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Como a Revolução 4.0 irá impactar as políticas fiscais dos novos governos? Este é um compilado de textos, papers e matérias sobre a influência das mudanças tecnológicas geram e gerarão sobre a arrecadação fiscal e como as mudanças tecnológicas influenciarão na construção de um novo governo, o e-governo. Os tópicos abordados diferem drasticamente de tamanho, alguns, baseados em matérias, são curtos, pois abordam brevemente a influência sobre a tributação, outros, mais extensos e mais específicos, ganharam mais espaço. Os tópicos incluem desde revoluções tecnológicas reais, como o Uber, e revoluções ainda distantes como veículos sem motorista. Isso tornou o trabalho mais longo. Mas ainda mais completo. Sugiro que se atente ao índice para aumentar a produtividade da sua leitura. Índice e breve explicação do tema abordado: 1. Panoramas Gerais........................................................... ................................................................3 2. Reformas Tributárias...................................................... ................................................................. 4 Papers escritos no exterior: 2.1.Direito tributário e mudança tecnológica - Uma perspectiva otimista sobre o futuro da tributação.4 2.2. A relação entre Globalização e a Tributação – Uma perspectiva histórica......................................11 2.3. O Futuro da Regulação local – Como a tecnologia da economia de compartilhamento pode ser aplicada aos governos ........................................................ ............................................................16 2.4. Como desenvolver um governo eletrônico - Gobiernos que sirven...............................................20 Página 1 de 60

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Como a Revolução 4.0 irá impactar as políticas fiscais dos novos governos?

Este é um compilado de textos, papers e matérias sobre a influência das mudanças tecnológicas geram e gerarão sobre a arrecadação fiscal e como as mudanças tecnológicas influenciarão na construção de um novo governo, o e-governo.

Os tópicos abordados diferem drasticamente de tamanho, alguns, baseados em matérias, são curtos, pois abordam brevemente a influência sobre a tributação, outros, mais extensos e mais específicos, ganharam mais espaço.

Os tópicos incluem desde revoluções tecnológicas reais, como o Uber, e revoluções ainda distantes como veículos sem motorista. Isso tornou o trabalho mais longo. Mas ainda mais completo. Sugiro que se atente ao índice para aumentar a produtividade da sua leitura.

Índice e breve explicação do tema abordado:

1. Panoramas Gerais...........................................................................................................................32. Reformas Tributárias.......................................................................................................................4

Papers escritos no exterior:

2.1.Direito tributário e mudança tecnológica - Uma perspectiva otimista sobre o futuro da tributação.4

2.2. A relação entre Globalização e a Tributação – Uma perspectiva histórica......................................11

2.3. O Futuro da Regulação local – Como a tecnologia da economia de compartilhamento pode ser aplicada aos governos ....................................................................................................................16

2.4. Como desenvolver um governo eletrônico - Gobiernos que sirven...............................................20

Papers escritos no Brasil

2.5. Direito Tributário e mudança tecnológica no Brasil – Foco nas tributações brasileiras...................22

2.6. Reformas necessárias devido a novos serviços como os de streaming – Escrito pelo advogado Daniel Corrêa Szelbracikowski (Advogado Tributário)....................................................................24

2.7. Nova Medidas relacionada à guerra fiscal de ISS - Escrito pelo advogado Daniel Corrêa Szelbracikowski (Advogado Tributário)..........................................................................................28

2.8. Questões adicionais relevantes para o processo de reforma fiscal – texto baseado nas respostas via e-mail do advogado a cima citado............................................................................................31

Jornais e Revistas

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2.9. Imposto de renda negativo – Entrevista com Erik Brynjolfsson, diretor do Centro de Negócios Digitais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)...........................................................33

2.10. Renda Básica Universal - publicada pelo World Economic Forum...........................................332.11. Robô-tax e Proteção de alguns setores - Luciano Floridi, Professor de Ética e Filosofia da

informação da Universidade de Oxford of Philosophy and Ethics of Information at the University of Oxford, e professor do Instituto Alan Turing..............................................................................34

2.12. Garantia de Rendimento Mínimo (MGI) e Programas Sociais “Inteligentes”...........................35

2.13. Fim do anonimato público - The Economist, Frankenstein’s paperclips...................................36

2.14. Veículos sem motoristas - The Economist, Frankenstein’s paperclips.....................................372.15. Robô que detecta quando os deputados utilizam mal o dinheiro público - El

país..................372.16. Privacidade dos cidadãos - Folha de São Paulo, Estados desprezam privacidade de

contribuintes..................................................................................................................................382.17. A arrecadação de impostos também será afetada indiretamente..........................................39

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1. Panorama Geral

O que é Inteligência Artificial e quais são suas subdivisões?

A Inteligência Artificial, é um ramo de pesquisa da Ciência da Computação que se ocupa em desenvolver mecanismos e dispositivos tecnológicos que possam simular o raciocínio humano, ou seja, a inteligência que é característica dos seres humanos.

A Inteligência Artificial atual é conhecida como IA periférica (ou IA fraca) (em inglês, narrow AI or weak AI), está é desenvolvida para certos objetivos específicos, como dirigir, reconhecimento facial ou pesquisas na internet).

Porém, no longo prazo, a meta de muitos pesquisadores é criar a IA geral (ou IA forte ou superinteligência) (em inglês, general AI, AGI, Strong AI or superintelligence). Enquanto a IA periférica pode superar os humanos quando se trata de algum trabalho específico, como um jogo de xadrez ou em resolver uma equação, a IA geral irá performar melhor que os humanos em praticamente todos os trabalhos que exigirão capacidade cognitiva.

Quais são os mitos e quais são os fatos envolvendo a Inteligência Artificial?

Mitos Fatos

Superinteligência será inevitável já em 2100 ou a superinteligência será impossível já em 2100.

A Superinteligência pode ocorrer em décadas, séculos ou nunca, os próprios pesquisadores da área discordam, e nós simplesmente não sabemos.

Apenas Luddites* tem preocupações com a AI.Muitos pesquisadores de ponta de AI têm suas preocupações

AI pode se tornar do mal ou AI pode se tornar consciente

AI pode se tornar competente e com metas desalinhadas com as nossas

Robôs são a nossa principal preocupaçãoMetas desalinhadas são nossa principal preocupação, não é necessário ter um corpo, basta estar conectado à internet

AI não pode controlar os humanosInteligência proporciona controle: nós somos capazes de controlar os tigres porque somos mais inteligentes.

Maquinas não podem ter metasAs máquinas podem ter metas, por exemplo as metas dos foguetes era buscar o calor

A AI chegará daqui a poucos anos. A AI demorará, no mínimo, décadas para se tornar realidade, mas talvez seja necessário esse mesmo período de tempo

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para torná-la segura.

Luditties- Termo pejorativo usado para denominar aqueles que são avessos a tecnologia, mais precisamente, os que tem medo que estas tomem os seus postos de trabalho.

Resumo tirado da matéria: BENEFITS & RISKS OF ARTIFICIAL INTELLIGENCLink: https://futureoflife.org/background/benefits-risks-of-artificial-intelligence/

2. Reformas tributárias

2.1. Direito tributário e mudança tecnológica

Os escritos sobre a legislação tributária e a mudança tecnológica muitas vezes investigam três questões distintas, mas relacionadas:(1) como a legislação tributária reage à mudança de tecnologia;(2) como a legislação tributária provoca mudanças tecnológicas;(3) como a legislação tributária busca preservar os interesses tradicionais (como a arrecadação de receitas) à luz da mudança tecnológica.

Além disso, os observadores levantam, por vezes, a preocupação de que a interação entre a mudança tecnológica e a legislação fiscal pode ter um impacto substancial nos indivíduos, nas comunidades. Os interesses nacionais podem diferir do uso pretendido pela tecnologia (por exemplo, mecanismos automáticos de cobrança de impostos podem prejudicar a privacidade dos contribuintes).

Perguntas sobre Direito Tributário e Tecnologia

Como o direito reage a fim de acomodar a mudança tecnológica (sob a perspectiva de “ Lei é tecnologia”)?

Enfrentando as crescentes perdas de receita, os governos estaduais americanos começaram em 1999 a dar importantes avanços cooperativos. Um esforço para evitar perdas de receita associadas a vendas fora do estado por meio de um arranjo institucional conhecido como Projeto de Taxa de Vendas Simplificada. Esses esforços levaram ao esforço mais ambicioso até o momento para unificar as diferentes bases de impostos estaduais e locais sobre vendas e uso, na tentativa de simplificar as obrigações de conformidade para empresas com vendas fora do estado.

Essas reformas, mesmo nos EUA, ainda estão em andamento e a extensão do seu sucesso final não é clara, porém os novos arranjos institucionais cooperativos representam, sem dúvida, uma resposta efetiva aos desejos políticos da mudança tecnológica.

Como a lei modela a troca de tecnologia para alcançar o objetivo da política (ou a “tecnologia é lei”)?

Os governos estaduais americanos estão buscando como as leis fiscais podemos moldar os avanços tecnológicos através de soluções baseadas em "tecnologia é a lei" para influenciar o comportamento de conformidade individual e de grupo (para uma discussão dos sistemas de cobrança de impostos on-line para os impostos de vendas estaduais dos EUA.

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Como determinar a legislação tributária afim de preservar os interesses tradicionais à luz da mudança tecnológica?

Tributação do comércio eletrônico transfronteiriço (cross-border)

Os participantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) propuseram uma série de possíveis reformas. Eles analisaram como o comércio eletrônico global pode levar, entre outras coisas, a uma erosão da tributação baseada na fonte, mais empresas baseadas em paraísos fiscais e maior deslocamento de ativos intangíveis a jurisdições fiscais baixas. Havia um consenso geral de que o comércio eletrônico global desafiava as tradicionais leis e políticas tributárias internacionais.Para abordar possíveis perdas de receita e outros desafios de política fiscal apresentados pelo comércio eletrônico global, os comentaristas propuseram esforços de reforma, incluindo:

(a) Taxas de imposto retido na fonte de baixa, média ou alta para pagamentos de comércio eletrônico (Avi-Yonah, 1997);(b) Testes qualitativos de presença econômica (ou seja, testes de fatos e circunstâncias) para permitir que os países de origem tributem os pagamentos do comércio eletrônico, apesar da ausência de uma presença física tradicional no país de origem (Hinnekens 1998);(c) Testes quantitativos de presença económica (por exemplo, permitir que os países de origem imponham taxas superiores às vendas limiares, tais como 1 milhão de dólares em vendas) (Doernberg e Hinnekens, 1999; Cockfield, 2003);(d) Repartição global do formulário com as vendas de destino como um dos fatores que incentivam a tributação do país de origem (Li 2003);(e) Imposto global sobre transações para transações transfronteiriças de comércio eletrônico (Soete e Karp, 1997; Azam, 2013).

Para a maior parte, no entanto, os governos optaram por seguir um caminho de reforma mais moderado, as autoridades fiscais geralmente não defendiam desvios das leis e políticas tradicionais. Uma revisão das respostas nacionais aos desafios fiscais do comércio electrónico revela que, na medida em que os governos nacionais reagiram a todos estes desafios, fizeram-no com cautela, desde que houvesse poucas evidências de que os valores tradicionais (por exemplo, transações transfronteiriças) estavam em grave risco (Cockfield e outros 2013: capítulos 4 e 5). Uma possível explicação para esta abordagem cautelosa residia na crescente visão de que a tributação do comércio eletrônico transfronteiriço não estava levando a perdas de receitas indevidas para os países de alta tributação (Sprague e Hersey, 2003).Uma das consequências mais interessantes do intenso debate sobre as implicações do comércio eletrônico transfronteiriço para os regimes fiscais foi a emergência de uma cooperação reforçada através de instituições políticas não vinculativas a nível internacional. Como parte desta cooperação tributária internacional, a OCDE iniciou uma série de "primeiros passos" para enfrentar os desafios fiscais globais de comércio eletrônico (Cockfield 2014: 115-118, 193-233). São eles:

(a) Países envolvidos em discussões multilaterais que levaram a um acordo sobre princípios fiscais para orientar a formulação subsequente de regras fiscais internacionais.

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(b) a OCDE se juntou aos membros da indústria para orientar o desenvolvimento de novas regras fiscais.(C) a OCDE analisou as opções políticas de forma extensiva com peritos fiscais provenientes das autoridades fiscais nacionais, da indústria e do mundo académico;(d) os países não pertencentes à OCDE puderam fazer parte das deliberações em curso; E (e) os Estados membros da OCDE se envolveram em discussões extensivas com relação a assuntos transfronteiriços de Imposto sobre Valor Agregado / Imposto sobre Produtos e Serviços (IVA / GST).

Essas novas instituições e processos cooperativos - como as Diretrizes sobre o IVA / GST da OCDE - abordam agora questões que se afastam ou estão em integração com a tributação do comércio digital global, cada vez mais sujeita às regras mais amplas que regem todo o comércio transfronteiriço. As respostas políticas demonstram a importância de processos de reforma institucional eficazes para enfrentar os desafios fiscais promovidos pela mudança tecnológica e que ameaçam os interesses tradicionais, como a cobrança de receitas.

Em um artigo anterior sobre impostos e comércio eletrônico, Abrams e Doernberg notaram que "a implicação mais significativa do crescimento do comércio eletrônico para a política tributária pode ser que a tecnologia e não a política determinará as regras fiscais do [Vigésimo primeiro] século "(Abrams e Doernberg 1997). Curiosamente, foi a mudança tecnológica, e não as preocupações políticas tradicionais, que provocaram essa cooperação fiscal global e subnacional sem precedentes nos EUA.

Pesquisa e Desenvolvimento

Na busca do crescimento econômico, os governos oferecem incentivos fiscais (isto é, uma redução dos passivos fiscais) às empresas que buscam estratégias de inovação. Esses governos esperam que a redução dos impostos incentive as empresas a gastar mais recursos no desenvolvimento de tecnologias que melhorem a produtividade. As empresas também podem se deslocar para a nova jurisdição para aproveitar as isenções fiscais, aumentando o emprego.

Desta forma, as leis fiscais procuram provocar a mudança tecnológica e os objetivos políticos relacionados.

Uma extensa literatura também examinou a interação entre leis tributárias e pesquisa e desenvolvimento (P & D) (Graetz e Doud 2013). Esta literatura sobre incentivos fiscais à I & D é informada por uma análise mais econômica do que qualquer outra área em torno da legislação tributária e da mudança tecnológica. Esta seção considera dois pontos abordados na literatura legal:

(a) se os incentivos à legislação tributária de P & D promovem resultados econômicos domésticos benéficos;(b) se estes incentivos desencadeiam uma concorrência fiscal internacional que prejudica o bem-estar da maioria dos países.

Os incentivos fiscais à I & D são tipicamente racionalizados na medida em que incentivam o investimento em atividades de I & D que, de outro modo, não teriam lugar na ausência dos incentivos. Apesar da aceitação política dessas leis tributárias, ainda não está claro se os incentivos à P & D promovem benefícios econômicos domésticos de longo prazo

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Enquanto as evidências empíricas não nos levam a uma única solução, os governos continuam a buscar estratégias de "tecnologia é lei" que buscam usar as leis tributárias para provocar negócios que busquem atividades que levem à mudança tecnológica. Contudo, um exame mais amplo das questões revela que as estratégias podem estar conduzindo a uma "corrida para o fundo", onde todos os países estarão pior devido a perdas de receita associadas com incentivos fiscais de P & D.

Intercâmbio transfronteiriço de informações fiscais

Os desenvolvimentos tecnológicos tornaram-no mais eficiente e menos dispendioso para os governos e o sector privado recolherem, utilizarem e divulgarem informações pessoais, tais como informações financeiras e fiscais. Com um clique ou dois de um mouse, os registros agora podem ser chamados de bancos de dados governamentais, agregados, copiados e transferidos para outra agência governamental localizada em qualquer lugar do mundo, desde que tenha acesso à Internet. Pela primeira vez, muitos países e organizações políticas subnacionais (por exemplo, estados e municípios) podem se envolver em troca de informações fiscais transfronteiriças com relativa facilidade. Os governos trocam informações sobre os contribuintes em massa, principalmente para garantir que os contribuintes residentes estão relatando sua renda global para fins fiscais (Dean 2008). Ao fazer isso, esses governos estão tentando proteger seus interesses tradicionais à luz da mudança tecnológica. Neste caso, procuram garantir que os contribuintes residentes respeitem a sua obrigação de pagar impostos sobre as suas fontes de rendimento não residentes.

A OCDE promoveu um maior intercâmbio de informações fiscais para combater o uso abusivo de paraísos fiscais como parte de seu projeto de "competição fiscal prejudicial" iniciado em 1996 (Ambrosanio e Caroppo, 2005). Em 1998, a OCDE publicou um relatório indicando que a ausência de um intercâmbio efetivo de informações era um dos principais obstáculos à luta contra as práticas fiscais nocivas (OCDE, 1998b). Em 2000, a OCDE publicou uma "lista negra" inicial de trinta e cinco países de paraísos fiscais que, entre outras coisas, não permitiam a troca efetiva de informações fiscais. Em 2002, a OCDE desenvolveu um modelo não vinculativo para o acordo de troca de informações fiscais (TIEA) afim de incentivar a transparência e estabelecer padrões para o intercâmbio dessas informações. Estes TIEA’s, pensou-se, poderiam desencorajar os contribuintes de tentar fugir dos impostos através da não-divulgação ilegal da renda offshore. Além disso, esperava-se que os TIEA’s inibissem a lavagem de dinheiro internacional, o financiamento do terrorismo global e estratégias agressivas de evasão fiscal.O mais controverso desenvolvimento unilateral começou em 2010, quando o governo dos Estados Unidos introduziu uma nova legislação para acessar informações fiscais sobre os cidadãos dos EUA que vivem no exterior para combater a evasão fiscal no exterior (Christians and Cockfield 2014). Sob a lei fiscal dos EUA, todos os cidadãos dos EUA, não importa onde residem, são tributados em sua renda mundial e devem apresentar uma declaração de imposto dos EUA a cada ano e pagar quaisquer impostos dos EUA devido. Para ajudar a identificar os evasores de impostos offshore, as novas leis tentam forçar os bancos estrangeiros e outras instituições financeiras a fornecerem informações financeiras sobre cidadãos americanos residentes no exterior (o regime é conhecido como Lei de Conformidade com as Taxas Externas,

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em inglês Foreign Account Tax Compliance Act FATCA). Espera-se que as instituições financeiras estrangeiras coletem essas informações financeiras pessoais e as transmitam diretamente à Receita Federal.

Outra área frutífera de exploração atual examina como "grandes dados" transfronteiriços e dados analíticos podem promover resultados de políticas úteis: através de abordagens de "tecnologia é lei", os governos passam leis fiscais que aproveitam desenvolvimentos em tecnologias de informação para buscar maior intercâmbio on-line de volumes pagadores de impostos para promover objetivos de conformidade. Para as autoridades fiscais, grandes dados e análises de dados têm o potencial de inibir a evasão de impostos, a lavagem de dinheiro internacional, o financiamento do terrorismo global e o planejamento tributário internacional agressivo (Cockfield 2016). No que diz respeito ao planejamento fiscal internacional agressivo, um esforço de reforma por meio do projeto BEPS da OCDE de 2013, se esforça para desenvolver relatórios país a país, por meio dos quais as empresas multinacionais deveriam divulgar às autoridades fiscais estrangeiras todos os pagamentos de impostos e outros dados financeiros em todos os países onde pagam impostos (OECD 2013, Cockfield e Macarthur, 2015). Esses grandes dados poderiam fornecer informações superiores às autoridades fiscais para ajudá-los a determinar se deve auditar as atividades internacionais dos contribuintes.

Desenvolvimento e Implementação de mecanismos eficazes

Respeitar a Soberania Tributária

As instituições políticas de reforma tributária precisam permanecer sensíveis à forma como as reformas podem interferir em questões de soberania fiscal. Instituições e arranjos institucionais relacionados à tributação são determinantes importantes no crescimento econômico para os Estados-nação (North, 1990). Embora haja um debate em curso sobre a necessidade de instituições taxativas globais obrigatórias, os observadores geralmente enxergam que um movimento nesse sentido permanece improvável no futuro próximo (Avi-Yonah 2000: 1670-1674, Sawyer 2004, Bird, 1988). A maioria das nações deseja manter leis e políticas adaptadas aos seus interesses nacionais sem interferência de uma organização tributária mundial formal ou de outras medidas vinculativas excessivamente intrusivas: as preocupações com a soberania fiscal continuam a ser um dos principais motores da política fiscal internacional. Os governos guardam zelosamente sua soberania fiscal para que seus sistemas fiscais possam buscar agendas sócio-econômicas distintas, como a redistribuição da riqueza.

Por exemplo, os observadores estudaram como a abordagem da OCDE de incentivar a discussão, o estudo e os esforços de reforma não vinculativos para o comércio eletrônico internacional se assemelha ao fenômeno do "soft law" (Ring 2009: 555). As leis leves (ou soft institutions) são processos mais informais empregados para alcançar o consenso, fornecendo um fórum para os atores negociarem regras e princípios não vinculativos, ao invés de convenções vinculantes. Esses processos podem enfrentar os desafios tecnológicos sem impor restrições indevidas à soberania nacional.

A combinação de proporcionar maiores oportunidades para expressar preocupações, juntamente com o uso de instituições suaves, provavelmente ajudou com o desenvolvimento de uma orientação eficaz que fosse aceitável para os Estados membros da OCDE (Bentley

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2003). Da mesma forma, nos Estados Unidos, um esforço cooperativo entre governos estaduais e locais chamado de Projeto de Taxa de Vendas Simplificado, este surgiu em resposta aos desafios tributários do comércio eletrônico e parece ter caminhado rumo a resultados políticos positivos.

Necessidade de Eficiência Adaptativa

Além de respeitar a soberania fiscal, os processos de reforma tributária precisam ser projetados para promover respostas efetivas e oportunas às mudanças de entendimento sobre o ambiente tecnológico. Por meio de um desenho institucional apropriado, esses processos de reforma estarão mais aptos a preservar os interesses tradicionais quando ameaçados pela mudança tecnológica. A mudança tecnológica pode ocorrer de forma rápida (isso é certamente o caso com relação à evolução da Internet) e as instituições jurídicas, incluindo legisladores, tribunais e organizações internacionais, precisam ser capazes de responder de forma eficaz e oportuna. Sob um ponto de vista, a evolução económica depende em grande parte da "eficiência adaptativa", que foi definida como a eficácia de uma sociedade ou grupo de sociedades na criação de instituições produtivas, estáveis, justas e amplamente aceites e suficientemente flexíveis para serem substituídas ou substituídas resposta Ao feedback político e econômico (North 1990).

Pesquisas empíricas como verificações da realidade

Nosso próximo princípio orientador é bastante óbvio: estudos empíricos podem ajudar a determinar se a mudança tecnológica está prejudicando os interesses tradicionais.

A falta de evidências empíricas sobre as perdas de receita no nível internacional pode ser contrastada com a situação no contexto subnacional dos EUA onde vários estudos têm mostrado que os governos estaduais e locais dos EUA estão sofrendo perdas de receitas em bilhões de dólares como resultado (Bruce, Fox e Luna 2009; Alm e Melnik 2010). Sem provas semelhantes a nível internacional, as autoridades fiscais e os órgãos legislativos podem ser compreensivelmente relutantes em centrar a sua atenção numa área que pode não estar contribuindo para perdas significativas de receitas.

Aplicação do tratamento fiscal neutro

É necessária uma ampla formulação de regras tributárias para enfrentar mudanças tecnológicas contínuas e incertas: "As soluções que emergem devem ser suficientemente gerais e flexíveis para lidar com a evolução da Tecnologia e maneiras de fazer negócios que são atualmente imprevistas "(US Department of Treasury 1996). A finalidade subjacente à aplicação de um tratamento fiscal neutro é inibir o potencial de a legislação fiscal distorcer as tomadas de decisões econômicas (um objetivo de eficiência tradicional), bem como assegurar que dois contribuintes com uma situação semelhante são tributados da mesma forma (um objetivo tradicional de equidade horizontal). Assim, a abordagem proposta garante que a legislação fiscal procura preservar os interesses tradicionais à luz da mudança tecnológica. Exemplos dessa abordagem incluem os regulamentos do Departamento do Tesouro dos EUA que classificam as transações de programas de computador olhando para atividades econômicas substantivas (Seção 1.861-18 do Tesouro); Regras de classificação de rendimentos

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da OCDE para transações digitais transfronteiriças (OCDE 2010: parágrafos 17.1 a 17.4 do Comentário ao Artigo 12); E os pronunciamentos da autoridade fiscal israelense sobre vendas eletrônicas e tradicionais (Rosenberg 2009). Todos esses esforços são para tratar transações funcionalmente equivalentes da mesma maneira. Um contra-exemplo é a reforma da OCDE, que desenvolveu uma regra específica para abordar uma mudança tecnológica específica (através da regra de "servidor / estabelecimento permanente" nos Comentários ao tratado fiscal da OCDE) que se concentra nas funções de software para determinar a jurisdição fiscal. Não só a regra não protege os interesses tradicionais (por exemplo, a arrecadação de receitas pelo Estado-fonte), ela exacerba os problemas ao encorajar o planejamento fiscal internacional agressivo (Cockfield, 1999).

O tratamento fiscal neutro acarreta o menor risco de desencorajar a inovação e a difusão da tecnologia. As regras legais podem tanto provocar como desencorajar a mudança tecnológica. A OCDE e seus Estados-membros geralmente optaram por seguir um caminho moderado de reforma que contemplasse o uso de leis e políticas tributárias tradicionais. Essa abordagem foi adotada em parte devido ao receio de que novos impostos desencorajassem o desenvolvimento da Internet ou inibissem os esforços empreendedores. Pelo menos na sua fase inicial, uma parte significativa do comércio eletrônico global foi realizada por pequenas e médias empresas. De fato, baixos custos de start-up incentivaram muitas empresas de Internet a se tornarem globais através de suas vendas de e-commerce. Mas essas empresas muitas vezes não podem ter os recursos ou know-how para cumprir as novas leis fiscais ou leis fiscais de cada país estrangeiro onde seus clientes residem. Consequentemente, caminhos de reforma mais radicais, incluindo a possível adoção de um "bit tax" que seria aplicado em toda transmissão transfronteiriça de dados, foram adequadamente rejeitados (Soete e Karp, 1997).

Utilização da tecnologia para impor leis fiscais

As tecnologias, incluindo as tecnologias de hardware e software da Internet, podem ser analisadas para que possam nos ajudar a aplicar as leis fiscais. Ao regulamentar as tecnologias através das abordagens da "tecnologia é a lei", os governos podem determinar o que os indivíduos podem e não podem fazer e, assim, influenciar indiretamente o resultado da política (Lessig 1999). Por exemplo, os governos podem aprovar leis tributárias que exigem o uso de uma tecnologia de cobrança de impostos on-line para promover a conformidade dos contribuintes.

Como mencionado, os governos estão adotando tecnologias para permitir o arquivamento on-line de declarações de impostos junto com a análise de dados fiscais para identificar "bandeiras vermelhas" para auditoria. No entanto, até agora, os governos nacionais têm relutado em adotar plenamente as novas tecnologias digitais para promover o intercâmbio de informações fiscais e enfrentar outros desafios apresentados pela integração econômica regional e global. Como observado por Hellerstein, esses governos não conseguiram vincular sua capacidade tecnológica de impor suas leis fiscais com o alcance de suas leis fiscais, que muitas vezes incluem lucros ou vendas que emanam fora de suas fronteiras (Hellerstein, 2003).

Os recentes esforços de reforma das políticas internacionais centraram-se na normalização das tecnologias e dos mecanismos para uma troca mais eficaz das informações fiscais

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transfronteiriças (OCDE, 2014). O intercâmbio transfronteiriço de impostos poderia também ser facilitado pelo desenvolvimento de uma rede abrangente de partilha de informações fiscais que utilize a Internet como plataforma tecnológica. Essa rede poderia envolver alguns ou todos os seguintes componentes (Cockfield 2001: 1238-1256):

(a) Uma “extranet” segura estendida a todas as autoridades fiscais participantes, por meio da qual pudessem transferir informações tributárias de forma automática;

(b) Uma “intranet” segura estendida apenas entre cada autoridade fiscal e os seus intermediários financeiros nacionais, para que a autoridade fiscal possa aceder às informações financeiras necessárias;

(c) A imposição automática de retenções na fonte sobre determinados pagamentos;(d) Uma câmara de compensação online para auxiliar na avaliação automática, recolha e

remessa de pagamentos transfronteiriços de IVA / GST.

As reformas dos governos estaduais dos EUA participantes através do Projeto de Taxa de Vendas Simplificado fornecem um exemplo mais concreto de reformas dos esforços para empregar tecnologias da Internet no processo de cobrança de impostos transfronteiriços. Esses esforços são facilitados por tecnologias da Internet que são usadas para auxiliar no cumprimento e fiscalização tributária. Entre outras coisas, os governos estaduais dos EUA estão revisando um sistema pelo qual intermediários terceirizados certificados, que normalmente serão empresas on-line de conformidade fiscal, agem como um agente do vendedor para executar todas as vendas do vendedor e usar as funções fiscais. Para reduzir os custos de conformidade, foi proposto um sistema de registo online com um único ponto de registo. Qualquer empresa que utilize este software certificado pela Streamlined será protegida da responsabilidade de auditoria pelas vendas processadas através desse software.

De uma perspectiva social e política mais ampla (tal como prosseguida pelos teóricos substantivos da tecnologia), no entanto, o uso de tais técnicas de coleta levanta preocupações significativas com a privacidade dos contribuintes. A informação dos contribuintes digitais é permanente, facilmente trocada ou indexada em cruzamento com outras bases de dados governamentais ou transferida através de fronteiras onde proteções legais mais laxas para a privacidade podem prevalecer (Dean, 2008; Christians and Cockfield 2014). As respostas políticas incluem:

(a) leis de privacidade reformadas para governar as práticas de coleta de informações do setor privado (por exemplo, a Diretiva de Proteção de Dados de 1995 da União Europeia);

(B) leis de privacidade reformadas que governam as práticas de coleta de informações do setor público (por exemplo, a Lei de Privacidade do Canadá);

(C) diretrizes de privacidade de agências governamentais para governar a concepção, implementação e operacionalização de novas iniciativas de segurança que acessam a informação dos contribuintes (por exemplo, as diretrizes da Matter of Trust de 2010 do Comitê de Privacidade do Canadá);

(D) reformas tecnológicas, tais como trilhas de auditoria que criam registros de pesquisas governamentais de bases de dados fiscais (Cockfield 2007);

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(E) esforços cooperativos multilaterais tais como, potencialmente, uma declaração global de direitos do contribuinte (Cockfield 2010);

Resumo retirado do paper: O Manual de Oxford de Direito e Regulação de Tecnologia, escrito por Arthurr J. Cockfield.O texto é bem completo e instrutivo: como o acesso é restrito aos assinantes e para acessá-lo é preciso estar na biblioteca da FGV, anexei uma cópia do documento original junto ao e-mail nomeado de “Tax Law and Technology Change”

2.2. A relação entre Globalização e a Tributação

Este artigo trata do impacto das novas tecnologias sobre a capacidade do governo de coletar impostos.Analisando um longo período histórico, cerca de dois séculos, e visa fornecer um guia histórico de como as mudanças na estrutura das economias e nas relações economicas tem impactado os níveis de impostos e a estrutura tributária.

De uma forma não técnica e concisa, o artigo contará uma história do desenvolvimento da fiscalização frente as innovações, como a industrialização. Explicará por que a tributação está agora a enfrentar novos e crescentes desafios que, se não forem abordados, poderiam, com o tempo, reduzir significativamente a capacidade dos governos de se financiar.

O artigo descreverá como, ao longo do século passado, a evolução econômica provocou grandes alterações no potencial de geração de receitas tributárias, que os governos enfrentaram e como a demanda dos governos por receita adicional também aumentou.

Desde a Revolução Industrial até a Grande Depressão a arrecadação fiscal era, precária e em muitos países não eram vinculadas à renda. Os países poderiam ser comparados à lagos domésticos, cuja água só poderia ser explorada pelos governos nacionais da união de países onde os lagos estavam localizados. Não havia medo de concorrência fiscal ou da evasão fiscal global e a exploração dos governos era limitada apenas pela resistência tradicional dos contribuintes nacionais, evasão fiscal interna e resistência política. As limitações das administrações fiscais eram devido à corrupção ou à própria ineficiência do governo.

Devido a globalização recente, as importações e as exportações aumentaram acentuadamente. O capital começou a circular livremente pelas fronteiras nacionais e um sistema financeiro verdadeiramente global entrou em existência.Com a ajuda das novas tecnologias de informática, o novo sistema financeiro aberto possibilitou que trilhões de dólares dos EUA cruzassem as fronteiras nacionais todos os dias. Estes e outros desenvolvimentos teriam inevitavelmente um impacto sobre a capacidade dos governos de cobrar impostos.

Outra novidade foi a produção multi-país, esta tornou difícil de determinar o local onde um produto foi originado e onde o seu valor de mercado foi criado. Só é possível determinar onde o produto foi montado e de que país foi exportado. Outra novidade foi a produção feita por "filiais" ou por "sucursais" de uma mesma empresa multinacional que vendeu os produtos finais em vez de produtos adquiridos no mercado livre produzido com partes não relacionadas. Este processo criou dificuldades para as administrações fiscais de vários países, para determinar o valor do que realmente foi

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produzido. Por que era difícil, ou muitas vezes impossível, determinar o valor de mercado que as peças teriam se tivessem sido comercializados num mercado concorrencial e entre partes não relacionadas.

Consequentemente, tornou-se difícil para as administrações fiscais determinar e alocar os lucros totais, provenientes da venda de um produto, entre os países que contribuíram para a sua produção.Este tornou-se o problema dos "preços de transferência". As tentativas das administrações fiscais vieram a ser chamadas de "princípio de comprimento de braços", que pressupõe que as partes em uma transação não tinham relação entre si, ente pricípio ajudou apenas em parte, pois para algumas administrações era difícil de aplicar. Devido aos preços de transferência, as empresas adquiriram amplo custos, para mostrar maiores lucros em países onde as taxas de imposto eram baixas, como por exemplo na Irlanda. Além disso, o financiamento da dívida, não ocorria através de capital próprio, para os quais os juros são aplicados. Os pagamentos efetuados aos credores foram considerados custos para efeitos fiscais, enquanto os pagamentos de dividendos aos detentores de ações não substituíram muito financiamento de capital próprio. Isso criou problemas de capitalização e reduziu a responsabilidade tributária de muitas empresas. Muitas vezes o financiamento vinha de instituições financeiras localizadas em paises em que os pagamentos de juros escapavam à tributação ou,se tributados, eram tributados a taxas muito baixas.

O comércio transfronteiriço no uso da propriedade intelectual (patentes, marcas registradas, direitos autorais, etc.) criaram dificuldades adicionais. O valor da propriedade intelectual utilizado para determinaros custos é difícil de determinar, facilitando abusos. Também neste caso a propriedade intelectual utilizada era muitas vezes adquirida a partir de paraísos fiscais.

As compras pela Internet se tornaram progressivamente mais comuns inclusive para produtos que eram intangíveis. Isto levou a crescentes dificuldades de determinar onde os vendedores eram localizados.

Surgiram muitas empresas multinacionais que vendem principalmente produtos intangíveis (Google, Apple, Microsoft, Facebook, etc.). Dentro de alguns anos, alguns destas empresas cresceram para se tornar entre as maiores empresas do mundo.Vários relatórios recentes indicaram que estas empresas pagam relativamente pouco em impostos, apesar da enorme sucesso financeiro.

Ao longo dos anos, os desenvolvimentos acima criaram o que o autor deste artigo chamou de "cupins fiscais". Estes "Cupins" criaram oportunidades crescentes, para os contribuintes que operam globalmente, para evitar ou reduzir o pagamento de impostos. Estimativas recentes para alguns países, como os Estados Unidos, relataram que centenas de bilhões de impostos já deixaram de ser pagos pelos grupos de países, como o G7 e o G20, devido a evasão fiscal. Se o trabalho desses "cupins fiscais" não for interrompido, há o risco de prejudicar gravemente os próprios fundamentos do sistema de imposto moderno.

Os "cupins fiscais" também contribuíram para o crescimento dos Paraísos Fiscais, e para o uso do que chamamos de "tolling" e "Triangulação" estratégias em que alguns produtos ou serviços são vendidos e compradas por empresas estrangeiras controladas e os preços são entãoajustado para cima ou para baixo, quando os produtos forem utilizados. O uso arbitrário de "preços de transferência", de "tolling" e de

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Técnicas de "triangulação", a valorização arbitrária dos direitos, o uso excessivo de empréstimos, em vez de capital próprio, e de empréstimos provenientes de fontes afiliadas localizadas em paraísos fiscais, e outras neuvers têm dado fortes incentivos às empresas globais e aos indivíduos que usam o "planejamento tributário" em suas atividades.

Pagamentos de impostos. Decisões de produção (quanto à localização e utilização) muitas vezes mais influenciados por considerações fiscais do que por custos de produção, do que costumavam ser no passado. Em muitas empresas o pessoal que lida com o planejamento tributário se tornou mais importantes do que engenheiros de produção.

Isso pode ser considerado como o lado da procura de evasão fiscal. Há também um lado da oferta para este processo de evasão fiscal. O lado da oferta está relacionado com o crescimento de "paraísos fiscais" e centros que vieram a existir para tirar proveito da oportunidade de extrair benefícios ou "rendas" do que poderia ser amplamente "Base de tributação mundial".

A base tributária mundial tomou algumas das características que os economistas e cientistas políticos chamam de "comum". Como se sabe, os "bens comuns" podem estar sujeitos à "tragédia da Commons ", uma tragédia que o cientista Garrett Hardin expôs em um artigo que tratava do ambiente e não dos impostos. O que é comum pode ser sobre-explorados por aqueles que têm acesso a eles. Como consequência eles podem perder sua produtividade como pode estar acontecendo com a pesca e com o uso de água doce no mundo. A razão é que o

Os benefícios da exploração são privatizados enquanto os custos tendem a ser coletivos. Quando isso acontece, os "bens comuns" podem perder valor econômico. Este é o perigo que corre a base tributável. Devido ao impacto da globalização, eles gastam seus esforços para distibuir a produção e tomada de empréstimos de acordo com as legislações fiscais dos países. Os países menores (como Lichtenstein, Suíça, Irlanda, Holanda, Panamá, Chipre e alguns outros) são tentados a introduzir regras fiscais nacionais que têm por objetivo atrair para eles Multinacionais, e com elas uma parte da "base tributável mundial". Esta parte teria sido tributada nos países em que as empresas ou os indivíduos tinham efectivamente Base tributável. Além dos países pequenos,os “Paraísos Fiscais”, dos quais há muitos, atraem para eles partes da Base tributável do mundo, quer como rendimentos quer como vendas. O efeito líquido é que parte da matéria colectável é desviado, de áreas onde as taxas de imposto são altas para lugares onde as taxas de imposto são baixas ou mesmo zero. Além disso, os controles tendem a ser mais relaxados nos paraísos fiscais, facilitando a evasão fiscal de muitos contribuintes.

"Planejamento tributário" por contribuintes (empresas e indivíduos) explora (Legalmente, ou menos frequentemente) as oportunidades que são por leis nacionais complexas ou inadequadas. Os perdedores são osPaíses que, devido a estas manobras, perdem receitas fiscais ou enfrentam dificuldades crescentes para continuar a aumentar as receitas que sentem necessidade, para financiar seus gastos públicos.

Os países em que as perdas de receitas são frequentes, são forçados a deslocar a carga fiscal, tentando aumentar a dificuldade de fugir dos impostos. Eles podem também ser obrigados a introduzir impostos ruins, num processo que por vezes é descrito como degradação".

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Um exemplo italiano é o IRAP , este imposto tornou os sistemas fiscais de vários países menos equitativos, menos produtivos e menos eficientes do que poderiam ter sido.

Os problemas descritos nos parágrafos anteriores também obrigaram alguns países a abandonar alguns dos princípios básicos, tradicionais. Princípios que guiaram as políticas tributárias nas últimas décadas. Um importante Exemplo é o princípio de que o rendimento é o rendimento, independentemente da sua fonte, e assim todos os rendimentos, independentemente da fonte, devem ser tratados igualmente e tributados nas mesmas (mas presumivelmente) taxas progressivas.

As últimas décadas têm sido caracterizadas pela progressão do abandono do princípio Haig-Simons. Que exigia a tributação uniforme de todas as formas de rendimento. Há uma tendência de retorno a forma de tributação que existia no passado distante, quando diferentes fontes de renda haviam sido tributadas de forma diferente.

Há muitos anos, e especialmente no século XIX, alguns Os especialistas em finanças públicas recomendaram que diferentes fontes devem ser tratadas de forma diferente. O motivo era que havia diferentes oportunidades de evasão fiscal para diferentes fontes de rendimentos e que isso justificava o tratamento fiscal diferente de algumas dessas fontes. Argumentaram que quanto maior era a oportunidade de evasão dos impostos para algumas fontes de renda, maior deveria ser o imposto sobre os rendimentos dessas fontes, para compensar evasão fiscal. É claro que esta abordagem questionável é susceptível de substituir um problema de equidade vertical por um de equidade horizontal.

Nas últimas décadas e especialmente desde a década de 1970, a recomendação de vários economistas influentes (Lucas, Summers, Outros) foi que quanto mais móvel internacionalmente um rendimento é mais baixo deve ser o imposto sobre o mesmo, a fim de reduzir a incentivo de sair do país e migrar para um país em desenvolvimento. Alguns economistas chegaram a recomendar que rendimentos provenientes de fontes de capital, que são altamente móveis, sejam tributados a taxa zero. O impacto político deste novo pensamento foi que a tributação de dividendos, lucros, rendimentos de juros, mais-valias entre outras fontes de renda de capital caiu significativamente anos. Isso contribuiu para a crescente desigualdade de renda em vários países importantes.

A parte da renda total que vai para o um por cento mais rico da população aumentou drasticamente em muitos países, incentivando os apelos populistas para a solução do problema. Como mencionado, as mudanças na legislação tributária têm papel neste desenvolvimento e também no aumento das dificuldades que os países têm agora de aumentar ou manter níveis de impostos elevados.

Os anos do século XXI não viram quase nenhum aumento no nível de tributação de qualquer país da OCDE, apesar das contínuas pressões por maiores gastos públicos e altos déficits fiscais em muitos países.

Em 2013, na maioria dos países, o nível máximo de participação nos impostos no PIB dos países foi alcançado na década de 1990. Algumas das quedas nas relações tributárias médias podem, obviamente, ter ocorrido devido à redução da demanda por impostos mais altos por parte dos governos, ou pela reavaliação do papel econômico desejável do Estado, como aconteceu na Suécia e no Canadá nos anos 90. Mas essas reavaliações foram geradas pelas crescentes dificuldades encontradas em manter os altos níveis de impostos.

Conforme descrito anteriormente, essas dificuldades foram criadas ou aumentadas pelos efeitos da globalização, das novas tecnologias e das mudanças na estrutura das economias, os

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efeitos que reduziram os impostos, dificultam os governos a manterem altos níveis de impostos.

Quando as empresas que representam as grandes e crescentes economias dos países (Google, Apple e outros), pagam poucos impostos, conforme relatado por revelações recentes, isso deve afetar as tributações que podem ser facilmente recolhidas. Quando a parcela da renda dos trabalhadores por conta de outrem cai, uma vez que diminuiu drasticamente nos últimos anos em vários países, isso também reduz a arrecadação.Os "cupins fiscais" criados pela globalização e pelo desenvolvimento nos últimos anos e em muitos países, estão consumindo as fundações do sistema de impostos modernos.

Este artigo abordou uma área importante do desenvolvimento da economia política moderna: as dificuldades crescentes que muitos países enfrentam para aumentar seus níveis fiscais, ou mesmo para manter seus níveis recentes, para financiar as despesas públicas que os cidadãos dos países se acostumaram.

O desenvolvimento dos governos e das suas relações com os cidadões gerou:

(A) aumento prodressivo da necessidade dos governos de recursos; (B) facilitou, por algum tempo, a cobrança de impostos mais elevados;(C) em décadas mais recentes, por causa da globalização e das constantes mudanças, criaram dificuldades crescentes para que os governos conseguissem aumentar os níveis de imposto. As dificuldades foram aumentando a concorrência fiscal entre os países, que em alguns casos é claramente injusta, e com a crescente evasão fiscal, por parte dos agentes econômicos. Estimativas recentes, ou suposições indicam que a evasão é muito alta e vem crescendo.

Tendo em conta os problemas acima referidos, é necessário alterar algumas das regras que orientam os princípios tributários e a conformidade fiscal e há também a necessidade de mudar a arquitetura que agora orienta as relações econômicas internacionais. Em vários artigos publicados ao longo dos anos, o autor deste propôs a criação de

Uma Organização Mundial de Impostos que orientasse as reformas fiscais dos países levando em conta as suas implicações em países terceiros.

Na ausência de tal instituição, alguns dos problemas relacionados com a concorrência desleal, a evasão fiscal internacional e com a "caça ilegal", as bases fiscais de todos os países pretendem intensificar-se, a menos que sejam vários os acordos entre os países. Mesmo sem a criação de uma Organização Mundial de Impostos.

As reformas coordenadas devem:

(A) facilitar o intercâmbio de informações entre países; (B) exigir relatórios completos de empresas que operam em vários países, a cada uma das administrações fiscais dos países; (C) atribuir os lucros da multinacional entre os países por fórmula; (D) para, assim, definir melhor as bases tributáveis; (E) Utilizar melhor a tributação da fonte;(F) limitar a utilização de incentivos fiscais por parte dos países, pressionado por grupos políticos internacionais relevantes.

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Se este impulso por si só produziria bons resultados continua a ser visto. No entanto, seria melhor para os governos dos países anteciparem um futuro com menor receita tributária e planejar seus papéis sobre esta realidade.

2.3. O Futuro da Regulação local

Nos últimos cinco anos, as empresas de economia de compartilhamento como o Uber, o Zipcar, a Airbnb e a TaskRabbit tiveram boas avaliações por parte do mercado e sofreram com a busca por regulação por parte das empresas concorrentes nas cidades dos Estados Unidos. As empresas de táxi, os hoteis, e outras indústrias, assim como a proteção do consumidor, os trabalhadores e os ativistas de vizinhança, têm pressionado o estado por regulamentações sufocantes, ou, até mesmo, pela proibição de novos participantes da economia de partilha. Empresas de partilha têm lutado usando sua popularidade com os consumidores e pressionando pela liberdade de operar o mais amplamente possível, sem interferência governamental. Mas até agora, tanto os participantes quanto os observadores destas "guerra de partilha" confiaram numa hipótese: se as empresas de compartilhamento ganharem essas lutas, seu futuro será em grande parte livre da regulamentação governamental. Os governos locais tentarão ou tornar tais serviços ilegais ou deixá-los operar sem regulamentação. Mas esta suposição é quase certamente errada. Se as empresas de compartilhamento continuarem lutando pelo direito de operar (e tudo indica que irão), é improvável que as cidades e estados irão ignorá-los. Ao invés disso, os estados devem enxergar as economias de partilha como empresas iniciantes, importantes e permanentes nos setores onde atuam e para tal, os governos devem adotar um tipo de estratégia reguladora mista, levando em conta que as empresas de compartilhamento possuem traços importantes, como o de propriedade aos operadores de taxi incumbentes. Usando as ferramentas de aglomeração e a escolha pública, este artigo esboça o futuro de tais Regimes políticos.

Especificamente, os governos locais e estaduais adotarão as seguintes políticas, além de insistir em proteção do consumidor / incumbentes:

(1) subsidiar as empresas de compartilhamento para incentivar a expansão de serviços que produzem bens públicos, excedente substancial do consumidor e / ou minimize a necessidade de regulamentação do mercado imobiliário;

(2) aproveitar o compartilhamento como instrumento de redistribuição econômica;

(3) a utilização da técnica de compartilhamento para serviços públicos tradicionais.

O futuro é a partilha!

A ascensão das empresas de compartilhamento “Sharing Economy Companies”é uma das principais histórias de negócios da última década. As empresas como Uber, Lyft, BlaBlaCar, Airbnb, Zipcar, Car2go, e TaskRabbit receberam enormes investimentos de empresas de venture capital e de outras fontes.

Essas empresas possuem as características abaixo listadas:

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(1) possuem bens ou serviços que eles alugam a clientes em uma base de curto prazo(2) criam plataformas “peer-to-peer” que ligam fornecedores e utilizadores para fazerem trocas de curto prazo de Bens ou serviços.

Diferentemente de anteriores booms de start-up, as empresas de compartilhamento raramente entram em conflito com grandes empresas de tecnologia ou reguladores federais. Em vez disso, seus maiores problemas vieram da política das cidades e dos estados, pois é neles que a “economia real” é regulada, de maneira local, os concorrentes dos recém-chegados lutam agressivamente contra as novas formas de prestação de serviços. A indústria de táxis alega que a Uber, "Ride sharing", goza de uma vantagem injusta porque não precisa comprar cerificados ou cumprir com a proteção do consumidor e nem com regulamentos de preços. E grupos de bairro argumentam que a Airbnb, a empresa líder de "compartilhamento de casas" não paga impostos, viola termos de locação, usa propriedades em áreas residências para fins comerciais e carece de salvaguardas para hóspedes e operadores. Em algumas épocas e em algumas cidades, o “anti-sharing lobbying” o lobby anti-compartilhamento foi eficaz, levando a regulamentos que têm proibido as empresas de compartilhamento de entrar Inteiramente ou força-los a mudar substancialmente suas práticas. Embora, não tenha sido o caso: as empresas de compartilhamento se acabam incentivando a limitação via regulação da economia de compartilhamento. A discussão destas "guerras de partilha" locais incluiu uma Hipótese: se as empresas de compartilhamento sobrevivem à luta atual, seu futuro será livre de regulação governamental. Neste dizer, as cidades tornarão as empresas de compartilhamento ilegal, ou irão deixá-las sem regulação. Esta suposição, no entanto, é inconsistente com a forma como os governos locais geralmente se comportam. Os setores que as economias de compartilhamento atuam são de estrema importância para a estruturação local, por exemplo, transporte de táxis, habitações, hotéis e restaurantes - há muita política local extensiva. As cidades subsidiam empresas nestas indústrias, elas provavelmente irão regulá-los para atingir os fins da política social, taxá-los e promovê-los para que turistas e visitantes possam contar com esta opção para aproveitar a cidade.

As cidades têm incentivos políticos em promover esse tipo de serviço e os poderes legais para regulamentar estreitamente a atividade nestes setores, com o objetivo de tornar o mercado mais complexo, gerar uma correspondencia eficiente entre preços e taxas e para minimizar os efeitos maléficos.Dado esta nova opção os usuários potenciais apenas estarão dispostos a pagar pelos preços das propriedades se as cidades dão acesso a "ganhos de aglomeração" gerado pela complexidade das formas de oferta dos bens e serviços. Assim, promover eregulamentar tais indústrias é uma parte essencial da política de desenvolvimento urbano.

A economia de partilha não será uma excepção a esta tendência. Em vez disso, as empresas se tornarão mais compartilhadas e assim se estabelecerão permanentemente em setores como o de transporte,a hospitalidade e bens de consumo. Os governos locais irão cada vez maisse utilizar de tais empresas para realizar metas nuançadas de desenvolvimento urbano. Hoje, as cidades expressam seu poder sobre a partilha de empresas, principalmente sob a forma de restrições, proteção dos consumidores (ou, mais cinicamente, a indústria emprotecção).

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Amanhã, entretanto, a interação entre as empresas que impulsionam o desenvolvimento urbano e os poderes legais regentes irão buscar juntos uma opção mais complexa de resultados políticos.

As empresas de partilha, no futuro, irão querer mais dos governos locais do que simplesmente uma falta de proibição, em vez disso, elas vão buscar ativamente benefícios, subsídios e contratos de governos locais e estaduais.

Este artigo oferece três previsões sobre as abordagens que os governos tomarão para a economia de partilha no futuro a médio prazo:

(1) subsidiar o compartilhamento de empresas para que elas entrem ou expandam certos serviços;(2) empresas de partilha de arreios para redistribuição econômica;(3) contratar firmas de compartilhamento como empreiteiras para fornecer serviços municipais.

Este artigo explica as razões políticas para estas previsões e as importantes questões que irão surgir se elas vierem a passar.

A nossa primeira previsão é a subvenção a nível da cidade. Nos próximos anos, os governos passarão cada vez mais da inibição das empresas de compartilhamento para incentivá-las, sendo via subsidio, ou com dinheiro, ou mais provavelmente, com benefícios. Um bom exemplo para ilustrar essa possibilidade real é o subsídio municipal de estádios desportivos profissionais.

Dos muitos argumentos oferecidos para justificar os subsídios aos estádios, os melhores são:(1) gerar bens públicos substanciais sob a forma de orgulho e alegria que as equipes não podem capturar, assim como excedente para fãs fanáticos;(2) sinal de uma cidade está "no mapa", assim impulsionandoIndústrias como o turismo e a redução da "fuga de cérebros" para outrascidades;(3) podem ser catalisadores necessários para superar a oposição política que pode gerar um bloqueio as melhorias urbanas necessárias.

Em muitos aspectos, essas dinâmicas do "estádio" também são aplicáveis às empresas de compartilhamento.

Para o futuro, prevemos que o incentivo à tais praticas ocorrerá especialmente em áreas onde os órgãos reguladores são particularmente recalcitrantes, em cidades que procuram sinalizar o seu "bigness" ( a sua grandeza), em cidades que valorizam ser "tech-savvy" ou "politicamente progressivo”.

Nossa segunda previsão é que os governos locais usarão empresas a fim de redistribuir renda. As localidades freqüentemente querem redistribuição em favor das pessoas de classe baixa que moram nos centros urbanos, as empresas de compartilhamento oferecem uma forma de redistribuição.

Especificamente, essas empresas permitem aos usuários evitar gastos de capital, como quando compartilhar carro empresas como Zipcar ou ridesharingEmpresas como a Uber tornam a posse de automóveis menos necessária. Compartilhamento de empresas também permitem que os vendedores atenuem os custos dos investimentos

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anteriores. Por exemplo, os proprietários de produtos eletrônicos podem compensar seus custos alugando-os no Zilok, enquanto os proprietários podem compensar custos por alugar quartos no Airbnb.

As empresas de compartilhamento também criam oportunidades para empregos de baixa remuneração.

Como fazer trabalhos esporádicos no TaskRabbit. Como tal, os serviços de compartilhamento se mantêm possibilidades para os residentes de baixa renda em busca de acesso barato a oportunidades de trabalho secundário.Hoje, no entanto, os serviços de compartilhamento muitas vezes não estão disponíveis aos moradores. No futuro, as cidades tomarão medidas para mudar isso, regulando as empresas de compartilhamento de forma a dar a conhecer o seu potencial redistributivo. Isso ecoará um padrão urbano-econômico familiar. Para contornar os limites impostos ou para evitar reações populares negativas aos aumentos de impostos os estados têm optado por uma solução já conhecida.

A solução neste sentido tem sido as "extorsões" - políticas que condicionam a aprovação das mudanças à outros fatores, como por exemplo, condicionar a aprovação para operações de empresas de compartilhamento sobre a condição prestar o serviços de táxi de taxa reduzida em áreas pobres ou exigir a contratação de serviços para dar aos grupos desfavorecidos uma vantagem.

Como mostra a história das extorsões, tais políticas podem ser altamente controversos.Em terceiro lugar, prevemos que as cidades contratarão empresas de serviços da cidade, tal como muitos já fizeram substituindo grandes frotas de automóveis com programas internos de partilha de automóveis.

Em particular, as cidades podem usar empresas de compartilhamento para despesas de capital dispendiosas que raramente são utilizadas (pense em pavimentadoras das cidades que raramente pavimentam estradas novas) eles podem gastar apenas com o aluguel, ao invés de arcar com a comprar e sofrer com a desvalorização.

E as cidades também podem servir como economia de "vendedores",Permitindo a utilização de recursos subutilizados como edifícios ou equipamentos sejam alugados.

Informações retiradas do paper: Like Uber, but for Local Government Law: The Future of Local Regulation of the Sharing Economy. Escrito por Daniel E. Rauch ( Yale University - Law School), David Schleicher ( Yale University - Law School).

Link: http://www.law.gmu.edu/assets/files/publications/working_papers/1501.pdf

2.4. Como desenvolver um governo eletrônico

Pesquisas mostram que os governos da América Latina não estão conseguindo satisfazer as expectativas de seus cidadãos no quesito serviços públicos.De acordo com o Latinobarómetro, a confiança da população nas instituições públicas atingiu níveis abaixo de 50% e tem mostrado uma tendência de queda nos últimos anos. Como você

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pode ver na Figura 1.2, a percentagem de pessoas que dizem que confiam que o governo caiu de 44% em 2008 para 34% até 2015.

A confiança da população nos governos é de extrema importância para o desenvolvimento de um governo eletrônico, tanto os consumidores quanto os investidores devem confiar no apoio governamental para que as políticas e regulamentações possam ser implementadas com sucesso.

Gráfico 2.4.1. Evolução da confiança no governos da América Latina, 2008-15

O Banco Interamericano de desenvolvimento (BID) buscou compreender melhor os elementos que influenciam a confiança que as pessoas podem ter nos governos da região. Era possível adicioná-los a respostas e identificar dois grandes grupos de temas que estão mais intimamente ligados a esses fatores:

a) Fatores relacionados ao fornecimento de serviços públicos, o que correspondeu a 71% das respostas e cobertura de tópicos tais como a igualdade de tratamento, o fornecimento de informações adequadas, a qualidade do atendimento e capacidade de resposta do serviço às necessidades do cidadão.

2. fatores relacionados com a integridade, capacidade de gestão e de cumprir promessas, correspondente a um 27% das respostas.

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Gráfico 2.4.2. Fatores determinantes para a confiança nas instituições públicas

O estudo que foi realizado em 31 países em 2013 pela OCDE também confirma a alta correlação entre confiaça nas instituições públicas com qualidade dos serviços prestados.

Capacidade lacunas indicam um longo caminho para a região

Vários indicadores internacionais mostram que os esforços dos governos para melhorar a sua capacidade de proporcionar bons serviços público tem sido ineficazes frente ao desafio do aumento da população, do seu envelhecimento e do fato da população estar demandandomais em termos de quantidade e qualidade desses serviços.

O índice de desenvolvimento do governo eletrônico (2016) das Nações Unidas, que avalia os níveis de desenvolvimento do governo eletrônico de 193 países membros desse corpo, mostra que a América Latina e o Caribe, a pesar de estar ligeiramente acima da média global, está muito abaixo dos níveis alcançados pelos países da OCDE.

Gráfico 2.4.3. Índice de Desenvolvimento dos Governos eletrônicos, por região

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Além da má qualidade dos serviços públicos, a corrupção nas intituições também diminuem as taxas de confiança nas propostas e regulamentaçõs públicas.

Dado que a Tecnologia de informação e comunicação (TIC) é uma peça importante para a transparencia dos governos, o que vemos é que os países com maior transparencia e com instituições autónomas e eficientes tem maior confiabilidade por parte dos cidadãos e, consequentemente, uma maior facilidade para implementar novas soluções que utilizem a tecnología em prol da eficiencia.

Informação retirada da pesquisa: Gobiernos que sirven, Innovaciones que están mejorando la entrega de servicios a los ciudadanosLink: https://publications.iadb.org/handle/11319/7971

2.5. Direito Tributário e mudança tecnológica – Brasil

O interesse de governos em compreender e tributar serviços de Internet está aumentando. Alguns estão empenhados em combater estratégias internacionais de elisão fiscal de empresas multinacionais, outros, em tributar serviços específicos de Internet ou fases da prestação desses serviços que ocorrem em seu território. Essas são questões sensíveis para os negócios das empresas, para governos que querem identificar novas fontes de receita e para o ecossistema da Internet amplamente considerado.

Em diversos países, diligências lideradas por autoridades tributárias, legisladores e outros entes governamentais envolvidos na cobrança de tributos e no cumprimento da legislação fiscal demonstram as suscetibilidades que envolvem o tema. Austrália, França, Irlanda, Hungria, Reino Unido, Estados Unidos, União Europeia, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já empreenderam ou consideraram iniciativas no sentido de:

(i) fechar brechas jurisdicionais que favorecem a elisão fiscal;(ii) impor novos tributos para várias seções e mercados da prestação de serviços de Internet;

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(iii) redistribuir as responsabilidades pelo pagamento e benefícios de recolhimentos dos tributos entre entes de um mesmo Estado nacional e entre nações nos fluxos do comércio internacional.

Devido à natureza global da Internet e a troca de informações entre as autoridades governamentais e entre corporações multinacionais, as medidas internacionais nessa área são tão importantes quanto as nacionais. No Brasil destacam se, em particular:‐(i) as movimentações legislativas acerca da Proposta de Emenda Constitucional no 7/2015, recém aprovada no Senado, que oferece soluções escalonadas para os próximos cinco anos em‐ favor dos estados de destino no recolhimento do diferencial de alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) decorrente de comércio eletrônico;(ii) o Ato Declaratório Interpretativo no 7/2014 da Receita Federal, que concluiu que os valores pagos para contratação de serviços de data centers (armazenamento e processamento de dados) no exterior são considerados remuneração pela prestação de serviços, e que sobre estes incidiriam também o Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF), a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico destinada a financiar o Programa de Estímulo à Interação Universidade Empresa para o Apoio à Inovação (Cide Royalties), a Contribuição para o‐ ‐ PIS/Pasep Importação e a Cofins Importação;‐ ‐(iii) o Projeto de Lei no 6304/2013, da Câmara dos Deputados, que institui um regime especial de tributação para a instalação e manutenção de data centers, com a desoneração do PIS/Pasep, da Cofins, PIS/Pasep Importação, Cofins Importação, IPI, Imposto de Importação,‐ ‐ Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), e contraprestação de investimento mínimo de 2,5% do faturamento bruto em pesquisa e desenvolvimento no País.Essas resoluções têm significados distintos, as duas primeiras são medidas protecionistas, e todas têm impacto sobre a guerra fiscal estadual e internacional.

Entre outras consequências, a PEC garante que o ente federado destinatário do bem ou serviço adquirido online receberá o imposto correspondente ao diferencial de alíquotas interna e interestadual. Essa é uma medida de compensação pela perda de receita em modelos de negócios tradicionais que foram atropelados pela Internet (como livrarias, lojas de calçados, agências de viagem, locadoras de filmes, bancas de jornal, feirinhas locais de bugigangas), um problema antigo cuja tentativa de solução anterior esbarrou na declaração de inconstitucionalidade do Protocolo ICMS 21/2011, do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

O Ato da Receita, por sua vez, ao reconhecer a explosão do volume de dados eletrônicos e a relevância da contratação de data centers para armazená los e tratá los, identifica novas fontes‐ ‐ de receita para o Estado e fomenta, por meios indiretos, uma embrionária política nacional para uma indústria de data centers e computação em nuvem no Brasil. O maior revés dessa medida é que, ao induzir brasileiros a contratem serviços nacionalmente, ignora a natureza transnacional do fluxo de dados na Internet e não estimula que clientes estrangeiros contratem as capacidades de data centers no País.

Finalmente, a terceira iniciativa parece denotar que o caminho mais adequado para induzir o recrudescimento de uma malha nacional de data centers passaria por incisiva redução de barreiras tarifárias. Qualquer que seja a solução para atrair possíveis agentes internacionais,

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ações tributárias apenas não serão suficientes, pois uma política nesse sentido demandará também a expansão da banda larga, um marco regulatório nacional de proteção de dados e uma matriz energética estável e barata.

A Comissão de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (CSTD) das Nações Unidas foi contundente ao observar algumas dessas tendências em escala global. Em um relatório de “Mapeamento das questões de política pública internacional relacionadas à Internet”, de 2014, a CSTD asseverou que o tema de tributação se tornou particularmente relevante a partir da crise financeira de 2008, quando muitos governos identificaram que o volume crescente de atividades econômicas na Internet seria uma fonte imediata para aumentar a receita fiscal. A Comissão destacou também o vácuo de dados e pesquisas sobre essas questões e a falta de organizações internacionais para coordenação de ações e compartilhamento de boas práticas.Em virtude da relativa novidade e a crescente complexidade do tema para a economia da Internet, há em todo o mundo carência de estudos sobre questões tributárias elementares, as medidas mais frequentes adotadas por governos, as estratégias corporativas mais comuns (por exemplo, arranjos de planejamento tributário, como o “treaty shopping”, em que uma empresa de determinado país obtém benefícios decorrentes de tratados de dupla tributação entre países terceiros e que originalmente não lhe alcançariam, ou o “Double Irish with a Dutch Sandwich”, em que uma empresa cria subsidiárias na Irlanda, Holanda e um terceiro paraíso fiscal para elisão fiscal), as boas práticas para governos e empresas, os instrumentos legais pertinentes, os fóruns de discussão adequados e os caminhos possíveis que assegurem a beleza de uma Internet global, com benefícios socioeconômicos para os diversos agentes envolvidos.

Os desafios de tributação na Internet são geralmente associados ao comércio eletrônico, mas a gama de assuntos com repercussão fiscal é muito mais ampla, há impactos na arrecadação de tributos nas regras de neutralidade de rede, nos acordos de trânsito e peering para tráfego de Internet, na transferência internacional de dados pessoais, nos sistemas de pagamento online e bitcoin, nos serviços de streaming de áudio e vídeo, no ecossistema da computação em nuvem, nos modelos de negócio inovadores da economia do compartilhamento (sharing economy). Trata se de tema que merece espaço permanente na‐ agenda global de políticas públicas e governança da Internet.

Um tributo à internet – Cresce interesse de governos de taxar o uso da rede mundial de computadoresLink: http://jota.info/artigos/um-tributo-a-internet-30042015

2.6. Reformas necessárias devido a novos serviços como os de streaming

A estrutura tributária antes da LC 157, publicada em dezembro de 2016 alterou a LC 116/03 relativa ao imposto sobre serviços (ISS) e a Lei 8.129/1992 que dispõe sobre a improbidade administrativa. A nova Lei Complementar adicionou algumas regras que eram necessárias, tais como as que estabelecem a alíquota mínima do ISS, regulando a forma de concessão de benefícios fiscais do ISS e criam sanções à hipótese de descumprimento.

Há, porém, aparente inconstitucionalidade quanto à previsão de tributação de negócios jurídico que não se qualificam como serviços, como é o caso do streaming e do armazenamento

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e hospedagem de dados. Isso nos faz refletir que precisamos de mais do que emendas, precisamos de uma reforma fiscal que englobe as novas formas de prestação de serviços.

De acordo com o novo item 1.09 da lista de serviços anexa à LC 116/03, incidirá ISS sobre a “Disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdo de áudio, vídeo, imagem e texto por meio da internet, respeitada a imunidade de livros, jornais e periódicos (...)”.

A partir dessa previsão pretende-se tributar o determinado streaming, que nada mais é do que a disponibilização de sons e/ou vídeos diretamente pela internet, “sem a necessidade de efetuar downloads do que está se vendo e/ou ouvindo, pois neste método a máquina recebe as informações ao mesmo tempo em que as repassa ao usuário”. O fluxo de mídia é atividade que vem crescendo em função da revolução digital experimentada, como o Netflix, Spotify, Youtube, dentre outros.

O objetivo do streaming é a disponibilização temporária de conteúdo de áudio/vídeo por meio da internet acessada por smartphones, tablets, tv’s inteligentes, computadores e outros dispositivos com acesso à internet.

Contudo, o artigo 159, III, da Constituição Federal não permite a tributação de cessão de direitos. Apenas possibilita que os municípios tributem “serviços de qualquer natureza, não compreendidos no artigo 155, II, definidos em lei complementar”, os quais pressupõe uma obrigação de fazer, segundo o entendimento majoritário da doutrina.

Nesse sentido, a previsão contida no artigo 156, III, da Constituição Federal, analisada em conjunto com o artigo 155, II, da Constituição Federal, revela uma repartição clara de competências tributárias: aos Estados caberá tributar, em regra, as obrigações de dar (operações de circulação de mercadorias) e, excepcionalmente, três obrigações de fazer: prestação de serviços de comunicação e de transporte interestadual e intermunicipal. As demais obrigações de fazer ficarão, também em regra, sob a competência impositiva e exclusiva dos Municípios, o que justifica a expressão “não compreendidos no artigo 155, II”.

É claro que há situações em que a prestação de serviço é acompanhada do fornecimento de mercadorias e vice-versa. Para essas atividades mistas ou complexas, o artigo 156, III, da Constituição Federal contempla a expressão “definidos em lei complementar”, o que significa que o legislador complementar estabelecerá se referidas atividades estarão sob a competência dos Estados ou dos Municípios, de sorte a evitar conflitos entre as diversas unidades da federação (artigo 146, I, da CF/88).

O streaming não aparenta ser uma obrigação de fazer, isso porque não corresponde a nenhum esforço humano e pessoal praticado em proveito de terceiro, que tenha por objetivo executar, criar, ou elaborar algo até então inexistente. O conteúdo já existe e é apenas disponibilizado ao usuário, sem necessidade de qualquer esforço humano, o conteúdo já está perfeito e acabado em sua base de dados. Se o streaming não é uma obrigação de fazer, não cabe tributá-lo pelo ISS, sob a pena de subverter o conceito de serviço pressuposto constitucionalmente para os fins dos artigos 156, III da CF/88.

O Referido negócio jurídico também não revela serviço de comunicação, já que não disponibiliza meios que possibilitam transmissão de mensagens entre um emissor e um receptor por si sós. Segundo o artigo 60 da Lei 9.472/97 (Lei Geral de Telecomunicações – LGT), o serviço de telecomunicações caracteriza-se pelo “conjunto de atividades que possibilita a oferta de telecomunicação”. A oferta de comunicação por intermédio de um conjunto de atividades (serviço) não se confunde com o conteúdo comunicado. No caso do streaming, a utilidade comumente negociada entre as empresas e os consumidores é o conteúdo

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comunicado (filmes, vídeos, séries, músicas, novelas, etc) que é acessado em tempo real desde que haja acesso a um serviço de comunicação (já tributado pelo ICMS) que disponibilize internet. Por essas razões, não havendo serviço de comunicação, o streaming igualmente não pode ser tributado pelo ICMS (artigo 155, II, da CF).

Do mesmo modo, não há como incidir ISS sobre “armazenamento ou hospedagem de dados, textos, imagens, vídeos, páginas eletrônicas, aplicativos e sistemas de informação, entre outros formatos, e congêneres”, segundo o disposto pela recente atualização do item 1.03 da lista de serviços pela LC 157/16.

É que essas atividades caracterizam-se pela disponibilização de espaço virtual para a guarda de bens (dados ou websites, este último denominado de web hosting). Desse modo, parecem caracterizar obrigações de dar espaço virtual, semelhantemente ao que ocorre com os armazéns gerais, em que se contrata a guarda de determinados objetos em espaços físicos. A distinção ocorre aparentemente quanto ao tipo de espaço contratado e bem guardado, se físico ou virtual. Portanto, não parece haver serviço na acepção do que o termo representa para o direito privado (obrigação de fazer), mas algo similar à locação que não atrai a incidência do imposto municipal, segundo o STF.

Referidos negócios jurídicos poderiam, ainda, ser considerados “serviços” de valor adicionado (SVA), os quais não se confundem com serviços de comunicação. Segundo o artigo 61 da LGT, “serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de telecomunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação ou recuperação de informações”. O serviço de conexão à internet (SCI) é um exemplo de SVA.

Nada obstante, é curioso notar que as utilidades em análise, além da necessária utilização de um serviço de comunicação (já tributado pelo ICMS), também já demandam o uso de um SVA (internet). Tratar-se-ia, portanto, de um SVA suportado por outro SVA que, finalmente, é possibilitado por um serviço de comunicação. Em outras palavras, o que dá suporte ao Spotify, por exemplo, não é apenas a operadora de telefonia (comunicação), mas também a internet (SVA) por ela disponibilizada. Daí porque referidas utilidades incluídas na LC 116/03 pela LC 157/16 não parecem confundir-se com o serviço de valor adicionado mencionado pela LGT e muito menos com o serviço de telecomunicação que lhe serve de suporte.

Ainda que assim não fosse, o fato de a lei denominar os referidos negócios de “serviço” ou incluí-los na lista anexa à LC 116/03, não teria o condão de modificar a natureza jurídica das prestações à luz da Constituição. Assim, enquanto o conceito de serviço pressuposto constitucionalmente for aquele compartilhado pelo direito privado — em contraposição a um conceito econômico — não se pode conceber a tributação dos negócios jurídicos mencionados.

Surge certa perplexidade quando se verifica que o serviço de comunicação, sujeito ao ICMS, aparentemente não mais traduz típica obrigação de fazer. No surgimento da telefonia havia a necessidade de um fazer humano na central telefônica. A conexão entre os usuários era realizada manualmente por um telefonista. Isso ficou no passado, de modo que a revolução digital praticamente expurgou o fazer humano da atividade de comunicação. Por isso, surge a dúvida:

Será que a Constituição admite um conceito de serviço para o ICMS distinto daquele previsto para o ISS? Para um imposto serviria a prestação de uma utilidade, enquanto para outro seria necessário um fazer humano que criasse algo até então inexistente?

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A ausência de uma doutrina clara do Supremo a respeito do assunto contribui para a manutenção desse estado de incerteza.

De fato, na década de 1980 o STF encampou o “conceito econômico” de serviço, ao validar a incidência de ISS sobre a locação de guindastes. Nos anos 2000, ao analisar novamente a incidência do ISS sobre locação de bens móveis, o STF adotou o conceito civilista de serviços. Em 2009, analisando a expressão “de qualquer natureza” constante do artigo 156, III, da CF, o STF novamente pareceu abandonar o conceito civilista de serviço ao autorizar a incidência do ISS sobre o leasing financeiro. Para tanto, assentou que o leasing seria atividade complexa em que prevaleceria o financiamento, que seria serviço. Afastou, assim, a preponderância da locação (obrigação de fazer) ou da compra e venda (obrigação de dar) do referido contrato. Apesar disso, houve certa dicotomia entre os votos. Enquanto alguns Ministros assentaram que serviço não mais se confundiria com obrigação de fazer, outros se esforçaram para demonstrar que a administração do financiamento seria uma obrigação de fazer, ou seja, engajaram-se numa construção que não modificasse o conceito civilista. Posteriormente, em 2010, o Tribunal aprovou a Súmula Vinculante 31, reiterando o seu entendimento de que “é inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza sobre operações de locações de bens móveis”.

Ora, tivesse havido uma “mutação constitucional” acerca do conceito de serviço pressuposto pelo art. 156, III, da CF, o STF possivelmente não teria editado a Súmula Vinculante (que encampa o conceito civilista), mas sim retornado à interpretação que já havia sido atribuída ao termo na década de 1980.

A ampliação da lista de serviços anexa à LC 116/03 para alcançar manifestações de disponibilidade patrimonial que não se confundem com prestação de serviço também revela que a atual repartição constitucional de competências tributárias possibilita a ausência de sujeição de determinadas utilidades ao ISS e ICMS, simultaneamente. Para alcançar esses fatos restaria a competência residual atribuída à União pelo artigo 154 da Constituição, mas dificilmente os prefeitos e governadores permitiriam que uma proposição desse jaez fosse aprovada no Congresso Nacional.

Em suma, o cinquentenário sistema tributário nacional parece não comportar a dinâmica dos fatos sociais e da revolução tecnológica que insiste em criar novos negócios até então inimagináveis, a demandar a realização de uma profunda reforma tributária.

Essa necessidade de reestruturação da matriz tributária brasileira também se justifica em função da iniquidade do atual sistema tributário. Calcado na tributação sobre o consumo e no excesso de contribuições que suprem apenas os cofres da União, o sistema é caracterizado por regressividade, má-distribuição da carga, baixo retorno social, baixo estímulo a investimentos, entre outros vícios, segundo os “Indicadores de Equidade do Sistema Tributário Nacional”.

Proposta de Reforma Fiscal:

Seria de todo conveniente que o Congresso Nacional desse seguimento à reforma tributária para que ISS, ICMS, IPI e outros tributos que gravam o consumo (PIS e COFINS) pudessem ser unificados sob a forma de um IVA Nacional, não-cumulativo, incidente sobre todo e qualquer processo de agregação econômica de valor. Relembre-se que, ao contrário do que ocorre no Brasil, o IVA-serviço europeu não é sinônimo de uma prestação de fazer humana

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(atividade) associada a uma utilidade, mas à própria utilidade decorrente de uma atividade que venha a agregar valor no processo econômico.

A criação de um IVA Nacional desse jaez, cuja receita fosse partilhada entre todos os entes da federação, contribuiria para alcançar, por intermédio da tributação, todos os fatos econômicos relevantes para a sociedade contemporânea, aumentando a eficiência da arrecadação. Ademais, eliminaria vários problemas atualmente verificados na matriz tributária, tais como as supracitadas restrições relacionadas aos critérios materiais de incidência do ISS e ICMS, a cumulatividade do ISS, a não-cumulatividade precária do PIS/COFINS, a guerra fiscal de ISS e ICMS, o excessivo esforço fiscal para o cumprimento de obrigações tributárias, o excesso de tributos sobre a mesma base, dentre outras.

Matéria: Novas tecnologias e a necessidade de reforma Tributária, escrita por Daniel Corrêa Szelbracikowski, Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários.Link:http://www.conjur.com.br/2017-jan-20/daniel-correa-novas-tecnologias-exigem-reforma-tributaria

2.7. Nova Medidas relacionada à guerra fiscal de ISS

Em dezembro de 2016 foi publicada a Lei Complementar (LC) 157 que alterou a LC 116/03 relativamente ao imposto sobre serviços (ISS) e a Lei 8.129/1992 que dispõe sobre a improbidade administrativa.

Como já comentamos na sessão 1.3 acerca da aparente inconstitucionalidade da tributação de negócios jurídicos que não se qualificam como serviços, como é o caso do streaming (item 1.09 da lista de serviços) e do armazenamento e hospedagem de dados (item 1.03). Frisamos que a atual repartição constitucional de competências tributárias combinada com a revolução tecnológica experimentada pela sociedade possibilita a ausência de sujeição de determinadas utilidades ao ISS e ICMS, simultaneamente. Isso revelaria a necessidade de reforma do cinquentenário sistema tributário para substituir o ISS, ICMS, IPI, PIS e Cofins, tributos que gravam o consumo, por um IVA Nacional, não-cumulativo. Isso facilitaria a cobrança de tributo sobre todo e qualquer processo de agregação econômica de valor.

A par dessa questão, a recente LC 157/16 introduziu normas relacionadas à denominada “guerra fiscal” de ISS que serão objeto deste exame.

A guerra fiscal caracteriza-se pela competição generalizada entre os entes subnacionais pelos investimentos privados tendo como contrapartida a concessão de incentivos ou benefícios tributários. Essa disputa tem impacto sobre a livre concorrência e a receita pública, que tende a um ponto de equilíbrio “no fundo do poço” (racetothebottom). Dentre outras possíveis causas, a guerra fiscal é reflexo da falta de cooperação no federalismo brasileiro, resultante da ausência de uma política de desenvolvimento nacional.

Para evitar a guerra fiscal relacionada ao ISS (entre municípios), a LC 157/16 procurou regular o disposto nos incisos I e III do §3º do art. 156 da Constituição Federal. Referidos artigos impõem à Lei Complementar o estabelecimento das alíquotas mínimas e máximas do imposto, bem como a forma e as condições para a concessão de incentivos fiscais.

Até agora a LC 116/03 era omissa quanto à alíquota mínima e à forma de concessão dos incentivos fiscais de ISS. A questão vinha sendo tratada temporariamente pelo artigo 88 do

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ADCT, o qual estabelece alíquota mínima de 2% para o ISS e veda a concessão de incentivos que resultem, direta ou indiretamente, na redução da referida alíquota.

Nesse ponto, a LC 157/2016 praticamente repetiu o que já estava posto no ADCT. Acresceu à LC 116/03 o artigo 8-A para estabelecer, em seu caput, a mesma alíquota mínima já prevista no ADCT (2%). No parágrafo primeiro do mesmo dispositivo vedou definitivamente a possibilidade de concessão de incentivos fiscais de ISS, seja qual for a sua forma de atuação sobre a “regra-matriz de incidência tributária”. Em regra, qualquer incentivo que atue sobre a alíquota, a base de cálculo ou mediante a concessão de créditos será considerado ilegal.

Em relação à fixação da alíquota mínima, poder-se-ia sustentar ter havido afronta à autonomia municipal (artigo 18 da CF). No entanto, a ponderação entre os princípios da autonomia municipal e do pacto federativo sugere a prevalência do segundo (artigos 1º e 60, § 4º, I da CF). A fixação de alíquota mínima é essencial para evitar a concorrência fratricida entre os municípios. Garante, portanto, a harmonia do pacto federativo. Esse sopesamento já havia sido realizado pelo constituinte derivado quando, por intermédio da EC 37/02, introduziu a norma do artigo 88, I, do ADCT. Sem esse piso o caminho estaria aberto para os municípios fixarem alíquotas reduzidíssimas do imposto com o consequente recrudescimento da guerra fiscal.

Quanto à forma de concessão de incentivos fiscais, a LC 157/16 parece não ter suprido a exigência do artigo 156, §3º, III da CF. Isso porque a Constituição não veda definitivamente a concessão de incentivos de ISS. Ao contrário, a Carta Maior reza que caberá à lei complementar “regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados”. O verbo “serão” denota que o Constituinte não pretendia vedar todo e qualquer incentivo fiscal, mas admitia que esses pudessem ser concedidos após a lei complementar estabelecer “a forma” e “as condições” para tanto. No mesmo sentido é a previsão para a “revogação” de incentivos que pressupõe logicamente sua prévia concessão. A necessidade de regulação por lei complementar gerou apenas uma proibição temporária para a concessão de incentivos, nos termos do artigo 88, II do ADCT, enquanto não satisfeita a referida condição legislativa.

Ao deixar de regular a forma e as condições pelas quais os incentivos fiscais poderiam ser concedidos e simplesmente vedar a sua concessão, a lei complementar parece ter descumprido sua finalidade à luz do artigo 156, §3º, III da CF.

Destaca-se, ainda, a previsão da LC 157/16 de que será nula a lei ou o ato do município ou do Distrito Federal que desrespeitar as referidas vedações “no caso de serviço prestado a tomador ou intermediário localizado em município diverso daquele onde está localizado o prestador do serviço”, possibilitando ao “prestador do serviço, perante o município ou o Distrito Federal que não respeitar as disposições deste artigo, o direito à restituição do valor efetivamente pago do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza calculado sob a égide da lei nula” (artigo 8º-A, §§ 2º e 3º). Além dessa sanção direcionada à pessoa jurídica de direito público (município), a lei complementar acresceu o artigo 10-A à Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992), segundo o qual o agente público que conceder (ato comissivo) ou mantiver (ato omissivo) benefício fiscal contrário às diretrizes constantes do artigo 8-A da LC 116/03 responderá por ato de improbidade administrativa, perderá a função pública, terá seus direitos políticos suspensos de 5 a 8 anos e pagará multa de até três vezes o valor do benefício.

Essas três regras têm o condão de contribuir para a prevenção da guerra fiscal de ISS. Isso porque penalizam o agente público que mantiver ou conceder incentivos fiscais e o próprio

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município na hipótese em que o serviço é prestado a tomador localizado em município diverso. Em suma, se o município reduz ilegalmente a alíquota mínima para serviço prestado

exclusivamente em seu território — ou seja, causa um prejuízo apenas para si — a sanção ficará circunscrita ao agente público. Se o serviço for prestado a tomador ou intermediário localizado em outro município — ou seja, o prejuízo extrapola os seus limites territoriais para atingir municípios vizinhos — haverá sanção também aos cofres do município incentivador que restituirá integralmente o tributo pago pelo contribuinte, sem prejuízo da aplicação da pena de improbidade ao agente público. Registre-se que o projeto original em trâmite no Senado previa a inclusão de um 4º parágrafo ao artigo 3º da LC 116/03 em que expressamente se transferia a competência do imposto para o município do domicílio do tomador (ou intermediário) do serviço na hipótese de concessão de incentivo fiscal de ISS. Essa norma foi vetada pela Presidência da República, sob o plausível fundamento de que seriam criados problemas operacionais para as empresas em função da modificação do sujeito ativo da relação jurídica tributária depois da realização do fato gerador. Apesar do veto presidencial em relação ao §4º, permaneceram hígidas as normas dos §§2º e 3º do artigo 8-A da LC 116/03. Estas, conforme visto, induzem os municípios a não concederem incentivos que afetem a concorrência intermunicipal, sob pena de ainda serem obrigados a restituir o tributo incentivado.

O mecanismo criado tende a ser mais eficaz para acabar com a guerra fiscal do que o estabelecido no artigo 8º, II da LC 24/75 para os incentivos fiscais de ICMS. No caso do ICMS, o Estado que concede incentivo fiscal ilícito deve cobrar a diferença de imposto do contribuinte.

Ou seja, relativamente ao ICMS, o Estado que age inconstitucionalmente é obrigado pela lei a aproveitar-se de sua própria torpeza mediante a cobrança do diferencial de imposto. No caso do ISS isso aparentemente não ocorrerá. O município incentivador perderá o que arrecadou com o benefício na hipótese de o tomador do serviço localizar-se em Município diverso.

Além de consubstanciarem um “incentivo negativo” aos entes subnacionais para a realização da guerra fiscal, as novas disposições legais revelam um “diálogo institucional” entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal que, em 2016, fixou a tese de que “é inconstitucional lei municipal que veicule exclusão de valores da base de cálculo do ISSQN fora das hipóteses previstas em lei complementar nacional” no julgamento da ADPF 190.

Em suma, a LC 157/2016 parece ter descumprido sua finalidade ao deixar de regular o artigo 156, §3º, III da CF relativamente à forma e às condições para a concessão de incentivos fiscais de ISS, simplesmente vedando-os. Por outro lado, andou bem ao estabelecer sanções para a concessão de incentivos fiscais ilícitos de ISS. Ao prever a responsabilização do agente público e impor sanção patrimonial ao município, a lei desestimula a realização da guerra fiscal entre os municípios.

Matéria na íntegra: Novas medidas relacionadas à guerra fiscal de ISS, escrita por Daniel Corrêa Szelbracikowski, Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários.

Link:http://www.conjur.com.br/2017-jan-26/daniel-correa-novas-medidas-relacionadas-guerra-fiscal-iss

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2.8. Questões adicionais relevantes para o processo de reforma

Quais impostos incidem sobre serviços como o Netflix?

Muitos acreditam que, como o pagamento da assinatura é feito em cartão de crédito, sem a emissão de fatura ou nota fiscal, a Netflix não recolheria PIS, Cofins, ISS, ICMS e Condecine (taxa sobre o registro de títulos), impostos pagos pelas empresas de TV. Isso lhe daria uma economia de R$ 378 milhões em um ano e reduziria o custo operacional em 50%.

Executivos da Netflix admitem, sob sigilo, que a empresa só não paga ICMS e Condecine (que varia de R$ 1.822 por episódio de série estrangeira a R$ 7.291 por filme). Mesmo assim, a vantagem é grande. Sem o imposto sobre circulação de mercadorias e a contribuição para o desenvolvimento do cinema, a Netflix economizaria por volta de R$ 200 milhões no último ano.O setor de TV por assinatura reclama isonomia para competir com a Netflix e outros serviços de OTT (over-the-top). Defende que a Netflix tenha a mesma carga tributária e as mesmas obrigações burocráticas que programadoras e operadoras. Quer a desregulamentação e a desoneração da TV por assinatura, já que é difícil enquadrar um serviço, como a Netflix, que é operado globalmente, servido na "nuvem" da internet, um território relativamente livre.

O presidente Michel Temer sancionou no dia 30/12/2016 o projeto de lei complementar que estende a cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS) a setores que ainda não eram tributados, como os serviços que vendem conteúdo por streaming. O imposto, que será de no mínimo 2%, afetará principalmente empresas como Netflix, Spotify e Google. De última hora, o texto publicado no Diário Oficial da União também adicionou o imposto para lojas de aplicativos e empresas de desenvolvimento de software, um trecho que havia sido removido quando o projeto começou a tramitar no Senado. Isso significa que seus aplicativos no Google Play, App Store ou Loja do Windows também devem encarecer em 2017. Diz a lista de serviços sujeitos ao ISS:

“1.03 – Processamento, armazenamento ou hospedagem de dados, textos, imagens, vídeos, páginas eletrônicas, aplicativos e sistemas de informação, entre outros formatos, e congêneres.

1.04 – Elaboração de programas de computadores, inclusive de jogos eletrônicos, independentemente da arquitetura construtiva da máquina em que o programa será executado, incluindo tablets, smartphones e congêneres.”

A medida foi tomada para evitar a guerra fiscal do ISS. Como cada município possui uma alíquota diferente, as empresas costumam fazer o registro somente na cidade com ISS mais baixo, mesmo atuando em outros locais. Pela lei, a alíquota mínima será de 2% em todos os municípios, proibindo qualquer isenção. O prefeito que não respeitar a regra poderá perder o mandato e seus direitos políticos por até oito anos.

A lei deve entrar em vigor dia 30/3/2017Porém segundo Evandro Grili, advogado e sócio do escritório Brasil Salomão e Matthes

Advocacia, é possível que a cobrança do ISS sobre as plataformas de streaming seja inconstitucional. No entendimento do advogado, as atividades realizadas pelas empresas de streaming não poderiam ser consideradas serviços, mas sim como cessão de uso – e, portanto, não poderiam ser alvo da tributação

A Ancine (Agência Nacional do Cinema), contudo, prevê lançar no início de 2017 uma consulta pública com as diretrizes para uma eventual regulamentação do serviço de video on

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demand, o que afetará a Netflix. Essa regulamentação terá de passar pelo Congresso Nacional _ou seja, pode levar anos.

O fato da Lei Complementar acima citada ser considerada inconstitucional reforça a ideia de que é preciso mais do que Leis Complementares, é preciso uma Reforma Tributária.Sobre a questão da reforma tributária, a crítica é justamente poder incidir PIS/COFINS (dependendo do regime do IR, no regime não-cumulativo) e também ISS e/ou ICMS (dependendo, ainda, do conceito de serviço adotado).

O ideal era substituir esses tributos por um único tributo não-cumulativo que captasse efetivamente os processos econômicos de agregação de valor. Além do IVA, deveria incidir apenas o imposto de renda, que já é reflexo da receita.

Nos países em que o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) foi implementado, este alcança os serviços de streaming?

Na Europa, desde 2015, o IVA (VAT) já alcança o streaming e outros chamados “serviços digitais”. Esse IVA é retido pelo fornecedor do serviço digital. O local da incidência, para fins de determinação do sujeito ativo do tributo, será determinado pela localização do consumidor final da utilidade.

Como o pagamento é feito em dólares, há incidência de IOF-Câmbio, teria como diferenciar a alíquota do IOF para taxar serviços de streaming?

Quanto ao IOF, essa tributação das compras em dólares decorre apenas da operação de câmbio que é realizada automaticamente pela operadora do cartão. Incide, assim, o IOF-Câmbio, modalidade de operação financeira (lembrando que o IOF é, na realidade, 4 impostos distintos: IOCrédito; IOCâmbio; IOSeguros e IOTítulos-Valores mobiliários).

Como o IOF-Câmbio só incide em função da operação de câmbio (compra/venda da mercadoria “moeda”) e não em função do tipo de mercadoria ou serviço comprado com a moeda, não me parece que se possa mudar a alíquota do IOF para fazer esse tipo de diferenciação. Isso modificaria o fato gerador do IOF-Câmbio.

Quanto ao imposto de importação, a questão é que esse tributo incide sobre a “importação de produtos estrangeiros” (Art. 153, I, da CF). “Produto” é considerado um “bem móvel e corpóreo” (RE 79951; RE 203075 e RE 215125) e “estrangeiro” significa que foi produzido pela ação humana ou natureza em outro país. No caso das utilidades digitais é bastante difícil definir onde elas são produzidas (na nuvem? na localização do servidor?). Além disso, seguramente não se caracterizam como bens móveis e corpóreos. Ou seja, para incidir II nessas hipóteses, precisaria mudar o objeto da importação na norma constitucional atributiva de competência tributária à União. Atualmente, a importação de serviços é da competência dos Municípios (especificamente daquele onde se encontra o importador), de acordo com o art. 1º, §1º da LC 116/03.

Informações retiradas dos links abaixo e das explicações do advogado Daniel Corrêa Szelbracikowski, Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários às questões levantadas pelo José Roberto Afonso.

Links: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8426.htm

https://tecnoblog.net/205453/temer-lei-imposto-netflix-spotify-apps/

http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/mercado/netflix-dobra-tamanho-em-um-ano-e-ja-fatura-mais-do-que-o-sbtb--13507

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https://www.tecmundo.com.br/streaming/113710-esperanca-lei-taxa-servicos-netflix-inconstitucional.htm

https://www.gov.uk/government/publications/vat-supplying-digital-services-to-private-consumers/vat-businesses-supplying-digital-services-to-private-consumers

https://ec.europa.eu/taxation_customs/sites/taxation/files/resources/documents/taxation/vat/how_vat_works/telecom/explanatory_notes_2015_en.pdf

https://www.gov.uk/government/publications/vat-supplying-digital-services-to-private-consumers/vat-businesses-supplying-digital-services-to-private-consumers

2.9. Imposto de renda negativo

Nesta entrevista Erik Brynjolfsson, diretor do Centro de Negócios Digitais do MIT, demonstra preocupação com os novos marcos regulatórios para os negócios, deixa claro que devemos pensar na reinvenção que será necessária na educação para esse mundo em que profissões serão dizimadas pelas máquinas, e encontrar soluções para a desigualdade, que tende a acentuar. Nesse último quesito, Brynjolfsson defende um “imposto de renda negativo”. Quem ganha acima do mínimo a partir do qual se tem de recolher imposto paga. Quem ganha abaixo poderia receber um complemento até atingir esse mesmo patamar mínimo.

Informação retirada da entrevista: Um turbilhão vem por aí, feita com Erik Brynjolfsson, diretor do Centro de Negócios Digitais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).Link: http://www.joserobertoafonso.com.br/nova-economia-brynjolfsson/

2.10. Renda Básica Universal

Em 2013, pesquisadores do MIT identificaram um fenômeno chamado de “great decoupling” em português seria “grande desacoplamento”, onde a diferença está aumentando entre ganhos de produtividade e geração de novos empregos. Em outras palavras, o crescimento da produção econômica pode não necessariamente exigir mais esforço humano, se essa tendência se manter.Assim como reconhecemos intelectualmente que o mundo de amanhã terá muito menos emprego, ou pelo menos muito menos do que definimos como emprego agora, uma retórica da criação de empregos continua a dominar o nosso discurso político. Este problema pode levar uma década ou duas - ou cinco - para chegar, mas, sem dúvida, em algum momento esse problema será realidade e enterrar a cabeça na areia não é solução. Concentrar-se nas habilidades necessárias para competir por empregos ainda não inventados é apenas parte do quebra-cabeça. À medida que o fosso aumenta entre crescimento populacional e automação, e entre a criação de empregos e as necessidades de nosso futuro motorizado, temos que começar a fazer sérios ajustes para manter a coesão social.

E se a automatização contínua do trabalho, seja pesquisa legal, diagnósticos médicos ou redação de artigos de jornal, gerar ganhos de produtividade que possam ser distribuídos entre a população sem a necessidade de que todos contribuam de maneira tradicional (ou seja,

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mantendo um emprego)? Se tal futuro fosse imaginado, exigiria uma grande mudança de paradigma no modo como nossa sociedade está organizada, como definimos contribuição, onde encontramos satisfação e como extraímos significado de nossas atividades diárias.Uma questão que é debatida vigorosamente é como uma pessoa poderia sustentar-se quando não se espera que eles estejam trabalhando. A renda básica incondicional ou "dividendo digital" é um conceito que está ganhando ímpeto e algumas jurisdições têm brincado com a ideia ou já estão experimentando. "O debate político precisa engajar o tema tabu de garantir a segurança econômica às famílias - através de uma renda básica universal", escreve David Ignatius para o Washington Post.

Esta nova proposta de política é muitas vezes contrastada com o bem-estar e os argumentos são feitos a favor ou contra. O problema com o discurso é que ele está enquadrado nos termos da situação de hoje, onde as políticas são projetadas para desencorajar free-riding de alguns sobre os esforços dos outros. O que devemos considerar é uma situação em que todos os seres humanos são livres de equitação sobre os esforços das máquinas. Estes últimos não criam demanda e isso cria um sério dilema para o nosso sistema econômico. Mais de um século atrás, Henry Ford antecipou este debate quando postulou que: "Não é o empregador que paga os salários. Empregadores só lidar com o dinheiro, é o cliente que paga os salários. "

Por mais radical que pareça a ideia de renda básica universal, ela é, em termos estritos, uma solução técnica simples para um problema social amplamente compreendido. Será muito mais difícil imaginar e instituir um novo sistema de valores onde o desemprego não seja estigmatizado. Adotar normas em uma sociedade, onde a contribuição de alguém já não é definida pela produção econômica, é um desafio de uma escala e complexidade diferentes. Para enfrentá-lo, antes que as tensões sociais acabem, precisamos de muita coragem, muito pensamento criativo e muita experimentação política.

Informação retirada da matéria: The jobless world and its discontents, publicada pelo World Economic ForumLink: https://www.weforum.org/agenda/2017/01/jobless-world-and-its-discontents/

2.11. Robô-tax e Proteção de alguns setores

O risco é que a IA só continuará a polarizar as nossas sociedades - entre os que têm e os que nunca terão - se não gerirmos os seus efeitos. Não é difícil imaginar uma hierarquia social futura que coloque alguns patrões acima das máquinas e uma nova subclasse maciça da plebe. Enquanto isso, à medida que os postos de trabalho vão, as receitas também serão tributadas; E é improvável que as empresas que lucram com a IA voluntariamente intervir para apoiar programas adequados de bem-estar social para seus ex-funcionários.

Em vez disso, teremos que fazer alguma coisa para fazer com que as empresas paguem mais, talvez com um "robo-tax" nas aplicações de AI. Devemos também considerar a legislação e regulamentos para manter certos empregos "humanos". Na verdade, essas medidas são o motivo para os trens sem motoristas ainda serem raros, apesar de ser mais gerenciável do que táxis ou ônibus sem motorista.

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Informação retirada da matéria publicada pela Project Syndicates: Charting Our AI Future, escrita Luciano Floridi, Professor de Ética e Filosofia da informação da Universidade de Oxford of Philosophy and Ethics of Information at the University of Oxford, e professor do Instituto Alan Turing.Link: https://www.project-syndicate.org/commentary/human-implications-of-artificial-intelligence-by-luciano-floridi-2017-01

2.12. Garantia de Rendimento Mínimo (MGI) e Programas Sociais “Inteligentes”

Há algumas opções de políticas a serem adotadas com o objetivo de redistribuir a riqueza a fim de amenizar os custos humanos e sociais do desemprego tecnológico generalizado. As opções propostas no paper são Garantia de Rendimento Mínimo e Programas Sociais “Inteligente”.

Garantida rendimento mínimo (MGI): uma proposta de política comum para o problema do desemprego tecnológico é que o governo garantir um rendimento mínimo para cada cidadão. Enquanto esta proposta pretende abordar alguns dos problemas humanitários associados com desemprego crônico, é também o caso que o governo-conferidos benefícios sem exigir o trabalho daqueles que são capazes compromete a ética de trabalho, atenua os laços sociais, cria uma subclasse alienado e gera ressentimento entre aqueles que têm de pagar (supondo que os empregados estão sendo tributados para auxiliar de subvenção). Esta é a lição que aprendi com programas de bem-estar anteriores. Claro, esses impactos seriam um pouco atenuados pelo governo não ter que pagar por alguns drenos existentes sobre o erário público, tais como subsídios de desemprego, vale-alimentação e da segurança social que poderia ser substituída por um MGI. No entanto, um MGI provavelmente teria um efeito corrosivo sobre o tecido social, não contribuiria para solucionar a necessidade para que as pessoas têm um propósito significativo para suas vidas e provavelmente seria politicamente inviável nesta época de governo cortes e à contenção. Ocorrerá um referendo nacional na Suíça com uma proposta de uma renda nacional garantida, este será um caso interessante para testar a viabilidade política da MGI – se não for aprovada nesse país, é pouco provável que seja adotada em países como os EUA, que historicamente e culturalmente têm um papel menor para o envolvimento do governo.

Programas Sociais “Inteligente”: os impactos humanos do desemprego de longa duração são reais e trágicos e de uma perspectiva humanitária não podem ser ignorados se estamos entrando em uma era de crescente desemprego tecnológico. Uma das lições dolorosas aprendidas na metade do século passado que os programas sociais nos ensinaram, foi que simplesmente fornecer a indivíduos desfavorecidos um cheque mensal, geralmente não ajuda as pessoas a caminhar com as suas próprias pernas e tornarem-se autossustentáveis. Pelo contrário, tais folhetos tendem a criar ciclos de dependência, letargia e falta de auto estima e respeito externo. Enquanto no ponto de vista ético e racional tal redistribuição pode gerar um suporte para garantir um padrão mínimo de vida, esse apoio deve ser estruturado para incluir disposições de formação e incentivos. Por exemplo, Martin Ford sugeriu um sistema com base no rendimento fornecido pelo governo que é alimentado pelos impostos sobre as empresas (que não terá de pagar os salários, benefícios, férias e assim por diante) e bens de consumo e

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serviços (Ford 2009). O modelo envolve "incentivos" que, se cumprida, teria um efeito positivo sobre a renda: quanto maior for a resposta para os incentivos, quanto maior o indivíduo receberá. Tais incentivos podem incluir a participação na gestão ambiental, continuando a educação, cuidados infantis, arte, música, trabalho voluntário e outras atividades louváveis. Proposta da Ford sem dúvida elimina os efeitos negativos muitas vezes de ter "mãos ociosas," baixa autoestima associada à perda de emprego, estigma social e improdutividade.

Informação retirada do paper: Tecnologia, desemprego e opções políticas: Navegando a transição para o mundo melhor, escrito por Gary E. Marchant, Yvonne A. Stevens e James M. Hannessy, estudo produzido pelo Institute for Ethics and Emerging TechnologiesLink: http://jetpress.org/v24/marchant.htm

2.13. Fim do anonimato público

As novas tecnologias de inteligência artificial têm trazido muitos avanços, e junto deste chegaram preocupações éticas e regulatórias que estão, no curto prazo, sendo negligenciadas. Os sistemas de reconhecimento facial baseados na aprendizagem profunda poderiam tornar os sistemas de vigilância muito mais poderosos, por exemplo. O FaceNet do Google pode determinar com 99,6% de exatidão se duas imagens mostram a mesma pessoa (a pontuação de seres humanos em torno de 98%). DeepFace do Facebook é quase tão bom. Quando a gigante da rede social lançou recentemente um aplicativo chamado Moments, que automaticamente reúne fotos da mesma pessoa, teve de desativar alguns de seus recursos de reconhecimento facial na Europa para evitar violar as leis de privacidade irlandesas.

Na Rússia, entretanto, tem havido um clamor recente sobre um aplicativo chamado FindFace, que permite aos usuários tirar fotos de estranhos e depois determinar sua identidade a partir de imagens de perfil em redes sociais. Os criadores do aplicativo dizem que é apenas uma maneira de fazer contato com pessoas na rua ou em um bar. Logicamente, a polícia russa começou a usá-lo para identificar suspeitos e testemunhas. O risco é claro: o fim do anonimato público. Imagens de uma grande multidão, tomada a centenas de metros de distância, podem ser analisadas para descobrir quem foi em uma marcha ou protesto, mesmo anos mais tarde. Com efeito, a aprendizagem profunda tornou impossível assistir a uma reunião pública sem deixar um registro, a menos que você esteja preparado para usar uma máscara. Essa opição parece distante, mas no Japão ela já é realidade, lá uma empresa acaba de começar a vender o Privacy Visor, um conjunto engraçado de óculos projetado para frustrar os sistemas de reconhecimento facial.

O aprendizado profundo, com sua capacidade de detectar padrões e encontrar grupos de exemplos semelhantes, tem um potencial óbvio para combater o crime, mas também permiti que os governos autoritários espionem seus cidadãos. As autoridades chinesas estão analisando os perfis de mídia social para avaliar quem poderia ser um dissidente, diz Patrick Lin, especialista em ética da AI na Stanford Law School. Na América, enquanto isso, a polícia de Fresno, na Califórnia, está testando um sistema chamado "Beware" que funciona como um suspeito perigoso, com base em uma análise de arquivos policiais, registros de propriedade e posts de mídia social. Outro sistema, chamado COMPAS, fornece orientação ao sentenciar criminosos, prevendo a probabilidade de reincidência. Esses sistemas, que certamente serão

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alimentados por um aprendizado profundo logo que não sejam, desafiam "noções básicas sobre o devido processo", diz Lin.

Possíveis utilizações governamentais:

1) Multas – para carros que infrijam as regras de trasito, para pedestres que poluam as ruas, quanto para pessoas sujando as ruas as multas poderão ser enviadas para a pessoa física, sem precisar do uso de placas, ou da abordagem de um guarda municipal. Basta cameras de reconhecimento facial e uma base de dados com as informações dos habitantes.

2) Investigações – essa tecnológia é muito útil para reconhecimento de suspeitos e testemunhas e poderá causar uma facilitação nas investigações similar ao descobrimento do reconhecimento de DNA.

Informação retirada da revista The Economist, Frankenstein’s paperclipsLink: http://www.economist.com/news/special-report/21700762-techies-do-not-believe-artificial-intelligence-will-run-out-control-there-are

2.14. Veículos sem motoristas

Esses veículos levantam outras questões éticas, também, especialmente quando se trata de como eles devem se comportar em situações de emergência. Por exemplo, um carro auto-dirigindo pode correr o risco de ferir seus ocupantes para evitar bater em uma criança que surgiu na frente dele? Essas questões não são mais teóricas. Questões como quem é responsável em um acidente, quanto de testes são necessários e como definir padrões precisam ser discutidos agora, diz Hassabis.

Podemos abordar a questão de um ângulo diferente, sugerindo que os pesquisadores da AI têm um imperativo moral de construir carros auto-dirigidos o mais rápido possível para salvar vidas: a maioria das 3.000 pessoas que morrem em acidentes de carro todos os dias são vítimas de erro humano. Mas mesmo se os carros auto-dirigidos são muito mais seguros, diz Daniel Susskind, economista da Universidade de Oxford, as atitudes terão de mudar. As pessoas parecem tolerar mortes na estrada causadas por seres humanos, mas manter as máquinas a padrões muito mais elevados. "Comparamos máquinas à perfeição, não aos seres humanos fazendo as mesmas tarefas", diz ele.

Informação retirada da revista The Economist, Frankenstein’s paperclipsLink: http://www.economist.com/news/special-report/21700762-techies-do-not-believe-artificial-intelligence-will-run-out-control-there-are

2.15. Robô que detecta quando os deputados utilizam mal o dinheiro público

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Robô criado por um grupo de oito jovens para monitorar gastos públicos conseguiu descobrir, em apenas três meses, mais de 3.500 casos suspeitos envolvendo o uso da cota parlamentar por deputados federais desde 2011. Apelidada de Rosie, a ferramenta faz uma varredura nas milhares de notas fiscais emitidas pelos parlamentares para identificar se os gastos foram legítimos, ilegais ou superfaturados.

Após a varredura de Rosie, 849 casos foram auditados pelo grupo e destes, 629 foram denunciados à Câmara dos Deputados pelos jovens no próprio site do Legislativo no início do ano. As denúncias questionam, no total, cerca de 378.000 reais pagos com dinheiro público por 216 deputados.

O projeto realizado pelo grupo recebeu o nome de Operação Serenata de Amor, em referência a um escândalo ocorrido nos anos 90 na Suécia, conhecido como “Caso Toblerone”, em que a então vice-ministra sueca perdeu o cargo por ter usado dinheiro público com gastos pessoais. O projeto já rendeu frutos e alguns deputados já tiveram que devolver o dinheiro usado indevidamente.

Matéria retirada do jornal: El País, Rosie, a robô que detecta quando deputados usam mal o dinheiro públicoLink: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/23/politica/1485199109_260961.html

2.16. Privacidade dos cidadãos

Um estudo pesquisou quais são as informações que são coletadas quando pedimos a nota fiscal com o nosso CPF, são programas foram criados para estimular que consumidores exijam a nota na hora da compra, reduzindo a sonegação. Para isso, devolvem parte do ICMS.Em tese seria necessário apenas o CPF e o valor da compra. Mas um estudo feito pelo professor Jorge Machado e o pesquisador Bruno Bioni, ambos da USP, revelou que os dados que são coletados vão muito além dos necessários.

Eles coletam, por exemplo, a identificação dos itens adquiridos, quantidade, marca, local da compra, nome do estabelecimento dia e hora em que a compra foi feita.

Não há aviso à população de porque esses dados são extraídos e retidos, são informações que podem ser utilizados de diversas formas, segundo a Receita Federal, esses dados podem ser acessados por “usuários autorizados”, a resposta da receita federal nos faz pensar que um mero processo administrativo permitirá o livre acesso à tais informações, sem necessitar o consentimento do usuário ou uma autorizacao judicial.

A boa notícia é que esse problema é fácil de ser resolvido. Os Estados precisam adotar uma política de privacidade completa e rígida, passando a lidar com seriedade com o tema.

Informação retirada da matéria do Jornal: Folha de São Paulo, Estados desprezam privacidade de contribuintes.Link: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/2017/01/1846243-estados-desprezam-privacidade-de-contribuintes.shtml

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2.17. A arrecadação de impostos também será afetada indiretamente

A quarta revolução industrial não causará disruptura apenas nos modelos de negócios, mas também no mercado de trabalho. A expectativa é que, até 2020, 7,1 milhões de empregos desapareçam no mundo em decorrência de redundância, automação ou desintermediação. Por outro lado, cerca de 2,1 milhões de vagas serão criadas, principalmente em áreas relacionadas à computação, matemática, arquitetura e engenharia.

A média salarial provavelmente aumentará no longo prazo, devido ao aumento de postos de trabalho que exigem alta qualificação e a redução de cargos de baixa qualificação. Já a arrecadação será certamente afetada pelo desemprego estrutural causado pela revolução. Os postos que acabarão, diferentemente do que aconteceu em outras revoluções, inclui muitos postos de trabalho de alta remuneração. As máquinas não substituirão apenas a mão de obra braçal, ela também colocará em risco com empregos que exigem capacidade cognitiva lógica.

Assim enfrentaremos muitos problemas até nos reestruturarmos como sociedade. Os postos de trabalho serão todos repensados, as máquinas irão nos substituir em grande parte dos nossos afazeres repetitivos e teremos que repensar nossos objetivos coletivos, não apenas no âmbito financeiro, como no psicológico.

Oferecer dinheiro aos que não se adequaram ao novo mercado de trabalho parece racional, mas pode gerar muitos problemas psíquicos. A falta de objetivo claro podia funcionar para os índios, mas é pouco aplicável em uma sociedade moderna. Além de gerar uma insatisfação generalizada, os que não trabalham e recebem podem se sentir um peso para a sociedade e os que trabalham e os sustentam podem se sentir explorados e ter menos incentivo a trabalhar.

Além de adequar a educação a esse novo mercado de trabalho, que será oneroso para o Estado, ainda precisamos encarar o fato de que não há emprego para toda a população global e que se continuarmos avaliando o valor de uma pessoa para a sociedade através do seu trabalho, muitas delas não terão mais valor algum.

É preciso pensar em como essa economia encontrará um equilíbrio e o que será valorizado nessa nova sociedade.

Resumo de diversos textos que citam o fim dos empregosLinks: http://www.valor.com.br/empresas/4790181/mundo-perdera-milhoes-de-empregos-ate-2020https://www.weforum.org/agenda/2017/01/jobless-world-and-its-discontents/http://www.joserobertoafonso.com.br/nova-economia-brynjolfsson/

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