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O Meio Ambiente em Questão: Uma Análise da Arena de Debates Públicos em Maricá/RJ
A cidade de Maricá está localizada no litoral fluminense, região tradicionalmente
conhecida por belezas naturais como praias e lagoas. É uma região com grande potencial
turístico rodeada por maciços costeiros que tem como serras principais: Calaboca, Mato
Grosso, Lagarto, Silvado, Espraiado e Tiririca. O município também contempla as lagoas de
Maricá, Barra de Maricá, do Padre, Guaripina e Jaconé, além dos canais de Ponta Negra e
de Itaipuaçu, que ligam as lagoas ao mar. Maricá é conhecida por suas belas praias
oceânicas, dentre as quais se destacam a praia de Jaconé, a praia da Sacristia, a Ponta
Negra, a Barra de Maricá, a praia do Francês e a praia de Itaipuaçu. A serra da Tiririca,
entre Maricá e Niterói, forma o Parque Estadual da Serra da Tiririca, que se encontra em um
valioso trecho de Mata Atlântica. O lugar é um importante berçário de reprodução dos peixes
e também de onde podemos avistar baleias em determinados períodos do ano, afirmam os
especialistas (Maricá Já, 2014). A vegetação de restinga está localizada na costa do
município e é formada pela antiga fazenda São Bento da Lagoa, Ponta do Fundão e Ilha
Cardoso, abrigando a comunidade pesqueira tradicional de Zacarias sítios geológicos e o
complexo ecossistema de restinga.
Durante o governo de Leonel de Moura Brizola foi criada1 uma Área de Proteção
Ambiental (APA) no município de Maricá com o objetivo de proteger o cordão arenoso que
envolve a lagoa de Maricá. Porém, a mesma permanece sendo propriedade privada.
Maricá reúne vários atrativos enquanto um local com praias lindas, tranquilidade e qualidade
de vida no sentido dos baixos índices de violência (isso vem mudando....) em comparação
com as demais cidades do estado do Rio de Janeiro2.A taxa de crescimento urbano eleva o
município ao posto de cidade com maior ritmo de crescimento populacional do estado.
Entretanto, Maricá não conta com infraestrutura mínima, resultando em carências no
saneamento básico, no sistema de tratamento de esgoto e na ausência de água encanada,
transporte, educação e serviços. Situações já em estudo mostram que o crescimento sem
planejamento pode ainda resultar no comprometimento do lençol freático da cidade devido à
expansão do número de residências, segundo pesquisadora Margarete Pessanha em
publicação pela Candido Mendes. (PESSANHA, 2007).
1 Decreto de criação da APA de Maricá: http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/AD9BCD27/DECRETO_CriacaoAPAdeMarica.pdf
2 Pesquisa sobre mapeamento da criminalidade no estado do Rio de Janeiro http://www.lav.uerj.br/docs/rel/2004/map_crim_rio_2004.pdf (acessado em 6 de agosto de 2014)
A cidade de Maricá distanciando-se desse perfil, busca recentemente inserir-se no
processo de expansão das indústrias, principalmente com a perspectiva da construção do
Porto de Jaconé, que possibilitará novos investimentos econômicos na cidade, bem como
todo seu reordenamento.
Nossa aproximação com o movimento ambiental SOS Jaconé Porto Não foi motivado
pelo fato de que esse grupo reúne outros grupos locais ( associação de moradores, grupo
de mulheres por Maricá) como também moradores/veranistas, com o interesse comum de
preservar a praia de Jaconé e todo o sítio geológico das Beachrocks.
O projeto inicial da construção do porto teve planejamento em primeiro lugar no estado da
Bahia, não acontecendo lá por causa do rigor das leis ambientais locais. Depois foi cogitado
para acontecer no costão da Pedra do Elefante, em Itaipuaçu/ Maricá, entre outros locais e,
por fim, em Jaconé, no costão de Ponta Negra em Maricá/RJ.
O projeto de construção do porto em Jaconé, vem mobilizando moradores,
veranistas, empresários, pequenos comerciantes, pescadores, cientistas e o poder público
desde 2009, época em que surgiram os primeiros rumores sobre a construção do porto na
região. Cada grupo social envolvido apresenta seu interesse e perspectiva sobre o futuro
porto.
Resgatando brevemente a história sobre grandes empreendimentos no município,
percebemos que o projeto de Porto de Jaconé não é o primeiro projeto de construção de um
mega empreendimento na cidade. O primeiro projeto foi o da construção de um resort na
área da Barra de Maricá, ainda em meados do século XX. Lúcio Tomé Feteira, empresário
português proprietário de terras em Maricá, com visão de negócios já naquela época,
pensou em aliar as belezas naturais do lugar ao aspecto econômico (década de 1940). O
projeto não se efetivou na época. Contudo recentemente, uma empresa espanhola teve seu
EIA/Rima aceito pelo Inea para a construção do resort exatamente na área da APA de
Maricá. Existem ainda outros grandes empreendimentos previstos para a cidade, alguns
ligados à logística do petróleo, como o gasoduto da linha 3, previsto para ser construído nas
proximidades do futuro Porto de Jaconé, em meio às Beachrocks e o emissário submarino
do Comperj, já em fase construção na praia de Itaipuaçu em Maricá, nas proximidades da
rua 70.
Vale lembrar que empreendimentos relacionados ao petróleo relacionam-se aos
royalties, ou seja, de uma compensação financeira que segue regras específicas de
distribuição entre os municípios integrantes e próximos ao empreendimento. Maricá recebe
royalties do petróleo pela proximidade com áreas de prospecção3 de petróleo no campo de
Lula. Maricá tem interesse em conquistar um valor maior no percentual de royalties do
3 Disponível em http://maricainfo.com/2014/04/03/marica-ja-recebeu-r-28-milhoes-de-royalties-em-2014.html
petróleo4, o que pode se efetivar com o funcionamento de alguns desses empreendimentos,
por exemplo o Porto de Jaconé. Pesquisas em outros municípos como Macaé, mostram que
nos últimos anos essa verba recebida pelo município não mudou os problemas sociais da
região – ao contrário, aumentaram. A partir de uma comparação com a cidade de Macaé
sobre os royalities do petróleo, Piquet (PIQUET, 2010) mostra que o crescimento exemplar
de Macaé a partir da chegada da Petrobrás na região na década de 1970, aumentou as
desigualdades sociais na cidade.
O projeto do Porto de Jaconé foi oficialmente apresentado na reunião na
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária no Rio de Janeiro, (ABES-RJ), pelo
empreendedor e arquiteto da empresa de engenharia DTA idealizador do projeto do Porto o
sr. Mário Scafuzca em março de 2014, onde foram distribuídos folders de divulgação e
realizada uma apresentação explicativa do projeto em separado para cada grupo envolvido
(pescadores, ambientalistas, empresários, comunidade). Sobre a forma como essas
reuniões para a apresentação oficial do projeto do porto de Jaconé aconteceram,
lembramos das observações de Bronz, (2011) sobre o tema, onde esclarece que a
apresentação dos projetos não é feita aleatoriamente por um funcionário, ao contrário há
uma escolha minuciosa para ocupar o cargo, assim sendo, a apresentação do projeto do
Porto. Outro aspecto importante é que desde o primeiro contato da DTA com os grupos
sociais envolvidos nos debates do porto, o Sr. Mauro Scafuzca tem sido o representante
oficial da empresa. Ainda de acordo com Bronz, iremos denominá-lo como porta voz da
DTA engenharia por considerar que assume o perfil descrito pela autora.
Durante a apresentação do projeto do Porto de Jaconé, o “porta-voz” explicou a
escolha pela praia de Jaconé por ser uma região pouco habitada e próxima ao morro de
Ponta Negra, elemento importante para a construção do porto. A abordagem que justifica a
opção da DTA engenharia pela construção do porto na área da praia de Jaconé baseou-se
nos seguintes critérios de alternativas locacionais5 descritos por eles:Condições de
profundidade próxima do litoral brasileiro de 25 metros;Territórios não urbanizados;Menor
restrição ambiental em terra; Melhor condição de acesso terrestre.
Fica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda
pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às características
técnicas locais descritas. Explicou que o projeto do porto delimitada áreas onde as
atividades previstas no terminal deverão se estabelecer como condôminos, por exemplo, o
estaleiro de reparos navais, o terminal de granéis e o terminal de carga geral (contêineres)
4 Conferir a este respeito: http://www.odiariodecampos.com.br/campos-recebe-50-milhoes-em-royalties-3514.html5 Material de apresentação dos encontros preparatórios para a audiência pública referente ao licenciamento ambiental do TPN (implantação e operação base 2014).
ocuparão espaços distintos respondendo cada um por suas atividades em separado.A idéia
é de que a área toda seja um condômino que irá abrigar algumas atividades afins.
Esclareceu ainda, que contiguo ao projeto do porto está previsto o traçado para a
construção do gasoduto Rota 3, que vai ligar o porto ao Comperj.Todos esses itens foram
pontos de debates e discordância, haja visto que inicialmente vinha sendo pleiteado a
licença para a área total, mesmo antes de se saber com exatidão as atividades específicas
(em sua totalidade) que passariam a funcionar como “condômino”, sendo que cada uma
deveria solicitar suas licenças para funcionamento específico, posteriormente.
O projeto do Porto foi orçado inicialmente (em 2009) no valor de R$ 4,7 bilhões até
2016, dos quais R$ 1,2 bilhões serão empenhados pelo empreendedor na construção de
toda a infraestrutura, onde R$ 3,5 bilhões serão empenhados por outras empresas (os
condôminos) que aderirem ao empreendimento. O porto vem portanto complementar a
logística para exploração de petróleo baseada no pré-sal em função do Comperj e do campo
de Lula localizado na Bacia de Campos, e contará com o apoio do Arco Metropolitano do
estado do Rio de Janeiro, estruturando a logística em terra para essa demanda. Desse
modo, argumenta-se que se o Porto de Jaconé, uma vez construído, promoverá uma
reconfiguração territorial, não só em Maricá, mas no estado do Rio de Janeiro, que terá a
chance de retomar o vigor econômico de tempos atrás, além de promover grandes
mudanças na cidade de Maricá/RJ. Assim argumenta os defensores do projeto do Porto de
Jaconé entende o prefeito de Maricá, principal entusiasta do porto.
Assim o discurso da prefeitura contempla essa lógica e considera que o projeto da
construção do Porto de Jaconé se insere no contexto nacional de busca energética no
estado do Rio de Janeiro, trazendo para Maricá a possibilidade do progresso e
desenvolvimento econômico por meio da implantação de indústrias, principalmente aquelas
ligadas ao petróleo. Nas palavras do prefeito de Maricá: O porto é um projeto muito
importante e pode mudar o perfil da cidade de Maricá, com potencial de geração de
emprego e atração de uma série de empreendimentos para seu entorno. (Washington
Quaquá, prefeito de Maricá – 10 de fevereiro, de 2014 − Publicado por Rosely Pellegrino
| jornalismo, Maricá). A construção do Arco Metropolitano é relevante para empreendimentos
dentro do Estado do Rio de Janeiro e prevê um caminho da entrada por Maricá, justamente
para atender às demandas do porto de Jaconé. Assim o Arco Metropolitano representa uma
etapa que complementa a logística em terra do empreendimento do porto de Jaconé, pois
viabilizará o transporte por rodovia expressa dos granéis líquidos a serem exportados pelo
Porto. É importante também para o planejamento da estrutura portuária em gestação, pois
irá interligar pontos estratégicos no estado do Rio de Janeiro com um todo.
A exposição do projeto do porto feita para a comunidade apresentou o projeto do
Porto a partir da alta tecnologia empregada, inclusive para receber os super navios
conhecidos como VLCC (very large crude carrier), que são mais econômicos
comercialmente pois transportam uma carga maior por viagem. Estas embarcações, no
entanto, necessitam para sua ancoragem que o porto tenha uma profundidade maior, por
essa razão as pesquisas para a escolha do local onde o porto poderá ser construído
considerou fatores como a profundidade natural necessária, o que foi encontrado na praia
de Jaconé, nas palavras dos representantes da DTA engenharia, o sr. João Acácio diretor
da DTA engenharia e do Mauro Scafuzca, e o arquiteto responsável pelo projeto, “porta
voz” da empresa.
Esclareceu que projeto engloba preocupações com possíveis danos ambientais e
que no caso por exemplo de vazamento de óleo, está previsto o sistema de interrupção de
vazamento, o “stop oil”6 que, segundo o empreendedor, evitará danos à vida marinha de
forma eficaz. Outro fator principal na apresentação do projeto do porto foi da geração de
empregos e possibilidades de realização de novos negócios para os comerciantes locais. A
degradação socioambiental devido aos danos ao meio ambiente associados à atividade
portuária foi redimensionada tendo como base preocupações ambientais contidas no
projeto, sem contudo ameaçar a decisão política voltada para a execução do mesmo,
inclusive supervalorizando a ideia combatida pelo movimento ambiental sobre a criação de
novos empregos, haja visto que pesquisas de experiências em outras cidades mostraram
que esses empregos referem-se à construção civil e deve trazer inúmeros novos moradores
para a região, que também no caso de Maricá não apresenta condições de absorção,
sobretudo após o término das obras.
Após a aceitação pelo Inea do projeto do porto, as audiências públicas começam a
ser convocadas dando prosseguimento às determinações da legislação ambiental em vigor.
Os debates do movimento ambiental inicialmente reúnem diversos argumentos e
justificativas em observância à estrutura legal das audiências e consultas públicas
realizadas em Maricá relacionadas ao porto de Jaconé, fundamentando e encaminhando as
queixas ao Ministério Público. Esses passos estão registrados no processo formado pelo
SOS Jaconé Porto Não (MP /Niterói – Meio Ambiente: Inquérito Civil Público nº
201201339146). O presente processo registra o que Bronz (BRONZ, 2011) e Carvalho
( CARVALHO,2011) apontam espécie de “acordo de cavalheiro”, onde o órgão que deveria
zelar pela legislação acaba auxiliando e por vezes favorecendo o empreendedor.
Após nos apresentarmos primeiro para a Ana Paula Carvalho via email, em seguida
a integrante do SOS Jaconé Porto Não nos incluiu na lista de emails do grupo. Assim
iniciamos o processo de inclusão no grupo SOS Jaconé Porto Não e na sua dinâmica,
sendo essa nossa porta de entrada para conhecer esse conflito sobre a construção do
6 “A condição de porto onshore do TPN (Porto de Jaconé) permite a implementação de uma solução inovadora e peculiar, a cortina “stop oil”. Isto significa que, na hipótese de vazamento de óleo que será interrompido.
porto de jaconé. Durante o processo de aproximação com os atores sociais do movimento
ambiental, fomos questionados à respeito das nossas intenções. Na ocasião, apresentamos
o pré-projeto de qualificação e esclarecemos a intenção da aproximação com o objetivo de
realizarmos nossa pesquisa. Após os primeiro contato e assim fomos recebidos no grupo
ambiental. Concluído o processo de “inclusão”, tivemos nosso endereço de e-mail inserido
na lista do SOS Jaconé Porto Não. A partir daí, pudemos estabelecer um diálogo,
primeiramente via internet e posteriormente presencial com os integrantes do grupo e
passar a observar os debates também pelo lado de dentro do movimento ambiental
mencionado. Tal abordagem também selou nossa inserção no grupo do movimento SOS
Jaconé Porto Não criado em 2009.
As entrevistas utilizadas foram do tipo semiestruturada, sendo gravada apenas
quando houve a permissão do entrevistado. Nos casos em que não foi permitida, a
entrevista transcorreu sendo feitas anotações em caderno de campo. As entrevistas
focalizaram o perfil do entrevistado e sua inserção na questão ambiental. A ferramenta
entrevista serviu portanto como fonte de informação para nosso estudo de caso, como
sugere Marconi e Lakatos (LAKATOS, MARCONI, 1991).
Nosso enfoque se desenvolveu a partir do movimento ambiental SOS Jaconé Porto
Não e privilegiou através da observação participante as arenas públicas de
debates,formadas oficialmente através das convocações para reuniões, consultas e
audiências públicas. Assim passamos a acompanhar no decorrer dos anos de 2013 e 2014
alguns desses cenários, além das instâncias nem sempre públicas como as listas de emails
do movimento ambiental e recentemente os whatsApp, grupos onde organizam encontros
e manifestações via smart fones. Outras arenas, essas públicas, se formaram a partir das
reuniões convocadas Mário Scafuzca, onde a abordagem foi focalizada e dirigida a cada
grupo de atores sociais envolvidos com o debate, reconhecidos pela DTA Engenharia ou
seja, os empresários, o movimento ambiental, a comunidade pessoal envolvido em
possíveis desapropriações e a associação de moradores local, mas longe do enfoque dada
a partir da descrição dos riscos apontados em Hannigan. O movimento ambiental SOS
Jaconé Porto Não como objetivo de estimular a reflexão entre os participantes do
movimento, organizou alguns encontros e eventos que também acompanhamos. Foram
realizados encontros científicos e um piquenique além de dois “abraços à Jacone”. Em
2014 o sr. Mário Scafuzca retomou uma série de encontros para a apresentação do projeto
do Porto de Jaconé (encontros anteriores foram em 2013). Todos esses eventos
constituíram-se em campo de debate e escuta para nossa pesquisa.
Buscamos em Hannigan (1995) a abordagem sobre o que define problemas
ambientais em sua perspectiva construtivista. Buscamos compreender através do olhar
dos movimentos ambientais local, a construção do problema ambiental a partir da
possibilidade de construção porto de Jaconé ( TPN). Entendendo que para Hannigan, o
problema ambiental é o resultado de um processo no qual inúmeras categorizações sociais
podem tornar-se moralmente questionáveis e onde o uso da retórica e a construção dos
argumentos justificam as exigências construídas. Os problemas ambientais devem ainda
ser legitimados em mais de uma arena, atingindo vários públicos. Começamos então a
relacionar os debates sobre o porto à construção do problema ambiental segundo
Hannigan (HANNIGAN,1995). Utilizamos ainda a perspectiva de Mário Fuks (FUKS,2001)
sobre as arenas de debates na mediação de conflitos.
Sobre a construção do risco de um problema ambiental, onde os grupos sociais se
definem a partir dos papéis que cada um desempenha socialmente, a representação da
construção do risco descrito em Hannigan pode apontar para o caso de Jaconé por exemplo
ao considerarmos:
1.Os portadores dos riscos, ou seja, aqueles que convivem em situações de potencial
perigo, como é o caso em Jaconé dos moradores da área onde o porto deve ser construído.
O risco é de desapropriação e a imposição de mudar-se para outro lugar. Isso pode ser ruim
para aqueles que não desejam sair de suas casas. Outro aspecto refere-se à degradação
ambiental que tal projeto empreenderá à toda região considerando ainda que para alguns
trará vantagens para seus negócios. 2. Os defensores dos portadores de riscos, que são as
organizações que surgem em defesa das possíveis “vítimas” nesse processo. O movimento
ambiental SOS Jaconé Porto Não assume esse papel 3. geradores de riscos, aqui
representada pela DTA engenharia logística e
empreendedor do projeto e Terminais Ponta Negra (TPN) – empresa criada para ser
responsável pela da construção do Porto de Jaconé. 4. Os investigadores dos riscos, que
são os cientistas e suas pesquisas científicas; surgem como colaboradores reunindo provas
para contestar as exigências apresentadas nos projetos do empreendedor e seus
associados (DTA e TPN). Aqui aparecem representados pelos professores doutores da UFF
e da UFRJ, professor Victor Nascimento e Kátia Mansur. 5. Os árbitros do risco, que são as
instâncias do Estado como o Ministério Público, que procura regulamentar até que ponto o
risco pode ser aceito atuando de maneira neutra com base na lei. Contudo, alerta o autor,
na prática isto não acontece, pois os árbitros do risco podem colocar-se do lado dos
geradores de riscos, no caso, a prefeitura de Maricá, que apóia a realização do
empreendimento. Contudo surge ainda a presença do Ministério Público, arbitro que surge
na luta em prol da participação social de forma igualitária em todo processo. 6. Os
informadores dos riscos surgem a partir da mídia, que coloca o assunto na agenda pública e
procede a uma análise minuciosa do tema. É o caso da jornalista norueguesa Runa,
radicada no Brasil há 6 anos e que, como correspondente de revista Aftenposten Innsikt,
escreveu matérias sobre o porto para enviar ao seu país. Outros informadores são o jornal
local A Voz das Águas (impresso), o Itaipuaçusite (virtual), o Lei Seca Maricá, o Valor
Econômico, e o site Território Livre. Este último funcionou durante 13 anos abraçando a
causa da proteção aos direitos humanos, ao ambiente e aos animais. A Jornalista Roselly
Pelegrino em seu site Noticiário RJ on line7 realiza a cobertura oficial do município de
Maricá.
É relevante ressaltar que fazem parte dessa relação os financiadores, haja visto
que sem o aval financeiro não há empreendimento. Em especial estes relacionados ao
projeto do porto de Jaconé tem seus recursos gerenciados por empresa especializada em
negócios valor elevado a gestora de recursos Vinci Partners, que está fazendo o private
placement, com os vários interessados no projeto.
Observamos as categorias apontadas por Hannigan para compreender parte da dinâmica
empreendida pela luta ambiental e ainda a perspectiva apresentada por Mário Fuks, sobre
as arenas de debates, onde o enfoque está no gerenciamento de conflitos nesses espaços é
fundamental, onde cada grupo defende seus interesses e constrói seus “pacotes
argumentativos”, que são as versões a respeito de um determinado assunto público
elaboradas no contexto de disputas localizadas e alimentadas por "pacotes interpretativos",
os quais fornecem amplos repertórios de recursos para a elaboração de relatos de eventos
significativos, evitando o risco do reducionismo dos problemas ambientais a meras
interpretações (FUKS, 2001).
A abordagem adotada nas entrevistas realizadas foi qualitativa por fornecer a
descrição e a análise dos dados coletados em campo, onde a maior ênfase está nos
processos e na percepção dessas informações que transparecem na hora da entrevista
além dos resultados. Por essa razão, o foco de interesse permeia os significados no
contexto social e cultural detectados na construção das teses argumentativas.
Ainda como parte de nossa opção metodológica, consideramos os grupos analisados a
partir do seguinte critério, conforme apontado em Hannigan (HANNIGAN,1995) procurando
contribuir com algumas reflexões. A – Sociedade civil: O movimento ambiental SOS
Jaconé Porto Não, moradores locais ligados ou não ao movimento ambiental; B – Estado: O
poder público (municipal, estadual e federal) o Ministério Público (MP); C – Setor privado envolvido: DTA engenharia, Terminal Porto Naval (TPN), Demais empresários locais
interessados. Importante ressaltar a possível proximidade entre esferas do Estado e setor
privado. Assim realizamos uma abordagem considerando o papel genérico que
desempenham socialmente.
Utilizamos como fontes de pesquisa documentos virtuais e originais, como mapas da
Biblioteca Nacional, o EIA-Rima, atas das audiências e das consultas públicas, e os
processos do inquérito civil público no Ministério Público de Niterói. Da mesma forma
7 https://roselypellegrino.wordpress.com/
tornaram-se fontes para nossa pesquisa os registros dos encontros e reuniões das quais
participei. É importante registrar que o movimento ambiental que acompanhamos organizou
seus compromissos pela internet, o que tornou o meio virtual e as redes sociais de
fundamental importância para nossa investigação e contato com o objeto de estudo.
A abordagem de Hannigan concentra-se nos processos sociais, políticos e culturais onde
os riscos e os problemas ambientais surgem como entidades socialmente construídas.
Assim sendo, defende que nem sempre os atores sociais estabelecem um ordenamento
destes problemas de acordo com suas necessidades reais. Considera que os problemas
ambientais são parte de um processo dinâmico que tem lugar nas arenas de debates
públicos, onde os atores interagem nas esferas públicas e privadas negociando seus
interesses. Nesse caso, torna-se indispensável a habilidade para controlar e tornar-se
relevante nos debates. Herculano (HERCULANO,2000) alerta que o debate em torno do
construcionismo pode gerar uma análise que se traduza por uma mera construção e
interpretação dos dados, esvaziando a veracidade de fatos comprovadamente verídicos
como acontece na análise de alguns autores como Fuks (FUKS,2001).Uma das principais
críticas ao construcionismo se dá na corrente realista que reconhece o construcionismo
social como passivo politicamente, criticando a participação do cidadão nas formulações do
problema ambiental conforme afirma (Guivantt, apud Wynne, 2002). Os realistas rompem
com o senso comum, havendo uma prioridade da totalidade social sobre os indivíduos. Já
os construcionistas se defendem ao afirmar que não pretendem negar a realidade objetiva
dos problemas ambientais mas em contraposição, afirmam que o construcionismo social
prioriza a autonomia dos indivíduos frente à sociedade, considerando relevante que
problematizem suas questões nas arenas públicas a diversidade das interações reunindo
vários atores políticos pode gerar um ambiente politizado e debates instigantes.
O movimento ambiental SOS Jaconé Porto Não, organiza a resistência à construção do
Porto de Jaconé , de acordo com Maria da Glória Gohn:
Movimentos sociais são ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos
pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certos cenários da
conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social
na sociedade civil (GOHN, 1997, p. 251).
Assim como na definição de Gohn, o SOS Jaconé Porto Não realiza um diagnóstico
sobre a realidade que os cerca, atua em redes organizando ações coletivas de resistência a
uma causa, contra a construção do Porto de Jaconé. Nesse mesmo contexto, o SOS Jaconé
Porto Não atua à favor da implantação do projeto do GEOPARQUE costões e lagunas na
região costeira do município de Maricá. Desenvolvem uma luta pela inclusão social por
meio do empoderamento dos atores da sociedade civil, “criando” sujeitos sociais que atuam
construindo representações simbólicas percebidas em seus discursos e oferecendo uma
organização para grupos antes dispersos e lhes conferindo um sentimento de pertencimento
social e de inclusão (GOHN, 2010, 2011). O movimento SOS Jaconé Porto Não reúne, os
interesses de grupos ambientalistas e moradores que se percebem enquanto grupo
contrário à construção do Porto de Jaconé.
A institucionalização da questão ambiental8 levou o tema do meio ambiente para
dentro do Estado (conforme afirmam alguns, entre os quais Maria da Glória Gohn (GOHN,
2011, p. 243), fazendo com que demandas fossem reconhecidas por meio da
institucionalização de canais de mediação e da criação de formas de atendimento ao
público, além da implementação de uma legislação ambiental conforme aconteceu no caso
brasileiro. Alonso (ALONSO,2002), de forma semelhante a Jacobi (JACOBI,2003), entende
que a institucionalização das demandas pelo Estado cooptou queixas e reivindicações
ambientais com o receio de desmobilizar algumas ações, o que passou a exigir maior
articulação dos movimentos ambientais nesse embate. Pode estar relacionada a essa
questão a flexibilização observada entre órgão ambiental e empreendedor em alguns casos
observados, como na pesquisa de Débora Bronz. Os movimentos ambientalistas e as ONGs
eventualmente participam do staff de governos, seja municipal , estadual ou federal. Em
Maricá vemos exemplo disso, através do secretário de Meio Ambiente em 2014, Sr. Thiago
de Paula com uma trajetória de militante ambiental, assumiu em fevereiro de 2014 a
secretaria municipal de meio ambiente de Maricá e passou a atuar de dentro do governo
municipal. Essa participação não deve ser compreendida como uma forma de representação
da sociedade civil e das organizações populares nos gabinetes e nas secretarias do poder
municipal ou estatal. Contudo, tal situação apresenta um risco que é a perda da dimensão
política, que pode ser capturada por estruturas de ordem política, configurando uma coesão
e um controle social então estabelecidos de cima para baixo. As “parcerias” são apontadas
por Bronz (2011) quando aqueles que deveriam proteger e dar garantias para que a
legislação ambiental seja cumprida acabam se aliando a uma das partes dos embates.
Os canais de participação em instâncias deliberativas, criados com a legislação ambiental
como os conselhos consultivos, como as audiências públicas, acabam na prática
funcionando mais à favor das prefeituras do que privilegiando a participação efetiva da
população no processo, haja visto a imposição da presença dos comissionados à tais
encontros, fazendo pressão e garantido votos.
O SOS Jaconé Porto Não implementa ações coletivas na luta pela construção de
políticas sociais institucionalizadas que sejam capazes de salvaguardar o território de
8 A institucionalização no Brasil do meio ambiente inicia-se com o Código Florestal em 1934. Mais tarde, em 1965, novo código é lançado e, em 1967, foi criada a lei de proteção à fauna e à flora. Não havia, no entanto, uma ação coordenada de governo ou uma entidade gestora da questão.
Jaconé de grandes empreendimentos e é nesse sentido que pauta sua participação nas
consultas e audiências públicas. O SOS Jaconé Porto Não apresenta-se no bojo dos novos
sujeitos sociopolíticos demarcados por laços de pertencimento territorial. Assim
compartilham o desejo de que Maricá permaneça como um lugar tranquilo para se morar,
resguardando a qualidade de vida que os fizeram mudar-se para lá. Para aqueles que já lá
residem, como é o caso de alguns moradores da Rua B em Jaconé, próximo ao Roberto
Marinho, o ponto de união é a luta não ser obrigado a mudar-se o que só será possível se o
porto não for construído.
Articulam-se construindo pautas coletivas e buscando visibilidade social; Não visam à
tomada do poder do Estado, mas objetivam preencher espaços políticos não institucionais,
interferindo nas políticas estatais; Contrapõem-se não mais exclusivamente ao Estado, mas
também aos demais agentes econômicos presentes na disputa, no caso a iniciativa privada
empreendedora do projeto do porto; Lutam pelo “direito a ter direitos” (GOHN, 2010, p. 17);
Buscam o reconhecimento e o respeito às diferenças e às demandas sociais, e trazem à
tona questões como a necessidade de qualificação do tipo de ação coletiva. O movimento
ambiental de Maricá Luta segundo as palavras de Hannigan, problematizam dada questão
ambiental e tornando-a pública. Hannigan chama a atenção o que se apresenta um
problema para uns pode não ser para outros grupos sociais. Assim, é importante a
atuação do movimento ambiental SOS Jaconé Porto Não, levando à público os problemas e
encaminhando as reclamações à instituições públicas que atuam como mediadoras no
conflito, como o Ministério Público. É importante identificar “(...) a forma como o problema é
gerado e sustentado pelos grupos de reclamação e as respostas institucionais a essas
queixas” (HANNIGAN, 1995, p. 47). Desse modo, os movimentos organizados ganham
visibilidade a partir das lutas e do enfrentamento de suas demandas diante do poder público;
nesse sentido, constroem seus argumentos. O problema ambiental é construído a partir do
seu reconhecimento público e do encaminhamento das queixas aos órgãos competentes
pelos grupos sociais, pelas ONGs ou pelo cidadão. O Ministério Público (MP) vem
acolhendo as queixas sobre questões ambientais em Maricá sobretudo com relação ao
Porto de Jaconé, haja vista o inquérito civil público9 aberto sobre a questão da construção do
Porto de Jaconé. Após a defesa da dissertação, o movimento ambiental foi informado que o
governador do Estado
Aqui observamos o exemplo das pesquisas de Lygia Sigaud, quando analisa o papel
político que as Comissões Regionais de Atingidos por Barragens (CRAB) que abordou os
casos como os das barragens de Ita e Machadinho, no rio Uruguai (SIGAUD,1986, pp. 163-
178), a partir da relevância da presença dessas comissões com relação a informação e
9 MP /Niterói – Meio Ambiente: Inquérito Civil Público nº 201201339146
esclarecimentos da população leiga. Dessa forma as CRABs apontam para a construção de
uma resistência marcada pela exigência do diálogo modificando essa noção de progresso e
desenvolvimento dados como certos pelo caminho da construção das barragens. A ação
das CRAB promoveu uma mudança na forma de dominação exercida, onde limites
passaram a ser impostos às formas tradicionais de intervenção do Estado sobre o espaço
físico. As mudanças que ocorreram ao se combater o discurso do progresso, que no início
surgiu unânime, se deram a partir do trabalho dessas comissões (das CRAB), no sentido de
mostrar as conseqüências negativas provocadas pelo processo de construção da barragem
sobretudo para os moradores locais, que se viam obrigados a se deslocar para outra área e
a negociar, sob bases desiguais, o valor a ser pago pela indenização proposta. Esse é um
exemplo de luta que se aproxima da luta do SOS Jaconé Porto, através de eventos onde
ocorre a explicação por especialistas das questões e os caminhos da participação e
resistência diante das possíveis imposições por parte do poder público e privado.
Trata-se de um exemplo que mostra a importância da ação dos movimentos
populares onde, em cada situação, o resultado pode ser diferente também em função das
formas de lutas empreendidas e dos interesses a serem perseguidos. Assim no caso do
projeto do Porto o que está em jogo é a garantia da participação efetiva dos envolvidos
assegurando seus direitos em todas as instâncias conforme aponta (SIGAUD,1986). É
importante mencionar que a CRAB e organizações como a Oie Watch10 vem oferecendo
respaldo nacional e internacional às ações de resistência a grandes empreendimentos
justamente por serem referência nessa luta. A participação nas consultas públicas e nas
audiências públicas. As audiências públicas são convocadas por edital. Há um trâmite legal
que precisa ser seguido na sua convocação e condução; caso não sejam observadas as
regras, a audiência pública pode até ser anulada, através de denuncia encaminhada ao
Ministério Público, se assim decidir o citado órgão..O edital de convocação para uma
audiência pública sobre a construção de um terminal portuário precisa respeitar o prazo de
30 dias de antecedência para que todos tomem ciência. As audiências públicas constituiem
-se em um meio legítimo para levar as demandas da sociedade e implementar as lutas
ambientais sendo ferramenta à favor da participação popular enquanto espaços de lutas e
de enfrentamento representam o momento para levar os questionamentos e tirar dúvidas
sobre o empreendimento, e portanto arenas públicas de debates. È necessário contudo que
a legislação seja respeitada. Em Maricá o movimento ambiental conforme mencionamos,
encaminhou a falta de lisura no processo ao Ministério Público.
10 A OilWatch é uma organização de alerta aos danos causados pelo petróleo no mundo. Disponível em http://www.oilwatch.org/en/oilwatch-in-the-world/america-ow-en-el-mundo/brazil/171-alertas-en-brasil-en-2004-pdf-ingls
Nossa participação nas consultas e audiências em maricá desde 2013, nos leva a
Identificar aspectos apontados pelos autores (CARVALHO,2011),(SIGAUD,1986),
(HANNIGAN, 1995) e (FUKS,2001), (BRONZ, 2011), um deles por exemplo se refere ao fato
da participação popular em audiências públicas poder acontecer de “cima para baixo” e
também de “baixo para cima”. A participação de “cima para baixo” ocorre quando os grupos
são incluídos, classificados e inventariados nos estudos, ou seja, quando nas audiências
públicas há a participação massiva de funcionários da prefeitura, chamados pelo movimento
ambiental de “comissionados”. Trata-se de funcionários da prefeitura municipal convidados
por ordem do prefeito para estar presente nesses eventos. Já a participação de “baixo pra
cima” ocorre quando os grupos sociais se organizam para participar dos fóruns e audiências
públicas movidos pelo envolvimento com o tema, se preparando para contribuir com o
debate. É posto que ambos os tipos de participação pode acontecer simultaneamente no
processo de licenciamento e fazem parte do chamado “jogo político” (BRONZ, 2011) no qual
o movimento ambiental apresenta-se em minoria invariavelmente. O movimento ambiental
revelou nunca assinar as listas de presença, com receio de fraude com suas assinaturas.
Assim sendo, em geral são os comissionados que assinam presença.
E importante relatar que o poder público desde os primeiros momentos onde aconteceram a
consulta pública para a transferência de parte da área de conservação da vida silvestre
para as ilhas Maricás, as audiência públicas para alteração do uso do solo e plano diretor,
agiram se desvinculando das ações e reais intenções de transformar a área do Roberto
Marinho em área de interesse industrial e viabilizar a construção do Porto de Jaconé. Além
disso, artimanhas corriqueiras aconteceram nesses encontros, do tipo: o microfone falhando
na vez do movimento ambiental falar, deixar o movimento ambiental para o final das falas,
limitação mínima de tempo para exposição e falas do movimento ambiental, surgem como
rotina! Temos ainda as críticas à audiência pública, que apesar de se constituir em canal
legítimo para a participação popular, ainda deixa a desejar enquanto ferramenta que
estimule a participação e às mudanças, pois as audiências são informativas e os
procedimentos de antecedência mínima de publicação dos tópicos a serem tratados possam
ser discutidos com a população.
Assim, segundo a perspectiva de Hannigan, o movimento ambiental junta, identifica,
apresenta , expõe e contesta os argumentos apontando as contradições, do poder público
diante das exposições durante a consulta pública e dentro do processo junto ao Ministério
Público.
A espécie de relação muito próxima entre órgãos responsáveis por zelar pelo cumprimento
da lei ambiental e os empreendedores como a DTA engenharia, aproxima-se da ideia de
Programas de Comunicação Social (PCS) mostrado em Bronz (BRONZ, 2011) que mostra
uma simbiose entre consultores, empreendedores e comunidades na figura de alguns
líderes. Assim antes mesmo da aprovação do projeto do porto pelo Inea, o empreendedor
DTA , já tinha uma propaganda imensa sobre a construção do Porto, inclusive adiantando
documentos que seriam solicitados posteriormente, sem ser questionada pelos órgãos
competentes.
Entretanto uma nova etapa se inicia a partir do momento em que o processo de
licenciamento ambiental do projeto do Porto de Jaconé teve seu Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)/Relatório do Estudo de Impacto Ambiental (Rima) aceito pelo Instituto
Estadual do Ambiente (Inea) em 15 de abril de 2014. A audiência pública do projeto do
projeto do porto aconteceu em 24 de fevereiro de 2015, seguindo os moldes aqui descritos.
Ouve contudo a participação decisiva do Ministério Público com a presença do promotor
Leonardo, que re equacionou o que chamou de uso pelo poder público municipal do
empreendimento porto de jaconéem favorecimento político. Ele criticou a fala do prefeito de
Maricá, Sr.Wellington (Quaquá), além de criticar duramente a ausência do diretor da DTA
engenharia João Acácio que enviou um vídeo através do s. Mauro Scafuzca, porta voz da
DTA engenharia durante todo o processo. Finalizou mostrando a inaquação das diretrizes
apontadas pela DTA engenharia com justificativa para a construção do projeto do porto. Em
24 de maio de 2015, o jornal O Globo publicou que o governador Pezão tombou a praia de
Jaconé, local onde o projeto do porto foi projetado.
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