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17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis 513 XVII ENCONTRO NACIONAL DA ANPAP PANORAMA DA PESQUISA EM ARTES VISUAIS ARTE EM ESPAÇO URBANO DE GOIÂNIA: resguarda a memória histórica, artística e cultural da sociedade. Maria Madalena Roberto Cabral Mestranda em Cultura Visual - FAV/UFG Maria Elizia Borges ANPAP - FAV/UFG RESUMO A iconografia exibida na Cidade de Goiânia retrata as personagens da sua História registrando os fatos de valor simbólico visando a preservar a memória do povo goiano, a construção e implantação da nova Capital. As discussões sobre Arte Pública e a ocupação do espaço urbano trazem a reflexão do diálogo entre o objeto artístico e a comunidade. Os Monumentos, mais do que obras de arte, são signos visuais que perpassam a construção da identidade de uma cidade. Esses marcos de referência na paisagem da Cidade são documentos de democratização à cultura. Reconhecer seu conteúdo e aceitar o seu valor permite com que esses cumpram a sua função. Arte em espaço urbano de Goiânia resguarda a memória histórica, artística e cultural da sociedade. Palavras-chave: arte pública; espaço urbano; Goiânia; século XX. ABSTRACT The iconography shown in the City of Goiânia portray the personages of its History registering the facts of symbolic value aiming at to preserve the memory of the our people, the construction and implantation of the new Capital. The quarrels on Public Art and the occupation of the urban space brings the reflection of the dialogue between the artistic object and the community. The Monuments, more than what arts workmanships, are visual signs that construct of the identity of the city. These landmarks of reference in the landscape of the City are documents of democratization to the culture. To recognize its content and to accept its value allows with that these fulfill its function. Arts in the urban space of Goiânia protect the historical, artistic and cultural society’s memory. Keywords: public art; urban space; Goiânia; XX century. Esta comunicação tem por objetivo relatar o Projeto Documentação Histórica e Fotográfica do Acervo Artístico no Município de Goiânia 1 , da Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura, Prefeitura de Goiânia, que visou a realizar um estudo detalhado sobre a identificação e catalogação do Acervo Artístico Cultural localizado na Capital do Estado de Goiás. Essas manifestações artísticas, de valor estético, histórico e cultural,

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17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis

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XVII ENCONTRO NACIONAL DA ANPAP PANORAMA DA PESQUISA EM ARTES VISUAIS

ARTE EM ESPAÇO URBANO DE GOIÂNIA:

resguarda a memória histórica, artística e cultural da sociedade.

Maria Madalena Roberto Cabral

Mestranda em Cultura Visual - FAV/UFG Maria Elizia Borges ANPAP - FAV/UFG

RESUMO A iconografia exibida na Cidade de Goiânia retrata as personagens da sua

História registrando os fatos de valor simbólico visando a preservar a memória do povo goiano, a construção e implantação da nova Capital. As discussões sobre Arte Pública e a ocupação do espaço urbano trazem a reflexão do diálogo entre o objeto artístico e a comunidade. Os Monumentos, mais do que obras de arte, são signos visuais que perpassam a construção da identidade de uma cidade. Esses marcos de referência na paisagem da Cidade são documentos de democratização à cultura. Reconhecer seu conteúdo e aceitar o seu valor permite com que esses cumpram a sua função. Arte em espaço urbano de Goiânia resguarda a memória histórica, artística e cultural da sociedade.

Palavras-chave: arte pública; espaço urbano; Goiânia; século XX. ABSTRACT The iconography shown in the City of Goiânia portray the personages of its

History registering the facts of symbolic value aiming at to preserve the memory of the our people, the construction and implantation of the new Capital. The quarrels on Public Art and the occupation of the urban space brings the reflection of the dialogue between the artistic object and the community. The Monuments, more than what arts workmanships, are visual signs that construct of the identity of the city. These landmarks of reference in the landscape of the City are documents of democratization to the culture. To recognize its content and to accept its value allows with that these fulfill its function. Arts in the urban space of Goiânia protect the historical, artistic and cultural society’s memory.

Keywords: public art; urban space; Goiânia; XX century.

Esta comunicação tem por objetivo relatar o Projeto Documentação

Histórica e Fotográfica do Acervo Artístico no Município de Goiânia1, da Divisão

de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura, Prefeitura de

Goiânia, que visou a realizar um estudo detalhado sobre a identificação e

catalogação do Acervo Artístico Cultural localizado na Capital do Estado de

Goiás. Essas manifestações artísticas, de valor estético, histórico e cultural,

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representam 388 registros realizados de janeiro de 1995 a dezembro de 2003.

A obra de arte e/ou monumento em espaço urbano traz em sua forma e

conteúdo o relato da História da cidade.

A idealização inicial do Projeto é de Vera Lúcia Oliveira Gomes, na época

Coordenadora dessa Divisão, que em co-autoria com o escritor Edmar

Guimarães listaram, informalmente, 42 obras de arte e/ou monumentos e

edificações históricas com o título e localização com a finalidade de publicar um

livro. Nossa contribuição ao Projeto, co-autoria, inicia-se, em novembro de

1995, em uma semana o levantamento foi ampliado para 86 artefatos artísticos.

Definimos que as obras a serem registradas são os bens imóveis, em seu

caráter físico - o de estarem afixados em um muro ou base - e os bens móveis,

desde que possuam um caráter de imobilidade, ou seja, as obras que podem

ser deslocadas sem a necessidade de qualquer intervenção realizada por um

técnico especializado, podendo ser facilmente transportados para outro

espaço. Esse caráter é reconhecido pelo tema estabelecido para a execução

da obra, com o propósito de narrar a História goiana e/ou da instituição,

encomendados para aquele espaço, permanentemente. A inclusão de obras no

Inventário deve ser as de natureza pública e semipública. Aquelas estão

localizadas em praças, bosques e espaços abertos e, essas as que se

encontram em hall de entrada, salas de reuniões, plenários e espaços

fechados de Instituições públicas ou privadas.

Com a nossa experiência em Museologia iniciou-se o Inventário do

Acervo. Inicialmente, realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre os artistas,

suas obras em espaço público e as informações biográficas, bem como sobre

os homenageados. Em seguida, solicitamos dos artistas plásticos com

experiência na elaboração de arte para espaços públicos o encaminhamento

de listas com suas produções. Os artistas encaminharam as listas de obras

com o título, material, dimensões e localização. Aos homenageados e/ou aos

seus familiares solicitamos dados necessários para a elaboração de textos

biográficos para que, além da fotografia e informações sobre cada obra,

também, pudéssemos apresentar ao público essas personagens. As pesquisas

e ações aconteceram simultaneamente.

Para o Inventário do Acervo elaboramos a ficha de Identificação do Objeto

contendo os campos: Número de Registro; Designação; Título; Artista; Data;

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Técnica; Dimensão, em centímetros – altura, largura e profundidade;

Propriedade; Localização; Endereço e Histórico. É importante citar, que devido

ao número reduzido de técnicos na Divisão de Patrimônio Histórico, a

realização do Projeto se desenvolveu fragmentada, em meio a outras

atividades, curadorias de mostras fotográficas e atendimentos ao público.

Nossa permanência de quatro anos na Divisão de Patrimônio Histórico deixa

registrado um acervo de 249 obras de arte. Em agosto de 1999, voltamos para

o Museu de Arte de Goiânia, unidade dessa Secretaria de Cultura, nossa

lotação desde 1983, quando ingressamos no quadro de servidores da

Prefeitura de Goiânia.

Retornarmos para a Divisão de Patrimônio Histórico, em agosto de 2003,

encontrando 422 obras registradas. A primeira ação foi realizar o Diagnóstico

da situação atual que é a conferência das informações adquiridas, observando

a categoria, autoria, identificação, localização e endereço. Separando as obras

nos campos “alterar”, “excluir”, “incluir” e “investigar”, sendo que, em quase

todos os novos registros é necessário uma providência. Como exemplo

citamos: alterar a categoria; excluir a obra, pois essa não possuía a

característica definida no Projeto; incluir dimensão, endereço e investigar

informações ambíguas, buscando o esclarecimento de alguns itens.

Findando a análise desse Inventário preparamos um treinamento,

elaborando o Manual de Preenchimento da Ficha de Identificação. A equipe

para o desenvolvimento das ações é composta por uma estagiária, uma

fotógrafa, uma historiadora e eu, coordenadora do Projeto. Elaboramos um

roteiro – separando as obras por bairros – para iniciarmos a Vistoria, visando

as possíveis alterações nas informações e na obra. Essa vistoria inicia-se, em

17 de setembro de 2003, com finalização no dia 12 de maio de 2004,

percorrendo 138 locais – 101 Instituições, 34 praças, 01 bosque, 01 terminal

urbano e 01 trevo.

Concluída a etapa elaboramos o Diagnóstico do aspecto físico reportando

as 177 obras que impossibilitavam uma leitura estética legível ao espectador.

Observamos, também, o estado do suporte ou base e das molduras. Perda da

camada pictórica; manchas escuras provocadas pela umidade; escritas e

desenhos com tinta ou caneta; afixação de adesivos, papéis publicitários e

goma de mascar; fissuras e cortes; subtração de partes, elementos e placas

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informativas são algumas das interferências mais freqüentes, diante dos casos

fortuitos e/ou força maior, no aspecto físico das obras expostas a um

diversificado público. Sanadas as dúvidas e preenchidas as lacunas torna-se

possível iniciar a forma de comunicação dessa pesquisa.

Em julho de 2004, a Divisão de Patrimônio Histórico é transferida para o

edifício Grande Hotel, uma das três primeiras edificações da nova Capital. Com

um espaço físico maior foi possível estender o quadro de servidores, que agora

conta com duas designers para iniciar o projeto gráfico do livro que visou a

registrar os monumentos públicos de Goiânia.

O espaço urbano é aquele próprio das cidades e não diz respeito, apenas

ao seu aspecto físico, mas ao modo de vida de cada cidade, sobre a política,

economia, educação e cultura. “Por cidade não se deve entender apenas um

traçado regular dentro de um espaço, uma distribuição ordenada de funções

públicas e privadas, um conjunto de edifícios representativos e utilitários. (...).

“O espaço também é um objeto que se pode possuir e que é possuído”

(ARGAN, 1998: 43-4).

A Cidade edificada precisa narrar sua História e a de suas “ilustres”

personalidades. Não uma narrativa somente elaborada com palavras, gestos

ou sons, mas, também, com imagens visuais materializadas que permanecem

resistentes ao tempo no contexto urbano da Cidade. A publicação Arte Pública

relata que “a intervenção artística contribui para redefinir o espaço urbano, ao

criar novas tramas com a arquitetura, o urbanismo e as relações sociais ao

redor” (PEIXOTO, 1998: 117).

As obras em espaço urbano são signos da visualidade artística e cultural

de uma Cidade contribuindo na construção de sua identidade. Essas

manifestações democratizam o acesso à cultura, considerando que o espaço

museológico possui um horário estabelecido, além de intimidar um grande

número de membros da sociedade. Para uma parte da população representa o

único contato com expressões plásticas “in loco” oferecendo ao observador as

características da composição, plano, formas, material, textura, cor, entre

outras, que configuram em elementos necessários a uma apreciação estética.

As questões que norteiam a discussão da Arte em espaço público

objetivam reconhecer a construção do valor, conteúdo, função, sentido e

significado das obras artísticas e históricas que podem ser visualizadas nas

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praças, ruas e fachadas de edifícios. As obras de arte e/ou monumentos da

Cidade de Goiânia podem ser reunidos em vários grupos temáticos: retrato,

identidade local, problemática universal, obra de arte de livre temática e

edificações e objetos industriais que, mesmo não sendo obras de arte, relatam

fatos da História local. Nesse grupo temos a primeira locomotiva, uma torre

com relógio e um coreto. Esses dois últimos construídos para a inauguração

oficial de Goiânia, em 1942.

O primeiro grupo e, também, a primeira manifestação implantada em

nossa Capital é o retrato de uma personalidade, usualmente da História local,

apresentado na forma do busto. O segundo, da identidade local, traz como

tema um fato histórico de valor simbólico e social ligado à formação do povo

goiano e à construção da nova Capital; o terceiro traz uma problemática

universal, o critério é o de registrar um fato deixando sua idealização a critério

do artista. O quarto grupo é do artefato artístico de livre temática do artista.

Nesse grupo não se define tema ou fato, o interesse é mostrar uma obra de

arte. Está nesse grupo o Museu de Escultura ao Ar Livre.

A Arte Pública surge lentamente nas primeiras décadas da Capital. O

primeiro objeto em espaço público é o busto de Pedro Ludovico Teixeira2

realizado pelo artista Zaco Paraná3, em estilo neoclássico, buscando transmitir

para a obra o retrato do homenageado. Está afixado em frente do Palácio das

Esmeraldas, sede do Governo do Estado de Goiás, Rua 82 nº 01, Praça Dr.

Pedro Ludovico Teixeira, Setor Central. Tombamento Lei Estadual nº 8.915, de

13 de outubro de 1980 (Figura 1).

Figura 1 Pedro Ludovico Teixeira Zaco Paraná, 1937, 75 x 62 x 41 cm Fotografia: Madalena Cabral, 2008

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No segundo grupo podemos citar O Monumento à Goiânia inaugurado,

em 03 de novembro de 1967, mais conhecido como “Monumento às Três

Raças”. É a obra mais significativa da Cidade e da escultora Neusa Moraes4. O

conjunto das três figuras mede 345 x 310 x 470 cm, cada uma das figuras de

bronze pesa 300 quilos. Coluna de Granitina, 700 x 113 x 71 cm, inclinação de

89 graus em relação ao suporte (BOSSO, 2006: 15). Elaborado a pedido do

Rotary Clube de Goiânia e Goiânia Oeste, para homenagear a Cidade, no

Jubileu de Prata do Batismo Cultural de Goiânia, 05 de julho. As três

personagens, expressionistas, levantando o marco simbolizam os pioneiros na

construção da nova Capital. O Monumento busca reforçar os valores da

identidade local ao representar a miscigenação de três raças – o índio, o negro

e o branco, o imigrante – trabalhando na construção de uma Cidade.

Localizado na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, tombamento Lei Municipal nº

6.962, de 21 de maio de 1991 (Figura 2).

Figura 2 Monumento à Goiânia Neusa Moraes, 1967, Bronze, 700 x 310 x 470 cm Fotografia: Madalena Cabral, 2008

O Monumento à Paz do artista Siron Franco5, 1988, traz uma

problemática universal, o critério é o de registrar um fato deixando sua

idealização a critério do artista. Foi inaugurado em 20 de setembro de 1988, no

Dia Internacional da Paz, atendendo à solicitação da Comunidade Internacional

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Baha'I, em Goiânia. A ampulheta estilizada sugere duas pirâmides. Elas estão

ligadas pela imagem do tempo possuindo em sua parte central compartimentos

em vidro, separados por faixas verticais nas cores amarela, azul, branca, verde

e vermelha, contendo terra de dezesseis países dos cinco Continentes. Num

compartimento maior encontramos as terras misturadas evidenciando a

importância da harmonia entre os países do mundo. Localizado na Av. Assis

Chateaubriand com Rua 01, Setor Oeste, Bosque dos Buritis (Figura 3).

A escultura Tributo ao Índio Goyá foi realizada em parceria pelos artistas

Gomes de Souza6 e Maranhão Cavalcanti7. A construção de metal é uma

temática de livre concepção, apesar do título, traz uma problemática universal.

A obra é uma proposta dos artistas à Prefeitura de Goiânia quando da

inauguração do Palácio das Campinas Venerando de Freitas Borges – Paço

Municipal, sede construída para abrigá-la. A parte central que serve de suporte

aos semi-arcos sugere a flecha apontada para o alto. Está no trevo de acesso

ao Paço, Av. Cerrado, Parque Lozandes (Figura 4). Estão, também, nesse

grupo as 23 esculturas do Museu da Escultura ao Ar Livre de Goiânia.

Figura 3 Figura 4 Monumento à Paz Tributo ao Índio Goyá Siron Franco Gomes de Souza e Maranhão Cavalcanti 1988, Concreto, Vidro e Terra 2000, Ferro 520 x 325 x 325 cm 1000 x 201 x 201 cm Fotografia: Val Moraes, 2003 Fotografia: Val Moraes, 2003 Divisão de Patrimônio Histórico Divisão de Patrimônio Histórico

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Nesse museu encontramos esculturas em linguagens, dimensões e

temáticas diversas, de acordo com a visualidade desenvolvida por cada um dos

artistas goianos. Os materiais, também, são diversificados: alumínio, aço, ferro,

pedra, madeira, cobre, latão, cerâmica e bronze. Eles revelam as formas,

linhas, contornos e o traço do entalhe. Está na Av. Universitária com 1ª e 5ª

Avenidas, Praça Honestino Monteiro Guimarães, antiga Praça Universitária,

Setor Leste Universitário. Emblematicamente, temos a obra Deixa o Brasil no

Terceiro Mundo de Antônio Poteiro8, 2000. Essa escultura apresenta uma

visualidade repleta de narrativas próprias das manifestações populares, traço

marcante na produção desse artista (Figura 5).

Figura 5 Deixa o Brasil no Terceiro Mundo Antônio Poteiro, 2000, Terracota, 230 x 105 x 89 cm Fotografia: Madalena Cabral, 2008

“Ao refletir sobre a arte em espaço público é relevante o poder de

comunicação que essa obra deve estabelecer, considerando os vários níveis

de informação dos transeuntes. Não que as construções tenham que se

sujeitar a um ou outro nível, mas não devem privar o público da oportunidade

de conhecer e experimentar a obra” (SILVA, 2005: 70). A arte como

testemunho da História e de seus fatos é capaz de tornar viva e perpétua a

memória de uma sociedade. A maioria das pessoas conhece a forma, situa no

tempo e localiza o espaço de monumentos como a Estátua da Liberdade, em

Nova Iorque; a Torre Eiffel, em Paris; o Coliseu, em Roma e o Cristo Redentor,

no Rio de Janeiro, eleita uma das sete maravilhas do mundo moderno.

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“Monumento significa tudo que busca perpetuar personagens ou

acontecimentos associando-se, ao tempo e à memória, em particular à

memória social, e a idéia de marco delimitador de uma ordem temporal e

espacial” (CIRLOT, 1984: 421). “Um monumento se caracteriza pelo valor

comemorativo de caráter episódico e abrangência coletiva. (...). O monumento

referencia o espaço da cidade e perpetua, através da sua espacialidade, a

nossa memória” (ESCOBAR, 1998: 37).

Artefatos artísticos e/ou monumentos em espaços públicos são afixadas

em suas bases sem que os moradores reconheçam a personalidade

homenageada, a intenção de sua presença, o artista idealizador ou a sua

temática. Apropriando o ensinamento de Adorno (1983) sobre o

reconhecimento e aceitação do 'novo' pode-se dizer que algumas etapas

seqüenciais formam esse percurso. É importante, para o observador,

reconhecer no objeto um fato ocorrido em suas raízes, sua História ou em sua

vivência. Do reconhecimento chega-se à identificação. E, a partir desse

entendimento o observador está apto a apropriar-se dele como se fosse seu. A

consciência dessa posse leva o apreciador a concluir que o objeto sendo parte

de seu universo pode, então, ser aceito.

Os pesquisadores de Arte Pública, os artistas e o monumento constroem

o diálogo com o público decifrando os signos, códigos e sinais da e sobre a

obra. A arte sem a sua comunicação transforma-se em “coisa” e, portanto,

destituída de qualquer significado. “Os significados da arte pública desdobram-

se nos múltiplos papéis por ela exercidos, cujos valores são tecidos na sua

relação com o público, nos seus modos de apropriação pela coletividade”

(PALLAMIN, 2000: 18-9).

Os espaços urbanos estão se transformando em espaços de passagem,

cada vez mais, é necessário alargar as ruas e avenidas, relegando as praças e

as obras – esculturas, monumentos, bustos e estátuas – ali instaladas como

um obstáculo ao imediatismo das Metrópoles. Essa redução ou eliminação que

visa a ampliar o espaço para o trânsito de veículos acarreta um prejuízo para

essas obras, que estão sendo subtraídos dos espaços de origem para outros

sem a concepção inicial do artista ou reclusas a uma pequena ilha numa

avenida de fluxo rápido dificultando sua comunicação com o público rompendo,

com isso, a sua História com o espaço.

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“As obras de arte – quer se trate de monumentos, quer de objetos móveis

– ainda constituem o tecido ambiental da vida moderna. Se as conservamos,

ou seja, se toleramos ou desejamos a sua presença, é porque ainda têm

significado” (ARGAN, 1998: 86). Nosso patrimônio narra a História de

construção da Cidade, por meio das personalidades – pioneiras (os) e artistas

plásticos – que contribuíram e contribuem para consolidar essa Capital. Nessa

publicação apresentamos à comunidade essas personagens, para que cada

goianiense se identifique com a existência dessas obras de arte e, a partir

desse “pertencimento”, reconheça que cada um é responsável por forjar nossa

História e por preservar nossa arte e nossos costumes.

O livro Iconografia: documentação histórica e fotográfica do acervo

artístico no município de Goiânia foi publicado com o patrocínio da Lei

Municipal de Incentivo à Cultura, Prefeitura de Goiânia e contou com o apoio

cultural do Fujioka, empresa especializada em produtos de foto e vídeo. A

edição exibe a imagem, em cores, de oitenta obras de arte e/ou monumentos,

sendo 52 retratos de homenageados, oito esculturas, uma estátua, quatorze

murais, dois painéis e três obras históricas elaboradas por 38 artistas e dois

autores. Impresso pela Gráfica Talento o livro tem o tamanho de 27 x 21

centímetros, 196 páginas, tiragem de um mil (1000) exemplares e foi lançado

no dia 8 de maio de 2008, com distribuição gratuita. Nossa pretensão é que

esse documento possa ser utilizado para divulgar o acervo artístico, histórico e

cultural de Goiânia. Pretendemos sugerir a sua utilização como subsídio

didático no ensino de arte nas escolas da rede municipal.

A publicação desse livro tem por objetivo informar a sociedade goianiense

sobre os fatos, temas, homenageados e artistas responsáveis por essas obras

de arte e/ou monumentos para que possam conhecer e identificá-los como

parte da sua História. Acreditamos na função educativa do livro Iconografia,

pois esse possibilita informar, formar, incentivar a preservação do patrimônio

artístico e cultural e, manter presente na memória os fatos da História

goianiense. Dessa forma, um fragmento desta identidade está representado

por meio desse Acervo.

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Notas 1. Goiânia Capital do Estado de Goiás é inaugurada, pelo Interventor Federal Governador Dr. Pedro Ludovico Teixeira, em 24 de outubro de 1933, data do lançamento da Pedra Fundamental. O nome é formado a partir do nome da tribo indígena goiás mais o sufixo latino ania. Nome da pedra que se encontra no alto da Serra Dourada, próximo da Cidade de Goiás, antiga Capital. Oficialmente inaugurada, em 05 de julho de 1942, no Batismo Cultural. A História dessa mudança inicia, em 1754, com Dom Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, Primeiro Presidente de Goiás, que sugere transferi-la para Meia Ponte, hoje Pirenópolis. Em 1830, o Brigadeiro Miguel Lino de Morais, indica essa mudança para Água Quente, município hoje extinto. Essa idéia volta a ser proposta, em 1863, pelo 16º Presidente de Goiás Dr. José Vieira Couto de Magalhães, em 1890, por Rodolfo Gustavo da Paixão, Primeiro Governador e, em 1930, por Carlos Pinheiro Chagas, Governador Interventor. A idéia de transferência da Capital do Estado de Goiás conclui, em 04 de julho de 1932, em discurso proferido na Cidade de Bonfim, atual Silvânia, pelo Governador Dr Pedro Ludovico Teixeira. Adiada por quase dois séculos, essa idéia “não constituída novidade” (UNES, 2001: 55). Entretanto, a idéia não somente de transferir a Capital, mas de construir uma Cidade para a Capital surge na fala de Pedro Ludovico Teixeira que afirma: “Desde que empreendemos fazer a mudança da Capital fá-lo-emos para uma cidade construída especialmente para esse fim” (FERREIRA, 1980: 140). A Capital, em estilo Art Déco, é construída próximo da Cidade de Campinas. A Lei 327, de 02 de agosto de 1935, cria o município de Goiânia, Campinas passa a ser um bairro da Capital e Venerando de Freitas Borges é nomeado Prefeito Provisório. Finalmente, em 23 de março de 1937, Pedro Ludovico Teixeira assina o Decreto nº 1816, transferindo da “cidade de Goiaz para a de Goiânia, a Capital do Estado de Goiaz”. 2. Pedro Ludovico Teixeira (Goiás - GO, 1891 / Goiânia, 1979). Graduou-se em Medicina, em 1915, no Rio de Janeiro. Ocupou o Poder Executivo do Estado de Goiás por dezessete anos, de 1930 a 1954, em períodos com interrupções, como Interventor Federal e Governador eleito. 3. João Zaco Paraná (Brzezany, Polônia, 1884 / Rio de Janeiro – RJ, 1961). Radicado no Brasil desde 1887. Graduou-se na Escola Nacional de Belas Artes – Enba, onde lecionou Modelagem. 4. Neusa Moraes (Goiás - GO, 1932 / Goiânia, 2004). Graduou-se na Escola de Belas Artes de São Paulo, onde se especializou em Escultura. Professora de 1971 a 1993, no Instituto de Artes, hoje Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás – FAV/UFG. 5. Gessiron Alves Franco (Goiás - GO, 1947). Reside, em Goiânia, desde 1950. O primeiro artista goiano a conquistar espaço no cenário artístico nacional e internacional. 6. José Antônio Gomes de Souza (Mossâmedes - GO, 1955). Reside, em Goiânia, desde 1972. Graduou-se em Filosofia na Universidade Católica de Goiás – UCG, 2000. Mestrando em Cultura Visual – FAV/UFG. 7. Oswaldo Maranhão Cavalcante Júnior (Uberlândia - MG, 1956) Reside, em Goiânia desde 1960. 8. Antônio Batista de Souza (Aldeia de Santa Cristina da Pousa, Minho, Portugal, 1925). Reside, em Goiânia, desde 1967. Referências Bibliográficas

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TEIXEIRA, Pedro Ludovico. Como e por que construí Goiânia. Brasília, 1966.

UNES, Wolney. Identidade art déco de Goiânia. Goiânia: UFG, 2001.

Maria Madalena Roberto Cabral

Pesquisadora na Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal

de Cultura, Prefeitura de Goiânia. Mestranda em Cultura Visual na Faculdade

de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás – FAV/UFG (2008).

Especialização em Planejamento Educacional, Faculdades de São Gonçalo –

RJ (1991). Licenciatura em Desenho e Plástica – FAV/UFG (1980).