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MOBILIDADE: A LUTA PELA QUALIDADE DE VIDA EM MEIO AO
CAOS URBANO
SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO.......................................................................4
MOBILIDADE EM 40 PONTOS...........................................................4
Diagnóstico......................................................................................4
Avaliação crítica.............................................................................10
Propostas de ação..........................................................................11
Propostas das Diretrizes do Programa de Governo.......................16
Apêndice estatístico.......................................................................18
DOCUMENTO COMPLETO..............................................................24
Introdução.....................................................................................25
Linha do tempo.............................................................................26
Seção 1: Marco Legal.....................................................................32
Seção 2: análise e identificação dos acertos e dificuldades e
principais indicadores qualitativos e quantitativos........................50
Processo de urbanização...............................................................54
Taxa de motorização......................................................................55
Evolução da distribuição modal.....................................................58
Tempo de deslocamento no trânsito.............................................60
Seção 3: Orçamento e execução orçamentária...............................62
Seção 3.1 – Execução orçamentária...............................................65
Seção 4: Principais atores, formuladores e formadores de opinião.
......................................................................................................82
Seção 5: Principais desafios...........................................................86
A questão metropolitana...............................................................87
Intermodalidade............................................................................90
Integração com as demais políticas de desenvolvimento urbano..91
Política de subsídios.......................................................................92
Mecanismos permanentes de financiamento da infraestrutura....94
Ações de restrição ao carro...........................................................95
Mobilidade não motorizada...........................................................95
Acessibilidade universal.................................................................95
Sistema de informações.................................................................95
Cadastro nacional e chipagem.......................................................96
Capacitação e apoio institucional aos estados e municípios..........96
Gratuidades nos transportes coletivos..........................................97
Mudanças climáticas......................................................................97
Referências Bibliografias................................................................99
RESUMO EXECUTIVO
MOBILIDADE EM 40 PONTOS
DIAGNÓSTICO
1. A noção de ‘mobilidade’ é algo relativamente recente, ao menos
nas instâncias da administração pública. A mobilidade urbana
passou a ser discutida não mais sob a ótica exclusiva da
‘resolução’ das demandas de transporte urbano, mas inclusa no
conjunto de políticas urbanas, em especial o planejamento
urbano – inscrito basicamente nos planos diretores municipais – e
a habitação. Mobilidade urbana passou, portanto, a incluir
também as decisões acerca do uso do solo urbano. Assim, o tema
dialoga com outras políticas e, em especial, com a reforma
urbana.
2. A trajetória das políticas federais desde a década de 60 na área
de mobilidade, transporte e trânsito urbano pode ser dividida
basicamente em 3 períodos:
2.1. O período iniciado com o golpe de 64 e encerrado com a
conclusão da transição democrática em 1985, época de
grandes esforços de planejamento e de enorme centralização
federal. Ao mesmo tempo ascensão do automóvel particular
(desde a década de 50, com a instalação de grandes
montadoras no país) e, especialmente, da decisão pelo
transporte rodoviário em detrimento do transporte
ferroviário. Nesse período, estava ocorrendo o ponto de
inflexão da inversão populacional entre campo e cidade e as
decisões tomadas teriam impacto nas décadas seguintes.
2.2. O período após a conclusão da redemocratização em 1985,
marcado pelo desmonte gradativo do arcabouço jurídico-
institucional tradicional mas sem o advento de um novo
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modelo. Em 1988, a Constituição transferiu uma série de
prerrogativas para os municípios e ocorreu a extinção de
grandes agências como a EBTU. Permaneceu a opção pelo
incentivo ao transporte individual e pela opção rodoviária no
transporte coletivo e de cargas, vis-à-vis ao crescimento da
urbanização e a ausência de planejamento metropolitano.
2.3. O período atual, iniciado no final da década de 90 e marcado
por tentativas de reequilíbrio entre os entes federais,
estaduais e municipais, esgotamento do modelo tradicional
de transportes (e de urbanização), porém com resistência à
mudança. Ascensão de novas formas de atuação e
participação. 2001: Estatuto da Cidade – Lei 10.257 de 2001.
Do ponto de vista legal, a criação do Estatuto da Cidade
balizou o novo modelo da política pública federal para a
questão urbana. Passaram a ser centrais a função social da
propriedade e a repartição dos lucros advindos da
valorização imobiliária, muito embora a implantação de fato
dos instrumentos do Estatuto da Cidade ainda dependa dos
planos diretores e leis ordinárias nas respectivas
aglomerações urbanas. 2004: Ministério das Cidades. Em
2004, apresenta o novo marco das políticas públicas urbanas,
através do lançamento dos Cadernos MCidades, dentre os
quais o caderno da Política Nacional de Mobilidade Urbana
Sustentável (PNMUS).
3. A partir deste momento, com o lançamento da PNMUS,
consolida-se o protagonismo do MCidades para as questões
urbanas e para o tema da mobilidade urbana, bem como inicia-se
uma nova trajetória da questão, não mais restrita à ampliação de
infraestrutura viária, mas focada na mobilidade das pessoas sobre
o espaço urbano e peri-urbano e na sustentabilidade.2012:
Política Nacional de Mobilidade Urbana. A Lei 12.587 de 2012
instituiu as diretrizes para a Política Nacional de Mobilidade
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Urbana (PNMU), após 17 anos de discussões no Congresso
Nacional acerca de questões pontuais, a que foram se somando
uma série de projetos. A PNMU definiu o rol de possíveis
instrumentos de gestão da mobilidade urbana: restrição e
controle de acesso de veículos motorizados; implantação de
faixas exclusivas de ônibus, ciclovias e ciclofaixas; estipulação de
padrões, monitoramento e controle de emissão de poluentes,
com possibilidade de controle de acesso de veículos motorizados;
implantação de Pedágio Urbano, com aplicação exclusiva da
receita em transporte público coletivo e não motorizado e
subsídio público da tarifa; definição de política de
estacionamentos de uso público e privado, com e sem
pagamento; controle da circulação e operação do transporte de
carga. A PNMU determinou a construção de planos de mobilidade
para cidades com mais de 20 mil habitantes.
4. A legislação não foi suficiente para provocar mudanças radicais na
formulação das políticas municipais de transporte. O arraigado
modelo tradicional ainda predomina, e que as mudanças
preconizadas pela nova legislação, para surtir efeito, deverão ser
acompanhadas de um direcionamento mais decisivo em torno
dos transportes sustentáveis, quer dizer, cortando fortemente os
recursos para obras viárias sem efeito a longo prazo e garantindo
a liberação de recursos para estados e municípios mediante a
observância efetiva de certos critérios de desenvolvimento
urbano e sustentabilidade ambiental.
5. Nos últimos anos, Lula e Dilma, o governo federal apoiou
fortemente o transporte individual:
5.1. Com incentivo a aquisição de carros particulares novos, com
redução do IPI (uma renúncia fiscal de no mínimo 4,2 bilhões
ano), e
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5.2. Com o subsídio ao combustível, por meio dos preços
mantidos estáveis artificialmente pelo governo e que vem
provocando uma renúncia fiscal estimada em R$ 1 bilhão por
mês este ano - valor corresponde à isenção da Contribuição
de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre gasolina
e diesel, segundo cálculos do Centro Brasileiro de
Infraestrutura (CBIE). Esse subsídio beneficia os proprietários
de veículos automotores particulares.
6. Além dos subsídios para a aquisição de novos veículos, há o
subsídio para a compra de taxis, que, desde 1995, estão isentos
de IPI. Na maioria dos estados, os taxis também gozam de isenção
de ICMS e de IPVA.
7. Ao mesmo tempo, o próprio sistema de transporte coletivo ficou
condicionado a expansão da malha viária feita para os
automóveis, de forma que o ônibus passou a ser a grande
alternativa de transporte para a população mais pobre, mas
seguindo a lógica do automóvel, sem um planejamento do
deslocamento e conexão entre as linhas.
7.1. “A Mobilidade no Brasil” pesquisa do Ipea – Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas, mostra que as políticas
públicas para o setor dos transportes sofrem grandes
distorções: os carros de passeio recebem 90% dos subsídios
para os transportes no País, cerca de 12 vezes mais que os
transportes coletivos.
http://viatrolebus.com.br/2013/02/transporte-individual-recebe-12-vezes-mais-
de-subsidios-que-o-transporte-publico-no-brasil/
8. "Quando o governo dá subsídio ao automóvel, pensa no emprego
e na atividade econômica, e não na mobilidade", diz o diretor
técnico do Departamento Sindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz. Também não está
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pensando no controle de emissão de gases de efeito estufa, vetor
importante das mudanças climáticas. Além das evidências dos
problemas, inclusive de saúde, causados pelo acúmulo de carros
circulando nas cidades.
9. Segundo a PNAD de 2012, o percentual de domicílios no país em
que ao menos um morador possui carro chegou a 42,4%, ou seja,
26,7 milhões de domicílios, com elevação de 1,3% em relação a
2011.
9.1. As motocicletas estão em 20% das casas, 12,6 milhões de
domicílios, um aumento de 0,9% sobre 2011.
9.2. A frota total de veículos leves no Brasil, em julho de 2012,
alcançou 65.703.975 unidades, sendo:
41 milhões de automóveis,
16,4 milhões de motocicletas,
5 milhões de caminhonetes,
2,2 milhões de camionetas,
375 mil utilitários,
119 mil ciclomotores,
17 mil triciclos,
154 quadriciclos.
9.3. 22, 5% da frota de veículos leves no Brasil está concentrada
nas 10 maiores cidades do país.
10. Alto impacto dos automóveis e motos em relação ao impacto dos
ônibus em relação a consumo de energia, poluição, acidentes e
uso das áreas das vias. A emissão de gases de efeito estufa e a
necessidade de reduzi-la. As metas do Plano Setorial de
Transporte e de Mobilidade Urbana para Mitigação e Adaptação à
Mudança do Clima (PSTM), de 2013, são tímidas.
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11. Estagnou ou se reduziu o uso de trens urbanos, com tendência à
reversão nos últimos anos, surgiu o Metro, nas grandes cidades;
recentemente aumentou o uso da bicicleta como meio de
transporte nas grandes e médias cidades;
12. São realizados enormes deslocamentos a pé, em função das
distâncias, da falta de qualidade e quantidade adequadas do
transporte público e /ou do preço das passagens.
13. O tempo de deslocamento, isto é, o tempo gasto pelas pessoas
no trânsito, vem aumentando ano a ano, especialmente nas
regiões metropolitanas (Pesquisa IPEA)
13.1. Entre o custo de oportunidade do tempo perdido pelas
pessoas no trânsito e o custo pecuniário de gastos
adicionais com combustível, transporte de bens, além da
emissão de poluentes, as perdas totais contabilizadas pela
cidade de São Paulo chegaram a R$ 40 bilhões, em 2012
(Estudo apresentado por Marcos Cintra, vice-presidente da
Fundação Getulio Vargas (FGV), na edição de julho de 2013
da Conjuntura Econômica).
13.2. As políticas de mobilidade estão fragmentadas e
desintegradas com as demais políticas de desenvolvimento
urbano.
13.3. A expansão das cidades foi desordenada e gerou
desequilíbrios. A densidade demográfica de São Paulo, por
exemplo, de 100 habitantes por quilometro, é metade da
densidade de cidades como Nova Iorque ou Tóquio. Por
isso mais de dois milhões de moradores da Zona Leste
deslocam-se diariamente para a região central que
concentra as vagas de trabalho.
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13.4. “A morte recente de 72 mil usuários de motocicletas (...) é
vista como um “custo do progresso”, evidenciando a
enorme iniquidade histórica das nossas políticas de
mobilidade.” Eduardo Vasconcellos, Diretor do Instituto
Movimento de São Paulo e assessor da Associação
Nacional dos Transportes Públicos.
AVALIAÇÃO CRÍTICA
14. É grande a dificuldade para se obter dados consolidados do
conjunto das ações em mobilidade urbana. Os investimentos
estão a princípio vinculados ao MCidades (em 2002 o programa
de mobilidade urbana foi criado com o nome de “Transporte
Rodoviário Urbano”; em 2004 passou a chamar-se “Mobilidade
Urbana”; e, em 2012, tomou o formato atual de Programa de
“Mobilidade Urbana e Trânsito”), no entanto há investimentos
sob o guarda-chuva dos diversos PACs, inclusive do PAC da Copa.
Os dados se confundem e se misturam, inclusive com
sobreposições.
15. O que se vê, porém, é que os valores colocados nos orçamentos
são altos mas a execução orçamentária é baixa. O orçamento
federal para o Ministério das Cidades, em 2013, foi de 25 bilhões,
sendo que o efetivamente liquidado alcançou apenas 34%.
16. Considerando apenas a Subfunção 2048 Mobilidade Urbana e
Trânsito, no orçamento 2013, observa-se que cerca de 36% de
valores foram empenhados e menos de 10% efetivamente
liquidados.
17. 2012: Dos 2,8 bilhões autorizados em 2012 para o Programa
“Mobilidade Urbana e Trânsito, do Ministério das Cidades,
apenas R$ 271 milhões foram gastos, incluídos os restos a pagar:
9,6%.
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18. Dos recursos autorizados para o Programa de Mobilidade Urbana,
46% (R$1,28 bilhão) foram destinas à ação “Apoio a projetos de
sistemas de transporte coletivo urbano, para cidades de médio e
grande portes. No entanto, a execução limitou-se a R$ 1.6 milhão
(0,13%), ao que somam-se os 18 milhões (1,4% da verba
autorizada) empenhados no orçamento de 2012 para pagamento
posterior (Site Contas Abertas).
19. De 2002 a 2013, para a área de trânsito, a execução foi de apenas
23% (1,9 milhões de um total de R$ 8,5 bilhões previstos, em
valores atualizados pela IGP-DI, da FGV
(http://www.contasabertas.com.br). Por lei, 5% do valor das
multas de trânsito devem ser depositados mensalmente na conta
do Funset. O baixo ritmo de execução do órgão se caracteriza
principalmente pelo contingenciamento que o Funset sofre da
própria área econômica do governo federal. Cerca de 78% da
verba autorizada para a unidade orçamentária está “parada” na
reserva de contingência imposta com o intuito de garantir o
superávit primário”.
20. Especificamente para a área de mobilidade urbana, alocada no
MCidades, o descompasso entre orçamento e execução também
é enorme: ainda conforme a Contas Abertas, em 6 anos, entre
2006 e 2011, foram aplicados apenas 20% dos recursos orçados,
ou R$ 582,2 milhões de um total de R$ 2,8 bilhões).
http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/552.
21. Cada fonte traz fragmentos da informação sobre os recursos
disponibilizados e os recursos efetivamente executados. Contudo,
ressalta-se que a execução, em geral, é baixa e a cada ano fica um
volume significativo de Restos a Pagar.
PROPOSTAS DE AÇÃO
22. Questão metropolitana
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22.1. Superar os conflitos de competência no planejamento,
coordenação e operação dos sistemas de transporte
metropolitano, bem como de resolução das questões de
ordem financeira. Citamos aqui o desafio da construção
das redes de Metrô e outras linhas de alta e média
capacidade, tanto em função da equação de financiamento
como de operação entre os entes estadual, metropolitano
e municipal.
22.2. Definir, do ponto de vista jurídico, e capacitar
institucionalmente as Regiões Metropolitanas como
instância de poder com autonomia administrativa,
representação política e recursos financeiros. A ideia de
uma ‘Autoridade Metropolitana’ constituída legalmente
pressupõe a retirada de certa parcela de poder, de
recursos e de autonomia de estados e municípios, e a
criação de mecanismos de decisão popular nesta esfera.
22.3. Criar agencias e órgãos metropolitanos e de instâncias
técnicas que auxiliem os governos na tomada de decisões,
considerando-se que a criação da ‘quarta instância’ deverá
enfrentar muita resistência e demandar muito tempo para
sua efetivação.
22.4. Integrar tarifarias, considerando a existência e
sobreposição de linhas e empresas e a necessidade de
equacionamento da remuneração às empresas
permissionárias.
23. Resolver a questão jurídico-institucional para os sistemas
ferroviários ainda em mãos do Governo Federal (trens
metropolitanos de Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e demais
trens de subúrbio das capitais), bem como rediscussão do caráter
estadual dos metrôs de São Paulo e Rio.
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24. Intermodalidade
24.1. Se a questão da figura jurídica da Região Metropolitana
indica a dificuldade de articulação interinstitucional, a
questão da intermodalidade nos mostra o quanto estados
e municípios têm, via de regra, pouquíssima capacidade de
gestão. A escassez de sistemas que combinem de forma
eficiente os diversos modais de transporte é consequência
direta do modelo de mobilidade construído nas últimas
décadas, associado à explosão demográfica e urbana. O
modelo centrado no transporte individual motorizado, ao ir
desconstruindo aos poucos a estrutura de transporte
coletivo (já em si ruim) e direcionando a imensa parcela
dos recursos para a malha viária, deteriorou não apenas os
sistemas coletivos, como a própria gestão sobre estes.
24.2. Construir capacidade, de grandes, médios e pequenos
municípios e de estados, em planejamento de sistemas que
combinem os modais coletivos, a bicicleta, o modal a pé,
incorporando inclusive em alguns casos os modais
particulares motorizados.
25. Adensar e recuperar os centros (das grandes e médias cidades).
Criar políticas de incentivo à habitação popular em áreas centrais
e do anel intermediário, com infraestruturas consolidadas
(diminuindo novos custos por causa da expansão horizontal da
mancha urbana).
26. Utilizar efetivamente os instrumentos contidos no Estatuto da
Cidade – que tem sido subutilizado como instrumento urbanístico
– de modo a garantir o uso social da terra urbana e a reversão
para o conjunto da sociedade da valorização imobiliária
decorrente das ações do poder público.
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27. Reconfigurar a política de subsídios é absolutamente essencial e
impõe definir novos subsídios e eliminar outros. Desta forma
constitui-se em um dos desafios mais delicados politicamente.
Falamos aqui não apenas daqueles que impactam diretamente a
mobilidade urbana, como de subsídios a outras áreas que têm
impacto indireto.
28. Desenvolver novos mecanismos e fontes de financiamento à
mobilidade. Entre eles, citamos – além do fim de algumas
isenções à cadeia do automóvel – a possibilidade de cobrança de
pedágio urbano nas grandes cidades. Esta medida é grandemente
polêmica, depende essencialmente dos municípios e requer
decisões de caráter técnico-operacional.
29. Considerar as fontes subutilizadas. O Código de Trânsito de 1998
criou o Fundo Nacional de Segurança e Educação para o Trânsito
(Funset) e o DPVAT (seguros contra acidentes), que já
arrecadaram cerca de R$ 3,1 bilhões, em sua maioria
contingenciados pelo Ministério da Fazenda.
30. Ações de restrição ao carro: cada vez mais o automóvel deverá
ser menos utilizado. A criação de restrições ao automóvel já é
uma realidade, desde a implantação dos rodízios em São Paulo na
década de 90, medida que tende a ser seguida cada vez mais por
outras cidades. Mesmo considerando-se esta medida paliativa,
outras possibilidades são a imposição de taxas e pedágios (já
citada acima) e a política de restrição ao estacionamento de
veículos.
31. Mobilidade não motorizada
31.1. Incentivar a mobilidade não motorizada: incentivo ao
modo pedestrianizado e ao uso da bicicleta é essencial
para a mobilidade sustentável, em especial para o sistema
de intermodalidade. Isto traz à tona a discussão da questão
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da qualidade das calcadas, da segurança no trânsito e da
prioridade dada aos modos não motorizados, definida pelo
Código de Trânsito Brasileiro – CTB.
32. Acessibilidade universal: garantia de acesso a todos os cidadãos é
outro dos componentes do sistema de mobilidade. A baixa
qualidade das vias, calcadas e sistemas de transporte ainda é um
entrave a ser superado. Há grande desconhecimento, inclusive,
das imposições legais de padrões mínimos de acessibilidade.
33. Aprimorar o Sistema de Informações de Mobilidade Urbana: no
âmbito da SeMob foi criado em 2013 o Sistema de Informações
de Mobilidade Urbana – SIMU, com participação de entes
públicos e privados e com foco nadisponibilização de informações
sobre os meios de transporte, acessibilidade, custos, tarifas,
financiamento público e privado, instrumentos de gestão,
políticas urbanas, proteção ao meio ambiente, qualidade de
serviços, segurança e gestão institucional. O objetivo central do
SIMU é criar uma rede nacional de coleta periódica de dados,
garantindo a atualização das informações, com a participação de
todos os atores públicos e privados da área. A falta de
informações agregadas num sistema único é um dos obstáculos à
construção de sistemas eficientes de mobilidade. O desafio é
garantir a efetiva implementação deste sistema e sua
capilaridade, na recepção de informações e em sua disseminação
de forma articulada junto a estados e municípios.
34. Cadastro nacional e chipagem
34.1. Desenvolver o Cadastro Único de Veículos;
34.2. O sistema de informações também deverá ser provido por
um cadastro único de veículos, estreitamento de vínculos e
integração entre os órgãos estaduais e pela chipagem
(cadastro eletrônico) dos veículos, medida fundamental
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para futuros processos de cobrança de taxas e restrição à
circulação, bem como para diminuir os índices de violência
associados ao uso do automóvel, roubos e furtos.
35. Gratuidades nos transportes coletivos. Rever o sistema de
gratuidades aos usuários, racionalizando-as e definindo uma nova
sistemática. Em muitos casos, o aumento na concessão de
gratuidades e descontos acaba por onerar os demais usuários, em
sua maioria de baixa renda. Em alguns municípios as gratuidades
chegam a beneficiar entre 20% a 40% do total de passageiros
(VASCONCELLOS).
36. Estabelecer e cumprir metas de redução de carbono-equivalente
para mitigação e adaptação à mudança climática. Um novo
elemento a ser considerado na política urbana, e particularmente
no transporte urbano, é o imperativo de se implantarem com
rapidez ações diminuição da emissão de gases do efeito-estufa e
ações de mitigação e adaptação à mudança climática. O Governo
lançou em 2013 o seu Plano Setorial de Transporte e de
Mobilidade Urbana para Mitigação e Adaptação à Mudança do
Clima (PSTM), seguindo a determinação da legislação federal (Lei
nº 12.187/2009 – Política Nacional sobre Mudança do Clima e
Decreto n° 7.390/2010). O PSTM é coordenado entre os
Ministérios dos Transportes e das Cidades. O financiamento das
ações deve vir do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima –
FNMC (Lei nº 12.114/2009), mas propõe-se também que venham
recursos do Fundo Social (Lei nº 12.351/2010) criado para
compensar a exploração das jazidas petrolíferas do Pré-Sal.
Entretanto, conforme dados do próprio PSTM, a previsão de
redução de carbono-equivalente (em função de todos os
investimentos em infraestrutura de transporte coletivo) é
mínima, de apenas 3,7 MtCO2 por ano ou um total de 19,5
MtCO2 até 2020, quando o transporte rodoviário de passageiros
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emitirá cerca 131,7 MtCO2 contra uma projeção tendencial de
135,4 MtCO2.
PROPOSTAS DAS DIRETRIZES DO PROGRAMA DE GOVERNO
37. Para enfrentar o desafio da mobilidade é preciso pensar o
desenvolvimento recente das cidades no Brasil, que as
segmentou em periferias distantes – mal providas de serviços
públicos – e regiões nobres, mais ou menos centrais, mas de
grande presença do Estado. Propõe-se integrar e articular a
cidade territorialmente e facilitar o acesso aos equipamentos
existentes, inclusive e muito particularmente aqueles destinados
à cultura, esporte e lazer.
38. Apoiar os Municípios na elaboração e implementação dos Planos
de Mobilidade, inclusive com a proposição de mecanismos que
incentivem a participação da sociedade em consultas públicas
eficazes e garantam a transparência nos investimentos realizados
pelo Poder Público em obras de mobilidade urbana.
39. Priorizar o transporte público, privilegiando o financiamento de
projetos que associem os diversos modais, como ônibus, trens,
metros, veículos leves sobre trilhos.
40. Apoiar a implantação de ciclovias e de melhoria de passeios
públicos, que podem atender diferentes segmentos sociais.
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APÊNDICE ESTATÍSTICO
Quadro 1: regiões metropolitanas brasileiras
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Quadro 2: população urbana e população rural - Censo 2010
Total Urbana Rural Total Urbana Rural
1º.07.1950 (1) 51 944 397 18 782 891 33 161 506 100,0 36,2 63,8
1º.09.1960 70 070 457 31 303 034 38 767 423 100,0 44,7 55,31º.09.1970 93 139 037 52 084 984 41 054 053 100,0 55,9 44,11º.09.1980 119 002 706 80 436 409 38 566 297 100,0 67,6 32,41º.09.1991 146 825 475 110 990 990 35 834 485 100,0 75,6 24,41º.08.2000 169 799 170 137 953 959 31 845 211 100,0 81,2 18,81º.08.2010 190 755 799 160 925 792 29 830 007 100,0 84,4 15,6
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1950/2010.
(1) Para o cálculo da taxa foi utilizada a população presente em 1950, enquanto para os anos seguintes foi utilizada a população residente.
Quadro 3: Número de municípios, segundo as classes de tamanho da população dos municípios
Classes de tamanho da população dos municípios (habitantes)
Número de municípios
Total (1) 5 565Até 2 500 260Mais de 2 500 até 8.000 1 912Mais de 8 000 até 20.000 1 749Mais de 20 000 até 500. 000 1 604Mais de 500.000 40
Fonte: IBGE
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Gráfico 1: Índice de habitante por automóvel em diversos países
Fonte: A taxa de motorização nas cidades brasileiras e a questão da mobilidade urbana. Mauricio Renato Pina Moreira; Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
Em
http://www.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2013/10/07/F5EE6A8C-151A-403D-8C98-56488342AEE1.pdf
Quadro 4: Taxa de Motorização das 10 maiores cidades brasileiras
Fonte: A taxa de motorização nas cidades brasileiras e a questão da mobilidade urbana. Mauricio Renato Pina Moreira; Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
Em
http://www.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2013/10/07/F5EE6A8C-151A-403D-8C98-56488342AEE1.pdf
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Gráfico 2: Divisão modal segundo classes de municípios
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ANTP APUD Ministério das Cidades, A Política de Mobilidade Urbana no desenvolvimento das cidades
Quadro 5: Tempo de deslocamento nas regiões metropolitanas
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Quadro 6: Regiões metropolitanas, motorização e tempo de deslocamento
Quadro 7: Evolução despesa PAC (2008 - 2013)
http://www.portaldatransparencia.gov.br/controleSocial/documentos/
orcamento_federal_alcance_todos.pdf
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Gráfico 3: Redução das emissões de CO2 para o transporte rodoviário de passageiros
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DOCUMENTO COMPLETO
André Goldman
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INTRODUÇÃO
A discussão acerca das políticas e diretrizes de mobilidade urbana
definidas ao longo das últimas 5 décadas inclui a própria terminologia
definida para o tema. De fato, era predominante o entendimento do
tema como ‘transporte’, dentro de um conceito de circulação de
‘coisas’ (mercadorias): produtos ou pessoas. Esta ideia mais passiva,
de pessoas sendo transportadas, definindo-se de antemão o ‘como’-
modos e percursos – se encaixava perfeitamente num contexto não
democrático, isto é, com o Estado definindo as políticas setoriais,
com pouca ou nenhuma participação da Sociedade Civil. A noção de
‘mobilidade’ é algo relativamente recente, ao menos nas instâncias
da administração pública. Esta nova conceitualização, embora possa
parecer apenas retórica, embute um viés decisório por parte das
pessoas, agora sujeitos de suas próprias decisões. Os deslocamentos
cotidianos ou eventuais sobre o solo das cidades passa a ser, mesmo
que restrito pelas infraestruturas existentes, definido pelo próprio
cidadão. A mobilidade passa a ser, então, definida em conjunto com
as outras funções urbanas: onde está o emprego, o lazer, o comércio,
serviços ... Conclusivamente, a mobilidade urbana passou a ser
discutida não mais sob a ótica exclusiva da ‘resolução’ das demandas
de transporte urbano, mas inclusa no conjunto de políticas urbanas,
em especial o planejamento urbano – inscrito basicamente nos
planos diretores municipais – e a habitação. Desta forma, a
mobilidade urbana passa a incluir também as decisões acerca do uso
do solo urbano.
Este trabalho também procurará abordar a distinção entre as
políticas nacionais de mobilidade urbana definidas pelos órgãos de
planejamento e as atividades efetivamente implementadas,
esclarecendo a diferenciação entre discursos politicamente úteis e a
evolução efetiva, traduzida esta em melhorias para o conjunto da
Sociedade ou mesmo para grupos específicos munidos de maior
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influência econômica e representatividade politica, e trazendo à baila
os discursos ideológicos implícitos.
Outra questão fundamental que deverá ser levantada, embora este
trabalho trate apenas do conjunto de políticas federais, é o nível de
intervenção desta esfera sobre os níveis estadual e municipal,
demonstrando ainda, seja a partir dos discursos e planos, seja
analisando os reais investimentos e transferências de recursos, qual a
influência das decisões do Governo Central sobre as políticas locais e
regionais.
LINHA DO TEMPO
1º período: 1964 – 1985 Ditadura Militar / Centralização
1964
Lei Federal nº 4.380:
Serviço Federal de Habitação e Urbanismo - SERFHAU( + Sistema
Nacional de Planejamento Local Integrado / Planos de
Desenvolvimento Local Integrado - PDLI)
Banco Nacional de Habitação - BNH
1965
Decreto nº 57.003:
Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes - GEIPOT
1966
Fundo de Financiamento de Planos de Desenvolvimento Local
Integrado - FIPLAN
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1970
Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano - CNDU
1971
Lei nº 5.727
Plano Nacional de Desenvolvimento – PND
1972
Decreto nº 71.273
Programa Especial de Vias Expressas - Progress
1973
Lei Complementar nº14
criação das Regiões Metropolitanas – RMs (Porto Alegre, Curitiba,
São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém)
Lei nº 5.908
GEIPOT: Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes
1974
2º Plano Nacional de Desenvolvimento
Lei Complementar Federal nº 20
RM Rio de Janeiro
Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana -
CNPU (até 1979)
28
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1975
Lei nº 6261
Sistema Nacional de Transporte Urbano - SNTU
Empresa Brasileira de Transporte Urbano - EBTU
Fundo de Desenvolvimento dos Transportes Urbanos - FDTU
(vinculados ao Ministério dos Transportes)
RFFSA: Divisões Especiais de Subúrbios Grande Rio e Grande São
Paulo
Programa Brasileiro de Álcool - PROÁLCOOL
1984
Decreto nº 89.396
Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU
2º período: 1985 – 1998 Redemocratização / Transição
GOVERNO SARNEY (1985 – 1990)
1985
Lei nº 7418
Vale-Transporte
1986
extinção BNH
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Ministério do Desenvolvimento Urbano - MDU ( políticas setoriais
de saneamento, habitação, política urbana e transportes + BNH /
EBTU / CNDU)
1988
Nova Constituição
1989
Decreto nº 97.455
extinção EBTU (atribuições divididas entre CBTU, GEIPOT e
MINFRA/SNT)
1990
Extinção CNDU
GOVERNO COLLOR (1991 – 1992)
1991
Extinção PROGRESS
GOVERNO ITAMAR (1993 – 1994)
1993
Lei nº 8.693
Transferência serviços ferroviários urbanos para estados e
municípios
CBTU transferida da RFFSA para o Ministério dos Transportes
1994
Estadualização Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM
e Companhia Fluminense de Trens Urbanos - FLUMITRENS
30
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GOVERNO FHC I (1995 – 1998)
1997
Lei nº 9.503
Código de Trânsito Brasileiro - CTB
1998
Extinção Fundo Rodoviário Nacional - FRN (existiu entre 1945 e
1998)
3º período: 1998 – 2014 Democracia Consolidada / Mobilidade
Sustentável e Integração das Políticas Urbanas
GOVERNO FHC II (1999 – 2002)
1999
Lei nº 2.982
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano, vinculada à
Presidência – SEDU/PR
2000
Portaria nº 19
Grupo Executivo de Transporte Urbano - GTrans
2001
Lei nº 10.257
Estatuto da Cidade
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2002
Decreto nº 4.135
extinção do GEIPOT
GOVERNO LULA I (2003 – 2006)
2003
Ministério das Cidades
(comandando CBTU, DENATRAN e Trensurb)
Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana - SeMob
Lei nº 10.683
Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte - Conit
2004
Cadernos MCidades
Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável - PNMUS
GOVERNO LULA II (2007 – 2010)
GOVERNO DILMA (2011 – 2014)
2012
Lei nº 12.587
Política Nacional de Mobilidade Urbana – PNMU
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SEÇÃO 1: MARCO LEGAL
A trajetória das políticas federais desde a década de 60 na área de
mobilidade, transporte e trânsito urbano pode ser dividida
basicamente em 3 períodos: o período iniciado com o golpe de 1964
e encerrado com a conclusão da transição democrática em 1985,
época de grandes esforços de planejamento e de enorme
centralização federal; o período após a conclusão da
redemocratização em 1985, marcado pelo desmonte gradativo do
arcabouço jurídico-institucional tradicional mas sem o advento de um
novo modelo; e o período atual, iniciado no final da década de 90 e
marcado por tentativas de reequilíbrio entre os entes federais,
estaduais e municipais, processos de privatização e concessão de
bens e serviços públicos à iniciativa privada, esgotamento do modelo
tradicional de transportes (e de urbanização) e ascensão de novas
formas de atuação e participação.
Citamos aqui, muito embora não faça parte do escopo deste
trabalho, o período anterior a 1964, que podemos chamar de fase de
consolidação do Brasil urbano e industrial, quando vivíamos
concomitantemente a primeira época de nossa democracia (a partir
de 1945), o êxodo agrário e a explosão da indústria automobilística.
Neste período o planejamento da questão de transportes urbanos
era escasso e a atuação dos entes públicos ocorria basicamente em
função das demandas momentâneas – o que foi chamado por
Francisconi e Souza (1976, p. 16) de “política de fato”.
Primeiro período (1964 – 1985). O período iniciado em 1964 é
marcado pela centralização federal das políticas urbanas e de
transporte, o que foi efetivado pela criação de uma série de órgãos e
estruturas legais de planejamento e execução das políticas públicas.
Tendo em vista a questão urbana como um todo, o período dos
governos militares iniciou-se com a criação do Serviço Federal de
Habitação e Urbanismo (SERFHAU) e do Banco Nacional de Habitação
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(BNH) através da Lei Federal nº 4.380, de 1964. O SERFHAU tinha
como prerrogativa coordenar o Sistema Nacional de Planejamento
Local Integrado e apoiar os municípios na criação e implementação
dos Planos de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI). A
característica principal do PDLI, ressoando a tendência à
centralização advinda do Governo Federal, era ser um grande esforço
de planejamento municipal (função em parte coberta hoje pelo Plano
Diretor). Todos os aspectos econômicos, sociais, físicos e
institucionais estavam cobertos, bem como a regulamentação do uso
do solo e desenvolvimento dos códigos municipais.
Por sua vez, coube ao BNH dar suporte financeiro através do Fundo
de Financiamento de Planos de Desenvolvimento Local Integrado
(FIPLAN), criado em 1966. Ainda do ponto de vista geral do
desenvolvimento urbano, o novo marco institucional incluiu a criação
das Regiões Metropolitanas (RMs) através da Lei Complementar
nº14, de 1973.
Especificamente para a questão da mobilidade urbana, o marco
inicial dá-se com a criação do GEIPOT em 1965. Concebido pelo
Decreto nº 57.003 como Grupo Executivo de Integração da Política de
Transportes e transformado pela Lei nº 5.908 de 1973 em Empresa
Brasileira de Planejamento de Transportes, o GEIPOT foi durante
duas décadas a grande referência em planejamento de transportes
urbanos.
De uma certa, a trajetória do GEIPOT, sendo o grande órgão
formulador de políticas em transportes, representa claramente os 3
períodos em análise: período militar, auge do GEIPOT; período entre
1985 e fins de 90, quando este órgão foi perdendo seu protagonismo
até sua extinção em 2002; e o período seguinte, até os dias atuais.
A partir da criação do GEIPOT e das subsequentes diretrizes geradas,
observou-se a consolidação da questão do transporte urbano como
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política pública setorial, multiplicando-se a formação de quadros
técnicos e a criação de planos diretores específicos de transporte
urbano.
Em 1970 o Governo Federal institui o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Urbano (CNDU), destinado a discutir e integrar as
diversas faces das políticas urbanas. A instalação do CNDU
demonstrou, ainda que tardiamente, o entendimento de que era
necessária a criação de instituições específicas para lidar com as
cidades e com a explosão demográfica das grandes aglomerações
urbanas. Por sua vez, o primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND), instituído pela Lei nº 5.727 de 1971, determinou a instalação
da Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana
(CNPU), que funcionou entre 1974 e 1979. O PND definiu ainda a
criação das primeiras nove regiões metropolitanas no país: Porto
Alegre, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife,
Fortaleza e Belém, em 1973 (Lei Complementar Federal 14), e Rio de
Janeiro, em 1974 (Lei Complementar Federal 20).
Sobre o tema das regiões metropolitanas, importante destacar que a
Constituição de 1988 delegou aos governos estaduais a prerrogativa
de criação de novas regiões metropolitanas, multiplicando-se assim,
a partir da década seguinte, a quantidade de RMs. De acordo com o
IBGE, em 2010 o Brasil possuía 36 regiões metropolitanas oficiais
(Quadro 1)
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Endereço: SHIS, QI5, Conjunto 2, Casa 2. CEP: 71615-020.Brasília – DF.
Quadro 1: regiões metropolitanas brasileiras
Em termos legais promulgou-se a Lei nº 6261, de 1975, definindo a
implantação do Sistema Nacional de Transporte Urbano (SNTU), da
Empresa Brasileira de Transporte Urbano (EBTU) e do Fundo de
Desenvolvimento dos Transportes Urbanos (FDTU). Estes 3 novos
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instrumentos estavam vinculados ao Ministério dos Transportes. Da
mesma forma, em 1975 a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) passa
a contar com a Divisão Especial de Subúrbios do Grande Rio e a
Divisão Especial de Subúrbios da Grande São Paulo, o que daria em
1984 à criação da Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU
(BITTENCOURT; BRIZON, APUD CEPAL / IPEA, TRANSPORTE E
MOBILIDADE URBANA), como veremos adiante.
Durante 20 anos, entre meados de 60 até meados de 80, o duo
GEIPOT e EBTU constituiu o grande eixo teórico e executivo dos
transportes urbanos no Brasil, basicamente através de programas de
assessoramento técnico aos municípios nas áreas de planejamento e
gerenciamento dos sistemas locais de transporte (PEIXOTO, 1977;
BARAT, 1978, SANT’ANNA, 1991; GOMIDE, 2008, APUD CEPAL /
IPEA). Em paralelo, os programas de financiamento a partir das
instituições federais completavam a hegemonia do Governo Central
sobre a política de transporte urbano. Praticamente todos os grandes
estudos e obras em mobilidade local ou regional contaram com apoio
técnico e financiamentos federais, entre os quais podemos citar a
implantação e modernização de sistemas de metrô e trem de
passageiros e a criação do vale-transporte pela Lei nº 7418, de 1985.
As crises do petróleo de 1973 e 1979, e consequente necessidade de
modificação da matriz energética brasileira, embora prognosticassem
uma ação massiva sobre a questão da distribuição modal do
transporte de passageiros e de carga, pouco alterou o quadro
vigente. O 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado em 1974
como resposta ao primeiro choque do petróleo, e que previa para a
área dos transportes urbanos a reversão da prevalência do modal
rodoviário em prol dos modos coletivos e da intermodalidade, ficou
basicamente no papel. O único fato de monta relacionado à escassez
e aumento do preço do petróleo foi a criação do Programa Brasileiro
de Álcool (PROÁLCOOL), no ano seguinte.
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Endereço: SHIS, QI5, Conjunto 2, Casa 2. CEP: 71615-020.Brasília – DF.
A alteração da matriz de transporte urbano de passageiros no rumo
dos modais coletivos, não só não aconteceu, como intensificou-se o
predomínio do automóvel, cuja ascensão meteórica só poderia ser
estancada com investimentos estatais maciços em sistemas de
transportes coletivos. Como sabemos, continuou-se a investir
prioritariamente em novas e cada vez maiores vias para automóveis
(sem a mínima preocupação em incluir sistemas exclusivos para
ônibus), ao mesmo tempo em que os sistemas de trens foram sendo
sucateados.
Pois, se por um lado o governo central começou a se preocupar com
o transporte público, é fato que o verdadeiro esforço foi
efetivamente concentrado na solução rodoviária. O sistema de
financiamento de transportes era capitaneado pelo Fundo Rodoviário
Nacional, instrumento antigo (existiu entre 1945 e 1998) que
financiava a expansão das malhas viárias municipais, e pelo Programa
Especial de Vias Expressas (Progress – Decreto nº 71.273 / 1972) para
a construção de rodovias e anéis de contorno conectando os eixos
rodoviários entre si e com as grandes vias de acesso locais (Mello,
1981, APUD CEPAL / IPEA).
A partir do meio da década de 80 inicia-se um novo período
caracterizado, de um lado, pela redemocratização e consequente
afloramento das demandas regionais e locais, e de outro lado, pela
crise econômica, diminuição da capacidade estatal de investimento e
esgotamento do modelo estatal de financiamento.
Politicamente, a volta da democracia trouxe a necessidade de
acordos e pactos entre as diversas correntes políticas no âmbito das
políticas urbanas, seja entre municípios, nas instâncias
metropolitanas ou junto aos governos estaduais.
Do ponto de vista econômico – a partir do novo quadro apresentado
acima, de crise e queda da capacidade estatal de investimento – as
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Endereço: SHIS, QI5, Conjunto 2, Casa 2. CEP: 71615-020.Brasília – DF.
questões ligadas diretamente à temática urbana passaram, entre
1985 e 1995, por vários ministérios e por traumáticas extinções de
órgãos essenciais, como o Banco Nacional de Habitação (BNH), em
1986, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano (CNDU),
em 1990. A partir da extinção do CNDU e da reforma administrativa
efetuada nesta data, o tratamento integrado da questão urbana ficou
sem qualquer comando, o que só veio a ocorrer em 2003 com a
criação do Ministério das Cidades (SOUZA, 1992, APUD CEPAL / IPEA).
Completando este quadro de desagregação, adveio a gradual perda
de poder da EBTU, desde o corte de recursos vinculados em 1982
(passando-se a recorrer ao Banco Mundial e outras instituições de
aporte de capitais) até a sua extinção em 1989 através do Decreto nº
97.455 de 1989 (GEIPOT, 2001).
Neste processo de transição (traumática) do período ditatorial
/centralizado para o período democrático, a manutenção do GEIPOT
como grande órgão de ‘pensamento’ da política de transportes e
mobilidade urbana teve o papel de garantir alguma continuidade das
políticas federais e a transição para o novo período. De fato, o
GEIPOT foi extinto apenas em 2002 (Decreto nº 4.135),
permanecendo até esta data como órgão de vital importância através
da realização de uma série de estudos para os quais os nascentes
órgãos locais não tinham capacidade e estrutura. Entre os exemplos,
destaca-se os estudos para o cálculo de tarifas de ônibus urbanos que
se tornariam referencia para o País (LIMA, 1992, GEIPOT, 2001, APUD
CEPAL / IPEA).
A CBTU e a estadualização dos sistemas ferroviários urbanos. O caso
dos trens urbanos e da Companhia Brasileira de Trens Urbanos
(CBTU) também demonstra o processo que vivia o Brasil na área dos
transportes urbanos, como de resto em toda a administração pública,
e confirma a divisão de períodos proposta por este Documento. A
CBTU foi criada pelo Decreto nº 89.396 de 1984 com a estrita missão
de gerenciar e preparar a transferência dos sistemas de trens
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Endereço: SHIS, QI5, Conjunto 2, Casa 2. CEP: 71615-020.Brasília – DF.
urbanos da RFFSA para os Estados. Neste período, ela absorve o
planejamento e a operação dos sistemas urbanos de ferrovias em 9
capitais e metrópoles: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Recife, Salvador, Fortaleza, João Pessoa, Maceió e Natal (para Porto
Alegre, foi criada a TRENSURB em 1980). Ressalte-se que parte
significativa desses sistemas urbanos adveio do uso da malha
ferroviária de transporte de cargas, crescentemente ociosa a partir
da década de 80 (BITTENCOURT; BRIZON, 2006, APUD CEPAL / IPEA).
A CBTU passa gradativamente a gerir os sistemas ferroviários que se
encontravam com a RFFSA: São Paulo e Rio de Janeiro em 1984,
Recife em 1985, Belo Horizonte em 1986, Recife, Fortaleza, Salvador,
Natal, João Pessoa e Maceió em 1988. É criado o Programa de
Modernização da Ferrovia, transformado a partir da criação do Plano
Nacional de Desestatização em 1990, em Programa de Estadualização
dos Sistemas de Trens Urbanos de Passageiros sobre Trilhos.
Em1993, a CBTU deixa de ser subsidiária da RFFSA (Lei nº 8.693),
tornando-se uma empresa ligada ao Ministério dos Transportes, com
a prévia incumbência de modernizar os sistemas e prepará-los para
sua transferência para os estados.
Este processo culmina com a transferência, em 1994, das malhas
metropolitanas de São Paulo e Rio para os respectivos governos
estaduais e suas empresas (Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos – CPTM e Companhia Fluminense de Trens Urbanos –
FLUMITRENS).
Subsequentemente, outros estados vão criando suas empresas:
Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (METROFOR,
1997), com o objetivo de implantar o Metrô – e posteriormente
agregando a Superintendência de Fortaleza da CBTU; Companhia de
Transportes de Salvador (CTS 2000), com transferência em 2005 do
Sistema de Trens Urbanos para a Prefeitura de Salvador. Atualmente,
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a CBTU opera os trens de passageiros nas cidades de Recife, Belo
Horizonte, João Pessoa, Natal e Maceió (CBTU, 2014).
A CBTU está vinculada desde 2003 ao Ministério das Cidades, assim
como o DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito e a
Trensurb - Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A.
Segundo período (1985 – 1998). Em 1986, início do período da
redemocratização, foi criado o Ministério do Desenvolvimento
Urbano, reunindo ações de saneamento, habitação, política urbana e
transportes, e reunindo órgãos de importância central: BNH, EBTU e
CNDU. Apesar desta centralização das questões urbanas ser
absolutamente necessária (como ficaria claro, posteriormente, com a
criação do Ministério da Cidade), a contínua alteração do formato
institucional impedia a consolidação de um sistema de gestão
eficiente – quanto a isto, podemos falar não apenas da eficiência da
gestão federal, como também da capacidade de estados e municípios
em se adequar ao quadro institucional do Governo Central e assim
aplicar localmente as diretrizes.
Após o fim da EBTU em 1989, a gestão do transporte urbano na
esfera federal passa a ser dividida entre a Secretaria Nacional dos
Transportes (nesta época alocada no Ministério da Infraestrutura -
MINFRA), pelo Geipot (que seria extinto somente em 2002) e pela
CBTU (responsável pela gestão dos sistemas de trens urbanos).
(GEIPOT, 2001; SOUZA, 1992, APUD CEPAL / IPEA).
Se por um lado a transição para o novo modelo de gestão, menos
centralizado, trouxe maior poder de decisão para as esferas locais,
por outro lado interpunha-se a baixa capacidade decisória e gerencial
– especialmente no caso dos municípios. Uma das grandes
dificuldades era cumprir a determinação da Constituição de 1988, de
realização de licitação para a concessão de serviços de ônibus
urbano. No caso dos municípios inseridos em Regiões Metropolitanas
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(RMs), o desafio era acrescido pelos conflitos federativos (RMs e
municípios), marcos legais distintos e integração da gestão (CEPAL /
IPEA).
A Constituição de 1988 é o grande marco divisório, de fato, entre o
período militar e a redemocratização. Ela estabelece, entre outros,
que a prestação dos serviços de transporte urbano é de
responsabilidade municipal e estadual – competindo no entanto, à
União, estabelecer as diretrizes e legislação gerais. Neste sentido,
mesmo para o novo período marcado pela descentralização
decisória, é fundamental analisar as diretrizes federais e sua
evolução.
Na sequência da nova Carta, a Lei Federal nº 8.693 de 1993
determinou a transferência da União para estados e municípios dos
serviços de transporte ferroviário urbano e suburbano de
passageiros.
Ainda no começo dos anos 90, o Ministério de Ação Social passa a
centralizar as políticas de habitação e saneamento; em 1995 estas
são transferidas para a Secretaria de Políticas Urbanas – SEPURB/MP,
do Ministério do Planejamento, enquanto os transportes urbanos,
incluindo a CBTU e a Trensurb, continuaram no Ministério dos
Transportes.
Neste que podemos chamar de período inicial da redemocratização,
que se estende desde o Governo Sarney, passando pela Constituinte
e promulgação da Nova Carta Magna, até a fase da consolidação do
novo arcabouço jurídico-institucional (estatuto das Cidades em 2001
e Ministério das Cidades em 2003) e de abertura econômica
(aceleração do processo de concessões e privatizações propostas no
Governo FHC), o modelo conceitual de transporte urbano de
passageiros ainda permanecia aquele criado e reforçado nas décadas
anteriores, muito embora recebesse novos ares com o aumento de
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poder de estados e municípios, o aprofundamento das discussões
afeitas à esfera metropolitana e o próprio advento da democracia.
Ainda durante este período, que podemos caracterizar como sendo
de transição entre o modelo federal centralizado e o modelo atual,
enquanto definhava a ascendência dos órgãos central de
planejamento e gestão e diminuía gradativamente a capacidade de
investimentos públicos (das 3 esferas), o novo modelo – tanto da
gestão e investimentos partilhados entre os níveis de governo, como
de regulação dos investimentos privados –, ainda não estava pronto.
Ao mesmo tempo, tornava-se claro o esgotamento do modelo
baseado no transporte individual, com precarização dos trens e
ônibus e multiplicação de sistemas informais nas grandes cidades,
num cenário de explosão demográfica e incapacidade de gestão,
especialmente dos municípios.
O novo modelo, centrado na ‘mobilidade’ (das pessoas), só viria a
repercutir nas políticas públicas nos anos vindouros, como veremos a
seguir.
Terceiro período (1998 – 2014). O último período compreende desde
o final da década de 90 até os dias atuais, e corresponde,
politicamente, ao que podemos chamar de ‘democracia consolidada’;
economicamente, ao período de expansão da atuação privada e ao
fortalecimento do Estado como ente regulador; e,
administrativamente, à centralização das questões da urbanidade em
um ministério específico. Este período caracteriza-se, inicialmente,
pelas ações do Governo Federal rumo a uma nova estrutura legal e
de gestão em substituição ao arcabouço herdado do regime militar.
A criação, em 1999, da Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Urbano (SEDU/PR – Lei nº 2.982/1999, a partir da Secretaria de
Política Urbana, anteriormente vinculada ao Ministério do
Orçamento e Gestão), vinculada diretamente à Presidência da
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República, mostrava a importância de se reforçar a atuação federal
junto às questões de desenvolvimento urbano, principalmente na
habitação, urbanização, saneamento e transportes), de forma
coordenada; internamente à SEDU, por sua vez, deu-se a criação do
Grupo Executivo de Transporte Urbano (GTrans), através da Portaria
19 de 2000 (GOMIDE, 2008, APUD CEPAL / IPEA).
Do ponto de vista legal, a criação do Estatuto da Cidade (Lei nº
10.257 de 2001) balizou o novo modelo da política pública federal
para a questão urbana. Passaram a ser centrais a função social da
propriedade e a repartição dos lucros advindos da valorização
imobiliária. Muito embora a implantação de fato dos instrumentos
do Estatuto da Cidade ainda dependa dos planos diretores e leis
ordinárias nas respectivas aglomerações urbanas, a própria
promulgação da Lei 10.257 alterou definitivamente os paradigmas do
planejamento urbano.
O Estatuto da Cidade dispôs sobre a obrigatoriedade da existência de
plano de transporte urbano integrado para os municípios com mais
de quinhentos mil habitantes (§ 2º do art. 41 da Lei nº 10.257/2001).
Do ponto de vista do financiamento do transporte público, o Governo
Federal firma o protagonismo do BNDES como grande órgão de
aporte de recursos, inclusive a estados e municípios.
Do ponto específico da mobilidade urbana, o Estatuto incluiu a
questão sob a ótica mais global do desenvolvimento urbano. Assim,
entre outras consequências, instituiu a obrigatoriedade de planos de
transporte urbano integrados para as cidades com mais de 500 mil
habitantes.
Como consequência quase natural deste novo entendimento, o
Governo Federal criou em 2003 o Ministério das Cidades (MCidades),
que passa então a coordenar uma série de políticas e programas
federais anteriormente vinculados aos ministérios tradicionais
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(habitação, transportes, infraestrutura). Desta forma, é criada dentro
do MCidades a Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade
Urbana (SeMob). Adicionalmente, é instituído pela Lei nº 10.683 de
2003 o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte
(Conit), regulamentado pelo Decreto nº 6.550 de 2008; pode-se citar
ainda a “criação em 2003 de um Grupo de Trabalho de Transporte
Urbano dentro do Comitê de Articulação Federativa da Subchefia de
Assuntos Federativos da Casa Civil, buscando a construção de um
pacto federativo entre o governo federal e os governos estaduais e
municipais para lidar com a questão de maneira mais ampla
(GOMIDE, 2008, APUD CEPAL / IPEA).
Em 2004, o Ministério das Cidades apresenta o novo marco das
políticas públicas urbanas, através do lançamento dos Cadernos
MCidades dentre os quais o caderno da Política Nacional de
Mobilidade Urbana Sustentável (PNMUS). A partir deste momento,
com o lançamento da PNMUS, consolida-se o protagonismo do
MCidades para as questões urbanas e para o tema da mobilidade
urbana, bem como inicia-se uma nova trajetória da questão, não
mais restrita à ampliação de infraestrutura viária, mas focada na
mobilidade das pessoas sobre o espaço urbano e peri-urbano e na
sustentabilidade.
Assim, a mobilidade passa, ao menos nas diretrizes do Governo
Federal, a ser integrada ao desenvolvimento urbano, aos planos
diretores, à questão da terra e do mercado imobiliário e ao
desenvolvimento das economias locais.
É certo, entretanto, que essa nova perspectiva, muito mais
abrangente e inclusiva, ainda encontrava e encontra a resistência do
modelo tradicional, soberano durante as últimas décadas (ou,
melhor, desde os primórdios das cidades brasileiras). Nunca é demais
lembrar que estamos falando de um tema eminentemente municipal
e regional. E, por mais que a centralização das políticas e do
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orçamento na esfera federal tenha sido a característica
predominante, é na aplicação destes por municípios e estados que se
realiza a política de mobilidade urbana.
Assim, fica claro que ambos, estados e municípios, continuam em
grande parte dos casos a investir em ações isoladas de transporte
urbano, sem um pensamento sistêmico de desenvolvimento urbano
e priorizando o transporte individual motorizado (automóveis),
mesmo com claros sinais de esgotamento deste modelo.
Atualmente, o Ministério das Cidades coordena, entre outras
políticas setoriais voltadas às cidades, todas as políticas públicas de
trânsito e transporte urbanos, centralizando uma série de órgãos
antes dispersos por outros: Departamento Nacional de trânsito
(Denatran), que se encontrava no Ministério da Justiça, a CBTU e a
Trensurb, no Ministério dos Transportes. Estes entes, tradicionais na
estrutura hierárquica federal, passam a compor a estrutura do MC
em articulação com a nova estrutura da Secretaria Nacional de
Transporte e da Mobilidade Urbana – SeMob, do MCidades.
(MCidades, 2004).
Outra alteração fundamental foi a aprovação do Código de Trânsito
Brasileiro (CTB) em 1997 (Lei nº 9.503), o qual definiu a competência
municipal de gestão do trânsito urbano. Apesar disto, apenas 10%
dos 5.561 municípios brasileiros implementaram seus órgãos locais
de trânsito. O CTB determinou a implantação do Sistema Nacional de
Trânsito (SNT), coordenado atualmente pelo MCidades.
A nova Política Nacional de Mobilidade Urbana. Por fim, em 2012
entrou em vigor a Lei nº 12.587, que instituiu as diretrizes para a
Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), após 17 anos de
discussões no Congresso Nacional acerca de questões pontuais, a que
foram se somando uma série de projetos, em especial o Projeto de
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Lei nº 1.687, que buscava instituir as diretrizes da política de
mobilidade urbana.
Sua formulação está fundamentada na Constituição Federal de 1988:
Art. 21. Compete à União:
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive
habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo
Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei,
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório
para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento
básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no
plano diretor.
A nova PNMU estabelece princípios, diretrizes e instrumentos para
que os municípios planejem e construam seus sistemas de
transportes e de infraestrutura viária de circulação. Entre outros,
prevê mecanismos a diminuição da tarifa de transporte coletivo, o
apoio às vias exclusivas para ônibus e bicicletas, a restrição de
circulação de veículos em determinados horários e a possibilidade de
cobrança de tarifa para utilização de infraestrutura urbana, como
estacionamentos públicos.
A PNMU estabelece a obrigatoriedade de elaboração de Plano de
Mobilidade Urbana para municípios com mais de 20 mil habitantes,
no prazo de 3 anos e integrado ao plano diretor municipal, previsto
pelo Estatuto da Cidade. Anteriormente, apenas municípios com mais
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de 500 mil habitantes tinham essa obrigação. Com isso, o número de
municípios obrigados a construir seu plano de mobilidade sobe de 38
para 1.663 (Senado Federal, 2013). Conforme o PNMU, o município
que não tiver elaborado o Plano de Mobilidade Urbana até abril de
2015 ficará impedido de receber recursos federais destinados à
mobilidade urbana.
A Política Nacional de Mobilidade Urbana estabeleceu as
prerrogativas das 3 esferas de governo:
Atribuições da União:
- Prestar Assistência técnica e financeira aos Estados, DF e
municípios;
- Contribuir para a capacitação e desenvolvimento das instituições
dos Estados, DF e municípios;
- Organizar e disponibilizar informações sobre o Sistema Nacional de
Mobilidade Urbana;
- Fomentar projetos de grande e média capacidade, nas
aglomerações urbanas e regiões metropolitanas.
- Estimular ações coordenadas entre Municípios e Estados nas áreas
conurbadas.
Atribuições dos Estados e DF:
- Prestar os serviços de transporte público coletivo intermunicipais
de caráter urbano;
- Propor política tributária para a implantação da PNMU;
- Garantir a integração dos serviços nas áreas que ultrapassem os
limites municipais.
Atribuições dos Municípios:
Planejar, executar e avaliar a Política de Mobilidade Urbana;
Promover a regulamentação dos serviços;
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Capacitar pessoas e desenvolver instituições;
Prestar os serviços essenciais de transporte público coletivo urbano.
A PNMU também definiu o rol de possíveis instrumentos de gestão
da mobilidade urbana:
- Restrição e controle de acesso de veículos motorizados;
- Implantação de faixas exclusivas de ônibus, ciclovias e ciclofaixas;
- Estipulação de padrões, monitoramento e controle de emissão de
poluentes, com possibilidade de controle de acesso de veículos
motorizados;
- Implantação de Pedágio Urbano, com aplicação exclusiva da receita
em transporte público coletivo e não motorizado e subsídio público
da tarifa;
- Definição de política de estacionamentos de uso público e privado,
com e sem pagamento;
- Controle da circulação e operação do transporte de carga;
Estrutura atual do MCidades e da Política de Mobilidade Urbana
O Ministério das Cidades, como já descrito anteriormente, coordena
as diversas vertentes da problemática urbana. A SeMob, Secretaria
Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, é uma das 4
estruturas setoriais vinculadas ao Ministério. Além destas, fazem
parte o CONTRAN e DENATRAN, órgãos da área de trânsito, e CBTU e
TRENSURB, da área de transporte ferroviário urbano de passageiros,
além do Conselho das Cidades, órgão colegiado consultivo que tem
como prerrogativa estudar e propor diretrizes para a formulação e
implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
(PNDU) e acompanhar sua execução. O Conselho das Cidades
compõe-se ainda de um Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e
Mobilidade Urbana. A seguir apresenta-se a estrutura do MCidades e
o ‘desenho’ da política nacional de mobilidade urbana.
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Figura 1: estrutura institucional do Ministério das Cidades
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Figura 2: Estrutura institucional do Ministério das Cidades
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Copiado de
http://www.acisbs.org.br/download.php?file=971480690a_Politica_de_Mobilidade_urbana_no_desenvolvimento_das.ppt
Fonte: MCidades / Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, A Política de Mobilidade Urbana no Desenvolvimento das Cidades
SEÇÃO 2: ANÁLISE E IDENTIFICAÇÃO DOS ACERTOS E DIFICULDADES E PRINCIPAIS INDICADORES
QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS
A condução da política de transportes urbanos pelos sucessivos
governos militares mostrou que, a despeito do enorme esforço de
planejamento pelo Governo Central, os imensos desafios não foram
corrigidos ou sequer minorados. Pelo contrário, os problemas e as
demandas apenas se avolumaram.
Neste período de análise (1964 – 1985), o diagnóstico talvez seja
mais simples, dada a distância temporal e histórica, e talvez um certo
consenso sobre os principais equívocos.
O primeiro deles é, sem dúvida, a própria formatação política, isto é,
a vigência do sistema não democrático. Muito embora possamos, ao
longo da história, apontar momentos de sucesso em políticas
públicas levados a cabo durante regimes de exceção, resta claro que
as políticas setoriais e decisões de planejamento foram mais e mais
afastando-se daqueles que mais dependiam dos seus efeitos.
Quando falamos em decisões autocráticas, não nos referimos apenas
à falta de participação e controle das instituições da Sociedade Civil,
mas também à natural (num contexto autoritário) centralização
decisória pelo Governo Central. Esta ocorria não apenas no nível
decisório, mas sobretudo na formulação das políticas públicas,
concentração de investimentos e de um sistema de planejamento
que mantinha e ampliava a concentração do conhecimento sobre o
tema.
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No entanto, há outros aspectos de fundamental importância, cuja
origem remonta a décadas anteriores e que perduraram e de certa
forma ainda reverberam.
Um deles é a ascensão do automóvel particular, fenômeno marcante
a partir da década de 50 com a instalação das grandes montadoras
no Brasil.
Outro aspecto é a visão setorializada e fragmentada do planejamento
e da política de transportes urbanos.
Por último – e, aspecto intimamente ligado aos aspectos anteriores –
a concentração de investimentos para suprir as demandas dos
setores mais abastados e politicamente organizados, com
investimentos maciços nas parcelas dos territórios urbanos
consolidados e mais valorizados, reproduzindo o modelo de exclusão
sócio territorial e ampliando a segregação, sobretudo nas grandes
cidades.
Para avançarmos, entretanto, na análise dos equívocos nas decisões
de política de mobilidade urbana, precisamos nos debruçar sobre os
períodos subsequentes, e tentar compreender porque os avanços
institucionais das últimas 3 décadas não foram suficientes para
provocar de fato uma guinada e a melhoria dos sistemas e da
qualidade dos transportes urbanos. Ou, de outra forma, para saber
até onde avançamos e quanto mais poderemos evoluir.
Pois, a partir do segundo período em análise, em que uma série de
mudanças institucionais foram concretizadas, o processo de
urbanização acelerada e desigual apenas fez intensificar-se,
ampliando-se as questões relativas ao valor da terra, à carência de
serviços – dentre os quais os transportes – e ampliando-se ainda o rol
de cidades, com a contaminação de certos fenômenos indesejáveis
para as médias cidades (expansão da frota de carros, poluição,
acidentes, projetos de grandes obras viárias exclusivas para carros
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etc.). Por outro lado, enquanto uma das questões centrais para a
resolução dos problemas de transportes, o planejamento
metropolitano continuou inexistindo, com raras exceções.
Releve-se o fato de que, conforme explicado na Seção 1 deste
Documento, o período 1985 – final da década de 1990 –, marcado
pela transição entre 2 modelos, levou ao desmonte da estrutura
antiga e ao início da montagem do novo arcabouço, o que
obviamente não seria suficiente para engendrar uma mudança no
quadro real nas grandes cidades. Enquanto a nova Constituição
definia a transferência de uma série de prerrogativas da esfera
federal para os municípios (sem recursos suficientes, diga-se), a
extinção das grandes agências, como a EBTU, privava as cidades de
apoio técnico e institucional adequados, além de eliminar de vez a
integração com as outras políticas setoriais urbanas.
Se do ponto de vista institucional o período da transição apenas
permitiu a ampliação dos desafios a serem enfrentados, do ponto de
vista econômico e orçamentário a situação não era nada favorável.
Os efeitos do fim do ‘milagre econômico’ e da crise do começo dos 80
para as finanças públicas foram enormes.
No terceiro período, marcado pela implementação de novas políticas
e de instrumentos, como o Estatuto das Cidades, o Ministério das
Cidades e o Sistema Nacional de Trânsito, os temas de plano diretor,
acesso à terra e mercado imobiliário, desenvolvimento econômico e
desenvolvimento urbano de modo geral passam a fazer parte das
decisões em mobilidade urbana.
Cabe, entretanto, para determinar o sucesso da nova orientação,
avaliar em que medida o advento da perspectiva integrada,
abrangente e inclusiva, é um fato concreto na realidade dos
municípios – seja nas grandes metrópoles ou nas pequenas cidades –
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lembrando que apenas em 2012 o PNMU determinou a construção
de planos de mobilidade para cidades com mais de 20 mil habitantes.
Quanto a esta nova obrigatoriedade, há o precedente do Estatuto
das Cidades, que determinou em 2001 a elaboração compulsória de
PlanMob para cidades com mais de 500 mil habitantes, em
consonância com os respectivos planos diretores. Por certo houve
uma grande corrida das cidades para adequar-se à Lei, entretanto,
muitas vezes de forma superficial e burocrática, apenas para cumprir
os requisitos determinados.
Embora considere-se extremamente positivas as diretrizes colocadas
pelo Governo Federal e pelo MCidades, estas por si só não foram
suficientes para provocar mudanças radicais na formulação das
políticas municipais de transporte. Entendemos que o arraigado
modelo tradicional ainda predomina, e que as mudanças
preconizadas pela nova legislação, para surtir efeito, deverão ser
acompanhadas de um direcionamento mais decisivo em torno dos
transportes sustentáveis, quer dizer, cortando fortemente os
recursos para obras viárias sem efeito a longo prazo e garantindo a
liberação de recursos para estados e municípios mediante a
observância efetiva de certos critérios de desenvolvimento urbano e
sustentabilidade ambiental. Mais especificamente, devem estar
condicionadas de fato às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade
Urbana Sustentável e Política Nacional de Trânsito, apresentadas
ainda em 2004 durante reunião do Conselho das Cidades ao Comitê
Técnico de Trânsito, Transportes e Mobilidade Urbana e base da
Política Nacional de Mobilidade Pública Sustentável.
Quantificação. Para a quantificação dos dados da evolução urbana
desde 1964, associada à evolução da infraestrutura de mobilidade
urbana, cabe aqui definir as principais transformações e os grandes
indicadores desta evolução. Optamos por definir, para a questão da
mobilidade urbana, os seguintes indicadores: urbanização (população
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urbana, tamanho das cidades); taxa de motorização (número de
automóveis particulares); evolução das formas de deslocamento e
distribuição modal; e tempo de deslocamento no trânsito.
PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
Conforme o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, o Brasil atingiu
naquele ano uma população de aproximadamente 190 milhões de
habitantes, cerca de 12,3% superior à registrada no censo anterior de
2000. Ampliando uma tendência que se verifica com vigor desde a
década de 50, o Censo revelou que a participação da população
urbana no total do País chegou a 84,4%. Essa tendência tem sido
observada desde a década de 50 do século passado. O Quadro 2
demonstra a urbanização acelerada dos últimos 60 anos:
Quadro 2: população urbana e população rural - Censo 2010
Total Urbana Rural Total Urbana Rural
1º.07.1950 (1) 51 944 397 18 782 891 33 161 506 100,0 36,2 63,8
1º.09.1960 70 070 457 31 303 034 38 767 423 100,0 44,7 55,31º.09.1970 93 139 037 52 084 984 41 054 053 100,0 55,9 44,11º.09.1980 119 002 706 80 436 409 38 566 297 100,0 67,6 32,41º.09.1991 146 825 475 110 990 990 35 834 485 100,0 75,6 24,41º.08.2000 169 799 170 137 953 959 31 845 211 100,0 81,2 18,81º.08.2010 190 755 799 160 925 792 29 830 007 100,0 84,4 15,6
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1950/2010.
(1) Para o cálculo da taxa foi utilizada a população presente em 1950, enquanto para os anos seguintes foi utilizada a população residente.
Junto ao processo de êxodo do campo para as cidades, outro
movimento era verificado: a concentração de população nas grandes
aglomerações urbanas. Pois, assim como havia o movimento
acentuado de migração do campo para a cidade, havia também o
movimento dos pequenos núcleos urbanos para os grandes centros
(fenômeno este que foi sendo expandido nas últimas décadas,
ocasionando a explosão no número de cidades médias).
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Quadro 3: Número de municípios, segundo as classes de tamanho da população dos municípios
Classes de tamanho da população dos municípios (habitantes)
Número de municípios
Total (1) 5 565Até 2 500 260Mais de 2 500 até 8.000 1 912Mais de 8 000 até 20.000 1 749Mais de 20 000 até 500.000 1 604Mais de 500. 000 40
Fonte: IBGE
Nota: Cálculo com base nas estimativas de população residente para 1º de julho de 2009. (1) Inclui o Distrito Estadual de Fernando de Noronha e o Distrito Federal.
TAXA DE MOTORIZAÇÃO
Outra tendência verificada refere-se à aquisição de veículos
particulares e ao uso do automóvel para os deslocamentos cotidianos
intra-urbanos. Muito embora a taxa de motorização brasileira seja
baixa, se comparada à de outros países, é fato que ela elevou-se
continuamente nas últimas décadas. Conforme informações do
Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2012, elaborado pela
ANFAVEA (APUD MOREIRA; DOURADO), o aumento da taxa de
motorização na última década é um fenômeno típico dos países
‘emergentes’, conforme gráfico a seguir. Com efeito, temos, entre
2001 e 2010, uma redução expressiva na Coréia do Sul (de 3,6 para
2,7 habitantes por veículo), México (de 6,1 para 3,5), Argentina (de
5,3 para 4,0) e Brasil (de 8,6 para 6,1 habitantes por veículo).
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Gráfico 1: Índice de habitante por automóvel em diversos países
Fonte: A taxa de motorização nas cidades brasileiras e a questão da mobilidade urbana. Mauricio Renato Pina Moreira; Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
Em http://www.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2013/10/07/F5EE6A8C-151A-403D-8C98-56488342AEE1.pdf
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) de 2012, o percentual de domicílios no país em que ao menos
um morador possuía carro chegou a 42,4%, ou 26,7 milhões de lares,
com elevação de 1,3% em relação a 2011. As motocicletas estão em
20% das casas (12,6 milhões de lares), um aumento de 0,9 % sobre
2011.
A frota total de veículos no Brasil em julho de 2012 alcançou 73
milhões de unidades, das quais 41 milhões automóveis, 5 milhões
caminhonetes, 2,2 milhões camionetas, 119 mil ciclomotores, 16,4
milhões motocicletas, 2,9 milhões motonetas, 154 quadriciclos, 17
mil triciclos e 375 mil utilitários, ou seja, um total de 65.703.975
veículos leves.
Do total de 5.568 municípios brasileiros, as dez maiores cidades
representavam em 2012, 34,6 milhões de habitantes ou cerca de
17,9% do total do Brasil (estimativa IBGE, 2013), e aproximadamente
22,5% da frota total do País (DENATRAN, 2013, APUD MOREIRA;
DOURADO). Apresenta-se a seguir a taxa de motorização destas 10
cidades.
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Quadro 4: Taxa de Motorização das 10 maiores cidades brasileiras
Fonte: A taxa de motorização nas cidades brasileiras e a questão da mobilidade urbana. Mauricio Renato Pina Moreira; Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
Em http://www.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2013/10/07/F5EE6A8C-151A-403D-8C98-56488342AEE1.pdf
No entanto, o número de veículos particulares registrados é muito
maior do que indicam as pesquisas origem-destino. Exemplificando, o
Município de São Paulo possui, conforme a tabela acima, cerca de 6,7
milhões de veículos (atingindo em 2011 a cifra de 7 milhões de
veículos, de acordo com o Detran / SP), entretanto, de acordo com
dados da Pesquisa Origem – Destino do Metrô de São Paulo, ‘apenas’
cerca de 1/3 dos deslocamentos são realizados através do automóvel
(e, aproximadamente 1/3 a pé e 1/3 com transportes coletivos). Em
uma cidade de 11 milhões de habitantes, aquela cifra de 6,7 milhões
significaria que a totalidade da população adulta possui e utiliza o
carro, o que é falso. A própria prefeitura de São Paulo definiu em 4,7
milhões o número de veículos para a vistoria da inspeção veicular,
enquanto o pesquisador Carlos Paiva estimou a frota em circulação
no Município em cerca de 1/3 dos 7 milhões estimados (PAIVA,
CARLOS).
Comparativamente, a Região Metropolitana do Recife registrava, em
2007, um crescimento anual da frota de veículos de 6,8% ao ano,
elevando-se o patamar nos anos seguintes a 7,7% (em 2008), 8,6%
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(2009), 10,4% (2010), 9,9% (2011) e 7,9% (2012). Obviamente estes
dados não representam a real evolução da circulação de automóveis.
Os dados referentes à taxa de motorização, frota de veículos e
veículos de fato em circulação devem ser analisadas pelas instâncias
do setor com certo cuidado. Segundo a Pesquisa Origem – Destino do
Metrô de São Paulo, a população da RMSP cresceu 16% entre 1997 e
2007, mesmo acréscimo da frota de automóveis, resultando na
mesma taxa de motorização de 1997, de 184 veículos por mil
habitantes”(Pesquisa OD 2007, METRÔ SP). Ou seja, um dado
completamente diferente da tabela acima, que indica uma taxa de
592,3 para o Município de São Paulo em 2012.
EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO MODAL
A principal característica da evolução da distribuição modal das
últimas décadas é a crescente presença dos automóveis, em
substituição ao uso do transporte coletivo. Outras características da
alteração modal são: a eliminação do transporte por bonde,
substituído pelo ônibus; a estagnação ou diminuição do uso dos
trens urbanos (revertida em tempos recentes em função da
modernização ferroviária); o surgimento do Metrô; o recente
crescimento do uso da bicicleta nas grandes e médias cidades (ainda
que em número pequeno); o surgimento e expansão de sistemas
informais e ilegais de transporte coletivo (lotações); a explosão no
uso da motocicleta; e a enorme quantidade de deslocamentos a pé
(em função das distâncias, da qualidade do sistema de transportes ou
do preço da passagem).
A presença e utilização do automóvel particular varia de acordo com
a classe de renda e o tamanho da cidade. Conforme estudo realizado
pelo IPEA sobre dados da Pesquisa O-D do Metrô de São Paulo, na
RM de São Paulo utilizam o automóvel 79% da classe A, 60% na classe
B, 40% na classe C e 27% na classe D. Já para a divisão por tamanho
60
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de cidade, a alteração de faz para os principais modos: transporte
coletivo, automóvel, moto, bicicleta e a pé:
Gráfico 2: Divisão modal segundo classes de municípios
ANTP APUD Ministério das Cidades, A Política de Mobilidade Urbana no desenvolvimento das cidades
Muito embora haja diferenças acentuadas entre os municípios, em
especial considerando-se suas dimensões, fica claro o processo de
substituição do uso do transporte coletivo pelo automóvel particular.
E, tendência recente verificada em São Paulo e outras capitais, o
início da reversão deste processo, talvez pelo próprio esgotamento
do modelo urbano baseado no automóvel, traduzido pelo aumento
dos congestionamentos.
Conforme dados da Pesquisa Origem – Destino (O-D) do Metrô de
São Paulo, do total de 38,1 milhões de viagens realizadas diariamente
na RMSP em 2007, os modos motorizados representam 66% e os
não-motorizados 34%. Entre as pesquisas de 1997 e 2007, o
crescimento do número de viagens totais foi de 21%.
A divisão modal entre os modos coletivo e individual reverteu pela
primeira vez em várias décadas a queda de participação do modo
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coletivo. Em 2007, a divisão modal foi de 55% para o modo coletivo e
45% para o individual, retomando índices próximos aos da Pesquisa
OD de 1987, após ter atingido um patamar em 1997 em que o modo
particular tinha ultrapassado o coletivo.
Comparativamente, na Região Metropolitana de Campinas, um dos
polos mais dinâmicos da economia nacional, com 2,8 milhões de
habitantes (METRÔ, 2011) , o modo motorizado passou de 64,16%
para 72,6% do total das viagens, entre 2003 e 2011. No mesmo
período, as viagens no modo individual cresceram de 35,7% para
43,66% do total das viagens motorizadas, demonstrando que a
reversão do processo de predomínio ao automóvel sobre os sistemas
coletivos, que já se faz presente na RMSP, ainda não atingiu as
cidades de porte médio.
TEMPO DE DESLOCAMENTO NO TRÂNSITO
Conforme pesquisa do IPEA a partir de dados da PNAD (PEREIRA,
SCHWANEN), o tempo gasto pelas pessoas no trânsito vem
aumentando nos últimos anos. Entre 1992 e 2009, quase todas as
RMs enfrentaram um aumento, conforme exposto a seguir:
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Quadro 5: Tempo de deslocamento nas regiões metropolitanas
A seguir apresenta-se um resumo das características das grandes
regiões metropolitanas, suas taxas de motorização e tempos de
deslocamento:
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Quadro 6: Regiões metropolitanas, motorização e tempo de deslocamento
SEÇÃO 3: ORÇAMENTO E EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA
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Esta sessão, pela dificuldade em se obterem dados consolidados e
que abarquem o conjunto das ações em mobilidade urbana, está
dividida em 2 partes: dados obtidos no Portal SIGA BRASIL do
Senado; e informações dos planos plurianuais, como base das
previsões de investimentos e como instrumento de comparação com
o efetivamente realizado.
Também é fundamental destacar, dentro desta dificuldade de
obtenção dos dados de execução orçamentária, que os investimentos
estão a princípio vinculados ao MCidades (em 2002 o programa de
mobilidade urbana foi criado com o nome de “Transporte Rodoviário
Urbano”; em 2004 passou a chamar-se “Mobilidade Urbana”; e, em
2012, tomou o formato atual de Programa de “Mobilidade Urbana e
Trânsito”), no entanto há investimentos sob o guarda-chuva dos
diversos PACs, inclusive do PAC da Copa. Os dados se confundem e se
misturam, inclusive com sobreposições, mas a apuração exata disto e
da totalidade dos investimentos demandará um trabalho bem mais
acurado. Esta dificuldade fica clara quando colocamos o rol de
programas atualmente em execução, que envolvem investimentos
federais na área de mobilidade urbana, entre programas do
MCidades e dos PACs:
PAC 2 - Mobilidade Médias Cidades
PAC 2 - Mobilidade Grandes Cidades
PAC 2 Pavimentação e Qualificação de Vias Urbanas – 2ª
Etapa
PAC 2 Pavimentação e Qualificação de Vias Urbanas – 3ª
Etapa
PAC da Copa
Pró-Transporte. Programa de financiamento a estados e
municípios.
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Bicicleta Brasil
Brasil Acessível
Programa Mobilidade Urbana
Pró-Mob. Programa de Financiamento de Infraestrutura para
Mobilidade Urbana.
Alguns dados de execução orçamentária estão entremeados por
comentários, muitos a partir de informações do Site Contas Abertas,
a fonte independente mais confiável e completa. Assim mesmo, as
informações deverão ser confirmadas, inclusive e especialmente pelo
cruzamento de informações genéricas com a execução das grandes
obras e ações de Mobilidade Urbana.
E, importante ressaltar que há ainda as parcelas de contrapartida de
estados e municípios, que muito embora não sejam verbas federais,
implicam investimentos e ações conjuntas, e que há recursos diretos
do tesouro e recursos de empréstimos estatais e privados.
Por fim, o SIGA BRASIL nos pareceu a melhor e mais completa fonte
de dados. Há algumas tabelas com subitens que não são acessíveis, e
supostamente necessitariam o cadastramento para acesso ao
conjunto de informações relevantes.
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SEÇÃO 3.1 – EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA
A seguir apresentaremos os dados mais recentes de execução orçamentária para a área de mobilidade
urbana, aos quais acrescentamos a CBTU e TRENSURB, vinculadas à SeMob / MCidades, além de alguns
programas que atuam sobre a questão da mobilidade.
O orçamento federal para a área de Mobilidade Urbana do Governo Federal é apresentado a seguir,
para os anos de 2013, 2012 e 2011 (correspondente aos 3 primeiros anos do Governo Dilma), conforme
dados retirados do Portal SIGA BRASIL do Senado Federal.
Quadro 7: LOA 2013 – Execução Orçamentária por Órgão e Unidade Orçamentária
Caso necessite acessar a fonte original, ver em:
http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasil, a seguir em “acesso livre”. Uma vez aberto, clicar à esquerda em “4.2.E.1 - Execução da Despesa”. E clicar na 5ª tabela (“despesa execução - órgãos) Após abrir, clicar embaixo em “órgão UO”, e depois no alto chamar a pg. 5.
Quadro 8.a: LOA 2013 – Execução Orçamentária por Sub-função
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http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasi l , a seguir em “acesso livre”. Uma vez aberto, clicar à esquerda em “4.2.E.1 - Execução da Despesa”. E clicar na 1ª tabela (“despesa execução - programas) Após abrir, clicar embaixo em “programa-órgão”. Procurar por todos do MCidades.
Quadro 8.b: LOA 2013 – Execução Orçamentária por Sub-função
Idem, 4.2.E.1, clicar na 3ª tabela (“sub-função”)
Quadro 8.c – LOA 2013 – Execução Orçamentária das despesas do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC
idem, 4.2.E.1, clicar na 22ª tabela (despesa execução –PAC) , e embaixo em “órgão-UO”
Idem, 4.2.E.1, clicar na 22ª tabela (despesa execução –PAC) , e embaixo em “função-subfunção”
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Quadro 8.d – LOA 2013 – Execução Orçamentária das despesas do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – eixos
Cidade Melhor
Gestão e
Administração
Transporte (ressalte-se aqui que há algumas obras de cunho rodoviário que se encaixam nas questões
urbanas: rodoanel em São Paulo, anéis de contorno e acessos aos portos – não transcritas aqui, à
exceção do Rodoanel, a titulo de exemplo).
Idem, 4.2.E.1, clicar na 26ª tabela órgão (despesa execução –PAC - eixos), e embaixo em “programa e
ação”
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Quadro 9 – LOA 2012 – Execução Orçamentária por Órgão e Unidade Orçamentária
http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasil, a seguir em “acesso livre”. Uma vez aberto, clicar à esquerda em “4.2.D.1 - Execução da Despesa”. E clicar na 5ª tabela (“despesa execução - órgãos) Após abrir, clicar embaixo em “órgão UO”, e depois no alto chamar a pg. 5.
Quadro 10.a: – LOA 2012 – Execução Orçamentária por Sub-função
http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasil, a seguir em “acesso livre”. Uma vez aberto, clicar à esquerda em “4.2.D.1 - Execução da Despesa”. E clicar na 1ª tabela (“despesa execução - programas) Após abrir, clicar embaixo em “programa-órgão”. Procurar por todos do MCidades.
Conforme quadro acima, dos 2,8 bilhões autorizados em 2012 para o Programa “Mobilidade Urbana e
Trânsito”, do Ministério das Cidades, apenas R$ 271 milhões foram gastos, incluídos os restos a pagar.
Dos recursos autorizados para o Programa de Mobilidade Urbana, 46% (R$ 1,28 bilhão) foram
destinados à ação “Apoio a projetos de sistemas de transporte coletivo urbano”, para cidades de médio
e grande porte. No entanto a execução limitou-se a R$ 1,6 milhão (0,13%), ao que somam-se 18 milhões
(1,4% da verba autorizada) empenhados no orçamento de 2012 para pagamento posterior. (CONTAS
ABERTAS).
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Quadro 10.b – LOA 2012 – Execução Orçamentária por Sub-função
Idem, 4.2.D.1, clicar na 3ª tabela (“sub-função”)
Quadro 10.c – LOA 2012 – Execução Orçamentária das despesas do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC
Idem, 4.2.D.1, clicar na 23ª tabela (despesa execução –PAC) , e embaixo em “órgão-UO”
Idem, 4.2.D.1, clicar na 23ª tabela (despesa execução –PAC) , e embaixo em “função-subfunção”
Observação: não há, para 2012, a Tabela LOA 2012 – Execução Orçamentária das despesas do Programa
de Aceleração do Crescimento – PAC – eixos
Quadro 11: LOA 2011 – Execução Orçamentária por Órgão e Unidade Orçamentária
http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasil, a seguir em “acesso livre”. Uma vez aberto, clicar à esquerda em “4.2.C.1 - Execução da Despesa”. E clicar na 5ª tabela (“despesa execução - órgãos) Após abrir, clicar embaixo em “órgão UO”, e depois no alto chamar a pg. 5.
Quadro 12.a – LOA 2011 – Execução Orçamentária por Sub-função
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http://www12.senado.gov.br/orcamento/sigabrasi l , a seguir em “acesso livre”. Uma vez aberto, clicar à esquerda em “4.2.C.1 - Execução da Despesa”. E clicar na 1ª tabela (“despesa execução - programas) Após abrir, clicar embaixo em “programa-órgão”. Procurar por todos do MCidades.
Quadro 12.b – LOA 2011 – Execução Orçamentária por Sub-função
Idem, 4.2.C.1, clicar na 3ª tabela (“sub-função”)
Quadro 12.c – LOA 2011 – Execução Orçamentária das despesas do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC
Idem, 4.2.C.1, clicar na 23ª tabela (despesa execução –PAC) , e embaixo em “órgão-UO”
Idem, 4.2.C.1, clicar na 23ª tabela (despesa execução –PAC) , e embaixo em “função-subfunção”
Observação: não há, para 2011, a Tabela LOA 2011 – Execução Orçamentária das despesas do Programa
de Aceleração do Crescimento – PAC – eixos
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A mobilidade urbana passou a ser, em termos de destinação de
verbas, uma das prioridades a partir de 2010, em grande parte como
consequência da confirmação do Brasil como sede da Copa de 2014
(e, no caso do Rio de Janeiro, também em função das Olimpíadas de
2016). Naquele ano foram destinados cerca de R$ 8 bilhões de
recursos de financiamento para projetos diretamente associados à
Copa de 2014 e adicionais R$ 3 bilhões com recursos de
financiamento para a 1ª etapa do PAC 2 (Pavimentação e
Qualificação de Vias Urbanas). Em 2011 é lançado o PAC 2
Mobilidade Grandes Cidades, com alocação de R$ 22 bilhões para as
cidades com mais de 700 mil habitantes (R$ 12 bilhões são recursos
de financiamento e R$ 10 bilhões do Orçamento Geral da União). Em
2012 são destinados R$ 5,8 bilhões para a 2ª etapa do PAC 2
Pavimentação e Qualificação de Vias Urbanas e R$ 7 bilhões para o
PAC 2 Mobilidade Médias Cidades (entre 250 mil e 700 mil
habitantes), também com recursos de financiamento.
É claro que os dados de execução orçamentária expostos acima – em
que pese a dificuldade em consolidar os investimentos na área de
mobilidade urbana, o que só se fará analisando individualmente obra
por obra – demonstram a baixa concretização das intenções expostas
nas peças orçamentárias. A TABELA 8.d (Execução Orçamentária –
PAC – eixos, 2013) demonstra a dificuldade do Governo Federal em
gastar os recursos.
Comparando-se com o conjunto da Administração Pública Federal,
considerando-se um período de 10 anos, entre 2003 e 2012, o
percentual médio de execução do orçamento federal para as áreas
de saúde, educação, segurança pública e transportes foi de 52,3%, do
total de R$ 333,8 bilhões previstos. (Site Contas Abertas
http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/552).
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Segundo a ONG Contas Abertas, o Ministério das Cidades definiu
entre 2003 e 2012 R$ 72,5 bilhões de orçamento, mas conseguiu
gastar R$ 30,7 bilhões.
Especificamente para a área de mobilidade urbana, alocada no
MCidades, o descompasso entre orçamento e execução também é
enorme: ainda conforme a Contas Abertas, em 6 anos, entre 2006 e
2011, foram aplicados apenas 20% dos recursos orçados, ou R$
582,2 milhões de um total de R$ 2,8 bilhões).
Em 2013, embora tenha aumentado a verba prevista em mobilidade
urbana, o percentual gasto continuou baixo. Dos R$ 1,5 bilhão
autorizados para o programa Mobilidade Urbana e Trânsito do
MCidades (dos quais cerca de R$ 1 bilhão foi autorizado para a ação
Apoio a Sistemas de Transporte Público Coletivo), apenas R$ 530,8
milhões foram gastos (incluindo aqui os “restos a pagar”, com R$
305,9 milhões). A maior parte foi destinada a 2 linhas de ônibus em
Recife, com R$ 131,7 milhões autorizados e R$ 115 milhões
utilizados. A expansão e melhoria da malha rodoviária do sistema de
trens urbanos de Porto Alegre consumiu R$ 99,6 milhões (apenas
restos a pagar).
MELHORIAS DO TRÂNSITO: entre 2002 à 2013 foram autorizados R$
8,5 bilhões para ações de melhoria do trânsito, mas apenas 1,9 bilhão
(23%) foram efetivamente pagos (despesas em valores constantes,
atualizadas pelo IGP-DI, da FGV).
(em http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/7517)
Para a área de trânsito, entre 2002 e 2013 a execução foi de apenas
23% (1,9 bilhão dos R$ 8,5 bilhões previstos, em valores atualizadas
pelo IGP-DI, da FGV). (CONTAS ABERTAS). Em 2013, do total de R$
860,6 milhões orçados para as iniciativas do FUNSET – Fundo
Nacional de Segurança e Educação no Trânsito, criado pelo Código de
Trânsito de 1997 e gerido pelo Departamento Nacional de Trânsito
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do MCidades, para uso em campanhas educativas, projetos
destinados à prevenção e redução de acidentes e na articulação
entre os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, foram utilizados R$
230,5 milhões (26,8%), dos quais 60,3% referentes a restos a pagar.
Por lei, 5% do valor das multas de trânsito devem ser depositados
mensalmente na conta do Funset. O baixo ritmo de execução do
órgão se caracteriza principalmente pelo contingenciamento que o
Funset sofre da própria área econômica do governo federal. Cerca de
78% da verba autorizada para a unidade orçamentária está “parada”
na reserva de contingência imposta com o intuito de garantir o
superávit primário”(CONTAS ABERTAS). Para 2014, a reserva de
contingência também representa a grande parcela dos recursos
autorizados: R$ 933,9 milhões para serem liberados em favor das
suas iniciativas, porém R$ 764,5 milhões estão alocados para o
supéravit primário. Em 2013, a ação “Educação para a Cidadania no
Trânsito”, dispunha de orçamento de apenas R$ 8,8 milhões, dos
quais R$ 5,7 milhões foram efetivamente pagos. (em
http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/7889).
Para mais explicações a respeito do desvio de finalidade do FUNSET,
sugere-se a consulta ao linque
http://biavati.wordpress.com/2014/03/05/ficcoes-assombracoes-e-
outras-vergonhas-nacionais-o-funset-20112014/ .
Resumidamente, considerando-se apenas os investimentos
agrupados no PAC, o total de recursos empenhados em ações de
mobilidade urbana nos anos de 2008 a 2011 , bem como a dotação
em 2012 e os recursos previstos pelo Projeto de Lei Orçamentária
Anual (PLOA) para 2013 é apresentado na Tabela a seguir:
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Quadro 13: Evolução despesa PAC (2008 - 2013)
http://www.portaldatransparencia.gov.br/controleSocial/documentos/
orcamento_federal_alcance_todos.pdf
Em contraste com os resultados efetivos alcançados pelo Governo
Federal, apresentamos os dados de previsão dos gastos em
mobilidade urbana (apresentação retirada de
http://www.ptalesp.org.br/download/noticia/Mobilidade%20ALESP%20mm.pdf ):
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SEÇÃO 3.2 – METAS do PPA.
A seguir são apresentadas as metas do Plano Plurianual (PPA) 2012 –
2015.
PPA 2012-2015 – Alterações do Plano Plurianual. MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2013, p. 101, em
http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/spi/PPA/2012/
Atualizacao_do_PPA_2012_2015.pdf)
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SEÇÃO 4: PRINCIPAIS ATORES, FORMULADORES E FORMADORES DE OPINIÃO.
Esta seção priorizará as entidades e as pessoas com ampla atuação
na área de mobilidade urbana, muito embora a discussão sobre a
questão da Cidade, por suas próprias características – citadas
anteriormente neste trabalho – envolva a integração entre diversas
políticas setoriais além da mobilidade: planejamento territorial e
urbano, saneamento, resíduos sólidos, economia urbana, habitação,
preservação ambiental.
A seguir elencamos as principais entidades e pessoas para a questão
da mobilidade urbana:
- Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP): Entidade civil,
sem fins lucrativos, criada em 1977. Conta com cerca de 300
associados, entre gestores de transporte público e de trânsito,
empresas operadoras públicas e privadas, sindicatos patronais e de
empregados, fabricantes e prestadores de serviço, consultores e
universidades. Os trabalhos e discussões na ANTP são
desenvolvidos nas Comissões Técnicas, Grupos de Trabalho e no
Fórum de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e
Trânsito, espaço não institucional, constituído por secretários e
dirigentes de empresas públicas da área de mobilidade. Grande
número de especialistas e autoridades em transporte participa da
ANTP, motivo pela qual ela é comumente chamada a participar de
comissões e conselhos consultivos governamentais.
- Movimento Passe Livre: Movimento inicialmente restrito à luta pela
implantação da Tarifa Zero, passou a incorporar reivindicações por
melhorias na qualidade dos transportes públicos e pela priorização
destes nos orçamentos e políticas públicas. Sua Carta de Princípios
foi apresentada em 2005. Embora não seja um movimento
tradicional, tampouco uma instituição estruturada e de raízes
sólidas, vem congregando de forma crescente diversos movimentos
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Endereço: SHIS, QI5, Conjunto 2, Casa 2. CEP: 71615-020.Brasília – DF.
locais e agregando às suas reivindicações todas as pautas ligadas ao
desenvolvimento urbano.
- Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU):
Fundada em 1987, é entidade de classe nacional, com o objetivo
principal de representar as operadoras de ônibus urbanos e
metropolitanos.
- Institute for Transportation and Development Policy (ITDP):
Instituição internacional fundada em 1985 e atualmente dirigida
pelo ex-Prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa. Embora seja uma
entidade internacional, vem apoiando e financiando uma série de
projetos locais no Brasil em mobilidade sustentável.
- Confederação Nacional dos Transportes (CNT): Principal entidade
patronal do setor de transportes, existe desde 1954. Coordena um
sistema nacional de 29 federações, 3 sindicatos nacionais e 15
associações nacionais.
- Bicicletada: não é propriamente uma instituição, mas uma
confluência de variados grupos autônomos no Brasil que lutam em
favor do transporte por bicicleta (em www.bicicletada.org).
- Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de
Qualidade para Todos (MDT): articulação entre diversas
organizações não governamentais, entidades representativas de
trabalhadores, empresas operadoras e fabricantes de
equipamentos para o transporte público, associações de
profissionais liberais, universidades, movimentos populares e
governos.
- Nazareno Stanislau Affonso: Arquiteto e Urbanista, Mestre em
"Estruturas Ambientais Urbanas", Coordenador do Escritório da
ANTP em Brasília e Coordenador Nacional do MDT- Movimento
Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para
Todos, Presidente do Instituto da Mobilidade Sustentável –
RUAVIVA, Membro da Coordenação do Fórum Nacional de Reforma
Urbana representando a ANTP e o MDT. Já ocupou as funções de
Superintendente e Vice Presidente da ANTP, Vice Presidente do
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Endereço: SHIS, QI5, Conjunto 2, Casa 2. CEP: 71615-020.Brasília – DF.
Fórum Nacional de Secretários de Transporte Urbano e Presidente
do Fórum Nacional de Secretários de Transporte Urbano.
- Ailton Brasiliense Pires: Engenheiro eletricista e matemático , atual
presidente da ANTP), já ocupou os cargos de presidente da CET
(Companhia de Engenharia de Tráfego) e diretor do DSV
(Departamento de Operação do Sistema Viário) de São Paulo, e de
diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e
presidente do Contran (Conselho Nacional de Trânsito).
- Rogerio Belda: Engenheiro, Assessor Técnico do Metrô de São Paulo
e membro da Comissão de Monitoramento de Concessões e
Permissões da Secretaria de Transportes Metropolitanos de São
Paulo, é Professor-conferencista da Escola de Governo e da Oficina
Municipal, em São Paulo. Foi presidente da ANTP por 2 períodos,
presidente do Conselho de Administração da SPTrans e Diretor de
Planejamento da Companhia do Metrô de São Paulo. É autor do
livro “Caminhos do Transporte Urbano”.
- Eduardo Alcântara de Vasconcellos: Engenheiro civil e sociólogo. É
assessor técnico da Associação Nacional de Transportes Públicos
(ANTP), onde preside a Comissão Técnica de Meio Ambiente; é
assessor técnico do Banco de Desarrollo de América Latina (CAF). É
diretor do Instituto Movimento, de São Paulo, dedicado a estudos
de mobilidade. Autor do livro "Políticas de transporte no Brasil: a
construção da mobilidade excludente.
- Jayme Lerner: Arquiteto e Urbanista, ex-prefeito de Curitiba e ex-
governador do Paraná, uma das vozes mais ouvidas quando o
assunto é mobilidade urbana. Conhecido como o responsável pela
implantação do sistema de BRTs em Curitiba.
- Carlos Eduardo de Paiva Cardoso: Engenheiro e mestre em
Engenharia de Transporte, atuou durante 20 anos na CET-SP como
especialista nas áreas de planejamento, tecnologia e informação. É
especialista em Planejamento e Modelagem de Tráfego e
Transportes, realizando uma série de estudos sobre tempo de
deslocamentos nas metrópoles e quantidade de veículos nas ruas,
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Endereço: SHIS, QI5, Conjunto 2, Casa 2. CEP: 71615-020.Brasília – DF.
entre outras análises sobre mobilidade urbana. É membro do
conselho editorial da ANTP.
- Renato Boareto: coordenador da área de mobilidade urbana do
Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e ex-diretor do
Departamento de Mobilidade Urbana da Secretária Nacional de
Transportes e Mobilidade Humana,
- Luis Antonio Lindau: diretor-presidente da EMBARQ Brasil,
- Luis Antonio Lindau: Presidente da EMBARQ Brasil, ONG com
projetos em várias partes do mundo com foco no transporte
sustentável e nos BRTs. Foi um dos fundadores da ANPET, a
Associação Brasileira de Pesquisa e Ensino em Transporte;
implementou o LASTRAN, do Laboratório de Sistemas de
Transporte da Escola de Engenharia da UFRGS; tem trabalhado com
simulação de sistemas de trânsito em projetos como o Expresso
Tiradentes em São Paulo, Metroplan (Porto Alegre), Trensurb
(Porto Alegre, entre outros. Trabalhou para a Agência Brasileira de
Transporte Urbano (EBTU) na década de 1980.
- Wagner Colombini: consultor, especialista em coordenação e
gestão de projetos de logística e transportes; desenvolveu projetos
no setor público de passageiros no Brasil e no exterior e estudos de
demanda de transporte de carga. Realizou diversos projetos de Bus
Rapid Transit (BRT), entre os quais, para a Copa do Mundo de
Futebol 2010, em Johanesburgo, África do Sul.
- Laura Valente de Macedo: arquiteta, professora e consultora
ambiental. É mestre em ciência ambiental pela USP e em gestão
ambiental pela Universidade de Oxford (ECI/Oxford), como bolsista
do Conselho Britânico. Foi coordenadora do Fórum Brasileiro de
Mudanças Climáticas, entre 2000 e 2002. Desde 2002, coordena a
campanha Cidades pela Proteção do Clima (CCP), do Iclei –
Governos Locais pela Sustentabilidade, do qual é diretora regional,
no Secretariado para América Latina e Caribe (Lacs). Atua na área
de meio ambiente desde 1990, com especialização na temática
ambiental urbana, em políticas públicas para transporte sustentável
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e mudanças climáticas. Tem participado das negociações sobre
clima (como observadora) desde 1998.
- Alexandre Gomide: Doutor em Administração Pública e Governo
pela Fundação Getúlio Vargas, é pesquisador do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Foi diretor de Regulação e
Gestão, no Ministério das Cidades; de Cooperação e
Desenvolvimento e de Estudos e Políticas do Estado, Instituições e
Democracia, no IPEA; coordenador dos trabalhos do projeto de lei
que deu origem à Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei
12.587/2012). Atualmente, é colaborador da Escola Nacional de
Administração Pública (ENAP) e diretor de Mobilidade Urbana e
Recursos Hídricos na Secretaria do Programa de Aceleração do
Crescimento do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Seria importante citar também o funcionamento do Conselho
Nacional das Cidades, instituição vinculada ao MCidades, com 83
membros titulares, dentre os quais 49 membros eleitos por
segmentos da Sociedade Civil (entre empresários, movimentos
sociais, ONGs e entidades acadêmicas e profissionais), e 34
representantes do poder público.
SEÇÃO 5: PRINCIPAIS DESAFIOS
As conquistas das últimas décadas no Brasil na área da mobilidade
urbana, sejam elas de caráter técnico, político, institucional ou
jurídico, e a evolução da questão do transporte urbano rumo a um
novo paradigma de mobilidade, impõe ainda uma série de grandes e
contínuos esforços rumo a um sistema de mobilidade eficiente, justo
e sustentável. Tais esforços devem vir tanto das instâncias do poder
público como da Sociedade Civil e suas organizações, e incluem novos
padrões de implementação de estruturas e processos: integração
entre os modais de transporte, integração com as demais políticas de
desenvolvimento urbano, novos mecanismos de financiamento,
priorização da eficiência e dos modos sustentáveis de transporte.
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Segundo Eduardo Vasconcellos, a política de mobilidade sustentável
deve estar assentada em 4 pilares: reduzir os benefícios e subsídios
ao transporte individual motorizado e cobrar dos seus usuários os
altos custos de consumo de espaço, emissão de poluentes e
insegurança no trânsito; utilização destes recursos arrecadados na
ampliação do transporte público e na garantia de acesso à população
de baixa renda; prioridade nas vias públicas às formas não
motorizadas e ao transporte público, o que requer a reorganização
do sistema de circulação e diminuição do espaço do automóvel; e a
integração com as políticas de desenvolvimento urbano, reduzindo a
necessidade de transporte motorizado e reforçar as vantagens do
uso do transporte público.
É importante ressaltar que todos estes condicionantes (pilares) que
caracterizam a chamada mobilidade sustentável estão presentes nos
princípios e diretrizes emanadas pelo Governo Federal através dos
trabalhos técnicos do MCidades. Cabe ao Governo Federal garantir o
efetivo cumprimento destes princípios como condição para a
liberação dos recursos.
A seguir passamos a sugerir uma série de temas que deverão ser
atacados frontalmente para que alcancemos um novo patamar na
mobilidade de nossas cidades.
A QUESTÃO METROPOLITANA
A gestão integrada e compartilhada nas RMs é o grande desafio a ser
enfrentado em termos de atuação institucional. Os poucos casos de
sucesso se referem a investimentos em serviços específicos, mas
ainda sem o planejamento metropolitano globalmente.
Os problemas de mobilidade urbana no espaço metropolitano se
explicam através do processo de metropolização que caracterizou o
desenvolvimento urbano do país nas últimas três ou quatro décadas.
Além da progressiva expansão demográfica e espacial destas
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megacidades, dois fatores se destacam: as opções e prioridades dos
investimentos públicos em relação a cada um dos diferentes modos
de transporte e a incapacidade de equacionamento institucional da
gestão metropolitana, em especial nos aspectos relativos à
mobilidade das pessoas e das mercadorias.
Verificam-se três fases distintas na formação das metrópoles no
Brasil, relativamente concomitantes com as três fases da mobilidade
urbana indicadas neste texto. A primeira vai de 1973, quando foram
instituídas pelo governo federal as nove regiões metropolitanas, até
1988, com a promulgação da nova Constituição, período de forte
centralização da regulação e do financiamento pelo governo federal,
cabendo aos estados a responsabilidade de implementar políticas
metropolitanas, as quais não lograram considerar as questões
municipais e a necessária integração e coordenação das ações (muito
embora o surgimento das Empresas Metropolitanas de Transporte
Público -EMTU, acenasse com tentativas de integrar as redes de
transportes metropolitanos. A segunda fase , após a promulgação da
Constituição, se caracterizou pela retração dos investimentos
federais e pela descentralização e fortalecimento dos governos
locais, os quais entretanto ainda não incorporaram a questão
metropolitana. As tentativas de maior institucionalização e
integração só viriam a partir do final dos anos 90.
Os desafios que enfrentamos hoje consistem em:
- Necessidade de superação dos conflitos de competência no
planejamento, coordenação e operação dos sistemas de transporte
metropolitano, bem como de resolução das questões de ordem
financeira. Citamos aqui o desafio da construção das redes de
Metrô e outras linhas de alta e média capacidade, tanto em função
da equação de financiamento como de operação entre os entes
estadual, metropolitano e municipal.
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- Definição e integração tarifarias, considerando a existência e
sobreposição de linhas e empresas e a necessidade de
equacionamento da remuneração às empresas permissionárias.
- Resolução da questão jurídico-institucional para os sistemas
ferroviários ainda em mãos do Governo Federal (trens
metropolitanos de Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e demais
trens de subúrbio das capitais), bem como rediscussão do caráter
estadual dos metrôs de São Paulo e Rio).
- Definição jurídica e capacitação institucional das RMs como
instância de poder com autonomia administrativa, representação
política e recursos financeiros. A ideia de uma ‘Autoridade
Metropolitana’ constituída legalmente pressupõe a retirada de
certa parcela de poder, de recursos e de autonomia de estados e
municípios, e a criação de mecanismos de decisão popular nesta
esfera.
- Criação de agencias e órgãos metropolitanos e de instâncias
técnicas que auxiliem os governos na tomada de decisões,
considerando-se que a criação da ‘quarta instância’ deverá
enfrentar muita resistência e demandar muito tempo para sua
efetivação.
Embora o Art. 25 da Constituição Brasileira determine a prerrogativa
dos estados na instalação das RMs, o enfraquecimento dos
municípios é um grande obstáculo para o sucesso das politicas
regionais. Os casos de sucesso de gestão compartilhada referem-se
muito mais às ações decididas pelos próprios municípios. Referimo-
nos aqui aos consórcios intermunicipais, em geral criados com o
objetivo de equacionar uma política setorial (com subsequente
desenvolvimento de outros setores). O Consórcio de Transportes da
Região Metropolitana do Recife (CTM), primeiro modelo de gestão
compartilhada entre municípios, foi criado em 2008 com o objetivo
de gerir o Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região
Metropolitana de Recife.
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Por sua vez, o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, na Região
Metropolitana de São Paulo, foi criado em 1990 para resolver o
problema dos resíduos sólidos e da lei de incentivos seletivos. A
subsequente parceria com o Governo do Estado de São Paulo
proporcionou uma série de ações de importância vital para a região,
como o Plano de Macrodrenagem. Em 2010 o Consórcio foi
transformado em Consórcio Público para se adequar às exigências da
Lei Federal nº 11.107 de 2005, passando a integrar a administração
indireta dos municípios consorciados, com legitimidade para planejar
e executar ações de políticas públicas de âmbito regional.
Cabe ao Governo Central criar uma sistemática de apoio e
acompanhamento aos entes metropolitanos, estabelecendo ainda
formatos que incentivem ações conjuntas e a criação de consórcios
intermunicipais, mais do que novas e inócuas regiões metropolitanas.
INTERMODALIDADE
Se a questão da figura jurídica da Região Metropolitana indica a
dificuldade de articulação interinstitucional, a questão da
intermodalidade nos mostra o quanto estados e municípios tem via
de regra pouquíssima capacidade de gestão. A escassez de sistemas
que combinem de forma eficiente os diversos modais de transporte é
consequência direta do modelo de mobilidade construído nas últimas
décadas, associado à explosão demográfica e urbana. O modelo
centrado no transporte individual motorizado, ao ir desconstruindo
aos poucos a estrutura de transporte coletivo (já em si ruim) e
direcionando a imensa parcela dos recursos para a malha viária,
deteriorou não apenas os sistemas coletivos, como a própria gestão
sobre estes.
O próprio sistema de transporte coletivo ficou condicionado à
expansão da malha viária feita para os automóveis, de forma que o
ônibus passou a ser a grande alternativa de transporte para as
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camadas mais pobres, mas seguindo a lógica do carro, ou seja, sem
um planejamento dos deslocamentos e conexões entre linhas.
O desafio que se apresenta aqui é construir a capacidade de grandes,
médios e pequenos municípios e de estados em planejar sistemas
que combinemos modais coletivos, a bicicleta, o modal a pé,
incorporando inclusive em alguns casos os modais particulares
motorizados.
Especialmente no caso das médias e grandes aglomerações urbanas,
isto impõe políticas de planejamento e a capacitação institucional
para a elaboração dos sistemas de intermodalidade e superação dos
modelos fragmentados.
INTEGRAÇÃO COM AS DEMAIS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO
URBANO
A ideia de que investimentos maciços iriam resolver a questão da
demanda e da qualidade dos transportes é algo superado. Hoje, dada
a explosão urbana, a desigualdade socioeconômica e a escassez de
recursos para novos investimentos, resta claro que uma política de
investimentos em mobilidade realizada de forma isolada apenas irá
gerar maiores demandas, valorização imobiliária concentrada e
deseconomias urbanas.
A política de mobilidade deve, pois, estar estreitamente integrada às
decisões de planejamento urbano da cidade, ao zoneamento e às
outras políticas setoriais, especialmente a política de habitação. Isto
impõe adensar e recuperar os centros (das grandes e médias
cidades), criar políticas de incentivo à habitação popular em áreas
centrais e do anel intermediário, com infraestruturas consolidadas
(diminuindo novos custos por causa da expansão horizontal da
mancha urbana), e utilizar efetivamente os instrumentos contidos no
Estatuto da Cidade – que remonta a 2001 mas que tem sido
subutilizado como instrumento urbanístico – de modo a garantir o
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uso social da terra urbana e a reversão para o conjunto da sociedade
da valorização imobiliária decorrente das ações do poder público.
Para este tema da integração das políticas, fica claro que o gargalo
institucional está muito mais associado à questão do controle e re-
gulamentação do uso e ocupação do solo, do que à questão
específica da mobilidade urbana. Há uma necessidade urgente de os
municípios se estruturarem e se capacitarem para o planejamento
urbano, bem como uma necessidade de controle social sobre estas
politicas, das quais dependem diversos interesses políticos e
econômicos bem estabelecidos.
POLÍTICA DE SUBSÍDIOS
A reconfiguração da política de subsídios é absolutamente essencial e
impõe definir novos subsídios e eliminar outros. Desta forma
constitui-se em um dos desafios mais delicados politicamente.
Falamos aqui não apenas daqueles que impactam diretamente a
mobilidade urbana, como de subsídios a outras áreas que têm
impacto indireto.
A produção de veículos pela indústria nacional em 2011 atingiu cerca
de 3,4 milhões de veículos, o 7º maior produtor mundial (ANFAVEA,
2012, APUD MOREIRA; DOURADO). A produção de automóveis no
Brasil corresponde ainda a 23% do PIB industrial e a 5% do PIB total
do País, gerando 1,5 milhão de postos de trabalho.
Num contexto em que os esforços em mobilidade urbana devem ser
totalmente redirecionados aos modos sustentáveis de transporte,
alterar a atual política de subsídio à produção e compra de
automóveis através da isenção de IPI é algo complicado – em especial
tendo em conta o quadro atual de estagnação industrial e da
economia nacional – mas necessário. A política industrial do País
deverá encontrar fórmulas de diminuir os subsídios ao automóvel,
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revertendo os recursos para os outros modos e deixando de
incentivar a compra de novos veículos.
Uma série de outros subsídios deverão ser rediscutidos futuramente,
como o subsídio à compra de táxis – a lei federal 8989 de 1995
isentou de IPI a compra de táxis; na maioria dos estados este tipo de
veículo também goza de isenção de ICMS e de IPVA. Conforme
estudo do Instituto Movimento, apenas no município de São Paulo os
subsídios e descontos para aquisição de novos veículos retiram dos
cofres públicos R$ 134 milhões por ano. Adicionalmente, o subsídio
representado pelo estacionamento grátis nas vias públicas é
estimado em R$ 86 milhões, elevando o subsídio anual a R$ 220
milhões. Conquanto este tema seja politicamente sensível, deve-se
pensar a conveni6encia de se manter esta sistemática.
Comparativamente, em 2010 o subsídio servia a 180 mil passageiros
por dia (R$ 2,4 por usuário), enquanto o subsídio para os ônibus da
cidade (R$ 800 milhões) servia a 6,2 milhões de passageiros (R$ 0,41
por usuário) ou seja, o subsídio ao passageiro do táxi era seis vezes
superior ao subsídio para o passageiro do ônibus. (VASCONCELLOS)
O fato é que o sistema de mobilidade necessita de melhores serviços
e menores tarifas e necessita, para isto, obter novas fontes de
recursos. A título de exemplo, há uma proposta de emenda à
Constituição encaminhada pelo Sindicato Nacional dos Auditores
Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) definindo a cobrança de IPVA
sobre jatinhos, helicópteros, lanchas, iates e demais embarcações de
uso pessoal.
A retirada dos subsídios à compra de automóveis particulares –
subsídios estes obtidos através da redução de IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) - nos coloca frente ao dilema entre não
incentivar o uso do automóvel (e portanto priorizar os meios
sustentáveis de transporte), inclusive revertendo os subsídios para
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investimento em transporte público, ou manter os subsídios à
compra de veículos, garantindo a manutenção dos níveis de
produção e emprego da cadeia automotiva, num contexto de uma
crise econômica que atinge especialmente o setor industrial.
Alguns especialistas afirmam que “a simples divulgação dos lucros e
das planilhas de custos pode permitir que as tarifas sejam barateadas
sem que o governo tenha de pôr a mão no bolso” (Eliana Graça, do
Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc).
Outro subsídio ao uso do automóvel foi a extinção da CIDE
(Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre
a importação e a comercialização de combustíveis), medida tomada
pelo Governo Federal para evitar (ou adiar) a elevação do preço dos
combustíveis. A situação é análoga ao caso da isenção de IPI: a
suspensão da CIDE segura o preço dos combustíveis, mas incentiva o
uso e a compra de carros e retira recursos que poderiam ser
destinados aos sistemas e infraestruturas de transporte sustentável.
A CIDE arrecadaria cerca de R$ 9 bilhões por ano (VASCONCELLOS).
Conforme estudo realizado por Eduardo Vasconcellos, a manutenção
de IPI baixo resulta em uma renúncia fiscal de no mínimo R$ 4,2
bilhões por ano; o estacionamento gratuito nas vias públicas (em
cidades com mais de 60 mil habitantes) geraria um subsídio anual de
R$ 9 bilhões; a isenção aos taxis estaria retirando cerca de R$ 400
milhões por ano de renúncia fiscal, e o estacionamento gratuito (nas
cidades com mais de 100 mil habitantes) cerca de R$ 350 milhões de
subsídios; e a isenção à produção de motocicletas seria de R$ 2,4
bilhões por ano.
As isenções ao transporte privado motorizado totalizaria a cifra de R$
16 bilhões por ano, contra R$ 2 bilhões para o transporte coletivo.
MECANISMOS PERMANENTES DE FINANCIAMENTO DA
INFRAESTRUTURA
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Novos mecanismos e fontes de financiamento à mobilidade deverão
ser buscados. Entre eles, citamos – além do fim de algumas isenções
à cadeia do automóvel – a possibilidade de cobrança de pedágio
urbano nas grandes cidades. Esta medida é grandemente polêmica,
depende essencialmente dos municípios e requer decisões de caráter
técnico-operacional.
Há entretanto outras fontes subutilizadas. O Código de Trânsito de
1998 criou o Fundo Nacional de Segurança e Educação para o
Trânsito (Funset) e o DPVAT (seguros contra acidentes), que já
arrecadaram cerca de R$ 3,1 bilhões, em sua maioria contingenciados
pelo Ministério da Fazenda (VASCONCELLOS).
AÇÕES DE RESTRIÇÃO AO CARRO
Cada vez mais o automóvel deverá ser menos utilizado. A criação de
restrições ao automóvel já é uma realidade, desde a implantação dos
rodízios em São Paulo na década de 90, medida que tende a ser
seguida cada vez mais por outras cidades. Mesmo considerando-se
esta medida paliativa, outras possibilidades são a imposição de taxas
e pedágios (já citada acima) e a política de restrição ao
estacionamento de veículos.
MOBILIDADE NÃO MOTORIZADA
O incentivo ao modo pedestrianizado e ao uso da bicicleta é essencial
para a mobilidade sustentável, em especial para o sistema de
intermodalidade. Isto traz à tona a discussão da questão da
qualidade das calcadas, da segurança no trânsito e da prioridade
dada aos modos não motorizados, definida pelo Código de Trânsito
Brasileiro – CTB.
ACESSIBILIDADE UNIVERSAL
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A garantia de acesso a todos os cidadãos é outro dos componentes
do sistema de mobilidade. A baixa qualidade das vias, calcadas e
sistemas de transporte ainda é um entrave a ser superado. Há grande
desconhecimento, inclusive, das imposições legais de padrões
mínimos de acessibilidade.
SISTEMA DE INFORMAÇÕES
No âmbito da SeMob foi criado em 2013 o Sistema de Informações
de Mobilidade Urbana – SIMU, com participação de entes públicos e
privados e com foco na disponibilização de informações sobre os
meios de transporte, acessibilidade, custos, tarifas, financiamento
público e privado, instrumentos de gestão, políticas urbanas,
proteção ao meio ambiente, qualidade de serviços, segurança e
gestão institucional. O objetivo central do SIMU é criar uma rede
nacional de coleta periódica de dados, garantindo a atualização das
informações, com a participação de todos os atores públicos e
privados da área.
A falta de informações agregadas num sistema único é um dos
obstáculos à construção de sistemas eficientes de mobilidade. O
desafio é garantir a efetiva implementação deste sistema e sua
capilaridade, na recepção de informações e em sua disseminação de
forma articulada junto a estados e municípios.
CADASTRO NACIONAL E CHIPAGEM
O sistema de informações também deverá ser provido por um
cadastro único de veículos, estreitamento de vínculos e integração
entre os órgãos estaduais e pela chipagem (cadastro eletrônico) dos
veículos, medida fundamental para futuros processos de cobrança de
taxas e restrição à circulação, bem como para diminuir os índices de
violência associados ao uso do automóvel, roubos e furtos.
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CAPACITAÇÃO E APOIO INSTITUCIONAL AOS ESTADOS E
MUNICÍPIOS
Um dos grandes entraves à consecução das diretrizes federais é a
falta de capacidade institucional dos estados e, principalmente, dos
municípios. É necessária uma ação específica de capacitação técnica,
gerencial e administrativa para garantir a execução dos orçamentos,
inclusive das verbas federais alocadas.
A falta de capacidade técnica inclui o cumprimento de exigências
ambientais, até há pouco desconsideradas. Outra dificuldade de
estados e municípios é conseguir as garantias exigidas como
contrapartida ante as verbas federais, inclusive porque a grande
maioria dos municípios sobrevive graças ao Fundo de Participação
dos Municípios
Conforme Aílton Brasiliense, “os gestores necessitam no mínimo
saber fazer projetos. Devem estar atentos para o tamanho das obras,
se falta qualidade e pesquisa, se os empreendimentos seguem os
parâmetros mínimos e se não estão desvinculados da questão da
habitação e do transporte integrado”.
GRATUIDADES NOS TRANSPORTES COLETIVOS.
Outro desafio será rever o sistema de gratuidades aos usuários,
racionalizando-as e definindo uma nova sistemática. Em muitos
casos, o aumento na concessão de gratuidades e descontos acaba
por onerar os demais usuários, em sua maioria de baixa renda. Em
alguns municípios as gratuidades chegam a beneficiar entre 20% a
40% do total de passageiros (VASCONCELLOS).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Um novo elemento a ser considerado na política urbana, e
particularmente no transporte urbano, é o imperativo de se
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implantarem com rapidez ações diminuição da emissão de gases do
efeito-estufa e ações de mitigação e adaptação à mudança climática.
O Governo lançou em 2013 o seu Plano Setorial de Transporte e de
Mobilidade Urbana para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima
(PSTM), seguindo a determinação da legislação federal (Lei nº
12.187/2009 – Política Nacional sobre Mudança do Clima e Decreto
n° 7.390/2010 – Determina a elaboração dos Planos Setoriais de
Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima.
O PSTM é coordenado entre os Ministérios dos Transportes e das
Cidades. O financiamento das ações deverá vir do Fundo Nacional
sobre Mudança do Clima – FNMC (Lei nº 12.114/2009), mas propõe-
se também que venham recursos do Fundo Social (Lei nº
12.351/2010) criado para compensar a exploração das jazidas
petrolíferas do Pré-Sal.
Entretanto, conforme dados do próprio PSTM, a previsão de redução
de carbono-equivalente (em função de todos os investimentos em
infraestrutura de transporte coletivo) é mínima, de apenas 3,7
MtCO2 por ano ou um total de 19,5 MtCO2 até 2020, quando o
transporte rodoviário de passageiros emitirá cerca 131,7 MtCO2
contra uma projeção tendencial de 135,4 MtCO2.
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Gráfico 3: Redução das emissões de CO2 para o transporte rodoviário de passageiros
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