€¦  · web viewfica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu...

24

Click here to load reader

Upload: phamtuyen

Post on 21-Sep-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

O Meio Ambiente em Questão: Uma Análise da Arena de Debates Públicos em Maricá/RJ

A cidade de Maricá está localizada no litoral fluminense, região tradicionalmente

conhecida por belezas naturais como praias e lagoas. É uma região com grande potencial

turístico rodeada por maciços costeiros que tem como serras principais: Calaboca, Mato

Grosso, Lagarto, Silvado, Espraiado e Tiririca. O município também contempla as lagoas de

Maricá, Barra de Maricá, do Padre, Guaripina e Jaconé, além dos canais de Ponta Negra e

de Itaipuaçu, que ligam as lagoas ao mar. Maricá é conhecida por suas belas praias

oceânicas, dentre as quais se destacam a praia de Jaconé, a praia da Sacristia, a Ponta

Negra, a Barra de Maricá, a praia do Francês e a praia de Itaipuaçu. A serra da Tiririca,

entre Maricá e Niterói, forma o Parque Estadual da Serra da Tiririca, que se encontra em um

valioso trecho de Mata Atlântica. O lugar é um importante berçário de reprodução dos peixes

e também de onde podemos avistar baleias em determinados períodos do ano, afirmam os

especialistas (Maricá Já, 2014). A vegetação de restinga está localizada na costa do

município e é formada pela antiga fazenda São Bento da Lagoa, Ponta do Fundão e Ilha

Cardoso, abrigando a comunidade pesqueira tradicional de Zacarias sítios geológicos e o

complexo ecossistema de restinga.

Durante o governo de Leonel de Moura Brizola foi criada1 uma Área de Proteção

Ambiental (APA) no município de Maricá com o objetivo de proteger o cordão arenoso que

envolve a lagoa de Maricá. Porém, a mesma permanece sendo propriedade privada.

Maricá reúne vários atrativos enquanto um local com praias lindas, tranquilidade e qualidade

de vida no sentido dos baixos índices de violência (isso vem mudando....) em comparação

com as demais cidades do estado do Rio de Janeiro2.A taxa de crescimento urbano eleva o

município ao posto de cidade com maior ritmo de crescimento populacional do estado.

Entretanto, Maricá não conta com infraestrutura mínima, resultando em carências no

saneamento básico, no sistema de tratamento de esgoto e na ausência de água encanada,

transporte, educação e serviços. Situações já em estudo mostram que o crescimento sem

planejamento pode ainda resultar no comprometimento do lençol freático da cidade devido à

expansão do número de residências, segundo pesquisadora Margarete Pessanha em

publicação pela Candido Mendes. (PESSANHA, 2007).

1 Decreto de criação da APA de Maricá: http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/AD9BCD27/DECRETO_CriacaoAPAdeMarica.pdf

2 Pesquisa sobre mapeamento da criminalidade no estado do Rio de Janeiro http://www.lav.uerj.br/docs/rel/2004/map_crim_rio_2004.pdf (acessado em 6 de agosto de 2014)

Page 2: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

A cidade de Maricá distanciando-se desse perfil, busca recentemente inserir-se no

processo de expansão das indústrias, principalmente com a perspectiva da construção do

Porto de Jaconé, que possibilitará novos investimentos econômicos na cidade, bem como

todo seu reordenamento.

Nossa aproximação com o movimento ambiental SOS Jaconé Porto Não foi motivado

pelo fato de que esse grupo reúne outros grupos locais ( associação de moradores, grupo

de mulheres por Maricá) como também moradores/veranistas, com o interesse comum de

preservar a praia de Jaconé e todo o sítio geológico das Beachrocks.

O projeto inicial da construção do porto teve planejamento em primeiro lugar no estado da

Bahia, não acontecendo lá por causa do rigor das leis ambientais locais. Depois foi cogitado

para acontecer no costão da Pedra do Elefante, em Itaipuaçu/ Maricá, entre outros locais e,

por fim, em Jaconé, no costão de Ponta Negra em Maricá/RJ.

O projeto de construção do porto em Jaconé, vem mobilizando moradores,

veranistas, empresários, pequenos comerciantes, pescadores, cientistas e o poder público

desde 2009, época em que surgiram os primeiros rumores sobre a construção do porto na

região. Cada grupo social envolvido apresenta seu interesse e perspectiva sobre o futuro

porto.

Resgatando brevemente a história sobre grandes empreendimentos no município,

percebemos que o projeto de Porto de Jaconé não é o primeiro projeto de construção de um

mega empreendimento na cidade. O primeiro projeto foi o da construção de um resort na

área da Barra de Maricá, ainda em meados do século XX. Lúcio Tomé Feteira, empresário

português proprietário de terras em Maricá, com visão de negócios já naquela época,

pensou em aliar as belezas naturais do lugar ao aspecto econômico (década de 1940). O

projeto não se efetivou na época. Contudo recentemente, uma empresa espanhola teve seu

EIA/Rima aceito pelo Inea para a construção do resort exatamente na área da APA de

Maricá. Existem ainda outros grandes empreendimentos previstos para a cidade, alguns

ligados à logística do petróleo, como o gasoduto da linha 3, previsto para ser construído nas

proximidades do futuro Porto de Jaconé, em meio às Beachrocks e o emissário submarino

do Comperj, já em fase construção na praia de Itaipuaçu em Maricá, nas proximidades da

rua 70.

Vale lembrar que empreendimentos relacionados ao petróleo relacionam-se aos

royalties, ou seja, de uma compensação financeira que segue regras específicas de

distribuição entre os municípios integrantes e próximos ao empreendimento. Maricá recebe

royalties do petróleo pela proximidade com áreas de prospecção3 de petróleo no campo de

Lula. Maricá tem interesse em conquistar um valor maior no percentual de royalties do

3 Disponível em http://maricainfo.com/2014/04/03/marica-ja-recebeu-r-28-milhoes-de-royalties-em-2014.html

Page 3: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

petróleo4, o que pode se efetivar com o funcionamento de alguns desses empreendimentos,

por exemplo o Porto de Jaconé. Pesquisas em outros municípos como Macaé, mostram que

nos últimos anos essa verba recebida pelo município não mudou os problemas sociais da

região – ao contrário, aumentaram. A partir de uma comparação com a cidade de Macaé

sobre os royalities do petróleo, Piquet (PIQUET, 2010) mostra que o crescimento exemplar

de Macaé a partir da chegada da Petrobrás na região na década de 1970, aumentou as

desigualdades sociais na cidade.

O projeto do Porto de Jaconé foi oficialmente apresentado na reunião na

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária no Rio de Janeiro, (ABES-RJ), pelo

empreendedor e arquiteto da empresa de engenharia DTA idealizador do projeto do Porto o

sr. Mário Scafuzca em março de 2014, onde foram distribuídos folders de divulgação e

realizada uma apresentação explicativa do projeto em separado para cada grupo envolvido

(pescadores, ambientalistas, empresários, comunidade). Sobre a forma como essas

reuniões para a apresentação oficial do projeto do porto de Jaconé aconteceram,

lembramos das observações de Bronz, (2011) sobre o tema, onde esclarece que a

apresentação dos projetos não é feita aleatoriamente por um funcionário, ao contrário há

uma escolha minuciosa para ocupar o cargo, assim sendo, a apresentação do projeto do

Porto. Outro aspecto importante é que desde o primeiro contato da DTA com os grupos

sociais envolvidos nos debates do porto, o Sr. Mauro Scafuzca tem sido o representante

oficial da empresa. Ainda de acordo com Bronz, iremos denominá-lo como porta voz da

DTA engenharia por considerar que assume o perfil descrito pela autora.

Durante a apresentação do projeto do Porto de Jaconé, o “porta-voz” explicou a

escolha pela praia de Jaconé por ser uma região pouco habitada e próxima ao morro de

Ponta Negra, elemento importante para a construção do porto. A abordagem que justifica a

opção da DTA engenharia pela construção do porto na área da praia de Jaconé baseou-se

nos seguintes critérios de alternativas locacionais5 descritos por eles:Condições de

profundidade próxima do litoral brasileiro de 25 metros;Territórios não urbanizados;Menor

restrição ambiental em terra; Melhor condição de acesso terrestre.

Fica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda

pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às características

técnicas locais descritas. Explicou que o projeto do porto delimitada áreas onde as

atividades previstas no terminal deverão se estabelecer como condôminos, por exemplo, o

estaleiro de reparos navais, o terminal de granéis e o terminal de carga geral (contêineres)

4 Conferir a este respeito: http://www.odiariodecampos.com.br/campos-recebe-50-milhoes-em-royalties-3514.html5 Material de apresentação dos encontros preparatórios para a audiência pública referente ao licenciamento ambiental do TPN (implantação e operação base 2014).

Page 4: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

ocuparão espaços distintos respondendo cada um por suas atividades em separado.A idéia

é de que a área toda seja um condômino que irá abrigar algumas atividades afins.

Esclareceu ainda, que contiguo ao projeto do porto está previsto o traçado para a

construção do gasoduto Rota 3, que vai ligar o porto ao Comperj.Todos esses itens foram

pontos de debates e discordância, haja visto que inicialmente vinha sendo pleiteado a

licença para a área total, mesmo antes de se saber com exatidão as atividades específicas

(em sua totalidade) que passariam a funcionar como “condômino”, sendo que cada uma

deveria solicitar suas licenças para funcionamento específico, posteriormente.

O projeto do Porto foi orçado inicialmente (em 2009) no valor de R$ 4,7 bilhões até

2016, dos quais R$ 1,2 bilhões serão empenhados pelo empreendedor na construção de

toda a infraestrutura, onde R$ 3,5 bilhões serão empenhados por outras empresas (os

condôminos) que aderirem ao empreendimento. O porto vem portanto complementar a

logística para exploração de petróleo baseada no pré-sal em função do Comperj e do campo

de Lula localizado na Bacia de Campos, e contará com o apoio do Arco Metropolitano do

estado do Rio de Janeiro, estruturando a logística em terra para essa demanda. Desse

modo, argumenta-se que se o Porto de Jaconé, uma vez construído, promoverá uma

reconfiguração territorial, não só em Maricá, mas no estado do Rio de Janeiro, que terá a

chance de retomar o vigor econômico de tempos atrás, além de promover grandes

mudanças na cidade de Maricá/RJ. Assim argumenta os defensores do projeto do Porto de

Jaconé entende o prefeito de Maricá, principal entusiasta do porto.

Assim o discurso da prefeitura contempla essa lógica e considera que o projeto da

construção do Porto de Jaconé se insere no contexto nacional de busca energética no

estado do Rio de Janeiro, trazendo para Maricá a possibilidade do progresso e

desenvolvimento econômico por meio da implantação de indústrias, principalmente aquelas

ligadas ao petróleo. Nas palavras do prefeito de Maricá: O porto é um projeto muito

importante e pode mudar o perfil da cidade de Maricá, com potencial de geração de

emprego e atração de uma série de empreendimentos para seu entorno. (Washington

Quaquá, prefeito de Maricá – 10 de fevereiro, de 2014 − Publicado por Rosely Pellegrino

| jornalismo, Maricá). A construção do Arco Metropolitano é relevante para empreendimentos

dentro do Estado do Rio de Janeiro e prevê um caminho da entrada por Maricá, justamente

para atender às demandas do porto de Jaconé. Assim o Arco Metropolitano representa uma

etapa que complementa a logística em terra do empreendimento do porto de Jaconé, pois

viabilizará o transporte por rodovia expressa dos granéis líquidos a serem exportados pelo

Porto. É importante também para o planejamento da estrutura portuária em gestação, pois

irá interligar pontos estratégicos no estado do Rio de Janeiro com um todo.

A exposição do projeto do porto feita para a comunidade apresentou o projeto do

Porto a partir da alta tecnologia empregada, inclusive para receber os super navios

Page 5: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

conhecidos como VLCC (very large crude carrier), que são mais econômicos

comercialmente pois transportam uma carga maior por viagem. Estas embarcações, no

entanto, necessitam para sua ancoragem que o porto tenha uma profundidade maior, por

essa razão as pesquisas para a escolha do local onde o porto poderá ser construído

considerou fatores como a profundidade natural necessária, o que foi encontrado na praia

de Jaconé, nas palavras dos representantes da DTA engenharia, o sr. João Acácio diretor

da DTA engenharia e do Mauro Scafuzca, e o arquiteto responsável pelo projeto, “porta

voz” da empresa.

Esclareceu que projeto engloba preocupações com possíveis danos ambientais e

que no caso por exemplo de vazamento de óleo, está previsto o sistema de interrupção de

vazamento, o “stop oil”6 que, segundo o empreendedor, evitará danos à vida marinha de

forma eficaz. Outro fator principal na apresentação do projeto do porto foi da geração de

empregos e possibilidades de realização de novos negócios para os comerciantes locais. A

degradação socioambiental devido aos danos ao meio ambiente associados à atividade

portuária foi redimensionada tendo como base preocupações ambientais contidas no

projeto, sem contudo ameaçar a decisão política voltada para a execução do mesmo,

inclusive supervalorizando a ideia combatida pelo movimento ambiental sobre a criação de

novos empregos, haja visto que pesquisas de experiências em outras cidades mostraram

que esses empregos referem-se à construção civil e deve trazer inúmeros novos moradores

para a região, que também no caso de Maricá não apresenta condições de absorção,

sobretudo após o término das obras.

Após a aceitação pelo Inea do projeto do porto, as audiências públicas começam a

ser convocadas dando prosseguimento às determinações da legislação ambiental em vigor.

Os debates do movimento ambiental inicialmente reúnem diversos argumentos e

justificativas em observância à estrutura legal das audiências e consultas públicas

realizadas em Maricá relacionadas ao porto de Jaconé, fundamentando e encaminhando as

queixas ao Ministério Público. Esses passos estão registrados no processo formado pelo

SOS Jaconé Porto Não (MP /Niterói – Meio Ambiente: Inquérito Civil Público nº

201201339146). O presente processo registra o que Bronz (BRONZ, 2011) e Carvalho

( CARVALHO,2011) apontam espécie de “acordo de cavalheiro”, onde o órgão que deveria

zelar pela legislação acaba auxiliando e por vezes favorecendo o empreendedor.

Após nos apresentarmos primeiro para a Ana Paula Carvalho via email, em seguida

a integrante do SOS Jaconé Porto Não nos incluiu na lista de emails do grupo. Assim

iniciamos o processo de inclusão no grupo SOS Jaconé Porto Não e na sua dinâmica,

sendo essa nossa porta de entrada para conhecer esse conflito sobre a construção do

6 “A condição de porto onshore do TPN (Porto de Jaconé) permite a implementação de uma solução inovadora e peculiar, a cortina “stop oil”. Isto significa que, na hipótese de vazamento de óleo que será interrompido.

Page 6: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

porto de jaconé. Durante o processo de aproximação com os atores sociais do movimento

ambiental, fomos questionados à respeito das nossas intenções. Na ocasião, apresentamos

o pré-projeto de qualificação e esclarecemos a intenção da aproximação com o objetivo de

realizarmos nossa pesquisa. Após os primeiro contato e assim fomos recebidos no grupo

ambiental. Concluído o processo de “inclusão”, tivemos nosso endereço de e-mail inserido

na lista do SOS Jaconé Porto Não. A partir daí, pudemos estabelecer um diálogo,

primeiramente via internet e posteriormente presencial com os integrantes do grupo e

passar a observar os debates também pelo lado de dentro do movimento ambiental

mencionado. Tal abordagem também selou nossa inserção no grupo do movimento SOS

Jaconé Porto Não criado em 2009.

As entrevistas utilizadas foram do tipo semiestruturada, sendo gravada apenas

quando houve a permissão do entrevistado. Nos casos em que não foi permitida, a

entrevista transcorreu sendo feitas anotações em caderno de campo. As entrevistas

focalizaram o perfil do entrevistado e sua inserção na questão ambiental. A ferramenta

entrevista serviu portanto como fonte de informação para nosso estudo de caso, como

sugere Marconi e Lakatos (LAKATOS, MARCONI, 1991).

Nosso enfoque se desenvolveu a partir do movimento ambiental SOS Jaconé Porto

Não e privilegiou através da observação participante as arenas públicas de

debates,formadas oficialmente através das convocações para reuniões, consultas e

audiências públicas. Assim passamos a acompanhar no decorrer dos anos de 2013 e 2014

alguns desses cenários, além das instâncias nem sempre públicas como as listas de emails

do movimento ambiental e recentemente os whatsApp, grupos onde organizam encontros

e manifestações via smart fones. Outras arenas, essas públicas, se formaram a partir das

reuniões convocadas Mário Scafuzca, onde a abordagem foi focalizada e dirigida a cada

grupo de atores sociais envolvidos com o debate, reconhecidos pela DTA Engenharia ou

seja, os empresários, o movimento ambiental, a comunidade pessoal envolvido em

possíveis desapropriações e a associação de moradores local, mas longe do enfoque dada

a partir da descrição dos riscos apontados em Hannigan. O movimento ambiental SOS

Jaconé Porto Não como objetivo de estimular a reflexão entre os participantes do

movimento, organizou alguns encontros e eventos que também acompanhamos. Foram

realizados encontros científicos e um piquenique além de dois “abraços à Jacone”. Em

2014 o sr. Mário Scafuzca retomou uma série de encontros para a apresentação do projeto

do Porto de Jaconé (encontros anteriores foram em 2013). Todos esses eventos

constituíram-se em campo de debate e escuta para nossa pesquisa.

Buscamos em Hannigan (1995) a abordagem sobre o que define problemas

ambientais em sua perspectiva construtivista. Buscamos compreender através do olhar

dos movimentos ambientais local, a construção do problema ambiental a partir da

Page 7: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

possibilidade de construção porto de Jaconé ( TPN). Entendendo que para Hannigan, o

problema ambiental é o resultado de um processo no qual inúmeras categorizações sociais

podem tornar-se moralmente questionáveis e onde o uso da retórica e a construção dos

argumentos justificam as exigências construídas. Os problemas ambientais devem ainda

ser legitimados em mais de uma arena, atingindo vários públicos. Começamos então a

relacionar os debates sobre o porto à construção do problema ambiental segundo

Hannigan (HANNIGAN,1995). Utilizamos ainda a perspectiva de Mário Fuks (FUKS,2001)

sobre as arenas de debates na mediação de conflitos.

Sobre a construção do risco de um problema ambiental, onde os grupos sociais se

definem a partir dos papéis que cada um desempenha socialmente, a representação da

construção do risco descrito em Hannigan pode apontar para o caso de Jaconé por exemplo

ao considerarmos:

1.Os portadores dos riscos, ou seja, aqueles que convivem em situações de potencial

perigo, como é o caso em Jaconé dos moradores da área onde o porto deve ser construído.

O risco é de desapropriação e a imposição de mudar-se para outro lugar. Isso pode ser ruim

para aqueles que não desejam sair de suas casas. Outro aspecto refere-se à degradação

ambiental que tal projeto empreenderá à toda região considerando ainda que para alguns

trará vantagens para seus negócios. 2. Os defensores dos portadores de riscos, que são as

organizações que surgem em defesa das possíveis “vítimas” nesse processo. O movimento

ambiental SOS Jaconé Porto Não assume esse papel 3. geradores de riscos, aqui

representada pela DTA engenharia logística e

empreendedor do projeto e Terminais Ponta Negra (TPN) – empresa criada para ser

responsável pela da construção do Porto de Jaconé. 4. Os investigadores dos riscos, que

são os cientistas e suas pesquisas científicas; surgem como colaboradores reunindo provas

para contestar as exigências apresentadas nos projetos do empreendedor e seus

associados (DTA e TPN). Aqui aparecem representados pelos professores doutores da UFF

e da UFRJ, professor Victor Nascimento e Kátia Mansur. 5. Os árbitros do risco, que são as

instâncias do Estado como o Ministério Público, que procura regulamentar até que ponto o

risco pode ser aceito atuando de maneira neutra com base na lei. Contudo, alerta o autor,

na prática isto não acontece, pois os árbitros do risco podem colocar-se do lado dos

geradores de riscos, no caso, a prefeitura de Maricá, que apóia a realização do

empreendimento. Contudo surge ainda a presença do Ministério Público, arbitro que surge

na luta em prol da participação social de forma igualitária em todo processo. 6. Os

informadores dos riscos surgem a partir da mídia, que coloca o assunto na agenda pública e

procede a uma análise minuciosa do tema. É o caso da jornalista norueguesa Runa,

radicada no Brasil há 6 anos e que, como correspondente de revista Aftenposten Innsikt,

escreveu matérias sobre o porto para enviar ao seu país. Outros informadores são o jornal

Page 8: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

local A Voz das Águas (impresso), o Itaipuaçusite (virtual), o Lei Seca Maricá, o Valor

Econômico, e o site Território Livre. Este último funcionou durante 13 anos abraçando a

causa da proteção aos direitos humanos, ao ambiente e aos animais. A Jornalista Roselly

Pelegrino em seu site Noticiário RJ on line7 realiza a cobertura oficial do município de

Maricá.

É relevante ressaltar que fazem parte dessa relação os financiadores, haja visto

que sem o aval financeiro não há empreendimento. Em especial estes relacionados ao

projeto do porto de Jaconé tem seus recursos gerenciados por empresa especializada em

negócios valor elevado a gestora de recursos Vinci Partners, que está fazendo o private

placement, com os vários interessados no projeto.

Observamos as categorias apontadas por Hannigan para compreender parte da dinâmica

empreendida pela luta ambiental e ainda a perspectiva apresentada por Mário Fuks, sobre

as arenas de debates, onde o enfoque está no gerenciamento de conflitos nesses espaços é

fundamental, onde cada grupo defende seus interesses e constrói seus “pacotes

argumentativos”, que são as versões a respeito de um determinado assunto público

elaboradas no contexto de disputas localizadas e alimentadas por "pacotes interpretativos",

os quais fornecem amplos repertórios de recursos para a elaboração de relatos de eventos

significativos, evitando o risco do reducionismo dos problemas ambientais a meras

interpretações (FUKS, 2001).

A abordagem adotada nas entrevistas realizadas foi qualitativa por fornecer a

descrição e a análise dos dados coletados em campo, onde a maior ênfase está nos

processos e na percepção dessas informações que transparecem na hora da entrevista

além dos resultados. Por essa razão, o foco de interesse permeia os significados no

contexto social e cultural detectados na construção das teses argumentativas.

Ainda como parte de nossa opção metodológica, consideramos os grupos analisados a

partir do seguinte critério, conforme apontado em Hannigan (HANNIGAN,1995) procurando

contribuir com algumas reflexões. A – Sociedade civil: O movimento ambiental SOS

Jaconé Porto Não, moradores locais ligados ou não ao movimento ambiental; B – Estado: O

poder público (municipal, estadual e federal) o Ministério Público (MP); C – Setor privado envolvido: DTA engenharia, Terminal Porto Naval (TPN), Demais empresários locais

interessados. Importante ressaltar a possível proximidade entre esferas do Estado e setor

privado. Assim realizamos uma abordagem considerando o papel genérico que

desempenham socialmente.

Utilizamos como fontes de pesquisa documentos virtuais e originais, como mapas da

Biblioteca Nacional, o EIA-Rima, atas das audiências e das consultas públicas, e os

processos do inquérito civil público no Ministério Público de Niterói. Da mesma forma

7 https://roselypellegrino.wordpress.com/

Page 9: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

tornaram-se fontes para nossa pesquisa os registros dos encontros e reuniões das quais

participei. É importante registrar que o movimento ambiental que acompanhamos organizou

seus compromissos pela internet, o que tornou o meio virtual e as redes sociais de

fundamental importância para nossa investigação e contato com o objeto de estudo.

A abordagem de Hannigan concentra-se nos processos sociais, políticos e culturais onde

os riscos e os problemas ambientais surgem como entidades socialmente construídas.

Assim sendo, defende que nem sempre os atores sociais estabelecem um ordenamento

destes problemas de acordo com suas necessidades reais. Considera que os problemas

ambientais são parte de um processo dinâmico que tem lugar nas arenas de debates

públicos, onde os atores interagem nas esferas públicas e privadas negociando seus

interesses. Nesse caso, torna-se indispensável a habilidade para controlar e tornar-se

relevante nos debates. Herculano (HERCULANO,2000) alerta que o debate em torno do

construcionismo pode gerar uma análise que se traduza por uma mera construção e

interpretação dos dados, esvaziando a veracidade de fatos comprovadamente verídicos

como acontece na análise de alguns autores como Fuks (FUKS,2001).Uma das principais

críticas ao construcionismo se dá na corrente realista que reconhece o construcionismo

social como passivo politicamente, criticando a participação do cidadão nas formulações do

problema ambiental conforme afirma (Guivantt, apud Wynne, 2002). Os realistas rompem

com o senso comum, havendo uma prioridade da totalidade social sobre os indivíduos. Já

os construcionistas se defendem ao afirmar que não pretendem negar a realidade objetiva

dos problemas ambientais mas em contraposição, afirmam que o construcionismo social

prioriza a autonomia dos indivíduos frente à sociedade, considerando relevante que

problematizem suas questões nas arenas públicas a diversidade das interações reunindo

vários atores políticos pode gerar um ambiente politizado e debates instigantes.

O movimento ambiental SOS Jaconé Porto Não, organiza a resistência à construção do

Porto de Jaconé , de acordo com Maria da Glória Gohn:

Movimentos sociais são ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos

pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certos cenários da

conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social

na sociedade civil (GOHN, 1997, p. 251).

Assim como na definição de Gohn, o SOS Jaconé Porto Não realiza um diagnóstico

sobre a realidade que os cerca, atua em redes organizando ações coletivas de resistência a

uma causa, contra a construção do Porto de Jaconé. Nesse mesmo contexto, o SOS Jaconé

Porto Não atua à favor da implantação do projeto do GEOPARQUE costões e lagunas na

região costeira do município de Maricá. Desenvolvem uma luta pela inclusão social por

meio do empoderamento dos atores da sociedade civil, “criando” sujeitos sociais que atuam

Page 10: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

construindo representações simbólicas percebidas em seus discursos e oferecendo uma

organização para grupos antes dispersos e lhes conferindo um sentimento de pertencimento

social e de inclusão (GOHN, 2010, 2011). O movimento SOS Jaconé Porto Não reúne, os

interesses de grupos ambientalistas e moradores que se percebem enquanto grupo

contrário à construção do Porto de Jaconé.

A institucionalização da questão ambiental8 levou o tema do meio ambiente para

dentro do Estado (conforme afirmam alguns, entre os quais Maria da Glória Gohn (GOHN,

2011, p. 243), fazendo com que demandas fossem reconhecidas por meio da

institucionalização de canais de mediação e da criação de formas de atendimento ao

público, além da implementação de uma legislação ambiental conforme aconteceu no caso

brasileiro. Alonso (ALONSO,2002), de forma semelhante a Jacobi (JACOBI,2003), entende

que a institucionalização das demandas pelo Estado cooptou queixas e reivindicações

ambientais com o receio de desmobilizar algumas ações, o que passou a exigir maior

articulação dos movimentos ambientais nesse embate. Pode estar relacionada a essa

questão a flexibilização observada entre órgão ambiental e empreendedor em alguns casos

observados, como na pesquisa de Débora Bronz. Os movimentos ambientalistas e as ONGs

eventualmente participam do staff de governos, seja municipal , estadual ou federal. Em

Maricá vemos exemplo disso, através do secretário de Meio Ambiente em 2014, Sr. Thiago

de Paula com uma trajetória de militante ambiental, assumiu em fevereiro de 2014 a

secretaria municipal de meio ambiente de Maricá e passou a atuar de dentro do governo

municipal. Essa participação não deve ser compreendida como uma forma de representação

da sociedade civil e das organizações populares nos gabinetes e nas secretarias do poder

municipal ou estatal. Contudo, tal situação apresenta um risco que é a perda da dimensão

política, que pode ser capturada por estruturas de ordem política, configurando uma coesão

e um controle social então estabelecidos de cima para baixo. As “parcerias” são apontadas

por Bronz (2011) quando aqueles que deveriam proteger e dar garantias para que a

legislação ambiental seja cumprida acabam se aliando a uma das partes dos embates.

Os canais de participação em instâncias deliberativas, criados com a legislação ambiental

como os conselhos consultivos, como as audiências públicas, acabam na prática

funcionando mais à favor das prefeituras do que privilegiando a participação efetiva da

população no processo, haja visto a imposição da presença dos comissionados à tais

encontros, fazendo pressão e garantido votos.

O SOS Jaconé Porto Não implementa ações coletivas na luta pela construção de

políticas sociais institucionalizadas que sejam capazes de salvaguardar o território de

8 A institucionalização no Brasil do meio ambiente inicia-se com o Código Florestal em 1934. Mais tarde, em 1965, novo código é lançado e, em 1967, foi criada a lei de proteção à fauna e à flora. Não havia, no entanto, uma ação coordenada de governo ou uma entidade gestora da questão.

Page 11: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

Jaconé de grandes empreendimentos e é nesse sentido que pauta sua participação nas

consultas e audiências públicas. O SOS Jaconé Porto Não apresenta-se no bojo dos novos

sujeitos sociopolíticos demarcados por laços de pertencimento territorial. Assim

compartilham o desejo de que Maricá permaneça como um lugar tranquilo para se morar,

resguardando a qualidade de vida que os fizeram mudar-se para lá. Para aqueles que já lá

residem, como é o caso de alguns moradores da Rua B em Jaconé, próximo ao Roberto

Marinho, o ponto de união é a luta não ser obrigado a mudar-se o que só será possível se o

porto não for construído.

Articulam-se construindo pautas coletivas e buscando visibilidade social; Não visam à

tomada do poder do Estado, mas objetivam preencher espaços políticos não institucionais,

interferindo nas políticas estatais; Contrapõem-se não mais exclusivamente ao Estado, mas

também aos demais agentes econômicos presentes na disputa, no caso a iniciativa privada

empreendedora do projeto do porto; Lutam pelo “direito a ter direitos” (GOHN, 2010, p. 17);

Buscam o reconhecimento e o respeito às diferenças e às demandas sociais, e trazem à

tona questões como a necessidade de qualificação do tipo de ação coletiva. O movimento

ambiental de Maricá Luta segundo as palavras de Hannigan, problematizam dada questão

ambiental e tornando-a pública. Hannigan chama a atenção o que se apresenta um

problema para uns pode não ser para outros grupos sociais. Assim, é importante a

atuação do movimento ambiental SOS Jaconé Porto Não, levando à público os problemas e

encaminhando as reclamações à instituições públicas que atuam como mediadoras no

conflito, como o Ministério Público. É importante identificar “(...) a forma como o problema é

gerado e sustentado pelos grupos de reclamação e as respostas institucionais a essas

queixas” (HANNIGAN, 1995, p. 47). Desse modo, os movimentos organizados ganham

visibilidade a partir das lutas e do enfrentamento de suas demandas diante do poder público;

nesse sentido, constroem seus argumentos. O problema ambiental é construído a partir do

seu reconhecimento público e do encaminhamento das queixas aos órgãos competentes

pelos grupos sociais, pelas ONGs ou pelo cidadão. O Ministério Público (MP) vem

acolhendo as queixas sobre questões ambientais em Maricá sobretudo com relação ao

Porto de Jaconé, haja vista o inquérito civil público9 aberto sobre a questão da construção do

Porto de Jaconé. Após a defesa da dissertação, o movimento ambiental foi informado que o

governador do Estado

Aqui observamos o exemplo das pesquisas de Lygia Sigaud, quando analisa o papel

político que as Comissões Regionais de Atingidos por Barragens (CRAB) que abordou os

casos como os das barragens de Ita e Machadinho, no rio Uruguai (SIGAUD,1986, pp. 163-

178), a partir da relevância da presença dessas comissões com relação a informação e

9 MP /Niterói – Meio Ambiente: Inquérito Civil Público nº 201201339146

Page 12: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

esclarecimentos da população leiga. Dessa forma as CRABs apontam para a construção de

uma resistência marcada pela exigência do diálogo modificando essa noção de progresso e

desenvolvimento dados como certos pelo caminho da construção das barragens. A ação

das CRAB promoveu uma mudança na forma de dominação exercida, onde limites

passaram a ser impostos às formas tradicionais de intervenção do Estado sobre o espaço

físico. As mudanças que ocorreram ao se combater o discurso do progresso, que no início

surgiu unânime, se deram a partir do trabalho dessas comissões (das CRAB), no sentido de

mostrar as conseqüências negativas provocadas pelo processo de construção da barragem

sobretudo para os moradores locais, que se viam obrigados a se deslocar para outra área e

a negociar, sob bases desiguais, o valor a ser pago pela indenização proposta. Esse é um

exemplo de luta que se aproxima da luta do SOS Jaconé Porto, através de eventos onde

ocorre a explicação por especialistas das questões e os caminhos da participação e

resistência diante das possíveis imposições por parte do poder público e privado.

Trata-se de um exemplo que mostra a importância da ação dos movimentos

populares onde, em cada situação, o resultado pode ser diferente também em função das

formas de lutas empreendidas e dos interesses a serem perseguidos. Assim no caso do

projeto do Porto o que está em jogo é a garantia da participação efetiva dos envolvidos

assegurando seus direitos em todas as instâncias conforme aponta (SIGAUD,1986). É

importante mencionar que a CRAB e organizações como a Oie Watch10 vem oferecendo

respaldo nacional e internacional às ações de resistência a grandes empreendimentos

justamente por serem referência nessa luta. A participação nas consultas públicas e nas

audiências públicas. As audiências públicas são convocadas por edital. Há um trâmite legal

que precisa ser seguido na sua convocação e condução; caso não sejam observadas as

regras, a audiência pública pode até ser anulada, através de denuncia encaminhada ao

Ministério Público, se assim decidir o citado órgão..O edital de convocação para uma

audiência pública sobre a construção de um terminal portuário precisa respeitar o prazo de

30 dias de antecedência para que todos tomem ciência. As audiências públicas constituiem

-se em um meio legítimo para levar as demandas da sociedade e implementar as lutas

ambientais sendo ferramenta à favor da participação popular enquanto espaços de lutas e

de enfrentamento representam o momento para levar os questionamentos e tirar dúvidas

sobre o empreendimento, e portanto arenas públicas de debates. È necessário contudo que

a legislação seja respeitada. Em Maricá o movimento ambiental conforme mencionamos,

encaminhou a falta de lisura no processo ao Ministério Público.

10 A OilWatch é uma organização de alerta aos danos causados pelo petróleo no mundo. Disponível em http://www.oilwatch.org/en/oilwatch-in-the-world/america-ow-en-el-mundo/brazil/171-alertas-en-brasil-en-2004-pdf-ingls

Page 13: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

Nossa participação nas consultas e audiências em maricá desde 2013, nos leva a

Identificar aspectos apontados pelos autores (CARVALHO,2011),(SIGAUD,1986),

(HANNIGAN, 1995) e (FUKS,2001), (BRONZ, 2011), um deles por exemplo se refere ao fato

da participação popular em audiências públicas poder acontecer de “cima para baixo” e

também de “baixo para cima”. A participação de “cima para baixo” ocorre quando os grupos

são incluídos, classificados e inventariados nos estudos, ou seja, quando nas audiências

públicas há a participação massiva de funcionários da prefeitura, chamados pelo movimento

ambiental de “comissionados”. Trata-se de funcionários da prefeitura municipal convidados

por ordem do prefeito para estar presente nesses eventos. Já a participação de “baixo pra

cima” ocorre quando os grupos sociais se organizam para participar dos fóruns e audiências

públicas movidos pelo envolvimento com o tema, se preparando para contribuir com o

debate. É posto que ambos os tipos de participação pode acontecer simultaneamente no

processo de licenciamento e fazem parte do chamado “jogo político” (BRONZ, 2011) no qual

o movimento ambiental apresenta-se em minoria invariavelmente. O movimento ambiental

revelou nunca assinar as listas de presença, com receio de fraude com suas assinaturas.

Assim sendo, em geral são os comissionados que assinam presença.

E importante relatar que o poder público desde os primeiros momentos onde aconteceram a

consulta pública para a transferência de parte da área de conservação da vida silvestre

para as ilhas Maricás, as audiência públicas para alteração do uso do solo e plano diretor,

agiram se desvinculando das ações e reais intenções de transformar a área do Roberto

Marinho em área de interesse industrial e viabilizar a construção do Porto de Jaconé. Além

disso, artimanhas corriqueiras aconteceram nesses encontros, do tipo: o microfone falhando

na vez do movimento ambiental falar, deixar o movimento ambiental para o final das falas,

limitação mínima de tempo para exposição e falas do movimento ambiental, surgem como

rotina! Temos ainda as críticas à audiência pública, que apesar de se constituir em canal

legítimo para a participação popular, ainda deixa a desejar enquanto ferramenta que

estimule a participação e às mudanças, pois as audiências são informativas e os

procedimentos de antecedência mínima de publicação dos tópicos a serem tratados possam

ser discutidos com a população.

Assim, segundo a perspectiva de Hannigan, o movimento ambiental junta, identifica,

apresenta , expõe e contesta os argumentos apontando as contradições, do poder público

diante das exposições durante a consulta pública e dentro do processo junto ao Ministério

Público.

A espécie de relação muito próxima entre órgãos responsáveis por zelar pelo cumprimento

da lei ambiental e os empreendedores como a DTA engenharia, aproxima-se da ideia de

Programas de Comunicação Social (PCS) mostrado em Bronz (BRONZ, 2011) que mostra

uma simbiose entre consultores, empreendedores e comunidades na figura de alguns

Page 14: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

líderes. Assim antes mesmo da aprovação do projeto do porto pelo Inea, o empreendedor

DTA , já tinha uma propaganda imensa sobre a construção do Porto, inclusive adiantando

documentos que seriam solicitados posteriormente, sem ser questionada pelos órgãos

competentes.

Entretanto uma nova etapa se inicia a partir do momento em que o processo de

licenciamento ambiental do projeto do Porto de Jaconé teve seu Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)/Relatório do Estudo de Impacto Ambiental (Rima) aceito pelo Instituto

Estadual do Ambiente (Inea) em 15 de abril de 2014. A audiência pública do projeto do

projeto do porto aconteceu em 24 de fevereiro de 2015, seguindo os moldes aqui descritos.

Ouve contudo a participação decisiva do Ministério Público com a presença do promotor

Leonardo, que re equacionou o que chamou de uso pelo poder público municipal do

empreendimento porto de jaconéem favorecimento político. Ele criticou a fala do prefeito de

Maricá, Sr.Wellington (Quaquá), além de criticar duramente a ausência do diretor da DTA

engenharia João Acácio que enviou um vídeo através do s. Mauro Scafuzca, porta voz da

DTA engenharia durante todo o processo. Finalizou mostrando a inaquação das diretrizes

apontadas pela DTA engenharia com justificativa para a construção do projeto do porto. Em

24 de maio de 2015, o jornal O Globo publicou que o governador Pezão tombou a praia de

Jaconé, local onde o projeto do porto foi projetado.

Bibliografia

ACSELRAD, Henri, MELLO, Cecília C do A, Conflito social e risco ambiental: o caso de um vazamento de óleo na Baía de Guanabara, In: EcologíaPolítica:Naturaleza, sociedad y utopia, 2002.

ALONSO, Angela e COSTA, Valeriano. Por uma Sociologia dos conflitos ambientais no Brasil. Paper preparado especialmente para o Encontro do Grupo Meio Ambiente e Desenvolvimento da Clacso – Rio de Janeiro, 22 e 23 de novembro de 2000.

BRONZ, Déborah. Empreendimentos e empreendedores, formas de gestão, classificações e conflitos a partir do licenciamento ambiental – Brasil século XXI. Tese de Doutorado defendida na UFRJ/Museu Nacional/PPGAS, 2011.

CARVALHO, Ana Paula. Gestão de Políticas Públicas Diante Leis e Demais Instrumentos Reguladores: Conflitos da Legislação Ambiental Perante Grandes Empreendimentos. Estudos de casos de Maricá/RJ. Dissertação de mestrado Universidade de Léon Fundação Universitária Iberoamericana – FUNIBER, 2011.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução n. 001 de 23 de janeiro de 1986-regulamenta os EIA /RIMA.

Page 15: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

FUKS, Mario, Arenas de Ação e Debate Públicos: Conflitos Ambientais e a Emergência do Meio Ambiente enquanto Problema Social no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: IUPERJ, 1997.

_____________, Conflitos Ambientais no Rio de Janeiro ação e debate nas arenas públicas UFRJ, RJ, 2001.

GUIVAN, Julia S.. Contribuições da Sociologia Ambiental para os debates sobre desenvolvimento rural sustentável e participativo. Estudos Sociedade e Agricultura, 19, outubro, 2002: 72-88.

GHON, Maria da Glória. O Protagonismo da Sociedade Civil movimentos sociais , ONGS e redes solidárias, São Paulo: Editora Cortez, 2005.

HERCULANO, Selene Carvalho. Sociologia Ambiental: origens, enfoques metodológicos e objetos. Revista Mundo e Vida: Alternativas e m estudos ambientais, ano I, n.01, UFF/ PGCA-Riocor, 2000, PP 45-55.

HERCULANO, Selene Carvalho (org.). Desenvolvimento local, responsabilidade socioeconomicoa e royalites: A petrobrás Eletrobrás em macaé (RJ), in: HERCULANO, Selene Carvalho. Oficina sobre Impactos Sociais, ambientais e urbanos das atividades petrolíferas: O caso de Macaé/RJ 2010, PPGSD UFF, LACTA UFF.

HANNIGAN, John. A Sociologia Ambiental: a formação de uma perspectiva social . Lisboa, instituto Piaget, 1997.

JACOBI, Pedro. Movimento ambientalista no Brasil. Representação social e complexidade da articulação de práticas coletivas. In: RIBEIRO, W. (org.). Publicado em Patrimônio Ambiental EDUSP, 2003.

MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do Trabalho Científico. Editora Atlas, SP, 2009.

MANSUR, Kátia Leite, et al. Geoparque, Costões e Lagunas do Estado do Rio de Janeiro proposta. RJ, 2010

MANSUR, K.L.; RAMOS, R.R.C.; FURUKAWA, G.G. Beachrock de Jaconé, RJ - Uma pedra no caminho de Darwin. In: Winge, M. et al. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. 2012

ORNELAS, Ronaldo dos Santos. Relação Porto/ cidade o caso de Santos. Dissertação de mestrado em Geografia pela USP, 2008.

PESSANHA, Margarida M. M.. A percepção da população de Itaipuaçu perante a degradação ambiental e poluição das águas subterrâneas. Monografia apresentada no curso de especialista em Planejamento e Educação Ambiental pela Universidade Cândido Mendes, 2007.

Page 16: €¦  · Web viewFica tácito em sua exposição, que estimulou para a escolha do local se deu inda pela possibilidade de uma baixa resistência social ao projeto aliado às

PIQUET, Rosélia. Impactos da Indústria do Petróleo no Norte Fluminense. in: Oficina sobre Impactos Sociais, ambientais e urbanos das atividades petrolíferas: O caso de Macaé/RJ 2010, PPGSD UFF, LACTA UFF. Cap. 1-6I 2010, PPGSD UFF, LACTA UFF. Cap. 1-1, Pag 11.

Revista norueguesa Aftenposten Innsikt. Sor Amerika Brasil. Juli – August de 2014. páginas 32-34. Disponível em: www.aftenposteninnsikt.no

RIMA – Relatório de Impacto Ambiental, Disponível em: <pt.scribd.com/doc/52935988/RIMA-EMISSARIO-COMPERJ>, 2010.

SIGAUD, Lygia. Efeitos sociais de grandes projetos hidrelétricos: as barragens de Sobradinho e Machadinho. Rio de Janeiro: UFRJ, 1986