forumdeconcursos.com · 21.10título incompleto 21.11apresentação e pagamento 21.12execução...

789

Upload: phambao

Post on 04-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A EDITORA ATLAS se responsabiliza pelos vcios do produto no que

concerne sua edio (impresso e apresentao a fim de possibilitar ao

consumidor bem manuse-lo e l-lo). Nem a editora nem o autor assumem

qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens,

decorrentes do uso da presente obra.

Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguarda os direitos

autorais, proibida a reproduo total ou parcial de qualquer forma ou por

qualquer meio, eletrnico ou mecnico, inclusive atravs de processos

xerogrficos, fotocpia e gravao, sem permisso por escrito do autor e do

editor.

Impresso no Brasil Printed in Brazil

Direitos exclusivos para o Brasil na lngua portuguesa

Copyright 2016 by

EDITORA ATLAS LTDA.

Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional

Rua Conselheiro Nbias, 1384 Campos Elsios 01203-904 So Paulo

SP

Tel.: (11) 5080-0770 / (21) 3543-0770

[email protected] / www.grupogen.com.br

O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de

qualquer forma utilizada poder requerer a apreenso dos exemplares

reproduzidos ou a suspenso da divulgao, sem prejuzo da indenizao

cabvel (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998).

Quem vender, expuser venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depsito

ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de

vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou

para outrem, ser solidariamente responsvel com o contrafator, nos termos

dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o

distribuidor em caso de reproduo no exterior (art. 104 da Lei n. 9.610/98).

Capa: Leonardo Hermano

Composio: Set-up Time Artes Grficas

Fechamento desta edio: 04.02.2016

Produo Digital: One Stop Publishing Solutions

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO

(CIP)

(CMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)

Fazzio Jnior, Waldo

Manual de direito comercial / Waldo Fazzio Jnior. 17. ed. rev., atual. e

ampl. So Paulo: Atlas, 2016.

Bibliografia.

ISBN 978-85-970-0549-3

1. Direito comercial. I. Ttulo.

00-0463 CDU-347.7

O homem pode apenas exprimir a sua relao com a

verdade, mas no a verdade em si mesma.

David Henry Thoreau

Nota 17 edio

As constantes modificaes do universo empresarial experimentadas

pelo ordenamento brasileiro, como reflexos da globalizao e do

redirecionamento da poltica econmica, implicam a necessidade de revisar

e atualizar, mais uma vez, esta obra jurdica.

Tambm o segmento processual civil anuncia diversas alteraes

instrumentais que, certamente, implementaro novas solues para os

diuturnos conflitos de interesses envolvendo empresas e empresrios,

credores e devedores, contratantes e contratados.

No se trata, simplesmente, de trocar alguns pargrafos e refazer

sumrios. As oscilaes normativas afetam o prprio metabolismo da

sociotcnica jurdica incidente sobre empresas, negcios, mercado e

sociedade. Da por que, depois de dezesseis edies e diversas tiragens,

este livro-texto passa por mais alguns ajustes, com o fito de preservar sua

aptido, como coadjuvante na formao de agentes do Direito, seno como

fonte de subsdios jurdicos para concursos pblicos.

A vida de um livro jurdico assim mesmo. Representa um esforo

permanente no sentido de sintonizar o normativo e o emprico, bem como

conciliar mercado e sociedade sob o referencial maior da justia. sob uma

perspectiva de permanente tenso construtiva que convivem o Direito

empresarial e o livro jurdico.

Neste ponto, enalteo a permanente colaborao dos advogados Vitor

Gustavo e Luciana para a consecuo deste trabalho.

Agradeo, outrossim, ao pessoal da Editora Atlas e do Grupo GEN,

dedicados responsveis pela sua produo.

O Autor

Sumrio

Parte I Direito Comercial

1Direito Comercial

1.1Sntese histrica

1.2Objeto do direito comercial

1.3Conceito

1.4Fontes do Direito Comercial

1.4.1Fonte primria

1.4.2Fontes secundrias

1.4.2.1Usos

Parte II Empresrio

2Empresrio Unipessoal

2.1Empresrio

2.2Caracterizao do empresrio unipessoal

2.3Capacidade jurdica

2.3.1Emancipado

2.3.2Incapaz

2.3.3Empresrio casado

2.4Ausncia de impedimento legal

2.5Exerccio profissional da empresa

2.6Empresrio individual de responsabilidade limitada

2.7Regime peculiar regulador da insolvncia

2.8Registro obrigatrio

2.9Perda da qualidade empresarial

3Regime empresarial simplificado

3.1Microempresas e Empresas de Pequeno Porte

3.1.1Caractersticas gerais

3.1.2Simples Nacional

3.1.3Aspectos trabalhistas

3.2Microempreendedor individual

3.3Redesim

3.4Sociedade de propsito especfico

4Registro

4.1Noo

4.2Registro de empresas

4.2.1Composio da Junta Comercial

4.2.2Atribuies da Junta Comercial

4.2.3Proibido arquivar

4.2.4Modificao de atos constitutivos

4.2.5Controle da escriturao

4.2.6Publicidade dos atos

4.2.7Matrcula

4.2.8Outros deveres

5Escriturao

5.1Obrigao de manter escriturao

5.2Sistemas

5.3Instrumentos obrigatrios

5.4Exibio administrativa

5.5Exibio judicial da escriturao

5.6Balanos

5.7Outros documentos essenciais

6Nome Empresarial

6.1Noo

6.2Firma

6.3Nome da sociedade empresria

6.4Proteo do nome empresarial

6.5Exclusividade

6.6Concorrncia

6.7Alienabilidade do nome

6.8Perda do nome

6.9Nome e marca

7Estabelecimento Empresarial

7.1Conceito

7.2Composio

7.3Sinais distintivos

7.4Ttulo do estabelecimento e insgnia

7.5Ponto de negcio

7.6Renovatria de locao

7.6.1Requisitos para renovao

7.6.2Alternativas do locador

7.6.3Hipteses de deciso

7.6.4Shopping center

7.7Aviamento

7.8Clientela

7.9Trespasse

7.10Estabelecimento e falncia

7.11Acesso virtual

Parte III Sociedade Empresria

8Regime Jurdico da Sociedade Empresria

8.1Princpios da sociedade empresria

8.1.1Princpios explcitos: contrato social plurilateral

8.1.2Princpios explcitos: personificao jurdica

8.1.3Desconsiderao da personalidade jurdica

3.8.3.1Incidente de desconsiderao

8.1.4Sociedade no personificada

8.1.5Fim da personalidade jurdica

8.1.6Princpios implcitos

8.2Concepo e constituio da sociedade

8.3Contrato social

8.3.1Elementos do contrato social

8.3.1.1Pluralidade de scios

8.3.1.2Constituio do capital social

8.3.1.3Affectio societatis

8.3.1.4Participao nos lucros e nas perdas

8.3.2Requisitos de registro do contrato social

8.4Sociedade empresria e atos de registro

8.5Direitos e obrigaes dos scios

8.6Administrao societria

8.7Classificaes das sociedades empresrias

8.7.1Quanto natureza do ato conceptivo

8.7.2Quanto responsabilidade social

8.7.3Quanto composio econmica

8.7.4Quanto ao volume da receita bruta

8.8Sociedades de objeto misto

8.9Sociedades dependentes de autorizao

8.10Sociedades empresrias no CC

8.11Resoluo (dissoluo parcial)

8.12Dissoluo

8.13Dissoluo judicial

8.14Prorrogao

8.15Liquidao

8.16Pagamento do passivo

8.17Partilha do ativo residual

9Sociedade Limitada

9.1Noo

9.2Capital social

9.2.1Capital e patrimnio

9.3Responsabilidade limitada

9.4Excees

9.5Regime das cotas

9.6Nmero de cotas

9.7Scio de indstria

9.8Excluso do scio remisso

9.9Outras hipteses de excluso

9.10Aquisio das cotas pela sociedade

9.11Cesso de cotas

9.12Penhorabilidade das cotas

9.13Cotista menor

9.14Sucesso nas cotas

9.15Alterao contratual e recesso

9.16Administrao social

9.17Deliberaes sociais

9.18Conselho Fiscal

Parte IV Companhia

10Caracterizao da Companhia

10.1Noo

10.2Nome

10.3Princpios estruturantes

10.3.1Responsabilidade limitada

10.3.2Diviso do capital em aes

10.4Caractersticas societrias comuns

10.4.1Personalidade jurdica

10.4.2Empresa como objeto social

10.4.3Objetivo de lucro

10.5Caractersticas prprias da companhia

10.5.1Natureza empresarial

10.5.2Identificao exclusiva por uma denominao

10.5.3Valor subscrito como limite de responsabilidade

10.6Espcies de companhia

10.6.1Companhia aberta

10.6.2Companhia fechada

10.7Bolsa de valores e mercado de balco

10.8CVM

11Constituio da Companhia

11.1Requisitos preliminares

11.2Procedimentos constitutivos

11.2.1Subscrio pblica (continuada ou sucessiva)

11.2.1.1Registro na CVM

11.2.1.2Prospecto

11.2.1.3Subscrio

11.2.2Subscrio particular (simultnea)

11.3Formalidades complementares

11.4Transferncia de bens

12Capital Social

12.1Noo

12.2Formao

12.3Modificao

12.3.1Reduo de capital

12.3.2Aumento de capital

12.3.3Capital autorizado

12.3.4Aumento por capitalizao de lucros ou reservas

12.3.5Aumento por emisso de novas aes

12.4Direito de preferncia

13rgos Sociais

13.1rgos sociais de administrao e controle

13.2Assembleia-geral

13.3Reforma estatutria

13.4Competncia

13.5Assembleia-Geral Ordinria (AGO)

13.5.1Obrigatoriedade

13.5.2Periodicidade

13.5.3Objeto definido em lei

13.6Assembleia-Geral Extraordinria (AGE)

13.7Conselho de administrao

13.8Diretoria

13.9Conselho Fiscal

13.10Administradores

13.10.1Deveres

13.10.2Proibies

13.10.3Responsabilidade

13.11Acionista controlador

13.12Acordo de acionistas

14Acionista

14.1Direitos e deveres do acionista

14.1.1Direito de recesso

14.1.2Deveres

14.2Direito de voto

14.3Suspenso de direitos

15Modalidades Especiais de Companhia

15.1Noo

15.1.1Sociedade de economia mista

15.1.2Grupos intersocietrios

15.1.2.1Alienao do controle

15.1.3Grupos societrios

15.1.4Consrcio

15.1.5Subsidiria integral

15.1.6Comandita por aes

15.1.7Transformao

15.1.8Concentrao de empresas

15.1.8.1Incorporao

15.1.8.2Fuso

15.1.8.3Ciso

Parte V Valores Mobilirios

16Aes

16.1Valores mobilirios

16.2Ao

16.3Natureza jurdica

16.4Valores

16.5Prazo

16.6Espcies e classes

16.6.1Ordinrias

16.6.2Preferenciais

16.6.3Rentabilidade

16.6.4Dividendos

16.6.4.1Dividendo obrigatrio

16.6.5Pagamento

16.7Aes de gozo ou fruio

16.8Propriedade da ao

16.9Forma

16.9.1Aes nominativas

16.9.2Aes escriturais

16.10Certificados de aes

16.11Custdia

16.12Certificado de depsito

16.13Liquidao antecipada

16.13.1Amortizao

16.13.2Resgate

16.13.3Reembolso

16.14Negociao em mercado

17Partes Beneficirias

17.1Noo

17.2Requisitos indispensveis

17.3Forma, vantagem e negociao

18Debntures

18.1Noo

18.2Requisitos indispensveis

18.3Direitos

18.4Conversibilidade

18.5Forma

18.6Prazos

18.7Instituies financeiras

18.8Emisso

18.9Certificados

18.10Rentabilidade

18.11Negociao

18.12Liquidao antecipada

18.13Cdula de debntures

18.14Agente fiducirio

18.15Assembleia dos debenturistas

19Bnus de Subscrio

19.1Noo

19.2Requisitos

19.3Rentabilidade

19.4Negociao

20Nota Promissria Commercial Paper

20.1Noo e requisitos

Parte VI Ttulos de Crdito

21Teoria Geral dos Ttulos de Crdito

21.1Noo

21.2Atributos essenciais

21.3Atributos eventuais

21.4Inoponibilidade de excees pessoais

21.5Classificao

21.6Requisitos formais indispensveis

21.7Endosso

21.7.1Endosso-mandato

21.7.2Endosso pstumo

21.7.3Endosso-cauo

21.7.4Endosso e cesso

21.8Aval

21.9Aval e fiana

21.10Ttulo incompleto

21.11Apresentao e pagamento

21.12Execuo

21.12.1Penhora de crdito titulado

21.12.2Ttulo oriundo do estrangeiro

21.13Prescrio

21.14Regime legal

22Cambiais

22.1Noo

22.2Requisitos de validade da letra de cmbio

22.2.1Denominao letra de cmbio

22.2.2Mandato de pagar quantia determinada

22.2.3Nome da pessoa que deve pagar

22.2.4Nome da pessoa a quem deve ser paga

22.2.5Assinatura de prprio punho do sacador

22.3Requisitos de validade da nota promissria

22.4Requisitos no essenciais das cambiais

22.5Aceite

22.6Vencimento

22.7Pagamento

22.8Ressaque

22.9Prescrio das cambiais

22.10Ao de anulao

22.11Promissria vinculada

23Cheque

23.1Ordem de pagamento

23.1.1Banco ou instituio equiparada

23.1.2Saldo disponvel em poder do sacado

23.1.3Conta-corrente bancria

23.2Natureza jurdica

23.3Abstrao

23.4Requisitos de validade

23.5Intervenientes

23.6Apresentao

23.7Espcies quanto circulao

23.8Endosso

23.9Aval

23.10Cheque ps-datado

23.11Cheque cruzado

23.12Cheque para creditar

23.13Cheque visado

23.14Cheque de turismo

23.15Cheque postal

23.16Cheque administrativo

23.17Cheque plural

23.18Cheque garantido

23.19Contraordem e sustao

23.20Pagamento de cheque falso

23.21Recusa de pagamento

23.22Protesto

23.23Ao por falta de pagamento

23.24Prescrio da eficcia executiva

23.25Banco e correntista

23.26Servio de compensao

23.27Cheque sem fundos

23.28Cadastro de emitentes de cheque sem fundos

23.29Substituio do cheque por outros instrumentos

24Duplicata

24.1Duplicata e nota fiscal-fatura

24.2Requisitos

24.3Remessa e devoluo

24.4Aceite

24.5Pagamento

24.6Protesto

24.7Triplicata

24.8Execuo

24.9Prescrio

24.10Excees e causalidade

24.11Duplicata simulada

24.12Bloqueto de cobrana

24.13Cobrana bancria eletrnica

24.14Gerenciamento financeiro eletrnico

25Ttulos de Crdito Imprprios

25.1Noo

25.2Ttulos representativos

25.3Ttulos de financiamento

25.4Ttulos de legitimao

26Protesto

26.1Noo

26.2Protocolizao

26.3Intimao

26.4Sustao

26.5Pagamento

26.6Espcies

26.7Contedo do registro

26.8Cancelamento

26.9Protesto especial falimentar

26.10Microempresa e empresa de pequeno porte

26.11Ttulos sujeitos a protesto

Parte VII Contratos Mercantis

27Contratos Mercantis

27.1Introduo

27.2Princpios do CC

27.3Normas regentes

27.4Formao

27.5Pacta sunt servanda

27.6Exceptio non adimpleti contractus

27.7Rebus sic stantibus

27.8Caso fortuito e fora maior

27.9Extino do contrato

28Compra e Venda Mercantil

28.1Noo

28.2Venda a vista de amostras

28.3Obrigaes do vendedor

28.3.1Entrega da mercadoria vendida

28.3.2Responsabilidade por vcio e por evico

28.4Obrigaes do comprador

28.5Coisa

28.6Preo

28.7Incoterms

29Mandato Mercantil

29.1Noo

29.2Terceiro

29.3Obrigaes

29.4Extino

30Comisso Mercantil

30.1Noo

30.2Obrigaes

31Carto de Crdito

31.1Noo

31.2Elementos

31.3Vantagens

31.4Contratos

31.5Natureza jurdica

31.6Modalidades

31.7Uso indevido

31.8Juros remuneratrios

31.9Preo e pagamento com carto

31.10Algumas regras operacionais

32Faturizao (Factoring)

32.1Noo

32.2Partes

32.3Caractersticas do contrato

32.4Modalidades

33Arrendamento Mercantil (Leasing)

33.1Noo

33.2Requisitos do contrato

33.3Antecipao do VRG

33.4Prazos

33.5Partes

33.6Modalidades

33.7Inadimplemento

33.8Leasing e CDC

33.9Leasing e ICMS

34Alienao Fiduciria

34.1Noo

34.2Requisitos

34.3Mora e inadimplemento

34.4Busca e apreenso

34.5Coisa imvel

35Franquia Empresarial (Franchising)

35.1Noo

35.2Partes

35.3Obrigaes do franqueador

35.4Obrigaes do franqueado

35.5Contrato de franquia

36Representao Comercial Autnoma

36.1Noo

36.2Representante comercial

36.3Requisitos do contrato

36.4Justa causa para resciso

36.5Obrigaes do representante

36.6Obrigaes do representado

37Agncia/Distribuio e Concesso

37.1Cooperao interempresarial

37.2Agncia/distribuio

37.3Outras modalidades de distribuio

37.4Concesso comercial de veculos automotores

38Contrato de Seguro

38.1Direito positivo

38.2Carter mercantil do seguro

38.3Notcia histrica

38.4Natureza jurdica e proteo legal

38.5Intervenientes

38.6Comprovao

38.7Contedo do instrumento constitutivo

38.8Modalidades

38.9Regras gerais bsicas previstas no CC

38.10Perda do direito indenizao

38.11Seguro-sade e doena preexistente

38.12Prazos prescricionais

38.13Previso penal

38.14Diretrizes processuais

38.15Resseguro

38.16Regras sumuladas pelos tribunais superiores

39Contratos de Suporte Empresarial

39.1Transporte e armazenamento

39.2Contrato de transporte de coisas

39.2.1Deveres do transportador

39.2.2Outras normas sobre transportes

39.3Contrato de depsito em armazns gerais

40Contratos Bancrios

40.1Banco

40.2Instituies financeiras

40.3Sigilo bancrio

40.4Operaes bancrias

40.4.1Contratos de operaes passivas

40.4.1.1Certificado de depsito bancrio

40.4.1.2Recibo de depsito bancrio

40.4.2Contratos de operaes ativas

40.4.2.1Mtuo bancrio

40.4.2.2Desconto de ttulos de terceiros

40.4.2.3Abertura de crdito

40.5Reviso dos contratos bancrios

40.6Remunerao de servios de instituies financeiras

Parte VIII Direitos do Consumidor

41Direitos do Consumidor

41.1Consumidor e relao de consumo

41.2Direitos do consumidor

41.3Responsabilidade do fornecedor

41.4Responsabilidade pelo fato do produto

41.4.1Excludentes

41.5Responsabilidade pelo fato do servio

41.6Responsabilidade por vcio do produto e do servio

41.7Decadncia e prescrio

41.8Desconsiderao da personalidade jurdica

41.9Prticas infrativas

41.10Publicidade e propaganda

41.10.1Publicidade enganosa e publicidade abusiva

41.11Proteo contratual

41.12Clusulas abusivas

41.13Inverso do nus probatrio

41.14Declarao de ofcio

41.15Negativao do consumidor inadimplente

Parte IX Falncias e Recuperaes

42Insolvncia Empresarial

42.1Introduo

42.2Sntese histrica

42.3Princpios do regime concursal empresarial

42.3.1Princpio da viabilidade da empresa

42.3.2Princpio da prevalncia do interesse dos credores

42.3.3Princpio da publicidade dos procedimentos

42.3.4Princpio da par conditio creditorum

42.3.5Princpio da conservao e maximizao dos ativos

42.3.6Princpio da conservao da empresa vivel

42.4Transio legal

43Devedor Empresrio

43.1Pessoa fsica e pessoa jurdica

43.2Empresas excludas

43.3Empresas sujeitas a regime especial

43.4Empresrio no personificado

43.5Scios

43.6Impedidos de exercer a empresa

43.7Microempresa e empresa de pequeno porte

44Competncia

44.1Juzo do principal estabelecimento

44.2Princpios do juzo concursal

44.2.1Devedor autor

44.2.2Reclamaes trabalhistas

44.2.3Unio

44.2.4Crditos tributrios

44.2.5Aes anteriores ao processo de insolvncia

45Crditos

45.1Ordem de preferncia dos credores

45.2Verificao

45.2.1Crditos relacionados e habilitao de crditos

45.3Impugnao

45.4Classificao dos crditos na falncia

46Recuperaes

46.1Introduo

46.2Meios de recuperao

46.3Recuperao extrajudicial

46.3.1Caractersticas da recuperao extrajudicial

46.3.2Procedimento recuperatrio

46.4Recuperao judicial

46.4.1Legitimao ativa

46.4.2Despacho de processamento

46.5Plano de recuperao judicial

46.6Impugnao

46.7Laudo econmico-financeiro

46.8Assembleia-geral de credores

46.9Deciso sobre o plano

46.10Administrao dos bens

46.11Substituio administrativa

46.11.1Condenao criminal

46.11.2Dolo, simulao ou fraude

46.11.3Esvaziamento do patrimnio

46.11.4Recusa de informaes

46.12Administrador judicial

46.13Comit de credores

46.14Convolao em falncia

46.15Cumprimento da recuperao

47Estado de Falncia

47.1Noo de falncia

47.2Pressupostos do estado de falncia

47.3Critrios aferidores da insolvncia

47.3.1A impontualidade como causa de pedir na falncia

47.3.2A execuo frustrada como causa de pedir na falncia

47.3.3Sintomas legais como causa de pedir na falncia

47.4Decretao judicial

47.5Falncia ex officio

47.6Pluralidade de credores

47.7Meio judicial de cobrana

48Ao Constitutiva de Falncia

48.1Introduo

48.2Legitimao ativa

48.2.1Falncia requerida pelo prprio devedor

48.2.2Falncia requerida por credor

48.2.2.1Credor privilegiado

48.2.2.2Fazenda Pblica

48.2.2.3Scio e liquidante

48.2.3Esplio

48.3Procedimento

48.4Pedido com base nos atos enumerados em lei

48.5Parecer do Ministrio Pblico

48.6Desistncia do pedido

48.7Resposta do ru na ao falimentar

49Sentena e Recursos

49.1Sentena decretatria

49.1.1Termo legal

49.1.2Nomeao do administrador judicial

49.1.3Convocao de assembleia e constituio de Comit

49.1.4Publicidade da decretao

49.2Denegao do pedido de falncia

49.3Recursos

49.4Revogao da falncia

50Efeitos da Decretao de Falncia

50.1Efeitos da sentena

50.1.1Formao da massa falida subjetiva

50.1.2Suspenso das aes individuais

50.1.3Suspenso condicional da fluncia de juros

50.1.4Exigibilidade antecipada dos crditos

50.1.5Suspenso da prescrio

50.1.6Arrecadao dos bens do devedor

50.2Efeitos quanto ao devedor

50.2.1Direitos do devedor

50.3Efeitos quanto aos contratos do devedor

50.4Administradores e controladores

51Aes Revocatrias

51.1Atos prejudiciais massa

51.2Atos suscetveis de revogao na falncia

51.3Ao revocatria e presuno de fraude

51.3.1Dano

51.3.2Atos suscetveis de revogao

51.3.2.1Atos praticados durante o termo legal

51.3.2.2Atos praticados no binio pr-falimentar

51.3.2.3Inscries

51.3.2.4Venda ou transferncia do

estabelecimento

51.4Ao pauliana falencial

51.5Efeito restitutrio

51.6Processo revocatrio

52Administrao da Falncia

52.1rgos da falncia

52.2Administrador judicial

52.3Funes do administrador judicial

52.4Substituio do administrador judicial

52.5Remunerao do administrador judicial

52.6Responsabilidade do administrador

52.7Ministrio Pblico

52.8Comit de Credores

52.9Assembleia-geral de credores

53Liquidao e Encerramento

53.1Fase executiva

53.2Arrecadao

53.3Destinao antecipada de bens

53.4Falncia frustrada

53.5Restituio

53.6Realizao do ativo

53.7Soluo do passivo

53.8Encerramento

53.9Extino das obrigaes

54Direito Penal Falimentar

54.1Introduo

54.2Crimes falimentares

54.3Inqurito penal falimentar

54.4Ao penal falimentar

54.5Sentena

Parte X Direito Concorrencial

55Direito Concorrencial

55.1Bases do direito concorrencial brasileiro

55.2Lei de Defesa da Concorrncia

55.3Composio do SBDC

55.4Infraes contra a ordem econmica

55.5Sanes

55.6Direito de ao

55.7Prescrio

55.8Acordo de lenincia

55.9Crimes contra a ordem econmica

55.10Concentraes empresariais

55.11Atos de concentrao

Parte XI Propriedade Industrial

56Direito de Propriedade Industrial

56.1Introduo

56.2Titularidade da patente

56.3Patenteabilidade

56.4Novidade

56.5Inventividade

56.6Industriabilidade

56.7Prioridade

56.8Depsito do pedido de patente

56.9Publicao

56.10Exame do pedido

56.11Concesso da patente

56.12Violao do direito da patente

56.13Nulidade

56.14Licena

56.15Extino da patente

56.15.1Caducidade

56.16Desenho industrial

56.17Marcas

56.17.1Espcies

56.17.2Categorias

56.17.3Marcas no registrveis

56.17.4Proteo e restries

56.17.5Registro da marca

56.18Concorrncia indevida

56.18.1Modalidades

56.18.2Concorrncia desleal

56.18.3Software

Smulas em Matria Comercial

Bibliografia

Parte I

Direito Comercial

1 Direito Comercial

1.1Sntese histrica

A produo e a circulao de bens e servios conheceram diversas

etapas no processo de desenvolvimento humano. Seu estgio atual o

produto da crescen te transformao das relaes de produo, de um

regime de plena subordinao do trabalho ao capital para um regime de

coordenao desses fatores bsicos. A atividade econmica sempre foi e a

matriz de relaes fundamentais de infraestrutura determinantes da

superestrutura poltica e jurdica. Sem a preocupao de verticalizar, basta

dizer que a necessidade de regulamentao da atividade econmica tem

sido um permanente e necessrio componente dos sistemas jur dicos, em

todas as fases da histria humana.

O Direito sempre caminha atrs da realidade, apreendendo a para

confor m-la aos padres ticos e sociais. De tal forma que,

inevitavelmente, suporta modificaes na mesma proporo em que os

sucessivos quadros econmicos se transformam.

Nesse cenrio, a evoluo do comrcio,1 a partir da ecloso das cidades

me dievais e da burguesia, revela um inegvel e natural paralelismo com a

do Di reito Comercial. A intermediao na troca de bens o estgio

preambular do Direito Comercial, em que j se pode identificar uma

atividade profissional organizada promotora da circulao de bens, com

fito de lucro. So as primei ras normaes criadas para dirimir os conflitos

de interesses resultantes daquela atividade.

Uma espcie de prhistria do Direito Comercial pode ser reconstituda

com base no Corpus Juris Civilis, diploma em que Justiniano congregou as

principais contribuies mercantis das civilizaes antigas, entre as quais

a Lex Rhodia de Jactu (alijamento) e o Nauticum Foenus (mtuo e seguro

martimo).

Contudo, foi nos sculos posteriores que as prticas mercantis

medievais fo ram sistematizadas, merc das compilaes estatutrias como

as Consuetudines (Gnova, 1055), Constitutum Usus (Pisa, 1161) e o Liber

Consuetudinum (Milo, 1216) e das smulas martimas de arbitragens,

entre as quais foroso citar Jugements de Olron (Olron), no sculo XII;

o Capitulare Nauticum (Veneza) e a Tabula Amalfitana (Amalfi), ambas do

sculo XIII; as Leis de Wisby, o Livro do Consulado do Mar(Barcelona)

o Guidon de la Mer (Ruo) e as Decisiones Rotae Mercatura (Gnova),

todos no sculo XIV.

J no sculo XVII, sob o mercantilismo, a Frana de Colbert produziu

duas ordenaes, uma sobre o comrcio terrestre (Code Savary) e outra

atinente ao co mrcio martimo, elaborada em 1762, por Boutigny. Depois,

como efeito residual do iderio liberal implantado pela burguesia, na

Revoluo Francesa (1789), o Code de Commerce, dos juristas de

Napoleo Bonaparte, em 1808, marcou o aban dono do subjetivismo

corporativista e a implantao da objetividade dos atos legais de comrcio.

O diploma redigido por Chaptal tornouse modelo das moder nas

codificaes mercantis, inclusive do Cdigo Comercial brasileiro de 1850.2

1.2Objeto do direito comercial

A trajetria histrica do Direito Comercial pode ser concebida como

um re trato dinmico de diversos referenciais utilizados para diagnosticar o

que ou o que no mercantil. O nascimento marginal da disciplina

empresarial explica a permanente preocupao em diferenciar a disciplina

jurdica comercial e a civil, e de identificar com preciso uma relao

jurdica mercantil singular.

necessrio considerar que matria mercantil (mercantilidade) uma

noo daquelas que podemos chamar de noo viajante. Isso significa dizer

que dire tamente afetada pelas circunstncias histricas, ou seja, deve ser

compreendida de uma perspectiva histrica.

Uma retrospectiva desse naipe revela a sucesso de, no mnimo, trs

fases que correspondem aos trs critrios determinadores do cerne do

Direito Comercial:

a relao jurdica mercantil definida pela qualidade do sujeito (o di

reito comercial como direito de uma corporao profissional, a dos

comerciantes);

a relao jurdica mercantil definida pela natureza do objeto (o

direito comercial como direito dos atos de comrcio);3 e

o direito comercial como direito das relaes decorrentes da

atividade empresarial.

Detalhando um pouco, temse que, nos primeiros momentos de sua

histria, o direito comercial foi concebido subjetivamente, como um

sistema normativo regen te da classe dos comerciantes. Era um ramo

jurdico iniciado e desenvolvido por e para mercadores, posto que

discriminados pela sociedade e pela legislao da po ca. As regras

corporativas e as decises dos cnsules (juzes corporativos) germi naram

um direito classista: s os matriculados nas corporaes eram comerciantes

com acesso aos tribunais consulares e aptido para a falncia e a

concordata.

Afastados da legislao comum, os membros das corporaes

produziram um direito prprio, a princpio marginal, mas que se revelou,

nos sculos seguintes, um repositrio de privilgios sustentado pelo capital.

As transformaes polticas, sociais e econmicas trataram de

demonstrar a inviabilidade de um tal direito fechado, dissociado de uma

sociedade com aspi raes jurdicas igualitrias. Por isso, transmudouse

para o polo oposto da ob jetividade por influncia da concepo liberal

burguesa de sociedade. Em outras palavras, o jus mercatorum diferenciado,

de raiz medieval, foi substitudo pelo direito igualitrio, abstrato e unitrio

calcado na prtica de determinados atos definidos pelo ordenamento

positivo como mercantis.4

Derivado do iderio consagrado pelas revolues inglesa (1688), norte-

ame ricana (1776) e francesa (1789), esse processo de crescente

objetivao5 alcanou seu momento mais expressivo com a codificao

napolenica de 1807. O Direito Comercial passa a depender de um

catlogo legal de atividades econmi cas, inconsistente e sem lastro

cientfico, ou seja, o casusmo dos atos de comrcio sem uma definio

pontual do que um ato de comrcio.

No Brasil,6 embora o Cdigo de 1850 no tenha enunciado os atos de

comr cio, aludindo apenas mercancia (sem precisarlhe o sentido), seu

coadjuvante processual, o Regulamento 737, do mesmo ano, o fez, com o

intuito de fixar a competncia dos, hoje, extintos tribunais de comrcio:

Art. 19. Considerase mercancia:

1 A compra e venda ou troca de efeitos mveis ou semoventes, para vender

por grosso ou retalho, na mesma espcie ou manufaturados, ou para alugar o seu

uso;

2 As operaes de cmbio, banco e corretagem, expedio, consignao e

transporte de mercadorias, de espetculos pblicos;

3 As empresas de fbricas, de comisses de depsito, de expedio, consigna

o e transportes de mercadorias, de espetculos pblicos;

4 Os seguros, fretamentos, riscos e quaisquer contratos relativos ao comrcio

martimo;

5 A armao e expedio de navios.

Sintetizando, o ato de comrcio como conceito jurdico acabou sendo su

perestimado e deturpado, como se fosse o critrio definidor do atributo da

co mercialidade, o que no corresponde verdade. Em outras palavras, o

ato de comrcio no confere a quem o pratica a qualidade de comerciante.

No imprime comercialidade atividade profissional produtiva.

exatamente o oposto. Com certeza, a organizao da atividade

profissional finalisticamente dirigida que d aos atos praticados pelo

empresrio sua real especificidade.

Como explica Vicente Baldo del Castao (34 : 17)

El acto de comercio falla como base del Derecho Mercantil por la dificultad de

sealar sus contornos, lo que se evidencia ms patentemente cuando la doctrina

resalta que lo que d vida a la actividad comercial es una srie de actos que se

producen masivamente, como consecuencia de una actividad ejercida de manera

organizada.

A evoluo legislativa deste sculo, ecoando as modificaes do

universo eco nmico, trouxe diversos acrscimos ao rol do falecido

Regulamento 737. Aqui, a exemplificao no tem limites: a sociedade por

aes empresria por for a de lei, ainda que no desenvolva atividade

empresarial; a multiplicidade de ttulos de crdito que invadiu o mundo

jurdicopositivo; a microempresa; osshopping centers; os contratos de

faturizao, franquia e arrendamento; o direito do consumidor; o comrcio

eletrnico etc. Todos esses institutos e muitos outros derivados da

complexidade econmica da sociedade capitalista colocaram por terra tanto

o direito subjetivo dos comerciantes como o direito dos atos objetiva mente

comerciais.

Para evidenciar a insuficincia tanto da teoria subjetiva como da

objetiva, suficiente colocar em cena a atividade econmica organizada da

prestao de servios em massa. Tratase, inegavelmente, de um pontual

exemplo de empresa que, at agora, no Brasil, era focalizada, no mbito

civil, como prtica isolada.

A terceira posio, entendida como modernizao do subjetivismo,

centrase no empresrio, com base em um conceito de empresa que

ultrapassa o do mero empreendimento, para envolver todas as atividades

organizadas economicamen te para a produo ou circulao de bens e

servios.

Neste ponto, explicando a passagem do direito dos atos de comrcio

para a fase atual do direito empresarial, transcrevemos a magnfica sntese

de Luiz Gas to Paes de Barros Lees (84 : 11):

Com o progresso da tcnica e da economia de massa, o fulcro da comercialidade

sofre nova extrapolao, deslocandose da noo de ato para a noo de atividade.

J, em fins do Sculo XIX, fazia notar a profunda transformao na estru tura do

sistema capitalista, que se precipitaria, no nosso sculo, com o deflagrar da

Guerra de 19141918, com as grandes crises de 1921 e de 1929, e, por fim, com a

2 Grande Guerra Mundial. As pequenas empresas, submetidas lei do mercado,

prpria do capitalismo industrial dos Sculos XVIII e XIX, vo pouco a pouco

sendo substitudas pelos grandes organismos econmicos com produo em

massa. O capitalismo atmico da concorrncia quase perfeita cede paulati

namente lugar a um capitalismo de grandes unidades de monoplio ou de quase

monoplio. A produo isolada, caracterstica da poca anterior vai sendo pro

gressivamente substituda pela atividade mercantil e industrial em srie. Essa

atividade impe uma crescente especializao e a criao de organismos cada vez

mais complexos. Chegase, assim, a um novo ponto de referncia para o Di reito

comercial, a atividade negocial, isto , a prtica reiterada de atos negociais, de

modo organizado e unificado, por um mesmo sujeito, visando a uma finalida de

econmica unitria e permanente. Chegase, assim, ao conceito deatividade

econmica organizada, e, portanto, noo de empresa, como ncleo do Direito

mercantil.

Clula bsica do mercado, a empresa almeja compatibilizar, na medida

do pos svel, as necessidades e interesses de todos. Sem embargo do fito de

lucro lcito que intenta concretizar, justificase pelo fornecimento de

produtos e servios, pela implementao de mercado consumidor e pela sua

contribuio para o desenvolvi mento econmico e social, como raiz

fomentadora de empregos e tributos.

Bem por isso, suas matrizes esto fundadas na livre iniciativa, na

liberdade de competio e no desempenho de funo econmica e social,

sob a gide da boaf.

1.3Conceito

Conceitos taxativos so, sempre, muito perigosos, mxime quando se

aborda tema to sensvel e to suscetvel de consagrar equvocos, como o

Direito Comer cial. bem mais produtivo desfiar caractersticas e destacar

suas interaes como a rota mais segura para uma compreenso desse ramo

jurdico que conheceu tan tas transformaes em to pouco tempo.

O direito comercial reside num espao onde interagem mltiplos fatores

eco nmicos, polticos e jurdicos nem sempre identificados com a

trajetria natural do universo negocial, como atividade privada, mas que

interferem concretamen te na formulao das normas orientadoras da

atividade empresarial. Como for osa decorrncia da sofisticao das

teorias econmicas neoliberais que, hoje, orientam a sociedade, e do

crescente intervencionismo estatal, patente a ten dncia no sentido da

publicizao do universo mercantil (naturalmente privado). A cogncia

invade as leis comerciais, disputando espao, palmo a palmo, com a

liberdade de contratar, tolhendo a criatividade natural do mercado.

Congenitamente ancorado autonomia da vontade e

proporcionalidade contratual, o Direito Comercial no convive bem com a

reduo das margens de transao de interesses operada por sucessivos atos

normativos de autoridades mo netrias que extravasam, em nome da

necessidade de corrigir distores, os limites impostos pela Constituio

Federal interveno estatal no domnio econmico.

De outra perspectiva, inegvel o crescimento do comprometimento

social da empresa, progressivamente desafetada do destino do empresrio.

Aditese a necessidade de se preservar o equilbrio das relaes

fornecedor/consumidor, no mais como uma decorrncia de princpios

ticos, mas como concretizao de uma garantia constitucional corretiva de

injusto desnvel contratual.

Outro ponto que merece, desde logo, ser considerado a unificao

legisla tiva do direito privado, operada pelo advento do CC de 2002, ainda

que o casa mento do conservadorismo civil com o dinamismo comercial

precipite a adoo de solues artificiais, nem sempre tranquilas. certo

que o direito comercial no perde sua autonomia, mas tambm certo que

o tratamento ensejado pelo CC aos contratos, antes regulados no CCom,

no suficiente para abranger toda gama de questes que se renovam

diuturnamente, v.g. na rea do agronegcio.

No s. De outra perspectiva, a globalizao da economia e a

crescente des personalizao da empresa nem sempre convivem bem com

outras tendncias, igualmente expressivas, v. g., a valorizao do

consumidor, como destinatrio fi nal de todo processo econmico, e a

necessidade de proteger as minorias societ rias contra as burocrticas

oligarquias de administradores profissionais.

Oscilando entre uma economia mutante e um direito saturado de

positivismo, chegamos a um estgio em que fcil, mas incmodo,

explicar por que o direito positivo permaneceu tanto tempo confinado ao

obsoletismo dos atos de comrcio, se a realidade econmica, de h muito,

centrase na empresa, fato que se auten tica facilmente pela verificao de

que, desde 1942, o direito comercial italiano tipicamente empresarial,

enquanto, no direito brasileiro, na mesma poca (1945), inauguravase uma

lei de falncias calcada na figura do comerciante individual.

A permanente movimentao dialtica de todos esses fatores no

impede que se considere, em primeiro lugar, que o foco de incidncia do

direito mercantil no pode afastarse da atividade profissional organizada de

raiz econmica destinada a colocar produtos e servios disposio do

consumidor.

Atualmente, j possvel promover, embora de forma incipiente, a

sintonia entre a realidade econmica e o instrumento jurdicopositivo que a

orienta. O CC concentra na empresa o foco do Direito Comercial, em que

pese ao fato de ainda colecionar resqucios da insistente personalizao

herdada do soterrado conceito imperial de comerciante.

No demasia atentar para a necessidade de profundas reformulaes

no or denamento normativo, intentando estreitar a equalizao do cotidiano

empresarial com a legislao. Essa meta s ser alcanada com o advento

de um Cdigo Co mercial. De nossa parte, embora atentos advertncia

aristotlica de que definir sempre perigoso, e tendo em conta as

peculiaridades da matria, devemos concluir que o Direito Comercial, ao

menos no Brasil, como complexo normativo positivo, focaliza as relaes

jurdicas derivadas do exerccio da atividade empresarial. Dis ciplina a

soluo de pendncias entre empresrios, bem como os institutos conexos

atividade econmica organizada de produo e circulao de bens

(contratos, t tulos de crdito, insolvncia etc). Tem por objeto a empresa,

como unidade servial do mercado cuja existncia est amarrada ao intuito

de lucro.

Vale sublinhar que a empresa um fenmeno dotado de muitas faces. O

Di reito Comercial no logra circunscrever todo o seu espectro. No lhe

seria pos svel considerla unitariamente, abrangendo todos os seus perfis

(subjetivo, funcional, objetivo e corporativo). Por isso, contentase com o

perfil subjetivo.

Esclarecendo melhor, o Direito Comercial apropriouse do conceito

econ mico de empresa e, com o CC de 2002, passou a regular a empresa

por meio do empresrio, a exemplo de seu modelo, o CC italiano de 1942.

A organizao dos fatores de produo realizada pelo empresrio ou pela

sociedade empresria, na direo de uma atividade empreendedora, com o

escopo de lucro e a assuno dos respectivos riscos.

Aqui, importante que tenhamos em mente algumas diretrizes bsicas:

a organizao da atividade implica a distino entre a empresa (a

prpria atividade), o empresrio ou sociedade empresria (sujeito de

direito) e o estabelecimento empresarial (universalidade de fato

instrumental do exerccio da empresa);

a profissionalidade do exerccio, ou seja, sua habitualidade e

sistematizao;

a condio produtiva ou circulatria de bens e/ou servios; e

o intuito de lucro.

Completando esse segmento, deve ficar claro que a empresa no se faz

pre sente em todos os institutos disciplinados pelo Direito Comercial.

Contudo, ine gavelmente, o foco central, o ncleo de sua incidncia

normativa.

1.4Fontes do Direito Comercial

As fontes so tanto as matrizes geradoras da ordem jurdica, como as

respos tas instrumentais que a concretizam. Bem por isso, no esto

dispostas no mesmo nvel. Guardam um escalonamento de precedncia,

que lhes oferece denomina es diferentes, conforme o critrio adotado.

Alguns juristas preferem classificlas em imediatas e mediatas,

conforme se jam suficientes para engendrar a ordem jurdica, ou, embora

sem tal atributo, contribuam indiretamente para a elaborao da norma. A

lei e o costume seriam as primeiras; a doutrina e a jurisprudncia, as outras.

Outros chamamnas prim rias (dotadas de obrigatoriedade direta) e

secundrias (derivadas, ou seja, que haurem sua normatividade por

atribuio explcita ou implcita das primrias).

Resumindo, temos:

fonte primria ou imediata: lei;

fontes secundrias ou mediatas: usos, analogia e princpios gerais de

direito.

Jurisprudncia e doutrina no so fontes do Direito Comercial.

Suplementar legislao, a jurisprudncia no fonte, medida que,

por fora da separao de poderes (princpio nuclear do Estado de direito),

incumbe ao Judicirio a aplicao contenciosa da norma jurdica e das

demais fontes do direito, reservandose, em regra, ao Legislativo, como

funo tpica, a atividade geradora do direito positivo.

No negamos, contudo, que as smulas dos tribunais, ao menos

circunstan cialmente, detm intensa aptido criativa e indeclinvel papel

atualizador, m xime quando vinculantes para pronunciamentos

jurisdicionais de grau inferior. Todavia, incidem sobre direito preexistente,

no o criam.

As smulas, como sntese do entendimento predominante dos tribunais

supe riores, representam um instrumento de fixao da jurisprudncia, mas

no tm carter normativo como os assentos da Casa da Suplicao de

Lisboa, do perodo colonial, que lhe deram origem.

A doutrina, com sua dplice funo crtica e orientadora, conquanto

fornea imprescindvel contribuio materializao do direito, igualmente

no alcana o patamar das fontes, seja por sua intrnseca heterogeneidade,

seja por sua essn cia antes analtica que geradora. Tecnicamente, no

produz direito.

1.4.1Fonte primria

No Estado democrtico de direito, a regncia do princpio da legalidade

de termina a preponderncia da lei como primeira resposta pergunta sobre

como o Estado manifestase diante de determinada situao jurdica. A

preponderncia da lei natural e compulsria, como fonte principal, ou

seja, como expresso ge nrica da ordem jurdica.

Quando aludimos lei, como fonte formal primeira do direito

comercial, mister se faz destacar que a CF, como ncleo reitor

programtico da ordem jur dica, alm de proclamar a supremacia da

legalidade, enuncia normasprincpios e normasregras que contagiam todo o

sistema, reclamando assim a conformao das normas comerciais s suas

estipulaes maiores.

De fato, encontramos ao longo da geografia constitucional princpios de

ob servncia compulsria, tais como a livreconcorrncia, a defesa do

consumidor, a funo social da propriedade, o tratamento privilegiado da

empresa nacional, o predomnio da iniciativa privada na atividade

econmica, a proteo microem presa, a vedao aos abusos do poder

econmico e ao aumento arbitrrio de lu cros e as regras disciplinadoras da

competncia legislativa para cada matria.

Destacamos o elenco dos princpios gerais da atividade econmica

expostos no Captulo I, do Ttulo VII, da CF, atinente ordem econmica e

financeira. So condicionantes do exerccio da empresa, em que se pode

destacar a funo social da propriedade, a defesa do consumidor, a defesa

do meio ambiente, a soberania nacional e a busca do pleno emprego.

Certamente, na ordem jurdica nacional, o vocbulo empresa

essencialmente formatado por esses princpios e como tal deve ser

densificado.

Sem que seja preciso externar conceitos do que seja lei, aqui, devemos

compreender:

o CCom, na parte no revogada;

o CC de 2002;

as leis extravagantes;

as normas pertinentes ao Direito Comercial previstas em diplomas

de ou tros ramos da ordem jurdica;

a normao regulamentar derivada do Estado; bem como os tratados

e convenes internacionais.

1.4.2Fontes secundrias

verdade que nem sempre a lei oferece todas as respostas, mas tambm

verdade que sua eventual omisso no pode ensejar lacunas no sistema

jurdico.7 Em outras palavras, no caso concreto, o rgo judicirio no pode

eximirse de entregar a prestao jurisdicional a pretexto de falta de

previso legal. A soluo lanar mo do recurso a outros elementos

acessrios, coadjuvantes de interpre tao e expedientes integradores da

norma jurdica, como alternativa para diri mir litgios e, assim, realizarse a

necessria densificao do direito.

Da a importncia das fontes secundrias, expresso que compreende as

tcni cas integrativas ou supletivas expressas no art. 4 da LINDB: a

analogia, os usos e os princpios gerais de direito.

Na verdade, a analogia no chega a ser fonte direta do direito, porque s

produz direito, indiretamente. mais um processo interpretativo da lei, de

descoberta de uma soluo jurdica explcita ou implcita na normao j

existente.

No caso da analogia legis, uma regra j existente no sistema aplicase a

uma hiptese essencialmente idntica. J na analogia juris, o hermeneuta,

no podendo socorrerse de norma similar, recorre a um complexo ou

sntese de princpios jur dicos que sejam consonantes com a situao no

prevista no ordenamento positivo.

a normao do art. 4 da LINDB, quando dispe que: aplicamse, nos

casos omissos, as disposies concernentes aos casos anlogos, e, no as

havendo, os princpios gerais de Direito.

Tambm os princpios gerais de direito so fontes subsidirias. Esto no

sis tema jurdico e so descobertos pela analogia juris. No geram normas;

apenas revelam normao implcita, mediante invocao das ideias

superiores reitoras do ordenamento.

1.4.2.1Usos

Sobre os usos, h uma tendncia, presente, em minimizarlhes a

influncia, o que certo, sob o ponto de vista da globalizao. No entanto,

pelo menos em termos de ordem jurdica local, no h como menosprez-

los. Quer dizer, sob o aspecto do direito interno, os usos remanescem como

coadjuvantes supletivos de grande utilidade na operao do Direito.

O CC evidencia sua importncia em diversos dispositivos. No art. 111

diz que o silncio comporta anuncia, quando as circunstncias ou os usos

o autorizem. O art. 113 manda interpretar os negcios jurdicos conforme a

boaf e os usos do lugar de sua celebrao. Tambm aludem aos usos arts.

628 (depsito), 658 (mandato), 695 a 701 (comisso), entre outros.

O critrio para aferio dos usos deontolgico. Para que uma prtica

unifor me e constante adquira o status de uso, deve envolver a crena de

que o direito que est sendo observado. Ou seja, o costume comercial

deve ser acreditado e acatado como se fosse lei. Em outras palavras, ser

reputado com foros de lei se for praticado como lei.

Sejam locais ou gerais, sejam legislativos ou interpretativos, os usos

comerciais caracterizamse, objetivamente, pela prtica reiterada

(continuidade) e, subje tivamente, por sua compreenso uniforme. Com

certeza, devem ser secundum legem (previstos e mandados observar como

normao subsidiria) ou praeter legem (incidentes supletivamente na

omisso da lei), jamais contra legem.8Mais importante, devem ser

assentados9 e sistematizados pelo Registro Pblico de Em presas Mercantis

e Atividades Afins.

Em resumo, so requisitos de aplicabilidade dos costumes comerciais:

continuidade;

uniformidade;

conformidade legal; e

assentamento.

Os usos so assentados na Junta Comercial, com respaldo no art. 32,

inciso II, letra e, da Lei n 8.934/94. H um procedimento legal

especfico para seu reconhecimento formal.

Pelo teor do art. 87 do Decreto n 1.800/96, o assentamento de uso ou

pr tica mercantil efetuado pela Junta Comercial que os coligir e

assentar em li vro prprio, ex officio, por provocao da Procuradoria ou

de entidade de classe interessada ( 1). Se no for contra legem, o

Presidente da Junta Comercial so licitar a manifestao escrita das

entidades diretamente interessadas, no prazo de 90 (noventa) dias, e far

publicar convite a todos os interessados para que se manifestem no mesmo

prazo ( 2). A Junta Comercial decidir sobre a veraci dade e registro do

uso ( 3), com anotao em livro especial, com a respectiva justificao, e

publicao no rgo oficial. A cada 15 (quinze) anos, as Juntas Comerciais

processaro a reviso e publicao da coleo dos usos ou prticas

mercantis assentados.

Certamente, o costume comercial pode ser suscitado no curso de

processo ju dicial, como elemento destinado a formar a convico do

magistrado.

Para utilizao em juzo, como coadjuvante probatrio o interessado

deve r demonstrar sua existncia, mediante certido da Junta Comercial.

a regra. Contudo, predito documento no se constitui em nica prova, visto

que o costu me comercial pode ser provado, v.g., por declaraes de

associaes comerciais, testemunhos de representantes de entidades

comerciais etc. De qualquer forma, dever ser provada cabalmente sua

existncia. que a regra processual do art. 376 do CPC atribui parte que

alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinrio, provar-

lhe o teor e a vigncia, se assim o determinar o juiz. Portanto, costume

alegado costume que deve ser provado.

Imperioso salientar que, tratandose de matria pertinente prova,

impera a livre convico do magistrado na valorao dos subsdios

carreados pelas partes aos autos, quer dizer, na mensurao do contexto

probatrio. Assim, ainda que no assentado formalmente, o costume

comercial poder ser demonstrado e ad mitido em juzo por qualquer meio

probatrio lcito.

1 Commutatio mercium (troca de mercadorias) deu origem a commercium, vocbulo composto

de cum + merx. o que consta do Tractatus de mercatura seu mercatores, escrito por volta de 1550, por

Segismondo Stracca. Commercium est emendi vendedique invicem jus, ensinava Ulpiano.

2 Elaborado por uma comisso composta por Jos Clemente Pereira (substituindo o juiz Limpo de Abreu),

Incio Raton, Jos Antnio Lisboa, Guilherme Midosi e Loureno Westin (cnsul da Sucia).

3 o que se v em Ripert (135 : 1): Le droit commercial est la partie du droit priv qui rgle les

oprations juridiques faites par les commerants, soit entre eux, soit avec leurs clients. Ces oprations se

rapportent lexercise du commerce, et sont dites pour cette raison actes de commerce. Comme un de ces

actes peut tre accompli accidentellement par une personne non commerant, le droit commercial rgit

aussi ces actes sans considration de la personne de leur auteur.

4 Os arts. 632 e 633 do CCom. francs de 1807 enunciam as atividades a que la loi rpute actes de

commerce.

5 Fenmeno bem descrito por Tullio Ascarelli (6:48) que alude a um diritto oggettivizzato em lu gar de

um diritto differenziato, destacando a tentativa de sintonizao da matria mercantil com o iderio da

igualdade e das aspiraes de comunidade nacional.

6 lcito afirmar que o direito comercial veio para o Brasil com a Famlia Real, fugida de Portugal, em

1808, durante o bloqueio continental imposto por Napoleo Bonaparte. Por meio de sucessivos alvars

reais, liberouse a indstria, criouse o Banco do Brasil e o Tribunal da Real Junta de Comr cio, cujo

deputado Jos da Silva Lisboa (Visconde de Cairu) escreveu a primeira obra sistemtica sobre a

matria: Princpios do direito mercantil e leis da marinha.

7 Art. 140 do CPC.

8 J em 1850, o Decreto n 738 reclamava como condies de aplicao das prticas comerciais: a) sua

conformidade com os sos princpios da boa f e mximas comerciais; sua prtica entre os

comerciantes locais; e sua no contrariedade lei.

9 O primeiro assentamento de usos comerciais foi realizado na praa de Santos, SP, em 16 de ju nho de

1889, pertinente s contas correntes entre comissrios e comitentes.

Parte II

Empresrio

2 Empresrio Unipessoal

2.1Empresrio

A empresa no um sujeito de direitos e obrigaes. uma atividade e,

como tal, pode ser desenvolvida pelo empresrio unipessoal ou pela

sociedade empresria. Quer dizer, pela pessoa natural do empresrio

individual, ou pela pessoa jurdica contratual ou estatutria da sociedade

empresria.

Sob a epgrafe empresrio esto compreendidos tanto aquele que, de

forma singular, pratica profissionalmente atividade negocial, como a

pessoa de direito constituda para o mesmo fim. Ambos praticam atividade

econmica organizada para a produo, transformao ou circulao de

bens e prestao de servios. Ambos tm por objetivo o lucro.

O CC de 2002 no define a empresa. O conceito de empresa

estritamente econmico. Seu art. 966 considera empresrio quem exerce

profissionalmente atividade econmica organizada para a produo ou a

circulao de bens ou de servios. Est conceituando o empresrio

unipessoal.1

a traduo do disposto no art. 2.082 do Cdigo Civil Italiano que

define o imprenditore como chi esercita professionalmente un attivit

econmica organizzata al fine della produzione o dello scambio di beni o

di servizi.

No art. 982, traz a sociedade empresria, conceituando-a como aquela

que tem por objeto o exerccio de atividade prpria do empresrio.

No empresrio quem desempenha profisso intelectual, de natureza

cientfica, literria ou artstica, mesmo que conte com o concurso de

auxiliares, exceto se referido exerccio profissional constituir elemento de

empresa.

Seguindo a linha traada pelo diploma civil, alocamos em segmentos

distintos os dois tipos de empresrio. Neste captulo, cuidamos, apenas, do

empresrio pessoa natural. Na Parte III, trataremos das diversas espcies de

sociedades empresrias.

2.2Caracterizao do empresrio unipessoal

Ser empresrio no significa, simplesmente, praticar atividade negocial.

A condio de empresrio reclama a congregao de alguns requisitos

bsicos, porque trata-se de qualificao profissional.

Caracteriza-se o empresrio unipessoal pela reunio de cinco

elementos:

capacidade jurdica;

ausncia de impedimento legal para o exerccio da empresa;

efetivo exerccio profissional da empresa;

regime jurdico peculiar regulador da insolvncia; e

registro.

2.3Capacidade jurdica

Todo ato jurdico tem como condio primria de validade a capacidade

de quem o pratica. O CC diz quem capaz para os atos da vida civil e, por

conseguinte, quem pode, validamente, assumir obrigaes. No Direito

Comercial, no diferente. Os atos de empresa s so juridicamente

idneos se praticados por agente capaz. Assim, quem tem capacidade civil

pode ser empresrio (art. 972 do CC).

A regra que as pessoas absolutamente incapazes no autorizadas

judicialmente no podem ser empresrias. Nessa situao encontram-se os

menores de 16 (dezesseis) anos.

Se no tiverem autorizao judicial para a continuao da empresa, no

podem ser empresrios os relativamente incapazes:

maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos;

brios habituais e toxicmanos;

aqueles que, por causa transitria ou permanente, no puderem

expressar sua vontade; e

prdigos.

H atividades que exigem a instituio legal de sociedade, no sendo

permitido o registro como inscrio de empresrio individual. So os casos

dos prestadores de servio de profisso regulamentada e dos servios de

representao comercial por conta de terceiro.

2.3.1Emancipado

Tambm pode exercer a empresa o emancipado. A emancipao

significa a cessao da incapacidade civil antes dos 18 (dezoito) anos.

uma espcie de declarao irrevogvel da maioridade. Seus fatores

determinantes esto previstos no art. 5, pargrafo nico, do CC.

Uma das causas de emancipao o estabelecimento civil ou comercial

do menor com 16 (dezesseis) anos completos que tenha economia prpria.

Que significa economia prpria? A resposta de Armando Rollemberg

(140 : 5):

Trs so os sentidos que se pode emprestar expresso. Significaria no

primeiro, economia separada do pai, qualquer que fosse a sua provenincia, isto

, mesmo que oriunda do prprio pai que fornecesse os recursos para o menor se

estabelecer. Em segundo sentido seria o conjunto de bens pertencentes ao menor,

advindos ao seu patrimnio, independentemente da finalidade de estabelecer-se.

Assim, compreenderia os resultantes do seu trabalho, os que lhe fossem doados,

os que obtivesse em sucesso, etc. Finalmente, em sentido mais restrito, de

acordo, alis, com o esprito da norma do Cdigo Civil, somente se consideraria

tal, os bens que fossem obtidos pelo menor atravs do seu trabalho, do seu

esforo.

2.3.2Incapaz

O incapaz pode ser empresrio apenas para continuar empresa

anteriormente exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor

de herana. Portanto, poder faz-lo nessas trs hipteses, com o sentido de

se preservar a empresa.

Essa exceo, regulada nos arts. 974 a 976 do CC, demanda a

concorrncia dos seguintes requisitos:

o exerccio da empresa pelo incapaz se far por meio de

representante ou assistente;

dever ser precedido de autorizao judicial;

a autorizao ser concedida por alvar;

no ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz

possua ao tempo da sucesso ou da interdio, desde que estranhos

ao acervo daquela;

se o representante ou assistente do incapaz estiver impedido de ser

empresrio nomear, com aprovao do juiz, um ou mais gerentes;

o representante ou assistente ser responsvel pelos atos do gerente

nomeado;

a autorizao judicial poder ser revogada pelo juiz, ouvidos os

representantes do incapaz;

os direitos adquiridos por terceiros em virtude do exerccio

empresarial pelo incapaz no sero prejudicados;

o uso da firma empresarial caber, conforme o caso, ao

representante ou ao gerente nomeado, ou ainda, ao prprio incapaz

quando puder ser autorizado; e

a prova da autorizao e de eventual revogao desta sero inscritas

ou averbadas no Registro Pblico de Empresas Mercantis.

No caso de sociedade que envolva scio incapaz, este no poder

exercer a administrao social, e o capital social dever ser totalmente

integralizado. O scio relativamente incapaz ser assistido e o

absolutamente incapaz, representado.

2.3.3Empresrio casado

O empresrio casado no precisa de outorga conjugal para alienar ou

gravar de nus real os imveis que integram o patrimnio da empresa. a

letra do art. 978 do CC.

Eventual pacto antenupcial, deciso judicial que decretar ou homologar

a separao judicial ou ato de reconciliao devem ser arquivados e

averbados no Registro Pblico de Empresas Mercantis, como condio de

sua eventual oposio a terceiros. No basta, pois, a averbao no Registro

Civil.

O empresrio casado em regime de comunho de bens pode

comprometer o patrimnio do casal em decorrncia da atividade

empresarial. Regra geral, a comunho conjugal usufrui os proventos

hauridos na empresa pelo cnjuge empresrio, seja o marido, seja a mulher.

H uma presuno relativa de que o rendimento do trabalho de qualquer

dos cnjuges ingressa no patrimnio da sociedade conjugal. Por certo que,

se tal no ocorrer o cnjuge prejudicado poder, em eventual execuo,

ressalvar sua meao, por embargos de terceiro, fazendo prova, claro,

daquela circunstncia.

2.4Ausncia de impedimento legal

Pelo art. 5, inciso XIII, da CF, livre o exerccio de qualquer ofcio ou

profisso, atendidas as qualificaes reclamadas na lei. A norma de eficcia

relativa restringvel em tela consagra o direito fundamental ao exerccio

profissional, mas admite, expressamente, a fixao, por norma

infraconstitucional, de condies mnimas pertinentes ao exerccio de cada

profisso.

Assim, algumas profisses reclamam condio especial de aptido. No

pode, p. ex., ser mdico quem no formado por curso regular de

medicina. No , regra geral, o caso do empresrio.

Ao assegurar o exerccio da atividade de empresrio aos plenamente

capazes, o art. 972 do CC impe uma condio, isto , podero faz-lo se

no forem legalmente impedidos.

Excepcionalmente, algumas empresas exigem habilitao especial. o

caso, v. g., da atividade securitria2 e dos servios de vigilncia e transporte

de valores.3

Por outro lado, h determinadas pessoas plenamente capazes a quem a

lei veda a prtica profissional da empresa. A proibio funda-se em razes

de ordem pblica decorrentes das funes que exercem. No se trata de

incapacidade jurdica, mas de incompatibilidade da atividade negocial em

relao a determinadas situaes funcionais. Portanto, no so incapazes,

mas praticam irregularmente atos vlidos.

Se, ainda que ao arrepio da lei, aquelas pessoas exercerem a empresa

em nome prprio, praticaro atos vlidos, embora fiquem sujeitas a

diversas sanes. No plano penal, praticam a contraveno de exerccio

ilegal de profisso prevista no art. 47 da LCP, no qual fica claro que o

exerccio de atividade econmica ou o mero anncio de seu exerccio sem

preenchimento das condies legais acarreta priso simples ou multa. No

mbito administrativo, se agentes pblicos, ficam expostas demisso, nos

termos do respectivo estatuto funcional.

No simples arrolar todos os impedidos de exercer atividade

empresarial. Como quer que seja, os percalos para se consolidar o referido

elenco so superados desde que se sabe que, sendo a proibio uma

restrio ao exerccio de um direito, deve ser expressa. No lcito inferi-la

por deduo, nem aplic-la por analogia.4 Em outras palavras, a lei diz

quem est impedido de ser empresrio.

Magistrados e membros do Ministrio Pblico

No podem ser empresrios por fora de vedaes constitucionais. No

caso dos juzes, o art. 95, pargrafo nico, da CF, no inciso I, veda-lhes o

exerccio, ainda que em disponibilidade de outro cargo ou funo, salvo a

do magistrio. Para os membros do Ministrio Pblico, vale a vedao de

participar de sociedade empresria, contida no art. 128, 5, inciso II, c, da

CF. No bastassem tais bices constitucionais, referidas proibies ecoam

nas respectivas leis orgnicas.

O que a lei impede, nesses casos, a participao em sociedade

empresria, entendida esta como exerccio de funes administrativas e

gerenciais susceptveis de granjear-lhes responsabilidade penal e

responsabilidade civil ilimitada. Realmente, o intuito de lucro e de aliciar

clientela, inerentes ao exerccio profissional da gesto empresarial so

inconciliveis com os elevados misteres atribudos aos juzes de direito e

promotores de justia.

Agentes pblicos

Podem ser acionistas, cotistas ou comanditrios, ou seja, scios de

responsabilidade limitada, mas no empresrios nem administradores ou

gerentes de empresa privada. o texto do art. 117, inciso X, da Lei n

8.112/90.

A proibio inclui os ministros de Estado e os ocupantes de cargos

pblicos em comisso, bem como os chefes do Poder Executivo, em todos

os nveis.

Militares

Tambm no podem ser empresrios os militares da ativa, includos os

corpos policiais. Probe-os o art. 29 da Lei n 6.880/80. Exercer a empresa

ou integrar a administrao ou gerncia de sociedade empresria, ou ainda

dela ser scio, salvo como acionista ou cotista, crime previsto no art. 204

do CPM.

Falidos

Constitui efeito da sentena falimentar a interdio para o exerccio da

empresa. No perptua. Uma vez comprovada a extino das obrigaes,

a interdio desaparece.

Deputados e Senadores

Os deputados e senadores no podero ser proprietrios, controladores

ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com

pessoa jurdica de direito pblico, nem exercer nela funo remunerada ou

cargo de confiana. A inobservncia da vedao prevista no art. 54 da CF

acarreta a perda do mandato (art. 55 da CF).

Estrangeiro com visto provisrio

O estrangeiro titular de visto provisrio no pode estabelecer-se com

firma individual ou exercer cargo ou funo de administrador, gerente ou

diretor de sociedade empresria ou simples (art. 98 da Lei n 6.815/80). Se

admitido na condio de temporrio, sob regime contratual, s poder atuar

na entidade pela qual foi contratado, salvo autorizao expressa do

Ministrio da Justia, ouvido o Ministrio do Trabalho.

Leiloeiros

Sob pena de destituio, o art. 36 do Decreto n 21.981/32 probe os

leiloeiros de exercerem a empresa direta ou indiretamente, bem como

constituir sociedade empresria.

Despachantes aduaneiros

Nos termos do art. 735, inciso II, e, do Decreto n 6.759/09, no podem

manter empresa de exportao ou importao de mercadorias nem podem

comercializar mercadorias estrangeiras no pas.

Corretores de seguros

A Lei n 4.594/64 probe aos corretores qualquer espcie de negociao,

bem como contrair sociedade.

Prepostos

Consoante o art. 1.170 do CC os prepostos, salvo autorizao expressa,

no podem negociar por conta prpria ou de terceiro, nem participar, ainda

que indiretamente, de operao do mesmo gnero da que lhes foi cometida,

sob pena de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo

preponente os lucros da operao.

Mdicos

A Lei n 5.991/73 probe que os mdicos mantenham simultaneamente

empresa farmacutica.

Convm acrescentar que o estrangeiro, mesmo com visto permanente,

sofre algumas restries de natureza constitucional:

pesquisa ou lavra de recursos minerais ou aproveitamento de

potenciais de energia hidrulica;

atividade jornalstica e de radiodifuso;

assistncia sade, salvo nos casos previstos em lei;

propriedade ou armao de embarcaes nacionais, salvo de pesca;

e

propriedade ou explorao de aeronave brasileira, salvo o disposto

na legislao especfica.

Exceo feita atividade jornalstica e de radiodifuso, os portugueses

podem inscrever-se como empresrios, com respaldo no Estatuto da

Igualdade.

A Lei n 8.934/94 revogou a proibio de registro de empresa com

scio, diretor ou gerente condenados criminalmente, contidas na antiga

legislao de registro do comrcio (art. 38, incisos III e IV, da Lei n

4.726/65), mantendo somente aquela pertinente ao crime falimentar. Com

efeito, o art. 35, inciso II, s veda o arquivamento dos documentos de

constituio ou alterao de empresas em que figure como titular ou

administrador pessoa que esteja condenada pela prtica de crime cuja pena

vede o acesso atividade empresarial.

Isso no significa, certo, que se possa registrar o condenado que

receber a pena acessria de interdio temporria para o exerccio da

empresa (arts. 47 e 56 do CP).

Nunca demais repetir que os proibidos de exercer a empresa, embora

sujeitos a sanes disciplinares na rbita administrativa e passveis de

persecuo criminal, no praticam atos nulos, uma vez que a proibio no

objetiva, mas diz respeito ao sujeito.

Praticam atos vlidos e, se exercerem profissionalmente a empresa, em

nome prprio, recebero da lei o mesmo tratamento dispensado aos

empresrios irregulares, podendo incidir em falncia, uma vez que a lei no

faz distino entre empresrios regulares e irregulares. que, afrontando a

vedao legal, tornam--se autnticos empresrios informais.

Acrescente-se que o art. 973 do CC taxativo: a pessoa legalmente

impedida de exercer atividade prpria de empresrio, se o fizer, responder

pelas obrigaes contradas.

Nem seria lgica qualquer soluo em sentido contrrio, pois

equivaleria a permitir que o infrator se beneficiasse da prpria infrao.5

Manifestada sua insolvncia, no podero valer-se da recuperao,

porque a regularidade empresarial condio para o deferimento do favor

legal.

Fique claro que a proibio em tela no chega ao ponto de obstar a

participao em sociedade empresria, mediante a subscrio de valores

mobilirios de sociedades por aes ou aquisio de cotas em sociedades

de responsabilidade limitada, medida que no venham a integrar a

administrao social. Isso porque, se a sociedade empresria de capitais

uma pessoa jurdica distinta da pessoa fsica dos scios, com capacidade e

patrimnio prprios, ser acionista ou ser quotista no significa ser

empresrio.6

Claro, pois, que a incompatibilidade empresarial no alcana a condio

de scio de responsabilidade limitada, quer dizer, quotista ou acionista.

Exemplificando, nada obsta que uma pessoa impedida de exercer a empresa

seja acionista de determinada companhia. Todavia, a viabilidade de ser

scio encontra limites na proibio de exercer funo ou cargo de direo e

administrao na sociedade.

2.5Exerccio profissional da empresa

Mesmo capaz, no impedida e regularmente matriculada no Registro

Pblico de Empresas, a pessoa natural s ser considerada empresria se

exercer profissionalmente a empresa em nome prprio, com intuito de

lucro. Ou seja, essencial que o faa:

profissionalmente (no esporadicamente);

em nome prprio (no em nome de outrem); e

com intuito de lucro (no graciosamente).

Com efeito, qualquer pessoa pratica, ocasionalmente, atos negociais,

sem que por isso seja empresrio. a natureza profissional (prtica

ordenada e habitual, com fins lucrativos) que confere ao empresrio essa

condio. Nesse sentido, o CCom era at redundante na conceituao de

comerciante, aludindo quele que faz da mercancia profisso habitual.7

Parece que aquele pleonasmo servia ao intento de reforar a ideia de

profisso. O acrscimo do adjetivo habitual ao

substantivo profisso buscava esclarecer que a prtica espordica ou

isolada no basta para atribuir profisso a uma pessoa.

Por outro lado, bom ter em mente que profissionalidade no implica

exclusividade. O exerccio da atividade empresarial no precisa ser a nica

profisso do empresrio.

Valem aqui para o empresrio as consideraes de Vivante (163, v. 1 :

105), quando esclarecia que inexiste incompatibilidade do exerccio da

atividade negocial com outras profisses.

Como lembrava o mestre italiano, no necessrio, tampouco, que ela

constitua a sua principal posio social, nem seja a sua maior fonte de

renda. Pode tratar-se de banqueiro e agricultor, industrial e engenheiro, ou

operrio, empresrio e cantor e ser no obstante empresrio.

Como visto, no basta a prtica acidental e isolada da empresa. Mais.

Ainda que sejam atos repetidos, inexistindo a atuao habitual e

sistemtica, no conferem a efetividade necessria para que se tenha por

caracterizada a profisso empresarial.

No se entenda imprescindvel a sucessividade ininterrupta. Basta a

reiterao como meio de vida, a pluralidade de atuao com

profissionalidade finalstica.

Fran Martins (100 : 85), com a clareza habitual, ainda falando do

comerciante, explica a contento:

A prtica de um ato espordico de compra para revenda, no , por si s, capaz

de dar pessoa que o realiza o carter de comerciante. Necessrio que a

profisso da pessoa consista na prtica repetida de atos de modo permanente,

dirigidos esses atos para a realizao de um certo objetivo. Para tal, o

comerciante se instala, registra firma ou nome comercial, contrata empregados,

estabelece escrita prpria para a anotao de suas atividades. Em uma palavra, o

comerciante se organiza para o fim especfico de realizar atividades de

intermediao ou de prestao de certos servios, empregando capital e trabalho

a fim de conseguir esse desiderato. Faz do exerccio das atividades comerciais a

sua profisso, a ela se dedicando com fervor e assumindo obrigaes da prtica

da mesma.

Enfim, o advrbio profissionalmente, empregado no art. 966 do CC,

no deixa margem para qualquer dvida.

2.6Empresrio individual de responsabilidade limitada

A Lei n 12.441/11, mediante a insero no CC do art. 980-A e seus

pargrafos, institui a empresa individual de responsabilidade limitada

conferindo personalidade jurdica ao empresrio unipessoal titular da

totalidade do capital social (art. 44, inciso VI, do CC), observados trs

requisitos:

capital social integralizado;

valor do capital social no inferior a 100 vezes o maior salrio

mnimo vigente no pas;

nome empresarial acrescido da expresso EIRELI.

A pessoa natural que constituir empresa nessas condies somente

poder figurar em uma nica empresa dessa espcie.

Essa modalidade empresarial tambm poder resultar da concentrao

das quotas de outra espcie societria num nico scio, sendo irrelevantes

as razes ensejadoras da concentrao.

No caso da sociedade limitada, no se aplica a exigncia do scio

remanescente titular de todas as quotas reconstituir a pluralidade social, no

prazo de 180 dias, desde que requeira, junto ao RPEM, a transformao do

registro da sociedade para empresa individual de responsabilidade limitada

ou, simplesmente, de empresrio individual.

Quando constituda para a prestao de servios de qualquer natureza,

pode-r lhe ser atribuda a remunerao decorrente da cesso de direitos

patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja

detentor o titular da pessoa jurdica, desde que vinculados atividade

profissional.

Para o deslinde de questes pertinentes EIRELI aplica-se,

subsidiariamente, no que couber, o regramento das sociedades limitadas.

Vale lembrar que, nos termos do art. 44, inciso VI, do CC, a empresa

individual de responsabilidade limitada pessoa jurdica de direito privado,

conquanto a normao no defina o registro pblico competente para seu

registro.

Ressalte-se, com Fbio Bellote Gomes (73 : 39) que, integralizado o

capital social, a EIRELI permitir ao seu titular, ainda que de forma

indireta, exercer individualmente a atividade empresarial que constitui seu

objeto, sem o risco de que o valor do passivo, que porventura venha a

exceder ao valor do capital social integralizado, atinja o patrimnio de seu

titular, excepcionadas, logicamente, aquelas hipteses legais em que no

subsistir a limitao da responsabilidade, aplicveis s sociedades

limitadas e, pela regncia supletiva, aplicveis tambm EIRELI.

2.7Regime peculiar regulador da insolvncia

Ao empresrio, quando insolvente, o direito nacional destina um regime

jurdico prprio. Submete-o ao sistema falimentar. Contudo, este lhe

confere a possibilidade de obter recuperao. Pode solucionar seu passivo

obrigacional em condies mais vantajosas que aquelas proporcionadas ao

devedor civil e, conforme o caso, at escapar do exerccio negocial.

S o devedor empresrio incide em falncia. Esta, como soluo

paritria universal dos dbitos, destinada, com exclusividade, para os que,

singular ou coletivamente, exercem a empresa.8 O devedor civil, nas

mesmas condies, esta-r sujeito execuo por quantia certa contra

devedor insolvente, que nada mais que o concurso de credores na esfera

civil.

Melhor ou pior que a soluo civil, dependendo da perspectiva sob a

qual seja analisada, a alternativa falitria retrata, ainda que timidamente, a

mnima preocupao do ordenamento positivo para preservar a empresa por

meio das recuperaes e abreviar a projeo socioeconmica dos

indesejveis efeitos de sua extino.

2.8Registro obrigatrio

O primeiro e um dos principais deveres do empresrio a oficializao

de sua condio mediante a inscrio no Registro Pblico de Empresas

Mercantis (RPEM). obrigatria a inscrio, diz o art. 967 do CC, antes do

incio da atividade.

Nos termos do art. 968 do CC, no requerimento de inscrio o

empresrio deve declarar:

a)nome, nacionalidade, domiclio e estado civil (se casado, o regime

de bens);

b)firma, com a respectiva assinatura autgrafa;

c)capital;

d)sede da empresa; e

e)objeto.

A LC n 128/08 inclui um terceiro pargrafo no art. 968 do CC

dispondo que, se eventualmente o empresrio admitir scios poder

solicitar RPEM, a transformao de seu registro para sociedade

empresria.

O art. 4 da Lei n 12.470/11 aditou ao art. 968 do Cdigo Civil, os

4 e 5 dispondo que o processo de abertura, registro, alterao e baixa do

microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da LC n 123/06,

bem como qualquer exigncia para o incio de seu funcionamento, devero

ter trmite especial e simplificado, preferentemente eletrnico, opcional

para o empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comit para Gesto

da Rede Nacional para a Simplificao do Registro e da Legalizao de

Empresas e Negcios CGSIM.

Atrelada letra do art. 4 do CCom. e, ainda, com base no art. 11 do

Decreto n 916, de 1890, que declarava facultativo o registro, a maioria dos

comercialistas brasileiros consagrou como facultativa a matrcula na Junta

Comercial, sem embargo das severas restries que a legislao sempre

estabeleceu para sua inobservncia.

Deram vida ao empresrio informal, olvidando-se de que o Decreto n

916/ 1890 j no vigora e que a legislao subsequente no mais sustentou

a facultatividade. Fosse a inteno do legislador e teria mantido a clusula;

ao contrrio, suprimiu-a.

Sem desdouro quanto aos vigorosos argumentos expendidos em

contrrio, a verdade que empresrio o regular, de direito, porque o

chamado empresrio de fato s assim considerado para as consequncias

negativas da prtica negocial, sem desfrutar de quaisquer privilgios

inerentes quela condio. Ou seja, um empresrio virtual em face da

proteo legal; s real para efeito de responsabilizao patrimonial. Ficta

para os direitos, sua existncia s se patenteia para a assuno dos encargos

que a prtica irregular da empresa lhe acarreta. Exemplificando, para

incorrer em falncia, empresrio, mas, para obter a recuperao, no o .

Vigora o princpio da regularidade do exerccio empresarial. Quando o

art. 967 do CC diz que o registro obrigatrio antes do incio da atividade,

est afirmando que a prtica profissional da empresa s se caracteriza

quando regular. O direito s a reconhece quando encetada conforme a lei.

Por isso, no demasiado repisar que o registro no mero

complemento formal. No caso da sociedade empresria, a ausncia de

registro implica a no personificao jurdica, ou seja, a responsabilizao

pessoal, solidria e ilimitada dos scios. No campo tributrio, as

consequncias so serssimas, medida que, impossibilitado de obter o

CPF, o empresrio informal no pode emitir nota fiscal nem duplicata,

palmilhando o terreno delituoso da sonegao fiscal.

De toda forma, como a prtica empresarial irregular, ainda que

espordica, um fato, h que se enumerar seus efeitos.

no podendo ter a escriturao necessria ao exerccio profissional

revestida das formalidades legais, em caso de falncia, incorrer em

crime falimentar;9

no poder, nessa condio, requerer a falncia de outro empresrio,

porque, ao cuidar da legitimao ativa para o pedido de falncia, a

LRE reclama sua regularidade (art. 97, 1);

no poder obter recuperao;

no poder contratar com o Poder Pblico porque no inscrito no

CPF e no INSS;10

no poder constituir microempresa.

Cumpre consignar que o registro expressamente compulsrio para

agentes de leiles (leiloeiros), corretores de mercadorias e de navios,

trapicheiros e administradores de armazns gerais, avaliadores, tradutores e

intrpretes mercantis e microempresas.

No se conclua, entretanto, que o registro faz empresrio quem,

efetivamente, no atua. No isso. Com o arquivamento do ato constitutivo

na Junta Comercial estabelece-se uma presuno relativa. Quer dizer, a

mera inscrio no constitui, por si s, evidncia segura de que o inscrito

seja empresrio.

Para resumir esse assunto, temos que no empresrio, para o efeito de

exerccio dos direitos inerentes a tal condio, quem no registrado, mas

no suficiente que o seja. Nem o empresrio irregular nem o empresrio

fictcio. A prtica profissional imprescindvel para converter em realidade

a presuno gerada pelo registro. A qualidade de empresrio igual a

exerccio profissional da empresa + registro.

2.9Perda da qualidade empresarial

Alm da morte (j que mors omnia solvit), perde-se a condio jurdica

de empresrio individual:

pela interdio;

pela falncia;

pela desistncia; e

pela revogao da autorizao para o menor.

Claro que o interdito, reconhecido como incapaz por provimento

judicial, no tendo condies de reger sua pessoa e administrar seus bens,

no pode continuar como empresrio em nome prprio, salvo quando

representado ou assistido e, ainda assim, mediante autorizao judicial.

No caso de falncia, o empresrio falido fica inabilitado para o

exerccio da empresa em nome prprio at a extino de suas obrigaes.

1 O CCom. definia comerciante como aquele que pratica a mercancia, mas no definia mercancia. O CC

de 2002 define empresrio e empresa, aludindo ao primeiro como aquele que exerce profissionalmente a

segunda, ou seja, atividade organizada para a produo ou a circulao de bens ou de servios.

2 Lei n 4.594/64.

3 Lei n 7.102/83.

4 CARVALHO NETO (32 : 175) e CARVALHO DE MENDONA, J. X. (30, v. 1 : 119).

5 Nemo audietur turpitudinem suam allegans.

6 No possvel concordar com os que entendem tenha sido a proibio de comerciar meramente

driblada pela possibilidade de ser scio, sob o argumento de que o proibido pode, por meio da sociedade

de que faz parte, praticar atos incompatveis com sua funo pblica e seus encargos profissionais. Se tal

distoro possvel, no menos previsvel que tambm possa faz-lo, mesmo sem ser scio de qualquer

empresa, no exerccio mesmo de sua prpria funo pblica.

7 A raiz da locuo profisso habitual o CCom. Francs de 1807.

8 H legislaes qu