zonas francas vs desenvolvimento:o caso de moçambique

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Polos de Crescimento, Polos de desenvolvimento, Desenvolvimento de Moçambique

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE FACULDADE DE LETRAS E CINCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CINCIA POLTICA E ADMINISTRAO PBLICA

Licenciatura em Administrao Pblica

CADEIRA: Teoria de Planificao e Desenvolvimento Regional

ANLISE DAS ZONAS FRANCAS EM MOAMBIQUE A LUZ DAS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

DISCENTES: Orlando Jos Penicela Jnior

DOCENTE: Alex Nhambir

Maputo, Maio de 2011

ndice I. II. 1. 2. III. IV. V. VI. 1. 2. 3. 4. 5. VII. 1. 2. Introduo ........................................................................................................................................... 3 OBJECTIVOS ...................................................................................................................................... 4 Objectivo Geral ................................................................................................................................... 4 Objectivos Especficos ....................................................................................................................... 4 Metodologia .................................................................................................................................... 4 Problema.......................................................................................................................................... 5 Justificativa.......................................................................................................................................... 6 QUADRO TERICO CONCEPTUAL ..................................................................................... 7 Zonas Francas Industriais (ZFIs). .................................................................................................... 7 Teoria dos Plos de Crescimento ..................................................................................................... 8 Teoria da Causao Circular Cumulativa....................................................................................... 9 Teoria do Desenvolvimento Desigual e Transmisso Inter-regional do Crescimento. .......... 10 Teoria da Base de Exportao......................................................................................................... 11 REVISO DE LITERATURA...................................................................................................... 12 As Zonas Francas Industriais vs Desenvolvimento Econmico ................................................ 12 Contextualizao: As Zonas Francas em Moambique .............................................................. 13

VIII. ANLISE .......................................................................................................................................... 14 Zonas Francas em Moambique: uma anlise do impacto na economia ......................................... 14 2. 3. 4. As Zonas Francas Industriais e as Desigualdades do Desenvolvimento Regional ................ 15 As Zonas Francas Industriais e a base Tributria ........................................................................ 16 As Zonas Francas Industriais e a Base produtiva........................................................................ 17

O que dizer das Zonas Francas Industriais em Moambique? .......................................................... 19 VIII. CONCLUSO............................................................................................................................... 20

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................................................... 21

I. Introduo Sendo uma das condies decisivas para o bem-estar das sociedades, o crescimento e desenvolvimento econmico constituem uma preocupao de todos os Estados contemporneos e Moambique no uma excepo. Depois de ter sido palco de uma das mais sangrentas guerras civis africanas do sculo XX e de uma experiencia comunista mal sucedida (pelo menos no prisma econmico), Moambique liberalizou e reestruturou a sua economia ao longo dos anos 80 e 90, tendo como um dos seus maiores desafios a criao de condies que viabilizassem o investimento interno e atrassem o investimento estrangeiro de forma a permitir o retorno do Pas aos ciclos de crescimento. neste mbito que foram pela primeira vez institucionalizadas em Moambique as Zonas Francas Industriais (ZFI). Neste prisma, as Zonas Francas Industriais surgem desde o inicio da liberalizao econmica como um incentivo estratgico ao investimento directo estrangeiro, s exportaes (que permitissem a minimizao do desequilbrio da balana de pagamentos), rpida criao de emprego e em suma, um estmulo economia (Langa, 2001). Ora, numa outra perspectiva, as Zonas Francas Industriais aparecem como mais uma consequncia das prescries dos Programas de Ajustamento Estrutural (PAE) sadas do Consenso de Washington (Wache, 2008). Portanto, as Zonas Francas Industriais em Moambique respondem a um conjunto de interesses multilaterais: do governo, dos doadores, dos agentes econmicos entre outros. Ora, se por um lado as Zonas Francas Industriais podem ser vistas como uma das expresses do Neoliberalismo (Negro, 1998), por outro, as discusses em relao a essa natureza de espaos econmicos podem ser encontradas num vasto acervo terico fundamentalmente desenvolvido entre os 50 e 70 a teoria do desenvolvimento polarizado (Cabugueira, 2000:108; Lima & Simes, 2010). O presente trabalho, propem-se a analisar o enquadramento que as Zonas Francas Industriais encontram no quadro econmico moambicano luz desse arcabouo terico oferecido pela Cincia Econmica Regional. Quanto a sua disposio, o trabalho divide-se em 5 partes. Num primeiro momento avanaremos com a exposio dos objectivos do estudo e dos respectivos problema e metodologia seguida. Posteriormente no segundo ponto, apresentaremos o quadro terico conceptual que orientar a nossa anlise. A terceira parte ir consistir na contextualizao das zonas Francas Industriais no

cenrio econmico, institucional e poltico moambicano. A quarta parte est reservada anlise crtica da experiencia moambicana de Zonas Francas Industriais luz dos pressupostos tericos. J na parte derradeira, sero expostas as notas conclusivas do trabalho.

Pergunta de Partida: At que ponto, as zonas francas moambicanas se enquadram luz dos pressupostos das teorias do desenvolvimento regional, na dinmica econmica do Pas? II. OBJECTIVOS 1. Objectivo Geral:Analisar o enquadramento prtico das zonas francas na economia moambicana luz das teorias de desenvolvimento regional.

2. Objectivos Especficos:Apresentar a discusso terica que se levanta em relao as zonas francas e o seu impacto nos espaos econmicos em que se situam; Descrever e compreender o contexto poltico, institucional e econmico do surgimento e desenvolvimento das zonas francas em Moambique; e Analisar o papel que as zonas francas desempenham no desenvolvimento do Pas luz das teorias de desenvolvimento regional.

III. Metodologia O presente trabalho de carcter analtico adoptando uma abordagem marcadamente qualitativa. Este desenvolveu-se com base em pesquisas exploratrias e bibliogrficas. A pesquisa exploratria segundo Gil (2002) proporciona maior familiaridade com o problema. J a pesquisa bibliogrfica segundo o mesmo autor, um procedimento tcnico desenvolvido com base em material j elaborado, constitudo principalmente de livros e artigos cientficos. Um outro mtodo fundamental para o trabalho foi a pesquisa virtual ou online. Para Freitas et al. (2004), a pesquisa online oferece uma srie de vantagens sobre as demais pesquisas qualitativas. Segundo os autores, para alm de ter a possibilidade de utilizar recursos que, em um processo normal de pesquisa, no seriam possveis, o pesquisador recebe estmulos de vrias

ordens, podendo ser visuais e ou sonoros. A pesquisa online tem tambm a vantagem de excluir alguns custos como fotocpias e digitao.

IV. Problema A febre desenvolvimentista dos anos 50 e 60, fez surgir vrias teorias que se propunham a trazer solues para o desafio da reconstruo da Europa ps guerra e do subdesenvolvimento no qual se encontravam mergulhados muitos dos ento recm-criados Estados Africanos e Asiticos. Dentre os tericos destacou-se Franois Perroux, cuja constatao de que o crescimento econmico no ocorre de maneira igual e simultnea em toda a parte, mas sim de forma desequilibrada, surgindo atravs de plos que se propagam, esteve na origem uma srie de estudos convergentes desenvolvidos por Jacques-R Boudeville, Gunnar Myrdal, Albert O. Hirschman e Douglass C. North a teoria do Desenvolvimento Polarizado (Lima & Simes, 2010) A constatao Perrouxiana e os estudos que lhe seguiram ilustraram por um lado a necessidade de a promoo do desenvolvimento regional passar pela considerao de quais os espaos que renem melhores condies para se transformar em plos de crescimento e por outro a necessidade de se investir na constituio desses plos, que pudessem gerar um processo de crescimento econmico por difuso dos efeitos de um determinado investimento concentrado no conjunto da economia (Cabugueira, 2000). da que ainda nos anos 50, surgem as primeiras Zonas Francas Industriais (ZFIs) orientadas para a promoo da industrializao e do aumento das exportaes (Langa, 2001). O surgimento e a adopo das ZFI em um pouco por todo o mundo, foi um reflexo da significativa influncia que as teorias do desenvolvimento polarizado tiveram na conduo da poltica econmica de vrios Pases na medida em que justificavam a interveno do Estado em prol do desenvolvimento econmico. As polticas de desenvolvimento elaboradas a partir de ento se basearam no conceito de plo de crescimento e na dinmica de atraco de investimentos supostamente dotados de grande poder de irradiao (Lima & Simes, 2010). Moambique aderiu a estratgia de ZFIs na segunda metade da dcada de 80 no mbito do Programa de Reajustamento Econmico (PRE) estando j a acolher um significativo volume de investimentos na base da mesma. Ora, a insipincia do valor que estes investimentos agregam a

economia1, aliado ao debate actual em torno dos recorrentes deficits oramentais e da necessidade de alargamento da base tributria, nos remetem a questionar luz dos pressupostos tericos a utilidade/validade das ZFIs como estratgia de desenvolvimento regional em Moambique. Outra questo pertinente que surge relativa ao enquadramento que a experiencia moambicana de ZFIs encontra nas teorias do desenvolvimento regional e que ilaes se podem fazer da mesma.

V. Justificativa O facto de as Zonas Francas Industriais terem a sua origem e fundamento nas teorias do desenvolvimento polarizado, evidencia que estas esto claramente associadas a ideia de pole de croissance ou seja unidades econmicas que atravs de ligaes inter e intra-sectoriais a montante e jusante, exercem efeito de expanso sobre as outras unidades com as quais se relacionam (Perroux, 1967 apud Lima & Simes, 2010). Entretanto, a despeito dos ganhos que os plos de crescimento podem trazer s economias, vrios modelos da Teoria Econmica sobre as Zonas Francas Industriais, demonstraram e chamaram a ateno dos policymakers quanto ao efeito incerto e ambguo que uma ZFI pode trazer para um pas, dependendo do grau de abertura da economia, do grau de intensidade da utilizao dos factores de produo (trabalho e capital), da mobilidade intersectorial do capital e da comercializao dos insumos intermedirios (Langa, 2001). Neste prisma, torna-se relevante uma anlise das ZFIs com particular nfase para o impacto que estas tm sobre a economia de Moambique. Essa anlise das ZFIs, quando feita luz do pensamento dos tericos do desenvolvimento polarizado pode nos permitir enquadrar os custos e os benefcios destas zonas no quadro global da economia moambicana a curto, mdio e longo prazo em funo dos efeitos que os mesmos (custos e benefcios) geram.

1

Evidncia disso so os mega-projectos que de acordo com o economista Carlos Nuno Castel-Branco trazem ao Pas mais custos do que benefcios: Apenas 25% dos rendimentos lquidos dos megaprojectos so retidos pela nossa economia. (Dados colhidos de uma palestra orientada por Castel-Branco a 23 de Fevereiro de 2011 subordinada ao Tema: Pobreza, Crescimento e Dependncia).

VI. QUADRO TERICO CONCEPTUAL 1. Zonas Francas Industriais (ZFIs). So vrias as terminologias usadas para expressar o conceito de ZFIs: Zonas livres Industriais, Zonas de Comrcio Livre, Zonas Industriais de Exportao entre outras. Porm, o conceito geral que elas traduzem basicamente o mesmo uma poltica de promoo de exportaes via industrializao do Pas (Langa, 2001). O Banco Mundial, define ZFI como um espao geogrfico tipicamente industrial, normalmente compreendendo uma rea de 10 a 300 hectares, e que se especializa na produo de bens para a exportao, oferendo-se s firmas comrcio livre e outros incentivos fiscais. A legislao Moambicana, atravs da lei de Investimentos (lei n 3/93 de 24 de Julho), define ZFI como: rea ou unidade ou srie de unidades de actividade industrial, geograficamente delimitada e regulada por um regime aduaneiro especfico na base do qual as mercadorias que a se encontrem ou circulem, destinadas exclusivamente produo de artigos de explorao, bem como os prprios artigos de exportao da resultantes, esto isentos de todas as imposies aduaneiras, fiscais e para-fiscais correlacionadas, beneficiando,

complementarmente, de regimes cambial, fiscal e laboral especialmente institudos e apropriados natureza e eficiente funcionamento dos empreendimentos que a operem, particularmente no seu relacionamento e cumprimento das suas obrigaes comerciais e financeiras para com o exterior, assegurando-se, em contrapartida, o fomento do desenvolvimento regional e a gerao de benefcios econmicos em geral e, em especial, de incremento da capacidade produtiva, comercial, tributria e de gerao de postos de trabalho e de moeda externa para o pas. Nas vrias definies evidenciam-se como aspectos fundamentais e comuns numa ZFI, a constituio de um parque industrial, a produo para exportao e a concesso de incentivos fiscais s firmas que operem sob aquele regime (Langa, 2001:7). Entretanto, apesar de estas definies frisarem a produo para exportao, o conceito de ZFIs que se tem introduzido em vrios pases admite a possibilidade de parte da produo proveniente daquelas zonas poder ser comercializada no mercado domstico. Por exemplo a legislao moambicana permite que as ZFIs comercializem no mercado interno at 15% da sua produo.

2. Teoria dos Plos de Crescimento As origens histricas da teoria dos plos de crescimento, so encontradas nos trabalhos do economista britnico William Petty (1623- 1687) que impressionado pelo rpido e elevado crescimento que se observava em Londres no sculo XVII, presumiu que as fortes economias urbanas eram o suporte e motor das naes ricas (De Andrade, 1987). Porem, ao francs Franois Perroux (1903-1987) que atribuda a formulao e, elaborao da Teoria de plos de crescimento e desenvolvimento em 1955. A teoria derivou da observao do que acontecia em redor da concentrao urbana de Paris na Frana, e ao longo da concentrao industrial do Vale de Ruhr na Alemanha (De Souza, 2005). Foi a partir dessa observao emprica que Perroux formulou o grande teorema do desenvolvimento polarizado: o crescimento no surge em toda a parte ao mesmo tempo; manifesta-se com intensidades variveis em pontos ou plos de crescimento; propaga-se segundo vias diferentes e com efeitos variveis no conjunto da economia. (Perroux, 1967 apud Lima & Simes, 2010). Lima & Simes (2010), explicam que o plo de crescimento seria para Perroux uma unidade econmica ou um conjunto formado por vrias dessas unidades que exercem efeitos de expanso sobre outras unidades com as quais se relaciona. O plo de crescimento portanto, a unidade econmica motriz ou propulsora. Segundo Perroux citado por De Souza (2005), a regio central (onde se localiza o plo), exerce sobre as outras regies dois tipos de efeito: Efeitos propulsores so os efeitos de encadeamento da produo e do emprego sobre actividades induzidas de regies vizinhas. Nestes casos, um plo de crescimento pode constituir um plo de desenvolvimento. Efeitos regressivos so os efeitos nocivos impostos pelas regies centrais s zonas perifricas atravs de trocas desiguais, drenagem de capitais financeiros, mo-de-obra especializada e actividades produtivas. Em funo da relao que se estabelecia entre as regies, Jacques Boudeville, seguindo os passos de Perroux, justificou a interveno do Estado destacando a necessidade e a importncia de polticas econmicas regionais que pudessem orientar os plos de desenvolvimento e harmonizar o crescimento (Lima & Simes, 2010).

3. Teoria da Causao Circular Cumulativa Nos anos 50, no cenrio de crescentes desigualdades entre pases desenvolvidos e pases subdesenvolvidos, a teoria econmica carecia ainda de instrumentos adequados para lidar com as disparidades regionais. Foi esse vazio que, de acordo com Lima & Simes (2010), impulsionou o economista sueco Gunnar Myrdal, a desenvolver uma teoria para explicar a dinmica econmica regional baseada em um processo de Causao Circular Cumulativa (C.C.C). Myrdal observa que determinadas regies ou localidades tornam-se economicamente atractivas em virtude de um facto histrico ou geogrfico fortuito (ex. um porto natural, um vale frtil, uma bacia carbonfera ). Assim, os movimentos de capital, do trabalho e de bens e servios tendem a se concentrar nessas localidades, deixando o resto do pas relativamente estagnado. Em outras palavras, esse processo de crescimento ou expanso de uma localidade, gera semelhana dos plos de crescimento (de Perroux) dois tipos de efeito nas demais regies: Efeitos Propulsores (spread effects) representam ganhos obtidos pelas regies estagnadas (perifricas) decorrentes de transbordamentos de novas tecnologias bem como por meio de fornecimento de bens de consumo e / ou matrias-primas para a regio em expanso. Efeitos de Polarizao (backwash effect) representam perdas ou mudanas adversas sofridas pelas regies perifricas em favor das regies ricas ou avanadas (em expanso) Ex: fluxos de capital, de livre comrcio, de mo-de-obra qualificada (migrao selectiva). Myrdal, explica que quanto maior for o nvel de desenvolvimento econmico de um Pas ou regio, maiores sero os spread effects e mais facilmente sero neutralizados os backwash effects. Em contrrio, o baixo nvel de desenvolvimento econmico minimiza os spread effects e maximiza os backwash effects. Isto faz com que os eventos/factos nefastos se repercutam na economia sem que sejam facilmente neutralizados gerando a auto-reproduo da pobreza por via de um ciclo vicioso ou seja um conjunto de foras agem e interagem umas sobre as outras fazendo com que um pas pobre se perpetue na pobreza (Myrdal, 1957 apud Lima & Simes, 2010:9). Isto significa que as causas da pobreza, geram cada vez mais pobreza esta a Causao Circular Cumulativa (C.C.C). Desta forma, a estagnao de uma regio torna a mesma cada vez mais pouco atractiva de tal forma se no ocorrerem mudanas externas, essa regio nunca poder se desenvolver. por esta

razo que Myrdal invoca a interveno do Estado para contrabalanar/ neutralizar a lei de funcionamento do sistema de C.C.C e minimizar as disparidades entre regies (Lima & Simes, 2010).

4. Teoria do Desenvolvimento Desigual e Transmisso Inter-regional do Crescimento. Assumindo que o desenvolvimento no ocorre simultaneamente em toda a parte e que o mesmo tende a se concentrar espacialmente em torno do ponto em que se inicia, Albert Hirschman elaborou uma teoria que tenta explicar o processo de desenvolvimento econmico e como o mesmo pode ser transmitido de uma regio (pas) para outra (Lima & Simes, 2010). Hirschman critica a ideia de o desenvolvimento dever/poder ocorrer simultaneamente em muitas reas e actividades defendendo que o crescimento inicia-se nos sectores lderes e transfere-se para os seguintes (sectores satlites) de forma irregular e desequilibrada (unbalaced growth). Dada essa irregularidade, o processo de desenvolvimento implica necessariamente em diferenas nos nveis de desenvolvimento nacional e internacional. O desenvolvimento de uma localidade gera presses e tenses em direco s localidades subsequentes resultando em reas desenvolvidas e subdesenvolvidas. Ora, para Hirschman fundamental que os investimentos sejam concentrados no ponto de crescimento inicial durante determinado perodo de forma a auxiliar a consolidao do crescimento econmico. semelhana dos outros tericos, Hirschman considera que esse ponto de expanso inicial, gera sobre os restantes dois tipos de efeito: Trickling-down effects so efeitos favorveis como o caso do aumento de compras e de investimentos da zona de crescimento em favor das restantes regies. Polarization effects efeitos desfavorveis. Ex: migrao selectiva, desiquilibrio de competitividade em favor da zona de crescimento. Entretanto, ao contrrio de Myrdal, Hirschman possui uma viso optimista deste cenrio na medida em que os Trickling-down effects sero superiores aos Polarization effects, o que permitir as regies estagnadas crescer a partir da expanso da zona de crescimento (Lima & Simes, 2010). Entretanto, para que tal acontea, Hirschman reconhece a necessidade da interveno do Estado para contrabalanar os efeitos de polarizao e investir em utilidades pblicas essenciais para despertar a capacidade empreendedora da regio estagnada.

5. Teoria da Base de Exportao. A teoria da base de exportao foi desenvolvida nos 50 por Douglass North para explicar as especificidades da dinmica da economia americana. North concebe o conceito de base de exportao para designar colectivamente os produtos exportveis de uma regio (Lima & Simes, 2010). Ele demonstra que a explorao das vantagens competitivas, as economias externas e consequente competitividade (resultantes da crescente especializao em torno dos produtos exportveis) permitiram que a regio do Pacfico Nordeste dos E.U.A, tivesse no s a economia mas tambm toda a sua dinmica demogrfica, de urbanizao e de rendimento conformada pela base de exportao. A base de exportao pressupem que duas variveis: exportaes e importaes, trabalhem em conjunto para formar um sistema recproco de crescimento. Se uma dessas variveis falha, toda a dinmica do sistema comprometida pois os efeitos que elas geram so complementares: Efeito multiplicador das exportaes e; Efeito multiplicador das importaes. O aumento da renda e do emprego resultante do aumento das exportaes viabiliza um aumento de importaes para responder a crescente demanda do mercado interno. Ora, as importaes vo possibilitar a diversificao da produo local (em virtude da assimilao de novos modos de produo de determinados produtos) permitindo um novo aumento das exportaes. Portanto, neste modelo de North, medida que a capacidade produtiva do pas aumenta, as importaes no so reduzidas. Pelo contrrio, h variao na pauta sem reduo do volume de importaes ou seja, atravs da substituio de importaes, os recursos so realocados para a importao de outros bens que a economia interna no produz. Este processo (de substituio de importaes) chave para o crescimento na medida em que viabiliza a versatilidade da economia em gerar exportaes. O pressuposto de que as exportaes contnuas permitem importar em grande volume e diversidade at o ponto em que a produo interna destes produtos torna-se vivel. Estas observaes demonstram o quo interligados so os efeitos multiplicadores e como uma economia no pode prosperar sem exportaes e sem um mercado interno consolidado (Lima & Simes, 2010).

VII.

REVISO DE LITERATURA

1. As Zonas Francas Industriais vs Desenvolvimento Econmico Em todo o mundo, os Estados tem se preocupado em garantir uma melhor alocao dos seus recursos que permita o crescimento e desenvolvimento. Para tal, os governos tem incentivado vrias polticas econmicas que dinamizem a produo de bens e servios pelas empresas pblicas e privadas. Essa produo exige um ambiente favorvel ao investimento directo nacional e estrangeiro que complemente a poltica das empresas que pretendem internacionalizar os seus negcios (Stoner & Freeman, 1999 apud Langa, 2001). Langa (2001: 1) refere que, uma das polticas adoptadas pelos governos para estimular tal crescimento a promoo das exportaes. Dentre entre vrias formas de as promover, encontrase a constituio de Zonas Francas Industriais (ZFIs). Formalmente, as Zonas francas industriais surgiram por volta dos anos 50, tendo a primeira e mais famosa sido estabelecida em Shannon na Irlanda em 1959. Nesses mesmos anos, surgiram as primeiras ZFIs fora da Europa, nos chamados tigres asiticos: Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan. Desde ento, as ZFIs tm se revelado como um instrumento industrial e comercial disposio dos pases em vias de desenvolvimento, facto que evidenciado pela sua rpida adopo em muitos pases. O nmero de pases com ZFIs aumentou de 7 em 1970 para 73 em 1996, totalizando 580 zonas (Langa, 2001). Em 2002, existiam j 1.936 ZFIs a nvel mundial com apenas 87 em frica2. Com base numa extensa reviso de literatura, Langa (2001), nota que embora o grau de intensidade de cada objectivo varie de pas para pas conforme as suas caractersticas e necessidades, a formao de ZFIs como uma poltica econmica, visa fundamentalmente: captar divisas, criar postos de emprego num curto espao de tempo, atrair investimento directo estrangeiro, criar ligaes (linkages) inter-industriais e estimular sectores estratgicos da economia.

Langa (2001) aponta uma srie de vantagens adicionais que os pases podem colher do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) nas zonas francas:2

SERFICO, Jos e SERFICO, Marcelo. A Zona Franca de Manaus e o Capitalismo no Brasil. Estudos Avanados. 2005

Investimento das empresas em capital humano nacional (formao e treinamento e desenvolvimento); Transferncia de tecnologia e know-how; Condies de trabalho (incluindo salrio mnimo) melhores que as das restantes zonas; e Surgimento de firmas nacionais de produo de bens e servios no tradicionais. Castel-Branco (2002), sugere que para alm destas, outra vantagem que Moambique pode colher das ZFIs imagem (marketing) no panorama dos fluxos internacionais de capitais.

2. Contextualizao: As Zonas Francas em Moambique Desde o Consenso de Washington3 que a abertura dos pases ao Investimento Directo Estrangeiro (IDE) era um dos elementos fundamentais do pacote de reformas econmicas orientadas pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI) na maior parte dos pases em desenvolvimento. Ao iniciar as suas reformas a partir da segunda metade da dcada de 80, a braos com uma crise sem precedentes e uma economia extremamente moribunda, essa abertura da economia ao capital estrangeiro era para Moambique no s era um imperativo de sobrevivncia mas tambm uma exigncia da comunidade doadora. Entretanto, embora fizessem parte de um conjunto de condies impostas a Moambique pelas instituies financeiras internacionais (o Banco Mundial e o FMI) no mbito do PRE, as Zonas Francas Industriais foram introduzidas em resposta a desafios concretos da economia moambicana. A balana de pagamentos que fora sempre dependente da exportao de bens primrios e do manuseamento de carga para os pases do hinterland, estava profundamente desiquilibrada uma vez que a guerra paralisara quase na totalidade no s a produo interna como tambm o fluxo de cargas para os pases vizinhos. Esta situao era agravada pelo facto de o peso da indstria manufactureira na economia ser extremamente baixo. Terminada a guerra, para inverter esta situao, o pas apostou na industrializao atravs de uma poltica orientada para a promoo da indstria nacional exportadora, onde se procura dar maior3

Ttulo atribudo a um documento redigido numa reunio de economistas liberais seniores, ocorrida em Washington em 1989. O documento continha as 10 instrues regulatrias do viriam a ser os Programas de Ajuste Econmico (PAE) nos PVDs.

valor acrescentado s exportaes pela incorporao de cada vez maior quantidade de recursos nacionais (Langa, 2001:21). As ZFIs aparecem ento como um dos incentivos estratgicos adoptados para a promoo do emprego e das exportaes atravs da atraco do investimento directo nacional e estrangeiro. O regulamento das ZFIs em vigor (decreto ministerial n 62/99 de 21 de Setembro) aplicvel s firmas de desenvolvimento e gesto de ZFIs e s firmas de actividade industrial orientada para exportao (incluindo firmas isoladas) 4. Para a atribuio do ttulo de ZFI, necessrio que a firma crie emprego para moambicanos (pelo menos 20 postos de emprego permanentes) e que pelo menos 85% da produo seja para exportao.

VIII. ANLISE Zonas Francas em Moambique: uma anlise do impacto na economia O rosto mais visvel das Zonas Francas Industriais em Moambique so sem dvida os mega projectos actuando: No sector fabril: MOZAL, Fundio de Aluminio no parque industrial de Beloluane. No sector mineral: Vale Moambique na explorao carbonfera em Moatize, Tete; Kenmare na explorao de areias pesadas em Moma, Nampula. No sector energtico: Sasol na explorao de gs natural em Inhambane. No total, as autoridades moambicanas j aprovaram em regime de ZFIs, nove investimentos considerados mega projectos, que mobilizam cerca de 9,82 bilies de dlares americanos5. Recentemente foram criadas na cidade de Nacala Porto, trs novas ZFIs. Entretanto, desde o inicio da sua implementao em Moambique, a estratgia das ZFIs vem sendo atravessada por um apaixonante debate do qual em maior em menor grau somos todos protagonistas. Este debate centra-se em torno de uma questo: Que impacto estas Zonas trazem para a economia moambicana? Os prximos pargrafos sero reservados a essa discusso.

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A lei define ZFI como um conglomerado de empresas situadas numa rea fisicamente delimitada. Entretanto condiciona a concesso desse ttulo a fbricas isoladas existncia de pelo menos 250 trabalhadores e o impacto e o impacto que essa fbrica trar. 5 Http://www.portaldogoverno.gov.mz/noticias/news_folder_econom_neg/janeiro-2011/jeffrey-sachs-sugererenegociacao-dos-mega-projectos/

1. As Zonas Francas e a base de Exportao Moambicana As Zonas Francas Industriais (especificamente os megaprojectos), so responsveis por cerca trs quartos das exportaes nacionais de bens (Castel-Branco, 2008). Alis, a promoo das exportaes um dos objectivos primrios de qualquer ZFI. Entretanto, por conta dos benefcios fiscais, essas exportaes traduzem apenas ganhos para os megaprojectos e uma acrescida capacidade destes de pagarem as suas importaes (de factores de produo). Os ganhos das exportaes so muito pouco partilhados com a economia nacional, de tal forma que, o disparo das exportaes (das ZFIs) no se traduz no aumento a capacidade do resto da economia de importar bens e servios. Em outras palavras, h uma desarticulao entre as exportaes e as importaes de tal forma que uma economia de base de exportao conforme teorizada por D. North (1977)6 uma utopia pelo menos no nosso contexto e nas actuais condies. Os efeitos multiplicadores complementares e recprocos das exportaes e das importaes no ocorrem. Portanto, contrariando a teoria de North, em Moambique a demanda crescente de importaes em bens e servios na economia no surge em resposta a um aumento de emprego e de renda gerado pelas exportaes das ZFIs.

2. As Zonas Francas Industriais e as Desigualdades do Desenvolvimento Regional O investimento dos mega-projectos em ZFIs parece privilegiar algumas zonas relativamente as outras. Dados de 2002, revelam que quase metade do investimento do Complexo mineralenergtico foi absorvido em Maputo. Numa comparao regional, revelou-se que 76% do mesmo investimento foi absorvido no Sul de Moambique. Esta relativa atractividade de Maputo (e do Sul) em relao s outras regies deveu-se na altura a presena de um mnimo de infra-estruturas (estradas, porto e telecomunicaes), regularidade do fornecimento de energia elctrica entre outras condies de suporte de uma ZFI. Estes elementos permitem-nos concluir que as dinmicas do investimento e do crescimento continuam a ser determinadas por factores fortuitos/vantagens comparativas de uma regio em relao as outras o efeito da causao circular cumulativa (C.C.C) de Myrdal. O crescente

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Referncia em Lima & Simes (2010)

fluxo de IDE na forma de megaprojectos em ZFIs para regies ricas como Moma (Nampula) e Moatize (Tete) do sustento a este argumento. Por outro lado, indisfarvel a incapacidade do nosso Estado de neutralizar ou contrabalanar os efeitos da Causao Circular Cumulativa de forma a minimizar as potenciais desigualdades regionais por via da mobilizao da capacidade empreendedora e produtiva das outras regies e sectores da economia (Myrdal, 1957; Hirschman, 1958 aput Lima & Simes, 2010).

3. As Zonas Francas Industriais e a base Tributria Ao se abordar o impacto do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) nas economias receptoras, uma das grandes linhas de discusso a relao ZFIs vs Fiscalidade. Langa (2001), nota que, embora os investimentos expressos na poltica fiscal sejam fundamentais para a atraco de investidores, eles representam um custo de oportunidade elevado para o Pas no s no que se refere as receitas abdicadas, mas tambm no que se refere ao desvio de recursos que podiam ser aplicados em outras reas produtivas. Esses incentivos tornam-se pouco eficazes ao no terem em conta o desempenho das firmas ao atribuir os mesmos incentivos a qualquer firma. Para evidenciar o custo das ZFIs para Moambique, Castel-Branco afirma: A extino dos incentivos fiscais aos grandes megaprojectos (que operam quase todos em regime de ZFIs), reduziria imediatamente a dependncia do oramento em 38% e acabaria na totalidade com a dependncia financeira do Pas em 10 anos7 O potencial fiscal dos seis megaprojectos mais conhecidos (Mozal, areias minerais de Moma e Chibuto, gs natural, carvo e HCB), se explorado, pode duplicar a receita fiscal do Estado. Portanto, conforme se pode deparar, ao abdicar dos impostos das ZFIs, o Estado incorre a um custo extremamente alto pois abdica de recursos que permitiriam reduzir a dependncia externa, consolidar a soberania poltica e aumentar a capacidade do Estado de investir na diversificao da base produtiva e de crescimento, no fornecimento de servios pblicos

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Dados colhidos de uma palestra orientada por Castel-Branco a 23 de Fevereiro de 2011 subordinada ao Tema: Pobreza, Crescimento e Dependncia.

fundamentais e no desenvolvimento de um sistema de proteco, segurana e assistncia social (Castel-Branco, 2008). Por outro lado, os subsdios s Zonas Francas so sob ponto de vista de equidade fiscal, injustos na medida em as estatsticas dos ltimos anos demonstram que a contribuio dos singulares (Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares - IRPS) e das Pequenas e mdias Empresas (Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas IRPC) foi superior contribuio dos megaprojectos na economia no obstante a incomparvel robustez do capital destes em relao queles8. paradoxal que isto esteja a acontecer se tivermos em conta que as Pequenas e mdias Empresas em Moambique so mais geradoras de emprego e de ligaes com a economia do que as ZFIs.

4. As Zonas Francas Industriais e a Base produtiva Com a criao de ZFIs como fontes de captao de divisas, os pases orientam-se mais para a exportao do que para a substituio de importaes. Entretanto, Castel- Branco (2008), nota que os ganhos que o pas colhe da riqueza gerada pelas Zonas Francas Industriais (no caso concreto os megaprojectos), devem ser aferidos com base no grau de absoro e reteno dessa riqueza pela economia nacional e no apenas pela quantidade de riqueza que estes (megaprojectos) produzem (ex. contribuio para as exportaes) pois esta s gera maiores lucros e uma capacidade acrescida para essas empresas pagarem as suas importaes. Os incentivos dados em relao movimentao de capitais das firmas localizadas nas ZFIs (includa a liberdade total de repatriamento de lucros) e a fraca existncia de ligaes entre as firmas daquelas zonas e as domsticas fazem com que as divisas retidas pelo pas acolhedor sejam pouco significativas (Langa, 2001). A criao de ZFIs numa economia, torna-se mais valiosa e mais significativa no rendimento do pas caso apresente um efeito multiplicador no mercado local de bens e servios. Langa (2001) retomando o modelo de Hirschman (1958), considera que esse efeito existir se as firmas locais estiverem aptas a responder s solicitaes em insumos e outros servios adicionais s novas

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Idem

empresas instaladas (backward linkages ou efeitos montante) e quando as firmas locais se beneficiarem dos produtos oriundos das novas firmas (forward linkages ou efeitos jusante). Com base em Castel-Branco (2008:4), podemos avanar como principais ligaes econmicas que o pas tem a possibilidade de desenvolver a partir do investimento das ZFIs so: produtivas, tecnolgicas e de emprego. Entretanto, Castel-Branco (2008) mostra que a economia nacional tem dificuldades em captar as dinmicas do investimento atrado pelas ZFIs e delas agregar valor a economia. Ora vejamos: a) As Ligaes produtivas (a montante) so difceis de estabelecer dada a fraqueza da base produtiva nacional e as exigncias relacionadas com a sofisticao dos standards de qualidade e certificao que caracteriza a procura de bens e servios industriais dos megaprojectos. A capacidade produtiva e logstica para fornecer bens e servios aos mega projectos exige investimento em tecnologia, formao e aprendizagem e em gesto e logstica. Castel-Branco (2002), evidenciou as fracas ligaes produtivas entre as empresas nacionais e o capital das ZFIs, ao observar que empresas nacionais ou baseadas em Moambique fornecem apenas volta de 5%-10% das necessidades dos mega projectos em subcontratao. b) As ligaes tecnolgicas so baixas dada a baixa mobilidade de tecnologia e know how das firmas das ZFIs (onde os qualificadores e standards so mais altos) para as empresas a montante e a jusante. Por outro lado, as condies industriais do Pas tornam difcil a absoro da fora do trabalho treinada pelo investimento em ZFIs. No sendo suficientemente absorvidas, essa fora de trabalho e qualificaes, perdem valor econmico. Na acepo de Myrdal (1957) apud Lima & Simes (2010), os transbordamentos tecnolgicos, seriam um dos ganhos que as regies estagnadas colheriam das zonas de crescimento. As externalidades tecnolgicas, permitiram a gerao de retornos crescentes escala nas outras actividades produtivas tornando a economia mais diversificada e competitiva. c) As ligaes por via do emprego so igualmente deficitrias uma vez que por um lado os investimentos das ZFIs so intensivos em capital e as oportunidades de emprego so relativamente escassas e por outro lado as fracas ligaes das ZFIs a montante e a jusante

no viabilizam o crescimento das empresas nacionais de tal forma que estas possam criar mais postos de trabalho.

O que dizer das Zonas Francas Industriais em Moambique? Conforme dissemos ao longo do presente texto, em Moambique os megaprojectos confundemse com as Zonas Francas Industriais na medida em que aqueles operam quase na totalidade neste regime econmico. Disto podemos concluir que em Moambique, as Zonas Francas Industriais na sua relao com a economia nacional caracterizam-se por: (i) falta de ligaes com a economia; (ii) no criam emprego em correspondncia com a magnitude dos projectos; (iii) no geram recursos para a economia (no pagam impostos e os lucros so repatriados); (iv) pouco impacto no alvio da pobreza; (v) competio poltica e econmica com as outras empresas, resultando em desigualdade de tratamento em prejuzo das empresas nacionais e empresas pequenas e mdias; (vi) concentrao sectorial e regional dos projectos (Castel-Branco, 2008).

VIII. CONCLUSO As anlises que acabamos de fazer do impacto das Zonas Francas luz das teorias do desenvolvimento polarizado, mais nos impelem ao cepticismo de Myrdal do que ao optimismo de Hirschman na medida em que ela vem mais uma vez evidenciar os efeitos nefastos que as regies desenvolvidas podem ter sobre as subdesenvolvidas. No caso, atravs do IDE nas ZFIs, a economia moambicana mais sofre do que se beneficia do capital estrangeiro. Desta forma, tendo em conta os desafios de sustentabilidade econmica e social do pas, impem-se a necessidade urgente de se repensar nas Zonas Francas e na relao entre a economia e o grande capital estrangeiro (IDE) em geral. Tal como a abertura da economia ao Investimento Directo Estrangeiro e as ZFIs em particular constituiu na altura um imperativo de sobrevivncia da economia, repensar as Zonas Francas hoje um imperativo de sustentabilidade econmica e social para o Pas.

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