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Copyright @ 2009- by Serglo Almeida Direitos exclusivos para a
Lingua Portuguesa no Brasil
propriedades do próprio autor.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A444f
Almeida, Sergio
Filhas do segundo sexo I Serglo Almeida. - 2.ed. - Rio de Janeiro :
Perse, 200.9
126p. ISBN
978-85·61430-00-9
1. Poesia brasileira. 1. Titulo. li. Série.
08-0494 . COO: 869.91
CDU: 821.134.4(81)-1
12.02.08 13.02.08 005241
e-mail: [email protected]: http://sergioprof.wordpress.com
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Quem conhece o Sergio Almeida e procura lógica entre o que
escreve e o que pensa, desista, pois será uma tarefa inglória e,
certamente, acabará sucumbindo sem respostas.
Quem tiver o desejo de identificar o que move o Sergio e buscar
alguma coerência ou alguma razão no que escreve, esqueça, pois
encontrará tantas respostas que vão sobrar dúvidas.
O que escreve habita entre a dúvida e o momento da decisão. É
neste pequeno espaço do pensamento, do inconfessável que
Sergio brinca com as palavras e faz o leitor tropeçar nos
pensamentos subterrâneos.
O poeta desfila “pessoas esfinges” que trazem sinais do tempo, das
emoções e das forças que movem os seres. A busca pelo prazer ou
simplesmente pelo deserto do dia seguinte. Sergio busca nas
vísceras dos seres que habitam o seu poema os elementos do
mundo contemporâneo. E, ao contrário do processo de
mumificação dos faraós, onde o cérebro era retirado pelo nariz,
Sergio retira os versos. Prefere a frieza do vazio para mostrar o
avesso.
Leia e tente decifrar como Édipo desvendou os segredos da
esfinge. No entanto tenha cuidado para não ser devorado pelas
FILHAS DO SEGUNDO SEXO.
Ricardo Bernardes
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“Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.“
Antonio Machado
Dedico este livro à Prof. Olinda de Almeida Santos
que viabilizou meu caminhar.
Ao Prof. Jorge de Sá In Memoriam
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Prosseguindo em seu caminho, Édipo chegou a Tebas, cidade que
estava sendo aterrorizada pela Esfinge, monstro terrível que fora
posto por Hera no monte Fiquion, a fim de punir essa cidade
contra o crime de Laio. Nesse Iugar, a Esfinge, atirando-se sobre os
viajantes propunha um enigma e devorava todos aqueles que não
decifrassem sua obscura proposição.
Já cansado de ver Tebas curvar-se a esse monstro, Creonte, que
assumiu o governo do pais após a morte de Laio, fez publicar que
aquele que resolvesse o enigma da Esfinge teria como recompensa
a mão de sua irmã Jocasta. Édipo apresentou-se para resolver o
enigma. Diante de Édipo, como de costume, a cruel cantora fez
valer sua clássica inquisição: “Decifra-me ou devoro-te: qual o ser
que anda de manhã com quatro patas, à tarde com duas e, à noite
com três e que, contrariamente à lei geral, é mais fraco quando
tem mais pernas? ”
Feito esse desafio, Édipo respondeu prontamente: “É o homem
porque, quando na infância engatinha sobre os quatro membros;
quando adulto caminha de forma ereta usando as duas pernas e
na velhice, curvado com o peso dos anos caminha apoiado em um
bastão"
Diante da resposta de Édipo, furioso por ter sido vencido, o cruel
monstro feminino precipitou-se do alto daquele rochedo,
aniquilando-se.
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sim pode ser não,
não pode ser talvez,
talvez pode ser sim.
como saber?
como desvendar
teus enigmas?
queria poder
decifrar-te
nem que só uma parte
antes que me devores,
queria entender
o porquê do nunca ser,
somente estar,
antes que me deplores,
queria muito, muito prever o imprevisível
dos teus humores,
compreender
o significado
de tua aquarela
de indecifráveis cores.
SEGUNDO SEXO
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uma borboleta bêbada
pousou no vidro da janela,
em tókio jovens damas orientais
fazem companhia a turistas.
EFEITO BORBOLETA
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se você não tiver medo
te revelo um segredo:
gostei de você.
se você guardar segredo
te conto também o meu medo:
você não me querer.
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algumas mulheres
amam mais do que outras.
algumas
comportam-se como ostras.
como saber a verdade
sobre o silêncio
após o último gemido?
entregaram-se por inteiro
ou em seu pensamento
havia outro?
todas dormem sem remorsos
e têm as unhas vermelhas.
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respiro teu riso, teu hálito,
absorvo a cor das tuas palavras
e o movimento de tuas pernas
trançadas nas minhas.
olho através do teu mito,
encaro teu enigma, na pirraça
de decodificar teus signos
invisto contra teu disfarce.
tens uma trama de nós difíceis
ou impossíveis de serem desatados,
tenho a pele e os anseios marcados
pela fúria dos teus lábios.
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colhi teu grito
e depois teu silêncio,
decifrei teus poros
e teus receios.
conheci tuas trevas,
em teus labirintos
me debrucei.
te habitei por inteiro.
provei fendas e frestas,
encontrei teus recôncavos,
mergulhei em teu mistério
a cada rodeio.
um invisível visgo
me aprisiona agora
na tessitura
de tua teia.
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o cheiro precede o toque
e logo nossas bocas,
sexos e mundos
se interpenetram.
te persigo, invado
os avessos do teu corpo
até teus fluídos
encontrarem os meus.
meu nome te escapa
por entre os lábios, isto me basta para crer
em qualquer mentira.
a lua que flutua
longe e as fases
dos teus ciclos e cios
são partes do mesmo enigma.
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versos no diário:
o avesso do dia,
seu comentário.
o dia, o riso,
o noticiário.
versos diários
se revezam
como as roupas
no armário.
vida versus vida,
raios, para-raios,
os risos sucedem as praias,
o canto sucede as vaias.
em suas páginas
o inventário
das sombras e das saias.
as tarefas,
as descobertas,
o documentário.
os ritos, os mitos,
os riscos
e o registro,
em suas linhas,
diário.
telefones, nomes,
lembranças várias.
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notas, provas,
juras,
datas
no calendário.
os rostos se revezam
como as cartas
no baralho.
O DIÁRIO
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