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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA MÁRCIA SOLANYA DA SILVA FREIRE DE SOUSA UM ESTUDO SOBRE AS FIGURAS SILOGISTICAS DE ARISTÓTELES E OS DIAGRAMAS DE VENN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

MÁRCIA SOLANYA DA SILVA FREIRE DE SOUSA

UM ESTUDO SOBRE AS FIGURAS SILOGISTICAS DE ARISTÓTELES E OS DIAGRAMAS DE VENN

Natal/RN

2016

MÁRCIA SOLANYA DA SILVA FREIRE DE SOUSA

UM ESTUDO SOBRE AS FIGURAS SILOGISTICAS DE ARISTÓTELES E OS DIAGRAMAS DE VENN

Trabalho de conclusão de curso

de graduação apresentado ao

Departamento de Filosofia da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em

Filosofia

Orientador: Bruno Rafaelo Lopes Vaz

Natal/RN

2016

MÁRCIA SOLANYA DA SILVA FREIRE DE SOUSA

UM ESTUDO SOBRE AS FIGURAS SILOGISTICAS DE ARISTÓTELES E OS DIAGRAMAS DE VENN

Trabalho de conclusão de curso de

graduação apresentado ao Departamento

de Filosofia da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito parcial

para obtenção do grau de Bacharel em

Filosofia

Aprovado em _____ de ___________________ de ________.

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________

Bruno Rafaelo Lopes Vaz - Orientador

________________________________

Sérgio Eduardo Lima da Silva – Membro Titular

___________________________________

Samir Bezerra Gorsky – Membro Titular

A O MEU AMADO FILHO GUI.

AGRADECIMENTOS

A Deus.

Ao meu maravilhoso filho Guilherme e a Nicolas, pelo companheirismo de sempre e por me fazerem sentir o real significado da palavra amor.

Ao meu orientador Bruno Vaz , pela ajuda e paciência, as quais me foram extremamente necessárias e que vou ser eternamente grata.

Aos amigos que me ajudaram, em especial Keoma.

Aos verdadeiros professores do Departamento de Filosofia da UFRN.

Vencer a si próprio é a maior das vitórias

Platão

RESUMO

O presente trabalho é uma breve exposição sobre a silogística de Aristóteles e

sua interseção com os diagramas de Venn. Pretende-se mostrar como o

método diagramático pode ser visto como uma ferramenta para que o assunto

se torne mais facilmente compreendido. Esse trabalho pretende apresentar as

semelhanças e diferenças entre o modo tradicional de se estudar a silogística,

e o método diagramático, enfatizando este último no que diz respeito à

facilidade para o teste de validade de silogismos, bem como para a

compreensão de alguns dos princípios da teoria silogística.

Palavras-chave: Lógica silogística,figuras silogísticas,Diagramas de Venn.

ABSTRACT

This work is a brief presentation on the syllogistic of Aristotle and its intersection

with Venn diagrams. It is intended to show how the diagrammatic method can

be seen as a tool for a better understanding about that theory. This study aims

to present the similarities and differences between the traditional way of

studying the syllogism, and the diagrammatic method stressing the latter with

regard to the heuristic advantages related to validity tests and to the

understanding of some of the principles of syllogistic theory.

Keywords: syllogistic logic, syllogistic figures, Venn diagrams.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................................10

CAPÍTULO 1: A SILOGÍSTICA..................................................................................................................................12

1.1 - QUADRADO DE OPOSIÇÕES........................................................................................................................14

1.2 - SILOGISMO CATEGÓRICO...........................................................................................................................15

1.3 - FIGURAS SILOGÍSTICAS...............................................................................................................................18

CAPÍTULO 2: DIAGRAMAS PARA A SILOGÍSTICA...............................................................................................22

2.1. O QUADRADO DE OPOSIÇÕES COM DIAGRAMAS......................................................................................22

2.2. DIAGRAMAS PARA OS SILOGISMOS CATEGÓRICOS..................................................................................25

2.3. DIAGRAMAS PARA SILOGISMOS COM COMPROMISSO EXISTENCIAL.....................................................33

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................................................................34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................38

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho é apresentar alguns pontos básicos sobre a

teoria do silogismo, originalmente concebida por Aristóteles, com ênfase em

dois métodos de avaliação possíveis para os silogismos, a saber, o método de

redução à primeira figura, concebido pelo próprio autor, e o método dos

diagramas, concebido no séc. XIX por John Venn e posteriormente

aperfeiçoado. Abordaremos o tema desde uma perspectiva geral, mas com

foco nos princípios ou regras relativas aos termos gerais das proposições que

ocupam o lugar de sujeito e predicado (pois serão eles que serão

representados através dos diagramas), aos quantificadores universais e

particulares e ao modo como as chamadas proposições categóricas se

relacionam através do quadrado de oposições. O objetivo final será comparar o

modo como Aristóteles determinava a validade de um argumento em forma

silogística com o modo simplificado dos diagramas de Venn.

Para alcançar estes objetivos, o trabalho será dividido em três capítulos.

No primeiro será apresentada a teoria de Aristóteles, do modo como ficou

conhecida (o que, de certa forma, já está para além do que o autor escreveu,

pois incorpora contribuições de pensadores medievais e posteriores) com

vistas a permitir o entendimento de como se pode determinar a validade de

argumentos silogísticos. Serão apresentadas ainda as formas válidas de

argumentos silogísticos, tais como catalogadas no medievo, as quais serão

apresentadas na seção seguinte no formato silogístico.

No segundo capítulo, será a vez da abordagem diagramática à teoria do

silogismo. Será mostrado como representar as proposições em seus diferentes

modos; as regras de conversão de proposições; e também a representação

diagramática para o silogismo como um todo, juntamente com a técnica que

permite testar a validade de um silogismo.

No terceiro e último capítulo, o método diagramático será contraposto ao

método de redução à primeira figura, defendido por Aristóteles. Sem diminuir a

importância da metodologia original, relativamente aos propósitos do autor,

pretende-se ressaltar a facilidade de compreensão e de execução da

metodologia diagramática. Espera-se, por fim, poder argumentar em favor do

aspecto heurístico que o sistema diagramático apresenta com relação ao

método de redução à primeira figura.

Ao fim, terá ficado pelo menos sugerido o quanto o teste através de

diagramas representa mais fielmente a noção de dedução apresentada pelo

próprio Aristóteles, de acordo com a qual uma dedução é algo que surge quase

que espontaneamente uma vez que sejam estabelecidos certos dados. Não se

pretende com isso dizer que a noção de redução à primeira figura fosse

primariamente destinada a representar o que Aristóteles chamou de dedução.

De fato, o que parece estar em jogo é uma forma de comprovar que a dedução

de fato é válida, pois a redução só é feita como um método de comprovação.

Um aspecto interessante para os propósitos deste trabalho,é o quanto os

diagramas podem ser vistos como desempenhando ambos os papéis. Longe

de desafiar a teoria tradicional do silogismo, pretende-se aqui apresentá-la

desde uma perspectiva diferente.

CAPÍTULO 1: A SILOGÍSTICA

Aristóteles expõe seu pensamento sobre o conhecimento científico,o que

poderia ser de certo modo sinônimo, sobre o conhecimento dedutivo, em suas

obras intituladas Analíticos Anteriores e Analíticos Posteriores, os quais foram

mais tarde reunidos em uma série de livros reunidos sob o título Organon, que

em grego significa “instrumento”, ou “ferramenta”. Neste trabalho vamos nos

basear no tema exposto nos Analíticos Anteriores. Este livro analisa justamente

o que Aristóteles chama de silogismo, nele estão contidos os detalhes daquilo

que se passou a chamar de dedução.

Aristóteles define silogismo como “uma locução em que, uma vez que

certas suposições sejam feitas, alguma coisa distinta delas se segue

necessariamente devido à mera presença das suposições como tais”.1

Também podemos citar a leitura da definição aristotélica que se faz presente

no livro O Desenvolvimento da Lógica, de Willian e Martha Kneale: “uma

inferência na qual, se certas proposições se afirmam, qualquer coisa de

diferente do que é afirmado nelas se segue necessariamente”2. Ou seja, um

silogismo, que em grego significa originalmente “dedução”, é a conexão de

enunciados, sentenças ou proposições, de tal modo que uns surgem como

consequência a partir da mera suposição dos demais.

O silogismo possui três proposições declarativas que se conectam entre

si e de tal modo que das duas primeiras concluímos a terceira. Tais

proposições contém, cada uma, dois conceitos (ou termos), um na posição de

sujeito da proposição e o outro na posição de predicado. Além destes termos,

comparecem nas proposições a cópula (o verbo “ser”), um quantificador

(universal ou particular) e eventualmente uma partícula negadora, caso a

proposição seja negativa.

O termo sujeito é como se chama o primeiro termo que é justamente de

que se fala e o termo predicado é como se chama o segundo nas proposições

silogísticas, ou seja, o que é dito a respeito do sujeito. Podem ocupar a posição

de sujeito e predicado das proposições categóricas apenas termos gerais

(conceitos). Na lógica silogística representam-se os termos gerais por letras

1 Cf. Aristóteles, 2010, p. 112. (24b10)2 Cf. Kneale & Kneale, 1962, p. 69.

maiúsculas, permanecendo os quantificadores, a cópula e a partícula de

negação em linguagem natural. No lugar das letras, tem-se originalmente, em

um argumento em linguagem natural, conceitos como “homem”, “mortal”,

“filósofo”, etc.

As proposições consideradas por Aristóteles são aquelas classificadas

como categóricas. Segundo o livro O Desenvolvimento da Lógica, as

proposições foram chamadas assim porque categorizam objetos ou seres. Elas

são divididas em proposições universais e proposições particulares, afirmativas

e negativas. As proposições universais descrevem o todo de uma determinada

categoria, enquanto que as particulares de apenas alguns elementos dela.

Existem quatro tipos de proposições categóricas:

Universal Afirmativa (A): Todo A é B

Universal Negativa (E): Nenhum A é B

Particular Afirmativa (I): Algum A é B

Particular Negativa (O): Algum A não é B

A forma universal afirmativa é definida como todo o conjunto possui uma

determinada característica, o formato lógico será: “Todo A é B”. Quando

dizemos “Toda borboleta é bonita”, dizemos que a classe das borboletas está

incluída na classe das coisas bonitas. A proposição universal afirmativa possui

outras expressões em linguagem natural, tais como: “Quem é borboleta é

bonita”, “Qualquer borboleta é bonita”, “Só existe borboleta bonita”, “As

borboletas são bonitas”, etc.

Sobre as universais negativas, a ideia é que nenhum elemento de um

determinado conjunto é pertencente a outro determinado conjunto. Ela tem

como formato: “Nenhum A é B”. Em linguagem natural se pode exemplificar a

proposição universal negativa em declarações como: “Nenhum ser humano é

verde”, “O ser humano não é verde”, “Só existe ser humano que não é verde”,

“Quem é ser humano não é verde”, etc.

Nas proposições particulares algum elemento pode se encontrar ou não

numa referida categoria, como por exemplo: “Algum número é primo entre o

intervalo de 1 a 10”. “Alguma pessoa é cega”, etc. Na lógica, os quantificadores

existenciais, que aparecem através da partícula “Algum” na linguagem natural,

devem ter interpretação sobre algum elemento do grupo.

A particular afirmativa terá o formato “Algum A é B” e significa que algum

elemento se encontra, ao mesmo tempo, em duas categorias (a saber, as que

formam o sujeito e o predicado da proposição em questão). As formas de

interpretação destas proposições na linguagem natural são: “Há seres

humanos loiros”, “Existem seres humanos loiros”, “Pelo menos um ser humano

é loiro”, dentre outras formas.

Por último, as proposições particulares negativas afirmam que um

determinado elemento de uma classe não é elemento de outra. A forma da

proposição particular negativa é “Algum A não é B”, por exemplo, “Algum ser

humano não é loiro”

1.1 - QUADRADO DE OPOSIÇÕES

O quadrado de oposições tem sua origem de forma obscura mas é aceito que

Boécio lhe deu a forma final. As proposições categóricas podem ser

organizadas de acordo com as relações que possuem com as demais. Tais

relações podem ser mostradas no esquema a seguir:

AUniversal Afirmativa

EUniversal Negativa

IParticular Afirmativa

OParticular Negativa

Ele relaciona as formas lógicas entre si. As sentenças declarativas

categóricas: A (Universal Afirmativa), I (Particular Afirmativa), E (Universal

Negativa) e O (Particular Negativa). Elas possuem as seguintes relações

lógicas entre si:

a) A e E são contrárias, ou seja, não podem ser ambas verdadeiras,

mas podem ser ambas falsas. I e O são sub-contrárias, no sentido de

que podem ser ambas verdadeiras, mas não podem ser ambas falsas;

b) Os pares A e O, e E e I são compostos de proposições

contraditórias, ou seja, em cada par, se uma é verdadeira a outra é

falsa, e vice-versa;

c) I e O são subcontrárias, ou seja, podem ser as duas verdadeiras,

porém, não podem ser em conjunto falsas.

d) A para I e de E para O são subcontrárias (se a primeira for

verdadeira a segunda também será, se a segunda for falsa a primeira

também será).

Uma proposição particular afirmativa, ou uma universal negativa, pode

ter seus termos sujeito e predicado invertidos, sem perder o valor de verdade:

“Nenhum S é P” se converte em “Nenhum P é S”; do mesmo modo, “Algum S é

P” se converte em “Algum P é S”. Isso é chamado conversão simples. Uma

proposição universal afirmativa pode ser transformada em uma particular

afirmativa, invertendo os termos sujeito e predicado (“Todo S é P”, se converte

em “Algum P é S”). Esse tipo de procedimento é chamado por conversão por

acidente.

1.2 - SILOGISMO CATEGÓRICO

Como já foi dito anteriormente o silogismo é formado através de duas

premissas e após elas uma conclusão (todas as três sendo proposições

categóricas). Elas devem envolver três termos, ou conceitos: um deles será o

sujeito da conclusão (e será chamado termo menor); o outro será o predicado

da conclusão (e será chamado termo maior); e o terceiro aparecerá como

sujeito ou predicado nas duas premissas, mas não aparecerá na conclusão

(este será o termo médio, que ligará os outros dois termos). Um silogismo em

formato padrão, e formalizado, terá a seguinte estrutura:

Todo M é P

Todo S é M

Todo S é P

As duas proposições acima do traço representam as premissas, e a

proposição abaixo do traço representa a conclusão. De acordo com o que foi

visto, pode-se notar que a premissa maior aparece em primeiro lugar, e a

menor em segundo. A ordem das premissas é irrelevante.

Anteriormente, as definições de Aristóteles sobre silogismo, a cerca das

formas de argumentos válidos ou não, existiam apenas como forma intuitiva de

resolver problemas relacionados às ciências de forma geral e na filosofia. Antes

de ele criar o argumento lógico não se dava tanta importância para a análise de

fatos e versões de serem verdadeiros ou não. Aristóteles por sua vez viu o

potencial que o argumento lógico poderia ter em sua totalidade, pois poderia

contribuir com a filosofia sobre as formas de argumentação válida ou não, para

ele, poderia, de certa forma, ser um meio de contribuição para o conhecimento

cientifico. Aristóteles, se baseou na geometria, e observou que a ciência

necessitava de provas para existir, nesse caso teríamos o silogismo de provas.

Para Aristóteles era necessário a sequência de verdades lógicas para

daí sim, haver algum tipo de contribuição à ciência. Porém, isso só seria

possível se houvessem premissas verdadeiras e que não pudessem ser

demonstradas e que, a partir delas, teríamos demonstrações eficazes. Para

Aristóteles o silogismo tem várias divisões mas a que é mais fundamental é o

silogismo categórico, que também é chamado :demonstrativo, cientifico ou

universal o qual possui apenas premissas prováveis. A teoria mais antiga

referente ao silogismo é o chamado silogismo dedutivo categórico sendo

demonstrado pelo próprio Aristóteles, ele é composto em seu principio, como

foi supracitado, por proposições sendo elas compostas por termos.

O silogismo propriamente dito é uma espécie de argumento de dedução,

que está subdividido em proposições do tipo: A, E, I e O. Entretanto, a teoria de

Aristóteles também fala sobre a teoria de conversão que define-se por: o

predicado pode ser sujeito na conclusão. O silogismo categórico tem como

definição que o todo argumento precisa se encaixar nos seguintes pré-

requisitos:

Premissa maior: onde aparece o termo maior e o termo médio;

Premissa menor: termo menor e o termo médio;

Termo maior: predicado da conclusão;

Termo menor: sujeito da conclusão;

Termo médio: devemos o encontrar em todas as premissas, exceto, na

conclusão.

A distribuição de termos é o que leva em consideração os termos da

proposição conforme estejam sendo considerados em sua extensão total. Um

termo será distribuído se fizer referência a todos os membros pertencentes a

uma determinada classe, e, pelo contrário, não será distribuído se não faz

referência a todos os membros. Quando se diz “Todo homem é mortal”, por

exemplo, se deve levar em conta todos os homens, pois se diz de todos eles

que estão incluídos na classe dos mortais. A classe dos mortais, por sua vez,

não precisa ser considerada em toda a sua extensão, afinal há outras coisas

que são mortais e não são homens, e que não necessitam ser levadas em

consideração para que se compreenda a proposição. Este termo, portanto, não

está distribuído. A distribuição do termo sujeito acontece referente às

proposições das classes A e E, e não acontece referente a I e O. Os Termos

predicados serão distribuídos nas proposições dos tipos E e O, contrariamente

eles não serão distribuídos nas proposições das classes de A e I.

Sujeito Predicado

A Distribuído Não Distribuído

E Distribuído Distribuído

I Não Distribuído Não Distribuído

O Não Distribuído Distribuído

No seguinte exemplo “Todo homem é bom” temos o referido termo

sujeito dessa proposição “homem” e o seu termo predicado “é bom”, leva-se

em consideração que o termo “homem” está distribuído. Um termo para se

estar distribuído precisa que se tenha todos os subtipos de sua classe, ”Todo A

é B” mas nem “Todo B é A”.

1.2 - FIGURAS SILOGÍSTICAS

De acordo com a posição do termo médio nas premissas, temos a

possibilidade de determinar uma figura, na terminologia aristotélica, para o

silogismo. As formas válidas da 1º figura não precisam de demonstração. Para

as demais (2ª, 3ª e 4ª figuras) será necessária a transformação, pelas regras

de conversão das premissas, em uma forma condizente com a primeira figura.

O autor previa apenas a necessidade de 3 figuras silogísticas, mas os autores

medievais acabaram introduzindo também, para completar o quadro com

relação à posição do termo médio nas premissas, uma quarta figura, tal como

descrito abaixo:

1ª Figura

Termo Médio – Predicado

Sujeito – Termo Médio

Sujeito – Predicado

O termo médio é sujeito na maior e predicado na menor

2ª Figura

Predicado – Termo Médio

Sujeito – Termo Médio

Sujeito – Termo Predicado

Nesta segunda figura ele é predicado nas duas premissas

3ª Figura

Termo Médio – Predicado

Termo Médio – Sujeito

Sujeito – Predicado

O termo médio é sujeito nas duas premissas

4ª Figura

Predicado – Termo Médio

Termo Médio – Sujeito

Sujeito – Predicado

Nesta quarta o predicado na maior e sujeito na menor

A primeira figura é dita como perfeita e os silogismos válidos neste

formato não precisam de demonstração ou quaisquer modificações para que

tenham sua validade reconhecida. Ao contrário, as demais formas válidas nas

outras figuras devem se reduzir às da primeira para ter a validade dos

silogismos demonstrada. Vindo dos escolásticos a ideia de palavras fictícias e

em formato de versos para sintetizar as 19 formas válidas do silogismo que nas

quatro figuras:

Na figura 1 temos: bArbArA; cElArEnt; dArII; e fErIO.

Na figura 2: cEsAre; cAmEstrEs; fEstInO; bArOkO;

Na figura 3: dArAptI; dIsAmIs; dAtIsI; fEIAptOn; bOkArdO; fErIsOn.

Na figura 4: brAmAntIp; cAlEmEs; dImAtIs; fEsApO; frEsIsOn.

Essas palavras são originalmente formadas desse modo e irredutíveis

no que se reporta entre elas. Eles definem cada uma delas um significado

diferente. O motivo principal de elas existirem é a função da memorização. Elas

serviriam, por exemplo, da primeira para mostrar as propriedades, da segunda

diferenciação de outras.

1º Figura AAA EAE AII EIO    

2º Figura EAE AEE EIO AOO    

3º Figura AAI IAI AII EAO OAO EIO

4º Figura AAI AEE IAI EAO EIO  

A primeira figura possui validade “óbvia”. Comparando a todas as

demais ela é a única na qual as formas válidas de silogismo não necessitam de

um processo de redução para que se tenha validade comprovada. A validade

de um modo válido em segunda figura, por exemplo Cesare, deverá ser

demonstrada, por meio de um processo de troca de lugares dos termos do

silogismo de modo que o termo médio compareça como o sujeito da premissa

maior, e predicado da menor. Assim, a referida demonstração seria:

1. Nenhum P é M

2. Todo S é M / (Nenhum S é P – conclusão almejada)

3. Nenhum M é P (de 1, por conversão simples)

4. Todo S é M (de 2, por reiteração)

5. Nenhum S é P (de 3,4 por Celarent).

Pode-se notar que o processo chamado de redução à primeira figura

acontece nas linhas 3 e 4, onde, por conversão simples da primeira premissa e

reiteração da segunda, se obteve um modo da primeira figura, com premissas

universais negativa e afirmativa, respectivamente. Ou seja, obteve-se uma

instância de Celarent, que é um modo válido em primeira figura e portanto não

precisa de justificação.

Das quatro proposições (A,E,I,O), juntamente com a posição do termo

médio no silogismo, obtém-se por combinação exatamente 256 maneiras de se

estruturar um silogismo. No entanto em sua grande maioria essas formas são

explicitamente inválidas (por serem redundantes, por não vincularem os

termos, etc.). Levando-se em conta algumas restrições sobre a composição do

silogismo, tais como as referentes à natureza das premissas (que se uma

premissa for particular, a conclusão também o será; que pelo menos uma

premissa deve ser universal; que pelo menos uma premissa, tem que ser

afirmativa e que se uma premissa for negativa é preciso que a conclusão

também seja; etc.) Dos modos não “degenerados”, temos 64 maneiras

diferentes de combinações, porém, apenas 19 são realmente válidas,

distribuídas em quatro diferentes figuras de acordo como os já mencionados

termos maior, menor e médio, fazem parte das premissas e da conclusão.

Uma restrição importante do sistema aristotélico é a proibição do uso de

conceitos que não se aplicam a nenhum objeto, ou, em outras palavras, de

classes vazias. A definição da classe vazia é uma classe sem nenhum

elemento, por exemplo: “Seres humanos com mais de 4 metros de altura”. Se

forem eliminadas as classes vazias não vamos encontrar, no sistema original

de Aristóteles, formas de silogismos que seriam hoje consideradas inválidas,

mas que para Aristóteles eram válidas. Não podemos confirmar nada a respeito

de qualquer elemento que esteja relacionado às classes que são vazias. Em

suma, não podemos afirmar algo que não temos conhecimento.

Para Aristóteles, quando dizemos “Todo homem é mortal” estamos

afirmando que o conjunto referente a “homem” é um subconjunto daquele

referente aos mortais. Mas, além disso, nos comprometemos com a existência

de homens. Por esta razão, as proposições particulares são consideradas pelo

autor como subalternas às universais, no sentido de que, se a universal é

verdadeira, a particular também será (observado o caso de serem ambas de

mesma qualidade, isto é, ambas afirmativas ou ambas negativas). Isso é o que

se costuma chamar de pressuposto existencial ou compromisso existencial da

silogística aristotélica.

Pelo que foi exposto, podemos notar a importância do trabalho de

Aristóteles no que diz respeito à criação do primeiro sistema dedicado a

descobrir e classificar as formas válidas de raciocínio. Vimos, no entanto, que

muitos detalhes por vezes dificultam uma compreensão imediata dos meios de

se testar a validade de silogismos. O que veremos na sequência será um

método alternativo a este, no qual o teste de validade é executado de uma

maneira mais intuitiva.

CAPÍTULO 2: DIAGRAMAS PARA A SILOGÍSTICA

A maneira como Aristóteles estabeleceu o teste de validade de um silogismo

pode ser vista como um tanto obscura, no sentido de eleger uma figura como

tendo sua conclusão se seguindo obviamente das premissas, e as demais

como necessitando serem reduzidas àquela. Analisando-se mais de perto,

pode-se questionar tanto a obviedade da primeira figura, quanto a falta de

obviedade das demais. Por volta do século XVIII, de acordo com Gergonne3,

apenas algumas academias góticas ensinavam a silogística à moda

aristotélica. É neste contexto que, por inspiração de Leibniz, que pensou em

modos geométricos de apresentar as relações lógicas entre as proposições,

autores como Euler, o já mencionado Gergonne, e mais tarde Venn e Carroll,

desenvolveram sistemas diagramáticos para a silogística de Aristóteles4. Neste

capítulo será apresentada uma versão dos diagramas de Venn para a

silogística, por ser esta uma das maneiras mais simples de se testar a validade

de silogismos categóricos. Embora possa divergir em alguns pontos da versão

original, tais divergências podem ser consideradas melhorias.

2.1. O QUADRADO DE OPOSIÇÕES COM DIAGRAMAS

O sistema diagramático que será apresentado utiliza círculos para representar

os conceitos (ou termos) envolvidos. Assim, para cada proposição categórica

precisamos de dois círculos, um representando cada um dos conceitos

envolvidos. Os círculos devem conter uma região em comum, a fim de que

todas as relações possíveis (exclusão total, inclusão total, e exclusão e

inclusão parciais) possam ser representadas. As quatro proposições

categóricas ganham as seguintes configurações.

3 Cf. Kneale & Kneale, 1962, p. 355.4 Cf. op. cit., pp 345-357.

Todo S é P Nenhum S é P

Algum S é P Algum S não é P

As relações entre as proposições, estabelecidas no quadrado de

oposições, podem ser agora melhor entendidas:

a) A e E não podem ser ambas verdadeiras, pois isso implicaria que o

diagrama que representa o termo sujeito ficaria completamente sombreado, o

que significaria que este termo é vazio, o que, como vimos, é algo proibido na

silogística aristotélica.

I e O podem ser ambas verdadeiras, e seus diagramas combinados

deixam claro esta possiblidade:

b) Nos pares A e O, e E e I, se uma é verdadeira a outra é falsa, e vice-

versa, o que fica claro no diagrama em virtude de a marcação de

ambas simultaneamente exigiria uma sobreposição de marcações, o

que não é permitido:

c) I e O podem ser ambas verdadeiras, como se pode ver:

d) Os pares A e I, e E e O são tais que se a primeira for verdadeira a

segunda também será

Como se pode ver, os diagramas podem servir como um facilitador na

compreensão das relações entre os termos tais como as proposições

categóricas as apresentam.

2.2. DIAGRAMAS PARA OS SILOGISMOS CATEGÓRICOS

Para o teste de validade de silogismos, serão necessários três círculos,

parcialmente sobrepostos de tal modo que haja uma região exclusiva de cada

círculo, regiões de intersecção para cada dois círculos, exclusivamente, e uma

região de intersecção dos três círculos. O teste consistirá em lançar no

diagrama as marcações relativas às premissas, e verificar se, com isso, a

marcação que seria referente à conclusão fica automaticamente estabelecida,

justamente no espírito da definição aristotélica segundo a qual a conclusão

surgiria pelo simples fato de as premissas serem como são.

A seguir, serão apresentadas as 15 formas válidas que não dependem

de compromisso existencial. As quatro formas restantes serão apresentadas na

seção seguinte.

As figuras abaixo representam os diagramas da primeira figura. Segundo

Aristóteles somente essa figura era dita como perfeita pois não precisava de se

adequar a outros tipos para ter a validade da conclusão demonstrada.

Barbara é constituída de proposições universais e afirmativas. É a única

dentre todas que acumula essa característica5.

Celarent é formada, respectivamente, por duas premissas universais das

quais uma é negativa e a outra é afirmativa e de uma conclusão universal

negativa

Darii existe apenas uma universal afirmativa, que é uma das regras do

silogismo categórico, e uma premissa particular afirmativa e a conclusão

também a sendo.

5 Este diagrama e os que o seguem foram retirados do site http://markmcintire.com/phil/validforms.html visitado em 10 de junho de 2016.

Ferio possui a única proposição/conclusão que é particular negativa

inserida na primeira figura e suas premissas são universal negativa e particular

afirmativa.

A segunda figura é representada pelos diagramas seguintes:

Cesare é composta por duas premissas universais sendo uma negativa

e outra afirmativa e sua conclusão é universal negativa.

Camestres é formado por duas premissas universais uma afirmativa e

outra negativa e sua premissa universal negativa ela é idêntica a figura da

quarta figura Camenes.

Festino suas premissas são formadas por uma universal negativa e

outra particular afirmativa e sua conclusão é obrigatoriamente particular

negativa

Baroco formado por uma universal afirmativa e uma particular negativa

sua conclusão é também particular negativa. Seu diagrama é assim

representado:

Os diagramas referentes a terceira figura são os seguintes

Disamis representado por uma premissa particular afirmativa e a

segunda sendo universal afirmativa sua conclusão é, assim como a primeira

premissa, particular afirmativa. Segue abaixo seu diagrama:

Datisi formado por uma premissa universal afirmativa e outra particular

afirmativa com sua conclusão também o sendo.

Bocarco formado, respectivamente, por uma premissa particular

negativa e outra universal afirmativa e sua conclusão é particular

negativa,segue abaixo a configuração de seu diagrama:

Ferison formada por uma premissa particular negativa e outra particular

afirmativa e sua conclusão particular negativa.

Na quarta e última temos as seguintes:

Camenes formada por uma premissa universal afirmativa e sua segunda

premissa universal negativa seguindo sua conclusão que também é.

Dimatis formada por uma premissa particular afirmativa e outra universal

afirmativa sua conclusão segue como particular afirmativa.

Fresison formada por uma premissa universal negativa e outra particular

afirmativa e a conclusão particular negativa

Nos casos acima apresentados, a conclusão fica diagramada tão

somente pela mera diagramação das premissas, enquadrando-se assim na

definição aristotélica de dedução, ou silogismo. Para os casos que envolvem o

compromisso existencial, todavia, algumas considerações adicionais são

necessárias para que se consiga “enxergar” a conclusão a partir da mera

diagramação das premissas.

2.3. DIAGRAMAS PARA SILOGISMOS COM COMPROMISSO EXISTENCIAL

Nos casos em que o silogismo é válido em função de depender das relações

de subalternação, ou de compromisso existencial, a interpretação do diagrama

não se dará de modo tão automático quanto se apresentou acima. Com efeito,

a marcação de um “x” em alguma área do diagrama não poderia aparecer na

conclusão sem que tivesse surgido antes nas premissas. Ora, este é

justamente o caso dos silogismos com premissas universais e conclusão

particular.

Nestes casos, devemos apelar para a própria teoria de Aristóteles no

que diz respeito ao requisito de que todo termo deva possuir objetos que

pertençam a ele. Assim sendo, os diagramas dos silogismo com compromisso

existencial só podem ser aceitos porque neles resta apenas uma área de um

determinado termo. Ora, se este termo deve possuir objetos, ali naquela área

deve poder ser marcado um “x” que represente tal objeto, e neste caso, o

silogismo poderá ser considerado válido.

Abaixo seguem os diagramas destes casos especiais

Aristóteles contabilizava como válidas quatro formas válidas além das já

citadas, as quais, porém, modernamente não são aceitas. Seguem abaixo as

que estão inseridas nesse contexto. Na terceira figura temos Darapti e

Felapton, respectivamente:

As que estão presentes na quarta figura estão representadas no

diagramas abaixo, respectivamente, Bramantip e Fesapo:

Somando essas quatro formas válidas às 15 apresentadas

anteriormente, tem-se ao todo as 19 formas válidas consideradas por

Aristóteles.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Comparando o sistema apresentado por Aristóteles tinha como objetivo a

classificação das formas válidas de raciocínio silogístico, mas também

almejava ser um sistema dedutivo no sentido de eleger como básica uma

determinada parte sua, e fazer com que toda a forma válida de raciocínio seja

mostrada como se reduzindo àquela parte básica. Isso pode ser confirmado

nos primeiros livros dos Analíticos Posteriores, onde o autor define ciência

demonstrativa, e argumenta em favor da necessidade de uma base não

demonstrada a partir da qual toda uma sequência de verdades pode ser

demonstrada – uma vez que a demonstração não pode retroceder ao infinito6.

Não é objetivo deste trabalho questionar a autoridade de Aristóteles,

mas apenas salientar as peculiaridades de outro sistema, que pode ser

considerado também formal, em certo sentido, no que diz respeito à sua

adequação ao tema bem como à definição de conhecimento por dedução.

Como já foi dito, Aristóteles pretendia que todo silogismo válido fosse

demonstrado como equivalente a algum dos modos válidos da primeira figura.

Isto porque, talvez, é esta figura a única capaz de fornecer conclusões de todos

os tipos de proposições categóricas. Isso, no caso dos diagramas de Venn,

mostra-se desnecessário, uma vez que a constatação da validade do silogismo

é, por assim dizer, imediata. Isto pode ser visto como uma vantagem, mas

também pode ser um entrave no que diz respeito à compreensão dos

mecanismos de transformação das proposições categóricas.

Ao fazer uma demonstração ao estilo de Aristóteles, se fica mais atento

aos procedimentos formais e à sequência de passos necessária para alcançar

a conclusão almejada. Por outro lado, é possível que o caminho não seja tão

claro, e o teste de validade, no caso de silogismos inválidos, pode se tornar um

desafio tedioso. Os diagramas, por sua vez, apresentam certas

correspondências com as proposições, como ficou claro na seção 2.1. E tais

correspondências podem indicar uma relação mais estreita ainda entre o

método aristotélico e o dos diagramas de Venn.

Pode-se notar, por exemplo, que muitos diagramas possuem

características semelhantes, podendo ser considerados idênticos quanto à

6 Aristóteles 2009, pp. 251-268.

marcação de sombreamentos e cruzes (ignorando-se os termos S, M e P). Este

é o caso, por exemplo, de Celarent e Cesare; de Ferio, Festino, Ferison e

Fresison; e de Darii, Datisi, entre outros. Como é sabido, os modos que

recebem nomes com a mesma letra inicial se reduzem àquele modo que

começa com a referida letra, na primeira figura (por exemplo, Festino, Fresison

e Ferison se reduzem a Ferio).

Talvez modificações na disposição do diagrama (giros no sentido horário

ou anti-horário; ou giros sobre o eixo do diagrama) possam levar uma

configuração dada a corresponder com um diagrama de forma válida na

primeira figura, e tais procedimentos poderiam ser vistos como análogos das

transformações que ocorrem nos passos da prova (conversões) ao estilo

aristotélico.

O estudo de tais aspectos, contudo, extrapola os objetivos deste

trabalho, constituindo, portanto tema de interesse para desenvolvimentos

futuros.

Se por um lado Aristóteles apresenta a lógica silogística com suas figuras

silogísticas e suas regras, por outro lado, temos os diagramas que facilitam

muito sua compreensão, retirando as dificuldades que pairam sobre este

assunto e que muitas vezes são tidas como barreiras intelectuais para muitos.

Com o método dos diagramas pode-se ressaltar uma das muitas

facilidades que a lógica representa em termos práticos, bem como que ela

apenas precisa de um olhar prático e preciso para que uma determinada

questão que nos é imposta seja resolvida.

Para Aristóteles era necessário a sequência de verdades, a partir de

verdades assumidas sem demonstração, para de fato se ter algum tipo de

conhecimento científico (que para ele era sinônimo de conhecimento

demonstrativo). Porém, isso só seria possível se houvessem premissas

verdadeiras e que não pudessem ser demonstradas e que, a partir delas,

teríamos demonstrações. Estes aspectos não são relevantes desde um ponto

de vista diagramático, pois, como foi visto, os diagramas possuem um certo

caráter imediato, no sentido de serem apresentados de uma só vez. Todavia,

tal caráter é apenas aparente, já que o preenchimento do diagrama também

segue uma sequência de passos. O que se torna de fato irrelevante para os

diagramas são as figuras a que as formas válidas pertencem (estas, sim, não

corresponderiam diretamente a nenhum aspecto diagramático).

Finalmente, deve-se reconhecer que, mais que um recurso meramente

heurístico, os diagramas de Venn podem ser vistos como um sistema formal

em sentido próprio, e as correspondências com o sistema formal que lhe deu

origem (a silogística) talvez possam ser mapeadas e sistematizadas de

maneira completa. É possível, pelo que foi visto, ampliar a noção de sistema

formal, bem como a de dedução. A adequação do sistema dos diagramas à

definição aristotélica de dedução, aliás, foi salientada desde o início e ao longo

deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Organon. BINI, Edson (Org.). Bauru (São Paulo): Edipro, 2010

KNEALE, Willian; KNEALE, Martha. O Desenvolvimento da Lógica. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian, 1991.

LIARD, L. Lógica. São Paulo: Ed. Nacional, 1968.