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dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o
distribuidor em caso de reproduo no exterior (art. 104 da Lei n. 9.610/98).
Capa: Leonardo Hermano
Composio: Set-up Time Artes Grficas
Fechamento desta edio: 04.02.2016
Produo Digital: One Stop Publishing Solutions
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO
(CIP)
(CMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)
Fazzio Jnior, Waldo
Manual de direito comercial / Waldo Fazzio Jnior. 17. ed. rev., atual. e
ampl. So Paulo: Atlas, 2016.
Bibliografia.
ISBN 978-85-970-0549-3
1. Direito comercial. I. Ttulo.
00-0463 CDU-347.7
O homem pode apenas exprimir a sua relao com a
verdade, mas no a verdade em si mesma.
David Henry Thoreau
Nota 17 edio
As constantes modificaes do universo empresarial experimentadas
pelo ordenamento brasileiro, como reflexos da globalizao e do
redirecionamento da poltica econmica, implicam a necessidade de revisar
e atualizar, mais uma vez, esta obra jurdica.
Tambm o segmento processual civil anuncia diversas alteraes
instrumentais que, certamente, implementaro novas solues para os
diuturnos conflitos de interesses envolvendo empresas e empresrios,
credores e devedores, contratantes e contratados.
No se trata, simplesmente, de trocar alguns pargrafos e refazer
sumrios. As oscilaes normativas afetam o prprio metabolismo da
sociotcnica jurdica incidente sobre empresas, negcios, mercado e
sociedade. Da por que, depois de dezesseis edies e diversas tiragens,
este livro-texto passa por mais alguns ajustes, com o fito de preservar sua
aptido, como coadjuvante na formao de agentes do Direito, seno como
fonte de subsdios jurdicos para concursos pblicos.
A vida de um livro jurdico assim mesmo. Representa um esforo
permanente no sentido de sintonizar o normativo e o emprico, bem como
conciliar mercado e sociedade sob o referencial maior da justia. sob uma
perspectiva de permanente tenso construtiva que convivem o Direito
empresarial e o livro jurdico.
Neste ponto, enalteo a permanente colaborao dos advogados Vitor
Gustavo e Luciana para a consecuo deste trabalho.
Agradeo, outrossim, ao pessoal da Editora Atlas e do Grupo GEN,
dedicados responsveis pela sua produo.
O Autor
Sumrio
Parte I Direito Comercial
1Direito Comercial
1.1Sntese histrica
1.2Objeto do direito comercial
1.3Conceito
1.4Fontes do Direito Comercial
1.4.1Fonte primria
1.4.2Fontes secundrias
1.4.2.1Usos
Parte II Empresrio
2Empresrio Unipessoal
2.1Empresrio
2.2Caracterizao do empresrio unipessoal
2.3Capacidade jurdica
2.3.1Emancipado
2.3.2Incapaz
2.3.3Empresrio casado
2.4Ausncia de impedimento legal
2.5Exerccio profissional da empresa
2.6Empresrio individual de responsabilidade limitada
2.7Regime peculiar regulador da insolvncia
2.8Registro obrigatrio
2.9Perda da qualidade empresarial
3Regime empresarial simplificado
3.1Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
3.1.1Caractersticas gerais
3.1.2Simples Nacional
3.1.3Aspectos trabalhistas
3.2Microempreendedor individual
3.3Redesim
3.4Sociedade de propsito especfico
4Registro
4.1Noo
4.2Registro de empresas
4.2.1Composio da Junta Comercial
4.2.2Atribuies da Junta Comercial
4.2.3Proibido arquivar
4.2.4Modificao de atos constitutivos
4.2.5Controle da escriturao
4.2.6Publicidade dos atos
4.2.7Matrcula
4.2.8Outros deveres
5Escriturao
5.1Obrigao de manter escriturao
5.2Sistemas
5.3Instrumentos obrigatrios
5.4Exibio administrativa
5.5Exibio judicial da escriturao
5.6Balanos
5.7Outros documentos essenciais
6Nome Empresarial
6.1Noo
6.2Firma
6.3Nome da sociedade empresria
6.4Proteo do nome empresarial
6.5Exclusividade
6.6Concorrncia
6.7Alienabilidade do nome
6.8Perda do nome
6.9Nome e marca
7Estabelecimento Empresarial
7.1Conceito
7.2Composio
7.3Sinais distintivos
7.4Ttulo do estabelecimento e insgnia
7.5Ponto de negcio
7.6Renovatria de locao
7.6.1Requisitos para renovao
7.6.2Alternativas do locador
7.6.3Hipteses de deciso
7.6.4Shopping center
7.7Aviamento
7.8Clientela
7.9Trespasse
7.10Estabelecimento e falncia
7.11Acesso virtual
Parte III Sociedade Empresria
8Regime Jurdico da Sociedade Empresria
8.1Princpios da sociedade empresria
8.1.1Princpios explcitos: contrato social plurilateral
8.1.2Princpios explcitos: personificao jurdica
8.1.3Desconsiderao da personalidade jurdica
3.8.3.1Incidente de desconsiderao
8.1.4Sociedade no personificada
8.1.5Fim da personalidade jurdica
8.1.6Princpios implcitos
8.2Concepo e constituio da sociedade
8.3Contrato social
8.3.1Elementos do contrato social
8.3.1.1Pluralidade de scios
8.3.1.2Constituio do capital social
8.3.1.3Affectio societatis
8.3.1.4Participao nos lucros e nas perdas
8.3.2Requisitos de registro do contrato social
8.4Sociedade empresria e atos de registro
8.5Direitos e obrigaes dos scios
8.6Administrao societria
8.7Classificaes das sociedades empresrias
8.7.1Quanto natureza do ato conceptivo
8.7.2Quanto responsabilidade social
8.7.3Quanto composio econmica
8.7.4Quanto ao volume da receita bruta
8.8Sociedades de objeto misto
8.9Sociedades dependentes de autorizao
8.10Sociedades empresrias no CC
8.11Resoluo (dissoluo parcial)
8.12Dissoluo
8.13Dissoluo judicial
8.14Prorrogao
8.15Liquidao
8.16Pagamento do passivo
8.17Partilha do ativo residual
9Sociedade Limitada
9.1Noo
9.2Capital social
9.2.1Capital e patrimnio
9.3Responsabilidade limitada
9.4Excees
9.5Regime das cotas
9.6Nmero de cotas
9.7Scio de indstria
9.8Excluso do scio remisso
9.9Outras hipteses de excluso
9.10Aquisio das cotas pela sociedade
9.11Cesso de cotas
9.12Penhorabilidade das cotas
9.13Cotista menor
9.14Sucesso nas cotas
9.15Alterao contratual e recesso
9.16Administrao social
9.17Deliberaes sociais
9.18Conselho Fiscal
Parte IV Companhia
10Caracterizao da Companhia
10.1Noo
10.2Nome
10.3Princpios estruturantes
10.3.1Responsabilidade limitada
10.3.2Diviso do capital em aes
10.4Caractersticas societrias comuns
10.4.1Personalidade jurdica
10.4.2Empresa como objeto social
10.4.3Objetivo de lucro
10.5Caractersticas prprias da companhia
10.5.1Natureza empresarial
10.5.2Identificao exclusiva por uma denominao
10.5.3Valor subscrito como limite de responsabilidade
10.6Espcies de companhia
10.6.1Companhia aberta
10.6.2Companhia fechada
10.7Bolsa de valores e mercado de balco
10.8CVM
11Constituio da Companhia
11.1Requisitos preliminares
11.2Procedimentos constitutivos
11.2.1Subscrio pblica (continuada ou sucessiva)
11.2.1.1Registro na CVM
11.2.1.2Prospecto
11.2.1.3Subscrio
11.2.2Subscrio particular (simultnea)
11.3Formalidades complementares
11.4Transferncia de bens
12Capital Social
12.1Noo
12.2Formao
12.3Modificao
12.3.1Reduo de capital
12.3.2Aumento de capital
12.3.3Capital autorizado
12.3.4Aumento por capitalizao de lucros ou reservas
12.3.5Aumento por emisso de novas aes
12.4Direito de preferncia
13rgos Sociais
13.1rgos sociais de administrao e controle
13.2Assembleia-geral
13.3Reforma estatutria
13.4Competncia
13.5Assembleia-Geral Ordinria (AGO)
13.5.1Obrigatoriedade
13.5.2Periodicidade
13.5.3Objeto definido em lei
13.6Assembleia-Geral Extraordinria (AGE)
13.7Conselho de administrao
13.8Diretoria
13.9Conselho Fiscal
13.10Administradores
13.10.1Deveres
13.10.2Proibies
13.10.3Responsabilidade
13.11Acionista controlador
13.12Acordo de acionistas
14Acionista
14.1Direitos e deveres do acionista
14.1.1Direito de recesso
14.1.2Deveres
14.2Direito de voto
14.3Suspenso de direitos
15Modalidades Especiais de Companhia
15.1Noo
15.1.1Sociedade de economia mista
15.1.2Grupos intersocietrios
15.1.2.1Alienao do controle
15.1.3Grupos societrios
15.1.4Consrcio
15.1.5Subsidiria integral
15.1.6Comandita por aes
15.1.7Transformao
15.1.8Concentrao de empresas
15.1.8.1Incorporao
15.1.8.2Fuso
15.1.8.3Ciso
Parte V Valores Mobilirios
16Aes
16.1Valores mobilirios
16.2Ao
16.3Natureza jurdica
16.4Valores
16.5Prazo
16.6Espcies e classes
16.6.1Ordinrias
16.6.2Preferenciais
16.6.3Rentabilidade
16.6.4Dividendos
16.6.4.1Dividendo obrigatrio
16.6.5Pagamento
16.7Aes de gozo ou fruio
16.8Propriedade da ao
16.9Forma
16.9.1Aes nominativas
16.9.2Aes escriturais
16.10Certificados de aes
16.11Custdia
16.12Certificado de depsito
16.13Liquidao antecipada
16.13.1Amortizao
16.13.2Resgate
16.13.3Reembolso
16.14Negociao em mercado
17Partes Beneficirias
17.1Noo
17.2Requisitos indispensveis
17.3Forma, vantagem e negociao
18Debntures
18.1Noo
18.2Requisitos indispensveis
18.3Direitos
18.4Conversibilidade
18.5Forma
18.6Prazos
18.7Instituies financeiras
18.8Emisso
18.9Certificados
18.10Rentabilidade
18.11Negociao
18.12Liquidao antecipada
18.13Cdula de debntures
18.14Agente fiducirio
18.15Assembleia dos debenturistas
19Bnus de Subscrio
19.1Noo
19.2Requisitos
19.3Rentabilidade
19.4Negociao
20Nota Promissria Commercial Paper
20.1Noo e requisitos
Parte VI Ttulos de Crdito
21Teoria Geral dos Ttulos de Crdito
21.1Noo
21.2Atributos essenciais
21.3Atributos eventuais
21.4Inoponibilidade de excees pessoais
21.5Classificao
21.6Requisitos formais indispensveis
21.7Endosso
21.7.1Endosso-mandato
21.7.2Endosso pstumo
21.7.3Endosso-cauo
21.7.4Endosso e cesso
21.8Aval
21.9Aval e fiana
21.10Ttulo incompleto
21.11Apresentao e pagamento
21.12Execuo
21.12.1Penhora de crdito titulado
21.12.2Ttulo oriundo do estrangeiro
21.13Prescrio
21.14Regime legal
22Cambiais
22.1Noo
22.2Requisitos de validade da letra de cmbio
22.2.1Denominao letra de cmbio
22.2.2Mandato de pagar quantia determinada
22.2.3Nome da pessoa que deve pagar
22.2.4Nome da pessoa a quem deve ser paga
22.2.5Assinatura de prprio punho do sacador
22.3Requisitos de validade da nota promissria
22.4Requisitos no essenciais das cambiais
22.5Aceite
22.6Vencimento
22.7Pagamento
22.8Ressaque
22.9Prescrio das cambiais
22.10Ao de anulao
22.11Promissria vinculada
23Cheque
23.1Ordem de pagamento
23.1.1Banco ou instituio equiparada
23.1.2Saldo disponvel em poder do sacado
23.1.3Conta-corrente bancria
23.2Natureza jurdica
23.3Abstrao
23.4Requisitos de validade
23.5Intervenientes
23.6Apresentao
23.7Espcies quanto circulao
23.8Endosso
23.9Aval
23.10Cheque ps-datado
23.11Cheque cruzado
23.12Cheque para creditar
23.13Cheque visado
23.14Cheque de turismo
23.15Cheque postal
23.16Cheque administrativo
23.17Cheque plural
23.18Cheque garantido
23.19Contraordem e sustao
23.20Pagamento de cheque falso
23.21Recusa de pagamento
23.22Protesto
23.23Ao por falta de pagamento
23.24Prescrio da eficcia executiva
23.25Banco e correntista
23.26Servio de compensao
23.27Cheque sem fundos
23.28Cadastro de emitentes de cheque sem fundos
23.29Substituio do cheque por outros instrumentos
24Duplicata
24.1Duplicata e nota fiscal-fatura
24.2Requisitos
24.3Remessa e devoluo
24.4Aceite
24.5Pagamento
24.6Protesto
24.7Triplicata
24.8Execuo
24.9Prescrio
24.10Excees e causalidade
24.11Duplicata simulada
24.12Bloqueto de cobrana
24.13Cobrana bancria eletrnica
24.14Gerenciamento financeiro eletrnico
25Ttulos de Crdito Imprprios
25.1Noo
25.2Ttulos representativos
25.3Ttulos de financiamento
25.4Ttulos de legitimao
26Protesto
26.1Noo
26.2Protocolizao
26.3Intimao
26.4Sustao
26.5Pagamento
26.6Espcies
26.7Contedo do registro
26.8Cancelamento
26.9Protesto especial falimentar
26.10Microempresa e empresa de pequeno porte
26.11Ttulos sujeitos a protesto
Parte VII Contratos Mercantis
27Contratos Mercantis
27.1Introduo
27.2Princpios do CC
27.3Normas regentes
27.4Formao
27.5Pacta sunt servanda
27.6Exceptio non adimpleti contractus
27.7Rebus sic stantibus
27.8Caso fortuito e fora maior
27.9Extino do contrato
28Compra e Venda Mercantil
28.1Noo
28.2Venda a vista de amostras
28.3Obrigaes do vendedor
28.3.1Entrega da mercadoria vendida
28.3.2Responsabilidade por vcio e por evico
28.4Obrigaes do comprador
28.5Coisa
28.6Preo
28.7Incoterms
29Mandato Mercantil
29.1Noo
29.2Terceiro
29.3Obrigaes
29.4Extino
30Comisso Mercantil
30.1Noo
30.2Obrigaes
31Carto de Crdito
31.1Noo
31.2Elementos
31.3Vantagens
31.4Contratos
31.5Natureza jurdica
31.6Modalidades
31.7Uso indevido
31.8Juros remuneratrios
31.9Preo e pagamento com carto
31.10Algumas regras operacionais
32Faturizao (Factoring)
32.1Noo
32.2Partes
32.3Caractersticas do contrato
32.4Modalidades
33Arrendamento Mercantil (Leasing)
33.1Noo
33.2Requisitos do contrato
33.3Antecipao do VRG
33.4Prazos
33.5Partes
33.6Modalidades
33.7Inadimplemento
33.8Leasing e CDC
33.9Leasing e ICMS
34Alienao Fiduciria
34.1Noo
34.2Requisitos
34.3Mora e inadimplemento
34.4Busca e apreenso
34.5Coisa imvel
35Franquia Empresarial (Franchising)
35.1Noo
35.2Partes
35.3Obrigaes do franqueador
35.4Obrigaes do franqueado
35.5Contrato de franquia
36Representao Comercial Autnoma
36.1Noo
36.2Representante comercial
36.3Requisitos do contrato
36.4Justa causa para resciso
36.5Obrigaes do representante
36.6Obrigaes do representado
37Agncia/Distribuio e Concesso
37.1Cooperao interempresarial
37.2Agncia/distribuio
37.3Outras modalidades de distribuio
37.4Concesso comercial de veculos automotores
38Contrato de Seguro
38.1Direito positivo
38.2Carter mercantil do seguro
38.3Notcia histrica
38.4Natureza jurdica e proteo legal
38.5Intervenientes
38.6Comprovao
38.7Contedo do instrumento constitutivo
38.8Modalidades
38.9Regras gerais bsicas previstas no CC
38.10Perda do direito indenizao
38.11Seguro-sade e doena preexistente
38.12Prazos prescricionais
38.13Previso penal
38.14Diretrizes processuais
38.15Resseguro
38.16Regras sumuladas pelos tribunais superiores
39Contratos de Suporte Empresarial
39.1Transporte e armazenamento
39.2Contrato de transporte de coisas
39.2.1Deveres do transportador
39.2.2Outras normas sobre transportes
39.3Contrato de depsito em armazns gerais
40Contratos Bancrios
40.1Banco
40.2Instituies financeiras
40.3Sigilo bancrio
40.4Operaes bancrias
40.4.1Contratos de operaes passivas
40.4.1.1Certificado de depsito bancrio
40.4.1.2Recibo de depsito bancrio
40.4.2Contratos de operaes ativas
40.4.2.1Mtuo bancrio
40.4.2.2Desconto de ttulos de terceiros
40.4.2.3Abertura de crdito
40.5Reviso dos contratos bancrios
40.6Remunerao de servios de instituies financeiras
Parte VIII Direitos do Consumidor
41Direitos do Consumidor
41.1Consumidor e relao de consumo
41.2Direitos do consumidor
41.3Responsabilidade do fornecedor
41.4Responsabilidade pelo fato do produto
41.4.1Excludentes
41.5Responsabilidade pelo fato do servio
41.6Responsabilidade por vcio do produto e do servio
41.7Decadncia e prescrio
41.8Desconsiderao da personalidade jurdica
41.9Prticas infrativas
41.10Publicidade e propaganda
41.10.1Publicidade enganosa e publicidade abusiva
41.11Proteo contratual
41.12Clusulas abusivas
41.13Inverso do nus probatrio
41.14Declarao de ofcio
41.15Negativao do consumidor inadimplente
Parte IX Falncias e Recuperaes
42Insolvncia Empresarial
42.1Introduo
42.2Sntese histrica
42.3Princpios do regime concursal empresarial
42.3.1Princpio da viabilidade da empresa
42.3.2Princpio da prevalncia do interesse dos credores
42.3.3Princpio da publicidade dos procedimentos
42.3.4Princpio da par conditio creditorum
42.3.5Princpio da conservao e maximizao dos ativos
42.3.6Princpio da conservao da empresa vivel
42.4Transio legal
43Devedor Empresrio
43.1Pessoa fsica e pessoa jurdica
43.2Empresas excludas
43.3Empresas sujeitas a regime especial
43.4Empresrio no personificado
43.5Scios
43.6Impedidos de exercer a empresa
43.7Microempresa e empresa de pequeno porte
44Competncia
44.1Juzo do principal estabelecimento
44.2Princpios do juzo concursal
44.2.1Devedor autor
44.2.2Reclamaes trabalhistas
44.2.3Unio
44.2.4Crditos tributrios
44.2.5Aes anteriores ao processo de insolvncia
45Crditos
45.1Ordem de preferncia dos credores
45.2Verificao
45.2.1Crditos relacionados e habilitao de crditos
45.3Impugnao
45.4Classificao dos crditos na falncia
46Recuperaes
46.1Introduo
46.2Meios de recuperao
46.3Recuperao extrajudicial
46.3.1Caractersticas da recuperao extrajudicial
46.3.2Procedimento recuperatrio
46.4Recuperao judicial
46.4.1Legitimao ativa
46.4.2Despacho de processamento
46.5Plano de recuperao judicial
46.6Impugnao
46.7Laudo econmico-financeiro
46.8Assembleia-geral de credores
46.9Deciso sobre o plano
46.10Administrao dos bens
46.11Substituio administrativa
46.11.1Condenao criminal
46.11.2Dolo, simulao ou fraude
46.11.3Esvaziamento do patrimnio
46.11.4Recusa de informaes
46.12Administrador judicial
46.13Comit de credores
46.14Convolao em falncia
46.15Cumprimento da recuperao
47Estado de Falncia
47.1Noo de falncia
47.2Pressupostos do estado de falncia
47.3Critrios aferidores da insolvncia
47.3.1A impontualidade como causa de pedir na falncia
47.3.2A execuo frustrada como causa de pedir na falncia
47.3.3Sintomas legais como causa de pedir na falncia
47.4Decretao judicial
47.5Falncia ex officio
47.6Pluralidade de credores
47.7Meio judicial de cobrana
48Ao Constitutiva de Falncia
48.1Introduo
48.2Legitimao ativa
48.2.1Falncia requerida pelo prprio devedor
48.2.2Falncia requerida por credor
48.2.2.1Credor privilegiado
48.2.2.2Fazenda Pblica
48.2.2.3Scio e liquidante
48.2.3Esplio
48.3Procedimento
48.4Pedido com base nos atos enumerados em lei
48.5Parecer do Ministrio Pblico
48.6Desistncia do pedido
48.7Resposta do ru na ao falimentar
49Sentena e Recursos
49.1Sentena decretatria
49.1.1Termo legal
49.1.2Nomeao do administrador judicial
49.1.3Convocao de assembleia e constituio de Comit
49.1.4Publicidade da decretao
49.2Denegao do pedido de falncia
49.3Recursos
49.4Revogao da falncia
50Efeitos da Decretao de Falncia
50.1Efeitos da sentena
50.1.1Formao da massa falida subjetiva
50.1.2Suspenso das aes individuais
50.1.3Suspenso condicional da fluncia de juros
50.1.4Exigibilidade antecipada dos crditos
50.1.5Suspenso da prescrio
50.1.6Arrecadao dos bens do devedor
50.2Efeitos quanto ao devedor
50.2.1Direitos do devedor
50.3Efeitos quanto aos contratos do devedor
50.4Administradores e controladores
51Aes Revocatrias
51.1Atos prejudiciais massa
51.2Atos suscetveis de revogao na falncia
51.3Ao revocatria e presuno de fraude
51.3.1Dano
51.3.2Atos suscetveis de revogao
51.3.2.1Atos praticados durante o termo legal
51.3.2.2Atos praticados no binio pr-falimentar
51.3.2.3Inscries
51.3.2.4Venda ou transferncia do
estabelecimento
51.4Ao pauliana falencial
51.5Efeito restitutrio
51.6Processo revocatrio
52Administrao da Falncia
52.1rgos da falncia
52.2Administrador judicial
52.3Funes do administrador judicial
52.4Substituio do administrador judicial
52.5Remunerao do administrador judicial
52.6Responsabilidade do administrador
52.7Ministrio Pblico
52.8Comit de Credores
52.9Assembleia-geral de credores
53Liquidao e Encerramento
53.1Fase executiva
53.2Arrecadao
53.3Destinao antecipada de bens
53.4Falncia frustrada
53.5Restituio
53.6Realizao do ativo
53.7Soluo do passivo
53.8Encerramento
53.9Extino das obrigaes
54Direito Penal Falimentar
54.1Introduo
54.2Crimes falimentares
54.3Inqurito penal falimentar
54.4Ao penal falimentar
54.5Sentena
Parte X Direito Concorrencial
55Direito Concorrencial
55.1Bases do direito concorrencial brasileiro
55.2Lei de Defesa da Concorrncia
55.3Composio do SBDC
55.4Infraes contra a ordem econmica
55.5Sanes
55.6Direito de ao
55.7Prescrio
55.8Acordo de lenincia
55.9Crimes contra a ordem econmica
55.10Concentraes empresariais
55.11Atos de concentrao
Parte XI Propriedade Industrial
56Direito de Propriedade Industrial
56.1Introduo
56.2Titularidade da patente
56.3Patenteabilidade
56.4Novidade
56.5Inventividade
56.6Industriabilidade
56.7Prioridade
56.8Depsito do pedido de patente
56.9Publicao
56.10Exame do pedido
56.11Concesso da patente
56.12Violao do direito da patente
56.13Nulidade
56.14Licena
56.15Extino da patente
56.15.1Caducidade
56.16Desenho industrial
56.17Marcas
56.17.1Espcies
56.17.2Categorias
56.17.3Marcas no registrveis
56.17.4Proteo e restries
56.17.5Registro da marca
56.18Concorrncia indevida
56.18.1Modalidades
56.18.2Concorrncia desleal
56.18.3Software
Smulas em Matria Comercial
Bibliografia
Parte I
Direito Comercial
1 Direito Comercial
1.1Sntese histrica
A produo e a circulao de bens e servios conheceram diversas
etapas no processo de desenvolvimento humano. Seu estgio atual o
produto da crescen te transformao das relaes de produo, de um
regime de plena subordinao do trabalho ao capital para um regime de
coordenao desses fatores bsicos. A atividade econmica sempre foi e a
matriz de relaes fundamentais de infraestrutura determinantes da
superestrutura poltica e jurdica. Sem a preocupao de verticalizar, basta
dizer que a necessidade de regulamentao da atividade econmica tem
sido um permanente e necessrio componente dos sistemas jur dicos, em
todas as fases da histria humana.
O Direito sempre caminha atrs da realidade, apreendendo a para
confor m-la aos padres ticos e sociais. De tal forma que,
inevitavelmente, suporta modificaes na mesma proporo em que os
sucessivos quadros econmicos se transformam.
Nesse cenrio, a evoluo do comrcio,1 a partir da ecloso das cidades
me dievais e da burguesia, revela um inegvel e natural paralelismo com a
do Di reito Comercial. A intermediao na troca de bens o estgio
preambular do Direito Comercial, em que j se pode identificar uma
atividade profissional organizada promotora da circulao de bens, com
fito de lucro. So as primei ras normaes criadas para dirimir os conflitos
de interesses resultantes daquela atividade.
Uma espcie de prhistria do Direito Comercial pode ser reconstituda
com base no Corpus Juris Civilis, diploma em que Justiniano congregou as
principais contribuies mercantis das civilizaes antigas, entre as quais
a Lex Rhodia de Jactu (alijamento) e o Nauticum Foenus (mtuo e seguro
martimo).
Contudo, foi nos sculos posteriores que as prticas mercantis
medievais fo ram sistematizadas, merc das compilaes estatutrias como
as Consuetudines (Gnova, 1055), Constitutum Usus (Pisa, 1161) e o Liber
Consuetudinum (Milo, 1216) e das smulas martimas de arbitragens,
entre as quais foroso citar Jugements de Olron (Olron), no sculo XII;
o Capitulare Nauticum (Veneza) e a Tabula Amalfitana (Amalfi), ambas do
sculo XIII; as Leis de Wisby, o Livro do Consulado do Mar(Barcelona)
o Guidon de la Mer (Ruo) e as Decisiones Rotae Mercatura (Gnova),
todos no sculo XIV.
J no sculo XVII, sob o mercantilismo, a Frana de Colbert produziu
duas ordenaes, uma sobre o comrcio terrestre (Code Savary) e outra
atinente ao co mrcio martimo, elaborada em 1762, por Boutigny. Depois,
como efeito residual do iderio liberal implantado pela burguesia, na
Revoluo Francesa (1789), o Code de Commerce, dos juristas de
Napoleo Bonaparte, em 1808, marcou o aban dono do subjetivismo
corporativista e a implantao da objetividade dos atos legais de comrcio.
O diploma redigido por Chaptal tornouse modelo das moder nas
codificaes mercantis, inclusive do Cdigo Comercial brasileiro de 1850.2
1.2Objeto do direito comercial
A trajetria histrica do Direito Comercial pode ser concebida como
um re trato dinmico de diversos referenciais utilizados para diagnosticar o
que ou o que no mercantil. O nascimento marginal da disciplina
empresarial explica a permanente preocupao em diferenciar a disciplina
jurdica comercial e a civil, e de identificar com preciso uma relao
jurdica mercantil singular.
necessrio considerar que matria mercantil (mercantilidade) uma
noo daquelas que podemos chamar de noo viajante. Isso significa dizer
que dire tamente afetada pelas circunstncias histricas, ou seja, deve ser
compreendida de uma perspectiva histrica.
Uma retrospectiva desse naipe revela a sucesso de, no mnimo, trs
fases que correspondem aos trs critrios determinadores do cerne do
Direito Comercial:
a relao jurdica mercantil definida pela qualidade do sujeito (o di
reito comercial como direito de uma corporao profissional, a dos
comerciantes);
a relao jurdica mercantil definida pela natureza do objeto (o
direito comercial como direito dos atos de comrcio);3 e
o direito comercial como direito das relaes decorrentes da
atividade empresarial.
Detalhando um pouco, temse que, nos primeiros momentos de sua
histria, o direito comercial foi concebido subjetivamente, como um
sistema normativo regen te da classe dos comerciantes. Era um ramo
jurdico iniciado e desenvolvido por e para mercadores, posto que
discriminados pela sociedade e pela legislao da po ca. As regras
corporativas e as decises dos cnsules (juzes corporativos) germi naram
um direito classista: s os matriculados nas corporaes eram comerciantes
com acesso aos tribunais consulares e aptido para a falncia e a
concordata.
Afastados da legislao comum, os membros das corporaes
produziram um direito prprio, a princpio marginal, mas que se revelou,
nos sculos seguintes, um repositrio de privilgios sustentado pelo capital.
As transformaes polticas, sociais e econmicas trataram de
demonstrar a inviabilidade de um tal direito fechado, dissociado de uma
sociedade com aspi raes jurdicas igualitrias. Por isso, transmudouse
para o polo oposto da ob jetividade por influncia da concepo liberal
burguesa de sociedade. Em outras palavras, o jus mercatorum diferenciado,
de raiz medieval, foi substitudo pelo direito igualitrio, abstrato e unitrio
calcado na prtica de determinados atos definidos pelo ordenamento
positivo como mercantis.4
Derivado do iderio consagrado pelas revolues inglesa (1688), norte-
ame ricana (1776) e francesa (1789), esse processo de crescente
objetivao5 alcanou seu momento mais expressivo com a codificao
napolenica de 1807. O Direito Comercial passa a depender de um
catlogo legal de atividades econmi cas, inconsistente e sem lastro
cientfico, ou seja, o casusmo dos atos de comrcio sem uma definio
pontual do que um ato de comrcio.
No Brasil,6 embora o Cdigo de 1850 no tenha enunciado os atos de
comr cio, aludindo apenas mercancia (sem precisarlhe o sentido), seu
coadjuvante processual, o Regulamento 737, do mesmo ano, o fez, com o
intuito de fixar a competncia dos, hoje, extintos tribunais de comrcio:
Art. 19. Considerase mercancia:
1 A compra e venda ou troca de efeitos mveis ou semoventes, para vender
por grosso ou retalho, na mesma espcie ou manufaturados, ou para alugar o seu
uso;
2 As operaes de cmbio, banco e corretagem, expedio, consignao e
transporte de mercadorias, de espetculos pblicos;
3 As empresas de fbricas, de comisses de depsito, de expedio, consigna
o e transportes de mercadorias, de espetculos pblicos;
4 Os seguros, fretamentos, riscos e quaisquer contratos relativos ao comrcio
martimo;
5 A armao e expedio de navios.
Sintetizando, o ato de comrcio como conceito jurdico acabou sendo su
perestimado e deturpado, como se fosse o critrio definidor do atributo da
co mercialidade, o que no corresponde verdade. Em outras palavras, o
ato de comrcio no confere a quem o pratica a qualidade de comerciante.
No imprime comercialidade atividade profissional produtiva.
exatamente o oposto. Com certeza, a organizao da atividade
profissional finalisticamente dirigida que d aos atos praticados pelo
empresrio sua real especificidade.
Como explica Vicente Baldo del Castao (34 : 17)
El acto de comercio falla como base del Derecho Mercantil por la dificultad de
sealar sus contornos, lo que se evidencia ms patentemente cuando la doctrina
resalta que lo que d vida a la actividad comercial es una srie de actos que se
producen masivamente, como consecuencia de una actividad ejercida de manera
organizada.
A evoluo legislativa deste sculo, ecoando as modificaes do
universo eco nmico, trouxe diversos acrscimos ao rol do falecido
Regulamento 737. Aqui, a exemplificao no tem limites: a sociedade por
aes empresria por for a de lei, ainda que no desenvolva atividade
empresarial; a multiplicidade de ttulos de crdito que invadiu o mundo
jurdicopositivo; a microempresa; osshopping centers; os contratos de
faturizao, franquia e arrendamento; o direito do consumidor; o comrcio
eletrnico etc. Todos esses institutos e muitos outros derivados da
complexidade econmica da sociedade capitalista colocaram por terra tanto
o direito subjetivo dos comerciantes como o direito dos atos objetiva mente
comerciais.
Para evidenciar a insuficincia tanto da teoria subjetiva como da
objetiva, suficiente colocar em cena a atividade econmica organizada da
prestao de servios em massa. Tratase, inegavelmente, de um pontual
exemplo de empresa que, at agora, no Brasil, era focalizada, no mbito
civil, como prtica isolada.
A terceira posio, entendida como modernizao do subjetivismo,
centrase no empresrio, com base em um conceito de empresa que
ultrapassa o do mero empreendimento, para envolver todas as atividades
organizadas economicamen te para a produo ou circulao de bens e
servios.
Neste ponto, explicando a passagem do direito dos atos de comrcio
para a fase atual do direito empresarial, transcrevemos a magnfica sntese
de Luiz Gas to Paes de Barros Lees (84 : 11):
Com o progresso da tcnica e da economia de massa, o fulcro da comercialidade
sofre nova extrapolao, deslocandose da noo de ato para a noo de atividade.
J, em fins do Sculo XIX, fazia notar a profunda transformao na estru tura do
sistema capitalista, que se precipitaria, no nosso sculo, com o deflagrar da
Guerra de 19141918, com as grandes crises de 1921 e de 1929, e, por fim, com a
2 Grande Guerra Mundial. As pequenas empresas, submetidas lei do mercado,
prpria do capitalismo industrial dos Sculos XVIII e XIX, vo pouco a pouco
sendo substitudas pelos grandes organismos econmicos com produo em
massa. O capitalismo atmico da concorrncia quase perfeita cede paulati
namente lugar a um capitalismo de grandes unidades de monoplio ou de quase
monoplio. A produo isolada, caracterstica da poca anterior vai sendo pro
gressivamente substituda pela atividade mercantil e industrial em srie. Essa
atividade impe uma crescente especializao e a criao de organismos cada vez
mais complexos. Chegase, assim, a um novo ponto de referncia para o Di reito
comercial, a atividade negocial, isto , a prtica reiterada de atos negociais, de
modo organizado e unificado, por um mesmo sujeito, visando a uma finalida de
econmica unitria e permanente. Chegase, assim, ao conceito deatividade
econmica organizada, e, portanto, noo de empresa, como ncleo do Direito
mercantil.
Clula bsica do mercado, a empresa almeja compatibilizar, na medida
do pos svel, as necessidades e interesses de todos. Sem embargo do fito de
lucro lcito que intenta concretizar, justificase pelo fornecimento de
produtos e servios, pela implementao de mercado consumidor e pela sua
contribuio para o desenvolvi mento econmico e social, como raiz
fomentadora de empregos e tributos.
Bem por isso, suas matrizes esto fundadas na livre iniciativa, na
liberdade de competio e no desempenho de funo econmica e social,
sob a gide da boaf.
1.3Conceito
Conceitos taxativos so, sempre, muito perigosos, mxime quando se
aborda tema to sensvel e to suscetvel de consagrar equvocos, como o
Direito Comer cial. bem mais produtivo desfiar caractersticas e destacar
suas interaes como a rota mais segura para uma compreenso desse ramo
jurdico que conheceu tan tas transformaes em to pouco tempo.
O direito comercial reside num espao onde interagem mltiplos fatores
eco nmicos, polticos e jurdicos nem sempre identificados com a
trajetria natural do universo negocial, como atividade privada, mas que
interferem concretamen te na formulao das normas orientadoras da
atividade empresarial. Como for osa decorrncia da sofisticao das
teorias econmicas neoliberais que, hoje, orientam a sociedade, e do
crescente intervencionismo estatal, patente a ten dncia no sentido da
publicizao do universo mercantil (naturalmente privado). A cogncia
invade as leis comerciais, disputando espao, palmo a palmo, com a
liberdade de contratar, tolhendo a criatividade natural do mercado.
Congenitamente ancorado autonomia da vontade e
proporcionalidade contratual, o Direito Comercial no convive bem com a
reduo das margens de transao de interesses operada por sucessivos atos
normativos de autoridades mo netrias que extravasam, em nome da
necessidade de corrigir distores, os limites impostos pela Constituio
Federal interveno estatal no domnio econmico.
De outra perspectiva, inegvel o crescimento do comprometimento
social da empresa, progressivamente desafetada do destino do empresrio.
Aditese a necessidade de se preservar o equilbrio das relaes
fornecedor/consumidor, no mais como uma decorrncia de princpios
ticos, mas como concretizao de uma garantia constitucional corretiva de
injusto desnvel contratual.
Outro ponto que merece, desde logo, ser considerado a unificao
legisla tiva do direito privado, operada pelo advento do CC de 2002, ainda
que o casa mento do conservadorismo civil com o dinamismo comercial
precipite a adoo de solues artificiais, nem sempre tranquilas. certo
que o direito comercial no perde sua autonomia, mas tambm certo que
o tratamento ensejado pelo CC aos contratos, antes regulados no CCom,
no suficiente para abranger toda gama de questes que se renovam
diuturnamente, v.g. na rea do agronegcio.
No s. De outra perspectiva, a globalizao da economia e a
crescente des personalizao da empresa nem sempre convivem bem com
outras tendncias, igualmente expressivas, v. g., a valorizao do
consumidor, como destinatrio fi nal de todo processo econmico, e a
necessidade de proteger as minorias societ rias contra as burocrticas
oligarquias de administradores profissionais.
Oscilando entre uma economia mutante e um direito saturado de
positivismo, chegamos a um estgio em que fcil, mas incmodo,
explicar por que o direito positivo permaneceu tanto tempo confinado ao
obsoletismo dos atos de comrcio, se a realidade econmica, de h muito,
centrase na empresa, fato que se auten tica facilmente pela verificao de
que, desde 1942, o direito comercial italiano tipicamente empresarial,
enquanto, no direito brasileiro, na mesma poca (1945), inauguravase uma
lei de falncias calcada na figura do comerciante individual.
A permanente movimentao dialtica de todos esses fatores no
impede que se considere, em primeiro lugar, que o foco de incidncia do
direito mercantil no pode afastarse da atividade profissional organizada de
raiz econmica destinada a colocar produtos e servios disposio do
consumidor.
Atualmente, j possvel promover, embora de forma incipiente, a
sintonia entre a realidade econmica e o instrumento jurdicopositivo que a
orienta. O CC concentra na empresa o foco do Direito Comercial, em que
pese ao fato de ainda colecionar resqucios da insistente personalizao
herdada do soterrado conceito imperial de comerciante.
No demasia atentar para a necessidade de profundas reformulaes
no or denamento normativo, intentando estreitar a equalizao do cotidiano
empresarial com a legislao. Essa meta s ser alcanada com o advento
de um Cdigo Co mercial. De nossa parte, embora atentos advertncia
aristotlica de que definir sempre perigoso, e tendo em conta as
peculiaridades da matria, devemos concluir que o Direito Comercial, ao
menos no Brasil, como complexo normativo positivo, focaliza as relaes
jurdicas derivadas do exerccio da atividade empresarial. Dis ciplina a
soluo de pendncias entre empresrios, bem como os institutos conexos
atividade econmica organizada de produo e circulao de bens
(contratos, t tulos de crdito, insolvncia etc). Tem por objeto a empresa,
como unidade servial do mercado cuja existncia est amarrada ao intuito
de lucro.
Vale sublinhar que a empresa um fenmeno dotado de muitas faces. O
Di reito Comercial no logra circunscrever todo o seu espectro. No lhe
seria pos svel considerla unitariamente, abrangendo todos os seus perfis
(subjetivo, funcional, objetivo e corporativo). Por isso, contentase com o
perfil subjetivo.
Esclarecendo melhor, o Direito Comercial apropriouse do conceito
econ mico de empresa e, com o CC de 2002, passou a regular a empresa
por meio do empresrio, a exemplo de seu modelo, o CC italiano de 1942.
A organizao dos fatores de produo realizada pelo empresrio ou pela
sociedade empresria, na direo de uma atividade empreendedora, com o
escopo de lucro e a assuno dos respectivos riscos.
Aqui, importante que tenhamos em mente algumas diretrizes bsicas:
a organizao da atividade implica a distino entre a empresa (a
prpria atividade), o empresrio ou sociedade empresria (sujeito de
direito) e o estabelecimento empresarial (universalidade de fato
instrumental do exerccio da empresa);
a profissionalidade do exerccio, ou seja, sua habitualidade e
sistematizao;
a condio produtiva ou circulatria de bens e/ou servios; e
o intuito de lucro.
Completando esse segmento, deve ficar claro que a empresa no se faz
pre sente em todos os institutos disciplinados pelo Direito Comercial.
Contudo, ine gavelmente, o foco central, o ncleo de sua incidncia
normativa.
1.4Fontes do Direito Comercial
As fontes so tanto as matrizes geradoras da ordem jurdica, como as
respos tas instrumentais que a concretizam. Bem por isso, no esto
dispostas no mesmo nvel. Guardam um escalonamento de precedncia,
que lhes oferece denomina es diferentes, conforme o critrio adotado.
Alguns juristas preferem classificlas em imediatas e mediatas,
conforme se jam suficientes para engendrar a ordem jurdica, ou, embora
sem tal atributo, contribuam indiretamente para a elaborao da norma. A
lei e o costume seriam as primeiras; a doutrina e a jurisprudncia, as outras.
Outros chamamnas prim rias (dotadas de obrigatoriedade direta) e
secundrias (derivadas, ou seja, que haurem sua normatividade por
atribuio explcita ou implcita das primrias).
Resumindo, temos:
fonte primria ou imediata: lei;
fontes secundrias ou mediatas: usos, analogia e princpios gerais de
direito.
Jurisprudncia e doutrina no so fontes do Direito Comercial.
Suplementar legislao, a jurisprudncia no fonte, medida que,
por fora da separao de poderes (princpio nuclear do Estado de direito),
incumbe ao Judicirio a aplicao contenciosa da norma jurdica e das
demais fontes do direito, reservandose, em regra, ao Legislativo, como
funo tpica, a atividade geradora do direito positivo.
No negamos, contudo, que as smulas dos tribunais, ao menos
circunstan cialmente, detm intensa aptido criativa e indeclinvel papel
atualizador, m xime quando vinculantes para pronunciamentos
jurisdicionais de grau inferior. Todavia, incidem sobre direito preexistente,
no o criam.
As smulas, como sntese do entendimento predominante dos tribunais
supe riores, representam um instrumento de fixao da jurisprudncia, mas
no tm carter normativo como os assentos da Casa da Suplicao de
Lisboa, do perodo colonial, que lhe deram origem.
A doutrina, com sua dplice funo crtica e orientadora, conquanto
fornea imprescindvel contribuio materializao do direito, igualmente
no alcana o patamar das fontes, seja por sua intrnseca heterogeneidade,
seja por sua essn cia antes analtica que geradora. Tecnicamente, no
produz direito.
1.4.1Fonte primria
No Estado democrtico de direito, a regncia do princpio da legalidade
de termina a preponderncia da lei como primeira resposta pergunta sobre
como o Estado manifestase diante de determinada situao jurdica. A
preponderncia da lei natural e compulsria, como fonte principal, ou
seja, como expresso ge nrica da ordem jurdica.
Quando aludimos lei, como fonte formal primeira do direito
comercial, mister se faz destacar que a CF, como ncleo reitor
programtico da ordem jur dica, alm de proclamar a supremacia da
legalidade, enuncia normasprincpios e normasregras que contagiam todo o
sistema, reclamando assim a conformao das normas comerciais s suas
estipulaes maiores.
De fato, encontramos ao longo da geografia constitucional princpios de
ob servncia compulsria, tais como a livreconcorrncia, a defesa do
consumidor, a funo social da propriedade, o tratamento privilegiado da
empresa nacional, o predomnio da iniciativa privada na atividade
econmica, a proteo microem presa, a vedao aos abusos do poder
econmico e ao aumento arbitrrio de lu cros e as regras disciplinadoras da
competncia legislativa para cada matria.
Destacamos o elenco dos princpios gerais da atividade econmica
expostos no Captulo I, do Ttulo VII, da CF, atinente ordem econmica e
financeira. So condicionantes do exerccio da empresa, em que se pode
destacar a funo social da propriedade, a defesa do consumidor, a defesa
do meio ambiente, a soberania nacional e a busca do pleno emprego.
Certamente, na ordem jurdica nacional, o vocbulo empresa
essencialmente formatado por esses princpios e como tal deve ser
densificado.
Sem que seja preciso externar conceitos do que seja lei, aqui, devemos
compreender:
o CCom, na parte no revogada;
o CC de 2002;
as leis extravagantes;
as normas pertinentes ao Direito Comercial previstas em diplomas
de ou tros ramos da ordem jurdica;
a normao regulamentar derivada do Estado; bem como os tratados
e convenes internacionais.
1.4.2Fontes secundrias
verdade que nem sempre a lei oferece todas as respostas, mas tambm
verdade que sua eventual omisso no pode ensejar lacunas no sistema
jurdico.7 Em outras palavras, no caso concreto, o rgo judicirio no pode
eximirse de entregar a prestao jurisdicional a pretexto de falta de
previso legal. A soluo lanar mo do recurso a outros elementos
acessrios, coadjuvantes de interpre tao e expedientes integradores da
norma jurdica, como alternativa para diri mir litgios e, assim, realizarse a
necessria densificao do direito.
Da a importncia das fontes secundrias, expresso que compreende as
tcni cas integrativas ou supletivas expressas no art. 4 da LINDB: a
analogia, os usos e os princpios gerais de direito.
Na verdade, a analogia no chega a ser fonte direta do direito, porque s
produz direito, indiretamente. mais um processo interpretativo da lei, de
descoberta de uma soluo jurdica explcita ou implcita na normao j
existente.
No caso da analogia legis, uma regra j existente no sistema aplicase a
uma hiptese essencialmente idntica. J na analogia juris, o hermeneuta,
no podendo socorrerse de norma similar, recorre a um complexo ou
sntese de princpios jur dicos que sejam consonantes com a situao no
prevista no ordenamento positivo.
a normao do art. 4 da LINDB, quando dispe que: aplicamse, nos
casos omissos, as disposies concernentes aos casos anlogos, e, no as
havendo, os princpios gerais de Direito.
Tambm os princpios gerais de direito so fontes subsidirias. Esto no
sis tema jurdico e so descobertos pela analogia juris. No geram normas;
apenas revelam normao implcita, mediante invocao das ideias
superiores reitoras do ordenamento.
1.4.2.1Usos
Sobre os usos, h uma tendncia, presente, em minimizarlhes a
influncia, o que certo, sob o ponto de vista da globalizao. No entanto,
pelo menos em termos de ordem jurdica local, no h como menosprez-
los. Quer dizer, sob o aspecto do direito interno, os usos remanescem como
coadjuvantes supletivos de grande utilidade na operao do Direito.
O CC evidencia sua importncia em diversos dispositivos. No art. 111
diz que o silncio comporta anuncia, quando as circunstncias ou os usos
o autorizem. O art. 113 manda interpretar os negcios jurdicos conforme a
boaf e os usos do lugar de sua celebrao. Tambm aludem aos usos arts.
628 (depsito), 658 (mandato), 695 a 701 (comisso), entre outros.
O critrio para aferio dos usos deontolgico. Para que uma prtica
unifor me e constante adquira o status de uso, deve envolver a crena de
que o direito que est sendo observado. Ou seja, o costume comercial
deve ser acreditado e acatado como se fosse lei. Em outras palavras, ser
reputado com foros de lei se for praticado como lei.
Sejam locais ou gerais, sejam legislativos ou interpretativos, os usos
comerciais caracterizamse, objetivamente, pela prtica reiterada
(continuidade) e, subje tivamente, por sua compreenso uniforme. Com
certeza, devem ser secundum legem (previstos e mandados observar como
normao subsidiria) ou praeter legem (incidentes supletivamente na
omisso da lei), jamais contra legem.8Mais importante, devem ser
assentados9 e sistematizados pelo Registro Pblico de Em presas Mercantis
e Atividades Afins.
Em resumo, so requisitos de aplicabilidade dos costumes comerciais:
continuidade;
uniformidade;
conformidade legal; e
assentamento.
Os usos so assentados na Junta Comercial, com respaldo no art. 32,
inciso II, letra e, da Lei n 8.934/94. H um procedimento legal
especfico para seu reconhecimento formal.
Pelo teor do art. 87 do Decreto n 1.800/96, o assentamento de uso ou
pr tica mercantil efetuado pela Junta Comercial que os coligir e
assentar em li vro prprio, ex officio, por provocao da Procuradoria ou
de entidade de classe interessada ( 1). Se no for contra legem, o
Presidente da Junta Comercial so licitar a manifestao escrita das
entidades diretamente interessadas, no prazo de 90 (noventa) dias, e far
publicar convite a todos os interessados para que se manifestem no mesmo
prazo ( 2). A Junta Comercial decidir sobre a veraci dade e registro do
uso ( 3), com anotao em livro especial, com a respectiva justificao, e
publicao no rgo oficial. A cada 15 (quinze) anos, as Juntas Comerciais
processaro a reviso e publicao da coleo dos usos ou prticas
mercantis assentados.
Certamente, o costume comercial pode ser suscitado no curso de
processo ju dicial, como elemento destinado a formar a convico do
magistrado.
Para utilizao em juzo, como coadjuvante probatrio o interessado
deve r demonstrar sua existncia, mediante certido da Junta Comercial.
a regra. Contudo, predito documento no se constitui em nica prova, visto
que o costu me comercial pode ser provado, v.g., por declaraes de
associaes comerciais, testemunhos de representantes de entidades
comerciais etc. De qualquer forma, dever ser provada cabalmente sua
existncia. que a regra processual do art. 376 do CPC atribui parte que
alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinrio, provar-
lhe o teor e a vigncia, se assim o determinar o juiz. Portanto, costume
alegado costume que deve ser provado.
Imperioso salientar que, tratandose de matria pertinente prova,
impera a livre convico do magistrado na valorao dos subsdios
carreados pelas partes aos autos, quer dizer, na mensurao do contexto
probatrio. Assim, ainda que no assentado formalmente, o costume
comercial poder ser demonstrado e ad mitido em juzo por qualquer meio
probatrio lcito.
1 Commutatio mercium (troca de mercadorias) deu origem a commercium, vocbulo composto
de cum + merx. o que consta do Tractatus de mercatura seu mercatores, escrito por volta de 1550, por
Segismondo Stracca. Commercium est emendi vendedique invicem jus, ensinava Ulpiano.
2 Elaborado por uma comisso composta por Jos Clemente Pereira (substituindo o juiz Limpo de Abreu),
Incio Raton, Jos Antnio Lisboa, Guilherme Midosi e Loureno Westin (cnsul da Sucia).
3 o que se v em Ripert (135 : 1): Le droit commercial est la partie du droit priv qui rgle les
oprations juridiques faites par les commerants, soit entre eux, soit avec leurs clients. Ces oprations se
rapportent lexercise du commerce, et sont dites pour cette raison actes de commerce. Comme un de ces
actes peut tre accompli accidentellement par une personne non commerant, le droit commercial rgit
aussi ces actes sans considration de la personne de leur auteur.
4 Os arts. 632 e 633 do CCom. francs de 1807 enunciam as atividades a que la loi rpute actes de
commerce.
5 Fenmeno bem descrito por Tullio Ascarelli (6:48) que alude a um diritto oggettivizzato em lu gar de
um diritto differenziato, destacando a tentativa de sintonizao da matria mercantil com o iderio da
igualdade e das aspiraes de comunidade nacional.
6 lcito afirmar que o direito comercial veio para o Brasil com a Famlia Real, fugida de Portugal, em
1808, durante o bloqueio continental imposto por Napoleo Bonaparte. Por meio de sucessivos alvars
reais, liberouse a indstria, criouse o Banco do Brasil e o Tribunal da Real Junta de Comr cio, cujo
deputado Jos da Silva Lisboa (Visconde de Cairu) escreveu a primeira obra sistemtica sobre a
matria: Princpios do direito mercantil e leis da marinha.
7 Art. 140 do CPC.
8 J em 1850, o Decreto n 738 reclamava como condies de aplicao das prticas comerciais: a) sua
conformidade com os sos princpios da boa f e mximas comerciais; sua prtica entre os
comerciantes locais; e sua no contrariedade lei.
9 O primeiro assentamento de usos comerciais foi realizado na praa de Santos, SP, em 16 de ju nho de
1889, pertinente s contas correntes entre comissrios e comitentes.
Parte II
Empresrio
2 Empresrio Unipessoal
2.1Empresrio
A empresa no um sujeito de direitos e obrigaes. uma atividade e,
como tal, pode ser desenvolvida pelo empresrio unipessoal ou pela
sociedade empresria. Quer dizer, pela pessoa natural do empresrio
individual, ou pela pessoa jurdica contratual ou estatutria da sociedade
empresria.
Sob a epgrafe empresrio esto compreendidos tanto aquele que, de
forma singular, pratica profissionalmente atividade negocial, como a
pessoa de direito constituda para o mesmo fim. Ambos praticam atividade
econmica organizada para a produo, transformao ou circulao de
bens e prestao de servios. Ambos tm por objetivo o lucro.
O CC de 2002 no define a empresa. O conceito de empresa
estritamente econmico. Seu art. 966 considera empresrio quem exerce
profissionalmente atividade econmica organizada para a produo ou a
circulao de bens ou de servios. Est conceituando o empresrio
unipessoal.1
a traduo do disposto no art. 2.082 do Cdigo Civil Italiano que
define o imprenditore como chi esercita professionalmente un attivit
econmica organizzata al fine della produzione o dello scambio di beni o
di servizi.
No art. 982, traz a sociedade empresria, conceituando-a como aquela
que tem por objeto o exerccio de atividade prpria do empresrio.
No empresrio quem desempenha profisso intelectual, de natureza
cientfica, literria ou artstica, mesmo que conte com o concurso de
auxiliares, exceto se referido exerccio profissional constituir elemento de
empresa.
Seguindo a linha traada pelo diploma civil, alocamos em segmentos
distintos os dois tipos de empresrio. Neste captulo, cuidamos, apenas, do
empresrio pessoa natural. Na Parte III, trataremos das diversas espcies de
sociedades empresrias.
2.2Caracterizao do empresrio unipessoal
Ser empresrio no significa, simplesmente, praticar atividade negocial.
A condio de empresrio reclama a congregao de alguns requisitos
bsicos, porque trata-se de qualificao profissional.
Caracteriza-se o empresrio unipessoal pela reunio de cinco
elementos:
capacidade jurdica;
ausncia de impedimento legal para o exerccio da empresa;
efetivo exerccio profissional da empresa;
regime jurdico peculiar regulador da insolvncia; e
registro.
2.3Capacidade jurdica
Todo ato jurdico tem como condio primria de validade a capacidade
de quem o pratica. O CC diz quem capaz para os atos da vida civil e, por
conseguinte, quem pode, validamente, assumir obrigaes. No Direito
Comercial, no diferente. Os atos de empresa s so juridicamente
idneos se praticados por agente capaz. Assim, quem tem capacidade civil
pode ser empresrio (art. 972 do CC).
A regra que as pessoas absolutamente incapazes no autorizadas
judicialmente no podem ser empresrias. Nessa situao encontram-se os
menores de 16 (dezesseis) anos.
Se no tiverem autorizao judicial para a continuao da empresa, no
podem ser empresrios os relativamente incapazes:
maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos;
brios habituais e toxicmanos;
aqueles que, por causa transitria ou permanente, no puderem
expressar sua vontade; e
prdigos.
H atividades que exigem a instituio legal de sociedade, no sendo
permitido o registro como inscrio de empresrio individual. So os casos
dos prestadores de servio de profisso regulamentada e dos servios de
representao comercial por conta de terceiro.
2.3.1Emancipado
Tambm pode exercer a empresa o emancipado. A emancipao
significa a cessao da incapacidade civil antes dos 18 (dezoito) anos.
uma espcie de declarao irrevogvel da maioridade. Seus fatores
determinantes esto previstos no art. 5, pargrafo nico, do CC.
Uma das causas de emancipao o estabelecimento civil ou comercial
do menor com 16 (dezesseis) anos completos que tenha economia prpria.
Que significa economia prpria? A resposta de Armando Rollemberg
(140 : 5):
Trs so os sentidos que se pode emprestar expresso. Significaria no
primeiro, economia separada do pai, qualquer que fosse a sua provenincia, isto
, mesmo que oriunda do prprio pai que fornecesse os recursos para o menor se
estabelecer. Em segundo sentido seria o conjunto de bens pertencentes ao menor,
advindos ao seu patrimnio, independentemente da finalidade de estabelecer-se.
Assim, compreenderia os resultantes do seu trabalho, os que lhe fossem doados,
os que obtivesse em sucesso, etc. Finalmente, em sentido mais restrito, de
acordo, alis, com o esprito da norma do Cdigo Civil, somente se consideraria
tal, os bens que fossem obtidos pelo menor atravs do seu trabalho, do seu
esforo.
2.3.2Incapaz
O incapaz pode ser empresrio apenas para continuar empresa
anteriormente exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor
de herana. Portanto, poder faz-lo nessas trs hipteses, com o sentido de
se preservar a empresa.
Essa exceo, regulada nos arts. 974 a 976 do CC, demanda a
concorrncia dos seguintes requisitos:
o exerccio da empresa pelo incapaz se far por meio de
representante ou assistente;
dever ser precedido de autorizao judicial;
a autorizao ser concedida por alvar;
no ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz
possua ao tempo da sucesso ou da interdio, desde que estranhos
ao acervo daquela;
se o representante ou assistente do incapaz estiver impedido de ser
empresrio nomear, com aprovao do juiz, um ou mais gerentes;
o representante ou assistente ser responsvel pelos atos do gerente
nomeado;
a autorizao judicial poder ser revogada pelo juiz, ouvidos os
representantes do incapaz;
os direitos adquiridos por terceiros em virtude do exerccio
empresarial pelo incapaz no sero prejudicados;
o uso da firma empresarial caber, conforme o caso, ao
representante ou ao gerente nomeado, ou ainda, ao prprio incapaz
quando puder ser autorizado; e
a prova da autorizao e de eventual revogao desta sero inscritas
ou averbadas no Registro Pblico de Empresas Mercantis.
No caso de sociedade que envolva scio incapaz, este no poder
exercer a administrao social, e o capital social dever ser totalmente
integralizado. O scio relativamente incapaz ser assistido e o
absolutamente incapaz, representado.
2.3.3Empresrio casado
O empresrio casado no precisa de outorga conjugal para alienar ou
gravar de nus real os imveis que integram o patrimnio da empresa. a
letra do art. 978 do CC.
Eventual pacto antenupcial, deciso judicial que decretar ou homologar
a separao judicial ou ato de reconciliao devem ser arquivados e
averbados no Registro Pblico de Empresas Mercantis, como condio de
sua eventual oposio a terceiros. No basta, pois, a averbao no Registro
Civil.
O empresrio casado em regime de comunho de bens pode
comprometer o patrimnio do casal em decorrncia da atividade
empresarial. Regra geral, a comunho conjugal usufrui os proventos
hauridos na empresa pelo cnjuge empresrio, seja o marido, seja a mulher.
H uma presuno relativa de que o rendimento do trabalho de qualquer
dos cnjuges ingressa no patrimnio da sociedade conjugal. Por certo que,
se tal no ocorrer o cnjuge prejudicado poder, em eventual execuo,
ressalvar sua meao, por embargos de terceiro, fazendo prova, claro,
daquela circunstncia.
2.4Ausncia de impedimento legal
Pelo art. 5, inciso XIII, da CF, livre o exerccio de qualquer ofcio ou
profisso, atendidas as qualificaes reclamadas na lei. A norma de eficcia
relativa restringvel em tela consagra o direito fundamental ao exerccio
profissional, mas admite, expressamente, a fixao, por norma
infraconstitucional, de condies mnimas pertinentes ao exerccio de cada
profisso.
Assim, algumas profisses reclamam condio especial de aptido. No
pode, p. ex., ser mdico quem no formado por curso regular de
medicina. No , regra geral, o caso do empresrio.
Ao assegurar o exerccio da atividade de empresrio aos plenamente
capazes, o art. 972 do CC impe uma condio, isto , podero faz-lo se
no forem legalmente impedidos.
Excepcionalmente, algumas empresas exigem habilitao especial. o
caso, v. g., da atividade securitria2 e dos servios de vigilncia e transporte
de valores.3
Por outro lado, h determinadas pessoas plenamente capazes a quem a
lei veda a prtica profissional da empresa. A proibio funda-se em razes
de ordem pblica decorrentes das funes que exercem. No se trata de
incapacidade jurdica, mas de incompatibilidade da atividade negocial em
relao a determinadas situaes funcionais. Portanto, no so incapazes,
mas praticam irregularmente atos vlidos.
Se, ainda que ao arrepio da lei, aquelas pessoas exercerem a empresa
em nome prprio, praticaro atos vlidos, embora fiquem sujeitas a
diversas sanes. No plano penal, praticam a contraveno de exerccio
ilegal de profisso prevista no art. 47 da LCP, no qual fica claro que o
exerccio de atividade econmica ou o mero anncio de seu exerccio sem
preenchimento das condies legais acarreta priso simples ou multa. No
mbito administrativo, se agentes pblicos, ficam expostas demisso, nos
termos do respectivo estatuto funcional.
No simples arrolar todos os impedidos de exercer atividade
empresarial. Como quer que seja, os percalos para se consolidar o referido
elenco so superados desde que se sabe que, sendo a proibio uma
restrio ao exerccio de um direito, deve ser expressa. No lcito inferi-la
por deduo, nem aplic-la por analogia.4 Em outras palavras, a lei diz
quem est impedido de ser empresrio.
Magistrados e membros do Ministrio Pblico
No podem ser empresrios por fora de vedaes constitucionais. No
caso dos juzes, o art. 95, pargrafo nico, da CF, no inciso I, veda-lhes o
exerccio, ainda que em disponibilidade de outro cargo ou funo, salvo a
do magistrio. Para os membros do Ministrio Pblico, vale a vedao de
participar de sociedade empresria, contida no art. 128, 5, inciso II, c, da
CF. No bastassem tais bices constitucionais, referidas proibies ecoam
nas respectivas leis orgnicas.
O que a lei impede, nesses casos, a participao em sociedade
empresria, entendida esta como exerccio de funes administrativas e
gerenciais susceptveis de granjear-lhes responsabilidade penal e
responsabilidade civil ilimitada. Realmente, o intuito de lucro e de aliciar
clientela, inerentes ao exerccio profissional da gesto empresarial so
inconciliveis com os elevados misteres atribudos aos juzes de direito e
promotores de justia.
Agentes pblicos
Podem ser acionistas, cotistas ou comanditrios, ou seja, scios de
responsabilidade limitada, mas no empresrios nem administradores ou
gerentes de empresa privada. o texto do art. 117, inciso X, da Lei n
8.112/90.
A proibio inclui os ministros de Estado e os ocupantes de cargos
pblicos em comisso, bem como os chefes do Poder Executivo, em todos
os nveis.
Militares
Tambm no podem ser empresrios os militares da ativa, includos os
corpos policiais. Probe-os o art. 29 da Lei n 6.880/80. Exercer a empresa
ou integrar a administrao ou gerncia de sociedade empresria, ou ainda
dela ser scio, salvo como acionista ou cotista, crime previsto no art. 204
do CPM.
Falidos
Constitui efeito da sentena falimentar a interdio para o exerccio da
empresa. No perptua. Uma vez comprovada a extino das obrigaes,
a interdio desaparece.
Deputados e Senadores
Os deputados e senadores no podero ser proprietrios, controladores
ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com
pessoa jurdica de direito pblico, nem exercer nela funo remunerada ou
cargo de confiana. A inobservncia da vedao prevista no art. 54 da CF
acarreta a perda do mandato (art. 55 da CF).
Estrangeiro com visto provisrio
O estrangeiro titular de visto provisrio no pode estabelecer-se com
firma individual ou exercer cargo ou funo de administrador, gerente ou
diretor de sociedade empresria ou simples (art. 98 da Lei n 6.815/80). Se
admitido na condio de temporrio, sob regime contratual, s poder atuar
na entidade pela qual foi contratado, salvo autorizao expressa do
Ministrio da Justia, ouvido o Ministrio do Trabalho.
Leiloeiros
Sob pena de destituio, o art. 36 do Decreto n 21.981/32 probe os
leiloeiros de exercerem a empresa direta ou indiretamente, bem como
constituir sociedade empresria.
Despachantes aduaneiros
Nos termos do art. 735, inciso II, e, do Decreto n 6.759/09, no podem
manter empresa de exportao ou importao de mercadorias nem podem
comercializar mercadorias estrangeiras no pas.
Corretores de seguros
A Lei n 4.594/64 probe aos corretores qualquer espcie de negociao,
bem como contrair sociedade.
Prepostos
Consoante o art. 1.170 do CC os prepostos, salvo autorizao expressa,
no podem negociar por conta prpria ou de terceiro, nem participar, ainda
que indiretamente, de operao do mesmo gnero da que lhes foi cometida,
sob pena de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo
preponente os lucros da operao.
Mdicos
A Lei n 5.991/73 probe que os mdicos mantenham simultaneamente
empresa farmacutica.
Convm acrescentar que o estrangeiro, mesmo com visto permanente,
sofre algumas restries de natureza constitucional:
pesquisa ou lavra de recursos minerais ou aproveitamento de
potenciais de energia hidrulica;
atividade jornalstica e de radiodifuso;
assistncia sade, salvo nos casos previstos em lei;
propriedade ou armao de embarcaes nacionais, salvo de pesca;
e
propriedade ou explorao de aeronave brasileira, salvo o disposto
na legislao especfica.
Exceo feita atividade jornalstica e de radiodifuso, os portugueses
podem inscrever-se como empresrios, com respaldo no Estatuto da
Igualdade.
A Lei n 8.934/94 revogou a proibio de registro de empresa com
scio, diretor ou gerente condenados criminalmente, contidas na antiga
legislao de registro do comrcio (art. 38, incisos III e IV, da Lei n
4.726/65), mantendo somente aquela pertinente ao crime falimentar. Com
efeito, o art. 35, inciso II, s veda o arquivamento dos documentos de
constituio ou alterao de empresas em que figure como titular ou
administrador pessoa que esteja condenada pela prtica de crime cuja pena
vede o acesso atividade empresarial.
Isso no significa, certo, que se possa registrar o condenado que
receber a pena acessria de interdio temporria para o exerccio da
empresa (arts. 47 e 56 do CP).
Nunca demais repetir que os proibidos de exercer a empresa, embora
sujeitos a sanes disciplinares na rbita administrativa e passveis de
persecuo criminal, no praticam atos nulos, uma vez que a proibio no
objetiva, mas diz respeito ao sujeito.
Praticam atos vlidos e, se exercerem profissionalmente a empresa, em
nome prprio, recebero da lei o mesmo tratamento dispensado aos
empresrios irregulares, podendo incidir em falncia, uma vez que a lei no
faz distino entre empresrios regulares e irregulares. que, afrontando a
vedao legal, tornam--se autnticos empresrios informais.
Acrescente-se que o art. 973 do CC taxativo: a pessoa legalmente
impedida de exercer atividade prpria de empresrio, se o fizer, responder
pelas obrigaes contradas.
Nem seria lgica qualquer soluo em sentido contrrio, pois
equivaleria a permitir que o infrator se beneficiasse da prpria infrao.5
Manifestada sua insolvncia, no podero valer-se da recuperao,
porque a regularidade empresarial condio para o deferimento do favor
legal.
Fique claro que a proibio em tela no chega ao ponto de obstar a
participao em sociedade empresria, mediante a subscrio de valores
mobilirios de sociedades por aes ou aquisio de cotas em sociedades
de responsabilidade limitada, medida que no venham a integrar a
administrao social. Isso porque, se a sociedade empresria de capitais
uma pessoa jurdica distinta da pessoa fsica dos scios, com capacidade e
patrimnio prprios, ser acionista ou ser quotista no significa ser
empresrio.6
Claro, pois, que a incompatibilidade empresarial no alcana a condio
de scio de responsabilidade limitada, quer dizer, quotista ou acionista.
Exemplificando, nada obsta que uma pessoa impedida de exercer a empresa
seja acionista de determinada companhia. Todavia, a viabilidade de ser
scio encontra limites na proibio de exercer funo ou cargo de direo e
administrao na sociedade.
2.5Exerccio profissional da empresa
Mesmo capaz, no impedida e regularmente matriculada no Registro
Pblico de Empresas, a pessoa natural s ser considerada empresria se
exercer profissionalmente a empresa em nome prprio, com intuito de
lucro. Ou seja, essencial que o faa:
profissionalmente (no esporadicamente);
em nome prprio (no em nome de outrem); e
com intuito de lucro (no graciosamente).
Com efeito, qualquer pessoa pratica, ocasionalmente, atos negociais,
sem que por isso seja empresrio. a natureza profissional (prtica
ordenada e habitual, com fins lucrativos) que confere ao empresrio essa
condio. Nesse sentido, o CCom era at redundante na conceituao de
comerciante, aludindo quele que faz da mercancia profisso habitual.7
Parece que aquele pleonasmo servia ao intento de reforar a ideia de
profisso. O acrscimo do adjetivo habitual ao
substantivo profisso buscava esclarecer que a prtica espordica ou
isolada no basta para atribuir profisso a uma pessoa.
Por outro lado, bom ter em mente que profissionalidade no implica
exclusividade. O exerccio da atividade empresarial no precisa ser a nica
profisso do empresrio.
Valem aqui para o empresrio as consideraes de Vivante (163, v. 1 :
105), quando esclarecia que inexiste incompatibilidade do exerccio da
atividade negocial com outras profisses.
Como lembrava o mestre italiano, no necessrio, tampouco, que ela
constitua a sua principal posio social, nem seja a sua maior fonte de
renda. Pode tratar-se de banqueiro e agricultor, industrial e engenheiro, ou
operrio, empresrio e cantor e ser no obstante empresrio.
Como visto, no basta a prtica acidental e isolada da empresa. Mais.
Ainda que sejam atos repetidos, inexistindo a atuao habitual e
sistemtica, no conferem a efetividade necessria para que se tenha por
caracterizada a profisso empresarial.
No se entenda imprescindvel a sucessividade ininterrupta. Basta a
reiterao como meio de vida, a pluralidade de atuao com
profissionalidade finalstica.
Fran Martins (100 : 85), com a clareza habitual, ainda falando do
comerciante, explica a contento:
A prtica de um ato espordico de compra para revenda, no , por si s, capaz
de dar pessoa que o realiza o carter de comerciante. Necessrio que a
profisso da pessoa consista na prtica repetida de atos de modo permanente,
dirigidos esses atos para a realizao de um certo objetivo. Para tal, o
comerciante se instala, registra firma ou nome comercial, contrata empregados,
estabelece escrita prpria para a anotao de suas atividades. Em uma palavra, o
comerciante se organiza para o fim especfico de realizar atividades de
intermediao ou de prestao de certos servios, empregando capital e trabalho
a fim de conseguir esse desiderato. Faz do exerccio das atividades comerciais a
sua profisso, a ela se dedicando com fervor e assumindo obrigaes da prtica
da mesma.
Enfim, o advrbio profissionalmente, empregado no art. 966 do CC,
no deixa margem para qualquer dvida.
2.6Empresrio individual de responsabilidade limitada
A Lei n 12.441/11, mediante a insero no CC do art. 980-A e seus
pargrafos, institui a empresa individual de responsabilidade limitada
conferindo personalidade jurdica ao empresrio unipessoal titular da
totalidade do capital social (art. 44, inciso VI, do CC), observados trs
requisitos:
capital social integralizado;
valor do capital social no inferior a 100 vezes o maior salrio
mnimo vigente no pas;
nome empresarial acrescido da expresso EIRELI.
A pessoa natural que constituir empresa nessas condies somente
poder figurar em uma nica empresa dessa espcie.
Essa modalidade empresarial tambm poder resultar da concentrao
das quotas de outra espcie societria num nico scio, sendo irrelevantes
as razes ensejadoras da concentrao.
No caso da sociedade limitada, no se aplica a exigncia do scio
remanescente titular de todas as quotas reconstituir a pluralidade social, no
prazo de 180 dias, desde que requeira, junto ao RPEM, a transformao do
registro da sociedade para empresa individual de responsabilidade limitada
ou, simplesmente, de empresrio individual.
Quando constituda para a prestao de servios de qualquer natureza,
pode-r lhe ser atribuda a remunerao decorrente da cesso de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja
detentor o titular da pessoa jurdica, desde que vinculados atividade
profissional.
Para o deslinde de questes pertinentes EIRELI aplica-se,
subsidiariamente, no que couber, o regramento das sociedades limitadas.
Vale lembrar que, nos termos do art. 44, inciso VI, do CC, a empresa
individual de responsabilidade limitada pessoa jurdica de direito privado,
conquanto a normao no defina o registro pblico competente para seu
registro.
Ressalte-se, com Fbio Bellote Gomes (73 : 39) que, integralizado o
capital social, a EIRELI permitir ao seu titular, ainda que de forma
indireta, exercer individualmente a atividade empresarial que constitui seu
objeto, sem o risco de que o valor do passivo, que porventura venha a
exceder ao valor do capital social integralizado, atinja o patrimnio de seu
titular, excepcionadas, logicamente, aquelas hipteses legais em que no
subsistir a limitao da responsabilidade, aplicveis s sociedades
limitadas e, pela regncia supletiva, aplicveis tambm EIRELI.
2.7Regime peculiar regulador da insolvncia
Ao empresrio, quando insolvente, o direito nacional destina um regime
jurdico prprio. Submete-o ao sistema falimentar. Contudo, este lhe
confere a possibilidade de obter recuperao. Pode solucionar seu passivo
obrigacional em condies mais vantajosas que aquelas proporcionadas ao
devedor civil e, conforme o caso, at escapar do exerccio negocial.
S o devedor empresrio incide em falncia. Esta, como soluo
paritria universal dos dbitos, destinada, com exclusividade, para os que,
singular ou coletivamente, exercem a empresa.8 O devedor civil, nas
mesmas condies, esta-r sujeito execuo por quantia certa contra
devedor insolvente, que nada mais que o concurso de credores na esfera
civil.
Melhor ou pior que a soluo civil, dependendo da perspectiva sob a
qual seja analisada, a alternativa falitria retrata, ainda que timidamente, a
mnima preocupao do ordenamento positivo para preservar a empresa por
meio das recuperaes e abreviar a projeo socioeconmica dos
indesejveis efeitos de sua extino.
2.8Registro obrigatrio
O primeiro e um dos principais deveres do empresrio a oficializao
de sua condio mediante a inscrio no Registro Pblico de Empresas
Mercantis (RPEM). obrigatria a inscrio, diz o art. 967 do CC, antes do
incio da atividade.
Nos termos do art. 968 do CC, no requerimento de inscrio o
empresrio deve declarar:
a)nome, nacionalidade, domiclio e estado civil (se casado, o regime
de bens);
b)firma, com a respectiva assinatura autgrafa;
c)capital;
d)sede da empresa; e
e)objeto.
A LC n 128/08 inclui um terceiro pargrafo no art. 968 do CC
dispondo que, se eventualmente o empresrio admitir scios poder
solicitar RPEM, a transformao de seu registro para sociedade
empresria.
O art. 4 da Lei n 12.470/11 aditou ao art. 968 do Cdigo Civil, os
4 e 5 dispondo que o processo de abertura, registro, alterao e baixa do
microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da LC n 123/06,
bem como qualquer exigncia para o incio de seu funcionamento, devero
ter trmite especial e simplificado, preferentemente eletrnico, opcional
para o empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comit para Gesto
da Rede Nacional para a Simplificao do Registro e da Legalizao de
Empresas e Negcios CGSIM.
Atrelada letra do art. 4 do CCom. e, ainda, com base no art. 11 do
Decreto n 916, de 1890, que declarava facultativo o registro, a maioria dos
comercialistas brasileiros consagrou como facultativa a matrcula na Junta
Comercial, sem embargo das severas restries que a legislao sempre
estabeleceu para sua inobservncia.
Deram vida ao empresrio informal, olvidando-se de que o Decreto n
916/ 1890 j no vigora e que a legislao subsequente no mais sustentou
a facultatividade. Fosse a inteno do legislador e teria mantido a clusula;
ao contrrio, suprimiu-a.
Sem desdouro quanto aos vigorosos argumentos expendidos em
contrrio, a verdade que empresrio o regular, de direito, porque o
chamado empresrio de fato s assim considerado para as consequncias
negativas da prtica negocial, sem desfrutar de quaisquer privilgios
inerentes quela condio. Ou seja, um empresrio virtual em face da
proteo legal; s real para efeito de responsabilizao patrimonial. Ficta
para os direitos, sua existncia s se patenteia para a assuno dos encargos
que a prtica irregular da empresa lhe acarreta. Exemplificando, para
incorrer em falncia, empresrio, mas, para obter a recuperao, no o .
Vigora o princpio da regularidade do exerccio empresarial. Quando o
art. 967 do CC diz que o registro obrigatrio antes do incio da atividade,
est afirmando que a prtica profissional da empresa s se caracteriza
quando regular. O direito s a reconhece quando encetada conforme a lei.
Por isso, no demasiado repisar que o registro no mero
complemento formal. No caso da sociedade empresria, a ausncia de
registro implica a no personificao jurdica, ou seja, a responsabilizao
pessoal, solidria e ilimitada dos scios. No campo tributrio, as
consequncias so serssimas, medida que, impossibilitado de obter o
CPF, o empresrio informal no pode emitir nota fiscal nem duplicata,
palmilhando o terreno delituoso da sonegao fiscal.
De toda forma, como a prtica empresarial irregular, ainda que
espordica, um fato, h que se enumerar seus efeitos.
no podendo ter a escriturao necessria ao exerccio profissional
revestida das formalidades legais, em caso de falncia, incorrer em
crime falimentar;9
no poder, nessa condio, requerer a falncia de outro empresrio,
porque, ao cuidar da legitimao ativa para o pedido de falncia, a
LRE reclama sua regularidade (art. 97, 1);
no poder obter recuperao;
no poder contratar com o Poder Pblico porque no inscrito no
CPF e no INSS;10
no poder constituir microempresa.
Cumpre consignar que o registro expressamente compulsrio para
agentes de leiles (leiloeiros), corretores de mercadorias e de navios,
trapicheiros e administradores de armazns gerais, avaliadores, tradutores e
intrpretes mercantis e microempresas.
No se conclua, entretanto, que o registro faz empresrio quem,
efetivamente, no atua. No isso. Com o arquivamento do ato constitutivo
na Junta Comercial estabelece-se uma presuno relativa. Quer dizer, a
mera inscrio no constitui, por si s, evidncia segura de que o inscrito
seja empresrio.
Para resumir esse assunto, temos que no empresrio, para o efeito de
exerccio dos direitos inerentes a tal condio, quem no registrado, mas
no suficiente que o seja. Nem o empresrio irregular nem o empresrio
fictcio. A prtica profissional imprescindvel para converter em realidade
a presuno gerada pelo registro. A qualidade de empresrio igual a
exerccio profissional da empresa + registro.
2.9Perda da qualidade empresarial
Alm da morte (j que mors omnia solvit), perde-se a condio jurdica
de empresrio individual:
pela interdio;
pela falncia;
pela desistncia; e
pela revogao da autorizao para o menor.
Claro que o interdito, reconhecido como incapaz por provimento
judicial, no tendo condies de reger sua pessoa e administrar seus bens,
no pode continuar como empresrio em nome prprio, salvo quando
representado ou assistido e, ainda assim, mediante autorizao judicial.
No caso de falncia, o empresrio falido fica inabilitado para o
exerccio da empresa em nome prprio at a extino de suas obrigaes.
1 O CCom. definia comerciante como aquele que pratica a mercancia, mas no definia mercancia. O CC
de 2002 define empresrio e empresa, aludindo ao primeiro como aquele que exerce profissionalmente a
segunda, ou seja, atividade organizada para a produo ou a circulao de bens ou de servios.
2 Lei n 4.594/64.
3 Lei n 7.102/83.
4 CARVALHO NETO (32 : 175) e CARVALHO DE MENDONA, J. X. (30, v. 1 : 119).
5 Nemo audietur turpitudinem suam allegans.
6 No possvel concordar com os que entendem tenha sido a proibio de comerciar meramente
driblada pela possibilidade de ser scio, sob o argumento de que o proibido pode, por meio da sociedade
de que faz parte, praticar atos incompatveis com sua funo pblica e seus encargos profissionais. Se tal
distoro possvel, no menos previsvel que tambm possa faz-lo, mesmo sem ser scio de qualquer
empresa, no exerccio mesmo de sua prpria funo pblica.
7 A raiz da locuo profisso habitual o CCom. Francs de 1807.
8 H legislaes qu