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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG i
RESUMO
Os lagos de mineração são ambientes criados pela intervenção humana, originando
laboratórios naturais para estudos limnológicos voltados para o conhecimento de ecossistemas
aquáticos de formação recente e melhoria da qualidade de suas águas. O lago de Águas Claras
foi criado a partir de reaproveitamento de cava de mineração de ferro e ao concluir seu estado
final de enchimento, será o lago mais profundo do Brasil, com a profundidade de 234 metros.
Coletas mensais de superfície e fundo foram feitas para análise físicas, químicas e biológicas
durante quatro anos (2001 a 2005). Resultados apontam a não contaminação da água e
tendências à oligotrofização. O plâncton apresentou taxa variados de fitoplâncton e
zooplâncton, muitos deles típicos de ecossistemas aquáticos em formação. Mudanças
temporais de composição e riqueza de espécies também foram observadas, juntamente com
alterações dos padrões de equilíbrio relacionados ao aumento do steady-state, além de outros
modelos ligados às cadeias alimentares e à sucessão ecológica.
Palavras-chave: Sucessão ecológica, lagos de mineração, steady-state.
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ABSTRACT
The pit lakes are environments built through human intervention, forming natural laboratories
for limnologic studies which aim to research the aquatic ecosystems recently formed and to
improve the quality of its water. The Águas Claras lake was built from recycled iron mining
and, once its final stage is concluded, it will reach a depth of 234 meters, thus becoming the
deepest lake in Brazil. During four years samples from surface and bottom were collected
monthly in order to perform physical, chemical and biological analyses. The results revealed
no water contamination and gradual tendencies of trophic state change. The plankton
presented varied taxa of phytoplankton and zooplankton, many of them typical of aquatic
ecosystems in formation. Temporal changes of composition of species were also found.
Studies of equilibrium patterns related increase of the steady-state and other models about
food chains and ecological succession were investigated.
Key words: Ecological succession, pit lakes, steady-state, mining lakes.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Professor Eduardo von Sperling, pela iniciativa de propor esta
busca pela descoberta e pelas prováveis participações futuras, que muito auxiliarão nos
estudos da Limnologia e melhoria na qualidade das águas.
Ao Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, pela formação do meu conhecimento, pelas
vivências cotidianas, encontros e surpresas fortuitas que fizeram parte da minha história. Ao
Professor Ricardo Pinto-Coelho pelo espaço concedido no seu laboratório e ao José Fernandes
B. Neto, pelo suporte crítico e técnico.
Aos amigos do DESA, cúmplices que também vislumbram na ciência possibilidades de
vivenciar um meio ambiente melhor. À FAPEMIG, pelo apoio financeiro e aos muitos
professores que contribuíram para mais este saber.
Aos doutores do DAAD e CAPES, pela confiança em investirem na continuação dos meus
estudos na Alemanha, uma outra porta que se abrirá para novas experiências e progressos em
minha vida futura.
Aos meus guias que, estejam onde estiverem, me convencem de que a vida sempre quer o
melhor, mesmo que aparentemente soem como fardos dolorosos as dificuldades. Porque o
resultado para quem se questiona com honestidade e humildade no seu íntimo, com a vontade
de verdadeiramente se auto-conhecer, só pode saborear o portal da consciência pura e
deliciosa de simplesmente ser, amor.
À minha família, que na alegria e na tristeza estão presentes, cada qual com suas falhas, mas
que mostram que no dia-a-dia se pode lapidar a pedra bruta, crescer e florescer.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 5.1 - Localização territorial do lago de Águas Claras ..............................................14
Figura 5.2 - Simulação do estágio final do enchimento da cava .........................................14
Figura 5.3 - Cava em estágios menos avançados de enchimento ........................................15
Figura 5.4 - Lago em 2004 ...................................................................................................15
Figura 6.1 - Profundidade do lago e contribuição das chuvas ............................................19
Figura 6.2 - Oxigênio dissolvido ..................................................................................... ....20
Figura 6.3 - Perfil de temperatura e oxigênio ao longo da profundidade..............................21
Figura 6.4 - Disco de Sechi ..................................................................................................23
Figura 6.5 - Turbidez ...........................................................................................................23
Figura 6.6 - Temperatura .....................................................................................................25
Figura 6.7 - Condutividade elétrica ......................................................................................25
Figura 6.8 - pH ....................................................................................................................26
Figura 6.9 - Alcalinidade .....................................................................................................26
Figura 6.10 - Dureza ............................................................................................................27
Figura 6.11 - Sulfato ............................................................................................................27
Figura 6.12 - DBO ...............................................................................................................28
Figura 6.13 - Ferro ...............................................................................................................29
Figura 6.14 - Fósforo solúvel ..............................................................................................30
Figura 6.15 - Fosfato ...........................................................................................................31
Figura 6.16 - Nitrogênio .......................................................................................................31
Figura 6.17 - Amônia............................................................................................................32
Figura 6.18 - Comunidade fitoplanctônica, associada ao fosfato e nitrato ..........................33
Figura 6.19 - Perfil de clorofila a e fitoplâncton ................................................................34
Figura 6.20 - Clorófita Chlorella vulgaris ...........................................................................36
Figura 6.21 - Perfil temporal das outras espécies de clorófitas. ..........................................36
Figura 6.22 - Cianobactérias ............................................................................................... 39
Figura 6.23 - Cianobactérias e clorófitas com a quantidade de nitrato e fosfato.................40
Figura 6.24 - Crisófitas .......................................................................................................41
Figura 6.25 - Pirrófitas ........................................................................................................42
Figura 6.26 - Euglenófitas ...................................................................................................43
Figura 6.27 - Sobreposição - comunidade fitoplanctônica e a zooplantônica.....................45
Figura 6.28 - Ciliados ..........................................................................................................46
Figura 6.29 - Sarcodinos. ....................................................................................................47
Figura 6.30 - Cladóceros .....................................................................................................49
Figura 6.31 - Rotíferos .......................................................................................................51
Figura 6.32 - Copépodos ....................................................................................................53
Figura 6.33 - Perfil sucessional algal .................................................................................54
Figura 6.34 - Oscilações populacionais de clorófitas e de cianobactérias .........................55
Figura 6.35 - Sucessão de sarcodinos..................................................................................56
Figura 6.36 - Sucessão de rotíferos .....................................................................................57
Figura 6.37 - Sincronia temporal entre a espécie de rotífero Keratella cochlearis com adultos
e copepoditos de Cyclopoida. .............................................................................................58
Figura 6.38 - Associação da comunidade de rotíferos e o crescimento algal.....................58
Figura 6.39 - Sucessão dos gêneros Mesocyclops (adulto) e Cyclops (adultos e copepoditos)
............................................................................................................................................ 59
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Dados morfométricos do lago em sua formação final....................................... 16
Tabela 2 - Dados de metodologia ......................................................................................17
Tabela 3 - Espécies fitoplanctônicas superiores a 80% da biomassa total ....................... 61
LISTA DE ABREVIATURAS
S/cm - micro Siemens /cm
STS - Sólidos Totais Suspensos
NTU - Unidades Nefelométricas
CaCO3 - Carbonato de cálcio
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................1
2 JUSTIFICATIVA ..............................................................................................................2
3 OBJETIVOS .....................................................................................................................3
3.1 OBJETIVO GERAL..........................................................................................................................3
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................................................3
4 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................4
4.1 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS DE FORMAÇÃO RECENTE E A SUCESSÃO ECOLÓGICA.......................4
4.2 COMUNIDADES PLANCTÔNICAS....................................................................... .............................8
4.3 LAGOS DE MINERAÇÃO...............................................................................................................12
5 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................13
5.1 AREA DE ESTUDO........................................................................................................................13
5.2 COLETA DE DADOS................................................................................................................ .....16
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................18
6.1 DADOS FÍSICOS E QUÍMICOS .......................................................................................... ..........18
6.2 COMUNIDADE PLANCTÔNICA.......................................................................................................33
6.3 SUCESSÃO ECOLÓGICA E RELAÇÃO ENTRE ESPÉCIES........................................................................54
7 CONCLUSÕES ...........................................................................................................63
8 RECOMENDAÇÕES .................................................................................................64
9 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................66
ANEXO 1 - Organismos planctônicos encontrados do lago................................................................72
ANEXO 2 - Fotos da cava...............................................................................................,................ ....86
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1- INTRODUÇÃO Os lagos de mineração, gerados a partir de reaproveitamento de cavas para formação de lagos
com caráter recreativo e paisagístico, têm atraído a atenção dos cientistas e representam um
tema recente nas pesquisas de Limnologia. Além disto, são ambientes aquáticos recentes e se
comportam como agentes capazes de atrair a colonização de novos organismos, que a partir
de características físicas e químicas associadas às condições do sedimento, clima e tipo de
extração da mina, apresentam perfis sucessionais próprios e típicos de ambientes em
formação. A criação de lagos deste tipo é feita no sentido de minimizar impactos já causados
pela extração de diversos tipos de minerais e seu surgimento na forma de ambiente lêntico
cria condições para estudos limnológicos voltados para a melhoria da qualidade de suas
águas.
A riqueza e abundância de espécies, encontradas nos vários tipos de ambientes, fornecem
elementos a respeito do processo de sucessão ecológica decorrente e subsídios para sua
investigação. A sucessão ecológica em ecossistemas de formação recente segue um caráter
peculiar, no que diz respeito aos estágios temporais atingidos e diferentes respostas às
exposições a distúrbios. Os ecossistemas aquáticos sofrem perturbações de vários tipos, em
sua maior parte associadas à influência humana, gerando assim um novo tipo de composição
de espécies e de transferência de energia ao longo das cadeias alimentares. A crítica
necessidade de modelos ecológicos capazes de predizer o comportamento das comunidades
em situações de estresse são ainda escassos em nossa literatura (ODUM, 1969).
O número de ambientes criados pela intervenção da espécie humana é incontável, e no caso
dos ecossistemas aquáticos, pode-se citar como exemplo os lagos artificiais e aqueles
construídos com o intuito de geração de energia elétrica, que envolvem o alagamento de
grandes áreas, gerando alterações das condições do sedimento, velocidade da correnteza
(ambiente lótico transformado em lêntico) e condições químicas e físicas da coluna d'água.
Em muitos casos, quanto aos organismos, podem ser percebidas alterações na estrutura e
dinâmica das comunidades, oscilações das populações de fitoplâncton, zooplâncton,
alterações significativas no necton, benton, neuston, comunidades do perifíton, macrófitas
aquáticas, alterações na bioquímica do sedimento, cadeia de detritos, entre outros (BAXTER,
1977).
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Odum et al. (1979) apresentaram um modelo que prediz o retrocesso do ambiente a estágios
mais primários de sucessão quando confrontados com forças de stresse. Os efeitos envolvem
redução da eficiência da utilização de recursos, encurtamento das cadeias alimentares e efeitos
diretos nas populações dos organismos.
2 - JUSTIFICATIVA
Esforços para aperfeiçoar estudos de qualidade da água e proteção à saúde humana estão
enfocados com frequência na biologia do plâncton e fatores que influenciam na sua sucessão
(PAERL, 1988; SOMMER et al., 1986 e REYNOLDS, 1994).
Kalin et al. (2000) comentam, ao estudar um lago de mineração no Canadá, sobre a relação
estreita entre a comunidade fitoplanctônica e a qualidade da água, fatores estes considerados
relevantes para estudos ecológicos de lagos de mineração.
Os lagos de mineração originam laboratórios naturais para estudos de interesse geoquímico e
limnológico e o seu conhecimento faz-se necessário para minimização de impactos e manejo
destes ambientes (STEVENS & LAWRENCE, 1998; LEVY et al., 1995; KLAPPER e
SCHULTZE, 1995; MILLER et al., 1996; GELLER et al., 1998 e NIXDORF et al., 1998b).
Estes lagos têm atraído a atenção da literatura, mas pouco é sabido sobre a dinâmica dos
organismos fitoplanctônicos, incluindo a sua colonização, comportamento sazonal e sua
relação com os parâmetros físicos e químicos da água (KALIN et al., 2001). Mesmo assim, os
poucos estudos ecológicos destes lagos são relacionados ao fitoplâncton (GELLER et al.,
1998, NIXDORF et al., 1998a; NIXDORF et al., 1998b; AXLER et al., 1998 e KALIN et al.,
2001) e em relação à comunidade zooplanctônica, as informações a respeito são mais
escassas.
A comunidade biológica é capaz de refletir diretamente os efeitos cumulativos de impactos
consecutivos. A avaliação biológica é capaz de detectar alterações no curso d’água, destruição
de habitats, mudanças na estrutura e quantidade de matéria alóctone, além de outros tipos de
intervenções antropogênicas menos visíveis, mas que podem perturbar a dinâmica natural do
ecossistema aquático e da qualidade da água (KARR, 1991).
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Criados a partir do reaproveitamento de cava e circundados por paredes rochosas íngremes,
os lagos de mineração possuem grande profundidade e pequena área, com organismos que se
adaptam a diversas substâncias encontradas e com ciclagem de nutrientes peculiares, capazes
influenciar na qualidade da água, em um processo novo de criação de lagos. As minas
exauridas de grande porte, cujo início de exploração deu-se notadamente após o término da
Segunda Guerra Mundial, atingiram maior escala nos anos 90, gerando a partir de então, lagos
novos em escala mundial (VON SPERLING et al., 2004).
3 - OBJETIVOS
3.1 - Objetivo Geral
O trabalho propõe-se, de uma forma mais ampla, ao estudo limnológico de ecossistemas
aquáticos com formação recente, utilizando um lago de mineração como estudo de caso. A
sucessão ecológica da comunidade planctônica e aspectos físicos e químicos são investigados,
visando a contribuir para a prática de gestão e manejo destes ambientes, assim como o
amortecimento dos seus impactos. O estudo almeja por divulgar os aspectos limnológicos de
lagos de mineração tropicais, escassos na literatura atual e contribuir para o entendimento do
comportamento da comunidade planctônica de ambientes artificiais lacustres.
3.2 - Objetivos Específicos
Identificar os organismos constituintes do plâncton do lago de Águas Claras;
Investigar a flutuação temporal das comunidades fitoplanctônicas e zooplanctônicas
do lago;
Relacionar os parâmetros físicos e químicos da água com os organismos identificados;
Compreender a dinâmica de circulação do lago e estimar a qualidade da água;
Verificar os padrões de equilíbrio no que diz respeito à sucessão das comunidades
fitoplanctônicas.
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4 - REVISÃO DA LITERATURA 4.1 - Ecossistemas aquáticos de formação recente e a sucessão ecológica
A criação de novos habitats é um convite a uma diversidade de espécies particularmente bem
adaptada de invasores. A comunidade dos primeiros colonizadores, comumente denominados
de espécies pioneiras, vai sendo gradativamente substituída por outros com taxas reprodutivas
menores. Desta forma, o caráter da comunidade muda com o tempo e as próprias espécies
invasoras transformam o ambiente, em um processo de substituição de comunidades
(RICKLEFS, 1996).
Se a comunidade pode ser vista como uma constelação de nichos, a sucessão opera dentro de
cada um deles. Há uma subdivisão dos nichos como consequência da progressiva alteração
das funções ecológicas, muitas vezes como resultado da crescente especialização. A sucessão
é também um processo convergente de auto-organização e acúmulo de informação biológica
nos quais os componentes vão assumindo gradativamente o controle do meio (PINTO
COELHO, 2000).
Connell & Slatyer (1977) classificaram os processos que governam a sucessão em facilitação,
inibição e tolerância. Todos os três envolvem o efeito de uma espécie estabelecida na
probabilidade de colonização por uma segunda invasora potencial. A facilitação predomina
nos estágios pioneiros de sucessão, quando as espécies pioneiras colonizam um ambiente,
tornando-o apto a receber novas espécies com maiores exigências ambientais. Pelo modelo de
tolerância, as espécies tardias seriam capazes de se estabelecerem em qualquer estágio seral,
mais comum no processo de sucessão secundária. Este modelo é mais adequado para explicar
a recolonização de espécies em campos abandonados, mesmo que de forma mais lenta. Já o
modelo inibidor, prediz que as pioneiras morrem por consequência de distúrbios locais ou
ação de predadores, cedendo lugar às espécies tardias, de maior resistência e mais bem
protegidas contra a herbivoria.
Estes estudos de colonização e recolonização são mais bem estudados em vegetais (GRIME,
1974, 1979; OGDEN, 1968; SALISBURY, 1942 e HARPER & WHITE, 1974) e, em
animais, as pesquisas neste sentido são menos frequentes (HART & BEGON, 1982).
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Uma das sínteses mais usadas no estudo de sucessão foi proposta por Odum (1972) e
sistematiza estágios pioneiros e fases mais maduras de sucessão, tanto por atributos estruturais
(diversidade, zonação e estratificação), quanto por atributos dinâmicos relacionados à
produção, ciclagem e homeostase do ecossistema, que se modificam a medida em que o
ambiente caminha para estágios mais maduros de sucessão.
Margalef (1977) comenta também sobre estas aquisições durante o amadurecimento do
processo sucessional. Os mecanismos convergentes envolvem aumento da biomassa total e da
produção primária e da complexidade estrutural, estreitamento das relações bióticas, queda da
clorofila a em relação aos outros pigmentos, maior permanência de elementos dentro do
sistema, entre outros.
O conceito de seleção r e K, originalmente proposto por MacArthur e Wilson (1967),
elaborado por Pianka (1967) e bem estudado por Boyce (1984), se refere aos padrões de
crescimento logístico das populações. Eles são usados para indicar que indivíduos com
seleção r são bem favorecidos por sua capacidade de se reproduzirem rapidamente (alto valor
de r), enquanto os de estratégia K são bem favorecidos por sua capacidade de manter um
crescimento viável proporcional à capacidade de suporte do ambiente (K). Os organismos
com estratégias de reprodução tipo K possuem maturidade tardia, grande tamanho, iteróparos
(vários eventos de reprodução), geram pequena prole de grandes indivíduos, típicos de
ambientes mais estáveis e saturados. Os ambientes mais recentes possuem características que
os definem como sujeitos às invasões de espécies com estratégias reprodutivas tipo r, ou seja,
organismos que se adaptam facilmente, com alto potencial reprodutivo e períodos de
crescimento rápidos e sem competição; atingem a maturidade cedo, são semélparos
(reproduzem e morrem) deixando grande número de descendentes e ocupam habitats
imprevisíveis, como aqueles que apresentam condições instáveis típicos de ambientes
insaturados (BEGON et al., 1996).
Os organismos fitoplantônicos possuem crescimento rápido e períodos de vida curtos,
seguindo a estratégia de crescimento tipo r. Sua taxa de renovação e perfil temporal na coluna
d'água pode oscilar rapidamente em escalas de tempo curtas e em ambientes de clima
temperado tendem a respeitar, mais visivelmente, as estações do ano. Já entre os organismos
zooplanctônicos, muitos deles se alimentam de partículas em suspensão, bactérias ou podem
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ser carnívoros, mas muitos grupos tendem a seguir o perfil de crescimento do fitoplâncton, de
acordo com a relação de herbivoria. Associações entre organismos de um mesmo grupo, seja
de canibalismo, competição ou a ocupação novos nichos, podem também influenciar na
sucessão das comunidades. Já os organismos bentônicos tendem a seguir um regime de
crescimento tipo k, são maiores e se reproduzem menos. Costumam ser muito sensíveis às
alterações químicas providas de diversos tipos de poluentes na água.
Estudos como o de Sommer et al. (1986) sobre associações tróficas ligadas às cadeias
alimentares e suas relações com as condições abióticas em estudos sucessionais de lagos,
podem ser entendidos utilizando-se de modelos PEG, no qual se pode prever uma alternância
de r e K estrategistas, na medida que a disponibilidade de nutrientes se modifica ao longo das
estações, juntamente com o padrão de herbivoria. Na primavera, por exemplo, com o aumento
de luz e nutrientes, ocorre inicialmente floração do fitoplâncton, dominados por espécies
menores e de crescimento rápido. Consequemente, a população zooplanctônica aumenta,
juntamente com a pressão de herbivoria. Nesta fase, a comunidade zooplanctônica volta a
cair, parte pela predação por peixes planctívoros, parte pela escassez do fitoplâncton. Isto
influencia na qualidade do fitoplâncton em estágios posteriores, quando a transparência da
água volta a aumentar. Este modelo é eficiente em lagos oligotróficos, no qual a escassez de
nutrientes limita o crescimento fitoplanctônico no verão. Em contrapartida, em ambientes com
boa disponibilidade de nutrientes, as cianobactérias tendem primeiramente a dominar e a
impedir a diversidade de outras espécies, influenciando na transparência da água e na
qualidade da herbivoria. Organismos zooplanctônicos como cladóceros, por exemplo, seriam
os responsáveis pela coleta efetiva de cianobactérias, o que acabaria por influenciar no
aumento da transparência e na promoção da disponibilidade de outras espécies
fitoplanctônicas para os consumidores. O autor ao criar o modelo PEG, comenta que
espécies fitoplanctônicas mais palatáveis possuem inicialmente maior taxa reprodutiva que
outras, pois ao longo da evolução, as espécies mais palatáveis tiveram menor custo energético
para investir em otimização de defesas e investiram mais em capacidade de crescimento.
Havens (1994) obteve através de exposições artificiais do plâncton a distúrbios, como
aumento da concentração de sulfato de cobre na coluna d’água, resultados que mostram maior
dominância de organismos r estrategistas em situações de estresse, assim como mudanças no
ciclo de vida e longevidade dos organismos. Além disso, notou a diminuição de organismos
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de topo de cadeia e efeito "bottom up" de controle das cascatas tróficas, promovendo o
aumento das populações em níveis mais baixos de energia nas cadeias alimentares como
bactérias e prejudicando organismos zooplanctônicos maiores e protozoários. Estas
observações foram consistentes com a hipótese de Odum (1985), que menciona a regressão de
ambientes a estágios mais primários de sucessão quando confrontados com forças de stresse.
O conceito de clímax, na tentativa de explicar estágios mais avançados das comunidades e do
ambiente no processo de sucessão ecológica, foi proposto desde a Europa Medieval e
registrado cientificamente por Clements (1916) in NASELLI-FLORES et al. (2003) e
comenta sobre a tendência do ambiente em alcançar o "estado de equilíbrio".
Já o conceito de estabilidade, bem definido em estudos na área da termodinâmica, obteve
mais sucesso em experimentos realizados em sistemas fechados (KREBS, 2001). O termo
steady-state foi primeiramente usado em experimentos com culturas de microorganismos,
(incluindo algas) e foi estendido para estudos ecológicos ligados ao tempo de permanência de
populações. A necessidade de esclarecimento de terminologias é hoje um desafio na área da
Ecologia, assim como o entendimento do comportamento dos ecossistemas aquáticos em
situações capazes de alterar a biodiversidade (ROJO & ÁLVAREZ-COBELAS, 2003).
O steady-state ou equilíbrio pode significar um estado sucessional em determinado período ou
o conteúdo do sistema que se modifica através de relações predador-presa ou outras capazes
de modificar o grau de permanência de determinadas espécies (PADISÁK et al., 2003;
HARRIS, 1986). Os mecanismos que controlam o "steady-state" da comunidade planctônica,
também denominado "estado de invariância dinâmica", podem estar associados a relações
bióticas, fatores tróficos, processos bioquímicos, além de outros capazes de interferir
simultaneamente no equilíbrio das populações e representações de espécies. Os estágios de
equilíbrio em ambientes recentes são muitas vezes manifestados com dominância de duas
espécies ou somente por uma (ROJO & ÁLVAREZ-COBELAS, 2003).
Em ecossistemas aquáticos, são encontrados diversos organismos com modos de reprodução e
estabelecimento no ecossistema aquático diferentes. Entre a comunidade planctônica,
organismos oportunistas podem se manifestar quando condições abióticas sofrem mudanças,
como o aumento ou diminuição da concentração de nutrientes ou substâncias químicas,
ocorrendo então flutuações populacionais imprevisíveis destes organismos durante o ano.
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4.2 - As Comunidades Planctônicas
Em ambientes tropicais, alguns estudos (ARAÚJO e PINTO COELHO, 1998; PINTO
COELHO, 1998) relataram padrões recorrentes na sazonalidade de comunidades planctônicas
tropicais, das quais o principal fator regulador da sucessão seria a ocorrência das chuvas. O
final da estação chuvosa coincide com a baixa de nutrientes e o fitoplâncton, como no caso da
lagoa da Pampulha em Belo Horizonte, um ambiente criado antropicamente, tem sido
dominado por flagelados (Cryptomonas) e pequenas algas clorofíceas (Oocystis,
Eutretamorus e Chlorella). Quando se estabelece a estratificação térmica, as temperaturas do
epilímnio e metalímnio aumentam e podem ocorrer grandes florescimentos de cianobactérias
coloniais como Microcystis spp, fato que contribui para maior previsibilidade no processo de
sucessão sazonal.
No caso de represas, a influência das comportas para geração de energia elétrica é
significativa e afeta a migração vertical natural e estabelecimento das comunidades, já que o
tempo de residência da massa d'água tende a ser mais curto. Neste caso, outros fatores devem
ser considerados ao se comentar sobre variação sazonal.
Já para Esteves (1998), em lagos tropicais tem-se observado que a periodicidade do
fitoplâncton não é uniforme e existem poucas evidências para ocorrência de flutuações ligadas
a estações do ano. Desta forma, a variação da composição específica ou densidade do
fitoplâncton nestes lagos está associada mais a fatores locais do que a fatores sazonais,
portanto seria mais aconselhável falar-se sobre variação temporal.
O padrão de variação sazonal em ecossistemas aquáticos temperados assume menor
importância em regiões tropicais, em detrimento das variações diárias. Nestes tipos de
variações, podem ocorrer oscilações em escalas de tempo menores, como horas ou minutos.
As distribuições verticais das espécies podem variar em relação à profundidade, fatores
ambientais, disponibilidade de nutrientes na coluna d'água e relações entre os organismos,
como predação e competição (REYNOLDS, 1994).
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Segundo Ruttner (1940), que realizou uma das mais completas pesquisas sobre a distribuição
espacial do fitoplâncton lacustre, os principais fatores que podem influenciar na ocorrência do
fitoplâncton são: densidade específica dos organismos, composição química do meio,
herbivoria, "seiches" ou ondas internas, turbulência da água, taxa de renovação da água,
temperatura e radiação solar.
Em ambientes com excesso de fosfato, certas algas são capazes de assimilá-lo além de suas
necessidades momentâneas. Estudos feitos por Zaiss (1976) com Oscillatoria redekei
mostraram que o fosfato em excesso é assimilado sob forma de polifosfato ou como
metafosfato no interior da célula. Esta absorção em excesso tem grande significado ecológico,
pois possibilita o crescimento de algas mesmo quando a fonte interna de fosfato se esgota. As
cianofíceas em geral, são capazes de migrar para o hipolímnio onde a concentração de fosfato
é maior (ESTEVES, 1998).
A absorção de fosfato por algas está ligada a uma reação de fosforilação (produção de ATP no
cloroplasto por meio de reações ativadas pela luz). Este fato pode ser a explicação pela
relação estreita entre a absorção de fosfato e a atividade fotossintética fitoplanctônica.
Galloway & Krauss (1963) mostraram que muitas algas são capazes de absorver outras
frações de fosfato. Estes pesquisadores mostraram a absorção de polifosfato em culturas de
Chlorella, devido à produção de exofosfatases por estas algas, capazes de atuar sobre ligações
éster de fosfato, apesar da forma P-orto (H2PO4) ser mais importante para algas e macrófitas
aquáticas, por ser preferencialmente absorvida por estas.
Quando o fósforo e o CO2 estão em níveis compatíveis com ambientes oligotróficos ou
mesotróficos, o nitrogênio inorgânico é usualmente avaliado em excesso, geralmente como o
íon amônio. Sobre estas condições, protozoários e metazoários não são abundantes e a pressão
de herbivoria é baixa, juntamente com a biomassa e diversidade de espécies. (ALMER et al.,
1974; ERICKSSON et al., 1980; KLAPPER e SCHULTZE, 1995; NIXDORF et al., 1998).
Quanto ao nitrogênio, segundo McCarthy & Goldman (1979), o fitoplâncton pode assimilar
nitrito, em caso de escassez do íon amônio e nitrato. Neste caso, o nitrito é reduzido no
interior da célula a amônio, por meio da enzima nitrito-redutase. O nitrito pode ser mais
encontrado em ambientes estratificados menos oxigenados, no hipolímnio. Quanto ao íon
amônio, sua absorção é energeticamente mais viável, pois o nitrato quando absorvido é
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 10
reduzido no interior da célula com gasto de energia. Sua concentração nas camadas onde se
encontra o fitoplâncton é geralmente muito baixa.
Em lagos da Amazônia, resultados levaram Ray & Hill (1984) a apontar o nitrogênio como o
principal nutriente relacionado à produtividade fitoplanctônica. Durante o período de
desestratificação, que ocorre no inverno, são observados valores mais baixos de produtividade
primária.
Em lagos tropicais profundos, que permanecem estratificados durante todo o ano, observam-
se profundos déficits de nutrientes na zona eufótica. Nestes lagos, os nutrientes, especialmente
o nitrogênio, são o principal fator controlador da flutuação temporal do fitoplâncton (LEWIS,
1978).
Quanto ao zooplâncton, este não se encontra confinado à região fótica, pois podem em seus
componentes corporais exibir as mais diversas estruturas que os permitam deslocar e migrar
ao longo da coluna d'água. A distribuição da comunidade é dinâmica e podem exibir
migrações verticais durante a noite ou ao longo do ano. A distância de migração e períodos de
permanência variam de espécie para espécie. Os organismos zooplanctônicos desempenham
um importante papel nos ecossistemas aquáticos, pois representam o elo de ligação entre os
produtores (fitoplâncton) e os consumidores da cadeia alimentar de pastejo O zooplâncton
está representado principalmente por protozoários, rotíferos, cladóceros e copépodas, com
papel decisivo na dinâmica das comunidades, na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia
do ecossistema aquático (HUTCHINSON, 1967).
A relação entre a biomassa zooplanctônica e o estado trófico em 16 represas de São Paulo foi
bem analisada por Esteves e Sendacz (1988). Os resultados mostraram relação significativa
entre o índice de estado trófico e a abundância numérica de zooplâncton. A comunidade
zooplanctônica foi dominada por rotíferos, copépodas e microzooplânctons. A disponibilidade
de alimento e qualidade do fitoplâncton influenciaram na diversidade populacional do grupo e
no perfil sazonal da comunidade.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 11
4.3 - Os Lagos de Mineração
As cavas de mineração têm originado com frequência um novo tipo de ambiente aquático,
estreito e profundo com características próprias, envoltas por íngremes paredes rochosas e
sistema de drenagem escasso, o que contribui para as características limnológicas
encontradas. Entretanto, pouco é sabido sobre as comunidades planctônicas destes ambientes
e suas sucessões temporais, associadas aos parâmetros físicos e químicos. Estas medidas são
importantes para estabelecer diagnósticos sobre a saúde deste tipo de ecossistemas aquático
(KALIN et al., 2001).
Ambientes modificados como os lagos de mineração, recebem água de fontes diversas, como
aquelas oriundas de fontes subterrâneas, vindas de áreas adjacentes e chuvas (CASTRO &
MOORE, 2000).
Os lagos de mineração encontram-se espalhados por todo o mundo, mas possuem mais
registros em ambientes temperados. Durante a primeira metade do século 20, o aparecimento
destes lagos nos Estados Unidos, por exemplo, foi resultante de mineração de carvão (GIBB
& EVANS, 1978). Lagos deste tipo são também encontrados na Alemanha, concentrados
principalmente na região central e oriental (NIXDORF et al., 1998a). Lagos alcalinos
originados de extração de cascalho e areia foram também descritos na Eslováquia (HINDÁK
& HINDÁKOVÁ, 2003). Há também registros de lagos de mineração de urânio no Canadá
(KALIN et al., 2001), de cascalho na Hungria (PADISÁK et al., 2003), no continente
africano e em países como Espanha, Austrália, Chile, Peru, Indonésia, Filipinas, México e
Cazaquistão (SCHRECK, 1998).
Em muitos lagos de mineração, as condições do sedimento, concentrações de metais,
nutrientes e pH, resultam em restritos taxa encontrados, dominados basicamente por
microorganismos, como bactérias, algas, fungos e protozoários (NIXDORF et al., 1998a;
KLAPPER & SCHULTZE, 1995; ERICKSSON et al., 1980 e HINDÁK & HINDÁKOVÁ,
2003).
Estes lagos estão muitas vezes associados com problemas de qualidade da água, como baixo
pH, alta concentração de metais e sólidos em suspensão (LEVY et al, 1995; DOYLE et al.,
1995; DAVIS & ASHENBERG, 1989). Os relatos disponíveis estão quase sempre ligados à
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 12
formação de lagos de mineração de caráter ácido, em decorrência da oxidação de minerais
sulfetados (KLAPPER & SCHULTZE, 1995; MILLER et al., 1996; GELLER et al., 1998;
NIXDORF et al., 1998a e FRIESE, 1998), muito comuns no leste da Alemanha. Estes lagos
são decorrentes da oxidação de pirita, ricos em ferro, sulfato e, em muitos casos, metais
pesados. A acidez com pH por volta de 3,5 ou menos, torna o ambiente inóspito para vários
tipos de organismos, porém são encontradas muitas bactérias acidofílicas.
A comunidade fitoplantônica em ecossistemas lacustres recentes comumente apresenta-se
com picos populacionais irregulares, resultado das suas capacidades fisiológicas adaptativas à
ocupação de novos nichos. Nixdorf (1998b) ao estudar lagos de mineração ácidos na região
da Lusatia, na Alemanha, observou a presença de Ochromonas e Chlamydomonas como
pioneiros nestes lagos e menciona a hipótese de Blouin (1989), a qual sugere que o pH, neste
caso, tende a afetar a diversidade planctônica mais acentuadamente do que a biomassa algal.
Nestes ambientes, a comunidade fitoplantônica para adaptar-se às condições ácidas, possui
habilidade de modificar formas de obtenção de energia de autotróficos para mixotróficos,
além de produzir fosfatase como adaptação às condições de baixas de nutrientes. À medida
que o pH aumenta, a sucessão dos grupos algais como crisófitas, diatomáceas e clorófitas
começa a ocorrer à medida que o ambiente atinge condições mesotróficas (JANNSON, 1981).
Kalin et al. (2001) ao estudar lagos oligotróficos de mineração de urânio no Canadá,
encontraram taxa com pouca diversidade de espécies planctônicas, mas que são capazes de
sobreviver em condições adversas. Estes gêneros incluem Oscillatoria, Cryptomonas,
Chlamydomonas, Dictyosphaerium e rotíferos como os do gênero Keratella. Logo que as
condições se tornam favoráveis, a riqueza de espécies volta a aumentar, juntamente com a
taxa de herbivoria.
Os organismos encontrados em cada lago de mineração estão associados à qualidade da água
de enchimento, química do sedimento ligado ao tipo de extração e poluentes. Como exemplo,
Kalin et al (2001) ao estudarem um lago de mineração no Canadá, constataram que mudanças
temporais na comunidade fitoplanctônica são devidas principalmente ao aumento de sólidos
em suspensão, concentração de arsênio e fósforo.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 13
5 - MATERIAL E MÉTODOS
5.1 - Área de Estudo
O local onde o estudo foi feito é a cava da Mina de Águas Claras, próxima à cidade de Belo
Horizonte - MG. A exploração de minério de ferro, realizada pela MBR (Minerações
Brasileiras Reunidas S/A) iniciou-se em 1973, tendo sido encerrada após 28 anos de
atividade. Neste período foram retirados cerca de 300 milhões de toneladas de minério. São
três as fontes hídricas para o enchimento do lago: águas subterrâneas que afluem à cava após
interrupção do funcionamento dos poços de bombeamento; água superficial aduzida de um
curso d’água vizinho à área da mineração (Ribeirão do Prata) e a precipitação pluviométrica
direta, a qual incide sobre a cava durante a estação chuvosa (outubro a março)
(GRANDCHAMP, 2001).
A Mina de Águas Claras está situada no limite norte do denominado Quadrilátero Ferrífero na
porção sudoeste da Serra do Curral, no município de Nova Lima, Minas Gerais (Figura 5.1).
Do ponto de vista hidrogeológico, as principais rochas presentes na Serra do Curral que se
destacam como aquíferos são: os quartzitos da formação Moeda e os itabiritos e hematitas da
formação Cauê. As águas do aquífero da formação Moeda são bicarbonatadas calcio-
magnesianas de baixa salinidade, mas com composição química bem definida. Apresentam
pH de 7,6 e condutividade elétrica média de 66 S/cm. As águas do aquífero Cauê são pouco
mineralizadas e apresentam uma concentração baixa de íons. A composição reflete uma baixa
solubilidade dos minerais constituintes e uma baixa interação água-rocha. Apresenta
condutividade elétrica inferior a 10 S/cm e pH abaixo de 6 (BERTACHINI, 1994).
Conforme modelagem hidrológica realizada antes do enchimento, a recarga de água permitirá
futuramente a manutenção do nível de água desejado, o que ocorrerá entre o período de 15 a
22 anos, a partir de 2001, no qual o lago alcançará a profundidade de 234 metros, conferindo
a este o título de mais profundo do Brasil (GRANDCHAMP, 2003). A Figura 5.2 mostra
uma simulação do enchimento final da cava, o que ocupará quase três vezes mais o volume
atual do lago. A Figura 5.3 mostra o lago ainda em estágio pouco avançado de enchimento,
após o período de extração da mina e a Figura 5.4 ilustra o lago em 2004, quando este atingia
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 14
ainda a profundidade máxima de cerca de 55 metros. Outras fotos da cava podem ser vistas no
anexo 2 deste trabalho (pág. 86).
0 20 Km0 20 Km
IRON QUADRANGLEIRON QUADRANGLE
BELO
HORIZONTE
0°
60°
BRAZIL
South America
Serra
do
Curra
l
Figura 5.1 - Mapa de localização do lago de Águas Claras no território brasileiro
Figura 5.2 - Simulação do estágio final do enchimento da cava (Fonte: MBR)
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 15
Figura 5.3 - Foto da cava em estágios menos avançados de enchimento
Figura 5.4 - Foto do lago mostrando suas paredes rochosas, íngremes, em degraus e com vegetação de borda escassa (fonte: Eduardo von Sperling - maio de 2004).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 16
5.2 - Coleta de dados
Amostras de água da superfície e do fundo da lagoa para obtenção dos dados físicos, químicos
e biológicos foram coletadas mensalmente pelo laboratório SANEAR em quatro anos de
coleta (maio de 2001 a maio de 2005). Para estudo físico do lago, os parâmetros
morfométricos foram obtidos através de cálculos, utilizando-se de fórmulas matemáticas
retiradas de Von Sperling (1997) e retirados de Grandchamp (2003). A tabela 1 mostra as
características morfométricas do lago de Águas Claras estimadas em sua formação final:
Área 0,67 km 2
Volume 58 milhões de metros cúbicos
Profundidade Máxima (Zmax) 234 metros
Profundidade Relativa* (Zr = Zmax 100 / 2√A/) 25%
Perímetro 3.772 metros
Profundidade Média ( Zmed = V / A) 87 metros
Desenvolvimento da Margem** (Dp = 0,28P √A) 1,3
Desenvolvimento do Volume***(Dv=V / (1/3 AZmax) 1,1
Altitude (cota final do espelho d'água) 1100 metros
Tabela 1 - Dados morfométricos do lago de Águas claras em sua formação final
* relação entre a profundidade máxima do lago e seu diâmetro médio (diâmetro de um círculo com a mesma
área do lago) em porcentagem.
** é a relação entre o perímetro e a circunferência de um círculo de mesma área do lago.
*** Razão entre o volume do lago e o volume de um cone com área igual à do lago e altura equivalente à sua
profundidade máxima.
Em relação aos parâmetros físico-químicos, o oxigênio dissolvido foi medido utilizando-se
uma sonda da marca YSI modelo 550, com medidas obtidas em campo. Para os primeiros 30
metros o oxímetro continha um cabo que alcançou até este limite de profundidade e a partir de
então, a água do fundo foi coletada utilizando-se garrafa de Van Dorn. Os outros dados físico-
químicos foram obtidos com a utilização metodológica segundo APHA/AWWA/WPCF
(1998), com métodos utilizados de acordo com a tabela abaixo:
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 17
Variável Nome do Método Metodologia (SMEWW)
pH Potenciometria 4500 H+
Temperatura Termômetro a álcool -10 a 60 C. -
Nitrogênio amoniacal Espectrofotometria. 4500 NH3-
Nitrogênio nítrico Espectrofotometria 4500 NO3-
Alcalinidade total - 2320)
Cloretos Métodos titulométricos. 4500 Cl-
Dureza Titulometria com EDTA 2340
Sulfatos Nefelometria. 4500 SO42-
Turbidez Nefelometria 2130
Condutividade elétrica Medidas eletrométricas 2510
DBO 20º C durante 5 dias B
Ferro total Absorção atômica 3030, 3111
Cádmio - 3030, 3111
Manganês - 3030, 3111
Chumbo e cobre totais - 3030, 3111
Alumínio - 3030, 3111
Cromo trivalente - 3030, 3111
Ferro e manganês solúveis - 3030, 3111
Cianetos - 4500 CN-
Cor - 2120
Cromo hexavalente - 3500 Cr B
Fenóis - 4500
Fosfato solúvel - 4500 PO4-
Fosfato total Espectrofotometria 3030, 3111
Sólidos em suspensão Medidas gravimétricas 2540D
Clorofila Espectrofotômetro 10200
Oxigênio dissolvido Medidas eletrométricas 4500 O2 G
Tabela 2 - Dados de metodologia realizados segundo APHA/AWWA/WPCF (1998).
A análise qualitativa da comunidade fitoplanctônica foi realizada através do arraste horizontal
e vertical com de rede de 20 m de malha na profundidade da zona fótica (calculada a partir
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 18
dos dados de transparência). As amostras foram refrigeradas a 4º C, mantidas em frascos de
vidro de 100 mL. A análise quantitativa foi realizada a partir da amostragem do fitoplâncton
total, coletado em frasco de um litro in natura, na profundidade subsuperficial pela imersão
de um recipiente de vidro de boca larga de 1 litro, e fixado com 0,5 mL de lugol acético.
A coleta para análise qualitativa da comunidade zooplanctônica foi obtida através de arrastes
verticais e horizontais na profundidade da zona fótica com rede de plâncton de 68 m. As
amostras foram coradas com 4 gotas de rosa de bengala e fixadas com 8 gotas de formol 40%,
mantidas em vidros de 200 mL. Para análise quantitativa do zooplâncton, as amostras foram
coradas com 4 gotas de solução de bengala e mantidas a 4º C em vidros de 100 mL. A
contagem dos organismos seguiu o procedimento padrão com aparelho de Microscopia Ótica
Sedwick-Rafter da marca Olympus Tokyo
6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 - Dados Físico-químicos
O desenvolvimento da margem do lago mostra que este não possui grandes reentrâncias e,
portanto, sua capacidade de absorver cargas poluidoras é pequena. Pela finalidade com que a
cava foi construída, não caberia a formação de um lago com grande desenvolvimento da
margem, pelo fato do lago ser proveniente de uma cava de mineração, de forma arredondada.
A vegetação de borda é inexistente, e ambos impedem uma boa colonização de organismos
planctônicos que se desenvolvem em áreas de remanso, que utilizam macrófitas aquáticas e
material orgânico alóctone como alimento e refúgio.
A Figura 6.1 mostra o aumento da profundidade do lago e sua relação com a contribuição das
chuvas em cada mês do ano. A maior contribuição pluvial ocorreu em 2003, chegando a
atingir 230 mm no período chuvoso, o que contribuiu de forma mais visível para o aumento
da profundidade. Nos meses mais secos, o lago continua a elevar o nível da coluna d'água,
porém de forma menos intensa, devido à contribuição do lençol freático e do Ribeirão do
Prata.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 19
Figura 6.1 - Crescimento da profundidade do lago até final de 2004 e contribuição das chuvas
A divisão das camadas do lago em epilímnio, metalímnio e hipolímnio é dificultada pela
presença de condições homogêneas de temperatura e oxigênio dissolvido ao longo de toda a
coluna d'água. Por outro lado, trabalhos como o de Thienemann (1925, in Esteves, 1998) em
lagos de clima temperado mostraram que nos lagos profundos com produtividade baixa, a
decomposição da pouca matéria orgânica acumulada no hipolímnio não chega a interferir
significativamente nos níveis de oxigênio da água. Nestes lagos, observa-se oxigênio em toda
a coluna d'água, mesmo em períodos de estratificação térmica prolongada. Os lagos com
estas características tendem a ser oligotróficos e o perfil de oxigênio é denominado ortogrado.
A relação do volume do epilímnuio/ volume do hipolímnio é menor do que 1. Durante o
verão, estes lagos podem apresentar aumento da concentração de oxigênio no hipolímnio, pois
nesta região a temperatura é menor, o que aumenta a solubilidade deste gás. Neste caso, o
hipolímnio apresenta volume suficientemente grande em relação ao epilímnio, capaz de
armazenar grandes quantidades de oxigênio.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 20
Setembro de 2003
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Figura 6.2 – Perfil de temperatura (ºC) e oxigênio dissolvido (mg/L) ao longo da profundidade.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 21
A Figura 6.2 mostra o perfil térmico do lago associado à concentração de oxigênio aliado à
profundidade, de um mês em cada ano. Os meses escolhidos representam um período chuvoso
(janeiro), um período seco (julho) e dois meses intermediários (março e setembro). A
profundidade ao longo do tempo tende a aumentar, devido ao fato da cava estar ainda em
processo de enchimento. Estes perfis mostram pouca variação de temperatura e oxigênio
dissolvido. A decomposição da pouca matéria orgânica depositada no fundo não chega a
interferir nos níveis de oxigênio desta região e os dados de temperatura podem indicar uma
tendência de circulação diária. De acordo com os níveis de oxigênio, o lago tende a apresentar
um perfil do tipo ortogrado.
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5
mg
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Seqüência1
Seqüência2superfície
fundo
Figura 6.3: Valores de oxigênio dissolvido ao longo dos anos.
Apesar da grande profundidade relativa (área superficial pequena em relação à profundidade),
sugerindo assim uma grande tendência à meromixia, o hipolímnio apresenta uma boa
disponibilidade de oxigênio dissolvido (por volta de 7 mg/L). Sua profundidade relativa
(relação entre profundidade máxima e diâmetro médio do lago, conforme Håkanson, 1981)
será de 25 %, valor extremamente alto indicando a possibilidade da ocorrência futura de
condições de meromixia.
Os primeiros estudos limnológicos de lagos meromíticos foram desenvolvidos pelo cientista
austríaco Findenegg (1933, in Esteves, 1998). Nestes lagos, a distribuição de oxigênio
restringe-se somente à sua camada superior (mixolímnio). A consequência deste fenômeno é a
total ausência de oxigênio na parte inferior da coluna d'água (monimolímnio). O perfil de
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 22
oxigênio dissolvido destes lagos é do tipo clinogrado extremo, que se distingue dos demais
pela queda brusca da concentração de oxigênio dissolvido, o que não ocorre no lago de Águas
Claras. Ainda em relação ao oxigênio, por ser um ambiente recente e com sedimento rochoso,
a taxa de decomposição da matéria orgânica é mais baixa e, em relação ao seu grande volume,
há pouca perda de oxigênio para a atmosfera devido à pequena área do espelho d'água. Além
disto, as concentrações dos íons metálicos como ferro e manganês são baixas e não suficientes
para que o processo de oxidação consuma o oxigênio da água, o que poderia explicar as
condições óxicas encontradas em toda a coluna d'água.
Esteves (1998) comenta o fenômeno da estratificação e desestratificação diária, muito comum
em lagos tropicais, ou seja, estratificação que se desenvolve durante o período do dia,
culminando com o máximo de estabilidade térmica por volta de 16-17 horas e
desestratificação noturna. Este processo é facilitado pela pequena diferença de temperatura
existente entre o epilímnio e o hipolímnio. No verão, observam-se frequentes estabilizações
duradouras, que se relacionam com a pequena variação de temperatura neste período e de
reduzidas perdas de calor para a atmosfera, mesmo de madrugada.
Os valores de transparência obtidos até o momento, variaram de 0,5 metros (dez/01) a 4,5
metros (julho/04), com média de 1,6 metros. Os menores valores de transparência e turbidez
foram encontrados em dezembro de 2001 e os maiores valores são de medidas mais recentes.
Quanto à zona fótica (camada em que é encontrada até 3% de luz incidente) do lago de Águas
Claras alcança maior profundidade no inverno, podendo atingir até 5 metros, como
encontrada em 2004 (Figura 6.4). Esta zona não alcança grandes profundidades, sendo
considerada pequena, em comparação com o perfil geral de outros lagos. A entrada de luz no
lago pode ser dificultada por suas paredes íngremes e escuras, o que evita que a luz alcance
maiores profundidades, fazendo com que a zona fótica não seja muito espessa. As
concentrações de sólidos em suspensão, turbidez e cor não se encontram em excesso e nem
suficientemente altas para dificultar a penetração da luz solar.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 23
Lagoa Águas Claras
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A
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Figura 6.4 - Valores do disco de Secchi ao longo de cada profundidade (m), associados aos
sólidos em suspensão (STS) em vermelho.
Lagoa Águas Claras
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Superfície
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2001 2002 2003 2004 2005
Figura 6.5 - Valores de turbidez do lago em NTU de superfície e fundo ao longo dos anos.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 24
De acordo com a figura 6.5, os valores de turbidez de 2001 e 2002 apresentaram variações
maiores do que aqueles encontrados a partir de 2003. Isto poderia ser explicado pela provável
sedimentação de material particulado ao longo do tempo proporcionalmente ao aumento da
profundidade do lago. Os valores de turbidez nos anos posteriores são considerados baixos,
com cerca de menos de 10 NTU, encontrados no verão e nos meses de março e abril.
Em dezembro de 2002 e início de 2003 houve um aumento dos valores de DBO, nitrogênio,
turbidez, fosfato, ferro, baixas concentrações de OD e pH no fundo do lago aliado à baixa
transparência. Isto pode ser explicado pelo maior aporte de nutrientes providos do Ribeirão do
Prata no período chuvoso deste ano, que foram levados para o lago.
As diferenças de temperatura entre superfície e fundo do Lago de Águas Claras são maiores
nas épocas mais quentes do ano (novembro a março) quando a alta temperatura aquece as
camadas mais superficiais. Nos meses mais frios (maio a setembro) as temperaturas de
superfície e fundo não foram muito próximas o que sugere boa capacidade de circulação do
lago. Os maiores valores térmicos de superfície foram encontrados no verão de 2003 e os
menores foram obtidos no período precedente às chuvas, em 2004 na região do fundo. Mesmo
assim, não houve grandes diferenças térmicas entre superfície e fundo (Figura 6.6).
Para a condutividade elétrica, os valores obtidos no lago de Águas Claras variaram de 68
S/cm (nov/02, fundo) a 113 S/cm (maio/01, fundo), indicando a presença de sais
dissolvidos na água, de origem geoquímica. Os valores de condutividade tenderam a diminuir
ao longo do tempo. Pode-se constatar a ocorrência de teores ligeiramente mais elevados na
época seca, quando não ocorre o efeito diluidor das águas de chuva. Os valores de
condutividade foram coerentes com os dados de turbidez, com menores variações em
medições mais recentes.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 25
Lagoa Águas Claras
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Tem
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Superfície
Fundo
2001 2002 2003 2004 2005
Figura 6.6 - Dados de temperatura da superfície e do fundo de setembro de 2001 a agosto
de 2005.
Lagoa Águas Claras
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A
Condutivid
ade e
létr
ica (
µS
/cm
)
40
60
80
100
120
Superfície
Fundo
2001 2002 2003 2004 2005
Figura 6.7 - Valores de condutividade elétrica de superfície e fundo de 2001 a agosto de 2005.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 26
Lagoa Águas Claras
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A
Alc
alin
idad
e to
tal (
mg/
L)
10
20
30
40
50
Superfície
Fundo
2001 2002 2003 2004 2005
Quanto ao pH, os valores de superfície situaram-se na faixa compreendida entre 7 e 8 e a
diferença dos valores no fundo foi maior, variando entre 6 e 9. Na época chuvosa, o pH
atingiu valores maiores, chegando a 9,6 em janeiro de 2004, tendendo a apresentar valores
mais baixos no inverno. A partir de 2003 os valores de pH foram maiores, principalmente na
superfície e este perfil de estabilizou nos dois anos posteriores. Isto sugere que nesta época
ocorreu aumento na taxa fotossintética pelas algas, devido ao aumento da radiação e
disponibilidade de nutrientes.
Lagoa Águas Claras
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A
pH
5
6
7
8
9
10
Superfície
Fundo
2001 2002 2003 2004 2005
Figura 6.8 - Valores de pH da superfície e fundo de 2001 a agosto de 2005.
Figura 6.9 - Valores de alcalinidade total em mg/l.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 27
Lagoa Águas Claras
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J
Sul
fato
(m
g/L)
0
5
10
15
20
25
30
Superfície
Fundo
2001 2002 2003 2004 2005
Lagoa Águas Claras
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A
Dur
eza
tota
l (m
g C
aCO
3/L)
10
20
30
40
50
60
70
Superfície
Fundo
Os teores de dureza no lago de Águas Claras variaram de 34 mg/L (novembro/04, superfície)
a 60,8 mg/L (agosto/01, fundo). A evolução temporal dos valores de dureza é semelhante
àquela obtida para a alcalinidade, destacando-se também aqui a tendência decrescente dos
valores. O lago de Águas Claras apresenta características de alcalinidade que o consideram
como águas brandas, com capacidade de tamponamento restrito, comum em ambientes
tropicais.
Figura 6.10 - Valores de dureza mg de CaCO3 / L de 2001 a 2005
Figura 6.11 - Valores de sulfato do Lago de Águas Claras em mg/L de 2001 a 2005
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 28
Lagoa Águas Claras
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A
DBO
0
1
2
3
4
5
Superfície
Fundo
As concentrações de sulfatos variaram de 9,1 mg/L a 18,4 mg/L. Em geral foram registrados
teores mais elevados nas camadas profundas, observando-se ainda uma queda de valores ao
longo de 2002, seguida de uma ascensão no primeiro semestre de 2003 e nova queda a partir
do segundo semestre 2003. A média do período chuvoso (outubro-março: 14 mg/L) é
praticamente igual àquela do período seco (abril-setembro: 15 mg/L), descaracterizando assim
a ocorrência de influências sazonais para este parâmetro. Foram registrados teores mais
elevados nas camadas profundas, observando-se ainda uma queda de valores ao longo de
2002, seguida de uma ascensão no primeiro semestre de 2003 e nova queda a partir do
segundo semestre 2003.
Os valores de DBO tiveram média de 0,88, com valores mais baixos na região do fundo e
diferenças entre superfície e fundo maiores no verão. Os valores destas duas camadas se
aproximam muito no inverno, evidenciando a capacidade de circulação do lago neste período.
A concentração de DBO total tendeu a cair a partir do inverno de 2004 e os dados iniciais do
lago também apresentaram valores baixos, como mostra a Figura 6.12 a seguir:
Figura 6.12 - Dados de DBO em mg/L de superfície e fundo de 2001 a 2005.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 29
Os valores de ferro do lago de Águas Claras (figura 6.13) mostraram-se mais discrepantes
entre superfície e fundo no verão, com maiores concentrações na região do fundo. No inverno,
o perfil entre superfície e fundo mostrou-se semelhante, sem grandes diferenças entre as
camadas superiores e inferiores. Os valores de ferro total apresentaram uma média de 0,5
mg/L. O elemento ferro pode ser encontrado em sua maioria no lago em estado oxidado,
devido à presença de oxigênio em toda a coluna d'água. As concentrações deste elemento em
estado reduzido são pouco expressivas devido à atual ausência da região do hipolímnio no
lago de Águas Claras. Apesar do lago ter sido originado a partir de mineração de ferro, a
concentração deste elemento não é suficientemente capaz de influenciar significantemente a
qualidade da água do lago. A análise deste padrão indica não estar ocorrendo ainda processo
bioquímico de solubilização do ferro, pois os valores de ferro solúvel na região do fundo
foram baixos (0,05 mg/L), devido ao predomínio de condições oxidantes em toda a coluna
d’água. Em lagos onde predominam condições de oxidação, como aqueles com perfil de
oxigênio do tipo ortogrado e pH próximo do neutro, grande parte dos íons de ferro presentes,
encontra-se na forma oxidada, originando complexos na forma de hidróxido de ferro
hidratado, podendo absorver espécies fosfatadas, precipitando-as principalmente no
sedimento. Além disto, os íons de ferro interferem na precipitação do fosfato.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
mai
-02
jul-02
set
-02
nov
-02
jan-0
3
mar
-03
mai
-03
jul-03
set
-03
nov
-03
jan-0
4
mar
-04
mai
-04
jul-04
set
-04
nov
-04
jan-0
5
mar
-05
mai
-05
mg
/L
Figura 6.13 - Valores de ferro total em mg/L de superfície (linha negra) e fundo (linha
vermelha).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 30
Pesquisadores como Mortimer (1941) e Uhlmann (1975) mostraram que a ação dos íons de
ferro sobre a dinâmica do fosfato depende da oxigenação e pH do meio. O lago de Águas
Claras é bem oxigenado e a quantidade de fosfato solúvel é em média 0,01 mg/L, enquanto
que a de fosfato total é 0,02 mg/L, evidenciando que a concentração de ambas as formas de
fosfato é baixa. O fósforo (PO4-) parece estar mais disponível no período chuvoso. Em agosto
de 2003 e no início de 2004 altos valores de PO4-
foram encontrados, mostrando um pico
inesperado. O ano de 2003 também foi marcado pelo aumento da concentração de cloretos,
pela alta condutividade (110 microS/cm) e baixa transparência. A maior quantidade de
nutrientes provavelmente foi originada do Ribeirão do Prata no período chuvoso deste ano,
razão esta que justificou o corte do bombeamento das águas deste ribeirão pela MBR, no
período das chuvas nos próximos anos. A disponibilidade do fósforo na forma fosfato é bem
mais abundante do que a forma solúvel, podendo ser encontrado na superfície e fundo, ambos
com perfil semelhante. Os maiores picos são encontrados no verão. No inverno de 2003 um
grande pico pôde ser observado, devido a um eventual aporte de matéria orgânica trazidos
pelo Ribeirão do Prata. Os valores totais para este parâmetro são considerados baixos, a
quantidade de fosfato solúvel é em média 0,01 mg/L, enquanto que a de fosfato total é 0,02
mg/L, o que enquadra o lago no tipo de água de classe II. As baixas concentrações da forma
solúvel podem ser explicadas pela boa disponibilidade de oxigênio do lago, o que dificulta a
solubilização do fósforo.
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
mai
-01
ago
-01
nov
-01
fev-
02
mai
-02
ago
-02
nov
-02
fev-
03
mai
-03
ago
-03
nov
-03
fev-
04
mai
-04
ago
-04
nov
-04
fev-
05
mg
/L
Seqüência1
Seqüência2superfície
fundo
Figura 6.14 - Valores de fósforo solúvel do lago ao longo dos anos.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 31
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,1
mai
-01
ago
-01
nov
-01
fev-
02
mai
-02
ago
-02
nov
-02
fev-
03
mai
-03
ago
-03
nov
-03
fev-
04
mai
-04
ago
-04
nov
-04
fev-
05
mg
/L
Seqüência1
Seqüência2
fundo
superfície
Figura 6.15 - Valores de fosfato de superfície e fundo ao longo dos anos.
0
1
2
3
4
5
6
mai/01
ago/0
1
nov/0
1
fev/0
2
mai/02
ago/0
2
nov/0
2
fev/0
3
mai/03
ago/0
3
nov/0
3
fev/0
4
mai/04
ago/0
4
nov/0
4
fev/0
5
mai/05
mg
/L
Seqüência2
Seqüência3
Seqüência4Nitrato (superfície)
Nitrato (fundo)
Amônia (superfície)
Figura 6.16 - Dados de nitrato e amônia ao longo dos anos.
Os resultados da série nitrogenada no lago de Águas Claras mostram que as maiores
concentrações de nitrogênio amoniacal foram encontradas em 2002 (0,4 mg/L), mas mesmo
assim, de um modo geral, são consideradas baixas. O nitrogênio em forma de nitrato é mais
abundante do que as formas amônia e nitrito. Os maiores valores coincidem com a época mais
seca e os menores nos períodos chuvosos, principalmente os dados de nitrato de superfície. Os
valores de nitrato de superfície e fundo tendem a se aproximarem nos períodos de inverno.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 32
Isto sugere que na época mais quente pode ter ocorrido assimilação do nitrato por parte das
algas.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
0,5m
ai-0
1
ago
-01
nov
-01
fev-
02
mai
-02
ago
-02
nov
-02
fev-
03
mai
-03
ago
-03
nov
-03
fev-
04
mai
-04
ago
-04
nov
-04
fev-
05
mg
/L
Seqüência1
Seqüência2superfície
fundo
Figura 6.17 - Dados de amônia do lago ao longo dos anos.
As concentrações de manganês oscilaram normalmente entre < 0,05 mg/L (77 % dos
resultados) e 0,17 mg/L (fevereiro/02, fundo), os quais se constituem valores relativamente
baixos. Com relação à presença de substâncias tóxicas, a água da cava apresenta boas
condições, não tendo sido registradas quaisquer concentrações preocupantes. Foram
monitorados também fenóis (média de 0,001 mg/L), óleos e graxas (média de 0, 53mg/L),
cianetos (média de 0,01 mg/L), alumínio (média de 0,11 m/L), arsênio (média de 0,04 mg/L),
cádmio (média de 0,01 mg/L), chumbo (média de 0,023 mg/L), cobre (média de 0,02 mg/L)
cromo trivalente (0,05 mg/L) e mercúrio (0,0008 mg/L). Os valores considerados altos para os
padrões das classes em termos de qualidade da água foram os óleos e graxas, arsênio e
chumbo que ultrapassaram as médias exigidas para classe II.
Quanto aos cloretos, os valores oscilaram entre 0,3 e 2,2 mg/L. O predomínio de baixas
concentrações dificulta o estabelecimento de eventuais padrões sazonais, mas há a tendência
ao aumento da concentração de cloretos durante a estação chuvosa.
Os resultados obtidos no lago de Águas Claras apontam para uma virtual ausência de
contaminação fecal, já que a grande parte dos valores de coliformes foram menores que 2
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 33
indivíduos/100mL. Valores esporádicos acima de 20 indivíduos/100mL em fevereiro de 2001
e abril de 2003 foram encontrados. Os valores de Escherichia coli foram abaixo de
2ind/100mL, o que, neste aspecto, mostra um enquadramento da água na classe 1.
6.2 - Comunidade Planctônica
6.2.1 - Fitoplâncton
A produtividade fitoplanctônica em ambientes tropicais é dependente da radiação subaquática
e da disponibilidade de nutrientes, principalmente fosfato, amônia e nitrato. Os maiores
valores de produtividade são geralmente encontrados nos períodos de chuvas e de maiores
velocidades do vento, em setembro e dezembro (MARINS, 1981). As principais espécies
encontradas no lago estão ilustradas no anexo 1 deste trabalho (pág. 72 a 76).
Por outro lado, segundo Lind et al. (1992), lagos tropicais tendem a apresentar maior
produtividade primária anual e alguma sazonalidade no que diz respeito às florações de algas
nas diversas estações do ano. Este perfil estaria mais relacionado com a disponibilidade de
nutrientes do que com radiação e temperatura, menos limitantes nestes ambientes. Os gráficos
a seguir mostram relações entre o crescimento geral das algas e os nutrientes (Figura 6.18) e
em relação à concentração de clorofila a (Figura 6.19).
0
1
2
3
4
5
6
set
-01
nov
-01
mar
-02
jun-0
2
set
-02
dez
-02
mar
-03
jun-0
3
set
-03
dez
-03
mar
-04
jun-0
4
set
-04
dez
-04
mar
-05
mg
/L
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
ind
/10m
l
Seqüência3
Seqüência2
Seqüência1
Fitoplâncton total
Nitrato
Fosfato
Figura 6.18 - Relação entre a comunidade fitoplanctônica e nutrientes
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 34
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
set
-01
nov
-01
mar
-02
jun-0
2
set
-02
dez
-02
mar
-03
jun-0
3
set
-03
dez
-03
mar
-04
jun-0
4
set
-04
dez
-04
mar
-05
ind
/10m
l
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
mg
/m3
Seqüência2
Seqüência1Clorofila a
Fitoplâncton total
Figura 6.19 - Perfil de clorofila a e somatório do fitoplâncton.
A menor população algal foi registrada no mês de julho/04 (8 ind/10 mL), enquanto que a
maior (42223 ind/10 mL) ocorreu em agosto/02. Portanto, tanto o valor máximo quanto o
mínimo, foram obtidos no período invernal. A tendência de maior crescimento de algas
ocorreu no período chuvoso, ainda que notado também em períodos precedentes às chuvas.
Houve diminuição do crescimento geral de algas nos dois últimos anos de coleta. A
comunidade zooplanctônica tendeu a acompanhar o perfil de algas, porém maior nos meses de
março e maio, indicando possíveis relações de herbivoria, fator que não pode ser ignorado
para explicar a disponibilidade algal, como será mostrado mais adiante.
6.2.1.1 - Clorófitas
As Chlorophyceae ou algas verdes são muito abundantes e possuem aproximadamente 8.000
espécies conhecidas, sendo que 90% são de ambientes lacustres (FOTT, 1971).
A Chlorophyceae é uma família comum em rios brasileiros. Estudos como os de Rolla et al.
(1990) e Barbosa et al. (1995) contribuíram para o conhecimento planctônico de vários de
nossos rios e a identificou como taxa dominante, juntamente com as Chrysophyceae.
Bachion e Sipaúba-Tavares (1992), ao estudarem a sucessão fitoplanctônica tropical em
tanques artificiais de camarão com diferentes tipos de nutrientes, notaram a forte presença de
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 35
algas clorofíceas, que dominaram sobre os outros grupos algais, seguidas por diatomáceas e
cianobactérias.
Hindák & Hindáková (2003) encontraram em um lago urbano de mineração de cascalho na
Eslováquia grande diversidade de clorófitas como Catenococus tortuosus, Posonia sestonica e
cianobactérias como Cyanocatena planctonica e Planktocianocapsa stagnalis. As clorófitas
dos gêneros Pandorina, Botryococcus e Coelastrum e crisófitas dos gêneros Synura,
Dinobryon e Peridinium, mostraram-se frequentes no verão em 80 lagos na Hungria e outros
de clima temperado.
Outros estudos de estuários tropicais como o de Tabudravu et al. (2002) mostraram que a
espécie Enteromorpha flexuosa é capaz de assimilar metais na água, como cobre e zinco,
agindo tanto como bioindicadores de qualidade da água, quanto relacionadas a fenômenos de
bioacumulação nas cadeias alimentares.
As clorófitas desenvolvem-se comumente em perfis semelhantes aos das cianobactérias.
Autores como Oliva et al. (2001) notaram este comportamento em lagos hiposalinos no
México, e observaram que a sucessão ocorreu com picos temporais próximos entre estes dois
grupos, preferencialmente associados à alta luminosidade e baixa concentração de nutrientes.
Quanto às Chlorophyceae do lago de Águas Claras, a grande maioria foi representada pelo
gênero Chlorella. Estas algas apresentaram picos elevados nos períodos chuvosos e outro
maior em agosto (cerca de 40.000 indivíduos) de 2002, marcando o perfil geral da
comunidade fitoplanctônica. Este grande pico atípico na estação seca pode estar associado à
alta concentração de nitrato observada neste período, o que favoreceu o crescimento
diferenciado nesta época do ano. Esta espécie foi também encontrada na Lagoa da Pampulha
no fim da estação chuvosa por Pinto Coelho (1998) o que coincide com baixa de nutrientes.
Este mesmo perfil foi encontrado no lago de Águas Claras para outras espécies de clorófitas
que se desenvolveram preferencialmente nos períodos posteriores às chuvas. Por outro lado,
o crescimento populacional total dos representantes do grupo nos anos de 2001 e 2002
acompanhou os valores de nutrientes, principalmente nitrato, mais elevado nos dois primeiros
anos de coleta.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 36
Chlorella vulgaris
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
set-
01
jan
-02
mai
-02
set-
02
jan
-03
mai
-03
set-
03
jan
-04
mai
-04
set-
04
jan
-05
ind
/10
ml
S
e
q
ü
ê
Figura 6.20 - Crescimento da espécie de clorófita Chlorella vulgaris no lago de Águas
Claras ao longo dos anos.
0
50
100
150
200
250
300
set/0
1
jan
/02
mai
/02
set/0
2
jan
/03
mai
/03
set/0
3
jan
/04
mai
/04
set/0
4
jan
/05
mai
/05
ind
/10
ml
Seqüência1Outras espécies de clorófitas
Figura 6.21 - Variação temporal da comunidade de clorófitas. A contribuição da espécie Chlorella vulgaris não foi aqui apresentada.
Em Águas Claras, as clorófitas marcaram o perfil geral da comunidade fitoplanctônica,
principalmente a espécie Chlorella vulgaris. Estudos como os de Tilman (1982) sugerem que
as clorófitas tendem a dominar quando a relação N:P aumenta, em uma sequência temporal
posterior, depois que cianobactérias floresceram quando a razão N:P estava mais baixa. O
gráfico a seguir mostra a oscilação temporal das outras espécies de clorófitas no lago. Os
meses de fevereiro, março de 2002 e abril de 2003 foram preenchidos pela espécie
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 37
Sphaerocystis schroeteri. Em fevereiro de 2005 foi encontrado Cosmarium bioculatum,
representando o segundo maior pico. O maior foi representado pelo gênero Chorococum, com
mais de 400 indivíduos em setembro de 2002.
6.2.1.2 - Cianobactérias
Entre os organismos fitoplantônicos, estudados por Teiling (1955) alguns grupos de
cianobactérias (notadamente os gêneros Microsystis e Anabaena) são encontrados em maior
abundância em ecossistemas eutróficos, enquanto alguns grupos de diatomáceas
(principalmente o gênero Asterionella, Melosira e Tabellaria) são de lagos oligotróficos.
A produção de cianotoxinas por estes organismos pode interferir não somente na qualidade da
água, como também nas cadeias alimentares e relações de herbivoria (LINDHOLM et al.,
1989). A aquisição de imunidade por organismos zooplanctônicos que se alimentam destas
algas já foi observada por Lampert (1987) e por Haney (1987). Espécies do gênero
Oscillatoria (encontrada em Águas Claras) e Anabaena, já foram descritas como responsáveis
por produção de toxinas (BERG et al., 1986).
De acordo com Sant'Anna e Azevedo (2000), já foi registrada a ocorrência de pelo menos 20
espécies de cianobactérias potencialmente tóxicas, incluídas em 14 gêneros, em diferentes
ecossistemas aquáticos brasileiros. De acordo com estes autores, a espécies Microcystis
aeruginosa apresenta a distribuição mais ampla no Brasil e a Anabaena é o gênero com o
maior número de espécies potencialmente tóxicas (A. circinalis, A. flos-aquae, A. planctonica,
A. solitaria e A. spiroides). A função destas toxinas não é clara, mas seu papel pode estar
relacionado com mecanismos das algas contra a herbivoria. Algumas destas espécies mais
conhecidas, responsáveis pela produção de toxinas como as dos gêneros Microcystis e
Anabaena foram encontradas, ainda que em baixa quantidade no lago de Águas Claras.
Discussões a respeito da teoria razão-recurso predizem que a limitação por nitrogênio
favorece a dominância destas algas, em lagos e reservatórios. As cianobactérias seriam
melhores competidoras do que outros organismos do fitoplâncton, dominando quando a
relação N:P é mais baixa (SCHINDLER, 1977; TILMAN, 1982).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 38
Ao mesmo tempo em que as cianobactérias são boas competidoras quando a relação N:P é
mais baixa, ou seja, com baixas concentrações de nitrogênio, tem sido observado o aumento
de representantes deste grupo em condições de excesso de nutrientes, como nos casos em que
ocorre a eutrofização. Azevedo et al. (1994) notaram o aumento de florações de
cianobactérias próximas aos centros urbanos, onde a descarga de matéria orgânica,
provenientes de esgotos e fertilizantes químicos é mais acentuada. A toxicidade de florações
de cianobactérias e alterações de cepas tóxicas e não tóxicas nas populações pode variar entre
variações sazonais de curta duração até intervalos maiores de tempo, mais imprevisíveis e de
difícil controle.
As cianobactérias são um exemplo de organismos pioneiros que surgem com o aumento da
concentração de nutrientes na água, mas eventualmente podem ocorrer florações quanto a
disponibilidade de nutrientes ainda é baixa, por serem capazes de fixá-lo quando este não está
suficientemente disponível. São mais comuns em ambientes eutrofizados, mas podem
florescer em condições baixas de nitrogênio por serem capazes de fixar este elemento. No
Brasil, estudos como os de BARBOSA et al. (1995) mostraram a abundância do grupo em
várzeas e lagoas costeiras, com predominância dos gêneros Anabaena e Microcystis.
Reynolds (1997) comenta que a relevância do nitrogênio para o crescimento de cianobactérias
é sempre discutível, pois vários gêneros destes organismos são capazes de compensar a falta
do nitrogênio da água com a capacidade de fixação biológica deste elemento. Portanto, a
deficiência de nitrogênio inorgânico pode permitir a dominância de alguns gêneros, como
Anabaena e Cylindrospermiopsis. Porém, estas espécies podem também ocorrem em
condições de altas concentrações de nitrogênio inorgânico.
Smith (1983) comenta que a baixa relação N:P é benéfica tanto para alguns grupos de
cianobactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico quanto para algumas não fixadoras. Alguns
tipos de cianobactérias são mais conhecidos por serem comumente encontrados nestas
condições, como o gênero Nodularia, comum em lagos tropicais hiposalinos nos períodos de
estratificação, ou seja, quando a concentração de nutrientes é mais baixa.
Segundo estudos de Dokulil & Teubner (2000), a dominância de um ou outro grupo não
depende somente da quantidade de nutrientes, mas do tipo de alga específica envolvida.
Características ecológicas e fisiológicas, assim como competição entre espécies e relação com
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 39
outros níveis tróficos devem ser consideradas. Em síntese, além de fatores como temperatura,
oxigênio e turbidez, as comunidades dominantes de algas podem ser fortemente influenciadas
por complexos fatores ligados ao suprimento de nutrientes e cadeias alimentares.
Entre as cianobactérias do lago (Figura 6.22), as espécies do gênero Oscillatoria antecederam
o crescimento populacional dos outros representantes do grupo. Nos meses de setembro a
outubro de 2001, predominaram as espécies Synechocystis pevalekii e Oscillatoria
angustissima, dando lugar posteriormente para Hyella caespitosa. Em maio de 2002
reapareceram os gêneros Oscillatoria e Raphidiopsis. Este grupo apresentou preferência pelos
períodos que antecedem as chuvas ou nos períodos mais secos. A maioria das espécies do
gênero Oscillatoria é capaz de sobreviver nas partes mais profundas do lago e suportam
pouca quantidade luminosa, por se comportarem como seres mixotróficos (assimilam
compostos orgânicos). Além disto, a floração de espécies deste grupo em seus maiores picos,
teve relação direta com a queda de nitrato (Figura 6.23).
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
set/0
1
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/02
mai
/02
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2
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/03
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/03
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3
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/04
mai
/04
set/0
4
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/05
mai
/05
set/0
5
ind
/10
ml
Seqüência1Cianobactérias
Figura 6.22 - Variação temporal das cianobactérias no lago de Águas Claras.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 40
0
1
2
3
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5
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01
nov
-01
mar-
02
jun
-02
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02
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-02
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03
jun
-03
set-
03
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-03
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04
jun
-04
set-
04
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-04
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05
mg
/L
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ind
/10m
l
Seqüência3
Seqüência4
Seqüência2
Seqüência1
Clorófitas
Cianobactérias
Nitrato
Fosfato
Figura 6.23 - Relação entre crescimento de alguns grupos algais e nutrientes
Rolla et al. (1992) notaram a predominância de cianobactérias no Rio Grande. Assim como
no lago de Águas Claras, este autor notou que estes organismos antecederam ao aparecimento
de clorófitas, que representaram cerca de 60 a 85 % dos taxa encontrados neste rio.
6.2.1.3 - Crisófitas
As células das crisófitas podem ser nuas ou com parede celular constituída basicamente de
celulose. Alguns representantes possuem escamas proeminentes de sílica como as
diatomáceas, enquanto outros possuem envoltórios geralmente compostos de fibrilas
celulósicas entrelaçadas, as quais podem ser impregnadas com minerais (RAVEN, 1996).
As frústulas de diatomáceas apresentam duas formas principais: elíptico-arredondadas como a
ordem Centrales e alongadas da ordem Pennales. Esta última é muito encontrada em
ambientes fluviais, como o gênero Pinnularia, encontrado em Águas Claras, enquanto que as
primeiras são mais comuns em ambientes lacustres, como Melosira e Cyclotella, também
encontradas no lago em estudo.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 41
Oliva et al. notaram a presença de diatomáceas da espécie C. elmorei em condições de alta
temperatura em um lago mexicano que se comporta semelhantemente ao tropical. As
diatomáceas também foram encontradas em maior abundância em períodos mais quentes em
alguns lagos dos Estados Unidos (LELAND & BERKAS, 1998).
0
5000
10000
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set-
01
jan
-02
mai
-02
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02
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-03
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set-
03
jan
-04
mai
-04
set-
04
jan
-05
mai
-05
ind/1
0m
l
Seqüência1crisófitas
Figura 6.24 - Crescimento das algas crisófitas no lago de Águas Claras ao longo dos anos.
O perfil de crescimento das crisófitas ocorreu em períodos próximos à estação chuvosa, com
um primeiro grande pico em março de 2002 com o gênero Pinnularia, seguido por grande
crescimento de Cyclotella e Navicula. O gênero Synedra foi marcante e esteve presente ao
longo dos anos (figura 6.24).
Contraditoriamente ao crescimento relacionado às altas temperaturas, Reynolds (1984)
defende que fatores associados às altas temperaturas induzem o crescimento de
cianobactérias, que tendem a dominar e a serem substituídas por clorófitas e diatomáceas à
medida que a temperatura diminui. No lago de Águas claras, foi notada a sucessão destas
algas nesta mesma sequência temporal descrita, mas a floração de diatomáceas esteve mais
associada às altas temperaturas e chuva.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 42
6.2.1.4 - Pirrófitas
As pirrófitas são também conhecidas como dinoflagelados, possuindo tecas de celulose e dois
flagelos. São mais abundantes no plâncton marinho (podendo causar a maré vermelha) do que
em ambientes dulcícolas, sendo o Peridinium e o Gimnodinium os gêneros mais freqüentes
nestas águas. Os dinoflagelados são pouco estudados em águas doces do Brasil, ainda que
ocorram com freqüência em lagoas costeiras doces (ESTEVES, 1996).
0
2000
4000
6000
8000
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/01
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02
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/04
jun/
04
set/
04
dez
/04
mar
/05
jun/
05
ind
/10
ml
Figura 6.25 - Crescimento das algas pirrófitas ao longo dos anos.
Em relação às pirrófitas do lago de Águas Claras (figura 6.25), os maiores valores entre as
populações encontradas correspondem aos períodos mais quentes do ano. Picos menores
eventuais foram encontrados de março a junho. As espécies mais frequentes em todos os anos
foram as do gênero Peridinium, mas houve um grande pico marcante da espécie Peridinopsis
quadridens em 2002. Estas algas tendem a acompanhar seguidamente a floração das
clorófitas, como será mostrado mais adiante.
6.2.1.5 - Euglenófitas
Este grupo possui boa variedade de representantes de água doce como a Euglena, Phacus,
Lepocinclis, Trachelomonas, Strombomonas, entre outros, totalizando 930 espécies em 45
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 43
gêneros de água doce. Possuem alto grau de heterotrofia, vivendo em águas ricas em matéria
orgânica. Algumas incolores podem ser encontradas no hipolímnio de lagos (RAVEN, 1996).
0
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mar
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4
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/10
ml
Seqüência1Euglenófitas
Figura 6.26 - Crescimento das algas euglenófitas no lago de Águas Claras ao longo dos anos
Quanto às euglenófitas, ocorreu uma única floração significativa em fevereiro de 2002,
período coincidente com o fim das chuvas, representada pelo gênero Peranema (2813
indivíduos/10mL), marcando o perfil geral do grupo. Outra floração, ainda que bem menos
significativa, foi representada pelo gênero Petalomonas (111 indivíduos/10mL). O grupo
apresentou média representatividade, com mais três outros gêneros encontrados, como
Trachelomonas, Strombomonas e Thylacomonas, ainda que em quantidades muito baixas.
6.2.2 – Zooplâncton
O fato do zooplâncton ser um elo intermediário na cadeia pelágica de um ecossistema lacustre
implica em estar sob constantes impactos dos níveis tróficos inferiores, como o efeito do tipo
"bottom up", que vem de baixo para cima, bem como dos níveis tróficos superiores ou efeito
do tipo "top down", que vem de cima para baixo (BERGQUIST et al., 1985). Sendo assim,
não somente a qualidade e disponibilidade de algas fitoplanctônicas, como também o tipo e
quantidade de predadores que atuam sobre esta comunidade podem afetar a estrutura do
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 44
zooplâncton. As fotos das principais espécies zooplanctônicas podem ser visualizadas no
anexo 1 (pág. 77 a 85) deste trabalho.
Os padrões de desenvolvimento sazonal das comunidades zooplanctônicas tropicais ainda não
são suficientemente claros. Uma das características assinaladas em relação a estes padrões é a
ocorrência de flutuações de curta duração (DUNKAN & GULATI, 1981; TWOMBLY,
1983).
Segundo Portner (1977), mencionado por Pinto-Coelho (1983), a simples correlação a partir
de dados sobre a evolução sazonal da comunidade planctônica pode produzir resultados pouco
esclarecedores em relação aos efeitos do zooplâncton sobre o fitoplâncton por pelo menos três
razões: efeitos antagônicos da herbivoria em medidas que sumarizam o comportamento do
fitoplâncton, tais como clorofila a, produtividade primária, índices de diversidade,
desconsideração frequente da fração nanoplanctônica em censos do fitoplâncton e, finalmente,
dificuldades em avaliar relações de causa e efeito entre populações de zoo e fitoplânctons em
estudos descritivos.
Segundo Ferrão-Filho et al. (2003) o entendimento das relações tróficas em ambientes
tropicais é ainda limitado, mas a maior atenção para a dinâmica de flutuação das comunidades
zooplanctônicas faz-se necessária para esclarecimento do comportamento da biota nos
ecossistemas aquáticos.
As populações dos diversos grupos zooplanctônicos no lago de Águas Claras apresentaram-se
de forma diversa, representada em sua maioria pelos rotíferos e crustáceos. O crescimento
geral da comunidade zooplanctônica sucedeu-se logo após o crescimento fitoplanctônico.
Houve padrões de crescimento sincrônico no lago, mas o aparecimento de picos antagônicos
entre estes dois grandes grupos ocorreu de forma mais acentuada, o que pode sugerir relações
de herbivoria, como ilustra o gráfico a seguir:
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 45
0
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04
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-05
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05
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0
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10000
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20000
25000
ind
/10m
l
Seqüência2
Seqüência1
Zooplâncton
Fitoplâncton
Figura 6.27 - Sobreposição geral entre a comunidade fitoplanctônica e zooplantônica totais.
6.2.2.1- Protozoários
Embora a maioria dos autores considere que a grande parte da biomassa do zooplâncton seja
constituída por rotíferos e crustáceos (Cladocera e Copepoda), alguns autores como Beaver &
Crisman (1982) evidenciaram que a abundância dos protozoários pode ser maior ou igual à de
outros componentes do zooplâncton. Em muitos lagos, em certas épocas do ano, pode ser
observada a dominância de protozoários (PACE & ORCUTT, 1981).
A negligência em relação à importância dos protozoários deve-se principalmente às
dificuldades metodológicas envolvidas com a coleta e identificação destes organismos. Vale
lembrar que a rede de plâncton tradicionalmente utilizada para a coleta de cladóceros,
rotíferos e copépodos, na maioria dos casos não retém protozoários, principalmente as formas
menores. O método tradicional de fixação através de utilização da formalina provoca ruptura
da célula destes organismos, subestimando a sua densidade nas amostras de zooplâncton
coletadas. A necessidade do emprego de metodologia especial contribui para que os
protozoários sejam, ainda hoje, os organismos zooplanctônicos menos estudados (ESTEVES,
1998). Os protozoários podem não ter sido muito significativos no Lago de Águas Claras
devido à dificuldade de coleta e fixação, pois normalmente são componentes abundantes deste
grupo.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 46
Os ciliados são geralmente os maiores e mais frequentes protozoários do plâncton continental
(BARBIERI, 1986). Apresentam um regime alimentar diversificado, podendo ser
bacteriófagos, detritívoros, herbívoros, carnívoros (inclusive canibais) e são, entre os
protozoários, o grupo mais bem conhecido. No lago de Águas Claras, a comunidade de
ciliados avaliada aparentemente foi muito pouco abundante e diversa. O gênero Endosphaera
aparece com 81 ind/10L em novembro de 2002 e pôde-se constatar a presença dos gêneros
Paramecium, Vorticella, Colpidium nos períodos chuvosos, mas em baixas quantidades.
0
20
40
60
80
100
abr-01 nov-01 mai-02 dez-02 jun-03 jan-04 ago-04
Figura 6.28 - Crescimento de ciliados no lago de Águas Claras em ind/10L
Segundo BEAVER E CRISMAN (1982), estes organismos têm papel fundamental na
transferência de energia em ecossistemas lacustres pelo fato de se alimentarem de partículas
que não seriam assimiladas por copépodos e cladóceros, mas que acabam sendo
transformadas em biomassa maiores para serem consumidas. Os ciliados também são
importantes como recicladores de fosfato e geralmente são maiores e os mais abundantes
protozoários do plâncton continental (BARBIERI, 1986).
Segundo Porter et al. (1985), protozoários heterótrofos são reconhecidos como os maiores
consumidores da produção microbial. Eles atuam como predadores de bactérias, como presas
para o macrozooplâncton e como catalizadores para a mineralização e reciclagem de
elementos essenciais para o fitoplâncton e crescimento bacteriano.
Esta intensificação da atividade microbial funciona na medida em que a estimulação do
crescimento de bactérias é resultado de atividade de "grazing" dos protozoários, o que
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 47
influencia na liberação de nutrientes da matéria morta, sugerindo que os protozoários
desempenham um papel indireto na ciclagem de nutrientes (LAYBOURN-PARRY, 1987).
O gráfico a seguir mostra o crescimento geral de sarcodinos, protozoários que se locomovem
através de pseudópodes, bem representativos no lago, apresentando picos intercalados de
diferentes espécies entre períodos chuvosos e secos:
Sarcodinos
0
50
100
150
200
250
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/01
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2
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/03
jun/0
3
set/03
dez
/03
mar
/04
jun/0
4
ind
/10L
S
e
q
ü
ê
n
Figura 6.29 - Crescimento geral de sarcodinos no lago de Águas Claras ao longo dos anos.
Quanto à comunidade de Sarcodinos, ocorreu a presença de Euglypha laevis (274 ind/10mL),
Arcella vulgaris (80 ind/10ml) e Difflugia oblonga (78 ind/10ml), representando juntas o
maior pico no período chuvoso em 2001. No inverno de 2002, e Arcella hemisphaeric (71
ind/10mL) e Amoeba spp (75 ind/10mL) estavam presentes e no mesmo período de 2003,
Actinosphaerium spp. (145 ind/10mL) manifestou-se como o segundo maior pico. Arcella
vulgaris (78 ind/10mL) apareceu no último período chuvoso descrito.
6.2.2.2 - Cladóceros
Rocha et. al. (1995), ao fazerem um estudo geral de zooplâncton em lagos brasileiros citaram
três espécies de Daphnia mais encontradas no Brasil (D. laevis, D. ambigua e D. gessneri), e
de Bosmina, representada por espécies como B. longirostris, B. hagmani, B.tubicen.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 48
O comportamento sazonal dos cladóceros, com máximos populacionais em períodos
imediatamente anteriores ao chuvoso, já foi observado por Paggi e Paggi (1974) no rio
Paraná. Os autores observaram esta tendência para Moina sp., Ceriodaphnia cornuta e
Bosmina longirostris.
Nos ecossistemas temperados, os cladóceros se desenvolvem nos meses de primavera e verão.
Em ecossistemas tropicais, são encontrados em maior abundância nos meses de setembro a
abril, o que coincide com o período das chuvas. Possuem hábitos alimentares filtradores de
fitoplâncton e detritos e são fortemente influenciados pela temperatura (ESTEVES, 1998).
Segundo Brandorf et al., (1982), este aumento se deve à mistura da coluna d'água e
consequente incremento da oferta de alimentos (fitoplâncton).
Estudos de Maia-Barbosa et al. (2002) apontaram baixas densidades de cladóceros nas lagoas
externas ao Parque Estadual do Rio Doce. Outros estudos, como os conduzidos por Ferrão-
Filho et al. (2003), no lago Monte Alegre, indicaram que o crescimento de cladóceros como a
espécie Daphnia gessneri é limitado em condições de alta relação C:P, ou seja, quando a
concentração de fósforo é mais baixa.
A hipótese do tamanho-eficiência (BROOKS & DOBSON, 1965) como uma técnica que visa
a manipulação das cadeias tróficas de acordo com controles biológicos de predação, pode ser
sugerida para explicar a ausência de microcrustáceos maiores, como copépodes calanóides e
de cladóceros como Daphnia. O que este estudo prediz é que sempre que há predação por
peixes planctívoros, a população de pequenas algas será alta, devido à relativa ineficiência de
sua utilização por pequenos herbívoros planctônicos juntamente com as algas palatáveis
maiores, que não seriam comidas pelos organismos zooplanctônicos de maior tamanho.
Trabalhos como o de Shapiro e Wright (1984) em Minnesota, no Round Lake, mostraram que
a transparência diminuiu consideravelmente concomitantemente com o aumento do fósforo e
clorofila, quando a comunidade de peixes do lago mudou radicalmente de espécies piscívoras
para planctívoras.
A Figura 6.30 mostra que no primeiro pico menor em setembro de 2001, foram encontrados
exemplares representantes do gênero Bosmina, seguido pelo gênero Diaphanosoma em maior
abundância. Os Tardigrada foram notados em setembro de 2002 e em novembro deste ano,
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 49
uma pequena população de Diaphanosoma voltou a reaparecer. Não houve registros do grupo
no período chuvoso. Representantes do grupo são mais abundantes nos meses de setembro a
novembro. As espécies do gênero Daphnia não foram encontradas no lago ou estão em
pequeno número, devido a uma possível predação por peixes.
0
100
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300
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/04
ou
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4
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/05
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/05
ou
t/0
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/10
L
Seqüência1Cladóceros
Figura 6.30 - Perfil de Cladóceros no lago de junho de 2001 a outubro de 2005.
6.2.2.3 - Rotiferos
Os rotíferos, entre os organismos zooplanctônicos, são muito adaptados a flutuações de curta
duração. O ciclo de vida curto destes organismos, associado a variações térmicas em águas
tropicais, podem explicar estas oscilações em curtos períodos de tempo. Estudos como o de
Rocha e Sampaio (1991), Dumont (1983), Brandorff et. al. (1982), Koste e José de Paggi
(1982), confirmam a tendência à abundância e diversidade de vários grupos de rotíferos em
lagos, represas e rios no Brasil.
Estudos conduzidos por Grimberg (2002) em um sistema eutrófico artificial (Represa de
Barra Bonita, SP) mostraram 68 taxa de zooplânctons encontrados, dos quais a metade
representada pelos rotíferos, o que não ocorreu em um sistema natural oligo-mesotrófico
(Lagoa Verde, MG).
O impacto das chuvas sobre a comunidade zooplanctônica pode ser direto, através de seu
efeito diluidor nas águas de lagos e reservatórios. Dunkan e Gulati (1981) observaram este
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 50
tipo de efeito nas populações de rotíferos do reservatório de Parakrama-Samura no Sri Lanka.
Além disto, as chuvas podem causar modificações na comunidade fitoplanctônica bem como
alterações nas condições físico-químicas da água. Todas estas alterações podem causar
modificações nas interações competitivas ou de predação entre os diversos componentes do
zooplâncton (GIBBONS & FUNK, 1982).
A produticidade zooplanctônica pode ser influenciada fortemente pela produtividade de
rotíferos. Como foi observado por Sendacz (1984), tanto na região limnética quanto na
litorânea da represa Billing (SP), foi evidente a predominância de rotíferos no zooplâncton
total durante vários meses.
Muitos organismos componentes do zooplâncton têm sido utilizados como bioindicadores do
estado trófico de ambientes aquáticos, como algumas espécies de rotíferos, citados por Pejler
(1965, in Esteves, 1998) que se mostraram mais abundantes em ambientes eutróficos, como
Polpholyx pusilla, Brachionus angularis, Filina longiseta, Keratella cochlearis e Trichocerca
pusilla.
Schindler (1990) aponta não só para o aumento da comunidade de rotíferos em situações de
estresse, mas para diminuição geral do zooplâncton e aumento do crescimento quantitativo da
comunidade fitoplanctônica.
O aparecimento de ciclopóides juntamente com rotíferos como os do gênero Polyartha,
Brachionus e Keratella pode estar relacionado com o aumento da eutrofização em ambientes
tropicais (MATSUMURA-TUNDISI, 1976; GANNON & STEMBERGER, 1978).
No Lago de Águas Claras, os rotíferos foram considerados dominantes em relação à
comunidade zooplanctônica total. Mesmo considerando que os rotíferos possam ter biomassa
menor do que cladóceros, por exemplo, sua importância na produtividade total não pode ser
subestimada, em virtude da sua alta taxa de renovação. A Figura a seguir mostra o
crescimento geral do grupo ao longo dos anos, com tendência geral de diminuição da
abundância nos últimos anos de coleta.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 51
0
5000
10000
15000
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-01
nov
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fev
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-02
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fev
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mai
-04
ago
-04
nov
-04
fev
-05
mai
-05
ind
/10
L
Figura 6.31 - Perfil geral das diversas espécies de rotíferos no lago de Águas Claras.
A comunidade de rotíferos teve boa representatividade no lago, em sua maioria representada
pelas espécies Polyarthra vulgaris, Keratella valga, Keratella cochlearis e Keratella
americana. Entre as espécies do gênero Keratella, a espécie Keratella valga foi a mais
abundante. Houve a presença de outras espécies, ainda que em baixas populações, como
Brachionus falcatus, Ascomorpha sp., Anuraeopsis sp., Lepadella patella, Notholca sp.,
Monostylla bulla, Colurella obtusa, entre outras. O gênero Keratella aparece inicialmente
com um grande pico em setembro, sucedida por Polyarthra vulgaris e em seguida
reaparecendo em populações menores. Outros gêneros como Bdelloida, Ascomorpha,
Polyarthra, Cephalodella, Anuraeopsis, Monostylla e Notolea foram também notadas no lago,
porém em menor número. As oscilações populacionais de rotíferos, a partir de 2004, tiveram
um perfil diferente em relação aos anos anteriores. Houve a tendência geral de diminuição da
biomassa total e de homogenização da distribuição das populações ao longo dos meses do
ano.
6.2.2.4 - Copépodos
Juntamente com os cladóceros, os copépodos formam o grupo dos chamados "plâncton de
rede" de fácil coleta e identificação. Os copépodas ciclopóides são em sua maioria carnívoros.
O alimento destes organismos inclui outros microcrustáceos, larvas de dípteros e oligoquetas.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 52
Um dos casos mais conhecidos de predação entre os organismos zooplanctônicos, é aquele
que ocorre com o gênero Mesocyclops, que preda seletivamente copepoditos de Diaptomus e
espécies de cladóceros (HUTCHINSON, 1967).
Gannon & Stemberger (1978) apontam que copépodos calanóides são típicos de ambientes
oligotróficos, juntamente com alguns cladóceros como Daphnia cristata e D. galeata,
enquanto D. acullata é encontrada em ambientes mais eutrofizados (GULATI, 1983).
Os copépodos são um grupo dominante em represas e lagos oligo-mesotróficos brasileiros,
juntamente com rotíferos, e tendem a dominar em termos de biomassa. Possuem alto grau de
endemismo. Entre a ordem Cyclopoida, o gênero Mesocyclops é mais frequente e entre o
gênero Termocyclops, a espécie mais encontrada é Termocyclops minutus (ROCHA et al.,
1995).
Heaby (1967) mostrou que náuplios de copepoditos, nos seus estágios iniciais, apresentam
migração reversa, isto é, permanecem na superfície durante o dia, descendo para as camadas
inferiores durante a noite. Por outro lado, os últimos estágios de copepoditos e adultos
apresentam migração noturna (permanecem na superfície durante a noite, regressando para as
camadas mais profundas durante o dia).
Alguns estudos de lagos no trecho médio do Rio Doce apontaram grande riqueza de rotíferos
e de copépodas, principalmente as formas mais jovens (náuplios e copepoditos), que em
alguns momentos corresponderam a 49% do zooplâncton total, o que mostrou o predomínio
de rotíferos em termos de riqueza e de copépodas em termos de densidade em algumas lagoas
dentro do Parque Estadual do Rio Doce (MAIA-BARBOSA et al., 2002).
A distribuição dos copépodos ao longo da coluna d'água ocorre de maneira muito
heterogênea. Como explicação deste fato, pode-se recorrer aos mesmos fatores que
influenciem a distribuição vertical dos cladóceros, como pH, temperatura, concentração de O2
e H2S, pressão hidrostática e fatores biológicos, como predação e competição (ESTEVES,
1998).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 53
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/04
mar
/05
ind
/10
L
Figura 6.32 - Variação temporal de microcrustáceos Copepoda no Lago de Águas Claras ao
longo dos anos.
A grande maioria da comunidade de crustáceos no lago de Águas Claras é representada pelos
copépodos, que tiveram as mais baixas taxas reprodutivas no período de junho a outubro,
mantendo suas populações preferencialmente em abril, mês em que também foi detectado um
pico de 102 ind/10L do gênero Diaptomus, representando o único gênero encontrado da
ordem Calanoida. Há uma tendência de diminuição de suas populações no período chuvoso.
Entre representantes do grupo, a ordem Cyclopoida foi a mais significativa, com os gêneros
Mesocyclops e Cyclops.
Representantes da espécie Mesocyclops aspericornis estudados por Suarez et al. (1984)
procedem de corpos d'águas pequenos e possuem o hábito de consumir larvas de pernilongos.
Quanto ao gênero Diaptomus, alguns estudos de ambientes aquáticos em Minas Gerais, os
identificaram como abundantes na lagoa Dom Helvécio, (MATSUMURA-TUNDISI &
OKANO, 1983), bem como nas represas da Pampulha, Vargem das Flores e em algumas
represas mesotróficas paulistas (SENDACZ et al., 1985).
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 54
6.3 - Sucessão Ecológica e Relações entre Espécies
6.3.1 - Relações entre espécies
As comunidades aquáticas presentes apresentaram comportamentos que podem indicar
relações de predação, competição, entre outras, capazes de influenciar na ocorrência de
determinadas espécies e nos padrões de crescimento ao longo dos anos. O gráfico a seguir
mostra a alternância de crescimento da biomassa total das espécies de algas representadas
pelas clorófitas, crisófitas e pirrófitas do lago de Águas Claras.
0
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ind
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l
Seqüência1
Seqüência2
Seqüência3crisófitas
pirrófitas
clorófitas
Figura 6.33 - Perfil sucessional entre grupos algais ao longo dos anos.
As clorófitas tiveram boa representatividade no lago na fase inicial, dominando sobre os
outros grupos em termos de biomassa. A partir de 2003, as crisófitas e pirrófitas obtiveram
mais sucesso, com populações que se desenvolveram preferencialmente nos períodos
chuvosos. De acordo com Margalef (1977), entre os processos convergentes observados
durante o processo sucessório, pode-se citar a queda de clorofila a em relação aos outros
pigmentos, muitas vezes associada à diminuição da produção líquida e das diferentes taxas de
renovação das algas. A partir deste estágio, a representatividade da biota pode ser observada
não em termos quantitativos, mas sim qualitativos. Neste aspecto, o lago pode apresentar um
perfil condizente com o avanço a estágios mais maduros de sucessão.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 55
O gráfico a seguir ilustra as oscilações populacionais de cianobactérias e clorófitas, mostrando
que no início do enchimento, grupos de cianobactérias estavam presentes em maior número.
O gênero Oscillatoria voltou a reaparecer no final de 2003 e início de 2004, ainda que em
populações pequenas. A sucessão pode ser esboçada pela presença destes grupos como
pioneiros, tendendo a substituição mais tarde por outros grupos algais.
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/10
ml
Seqüência1
Seqüência2
cianobactérias
clorófitas
Figura 6.34 - Oscilações populacionais de algas clorófitas e cianobactérias.
Além disto, o gráfico ilustra os picos sucessionais alternados destes grupos de algas,
mostrando que há uma tendência de crescimento não concomitante. O crescimento das
clorófitas ocorre nos meses mais chuvosos, com exceção do maior pico atípico que ocorreu no
inverno, representado pela espécie Chlorella vulgaris. O crescimento das cianobactérias
ocorreu preferencialmente no período mais seco. A preferência por períodos mais secos pode
estar relacionado com a maior escassez de nutrientes, o que favorece competitivamente o
crescimento desta alga devido a sua capacidade de fixação de nitrogênio.
Quanto aos sarcodinos, a tendência sucessional dos protozoários do grupo dos sarcodinos
mostra nítida alternância temporal entre espécies, de forma bem heterogênea. Os gêneros
Euglypha e Difflugia mostraram forte tendência de crescimento no período mais quente e
chuvoso, enquanto Amoeba e Actinosphaerium mostraram preferência aos períodos mais
secos. O gênero Arcella aparece tanto no período chuvoso quanto nos meses mais secos, com
tendência aos meses chuvosos, mostrando um pico que se sobrepôs ao da Difflugia, em
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 56
dezembro de 2001. As oscilações populacionais de Sarcodinos mostram que, apesar de
algumas espécies apresentarem padrões sazonais previsíveis, o perfil geral do grupo mostra
tendência de distribuição mais esparsa ao longo do ano e uma diminuição da biomassa total,
que pode estar relacionada com a menor quantidade de nutrientes nos últimos anos. Há a
tendência de desaparecimento de algumas espécies, em detrimento de outras que irão se
adaptar melhor em condições oligotróficas.
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/10L
Seqüência1Seqüência2Seqüência3Seqüência4Seqüência5Seqüência6
Euglypha
Difflugia
Actinosphaerium
Arcella
Figura 6.35 - Sucessão dos principais gêneros de sarcodinos.
Quanto aos rotíferos, foi observada a tendência de diminuição da biomassa, mas houve
aumento da riqueza e da coexistência de espécies a partir de 2004. Neste sentido, o lago
apresenta um perfil condizente com a aquisição de atributos dinâmicos ligados ao aumento da
complexidade em estágios mais avançados de sucessão.
O gráfico a seguir mostra que as populações de rotíferos se desenvolveram de maneira
alternada, com sobreposições notadas a partir do final de 2004. A espécie Keratella valga
aparece em vermelho com um crescimento considerável no final de 2001 e início de 2002,
sendo encontrada preferencialmente nos períodos chuvosos. Polyarthra vulgaris aparece em
verde com um pico mais marcante em setembro de 2002. A espécie Keratella cochlearis
aparece em azul em pequenas populações mais regularmente em junho. Anuraeopsis spp
surge com um pico mais visível em 2004.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 57
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Seqüência1
Seqüência2
Seqüência3
Seqüência5
Keratella valga
Keratella cochlearis
Polyarthra vulgaris
Anuraeopsis sp.
Figura 6.36 - Perfil sucessional de rotíferos ao longo dos anos.
Estudos como o de Diéguez e Gilbert (2002) mostram através de experimentos com
copépodos Tropocyclops extensus e rotíferos da espécie Polyarthra remata que o crescimento
de populações deste rotífero é significantemente afetado pela presença dos copépodos adultos
e copepoditos, mas não por náuplios. Esta conclusão também é baseada em observações na
mudança de comportamento natatório de rotíferos, na presença de copépodos.
Muitos copépodos são onívoros e se alimentam de ciliados, rotíferos, outros crustáceos,
assim como algas. A habilidade de copépodos de predar rotíferos é bem documentada em
copépodos da ordem dos Cyclopoida (ROCHE, 1987 e WILLIAMSON, 1984).
O gráfico a seguir mostra que há relação entre o crescimento de adultos e copepoditos de
Cyclopoida com o aparecimento de populações de Keratella cochlearis, evidenciando que o
desenvolvimento das populações desta espécie de rotífero ocorre preferencialmente na
ausência de copépodes. Outros estudos como os de Stemberger e Gilbert (1984) apontam para
casos semelhantes de predação, mas com presas de rotíferos da espécie Keratella cochlearis.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 58
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L
Seqüência1
Seqüência2
Seqüência3
Seqüência5 Keratella cochlearis
Mesocyclops (adultos)
Cyclops ( copepoditos)
Cyclops (adultos)
Figura 6.37 - Sincronia temporal entre copépodos (Calanoida) a espécie de rotífero Keratella cochlearis.
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Seqüência2
Seqüência1Rotíferos
Fitoplâncton
Figura 6.38 - Sincronia temporal entre a comunidade total de rotíferos e o crescimento
algal total.
Segundo Esteves (1998), a associação dos rotíferos ao fitoplâncton é de tal maneira estreita,
que em casos de floração de algas, ocorre o crescimento acentuado destas populações e com o
término da floração, os rotíferos desaparecem completamente. A Figura 6.38, a seguir, ilustra
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 59
a relação entre rotíferos e as algas, sugerindo possíveis relações de predação entre estes dois
grupos
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L
Seqüência1
Seqüência2
Seqüência3
Mesocyclops (adultos)
Cyclops (adultos)
Cyclops (copepoditos)
Figura 6.39 - Sucessão sequencial de copépodos. Os náuplios de ambas as espécies não
foram aqui mostrados.
O gráfico acima representa as oscilações temporais entre representantes de copépodes,
mostrando que há correspondência entre os estágios de copepodito e adulto do gênero
Cyclops. A forma adulta do gênero Mesocyclops tende a anteceder o crescimento da
população de adultos do gênero Cyclops. Ambas as espécies decaem nos meses de setembro.
Houve a tendência de desaparecimento do gênero Mesocyclops, cedendo lugar para o gênero
Cyclops, que nos últimos meses de coleta foi marcado por considerável aumento de estágios
de copepoditos.
6.3.2 - Discussões sobre a sucessão ecológica
Quanto aos padrões de equilíbrio das espécies fitoplanctônicas, segundo Sommer et al.
(1988), uma maior fase de equilíbrio pode ser atingida quando duas ou três espécies
dominam, contribuindo com 80% da biomassa total e coexistindo por pelo menos duas
semanas. Desta forma, as comunidades são mais ou menos estáveis de acordo com as
condições do ambiente, ocupação de nichos e níveis de competição entre espécies. Harris
(1986) comenta que, em comunidades aquáticas, este estado de equilíbrio ocorre quando há
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 60
pouca diversidade e alta conectividade, com distúrbios insuficientemente capazes de
modificar rapidamente a estrutura das populações, dominada por organismos que se
sobrepõem competitivamente.
A observação da perturbação no efeito "bottom up" das cascatas tróficas em ambientes
recém-formados sugere que a escassez de organismos de topo de cadeia acaba por aumentar
a performance e a imprevisibilidade, ambos relacionados ao crescimento de organismos
resilientes tipo r. A escassez de organismos com estratégias reprodutivas tipo K, retarda o
processo de evolução do sistema, e o aumento da diversidade, devido principalmente às
relações menos complexas predador-presa.
Segundo Nixdorf et al. (2003), lagos temperados não estratificados sofrem modificações mais
rápidas, com oscilações fitoplanctônicas de curta duração e mais imprevisíveis do que aqueles
que sofrem estratificação. Em se tratando da profundidade, o steady-state ocorre mais
regularmente e em padrões mais previsíveis em lagos rasos do que em lagos mais profundos.
Estudos de períodos de equilíbrio em ambientes em situação de estresse como o de Padisák et
al. (2003) mostram ocorrer a codominância de duas ou mais espécies durante períodos
maiores. Estes estudos obtiveram maior correspondência em ambientes pobres em
diversidade, mas para aqueles com maior riqueza de componentes, como os tropicais, os
estudos ainda são escassos. Quanto mais complexo o ambiente, mais espécies revezam ao
longo do tempo e o chamado "estado de equilíbrio" é mais difícil de ser atingido, ocorrendo
em períodos mais curtos. Isto revolve questões polêmicas na Ecologia a respeito da
estabilidade dos ecossistemas, referentes ao aumento da instabilidade do sistema na medida
em que o número de interações e complexidade aumenta. Ambientes mais complexos se
tornariam mais frágeis, pois a conectância ou elos tróficos seriam mais interdependentes e
distúrbios menores são capazes de provocar colapsos grandes, já que as relações bióticas são
mais numerosas. Ao contrário do que se pensava, com idéias mais antigas que defendiam o
chamado "estado robusto", mais estável e resistente a distúrbios em níveis de maturação mais
avançados, a idéia do aumento da instabilidade do sistema tende a mostrar o quanto as
comunidades podem ser prejudicadas quando ambientes maduros sofrem perturbações.
As espécies fitoplanctônicas que se destacaram com populações superiores a 1000
indivíduos/10 mL e que contribuíram com mais de 80% da biomassa total durante mais de
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 61
duas semanas, foram aqui selecionadas para verificação dos padrões de equilíbrio ou "steady
state":
DATAS GRUPO ESPÉCIE IND/10ML
Agosto de 2001 Cianobactérias Cynechocystispevaleki (Cp) 2890
Setembro de 2001
Setembro de 2001
Cianobactérias
Clorófita
Hyella caespitosa (Hc)
Chlorella vulgaris (Cv)
4455
1248
Outubro de 2001
Outubro de 2001
Clorófita
Pirrófita
Chlorella vulgaris (Cv)
Peridinium sp. (P1)
3188
2683
Novembro de 2001
Novembro de 2001
Pirrófita
Clorófita
Peridinium sp. (P1)
Cv
5267
11420
Dezembro de 2001 Clorófita Cv 9089
Fevereiro de 2002
Fevereiro de 2002
Clorófita
Euglenófita Cv
Peranema sp. (P2)
1198
2813
Março de 2002 Clorófita Monoraphidium sp. 10800
Abril de 2002 Pirrófita P1 1854
Maio de 2002
Maio de 2002
Maio de 2002
Crisófita
crisófita
Pirrófita
Cyclorella sp. (C)
Synedra sp. (S)
P1
16243
10128
6906
Maio de 2002 Clorófita Cv 2465
Junho de 2002
Junho de 2002
Crisófita
Cianobactéria S
Raphidiopsis sp. (R)
15061
3707
Agosto de 2002 Clorófita Cv 41459
Setembro de 2002 Clorófita Cv 4848
Outubro de 2002
Outubro de 2002
Pirrófita
Clorófita P1
Cv
1991
1715
Novembro de 2002 Pirrófita P1 1764
Dezembro de 2002 Pirrófita P1 16990
Fevereiro de 2003 Crisófita S 19771
Março de 2003
Março de 2003
Pirrófita
Crisófita P1
V
2585
2342
Abril de 2003
Abril de 2003
Clorófita
Pirrófita Cv
P1
1149
1012
Junho de 2003 Crisófita S 2637
Novembro de 2003
Novembro de 2003
Crisófita
Pirrófita S
P1
5688
1468
Dezembro de 2003 Pirrófita P1 5064
Janeiro de 2004 Pirrófita P1 7808
Fevereiro de 2004 Pirrófita P1 5645
Maio de 2004 Crisófita C 9778
Tabela 3 - Seleção de espécies fitoplanctônicas com contribuições mensais superiores a 80% da biomassa total.
A tabela acima mostra que a partir de agosto de 2001, no início da formação do lago, as
cianobactérias dominaram seguidamente por dois meses, embora com populações de espécies
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 62
diferentes para cada mês (Cp e Hc, respectivamente). Este grupo teve menos importância
numérica ao longo do tempo, com mais um crescimento em junho de 2002, representado por
R. De setembro de 2001 a fevereiro de 2002 houve a dominância sempre de duas espécies
(Cv e P1), representadas pelo grupo das clorófitas e pirrófitas, respectivamente. Em agosto de
2002 este perfil volta a se repetir, porém com crescimento também marcante das crisófitas,
representado pela dominância ora de P1 ora de S. Em fevereiro de 2002 houve uma única
floração considerável de C2, do grupo das euglenófitas. A partir de 2003, foi notada a
tendência de diminuição de Cv, juntamente com o aumento das pirrófitas, com florações
representadas pelas espécies P1 e das crisófitas, com as espécies S e C. A tendência de Cv do
grupo das clorófitas foi aumentar sua população na ausência de representantes das crisófitas.
O perfil geral das populações foi a dominância de duas espécies por vez, que persistiram por
um ou dois meses, sendo gradativamente substituídas por outras. O steady-state do ambiente
mostrou tendência à permanência de certas populações em altos níveis durante mais de duas
semanas e a tendência da comunidade fitoplanctônica foi aumentar o tempo de permanência
das espécies nas observações mais recentes.
Na maioria das florações, foram verificados padrões condizentes com o estado de equilíbrio
típico de ambientes em estágios menos avançados de sucessão. Ambientes recentes se
comportariam como ecossistemas onde algumas espécies dominariam por períodos mais
longos, sendo substituídas a partir de fatores capazes de interferir no "estado de invariância
dinâmica" da comunidade planctônica, como relações bióticas, fatores tróficos e processos
bioquímicos (ROJO et al., 2003).
Na sucessão planctônica do lago, houve a diminuição do grau de resiliência das espécies
pioneiras (inibição) e tendência ao aumento da previsibilidade de flutuações das populações.
O possível aumento da segregação de nichos em estágios posteriores de sucessão, aliada a
maior conectância entre espécies, seria capaz de reduzir a exclusão competitiva e aumentar o
steady-state. Estes processos se desenvolvem em conjunto com mudanças na dinâmica de
processos da água que possibilitem sustentar esta comunidade (NASELLI-FLORES et al.,
2003).
O modelo PEG, capaz de prever a sucessão planctônica, foi criado e testado a partir de
condições abióticas de clima temperado e, em regiões tropicais, carece de mais estudos para
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 63
verificar sua aplicabilidade para este tipo de sistema. Em estudos de lagos com fases de
sucessão mais adiantadas, como aqueles mais antigos e com ciclos de nutrientes fechados, o
modelo PEG poderia alcançar maior semelhança com aqueles descritos, por apresentarem
padrão sazonal mais regular. Nestes ambientes, o crescimento inicial de espécies mais
palatáveis e a mudança da qualidade e diversidade do fitoplâncton em estágios posteriores
poderiam ser mais seguramente testados, juntamente com os estágios de facilitação e inibição.
A proporção dos grupos fitoplanctônicos encontrados o lago foram as clorófitas (37%),
crisófitas (30%) e as pirrófitas (23%), em relação à biomassa total. A sucessão das gildas (ou
grupos funcionais) do lago de Águas Claras aparece em certos aspectos como padrões
previsíveis, na medida em que é focada a atenção para algumas relações entre as espécies
descritas. Por outro lado, como o lago é um sistema aberto e contribuições de outras fontes
não poderiam ser consideradas desprezíveis, há também picos de espécies com padrões
menos previsíveis, que obedecem ao input energético e aos organismos novos que são para o
lago conduzidas e que buscam adaptar-se a este ambiente.
A sequência dinâmica seral do processo de sucessão poderia ser sugerida: No início da
criação do ambiente, como no estágio do enchimento do lago, a flutuação das populações
obedeceria a padrões imprevisíveis, com a colonização de espécies pioneiras, em sua maioria
r estrategistas. Com o avanço do ambiente a estágios posteriores de sucessão e com a maior
segregação de nichos, o steady-state aumentaria, ou seja, haveria um maior grau de
permanência das espécies ao longo do tempo. Com o aumento da biodiversidade, o que
ocorreria em estágios bem mais avançados de sucessão, a tendência seria a diminuição do
steady-state, com a maior conectância das espécies, alternância na ocupação de nichos e
estreitamento das relações bióticas.
7 - CONCLUSÕES
Os dados físico-químicos mostram uma tendência à diminuição da turbidez, nutrientes,
condutividade, sólidos em suspensão, aliado ao aumento da transparência. Isto mostra
tendência à oligotrofização do lago ao longo do tempo, ao contrário do processo de
eutrofização, que acompanha o "envelhecimento" natural de um lago.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 64
O estudo do lago aponta para o diagnóstico de boa qualidade da água, além da capacidade de
circulação diferenciada, descaracterizando o perfil monomítico, típico de lagos tropicais, ou
mesmo meromítico para este sistema até o momento.
O efeito bottom up e top down na população zooplanctônica pode ser especulado para o
conhecimento de sua sucessão e os mecanismos que controlam a flutuação destas populações
necessitam de maior investigação no lago de Águas Claras, já que este ambiente se comporta
como uma entidade aberta, com contribuição de parte das suas águas vindas do Ribeirão do
Prata. Um estudo da ictiofauna pode contribuir para maior compreensão dos efeitos
controladores das cascatas tróficas neste ambiente.
Em relação às comunidades, houve a tendência à redução da biomassa ao longo do tempo e
espécies pioneiras como as cianobactérias praticamente desapareceram do lago. As clorófitas,
conhecidas também como pioneiras e em grande número na fase inicial de enchimento do
lago, tenderam a apresentar representatividade muito baixa, sendo substituídas pelas crisófitas
e pirrófitas. O zooplâncton também acompanhou este perfil. Quanto aos rotíferos, por
exemplo, houve uma redução drástica de suas populações, mas a diversidade das espécies do
grupo se manteve. Quanto aos copépodos, indivíduos do gênero Mesocyclops não foram mais
encontrados e houve posteriormente maior crescimento de microcrustáceos em estágios de
copepoditos do gênero Cyclops.
A previsibilidade de padrões sucessionais do lago para o fitoplâncton esteve relacionada a
fatores recorrentes da sazonalidade, apesar de em certos momentos as comunidades
apresentarem padrões mais imprevisíveis. Ainda que o perfil total do crescimento
fitoplanctônico seja tendencioso à estação chuvosa, como o das pirrófitas e crisófitas, o pico
de algumas algas não obedeceu a padrões sazonais regulares, como o das clorófitas. A
regularidade sazonal foi maior para o zooplâncton do que para o fitoplâncton.
8 - RECOMENDAÇÕES
Os estudos relacionados a ecossistemas de formação recente fazem-se necessários pela
tentativa de abarcar a compreensão de mecanismos regulatórios e influenciadores do processo
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 65
de sucessão ecológica, o que possibilita a restauração de inúmeros ambientes originados por
influência antropogênica, sejam eles aquáticos ou terrestres.
Os lagos de mineração funcionam como verdadeiros sistemas em que se permite
conhecer os processos ligados às reações químicas, influência dos fatores morfométricos,
recolonização dos organismos e sobrevivência da biota em condições adversas, o que varia de
acordo com as particularidades de cada lago, como grande concentração de metais pesados,
sólidos em suspensão e mesmo com baixo pH, muito comuns em ambientes temperados,
ainda que não ocorra no lago de Águas Claras.
Investimentos na melhoria da qualidade das águas são importantes não somente no
sentido de associação com a qualidade de vida humana, como também pela sobrevivência da
biota e saúde do ecossistema aquático. O fato da qualidade do Lago de Águas Claras ser
superior a muitos lagos deste tipo, interferiu no tipo de biota encontrada, mostrando que o
lago está em constante mudança desde a sua formação.
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 66
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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