisco". Uma cruzada foi organizada contra esse povo santo. Como incentivo, a Igreja prometia perdão de todos os pecados aos que matassem um herege, "anulava todos os contratos feitos em favor deles (dos valdenses), proibia a toda a pessoa dar-lhe qualquer auxílio, e era permitido se apossar de suas propriedades por meio de violência". Não se sabe quantos valdenses morreram nas Cruzadas. Sabemos, portanto, que esses obstinados cristãos fincaram os alicerces da Reforma que viria séculos depois.

O MASSACRE DE SÃO BARTOLOMEU - Os católicos franceses apelidavam de "huguenotes" os protestantes. Uma designação depreciativa. Já fomos tratados de huguenotes, hereges, heréticos, protestantes, cristãos novos, irmãos separados, crentes, evangélicos, etc. Mas o Pai nos chama de FILHOS.O massacre de São Bartolomeu ou a Noite de São Bartolomeu ficou conhecido como "a mais horrível entre as ações diabólicas de todos os séculos". Com a concordância do Papa Gregório XIII, o rei da França, Carlos IX, eliminou em poucos dias milhares de huguenotes. A matança iniciou-se na noite de 24.08.1572, em Paris, e se estendeu a todas as cidades onde se encontravam protestantes. Segundo Ellen G. Write, em seu Livro "O GRANDE CONFLITO", foram martirizados cerca de setenta mil nesse massacre. "Quando a notícia do massacre chegou a Roma, a alegria do clero não teve limites. O cardeal de Lorena recompensou o mensageiro com mil coroas; o canhão de Santo Ângelo reboou em alegre salva; os sinos dobraram em todos os campanários; e o Papa Gregório XIII, acompanhado dos cardeais e outros dignitários eclesiásticos, foi, em longa procissão, à igreja de S.Luís, onde o cardeal de Lorena cantou o Te Deum. Um sacerdote falou "daquele dia tão cheio de felicidade e regozijo, em que o santíssimo padre recebeu a notícia e foi em aparato solene dar graças a Deus e a S.Luís".Para comemorar e perpetuar na memória dos povos esse horrendo massacre, por ordem do Papa Gregório XIII foi cunhada uma moeda, onde se via a figura de um anjo com a espada numa mão e, na outra, uma cruz, diante de um grupo de horrorizados huguenotes. Nessa moeda comemorativa lia-se a seguinte inscrição: "UGONOTTORUM STANGES, 1572" ("A MATANÇA DOS HUGUENOTES, 1572").Em seu livro "OS PIORES ASSASSINOS E HEREGES DA HISTÓRIA", o historiador e pesquisador cearense Jeovah Mendes, à pág. 238, assim registra a fatídica Noite de S.Bartolomeu: "Papa Gregório XIII (Ugo Buoncompagni) (1502-1585) - Em irreprimível ritmo acelerado recrudescia o ódio contra os protestantes em rumo de um trágico desfecho. O cardeal de Lorena, com a aprovação e bênção pontifícia de Gregório XIII, engendrou o mais horrível banho de sangue por motivos religiosos em toda a História da França ou de qualquer nação do mundo. Consumou-se o projeto assassino aos 24 de agosto de 1572, a inqualificável NOITE DE S.BARTOLOMEU, sendo nesse macabro festival de sangue, morto o impetérrito Coligny, mártir do Evangelho e honra de sua Pátria. Como troféu da bárbara carnificina, a cabeça de Coligny fora remetida ao "sumo pontífice" Gregório XIII (Maurício Lachatre, História dos Papas, vol. IV, pg. 68)".

O MASSACRE DOS ALBIGENSES - Albigenses eram os nascidos na cidade de Albi, sul da França. Em 1198, por iniciativa do Papa Inocêncio III, foram instituídos "Os Inquisidores da Fé contra os Albigenses". Esses franceses foram considerados "hereges" porque seus ensinos doutrinários não se alinhavam com os da Igreja de Roma. O extermínio começou no ano de 1209 e se estendeu por 20 anos, quando milhares de albigenses pereceram. Fala-se em mais de 20.000 mortos, entre homens, mulheres e crianças.

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O MASSACRE DA ESPANHA - Tomás de Torquemada (1420-1498), espanhol, padre dominicano, nomeado para cargo de grande-inquisidor pelo Papa Sisto IV, dirigiu as operações do Tribunal do Santo Ofício durante 14 anos. "Celebrizou-se por seu fanatismo religioso e crueldade". De mãos dadas com os reis católicos, promoveu a expulsão dos judeus da Espanha por édito real de 31.03.1492, tendo estes o prazo reduzido de quatro meses para se retirarem do país sem levar dinheiro, ouro ou prata. É acusado de haver condenado à fogueira 10.220 pessoas, e cerca de 100.000 foram encarceradas, banidas ou perderam haveres e fazendas. Tudo em nome da fé católica e da honra de Jesus Cristo.

O MASSACRE DOS ANABATISTAS - Grupo religioso iniciado na Inglaterra no século XVI, que defendia o batismo somente de pessoa adulta. Por autorização do Papa Pio V (1566-1572), cem mil foram exterminados.

O MASSACRE EM PORTUGAL - Diante dos insistentes pedidos de D. João III, o Papa Paulo III introduziu, por bula de 1536, o Tribunal do Santo Ofício em Portugal. As perseguições foram de tal ordem que o comércio e a indústria na Espanha e em Portugal ficaram praticamente paralisados. "As execuções públicas eram conhecidas como autos-de-fé. No começo, funcionaram tribunais da Inquisição nas diversas dioceses de Portugal, mas no século XVI ficaram apenas os de Lisboa, Coimbra e Évora. Depois, somente o da capital do reino, presidido pelo inquisidor-geral. Até 1732, em Portugal, o número de sentenciados atingiu 23.068, dos quais 1.554 condenados à morte. Na torre do Tombo, em Lisboa, estão registrados mais de 36.000 processos". Daí porque os 4.500 processos constantes dos arquivos de terror do Vaticano - Os Arquivos do Santo Ofício - recentemente liberados aos pesquisadores, não contam toda a história da desumana Inquisição.

REFERÊNCIAS GERAIS SOBRE A INQUISIÇÃOA INQUISIÇÃO EM CUBA - Não havia parte nenhuma no mundo onde os protestantes ou hereges estivessem livres para o exercício de sua fé. Partindo da Europa, muitos procuraram refúgio nas Américas do Sul e Central, o "Novo Mundo". Mas para cá também vieram os inquisidores. A inquisição em Cuba iniciou-se em 1516 sob o comando de dom Juan de Quevedo, bispo de Cuba, que, com requintes de maldade, eliminou setenta e cinco "hereges".

A INQUISIÇÃO NO BRASIL - O padre Antônio Vieira (1608-1697), pregador missionário e diplomata, defensor dos indígenas, considerado a maior figura intelectual luso-brasileira do séc. 17 foi condenado por heresia pelo Santo Ofício, e mantido em prisão por cerca de dois anos. O brasileiro Antônio José da Silva, poeta e comediólogo, foi um dos supliciados em autos-da-fé.A Inquisição se instalou no Brasil em três ocasiões: Em 09.06.1591, na Bahia, por três anos; em Pernambuco, de 1593 a 1595; e novamente na Bahia, em 1618. Há notícia de que no século XVIII Inquisição atuou no Brasil. Segundo o jornal "Mensageiro da Paz", número 1334, de maio/1998, "cento e trinta e nove "pessoas foram queimadas vivas, no Brasil, entre os anos de 1721 e 1777. Todos os que confessavam não crer nos dogmas católicos eram sentenciados. De acordo com os dados históricos, quase todos os cristãos-novos presos no Brasil pela Inquisição, durante o século 18, eram brasileiros natos e pertenciam a todas as camadas sociais. Praticamente a metade dos prisioneiros brasileiros cristãos-novos no século 18 era mulheres. Na Paraíba, Guiomar Nunes foi condenada à morte na fogueira em um processo julgado em Lisboa. A Inquisição interferiu profundamente na vida colonial brasileira durante mais de dois séculos. Um dos exemplos dessa interferência era a perseguição aos descendentes de judeus. Os que estavam nessa condição podiam ser punidos com a morte, confisco dos bens e na melhor das hipóteses ficavam impedidos de assumir cargos públicos". A matéria do Mensageiro da Paz foi assinada por Regina Coeli.Do livro "BABILÔNIA: A RELIGIÃO DOS MISTÉRIOS" de Ralph Woodrow - "As autoridades civis eram ordenadas pelos papas, sob pena de excomunhão, a executarem as sentenças legais que condenavam os hereges impenitentes ao poste. Deve-se notar que a excomunhão em si mesma não era uma coisa simples, pois, se a pessoa excomungada não se livrasse da excomunhão dentro de um ano, passava a ser

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considerada herética, e incorria em todas as penalidades que afetavam a heresia" (pág. 110). "A intolerância religiosa que incitou a Inquisição, causou guerras que envolveram cidades inteiras. Em 1209 a cidade de Beziers foi tomada por homens que tinham recebido a promessa do papa de que entrando na cruzada contra os hereges, eles (os assassinos), ao morrerem, passariam direto para o céu, desviando-se do purgatório. Reporta-se que sessenta mil, nesta cidade, pereceram pela espada. Em Lavaur, em 1211, o governador foi enforcado e a esposa lançada num poço e esmagada com pedras. Quatrocentas pessoas foram queimadas vivas em Lavaur. Os cruzados assistiram à missa solene pela manhã, em seguida passaram a tomar outras cidades da área. Neste cerco estima-se que cem mil albigenses (protestantes) caíram em um só dia. Seus corpos foram amontoados e queimados. No massacre de Merindol, quinhentas mulheres foram trancadas em um celeiro ao qual atearam fogo. Se qualquer uma pulasse das janelas seria recebida na ponta de lanças. Mulheres foram ostensiva e dolorosamente violentadas. Crianças assassinadas diante de seus pais. Algumas pessoas eram lançadas de abismos ou arrancavam suas roupas e arrastavam-nas pelas ruas. Métodos semelhantes foram usados no massacre de Orange em 1562. O exército italiano, enviado pelo Papa Pio IV, recebeu ordem e matar homens, mulheres e crianças. A ordem foi seguida com terrível crueldade, sendo o povo exposto a vergonha e tortura indescritíveis. Dez mil huguenotes (protestantes) foram mortos no sangrento massacre em paris no "Dia de São Bartolomeu", em 1572". (págs. 113-114).Enciclopédia BARSA, vol. 8, pág. 30-31, edição 1977 - "Em 1229, no Concílio de Tolouse, criou-se oficialmente a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício. A partir deste momento, e sobretudo com o trabalho dos frades dominicanos, foi-se precisando a legislação e jurisprudência da Inquisição. O processo era sumário. O acusado podia ignorar o nome do acusador. Mulheres, crianças e escravos podiam ser testemunhas na acusação, mas não na defesa. Num destes processos consta o nome de uma testemunha de dez anos e idade. O padre dominicano Bernardo Guy (Bernardus Guidonis, 1261-1331), um dos mais completos teóricos da Inquisição, enumerou, no seu Liber Sententiarum Inquisitionis ("Livro das Sentenças da Inquisição"), vários processos para a boa obtenção de confissões, inclusive pelo enfraquecimento das forças físicas do prisioneiro."

Do livro "OS PIORES ASSASSINOS E HEREGES DA HISTÓRIA, DE CAIM A SADDAM HUSSEIN, do cearense Jeovah Mendes, edição 1997, págs 249-250.

"Em toda a sua calamitosa história, a Igreja Católica nada mais tem feito que perseguir o homem, sob o sofisma de agir em nome de Deus. Vejamos os morticínios que ela levou a efeito: As cruzadas à Terra Santa custaram à humanidade o sacrifício de dois milhões de vítimas; de Leão X a Clemente IX (papas) os sanguinários agentes do catolicismo, que dominavam a França, a Holanda, a Alemanha, a Flandes e a Inglaterra, realizaram a tenebrosa São Bartolomeu, de que já falamos, degolando, massacrando, queimando mais de dois milhões de infiéis, enquanto a Companhia de Jesus, obra do abominável Inácio de Loyola, cometia as maiores atrocidades, chegando mesmo a envenenar o Papa Clemente XIV. O seu agente S. Francisco Xavier, em missão no Japão, imolava cerca de quatrocentos mil nipônicos; as cruzadas levadas a efeito entre os indígenas da América, segundo Las Casas, bispo espanhol e testemunha ocular de perseguição e autos-de-fé, sacrificaram doze milhões de seres em holocausto ao seu Deus; a guerra religiosa que se seguiu ao suplício do Padre João Huss e Jerônimo de Praga, contou mais de cento e cinqüenta mil vidas imoladas à Igreja Romana; no século XIV, o grande Cisma do Ocidente cobriu a Europa de cadáveres, dado que nada menos de cinqüenta mil vidas foram o preço cobrado pela ira papal; as cruzadas levadas a efeito a partir de Gregório VII (papa), roubaram à Europa cerca de trezentos mil homens, assassinados com requintes de selvageria; nas terras do Báltico, os frades cavaleiros, além de uma devastação e pilhagem completa, ainda sacrificaram mais de cem mil vidas; a imperatriz Teodora, dando cumprimento a uma penitência imposta pelo seu confessor, fez massacrar cento e vinte mil maniqueus, no ano de 845; as disputas religiosas entre iconoclastas e iconólatras devastaram muitas províncias, resultando ainda no sacrifício de mais de sessenta mil cristãos degolados e queimados. A Santa Inquisição, na sua longa e tenebrosa jornada, levou aos mais horrorosos suplícios, inclusive às fogueiras, algumas centenas de milhares de pobres desgraçados;

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segundo o Barão d´Holbach, a Igreja Católica Romana, pelos seus papas, bispos e padres, é a responsável pelo sacrifício de cerca de dez milhões de vidas. Que mais é preciso dizer"?

AS TENTATIVAS DE ALGEMAR A PALAVRA DE DEUSA história dos massacres e perseguições perde-se no tempo. Quase impossível para os historiadores é levantar o número exato ou aproximado de vítimas da Inquisição. O banho de sangue começou na Europa, mais precisamente em França, e se estendeu por países vizinhos. Havia, por parte da Igreja de Roma, uma preocupação constante com a propagação do Evangelho, com o conhecimento da Palavra, com a tradução da Bíblia em outras línguas. Preocupação no sentido de proibir. Só pelo fato de um católico passar a ler as Escrituras estava sujeito a ser considerado um herege e, como tal, ser excomungado e levado à fogueira. A Bíblia era, assim, considerada um obstáculo às pretensões da Igreja de Roma, de colocar todos os povos sob seus domínios.Muitos meios foram usados para que a Bíblia ficasse restrita ao pequeno círculo dos sacerdotes, dos padres, dos bispos e dos papas. Dentre as medidas para conter o avanço da Palavra de Deus, estão as seguintes:

1) Em 1229, o Concílio de Tolouse (França), o mesmo que criou a diabólica Inquisição, determinou: "Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento... Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será severamente punido." (Concil. Tolosanum, Papa Gregório IX, Anno Chr. 1229, Canons 14:2). Foi este mesmo Concílio que decretou a Cruzada contra os albigenses. Em "Acts of Inquisition, Philip Van Limborch, History of the Inquisition, cap. 08, temos a seguinte declaração conciliar: "Essa peste (a Bíblia) assumiu tal extensão, que algumas pessoas indicaram sacerdotes por si próprias, e mesmo alguns evangélicos que distorcem e destruíram a verdade do evangelho e fizeram um evangelho para seus próprios propósitos... (elas sabem que) a pregação e explanação da Bíblia é absolutamente proibida aos membros leigos".(grifo nosso).

2) No Concílio e Constança, em 1415, o santo Wycliffe, protestante, foi postumamente condenado como "o pestilento canalha de abominável heresia, que inventou uma nova tradução das Escrituras em sua língua materna".

3) O Papa Pio IX, em sua encíclica "Quanta cura", em 8 de dezembro de 1866, emitiu uma lista de oito erros sob dez diferentes títulos. Sob o título IV ele diz: "Socialismo, comunismo, sociedades clandestinas, sociedades bíblicas... pestes estas devem ser destruídas através de todos os meios possíveis".

4) Em 1546 Roma decretou: "a Tradição tem autoridade igual à da Bíblia". Esse dogma está em voga até hoje, até porque existe o dogma da "infalibilidade papal". Ora, se os dogmas, bulas, decretos papais e resoluções outras possuem autoridade igual à das Sagradas Escrituras, os católicos não precisam buscar verdades na Palavra e Deus.

5) O Papa Júlio III, preocupado com os rumos que sua Igreja estava tomando, ou seja, perdendo prestígio e poder diante do número cada vez maior de "irmãos separados" ou "'cristãos novos" ou "protestantes" (apesar dos massacres), convocou três bispos, dos mais sábios, e lhes confiou a missão de estudarem com cuidado o problema e apresentarem as sugestões cabíveis. Ao final dos estudos, aqueles bispos apresentaram ao papa um documento intitulado "DIREÇÕES CONCERNENTES AOS MÉTODOS ADEQUADOS A FORTIFICAR A IGREJA DE ROMA". Tal documento está arquivado na Biblioteca Imperial de Paris, fólio B, número 1088, vol. 2, págs 641 a 650. O trecho final desse ofício é o seguinte:"Finalmente (de todos os conselhos que bem nos pareceu dar a Vossa Santidade, deixamos para o fim o

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mais necessário), nisto Vossa Santidade deve pôr toda a atenção e cuidado de permitir o menos que seja possível a leitura do Evangelho, especialmente na língua vulgar, em todos os países sob vossa jurisdição. O pouco dele que se costuma ler na Missa, deve ser o suficiente; mais do que isso não devia ser permitido a ninguém.Enquanto os homens estiverem satisfeitos com esse pouco, os interesses de Vossa Santidade prosperarão, mas quando eles desejarem mais, tais interesses declinarão. Em suma, aquele livro (a Bíblia) mais do que qualquer outro tem levantado contra nós esses torvelinhos e tempestades, dos quais meramente escapamos de ser totalmente destruídos. De fato, se alguém o examinar cuidadosamente, logo descobrirá o desacordo, e verá que a nossa doutrina é muitas vezes diferente da doutrina dele, e em outras até contrária a ele; o que se o povo souber, não deixará de clamar contra nós, e seremos objetos de escárnio e ódio geral. Portanto, é necessário tirar esse livro das vistas do povo, mas com grande cuidado, para não provocar tumultos" - Assinam Bolonie, 20 Octobis 1553 - Vicentius De Durtantibus, Egidus Falceta, Gerardus Busdragus.

6) Além de tentar tapar a boca de Deus algemando a Sua Palavra, a Igreja de Roma modifica ou suprime trechos sagrados da Bíblia para justificar sua Tradição. Daremos dois exemplos: 1) acatou o livro apócrifo de Macabeus dentre outros, admitindo-o como divinamente inspirado, para justificar a oração pelos mortos. 2) suprimiu o SEGUNDO MANDAMENTO em seu Catecismo. No Catecismo da Primeira Eucaristia, 12ª edição, Paulinas, São Paulo, 1975, à pág. 70, lê-se: Mandamentos da lei de Deus: 1) amar a Deus sobre todas as coisas; 2) não tomar seu santo nome em vão; 3) guardar os domingos e festas; 4) honrar pai e mãe; 5) não matar; 6) não pecar contra a castidade; 7) não furtar; 8) não levantar falso testemunho; 9) não desejar a mulher do próximo; 10) não cobiçar as coisas alheias.

7) Os mandamentos de Deus estão no livro de Êxodo. No capítulo 20, versos 4 e 5 assim está escrito: "NÃO FARÁS PARA TI IMAGEM DE ESCULTURA, NEM SEMELHANÇA ALGUMA DO QUE HÁ EM CIMA DOS CÉUS, NEM EM BAIXO NA TERRA, NEM NAS ÁGUAS DEBAIXO DA TERRA. NÃO TE ENCURVARÁS A ELAS NEM AS SERVIRÁS". Então, como se vê, a Igreja Romana suprimiu do seu Catecismo o Segundo Mandamento. Isto é grave para quem é temente a Deus. Muito grave. Por que suprimiu? Para que não houvesse o confronto de suas práticas idólatras com a Palavra de Deus?

Todos esses maléficos expedientes usados para eliminar, alterar ou suprimir as Sagradas Escrituras não conseguiram êxito. A Bíblia é o livro mais vendido e mais lido em todo o mundo e está traduzido para quase 2.000 línguas e dialetos. Só no Brasil são vendidos por ano mais de quatro milhões de bíblias, afora uns 150 milhões de livros com pequenos trechos (bíblias incompletas), Os reflexos desses expedientes, ou seja, as tentativas de algemar a Palavra de Deus, ainda hoje são sentidos. No Brasil são poucos os católicos que se dedicam à leitura da Bíblia, embora os carismáticos estejam mais desenvolvidos no particular. Regra geral, se contentam "com o pouco que lhes são oferecido na missa", e enquanto se contentam com esse pouco (como sugeriram aqueles bispos ao papa, item 5 retro) continuam errando. "ERRAIS, NÃO CONHECENDO AS ESCRITURAS, NEM O PODER DE DEUS". (Mateus 22.29)

O SANGUE DOS MÁRTIRESNão se pode separar a Inquisição da Reforma, uma vez que as perseguições, e com elas os inquisidores, surgiram em decorrência do protesto (advindo daí a alcunha de protestantes) de homens inconformados com as doutrinas e práticas da Igreja de Roma, cada vez mais se distanciando do Evangelho de Jesus Cristo. Wycliffe, John Huss, Jerônimo e Lutero não se calaram diante da luxúria, da venda de indulgências, do jogo de interesses e do baixo nível moral do clero romano. Esses "reformadores" desejavam, em suma, criar condições favoráveis a que a Igreja Católica Romana corrigisse seus erros. Apresentavam a Bíblia como única regra de fé e prática; Jesus como único Sumo Sacerdote; defendiam a liberdade de a Bíblia ser traduzida na língua de cada povo, de ser lida e interpretada por qualquer cristão; combatiam a submissão dos governantes aos papas e a espoliação do

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povo através de cobrança de impostos para os cofres de Roma. "Pelo pagamento de dinheiro à igreja, o povo poderia livrar-se do pecado e igualmente libertar as almas de amigos falecidos que estivessem confinadas às chamas atormentadoras. Por esses meios Roma encheu os cofres e sustentou a magnificência, luxo e vícios dos pretensos representantes dAquele que não tinha onde reclinar a cabeça". Em vez de considerar os protestos e analisá-los à luz da Palavra de Deus, e proceder as mudanças internas cabíveis, Roma preferiu partir para o ataque. Criou a Inquisição para exterminar os protestantes; proibiu a leitura da Bíblia e sua tradução em outras línguas; classificou de heresia qualquer ensino ou crença contrários à fé católica; sentenciou, torturou, degolou, exterminou, excomungou, massacrou um número incalculável de santos. "ENTÃO, VOS HÃO DE ENTREGAR PARA SERDES ATORMENTADOS E MATAR-VOS-ÃO. E SEREIS ODIADOS DE TODAS AS GENTES POR CAUSA DO MEU NOME" (Mateus 24.9).Muitos pagaram com a vida pelo desejo de reformar. Alcançaram a vitória porque resolveram enfrentar a poderosa Igreja de Roma, os inquisidores, a fogueira, a excomunhão e toda a espécie de vexames; enfrentaram acusações e ameaças mas não dobraram seus joelhos diante dos papas. Vejamos alguns exemplos.

JOHN WYCLIFFE (1320 - 1384)Wycliffe, teólogo inglês, precursor da Reforma, pregava uma Igreja sem a direção papal, era adversário das indulgências e combatia o excesso de bens materiais dos clérigos. Foi doutor de Teologia, advogado eclesiástico a serviço da Coroa, e tornou-se reitor de Lutterworth em 1374. Sua maior obra, contudo, foi a tradução das Escrituras para o inglês. A partir daí a Palavra de Deus se fez conhecida na Inglaterra.Ousado e destemido, Wycliffe atacou de forma brilhante o clero romano, acusando-o de explorar o povo e os governantes com a venda de indulgências; de criar clima de tensão e horror ao ameaçar os fiéis com excomunhão; de tentar conter a propagação da Palavra ao proibir a leitura da Bíblia e a sua tradução para línguas conhecidas do povo. Chamado a retratar-se por ocasião de uma enfermidade que muito o enfraqueceu, disse: "Não hei de morrer, mas viver e denunciar novamente as más ações dos frades".Tendo sido levado pela terceira vez ao tribunal eclesiástico, e acusado de heresia, Wycliffe declarou: "Com que julgais estar a contender? Com um ancião às bordas da sepultura? Não! Estais a contender com a Verdade, Verdade que é mais forte do que vós e vos vencerá". Deus livrou Wycliffe da fogueira: faleceu repentinamente após um ataque de paralisia. Sua voz silenciou, mas sua fé em Jesus Cristo fez discípulos em todo o mundo.

JOHN HUSS (1369 - 1415)Divulgador das idéias do santo Wycliffe, natural da Boêmia, depois de completar o curso superior ordenou-se sacerdote, havendo exercido o cargo de professor e mais tarde de reitor da universidade de Praga. Huss, embora não estivesse de acordo com todos os ensinos de Wycliffe, ficou bastante influenciado pelas idéias desse inglês, e resolveu aprofundar-se mais no estudo da Bíblia. O segundo passo foi denunciar o verdadeiro caráter do papado, o orgulho, a ambição e a corrupção da hierarquia. Defendia a Bíblia como sendo a única regra de fé e prática do cristão, e ensinava que a Palavra de Deus podia ser pregada por qualquer pessoa.Esse tipo de liberdade de pensamento não era admitido pela todo-poderosa Igreja de Roma. A reação veio rápida. O santo Huss foi convocado a comparecer perante o papa, em Roma. Apoiado pelos governantes e por uma parcela da população, ele não atendeu ao chamado. Diante de tão grande afronta ao Sumo Pontífice, Huss foi excomungado e a cidade de Praga interditada. Com a interdição, o povo ficaria privado das bênçãos divinas, bênçãos que somente o papa, como representante de Deus, tinha autoridade para ministrar. Era isso que ensinava a Igreja era assim que pensavam muitos.O período da Inquisição - uns 600 anos - foi um período negro na história da Igreja de Roma. Muitos povos, muitos grupos, muitas nações se enchem de orgulho e júbilo quando falam do seu passado. A Igreja Católica Romana não tem do que se alegrar. A lista dos ANTIPAPAS compreende 39 sumos pontífices, no período de 217 a 1449, abrangendo, portanto, um interregno de 1.200 anos, conforme a

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Enciclopédia BARSA. O clímax da imoralidade papal deu-se no período de 1378 a 1417, "durante o qual houve diversos papas ao mesmo tempo: a França e seus aliados obedeciam ao Papa de Avignon, enquanto a Alemanha, a Itália e a Inglaterra ao de Roma".No caso do santo Huss, acusado de heresia, não se sabia a quem recorrer porque a Igreja estava dividida. Daí porque a pedido do imperador Sigismundo, o Papa João XXIII - um dos três papas rivais - convocou um concílio geral na cidade de Constança, ao qual compareceram, como réus, o excomungado John Huss e o Papa João XXIII, este acusado por vários crimes cometidos durante seu ministério no período de 1410 a 1415: fornicação, adultério, incesto, sodomia, roubo, simonia, assassinato. "Foi provado, por uma legião de testemunhas, que ele havia seduzido e violado trezentas freiras, e que havia montado um harém em Boulogne onde não menos de duzentas meninas tinham sido vítimas de sua lubricidade". Condenaram-no por cinqüenta e quatro crimes. Deus colocou num mesmo tribunal um "herege" e um papa. O único "crime" do santo Huss fora o não se submeter à vontade de Roma. Por isso, foi condenado à fogueira. Antes da fogueira, Huss foi preso e lançado numa masmorra. Da prisão escreveu a um amigo: "Escrevo esta carta na prisão e com as mãos algemadas, esperando a sentença de morte para manhã... Quando, com o auxílio de Jesus Cristo, de novo nos encontrarmos na deliciosa paz da vida futura, sabereis quão misericordioso Deus Se mostrou para comigo, quão eficazmente me sustentou em meio de tentações e provas". Em outra carta disse: "Que a glória de Deus e a salvação das almas ocupem a tua mente, e não a posse de benefícios e bens. Acautela-te de adornar tua casa mais do que a tua alma; e, acima de tudo, dá teu cuidado ao edifício espiritual. Sê piedoso e humilde para com os pobres, e não consumas haveres em festas".Antes de ser levado ao local da execução, deu-se a cerimônia da degradação: as vestes sacerdotais do santo Huss foram arrancadas e sobre sua cabeça colocaram uma carapuça de papel com a inscrição "Arqui-herege". "Com muito prazer, disse Huss, "levarei sobre a cabeça esta coroa de ignomínia por Teu amor ó Jesus, que por mim levaste uma coroa de espinhos. Invoco a Deus para testemunhar que tudo que escrevi e preguei foi dito com o fim de livrar almas do pecado e perdição; e, portanto, muito alegremente confirmarei com meu sangue a verdade que escrevi e preguei". As chamas começaram a tomar conta do seu corpo. Huss orou várias vezes até perder a voz: "JESUS, FILHO DE DAVI, TEM MISERICÓRDIA DE MIM". O martírio do Santo Huss se deu em 6 de julho de 1415, no mesmo dia de sua condenação. Naquele mesmo dia o santo John Huss se encontrou com Jesus, no Paraíso.

JERÔNIMO DE PRAGA (1360 - 1416)São Jerônimo, embora consciente do risco que corria, apresentou-se ao Concílio de Constança (sudoeste da Alemanha), ano de 1414, para defender os ensinos do seu amigo John Huss, e dar testemunho de sua fé. Logo após haver confirmado suas idéias "heréticas", foi encarcerado numa masmorra, alimentado a pão e água. Doente, debilitado e abandonado por amigos, cedeu à pressão dos inquisidores e declarou que retornaria à fé católica. Ainda assim, retornou à prisão e lá permaneceu por trezentos e quarenta dias. Durante esse tempo, refletiu sobre a sua fraqueza de fé e se sentiu envergonhado de haver cedido. Verificou que não valia a pena negar as verdades bíblicas para salvar a pele. Novamente perante o Concílio, Jerônimo falou: "Estou pronto para morrer. Não recuarei diante dos tormentos que me estão preparados por meus inimigos e falsas testemunhas, que um dia terão que prestar contas de suas imposturas diante do grande Deus, a quem nada pode enganar. De todos os pecados que cometi desde minha juventude, nenhum pesa tão gravemente em meu espírito e me acusa tão pungente remorso, como aquele que cometi neste lugar fatídico, quando aprovei a iníqua sentença dada contra Wycliffe e com o santo mártir John Huss, meu mestre e amigo".E prosseguiu Jerônimo: "Confesso-o de todo o coração e declaro com horror, que desgraçadamente fraquejei quando, por medo da morte, condenei suas doutrinas. Portanto, suplico a Deus Todo-poderoso Se digne perdoar meus pecados, e em particular este, O MAIS HEDIONDO DE TODOS. Provai-me pelas escrituras que estou em erro, e o abjurarei. São as tradições dos homens mais dignas de fé do que o Evangelho do nosso Salvador?"São Jerônimo foi logo levado à fogueira. Quando as chamas começaram a queimar seu corpo, orou ao

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Pai: "Senhor, Pai Todo-poderoso, tem piedade de mim e perdoa os meus pecados; pois sabes que sempre amei Tua verdade".

JOANA D'ARC (1412 - 1431)Uma das milhares de vítimas dos autos-de-fé do Santo Ofício. Dizendo-se enviada por Deus, ela desejou e conseguiu, embora parcialmente, livrar sua Pátria, a França, da dominação inglesa. A "heroína da França" não se livrou das mãos dos inquisidores. Por causa de suas ousadas atitudes, foi acusada de feiticeira, sortílega, bruxa, pseudo-profeta, invocadora de espíritos malignos, idólatra maldita e amaldiçoada, escandalosa, sediciosa, perturbadora da paz do País, incitadora de guerras, cruelmente sequiosa de sangue humano, mentirosa, perniciosa, abusadora do povo, mágica, supersticiosa, cruel, dissoluta, invocadora de diabos, apóstata, cismática e herege.Joana d´Arc, vítima de uma traição, é feita prisioneira e entregue ao Tribunal da Inquisição para julgamento espiritual. O inquérito é comandado pelo Bispo Messire Pierre Cauchon, bispo de Beauvais, a quem coube intermediar o resgate da donzela por dez mil escudos franceses, a fim de ser entregue ao Vigário Geral da Inquisição da Fé no Reino de França. A alegação era a de que, por ela, "Deus tinha sido ofendido sem medida, a Fé excessivamente afrontada, e a Igreja desonrada". O Tribunal da Inquisição funcionava assim: se o réu reconhece a culpa, há esperança de ser reconduzido ao rebanho de Deus, e será condenado à prisão perpétua; se não se retrata, será torturado uma vez. Como a tortura não podia ser renovada, era apenas "interrompida" no caso de desmaio. A nova sessão de tortura seria uma continuação, e não uma nova tortura. Lembremos que o emprego da tortura foi permitido pelo Papa Inocêncio III.Condenada a ser queimada viva como relapsa, herética e feiticeira, Joana d´Arc foi supliciada publicamente na Praça do Mercado Velho, em Rouen (França), em 30 de maio 1431. Por ato do Papa Bento V, em 1920, a "maldita" donzela foi canonizada. Aos olhos da Igreja Católica ela, agora, é uma santa. Aos olhos de Deus, ela sempre foi uma santa, a Santa Joana d'Arc.

MARTINHO LUTERO (1483 - 1546)Considerado o fundador da doutrina protestante, o santo Lutero, de naturalidade alemã, doutorou-se em Teologia pela Universidade de Wittenberg, e, por esse tempo, leu pela primeira vez a Bíblia. Tendo sido tomado de um imenso desejo de ter uma comunhão mais estreita com Deus, resolveu ser monge e entrou na Ordem dos Agostinianos, no ano de 1505. Lutero levava uma vida de simplicidade, de jejum e orações. A leitura da Bíblia lhe havia despertado a consciência. Foi tocado pela luz do Evangelho e estava decidido em caminhar no Caminho chamado Jesus.Em 1510, "esteve sete meses em Roma, a fim de tratar assuntos relacionados com a Ordem, e voltou de lá impressionado com o que vira: luxo, pompa, casas suntuosas para os monges que não raro de banqueteavam fartamente. E não apenas isso. Ele se encheu de espanto ao ver a iniqüidade entre o clero, "gracejos imorais dos prelados, profanidade durante a missa, desregramento e libertinagem". "Ninguém pode imaginar", escreveu ele, "que pecados e ações infames se cometem em Roma... Se há inferno, Roma está construída sobre ele".Ainda em Roma, quando fazia penitência subindo de joelhos a "escada de Pilatos", ouviu uma voz dizendo: "O justo viverá pela fé" (Rm 1.17). Entendeu, então, que os homens não podem alcançar a salvação por suas obras. As penitências exigidas pelo clero romano não tinham valor algum. Seu afastamento de Roma se tornou cada vez maior.Lutero se indignou com a venda de indulgências. Pecados cometidos, ou os que porventura fossem praticados no futuro, eram perdoados pela Igreja, bastando que o pecador pagasse certa quantia. Lutero pregava que somente o arrependimento e a fé em Jesus Cristo poderiam salvar o pecador. O destemido sacerdote resolveu tomar uma atitude extrema. Afixou na porta da igreja de Wittenberg noventa e cinco teses contra as indulgências. Com base na Bíblia, mostrava que o Papa nem qualquer homem pode perdoar pecados. "Mostrava que a graça de Deus é livremente concedida a todos os que O buscam com arrependimento e fé". Rapidamente os ensinos de Lutero se espalharam pela Europa, e as verdades

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bíblicas começaram a se instalar nos corações. "ASSIM SERÁ A PALAVRA QUE SAIR DA MINHA BOCA: ELA NÃO VOLTARÁ PARA MIM VAZIA, MAS FARÁ O QUE ME APRAZ, E PROSPERARÁ NAQUILO PARA QUE A ENVIEI" (Isaias 55.11)."Aquele que deseja proclamar a verdade de Cristo ao mundo, deve esperar a morte a cada momento". Com esse pensamento Lutero se dirigiu a Augsburgo, cidade alemã, onde se defrontaria com os representantes do Papa Leão X. Convidado a retratar-se, Lutero não se dobrou diante de ameaças e confirmou todas as verdades que dissera em seus escritos. Não poderia renunciar à verdade. O prelado inquisidor, cheio de ódio, disse-lhe: "Retrate-se ou mandá-lo-ei a Roma". Roma seria o fim do caminho, o caminho da morte, a morte na fogueira, tal qual acontecera com seu amigo John Huss. Na madrugada do dia seguinte, estando a cidade às escuras, Lutero conseguiu se evadir de Augsburgo contando, para isso, com a ajuda de amigos. Escapou milagrosamente das mãos do representante papal que intentara prendê-lo.Embora diante de tantas dificuldades, já classificado de herege, excomungado e condenado, Lutero não diminuiu suas severas críticas ao papado e às doutrinas romanas. Disse: "Estou lendo os decretos do pontífice e... não sei de o papa é o próprio anticristo, ou seu apóstolo...". Enquanto isso os papas intensificavam o negócio das indulgências. O Papa Alexandre VI, predecessor de Júlio II, foi quem instituiu a venda de indulgências, pois precisava de dinheiro "para adornar com diamantes e pérolas a filha Lucrécia Bórgia". Esse papa não só foi amante de sua própria filha, a célebre Lucrécia Bórgia, como foi amante, também, da irmã de um cardeal que se tornou o papa seguinte, Pio III, em 1503. Os papas Júlio II e Leão X, por sua vez, apelaram para o rendoso comércio do perdão, aquele tendo em mira a construção da Basílica de São Pedro e este para satisfazer seus gastos supérfluos.Um dos encarregados da venda de indulgências, o frei João Tetzel, fazia-o com voz forte nas feiras anuais, oferecendo a sua mercadoria. Dizia:- Assim que o dinheiro tilinta na caixa, a alma salta fora do purgatório.Ninguém mais se importava em pecar e a moralidade estava em baixa. Se algum padre desejasse impor alguma penitência, os fiéis apresentavam o documento comprovando a "compra" do perdão divino. Enquanto a Igreja de Roma subtraía elevados recursos financeiros ao povo, com heresias, superstições e ameaças, Lutero se aprofundava no estudo da Bíblia. Declarava abertamente que não havia distinção entre pecado mortal e pecado venial - como dizia o catolicismo - pois, afirmava, "pecado é pecado, sem gradação, e qualquer pecado leva ao inferno, pois afasta o pecador de Deus". Boa parte de seus sermões era destinada a protestar contra o comércio das indulgências, dizendo que estas eram inúteis. E perguntava: "Se o Papa pode libertar as almas do purgatório quando lhe dão dinheiro, por que não esvazia de uma vez o purgatório?" Abrimos aqui um parêntese para perguntar: se as missas de sétimo dia podem livrar as almas do purgatório, por que não se faz uma única missa (um missão) em favor de todas as almas e as livra de uma só vez do fogo purificador?Martinho Lutero continuou derrubando uma a uma, com a Palavra, as doutrinas romanas. A um enviado do Papa Leão X, que lhe propôs uma reconciliação e alegou, como argumento, a autoridade do Papa, Lutero respondeu com firmeza: "Só na Bíblia e não no Papa reside a autoridade". E continuou: "O próprio Cristo é o chefe da Igreja e não o Papa. Não lhe é permitido estabelecer um artigo de fé, sem base bíblica. "O papa é soberano legítimo, não com direito divino, mas humano".No dia 15 de junho de 1520, com a bula Exurge, o Papa Leão X "condenou quarenta e uma proposições de Lutero, ameaçando-o de excomunhão, se não se retratasse dentro de sessenta dias". Essa bula condenava, em suma, a liberdade de consciência. O historiador Schaff assim definiu o documento: "Podemos inferir daquele documento em que estado de servidão intelectual estaria o mundo atualmente, se o poder de Roma houvesse conseguido esmagar a Reforma. Difícil será avaliar quanto devemos a Martinho Lutero, no terreno da liberdade e do progresso..." Num gesto memorável de audácia, destemor e ousadia, Lutero queimou a bula papal em praça pública a 10 de dezembro de 1520.Por mais de uma vez Lutero compareceu diante dos emissários de Roma. Aconselhado a não se apresentar em razão do risco que corria, Lutero respondeu: "Ainda que acendessem por todo o caminho de Worms a Wittenberg uma fogueira... em nome do Senhor eu caminharia pelo meio dela; compareceria perante eles... e confessaria o Senhor Jesus Cristo".

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Na presença do imperador Carlos V, da Alemanha, de príncipes e delegados de Roma, que esperavam uma retratação do excomungado herege, Lutero falou: "visto que vossa sereníssima majestade e vossas nobres altezas exigem de mim resposta clara, simples e precisa, dar-vo-la-ei, e é esta: não posso submeter minha fé, quer ao papa, quer aos concílios, porque é claro como o dia que eles têm freqüentemente errado e se contradito um ao outro. A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras... não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; queira Deus ajudar-me. Amém".As tentativas de reconciliação do sacerdote Martinho Lutero com o papado, ou seja, os planos de fazê-lo voltar ao aprisco de Roma fracassaram todos: "Consinto em que o imperador, os príncipes e mesmo o mais obscuro cristão, examinem e julguem os meus livros; mas sob uma condição: que tomem a Palavra de Deus como norma. Os homens nada têm a fazer senão obedecer-lhe. No tocante à Palavra de Deus e à fé, todo cristão é juiz tão bom como pode ser o próprio papa, embora apoiado por um milhão de concílios".

O Concílio em Worms não se deteve em examinar, pelas Escrituras, as verdades contidas nos pronunciamentos e escritos de Lutero. "Deus não quer - dizia ele - que o homem se submeta ao homem, pois tal submissão em assuntos espirituais é verdadeiro culto, e este deve ser prestado unicamente ao Criador. Alertado de que estava proibido de subir ao púlpito, recusou-se a obedecer: "Nunca me comprometi a acorrentar a Palavra de Deus, nem o farei".

LUTERO LIVRA-SE DA FOGUEIRATão logo expirasse o prazo de um salvo-conduto que o imperador lhe concedera, Lutero, conforme resolução do Concílio, deveria ser preso, todos os seus escritos destruídos; a ninguém era permitido dar-lhe comida ou bebida, e os seus discípulos sofreriam igual condenação. Isto, em outras palavras, significava FOGUEIRA. O plano de Deus era outro. Para livrá-lo da fogueira um grupo de amigos "seqüestrou" a Lutero e o transportou, através da floresta, para o castelo de Wartburgo, construído nas montanhas, e de difícil acesso.Lutero alguns anos depois saiu daquele castelo e continuou fazendo discípulos e pregando o Evangelho da salvação. A Reforma estava implantada. A Luz alcançava muitos países. Iluminou a Europa, as Américas, a América do Sul, o Brasil... porque ninguém pode algemar a Palavra de Deus.

GALILEU GALILEI (1564 - 1642)Físico italiano, fez numerosas descobertas nos campos da Física e da Astronomia. Com seu telescópio (luneta) descobriu as montanhas da Lua, os satélites de Júpiter, as manchas solares, as fases de Vênus, os anéis de Saturno. Suas descobertas e ensinos foram considerados uma heresia pelos censores romanos. Acabrunhado, doente, preso em Roma, assinou sua retratação. Antes, os inquisidores lhe mostraram a sala de tortura e os respectivos instrumentos. Combalido e ajoelhado diante dos representantes do Papa Urbano VIII, leu e assinou sua retratação: "Eu, Galileu Galilei, tendo sido trazido pessoalmente ao julgamento e ajoelhando-me diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais, Inquisidores Gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação herética... juro que sempre acreditei em cada artigo que a sagrada Igreja Católica, Apostólica de Roma, sustenta, ensina e prega.. Mas porque este Sagrado Ofício ordenou-me que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina... com sinceridade abjuro, maldigo e detesto os ditos erros de heresia..."A diabólica Inquisição não só condenou os ensinos de Galileu, mas também os de Copérnico. O Tribunal Inquisitório assim se pronunciou: "A tese de que o Sol é o centro do sistema e não se move ao redor da Terra, é néscia, absurda, teologicamente falsa e herética, sendo frontalmente contrária às Sagradas Escrituras..."Galileu livrou-se da fogueira, mas passou vários meses sob prisão. Muito doente e cego, veio a falecer no dia 8 de janeiro de 1642. E a Igreja de Roma acabava de escrever mais um capítulo de terror em sua

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história. Em janeiro de 1998, o Papa João Paulo II, formalizou o tardio pedido de perdão ao notável astrônomo Galileu.Podemos imaginar quão constrangedor para esse notável homem foi ajoelhar-se diante de uma corte devassa e negar anos e anos de estudo e observação. Dizem que Galileu, antes de morrer, balbuciou: "a terra por si se move".

MÁRTIRES ANÔNIMOSWycliffe, Huss, Jerônimo e Lutero foram citados apenas como exemplo. O caminho da fogueira foi trilhado por milhares e milhares de mártires anônimos, gente simples, discípulos fervorosos, pessoas indefesas e pobres, homens, mulheres, jovens, velhos e crianças, vítimas da sanha assassina dos representantes da poderosa Igreja Católica Romana, que, aliada ao poder das armas, teve a pretensão de ser universal e de impor suas doutrinas aos seus súditos. Mártires anônimos foram os albigenses e os valdenses; mártir quase desconhecido foi Luís de Berquin, que, apaixonado pelo Evangelho, foi estrangulado e queimado em 1529 sem tempo para dar uma última palavra; mártires anônimos foram muitos franceses queimados vivos com requintes de crueldade, sem direito a defesa. A todos esses homens de fé e de coragem, baluartes da defesa das Sagradas Escrituras como única fonte de autoridade, a eles nossa homenagem póstuma, nossa gratidão, nossa admiração pelo que fizeram em prol de um cristianismo livre de heresias, de idolatria, de práticas pagãs.

UM CRIME CONTRA A HUMANIDADERecuso-me a chamar a INQUISIÇÃO de Santo Ofício ou de Santa Inquisição. Seria santa se inspirada por Deus ou a Seu serviço. Não foi de inspiração divina porque Deus é amor. Deus não gera o ódio nos corações dos homens. Ele não é a fonte do mal. Não foi de inspiração divina a Inquisição porque Deus não iria perseguir, torturar e executar homens e mulheres que defendiam as Escrituras Sagradas, ou seja, a Palavra de Deus; não foi de inspiração divina porque muitos dos papas que direta ou indiretamente comandaram os massacres - papas, frades, monges, padres, cardeais (o clero romano) - não possuíam a direção do Espírito Santo, pois foram chamados de "antipapas" em razão do baixo nível moral em que viviam (adultério, imoralidade sexual, estupros, luxúria, etc). Quem comandou a Inquisição ou os Tribunais Eclesiásticos foi o próprio Satanás". O maior inimigo de Deus e do homem, ele, o Diabo, foi quem arquitetou esse plano diabólico nos palácios de Roma, pois ele era e é o mais interessado em algemar a Palavra de Deus; em não permitir a divulgação e propagação do Evangelho; em cristianizar o paganismo ou paganizar o cristianismo. A Inquisição teve, portanto, origem diabólica. O paradoxo é que esse crime contra a humanidade foi urdido no seio de uma igreja que se declarou infalível e dona da verdade.Em nenhuma outra época se assistiu com tanta realidade o cumprimento da profecia de Jesus:-"Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos... e este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações. Então virá o fim". (Mateus 24.9-14).

O cumprimento dessa profecia continua em andamento. Milhares de cristãos são mortos anualmente em todo o mundo. Mas, por outro lado, o evangelho do reino continua sendo pregado ("será pregado em todo o mundo"), mudando a vida de milhões de pessoas.As Cruzadas e a Inquisição mataram mais gente do que o nazismo na Segunda Guerra Mundial, na qual morreram seis milhões de judeus. Os massacres em nome de Deus vitimaram um número bem superior de pessoas classificadas de "hereges", acusadas de desenvolverem uma fé contrária à da Igreja Católica, de não aceitarem a "infalível" autoridade papal e de combaterem, ousadamente, a imoralidade, a ganância e a corrupção no clero romano.Não se tem notícia de que os assassinos da Inquisição tenham se submetido a um tribunal internacional para responder por seus crimes. Um ou outro papa foi preso e condenado, como no caso do Papa João

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XXIII (1410-1415) julgado e condenado pelo Concílio de Constança por cinqüenta e quatro crimes da pior espécie. A História condena a todos, mas a justiça maior virá do céu: o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o Justo Juiz, quando voltar, derramará seus juízos sobre a Terra, e os criminosos que morreram sem arrependimento e conversão receberão o merecido castigo. O sangue dos mártires estará sempre na lembrança dos homens. As perseguições e os massacres foram contra o próprio Jesus. Vejam o que disse Jesus a Saulo, este que perseguia os cristãos (Atos 9.4-5):- Saulo, Saulo, por que me persegues?- Eu sou Jesus, a quem tu persegues.

PALAVRAS FINAIS

O que relatamos neste estudo representa apenas uma pequena parcela do que realmente foi a diabólica Inquisição e o que ela representou de negativo para toda a humanidade. Os representantes papais nunca agiam sozinhos. A igreja Católica estava atrelada de tal forma aos imperadores, reis e governos que, por vezes, não se sabia o que pesava mais num massacre: se o motivo religioso, em que Roma defendia seus altos interesses, ou o político, sob manobra dos governantes. O certo é que a parceria Igreja-Estado fabricou uma arma mortífera: A Inquisição. O sangüinário Hitler tentou purificar a raça ariana executando o povo judeu. Os sangüinários inquisidores tentaram purificar a fé católica matando os "hereges".Uma pergunta que devemos fazer é a seguinte: a Igreja Católica, apostólica e romana, foi realmente guiada desde sua instituição pelo Espírito Santo? Se a resposta for negativa, então a criação da Inquisição está plenamente justificada. Se positiva a resposta, isto é, se aceitarmos a versão de que o Espírito de Deus guiou essa Igreja desde o seu nascedouro, teremos que fazer outra indagação: O Espírito Santo errou ao escolher homens sanguinários para dirigir a Igreja de Cristo? O Espírito de Deus erra?Quando lemos o livro de Atos, deparamo-nos com o Senhor Jesus orientando, exortando e guiando Sua Igreja e até comissionando obreiros. Vejamos alguns exemplos:1) " O anjo do Senhor disse a Filipe: Levanta-te, e vai para a região do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta" (Atos 8.26).2) "Disse o Senhor a Ananias, numa visão: Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo, pois ele está orando... vai, ele é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome perante os gentios, os reis e os filhos de Israel" (Atos 9.10-15).3) "Disse o Espírito Santo: Apartai-vos a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (Atos 13.1-2).4) "Passando (Paulo e Timóteo) pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. Quando chegaram à Misia, tentavam ir para a Bitínia. MAS O ESPÍRITO DE JESUS NÃO LHO PERMITIU" (Atos 16.6-7)

Assim, em muitas ocasiões o Espírito de Deus conduziu os destinos da Igreja de Cristo. Em nenhum momento vê-se aqueles santos cometerem qualquer deslize, qualquer ato reprovável. Não alimentavam o desejo de exterminar as pessoas que não aceitavam o Evangelho ou não se convertiam.Para justificar os crimes cometidos pelos inquisidores a Igreja de Roma põe a culpa no Diabo. O Espírito Santo permitiu que forças demoníacas se instalassem na sede dessa Igreja, em Roma, donde saíram as bulas e decretos papais autorizando ou consentindo as Cruzadas, os massacres, as perseguições? Proibindo a tradução da Bíblia em outras línguas? Proibindo aos leigos a leitura das Sagradas Escrituras? Autorizando a venda de perdão (indulgências) como se fora uma mercadoria? Impedindo a livre manifestação do pensamento?Não, não foi o Espírito de Deus que comandou essa carnificina chamada Inquisição. Quem armou essa trama foi o mesmo espírito que enganou a Eva; o mesmo que tentou a Jesus no deserto, e o mesmo que encarnou em Hitler. Foi ele mesmo, o Diabo, que assumiu o comando em Roma e dirigiu o banho de

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sangue na Europa e em outras partes do mundo. A igreja Católica perdeu uma das melhores oportunidades de sua história de voltar-se à Palavra de Deus, remover os empecilhos, rever suas doutrinas, ouvir os reformadores, humilhar-se, arrepender-se e suplicar a misericórdia do Senhor. Somente assim a influência maligna seria contida.Por mais que desejemos fazer reflexões com serenidade, não conseguimos conter nossa perplexidade diante de tantos desatinos promovidos por homens que se diziam, "Vigários de Cristo" e "infalíveis". Os crimes cometidos em nome da fé católica, quer nas Cruzadas, quer nos Tribunais de Inquisição, são crimes inqualificáveis, crimes contra a humanidade, e como tal devem ser lembrados por todos os séculos.Jesus afirmou que "AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA A SUA IGREJA" (Mateus 16.18). Não prevaleceram. A Igreja de Cristo, que parecia aterrada diante do poder de Roma, saiu-se vitoriosa. As muralhas de Jericó foram derrubadas. De nada valeram as perseguições, as humilhações e a matança. A luz do Evangelho se espalhou por todo o mundo.Não houve como impedir a propagação do Evangelho do nosso Salvador. Mais uma vez o inimigo foi derrotado. Acossados em determinada cidade ou região os crentes procuravam refúgio nas cavernas, nos guetos ou em outras nações. Mas por onde passavam davam testemunho de sua fé. Por toda a parte a fé bíblica era aceita com alegria, em substituição à fé católica.A Igreja de Roma viu cair por terra seu intento de ser universal. A palavra "católica" quer dizer universal. Nas regiões onde o protestantismo prevaleceu, a Igreja romana foi substituída por uma série de igrejas evangélicas autônomas, completamente desligadas do poder papal. O sangue dos justos serviu para regar a Palavra plantada. A Inquisição não impediu o crescimento numérico e qualitativo dos protestantes, que, submissos a Deus e à Sua Palavra, desprezam tradições e dogmas não alinhados com a Bíblia Sagrada.Louvado, engrandecido e exaltado seja o nome do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Eis aí apenas um esboço do que foi a diabólica INQUISIÇÃO, que tantos malefícios causou à humanidade. Muito longe estamos de conhecer todos os labirintos dos tribunais inquisitórios. O atual representante da Igreja de Roma (estamos em agosto/98) tem ensaiado pedidos de perdão, como no caso de Galileu Galilei. Mas pergunto: pedido de perdão a quem? A Deus? À Humanidade? Às famílias das vítimas? Ora, não se pode pedir perdão a Deus em nome de um pecador. Ademais, não é o caso de pedido de perdão em nome da entidade religiosa, porque não será a Igreja Romana que receberá o castigo eterno. O castigo será individual. Cada um receberá pessoalmente a sentença do Justo Juiz. Logo, o pedido de perdão formulado pela Igreja Católica, através de seu líder, é na verdade um gesto elogiável, uma manifestação de humildade, mas, por si só, não apaga o pecado dos algozes da Inquisição. Sem arrependimento não há perdão e sem perdão não há salvação. Todos os envolvidos nos massacres - papas, cardeais, frades, monges, reis e rainhas - se não se arrependeram de seus crimes e não rogaram o perdão de Deus, ou seja, se não se converteram ao Senhor Jesus antes de morrerem, certamente estão num lugar de TORMENTOS, e ali aguardarão a plenitude dos tempos para serem lançados no GEENA. É assim que ensina a Palavra de Deus:

"Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos HOMICIDAS, e aos adúlteros, a aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será NO LAGO QUE ARDE COM FOGO E ENXOFRE, que é a segunda morte" (Apocalipse 21.8).

INQUISIÇÃO NUNCA MAIS - Católicos e protestantes hoje vivem em paz. A Igreja Católica não mais classifica os protestantes de "hereges". Hoje, chama-os de "irmãos separados". Exceção feita às escaramuças na Irlanda do Norte, que duram 30 anos, crentes e católicos não se defrontam, não se enfrentam no corpo a corpo. O Vaticano, não se pode negar, empenha-se pela paz entre as nações. A Igreja Católica reconhece seus erros e, humilde, pede perdão à Humanidade. Devemos perdoá-la... mas não podemos apagar a História. A verdade é que as fogueiras do Santo Ofício não mais se acenderão. Nunca mais Inquisição. Graças a Deus.

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GLOSSÁRIOABJURAR - Renunciar solenemente a uma crença ou religião.Desdizer-se ou retratar-se.

ALBIGENSES - Membros de uma seita religiosa no sul da França, nos séc. XII e XIII. Negavam a realidade da encarnação de Jesus Cristo e condenavam a procriação.

ANTIPAPAS - São considerados os falsos papas. Chefe de igrejas locais, geralmente bispo, que pretendeu, por oposição ao Romano Pontífice, governar toda a Igreja Católica. Hipólito foi o primeiro antipapa de 217 a 235, nascido em Roma, eleito pelo povo.

APÓSTATA - Aquele que renuncia à fé cristã.AUGSBURGO - Cidade da Alemanha.AUTOS-DE-FÉ - Cerimônias em que se executavam as sentenças da Inquisição. Passou a chamar-se assim, principalmente, o suplício dos penitentes pelo fogo.

CLÉRIGO - Aquele que pertence à classe eclesiástica. Sacerdote cristão.CLERO - A corporação dos sacerdotes. Classe eclesiástica.CONCÍLIO - Reunião de bispos da Igreja Católica, convocados para estudar assuntos de interesse eclesiástico.

CONSTANÇA - Cidade da Romênia.CONTRA-REFORMA - Movimento restaurador iniciado pela Igreja Católica, com vistas a superar as dificuldades surgidas com a Reforma. O Concílio de Trento (1545 - 1563) concretizou esses esforços.

CRUZADAS - Expedições militares de caráter religioso que se faziam na Idade Média, contra hereges ou infiéis.

EXCOMUNGAR - Separar da Igreja Católica qualquer dos seus membros. Expulsar, tornar maldito, condenar.

GUETO - Rua ou bairro onde são isoladas pessoas ou grupos por imposição econômica, racial ou religiosa.

HEREGE - Pessoa que professa doutrina contrária ao que foi definida pela Igreja como sendo matéria de fé. Eram chamados os que se opunham às doutrinas da Igreja Romana.

HUGUENOTE - Designação depreciativa que os católicos franceses deram aos protestantes, especialmente os calvinistas, e que estes adotaram.

ICONOCLASTA - Indivíduo que não reverencia imagens ou obras de arte. Que as destrói.

ICONÓLATRA - Diz-se do indivíduo que adora ou venera imagens, ídolos ou obras de arte.

IGNOMÍNIA - Grande desonra. Infâmia.IMPETÉRRITO - Destemido, impávido, sem temor.INCESTO - União sexual ilícita entre parentes consangüíneos, afins ou adotivos.

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INDULGÊNCIA - Graça concedida pela Igreja Católica aos seus membros, perdoando total ou parcialmente a pena devida a um pecado. Perdão de pecados. A venda de indulgências pelo Papado foi a principal causa da Reforma.

INQUISIÇÃO - Nome dado a um tribunal eclesiástico criado oficialmente em 1229, no Concílio de Toulouse, também chamado Tribunal do Santo Ofício, com poderes para julgar, condenar à morte ou prender pessoas suspeitas de não professarem a fé católica.INQUISIDOR - Juiz do Tribunal da Inquisição.LUBRICIDADE - Qualidade de lúbrico: lascivo, sensual, devasso.MANIQUEU - Adepto ou membro do maniqueísmo, seita que teve simpatizantes na Índia, China, África, Itália e sul da Espanha, segundo a qual o Universo foi criado e é dominado por dois princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto ou o Diabo.

MÁRTIR - Pessoa que sofreu tormentos, torturas, perseguições ou a morte por sustentar a fé cristã.

MONGE - Religioso que vive em mosteiros e está sujeito a uma regra comum.

NOITE DE SÃO BARTOLOMEU - Designação dada à matança de huguenotes que se iniciou em Paris na noite de S. Bartolomeu (em 24 de agosto de 1572) e se estendeu por toda a França, e até 3 de outubro daquele ano o número de mortos elevou-se a 50.000.

PAPA - Título dado ao chefe da Igreja Católica Apostólica Romana. Também chamado Sumo Pontífice Romano.

PROCESSO SUMÁRIO - Objetivo, resumido, sem formalidades, rápido, sem apelação para a instância superior, sem direito a defesa.

PROTESTANTES - Nome dado aos partidários do protestantismo que, no séc. XVI, compreendia uma crença contrária à fé católica e à autoridade suprema do papa.

REFORMA - Movimento religioso e político que, no princípio do séc. XVI, quebrou a unidade católica, dividindo a Igreja em dois campos: o católico e o protestante.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - Conflito iniciado no dia 1º de setembro de 1939 e terminado em 2 de setembro de 1945. Iniciou-se coma invasão da polônia pelos alemães. A Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha poucos dias depois. A maioria dos países do mundo participou dessa guerra, inclusive o Brasil. O conflito terminou com a derrota dos alemães.

SIMONIA - Tráfico de coisas sagradas ou espirituais, tais como sacramentos, dignidades, benefícios espirituais.

SODOMIA - Relação sexual anal entre homem e mulher, ou entre homossexuais masculinos.SÚDITOS - Aqueles que estão submetidos à vontade e outra pessoa. Vassalos.

TE DEUM - Expressão de origem latina que significa "A ti Deus". Cântico da Igreja Católica em ação de graças, que principia por essas palavras.

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TOULOUSE - Cidade do sudoeste da França.VALDENSES - Nome pelo qual são conhecidos os membros de um grupo protestante fundado na região francesa de Vaud (hoje cantão da Suíça), no séc. XII.

REFERÊNCIAS BIOGRÁFICASALEXANDRE IV - Papa de 1254 a 1261. Autorizou a instalação do Tribunal Inquisitório em França.BONIFÁCIO VIII - Papa de 1294 a 1303. Sobre ele diz a The Catholic Encyclopedia: "Dificilmente qualquer possível crime foi omitido - infidelidade, heresia, simonia, grosseira e inatural imoralidade, idolatria, mágica, perda da Terra Santa, morte de Celestino V, etc. Historiadores protestantes e até mesmo modernos escritores católicos classificam-no entre os papas iníquos, como ambicioso, arrogante e impiedoso, enganador e traiçoeiro. O poeta Dante visitou Roma e descreveu o Vaticano como um "esgoto de corrupção". Uma das frases desse Papa: "Gozar e deitar-me carnalmente com mulheres ou com meninos não é mais pecado do que esfregar as mãos".GALILEU GALILEI - (1564 - 1642) - Italiano nascido em Pisa. Introduziu o método experimental como o mais importante dos métodos das ciências naturais. Fez numerosas descobertas e invenções, a exemplo da luneta (mais tarde telescópio) com que desvendou alguns mistérios dos astros. Defendeu a tese de que a Terra e os demais planetas se moviam em torno do Sol, sendo este o centro do Sistema. A Igreja Católica prestou um desserviço à Ciência ao julgar, condenar e prender um dos mais fecundos investigadores da época.GREGÓRIO XIII - Papa no período de 1572 a 1585. Aprovou a Cruzada contra os huguenotes, cujo desfecho se deu a 24 de agosto de 1572, "Noite de S. Bartolomeu". Como troféu, recebeu a cabeça de Gaspar de Coligny.INOCÊNCIO III - Papa no período de 1198 a 1216. Autorizou a Cruzada contra os albigenses, sul da França, em 1208.JERÔNIMO DE PRAGA - Religioso tcheco, discípulo do reformador João Huss; acusado de ataques às autoridades eclesiásticas, foi condenado à fogueira pelo Concílio de Constança em 1416. Nasceu em 1360.JOANA D´ARC - (1412 - 1431) - Heroína francesa também chamada a "Virgem de Orleans". À frente de um pequeno exército que lhe confiara o Rei Carlos VII, venceu aos ingleses em Orleans e Patay (1429). Considerada herética, foi condenada à fogueira em 1431 e canonizada em 1920.JOHN HUSS - Nascido em 1369 e queimado vivo na fogueira em 1415. Teólogo e reformador religioso tcheco, natural de Husinec, Boêmia. Acusado de heresia e condenado à morte por não abjurar suas idéias.JOHN WYCLIFFE - Nasceu em 1320 e faleceu em 1384. Teólogo inglês, precursor da Reforma, natural e Hipswell. Pregava uma Igreja sem a direção papal, era adversário das indulgências e combatia o excesso de bens materiais dos clérigos. Suas doutrinas foram condenadas no concílio de Constança.JOSÉ JEOVAH MENDES - Nasceu em Itapiúna (Ce), a 24 de maio de 1955. Na década de 60 ingressou na Escola Apostólica de Baturité - Ce, dos padres jesuítas, para dar curso à sua vocação sacerdotal. Alguns anos depois desligou-se dessa Ordem e ingressou no Convento dos Franciscanos, em Canindé (Ce), onde permaneceu até 1976. Autor do livro "OS PIORES ASSASSINOS E HEREGES DA HISTÓRIA", onde faz duríssimas críticas à Igreja Católica Apostólica Romana.LEÃO X - Papa no período de 1513 a 1521. Nasceu em Florença (Itália). Excomungou formalmente a Lutero em 1521. Seu nome civil: Giovanni de Médicis. Seus recursos financeiros garantiram rápida ascensão na Igreja: aos oito anos de idade já era arcebispo, e aos treze foi cardeal. A The Catholic Encyclopedia relata que Leão X "entregou-se sem restrições aos divertimentos... possuído por um amor insaciável ao prazer... gostava de dar banquetes e divertimentos caros, acompanhados por orgia e bebedeira".MARTINHO LUTERO - Nascido em 1483, natural de Eisleben, Saxônia, fundador da doutrina protestante, em oposição ao catolicismo. Doutorou-se em Teologia pela Universidade de Wittenberg. Em 1517 submeteu suas teses a debate. Em 1520 foi excomungado como herege pelo Papa Leão X. faleceu em 1546.

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TOMÁS DE TORQUEMADA - (1420 - 1498) - Sacerdote espanhol da Ordem dos Dominicanos, inquisidor-geral da Espanha por muitos anos, responsável pela morte de 10.200 cristãos não católicos na fogueira, afora cerca de cem mil pessoas encarceradas ou expulsas do país.

BIBLIOGRAFIAALMEIDA - Bíblia de estudo pentecostal. Revista e corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil.CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos.ENCICLOPÉDIA BARSA. Enciclopaedia Britannica Ltda. 15 volumes, edição 1977.MENDES, Jeovah. Os piores assassinos e hereges da história. 1997.VIDAS ILUSTRES. Coleção - Volumes VI (os cientistas) e IX (líderes religiosos).WHITE, Ellen G. O grande conflito. Edição condensada; Tradução de Hélio L. Grellmann; 1992.WOODROW, Ralph. Babilônia: a religião dos mistérios.

INQUISIÇÃO NUNCA MAISAs Fogueiras da Inquisição - IESTUDO SOBRE A INQUISIÇÃOProfessor Dr. Antony Steff Gilson de OliveiraReverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRBwww.fatebra.com.br"Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos, levando sempre por toda a parte o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nosso corpo" (2 Coríntios 4.8-9).

Em 1231, no Concílio de Toulouse, sob a liderança d Gregório IX, papa de 1227 a 1241, foi oficialmente criada a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício, um tribunal eclesiástico que julgava os hereges e as pessoas suspeitas de se desviarem da ortodoxia católica. Em 1252, o papa Inocêncio IV (1243-1254) publicou o documento "Ad Exstirpanda", autorizando a tortura e declarando que "os hereges devem ser esmagados como serpentes venenosas". Referida ordem foi confirmada, renovada e reforçada pelos papas Alexandre IV (1254-1261), Clemente IV (1265-1268), Nicolau IV (1288-1292), Bonifácio VIII (1294-1303).Na reforma da cúria realizada por Pio X em 1908, O Tribunal do Santo Ofício transformou-se na Congregação do Santo Ofício e, em 1965, após a reforma de Paulo VI, subsistiu como Congregação para a Doutrina da Fé. Oficialmente, a Inquisição durou mais de cinco séculos.As perseguições e matança, todavia, se iniciaram muito antes de 1231. Adriano IV, papa de 1154 a 1159, "mandou executar [em 1155] o turbulento Arnaldo de Bréscia por enforcamento, depois mandou queimá-lo e atirar no Tibre as suas cinzas" (1). O crime do religioso italiano Bréscia foi opor-se ao poder temporal dos papas. Em 1179, o terceiro Concílio de Latrão, decretou a perseguição permanente aos "hereges". Pelo quarto Concílio de Latrão, em 1215, os governantes seculares receberam ordens para confiscar os bens dos "hereges" e depois os executar, sob pena de, não o fazendo, serem excomungados e sofrerem as sanções devidas.

Não houve qualquer proposta ou movimento, em qualquer época, com o objetivo de apurar e julgar, mediante a constituição de um tribunal internacional, os bárbaros crimes cometidos pela sanguinária Inquisição, pelo menos para exigir indenização às famílias das incontáveis vítimas que tiveram seus bens confiscados, principal fonte de renda da Inquisição."Na Inquisição, uma defesa vale bem pouco para um preso, pois uma mera suspeita é considerada suficiente para a condenação. E, quanto maior a riqueza, maior perigo. Grande parte das crueldades dos inquisidores deve-se a sua ambição: destroem vidas para possuir riquezas e, sob o pretexto de zelo

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religioso, saqueiam as pessoas a quem odeiam" (2).Com o surgimento de meios mais rápidos de comunicação, como a internet, e de tradução e divulgação de livros sobre o tema, abriram-se mais ainda as imundas masmorras dos tribunais da Inquisição. Ali, vemos homens e mulheres, novos e velhos, jovens ou anciãos sofrendo os mais cruéis suplícios já registrados na história; homens mutilados aos poucos, com intestinos à amostra; colocados em chapa ardente para serem assados, ou em água fervente para serem cozidos; queimados em fogo brando; esfolados vivos. A visão é terrível. Gemidos, gritos de dor abafados; carrascos e papistas impassíveis.

Várias expressões têm sido usadas para qualificar a satânica Inquisição, como a seguir, extraídas de alguns livros: tribunal sanguinário; exemplo de crueldade; bárbaros inquisidores, sem misericórdia; tirania eclesiástica; desalmados papistas; matança com requintes de crueldade; minuciosas e inconcebíveis torturas; cruéis perseguidores; papistas cegos pelo fanatismo; crueldade sistemática, regular e progressiva; horrendo tribunal, nada o excedendo em barbarismo e ferocidade. "Satânica Inquisição", em lugar de santa Inquisição, é um termo apropriado. É muita inocência não se imaginar que o diabo não estivesse por trás de tudo isso, pois ele mata, rouba e destrói. Assassinatos, confiscos de bens e terror foi o rastro deixado pelos tribunais de inquisição por onde passou.Caminhamos mentalmente por essas masmorras imundas onde imperam o ódio e a insensibilidade diante da dor alheia. O ambiente mais parece o de uma fábrica. Fábrica ou açougue? Fábrica de quê? Ah!, uma perfeita fábrica de matar hereges. Roldanas, macas, cadeira com pregos afiados, ferros incandescentes, pinças, pesados blocos de pedra, correntes, garfos enormes, chicotes com pontas de ferro, cordas, um funil, um machado afiadíssimo, guilhotina, tronco, máscaras de ferro, forquilhas, garrotes, serrotes, esmagadores de joelhos, de cabeça, de polegares e de seios; cavaletes, e outros utensílios de trabalho.

Fixamos nossa atenção nos rostos pálidos dos torturados. Muitos imploram para morrer; muitos dizem "peçam-me qualquer coisa e eu farei". Outros, que passaram para a galeria dos heróis da fé, enfrentam a dor com resignação. São cadáveres ambulantes. Muitos estão na terceira, quarta ou quinta sessão de tortura. Se não resistem, seus corpos são queimados e as cinzas lançadas em algum rio. Os Inquisidores conhecem o limite da dor. Quando algum desgraçado protestante chega ao limite, é entregue aos cuidados do médico cirurgião que cuidará de suas feridas e dos ossos quebrados ou deslocados. Alegam que a tortura não foi concluída, mas suspensa. Após algumas semanas, retornam para novos interrogatórios. Os que forem levados à fogueira terão suas línguas arrancadas para outros não ouçam suas últimas "blasfêmias", e por elas não fiquem contaminados.

Fora dos porões, nas principais praças das cidades em que se instalou a diabólica Inquisição - Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, Portugal, Brasil - encontramos a procissão macabra e pomposa dos condenados a caminho da fogueira, os chamados Autos de fé. Não temos notícia de que no Brasil tenha havido espetáculos dessa natureza. Mais adiante trataremos da Inquisição no Brasil. A solenidade e a pompa são indispensáveis. Previamente preparados, estão o patíbulo, os lugares reservados aos sacerdotes, governantes e oficiais da Inquisição. Os condenados, minguadas suas forças pela tortura, praticamente se arrastam pelas ruas. Todos permaneceram muitos dias, meses ou anos em uma pequena prisão, desumana, fétida e sem iluminação, imprópria até para animais.

O poder dos papas

Em nenhum momento concediam aos réus qualquer direito de apelação da sentença. Os advogados nomeados eram fiéis papistas; defendiam menos os direitos dos acusados do que os interesses de Roma. A sentença é inapelável, dura, cruel. É a Igreja "verdadeira e soberana" exercendo o seu poder absoluto; poder não adquirido de forma natural, mas imposto, como veremos a seguir:"Foi Inocêncio III o primeiro que estabeleceu, na célebre decretal [carta do papa} Novit, a teoria posteriormente reproduzida por todos os papas, de que ao bispo de Roma cabe o direito de intervir

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como juiz onde quer que se tenha cometido um crime importante, ou levantado alguma grave acusação, incumbindo-lhe impor penas, e anular sentenças da justiça civil. Dadas as razões em que se fundava esse direito de recente invenção, cumpriria distribuí-lo igualmente nas respectivas esferas, a todo sacerdote, pastor ou bispo; donde resulta uma dominação universal do clero sobre a sociedade leiga..."(3).

Cabia a qualquer cristão, "dar contas ao papa de qualquer pecado grave, ficando ele sujeito a ser punido na progressão de uma escala penal, que pode ao cabo chegar à aplicação da pena de morte. Em verdade, o que desobedecer a uma ordem pontifícia, já por esse fato acha-se incurso em heresia, ou, pelo menos, cheira já não pouco a fogueira; portanto, ao arbítrio do papa está excomungá-lo, a cada transgressão que perpetrar. E, se durante um ano inteiro permanecer proscrito da igreja, sem que, por submisso aos mandamentos de Roma, chegue a merecer absolvido, será declarado herege, sofrendo confiscação de bens e morte" (4)."No Século XIII, o papado achava-se no auge de seu domínio secular; era independente de todos os reinos; governava com uma influência jamais vista ou possuída por cetro humano algum; era o soberano dos corpos e das almas; para todos os propósitos humanos, possuía um poder incomensurável para o bem e para o mal. Poderia ter espargido literatura, paz, liberdade e cristianismo até os confins da Europa, quiçá do mundo. Não obstante, sua natureza era adversa; seu triunfo maior apenas exibiu seu mais pleno mal. E, para vergonha da razão humana, para terror e sofrimento da virtude humana, Roma, no momento de sua grandeza consumada, pariu, e deu horrendo e monstruoso nascimento à INQUISIÇÃO!" (5).

A partir da leitura dessas notas, podemos entender, mais ou menos, como e porque foi possível a instituição da terrível Inquisição, e como se manteve por vários séculos com plenos poderes sobre a sociedade civil e leiga. Os papas Alexandre III (1159-81), Inocêncio III (1198-1216) e Gregório VII (1073-1085) implantaram a idéia de "ser o papa representante de Deus na terra; seu parecer é que ele está colocado neste mundo como guarda supremo e soberano dotado de uma vigilância e de uma previdência análogas às da Providência divina, para velar pela humanidade, assim em suas relações sociais e políticas, como nas religiosas, e persuade-se de que é seu dever aniquilar todas as resistências"(6).Os emissários dos papas, inquisidores e demais papistas, não executavam diretamente as torturas, nem acendiam eles próprios as fogueiras, embora acompanhassem esses atos criminosos. Após os interrogatórios, concluídos os processos, os desgraçados eram entregues ao braço secular, ou seja, às autoridades civis, que, sob coação, eram obrigadas a cumprir as ordens papais:"Agora, porém, eram os papas que constrangiam os bispos a submeter à tortura os que professassem opinião dissidente; era o vigário de Cristo, que forçava o clero a sentenciar a cárcere e a morte; era o bispo de Roma, que, sob pena de excomunhão, coagia as autoridades civis a que lhes executassem as condenações" (7).Os governantes sabiam que se negassem submissão à autoridade papal incorreriam em grave heresia, e como tal seriam julgados."Não era no poder dos príncipes seculares que residia a força obrigatória das leis adversas à heresia, senão na soberana autoridade do papa, senhor da vida e morte de todos os cristãos como representante de Deus na terra. Logo, segundo a constante doutrina da cúria romana, a cada príncipe, a cada autoridade civil corre a obrigação de executar à risca os julgamentos dos inquisidores. No intuito de constrangê-los a isso, guarda-se certa gradação: começam por excomungar os que governam; depois, os que com se relacionam com eles; e, se não basta, ferem a cidade com interdição. Se acaso resistem ainda mais tempo, destituem-se as autoridades. Afinal, frustrados todos esses meios, priva-se a cidade do bispado e de todo o comércio com as demais"(8).Podemos dizer a Igreja de Roma era a dona da situação. Uma cidade sob interdição papal sofria terrivelmente; os sacramentos não eram ministrados; as almas ficavam sofrendo no "purgatório" por falta de missas; os cemitérios deixavam de receber os mortos, e as atividades comerciais entravam em declínio. Sob pressão popular, os governantes capitulavam e cediam.

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Bom lembrar que o poderio papal, como acima descrito, faz parte do passado. Hoje, o governante da Igreja Católica, que detém o título de "Sumo Pontífice" e "Vigário de Cristo", exerce seu poder e influência nos limites de sua Igreja. O atual papa, por exemplo, numa demonstração de humildade, pediu perdão por alguns erros do passado. A autoridade do papa é assim definida:"O Papa, Bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão de fiéis. Com efeito, o Pontífice Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universaL. E ele pode exercer sempre livremente este seu poder" (Catecismo da Igreja Católica, item 882).Na Igreja Católica Apostólica Romana, o papa, na qualidade de principal gestor, exerce realmente todo o seu poder, e não poderia ser de outra forma. Todavia, a ICAR diz que ele detém plenos poderes no reino espiritual, como está escrito no item 937 do mencionado Catecismo: "O Papa tem, por instituição divina, poder supremo, pleno, imediato e universal na cura das almas". Se a expressão "cura das almas" refere-se à salvação das almas, a afirmação acima é uma pura heresia. O meio de salvação está expresso na Bíblia: "Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé - e isto não vem de vós, é dom de Deus - não de obras [penitências, esmolas] para que ninguém se glorie" (Efésios 2.8-9). Jesus disse: "Quem nele crê [no Filho] não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do unigênito Filho de Deus" (João 3.18). Todos os que crêem fazem parte da Igreja de Cristo, Seu Corpo.

Reconhecimento dos erros

Os vários pedidos de perdão formulados pelo atual papa, além de demonstrar a falibilidade de seus predecessores, indicam que vivemos em outros tempos. São exemplos recentes os pedidos há às vítimas pelos abusos sexuais cometidos por padres, e, em janeiro de 1998, pelos problemas causados ao astrônomo Galileu. Vejam:

"O Vaticano anunciou na quarta-feira passada a maior demonstração de expiação pública da história do catolicismo: um documento de noventa páginas pedindo perdão por uma série de pecados cometidos em seus 2.000 anos de existência. Desde que foi escolhido para o trono de São Pedro, em 1978, por quase uma centena de vezes o papa João Paulo II mencionou erros históricos cometidos pela Igreja Católica e pediu o perdão divino para a culpa que a instituição e seus seguidores acumularam ao longo dos tempos. Pela primeira vez, contudo, todos esses pecados do passado foram citados em conjunto, aproveitando o início da Quaresma do ano 2000. O documento atende mais ao desejo de contrição dos autores do que à necessidade de reparação das vítimas. Criada para ser uma mensageira do amor entre os homens, a Igreja, levada por seu crescente poder temporal, deu mostras de intolerância, opressão e corrupção. Esses episódios do passado são hoje um peso na consciência do catolicismo e é por eles que o papa não se cansa de se desculpar. 'A Igreja hoje é mais livre para confessar seus pecados e convidar os outros a fazê-lo', disse o cardeal Joseph Ratzinger, que presidiu a comissão designada para colocar no papel as bases históricas e doutrinárias para o mea-culpa.O documento, intitulado "Memória e Reconciliação: a Igreja e as Culpas do Passado", agrupou as incorreções em blocos que abrangem praticamente toda a história da Igreja:1. pecados cometidos a serviço da verdade: intolerância com os dissidentes e guerras religiosas. Compreendem as cruzadas e a Inquisição.

2. pecados que comprometeram a unidade dos cristãos. Abrangem os grandes cismas, que afastaram os católicos dos ortodoxos e dos protestantes, principalmente.

3. pecados contra os judeus. Referem-se à campanha de depreciação contra o povo judeu e de certa forma ao papel ambíguo da Santa Sé durante a perseguição nazista aos judeus na II Guerra Mundial.4. pecados contra os direitos dos povos e o respeito à diversidade cultural e religiosa. Aqui o alvo é a evangelização forçada colocada a serviço da colonização de povos dominados" (9).

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É sabido que outros grupos religiosos cometeram excessos, mas também é sabido, pelas evidências históricas, que a Inquisição superou tudo em barbárie e desprezo pelo ser humano. Os crimes da Inquisição se agravam pelo fato de terem sido cometidos por ordem e em nome de homens que se diziam representantes diretos de Deus, partícipes de um grupo religioso que se auto-intitula a "Igreja Verdadeira", a única capaz de promover a salvação das almas. Qual era a Igreja de Cristo naquele tempo das trevas? A que caminhava, sob açoites, para as fogueiras da Inquisição; a que apesar das torturas e da morte iminente não renunciava à fé, ou era a que afiava o machado, preparava o cadafalso e acendia as fogueiras?

Os hereges

Era acusada de heresia a pessoa que praticasse leitura de livros contrários à doutrina católica; fosse amigo de protestante; manifestasse intenção de defender um herege, ou tentasse amenizar o sofrimento de algum condenado; não ir à missa com a regularidade exigida; pregar o evangelho livremente e vacilar na fé; não aceitar a autoridade papal; não fazer qualquer gesto de reverência ao passar defronte a um templo católico; colocar em dúvida a jurisdição da Inquisição; resistir a algum dos oficiais; refutar qualquer dogma da Igreja Católica. "O papa Inocêncio III declarava que o simples fato de não querer jurar, ou afirmar que o juramento era um ato culposo, encerra heresia digna de morte. Também ordenou esse mesmo papa que se tratasse como herege todo aquele que, fosse no que fosse, divergisse do gênero de vida habitual entre o vulgo" (10).A Igreja Católica, hoje, classifica como heresia "a negação pertinaz, após a recepção do Batismo, de qualquer verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dessa verdade". Diz que "apostasia é o repúdio total da fé cristã", e cisma, "a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos" (11).A Igreja de Roma diz que fora dela não há salvação, "por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus por meio de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar ou nela perseverar" (12). Em resumo, na avaliação de Roma, os protestantes ou "irmãos separados" são hereges e cismáticos porque não se sujeitam ao Sumo Pontífice.

Nestes tempos de acenos ecumênicos, a questão da heresia dos protestantes é suavizada pelo Vaticano, quando diz que "os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor. Justificados pela fé recebida no Batismo, estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor. O Espírito de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a "unidade católica" (13).A salvação dos evangélicos, que independe de reconhecimento de homens ou de qualquer sistema religioso, consiste em sabermos que pela aceitação de Jesus como nosso Senhor e suficiente Salvador fomos recebidos como filhos de Deus, e temos garantida a salvação pela "graça, mediante a fé" (João 1.12; Efésios 2.8).Conforme o Manuel dos Inquisidores (14) os hereges eram classificados em "hereges pertinazes e impenitentes aqueles que interpelados pelos juízes, convencidos de erro contra a fé, intimados a confessar e abjurar, mesmo assim não querem aceitar e preferem se agarrar obstinadamente aos seus erros. Estes devem ser entregues ao braço secular para serem executados"."Chamam-se hereges penitentes os que, depois de aderirem intelectual e efetivamente à heresia, caíram em si, tiveram piedade de si próprios, ouviram a voz da sabedoria e abjurando dos seus erros e procedimento, aceitaram as penas aplicadas pelo bispo ou pelo inquisidor".

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"Hereges relapsos os que, abjurando da heresia e tornando-se por isso penitentes, reincidem na heresia. Estes, a partir do momento em que a recaída fica plena e claramente estabelecida, são entregues ao braço secular para serem executados, sem novo julgamento. Entretanto, se se arrependem e confessam a fé católica, a Igreja lhes concede os sacramentos da penitência e da Eucaristia" (14)."Hereges judaizantes" ou "cristãos-novos" eram chamados os judeus ou portugueses descendentes de judeus que, forçados a receberem o batismo católico - como registrado na história da Inquisição em Portugal - continuavam praticando secretamente a crença judaica.

Dos processos

Nos dias de hoje, em que respiramos liberdade e plenos direitos de defesa, mormente nos países democráticos, entendemos como processo criminal uma peça jurídica que envolve acusação, defesa e as devidas e imprescindíveis provas. No tempo da Inquisição era completamente diferente. A acusação poderia ser feita por qualquer pessoa, até anônimos e crianças podiam acusar de heresia qualquer pessoa. A denúncia era a prova; o julgamento era secreto e particular; o réu "confesso" podia "beneficiar-se" com a absolvição data por um padre, para livrar-se do inferno; as testemunhas poderiam ser submetidas a tortura, se entre elas houvesse indícios de contradições; velhos de até 80 anos de idade estavam sujeitos a serem processados e sofrerem as penalidades decorrentes.Tão logo recebiam a denúncia, os inquisidores providenciavam a prisão do acusado. A partir daí ele ficava preso e incomunicável por um tempo indeterminado. Qualquer tentativa da família ou de amigos de demonstrar interesse pelo livramento do "herege", poderia ser arriscada, pois amigos de herege também são hereges."Um preso da Inquisição nunca pode ver o rosto de seu acusador, nem dos que testemunhavam contra ele. Todas as ameaças e torturas são empregadas para obrigá-lo a acusar a si mesmo, a fim de corroborar, assim, suas evidências". (15).As penas aplicadas variavam entre: 1) reclusão carcerária, temporária ou perpétua; 2) trabalhos forçados nas galés; 3) excomunhão e entrega às autoridades seculares para serem levados à fogueira. O confisco dos bens e flagelação das vítimas eram de praxe em todos os casos.

A legislação do Tribunal do Santo Ofício

Em razão de seus métodos, sua legislação eclesiástica, regimento e hierarquia, podemos considerar que a Inquisição foi um crime muito bem organizado. O terceiro Concílio de Latrão, em 1179, decretou a perseguição permanente aos "hereges". Os leigos eram obrigados a prestar informações para o bom desempenho do trabalho, ainda que fosse uma simples suspeita.Em 1184, o Concílio de Verona, convocado pelo papa Lúcio III (1181-1185), ordena aos arcebispos e bispos visitarem ou mandarem visitar, em seu nome as paróquias suspeitas de heresia, e estabelece severas penas contra os heréticos, tais como banimento, confisco, demolição de casas, declaração de infâmia e perda de direitos civis. Nesse encontro estabeleceram-se as bases da Inquisição que seria oficializada mais tarde.O quarto Concílio de Latrão, convocado em 1215 pelo papa Inocêncio III, "prevê que os condenados por heresia devem ser entregues às autoridades seculares para serem castigados. No caso de clérigos, deverão ser desligados de suas Ordens. Quanto aos bens, serão confiscados". Uma das deliberações do Concílio foi a condenação de "todos os hereges sob qualquer denominação com que se apresentem; embora seus rostos sejam diferentes, estes se encontram atados por uma cola, pois a vaidade os une" (16)."Assim como o diabo e os demônios, criados por Deus naturalmente bons pela vaidade foram expulsos do paraíso, também por causa da vaidade os hereges devem ser expulsos do convívio social". (14)"Os que recebiam, ajudavam e defendiam hereges, ainda que clérigos, seriam excomungados. Como estes, não poderiam exercer cargos públicos, receber os sacramentos, sepultura cristã ou heranças. Suas esmolas e ofertas seriam rechaçadas. Por outro lado, os que "... armarem-se para dar caça aos hereges,

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gozarão da indulgência e do santo privilégio concedidos aos que vão, em ajuda, à Terra Santa " (16). Oferecer perdão dos pecados era uma das armas usadas pelos papas para conseguirem adesão à caçada humana.Como vimos no início, o papa Inocêncio IV, pelo documento "Ad Exstirpanda", de 1252, ordenou que "os hereges devem ser esmagados como serpentes venenosas"."De 1200 a 1500 desdobra-se ininterrupta uma longa enfiada de ordenanças pontifícias acerca da inquisição, e, em geral, acerca de tudo quanto entende com a praxe que se há de observar contra a heresia. Essas ordenações vão-se agravando cada vez mais de uma a outra, qual a qual sempre mais cheia de dureza e crueldade. É uma legislação essencialmente inspirada de um só espírito. Cada papa, ao subir ao trono, ratifica as disposições de seus antecessores, e acrescenta mais um andar ao edifício, que outros começaram. Todas as palavras dessa legislação convergem a um só intento: extirpar absolutamente qualquer desvio contra a fé" (17).

Manual dos Inquisidores

Os inquisidores necessitavam de instruções práticas para bem conduzir os diversos trabalhos a seu cargo. Surgiu, portanto, o Manual dos Inquisidores, uma espécie de regimento interno do Santo Ofício, inicialmente elaborado pelo dominicano Nicolau Eymerich, em 1376. Posteriormente, o espanhol Francisco de la Peña, também da Ordem dos Dominicanos, revisou e ampliou referido manual, que ficou com nada mais nada menos que 744 páginas de texto com 240 outras de apêndices, publicado em 1585. Vejamos alguns trechos do Manual: (14)"Que os patarinos e todos os hereges, quaisquer que sejam os seus nomes, sejam condenados à morte. Serão queimados vivos em praça pública, entregues em praça pública ao julgamento das chamas" .(Determinação do imperador Frederico e dos Papas Inocêncio IV, Alexandre IV e Clemente IV. Na verdade, a prática veio antes da própria codificação). É de fundamental importância prender a língua deles ou amordaçá-los antes de acender o fogo, porque, se têm possibilidade de falar, podem ferir, com suas blasfêmias, a devoção de quem assiste a execução". [...]

"Os inquisidores devem ser capazes de reconhecer as particularidades rituais, de vestuário etc., dos diferentes grupos de hereges. [...]·É herege quem disser coisas que se oponham às verdades essenciais da fé.·Também é herege":

a) Quem pratica ações que justifiquem uma forte suspeita (circuncidar-se, passar para o islamismo); b) Quem for citado pelo inquisidor para comparecer, e não comparecer, recebendo a excomunhão por um ano inteiro;c) Quem não cumprir a pena canônica, se foi condenado pelo inquisidor;d) Quem recair numa determinada heresia da qual abjurou ou em qualquer outra, desde que tenha abjurado;e) Quem, doente mental ou saudável - pouco importa - , tiver solicitado o "consolamento".Deve-se acrescentar a esses casos de ordem geral: quem sacrificar aos ídolos, adorar ou venerar demônios, venerar o trovão, se relacionar com hereges, judeus, sarracenos etc.; quem evitar o contato com fiéis, for menos à missa do que o normal, não receber a eucaristia nem se confessar nos períodos estabelecidos pela Igreja; quem, podendo fazê-lo, não faz jejum nem observa a abstinência nos dias e períodos determinados.. etc. [...] Zombar dos religiosos e das instituições eclesiásticas, em geral, é um indício de heresia. [...] Existe indício exterior de heresia toda vez que houver atitude ou palavra em desacordo com os hábitos comuns dos católicos".Nota-se que a ordem era para exterminar os "hereges", judeus, feiticeiros, todos os que não se conduzissem conforme a cartilha de Roma; excluir do convívio suas famílias, amigos e quem lhes desse apoio.

Os instrumentos de tortura

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"E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E a cada um foi dada uma comprida veste branca e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos que haviam de ser mortos como eles foram" (Ap 6.9-11).Antes de entrarmos nas especificações das torturas de ordem física, dizemos que as famílias das vítimas sofriam terrivelmente. A partir da prisão, todos os bens móveis e imóveis eram confiscados. As famílias, além de serem alvo de repúdio social e zombaria pelo resto da vida, ficavam em total miséria. Vejam as notas a seguir:"Afinal, para encher a medida, extorquiam a família inocente, por confisco legal, todos os bens de fortuna, passando metade dos haveres do condenado para as mãos dos inquisidores, remetida à outra para Roma à câmara do papa. Diz Inocêncio III que aos filhos de hereges não se deve deixar mais que a vida, e isso ainda por simples misericórdia" (18)."A prática da tortura para obter a confissão do réu, habitual nos processos civis da época, foi repelida de início pelos papas, que chegaram a encarcerar alguns inquisidores por sua crueldade. Em 1252, no entanto, o papa Inocêncio IV autorizou o uso da tortura quando se duvidasse da veracidade da declaração dos acusados".©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.A aplicação da tortura não foi uniforme em todos os tribunais de Inquisição, variando de um para outro país ou cidade. Regra geral, porém, a tortura começava quando os "hereges" eram jogados em masmorras imundas, onde passavam meses e até anos confinados sem o direito de qualquer comunicação com seus familiares. A tortura moral se equipara em crueldade à tortura física. Muitos morriam na prisão. Escreveu Alcides que "às vezes [o herege] era colocado ao lado de um louco para que fosse atormentado ainda mais, porque, por incrível que pareça, era do regulamento da Inquisição que se maltratasse o prisioneiro ao máximo para extrair dele também o máximo" (19)."A Igreja Católica na Espanha empregava regularmente a tortura para "conseguir" confissões completas, e, em 1480, o papa Sisto IV deu aprovação aos processos inquisitórios e teve o apoio de Torquemada. Este, em 1483, aprovou o emprego de torturas.Temos notícias - diz o escritor - de que a Inquisição espanhola empregava 14 modalidades diferentes de suplícios, cada um pior que o outro..." (20).Tomás de Torquemada, sobrinho do cardeal Juan de Torquemada, foi prior do convento de Santa Cruz de Segóvia, na Espanha, e passou à História pela crueldade com que conduziu, como inquisidor e papista, a Inquisição naquele país.

A seguir, uma descrição dos instrumentos de "trabalho":CADEIRA INQUISITÓRIA - Essas cadeiras, de vários tipos, continham até 1.600 pontas afiadas de ferro ou madeira, sobre as quais as vítimas, completamente nuas, se sentavam para serem interrogadas. Às vezes, para aumentar o sofrimento do réu, o assento de ferro era aquecido.ESMAGA JOELHOS, POLEGARES E MÃOS - Três instrumentos distintos com funções específicas, como o próprio nome indica; uma espécie de prensa para esmagar partes do corpo. ESMAGA SEIOS - Era o instrumento preferido no século XV para torturar as mulheres acusadas de bruxaria. O seio era envolvido por um ferro retangular, bastante aquecido. Mediante bruscos movimentos circulares, os seios eram esmagados.

DESPERTADOR - Uma dos mais terríveis instrumentos de tortura. Era uma espécie de cavalete de madeira ou de ferro, com um vértice pontiagudo. Puxados por cordas ligadas a roldanas, os hereges eram suspensos até certa altura; depois, num lance rápido, eram lançados sobre o "despertador", de tal forma que o ânus e partes sexuais tocassem a ponta da pirâmide. Pode-se imaginar o quanto sofria homens e mulheres que tinham as partes íntimas rebentadas, tais como testículos, vagina e cóccix.

RODA DE DESPEDAÇAMENTO - Esse tipo de tortura consistia em colocar o réu de costas sobre uma roda

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de ferro, sob a qual colocavam brasas. Em seguida, a roda era girada lentamente. A vítima morria depois de longas horas de dor indescritível, com queimaduras do mais alto grau. Não havia pressa para a morte do supliciado. Antes, havia o cuidado de prolongar ao máximo a sua agonia.Numa outra versão, a roda era usada para dilacerar o corpo dos condenados. Neste caso, em lugar de brasas, colocavam instrumentos pontiagudos sob a roda.

MESA DE EVISCERAÇÃO - Um dos mais cruéis instrumentos de suplício. Destinava-se a extrair aos poucos, mecanicamente, as vísceras dos condenados. Após a abertura da região abdominal, as vísceras, uma por uma, eram puxadas por pequenos ganchos presos a uma roldana, girada por um carrasco.

PÊNDULO - Usado para deslocamento de ombros e como preparativo para outros tipos de tortura. A vítima era levantada por cordas presas aos pulsos e depois bruscamente solta antes de chegar ao solo. O suplício era repetido várias vezes.

CAVALETE - Usado na Inquisição portuguesa, consistia em deitar a vítima de costas sobre uma espécie de mesa, com material cortante, e, através de um funil colocado na boca, encher seu estômago de água. Depois, o carrasco pulava em cima da barriga do desgraçado réu, forçando a saída do líquido. A operação era repetida até a morte.

A VIRGEM DE FERRO OU VIRGEM DE NUREMBERG - Instrumento oco com o tamanho e a forma de uma mulher, dentro do qual as vítimas, uma de cada vez, eram colocadas. Facas eram arrumadas de tal maneira e sob tal pressão que o acusado recebia um abraço mortal. Cuidava-se de que regiões letais não fossem atingidas para proporcionar uma morte lenta.

MANJEDOURA - Uma longa caixa onde o acusado era deitado de costas, e amarrado pelas mãos e pés. O suplício consistia em esticar o corpo do herege até obter o desmembramento das juntas.Muitos outros instrumentos de tortura da Idade Média foram usados pelos inquisidores. Nas execuções usava-se muito o fogo brando, a partir dos pés untados com óleo; hereges eram serrados ao meio; mutilados aos poucos; amarrados por longo período em troncos de madeira; colocados em posições dolorosas e inusitadas para causar cãibras, que poderiam levar o réu à loucura; esfolados vivos.O Tribunal do Santo Ofício foi "a instituição mais impiedosa e feroz que o mundo já conheceu em sua destruição de vidas, propriedades, moral e direitos humanos" (21).

NOTAS:

01. PERES, Alcides Conejeiro, A Inquisição e os Instrumentos de Tortura da Idade Média, 7a ed.,Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p.60.02. FOX, John, O Livro dos Mártires, publicado em latim em 1554, 1a ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2001, cap. V, p.72.03. JANUS, O Papa e o Concílio, 2a ed., tradução e introdução por Rui Barbosa, São Paulo:Saraiva, 1930, pp. 461/2.04. Ibid., p. 466.05. FOX, op. cit., p. 98.06. JANUS, op. cit., p. 456.07. Ibid., p. 520.08. Ibid., p. 523.09. Revista Veja Online, ed. 1640, 15.3.2000.10. JANUS, op. cit., p. 520.11. Catecismo da Igreja Católica, 9a. ed., Petrópolis: Vozes, 1998, item 2089, p. 550.12. Ibid., item 846, pp. 243/4.13. Ibid., itens 818/9, p. 235.

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14. EYMERICH, Nicolau, Le Manuel des Inquisiteurs (Directorium Inquisitorum), revisto por Francisco de La Pena, 1578, traduzido para o francês em 1973 por Luis Sala-Moulins.15. FOX, op. cit., p. 72.16. SILVA, Andréia Cristina Lopes F., O IV Concílio de Latrão, internet.(http://www.ifcs.ufrj.br/~pem/html/Latrao.htm).17. JANUS, op. cit., pp. 520/1.18. Ibid., p. 525.19. PERES, op. cit., p. 147.20. Ibid., p. 16221. ROSA, Peter de, Vicars of. Christ: The Dark Side of The Papacy (Crown Publishers, 1988), p. 179, citado por Dave Hunt, A Mulher Montada na Besta, vol, Actual Edições, Porto Alegre, 2001, p. 248.

As Fogueiras da Inquisição - IIESTUDO SOBRE A INQUISIÇÃOProfessor Dr. Antony Steff Gilson de OliveiraReverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRBwww.fatebra.com.br

"Quem nos separará do amor de Cristo? Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 8.35-39).

O Sangue dos Mártires

Momentos antes da morte, muitas vítimas do Tribunal do Santo Ofício pronunciaram algumas palavras em testemunho de sua inabalável fé. Tamanha era a convicção com que faziam esses breves discursos, que sensibilizavam, às vezes, as pessoas presentes autos de fé, como eram chamadas as cerimônias de execução. Para evitar tais "blasfêmias" da parte dos "hereges", não raro cortavam a língua dos condenados, ou os amordaçavam.

Vale dizer que "ainda no século XI e na primeira metade do XII, protestaram contra a execução de hereges as vozes mais autorizadas na igreja. Eram, ora s.Bernardo, ora Wazo, bispo de Liége, aqui Hildeberto, bispo de Mans, ali Ruperto de Deutz. Relembravam esses cristãos haver Cristo vedado formalmente atos como esses que os papas prescreviam; e asseguravam que o único efeito desse proceder seria gerar a hipocrisia, aumentar decididamente o horror e o ódio dos homens contra a igreja repleta de sangue, contra um clero ávido de perseguições. Só a teoria da infalibilidade podia-nos levar a conceber como, em toda a série dos papas desde Luciano III, não existisse ao menos um que se dispusesse a tomar outro caminho. Se não tivesse havido particular esmero em cultivar essa teoria, e fazê-la vingar a todo o transe, homens brandos, caracteres benévolos como Honório III, Gregório X, Celestino V, sem nenhuma dúvida teriam atenuado a crueza das disposições decretadas por seus antecessores, e imposto raias a essa onipotência ilimitada, em que os papas investiram esses inquisidores vorazes, fanáticos, sanguinários" (1) Impossível quantificar as vítimas da Inquisição, mas sabe-se que chega a dezenas de milhões o número dos que sofreram a pena capital, a tortura, a prisão perpétua; das famílias que ficaram na mendicância em razão do confisco total dos bens; e dos que deixaram a terra natal para fugir às perseguições. Vejamos alguns exemplos.

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Arnaldo de Bréscia - Seguidor do ex-padre Pedro Bruys, também queimado na fogueira, em 1126, por haver combatido a corrupção do clero e se convertido ao Evangelho, Arnaldo de Bréscia, religioso italiano, fez severa oposição ao poder temporal dos papas; desejava o retorno da Igreja de Roma à simplicidade do Evangelho da igreja primitiva; rejeitava os sacramentos; condenava a interferência da igreja no Estado, a adoração aos mortos, o sacrifício da missa. Perseguido, procurou refúgio na França, e depois na Suíça. Em 1155, sob o comando direto do papa Adriano IV, foi denunciado, preso em Roma, enforcado e seu corpo reduzido a cinzas.

Giordano Bruno - (1548-1600). Mártir da liberdade do pensamento, um dos maiores pensadores do século XVI. Filósofo, astrônomo e matemático italiano, Filippo Bruno, após ingressar aos 17 anos no convento de San Domenico Maggiore, em Nápoles, adotou o nome de Giordano, tendo sido ordenado padre em 1572. Semelhantemente a Galileu, defendeu o heliocentrismo - o sol como centro do sistema -, tese não admitida pela Igreja Católica. Além disso, Giordano acreditava na astrologia e na reencarnação. Expulso da Ordem dos Dominicanos, foi excomungado e considerado herege. Fez vários estudos e escreveu alguns livros. Denunciado por seu amigo Giovanni Mocenigo, papista fanático, recebeu a sentença de morte do Santo Ofício após oito anos em prisão. Sem nunca haver abjurado suas idéias, foi levado à fogueira aos 52 anos de idade, no dia 17 de fevereiro de 1600, no Campo di Fiori, em Roma. Tiveram o cuidado de colocar uma mordaça em sua boca para que não pronunciasse qualquer "blasfêmia". Olhou com indiferença e desprezo um crucifixo que fora colocado diante dele, para ser beijado. Em carta de 14.2.2000 dirigida ao Reverendo Reitor da Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional, por ocasião de um congresso de estudos sobre a personalidade de Giordano Bruno, o cardeal Ângelo Solano, admite "falhas" com relação ao caso. Eis um trecho:

"É por isto que, entre os sinais do Jubileu, o Sumo Pontífice pôs o da purificação da memória, pedindo a todos um ato de coragem e de humildade ao reconhecer as próprias faltas e as de quantos tiveram e têm o nome de cristãos. Alguns importantes simpósios desenvolveram-se nesta direção - como por exemplo sobre o anti-semitismo, a inquisição e João Hus - que se realizaram com o patrocínio da Santa Sé, para estabelecer no plano histórico o desenvolvimento efetivo dos acontecimentos e discernir aquilo que neles deve ser julgado pouco conforme com o espírito evangélico. Semelhante verificação parece importante quer para pedir perdão a Deus e aos irmãos pelas faltas eventualmente cometidas, quer para orientar a consciência cristã para um futuro mais vigilante na fidelidade a Cristo. Portanto, Sua Santidade soube com prazer que, precisamente com estes sentimentos, essa Faculdade Teológica quer recordar Giordano Bruno que, no dia 17 de Fevereiro de 1600, foi executado em Roma na Praça "Campo de' Fiori", após o veredicto de heresia pronunciado pelo Tribunal da Inquisição Romana".

Galileu Galilei (1564-1642) - Físico, matemático e astrônomo italiano, fez numerosas descobertas nos campos da Física e da Astronomia. Com uma luneta por ele inventada, descobriu as montanhas da Lua, os satélites de Júpiter, as manchas solares, as fases de Vênus, os anéis de Saturno. Por 17 anos assume a cátedra na Universidade de Pádua. Conclui que a Terra gira em torno do Sol, e dá fundamentação científica à Teoria Heliocêntrica de Copérnico. Suas descobertas e ensinos foram considerados uma heresia pelos censores romanos, sob a alegação de que contrariavam as Sagradas Escrituras. Acabrunhado, doente, preso em Roma, assinou sua retratação. Antes, os inquisidores lhe mostraram a sala de tortura e os respectivos instrumentos. Combalido e ajoelhado diante dos representantes do papa Urbano VIII (1623-1644), leu e assinou sua retratação:

"Eu, Galileu Galilei, tendo sido trazido pessoalmente ao julgamento e ajoelhando-me diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais, Inquisidores Gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação herética... juro que sempre acreditei em cada artigo que a sagrada Igreja Católica, Apostólica de Roma, sustenta, ensina e prega. Mas porque este Sagrado Ofício ordenou-me que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina... com sinceridade de

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coração e verdadeira fé, abjuro, maldigo e detesto os ditos erros e heresias, e em geral todos os outros erros e seitas contrárias à dita Santa Igreja; e eu juro que nunca mais no futuro direi, ou afirmarei nada, verbalmente ou por escrito, que possa levantar semelhante suspeita contra mim; mas se eu vier a conhecer qualquer herege ou qualquer suspeito de heresia, eu o denunciarei a este Santo Ofício ou ao Inquisidor Ordinário do lugar onde eu estiver. Juro, além disso, e prometo que cumprirei o observarei inteiramente todas as penitências que me foram ou sejam impostas por este Santo Ofício.Mas se por acaso eu vier a violar qualquer uma de minhas ditas promessas, juramentos e protestos (o que Deus não permita), sujeitar-me-ei a todas as penas e punições que foram decretadas e promulgadas pelos sagrados cânones e outras constituições gerais e particulares contra delinqüentes assim descritos. Portanto, com a ajuda de Deus e de Seus Santos Evangelhos, que eu toco com minhas mãos, eu, abaixo assinado Galileu Galilei, abjurei,jurei, prometi e me obriguei moralmente ao que está acima citado; e, em fé do que, com minha própria mão assinei este manuscrito da minha abjuração, o qual eu recitei palavra por palavra".

A Santa Inquisição não só condenou os ensinos de Galileu, mas também os de Copérnico. O "Tribunal de Deus" assim se pronunciou: "A tese de que o Sol é o centro do sistema e não se move ao redor da Terra, é néscia, absurda, teologicamente falsa e herética, sendo frontalmente contrária às Sagradas Escrituras... A segunda proposição, a de que a Terra não é o centro do sistema mas sim move-se ao redor do Sol, é absurda, filosoficamente falsa e pelo menos segundo o ponto de vista teológico, contrária à verdadeiras fé" (2)

Galileu livrou-se da fogueira, mas passou vários meses sob prisão. Muito doente e cego, veio a falecer no dia 8 de janeiro de 1642. Em janeiro de 1998, passados 356 anos, o papa João Paulo II formalizou o tardio pedido de perdão ao notável astrônomo.John Wycliffe (1330-1384) - Teólogo inglês, precursor da Reforma, pregava uma Igreja sem a direção papal; combateu a exploração popular com o lucrativo negócio da venda de indulgências, e condenou o excesso de bens materiais dos clérigos. Doutor de Teologia, advogado eclesiástico a serviço da Coroa, nomeado reitor de Lutterworth em 1374. Sua maior obra, contudo, foi a tradução das Escrituras para o inglês, abrindo caminho para que a Palavra de Deus fosse conhecida na Inglaterra. Ousado e destemido, acusou o clero romano de criar clima de tensão e horror ao ameaçar os fiéis com excomunhão; de tentar conter a propagação da Palavra ao proibir a leitura da Bíblia e a sua tradução para línguas conhecidas do povo. Ensinava a salvação somente pela fé em Cristo e a infalibilidade das Escrituras. Chamado a retratar-se por ocasião de uma enfermidade que muito o enfraqueceu, disse: "Não hei de morrer, mas viver e denunciar novamente as más ações dos frades".Tendo sido levado pela terceira vez ao tribunal eclesiástico, e acusado de heresia, Wycliffe declarou: "Com que julgais estar a contender? Com um ancião às bordas da sepultura? Não! Estais a contender com a Verdade, Verdade que é mais forte do que vós e vos vencerá". Deus livrou Wycliffe da fogueira: faleceu repentinamente após um ataque de paralisia. Sua voz silenciou, mas sua fé em Jesus Cristo fez discípulos em todo o mundo. Mais de quarenta anos após sua morte, seus ossos foram exumados e publicamente queimados, e as cinzas lançadas em um riacho vizinho (3).

John Hus (1369-415) - Divulgador das idéias de Wycliffe, natural da Boêmia (região histórica da Europa central, hoje integrante da República Tcheca, cuja capital é Praga) depois de completar o curso superior ordenou-se sacerdote, havendo exercido o cargo de professor e mais tarde de reitor da universidade de Praga. Hus, embora não estivesse de acordo com todos os ensinos de Wycliffe, ficou bastante influenciado pelas idéias desse inglês, e resolveu aprofundar-se mais no estudo da Bíblia. O segundo passo foi denunciar o verdadeiro caráter do papado, o orgulho, a ambição e a corrupção da hierarquia. Defendia a Bíblia como sendo a única regra de fé e prática do cristão, e ensinava que a Palavra de Deus podia ser pregada por qualquer pessoa.Excomungado e acusado de heresia, Hus foi finalmente condenado no Concílio de Constança (1414-1415), no sudoeste da Alemanha, ao qual compareceu, também, como réu, o "antipapa" João XXIII, este

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acusado por vários crimes cometidos durante seu ministério no período de 1410 a 1415: fornicação, adultério, incesto, sodomia, roubo, simonia, assassinato. Condenaram-no por cinqüenta e quatro crimes, mas não recebeu a sentença de morte. Juntamente com outros "papas" que disputavam o cargo, foi deposto. Preso e lançado numa asquerosa masmorra, Hus escreveu a um amigo: "Escrevo esta carta na prisão e com as mãos algemadas, esperando a sentença de morte para manhã... Quando, com o auxílio de Jesus Cristo, de novo nos encontrarmos na deliciosa paz da vida futura, sabereis quão misericordioso Deus Se mostrou para comigo, quão eficazmente me sustentou em meio de tentações e provas". Antes de ser levado ao local da execução, suas vestes sacerdotais foram arrancadas, numa cerimônia de degradação, e sobre sua cabeça colocaram uma carapuça de papel com a inscrição "Arqui-herege". "Com muito prazer", disse Hus, "levarei sobre a cabeça esta coroa de ignomínia por Teu amor ó Jesus, que por mim levaste uma coroa de espinhos. Invoco a Deus para testemunhar que tudo que escrevi e preguei foi dito com o fim de livrar almas do pecado e perdição; e, portanto, muito alegremente confirmarei com meu sangue a verdade que escrevi e preguei". As chamas começaram a tomar conta do seu corpo. Hus orou várias vezes até perder a voz: "Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim". O martírio de Hus se deu em 6 de julho de 1415, no mesmo dia de sua condenação. Suas cinzas foram jogadas no rio Reno.

Jerônimo de Praga (1360-1416) - Reformador religioso tcheco. Seguidor de John Hus e de John Wycliffe, apoiou o primeiro em seu movimento de reformas. Condenado à fogueira como herege. Jerônimo, embora consciente do risco que corria, apresentou-se ao Concílio de Constança no ano de 1414 para defender seus princípios cristãos. Logo após haver confirmado suas idéias "heréticas", foi encarcerado numa masmorra e alimentado a pão e água. Doente, debilitado e abandonado por amigos, cedeu à pressão dos inquisidores e declarou que retornaria à fé católica. Ainda assim, retornou à prisão e lá permaneceu por trezentos e quarenta dias. Durante esse tempo refletiu sobre a sua fraqueza de fé e se sentiu envergonhado de haver cedido. Verificou que não valia a pena negar as verdades bíblicas para salvar a pele. Novamente perante o Concílio, Jerônimo falou: "Estou pronto para morrer. Não recuarei diante dos tormentos que me estão preparados por meus inimigos e falsas testemunhas, que um dia terão que prestar contas de suas imposturas diante do grande Deus, a quem nada pode enganar. De todos os pecados que cometi desde minha juventude, nenhum pesa tão gravemente em meu espírito e me acusa tão pungente remorso, como aquele que cometi neste lugar fatídico, quando aprovei a iníqua sentença dada contra Wycliffe e com o santo mártir John Hus, meu mestre e amigo".E prosseguiu Jerônimo: "Confesso-o de todo o coração e declaro com horror, que desgraçadamente fraquejei quando, por medo da morte, condenei suas doutrinas. Portanto, suplico a Deus Todo-poderoso Se digne perdoar meus pecados, e em particular este, o mais hediondo de todos. Provai-me pelas Escrituras que estou em erro, e o abjurarei". Um papista perguntou: - Quem pode entender as Escrituras antes que a igreja as haja interpretado? Ao que respondeu Jerônimo: - São as tradições dos homens mais dignas de fé do que o Evangelho do nosso Salvador?"Quando as chamas começaram a queimar seu corpo, orou ao Pai: "Senhor, Pai Todo-poderoso, tem piedade de mim e perdoa os meus pecados; pois sabes que sempre amei Tua verdade". Suas cinzas, tal como aconteceu com as de Hus, foram lançadas ao Reno (4).

Joana d'Arc (1412-1431) - Contribuiu para mudar os rumos da guerra de cem anos entre a França e a Inglaterra, ficando conhecida como a heroína francesa. Vítima de uma traição, é feita prisioneira e entregue ao Tribunal do Santo Ofício para julgamento espiritual. O inquérito é comandado por Messire Pierre Cauchon, bispo de Beauvais, a quem coube intermediar o resgate da donzela por dez mil escudos franceses. A alegação era a de que, por ela, "Deus tinha sido ofendido sem medida, a Fé excessivamente afrontada, e a Igreja desonrada". Por causa de suas ousadas atitudes, como, por exemplo, vestir-se como homem, foi acusada de feiticeira, sortílega, bruxa, pseudoprofeta, invocadora de espíritos malignos, idólatra, maldita, amaldiçoada, escandalosa, sediciosa, perturbadora da paz do País, incitadora de guerras, cruelmente

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sequiosa de sangue humano, mentirosa, perniciosa, abusadora do povo, mágica, supersticiosa, cruel, dissoluta, invocadora de diabos, apóstata, cismática e herege.Joana d´Arc, com apenas 19 anos, foi queimada publicamente na Praça do Mercado Velho, em Rouen (França), em 30 de maio 1431. Vinte e cinco anos depois a Igreja Católica revisou o processo da heroína e concluiu por sua inocência. Em 1909 a "Donzela de Orléans" foi beatificada, e canonizada em 1920, por ato do papa Bento XV.

Martinho Lutero (1483-1546) - Considerado o fundador da doutrina protestante, de naturalidade alemã, doutorou-se em Teologia pela Universidade de Wittenberg, e, por esse tempo, leu pela primeira vez a Bíblia. Tendo sido tomado de um imenso desejo de ter uma comunhão mais estreita com Deus, resolveu ser monge e entrou na Ordem dos Agostinianos, no ano de 1505, tornando-se frade em 1507. Lutero levava uma vida de simplicidade, de jejum e orações. A leitura da Bíblia lhe havia despertado a consciência. Em 1510 esteve sete meses em Roma, a fim de tratar assuntos relacionados com a Ordem, e voltou de lá impressionado com o que vira: luxo, pompa, casas suntuosas para os monges que não raro de banqueteavam fartamente. E não apenas isso. Ele se encheu de espanto ao ver a iniqüidade entre o clero, "gracejos imorais dos prelados, profanação durante a missa, desregramento e libertinagem". "Ninguém pode imaginar", escreveu ele, "que pecados e ações infames se cometem em Roma... Se há inferno, Roma está construída sobre ele".Ainda em Roma, quando fazia penitência subindo de joelhos a "escada de Pilatos", ouviu uma voz dizendo: "O justo viverá pela fé" (Rm 1.17). Entendeu, então, que os homens não podem alcançar a salvação por ritos, sacramentos e penitências, como ensinava Roma.Lutero se indignou com a venda de indulgências. Pecados cometidos, ou os que porventura fossem praticados no futuro, eram perdoados pela Igreja, bastando que o pecador pagasse certa quantia. Lutero pregava que somente o arrependimento e a fé em Jesus Cristo poderiam salvar o pecador. O destemido sacerdote resolveu tomar uma atitude extrema. No dia 31 de outubro de 1517 afixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg, cidade da Alemanha, noventa e cinco teses contra as indulgências, fato que teve grande repercussão. Era a primeira vez que um servo do papado se rebelava com tão grande ousadia. Com base na Bíblia, mostrava que o papa nem qualquer homem pode perdoar pecados. "Mostrava que a graça de Deus é livremente concedida a todos os que O buscam com arrependimento e fé". Rapidamente os ensinos de Lutero se espalharam pela Europa, e as verdades bíblicas começaram a se instalar nos corações. "Assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" (Isaías 55.11)."Aquele que deseja proclamar a verdade de Cristo ao mundo, deve esperar a morte a cada momento". Com esse pensamento Lutero se dirigiu a Augsburgo, cidade alemã, onde se defrontaria com os representantes do papa Leão X (1513-1521). O prelado inquisidor, cheio de ódio, disse-lhe: "Retrate-se ou mandá-lo-ei a Roma". Roma seria o fim do caminho, o caminho da morte, a morte na fogueira, tal qual acontecera com seu amigo John Hus. Na madrugada do dia seguinte, estando a cidade às escuras, Lutero conseguiu se evadir de Augsburgo contando, para isso, com a ajuda de amigos. Escapou milagrosamente das mãos do representante papal que intentara prendê-lo.Embora diante de tantas dificuldades, já classificado de herege, excomungado e condenado, Lutero não diminuiu suas severas críticas ao papado e às doutrinas romanas. Disse: "Estou lendo os decretos do pontífice e... não sei de o papa é o próprio anticristo, ou seu apóstolo..." Enquanto a Igreja de Roma subtraía elevados recursos financeiros ao povo, com heresias, superstições e ameaças, Lutero se aprofundava no estudo da Bíblia. Declarava abertamente que não havia distinção entre pecado mortal e pecado venial, pois afirmava, "pecado é pecado, sem gradação, e qualquer pecado leva ao inferno, pois afasta o pecador de Deus". Boa parte de seus sermões era destinada a protestar contra o comércio das indulgências, dizendo que estas eram inúteis. E perguntava: "Se o Papa pode libertar as almas do purgatório quando lhe dão dinheiro, por que não esvazia de uma vez o purgatório?" A um enviado do papa Leão X, que lhe propôs uma reconciliação e alegou, como argumento, a autoridade do papa, Lutero respondeu com firmeza: "Só na Bíblia e não no papa reside a autoridade". E

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continuou: "O próprio Cristo é o chefe da Igreja e não o papa. Não lhe é permitido estabelecer um artigo de fé, sem base bíblica. O papa é soberano legítimo, não com direito divino, mas humano".No dia 15 de junho de 1520, com a bula Exurge, o papa Leão X "condenou quarenta e uma proposições de Lutero, ameaçando-o de excomunhão, se não se retratasse dentro de sessenta dias". Essa bula condenava, em suma, a liberdade de consciência. O historiador Schaff assim definiu o documento: "Podemos inferir daquele documento em que estado de servidão intelectual estaria o mundo atualmente, se o poder de Roma houvesse conseguido esmagar a Reforma. Difícil será avaliar quanto devemos a Martinho Lutero, no terreno da liberdade e do progresso..." Num gesto memorável de audácia, destemor e ousadia, Lutero queimou a bula papal em praça pública a 10 de dezembro de 1520.Por mais de uma vez Lutero compareceu diante dos emissários de Roma. Aconselhado a não se apresentar em razão do risco que corria, Lutero respondeu: "Ainda que acendessem por todo o caminho de Worms a Wittenberg uma fogueira... em nome do Senhor eu caminharia pelo meio dela; compareceria perante eles... e confessaria o Senhor Jesus Cristo".Na presença do imperador Carlos V, da Alemanha, de príncipes e delegados de Roma, que esperavam uma retratação do excomungado herege, Lutero falou: "A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; queira Deus ajudar-me. Amém".As tentativas de reconciliação do sacerdote Martinho Lutero com o papado, ou seja, os planos de fazê-lo voltar ao aprisco de Roma fracassaram todos: "Consinto em que o imperador, os príncipes e mesmo o mais obscuro cristão, examinem e julguem os meus livros; mas sob uma condição: que tomem a Palavra de Deus como norma. Os homens nada têm a fazer senão obedecer-lhe. No tocante à Palavra de Deus e à fé, todo cristão é juiz tão bom como pode ser o próprio papa, embora apoiado por um milhão de concílios. Deus não quer - dizia ele - que o homem se submeta ao homem, pois tal submissão em assuntos espirituais é verdadeiro culto, e este deve ser prestado unicamente ao Criador". Alertado de que estava proibido de subir ao púlpito, recusou-se a obedecer: "Nunca me comprometi a acorrentar a Palavra de Deus, nem o farei".Tão logo expirasse o prazo de um salvo-conduto que o imperador lhe concedera, Lutero, conforme resolução do Concílio, deveria ser preso, todos os seus escritos destruídos; a ninguém era permitido dar-lhe comida ou bebida, e os seus discípulos sofreriam igual condenação. Isto, em outras palavras, significava FOGUEIRA. O plano de Deus era outro. Para livrá-lo da morte, um grupo de amigos "seqüestrou" a Lutero e o transportou, através da floresta, para o castelo de Wartburgo, construído nas montanhas, e de difícil acesso. Em 1534 traduziu a Bíblia para o alemão e escreveu muitas obras. O líder da Reforma Protestante faleceu em 1546 na sua cidade natal de Eisleben, na Saxônia, Alemanha.

William Gardiner - Inglês protestante da cidade-porto de Bristol, desenvolveu seus estudos em Lisboa a partir dos 23 anos de idade. Indignado com as práticas idólatras que grassava em Portugal, decidiu trabalhar em prol de uma reforma religiosa naquele país. Estava preparado para morrer por essa causa, mas faltou-lhe prudência. Durante a cerimônia de casamento do filho do rei de Portugal e a Infanta da Espanha, estando a catedral lotada por pessoas de todas as classes, não suportou ver a adoração à hóstia. "Correu até o cardeal, tomou a hóstia em suas mãos, e pisoteou-a". Ali mesmo foi ferido com um golpe de espada. Indagado pelo rei, respondeu: "Faço isso por uma honrada indignação ao ver as ridículas superstições e idolatrias aqui praticadas". Depois de haver sofrido terríveis torturas, Gardiner foi assado em fogo lento (5).

Encimas - Queimado vivo por ordem do papa e de um conclave de cardeais porque se converteu ao protestantismo. Um irmão dele foi preso porque encontraram em seu poder um Novo Testamento em castelhano. A igreja Católica não admitia distribuição ou leitura da bíblia em outras línguas. Antes do dia da execução, fugiu do cárcere (6)

Fanino - Erudito secular, ganhou muitas almas para Cristo. Mesmo sabendo pela boca dos inquisidores que sua família ficaria na miséria, não apostatou da fé. Respondeu que estava entregando sua família

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aos cuidados do excelente administrador Jesus Cristo. No dia da execução estava muito feliz. Instado a falar, pronunciou suas últimas palavras: "Cristo susteve toda a angústia e lutou com o inferno e a morte por nossa causa. Através de seus padecimentos, quem nele crê é livre de temores". Foi estrangulado, e seu corpo, queimado. As cinzas foram espalhadas pelo vento (7).

Dominico - Erudito militar, tornou-se um zeloso protestante. Após apresentar o papa como o Anticristo, foi preso. Quando consultado da possibilidade de renunciar às suas doutrinas, respondeu: "Minhas doutrinas?! Não sustenho doutrinas próprias. O que prego são doutrinas de Cristo, e por elas darei meu sangue. E ficarei feliz em padecer pela causa de meu Redentor". Sofreu o martírio do enforcamento na praça do mercado (8).

A lista das vítimas da perseguição religiosa parece interminável. O inglês John Fox (1517-1587), perseguido durante o reinado da rainha Maria, a Sangrenta, na Inglaterra, no tempo da Inquisição, deixou-nos um minucioso relato dos massacres e crueldades contra os protestantes, homens e mulheres que deram suas vidas em prol da causa do Evangelho. São relatos impressionantes não só pela demonstração de fé desses mártires, mas também pela brutalidade de seus algozes. Conforme relato do referido compêndio, o papa milanês Pio IV, em 1560, ordenou "que todos os protestantes fossem severamente perseguidos nas províncias italianas, e um grande número de pessoas de todas as idades, classes sociais e de ambos os sexos sofreu o martírio". Sobre esse massacre, um certo católico romano, erudito e humano, escreveu a um nobre senhor: "Não posso, meu senhor, deixar de revelar os meus sentimentos a respeito das perseguições que ocorrem na atualidade. Creio que se trata de algo cruel e desnecessário. Tremo ante a forma pela qual a morte é aplicada. Parece mais um matadouro onde se degolam carneiros e ovelhas, do que a execução de seres humanos...Minhas lágrimas caem agora sobre o papel... Outra coisa devo mencionar: a paciência enfrentavam a morte... oravam fervorosamente a Deus com muito ânimo" (9).

Antonio Ricetti, cidadão de Veneza, Itália, ano de 1542, sob a liderança do papa romano Paulo III. "Um bom cristão tem o dever de entregar não somente os seus bens e os seus filhos, senão também a própria vida, para a glória de seu Redentor; por isso, estou decidido a sacrificar tudo neste mundo passageiro, por amor à salvação em um mundo que permanecerá eternamente". Com estas palavras Ricetti rejeitou renunciar a sua fé, como sugerido por seu filho, e não aceitou uma propriedade rural oferecida pelos papistas, caso abraçasse a fé católica. Com uma pesada pedra amarrada aos seus pés, foi jogado no mar. Igual destino teve o italiano Francisco Spinola (10).

Juan Mollius, italiano, professor, sacerdote aos 18 anos, ao ler as verdades do Evangelho descobriu os erros da Igreja de Roma, dentre outros, Purgatório, Transubstanciação, Missa, Confissão Auricular, Oração pelos Mortos, Hóstia, Peregrinações, Extrema-Unção, Cultos em idioma desconhecido, e outros. Foi enforcado em 1553, tendo o corpo queimado (11).

Francis Gamba - Preso e condenado à morte pela sentença de Milão, Itália. No local da execução, um monge apresentou um crucifixo a ele, a quem Gamba disse: 'Minha mente está tão cheia dos verdadeiros méritos e da verdadeira bondade de Cristo que não quero um pedaço de pau sem sentido para fazer-me pensar Nele'. Por causa dessa expressão sua língua foi arrancada e ele foi em seguida queimado. Igual destino tiveram Juan Alloysius, Algério e Jacob Bovellus (12).

Um certo moço inglês, que estava em Roma, ao ver a procissão da eucaristia, gritou: "Miseráveis idólatras, que deixais ao verdadeiro Deus para adorar a um pedaço de comida". Por ordem do papa, foi levado amarrado ao tronco pelas ruas de Roma; teve sua mão direita cortada, e finalmente queimado. Outro que sofreu o martírio das chamas, logo após o do moço inglês, foi um venerável ancião, que assim

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reagiu ao ver um crucifixo diante de seus olhos: "Se não tirares este ídolo de diante de minha vista, me obrigas a cuspir nele"

Cipriano Bustia foi lançado aos cães porque, com as seguintes palavras, rejeitou o convite de tornar-se católico: "Prefiro antes renunciar à vida, ou até mesmo tornar-me um cão". Pablo Clemente, ao ver alguns cadáveres de protestantes, que lhe foram apresentados como meio de conseguir sua retratação, disse: "Podeis matar o corpo; porém, não podeis prejudicar a alma de um verdadeiro crente; e acerca do terrível espetáculo que me mostrastes, podeis ter a certeza de que a vingança de Deus alcançará os assassinos desta pobre gente, e os castigará pelo sangue inocente derramado". Foi imediatamente enforcado (13).

Nos Vales de Piemonte, no século XVIII, no noroeste da Itália, país onde a Igreja Católica detinha inegável supremacia e poder absoluto, inúmeras vidas foram ceifadas porque rejeitaram a proposta de retratação. O "êxito" das atrocidades nessa região deveu-se ao empenho do duque de Sabóia, de comum acordo com o papa Clemente VIII (1592-1605). Vejamos uma amostra das atrocidades. Sebastião Basan foi atormentado por quinze meses e depois queimado; Sara Rastignote des Vignes, de 60 anos, ao recusar rezar a alguns santos, foi destripada e degolada; a jovem Martha Constantine foi violentada pelos soldados, teve os seios cortados, morrendo em conseqüência da hemorragia; o protestante Pedro Symonds, de 80 anos, foi jogado em um precipício, amarrado pelos pescoço e calcanhares; Esay Garcino, cortado em pedaços; Jacob Perrin e Maria Raymondete, esfolados vivos; Magdalena Pilot, esquartejada; Giovanni Pelanchion, por recusar tornar-se papista, foi amarrado a uma mula e arrastado pelas ruas de Lucerna, e depois degolado; Jacob Michelino, presbítero de uma igreja, e vários protestantes, foram pregados por meio de garfos fixados em seus ventres; Giovanni Rostagnal, um protestante de oitenta anos, teve suas orelhas e nariz cortados e assim encontrou ficou sangrando até morrer (14).

NOTAS:01) JANUS, O Papa e o Concílio, 2a ed., tradução e introdução por Rui Barbosa, São Paulo, Saraiva, 1930, pp. 521/202) DONATO, Hernani, Coleção Vidas Ilustres, vol.VI, Editora Cultrix, 1961, pp. 147,151,152.03) WHITE, Ellen G., O Grande Conflito, Casa Publicadora Brasileira, Ed. Condensada, 1992, pp.50/59.04) Ibid. pp.68/7105) FOX, John, O Livro dos Mártires, publicado em latim em 1554, 1a ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p. 8606) Ibid. p. 10007) Ibid. p.100/10108) Ibid.p.10109) Ibid.p.117/11810) Ibid. p.114/11511) Ibid. p.11612) Ibid. p.11713) Ibid.p.127/12914) Ibid. pp. 120/125

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