integração regional e a problemática dos entes subnacionais

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS PAULA FOGLIATTO PRADO INTEGRAÇÃO REGIONAL E A PROBLEMÁTICA DOS ENTES SUBNACIONAIS: UMA APROXIMAÇÃO AO DEBATE COM REFERÊNCIAS À EXPERIÊNCIA DO MERCOSUL FLORIANÓPOLIS, 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

PAULA FOGLIATTO PRADO

INTEGRAÇÃO REGIONAL E A PROBLEMÁTICA DOS ENTES SUBNACIONAIS: UMA APROXIMAÇÃO AO DEBATE COM REFERÊNCIAS À EXPERIÊNCIA DO

MERCOSUL

FLORIANÓPOLIS, 2013

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PAULA FOGLIATTO PRADO

INTEGRAÇÃO REGIONAL E A PROBLEMÁTICA DOS ENTES SUBNACIONAIS: UMA APROXIMAÇÃO AO DEBATE COM REFERÊNCIAS À EXPERIÊNCIA DO

MERCOSUL

Monografia submetida ao curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito obrigatório para a obtenção do grau de Bacharelado.

Orientador: Prof. Hoyêdo Nunes Lins

______________________________

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota 9,0 à aluna Paula Fogliatto Prado na disciplina CNM 7280 – Monografia, pela apresentação do trabalho “INTEGRAÇÃO REGIONAL E A PROBLEMÁTICA DOS ENTES SUBNACIONAIS: UMA APROXIMAÇÃO AO DEBATE COM REFERÊNCIAS À EXPERIÊNCIA DO MERCOSUL”.

Banca Examinadora:

____________________________________________Prof. Dr. Hoyêdo Nunes Lins

____________________________________________Prof. Dra. Karine de Souza Silva

____________________________________________Prof. Dra. Patrícia Fonseca Ferreira Arienti

FLORIANÓPOLIS, julho de 2013.

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Agradeço primeiramente ao Prof. Hoyêdo pela consistente orientação durante todo o processo, pela compreensão e pelo excelente tratamento que me foi dispensado.

Agradeço aos professores de Relações Internacionais que trabalharam sempre pela melhoria do curso e, principalmente, aos mestres, que, além de lecionar, me ensinaram a usar o

conhecimento para tornar-me uma pessoa melhor. Prof. Hoyêdo, tu és um deles.

Agradeço à Universidade Federal de Santa Catarina pela oportunidade de conhecer diferentes realidades. Agradeço aos funcionários que fizeram possíveis muitas das atividades das quais

participei.

Agradeço aos amigos de longa data e aos familiares que, mesmo longe, sempre estiveram comigo me apoiando em todas as situações.

Agradeço à Tatiane pelo carinho, pelo amor, pelo apoio e pela compreensão ao longo desse processo. Foi tua convicção no meu sucesso que me fez chegar até o fim.

Agradeço finalmente aos grandes amigos que fiz durante a graduação e que levarei para sempre comigo, vocês fizeram a diferença entre um curso e “O” curso de Relações

Internacionais da UFSC.

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“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.”

Leonardo da Vinci

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RESUMO

O florescimento de organizações internacionais de integração regional aconteceu a partir da reconfiguração do Sistema Internacional com o fim da Guerra Fria em que o contexto internacional era marcado pela liberalização das economias. A interdependência entre os mercados, um dos reflexos da globalização, é propício para a formação de blocos entre países, criando assim novos atores na arena internacional. Dessa forma, é relativizado o papel central do Estado Nacional na condução das relações internacionais agora muito mais influenciadas pelo âmbito econômico. É nesse cenário que se desenvolvem os arranjos regionais de integração de caráter tanto supranacional, quanto intergovernamental. Entretanto, observa-se em ambos o surgimento de atores subnacionais, uma vez que o Estado-Nação não se mostra capaz de produzir políticas públicas que respondam aos impactos do processo de integração em sua totalidade. No Cone Sul, esse movimento integracionista é caracterizante de uma nova forma de inserção internacional dos países sob o signo do neoliberalismo. Assim, o MERCOSUL é o resultado da reaproximação entre Brasil e Argentina, redemocratizados, em busca de melhores resultados frente à nova conjuntura mundial. Com efeito, os atores subnacionais no MERCOSUL fazem-se presentes tanto por meio das instituições criadas no seio do bloco, quanto por iniciativas próprias a favor da cooperação internacional. Exemplo disso são as relações estabelecidas pelas cidades-gêmeas, caixas de ressonância do processo integracionista, que registram de maneira cotidiana as consequências da dinâmica dos arranjos regionais. Palavras-chave: MERCOSUL. Atores subnacionais. Integração regional. Cidades-gêmeas.

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ABSTRACT

The flourishing of regional international organizations was enabled by the reconfiguration of the International System in the end of the Cold War where the international context was marked by economic liberalization. The interdependence between the markets, one of the consequences of globalization, is conducive to the formation of blocks between countries, thus creating new actors in the international arena. Thereby, the central role of the State is relativized in the conduct of international relations much more influenced by the economicnow. It is in this scenario that international regional integration arrangements develop demonstrating both supranational and intergovernmental character. However, it is observed in both the emergence of subnational actors, since the State proves to be unable to produce public policies that respond to the impacts of the integration process in its entirety. In the Southern Cone of Latin America, this integration movement is characterized by a new form of international integration of the countries under the sign of neoliberalism. Therefore, MERCOSUR is the result of the reapproximation between Brazil and Argentina, now democratized, in search of better results in the face of the global conjuncture. Indeed, sub-national actors in Mercosur are present both through institutions created within the block, and by their own initiatives in favor of international cooperation. The relationship established by the sister cities, that function like a resonance box of the integration process, record in the daily basis the consequences of the dynamics of regional arrangements.Keywords: MERCOSUR. Subnational actors. Regional integration. Sister cities.

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Lista de Abreviaturas

Assessoria de Cooperação e Relações Internacionais – ACRI

Associação Europeia de Livre Comércio – AELC

Acordo de Livre Comércio entre as Américas - ALCA

Associação Latino-Americana de Integração - ALADI

Associação Latino-Americana de Livre Comércio – ALALC

Associação de Nações do Sudeste Asiático - ASEAN

Comunidade Andina de Nações - CAN

Comissão de Comércio do MERCOSUL – CCM

Comissão de Coordenação de Ministros do MERCOSUL - CCMASM

Comunidade Europeia do Carvão e do Aço - CECA

Comunidade Econômica Europeia – CEE

Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL

Conselho do Mercado Comum - CMC

Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul - CODESUL

Comitê das Regiões - CR

Comissão Regional de Comércio Exterior do Nordeste Argentino - CRECENEA

Acordo de Livre Comércio Estados Unidos-Canadá – CUSFTA

Estados Unidos da América – EUA

Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO

Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e

Departamentos do MERCOSUL - FCCR

Foro Consultivo Econômico-Social - FCES

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional – FEDER

Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL – FOCEM

Fundo Monetário Internacional - FMI

Fundo Social Europeu – FSE

Acordo Geral de Tarifas e Comércio - GATT

Grupo Mercado Comum – GMC

Instituto Social do MERCOSUL – ISM

Mercado Comum do Cone Sul – MERCOSUL

Tratado Norte-Americano de Livre Comércio – NAFTA

Organização Mundial da Saúde – OMS

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Organização das Nações Unidas – ONU

Programa de Integração e Cooperação Econômica – PICE

Parlamento do MERCOSUL – PM

Rio Grande do Sul – RS

Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais – SEDAI

Sistema Econômico Latino-Americano - SELA

União Europeia – UE

União Monetária da África Ocidental – UMOA

Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura - UNESCO

Zona de Integração do Centro-Oeste da América do Sul - ZICOSUR

Zona de Livre Comércio - ZLC

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Sumário

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................12

1.1 Tema e Problema...........................................................................................................16

1.2 Objetivos.......................................................................................................................19

1.2.1 Geral..............................................................................................................................19

1.2.2 Específicos.....................................................................................................................19

1.3 Justificativa....................................................................................................................20

1.4 Metodologia..................................................................................................................20

2. INTEGRAÇÃO REGIONAL: CONTORNOS CONCEITUAIS BÁSICOS......................22

2. 1 Integração Regional: Aproximação à Problemática com ênfase em aspectos

econômicos................................................................................................................................22

2.2 Uma especificação da ênfase nos aspectos econômicos da integração: Regionalismo

Versus Multilateralismo............................................................................................................27

2.3 Integração Regional: elementos do debate no âmbito das Relações

Internacionais...........................................................................................................................30

3. INTEGRAÇÃO REGIONAL E PROTAGONISMO DOS ATORES

SUBNACIONAIS.....................................................................................................................35

3.1 Marco Geral: da questão dos reflexos socioespaciais da integração à problemática dos

entes subnacionais.....................................................................................................................35

3.2 Ensinamentos de uma experiência paradigmática: a União Europeia..........................39

4. INTEGRAÇÃO NO CONE SUL E A PROBLEMÁTICA DOS ATORES SUBNACIONAIS.....................................................................................................................47

4. 1 Integração no Cone Sul: contexto, trajetória, interpretação....................................48

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4. 1. 1 Uma breve contextualização........................................................................................48

4. 1. 2 O surgimento do MERCOSUL....................................................................................50

4. 1. 3 MERCOSUL: uma trajetória errática...........................................................................56

4. 1. 4 O ângulo das teorias de Relações Internacionais sobre a formação do

MERCOSUL.............................................................................................................................64

4.2 A problemática dos atores subnacionais no MERCOSUL.........................................67

4. 2. 1 Considerações Gerais....................................................................................................67

4. 2. 2 Tentativa de especificação: a questão das cidades-gêmeas, com destaque para Santana

do Livramento-Rivera...............................................................................................................72

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................83

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................87

7. ANEXO A – Organograma do MERCOSUL...............................................................94

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1. INTRODUÇÃO

A integração no Cone Sul ocorre numa conjuntura internacional marcada pelo fim da

Guerra Fria que caracteriza a formação de novos sistemas de relações entre Estados. Ela foi

vista, pelos membros signatários do Tratado de Assunção, como possibilidade para o

reposicionamento desses países na estrutura internacional que se desenhava no final do século

XX. Nessa estrutura, destacava-se a liberalização dos mercados, com reflexos em numerosos

países, que se ressentiam, muitos deles, das condições necessárias para a organização

produtiva e tecnológica para inserirem-se no movimento de internacionalização da economia.

Como afirma Lins (2013), a liberalização comercial interna e a uniformização do comércio

com terceiros mercados, mediante a utilização de uma tarifa externa comum são dois

importantes pilares da formação de blocos entre países.

O cenário internacional em que se desenrolou a integração no Cone Sul exibia o fim da

bipolaridade entre Estados Unidos da América (EUA) e União Soviética, que impôs desafios

ao equilíbrio do Sistema Internacional. Novas formas alternativas de gestão do poder e de

associação entre países começaram a delinear-se. Sem um “inimigo” internacional para se

confrontar, tendo em vista o virtual desaparecimento do bloco do leste, pode-se dizer que,

após a Guerra Fria, o capitalismo viu-se livre de entraves à disseminação de seu modus

operandi pelos mais diversos países ao redor do globo. Mas, embora os Estados Unidos

tenham saído vitoriosos, o aparecimento de novos centros econômicos e políticos foi também

uma importante característica da nova ordem mundial que colocou em xeque as definições de

hierarquia de poder militar, poder político e poder econômico. Japão, China e União Europeia

(UE) são os atores responsáveis pela nova caracterização do sistema de governança global

como multipolar, ou ainda policêntrico1.

Outro aspecto determinante para a conformação do cenário global pós Guerra Fria foi

o surgimento de novas formas de interação entre países que modificaram a maneira pela qual

os Estados se organizavam e se relacionavam no ambiente internacional. Fenômenos de

regionalização e de formação de organizações internacionais surgiram nos mais diferentes

continentes nas mais diversas formas e tamanhos, relativizando ainda mais a noção de poder

1 Segundo Samuel P. Huntington, o mundo pós Guerra Fria caracteriza-se pelo sistema uni-multipolar, ou seja, é um sistema híbrido em que há uma superpotência e várias grandes potências. Para mais, consultar HUNTINGTON (2003).

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centralizado no Estado-Nação de base realista2. A evolução da Organização das Nações

Unidas (ONU), com ampla participação e adesão de países, representa o esforço máximo no

sentido de congregar ideais e objetivos comuns em âmbito global. Em escala regional, a

União Europeia é o exemplo mais emblemático de processos políticos de integração,

envolvendo também cooperação, uma vez que tal ente representa o resultado mais

desenvolvido de um consórcio entre países de um mesmo espaço geográfico continental.

Tendo iniciado na década de 1950, a partir das ideias de influência kantiana3, o processo de

integração na Europa desenvolveu-se como um plano de contenção às consequências da II

Guerra Mundial no continente – foi, sobretudo, uma ação conjunta a fim de evitar uma

terceira guerra generalizada em território europeu -, como forma de enfrentamento à

instabilidade econômica e de atingir um futuro político e econômico sustentável4 para os

países integrantes.

A multiplicação de processos de regionalização, envolvendo grupos de países, teve

lugar em ambiente de interações que diferentes autores consideram adequado chamar de

globalização. Embora controverso, tanto na determinação de um conceito universalmente

aceito, quanto na sua datação no tempo (pois alguns autores consideram tratar-se de situação

testemunhada em diferentes momentos históricos), pode-se colocar como mínimos pilares

básicos de definição desse processo a reorganização da produção em bases mundiais, a

liberalização do comércio internacional e a desregulamentação dos mercados financeiros

(ZANELLA; ILHA; SEITENFUS, 2005). Dessa forma, o aumento das relações entre países

de forma não necessariamente dependente da ação unificada da figura do Estado é

consequência do aumento do comércio internacional viabilizado pela globalização, que, por

sua vez, é retroalimentada pela desregulamentação das barreiras às trocas. Todo esse processo

de globalização aliado ao florescimento de novos atores na arena internacional é crucial para a

determinação do papel desempenhado pelo Estado dentro desse novo cenário. A questão é

controversa, mas, na visão de alguns analistas, “(...) constata-se a construção de uma ordem

2

A premissa realista coloca o Estado como ator unitário e racional que age de maneira uniforme e homogênea em defesa do interesse nacional. Para mais, consultar MORGENTHAU (2003).3 Jean Monnet, um dos pais da construção da integração europeia filia-se inicialmente ao projeto federalista cujas raízes encontram-se no pensamento de Immanuel Kant em seu livro Paz Perpétua. SILVA; COSTA (2013).4 O processo de integração da Europa aconteceu com os “(...) propósitos de reerguer a economia, de afastar o perigo socialista, e de evitar a eclosão de um novo conflito de dimensões catastróficas (...)” (SILVA; COSTA 2013, p. 53). Nesse contexto, a Europa foi destino de grandes fluxos financeiros provenientes dos EstadosUnidos para a reconstrução dos países aliados nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial. O Plano Marshall, oficialmente conhecido como Programa de Recuperação Europeia, permaneceu em operação por quatro anos fiscais. A intenção do Programa era construir um vínculo maior entre os Estados Unidos e a Europa, além de fortalecer esta última frente à proliferação do socialismo.

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econômica mundial cuja filosofia e estrutura prescindem, transcendem e se contrapõem ao

Estado” (SEINTEFUS, VENTURA, 1999). Como afirma Silva e Costa (2013):

“A dimensão política da globalização constitui um aspecto a ser considerado para definir com mais clareza o papel do Estado-Nação na complexa rede mundial, principalmente, em decorrência da acentuada disposição para construção de pactos políticos interestatais, (...) ao passo que levantam suspeitas da perda de centralidade do Estado.” (SILVA; COSTA 2013, p. 18).

A globalização é um fenômeno amplo (global, justamente) com diferentes

consequências locais. Enquanto que na Europa e nos Estados Unidos (ao menos no tocante ao

Canadá) a internacionalização da economia e o aprofundamento da interdependência

econômica davam-se entre países em patamares econômicos relativamente iguais culminando

em acordos como a União Europeia e o NAFTA, na América do Sul o neoliberalismo aliado

às diretrizes do Consenso de Washington determinaram os rumos da integração entre países

que formaram entre si o Mercado Comum do Sul. De fato, após negociações, na segunda

metade dos anos 1980, que enfatizavam a importância da integração produtiva e das

complementaridades, o MERCOSUL entrou em vigor comandado pela lógica meramente

comercial. É perceptível a diferença entre os níveis de entrelaçamento e de comprometimento

tanto político, quanto econômico dos blocos supracitados – em especial, ao bloco europeu-,

fato que evidencia e, de certa forma, explica tanto os avanços, quanto os entraves vivenciados

pelo MERCOSUL.

Assim, a América do Sul insere-se no contexto internacional de reestruturação das

relações internacionais influenciada pela lógica integracionista vigente, muito embora o modo

pelo qual o faça seja também decorrente das profundas modificações trazidas pelo contexto

dos anos 1980 e 1990 no continente em questão. No Tratado de Assunção, encontram-se as

bases constituintes do cerne do MERCOSUL, que seria uma resposta aos novos processos em

curso na economia global, “em especial a consolidação de grandes espaços econômicos”, por

meio de uma integração que promovesse a aceleração “dos processos de desenvolvimento

econômico com justiça social.” (TRATADO..., 1991, p. 1).

Naturalmente, a integração no Cone Sul apresentou-se fortemente marcada pela

dinâmica nacional e política dos países que engloba principalmente Brasil e Argentina. O fim

dos regimes militares fez com que as rivalidades exacerbadas e as características isolacionistas

desses governos, mutuamente falando, fossem substituídas pelas ações de presidentes civis

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mais preocupados em lidar com os problemas e desafios que a economia mundial apresentava.

Desse modo, a reaproximação entre tais países evoluiu num meio social e político favorável a

tais entendimentos; como o Embaixador Marcos C. Azambuja afirmou “(...) o MERCOSUL

tem sua matriz muito nobre, nasce com a democracia e confiança recíproca.” (AZAMBUJA,

2012, p.80).

O Mercado Comum do Sul comemorou seus vinte anos de existência apresentando

diversos avanços, embora também problemas e frustrações. A integração econômica refletida,

por exemplo, no comércio intrarregional, foi acompanhada por ações de cunho mais geral,

envolvendo diferentes formas de entrelaçamento dos países. Em 2010, por exemplo, iniciou-

se o movimento de unificação entre as placas dos veículos de modo que pudesse ser

instaurado um banco de dados único entre os quatro países do MERCOSUL no sentido de

consolidar a verdadeira livre circulação de veículos e de pessoas. Na Cúpula de San Juan, em

2010, a eliminação da dupla tarifação foi um grande passo para a criação de “produtos

MERCOSUL”, possibilitando à união aduaneira viabilizar cadeias de integração produtiva

entre empresas de diferentes nacionalidades.

Entretanto, são também diversos os desafios que o MERCOSUL enfrentou (e segue

enfrentando) ao longo desses anos. De acordo com a abordagem proposta por Jacob Viner,

“uma união alfandegária é um caso típico de second-best, ou seja, tal arranjo gera benefícios e

custos, não se podendo saber, a priori, portanto, qual será o resultado líquido do mesmo.”

(PINTO, 2001, pp. 84). Assim, é importante assinalar, entre outras coisas, a dificuldade de

implementação total da TEC (tarifa externa comum), as assimetrias econômicas e culturais

entre os países membros e, principalmente, a falta de institucionalização política e de poder

real de intervenção do MERCOSUL, como ilustrações dos problemas e desafios vivenciados

pela integração no Cone Sul.

Os avanços e dificuldades são sentidos nos mais distintos níveis governamentais e

societários. Entre inéditos arranjos produtivos e novas instituições específicas para a

integração, há espaços em que tais consequências são parte do equilíbrio dinâmico inerente às

características desses locais - são as regiões fronteiriças. Nesses espaços entrelaçam-se

políticas e trocas entre países da maneira mais básica e pura, pela fronteira. Tanto legalmente,

quanto ilegalmente, os frequentes fluxos de pessoas, de capital, de informações e de cultura

são o que mais caracterizam tais zonas e as tornam singulares. Para Koch, “(...) são zonas de

especial vivacidade, com dinamismo próprio, porém submetidas ao atrito entre regras e

pressões políticas e socioeconômicas dos países envolvidos.” (KOCH, 1996, p.303). A

Constituição Federal do Brasil, que determina ser a fronteira um bem da União, assim dispõe:

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16

a “(...) faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres,

designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território

nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.” (CRFB/88, art. 20, § 2º). Como

se pode perceber, a importância de tais zonas perpassa não só a esfera econômica, como

também adquirem valor estratégico para os países em função de seu caráter social, político e

militar.

O projeto do MERCOSUL, em seus anos iniciais, quando o mercado ainda não

comandava, praticamente sozinho, a dinâmica das relações entre os países, contemplava

também as questões acerca dos ambientes fronteiriços. Para os idealizadores do MERCOSUL,

de fato, “[...] a efetiva defesa conjunta dos interesses dos países da região no âmbito

internacional e a ênfase em vínculos de integração e complementaridade em termos

produtivos [...]” (LINS, 2013b, p. 116) eram objetivos importantes, e as fronteiras haveriam

de ter envolvimento no seu alcance. Como afirma o Embaixador Regis Arslanian (2012):

A integração pressupõe uma convergência normativa e uma solidariedade econômica, social e, às vezes, até política. Ela configura uma harmonização de procedimentos para que permitam a construção comum e unificada de um projeto de integração que tenha como beneficiário final o cidadão [...]. (ARSLANIAN, 2012, p. 86)

1.1 Tema e Problema

A dinâmica da globalização contribuiu significantemente para o fortalecimento das

organizações internacionais, intensificando o aprofundamento do caráter internacional dos

fluxos como consequência da porosidade das fronteiras. Por outro lado, os movimentos

integracionistas foram encarados, em certas circunstâncias, como capazes de favorecer um

melhor posicionamento dos países frente aos resultados econômicos das liberalizações de

mercado preconizadas pela globalização de égide liberal. Dessa forma, conceitos como

soberania e fronteiras acabaram admitindo novas abordagens, não deixando de guardar suas

acepções básicas, mas adequando suas características de acordo com evolução da realidade.

Vale assinalar que tal processo de reflexividade5 é característico à modernidade, conforme

Giddens (1991). A globalização, com sua natureza dialética, admite referência nesses termos,

pois a:

5 Nesse sentido, consultar Giddens (1991) p. 37 – 45.

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“[...] ação planejada entre países a respeito de algumas coisas diminui a soberania individual das nações envolvidas, embora ao combinar seu poder de outras maneiras, ela aumenta sua influência dentro do sistema de estados.” (GIDDENS, 1991 p.68).

A integração regional faz com que o papel central desempenhado pelas nações no

sentido de sinalizarem o interesse de firmar os tratados de cooperação para determinarem

entre si objetivos comuns seja relativizado pela instauração de consertos institucionais

resultantes do respectivo tratado que, de certa forma, retiram parte da soberania e alteram as

condições de gestão dos Estados constituintes. A incapacidade do poder estatal de concretizar

políticas públicas em sua totalidade acaba por conduzir à formação de outros centros

decisórios representados por instâncias tanto internacionais e supranacionais, quanto

subnacionais.

A União Europeia é ilustrativa de tal processo, uma vez que se constituiu pela ação

livre de Estados singulares e hoje representa um ente cujas fronteiras externas contornam a

região dos vinte e oito países membros. As repercussões dessa integração refletiram-se em

diferentes níveis, modificando as estruturas políticas, culturais, econômicas e institucionais

dos Estados-membro e também do bloco como um todo. A supranacionalidade europeia é o

fator mais inédito dessa configuração, pois prevê a cessão departes de soberania de todos os

países do bloco à União. Outros reflexos de alterações na gestão do poder central são a

constituição da Rede Eurocidades e a do Comitê das Regiões (CR), que visam a construir

capacidades conjuntas para influenciar a tomada de decisão na instância mais alta.

Para o MERCOSUL, um dos âmbitos em que se pode perceber um maior impacto

desses processos de conformação de organizações internacionais de integração regional é o

ambiente fronteiriço intrabloco – uma vez que o fator mais influente e determinante para a

formação Mercado Comum do Sul foi o desenvolvimento econômico personificado pela

liberalização do comércio entre os Estados-membros. Sendo a zona de fronteira o canal básico

de comunicação para trocas internacionais com potencial para expressar um espaço de

identificações, a análise de tais espaços é essencial para o entendimento do complexo e

multidimensional processo de integração regional do Cone Sul.

As fronteiras internas do bloco sul-americano são marcadas por uma intensa vida

urbana e econômica decorrente de suas relações estabelecidas a partir do período colonial. A

história de demarcação dos territórios do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai,

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18

principalmente na região do Prata, assinalaram às zonas de fronteira costumes e valores sócio-

culturais comuns que, por si só, poderiam caracterizar áreas de integração. A organização

espacial transfronteiriça possui certa lógica orgânica que independe do centro decisório

político ao qual pertence – muito embora seja sempre subordinado a ele - dando-se de forma

quase que natural de acordo com a necessidade da população que ali habita. Dessa forma, o

comércio transnacional desses locais é marcado tanto por motivações de simples compensação

regional (sem excluir a possibilidade de altas taxas de contrabando), quanto por fluxos

conjunturais no âmbito das flutuações monetárias e das variações de preços dos diferentes

mercados.

O advento da integração regional possibilita a intensificação desses vínculos

fronteiriços, além da ampliação e do fortalecimento dessas relações previamente

estabelecidas. Atividades já existentes podem ser encorajadas e estimuladas, e novas

atividades podem surgir, aumentando a rede produtiva e institucional local, pois, afinal a

concepção de fronteira pode definir “(...) uma área de interação, de interdependência e de

complementaridade” (KOCH, 1996, p. 304). Surge desse sistema dinâmico fronteiriço uma

forma particular de relação internacional que é o caso das cidades-irmãs, ou cidades-gêmeas.

O processo de “irmanamento”6 é um fenômeno mundial e denota o “(...) aparecimento

de núcleos urbanos simetricamente dispostos dos dois lados de um limite internacional (...)”

(FERNANDES, 2002, p. 5). Em função do volume de trocas envolvido e dos diversos tipos de

interação, tais espaços geográficos são vitais para a análise de um processo de integração,

podendo medir a penetração institucional desse arranjo internacional, indicando tanto um

avanço no aumento dessas relações, quanto uma estagnação decorrente da incapacidade

gerencial dos centros decisórios na elaboração de políticas públicas específicas para as zonas

de fronteira. Os ambientes fronteiriços funcionam, portanto, como caixas de ressonância do

processo de integração, pois registram de maneira cotidiana as consequências particulares

desse sistema dinâmico.

Acertadamente, tais zonas são de grande interesse do poder estatal, uma vez que

esforços coordenados possibilitariam talvez o desenvolvimento potencial máximo dos

recursos e riquezas que integram um espaço de intensa troca e movimentação. Há, igualmente,

o valor militar, que impõe a necessidade de defesa dos limites geográficos do território

nacional. Entretanto, o que se observa é que o poder central do Estado não é capaz de alcançar

6 “Em termos de conceito o irmanamento é a reunião entre duas municipalidades com a finalidade de agir conjuntamente dentro de uma perspectiva européia, confrontando problemas e desenvolvendo políticas crescentemente mais íntimas e mais amigáveis entre as duas.” (NETO, 2005, p. 4).

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e acompanhar em sua totalidade as necessidades desses espaços em função de sua localização

fora dos círculos tradicionais da economia, fazendo com que, por conta de lacunas, abram-se

possibilidades para a atuação de atores subnacionais mais familiarizados com a dinâmica dos

ambientes de fronteira.

Conforme os Estados Nacionais perdem autonomia na gestão do desenvolvimento

nacional e regional, representantes dos níveis estaduais e locais tornam-se cada vez mais

atuantes na garantia do bem estar da população. O contexto geral em que tais ações se inserem

pode ser assim descrito:

Ante o novo imperativo da competitividade e da inserção nos espaços econômicos globais, os governos subnacionais são induzidos a desenvolver um novo tipo de protagonismo, conjugando estratégias e iniciativas diferenciadas voltadas, de um lado, para a atração de investimentos, a renovação da base econômica e a modernização da infraestrutura e, de outro, para a melhoria da qualidade de vida, a integração social e a governabilidade. (MARIANO; BARRETO, 2004, p. 22)

1.2 Objetivos

1.2.1 Geral

Explorar o tema relativo ao envolvimento de atores subnacionais promovido, ou estimulado,

no seio dos processos de integração regional, com especificação da experiência no âmbito do

MERCOSUL.

1.2.2 Específicos:

- Sistematizar elementos teóricos e conceituais básicos sobre o tema da integração regional;

- Apresentar os contornos do debate sobre a problemática dos entes subnacionais nos

processos de integração.

- Discutir a trajetória do MERCOSUL, procurando descortinar aspectos da atuação de entes

subnacionais.

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20

1.3 Justificativa

A abordagem da dimensão subnacional tem importância no estudo das Relações

Internacionais, ainda mais em meio ao florescimento das organizações internacionais no seio

da nova ordem mundial que questionou o papel centralizador do Estado – prerrogativa básica

das teorias clássicas de Relações Internacionais. Na mesma medida, a questão acerca das

zonas de fronteiras insere-se na revisão de conceitos básicos da definição da área de exercício

do poder do Estado que vem sendo cada vez mais relativizada pela sua porosidade e

permeabilidade em função da dinâmica da globalização.

O estudo do MERCOSUL como âmbito de ação desses novos atores justifica-se pela

importância geoestratégica das nações que o bloco engloba, sendo o Brasil um país muito

relevante tanto politicamente, quanto economicamente. A necessidade de entendimento dos

processos que nos cercam é determinante para a consequente capacidade de ação e de crítica a

políticas implementadas pelos tomadores de decisão. Pode-se dizer que a problemática das

fronteiras internas do MERCOSUL inscreve-se no rol de temas importantes e merecedores de

atenção nesses termos.

1.4 Metodologia

Para alcançar os objetivos traçados, buscar-se-á primeiramente demostrar as principais

abordagens das teorias de integração regional por meio de uma revisão bibliográfica buscando

congregar conhecimento para uma compreensão mais profunda e acertada do processo de

formação e desenvolvimento do MERCOSUL. Sendo a União Europeia o exemplo mais

emblemático de sucesso de um consórcio entre países com real integração, uma análise de seu

processo de criação e evolução é essencial para tal feito. Para tanto, serão utilizadas fontes

primárias e secundárias, como documentos oficiais, tratados, artigos científicos e dados de

outras organizações internacionais.

O estudo específico do Comitê das Regiões justifica-se por ser um dos principais órgãos

representativos dos poderes subregionais no seio da União Europeia. A descrição de sua

criação, desenvolvimento, e evolução será feita por meio de fontes primárias e de estudos

científicos que já buscaram problematizar esse tema.

Ressalta-se aqui que um caso como o da integração europeia demonstra-se por demais

complexo e multifacetado para ser entendido tão somente pela breve explanação das teorias de

integração, sendo usado nesse estudo como um arcabouço teórico para posterior comparação

Page 21: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

21

com o processo integracionista do Cone Sul. Serão utilizadas as teorias Federalistas,

Funcionalista, Neofuncionalista, e a teoria do Intergovernamentalismo Liberal.

Para a elucidação do Mercado Comum do Sul, utilizar-se-á de fontes primárias como

documentos oficiais e tratados da Organização para demonstrar o desenvolvimento do

MERCOSUL desde seus anos iniciais. Fontes secundárias, artigos científicos, e dados

estatísticos de outras entidades também serão utilizados para trazer diferentes perspectivas

acerca do assunto.

O tema da dimensão subnacional será tratado ao longo de todo o estudo merecendo

destaque no último capítulo em que se fará uma análise da ação subnacional dos atores das

cidades-gêmeas de Santana do Livramento-Rivera como protagonistas na promoção da

cooperação internacional e da integração. O feito é no sentido de ilustrar de fato a ocorrência

do fenômeno tanto da formação das cidades-gêmeas, quanto da atuação internacional de entes

subnacionais juntamente com suas respectivas consequências e impactos sobre o espaço

transfronteiriço que as engloba.

Por fim, destaca-se que a utilização dos termos relativos à fronteira, como limites,

territórios, territorialidade, áreas de fronteira e zonas de fronteira; será feita de maneira

superficial, ou seja, o amplo debate sobre as definições e caracterizações entre as diferentes

linhas acadêmico-teóricas dentro dos diferentes campos do conhecimento, embora muito rico

e de grande importância, não será abordado em função do escopo do trabalho.

Page 22: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

22

2. INTEGRAÇÃO REGIONAL: CONTORNOS CONCEITUAIS BÁSICOS

A reconfiguração das Relações Internacionais pós- Guerra Fria delimitou um amplo

campo de atuação para atores em setores antes não passíveis de consideração formando um

Sistema Internacional caracterizado por múltiplos pólos. A fragilização do papel da soberania

estatal deu espaço para o surgimento de novos sujeitos na arena internacional que adquiriram

autonomia na concretização de políticas para a garantia do bem estar.

É a partir dos anos 1950 que surgem as teorias econômicas de integração para explicar

a inserção internacional dos Estados frente às mudanças de escala e ao crescimento da

interdependência entre mercados mundiais. As barreiras às trocas foram substituídas por

acordos de integração entre Estados no intuito de alcançarem objetivos comuns onde não mais

eram capazes de garantir por si sós seus interesses.

O presente capítulo apresentará as principais características desses processos de

integração regional no sentido de construir uma base teórica sólida para a explicação de um

caso exemplar desse tipo de arranjo, seja ele o da União Europeia. O caminho perscrutado

poderá viabilizar um entendimento completo dos processos de integração tanto no plano

teórico, passando pelos campos político e econômico; quanto empiricamente, buscando

perceber não só a capacidade explicativa das abordagens teóricas, como também as

dificuldades reais que tais arranjos impõem aos países participantes.

O objetivo desse capítulo, portanto, é consolidar os conhecimentos a fim de obter as

ferramentas mais adequadas para a compreensão das questões que surgem a partir do

aparecimento dos atores subnacionais em processos de integração regional.

2.1 Integração regional: aproximação à problemática com ênfase em aspectos econômicos

O entendimento de processos de cooperação entre países – cujo significado

etimológico é atuar conjuntamente com outros para atingir um mesmo fim-, deve ser

entendido aqui como algo que implica coordenação de interesses a partir de uma percepção de

problemas comuns para os quais não há capacidade de resposta individual (AYLLÓN, 2007).

Tais arranjos possibilitam aos países uma nova forma de relação dentro da arena internacional

Page 23: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

23

que - muitas vezes, independem da motivação individual pela qual o país ingressou no grupo7-

trazem estabilidade ao Sistema Internacional, uma vez que podem criar mecanismos, ou

espaços para discussão, capazes de produzir decisões que minimizem as discriminações entre

os participantes.

Os arranjos regionais de integração são também parte do conceito explicativo de

cooperação interestatal, embora denotem um grau mais profundo de aproximação e de

adequação entre as nações. De acordo com Cruz e Creuz:

“É antiga essa distinção entre cooperação e integração. Para autoresclássicos, como Bela Balassa, a cooperação incluiria várias medidas destinadas a harmonizar políticas econômicas e diminuir a discriminação entre os países. Já o processo de integração econômica encerraria medidas que obrigam efetivamente a supressão de algumas formas de discriminação. Assim, por exemplo, acordos internacionais de políticas de comércio pertenceriam à área de cooperação internacional, ao passo que a abolição de restrições de intercâmbio seria um ato de integração econômica.” (CRUZ E CREUS, 2009, p. 17).

Dessa forma, o termo regional aqui refere-se a uma região geograficamente

delimitada, sem alcance global, significando uma integração dentro da perspectiva do

comércio internacional entre Estados-Nação, sendo o termo regionalismo seu sinônimo. Há

diferentes tipos de integração regional, com distintos atores de diferenciados níveis, podendo

englobar uma, ou mais áreas temáticas.

É importante assinalar que processos de integração não necessariamente criam

organizações internacionais, que, por sua vez, possuem um acordo básico de constituição e

de instituição de sede permanente. Os acordos de integração regional, por exemplo, são

documentos de geração de áreas de livre-comércio, uniões aduaneiras, mercados comuns,

entre outros que não necessariamente necessitam de um local permanente de administração

de seu funcionamento.

Embora haja diferentes conceituações de integração regional, há bastante consenso em

relação a uma característica básica, qual seja: o surgimento de novas formas de gestão a partir

da relativização do poder Estatal. Andrés Malamud caracteriza a integração regional

utilizando-se da definição clássica de Ernest B. Haas adicionando elementos que fortalecem o

sentido de integração.

7

Sobre o tema de motivações e comportamentos dos atores em arranjos cooperativos, ver Ayllón (2007) e Cruz e Creus (2009).

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24

La integración regional puede definirse como un proceso por el cual los estados nacionales ‘se mezclan, confunden y fusionan voluntariamente con sus vecinos de modo tal que pierden ciertos atributos fácticos de la soberanía, a la vez que adquieren nuevas técnicas para resolver conjuntamente sus conflictos.’ (Haas, 1971:6). A definición clásica de Ernst Haas debe agregarse que ‘lo hacen creando instituciones comunes permanentes, capaces de tomar decisiones vinculantes para todos los miembros. Otros elementos - el mayor flujo comercial, el fomento del contacto entre las elites, la facilitación de los encuentros o comunicaciones de las personas a través de las fronteras nacionales, la invención de símbolos que representan una identidad común- pueden tornar más probable la integración’ pero no son su equivalente (Malamud y Schmitter 2006: 17). (MALAMUD, 2012, p. 10).

Já Mônica Herz e Andrea Hoffmann definem a integração regional como “(...) um

processo dinâmico de intensificação em profundidade e abrangência das relações entre atores

levando à criação de novas formas de governança político-institucional de escopo regional."

(HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 168).

Outra forma comum de referir-se ao regionalismo é considerá-lo como um processo,

logo, por meio da análise das diferentes etapas em que se dá todo o arranjo. Por ser um

processo dinâmico e dependente das características dos países os quais engloba, cada processo

de integração regional é distinto e guarda seus próprios atributos tornando-o singular.

Entretanto, de maneira abrangente, pode-se apresentar a tipologia utilizada por Karine Silva e

Rogério Costa (2013, p.32-33) os quais elencam as seguintes etapas:

Área de Preferências Tarifárias: é uma integração superficial, consistindo em um primeiro passo ruma à integração. Normalmente se trata de uma experimentação para avaliar as viabilidades de efetivar um processo de integração econômica entre as partes.

Zona de Livre Comércio: limitada à eliminação recíproca e paulatina das barreiras alfandegárias, restrições e onerações de comércio. Nesta etapa, os Estados-Membros criam uma zona dentro da qual os bens podem circular, livres de barreira tarifárias ou não tarifárias, mas cada Nação preserva sua própria política externa.

União Aduaneira: supõe, além da etapa anterior, a adoção de uma tarifa exterior comum sobre os produtos provenientes de países terceiros.

Mercado Comum: refere-se não apenas à circulação de mercadorias como também a outros fatores de produção, como os serviços, os capitais e o trabalho. Ou seja, há a livre mobilidade dos fatores produtivos dentro dos territórios dos países-parte.

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25

União Econômica: também chamada de união monetária. Ultrapassa o patamar anterior uma vez que supõe a coordenação de políticas macroeconômicas comuns, visando atingir o maior grau de aproximação possível.

União Econômica Total: regime de união monetária, financeira, social, cuja execução e controle estão a cargo de instituições supranacionais, que gozam de poder coercitivo. Caracteriza-se pela adoção de medidas políticas e econômicas comuns e em caráter extremamente profundo.” (SILVA; COSTA, 2013, p. 32-33).

A grande motivação para o surgimento de processos de integração regional e para o

seu fortalecimento, principalmente a partir da década de 1950, reside no âmbito econômico,

pois esta surge como resposta às mudanças de escala geradas pela crescente integração dos

mercados mundiais, como foi dito anteriormente no escopo do capítulo um do estudo. A

liberalização era concebida de forma limitada, não abrangendo grandes áreas, pois a

preocupação inicial dos países que iniciaram o processo de integração, a experiência europeia

permite observar isso, foi encontrar uma estratégia de desenvolvimento e fomento de sua

industrialização dentro do sistema de comércio vigente.

O conjunto de iniciativas desse gênero então desencadeadas formou a chamada

primeira onda de regionalismo, compreendendo todo esse período até o início dos anos 1980.

Nessa fase, também chamada de regionalismo fechado, é representativo da liberalização

mundial o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), parte do “sistema Bretton Woods”,

criador do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial - todos fortemente

influenciados pelos Estados Unidos8.

Na América Latina, em paralelo às políticas multilaterais do GATT, e influenciado

pelas ideias da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), que defendia

um certo nível de protecionismo a fim de possibilitar a superação da competição externa por

meio da proteção das dinâmicas políticas e econômicas locais (MARCHIORI, 2005), o

regionalismo fechado foi reflexo dos contornos do funcionamento do capitalismo em escala

mundial cujas características não atendiam às necessidades de desenvolvimento e de

industrialização dos países mais atrasados. A razão é que tal regionalismo “[...] sustentava-se

no argumento segundo o qual os países menos desenvolvidos concorriam em desvantagem

8 A influência norte-americana evidencia-se principalmente pelo teor dos acordos que criaram organizações regionais no âmbito da segurança como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 1949, e a Organização do Tratado do Sudeste Asiático (SEATO), em 1954. Para mais informações, consultar DUFFY (1967).

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26

com os mais desenvolvidos e, por isso, necessitavam de estímulos especiais que facilitassem

seus caminhos rumo à industrialização.” (SILVA; COSTA 2013, p. 27).

Frutos desse pensamento, vinculado às teorias clássicas de comércio internacional, os

arranjos regionais de formato Norte-Sul/ Sul-Norte eram considerados inviáveis devido às

discrepâncias entre suas economias. Cabe destacar que os acordos efetivamente firmados

envolviam apenas certos setores industriais.

Foram originários desse período acordos como, por exemplo, a Comunidade

Econômica Europeia (CEE) de 1958; o Mercado Comum da América Central, em 1960; a

Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), em 1960; a Associação Europeia

de Livre Comércio (AELC) de 1960; a União Monetária da África Ocidental (UMOA) de

1962; a Associação das Nações do Sudeste Asiático, em 1967; o Pacto Andino, em 1969; a

Organização Árabe para o Desenvolvimento Agrícola, em 1970; a Comunidade Caribenha,

em 1973; e o Sistema Econômico Latino-Americano (SELA), em 19759.

Com a crise dos meados dos anos 1970, sobretudo com o colapso do sistema Bretton

Woods e com os choques do petróleo, a conjuntura internacional pressionou os países a

tomarem diferentes rumos arrefecendo a onda de regionalismo dos anos anteriores. Na

América Latina, o reflexo deu-se com escolha pelo regime protecionista de substituição de

importações, por um número considerável de países, que freou qualquer tentativa de

integração. O quadro geral, para países europeus, era o esgotamento do ciclo de crescimento

econômico acelerado que marcara o Segundo Pós-Guerra, a chamada estagflação, e, o

agravamento das condições estendeu-se até meados dos anos 1980.

A segunda onda de regionalismo, chamada de regionalismo aberto, acontece com o

aprofundamento do processo de globalização após o fim da Guerra Fria e estende-se até a

década de 1990. Ela é concomitante com o florescimento das organizações internacionais, e

seu aspecto diferenciador encontra-se na ideia de que a formação de blocos regionais, ou de

outros arranjos institucionais, não representa um efeito controlador de comércio, mas sim de

integração mais profunda.

O regionalismo aberto indica a mudança na relação regionalismo-globalização dando-

se sob a observância das normas de liberalização e em harmonia10 com a política do GATT

que busca alcançar o livre comércio. Dessa forma, a conformação de blocos regionais objetiva

a não somente o aumento das trocas intrazona, permitindo aos países valerem-se das

9 Para uma lista mais completa e detalhada dos acordos e das organizações de integração regional, consultar HERZ (2004), p. 170-171.10 Conforme o artigo XXIV do GATT (1947) e sua posterior Interpretação do Artigo XXIV de 1994.

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27

vantagens econômicas, políticas e culturais da integração. Objetiva também o estímulo ao

comércio com outros não participantes do acordo, melhorando assim a capacidade de inserção

internacional dos países membros.

Os Estados Unidos, diferentemente da posição adotada em relação à segurança na

primeira onda, são um dos principais fomentadores do regionalismo econômico. Levando em

conta tal perspectiva, em que se busca uma multilateralização das relações intra e extrabloco -

e o conceito de segurança agora abarcando esferas como os Direitos Humanos, o meio

ambiente, e democracia-, os acordos de formato Norte-Sul/Sul-Norte tornam-se não só

viáveis, como também desejáveis.

São exemplos de integração regional dessa fase o Acordo de Livre Comércio Estados

Unidos-Canadá (CUSFTA, em inglês) - futuro NAFTA – de 1987; a Cooperação Econômica

Ásia Pacífico, de 1989; o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) de 1991; a Zona de Livre

Comércio da ASEAN (AFTA, em inglês)– de 1992; a União Europeia (UE), de 1992; e a

Comunidade Econômica e Monetária da África Central, em 199411.

2.2 Uma especificação da ênfase nos aspectos econômicos da integração: regionalismo versus

multilateralismo

A filiação dos arranjos regionais à nova ordem comercial multilateral, embora em

grande parte evidenciada pela segunda onda do regionalismo, não deixa de ser contestada por

diferentes visões dentro da Teoria da Integração Econômica que, em essência, diferem entre si

sobre quais são os caminhos para atingir um comércio global mais livre. De maneira geral o

debate dá-se entre o multilateralismo, e o regionalismo12.

O multilateralismo representa a corrente teórica que defende o livre comércio como o

objetivo maior dos tomadores de decisão na garantia da maximização do bem-estar econômico

por meio da adequação das regras e normas que possam vir a restringir de qualquer maneira as

trocas internacionais. De acordo com os principais teóricos dessa vertente13, o maior problema

da integração econômica encontra-se na possibilidade de desvio de comércio que um acordo

regional preferencial, por exemplo, é capaz de originar, causando efeitos deletérios para todo

o sistema mundial. (SABBATINI, 2001).

11 Para uma lista mais completa e detalhada dos acordos e das organizações de integração regional, consultar HERZ (2004), p. 173-174.12

O termo regionalismo aqui refere-se à corrente teórica, não serve como sinônimo direto de integração regional.13 Consultar as obras de Viner (1950), Bhagwati (1993) e Bhagwati, Greenway e Panagariya (1998).

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28

Tal credo é decorrente das teorias clássicas de Comércio Internacional14 baseadas

principalmente no modelo de Hecksher Ohlin que apresenta os benefícios do livre comércio

enunciando que o padrão de comércio é estabelecido pela dotação relativa dos fatores de

produção dos países envolvidos (ROLIM, 1994). A liberalização, portanto, provoca a

especialização nos países, o que possibilita o aproveitamento de economias de escala, além do

fato de expor os setores da economia à concorrência mundial gerando benefícios até o

consumidor final que pode comprar produtos importados mais baratos e, possivelmente, de

melhor qualidade.

Jacob Viner é um dos grandes expoentes dessa vertente, segundo ele os acordos

regionais preferenciais geram desvios de comércio, ou seja, um país deixa de adquirir um

produto de um país não membro do bloco e inicia um processo de importação desse produto

por um custo maior de um dos países membros por força do acordo, prejudicando assim o

bem estar econômico geral.

O efeito contrário, ainda conforme Viner, a criação de comércio, acontece quando não

há agravo ao bem estar, mas sim um incremento dele. O autor explica que, quando o acordo

preferencial faz com que um país deixe de produzir determinado produto para começar a

importá-lo de outro país membro que o fabrica por um custo menor, há um efeito que

potencializa a livre troca no interior dos membros do acordo que é gerador de acréscimo de

bem estar. A conclusão, baseada nos tradicionais efeitos estáticos descritos por Jacob Viner,

que se pode chegar é que, uma vez que as perdas decorrentes do desvio de comércio forem

superadas pelos benefícios da criação de comércio, os acordos regionais preferenciais estariam

concorrendo para uma economia mundial mais livre e melhor, com aumento do bem estar

geral.

A liberalização do comércio dentro da área integrada faz com que a razão de troca entre as mercadorias do parceiro e as mercadorias nacionais deixe de estar distorcida pelo direito aduaneiro. Assim, como assinala Ferreira (1997), aquelas tornam-se relativamente ‘mais baratas’ pois não estão mais sujeitas ao imposto aduaneiro, pelo que os consumidores podem, com o mesmo rendimento, adquirir mais bens dos países parceiros sem diminuir o consumo de bens nacionais, ou substituir estes por aqueles. O preço dos produtos no mercado desce no montante do valor dos direitos aduaneiros abolidos entre os países participantes. Quer dizer, haverá um ganho líquido se o efeito desvio de comércio for inferior ao efeito criação de comércio. (PINTO, 2004, p. 13)

14 Ver KRUGMAN, Paul.; OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional Teoria e Política. 5.ed. São Paulo: Makron, 2010. Cap. 4.

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29

Entretanto, para os autores do multilateralismo, as possibilidades de atestar que os

acordos de preferência regional poderão efetivamente gerar criação de comércio são

inconclusas, o que os faz cientificamente frágeis do ponto de vista econômico. Sendo assim,

os analistas atentam para o fato de que os processos de integração regional são fortemente

atrelados a fatores de caráter político, comprovando consequentemente que a solução

multilateralista seria a ideal para a garantia do livre comércio internacional com maior bem

estar geral.

Por outro lado, os autores do regionalismo declaram que os acordos preferenciais não

são contrários aos preceitos de livre comércio mundial, podendo na verdade complementar o

sistema internacional de trocas. Para Sabbatini (2001), houve uma mudança na maneira

explicativa do comércio internacional que permitiu demonstrar, por meio de modelos

econômicos, que

[...] Esquemas de integração reforçariam laços de intercâmbio entre países de estrutura produtiva semelhante, ao permitirem, por um lado, a ampliação da escala e aproveitamentos de economias relacionadas, e, por outro, o incentivo ao desenvolvimento de progresso técnico, potencializado por um esforço comum repartido entre empresas e instituições dos países associados. (DI FILLIPO, 1997, p. 30-31 apud SABBATINI, 2001, p. 33).

À vista disso, os efeitos, ou ainda vantagens não tradicionais de acordos regionais

preferenciais, como competição e escala, melhoras nos termos de troca e atração de

Investimento Externo Direto (em função do mercado ampliado), traduzem-se em horizontes

econômicos mais estáveis, que, por sua vez, permitem às economias sinalizarem seus

objetivos mais claramente a terceiros. O caráter político incrustado na integração regional,

portanto, não mais é considerado como empecilho, pois, inclusive oportuniza melhores

condições de negociação entre o bloco e terceiros, uma vez que esta dá-se com maiores

unidades dando eficácia às rodadas de negociação. Além disso, a constante proliferação dos

blocos regionais incentiva a participação de outros países não integrantes do bloco, gerando o

“efeito-demonstração”.

Assim, uma das características evidenciadas pelo regionalismo é que ele constituiria

uma etapa antecessora ao multilateralismo, contrariando o paradigma de second best de Jacob

Viner. O primeiro seria um processo construtivo com a finalidade de uma liberalização mais

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30

ampla designando blocos regionais como building blocks, em oposição à definição de

stumbling blocks15.

A partir do entendimento de que o regionalismo pode ser considerado uma fase a

caminho de uma liberalização multilateral, os building blocks são definidos como aqueles que

aceleram, ou então, não atrapalham o processo de corte de tarifas multilateral. Já os stumbling

block são considerados como obstáculos ao caminho do multilateralismo, uma vez que

previnem, ou retardam o corte de tarifas mais ampla e abrangente.

2.3 Integração regional: elementos do debate no âmbito das Relações Internacionais

As teorias de Relações Internacionais que procuram elucidar os processos de

integração regional formaram-se principalmente em torno do estudo da União Europeia. Dessa

forma, a capacidade explicativa dessas teorias torna-se de certa maneira limitada ao

continente, muito embora tal fato não diminua sua aplicabilidade analítica para outras

realidades e experiências. Na procura de construir argumentos para a posterior análise do

projeto de integração do MERCOSUL, utilizar-se-á dos modelos do Federalismo, do

Funcionalismo, do Neofuncionalismo e do Intergovernamentalismo Liberal16.

O Federalismo é um modelo baseado nas ideais de Immanuel Kant, ou seja, parte do

pressuposto de que a união seja concebida por valores de tolerância e de respeito que visem à

paz. Como afirma Karine Silva, a conjunção dos Estados dá-se de acordo com o respeito à

diferença e à diversidade no reconhecimento de “(...) integrar diferentes entidades, não

assimilá-las.” (BURGESS, 2009, p. 28 apud SILVA; COSTA 2013, p. 44). Uma característica

importante dessa vertente é a liderança que uma elite política exerce na condução da

integração, como se pode observar no caso da União Europeia, por exemplo, por meio das

figuras de Jean Monnet e Robert Schumann.

O arranjo político do Federalismo implica usualmente a existência de uma ameaça

externa, seja ela de ordem militar, ou política; conjugando assim a busca por um objetivo

comum entre as partes que, de maneira voluntária, cedem parte de sua soberania para a

construção de instituições que visem alcançar determinadas políticas comuns. Sendo assim, a

15 Ver Juyoung Cheong e Kar-yiu Wong em “Global Free Trade: Regionalism as a Building Block or a Stumbling Block?”. UIBE, 2010. Disponível em: <http://www.rcie-cn.org/conferences/2010/papers/wong_ky.pdf>. Acessado em 26 maio 2013.

16 Faz-se necessário mencionar que há outras teorias que abordam a integração regional, como o Construtivismo e o Neoneofuncionalismo, por exemplo. Para uma descrição mais completa de outras teorias, consultar MARIANO; MARIANO (2002); MALAMUD (2004, 2012) e SILVA; COSTA (2013).

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31

questão da supranacionalidade é central dentro dessa corrente teórica para que ocorra a

manutenção da integração.

Para que o processo de integração seja continuado e avance, são possíveis dois

caminhos: “(...) a través de la negociación constitucional intergubernamental, o por medio del

llamado a una asamblea constituyente.” (MALAMUD, 2012, p. 12).

O Federalismo é uma visão que peca por não ter grande alcance explicativo uma vez

que a experiência europeia é a única que se enquadra como um exemplo, tendo na verdade

falhado em sustentar a construção efetiva da forma idealizada por Monnet do Conselho da

Europa de 1949; sendo assim considerada mais como um projeto político17.

O Funcionalismo data do fim da Segunda Guerra Mundial e é representado pela obra

de David Mitrany (1943)18, que propõe uma alternativa política ao recurso da guerra baseado

em um sistema pragmático, tecnocrático e flexível de redes de organizações internacionais de

caráter funcional. Segundo Mitrany, ao tratar-se das questões área por área, tema por tema -

criando assim organismos setoriais capazes de cumprir funções técnicas-, suprimir-se-ia as

rivalidades do nacionalismo e as nações seriam integradas gradualmente. A política então era

interpretada com suspeita e desconfiança, a ênfase excessiva sobre soberania territorial e o

desejo de feitos grandiosos em função das duas grandes Guerras Mundiais foram incentivos

para a formulação de uma outra forma de resolução dos problemas entre os países.

Pertencente à tradição liberal idealista, a vertente funcionalista propunha uma

verdadeira separação entre a técnica e lógica política para que a paz pudesse ser alcançada,

peace by pieces, como enuncia o lema dessa corrente. Nessa função, a cessão de soberania não

formaria um Estado federado, mas concorreria para formar instituições dotadas de técnicos

especializados com tarefas administrativas. À medida que várias organizações são criadas,

forma-se uma rede entre elas que transforma a relação entre os Estados, tornando-os cada vez

mais integrados, economica e tecnologicamente, ao sistema, fazendo com que os problemas

não encontrem solução na individualidade da esfera doméstica, aprofundando assim ainda

mais a integração.

O projeto Funcionalista foi muito marcante na história da integração europeia, tendo

inspirado Robert Schuman na proposta de criação da Comunidade Europeia do Carvão e do

Aço (CECA), em junho de 1950. A teoria representava, sobretudo, uma nova estratégia nos

processos de regionalismo, tendo propiciado o início da criação das agências especializadas da

17 Consultar SILVA; COSTA (2013).18 Mitrany, David (1943) A Working Peace System: An Argument for the Functional Development of International Organization. London: Royal Institute of International Affairs.

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32

ONU, como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em

1945; a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948; e a Organização das Nações Unidas

para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1945.

Na medida em se expande a rede de organizações, os casos de sucesso na resolução de

problemas em determinada área são transmitidos para outras por meio do efeito spill-over, ou

transbordamento, transformando todo o sistema num círculo virtuoso de crescimento da

cooperação. Como resultado, os rumos da integração não são afetados pela esfera política,

uma vez que dependem, em sua maior parte, da progressiva institucionalização das boas

práticas.

O Funcionalismo foi vítima de consistentes críticas quanto à sua crença na separação

entre técnica e política, principalmente quando a Comunidade Econômica Europeia teve fortes

reveses durante os anos 196019, provando que o efeito de transbordamento não acontecia de

maneira natural e automática e que o papel da política não poderia ser desvinculado desta sob

pena de prejudicar o aprofundamento da integração. Entretanto, a grande contribuição da

teoria funcionalista para a teoria da integração regional foi o início de um debate mais intenso

acerca da questão da supranacionalidade.

Buscando sanar as deficiências explicativas do Funcionalismo, Ernest Haas, em

conjunto com outros autores20, tomou o principal pressuposto dessa corrente - integração com

um processo de transferência de competências dos Estados-Nação para as instituições – e

incorporou a esfera política, cujo resultado foi chamado de Neofuncionalismo. Nesse sentido,

o papel da esfera política é o de congregar os grupos de interesse domésticos (como sindicatos

e associações comerciais) e partidos políticos dentro da sociedade, a fim de influenciar e

impulsionar o efeito spill-over, garantindo assim a continuidade do processo de integração.

Ao incluir outros atores ao arranjo funcionalista, considerando a descentralização do

papel do Estado, o Neofuncionalismo foi capaz de retomar sua capacidade explicativa

principalmente em relação à integração europeia no tocante à experiência da evolução da

CECA. Além disso, a esfera doméstica no debate representou que a integração regional supera

o âmbito econômico e que ela permeia toda a arena das relações interestatais. A partir desse

refinamento na teoria, Haas define a integração como o: 19 A crise das cadeiras vazias ocorreu quando, “[...] a partir de Julho de 1965, opondo-se a um conjunto de propostas da Comissão relativas, designadamente, ao financiamento da política agrícola comum, a França deixou de participar nas reuniões do Conselho e, para retomar o seu lugar, exigiu um acordo político sobre o papel da Comissão e a votação por maioria.” (EU – sítio online). Disponível em: <http://europa.eu/legislation_summaries/institutional_affairs/treaties/treaties_introduction_pt.htm.> Acesso em maio 2013.20 Principalmente Leon Lindberg, em 1963, com o livro “The Political Dinamics of European Economic Integration”.

Page 33: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

33

[...] processo pelo qual os actores políticos de diferentes comunidades nacionais são levados a reorientear suas lealdades, suas aspirações e as suas actividades políticas para um novo centro, cujas instituições possuem, ou procuram possuir, competências que sobrepõem às dos Estados nacionais pré-existentes. (HAAS, 1958 apud PINTO, 2004, p. 22).

A vertente do Realismo nas Relações Internacionais foi base para a formulação da

teoria do Intergovernamentalismo Liberal que tem como expoente Andrew Moravcsik.

Baseada também no modelo de jogo de dois níveis de Robert Putnam21, acertadamente, tal

teoria tem o Estado como promotor central da integração que age racionalmente em favor da

cooperação internacional a fim de satisfazer as demandas dos atores domésticos.

A ação estatal é, portanto, primordial dentro desse pensamento, pois se acredita que os

objetivos são melhor atendidos por meio da negociação intergovernamental e do processo de

barganha, do que por meio de decisões aplicadas por uma autoridade central. A ideia central

do Intergovernamentalismo Liberal é realocar o ator estatal para o centro sem, entretanto,

negar que tanto instituições, quanto preferências nacionais e a barganha sejam importantes

para definir processos de integração. As instituições, as preferências nacionais e o processo de

barganha são etapas a serem cumpridas a fim de formular uma decisão que será tomada pelo

Estado.

Considera-se que o integracionismo entre países acontece em diferentes etapas, cada

uma delas determinada pelos três estágios acima citados – evidencia-se aqui a influência da

teoria dos jogos de dois níveis que propõe que os acordos entre as nações têm mais chances de

serem plenamente cumpridos uma vez que representem o interesse nacional em uma instância

mais acima.

Assim, as instituições supranacionais resultantes dos acordos de associação não são

entendidas como limitadoras, mas sim como fortalecedoras da capacidade decisória dos

Estados. Uma vez que são as nações que criam as instituições, com objetivos específicos, são

elas que estão no lugar de decidirem por sua alteração, ou por sua cessão, a qualquer

21 A abordagem do jogo de dois níveis oferece uma teoria da ratificação em que reconhece que os tomadores de decisão precisam conciliar simultaneamente os imperativos domésticos e internacionais a fim de obterem o melhor resultado possível. “No nível nacional, os grupos domésticos perseguem seu interesse pressionando o governo a adotar políticas favoráveis a sues interesses e os políticos buscam o poder constituindo coalizões entre grupos. No nível internacional, os governos nacionais buscam maximizar suas próprias habilidades de satisfazer as pressões domésticas, enquanto minimizam as consequências adversas das evoluções externas.” (PUTNAM, 2010, p. 151).

Page 34: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

34

momento. Ademais, a arena internacional é entendida como oportunidade de realização do

interesse nacional, como afirmou Andrés Malamud (2012),

A medida que la liberalización comercial aumenta la magnitud del comercio exterior, especialmente a nivel intra-industrial, las demandas por una mayor integración se incrementan. En este marco, las instituciones regionales son concebidas como mecanismos que facilitan la implementación de acuerdos, antes que como actores autónomos o como arenas de acción colectiva.(MALAMUD, 2012, p. 14)

As teorias acima expostas baseiam-se e captam a realidade da integração europeia,

desenvolvendo-se de acordo com as consequentes fases de avanço e de recuo do processo

regional europeu. Os reflexos que tal integração provoca, não só no nível intrarregional, como

também no âmbito societal – principalmente na escala subnacional- são de extrema

importância na análise da evolução do aprofundamento dos processos de integração regional.

Para a posterior análise da formação do MERCOSUL, discutir-se-á a efetividade da

aplicação de tais teorias em um processo marcado por grandes diferenças em relação ao

processo europeu de formação de arranjos regionais. Dessa forma, propor-se-á uma discussão

teórica acerca do MERCOSUL baseada nas teorias apresentadas, mas delinear-se-á as

peculiaridades do processo do Cone Sul a fim de expor o fato de que as tais teorias não

abarcam de maneira completa o processo integracionista desse bloco.

A intensificação das formações de blocos regionais é acompanhada, e também é

decorrente do acirramento da competição internacional. A globalização envolve de diferentes

maneiras os âmbitos globais e locais, e provoca resultados assimétricos que se vinculam à

relação entre forças econômicas, sociais, culturais e identitárias. Diante do quadro, novas

estratégias de desenvolvimento fazem-se presentes, nem sempre, entretanto, protagonizadas

pelos atores centrais.

Page 35: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

35

3. INTEGRAÇÃO REGIONAL E PROTAGONISMO DOS ATORES

SUBNACIONAIS

A integração regional é um processo político instrumentado não só juridicamente,

como também economicamente, com consequências que se estendem aos mais diversos níveis

da vida social nos países implicados, conforme comentam Sausi e Odone (2010). Os reflexos

de tais arranjos servem como substrato para diferentes abordagens acerca do tema, cada uma

promovendo seus benefícios, de um lado, e, de outro, seus malefícios.

Neste capítulo, o objetivo é demonstrar as possíveis interpretações dos impactos dos

processos de integração regional a partir de aspectos econômicos e políticos a fim de

identificar as circunstâncias em que surgem os atores subnacionais dentro desse quadro.

Dessa forma, primeiramente expõe-se os argumentos, tanto favoráveis, quanto

contrários às formações de blocos regionais em função de seus respectivos resultados na

economia. Explora-se o plano político a partir do aparecimento dos entes subnacionais, que

procuram atuar de forma a suprir as responsabilidades que não são plenamente atendidas pelos

Estados Nacionais.

Por fim, apresenta-se o caso do Comitê das Regiões da União Europeia como

inspiração para a atuação de atores subnacionais envolvidos em processos de integração

regional.

3.1 Marco geral: da questão dos reflexos socioespaciais da integração à problemática dos

entes subnacionais

A defesa do entendimento segundo o qual os processos de integração regional

promovem maior aproximação mais harmonia entre os diferentes níveis de desenvolvimento

dos países baseia-se na ideia de que os fluxos liberalizados de comércio levariam a uma certa

convergência entre os participantes. Uma razão assinalada é que a intensificação da

concorrência faria com que a mão-de-obra mais barata fosse procurada pelas empresas dos

países mais desenvolvidos nos países mais atrasados, resultando assim numa melhora

econômica nos últimos.

Venables (2001) manifesta-se sobre o assunto apoiando a sua análise na teoria das

vantagens comparativas, assinalando que acordos entre países mais ricos e países mais pobres

tendem a ser mais benéficos aos países de baixa renda, do que acordos só entre países mais

Page 36: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

36

pobres, que, por sua vez, acabam por causar maiores divergências entre os países membros.

Bela Balassa também compartilhava da noção de que “os efeitos de difusão (...) emanados das

regiões altamente desenvolvidas beneficiariam também as áreas atrasadas.” (BALASSA,

1964, p.306 apud LINS, 2013b, p. 104).

De outro lado estão os teóricos22 que apontam que a liberalização dos fluxos de

capitais e de mercadorias tende a aprofundar as desigualdades socioterritoriais. Na base está a

convicção de que os investimentos tenderiam a concentrar-se em áreas mais desenvolvidas e

industrializadas, pelo fato de concorrerem com as externalidades e economias de escala a seu

favor, compensando possíveis custos mais altos relativos ao fator mão-de-obra.

Os locais melhor preparados industrialmente oferecem às empresas os serviços

necessários ao seu desenvolvimento de maneira mais dinâmica, pois, entre outros aspectos,

exibem a aglomeração de fornecedores e clientes em um mesmo espaço, facilitando assim o

aumento – ou criação - de capacidade produtiva. Por sua vez, as áreas menos desenvolvidas

dependeriam de incentivos políticos de atração de investimentos, ou ainda de fatores como o

tamanho dos mercados a serem explorados, uma vez que somente “[...] as regiões e cidades as

mais desenvolvidas economicamente [...] detêm recursos econômicos, políticos e

institucionais suficientes para sustentar estratégias independentes de representação

institucional e de promoção comercial direta no exterior.” (MARIANO; BARRETO, 2004, p.

25).

É importante frisar que, embora a dimensão econômica geralmente tenha um papel

predominante nos processos de integração, outras variáveis podem também condicionar seu

desenvolvimento, atuando como propulsoras. Componentes sociais, políticos e ambientais

denotam a riqueza das interações múltiplas que estão em constante “choque” quando se

estabelecem arranjos regionais, que, por sua vez, significam importantes aportes ao processo

na forma de implementação de medidas, ações e projetos dentro da nova configuração.

Nesse sentido, ambientes fronteiriços são áreas ideais de observação dos impactos do

regionalismo, uma vez que registram de forma cotidiana fluxos dos mais diversos elementos.

Nesse papel, as zonas de fronteira funcionam como que a medida da penetração institucional

dos acordos regionais, potencializando (ou não) seus impactos.

A mudança de estratégia que envolve a integração regional, passando de um modelo

de crescimento para dentro, para outro voltado para fora, envolve importantes modificações

22 Krugman (1993); Giersch (1949-1950); Celso Furtado (1967).

Page 37: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

37

em zonas nas quais já ocorre algum tipo de relação internacional, como é o caso das áreas de

fronteira.

São numerosos os possíveis resultados de uma iniciativa integracionista. Entretanto, é

importante salientar certos aspetos. Entre eles figuram, certamente: o desenvolvimento dos

arranjos regionais; a modificação quantitativa e qualitativa do intercâmbio comercial; o grau

de formalização do comércio preexistente; a criação de novos fluxos comerciais; a criação de

empresas binacionais; o estabelecimento de programas sociais, de desenvolvimento, ou sobre

migrações; o desenvolvimento de infraestrutura para uso compartilhado, entre outros.

(POSSE, 1991)

A partir da consideração desses elementos, os agentes públicos e privados são levados

a repensar o mercado, seus produtos e atividades, implicando necessidade de adaptação às

novas condições associadas à integração. Tais agentes, é preciso explicar, são muitas vezes

representados por unidades subnacionais, uma vez que os Estados, na sua dimensão nacional,

não são capazes de cumprir plenamente o seu papel de promotores de desenvolvimento em

todo território nacional, principalmente em espaços que não fazem parte do centro dinâmico

da economia. Trata-se aqui não só de assegurar o bem estar econômico, mas também de

garantir as condições de estabilidade social e de manutenção da cultura da área envolvida.

De todo modo, a incorporação de agendas administrativas internacionais nas

atividades de atores subnacionais é uma questão que exige reflexão. Entre outros motivos está

o fato de que tal processo evidencia importantes alterações tanto dentro das relações

internacionais, quanto das relações intranacionais.

Os constrangimentos aos quais os governos subnacionais estão expostos quando

protagonizaram papeis na esfera internacional tendem a ser de ordem jurídica, variando assim

de acordo com a formação do Estado em questão. No Brasil, a Constituição Federal de 1988

não discrimina competências aos entes federados – podendo eles ser tanto municípios, quanto

estados federados e o distrito federal- para ações internacionais. Entretanto, as articulações

dos governos subnacionais em âmbitos internacionais não encontram proibição constitucional,

tendo sido desenvolvidas, dessa forma, a partir do uso do princípio da subsidiariedade23.

Como afirmam Mariano e Barreto (2004), “[...] embora a Constituição nacional apresente

rígidos obstáculos à atuação internacional de seus entes federados, essa atividade, no entanto,

23 O princípio da subsidiariedade aqui diz respeito à repartição de atribuições, ou competências entre uma comunidade maior e outra menor.

Page 38: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

38

é tolerada – e mesmo monitorada – pelo governo central." (MARIANO; BARRETO, 2004, p.

23).

Já na Argentina, a conformação jurídica do Estado permite que as províncias

envolvam-se em acordos internacionais com outros entes subnacionais, de outros países:

Las provincias podrán crear regiones para el desarollo económico y social y estabelecer órganos con facultades para el cumplimiento de sus fines y podrán también celebrar convenios internacionales, en tanto no sean incompatibles con la política exterior de la Nación y no afecten las facultades delegadas al Gobierno Federal o el crédito público de la Nación, con conocimento del Congreso Nacional [...].” ( Artigo 124 da Constituição Nacional argentina)24

A Federação da Rússia, por seu turno, para fornecer mais uma ilustração, permite aos

estados integrantes que “[...] mantenham relações internacionais e assinem determinados

acordos internacionais com base em suas próprias competências [...]” (PRIETO, 2004, p.

254). O caso russo é interessante, pois ressalta um outro ponto determinante na atuação de

atores subnacionais, qual seja, a conformação de coalizões políticas como elemento condutivo

da ação das unidades subnacionais. Nesse país, embora a esfera jurídica não imponha a

submissão dos estados à Federação em termos de política externa, os limites da dimensão

subnacional são fixados pela esfera política. O relacionamento, entretanto, é um via de duas

mãos; enquanto a Federação controla atitudes de governos subnacionais em relação a questões

de seu interesse, as unidades subnacionais são constitucionalmente dotadas da capacidade de

influenciar a política externa nacional, criando obstáculos, ou favorecendo certos assuntos que

lhes convêm25.

Os aspectos políticos que influenciam as ações dos poderes subnacionais podem ser

vistos como impeditivos do desenvolvimento da ação desses no campo internacional. Como a

iniciativa de participar em questões internacionais depende da vontade das unidades

subnacionais, a autolimitação, ou seja, a livre abdicação do envolvimento desenvolve-se como

uma estratégia política de certos atores subnacionais; muito embora esta não tenha sido a

situação mais observada. Como escrevem Mariano e Barreto (2004):

24 Constituição Nacional da Argentina. Disponível em <http://www.senado.gov.ar/web/interes/constitucion/gobiernos.php>. Acessado em 28 maio de 2013.25 “De acordo com a nova constituição, os principais elementos da política externa e da política de segurança permanecem sob a responsabilidade do governo federal, mas para assegurar a sua nova legitimidade, a política externa russa precisa levar em consideração os interesses regionais [...]. O governo central não pode celebrar acordos com os países vizinhos, tampouco sancionar ou modificar tratados internacionais sem consultar as regiões envolvidas.” (PRIETO, 2004, p. 254).

Page 39: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

39

Um aspecto interessante, demonstrado por inúmeras evidências empíricas, é dado pelo posicionamento pró-ativo que as unidades subnacionais vêm assumindo nos seus respectivos contextos político-institucionais, forçando a ampliação de seus espaços de autonomia no campo das relações internacionais [...].” (MARIANO; BARRETO, 2004, p. 24).

A necessidade de atuação das unidades subnacionais suscita importantes questões

acerca dos processos de integração regional. Isso tem a ver, entre outras coisas, com o fato de

que, muitas vezes, os entes subnacionais passam a ter maior presença no cenário internacional

não em função de sua vontade de participação no plano internacional, mas sim pela

necessidade de “[...] assumir responsabilidade pela promoção do desenvolvimento nos

territórios sob suas jurisdições [...]” (MARIANO; BARRETO, 2004, p. 25).

Entretanto, como ficou evidenciado pelas considerações acima citadas, nem todas as

províncias, municípios, ou cidades são capacitados das mesmas estruturas econômicas,

políticas e institucionais para enfrentarem a arena internacional na busca do alcance de seus

interesses. Fica claro, pois, em diferentes contextos nacionais, que o Estado-Nação tem

deixado a desejar no desenvolvimento de políticas que abarquem a tendência de

descentralização das atividades de maneira a operacionalizar a gestão das relações

internacionais pelos diversos atores subnacionais.

Todavia, a própria fragilidade estrutural das instâncias subnacionais acabou por

ensejar o desenvolvimento de uma nova forma de atuação entre elas, a atuação em redes de

cidades e de regiões, em suma, implicando autoridades subnacionais. Por meio da ação

coletiva, elas têm conseguido força para enfrentar as consequências e aproveitar as

oportunidades da integração regional, demonstrando que fragilidades podem ser

transformadas em estratégia de inserção internacional.

O caso provavelmente mais exitoso dessa atuação em rede, na cena mundial refere-se à

constituição do Comitê das Regiões, que será discutida brevemente, a título de exemplo, no

subcapítulo a seguir.

3.2 Ensinamentos de uma experiência paradigmática: a União Europeia

O projeto Federalista influenciou de maneira assertiva os fundadores da futura União

Europeia, Jean Monnet e Robert Schuman. Dessa forma, o tratado constitutivo cimentou a

Page 40: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

40

base da proposta pacífica e criou a mais exitosa organização internacional de integração

regional até hoje em vigor. Os seis estados fundadores, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Itália,

França e Alemanha, declararam, em 195026, a vontade conjunta de desenvolver soluções e

administrar interesses comuns que, por fim, acabaria por conjugar uma organização cujo

poder deveria emanar da cessão de parcelas de soberania de cada Estado parte.

Após mais de sessenta anos, a Europa experimentou quase todas as fases de um

processo de integração e, entre avanços e recuos, foi capaz de manter-se fiel aos propósitos de

seus fundadores - como a necessidade de uma organização com supranacionalidade e os ideais

funcionalistas27 -, em que logrou em responder com sucesso aos desafios impostos pelo

aprofundamento das relações entre os países-membros.

A atual União Europeia é formada juridicamente pela combinação do chamado direito

primário, que são os tratados28 em si, com o direito derivado, que consiste em regulamentos,

diretivas e recomendações adotadas pelas instituições da União. A natureza jurídica do ente,

entretanto, não se enquadra em nenhuma categoria jurídica clássica, sendo ele uma estrutura

única que evolui constantemente, levando muitos autores a considerarem-na como de caráter

sui generis. De acordo com a Direção Geral de Comunicação da União Europeia: “A UE

situa-se assim entre o sistema federal rígido existente nos Estados Unidos e o sistema flexível

de cooperação intergovernamental existente nas Nações Unidas.” (UE, 2013, p. 3).

As principais instituições responsáveis pela legislação e pelas políticas da União

Europeia são o Conselho Europeu, o Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão Europeia.

O primeiro é o responsável pelo estabelecimento das suas políticas e seus objetivos,

mas sem funções legislativas. É composto pelos chefes de Estado de governos nacionais, com

seus respectivos representantes (presidentes, primeiros-ministros), que definem também a

26 É preciso declarar que o processo de integração europeu é observado ainda antes da assinatura do Tratado de Paris. O Manifesto Pan-europeu, de 1923, consta como uma das primeiras proposta de criação de umaconfederação europeia de cooperação. A BENELUX, em 1921, foi um grande passo no desenvolvimento integracionista, que formou uma das primeiras uniões aduaneiras da Europa. Com o Tratado de Bruxelas, de 1948, a fase do regionalismo fechado estava representada pelo teor do Tratado que envolvia principalmente o âmbito da segurança.27 O mentor da União Europeia, Jean Monnet, é tido como o grande arquiteto da integração europeia por ter sido capaz de “(...) garantir o primado do método funcionalista para atingir os objetivos federalistas. A federação era o caminho para uma pax mercatoria, ou seja, aquela atingida via integração dos mercados que se restringiria, num primeiro momento, aos recursos energéticos e, consecutivamente, alcançaria outros setores até formar o mercado único.” (SILVA; COSTA, 2013, p. 66).28

Tratado de Paris, 1951; Tratado de Roma, 1957; Ato Único Europeu, 1986; Tratado da União Europeia –Tratado de Maastricht – 1992; Tratado Amsterdam, 1997; Tratado de Nice, 2001; Tratado de Lisboa, 2007.

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41

coordenação das políticas externas dos Estados-Membros para a formação da Política Externa

e de Segurança Comum29.

O Parlamento que representa os cidadãos da União, atualmente conta com 751

deputados diretamente eleitos por sufrágio universal de cinco em cinco anos. O Parlamento,

junto ao Conselho, exerce as funções legislativas relativas à União, além de protagonizar um

papel democrático essencial na aprovação, ou não, dos membros da Comissão.

O Conselho e o Conselho Europeu representam os Estados-Membros, e sua função,

além da referida acima, envolve a assinatura de alguns acordos internacionais negociados pela

Comissão. Tal Comissão é representativa dos interesses da União em seu conjunto, inclusive

representando-a no mundo, sendo a única capaz de elaborar novas propostas de legislação

para a análise do Conselho e do Parlamento. A Comissão Europeia, que é um órgão executivo

e legislativo, goza de um grau de independência diferenciado, pois é a “guardiã dos tratados”

e não deve ser pressionada por qualquer governo nacional. De forma sintetizada,

O Conselho Europeu define a direção e as prioridades políticas gerais da EU,mas não exerce funções legislativas. Em princípio, é a Comissão Europeia que propõe nova legislação, e são o Parlamento e o Conselho que a adotam. Seguidamente, os Estados-Membros e a Comissão põem-na em prática. (UE, 2013, p.5).

Os aspectos da trajetória histórica tangenciados anteriormente auxiliam a abordagem

do papel desempenhado pela esfera subnacional no decurso da integração europeia. De acordo

com a inspiração federalista do projeto dos fundadores, o diálogo entre a União e os Estados é

parte essencial no processo de tomada de decisão relativa ao objetivo de aproximar a União

Europeia dos cidadãos30. Nesse contexto, é criado o Comitê das Regiões (CR), que visa forjar

uma Europa que ultrapasse as questões mercadológicas e que crie vínculos com a sociedade

que busca integrar.

O Comitê das Regiões nasceu no Tratado de Maastricht, em 1992, e tornou obrigatória

a consulta ao Comitê, pela Comissão Europeia e pelo Conselho, em áreas fundamentais de 29 Para mais detalhes sobre a Política Externa e de Segurança Comum, consultar <http://europa.eu/pol/cfsp/index_pt.htm>. Acessado em 30 maio 201330 É importante mencionar a existência do Comitê Econômico e Social Europeu (CESE), outro importante vetor da participação de atores não estatais que representa os interesses de três respectivos grupos: empregadores, trabalhadores e setores de atividades específicas, como “(...) agricultores, artífices, PME e indústrias, profissões liberais, representantes dos consumidores, da comunidade científica e pedagógica, da economia social, das famílias, dos movimentos ecologistas.” Disponível em: http://europa.eu/legislation_summaries/glossary/european_economic_social_committee_pt.htm. Acesso em 30 maio de 2013.

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42

interesse regional que são da competência do primeiro, quais sejam: coesão econômica e

social, infraestrutura transeuropeia, saúde, educação e cultura, política de emprego, políticas

voltadas aos jovens, proteção civil, energia, meio ambiente, alterações climáticas, além de

serviços de interesse comum geral como telecomunicações e serviços postais. A partir de

2009, com o Tratado de Lisboa, o Parlamento Europeu passa a ser obrigado a consultar o CR,

endossando ainda mais seu papel político, uma vez que as áreas supracitadas representam

mais de dois terços das propostas legislativas da União Europeia31.

Embora o Comitê tenha como uma de suas principais funções emitir parecer acerca de

textos legislativos que afetem as áreas de interesse locais e das regiões, seu papel não fica

relegado a atitudes meramente reativas. Os pareceres de prospectiva e relatórios de impacto

contribuem para uma maior influência na formulação e na elaboração das políticas ainda em

fase inicial.

As realidades locais e regionais, portanto, são representativas de forte poder político

dentro do arcabouço institucional da União Europeia, o que evidencia o jogo político que

envolve qualquer instituição de organização social representativa – a formação dos grupos

políticos que constituem o Comitê são reflexos dessas interações32. Sendo as unidades

subnacionais assimétricas, dotadas de grande heterogeneidade entre si, não só

economicamente, como também politicamente, a questão da representatividade dos poderes

locais e regionais frente à União tem sido questionada por estudiosos do tema33.

O reconhecimento, por parte da União Europeia, das disparidades dentre suas

fronteiras internas e, por conseguinte, da importância da necessidade de encontrar soluções

para os impactos do aprofundamento da integração, configurou-se na formação do CR que,

por sua vez, baseou-se no princípio da coesão:

[...] a integração econômica criada por um grande mercado buscará obter grandes benefícios econômicos. Mas seria conveniente que todas as regiões da Comunidade pudessem participar deles progressivamente [...]. Com esse espírito a Comunidade analisou as políticas chamadas ‘estruturais’, com a vontade de lhes conferir um verdadeiro impacto econômico e não com a de realizar – o que seria custoso e insuficiente – simples transferências

31 Dados do Comitê das Regiões. Disponível em: <http://cor.europa.eu/en/documentation/brochures/Documents/be47418d-915a-4c2d-8512-85333edc83e3.pdf> Acessado em 30 de mai de 2013.32 Os grupos políticos representados no CR são: o grupo do Partido Popular Europeu (PPE), o grupo do Partido dos Socialistas Europeus (PSE), o grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (ALDE) e o grupo da Aliança Europeia (AE). Há, entretanto, membros que são independentes que não se filiam a nenhum dos grupos mencionados.33 STUART (2004), (MEDEIROS, 2004).

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orçamentárias. Falando claramente: há que deixar de considerar os instrumentos comunitários como meros elementos de um sistema de compensação financeira. Estão chamados a desempenhar, junto às políticas nacionais e regionais e em harmonia com elas, um papel importante para a convergência das economias. (DELORS, 1993, p. 30 apud STUART, 2004, p. 120).

O discurso do ex-presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors (1985 – 1995),

sintetiza de maneira direta a forma pela qual a União lida com as desigualdades de

desenvolvimento entre os Estados membros por meio da instituição dos Fundos Estruturais.

Transparece no discurso o entendimento de que a integração regional é realmente alcançada

quando se revela benéfica para todos que a integram. Sendo assim, a convergência entre as

economias, tornando-as coesas, configura-se como um dos pressupostos para o sucesso dos

objetivos da União Europeia.

Os Fundos Estruturais dividem-se em áreas específicas e são destinados aos Estados

membros levando em conta as necessidades de cada local, ou região. Os Fundos existentes são

o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), o Fundo Social Europeu (FSE), o

Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA) e o Instrumento Financeiro de

Orientação das Pescas (IFOP). De acordo com a política de coesão para o período de 2007 a

2013, a distribuição dos montantes, cujo valor total será de 347 mil milhões de euros, atende a

critérios relacionados em três diferentes âmbitos, sejam eles: convergência, competitividade

regional e emprego e cooperação territorial (Figura 1).

Os recursos destinados ao primeiro âmbito têm por objetivo acelerar a convergência

das regiões e Estados-Membros menos desenvolvidos por meio da melhoria das condições de

crescimento e emprego nos domínios de “[...] capital físico e humano, inovação, sociedade do

conhecimento, adaptabilidade às mudanças, ambiente e eficácia

administrativa”(DISPOSIÇÕES..., s/d, s/p). Tais montantes são divididos por três fundos

financiadores: Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), pelo Fundo Social

Europeu (FSE) e pelo Fundo de Coesão.

O segundo critério dá-se por meio do financiamento do FEDER e FSE e destina-se a

regiões que não são as menos favorecidas, mas que necessitam de maior competitividade e

capacidade de atração, e mais emprego. “Deve permitir antecipar as mudanças económicas e

sociais, promover a inovação, o espírito empresarial, a proteção do ambiente, a acessibilidade,

a adaptabilidade e o desenvolvimento de mercados do trabalho inclusivos.”

(DISPOSIÇÕES..., s/d, s/p).

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44

O último objetivo traz somente o FEDER como financiador e busca reforçar a

“cooperação aos níveis transfronteiriço, transnacional e inter-regional” além de “promover

soluções comuns para autoridades vizinhas, nos domínios do desenvolvimento urbano, rural e

costeiro, bem como o desenvolvimento das relações económicas e a ligação em rede das

pequenas e médias empresas (PME)”. (DISPOSIÇÕES..., s/d, s/p).

Figura 1 – Distribuição dos recursos dos Fundos Estruturais para o período de 2007 a 2013.

81,53%

15,95%2,52%

Convergência

CompetitividadeRegional e Emprego

Cooperação Territorial

Fonte: elaboração da autora com dados das “Disposições gerais FEDER – FSE – Fundo de Coesão (2007 2013)”.

Disponível em:

http://europa.eu/legislation_summaries/regional_policy/provisions_and_instruments/g24231_pt.htm. Acesso em

30 maio 2013.

É importante mencionar que a Comissão Europeia destina os recursos para os Estados

membros que, por sua vez, os canalizam às suas respectivas regiões. Tal funcionamento é

baseado no princípio da subsidiariedade, que diz que a União apenas intervém “(...) se e na

medida em que os objetivos da ação encarada não possam ser suficientemente realizados pelos

Estados membros, e possam (...) ser melhor alcançados ao nível comunitário.” (UE, 1992, art.

3b).

Esse princípio busca atenuar o chamado “déficit democrático” - que, em tese, decorre

de processos de integração que carecem de legitimidade democrática em função de tornarem-

se inacessíveis aos cidadãos -, por meio do respeito às identidades nacionais e salvaguardando

as suas atribuições no objetivo de conjugar as intenções da União quanto à construção de um

espaço europeu federado representativo de seus cidadãos. Dessa forma, conclui-se que as

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45

prioridades de investimento serão melhor elencadas em conjunto com autoridades locais e

regionais de cada nação.

A relação entre as diferentes esferas de representação no CR ocorre em um sistema de

unidades de poder em que estão presentes os níveis supranacional, nacional e subnacional. A

dinâmica, portanto, que decorre da interação entre eles é o que dá a tônica da real

representatividade dos cidadãos dentro da União Europeia – objetivo da existência do CR. As

diferentes formações dos Estados Nacionais influem no modo de inserção e,

consequentemente, no poder estratégico dessas unidades dentro do CR.

O potencial econômico e o grau de autonomia de regiões e de poderes subnacionais

locais formatam o comportamento, podendo tanto aumentar, quanto diminuir a possibilidade

de representação desses atores. Dessa forma, as unidades subnacionais mais frágeis, ao

contrário de encontrarem no CR um canal de comunicação para suas demandas, podem até

acabar suprimidas por unidades mais articuladas que fazem do Comitê sua caixa de

ressonância. Em casos assim, as menores unidades subnacionais são acometidas por um

sentimento de simples troca de tutela, uma vez que as unidades mais poderosas passam a fazer

as vezes de um Estado Nacional.

O modo de inserção no Comitê das Regiões de subunidades pertencentes a Estados tipicamente federais, como a Alemanha, a Áustria e a Bélgica, difere muito daquele de Estados regionalizados, como a Espanha e a Itália, ou ainda do de países de característica jacobina, como a França ou o Reino Unido. Assim, o comportamento de um componente do CR é função, pari passu, de seu potencial econômico e de seu grau de autonomia política perante o poder nacional. (MEDEIROS, 2004, p. 163).

Uma importante consequência desse sistema de jogo de poderes entre as unidades é o

afastamento de grandes atores subnacionais do projeto de integração, uma vez que estes não

sentem a necessidade de proteção das instituições da União para a realização dos seus

objetivos, pois já encontram com eficiência a solução para suas demandas dentro do próprio

Estado-Nação. Sem o apoio das maiores unidades, a representação dos poderes subnacionais

torna-se esvaziada, pois um aglomerado de pequenas vontades locais não uníssonas é incapaz

de influenciar os rumos das políticas públicas. O desenvolvimento do CR para enfim tornar-se

uma terceira câmara34, torna-se cada vez mais prejudicado pela impossibilidade de realizar

34 (...) o estabelecimento daquilo que se tornou o Comitê das Regiões atua (ou poderia atuar) como uma voz institucional de Terceiro Nível, fornecendo uma contribuição direta no processo de tomada de decisões, com potencial para evoluir em direção a uma terceira câmera legislativa paralela ao Conselho de Ministros e ao Parlamento Europeu.” (JEFFERY, 1997, p. 66 apud MEDEIROS, 2004, p. 170).

Page 46: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

46

tanto a função de representatividade das regiões – em função das assimetrias internas, quanto

da representação em si dos poderes subnacionais.

Regiões como a da Catalúnia, por exemplo, gozam de considerável margem de

manobra dentro de seu próprio território nacional e, a partir desse âmbito são capazes de

influenciar esferas mais abrangentes a alinharem-se às suas demandas sem o apoio de

instituições como o CR. Já outros entes, como o governo da Região Autônoma dos Açores de

Portugal, não possuem o mesmo poder nem em escala subnacional, subregional ou ainda

supranacional. O CR, entretanto, não possui ferramentas nem normas para lidar com esse tipo

de assimetria interna, fazendo com que as críticas continuem ressonando.

É preciso citar, entretanto, que o descontentamento com o CR não parte somente das

pequenas regiões em função da troca de tutela. As regiões mais fortes percebem sua atuação

dentro do Comitê cerceada pelo grau de assimetria entre os participantes, pois não conseguem

levar a cabo suas elevadas ambições que, afinal, não encontram convergência com demandas

de pequenas entidades.

Um dos desafios do CR, portanto, é encontrar um balanço entre as diferentes formas

de representação que convivem em seu seio. Entes municipais e regionais possuem claramente

dimensões distintas que acabam por desequilibrar a relação interna do grupo como um todo,

todavia, o papel que o CR precisa buscar a desempenhar é o de tornar as demandas dos entes

complementares, e não concorrentes.

O estudo da experiência europeia enriquece o debate para análise das instituições e

órgãos que o MERCOSUL desenvolveu ao longo dos anos em seu próprio processo

integracionista. A partir da inspiração do molde europeu, o Cone Sul criou sua própria

maneira de lidar com as assimetrias internas.

Page 47: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

47

4. INTEGRAÇÃO NO CONE SUL E A PROBLEMÁTICA DOS ATORES SUBNACIONAIS.

Na América Latina a integração, considerada em termos gerais como possibilidade e

como experiência, foi cercada por condicionalidades em que despontaram as particularidades

da própria formação dos Estados nacionais, com as derivadas noções de nacionalidade. A

força tanto do colonialismo, português e espanhol, quanto, no século XX, do neocolonialismo

estadunidense, funcionou como mantenedora da distância para a conformação de uma

identidade latino-americana que tornaria, de certa forma, a integração como caminho natural.

Entretanto, o observado foi uma “balcanização”, para usar a expressão de Jorge Aberlado

Ramos35, uma fragmentação em repúblicas que imprimiu um afastamento congênito às nações

latino-americanas, que só começou a ser superado a partir da década de 1950.

A necessidade de sobrepujar barreiras historicamente construídas foi um passo

importante para o início da experiência de integração na América Latina. Nesse processo,

ocuparam lugar de destaque as ideias da CEPAL para o desenvolvimento econômico,

influentes no subcontinente desde os anos 1950.

Naquele contexto, o regionalismo latino-americano surge como possível solução para o

subdesenvolvimento econômico e social. Mas, nas experiências registradas historicamente,

tiveram escasso apelo, ao que parece, os sentidos de complementaridade e de efetiva formação

de blocos econômicos. Pode-se considerar que tais aspectos figuraram por trás, ao lado de

outros fatores, dos limitados resultados logrados pelas iniciativas de integração

protagonizadas na América Latina até meados da segunda metade do século XX. O cenário

modificou-se a partir dos anos 1990 com a nova onda regionalista que deu origem aos

esquemas do MERCOSUL.

Este capítulo tem por objetivo abordar a trajetória do MERCOSUL, não só política,

como também econômica, a fim de destacar os elementos que contribuem para a formação do

arcabouço institucional da organização. E, no sentido de lançar um olhar para os atores

subnacionais, analisar-se-ão as iniciativas voltadas à promoção da cooperação e do

desenvolvimento por parte dos envolvidos na empreitada.

Na primeira parte, será apresentado um panorama da integração no Cone Sul a fim de

35 Ramos (2012).

Page 48: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

48

delinear o caminho percorrido até a conformação do Mercado Comum do Sul, juntamente aos

outros importantes arranjos regionais fomentadores da integração latino-americana,

notadamente no tocante às questões subnacionais e suas implicações para as realidades locais

e regionais.

Na segunda parte, descreve-se as realidade das cidades-gêmeas de Santana do

Livramento-Rivera com a finalidade de apontar o protagonismo subnacional dos entes que

atuam na promoção e no desenvolvimento de ações de cooperação internacional e de

integração. Procura-se demonstrar as iniciativas no sentido de compreender as consequências

dos processos de integração nos ambientes locais com foco na cidade brasileira.

4. 1 Integração no Cone Sul: contexto, trajetória, interpretação.

4. 1. 1 Uma breve contextualização

A ideia de integração na América é de longa data. Desde San Martín e Bolívar, a

concepção de integrar as nações latinas formando uma “pátria grande” está presente no

subcontinente “[...] ‘Nós não podemos viver senão da união’.” (BOLÍVAR apud RAMOS,

2012, p. 179). Embora tenha falhado o projeto bolivariano, as tentativas não cessaram.

A integração regional ganhou força novamente a partir do final da década de 1950,

principalmente sob os auspícios da CEPAL, que propunha uma alternativa de inserção

internacional aos países menos desenvolvidos por meio da formação de um mercado integrado

que oferecesse mais competitividade frente ao cenário internacional. A conjuntura econômica

apresentava-se favorável a esse tipo de comportamento, e a liberalização dos mercados refletia

também o lado político do cenário pós-Segunda Guerra, em contraposição ao nacionalismo,

considerado como uma das causas do conflito. O entendimento, nutrido pela dura experiência

europeia, era que a interdependência entre os mercados seria uma das formas de evitar um

embate entre as nações novamente.

Nesse ambiente geral, os países latino-americanos representados pelos governos de

Brasil, Argentina, Chile, México, Paraguai, Peru e Bolívia, em 1960, firmaram o Tratado de

Montevidéu, criando a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC).

A ALALC tinha por meta principal a criação de uma zona de livre comércio dentro de

um período de doze anos a fim de proporcionar melhores fluxos de intercâmbio regional. O

objetivo final, entretanto, era alcançar o mercado comum regional a partir da ampliação dos

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49

mercados e da “(...) liberalização do intercâmbio pelo desmantelamento de medidas

protecionistas, através de negociação multilateral, produto a produto, de rebaixas tarifárias e

da eliminação de restrições não tarifárias.” (KINOSHITA, 2000, p. 1).

Embora a iniciativa tenha sido pioneira no sentido de construir um projeto

integracionista de amplo escopo, muitos fatores concorreram para o insucesso da

concretização dos objetivos da ALALC. As décadas de 1960 e 1970 foram palco de

endurecimento dos regimes na América Latina, no âmbito das tendências autárquicas dos

regimes militares que foram instaurados na maioria dos países, aliadas à implementação de

políticas fortemente protecionistas que impossibilitaram o alcance dos objetivos propostos

pela Associação. Evidenciava-se, pois, o caráter intergovernamental da organização, fator que

impediu que interesses outros que não os determinados pelo centro estatal decisório fossem

considerados. Além disso, o modo pelo qual se dava a negociação das liberalizações, produto

por produto, retardou enormemente todo o processo, caracterizando a integração como

eminentemente comercialista.

A ALALC também não abordou importantes questões acerca das disparidades entre seus

componentes, não tendo sido implantado qualquer tipo de mecanismo específico para superar

as diferentes realidades políticas e econômicas de cada Estado. A institucionalidade da

organização foi outro elemento impeditivo da evolução da integração, uma vez que os países

não estavam dispostos a abrir mão da soberania plena, envolvendo a política e o território.

Entretanto, em 1967, de maneira contraditória, os países reunidos na Conferência de

Punta del Este “(...) proclamam a constituição do um mercado comum latino americano num

prazo máximo de 15 anos a partir de 1970, projeto manifestamente irrealista em vista das

tendências nas relações econômicas externas.” (ALMEIDA, 1998, p. 37). O compromisso,

claramente, expunha as diferentes necessidades em relação ao processo de integração entre os

países da Associação.

Nesse sentido, em 1969, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru e Equador formam um

subgrupo regional chamado Grupo Andino36. Com economias muito menos assimétricas entre

si, com objetivos muito mais claros e, principalmente, com países dispostos a ceder partes de

soberania a instituições comunitárias, o Grupo Andino obteve bons resultados37 nos seus anos

36 Chamado também de Pacto Andino, foi firmado por meio do Acordo de Cartagena em 26 de maio de 1969. A Venezuela junta-se ao Grupo em 1973, enquanto que o Chile o abandona em 1976 sob o regime de Pinochet. Mais tarde, a partir de 1996, o Pacto Andino torna-se Comunidade Andina de Nações (CAN).37 Entre os anos de 1969 e 1975, houve o "(...) estabelecimento de programas de desgravação tarifária, tarifa externa mínima comum, tratamento uniforme para o capital estrangeiro, regime comum sobre patentes, organismo de financiamento e programas setoriais de desenvolvimento industrial, instituição de um Tribunal de

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50

iniciais. A ambição do Pacto Andino, entretanto, não foi suficiente para enfrentar a crise

econômica na América Latina, com a crise do petróleo e a posterior crise da dívida externa, e

acabou perdendo a vitalidade.

Com a chegada dos anos 1980, vê-se também finalizado o prazo para a formação da

Zona de Livre Comércio, primeira fase de integração da ALALC. Os países, então, reúnem-se

e decidem instituir uma nova organização com objetivos muito mais modestos e sem prazos

fixos para o alcance das metas. Nasce assim, em substituição à ALALC, a Associação Latino-

americana de Integração (ALADI). A reestruturação das metas, com a manutenção das

estruturas institucionais, fez da ALADI “[...] uma espécie de depositária dos acordos bilaterais

ou multilaterais na América Latina.” (SILVA; COSTA, 2013, p. 201).

Como comentado por Paulo Roberto de Almeida, a ALADI elaborou novos objetivos

em seu Tratado, com o abandono da composição de listas comuns foi abandonada,

concedendo, portanto, mais flexibilidade às negociações bilaterais entre países que poderiam

formar assim uma área de preferências tarifárias: “O sistema de ‘preferências tarifárias’

significava que qualquer país podia entrar em acordo com outro da região e intercambiar

concessões recíprocas nos níveis de tarifas aplicadas à importação sem nenhuma obrigação de

estendê-las aos demais países da ALADI.” (ALMEIDA, 1998, p. 38).

A forma que tomou a ALADI é reflexo do contexto internacional dos anos 1980, em que

as economias latino-americanas encontravam-se em profunda crise econômica em função do

esgotamento do modelo tradicional de substituição das importações e da crise da dívida

externa. Sendo assim, os países buscaram contornar as limitações da economia mundial pelo

meio das soluções minilaterais, ou seja, em oposição às negociações multilaterais, os países

começaram a adotar soluções parciais para a ampliação dos mercados nacionais. As

negociações bilaterais que se multiplicaram dentro da ALADI e o Ato Único europeu de 1986

são exemplos de iniciativas protagonizadas sob o signo dessa conjuntura.

Esse cenário, entretanto, mostrou-se muito produtivo para América do Sul, pois

estimulou o início da reaproximação entre Brasil e Argentina. As negociações em escala sub-

regional proporcionaram uma nova vitalidade à relação entre os dois países, dando início ao

movimento que culminaria na formação do Mercado Comum do Sul.

4. 1. 2 O surgimento do MERCOSUL

Justiça, de uma Comissão, da Junta e do Parlamento Andino.” (ALMEIDA, 1998, p. 38) O Pacto Andino foi também a primeira experiência com supranacionalidade da América Latina.

Page 51: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

51

A relação entre Brasil e Argentina e sua importância para a integração regional do Cone

Sul é comparável ao relacionamento de França e Inglaterra no que tange à União Europeia. O

realinhamento entre os primeiros delineou não só a formação, como também passou a definir

os rumos do MERCOSUL.

As transformações políticas e econômicas registradas desde o início dos anos 1980

proporcionaram as bases para a superação, em algum grau, das questões de desconfiança

mútua entre os dois países, muito mais baseadas em suposições do que, não parece

equivocado considerar, em conhecimento concreto da realidade da nação vizinha. Com o fim

dos respectivos regimes militares autoritários, os governos civis de Brasil e Argentina

vislumbraram novas formas de contato, em que:

[...] as possibilidades de romper com o mito anterior do antagonismo e de avançar assim na busca de novos campos de cooperação política e estratégica se acrescentaram de maneira substantiva, dando lugar a fórmulas concretas para o ingresso numa nova etapa das relações bilaterais. (CAMPBELL; ROZEMBERG; SVARZMAN, 1998, p. 34).

Os presidentes Raúl Ricardo Alfonsín (1983-1989), da Argentina, e José Sarney (1985-

1990), do Brasil, foram personagens que podem ser considerados reflexos das consequências

de anos de ditaduras em seus respectivos países. Alfonsín fora eleito com pequena margem

frente ao candidato opositor, 51,7% contra 40,1%; embora a força do movimento peronista

fosse ainda forte no país, não havia candidato na época capaz de desafiá-lo. José Sarney,

sendo filiado da Arena, não era representativo do Brasil de 1985, tendo tomado o cargo

somente em razão do falecimento de Tancredo Neves. Era de conhecimento de ambos, pois,

que sua força política era limitada. Frise-se igualmente que, no período em questão, as

atenções se voltavam amplamente aos problemas vinculados à crise da dívida externa e à alta

inflação, que assombravam os países.

Ambos presidentes perceberam na integração regional uma oportunidade de

identificação de interesses comuns, a fim de legitimarem historicamente suas contribuições

frente à conjuntura de grandes mudanças que impunha um novo posicionamento aos países

menos desenvolvidos.

Em termos mais gerais, a debilidade que o conjunto da economia e do

Page 52: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

52

comércio mundial exibia àquela altura, a deterioração crônica dos termos nacionais de intercâmbio, o recrudescimento do neoprotecionismo e as pressões exportadoras mais agressivas dos principais mercados desenvolvidos contribuíram para alimentar a idéia de relançar, sem acalentar falsas expectativas, a integração latino-americana. Se fundada numa base realista, que levasse em conta as deficiências e as limitações das experiências do passado, esta se revelaria a melhor alternativa ao alcance de nossos países tanto para melhorar sua inserção comercial como para adquirir maior autonomia em seu relacionamento político com as principais potências. (CAMPBELL; ROZEMBERG; SVARZMAN, 1998, p. 39).

Assim, um dos primeiros sinais de alinhamento deu-se com a Declaração de Iguaçu38,

em 1985, que expressou de maneira formal a ambição dos Governos de intensificarem as

relações bilaterais e de iniciarem um maior compromisso no sentido da conformação de uma

integração entre si. Conforme explicitado no item 18 da Declaração: “Dentro desse espírito,

expressaram [os Governos] sua firme vontade política de acelerar o processo de integração

bilateral, em harmonia com os esforços de cooperação e desenvolvimento regional [...]”.

(DECLARAÇÃO..., 1985, p. 3). Cria-se também, ainda no âmbito da Declaração, a Comissão

Mista de Alto Nível, que tinha por propósito “[...] examinar e propor programas, projetos e

modalidades de integração econômica.” (ibid).

O primeiro passo objetivo de integração regional entre Brasil e Argentina acontece no

ano seguinte, em 1986, com a assinatura da Ata para a Integração Brasil-Argentina, que

estabelece o Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE), com 12 Protocolos

para gerir setores específicos. Esses Protocolos são os seguintes: Bens de capital; Trigo;

Complementação do Abastecimento Alimentar; Expansão do Comércio, Empresas

Binacionais; Assuntos Financeiros; Fundo de Investimentos; Energia; Biotecnologia; Estudos

Econômicos; Informação e Assistência em Acidentes Nucleares e Cooperação Aeronáutica. O

PICE é norteador dos princípios em nos quais se buscará o Tratado de Assunção, de 1991:

[...] flexibilidade, para permitir ajustamentos no ritmo e nos objetivos; gradualismo, para avançar em etapas anuais; simetria, para harmonizar as políticas específicas que interferem na competitividade setorial e equilíbrio dinâmico, para propiciar uma integração setorial uniforme. (MDIC, s/d, s/p).

Diante das possibilidades abertas pela Ata, o intercâmbio entre Argentina e Brasil

38 Disponível em: < http://www.abacc.org.br/wp-content/uploads/1985/11/declaracao_do_iguacu_portugues.pdf>. Acesso em jun. 2013.

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53

obteve um resultado muito satisfatório, principalmente em relação às vendas da Argentina. É

nessa época que o Brasil torna-se o principal mercado das exportações argentinas,

ultrapassando assim os Estados Unidos. Além disso, uma das grandes preocupações dos

argentinos na integração econômica com o Brasil era a especialização agrária de suas

exportações, o que acabou não se confirmando mesmo após a formação do MERCOSUL:

como observado na figura 2, as manufaturas responderam, por exemplo, em 2012, por mais de

80% das exportações argentinas para o mercado brasileiro.

Figura 2 - Importações brasileiras da Argentina por fator agregado US$ bilhões, fob - 2 0 1 2.

Fonte: elaboração da autora com base nos dados do Ministério das Relações Exteriores – MRE; Departamento de

Promoção Comercial e Investimentos -DPR; Divisão de Inteligência Comercial – DIC. Disponível em:

<http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/IndicadoresEconomicos/INDArgentina.pdf>. Acesso em jun.

2013.

A partir dessa intensificação das relações bilaterais entre Brasil e Argentina, o Uruguai

sinalizou a vontade de agregar-se aos processos de integração e, com a Ata de Alvorada, ou

ainda Decreto Tripartite n.° 1, de abril de 1988, o país foi oficialmente incorporado às

conversações. Nesse mesmo ano, processou-se a assinatura do Tratado de Integração,

Cooperação e Desenvolvimento, em novembro, entre Brasil e Argentina, cujo objetivo

principal era a formação de uma Zona de Livre Comércio (ZLC) no espaço de dez anos. Por

meio desse Tratado, foram acordados 24 Protocolos em diversos temas a fim de harmonizar

políticas aduaneiras, comerciais, agrícolas, industriais e de transporte, entre outros.

É importante mencionar a reação norte-americana aos processos regionais em curso na

América Latina, que culminou com o lançamento da Iniciativa para as Américas, do

presidente George Bush em 1990. A prioridade dos Estados Unidos em relação à América

Latina estava relegada a um segundo plano desde o início da Guerra Fria, tendo sido dedicada

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54

maior atenção somente a acordos no plano da segurança internacional. A fim de acompanhar a

onda de regionalismos vigente, o projeto de George Bush buscou abarcar não só tal esfera,

mas também objetivos como a promoção dos investimentos, o aumento do comércio e

soluções para a redução da dívida. A meta final da Iniciativa seria a formação de uma ZLC do

Alasca à Terra do Fogo, que foi novamente evocada pela proposta da Área de Livre Comércio

das Américas (ALCA) em 1994. O projeto não obteve grande adesão, e o resultado alcançado

foi a formação do NAFTA em 1992 entre Estados Unidos, Canadá e México.

A chegada dos anos 1990 significou grandes mudanças dentro do Sistema Internacional.

A forma multilateral de relacionamento entre os países foi solidificada e tornou-se

disseminada e duradoura, com a ampliação do número de blocos econômicos nos diferentes

continentes. O tradicional vínculo Estado-Estado foi relativizado e o desenvolvimento

nacional passou a ser de interesse mútuo e internacional, reflexo de um mundo globalizado

marcado por relações de interdependência. As relações internacionais passaram a sofrer

influências constantes de outros âmbitos, sobretudo da esfera econômica, fazendo com que as

nações tornassem-se cada vez mais interligadas. Uma característica marcante desse contexto é

a vulnerabilidade dos atores que é descrita por Joseph Nye e comentada por Mariano e

Mariano (2002) como aquela que “[...] refere-se à capacidade (ou grau dela) de um ator de

arcar com o ônus das mudanças necessárias para enfrentar as alterações externas. A

vulnerabilidade é um elemento importante para entender a estrutura política do

relacionamento interdependente.” (MARIANO; MARIANO, 2002, p. 54).

Na América do Sul, a troca de governo no Brasil e na Argentina colocou no poder,

nesses países, personalidades semelhantes em relação ao âmbito econômico. Fernando Collor

de Mello (1990-1992) e Carlos Saul Menem (1989-1999), respectivamente, com suas políticas

de orientação liberal, trouxeram um novo impulso rumo ao regionalismo. Essa investida

[...] recriou e aprofundou experiências anteriores, com o acréscimo de que, dessa vez, a maioria dos países sul-americanos [...] começava a realizar importantes reformas estruturais entre as quais a abertura comercial, as privatizações e a desregulamentação financeira ocupavam lugar relevante. Se em trinta anos de história as experiências de integração latino-americanas haviam encontrado sérias dificuldades para avançar de modo substancial, a nova hora política e econômica da região parecia abrir as portas para uma nova etapa fundada em esquemas nacionais muito mais abertos, flexíveis e desregulados que os do passado. (CAMPBELL; ROZEMBERG; SVARZMAN, 1998, p. 103-104).

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55

O auge do percurso trilhado para a formação do MERCOSUL corresponde à assinatura

da Ata de Buenos Aires, em 6 de julho de 1990, em que se encurta pela metade o prazo

estipulado pelo Tratado de Integração de 1988 para a instituição não mais de uma ZLC, mas

sim de um Mercado Comum. Com efeito, decide-se, por exemplo, que os Governos tomarão

medidas de coordenação de políticas macroeconômicas e de redução de tarifas de forma

generalizada, linear e automática. (ATA..., 1990, p. 1). Para tal fim, cria-se o Grupo Mercado

Comum, com representantes dos Ministérios das Relações Exteriores de ambos os países,

tendo como função primordial elaborar e propor medidas para o cumprimento dos objetivos

da Ata.

Decorrente direto da Ata, o Acordo de Complementação Econômica n.° 14 é firmado

em dezembro do mesmo ano, com a finalidade de consolidar e incorporar todos os acordos

bilaterais anteriormente assinados ao longo das relações econômicas dos dois países em um

único texto em conformidade com agora com a ALADI. Passa-se então a operar a integração

em um nível não mais bilateral, mas sim regional, assentando assim as bases instrumentais

para a assinatura do Tratado de Assunção não somente entre Brasil e Argentina, mas

envolvendo também Uruguai e Paraguai.

Enfim, em 26 de março 1991, o Brasil, a Argentina, o Paraguai redemocratizado39 e o

Uruguai assinaram o Tratado de Assunção, constituindo o Mercado Comum do Sul com

preparação prevista para ser concluída em 31 de dezembro de 199440. O Tratado do

MERCOSUL estruturou-se para garantir a livre circulação de bens, serviços e fatores

produtivos entre os seus membros, com o estabelecimento de uma tarifa externa comum e pela

coordenação das políticas macroeconômicas e setoriais. Seriam seguidas, portanto, as etapas

normais de um processo de integração, partindo de uma ZLC a uma União Aduaneira e, por

fim, para o Mercado Comum.

A estrutura institucional definitiva do MERCOSUL (Anexo A) é decorrente do

Protocolo de Ouro Preto, de 1994, e é composta principalmente por um grupo de instituições

com poder decisório e executivo e por outro grupo cujas atribuições são de caráter consultivo,

arbitral e de assessoria técnica-administrativa. As primeiras são representadas pelo Conselho

Mercado Comum (CMC), principal órgão do MERCOSUL, que toma decisões por meio de

consenso, com poderes legislativos e personalidade jurídica; pelo Grupo Mercado Comum

(GMC), que representa as capacidades executivas e regulamenta as decisões do Conselho; e

39 O fim da ditadura de Alfredo Stroessner deu-se em fevereiro de 1989.40 Desde 31 de julho de 2012, a Venezuela é parte do MERCOSUL que, portanto, engloba 5 países membros. O Paraguai encontra-se suspenso até 21 de abril de 2013 quando realizará novas eleições para presidente.

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56

pela Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM), que atua na mediação de conflitos

comerciais e administra o funcionamento da União Aduaneira.

O segundo grupo engloba o Parlamento do MERCOSUL (PM), que tem funções

consultivas e de controle em matérias relevantes à integração; o Foro Consultivo Econômico-

Social (FCES) que é o canal de transmissão das demandas e interesses da sociedade civil; o

Tribunal Permanente de Revisão do MERCOSUL, que visa à construção de jurisprudência; a

Secretaria do MERCOSUL, o Tribunal Administrativo-Laboral do MERCOSUL e o Centro

MERCOSUL de Promoção do Estado de Direito.

4. 1. 3 MERCOSUL: uma trajetória errática.

O aniversário de vinte anos do MERCOSUL coroou uma história de grandes realizações

acompanhadas, entretanto, por sérias crises e percalços. Isso não deveria surpreender, pois a

integração regional implica tanto em benefícios para os Estados membros, promovendo novos

mercados e alavancando o desenvolvimento econômico e social, quanto em certos ônus, com

diferentes aspectos, mas, via de regra, representando desafios a serem enfrentados pelos países

participantes, como a questão das assimetrias, por exemplo.

Nos primeiros anos do MERCOSUL, o comércio intrarregional foi bastante favorável

aos países do bloco, tendo saído de US$ 10.201 milhões em 1991, para US$ 40.814 milhões

em 1998, quadruplicando, portanto, no período, conforme a tabela 1. A participação do

comércio intrazona no comércio total apresentou bom desempenho com uma variação de 23%

ao fim de 1998.

Tabela 1- Comércio no MERCOSUL de 1991 a 1998 (em US$ Milhões)

1991 Var. % 1992 Var. % 1993 Var. % 1994 Var. %

Comércio Intrazona (CI)

10.201 24 14.497 42 19.143 32 23.712 24

Comércio Extrazona (CE)

68.038 4 74.846 10 8.743 8 96.486 19

Comércio Total (CT)

78.239 6 89.344 14 99.886 12 120.197 20

(CI/CT) 13,0% 16,2% 19,2% 19,7%

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57

1995Var. %

1996Var. %

1997Var. %

1998Var. %

Comércio Intrazona (CI)

28.438 20 34.226 20 40.981 20 40.814 0

Comércio Extrazona (CE)

117.806 22 124.066 5 139.138 12 135.829 -2

Comércio Total (CT)

146.245 22 158.292 8 180.119 14 176.644 -2

(CI/CT) 19,4% 21,6% 22,8% 23,1%Fonte: (PAMPLONA; FONSECA, 2009) Disponível em: <http://www.usp.br/prolam/downloads/2008_2_1.pdf>. Acesso em jun. 2013.

Com a chegada da crise financeira de 1998, que acarretou a maxidesvalorização do

real em 1999, o quadro comercial sofreu grandes mudanças. O contexto de incerteza, quanto

ao cenário econômico e à volatilidade das condições econômicas, instalou na região uma

época de recessão, o que refletiu no comércio intrabloco: de 1998 para 1999, houve uma

diminuição de 25% no intercâmbio, como observa-se na figura 3. No ano seguinte, há uma

ligeira melhora, que logo é contornada pela entrada dos anos 2000, em que a Argentina passa

por uma profunda crise refletindo assim em novo declínio no comércio entre os países do

bloco.

Figura 3 – Comércio no MERCOSUL de 1989 a 2002 em US$.

Page 58: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

58

Fonte: (REIS; AZEVEDO, 2008). Disponível em:

http://www.anpec.org.br/encontro2008/artigos/200807211656390-.pdf

A partir de 2003, conforme a figura 4 os índices melhoram substancialmente, a “[...]

convergência das políticas cambiais, a retomada do crescimento econômico na região e a

posse de presidentes claramente favoráveis ao MERCOSUL deram origem a um clima

propício aos entendimentos entre os países membros.” (PAMPLONA; FONSECA, 2009, p.

19). Com Lula na presidência do Brasil e Nestor Kirchner na Argentina, o MERCOSUL

obteve alguns avanços principalmente no plano institucional, com a criação do Fundo para a

Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM), em 2004, com a posterior

implementação em 2005.

Figura 4 – Intercâmbio do MERCOSUL de 1998 a 2007.

Fonte: (PAMPLONA; FONSECA, 2009) Disponível em: <http://www.usp.br/prolam/downloads/2008_2_1.pdf>.

Acesso em jun. 2013.

Obs.: 1991=base 100

No final dos anos 2000, a crise financeira associada ao estouro da bolha imobiliária

nos Estados Unidos não deixou de afetar também países do Cone Sul, tendo contribuído para

o mau desempenho das trocas no ano de 2009. Logo após, entretanto, os números sugerem

alguma recuperação, permitindo concluir que a tendência de expansão comercial se mantém,

Page 59: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

59

como mostrado na tabela 2, e indicam que o comércio entre os Estados membros tem mantido

um bom desenvolvimento.

Tabela 2 - Exportações Intrabloco 2007 – 2011 (US$ Milhões)

Estado Parte 2007 2008 2009 2010 2011Argentina 13.629 17.543 14.876 18.559 22.577Brasil 22.078 26.887 19.439 26.455 32.444Paraguai 1.386 2.392 1.650 2.303 2.908Uruguai 1.353 1.840 1.723 2.415 2.726Venezuela 1.123 1.548 1.443 1.703 2.039MERCOSUL 39.569 50.210 39.131 51.435 62.694

Fonte: SECOM – Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, 2012. Disponível em:

<http://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/Bogota/es-es/file/Factsheet%20vers%C3%A3o%20final-1.pdf

A partir da análise do desempenho do intercâmbio entre os países do bloco, a questão

relativa aos problemas de desvio de comércio, conforme discutido anteriormente no presente

trabalho, ganham importância no sentido de delimitar o verdadeiro impacto econômico da

formação do arranjo regional do Cone Sul. Porém, não há não um consenso na literatura sobre

o problema da ocorrência ou não de desvio no MERCOSUL.

De um lado, Yeats (1997) critica a formação do bloco alegando que os resultados

positivos dos primeiros anos do MERCOSUL foram indicativos sobre a presença de desvio de

comércio, como no setor automobilístico. Para aquele autor, o bloco, teoricamente, não

ganhava em competitividade internacional, ao passo que os países especializavam-se em

setores que não tinham vantagens comparativas:

[...] em resumo, as evidências sugerem que o Mercosul está se tornando menos, e não mais, internacionalmente competitivo em produtos em que o comércio está sendo mais rapidamente reorientado para a região [...] produtores locais estariam tendo grandes incentivos para operar com os preços maiores disponíveis nas vendas dos mercados do Mercosul. (YEATS, 1997 apud SABBATINI, 2001, p. 42).

Para Yeats (1997), o MERCOSUL era prejudicial não somente à economia dos países

integrantes, como também ao comércio internacional, ao não demonstrar a especialização dos

países do bloco nos setores em que aquele detém a maior dotação de fatores, como na

agropecuária, por exemplo. Seguindo a teoria de Viner, Yeats coloca o MERCOSUL,

portanto, como um stumbling block.

Page 60: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

60

Yeats sofreu grandes críticas. Os principais questionamentos diziam respeito à não

consideração de fatores dinâmicos na sua pesquisa. Referiam-se igualmente ao método

utilizado para comprovar sua perspectiva. Uma importante lacuna da análise encontrar-se-ia

na não atenção às importações também originárias do exterior do bloco, inviabilizando um

olhar completo do processo de integração regional, uma vez que tal variável é determinante

para o estabelecimento da existência de desvio de comércio, ou não. Nesse sentido, como

afirmou Sabbatini (2001), somente com a inclusão das importações, tornar-se-ia possível

afirmar que o MERCOSUL de fato enquadra-se bem no quadro do regionalismo aberto, tendo

tanto aumentado as transações intra-bloco, como também as extra-bloco:

No total dos setores, as compras do Mercosul originárias dentro da própria região aumentaram 98%, ao passo que as compras da OCDE evoluíram 91% [...], revelando que, mesmo com preferências intra-regionais e o crescimento significativo das exportações intra-regionais [...], os países desenvolvidos representam o destino de metade das exportações do Mercosul. (SABBATINI, 2001, p. 44)41.

Sendo assim, o autor conclui que é preciso analisar a formação do MERCOSUL por

meio de ferramentas mais adequadas. Quer dizer, é importante incluí-lo no contexto da nova

onda de regionalismo, a fim de perceber o papel construtivo que, potencialmente, ele pode

desempenhar a favor tanto da liberalização multilateral quanto do fomento ao

desenvolvimento econômico dos seus membros.

Diante disso, abre-se um leque de possibilidades em relação ao que a integração

regional pode proporcionar aos seus integrantes, sobretudo no tocante às consequências desse

tipo de arranjo na esfera social. No MERCOSUL, um dos objetivos principais, conforme

assinalado com destaque no seu Tratado constitutivo, diz respeito ao alcance de “[...]

desenvolvimento econômico com justiça social”. (TRATADO..., 1991, p.1).

A rigor, pode-se considerar que o sucesso nessa direção é um efetivo pressuposto

desse processo de integração, razão pela qual deve-se considerar que seu alcance, no grau em

que isso se revele, há de figurar como elemento central na discussão da efetividade da

consolidação do processo de integração. Esse tipo de questão é crucial, pois as assimetrias

socioeconômicas entre os países vinculadas ao processo de integração tanto podem concorrer

para o aprofundamento da integração – por provocarem esforços para ampliar a

41 O período analisado é de 1992 a 1994 e de 1997 a 1999.

Page 61: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

61

complementaridade entre as economias, por exemplo -, quanto contribuir para a intensificação

das disparidades já existentes.

Daí que, já em 1994, cria-se o Foro Consultivo Econômico-Social do MERCOSUL

(FCES), representando os interesses dos cidadãos mercosulinos, cujas atribuições principais

são “acompanhar, analisar e avaliar o impacto econômico e social derivado das políticas

destinadas ao processo de integração e as diversas fases de sua implementação, seja a nível

setorial, nacional, regional ou internacional.” (FCES, art. 2).

O FCES, entretanto, é órgão consultivo, e suas decisões não têm sido efetivas na

realização de seus propósitos de legitimar uma maior participação da sociedade civil dentro do

processo de integração. Com efeito, segundo dados de Herz e Hoffmann, 70% das decisões

que são plenamente internalizadas partem do CMC, 63% partem das Resoluções do GMC e

59% são provenientes de diretivas do CCM. (HERZ; HOFFMANN, 2005 apud SILVA;

COSTA, 2013, p. 217).

A estrutura institucional intergovernamental do MERCOSUL pode ser apontada como

uma das razões da falta de participação de atores subnacionais e não estatais nesse processo de

integração. A ação política dos principais membros, Brasil e Argentina, sempre marcou os

rumos da integração. Sendo assim, o interesse no aprofundamento e na evolução do processo

integracionista fica dependente da vontade política dos governos nacionais que, muitas vezes,

agem no sentido de limitá-lo a fim de evitar regras de aplicação automática – ou seja, opta-se,

no MERCOSUL, por uma estrutura institucional que privilegie uma flexibilidade das decisões

estabelecidas caracterizando um processo chamado por Rogério Santos da Costa do tipo stop

and go. (SILVA; COSTA, 2013, p. 210)

Tal arranjo de coisas impõe-se como um obstáculo, sobretudo, ao comércio

internacional do bloco como um todo. O processo da transposição das normas para o nível

nacional, em cada país membro, reveste o MERCOSUL uma imagem incerta quanto à

aplicabilidade das decisões, prejudicando assim o julgamento dos agentes econômicos, uma

vez que é possível que uma norma esteja em vigor em um país, e em outro, não.

As questões relativas à desindustrialização de determinadas áreas, por exemplo,

podem ser explicadas, ao menos parcialmente, pela incapacidade da internalização das normas

de forma homogênea, visto que as condições de competitividade ligadas a incentivos

relacionam-se de maneira íntima às estruturas normativas próprias das áreas em questão. Vê-

se, por exemplo, a prática da guerra fiscal entre Estados, com reduções de níveis salariais, ou a

eliminação de regulamentações do mercado de trabalho, práticas que são usadas para atrair

investimentos. Tais artifícios teriam muito menos eficácia e causariam menos disparidades

Page 62: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

62

caso houvesse a aplicação igualitária de mínimas normas a todos os Estados envolvidos no

processo de integração regional.

Outro exemplo de órgão voltado à matéria social é o Fundo de Convergência

Estrutural do MERCOSUL (FOCEM), de 2004, que tem por objetivo viabilizar “[...]

programas para promover a convergência estrutural, desenvolver a competitividade e

promover a coesão social, em particular das economias menores e regiões menos

desenvolvidas [...]” (art. 1 do CMC n° 18/05 e n° 24/05). O FOCEM é constituído por

recursos provenientes dos países membros de acordo com a capacidade de cada um, da mesma

forma que a alocação das contribuições conta com a mesma política: o Brasil contribui com

70% do total anual, com direito de utilizar 10%; a Argentina destina 27%, com possibilidade

de utilizar 10%; o Uruguai e o Paraguai contribuem com 2% e 1%, respectivamente, e têm

direito a 32% e 48% cada um42.

Os projetos que se utilizam do Fundo são voltados para a melhoria da infraestrutura e

para o desenvolvimento sócio-econômico dos países, e a consciência esperada é que um

impacto positivo da sua implantação no aprofundamento da integração regional. Desde a sua

criação, o FOCEM já outorgou recursos não reembolsáveis para a

[...] construção da linha de transmissão elétrica entre Itaipu e Assunção [...], construção de rodovias [no Uruguai], uma linha de transmissão elétrica entre Candiota, no Brasil, e San Carlos, ao sul do Uruguai. [...] projetos para a Biblioteca da Universidade Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu, para apoio a pequenas e médias empresas dos quatro países que desenvolvam projetos na integração de cadeias produtivas nos setores automotivo e de gás e combustíveis; para um amplo programa destinado à erradicação da febre aftosa (PAMA), [...] entre outros. (ARSLANIAN, 2012, p. 88-89)

Outras importantes iniciativas também merecem realce, como o Fundo MERCOSUL

de Garantias para Micro, Pequenas e Médias Empresas e o Fundo de Agricultura Familiar do

MERCOSUL, ambos criados em 2008. Há também o Instituto Social do MERCOSUL (ISM),

de 2007, junto à Comissão de Coordenação de Ministros de Assuntos Sociais do MERCOSUL

(CCMASM), que tem por objetivo supervisionar o andamento dos projetos sociais regionais

aprovados pelo CMC. As principais funções da CCMASM envolvem “Promover projetos

sociais regionais que complementem os objetivos e programas nacionais, garantindo o

tratamento e superação das assimetrias” e “Estabelecer mecanismos de cooperação regional

para a implementação e financiamento de políticas sociais” (CCMASM, art. 4).

42 Dados de Arslanian (2012).

Page 63: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

63

É relevante observar que, embora haja ações objetivando lidar com os desafios do

aprofundamento da integração regional, como as assimetrias, por exemplo, a efetividade das

iniciativas não tem obtido o êxito esperado, provocando críticas semelhantes àquelas surgidas

em relação à União Europeia no que concerne ao déficit democrático desses processos.

O assunto é de suma importância, pois o diálogo entre a sociedade e as instituições é

uma questão que põe em xeque o papel complexo a ser desempenhado pelos atores que

conduzem a integração – os Estados, primordialmente. Quando o Estado falha no seu dever de

promover o desenvolvimento econômico e social frente às consequências dos processos de

integração, conforme consta no Tratado de Assunção, abrem-se brechas para a atuação de

outras unidades de poder no intuito de reivindicar a atenuação das desigualdades regionais e

locais decorrentes desse próprio processo.

Neste momento, cabe assinalar uma importante característica do progresso do

regionalismo, conforme descrição de Andrés Malamud (2012) baseada na teoria de Fritz

Scharpf (1996), que distingue duas formas de desenvolvimento da integração: uma permite

falar em integração negativa, a outra, em integração positiva.

A primeira envolve o rompimento das restrições às trocas transfrontiças e às

distorções de concorrência, podendo ser alcançada por procedimentos intergovernamentais;

enquanto que a segunda abrange a implementação de políticas comuns capazes de moldar as

condições em que funcionam os mercados, sendo possível somente pela instituição de

organizações, ou normas supranacionais. Na integração negativa, a evolução da integração

prevê a harmonização de políticas, nesse sentido, no longo prazo, o livre funcionamento do

mecanismo de mercado irá eliminar as disparidades entre os países integrantes do processo.

Já na integração positiva, no longo prazo, os problemas referentes às assimetrias somente são

acentuados. É por essa razão que são necessárias as ferramentas supranacionais.

O critério é relevante, pois expõe com clareza o caminho da evolução para a

supranacionalidade dos processos de integração, uma vez que se entende a integração negativa

e a integração positiva como sequencias. Entretanto, Malamud frisa que, embora o processo

seja progressivo, não significa que tal via seja inevitável, ou irreversível. (MALAMUD,

2012).

De fato, o MERCOSUL vem modificando-se e desenvolvendo-se no decorrer dos

anos. Os acordos firmados deixaram de incluir somente a esfera econômica e passaram a

integrar de maneira multidimensional aspectos políticos, sociais e culturais. De um lado,

aprofundou-se ainda mais a interdependência entre os países. De outro lado, possibilitou-se

uma real evolução do processo de integração regional afinado cada vez mais com os conceitos

Page 64: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

64

teóricos que os definem, afirmando a relevância de todas as esferas, econômicas, políticas e

sociais.

Tendo em vista o que essa trajetória de duas décadas permite discernir, é praticamente

inevitável o impulso de tentar vincular a experiência do MERCOSUL à produção teórica

sobre a problemática da integração. É o que se faz a seguir, devendo-se desde logo assinalar

que o exercício é breve, posto que meramente indicativo, e limitado a algumas contribuições

teóricas emanadas do campo das Relações Internacionais, conforme o que se apresentou

anteriormente neste estudo.

4. 1. 4 O ângulo das teorias de Relações Internacionais sobre a formação do MERCOSUL

O enquadramento teórico do processo de integração do Cone Sul não é plenamente

alcançado pelas teorias explanadas previamente no âmbito do segundo capítulo do presente

trabalho. Acertadamente, tais constructos teóricos foram arquitetados a partir da observação

da formação da União Europeia, sendo algumas especificamente projetadas à explicação desse

processo regional.

Nesse sentido, a teoria Federalista, por exemplo, oferece poucas ferramentas de análise

úteis para a compreensão do processo de integração do MERCOSUL, uma vez que o caminho

da integração tem como missão final a instituição de uma organização com

supranacionalidade capaz de gerir as políticas comuns entre os membros. O MERCOSUL não

demonstra nem em seu Tratado constitutivo, nem nas ações empreendidas até o momento,

essa vontade.

A teoria Funcionalista, embora seja capaz de explicar parcialmente o início da

formação do MERCOSUL por meio da reaproximação de Brasil e Argentina, que inicialmente

envolveram-se em acordos somente em uma área – comercial -, sofre das mesmas críticas

aplicadas à explicação da União Europeia. De fato, o efeito spill over não acontece de forma

automática. Um dos pressupostos funcionalistas baseia-se na coalização entre as burocracias

similares de cada um dos países integrantes que, em conjunto, formam uma burocracia

regional técnica que rege as normas das instituições nascidas da integração. O MERCOSUL

não surge do entendimento das elites brasileiras e argentinas, pelo contrário, o observado é

que houve muito pouca participação da sociedade civil na conformação do arranjo regional do

Cone Sul, conjugando num processo essencialmente intergovernamental.

Page 65: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

65

Desde o início, o Mercosul foi órfão de um verdadeiro interesse empresarial e sindical. [...] Por sua vez, os sindicatos aqui e na Argentina, tinham em sua agenda reivindicações tão imediatas que a ideia de operar movimentos de mão de obra num espaço ampliado não interessava. Assim, no berço do Mercosul houve uma hipertrofia do político-diplomático e um déficit de empresarial-sindical. (AZAMBUJA, 2012, p. 81)

Mesmo após o refinamento da teoria com Ernest Haas, incluindo então as influências

domésticas no processo de integração, a continuidade e o aprofundamento do MERCOSUL

não podem ser explicados pela reorientação das lealdades dos atores políticos para um novo

centro dotado de instituições que possuem competências para lidar com as questões dos

Estados-membros. De fato, no Cone Sul, a tendência observada é a de evitar que as questões

nacionais sejam discutidas em âmbito regional. Ainda, no tocante aos atritos intra-bloco,

observa-se o mesmo comportamento dos Estados que optam por utilizar-se de outras

ferramentas em detrimento das instituições do MERCOSUL, conforme se vê na rara utilização

do Sistema de Solução de Controvérsias do MERCOSUL – somente vinte e uma vezes

acionado desde sua criação até 201243, uma média de uma vez por ano.

Já a teoria de base realista, o Intergovernamentalismo Liberal, propõe uma dinâmica

em que os Estados são os principais atores na arena internacional, ou seja, são eles os mais

capacitados a alcançar os objetivos por meio da negociação intergovernamental. A

importância das organizações internacionais traduz-se em fortalecimento do poder estatal, não

sendo, portanto, limitadoras de sua ação. Dessa forma, elas reforçam as decisões previamente

acordadas entre os Estados, funcionando como “[...] mecanismos para blindar y hacer cumplir

los acuerdos, más que como actores autónomos o como una más amplia arena política.”

(MALAMUD, 2010, p. 114).

O funcionamento do MERCOSUL, de fato, é intergovernamental. Entretanto, a

delegação de poder às estruturas regionais não ocorreu junto com o desenvolvimento das

relações intra-bloco. Na verdade, é de importante menção o fato paradoxal que, se de um lado

o Intergovernamentalismo Liberal explica a aproximação entre Estados em virtude de

interesses comuns, no intuito de extinguir entraves ao comércio, de outro, a teoria coloca a

interdependência como fator fundamental para tal princípio de integração. Ora, o

MERCOSUL parte da vontade política de Brasil e Argentina, países que não possuíam

interdependência comercial que pudesse vir a pressionar a liberalização do intercâmbio entre

eles.

43 Dados de Bressan, 2012.

Page 66: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

66

Diante do exposto, percebe-se que “[...] el MERCOSUR es ‘un caso de regionalismo

abierto en el marco de la Organización Mundial de Comercio,... un proceso de integración

original que no sigue necesariamente una metodología similar a la empleada en Europa.’ ”

(PEÑA, 1998 p. 96 apud MALAMUD, 2012, p. 26) O integracionismo europeu serviu como

inspiração para o Cone Sul, entretanto, seu arcabouço teórico não compreende por inteiro o

processo de integração do MERCOSUL.

Para Malamud (2012), tal condição é decorrente do fato de que as abordagens

utilizadas para a análise são interpretadas pelo lado da demanda, não condizendo com a

realidade do Cone sul - e dos países em desenvolvimento em geral - que, por sua vez, é

caracterizada por uma integração baseada na oferta. Utilizando-se do esquema de análise de

Walter Mattli, em “The Logic of Regional Integration. Europe and Beyond”, o autor escreve

que há três tipos de condições para que um processo de integração ocorra: fatores de demanda,

fatores de oferta e fatores inerciais.

Os fatores de demanda dizem respeito à demanda por integração por parte de atores

transnacionais, incluindo também atores domésticos que atuam em ambos os lados das

fronteiras. A interdependência regional é tida como condição básica para a demanda de

cooperação, coordenação, ou ainda integração por parte dos atores transnacionais que

percebem que suas atividades são afetadas por altos custos de transações e demandam às

autoridades nacionais, ou supranacionais, que os diminuam. (MALAMUD, 2012).

As condições de oferta, por sua vez, necessitam de presença de liderança, ou seja,

[...] la capacidad y voluntad de uno o más actores de pagar una parte desproporcionada de los costos requeridos por el emprendimiento regional (usualmente se trata de estados) o de proveer monitoreo, implementación y coordinación colectiva (usualmente, agentes supranacionales). (MALAMUD, 2012, p. 15)

Já os fatores inerciais, fazem referência aos momentos em que as condições que

levaram ao estabelecimento de acordos não mais existem e, assim, agem no sentido de criar

continuidade histórica para garantir a sobrevivência do processo de integração em tempos de

condições desfavoráveis de oferta e de demanda.

No caso do MERCOSUL, constituíram-se portanto condições de oferta, ou seja, as

lideranças de Brasil e Argentina apresentaram-se dispostas a formar um arranjo regional

apesar dos custos envolvidos. Diferentemente da União Europeia, não houve um

envolvimento de outros atores que pressionassem pela integração, tendo caracterizado o

Page 67: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

67

MERCOSUL como um processo em que os Estados Nacionais são dotados de total poder

decisório sobre os rumos e as formas que os processos de integração tomam.

De fato, não haveria uma grande incompatibilidade teórica em existir um processo

integracionista com tais características, contanto que os Estados cumprissem com a função de

pagar por uma parte desproporcional dos custos. Entretanto, conforme já exposto, os Estados

Nacionais vêm sendo destituídos de grande parte de sua atuação central como promotores de

desenvolvimento nacional e regional.

No âmbito do MERCOSUL não parece ter sido diferente. É sugestivo dessa situação o

seguinte diagnóstico, manifestado já nos primeiros passos desse movimento de integração: o

MERCOSUL “[...] avança com uma dinâmica própria alheia aos atores cotidianos, e, assim, o

processo de integração está se estruturando por fora do debate dos distintos âmbitos das

sociedades nacionais.” (LAURELLI; MONTAÑA, 1994, p. 142 apud LINS, 2012, p. 7).

A condução do processo de integração regional, portanto, fica prejudicada por essa

incapacidade dos Estados de gerirem de forma eficaz todas as esferas afetadas e, assim,

surgem vácuos de poder que precisam ser preenchidos.

Daí que surgem os governos subnacionais atuando como protagonistas dos processos

de regionalismo. Segundo Mariano e Barreto (2004), “[...] ocorre um processo de

transferência dessa responsabilidade para os níveis estaduais (ou provinciais) e locais de

governos, que se veem constrangidos a enfrentar o desafio de sua própria sobrevivência nos

planos econômicos, político e social." (MARIANO; BARRETO, 2004, p. 22).

4.2 A problemática dos atores subnacionais no MERCOSUL

4. 2. 1 Considerações gerais

A maior razão para o aparecimento e atuação dos atores subnacionais em processos de

integração decorre do fato de que as ações empreendidas no sentido de aprofundar as relações

entre os Estados, para além da fronteira econômica, implicam consequências socioespaciais

que não são plenamente abordadas e equacionadas pela gestão do poder central. Tal

circunstância gera preocupação tanto do próprio ator estatal, quanto das unidades

subnacionais, que são representativas das áreas que mais refletem tais consequências.

Page 68: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

68

De sua parte, os Estados procuram atenuar os reflexos negativos da integração por

meio da formalização desses reflexos, ou seja, pela criação de instituições que tenham por

objetivo transcender os desafios do processo integracionista. Os entes subnacionais, portanto,

podem tanto usufruir dos órgãos criados, exercendo pressão no sentido de influenciarem nas

decisões, como podem atuar por si próprios a favor de suas demandas. Na história do

MERCOSUL, ambos cenários podem ser observados.

Falar sobre atores subnacionais no MERCOSUL implica necessariamente, talvez,

antes de tudo, referir-se à rede de Mercocidades. Ela foi fundada em 1995 a partir da iniciativa

de onze cidades: Rosario (Argentina), Assunção (Paraguai), Florianópolis (Brasil), Porto

Alegre (Brasil), La Plata (Argentina), Curitiba (Brasil), Rio de Janeiro (Brasil), Brasília

(Brasil), Córdoba (Argentina), Salvador (Brasil) e Montevidéu (Uruguai), que

[...] expressaram o sentimento de que se constituíam detentores de percepções próprias acerca dos impactos da integração regional em seus respectivos territórios e de uma visão própria desse processo [...] e [...] iniciaram um movimento na busca de seu espaço no Mercosul e do protagonismo necessário à inclusão de suas percepções e perspectivas para a construção de um bloco mais aderente às peculiaridades de cada território que o compõe. (FCCR, 2010, p. 4)

O projeto em rede de cidades justifica-se pelo já exposto fato de que os atores

subnacionais são relativamente frágeis em comparação aos recursos que a autoridade central

possui. Dessa forma, a fim de fortalecerem suas demandas, atores desse tipo – notadamente

autoridades e lideranças municipais – organizam-se em redes em que seu poder de barganha é

aumentado pelas proporções adquiridas pelo conjunto, ampliando a capacidade de negociação

e reivindicação de cada um individualmente.

Um objetivo central é a conformação de um fórum para a comunicação de seus

interesses dentro do processo de integração. Afinal “as unidades subnacionales cuentan con

una mayor capacidad de responsiveness frente a las preferencias expresadas por la ciudadanía

y, en este sentido, las ciudades pueden convertirse en un elemento esencial en la aglutinación

de los intereses pro-integracionistas [...]” (SAUSI; ODDONE, 2010, p.134). Assim, não

parece haver equívoco na afirmação de que a rede Mercocidades foi um importante começo

para a consolidação dos atores subnacionais na estrutura do MERCOSUL.

A Rede é composta atualmente por 213 cidades associadas (Figura 5) e já contribuiu

com mais de 70 atividades de integração regional, como Seminários Internacionais,

Page 69: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

69

publicações, fóruns, Consórcios de cidade, cursos de capacitação e projetos em mais de 20

campos de política pública44.

Figura 5 – Mapa com as cidades da Rede Mercocidades.

Fonte: Mercocidades. Disponível em:< http://www.mercociudades.org/node/2296>. Acesso em jun.

2013.

A cooperação internacional entre cidades é, na verdade, parte de um movimento que

ultrapassa as fronteiras do MERCOSUL e insere-se em um contexto mais abrangente de oferta

de cooperação internacional crescente. O reconhecimento internacional dos atores

subnacionais, a partir principalmente dos anos 1990, por agências multilaterais como o Banco 44 Para mais detalhes acerca das ações da Mercocidades, consultar www.mercociudades.org

Page 70: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

70

Mundial, o FMI e as agências especializadas da ONU, deu-se não só pela atribuição da

condição de parceiros aos entes subnacionais, como também pela oferta de recursos

destinados especificamente a governos subnacionais: “[...] las agencias multilaterales

empezaron a negociar préstamos y acuerdos de cooperación directamente con los gobiernos

subnacionales implicados y a elaborar estrategias cada vez más centradas en el refuerzo

económico y técnico de las administraciones no centrales [...]” (SALOMÓN, 2008, p. 149).

A partir do exemplo das Mercocidades, outras iniciativas começaram a surgir no seio

do MERCOSUL, ou associar-se a ele. Instituições como o Conselho dos Municípios Lindeiros

ao Lago de Itaipu, o Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (CODESUL), a

Comissão Regional de Comércio Exterior do Nordeste Argentino (CRECENEA), são alguns

exemplos.

Uma importante realização do MERCOSUL foi a abertura de um canal de participação

direta dos governos subnacionais na estrutura institucional no bloco por meio da criação do

Foro Consultivo de Municípios, Estados federados, Províncias e Departamentos do

MERCOSUL (FCCR), em 2004. Esse Foro é um meio de potencializar tanto as experiências

já desenvolvidas pelos grupos supracitados, como também outras ações por parte de diferentes

atores subnacionais, como a Zona de Integração do Centro-Oeste da América do Sul

(ZICOSUR), por exemplo, no sentido de coordenar e sistematizar as ações na construção de

um bloco mais representativo dos cidadãos mercosulinos.

O funcionamento do Foro dá-se por meio de dois Comitês que são liderados por um

coordenador escolhido por consenso pelos membros do Foro. Há o Comitê de Municípios e o

Comitê de Estados Federados, Províncias e Departamentos, e seus membros são designados

pelos governos nacionais. “Esses comitês se reúnem por iniciativa própria e de forma conjunta

na Reunião Plenária do FCCR, o que ocorre a cada Presidência Pro Tempore do

MERCOSUL.” (FCCR, 2010, p. 10). Já os membros são designados pelos governos nacionais

e subdividem-se em Capítulos de acordo com seu Estado, conforme se observa na figura 6.

Page 71: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

71

Figura 6 – Estrutura Administrativa do Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados,

Províncias e Departamentos do MERCOSUL – FCCR.

Fonte: Estrutura do FCCR. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/saf-fccr/fccr-

mercosul/estrutura>. Acesso em jun. 2013.

O FCCR pode propor medidas e formular recomendações ao GMC nos temas que lhe

são pertinentes: integração fronteiriça, integração produtiva e cidadania regional. Dentro de

cada eixo de ação, estabelecem-se agendas administrativas que desenvolvem suas próprias

atividades. Acertadamente, a integração fronteiriça é o eixo prioritário, uma vez que o

objetivo permanente do FCCR é a promoção do desenvolvimento integrado dos territórios

abrangidos pelo MERCOSUL.

Os maiores resultado alcançados pelo Foro foram a aprovação de seu Regimento

Interno proposto pelos próprios membros dos Comitês e a realização de encontros entre

autoridades locais e municipais45.

É importante ressaltar que as instituições não agem de forma unilateral, mas atuam de

forma conjunta na promoção da cooperação internacional e do desenvolvimento regional. O

CODESUL e a CRECENEA, por exemplo, foram formados muito antes da constituição do

MERCOSUL, 1961 e 1984, respectivamente, e tornaram-se parceiros, formando o Fórum

CODESUL-CRECENEA ainda em 1988 por meio do Protocolo nº 23 - Regional

Fronteiriço46. Nesse caso, portanto, a integração regional, em 1991, veio complementar e

estimular os vínculos já previamente estabelecidos entre as províncias argentinas de

Corrientes, Chaco, Entre Ríos, Formosa, Misiones e Santa Fe e os estados do Rio Grande do

Sul, Santa Catarina e Paraná47 (Figura 7).

45 Encontro de Governadores da região Nordeste brasileira e Noroeste argentina; Encontro de prefeitos do MERCOSUL e o Encontro de Governadores da Frente Norte do MERCOSUL.46 Protocolo disponível em: <http://www.crecenea.org.ar/html/declaraciones.htm>47 Em 1992 o estado do Mato Grosso do Sul passou a integrar o CODESUL.

Page 72: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

72

Figura 7 – Composição dos estados e províncias do CODESUL-CRECENEA

Fonte: CRECENEA-CODESUL. Disponível em:<http://www.crecenea.org.ar/html/crecenea-

codesul.htm>. Acesso em jun. 2013.

O estabelecimento do Protocolo Regional Fronteiriço é pioneiro na identificação das

possibilidades que a integração promove ao intensificar as relações entre os limites

internacionais. Em seu preâmbulo, determina que “El hecho de que la frontera entre ambos

países es una de las áreas donde se integran las fuerzas sociales y económicas, las que

adecuadamente coordinadas pueden optimizar la utilización de recursos y favorecer el

desarrollo de ambos países.” (PROTOCOLO, 1988, p. 1). De fato, os ambientes fronteiriços

são os espaços em que é possível identificar de forma muito clara os impactos da integração

regional. Tais espaços são indicadores da penetração institucional e registram de maneira

cotidiana as consequências particulares do processo integracionista.

Assim, o estudo de indicadores econômicos em realidades fronteiriças no âmbito do

MERCOSUL revela-se como uma ferramenta de análise muito produtiva no sentido de

verificar tanto tais efeitos do processo da integração, quanto das respostas propostas para

atenuá-los.

4. 2. 2 Tentativa de especificação: a questão das cidades-gêmeas, com destaque para Santana

do Livramento-Rivera

Page 73: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

73

As interações entre os territórios do bloco do Cone Sul datam de muito antes do

processo de integração culminado com a assinatura do Tratado de Assunção, de 1991. A

região do Prata, principalmente, guarda relações transfronteiriças e valores que são

compartilhados historicamente pelos países que engloba. A organização que deriva da intensa

vida econômica, social e cultural de tais espaços configura-se na formação de uma forma

particular de relação internacional nas zonas de fronteira48, as cidades-gêmeas, ou cidades-

irmãs (Figura 8).

Na escala local/regional, o meio geográfico que melhor caracteriza a zona de fronteira é aquele formado pelas cidades-gêmeas. Estes adensamentos populacionais cortados pela linha de fronteira – seja esta seca ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura - apresentam grande potencial de integração econômica e cultural, assim como manifestações “condensadas” dos problemas característicos da fronteira, que nesse espaço adquirem maior densidade, com efeitos diretos sobre o desenvolvimento regional e a cidadania. (MI, 2010, p. 21)

48 “a zona de fronteira é composta pelas ‘faixas’ territoriais de cada lado do limite internacional, caracterizadas por interações que, embora internacionais, criam um meio geográfico próprio de fronteira, apenas perceptível na escala local/regional das interações transfronteiriças.” (MI, 2010, p. 21).

Page 74: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

74

Figura 8 – Mapa das cidades-gêmeas na área fronteiriça do Brasil.

Fonte: Secretaria de Programas Regionais – SPR, 2010. Disponível em:

<http://www.integracao.gov.br/pt/c/document_library/get_file?uuid=cd8c9e6a-a096-449b-826e-

6ecb49744364&groupId=10157>. Acesso em jun. 2013.

De fato, esses adensamentos podem funcionar como verdadeiras caixas de ressonância

das consequências dos processos de integração regional, visto que vivenciam diariamente os

constantes intercâmbios dos fatores de produção - trabalho, capital e serviços públicos e

privados –, e refletem diretamente as políticas públicas destinadas a eles. Os consequentes

efeitos da integração expressam-se diferentemente em cada lado da linha internacional, seja

em função da relação que a cidade tem com centro decisório do país, seja por conta das

características socioeconômicas da própria cidade. Desse modo, muitas são as assimetrias

entre as cidades-gêmeas e muitos são os tipos de relação estabelecidos entre elas.

Page 75: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

75

O espaço fronteiriço [...] poderia ser caracterizado como uma fronteira ‘viva’, não só pela relativa densidade de seu povoamento, como pelas relações de intercâmbio entre as populações limítrofes consideradas. Também como fronteira ‘mole’, já que era grande a facilidade do cruzamento e as trocas não tinham como ser impedidas. Deriva daí a vigência estrutural do contrabando. Por último, poder-se-ia classificar essa fronteira como ‘quente’, pois, embora os conflitos de natureza política tenham se sucedido na área platina durante o século 19, as relações entre os povos vizinhos na área fronteiriça podem ser consideradas amistosas. (LEHNEN et al, Orgs.,1994, p. 8 apud MENDONÇA, 2008, p. 42)

As relações entre as cidades-irmãs dão-se a partir de motivos estruturais e

conjunturais. Os primeiros dizem respeito ao grau de complementaridade entre as unidades

geográficas, dando o tom dos fluxos – tanto legais quanto ilegais – de pessoas, bens, serviços

e informações. Já a ordem conjuntural é representada por “[...] flutuações monetárias

(câmbio), que engendram movimentos turísticos excepcionalmente grandes, e pela variação

dos preços de produtos, principalmente agrícolas, que engendram uma oscilação na direção do

movimento de cargas.” (RIBEIRO, 2002, p. 20 apud SILVA; OLIVEIRA, 2008, p. 5).

Todas essas relações precisam ser condensadas em planos e estratégias a favor do

desenvolvimento das áreas em questão, seja por atores subnacionais, seja por atores nacionais.

Em cidades-gêmeas, cada lado da fronteira enfrenta seus próprios problemas. Entretanto, a

maneira como são elaboradas as respostas coloca em questão o grau de complementariedade

entre ambos. Como marco geral para considerar o problema em foco, cabe assinalar que:

[...] a necessidade de projetos regionais de desenvolvimento local se deve ao fato de que cada vez mais as regiões são levadas a concorrer entre si e gerar condições favoráveis e atrativas para localizar em seu território investimentos produtivos gerando a necessidade de que os agentes regionais de desenvolvimento se articulem e mobilizem para garantir a participação crescente e direta de uma inserção alternativa e diferenciada no processo global de desenvolvimento contemporâneo. (ENGELMANN, 2009, p. 47)

No Brasil, há 29 cidades-irmãs, sendo que 19 delas encontram-se no espaço do

MERCOSUL. O Rio Grande do Sul conta uma das maiores concentrações de cidades-gêmeas

do país: são nove delas, e uma cidade trigêmea, que no total concentravam uma população de

354.304 pessoas, em 2010, conforme a tabela 3, equivalente a 57% de todo o contingente

populacional dos municípios gaúchos localizados na faixa da fronteira (Figura 9 e Tabela 3).

Page 76: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

76

Figura 9 – Mapa das cidades-gêmeas no Rio Grande do Sul (2013).

Fonte: Núcleo Regional para o Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira do Paraná –NFPR.

Tabela 3 – População dos municípios fronteiriços e das cidades-gêmeas de Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. (2010)

POPULAÇÃO2010

Municípios da Linha de Fronteira Cidades-Gêmeas

MATO GROSSO DO SUL 304.709 233.055

PARANÁ 506.514 314.151

RIO GRANDE DO SUL 618.785 354.304

SANTA CATARINA 73.730 14.787

TOTAL 1.503.738 916.297

Fonte: elaboração da autora com base nos dados do Núcleo Regional para o Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira do Paraná – NFPR. Disponível em: <http://www.lindeiros.org.br/lind/avisos/APRESENTA%C3%87%C3%83O%20-%20Nucleo%20de%20Fronteira%20-%2005-06-2012.ppt>. Acesso em jun. 2013.

A região focada no presente trabalho, a fronteira Oeste do RS, apresenta uma

população de 530. 150 habitantes com uma densidade demográfica bastante baixa em relação

ao total do estado, 11,5 % e 38%, respectivamente, sendo que a grande parte da população

concentra-se fora do campo (IBGE, 2001). Na cidade de Santana do Livramento, que possui

Page 77: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

77

uma população de 81.19849 de pessoas, mais de 90% dos habitantes encontra-se em área

urbana. O índice reflete-se assim na composição das atividades mais dinâmicas desse núcleo

urbano, o setor de serviços, que respondeu por 73, 39% da produção em 2009, correspondente

a um valor adicionado de R$ 44.3.328.00050.

Tal cenário é representativo da realidade da fronteira Oeste do estado como um todo

que apresenta 55% do valor adicionado total ligado ao setor de serviços, conforme a figura 10.

Figura 10 – Principais atividades do setor de serviços da fronteira Oeste (2009).

31%

17%16%

7%

6%

23%

Adm. Pública

Atividades Imobiliáriase aluguel

Comércio

Intermediaçãofinanceira

Transportes,Armazenagem eCorreioOutros Serviços

Fonte: elaboração da autora com dados de ACRI, 2012.

A economia da fronteira Oeste é baseada principalmente na pecuária extensiva e no

cultivo de arroz, em menor escala. É possível identificar também atividades de rebanho para a

produção de leite, embora de pouca expressão, é um fator importante para o relacionamento

entre Santana do Livramento e Rivera, uma vez que a criação de gado na região é

historicamente uma das atividades que iniciaram a relação internacional entre as cidades.

A interligação de Rivera e Santana do Livramento data ainda antes das cidades terem

sido efetivamente fundadas. A região do rio da Prata, local em que se encontram as cidades,

foi importante centro de disputas e, consequentemente, de trocas entre portugueses e

49 Dados IBGE (2001).50 Dados de LEMOS (2010).

Page 78: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

78

espanhois durante os séculos XVII e XVIII. Sendo assim, a fundação das cidades esteve muito

ligada a questões estratégicas dos estados que visavam à manutenção de seus territórios.

Assim, o espaço fronteiriço Santana do Livramento-Rivera sempre foi um local de

intenso intercâmbio econômico e cultural. Brasileiros e uruguaios mantinham negócios em

ambos os lados da fronteira e a instauração de fato de limites internacionais na área foi

relativamente anulada, pois não impediu a continuação do comércio. O maior incentivo para

as trocas baseava-se nas diferenças de impostos pagos por produtos conforme o local de

entrada. Tal processo é continuado e, exemplo disso, são os Free Shops espalhados na região

que oferecem isenção de impostos nos produtos, gerando uma atração enorme de brasileiros

provenientes não só de Santana do Livramento, como também de outras cidades do RS.

Evidencia-se aqui o papel do câmbio nas oscilações do setor comercial em ambos os

países. O movimento do comércio acompanha as melhores condições do câmbio, tornando as

economias das cidades muito sensíveis a tais oscilações que não somente afetam o comércio,

mas também a mão-de-obra que migra em busca de melhor remuneração. Em tal cenário,

observa-se a ocorrência muito comum de fluxos ilegais de mercadorias que, em função da

proximidade dos comércios entre as cidades-irmãs, não conta com uma fiscalização realmente

eficiente.

O entrelaçamento e a dinâmica das cidades de Santana do Livramento e Rivera

determinam muitos dos pontos de pauta dentro das agendas administrativas dos atores

subnacionais desses núcleos urbanos. A cooperação internacional e a integração existem de

fato, entretanto, elas não são estendidas a todos os setores. Em função das assimetrias

econômicas entre as cidades-irmãs em questão, a integração econômica não tem demonstrado

grande evolução.

É preciso mencionar, porém, que o Município de Santana do Livramento tem atuado

fortemente por meio da participação na Confederação Nacional de Municípios (CNM). A

organização conjuga Municípios a fim de representá-los tanto nacionalmente, quanto

internacionalmente. Tendo sido criada em 1980, a CNM obteve grandes conquistas para os

Municípios principalmente em questões econômicas. Para Santana do Livramento, a

participação na CNM rendeu importantes recursos para o Município, conforme se vê na tabela

4.

Page 79: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

79

Tabela 4 – Demonstrativo dos valores e dos recursos, em reais (R$), conquistados por meio da

atuação no CNM.

Conquistas Municipalistas Valores em reais (R$)

Município EstadoAlteração da Alíquota da COFINS (1999 - 2010) 9.153.497,74 1.030.094.455

Fim da compensação da COFINS no IPI (2004 - 2010) 414.747,51 46.423.379

PAES (crédito FPM dezembro 2005) 250.555,56 28.477.527

Iluminação Pública (2003 - 2010) 7.384.137,32 869.264.259

Repasse do Salário Educação (2004 - 2010) 4.788.609,54 707.678.852

Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (2004 -2010)

1.210.859,21 120.078.252

ISS (2004 2009) 1.271.510,46 1.037.725.047

Transporte Escolar (2004 - 2010) 483.668,34 68.882.101

Merenda Escolar (2006 - 2010) 382.826,60 77.510.428

ITR - Imposto Territorial Rural - Municipalização (2008 -2010)

2.330.091,79 16.700.745

1% FPM (dezembro 2007 a dezembro 2010) 2.747.016,78 316.076.354

AFM - Apoio Financeiro aos Municípios - (2009) 910.281,44 102.536.851

FEX (Fundo Exportação) - (2004 - 2010) 1.482.608,71 121.677.874

TOTAL 32.810.410,99 4.543.126.12

Fonte: elaboração da autora com base nos dados da Confederação Nacional dos Municípios - CNM.

Disponível em:

<http://www.cnm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=29&Itemid=51>. Acesso

em jun. 2013.

A cooperação Santana do Livramento-Rivera, nas áreas da educação e da saúde, por

outro lado tem desenvolvendo-se de maneira satisfatória. A prefeitura da cidade brasileira e a

intendência da cidade de Rivera firmaram um dos primeiros acordos de cooperação

internacional na área da saúde a partir da instituição da campanha conjunta de prevenção à

dengue, em 2005, por meio da Comissão Binacional de Saúde.

Desde a formalização do Acordo para Permissão de Residência, Estudo e Trabalho a

Nacionais Fronteiriços Brasileiros e Uruguaios pelo Brasil e Uruguai, em 2003 e posterior

efetivação e 2004, os habitantes das regiões de fronteira ganharam a condição de cidadão

fronteiriço, facilitando assim o acesso a serviços em ambos os lados da fronteira. Dessa forma,

Page 80: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

80

a partir do Acordo, médicos brasileiros e uruguaios podem trabalhar, exceto no setor público

que é restrito o acesso a não ser por meio de concurso, e estudar nos dois países.

A Comissão Binacional de Saúde desmembra-se ainda em outras subcomissões que

lidam com questões de drogas, AIDS, trabalhos epidemológicos e sanitários, entre outras.

Conforme informa um dos membros do Conselho Municipal de Saúde de Santana do

Livramento e da Comissão Binacional de Saúde, muitas ações já foram iniciadas:

En Villa Tomás Albornoz y en la escuela de Masoller se trabajó con la hidatidosis y el mal de Chagas. La subcomisión de drogas trabajó en coordinación en ambas ciudades, elaborando anteproyectos para trabajar el tema de adicciones en la frontera; también visitó el liceo de Masoller sobre la cuestión de drogas e adiciones. La subcomisión de tránsito ya trabajó algunos aspectos planteados por los actores de ambas ciudades para realizar acciones conjuntas de controles y seguridad. (POLÍTICAS DE INTEGRACIÓN DE FRONTERA: ESPACIO DE VIDA DIVERSO Y COMPLEJO, 2007, p.44 apud LEMOS, 2010).

Na área de educação, desde 2003, entrou em vigor o projeto em que escolas de ensino

básico uruguaias ministram aulas de português para os alunos. Além disso, foram instituídas

escolas binacionais profissionalizantes, que entraram em atividade em 2010, com cursos

técnicos em informática para internet e em controle ambiental para brasileiros e uruguaios.

Além da prefeitura de Santana do Livramento e da intendência de Rivera, é preciso mencionar

a atuação do governo do estado do Rio Grande do Sul como importante ator subnacional na

promoção de questões acerca da vida fronteiriça.

O estado do Rio Grande do Sul é um dos pioneiros na atuação internacional, ficando

em segundo lugar depois apenas do Rio de Janeiro. Um dos primeiros atores subnacionais

desse estado, pode ser identificado por meio da Secretaria do Desenvolvimento e dos

Assuntos Internacionais (Sedai), criada em 1995. O principal objetivo dessa Secretaria, que

era ligada, anteriormente, à Secretaria de Indústria e Comércio, era “assegurar a integração do

Rio Grande do Sul no mercado internacional, especialmente no que diz respeito ao

MERCOSUL.” (SCP, 1996, p. 19 apud NUNES; SOLOMÓN, 2007, p. 108).

A experiência da Sedai tornou o Rio Grande do Sul uma espécie de foco para

consultas, para a organização de outras secretarias, em distintos estados, onde houvesse

interesse em centro consultivo para outras secretarias que estivessem interessadas em

empreender ações externas, pois detinha conhecimento e experiências em assuntos

Page 81: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

81

internacionais51. Entretanto, a relação dessa secretaria com o MRE e o Itamaraty era ambígua.

De um lado, houve a abertura de uma unidade do Escritório de Representação, pertencente ao

MRE, no Rio Grande do Sul (Eresul), em espaços cedidos pela Sedai e, de outro, tal abertura

não impediu que o MRE ainda fizesse contatos diretos com outras secretarias sem consultar a

Sedai. (NUNES; SALOMÓN, 2007).

Atualmente, a Assessoria de Cooperação e Relações Internacionais (ACRI), ligada à

Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento, detém a função de promover

políticas de integração e cooperação na esfera internacional com o foco voltado para o

MERCOSUL. Desde sua criação em 2011, a ACRI vem cumprindo um importante papel na

representação do Rio Grande do Sul em instâncias internacionais, como também na relação

com as representações dos países presentes no estado52.

É também coordenado pela ACRI o Núcleo Regional de Integração da Faixa de

Fronteira do Estado do Rio Grande do Sul – Núcleo/RS, órgão federal instituído pelo Decreto

nº 48.198, de 29 de julho de 2011 que funciona como “[...] um espaço de coordenação entre

políticas do Governo Federal, Estadual e Municipal para a região da fronteira, abrindo um

fórum importante de alinhamento e diálogo, tanto interno quanto externo, para com os

Governos e sociedades do Uruguai e da Argentina.” (ACRI, 2013a). A iniciativa foi refletida

na entrega do Plano de Desenvolvimento e Integração da Fronteira53 em 2012 que, segundo o

Ministério da Integração Nacional, servirá de base, juntamente com os outros Planos

desenvolvidos por outros estados, “[...] para a conformação de uma carteira de projetos de

curto prazo, tendo em vista o desenvolvimento e integração da região.” (ACRI, 2013b).

Ainda, com relação à atuação da ACRI no âmbito das cidades-gêmeas de Santana do

Livramento-Rivera, foi promovida a VIII Reunião de Alto Nível da Nova Agenda de

Cooperação e Desenvolvimento Fronteiriço Brasil-Uruguai54, em setembro de 2012, em que

estiveram presentes representantes de ambas as cidades. Na reunião dos grupos de trabalho

Políticas Sociais de Fronteira e Assuntos Internacionais, os representantes de Santana do

Livramento e Rivera trabalharam juntamente ao representante da ACRI propondo novas

51

A SEDAI foi sucessora da Secretaria Especial para os Assuntos Internacionais (SEAI), criada no governo de 1987, e herdou todo o aparato e experiência acumulada pela segunda.52 Atualmente há 41 países representados no estado do RS. Para a lista completa dos países, acessar:<http://www.relinter.rs.gov.br/conteudo/689/?CONSULADOS%2FEMBAIXADAS>. Acesso em jun. 2013.53 Disponível em: <http://www.relinter.rs.gov.br/upload/1354187656_PDIF_RS%20-%20Vers%C3%A3o%20Final.pdf>. Acesso em jun. 2013.54 Disponível em: <http://www.relinter.rs.gov.br/upload/1347901554_ATA%20GT%20de%20Politicas%20Sociais%20Fronteiricas%20e%20de%20Assuntos%20Trabalhistas.pdf>. Acesso em jun. 2013.

Page 82: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

82

formas de cooperação e integração. Um dos principais pontos discutidos foi o reconhecimento

da institucionalização da Comissão Binacional de Assuntos Sociais por meio do decreto n°

177, da Prefeitura Municipal de Santana do Livramento.

Por fim, é importante assinalar, mesmo que superficialmente, as dificuldades

enfrentadas pelas cidades-irmãs, pois, apesar da evolução mostrada do desenvolvimento das

relações internacionais, muitos são os desafios.

Os obstáculos burocráticos, por exemplo, acarretam em custos tanto para os cidadãos

que dependem dos serviços, quanto para as autoridades, que desperdiçam recursos em

transações que seriam muito mais dinâmicas e menos custosas caso fossem integradas. A

vulnerabilidade das cidades-gêmeas frente às oscilações do câmbio, a falta de integração dos

transportes, a ausência de comunicação interna efetiva entre os órgãos binacionais, a carência

recursos destinados à atenuação das assimetrias entre as cidades-gêmeas, entre outras, são

grandes dificuldades que Santana do Livramento e Rivera ainda confrontam.

Conforme explicitado ao longo do presente trabalho, processos de integração regional

modificam o espaço e redesenham as relações entre os países implicados. Com o

aprofundamento do processo, novos alicerces precisam ser criados a fim de estruturarem de

maneira efetiva as demandas e organizarem todas as esferas sob o signo do regionalismo. As

cidades-gêmeas são um exemplo vivo dessas transformações e funcionam como um

laboratório para a análise dos processos integracionistas, expondo de maneira clara avanços e

embaraços.

Page 83: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

83

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo explorou, essencialmente, o ambiente de atuação de atores

subnacionais no processo de integração do MERCOSUL, procurando mostrar como esses

entes relacionam-se e organizam-se internacionalmente por meio de redes, instituições, ou

associações. A abordagem desse tema implicou um desenho de texto no qual, no primeiro

capítulo discorreu-se sobre o contexto em que os processos de integração regional começam a

proliferar-se e diversificar-se. Para tanto, discutiram-se brevemente alguns dos principais

aspectos do funcionamento da economia internacional e os desafios enfrentados tanto pelos

países desenvolvidos, quanto aqueles em desenvolvimento.

O Capítulo 2 procurou destacar alguns elementos de base teórica e conceitual

importantes para a compreensão dessas relações estabelecidas entre os países que acabaram

por formar organizações internacionais de integração regional. Primeiramente analisou-se a

evolução dos processos de integração regional, seguido de uma especificação em termos

econômicos referentes às distintas perspectivas acerca da formação de blocos entre países.

Nesse capítulo foram ainda apresentados alguns ângulos teóricos sobre integração que

marcam presença no debate sobre o assunto no âmbito das Relações Internacionais, a fim de

oportunizar um entendimento tanto econômico, quanto político da integração regional.

Os referidos aspectos teóricos e conceituais foram importantes para a reflexão sobre a

problemática dos atores subnacionais nos processos de integração, assunto do terceiro

capítulo. A descrição dos impactos econômicos e políticos da evolução dos processos

integracionistas permitiu que fossem entendidas questões referentes à institucionalização de

cada tipo de organização, destacando assim o percurso necessário para o alcance dos objetivos

da integração, sejam eles vinculados às estruturas formais de uma ZLC, ou de um Mercado

Comum, por exemplo.

O estudo tanto dos benefícios, quanto dos desafios econômicos decorrentes dos

movimentos de regionalismo constitui-se, como sugerido no trabalho, numa ferramenta útil

para a análise da participação e inserção dos Estados nos processos de integração regional.

Assinalou-se que essas iniciativas apresentam lados positivos e negativos, mas que,

entretanto, os efeitos significativos ainda podem ser atenuados por meio de diferentes

instrumentos, como os fundos de convergência, por exemplo, que visam diminuir a assimetria

entre os Estados-parte.

Por meio da análise do caso da União Europeia, mais especificamente o Comitê das

Regiões, foi possível perceber que os processos regionalistas acarretam em importantes

Page 84: integração regional e a problemática dos entes subnacionais

84

consequências tanto para o Sistema Internacional, quanto para a relação dos poderes estatais,

com seus respectivos âmbitos domésticos. Num certo sentido, o Estado-Nação foi perdendo a

capacidade de atender às demandas de todas as esferas componentes do Estado enquanto ator

unitário, provocando assim o surgimento da ação subnacional. Os atores subnacionais,

entretanto, sofrem constrangimentos para sua atuação internacional, tanto pelo plano jurídico-

normativo, quanto pelas suas próprias capacidades estruturais. Pode-se concluir, a partir disso,

que os entes subnacionais mostram-se, ao que parece, continuamente estimulados à

associação, no intuito de defenderem seus interesses, reivindicarem e até mesmo

influenciarem decisões mais gerais que possam lhes afetar.

O Capítulo 4 iniciou considerações de natureza geral acerca dos processos de

integração regional na região do Cone Sul. Assim, foram descritos os caminhos percorridos

até a conformação do MERCOSUL. Frisou-se que todo o desenrolar foi muito influenciado

pelas ideias da CEPAL, também como reflexo da necessidade lograr um novo tipo de inserção

internacional dos países em subdesenvolvidos frente ao cenário econômico mundial. Formou-

se portanto a ALALC, seguida da ALADI. Embora ambas as associações não tenham dado o

resultado esperado, elas plantaram a semente da integração na América Latina talvez de uma

forma definitiva.

Reiterou-se também o papel central exercido pelos governos de Argentina e Brasil na

formação do MERCOSUL, fato que marca a história dessa integração até os dias de hoje. A

reaproximação entre os dois países permitiu a formalização do MERCOSUL em 1991.

O protagonismo governamental brasileiro e argentino suscitou importantes questões

referentes à institucionalidade do MERCOSUL. Percebeu-se que o MERCOSUL não se

encaixa em nenhum modelo teórico baseado principalmente nos moldes europeus, em função

de sua estrutura de funcionamento. Isso teria a ver, ao menos em boa parte, com o fato de que

o processo integracionista do Cone Sul é fortemente conduzido pelos interesses dos governos

centrais, muitas vezes pouco representativos e pouco sensíveis às esferas que mais sentem os

efeitos da integração.

A partir desse ponto, desenvolveu-se uma caracterização da problemática dos atores

subnacionais no MERCOSUL por meio da explanação das formas em que se deu a atuação

desses entes. Os exemplos de associações e de instituições criadas no seio do MERCOSUL

permitiram uma visão global de como a questão dos impactos socioeconômicos vem sendo

tratada em nível regional.

Por fim, como forma de explicitar a atuação internacional marcante dos atores

subnacionais, estudou-se um caso específico relacionado às cidades-gêmeas no intuito de

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85

observar alguns dos reflexos do processo de integração, e de formar uma ideia sobre como os

entes a eles em nível subnacional.

As cidades-irmãs de Santana do Livramento e Rivera constituem um organismo vivo

muito antes da fundação institucional dos limites entre elas. O território em questão é

marcado pela longa história de conflito entre portugueses e espanhois e sempre foi palco de

fluxos econômicos, culturais e de pessoas. Dessa forma, procurou-se demonstrar que as

cidades desenvolveram-se desde muito cedo em função uma da outra.

Em relação à atuação dos entes subnacionais, assinalou-se o papel da prefeitura de

Santana do Livramento e da intendência de Rivera na promoção da cooperação internacional

principalmente nas áreas da saúde e da educação. Os ganhos nessas esferas foram importantes

a partir do Acordo para Permissão de Residência, Estudo e Trabalho a Nacionais Fronteiriços

Brasileiros e Uruguaios pelo Brasil e Uruguai que designou aos habitantes desses ambientes

entre limites internacionais a condição de cidadão fronteiriço, possibilitando o acesso e a

prestação de serviços em ambos os lados da fronteira. A instauração de Comitês Binacionais

também têm sido responsáveis por avanços consideráveis, pois congregam especialistas de

ambos os lados da fronteira mais familiarizados com suas respectivas necessidades nacionais.

Embora se tenha constatado que a esfera econômica não tem sido alvo de grandes

ações de cooperação entre as cidades-gêmeas, pode-se mencionar que Santana do Livramento

tem atuado em diferentes instâncias no intuito de alcançar seus objetivos. As conquistas por

meio da CNM foram significativas para a economia do Município e representam mais um

exemplo de seu protagonismo subnacional.

Além dessa esfera, frisou-se o papel do estado do RS como importante ator

subnacional, por intermédio da ACRI, na definição de estratégias de relações internacionais.

É relevante notar que Santana do Livramento não participa da Rede Mercocidades, sendo

assim, a ACRI e outras instituições são a ponte de ligação entre a cidade e o MERCOSUL. O

estado tem atuado de forma eficaz na promoção dos interesses fronteiriços, como pode ser

demostrado pela criação do Núcleo Regional de Integração da Faixa de Fronteira do Estado

do Rio Grande do Sul, e pela recente entrega do Plano de Desenvolvimento e Integração da

Fronteira. Ambas as iniciativas desenrolam-se com a colaboração dos representantes dos

municípios da faixa de fronteira do estado.

Finalmente, percebe-se que a atuação dos entes subnacionais ainda tem muito espaço

para desenvolver-se. Como visto pela experiência europeia, o princípio da subsidiariedade é

importante fator que permite a operação de ações em nível internacional dos atores

subnacionais. No Brasil, tal elemento é determinante, pois vincula-se à questão jurídico-

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normativa que implica na atuação de entes que não o Estado na esfera internacional de acordo

com a Constituição Federal. Um estudo que investigasse com mais profundidade as questões

levantas pelo presente trabalho seria de grande valor para uma compreensão mais específica

da atuação de entes subnacionais em processos de integração, podendo apresentar soluções

para a atenuação dos impactos provenientes desse tipo de arranjo regional.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO A

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