willian heintze alliance one exportadora de tabacos ltda

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reNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA AGR99003 ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO WILLIAN HEINTZE 00150910 Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda Pesquisa & Desenvolvimento PORTO ALEGRE, Agosto de 2011.

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Page 1: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

reNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

WILLIAN HEINTZE

00150910

Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

Pesquisa & Desenvolvimento

PORTO ALEGRE, Agosto de 2011.

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II

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Willian Heintze

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO

SUPERVISIONADO

Orientadora: Eng. Agr. Ms. Laize Fraga Espíndula

Tutor: Eng. Agr. Dr. Gilmar Schäfer

COMISSÃO DE ESTÁGIO:

Prof. Elemar Antonino Cassol - Depto. de Solos - Coordenador

Prof. Fábio de Lima Beck – Núcleo de Apoio Pedagógico

Prof. José Fernandes Barbosa Neto – Depto. Plantas de Lavoura

Prof. Josué Sant’Ana – Depto. de Fitossanidade

Profa. Lucia Brandão Franke – Depto. de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia

Profa. Magnolia Aparecida Silva da Silva – Depto. de Horticultura e Silvicultura

Profa. Mari Lourdes Bernardi - Depto. de Zootecnia

PORTO ALEGRE, Agosto de 2011.

Page 3: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

III

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao apoio e atenção que recebi por parte dos funcionários da empresa

Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda durante o meu período de estágio, estando sempre

prontos e dispostos a responder minhas inúmeras perguntas, que certamente foram

fundamentais para minha melhor compreensão das atividades propriamente ditas e

fundamentos tangenciais a elas. Estou certo que com este estágio não ganhei apenas em

conhecimento técnico, mas também muito em conhecimento humano. Hoje acredito que

posso chamar de amigos todas as pessoas com quem convivi por este curto período. Obrigado

à Laize, ao Claudir, Paniz, Alceliro, Edio, Gilberto, Rodrigo, Roberto, Airton, Cynthia, José,

Lovani, Lúcia, Sônia, Lurdes, Neusa, Adriana, Niciane, Letícia e todos os demais

funcionários e colaboradores do setor de P&D da Alliance One que contribuíram

construtivamente para meu estágio.

Page 4: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

IV

APRESENTAÇÃO

O estágio foi realizado na área de Melhoramento de Tabaco, no setor de Pesquisa &

Desenvolvimento da Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda, na unidade Vera Cruz-RS,

durante os meses de Janeiro a início de Março.

As atividades foram realizadas sob orientação constante da orientadora e/ou

funcionário da empresa devidamente capacitado. Foram realizadas atividades referentes a

rotina de trabalho do Programa Anual de Pesquisa e Desenvolvimento, além de outras

atividades especialmente voltadas ao estágio, possibilitando uma ampla visão do programa e

das atividades realizadas na região e no local do estágio. Foi possível o acompanhamento de

atividades: no programa de Melhoramento de Tabaco a campo e em laboratório; setor de

Produção de Sementes; manejo da cultura do tabaco; acompanhamento de trabalho dos

técnicos extensionistas da empresa junto aos produtores. As atividades estarão

especificamente descritas ao longo do relatório.

A área de Melhoramento de Plantas foi escolhida por ser de grande afinidade e

interesse particular, possibilitando o acompanhamento das atividades de um programa de

melhoramento de sucesso.

A empresa foi escolhida por ser de caráter sério, com a certeza de que existiriam

profissionais devidamente capacitados para o esclarecimento das dúvidas que surgissem e

adequada orientação das atividades. Esta certeza foi contemplada.

O objetivo de fazer um estágio nesta área específica foi o de possibilitar melhor

formação técnica e profissional para a utilização dos conhecimentos e experiências adquiridas

em cursos e projetos de pós-graduação em um futuro breve.

Page 5: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

V

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

2. CARACTERIZAÇÃO REGIONAL E MUNICIPAL................................................ 2

2.1. CLIMA ................................................................................................................ 2

2.2. SOLOS ................................................................................................................ 4

2.3. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS .................................................................. 5

3. ALLIANCE ONE EXPORTADORA DE TABACOS LTDA .................................. 6

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 8

5. ATIVIDADES REALIZADAS NO ESTÁGIO ....................................................... 10

5.1. PROGRAMA DE MELHORAMENTO DE TABACO ................................... 10

5.1.1. Seleção e identificação de plantas .............................................................. 10

5.1.2. Coleta de pólen ........................................................................................... 11

5.1.3. Tratamento e armazenamento do pólen ...................................................... 11

5.1.4. Polinização dirigida e a devida identificação das flores ............................. 12

5.1.5. Isolamento de inflorescências para autofecundação ................................... 13

5.1.6. Colheita, limpeza, pesagem e armazenamento de sementes ...................... 13

5.1.7. Tutoramento de plantas selecionadas ......................................................... 15

5.1.8. Eliminação de plantas doentes e atípicas na lavoura .................................. 15

5.1.9. Coleta e preparo de amostras ...................................................................... 15

5.1.10. Extração de DNA ..................................................................................... 16

5.1.11. Plantio e manutenção de plantas em sistema float ................................... 16

5.1.12. Manutenção de plantas em casa de vegetação .......................................... 18

5.1.13. Inoculação de viroses para verificação e avaliação de plantas

resistentes/suscetíveis ....................................................................................................... 19

5.1.15. Acompanhamento na avaliação de genótipos em campo de nursery para

resistência a nematóides ................................................................................................... 20

Page 6: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

VI

5.2. PROGRAMA DE PRODUÇÃO DE SEMENTES ........................................... 22

5.2.1. Implantação, acompanhamento e avaliação de teste de germinação de

sementes ........................................................................................................................... 22

5.3. ACOMPANHAMENTO DO TRABALHO DOS TÉCNICOS

EXTENSIONISTAS DA EMPRESA JUNTO AOS PRODUTORES ................................ 22

6. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 24

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 25

Page 7: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

VII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização do município de Vera Cruz no estado do Rio Grande do Sul. Fonte:

Wikipedia, 2011. ........................................................................................................................ 2

Figura 2. Temperaturas médias mensais (A) e precipitações pluviais mensais (B) e estacionais

(C) para Santa Cruz do Sul-RS, no período de 1931-1960 e 1931 a 1990. Fonte: Adaptado de

INMET apud Ruosso, 2007. ...................................................................................................... 3

Figura 3. Solos da região de Vera Cruz-RS. Legenda: BV: Chernossolos Argilúvicos; Ce:

Cambissolos Háplicos; PBPa: Alissolos Crômicos; PBPe: Luvissolos Crômicos; PEa:

Argissolos Vermelho; PLe: Planossolos Háplicos e Planossolos Hidromórficos; PVa:

Argissolos Vermelho-Amarelos Re: Neossolos Litólicos; TRe: Nitossolos Vermelhos.

Adaptado de "IBGE: Mapa Exploratório de Solos do Rio Grande do Sul". Fonte: IBGE, 2002.

.................................................................................................................................................... 4

Figura 4. Localização da unidade de Pesquisa e Desenvolvimento-Vera Cruz (A); Campo

experimental da Alliance One (B). Fonte: Google Earth, 2011. ................................................ 6

Figura 5. Planta de tabaco selecionada a campo, isolada com capa de TNT, marcada com fita

identificadora (esquerda) e planta jóvem selecionada em laboratório, identificada com palito

plástico (direita). ....................................................................................................................... 10

Figura 6. Retirada do “tubo de pétalas” (corola gamopétala) de flor de tabaco. ..................... 11

Figura 7. Acondicionamento de pólen de tabaco em frascos lacrados, para posterior

armazenamento. ........................................................................................................................ 12

Figura 8. Flor de tabaco com macho esterilidade (A); Polinização dirigida (B); Frutos de

tabaco originário de polinização dirigida, devidamente identificado com cordão branco (C). 13

Figura 9. Secagem de frutos de tabaco dentro de capas de TNT em casa de vegetação com

ventilação forçada (A); Capa de TNT contendo frutos após a secagem, prontos para a debulha

(B); Abertura das cápsulas de tabaco e liberação das sementes (C); Detalhe de cápsulas

abertas e sementes de tabaco sobre peneira de malha grossa (D); Limpeza das sementes com

auxilio de peneira de malha fina (E); Pesagem dos frascos contendo as sementes (F). ........... 15

Figura 10. Pellet de DNA (circulado) no frasco, após extração. ............................................. 16

Figura 11. Bandejas semeadas com sementes de tabaco em sistema float, intercaladas com

não semeadas para evitar contaminações. Plântulas com 10 dias. ........................................... 17

Page 8: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

VIII

Figura 12. Sementeira em sistema float com tela de sombreamento sobre o mesmo durante o

verão. ........................................................................................................................................ 18

Figura 13. Plantas do programa de melhoramento de tabaco em cultivo protegido, em vasos.

.................................................................................................................................................. 19

Figura 14. Inoculação de Tobaco mosaic virus (TMV) (A); Folhas inoculadas mantidas com o

pecíolo dentro da água em sala com iluminação artificial (B). ................................................ 20

Figura 15. Folhas inoculadas com TMV após três dias. Folha sem sintoma de

hipersensibilidade (esquerda) e com sintoma de hipersensibilidade (direita). ......................... 20

Figura 16. Equipe fazendo avaliação em campo de nursery para nematóides (A); Sistema

radicular do tabaco (B). ............................................................................................................ 21

Figura 17. Raízes de tabaco com galhas (esquerda); sem galhas (centro); e nematóide retirado

de raiz (direita). ........................................................................................................................ 21

Figura 18. Caixas para teste de germinação de sementes de tabaco. ....................................... 22

Page 9: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

1

1. INTRODUÇÃO

O estágio curricular obrigatório tem como principal objetivo aproximar o estudante da

realidade profissional, ampliando seus conhecimentos e possibilitando uma melhor noção da

realidade.

Fazer o estágio na área de melhoramento de plantas foi sempre a principal opção

dentre muitas proporcionadas pelo curso de agronomia. Esta opção está intimamente

relacionada pelo gosto e interesse pela atividade, e no estágio seria uma ótima opção para

conhecer melhor a realidade de um programa de melhoramento e das atividades de um

melhorista e sua equipe de trabalho. Este programa especificamente foi também a primeira

opção, por ser de uma cultura em que no período do estágio possibilitasse o acompanhamento

de várias atividades diretamente ligadas ao melhoramento. O programa de melhoramento de

tabaco da Alliance One também é conhecido internacionalmente por ser obtentor de

variedades de primeira qualidade. Este programa está em plena atividade. O programa é

coordenado por pessoas com ótima formação, o que possibilitaria melhor qualidade de toda a

informação que seria demandada durante a realização das atividades.

O estágio foi realizado no município de Vera Cruz-RS, do dia três de janeiro a 11 de

março de 2011, com uma carga horária diária de seis horas, totalizando 300 horas.

O estágio possibilitou estar mais próximo à realidade de um programa de

melhoramento de plantas em uma empresa privada, compreendendo melhor como são

realizadas e organizadas as atividades, acompanhando como se dá a tomada de decisões e a

coordenação e motivação da equipe de trabalho, contrastando com a realidade habitual de

uma instituição pública.

Page 10: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

2

2. CARACTERIZAÇÃO REGIONAL E MUNICIPAL

Vera Cruz é um município pertencente à microrregião do Vale do Rio Pardo, ao

centro-leste do estado do Rio Grande do Sul (Figura 1), a 183 km de Porto Alegre e a 7,5 km

de Santa Cruz do Sul. A altitude, segundo Wikipedia (2011) é de 68 metros (com variações ao

longo do relevo).

Figura 1. Localização do município de Vera Cruz no estado do Rio Grande do Sul. Fonte:

Wikipedia, 2011.

2.1. CLIMA

O clima da região é temperado úmido com verão quente (Cfa), segundo a classificação

climatológica de Köppen (1948).

Os dados de temperatura média mensal, precipitação pluvial mensal e precipitação

pluvial estacional, estão apresentados nas Figura 2 A, B e C, respectivamente (INMET apud

RUOSSO, 2007). Os dados são de Santa Cruz do Sul, representando a região.

Page 11: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

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Figura 2. Temperaturas médias mensais (A) e precipitações pluviais mensais (B) e estacionais (C)

para Santa Cruz do Sul-RS, no período de 1931-1960 e 1931 a 1990. Fonte: Adaptado de INMET apud

Ruosso, 2007.

05

101520253035

Tem

per

atu

ra (

ºC)

Meses

Temp. média

Temp. mínima

Temp. máxima

A

Temperatura Média Mensal em Santa Cruz do Sul (1931-1960)

0

50

100

150

200

Pre

cipit

ação

(m

m)

Meses

Precipitação Pluvial Mensal

Santa Cruz do

Sul (1931-1960)

B

360

370

380

390

400

410

Verão Outono Inverno Primavera

Pre

cip

itaç

ão (

mm

)

Estações do Ano

Precip. Pluvial Estacional

Santa Cruz do

Sul (1931-1960)

C

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4

Pelo gráfico da Figura 2 A é possível observar que o mês mais frio em Santa Cruz do

Sul é julho e o mais quente é janeiro. Historicamente o mês com menor precipitação em Santa

Cruz do Sul é novembro, com menos de 100mm, e o com maior é junho, com cerca de

150mm (Figura 2 B). As variações de precipitação pluvial estacional em Santa Cruz do Sul é

pequena, de aproximadamente 400mm (Figura 2 C). As temperaturas e precipitações são

importantes para a cultura do tabaco, pois geadas e chuvas em excesso podem provocar

grandes perdas. O transplantio deve ser realizado apenas quando se estima que não mais vá

ocorrer geada. No caso, para a região, o início de transplantio se dá a partir de agosto, quando

inicia a elevação das temperaturas, conforme demonstrado na Figura 2 A.

2.2. SOLOS

Os solos da região são de grande variação, possibilitando culturas com exigências

muito diversificadas, como o arroz, extremamente exigente em solos alagados, e o tabaco, que

é mais bem adaptado a solos de boa drenagem. Na Figura 3 está apresentada de forma

ampliada e adaptada, uma parcela do Mapa Exploratório de Solos do Rio Grande do Sul

(IBGE, 2002). Os solos típicos da região, segundo o mapa, são: Chernossolos Argilúvicos

(BV) Cambissolos Háplicos (Ce), Alissolos Crômicos (PBPa), Luvissolos Crômicos (PBPe),

Argissolos Vermelho (PEa), Planossolos Háplicos e Hidromórficos (PLe), Argissolos

Vermelho-Amarelos (PVa), Neossolos Litólicos (Re) e Nitossolos Vermelhos (TRe).

Figura 3. Solos da região de Vera Cruz-RS. Legenda: BV: Chernossolos Argilúvicos; Ce:

Cambissolos Háplicos; PBPa: Alissolos Crômicos; PBPe: Luvissolos Crômicos; PEa: Argissolos

N

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5

Vermelho; PLe: Planossolos Háplicos e Planossolos Hidromórficos; PVa: Argissolos Vermelho-Amarelos

Re: Neossolos Litólicos; TRe: Nitossolos Vermelhos. Adaptado de "IBGE: Mapa Exploratório de Solos do

Rio Grande do Sul". Fonte: IBGE, 2002.

2.3. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

Vera Cruz é um município com aproximadamente 24 mil habitantes, dos quais 55,5%

são residentes na zona urbana e 44,5% na zona rural (SIDRA/IBGE, 2010).

O fumo (folhas secas) foi no ano de 2006 o produto de lavoura temporária mais

expressivo do município, com 1472 estabelecimentos agropecuários, gerando uma produção

total de 10,5 mil toneladas e um valor de R$ 38 milhões, que representaram 85,8% do valor

total da produção em lavouras temporárias no município, em uma área de 5,4 mil ha (47% da

área total com produtos de lavoura temporária, sendo 32,9% o milho, que normalmente é

plantado na resteva do tabaco, logo, duas culturas que coexistem em um mesmo ano agrícola)

(SIDRA/IBGE, 2006). A Alliace One está entre as dez maiores empresas, e a industrialização

de tabaco entre os principais produtos de Vera Cruz (PREFEITURA MUNICIPAL DE VERA

CRUZ, 2009).

A população da região é predominantemente de descendência alemã, fruto das antigas

colonizações, e o tabaco é o produto agrícola mais evidente, sendo a indústria fumageira

responsável por muitos empregos diretos e indiretos.

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6

3. ALLIANCE ONE EXPORTADORA DE TABACOS LTDA

A Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos Ltda. foi fundada em 13 de maio de

2005, resultado da fusão dos grupos DIMON Incorporated e Standard Commercial

Corporation, representados no Brasil pelas empresas DIMON do Brasil Tabacos Ltda. e

Meridional de Tabacos Ltda

A empresa possui unidades de compra e venda de tabaco em mais de 45 países e

atende a fabricantes de cigarros e outras empresas de uso de tabaco em mais de 90 países. No

Brasil, existem unidades de compra e processamento de tabaco em Araranguá-SC e Venâncio

Aires-RS, e unidades de compra de tabaco em Santa Catarina (Rio do Sul, Canoinhas e

Palmitos) e no Paraná (Rio Azul), totalizando 350 mil metros quadrados de área construída.

Também possui um Centro de Treinamento, Pesquisa e Desenvolvimento, em Passo do

Sobrado, e um Centro Administrativo, em Vera Cruz, ambos no Rio Grande do Sul. O campo

de melhoramento é na cidade de Vera Cruz-RS, conforme apresentado na Figura 4.

Figura 4. Localização da unidade de Pesquisa e Desenvolvimento-Vera Cruz (A); Campo

experimental da Alliance One (B). Fonte: Google Earth, 2011.

Atualmente, a empresa conta com 5 mil colaboradores em todas as suas unidades. A

capacidade instalada de processamento de tabaco nas unidades fabris da companhia é de 230

mil toneladas/ano, volume produzido por 46 mil produtores integrados, numa área plantada de

aproximadamente 88 mil hectares, em mais de 600 municípios da Região Sul do país.

A

B

Page 15: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

7

O atual programa de melhoramento da Alliance One é herança de antes de sua criação,

sendo os originais provenientes primeiramente das antigas Tabra do Brasil e Dibrell do Brasil,

passando após a fusão destas à Dimon do Brasil, e só então a Alliace One.

Os principais objetivos do programa de melhoramento de tabaco da Alliance One são:

- Melhorar a produtividade e qualidade;

-Redução dos teores de nicotina;

-Resistência a moléstias (murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum), amarelão

(burley), vírus do mosaico do fumo (TMV), potato vírus Y (PVY), Pythium e nematóides).

O melhorista responsável pelo programa é o Engº Agrônomo, Dr. Claudir Lorencetti, a

supervisora é a Engª Agrônoma, Ms. Laize Espíndula, o coordenador é o Técnico Agrícola,

graduando em Eng. Agrícola, Alceliro Berle. Esta equipe trabalha com o auxílio de outros

funcionários treinados que realizam principalmente polinizações. A equipe de responsáveis é

formada por pessoas muito qualificadas, o que representa o sucesso obtido pelo programa de

melhoramento da Alliance One.

A empresa já lançou várias cultivares de Virgínia e Burley, algumas delas

apresentando baixos teores de nicotina intermediária (PATENTGENIUS, 2010).

Page 16: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O tabaco (Nicotiana tabacum L.) é um hibrido alotetraplóide (2n=4x=48), originário

do cruzamento das espécies diplóides N. tomentosiformis e N. sylvestris. Esta Solanaceae é

originária da América Latina.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial (mais de 778 mil toneladas na safra

2008/09), atrás apenas da China, que produziu 2,9 milhões de toneladas (AFUBRA, 2009).

Segundo números da safra 2008/2009, cerca de 223 mil famílias brasileiras cultivam a planta

de tabaco em 408 mil hectares. A região Sul se destaca como responsável por 95% da

produção brasileira, empregado diretamente 186 mil famílias (SINDITABACO, 2009). A

cadeia movimenta R$ 17,5 bilhões por ano, sendo R$ 8,5 bilhões destinados ao governo, em

impostos, R$ 3,2 bilhões à indústria, R$ 4,5 bilhões ao produtor e R$ 927 milhões ao varejista

(AGROLINK, 2010).

Para o Sul do país, a cultura é uma das atividades agroindustriais mais significativas,

está presente em 730 municípios, mesmo em pequenas áreas, proporciona um rendimento

muito superior se comparado a outras culturas e cria mais empregos por hectare cultivado do

que qualquer outra cultura. O cultivo tem como base pequenas propriedades, em média com

16,1 hectares, sendo que destes, apenas 15% (2,4 hectares) são dedicados à produção de

tabaco (SINDITABACO, 2009). Um dos principais atrativos para os fumicultores são a

estabilidade de preços e a maior rentabilidade por área cultivada, além de propiciar alto valor

agregado às pequenas propriedades.

O tabaco foi importante nas pesquisas genéticas envolvendo a tecnologia do DNA

recombinante, cultura de tecidos, mutação induzida e outras, por ser considerada uma planta

modelo. Muitos trabalhos importantes de genética quantitativa foram realizados utilizando

plantas do gênero Nicotiana, devido à morfologia floral que facilita a obtenção de

autofecundações e cruzamentos, e uma grande quantidade de sementes por fruto (FARIAS,

2007).

Existem diversos métodos de condução de populações em programas de

melhoramento. É muito incomum que se utilize em um programa de melhoramento um

método específico, sendo normalmente realizado o emprego de vários sistemas, variando de

acordo com o objetivo específico ou o estágio do programa para um determinada população.

Em geral, existe sim, um método que pode ser mais utilizado. No caso do programa de

melhoramento da Alliance One, o método de “retrocruzamento” (back cross) é o mais

Page 17: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

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utilizado, qual devido o avanço do programa e da base genética muito estreita, que na sua

maioria, foram introduções norte americanas de Nicotiana tabacum, proporcionaram uma

rápida estabilidade, elevado rendimento e qualidade de seus cultivares. Atualmente, este

método favorece a tranferência ou modificação de poucas características, principalmente

transferência de genes de resistência.

O método de retrocruzamento consiste basicamente em selecionar uma planta com

alguma característica que se deseje transferir e outra recorrente (muitas características

desejadas); realiza-se o cruzamento destas, na F1 selecionam-se as que herdaram a

característica, cruzando-as com a planta recorrente. Esta última etapa de seleção e cruzamento

é realizada até obter-se uma planta com as características da população recorrente somada a

que se desejava transmitir. Desta forma, por exemplo, na 6ª geração será recuperado mais de

99% da genética original da população recorrente (UFV, 2011).

Porém quando o objetivo é combinar características desejáveis em duas ou mais

cultivares, o método genealógico, ou modificações deste, é o principal procedimento

empregado no melhoramento do fumo. Outro método que é bastante utilizado pela empresa é

o duplo haplóide, porém, sua eficiência em relação aos outros métodos é questionável.

As melhores linhas obtidas dos diversos métodos aplicados com seleções baseadas em

resistência a doenças, tipo agronômico e cura, são comparadas em três testes finais,

conhecidos como “Preliminares” com 20 linhas em 3 ambientes de produção, “Novos” com

14 linhas em 3 ambientes e por fim, a “Competição de Cultivares” com 10 linhas de novos e

cultivares conhecidos, deste último teste as que se destacam comparativamente com as

melhores cultivares são registradas.

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5. ATIVIDADES REALIZADAS NO ESTÁGIO

5.1. PROGRAMA DE MELHORAMENTO DE TABACO

5.1.1. Seleção e identificação de plantas

A seleção de plantas se dá normalmente de maneira direta de acordo com avaliação de

possuir ou não determinada característica de interesse. Dependendo da característica, faz-se o

plantio da população em campo de nursery (local contaminado com o patógeno para o qual se

está selecionando), ou através de análises químicas e genéticas diretas, como para teor de

alcalóides ou se usando marcadores moleculares. As plantas selecionadas são marcadas com

uma fita plástica identificada, correspondente a planilha de seleção, e quando se destinam a

polinização dirigida ou autopolinização, sua inflorescência é isolada por uma capa de TNT

(Tecido Não Tecido), impedindo a entrada de pólen indesejado, por anemofilia ou entomofilia

(Figura 5). A seleção ou não de uma planta, após ser aprovada para a característica direta a

qual está sendo testada, é avaliada quanto a sua morfologia (tamanho de folhas, aparência,

coloração), e ao final de uma linhagem melhorada, antes do lançamento, ela também deve ser

aprovada em um teste de fumaça, no qual amostras são “degustadas” por especialistas que

atribuem uma nota. Para estes testes de fumaça podem ser enviadas até 10 amostras anuais

pela empresa, ou seja, a seleção deve ser muito rigorosa antes desta fase para possibilitar a

escolha de variedades potenciais para serem testadas.

Figura 5. Planta de tabaco selecionada a campo, isolada com capa de TNT, marcada com fita

identificadora (esquerda) e planta jóvem selecionada em laboratório, identificada com palito plástico

(direita).

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5.1.2. Coleta de pólen

Para possibilitar a efetiva polinização de todas as plantas selecionadas como

receptoras pelas doadoras, são realizados transplantios escalonados. Coletas de pólen são

realizadas sempre que uma planta doadora estiver apta e se necessite pólen da mesma. Para a

coleta de pólen, as flores não devem estar abertas, garantindo que não tenha ocorrido

contaminação por pólen de outras plantas do campo. Após desinfestação das mãos dos

coletores com etanol 70%, as flores são arrancadas da planta, uma a uma, e armazenadas em

um pote devidamente limpo, descontaminado e identificado. O pote somente é aberto durante

a coleta, sendo tampado novamente assim que concluída, e reaberto somente na etapa de

tratamento, que se dá o mais rápido possível após a coleta.

5.1.3. Tratamento e armazenamento do pólen

Em sala limpa, sobre uma mesa descontaminada com etanol 70%, os potes com as

flores são abertos. A corola gamopétala apresenta, em geral, um “tubo” formado pela

concrescência das pétalas (AGAREZ, 1994). Das flores, é removido manualmente o tubo

formado pelas pétalas, antes da abertura da flor, juntamente com as anteras (Figura 6). As

anteras são depositadas em um prato plástico novo, identificado e datado, e o restante da flor é

descartado. O prato com as anteras é levado a uma sala para serem secadas e após cerca de

dois a três dias, com a abertura das tecas, as anteras e o pólen são colocados em um frasco

(Figura 7) que é lacrado e armazenado em freezer.

Figura 6. Retirada do “tubo de pétalas” (corola gamopétala) de flor de tabaco.

Page 20: WILLIAN HEINTZE Alliance One Exportadora de Tabacos Ltda

12

Figura 7. Acondicionamento de pólen de tabaco em frascos lacrados, para posterior

armazenamento.

5.1.4. Polinização dirigida e a devida identificação das flores

A polinização exige muito cuidado dos responsáveis, pois uma falta pode

comprometer gravemente o programa. Para a polinização dirigida, alguns dias antes do

previsto para ser efetivada, eliminam-se as flores abertas ou próximas ao período de abertura

(no caso de planta não macho estéril). Isto é importante para evitar que ocorra liberação de

pólen no interior da capa. Após, se encapa a inflorescência, conforme descrito no item 5.1.1.

Após alguns dias, procede-se a abertura da capa, retiram-se as pétalas (Figura 8 A), e se

realiza a emasculação, no caso de flor de planta não macho estéril. É importante que no

momento da polinização as flores não estejam abertas e as anteras liberando pólen, e, da

mesma forma, que as flores selecionadas não estejam muito jovens, o que significa um

período de perfeição de um ou dois dias. O frasco com pólen, até então mantido em caixa

térmica com gelo após a retirada do freezer, é aberto e se procede a polinização, depositando-

se uma pequena quantidade de pólen sobre o estigma com o auxilio de um pincel desinfetado

(Figura 8 B). Para cada nova linhagem de pólen utiliza-se um novo pincel. Após utilizados, os

mesmos são levados ao laboratório onde permanecem imersos em etanol 70% até o próximo

uso. As flores polinizadas são identificadas amarrando-se levemente um cordão no pedúnculo.

Este cordão identificará a flor polinizada até a colheita do fruto maduro (Figura 8 C).

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Figura 8. Flor de tabaco com macho esterilidade (A); Polinização dirigida (B); Frutos de tabaco

originário de polinização dirigida, devidamente identificado com cordão branco (C).

5.1.5. Isolamento de inflorescências para autofecundação

Quando se deseja autofecundar uma planta, remove-se todas as flores abertas ou

próximas a abertura, bem como os frutos verdes já formados. Após, encapa-se a

inflorescência para evitar polinização por outra planta. A mesma permanece encapada até o

momento da colheita, com algumas revisões para verificação e eliminação de pragas que

atacam os frutos.

5.1.6. Colheita, limpeza, pesagem e armazenamento de sementes

O fruto do tabaco é uma cápsula septicida. Conforme as cápsulas amadurecem, passam

da coloração verde, a verde claro, a esbranquiçadas, até tomarem gradativamente a coloração

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marrom, que inicia na extremidade mais apical, passando a basal, conforme pode ser

verificado na Figura 8 C.

Os frutos podem ser colhidos a partir da maturação fisiológica das sementes, contudo,

a maturação normalmente é desuniforme, logo, se aguarda até que esteja maduro o número de

frutos estimados para se obter a quantidade de sementes necessária. Os riscos de perdas de

sementes sempre são avaliados, ao ponto de serem colhidas parcialmente as cápsulas de uma

inflorescência, deixando-se as demais até que amadureçam. Caso passe do ponto de colheita

podem ocorrer perdas, visto que as cápsulas são deiscentes. Quando a colheita é total e a

planta não será novamente utilizada em outro cruzamento, remove-se toda a inflorescência.

Imediatamente após a colheita os frutos são removidos pelo corte do pedúnculo com tesoura,

colocados em uma nova capa e levados a secagem em casa de vegetação com ventilação

forçada (Figura 9 A). Após secas, as cápsulas são quebradas uma a uma, em sala limpa e

própria para esta atividade, removendo-se as sementes (Figura 9 B a Figura 9 D). Esta

debulha das cápsulas é realizada sobre papel, descartado a cada nova amostra. Para limpeza

utilizam-se duas peneiras de malha diferente, removendo-se primeiramente as impurezas de

maior tamanho e depois as menores (Figura 9 D e Figura 9 E).

As sementes são armazenadas em frascos plásticos identificados com o código de

campo, e ao final de todas as colheitas de sementes do período, procede-se a pesagem dos

frascos (Figura 9 F). Estes valores são, então, inseridos no banco de dados do programa de

melhoramento. Após pesados, todos os frascos são armazenados no banco de germoplasma da

empresa em câmara fria. Neste item cabe ressaltar o quão é enfatizada a importância de não

ocorrer qualquer mistura de semente. Todos os funcionários possuem ciência da importância

deste cuidado.

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Figura 9. Secagem de frutos de tabaco dentro de capas de TNT em casa de vegetação com

ventilação forçada (A); Capa de TNT contendo frutos após a secagem, prontos para a debulha (B);

Abertura das cápsulas de tabaco e liberação das sementes (C); Detalhe de cápsulas abertas e sementes de

tabaco sobre peneira de malha grossa (D); Limpeza das sementes com auxilio de peneira de malha fina

(E); Pesagem dos frascos contendo as sementes (F).

5.1.7. Tutoramento de plantas selecionadas

As plantas selecionadas são muito suscetíveis a tombamento pelo vento pelo fato de

que são muito altas, possuem uma capa na extremidade que aumenta a área superficial

atingida pelo vento, e algumas vezes permanecem isoladas visto que as demais plantas da área

foram eliminadas. O tombamento dificilmente ocorre por quebra do caule. Todas as plantas

selecionadas são muito importantes para o programa, e para evitar o tombamento realiza-se o

tutoramento com a inserção de uma estaca ao lado da planta, amarrando o caule a mesma.

5.1.8. Eliminação de plantas doentes e atípicas na lavoura

As plantas devem possuir um padrão para fazer parte do programa. Plantas atípicas ou

doentes somente não são eliminadas se o melhorista julgar que pode possuir alguma

característica muito importante para o programa, como alta resistência a alguma doença,

inseto, baixo teor de alcalóides ou alguma peculiaridade no ciclo.

5.1.9. Coleta e preparo de amostras

Muitas características importantes necessitam de análises químicas especiais para

permitirem a seleção no campo de melhoramento. Para isto, amostras representativas devem

ser coletadas. Normalmente são coletadas folhas de diversas porções da planta, separando-se a

lâmina da nervura principal. A lâmina é seca, envelopada e enviada ao laboratório.

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5.1.10. Extração de DNA

A presença ou ausência de alguns genes pode ser identificada pelo uso de marcadores

moleculares, evitando a necessidade de transplantio de todas as mudas para os campos de

nursery, ou a inoculação do patógeno. Para a aplicação desta técnica é necessária a extração e

isolamento de DNA, a qual é realizada seguindo um método modificado baseado no proposto

por Kleinhofs et al. (1993). Na realização desta atividade os cuidados devem ser constantes, a

fim de evitar faltas como a troca de tubos, amostras, adição de volumes errados das soluções

ou mesmo o descarte do DNA após a extração completa, por este ser em muitos casos difícil

de ser visto por ser muito translúcido (Figura 10). A atividade compreendeu a realização

desde a coleta do material vegetal, e todas as etapas da extração do material genético, e a

posterior observação do processo de quantificação do mesmo e acompanhamento da aplicação

da técnica molecular de PCR (Polymerase chain reaction).

Figura 10. Pellet de DNA (circulado) no frasco, após extração.

5.1.11. Plantio e manutenção de plantas em sistema float

Com exceção das semeaduras realizadas em laboratório para avaliações específicas,

todas as semeaduras são realizadas em bandejas de poliestireno com 242 células e substrato

de casca de coco umedecida. Para o programa de melhoramento, deve-se semear uma bandeja

de cada vez, com a respectiva semente, e, para evitar qualquer mistura de sementes é utilizado

um frasco (saleiro) limpo para cada nova linhagem a ser semeada. Como a semente é muito

pequena, e a quantidade baixa (0,1g/bandeja), adiciona-se calcário às sementes para diluí-las e

identificar o local na bandeja onde foi semeada, melhorando a distribuição das sementes.

Cada bandeja corresponde a uma linhagem. Durante a semeadura é observada a direção do

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vento para evitar anemocoria (dispersão pelo vento) para as bandejas em espera (que são

mantidas a alguns metros do local da semeadura). Imediatamente após a semeadura, cada

bandeja é transportada individualmente até o “canteiro”, já com presença de lâmina de água.

As bandejas são colocadas intercaladas com bandejas vazia evitando contaminações entre as

bandejas com semente (Figura 11). A identificação é realizada por um número pintado na

bandeja e adicionalmente por uma placa sobre a bandeja que contém o mesmo número. Todos

os dados são anotados numa planilha de campo e posteriormente integram o banco de dados

do programa.

Figura 11. Bandejas semeadas com sementes de tabaco em sistema float, intercaladas com não

semeadas para evitar contaminações. Plântulas com 10 dias.

O período típico para semeadura é durante o inverno, mas, no programa de

melhoramento realizam-se semeaduras durante o final do verão para cultivos em ambiente

protegido durante o outono e inverno, que será melhor abordado no item 5.1.12. A radiação

solar é muito forte no verão, fazendo-se necessária a utilização de tela de sombreamento

(Figura 12). Nesta mesma figura é possível observar a manejo da abertura e fechamento do

plástico. As laterais da sementeira devem ser abertas pela manhã e fechadas em caso de chuva

ou ao final da tarde. Este manejo visa melhorar a ventilação das mudas e evitar o molhamento

foliar, seja por chuva, seja por orvalho, reduzindo a incidência de doenças nas sementeiras.

Nas sementeiras também deve-se fazer o controle do nível de água e fertilizantes

(fertirrigação por capilaridade) e do crescimento radicular para fora das células das bandejas,

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que se controla quimicamente com o uso de cobre. Esporadicamente é importante a realização

de algum controle preventivo com fungicida, e, no caso de insetos, com inseticida. Não há

uma regra para cálculo do nível de dano econômico para a tomada de decisão de uso ou não

de agrotóxicos, principalmente por se tratar um programa de melhoramento, no qual cada

planta é muito importante, contudo, se faz o uso de técnicas de manejo com o objetivo de

diminuir a incidência de pragas e o uso de agrotóxicos. As podas também são um trato

cultural muito importante, e sua principal função é diminuir a incidência de doenças pela

melhor circulação de ar entre as mudas, evitar o estiolamento do caule pelo crescimento

excessivo em altura e melhorar a formação de raízes. São realizadas cerca de três podas nas

mudas para o programa de melhoramento, contudo, este número pode variar, dependendo da

finalidade e data prevista para o plantio das mudas.

Figura 12. Sementeira em sistema float com tela de sombreamento sobre o mesmo durante o

verão.

5.1.12. Manutenção de plantas em casa de vegetação

Principalmente com o interesse de se avançar duas gerações por ano, plantas são

cultivadas em casa de vegetação durante o outono e inverno, e plantas com avaliações

especiais durante o ciclo normal (primavera verão). Plantas em casa de vegetação necessitam

manutenção constante, controlando temperatura, fornecimento de água, tutoramento e

adubação adequada. Foi realizado transplantio em vasos, montagem, instalação e manutenção

de sistemas de irrigação, adubação química granulada e líquida por fertirrigação (Figura 13).

Os cuidados necessários nesta atividade incluem basicamente verificar se todas as

plantas estão recebendo água e se nenhuma parte do sistema está com defeito. A falta de água

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é facilmente observável pois dentro da casa de vegetação, durante o verão, as plantas

murcham muito em apenas um dia. As dosagens de adubação com as quais se trabalha são

muito balanceadas para se obter máximo desenvolvimento das plantas. O tabaco é intolerante

a excesso hídrico, e para se evitar utiliza-se substrato de boa drenagem e ajuste regular da

vazão para cada vaso. A principal falta a ser evitada é a dupla ou a não adubação de plantas,

podendo causar respectivamente morte por excesso ou mau desenvolvimento, não permitindo

uma adequada comparação entre as plantas da população e consequentemente uma seleção

ineficiente, que pode prejudicar o programa de melhoramento.

Figura 13. Plantas do programa de melhoramento de tabaco em cultivo protegido, em vasos.

5.1.13. Inoculação de viroses para verificação e avaliação de plantas

resistentes/suscetíveis

Para se realizar a seleção de plantas com características desejáveis em relação à

viroses, a entidade deve ser inoculada. Com Tobacco mosaic vírus (TMV) realiza-se a

inoculação através de esfregaço de uma solução obtida a partir de plantas infectadas. A

solução com o inóculo é misturada a um produto granular (Carburundum), que quando

esfregado nas plantas a serem inoculadas promove dano às membranas celulares (Figura 14

A). A inoculação pode ser realizada na própria planta a ser testada ou em folhas jovens

coletadas, que serão mantidas com o pecíolo em água (Figura 14 B). A reação esperada para

uma planta ser considerada com resistência é a reação de hipersensibilidade, pela qual ocorre

a morte repentina de um número limitado de células do hospedeiro ao redor do sítio de

infecção, impedindo o avanço do patógeno. Esta reação se manifesta na forma de uma

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pequena necrose. Na Figura 15 podem ser observadas duas folhas três dias após a inoculação

de TMV. A folha da esquerda é suscetível, visto que não ocorreu sintoma de

hipersensibilidade; já a da direita é resistente por apresentar o sintoma.

Figura 14. Inoculação de Tobaco mosaic virus (TMV) (A); Folhas inoculadas mantidas com o

pecíolo dentro da água em sala com iluminação artificial (B).

Figura 15. Folhas inoculadas com TMV após três dias. Folha sem sintoma de hipersensibilidade

(esquerda) e com sintoma de hipersensibilidade (direita).

5.1.15. Acompanhamento na avaliação de genótipos em campo de nursery

para resistência a nematóides

A resistência a muitos agentes maléficos ao tabaco só pode ser observada em campos

contaminados (Figura 16). Esta é a situação para nematóides. Para testar novos genótipos

resistentes, estes, juntamente com testemunhas sensíveis e tolerantes, são plantados e

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avaliados quanto à produtividade, desenvolvimento do sistema radicular e quantidade de

galhas nas raízes (Figura 17).

Figura 16. Equipe fazendo avaliação em campo de nursery para nematóides (A); Sistema

radicular do tabaco (B).

Figura 17. Raízes de tabaco com galhas (esquerda); sem galhas (centro); e nematóide retirado de

raiz (direita).

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5.2. PROGRAMA DE PRODUÇÃO DE SEMENTES

5.2.1. Implantação, acompanhamento e avaliação de teste de germinação de

sementes

Para obtenção de autorização para comercialização das sementes de tabaco, a

percentagem de germinação deve ser superior a 80%. A avaliação da germinação é realizada

durante o programa de melhoramento, pela observação simples das bandejas semeadas, e de

maneira oficial quando as sementes são destinadas a comercialização. Faz-se teste de

germinação para sementes nuas e peletizadas, sendo que se escolhem aleatoriamente algumas

embalagens de cada lote. Para a realização do teste, em caixa translúcida do tipo gerbox é

colocada uma camada de aproximadamente 0,5cm de algodão, e sobre esta camada um papel

filtro quadriculado. O algodão e o papel filtro são umedecidos. No centro de cada um dos 100

quadrinhos do papel é depositada uma semente (Figura 18 A). A caixa identificada é levada a

câmara de germinação onde permanece sob temperatura e fotoperíodo regulado, sendo

realizadas avaliações periodicamente. Se considera germinada a semente que após hidratar,

rompe o tegumento e expõe o primórdio radicular e foliar. A Figura 18 B mostra as plântulas

sete dias após o início do teste.

Figura 18. Caixas para teste de germinação de sementes de tabaco.

5.3. ACOMPANHAMENTO DO TRABALHO DOS TÉCNICOS

EXTENSIONISTAS DA EMPRESA JUNTO AOS PRODUTORES

Durante um dia foi possível acompanhar o trabalho de um dos técnicos da empresa em

seu trabalho junto aos produtores. As atividades realizadas pelo mesmo foram: identificação

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de patógeno e sugestão de possíveis metodologias de controle; contrato de integração

produtor/empresa (registro) para a safra 2011/2012; indicação e pedido de insumos para o

processo de produção de tabaco; verificação de classificação, manocagem, enfardamento e

armazenamento do produto. Os técnicos possuem muitas informações adquiridas pelos cursos

realizados na empresa ao longo dos anos que trabalham, e pela própria vivência e interesse.

Observei um sentimento de incerteza ao responder algumas dúvidas do produtor relacionadas

ao resultado de análise de solo, contudo considero que as respostas foram muito bem

sucedidas pelo mesmo.

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6. CONCLUSÃO

O estágio foi muito importante para uma maior percepção de como é realizada a

organização de um programa de melhoramento, tanto na gestão e motivação de funcionários

quanto no registro dos dados e planejamento das atividades a curto e longo prazo.

Foi possível acompanhar e realizar diversas atividades típicas de um programa de

melhoramento, além do entendimento da fundamentação técnica, incluindo explicação dos

resultados esperados, cuidados necessários em cada procedimento e as consequências que

erros ou faltas poderiam causar.

O período de duração do estágio foi curto, porém suficiente para observação de muitos

resultados de atividades realizadas.

A empresa e os funcionários foram muito acolhedores. O estágio, apesar de um pouco

deficiente em termos de atuação como profissional Engenheiro Agrônomo na aplicação

prática dos conhecimentos adquiridos na universidade, possibilitou acompanhamento de

atividades práticas que não são abordadas em sala de aula, tornando-o muito satisfatório.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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