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Internet das coisas 23/12/2016 Definição de jogo Por Carmen Nery | Para o Valor, de São Paulo Maximiliano Martinhão, do MCTIC: "Queremos ser ainda mais relevantes em IoT, e não apenas como consumidores" O primeiro desafio do estudo que vai nortear o Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) é definir a aspiração do Brasil em relação a essa tecnologia: continuar como consumidor avançado, mas apenas seguidor dos líderes; ou transformar-se em um jogador da linha de frente, aproveitando que IoT é um tema novo e as posições ainda estão consolidadas. Na primeira fase do estudo - denominada "Diagnóstico e Aspiração", a ser concluída em fevereiro -, será feito um benchmark do cenário internacional (como outros países estão tratando o tema do ponto de vista da política pública) e do nacional (principais iniciativas em curso). Também será levantado o cronograma de evolução tecnológica da IoT para os próximos anos em nível global. 1

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Internet das coisas 23/12/2016

Definição de jogoPor Carmen Nery | Para o Valor, de São Paulo

Maximiliano Martinhão, do MCTIC: "Queremos ser ainda mais relevantes em IoT, e não apenas como consumidores"

O primeiro desafio do estudo que vai nortear o Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) é definir a aspiração do Brasil em relação a essa tecnologia: continuar como consumidor avançado, mas apenas seguidor dos líderes; ou transformar-se em um jogador da linha de frente, aproveitando que IoT é um tema novo e as posições ainda estão consolidadas.

Na primeira fase do estudo - denominada "Diagnóstico e Aspiração", a ser concluída em fevereiro -, será feito um benchmark do cenário internacional (como outros países estão tratando o tema do ponto de vista da política pública) e do nacional (principais iniciativas em curso). Também será levantado o cronograma de evolução tecnológica da IoT para os próximos anos em nível global.

Paralelamente ao estudo, foi aberta consulta pública (www.participa.br/cpiot) para o encaminhamento de contribuições até 16 de janeiro de 2017. Com isso, o governo pretende apresentar a primeira minuta do Plano Nacional de IoT durante o Mobile World Congress, em fevereiro de 2017, em Barcelona.

O plano brasileiro caminha em linha com outras iniciativas globais, como a Alliance for the Internet of Things Innovation, lançada pela Comissão Europeia e por fornecedores de IoT, em março de 2015; e o IoT UK, programa criado para acelerar a capacidade de implementação de IoT do Reino Unido, como parte de um investimento de 32 milhões

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de libras do governo britânico até 2018. Mas vale ressaltar que a China lançou seu plano de IoT ainda em 2010.

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O estudo está a cargo do consórcio formado pela consultoria McKinsey & Company, pela Fundação CPqD e pelo escritório Pereira Neto|Macedo Advogados, selecionado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio de chamada pública, lançada em março.

A chamada recebeu 29 propostas de empresas e consórcios que se candidataram a apoio financeiro não reembolsável para a realização de estudos técnicos independentes de diagnóstico e proposição de políticas públicas para a internet das coisas. O consórcio receberá R$ 17 milhões para elaborar o estudo em três fases, com conclusão em agosto de 2017. A partir de setembro, vai atuar na divulgação e apoio à implementação.

A McKinsey define internet das coisas como sensores conectados por sistemas de computação. Esses sistemas podem monitorar ou gerenciar ações de objetos conectados e máquinas. Sensores conectados também podem monitorar o mundo natural, pessoas e animais. A IoT permite automatizar processos com mais eficiência em vários setores e atividades.

Maximiliano Martinhão, secretário de política de informática do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), afirma que, em toda a cadeia de IoT - sensores, equipamentos terminais, conectividade, aplicativos, serviços -, não existe ainda nenhum país, fabricante ou tecnologia dominante. Ele cita dados da McKinsey de que o impacto da IoT na economia deve atingir US$ 11,1 trilhões até 2025, e que, por ser uma tecnologia pervasiva, vai afetar todos os setores.

"O mercado para IoT será muito grande. O Brasil já é relevante em TIC, estando entre os seis maiores mercados de telecomunicações com quatro operadoras nacionais, 270 milhões de celulares, 230 milhões de acessos banda larga e 120 milhões de usuários de internet. Mas queremos ser ainda mais relevantes em IoT, e não apenas como consumidores", sinaliza Martinhão. Ele diz que o objetivo de se desenvolver um plano de internet das coisas é colocar o país como um player importante, ocupando uma boa parcela desse mercado.

"O espaço que vamos ocupar será definido pela nossa capacidade de articular a oferta tecnológica de produtos, serviços e aplicações, e também do desenvolvimento tecnológico. Não existe ainda um vencedor, está tudo por ser construído. Nossa expectativa é alcançar um mercado de R$ 160 bilhões", projeta Martinhão.

Embora a China já tenha desenvolvido um plano de IoT há pelo menos seis anos, o secretário não considera que o Brasil esteja atrasado. Para ele, o momento é propício para o país, que vem evoluindo tecnologicamente, e o exemplo é a implementação da telefonia móvel. O 3G entrou no Brasil seis anos após o resto do mundo. O 4G foi implantado quase simultaneamente. "No 5G, estamos participando do desenvolvimento dos padrões", diz.

O objetivo do Plano Nacional de IoT não é desenvolver apenas o setor de TIC, reforça Martinhão, mas tornar o país competitivo em todos os setores: agricultura, logística, manufatura avançada, transporte, cidades inteligentes, saúde e educação, e diversos outros que serão impactados por essa tecnologia. Alguns serão escolhidos como prioritários.

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O secretário aposta nas verticais de agricultura, manufatura avançada e cidades inteligentes- na qual ele inclui transportes e iluminação pública. Mas, Irecê Fraga, chefe do departamento de Tecnologia da Informação e Comunicações do BNDES, explica que, na segunda fase do estudo, de março a abril, serão analisadas 19 verticais, das quais até cinco serão selecionadas para serem dinamizadas.

"Em maio, na terceira fase, vamos desenhar o plano de ação para as verticais escolhidas. Vamos avaliar se haverá proposta de crédito e se serão necessárias regulação, ações de política pública de fomento, criação de hubs de desenvolvimento de tecnologia e formação de RH", elenca Irecê. Em relação aos recursos, levando-se em conta que foram alocados R$ 17 milhões apenas para o desenvolvimento do estudo, não haverá falta de apoio financeiro, assegura a chefe de departamento.

"Para promover algo que será tão pervasivo na economia, pode-se ter certeza de que o BNDES vai mobilizar os recursos que forem necessários", diz. "Uma coisa que já identificamos é que 50% das soluções de IoT não virão dos players que já estão no mercado, e sim de pequenas startups. De alguma forma, teremos de direcionar recursos para o fomento ao nascimento de empresas relacionadas a IoT, como por meio de um fundo de private equity. Como um banco de desenvolvimento, nossa aposta é de que haja desenvolvimento tecnológico", sinaliza Irecê.

Vinícius Garcia de Oliveira, líder de tecnologia do estudo de IoT do CPqD, diz que, de maneira geral, o estudo fará um diagnóstico da demanda e da oferta atual e futura de IoT. Do lado da oferta, serão analisadas as competências já criadas ou que podem ser desenvolvidas no país em TICs. Do lado da demanda, serão levantados os desafios que o Brasil precisa resolver.

"A ideia é fazer uma análise para identificar as demandas e quais as oportunidades de ofertas em sensores, conectividade, processamento de dados. O Brasil ainda é um seguidor no mundo de TIC. Tem competência, mas precisa evoluir em inovação se quiser assumir a dianteira", diz Oliveira.

Outro desafio são os aspectos regulatórios. Ronaldo Lemos, sócio do escritório Pereira Neto Macedo, diz que o Plano Nacional de IoT tem potencial para ser tão importante quanto o Marco Civil da Internet, de cuja elaboração também participou. Ele observa que IoT toca em questões como coleta, tratamento e agregação de dados; privacidade; regulação de telecomunicações; infraestrutura; certificação de equipamentos e segurança.

"O objetivo é criar um ambiente de inovação propício para IoT, que seja amparado pela infraestrutura regulatória. Há três projetos de lei no Congresso tratando do tema de proteção de dados pessoais que têm impacto em IoT. Esses dois esforços têm de convergir, e o processo de discussão precisa ser aberto e colaborativo", propõe Lemos.

Conjunto de regras deve ser bem orquestrado

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Por Carmen Nery | Do Rio

Os fornecedores de tecnologia têm se engajado ativamente na construção do Plano Nacional de Internet das Coisas. Segundo Sergio Paulo Gallindo, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a entidade foi uma das idealizadoras do projeto e trabalhou nele com o então presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, desde outubro de 2014, ajudando a fazer o termo de referência para a contratação do estudo.

"Nos setores em que o país tem competência, deve trabalhar para atrair cadeias globais. Naqueles em que não tem, deve adotar a tecnologia existente. Estamos no começo dessa onda e ainda dá tempo para o Brasil aspirar uma posição de destaque. Poderemos conquistar um mercado de US$ 350 bilhões em 2025", diz Gallindo.

Gustavo Rabelo, vice-presidente de setor público da Oracle Brasil, alerta para o risco de o plano se limitar ao sensoriamento das coisas e negligenciar o lado do conteúdo e análise. É preciso também conectar o plano ao Marco Civil da Internet, ao Plano Nacional de Dados Abertos e às recomendações do Tribunal de Contas da União acerca do uso de computação na nuvem. "Esse conjunto de regras tem de ser orquestrado", diz Rabelo.

Giuseppe Marrara, diretor de relações governamentais da Cisco, reforça que IoT caminha junto com big data e analytics, em que a unidade básica é o dado. Nesse sentido, o plano vai ter de se harmonizar com a legislação de privacidade dos dados. Para ele, é fundamental também analisar o que se quer com o plano. "A ideia é desenvolver a indústria nacional? Aumentar a eficiência do Estado por causa da PEC do Teto? Ou transformar o Brasil num centro de desenvolvimento de tecnologia para ser um player relevante na área?

A Cisco criou no Rio o primeiro centro de P&D em IoT do grupo e acredita que o Brasil tem potencial para ser um dos líderes na área, se adotar padrões interoperáveis", diz Marrara.

Para Maurício Ruiz, diretor geral da Intel, temos uma iniciativa de longo prazo de uma tecnologia estratégica com potencial de resolver os problemas de competitividade do país. "A Intel fornece componentes para toda a cadeia, desde o wearable (roupas conectadas) até o data center", diz Ruiz.

Entre as verticais que poderão ser escolhidas como prioritárias, está a de manufatura avançada. Há pelo menos três anos, a Embratel oferece aplicações de carros conectados para as montadoras GM, Volvo e Mercedes. Segundo Elisabete Couto, diretora de negócios cloud e IoT da operadora, são chips que permitem soluções de telemetria e envio de informações do carro para que a montadora ofereça serviços de suporte técnico e de concierge ao usuário como ser acompanhado por uma central em lugares remotos.

"A próxima geração poderá trazer soluções de entretenimento, como wi-fi, para que, quando o carro for autodirigível, a pessoa possa trabalhar dentro do carro. A experiência do usuário será mais amigável", prevê Elisabete.

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Líder em M2M (chips que viabilizam comunicação máquina a máquina), a Vivo oferece os chips associados a soluções verticais e de big data. Viviane Soares, responsável pela área de empresas da operadora, destaca as soluções de frotas inteligentes como carro conectado com localização segura e telemetria para controle de condução e performance do motor; manufatura avançada como controle remoto de máquinas e monitoramento de máquinas complexas em indústrias de base.

Em cidades inteligentes, a Vivo desenvolveu com a Huawei um case em Águas de São Pedro, com automação de estacionamento, iluminação e semáforos. Kleber Faccipieri, gerente sênior de estratégia de marketing, diz que a estratégia da Huawei para IoT é prover uma plataforma que inclui sistema operacional, conectividade em redes fixas e móveis e plataforma de gerenciamento.

Oren Pinsky, diretor de novos negócios da Qualcomm para América Latina, informa que além de sensores, a empresa tem ampliado seu portfólio também de conectividade por meio de aquisições como as da Atheros (wi-fi), CSR (blueTooth) e NXP (automotivo). Para ele, o plano é uma oportunidade para o país dar saltos tecnológicos. "Em verticais em que a adoção da tecnologia é baixa, pode-se ir para a tecnologia mais avançada sem ter passado pela anterior", observa.

A Qualcomm vem desenvolvendo no laboratório da Embrapa, em São Carlos, softwares para drones que permitem transformar fotos aéreas em inteligência agropecuária. Agronegócio é outra das verticais com potencial para ser escolhida no plano de IoT. A SAP também mantém, em São Leopoldo (RS), um Centro de P&D de onde partem as soluções globais para a área de agronegócios.

"A SAP vê o Brasil como um dos líderes em digital farm e tem cases como o da Stara, fabricante de tratores que usa inteligência da IoT para informar ao agricultor o que e onde ele deve plantar baseado em informações de sensores dos equipamentos", diz Orlando Cintra, vice-presidente da SAP para inovação e plataformas digitais.

A IBM mantém a sede das soluções de IoT em Munique (Alemanha), mas criou cinco centros de P&D para IoT, um deles em São Paulo. de acordo com Carlos Tunes, responsável por soluções cognitivas (aprendizagem de máquina) para a América Latina, o centro brasileiro vem suportando projetos do Brasil, América Latina e Europa.

Operadoras buscam parcerias para oferecer os novos serviçosPor Ana Luiza Mahlmeister | Para o Valor, de São Paulo

Um dos desafios para a implantação de soluções de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) é a cobertura das redes necessária para a conexão entre sensores e pessoas. As operadoras de telecomunicações surgem como candidatas naturais nesse mercado buscando acelerar a oferta de novos serviços por meio de parcerias.

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O potencial de novas aplicações é imenso com projetos, laboratórios e provas de conceito surgindo em todo o país. Um deles é a "Cidade Conectada", anunciada pela Algar Telecom, uma vitrine de diversas soluções baseadas em IoT, em um bairro planejado de Uberlândia (MG). "Para conhecer e ganhar experiência nesse mercado articulamos diversas parcerias com empresas e universidades", explica o presidente da Algar Telecom, Jean Borges.

Entre os projetos expostos está o Easybus, criado com a Universidade Federal de Uberlândia. Trata-se de um sistema embarcado nos ônibus que verifica a lotação e o fluxo de passageiros nos veículos públicos, por meio de tecnologias de análise de vídeo. O City Totem, em parceria com Nokia e o Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife (CESAR), é um totem fixo que permite chamada de atendimento ao cidadão, publicidade dinâmica e estática, além de vitrine virtual de produtos.

Com a PromonLogicalis a Algar desenvolveu bueiros inteligentes composto por um eco filtro que monitora os resíduos, cruza a informação do volume já existente e pode antecipar a possibilidade de alagamento de determinadas regiões. A mesma tecnologia será utilizada nas lixeiras do bairro.

O cruzamento de informações geradas pelos usuários foi a base da iniciativa de IoT da TIM durante as Olimpíadas no Rio de Janeiro. Os telões do Centro de Operações da cidade acompanharam o deslocamento dos assinantes. A cada meia hora a operadora enviou informações relativas à quantidade de usuários e sua movimentação pela cidade,

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cruzando essas informações com ocorrências no local, o que permitiu deslocar equipes de segurança quando necessário.

Outra iniciativa da TIM é um projeto desenvolvido com a Embrapa e a Qualcomm no monitoramento de informações enviadas por drones em fazendas para obter dados sobre colheitas e adubação. A operadora também está testando um dispositivo para controle de animais domésticos. "Vamos anunciar diversos serviços fruto de projetos desenvolvidos nos últimos dois anos", afirma Luis Minoru Shibata, diretor de estratégia e inovação da TIM. A operadora está firmando parcerias com polos de inovação paras projetos de análises de dados, a exemplo da iniciativa com a Prefeitura do Rio.

Já a Embratel aposta no carro conectado e em soluções de transportes. A empresa tem clientes como a Ford e Volvo para serviços de gestão de frotas que permitem 15% a 30% de economia de combustível a partir de informações obtidas dos sensores nos veículos. O sistema acompanha o percurso de rotas perigosas, desvios ou paradas inesperadas, permitindo à central enviar mensagens e assistência técnica. "A IoT traz às indústrias tradicionais novos serviços que vão além da conexão entre máquinas a partir do armazenamento e análise de informações", afirma Elisabete Couto, diretora de negócios cloud e IoT da Embratel. Por terem infraestrutura em escala nacional, a operadora presta serviços de vendas, cobrança, atendimento, instalação e reparos.

Para testar novas soluções, a O i e a Nokia inauguraram em outubro, no Rio de Janeiro, um laboratório para o desenvolvimento de projetos que receberá propostas de parceiros a partir de 2017. Segundo Nuno Cadima, diretor de estratégia e novos negócios da Oi, a ideia é atuar em mercados como cidades inteligentes, casa inteligente, agronegócios e soluções B2B.

O laboratório vai testar protocolos de comunicação "machine-to-machine" tais como o Narrowband-IoT (NB-IoT) e evolved Machine Type of Communication (eMTC) também conhecido como LTE-M, ainda não disponíveis nas redes comerciais. "O laboratório tem a missão de acelerar o desenvolvimento de projetos que possam ganhar escala e demonstrem viabilidade técnica", afirma Cadima. A Oi também tem um serviço de automação para o varejo, o Oi Smart, que por meio de câmeras, alarmes, sensores de movimento e biometria permite o controle de diversos ambientes de forma remota no desktop ou em celulares. O Oi Smart foi lançado em caráter experimental, inicialmente restrito a clientes pré-selecionados no Rio de Janeiro.

Sensoriamento leva mais eficiência à gestão da frotaPor Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo

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J osé Rogério de Souza, da Comfrio: soma de informações de diversas fontes

O monitoramento da frota com base em internet das coisas (IoT) está permitindo à Pif Paf Alimentos informar a clientes do e-commerce da marca o momento da entrega com cerca de uma hora de antecedência com base em solução que integra sensores dos caminhões, geolocalização e sistema comercial SAP a envio da informação por WhatsApp, SMS ou e-mail. Com processamento superior a 20 mil toneladas ao mês, a empresa atende 90% de seus 60 mil clientes em 24 horas com frota de 400 veículos. "Cerca de 70% empregam equipamentos fornecidos pela Sascar para sensoriamento", diz o gerente corporativo de tecnologia da informação Augusto Carelli.

A mineradora Kinross, responsável por 25% da produção de ouro brasileira com base em Paracatu (MG), também usa IoT para maior produtividade na movimentação de materiais. Sensores em veículos, nos ambientes das minas e em barragens controlam a circulação de materiais e funcionários com apoio de rede multipadrão (mesh). O projeto teve início com informações geradas por sensores nos veículos - hoje são cerca de 150 em cada um -, como peso, velocidade, situação dos freios, colisões e condições do motorista em tempo real. Depois de enriquecer o planejamento, uma segunda etapa, com uso de GPS de alta precisão, automatizou o envio de instruções para os motoristas.

Hoje, com mais de 800 sensores externos (beacons), a integração de sistemas de planejamento, disparo eletrônico, telemetria e outros maximizou a eficiência da frota, substituiu processos manuais como despachos feitos por rádio e rendeu eficiência até em detalhes como consumo de combustível e manutenção. "Caso um veículo esteja ficando sem combustível durante carregamento ou descarregamento, pode ser reabastecido na própria fila", exemplifica o CIO Eduardo Magalhães.

Os exemplos ilustram o potencial da IoT no segmento logístico. Segundo a IDC, o monitoramento de frotas ficou no topo do uso corporativo de IoT no Brasil em 2016, com perto de US$ 875 milhões. Às informações geradas por sensores de veículos também se juntam aquelas fornecidas por dispositivos que vão desde os celulares dos motoristas até câmeras de vídeo, para gerar soluções que agregam mais produtividade ao segmento.

Aplicativos como TruckPad e Cargo X, destinados a facilitar a contratação de caminhoneiros autônomos, estão entre as novidades surgidas nos últimos anos com base no geoposicionamento do celular dos motoristas. A Cargo X, com 250 mil veículos cadastrados e 6 mil usuários ativos por dia, vai usar parte dos R$ 49 milhões recentemente captados junto ao Goldman Sachs para reunir uma equipe de cientistas de dados e juntar informações sobre a malha rodoviária brasileira geradas para apoiar a chegada de veículos autônomos e semi-autônomos ao país no futuro. Para o CEO

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Frederico Veiga, eles devem ser testados em cinco anos. "Seguradoras podem ser atraídas por kits para automatização dos veículos", antecipa.

A Comfrio, operadora logística especializada na cadeia de frios para as áreas de alimentos e agronegócios, emprega plataforma da PerforMaxxi para integrar dados de softwares de roteirização, ERP e rastreamento. A aplicação MobileMaxxi instalada em celulares dos motoristas suporta a entrega assistida e o recálculo dinâmico das rotas. "A tecnologia soma informações dos sensores de temperatura e umidade do veículo, geolocalização por GPS e informações transmitidas por motoristas e clientes", diz o diretor de operações José Rogério de Souza.

A JSL usa a comunicação entre as coisas para ganhar produtividade em áreas como distribuição de frios e abastecimento de combustível. Criou solução que monitora sensores do caminhão e fornece ao motorista aplicativo com cerca eletrônica georreferenciada no endereço do cliente - antes de sair ele tem de enviar foto do comprovante de entrega. Também adotou solução da israelense Orpak para controlar os caminhões nos postos de abastecimento, com liberação da bomba para cadastrados identificados por sinal de rádio (RFID). "Além de inibir fraudes, o sistema reduz o custo do controle", detalha o diretor executivo de operações Adriano Thiele.

A IoT é empregada até na Movida, locadora de veículo de passeio do grupo. Além de carros com mais tecnologia embarcada, a empresa adotou sensoriamento por amostragem para inibir roubos, recuperar veículos e ganhar mais assertividade no planejamento de distribuição de frotas, por exemplo. No segmento de gestão de frotas para terceiros, começa a disseminar o uso de telemetria e geolocalização para apoiar controle operacional das equipes. "O portal BtoB permite visualizar toda a frota online", diz o CEO Renato Franklin.

IoT reduz custos e facilita processos logísticos na indústriaPor Martha Funke | De São Paulo

A indústria é um dos setores que está extraindo grandes resultados em processos logísticos com o emprego da internet das coisas. Com 200 mil entregas por ano de gases industriais, boa parte deles para uso crítico na área da saúde, a White Martins economizou 620 mil quilômetros em viagens e registra falhas em apenas 13 casos este ano. Na Gerdau, o desenvolvimento de um aplicativo para agendamento de filas substituiu o processo manual e dobrou a produtividade dos 14 mil veículos que atendem as 19 unidades da companhia no país. "Temos total visibilidade do que ocorre", diz a diretora de suprimentos e TI Claudia Eiunti.

O processo da White Martins começou a ser desenhado há cerca de oito anos. Hoje o entendimento da demanda do cliente, a programação das entregas e os cuidados de segurança durante as viagens são automatizados com suporte de sensoriamento remoto por internet. A empresa responde pelo gerenciamento do estoque de 90% dos seus 5 mil

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clientes em todo o país, dos quais 1,8 mil são controlados por telemetria com reporte a cada hora para o centro nacional de logística da companhia.

As informações embasam a previsão de entrega e o planejamento das viagens. Os 650 veículos da frota são monitorados em tempo real por sensores que indicam abertura de porta ou presença de carona, aceleração e frenagem, aceleração lateral, abertura do compartimento de descarga e desvio na rota, entre outros dados.

Cerca de 250 veículos contam ainda com quatro câmeras, na frente e na traseira do veículo, no compartimento de descarga e uma voltada ao motorista que transmitem imagens on-line de forma aleatória para acompanhamento de segurança e obrigatoriamente dos 15 segundos antes e depois de um evento de segurança, como uma frenagem brusca.

Os sistemas de monitoramento são fornecidos pela Seva, que a cada ano instala as câmeras em mais de uma centena de carros. "Podemos entender se foi uma falha do motorista ou condição da rodovia, por exemplo, para garantir a segurança e atuar em treinamento se necessário", detalha o gerente de logística Paulo Petterle. Segundo ele, a telemetria remota gera diariamente 1,4 GB de informação e cada veículo equipado com câmeras reporta 40 MB por viagem.

Já a Gerdau resolveu com o aplicativo as horas perdidas pelos caminhoneiros enquanto aguardavam o carregamento nas portas das usinas. Desde que foi lançado, o app já registrou 68 mil ordens e colaborou para o nível de satisfação dos motoristas alcançar 4,67 em escala com nota máxima 5. Outra aplicação também levou o processo de classificação de sucata para dentro dos smartphones, economizando quatro horas diárias do tempo de cada um dos operadores.

O apoio de drones ao processo levou o prazo de classificação de inventário cair de três dias para sete minutos. A empresa também adotou monitoria de equipamentos com foco em manutenção preventiva - dois resultados cobriram o custo de US$ 1,3 milhão do projeto piloto feito com a GE e convenceu a empresa a investir R$ 70 milhões em um inédito sistema de manutenção preventiva no mercado global de aço. Outros projetos empregam RFID para traquear produtos do parque de produção à expedição. "A visão de indústria 4.0 atualiza processos lentos", diz Claudia Eiunti.

Dispositivos são alvos fáceis para hackersPor Fernando Porto | Para o Valor, de São Paulo

A geladeira avisa quando falta um item alimentício, a câmera IP monitora a casa e a tevê permite ver o show novo no Youtube na hora desejada. São inegáveis as facilidades que esses aparelhos inteligentes oferecem aos consumidores. Esses mesmos "amigos" hi-tech, no entanto, são alvos fáceis para domínio de hackers por causa de sua vulnerabilidade.

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Uma prova dessa ameaça ocorreu no final de outubro, quando milhares de dispositivos IoT - roteadores, decodificadores de TVs a cabo e câmeras de vídeo IP, em sua maioria - foram usados de forma massiva durante ataques DDoS (de negação de serviço) que derrubaram grandes portais nos EUA, como Netflix, Spotify e Airbnb, entre outros. "Fazendo uma analogia com uma casa, não adianta muro alto se o ambiente interno não está protegido", analisa Rita D'Andrea, country manager da F5 Networks. Além de malwares, a maior vulnerabilidade está na falta da troca de senha padrão dos aparelhos., diz ela. Pesquisa da F5 constata que o Brasil se tornou, desde julho, o quarto no ranking de nações de onde se disparam mais ataques DDoS baseados em botnets de dispositivos IoT. Segundo o mesmo relatório, as ações trarão prejuízos de US$ 2,1 trilhões até 2019.

Além de trocas por senhas fortes, Rita sugere outras ações como fazer atualizações com patches de segurança logo que se tornam disponíveis, desabilitar o Universal Plug and Play (UPnP) em roteadores e adquirir dispositivos IoT de companhias de reputação segura.

Outra empresa de segurança, a Trend Micro, alerta em seu relatório de tendências que 2017 será o ano de ataques via internet das coisas, tendo em vista o crescimento de ataques digitais em 2016 a webcams, roteadores, ar-condicionado, aquecedores, sistemas de carros, entre outros. "Os dispositivos mais vulneráveis são os modems e roteadores porque já vieram antes da onda IoT e são bem potentes. As operadoras de web e os fabricantes deveriam ter um papel mais ativo, priorizando a atualização automática do software e avisando o usuário para trocar a senha padrão assim que comprar o equipamento", afirma Fernando Mercês, pesquisador de ameaças da Trend Micro.

Uma pesquisa da Kaspersky Lab, sobre riscos de segurança corporativa de TI em 2016, detectou que, nos últimos 12 meses, 32% das empresas foram vítimas de ataques direcionados e 20% tiveram incidentes envolvendo ransomware (pedido de resgate de dados roubados). "A questão é que qualquer dispositivo conectado à Internet pode ser usado nesse tipo de ataque, até mesmo a máquina de venda de snacks na copa da empresa", diz Cláudio Martinelli, diretor-executivo da Kaspersky Lab Latam.

André Duarte, coordenador de operações do Arcon Labs, lembra que um dispositivo IoT é um conjunto de software e hardware que deve possuir segurança by design. "O melhor caminho para mitigar riscos é monitorar as redes, criar processos de programação segura, e ter especialistas de segurança (hardware e software) que observem as anomaliass", afirma.

Para Armando Amaral, CTO da Tivit, a segurança de IoT no setor doméstico deve ser tratada com a mesma seriedade nos serviços públicos essenciais, onde são criadas várias camadas de proteção da plataforma IoT de dados. No caso da atuação de sua empresa, de smart grids para energia elétrica, há limitação de acesso físico, criptografia no transporte de dados e transmissão descompartilhada de dados. "Em muitos casos, os fabricantes terão de modificar o hardware para criar uma inteligência a mais de segurança. Em outros casos, é possível trocar por softwares com mecanismos de autenticação mais fortes. Mas o fato de haver uma discussão inédita sobre o problema no setor já é um avanço", analisa.

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Ferramenta ajuda busca de "agulha no palheiro"Por Paulo Brito | Para o Valor, de São Paulo

Marcos Pupo, da Oracle: entre as tarefas que mais consomem tempo dos cientistas de dados estão a preparação e a consolidação, sobra pouco tempo para análise

Um dos principais mantras recitados pelos evangelistas de big data é que nas grandes massas de dados existe riqueza. Elas podem ser vasculhadas para se obter aglutinações, correlações e outros resultados reveladores de tendências, comportamentos e preferências, por exemplo. Mas à medida em que a internet das coisas (IoT) produz cada vez mais dados, mais nebuloso fica o cenário de big data e mais precisam evoluir as ferramentas de análise, superando essa complexidade e ao mesmo tempo trazendo facilidade de uso.

"Trabalhar em big data é como buscar agulha num palheiro. A função das ferramentas de analytics é fazer o palheiro parecer menor", diz Reinaldo Yocida, vice presidente de soluções de vendas para analytics da SAP no Brasil. "Tudo que está ali pode ser importante, mas a parte analítica é fundamental para separar aquilo que é relevante para as decisões."

Como há cada vez mais dados sendo enviados pelos mais diversos dispositivos, Yocida considera fundamental que exista "uma forma simples de se usar esse mundo de dados em proveito do usuário final. Não é mais preciso ser um estatístico ou especialista para tirar proveito do big data".

As soluções da SAP, segundo ele, podem ser oferecidas no datacenter do cliente ou por meio de nuvem, e são projetadas para os usuários finais: "A ferramenta escolhe automaticamente amostras e variáveis, mas o usuário pode discordar e modificar essa escolha", explica.

Snehal Antani, CTO da Splunk, fornecedora de ferramentas de análise baseada em São Francisco, observa que as arquiteturas das ferramentas de análise estão evoluindo muito. "Com os avanços em aprendizado de máquina, as soluções automatizadas vão ajudar os cientistas de dados até em processos e tarefas manuais, dando a eles mais capacidade para novas descobertas", diz.

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A chegada de tecnologias de processamento em linguagem natural também está trazendo um novo tipo de cientista de dados industriais, que poderá combinar seu conhecimento com novos formatos de dados, para encontrar insights que nunca foram extraídos, explica. "Esse pessoal terá mais oportunidade de correlacionar dados operacionais com o impacto deles nos negócios."

Entre as tarefas que mais consomem tempo dos cientistas de dados estão a preparação e consolidação dos dados, lembra Marcos Pupo, vice-presidente de big data e analytics da Oracle para América Latina. Ele conta que tradicionalmente essas tarefas podem consumir até 80% do tempo necessário a uma análise: "Sobra pouco para a própria análise e para levar eficiência aos negócios", diz.

Fernando Lemos, VP de tecnologia para a América Latina, explica que, em suas ferramentas, a Oracle tentar inverter esse cenário. "Queremos sempre menos tempo na preparação e integração de dados e mais na análise. Estamos simplificando o processo para facilitar o uso das informações". O objetivo final, lembra Pupo, é poder usar as ferramentas para fazer previsões: "Isso é uma evolução que pode atender desde grandes corporações até startups."

A IBM, que também é um peso-pesado nesse jogo, anunciou em 2015 investimento de US$ 3 bilhões no Watson IoT, sua plataforma de internet das coisas, observa Carlos Tunes, executivo de soluções cognitivas para IoT da IBM Brasil. "A plataforma pode coletar e armazenar dados, transformá-los em informação e disponizá-los para uso em aplicações focadas no negócio do cliente", diz.

Os recursos do Watson Analytics, segundo ele, permitem que o cliente faça pesquisas com perguntas formuladas em texto simples, como num bate-papo, e que receba as respostas por meio de gráficos coloridos de situação e de projeções. Um dos clientes da plataforma, diz Tunes, é a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool. "Uma máquina de lavar roupas conectada pode chamar a assistência técnica antes que um defeito apareça, e pode comandar a compra de sabão se o usuário quiser. Nesse caso, saber dessa necessidade do consumidor não pode se transformar num novo negócio para a Whirlpool?", pergunta.

O número dessas coisas conectadas, como a máquina de lavar roupas, chegará a 50 bilhões em 2020, diz Severiano Macedo, especialista em soluções de IoT da Cisco. Uma das estratégias que a empresa adotou para acelerar o processamento, encurtar o tempo e facilitar a análise foi adotar o conceito de 'fog' computing. "Não é a grande nuvem, mas uma nuvem mais baixa: é um processamento feito dentro dos nossos equipamentos, aqueles que já estão perto dos sensores, de modo que só os dados relevantes sejam transmitidos aos centros de controle", explica. Os equipamentos da Cisco para IoT já vêm com 'fog computing', diz Macedo, para operarem nos sistemas de missão crítica, tratando dados e tomando decisões.

Na área de energia, avanço de rede inteligente depende de regulação

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Por Roberto Rockmann | Para o Valor, de São Paulo

A internet das coisas está chegando ao setor elétrico pelas redes inteligentes de energia (smart grid em inglês). Sua velocidade de adoção dependerá da resolução de questões regulatórias, como reconhecimento na tarifa de que a tecnologia é mais cara que a tradicional, e do fortalecimento da indústria nacional. Parte mais visível da revolução que chegará aos postes, os medidores inteligentes são bidirecionais, ou seja, leem o consumo e indicam se o cliente gera energia com seu painel fotovoltaico. Chegam a custar dez vezes mais: enquanto um medidor antigo vale R$ 60, o inteligente pode chegar a R$ 600, já que boa parte dos componentes é importada. 

No Brasil existem hoje cerca de 80 milhões de medidores. Menos de 2% deles são inteligentes. Trocar todos os medidores representaria bilhões de reais em investimentos, que teriam de ser reconhecidos pelo órgão regulador na tarifa. Em alguns países, a troca dos aparelhos foi custeada pelos consumidores nas contas de luz. 

Hoje a maioria dos projetos de redes inteligentes no Brasil é tocada com recursos do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no qual as concessionárias investem perto de 0,5% da receita operacional líquida em iniciativas inovadoras. Nos EUA, 43% das unidades consumidoras operam com medidores inteligentes e, na Califórnia, todos os medidores instalados são bidirecionais.

“É preciso ter esse reconhecimento na tarifa e é preciso políticas públicas para coordenar esse assunto, que extrapola o setor elétrico, porque toca questões como medição e telecomunicação, segurança de rede e pode também abranger compartilhamento de infraestrutura com outras concessionárias de serviços públicos. Isso poderá estimular a cadeia produtiva local que precisará de demanda para ampliar sua capacidade”, diz Maria Tereza Vellano, diretora do projeto de smart grid da AES Eletropaulo, que vai investir R$ 90 milhões na adoção de redes inteligentes em um projeto piloto em Barueri (SP). A instalação de medidores deve começar em fevereiro. 

A adoção das redes inteligentes embute potencial para uma tripla revolução. Para a indústria, pode significar o adensamendo da cadeia produtiva dos fabricantes de equipamentos pela escala do mercado nacional. Para as concessionárias, representará redução de custos operacionais, por exemplo, ao permitir leitura dos relógios de energia e corte de luz remotos, além de queda da inadimplência, ao possibilitar análise mais detalhada do consumo. Os consumidores poderão fazer parte da matriz de energia, ao instalar painéis fotovoltaicos e reduzir a conta com minigeração distribuída.

O maior projeto de smart grid é tocado pela CPFL Energia, que pretende instalar dois milhões de medidores inteligentes em consumidores de baixa tensão na sua área de concessão de distribuição. No início desse ano, foi feita uma cotação com fornecedores de equipamentos, mas ainda há alguns pontos técnicos pendentes. Um dos principais é que há uma discussão com os fabricantes de medidores. Apenas um está com os equipamentos homologados no Inmetro, outros dois em processo de homologação, enquanto a maioria está de olho no mercado a ser criado.

“Estamos trabalhando com fornecedores para que eles possam produzir localmente. A escala mínima necessária para a produção local seria perto de 1,5 milhão de unidades.

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Agora queremos fazer uma prova de conceito da tecnologia nova em uma cidade ou um bairro para analisarmos como é a substituição dos medidores tradicionais pelos inteligentes, quais os problemas que podemos enfrentar e em quanto tempo poderemos implementar o projeto”, afirma Caius Vinicius Sampaio Malagoli, diretor de engenharia da CPFL. 

No arquipélago de Fernando de Noronha, a Neoenergia está conduzindo o primeiro projeto de smart grid do Nordeste, com investimento de cerca de R$ 20 milhões. Foram instalados pouco mais de 800 medidores de energia bidirecionais. Com a inovação, os clientes da ilha também passarão a ter acesso ao portal do consumidor. Pela internet poderão acompanhar, planejar e controlar o consumo de energia elétrica pela demanda contratada. Assim, o cliente terá a oportunidade de estabelecer uma meta de consumo mensal, verificar a evolução diária do consumo, além de receber alertas, caso esteja próximo da meta fixada.

O projeto estimula o uso de microgeração distribuída. Nove sistemas de captação de energia solar foram implantados em Fernando de Noronha em unidades residenciais, comerciais, órgãos do poder público e organizações não governamentais, sendo um deles com baterias para o armazenamento de energia. 

Em paralelo, nas concessões de Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte, a empresa investe no uso de sensores inteligentes em parceria com um fabricante nacional. “Já temos mais de 420 conjuntos instalados e isso busca a melhorar a qualidade dos indicadores e nos antecipar a problemas”, diz José Brito, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Neoenergia. 

A adoção das redes inteligentes significará também uma revolução no papel do consumidor que, além de optar por tarifas diferenciadas, poderá gerar energia em sua residência e obter créditos no sistema. As redes permitirão que as máquinas e equipamentos “conversem” entre si, em busca de eficiência. Também possibilitará ao usuário avaliar o consumo de cada eletrodoméstico em tempo real. Haverá tarifas diferenciadas por horário, criando a possibilidade de gerenciar o uso dos aparelhos elétricos e aproveitar a energia mais barata na madrugada.

Parcerias ampliam projetos de startupsPor Françoise Terzian | Para o Valor, de São Paulo

Um caminho irreversível e trilionário. Assim os especialistas mundiais definem a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e a internet das coisas industrial (IIoT). O mercado de IoT deve crescer de uma base instalada de 15,4 bilhões de dispositivos móveis (2015) para 30,7 bilhões (2020) e 75,4 bilhões (2025), segundo a IHS Markit que estuda esse cenário. Já a General Electric (GE) prevê um investimento industrial no IIoT de US$ 60 trilhões nos próximos 15 anos.

Obter dados mais precisos e rápidos a um custo muito menor é uma das vantagens da IoT, uma combinação de aplicações com serviços de transmissão de dados que

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começam a avançar no mundo com a ajuda das startups. Além das grandes desenvolvedoras e integradoras de tecnologia e operadoras de telecom que têm despertado para essa oportunidade de negócios, há uma série de empresas novas e pequenas, mas inovadoras e com alto potencial de crescimento, fazendo história nessa área.

Muitas com projetos-piloto e casos bem sucedidos nas áreas de utilities (luz, água, gás), agronegócio, hospitalar e setor automotivo. Frank Meylan, sócio da KPMG, conta que há projetos em estudo nos quais os sensores instalados no veículo mandam, com o consentimento do motorista, informações para as seguradoras sobre a forma de dirigir. Esse novo olhar pode mudar, no futuro, a forma como são definidos os valores do seguro.

Dois exemplos de startups brasileiras em destaque na área são a Altave e a Greenant. A primeira, nasceu em 2011, em São José dos Campos (SP), na incubadora de empresas do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), pelas mãos de dois formandos em engenharia aeronáutica, em 2010. 

Por ser especializada em monitoramento e telecomunicações para grandes áreas, a Altave chamou atenção durante a Olimpíada pelo uso de seus quatro balões cativos (aeronaves não tripuladas), responsáveis pelo monitoramento aéreo da segurança da Rio 2016, com imagens das grandes áreas em 360 graus, de forma simultânea e em alta resolução.

Com 25 funcionários, a empresa faturou R$ 23 milhões em 2015 ante os R$ 200 mil de 2014. Uma de suas áreas de atuação hoje é o agronegócio, que sofre com problemas de conectividade no campo e a dificuldade em usar voz e dados. No momento, tem quatro projetos-piloto nessa área. 

É possível, por exemplo, detectar incêndios e auxiliar na agricultura de precisão. “Com o balão dotado de um equipamento de telecom embarcado, é possível capturar dados de sensores no campo que medem, por exemplo, a umidade do solo, e retransmitir essas informações em tempo real para a nuvem”, conta Bruno Avena, diretor da Altave.

Uma das parceiras da Altave é a PromonLogicalis, provedora de serviços e soluções de tecnologia da informação e comunicação na América Latina. “Somos parceiros em sete startups que trabalham hoje com IoT”, conta Lucas Pinz, diretor de tecnologia da empresa. 

Esse tipo de proximidade aumenta as possibilidades de conquista de clientes e oferta de soluções completas. Com a Altave, Pinz conta que foi desenvolvido um projeto para um grande produtor de etanol que planta cana-de-açúcar e demandava conectividade aos seus maquinários agrícolas e sensores de campo. Ao invés de construir uma torre de celular, o balão da Altave foi escolhido para levar conectividade a um custo cinco vezes menor. 

A PromonLogicalis também tem parceria com a startup GreenAnt, que desenvolve medição de energia inteligente. Ela surgiu formalmente em 2013, quando Pedro Bittencourt e Raphael Guimarães, ambos engenheiros pela PUC, decidiram resolver um

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problema que consideravam fundamental na eficiência energética, que é a falta de informação do consumidor final de energia.

“Uma analogia é você imaginar um supermercado sem preço nas prateleiras e, no final, você tem que pagar o carrinho cheio, sem saber quanto custou cada item. Isso impossibilita o consumo racional”, explica Bittencourt. Energia elétrica, diz, funciona assim. 

A startup desenvolveu um software de inteligência artificial que, a partir da medição de energia da unidade consumidora, consegue reconhecer alguns padrões e calcular o consumo dos equipamentos que utilizados. Todo o processamento roda online em um sistema em nuvem. Hoje, a GreenAnt tem 150 clientes e a meta de chegar a 1.000 no próximo ano. 

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