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1 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DOS INVESTIMENTOS NAS PLANTAÇÕES FLORESTAIS DA PORTUCEL-MOÇAMBIQUE NAS TECNOLOGIAS AGRÍCOLAS DAS POPULAÇÕES LOCAIS NOS DISTRITOS DE ILE E NAMARRÓI, PROVÍNCIA DA ZAMBÉZIA Almeida Sitoe e Sá Nogueira Lisboa Nº 58 Novembro 2017 Documento de Trabalho Observador Rural

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AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DOS

INVESTIMENTOS NAS PLANTAÇÕES FLORESTAIS

DA PORTUCEL-MOÇAMBIQUE NAS TECNOLOGIAS

AGRÍCOLAS DAS POPULAÇÕES LOCAIS NOS

DISTRITOS DE ILE E NAMARRÓI,

PROVÍNCIA DA ZAMBÉZIA

Almeida Sitoe e Sá Nogueira Lisboa

Nº 58

Novembro

2017

Do

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O documento de trabalho (Working Paper) OBSERVADOR RURAL (OMR) é uma publicação do

Observatório do Meio Rural. É uma publicação não periódica de distribuição institucional e

individual. Também pode aceder-se ao OBSERVADOR RURAL no site do OMR

(www.omrmz.org).

Os objectivos do OBSERVADOR RURAL são:

Reflectir e promover a troca de opiniões sobre temas da actualidade moçambicana e

assuntos internacionais.

Dar a conhecer à sociedade os resultados dos debates, de pesquisas e reflexões sobre

temas relevantes do sector agrário e do meio rural.

O OBSERVADOR RURAL é um espaço de publicação destinado principalmente aos

investigadores e técnicos que pesquisam, trabalham ou que tenham algum interesse pela área

objecto do OMR. Podem ainda propor trabalhos para publicação outros cidadãos nacionais ou

estrangeiros.

Os conteúdos são da exclusiva responsabilidade dos autores, não vinculando, para qualquer efeito

o Observatório do Meio Rural nem os seus parceiros ou patrocinadores.

Os textos publicados no OBSERVADOR RURAL estão em forma de draft. Os autores agradecem

contribuições para aprofundamento e correcções, para a melhoria do documento final.

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AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DOS INVESTIMENTOS NAS PLANTAÇÕES

FLORESTAIS DA PORTUCEL-MOÇAMBIQUE NAS TECNOLOGIAS AGRÍCOLAS DAS

POPULAÇÕES LOCAIS NOS DISTRITOS DE ILE E NAMARRÓI,

PROVÍNCIA DA ZAMBÉZIA

Almeida Sitoe1 e Sá Nogueira Lisboa2

RESUMO:

O presente estudo é parte integrante do projecto “Efeitos dos grandes projectos sobre o meio rural e a

agricultura (Portucel Moçambique)” realizado pelo Observatório do Meio Rural (OMR). A publicação

Observador Rural nº 53, da autoria de Natacha Bruna, com o título “Plantações florestais e a

instrumentalização do Estado em Moçambique” constitui o principal relatório do projecto. No contexto

de um país onde a terra pertence ao Estado, mas as comunidades locais detêm o poder local sobre a

terra por direito costumeiro, a procura de extensas áreas de terras para o estabelecimento de plantações

é confrontada com a necessidade de interagir, não só com as instituições do Estado, mas também com

as populações residentes na área. Na interacção com as populações residentes na área, a convivência

harmoniosa entre os investidores e as comunidades requer uma adequada gestão de expectativas das

partes. Por um lado, o investidor espera encontrar terra segura (acessível, sem conflitos, sem

interferência, sem actividades contrárias que possam perigar as plantações florestais). Por outro lado,

as populações locais vêem no investidor oportunidades de melhorar a vida através de empregos,

oportunidades de prestação de serviços à empresa e outros associados, acesso a tecnologias de

produção agrícola e acesso a infra-estruturas (p.e. estradas, postos de saúde). Neste contexto, o presente

estudo procura avaliar as mudanças no acesso a tecnologias adoptadas e as mudanças nos sistemas de

produção no período pós-investimento, e estudar as diferentes vertentes de transferência de tecnologia

através de acções de investigação e extensão desenvolvidas, ou não, pela empresa e os seus efeitos

sobre a produção, produtividade e o rendimento dos produtores locais. Especificamente, as questões

que o presente estudo procura responder são: (i) quais as mudanças que ocorreram em termos de acesso

a tecnologias de produção agrícola nos distritos de Ile e Namarrói desde que a Portucel iniciou as suas

actividades; e (ii) que impactos houve nos sistemas de produção agrícola em termos de produtividade

e rendimento.

A estrutura do presente estudo inclui uma revisão de literatura com a finalidade de (i) contextualizar

as plantações florestais no mundo e em Moçambique; (ii) estabelecer as ligações entre plantações

florestais e o acesso a terra, produção de alimentos e segurança alimentar; (iii) argumentar que a

utilização de tecnologias melhoradas e o acesso ao serviço de extensão são alguns elementos

importantes para promover o desenvolvimento rural. Os resultados enfocam na análise comparativa

entre os sistemas de produção antes e depois do início das actividades da Portucel, e os benefícios

percebidos pelas comunidades locais.

Para responder às questões colocadas neste estudo, foi realizada uma visita de reconhecimento aos

dois distritos, encontros com quadros de direcção e operários da empresa Portucel Moçambique,

encontros com os provedores de serviços à Portucel Moçambique, as instituições do Estado e as

Comunidades abrangidas pelos projectos de plantações florestais nos distritos de Ile e Namarroi,

Província da Zambézia. Posteriormente, foi conduzido um inquérito dirigido a elementos das

comunidades nas áreas abrangidas pelo projecto.

1 Almeida Sitoe, Engenheiro Florestal, Ph.D. em Ciências Florestais, Professor Catedrático em Silvicultura e

Ecologia de Florestas Tropicais, UEM. 2 Sá Nogueira Lisboa - Eng. Florestal, M.Sc. em Maneio e Conservação de Biodiversidade, Assistente Estagiário

no Departamento de Engenharia Florestal, UEM.

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As principais constatações do estudo são:

1. As plantações florestais, em geral, constituem um mecanismo de suprir a procura sempre crescente

de produtos e serviços florestais. O continente Africano (incluindo Moçambique) tem uma taxa de

desmatamento maior que a taxa de replantio de árvores ou de restauração de florestas, o que aponta

para uma crise de produtos e serviços florestais no futuro.

2. O estabelecimento de plantações florestais deve estar enquadrado num contexto local de modo a

minimizar os potenciais impactos negativos sociais e ambientais. A falta desta contextualização

pode causar conflitos com as comunidades locais, principalmente relacionados com o acesso à

terra e à insegurança alimentar. Uma forma de minimizar esses impactos é uma negociação

transparente dos termos de cedência de terras em que há ganhos mútuos para as empresas e para

as comunidades locais.

3. As experiências de plantações em Moçambique mostram que conseguir uma negociação

transparente e justa com ganhos para ambas as partes representa um desafio. A Portucel

Moçambique tem a vantagem de conhecer vários dos exemplos de outras empresas florestais

estabelecidas há mais tempo, poder aprender dessas lições e evitar repetir os mesmos erros.

4. A Portucel Moçambique inclui no seu portefólio um programa de desenvolvimento social, que tem

como principal finalidade manter a ligação com as comunidades locais e cumprir as promessas das

compensações devidas às comunidades locais derivadas da cedência das suas terras à Portucel.

Este programa iniciou as suas actividades em 2015, isto é, há um ano, que representa um período

muito curto para verificar os seus impactos no terreno.

5. Os camponeses locais utilizam técnicas rudimentares na agricultura, caracterizadas por: (i) quase

exclusivamente, a enxada de cabo curto (98% dos inquiridos); (ii) derrube, amontoa e queimada

como ferramenta para preparação da terra para agricultura (78% dos inquiridos); (iii) consociação

de culturas e pousio (85% dos inquiridos); (iv) as actividades agrícolas são tipicamente realizadas

pelos membros do agregado familiar, principalmente a mãe e o pai (70% dos inquiridos), sendo

que os filhos também participam em grande medida; (v) as principais culturas produzidas são

alimentares para consumo local (95% dos inquiridos), principalmente feijão, mandioca, milho,

arroz, batata-doce, amendoim e mapira, e poucos produzem culturas de rendimento (5%),

principalmente a soja e algodão; (vi) quase todos os respondentes (95%) criam aves (galinhas e/ou

patos) e uma parte cria também porcos (40% dos inquiridos) e cabritos (10% dos inquiridos).

6. A região tem uma fraca rede de extensão agrária, sendo que a maioria dos respondentes (80% antes

da Portucel e 55% depois da Portucel) nunca teve apoio dos serviços de extensão. Entretanto, o

número de respondentes que indicou ter apoio frequente/sempre dos serviços de extensão parece

haver aumentado desde que a Portucel iniciou os trabalhos de extensão agrária como parte do

Programa de Desenvolvimento Social (PDS). O PDS também tem vindo a promover o

associativismo como parte das actividades de extensão agrária da Portucel, tendo os entrevistados

reconhecido a implementação desta actividade.

7. Os resultados sugerem que, da parte da comunidade, criou-se muita expectativa de ter emprego

(70% dos inquiridos), receber dinheiro e ter apoio na agricultura (25% dos inquiridos). O impacto

sobre estes elementos da expectativa ainda é dificil de perceber. Por um lado, trabalhar na Portucel

aparece como a segunda maior fonte de renda, dando assim, um valor positivo à criação de

emprego rural, numa região onde não parece haver outro tipo de empregador. Por outro lado,

apenas cerca de 10% dos que responderam ter renda do emprego na Portucel referiu ter um posto

de trabalho permanente na Portucel, e apenas cerca de 15% dos entrevistados referiu ter verificado

melhorias com a entrega das terras à Portucel.

8. Os impactos das intervenções da Portucel no acesso às tecnologias bem como o impacto destas na

produtividade e rendimento não são evidentes ainda. Um ano de intervenção do Programa de

Desenvolvimento Social, combinado com um ano atípico (sob influência do fenómeno El Niño),

podem ter confundido alguns efeitos.

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As análises aqui apresentadas não são conclusivas com relação às tecnologias e à produtividade.

Recomenda-se fazer um levantamento em 2018 com a finalidade de avaliar as mudanças num período

de tempo mais longo. Por isso, os resultados aqui apresentados constituem uma linha de referência.

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TABELA DE CONTEÚDOS

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 6

2. METODOLOGIA ............................................................................................................................. 7

3. AS PLANTAÇÕES FLORESTAIS .................................................................................................. 8

3.1 Tendência global das plantações florestais ..................................................................................... 8

3.2 O Sub-sector de plantações florestais em Moçambique ................................................................. 9

3.3 Plantações florestais e outras formas competitivas de uso de terra .............................................. 10

3.4 Terra, comunidades e plantações florestais .................................................................................. 11

4. PRÁTICAS AGRÍCOLAS EM MOÇAMBIQUE .......................................................................... 14

5. SEGURANÇA ALIMENTAR ........................................................................................................ 14

6. PERFIL DOS DISTRITOS DE ILE E NAMARRÓI ..................................................................... 15

7. O PLANO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA PORTUCEL (PDSP) ................................ 15

8. RESULTADOS ............................................................................................................................... 16

8.1 Técnicas de preparação do terreno para agricultura ...................................................................... 16

8.1.1 Técnicas de cultivo agrícola ....................................................................................................... 17

8.1.2 Campos de demonstração de resultados ..................................................................................... 18

8.1.3 Campos de multiplicação de semente melhorada ....................................................................... 19

8.2 Culturas agrícolas e pecuária ......................................................................................................... 19

8.3 Membros da família responsáveis pelas actividades da machamba .............................................. 21

8.4 Acesso ao serviço de extensão agrária e participação em associações.......................................... 23

8.5 Compensação pela cedência de terras ........................................................................................... 25

8.5.1 Actividade de maior renda ao agregado familiar ....................................................................... 26

8.5.2 Vínculo laboral com a Portucel .................................................................................................. 27

8.5.3 A ocupação de terra pela Portucel melhorou a vida na comunidade .......................................... 29

9. NOTAS FINAIS .............................................................................................................................. 32

10. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 33

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LISTA DE FIGURAS:

Figura 1. Área de estudo (A) distritos de Ile e Namarrói e (B) áreas de DUAT da empresa Portucel.

Fontes: (Bruna 2017; Portucel 2016) .................................................................................................... 7

Figura 2. Variação da área de florestas plantadas a nível global entre 1990 a 2015 (FAO 2015) ........ 8

Figura 3. Regiões com potencial agro-ecológico para o estabelecimento de plantações florestais em

Moçambique. Fonte: (MINAG 2006) ................................................................................................. 10

Figura 4. Tipos de técnicas utilizadas para a preparação do terreno para a prática de agricultura antes

e depois do início das actividades da Portucel no distrito de Ilé e Namarroi. ..................................... 17

Figura 5. Técnicas de cultivo agrícola ................................................................................................ 18

Figura 6. Campo de demonstração de resultados (CDR) na machamba de camponeses de contacto

(Esquesrda) CRD de milho e feijão-boer e (Direita) celeiro melhorado ............................................. 19

Figura 7. Campo de multiplicação de semente em Maquiringa: (A) gergelin e (B) batata-doce ....... 19

Figura 8. Culturas agrícolas produzidas nas machambas antes e depois da Portucel ......................... 20

Figura 9. Criação de animais antes e depois da Portucel .................................................................... 21

Figura 10. Membros da família responsáveis pelas actividades da machamba .................................. 22

Figura 11. Acesso ao serviço de extensão agrária ............................................................................... 23

Figura 12. Participação em pelo menos uma associação antes e depois da Portucel .......................... 24

Figura 13. Porque que não pertencia a alguma associação ................................................................. 24

Figura 14. Agricultor modelo de uma localidade do distrito de Ile mostrando a sua machamba de

hortícolas ............................................................................................................................................. 25

Figura 15. Mecanismo de troca de terra entre a Comunidade e a Portucel ........................................ 26

Figura 16. Actividade que mais gera renda ao agregado familiar no distrito de Ilé e Namarroi. ........ 26

Figura 17. Vínculo laboral e tipo de vínculo com a Portucel .............................................................. 27

Figura 18. Trabalhadores sasonais na preparação de terra para o estabelecimento de plantações ...... 28

Figura 19. Viveiro de Luá, (A) com capacidade para produzir 12 milhões de plantas clonais por ano;

(B) trabalhadores do viveiro em plena actividade. .............................................................................. 28

Figura 20. A ocupação da terra pela Portucel melhorou a sua vida aqui na comunidade ................... 29

Figura 21. Porquê considera que a sua vida (a) piorou ou (b) melhorou ............................................ 30

Figura 22. O que melhorias houve na comunidade com a intervenção da Portucel ............................ 30

Figura 23. (A) Vias de acesso melhoradas facilitaram a (B) expensão da rede de comercialização de

produtos agrícolas. .............................................................................................................................. 31

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1. INTRODUÇÃO

“Plantação florestal” é o termo utilizado para referir as florestas estabelecidas artificialmente através

de plantio ou sementeira directa num processo geralmente conhecido como “reflorestamento” (FAO

2017). As plantações florestais podem ser estabelecidas em terras que nunca tiveram cobertura florestal

ou em áreas que tenham sido desmatadas por outras razões ou para o efeito de estabelecimento de

plantações florestais (IPCC 2017). Nas regiões tropicais, a maioria das plantações florestais são feitas

com espécies de rápido crescimento que são provenientes de outros países, por isso chamadas

“espécies exóticas”. As plantações florestais podem ser semi-naturais (quando combinadas com outras

formas de vegetação natural), ou produtivas (quando têm como propósito a produção de madeira ou

outros produtos florestais não-madeireiros) ou plantações de protecção (quando a finalidade é a

provisão de serviços) (FAO 2017). As plantações florestais servem principalmente de complemento

às florestas naturais na provisão de produtos e serviços que, de outra forma, não estariam disponíveis

em qualidade e quantidades suficientes.

O estabelecimento de plantações florestais para fins comerciais requer extensas áreas (pelo menos 20

mil hectares para a produção de madeira serrada ou mais de 200 mil hectares para a produção de polpa

de papel) (FAO 2002).

A procura de terras nas regiões tropicais para o estabelecimento de plantações florestais é um

fenómeno que vem aumentando nos últimos anos. Apesar da justificação sobre as necessidades

nacionais de aumentar a contribuição do sector de florestas para a economia, esta procura não é sempre

bem vista (Lyons e Westoby 2014; Richards e Lyons 2016). Uma das razões principais de

questionamento está associada aos impactos negativos que estas plantações causam nas populações

locais, particularmente naqueles países cuja terra é do Estado mas as populações locais detêm a terra

por direito costumeiro (FAO 2002; Matavel, Dolores, e Cabanelas 2011; Madan 2017). Porém,

também existe a percepção de que, apesar dos potenciais impactos negativos, se os investimentos no

sector de plantações florestais forem adequadamente orientados, as populações locais podem ter

ganhos e benefícios (Bleyer et al. 2016). É nesta óptica que se realizou este estudo, à procura dos

aspectos positivos dos investimentos no sector de plantações florestais em Moçambique, utilizando

como base os distritos de Ile e Namarrói, onde a empresa Portucel Moçambique tem uma concessão

de 173 mil hectares (Portucel 2016) para o plantio de árvores de eucaliptos para fins industriais. Mais

concretamente, o presente estudo procura responder às questões sobre (i) que mudanças podem ter

sido introduzidas pela Portucel e adoptadas pelas populações locais, em termos de tecnologias nos

sistemas de produção agrícola; e (ii) quais são as acções de investigação e extensão desenvolvidas pela

empresa e os seus efeitos sobre a produção, produtividade e o rendimento dos produtores.

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2. METODOLOGIA

O presente estudo teve lugar nos distritos de Ile e Namarrói, província da Zambézia (Figura 1) em

2016.

Figura 1. Área de estudo (A) distritos de Ile e Namarrói e (B) áreas de DUAT da empresa Portucel.

Fontes: (Bruna 2017; Portucel 2016)

O principal enfoque do presente estudo é procurar ver se há, ou não, impactos da intervenção da

Portucel nas técnicas e tecnologias de produção agrícola nas áreas onde esta empresa opera, que sirvam

de compensação pelas perdas ou redução de acesso aos recursos naturais. O estudo reconhece que os

impactos de uma empresa de plantação florestal são a longo prazo. Por outro lado, a introdução de

tecnologias de produção agrícola, bem como a introdução de culturas novas, nos agricultores locais de

pequena escala é um processo que leva tempo e, eventualmente, o nível de adopção será baixo no

início. Portanto, a expectativa era baixa, à partida, em que houvesse alterações significativas

resultantes da intervenção da Portucel, a qual apenas começou a plantar, à escala comercial, em 2015

e apenas em 2016 começou a implementação do seu programa de desenvolvimento social da Portucel

(PDSP). Assim, os resultados aqui apresentados serão utilizados como ponto de partida para, dentro

de 2 anos, voltar ao mesmo sítio e fazer os mesmos inquéritos para verificar eventuais alterações.

Apesar de ser curto o tempo de intervenção da Portucel, a técnica utilizada para a avaliação foi a de

antes-e-depois por forma a detectar-se possíveis impactos das intervenções da empresa na forma como

as populações locais praticam a agricultura e a sua produtividade.

Este documento consta de duas partes principais: a primeira parte, que apresenta os antecedentes gerais

sobre plantações florestais no mundo e em Moçambique, e, a segunda parte, que apresenta a

informação específica da Portucel com base nas visitas de campo, discussões com os gestores da

empresa, as instituições locais, e nos inquéritos realizados aos agregados familiares nos distritos

estudados. Dado que o presente estudo é parte integrante de um projecto maior e com outros objectivos,

outros assuntos, incluindo a metodologia detalhada, amostragem, os inquéritos e questões de

interacção entre as populações locais, a empresa e o Estado são discutidas em mais detalhe no

documento publicado como Observador Rural Nº 53 (Bruna 2017).

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3. AS PLANTAÇÕES FLORESTAIS

3.1 Tendência global das plantações florestais

As estatísticas mundiais indicam que em 2015 as florestas cobriam cerca de 3.99 mil milhões de

hectares, o que representa cerca de 30% da superfície terrestre. A área de cobertura florestal tem

reduzido nos últimos anos, sendo que a área total de florestas reduziu: em 1990 era de 4.28 mil milhões

de hectares. A maioria do desmatamento teve lugar no continente Africano, América do Sul e Oceânia.

Esta redução é devida, principalmente, à redução da área de florestas naturais enquanto a área de

plantações florestais aumentou de 167.5 para 277.9 milhões de hectares no mesmo período, o que

representa um aumento de 4.06% para 6.95% da área total de florestas (ver

Figura 2). A maior parte deste aumento foi verificado na China e Índia (FAO 2015).

Figura 2. Variação da área de florestas plantadas a nível global entre 1990 a 2015 (FAO 2015)

Apesar do incremento da taxa de anual de reflorestamento, no período de 2010-2015 este valor foi de

cerca de 1.2%, um valor baixo, quando comparado com a taxa necessária (de 2.4%), para satisfazer a

procura de produtos florestais (principalmente madeira e fibra) (FAO 2015). A maioria das plantações

estabelecidas foi feita com espécies nativas, enquanto as espécies exóticas representaram cerca de 18-

19% da área total plantada. O plantio de espécies exóticas foi tipicamente realizado no hemisfério Sul:

América do Sul, Oceânia, África Austral e Oriental, onde a indústria florestal é dominante (Payn et al.

2015). Note-se, porém, que, apesar do aumento global, a taxa de aumento da área de plantações

florestais é mais baixa no continente Africano. No ano 2000, a taxa anual de plantação no continente

Africano era de apenas 194 mil hectares (Chamshama e Nwonwu 2004).

O aumento, nas últimas décadas, de plantações florestais tinha como objectivo dar resposta a alguns

problemas associados ao desmatamento e à utilização insustentável das florestas naturais. No

continente Africano, por exemplo, onde a agricultura itinerante é o principal modo de produção

(Chamshama e Nwonwu 2004), a energia de biomassa é a principal ou a única fonte de energia

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(consumo de 602 milhões m3/ano) (GEF 2013) e a taxa de crescimento populacional é elevada (2.5%

por ano) (Worldometers 2017), a taxa de desmatamento é mais elevada (2.8 milhões de hectares

perdidos no período 2010-2015) do que a taxa de plantação (0.2 milhões de hectares plantados no

período 2010-2015), resultando numa expansão de áreas desmatadas e degradadas (FAO 2015). É

neste contexto que o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF 2013) estima que África irá, muito

em breve, ser um importador, e não exportador, de madeira, dado que a sua produção local não irá

satisfazer a demanda do continente. Estabelecer plantações industriais e outras formas de plantações

para uso local e para a protecção do ambiente tem sido visto como uma solução para colmatar o défice

de produtos florestais nas áreas degradadas e com baixa produtividade. Entretanto, é importante notar

que as plantações apenas são sustentáveis quando são devidamente enquadradas num contexto local,

pois existe o potencial das plantações florestais não geridas adequadamente gerarem conflitos sociais

e problemas ambientais (Chamshama e Nwonwu 2004).

A FAO recomendou fortemente o aumento de áreas de plantações florestais no continente Africano

como uma medida para minimizar os problemas económicos, sociais, e ambientais (Chamshama e

Nwonwu 2004). Ultimamente, o estabelecimento de plantações é visto como uma das formas de

aumentar as reservas de carbono, como um dos mecanismos de mitigação das mudanças climáticas

(IPCC 2017).

3.2 O Sub-sector de plantações florestais em Moçambique

As plantações florestais em Moçambique datam do século XIX quando diversas espécies exóticas

foram introduzidas para diversos propósitos. As plantações incluíam o plantio de eucaliptos para a

drenagem de pântanos na cidade de Maputo e a fixação de dunas na região costeira, assim como para

a produção de lenha para a cura de tabaco e chá na região da Alta Zambézia. Em 1975, Moçambique

tinha perto de 20 mil hectares de plantações de eucaliptos, pinheiros e casuarinas. A área com maior

área plantada era Manica e uma parte em Niassa, Zambézia, Maputo e Gaza (MINAG 2006).

Logo após a independência, houve a primeira tentativa de estabelecimento de plantações florestais

para fins de produção de lenha e carvão para abastecer as cidades de Maputo, Beira e Nampula. Em

Manica, estabeleceu-se uma indústria florestal orientada para o aproveitamento das plantações

florestais, a Indústrias Florestais de Manica, Empresa Estatal (IFLOMA, E.E.), a qual consistia de uma

serração, uma planta de tratamento de postes e uma fábrica de painéis de partículas para além de uma

plantação florestal nos distritos de Manica, Gondola e Sussundenga. Nos anos subsequentes, a área

plantada aumentou de 20 mil hectares, em 1975, para 42 mil hectares, em 1992. Com o processo de

privatização das empresas estatais, a IFLOMA, EE foi também privatizada na década de 90, sendo que

a gestão da área de plantações florestais mostrou declínio nos anos seguintes até atingir 17 mil hectares

no final da década (MINAG 2006).

Como reconhecimento da importância do subsector de plantações florestais na criação de emprego

rural (média de 1 operário para 20 hectares de floresta) bem como no seu papel no desenvolvimento

de infra-estruturas rurais (estradas e pontes, etc.), o Governo de Moçambique desenhou a sua estratégia

nacional de reflorestamento com o objectivo de aumentar a área plantada para atingir cerca de 850 mil

hectares em plantações florestais industriais e mais cerca de 250 mil hectares plantados pelo sector

público e comunidades locais para diversos fins incluindo produção de lenha e carvão e protecção de

ecossistemas (MINAG 2006). A estratégia de reflorestamento assentou a sua estimativa de potencial

para o estabelecimento de plantações num estudo específico para o efeito, o qual produziu um mapa,

na escala de 1:1.000.000, que identificou áreas com potencial agro-ecológico (com enfoque na

disponibilidade de água e propriedades de solos). As províncias de Niassa, Nampula, Cabo Delgado,

Zambézia e uma parte de Manica e de Sofala foram referidas como de elevado-médio potencial (Figura

3) (The World Bank 2016).

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A estratégia incluía um mecanismo de atracção de

investimento privado estrangeiro. Em 2015 havia a

indicação de um total de 756 mil hectares em DUATs

atribuídos para efeitos de plantações florestal a nível

nacional. A província de Niassa, uma das menos

populosas do país, foi assim identificada como uma

região com potencial para o cultivo de espécies florestais

de rápido crescimento e com áreas disponíveis para

receber grandes investimentos. A Fundação Malonda

(Malonda 2017) tinha como uma das suas principais

funções, a de facilitar a acção de investidores

interessados em diversas áreas de desenvolvimento,

incluindo plantações florestais, havendo, com efeito

atraído algumas empresas como a Chikweti, Green

Resources, Florestas de Niassa, Florestas do Planalto,

entre outras. A estratégia teve sucesso e conseguiu que,

de uma grande empresa (IFLOMA) e uma empresa média

(MOFLOR) em 1999, se conseguisse chegar em 2012 a

um total de 11 novas empresas estabelecidas, e a área

plantada a nível nacional chegasse a mais de 60 mil

hectares, dos quais metade (30 mil hectares) estava em

Niassa, tornando-a na província com maior área plantada

no país. Figura 3. Regiões com potencial agro-ecológico para o estabelecimento de plantações florestais em Moçambique.

Fonte: (MINAG 2006)

3.3 Plantações florestais e outras formas competitivas de uso de terra

As plantações florestais têm sido referidas como a forma viável e sustentável de produzir produtos

florestais (madeireiros e não-madeireiros) cuja demanda tem crescido de forma exponencial seguindo,

em parte, o crescimento populacional, mas também os padrões de vida de maior consumo de diversos

produtos (Whiteman e Brown 1999). A vantagem das plantações florestais sobre as florestas naturais,

enquanto áreas de produção de madeira, é o rápido crescimento destas. As plantações florestais são,

geralmente, feitas com espécies de rápido crescimento (taxas que podem variar de 1 a 30 m3/ha/ano)

(Ugalde e Pérez 2001) enquanto as florestas naturais não crescem mais do que 1-3 m3/ha/ano (A. A.

Sitoe 1996). As plantações florestais são feitas utilizando sementes ou clones que passaram por um

processo intenso de selecção e melhoramento genético para produzir produtos específicos de forma

económica. Os grandes investimentos necessários para o estabelecimento de plantações florestais

apenas podem ser compensados pelas taxas elevadas de crescimento. Entretanto, os aspectos

ambientais e sociais precisam de ser tomados em consideração para assegurar a sua sustentabilidade.

O aumento de plantações nas últimas décadas tem sido relacionado com os processos de usurpação de

terras no continente Africano (Chamshama e Nwonwu 2004) e em Moçambique (Matavel, Dolores, e

Cabanelas 2011). O custo elevado de estabelecimento de plantações florestais (USD 1,600 a 2,100 por

hectare) (The World Bank 2016) impede, de certa forma, que comunidades locais estejam envolvidas

em campanhas de reflorestamento, pelo que são os governos e as empresas privadas os maiores

investidores nas plantações. Em 2000, no continente Africano, 52% das áreas plantadas pertenciam ao

sector privado industrial e 34% ao sector público, a percentagem restante de pertença não especificada

(Chamshama e Nwonwu 2004).

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11

Num momento em que há uma onda de expansão de áreas de produção agrícolas para responder à

demanda internacional por commodities agrícolas, particularmente no continente Africano (Cotula et

al. 2009; Borras, Fig, e Suárez 2011), encontrar terra para plantações florestais tem que passar pela

disputa com a agricultura, muitas vezes referida como base para a “segurança alimentar” dos povos

que habitam essas mesmas áreas, e ainda passar por resolver questões de acesso e posse segura de terra

para investimentos de longo prazo, tal como são as plantações florestais.

A Justiça Ambiental (Matavel, Dolores, e Cabanelas 2011) chama de “usurpação” à acção de

“apoderar-se astuciosamente ou violentamente de uma coisa de que alguém legitimamente usufrui ou

que lhe pertence; alcançar sem direito; adquirir por fraude; estar a possuir ilegalmente”. Com base

nesta definição, processos pouco transparentes de consulta comunitária ou consultas feitas sem que as

comunidades percebam, de facto, das implicações de ceder a terra, poderiam ser classificadas como

usurpação. Com efeito, alguns estudos referem que várias das áreas de plantações florestais em

Moçambique foram usurpadas ou concedidos os respectivos DUAT sem uma consulta adequada

(Seufert 2012; Ingram et al. 2016; A. Sitoe 2009; Mosca 2014).

Encontrar terras para o estabelecimento de plantações de forma honesta e sustentável (considerando

aspectos económicos, sociais e ambientais) tem sido um desafio. Em parte, porque a rentabilização de

plantações florestais requer áreas com potencial silvicultural (disponibilidade de água e bons solos,

profundos) e acessíveis (com infra-estruturas de rede de estradas, comunicações e energia). Muitas

dessas áreas já foram antes ocupadas (por direito costumeiro) pelas comunidades locais e outros

investimentos que requerem as mesmas facilidades, principalmente para a produção agrícola e pecuária

(S Norfolk e Tanner 2007). Áreas de terras “abandonadas” (que muitas vezes são áreas em pousio

agrícola) onde actualmente não se pratica agricultura são comummente utilizadas pelas populações

locais para diversas actividades, incluindo a caça, colheita de lenha e fabrico de carvão, culto, colheita

de plantas medicinais, entre outras. Esses aspectos têm contribuído bastante para a dificuldade de

definir o conceito de “terra marginal” ou “terra disponível” para a expansão de plantações florestais.

A falta deste conceito, bem como a falta de definição sobre mecanismos de transacção do direito de

uso e aproveitamento da terra (DUAT) é a base de muitos conflitos sociais, pois as comunidades que

têm o direito por ocupação de boa-fé vêem o seu direito “usurpado” pelos investidores.

Em Moçambique, o resultado da sobreposição de interesses (de comunidades locais e de investidores

estrangeiros) numa mesma terra, num país onde a planificação de uso de terra é deficiente, é que os

investidores que necessitam de grandes extensões de terra são indicados áreas de distritos inteiros ou

mesmo de vários distritos. Cabe, assim, ao investidor negociar com as comunidades qual é a área que

estas estão dispostas a ceder para permitir as actividades do investidor. As negociações, nem sempre

pacíficas, resultam em conflitos entre investidores e comunidades locais (Simon Norfolk e Hanlon

2012). Os conflitos entre comunidades e investidores surgem quando as expectativas, tanto dos

investidores, assim como das comunidades, divergem. Algumas das polémicas resultam no abandono

dos investidores (ver por exemplo (Simon Norfolk e Hanlon 2012) que se acham traídos sobre uma

terra cheia de conflitos, atraídos com os nomes de “terra barata” e “terra disponível”.

3.4 Terra, comunidades e plantações florestais

Apesar de Moçambique estar a usar a bandeira de “terra disponível” e outros incentivos para atrair

investimentos em plantações florestais (Nhantumbo et al. 2013), o acesso à terra foi, por várias vezes,

apontado como uma limitação pelas empresas de plantações florestais (A. Sitoe 2009; The World Bank

2016)). Alguns estudos (A. Sitoe 2009; Seufert 2012; Bleyer et al. 2016) referem, particularmente, que

a ambição das empresas acederem a extensas áreas para o plantio de árvores (p.e. Chikweti: 258.000

ha, UPM: 150.000 ha) está a criar choques com outros usos de terra no Niassa. Alguns estudos

(Matavel, Dolores, e Cabanelas 2011; Seufert 2012) referem a atribuição de terras às empresas de

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plantações florestais como “usurpação de terras” aos camponeses de Niassa, o que gerou polémica em

alguns sectores da sociedade (Seufert 2012; Matavel, Dolores, e Cabanelas 2011). Quatro das 11 novas

empresas florestais e uma que estava em processo de se estabelecer retiraram os seus investimentos do

país. Entre os motivos referidos, estão as dificuldades de acesso e segurança de posse da terra (The

World Bank 2016).

O governo de Moçambique recomenda, mas não estabeleceu legislação específica, que 30% da área

de DUAT para plantações florestais deve ser reservada ou utilizada por pequenos produtores locais e

10% da área deve ser utilizada para a produção de alimentos (Nhantumbo et al. 2013). Mais ainda, a

Lei e o Regulamento de Florestas e Fauna Bravia estabelecem a necessidade do investidor respeitar as

regras costumeiras e a não vedar o acesso e uso próprio dos recursos naturais para as comunidades

locais (Nhantumbo et al. 2013). Entretanto, a coexistência pacífica entre comunidades e investidores

nem sempre é fácil. (Bleyer et al. 2016) observaram que as comunidades residentes nas áreas de

plantações florestais em Niassa tiveram de relocalizar as suas machambas, tiveram um acesso restrito

à lenha e referiram outros problemas de acesso aos recursos naturais a que têm direito.

A relação entre as empresas de plantações florestais e as comunidades locais aparece como um

problema em vários casos porque se acredita que as terras que são atribuídas a investidores são pertença

das comunidades e que estas dependem de bens e serviços que são prestados por aquelas terras. Assim,

ao atribuir o DUAT a empresas, as comunidades ficam privadas do acesso a esses bens e serviços,

agravando ainda mais a sua situação de pobreza. Nesta base, a forma sugerida para minimizar os

impactos resultantes do processo de cedência de terras é encontrar uma forma de compensação das

perdas.

A concessão de DUATs para indivíduos de fora da comunidade, incluindo investidores estrangeiros,

é vista como um processo de transferência de direitos de uso e aproveitamento de terra. De acordo com

a Lei de Terras, esta “transferência” carece de um processo de consulta comunitária onde se discutem

ou negoceiam os termos de transferência de direitos. A Lei e o Regulamento de Terras estabelecem a

necessidade de se realizar consulta comunitária e indica o formato (participantes do processo, as fases

do diagnóstico participativo, entre outros detalhes) (MAP 2000), mas não indica os aspectos que

devem ser negociados. É neste contexto que as comunidades tomam a liberdade de “pedir em troca”

da sua terra itens tais como poços de água, escolas/salas de aulas, postos de saúde, material de

construção para o líder comunitário, insumos e ferramentas agrícolas, entre outros. Assim, a

negociação vai depender da habilidade e conhecimento da comunidade, bem como da capacidade do

investidor. No caso de investidores como os das plantações florestais, ofertas de emprego, instalação

de infra-estruturas (estradas e pontes) e outras facilidades são prometidas às comunidades (A. Sitoe

2009; Matavel, Dolores, e Cabanelas 2011). Enquanto grande parte do debate das relações entre

comunidades e investidores se concentra na terra, este é apenas um elemento de um complexo a ser

analisado. É que a terra é a principal fonte de subsistência das comunidades locais sendo que a

segurança alimentar, provavelmente constitui um dos fins mais importantes no esquema de

subsistência. Assim, documentos estratégicos referem com frequência a segurança na posse de terra

como um elemento básico para o desenvolvimento rural (MITADER 2015).

Não há um modelo ideal estabelecido de consulta e de compensação pela transferência, mas o senso

comum sugere que os benefícios que as populações irão adquirir devem compensar as perdas

resultantes pela perda de direitos de uso de terra (Bleyer et al. 2016) e pelos custos de transferência.

As parcerias comunidade-investidor têm sido indicadas como a forma mais consolidada de interacção

entre investidores e comunidades onde se espera ganhos de ambas as partes. Ainda assim, ainda há

poucas evidências de impactos positivos para as comunidades deste tipo de parcerias (German et al.

2016). Assim, uma boa negociação é aquela que deveria assegurar a sustentabilidade a longo prazo e

balancear as perdas com os ganhos (ver Tabela 1 a seguir).

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Tabela 1. Potenciais perdas e ganhos das comunidades resultantes de cedência de terras para

investimentos florestais:

O que a comunidade pode perder O que a comunidade pode ganhar

Terra agrícola

Áreas de pastagem

Áreas habitacionais

Áreas de colheita de lenha e fabrico de

carvão

Lugares de culto

Plantas medicinais

Emprego directo na empresa

Estradas e vias de acesso

Prestação de serviços à empresa e seus

trabalhadores (oficinas de bicicletas,

barracas, etc.)

Parcerias (prestação de serviços à empresa,

p.e. plantio de árvores em regime de

outgrower)

Tecnologias de produção agrícola

Um dos maiores desafios à estabilidade reside em conseguir consultas claras e transparentes, onde os

envolvidos (comunidades e empresas) entendem o verdadeiro significado e a dimensão da consulta.

Em geral, há desequilíbrio de informação e capacidades entre as partes envolvidas, sendo que as

empresas, geralmente, têm um consultor especialista a assessorar enquanto a comunidade conta com

as suas próprias capacidades limitadas (Nhantumbo et al. 2013). Há vários relatos de consultas mal

conduzidas (Matavel, Dolores, e Cabanelas 2011; A. Sitoe 2009; Mosca 2014) por diversas razões,

que incluem: (i) falta de conhecimento dos procedimentos de consulta estabelecidos por lei; (ii) falta

de capacidade de uma ou de ambas as partes para conduzir uma consulta comunitária; (iii) pressão

sobre as comunidades pela empresa ou pelo representante do Estado; (iv) falsas promessas pela

empresa às comunidades; (v) exigências exageradas por parte da comunidade sobre os benefícios, etc.

Em alguns casos, as comunidades pedem serviços (postos de saúde, escolas, e outros serviços sociais)

que, tipicamente, devem ser providenciados pelo Estado. Um desafio importante para assegurar a terra

para plantações florestais é encontrar as soluções dos problemas que preocupam a cada uma das partes

(ver Tabela 2 abaixo).

Tabela 2. Principais preocupações das comunidades e das empresas florestais sobre o acesso e formas

de uso de terra

Comunidade Empresa

Áreas para expandir agricultura e áreas

habitacionais

Áreas de caça (incluindo o uso de

queimadas)

Acesso a outros bens e serviços dos

ecossistemas (p.e. água, plantas medicinais)

Queimadas florestais descontroladas

Abate clandestino de árvores

Abertura de machambas nas áreas de

plantações

Conseguir uma convivência entre uma empresa de reflorestamento e as comunidades circunvizinhas

requer bom relacionamento entre ambas. Uma forma de minimizar as áreas de conflitos é a empresa

estabelecer, na sua estrutura, um departamento de relacionamento e apoio às comunidades vizinhas.

Criar um mecanismo de consulta permanente onde as comunidades apresentam as suas preocupações

e a empresa responde essas preocupações. Da parte das comunidades, também se requer um

compromisso de assumir os resultados das consultas e o respeito pelo investimento feito,

particularmente evitando actividades que possam perigar as plantações florestais (p.e. o uso de

queimadas). Ao Estado também são exigidas responsabilidades para assumir o seu papel de guardião

das leis e regulamentos e ser capaz de fazer cumprir, de forma imparcial e eficaz, o estabelecido na

legislação e nos acordos entre as comunidades e os investidores.

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4. PRÁTICAS AGRÍCOLAS EM MOÇAMBIQUE

A agricultura em Moçambique é praticada principalmente pelo sector familiar. O Censo Agro-Pecuário

2009-2010 (INE 2011) revela que, das 3,827,754 explorações agro-pecuárias inventariadas, 99% são

pequenas (área média por exploração de 1,4 ha) ocupando 96% da área total de cultivo com culturas

alimentares. As técnicas utilizadas na produção são rudimentares, com trabalho manual e sem insumos,

originando um muito baixo nível de produtividade. Das mais de 3,8 milhões de explorações pequenas,

apenas 5,3% aplica rega, 3,7% aplica fertilizantes e 2,5% aplica pesticidas. Muitas destas áreas estão

sujeitas a agricultura itinerante, geralmente formando mosaicos de terras cultivadas e áreas de pousio

em diferentes fases de desenvolvimento que podem durar até 6-10 anos.

O sistema de cultivo é, geralmente, feito em consociação, ou mistura, e inclui cereais (p.e. milho,

sorgo, mexoeira), tubérculos (p.e. mandioca, batata-doce, inhame), leguminosas (amendoim, feijões)

e hortícolas. A área cultivada para produção de alimentos duplicou no período 2001-2007. Em geral,

o aumento da produção agrícola (p.e. a produção de cereais aumentou de 792,000 toneladas, em 1994,

para 1,785,000 toneladas, em 2009) tem sido atribuído, fundamentalmente, à expansão das áreas de

cultivo (as áreas de cultivo de cereais aumentaram de 3.57 milhões de hectares, em 1994, para 5.05

milhões de hectares, em 2009) (INE 2011). A maior parte do volume destas culturas é consumida

dentro do agregado familiar, podendo ser vendidos excedentes.

Estudos sobre a agricultura Moçambicana referem que esta não apresentou melhorias nas técnicas de

produção desde os anos 70 (Mosca 2014) ou, tal como dizem Smart e Hanlon (Smart e Hanlon 2014),

os moçambicanos continuam a fazer a mesma agricultura que faziam os seus bisavôs, dando, assim, a

ideia de que ainda se usam técnicas muito rudimentares. Uma das principais críticas de Mosca (Mosca

2014) é que a agricultura familiar nunca teve apoio desde a independência, e que a falta de uma política

de agricultura coerente estagnou o pequeno agricultor no sector familiar. Não tendo o apoio necessário

do Estado, a esperança da agricultura familiar reside no apoio recebido através do sector privado

especialmente nas culturas de rendimento.

5. SEGURANÇA ALIMENTAR

A segurança alimentar e nutricional é um dos indicadores-chave utilizado para caracterizar a pobreza

em Moçambique. Estudos recentes indicam que mais de metade dos Moçambicanos são afectados por

insegurança alimentar (Carrilho et al. 2016). O acesso aos alimentos é apenas uma das dimensões, mas

considerada essencial para a segurança alimentar. As estatísticas referem que a produção de alimentos

em Moçambique está aquém das necessidades alimentares e as importações não são suficientes para

suprir essas necessidades (Carrilho et al. 2016; Mosca 2014). A baixa disponibilidade de alimentos,

associada à falta de acesso a tecnologias e aos fracos serviços de extensão, é, por outro lado, referida

como resultado da baixa produtividade. Por exemplo, a produtividade do milho, uma das principais

culturas alimentares, é de cerca de 800kg/ha, e este valor é reduz devido às perdas pós-colheita

associadas ao armazenamento inadequado (Carrilho et al. 2016).

O aumento da produção, sem o aumento da produtividade, resulta do aumento das áreas cultivadas, o

que significa a necessidade de maior área para agricultura. Em regiões com elevada densidade

populacional, como é o caso da província da Zambézia, a expansão das áreas cultivadas nem sempre

é possível e o período de rotação das áreas de pousio é cada vez menor, resultando em áreas cada vez

mais degradadas, gerando ainda menor produtividade e acesso aos alimentos.

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Quando os investidores ocupam extensas áreas de terra para projectos de plantações florestais, aumenta

a pressão sobre a terra, e este facto tem sido referido por vários estudos como um factor agravante da

insegurança alimentar. Com efeito, uma das questões colocadas pelos críticos dos grandes projectos é

que estes irão reduzir o acesso à terra para expansão da agricultura que é a base da segurança alimentar.

Por outro lado, a ideia de que os pequenos agricultores, ao se converterem em assalariados dos grandes

latifundiários, irão comprar os alimentos para garantir a sua segurança alimentar, não parece aceitável

nem sustentável (Smart e Hanlon 2014; Mosca 2014; Carrilho et al. 2016). Assim, prevalece a tese de

que a produção de alimentos pelo agregado familiar é a forma mais sustentável e segura para garantir

a segurança alimentar.

De acordo com o referido anteriormente (o uso de técnicas rudimentares, a baixa produtividade, as

perdas pós-colheita, a degradação das áreas de cultivo, o fraco serviço de extensão, a redução das áreas

de cultivo com os grandes investidores), o caminho para a segurança alimentar passa, necessariamente,

pela transformação da agricultura familiar para uma maior produtividade, o que implica melhorias

estruturais nas tecnologias de produção e manuseamento pós-colheita. É nesta óptica que o presente

estudo procura analisar as transformações que os investidores em plantações florestais estão a

impulsionar nos agricultores familiares de Ile e Namarrói, província da Zambézia com vista a melhorar

a segurança alimentar.

6. PERFIL DOS DISTRITOS DE ILE E NAMARRÓI

Os distritos de Ile e Namarrói representam distritos rurais típicos. O distrito de Ile tem uma superfície

de 5,662 km2, uma população de 318 mil habitantes, conferindo-lhe uma densidade de 56.2 habitantes

por Km2. O distrito de Namarrói tem uma superfície de 3,071 km2, uma população de 140 mil

habitantes resultando numa densidade de 46 habitantes por km2. Perto de 90% dos habitantes destes

distritos vive em casas construídas com material local (paus, bambu, terra e argila, capim), 64-85%

consome água de poço a céu aberto e 9-17% directamente de lagoas ou rios, 45% usa lenha como fonte

de energia e 44% usa petróleo. A agricultura é quase na totalidade (apenas 1 agricultor médio com 226

hectares foi registado no distrito de Ile) realizada por agricultores pequenos (média de 1.4 ha) que

cultivam perto de 50 mil hectares, em Namarrói, e 87 mil hectares, no Ile (dos quais cerca de 33 mil

hectares, em Namarrói, e 50 mil hectares, no Ile, são culturas alimentares básicas, tipicamente milho,

arroz, mapira, mexoeira, amendoim, mandioca e feijões). Até 2012, os dois distritos não tinham

serviços financeiros, nem indústria; somente algumas pequenas indústrias alimentares (padarias e

outras pequenas empresas locais) (INE 2012, 2013).

7. O PLANO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA PORTUCEL (PDSP)

A Portucel Moçambique, reconhecendo os desafios actuais de estabelecer plantações florestais numa

área extensa em Moçambique e, em particular, na província da Zambézia, estabeleceu, como parte do

seu investimento, o Programa de Desenvolvimento Social (PDSP), cujo principal objectivo é “criar e

partilhar valor e prosperidade com as comunidades locais através do investimento em plantação

florestal” (Portucel 2016). Este objectivo tem em vista promover a inclusão e a sustentabilidade das

comunidades através da (i) preservação e melhoria dos meios de subsistência; (ii) apoio a

oportunidades de crescimento económico; e (iii) apoio à melhoria do bem-estar das famílias. O

programa ainda especifica que os objectivos e benefícios para as comunidades incluem: aumentar a

segurança alimentar, aumentar a diversidade da dieta, aumentar a renda familiar e reduzir as perdas

pós-colheita através de acções tais como a promoção de alimentos básicos e legumes, culturas de

rendimento, árvores de fruto, pecuária e celeiros melhorados. Adicionalmente, o programa aponta para

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o aumento do rendimento dos agregados familiares, aumento de empregos, acesso a serviços

financeiros, acesso a insumos e maior ligação com os mercados (Portucel 2016).

O PDSP constitui, deste modo, um mecanismo para melhorar a interacção entre o investidor e as

comunidades locais. O objectivo final do programa é assegurar formas de compensação das

comunidades pela perda ou acesso reduzido aos recursos naturais. Vários estudos (The World Bank

2016; Bleyer et al. 2016; Simon Norfolk e Hanlon 2012; S Norfolk e Tanner 2007; Nhantumbo et al.

2013; Cotula et al. 2009) referem, de forma clara, a necessidade de compensação, como base de um

bom relacionamento entre os investidores e as comunidades. Mosca (Mosca 2014) é mais específico

ao indicar que a compensação pela cedência da terra é necessária como um mecanismo de valorização

da terra. As acções do PDSP coincidem em grande medida com as identificadas como problemas da

agricultura nos distritos de Ile e Namarrói e representam um potencial de resolver problemas básicos

que não foram criados pela empresa, mas são problemas de desenvolvimento local (INE 2012, 2013).

Mais ainda, o conjunto de acções propostas está em linha com as propostas de medidas para reduzir a

insegurança alimentar em Moçambique (Carrilho et al. 2016). Naturalmente há outras acções

complementares, incluindo a responsabilização das partes envolvidas, incluindo o papel do Estado e

outros actores da sociedade civil. O que não está claro é se a compensação está na medida certa para

promover o desenvolvimento local. Note-se que a compensação, por si só, não produz, de forma

directa, o efeito de redução da pobreza das populações locais, o qual é o objectivo final do

desenvolvimento local e a combinação desta, com outras acções, é sempre necessária (Ingram et al.

2016; German et al. 2016). As acções propostas pelo PDSP têm em vista aumentar a produção e a

produtividade agrícola e pecuária reduzindo, deste modo, a necessidade de extensas áreas para a

agricultura. Mais ainda, as acções de conservação pós-colheita e acesso às finanças e aos mercados

ajudam a aumentar a renda dos agregados familiares (Portucel 2016).

8. RESULTADOS

Os resultados do presente estudo constituem a linha de referência para análise dos efeitos da Portucel

na região de estudo. Levantamento similar será realizado em 2018 com a finalidade de comparar os

resultados encontrados no ano de referência (2016). Assim, a leitura dos gráficos, mais do que

mudanças, apresenta a situação actual e potenciais tendências de mudança. Assim, o enfoque sobre as

mudanças será feito depois do segundo levantamento.

8.1 Técnicas de preparação do terreno para agricultura

Com relação a este ponto foi feita a pergunta qual era a técnica que o entrevistado usava para

preparação de terra antes da Portucel e a técnica utilizada actualmente. O Resultado (Figura 4) mostra

que os camponeses locais utilizam quase que exclusivamente enxada de cabo curto, incluindo o

derrube e a amontoa. Quase a metade utiliza a queimada como ferramenta para preparação da terra

para agricultura. As ligeiras variações de redução na utilização do fogo podem indicar, eventualmente,

o impacto do trabalho levado a cabo pelo serviço de extensão agrária da Portucel com a introdução de

técnicas de cultivo sem o uso de queimadas.

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Figura 4. Tipos de técnicas utilizadas para a preparação do terreno para a prática de agricultura antes e depois do

início das actividades da Portucel nos distritos de Ile e de Namarrói.

A informação de base dos distritos de Ile e Namarrói (INE 2013, 2012) apresentada acima, já indica

que a agricultura naqueles distritos é feita com recursos a enxada de cabo curto. O uso desta ferramenta

implica extensas horas de trabalho manual, pelo que os agregados familiares apenas conseguem

cultivar pequenas áreas como resultado dessa demanda de tempo de trabalho. Uma forma de

revolucionar a agricultura seria o uso de alternativas, que incluem a tracção animal, a mecanização e

outras formas que permitem o cultivo de áreas maiores e de forma mais eficiente.

8.1.1 Técnicas de cultivo agrícola

Quase todos os entrevistados usam técnicas agrícolas de consociação de culturas e pousio (Figura 5).

Estas constituem técnicas rudimentares utilizadas, em geral, na agricultura moçambicana. Poucos

entrevistados responderam que utilizam técnicas de agricultura moderna, tais como o uso de sementes

melhoradas, uso de sistema de rega, fertilizantes e pesticidas. Nota-se, porém, o aumento do uso de

sementes melhoradas como resultado das actividades de extensão agrícola da Portucel.

0

20

40

60

80

100

120

Enxada de

cabo curto

Derrube,

amontoa e

queima

controlada

Limpeza

utilizando fogo

Outro Enxada de

cabo longo

Tracçao

animal

Ag

reg

ad

o F

am

ilia

r (%

)

Técnicas de preparação de terreno para agricultura

Antes da Portucel

Depois da Portucel

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Figura 5. Técnicas de cultivo agrícola

8.1.2 Campos de demonstração de resultados

A empresa prevê prestar serviços de extensão agrícola para 3.160 na Zambézia. Uma das actividades

de extensão agrícola é organizar uma rede 140 camponeses de contacto, que servirão de base e

referência para difundir tecnologias agrícolas. As actividades já iniciaram, tendo sido estabelecidos,

na época agrícola 2015-2016, cerca de 190 Campos de Demonstração de Resultados e construídos

celeiros melhorados (Figura 6). O apoio aos camponeses também beneficiou cooperativas de

produtores, tais como a cooperativa de produção de hortícolas na região de Maquiringa, distrito de

Namarrói. Para o efeito, a empresa conta com uma equipe de 10 profissionais especificamente

dedicados ao relacionamento com as comunidades e 30 agentes comunitários de ligação entre a

comunidade e a Portucel.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Ag

reg

ad

o F

am

ilia

r (%

)Técnica de cultivo antes e depois da Portucel

Antes da Portucel

Depois da Portucel

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Figura 6. Campo de demonstração de resultados (CDR) na machamba de camponeses de contacto (Esquerda)

CRD de milho e feijão-boer e (Direita) celeiro melhorado.

8.1.3 Campos de multiplicação de semente melhorada

O programa de desenvolvimento social iniciou actividades de apoio aos camponeses locais. Uma série

de culturas previamente identificadas como potenciais para subsistência (p.e. mandioca, batata-doce)

e para comercialização (p.e. gergelim) estão sendo reproduzidas em semente melhorada (Figura 7)

para a distribuição aos camponeses. A prioridade é apoiar os camponeses que cederam terra à empresa.

A meta é distribuir 21.575 kg de semente (milho, feijões, gergelim, soja) e insumos agrícolas a 4.500

famílias; distribuir 8.700 kg de ramas de batata-doce de polpa alaranjada a 1.100 famílias; e distribuir

7.200 estacas de mandioca a 900 famílias.

Figura 7. Campo de multiplicação de semente em Maquiringa: (A) gergelim e (B) batata-doce

8.2 Culturas agrícolas e pecuária

As principais culturas produzidas são alimentares e quase todos os respondentes produzem feijão,

mandioca, milho, arroz, batata-doce, amendoim e mapira (Figura 8). Todas estas culturas constituem

a base alimentar das comunidades locais, tal como foi caracterizado pelo INE (INE 2013, 2012).

Poucos respondentes (~10%) produzem culturas de rendimento, principalmente a soja e algodão. A

A B

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produção de legumes (hortícolas) é uma actividade que é praticada por poucas pessoas, sendo que estes

são, na sua maioria, também comercializados nos mercados locais. Não parece haver novas culturas

introduzidas pela Portucel. Com efeito, as culturas promovidas nas actividades de extensão agrária

(ver Secção 8.1.3) são as mesmas que as populações locais utilizam, com a diferença de que a Portucel

está a trazer variedades melhoradas e seleccionadas para o local.

Figura 8. Culturas agrícolas produzidas nas machambas antes e depois da Portucel

As características dos agricultores, conforme os resultados do presente estudo, são consistentes com

as descritas para os distritos de Ile e Namarrói (INE 2013, 2012). O enfoque para a produção de

alimentos, mão-de-obra familiar e pequenas explorações, é típico da agricultura familiar

moçambicana, sendo que a sua transformação é um dos principais objectivos do desenvolvimento

rural. Enquanto as culturas alimentares são, tipicamente, as mesmas reportadas nos perfis distritais

elaborados pelo MAE (MAE 2005b, 2005a), estes referem o tabaco e o girassol como culturas de

rendimento, ainda que em pequenas quantidades (menos de 2% dos produtores do distrito).

Quase todos (95%) os respondentes criam aves (galinhas e/ou patos) e uma parte cria também porcos

e cabritos. Há produtores de peixe e ovelhas em pequenas quantidades. A criação de gado bovino não

é uma prática comum na região, sendo realizada por muito poucos agregados familiares (Figura 9).

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Ag

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)

Culturas produzidas antes e depois da Portucel

Antes da Portucel

Depois da Portucel

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Figura 9. Criação de animais antes e depois da Portucel

Os perfis distritais de 2005 (MAE 2005b, 2005a) referem a criação de aves, principalmente galinhas,

como a principal actividade pecuária, seguida de criação de porcos. Mais ainda, aqueles relatório

referem que uma pequena parte das aves e porcos (5-8%) era vendida, constituindo, assim, uma fonte

alternativa de renda dos agregados familiares. O padrão não parece haver mudado desde essa altura e

os entrevistados referiram que a mudança que se observou nos porcos está associada à ocorrência de

peste suína africana, uma epidemia comum que reduz significativamente as populações de porcos.

8.3 Membros da família responsáveis pelas actividades da machamba

As actividades agrícolas são tipicamente realizadas pelos membros do agregado familiar,

principalmente a mãe e o pai, sendo que os filhos também participam em grande medida (Figura 10).

Muito poucos (1%) dos entrevistados usam mão-de-obra sazonal para as suas machambas. O uso

exclusivo de mão-de-obra do agregado familiar é um indicador de uma limitação deste para contratar

outras pessoas para ajudar na produção agrícola, limitando-se, na maioria das vezes, apenas à produção

de alimentos para o consumo dentro do agregado familiar. Em geral, estudos em outras regiões referem

que os agregados familiares que contratam mão-de-obra fora do agregado familiar representavam

aqueles agricultores emergentes que produziram, não apenas para alimentar o seu agregado familiar,

mas também excedente para vender. Analisando a agricultura familiar moçambicana, (Mosca 2014)

sugere que pequenas explorações agrícolas não são a solução da pobreza rural e sustenta a opção de

aumentar a escala para médios e grandes explorações.

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Aves

(galinhas e

patos)

Porcos Cabritos Peixe

(piscicultura)

Ovelhas Outros Gado bovino

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r (%

)Criação de animais antes e depois da Portucel

Antes da Portucel

Depois da Portucel

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Figura 10. Membros da família responsáveis pelas actividades da machamba

Num estudo, levado a cabo em Niassa (Bleyer et al. 2016), foi referido que um dos indicadores de

benefício das comunidades era a capacidade das pessoas que, sendo empregadas da empresa florestal,

tinham aumentado as suas áreas de cultivo através contratação de outras pessoas na comunidade em

regime ganho-ganho para trabalharem nas suas machambas. No presente estudo, parece ainda ser

muito pequena a proporção de respondentes que indicaram utilizar mão-de-obra extra-família, técnica

usada para expandir e melhorar a sua produção agrícola.

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Pai e Mãe Filhos Todos Mãe Mãe e Filhos Pai Mão-de-obra

contratada

sazonal

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r (%

)

Membro responsável pelo trabalho na machamba

Antes da Portucel

Depois da Portucel

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8.4 Acesso ao serviço de extensão agrária e participação em associações

A maioria dos respondentes nunca teve apoio dos serviços de extensão. Entretanto o número de

respondentes que indicou ter apoio frequente dos serviços de extensão sempre que solicitado parece

haver aumentado desde que a Portucel iniciou os trabalhos. Com efeito, o programa de extensão agrária

da Portucel (parte do PSDP) e o seu grupo de camponeses de contacto já começam a fazer diferença

no acesso aos serviços de extensão.

Figura 11. Acesso ao serviço de extensão agrária

O acesso aos serviços de extensão é considerado como um importante indicador de transferência de

tecnologia no sector de agricultura. Uma das razões geralmente indicadas para a baixa produtividade

da agricultura moçambicana é a falta de acesso ao conhecimento e às tecnologias modernas de

produção. O Plano Director de Extensão Agrária 2007-2016 (MINAG 2007) refere, explicitamente,

que a extensão agrária tem um papel muito importante na promoção do desenvolvimento rural através

de acções de transferência de tecnologia, inovação e o desenvolvimento do capital social. No quadro

de avaliação do desempenho do sector agrário em Moçambique, foram indicados dois importantes

indicadores da extensão: (i) o número de agregados familiares dedicados à agricultura que tenham

recebido assistência da extensão (incluindo através da terciarização); e (ii) a percentagem de agregados

que adoptou uma tecnologia nova. O alcance dos serviços de extensão agrária do Estado ainda é

insuficiente e é nesse contexto que o Plano Director de Extensão Agrária 2007-2016 (MINAG 2007)

considera a desconcentração e a descentralização e a terciarização, incluindo a participação do sector

privado, no provimento dos serviços de extensão. Enquanto a maioria do serviço de extensão agrária

do sector privado é orientada para culturas de rendimento (p.e. tabaco, algodão, gergelim) (Smart e

Hanlon 2014), o PSDP propõe-se a orientar o seu serviço de extensão para culturas de subsistência e

culturas de rendimento (Portucel 2016).

Sobre a pertença a alguma associação, os resultados dos inquéritos mostram que a maioria (cerca de

75%) não pertencia a nenhuma associação antes da Portucel. Porém, esta percentagem baixou com a

entrada da Portucel baixou para 60% (Figura 12).

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Nunca Frequente, sempre

que solicitar

Visitas regulares 1

vez por mês

Visitas ocasionais Visitas regulares 1

vez em cada 2

meses

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r (%

)

Acesso ao serviço de extensão

Antes da Portucel

Depois da Portucel

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Figura 12. Participação em pelo menos uma associação antes e depois da Portucel

A principal razão apresentada pelos entrevistados para não pertencerem a nenhuma associação é a não

existência de associações na povoação (Figura 13).

Figura 13. Porque que não pertencia a alguma associação

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Sim Não

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Associativismo antes e depois da Portucel

Antes da Portucel Depois da Portucel

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Não tinha associação naaldeia

Por não querer fazerparte

Não tinha conhecimentoda existencia da

associaçao

Impossibilidade física

Agr

ega

do

Fam

iliar

(%

)

Razões de não pertencer a associação

Antes da Portucel

Depois da Portucel

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A promoção do associativismo não é parte das actividades integrantes de extensão agrária da Portucel.

Porém, o PSDP apoia cooperativas e associações existentes na região, sendo que, por essa via, o

associativismo beneficia das tecnologias transmitidas pelo serviço de extensão da Portucel. Analistas

do sector de agricultura (Smart e Hanlon 2014; Mosca 2014) sugerem que a colectivisação dos meios

de produção na agricultura não é o caminho certo para o desenvolvimento e acreditam que o apoio aos

agricultores individuais emergentes, que já estão aparecendo em Moçambique como exemplo de

sucesso (Smart e Hanlon 2014), é um caminho mais eficiente de promover o desenvolvimento rural.

Figura 14. Agricultor modelo de uma localidade do distrito de Ile mostrando a sua machamba de hortícolas

Note-se, entretanto, que o apoio do PSDP vai principalmente para agregados familiares individuais

através de uma rede de agricultores modelo, designados, no PSDP, como camponeses de contacto

(Figura 14), escolhidos entre pessoas influentes em cada localidade. Os campos de demonstração de

resultados (CDR), referidos na Secção 8.1.2, são estabelecidos nas machambas destas pessoas que se

espera que sirvam de modelo e sejam capazes de influenciar os demais agricultores da localidade.

8.5 Compensação pela cedência de terras

Perguntados sobre os termos de troca, pouco mais da metade dos entrevistados respondeu ter cedido

as suas terras com a promessa de ter um emprego permanente, enquanto mais de 2/3 respondeu que

teve a promessa de dinheiro e apoio na agricultura. Apenas uma parte pequena (10%) referiu que as

machambas foram retiradas compulsivamente sem que estes soubessem o que estava a acontecer

(Figura 15).

Aqui nota-se que houve um processo de negociação, do qual se pode depreender que foram colocadas

como formas de compensação, a criação de empregos, apoio na agricultura, compensação monetária,

entre outros. Os resultados sugerem que, da parte da comunidade, criou-se muita expectativa de ter

emprego, receber dinheiro e ter apoio na agricultura. Essas podem ser consideradas as principais razões

da comunidade ter cedido as suas terras.

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Figura 15. Mecanismo de troca de terra entre a Comunidade e a Portucel

8.5.1 Actividade de maior renda ao agregado familiar

Relativamente às actividades de geração de renda para o agregado familiar, os resultados mostram que

a maioria dos entrevistados tem na agricultura a sua principal fonte de renda (Figura 16). Note-se que

o emprego na Portucel aparece como a terceira maior fonte de renda, dando assim, um valor positivo

à criação de emprego rural, numa região onde não parece haver outro tipo de empregador para os

camponeses locais.

Figura 16. Actividade que mais gera renda ao agregado familiar no distrito de Ile e Namarrói.

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Promessa de emprego

permanente

Dinheiro e apoio na

agricultura

Foram levados a terra

compulsivamente sem saber

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)

Mecanismo de troca de terra entre Comunidade e a Portucel

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Agricultura Trabalhador da

Portucel

Venda produtos

florestais

Outro Venda de

produtos

agricolas

Pecuaria

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)

Actividade que mais gera renda ao Agregado Familiar

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8.5.2 Vínculo laboral com a Portucel

Perguntados sobre o vínculo laboral com a Portucel, mais de 80% dos entrevistados referiu ter algum

tipo de vínculo (Figura 17). Entre os que referiram ter um vínculo, a maioria são trabalhadores sazonais

(contratados por períodos curtos durante o ano) e outros ainda referiram que apenas trabalharam uma

vez apenas e não voltaram a ter outra oportunidade de trabalhar na empresa. Apenas cerca de 10%

destes referiu ter um posto permanente. Este padrão reflecte a situação típica de uma empresa florestal,

onde a maioria dos trabalhadores é sazonal, sendo apenas contratados durante os períodos de pico. Na

fase de estabelecimento inicial das plantações, a procura de mão-de-obra é elevada (6-8 homem-dia

por hectare) quando comparada a outras fases de desenvolvimento da plantação, que requerem menos

jornas.

Figura 17. Vínculo laboral e tipo de vínculo com a Portucel

Como mecanismo para abranger a maioria das pessoas da comunidade, especialmente as que cederam

terra, a Portucel procura dar, pelo menos, uma oportunidade a todos os envolvidos para trabalharem

na preparação de terra e plantio de árvores, evitando trazer trabalhadores de outros povoados. A

Figura 18 apresenta elementos da população local, no distrito de Ile, contratados para abrir covas para

a plantação de eucaliptos. O trabalho é feito com as ferramentas do próprio trabalhador e a empresa

não providencia nenhum tipo de equipamento de protecção. A empresa tem uma meta de plantação de

19.000 ha/ano a partir de 2017. A área actualmente plantada (2016) é de 8.700 ha e já tem 41.930 ha

de terra disponível para novas plantações.

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Sazonal Pontual Permanente

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Tipo de Vínculo com a Portucel

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Figura 18. Trabalhadores sazonais na preparação de terra para o estabelecimento de plantações.

A empresa planeia estabelecer um dos maiores viveiros do continente Africano, utilizando tecnologia

de ponta para a produção de plântulas clonais. A capacidade dos viveiros instalados até agora (2016)

é: Viveiro de Luá – 12 milhões de plantas por ano; Viveiros de Maquiringa e Mugulama – 6 milhões

de plantas por ano (Portucel 2016). Apesar da elevada capacidade dos viveiros, estes usam muita

tecnologia avançada e são pouco intensivos em mão de obra. Trabalhadores recrutados localmente

foram treinados para operar o viveiro, com apoio de operários especializados vindos de outras regiões

do país e do estrangeiro. Dos 150 trabalhadores do viveiro de Luá localmente contratados, 65% são

mulheres. Trabalhadores entrevistados afirmaram que estão satisfeitos com as condições de trabalho e

do salário que recebem. Um dos trabalhadores revelou que “já melhorei a casa – cobri com chapas de

zinco, já como comida com óleo, comprei bicicleta, contrato ganho-ganho para trabalhar na minha

machamba”. A empresa planeia empregar até cerca de 6.000 trabalhadores na fase de corte que inicia

em 2022 (Portucel 2016).

Figura 19. Viveiro de Luá, (A) com capacidade para produzir 12 milhões de plantas clonais por ano; (B)

trabalhadores do viveiro em plena actividade.

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8.5.3 A ocupação de terra pela Portucel melhorou a vida na comunidade

Apenas cerca de 15% dos entrevistados referiu ter verificado melhorias com a entrega das terras à

Portucel (Figura 20). Entre as vantagens mais referidas estão as relacionadas com as oportunidades de

empregos permanentes, com os quais os entrevistados conseguiram melhorar a renda familiar, comprar

bicicleta ou moto, e construir uma casa melhorada. Referiram também o apoio na agricultura,

mencionando o trabalho de extensão agrícola realizado pela empresa, o qual, apesar de abranger ainda

um número relativamente reduzido de agregados familiares, já começa a ser percebido como uma

melhoria na comunidade.

Os restantes 85% que indicaram não ter visto melhorias refere que as oportunidades de emprego são

escassas (conseguiram ser empregues apenas uma vez, não mais de um mês).

O tempo relativamente curto de intervenção da empresa pode ser a principal causa para que a maioria

não tenha ainda verificado melhorias nas condições de vida na comunidade como resultado das

actividades da Portucel. Este é um aspecto que já era esperado, uma vez que as operações florestais

têm impacto a longo prazo e nos primeiros anos de estabelecimento da empresa poucos impactos serão

perceptíveis. Até aqui a intensidade de plantação por ano ainda é baixa, esperando-se um aumento no

número de trabalhadores envolvidos com o aumento da taxa de plantação.

Figura 20. A ocupação da terra pela Portucel melhorou a sua vida aqui na comunidade

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Sim Não

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Melhoria de vida da comunidade pela ocupação de terra pela Portucel

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Figura 21. Porque considera que a sua vida (a) piorou ou (b) melhorou

A pergunta final, a qual induzia os entrevistados a reflectirem sobre as melhorias trazidas pela empresa,

mostrou evidências (60%) de reconhecimento de que o emprego (apesar de predominantemente

sazonal) era a principal melhoria trazida pela empresa (Figura 22). O apoio na agricultura (18%) e

outros aspectos considerados foram também indicados por um número menor de entrevistados como

melhorias trazidas pela empresa. Houve, porém, os que indicaram (23%) explicitamente que não houve

melhorias.

Figura 22. Que melhorias houve na comunidade com a intervenção da Portucel

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Não Não Não Não Sim Sim Sim Sim

Razão da resposta do SIM ou de Não

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Emprego Não melhoru Apoio na

Agricultura

Outros Apoio na

pecuaria/pesca

Melhoru as

estradas

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Melhorias na comunidade graças a Portucel

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Uma das melhorias que foi referida entre as “outras” é a melhoria das vias de acesso na região (Figura

23). Apesar de o propósito da melhoria das vias de acesso ser da utilidade da própria empresa, estas

estão abertas para uso público, havendo, dessa forma, aberto acesso para expansão da rede de

comercialização de produtos agrícolas. Zonas anteriormente de difícil acesso têm, actualmente, postos

de compra de cereais e feijões, e vêem-se, com regularidade, carrinhas de 4 ton a transportar produtos

agrícolas. A expansão da rede de comercialização de produtos agrícolas é parte do Pilar 2 do Programa

de Desenvolvimento Social cujo enfoque é facilitar a comercialização.

Figura 23. (A) Vias de acesso melhoradas facilitaram a (B) expansão da rede de comercialização de produtos

agrícolas.

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9. NOTAS FINAIS

A Portucel Moçambique iniciou as suas actividades de plantações florestais à escala comercial em

2015, tendo ainda uma área relativamente pequena sob plantações (8.700 dos 120.000 hectares que

pretende ter nos distritos de Ile e Namarrói). Em termos de escala, o espaço ocupado e o tempo de

estabelecimento das plantações ainda são relativamente pequenos para se observarem os impactos

(positivos e negativos) de uma plantação florestal, os quais poderão aumentar quando as árvores forem

grandes e quando a área ocupada for maior.

Os resultados apresentados neste estudo revelam que a população local usa métodos e técnicas

rudimentares para a prática de agricultura. Esta é principalmente orientada para as culturas alimentares

de subsistência, enquanto uma pequena proporção da população produz culturas de rendimento.

A maioria da população cedeu as suas terras à Portucel para o estabelecimento de plantações florestais

de maneira voluntária, mas com a promessa de ter emprego, dinheiro e melhoria na agricultura. Dado

que as actividades, tanto no viveiro e nas plantações (emprego), assim como da implementação do

Programa de Desenvolvimento Social (que inclui extensão agrícola), ainda estão na sua fase inicial,

ainda há pouca satisfação destas principais expectativas da população.

Os efeitos da Portucel nas tecnologias locais e produtividade ainda são poucos perceptíveis, sendo que

os principais efeitos iniciais são a geração de emprego (ainda que predominantemente sazonal), acesso

aos serviços de extensão, promoção do associativismo. As técnicas e culturas agrícolas melhoradas,

apesar de haver evidências do seu início (campos de multiplicação de semente, campos de

demonstração de resultados), ainda atingem um número reduzido de pessoas (camponeses de

contacto). Ainda não há impactos sobre a produtividade agrícola resultantes das novas técnicas de

produção introduzidas pela Portucel.

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10. REFERÊNCIAS

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36

Título

Autor(es) Ano

57

56

55

Desenvolvimento Rural em Moçambique: Discursos e

Realidades – Um estudo de caso do distrito de Pebane,

Província da Zambézia

A Economia política do corredor de Nacala:

Consolidação do padrão de economia extrovertida

em Moçambique

Segurança Alimentar Auto-suficiecia alimentar: Mito

ou verdade?

Nelson Capaina

Thomas Selemane

Máriam Abbas

Outubro de 2017

Setembro de 2017

Agosto de 2017

54

A inflação e a produção agrícola em Moçambique Soraya Fenita e Máriam Abbas Julho de 2017

53 Plantações florestais e a instrumentalização do estado

em Moçambique

Natacha Bruna Junho de 2017

52 Sofala: Desenvolvimento e Desigualdades

Territoriais Yara Pedro Nova Junho de 2017

51 Estratégia de produção camponesa em Moçambique:

estudo de caso no sul do Save - Chókwe, Guijá e

KaMavota

Yasser Arafat Dadá Maio de 2017

50 Género e relações de poder na região sul de

Moçambique – uma análise sobre a localidade de

Mucotuene na província de Gaza

Aleia Rachide Agy Abril de 2017

49 Criando capacidades para o desenvolvimento: o género

no acesso aos recursos produtivos no meio rural em

Moçambique

Nelson Capaina Março de 2017

48

Perfil socio-económico dos pequenos agricultores do

sul de Moçambique: realidades de Chókwe, Guijá e

KaMavota

Momade Ibraimo Março de 2017

47 Agricultura, diversificação e

Transformação estrutural da economia João Mosca Fevereiro de 2017

46 Processos e debates relacionados com DUATs.

Estudos de caso em Nampula e Zambézia.

Uacitissa Mandamule Novembro de 2016

45 Tete e Cateme: entre a implosão do el dorado e a

contínua degradação das condições de vida dos

reassentados

Thomas Selemane Outubro de 2016

44 Investimentos, assimetrias e movimentos de protesto

na província de Tete

João Feijó Setembro de 2016

43 Motivações migratórias rural-urbanas e perspectivas de

regresso ao campo – uma análise do desenvolvimento rural

em moçambique a partir de Maputo

João Feijó e Aleia Rachide Agy e

Momade Ibraimo Agosto de 2016

42 Políticas públicas e desigualdades socias e territoriais

em moçambique João Mosca e Máriam Abbas Julho de 2016

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37

Título

Autor(es) Ano

41 Metodologia de estudo dos impactos dos megaprojectos

João Mosca e Natacha Bruna Junho de 2016

40 Cadeias de valor e ambiente de negócios na

agricultura em Moçambique

Mota Lopes Maio de 2016

39 Zambézia: Rica e Empobrecida João Mosca e Yara Nova Abril de 2016

38 Exploração artesanal de ouro em Manica

António Júnior, Momade

Ibraimo e João Mosca Março de 2016

37 Tipologia dos conflitos sobre ocupação da terra em

Moçambique

Uacitissa Mandamule Fevereiro de 2016

36 Políticas públicas e agricultura

João Mosca e Máriam Abbas Janeiro de 2016

35

Pardais da china, jatrofa e tractores de Moçambique:

remédios que não prestam para o desenvolvimento rural

Luis Artur Dezembro de 2015

34 A política monetária e a agricultura em

Moçambique

Máriam Abbas Novembro de 2015

33 A influência do estado de saúde da população na produção

agrícola em Moçambique

Luís Artur e Arsénio Jorge

Outubro de 2015

32 Discursos à volta do regime de propriedade da terra

em Moçambique

Uacitissa Mandamule Setembro de 2015

31 Prosavana: discursos, práticas e realidades João Mosca e Natacha Bruna Agosto de 2015

30

Do modo de vida camponês à pluriactividade impacto

do assalariamento urbano na economia familiar rural João Feijó e Aleia Rachide

Agy

Julho de 2015

29 Educação e produção agrícola em Moçambique: o caso do

milho

Natacha Bruna Junho de 2015

28 Legislação sobre os recursos naturais em Moçambique:

convergências e conflitos na relação com a terra Eduardo Chiziane

Maio de 2015

27 Relações Transfronteiriças de Moçambique António Júnior, Yasser Arafat

Dadá e Momade Ibraimo Abril de 2015

26 Macroeconomia e a produção agrícola em Moçambique

Máriam Abbas

Abril de 2015

25 Entre discurso e prática: dinâmicas locais no acesso aos

fundos de desenvolvimento distrital em Memba

Nelson Capaina

Março de 2015

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38

Título

Autor(es) Ano

24 Agricultura familiar em Moçambique: Ideologias e

Políticas

João Mosca Fevereiro de 2015

23 Transportes públicos rodoviários na cidade de Maputo:

entre os TPM e os My Love Kayola da Barca Vieira, Yasser

Arafat Dadá e Margarida Martins Dezembro de 2014

22 Lei de Terras: Entre a Lei e as Práticas na defesa de

Direitos sobre a terra Eduardo Chiziane Novembro 2014

21 Associações de pequenos produtores do sul de

Moçambique: constrangimentos e desafios António Júnior, Yasser Arafat

Dadá e João Mosca Outubro de 2014

20

Influência das taxas de câmbio na agricultura João Mosca, Yasser Arafat

Dadá e Kátia Amreén Pereira Setembro de 2014

19

Competitividade do Algodão Em Moçambique

Natacha Bruna

Agosto de 2014

18 O Impacto da Exploração Florestal no

Desenvolvimento das Comunidades Locais nas Áreas

de Exploração dos Recursos Faunísticos na Província

de Nampula

Carlos Manuel Serra, António

Cuna, Assane Amade e Félix

Goia

Julho de 2014

17 Competitividade do subsector do caju em Moçambique

Máriam Abbas Junho de 2014

16

Mercantilização do gado bovino no distrito de

Chicualacuala

António Manuel Júnior Maio de 2014

15

Os efeitos do HIV e SIDA no sector agrário e no

bem-estar nas províncias de Tete e Niassa

Luís Artur, Ussene Buleza,

Mateus Marassiro, Garcia Júnior

Abril de 2014

14 Investimento no sector agrário João Mosca e Yasser Arafat

Dadá

Março de 2014

13 Subsídios à Agricultura João Mosca, Kátia Amreén

Pereira e Yasser Arafat Dadá Fevereiro de 2014

12 Anatomia Pós-Fukushima dos Estudos sobre o

ProSAVANA:

Focalizando no “Os mitos por trás do ProSavana” de

Natalia Fingermann

Sayaka Funada-Classen Dezembro de 2013

11

Crédito Agrário

João Mosca, Natacha Bruna,

Katia Amreén Pereira e

Yasser Arafat Dadá

Novembro de 2013

10 Shallow roots of local development or branching out for

new opportunities: how local communities in

Mozambique may benefit from investments in land

and forestry exploitation

Emelie Blomgren & Jessica

Lindkvist Outubro de 2013

9 Orçamento do estado para a agricultura Américo Izaltino Casamo, João

Mosca e Yasser Arafat Setembro de 2013

8 Agricultural Intensification in Mozambique.

Opportunities and Obstacles—Lessons from

Ten Villages

Peter E. Coughlin

Nícia Givá Julho de 2013

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39

Título

Autor(es) Ano

7 Agro-Negócio em Nampula: casos e expectativas do

ProSAVANA

Dipac Jaiantilal Junho de 2013

6 Estrangeirização da terra, agronegócio e campesinato

no Brasil e em Moçambique Elizabeth Alice Clements e

Bernardo Mançano Fernandes Maio de 2013

5 Contributo para o estudo dos determinantes

da produção agrícola João Mosca e

Yasser Arafat Dadá Abril de 2013

4

Algumas dinâmicas estruturais do sector agrário. João Mosca, Vitor Matavel e

Yasser Arafat Dadá Março de 2013

3

Preços e mercados de produtos agrícolas alimentares. João Mosca e Máriam Abbas Janeiro de 2013

2

Balança Comercial Agrícola.

Para uma estratégia de substituição de importações?

João Mosca e Natacha Bruna Novembro de 2012

1

Porque é que a produção alimentar não é prioritária? João Mosca Setembro de 2012

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40

Como publicar

Os autores deverão endereçar as propostas de textos para publicação em formato digital para

o e-mail do OMR ([email protected]) que responderá com um e-mail de aviso de recepção

da proposta.

Não existe por parte do Observatório do Meio Rural qualquer responsabilidade em publicar

os trabalhos recebidos.

Após o envio, os autores proponentes receberão informação por e-mail, num prazo de 90 dias,

sobre a aceitação do trabalho para publicação.

O autor tem o direito a 10 exemplares do número do OBSERVADOR RURAL que contiver o

artigo por ele escrito.

Regras de publicação:

Apresentação da proposta de um tema que se enquadre no objecto de trabalho do OMR.

Aprovação pelo Conselho Técnico.

Submissão a uma revisão redactorial num prazo de sessenta dias, a partir da entrega da

proposta de artigo pelo autor.

Informação aos autores por parte do OMR acerca da decisão da publicação, por e-mail, com

solicitação de aviso de recepção, num prazo de 90 dias após a apresentação da proposta.

Caso exista um parecer negativo de um ou mais revisores, o autor tem a oportunidade de voltar

uma vez mais a propor a edição do texto, desde que introduzidas as alterações e observações

sugeridas pelo(s) revisor(es).

Uma segunda proposta do mesmo texto para edição procede-se nos mesmos moldes e prazos.

Um segundo parecer negativo tem carácter definitivo.

O proponente do texto para publicação não tem acesso aos nomes dos revisores e estes

receberão os textos para revisão sem indicação dos nomes dos autores.

A responsabilidade de publicação é da Direcção do Observatório do Meio Rural sob proposta

do Conselho Técnico, independentemente dos pareceres dos revisores.

O texto não pode ter mais que 40 páginas em letra 11, espaço simples entre linhas, e 3 cm em

todas as margens da página (cima, baixo lado e esquerdo e direito).

A formatação do texto para publicação é da responsabilidade do OMR.

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41

O OMR centra as suas acções na prossecução dos seguintes objectivos específicos:

Promover e realizar estudos e pesquisas sobre políticas e outras temáticas relativas ao

desenvolvimento rural;

Divulgar resultados de pesquisas e reflexões;

Dar a conhecer à sociedade os resultados dos debates, seja através de comunicados de

imprensa como pela publicação de textos;

Constituir uma base de dados bibliográfica actualizada, em forma digitalizada;

Estabelecer relações com instituições nacionais e internacionais de pesquisa para intercâmbio

de informação e parcerias em trabalhos específicos de investigação sobre temáticas agrárias e

de desenvolvimento rural em Moçambique;

Desenvolver parcerias com instituições de ensino superior para envolvimento de estudantes

em pesquisas de acordo com os temas de análise e discussão agendados;

Criar condições para a edição dos textos apresentados para análise e debate do OMR.

Patrocinadores:

Rua Faustino Vanombe, nº 81, 1º Andar

Maputo – Moçambique

www.omrmz.org

O OMR é uma Associação da sociedade

civil que tem por objectivo geral contribuir

para o desenvolvimento agrário e rural

numa perspectiva integrada e

interdisciplinar, através de investigação,

estudos e debates acerca das políticas e

outras temáticas agrárias e de

desenvolvimento rural.