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Ética e Legislação Profissional www.ifcursos.com.br Profª. Líva Pires

Ética e Legislação

1 Conceito de Ética

Vamos partir do princípio que a história da ética teve sua origem, pelo menos sob o ponto de vista formal, na antiguidade grega, através de Aristóteles (384 &endash; 322 a.C.) e suas idéias sobre a ética e as virtudes éticas.

Cumpre advertir, antes de tudo, que a história da ética como disciplina filosófica é mais limitada no tempo e no material tratado do que a história das idéias morais da humanidade. Esta última história compreende o estudo de todas as normas que regularam a conduta humana desde os tempos pré-históricos até os nossos dias.

Só há história da ética no âmbito da história da filosofia. Ainda assim, a história da ética adquire, por vezes, uma considerável amplitude, por quanto fica difícil, com frequência, estabelecer uma separação rigorosa entre os sistemas morais &endash; objeto próprio da ética &endash; e o conjunto de normas e atitudes de caráter moral predominantes numa dada sociedade ou numa determinada fase história. Com o fim de solucionar este problema, os historiadores da ética limitaram seu estudo àquelas idéias de caráter moral que possuem uma base filosófica, ou seja, que, em vez de se darem simplesmente como supostas, são examinadas em seus fundamentos; por outras palavras são filosoficamente justificadas.

Existem as doutrinas éticas, ou teorias acerca da moral, que estão divididas nos seguintes segmentos, correlacionados historicamente: ética grega, ética cristã medieval, ética moderna e ética contemporânea.

As doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como respostas aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento moral efetivo. Por isto, existe uma estreita vinculação entre os conceitos morais e a realidade humana, social, sujeita historicamente à mudança. Por conseguinte, as doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua história. Ética e história, por tanto, relacionam-se duplamente: a) Com a vida social e, dentro desta, com as morais concretas que são um dos seus aspectos; b) Com a sua história própria, já que cada doutrina está em conexão com as anteriores (tomando posição contra elas ou integrando alguns problemas e soluções precedentes), ou com as doutrinas posteriores (prolongando-se ou enriquecendo-se nelas).

"A Ética é a ciência que, tendo por objeto essencial o estudo dos sentimentos e juízos de aprovação e desaprovação absoluta realizados pelo homem acerca da conduta e da vontade, propõe-se a determinar:

a. qual é o critério segundo a conduta e a vontade em tal modo aprovada se distinguem, ou ainda, qual é a norma, segundo a qual se opera e deve operar a vontade em tal conduta, e qual o fim que na mesma e para essa se cumpre e se deve cumprir;

b. em que relações de valor estão com observância daquela norma e obtenção daquele fim as diversas formas de conduta, individual ou coletiva, tais como se apresentam na sociedade e na época à qual pertencemos." - GIOVANNI VIDARI

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"Ethos &endash; ética, em grego &endash; designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si. Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda." - LEONARDO BOFF, A Águia e a galinha.

A ética é um comportamento social, ninguém é ético num vácuo, ou teoricamente ético. Quem vive numa economia a ética, sob um governo antiético e numa sociedade imoral acaba só podendo exercer a sua ética em casa, onde ela fica parecendo uma espécie de esquisitice. A grande questão destes tempos degradados é em que medida uma ética pessoal onde não existe ética social é um refúgio, uma resistência ou uma hipocrisia. Já que ninguém mais pode ter a pretensão de ser um exemplo moral sequer para o seu cachorro, quando tudo à sua volta é um exemplo do contrário. - Luis Fernando Veríssimo

A ética deve fundar-se no bem comum no respeito aos direitos do cidadão e na busca de uma vida digna para todos. - Ferreira Gullar

A ética está para a democracia como a poesia está para a vida. - Marcio Souza

Desde a infância, estamos sujeitos à influência de nosso meio social, por intermédio da família, da escola, dos amigos, dos meios de comunicação de massa, etc. Vamos adquirindo, aos poucos, idéias morais. É o aspecto social da moral se manifestando e, mesmo ao nascer, o homem já se defronta com um conjunto de regras, normas e valores aceitos em seu grupo social.

A moral, porém, não se reduz apenas a seu aspecto social, pois a medida que desenvolvemos nossa reflexão crítica passamos a questionar os valores herdados, para então decidir se aceitamos ou não as normas. A decisão de acatar uma determinada norma é sempre fruto de uma reflexão pessoal consciente, que pode ser chamada de interiorização. É essa interiorização das normas que qualifica um ato como sendo moral. Por exemplo: existe uma norma no código de trânsito que nos proíbe de buzinar diante de um hospital.

Podemos cumpri-la por razões íntimas, pela consciência de que os doentes sofrem com isso. Nesse caso houve a interiorização da norma e o ato é um ato moral. Mas, se apenas seguimos a norma por medo das punições previstas pelo código de trânsito, não houve o processo de interiorização e meu ato escapa do campo moral.

Conforme afirmações anteriores, dizemos que a ética não se confunde com a moral. A moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural etc. Há morais específicas, também, em grupos sociais mais restritos: uma instituição, um partido político... Há, portanto, muitas e diversas morais. Isto significa dizer que uma moral é um fenômeno social particular, que não tem compromisso com a universalidade, isto é, com o que é válido e de direito para todos os homens.

Exceto quando atacada: justifica-se dizendo-se universal, supostamente válida para todos. Mas, então, todas e quaisquer normas morais são legítimas? Não deveria existir alguma forma de julgamento da validade das morais? Existe, e essa forma é o que chamamos de ética. A ética é uma reflexão crítica sobre a moralidade. Mas ela não é puramente teoria.

A ética é um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, historicamente produzidos, cujo objetivo é balizar as ações humanas. A ética existe como uma referência para os seres humanos em sociedade, de modo tal que a sociedade possa se tornar cada vez mais humana. A ética pode e

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deve ser incorporada pelos indivíduos, sob a forma de uma atitude diante da vida cotidiana, capaz de julgar criticamente os apelos acríticos da moral vigente.

Mas a ética, tanto quanto a moral, não é um conjunto de verdades fixas, imutáveis. A ética se move, historicamente, se amplia e se adensa. Para entendermos como isso acontece na história da humanidade, basta lembrarmos que, um dia, a escravidão foi considerada "natural". Entre a moral e a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica universal, e a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.

A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz. O estudo da ética talvez tenha se iniciado com filósofos gregos há 25 séculos atrás. Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa os limites da filosofia e inúmeros outros pesquisadores do conhecimento dedicam-se a seu estudo. Sociólogos, psicólogos, biólogos e muitos outros profissionais desenvolvem trabalhos no campo da ética.

Quando na antiguidade grega Aristóteles apresentou o problema teórico de definir o conceito de Bem, seu trabalho era de investigar o conteúdo do Bem e não definir o que cada indivíduo deveria fazer numa ação concreta, para que seu ato seja considerado bom ou mau. Evidentemente, esta investigação teórica sempre deixa consequências práticas, pois quando definimos o Bem, estamos indicando um caminho por onde os homens poderão se conduzir nas suas diversas situações particulares.

A ética também estuda a responsabilidade do ato moral, ou seja, a decisão de agir numa situação concreta é um problema prático-moral, mas investigar se a pessoa pôde escolher entre duas ou mais alternativas de ação e agir de acordo com sua decisão é um problema teórico-ético, pois verifica a liberdade ou o determinismo ao quais nossos atos estão sujeitos. Se o determinismo é total, então não há mais espaço para a ética, pois se ela se refere às ações humanas e se essas ações estão totalmente determinadas de fora para dentro, não há qualquer espaço a liberdade, para a autodeterminação e, consequentemente, para a ética.

A ética pode também contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamentos moral. Assim, se a ética revela uma relação entre o comportamento moral e as necessidades e os interesses sociais, ela nos ajudará a situar no devido lugar a moral efetiva, real, do grupo social. Por outro lado, ela nos permite exercitar uma forma de questionamento, onde nos colocamos diante do dilema entre "o que é" e o "que deveria ser", imunizando-nos contra a simplória assimilação dos valores e normas vigentes na sociedade e abrindo em nossas almas a possibilidade de desconfiarmos de que os valores morais vigentes podem estar encobrindo interesses que não correspondem às próprias causas geradoras da moral.

A reflexão ética também permite a identificação de valores petrificados que já não mais satisfazem os interesses da sociedade a que servem. Jung Mo SUNG e Josué Cândido da SILVA (1995:17) nos dão um bom exemplo do que estamos falando: "Na época da escravidão, por exemplo, as pessoas acreditam que os escravos eram seres inferiores por natureza (como dizia Aristóteles) ou pela vontade divina (como diziam muitos na América colonial). Elas não se sentiam eticamente questionadas diante da injustiça cometida contra os escravos. Isso porque o termo "injustiça" já é fruto de juízo ético de alguém que percebe que a realidade não é o que deveria ser."

Sendo a ética uma ciência, devemos evitar a tentação de reduzi-la ao campo exclusivamente normativo. Seu valor está naquilo que explica e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas. A ética também não tem caráter exclusivamente descrito pois visa

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investigar e explicar o comportamento moral, traço inerente da experiência humana. Não é função da ética formula juízos de valor quanto à prática moral de outras sociedades, mas explicar a razão de ser destas diferenças e o porque de os homens terem recorrido, ao longo da história, a práticas morais diferentes e até opostas.

1.1 Ética na sociedade

A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as nossas atividades envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade. Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas do tipo: Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir? Será que é correto tomar tal atitude? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho? Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens?

Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem nas relações reais, efetivas entre indivíduos. São problemas cujas soluções, via de regra, não envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também a outra ou outras pessoas que poderão sofrer as consequências das decisões e ações, consequências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira.

O homem é um ser-no-mundo, que só realiza sua existência no encontro com outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Nesta convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que existir regras que coordenem e harmonizem esta relação.

Estas regras, dentro de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir as nossas possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter. São os códigos culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos protegem. Pois são frequentes as queixas sobre falta de ética na sociedade, na política, na indústria e até mesmo nos meios esportivos, culturais e religiosos.

Com base nestes questionamentos anteriores, cada uma com sua importância, iremos trabalhar analisar um grande problema nas organizações: "A FALTA DE ÉTICA PROFISSIONAL?", ou seja, é o do trabalho e exercício profissional, um dos campos mais carentes, no que diz respeito à aplicação da ética. Por esta razão, executivos e teóricos em administração de empresas voltaram a se debruçar sobre questões éticas. A lógica alimentadora desse processo não é idealista nem "cor de rosa". É lógica do capital que, para poder sobreviver, tem que ser mais ético, evitando cair na barbárie e autodestruição. São os próprios pressupostos da disputa empresarial que forçam a adoção de um modelo mais ético.

A ética profissional estudaria e regularia o relacionamento do profissional com sua clientela, visando a dignidade humana e a construção do bem- estar no contexto sócio- cultural onde exerce sua profissão. Quando falamos de ética profissional estamos nos referindo ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos específicos.

Acontece que, em geral, as profissões apresentam a ética firmada em questões muito relevantes que ultrapassam o campo profissional em si. Questões como aborto, pena de morte, sequestro, eutanásia, AIDS, por exemplo, são questões morais que se apresentam como problemas éticos porque pedem reflexão profunda e, um profissional, ao se debruçar sobre elas, não o faz apenas como tal, mas como um pensador, um filósofo da ciência, ou seja, da profissão que exerce. Desta forma, a reflexão ética entra na moralidade de qualquer atividade profissional humana.

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Sendo a ética inerente à vida, sua importância é bastante evidenciada na vida profissional, porque cada profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais, pois envolvem pessoas que dela se beneficiam.

A ética é ainda indispensável ao profissional, porque na ação humana "o fazer" e "o agir" estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão.

1.2 Fundamentos ético-filosóficos

Descobrir a origem etimológica do termo cujo derivativo serviu como estopim ao aparecimento da

grafia ética é tarefa bem mais fácil do que precisar as mais diversas funcionalidades assumidas por

este termo, mesmo quando ele ainda não existia, ao longo da história.

Buscando o significado da palavra ética, pode-se constatar que esta tem sua origem remontada ao

grego "ethos", tendo seu correlato no latim "morale", ambas carregando o mesmo significado:

conjunto de condutas, aspectos relativos aos costumes. Devido a este elemento, até os dias de hoje

ética e moral parecem conceitos que se justapõem.

Prova disto consiste na própria definição de ética segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 1986, p.

288), a qual é encarada como “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana

susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada

sociedade, seja de modo absoluto; moral”.

No aspecto anteriormente citado, a derivação e correlação do termo “ethos” à grafia “morale”,

reside grande parte dos raciocínios que confundem a ética e a moral como conceitos sinônimos,

todavia quando olhados criticamente estes se mostram em um processo de inter-relação

complementar e não simbiótico como se pensa comumente, ou seja, apesar das semelhanças, são

profundamente diferentes.

No campo acadêmico hodierno já não é raro notarmos a realização de uma diferenciação entre a

moral e a ética visando que um melhor delineamento sobre o tema seja traçado. Esta divisão

concedeu a ética um espaço mais amplo que a moral, uma vez que passa a ser interpretada como o

conjunto de reflexões críticas sobre a moral. Contudo, até a chegada desta profícua divisão heurística

delineou-se um grande embate entre distintos pensadores neste campo de saber. Comecemos pelo

início.

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De acordo com o próprio Aristóteles (1996) foi Sócrates o primeiro filósofo a pensar abstratamente

sobre o conceito de ética, entretanto, não havia neste pensador qualquer tentativa de

sistematização sobre o tema. Sistematização essa que começou a ser forjada na filosofia platônica

(ganhando corpo em Aristóteles), a qual entendia a ética como uma qualidade do sábio, pois apenas

pelo conhecimento se chega a razão e ao controle das iras e desejos, logo, a ser éticos (PLATÃO,

1967).

Destarte, ser ético em Platão (1950) exige como pressuposto basilar o controle dos sentimentos e

desejos (expressos majoritariamente pelos anseios corpóreos), ou seja, não se é ético no sistema

platônico sem o controle e a submissão corpórea ao reino das idéias. Aqui o corpo não passa de um

recipiente no qual se deposita o verdadeiro maná dos humanos, sua alma, sempre superior a carne.

Partindo desta cadeia de raciocínio, Aristóteles (1996) se torna o primeiro filósofo a sistematizar um

complexo estrutural gnosiológica codificado pelo conceito de ética. Para Aristóteles (1996), a

principal função da ética está em delimitar o bom e o ruim para o homem, sendo que a dualidade

corpo-mente se arquiteta como o principio basilar de seu sistema teórico.

De acordo com o referido autor (1996), toda arte e saberes humanos tendem para o bem,

materializado na elevação do pensamento e escravização do corpo a alma. Apenas se compreenderá

o bom e o belo quando esquecermos as tensões corpóreas e concentramo-nos singularmente na arte

do pensar.

Logo, fica nítido o caráter negativo e evolucionário atribuído as atividades laborais na Grécia Antiga,

aliás, é digno de nota que estas atividades apenas poderiam ser realizadas pelos escravos, pois os

homens de bem se responsabilizariam pelas verdadeiras atividades humanas, o pensar, filosofar.

Nas palavras de Aristóteles (1996, p.13): “a excelência humana significa, dizermos nós, a excelência

não do corpo, mas da alma, e também dizermos que a felicidade é uma atividade da alma”. Devido a

estas características, destacamos o fato de a ética de Aristóteles ser uma ética adaptativa, a qual não

buscava transformar a realidade, mas enraizar seus indivíduos acriticamente em seu interior, ou seja,

se dirigia para a contemplação.

Após a morte de Aristóteles, os estoicos apreendem alguns pressupostos de sua teoria da ética,

contudo, a separação corpo-mente, apesar de existir, não mais é estabelecida sobre bases tão rígidas

quanto àquelas designadas por Aristóteles (1996).

A filosofia estoica tem como princípio universal a felicidade, alcançada pelo corpo e para além dele,

sendo que o homem ético deve ter esta como guia orientador. Desde então, esta categoria, a

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felicidade, se faz presente em vastos estudos sobre a ética, passando por pensadores das mais

diversas abordagens teóricas.

Um olhar retrospectivo sobre estes primeiros elementos nos permite destacar que o início da história

da ética, como conceito epistemológico e filosófico, buscou demonstrar a racionalidade, mesmo que

às vezes irracional, do bom e a negatividade do mau, cujo ponto de referência estava centrado na

busca de uma máxima plenitude humana. Contudo, esta plenitude era pensada de maneira

metafísica e idealista, ficando a matéria e a objetividade de nossa realidade a um segundo plano, ou

melhor, a plano algum.

A ética propalada por Aristóteles (1996), uma ética essencialmente filosófica, era inalcançável para a

grande maioria da população, ou seja, era uma ética da elite para a elite, mesmo quando

consideramos esta em semelhança à moral.

Contudo, se partirmos do princípio de que a ética representa tanto um pensar filosófico como um

conjunto de ações teleológicas direcionados para determinados objetivos presentes no seio de toda

a população, uma pergunta se faz candente: de que local emerge a ética do povo?

Acreditamos que esta resposta deva ser buscada nos sistemas religiosos componentes de cada

sociedade em particular. Anteriormente a Antiguidade, e também posteriormente a ela, as religiões

estão carregadas de indicativos das condutas e ações que devem e não devem ser realizadas. A

religião tece a moral do povo, enquanto que a filosofia a das elites.

Religião e senso comum estiveram umbilicalmente ligados desde seu surgimento, mesmo porque a

crítica nunca soou bem aos ouvidos religiosos. Assim, destacamos que apesar de a concepção de

ética ser forjada filosoficamente, inclusive sua confusão com a moral, esta sempre esteve presente

na vida da população, uma vez que a linguagem e a vida em sociedade carregam inequivocamente a

necessidade do estabelecimento de um conjunto de normas que devem ser seguidos e refletidos

para que seu modus operandi avance qualitativamente.

Aliás, não podemos nos esquecer de que até os dias atuais a religião marca fortemente a concepção

de ética e moral socialmente aceita, o que não é necessariamente ruim, desde que criticamente

refletido.

Como bem ressalta Dostoievisky (2008), se Deus não existe tudo está permitido, logo, qualquer

noção de liberdade, democracia, progresso ou igualdade é jogada por terra. Vale apenas o aqui e

agora, vive-se para o presente, morre-se também por ele.

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Curiosamente, ao olharmos de forma atenta para a obra de Aristóteles (1996), percebemos que nela

quase não existe referência a qualquer Deus, uma vez que este se constitui como base do princípio

final, cuja recorrência necessariamente implica o fim da própria filosofia.

Por conseguinte, Aristóteles (1996), parte de um mundo intrincado de relações sociais nas quais o

bem e o mal são constituintes de sua finalidade teleológica. Aliás, o referido autor (1996) não nega o

fato de as mais diversas religiões terem servido como estopim para grandes descobertas científicas,

mesmo no ato de negação de tal fenômeno, todavia, destaca que a filosofia não poderia ficar presa a

seus postulados, enfim, teria que se desenvolver de maneira independente.

Com a ascensão do cristianismo como modus espiritual e material dominante, a Idade Média passa a

ter uma concepção meramente reformada da ética aristotélica. Para entendermos o pensamento da

igreja católica sobre a ética cabe-nos recorrer a dois nomes de grande destaque no cenário cristão:

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

Agostinho (1968) procurou conciliares os ensinamentos de Jesus e a racionalidade metafísica dos

pensadores gregos, sendo que as reflexões sobre o bem e o mal tomaram boa parte de seus estudos

teóricos e filosóficos.

Para Agostinho (1968), a história humana é a história da redenção, tal como colocavam os estoicos,

tendendo para a realização do bem e da felicidade de maneira plena e tendo por objetivo final a

caminhada rumo a Deus. A partir de então, é Deus e não mais as idéias ou objetos que passa a se

situar como mediador entre o homem e suas mais diversas relações.

A fé passa a ser o princípio mais valorizado ao homem, uma vez que este é fraco e propenso a

paixões insanas, por isso, deve ser educado para agir ética e moralmente, ainda visto como termos

sinônimos.

Tomás de Aquino (s/d) foi estudioso e seguidor de Aristóteles e Santo Agostinho, sendo que seus

principais ensaios filosóficos estiveram ligados a realização de uma possível união entre estes dois

pensadores. No plano da ética, Tomas de Aquino (s/d) considera o homem como um sujeito que,

apesar de tender para a felicidade, está sujeito a diversas intempéries em seu caminho.

Devido a isso deve ser educado para praticar o bem e suportar/evitar seus instintos naturais.

Poderíamos dizer, grosso modo, que Aquino cristianizou Aristóteles, ou melhor, enquadrou sua obra

segundo os dogmas da igreja católica. Na sua lógica a filosofia se submete a fé, sendo que apenas

podemos conhecer os elementos quando não adentramos em discordância com Deus.

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Muitos dos valores estabelecidos pela igreja católica, especialmente pelas vozes mediadoras de

Tomas de Aquino e Agostinho continuam a ser encarados como princípios morais até os dias atuais,

tais como a fé, a necessidade de preocupação e amor ao próximo, a busca pela paz, dentre outros.

Contudo, é importante ressaltar que ainda nesta época não se havia uma distinção entre moral e

ética, sendo que os valores tidos como desejáveis eram estabelecidos hierarquicamente pela igreja,

não passando pelo quórum popular.

Assim, se idéias de respeito e amor ao próximo efetivamente se configuram como pressupostos

constituintes de uma sociedade mais justa e fraterna buscada em nossos anseios, a adoração dos

servos aos patrões, tal como o embrutecimento das massas propaladas pela igreja católica tinham

uma função deletéria sobre esta arquitetura. Além disso, ainda se observava nitidamente uma rígida

separação entre corpo e mente que, continuava a atribuir ao primeiro um lugar subalterno se

comparado ao segundo.

Um exemplo de como a religião está inequivocamente presente em nossos mais diversos valores

morais cotidianos pode ser encontrada nos postulados estabelecidos pelos 10 mandamentos, os

quais perfazem hábitos quase que intocáveis para a grande maioria das pessoas até os dias atuais nas

sociedades ocidentais.

Além deste elemento, cabe citar que o próprio fato de a igreja considerar o homem como um ser

inferior, fraco e impotente, lhe coloca como necessidade orgânica o vínculo a um ser superior,

materializado em Deus, cuja estrutura gnosiológica possibilita as crenças exercerem grande poder

sobre as mais diversas atividades humanas.

Por todas essas características, ser ético para a igreja católica era seguir a vida conforme os princípios

estabelecidos pelos 10 mandamentos e em concordância com este ser superior, fato que levaria

todos os homens, de acordo com a concepção católica, a preencher sua vida de felicidade e sentido.

Este paradigma vem a ser contestado com o advento do movimento da Reforma, cuja propagação

engendra a edificação do protestantismo e promove uma rigorosa crítica aos valores estabelecidos

pela igreja católica, principalmente nos aspectos que diz respeito ao embrutecimento das massas.

O protestantismo elevou a alfabetização a níveis assombrosamente surpreendentes a partir da

tradução da bíblia para a língua natal de cada povo, todavia, como quem lê a bíblia também pode ler

o mundo, não tardou para que algumas idéias estabelecidas pela igreja, defendidas inclusive pelos

protestantes, sofressem o crivo da crítica. Isto posto, a nova ética estabelecida por Erasmo de

Roterdã (s/d), ícone da Reforma Protestante, passou a colocar a razão como um elemento

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fundamental para se chegar a verdade e ser ético, na medida em que não há ética sem verdade

(ERASMO de ROTERDÃ, s/d).

Pela primeira vez, desde a Antiguidade, a razão, e não mais a fé cega e absoluta, passa a ser encarada

como o primado basilar do homem ético.

Ainda durante o período do Renascimento, surge um novo personagem de fundamental importância

para a evolução e reconfiguração do conceito de ética, seu nome: Maquiavel. Maquiavel

verdadeiramente revolucionou àquilo que se entendia por ética a partir de sua obra O Príncipe

(1877), uma vez que promove a independência da política em relação à moral, cuja máxima residia

em tirar o máximo proveito possível de determinada situação. Neste universo os fins justificam os

meios, sendo que o propósito do homem não era ser bom, mas alcançar a felicidade e o poder a

qualquer custo, mesmo que este custo passasse às vezes pelo aniquilamento da diferença, do outro.

Destarte, Maquiavel (1877) estabelece que não necessariamente os valores morais sejam bons, pois

estes são relativos às situações sociais nas quais são aplicados. Cabe ainda ressaltar em um período

histórico similar, situado anteriormente a emergência da Filosofia Moderna, Thomas Hobbes e

Espinosa, sendo que este último talvez seja o personagem mais importante, juntamente com

Aristóteles, de toda a história trans/formativa do conceito de ética.

Hobbes (1998) destaca que o homem é essencialmente mau (a famosa ideia de que o homem é o

lobo do homem), precisando de um sistema coercitivo material e espiritual para controlar seus

impulsos. Logo, a ética de Hobbes (1998) tinha como única função o controle e o policiamento dos

homens a fim de que estes não se digladiassem por quaisquer motivos fúteis.

Já em Espinosa a ética ganha novos contornos, inclusive um livro dedicado ao seu estudo. A ética de

Espinosa (1991, 2002), além de um livro teórico que resolve determinadas questões substanciais,

estabelece-a como uma forma de pensamento e da própria maneira de conduzir a vida, ou seja,

atribui a ética o sentido de ethos, o mesmo contido na etologia.

Para Espinosa (1983) a felicidade é o objetivo último da ação humana, felicidade que pode ser

encarada como a ausência de dor e a presença do prazer, além da união entre corpo e alma- pela

primeira vez não vista mais como unidades fragmentadas e em estado de oposição- fato que

inequivocamente estabelecerá uma nova visão da sociedade sobre o corpo.

Espinosa (1983) se opõe a ética cristã, uma vez que coloca que um verdadeiro sistema moral não

pode ensinar o homem a ser submisso, aliás, a humildade não é vista por Espinosa como uma

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virtude, mas, sim, como um sinal de fraqueza, de dependência, escravidão, todavia, dialeticamente

admira a modéstia pelo fato de esta ser uma importante propulsora do conhecimento.

Nesta parte, percebemos uma determinada volta aos filósofos gregos já citados, pois o

conhecimento e a sabedoria passam a adquirir funções basilares na constituição do homem ético.

Aliás, para Espinosa (1991), não há como ser verdadeiramente ético sendo ignorante. Discípulo e

dissidente (pois o corpo para Espinosa é fonte de conhecimento inter e intrapessoal) de Aristóteles,

Espinosa (1991, p.15) constrói seu sistema filosófico, dando voz às paixões, emoções, concretizado

na seguinte assertiva “ao pensamento não deve faltar o calor do desejo, nem ao desejo a luz do

pensamento.”

Quanto à questão religiosa, Espinosa (2002) deixa algumas arestas em seu pensamento que dificulta

compreendermos sua real posição sobre o tema. É fato que Espinosa não ignorava a existência de

Deus, muito pelo contrário, pois destacava que não há vida boa e serena sem ele. Deus é uma figura

infinita que não envolve a negação. Contudo, Espinosa realizou duras críticas à igreja católica e a

forma como tratava os homens e seus corpos, pois para ele a alma não podia se separar do corpo,

pois nosso pensamento é tão carnal quanto nossa carne é espiritual.

Destarte, o corpo não é fonte de pecado, mas, sim, escoadouro de bons e maus encontros, cabendo

a nós administrá-los tendenciosamente para os primeiros percursos. Reafirmando a positividade da

filosofia de Espinosa, para Durant (s/d, p.182):

Hoje só subsistem três sistemas de ética, três concepções de caráter ideal e de vida moral. Uma é de

Buda e Jesus, que dá preponderância às virtudes femininas; que considera todos os homens

igualmente preciosos; que resiste ao mal contrapondo-lhe o bem; que identifica virtude com amor e

se inclina, em política, para a ilimitada democracia.

Outra é a ética de Maquiavel e de Nietzsche, que dá preponderância às virtudes masculinas, que

aceita a desigualdade dos homens; que se deleita nos riscos do combate, da conquista e do mando;

que identifica virtude com poder e exalta a aristocracia hereditária.

Uma terceira é a de Sócrates, Platão e Aristóteles, que nega a aplicabilidade universal quer das

virtudes masculinas quer das virtudes femininas; que considera que somente os espíritos maduros e

bem informados podem decidir, de acordo com as circunstâncias, quando deve imperar o amor e

quando deve imperar o poder; que identifica virtude com inteligência e advoga no governo uma

mistura de democracia e de aristocracia.

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O que distingue a ética de Espinosa é que ela reconcilia inconscientemente essas filosofias

aparentemente hostis e que as enlaça numa unidade harmoniosa e nos apresenta desse modo um

sistema de moral que é o do pensamento moderno.

Cabe ressaltar que o pensamento de Espinosa (1991) é oposto ao adotado por Hobbes (1998), -e essa

distinção é essencialmente importante em termos morais e atitudinais- pois enquanto para o

primeiro o Estado existe para promover e não para limitar os bens humanos, para o segundo o

Estado existe apenas na condição de impedir que os homens se aniquilem uns aos outros.

A Ilustração ou Iluminismo traz em Kant o primeiro grande pensador da ética da Idade Moderna. Em

Kant (1989) encontramos que os seres humanos devem ser encarados como fins e não meios para o

alcance de determinados interesses.

Em suas palavras (1997, p.15): “por natureza somos egoístas, ambiciosos, agressivos, destrutivos,

cruéis ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos ,roubamos, et.”, e,

por isso, a necessidade premente de uma ética que estabeleça um conjunto de valores que

condicione os seres humanos favoravelmente a existência da própria coletividade. Para Kant (1980)

nós deveríamos nos submeter ao dever, cuja principal função reside em controlar nossos instintos.

Kant (1997) define sua ética como uma ética formal, posto esta afirmar que o valor moral

considerado como bom está coberto de restrições e não consiste em mais do que uma boa vontade,

cuja proficuidade é determinada pelas conseqüências que produzem.

Esta proposição faz com que Kant (1997) destaque que qualquer valor moral deve ser determinado a

respeito de um dever universalmente estabelecido e não por alguma tendência ou predileção a

determinados valores, já que sem isto seu sistema estrutural se esfacelaria pelo simples fato de os

fins justificarem os meios, ou seja, tornaria Kant um seguidor e não crítico de Maquiavel.

De acordo com Kant (2002), todo homem possui, seja filósofo ou não, determinado conhecimento

moral apropriado no próprio cenário das relações cotidianas que guiam suas mais diversas ações.

O ponto filosófico nodal sobre a ética de Kant (1989) é que este estabelece sua ética em termos

universais, válida para qualquer ser racional, ou seja, aplicável a todos os seres humanos sem

qualquer exceção. Roubar é uma atitude deplorável não importa a classe, idade ou gênero, e sua

consequência deve ser um castigo similar a qualquer outro delito.

Essa universalização contida em Kant (1997) deve ser vista a partir de dois aspectos: 1) positivo: pois

estabelece um conjunto de elementos fundamentais para a manutenção da coletividade, por

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exemplo, não matar seu semelhante é certamente um deles; 2) negativo: uma vez que extrapola

qualquer ação sob apenas um rótulo, assim, matar, roubar, delatar, mentir, etc., passam a ser vistos

sob um paradigma semelhante, embora suas ações e conseqüências sejam claramente distintas. Por

isso, nas palavras de Kant (1997, p.18): “a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas

conseqüências, mas apenas por sua motivação ética.”

Essa falta de um mediador nos valores tidos como bons ou ruins materializa a própria concepção

metafísica de homem, saber, poder, razão, pensamento, corpo, mas impede o referido autor (1980)

de perceber que nem todo comportamento ruim é desprezível no mesmo grau de intensidade, tal

como as ações boas também não estão sujeitas a mesmas variáveis qualitativas.

Destarte, o principal esquecimento de Kant quando se refere à ética e a moral (que raramente são

separadas pelo autor), é o de que a moral, apesar de poder, em certa parte, comportar valores

universais, admite em seu interior diversos graus funcionais, aplicativos e epistemológicos.

A uniformidade das conseqüências das ações humanas o impede de visualizar o próprio processo de

construção social no qual estamos envolvidos, cuja estrutura destaca que nem todos os erros e

acertos estão sujeitos ao mesmo tratamento social.

Além disso, curiosamente, apesar de toda valoração positiva atribuída por Kant (2002) ao

conhecimento e a filosofia, este destaca que não cabe ao homem transformar os valores

componentes da moral, mas, sim, interiorizá-los e desempenhá-los de maneira compreensiva e

satisfatória, evitando a sedução dos instintos carnais, fonte do pecado, da guerra e das relações

odiosas e rancorosas.

Aliás, para Kant (1997), a razão sequer pode entrar em contradição com os valores morais. Em suas

palavras (1997, p.45) os homens devem “perseguir el fin que nos ha sido impuesto por la propia

naturaleza como motivo para un cierto modo de obrar (fin que, en general, se denomina “felicidad”).

Esta es buena en si misma, mientras que su negación dispensa la ética como valor o pressupuesto”.

Logo, a concepção de Kant (1980) sobre o corpo também era fundamentada na disciplinarização e,

porque não, controle quase que policial sobre os movimentos corpóreos, todavia, pela primeira vez

se nota, embora de maneira assistemática, o principiar de uma divisão entre moral e ética, apenas

esboçada por Espinosa (1991), e já ganhando certo corpo em Kant (1997), o qual fornece um local de

sobressalto para a ética se comparada à moral.

Outro aspecto positivo no desenvolvimento da concepção filosófica de ética, e cujos frutos são

colhidos hodiernamente, foi desenvolvido por Hegel (1992) quando este enfatiza que uma ação ética

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é representada como àquela em que interesses coletivos e singulares se tornam congruentes, logo, a

vida ética estabelece uma harmonia entre o social e o individual.

Já Marx (1977), parte dos pressupostos de Hegel (1992), não para afirmar, mas, principalmente para

negar a ética em qualquer plano de constituição classista. Marx e Engels (1984; 1988) por

entenderem a ética como um derivativo da moral, vê na ética da sociedade a sua época uma forma

de afirmar os valores burgueses, por isso, se insurge violentamente contra a validade deste termo.

Aliás, é digno de nota que os julgamentos de Marx (1987), apesar de claramente embasados em

valores morais teleológicos, praticamente não utilizam a expressão ética ou moral, e quando as usa,

sua utilização invariavelmente está direcionada para uma crítica sobre estas concepções. Todavia,

consideramos a postura de Marx e Engels (s/d) como decisiva para a ética ser vista como produto da

sociedade da qual faz parte, ou seja, grosso modo, poderíamos destacar que Marx (1987), mesmo

sem falar dela, desnaturalizou a idéia de ética e moral. Mas será mesmo que Marx ignorou por

completo qualquer consideração sobre estes termos?

Esta resposta é de difícil resolução, mas intentamos oferecer alguns subsídios para sua compreensão.

Primeiramente há de se ressaltar o fato de Marx (1972) visualizar a linha de desenvolvimento

histórico em uma espiral ascendente, cujo destino culmina na materialização do comunismo e no

findar da sociedade de classes.

Esta concepção guarda certa semelhança com a noção de felicidade estabelecida por Espinosa

(1991), pensador que exerceu grande influência nos escritos de Marx (1972), porém sua proposição

se edificava através da superação por incorporação dialética, enquanto em Espinosa (1991), o

caminho para a felicidade se realiza de maneira linear e unidirecional.

De acordo com Marx (1996) a história humana caminharia rumo a uma maior humanização e

libertação do homem perante a realidade natural, sendo que as transformações em seu modus

operandi conduzir-nos-ia dialeticamente a este caminho. E exatamente devido a este elemento,

Marx (1996), que concebia a ética em um plano subjetivo, a considerava como irrelevante para a

transformação da sociedade. Mas será que fazia sentido esse julgamento de Marx (1996)?

Julgamos válida e proveitosa a opção da crítica a moral e ética burguesas, todavia, sua crítica, ao

contrário do que pensava Marx (1972), não eliminava o componente ético de seu pensamento,

muito pelo contrário, pois o afirmava em outros patamares qualitativos.

Aliás, o próprio Marx (1996), como bem ressalta Bottomore (1988), realiza julgamentos, que apesar

de materiais, também são morais sobre o sistema capitalista quando o denomina como o sistema da

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exploração do homem pelo homem, a retificação das relações sociais, etc., além disso, a própria

demonstração da ineficácia da moral na sociedade de classes pressupõe a construção de outra

moral, guindada por valores mais solidários, democráticos e fraternos, concretizado no sistema

socialista de produção.

Ou seja, o engano de Marx (1996) foi o de não perceber que sua crítica a moral burguesa necessitava

da construção de outra moral, na qual os interesses da coletividade coincidiam com os individuais,

mas não em termos hegelianos metafísicos e abstratos, pois esta deveria se efetivar no plano

concreto, material, enfim, na carne, como diria Engels (1876; 1879).

As hipóteses sobre o que levou Marx (1996) a relegar a moral a um segundo plano podem ser obtidas

por inúmeros prismas, porém, acreditamos que sua resolução esteja relacionada com a íntima

ligação existente desde o princípio entre moral e religião, a qual não era vista com bons olhos por

Marx (1896), posto a considerá-la como uma falsificação e mistificação da realidade. Como aspecto

positivo da crítica de Marx (1896) a moral burguesa ressaltou a valorização do corpo e das atividades

manuais, posto estas serem encaradas como formadoras dos seres humanos.

Assim, na filosofia de Marx (1887) não há qualquer lugar para uma separação cartesiana entre corpo

e mente. Não há preponderância de um sobre o outro, mas apenas uma inter-relação dialética cuja

cadeia compreensiva se constitui de difícil resolução.

Se Marx (1996) não estabeleceu as proposições necessárias para a arquitetura de um repensar sobre

a moral e ética em termos ontológicos, pensadores que seguiram sua mesma linha de raciocínio se

encararam de fazer isto, tais como Engels (1979), Luxemburgo (2006), Lúkacs (1970) e Gramsci

(1981).

O próprio Engels já afirmava em seu Anti-Duhring (1879) que a sociedade humana caminhava rumo a

níveis morais qualitativos crescentes, sendo que em determinado momento a moral proletária, mais

evoluída que a burguesa, se tornará a moral universal. Assim, retomando de certa forma um

pressuposto kantiano, para Engels (1879) na sociedade de classe cada um tem sua moral, o que

impede sua generalização, princípio fundamental de sua propagação.

Em contraposição, no socialismo a moral de cada um será a moral de todos, e a ética estabelecerá

elementos reflexivos sobre estes valores. Essa hipótese destacada por Engels (1979) talvez seja o

estopim para àquilo que iremos considerar como moral e ética na sociedade moderna, cabendo a

última uma reflexão sobre os valores expressos pela primeira.

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Baseando-se nesse pressuposto, para Lênin (1982) o socialismo tinha uma moral (que era de fazer

avançar a democracia, liberdade e os valores expressos pelo movimento operário) e uma ética (a

reflexão sobre esse processo de desenvolvimento) organicamente ligada à aceleração da luta de

classes e elevação do proletariado a classe dominante em termos espirituais e materiais.

Por isso, em suas palavras (1982, p.534) “a moral é o que serve para destruir a velha sociedade

exploradora e para unir todos os trabalhadores em torno de proletariado, que está construindo uma

nova sociedade comunista.” Mais adiante voltaremos a retratar o universo marxista em questões

sobre a moral e ética em Gramsci.

Posteriormente a Marx (1896), Nietsche também desempenhou algumas elucubrações sobre a idéia

de ética e moral, rejeitando uma visão moralista de mundo e colocando-a num plano terrestre do

presente, sendo que o mais importante passa a ser o que acontece agora, futuro e passado pouco

dizem respeito à ética ou a moral.

Em Nietsche (1925) novamente a matéria volta a ficar submisso ao espírito já que pensar é visto

como um processo de submissão do corpo ao pensamento, contudo, paradoxalmente, atribui os

valores éticos ao campo das emoções e não da razão, sendo que o homem ético pode ser definido

como aquele que não reprime seus instintos, desejos e emoções, mas os concretiza em atos

libertários.

Tal como Nietsche (1925), que não tinha por objetivo pensar sobre a ética, Freud (1978) também deu

sua contribuição ao desenvolvimento do tema ao tratar sobre temas considerados tabus na

sociedade.

O desejo sexual infantil, a descoberta da esfera do inconsciente, o complexo de Édipo e a delimitação

de um tripé arquitetural na coordenação das volições humanas (id, ego e superego), colocaram de

pernas para o ar muito do que anteriormente sabíamos sobre a ontogênese e o desenvolvimento dos

seres humanos considerados sob uma perspectiva sócio-biológica, fato que exerce uma profunda

modificação principalmente na forma com que os adultos passaram a interpretar as crianças.

Todavia, a filosofia freudiana adentrou em um complexo labirinto do qual não mais saíra, qual seja, a

sexualização de todos os fenômenos, causas e conseqüências analíticas por ela explicada, fenômeno

apenas corrigido com a posterior intervenção de Vygotsky (1991) e sua psicologia histórico-cultural,

fundamentada na dialética marxista e na contínua relação entre homem/cultura/sociedade.

A filosofia contemporânea traz em Foucault (1977), Habermas (1989), Gramsci (1981) e Sartre (1977)

quatro pensadores sobre a ética, os quais não mais a confundem com a moral, aliás, todos, a sua

maneira, situam basicamente a ética em um plano reflexivo sobre os valores morais.

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Foucault (2001), que em termos epistemológicos sobre a ética se ancora nos escritos de Kant (1980),

traz consigo a importância da alteridade para pensarmos sobre a moral. Para o referido autor (2001),

nenhum valor pode ser considerado bom ou ruim sem a refração pelo seu oposto constituinte.

A diferença é um valor caro à Foucault (2001), sendo que inúmeros padrões consagrados pela

aristocracia e burguesia são redimensionadas após as análises do filósofo francês, tais como a

questão da loucura, dos padrões homo e heterossexuais, da beleza, do poder, do corpo, dentre

outros.

Aliás, Foucault (1977) estabelece um novo olhar sobre como o corpo foi e continua sendo alvo de

uma escravização que o denigre e lhe impede de manifestar seus mais diversos movimentos e

conformações. Poderíamos, grosso modo, dizer que Foucault (1994, p. 235) define a moral com as

seguintes palavras “práticas refletidas e voluntárias através das quais os homens não somente se

fixam regras de conduta, como também, procuram se transformar, modificar-se em seu ser singular e

fazer de sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e responda a certos

critérios de estilo”, as quais são utilizadas para determinar àquilo que o autor denomina de técnica

de si.

Em virtude destes elementos, para Foucault (1994), a moral não se esgota apenas em seu código ou

em suas regras, tampouco pela simples conduta dos indivíduos quanto a estas regras, já entre estes

dois elementos, surge como mediador relacional fundamental a subjetivação, cuja definição pode ser

encarada como a maneira pela qual nos apropriamos e transformamos os códigos e condutas da

moral em nossas representações singulares, por isso, sua análise necessita de uma investigação tanto

filosófica, quanto sociológica e educacional.

Cada ação humana no corpo da sociedade traz consigo traz consigo uma íntima comunicação entre

os valores morais e a forma com que os mais diversos sujeitos se relacionam com ele. Por isso,

Foucault (2001) coloca a ética em um plano prospecto e reflexivo sobre a moral, posto entendê-la

como um ethos, uma maneira de existir na totalidade dos fenômenos sociais e não na apropriação de

fatos isolados da realidade na qual nos circunscrevemos.

Coerentemente, Foucault (1994) nos chama a atenção, principalmente em seus estudos sobre a

sexualidade, que as regras morais não determinam nosso modo de ser, mas nos condicionam, logo, o

ser humano não é um projeto pronto e acabado de antemão, não se configura como um a – priori

ontogênico, mas um ser em constante processo de transformação, sendo que a ética, mais do que

uma submissão, sinônimo ou equalização da moral, representa nosso questionamento, a

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problematização e, em termos gerais, o pensamento sobre os fenômenos manifestos na vida

cotidiana e não cotidiana.

É exatamente este pensamento o que nos permite distanciarmo-nos do contato direto com o objeto,

assumindo, por conseguinte, uma postura mais crítica e libertária quanto ao ethos que tencionamos

arquitetar socialmente. Quando Foucault (2001) fala em pensar eticamente ele está propondo uma

maneira de se rebelar perante o mesmo, de ser diferente, prezar pela diferença, refutar o comum

transformado em cotidiano, questionar valores, normas e propor novas relações dos homens

perante sua realidade.

O ponto fraco nas análises foucaultianas reside no fato de elas permanecer presas a denúncia de um

modelo social que não consideram como adequado, qual seja, burguesia, porém, não ressaltarem

nenhum novo tipo de sociedade que considere ideal. Sua filosofia é a do discurso, visualiza destroços

onde os arqueólogos e historicistas vêem vitórias, nota involução onde os progressistas apenas

enxergam o futuro, denúncia a opressão do autoritarismo, da violência e das múltiplas relações do

poder, destaca os personagens esquecidos e banalizados pela história e o aniquilamento da diferença

produzido pelo modus operandi de diversas sociedades, mas não designa outro caminho que não o

da denúncia, ou seja, suas palavras não se materializam, mas se idealizam em um novo modo de ser,

pensar, agir e sentir.

Já em Gramsci (1981), Habermas (1989) e Sartre (1977) podemos notar determinada continuação,

guardadas as respectivas proporções, de uma linha de pensamento cujas raízes estão fincadas em

Marx. Gramsci (1981) se destaca por sua práxis filosófica, Habermas (1989) por sua dialógica

comunicativa e Sartre (1977) pelo seu existencialismo marxista, sendo que todos têm como

pressuposto basilar a necessidade da construção de uma nova sociedade, ainda que por caminhos

diferentes, e a premência na crítica aos valores não democráticos estabelecidos pelo sistema

capitalista de produção.

Habermas (1989) estabelece que a ética está em estrita dependência com a valorização da diferença

e da liberdade humana, não existindo-a na repressão e na verticalidade do diálogo. Para o referido

autor (1989) só há ética quando a diferença é encarada em termos de equiparação e normalidade,

ou seja, quando a diferença não se transforma em desigualdade e exclusão.

Permanecendo em Habermas (1989), notamos que a ética necessariamente se projeta em termos de

universalização quanto a alguns valores como a vida, a solidariedade, a cooperação, a amizade, que

são profícuos a toda a sociedade. Não há qualquer possibilidade de ética nos locais onde a miséria e

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a riqueza coexistem simultaneamente, aqui, a única ética é a da crítica e da transformação dessa

sociedade.

Já em Gramsci (1981), a filosofia é vista como uma concepção de mundo, sendo concomitantemente

uma política, reflexão, moral e ética. A assunção ao conhecimento filosófico pode ser equiparar, em

outros termos, a conscientização sobre a realidade circundante e ao caráter inacabado e humano da

história.

Gramsci (1981) estabelece como o máximo da conduta ética a coesão entre prática e pensamento,

denominado por ele de práxis. Ser ético em Gramsci (1981) significa pensar em proveito da maioria e

agir para que tal pensamento se materialize social e culturalmente. Enfim, ser ético é se revoltar

contra o autoritarismo e lutar pela liberdade, mesmo que isto lhe custe a sua. É uma conduta de

risco, coragem e comprometimento com a construção de uma história mais fraterna, solidária e

democrática.

Em contrapartida, Sartre (1977) afirma que o homem é livre para fazer a si mesmo. Sartre (1977)

deriva grande parte de seu pensamento à Heidegger (1970) no sentido de que o ser humano vem do

nada, pois não existiria uma existência pré-definidora do homem.

Aqui situa-se o sentido de ser para si de Sartre, cuja raiz epistemológica não deve ser entendida na

mesma estrutura que o conceito edificado por Marx (1996), o qual inicia seus estudos partindo de

uma definição histórica do homem. Para Sartre (1977), a existência humana sempre deve ser vista

em uma esfera projetiva, existir é caminhar para o futuro. De acordo com Sartre (1977), a grande

distância que separa o homem dos animais é nosso poder do consciente, o qual começa a ser

desenvolvido desde o nosso nascimento, terminando seu processo de evolução apenas com nossa

morte.

Devido a esta capacidade, o homem pode escolher seu destino, sendo que a ética em suas ações

possibilitará a seleção de valores morais como a igualdade, o respeito às diferenças, a preferência

pela liberdade e igualdade ao autoritarismo, por isso, Sartre (1977) cunhou a famosa expressão de

que o ser humano está invariavelmente condenado a liberdade.

No princípio ontocriador de qualquer ser humano está sua condição de liberdade perante a realidade

circundante, sendo que uma condição fundamental da ética, na medida em que vivemos com outros

seres humanos e não sozinhos no mundo, é nossa preocupação com outros seres humanos.

Daí deriva os principais apontamentos que podem ser destacados pela ética. Após a formação desta

colcha de retalhos tecidas por diversos autores, passemos a destacar nossa concepção de ética.

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2 Comportamento ético

Para o professor da USP, Robert Henry Srour, ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. É ser altruísta, é estar tranqüilo com a consciência pessoal. É, também, agir de acordo com os valores morais de uma determinada sociedade. Essas regras morais são resultado da própria cultura de uma comunidade. Elas variam de acordo com o tempo e sua localização no mapa. A regra ética é uma questão de atitude, de escolha.

Além de ser individual, qualquer decisão ética tem por trás um conjunto de valores fundamentais. Muitas dessas virtudes nasceram no mundo antigo e continuam válidas até hoje. Eis algumas das principais; conforme ARRUDA (2002):

a) Ser honesto em qualquer situação: a honestidade é a primeira virtude da vida nos negócios, afinal, a credibilidade é resultado de uma relação franca.

b) Ter coragem para assumir as decisões: mesmo que seja preciso ir contra a

opinião da maioria.

c) Ser tolerante e flexível: muitas idéias aparentemente absurdas podem ser a

solução para um problema. Mas para descobrir isso é preciso ouvir as pessoas

ou avaliar a situação sem julgá-las antes.

d) Ser íntegro: significa agir de acordo com os seus princípios, mesmo nos

momentos mais críticos.

e) Ser humilde: só assim se consegue ouvir o que os outros têm a dizer e reconhecer que o sucesso individual é resultado do trabalho da equipe. Atuar eticamente vai muito além de não roubar ou não fraudar a empresa. A ética nos

negócios inclui desde o respeito com que os clientes são tratados ao estilo de gestão do líder da equipe. O fato, porém, é que cada vez mais essa é uma qualidade fundamental para quem se preocupa em ter uma carreira longa, respeitada e sólida.

Agir corretamente hoje não é só uma questão de consciência. É um dos quesitos fundamentais para

quem quer ter uma carreira longa e respeitada. Em escolhas aparentemente simples, muitas

carreiras brilhantes podem ser jogadas fora. Atualmente, mais do que nunca, a atitude dos

profissionais em relação às questões éticas pode ser a diferença entre o seu sucesso e o seu fracasso.

Basta um deslize, uma escorregadela, e pronto. A imagem do profissional ganha no mercado a

mancha vermelha da desconfiança.

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Ser ético é uma característica fundamental. Cada vez mais as organizações estão adotando o hábito

de checar o passado dos candidatos a alguma vaga. Quem tem a ficha limpa sempre terá as portas

abertas nas melhores empresas do mercado. Mas afinal, como é esse profissional?

Ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. É ser altruísta, é

estar tranqüilo com a consciência pessoal. É também agir de acordo com os valores morais de uma

determinada sociedade.

Qualquer decisão ética tem por trás um conjunto de valores fundamentais. Entre eles: ser honesto

em qualquer situação, ter coragem para assumir decisões, ser tolerante e flexível, ser íntegro,

educado, fiel, humilde e prudente.

Empresas não são apenas entidades jurídicas, elas são formadas por pessoas e só existem por causa

delas. Por trás de qualquer decisão, de qualquer erro ou imprudência, estão seres de carne e osso. E

são eles que vão viver as glórias ou os fracassos da organização. Quanto mais uma organização se

destaca no mercado, mais se deve preocupar com as relações éticas. Errar é humano, mas falhas

éticas destroem carreiras e organizações.

Para saber se uma empresa é ou não ética é preciso verificar a maneira como ela se planeja e cria

soluções para evitar deslizes e problemas. Prevenção é a palavra de ordem em qualquer organização

que valorize a ética nos seus negócios e no ambiente de trabalho.

Ética gera questões extremamente delicadas e, na maioria das vezes, de foro íntimo. Não existe uma

receita universal, pronta e completamente eficaz para resolver essas questões. A decisão sempre

varia de pessoa para pessoa, de consciência para consciência. Cada um tem seus limites, impostos

por suas crenças e pelas leis, e deve seguí-los.

O que fazer para andar com um pouco mais de segurança nesse terreno nebuloso? Eis algumas

estratégias:

Não faça nada que não possa assumir em público.

Avalie detalhadamente os valores da sua empresa. Certifique-se de eles combinam com os

seus.

Trabalhe sempre com base em fatos. Não julgue baseando-se em suposições.

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Avalie os riscos de cada decisão que tomar. Meça, cuidadosamente, as conseqüências do

seu ato em relação a todos os envolvidos.

Uma empresa ética exige não apenas produtos e serviços de qualidade, mas também de

conteúdo ético: recolher impostos, remunerar dignamente, preservar a ecologia, o meio

ambiente, interagir com lealdade e participar da comunidade.

Saiba ouvir. É aconselhável ouvir mais do que falar, especialmente em se tratando de

reclamações e consultas de clientes.

Trabalhe bem com os temas polêmicos: todas as promessas ao cliente com relação a

atendimento e prazos, inclusive as mais informais, devem ser rigorosamente cumpridas.

Evite rivalidades. É necessário cultivar boas relações dentro e fora das equipes.

Nunca se esqueça que ninguém negocia com empresas, mas com as pessoas das empresas.

O caráter da empresa é o caráter que seus empregados têm.

Evite clientelismos, privilégios e deixar vazar informações. Também é ético assegurar-se de

que as informações foram claras, completas, transparentes e bem recebidas pelo outro.

Não fume onde esta prática é proibida e apresente-se sóbrio ao trabalho.

Planeje suas ausências no ambiente de trabalho, sempre que possível, de modo a permitir

fluxo normal das responsabilidades.

Demonstre interesse pelo próprio desenvolvimento, participando de reuniões, encontros e

eventos de formação, treinamento e desenvolvimento.

Seja pontual em termos do horário de trabalho. Observe políticas, normas e

procedimentos.

Zele pelo bom nome da empresa. Comunique-se, relacione-se, aja de forma irrepreensível,

dentro e fora da organização.

Aja de modo participativo, compartilhado, de modo que um problema em qualquer ponto

da organização seja responsabilidade de todos e de cada um.

Tenha moral elevado e contribua para manutenção do clima de trabalho em alto nível.

Zele pelo bom nome dos colegas. Varra de sua vida a fofoca.

Não se omita. Assuma seus erros. Quando perceber alguma coisa errada, procure ajudar a

consertar.

Informações confidenciais não devem sair da empresa em hipótese alguma.

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Ser e manter-se um profissional ético não é fácil de administrar, principalmente para nós brasileiros

que fomos criados sob a ética da lei de Gerson, do jeitinho, da vantagem acima de tudo. Socialmente

aprendemos que é preciso fazer o correto, mas na informalidade impera a idéia de que não há nada

de errado em levar vantagem. Há corruptos em outros lugares do mundo, mas no Brasil pequenos

delitos são apoiados e até elogiados por amigos e pela família.

3 Lei do exercício profissional da enfermagem

Lei n/ 7.498, de 25 de junho de 1986

Art. 1º É livre o exercício da enfermagem em todo o território nacional, observadas as disposições desta lei.

Art. 2º A enfermagem e suas atividades auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício.

Parágrafo único. A enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitados os respectivos graus de habilitação.

Art. 3º O planejamento e a programação das instituições e serviços de saúde incluem planejamento e programação de enfermagem.

Art. 4º A programação de enfermagem inclui a prescrição da assistência de enfermagem

Art. 5º (VETADO

§ 1º (VETADO).

§ 2º (VETADO).

Art. 6º São enfermeiros:

I - o titular do diploma de Enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da lei;

II - o titular do diploma ou certificado de Obstetriz ou de Enfermeira Obstétrica, conferido nos termos da lei.

III - o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz;

IV - aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obtiverem título de Enfermeiro conforme o disposto na alínea d do art. 3º do Decreto nº 50.387, de 28 de março de 1961.

Art. 7º São Técnicos de Enfermagem:

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I - o titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfermagem, expedido de acordo com a legislação e registrado pelo órgão competente;

II - o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola ou curso estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de Técnico de Enfermagem.

Art. 8º São Auxiliares de Enfermagem:

I - o titular de certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido por instituição de ensino, nos termos da lei e registrado no órgão competente.

II - o titular de diploma a que se refere a Lei nº 2.822, de 14 de junho de 1956;

III - o titular do diploma ou certificado a que se refere o inciso III do art. 2º da Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955, expedido até a publicação da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961;

IV - o titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem, expedido até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde, ou por órgão congênere da Secretaria de Saúde nas Unidades da Federação, nos termos do Decreto-lei nº 23.774, de 22 de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946, e da Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;

V - o pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do Decreto-lei nº 299, de 28 de fevereiro de 1967;

VI - o titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como certificado de Auxiliar de Enfermagem.

Art. 9º São Parteira:

I - a titular do certificado previsto no art. 1º do Decreto-lei nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946, observado o disposto na Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;

II - a titular do diploma ou certificado de Parteira, ou equivalente, conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil, até 2 (dois) anos após a publicação desta lei, como certificado de Parteira.

Art. 10. (VETADO

Art. 11. O Enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe:

I - privativamente:

a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, pública e privada, e chefia de serviço e de unidade de enfermagem;

b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;

c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços da assistência de enfermagem;

d) (VETADO);

e) (VETADO);

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f) (VETADO);

g) (VETADO);

h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de enfermagem;

i) consulta de enfermagem;

j) prescrição da assistência de enfermagem;

l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

m) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas;

II - como integrante da equipe de saúde:

a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde;

b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde;

c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde;

d) participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação:

e) prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar e de doenças transmissíveis em geral;

f) prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante a assistência de enfermagem;

g) assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;

h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;

i) execução do parto sem distocia;

j) educação visando à melhoria de saúde da população.

Parágrafo único. As profissionais referidas no inciso II do art. 6º desta lei incumbe, ainda:

a) assistência à parturiente e ao parto normal;

b) identificação das distocias obstétricas e tomada de providências até a chegada do médico;

c) realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local, quando necessária.

Art. 12. O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da assistência de enfermagem, cabendo-lhe especialmente:

a) participar da programação da assistência de enfermagem;

b) executar ações assistenciais de enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro, observado o disposto no parágrafo único do art. 11 desta lei;

c) participar da orientação e supervisão do trabalho de enfermagem em grau auxiliar;

d) participar da equipe de saúde.

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Art. 13. O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe especialmente:

a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas;

b) executar ações de tratamento simples;

c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente;

d) participar da equipe de saúde.

Art. 14. (VETADO).

Art. 15. As atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta lei, quando exercidas em instituições de saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro.

Art. 16. (VETADO).

Art. 17. (VETADO).

Art. 18. (VETADO).

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 19. (VETADO).

Art. 20. Os órgãos de pessoal da administração pública direta e indireta, federal, estadual, municipal, do Distrito Federal e dos Territórios observarão, no provimento de cargos e funções e na contratação de pessoal de enfermagem, de todos os graus, os preceitos desta lei.

Parágrafo único. Os órgãos a que se refere este artigo promoverão as medidas necessárias à harmonização das situações já existentes com as disposições desta lei, respeitados os direitos adquiridos quanto a vencimentos e salários.

Art. 21. (VETADO).

Art. 22. (VETADO).

Art. 23. O pessoal que se encontra executando tarefas de enfermagem, em virtude de carência de recursos humanos de nível médio nessa área, sem possuir formação específica regulada em lei, será autorizado, pelo Conselho Federal de Enfermagem, a exercer atividades elementares de enfermagem, observado o disposto no art. 15 desta lei.

Parágrafo único. A autorização referida neste artigo, que obedecerá aos critérios baixados pelo Conselho Federal de Enfermagem, somente poderá ser concedida durante o prazo de 10 (dez) anos, a contar da promulgação desta lei.Citado por 8

Parágrafo único. É assegurado aos atendentes de enfermagem, admitidos antes da vigência desta lei, o exercício das atividades elementares da enfermagem, observado o disposto em seu artigo 15. (Redação dada pela Lei nº 8.967, de 1986)

Art. 24. (VETADO)

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 25. O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de 120 (cento e vinte) dias a contar da data de sua publicação.

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Art. 26. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 27. Revogam-se (VETADO) as demais disposições em contrário.

Brasília, 25 de junho de 1986; 165º da Independência e 98º da República.

JOSÉ SARNEY

4 Código de ética dos Profissionais de Enfermagem

(Reformulado: Entrará em vigor a partir de 12/05/2007)

CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

A Enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e

técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se

processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e

coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida.

O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de

construção de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional

configurado pela responsabilidade no plano das relações de trabalho com reflexos no campo

científico e político.

A Enfermagem Brasileira, face às transformações sócio-culturais, científicas e legais,

entendeu ter chegado o momento de reformular o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem

(CEPE).

A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de Enfermagem com a

participação dos Conselhos Regionais de Enfermagem, inclui discussões com a categoria de

Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem está organizado por assunto e inclui

princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes à conduta ética dos

profissionais de Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a necessidade e o

direito de assistência em Enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua

organização. Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe que os trabalhadores de

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Enfermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível

a toda população.

O presente Código teve como referência os postulados da Declaração Universal dos Direitos

do Homem, promulgada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (1948) e adotada pela Convenção

de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética do Conselho Internacional de

Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem (1975). Teve como

referência, ainda, o Código de Deontologia de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem

(1976), o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (1993) e as Normas Internacionais e

Nacionais sobre Pesquisa em Seres Humanos [Declaração Helsinque (1964), revista em Tóquio (1975)

e a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde (1996)].

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e qualidade de vida da pessoa,

família e coletividade.

O Profissional de Enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da

saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais.

O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações que

visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das políticas

públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde,

integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação da

comunidade, hierarquização e descentralização político-administrativa dos serviços de saúde.

O Profissional de Enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em todas

as suas dimensões.

O Profissional de Enfermagem exerce suas atividades com competência para a promoção do

ser humano na sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética.

O Profissional de Enfermagem exerce suas atividades com competência para a promoção da

saúde do ser humano na sua integridade, de acordo com os princípios da ética e da bioética.

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CAPÍTULO I

DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

DIREITOS

Art. 1º - Exercer a Enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os

pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos.

Art. 2º – Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão sustentação

a sua prática profissional.

Art. 3º - Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional e à defesa dos direitos

e interesses da categoria e da sociedade.

Art. 4º - Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do Conselho

Regional de Enfermagem.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, eqüidade, resolutividade, dignidade,

competência, responsabilidade, honestidade e lealdade.

Art. 6º – Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito, na solidariedade e

na diversidade de opinião e posição ideológica.

Art. 7º Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos que infrinjam dispositivos

legais e que possam prejudicar o exercício profissional.

PROIBIÇÕES

Art. 8º - Promover e ser conivente com a injúria calúnia e difamação de membro da Equipe

de Enfermagem Equipe de Saúde e de trabalhadores de outras áreas, de organizações da categoria

ou instituições.

Art. 9 – Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer outro ato,

que infrinja postulados éticos e legais.

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SEÇÃO I

DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E COLETIVIDADE.

DIREITOS

Art. 10- Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica,

científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, família e

coletividade.

Art. 11 - Ter acesso às informações, relacionadas à pessoa, família e coletividade, necessárias

ao exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de Enfermagem livre de danos

decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.

Art. 13 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e somente

aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para outrem.

Art. 14 – Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e culturais, em benefício da

pessoa, família e coletividade e do desenvolvimento da profissão.

Art. 15 - Prestar Assistência de Enfermagem sem discriminação de qualquer natureza.

Art. 16 - Garantir a continuidade da Assistência de Enfermagem em condições que ofereçam

segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades profissionais decorrentes de movimentos

reivindicatórios da categoria.

Art. 17 - Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito dos

direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da Assistência de Enfermagem.

Art. 18 - Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa ou de seu

representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento, conforto e bem estar.

Art. 19 - Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo

vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.

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Art. 20 - Colaborar com a Equipe de Saúde no esclarecimento da pessoa, família e

coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca de seu estado de

saúde e tratamento.

Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de imperícia,

negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da Equipe de Saúde.

Art. 22 - Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos de emergência,

epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.

Art. 23 - Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de defesa do cidadão, nos

termos da lei.

Art. 24 – Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à preservação do meio

ambiente e denunciar aos órgãos competentes as formas de poluição e deteriorização que

comprometam a saúde e a vida.

Art. 25 – Registrar no Prontuário do Paciente as informações inerentes e indispensáveis ao

processo de cuidar.

PROIBIÇÕES

Art. 26 - Negar Assistência de Enfermagem em qualquer situação que se caracterize como

urgência ou emergência.

Art. 27 – Executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento da pessoa ou de

seu representante legal, exceto em iminente risco de morte.

Art. 28 - Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação.

Parágrafo único - Nos casos previstos em Lei, o profissional deverá decidir, de acordo com a

sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo.

Art. 29 - Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a antecipar a morte do

cliente.

Art. 30 - Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar-se da

possibilidade dos riscos.

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Art. 31 - Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos casos previstos na

legislação vigente e em situação de emergência.

Art. 32 - Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a segurança da

pessoa.

Art. 33 - Prestar serviços que por sua natureza competem a outro profissional, exceto em

caso de emergência.

Art. 34 - Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma de violência.

Art. 35 - Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada.

SEÇÃO II

DAS RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM, SAÚDE E OUTROS.

DIREITOS

Art. 36 - Participar da prática profissional multi e interdisciplinar com responsabilidade,

autonomia e liberdade.

Art. 37 - Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica, onde não conste a

assinatura e o numero de registro do profissional, exceto em situações de urgência e emergência.

Parágrafo único – O profissional de enfermagem poderá recusar-se a executar prescrição

medicamentosa e terapêutica em caso de identificação de erro ou ilegibilidade.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais,

independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe.

Art. 39 - Participar da orientação sobre benefícios, riscos e conseqüências decorrentes de

exames e de outros procedimentos, na condição de membro da equipe de saúde.

Art. 40 – posicionar-se contra falta cometida durante o exercício profissional seja por

imperícia, imprudência ou negligência.

Art. 41 - Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas necessárias para

assegurar a continuidade da assistência.

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PROIBIÇÕES

Art. 42 - Assinar as ações de Enfermagem que não executou, bem como permitir que suas

ações fossem assinadas por outro profissional.

Art. 43 - Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de saúde, no

descumprimento da legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização,

fecundação artificial e manipulação genética.

SEÇÃO III

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES DA CATEGORIA

DIREITOS

Art. 44 - Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido de cumprir o

presente Código, a legislação do Exercício Profissional e as Resoluções e Decisões emanadas pelo

Sistema COFEN/COREN.

Art. 45 - Associar-se, exercer cargos e participar de Entidades de Classe e Órgãos de

Fiscalização do Exercício Profissional.

Art. 46 – Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e convocações.

Art. 47 – Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, mediadas cabíveis para obtenção

de desagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 48 - Cumprir e fazer os preceitos éticos e legais da profissão.

Art. 49 – Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem, fatos que firam preceitos do

presente Código e da legislação do exercício profissional.

Art. 50 – Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que envolvam

recusa ou demissão de cargo, função ou emprego, motivado pela necessidade do profissional em

cumprir o presente Código e a legislação do exercício profissional.

Art. 51 – Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações do Conselho

Federal e Conselho Regional de Enfermagem.

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Art. 52 – Colaborar com a fiscalização de exercício profissional.

Art. 53 – Manter seus dados cadastrais atualizados, e regularizadas as suas obrigações

financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 54 – Apura o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem em

assinatura, quando no exercício profissional.

Art.55 – Facilitar e incentivar a participação dos profissionais de enfermagem no

desempenho de atividades nas organizações da categoria.

PROIBIÇÕES

Art. 56 – Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e às demais

normas que regulam o exercício da Enfermagem.

Art. 57 – Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos que envolvam

recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pela necessidade do profissional em

cumprir o presente código e a legislação do exercício profissional.

Art. 58 – Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou comprometam a

finalidade para a qual foram instituídas as organizações da categoria.

Art. 59 - Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o exercício profissional

quando solicitado pelo Conselho Regional de Enfermagem.

SEÇÃO IV

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES EMPREGADORES DIREITOS

Art. 60 - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do seu

aprimoramento técnico-científico, do exercício da cidadania e das reivindicações por melhores

condições de assistência, trabalho e remuneração.

Art. 61 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição pública

ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições dignas para o exercício profissional ou que

desrespeite a legislação do setor saúde, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo

comunicar imediatamente por escrito sua decisão ao Conselho Regional de Enfermagem.

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Art. 62 - Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de formação, a jornada de

trabalho, a complexidade das ações e responsabilidade pelo exercício profissional.

Art. 63 - Desenvolver suas atividades profissionais em condições de trabalho que promovam

a própria segurança e a da pessoa, família e coletividade sob seus cuidados, e dispor de material e

equipamentos de proteção individual e coletiva, segundo as normas vigentes.

Art. 64 - Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de material ou

equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação específica.

Art. 65- Formar e participar da comissão de ética da instituição pública ou privada onde

trabalha, bem como de comissões interdisciplinares.

Art. 66 - Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu exercício

profissional e do setor saúde.

Art. 67 - Ser informado sobre as políticas da instituição e do Serviço de Enfermagem, bem

como participar de sua elaboração.

Art. 68 – Registrar no prontuário e em outros documentos próprios da Enfermagem

informações referentes ao processo de cuidar da pessoa.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 69 – Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento técnico, científico e

cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua orientação e supervisão.

Art. 70 - Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades de ensino,

pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias deliberativas da instituição.

Art. 71 - Incentivar e criar condições para registrar as informações inerentes e indispensáveis

ao processo de cuidar.

Art. 72 – Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de forma

clara, objetiva e completa.

PROIBIÇÕES

Art. 73 – Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas ou jurídicas que desrespeitem

princípios e normas que regulam o exercício profissional de Enfermagem.

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Art. 74 - Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de

concorrência desleal.

Art. 75 – Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital, casa de saúde,

unidade sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso, empresa ou estabelecimento congênere sem

nele exercer as funções de Enfermagem pressupostas.

Art. 76 - Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e coletividade, além do

que lhe é devido, como forma de garantir Assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios de

qualquer natureza para si ou para outrem.

Art. 77 - Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com pessoas físicas ou jurídicas

para conseguir qualquer tipo de vantagem.

Art. 78 – Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo, para impor

ordens, opiniões, atentar contra o puder, assediar sexual ou moralmente, inferiorizar pessoas ou

dificultar o exercício profissional.

Art. 79 – Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou particular de que

tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de outrem.

Art. 80 - Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de Enfermagem ou de

saúde, que não seja Enfermeiro.

CAPÍTULO II

DO SIGILO PROFISSIONAL

DIREITOS

Art. 81 – Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em

razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 82 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua

atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com o consentimento escrito

da pessoa envolvida ou de seu representante legal.

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§ 1º Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conhecimento público e em caso de

falecimento da pessoa envolvida.

§ 2º Em atividade multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado quando necessário à

prestação da assistência.

§ 3º O profissional de Enfermagem intimado como testemunha deverá comparecer perante a

autoridade e, se for o caso, declarar seu impedimento de revelar o segredo.

§ 4º - O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser mantido, mesmo

quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde que o menor tenha capacidade de

discernimento, exceto nos casos em que possa acarretar danos ou riscos ao mesmo.

Art. 83 – Orientar, na condição de Enfermeiro, a equipe sob sua responsabilidade sobre o

dever do sigilo profissional.

PROIBIÇÕES

Art. 84 - Franquear o acesso a informações e documentos a pessoas que não estão

diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos previstos na legislação vigente

ou por ordem judicial.

Art. 85 - Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma que os envolvidos

possam ser identificados.

CAPÍTULO III

DO ENSINO, DA PESQUISA E DA PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

DIREITOS

Art. 86 - Realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, respeitadas as normas ético-

legais.

Art. 87 – Ter conhecimento acerca do ensino e da pesquisa a serem desenvolvidos com as

pessoas sob sua responsabilidade profissional ou em seu local de trabalho.

Art. 88 – Ter reconhecida sua autoria ou participação em produção técnico-científica.

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RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 89 – Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos, segundo a

especificidade da investigação.

Art. 90 - Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade da

pessoa.

Art. 91 - Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos

autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus resultados.

Art. 92 - Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e sociedade em

geral.

Art. 93 - Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais da profissão no ensino,

na pesquisa e produções técnico-científicas.

PROIBIÇÕES

Art. 94 - Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito

inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo de risco ou

dano aos envolvidos.

Art. 95 - Eximir-se da responsabilidade por atividades executadas por alunos ou estagiários,

na condição de docente, Enfermeiro responsável ou supervisor.

Art. 96 - Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa, família ou

coletividade.

Art. 97 – Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem como, usá-los para fins

diferentes dos pré-determinados.

Art. 98 - Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do estudo

sem sua autorização.

Art. 99 – Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-científica ou instrumento de

organização formal do qual não tenha participado ou omitir nomes de co-autores e colaboradores.

Art. 100 - Utilizar sem referência ao autor ou sem a sua autorização expressa, dados,

informações, ou opiniões ainda não publicados.

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Art. 101 – Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, das quais tenha participado

como autor ou não, implantadas em serviços ou instituições sob concordância ou concessão do

autor.

Art. 102 – Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer constar seu nome como autor ou

co-autor em obra técnico-científica.

CAPÍTULO IV

DA PUBLICIDADE

DIREITOS

Art. 103 – Utilizar-se de veículo de comunicação para conceder entrevistas ou divulgar

eventos e assuntos de sua competência, com finalidade educativa e de interesse social.

Art. 104 – Anunciar a prestação de serviços para os quais está habilitado.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 105 – Resguardar os princípios da honestidade, veracidade e fidedignidade no conteúdo

e na forma publicitária.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 106 – Zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes formas de

divulgação.

PROIBIÇÕES

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 107 – Divulgar informação inverídica sobre assunto de sua área profissional.

Art. 108- Inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e instituições sem

sua prévia autorização.

Art. 109 – Anunciar título ou qualificação que não possa comprovar.

Art. 110 – Omitir, em proveito próprio, referência a pessoas ou instituições.

Art. 111 – Anunciar a prestação de serviços gratuitos ou propor honorários que caracterizem

concorrência desleal.

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CAPÍTULO V

DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES

Art. 112 - A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação das respectivas

penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros dispositivos

legais.

Art. 113- Considera-se Infração Ética a ação, omissão ou conivência que implique em

desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de

Enfermagem.

Art. 114 - Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos Conselhos Federal

e Regional de Enfermagem.

Art. 115 - Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática, ou dela

obtiver benefício, quando cometida por outrem.

Art. 116 - A gravidade da infração é caracterizada por meio da análise dos fatos do dano e de

suas consequências.

Art. 117 - A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos do Código de

Processo ético das Autarquias dos Profissionais de Enfermagem.

Art. 118 - As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e Regional de

Enfermagem, conforme o que determina o art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973, são as

seguintes:

I - Advertência verbal;

II - Multa;

III - Censura;

IV - Suspensão do Exercício Profissional;

V - Cassação do direito ao Exercício Profissional.

§ 1º - A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, de forma reservada, que

será registrada no Prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas.

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§ 2º - A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (um) a 10 (dez) vezes o valor

da anuidade da categoria profissional à qual pertence o infrator, em vigor no ato do pagamento.

§3º - A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais dos

Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação.

§ 4º - A suspensão consiste na proibição do exercício profissional da Enfermagem por um

período não superior a 29 (vinte e nove) dias e serão divulgados nas publicações oficiais dos

Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, jornais de grande circulação e comunicada aos órgãos

empregadores.

§ 5º - A cassação consiste na perda do direito ao exercício da Enfermagem e será divulgada

nas publicações dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação.

Art.119 - As penalidades, referentes à advertência verbal, multa, censura e suspensão do

exercício profissional, são da alçada do Conselho Regional de Enfermagem, serão registradas no

prontuário do profissional de Enfermagem; a pena de cassação do direito ao exercício profissional é

de competência do Conselho Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo

primeiro, da Lei n° 5.905/73. Parágrafo único - Na situação em que o processo tiver origem no

Conselho Federal de Enfermagem, terá como instância superior a Assembleia dos Delegados

Regionais.

Art. 120 - Para a graduação da penalidade e respectiva imposição consideram-se:

I - A maior ou menor gravidade da infração;

II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;

III - O dano causado e suas consequências;

IV - Os antecedentes do infrator.

Art.121 - As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, segundo a natureza

do ato e a circunstância de cada caso.

§ 1º - São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física, mental ou moral

de qualquer pessoa, sem causar debilidade ou aquelas que venham a difamar organizações da

categoria ou instituições.

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§ 2º - São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida, debilidade

temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa ou as que causem danos

patrimoniais ou financeiros.

§ 3º - São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte, deformidade

permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou ainda, dano moral irremediável

em qualquer pessoa.

Art. 122 - São consideradas circunstâncias atenuantes:

I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e com

eficiência, evitar ou minorar as conseqüências do seu ato;

II - Ter bons antecedentes profissionais;

III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação;

IV - Realizar ato sob emprego real de força física;

V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração.

Art. 123 - São consideradas circunstâncias agravantes:

I - Ser reincidente;

II - Causar danos irreparáveis;

III - Cometer infração dolosamente;

IV - Cometer a infração por motivo fútil ou torpe;

V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outra

infração;

VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima;

VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao cargo ou

função;

VIII - Ter maus antecedentes profissionais.

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CAPÍTULO VI

DA APLICAÇÃO DAS PENALIDAES

Art. 124 - As penalidades previstas neste Código somente poderão ser aplicadas,

cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo.

Art. 125 - A pena de Advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao que está

estabelecido nos artigos: 5º a 7º; 12 a 14; 16 a 24; 27; 30; 32; 34; 35; 38 a 40; 49 a 55; 57; 69 a 71; 74;

78; 82 a 85; 89 a 95; 89; 98 a 102; 105; 106; 108 a 111 Código.

Art. 126 - A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos

artigos: 5º a 9º; 12; 13; 15; 16; 19; 24; 25; 26; 28 a 35; 38 a 43; 48 a 51; 53; 56 a 59; 72 a 80; 82; 84;

85; 90; 94; 96; 97 a 102; 105; 107; 108; 110; e 111 deste Código.

Art. 127 - A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos

artigos: 8º; 12; 13; 15; 16; 25; 30 a 35; 41 a 43; 48; 51; 54; 56 a 59 71 a 80; 82; 84; 85; 90; 91; 94 a

102; 105; 107 a 111 deste Código.

Art. 128- A pena de Suspensão do Exercício Profissional é aplicável nos casos de infrações ao

que está estabelecido nos artigos: 8º; 9º; 12; 15; 16; 25; 26; 28; 29; 31; 33 a 35; 41 a 43; 48; 56; 58;

59; 72; 73; 75 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96 a 102; 105; 107 e 108 deste Código.

Art.129 - A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profissional é aplicável nos casos de

infrações ao que está estabelecido nos artigos: 9º, 12; 26; 28; 29; 78 e 79 deste Código.

CAPITULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 130- Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de Enfermagem.

Art. 131- Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Enfermagem, por

iniciativa própria ou mediante proposta de Conselhos Regionais.

Parágrafo único - A alteração referida deve ser precedida de ampla discussão com a

categoria, coordenada pelos Conselhos Regionais.

Art. 132 O presente Código entrará em vigor 90 dias após sua publicação, revogadas as

disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007.

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5 Bioética

5.1 Aspectos conceituais da Bioética

A palavra Bioética tem origem etimológica em duas palavras gregas: Bios e Éthos. Bios significa vida e Éthos significa ética. A ética é erroneamente confundida com a moral, devido ao fato de ambas se originarem de éthos, termo grego, que, “quando escrito com “e” breve, significa “hábito”, enquanto que com “e” longa, significa “propriedade de caráter”. (HRYNIEWICZ, 2008, p. 3). Éthos quando usado como hábito, refere-se à moral, e como propriedade de caráter à ética. Segundo Regina Sauwen e Severo Hryniewicz: Por moral (substantivo) entende-se a reunião de costumes ou hábitos de um indivíduo ou de um povo, orientada por um princípio muito genérico de “bem” ou de “correto” enquanto, por ética, entende-se também um conjunto de princípios ou regras avaliados com rigor e consciência crítica. Isto significa que a ética procura desenvolver uma rigorosa avaliação sobre o que é o bem e o que é o mal, preocupando-se em indicar quais os caminhos realiza o homem enquanto agente do bem. (HRYNIEWICZ; SAUWEN, 2008, p.3).

O neologismo Bioética foi utilizado pela primeira vez em 1970, pelo biólogo e oncologista, Van Rensselaer Potter no seu artigo: Bioéthics: the Science of Survival, mas somente se popularizou em 1971 com a publicação do seu livro: Bioéthics: Bridge to the Future. Para Potter a Bioética deveria ser a ciência da sobrevivência, diante das diferentes ameaças à vida e de um ambiente que põe em risco a vida do planeta, no sentido de resolver os problemas ambientais nas questões de saúde. (HRYNIEWICZ; SAUWEN, 2008, p.8).

O Kennedy Institute of Ethics, originalmente chamado de Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethics, propôs uma nova abordagem à Bioética, concentrando-a na perspectiva médica, tornando-a prolongamento da ética médica.André Hellegers, fundador deste instituto, defendeu a ideia de que o uso da Bioética deveria se limitar ao ser humano e ao que a ele se relaciona. (HRYNIEWICZ; SAUWEN, 2008, p.9).

Para Warren Reich, no conceito por ele formulado em 1978, Bioética é o estudo do comportamento humano sob a ótica dos princípios e valores morais no âmbito das ciências da vida e saúde. (JUNGES, 1999, p. 17). Neste mesmo ano o Kennedy Institute propôs, por meio do conceito de Warren Reich, a seguinte definição na Enciclopédia de Bioética: “Bioética é o estudo sistemático da conduta humana no âmbito das ciências da vida e da saúde, enquanto esta conduta é examinada à luz de valores e princípios morais.” (JUNGES, 1999, p. 20).

O sentido e abrangência do termo foram explicados desta forma: “a Bioética abarca a ética médica, porém não se limita a ela. A ética médica, em seu sentido tradicional, trata dos problemas relacionados a valores que surgem da relação entre médico e paciente”. (JUNGES,1999, p. 20).

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5.2 Aborto

Outro tema da Bioética que apresenta grande relevância no ordenamento jurídico brasileiro é o aborto. A prática do aborto, sob a ótica penal brasileira, pode ser considerada como uma das formas de se violar o direito à vida (garantia fundamental descrita no artigo 5º da Constituição Brasileira de 1988).

Houve menção à possível descriminalização do aborto no recente 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, publicado pelo Diário Oficial da União, no dia 22 de dezembro de 2009, oriundo da Secretaria Especial de Direitos Humanos (órgão da administração federal brasileira), que estabelece "apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos".

Mas houve pressão dos setores da Igreja, principalmente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil contra esta parte do mencionado Plano. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva mandou rever o trecho pró-aborto do decreto deste plano, alegando que ele não traduziu a posição do governo. Ao que tudo indica na nova redação, será suprimida a parte que fala da autonomia da mulher, pois poderia caracterizar apoio governamental à decisão íntima de interromper a gestação, que parece não ser a posição do atual governo e do Presidente Lula.

Paulo Vanucchi, Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, ameaçou entregar o cargo se o Presidente Lula recuasse ante ao teor do programa. Percebe-se, diante da polêmica amplamente veiculada na mídia, que o Brasil talvez esteja atrasado em relação a outros países, até mesmo de forte tradição católica, como Portugal, em que o aborto não é proibido, segundo certas circunstâncias.

Outra discussão que ainda deve ser discutida no Brasil, no plano ético (liberdade), é saber se não haveria o direito da mulher sobre o próprio corpo ou, ainda, uma maior discussão sobre a política relativa ao planejamento familiar, nos termos do parágrafo 7º, do artigo 226, da Constituição Brasileira.

Enquanto estas discussões não modificarem o tratamento legal dado ao aborto pelo direito brasileiro, ele continua sendo criminalizado e a sua prática proibida. O aborto está definido no Código Penal, nos casos em que: I) a conduta da mulher grávida causar o aborto em si mesmo ou o conceda para que outro o faça (art. 124); II) a conduta de um terceiro que causar o aborto sem o consentimento da mulher grávida (art. 125); III) bem como nos casos em que a conduta do terceiro causar o aborto com o consentimento da mulher grávida.

Se a mulher não tiver mais de quatorze anos e for deficiente mental, ou o seu Consentimento tiver sido obtido por meio de fraude, violência ou grave ameaça, o consentimento prolatado é inválido, e o agente deve ser responsabilizado pela conduta que causou o aborto sem o consentimento válido.

A legislação infraconstitucional não pune o aborto necessário quando praticado por médico, de acordo com o critério de necessidade, ou seja, quando não há outra forma de salvar a vida da mulher. Não se sanciona ainda o aborto quando a gravidez é resultante de estupro, caso em que se é importante obter-se o consentimento da gestante ou de seu representante legal quando incapaz aquela (Código Penal art. 128).

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5.3 Eutanásia

A eutanásia, assim como o aborto, também está diretamente relacionada com o direito garantia à vida, haja vista ser um procedimento em que àquela é encerrada de forma artificial.

Conhecida como “boa morte” ou morte piedosa a eutanásia pode ser compreendida como a ação ou omissão médica que tem por finalidade antecipar a morte de um paciente ou encurtar a sua vida.

No ordenamento jurídico brasileiro a prática da eutanásia pode implicar em, pelo menos, dois tipos de crimes descritos no Código Penal: I) o homicídio (art. 121, CP, para matar alguém); II) a assistência ao suicídio (art. 122, CP, para induzir ou instigar alguém a cometer o suicídio ou contribuir para o faça).

Em sentido oposto a eutanásia, tem-se a distanásia, a qual é entendida como a ação médica que visa prolongar ao máximo a vida do paciente. A ortotanásia, por sua vez, é a morte no tempo certo e natural, nesta não são aplicadas técnicas terapêuticas que estenderiam uma vida de sofrimento e inútil do ponto de vista da cura.

A regulamentação da prática de eutanásia já está em andamento há vários anos no legislativo brasileiro. Tramitou no Senado Federal, entre os anos 1996 e 2002, o Projeto de Lei nº 125, que tentava “autorizar a prática da morte sem dor”, mas que foi arquivado sem votação e/ou aprovação.

Na Câmara Federal dos Deputados têm-se em torno de vinte propostas sobre a eutanásia, a ortotanásia e a distanásia, todavia enquanto uns estão tentando regularizar estas práticas outros pretendem defini-las como crime.

Enfim, vale lembrar que o Conselho Federal da Medicina, publicou no jornal oficial de28.11.2008 (seção I, página 169), a Resolução de n º 1805/2006, cujo texto permite ao médico limitar ou suspender os procedimentos que prolongam a vida, possibilitando que seja despendida a atenção necessária para aliviar os sintomas de seu sofrimento, tendo a perspectiva de uma assistência integral, respeitando a vontade do paciente ou do seu representante legal quando este se encontrar em fase terminal ou dotado de enfermidade incurável.

Esta resolução, entretanto, está suspensa em virtude de uma decisão judicial, prolatada em 23.10.2007 em sede da Ação Civil Pública patrocinada pelo Ministério Público contra o Conselho Federal de Medicina, processo nº. 2007.34.00.014809-3, perante o Tribunal Federal da 1ª Região do Distrito Federal, ressaltando-se que esta ação ainda está em curso.

5.4 Reprodução Assistida

Outra questão atinente a Bioética e ao Biodireito é a reprodução assistida, também conhecida como fecundação artificial. O Código Civil de 2002 reconhece e permite os efeitos jurídicos familiares para os filhos concebidos por esta técnica, ou seja, seus direitos como herdeiros e como membros daquela família.

A Constituição da República estabelece no seu art. 226, § 7, o planejamento familiar, o qual é de livre escolha do casal. Tais como os definidos na Lei 9263/96 que garante a distribuição de anticoncepcional e outros contraceptivos.

Como forma de dar execução à garantia constitucional do apoio estatal no planejamento familiar, esta lei obriga as instâncias oficiais gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus níveis,

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garantirem em toda a sua rede de serviços programa de atenção integral à saúde, em todos os seus ciclos vitais, que inclua como atividades básicas, entre outras, a assistência à concepção e contracepção.

Interessa aqui a assistência à concepção que, no contexto brasileiro, não é de fato oferecida pelo Sistema Único de Saúde, posto as instâncias estatais não aplicarem efetivamente os recursos financeiros de modo suficiente para a capacitação de recursos humanos, aquisição de aparelhos ou construção de instalações adequadas para propiciar o atendimento à saúde reprodutiva.

Em que pese a existência da Portaria nº 426-GM, de 22 de março de 2005, do Ministério da Saúde, e a verificação de que, no Brasil mais de trezentos mil casais tenham algum problema de infertilidade durante sua vida fértil12, o fato é que, diante de problemas estruturais envolvendo nosso sistema de saúde pública, o auxílio ao planejamento familiar é relegado a plano inferior de atenção que o assunto está a merecer.

A par das mencionadas normas estatais de regulamentação da reprodução assistida, mais de um projeto de lei tramita no Congresso Nacional visando regulamentar o processo e os reflexos da reprodução assistida.

Na falta de uma efetiva e democrática regulamentação da matéria, a pauta de condutas tem sido complementada com a aplicação da Resolução nº 1.358/1992 do Conselho Federal de Medicina, que dispõe sobre normas éticas para utilização das técnicas de reprodução assistida como dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos.

Essa resolução é o único texto normativo que, no Brasil, trata da doação de gametas ou pré-embriões para fim de fertilização artificial, uma vez que o Decreto 2.268/1997, que regulamenta a Lei Federal 9.434/1997, a qual dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de tratamento expressamente exclui os casos envolvendo sangue, esperma e óvulo.

Nos termos da apontada Resolução, a doação nunca terá caráter lucrativo e osdoadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, sendo obrigatoriamente mantido o sigilo sobre suas identidades, exceto por motivação médica e apenas e exclusivamente entre médicos podem ser reveladas essas informações. Quanto a essa última parte, é questionável a possibilidade de se obter ordem judicial de quebra do sigilo, em especial quando se tratar de ações de investigação de paternidade, já que é garantido o direito constitucional de informação para que a pessoa possa conhecer sua origem genética.

Referida resolução prevê, dentre outras situações, a possibilidade de doação e crioconservação de gametas ou pré-embriões e a doação temporária de útero, também conhecida como “barriga de aluguel” ou “útero de aluguel”. A expressão de cunho popular é extremamente imprópria já que a gratuidade é requisito imperativo nesses casos.

A Resolução n. 1.358/92 do CFM, em seu capítulo VII trata da “gestação desubstituição”, também chamada de doação temporária de útero, atribuindo as clínicas públicas ou privadas, centros ou serviços de reprodução humana a possibilidade de usarem suas técnicas para criarem esta situação desde que exista um problema médico que impeça ou exista uma contra-indicação para a gestação na doadora genética.

Todavia, as doadoras temporárias de útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco até o segundo grau sucessório, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina (CRM) nos estados federados, não podendo a doação temporária de útero ter caráter lucrativo ou comercial.

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5.5 Clonagem

Clonagem é a reprodução idêntica de um sistema ou estrutura, através de cópias de moléculas de DNA. É um caminho perigoso, por poder originar uma outra espécie na raça humana. Na tentativa de aumentar as possibilidades de fertilização “in vitro”, os cientistas clonaram embriões humanos em 1993, nos EUA.

Pesquisadores sustentam ser possível reproduzir um indivíduo geneticamente idêntico ao seu doador. Mas ele teria características diferentes, pois não só o genótipo (carga genética herdada), mas também o fenótipo (interação dos genes da pessoa com o ambiente em que vive) influenciam na sua identidade.

É bem verdade que os gêmeos univitelinos são considerada clones pelos cientistas vestem serem formados exatamente a partir da mesma célula, originando duas células embrionárias idênticas. O problema reside não só na clonagem, mas na sua conjugação com a engenharia genética, ao modificar a identidade cromossômica de um ser. Dessa forma, poderiam ser criadas cópias de indivíduos e, conseqüentemente, raças em detrimento de outras.

Esbarra-se no Direito, vez que contraria o princípio jurídico e ético da dignidade humana. O indivíduo deve ser pensado como um fim e não como um meio, como no caso da vida humana ser criada apenas para armazenar material terapêutico.

Harold Varmus, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde afirmou que a clonagem humana é má ciência e má ética. Para o ministro francês da Agricultura, Philippe Vasseur, a técnica escocesa pode criar monstros. O ministro alemão da pesquisa e ciência, Jürgen Rütgers, declarou que essa experiência deve ser proibida, pois “o homem é uma criação única que não pode ser manipulada”. Em 1997, o presidente da Argentina, Carlos Menem, coibiu, por decreto, clonagens em seres humanos. Na mesma data o governo do Japão anunciou que não irá subvencionar pesquisas científicas sobre clonagem humana.

É fato que a clonagem também poderá trazer bons resultados, ao propor curas para determinadas moléstias. Por exemplo: clonar neurônios novos poderá colaborar na recuperação mental dos portadores do mal de Alzheimer; copiar células sadias da pele auxiliará quem sofre com queimaduras; ao copiar parte da medula espinhal, órgão que fabrica o sangue, a réplica da medula introduzida no paciente poderá purificar a circulação, exterminando o câncer.

Os teólogos, em geral, não concordam. A Igreja Católica pediu, em 1997, que essa prática fosse proibida, tal como no Brasil. Aqui, a Lei nº 8974 de 05.01.1995 e o Decreto nº 2577 de 30.04.1998 consideram crime, tendo uma pena variável de três meses até um ano de prisão, qualquer manipulação genética de células germinais humanas, qualquer intervenção em material genético humano “in vivo”, exceto para tratamento de defeitos genéticos, conforme os princípios éticos.

Entretanto, a clonagem humana é um fato inevitável. Foi anunciado o primeiro clone, nascido em 26.12.2002, embora sem comprovação científica, até agora. Espera-se um teste de DNA para provar se a filha é cópia da mãe. Ele foi gerado pela ‘Clonaid’, uma empresa surgida em 1997, a partir da seita religiosa dos raelianos, dos EUA, que acreditam no surgimento da vida humana como obra de Ets. O processo foi idêntico ao da ovelha Dolly: produziu-se uma réplica a partir de uma célula materna.

Parece lembrar os nazistas, que buscavam criar uma raça soberana e pura. Haverá muitos riscos, pois pode-se clonar os genes de alguém, mas não sua história de vida, seus princípios éticos, sua moral e dignidade.

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A pessoa humana não pode ser reduzida a um instrumento ou a um objeto. Tudo deve ser analisado

à luz do Direito, da ética compatível com a dignidade humana. A pesquisa científica deve ser

incentivada, mas é preciso adotar limites, coibir determinados abusos. Deve-se buscar o equilíbrio,

ponderando-se o progresso científico com os malefícios prováveis.

Material elaborado pela docente:

Lívia Maria Pires Melo

Em 28 de Fevereiro de 2012.

Email: [email protected]

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