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, ¦*¦:>- if** SEMANÁRIO MARANHENSE. ÂNNOI.San'Luiz, Domingo-3 de Novembro—1867.NUMERO 10. V,...! " Publica-se aos Domingos. Assigna-se nesta typographia e em mão do Snr. Germano Martins MAssiimpção a 2*000 por trimestre (13 números). edtctoh—B. de Mattos.>¦*#' H l MIN IttlB 1 LITTERATURA BÍBLICA. LICÇÂÜ IV. Seguindo a ordem chronologica, devo, Senhores, occupar-me primeiro com Sa- lomão, um dos vultos mais notáveis da Escriptura Santa, para depois então trac- tar do propheta Isaias, o poeta mais su- blime dos Hebreos. Poeta e rei como seu pae, Salomão, filho de David, foi autor do livro dos Provérbios, ou das Parábolas, como lhes chamão os Hebreos, do Ecclesiastes, e do Cântico dos Cânticos. Alguns attribu- em-lhe também o livro da Sapiência; mas S. Jeronymo, que fez um estudo profun- do da Biblia, e delia nos dêo uma edição correcta, notando a differença dos esty- los, é de opinião que este livro que sabe á eloqüência grega, é muito mais moderno, e escripto pelo judeo Philon, segundo dizem alguns dos antigos epcrip- tores.| Como poeta é Salomão um dos poetas didáticos mais eminentes da Escriptura Santa nas duas primeiras <jj>ras citadas, quer se attenda ao conceito, quer ao es- tylo; e no gracioso gênero pastoril o Can- tico dos Cânticos, que me proponho apre- ciar hoje, o colloca sem contradicçáo acima de todos os outros poetas bíblicos. Como rei foi Salomão o terceiro e o ultimo rei dos Israelitas reunidos em um corpo >de nação, e o mais poderoso e sábio que jamais tiverão estes povos. Construio 6 primeiro magnífico templo de Jerusalém, e soberbos palácios para si, e para sua mulher, a filha de Pharaó. Exercêo grande influencia sobre os po- vos circumvisinhos, que todos respei- tavão o seu poder. Maudou frotas a Ophir que se suppõe ser Sophala na costa ori- entál da África, buscar o ouro com que adornou o templo e os seus palácios, que passavâo então por verdadeiras ma- ravilhas. Para isto era necsssario possuir um porto no Mar Vermelho atè onde se estendião os seus domínios; e tal era, o porto de Asiongaber na Iduméa ou Ara- bia, de que falia o livro dos Reis. No corte dos cedros do Líbano para a cons- trucção do templo e mais edifícios pu- blicos, foi coadjuvado por Hirão, rei de Tyro, seu amigo e aluado, a quem gra- tiflcou magnificamente, fundando-lhe ei- dades na Syria. Suppõe-se que Tadmur, ou Palmyra, a rainha do deserto, foi fun* dada por Salomão. A sabedoria deste rei sem segundo daquelles tempos era tal, que passava em provérbio, e o circumdava de univer- sal respeito entre os seus e os extranhos. Movida do que a fama apregoava da gran- deza de seü nome, a rainha de Sabá, na Ara bia, veio a Jerusalém com grande pom pa visitar e consultar a Salomão, e achou que a realidade era ainda maior, que a fama. Mas este rei tão sábio, que era como um oráculo para os povos do Oriente, deixou-se corromper na sua velhice, to- mando grande numero de mulheres es- trangeiras. e erigindo templos aos Ídolos destas, em menos preço do Deus de Israel, que o castigou em sua posteridade, dividindo-lhe o reino, desde o reinado de seu filho Roboão Tal é a fragilidade hu- mana! O Cântico dos Cânticos, a que se attri- búe geralmente o sentido místico do in- comprehensivel amor de Christo para com sua Igreja, e desta para Christo, mas cuja belleza poética tenho de apre- ciar unicamente, é uma composição no gênero pastoril sem rival na graça e magnificência em outra alguma poesia do mesmo gênero, antiga ou moderna. «0 sonho de Salomão, diz o sábio cri- tico Hugo Blair, pode ser considerado como um bellissimo pedaço de poesia pastorik Sob a relação do sentido espi- ritual, é indubitavelmente uma allegoria mystica; mas na forma não é senão uma pastoral dramática e um dialogo entre personagens de üm caracter análogo aox dos pastores. Assim é elle desde princi- pio a fim cheio de imagens tiradas dos ob- jectos da natureza,e da vida compesina.» Passarei agara a ler* vos uma passagem do cap. 2o e outra do cap. 6o desta admi- ravel poesia, para que façaes idéa de sua singular belleza. Eis a primeira passagem: «Ego fios campi, et lilium convallium. Si^ut lilium inter spinas, sic amica mea inter filias. Sicutmalus inter ligna silvarum, sic dilectus meus inter filios. Sub umbra illus, quem desideraveram,* sedi: et fructus ejus dulcis"gutturi meo. Introduxit me in cellam vinariam, or- dinavit in me charitatem. Fulcite me floribus, stipate me malis: quia amore langueo. Laeva ejus sub capite meo, et dextera illius amplexabitur me. Ajnro vos filiae Jerusalém, per capreas cervosque camporura, ne súscitetis, ne- que evigilare faciatis dilectam, quoadus- quéipsa velit./ Vox dilecti mei, ecce iste venit salens in montibus, transiliens colles:' Similis est dilectus capreae, hinnulo que cervorum; en ipse stat post parietem nostrum, respiciens per fenestras, prós- piciens per cancellos. En dilectus meusloquitur mihi: Surge, propera amica mea, columba mea, for- mosa mea, et veni. Janf enim hiems transiit, imber abiit, et recessit. Flores apparuerunt in terr^ nostra: tempus putationis advenit: vox turturjs audita est. in terra nostra.» •..,-».. .....•»••.. . . . . . . < . Eis a traducção: «Eu sou a flor do campo, e o lyrio dos valles. Qual lyrio entre espinhos, assim é mi- nha amiga entre as filhas. Qual maceira entre os lenhos dos bos- quês, assim é meu amado entre os filhos. Sentei-me á sombra daquelle, a quem desejara: e o seu ftucto é suave á minha garganta.< Introduzio-me na adega de seu vinho; ordenou em mim a charidade. Sustende-me com boninas, cercai-me de pomos, porque desfalleço de amor. Sua mão esquerda está debaixo de mi- nha cabeça, e sua mão direita me hade abraçar. Filhas de Jerusalém, pelos serris ca- preolose corços montesinhos vos conjuro, oh não desperteis, nem façáes velar*a minha amada, até que ella mesmo o quei- ra fazer. Aquella é a voz do meu amado, eil-o ahi vem saltando pelos montes, e através- sandoos oiteiros. Meu amado é semelhante á cabra mon- tez e ao corçozinho. Eil-o por detraz de nossa parede, olhan- do pelas janellas, espreitando através das ffelozias Eis ahi meu amado que me diz: Ergue- te, apressa-te, amiga minha, pomba mi- nha, formosa minha, e vem. passou o inverno, cessarão ás chu- vas, e forão-se.- Apparecêrão as flores era nossa terra, chegou o tempo da poda: ouvio-se em nossa terra a voz *j_ty- rola.» .. .... ««,.'« ..#... Tào natural, graciosai e animada é esta admirável poesia, rica de imagens as mais amenas e pittorescas, de cona- parações as mais décadas e magníficas; de expressões as mais viyas, ou apaixo- nadas,que nenhuma outra se lhe asseme: lha em belleza, novidade e suavidade de perfume, se assim me posso exprimir. 0 colorido é todo a grandes traços, como o dos outros poetas hebreos, mas dos mais subidos' quilates. Vede como são graciosas, vivasj expressivas, e pittores- ¦v-"-'--S':ivw-;:

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SEMANÁRIO MARANHENSE.ÂNNOI. San'Luiz, Domingo-3 de Novembro—1867. NUMERO 10.

V, ... ! "

Publica-se aos Domingos. Assigna-se nesta typographia e em mão do Snr. Germano Martins MAssiimpção a 2*000 por trimestre (13 números).edtctoh—B. de Mattos. >¦*#'

H lMIN IttlB1

LITTERATURA BÍBLICA.LICÇÂÜ IV.

Seguindo a ordem chronologica, devo,Senhores, occupar-me primeiro com Sa-lomão, um dos vultos mais notáveis daEscriptura Santa, para depois então trac-tar do propheta Isaias, o poeta mais su-blime dos Hebreos.

Poeta e rei como seu pae, Salomão,filho de David, foi autor do livro dosProvérbios, ou das Parábolas, como lheschamão os Hebreos, do Ecclesiastes, edo Cântico dos Cânticos. Alguns attribu-em-lhe também o livro da Sapiência; masS. Jeronymo, que fez um estudo profun-do da Biblia, e delia nos dêo uma ediçãocorrecta, notando a differença dos esty-los, é de opinião que este livro que jásabe á eloqüência grega, é muito maismoderno, e escripto pelo judeo Philon,segundo dizem alguns dos antigos epcrip-tores. |

Como poeta é Salomão um dos poetasdidáticos mais eminentes da EscripturaSanta nas duas primeiras <jj>ras citadas,quer se attenda ao conceito, quer ao es-tylo; e no gracioso gênero pastoril o Can-tico dos Cânticos, que me proponho apre-ciar hoje, o colloca sem contradicçáoacima de todos os outros poetas bíblicos.

Como rei foi Salomão o terceiro e oultimo rei dos Israelitas reunidos em umsó corpo >de nação, e o mais poderoso esábio que jamais tiverão estes povos.Construio 6 primeiro magnífico templode Jerusalém, e soberbos palácios para si,e para sua mulher, a filha de Pharaó.Exercêo grande influencia sobre os po-vos circumvisinhos, que todos respei-tavão o seu poder. Maudou frotas a Ophirque se suppõe ser Sophala na costa ori-entál da África, buscar o ouro com queadornou o templo e os seus palácios,que passavâo então por verdadeiras ma-ravilhas. Para isto era necsssario possuirum porto no Mar Vermelho atè onde seestendião os seus domínios; e tal era, oporto de Asiongaber na Iduméa ou Ara-bia, de que falia o 3° livro dos Reis. Nocorte dos cedros do Líbano para a cons-trucção do templo e mais edifícios pu-blicos, foi coadjuvado por Hirão, rei deTyro, seu amigo e aluado, a quem gra-tiflcou magnificamente, fundando-lhe ei-dades na Syria. Suppõe-se que Tadmur,ou Palmyra, a rainha do deserto, foi fun*dada por Salomão.

A sabedoria deste rei sem segundodaquelles tempos era tal, que passava

em provérbio, e o circumdava de univer-sal respeito entre os seus e os extranhos.Movida do que a fama apregoava da gran-deza de seü nome, a rainha de Sabá, naAra bia, veio a Jerusalém com grande pom pavisitar e consultar a Salomão, e achouque a realidade era ainda maior, que afama.

Mas este rei tão sábio, que era comoum oráculo para os povos do Oriente,deixou-se corromper na sua velhice, to-mando grande numero de mulheres es-trangeiras. e erigindo templos aos Ídolosdestas, em menos preço do Deus deIsrael, que o castigou em sua posteridade,dividindo-lhe o reino, desde o reinado deseu filho Roboão Tal é a fragilidade hu-mana!

O Cântico dos Cânticos, a que se attri-búe geralmente o sentido místico do in-comprehensivel amor de Christo paracom sua Igreja, e desta para Christo,mas cuja belleza poética tenho de apre-ciar unicamente, é uma composição nogênero pastoril sem rival na graça emagnificência em outra alguma poesiado mesmo gênero, antiga ou moderna.

«0 sonho de Salomão, diz o sábio cri-tico Hugo Blair, pode ser consideradocomo um bellissimo pedaço de poesiapastorik Sob a relação do sentido espi-ritual, é indubitavelmente uma allegoriamystica; mas na forma não é senão umapastoral dramática e um dialogo entrepersonagens de üm caracter análogo aoxdos pastores. Assim é elle desde princi-pio a fim cheio de imagens tiradas dos ob-jectos da natureza,e da vida compesina.»

Passarei agara a ler* vos uma passagemdo cap. 2o e outra do cap. 6o desta admi-ravel poesia, para que façaes idéa de suasingular belleza.

Eis a primeira passagem:«Ego fios campi, et lilium convallium.Si^ut lilium inter spinas, sic amica mea

inter filias.Sicutmalus inter ligna silvarum, sic

dilectus meus inter filios.Sub umbra illus, quem desideraveram,*

sedi: et fructus ejus dulcis"gutturi meo.Introduxit me in cellam vinariam, or-

dinavit in me charitatem.Fulcite me floribus, stipate me malis:

quia amore langueo.Laeva ejus sub capite meo, et dextera

illius amplexabitur me.Ajnro vos filiae Jerusalém, per capreas

cervosque camporura, ne súscitetis, ne-que evigilare faciatis dilectam, quoadus-quéipsa velit. /

Vox dilecti mei, ecce iste venit salensin montibus, transiliens colles: '

Similis est dilectus capreae, hinnulo

que cervorum; en ipse stat post parietemnostrum, respiciens per fenestras, prós-piciens per cancellos.

En dilectus meusloquitur mihi: Surge,propera amica mea, columba mea, for-mosa mea, et veni.

Janf enim hiems transiit, imber abiit,et recessit.

Flores apparuerunt in terr^ nostra:tempus putationis advenit: vox turturjsaudita est. in terra nostra.»•..,-».. .«.....•»••.. . . . • . . . < . •

Eis a traducção:«Eu sou a flor do campo, e o lyrio dos

valles.Qual lyrio entre espinhos, assim é mi-

nha amiga entre as filhas.Qual maceira entre os lenhos dos bos-

quês, assim é meu amado entre os filhos.Sentei-me á sombra daquelle, a quemdesejara: e o seu ftucto é suave á minhagarganta. <

Introduzio-me na adega de seu vinho;ordenou em mim a charidade.

Sustende-me com boninas, cercai-mede pomos, porque desfalleço de amor.

Sua mão esquerda está debaixo de mi-nha cabeça, e sua mão direita me hadeabraçar.

Filhas de Jerusalém, pelos serris ca-preolose corços montesinhos vos conjuro,oh não desperteis, nem façáes velar*aminha amada, até que ella mesmo o quei-ra fazer.

Aquella é a voz do meu amado, eil-oahi vem saltando pelos montes, e através-sandoos oiteiros.

Meu amado é semelhante á cabra mon-tez e ao corçozinho.

Eil-o por detraz de nossa parede, olhan-do pelas janellas, espreitando através dasffelozias

Eis ahi meu amado que me diz: Ergue-te, apressa-te, amiga minha, pomba mi-nha, formosa minha, e vem.

Já passou o inverno, cessarão ás chu-vas, e forão-se. -

Apparecêrão as flores era nossa terra,chegou o tempo da poda: ouvio-se emnossa terra a voz *j_ty- rola.»

.. .... ««,.'« ..#...

Tào natural, graciosai e animada éesta admirável poesia, rica de imagensas mais amenas e pittorescas, de cona-parações as mais décadas e magníficas;de expressões as mais viyas, ou apaixo-nadas,que nenhuma outra se lhe asseme:lha em belleza, novidade e suavidade deperfume, se assim me posso exprimir.0 colorido é todo a grandes traços, comoo dos outros poetas hebreos, mas dosmais subidos' quilates. Vede como sãograciosas, vivasj expressivas, e pittores-

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SEMANÁRIO MARANHENSE.

cas as seguintes imagens; «Sou a flordo campo, e o lyrio dos valles»—«Soba sombra d'aquelle á quem desejara,me sentei, e o seu fructo é suave áminha garganta»-Sustende me com bo-ninas, cercai-me de pomos; porque des-falleço de amor»-—Aquella é a voz domeu amado, eil-o que vem saltando pelosmontes, e atravessando os outeiros.»Como são delicadas, aprazíveis, novase soberbas as seguintes comparações:«Quallyrio entre espinhos, tale a minhaamiga entre as filhas.» Qual maceira en-tre os bosques, tal é meu amado entreos filhos.»—O amado é semelhante ácabra montéz e ao corçozinho.» Comoéapaixonada e terna a linguagem doseguinte bellissimo trecho: «Filhas de Je-rusalem, pelos serris capréolos ecorçoscampesinhos vos conjuro, oh náo des-perteis, nem façaes velar a minha ama-da até que ella mesma o queira fazer.»

Tal é a belléza desta singular poesia,que nos sorprehende, enleva e arrebataa cada linha, ainda independente dosentido místico que se lhe atlribue, eque alias em nada altera a sua graçanatural. Abrir o Cântico dos Cânticos emqualquer parte é admirar o pittoresco,o magnífico, o bello, e não poucas vezes,o delicado, o terno!

Eis a segunda passagem:«Dilectus meus descendit in hortum

suum ad aureolam aromatum. ul pasea-sur in hortis, et lilia colligat.

Ego dilecto meo, et dilectus meus mi-hi, qui pascitúr inter lilia.

Pulchra es amica mea, suavis et de-cora sicut Jerusalém: terribilis ul cas-trorum acies ordinata.

Averte óculos tuos a me, quia ipsiute avolare feeerunt: capilli tui sicutgrex capfarum, quae apparuerunt deGalaad.

Dentes tui sicut grexovium, quae as-cenderunt de lavacro, omnes gemellisfoelibus, et sterilis non est in eis.

Sicut contei mali punjei, sic genuaetuaeabsque oceultis tnis.

são tuas faces, sem fallar no que se oc-culta em ti.

.... .1 ..•••«..*•• •

Quem é esta, que vai caminhando qualaurora quando nasce, bella como a lua,escolhida como o sol, terrível como umexercito ordenado ern batalha »

Nesta segunda passagem brilhão as imagens risonlias e pittorescas.como na pri-meira, mas dominão em maior esealla,as comparações aprazíveis, magníficas echeias de novidade, tiradas da vida campesína e dos objectos da uatnreza. Vedeque graça, novidade e riqueza se nota nasseguintes comparações:—«Eu sou parameu amado,e meu amado é para mim; elleé tal que se apascenta entre lírios.» «Esformosa amiga minha, suave e engraçadacomo Jerusalém: terrível como um exer-cito ordenado em batalha.» «Teus ca-bellos são como um rebanho de cabras,queapparecêrâo de Galaad.» «Teus dentescomo ura rebanho de ovelhas, que subirâo do lavatorio, todas eom dois cordei-rinlios gêmeos, e não ha nenhuma este-ril entre ellas—«Quem é esta, que vaicaminhando, qual aurora quando nasce,bella como a lua, escolhida como o sol&.» E' de notar que a belléza destas com-parações está não só na sua natureza eobjecto, mas em grande parle na sua bre-vidade; pois se exceptuarmos duas maisdesenvolvidas, iodas as outras são bre-vissimas. A concisão éuma das primei-ras virtudes dos poetas hebreos, quechegâo por ella não poucas vezes á su-blimidade.

.. •-• .. ... ............

Quae est ista, quae progreditur quasiaurora consurgens, pulchra ut luna. elec-ta ut sol, terribilis ut castrorum aciesordinata.»

Eis a traducçâo:«Meu amado descêo ao seu jardim ao

canteiro das boninas, para apascentar-seeqtre aromas e colher lírios.

Eu sou para meu amado, o meu ama-do é para mim; elle é tal que se apas-çenta ^ntre os lírios.

E?s formosa amiga ^inha, suave e en-gradada como Jerusalém; terrível comoum exercito em ordem de batalha.v Aparta de mim teus olhos, que me fi-zêrão voar. Teus cabellos são como umrebanho de cabras, que apparectêrão deèalaad.

Teus dentes são como um rebanho deovelhas, que subirão do lavatorio, ;todascom dois cordeirinhos gêmeos, e não hanenhuma esteiíl entre ellas.

Assim como a casca da romã, assim

Em nenhuma outra composição se podeapreciar melhor a belléza da poesia doOriente, do que no Cântico dos Cânticos,onde a pompa das figuras brilha a cadapasso a par do natural e do simples, apre-sentando bellissimos contrastes. Esta ad-miravel poesia, não obstante a riqueza daexpressão, tem o mérito singular de serde todos comprehendida, porque as ima-gens com que é enrequecida, são todastiradas da natureza ou de objectos conhe-cidos pelo sábio e pelo ignorante. A sualinguagem apaixonada e concisa commo-ve todos os corações, porque é intelli-givel para o commum dos homens, comoa expressão do mais terno e verdadeiroaffecto 0 Cântico dos Cânticos é, emnossa opinião.o beijo e o primor de todaa poesia antiga em graça e belléza, por-que nenhuma outra poesia pastoril aso-brelevano pittoresco. A belléza artificiosada poesia moderna do mesmo gênero nada'tem que ver com a belléza natural e gran-diosa desta poesia primitiva, tão bella comoa própria natureza oriental, que lhe dêoorigem. Cqm razão pois se lhe dêo umnome que ofdistingue de todos os outroscânticos.

Tendo analysado a mais sublime com-posiçâp de Salomão; passarei em outrodiscurso o apreciar o propheta Isaias, reide todos qs poetas hebreos em sublimi-dade. Por hoje aqui faço ponto.

JBrmícisco Soterq dos Reís.

A CULTURA 1NTEWA, I' A ESCIIOLA AGRÍCOLA Dl) MA-RANHÍO.

(Continuado do n° 9.)

0«Sr. Dr. Antônio Henriques Leal,uma das mais sympathicas e popularesillustrações d'esta província, tem-se de-dicado, muitas vezes, em suas horas delazer, a escrever sobre assumptos deagricultura, sem embargo da multiplici-dade de -suas óecupações diárias e inces-santes^ como médico, vereador da nossacamfrra ^«metp«l, deputado provincial,jornalista, bibliographo, e litterato*, gra-ças ao grande e puro patriotismo, queo anima, e á essa rara actividado. intel-ilectual, quetantoocaracterisa. Publicou,(em 1864, um excellente cathechismoagrícola, que devera ter sido adoptadolehí todas as aulas de instrucção prima-iria da província, já porque o livrinhoreúne, sob a fôrma mais substancial,«clara, o elegante, todas as outras condic-ções, que se requerem em uma obradidática, destinada aos meninos; já por-que, não se começa a dar á nossa mo-cidade, juntamente com o ensino prima-rio, a educação agrícola que lhe convém,difficil será infundir-lhe mais tarde ogosto para os estudos agronômicos.

Em 1859, verteu em pórtuguez as muiestimadas cartas do barão Justos deLiebig,sobre a chimica applicada á agricultu-ra; dando, além dMsso, aos jornaes, deque era então redactor, differentes arti-gos originaes acerca da nossa lavoura,da escravatura no Brazil, e dos estudosagrícolas; escriptos que vêem impressosjia parte supplementar dos Almanaks doMaranhão, eijoe de certo merecem umaexistência mais prolongada, que a dosjornaes, em que apparecêrâo pela pri-meira vez.

O Sr Dr. Alexandre Theophilo de Car-valho Leal, em quanto foi redactor deum dos jornaes d'esta província, tambémconsagrou á nossa lavoura muitos artigosimportantes, em uma época de suavida, em que atrahido pela política, eoecupando na capital o cargo de inspec-tor da instrucção publica, nem suspei-tava.talvez que teria de ser hoje um dosprincipaes senhores de engenho d^estaprovíncia, e que teria de pôr em praticaaquillo mesmo que então aconselhavaaos lavradores, e que, como sinceroadmirador dos progressos de outrospaizes, desejava vêr imitado no nosso.É

Assim que, nem bem havia deixado apenna, com que defendia os interessesda lavoura, lançou logo mão do arado,para não oecupar-se depois senão da pra- ^tica da agricultura; succedenío^lhe.o que,

* Emulo d'alguiis dos biographos francezes,o Sr. Dr. A. Henriques Leal tem consagradaas suas vigílias a historiar a vida dos nossaspoetas e lilleratos mais queridos e admirados.':

E ainda o anno .passado, como deputadoprovincial, confeccionou ulilissimas leis taescomo a que aulorisa a conservação de quatrojovens nas escholas de agricultura e de artese offigios, da França; a da creação de colôniasde p,esqaria, &.

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SEMANÁRIO MARANHENSE. 3

aliás, não raro, se tem dado, no Brazil,cora muitos homens formados em scien-cias, que se fizerão agricultores, quandosuas habilitações e dotes naturaes podiãoofferecer-lhes ingresso ás mais elevadasposições sociaes. Mas é que talvez nãoquizessem trocar, pela existência, muitasvezes enfezada e amarga do homem po-litico, o bem-estar, de que se goza navida retirada do campo, quando é estaamenisada pela convivência e affeições dafamília.

Se alguma cnuza perdem as cidadescom a auzencia dos homens illuslradosque. no Brasil, como em outros paizes,tudo abandonâo pela vida e trabalhos docampo—muito ganhão, pelo contrario,as lavouras á que por gosto se òçdicão.

Attendendo-se a esta compensação, eao estado cada dia mais decadente danossa lavoura, que está, por assimdizer, reclamando com instância a assistencia de honlens, que, pela su.» esclare-cida intelligencia e fortuna, lhe possãofazer algum bem, doemos felicitar-nosde que existão, entre nós. lavradorestaes como o Sr. Dr. Therophilo.

O seu engenho, a julgar se pelo planosegundo o qual está sendo montado, vema ser um dos mais completos da provin-cia, pois já possue, alem de todos osre-cursos que proporciona o vapor, um ca-minho de ferro traçado, nivellado, e as-sentado pelo próprio Sr. Dr. Theophilo;sem auxilio de engenheiros; e, a meuver, só lhe falta um apparelho pneuma-tico de concentrar o assucar no vácuo,que está prestes a montar, para que oseu bello estabelecimento nata tenhaqüe invejar aos melhores tngenhos daafamada ilha de Cuba.

Ao Sr. Dr. Fábio Alexandrino de Car-valho Reis deve-se. entre outros esçrip-tos acerca da agricultura, um trabalhomuiio notável, que o auetor modesta-mente intitula: nBrevet considerações so-bre a nossa lavoura», extrahido ílíj Dia-rio do Maranhão, e do Progresso, paraum folheto impresso em 1856. A estetambem muito deve a província, pois,como deputado provincial, apresentou,em 1854, medidas oa Assembléa sobrecolonisação, navegação dos nossos riose aberturas de estradas, ko, como me-lhor se verá, entre outros projectos, dosarts 21 e 22 da lei n.° 367.

Em 1856 o Sr. Dr. Antônio Rego, la-barioso propagador de conhecimentos

'úteis, apresentou á Assembléa Legislativad'esta provincia—projectos mui benefi-cos sobre exposição, prêmios á lavrado*res, viagens de estudo agrícola, coloni-saçào, companhia de pesca e cieaçao deumaeschola pratica de agricultura, parao que votou-se a quantia de 16 contosde réis. Essa eschola que chegou a or-

ganisar-se, mas que tão cedo deixou aeexistir-r-é a mesma extineta eschola agn.colado Cutim, de que acima fiz menção—primeiro e único estabelecimento de ep-sino agrícola, que até hoje se tem tentadofundar, n'esta pnoviocia. Algumas vezestem coliaborado com o Sr. Dr. H Leal

em trabalhos concernentes á lavoura, eahi está o seu Almanak do povo, ondetambem se oecupa d'el-a.

0 Sr. Dr. A. Marques Rodrigues, queigualmente como o Sr. Dr. Rego, propozna Assembléa projectos tendentes a me-lhorar a nossa agricultura, e como re-dactor de jornaes, escreveu artigos bemelaborados sobre o mesmo assumpio,deu a estampando collahoração com oSr. Dr. Jauffrd, a traducção do Planta-dor d'algodão do Turner, cujo trabalhofez preceder de uma introducção, que éa reproducçáo dos artigos que anterior-mente publicara.

0 Sr. Sérgio A. Vieira, incançavel la-vrador da ilha; que não só dá o exem-pio de bom patriota, como amante dopro^ss»» agrieoK lem n'esse sentidopublicado mais de um trabalho sobre anos>a lavoura, podendo citar-se. entreoutros o seu interessante opusculo sobreo cultivo e preparo do fumo (tabaco.)

O Sr. Dr. Luiz Migugi Quadros tentaestabelecer, ásua custa, n'esla provincia,uma colônia de emigrados norte-amen-canos. Se o seu projecto, que já se achaem parte, realisado, não tiver a mesmasorte que o da creação da supracitada esí4chola agricol-a—fácil será prevorem-se asvanta«ens,que desse facto apparantemen-teficio

tão simples, devem emanar em bene-io, não só d'esta provineia.se não tam-

bem dc todas as do norte, que arada hapouco duvida vão, de ver, voltada para es-telado do império, a torrente da emigra-ção norte-americana.

Este bom exemplo valerá 0 certomais, do que muitos bons desejos..

Estender-me-liia ainda um pouco maisn'esta parte, se quizesse desdobrar aquitoda a lista dos nomes próprios, quepodem convir ao meu propósito; masnão o farei, já porque desejo guardaruma certa medida n'estas notas smge-Ias, já porque julgo sufficiente o queacabo de dizer em relação a cada umdos nomes que citei —pára que se possaapreciar as natureza dos serviços presta-dos á nossa; lavoura, isoladamente, e emépocas diversas, por alguns amigos do

progresso da nossa provincia. E bastão,os que nomeei, porque por elles se po-derão julgar os outros, que, por fazeremmenos do que estes, não deixão c.ointudode bem-merecer da província,

Esses esforços individuaes serão porem;incapazes de produzir todo o seu effeitoútil e desejado, e do raodo o^mais com-pleto e geral para a nossa provincia—em-quanto não forem eficazmente secunda-dos pdo governo, á quera corre, pelosystema centralisador que infelizmentevigora no. nosso paiz,-o indeclinável de-ver de promover e facilitar, por todos; osmeios ao seu alcance, o dese otfohmwn toe prosperidade da nossa agricultura.

Lamentando que se maWgnassé a mmtativa de crèar-se umai escbola praftcadeagricultura n'ésta provincia;, e nâio podendo por emquanto diluçidar todas ascausas, que a fiaerão abortar—transpor-tar-me hei, de repente, pelo pensamento.

a um paiz, que a todos os respeitos pódeser proficuamente invocado para servir-nos de exemplo; e em poucas palavrasdirei—como é que ern França sé funda-rão tantas escholas de agricultura! #:

O primeiro estabelecimento d'este ge-iwro que, nVpielle paiz, creou-se, e me-recen o titulo de eschola, foi a célebrefazenda de Roville, cuja historia oecupaalgumas paginas dos Annaes da agriculfrtura franceza. .

Erão, n'aquella fa/enda-motlelo, admitrtidos, como estudantes, ou apprendizes,os jovens agricultores, que ali vinhão re-ceber uma instrucção ao mesmo tempotheorica e pratica, já cursando as aulas deagricultura.jápraticamlo noscampos,, soaas vistas do famoso agrônomo francez,Matheus de Dombasle. cuja intelligennae saber em reconhecidos e apregoadosem toda a Europa, e cujo nome passoua posteridade. A eschola de Roville, per-feitamente organisada, e entregue a tãohábeis mãos, náo podia, pois, deixar defnzer época.

E o fez, porque, cora effeito, produziutodos osfruetos, qúed'ella se espeiavão,e foi, por assim dizer, a pedra de toqueque serviu para a creação de todas as inSrtituições análogas, que se lhe seguirão.

E uma prova d'isso èque, muito Umpo depois, Augusto Bella, official refor-mado do exercito de Napoleão 1, auima-do pelo exemplo de Dombasle, concebeua feliz idea de assentar uma lavoura, coma intenção de transforma-la, mais tarde,era eschola.

As terras dos arredores do eastello mGrignon, que então jazião devolutas e iajr?produetivas, em conseqüência »1e suaigrande esterilidade, attrahirâo, para Jogo,a attenção; e cobiça de Augusto Bella.Erão aquelles terrenos verdadeiras rochascalcareas,.gredosas, ou de giz, apresen-tando, em alguns logares, profundos ban-cos de falun, ou jextratificaçpes de con-chás fosseis, misturadas com areia, queainda hoje s<.. observão, etn Grignon, nasterras nâo modificadas, como teriâo oç-casião de vêl-o, na estrada que conduzaquelle estabelecimento, os brasileirosque o teem visitado; e pertenciâo ao Es-tado, depois de terem sido propriedadedos descendentes do Sr, de Grignon, ede outros nobres fidalgos de França.Solicital-os ao governo francez, e entrarem ppsse d'e Ues—foi para Bella negociode um momento.

Qual não foi, porém, o espanto de uraministri.o da agricultura, quando, algunsannos depois, sóübe que as culturas deGrignon cau^avão admiração a todos oslavradores dos arredores do eastello !

Pi só então, que tractou-se de fundarn'aquelle logar, ou no seio d^quella nas-cente e esperançosa lavoura, uma esGholade agronomia; e õ eastello de Grignonvque dfféreeía todas as aeoramoiíações para3er a sede d^ila, foi immediaiamentetransformado era instituto agronômico,soba direícçào dò mesmo Augusto Bella.

Érs, em poucas papras, a ongetn du;mnito afamada eschola imperial de agri-

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A SEMANÁRIO MARANHENSE.

cultura de Grignon, cujo actual director—o Si*. Francisco Bella, é filho do dignofundador daquelle instituto. *

Vejamos agora de que meio serviu-seBella para melhorar aquellas terras in-gratas, e elevar a sua fertilidade ao nívelda dos campos mais fecundos e remune-radores!

Não recuou diaole dos maiores sacri-ficíos pecuniários,ou, segundo a enérgicaexpressão do Sr. Lecouteux, saturou osterrenos com o capital, gastou emfim odinheiro que entendeu se devia empregarem uma obra útil, certo de que o dinheiroque se atira ao solo, sob a forma de es-trumés, de correclivos, de amanhos, emum tempo dado volve á algibeira de seudono, augmentado pelos rendimentos.

Demais, quando explorâo se terrenoscollocados em condições lão desfavora-veis, como outr'ora os de Grignon, ou osque, n'esta província, escolherão para aEschola do CwtÜm—não é possível, e nemc-jsiveniente seguir-se outro systema delavoura, que não seja a intensiva; eala-voura intensiva, como em outro logardefini, não pôde prescindir de dispendios,e nem avança sem grande somma de ca-pitai. E quem ousaria admittir o contra-rio, referindo-se ao estado primitivo dasterras de Grignon, quando é certo quese tractava ali nada menos que de comporum solo artificial, addiccionándo ao ele-mento predominante que constituía a ca-mada vegetal de seu solo todos os demaiselementos que lhe faltaváo?!

As terras do Cutim também exigiãoque se modificassem profundamente assuas propriedades pbysicas, chimicas, emechanicas, por meio de lavras profun-das, de correclivos e adubos. Mas nadad'isso se fez, e nem se podia fazer semdinheiro. E como conseqüência da mesqüinhez de recursos pecuniários—ia secommetter no eslabelicimento agrícola doCutím um grande absurdo, e ensinar-seuma pratica errônea, app.icando se a cul-tura extensiva, que só deve ter cabimentoem terras vastas e naturalmente fecundas,ao acanhado campo de experiências da es-chóla, demarcado sobre os estéreis ter-renos de uma charnéca!

A exiguidade e esterilidade das terras,e a circumstaneia de querer-se que assuas culturas servissem de modelo, e osseus produetos attingissem o maximumda producção agrícola—indicavâo suffici-entemente a necessidade de recorrer-seá cultura intensiva.

Oaradosópor si não conseguiria jamaismudar çompletameifte a natureza d^quel-les terrenos tão compactos, porque, não

* Já estava composto este artigo quando nosderão a lastimosa noticia da morte do Sr. Fran-cisco Bella.

E' mais urn homem dlstincto e um hábil agro-nomo que a França perdeu, e cuja falta 4he serásensível, sem embargo do grande numero deagrônomos que possue 1

Constou-nos também que, em conseqüênciad'esse fallecimento, o Sr. Durand, ex-director daextineta eschola agrícola do Maranhão, assumi-ra interinamente o cargo de director do Institutode Grignon.

interpondo-se, entre suas moléculas, ne-nhum corpo estranho, que as isolasse, ecessando a acção que as plantas, pormeiode suas raízes, poderião sobre elles exer-cer—baslarião as chuvas do inverno paratorna los tão impermeáveis e rebeldes ácultura, como o erão d'antes.

Se porém, depois de arado e revolvidoo subsolo na profundidade conveniente,se lhes applicassem fortes doses de cor-recilivos e estrumes, para em seguidaamanha-los com freqüência e cuidado-*--lograr-se-hia, sem duvida, transforma-losemterrasde não Milgar fecundidade.

íi. E. Ferreira de Carvalho.

JACY.(LENDA MAR.ANHENSE.)

POR

Sa\)W da CosYa.

(Continuado do n* 9-.

CAPITULO X.•4

Os índios festejavão a victoria adqueri-da contra os negros na fasenda do Sr.Luiz Hermenelgido, e na aldeia erguerãoaltares, acenderão rizinas cheirosas, eaoson do maracá dança vão e cantavão, dan-do vivas ao chefe, e algasarra fasião deaturdir toda floresta!

Ao entrarem, na aldeia, alegres e tri-umphantes, Jacy correo a Abaguaçú di-zendo-lhe:

—O que fizeste?—Vinguei-me, Jacy, vinguei nossos

irmãos, respondeo o filho do velho chefe.Aqui tens, pai, o heróe de tantos feitos,cada qual mais espantoso!

Ibakeoçú tinha um hombro ferido eSeemyra curava o marido com seos bai-çamos vegetaes, só dos índios conheci-dos.

Ibakeoçú radiante de prazer e cheio dejusto orgulho, fallava aos seos:

—Sim, meos filhos, foi renhida a ba-talha, foi combate de bravos batendommuçúbas. Prodígios de heroísmo eu vifazer, que praticarão matreiros em honrados seos avós tupysl Esse tapanhúnabravio, feroz, sedento, investio contramim, com tal furor, que julguei jurúpáriardendo em fogo; que dos olhos faiscáslhe sahião! Irado, e cego de cólera eraiva, dava golpes de espada que o tacapecom destreza os desviava de mim! Elleredobrava o furor, quando bati-lhe na es-pada tal golpe, que á parti em menos dametade! E continuou a lutar como umperdido; tranquillo eu estava, mas jáme sentia ir cançando, quando um golpecerteiro de murucú decidio a contendadando por terra com o meo adversário,banhado em sangue! E vós todos sabeisquem foi o valente?

—Abaguaçú! gritou a multidão.—Abaguaçú! repetirão Seemyra e Ja-

cy. i ; V '¦¦

—Foi elle, e só elle; que deo fim a luta;dizia o velho chefe; pois o dia vinha

raiando e de entre nuvens quaracy laa-cava seos luminosos raios!... - La fica-rão mortos, feridos e foragidos, e só euferido por elles fui; os mais baterão-secomo pantheras, e seos feitos gloriososbrilharão lustranxJo mais a raça dos tmpys. - v .,,.¦ ,.,.-. ¦,. sji

Os tapuyos saltavão de contentes, e er-guião os braços ao céo, dando pulos com-passados ap son de gritos, que mais pa-reeião berros! Elles festejavão, á seo*modo ao velho chefe; e Jacy levada porAbaguaçú, que se ia desculpando de haverenganado sua prespicacia e cuidados, iadizendo em tão alegre, mas sentido:

—Máo!—E não sabias que te podia serfatal ir ao combate, quando ainda o piâgenáo te julgava bom? -

—Me perdoas o crime? %—Eem, respondeo Jacy, meiga e terna,

a perdoar seo noivo sempre resolvida. $.—És valente, eu, o sei, tornava ella,sendo arredada do terreiro pelo noivo.Mas sê bravo com bravos. Não seráJacy que não queira, que combatas tim-Uras e outros iguaes; que de louros tuafronte nao guarneças,e tropheos das vic-torias não sejão teos.. .Abaguaçú, és li-vre, e essses tapanhúnas são escravos.

—Eu os devo punir por seos crimes,disse Abaguaçú, devo castigal-os, que mealejavào e me terião morto, se como mor-to não me julgassem então!... Mas ai...tu nâo te zangas com o têo Abaguaçú:,não é assim ?

—Oh! não! Se eu te amo tanto...Jacy não poude continuar, que um

beijo dado pelo noivo lhe cortou a voz.Elles se jnUgavão sós, e não vião, que

no mato escondido Jerü os escutavaattento, ardendo em raiva, e ciúmes.

Jerú em conseqüência do ferimento querecebera na perna,ficara coxo. mas isssoem nada modificara as suas pretenciosasambições. .

Quando vio Jacy ser bejada, suas mãosentezarão a corda do arco, e a herva-da frecha foi apontada contra o peito deAbaguaçú! 0 u:eio era perigoso; Jerúarrependido, meneiou a cabeça, e, su-mindo-se pela floresta, dizia comigomesmo:

—Ella será minha ., VConcluídas as festas seguirão-se dias

de paz para os indios, mas de desesperospara o Sr. Luiz Hermenelgido, que decontinuo era atacado .pelos tapuyas, ma-treiros.

Foi marcado o dia para o casamentode Abaguaçú. A taba nesse dia de festaf,cobrio-se de gala. O poste foi ingrinal-dado, e as ocas tinhão arcos de murta nafrente. A hora das cerimonias, os noivoscaminharão juntos até ao poste, ondeIbakeoçú os esperava, ornado com asinsígnias caciques. Toda tribu formaracirculo em roda do poste, que servia dealtar. ^ * ; ¦ ¦ \",

O velho cliefe em altas voses apregoouohymeneo, e uníp seo filho á escolhida doseo coração, e invocou a Tupan que der-ramasse'beneficios eternos sobre os^noi-

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SEMANÁRIO MARANHENSE.

vos, ali merecendo sua aprovação ce-leste. I

Os vivas dos Índios interrompião ao Ve-lho chefe, e Jacy estava radiante de pra-zer, o goso espalhava-sewnas feições ale-gres de seo querido noivo.

Jacy sentia-se, como tocada pelo dedode Deos, subir... subir... as regiões di-vinas ¦ Não escapara ao velho espozo.deSeemyra, que Jerú ali não estava asÉStin-do tão solemne funeção.

O rigosijo durou tres dias e tres noi-tes; Abaguaçú e Jacy unidos pelo docelaço do matrimônio, davão toda espansãoao seo amor.

Vivia feliz a sobrinha.de Ibakeoçú, e sóo coração cobria se de tristeza, quandosabia, que seo Abaguaçú batia-se contraescravos.

Jacy andava alegre, porque sentia noventre o fruto do mais santo amor; eAbaguaçú zelozo, cuidava da espoza quelhe ia dar um filho; fazel-o pai.

Os indios timbiras travarão luta com osmatreiros, e vencidos, forão debandados;mas uma frecha inimiga embebera-se nopeito do velho Ibekeoçú, resultando-lhea morte dos valentes.

Antes de deixar o muuda, o velho, quese sentia morrer, chamou, o filho, e á sóscom ellét disse-lhe;

—Abaguaçú, vaes sèr chefe em meolugar; eu te quero pedir, que como ir-mãos trates nossos vassalos. Segue dotêo velho pai os exetoplos. E' melhorperdoar um criminoso do que punirum innocente. Nao te tornes severo,e com respeito devem todos tratar-te.. .Filho querido... escuta,., attende...Não tens observado, em Jerú... sim.,.em Jerú...

O velho estava prestes a ceder á lei danatureza! Sua alma estava a momentosa escapar-lhe do corpo, a desprender-sedelle.

Abaguaçú calmo e mudo ouvia seo pae,que já com a voz enfraquecida, fallavaassim:

—-Abaguaçú. I. escuta... Jerú é tigreque traição só'pensa!... Elle é infamecomo não imaginas!. •. Vigia o bem.;..Esse malvado, ama Jacy—quer ser caci-que...

Abaguaçú sentio, queo ciúme lhe mor-dia o coração, com dentes aguçados; ecomo seN eloquecesse derepente, inter-rogou seo pae:—Pai, o qúe dizes?

—Ac^ma-te... eu morrer me sinto...Jerú ambicionava sêr cacique eespozar-secom Jacy tambem... o pussanuêra megarantio, que o teo ferimento não forapor baila feito.. • e sim por frecha...

—Jacy, meo pae, Jacy sabe de tudo?—Não; disse com nobreza Ibakeoçú.

Ella tudo ignora. Só eu sabia, dos pia-nos infernaes dòmáoJerú... Jacy é dig-na de ti... Oh! ella é ò caraibêbê-catú,que Tupam em prêmio dos meos traba-lhos quiz dar a meo membyra.

—Ainda bem, disse Abaguaçú, tran-quillo e xalmo de novo estou,

—Filho, Jacy % .digna de ti. •. ;Ella¦ «a.

vae ser mãe, o te fazer pae....trata Jacy,como tratei tua mae, e ao herdeiro, comotu foste tratado... oh! chama a todos,que despedir-me quero... eu morro...

Abaguaçú abrio a porta da salla e dissea multidão alli apinhada:

—Entrai:Sôfregos por verem o chefe ainda vivo,

entrarão todos, e não havião olhos, quenão vertessem lagrimas.Ibakeoçú estava deitado na kecaba e a

todos fallou, dizendo adeus. Só Jerúfaltou!

—Onde está Jerú? interrogou o caci-que. Não quererá dizer-me o ultimoadeus!

Jerú foi procurado, encontrado, con-dusido a presença do seu chefe; mas foratarde! Jacy e Seemyra apertados pelosbraços nús do velho caciqtíe, tinhão asfa-ces encostadas sobre seus peitos largose Abaguaçú sustinha sua cabeça cobertade cabellos brancos; cabeça que souberagovernar selvagens, sendo por elles comopai querido; choravâo todos!

Ibakeaçú estava morto!O funeral do velho pai de Abaguaçú foi

feito com toda pompa. O corpo untadocom differentesbalsamos,e envolvido emfolhas aromaticas fora linhado«com largasfitas de vermelha embira. Não houveperfume qúe não levasse, o velho chefe.

Foi o corpo conduzido nos hombros dosmais aguerridos tapuyos, e sepultado nagruta de uma montanha, fechada por pen-does de trepadeiras, como festões de flo-res adornando a entrada do cemitério dosmatreiros caciques. Os tapuyos.respei-tosos e humildes, acompanharão o mortoa sua ultima morada.

Assim teve fim, o penúltimo chefe datribu matreira, destinada a ter por ultimocacique o esposo de Jacy,

Jacy deu a luz a uma criança, tão mi-mosa, e galente como ella p foranaquellaidade, e fraca ficara que não pode creára filhinha. Teve Abaguaçú de chamarTi ti, uma india delgada, mas meiga e ca-rinhpsa, que era maltratada pelo marido,bruto e insolente tapuyo, queá batia semmotivo, e trazia em viver infeliz.

Titi tinha um filho de seis mezes, eac-ceitou crear a filha de Jacy, para assimse afastar do rigor do marido. ^

Àmamentar duas creanças era de maispara as forças de Titi, e preferindo a in-feliz antes morrer, do que queixar-se.continuou a dar leite as duas creançaspor mais de dois mezes.

Mas a vontade humana não pode ir alémdò limite que Deus marcara-lhe, Titi ado-ecera do peito, e a thizica lhe cortara ofio da vida!

Jacy estava forte e robusta; continuavaa tratar da filhinha, e o filho de Titi foraentregue a seu pai,a quem Jacy fazia con-tinuamente obséquios.

Jacy adormecera sua filhinha na chei-roza maquira de palha, e sahio da oca;tomou a estrada do riacho aonde tinhapor custume banhar-se.

*»' Tinha Jacy andado bastante quando per-

cebeu oceulto com folhas de pindobas,um vulto de homem, acocorado. Os olhosda tapuya nâo se illudirão! *

—O que fazes ahi, Jerú? interrogouJacy com energia na falia. Porque te es-condes com essas pindobas bravas ? Oque vieste fazer no caminho do riacho?Não sabes que a todos é prohibido anda-rem nestes sítios? O que te trouxe aqui!—Jacy, respondeu o selvagem. Foi Jacyque me trouxe a esta estrada, porque ellaé formosa como as nossas palmeiras, elinda ainda mais, que o florido páo d'ar-co. Eu vim fallar comtigo !...

—O que dizes, Jerú? bradou raivozaavirtuoza mulher de Abaguaçú,

—Digo, Jacy, que muito amo-te... quepor ti eu morro... que deves me dar ven-turas, iguaes as que já deste a Aba-guaçú.—Jacy te escutou, e te perdoa, quelouco deve estar quem ousa fallar-lhe,fallas como as tuas. Volta, e não sigasa quem te pode fazer ser castigado.

—Mas eu disse a Jacy que muito amo,para deixal-a só ao banho ir. ^Sabiaquecostumavas a estas horas, no riacho dafloresta vir tomar banho, e sempre vi-giado não te podia seguir, nem te espe-rar. Hoje vi descuidado Abaguaçú, e corria esperar minha Jacy... oh! dá-me umbeijo... dá-me só nm dos muitos, quetu dás a Abaguaçú...

Jacy sintiu-se corar de vergonha, e che-gou a temer de alguma violência! Ope-rigo a encorajou então.

—Insolente Jerú, monstro dos mons-tros, o crime não intimida teu coração defera? Queres atado ao poste ser ba-tido pelas taquaras, até cahires morto?Não vês que é a mulher do teu caciqueque tu ouzas affrontar infamante? Jerú.foge, emquanto é tempo, que teu crimeAbaguaçú ignorará, só Tupan lá do ibakete julgará então.,"

—Nada temo, Jacy-; sendo amado porti. .Tu és á jacytata, que me guia a ven-tura eterna... Eu te amo. _¦.¦¦* A

Jerú dizendo isto ajoelhou-se aos pésde Jacy, que recuou assustada.

—Não fujas de quem te adora.. diziaJerú agarrando Jacy por um dos braços.

—Desgraçado ! Eu grito por soecorro,e ai de ti! Arreda-te...arreda-te, rep-til infame... alv! quero a estrada livre...deixa-me...

—Serás minha?., meu amor... sim?—Nunca! bradou Jacy, e escapando das

mãos de Jerú; ia correr, mas tao assus-tada e tremula estava, que cahiu sobre arelva, perdendo os sentidos.

^ Jerú erguera-se e sorrindo -se disse:—E's minha, emfim!Mal tinha acabado de proferir estas pa-

lavras triumphantes, quando sentiu o pezodo tacape na cabeça, e com o craneopaKtido,rollouno chão alagado em sangue!

Era Abaguaçú, que o seguira e que daespoza quiz a prova ter de quanto erafiel, e correu a Jacy que ..obre a relvàestava cahida, dizendo aos indios que oacoraparihavão:

—Levai, sim; que seja punido como

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O SEMANÁRIO MARANHENSE.

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réo de um crime, que só Tupan perdoa.Os indios carregarão Jerú esvaído em

seu sangue, éno poste de angico o atarãocom cordas para ser acçoitado até mor-rer!

Abaguaçú com afagos e beijos receberaos primeiros signaes de vida que a suaJacy lhe dava e no transporte da maisagradável alegria, elle abraçou-a e sofre-go a beijava.

—E's tu,Abaguaçú? E aonde está elle ?—Quem? disse fingindo ignorância, o

cacique.—Jerú? Não o achaste aqui ?Abaguaçú contou o que se pasara á

sua mulher, eesta já recuperando as for-ças, pelo braço de Abaguaçú voltou ataba.

No terreiro os tapuyos preparavão acruel execução de lei tão barbara, e jáos tapuyos esta vão armados com maçosde taquaras, para applicarem o castigo aoinfeliz Jerú, quando Jacy appareceu comAbaguaçú.

—O que fazem? interrogou a mulherdo cacique.

—Vamos punir o crime aonde eleva-mos a virtude, respondeu Mandú, que dejuiz servia n'aquelle acto solemne.

—Não mais quero ver castigos taes,em nome de Abaguaçú, do vosso chefeeu ordeno que soltem ao delinqüente.

Jacy estava inspirada pela piedade eolhou para o espozo como quem dizia:

—Perdão para elle!Abaguaçú quiz fallar, mas sua mulher

recostando-se a elle meigamente lhe disse:—E' Jacy que te pede.—E' Jacy quem manda! respondeu o

indio morto de amores ainda, e derigin-do-se aos seus bravos governados assimfallou:

—Em nome de Jacy dou-lhe o perdão.Os tapuyos, que em circulo estavão em

volta do poste de angicot deixarão as ta-quaras e correrão a soltar o condemnado,por Abaguaçú e Jacy já perdoado.

Quando desprenderão a Jerú, elle,ro-lando pelos degráos do poste, cahiu naterra morto.

(Continua.)

RXMINISCENCIA3.

Cousa notável! Em cada um dos perio-dos da minha exi-tencia anterior en sem-pre me conheci tão inteiroemcada umad'ellas como o sou hoje, e sempre emtransposições extraordinárias na ordemdas recordações, sem completa observan-cia da successão progressiva do tempo.D'esta sorte foi qne aos quinze annos da

«minha idade de homem me veiu a lem-branca de haver sido a Gabelleira de Mi-rabeau, quando só aos desesete foi queme recordei de ler sido uma das sanda-lias de Homero! Tive consciência; de exis-tir na cabeça do grande orador da revo-lução frauceza quando elle recebeu a pri-meira carta de prisão na Bastilha. Enrai-veceu-se o turbulento Riquetti; e todo ocouro cabelludoaoqual eu adheria fio porfio enchepi-se de sangue; os alveolos das

minhas raizes constringiram-se, sentindoeu então as idéias, que se lhe agitavamno cérebro em confusão tumultuosa, pro-curarem sabida por introducção nos meustubos. Estes eram estreitos de irfais paraa passagem do volume, que ellas representavam, e só sei que ellas retrahiram serapidamente deixando que os meus com-pridos anneis se desenrolassem á vontadecomo se por alguns instantes houvessemsido apertados no cimo da cabeça. O ruídodo seu pensamento era tamanho que todos os meus tios o ouviram distinctatnenteainda mesmo aquelles, que afastados docerebello.povoavama nuca do famoso ora-dor. Ouvindo-o pensar pela primeira vezem opposição ao regimem antigo, contrao qual todos os meus anneis sempre fo-ram rebeldes, entreguei-me d^ todo o co-ração ao mais singular enthusiasmo ma-nifestado por voltas que dava sobre aquellagrande cabeça, enroscando-me por detrazdas duas grossas orelhas, que lhe orna-vam a parte superior dos queixos, e queeram o enfeite unico daquella physiono-mia* arrogante é pouco bella. Na phasedos seus loucos amores pela celebre So-phia, com quem fugiu e viveu retirado deFrança, calcando aos pès todas as conve-niencias sociaes e domesticas, logrei agra-dos e gostos por muitas e muitas vezes,ora quando o seu cabelleireiro me tomavaentre os dedos, aromatisando-me de óleose pomadas finíssimas, accomodando-meem compridos cachos ecommunicandomeuma certa languidez temporária da qualeu me erguia mais forte e mais crespa aopasso que o perfume se ia enfraquecen-do, ora quando o famoso orador se en-tiegava á convivência intima dfaqaellamulher por cujos cabellos eu sentia a maisviva paixão. •

N'essas oceasiões todos os meus fios,anneis e cachos estre ueciam uo conlac-lo das louras ondas dos cabellos de So-phia. Varias vezes me fizeram elles quei-xas da minha ausência, do que snppu-nham ser esquecimento meu, quando osó culpado era o grande Mirabeau, que,como todos os amanies, afastava-se doobjecto idolatrado por causa das terapes-tades de ciúmes, que n'elle sempre fo-ram terríveis e medonhas. Pobre Sophia!Assim como Mirabeau te. amava, eu ido-latrava os teus cabellos; de nossa inno-conte união só resultavam fios e fios decabellos, que em tua? cabeça appareciamabundanteraente,depois que o teu amantecingia-te em seos braços, permittindo queeu tambem me aproximasse de ti paraentender-me comtigo e acariciar o objec-to adorado, que era em ti a causa domeu verdadeiro amor.

Eram meus filhos legítimos, Sophia,aquelles cabellos novos, aquella pennu-gem, que especialmente; se te empluma-va no capitei do pescosso onde eu sempre encontrei o mais commodo e volup-tuoso leito!

Sabiam dos meus bulbos os germensreproduetores d^aquelles substitutos le-gaes, que ex-oflicio concorriam para oaugmento da população cabelludia de tâo

formosa e admirável cabeça! Ai, Sophi*^como a seu turno foram elles tambem

prolíficos á semelhança dos vegetaes, que •

se fecundam a si mesmos, mas-só para?produzirem os cabellos brancos, que se,;tomaram o mariyrio de tua idade madu>ra com todos os symptomas de velhiceaoticipada, por amor da qual eUe, oteu*amante, te abandonou, e eu do mesmo-modo separei-me de tua cabaça, dos teuscabellos e do capitei do teu pescosso!'Ai, Sophia, como foram tristes aquellesteus cabellos brancos, aquellas estriasrachiticas de uma cruelreproducção cryp*togaaia! ,

No dia dojurameoto do —Jogo dape-la—o meu enthusiasmo fez-me esqueceras saudades dos meus amores perdidos,dando ao conjuneto dos meus anneis, fiose cachos o aspe7cto dn heroísmo. Empresença d'aquelles deoodados reforma-dores, ouvindo aquelles discursos tãacheios de patriotismo e dedicação ás mmvas idéias, ouvindo sobretudo a celebrephrase de Mirabeau dirigida aos suissos,que lhe davam ordem para retirar-se edissolver se a reunião, a minha vehe-mencia chegou ao ponto de compellir-me a fallar, apostrophando aos guardas,mas em linguagem tão fraca e imperceptivel que nenhum dos circuinstantes meouviu, nem me comprehendeu. Já menão recordo das expressões de que fizuzo então; mas, é certo que, se os ho*mens ifaquella epocha tivessem podidoouvir-me e registrar as minhas phrases,ellas se tornariam mais celebres do quea apostrophé do primeiro cônsul junetoás pyramides do Egyptoou a respostado capitão da guarda, imperial na der-rota de Waterloo.

Mais de uma vez na assembléa nacio-nal este facto se reproduziu, quando ofamoso Riquetti como um l<jão oa gaiolaoecupa va a tribuna. Aquelle notável ef-feito da sua eabelleira, que os críticos ebiographos comparam á juba altiva dorei das florestas, era todo elle devido aoenthusiasmo com que eu tambem discu-tia agarrada á cabeça do celebre ora-dor. Recordo-me com grande segurançadas melhores phrases do monumentaldiscurso sobre a bancarrota, que foraminspiradas por mim, segredando-lh'asaoouvido; de muitos apartes dirigidos áBarnave e aos irmãos Lameth, e das de-finições de Robespierre ede Sieyés, quefoi tudo obra minha.,

Era eu quem fallava por cima daquellaaltiva e orgulhosa cabeça; e sô tive oenthusiasmo anniquilado seguido de mor-te apopletica, quando Mirabeau, entrandoem negociações? com a corte de Versa-lhes, regressou a Pariz montado em umeavallo defaluguel* depois de haver con-ferenciado com a rainha Maria Antoniet?ta> -. • :¦-¦¦--y:r(:^-::-^: P : tMmsMm m

Morreram n?aqnella desgraçada! noitetodas as minhas aspirações! Companheirados seus estudos, conhecedora. da gran*de sciencia social e politica que possuíaMirabeau, confidente dos segredos da suçincontestável aptidão para o elevado car-

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SEMANÁRIO MARANHENSE. 7in 111 jígjjjjggggg^gggggggg

;go de ministro parlamentar em Um sys-ithema de constituição livre, e certa deque o grande Riquetti difficilmente seria'derrotado por qualquer opposição, quese erguesse contra os seus ministérios,porque á tenacidade de Pitt elle saberiausar dos fecundos recursos de RobertoWalpole, estava eu preparada para vedoredigir fallas do throno, propostas do po-,der'executivo, leis do orçamento sem de-*ficit, e guia-lo nas cabalas das maioriasparlamentares, intervindo sobretudo nosmanejos elleitoraes, convencida de queelle em França, sendo ministro, jamaishavia de'perder uma eleição. A brilhanteaurora cl'este brilhanlisstmo futuro apa-gou-seinvolvidanosbulcõesda conferênciade Versalhes; e grandefoi a minha magoapor vê-la assim desfeita,se bem que todaaquella profunda agitação do período re-volucionario nos servisse, a mim e a «Uo,de gloria mais que muito invejável. De-pois da conferência de Versalhes come-cei a embranquecer; e, se a morte dogrande homem, não viesse tão depressaarreda-lo da scena em que se represen-tou tamanho drama, esgotar-se-hia detodo a minha seiva capillar. A's vezes éprovidencial o acabamento a propósito.

De haver sido uma das sandálias docego cantor de Atr ides guardo eu comigoas mais gratas recordações; quando nâose teve em partilha a enorme fortuna denascer homem celebre, serve ao menosde não pequena consolação o haver per-tencido de qualquer modo a alguma ce-lebridade, orf se fosse sandália, ou parde meias, ou lenço de tabaco ou qualqueroutro equivalente objecto.

No pé esquerdo de Homero eu, san-dalia sua, adqueri parte da gloria, quecom tão vivo esplendor coroa a frontedo avô dos poetas. '

' *0 pé esquerdo de Homero era um ver-

dadeiro pé de poeta épico; grande, car-nudo, cabelludo no rosto e no aventaldos dedos, de tornosello saliente e cal-canhar arredondado, calcanhar, que, porsua invulnerabilidade.lhe suggeriu a idéiada antithese do calcanhar de Aehilles.Não tinha calos o pé esquerdo de Home-ro; mas, quando o pobre cantor cegoandava de cidade em cidade e de aldeiaem aldeia, palmilhando vagarosamenteaquelles caminhos de areia e terra ver-melha,que se lhe infiltravam entre a car-ne e a minha sola, cobrindo as correiaso tornosello e a perna até quasi meio(Telia-, formava-se naquelle pé esquerdode Homero uma tal argamassa de areiae suor, que valia bem por uma dúzia decalos. Pobre Homero, e pobre de mim,sandália do pé esquerdo de Homero! Seeu abria a bocca por debaixo dos dedosdo seu pé a areia ou ò barro entravam-me por ella è afogavam-me, e o poetaao sentir o atrito da invasão .pulvureutaparava incommodado, e sacudia o pé comuma paciência tal. que fazia inveja á fi-gura bíblica e soffredora de Job. N'essasoccasiõjes para^viuruma ^uflac«açãOt-quepoderia produzir em mim a a&p^yxia, euapertava-me ao calcanhar do velho grego,

entesando as correias por cima do tor-nosello com o mais evidente esforço deobediência ao grande principio do—con-serva-te a ti mesmo,—de que não estãoisemptas as próprias sandálias. Ó torno*-sello do grande poeta mais de uma vezficou ferido, porém, o calcanhar....nunca'.

Pobre Homero! Depois que morreufizeram d'elleo maior poeta do sen.tem-po, ao passo que em sua vida, e eu oexperimentei por mais de uma vez, dei-xavsrm-no morrer de fome. Uma tardene caminho, que levava a Nauplia, ellede fatigado parou ao pé de um sycomoro,e deitou o conpo $obre ras ;herv.as, quecobriam a terra. Estava a morrer de fo-me, e a morrer d'ella também um cão-zinho, que o acompanhava. O ma^roApollo, era este o nome do cão zinho,deitou-se ao lado do amoe colloicoufocinho á terra no desespero da fome,que lhe apertava as entranhas. Homeroafrouxou as correias das sandálias; e,lepois de as haver batido e sacudido

-uma de encontro a outra, atirou-as aochão á alguma distancia do seu corpo.Apollo entesou logo as orelhas e arre-messou-se sobre mim, ferrando me osdentes justamente no logar do meu cor-po onde acamava-se o dedo grande dopé do poeta.

Estremeci em todos os membros daminha coiruda e encouraçada organisação, entrando francamente em lucta como faminto adversário, que ameaçava de-vorar-me. Comecei por lhe dar uma ca-beçada nos dentes; e, entesando as cor-reias, e batendo-o por todos os lados aopasso que elle me virava e revira va emvários sentidos e direcções, tanto o maltra-ctei que lhe puz a bocca ensangüentadae elle deixou me em paz, indo-se a ga-nir para juneto do pobre velho poeta,que n'aquelle momento, apertando con-vulsivamente com ambas as mãos o es-tomado, e deitado de bruços, traçava napoderosa imaginação o grande quadro docanto quarto da lliada. Cançado de luc-tar com Apollo, eu jasia immovel sobreumas hervinhas, e olhava de revez parao pé esquerdo do poeta, do qual nãoqoizera ter sido afastada. Já por noiteentrada levantou-se elle, calçou-me eseguiu para Nauplia onde chegamos ex-tenüados. Alli um pobre fabricante decytharas abriu lhe a casa, á cuja portabateu Homero, e o agasalhou.

De manhan fui substituída por um sa-pato de couro <fe vitela, e guardada emum canto da casa do fabricante de cytba-ras d'on-d-e nunca mais sahi e onde-per-di toda a minha existência intelligente; fi-quei sindalia no rigor da expressão,

Pedro Nado, (o transmigrado*)

MEMTAÇÀO. ;Era a hora em qne o homem está reco-Ihido nas suas mesquinhas moradas...

A. Hercúlamo.

Com seo silencio, seliarmonisa esta alma,Que verga ao jugo d'um a sorte avessa!

Oh! meditemos.. .Na soidâo da terra,Nas vastas ribas deste vasta mar,Ao som do vento, que sussurra triste,Por entre os leques do gentil palmar,

0 sol nas trevas se envolveo-—myUeriosEncerra a noke.. .ella,comprehende a dorTalvez o manto, que estendeo na terra,Lhe esmague o peito, qué gêmeo de amor!

•..

Ornar na praia, como liso ondeia,Gemendo triste—sem furor—com maguas!.Também meditas, oh! salgado pf-go?...Também partilhas desta vida as fraguas??..

E a branca lua, a devagar no empyreo,Como uma virgem, na soidâo da terra!...Que doce encanto lem seo meigo aspecto!Quantos ^ulevos sua trislesa encerra!

Oh! meditemos! Quem gêmeo no bosque,Ondea ílorzinhaa perfumar capliva?Seria o vento, que passando ergueraDe tronco annoso a ramagem altiva?

De novo a mente a divagar começa,Creando affouta seo sonhado amor/Zombando altiva d'uma sorte avessa,Qu'opprime a vida com fatal rigor!

E n'e_se instante sutíocando a custo,Meo peito o doce palpitar de amor,Delicias bebe desterrando o sustoQu*a noite incute, a semear pavor.

E um deleite, inda melhor qu'a vida,Langor, quebranto, ou solfrimenlo, ou dor,Um quê deaífeclos, meditando, eu sinto,Na erma noite, a me exaltar de amor!

E nessa hora,gotejando o pranto,Nas ermas ribas do saudoso nar,Dis horas mortas, esse doce encanto,Dá vida ao ente, que criei p'ra amar...

E á doce imagem vaporosa, e bella,Qu'a mente ergueo, que ingrinaldou de amor,Eis-me sorrindo milindrosa, e grata,Como o perfume de amorosa dôr!

E a mente a envolve de profundo affecto,E dá-lhe a vida, que lhe dera Deos!Ergue-lhe altares,lhe coroa a fronte,Rendo-lhe cultos, que só dera aos céos!

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Vejamos pm's esta deserta praia,Qu*a meigafUa a pt atear começa;

Colhe i/ra ella das roseiras bellas,Qu'ahi cultiva—a mais singela flor,E n'um suspiro vai depor-lhe ás plantas, \Como offerenda,—seo mimoso amor!

Mas, ah! somente a duração da rosa,Tem esse breve devanear da mente!Volve-se a vida, onde ha sò pranto, e magoa,E cessa o encanto do amoroso ente....

Guimarães.

Maria Firmína dos Rbií.¦ ¦ - ¦- ¦¦•". V*:¦*;¦¦¦ O

f^imim^im^mmrm^mm^V^ -Wl''*****^*--^^ • *?'.' '^-f*****

« SEMANÁRIO MARANHENSE.

>, DESERTOS ifrTIMOS.

DONDE VENS?

Gloria dos olhos, dor dos coraçOes.

LlIZlAUAS.

Donàe vens, triste formosa,Que eu vejo sempre a me olhar?Eu amava oulr'ora... uos olhosQue assim paravam a amar... r-Volta a quem deste os incautos,Que eu volto ás ondas do mar.—Choras?—tem, meu Deus, piedadeDesta mulher a chorar 1

Como estás! onde perdeste'Os mimos de tanto amor?Em sonhos eu te tomaraPor uma estatua da dor...Tinhas mais brilhoemaisgraçasE mais perfumes que a flor:—Quem desbotou-te estas rosas?Quem consumio-te o fulgor?

Eu chorei, quando te rias;Choras hoje, eu não me rio...Para esquecer-te eu voavaAos golfos do mar sombrio!Todos me viam—passandoSolitário como o rio,Como o vento suspirandoPelas roseiras do estio!

Tudo em vao! Tinha os teus olhosNas chagas da minha dor!Aqui, nest'alma vibravamComo um farol seduetor!Me fascinavam no abysmo,Tinham fatal esplendor,Baiavam sobre os meus dias,Astro, ou do inferno ou do amor!

Longa foi-me a vida, longa,Emquanto a morte eu busquei.Depois—mudou meu destino:Cèos de belteza encontrei...llostos de um rir tão divino,Que, sem ser escravo, amei.—Se entào chorando me vissem...Oh! quão feliz eu chorei!

1858.

Souza Andrade.

«?. ? ?

Se a voz do meo amor é tão confuza,Que a nao sabes ouvir, formosa minha;Se tu achas escuro quanto eu digo,Suppre as minhas palavras e advinha...

Eu julgava eloqüente em demasiaEsta funda paixão que me devora,E que os olhos revelão de continuo,Que tão ciara se mostra em cada hora!...

Pensava que de sobra já soubessesO dominio que tens na minha vida;Qae o poema de amor, guardado na alma,Hou vesses lido já, minha quirida!

E' preciso, porem, que eu diga tudo,

Que raeroje á teos pésallucinado?Pois os anjos do céo não ouvem precesEncerradas n'um peilo atribulado?

Advinha o que dizem meus olhares,Dá traduecão á dúbia reticência,E comprehende estas phrazes mal expressas,Phrazesquazi geradas na demência!

*

Advinha e darás no mesmo instanteDoce orvalho do amor á sorte minha;E' tào fácil a um anjo ler nas almas,Anjo, lô na minha alma ou advinha!

Joaquim Serra.

CHR0NICA INTERNA.

0 vapor do Sul, que veio como foi,vazio de importância, trouxe a notícia dese haver suicidado a celebre Jovita, vo-luntaria do Piauhy;

Que existência Infeliz e talhada parasacrifícios foi* a d'essa pobre moça!

Sábio da obscuridade em que vivia,emum d'esses raptos de enthusiasmo pátrio-tico, e despedio-se da existência, porum modo tão trágico e inesperado !

Uma historia de amor, mal correspon-dido, deo era resultado a morte d'essamizera mulher, inquestionavelmente pos-suidora de uma alma ardente, apaixona-da e capaz de grandes emoções! .

Se a valia commum do cemitério tevede receber o seo corpo; se a historia dopaiz não lhe pode guardar o nome, áchronica dos acontecimentos passageiros reste o dever de dizer algumas pala-vras em memória de tão desditosa creatura.

A desgraça lambem tem os seos pre-dilectos e cumpre lamentaí-os, quandoelles não podem resistir aos golpes amiudados e profundos .••*..••

do enthusiasmado do primeiro concertodado por elles.

Os destinetos artistas não vivem da con-descendência publica e nem ficão restan-do coiza alguma a grande fama que lhesrodeia os nomes.

0 violinista éde grande força e de muitaexecução Recommenda se tanto pela li-

.geireza e valentia da arcada, como pelaexpressão e sentimento com que faz vi-brar as cordas da rabeca. Variações dif-ficülimas,sobre lhemas importaules,forão>cabalmente executadas pelo jovem vioti-nista, e satisfactoriamente acompanhadaspelo irmão harpista.

0 Canto da floresta, cora que terminouo primeiro concerto, é uma composiçãomagnífica, tão bem concebida como des-empenhada.

0 publico chamou a scena por diversasvezes os jovens artistas, e foi caloroso namanifestação' do seo apreço. 0 segundoconcerto, sem duvida alguma, será maisconcorrido, pois o espectaculo é dignoda attenção publica.

—A companhia dramática do Sr.VicentePontes de Oliveira, começa a segunda se-rie de representações com o drama Cto-tilde conforme se acha annunciado. Deagora em diante ficarão as noutes maisdivertidas do que estavão, em quanto seconservava feichado o nosso velho S.Luiz.

A proza dé hoje acaba em verso.Pietro de Castellamere achou sobre a

sua mesa de èscripta as linhas, que sevão lêr.

Parece que o autor d'ellas deseja vel-asinseridas no fim dVsta chronica.

Seja feita a sua vontade. Nãoseiquemseja o auetor dos taes versos, juro atéque... 0 melhor é não jurar...

Eis ahi a historia:

W:

—0 destinclo publicista, conselheiroJosé de Alencar, colleccionou em um fo-lheto os brilhantes artigos que escreveo,no Correio Mercantil, acerca do projectodo Sr. visconde de S. Vicente, relativo ater assento no senado S. Alteza Imperialo Sr. Conde d'Eu.

Ò illustre escriptor.debatf ndo uma the-se constitucional, trouxe á questão aquellaluz, que sempre derrama a sua preciosaintelligencia e illustraçâo.

S. Exc. promette a publicação de ou-tros estudos, e consta-nos que d'entroem pouco sahirá a luz o que diz respeitoao previlegio de foro e immunidades dosmembros do corpo legislativo. Bem viu-dos sejão trabalhos semelhantes,o honraaquelles que sabem honrar o paiz, comas suas obras.

—Em outro lugar d'este jornal estão pu-blicados alguns versos de uma senhoramaranhense, que cultiva as bellas lettrascom assiduidade e muito bom gosto. Nãosão estes os primeiros versos da autorada Ursula e o Semanário sente especialprazer archivando os trabalhos de tão ta-lentosa collaboradora.

—Já o publico formou o seu juizo acer-ca do mérito dos irmãos Franco, sabin-

As cândidas vestes, de limpida alvura,Que os anjos do céo costumâo trazerNào linhas então; de negro trajada,Ex,tranha vizào, passaste á correr!

Meo Deu*, que lindeza! A face tão branca,Qual nivea geada brilhando ao luar,Em meio do crepe, do fúnebre lutoLançava lampejos de mago brilhar!

.

Que encantos nào tinha o rosto de jaspe ^Cercado das sombras, que as vestes lhe dào!Dissereis um astro de pallido lume,Luzindo no meio de negro bulcão!

Mais alva que a cera, que a pluma, que à hóstiaa face divina de tanto fulgor!Gauzou-me vertigem o vel-a tào branca....E o negro do traje cauzou-me terror! >

Parece, que eu vejo naquella brancuraSentença implacável, de uma alma que é fria...Nas vestes sinistras—da cor dos meos sonhos—Eu leio também sentença sombria!

Serás minha estrella, fatal ou propicia,Condemna-rae embora, humilde te escuto...Pois morro contente fitando teos olhos,E o pallido rosto, e as vestes de luto...

Pietro de Castellamâre.

Typ. de B. de Mattos^lmp. por Manoel F.' Pires, rua da Paz 7.

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