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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do Plantão Judiciário da Comarca de Natal URGENTE COVID-19 Ref. Procedimento Administrativo n. 31.23.2344.0000274/2020-34 -48ª PmJ O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, neste ato representado pela 48ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Comarca de Natal, com endereço para intimações na Rua Nelson Geraldo Freire, 255, Lagoa Nova, Natal/RN – CEP 59064-160 e a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte, neste ato representada pela 10ª Defensoria Cível de Natal, no uso de suas atribuições legais, com fulcro nos artigos 129, inciso III e 134, caput ambos da CRFB/88, no artigo 26, inciso I, da Lei 8.625/93 e da Lei Complementar n.º 80/94 no exercício de suas atribuições constitucionais e legais previstas nos artigos 127 e 129, incisos II e III, da Constituição da República, artigos 67, inciso IV e 68, da Lei Complementar Estadual nº 141/96, com fundamento nos artigos 6º c/c 196 caput, 197 e 198, inciso II, da Constituição Federal, artigo 1o e seguintes da Lei no 7.347/85, na Lei no

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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do Plantão Judiciário da Comarca de Natal

URGENTE COVID-19

Ref. Procedimento Administrativo n. 31.23.2344.0000274/2020-34 -48ª PmJ

O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, neste ato representado pela 48ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Comarca de Natal, com endereço para intimações na Rua Nelson Geraldo Freire, 255, Lagoa Nova, Natal/RN – CEP 59064-160 e a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte, neste ato representada pela 10ª Defensoria Cível de Natal, no uso de suas atribuições legais, com fulcro nos artigos 129, inciso III e 134, caput ambos da CRFB/88, no artigo 26, inciso I, da Lei 8.625/93 e da Lei Complementar n.º 80/94 no exercício de suas atribuições constitucionais e legais previstas nos artigos 127 e 129, incisos II e III, da Constituição da República, artigos 67, inciso IV e 68, da Lei Complementar Estadual nº 141/96, com fundamento nos artigos 6º c/c 196 caput, 197 e 198, inciso II, da Constituição Federal, artigo 1o e seguintes da Lei no 7.347/85, na Lei no 8.080/90 e nas disposições do Código de Processo Civil, vêm, perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICACOM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

em face do MUNICÍPIO DE NATAL pessoa jurídica inscrita no CPNJ sob o nº 08.241.747/0001-43, a ser intimado para o

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cumprimento das obrigações por meio do Prefeito Municipal Sr. Álvaro Costa Dias , com endereço na Rua Ulisses Caldas, 81, Centro, Natal/RN – CEP 59025-090 e do Secretário Municipal de Saúde Sr. George Antunes de Oliveira, com endereço na Rua Fabrício Pedroza, 915, Ed. Novotel Ladeira do Sol, 4º Andar, salas 460/461, Areia Preta – CEP 59014-030, e, posteriormente citado na pessoa do Procurador-Geral do Município , Sr. Fernando Benevides , na sede da Procuradoria-geral do Município, localizada na Rua Princesa Isabel, nº 799, Natal/RN – CEP 59025-400, com o fim de compeli-lo a adotar medidas IMEDIATAS e URGENTES para o funcionamento dos Leitos Clínicos e de UTI do Hospital Municipal de Campanha de Natal, localizado no Antigo Hotel Parque da Costeira, nesta cidade, para atendimento dos pacientes com COVID-19, conforme as razões adiante expostas.

II. DOS FATOS

II. 1) Histórico da Pandemia de COVID 19 e Situação Epdemiológica do Estado e do Município de Natal

Desde dezembro de 2019, o mundo tem enfrentado o surto da COVID-19, doença infecciosa causada pelo SAR-COV-2, popularmente conhecimento como coronavírus.

Foi em razão disso, que, em 03 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 188, declarou situação de emergência em saúde pública de importância nacional (ESPN) e em 06 de fevereiro de 2020, o Governo Brasileiro, antevendo a chegada da doença no país, publicou a Lei Federal n. 13.979/2020, dispondo “medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019”. Isso antes mesmo de a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar que a contaminação com o novo coronavírus (COVID-19) caracterizava pandemia, o que somente se concretizou em 11 de março de 2020.

O Estado do Rio Grande do Norte, igualmente, adotou medidas preventivas à entrada daquele patógeno no Estado, visto que em 11/03/2020, mesma data em que foi reconhecida a situação de Pandemia, foi publicado o Plano de Contingência Estadual para Infecção Humana pela COVID-19.

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Paralelamente, o Município de Natal publicou o Protocolo Municipal para infecção humana pelo novo coronavírus COVID-19, no qual a própria Secretaria Municipal de Saúde expediu suas orientações a toda a rede municipal de Serviços de Atenção à Saúde do SUS "para atuação na identificação, notificação e manejo oportuno de casos suspeitos de Infecção Humana pelo Novo Coronavírus de modo a mitigar os riscos de transmissão sustentada no território nacional".

Desde então, têm sido publicados decretos, quase que quinzenalmente, tanto em âmbito estadual quanto municipal, dispondo sobre medidas temporárias de prevenção, controle e enfrentamento ao contágio pelo SAR-COV-2, as quais visam, principalmente, restringir a circulação da população, uma vez que, segundo estudos amplamente divulgados a nível global, com destaque para as publicações do Imperial College London, o isolamento social é o meio mais eficaz para bloquear a cadeia de contaminação do novo Coronavírus, haja vista que ainda não há fármaco ou vacina para tratamento específico da COVID-19.

O gráfico criado pela jornalista visual Rosamund Pearce, da revista The Economist, e modificado pelo especialista em saúde Drew Harris, é bem ilustrativo dos efeitos gerados pelo isolamento social na velocidade de propagação da doença, o que possibilitará, com a sua diminuição, que os casos mais críticos sejam suportados pelo sistema de saúde. O gráfico, em suas mais variadas versões, adaptadas para a publicação na imprensa, circula em redes sociais e originou a hashtag #FlattenTheCurve (achatar a curva), amplamente reproduzida internacionalmente (fonte: https://www.hypeness.com.br/2020/03/coronavirus-este-e-o-melhor-grafico-sobre-a-evolucao-da-pandemia-no-mundo/).

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A partir de sua análise percebe-se de forma bastante ilustrativa a eficácia do isolamento social na redução da velocidade de propagação da doença.

No âmbito do Rio Grande do Norte, muitas têm sido as medidas dos órgãos e autoridades sanitárias para conter o avanço da doença. Diversos órgãos públicos já adotaram medidas de teletrabalho em face da necessidade de suspensão das atividades presenciais ou isolamento. Os Shoppings Centers, academias, bares e restaurantes, entidades de ensino públicas e privadas e outros estabelecimentos estão sem funcionar.

Noutras palavras, são incessantes as medidas adotadas, as quais foram concretizadas por meio dos Decretos Estaduais n. 29.512/2020, n. 29.513/2020, n. 29.224/2020, n. 29.241/2020, n. 29.583/2020, n. 29.560/2020, e n. 29.634/2020 e 29.668/2020, dispondo medidas temporárias de prevenção ao contágio pelo coronavírus e medidas para controle e enfrentamento da emergência em saúde pública, além do decreto n. 29.534/2020, reconhecendo estado de calamidade pública no RN em razão da COVID-19.

No âmbito municipal, desde 18/03/2020, foi decretada situação de emergência no Município de Natal para o enfrentamento da Pandemia do COVID-19, mediante Decreto Municipal n. 11.902/2020.

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Atualmente, vivenciamos situação excepcional de enfrentamento de uma doença que, até a presente data (08/05/2020), em todo o mundo, infectou 3.866.642 pessoas e, dessas, levou a óbito 270.118 indivíduos, segundo dados obtidos no site da Universidade Johns Hopkins:

Fonte: Johns Hopkins University

Fonte: Johns Hopkins University

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No Brasil, até as 19:00h do dia 08 de maio de 2020, já se somam, consoante acima demonstrado, 145.328 casos confirmados e 9.897 mortes decorrentes de COVID-19, sendo a taxa de letalidade de 6,8%, segundo dados divulgados oficialmente pelo Ministério da Saúde1.

Isso em um contexto de massiva subnotificação, pelo fato de que o Estado Brasileiro não consegue testar os seus cidadãos, apresentando, também, as piores taxas de crescimento de disseminação da doença e de letalidade, segundo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS):

1 https://covid.saude.gov.br/

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No Rio Grande do Norte e no Município de Natal os cenários são os seguintes, consoante publicações feitas pela SESAP/RN e SMS/Natal em suas redes sociais e sítios eletrônicos:

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Desses dados, extrai-se que as medidas de isolamento adotadas pelo Rio Grande do Norte, diga-se, antes mesmo de o Ministério da Saúde reconhecer a transmissão comunitária no Brasil, nos proporciona uma situação um pouco mais tranquila, na medida em que o cenário anteriormente projetado pela SESAP de colapso do sistema de saúde ainda não se concretizou. Todavia, não se pode deixar de considerar que os números de casos confirmados, de taxa de ocupação de leitos e de óbitos vêm aumentando exponencialmente. A título comparativo, tem-se que, em 07 de maio de 2020, até às 19:00h, o número de casos confirmados no Município do Natal era de 833 e de 16 óbitos. Ontem, 24 horas após, esse número já perfaz 894 casos confirmados e 20 óbitos.

Ainda estamos distantes de poder retomar a rotina, uma vez que a tendência atual no Rio Grande do Norte, seguindo a tendência brasileira, é de crescimento da disseminação da infecção, em razão da interiorização da doença. Prova disso, é que já há casos

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confirmados, como também de mortes em vários municípios do interior do Estado, de modo que a população potiguar não está alheia à possibilidade de, futuramente, ter que passar por situação de lockdown, assim como tem ocorrido em outros estados da Federação, a exemplo do Maranhão.

Efetivamente, estamos lidando com uma infecção que, na grande maioria dos países, levou ao esgotamento de todos os serviços de saúde disponíveis, colapsando tanto os sistemas de saúde públicos quanto privados em todo o mundo, com ressalvas para Coreia do Sul e Alemanha, esta por conseguir absorver a demanda por testes e leitos de UTI; aquela por ter testado, preventivamente, a sua população.

Em razão de todo esse panorama, resta ao Estado do Rio Grande do Norte e ao Município de Natal trabalhar em duas frentes: manter as medidas de isolamento social e envidar esforços no sentido de abrir o máximo número de leitos possível. Cuida-se de implementar medidas de salvaguarda do direito à saúde, na maior e melhor medida possível.

Com relação à primeira solução, impõe-nos informar que tem sido amplamente divulgada. No que tange à segunda (estruturação mínima dos serviços de saúde/leitos), os órgãos do Ministério Público e da Defensoria Pública podem pontuar que tanto a SESAP quanto a SMS/Natal têm trabalhado para incremento de leitos no tratamento da COVID. 

Para fazer face à emergência de saúde pública decorrente do Coronavírus, foi necessário um planejamento emergencial dos Estados e Municípios para o funcionamento dos serviços de saúde, em especial da Rede de Urgência e Emergência, com a ampliação da oferta de leitos hospitalares e de terapia intensiva, a aquisição de insumos, equipamentos e medicamentos, tendo em vista a rápida disseminação e letalidade da doença, principalmente para o chamado grupo de risco.

No âmbito do Município de Natal, foi editado o Plano de Contingência Municipal para a Infecção Humana pelo Coronavírus-COVID-19, conforme consta do sítio da Secretaria Municipal de Saúde de Natal (https://natal.rn.gov.br/sms/paginas/ctd-1264.html), o qual traz de forma detalhada as medidas a serem adotadas pelo ente para

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contenção e enfrentamento da doença. Dentre essas medidas, está a ampliação do quantitativo de leitos. 

Sobre o ponto, cabe salientar que o Município de Natal, ora réu, após a requisição administrativa de cessão de um prédio, já finalizou as obras de 100(cem) leitos clínicos no Hospital de Campanha para atendimento dos pacientes diagnosticados com COVID-19, conforme minucioso Relatório de Inspeção acostado. Porém, os leitos se encontram ociosos por falta de mão de obra. Absurdamente, há uma estrutura física toda montada de leitos clínicos, com equipamentos, insumos, medicamentos e EPI´s totalmente parada, enquanto as Unidades de Pronto Atendimento ficam cada dia mais superlotadas, conforme certidão/planilha juntada a esta exordial.

Nesse ponto, impende consignar que, conforme faz prova o próprio plano de contigência do Município do Natal, as unidades de pronto atendimento possuem poucos leitos para estabilização dos pacientes:

Neste norte, é urgente que o Município de Natal utilize a estrutura dos leitos já prontos, tanto no Hospital de Campanha quanto no Hospital Municipal, e atenda aos doentes.

Para tanto, tendo em vista que já foram esgotadas as possibilidades de tratativas de cunho extrajudicial, impõe-se, como derradeira medida, seja o gestor compelido judicialmente a operacionalizar seu hospital de campanha, sob pena de sua inércia agravar o quadro de escassez de leitos, prolongar ad aeternum as medidas de isolamento social (que trazem inegáveis prejuízos à economia, desemprego, miséria, fome) e, sobretudo, agravar o risco de morte de pessoas que teriam uma chance se cuidadas a tempo.

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As medidas de isolamento são eficazes para o chamado “achatamento da curva” e maior tempo para que os gestores estruturarem minimamente a rede de atenção à saúde. No entanto, no caso ora em apreço, não há mais tempo para aguardar medidas burocráticas, sem desapego, obviamente, aos caros princípios da Administração Pública (Legalidade, Transparência, Economicidade, Impessoalidade, etc).

II.2) Emergência em Saúde Pública decorrente do Novo Coronavírus, Plano de Contingência Municipal e Urgência de Efetiva Implementação de Leitos COVID

O termo emergência de saúde pública de importância internacional é definido no Regulamento Sanitário Internacional-RSI como “Evento extraordinário, o qual é determinado: a) por constituir um risco de saúde pública para outro Estado por meio da propagação internacional de doenças; b) por potencialmente requerer uma resposta internacional coordenada.

A estratégia de enfrentamento de Emergências em Saúde Pública (ESP) não deve estar focada apenas na resposta, mas sim na prevenção e proteção da população vulnerável às ameaças identificadas. Conhecer o perfil de risco da localidade e o desenvolvimento das capacidades básicas do Regulamento Sanitário Internacional (RSI 2005) para o Ponto de Atuação e para a região são fundamentais para a efetividade da resposta em uma Emergência. Este modelo está de acordo com Guia da Organização Mundial da Saúde (OMS), as diretrizes do Mercosul, bem como normas e orientações técnicas do Ministério da Saúde.

O Plano de Contingência para ESP do Ponto de Atuação constitui uma etapa da preparação para Emergências em Saúde Pública no qual é realizada uma previsão de riscos, coordenando e integrando esforços das instituições envolvidas e partes interessadas. Essa etapa formal é concluída com a divulgação do Plano a todos os envolvidos, realização de exercícios e revisão regular, quando houver mudanças significativas na legislação ou políticas relativas à Saúde Pública.

Deve conter ao menos a identificação do perfil de risco a que o Ponto de Atuação está sujeito; a interrelação com outros planos de rede de atenção à saúde; propósitos e objetivos; marcos

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normativos, ações, protocolos e fluxos; respostas esperadas; cronogramas; e referências.

Reconhecida a emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da infecção humana pelo novo Coronavírus-COVID-19, e considerando a situação epidemiológica regional e local, o Estado do Rio Grande do Norte e o Município de Natal editaram seus Planos de Contingência, elencando o planejamento das Redes de Saúde para o atendimento dos casos suspeitos ou confirmados e estratégias para achatamento da curva de contaminação populacional, buscando diminuir a pressão sobre o sistema de saúde e ganhando tempo para a preparação da resposta aos períodos mais graves da crise sanitária instalada. 

Pela experiência dos primeiros epicentros no mundo, a característica explosiva da epidemia é associada a uma grande quantidade de óbitos devido ao colapso dos sistemas de saúde; ou seja, um número considerável de pessoas que morrem por simplesmente não acessarem leitos de maior complexidade, com respiradores, por exemplo. Neste rumo, o incremento do número de leitos clínicos e de terapia intensiva tornou-se medida de primeira necessidade para Estados e Municípios. É uma verdadeira corrida contra o tempo em busca de estruturar e colocar em funcionamento os leitos necessários a atender os doentes e evitar a perda de vidas.

No caso do Município de Natal, o Plano de Contingência para a Infecção Humana pelo Coronavírus-COVID-19 foi publicizado em março de 2020, mas apresentou algumas lacunas relativas ao detalhamento das ações para a expansão da atenção hospitalar, tais como o quantitativo de leitos contratualizados com a iniciativa privada, o quantitativo de recursos humanos para atuação nos leitos em implantação no Hospital Municipal de Natal e no Hospital de Campanha e a própria atualização das informações epidemiológicas para divulgação à população.

Por essas razões, em 10 de abril de 2020 foi expedida a Recomendação Ministerial n. 381602 (doc. anexo), a fim de que a Municipalidade promovesse adequações no Plano de Contingência, dentre as quais a elaboração de um relatório sobre a situação do Hospital Municipal de Campanha e o número de leitos por ele acrescidos à Rede Municipal de Saúde de Natal, especificando: a) o quantitativo da equipe de recursos humanos (assistência médica e de

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enfermagem) e como ela seria recrutada e, b) o quantitativo de equipamentos, mobiliários médico-hospitalares, fornecimento de acessórios, medicamentos, material médico-hospitalar e insumos. 

No instrumento de atuação também foi reforçada a urgência na implementação das medidas de contingência, já que o aumento dos casos de Infecção por COVID-19 começava a pressionar os sistemas de saúde de vários estados e municípios brasileiros e o risco de estrangulamento dos leitos existentes seguia essa crescente.

A expansão dos leitos hospitalares no Município de Natal tornou-se, pois, questão de sobrevivência do sistema e condição sine qua non para o atendimento mínimo à população, especialmente a incluída no grupo de risco (idosos, pessoas imunossuprimidas e com comorbidades), cuja demanda de internação vinha se mostrando praticamente inevitável.

Nesse contexto em 16 de abril de 2020 a Secretaria Municipal de Saúde de Natal remeteu o ofício n. 1482/2020 (doc. anexo), constando as modificações operadas no Plano de Contingência e, especificamente para o Hospital de Campanha. Entretanto, lamentavelmente, até a presente data, nenhum leito está sendo utilizado, o que tem causado sobrecarga no trabalho das Unidades de Pronto Atendimento, conforme documentos acostados a esta inicial.

Cabe ressaltar que em recente tabela elaborada pela gestão estadual, constam os leitos efetivamente aptos a receber pacientes e os chamados leitos “em expansão”, ou seja, aqueles constantes de Planos de Contingências do Estado e dos Municípios, porém, em fase de implantação.

Pela análise da tabela, que indica o panorama de todas as Regiões de Saúde do Estado, verifica-se o quanto o Município de Natal precisa avançar na efetiva abertura de leitos. O quadro atual é mínimo: 9(nove) leitos de UTI no Hospital Municipal Dr. Newton Navarro. 

Cabe ressaltar que de nada adianta ao usuário SUS estrutura física. O enfermo precisa contar com Leitos plenamente estruturados (estrutura física, mobiliário, equipamentos, insumos, EPI e, notadamente, Recursos Humanos em número suficiente, com

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médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e todos os demais profissionais necessários).

Em 08/05/2020, constou notícia no Portal G1 intitulada: “Ocupação de Leitos gerais de UTI para pacientes de COVID-19 chega a 97% em Natal” (https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2020/05/08/ocupacao-de-leitos-gerais-de-uti-para-pacientes-de-covid-19-chega-a-97percent-em-natal.ghtml.

Na presente data (09 de maio de 2020), em entrevista coletiva, o Secretário de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte2 declarou que 10 (dez) pacientes acometidos pela COVID-19 aguardam leitos de UTI na Grande Natal. A matéria destaca ainda que “Nas últimas 24 horas, o estado potiguar registrou seis novos óbitos e 98 casos confirmados de Covid-19, segundo o boletim a Secretaria Estadual de Saúde divulgado na manhã deste sábado (9). Com isso, o estado chega a 87 mortes pela doença e 1.919 pessoas com o novo coronavírus. Outras 30 mortes estão sob investigação, para que se identifique se foram causadas pelo vírus.”

De acordo com o boletim epidemiológico de nº 56, desta data (09 de maio), o panorama assistencial no Estado do Rio Grande do Norte é crítico3:

Tais notícias somente demonstram o quanto a Secretaria Municipal de Saúde de Natal precisa avançar e resolver definitivamente o problema de pessoal. Operacionalizar os leitos do Hospital de Campanha de forma imediata.

Em que pese a referência a leitos de UTI, os leitos clínicos também são limitados e igualmente essenciais para prestação de uma assistência digna aos usuários do sistema único de saúde, uma vez que as UBS não dispõem sequer de medicamentos para tratamento das pessoas acometidas pela COVID-19.

2 https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2020/05/09/dez-pacientes-de-covid-19-aguardam-leitos-de-uti-na-grande-natal-diz-secretario.ghtml3 http://www.adcon.rn.gov.br/ACERVO/sesap/DOC/DOC000000000230874.PDF

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Ademais, em reunião realizada com o Sr. Secretário Municipal de Saúde, Dr, George Antunes de Oliveira, na data de 07 de Maio do corrente ano (Ata em anexo), o gestor afirmou que a COVID-19 exige uma maior oferta também de leitos clínicos, o que permite o acompanhamento preventivo do quadro dos pacientes. Explica-se: o doente mesmo estando com seu quadro ainda leve ou moderado, pode piorar repentinamente. É uma característica desta enfermidade. 

Da Ata da Reunião citada, extrai-se o seguinte trecho: 

O Secretário acrescentou que pretende adotar uma estratégia de atendimento diferenciada, de caráter eminentemente preventivo. Afirmou que logo que o paciente chegar à UPA com os sintomas, ainda que seu quadro não seja grave, será encaminhado a um leito hospitalar e acompanhado por, pelo menos, 24 horas. Tal medida obstará o agravamento repentino e a evolução para utilização de leito de UTI, que são poucos, ou mesmo o óbito. Afirmou que tem-se observado um agravamento muito rápido da doença, o que leva a óbitos quase em horas.

Neste rumo, há intenção do gestor em acompanhar mesmo os casos moderados, a fim de obstar uma piora em domicílio, o que acarretaria a necessidade de internação em leitos de UTI (mais limitados e com altíssimo custo) ou mesmo a evolução a óbito. No entanto, para implementar tal atendimento, o gestor precisa ter leitos em funcionamento.

Adiante segue quadro dos leitos disponíveis e em expansão no âmbito do Estado do RN.

DISTRIBUIÇÃO DE LEITOS COVID POR REGIÃO DE SAÚDE - LEITOS EXPANSÃO E LEITOS ATIVOS

I REGIAO DE SAÚDE - SÃO JOSÉ DE MIPIBU

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Lindolfo Gomes Santos 5 6 1

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Total* 5 6 1Total Geral 12

* Terão como referência para internação em UTI a Maternidade Divino Amor e Leitos Clínicos o hospital de Campanha de parnamirim

II REGIAO DE SAÚDE - MOSSORÓ

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Regional Tarcísio Maia 10 17

Hospital Rafael Fernandes* 10 4

Hospital da Polícia de Mossoró (RETAGUARDA)

30

Hospital São Luiz 25 5 40 10 20APAMIM 10 12UPA Belo Horizonte 35 4

Hospital Wilson Rosado - Pediatria

3

Hospital Regional Hélio Morais Marinho - Apodi

9 2

Total 45 8 109 37 41 6Total Geral 246

*Serão revistos as UTI's**Hosp Rafael: Proposta de 2 leitos de estabilização e 37 clínicos

III REGIAO DE SAÚDE - JOÃO CÂMARA

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Regional Josefa Alves Godeiro

10 10 2

Hospital Municipal de Guamaré

5

Total 15 10 2

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Total Geral 27IV REGIAO DE SAÚDE - CAICÓ

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Regional Telecila Freitas 28 42 17 3

Escola Multicampi de Ciências Médicas - UFRN

14 28

Hospital Regional Mariano Coelho **

10 2

Total* 42 70 17 13 2Total Geral 144

** Hospital de referência para risco habitual de obstetrícia* 63 leitos clínicos do Municipal do Seridó são retaguarda para o Hosp. Regional Telecila

V REGIAO DE SAÚDE - SANTA CRUZ

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Regional de São Paulo do Potengi

6 10 2

Hospital Municipal de Santa Cruz

10 25 1

Total 16 35 3Total Geral 54

VI REGIAO DE SAÚDE - PAU DOS FERROS

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Regional Dr. Cleodon 13 5 11 5 3

Total 13 5 11 5 3Total Geral 37

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VII REGIAO

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Giselda Trigueiro 7 42 18

Hospital Dr José Pedro Bezerra* 5 7

Hospital Maria Alice Fernandes 7 13 5

Hospital Dr. João Machado 20 48

Hospital Deoclécio Marques de Lucena*

7

Hospital Central Coronel Pedro Germano

10 15 10

LIGA Norte-Riograndense 20 20

Hospital Alfredo Mesquita 10 10

Hospital de Campanha de Natal

20 80

Hospital Municipal de Natal

16 30 9

Hospital de Campanha Macaíba

15

Hospital de Campanha São Gonçalo do Amarante**

30 70

Hospital Municipal de Extremoz

8

Hospital de Campanha de Parnamirim

40

Maternidade Divino amor 20

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Hosp. Walfredo Gurgel* 10

Hosp. Ruy Pereira* 5 5

Total 163 7 383 54 20 5Total Geral 632

* HUOL - 30 leitos clínicos de Retaguarda para o Hosp. Giselda**Confirmar se houve empresa ganhadora para gestão do hospital de campanha

VIII REGIAO DE SAÚDE - ASSÚ

Hospitais/Unidades de

Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

Hospital Regional Nelson Inácio dos Santos - Assu

5 10 1

Total 5 10 1Total Geral 16

TOTAL DE LEITOS COVID POR REGIÃO DE SAÚDE - LEITOS PREVISTOS PARA EXPANSÃO E LEITOS ATIVOS

Região de Saúde

UTI Adulto

EXPANSÃO

UTI Pediátrica EXPANSÃ

O

Leitos Clínicos

EXPANSÃO

UTIs ATIVA

S

Leitos Clínico

s ATIVO

S

Leitos de Estabilização ATIVOS

I Região 5 6 1II Região 45 8 109 37 41 6III Região 15 10 2IV Região 42 70 17 13 2V Região 16 35 3VI Região 13 5 11 5 3VII Região 163 7 383 54 20 5VIII Região 5 10 1

Total 304 20 634 113 77 20Total Geral 1168

II.3) Hospital de Campanha de Natal

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Em um grande movimento global de combate ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), países de diferentes continentes e culturas têm erguido hospitais de campanha em seus territórios.

Tais hospitais têm por característica o funcionamento temporário, recebendo pessoas atingidas por situações de emergência e calamidades públicas, como é o caso da Pandemia por COVID-19, e garantem que seus pacientes possam ser transferidos para centros de mais completos de saúde, caso necessário.

Nos hospitais de campanha trabalham equipes multiprofissionais da saúde, como enfermeiros e médicos, o que prevê desde atendimentos de emergência até internações, além de exames laboratoriais e de imagem. Isso significa que esses profissionais têm a sua disposição, inclusive, medicamentos necessários para o controle de sintomas e infecções oportunistas.

Geralmente, os hospitais de campanha não recebem novos pacientes, muito provavelmente, as pessoas internadas foram direcionadas para esses estabelecimentos após uma triagem em outro serviço de saúde pública, como os postos de saúde e até mesmo hospitais.

No Município de Natal, o Plano de Contingência para a Infecção Humana pelo Coronavírus-COVID-19 fixou a oferta de leitos hospitalares em 25 (vinte e cinco) leitos no Hospital Municipal Dr. Newton Azevedo e outros 120 (cento e vinte) em Hospital de Campanha, este último instalado em imóvel sede do antigo Hotel Parque da Costeira, na Via Costeira, por meio de requisição administrativa dessas instalações e realização de obras de reparo.

Desde o início da Pandemia, o Ministério Público realizou várias inspeções nas unidades de saúde para acompanhar as ações da Gestão Sanitária Municipal, inclusive nas obras de implantação do Hospital de Campanha. Na última delas, realizada em 05 de maio de 2020 (relatório em anexo), constatou-se que os leitos clínicos do Hospital estão definitivamente prontos, tendo sido informado pelos presentes que nos próximos dias seriam recebidos pacientes das Unidades de Pronto Atendimento acometidos pelo Novo Coronavírus que precisavam de leitos de internação.

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A inspeção demonstrou estarem aptos para funcionamento imediato 100 (cem) leitos clínicos, os quais em termos de estrutura física e equipamentos, não possuem quaisquer pendências (foto de um dos leitos):

Saliente-se que os equipamentos, medicamentos, EPIs e insumos também já foram adquiridos, com algumas dificuldades relacionadas à aquisição de respiradores, em razão da alta dos preços e oferta insuficiente, realidade infelizmente compartilhada por outros entes federados.

Em todo caso, a dificuldade de aquisição de respiradores não se consolidou como obstáculo à abertura dos leitos no Hospital de Campanha, já que o Hospital Universitário Onofre Lopes ofereceu apoio ao Município de Natal com a cessão de 30 (trinta) respiradores para alocação no Hospital Municipal de Campanha, permitindo a abertura de leitos de cuidados semi-intensivos de forma mais imediata.

No entanto, conforme informações dos gestores municipais pende a contratação de empresa para oferta de mão de obra, situação que demanda a intervenção judicial para que o gestor adote medidas concretas aptas a contratação de empresa ou recrutamento de profissionais.

II.4) Ausência de Profissionais de Saúde decorrente da Morosidade Estatal

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Já quanto à equipe multiprofissional, a exiguidade de tempo para contratação, aliada ao histórico déficit de recursos humanos enfrentado pela Secretaria Municipal de Saúde de Natal e ao alto índice de apresentação de atestados médicos pelos profissionais levou à decisão de terceirizar a administração do serviço, utilizando-se de um chamamento público para locação de mão de obra especializada.

A escolha, segundo justificativa do gestor, se deu pelo fato de tal modalidade de contratação se basear no posto de trabalho e não na pessoalidade, conferindo maior agilidade na substituição do profissional afastado por problemas de saúde e, via de consequência, garantindo a continuidade da assistência no período crítico ora vivenciado. Não se objetiva nenhuma medida que precarize ou viole direitos trabalhistas, notadamente neste momento em que os profissionais de saúde merecem maior tutela estatal. No entanto, não é possível permitir que o gestor aguarde ainda mais.

Pelo histórico já constante nesta inicial, observa-se que é dramática a situação da gestão municipal no que concerne a recursos humanos. O quadro próprio de servidores é insuficiente, aliado ao enorme número de afastamentos de servidores que integram o grupo de risco para a doença ou já acometidos por ela; o chamamento de aprovados no cadastro de reserva oneraria o ente além do período da pandemia, com sérios riscos para o equilíbrio fiscal.

Quanto às tentativas frustradas de contratação de empresa para fornecimento de mão de obra, tem-se o seguinte panorama: o contrato resultante do chamamento público realizado – 75/2020, com a empresa T & N Serviços em Saúde Ltda., e 76/2020, com a empresa JMT Serviços e Locação de Mão de Obra Ltda. ME foram rescindidos unilateralmente, pelo Decreto Municipal n.º 11.948, de 24 de Abril de 2020, conforme extrato do Diário Oficial do Município, Edição Extra de 24/04/2020, em anexo.

Posteriormente, deflagrou-se novo Chamamento Público. Contudo, novamente, esse procedimento foi cancelado e ensejou o adiamento da abertura do Hospital de Campanha, conforme consta do Decreto Municipal n.º 11.959, de 07 de Maio de 2020, publicado no Extrato do Diário Oficial de 07/05/2020, em anexo. Ou seja, inviável que o gestor aguarde ainda mais tempo, sem que medidas mais urgentes sejam adotadas para

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abrir os leitos já disponíveis. A contaminação por COVID 19 cresce a cada dia de forma exponencial e o gestor local deve ter ações concretas e imediatas, uma vez que os doentes não podem aguardar pela burocracia e lentidão estatal.

Cabe ressaltar que o processo do segundo chamamento público tramitou e a sessão de recebimento das propostas ficou agendada para 29 de abril de 2020, conforme informado pelo Secretário Municipal de Saúde em reunião realizada com o Ministério Público Estadual e Federal (Ata em anexo).

Ocorre que, mesmo publicizando seu intento de locar mão de obra terceirizada e obtendo empresa interessada na prestação do serviço (T&N Serviços em Saúde Ltda.), o contrato firmado pelo Município foi objeto de questionamento por suposta violação ao princípio da impessoalidade e restou rescindido, mais uma vez inviabilizando a abertura do Hospital de Campanha e ceifando a chance de muitos doentes COVID a um leito hospitalar.

Resolvida a rescisão contratual, novamente a Secretaria Municipal de Saúde de Natal volta à “estaca zero” no último dia 07 de maio de 2020. Isso em um cenário de crescimento do número de casos suspeitos, confirmados e de óbitos por COVID, aliados ao estrangulamento anunciado das Unidades de Pronto Atendimento Municipais, as quais já contam com uma enorme procura.

O que mais vai se aguardará em Natal: as Unidades de Pronto Atendimento não suportarem a superlotação e os profissionais adoecerem? Os leitos ficarem 100% lotados e as pessoas falecerem em casa ou na porta do hospital ou das unidades de pronto atendimento? São os cenários que se avizinham!

No caso ora em apreço, a morosidade do Município em resolver a situação tem gerado prejuízos inegáveis e irreparáveis aos usuários do Sistema Único de Saúde. A população mais pobre deste Estado depende destes leitos e dos demais já estruturados e em expansão para tentar curar-se dessa terrível enfermidade. Não é mais possível tolerar a lentidão estatal. As medidas devem ser urgentes, o que exige a enérgica e imediata intervenção judicial.

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III. Direito à Assistência Hospitalar como inerente ao Direito Fundamental à Saúde: efetivo funcionamento dos leitos COVID 19

É indubitável que a saúde, enquanto um direito social, é uma garantia fundamental assegurada a todo e qualquer cidadão, consoante o que está previsto nos artigos 6º e 196 da Constituição Federal. Neste sentido, são as lições de Ingo W. Sarlet em sua primorosa obra a Eficácia dos Direitos Fundamentais (SARLET, 2012).

Há ampla gama de direitos sociais previstos constitucionalmente, dotados de caráter cogente e vinculante, e, portanto, aptos a atrair a tutela judicial, aos quais corresponde um dever prestacional por parte do Estado no sentido de concretizá-los por meio de políticas públicas, sempre na maior medida possível.

Dentre tais direitos, merece destaque, haja vista o atual cenário de crise mundial, o direito à saúde, expressão máxima do direito à vida digna (artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal), sendo certo que este integra o chamado mínimo existencial, isto é, o conjunto das condições materiais básicas necessárias à fruição das liberdades individuais.

Nas palavras do já citado professor Ingo Wolfgang Sarlet:

É no âmbito do direito à saúde que se manifesta de forma mais contundente a vinculação do seu respectivo objeto (no caso da dimensão positiva, trata-se de prestações materiais na esfera da assistência médica, hospitalar, etc.) com o direito à vida e o princípio da dignidade da pessoa humana.

Implementar ações e serviços de saúde é competência comum entre União, Estados e Municípios (artigo 23, II, da CF), sendo uma garantia fundamental social de todos e dever do Estado (art. 196 da CF), que deve ser prestado mediante políticas públicas sociais e econômicas, que garantam a redução do risco de doenças e outros agravos, mas, sobremaneira, que assegurem o acesso universal, igualitário, contínuo e integral às ações e serviços de saúde.

Nesse viés, a Lei Orgânica da Saúde também reconhece a saúde como um direito fundamental, para o qual o Estado deve

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prover as condições necessárias ao seu pleno exercício, assegurando acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação, inclusive a assistência hospitalar (artigo 2º da Lei nº 8.080/1990).

Ainda, a Lei Orgânica do SUS dispõe que a Saúde será prestada por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), com ações e serviços desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da CF, obedecendo, ainda, aos princípios próprios, a teor dos arts. 4º e 7º, abaixo transcritos:

Art. 4°. O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das funções mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde – SUS.

Art. 7° (...)I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;II. Integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e contínuo de serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;III. preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;IV. igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;(…) XI. conjugação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na prestação de serviços de assistência à saúde da população.

Verifica-se, portanto, que a própria norma disciplinadora do Sistema Único de Saúde elenca, em consonância ao disposto no artigo 198 da Constituição Federal, como princípio a integralidade da assistência, definindo-a como um conjunto articulado e contínuo de serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema.

No tocante às atribuições atinentes às ações e aos serviços de saúde, a Lei Orgânica do SUS prescreve o seguinte:

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Art. 7º. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda os seguintes princípios:(…) IX. Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo:1) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;2) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde.

Art. 17. À Direção Estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete:(…) II. acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde (SUS);III. prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde;(…) IX. identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadual e regional;

Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete:I. planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde;II. participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde (SUS), em articulação com sua direção estadual.

No caso em apreço, o direito à saúde se consubstancia no acesso dos pacientes natalenses acometidos pelo Novo Coronavírus à assistência hospitalar de qualidade, com suporte multiprofissional que lhes amplie as chances de recuperação e cura, cuja oferta é, indubitavelmente, responsabilidade do Município de Natal e está programada para ocorrer no Hospital Municipal de Campanha, em conformidade com o Plano de Contingência elaborado pelo próprio Ente Público para o período da Pandemia.

A ausência de tutela coletiva administrativa e regular desse direito, mediante serviço de saúde estruturado, com leitos

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equipados, munidos de medicamentos, insumos e, notadamente, com equipe multiprofissional suficiente para lhes fazer funcionar, reflete a inércia estatal na execução do seu mister, em prejuízo palpável à população.

Nessa esteira, o Princípio da Proporcionalidade, na sua vertente de vedação à proteção deficiente, exige que sejam adotadas medidas necessárias e eficientes a resguardar o direito fundamental envolvido, no caso, o direito à saúde, sendo legítimo, inclusive, recorrer à intervenção do Poder Judiciário quando inerte o Poder Público.

Com efeito, o direito à saúde dos cidadãos não pode esperar por diligências burocráticas, tampouco ser negado por motivos desarrazoados, posto que a vida não tem preço e as providências médicas, para serem eficazes e curativas, devem ser imediatas, sob pena de se tornarem inúteis frente o próprio bem de vida que se pretende resguardar. É hora de se atentar para o objetivo maior do próprio Estado, ou seja, proporcionar vida gregária, segura e com o mínimo de conforto de forma a atender ao valor atinente à preservação da dignidade humana.

IV. Imprescindibilidade da Tutela de Urgência

O direito de acesso à justiça e a garantia à razoável duração do processo são reconhecidos como direitos humanos e princípios de natureza constitucional nos ordenamentos jurídicos dos estados democráticos, dentre eles, o Brasil.

Ao discorrer sobre o tema, Marinoni, Arenhart e Mitidiero expõem que a consagração dos chamados "novos direitos" trouxe à toma a discussão sobre a efetividade do direito de ação, e que, para a tutela de tais direitos, é possível a propositura de ações coletivas, as quais encontram respaldo normativo no microssistema de tutela coletiva (artigo 83 do CDC), além da Lei nº 7.347/85, que trata da Ação Civil Pública.

No particular, a tutela jurisdicional pretendida somente será de todo efetiva se for prestada também em caráter emergencial. Assim, é necessário que se conceda medida de cunho antecipatório na vertente ação civil pública.

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Ademais, pelos documentos que acompanham esta inicial, constata-se que o órgão do Ministério Público já acompanha a execução do Plano de Contingência de Natal há meses. Inspecionou-se por 3(três) vezes a obra do Hospital de Campanha, realizaram-se inúmeras reuniões com os gestores, expediram-se Recomendações, além do acompanhamento diário das ações da gestão em todas as suas unidades (Hospitais, UPAs, UBSs, Policlínicas). Já se esgotaram as possibilidades de solução extrajudicial. Não há mais respaldo jurídico-normativo para tentativas. É preciso contratar profissionais de imediato, treiná-los e lotar no Hospital de Campanha. É urgente! 

Como fundamento legal para a concessão de medida liminar em Ação Civil Pública (com natureza cautelar ou de antecipação de tutela), tem-se a previsão do art. 12 da Lei nº 7.347/85:

Art. 12 Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.

Reforçando esta possibilidade, há, ainda, os arts. 300 e seguintes do Código de Processo Civil e o art. 84, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor (aplicável à ação civil pública, por força do disposto no art. 21 da Lei n.º 7.347/85), esse último estabelecendo os seguintes requisitos:

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.(…)§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

Já na sistemática trazida pelo Novo Código de Processo Civil, a tutela provisória pode estar fundamentada na urgência ou na evidência, a depender dos elementos presentes no caso concreto.

Será de urgência quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (art. 300).

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Já quando ficar caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte; as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; ou a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável, será de evidência (art. 311).

Ainda, a tutela de urgência pode ser requerida em caráter antecedente ou consequente, a depender dos seus requisitos estarem presentes contemporaneamente à propositura da ação ou surgirem somente em momento posterior (art. 303, caput).

No caso em análise, indiscutível a presença dos requisitos para a concessão da tutela antecipada, visto que os Entes Federativos demandados não ofertam em suas redes de saúde quantitativo minimamente suficiente de leitos para pacientes COVID 19, gerando danos à população, notadamente a mais carente, e consolidando o dano à saúde dos usuários.

Quanto à probabilidade do direito, os argumentos lançados ao longo desta peça evidenciam que o ordenamento jurídico vigente, seja por meio da Constituição Federal, seja pelas normas infralegais, em especial a Lei Orgânica do SUS, assegura aos usuários o direito à integralidade da assistência em saúde, que, no presente caso, se configura no direito de acesso aos leitos de UTI e Clínicos, que vem sendo ofertado de modo muito insuficiente pelo Réu, e haja vista que o ente demandado não apresentou soluções para assegurar uma oferta contínua e ininterrupta que, pelo, menos garanta leitos em um quantitativo aceitável.

Some-se a isso que a Lei de nº 13.979, de 06 de fevereiro de 20204, possibilitou aos gestores públicos para 4 Art. 4º  É dispensável a licitação para aquisição de bens, serviços, inclusive de engenharia, e insumos destinados ao

enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus de que trata esta Lei.   § 1º  A dispensa de licitação a que se refere o caput deste artigo é temporária e aplica-se apenas enquanto perdurar a emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus.§ 2º  Todas as contratações ou aquisições realizadas com fulcro nesta Lei serão imediatamente disponibilizadas em sítio oficial específico na rede mundial de computadores (internet), contendo, no que couber, além das informações previstas no § 3º do art. 8º da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, o nome do contratado, o número de sua inscrição na Receita Federal do Brasil, o prazo contratual, o valor e o respectivo processo de contratação ou aquisição.

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implementação de medidas de controle e enfrentamento à COVID-19 a adoção de procedimentos simplificados no âmbito da Administração Pública, a exemplo da possibilidade de realização de dispensas de licitação independentemente do valor do bem ou serviço a ser adquirido e da requisição administrativa de bens e serviços privados, de forma que nada justifica a demora na implementação das medidas administrativas necessárias à completa estruturação do Hospital de Campanha do Município do Natal, especialmente em se levando em consideração que o anúncio do início de tal implantação ocorreu ainda

§ 3º  Excepcionalmente, será possível a contratação de fornecedora de bens, serviços e insumos de empresas que estejam com inidoneidade declarada ou com o direito de participar de licitação ou contratar com o Poder Público suspenso, quando se tratar, comprovadamente, de única fornecedora do bem ou serviço a ser adquirido.          § 4º  Na hipótese de dispensa de licitação de que trata o caput, quando se tratar de compra ou contratação por mais de um órgão ou entidade, o sistema de registro de preços, de que trata o inciso II do caput do art. 15 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, poderá ser utilizado.         § 5º  Na hipótese de inexistência de regulamento específico, o ente federativo poderá aplicar o regulamento federal sobre registro de preços.          § 6º  O órgão ou entidade gerenciador da compra estabelecerá prazo, contado da data de divulgação da intenção de registro de preço, entre dois e quatro dias úteis, para que outros órgãos e entidades manifestem interesse em participar do sistema de registro de preços nos termos do disposto no § 4º e no § 5º.        Art. 4º-A  A aquisição de bens e a contratação de serviços a que se refere o caput do art. 4º não se restringe a equipamentos novos, desde que o fornecedor se responsabilize pelas plenas condições de uso e funcionamento do bem adquirido.          Art. 4º-B  Nas dispensas de licitação decorrentes do disposto nesta Lei, presumem-se atendidas as condições de:  I - ocorrência de situação de emergência;         (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)II - necessidade de pronto atendimento da situação de emergência;          (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)III - existência de risco a segurança de pessoas, obras, prestação de serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares; e         IV - limitação da contratação à parcela necessária ao atendimento da situação de emergência.        (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)Art. 4º-C  Para as contratações de bens, serviços e insumos necessários ao enfrentamento da emergência de que trata esta Lei, não será exigida a elaboração de estudos preliminares quando se tratar de bens e serviços comuns.          (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)Art. 4º-D  O Gerenciamento de Riscos da contratação somente será exigível durante a gestão do contrato.          (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)Art. 4º-E  Nas contratações para aquisição de bens, serviços e insumos necessários ao enfrentamento da emergência que trata esta Lei, será admitida a apresentação de termo de referência simplificado ou de projeto básico simplificado.           (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)§ 1º  O termo de referência simplificado ou o projeto básico simplificado a que se refere o caput conterá:           (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)I - declaração do objeto;         (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)II - fundamentação simplificada da contratação;         (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)III - descrição resumida da solução apresentada;          (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)IV - requisitos da contratação;          (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)V - critérios de medição e pagamento;          (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)VI - estimativas dos preços obtidos por meio de, no mínimo, um dos seguintes parâmetros:             (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)a) Portal de Compras do Governo Federal;            (Incluído pela Medida Provisória nº 926, de 2020)b) pesquisa publicada em mídia especializada;         c) sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo; d) contratações similares de outros entes públicos; ou      e) pesquisa realizada com os potenciais fornecedores; e   VII - adequação orçamentária.  § 2º  Excepcionalmente, mediante justificativa da autoridade competente, será dispensada a estimativa de preços de que trata o inciso VI do caput.  § 3º  Os preços obtidos a partir da estimativa de que trata o inciso VI do caput não impedem a contratação pelo Poder Público por valores superiores decorrentes de oscilações ocasionadas pela variação de preços, hipótese em que deverá haver justificativa nos autos.  Art. 4º-F  Na hipótese de haver restrição de fornecedores ou prestadores de serviço, a autoridade competente, excepcionalmente e mediante justificativa, poderá dispensar a apresentação de documentação relativa à regularidade fiscal e trabalhista ou, ainda, o cumprimento de um ou mais requisitos de habilitação, ressalvados a exigência de apresentação de prova de regularidade relativa à Seguridade Social e o cumprimento do disposto no inciso XXXIII do caput do art. 7º da Constituição.       Art. 4º-G  Nos casos de licitação na modalidade pregão, eletrônico ou presencial, cujo objeto seja a aquisição de bens, serviços e insumos necessários ao enfrentamento da emergência de que trata esta Lei, os prazos dos procedimentos licitatórios serão reduzidos pela metade.    § 1º  Quando o prazo original de que trata o caput for número ímpar, este será arredondado para o número inteiro antecedente§ 2º  Os recursos dos procedimentos licitatórios somente terão efeito devolutivo.      § 3º  Fica dispensada a realização de audiência pública a que se refere o art. 39 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, para as licitações de que trata o caput.         § 4º  As licitações de que trata o caput realizadas por meio de sistema de registro de preços serão consideradas compras nacionais, nos termos do disposto no regulamento federal, observado o prazo estabelecido no § 6º do art. 4º.         Art. 4º-H  Os contratos regidos por esta Lei terão prazo de duração de até seis meses e poderão ser prorrogados por períodos sucessivos, enquanto perdurar a necessidade de enfrentamento dos efeitos da situação de emergência de saúde pública.  Art. 4º-I  Para os contratos decorrentes dos procedimentos previstos nesta Lei, a administração pública poderá prever que os contratados fiquem obrigados a aceitar, nas mesmas condições contratuais, acréscimos ou supressões ao objeto contratado, em até cinquenta por cento do valor inicial atualizado do contrato.         

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no mês de março e que o número de casos de pessoas contaminadas vem crescendo dia a dia, com a realidade posta de pré-colapso na rede hospitalar.

Inclusive, insta asseverar que o Supremo Tribunal Federal5, em sede de Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade 6.357 Distrito Federal, deferiu a “medida, ad referendum do Plenário desta SUPREMA CORTE, com base no art. 21, V, do RISTF, para CONCEDER INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO FEDERAL, aos artigos 14, 16, 17 e 24 da Lei de Responsabilidade Fiscal e 114, caput, in fine e § 14, da Lei de Diretrizes Orçamentárias/2020, para, durante a emergência em Saúde Pública de importância nacional e o estado de calamidade pública decorrente de COVID-19, afastar a exigência de demonstração de adequação e compensação orçamentáias em relação à criação/expansão de programas públicos destinados ao enfrentamento do contexto de calamidade gerado pela disseminação de COVID-19”, o que, por si só, demonstra a possibilidade de MEDIDAS EMERGENCIAS E CÉLERES pelos gestores públicos para garantia da assistência aos usuários do sistema único de saúde.

Por fim, quanto ao risco de dano irreparável, a demora na concessão da tutela acarretará prejuízo irremediável aos pacientes COVID 19. É bastante provável que brevemente o sistema de saúde de Natal entre em colapso completo e as notícias jornalísticas mostrem o horror da morte agonizante por falta de um leito e do devido acompanhamento ao paciente.

A situação em apreço requer, portanto, a concessão de tutela antecipada para garantir o quanto antes o acesso dos usuários aos leitos do Hospital de Campanha de Natal, reduzindo a demanda das UPAs com garantia da assistência hospitalar adequada aos pacientes, bem como para adoção de providências suficientes para evitar-se o crescimento exponencial da fila de espera por regulação de leitos clínicos e de unidade de terapia intensiva.

V. Requerimento Antecipatório

Conforme acima exposto, já restam esgotados os leitos operacionais ativos em Natal, ou seja, 9(nove) leitos de UTI do Hospital Municipal Dr. Newton Navarro, quantidade irrisória se comparada com o volume de leitos municipais programados previamente com base em estudo técnico e previstos no Plano de Contingência Municipal.

5 http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI6357MC.pdf

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O Município do Natal, conforme assentado nos Boletins Epidemiológicos mais recentes, encontra-se em estágio de aceleração do número de casos, razão pela qual se mostram claros os riscos de natureza irreparável aos quais submetem-se os usuários do SUS, já infectados ou em vias de se infectar, cujo atendimento hospitalar, poderá ser negado por ausência de vagas.

Tal cenário sombrio avizinha-se perigosamente da realidade dos usuários do SUS, que certamente serão sentenciados à morte caso não encontrem leitos devidamente equipados para o seu atendimento, circunstância a revelar inaceitável violação aos mais básicos direitos fundamentais à saúde e à garantia da dignidade humana.

Em razão da evidência do direito dos usuários do SUS de receber pronto atendimento hospitalar caso venham a ser infectados por COVID-19 e dos riscos de danos irreparáveis na hipótese de a capacidade instalada das unidades de saúde previstas no Plano de Contingência Municipal não funcionarem para atender novos pacientes, REQUEREM o MPRN e a DPE, em caráter antecipatório, o deferimento de medida visando:

i) determinar ao réu a abertura e funcionamento dos leitos do Hospital Municipal de Campanha de Natal no prazo máximo de 10 (dez) dias, utilizando-se de todos os meios lícitos e necessários para garantir a equipe multiprofissional dimensionada para tal unidade hospitalar, inclusive mediante a imediata contratação temporária dos profissionais que já foram capacitados para trabalho no Hospital de Campanha, respeitados todos os princípios regentes da Administração Pública, dentre eles, a impessoalidade e a publicidade.

ii) logo após a contratação dos profissionais, seja feita a imediata abertura e desbloqueio de todos os 100 (cem) leitos clínicos COVID já disponíveis para atendimento à população, estruturando-os com todos os recursos materiais e humanos necessários ao seu pleno e imediato funcionamento, sob pena de responsabilização pessoal;

iii) a abertura e desbloqueio dos 20 (vinte) leitos COVID de UTI que se encontram em fase de estruturação no prazo máximo de 20 (vinte) dias, garantindo-se o seu integral funcionamento com estruturação de recursos materiais e humanos;

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iv) intimar o réu, preferencialmente na pessoa do Prefeito do Natal, Sr. Álvaro Costa Dias, e do Secretário Municipal de Saúde, Sr. George Antunes de Oliveira, para que comprovem, de modo documental, no prazo máximo de 5(cinco) dias, o cumprimento dos requerimentos acima formulados, sob pena de responsabilização pessoal, demonstrando de forma clara as medidas adotadas para a contratação temporária.

V. Dos Pedidos

Por todo o exposto, o Ministério Público do Estado e a Defensoria Pública do Estado requerem a V. Exa.:

1) no mérito, a confirmação da tutela antecipada de urgência para compelir o Município de Natal à abertura e funcionamento pleno dos 120 (cento e vinte) leitos do Hospital Municipal de Campanha de Natal, sem prejuízo da ampliação necessária na hipótese de agravamento do grau de risco de emergência em saúde pública decorrente da propagação da COVID-19, conforme diretrizes do plano de contingência do Ministério da Saúde e do Município do Natal;

2) a citação do Município de Natal, por sua Procuradoria-Geral, para, querendo, responder à presente demanda;

3) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, em face do previsto no artigo 18 da Lei n° 7.347/85 e do art. 87 da Lei n° 8.078/90 e,

4) aplicação de multa diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em face do Réu, no caso de descumprimento do comando judicial, sem prejuízo dos comandos legais previstos no artigo 536 do CPC.

Embora já tenha apresentado prova pré-constituída do alegado, protesta, outrossim, pela produção de prova documental e testemunhal e outras que se fizerem necessárias ao pleno conhecimento dos fatos.

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Atribui-se como valor da causa, o valor de R$ 1.045,00 (um mil e quarenta e cinco reais), para fins meramente fiscais.

São os termos em que pede e aguarda deferimento.

Natal/RN, 9 de maio de 2020.

Gilcilene da Costa de Sousa

Promotora de Justiça

Cláudia Carvalho QueirozDefensora Pública do Estado