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Yoga Dharma – Revista de Estudos Sobre o Yoga Antigo e Moderno https://yoga-dharma.org 87 Yoga como terapia para os Transtornos Psicossomáticos: uma visão contemporânea e tradicional Sara B. Ponte Investigadora independente [email protected] PALAVRAS-CHAVE Distúrbios Psicossomáticos; Yogaterapia; Medicina Ayurveda SUMÁRIO Introdução e objectivos: Os Transtornos Psicossomáticos (TPS) são dos problemas de saúde mais prevalentes na Medicina Convencional. No entanto, desde há muitos séculos, o Yoga tem sido utilizado como elemento-chave para o tratamento efetivo destes transtornos. O presente artigo visa uma revi- são sobre os TPS, considerando os aspetos epidemiológicos, manifestações clínicas, etiologia e diagnóstico, dando particular enfoque aos mecanismos etiopatogénicos e estratégias terapêuticas utilizadas no Yoga e na Medicina Ayurveda, segundo uma perspectiva contemporânea e tradicional. Material e métodos: Pesquisa realizada entre Março de 2018 e Janeiro de 2019, nas bases de dados Medline / PubMed, ScienceDirect e Google Scholar, sem data limite de publicação, na língua portuguesa e inglesa, utilizando os seguintes termos MESH: “Transtorno Psicossomático” OR “Síndrome Somatoforme” AND “Yoga” e correspondentes em inglês. Inclui também livros e textos clássicos relacionados com o Yoga e a Medicina Ayurveda. Resultados e discussão: A origem dos TPS deve-se a uma combinação entre os conflitos mentais e a repressão emocional, que causam desequilíbrios no corpo prânico do indivíduo. A abordagem terapêutica do Yoga para estes transtornos deve incluir: as etapas para a cura dos conflitos mentais, os princípios práticos de regulação dos 5 Vayus e o cultivo de uma consciência interoceptiva e de auto- -observação dos processos mentais, associado a técnicas de respiração profunda.

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Yoga como terapia para os Transtornos Psicossomáticos:uma visão contemporânea e tradicional

Sara B. PonteInvestigadora [email protected]

PALAVRAS-CHAVE

Distúrbios Psicossomáticos; Yogaterapia; Medicina Ayurveda

SUMÁRIO

Introdução e objectivos: Os Transtornos Psicossomáticos (TPS) são dos problemas de saúde mais prevalentes na Medicina Convencional. No entanto, desde há muitos séculos, o Yoga tem sido utilizado como elemento-chave para o tratamento efetivo destes transtornos. O presente artigo visa uma revi-são sobre os TPS, considerando os aspetos epidemiológicos, manifestações clínicas, etiologia e diagnóstico, dando particular enfoque aos mecanismos etiopatogénicos e estratégias terapêuticas utilizadas no Yoga e na Medicina Ayurveda, segundo uma perspectiva contemporânea e tradicional. Material e métodos: Pesquisa realizada entre Março de 2018 e Janeiro de 2019, nas bases de dados Medline / PubMed, ScienceDirect e Google Scholar, sem data limite de publicação, na língua portuguesa e inglesa, utilizando os seguintes termos MESH: “Transtorno Psicossomático” OR “Síndrome Somatoforme” AND “Yoga” e correspondentes em inglês. Inclui também livros e textos clássicos relacionados com o Yoga e a Medicina Ayurveda. Resultados e discussão: A origem dos TPS deve-se a uma combinação entre os conflitos mentais e a repressão emocional, que causam desequilíbrios no corpo prânico do indivíduo. A abordagem terapêutica do Yoga para estes transtornos deve incluir: as etapas para a cura dos conflitos mentais, os princípios práticos de regulação dos 5 Vayus e o cultivo de uma consciência interoceptiva e de auto--observação dos processos mentais, associado a técnicas de respiração profunda.

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KEYWORDS

Psychosomatic Disorder; Yoga Therapy; Ayurvedic Medicine

ABSTRACT

Introduction and objectives: Psychosomatic Disorders (PSD) is one of the world’s most common health problems in Conventional Medicine. Yoga as therapy for PSD has been practiced for many centuries in India. Here, we aim to review PSD, considering its epidemiological aspects, clinical manifestations, etiology and diagnosis; as well as to explore a deeper understanding about the etiopathogenic mechanisms of PSD and the recommended therapeutic approach, according to a traditional and contemporary perspective of Yoga. Material and Methods: Database searches were conducted between March 2018 and January 2019 for articles, published in English or Portuguese, and without time limit of publication. The MESH terms used for search were: “Psychosomatic Disorder” OR “Somatoform Disorder” AND “Yoga”, and, its correspon-dents in Portuguese. It also includes books and classic texts related to Yoga and Ayurvedic Medicine. Results and Discussion: The origin of PSD is due to a mental conflict and emotional repression, which can causes imbalances on the individual subtle energetic body. Therefore, the yogic therapeutic approach should consider the stages for mental healing, the balance of the 5 Vayus, and the cultivation of interoceptive awareness and self-observation of mental processes, associated with deep breathing techniques.

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1. Introdução

Os Transtornos Psicossomáticos (TPS), também conhecidos por Transtornos de Sintomas Somáticos ou Transtornos Somatoformes, são caracterizados por pensamentos, comportamentos e/ou atitudes relacionados com sintomas físicos (Yates, 2014; Travel, 2015; Henningsen, 2018). A preocupação exagerada para com estes sintomas físicos causa um sofrimento significativo e perturba a vida diária do indivíduo. Habitualmente, este quadro clínico pode estar relacionado, ou não, com uma condição médica diagnosticável, no entanto, é a reação exagerada do indivíduo face aos sintomas físicos, que caracteriza estes transtornos (Yates, 2014; Henningsen, 2018). Os sintomas mais frequentes incluem: cefaleias, tonturas, dor no peito, dor lombar, náuseas, dor muscular, falta de ar, calor ou frio, dormência ou formigamento em partes do corpo, constrição na garganta, astenia generalizada e/ou sentimento peso nos braços ou nas pernas, entre outros (Rebelo-Neves, Nogueira, Amaral Dias & Torgal, 2018).

Estudos recentes demonstram que a prevalência de doentes com queixas somáticas inex-plicáveis, oscila entre 16% e 50%, tornando-se uma das problemáticas mais comuns nos Cuidados de Saúde Primários (Rebelo-Neves, Nogueira, Amaral Dias & Torgal, 2018). A somatização está associada a uma incapacidade funcional do indivíduo, diminuição da sua atividade produtiva, bem como, a um uso excessivo dos cuidados de saúde (Rebelo-Neves, Nogueira, Amaral Dias & Torgal, 2018). Para além disso, sabe-se que a somatização conduz a uma carga económica anual no orçamento dos Estados Unidos da América, acima dos 100 biliões dólares (Yoshihara, 2014). Na Europa o custo dos TPS é de aproximadamente 22 bilhões de euros por ano, o que equipara estes transtornos a doenças como a Esclerose Múltipla, a Doença de Parkinson e os Traumatismo Crânio-Encefálicos (Yates, 2014).

Atualmente, assistimos a uma abertura gradual da Medicina Convencional às Medicinas Complementares e Alternativas, onde se inserem as Terapias Corpo-Mente, como o Yoga. Há muitos séculos na Índia, o Yoga é considerado um elemento-chave para o tratamento dos Transtornos Psicossomáticos (Goyeche, 1979).

De acordo com a Tradição do Yoga, os TPS devem-se à combinação de um conflito mental (Telles, Singh & Balkrishna, 2014) com a inibição ou repressão emocional do indivíduo (Frawley, 2011). Embora a Medicina Convencional não compreenda comple-tamente a sua etiologia, os TPS têm sido estudados e compreendidos durante séculos pelo Yoga e pela Medicina Ayurveda.

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O rigor e robustez das investigações realizadas na área do Yoga têm vindo a melhorar cada vez mais de qualidade, e, com isso, uma melhor compreensão neurofisiológica das técnicas utilizadas na prática de Yoga (Telles, Singh & Balkrishna, 2014). O presente artigo visa uma revisão bibliográfica sobre os TPS, considerando os aspectos epidemio-lógicos, manifestações clínicas, etiologia e diagnóstico, dando particular enfoque aos mecanismos etiopatogénicos e estratégias terapêuticas utilizadas no Yoga e na Medicina Ayurveda, segundo uma perspectiva contemporânea e tradicional.

2. Material e métodos

Foram pesquisados artigos nas bases-de-dados Medline/PubMed, ScienceDirect e Google Scholar. A pesquisa foi realizada entre Março de 2108 e Janeiro de 2019, sem data limite de publicação, com incidência em artigos escritos em português e inglês, de acordo com os seguintes termos MESH: “Transtorno Psicossomático” OR “Transtorno ou Síndrome Somatoforme” AND “Yoga”, e os correspondentes em inglês,“Psychosomatic Disorder” OR “Somatoform Disorder or Syndrome” AND “Yoga”. Foi também realizada uma revisão das referências bibliográficas incluídas em alguns dos artigos, no sentido de encontrar literatura relevante que não tenham sido revelada pelas bases de dados previamente citadas. Este artigo também incluiu livros e textos clássicos relacionados com o Yoga e a Medicina Ayurveda. Foram excluídos os artigos que não apresentassem pertinência para os objetivos propostos e perante a inexistência do artigo completo na base-de-dados consultada.

3. Resultados e discussão

No total obteve-se 136 artigos, dos quais foram excluídos 85 artigos, após a leitura dos títulos e resumos. Assim, esta revisão inclui dados referentes a 51 artigos (livros, revisões sistemáticas, meta-análises, ensaios clínicos, artigos de revisão e de opinião), publicados entre 1966 e 2018.

3.1. Transtornos Psicossomáticos

3.1.1. Epidemiologia

Os Transtornos Psicossomáticos podem manifestar-se durante a infância, a adolescên-cia ou na fase adulta. Estudos recentes estimam que a sua prevalência varia entre os 7 a 11,6% (Kurlansik & Maffei, 2016).

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  3.1.2. Manifestações clínicas e etiologia

Os Transtornos Psicossomáticos apresentam um espectro clínico variável e podem manifestar-se com os seguintes sintomas: dor muscular e/ou articular, dor lombar, cefa-leias de tensão, fadiga, dor torácica, palpitações, dispepsia, síndrome do cólon irritável, tonturas, insónias (Yates, 2014).

A sua etiologia não é consensual e continua a ser alvo de investigações (Kurlansik & Maffei, 2016; Henningsen, 2018). Existem diferentes modelos explicativos dos TPS, nomeadamente, os que defendem mecanismos psicodinâmicos descenden-tes (top-down), i.e. manifestações fisiológicas derivadas de uma ativação psicogénica (Henningsen, 2018), ou mecanismos ascendentes (bottom-up), onde após uma ativação dos receptores nociceptivos ou de outros sensores periféricos ocorre uma amplificação de fatores neurofisiológicos centrais ou psicossociais (Henningsen, 2018).

Um outro modelo defendido por Henningsen (2018), Van den Bergh (2017) e Wiech (2016) descreve os TPS como um distúrbio da percepção. Estes autores defendem que a percepção é determinada por expectativas e previsões individuais, que por sua vez são desencadeados por uma ativação nociceptiva em contacto com o meio exterior, ou seja, a experiência percepcionada consiste num processo inferencial em que a informação prévia é utilizada para gerar expectativas (sobre as percepções futuras) e para interpretar a entrada sensorial. Este modelo poderá ter implicações na abordagem terapêutica e preventiva dos TPS, pois enfatiza a importância da modifi-cação das expectativas e da atenção dada aos sintomas físicos.

Fava et al (2017) afirmam que existem factores psicossociais predisponentes dos TPS. Abaixo, encontram-se assinalados alguns factores psicossociais conhecidos como triggers para o desenvolvimento deste tipo de transtorno:

- Eventos de vida traumáticos, como a perda de um ente querido ou a perda de uma parte do corpo ou função corporal;

- Antecedentes de negligência na infância ou de abuso sexual;

- Sobrecarga laboral ou exaustão emocional. Muitas vezes, os pacientes negam quei-xas entre a sobrecarga alostática e o surgimento de sintomatologia, pois desconhecem a latência entre a acumulação de stress crónico e o início de sintomas (exemplo: “Ontem, tive sintomas intestinais, no entanto, foi um dia fácil no trabalho. Nos dias anteriores, que

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foram dias terríveis e muito exigentes, não tive sintomas!”). O agravamento dos sintomas durante o fim de semana e o período de férias é uma manifestação comum desta latência;

- Estilo de vida caótico e antecedentes pessoais de consumo abusivo do álcool e/ou de drogas.

3.1.3. Diagnóstico

O diagnóstico dos TPS representa um desafio tanto para o médico como para quem sofre com os sintomas somáticos, pois os pacientes muitas vezes são sujeitos a exames complementares de diagnóstico e tratamentos desnecessários. A Associação Americana de Psiquiatria (2016) define três critérios de diagnóstico dos Transtornos Psicossomáticos, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, 5ª Edição (DSM-V). A Tabela 1 discrimina estes três critérios (A, B ou C), dos quais pelo menos um, deve estar presente para a confirmação do diagnóstico.

Tabela 1 Critérios de diagnóstico dos Transtornos Psicossomáticos

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3.1.4. Tratamento

O tratamento dos Transtornos Psicossomáticos requer uma abordagem multidisci-plinar e adaptada a cada indivíduo (Kurlansik & Maffei, 2016). As estratégias terapêuti-cas aconselhadas pela Associação Americana de Psiquiatria para este tipo de transtorno incluem:

- Atendimento personalizado;

- Comportamentos preventivos de doença e um estilo de vida mais saudável;

- Técnicas psicoterapêuticas;

- Psicofarmacologia dirigida à clínica.

A Tabela 2 assinala cada uma das abordagens terapêuticas supramencionadas, bem como especifica os diferentes tipos de intervenção.

Tabela 2 Estratégias terapêuticas convencionais para os transtornos Psicossomáticos

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Investigações recentes enfatizam a importância da relação médico-paciente no processo de cura deste tipo de transtornos. As expectativas, preferências e motivações pessoais construídas ao longo da interação médico-paciente constituem variáveis que podem influenciar positivamente os resultados do tratamento (Fava, Fiammetta & Nicoletta, 2017; Grover,1994). 

3.2. Yoga

3.2.1. Investigação Científica

O Yoga é uma ciência ancestral, com origem na Índia, que integra princípios éticos e filosóficos, associados a uma prática regular de exercícios posturais, técnicas respiratórias, de relaxamento e/ou de interocepção (Subramanya & Telles, 2009). Patanjali define o Yoga como uma prática que permite a restrição das flutuações da consciência, que obje-tiva silenciar ou frenar a turbulência mental, de forma a alcançar a transcendência do ego. Trata-se de uma prática que auxilia o desenvolvimento holístico e integrado do “Eu”, através da reformulação das prioridades pessoais e da transformação dos comportamentos em prol de hábitos de vida mais conscientes e saudáveis (Singh, 2006).

O número crescente de publicações sobre os efeitos do Yoga tem contribuído para melhorar o conhecimento sobre o seu potencial terapêutico, bem como para o desenvolvimento científico da medicina psicossomática. Groover (1994) na sua revisão explicita alguns efeitos fisiológicos (melhoria das funções respiratória, car-diovascular, renal e termorregulatória) e bioquímicos (redução dos níveis de cortisol sérico e melhoria da função adrenocortical) observados após programas de 4 a 6 semanas de yoga, em indivíduos saudáveis. Este mesmo autor também reportou os efeitos positivos do yoga na redução da atividade do sistema nervoso simpático, e, por conseguinte, no desenvolvimento de uma maior capacidade regulatória para o res-tabelecimento homeostático após um episódio de sobrecarga de stress.

Uma revisão sistemática e meta-análise recente sobre os efeitos fisiológicos de intervenções baseada em mindfulness, tal como o yoga, reportaram um aumento da atividade parassimpática e diminuição da neuroactividade simpática, avaliada através da variabilidade da frequência cardíaca e do doseamento da alfa amilase (Heckenberg, 2018).

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Um ensaio clínico randomizado, publicado em 2011, estudou uma amostra popula-cional de 150 mulheres, que sofriam de distúrbios menstruais. Este estudo demonstrou uma melhoria significativa, em comparação com o grupo controlo, das queixas álgicas (p <0,006), dos sintomas gastrointestinais (p <0,04), sintomas cardiovasculares (p <0,02) e sintomas urogenitais (p <0,005) após a prática regular de Yoga Nidra, durante 6 meses (Rani, 2011).

Yoshihara e os seus colaboradores (2014) realizaram um ensaio clinico, não con-trolado, prospectivo, de braço único, que avaliou os efeitos de um programa de 12 semanas de Yoga, em 24 mulheres saudáveis e sem experiência prévia de Yoga. Este ensaio concluiu que a prática regular de Yoga reduz significativamente os índices de somatização e indicadores relacionados com a saúde mental (ansiedade, depressão, raiva e fadiga). Adicionalmente, também demonstraram um efeito positivo do Yoga na pre-venção de sintomas psicossomáticos em mulheres saudáveis.

A publicação de Sutar, Yadav & Desai (2016) evidenciou uma diminuição estatisticamente significativa da intensidade da dor severa após a prática regular de 12 semanas de Yoga. A média do score da Escala Visual Analógica reduziu de 7.24 para 2.88, bem como, a média do score do questionário Brief Pain Inventory, reduziu de 7.71 para 3.26.

A literatura também tem demonstrado os benefícios terapêuticos das técnicas respira-tórias utilizadas durante a prática de yoga (pranayamas), principalmente os exercícios que mobilizem a ação diafragmática, com tempos expiratórios longos (Han, 2000; Han, 1996; Grover,1994). A utilização destas técnicas respiratórias permite uma redução significativa das queixas somáticas, dos níveis de ansiedade, da frequência e intensidade de ataques de pânico e uma melhoria da capacidade individual para responder positivamente a situações de stress (Han,1996).

3.2.2. Mecanismos do Yoga

3.2.2.1. Perspectiva Contemporânea

De acordo com Vahaia et al (1973), o Yoga não atua diretamente na modificação dos sintomas somáticos, mas sim, na regulação do sistema nervoso autónomo e somático, influenciando, indiretamente, a atividade dos processos do pensamento.

As terapias corpo-mente, como o Yoga, atuam a diferentes níveis, desde a expressão genética celular até à regulação inter-hemisférica do Sistema Nervoso Central (Vahaia,

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1973; Grover, 1994). Em 2010, Taylor e os seus colaboradores explicaram os mecanis-mos subjacentes do Yoga, segundo uma perspectiva neurofisiológica: (a) reorganização de estruturas corticais e subcorticais, bem como, melhor equilíbrio inter-hemisférico; (b) regulação central das funções autonómicas e imunológicas; (c) re-padronização dos mecanismos homeostáticos interoceptivos primários e das funções cerebrais superiores; e (d) modulação dos fatores epigenéticos, como os fatores de crescimento ou hormonais. Estes quatro mecanismos são influenciados de formas diferentes ao longo da prática do Yoga, através dos exercícios de imagética, relaxamento corporal, alinhamento corporal e técnicas de respiração profunda (Taylor, Goehler, Galper, Innes & Bourguignon, 2010).

No que diz respeito aos benefícios endocrinológicos, durante a prática de Yoga há uma libertação de β-endorfinas e repadronização dos neurotransmissores ligados ao humor, como a dopamina e a serotonina, acrescido de uma ativação do sistema nervoso parassimpático. Este aumento da parassimpaticotonia facilita a ação inibitória do sistema GABA (neurotransmissor inibidor do sistema nervoso central), bem como a inibição das vias cerebrais críticas de resposta ao stress, fight-or-flight response (Garg, Ramya, Shankar & Kutty, 2015).

3.2.2.2. Perspectiva Tradicional

Os textos tradicionais assinalam como factores etiopatogénicos dos TPS os conflitos mentais (Telles, Singh & Balkrishna, 2014) e o processo de inibição/repressão emocional (Frawley, 2011). Estes últimos são responsáveis por desequilíbrios da energia vital sub-til, o prana (Frawley, 2011). Neste âmbito, para a compreensão das linhas estratégicas terapêuticas dos TPS segundo o Yoga, primeiro, será necessário responder às seguintes interrogações: “Como o Yoga e a Medicina Ayurveda definem a psicologia humana?” “Como os conflitos mentais e emocionais influenciam a esfera prânica humana?” “Como as emoções reprimidas podem ser responsáveis por sintomas somáticos”?

Seguindo este raciocínio será possível a definição de uma metodologia diagnóstica individualizada e de uma abordagem terapêutica holística e dirigida às diferentes mani-festações dos TPS, segundo os princípios da Yogaterapia.

Como o Yoga e Medicina Ayurveda definem a psicologia humana?

A filosofia Ayurveda defende uma hipótese unificadora que relaciona o funciona-mento do universo a toda a matéria viva e não viva. Acredita que os animais, humanos e

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as plantas, na hierarquia da evolução cósmica, provêm da mesma matéria (Chopra, 2002). Os Gunas constituem três qualidades omnipresentes e não-materiais que governam todas as formas de matéria, nomeadamente, a consciência ou inteligência (Sattva), o movi-mento ou a ação (Rajas) e a inércia que os resiste (Tamas).

Estas três qualidades espelham o estado mental e espiritual de cada indivíduo, permitindo conhecer a susceptibilidade para desenvolver determinados problemas psicológicos. Enquanto Sattva relaciona-se com lucidez, na qual percepcionamos a verdade dos acontecimentos, este também se associa à luz, concentração e devoção (Frawley, 2011; Chopra, 2002).

O Rajas e o Tamas são fatores de desarmonia mental, causando agitação, confusão e ilusão. Rajas dá origem à ilusão e alienação interior, é o responsável pela busca perpétua do prazer sensorial, que ambiciona alcançar a felicidade efémera. Rajas cria o desejo, a dor, a agitação, a dissipação de energia e a labilidade emocional. Por outro lado, Tamas é responsável pela ignorância, que oculta a nossa verdadeira essência e fragiliza o nosso discernimento. Tamas permite a criação do ego e a separação do indivíduo do mundo exterior. Por conseguinte, Tamas relaciona-se com o sentimento de solidão, isolamento social, estagnação, decadência e morte (Frawley, 2011).

Os gunas podem ser também interpretados como vectores energéticos que se influenciam mutuamente: Rajas provoca a sobre-expressão de energia, o que por ven-tura poderá conduzir à exaustão, onde Tamas prevalece. A Medicina Ayurveda explica o funcionamento da mente, como um processo dinâmico entre estes três vectores. A mente transforma a ação de Tamas em Rajas e, eventualmente, de Rajas para Sattva. Tal significa transitar de um estado ignorante, de estagnação e fisicamente orientado (Tamas) para uma condição de vitalidade, dinamismo e auto/hetero-expressão (Rajas). Finalmente, Rajas transita para um estado Sattvico de paz, de iluminação e de restabe-lecimento físico e mental (Frawley, 2011).

Importa salientar que todos nós possuímos características tamásicas, rajásicas e sattvicas na nossa mente. Até certa medida, todos nós precisamos de cada um dos três gunas. Por exemplo, sempre que estamos mentalmente aborrecidos ou emocionalmente deprimidos, Tamas é predominante. Rajas prevalece quando estamos agitados, perturbados e muito ocupados trabalhando em vários projetos. Sattva prepondera quando estamos calmos e satisfeitos, ou quando naturalmente mergulhamos num estado meditativo e/ou contem-plativo (Frawley, 2011).

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Como cada um de nós possui os três gunas, as etapas da prática de Yoga para a cura dos conflitos mentais devem incluir estes três elementos:

Etapa 1. Quebrar o Tamas: pretende-se a eliminação do cansaço e do embotamento psicológico, bem como a dissipação de toxinas. O praticante de yoga deve orientar a sua atenção para o corpo físico, com vista à remoção da inércia acumulada. Esta etapa deverá conduzir ao reconhecimento do sofrimento e da dor individual.

Etapa 2. Acalmar o Rajas: visa o redireccionamento da atenção do corpo físico para a mente e para as emoções. Recomenda-se a aceitação do sofrimento, bem como o cultivo do desapego às mágoas e tristezas individuais.

Etapa 3. Nutrir o Sattva: O corpo deve ser extensamente esquecido e o prana mantido em repouso (por exemplo: savasana). Propõe-se que o praticante cultive um estado medi-tativo e aprenda a transcender as limitações da condição humana.

A Figura 1 resume as etapas basilares para uma prática de yoga dirigida ao tratamento dos Transtornos Psicossomáticos. Os princípios basilares desta estratégia assentam no reforço das qualidades sattvicas e na diminuição dos vectores rajásico e tamásicos.

Fonte: Fluxograma baseado na teoria da cura dos conflitos mentais de Frawley, 2011.

Figura 1 Etapas da prática de Yoga para a cura dos conflitos mentais

Como os conflitos mentais e emocionais influenciam a esfera prânica?

Para melhor compreender o Prana e os seus subtipos, é importante que o leitor se familiarize com determinados conceitos basilares da Medicina Ayurveda.

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Toda a atividade biomotora, metabólica e reguladora da homeostase do organismo humano é definida pelos Doshas, três humores biológicos, grosseiramente equiparados aos humores do sistema Grego - Vata, Pitta e Kapha (Singh, 2018; Chopra, 2002). Os Doshas encontram-se, portanto, associados ao potencial patogénico dos humores. Vata significa “vento”, Pitta “bílis” e Kapha “muco ou fleuma”. Estes constituem as principais formas causadoras de dor e/ou doença no organismo. O “vento” causa secura, rigidez, nervosismo e debilidade; a “bílis” causa infecção, inflamação, hemorragia e febre, ao passo que o “muco ou fleuma” causa congestão, edema e obesidade (Frawley & Summerfield Kozak, 2003).

Estes três humores, apesar de apresentarem um carácter flutuante em cada ser humano, conferem um tipo constitucional, consoante a sua predominância, que poderá ser uni, bi ou tridosha. Os Dosha revelam também implicações psicológicas, semelhantes a traços de personalidade e/ou tendências para vivenciar determinados estados emocionais (Frawley & Summerfield Kozak, 2003).

Em particular, o Vata é considerado o principal dos três Doshas, pois representa todos os tipos de movimentos, percepções e atividades psicofisiológicas. (Singh, 2018; Chopra, 2002). Este Dosha relaciona-se com o Prana ou Energia Vital, sendo por isso encarado como um movimento ou função que se pode manifestar em 5 subtipos, conhecidos por 5 Prana Vayus ou “Ventos” (Frawley & Summerfield Kozak, 2003).

Os 5 Vayus actuam de forma síncrona e possuem ações específicas na nossa estrutura orgânica e psicológica (Niranjanananda Saraswati, 2009):

● Prana Vayu, significa literalmente “ar em movimento para frente”. Apresenta um movimento de dentro em direção ao centro do corpo. É responsável por receber os ele-mentos que entram no organismo (comida, líquidos e ar), bem como todas as percepções sensoriais e experiências mentais. O Prana é propulsor por natureza e a força motriz de todos os outros Vayus. Governa a região desde a base da garganta até ao diafragma e localiza-se especificamente no coração ou centro do peito. Permite a manutenção da temperatura corporal e normal funcionamento de órgãos vitais, como o coração e o pul-mão. Uma depleção do Prana Vayu é um fator determinante para o desenvolvimento de astenia ou de problemas como a síndrome da fadiga crónica.

● Apana Vayu, significa “o ar que se afasta”. Apresenta um movimento para baixo e para fora. É responsável pela função de ejecção ou de eliminação das toxinas do organismo,

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atuando, assim, no sistema urinário, digestivo e genital. Governa a metade inferior do abdómen até ao pavimento pélvico e localiza-se especificamente no centro da região pélvica. Apana é também a força motriz no processo de reprodução. O seu normal fun-cionamento é tão vital quanto o do Prana Vayu, pois o seu desequilíbrio poderá causar problemas digestivos, urinários ou reprodutores, bem como falta de motivação, indecisão e confusão mental.

● Samana Vayu, significa “o ar do equilíbrio”, atuando na regulação da ação entre o Prana Vayu e o Apana Vayu. Governa a região entre o umbigo e o coração e localiza-se especificamente no plexo solar. Apresenta um movimento da periferia do corpo para o core e é responsável por funções como a digestão e a assimilação de nutrientes, bem como a hematose pulmonar. Na tradição do yoga, a função digestiva está intimamente ligada ao processamento mental, particularmente, a discriminação e o julgamento.

● Udana Vayu, apresenta um movimento ascendente. Governa a região da garganta e da cabeça e localiza-se especificamente na garganta. Apresenta funções motoras, de equilíbrio, bem como funções sensoriais, a nível dos olhos, ouvidos e nariz. Relaciona-se com o movimento expiratório, com a fala e a produção do som. Na região da cabeça, a sua função é mental e expressa-se sob a forma de ideias e de comunicação. Quando Udana Vayu encontra-se desequilibrado a fala é desarticulada, pode ocorrer descoorde-nação motora e incoerências na lógica de ideia. Os desequilíbrios deste subtipo também podem causar obstáculos da autoexpressão ou repressão emocional.

● Vyana Vayu, significa “ar que se move para fora”. Apresenta um movimento do centro do corpo para a periferia. Não tem uma localização específica e, portanto, governa todo o corpo. Permite a coordenação, o equilíbrio, a integridade física e coesão dos ner-vos, veias, artérias, músculos e articulações. Coordena toda a atividade neurosensorial e percorre toda a rede de 72.000 nadis (canais/passagens nos quais circula o prana no corpo).Os arrepios e transpiração, e todas as ações e reações da pele são manifestações deste Vayu. Quando desequilibrado a coordenação entre mente e corpo sofre, os pensa-mentos tornam-se desarticulados, flutuantes e desconectados.

Os textos tradicionais também explicam que cada Vayu desencadeia certas emoções e nutre certos estados mentais. Os mecanismos prânicos subjacentes aos distúrbios psicoló-gicos originam-se com a perturbação do Prana Vayu, através da formulação de impres-sões erradas ou dos pensamentos/emoções negativas. Em segundo lugar, as funções de digestão de Samana Vayu tornam-se perturbadas devido às percepções mentais ilusórias e

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de discriminação errónea. Por conseguinte, a dinâmica funcional dos três restantes Vayus (Apana, Udana e Vyana) torna-se disruptiva ou bloqueada (Frawley, 2011).

O desequilíbrio de um determinado tipo de Vayu pode ocorrer em simultâneo com uma deficiência/excesso, ou mesmo, uma combinação de desequilíbrios de diferentes Vayus. Por exemplo, se uma pessoa padece de obstipação crónica, tal pode dever-se a uma deficiência do Apana Vayu e/ou um excesso de Samana Vayu. Deste modo, a estra-tégia terapêutica do Yoga deve incluir técnicas que reforcem o Apana Vayu e dispersem o excesso do Samana Vayu (Frawley & Summerfield Kozak, 2003).

Como as emoções reprimidas podem ser responsáveis por sintomas somáticos?

A maioria dos indivíduos durante a sua infância é condicionado a não expressar emoções negativas. Como resultado, desde cedo começam a reprimir manifestações emocionais que são naturais e espontâneas a todos os seres humanos.

Sendo as emoções reprimidas responsáveis pela tendência vivencial de determinados conflitos mentais, considera-se que o mecanismo etiopatogénico neste caso é semelhante ao descrito anteriormente. Assim, a emoção reprimida é responsável por uma disfunção da esfera prânica e, consequentemente, conduz a perturbações do normal funcionamento do nosso organismo (V. Lad, 1984).

A própria constituição do indivíduo (tipo de Dosha) determina a sua predisposição para desenvolver determinados tipos de doenças e emoções. Por exemplo, o medo e a ansiedade estão associados a um esgotamento do tipo constitucional - Vata, que tende a manifestar-se através de alterações da flora do cólon, queixas de distensão abdominal e cólicas. Para além disso, os desequilíbrios Vata cursam com uma depleção da resposta imunitária - Agni e, consequentemente, com a agudização de doenças autoimunes (exemplos: asma, psoríase, artrite reumatoide, esclerose múltipla, o lúpus eritematoso sistémico, a doença inflamatória intestinal, entre outras). A raiva reprimida está associada a um agravamento do tipo consti-tucional - Pitta. Este tende a manifestar-se através da disfunção da vesícula biliar, dos ductos biliares e do intestino delgado, episódios de gastrite aguda/crónica e inflamação da mucosa jejuno-ileal. Por último, os indivíduos de constituição Kapha são mais suscetíveis a reprimir emoções como a ganância, a inveja e os apegos. Estes sofrem preferencialmente de tosse, frio, congestão e sibilância (V. Lad, 1984).

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3.2.3. Abordagem terapêutica do Yoga

Satyananda (1996) define o yoga como uma ciência da vida, ou seja, um modo de viver que deve ser incorporado diariamente de forma a equilibrar e harmonizar todos os domínios da pessoa: o físico, o mental, o emocional e o espiritual.

Através da prática regular do Yoga, associada a um regime dietético vegetariano (satt-vico) e a um estilo de vida ativo e saudável, é possível a recuperação e manutenção de um estado integral de saúde (Goyeche, 1979; Frawley, 2011).

Assim, a utilização do Yoga como terapia, impõe uma compreensão holística do ser humano, através da utilização das suas diferentes técnicas terapêuticas. O presente artigo aborda apenas quatro destas técnicas terapêuticas por constituírem as reportadas na literatura com evidência terapêutica nos TPS, nomeadamente, os asanas (posturas psicofísicas praticadas de forma confortável e estável; Satyananda,1996), pranayamas (exercícios respiratórios), meditação (treino mental que visa um fluxo regular do pen-samento em relação ao objecto de concentração; Sivananda, 1966) e mudras (gestos ou atitudes psíquicas, emocionais, devocionais e/ou estéticas; Satyananda,1996).

3.2.3.1. Asanas

As recomendações terapêuticas dos asanas para uma abordagem efetiva dos TPS devem considerar a ação combinada dos cinco Vayus (Figura 2), complementada com as etapas definidas para a cura dos conflitos mentais (Tabela 3).

Assinala-se que, durante a prática de asanas a intensidade e tipologia dos movimentos prânicos devem variar de acordo com o desequilíbrio prânico, bem como com o Dosha de cada indivíduo. Como podemos constatar na Figura 2, deve-se considerar a introdu-ção de movimentos energizantes (para tonificar o Prana Vayu), movimentos de expansão (para tonificar o Vyana Vayu), contração (para tonificar o Samana Vayu), ascensão (para tonificar o Udana Vayu) e movimentos descendentes (para tonificar o Apana Vayu).

Adicionalmente, devemos ter em consideração a ação sinergética dos cinco Vayus e da sua ação em pares. Os vectores energéticos verticais (plano sagital) aumentam o Udana Vayu e diminuem o Apana Vayu e vice-versa, enquanto os vetores horizontais (plano transversal) aumentam o Vyana Vayu e diminuem o Samana Vayu, e vice-versa.

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Tabela 3 Asanas terapêuticos recomendados segundo as etapas definidas para a cura dos conflitos mentais.

Figura 2 Relação entre os sintomas psicossomáticos, os distúrbios por excesso dos Vayus e os asanas terapêuticos correspondentes a cada distúrbio

Fonte: Esquema baseado no subcapítulo “Energetics of the five pranas” de Frawley e Summerfield Kozak, 2003.

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Por exemplo, o Trikonasana, é uma postura que permite ativar a função energética dos cinco Vayus em simultâneo: o Apana Vayu exerce uma ação descendente pelos membros inferiores, enraizando-se através dos pés em contacto com o chão, enquanto o Udana Vayu alonga a coluna vertebral desde a região sagrada até ao occipital. Em paralelo, o Samana Vayu auxilia na torção do centro do abdómen para fora e o Prana Vayu permite a expansão da cavidade torácica e aumento da capacidade pulmonar funcional. Todas estas ações convergem na função do Vyana Vayu que se celebra através da extensão dos braços (Heileman, 2017). Deste modo, sugere-se a designação do Trikonasana, como o Asana de Ouro dos TPS, conjuntamente com o desenvolvimento da atenção plena e do domínio de técnicas respiratórias, que integram um movimento expiratório prolongado e profundo.

3.2.3.2. Pranayamas

Frawley (2011) recomenda para os TPS o desenvolvimento da atenção plena e con-centração nos movimentos respiratórios, nomeadamente, incluir técnicas de pranayama como:

• Kapalabhati - Para quebrar Tamas e eliminar toxinas.

Contra-indicações: doença coronária, hipertensão arterial, epilepsia, status-pós acidente vascular cerebral, status-pós cirurgia abdominal, hérnia abdominal ou gravidez.

• Nadi Shodhana com ou sem Kumbhaka - Para reforçar o movimento expiratório. Auxilia na regulação do hemisfério esquerdo e direito do cérebro, bem como, do sistema nervoso neurovegetativo. Reduz os níveis de stress, ansiedade e a frequência de ataques de pânico. Contra-indicações: doença coronária, hipertensão arterial, gravidez, úlcera péptica. Evitar quando há constipações ou gripes.

• Bhramari - Para aliviar o stress e a hipertonicidade muscular. Contra-indicações: otites externas ou médias agudas ou crónicas.

3.2.3.3. Meditação

A Medicina Ayurveda aconselha a observação atenta das emoções com desapego, seguido de um processo de identificação, vivência, aceitação e da sua dissipação. Assim, durante a prática de meditação, as emoções negativas devem ser observadas e vivenciadas corporalmente (consciência interoceptiva). Após um reconhecimento

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mental e de aceitação das emoções indesejadas/reprimidas, estas devem ser dissipa-das (Frawley, 2011).

Sublinha-se que este processo também se correlaciona com as etapas da prática de Yoga mencionadas anteriormente. Por exemplo, quando um sentimento de raiva emerge, o praticante deve estar completamente consciente disso, observar esta emoção à medida que se manifesta corporalmente, do começo até ao fim (Etapa 1. Quebrar o Tamas). Através da sua observação, há um processo individual de aprendizagem sobre a natureza da própria raiva (Etapa 2. Acalmar o Rajas), e posteriormente, proceder à sua dissipação e libertação (Etapa 3. Nutrir o Sattva). Este exemplo, espelha como os conceitos terapêuti-cos da Medicina Ayurveda e do Yoga se interrelacionam na perfeição.

3.2.3.4. Mudras

O mudra ou gesto Vaayu-shaamak Mudra (Figura. 3): permite melhorar os níveis de ansiedade, regular a ação de glândulas suprarrenais hiperativas e diminuir contracturas e espasticidades. Indicado para tratar transtornos associados ao stress, ansiedade, irritabilidade, falta de concentração, labilidade emocional, zumbido, vertigem, tonturas, palpitações, soluços, espasmos musculares, cãibras, obstipação e/ou flatulência (D. Gala, 2007).

Embora possa ser realizado a qualquer altura do dia, Gala (2007) recomenda como tempo ideal para a sua prática o período entre as 2 e as 6h ou entre as 14h e as 16h, para a obtenção de melhores resultados. Como precauções, o mesmo autor apenas assinala a sua descontinuação, após a melhoria dos sintomas.

Fonte da Imagem: http://apptya.blogspot.com/2010/07/vaayu-shaamak-or-vaayu-mudra.html

Figura 3 Vaayu-shaamak Mudra

3.2.4. Yoga e outras terapias

A maioria da literatura internacional recomenda o Yoga como uma terapia comple-mentar aos métodos convencionais (S. Garg, C. S. Ramya, V. Shankar & K. Kutty, 2015; R. Sutar, G. Desai, S. Varambally & B.N. Gangadhar, 2016).

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Grover et al (1994) assinala três estudos experimentais, tipo pré-post intervenção, que compararam o Yoga (programa terapêutico de 2 meses, 6 sessões por semana, de 45 a 60 minutos) com a farmacoterapia, em indivíduos com TPS. Para avaliar as intervenções utilizou-se: uma escala de melhoria clínica (“Clinicians’ rating of improvement”) e três questionários psicométricos (“Taylor Manifest Anxiety Scale”; “Hamilton’s Depressive Inventory” e “Bell’s Social Adjustment Scale”). Como resultados, o grupo da farmacote-rapia obteve uma melhoria significativa na escala clínica, comparativamente ao grupo de yoga. No entanto, os resultados psicométricos revelaram uma melhoria significativa para o grupo de yoga no que concerne aos níveis de ansiedade e capacidade de ajustamento social.

A evidência da associação do Yoga com a farmacoterapia nos TPS permanece escassa e necessita de ser investigada. No entanto, sabemos que fármacos como os ansiolíticos ou os antidepressivos diminuem o feedback de estimulação proprioceptiva e/ou interoceptiva e podem reduzir o estado de vigília do indivíduo (A.N. Singh, 2006). Perante a introdução do Yoga como terapia complementar, ao plano terapêutico habitual da medicina convencional, é pertinente, em investigações futuras, responder aos seguintes desafios: Será que o Yoga auxilia na redução da dependência farmacológica? Serão os benefícios do Yoga prejudica-dos pelos efeitos colaterais dos medicamentos? Se sim, quais as condições patológicas onde é aconselhado o desmame da medicação psicotrópica ao iniciar um programa de Yogaterapia?

4. Conclusão

Em conclusão, a origem dos transtornos psicossomáticos deve-se a uma combinação entre os conflitos mentais e a inibição/repressão emocional, que causam desequilíbrios no corpo prânico, ou seja, uma desregulação do sistema nervoso autónomo e somático. A abordagem terapêutica do Yoga para estes transtornos deve considerar não só as etapas para a cura dos conflitos mentais, mas também os princípios práticos para a regulação dos 5 Prana Vayus e o cultivo de uma consciência interoceptiva e de auto-observação dos processos mentais, associado a técnicas de respiração profunda.

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