lojas francas na fronteira - apontamentos

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SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves apontamentos sobre a Lei nº. 12.723/2012. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.9, n.1, 1º quadrimestre de 2014. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791. 493 LOJAS FRANCAS NA FRONTEIRA: BREVES APONTAMENTOS SOBRE A LEI Nº 12.723/2012 DUTY-FREE SHOPS AT THE BORDER: BRIEF COMMENTS ABOUT THE BRAZILIAN LAW Nº 12.723/2012 Tiago Venancio da Silva 1 Henrique Sartori de Almeida Prado 2 SUMÁRIO: Introdução; 1. O processo legislativo e a Lei nº 12.723/12; 1.1. O Decreto-Lei nº 1.455/76; 1.2. O Projeto de Lei nº 6.316/09; 2. Os free shops e o ambiente tributário no Brasil; 2.1. Impactos no ambiente da política tributária nacional; 2.2. Fiscalização e arrecadação; 2.3. Controle e o papel da Receita Federal; 3. As Fronteiras; 3.1. Faixa e Linha de Fronteira; 3.2. O fortalecimento das ações de fronteira no Mercosul; Considerações finais; Referências das fontes citadas. RESUMO O presente estudo tem como escopo trazer considerações sobre a Lei nº 12.723/2012, que autorizou a instalação de lojas francas em Municípios da faixa de fronteira cujas sedes se caracterizam como cidades gêmeas de cidades estrangeiras. Neste trabalho, serão apresentados os aspectos que envolvem o processo legislativo e a criação da Lei. Será abordado o estudo sobre a criação dos “free shops” e o sistema de tributação, trazendo as modificações que a lei introduzirá no ambiente nacional. Será analisado ainda breves considerações sobre fronteiras, conceitos sobre faixas e linhas de fronteira e, para isso, o estudo foca a discussão acerca da nova Lei e o ambiente do processo de integração regional do Mercosul. A criação das lojas francas poderá trazer novas perspectivas de crescimento econômico aos municípios fronteiriços brasileiros, contudo, ainda é um ambiente de incertezas. 1 Graduado em Direito pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD e membro do Grupo de pesquisa em Cooperação descentralizada e a paradiplomacia no ambiente da integração regional: a atuação dos governos subnacionais em busca do desenvolvimento. [email protected] 2 Professor da Faculdade de Direito e Relações Internacionais da UFGD. Doutorando em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - IESP/UERJ. Membro do LABMUNDO-Rio. [email protected] Coordenador do Grupo de Pesquisa em Cooperação Descentralizada e Paradiplomacia no ambiente da Integração Regional: a atuação dos Governos Subnacionais em busca do desenvolvimento (UFGD). Este artigo é parte adaptada do texto publicado no periódico Lawinter Review v.4, n. 2 – December 2013.

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Artigo sobre Lojas Francas

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  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    LOJAS FRANCAS NA FRONTEIRA: BREVES APONTAMENTOS SOBRE A LEI N 12.723/2012

    DUTY-FREE SHOPS AT THE BORDER: BRIEF COMMENTS ABOUT THE BRAZILIAN LAW N 12.723/2012

    Tiago Venancio da Silva1

    Henrique Sartori de Almeida Prado2

    SUMRIO: Introduo; 1. O processo legislativo e a Lei n 12.723/12; 1.1. O Decreto-Lei n 1.455/76; 1.2. O Projeto de Lei n 6.316/09; 2. Os free shops e o

    ambiente tributrio no Brasil; 2.1. Impactos no ambiente da poltica tributria nacional; 2.2. Fiscalizao e arrecadao; 2.3. Controle e o papel da Receita

    Federal; 3. As Fronteiras; 3.1. Faixa e Linha de Fronteira; 3.2. O fortalecimento das aes de fronteira no Mercosul; Consideraes finais; Referncias das fontes citadas.

    RESUMO

    O presente estudo tem como escopo trazer consideraes sobre a Lei n 12.723/2012, que autorizou a instalao de lojas francas em Municpios da faixa

    de fronteira cujas sedes se caracterizam como cidades gmeas de cidades estrangeiras. Neste trabalho, sero apresentados os aspectos que envolvem o processo legislativo e a criao da Lei. Ser abordado o estudo sobre a criao

    dos free shops e o sistema de tributao, trazendo as modificaes que a lei introduzir no ambiente nacional. Ser analisado ainda breves consideraes

    sobre fronteiras, conceitos sobre faixas e linhas de fronteira e, para isso, o estudo foca a discusso acerca da nova Lei e o ambiente do processo de integrao regional do Mercosul. A criao das lojas francas poder trazer novas

    perspectivas de crescimento econmico aos municpios fronteirios brasileiros, contudo, ainda um ambiente de incertezas.

    1 Graduado em Direito pela Universidade Federal da Grande Dourados UFGD e membro do Grupo de pesquisa em Cooperao descentralizada e a paradiplomacia no ambiente da integrao regional: a atuao dos governos subnacionais em busca do desenvolvimento.

    [email protected]

    2 Professor da Faculdade de Direito e Relaes Internacionais da UFGD. Doutorando em Cincia Poltica pelo Instituto de Estudos Sociais e Polticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - IESP/UERJ. Membro do LABMUNDO-Rio. [email protected] Coordenador do Grupo de Pesquisa em Cooperao Descentralizada e Paradiplomacia no ambiente da Integrao Regional: a atuao dos Governos Subnacionais em busca do desenvolvimento (UFGD).

    Este artigo parte adaptada do texto publicado no peridico Lawinter Review v.4, n. 2 December 2013.

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    PALAVRAS-CHAVE: free shops; lojas francas; cidades gmeas; Mercosul.

    ABSTRACT

    The present research explores considerations about the Brazilian Law n. 12.723/2012 authorizing the establishment of duty free shops at the twin cities,

    situated in the border strip. In this work, the aspects that involve the legislative process and the creation of the Law study on the creation of "free shop" and the taxation system will be discussed, bringing the changes that the law will

    introduce in the national environment will be presented. It will be analyzed brief concepts about borders, borders strips and lines and, therefore, the study

    focuses on discussion of the new law and the regional integration process of Mercosur. The creation of duty free shops may bring new economic growth prospects of the Brazilian border towns, however, is still an atmosphere of

    uncertainties.

    KEYWORDS: duty-free shops; duty-free stores; Twin Cities; Mercosur.

    INTRODUO

    O presente artigo, sem nenhuma pretenso de colocar um ponto final sobre o

    tema proposto ou tampouco esgotar o assunto, tem por finalidade, realizar uma

    anlise inicial sobre os impactos da Lei n 12.723/2012.

    Considerando os aspectos do comrcio internacional, sobretudo as regras

    aduaneiras, elaborou-se uma legislao apropriada e que atendesse a

    necessidade de uma melhor fiscalizao e controle por parte da administrao

    pblica. Neste sentido, o Decreto-Lei n 1.455/1976 foi publicado.

    Tal decreto dispe sobre bagagem de passageiro procedente do exterior,

    disciplina o regime de entreposto aduaneiro, estabelece normas sobre

    mercadorias estrangeiras apreendidas e d outras providncias. Foi que, a partir

    deste decreto, nasceu no Congresso Nacional, por iniciativa do parlamentar

    Marco Maia (PT/RS), o projeto de Lei n 6.316/2009, o qual ensejou criao da

    Lei n 12.723/2012, tendo como principal providncia a autorizao de

    instalao de lojas francas em Municpios da linha de fronteira cujas sedes se

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    caracterizam como cidades gmeas de cidades estrangeiras. O surgimento desta

    lei o principal ponto deste estudo.

    Visando o esclarecimento da norma e o melhor desenvolvimento do texto, este

    trabalho foi dividido em trs captulos. O primeiro captulo aborda o processo

    legislativo e nascimento da Lei n 12.723/2012, analisando o Decreto-lei n

    1.455/1976, o Projeto de Lei n 6.316/2009, at chegar na edio final da Lei n

    12.723/2012, adentrando tanto no campo constitucional bem como relatando

    brevemente o processo legislativo que envolveu tal norma.

    O segundo captulo analisar os free shops e o ambiente tributrio no Brasil,

    trazendo as modificaes que a lei introduzir no ambiente tributrio nacional, de

    forma singela, uma vez que, a regulamentao da lei ainda no est concluda ou

    editada.

    Os aspectos tericos e doutrinrios sobre fronteiras e o crescimento e

    fortalecimento do Mercosul como ambiente de aplicao da Lei n 12.723/2012

    sero discutidos no terceiro captulo, com a finalidade de clarear o intuito do

    legislador que props a referida norma, bem como, discutir os possveis impactos

    da nova situao tributria, sobretudo no Mercosul.

    Sendo assim, o desenvolvimento deste estudo tem como principal objetivo levar

    sociedade e ao ambiente acadmico, ainda que de forma concisa e inicial,

    importantes consideraes sobre a inovao legislativa recentemente sancionada

    e os possveis impactos no ambiente econmico e tributrio nacional.

    1. O PROCESSO LEGISLATIVO E A LEI N 12.723/12

    De acordo com o artigo 59 da Constituio Federal, o processo legislativo se

    embasa em um conjunto de normas que devem ser seguidas na elaborao das

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    espcies normativas. Caso a norma no esteja sujeita s regras do processo

    legislativo, ocorre sua inconstitucionalidade3.

    Existem trs espcies de processo legislativo: o ordinrio, o sumrio e o especial.

    O ordinrio se destina a criao de leis ordinrias, o sumrio4 diz respeito s

    normas e leis que tenham prazo determinado para serem deliberadas pelo

    Congresso Nacional e, finalmente o especial, que se destina elaborao de leis

    complementares, delegadas, decretos legislativos, medidas provisrias, leis

    financeiras e resolues5.

    Com referncia s fases do processo legislativo, podemos trat-lo como um

    processo trifsico: fase introdutria ou de iniciativa; fase constitutiva e fase

    complementar.

    Como exemplos de fase introdutria ou de iniciativas temos: a iniciativa geral, a

    iniciativa parlamentar, a iniciativa extraparlamentar, a iniciativa concorrente, a

    iniciativa exclusiva e a iniciativa popular. Nesse caso da Lei n 12.723/2012, o

    Projeto de Lei foi elaborado por iniciativa parlamentar, do deputado Marco Maia

    (PT/RS).6

    A fase constitutiva de um Projeto de Lei pode ser melhor explicitada diante das

    diversas sesses parlamentares com deliberaes, adio de emendas, etc.

    Nessa fase, o projeto apreciado pelo Senado Federal e tambm pela Cmara

    dos Deputados. Nas duas casas do Congresso Nacional necessria a maioria

    relativa de votos para que o projeto seja aprovado, de acordo com o artigo 288

    do Regimento Interno do Congresso Nacional.

    Se o Projeto de Lei for apresentado por um Deputado, pelo Presidente da

    Repblica ou pelo Supremo Tribunal Federal a votao se inicia na Cmara dos

    3 SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33 ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2010. p.528

    4 De acordo com o artigo 64, 1 ao 4, da Constituio Federal, so as matrias de urgncia.

    5 GOMES, Luiz Flvio. Processo legislativo ordinrio, sumrio e especial. Disponvel em: http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2011/01/18/processo-legislativo-ordinario-sumario-e-

    especial/. Acesso em 20 jan. 2013.

    6 De acordo com o artigo 61 da Constituio Federal de 1988.

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    Deputados, mas se o projeto for apresentado por um Senador a votao tem

    incio no Senado.

    Posteriormente, h a deliberao executiva, momento em que o Presidente

    sanciona ou veta o Projeto de Lei aps j ter sido analisado e deliberado pelo

    Congresso Nacional e sofrido ou no emendas. Sano quando o Chefe do

    Poder Executivo concorda com o projeto e o transforma em lei. Essa sano pode

    ser tcita ou expressa, mas deve sempre ser motivada.

    O veto pode ser total ou parcial e ocorre quando o Chefe do Poder Executivo

    impede que o Projeto de Lei, ou parte dele, se transforme em lei. O veto deve

    sempre ser expresso, motivado, formalizado e supressivo (O presidente s pode

    retirar partes do Projeto de Lei e no acrescentar). Em caso de veto parcial deve

    ser suprimido o texto completo do artigo, no pode o veto se limitar a palavras

    constantes dos artigos do projeto.

    Veto o modo de o Chefe do Executivo exprimir sua

    discordncia com o projeto aprovado, por entend-lo inconstitucional ou contrrio ao interesse pblico. Ser total

    se recair sobre todo o projeto, e parcial se atingir parte do projeto, mas este somente abranger texto integral de artigo, de pargrafo, de inciso ou de alnea (art. 66, 2).

    Com isso se corta o mau vezo de veto sobre palavra ou grupo de palavras que no raro importava em mudar o

    sentido do texto. Por exemplo: est lei entrar em vigor 60 dias aps sua publicao; vetando-se 60 dias, ela entrar em vigor com sua publicao. J houve veto desse tipo;

    agora no mais7.

    De acordo com o artigo 57, IV, da Constituio Federal, o veto relativo ou

    supervel, atravs de sesso conjunta do Congresso Nacional que tem o prazo

    de trinta dias corridos para deliberar sobre o veto. Nesse caso, o veto pode ser

    mantido ou no. No caso de discordncia do veto, em sesso conjunta do

    Congresso Nacional, o veto transformado em lei, independentemente da

    concordncia do Chefe do Poder Executivo.

    7 SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33 ed. So Paulo: Malheiros

    Editores, 2010. p.528.

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    No caso da Lei n 12.723/2012, a mesma sofreu veto em seu artigo 2 j que o

    mesmo determinava que a prtica dolosa de promoo de importao ao

    desamparo de guia de importao ou documento de efeito equivalente seria

    caracterizada como crime, punvel com deteno de um a trs meses ou multa.

    O veto ocorreu porque ao instituir novo tipo penal mediante simples remisso a

    dispositivo que estabelece infrao disciplinar, fez-se uso de tcnica legislativa

    inadequada, uma vez que a tipificao criminal deve buscar parmetros mais

    estreitos que os empregados para as infraes administrativas8. apontado

    ainda que j havia previso legal apropriada para sancionar infraes a normas

    tributrias9.

    Finalmente, h a fase complementar, que dividida entre a promulgao e a

    publicao da lei. A promulgao como uma declarao de que a lei vlida e

    tem executoriedade e a publicao o ato pelo qual a coletividade toma

    conhecimento da existncia da lei.

    Por se tratar de lei apenas autorizativa (Lei n 12.723/2012), a partir de agora,

    necessria regulamentao por parte da Secretaria da Receita Federal para que

    sejam definidas as regras de operao dos free shops.

    Cabe mencionar que a Lei n 12.723/2012 alterou o Decreto-Lei n 1.455/1976,

    que agora passa a vigorar acrescido de mais um artigo e, nesse ponto

    necessrio que se faa uma explanao breve acerca do mencionado Decreto.

    o que passamos a fazer a seguir.

    8 AGNCIA BRASIL. Dilma sanciona lei que autoriza free shops em cidades de fronteira. Disponvel em: . Acesso em 12 jan. 2013.

    9 AGNCIA BRASIL. Dilma sanciona lei que autoriza free shops em cidades de fronteira. Disponvel

    em: . Acesso em 12 jan. 2013.

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    1.1 O Decreto-Lei n 1.455/76

    O Decreto-Lei n 1.455/1976 dispe sobre bagagem de passageiro procedente

    do exterior, disciplina o regime de entreposto aduaneiro, alm de estabelecer

    normas sobre mercadorias estrangeiras apreendidas e outras providncias. O

    mencionado decreto foi alterado diversas vezes e atualmente, possui 42 artigos.

    Apesar das modificaes, o decreto permanece vigente.

    O mencionado decreto trata sobre a cobrana e iseno de tributos para

    bagagem de passageiro proveniente de outro pas, regulamentando vrios

    aspectos quanto aos valores das mercadorias, alquotas tributrias e formas de

    fiscalizao e cobrana.

    O dispositivo trata ainda das exportaes e importaes praticadas a ttulo

    comercial, permitindo a armazenagem de mercadorias destinadas exportao

    em local alfandegado, sejam de uso pblico ou privativo, mediante autorizao

    da Secretaria da Receita Federal.

    Fato importante que o Decreto autoriza o funcionamento de lojas francas para

    a venda de mercadorias nacionais ou estrangeiras em zonas primrias de portos

    ou aeroportos: os chamados free shops. A explorao desse tipo de comrcio,

    em consonncia com o dispositivo, somente ser feita por empresas habilitadas

    pela Secretaria da Receita Federal.

    O mencionado Decreto trata ainda das formas de dano ao errio em relao s

    infraes relativas s mercadorias e dita ainda a forma de apurao dessas

    infraes. Em caso de mercadorias apreendidas, podero estas ser alienadas,

    mediante licitao ou doao; incorporadas ao patrimnio da administrao

    pblica; destrudas ou inutilizadas de acordo com o artigo 2 da Portaria da

    Receita Federal n 3.010, de 29 de junho de 2011.

    Contudo, o Decreto-Lei n 1.455/1976 j previa a iseno de impostos nas free

    shops situadas em aeroportos e portos com embarques e desembarques

    internacionais.

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    Assim, apesar da existncia do Decreto-Lei n 1.455/1976 e, visando

    adaptao da iseno de impostos das lojas francas situadas em terminais de

    transportes internacionais, foi que o parlamentar Marco Maia (PT/RS) apresentou

    o Projeto de Lei n 6.316/2009, visando a implantao de lojas francas nas

    cidades fronteirias brasileiras. Para a iniciativa do projeto, o deputado

    considerou que os moradores dessas cidades muitas vezes atravessam as

    fronteiras para adquirir os mesmos produtos, com preos mais baixos, o que

    desfavorece o comrcio local pela impossibilidade de concorrncia. Nesse

    sentido, passamos a analisar o projeto no subcaptulo seguinte.

    1.2 O Projeto de Lei n 6.316/09

    O Projeto de Lei n 6.316/2009 de autoria do deputado Marco Maia (PT/RS) foi

    apresentado em 28 de outubro de 2009, dispondo sobre a instalao de free

    shops nas linhas de fronteira. De tramitao ordinria, no dia 11 de novembro de

    2009 foi apresentado, por meio do despacho da Mesa da Cmara dos Deputados,

    s Comisses de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional; Desenvolvimento

    Econmico, Indstria e Comrcio; Finanas e Tributao e Constituio e Justia

    e de Cidadania.

    Recebido na Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional, foi aberto o

    prazo de emendas, prazo este que foi encerrado sem que fosse apresentado

    nenhum adendo. Ento, no dia 05 de julho de 2010 foi apresentado parecer do

    Relator, o Deputado Damio Feliciano (PDT-PB), com opinio favorvel

    aprovao do projeto, com indicao de substitutivo (uma forma de emenda)10

    dispondo que a autorizao pretendida no Projeto de Lei fosse incorporada no

    corpo do Decreto-Lei n 1.455/1976, tendo em vista que a matria era

    disciplinada por aquele diploma legal e, ainda que o benefcio de compra em

    lojas francas fosse concedido apenas para pessoas fsicas, evitando que as

    mercadorias fossem levadas para o resto do pas com objetivo de

    10 Substitutivo - Espcie de emenda que altera a proposta em seu conjunto, substancial ou

    formalmente. Recebe esse nome porque substitui o projeto. O substitutivo apresentado pelo

    relator e tem preferncia na votao, mas pode ser rejeitado em favor do projeto original.

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    comercializao. Aberto novamente o prazo para emendas ao substitutivo, o

    prazo foi encerrado sem apresentao de qualquer proposio.

    Aps sua edio final e passar por diversas mudanas e ajustes (quatro emendas

    no total) no dia 28 de maro de 2012 foi aprovada na Comisso de Constituio

    e Justia e Cidadania da Cmara Federal a redao final do Projeto de Lei. As

    emendas e substitutivos dispuseram que autorizao pretendida no Projeto de

    Lei fosse incorporada ao Decreto-Lei n 1.455/76; que o benefcio de compra em

    lojas francas fosse concedido apenas para pessoas fsicas; que o benefcio da

    iseno tributria seja apenas para cidades de fronteira coladas a outras

    cidades estrangeiras e, ainda que a lei fosse adequada oramentria e

    financeiramente de acordo com as legislaes vigentes.

    O projeto, que foi renumerado em 2012 (PL 11/2012), somente autorizativo,

    cabendo os detalhes tcnicos Receita Federal do Brasil. Com a aprovao do

    projeto aproximadamente 28 municpios tero a possibilidade de instalar free

    shops na modalidade da Lei, sendo dez municpios no Rio Grande do Sul; Chu,

    Santana do Livramento, Uruguaiana, Quarai, Acegu, So Borja, Itaqui,

    Jaguaro, Porto Xavier e Barra do Quarai. Alm das 10 cidades gachas, tambm

    sero beneficiados com a aprovao do PL 11/2012 os municpios acreanos de

    Assis Brasil, Brasilia, Epitaciolndia e Santa Rosa Purus. No Amazonas,

    Tabatinga e no Amap, Oiapoque. No Mato Grosso do Sul as cidades de

    Corumb, Bela Vista, Mundo Novo, Paranhos e Ponta Por. No Paran, os

    municpios de Barraco, Foz do Iguau e Guara. Em Roraima, Bonfim e

    Pacaraima. Em Rondnia, Guajar-Mirim e em Santa Catarina, Dionsio

    Cerqueira.

    Aps tramitar pela Cmara dos Deputados, o Projeto de Lei foi recebido pelo

    Senado Federal e l passou a tramitar sob o n 11/2012. No dia 05 de abril de

    2012 a Presidncia do Senado comunicou o recebimento do projeto e determinou

    que o mesmo fosse encaminhado para as Comisses de Relaes Exteriores e

    Defesa Nacional e, pela Comisso de Assuntos Econmicos, cabendo ltima a

    deciso terminativa.

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    No dia 09 de abril de 2012 o Projeto chegou Comisso de Relaes Exteriores e

    Defesa Nacional. Aberto o prazo para emendas, nada foi apresentado. O Senador

    Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) foi designado como Relator perante a mencionada

    Comisso e no dia 31 de maio de 2012, apresentou parecer favorvel

    aprovao do projeto, parecer este que foi votado e aprovado por unanimidade

    pelos demais membros da Comisso.

    Encaminhado ento para a Comisso de Assuntos Econmicos a Senadora Ana

    Amlia (PP/RS) foi designada como Relatora no dia 03 de julho de 2012, que

    concluiu seu relatrio no dia 05 de julho de 2012, pela aprovao do projeto.

    Por uma manobra parlamentar, o Senador Eduardo Braga (PMBD/AM) pediu

    vistas do projeto, o que acabou por adiar a votao que foi realizada somente no

    dia 12 de setembro de 2012, com aprovao por parte dos membros da

    Comisso de Assuntos Econmicos (CAE).

    Entre as alteraes sofridas pelo Projeto, a mais importante delas a retirada do

    artigo que previa a adoo do Regime Aduaneiro Especial de Exportao pelo

    Varejo Nacional (EVN), o qual previa a restituio de impostos ao turista

    estrangeiro antes de sua volta ao seu pas, como j ocorre em alguns pases.

    Aps a aprovao no Senado o Projeto de Lei foi novamente encaminhado

    Mesa da Cmara dos Deputados para a votao em plenrio. O projeto foi

    aprovado no dia 18 de setembro de 2012, com as quatro emendas propostas e,

    assim foi encaminhado para a sano presidencial. Finalmente, em 09 de

    outubro de 2012, o projeto foi sancionado pela Presidenta Dilma Rousseff,

    surgindo assim a Lei n 12.723/2012.

    2. OS FREE SHOPS E O AMBIENTE TRIBUTRIO NO BRASIL

    Embora j tenha sido autorizada a sua criao, ainda no houve regulamentao

    acerca da criao dos free shops em linha de fronteira brasileira, sendo assim,

    ainda no est definido de que forma ser a arrecadao tributria e o regime de

    tributao para essas lojas, bem como, a modalidade de instalao das mesmas.

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    503

    Na legislao brasileira, contamos com algumas normas e dispositivos (Decreto

    n 6.759/2009, Decreto n 6.870/2009, Portaria MF n 440/10, Instruo

    Normativa RFB n 1.059/2010) que regulamentam a tributao dos free shops.

    Contudo, atualmente, essa legislao s se encaixa nas lojas dessa natureza

    instaladas em portos ou aeroportos.

    A Instruo Normativa da Receita Federal Brasileira n 1.059/2010 dita os limites

    de iseno tributria para compra de produtos estrangeiros que atualmente de

    US$500,00 (quinhentos dlares) quando o viajante ingressar no pas por via

    area ou martima e de US$300,00 (trezentos dlares) quando o viajante

    ingressar no pas por via terrestre, fluvial ou lacustre. Esse limite considerado

    por pessoa, seja adulto ou criana. O limite de iseno individual e

    intransfervel, sendo assim, no pode ser somado nem mesmo para pais e filhos

    ou casais.

    O artigo 33 da mencionada Instruo traz ainda um limite quantitativo de

    produtos da forma como abaixo descrita:

    Art. 33. O viajante procedente do exterior poder trazer em sua bagagem acompanhada, com a iseno dos tributos a que se refere o caput do art. 32:

    I - livros, folhetos, peridicos;

    II - bens de uso ou consumo pessoal; e

    III - outros bens, observado o disposto nos 1 a 5 deste artigo, e os limites de valor global de:

    1 - Os bens a que se refere o inciso III do caput, para

    fruio da iseno, submetem-se ainda aos seguintes limites quantitativos:

    I - bebidas alcolicas: 12 (doze) litros, no total;

    II - cigarros: 10 (dez) maos, no total, contendo, cada um, 20 (vinte) unidades;

    III - charutos ou cigarrilhas: 25 (vinte e cinco) unidades, no total;

    IV - fumo: 250 gramas, no total;

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    V - bens no relacionados nos incisos I a IV, de valor unitrio inferior a US$ 10.00 (dez dlares dos Estados

    Unidos da Amrica): 20 (vinte) unidades, no total, desde que no haja mais do que 10 (dez) unidades idnticas;

    e

    VI - bens no relacionados nos incisos I a V : 20 (vinte) unidades, no total, desde que no haja mais do que 3

    (trs) unidades idnticas .

    2 - Para as vias terrestre, fluvial ou lacustre, o:

    I - valor unitrio a ser considerado no limite quantitativo a que se refere o inciso V do 1 ser de US$ 5.00 (cinco dlares dos Estados Unidos da Amrica); e

    II - limite quantitativo a que se refere o inciso VI do 1 ser de 10 (dez) unidades, no total, desde que no haja

    mais do que 3 (trs) unidades idnticas.

    3 - Os limites quantitativos de que tratam os incisos V e VI do 1 e o 2 se referem unidade na qual os

    bens so usualmente comercializados no varejo, ainda que apresentados em conjuntos ou sortidos.

    4 - A Coana poder estabelecer limites quantitativos diferenciados, tendo em conta o tipo de mercadoria, a via de ingresso do viajante e caractersticas regionais ou locais.

    5 - O direito iseno a que se refere o inciso III do caput somente poder ser exercido uma vez a cada intervalo de 1

    (um) ms.

    6 - O controle da fruio do direito a que se refere o 5 independe da existncia de tributos a recolher em relao

    aos bens do viajante.11 (Grifo nosso)

    Ainda assim, mesmo quando respeitadas as quantidades citadas no artigo 33,

    haver incidncia de tributao se o valor total das compras superar o limite de

    iseno. O direito iseno de impostos s pode ser usado para trazer produtos

    estrangeiros como bagagem uma vez a cada intervalo de um ms.

    Os bens de uso e consumo pessoal, como livros, folhetos e peridicos so isentos

    de tributao. Outros bens em quantidades que no excedam os limites

    11 Instruo Normativa da Receita Federal Brasileira n 1.059/10

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    505

    quantitativos dispostos nas normas locais sero tributados em uma alquota

    nica de 50%, aplicada sobre o valor total que exceda o limite estabelecido, a

    mercadoria ser liberada aps a comprovao do recolhimento da alquota. As

    unidades que excedam ao limite quantitativo sero apreendidas, armazenadas e

    despachadas.

    De acordo com o art. 2, 1 da Instruo Normativa da Receita Federal

    Brasileira n 1.059/2010 so considerados bens de carter manifestamente

    pessoal uma mquina fotogrfica, um relgio de pulso e um telefone celular que

    o viajante porte consigo. Computador pessoal, tablets e filmadoras fazem parte

    do conceito de bagagem e no so considerados bens de uso pessoal, por esse

    motivo, so tributados se excederem a cota de iseno, a no ser que o viajante

    seja no residente no Brasil.

    Porm, como dito anteriormente, especificamente em relao Lei n

    12.723/2012 ainda no h regulamentao e, dessa forma devemos aguardar

    para saber como ser aplicada essa sistemtica e o consequente regime de

    tributao.

    2.1 Impactos no Ambiente da Poltica Tributria Nacional

    Em um primeiro momento, a criao das lojas francas pode ser analisada sob

    dois aspectos importantes, uma vez que, a iseno dos tributos que ser

    aplicada pode acabar por onerar outros setores da economia para que haja uma

    compensao tributria. Compensao essa, relacionada ao fato de que a receita

    de impostos deve continuar inalterada nas esferas federal, estadual e municipal.

    Por outro lado, h que se atentar para o crescimento do comrcio e do turismo

    nesses locais especficos, como fator beneficiador e de movimentao da

    economia local.

    Aqui que caber a atuao do poder pblico, atravs de aes e reformas

    tributrias que venham a contribuir com o novo cenrio nacional e, efetivamente

    faam com que a iseno que ser deferida para essas lojas no venha a

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    506

    prejudicar outros setores econmicos, maximizando os benefcios que sero

    alcanados, principalmente no plano local.

    O principal efeito que se vislumbra o aumento da competitividade dos produtos

    brasileiros em relao ao mercado internacional e para com os pases vizinhos.

    Contudo, por se tratar de inovao, caber ao poder executivo e legislativo criar

    meios de reformas e adaptaes, no ambiente poltico-burocrtico, assim como

    incentivas medidas nos setores comerciais e de produo para que se alcance a

    excelncia na criao das mencionadas lojas.

    2.2 Fiscalizao e Arrecadao

    De acordo com o Decreto-Lei n 7.496/2011 e com a Lei n 4.483/1964, a

    fiscalizao das fronteiras e de compras efetuadas em suas faixas, via de regra,

    cabe Receita Federal em conjunto com a Polcia Federal e Polcia Rodoviria

    Federal. A legislao estabelece que os produtos adquiridos no exterior devem

    ser apresentados Receita Federal no momento de entrada no pas.

    Atualmente, caso sejam encontrados bens em posse de um viajante, fora dos

    limites da sua zona primria (zona alfandegada) e sem documentao

    comprobatria de importao regular, cujo valor ultrapasse os limites legais de

    iseno, os mesmo sero apreendidos de acordo com o artigo 87 da Lei n

    4.502/1964.

    O ingresso de mercadorias no pas, sem o devido recolhimento de impostos pode

    ser caracterizado como descaminho ou contrabando12. O descaminho ocorre

    quando os produtos so legais, e o contrabando quando os produtos so de

    importao proibida.

    Contrabando e descaminho so coisas absolutamente distintas, embora o Cdigo Penal os trate como se fossem idnticas. Com efeito, contrabando a importao ou

    12 Art. 334: Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento

    de direito ou imposto devido pela entrada, pela sada ou pelo consumo de mercadoria.

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    exportao de mercadoria proibida (relativa ou absolutamente). Descaminho, por sua vez, a importao

    ou exportao de mercadorias permitidas que o agente omite (evita ou burla, na alfndega, o recolhimento dos

    direitos e impostos devidos entrada, sada ou consumo). O contrabando atenta, teoricamente, contra a moral, sade, higiene, segurana pblica, etc.; enquanto o descaminho

    viola as obrigaes aduaneiras (tributos aduaneiros). Constata-se, enfim, que o Cdigo equiparou institutos que

    tem contedos distintos, tutela bens jurdicos diversos e que tem objetos materiais e significados igualmente diferentes, mas que, por opo poltico-criminal, produzem as mesmas

    consequncias jurdico-penais13.

    A arrecadao tributria gerada em decorrncia da nova Lei n 12.723/2012

    ainda no foi definida e no temos parmetros para comparao e estudo. o

    momento de aguardar, sem, contudo, desviarmos da proposta de fiscalizao e

    controle, para que tenhamos um cenrio tributrio cada vez mais equnime e

    efetivo.

    2.3 Controle e o Papel da Receita Federal

    A primeira reunio para tratativas em torno da regulamentao da lei dos free

    shops aconteceu no dia 12 de dezembro de 2012. O encontro ocorreu em Braslia

    e foi presidido pela ento secretria adjunta da Receita Federal, Zayda Bastos

    Manatta.

    Nessa reunio ficou firmado o compromisso dos parlamentares de formalizarem

    um documento de propostas para o funcionamento dos free shops, documento

    este que dever ser encaminhado para a Receita Federal14.

    Embora no haja prazo para a regulamentao da lei, as frentes envolvidas esto

    empreendendo esforos para que, a regulamentao seja efetuada no decorrer

    13 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 3. ed, rev. e atual. So Paulo: Saraiva, 2009. p.227.

    14 VEECK, Fabio. Audincia na Receita debate regulamentao da Lei dos Free Shops. Disponvel

    em: l .

    Acesso em 14 jan. 2013.

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    do ano de 2013 para que, ao mais tardar no incio do ano de 2014 as lojas

    francas j estejam funcionando no Brasil. Vale apontar que a principal

    preocupao da Receita Federal que as regras firmadas tambm estimulem o

    desenvolvimento econmico das regies de fronteira.

    Segundo dados disponveis no site do IBGE, atravs do Censo 2010, as regies

    de fronteira apontam diferenas sensveis em relao ao nvel de

    desenvolvimento social e econmico em relao aos grandes centros e a

    aprovao da j mencionada lei, poder trazer modificaes nesse cenrio.

    3. AS FRONTEIRAS

    Com relao s fronteiras, a proximidade com outro pas implica na ocorrncia

    de diversos fenmenos. Estudiosos e relatrios de integrao nacional apontam

    para situaes positivas e negativas nesta relao fronteiria.

    A Fronteira resultante de um processo histrico que tem

    por base a preocupao do Estado com a garantia de sua soberania e independncia nacional desde os tempos da

    Colnia. Historicamente, o pas tem demonstrado interesse pela regio que envolve a fronteira, ao buscar identific-la como faixa de fronteira, e como tal, dotada de complexidade

    e peculiaridades que a tornam especial em relao ao restante do pas15.

    Dentre a multiplicidade de aspectos envolvendo as relaes de fronteira,

    destaca-se a possibilidade de utilizao de uma infraestrutura comum, como

    portos e aeroportos, o que gera economia e integrao entre os pases, alm dos

    aspectos culturais, que por vezes, sobressaem sobre qualquer outro aspecto

    negativo. Por outro lado, a utilizao dos sistemas nacionais, como o sistema de

    sade, educacional e previdencirio; o trfico de entorpecentes e o consequente

    15 Ministrio da Integrao Nacional. Bases para uma Proposta de Desenvolvimento e Integrao da Faixa de Fronteira. Disponvel em:

    . Acesso em 20 de mar. 2013, p. 18.

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    aumento da violncia e da marginalidade; o contrabando e o descaminho geram

    gastos desproporcionais e oneram as regies fronteirias.

    Especialmente nas fronteiras dos Estados Parte do Mercosul, o fluxo fronteirio

    principalmente nas regies sul e centro-oeste intenso, o que acaba por fazer

    com que esses fenmenos ocorram em maiores propores.

    A existncia do Mercosul acabou por ampliar esse quadro com o aumento do

    comrcio e a no exigncia de vistos e passaportes para turistas dos pases

    integrantes do bloco, bem como outras iniciativas que extrapolam as relaes

    comerciais. Sendo assim, fica claro que o bloco transps os limites da

    cooperao econmica/comercial, para unir-se a outras agendas como forma de

    contribuir com o seu prprio progresso, alcanando assim os seus objetivos de

    maneira mais apurada.

    Neste sentido, acompanhando as necessidades crescentes de todos os atores

    envolvidos na proposta mercosulina, foi que, no ano de 2002, por deciso do

    Conselho Mercado Comum (CMC), foi criado o Grupo Ad hoc sobre Integrao

    Fronteiria (GAHIF). Este grupo nasceu com um objetivo de criar instrumentos

    de promoo dos assuntos fronteirios, visando uma maior integrao, fluidez e

    harmonia do relacionamento entre as comunidades fronteirias dos Estados Parte

    do Mercosul, essenciais para o processo de integrao.

    No ano de 2004, nasce o Foro Consultivo de Municpios, Estados Federados,

    Provncias e Departamentos do MERCOSUL (FCCR), espao este, vinculado ao

    Grupo Mercado Comum (GMC). Este foro se apresenta como uma importante

    ferramenta de articulao poltica dos governos subnacionais do Mercosul,

    apresentando como um de seus eixos de atuao, a Integrao Fronteiria.

    Por se pautar na proposta de uma maior aproximao, via interesses

    convergentes entre os Estados Partes, o Mercosul objetiva construir um espao

    de interdependncia entre seus membros, no somente pautado no comrcio

    (ideia inicial e objetivo principal), mas permitindo relativa participao de outros

    atores no seu processo decisrio.

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    O objetivo do Mercado Comum desenvolver a cooperao econmica, social e

    cultural dos pases integrantes do bloco e as aes de fronteira tem sido pauta

    frequente na promoo do avano do processo de integrao regional. Nessa

    linha de entendimento necessrio que seja feita uma breve explanao sobre

    as faixas e linhas de fronteira para que se compreenda, de acordo com a

    legislao, quais as reas mais sensveis no processo de integrao.

    3.1 Faixa e Linha de Fronteira

    A Lei n 6.634, de 02 de maio de 1979, que foi regulamentada pelo Decreto n

    85.064, de 26 de agosto de 1980 e ratificado pela Constituio Federal de 1988

    a lei que trata da faixa de fronteira no Brasil.

    De acordo com o artigo 1 da Lei n 6.634/1979, a faixa de fronteira aquela de

    at 150 quilmetros de largura ao longo das fronteiras terrestres e considerada

    fundamental para a defesa do territrio nacional.

    J a linha de fronteira descrita como um trao imaginrio no contorno das

    naes ou o ponto de juno entre dois pases. A definio de linha de fronteira

    doutrinria, j que diferentemente da faixa de fronteira, no h artigo que faa

    meno a ela.

    Teoricamente, alm de espaos fsicos, as fronteiras dividem tambm culturas,

    contudo, nesses territrios no h uma cultura pura, pois as culturas e costumes

    acabam por se misturar. Por bvio, cada cultura e cada regio tem as suas

    especificidades, mas nas fronteiras as culturas acabam sendo sobrepostas e

    entrelaadas, surgindo uma cultura hbrida.

    Apesar das questes de fiscalizao, de controle e segurana, as fronteiras so

    fundamentais para a defesa nacional, para a cooperao e integrao entre os

    povos. Nesse sentido:

    paradoxal que os que sonham com um mundo mais pacificado e livre adotem ideologias sem-fronteiristas, j que

    na funo filtro est contida a funo pacificadora das

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    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    fronteiras, pela identificao e captura de sujeitos coletivos no comprometidos com a legalidade. A paz e justia

    mundiais certamente no necessitam da abolio das fronteiras, mas de sua qualificao. Humanizar e agilizar as

    fronteiras, mas sem enfraquecer o poder de controle do Estado em suas bordas territoriais16.

    Portanto, no sentido clssico, o Estado detm o controle da fronteira, cabendo a

    ele a fiscalizao e a segurana, contudo, em outro sentido, nota-se um maior

    relacionamento entre os mesmos (globalizao, processos de integrao regional

    e cooperao), uma maior interao de polticas pblicas, estratgias e aes,

    fazendo da fronteira um elemento positivo de desenvolvimento do Estado, na

    atualidade.

    3.2 O Fortalecimento das Aes de Fronteira no Mercosul

    Formado, inicialmente, por quatro pases: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,

    o Mercosul foi criado e estabelecido em 26 de maro de 1991, com a assinatura

    do Tratado de Assuno.

    Aps o impeachment de Fernando Lugo, o Paraguai foi suspenso do Mercosul e,

    por conta disso, a Venezuela, que estava em tratativas de ingresso desde 2006,

    ingressou no grupo no dia 31 de julho de 2012, por deciso e iniciativa do

    Conselho Mercado Comum, j que o Paraguai era o nico pas que ainda no

    havia se posicionado sobre o ingresso venezuelano. Tal situao poltica conferiu

    instabilidade poltica e jurdica ao processo de integrao e suscitou dvidas

    quanto sua existncia e ao seu progresso.

    Porm, com mais de 20 anos de criao, os resultados do Mercosul so positivos,

    sob a dimenso comercial. Segundo dados do Ministrio do Desenvolvimento,

    16 BENTO, Fbio Rgio. Fronteiras, significado e valor - A partir do estudo da experincia das cidades-gmeas de Rivera e Santana do Livramento. Revista Conjuntura Austral. vol. 3. n. 12 .

    jun-jul 2012. p. 49.

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    Indstria e Comrcio Exterior, o comrcio nos pases do Mercosul, desde a

    criao do bloco, cresceu cerca 860%17.

    O papel do Estado brasileiro pode ser considerado de grande destaque dentro do

    Mercosul, porm a posio superior e de liderana na conduo do bloco ponto

    de controvrsia e ainda segue em discusso. Os demais pases afirmam que no

    h protagonismo por parte do Brasil, o que ocorre que o tamanho territorial e

    sua posio econmica so favorveis em relao aos demais pases, sem que

    esse fato faa com que o mesmo se torne superior18.

    O fortalecimento e a integrao do Mercosul, em seus diversos aspectos, de

    extrema importncia e a competio no somente entre os pases integrantes

    do bloco, mas tambm com outros Estados produtores. Com o fortalecimento e

    crescimento das relaes entre os parceiros do bloco econmico, todos saem

    ganhando.

    No que pesem as consideraes feitas, e levando-se em conta a necessidade de

    uma maior liberalizao comercial e incentivo ao desenvolvimento econmico das

    cidades que esto situadas na linha de fronteira do Brasil, visando aplicar a

    mesma legislao j aplicada por outros pases do Mercosul, que a Lei n

    12.723/2012 foi sancionada.

    CONSIDERAES FINAIS

    Diante das consideraes e dos argumentos explicitados no decorrer do presente

    trabalho, nota-se que a criao da Lei n 12.723/2012 um importante avano,

    principalmente para atender a uma demanda regional brasileira.

    H muito tempo o setor comercial e populaes das cidades fronteirias

    brasileiras reclamavam da competio desigual entre os comrcios das cidades

    17 Segundo dados do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior.

    18 SARAIVA, Graziele Oliveira. A globalizao e a integrao regional. Disponvel em:

    . Acesso em 17 jan. 2013.

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    gmeas. O comrcio dos pases vizinhos, sobretudo os situados na rea que

    abrange o Mercosul, , por vezes, mais atrativo e dinmico em razo da iseno

    de impostos, o que acabava por praticamente exterminar o comrcio das cidades

    brasileiras fronteirias.

    Embora a Lei n 12.723/2012 tenha sido promulgada, a mesma somente

    autorizativa, ou seja, somente autoriza criao das lojas francas em cidades de

    fronteira, mas no define o modo e a forma como isso ser feito. A

    regulamentao para criao dessas lojas ser feita pela Receita Federal do

    Brasil, cabendo tambm a esse rgo definir de que maneira ser feita a

    fiscalizao e a arrecadao de impostos com relao a essas lojas.

    O fato de a lei ser somente autorizativa deixa transparecer mais uma vez a

    fragilidade do Poder Legislativo brasileiro. Os parlamentares, na tentativa de

    aprovar a maior quantidade de leis possveis acabam por redigirem leis

    incompletas, com necessidade de regulamentaes e adaptaes, o que acaba

    por atrasar ainda mais o efetivo resultado que se pretende com a medida. fcil

    perceber essa deficincia legislativa, basta ver o curto espao de tempo

    percorrido entre a apresentao do Projeto de Lei e sua converso em lei.

    Por certo que a aprovao da mencionada lei, mesmo pendente de

    regulamentao, um grande avano para as regies de fronteira brasileira e,

    para o pas como um todo, porm o que se espera que a partir de agora, na

    fase final, que os parlamentares empreendam os mesmos esforos que

    empreenderam na aprovao da lei para que a mesma seja efetivamente

    aplicada, saindo do plano imaginrio para o plano real.

    A criao das lojas francas nas zonas de fronteira trar impactos em relao

    poltica tributria, neste ponto, no h dvidas. Porm h que se atentar para o

    crescimento do comrcio e do turismo nesses locais como fator beneficiador,

    alm de propiciar a chegada de novos investimentos a estas cidades, em ambos

    os lados da fronteira. Nesse ponto, a atuao do poder pblico ser fundamental

    para que haja uma maximizao dos benefcios que podero ser alcanados, e

    que de fato o poder pblico possa ser um elemento de auxlio e no de desgaste

  • SILVA, Tiago Venancio da; PRADO, Henrique Sartori de Almeida. Lojas francas na fronteira: breves

    apontamentos sobre a Lei n. 12.723/2012. Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

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    e/ou desmotivador, para que o aumento da competitividade dos produtos

    brasileiros em relao ao mercado internacional possa vir a dar resultados.

    Por sua vez, o Mercado Comum do Sul tambm possui um importante papel

    influenciador na regulamentao dessa lei, uma vez que, a maioria das cidades

    gmeas de que trata o dispositivo do 1, do art. 1 da lei, situam-se no espao

    mercosulino.

    Portanto, de grande relevncia que o governo brasileiro continue atento com os

    compromissos de integrao, respeitando os ditames do bloco, bem como as

    polticas aduaneiras j em curso, uma vez que caracterstica primal do

    Mercosul a livre circulao de bens, de servios e de fatores de produo por

    meio da eliminao de tarifas e barreiras alfandegrias.

    Embora no haja prazo estabelecido para a regulamentao da lei, as frentes

    envolvidas no processo (Receita Federal e Congresso Nacional) esto

    empreendendo esforos para que a regulamentao seja efetuada no decorrer do

    ano de 2013, para que, ao mais tardar, no incio do ano de 2014, as lojas francas

    j estejam funcionando no Brasil.

    Em um aspecto geral, a nova legislao trouxe avanos significativos,

    principalmente ao ampliar o rol das isenes j praticadas, contudo, para que se

    alcance o fim pretendido, um estudo detalhado e cauteloso da forma de

    implantao dessas lojas e seu impacto local e nacional , indubitavelmente

    necessria.

    REFERNCIAS DAS FONTES CITADAS

    AGNCIA BRASIL. Dilma sanciona lei que autoriza free shops em cidades

    de fronteira. Em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-10-10/dilma-sanciona-lei-que-autoriza-free-shops-em-cidades-de-fronteira.

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    Submetido em: Novembro/2014

    Aprovado em: Maro/2014