· web viewentão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a...

118
ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA PROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO Reunião Data Local 04/08/2020 Plataforma digital de videoconferência Aos quatro dias do mês de agosto de dois mil e vinte, às 14:00horas, Arnaldo Goldemberg, Defensor Público e Assessor Especial do Governo do Estado do Rio de Janeiro, declarou aberta a Terceira Audiência Pública e, com seus cumprimentos a todos, chamou para compor a mesa diretora virtual os Excelentíssimos: Dr. Marcelo Lopes, Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro; Dr. Bernardo Santoro, Presidente do Instituto Rio Metrópole; Professor Arildo Mendes, do Conselho das Entidades Negras do Estado do Rio de Janeiro, Presidente da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro, ex-Secretário de Inclusão Social e Promoção da Igualdade Racial, ex-Secretário de Ambiente de Arraial do Cabo; Dr. Edson Carlos, Presidente-Executivo do Instituto Trata Brasil; Dr. Guilherme da Rocha Albuquerque, Chefe de Departamento do BNDES; Dra. Angelica Petian, Advogada Integrante do Escritório de Advocacia Vernalha Guimarães e Pereira Advogados; e Dr. Gustavo Silva do Prado, Líder Técnico Operacional de Saneamento e Recursos Hídricos da Concremat. Arnaldo Goldemberg. A Audiência Pública e a Consulta Pública em curso dizem respeito à Proposta de Universalização dos Serviços Públicos para a concessão da prestação de serviços públicos para o fornecimento de água, esgotamento sanitário e serviços complementares nos municípios do Estado do Rio de Janeiro e em cada um dos blocos que compõem a área da concessão, conforme especificações e requisitos estabelecidos no Edital e respectivos Anexos, tudo com fundamento no artigo 175 da Constituição da República, nas Leis Federais nº 8.666/1993, nº 8.987/1995, nº 9.074/1995, nº 11.107/2005, nº 11.445/2007, no Decreto Federal nº 7.217/2010, e nas Leis Estaduais nº 4.456/2005, nº 6.398/2013, entre outras normas aplicáveis. O objeto alcança os Planos Municipais de Saneamento Básico e o Plano de Saneamento da Região Metropolitana para os fins previstos na Lei nº 11.445/2007 e na forma da Lei Complementar nº 184/2018. Trata-se da universalização do saneamento, enfatizando-se a natureza técnica e empresarial dos processos em operação estruturada destinada a agregar valor à CEDAE e a garantir a sua sustentabilidade, com o primordial objetivo de promover melhorias e benefícios voltados para os consumidores, o Meio Ambiente e a população alcançada. As funções estatais são relevantes e, nos termos do artigo 175, parágrafo único, e seus incisos, da Constituição Federal, a concessão de serviços públicos se dá em condições reguladas, ou seja, em controle normativo e regulatório. A licitação na modalidade de concorrência

Upload: others

Post on 17-Nov-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

ReuniãoData Local04/08/2020 Plataforma digital de videoconferência

Aos quatro dias do mês de agosto de dois mil e vinte, às 14:00horas, Arnaldo Goldemberg, Defensor Público e Assessor Especial do Governo do Estado do Rio de Janeiro, declarou aberta a Terceira Audiência Pública e, com seus cumprimentos a todos, chamou para compor a mesa diretora virtual os Excelentíssimos: Dr. Marcelo Lopes, Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro; Dr. Bernardo Santoro, Presidente do Instituto Rio Metrópole; Professor Arildo Mendes, do Conselho das Entidades Negras do Estado do Rio de Janeiro, Presidente da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro, ex-Secretário de Inclusão Social e Promoção da Igualdade Racial, ex-Secretário de Ambiente de Arraial do Cabo; Dr. Edson Carlos, Presidente-Executivo do Instituto Trata Brasil; Dr. Guilherme da Rocha Albuquerque, Chefe de Departamento do BNDES; Dra. Angelica Petian, Advogada Integrante do Escritório de Advocacia Vernalha Guimarães e Pereira Advogados; e Dr. Gustavo Silva do Prado, Líder Técnico Operacional de Saneamento e Recursos Hídricos da Concremat. Arnaldo Goldemberg. A Audiência Pública e a Consulta Pública em curso dizem respeito à Proposta de Universalização dos Serviços Públicos para a concessão da prestação de serviços públicos para o fornecimento de água, esgotamento sanitário e serviços complementares nos municípios do Estado do Rio de Janeiro e em cada um dos blocos que compõem a área da concessão, conforme especificações e requisitos estabelecidos no Edital e respectivos Anexos, tudo com fundamento no artigo 175 da Constituição da República, nas Leis Federais nº 8.666/1993, nº 8.987/1995, nº 9.074/1995, nº 11.107/2005, nº 11.445/2007, no Decreto Federal nº 7.217/2010, e nas Leis Estaduais nº 4.456/2005, nº 6.398/2013, entre outras normas aplicáveis. O objeto alcança os Planos Municipais de Saneamento Básico e o Plano de Saneamento da Região Metropolitana para os fins previstos na Lei nº 11.445/2007 e na forma da Lei Complementar nº 184/2018. Trata-se da universalização do saneamento, enfatizando-se a natureza técnica e empresarial dos processos em operação estruturada destinada a agregar valor à CEDAE e a garantir a sua sustentabilidade, com o primordial objetivo de promover melhorias e benefícios voltados para os consumidores, o Meio Ambiente e a população alcançada. As funções estatais são relevantes e, nos termos do artigo 175, parágrafo único, e seus incisos, da Constituição Federal, a concessão de serviços públicos se dá em condições reguladas, ou seja, em controle normativo e regulatório. A licitação na modalidade de concorrência internacional, com o fim de selecionar a proposta mais vantajosa para a concessão de serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário na área da concessão dividida em blocos de municípios, conforme as especificações contidas no Edital, de modo a oportunizar, principalmente, a manifestação dos interessados. A presente Audiência é a terceira inserida no contexto da abertura da Consulta Pública para o Estado do Rio de Janeiro, conforme publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, nos dias 8 de junho, páginas 15 e 16, e 24 de junho, páginas 16 e 17, Parte 1 - Poder Executivo na seção de “Avisos, Editais e Termos de Contrato”, com fins de tornar pública a proposta de concessão, com início em 9 de junho de 2020 e término marcado para a data de 7 de agosto de 2020, disponibilizando, assim, o acesso à íntegra dos documentos apresentados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bem como para esta Audiência Pública no endereço da internet http://www.rj.gov.br/consultapublica/, permitindo o encaminhamento de comentários, dúvidas e sugestões por meio do endereço eletrônico divulgado no Edital da convocação. Dúvidas, manifestações e sugestões sobre o Edital e outras questões relacionadas ao objeto poderão ser feitas em momento oportuno desta Audiência, observando critérios de inscrição para uso da palavra, regendo-se pelo princípio da oralidade com as

Page 2:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

características dessa plataforma eletrônica online. As oportunidades para as manifestações e as sugestões ao Projeto serão concedidas por meio da ferramenta “levantar a mão”, ou seja, o respectivo botão constante no painel inferior do ambiente eletrônico, podendo constar como “raise the hand”, para quem usar ambiente em inglês. As solicitações serão atendidas de acordo com o limite disponível de tempo na Audiência Pública, com até 5 (cinco) minutos para o uso da palavra, observando-se, rigorosamente, a ordem de inscrição. Recomenda-se, preferencialmente, o uso de fones de ouvido, headphones, e microfones. Deve ser observada a pertinência temática nas perguntas e manifestações. O interessado só poderá fazer uso da palavra se habilitar seu vídeo de modo a apresentar e a identificar o usuário. A solicitação de uso da palavra pressupõe a concordância com a divulgação, o uso da imagem e a sua publicação no sítio de internet da Consulta Pública. Caso não habilite o vídeo, sua manifestação não será admitida na Audiência Pública e deverá ser encaminhada por escrito para sítio da internet da Consulta Pública. Para iniciar a sua pergunta ou manifestação, o participante deve indicar seu nome completo, cargo/função e instituição a que pertence, assim como o tema específico da pergunta ou manifestação. Tratando-se de pergunta, a resposta será direcionada a um ou mais expositores técnicos presentes na Audiência Pública. O sistema de videoconferência manterá os microfones de todos os participantes desativados de modo a permitir a boa realização da Audiência Pública e a evitar que haja manifestações sobrepostas e concomitantes. Somente será disponibilizada a abertura de microfone e de vídeo ao participante no momento que for concedido o uso da palavra. As manifestações e perguntas não devem ter conteúdo ofensivo. O uso indevido da palavra será cortado. A presente Audiência Pública terá duração adequada às exposições, manifestações ou perguntas, com limite máximo até às 22 horas de hoje, caso se estenda até esse horário. Portanto, o tempo define a limitação de manifestações. Caso não haja tempo suficiente para atender a todas as inscrições para o uso da palavra, o interessado poderá usar a manifestação escrita no sítio de internet da Consulta Pública. Solicita-se que as perguntas e as dúvidas, preferencialmente, busquem tratar de temas novos, que não tenham sido respondidos anteriormente. As indagações já respondidas poderão ser consideradas como anteriormente atendidas. As contribuições que não versarem sobre a matéria objeto da Audiência Pública serão consideradas prejudicadas e poderão ser interrompidas para o melhor aproveitamento do tempo. A inscrição do interessado poderá ser atendida para uma manifestação de cada vez. A ordenação da inscrição observará a preferência de quem ainda não fez uso da palavra. O pedido de mais de uma manifestação na mesma Audiência Pública dependerá da oportunização a todos os demais solicitantes da fila de inscrição. O chat ficará aberto apenas para a troca de informações entre o público. Não há consulta por escrito na Audiência Pública, de modo que consultas inscritas devem ser dirigidas ao sítio de internet da Consulta Pública http://www.rj.gov.br/consultapublica/. Com esse preâmbulo, passo a palavra para os expositores para apresentação sobre os termos da concessão, pelo tempo de 5 minutos, quais sejam: o modelo negocial, a governança do projeto, o Edital, o Contrato de Concessão, o cronograma, a Consulta Pública e outros que entendam necessários. A começar pelo Excelentíssimo Dr. Marcelo Lopes, a quem tenho a honra de conduzir a palavra. Por favor, Dr. Marcelo Lopes. Marcelo Lopes. Obrigado, Arnaldo. Obrigado a todos. Mais uma vez, estamos aqui juntos para a terceira Audiência Pública virtual deste Projeto de Universalização do Saneamento Básico no estado do Rio de Janeiro. De novo, todos sabem da minha felicidade de estar à frente deste Projeto aqui no Estado, em virtude dos benefícios que ele traz à sociedade fluminense. Diversos são os benefícios deste Projeto, entre os quais destaco: a preservação do Meio Ambiente, o tratamento do esgoto despejado nos corpos hídricos, a melhoria na saúde da população; pelo lado do Poder Público, a redução de gastos com saúde. A Organização Mundial da Saúde já afirmou que, para cada dólar investido em água e saneamento, são economizados 4,3 dólares em custos de saúde pelo mundo, além do aumento da permanência na escola, as doenças provenientes da falta de saneamento, e sabemos que não são poucas. Com este processo, com este Projeto de Concessão, movimentaremos a economia aqui no

Page 3:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Estado com a realização de obras e geração de empregos. No futuro, já com avanço do saneamento, conseguiremos, também, o incremento no turismo e ainda uma valorização imobiliária. Não preciso lembrar que a casa de qualquer pessoa em uma área que não é atendida pelo saneamento é desvalorizada. Diante desse quadro, eu não tenho dúvidas em afirmar que esta Concessão do Serviço de Saneamento Básico aqui no Rio de Janeiro é o que mais permitirá a difusão de benefícios à população. Garantiremos a melhora da qualidade de vida da população e daremos dignidade àqueles que não são atendidos por esse serviço. Há a estimativa de serem gerados 28 mil empregos em função das realizações de obras e da ampliação do sistema de saneamento que serão efetuadas. A lógica é a de fazer uma concessão regionalizada observando o que orienta o Marco Regulatório. O estudo feito pelo BNDES, a pedido do Estado do Rio de Janeiro, agrupou os municípios da Região Metropolitana e outros de fora da Região Metropolitana, colocando-os em blocos, unindo regiões mais rentáveis e populosas com outras em que é difícil gerar receita para viabilizar os investimentos. Sem essa medida, algumas cidades com menor população não apresentariam viabilidade econômico-financeira, caso fossem dadas em concessão de forma isolada. Então, estamos verificando e combatendo a causa, que é a falta de saneamento, não como hoje se faz e deixa o esgoto ser jogado, despejado no rio para só depois ser tratado, como é que ocorre na Bacia do Guandu. Teremos benefícios diretos na região do Guandu, na região da Baía de Guanabara. Só para lembrar que estão previstos e serão feitos investimentos da ordem de R$ 2,6 bilhões nos cinco primeiros anos para combater a poluição na Baía de Guanabara. Também, temos o valor elevado de R$ 2,9 bilhões nos cinco primeiros anos para buscar e alcançar a universalização nos municípios que poluem a Bacia do Guandu. Por trás desse formato está, justamente, a questão solidária envolvida no Projeto. Municípios mais rentáveis acabam subsidiando municípios menos rentáveis. É importante registrar que teremos contratos com metas definidas. Hoje, essas metas não existem. Então, o Poder Regulador terá o acompanhamento previamente definido para que se possa conferir a atuação do concessionário. Isso é importantíssimo, porque ficará impossível de sofrer interferências políticas, então os contratos deverão ser respeitados. Passamos agora a ter praticamente uma política de estado consolidada quando esses contratos forem celebrados. Essa universalização é esperada, já consta da legislação há muito tempo, apesar de que nunca ter sido colocada em prática de forma tão ampla. Alguns municípios já evoluíram no Rio de Janeiro, mas foram ações isoladas. Então, esse é o grande mérito deste projeto, justamente o de trazer um direito tão esperado por grande parte da nossa população. Dr. Arnaldo, agradeço pela oportunidade. Acho que já esclareci a relevância do Projeto a todos. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Marcelo Lopes. Tenho agora a honra de chamar a manifestação do expositor Dr. Bernardo Santoro, Presidente do Instituto Rio Metrópole. Bernardo Santoro. Boa tarde para todos. Uma grande honra estar aqui e poder dividir esta Audiência Pública com vocês, com os palestrantes e com os participantes desta Audiência Pública que promete ser tão importante quanto foram as duas últimas. A participação popular é essencial no processo de discussão da concessão. O Instituto Rio Metrópole não pode deixar de se manifestar em defesa deste Projeto que tem por objetivo chegar à praticamente universalização do serviço de água e esgoto na Região Metropolitana e nos outros mais de 40 municípios que serão atendidos neste Projeto. Especialmente aqui, na nossa Região Metropolitana, nós do IRM estamos muito empolgados também com a realização de discussão do Plano Metropolitano de Saneamento, porque tão importante quanto o aporte financeiro que este Projeto trará, é a organização e o planejamento que ensejam esse aporte. Fazer o aporte em cima de uma modelagem sem plano seria aportar recursos de maneira confusa. Mas não, esse projeto envolve não somente o aporte de recursos, como também um planejamento sério no trabalho muito bem feito pelo BNDES. Muito interessante, também, citar que é a realização de um sonho pensado por diversas pessoas dentro da gestão pública, que é exatamente a formação de uma governança metropolitana sólida já nos termos do Estatuto da Metrópole, que regulamenta o artigo 25, parágrafo terceiro, da Constituição. Esse modelo de concessão está sendo possível graças a esse modelo de governança metropolitana, que é inédita

Page 4:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

em termos de Administração Pública brasileira. Então, esse pioneirismo do estado do Rio de Janeiro acaba por também desaguar em efetivos benefícios para a população fluminense, em especial para a nossa Região Metropolitana. O que é mais importante, no que tange à questão dos aportes, estamos falando em um Projeto de mais de 30 (trinta) bilhões de reais. Dentro dessa visão, não custa nada destacar que inúmeras pessoas falam sobre a questão da CEDAE ser uma empresa lucrativa, o que é algo que não negamos, mas os lucros que são levantados pela CEDAE, por mais que fossem todos revertidos 100% (cem por cento) no investimento, na expansão dessa rede, não seriam suficientes para se fazer aquilo que a população efetivamente exige, que é a universalização dos serviços de saneamento, a não ser em longuíssimo prazo. Ao passo que, com essa modelagem, nós vamos ter uma quantidade de recursos sendo aportada de frente e, com esse investimento nós vamos poder correr com essa universalização. Farei uma analogia à frase do grande sociólogo Betinho, “quem tem falta de água e falta de esgoto, tem pressa!”. Então, com este Projeto, nós daremos uma resposta à população que hoje necessita tanto desse serviço de água e esgoto na sua casa, com impactos ambientais maravilhosos para a Região Metropolitana. É a partir deste Projeto que conseguiremos, realmente, começar a concretizar o sonho de uma Baía de Guanabara finalmente limpa e balneável. Dentro deste processo, inúmeras questões acabaram sendo vistas de maneira positiva para a população. Nós estamos tendo, em resumo, investimento no setor de saneamento, uma externalidade positiva e gigantesca de impacto não só no setor de saúde, mas também no meio ambiente. Ao mesmo tempo, nós temos a estabilização e a concretização de um novo modelo de governança pública no Rio, no Brasil, que é a governança metropolitana do Rio de Janeiro, que será o benchmarking desse tipo de governança para todo o Brasil nos próximos anos. Então, eu me despeço, momentaneamente, desta discussão, terminando a minha manifestação e também agradecendo a presença de todas as pessoas que vierem hoje que já se manifestaram e as que vierem a se manifestar nesta Audiência Pública; assim como garantindo que o IRM está à disposição para realmente fazermos uma mudança, virarmos o jogo na questão do saneamento público para dar mais saúde e qualidade de vida para a população metropolitana, com reflexo em todo Estado do Rio de Janeiro. Meu muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Bernardo Santoro. Dando continuidade aos expositores, segue, então, o expositor Prof. Arildo Mendes, Membro do Conselho das Entidades Negras do Estado do Rio de Janeiro, Presidente da Fundação Instituto de Pesca do estado do Rio de Janeiro. Por favor, Prof. Arildo Mendes, a palavra. Arildo Mendes. Boa tarde a todos e todas. É uma alegria muito grande poder estar, neste momento, falando com cada um de vocês, poder participar desta Audiência Pública, saudar a todos os membros da mesa e saudar também a todos os nossos acompanhantes. Eu tenho uma missão de passar para vocês uma visão da nossa experiência da concessão do serviço de água, esgoto e saneamento na Região dos Lagos. Para quem não me conhece, eu sou oriundo da Região dos Lagos, já fui Secretário de Ambiente, na Cidade de Arraial do Cabo. A minha militância ambiental foi toda na Região dos Lagos, assim como a minha militância social, dentro do Estado do Rio de Janeiro, e, hoje, sou Presidente da FIPERJ, de modo que acompanhei de perto todo o processo de concessão do serviço de água e esgoto na Região dos Lagos. Há 18 (dezoito) anos, nós estávamos vivendo essa discussão na Região dos Lagos. As áreas de Arraial do Cabo, Cabo Frio, Búzios, São Pedro da Aldeia, Iguaba, Araruama e Saquarema eram “atendidas” pela CEDAE. Se hoje nós ainda vivemos uma dificuldade enorme de atendimento na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, imagina como era a nossa situação no interior do Estado do Rio de Janeiro, nessa área da Região dos Lagos, quanto mais entendendo que a nossa população ampliava em 5 (cinco) ou 6 (seis) vezes mais no período de verão. Começou-se, então, uma discussão para a concessão dos serviços de água, esgoto e saneamento, de forma que os municípios começaram a se organizar em consórcio para não ter mais o atendimento da CEDAE e, então, fazer essa concessão para uma nova empresa. Nas áreas de Arraial do Cabo, Cabo Frio, Búzios, São Pedro e Iguaba assumiu a empresa Pro-Lagos, e, na área de Araruama e Saquarema, a empresa Águas do Brasil. Eu sou filho do seu Genildo, que é conhecido em Arraial do Cabo como o

Page 5:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

motorista da ambulância, mas antes disso ele era motorista de caminhão-pipa, então, diversas vezes, acompanhei o meu pai, ainda como criança, onde a água que sobrava daquela água que era colocada no Posto de Saúde ou na escola, era a única água que a nossa população tinha para ser distribuída para o pessoal na fila, que ficava com a latinha para poder levar nelas, em seus tonéis e em suas garrafas a água para casa. Hoje, nós experimentamos um avanço considerável no que se refere ao atendimento de água para a população. Nós tivemos, realmente, uma evolução muito grande, de modo que, hoje, a água chega com muito mais facilidade e qualidade nas populações desses municípios. Para ser rápido nas minhas falas, são só 5 (cinco) minutos. A experiência com o esgoto demorou um pouco, porque nós, na realidade, praticamente, não tínhamos esgoto em nenhum desses municípios e o tratamento de esgoto era muito pequeno. Por coincidência, Arraial do Cabo era a única cidade que já tinha um tratamento de esgoto. Nós até entendemos que estávamos acertando na época, onde no primeiro momento não foi dada a concessão do esgoto para a Pro-Lagos, apenas foi dada a de água, e havia uma companhia municipal de esgoto que estava fazendo o trabalho, mas, ao longo dos anos, nós entendemos que não era tão eficiente como deveria ser, porque não conseguia cobrar só o esgoto sem a água. Enfim, a companhia municipal de esgoto começou a ter grande dificuldade, então ao longo do processo, também se privatizou o esgoto para a Prolagos que também assumiu a atividade de esgoto da cidade de Arraial do Cabo. Desse modo, o que eu quero colocar para isso é que a discussão que está aqui irá para o conceito de que quando olhamos o problema geral de um bloco - e aqui estou falando, particularmente, de um bloco do Estado do Rio de Janeiro, que já iniciou esse processo anos atrás e lá nós éramos CEDAE também - entendemos que tivemos um foco mais específico para poder cobrar, porque estávamos conversando diretamente com uma atuação bem próxima de nós que tinha compromisso com aqueles cinco municípios. Nós tivemos a oportunidade de estarmos organizados dentro de uma estrutura e eu até vi alguns membros desse processo de fundação dessa estrutura que poderão se manifestar depois, como o consórcio Lagos São João, que ali também foi instrumento de cobrança para que os contratos estivessem sendo cumpridos, do mesmo modo com a questões das cobranças das divisões, tudo isso estava muito mais próximo para ser cobrado para que nós tivéssemos mais qualidade. Essa foi uma experiência de gestão da água, da concessão da água e esgoto da Região dos Lagos com a Agenersa sendo o instrumento que cobra e que recebe toda essa responsabilidade de fazer a cobrança da atuação dessas empresas e do Poder Público, de forma organizada. Eu tive a oportunidade de participar dos dois momentos, como sociedade civil e, posteriormente, como Poder Público. Fui Secretário de Ambiente no Município, então pude estar muito próximo dos dois lados. Os efeitos da cobrança, as ações do que pode ser cobrado para melhorar, as cobranças dos cumprimentos dos contratos se mostraram muito mais eficientes para atingirmos os objetivos. É Perfeita? Tivemos apenas alegrias? Isso não existe. Seria um sonho se tivéssemos apenas alegrias. É claro que tivemos uma série de dificuldades e problemas, uma série de ajustes e andamentos, mas imagine se nós tivéssemos lá na Região dos Lagos cobrando de uma CEDAE que não consegue dar resposta nesse momento para outras regiões do Rio de Janeiro. Eu não quero desfazer da minha região, acho que ela é importantíssima. A Região do Lagos é maravilhosa, mas o peso político da Região dos Lagos na hora de fazer uma cobrança para que recursos cheguem lá, e aquilo não está chegando na cidade do Rio de Janeiro, imagine quando chegaria na nossa cidade. Então, na realidade, entendemos que essa experiência, com todas as dificuldades que pode ter tido, foi uma experiência que acelerou a chegada dos benefícios de água e esgoto nas comunidades nas cidades e nas famílias, então destacaria isso como as vantagens. Destacaria, também, alguns cuidados que eu acho que são necessários ao longo do processo, sendo que um dos cuidados é que o instrumento da captura de coleta em tempo seco precisa ser exercido somente como instrumento de transição. O tempo a ser estabelecido aqui, acredito que deva ser no máximo de 5 anos. Talvez, isso tenha sido um erro que se cometeu lá atrás, quando se deu um prazo muito maior para que ficássemos no sistema de coleta em tempo seco. Situação que de certa forma já foi mobilizada, cobrada, exigida e

Page 6:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

entendida para a transição com um sistema já de rede separativa que já consta nessa revisão de contrato das concessionárias da nossa região. Acho que esse é um cuidado que se precisa ter, principalmente na área do tratamento de esgotos. Outro cuidado é nós entendermos que tarifa não pode ficar solta, então precisa ser muito bem pontuada e cobrada, porque precisa ser um instrumento muito claro. A tarifa não pode estar solta para que os termos técnicos afastem a população daquilo do que ela está pagando de verdade, logo precisa estar muito claro para se ter ciência de qual é o direito que as concessionárias possuem para produzir o seu preço e como que esse preço é produzido. Isso também foi uma discussão que tivemos durante algum tempo e que, de certa forma, entendo que hoje existe uma afinação maior para esse contexto. Bem, estou à disposição. É uma alegria poder socializar com vocês aqui, de forma totalmente transparente. Entendendo que são realidades diferentes, e estou disposto a trocar com vocês sobre essa realidade que estamos vivendo. Hoje, tenho uma visão muito mais ampla de todo o Estado do Rio de Janeiro, até mesmo pela função que exerço na FIPERJ acompanhando todas as situações do estado. Estou pronto para contribuir com a experiência que tivemos de militância social e pública ao longo de vários anos acompanhando a relação com essa concessão de serviço de água e esgoto na Região dos Lagos. Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Professor Arildo Mendes, muito honrado com sua manifestação. Agora seguimos aqui com a abertura do Dr. Edson Carlos, Presidente-Executivo do Instituto Trata Brasil. Edson Carlos. Boa tarde, Dr. Arnaldo. Boa tarde a todos os debatedores e a todos que estão nos vendo. É uma honra estar aqui pela terceira vez. O Instituto Trata Brasil foi convidado desde a primeira Audiência Pública. Nós somos uma entidade da sociedade civil, formada por personalidades, não só empresas, mas também por personalidades, entidades do terceiro setor e ONGs. Desde 2007, quando o Trata Brasil foi criado, um dos principais locais do país que nos chamou a atenção, analisando os números do saneamento no Brasil, foi o Estado do Rio de Janeiro. Eu já lembrei nas outras audiências públicas, e queria lembrar também aqui que nós fazemos um acompanhamento da situação do saneamento em todo o Brasil, não só de São Paulo ou do Rio de Janeiro, então, essa situação que nós vemos não é específica do Rio de Janeiro, temos também em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, na Região Norte, no Nordeste, em São Paulo, logo estamos falando de um problema nacional de falta de saneamento. Mas o Estado do Rio de Janeiro sempre nos chamou grande atenção, e nós acompanhamos há 13 anos os números do estado, que tem uma lentidão nos avanços, principalmente na situação do esgotamento sanitário. Eu fiz uma coleta rápida de números e, se nós olharmos as grandes cidades, principalmente da Baixada Fluminense, mas também São Gonçalo e a própria cidade do Rio de Janeiro, se nós olharmos os indicadores de saneamento básico, eles estão muito próximos do que eles eram em 2010. Então, se nós pegarmos, por exemplo, Belfort Roxo, os números eram 9% (nove por cento) de tratamento de esgoto e, em 2018 passou para 6% (seis por cento), logo caiu. Se pegarmos Duque de Caxias, eram 3% (três por cento) e foram para 8% (oito por cento). Se pegarmos Nova Iguaçu, era 0,4% (zero vírgula quatro por cento) foi para 1,5% (um e meio por cento) de tratamento de esgoto. São João do Meriti reportava muito próximo a 0 (zero) e, oito anos depois a CEDAE continua reportando muito próximo a 0 (zero). A cidade do Rio de Janeiro tratava 52% (cinquenta e dois por cento) do esgoto em 2011, e de 52% foi para 43% (quarenta e três por cento) em 2018. São os números públicos e oficiais entregues pela própria companhia ao Ministério do Desenvolvimento Regional, de modo que esses números estão públicos no site do Ministério para quem quiser buscar. O que nós estamos acompanhando ao longo desses anos é que no Estado do Rio de Janeiro, principalmente nas grandes cidades, com exceções de Niterói, Campos dos Goytacazes, Petrópolis, que têm algum tipo de operação privada, nós vimos que não se conseguiu dar conta do esgotamento sanitário, apesar de em todas essas cidades ter havido algum tipo de investimento não muito alto, mas houve algum investimento. Nós acompanhamos os nossos indicadores, então os investimentos que têm sido feitos não têm sido suficientes para dar conta da expansão das cidades, muito menos da parte sanitária. Houve um avanço no atendimento de água, mas o avanço em esgotamento sanitário foi muito próximo a nada

Page 7:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

nesses últimos 10 (dez) anos. É, praticamente, disso que estamos falando nessas Audiências Públicas, de um modelo de um sistema que não tem conseguido, pelo menos nos últimos 10 (dez) anos, dar conta do tamanho da poluição que é gerada nos corpos hídricos no Estado do Rio de Janeiro, a qual desemboca ou nas lagoas do sistema Guandu ou nas da Barra, de Jacarepaguá ou na Baía de Guanabara, que acabam sendo a face visível dessa poluição, que é ininterrupta: é 24 horas por dia, 365 dias por ano. Como foi bem dito pelo Bernardo e pelo Dr. Marcelo no começo, isso se transforma em problemas diversos que a pessoa que mora no estado e na cidade de Rio de Janeiro sente todos os dias. Isso é uma poluição que prejudica a saúde pública, pois se pegarmos as crianças no estágio de uma idade menos avançada, isso se transforma em problemas na educação, no de valor de moradia e no de turismo. Nós acompanhamos e fizemos alguns seminários em parceria com o Ministério Público na época das Olimpíadas, na época da Copa do Mundo, chamando atenção para os vultosos investimentos que estariam sendo feitos nesses grandes eventos, mas, infelizmente, nós vimos que esses megaeventos, que o mundo inteiro gostaria de sediar, no Rio de Janeiro não foram suficientes para alavancar uma melhoria significativa do sistema de saneamento básico. Então, perderam-se oportunidades enormes, como o programa de despoluição da Baía de Guanabara e outras iniciativas. Então, esse fenômeno do Rio de Janeiro, infelizmente, é um fenômeno que acontece em vários lugares, mas no Rio de Janeiro foi potencializado pelo ícone internacional, que é o Rio de Janeiro, porque o Rio de Janeiro chama atenção dentro do Brasil e fora. Nós, o Trata Brasil, acompanhamos isso com enorme a reocupação. Estivermos várias vezes com ex-presidentes da CEDAE, oferecendo apoio e parcerias do Trata Brasil, até a última vez que nós estivemos presentes foi antes desse último Presidente, estivemos com o Dr. Hélio colocando o Trata Brasil à disposição para ajudar no que fosse possível, para divulgar possíveis avanços que a CEDAE conseguisse. Nós também tentamos como terceiro setor ajudar e apoiar com aquilo que pudéssemos, mas o que a vimos foi que mesmo as questões de alguns presidentes sendo bem intencionadas, efetivamente não se avançou na velocidade que o estado e as cidades necessitariam. O esgoto acabou ficando muito por conta dos prefeitos e das prefeituras, que sabidamente não dão conta disso, ainda mais quando tem uma empresa operadora estadual cuidando. Os prefeitos simplesmente não ligam para isso e dedicam toda essa responsabilidade para a empresa que opera o sistema de água e esgoto, no caso a CEDAE. Então, foi uma preocupação nossa desde o início, nós já fizemos estudos que mostram o quanto que o estado, as cidades e as pessoas ganhariam proporcionalmente ao custo de resolver o problema da água e do esgoto, além dos benefícios ambientais, econômicos e sociais que são, pelo menos, três vezes maiores do que o custo que se demandaria para universalizar os serviços, ou seja os benefícios que o Rio de Janeiro ganhará com essa modelagem do BNDES, dando certo, não há dúvida alguma, isso uma vez que esses estudos foram feitos por pesquisadores independentes, por professores da Fundação Getúlio Vargas, com metodologia sacramentada pelo BNDES e pelo Banco Mundial, então são metodologias que são usadas no mundo inteiro para medir a repercussão de um determinado investimento. Portanto, todas as modelagens e estudos que fizemos mostram que os benefícios que a população do Rio de Janeiro terá com a solução do saneamento em muito superará os desafios e os valores que serão investidos no sistema. Nós estamos falando de 33 (trinta e três) bilhões de reais, Guilherme comentará mais sobre isso, quer dizer, com certeza os ganhos serão muito superiores a isso, o que significa melhor qualidade de vida e saúde, menor mortalidade infantil, melhor ganho na escola, coisas que os cariocas precisam e é um direito, é um serviço pago, pois esse serviço não é gratuito, a tarifa não é baixa no Rio de Janeiro, assim como não é baixa em muitos lugares do Brasil. Quando olhamos proporcionalmente o serviço que é entregue, a tarifa fica absurdamente mais alta do que os serviços que são entregues, e é disso que estamos falando, logo não é uma crítica à empresa A, B ou C, nem ao passado, pois o passado já passou e nós temos que olhar para frente. Essa modelagem proposta pelo BNDES é um novo momento, e sem dúvida alguma precisa de ajustes, mas essas audiências públicas são para isso, para que o BNDES colha essas observações para promover melhorias na

Page 8:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

modelagem e para que os pontos de vista que sejam colocados pelas pessoas que participam sejam, à medida que sejam válidos, agregados à modelagem, para que tenhamos um sistema que seja melhor ainda para todo mundo, principalmente para a população, pois mais importante do que falar da empresa é falar do cidadão. Nós lutamos pelo cidadão do Estado do Rio de Janeiro, portanto esse deveria ser o ponto central e não se a empresa vai ser A, B ou C, isso pouco importa. Para o Trata Brasil, o que interessa é que o cidadão tenha o melhor serviço de água e esgoto, um serviço 24 horas por dia, um serviço que seja condizente com a tarifa que é paga, que o cidadão consiga pagar aquela tarifa e que receba um serviço eficiente. A perda financeira com a água potável no Rio de Janeiro, nessas grandes cidades, quase todas são acima de 50% (cinquenta por cento), ou seja, a cada 100 (cem) litros de água potável produzida, a CEDAE recebe por menos de 50 (cinquenta) litros, ou seja, ela não consegue receber por 50 (cinquenta) litros, e esses são números oficiais da própria CEDAE. É um nível de ineficiência brutal que afeta a capacidade da companhia de levar o serviço para quem não tem e para melhorar o serviço de quem já tem, então, é uma oportunidade. Nós olhamos esse momento como uma grande oportunidade para o Estado do Rio de Janeiro, principalmente para as pessoas do Rio de Janeiro. O Trata Brasil é um entusiasta deste Projeto e acha que tem coisas a melhorar, mas sabemos que o BNDES está atento a isso. O que nós esperamos é que isso seja um sucesso, porque o modelo atual, infelizmente, não conseguiu dar conta do tamanho do desafio e, olhando para dez anos atrás, nós vemos a situação atual, logo se não fizermos algo radicalmente diferente, daqui a 10 anos, nós estaremos aqui fazendo outra audiência pública para discutir o que nós vamos fazer para melhorar o saneamento do Rio de Janeiro, mas isso não é razoável, pois já estamos no século 21 (vinte e um), portanto nós não podemos mais ficar debatendo quem operará o serviço, senão que serviço levaremos para o cidadão. Muito obrigado, Dr. Arnaldo. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Honrado com sua manifestação, Dr. Edson Carlos. Daremos segmento com a manifestação do Dr. Guilherme da Rocha Albuquerque, Chefe de Departamento do BNDES. Guilherme Albuquerque. Boa tarde a todos. Posso ser um pouco repetitivo ao falar na terceira Audiência Pública, porque eu sei que a maioria das pessoas ou, provavelmente, diversas que estão escritas aqui já participaram das demais, mas sempre consideramos que há pessoas novas, então a ideia é fazer, rapidamente, uma apresentação do Projeto, em aproximadamente 5 (cinco) minutos. Dividirei a minha tela para fazer essa apresentação. A situação do Rio de Janeiro já foi muito debatida, de modo que o estado possui sérios problemas de esgoto e, do ranking das 100 (cem) maiores cidades do país, o Estado do Rio de Janeiro contém 4 (quatro) das vinte piores, então ninguém tem dúvida da situação ruim do esgoto do Rio de Janeiro, mas a questão é como se resolve esse quadro. Os estudos que o BNDES fez junto com a Concremat, o escritório VGP e o Banco Fator estimaram a necessidade de R$ 33,5 bilhões em investimento, que é um montante muito grande, ou seja, para reverter o quadro de déficit de saneamento esse é o montante que tem de ser investido. O BNDES, então, propôs-se a responder não como privatizar a CEDAE, essa não é a discussão e acho que hoje já conseguimos passar essa mensagem para a sociedade carioca, ou seja, não estamos aqui falando de venda da companhia, mas o que o Banco se propôs a responder foi como assegurar o efetivo investimento do que precisa em um prazo adequado para se alcançar a universalização e reverter a situação que nós nos encontramos hoje, que são milhões de pessoas sem serviços de saneamento. O BNDES não respondeu à pergunta ‘como privatizar a CEDAE?’, então a CEDAE permanece existindo, cuidando da captação e do tratamento da água na Região Metropolitana do Rio de Janeiro com uma receita já inicial da ordem de 2 bilhões de reais. A pergunta que o Banco tentou responder foi como assegurar esse investimento, então o desenho proposto foi uma concessão de 4 (quatro) blocos que operarão em 64 (sessenta e quatro) municípios, que são os municípios onde a CEDAE hoje está presente. A divisão desses blocos atendeu a critérios de bacia hidrográfica, por exemplo, o caso do Município do Rio de Janeiro, que foi recortado e hoje respeita as soluções de esgoto; além de critérios geográficos e financeiros, em linha com o marco legal. É importante dizer isso e reforçar que existe um marco

Page 9:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

legal que foi aprovado pelo Congresso Nacional, de modo que o Projeto está 100% aderente a ele que prevê a regionalização dos serviços como foco principal, justamente para dar escala à prestação de serviço e não deixar ninguém para trás, atendendo a todo mundo, que é uma premissa desse Projeto. Ou seja, atender a todos os municípios, não apenas o município A ou o município B, que possa ser o município maior, o que está em linha com os critérios do marco legal, que prevê a constituição de blocos que, importante dizer porque o marco legal deixa isso claro, não precisam ser de municípios limítrofes, esse é um ponto importante. Portanto, este Projeto, ao definir esses blocos, primeiro, está atendendo o disposto na nova legislação, que é a regionalização onde há interesse comum, e onde não há interesse comum, voluntariamente, os municípios têm a decisão de aderir ou não. Portanto é importante ressaltar que os blocos atendendo a esses critérios, não apenas geográficos, mas também financeiros e de bacia hidrográfica, além de nenhuma dependência de recursos do tesouro do estado para investimento. Serão, portanto quatro blocos, acho que essa figura já está hoje bem conhecida de todo mundo, os quatro blocos estão coloridos (slide). Os concessionários produzirão e tratarão água em 51 municípios fora da Região Metropolitana, e cuidarão da distribuição, da coleta e do tratamento de esgoto, além de realizarem a remuneração e a gestão comercial de todos os 64 municípios. Quais são as premissas do estudo? Então, reitero: (i) não deixar ninguém de fora. Todos os municípios, mesmo o mais carente e deficitário, serão atendidos, assim como as áreas de comunidade. Então, quaisquer questionamentos de que deveria ser somente o município A ou somente o município B, corta a premissa, que acho que é a premissa que todo brasileiro deseja, que é atender todo mundo, inclusive os mais carentes. Esse foi o compromisso que o BNDES assumiu ao começar este Projeto e, ainda na administração passada, com a diretoria da CEDAE, nós fomos legítima e corretamente, pela diretoria da CEDAE, provocados de fazer um Projeto que atendesse a todo mundo. Essa é a premissa: atender a todos os municípios em linha com o marco legal. (ii) Definição de metas para todo mundo. A única forma de assegurar que todos os municípios serão atendidos é ter meta, cobrança e controle social para todo mundo. Isso está estabelecido, e é isso que fará avançar. (iii) Atenção especial de problemas históricos, investimentos a assegurar. Nunca se investiu em montante significativo nas áreas de comunidade, por exemplo, do Município do Rio de Janeiro. Então, este Projeto dá uma atenção especial a essas regiões, porque prevê um piso mínimo desse investimento. A antecipação de investimentos na Bacia do Guandu, com todos os municípios que jogam esgoto na Bacia do Guandu, com exceção de Nova Iguaçu, pela dificuldade prática, pois é um município muito grande, mas de todos os demais terão esses investimentos antecipados, assim como os investimentos da Baía de Guanabara e no entorno da Baía de Guanabara. (iv) Sem aumento tarifário acima da inflação por todo tempo da concessão. A manutenção da tarifa social é outra premissa, ou seja, respeitar a capacidade de pagamento da população, por isso será ampliada 0,54% do total de economias atendidas pela CEDAE para até 5%, sem impacto no equilíbrio econômico-financeiro. (v) Fiscalização e definição de indicadores de desempenho que, se não forem cumpridos, causarão prejuízos ao concessionário privado. Haverá uma diminuição da arrecadação se seus indicadores de qualidade da água, da qualidade do esgoto tratado, da cobertura de água, da cobertura de esgoto não forem observados. (vi) Atração de investidores: já temos muitos investidores interessados, internacionais e nacionais, que terão capacidade de investir. Só na partida de aporte de recursos que esses investidores terão de colocar na empresa que será criada estamos falando de mais de quatro bilhões de reais. Eles podem pagar mais do que isso, mas só o dinheiro que irá direto para concessionária e estará no balanço, só de partida, são quatro bilhões de reais nos primeiros anos. As metas estabelecidas aqui, e acho que essa tabela já é conhecida por muitos, então existem metas de 5, 8, 10, 12 anos de universalização para cada município, de acordo com a situação atual, além de existirem também metas de 5, 15, 18 ou 20 anos para o esgoto, de acordo com a sua situação atual. Como exemplo, a tabela mostra que Sapucaia tem 0% de esgoto, se olhar o terceiro ano de atendimento terá 8, 15, 23, 27, 32, e assim por diante. Essa tabela estará no contrato. Todo município tem avanços já nos primeiros anos da

Page 10:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

concessão. É uma tabela como essa que haverá para cada município e para cada cidadão poder cobrar o avanço e, se não houver avanço, verão penalidades. Comparação de investimento. Investimentos com recursos próprios da CEDAE feitos nos últimos anos foram 178 milhões de reais, 180 milhões de reais, em média nos últimos 10 anos. O balanço da CEDAE deste ano indica que foram investidos 24 milhões de reais, 25 milhões de reais no primeiro trimestre deste ano. Hoje, temos 178 milhões de reais nos últimos anos. Em média, serão 2 bilhões de reais pelos próximos 10 anos. Em média, a CEDAE teve 178 milhões com recursos próprios, e isso não quer dizer que não foram obtidos outros recursos de 2018 para trás. Nos primeiros 10 anos, serão investidos em média em torno de 2 bilhões, chegando ao pico de quase 3 bilhões de reais. Então, é um aumento significativo que, dificilmente, considerando a situação atual e olhando o histórico, essa curva seria atendida se não houvesse um novo modelo de negócio que preserva a CEDAE com o papel estratégico da captação de água e a produção de água. Tarifa, nós temos falado muito sobre isso. A tarifa é reajustada de acordo com os índices inflacionários. Se esses índices tivessem sido aplicados há três anos, a tarifa hoje seria 14% inferior àquela praticada pela CEDAE, logo é importante falar sobre as questões tarifárias. Quanto aos benefícios do Projeto, são vários: 33 bilhões de reais em investimento, entre os quais 2,6 bilhões serão aplicados nos primeiros cinco anos no entorno da Baía de Guanabara para melhorar a balneabilidade; aplicação de 2,9 bilhões de reais nos primeiros cinco anos somente na Bacia do Guandu, para resolver a questão da poluição da água, que hoje a CEDAE tem que captar, e inclusive há um custo de captação de tratamento de água muito grande, porque a água tem todo o esgoto lançado dos municípios que estão no entorno da Bacia do Guandu; no mínimo, assegurando o investimento de 1,8 bilhão de reais nas áreas de comunidade do Rio de Janeiro; geração de empregos, chegando em até 46 mil empregos na operação e na construção; outorga para os municípios em torno de oito bilhões de reais, somente de outorga variável, o que os municípios não têm hoje, logo terão uma fatia de cada arrecadação que for feita no município. Parte disso irá para o orçamento do município, que poderá aplicar, então isso também é muito bom para os municípios, sem falar na geração de negócios, de ISS que essas obras gerarão de movimentação na economia local; sem aumento de tarifa; manutenção da tarifa social e, aqui, faço referência ao estudo do Trata Brasil que o Edson mencionou, que traz os benefícios para o Projeto. Depois, há as metas de cada bloco, a ideia é não precisar passar, mas como eu falei, todo bloco tem metas. Então, em função do tempo interromperei o meu compartilhamento da apresentação, a ideia era apenas passar uma visão geral. Além disso, eu gostaria de passar algumas mensagens também sobre o que o Banco tem tentado fazer e atuado nos últimos dias, sempre com a ideia de dar maior transparência para o debate. Nós não temos nos furtado a participar de qualquer reunião que somos chamados e foram várias. Já tivemos duas Audiências Públicas, estamos na terceira. O BNDES também esteve presente na Audiência Pública na ALERJ e em vários debates. Nós também procuramos, proativamente, algumas instituições que têm se manifestado neste fórum, para tentar diminuir dúvidas e melhorar o Projeto, então tivemos, por exemplo, com uma instituição muito relevante no Brasil que é a ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitarista), associação de muito conhecimento técnico e que tem se feito presente em diversos momentos em temas de saneamento, como também tem sido atuante aqui também na Audiência Pública, então fizemos uma reunião específica com a ABES, que inclusive colocou pontos, do ponto de vista técnico, o que foi muito bom e ajudou. Ademais, essa semana nós estamos disponibilizando no site do estado do Rio de Janeiro, e permanecerá por um tempo, assim como no site do Banco, o material com mais detalhes da parte de engenharia, especialmente a parte de água. Procuramos, também, uma outra instituição que se fez presente, e que falou aqui, a Fiocruz. Tivemos uma conversa com a Fundação essa semana e nos colocamos à disposição para discutir os pontos, tentar diminuir as dúvidas que foram colocadas e acreditamos que teremos um espaço ainda para conversar. Da mesma forma, evidentemente, jamais fomos ausentes/omissos, temos feito diversas tratativas com o Ministério Públicos Estadual e o Ministério Público Federal que têm nos apresentado pleitos e, mais do que isso, um bom

Page 11:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

conhecimento profundo de algumas questões que nós também temos buscado endereçar no Projeto. Desse modo, como mensagem para ficar, digo que a abertura que este Projeto está tendo é grande, pois há disposição de ouvir a todos e, efetivamente, tentar fazer os ajustes que eventualmente forem necessários, mas com a convicção de que este Projeto é fundamental para levar saneamento para as pessoas. Já tivemos centenas de contribuições nesta Consulta Pública, centenas mesmo. Todas elas serão endereçadas, todas já estão sendo lidas, de tal forma que é um processo liderado pelo estado, assim como a Audiência Pública é conduzida pelo Estado do Rio de Janeiro, mas o Banco, estando presente aqui como contratado pelo estado, tem o dever de apresentar tecnicamente as soluções sem esquecer as várias conversas, e não foram uma nem duas, mas sim várias conversas que temos feito com a Fundação Rio-Águas, do Município do Rio de Janeiro. Explicando os pontos, acho que muitos deles, não sei se alguém falará, mas aqui, na Audiência Pública, diversos pontos originados dessas contribuições já foram endereçados ou estão sendo endereçados. É uma conversa técnica que acredito que chegaremos, como já chegamos e já apresentamos os números, como também já explicamos algumas visões que temos, por exemplo, na AP-4, quando coloca o índice, é dito que o nosso projeto tinha um índice de tratamento de esgoto de 70%, mas nós já explicamos algumas vezes e também já demonstramos que isso não é verdade, esse não é o número, outrossim, nós já chegamos a um denominador comum de valores de investimento previstos, tanto pela Rio-Águas, como pelo BNDES, na região da AP-4. Na região da Zona Sul do Rio de Janeiro, também estamos conversando, temos visões e expectativas que chegaremos, sem dúvida alguma, em um denominador comum. Então, é outra instituição que nós temos ouvido e trabalhado em algumas reuniões para tratar dessa questão. Então, apenas para mostrar algumas reuniões que estamos fazendo e nos colocamos à disposição dentro desta Audiência para tirar as dúvidas que surgirem. Obrigado, Presidente Arnaldo. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, honrado por sua manifestação, Dr. Guilherme Albuquerque. Seguimos com a exposição da Dr.ª Angélica Petian, advogada do escritório Vernalha Guimarães e Pereira Advogados. Com a palavra, a excelentíssima Dr.ª Angélica. Angélica Petian. Agradeço a todos. Eu agradeço ao Dr. Arnaldo e cumprimento a todos os participantes da Audiência virtual e todos aqueles que assistem e são a verdadeira razão da realização desta Audiência, que é colher as contribuições e as manifestações da sociedade civil e de todos os interessados. A partir da apresentação do BNDES, especialmente por se tratar da 3ª Audiência Pública, a modelagem jurídica do Projeto foi toda apresentada, de modo que ela parte da premissa de que se tratam de contratos de concessão e, portanto, nós estamos falando da delegação da prestação dos serviços para iniciativa privada. O que que nós temos de novidade entre o tempo da última audiência, que aconteceu no dia 6 de Julho, e a data de hoje? Tivermos a aprovação de uma Lei Federal que, como os doutores Marcelo e Guilherme fizeram menção, atualiza o Marco Legal do Saneamento Básico e traz algumas premissas que já estavam no nosso Projeto. Então, não obstante o Novo Marco Legal do Saneamento Básico seja superveniente à modelagem concebida e posta em Consulta Pública, duas principais premissas estão presentes nesse Projeto. A primeira diz respeito à prestação regionalizada, então, toda essa prestação, que prevê quatro blocos e, portanto, quatro contratos de concessão, obedece, como Guilherme expôs, a critérios das bacias; e a segunda premissa é a possibilidade de os municípios com maior arrecadação serem reunidos com municípios de menor para que nós possamos conseguir escala e ganhos econômicos, estão alinhados ao novo marco, o que será viabilizado pela contratação da iniciativa privada mediante contratos de concessão precedidos de licitação. O objetivo dessa lei é que, mediante um processo licitatório competitivo, o mercado seja chamado a apresentar as suas propostas e, portanto, que o Estado do Rio de Janeiro possa escolher aquelas que forem as melhores propostas, que agreguem mais valor à prestação de serviço e que tragam benefícios econômicos. Então, todos os documentos estão dispostos no site da Consulta Pública: a apresentação quanto à concepção jurídica do Projeto que levou à escolha do modelo de negócios pelo Estado do Rio de Janeiro e, posteriormente, à elaboração da minuta do Edital, do Contrato e todos os anexos que o compõem, de modo que todos

Page 12:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

já são de conhecimento público. Ademais, creio que todos os participantes tiveram a oportunidade de examinar esses documentos e, portanto, não tomarei mais tempo para que esse tempo fique à disposição para as perguntas. Fico, também, disponível durante toda a Consulta Pública. Doutor Arnaldo, obrigada pela palavra. Arnaldo Goldemberg. Honrado pela sua manifestação. Temos como encerradas as apresentações iniciais e exposições técnicas inaugurais, então, abro para as manifestações do público presente e atendendo a ordem de inscrição pelo prazo de 5 minutos para cada pessoa inscrita, esclarecendo que todas as contribuições serão recebidas e devidamente analisadas quanto ao seu eventual aproveitamento e o resultado será disponibilizado no sítio eletrônico da Consulta Pública. De acordo com a ordem de inscrição, eu divulgarei a primeira lista com os 10 primeiros inscritos: Miguel Alvarenga Fernández y Fernández; Tiago Mohamed Monteiro, Conselheiro-Presidente da Agenersa; Dr. André Dickstein; Sérgio Ricardo Verde Potiguara; Luiz Eduardo Martim; Dra. Suyá Quintslr, Adriana Sotero; Natasha Berendonk Handom; Ana Brito e Teófilo Monteiro. Esses são os 10 primeiros inscritos. Abro, agora, a manifestação para o Sr. Miguel Alvarenga Fernández y Fernández. Por favor, ative o seu vídeo e microfone. O senhor tem a palavra por 5 minutos. Indique a instituição ou a empresa a que pertence e o seu respectivo cargo. Miguel Alvarenga Fernández y Fernández. Olá, boa tarde. Estamos na terceira Audiência Pública e, conforme estamos caminhando nesse longo processo de 60 dias de discussão, acho que inúmeras questões foram sendo amadurecidas e novas informações foram expostas. O meu nome é Miguel Alvarenga Fernández y Fernández, eu sou Presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental da seção do Estado do Rio de Janeiro (ABES-RJ). Nesta terceira Audiência, eu quis trazer como tema as questões ligadas à parte econômica, com destaque à parte de tarifas, de modo que gostaria de destacar a importância desse ponto. A apresentação do BNDES apresenta um valor médio de tarifa que ficaria em torno de R$ 4,00 por metro cúbico de água, além de que discute a manutenção desse modelo hoje apresentado sob um reajuste da inflação, então a tarifa seria baseada nessas variáveis. Só que essa tarifa não é real e esse modelo tarifário está longe de ser justo, porque, hoje, nós estamos fechando um contrato, um modelo de concessão baseado nessa lógica que postergará por mais 35 anos esse modelo injusto. Vocês podem fazer o mesmo exercício e eu posso, depois, disponibilizar o link da planilha para os colegas que estão assistindo à Audiência. Darei exemplo: uma família de Nova Iguaçu que tenha prestação de água e esgoto e que tenha feito um adendo na casa, de modo que more ali o filho, com a esposa, os netos, cerca de oito pessoas na família, que consumam 200 litros por habitante/dia, pagará uma conta de quase R$ 1200,00 de água e esgoto sob o atual modelo tarifário; por outro lado, um casal de idosos que morem na Vieira Souto, a 50km de distância de onde é a fonte de água, pagará R$ 100,00 de água e esgoto, também consumindo 200 litros. Se fizermos a divisão, teremos R$ 24,00 por metro cúbico para a família de Nova Iguaçu, e R$ 9,00 por metro cúbico para o casal de idosos que mora na Vieira Souto, mesmo pagando a tarifa mínima e todas as regras hoje estabelecidas. Pegarei uma coisa mais absurda, que é o caso das tarifas de água comercial e industrial. Suponhamos que você seja um sapateiro em Bangu e tenha uma loja, e nessa loja quatro pessoas trabalhem nela, sendo o consumo baixo, aproximadamente, 25 litros por habitante/dia, porque você não tem na função do seu business o consumo de água, sua conta de água e esgoto será R$ 550,00/mês, ou seja, R$ 181,00 por metro cúbico. Se você tiver uma pequena cooperativa de costureiras em Bonsucesso, com dez costureiras consumindo 25 litros por habitante/dia, porque também não é a finalidade o consumo de água, a sua conta será mais de R$ 800,00/mês de água e esgoto, totalizando R$ 110,00 por metro cúbico. Então, o que eu quero mostrar é que o modelo de tarifa é completamente injusto e está postergando essa injustiça. Eu sei que não é o foco desse debate, mas ele é essencial na estrutura do modelo de concessão. Cabe uma discussão mais avançada com a AGENERSA, porque esse modelo de concessão está baseando sua modelagem econômica sobre esses valores e sobre essa lógica que não é módica, nem justa socialmente, nem economicamente, portanto é quase que indefensável. Para finalizar, eu quero colocar e o meu colega Guilherme já sabe de alguns dos meus

Page 13:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

posicionamentos, a questão da importância da transparência de dados econômicos neste processo, como por exemplo a taxa interna de retorno. Nós estamos debatendo um serviço que é monopólio estrutural sem risco, no qual pode haver uma pandemia que as pessoas continuarão consumindo água e pagando suas contas de esgoto. Então, a discussão sobre a taxa interna de retorno é uma discussão justa sobre a ótica política, e esse dado tem que ser debatido junto à sociedade, mas esse não está transparente no processo. Eu sei que temos opiniões diferentes, mas acho que tem que ser debatido sobre essa ótica, porque faz parte do processo político de transparência dessa questão. Então ficam esses meus dois pontos, depois disponibilizo a planilha no chat e finalizo por aqui. Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Conduzo à manifestação ao Dr. Guilherme Albuquerque. Guilherme Albuquerque. Com relação a essa questão da tarifa, já conversamos sobre isso com o Miguel, o Projeto de concessão não está inovando, então isso não é uma exclusividade do Rio de Janeiro, mas sim uma realidade do país como um todo, é o modelo tarifário utilizado em todo o país. Basicamente, é um modelo tarifário que prevê uma tarifa sobre o consumo, ou seja, quem consome mais água, compra mais o bem, logo paga mais por isso. É importante colocar a tarifa social presente, estando em regiões mais carentes, fazendo jus à tarifa social, pela qual a tarifa é menor. No limite, o que se tem é uma tarifa de consumo, não importa se o usuário vive na Vieira Souto ou em outra região mais pobre, não necessariamente pobre, mas numa região não tão cara, mas o que importa é o consumo, o quanto que se compra do bem, isso em um modelo em que se paga pelo que você consome; esse é o modelo presente em todo país, portanto não há uma inovação. Com relação à questão da taxa interna de retorno, primeiro, com todo respeito, eu discordo da afirmação de que não há risco, pois na verdade, acho que há muitos riscos, pois, do ponto de vista de matriz de risco, há uma série de riscos, que estão alocados para o concessionário, por exemplo: se o investimento tiver que ser muito superior; se houver qualquer tipo de redução do consumo per capta; a execução dos projetos e execução das obras. Então, na realidade, a matriz de riscos tem muitos riscos elencados para o concessionário. Claro, é um setor resiliente que está passando por essa infeliz tristeza da pandemia, mas não teve nenhuma companhia de água “quebrada”, nem em recuperação judicial, porque as pessoas precisam consumir água que é um bem de demanda elástica, ou seja, as pessoas consomem água, portanto se trata de um setor resiliente, nesse ponto de vista, mas há diversos outros riscos que o concessionário está assumindo. Isto posto, a discussão que se tem hoje são as discussões de premissa, dos inputs, dos custos, de receita, de investimentos, de modo que o modelo regulatório não é focado em taxa de retorno. Quantos problemas não se teve no país, isso já numa discussão mais técnica, em projetos que fixaram ou definiram taxas de retorno. Quando você fixa uma taxa de retorno, você tem sérios problemas, pois poderá ter de assegurar um tipo de retorno que o país não comporta mais. Imagina projetos feitos há dez ou quinze anos atrás, com o risco, o país em outra situação estaria demandando um retorno altíssimo, enquanto hoje o retorno sobre investimento já caiu, porque o país está caminhando para uma situação mais estável do ponto de vista econômico. Então, essa discussão de congelar taxa de retorno ou discutir, nós vemos com algumas restrições e, no momento oportuno, sem dúvida ela será discutida, sem a fixação da mesma, porque esse não é o modelo, pois é algo perigoso e, inclusive, pode levar a aumentos tarifários expressivos, por isso ele não é utilizado. Acredito que esse seja o fórum da discussão e que eu tenha conseguido cobrir todos os pontos da questão. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado Dr. Guilherme. Seguiremos com a manifestação do segundo inscrito, o Dr. Tiago Mohamed Monteiro, Conselheiro-Presidente da AGENERSA. Com a palavra, Dr. Thiago. Tiago Mohamed Monteiro. Boa tarde a todos, ao Dr. Arnaldo e a todos da mesa. Mais uma vez, a AGENERSA vem participar da Audiência Pública sobre o Plano de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro. Conforme nós já colocamos nas outras Audiências Públicas, desde o início, quando recebemos a documentação da Consulta, a Agência, de forma transparente, criou um grupo de trabalho que vem estudando amplamente toda a documentação enviada. Nós já temos estabelecido contato com o governo e estamos enviando as nossas dúvidas e respostas. Hoje, além de pontuar

Page 14:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

isso, colocaremos algumas questões que ainda não foram respondidas, então é possível que tenhamos a resposta hoje. A primeira questão é que nós estamos elaborando como contribuição a redação para a previsão da contabilidade regulatória pelas concessionárias, uma vez que é obrigação das concessionárias manter um sistema contábil que permita registrar e demonstrar, separadamente, os custos e as receitas de cada serviço por município. A modelagem já prevê a observância pela AGENERSA das normas de referência que venham ser editadas pela ANA, e nessas normas estão definidos critérios para contabilidade regulatória, conforme estabelecido pelo novo Marco Legal. Entretanto, enquanto não vier esses critérios, a AGENERSA entende que já deve existir, como já estabelecido por outras reguladoras, uma previsão dessa contabilidade regulatória como obrigação das concessionárias, que deverá ocorrer nos termos da regulação da Agência Reguladora. Portanto, essa questão é importante para avaliação do equilíbrio econômico-financeiro da concessão e é uma contribuição que nós vamos enviar junto com a documentação do relatório final do nosso grupo de trabalho. Outra questão é que a minuta de contrato prevê que, em caso de descumprimento contratual pelas concessionárias, serão aplicadas, por exemplo, a penalidade de advertência e a multa pelo estado. Hoje, diferente disso, as aplicações das penalidades por descumprimento contratual das concessionárias reguladas pela AGENERSA são realizadas pela própria agência reguladora, inclusive por disposição da Lei Estadual nº 4556/2005, que estabelece a atribuição de zelar pelo fiel cumprimento do contrato de concessão e aplicar consequentes sanções pelo descumprimento. A modelagem ressalva que ficará com a Agência a imposição de sanção por infração regulatória, no entanto, entendemos que não deve haver essa distinção entre infração contratual e infração regulatória, ficando a cargo da reguladora a imposição das sanções. A agência, inclusive, defenderá a destinação dos valores das multas aplicadas a conta reserva que está prevista no Anexo 11 do Contrato para que reverta em prol do abatimento da tarifa e da modicidade tarifária. Outra questão que nós queremos levantar é que já enviamos algumas dúvidas e entendemos que elas persistem com relação a algumas questões; por exemplo, não vislumbramos em toda a modelagem qualquer informação sobre a remuneração do capital da concessionária, então nós também queríamos, se possível, algum esclarecimento sobre isso. Por último, a cláusula 5.5 do Contrato minutado prevê o ingresso futuro nos blocos de novos municípios ao término dos contratos de concessão, que hoje possuem outros operadores. Com relação aos municípios pertencentes à Região Metropolitana, nós já recebemos uma explicação do Governo do estado, no entanto, com relação aos outros municípios, entendemos que isso geraria impacto regulatório futuro, na medida que não há, desde já, a apresentação dos Planos Municipais e de Negócios dos pretensos entes municipais que eventualmente, no futuro ingressarão neste modelo de prestação de serviço de água e esgotamento sanitário. Eu encerro aqui para não me alongar e relembro que nós encaminharemos toda a análise do Grupo de Trabalho ao final da Consulta e, se possível, gostaríamos desses esclarecimentos hoje, ou posteriormente por escrito. Obrigado. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Dr. Tiago. Passarei, inicialmente, para o Dr. Guilherme que, após, ele pode indicar se há necessidade de outro expositor complementar. Guilherme Albuquerque. Primeiro, é importante dizer que a decisão final é sempre da Agência Reguladora, do ponto de vista de gestão administrativa do contrato, sobre o que se entende do contrato ou divergências que, mas o interessante é que foi estabelecido que há consultores independentes, verificadores independentes dentro do modelo que já existe em todos os tipos de contrato de infraestrutura e que poderão ir a campo colher informações para decisão da Agência Reguladora. Sobre novos municípios, ele tem razão, vários municípios hoje não tem planos de saneamento, e acontece que, evidentemente, esse ponto foi endereçado ao Projeto e, como é de conhecimento de todos, encontram-se em Consulta Pública os Planos Municipais dos municípios e da Região Metropolitana, então é importante dizer que também não se tem hoje que é que os planos municipais/regionais de saneamento estarão refletindo as metas do contrato. O que se tem em muitos casos no Brasil inteiro são planos feitos com diversos problemas, na sua origem, “copia e cola” de vários planos, enfim uma série de problemas, mas, ainda tomando como premissa que há

Page 15:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

planos adequados, eles não conversam com o contrato de prestação do serviço, então eles acabam ficando defasados ou se mostrando irreais frente ao que tem sido executado pelo operador. Então, neste caso, foram definidos e elaborados planos municipais que estão de acordo com as metas previstas no contrato de concessão. Então, tem-se uma forma de assegurar que os planos serão efetivamente respeitados e executados, porque eles estão adequados com o contrato. Se o município desejar mudar esses planos, isso é um evento de reequilíbrio contratual, porque esses planos já estão estabelecidos. Sobre a adesão de futuros municípios, acho que cabe passar a palavra ao Dr. Marcelo Lopes que está coordenando esse trabalho de adesão futura dos municípios fora da Região Metropolitana. Sei que o governo do estado tem feito um grande trabalho junto a esses municípios, esclarecendo o Projeto para aqueles que ainda não aderiram. Marcelo Lopes. Eu acredito que o Presidente da AGENERSA tenha se referido aos futuros municípios que poderiam vir a aderir, independentemente dos atuais 64, que já temos em previsão. Nós deixamos, em tese, a possibilidade aberta para que outros municípios que venham a ter interesse de aderir ao Projeto no futuro, após a licitação, após o contrato ser assinado, ou seja, no curso da concessão, um outro município que possa ter interesse em aderir. E então deveria haver uma negociação com a concessionária e todos os demais municípios envolvidos, na verdade até no lote envolvido, para a aceitação da adesão desse novo município. Em relação aos demais, como todos já sabem, eu enviei uma carta para 32 prefeitos comunicando os benefícios da concessão e dando, mais de uma vez, a mensagem do interesse do estado que esses municípios adiram ao projeto e o integrem para que nós tenhamos um alcance maior nessa busca da urbanização na área projetada, basicamente isso. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Em seguida, passaremos a palavra para o Dr. André Dickstein, Promotor de Justiça do Meio Ambiente. André Dickstein. Muito boa tarde a todos e à todas. Quero cumprimentar os integrantes da mesa na pessoa do Presidente, Doutor Arnaldo Goldemberg. Eu sou André Dickstein, Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Esta é a nossa terceira Audiência Pública e, nas duas anteriores, nós pontuamos algumas questões que eu gostaria de relembrar. Então, falamos da importância do fortalecimento da transparência e da publicidade do processo de Consulta Pública; assim como sobre as condições de participação pública em ambiente virtual; tratamos, ainda, sobre a inversão do Devido Procedimento Legal de planejamento metropolitano e municipal de saneamento básico, já que a concessão pretende avançar sem o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado aprovado pela ALERJ, o PEDUI da Região Metropolitana; sinalizamos a falta de participação pública, em especial a falta de participação dos Comitês de Bacia Hidrográfica na elaboração dos estudos da Concremat. Ademais, abordamos a necessidade de que o critério de julgamento da licitação e que a outorga fixa sejam fatores de indução da universalização do saneamento básico no menor prazo possível, sobre tarifas o mais módicas possível e não um fator para fazer caixa para governos do estado e dos municípios envolvidos. Também pontuamos, nas Audiências anteriores, a gestão dos riscos da concessão e a necessidade de que a outorga sirva de garantia em favor do cidadão quanto ao cumprimento das metas contratuais sem o aumento da tarifa e sem a prorrogação de prazos, no caso de se aplicar a figura do reequilíbrio econômico-financeiro. Hoje, eu gostaria de abordar três pontos. O primeiro deles é sobre a AGENERSA: é preciso tirar a agência da precarização e da captura política. A Agência precisa de autonomia financeira e administrativa, para que possa realizar uma regulação adequada da concessão; de concurso público, para contratação de pessoal especializado; de um plano adequado de cargos e salários, para estancar a evasão de bons profissionais de seus quadros. A proposta de concessão da CEDAE nos coloca diante de uma agenda neoliberal, sem seguir, entretanto, a premissa básica e essencial do modelo que é, exatamente, a garantia de uma agência reguladora forte e independente, ou seja, não basta trazer para a concessão as figuras de um verificador independente e de um certificador independente enquanto se deixa a AGENERSA à míngua, como mera instância chanceladora sem a real capacidade de exercer uma real regulação de qualidade. O segundo ponto, é que é, absolutamente, essencial para o avanço da concessão a

Page 16:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

prévia, ou, quando muito, a concomitante implementação e efetiva operação de um Sistema de Informação Metropolitano Estadual de Saneamento Básico que seja radicalmente aberta e acessível ao cidadão, com link de acesso alocado na primeira página no site do Governo do estado, dos municípios, da AGENERSA, e dos concessionários. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, aliás, tem trabalhado nesse sentido e lançou o Painel do Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro, visando a transparência do setor para o fortalecimento da sua própria atuação e para fortalecer, também, o controle social sobre os direitos fundamentais articulados com o saneamento básico. A transparência do setor é algo absolutamente essencial e a sua promoção é dever constitucional do estado e dos municípios e, agora, também, da governança Metropolitana pelo Instituto Rio Metrópole. Terceiro e último ponto, na linha do item anterior, entendemos, também, absolutamente necessário um regime de contas abertas sobre os valores das outorgas. Os valores das outorgas devem ser absolutamente rastreáveis, queremos um chip nesses valores, por isso solicitamos a criação de uma fonte de recursos específica para a identificação da receita arrecadada no corrente exercício e da disponibilidade de caixa, ou seja, o estoque financeiro oriundo das outorgas fixa e variável. Também solicitamos que seja vinculado um percentual mínimo dessas receitas para Função de Governo 17, de Saneamento, a fim de assegurar que os valores das outorgas sejam, efetivamente, revertidos para o Saneamento Básico, e não para pagar viagem de helicóptero, estádio de futebol ou, agora, essa também, autódromo. Eram esses os três pontos que eu queria trazer aqui hoje consolidando, portanto, todos os pontos trazidos nas três Audiências Públicas, além de uma Audiência Pública convocada pela ALERJ e de um debate junto à ABES. É isso, agradeço muito a oportunidade, muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. André Dickstein. Com certeza, as suas considerações serão levadas na Consulta Pública, ao Projeto, pois são considerações bastante relevantes e tenho a convicção de que os pontos serão devidamente apreciados, de modo que não há, para mim, necessidade de resposta, a não ser que alguns dos expositores deseje apresentar alguma manifestação. Guilherme Albuquerque. Sobre a questão do controle social, gostaria de destacar que será instituído, conforme previsto na legislação, porque hoje não está presente um comitê de monitoramento das entidades de saneamento básico, sejam usuários ou organizações da sociedade civil ou de defesa do consumidor relacionadas ao saneamento básico para poder opinar e participar da avaliação dos serviços públicos. Na linha do que o Dr. André colocou, podemos avaliar algum tipo, algum painel com algumas informações, além daquelas que já são usualmente fornecidas, como os links. Com relação à AGENERSA, todos querem uma Agência Reguladora mais forte possível, nós temos trabalhado dentro do contrato para fortalecer ao máximo a regulação. Quanto aos demais pontos, como outorga, eu acredito que o banco não tenha nenhuma influência sobre destinação de outorga, é uma questão para o estado e os municípios que a receberão. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Guilherme. Pedirei um instante, porque passarei a palavra ao Dr. Augusto Werneck que tem algumas considerações a fazer. Augusto Werneck. Falarei apenas sobre a intervenção do Doutor André. Como é alvissareiro para nós ver essa coincidência que começa a haver entre as nossas posições e as posições do Ministério Público, do órgão de controle, porque afinal de contas, tudo que ali foi dito é alguma coisa que se já não foi assimilada é assimilável por nós. Eu queria inclusive registrar que o Dr. André tem uma dissertação de mestrado excelente sobre participação popular, o grau de mestre que ele obteve junto à universidade de Lisboa, e que nessa dissertação eu vejo inúmeras contribuições que nós podemos adotar como modelos futuros para processos e ritos de participação popular na vigência da concessão. Acho que é muito enriquecedor, muito interessante esse tipo de intervenção que foi feita aqui nos termos da que foi feita pelo Doutor André. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Werneck. Daremos andamento às manifestações abrindo à manifestação para o Sr. Sérgio Ricardo Verde Potiguara. Por favor, acione o seu vídeo e o seu microfone. Sérgio Ricardo Verde Potiguara. Boa tarde, quero saudar a todos aqui da Audiência Pública. Eu queria destacar cinco pontos. O primeiro é o caráter de ilegitimidade e ilegalidade desta Audiência Pública virtual que o

Page 17:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

movimento Baia Viva considera uma verdadeira fraude, pois, em primeiro lugar, estamos no meio de uma Pandemia que precisa ser vista em um contexto de uma grave crise ambiental e sanitária que a humanidade vive. Os dados de hoje aqui no Brasil já chegam a quase 95 mil óbitos, portanto vemos com bastante tristeza o Governo do estado, o Governo Federal, o BNDES e empresas tramando a mercantilização da água. Além da Pandemia, eu quero lembrar que nós estamos em um momento em que o atual Governador do estado passa por um processo de impeachment por corrupção na área da saúde durante a Pandemia. Neste estado, quatro ex-governadores foram presos, cinco dos seis conselheiros do Tribunal de Contas do Estado foram presos, cerca de um terço da Assembleia Legislativa do estado foi preso, de modo que é neste estado onde está ocorrendo esse processo acelerado. Eu quero destacar que o resultado disso será uma dilapidação do patrimônio público e da receita com a transferência desses recursos públicos para iniciativa privada e para bancos do sistema financeiro. É importante deixar muito claro que o Edital do BNDES é lesivo ao interesse da população fluminense brasileira, como também às finanças do estado, que está passando por um plano de ajuste fiscal. A CEDAE é uma empresa lucrativa, então o seu lucro social deveria ser reinvestido integralmente na ampliação do saneamento. O segundo ponto diz respeito à violação à constituição federal, aos princípios da transparência, da publicidade e, em especial, o da participação popular. Deixamos muito claro que a Câmara Metropolitana não tem legitimidade, uma vez que o Governador do estado, V.Ex.a. Witzel, deu um golpe no Conselho Consultivo, em setembro do ano passado, ao anular uma eleição legítima que ocorreu de representantes da sociedade civil. Já foi falado que nenhum processo pode seguir sem ter um plano estadual de saneamento, isso significa que há um processo obscuro em torno do planejamento metropolitano aqui do estado, portanto essa é mais uma causa da ilegalidade do que está acontecendo. Foi citada aqui a Região dos Lagos, eu queria que os senhores entrassem, por gentileza, nas redes sociais do movimento Baia Viva e vocês verão uma imagem lá que todo mundo me pergunta se é petróleo vazando na Lagoa de Araruama, mas não é, aquilo é esgoto não tratado pela empresa Prolagos e Consórcio Juturnaíba, que na década de 90, na privatização, prometeram investimentos bilionários que não saíram do papel, o que nós podemos ver é que a Lagoa de Araruama foi muito mais sacrificada. Poderia dar como exemplo também o município de Manaus, em Manaus a privatização permaneceu cerca de 20 anos e nós vivemos lá uma crise sanitária terrível, a pandemia mostrou isso, a quantidade de mortes. Podemos também dar como exemplo do fracasso da mercantilização da água e saneamento, o município vizinho aqui, São João de Meriti, onde a empresa que assumiu, no momento em que foi deparada na expansão do saneamento disse que não investiria, porque lá não dá lucro, não dá retorno financeiro. Quarto ponto, gostaria de pedir a gentileza, porque na primeira audiência pública um dos obstáculos à participação online, e que já foi destacado pelo Promotor, foi que a população já vivia uma exclusão digital e agora com a Pandemia isso piorou. Então, já finalizarei, eu apenas queria deixar claro quem são os donos do saneamento do Brasil, em mais de trezentas cidades onde foram privatizadas, os proprietários são os sistemas financeiros internacionais. Imagina se um banco internacional terá a intenção de investir em territórios de favelas, nas áreas rurais ou nas periferias urbanas que são classificadas pelo próprio de BNDES e pelo Governo do estado como áreas tecnicamente deficitárias e não lucrativas. Gostaria de deixar claro que o instrumento de solidariedade humana... Arnaldo Goldemberg. Sr. Sérgio, seu tempo seu tempo encerrou. Sérgio Ricardo Verde Potiguara. Eu gostaria de falar do subsídio cruzado, da tarifa social, que está fortemente ameaçada com a privatização, nós estamos no meio de uma pandemia jogando fora.... Lamento, isso não é democrático. Arnaldo Goldemberg. É o mesmo tempo para todos. Muito obrigado. Passo a palavra para o doutor Augusto Werneck para as considerações. Marcelo Lopes. Só queria fazer uma fala antes, porque foi abordada a questão do Conselho Consultivo. Na verdade, não houve nenhuma manobra do Governador nem nada, eu era Procurador-Geral do Estado na época, quando soube da realização dessa primeira nomeação e quando chegou a mim, até em uma reunião, acho que com Doutor Bernardo, fiz uma análise sobre a questão e constatei uma nulidade do caso, depois participei

Page 18:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

de uma reunião no próprio Conselho, fiz um parecer indicando a questão da nulidade e ela foi sanada. Então, não foi nenhuma manobra, como foi colocado aqui. Acho que, infelizmente, foram colocadas questões totalmente distorcidas, quero deixar claro que, infelizmente, esse tipo de discurso não contribui, nós temos aqui todo um trabalho, todo um empenho de horas e horas de trabalho, seja por parte do estado, seja por parte do BNDES, no sentido de buscar o aprimoramento do modelo, estamos buscando e temos todo o interesse, nada é perfeito, mas buscaremos ao máximo esse aprimoramento. Então, só para deixar claro que não houve nenhuma manobra e a anulação foi feita com base em um parecer meu e plenamente fundamentado. Arnaldo Goldemberg. Eu gostaria de acrescentar que o tempo é concedido de 5 minutos é concebido de forma simétrica para todos. Eu estou vendo aqui no chat algumas reclamações, dizendo que teria sido antidemocrático cortar a fala do Sr. Sérgio, mas, na verdade, se eu tivesse deixado que ele se manifestasse por 6, 7 minutos é que eu estaria sendo injusto e antidemocrático com os demais, a quem foi concedido os exatos cinco minutos. Desejando se manifestar novamente, poderá se reinscrever e entrar na fila, tal qual todos os demais fazem, isso é exercício pleno da democracia, é assim que exerce a democracia, cumprindo as regras que foram divulgadas tanto no abertura desta Audiência Pública e que também estão devidamente estampadas no site da Consulta Pública, é assim que se faz a democracia, é essa a forma de exercício da democracia e não querendo estender o tempo concedido. Eu sigo passando a palavra para o Dr. Augusto Werneck. Há outros inscritos para os quais nós também daremos o uso da palavra. Augusto Werneck. Para complementar o que disse o Secretário de Estado e Desenvolvimento Econômico, é necessário, em primeiro lugar, rememorar o procedimento adotado para este momento, que é a terceira Audiência Pública. Nós consideramos, porque estamos vivendo um momento inusitado na história da humanidade, que deveríamos exceder os requisitos legais de participação popular em matéria de concessão, então fomos não só a fazer a Consulta junto com a Audiência, como também fazer três audiências, antes de ser lançado o Edital. Isso significa o quê? Significa jogar com a boa-fé, exercê-la, para saber ao máximo tudo que a sociedade civil, tudo que a universidade, tudo que as organizações não-governamentais, tudo o que os técnicos, enfim, têm a informar acerca de universalização do saneamento, para que cheguemos a esse objetivo da melhor maneira possível. Então, é de se repudiar, absolutamente, a manifestação acerca de fraude, porque não houve fraude alguma, essa manifestação tem teor calunioso. As pessoas podem achar que é ilegal ou inconstitucional, podem ir ao Poder Judiciário, porque estão livres para fazer isso, como já foram inúmeras vezes e perderam, porque nós estamos fazendo um procedimento que é, absolutamente, democrático. Em segundo lugar, o procedimento é democrático e o objetivo também, porque de todos os serviços públicos prestados na Região Metropolitana, aquele que tem maior grau de precariedade é justamente o saneamento básico, a distribuição de água e a captação de esgoto, no interior também. Hoje, nós vimos aqui o nosso Professor Arildo Mendes falar e, quando vimos um homem do interior, negro e com toda a sua experiência dizer o que acontecia das pessoas com as suas latas, as pessoas com as suas canecas para conseguir um pouco de água em um lugar que não era servido, a mesma coisa que eu, ainda jovem, vi tantas valas negras e a maioria delas, não foi até hoje tapada. O que isso significa? Significa um serviço mal prestado que precisa ser questionado e criticado, porque ele atende mal à população e dentro dessa população está quem? Os mais pobres e humildes, aqueles que sofrem com racismo estrutural no Brasil. Então, essa realidade é a que nós estamos combatendo: pobreza, miséria, racismo, falta de prestação de serviços públicos e déficit de participação popular. As pessoas que são indignadas e estão contra isso são aquelas que são a favor de tudo isso que eu falei, que é manter tudo como está. Nós não, nós queremos mudar e é por isso que o nosso edital tem esse profundo sentido de mudança, falar em universalização do saneamento, talvez seja uma expressão subversiva, falar em saúde para todos, falar em bom equilíbrio ecológico para todos, é isso que vem com o ambiente, porque o saneamento é um direito que proporciona a fruição de outros direitos, que alavanca a fruição de outros direitos, e é contra

Page 19:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

esses direitos que pessoas como as que fizeram a pergunta estão. Então, nós temos que verificar de qual lado cada pessoa está e quem estiver do lado da maior parte da população tem que estar hoje a favor deste Projeto concessão. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Dr. Augusto Werneck. Seguindo com a nossa relação de inscritos, abriremos o microfone e o vídeo para o Sr. Luiz Eduardo Martin. Luis Eduardo Martin. Boa tarde. O meu nome é Luis Eduardo. Boa tarde a todos os participantes da Audiência. Gostaria de parabenizar pela realização da Audiência na figura do Dr. Arnaldo. Sou engenheiro civil e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, Engenheiro da Fundação Nacional de Saúde, estou aqui falando em meu nome, não no da Funasa, mas como membro de um grupo de Saneamento Ambiental e Saúde da ENSP, que tem como coordenadora a Doutora Adriana Sotero. A minha rápida explanação será com relação à questão da outorga da concessão. Primeiro, perdoem-me se já tiverem realizada essa correção, no item 36.2, é uma pequena alteração, mas que seria interessante: “a primeira parcela no valor de 60% da outorga fixa foi paga como condição para assinatura do contrato”, não deveria ser “será”? Eu acho que aqui caberia uma alteração nesse sentido. A nossa preocupação, como atividade de pesquisa junto ao pessoal da ENSP, é verificar as condicionantes do saneamento, não só a questão das medidas estruturais da execução de obra e a questão da viabilidade econômico-financeira dos prestadores de serviços, mas também observar questões dos condicionantes de saneamento, que é essa parte um pouco mal compreendida do vínculo entre o saneamento e a saúde, que fica muito no discurso, mas, na prática, nós vemos que ela nem sempre é muito bem compreendida e nem sempre é contemplada nos processos de discussão de saneamento, principalmente em uma situação dessa em que se está discutindo um contrato de concessão dessa amplitude. Então, dentro dessa lógica de saneamento nós temos uma preocupação da ausência dos comitês de bacia nesse estudo da Concremat, porque percebemos que deveria se ter garantido um estudo mais aprofundado, principalmente das zonas rurais nas quais sabemos que tem atividade de agroindústrias. A zona urbana e a zona rural se comunicam e elas têm um impacto muito grande com relação a questão ambiental, especificamente a questão na segurança da água, como garantir essa segurança da água, a questão da contaminação da água para consumo humano por agrotóxico e por insumos agrícolas, é uma preocupação nossa a ausência dessa discussão um pouco mais aprofundada na questão, não só da cobertura, mas também a questão da garantia da qualidade da água nesse processo decisório. Eu gostaria de encerrar aqui, foi uma observação que nós fizemos com relação ao pagamento da outorga mesmo, a questão econômica da remuneração do município pela concessão, na exploração econômica dos seus serviços de água e esgoto. A questão dos 3%, provavelmente, será repassada para tarifa, que é o usuário que acabará bancando e nós levamos aqui para Audiência uma reflexão que essa cobrança não encontraria qualquer fundamento técnico, jurídico e econômico em prol da sustentabilidade do serviço público concedido, porque estaríamos remunerando o Poder Concedente, que foi incapaz de prestar um serviço de saneamento e deficitário e que permanecerá no futuro necessitando também de subsidio cruzado para sua paridade. Outrossim, essa transferência indevida de recursos para o Poder Concedente gera maior necessidade de capitais e insegurança jurídica, além de penalizar, majoritariamente, os usuários do Município do Rio, que serão os verdadeiros garantidores de todo o processo de transferência da concessão. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Luis Eduardo. Eu peço para que o Dr. Guilherme se manifeste. Guilherme Albuquerque. Quanto ao ponto colocado sobre o item 36.2, eu não estou com o instrumento aqui, mas se está escrito, como o senhor colocou, então houve um erro material porque a outorga ainda não foi paga, de modo que isso será esclarecido. Sobre os comitês de bacia, algumas pessoas também colocaram no chat, evidentemente é um fórum de discussão relevante e entendemos, também, que esse é o momento dos comitês fazerem a avaliação. O Projeto foi feito dentro de um cronograma estabelecido que previa esse debate longo para a discussão dos planos, então, acho que é um momento em que esses comitês e que as pessoas técnicas poderão se manifestar. Uma coisa interessante que eu tenho visto nesse processo é que tem muita gente disposta a fornecer o

Page 20:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

seu HH, em prol de discutir, de fazer comentários, e isso é muito positivo, portanto podem ter certeza que, do ponto de vista do banco e da equipe dos consultores contratado, isso será, detalhadamente, discutido e, eventualmente, quaisquer dúvidas que surjam, por que não marcarmos conversas específicas? Com relação a outorga variável, isso é mais uma questão de conversas com o Governo do estado e com os municípios, há municípios que tem pedido até mais do que 3%, isso de fato é um desafio, temos que ponderar os dois lados, mas posso dizer que esses 3%, não terão um novo aumento tarifário, ele já está considerado na metodologia do cálculo. Acredito que seja essa a resposta. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Guilherme. Passamos para a Dra. Suyá Quintslr. Suyá Quintslr. Boa tarde. Muito obrigada, Arnaldo. Eu sou professora do IPPUR/UFRJ. Eu me inscrevi para falar sobre a questão do monopólio, que já causou aqui alguma polêmica onde se discutiu ser um monopólio sem risco ou não, e sobre as possibilidades de reajuste ou de revisão extraordinária do contrato, mas eu queria, antes, dedicar que alguns segundos da minha fala para reforçar que esse processo não é simétrico como foi colocado aqui pelo Dr. Augusto. Se nós estamos fazendo uma Audiência Pública, onde cada intervenção é limitada, depois a fala é passada para o palestrante da mesma responderem por tempo indeterminado, isso não tem nenhuma simetria. Então, seria simétrico se vocês, como o André Dickstein, se não me engano, também já tinha sugerido que vocês agrupassem pergunta semelhantes por bloco e passassem para os painelistas para que assim eles pudessem responder, mas não existe simetria neste processo, isso está claro, inclusive por ser uma Audiência Pública virtual. Então, eu queria colocar essa questão. Eu não estou defendendo que ninguém passe dos cinco minutos, eu acho que essa regra está clara, mas não existe simetria. Então, em primeiro lugar, falando sobre o monopólio, como nós já discutimos muito aqui em outras audiências públicas, os serviços de saneamento são sim monopólios territoriais, e sem risco da perspectiva que ninguém fique sem água. Ninguém ficará, de repente sem água, porque teve uma crise econômica, então as pessoas continuarão pagando água. A senhora Angélica ressaltou, corretamente, que o modelo busca um processo licitatório competitivo, mas é preciso ressaltar que a competição termina nesse ponto, porque não existe competição em um momento posterior à licitação, e também pelos próximos 35 anos, ou seja, imediatamente posterior, então pelos próximos 30 anos não haverá competição, isso está em português claro. Quem não gostar do serviço não poderá mudar de prestadores. Isso não é como telefonia celular, isso já foi dito várias vezes, não é serviço de banda larga, por exemplo: não gosto da Net, então migro para Vivo; se a Vivo aumentou, então migro para a Claro, isso não existe no saneamento. Na verdade, foi isso que aconteceu em diversas cidades que estão remunicipalizando o serviço, as pessoas não gostavam do serviço porque ele não era adequado, não chegou a universalização e as tarifas subiam, como em Buenos Aires. Houve diversos descumprimentos do contrato que levaram o governo à rescisão. Então, se você não tem serviço prestado adequadamente, não existe outra empresa que está prestando adequadamente, que eu cidadã do Rio de Janeiro ou alguém de qualquer outro município possa decidir trocar de operadora, isso é muito importante que fique claro. Em Buenos Aires foi preciso rescindir o contrato, porém esse processo de rescisão não ocorre sem custo para o ente público, então em Buenos Aires, por exemplo, a empresa processou o Governo. Então, o Governo paga a multa, de modo que há custos e é uma briga judicial bastante longa. Além de ser sem risco, porque ninguém fica sem água e é um monopólio, o risco está sendo completamente jogado para o lado do cidadão ou consumidor, como gostam de chamar. Na minuta do contrato, tem no item 34.4, se eu não me engano, 26 situações ou hipóteses, como é chamada, para revisões extraordinárias para o reequilíbrio econômico-financeiro. Do mesmo modo, também já foi colocado aqui, que o reequilíbrio econômico-financeiro se dá postergando as metas, ou seja, não será universalizado em 2033, ou subindo a tarifa ou reduzindo a tarifa social ou o BNDES emprestando mais dinheiro a juros baixos para o ente privado, o que poderia também fazer para a CEDAE. Então, dessas 26 situações, elencarei algumas que já citei, por exemplo, se a proporção de tarifa social ultrapassar 5% das economias ativas, poderá haver uma revisão extraordinária de contrato; se ocorrerem atrasos em

Page 21:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

obras decorrente do licenciamento ambiental, poderá haver revisão de contrato; se houver algum problema relacionado ao descumprimento de prazo ou outras obrigação contratuais relacionadas a elas, também pode haver a revisão de contrato. Além disso, como já foi colocado aqui por um representante da Agernesa, sem concurso a Agenersa não terá como agilizar esses processos, da mesma forma que o Inea não terá como agilizar também, mas os concursos públicos não serão autorizados em um momento de recuperação fiscal, então e a privatização da CEDAE faz parte desse processo. O Governo do Estado quer conceder os blocos da CEDAE para cumprir, poder renovar esse acordo de recuperação fiscal. Além disso, essas revisões, que levarão ao aumento de tarifas, também podem ocorrer no caso de passivos ambientais anteriores ao contrato, indisponibilidade de energia elétrica por questões de redução hídrica nos mananciais, ou seja se reduzir a quantidade de água não ocorre risco para o prestador, mas sim para o cidadão que terá a sua tarifa aumentada para que empresa não deixe de lucrar. É injusto, porque qualquer empresa privada precisa remeter dividendos aos seus acionistas, o que não é o caso de uma empresa pública, que pode, simplesmente, no momento de pandemia, como agora está fazendo, não cobrar a tarifa ou não proceder cortes de água em um momento que é necessário por uma questão de saúde pública e higiene para as pessoas terem acesso a água e para prevenir e evitar a disseminação. Obrigada. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, professora. Passo a palavra ao Guilherme Albuquerque ou o Mendonça. Guilherme Albuquerque. Primeiro, apenas ponderando, acho que o Professor Gesner Oliveira, creio que na segunda Audiência Pública, se não me engano, já fez alguns comentários com relação a essa questão recorrente da reestatização dos processos de saneamento no mundo, mostrando que, na verdade, em Paris não foi bem isso que aconteceu, senão o encerramento do contrato, pois, após o término do contrato, decidiu-se não fazer uma nova concessão. Nesse período da concessão de Paris, houve avanços muito importantes, processo de concessão. Ele também mencionou aquela questão de Buenos Aires especificamente que, de fato, houve a interrupção do contrato no meio pelo Governo de Buenos Aires, que não cumpriu com algumas das suas obrigações, em especial na época em que a paridade peso-dólar foi quebrada, então o contrato previa apenas algumas obrigações que o Estado não cumpriu e a questão foi parar em uma arbitragem. De fato, como a professora bem colocou, a concessionária ganhou e recebeu um valor importante, se não me engano foi 200 milhões de euros por quebra de contrato pelo Governo da Argentina. Na verdade, o que aconteceu ali, foram problemas na prestação de serviços pontuais e, principalmente, a interrupção, sem seguir regras contratuais, foi assim que a concessionária venceu. O professor Gesner, colocou também que na verdade esses números de reestatização não apontam para isso; na verdade, a maior parte foi o prazo contratual que foi expirado. Portanto, o estudo feito pela empresa dele mostrou que não era possível afirmar que há uma tendência global para a remunicipalização de serviços. Com relação à alocação de riscos, a professora também está correta, porque há diversos riscos, ela elencou alguns que estão alocados para o Poder Público, contudo diversos outros estão alocados para o concessionário privado, só na minha avaliação que ela mencionou alguns riscos, eu adiciono alguns outros que são exclusivamente do concessionário: a variação da demanda dos serviços, então, se a demanda de água que houver cair de uma forma significativa, portanto a receita não for a esperada, isso é um risco do concessionário/setor privado; a variação dos custos de operação e manutenção do sistema por qualquer motivo é risco do setor privado; a variação dos custos de mão de obra; os riscos geológicos e climáticos em relação à execução da obra também é risco do concessionário; toda aplicação de manutenção de licenças; a variação de taxas de câmbio; a falha nos projetos básicos e executivos de engenharia; o atraso na execução da obra, enfim diversos riscos são alocados para setor privado, então é um modelo comum de concessões, que tenta alocar o risco para parte que sabe que tem melhor capacidade de gerenciá-los. Gostaria, apenas, de fazer esse destaque técnico. Então, acho que o nosso ponto de vista temos um balanço adequado dessa matriz de riscos, que é a alocação de vários riscos da concessionária, não é uma operação livre de riscos, como também não seria se fosse o operador

Page 22:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

público no lugar, logo não é o fato de ser o operador público ou privado. Do ponto de vista do operador, é uma operação com riscos, pode haver danos nos sistemas e ocorrerem problemas, hipóteses nas quais ele terá que gastar dinheiro para resolver. Eram apenas esses comentários. Arnaldo Goldemberg. Abro o microfone para o Dr. Augusto Werneck. Augusto Werneck. Professora, eu tenho tanto prazer em ouvi-la e ler o seu trabalho no IPPUR, inclusive tenho grande respeito pelo IPPUR. Quero dizer que, talvez, ainda não esteja perfeitamente compreendida a importância deste procedimento que estamos vivendo, porque a realização de três audiências públicas seguidas é inédita. Provavelmente, você, professora, permita-me chamar assim, jamais participou de três audiências públicas seguidas sobre o mesmo tema, em tão pouco no espaço-tempo, e isso concomitante com a Consulta Pública. Por isso, nós estamos hoje vivendo uma nova experiência que eu acredito que será aperfeiçoada no futuro, como eu já disse aqui, nos mecanismos de participação que tem de haver depois para garantir a justiça nas tarifas, a implementação das metas, tudo isso. Eu acredito que hoje temos uma fórmula de controle social e participação que tem que acompanhar todo o processo de concessão, mas outro ponto é sobre esse momento agora, porque eu me lembrei de um verso do Leminski que dizia: “se não fosse tanto seria quase”. Nós temos uma proporção que é muito peculiar neste processo de perguntas e respostas, quando as pessoas perguntam, a resposta potencializa a pergunta, leva o tema da pergunta não só para satisfazer aquela pessoa que perguntou, que deve ficar muito mais satisfeita, na medida em que tem duas, três, quatro, cinco pessoas discutindo aquele tema, como, mais do que, leva o tema para centenas e milhares de pessoas que estarão ouvindo a nossa audiência pública, então não há assimetria, senão a aparente, porque essa aparência de que uma pessoa perguntou e cinco responderam, por exemplo, ela é devolvida, na medida em que cinco responderam aquela pergunta e 500 ouviram, que é o nosso objetivo que não é um diálogo de nós contra ele, um diálogo de A contra B, mas um esclarecimento excelente que se possa fazer em relação a todos os temas e, nesse sentido, a sua pergunta muito contribuiu. Então, é bom que nós possamos debater esses temas e pensar como é que deve ser a participação daqui para frente, como também pensar nas questões de equilíbrio econômico-financeiro, pensar nos problemas que nós possamos, eventualmente, corrigir ou adaptar no Edital. Portanto, eu agradeço muito a sua pergunta nesse sentido e dou essa resposta, dizendo que a simetria, às vezes, é aparente, porque uma formalidade nem sempre representa aquilo que ela parece, às vezes, representa muito mais e nós estamos conseguindo fazer com que diversas pessoas nos ouçam. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Augusto Werneck. Acrescento, também, que há certas perguntas são respondidas em um livro inteiro e a assimetria faz com que muitas vezes levemos mais respostas. Esse tipo de tempo de resposta contribui com a pergunta, como bem lembrado. Seguimos com a manifestação da senhora Adriana Sotero. Por favor, acione áudio e vídeo. Adriana Sotero. Boa tarde a todos. Eu sou a Dr. Adriana Sotero Martins, Pesquisadora Titular em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, da Escola Nacional de Saúde Pública e coordeno o Grupo de Pesquisa Saúde Ambiental e Saneamento. Nós, pesquisadores desse Grupo, analisamos os documentos disponibilizados e elaboramos um artigo e propostas que foram enviadas no dia 30/07, contudo não foram gerados números de protocolos, o que nos preocupa se essas propostas chegaram as suas finalidades. Dentro desse tempo limitado de 5 minutos que temos, volto a criticar as audiências públicas que estão acontecendo em momento de pandemia e por não termos na mesa, o direito do contraditório. A minha pergunta e fala nesse momento considera que muitos pontos precisam ser esclarecidos, visto que há informações insuficientes em muitos itens, e também devido à ausência de atores importantes, como representantes do Município do Rio de Janeiro, a participação social ampla na sua constituição e também por não ter sido disponibilizados, por exemplo, na Consulta Pública, a descrição da metodologia de divisão dos blocos. Do mesmo modo, os bairros da cidade do Rio de Janeiro se encontram distribuídos de modo a tornar os blocos viáveis quanto à remuneração dos serviços, mas como a adesão do município aos blocos é facultativa e não há informações suficientes no Projeto que

Page 23:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

garanta a viabilidade dos blocos no caso no Município do Rio de Janeiro não assinar o contrato e integrar os de blocos nessa forma da proposta. Levando em consideração os determinantes sociais da saúde, a Constituição Federal de 88, em seu artigo 196, diz que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção proteção e recuperação, e também em seu artigo 200, dentre os outros itens que estão descritos, no item 4 descreve: ao SUS, o Sistema Único de Saúde, compete, além de outras atribuições, nos termos da Lei, participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico. Dessa forma, as condições socioeconômicas, culturais e ambientais se relacionam com as condições de vida e de trabalho da população ou habitação ou serviços de saúde e educação e de trabalho, todos eles se relacionando nessa trama. Por isso mesmo, sabendo que os elementos que causam as doenças, por exemplo, somente os determinantes sociais que explicam o porquê de certas parcelas da população estarem mais susceptíveis do que outras, e também como o acesso a água e o saneamento é um direito humano fundamental, segundo a OMS, entendemos que como serviços essenciais, esse modelo deveria ter levado em consideração os indicadores de saúde, tanto na formulação, como na divisão dos blocos, assim como na avaliação das metas de universalização. Não há informações suficientes no Projeto que garantam a viabilidade dos blocos no caso do Município do Rio de Janeiro não assinar o contrato e integrar os de blocos nessa forma da proposta, essa hipótese precisa ser incluída e explicitada. É preciso que seja fornecido com clareza e detalhamento sobre como serão prestados os serviço nas regiões dos municípios, por exemplo, do Rio de Janeiro nas que a Cedae atua com outras empresas, assim como também acontece em alguns outros municípios. É importante destacar que a forma como o Projeto está constituído não nos representa. Detalhes da nossa proposta estão descritos em um artigo que tem um código de DOI 100001590, que eu depois colocarei no chat, intitulado “Distribuição em análise espacial dos municípios do Rio de Janeiro dos blocos regionais de concessão: a privatização da principal companhia de saneamento do estado”. Obrigada. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, dra. Adriana Sotero. Eu encaminho para o Dr. Guilherme Albuquerque. Guilherme Albuquerque. Eu tive um problema de conexão de internet e tive que sair e voltar, então confesso que não acompanhei a maior parte da fala da Dr. Adriana, então pedirei ao Dr. Guilherme Mendonça para responder. Arnaldo Goldemberg. Sobre a questão dos critérios da formação dos blocos, eu acho que é isso. Guilherme Albuquerque. Essa parte eu ouvi. Eu acho que há inúmeras informações nessa Consulta Pública, do ponto de vista econômico, dentro do site do Estado do Rio de Janeiro, pois há os planos de negócio, que detalham em um nível de informação que não é usual, posso lhes assegurar, os componentes econômicos e financeiros que justificam a formação dos blocos e, inclusive, dá as premissas do Projeto que foram consideradas do ponto de vista econômico-financeiro. Da mesma forma, há todos os projetos de engenharia que foram feitos e que balizam as estimativas de Capex. Do ponto de vista jurídico, acho que cabe uma correção no caso do Município do Rio de Janeiro como das demais áreas da Região Metropolitana, que fazem parte de um interesse comum, porque a decisão da entrada ou não no Projeto é facultativa, mas é da Região Metropolitana, onde há o interesse comum. É importante esclarecer que ainda que os municípios não estivessem em uma região de interesse comum, o marco legal é muito claro nos incentivos à regionalização dos serviços, de tal forma que qualquer município que faça parte de um local que tenha interesse local e não queira aderir ao bloco, um projeto feito não teria, por exemplo, recursos federais. O legislador optou por isso, justamente, porque a escala do saneamento importante, é ela que permite o saneamento chegue a mais pessoas. Então, respondendo, não há dúvida alguma quanto ao interesse comum nos municípios que compõem a Região Metropolitana e o Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre isso, mas supondo a hipótese que não houvesse, dificilmente, um projeto isolado de alguma parte de um município seria sustentável sem os créditos e sem os financiamentos de longo prazo oferecidos pelos recursos federais. Como a fala foi longa, não se alguém do Estado do Rio ou o

Page 24:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Guilherme Mendonça quer complementar, porque, de fato, eu não acompanhei, portanto peço desculpas, mas eu tive um problema de conexão com a internet. Guilherme Mendonça. Apenas gostaria de ressaltar a questão do Rio de Janeiro, como ele está dentro da Região Metropolitana, o âmbito de decisão é o Conselho Metropolitano, como ele mencionou a decisão do STF, então é dentro desse âmbito que há a decisão da participação da região ou não da Região Metropolitana e quais são os termos dessa participação. Então, o município sozinho não teria essa capacidade de decidir pela sua participação ou não, essa decisão tem que ser em conjunto/colegiada. Acho que é mais isso mesmo. Arnaldo Goldemberg. Eu acrescento uma indicação da Dr. Adriana Sotero quanto à participação do município, nós, na primeira Audiência Pública contamos com a participação do Procurador-Geral do Município que também foi convidado para as demais Audiências Públicas, mas não se fez presente. Portanto, gostaríamos da participação do Procurador-Geral do Município do Rio de Janeiro, contudo ele não compareceu. Seguimos com a participação da senhora Natasha Berendonk Handam, a quem convido a ativar microfone e vídeo. Natasha Berendonk Handam. Boa tarde. Eu sou a Natasha Berendonk Handam, sou Doutora em Saúde Pública e Meio Ambiente da Fiocruz e faço parte do Grupo de Pesquisa Saúde Ambiental e Saneamento, que é coordenado pela Adriana Sotero. No dia 30 de julho, também enviei propostas, mas não foram gerados números de protocolos, então peço que verifiquem, porque está ocorrendo erro no site, pois diversas pessoas estão tentando enviar propostas e não estão conseguindo, pelo visto. Eu falarei sobre alguns pontos. Na proposta de concessão da Cedae, foi identificado que há a descrição da evolução temporal das metas de atendimento global dos municípios, mas não há um detalhamento adequado de como ocorrerão as metas de universalização nas áreas descritas como irregulares, que são as favelas, também denominadas aglomerados subnormais, mas, especificamente, um Caderno de Encargo de Projeto que traz as diretrizes para as concessionárias propondo que as favelas que devem receber o serviço prioritariamente são as que possuem estrutura ou planejamento de urbanização, assim como maiores condições de segurança, dessa forma acaba que as favelas que mais precisam serão atendidas posteriormente, contudo deveria ser ao contrário. As favelas, em geral, não possuem o perfil esperado pelo Projeto para poder implementar o serviço de saneamento, o Governo precisa garantir o saneamento para essas áreas e não deixar essa responsabilidade para as empresas privadas que não fornecerão a garantia que isso será feito, portanto essa proposta não representa as populações mais pobres com condições de urbanização e segurança precárias, que são a maioria do Rio de Janeiro, 57,3%, logo não cumpre com o objetivo da universalização. A proposta de concessão da Cedae deve ser guiada, principalmente, pelos critérios de saúde pública, priorizando as áreas insalubres, para, assim, atender às pessoas que mais necessitam do serviço de saúde. Mesmo com a importância do saneamento para a saúde da população, o documento traz a saúde de forma insuficiente, de modo que não está sendo considerada como um dos objetivos do projeto de forma adequada. Além disso, quero ressaltar que, segundo os estudos feitos pelo grupo utilizando dados do SNIS e DATASUS sobre o saneamento e doenças do Rio de Janeiro, os nossos estudos mostraram que regiões com baixa cobertura de água e coleta de esgoto apresentam mais doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado e as favelas são as que possuem as maiores taxas de incidência no Rio de Janeiro, sendo as dos municípios que fazem parte do Bloco 1 da proposta as que apresentaram os piores dados de deficiência em saneamento e com taxas médias de doenças de 23 casos por 1000 habitantes, então seria o pior dentro da proposta, logo precisa de mais investimentos. Então, é isso, obrigada pela atenção. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Professora Natasha Berendonk Handam. Nós que agradecemos suas colaborações, então passo para o Dr. Guilherme Albuquerque para fazer alguns comentários. Guilherme Albuquerque. Sobre os comentários da Professora Natasha, concordamos com o diagnóstico de que as comunidades, de fato, estão com sérias deficiências, porque o nível de serviço lá é muito ruim, haja visto os números apresentados pela Dr. Natasha. Nós procuramos a Fiocruz e vamos conversar para tentar entender o ponto da saúde pública, porque os investimentos, justamente, são para assegurá-la e é interessante

Page 25:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

isso, porque a legislação, o Plano Nacional de Saneamento, coloca como meta de esgoto 90%. Então, primeiramente, o queríamos evitar é que os 10% que faltarem sejam 100% dessas áreas de comunidade. Segundo, como já foi falado aqui, o tal do reequilíbrio pela impossibilidade de entrar para fazer o serviço por questões de segurança, mas também por questões de problemas de urbanização, entre outras questões. Então, a solução encontrada que, ao nosso ver, atenderia da melhor forma possível foi a de destinar um valor mínimo, que é dezenas de vezes superior do que tem sido investido nessas áreas, mais de 1,8 bilhões de reais, o mínimo para ser investido, além de obrigações contratuais que asseguram que a prestação como está hoje precisa ser mantida, sob pena de multa e uma série de questões. Então, acredito que esse seja o primeiro ponto, de forma que levaremos investimentos de forma superior ao que tem sido feito nos últimos anos para obras específicas de saneamento, dando a flexibilidade que essas áreas de comunidade sejam aquelas que você tenha segurança para fazer e que o Poder Público esteja fazendo atividades de urbanização, da forma que seja possível trabalhar junto com o Poder Público da melhor forma de levar saneamento para essas pessoas. Então, da forma que essas áreas estão sendo tratadas, o nosso ponto de vista é adequado e até incomparável com a situação que tem hoje, que é a ausência de investimentos nessas regiões. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Guilherme Albuquerque. Sigo com a manifestação da senhora Ana Britto, que é a nona da primeira lista de 10. Antes do próximo se manifestar, farei a leitura dos 10 seguintes, portanto com a palavra a senhora Ana Britto. Seja bem-vinda. Por favor acione áudio e vídeo. Ana Britto. Boa tarde a todos. O meu nome é Ana Lúcia Brito, sou Professora da UFRJ, coordeno o Laboratório de Estudos de Águas Urbanas, que é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Urbanismo e tem pesquisadores do IPPUR também, como a Professora Suyá. Gostaria de lembrar que eu participei como consultora e acompanhei a elaboração da primeira versão do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), que foi coordenado pelo Professor Léo Heller e eu coordenei a equipe da UFRJ. Então, gostaria de lembrar que mesmo em situação de pandemia, já que foi comentado aqui que nunca tinham visto três audiências públicas, mas em relação ao saneamento, nós rodamos o Brasil inteiro e fizemos audiências públicas em vários estados e em todos os conselhos, então não é verdade que esse processo é o mais democrático possível, pois para quem estuda planejamento em saneamento sabe que em vários lugares acontecem outros modelos de audiência pública, planos municipais e outras discussões. Mas não é isso que eu queria falar, eu queria voltar um pouco ao tema das favelas e colocar algumas questões para o Doutor Guilherme, de modo a continuar a ideia desenvolvida pela minha colega aqui da Fiocruz. A primeira questão é sobre as sobre as metas de universalização nas favelas e os valores que estão estipulados. O Dr. Guilherme falou que há esses valores nos blocos, no caderno de encargos R$ 125.853 milhões, R$ 258 milhões, R$ 276 milhões, nos diferentes blocos do Rio de Janeiro. Como nós não temos - e eu trabalho com favelas muitos anos – o diagnóstico preciso do acesso aos serviços em favelas, e isso não existe, porque só se conhece o serviço em favelas quando se entra nas favelas, eu gostaria de saber como foram calculados esses valores. Em segundo lugar, há um pequeno problema no caderno de encargo, porque ele fala apenas favelas do Município do Rio de Janeiro, ora a Região Metropolitana tem inúmeras outras favelas, cito, a título de exemplo, o Morro do Salgueiro em São Gonçalo, do mesmo modo, há várias favelas em Duque de Caxias, que também são ocupações irregulares. Portanto, gostaria de saber como serão tratadas essas favelas que não são do Município do Rio de Janeiro. Outra coisa que está escrita no caderno é que a própria concessionária deverá alinhar com o estado e as agências reguladoras quais serão as áreas irregulares em que ele deve investir, de modo que, após esse alinhamento, a concessionária deverá elaborar um plano de ação. Bom, eu acho que há um equívoco aqui sobre quem define o plano de urbanização em favelas. Eu conheço a Lei da Região Metropolitana e entendo que o uso do solo da Região Metropolitana é uma competência compartilhada com o município que faz os planos diretores municipais, mas aqui nem aparece o município nessa questão, então eu acho há questões que realmente precisam ser revistas. Por outro lado, há a necessidade de priorização do

Page 26:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

esgotamento sanitário, agora, na pandemia, quem acompanhou as notícias sabe que a Rocinha ficou 10 dias sem água. Há um grande programa do Governo estado, Dr. Arnaldo está aqui e eu espero que esse programa continue na Rocinha, que é o “Programa Comunidade-Cidade”, pelo qual investimentos massivos em melhoria dos reservatórios de abastecimento de água. Quase todas as favelas sofrem com essa questão de intermitência do abastecimento de água, portanto como será tratada essa questão com relação as favelas? Com relação ao planejamento, eu acho que há uma questão importante a ser dita, porque a lógica do planejamento é parte do plano, e essa é a lógica do PLANSAB e de todos os planos, de modo que é elaborado um contrato de concessão ou outras formas de delegação, e existe um agente regulador que regulará esse contrato, então não é o contrato que orienta o plano, portanto, para quem estuda planejamento, existe um equívoco, acredito que isso foi falado pelo Dr. Guilherme. Quanto à participação na Audiência Pública, temos uma série de estudos em que são considerados os planos municipais de saneamento, que nem mencionam o plano de saneamento. Caxias virou Lei, nem é mencionado na bibliografia. Portanto, a Lei nº 14.026/2020 não exclui a participação social dos planos municipais de saneamento, nem dos estudos para a privatização, então gostaria de saber como isso foi feito, porque parece que esses estudos não dialogam com os planos municipais, pois nem aparecem na bibliografia. Essas são as questões que meu intuito, na realidade, é aperfeiçoar esse caderno de encargos e os documentos que estão aqui. Uma última questão é a da França. Eu morei e fiz meu doutorado lá e é completamente diferente. O modelo de contrato francês é um modelo denominado affermage, o investimento é feito pelo público, o concessionário apenas opera as redes. Só para ter uma noção, em 2010 a tarifa por metro cúbico era de 1,27 euros quando o de Paris assumiu, e agora é 1,7 euros. Então, o que aumentou a tarifa foi a parte de esgotamento sanitário que é feita por outra companhia. Assim, antes de falar do caso da França, deve-se estudar um pouco mais, há teses de doutorado sobre isso, e é melhor do que falar sem o devido conhecimento. Obrigada. Arnaldo Goldemberg. Dr. Guilherme, por favor. Guilherme Albuquerque. Em específico, sobre a questão de Paris, para a redução da tarifa não foi feita uma nova licitação para saber se a tarifa que foi reduzida ou seria reduzida ainda mais ou menos pelo setor privado. Temos vários exemplos de tarifas que, uma vez feito um investimento, após uma nova concessão, cai ainda mais, então dizer que hoje há uma tarifa menor do que era antes é preciso comparar com qual seria se tivesse ocorrido uma nova licitação. Ademais, há estudos, Professor Gesner apresentou, eu estou apenas repetindo os estudos feitos por ele, que, inclusive, mostraram subinvestimentos após feita a troca. Mas, em relação aos pontos específicos levantados, primeiramente, em relação às áreas de comunidade e às observações que considerei pertinentes, é importante deixar claro que o caderno de encargos já faz a compatibilização entre o Plano de Saneamento e o Poder Público, mas essa já é uma solicitação que foi feita em outros fóruns, portanto acredito que é possível deixar mais claro essa importância do alinhamento com o município, uma vez que, na maioria dos casos, o município é quem dita as regras em questões de políticas públicas sobre o tema; o Projeto do estado para a Rocinha é uma exceção. Então, acho que esse é um ponto de melhoria, como foi colocado pela professora, e que, de fato, agradecemos, porque será feito. Todas as áreas urbanas serão atendidas. Por que a questão do Município do Rio de Janeiro? Sem falar que é de onde sai a maior parte, é também aonde tem mais informações fornecidas com muito poucos dados, então, é difícil estimar, logo a pergunta de como foram feitos esses cálculos, foram feitos com benchmark, porque não há grandes estudos feitos, a Cedae não apresentou ao Município do Rio grandes projetos que pudessem ir para além disso, confirmando, na linha que foi colocado pela professora, que teria que se adentrar a comunidade com uma unidade para se verificar o projeto, mas isso nunca foi feito, então, como nunca foi feito, a ideia é dar flexibilidade, que neste projeto seja feito caso a caso, conforme foi definido pela concessionária, mas, principalmente, em conjunto com o Poder Público para dizer aonde haverá esses investimentos. Há um plano metropolitano que se sobrepõe aos municipais de modo que, com relação aos estudos, todos os planos foram considerados. Já vi que houve comentários, não na Audiência, mas na

Page 27:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Consulta que isso precisa ser corrigido, porque em algumas referências bibliográficas não mostram no material do plano, mas, reforço que todos os planos foram avaliados e, novamente, estou agradecendo os comentários, porque cabe esse esclarecimento. Acho que eu passei por todos os pontos, percebo o interesse da professora em ajudar no processo e suas notas feitas serão analisadas e peço que, se possível, coloque mais detalhadamente no site da Consulta Pública para que tenhamos mais informação. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Guilherme. Eu gostaria, neste momento, de pontuar que o próximo a falar será o senhor Teófilo Monteiro. Após, a lista dos 10 seguintes: Celso Cordeiro, Alexandre Pessoa Dias, Pedro Celestino, Caroline Rodrigues, João Marcos Silva, Fábio Souza, Licínio Rogério, Édes de Oliveira, Norberto Júnior e Humberto Lemos de Lemos. Eu pontuo, também que a realização da audiência por vídeo conferência é um modelo que alcança muito mais pessoas que propriamente a audiência presencial. A primeira Audiência Pública alcançou mais de 700 pessoas, a segunda, quase 600 pessoas, e se fossem presenciais não haveria ambiente físico que comportassem tamanho número de pessoas. Esta Audiência Pública já conta com um grande número de pessoas assistindo, tanto pelo Webinar, como pelo Youtube, então o alcance desta Audiência é realmente grandioso. Temos parâmetros, como a Resolução 822/2020 do MP que institui a vídeoconferência como meio de realização de audiências públicas, de modo que são esses padrões que estamos adotando. Há uma recente manifestação publicada no Conjur com opinião jurídica indicando esse modelo como modelo de audiência pública. Ainda, é importante deixar claro que hoje contabilizamos 227 milhões de aparelhos celulares, também uma enorme quantidade de computadores ligados a internet no país, mostrando que a sociedade brasileira está conectada, de modo que o alcance e a possibilidade de participação na audiência pública virtual por tais meios apresenta uma amplitude de participação nunca antes vista em um ambiente presencial, de modo que não há prejuízo à publicidade, ao acesso à informação e à participação popular que estão plenamente garantidos neste meio de realização, embora estarmos vivendo um momento de pandemia, um momento de flexibilização do isolamento social, mas ainda com medidas de contenção, de modo que a realização da Audiência Pública pelo sistema de videoconferência é um meio de alcance maior do que se fosse realizada em um ambiente presencial, onde haveria limitações de espaço em auditório, enquanto que, aqui, as oportunidades para se manifestar são ainda maiores do que a forma presencial. Essas são as considerações quanto às eventuais críticas à realização da audiência virtual. Então, temos como próximo inscrito o senhor Teófilo Monteiro, a quem abro a palavra, como também peço que acione o vídeo e áudio. Teófilo Monteiro. Boa tarde. Obrigado pela oportunidade de participar desta Audiência com tema tão relevante para o estado e para o modelo nacional que se aproxima. Eu tive interesse em discutir um pouco e apresentar algumas indicações sobre os indicadores. Nos últimos 20, trabalhei na OMS fazendo o monitoramento desses indicadores para a região e, atualmente, voltei para trabalhar aqui na Fiocruz e na UERJ, então, as minhas considerações são sobre os componentes dos indicadores. Portanto, eu fiz uma consideração, os indicadores para o monitoramento da concessionário quanto ao cumprimento das metas de universalização que utiliza o índice de atendimento urbano pela agua e o índice de atendimento urbano pelo esgoto, o que relaciona esses percentuais: quantidade de economias factíveis de ligação, respectivamente, para água e esgoto, dividido pela quantidade de economias residenciais urbanas totais. Entretanto, esse monitoramento, através de indicadores, não será adotado, pelo que eu entendi, nas áreas irregulares do Município do Rio de Janeiro. Para essas áreas foram definidos montantes de investimento fixo, sem levar em conta esses números de economias contemplados, porque, nesse Edital, não dizia que tal comunidade receberia aquele valor, porque teria tantas economias, tantas pessoas morando nessas regiões. Os documentos também não fazem referência às áreas irregulares existentes nos outros municípios definidos nos Blocos 1-4, como também foi comentado anteriormente sobre essa característica. A omissão dessas populações, seja nas áreas urbanas do Município do Rio de Janeiro ou nos outros municípios, no denominador dos indicadores não contribuem nem um pouco com o objeto principal dessa concessão, que é a

Page 28:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

universalidade e também a questão dos Direitos Humanos, em razão do acesso à água e ao esgotamento sanitário, conforme se faz nesse conjunto de monitoramento que eu mencionei que trabalhei há pouco tempo, o monitoramento conjunto da Organização Mundial de Saúde com a Unicef. Com isso, eu tenho quatro perguntas para vocês e gostaria de esclarecimentos porque acho que isso é importante pelo fato de que o edital pode melhorar quando essas características estiverem contempladas. Os investimentos para as áreas irregulares do município são definidos no caderno de encargos, conforme essas definições de valores que não lembraram, ou pelo menos não consideraram, dessas populações, conforme está hoje definido. Esses valores seriam suficientes para atender os critérios dos indicadores de universalização da concessão e “IAA” e a “IAE”? Segunda pergunta: seria possível monitorar o avanço desses indicadores e a “IAA” e a “IAE” das populações que vivem nas comunidades localizadas em áreas de favelas e aglomerados subnormais? Para o caso das populações que vivem em comunidades de favelas e aglomerados subnormais e outros municípios de outros blocos de 1 a 4, quais seriam os critérios para investimento e monitoramento desses indicadores? Essa é a terceira pergunta. A quarta pergunta: o que significa quantidade de economias residenciais factíveis de ligação? Essas são as minhas perguntas, e nós estamos tratando de um processo de privatização, portanto eu gostaria de ressaltar a observação que o senhor André Dickstein fez sobre a importância de se fortalecer não só na agência reguladora Agenersa, mas também ao Instituto Ambiental aqui do Rio de Janeiro, que antigamente se chamava FEEMA, mas agora tem outro nome, mas, enfim, é também importante que eles estejam fortalecidos, porque caso contrário não se dará vencimento às demandas desse processo. Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, senhor Teófilo Monteiro. O senhor usou os seus exatos 5 minutos. Passarei para o Dr. Guilherme Albuquerque. Guilherme Albuquerque. Farei uma introdução, depois eu passo para o Guilherme Mendonça, e acho que essa última pergunta o Gustavo pode responder. Primeiramente, esclarecendo um ponto, que é o que se deve fazer com essas regiões/áreas. Como já mencionei, um dos itens que temos conversado com a Rio-Águas é que ela também apontou, na minha visão, de maneira correta, o fato de que há comunidades que já estão urbanizadas e que já possuem um serviço prestado, de modo que seria plenamente possível incluí-las dentro da meta como uma área de estrutura normal. Então, acho que esse é um trabalho que faremos e estamos aguardando, talvez já tenham até fornecido as informações, mas tendo áreas urbanizadas e que consigamos entrar e prestar o serviço dentro da meta seria uma boa medida sugerida, portanto estamos trabalhando nessa direção no Município do Rio de Janeiro. Outro ponto para esclarecer é que não teria ficado claro no Edital, acredito que uma minoria também, que não é possível fazer o investimento em áreas de proteção ambiental, por exemplo. Em resumo, são necessários esclarecimentos quanto às áreas urbanizadas que serão incluídas e à exclusão das áreas onde não é para fazer investimento, por exemplo, as áreas de proteção ambiental. Em relação às economias elegíveis, deixarei para o Gustavo e o Guilherme, se tiverem algo a acrescentar. Guilherme Mendonça. Só um esclarecimento de que temos conversado bastante com vários agentes sobre a questão do atendimento nas áreas irregulares e a visão que temos, hoje, é a de, realmente, aprofundar esse tratamento no caderno de encargos, assim como as regras. Obviamente qualquer sugestão que chegue para esse aprofundamento, via Consulta Pública, nós avaliaremos e consideraremos, pois estamos analisando esse aperfeiçoamento, mas a ideia é organizar um pouco da forma como o Guilherme já mencionou. Primeiro, essa grande divisão entre o que seriam áreas elegíveis e áreas não elegíveis; nessas áreas não elegíveis é aonde não é possível o investimento, seja porque é uma área de proteção ambiental, seja porque não é mesmo possível executar um investimento ali, porque ela é classificada pela própria Prefeitura como não elegível, e dentro dessas áreas elegíveis também há a diferenciação entre áreas urbanizadas e áreas não urbanizadas. Então, as áreas irregulares urbanizadas seriam incorporadas às metas, nós colocaríamos essas dentro dos indicadores de atendimento, e o que não seria considerado dentro da meta seriam essas áreas não urbanizadas, devido à inviabilidade de você considerar isso naquele momento na meta, mas essas

Page 29:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

áreas elegíveis não urbanizadas é que seriam objeto desse investimento previsto de forma diferenciada no caderno de encargos. Então, essa seria a lógica que temos pensado para aprofundar esse mecanismo de investimento nessas regiões e, como o Guilherme mencionou, esse é o mecanismo que, a princípio, foi desenhado para todo o Município do Rio de Janeiro, levando em conta as especificidades e as informações que tínhamos do Rio de Janeiro, já no restante não quer dizer que essas áreas não seriam atendidas, porque a meta é investir em todas as áreas urbanas e áreas irregulares não são consideradas não urbanas, elas são urbanas, portanto continua havendo a obrigação de se investir em áreas irregulares em todos os outros municípios, a diferença é que não há uma regra específica, como há para o Município do Rio de Janeiro, neste primeiro momento. Gustavo, passo para você só para tratar dessa questão da economia elegível. Gustavo Prado. É factível. Talvez, até para evitar algum nível de confusão, poderíamos trocar o nome do indicador. Ligação factível é aquela ligação da residência que é servida por infraestrutura, mas ainda não está conectada por algum motivo. Então, talvez, se mudarmos para “índice de cobertura de infraestrutura” ficará mais claro, porque é comum em um meio fazermos distinção entre cobertura e atendimento. Cobertura é quando há a infraestrutura disponível na porta de sua casa, e o atendimento é quando você se liga a essa infraestrutura, então o número de ligações factíveis seria isso: as residências que possuem a infraestrutura disponível para ligação e que eventualmente não foram ligadas. Acho que o que vocês colocaram é bastante importante, um ponto importante para definição do cálculo do indicador de acompanhamento do contrato é a definição do denominador que é o número total de ligações. Então, se possível, nós nos expurgamos desse número total de ligações, aquelas ligações ou aqueles domicílios ou aquelas economias que ficam em áreas de proteção ou que são inviáveis por algum motivo, facilitariam bastante depois o controle pela agência reguladora. Além disso, para que o índice total de universalização dos 90% seja atendido, necessariamente, o concessionário terá que investir em áreas irregulares para cumprir, dado o tamanho e a relevância das áreas irregulares nas cidades, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, para que se atinja a meta de universalização, então não há como fugir, terá que haver investimentos em áreas irregulares. Mas, certamente, acho que definir melhor o denominador do indicador seria interessante. Arnaldo Goldemberg. Minha atenção à indicação da Professora Ana Britto, sobre a questão do site, na qual a professora indicou que mandou manifestações e teria havido problemas com o protocolo. Nós solicitamos ao PRODERJ que fizesse testes no protocolo, os quais foram feitos e, segundo me foi informado, o protocolo está funcionando, já foram feitos vários desde o início da abertura da Consulta Pública, e não retornou qualquer problema, mas, de qualquer forma, o PRODERJ disponibiliza o e-mail audiê[email protected], havendo qualquer problema, por gentileza, remeta um e-mail e indique na mensagem exatamente qual é a indicação de problema, o retorno e a dificuldade, que o PRODERJ entrará em contato para tentar auxiliar. Seguiremos em direção, agora, da segunda lista, abrindo a manifestação para o senhor Celso Cordeiro. Por favor, habilite áudio e vídeo. Celso Cordeiro. Olá a todos. Mais uma vez, estamos discutindo a questão do saneamento básico. Com certeza, quando a transferência do estado para o município aqui do Rio de Janeiro para AP-5, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, houve muitos debates de que, com certeza, levaria “ao melhor dos mundos”. A questão que haverá tratamento de efluentes sanitários, questão do meio ambiente, enfim o que eu quero trazer para os senhores e gostaria que se manifestassem, principalmente os senhores Guilherme e Marcelo, nós temos um Recurso Repetitivo, e o Doutor Arnaldo conhece bem, que disse que tão somente o serviço de esgotamento sanitário seja constituído por um complexo de etapas autônomas, uma vez autônoma, basta estar presente uma delas para autorizar a cobrança, porque são autônomas na respectiva tarifa. Contudo, de forma muito estranha, surgiu um entendimento, e parece que o Dr. Arnaldo disse que os contratos tem que se curvar diante desse entendimento do STJ e eu o desafio me mostrar no Recurso Repetitivo aonde isso foi dito o seguinte: a concessionária teria o direito de oferecer as quatro etapas, cobrar pelas quatro etapas, depois ter obrigação de prestar somente uma. Então, essa questão da modicidade da tarifa, parece-me até que

Page 30:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

ficaria desfavorável à população, porque ela estará sendo obrigada a pagar pelas quatro, mas, depois, ter o direito de receber somente uma delas. No Recurso Repetitivo, há o seguinte trecho: aquelas etapas que foram prestadas representam um dispêndio do Poder Público deverão ser ressarcidas. Parece-me que etapas não prestadas não representam o dispêndio ao Poder Público de forma a ser ressarcido. A população, se vocês levarem esse modelo que foi implantado na Zona Oeste do Rio de Janeiro para outras regiões, porque já foi dito aqui que, nesta Audiência Pública, para nós participantes não há qualquer poder decisório, estamos apenas fazendo números para os senhores, que depois dirão que ocorreramm 3 audiências públicas, porém os manifestantes estão aqui meramente para demonstrar seu inconformismo. Então, senhores, apenas esclareçam para a população das outras regiões, como é que, efetivamente, vocês tratarão, com relação ao recurso repetitivo 1339313. Existe o efeito e causa, a causa é a degradação do Meio Ambiente, levando a morte e prejuízo à saúde para a população, uma vez que quando o esgoto for despejado em galerias pluviais com sistema aberto, leva a doenças e mortes. Então, é necessário debater sobre a segurança jurídica dos contratos, que aquilo que está contratualmente determinado, que a prestação integral de todas as etapas, só obriga a concessionária a prestar uma etapa, portanto recebendo os valores da prestação não prestada, é esse o modelo que levarão para a população? Isso precisa estar muito claro. O Dr. Marcelo Lopes já mencionou a questão do Meio Ambiente, da Saúde Pública, enfim, de forma bem clara, nos esclareça se esse recurso do STJ 1339313 será observado da forma que estão dizendo, que pode oferecer as 4 etapas, mas somente com obrigação de prestar uma. Obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, senhor Celso Cordeiro. Eu quero só informar que, na posição de Presidente da Audiência Pública, tenho o dever jurídico de manter a posição de isenção e a minha manifestação aqui não pode ter caráter de opinião nem de posicionamento, de modo que eu conheço o tema e tenho as minhas manifestações jurídicas na minha atuação como Defensor Público na Câmara Cível na qual tenho acento como Titular na Classe Especial da Defensoria pública, de modo que esse é um tema que conheço por ter atuação jurídica, mas não posso trazer para aqui a minha posição jurídica. Eu passarei a palavra para o Doutor Augusto Werneck para trazer colocações sobre a sua manifestação. Augusto Werneck. Presidente Arnaldo, eu agradecerei aqui por ter me dado a palavra, mas direi ao Celso que a questão dele é pontual e que se refere a uma lide que está sendo especificamente travada e que, hoje, a decisão do Superior Tribunal de Justiça não acode a tese que ele sustenta, uma vez que o STJ tem se manifestado em sentido contrário. No mais, não visualizo como possa ser fundamental para o que nós estamos discutindo agora, que é o Projeto elaborado pelo BNDES que está sendo verificado pela Procuradoria-Geral do Estado e, por isso, nós estamos aqui observando e tomando a melhor nota de todas as manifestações para que possamos agregar ao Projeto as diversas boas sugestões que foram levantadas, mas eu queria obter, depois, eu tenho certeza que o Celso há de se inscrever outra vez, uma melhor definição do objeto da pergunta dele, em que os Recursos Repetitivos afetarão o objeto de uma futura concessão e se há algum tipo de estratégia que ele verifique, de manifestação que ele pretenda ou de demanda que possa ser resolvida por nós, esses atores que estão hoje aqui presentes, e que possa ser resolvida no contexto da concessão. É isso, Arnaldo. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Augusto Werneck. Passamos para o próximo escrito, o senhor Alexandre Pessoa Dias. Bem-vindo. Alexandre Pessoa Dias. Boa tarde a todos e todas. Eu me chamo Alexandre Pessoa, sou engenheiro civil sanitarista e faço parte do Grupo de Trabalho Água e Saneamento da Fundação Oswaldo Cruz que compreende pesquisadores e especialistas da área de saneamento de vários estados do Brasil. Inicialmente, eu gostaria de informar que nós protocolamos um documento da Fundação Oswaldo Cruz que teve a participação de especialistas da Fundação e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esse documento foi protocolado junto ao BNDES e ao Governo do estado, está intitulado “Análise dos potenciais impactos à saúde e aos Direitos Humanos diante do edital”, e depois o nome extenso do Edital. É um documento de 40 páginas que, na verdade, faz uma análise crítica, não somente dos produtos que compõem o edital e

Page 31:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

o projeto, porque, sem dúvida, temos que fazer uma crítica ao processo. Veja, não podemos desconsiderar que estamos numa Pandemia e esse processo se iniciou em plena emergência de saúde pública de importância nacional e internacional. O segundo aspecto, que já foi colocado por diversos senhores, inclusive o próprio Ministério Público, é o fator limitante de uma Audiência Pública somente virtual. Então, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e lacunas aos documentos foram devidamente expressas pela UFRJ, pela ABES, pelos Comitês de Bacia, pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, pela Rio Águas, importante contribuição da Rio-Águas, agora pela Fundação Oswaldo Cruz, que o nosso documento será oportunamente disponibilizado, perceba. Eu fico me perguntando como essas considerações serão contempladas, não é questão de dúvida apenas, pois há diferenças de concepção, não é somente uma questão de esclarecimento, o setor de saneamento tem que esclarecer também ao BNDES. Os nossos espaços vêm de longe, saneamento está no código genético da Fundação Oswaldo Cruz, então acredito que seja um momento de diálogo sobre isso. A minha pergunta é: quando acabar a Consulta Pública, as diversas questões que foram colocadas podem gerar uma mudança substantiva do processo? Não caberia uma nova consulta, uma nova audiência? Por isso é que o documento da Fundação faz uma solicitação de prorrogação da Consulta Pública, exatamente, porque entendemos que existem lacunas substantivas. O elemento central do argumento que eu coloco, que já foi citado por alguns, é o critério da rentabilidade em relação ao critério da Saúde Pública, e obviamente, enquanto uma Instituição de Saúde, reforçarei o critério da Saúde Pública. Quando o caderno de encargos, a partir do que a Natasha falou, coloca como prioritário requisito de urbanização e de condições de segurança, na perspectiva dos Direitos Humanos, essa definição compromete os princípios dos Direitos Humanos, portanto a nossa sugestão é que seja suprimido esse critério, pois ele não pode ser um critério apriorístico, esse não é um critério de saúde pública, o que é um critério de saúde pública é o inverso, exatamente as áreas sem urbanização e que têm problemas de segurança devem ser prioritárias, porque essa é uma dívida histórica do estado. Eu queria falar da captação de tempo seco. O Professor Arildo, que está na mesa e eu acho que seria até oportuno ele falar, falou dos problemas que existem na captação de tempo seco da Região dos Lagos, e não foram poucos, então não é uma questão de apenas lacunas e dúvidas. A UFRJ colocou um conjunto enorme de dúvidas, mas a nossa posição é contrária à concepção básica de coleta de tempo seco, porque ela traz uma maior insegurança sanitária ambiental, e isso já foi devidamente comprovado na Região dos Lagos e na Zona Sul, pela própria Prefeitura da Cidade, mas isso não tem base normativa. Eu finalizo defendendo a Engenharia Sanitária Ambiental, seus princípios, os princípios da Saúde Pública. Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Dr. Guilherme, por favor. Guilherme Albuquerque. Obrigado. Nesta semana, eu estive com o professor Alexandre e os demais integrantes da Fiocruz em uma reunião que o BNDES pediu. Pessoalmente, eu recebi essa nota ontem, quase meia-noite, evidentemente, não tive tempo para fazer essa avaliação, porque é uma nota extensa, mas, passando o olho em alguns aspectos, nós achamos que faltam algumas reuniões de esclarecimento, portanto nós sugerimos isso, pois a equipe presente na reunião da Fundação teria sido insuficiente, acredito que em alguns pontos com alguns esclarecimentos serão suficientes para apontar que algumas questões identificadas não se concretizarão na prática. A decisão foi pela publicação da nota, portanto, depois conversaremos a respeito, mas, para mim, acredito que com algumas reuniões dá para esclarecer as questões e lacunas. Quanto às lacunas apontadas, acho que o processo é para isso, não sei se são realmente lacunas, como, por exemplo, a questão da coleta de tempo seco, em reunião com a ABES já foi em outra direção e Abes até nos apresentou algumas sugestões para enriquecer e esclarecer o Projeto, inclusive algumas questões relacionadas à coleta de tempo seco, mas de forma alguma banalizando ou criticando a solução, de modo que reputa que é uma possível solução, mas concordamos que há alguns aspectos para nós, eventualmente, aprimorarmos, o que faz parte do processo. Com relação à extensão de prazo da

Page 32:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Consulta Pública, esse é um aspecto que cabe ao estado, que é o responsável por este processo. Acho que era isso. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Dr. Guilherme. O professor Arildo, antes do próximo inscrito, é oportuna a sua manifestação sobre a questão do tempo seco. Professor Arildo Mendes. Disse a todos e à todas que estão presentes na reunião que nós temos a seguinte realidade vivida, como eu coloquei lá atrás: a questão do tempo seco precisa ser uma estratégia de transição, é impossível sairmos direto da realidade atual para uma rede separativa, eu entendo isso perfeitamente, mas nós também não podemos permanecer com o tempo seco durante todo o período do contrato. Então, eu entendo e precisa ter um tempo de transição, particularmente, sugiro um prazo de 5 anos de transição, para que comecemos a fazer a implantação das redes separativas. Esse foi um dos maiores problemas que tivemos na Região dos Lagos. Contudo, agora eu quero dizer com muita clareza, como um militante ativo da causa ambiental e da questão social, eu estou desde movimentos estudantis participando do processo e participei dos dois lados da situação, participei em um momento em que eu era a sociedade civil e no momento em que eu era gestor público também. Então, nós precisamos entender os dois lados da questão. Quando eu coloquei a questão sobre a Região dos Lagos, eu queria dizer o seguinte, a experiência da Região dos Lagos com as áreas que atuamos é uma experiência positiva em relação aos problemas que tínhamos. Não existia problema? Sim, pois nós tínhamos que cobrar e nos manifestar bastante, tínhamos que enfrentar outros problemas, como a nossa relação com o efluente tratado e jogado na Lagoa, mas, antes, nada era tratado, então, nós, na realidade, precisamos entender toda essa relação. Em relação aos vídeos, eu queria apenas fazer uma observação sobre o que foi citado lá atrás, eu, enquanto Secretário do Ambiente, o que mais combati foram vídeos que não retratavam a verdade no que se refere ao esgoto jogado em uma lagoa, não que não se tenha, e há um trabalho sério feito por uma série de agentes, inclusive o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal, com os organismos públicos acompanhando todos os descartes direto, mas poder colocar alguns vídeos, como aquele que sai do Canal da Álcalis, que é um vídeo mentiroso, que não condiz com a verdade, porque apenas quem não conhece esse canal diz que aquilo é esgoto puro, e isso prejudica a imagem de uma cidade como Arraial do Cabo. Então, nós precisamos ter cuidado com os nossos ativismos também, na hora de divulgarmos material e conteúdo que possam gerar um resultado muito complicado. Estou aqui, estou acostumado com plenária, estou pronto para o contraditório, vamos conversar bastante sobre tudo isso, mas podemos negar o avanço positivo que foi a concessão de água e esgoto na Região dos Lagos? Há problemas? Claro, nada disso será feito com total isenção de problemas, mas, hoje, por exemplo, nós temos instrumentos de cobrança muito mais fortes, pois quando se fala de uma concessionária que cuida de cinco municípios, temos instrumentos de cobrança mais fortes mais do que quando se fala, por exemplo, se nós estivéssemos cobrando da própria CEDAE a realização de ações lá, como ocorre em algumas cidades vizinhas, como em Casimiro de Abreu e Rio das Ostras, que não têm instrumentos na mão para poder cobrar da Cedae que o retorno não chega do jeito que deveria chegar. Nós temos cobrado diretamente do serviço público ali, nós temos, eu não estou me referindo ao vídeo específico que falaram, não quero me prender esse vídeo, porque eu não vi o vídeo que está na página citada, mas, o que estou dizendo que fui Secretário de Ambiente de Arraial do Cabo e tive que combater vídeos mentirosos, aquilo que é a real eu combati para poder multar, mas aquilo que é mentira na internet eu combati para poder dizer que é fake News, então, tem que ter cuidado na hora de divulgar aquilo que é mentira, de modo que estou à disposição de todos que queiram identificar os vídeos e determinarem se é verdade ou mentira para podermos caminhar junto e fazer um vídeo juntos para podermos comprovar o que é verdade e o que é mentira dentro desse processo. Estou à disposição, sou crítico quanto a uma série de questões e acho que precisamos revisar uma série de pontos, mas também não permitirei que seja colocado como se nós não tivéssemos tido avanços na Região dos Lagos. Sou crítico, critiquei bastante, mudamos e melhoramos bastante, mas em relação ao que nós éramos e o que nós somos hoje nós avançamos bastante. Precisamos melhorar muito mais, mas temos hoje um instrumento na

Page 33:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

mão para poder avançar. Portanto, precisamos avaliar essa questão com pureza para podermos ver os problemas e as realidades para, hoje, não permitir um grande tempo de permanência no processo em tempo seco. Eu acho que é uma das questões que precisamos avaliar, ter um tempo de transição para podermos migrar para a coleta de forma separativa. Dizer não a tudo é não pensar no futuro. O que não pode é essa realidade que vivemos hoje, temos que pensar no como pode, depois trabalharmos juntos para poder chegar a um objetivo de como podemos avançar na qualidade de vida e de saneamento de água e de esgoto para a população do Estado do Rio de Janeiro. Estou à disposição e acompanhando, portanto, em qualquer momento que for necessário, me coloco à disposição para me manifestar. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, professor Arildo Mendes. Passaremos, agora, a manifestação para o senhor Pedro Celestino. Pedro Celestino. Boa tarde a todas e todos. O Clube de Engenharia participa com interesse desta Audiência Pública. Em primeiro lugar, colocando a sua posição de que não tem preconceito em relação à concessão de serviços de utilidade pública à iniciativa privada, mas tem posição firmada em relação aos seus pré-requisitos. A primeira questão diz respeito aos critérios de cobrança de tarifa, concessões de serviços de utilidade pública devem, no nosso entender, ter como critério para fixação de tarifa o que se chama cobrança pelo custo, que significa assegurar a remuneração do Capital pelo investimento realizado, pela depreciação à vida, com uma taxa fixa que permita a sua satisfação em termos de lucro e continuidade de investimentos. Isso foi utilizado no Brasil amplamente durante décadas até a década de 60 do século passado, a Light, aqui do Rio de Janeiro, é um exemplo clássico de serviço de utilidade pública concedida à iniciativa privada que, durante muito tempo, prestou bons serviços à população. Mais ainda, essa tarifa tem que levar em conta a sua característica social, populações menos favorecidas tem que, necessariamente, pagar menos pela água que consomem, o que implica sim, estabelecer subsídios cruzados. Terceira questão, nós vivemos em uma Região Metropolitana em que cerca de um terço dos seus habitantes mora precariamente, como serão atendidas essas pessoas? A experiência real recente aqui na nossa cidade do Rio de Janeiro, deixou de lado, na concessão dos serviços de água da Zona Oeste, todas as comunidades, porque a iniciativa privada ficou com o “filé” e as comunidades da Zona Oeste continuam desassistidas, mais ainda, por conta de sucessivos programas que consumiram 1 bilhão e 600 milhões de dólares nos últimos 30 anos, desde o programa de despoluição da Baía de Guanabara até aos programas favela-bairro, com suas diferentes denominações, só na nossa cidade do Rio de Janeiro, 85 comunidades dispõem de estações de tratamento de esgoto, mas nenhuma delas funciona, por conta de divergências entre a Cedae e a Prefeitura no que diz respeito à ligação dessas estações com a rede de esgoto. A terceira questão diz respeito à propriedade do capital da concessionária, como as concessionárias de serviços de utilidade pública faturam apenas em reais, concessões dessa natureza só podem ser dadas a empresas de capital exclusivamente nacional, caso contrário serão gravosas ao nosso balanço de pagamentos. Essas são as considerações que o clube de engenharia tem e gostaria de ouvir o posicionamento dos senhores. Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Pedro. Primeiro, eu passarei para o Doutor Augusto Werneck, em seguida para o Doutor Guilherme Albuquerque. Augusto Werneck. Agradeço, mais uma vez, ao Presidente e quero assim cumprimentar e falar da minha alegria em ver aqui o Doutor Pedro Celestino, que é uma das figuras importantes da engenharia nacional, é uma figura que teve uma militância sempre formidável, uma das grandes causas da engenharia nacional, alguém que merece todo nosso respeito e é muito bom que ele esteja aqui para que nós possamos verificar a visão dele, porque, certamente, das advertências nós poderemos extrair muitas lições interessantes, eu acredito, em primeiro lugar, e queria falar sobre uma questão. Existe hoje, claramente, uma constatação da decadência e da má prestação de um serviço, portanto nós não podemos considerar bom o passado que tivemos. Quando vamos às questões mais remotas, veremos que a evolução do saneamento em relação à evolução dos outros serviços públicos, na história da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, para não pegar no Brasil inteiro, até porque os serviços públicos no Brasil foram desenvolvidos, em

Page 34:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

primeiro lugar, com mais velocidade no Rio de Janeiro, que era a capital federal, então nós veremos que nós chegamos hoje a 100% de eletrificação, mas ainda estamos a dois terços de saneamento. Por quê? Isso tem um critério, que é o político-ideológico que afastou da fruição desse direito as pessoas mais pobres, como apontou o Doutor Pedro Celestino. Então, nós temos aqui o modelo e eu queria falar exatamente sobre o problema do subsídio cruzado, que foi uma das questões que ele levantou. O subsídio cruzado existe nesse projeto, justamente, na perspectiva de que fazer com que em um bloco existam áreas mais rentáveis e áreas menos rentáveis, áreas que demandam menos investimentos e áreas que demandam mais investimento, de modo que com a arrecadação, os ganhos de escala que podem ser previstos perfeitamente nas áreas onde há maior rentabilidade para que se possa financiar as intervenções naquelas áreas de menor rentabilidade. Isso foi um dos pilares deste Projeto. Outro pilar é manter a tarifa, só admitindo as correções monetárias da tarifa por conta da inflação. Algumas pessoas aqui hoje disseram: “se houver um problema qualquer de financiamento ou um problema qualquer de implementação das metas?” Por isso, é necessário ter participação popular, para que as metas sejam verificadas e os investimentos sejam verificados. Enfim, são questões ou com subsídio cruzado a tarifa congelada, vamos dizer assim, que representam a preocupação social e o viés social de proteção. Hoje, o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Marcelo Lopes, meu colega, falou de solidariedade, o que é uma inspiração clara de solidariedade social, na medida em que utiliza a tarifa, assim como a taxa, que foram pensadas lá na França por Léon Duguit, para quê? Para fazer a devida transferência de renda através da prestação do serviço. O modelo brasileiro foi o de prestar serviço público concentrando renda, primeiro para os mais ricos o serviço público, depois para os mais pobres; primeiro para o centro, depois para a periferia; primeiro para o branco, depois para o negro. Então, aconteceu exatamente o inverso do que aconteceu com os serviços públicos na Europa, por isso que os exemplos sobre os de serviços na Europa são ruins, porque lá os serviços públicos foram planejados desde o Século 19, para justamente subvencionar de alguma maneira os mais pobres. Já aqui se concentrou renda, porque quem já tinha renda ganhou ainda o serviço público: ganhou o bonde, a luz elétrica e o saneamento, inclusive esse foi o vetor da especulação imobiliária na cidade do Rio de Janeiro, que permitiu através de obras realizadas na Zona Sul que se potencializasse o valor da propriedade imobiliária. Então, são questões que este Projeto, eu julgo, Dr. Pedro Celestino, eminente engenheiro, queira romper, mas nós temos que tomar em boa nota e perceber bem quando uma pessoa que tem essa história nos coloca algumas coisas, como quem será o concessionário, qual será o valor da outorga, portanto são questões a serem pensadas na elaboração do Edital, que já está em projeto, mas que em breve será lançado. Acho que, mais uma vez, tivemos uma boa contribuição que eu muito agradeço. Obrigado, presidente. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Werneck. Por favor Dr. Guilherme. Guilherme Mendonça. Acho que é um ponto que concordamos é a questão da necessidade da manutenção da característica social da prestação do serviço, e isso que sempre projetamos, considerando a manutenção da tarifa social, não é algo que está sendo alterado. A tarifa social utilizada pela Cedae hoje continua e deverá ser respeitada e todos que se enquadram nas condições para a utilização da tarifa social poderão realizar a solicitação para recebe-la, então, não haverá qualquer tipo de limitação quanto ao usufruir da tarifa social para aqueles que realmente tenham direito para tal. Em relação ao modelo regulatório, acho uma questão muito complexa, poderíamos ficar uma tarde inteira discutindo tipos regulatórios possíveis para prestação de serviços públicos específicos para saneamento, pois temos uma série de possibilidades, mas nenhum é perfeito, todos adicionam algum grau de imprecisão ou de incerteza na regulação, mas, esse modelo que o senhor sugeriu, de cobrança pelo custo, é o modelo que é utilizado pela Cedae hoje, contudo entendemos que é um modelo que adiciona um elevado grau de ineficiência no processo. Por quê? Porque ele faz com que o regulador olhe para os custos efetivos que aquela companhia teve e reajuste a tarifa de acordo com os custos efetivos, mas isso estimula uma ineficiência na operação, porque a concessionária, no caso a Cedae, pode repassar os

Page 35:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

custos dela para a tarifa, então isso estimula uma certa ineficiência na prestação do serviço que entendemos que não deve ser estimulado. Portanto, o modelo regulatório que está sendo proposto no Projeto é um modelo de regulação por contrato no qual as regras de reajuste e de revisão tarifária estão no contrato, logo o que o concessionário tem garantido é um reajuste anual para compor as perdas inflacionárias, por isso que falamos que não há aumento real ao longo da vigência contratual, ou seja, além do real, a tarifa vai sendo adequada aos custos inflacionários ao longo do tempo. Então, qualquer ineficiência da operação do concessionário que extrapole esse reajuste inflacionário não será repassada para a tarifa, portanto o modelo estimula uma busca por eficiência na prestação dos serviços por parte do operador. É um modelo que temos trabalhado nessas minutas e é o que está sendo refletido na Consulta Pública. Acho que esses eram meus esclarecimentos. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Dr. Guilherme. Seguimos com a participação da Caroline Rodrigues. Por favor, pode ativar áudio e vídeo. Caroline Rodrigues. Eu sou Caroline Rodrigues, sou assistente social e educadora popular de uma organização da sociedade civil do Rio de Janeiro que se chama FASE. Eu também componho a campanha “água boa para todas e todos”, que tem mobilizado a sociedade civil para tomar conhecimento da privatização da CEDAE, porque não é de conhecimento da sociedade. Eu queria gastar meu tempo aqui pontuando algumas questões. Primeiramente, gostaria de colocar aos organizadores da Audiência e fazer coro com o Alexandre Pessoa que há outros momentos de discussão e que o debate da concessão da CEDAE não se finalize hoje. Nesses outros momentos, gostaria de pontuar que o Instituto Trata Brasil não seja mais o único convidado como único representante da sociedade civil, porque assim se colocou no início da audiência, mas que outros sejam convidados, pois vários colocaram a importância do contraditório na mesa da Audiência. Então, gostaria de colocar a importância de, nos próximos encontros, não sejam apenas conversas paralelas, eu sei que vocês estão tendo, mas que no próximo encontro público seja convidado, por exemplo a Fiocruz, a ABES, a UFRJ, os Comitês de Bacias, os trabalhadores da Cedae ou a Rio Águas. Acho que isso mostra um pouco da importância de nós realmente estarmos dispostos a discutir e aprofundar o debate. O segundo ponto que eu queria colocar trata sobre a estrutura da governança intrablocos, que já foi apresentada nas outras duas audiências e para mim demonstra a falta de preocupação da modelagem financeira com o controle social. Por que eu estou colocando isso? Porque, olhando para o desenho dessa governança intrablocos, que tem a Agenersa como a grande representante que dará conta de regular toda essa mudança no setor de saneamento, e aqui vários já fizeram colocações sobre a fragilidade institucional da Agenersa, inclusive o Promotor pontuou a importância de fortalecer, algo que eu não percebi na fala do senhor Tiago, a importância de fortalecer, então eu gostaria de perguntar se ele está preocupado com isso, pois do ponto de vista da sociedade civil estamos muito preocupados. Mas essa estrutura da governança é pouco porosa à sociedade civil, mas muitos de vocês podem me colocar que há participação da sociedade civil, com o Conselho Metropolitano, mas eu gostaria de retomar um pouco da história que começou em 2015, e que já foi pontuado pelo companheiro Sérgio Ricardo, só que quando ele falou que ao conselho foi dado um golpe, o representante, o senhor Werneck demonstrou muito desgosto da forma como foi colocado, então eu colocarei de outra forma senhor Werneck: nós da sociedade civil gostaríamos de saber qual foi o argumento jurídico para a desarticulação do Conselho Metropolitano? Porque, o que que esse Conselho tem a ver com a concessão da Cedae? Tem tudo a ver, porque nós acompanhamos o Plano Metropolitano, que deveria ser aprovado na ALERJ, e esse processo todo aqui está correndo em paralelo, como o senhor André Dickstein também já pontuou, esse Conselho Metropolitano, quando dos seus conselheiros eleitos em um processo longo de participação da sociedade civil, que foi financiado com dinheiro do BID, ou seja, o Governo se endividou para que esses conselheiros fossem escolhidos de forma democrática, em um processo longo feito por uma empresa contratada que era a Quanta no momento, e esse Conselho foi desmantelado e, neste mesmo mês de fevereiro deste ano, um novo Conselho Metropolitano aprova, dá o consentimento para esse processo de concessão da Cedae para seguir. Então, nos

Page 36:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

preocupa muito que vocês coloquem palavras como se estivessem muito preocupados com a participação social, quando, na verdade, sabemos que os espaços para participação social foram totalmente calados e inviabilizados, porém já que tem um argumento jurídico, eu gostaria que os senhores me esclarecessem. Gostaria também de pontuar que olha a contradição, ontem, este mesmo conselho estava vago, com suas cadeiras vagas, e o Instituto Rio Metrópole, chamo aqui o senhor Bernardo a responder o porquê de as cadeiras estarem vagas ontem e responder: por que chamou uma reunião ontem para compor a cadeira desses conselheiros? É isso, muito obrigada. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Carolina Rodrigues. Eu passo a palavra para Doutora Angélica Petian, do escritório Vernalha, para responder algumas questões. Angélica Petian. Boa tarde, sra. Caroline. Muito boa a sua participação, acho que a sociedade civil tem que ser ouvida durante todo o processo e é isso que vem sendo feito. Todos os documentos estão disponíveis ali no site e a participação, não só nesta Audiência Pública, mas como todas as contribuições críticas e as sugestões feitas aqui estão sendo deduzidas em ata das duas audiências anteriores e nessa também, assim como toda manifestação por meio da Consulta Pública feitas através do site serão consideradas e devidamente respondidas. Portanto, as minutas que foram colocadas para análise receberão as contribuições da sociedade, de todos aqueles que quiserem, e tudo ali indicado devidamente respondido e pode ensejar, inclusive, alteração de cláusulas do Edital, de cláusulas do Contrato, do Caderno de Encargos, então, certamente, aprimoramentos serão feitos, oriundos da participação. Como foi dito em outro momento, a lei obriga que sejam feitas audiências públicas, então a participação popular tem assento legal, e o que o Governo do estado do Rio de Janeiro decidiu fazer foi ampliar essa participação popular, realizando mais audiências do que a obrigação legal, cumprindo assim o rito das consultas públicas. Acho que essa é a minha contribuição, Dr. Arnaldo. Arnaldo Goldemberg. Em relação à questão do Instituto Rio Metrópole, passo a palavra, talvez, para o Guilherme ou para o representante do estado. Guilherme Mendonça. Em relação à questão da participação popular, que a Angélica colocou bem, agora, durante o período de estruturação do Projeto, há a participação pela Consulta, pelas Audiências e por toda forma de interação com a população. Mas, o contrato tem um instituto de governança chamado comitê de monitoramento, que está previsto no anexo 12 do contrato, e esse comitê é o ambiente em que ocorrerá a participação popular prevista na Lei de Saneamento, então, nesse comitê, neste anexo tem a forma, na composição desse comitê há participação da sociedade civil nas atuações do comitê na fiscalização da prestação do serviço, no acompanhamento, na sugestão de melhorias, na própria prestação do serviço, então a participação popular e a participação da sociedade civil organizada está garantida dentro desse comitê de monitoramento. Portanto, entendemos que é um avanço, pois hoje não existe uma estrutura dessa para acompanhar e a estrutura proposta é a institucionalmente definida para fazer esse tipo de acompanhamento da prestação do serviço. Logo, entendemos como um avanço a constituição desse comitê para acompanhamento e fiscalização da prestação dos serviços pela sociedade civil. Era isso, dr. Arnaldo. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Passo a manifestação para o senhor João Marcos Silva, o próximo inscrito. João Marcos Silva. Boa noite aos presentes nesta reunião. Primeiramente, eu gostaria de fazer uma colocação ao Professor Arildo Mendes, porque eu não sei se 23 anos foram pouco para que a Prolagos se adequasse ao contrato que ela deveria cumprir em relação ao fornecimento de água e esgoto na Região dos Lagos. Até hoje, quando o valão de Arraial do Cabo enche, é aberta uma vala que chega até a Praia dos Anjos, você deve conhecer, como cabista que é e eu também sou, para que o esgoto seja colocado, até porque nós temos estação de tratamento de esgoto em Arraial do Cabo, mas ela não funciona, acho até que nunca funcionou, porque o contrato não é cumprido. Nós temos a situação da Lagoa de Araruama que é negada, mas são jogados dejetos lá sim. Nós temos Iguaba, que queria encerrar o contrato, porque a Prolagos não atende à contento. Ao lado, nós temos a situação da própria Arraial do Cabo, onde um secretário, não sei se do governo do Andinho ou do Renato, que quis acabar com contrato de concessão da Prolagos, justamente por não cumprir com seu papel. De repente, 23 anos

Page 37:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

em que ela está lá, não é o suficiente para ela se adequar, de acordo o que disse o professor quanto a sua eficiência. Quanto à questão de carro-pipa, que você disse que andava de carro com o seu pai, seu Genildo, quem me levou muito de ambulância, isso foi na década de 70, e de carro-pipa naquela região eu entendo, porque eu controlava aquela situação de carro-pipa, então eu sei que Arraial do Cabo sempre ficou em segundo plano, como é até hoje, pois Arraial do Cabo não é bem abastecida pela Prolagos, haja vista a quantidade de poços artesianos que há lá. Tudo o que eu falo eu posso comprovar. O senhor Edson, o Instituto Trata Brasil, eu o acompanhei aqui e o que me antecedeu aqui falou bem, pois o que o Trata Brasil está fazendo aqui se ele só prega a privatização e sua eficiência, com aqueles argumentos de vala negra, de crianças, mas eles não querem pegar os municípios mais carentes, mas sim, geralmente, a melhor parte excluindo os municípios mais carentes, como citarei mais à frente. Ele diz que o Rio chama atenção, mas isso por conta da arrecadação do Rio, mas eles não falam de Tocantins, e já é a terceira empresa privada que está lá e não consegue oferecer o serviço adequado a população de Tocantins, que bebe lama ao invés de água, e isso não chama atenção, porque não dá retorno. O Trata Brasil está aqui para dar retorno financeiro, e não para cuidar da saúde da população. Sr. Marcelo Lopes, eu gostaria de saber o porquê de a carta que o senhor mandou as prefeituras do estado do Rio de Janeiro dizendo que se o município não aderir à nova concessão ele será excluído, inclusive dando prazo, tenho provas disso, o município que não aderir será excluído e terá que arcar com todos os seus custos. Quando se fala que a Cedae não será extinta, o próprio atual Presidente da Cedae foi até a mídia dizer que 80% serão demitidos, isso é público. Sr. Werneck, subsídio cruzado não é praticado por privados em lugar algum do planeta, então isso não ocorrerá, tanto que existe uma cláusula no Projeto que diz que o consorcio que não quiser arcar com determinado município poderá repassar essa concessão para um ente privado, ou seja, lugares como Varre-Sai, ninguém quer. Guilherme Mendonça, ele falou que os custos não serão repassados, mas o Edital diz que o consórcio fez uma projeção de 300 bilhões de lucro, portanto de onde sairá esse dinheiro, se não for repassando para o bolso do consumidor? Portanto, esse negócio de dizer a tarifa ficará congelada, eu não tenho como arcar com esse valor, eu preciso aditivar o contrato, isso existe e todo mundo sabe. Nós estamos aqui para falar a verdade, não estou chamando alguém de mentiroso, apenas estou falando que esses 300 bilhões sairão de algum lugar. Obrigado a todos. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Passarei a palavra diretamente para o Dr. Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Então, senhor Marcos, eu não sei de onde o senhor tirou os 300 bilhões de lucro, não sei em qual documento isso foi informado. O que há no Plano de Negócios, salvo engano, são as receitas projetadas, e há receitas relevantes, obviamente, porque é um processo que tem uma capacidade muito grande de geração de receitas, mas o importante é que, quando mencionamos no início do evento, não há uma garantia de demanda, nem de receita, nem lucro para a operação, pois o contrato não tira os riscos para o concessionário, que assume os riscos do negócio, o contrato está bem detalhado quanto a isso. Há riscos que o Poder Público assume e há riscos que o concessionário assume, e os riscos de receita e demanda não é o Poder Público quem assume, então não há uma garantia contratual de garantir 300 bilhões de lucro para o concessionário ou qualquer que seja o volume de lucro. Há projeções que foram feitas para se balizar os futuros interessados e a sociedade civil de qual sobre a expectativa de receita que esse negócio pode ter, mas não há nenhuma garantia contratual de que essa expectativa de receita será concretizada e garantida ao futuro concessionário, portanto não é esse o modelo regulatório que está sendo proposto. O modelo é: eu tenho uma projeção e o concessionário licitante faz a projeção dele, ficando ele responsável pela operação do negócio, se este trouxer mais ou menos receita, é um risco que ele está aceitando correr. Em relação a esse ponto, era isso que eu queria esclarecer, Dr. Arnaldo. Arnaldo Goldemberg. Passo a palavra para o professor Arildo Mendes sobre a região de Arraial do Cabo. Professor Arildo Mendes. Não sei se o João Marcos me ouviu bem desde o início, pois ele está me colocando como defensor da Prolagos, mas, se você me conhece, sabe que sou uma das pessoas que mais briga com a Prolagos, como militante na

Page 38:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

sociedade civil e como secretário. O que eu deixei claro na minha fala é que eu me sinto muito mais contemplado em brigar com a Prolagos para termos o avanço que tivemos do que se estivesse brigando com a Cedae, então estou sendo muito prático na minha fala. Segundo, falando especificamente sobre a questão de Arraial do Cabo, do canal que quando chove é aberto, para quem não conhece a cidade, para a Praia dos Anjos, e eu já fui Secretário de Meio Ambiente, eu queria dizer que, quando eu era do movimento estudantil, na época da concessão, eu defendi que Arraial do Cabo não privatizasse o esgoto, eu fui para a rua, levantei bandeira, fiz a defesa de que não privatizasse o esgoto na época. Nós, como município, assumimos um compromisso de privatizar a água, mas não privatizamos o esgoto, porque tínhamos uma unidade de tratamento de esgoto dentro de Arraial do Cabo, que não conseguiu ao longo dos anos cobrar para poder continuar prestando esse serviço, não conseguiu, como Prefeitura, se organizar para poder fornecer a manutenção da estrutura, assim como essa estrutura se degradou, até que, há cerca de 5 anos, privatizou-se, também, o esgoto, que diferentemente do tempo lá atrás quando eu achei que ganharia não privatizando o esgoto, eu defendi que a água já estava privatizada e que agora privatizasse também o esgoto para que pudéssemos cobrar de alguém que efetivamente pudesse fazer. Eu tive em seguida a oportunidade de ser Secretário de Ambiente, depois da privatização, e cobrar da Prolagos o que é que está sendo executado hoje, que é o cinturão de rede separativa que está acontecendo exatamente nesse esgoto financiado pela Prolagos, cobrando um contrato depois que foi privatizado o esgoto. Então, o que eu quero colocar para você, João, que me conhece, eu sou de plenária e não tenho problema com contraditório, não tenho problemas com as minhas opiniões, mas apenas tenho colocado que se nós tivéssemos em Arraial do Cabo ou na Região dos Lagos com a Cedae, a nossa realidade seria muito pior, e quem está falando com você não é um privativista que defende a privatização a qualquer custo, se você me conhece, sabe disso, mas muito pelo contrário, meus posicionamentos são muito radicais, contudo, entendo que, se compararmos a experiência, ainda que precária da Região dos Lagos, que, se tivesse mantido a estrutura da Cedae nesses 20 anos, nós estaríamos hoje ainda correndo atrás do carro pipa que você coordenava, com latinha na mão. Essa é a minha visão, você tem o direito de discordar. Passando dos dois lados, eu fui e sou militante social, porque continuo na minha vida ativa como militante social, por outro lado, eu já tive a experiência de estar do lado da gestão pública e ver o outro lado e não sair da rua e ser cobrado pelo meu povo de que como gestor público o que eu tenho que fazer, portanto tenho as duas visões com grande propriedade para que saiamos de um discurso só para os outros e possamos atingir um discurso possível de ser realizado. Então, essa é minha visão, mas você tem todo o direito ao contraditório, mas é uma questão equivocada me colocar como defensor da Prolagos, pois sou um dos críticos que reconheceu os avanços que tivemos em relação àquele modelo que tivemos enquanto Cedae que nos atendia lá atrás. Essa é minha posição e acho que temos que pensar as regiões para vermos de que maneira avançaremos com toda segurança e controle com um instrumento público para que a sociedade acompanhe a gestão e possa cobrar. Caminharemos nesse caminho para termos uma gestão da água e do esgoto com muito mais qualidade. Obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Professor Arildo. Antes de passar a palavra para o Doutor Marcelo Lopes, Secretário de Desenvolvimento do Estado, gostaria de esclarecer quanto à pergunta sobre a composição do Conselho Consultivo, pois ele foi formado normalmente, as vacâncias atualmente existentes são decorrentes de membros, conselheiros que solicitaram o desligamento do Conselho, desde a formação inicial, por razões pessoais ou de incompatibilidade com o exercício do cargo que passaram a ocupar, sendo um dos exemplos o próprio Presidente do Instituto Rio Metrópole que teve de se desincompatibilizar para assumir a presidência do Instituto. Ontem, participei da reunião do Conselho Consultivo e um dos itens da pauta foi, justamente, a recomposição do conselho para suprir essas oito vagas de conselheiro que estão em aberto. Quero dizer, o Conselho Consultivo está tomando as providências para recompor essas oito vagas de conselheiro que estão em aberto. Assim, não há nenhuma omissão do Conselho nesse sentido.

Page 39:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Houve uma pergunta quanto à questão afeta ao Doutor Marcelo Lopes, ao passo que abro a palavra ao mesmo. Marcelo Lopes. A questão do prazo para a adesão dos municípios decorre do cronograma que foi estipulado pelo estado neste Projeto. Não custa lembrar que entrou em vigor o novo Marco Legal do Saneamento impondo, também, prazos para que seja promovida a universalização do saneamento no nosso país. Temos uma necessidade de promover isso, o Estado do Rio de Janeiro vem estudando desde 2017 esse tema junto com BNDES, então não é de hoje que nós estamos trabalhando. Agora, o momento da Pandemia só demonstrou a necessidade de avançarmos nesse tema, apesar dos comentários aqui questionando o andamento do Projeto durante a pandemia, eu peço mil desculpas em discordar, porque a Pandemia só demonstra que precisamos avançar e progredir, urgentemente, na questão do saneamento. São índices horrorosos, temos municípios com o índice de tratamento de esgoto 0, em pleno Século 20, que resulta no despejo de esgoto na Baía de Guanabara, então é inimaginável. O Estado do Rio de Janeiro já foi o motivo de piada durante as Olimpíadas por causa da poluição. Assim, os municípios têm os seus prazos para entender se vão aderir ao Projeto ou se querem aderir a outro projeto que possam conduzir adiante. Se quiserem aderir, como já dito aqui, é um Projeto desenhado com modelo de subsídio cruzado, pois o capital já obteve investimentos no passado ao Município do Rio de Janeiro e outras áreas, de modo que esse mecanismo permite que essas áreas mais carentes sejam viáveis na condução da universalização. Não vejo problema em expedir uma carta aos 32 prefeitos dando ciência do avanço e dos benefícios que serão trazidos para os seus munícipes e o seu erário, assim como demonstrando que há benefício em redução do gasto de saúde e com a recepção de outorga. Mas, não posso forçar ninguém a aderir. Sinceramente, se eu fosse prefeito de uma das áreas e o aderiria. Mas, cabe a eles decidirem. Obrigado. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Marcelo Lopes. Em sequência, abrirei a manifestação para o próximo inscrito, o senhor Fábio Souza. Fábio Souza. Boa tarde a todos. Me chamo Fabinho Maravilha, sou morador da Zona Oeste, mais especificamente da área da AP-5. Através desta oportunidade que está me sendo dada, gostaria de externar um profundo descontentamento com o Marco Legal do Saneamento Básico, por conta da questão social, nos termos contratuais, quando tratamos do termo “universalização do serviço”, a partir do momento que as áreas faveladas do Rio de Janeiro, que são as áreas mais densas em termos populacionais, não estão inclusas no Marco Legal do Saneamento Básico, ou seja, são áreas sociais em que não há o interesse de ser tratado o esgotamento sanitário. Fica a minha indignação e a minha preocupação em termos contratuais que, de certa forma, são necessários e cabíveis para a aplicação da prestação de serviços, uma vez que: qual é a garantia que o cliente contribuinte do serviço que lhe será prestado? Quem será o responsável por essa fiscalização? Nós temos aqui na Zona Oeste, na área da AP-5, o esgotamento sanitário privatizado, sendo a FAB. Zona Oeste, vulgo Zona Oeste Mais, a empresa responsável, que é uma empresa de fachada da Odebrecht e da Brookfield Incorporações. Uma vez que foi a campeã da licitação, o Contrato nº 21 atribui a função de órgão fiscalizador para a Rio-Águas que tem participação nos lucros da empresa e de fato não fiscaliza, impedindo com que a progressão da implantação do sistema seja realizada por completo. Qualquer um dos senhores que adentrarem na Rua da Capelinha no Piraquê, ao final dessa rua, se deparará com uma estação de tratamento de esgoto (ETE) tratando 35 litros de esgoto por minuto. Acontece que o volume não condiz com a região, inclusive a 200 metros antes da estação de tratamento, toda da região habitada no local, no torno da estação de tratamento, despeja o seu esgoto diretamente nos afluentes do Rio Cabuçu-Piraquê que hoje é o maior contribuinte para a degradação do Meio Ambiente dos corpos hídricos da Zona Oeste contaminando diretamente a Bacia de Sepetiba. Estou desde o início da Audiência e não vi nenhuma preocupação dos senhores com a área da AP-5 que é a área “favelada” do Rio de Janeiro. Preocupa-me, portanto, saber qual será a função do Ministério Público no acompanhamento desses contratos, qual será a ação da Defensoria Pública para resguardar o cliente contribuinte que hoje paga pelo serviço que não lhe é prestado. Então, precisamos ter garantias para que o maior prejudicado não seja a população que

Page 40:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

será cobrada por essa taxa. Gostaria, ainda, de deixar a minha indignação com o senhor Augusto Werneck quanto à ironia utilizada diante das palavras do senhor Celso Cordeiro, tendo em vista que somos conhecedores exímios do problema que estamos debatendo. O Doutor Augusto falou em ato democrático, mas será que é um ato democrático pagarmos por um serviço que não está sendo prestado? Será que os senhores quando passam no supermercado um carrinho de compra cheio, aceitariam que suas compras fossem devolvidas às prateleiras e levassem apenas uma cesta básica para casa? Hoje, a região da Zona Oeste da AP-5 está sendo literalmente roubada e não há quem fiscalize a execução desse contrato com a FAB-Zona Oeste. Reforço que há, ainda, um agravante, quando tratamos da universalização do serviço supostamente através do Marco do Saneamento Básico, não se trata da região favelada, deveríamos utilizar: “universalização para a classe média e alta do estado do Rio de Janeiro”. Por fim, gostaria que fosse levado em consideração a falha na prestação que está ocorrendo há décadas, regido pelo Contrato nº 21 de 2013, com o derramamento de esgoto in natura nas galerias de águas pluviais contaminando os mananciais da nossa região. Muito obrigado pela oportunidade. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, senhor Fábio. Passo a palavra ao doutor Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Senhor Fábio, primeiro em relação à AP-5, cabe esclarecer que o contrato de concessão da AP-5 foi feito pela Prefeitura do Município do Rio de Janeiro em 2011 e, salvo engano, esse contrato, pelo menos na versão original dele, não sei se houve algum aditivo que fez alguma modificação nele, não previa a operação em áreas irregulares pelo concessionário, então o concessionário só tinha obrigação de operar em áreas já regularizadas, assim, ele, realmente, tirava a responsabilidade do concessionário pelo investimento e pela operação nessas regiões, algo que, estamos buscando atender nesse novo desenho de Projeto, onde o concessionário assumirá todas as áreas, não podendo abandonar aquelas áreas, pois se ele o fizer, será penalizado contratualmente. Não é que estejamos esperando um comportamento caridoso e por isso ele vai investir nessas áreas, porque são mecanismos contratuais que vão penalizá-lo se ele não conseguir executar o investimento ou não realizar os investimentos devidos. Assim, é um incentivo pelo cumprimento do contrato para que ele não seja penalizado em relação a isso. Sobre a AP-5, também, quem faz a regulação é a Rio-Águas que é uma empresa municipal, é a agencia reguladora municipal encarregada pela regulação da AP-5. O Projeto considera a regulação pela agência reguladora estadual, ou seja, a Agenersa, então é ela que faria a regulação e a fiscalização de todo este contrato. Assim, a intenção aqui é, obviamente, atender a essas comunidades, então não queremos que as comunidades fiquem de fora, pelo contrário, o desenho foi feito para que todas as comunidades sejam incluídas e atendidas. O desenho é esse que garante o investimento nessas regiões das áreas irregulares e inclusive para tentar atender esse problema da AP-5 onde sabemos que já há uma concessão, então o concessionário dessa nova concessão não atuará no esgotamento sanitário da AP-5, mas, salvo engano, no contrato, há a obrigação de investimento nas áreas irregulares da AP-5. Portanto, tentaremos, de certa forma, tentar suprir essa carência que existe hoje no contrato da AP-5 que não colocou para o concessionário a operação dessas áreas, colocando para o novo concessionário que nessas áreas em que o concessionário antigo não investe, que você vai ser obrigado a investir também. Assim, estamos tentando, como o Guilherme colocou no início, que nenhuma área e ninguém seja deixado para trás, que todos estejam sim, sendo atendidos por meio do contrato de concessão. Não sei se ficou ainda mais alguma pergunta, mas acredito que tenha respondido tudo. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Guilherme Mendonça. Gostaria de solicitar a todos que tenham cuidado para não abaixar a mão no sistema, pois entendo pela desistência do inscrito em participar. O próximo inscrito é o senhor Licínio Rogério Licínio Rogério. Em primeiro lugar, gostaria de parabenizar a todos pela discussão e cumprimentar nosso Procurador Doutor Augusto por falar na participação da sociedade civil que é importantíssima para todos nós, como é o meu caso, que venho dessa área, sou representante da FAM-RIO – Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro no Comitê de Bacia Hidrográfica da Oeste da Baía de Guanabara. Aproveitando a questão que foi falada, tanto pelo

Page 41:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Presidente do Clube de Engenharia, do qual também sou sócio, quanto pela Caroline, a questão é muito importante, onde estamos discutindo uma série de pontos que precisam ser colocados de uma forma melhor e não podem acabar na audiência de hoje. Precisamos mais uma audiência ou mais audiências, ou ainda, eu gostaria de propor um grupo de trabalho para discutir as divergências que estão surgindo aqui para que possamos seguir um caminho certo, isto porque as dúvidas, hoje, na terceira Audiência, parecem que são cada vez maiores, por exemplo: na segunda Audiência, eu cobrei a questão do saneamento das favelas e foi respondido que isso ficaria por conta da Prefeitura urbanizar e depois dar continuidade, contudo, agora estão falando que ninguém será deixado para trás. Ninguém solta a mão de ninguém é uma boa ideia, mas o que é que vale, o que foi dito na segunda Audiência ou o que foi dito hoje? Esse é um esclarecimento que eu gostaria que fosse dada uma resposta, que agora não me lembro ao certo qual doutor Guilherme Mendonça ou Albuquerque disse o que em cada audiência. Entendo que seja muito importante termos isso para um atendimento prioritário, para os componentes do grupo que sofrem mais, como no caso das tarifas, que deve ser uma tarifa social justa, mas que independentemente disso, é necessária uma tarifa que as pessoas consumam e paguem de acordo com a sua possibilidade. Isso é a justiça social que não podemos deixar de ter para não acontecer o que estamos passando. Além dessas considerações, como a criação de um grupo de trabalho entre as entidades que estão aqui, bem como a participação efetiva da sociedade para que possamos ter um melhor aproveitamento disso. Em relação às questões de investimentos, há uma série de investimentos que não está sendo contemplados neste Projeto, a exemplo da Enseada de Botafogo que requer milhões de reais, um valor vultoso, então o previsto para o Setor 01 é muito pouco, o que acarretará um aumento de tarifa em uma revisão extraordinária ou levará essa poluição da Enseada de Botafogo para “as calendas”. As Elevatórias “Parafuso” e André Azevedo” estão precisando de investimentos e isso não está sendo falado com clareza, de modo que gostaria que isso fosse esclarecido. Há outra questão é sobre o índice de poluição nos rios que deveriam estar como índice de meta, pois se em determinada região está se poluindo o rio, é sinal de que o esgotamento na região não está funcionando propriamente. Um ponto que não está sendo falado também é a Elevatória da Santa Cecília, único meio de trazer água do Rio Paraíba do Sul, que entendo que deveria ser olhado em momento oportuno. Para finalizar, voltando nas tarifas, se a questão das tarifas forem as mesmas, acredito que a premissa esteja errada, deveria ganhar quem desse uma tarifa menor, pois na última Audiência foi dito que a outorga se defendia de “aventureiros”. Não acredito que um estado como o nosso não tenha outros meios de se defender de “aventureiros”. Tenho mais alguns detalhes que gostaria de falar, mas diante do tempo vou me reinscrever para uma nova participação. Obrigado. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Licínio. Passo a palavra ao Doutor Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Boa tarde, Doutor Licínio. Tudo bem? Sobre os seus pedidos de esclarecimentos sobre as favelas, precisamos fazer uma diferenciação: a obrigação do concessionário é investir no sistema de água e esgotamento sanitário, ou seja, ele vai operar os sistemas de água e esgotamento sanitário. Todas as outras ações de urbanização continuam a cargo do Poder Público, seja por parte da Prefeitura, quem, usualmente, é quem faz investimento nessas áreas, mas também poderia ser um investimento a cargo do estado, então, o investimento em urbanização no sentido de drenagem, asfaltamento, iluminação pública, todos os outros serviços públicos associados à urbanização continuam a cargo do Poder Público. O concessionário não se responsabilizará por toda a urbanização da cidade, porque não teria como ser responsabilizado por isso. Assim, a diferenciação ocorrerá dessa forma: o concessionário tem a responsabilidade de investir no esgotamento e no abastecimento de água dessas áreas irregulares, mas não tem a obrigação de investir na drenagem, no asfaltamento e no sistema de iluminação pública. Por isso, é que colocamos como um critério para se definir onde será realizado um investimento nessas áreas, um critério de planejamento de urbanização, o que parece mais racional, por exemplo, quando o estado planeja urbanizar a Rocinha, que o concessionário entre junto do Estado na Rocinha. Em uma obra de drenagem só quebraria uma vez a rua para se colocar a

Page 42:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

drenagem e o sistema de esgotamento e abastecimento de água. Então, essa ideia de colocar como critério áreas que já estão urbanizadas e só falta colocar a rede de esgoto, ou que tenham no planejamento do Poder Público para serem urbanizados e assim conciliar os investimentos do concessionário e do Município ou do Estado, de forma que racionaliza a realização dos investimentos e se fazer de uma vez só, não havendo a necessidade de fazer duas vezes o mesmo investimento em obra para a realização da urbanização. Então, em relação às favelas, essa é a lógica que está prevista nos instrumentos contratuais. Em relação à tarifa social, concordamos que a tarifa social deva ser mantida e será, pois o concessionário será obrigado a respeitar os critérios definidos pelo Estado para a concessão da tarifa social, então, obviamente, se houver pleitos de usuários para usufruir da tarifa social e eles se enquadrarem nos requisitos definidos pela legislação estadual, esse direito é garantido. No que diz respeito ao investimento da Zona Sul, conversamos com a CEDAE e esse investimento da Elevatória Parafuso será considerado. Na verdade, o que recebemos de informação é que era para considerar a desativação da Elevatória Parafuso e fazer uma segunda Elevatória André Azevedo. Finalizando a parte de investimentos da Zona Sul, estamos avaliando a possibilidade de fazer melhorias nas projeções de investimento, algumas adequações nas projeções de investimento da Zona Sul. Caso tenha alguma colaboração, sugestão, fique à vontade para encaminhar via Consulta Pública que analisaremos. Em relação ao indicador de poluição dos rios, a ideia dos indicadores de desempenho é que você consiga controlar, exatamente, o que o concessionário está prestando de serviço para você controlar o nível de qualidade da prestação de serviço que ele está prestando. Fazer o controle de poluição do rio tem um risco de que terceiros que estejam poluindo o rio, por exemplo, uma indústria que não está usando o sistema de esgotamento sanitário do concessionário porque ela tem o seu próprio sistema e não está fazendo tratamento corretamente e está poluindo Rio Guandu. Houve até essa suspeita recentemente de que poderia ser uma atividade industrial que estava poluindo o Rio Guandu. O concessionário não pode ser responsabilizado por um terceiro poluindo aquele corpo hídrico, então, o que controlamos é: (I) concessionário tem que coletar todo o esgoto da população que está sendo atendida e que deve ser atendida pelo esgotamento sanitário e (II) tudo o que for coletado, deve-se tratar e com determinado nível de qualidade, atendendo às normas técnicas, nos níveis mínimos de qualidade das normas técnicas existentes. Isso é controlável pelo concessionário porque nós conseguimos, efetivamente, definir indicadores e definir metas, então o concessionário deve ser responsabilizado por isso, mas, o que passa do nível de controle do concessionário, não se deve, para fins de uma boa regulação contratual, incluir esse risco no próprio concessionário. Portanto. essa é essa é a lógica da definição dos indicadores de desempenho e das metas contratuais, a de, realmente, controlar atividades que possam ser controláveis e possam ser gerenciadas diretamente pelo concessionário e que não tenha efeitos de terceiros. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Guilherme Mendonça. Prosseguimos com o senhor Edes de Oliveira, por favor senhor, pode ativar áudio e vídeo. Passaremos para o próximo e, assim que o senhor Edes normalizar o vídeo e áudio, nós retornamos a ele. Passo ao senhor Norberto Júnior. Norberto Júnior. Boa noite a todos. O meu nome é Norberto, sou sanitarista e componho o Grupo de Pesquisa de Saneamento e Saúde Ambiental da Fiocruz. Como já falado anteriormente, me restaram duvidas ainda sobre a questão das tarifas, da tarifa social. pois lembro de ter lido na proposta uma questão que falava sobre a ausência de asfalto e drenagem nas favelas, aglomerados subnormais, que faria com que houvesse um aumento das tarifas, ainda que dentro dos valores da inflação, porém, ao meu ver, surge um novo obstáculo que seria a oferta de serviços pelo qual se cria uma barreira com esse aumento da tarifa em áreas que possuem essa estrutura de drenagem e asfaltamento, ou seja, não há nada, nenhuma inovação que nos indique que agora a situação será, de fato, alterada e que a comunidade passará a ter asfalto e drenagem. Outro questionamento é em relação à Agenersa, especificamente em relação ao déficit de trabalhadores, bem como as suas limitações, tais como na análise de cumprimento de ação e penalidades, porque elas não são totalmente destrinchadas sobre esse descumprimento do plano de ação, ou seja, temos

Page 43:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

uma deficiência não só na análise, como também o que podemos fazer diante dos casos de descumprimento. Então, falando sobre os mais vulneráveis, no caso, as favelas e os aglomerados subnormais, parece-me que estão em um cenário onde o seu direito ao saneamento continua em segundo plano. Diante disso, questiono se há um plano específico para metas de universalização do serviço de saneamento para os aglomerados subnormais e favelas que aborde, de forma clara, a indicação das metas, prazos, forma e maneira como será realizado para que fique claro, pois eu senti falta dessas informações. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, senhor Norberto Junior. Por favor, Doutor Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Boa tarde, senhor Norberto. Primeiramente, cumpre esclarecer que não há qualquer relação entre o aumento de tarifa e a realização dos investimentos. Isso porque, o aumento da tarifa é uma decorrência entre variação inflacionária que ocorreu no ano, então ele tem direito contratual a esse reajuste que é chamado de reajuste contratual anual, justamente pela variação da inflação. Os investimentos por sua vez, estão baseados em outras regras, sendo elas de metas e de indicadores de universalização. Sobre a parte final da pergunta do senhor, o anexo de indicador de desempenho que está no contrato de concessão prevê tanto as metas finais de universalização dos serviços quanto as metas parciais. Nesse anexo, é possível verificar qual é a meta do ano 7 no Município do Rio de Janeiro, por exemplo, de modo que há a meta daquele ano, naquele município, para todos os municípios que estão incluídos no Projeto. Portanto, você tem esse acompanhamento anual da necessidade de evolução na prestação dos serviços, ponto importante de se entender, não havendo, diretamente, nenhuma associação entre o aumento planejado e o investimento a ser realizado. Outro ponto questionado foi o que diz respeito às metas intermediárias de universalização do serviço, onde elas estão sim, previstas e têm que ser observadas pelo concessionário, de modo que, caso não sejam observadas, gerará um desconto na remuneração do concessionário. Nesse caso, o concessionário receberá menos porque a receita será menor caso não haja a realização desses investimentos. Nas áreas irregulares, o investimento é controlado em relação ao volume de investimentos, estando previsto no caderno de encargos, onde ele tem que garantir esse volume de investimentos que é realizado em cada uma das regiões, para o Município do Rio de Janeiro, conforme explicamos anteriormente. Resumindo, nas áreas irregulares, o controle é diferenciado, sendo em cima de volume de investimentos a serem feitos. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Guilherme Mendonça. Acabo de receber no chat que o senhor Edes de Oliveira já resolveu o problema de conexão. Ele era inscrito antes do senhor Norberto, então passo a palavra ao senhor Edes de Oliveira. Boa tarde a todos. O meu nome é Edes de Oliveira, sou Presidente da Companhia de Saneamento de Maricá – SANEMAR. A Companhia atua hoje na gestão de esgotamento sanitário no município, logo, já criei uma particularidade no município que é a gestão do abastecimento de água que continua a cargo da CEDAE e, logo, está no presente processo de concessão e o esgotamento sanitário a cargo da SANEMAR, ou seja, sob responsabilidade do município de Maricá. Em análise aos documentos, nós verificamos uma série de pontos que geraram conflitos sobre o que nós temos acordado com a CEDAE e dúvidas em relação a outros. Assim, citarei alguns itens, algumas críticas e sugestões. O primeiro ponto a ser abordado é a projeção populacional no município: a projeção do estudo indica que o município atinge, no 16º ano, a sua população máxima com acréscimo de 20 mil pessoas, usando hoje em torno de 179 mil pessoas e chegando a 199 mil pessoas no ano 16; depois um decréscimo para o mesmo nível da população atual no ano 35. Para pontuar, no ano de 1991, a taxa de crescimento do município foi de 6.5; em 2000, a taxa foi de 6.0; os índices adotados entre 2001 e 2019 foram de 2,64, mas o estudo aponta uma taxa de crescimento de apenas 1,47%, sendo indicado uma taxa bem baixa para o Município de Maricá. Em um primeiro levantamento que nós fizemos dos empreendimentos imobiliários habitacionais já planejados para o município, temos um crescimento de 60.000 pessoas, logo, a nossa avaliação é a de que essa projeção populacional para Maricá está completamente equivocada e eu gostaria de pedir a quem fez o estudo que faça uma nova avaliação do estudo populacional. O segundo ponto que preocupou o Município foi a questão geográfica do estudo que

Page 44:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

considerou três distritos no município, sendo que não há mais três distritos no município há 10 anos, mas, ainda assim, consideram um distrito de Manoel Ribeiro que não existe há 10 anos, onde hoje os distritos estão dividindo em quatro o município de Maricá: Itaipuaçu, Inoã, Ponta Negra e a própria Maricá, que é a sede. Esses distritos não foram considerados nos estudos, mas, ainda sim, foi levado em consideração uma divisão distrital que não existe há 10 anos. Isso nos preocupa muito, porque nos leva a crer que a base de dados utilizado o estudo não foi a mais adequada, nem a mais atualizada. Na questão contratual, o Município firmou um convênio com a CEDAE em 2008 com validade de 20 anos, portanto, teria validade até 2028, e um aditivo em 2018 que repactuou uma série de metas. Duas coisas foram muito significativas, uma foi assunção da responsabilidade do esgotamento sanitário para o Município; nesse caso teria a separação dos dois, onde o esgotamento fica com o município e a água continua com a CEDAE, e a outra foi uma Parceria Público-Público com investimento de cerca de R$ 250 milhões previstos entre a CEDAE e o Município e esses investimentos seriam ressarcidos posteriormente ao longo dos anos pela CEDAE. Contudo, o modelo hoje apresentado através do Contrato de Gerenciamento e do Convênio de Cooperação põe em risco isso. Embora o que está nas entrelinhas seja o válido, assim como previsto no Convênio, o que se observa nos contratos não corrobora com isso. Primeiro, porque no item 4.2 afirma que serão mantidos os instrumentos vigentes, mas depois diz que serão automaticamente extintos quando o início da eficácia do contrato da concessão. Em seguida, lista uma série de itens como possíveis contraditórios entre os documentos e as prioridades do que será avaliado. Na verdade, o convênio com a CEDAE ele fica em oitavo lugar, na verdade em último, pois são oito itens e até a proposta comercial da licitante está acima do que hoje está assinado em convênio com a CEDAE com o município e a interveniência do Governo do Estado, colocando em risco toda a operação que está, inclusive, andamento com um investimento R$ 250 milhões. Estou falando da interpretação das divergências entre as normas previstas no convênio e dispositivos previstos nessa concessão. Ainda no caderno de encargos, há a previsão que Maricá faça a gestão comercial, sendo que, na realidade, Maricá não faz a gestão comercial do esgotamento sanitário, senão a da operação e manutenção do sistema de esgotamento sanitário e essa premissa de que Maricá já faz a gestão comercial pode prejudicar o município em uma possível gestão compartilhada com novo concessionário, no que tange ao que é saudável que é o melhor e é mais praticado nos casos onde há a divisão da concessão entre o setor público e privado, seja para água, seja para esgoto. Por fim, eu queria dar uma sugestão, porque se estamos desafiando a melhoria do sistema de abastecimentos, utilizar uma meta de perdas na rede de 25% é muito pouco desafiador, principalmente para municípios como Maricá em que não há água e há a necessidade de se fazer a gestão de abastecimento de água melhor. Obrigado pela oportunidade. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Por favor, dr. Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Boa tarde, tudo bem? Em relação às projeções populacionais e às questões dos distritos, acredito que possamos revisar, a Concremat pode reavaliar, obviamente, será necessário algum tipo de reavaliação e se tiver algo muito discrepante. Gustavo Prado. Se me permite só alguns comentários sobre a projeção populacional, em relação à base de dados, entendo que é a mais adequada, porque a base de dados são os censos do IBGE, então esse problema de nome, o último censo tem 10 anos, logo, coincide mais ou menos com o que o Edes mencionou que em uma eventual substituição, troca de nome, assim como os setores censitários que a cada censo vão se alterando. As projeções demográficas foram feitas com uma metodologia chamada método das componentes de corte e esse método é como o IBGE utiliza para fazer as estimativas de crescimento populacional do país, e dos estados. É um método bastante robusto que trabalha com projeção, não com ajuste matemático de curva como muitos fazem, então esse método trabalha com uma projeção das três componentes que definem a dinâmica populacional que são: a taxa global de fecundidade, a expectativa de vida ao nascer e o saldo migratório. A diminuição da população no caso do Brasil o Rio de Janeiro e quase todas as cidades ocorrerá, a questão é quando ocorrerá, porque estamos dentro do conceito que pessoal de demografia que chama de “Etapa de C da

Page 45:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Transição Demográfica” que é quando há uma baixa fecundidade das mulheres em idade fértil, uma alta expectativa de vida ao nascer e quando essa taxa de fecundidade ela se aproxima de dois, de modo que, em média 10/20 anos para frente, inicia-se o decrescimento da população resultando em uma taxa negativa de crescimento. Então, é normal, se você buscar curva do IBGE para projeção populacional do Brasil, verá que, em 2040/2045, a curva ela muda a inclinação, o ponto de máximo e você muda a inflexão da curva. Isso ocorre para o Rio de Janeiro, ocorrerá com Maricá e todas as outras cidades. O que poderia influenciar, e nesse caso a influência é pontual, é o saldo migratório nas cidades, onde ele realmente tem efeito, mas os efeitos em geral são pontuais e momentâneos. Teoricamente, conceitualmente falando, sempre que você faz uma projeção demográfica, o saldo migratório sempre tende a zero ao longo dos anos. Essa informação de conjuntos habitacionais a gente geralmente quando a gente tem acesso a elas, em regra, são consideradas nas projeções como o Guilherme comentou, havendo alguma informação nova a ser considerada na modelagem, certamente, será verificada. Mas, a metodologia utilizada foi bastante robusta, é uma metodologia consagrada de estudo populacional e é a base de dados para todos os estudos demográficos para todas as cidades que englobam o Projeto, foi a do IBGE. Guilherme, era isso que eu tinha para comentar. Guilherme Mendonça. Ótimo, Gustavo. Obrigado pelo esclarecimento. Então, só concluindo, havendo a necessidade, obviamente, que será revisado, mas o estudo da Concremat é, realmente, bem robusto para fazer essa avaliação do crescimento da demanda. Em relação ao Convênio, na verdade, esse convênio que você está se referindo é o convênio celebrado entre CEDAE e Maricá, enquanto que o Convênio que o contrato faz referência é o convênio que será celebrado entre a Região Metropolitana e o Estado do Rio de Janeiro formalizando a autorização para que o estado faça a execução contratual, a licitação e todo o acompanhamento contratual, seria, assim, uma autorização da Região Metropolitana formalizar essa autorização. Esse é o Convênio está sendo referido. Por quê? Essa decisão de que Maricá continuaria na prestação de esgotamento sanitário é uma decisão que foi feita pela Região Metropolitana, isso entrou na Ata da decisão de que Maricá continuaria explorando o seu esgotamento sanitário pela sua empresa pública. Foi uma decisão da Região Metropolitana, hoje não é mais uma decisão unilateral de Maricá porque esse Município está dentro da Região Metropolitana, então todas as decisões sobre esgotamento sanitário e abastecimento de água deveriam ser tomadas de forma colegiada no âmbito da Região Metropolitana. Então, o que está autorizando essa manutenção da prestação do esgotamento por Maricá é a decisão da Região Metropolitana. Qualquer decisão sobre continuidade da prestação ou sobre remuneração da Prefeitura deve ser colocada, também, no âmbito da Região Metropolitana, então é importante que isso seja discutido entre os titulares e o Estado na Região Metropolitana para que fique claro quais são os direitos que você está detalhando que a Prefeitura de Maricá gostaria de ter garantido com base nesse Convênio que foi celebrado com a CEDAE. Então, é importante que isso seja debatido no âmbito da institucionalidade correta, que a Região Metropolitana. Em relação à Maricá não fazer a gestão comercial, é um ajuste que pode ser feito no contrato, mas a informação que recebemos é a de que a Prefeitura faz gestão, se não faz, não há nenhum problema em colocar isso para o concessionário. Sobre a meta de perda que você fala que está baixa, não parece baixa quando você olha hoje o quanto se perde de água pela CEDAE, algo em torno de cerca de 40%, se conseguir reduzir para 25%, já é um ganho relevante pelas projeções da Concremat. Acho que o Gustavo pode falar com muito mais propriedade do que eu, mas, pelas projeções da Concremat, se chegar no nível de 25%, você conseguiria atender toda a população sem a necessidade de expansões expressivas na própria captação de água, então é certo que Maricá tem um problema de falta d'água que tem que ser tratado e resolvido, assim como a questão da falta de água em Maricá, mas se chegar no nível aceitável de redução de perda, é possível só com essa redução de perda, atender a uma população muito maior, e 25% de redução de perda é uma redução expressiva considerando o quanto a CEDAE perde de água hoje. Na verdade, é um valor muito maior do que cerca de 40%, isso sem contabilizar o que ela perde em áreas irregulares, então é, provavelmente,

Page 46:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

um valor até muito maior do que esse, mas o que ela informa no SNIS é 40%. Então, tudo aqui pode ser debatido pode ser refinado, não tem nada que não possa ser alterado no Projeto, obviamente, que podemos discutir as premissas, mas me parece 25% é uma meta bem razoável considerando o nível de perda atual da companhia. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, achei as explicações muito completas e pertinentes à pergunta do Dr. Edes. Seguindo, farei a leitura da relação dos dez inscritos da lista que será chamada, mas ressalto que ainda temos o último desta lista que será o senhor Humberto Lemos de Lemos; mas, antes de chamar o senhor, farei a leitura da lista: Sérgio Guedes, Rubens Gama, Sérgio Adriane, Eduardo Pereira, Luana Barreto, Ary Girota, Cláudio Dutra, Fernanda da Silva Oliveira, Danilo Cerqueira e Luiz Eduardo Amorim Ramos, essa será a próxima chamada. Passo a voz ao Senhor Humberto Lemos de Lemos. Boa noite, inicialmente, gostaria de deixar registrado que é a 3ª Audiência Pública que participo e estou convencido que só através da judicialização mesmo. O que acontece, Doutor Arnaldo? Chegam alguns atores no começo da audiência, fazem um discurso, o comercial e vão embora. A questão da Região dos Lagos, ficou provado que a Agenersa não funciona, pois se a agência cumprisse seu papel, não estaria um defensor da iniciativa privada vindo a este debate. Outra questão é o que diz respeito ao Trata Brasil, ele faz um comercial que deveria estar na Globo, ele faz o comercial dele vai embora, não fica para o debate e isso não é Audiência Pública e o resultado disso é que fica um jogando a pergunta para o outro, BNDES fica respondendo a questões que não são deles, o Procurador do Estado entra em uma seara que não é sua área de atuação, tudo para explicar, mas continuar sem responder às perguntas. Os senhores devem se lembrar que já foi até em outra Audiência Pública, em que eu fui incisivo nessa discussão, no que tange ao preço do metro cúbico e que simplesmente deixaram de responder. O preço do metro cúbico de R$ 1,40 que está no contrato de concessão, então como eu estou vendo que o BNDES não chamou o Sintsama-RJ, do qual eu sou Presidente, para conversar; eu sou engenheiro civil da CEDAE, assim como não quis os nossos estudos. A CEDAE fez a resolução de diretoria na qual o Conselho de Administração da CEDAE emitiu esse documento em que diz que por esse valor a CEDAE já inicia deficitária, então parece que o que falamos não é levado em consideração. Esse rapaz explica muito, quando o Edes colocou uma coisa simples, mostrou que essa modelagem não teve visita in loco, o que me deixa preocupado, como é que pode uma coisa dessa? Não entendem a situação, não assumem os equívocos, temos o Procurador do Estado com ironia quando perguntamos, o Secretário Marcelo, ao que parece, não visitou os municípios, ele, simplesmente, com ar de desdém, disse que enviou uma carta. Ele falou o que estava na carta? A carta está dizendo o seguinte: “que nem a câmara dos vereadores precisa mais dar a autorização. Que com a assinatura do Prefeito, ele pode desfazer o convênio que hoje existe com a CEDAE”. E assim que se governa? O secretário que diz que mandou uma carta e mostra que menos de 50% aderiu, porque não tem diálogo, tem imposição, não quer levar em consideração as nossas perguntas quando falamos na questão que o Município do Rio de Janeiro, como falará o Cláudio Dutra, é um Município que carrega 77% da arrecadação, mais da metade dos municípios não aceitaram ou não estão aceitado, mas não, continuam insistindo da mesma forma, e não é assim que deve ser feito, não é justo com o povo. Por isso que o Sintsama-RJ está com um grande movimento no Rio de Janeiro de propaganda na rádio, televisão, outdoor, busdoor com os seguintes dizeres: “Água não é mercadoria, água é vida, não à privatização da CEDAE” Querem jogar a CEDAE lá para baixo, mas a CEDAE é uma grande empresa e foi mostrado que onde privatizou, não deu certo. Não adianta tentar encobrir, a Região dos Lagos não deu certo, a Zona Oeste Mais, que é a AP-5, não deu certo, então temos que ter essa tranquilidade, parece que vocês são os donos da verdade ou só vocês falam. Vocês falam por oito horas seguidas para nos cansar, mas não cansarão não. Agora, entraremos com propaganda na Rede Globo e diremos o que o Governador está fazendo com a população do Estado do Rio de Janeiro. O Governador, na sua campanha, foi claro quando à CEDAE, foi para Guapimirim que era o privado que resolveria o problema, no começo de 2019, e disse que não privatizaria a CEDAE, mas que sim, potencializaria a CEDAE, pois ela resolveria

Page 47:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

qualquer problema. Então, fica a pergunta para o rapaz que explica tudo, mas que não diz nada. Eu tive que ir na CEDAE, Resolução de Diretoria, Conselho de Administração, e agora deve estar na mão do Governador, que, se ficar a R$ 1,40, a CEDAE já inicia deficitária e acontecerá o que aconteceu com BANERJ, Barca, Trem, Metrô, de modo que quem segurará o passivo é o povo do Estado do Rio de Janeiro que terá que pegar uma empresa já deficitária. Eles não explicaram, esqueceram e estão fingindo que não estão ouvindo. Em todas as audiências eu perguntei isso, agora, pegarei a Ata do Conselho de Administração que será registrada, que é pública, dizendo que esse valor não pode ser feito, onde a CEDAE inicia em déficit. A questão dos municípios está provada que deu errado, os municípios não querem. Uma carta, uma simples carta pelo correio dizendo se município não quiser, ainda sim o prefeito pode assinar e aderir ao Projeto. Isso é uma covardia, por isso que faremos a judicialização e buscaremos a responsabilização. Eu fico aqui e digo que o Guilherme já foi embora, o senhor Marcelo, o senhor Augusto, o Trata Brasil, todos foram embora. Temos que fazer um presencial que eu quero ver quem vai embora. Arnaldo Goldemberg. Por favor, doutor Augusto Werneck. Augusto Werneck. Doutor Humberto, eu ouvi com atenção a sua manifestação e, ao contrário do que o senhor pensava, eu estava e estou aqui. Realmente, existem algumas questões que são de natureza econômica, principalmente essa questão do preço do metro cúbico da água que na minha ideia, já foi algumas vezes discutida aqui, mas eu acho que isso o Doutor Guilherme poderá explicar bem. Da minha parte, volto a insistir que, em primeiro lugar, nós temos um modelo que contempla a Região Metropolitana e que o Supremo Tribunal Federal decidiu, já há algum tempo, que a ADI nº1842, as pessoas interessadas devem procurar essa Ação Direta de Inconstitucionalidade onde o Supremo Tribunal Federal decidiu que o Poder Concedente na Região Metropolitana é da Região Metropolitana, ou seja, todos os municípios da Região Metropolitana e o Estado tem que deliberar sobre o assunto e decidir sobre a natureza dos serviços públicos de saneamento, no caso, se ele serão objeto ou não de uma concessão. Outro assunto que nós já tivemos oportunidade de debater é a ideia de concessão, que é diferente de privatização, isso porque, o serviço é um serviço público do Estado e dos municípios e continuará sendo um serviço público do Estado e dos municípios, apenas será objeto de delegação na forma prevista pelo artigo 175 da Constituição Federal. Então, essas duas informações eu reitero aqui e espero que tenha atendido a sua indagação. Volto ao Presidente, por favor. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, doutor Augusto. Por favor, Doutor Guilherme Mendonça, sobre a questão do preço cúbico. Guilherme Mendonça. Boa tarde, Doutor Humberto. Em relação ao valor de R$ 1,40, gostaria de pontuar que não esquecemos, porque temos discutido isso diversas vezes com a CEDAE, de modo que já conversamos e fizemos várias reuniões com a diretoria da empresa, principalmente com o Diretor-Financeiro responsável, que é o Régis, o senhor deve conhecê-lo. Portanto, já tivemos várias conversas com ele, inclusive, amanhã, temos uma reunião com ele, uma nova reunião para tratar deste assunto, então, realmente, trata-se de um assunto que estamos aprofundando com a CEDAE em relação à qual seria o valor de venda de água que a CEDAE deveria ter direito, especificamente ao fornecimento de metro cúbico. Desse modo, gostaria de te tranquilizar de que esse valor está sendo discutido com a CEDAE, obviamente, porque ela tem que participar dessa discussão e fazer as avaliações dela para identificar qual seria o preço razoável de venda de água para que a companhia continue operacional, ou seja, para que ela continue pagando as suas contas, porque não é do interesse de ninguém que a companhia fique quebrada após a concessão. A intenção do Estado, obviamente, é que a companhia continue se sustentando, pagando suas contas e faça os investimentos que são necessários, pois sabemos que há um volume muito grande de investimento a ser feito, tanto na recuperação da ETA Guandu hoje, quanto na ampliação, na construção da nova Guandu, então sabemos que há, ainda, uma grande responsabilidade com a companhia que é melhorar a captação e o tratamento de água da Região Metropolitana e isso é uma responsabilidade muito importante que está com ela, porque ela precisa ser capaz de arcar com esses investimentos. Em resumo, isso tem sido debatido sim, estamos discutindo com a diretoria da CEDAE que é a

Page 48:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

principal interessada no assunto. Sobre a modelagem, acho que falamos bastante, mas foi um trabalho muito extenso, passamos quase um ano estudando todos os municípios, a Concremat fez visita técnica em todos os 64 municípios, então todos foram visitados in loco, a Concremat avaliou as principais instalações da CEDAE e fez um levantamento isso tudo que está descrito em relatórios muito extensos que estão inclusive refletidos no Plano Metropolitano de Saneamento e nos Planos Municipais de Saneamento, um relatório daquele tem mais de 100 páginas usualmente, então são relatórios extensos com bastantes detalhes e informações sobre o diagnóstico que foi feito sobre todos os estudos técnicos de engenharia que foram realizados para cada um dos 64 municípios, então houve um estudo muito robusto por trás de tudo isso que estamos fazendo aqui, tudo que estamos nos propondo a fazer. Em relação à aceitação dos municípios, o Werneck já falou bastante e eu só queria complementar que, dentro da Região Metropolitana, praticamente, todos os municípios aceitaram, dois municípios de 23 que foram contrários, então tivemos 21 municípios a favor do Projeto na Região Metropolitana, se houve tantos votos favoráveis ao Projeto, então não é um estudo a ser desprezado. Na Região Metropolitana, a grande maioria dos municípios apoia o Projeto e apoiou o andamento deste processo junto com o Estado do Rio de Janeiro, fato que não consideramos desprezível, pelo contrário, a Região Metropolitana é a região mais importante do estado e tendo o apoio dessa região é algo que já dá bastante peso para o Projeto. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Augusto Werneck e Doutor Guilherme Mendonça. Seguimos então com a palavra para o senhor Sérgio Guedes. Sérgio Guedes. Boa noite a todos. O meu nome é Sérgio Guedes, sou sócio da empresa SCP Consultoria Empresarial, titular de cotas do Fundo de Privatização do Estado do Rio de Janeiro. Esse assunto foi abordado na primeira reunião no tempo de 03 horas e 05 minutos, pelo doutor Fábio Gradel, e, posteriormente, às 03 horas 13 minutos, pelo Doutor Luiz Bortolotto, ambos proprietários também de cotas do Fundo de Privatização. Naquela ocasião, o Doutor Fernando Vernalha disse que apreciaria o assunto e que posteriormente teria uma manifestação que, pelo que eu pude acompanhar até o momento, não houve. Eu protocolei um documento pela página do Estado, mas, assim como outros já se manifestaram, não recebemos protocolo, não houve resposta até o momento. Portanto, gostaria de fazer algumas considerações: hoje, a lei Nº 2.470 de 95 está em pleno vigor, o artigo 4º dessa lei que trata das privatizações e lá elenca as modalidades das privatizações. O Doutor Guilherme Albuquerque se manifestou, em outra oportunidade, no sentido de que a concessão não é uma modalidade de privatização, contudo, todos os processos de concessão que o Estado fez, tais como, barcas, metrô, trem, Via Lagos, foram concessões nas quais foram utilizadas como parte do pagamento as cotas do Fundo de Privatização. Essa Lei é regulamentada pela Resolução da Secretaria de Fazenda nº 2.881, que também está em pleno vigor. Do mesmo modo, há a Lei Estadual que trata, justamente, das concessões, que é a Lei nº 2.831 de 13 de novembro de 97, que dispõe sobre o regime de concessões de serviços, de obras públicas e de permissão da prestação de serviço público, conforme a Constituição do Estado do Rio de Janeiro. É uma Lei Estadual e o artigo nº 26 diz que: “a modalidade de leilão poderá ser utilizada nas licitações para outorga de nova concessão com a finalidade de promover a transferência do serviço público prestado para pessoas jurídicas, sob controle direto ou indireto do Estado do Rio de Janeiro, incluído para fins e efeitos a lei nº 2.470 de 95”, de modo que é isso o que permite usar as cotas do Fundo de Privatização, ainda que não haja alienação das cotas ou ações representativas do seu controle acionário. Ou seja, a concessão na lei é uma das modalidades de se privatizar, não quer dizer que privatizar é transferir todo o controle acionário, mas é transferência sob forma de cisão, modificação ou transformação de qualquer empresa do Estado. Nesse ínterim, quando foi aberto o capital social, com a IPO para abertura de capital social da CEDAE, através do Decreto nº 43.902 de 23 de outubro de 2012, no artigo 2º desse Decreto, que ainda também ainda está em vigor, dispõem: “os titulares de Contas do Fundo de Privatização do Estado do Rio de Janeiro poderão requerer o resgate de suas cotas até o limite de 2%” Então, fica aqui registrado como proposta que ou se coloque dentro do Edital que parte da outorga possa ser utilizada como pagamento das cotas do

Page 49:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Fundo de Privatização ou que se permita aos titulares de cotas em uma emissão secundária de ações, por exemplo, da empresa que vier a ser vencedora, a utilização dessas cotas na aquisição de ações da empresa, lembrando que o artigo 24 da Lei nº 2.470 adverte: “será nula à venda ou alienação que infrinja a Lei nº 2.470”. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Sérgio Guedes. Passo a palavra para a Doutora Angélica Petian do escritório Vernalha. Angélica Petian. Boa noite. Senhor Sérgio Guedes, na outra Audiência em que o senhor fez essas considerações, o Doutor Fernando Vernalha disse que elas seriam consideradas e elas, de fato, estão sendo consideradas. Na verdade, toda essa legislação estadual que foi levantada, tanto a que fala sobre as formas de desestatização, a Lei nº 2.470, quanto a que prevê a modalidade de leilão como utilização nas licitações para outorga de Nova Concessão está considerada, mas acontece que a Lei que trata do Plano de Recuperação Fiscal e que dá em garantia as ações da CEDAE, que é a Lei Estadual nº 7.529 de 2017 que autorizou a alienação da CEDAE, afastou expressamente a aplicação desse Plano Estadual do Rio de Janeiro, indicando apenas que a venda deve ocorrer nos termos da Lei nº 6.404, se houvesse alienação no caso e, portanto, esse arcabouço Estadual acaba não tendo aplicação. Nos estudos jurídicos, tudo isso está considerado e pode ser mais detalhado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, doutora Angélica Petian. Antes de dar continuidade, vou dar voz ao doutor. Augusto Werneck. Um breve momento apenas para dizer que essa lei é de um Governo que eu participei, fiz parte de uma comissão que criou o Plano Estadual de Desestatização, usávamos, justamente, a terminologia desestatização para distinguir aquelas formas que eram de privatização de empresas de outras em que se privatizava empresas que eram concessionárias e de uma terceira que seria a concessão que é uma outra questão, agora, a dinâmica do fundo, realmente, como disse a dra. Angélica, tem que ser examinada e estudada e não podemos responder aqui, assim, no ato, mas que certamente haverá uma regra para contemplar esta hipótese. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Vamos seguir, passo a palavra ao senhor Rubens Gama Rubens Gama. Boa noite, Doutor Arnaldo Goldemberg, demais presentes na mesa, demais colegas assistindo e cumprimento todos os demais na pessoa do Doutor Arnaldo. Sou engenheiro mecânico e advogado, participo de algumas associações, como o Clube de Engenharia, o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia – IBAPE e outras associações. Além disso, hoje também sou conselheiro da Câmara de Engenharia Mecânica – CREA, mas hoje venho aqui falar em nome próprio, em função dessa grande questão para o estado, que é o saneamento. Eu queria trazer para pensarmos um pouco, que toda concessão, normalmente, possui prazos muito longos e uma gama de insegurança jurídica, pois prever alguma coisa nesse país com mais de 2/3 anos é muito difícil. Inúmeras vezes, pelo que colocamos aqui, a tarifa será corrigida pela inflação. Existe uma proposta para ser pensada com os demais colegas, que é fazer um gatilho dentro dessa proposta, que eu chamaria de proposta de ousadia de eficiência. O que é isso? Toda empresa que recebesse a concessão teria que apresentar os seus custos fazendo um levantamento constante de todo o seu passivo em um período de tempo estabelecido no contrato, de modo que alguma empresa que queira assumir a concessão posteriormente, deverá indenizar tudo àquela que tinha ganhado a concessão por preço mais baixo, logo assumirá maior encargo, possa fazer uma oferta hostil ao Estado para que possa prestar o mesmo serviço remunerando e pagando para aquela concessionária que ganhou inicialmente, por um preço mais barato. Em outras palavras, você está dentro do artigo 37 buscando a eficiência e permitindo um gatilho, que de repente 10 ou 15 anos depois, se uma nova empresa desejar assumir aquela concessão, você poderá apresentar todos os seus custos, e ela faça isso, eventualmente, pela tecnologia de Modelagem da Informação da Construção – BIM, que será obrigatória a partir de 2021, e essa nova empresa possa seguir e assumir essa proposta, garantindo que cobrará menos e realizará um serviço melhor, o que eu chamo de proposta de ousadia de eficiência. Ou seja, ela chamará para si, vez que já conhecendo quais são as suas dificuldades, uma nova proposta, sendo essa a primeira sugestão. A outra ideia é que tivéssemos um elemento de qualificação no qual a empresa usasse e mantivesse o know-how de todas as obras de

Page 50:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

conhecimentos dentro do Brasil, preferencialmente aqui no Rio de Janeiro. O segundo elemento, é que houvesse um fator de qualificação da empresa que usasse tanto a mão-de-obra como insumos no Estado, para que possamos fomentar e realizar uma sinergia econômica dentro do Estado pela qual se possa gerar mercancia e impostos no Estado. Portanto, se ela comprar e empregar mão-de-obra de dentro do próprio Estado, nós poderemos ter um melhor aproveitamento econômico fazendo um círculo virtuoso de eficiência econômica no próprio Estado. O terceiro ponto que eu gostaria de destacar é sobre as zonas urbanas, então proponho que haja um incentivo para pequenas e médias empresas que possam ser futuramente geradoras de crescimento e conhecimento de know-how das mesmas dentro do Estado para, futuramente, encampar esses serviços fora do Estado. Essas foram as considerações que eu gostaria de pontuar e me coloco à disposição dos colegas para quaisquer esclarecimentos. Boa noite. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Rubens pelas propostas e sugestões de medidas que podem ser implantadas no contexto do projeto. Não há nenhuma pergunta na manifestação, mas anoto que tudo que está sendo trazido será bem estudado e avaliado para todo o contexto do Projeto e da Consulta Pública, onde nós teremos dentro do cronograma, um período de avaliação de todas as propostas e medidas e serão todas analisadas para aperfeiçoamento do projeto até que o edital seja lançado. Agradeço as sugestões, todas são bem refletidas e, certamente, contribuirão para o Projeto. Muito obrigado, Doutor Rubens Gama. Continuando, passo a palavra ao senhor Sérgio Adriane. Sergio Adriane. Sou engenheiro civil, residente de Rio das Ostras, funcionário público da Prefeitura de Rio das Ostras, e participante EIA, mas, embora isso tudo, estou aqui falando em nome próprio. Boa noite a todos os participantes e os ouvintes desta live. Assim como alguns já abordaram, a minha fala vem no sentido do controle social e do controle técnico. É sabido que são previstos controles interblocos e intrablocos, como o Comitê de Monitoramento, o Comitê Técnico, o Verificador Independente, o Certificador Independente, igualmente esses dois últimos remunerados pela Agenersa. Tal estrutura, no meu entender, é, certamente, insuficiente dado que essas estruturas estão longe da nossa realidade no caso dos municípios do interior, como é o caso de Rio das Ostras. Por outro lado, nós temos a questão da Agenersa na qual questiono a sua capacidade de regulação, não técnica, mas quanto à quantidade de funcionários. Hoje, salvo engano, há por volta de 80 funcionários para regular a energia e o saneamento básico no Estado do Rio de Janeiro, que é imenso, e regula a CEDAE, Prolagos, Águas de Jurtunaíba, a CEG e etc. Estamos falando, na verdade, de uma concessão, de tarifa, tarifa social, dos riscos, da taxa de retorno, das regras de reajustes de contrato, do investimento, do reajuste inflacionário, do impulsionamento da economia via investimentos que virão e, principalmente, das metas de universalização do Saneamento Básico. Portanto, é um plano complexo de concessão onde interesse público deve ser o nosso norte de orientação. Hoje, a realidade de Rio das Ostras é com acesso à água da CEDAE a cada 4 dias, é um racionamento oficial, na verdade, o que entendo ser um absurdo, pois é inaceitável termos essa situação como realidade em pleno 2020. Assim, entendo que sem a ampla fiscalização da sociedade civil de caráter técnico e uma Agenersa forte é o mesmo que termos uma longa locomotiva sem maquinista e, nesse contexto, o usuário tem uma representação pífia, motivo que gostaria de fazer a seguinte proposta: inserir um Comitê Técnico permanente em cada município com poder de voz e veto, remunerado ou composto por técnicos da Prefeitura, por exemplo, mediante remuneração via gratificação ou outro critério a ser adotado caso venha a ser implementado. Isso porque há um inegável potencial represado nesses corpos técnicos dos municípios que precisam ser utilizados na fiscalização e na contribuição deste processo, uma vez que detém conhecimento de décadas de experiência. O outro ponto, diz respeito às metas de concessão: hoje de 90% de esgoto e 90% de água, claro que em 10/15 anos, dependendo de como for em cada município, haverá a expansão de loteamentos irregulares, ainda que indesejada, assim, pergunto: como será tratado esse problema dentro desta concessão? Então, esse foram os meus dois pontos, uma sugestão e uma pergunta sobre a expansão dos loteamentos irregulares. Obrigado e boa noite a todos. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Sérgio. Passarei, inicialmente, a

Page 51:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

palavra ao Doutor Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Boa tarde, Doutor Sérgio. Em relação ao controle social e técnico, podemos avaliar essa proposta que o senhor fez da criação do comitê técnico em cada município, obviamente que, em termos de gestão contratual, parece-me que ele deveria ser um comitê mais consultivo do que um comitê que faz uma gestão contratual, porque, caso contrário, você estaria diluindo essa gestão contratual entre todos os municípios, o que dificultaria muito e geraria uma complexidade muito grande na gestão contratual, enquanto que a ideia aqui é o contrário: ter uma gestão contratual mais centralizada na figura do Estado, na figura da agência reguladora e que o concessionário tenha uma relação direta com o Estado e a agência e uma relação indireta com os municípios. Claro que ele se relacionará com os municípios, terá que coordenar investimentos com os municípios, mas a relação direta dele é com o contratante que é o Estado do Rio de Janeiro e agência reguladora que faz a fiscalização e a regulação da prestação dos serviços. Em relação à estrutura da Agenersa, o que há é a criação do que você mesmo mencionou, a contratação de algumas entidades que vão assessorar a Agenersa, o que, realmente, é um trabalho muito relevante, então a Agenersa tem que estar preparada para assumi-lo. Hoje, ela já fiscaliza a CEDAE na prestação de 64 municípios, então já é uma atividade que ela executa, mas entendemos que ela tem que estar preparada para executar, a contento, a fiscalização e a regulação deste Contrato. Para isso, prevíamos aquelas figuras como a Certificadora Independente e o Verificador Independente que são entidades independentes que prestarão assessoria à agência reguladora nessa função de fiscalização do contrato, sendo essa a intenção. Em relação ao fornecimento de água em Rio das Ostras, sabemos das dificuldades que existem hoje na cidade, então o Projeto considerou um investimento na parte de tratamento e produção de água em Rio das Ostras para tentar atender essa carência que existe no município em relação ao fornecimento de água. Esses são os meus pontos e eu queria só comentar que, em relação à expansão de loteamentos irregulares, eu não peguei exatamente qual é o questionamento, então se o senhor puder esclarecer aqui. Arnaldo Goldemberg. São as áreas não consolidadas da Lei 13.645. Aproveito para passar a palavra ao doutor Augusto Werneck. Eu quero cumprimentar o Sérgio Adriane que fez uma proposta muito bem elaborada. Tenho pensado e, até mesmo hoje já falei aqui algumas vezes, sobre a questão da participação e a lei antiga, Lei nº 11.445, dizia isso e a lei nova, o Novo Marco Regulatório, continua dando ao município o modelo participativo no controle da gestão do saneamento básico, então acredito que deva haver um fórum de participação no município e acho que a comissão que você propõe é muito interessante nesse sentido, acho que é algo que deveríamos estudar com maior profundidade e que deveria ser objeto de uma formulação por escrito sua no processo de Consulta Pública para dar maior densidade talvez, com maior profundidade que aqui a gente não consegue ter, mas eu acho muito boa essa formulação e acredito que, assim, já dando talvez um passo eu pegando carona nessa ideia tão boa, esse foro de participação municipal e essas comissões controladoras dentro do município, técnicos ou tecno-populares, conforme fosse, deveriam controlar as obras para evitar essa consequência que pode ser danosa que é o aumento de loteamento de ocupações irregulares, então, a partir disso, aplicar o modelo da Lei nº 13.465, que é um modelo muito bom e aproveitar a parte boa das obras de saneamento, que é fazer com que as obras de saneamento ocorram pari passu com as obras de urbanização de pavimentação e drenagem. Eu gostei muito da ideia, assim como o Guilherme assinalou, acho que podemos desenvolver bem isso. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Seguimos agora com o senhor Eduardo Pereira, acolhendo uma sugestão do chat, indico que, após o senhor Eduardo Pereira, será a senhora Luana Barreto, para que já possa preparar câmera e áudio para a vez seguinte. Passo, agora, para o senhor Eduardo Pereira. Aparentemente, o senhor Eduardo se encontra com alguma dificuldade técnica, motivo pelo qual passaremos para a senhora Luana Barreto e solicito que o senhor Ary Girota já prepare o seu equipamento para o caso o senhor Eduardo não resolver o problema técnico. Por favor, senhora Luana Barreto, pode abrir o seu áudio. Luana Barreto. Boa noite a todos. Sou arquiteta e urbanista, colaboradora do Sindicato dos Arquitetos do Rio de Janeiro

Page 52:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

e sou moradora de São João de Meriti, nascida e criada em Coelho da Rocha, mas moro aqui toda a minha vida. Gostaria de reforçar, como colaboradora do Sindicato dos Arquitetos do Rio de Janeiro, que o nosso posicionamento é terminantemente contra o processo privatização do saneamento e da água entendendo que esses são direitos básicos da população e que precisamos preservar e manter como um direito da população. Iniciando então a minha fala, como moradora de São João do Meriti, gostaria de pontuar que, em algumas, outras falas fomos citados e nós gostaríamos de estar sendo representados nessa mesa também para mostrar diversidade, não queremos ser elementos para poder legitimar discursos, queremos estar presentes para poder discutir e debater, porque também nos organizamos, pensamos política, temos associações de moradores e frentes comunitárias e reforço, acho que a fala da Carolina que foi sobre a importância de trazer as pessoas para a discussão, pois estamos cansados de ver a Trata Brasil trazida como representante da sociedade civil, quando queremos ouvir opiniões divergentes. Nós que somos das baixadas, periferias, favelas, queremos deixar de ser token para legitimar as políticas que são dos interesses dos empresários e queremos falar, por conta própria, das nossas dificuldades, queremos mais do que cinco minutos nesse quadrado de vídeo, queremos estar na mesa, convide-nos pois nós sabemos falar dos nossos próprios problemas. Como moradora de São João de Meriti, gostaria de falar um pouco sobre a nossa situação onde passamos por um processo de concessão onde muita coisa deu errado, mas, no geral, quero falar que a CEDAE não pode servir de moeda de troca para poder pagar as dívidas do senhor Cabral, portanto, precisamos nos questionar: por que a CEDAE tem um serviço que é insuficiente? Precisamos entender o motivo pelo qual o serviço está precarizado. É necessário um tratamento proporcional para a questão. Quando falam do setor privado, há todo um tom de condescendência, mas quando falam do setor público, temos uma postura de condenação e de não entender que a CEDAE é sabotada e sucateada para atender os interesses do setor privado. Falando agora um pouco sobre a situação de São João de Meriti, farei a leitura de uma matéria que está aqui aberta. Em 2015, na gestão do senhor Prefeito Sandro Mattos, São João de Meriti passou por um processo de concessão para o setor privado, na questão do saneamento do município, onde a empresa Águas de Meriti, grupo formado pela Angé e Conasa, ficou responsável por um contrato que seria de 8 anos, contrato que, inclusive, a Agenersa passou 1 ano sem fiscalizar, o que prejudicou muito a possibilidade de haver controle social. Então, já temos essa dificuldade com o órgão regulador, da sua estrutura, como já foi pontuada algumas outras vezes, e isso dificultou muito a questão do controle social. Diante do pouco tempo, resumirei. Na época, foi colocado que a empresa chegaria em 90% do esgoto tratado, que nós, por meio desse convênio em 8 anos, a cidade a primeira da Baixada Fluminense a ter 90% do esgoto tratado, mas o que vimos, na realidade, após 14 meses, foi a empresa deixando de cumprir o contrato, que era inicialmente de 8 anos, ela foi embora e nos deixou a aqui sem os serviços, sob a alegação de pendências administrativas do Governo Estadual. O que é curioso no município onde por exemplo, dos que possuem registro, 65% fica em inadimplente e 20% sequer tem registro, ou seja, é muito curioso como eles perceberam que aqui o serviço, talvez, não fosse lucrativo e, simplesmente, largaram a prestação do serviço deixando tudo às custas da CEDAE. Assim, se não fosse pela CEDAE quando empresa abandonou a prestação de serviço, não teríamos a quem recorrer. Ao pesquisar mais sobre a Concessionária Águas de Meriti, vemos que a Conasa e Angé são compostas pelo Fundo Soberano de Singapura e pela GPI Participações e Investimentos, inclusive por pessoas que estavam envolvidas em corrupção durante o Governo Collor, como João Mauro Boschiero e Pedro Paulo Leoni Ramos. O que essas pessoas têm em interesse de fornecer saneamento de qualidade para a população de São João de Meriti? Deixo o meu questionamento. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Abro a voz para o Doutor Guilherme Mendonça Guilherme Mendonça Primeiro, gostaria de fazer um breve histórico. Essa concessão de São João de Meriti é muito antiga, não sei detalhes, mas, até hoje, o que eu vejo é que a concessionaria nunca conseguiu, efetivamente, assumir a prestação dos serviços e há uma discussão com a CEDAE em relação à prestação de serviços e à assunção da gestão comercial,

Page 53:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

porque é um modelo parecido com o que foi feito na AP-5 em termos contratuais, em que a concessionária fica com o esgotamento sanitário e faz a gestão comercial e a CEDAE continua fazendo a distribuição, o fornecimento, enfim, toda a cadeia de fornecimento de água. Sei também que houve impasse entre as duas empresas, entre a Prefeitura e a CEDAE e esse impasse gerou a dificuldade de o concessionário assumir a prestação do serviço. Não acho em que São João de Meriti seja questão de viabilidade econômico-financeira, é um município, aparentemente, que pode ter grande atratividade, porque é um município bem populoso e grande da Região Metropolitana, então, eu não enxergo problema nesses aspectos. De novo, não conheço detalhes do caso e estou falando pelo que eu sei, mas não conheço um problema na área em decorrência da falta de atratividade do negócio. Acredito que foi uma questão do modelo que foi desenhado e a dificuldade em implantar esse modelo por essas dificuldades entre CEDAE, concessionária e Poder Concedente, que no caso foi a região de São João de Meriti. No caso atual, trabalhamos com um modelo muito mais robusto do que esse, um modelo que tem uma certa independência, onde entendemos que não passaremos por esses problemas como aconteceu de São João de Meriti para viabilizar a concessão. É certo que tentamos aprender com os casos que acontecem e aperfeiçoar para que os mesmos problemas não se repitam, então a ideia aqui é, justamente, a de ter um modelo mais robusto e que o concessionário consiga entrar na operação, executar e fazer todos os investimentos para, efetivamente, atender à população que hoje está muito mal servida, independentemente de estar a CEDAE ou não operando em determinada localidade. Sabemos que São João de Meriti é um município que ainda demanda muitos investimentos para aprimorar o serviço de saneamento básico, assim como vários municípios da Baixada que hoje a CEDAE atende que também demanda muito investimento ainda para se alcançar uma qualidade razoável de esgotamento sanitário, onde sabemos que está bem abaixo da crítica o nível de prestação do esgotamento sanitário na Baixada Fluminense e isso contribui para a poluição da Baía de Guanabara e da Baía de Guandu, implicando na qualidade da água que se fornece, então é uma situação que agrava toda a região pelo baixo nível de qualidade da prestação de serviço e o que buscamos é, justamente, a melhoria da prestação de serviço para toda a população da Baixada Fluminense e, obviamente, aperfeiçoamento dos modelos que tiveram problemas no passado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Guilherme Mendonça. O senhor Eduardo Pereira já se encontra com o áudio e som liberados e já pode fazer o uso da palavra. Eduardo Pereira. Boa noite a todos, em primeiro lugar gostaria de parabenizar a todos que estão participando desta Audiência, por sua resistência depois de horas de discussão. Eu lamento muito o doutor Guilherme Albuquerque não estar mais presente, pois eu gostaria de dar os parabéns a ele pela sua competência de vender essa imagem da modelagem do BNDES e que, certamente, se eu não tivesse 15 anos de atuação no saneamento da cidade do Rio de Janeiro, eu talvez tivesse até me convencido de que realmente a modelagem é positiva para a cidade, para o Estado. Mas, na verdade, percebemos várias inconsistências nessa modelagem, mas eu não tiro o mérito do Doutor Guilherme, porque, afinal, uma mentira contada seguidamente assume a condição de verdade e, realmente, se você voltar a fala dele onde disse, claramente, que a modelagem está de acordo com o Novo Marco Legal do Saneamento, basta olhar as datas das metas que entenderemos, com facilidade, que essa modelagem não se aplica diante deste Marco Legal que virou lei, uma vez que ele estabelece 90% de cobertura para saneamento básico em todo o território nacional, enquanto que as metas da modelagem são de 30 anos. Então, na verdade, observamos uma inconsistência já neste ponto. Outro ponto que o Doutor Guilherme sempre defende é a questão da tarifa, alegando que ela não sofreria acréscimo, enquanto que na modelagem está previsto um rearranjo, um reequilíbrio, sempre que alguma das premissas não se confirmarem, mas, vemos uma fragilidade em algumas delas, como em pressupor que a cidade do Rio de Janeiro tem em sua grande parte o atendimento adequado no sistema de esgotamento sanitário, quando na verdade, a rede que existe na maior parte da cidade é uma rede muito antiga, muito vulnerável e com muitos gatilhos para manter o seu funcionamento e esses gatilhos funcionam através de extravasores para drenagem.

Page 54:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Essa fonte é em cima de dados, não estou falando nenhuma besteira e sabemos muito bem que isso existe e que exigirá da concessionaria uma atuação muito rigorosa no sentido de corrigir essas inadequações e fragilidades da rede existente, então, é notório que, logo no início, será objeto de um reequilíbrio e as tarifas, certamente, subirão. É preciso colocar que a cidade do Rio de Janeiro não é contra a modelagem, ou fazer arranjo com outros municípios, mas é preciso que a cidade do Rio de Janeiro seja ouvida, afinal, 6 milhões de pessoas moram nessa cidade e mais ou menos 2 milhões frequentam, mesmo morando em outros municípios da Região Metropolitana, e essas pessoas não podem ser penalizadas por um modelo absolutamente contrário ao atendimento das necessidades do estado do Rio de Janeiro. O Doutor Augusto Werneck, que fala com tanta ênfase e ódio contra o voto do Município, inclusive, declarou na segunda Audiência que o Município teve o seu voto vencido e, portanto, não tem direito a opinar, tampouco a participar ativamente dessa modelagem, então, lamento essa fala, não sei o motivo de ele alimentar tanto ódio pela cidade do Rio Janeiro, mas, certamente, ele estará prejudicando, além dos 6 milhões de moradores da cidade, também outros tantos que vêm aqui ganhar o seu sustento. É muito desagradável circularmos pelas ruas de Botafogo e sentirmos o odor do esgoto saindo das galerias de água pluvial e, agora, com a proposta de captação por tempo seco, teremos isso oficializado, afinal, a mesma galeria conduzirá o esgoto e a água pluvial. Essa teoria de modelagem de captação por tempo seco em que está previsto um investimento percentualmente muito alto. Então, o que deveria ser uma etapa da solução, o Projeto tem como solução definitiva e não resolve, conforme já mencionei. Obrigado pela oportunidade e não farei perguntas, mas gostaria de comentar que é desleal vocês terem o tempo que bem entenderem para a resposta e apenas 5 minutos para fazer o questionamento. Obrigado a todos. Arnaldo Goldemberg. Doutor Guilherme Albuquerque, gostaria de fazer alguma consideração? Guilherme Albuquerque. Em relação ao tempo, o Doutor Eduardo pode ficar tranquilo, pois responderei dentro dos 5 minutos. Primeiro ponto, não há nenhuma mentira da minha parte, não há nenhum problema em divergir, mas acho que foram usadas palavras completamente inadequadas. Inicialmente, sobre as metas, nós conhecemos muito bem o novo Marco Legal e ele prevê 2040 como a possibilidade de se alcançar a universalização dos serviços em alguns casos, como é o caso daqui. No final do Projeto ou quando ele for lançando, em função da data, algum outro ajuste poderá ser feito nas metas dos últimos municípios para antecipar em 1 ou 2 anos e, evidentemente, conhecemos o Marco e isso será atendido. Quando eu disse em relação à teoria do Marco Legal, era sobre a regionalização, que, pelo que eu entendi o discurso do Eduardo, acaba sendo um pouco contraditório, pois ele fala mal da prestação de serviço, mas é contra o Projeto, ou seja, o Projeto vem justamente sanar essas deficiências que o Doutor Eduardo colocou em relação à prestação dos serviços. O Rio de Janeiro está muito longe de não ser ouvido pelo BNDES, como já falei, e o Presidente do Rio-Águas pode confirmar isso, e várias reuniões têm sido feitas e estamos aproximando, tecnicamente, com a Rio-Águas e avançando em vários aspectos. Sobre o reequilíbrio, ele só acontece se a matriz de risco assim a estipular, então, as questões que estão sendo definidas e discutidas com o município do Rio, através da Rio-Águas, são, justamente, para dar esse conforto para o investidor de que há espaço para endereçar algumas das preocupações colocadas pela Rio-Águas. Assim, não há que se falar em abandono do Rio de Janeiro, muito pelo contrário, cerca de 1/3 do total de investimento é no município do Rio de Janeiro, então não há, aqui, nenhum prejuízo, muito pelo contrário, porque o município do Rio de Janeiro possui um valor de investimento muito acima do historicamente realizado pelo Rio de Janeiro. É importante colocar no modelo que o próprio município do Rio de Janeiro utiliza ainda hoje, na região da AP-5, uma concessão de saneamento divididas em áreas de planejamento conforme o município do Rio já faz. Em relação à solução de tempo seco, eu concordo com o que foi dito, não acho que ela seja uma solução definitiva, muito pelo contrário, é uma solução de curto prazo para a construção das redes separativas que serão feitas desde o início. Assim, é importante dar esses esclarecimentos e dizer que continuamos trabalhando para chegar no consenso entre as partes com a Rio-Águas e que já fizemos várias reuniões. Estou

Page 55:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

vendo que o Doutor Claudio Dutra está inscrito aqui e tenho certeza de que irá nessa direção sobre as reuniões que estamos fazendo, com a preocupação de chegar no fim do dia com um modelo de Projeto que atenderá a população. Esses foram meus esclarecimentos que fiz em 03 minutos e 35 segundos. Obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Guilherme Albuquerque. Passo a palavra ao Doutor Augusto Werneck. Augusto Werneck. Vou ser ainda mais breve do que foi o meu querido companheiro Guilherme Albuquerque, para dizer que, apesar de ter todo um conteúdo de provocação, eu posso falar sobre esse assunto com muita tranquilidade, porque eu sou carioca e fluminense de 400 anos. Normalmente, quem fala isso é paulista, mas eu posso falar isso por conta da minha origem familiar e fui 5 vezes Secretário Municipal do Rio de Janeiro, então tenho toda uma relação, não só com a Cidade, mas com o serviço público municipal. Por causa disso, compreendi certas realidades, principalmente a de que a nossa cidade do Rio de Janeiro não existe hoje se não for integrada à Região Metropolitana por conta da história; como a pobreza da Região Metropolitana é diretamente proporcional ao desenvolvimento urbano da Zona Sul e das áreas mais prosperas da cidade do Rio de Janeiro, principalmente nos investimentos em saneamento e especialmente nos investimentos em água. Então, essa é a situação que hoje vemos diante de nós, por causa disso a cidade do Rio de Janeiro, por força da Lei, da Constituição Federal, da Constituição do Estado e da ADI nº 1842, integra a Região Metropolitana, onde os municípios participantes discutem e deliberam. Quando a cidade do Rio de Janeiro, eventualmente, perder alguma votação, como bem recomenda a democracia, ela tem que seguir a maioria e foi apenas isso o que eu disse, ponderando com o princípio de democracia e de solidariedade e ambos verificados, não apenas na minha experiência profissional, mas também na minha trajetória de vida. Essas eram as considerações que eu tinha a fazer ao Doutor Eduardo Pereira. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Werneck. Dando continuidade, passo a palavra ao senhor Ary Girota e o Dr. Cláudio Dutra será o seguinte. Ary Girota. Boa noite. Muito obrigado, Doutor Arnaldo, pela sua paciência e sua delicadeza na condução desta Audiência. Gostaria, também, de agradecer à Doutora Angélica, que não conheço, mas estou vendo aqui no vídeo, pela sua conduta exemplar em uma audiência pública, por se manter em uma postura de respeito com todos que participaram desta Audiência, sem fazer nenhum tipo de ironia ou brincadeira, então parabéns pela conduta. Primeiramente, gostaria de aproveitar a fala de um dos debatedores que compõem a mesa, porque considerar a Concremat como uma empresa a altura de realizar um estudo desta dimensão, é só fazer uma pesquisa sobre a Concremat na internet. Segundo, os dados robustos que são alegados aqui pelos debatedores do lado do Governo datam do IBGE de 2010, contudo, estamos em 2020, logo, essa robustez, em que se apressaram para falar dela, como mencionado pelo Gustavo Prado, ao invés de responder as indagações do senhor Edes de Oliveira, acabou trazendo o IBGE para dentro do debate e o foco que era Maricá acabou não sendo respondido e assim será com todas as outras prefeituras. Então, seria importante, não necessariamente, que respondesse a minha pergunta, mas trouxesse dados concretos. Terceiro, para o Doutor Marcelo Lopes, que não respondeu ao questionamento de uma companheira nossa, sobre qual foi o critério jurídico para a exclusão dos conselheiros do Conselho Consultivo e do Conselho Deliberativo da Câmara Metropolitana. Por que estou questionando isso? Já tive a oportunidade de comentar em outra Audiência Pública, pois eu fiz mais de 15 audiências públicas, integrei quase todos os grupos de discussão para a constituição da Câmara Metropolitana e, obviamente, alguém que me antecedeu, não lembro quem, comentou que o BNDES não atua politicamente, posição essa que eu entendo diferente, mas não é a questão aqui. Acredito que o senhor Marcelo poderia explicar qual foi o critério jurídico adotado pelo Governo do estado, que sabia que, com aquela composição, este Projeto que traz para a mesa de concessão/privatização não estaria tramitando de forma tão confortável como está. Os membros presentes nesta mesa representam o estado e estão defendendo um Projeto, uma ideologia, um conceito. A prova maior disso é o Professor Arildo, que se aventurou a defender Rio das Ostras, Arraial do Cabo. Em Rio das Ostras, inclusive, o saneamento é separado entre a CEDAE e o particular e o professor parecia mais

Page 56:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

que estava tentando defender um lado, se posicionando de uma maneira incorreta. Por fim, o questionamento principal que eu faço é sobre a carta que o Doutor Marcelo Lopes enviou aos prefeitos, tenho ela aqui em mãos e gostaria apenas de ler uma parte, pois é importante para contextualizar: “Vale registrar, ainda, que a nova redação do §4º do artigo 8º etc. permite aos Chefes dos Poderes Executivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a formalização da gestão associada para o exercício de funções relativas aos serviços públicos de saneamento básico, ficando dispensada, nos casos dos convênios de cooperação, a necessidade de autorização legal.” Ou seja, o que Maricá fez com a CEDAE, com o Governo do Estado, pode ser feito nos 32 municípios que estão se negando a aderir a este Projeto privatista. Segundo ponto importante, “da mesma forma, os planos de saneamento básico agora poderão ser aprovador por decreto, uma vez que a nova redação do art. 19º da nova lei prevê que os planos de saneamento básico serão aprovador por atos dos titulares e poderão ser elaborados com base em estudos fornecidos pelos prestadores de cada serviço.” Parece uma coisa inocente, mas, na verdade, quem atua no saneamento sabe muito bem que não é assim. O Plano Municipal de Saneamento Básico serve como uma ferramenta de controle e participação social, mas passará a ser orientado pelo ente que presta o serviço, ou seja, o privado. É o privado dizendo o que fazer e o que ele quer fazer. Por fim, cabe ressaltar aqui ainda sobre a carta: “posteriormente, caso ocorra a adesão, será necessária a edição de decreto.” ou seja, os prefeitos ficarão na mão dos entes privados e nós já não temos qualquer controle, tendo em vista que a Agenersa, que já é fraca, passa a não ter poder nenhum e porque passa tudo para a ANA. Então, os prefeitos que nos assistem têm que estar muito atentos a este Projeto, pois não representa as prefeituras e o povo do Rio de Janeiro. Portanto, ainda que seja um projeto legal, e a concessão é, sim, uma forma de privatização do saneamento no Rio de Janeiro, água é vida e vida não se vende. Agradeço a atenção. Arnaldo Goldemberg. Passo a palavra para o Doutor Augusto Werneck. Augusto Werneck. A carta aos municípios é um documento do Secretário de Estado para os prefeitos informando a posição das ações do estado do Rio de Janeiro em relação ao saneamento e, especificamente, as medidas necessárias para a concessão. Quando se fala nos requisitos legais para a assinatura de convênio e para aprovação dos planos municipais de saneamento, se fala um pouco do óbvio, tendo em vista que estamos na transição de um regime da Lei nº 11.445 para o Novo Marco Legal de Saneamento, que introduz algumas modificações, mas não há, naquela carta, nenhum teor de pressão indevida, tampouco de impacto ao que pretende o estado aos munícipios. O estado quer, com este Projeto, trazer para os municípios uma solução que não foi dada até hoje. Quando falamos em falta de saneamento, falta de captação de esgoto, falta de abastecimento de água na Baixada Fluminense, nas favelas e nos municípios do interior do estado, nós estamos falando do passado e do presente, mas o nosso Projeto é voltado para o futuro. Portanto, estamos com um modelo para ser apresentado no futuro, não nos parece que o passado seja defensável e o que havia de conteúdo naquela carta era meramente de aproximação entre o estado e os municípios e informações jurídicas necessárias para que os prefeitos desenvolvessem melhor as suas políticas de saneamento, tendo sido pura e simplesmente enviada com essa intenção. Por isso, é muito estranho que a carta e todas as manifestações e essa audiência pública, que é um exemplo de democracia, sendo a 3º audiência pública, sejam, de alguma maneira, manipuladas ou que sirvam a um discurso exaltado. Nada disso poderia acontecer, então, eu não tenho o que falar sobre uma abordagem que, na verdade, não foi uma abordagem técnica, senão uma abordagem idealizada que tenta defender esse passado a que eu me referi, mas, de todo modo, é uma abordagem legal e legítima prevista na Constituição, e quando nós fizemos esta Audiência Pública, estamos celebrando um pouco a máxima de Voltaire segundo a qual nós defenderemos o direito de todos dizerem o que quiserem ainda que não concordemos com isso. Então, nós estamos aqui vendo o que não concordamos, mas que temos que ouvir e prestar atenção. Essas são as minhas considerações e não tenho o que falar mais juridicamente. Obrigado, Presidente. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Werneck. A palavra ao doutor Claudio Dutra. Claudio Dutra.

Page 57:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Gostaria de saudar a todos presentes neste debate, nesta Audiência, na pessoa do doutor Arnaldo. Gostaria de esclarecer que, nesta 3º audiência, desde às 14:00hrs da tarde, agora já são 20h, nós estamos com uma média de apenas 90 espectadores, e que, nas últimas duas Audiências, tivemos uma média de 83 na primeira e um pouco mais de 90 na segunda; assim como a de visualização nessas Audiências, tivemos, na primeira, algo em torno de 1.200 visualizações, até então, e por volta de 1.500 visualizações na segunda. Vale destacar que não estamos querendo discutir teses para fundamentação jurídica; há, sim, uma insegurança muito grande e, em função disso, a Prefeitura do Rio de Janeiro foi contra essa formatação da concessão e vale também esclarecer, Doutor Guilherme Mendonça, quando o senhor comentou que apenas 2 dos 22 municípios não teriam aderido ao Projeto, o senhor está falando simplesmente dos 2 municípios com maior representatividade na Região Metropolitana, a cidade do Rio de Janeiro e a cidade de São Gonçalo, que representam mais de 60% da população da Região Metropolitana. Ou seja, estamos falando dos 13 milhões da região metropolitana e mais de mais de 8 milhões de pessoas que a sua representatividade entende do porquê nós fomos contra essa formatação. Sobre as reuniões, estamos, de fato, fazendo os encontros como o Doutor Guilherme Albuquerque mencionou, mas porque o município foi atrás dos senhores para saber o que estava acontecendo, porque, contrariando o Estatuto da Metrópole, que diz que planejamento devia ser feito em conjunto com os municípios, este foi feito sem nenhuma consulta prévia e vejo, hoje, com clareza, que o próprio município de Maricá não foi consultado, conforme indicado pelo Doutor Edes de Oliveira. Ou seja, as nossas intervenções junto aos senhores estão sendo técnicas porque entendemos que o modelo de concessão é o modelo que deve funcionar e trazer uma melhoria no saneamento para a população do município do Rio de Janeiro, a qual representamos, mas não com as informações e os dados que estamos discutindo há muito tempo, pelo menos desde o final do ano passado, quando eu fui, pessoalmente, procurar o então Presidente da CEDAE e consegui uma reunião com os senhores e, desde então, temos tido algumas reuniões e debates. Contudo, cabe registrar que, em nenhum momento, o que nós passamos, informamos, foi remodelado. Além disso, falo dessas informações que as divisões que os senhores fizeram e informam na apresentação que o senhor fez mais cedo, dizendo que procuraram e apresentaram as divisões de bacia hidrográfica. Doutor Guilherme, desculpe-me, mas eu tenho que corroborar com o nosso colega aqui da Rio-Águas, o Doutor Eduardo, especificamente com relação à afirmação de que o referido Bloco 1 se divide em 5 regiões hidrográficas diferentes, de modo que os senhores não se preocuparam com as regiões hidrográficas e muito menos com a do município do Rio de Janeiro. Dois blocos do município do Rio de Janeiro não têm conflito nenhum com outras áreas da Região Metropolitana, tal como área da AP-4 e da Zona Sul, AP-2 que fazem a drenagem da sua bacia para o oceano. Portanto, senhores, o que o município do Rio de Janeiro e a Fundação Rio-Águas, que representa o município, desejam é que a modelagem seja feita corretamente para que seja exitosa. Se não for levado a sério, não funcionará e teremos problemas futuros e em um futuro próximo, pois teremos reequilíbrio e nenhum investidor desejará colocar mais dinheiro em cima daquilo que não está no contrato, por mais risco que se aloque a ele. Sobre a cidade do Rio de Janeiro, a Zona Sul não tem 90% de esgotamento e água. Se assim fosse, nós, tranquilamente, estaríamos tomando banho na Enseada de Botafogo, então isso não é verdade, as redes são obsoletas e há a necessidade de investimentos muito maiores do que está previsto, mas com mais investimento a outorga inicial será menor e, se a tarifa não for remodelada, daqui a algum tempo deverá ser reajustada, diferentemente do que está previsto no contrato. Além disso, já enviamos ao Conselho Metropolitano, ao Ministério Público, ao BNDES, e à Secretaria os nossos estudos, de modo que tudo isso que estamos falando aqui foi enviado oficialmente e temos uma planilha com 133 pontos que encontramos em todos os itens que foram formatados pelo BNDES. Nós disponibilizaremos para o sítio eletrônico e enviaremos oficialmente e colocaremos no site da Fundação Rio-Águas para que todos tenham o conhecimento daquilo que o município, quando foi na Região Metropolitana, disse não. Assim, reitero que o que queremos é que seja feito da forma

Page 58:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

correta, com os números coerentes e que a população não continue pagando a conta por esses erros. Não adianta vir aqui e falar que estamos fazendo reuniões se nada do que pontuamos é efetivamente avaliado ou remodelado. A modelagem com o número que nós apresentamos implicará diferença nos investimentos, nós somos técnicos e sabemos do que estamos falando. Então, o que queremos é que seja remodelado com base nos números corretos, nas informações que nós passamos, assim, poderemos discutir tecnicamente aquilo que dará certo. Se precisarem, estamos à disposição. Obrigado pela oportunidade. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Claudio. Passo a palavra para o Doutor Guilherme Albuquerque. Guilherme Albuquerque. Acho que não cabe ficarmos nos estendendo, mas acho que dois pontos valem ser colocados. Em relação à bacia hidrografia, repito, o Projeto está aderente ao Marco Legal. O conceito de blocos não precisa estar com municípios limítrofes, o conceito que se tem não é apenas da bacia hidrográfica, ela é um deles como nós colocamos. Então, é importante que todos tenham ciência disso. Foram agrupados de forma que não há divisões de meios de bacia hidrográfica, o que há, sim, é um Bloco que contém diferentes bacias hidrográficas e não há nenhum problema em relação a isso. O que não faria sentido é a gente pegar uma rede de esgoto que segue naturalmente por uma região e quebrar isso pela metade. Em nenhum momento nós falamos que só tem uma bacia hidrografia em um determinado Bloco, claro que não. Evidentemente, a Zona Sul do Rio de Janeiro e o Norte do estado não dividem a mesma bacia hidrográfica. O que foi dito é que esse é apenas um dos critérios, como outros foram utilizados. Com relação ao CAPEX, estamos avaliando as informações da AP4 apresentada para vocês e estamos construindo a solução, a última reunião aconteceu, sem ser na última sexta, na anterior, então, havendo interesse técnico em resolver e, até agora, não há que se dizer nada contra isso, acredito que consigamos resolver, tanto que o senhor não chegou nem a mencionar a questão da AP-4, porque eu acho que já estamos chegando a um consenso e a Zona Sul do Rio, a matriz do risco, conforme conversamos, resolverá de tal forma a dar conforto para o investidor. No mais, a rede de drenagem, já estamos conversando e acredito que também será resolvida; assim como áreas irregulares que estão sendo urbanizadas, a mesma coisa, enfim, todos os pontos que vocês trouxeram estão sendo endereçados, até porque ainda não é o momento de entregar soluções prontas, a Consulta Pública ainda está acontecendo. Como remodelaremos alguma coisa se as sugestões ainda estão chegando? Ao término da Consulta Pública, observadas todas as contribuições, o BNDES chegará com os seus consultores e proporá um desenho observando tudo que foi anotado, para, então, dar prosseguimento ao processo. Essa é a fase atual do Projeto e serve para todas as sugestões e comentários recebidos, inclusive os feitos pela Rio-Águas, apesar de que nós já passamos para eles diversas informações. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Guilherme. No que diz respeito aos números do webinar, houve um número maior do que 700 participantes, pois, na segunda, foram contabilizados mais; além dos que assistem no Youtube permanentemente, houve os que participaram e assistiram ao vivo no Youtube e os demais que, diariamente, visualizam as audiências gravadas na plataforma. Assim, o número é muito maior, Dr. Claudio Dutra, a informação instantânea que o senhor viu neste exato momento não corresponde ao exato número dos que assistem, porque os números dos presentes na Audiência Pública devem ser contabilizados levando considerando o de pessoas que entram, permanecem algum tempo e saem. Então, na realidade, recebemos esse número da plataforma Zoom que contabiliza o número de pessoas que ingressam na Audiência Pública, sendo esses os que entram, permanecem e saem. Pessoas que ficam 1 hora, outros ficam muito mais tempo, há pessoas que permanecem durante toda a duração, outras pessoas que ficam 2h, 1:30hrs ou 3h. Portanto, o número correto é aquele que recebemos da plataforma no relatório final, sendo aquele que corresponder a realidade de uma audiência pública, o mesmo ocorre em uma audiência pública presencial: há pessoas que entram após o começo e saem antes, ou chegam no início e saem ao longo da audiência pública, logo, esse é o número que corresponde exatamente àqueles que presenciam a audiência pública. Para a Audiência Pública de hoje, só saberemos o exato número dos que participam quando chegar o

Page 59:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

relatório final da plataforma Zoom. Portanto, o número é bem maior e é necessário considerar o número de pessoas da plataforma Zoom, ao vivo, e no Youtube, ao vivo e posteriormente. Dando sequência, passaremos a palavra para a senhora Fernanda da Silva Oliveira e, por favor, senhor Danilo Cerqueira, prepare-se, porque o senhor virá na sequência. Fernanda da Silva Oliveira. Boa noite. O meu nome é Fernanda, sou engenheira civil da Rio-Águas, colega do Claudio, que falou agora há pouco, e do Eduardo, que falou antes. Gostaria de colocar duas questões neste debate, como técnica e como cidadã moradora da cidade e do estado. A primeira questão é com relação ao formulário eletrônico da Consulta Pública. Na Audiência passada, eu coloquei que, inicialmente, tentei fazer umas contribuições e recebi uma simples mensagem de: “mensagem enviada com sucesso”, porém, em outros momentos, eu não recebi qualquer mensagem de envio, então eu ficava insegura, sem saber se a minha contribuição tinha sido efetivamente encaminhada ou não. Então, eu sugeri em audiência que fosse gerado um protocolo para que eu pudesse ter um comprovante e uma certeza de que minha contribuição foi enviada. Depois, vi que a minha sugestão foi realmente acatada, o protocolo numérico foi gerado contendo o teor da sugestão e não apenas aquela confirmação simples de envio, só que, infelizmente, ainda há uma fragilidade que eu até pensei que pudesse ser apenas comigo, mas que depois tomei conhecimento de outras pessoas de que o protocolo tem hora que não é gerado. Com isso, foi orientado, até mesmo em Audiência, que quem tivesse qualquer tipo de dificuldade enviasse um e-mail para: “[email protected]”, eu fiz isso logo assim que eu tive o problema, no dia 08 de julho e enviei; no dia 13, eu reiterei o e-mail sem qualquer retorno, porém, continuei insistindo, porque eu queria algum canal de comunicação, de modo que tentei relatar o problema através do próprio formulário da Consulta Pública, mas não conseguia enviar na maioria das vezes, então tentei por outros meios como o e-mail, por duas vezes, sem nenhum retorno, até que entrei no site do PRODERJj, mandei um e-mail e fui atendida, atenciosamente, por eles, que fizeram testes e informaram que estava funcionando. Acontece que ora funciona, ora não funciona, então o meu receio, na verdade, é que as pessoas estejam tentando fazer as contribuições e não estejam conseguindo ou nem mesmo percebendo que não está sendo enviado. Desse modo, tendo em vista que o período de contribuição se encerra agora dia 07, sexta-feira, e que a oportunidade de falar está sendo nesta Audiência, porque em outras tentativas não foi possível, eu gostaria de saber se há alguma alternativa caso o formulário não funcione, se podemos mandar diretamente para esse e-mail: “[email protected]” , se será gerado um desse nesse meio no caso de não funcionar, porque o outro protocolo em que mencionei que as vezes funciona e outras vezes simplesmente não. Ainda sobre as contribuições, gostaria de saber, a Rio-Águas possui cento e poucas contribuições que também poderiam ser enviadas por ofício diante da dificuldade de preencher o formulário 150 vezes e também pela instabilidade que foi detectada. Uma segunda colocação é com relação à estrutura tarifária, até mesmo na primeira fala do Presidente da ABES-RIO, o Miguel, que abordou a questão da injustiça que considera na estrutura tarifária, de modo que, na outra audiência, já havíamos feito uma pergunta sobre a conta mínima, porque é estabelecida uma conta mínima de 15 metros cúbicos domiciliar, e, na ocasião, o BNDES disse que isso estava sob consulta da Agenersa, então não havia ainda uma decisão. Acontece que este é um ponto importante, que caso a Agenersa esteja participando, que estude mesmo a causa, dada a tamanha importância do tema e como isso impacta na modelagem econômico-financeira e nos contribuintes. Assim como citou o Doutor Miguel como exemplo o caso da costureira ou do sapateiro que não gasta quase água nenhuma, mas que, mesmo assim, tem uma conta mínima a pagar e na estrutura tarifária da CEDAE, mas, no site, não consta explicito isso, mas sabemos que a prática adotada é cobrar, no mínimo, 20 metros cúbicos para economias comerciais, então, na tarifa residencial ainda é indicado, mas na comercial não está claro. No modelo do BNDES, por sua vez, foi replicada a estrutura tarifária, mas também não consta, pelo menos eu não encontrei escrito, que para o comércio também é cobrada essa tarifa mínima, então gostaria que fosse avaliado tanto pela Agenersa, quanto pelo BNDES, de modo que considerassem a questão da conta mínima. Essas são

Page 60:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

as minhas considerações. Obrigada. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado. Passo o questionamento ao Doutor Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Boa noite, senhora Fernanda. Em relação à estrutura tarifária, que acredito que é a parte que me cabe aqui para esclarecimento, acho que já havíamos mencionado que estamos utilizando a estrutura tarifária atual da CEDAE, seja a tarifa mínima, seja a social, portanto toda a estrutura que a CEDAE tem hoje, como a diferenciação entre tarifa A e tarifa B, onde a tarifa A se aplica para alguns bairros do município do Rio de Janeiro, que é uma tarifa com valores diferenciados, enquanto a tarifa B se aplica para os demais bairros, e acredito que para todos os outros municípios que a CEDAE atende, então são dois tipos de tarifas diferentes para cada região que a CEDAE opera. Em relação a essa mudança, como você bem mencionou, ainda está em discussão com a Agenersa, ou seja, a agência ainda não fez uma alteração definitiva na estrutura tarifária, como tarifa mínima, conta mínima, então não é algo que esteja refletido nas projeções, no modelo econômico-financeiro, em virtude de que trabalhamos com dado real e as informações que temos hoje para fazer a projeção. Contudo, não impede que, caso essa mudança ocorra antes de finalizarmos todo o processo, que o estudo seja adequado para essa nova realidade de estrutura tarifaria que está em debate e em avaliação pela agência reguladora. Salientando que não possuímos nenhuma interferência na atuação da agência, que tem a sua independência, de modo que apenas acompanhamos. Considerando isso, em resumo, a atuação é feita sim com base no que temos hoje, mas, havendo a expectativa de que haja essa mudança, os estudos podem sim ser adequados para essa nova realidade. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Guilherme Mendonça. Aproveito para esclarecer à Doutora Fernanda da Silva Oliveira que consultei o PRODERJ e me foi informado que foram feitos vários testes e o protocolo está funcionando adequadamente, mas, de qualquer forma, ainda que o protocolo não tenha sido gerado na sua proposta, todas as consultas são recebidas independente da questão do protocolo ter sido gerado para a senhora. Dando sequência, convoco o senhor Danilo Cerqueira e, depois, o senhor Luis Eduardo Amorim Ramos que é o último desta lista, antes de chamar o senhor Luis Eduardo primeiro da próxima lista. Então por favor, senhor Danilo Cerqueira. Danilo Cerqueira. Primeiro, começarei dizendo que, por mais que tenham acontecido 3 audiências públicas, esse formato de audiência não é democrático. Por quê? Porque são poucos representantes participando da mesa que são da sociedade civil, dos movimentos sociais, das instituições públicas, são menos ainda. Temos a presença de representante do Banco e de representante do Governo do estado, mas não da Fiocruz, das universidades federais e estaduais, não tem os movimentos sociais como Baia Viva, Movimento dos Afetados por Barragens ou uma série de instituições que poderiam estar compondo a banca ou a mesa, mas não estão, sendo esse o primeiro ponto pelo qual digo que não é um ato democrático. O segundo ponto que demonstra isso é o fato de os palestrantes falarem pelo tempo que querem, ficarem repetindo coisas já ditas inclusive nas audiências anteriores, nos fazendo perder o nosso tempo. Além disso, também a nossa fala tem que ser sempre cronometrada, pois temos apenas 5 minutos e então cortam o áudio. Não existe um bom senso de deixar a pessoa concluir o raciocínio, as suas colocações. Algo que acontece também é que vocês iniciam a fala, escutam a pergunta do participante e depois respondem como bem entendem entre vocês, enquanto nós só somos escutados uma única vez e caso desejemos falar uma segunda vez, precisamos nos inscrever novamente, o que não é viável muitas das vezes, então o mínimo para ser razoável seria abrir para réplica para a sociedade civil, ou seja, vocês respondem e, a partir da resposta de vocês, nós comentamos que foi isso não aconteceu, motivo que reitero que não está sendo democrático. Diante do pouco tempo, lerei um texto que conterá perguntas que, no final dele, serão, novamente, pontuadas e espero que tenham o bom senso que, se eu passar dos cinco minutos, pelo menos, deixem-me fazer as três perguntas no final. A primeira questão é o fato de o modelo ignorar vários aspectos que compõem o abastecimento, a qualidade e a quantidade da água, como a questão do esgotamento sanitário. Lembrando que o saneamento básico não garante melhoria da qualidade da água, nem a manutenção do volume dela. Então, como já disse em outras audiências e não foi

Page 61:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

esclarecido, as mudanças climáticas que não foram levadas em consideração no cálculo, aumento da população também não foi considerado no cálculo de maneira substancial, o aumento da urbanização não foi colocado em conta, bem como o desmatamento também não foi e, o mais grave, o aumento da industrialização não foi colocado no cálculo. Todas essas variáveis influenciam na qualidade e na quantidade da água, ou seja, influencia nos cálculos do BNDES. A recessão econômica brasileira no contexto geopolítico atual está em declínio, a recessão na economia mundial também com a mesma tendência na grande maioria dos países, aqui no Brasil já são mais de 15 milhões de desempregados, uma estimativa de 100 milhões de trabalhadores informais e uma média de 63 milhões de brasileiros com inadimplência. Baseado no cálculo do Presidente da Agenersa, que foi o primeiro falar, na questão das famílias numerosas em pagarem mais e baseado no cálculo do Presidente, diversas famílias não terão condições de pagar essas tarifas. Se essas famílias numerosas de baixo poder econômico não conseguirem pagar pelo consumo de água, como é que será? Haverá o corte da água? Lembrando que viver sem água é impossível, viver sem luz durante uma ou duas semanas é até possível, mas sem água é impossível. Então, qual é a garantia dessas famílias que, provavelmente, não poderão pagar por esse serviço? Ninguém aqui se preocupou com isso. Se a resposta for positiva por cortar a água, saiba que o nome de vocês estará assinando um Projeto que, provavelmente, resultará na morte de pobres, principalmente negros e pardos, assim como comunidades identitárias, produtores rurais, caiçaras, quilombolas, comunidades indígenas etc. Ainda, este Projeto diminui a capacidade de arrecadação do estado do Rio de Janeiro pela CEDAE por retirar a cobrança pelo serviço da empresa pública e ainda pode estar sujeito o estado do Rio de Janeiro e municípios a processos, caso o governo queira romper o contrato se o prestador de serviço privado não cumprir. Em outras palavras, é uma lógica privatista sim, pois as suas consequências enfraquecem o estado e fortalecem servidores privados com investimento público, que é o investimento do BNDES, então, é perverso e privatista sim. Além disso, diminuindo a arrecadação, diminui-se a capacidade de qualificar o serviço, desvaloriza-se a empresa que pode chegar ao ponto de se tornar deficitária. Qual será a alternativa para solucionar esse problema? Será a venda da CEDAE, a venda da empresa pública, ou seja, podemos entender que este é um processo de privatização parcelado porque vocês sabem quais vão ser as consequências deste Projeto. Arnaldo Goldemberg. Professor Danilo, já terminou o seu tempo, na realidade, já passou até mais de um minuto. Não posso ferir a isonomia. Danilo Cerqueira. É complicado, mas tudo bem. Continuaremos enrolando e tentando enganar a população. Obrigado. Guilherme Mendonça. Senhor Arnaldo, apenas para comentar, em relação às condições pra pagamento das famílias de baixa renda, temos falado bastante sobre a manutenção da tarifa social pela qual as famílias de baixa renda têm o direito a usufruir de uma tarifa bem menor de pagamento do que se usualmente se paga para uma tarifa domiciliar. Esse é o modelo tarifário existente, que a CEDAE tem hoje e sabemos que em áreas de comunidade não há uma cobrança e a previsão é que a concessionaria continue também responsável pelo fornecimento de água nessas regiões. Ela não pode cortar água enquanto o fornecimento formal, por via de adutoras e redes de distribuição efetivamente implantadas, não chegue a essas regiões, então é obrigatória a manutenção desse atendimento, de modo que não se pode cortar enquanto os investimentos não forem feitos, enquanto a água não chegar da forma correta até essas regiões que, hoje, diversas vezes, não são atendidas pela CEDAE. Então, queremos que todo mundo tenha acesso à água, obviamente, com pessoas com capacidade menor pagando menos por aquele produto, aquele bem. Em relação às variáveis não consideradas na conta, não sei se o Gustavo tem alguma coisa para comentar em relação a isso, mas foi feito um estudo também da Concremat, sobre capacidade dos corpos hídricos, para verificar se aqueles corpos conseguem atender às demandas atuais e futuras de fornecimento de água. Gustavo Prado. Apenas reforçar o que você já falou, foi considerada a projeção populacional e a urbanização, inclusive já comentei aqui que o estudo demográfico foi bastante robusto para todas as 64 cidades previstas no Projeto. Em relação à disponibilidade hídrica, o único documento que nós

Page 62:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

temos aqui no estado é o Plano Estadual de Recursos Hídricos, que é de 2014, que foi consultado, um dos subprodutos do nosso trabalho é a elaboração de diagnóstico da condição dos recursos hídricos com foco grande em disponibilidade por conta de captação de água, aumento de captação de água, obviamente, por conta também de classificação e capacidade de suporte para recebimento e lançamento de esgoto. Então, isso tudo foi feito pelo time da Concremat. Em relação às mudanças climáticas, o Danilo já fez esse tipo de questionamento, mas não, isso não foi considerado na nossa modelagem de disponibilidade hídrica, inclusive porque o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro não considera nos modelos hidrológicos a mudança climática e já falei anteriormente que não considera não porque é falho, porque o Plano Estadual de Recursos Hídricos foi desenvolvido pelo laboratório de hidrologia da COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que é referência e conta com pessoas gabaritadas que entendem do assunto, de modo que não foram utilizados porque, de fato, temos um problema de escala e já expliquei nas outras audiências. Essas eram as minhas complementações à fala do doutor Guilherme, obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Gustavo e Doutor Guilherme. Gostaria de pontuar para a Professora Fernanda a questão da geração do protocolo que o PRODERJ, que gravou, inclusive, um vídeo demonstrando o funcionamento com a geração do protocolo, além de que foram feitas simulações, inclusive no mesmo navegador utilizado pela Professora. Provavelmente, está havendo algum problema na ponta da conexão, porque fizeram uma pesquisa com os pedidos e as colaborações solicitadas pela Professora Fernanda e foram localizadas 5 contribuições na modalidade modificação e 2 na modalidade inclusão, de modo que todas as solicitações dela foram devidamente recebidas e estão na plataforma da Consulta, logo, ela pode ficar tranquila de que estão todas sendo recepcionadas. Trata-se, assim, de um problema na geração do protocolo ou algum problema de conexão. Antes de passar a palavra para o senhor Luiz Eduardo, deixo a palavra para complementação com o doutor Augusto Werneck. Augusto Werneck. Ainda sobre o que o Professor Danilo comentou, ele hoje está agastado com o modelo da Audiência e não pôde fazer suas perguntas, mas eu presto bastante atenção nas contribuições dele e queria que fosse tomada como uma contribuição essa manifestação dele em relação à urbanização e à industrialização que eu acho bastante razoável, principalmente nos municípios do interior, inclusive falando aqui para o Gustavo, em que isso interfere com a curva demográfica, é um outro elemento importante, que são esses municípios que vão migrando a população rural para os centros urbanos. Nós vemos, às vezes, grandes índices de urbanização onde temos, por exemplo, como 50 mil pessoas no município, antes nós tínhamos 25.000 no campo e tinha uma demanda muito menor de serviços de água e esgoto e, de repente, teremos 20.000 passando para a cidade. Então, a população não aumentou, mas a urbanização sim. Assim, como eu sempre falo aqui no exemplo da cidade do Rio de Janeiro, essas obras representam aquelas mais-valias que são apropriadas, equitativamente ou não, nos processos de urbanização. Então, acho que esses dois elementos, não que esteja certo ou errado, mas que nós sejamos capazes de observar um pouco mais. É só um dever de casa para nós mesmos, pois acho que deveríamos observar essa questão da urbanização e da industrialização, que acredito tenha sido proveitosa. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, doutor Augusto Werneck. Estamos aqui com outras informações da Adriana Sotero sobre tentativas de protocolo, mas tranquilizo a todos os usuários do sistema que todas as contribuições são recebidas. Eventuais problemas informais em relação ao não recebimento do protocolo estão sendo informados ao PRODERJ que está fazendo simulações e verificando a funcionalidade do sistema, mas, de todo modo, já está anotado aqui que para alguns não está funcionando. Nesses casos, eles tentarão verificar o que ocorre, mas entendam que todas as contribuições estão sendo recepcionadas pelo sistema. Lerei os próximos 10 participantes e pontuo que o próximo a falar, o último da atual lista de 10, é o senhor Luiz Eduardo Amorim Ramos, então a equipe de TI já está preparando tudo, mas, enquanto isso, eu faço a leitura dos 10 seguintes: José Alexandre Maximino Mota, José Miguel da Silva, Josenildo Renovato, Alexandre Zelesco, José Roberto Lopes Pinto, Priscila Gonçalves, Rejane

Page 63:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Santos, Gilberto Palmares, Euvira Carvajal e Gisela Pequeno. Com a palavra o senhor Luiz Eduardo Amorim Ramos. Parece que o Sr. Luiz está com problemas de conexão, de modo que passo a palavra para o Dr. José Alexandre Maximino Mota, Promotor de Justiça do Meio Ambiente. José Alexandre Maximino Mota. Boa noite, Doutor Arnaldo Goldemberg, na pessoa de quem eu cumprimento todos os demais e estendo cumprimento, também, às pessoas que nos assistem até tarde da noite. Primeiro, gostaria de agradecer pela oportunidade. Resumirei a minha fala em alguns pontos, para não cansá-los e para não ser redundante com todas as falas que já foram efetuadas, de modo que sistematizei em quatro pontos, pelo menos: (I) em termos de ajustamento de conduta, (II) em questões relacionadas a captação em tempo seco, (III) em relação às áreas informais, e (IV) em concernência à Bacia do Guandu. Gostaria, apenas, de pedir, quando estivesse faltando dois minutos, para que os senhores me avisassem e quando tiver faltando um minuto também, para poder otimizar minha fala. Bom, nós temos tido contatos e reuniões para além dessas Consultas Públicas e eu gostaria de reforçar a necessidade de alguns Termos de Ajustamento de Conduta sobre, especificamente, o componente saneamento e esgotamento sanitário, dentro dos quatro itens do saneamento, ficarei atido, nesse primeiro momento, ao esgotamento sanitário e citarei as obras do PSAM e do PDBG, que é o Programa de Saneamento do Entorno dos Municípios da Região Metropolitana e o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. Hoje, tivemos uma audiência junto à 13ª Vara de Fazenda Pública, com a Doutora Luciana Louzada, em que se reafirmou o compromisso em levar adiante as obras do PSAM, onde eu cito as obras do Sistema Alcântara, do Sistema Manguinhos e do Sistema de Faria Timbó. Alcântara, nessa primeira fase, contempla 200 mil pessoas, Manguinhos e Faria Timbó, cada um com, aproximadamente, 500 mil pessoas. Assim, estamos falando, só nesses dois últimos sistemas, de 1 milhão de pessoas e esse é um sistema separador absoluto, então não é um sistema de captação em tempo seco. Logo, reitero a importância, quando essas obras que têm horizonte para 2021/2022 forem inauguradas, do compromisso da CEDAE em operá-las e os senhores já sinalizaram que os instrumentos disponibilizados para Consulta Pública, notadamente o contrato de concessão, contempla o espaço para isso. Em relação ao PDBG, cito o Sistema Sarapui, o Sistema Pavuna, que é um sistema muito extenso e complexo, bem como a Ilha de Paquetá via linha de recalque para ETE de São Gonçalo. É importante se definir quem será o responsável não só pela operação, assim como é a mesma opção do PSAM, mas em relação à implantação. Assim, qual é a nossa preocupação? Pela modelagem, a CEDAE será responsável pelo tratamento da água, pelo que se chama produção da água, ou seja, converter água bruta em água potável. Dessa forma, temos fundadas dúvidas e preocupações se a sua renda e o seu faturamento futuro será suficiente para, sem prejuízo do tratamento da ETA Guandu, do Sistema de Imunana - Laranjal e de Jacareí, para ser responsável também por obras de esgotamento sanitário, então gostaríamos que a cláusula 25 da minuta de Contrato de Concessão, que diz “diligenciará a sua inclusão e termo de ajustamento de conduta pré-existentes a assinatura de contrato”, fosse levada em consideração, a despeito do caderno de encargos, no item 6.16.2, deixar alguma dúvida nesse sentido, então pediríamos, ainda, uma harmonização entre o item 25 da minuta do Contrato de Concessão, com o item 6.16.2, uma vez que, no nosso entendimento, essas obrigações precisam ser assumidas não só na sua fase de operação, mas como para a implantação também, isso lembrando que o PSAM é custeado por fonte FECAM e o PDBG por fonte CEDAE. O segundo ponto é sobre o Sistema Imunana – Laranjal, em que a modelagem também prevê, para o Bloco 1, a execução de uma obra da Barragem do Guapiaçu e eu reitero a importância de se respeitar o TAC firmado com a Petrobras no caso COMPERJ, que é bem claro em dizer que a obra só poderá ser executada após a conclusão do Plano Estadual de Segurança Hídrica, que está em elaboração no momento. Então, peço que os senhores observem isso, porque, inclusive, se essa for a opção para fins da garantia da segurança hídrica, tendo em vista o déficit comprovado, com a demanda de 7 metros cúbicos por segundo e a oferta de 5 metros cúbicos por segundo, em 2030 passando essa demanda para 10 metros cúbicos por segundo, mostra-se clara a necessidade de

Page 64:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

uma obra de reforço, mas pedimos que se invista em outro componente já que esse é vedado pelo TAC. Em relação às obras de captação de tempo seco e ao sistema de coletor de tempo seco, eu gostaria de fazer a mesma crítica, Doutor Arnaldo, em relação às áreas informais, para que se previssem indicadores de mensuração de eficiência para além do custo, isto porque, lendo, a impressão que se tem, salvo melhor juízo, é que o tempo seco é considerado investimento nas áreas informais, mas está faltando mensuração ou indicador que atrele à eficiência. O tempo seco, por exemplo, a própria Lei que alterou a Lei nº 11.445 prevê o seu tempo de funcionamento em estiagem e o Contrato de Concessão fala em remoção de lodo, e não especificamente sobre a operação desse sistema em momentos que a pluviometria fosse razoável e compatível com as precipitações. Por fim, sobre as áreas irregulares e também para fechar a minha fala, além dos componentes como segurança pública e urbanização, gostaria que se atentassem também para onde já existe rede, porque, segundo dados do Município, já foi investido mais de R$ 1 bilhão, inclusive em áreas informais, então que esse pudesse ser um critério a ser considerado para a priorização dos investimentos nas áreas informais. Agradeço a oportunidade, Doutor Arnaldo e demais membros da PGE, BNDES. Boa noite. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor José Alexandre. Agradeço, também, pela sua excelente manifestação. Temos participado de várias reuniões que dizem respeito à possibilidade de TACs e essa questão do Meio Ambiente nas Ações Civis Públicas já em andamento, certamente, será bem conduzida com o nosso Procurador do Estado, Doutor Rafael Daudt, que está lidando diretamente com essas questões, mas não se encontra na mesa, contudo, certamente, está participando desta webinar, de modo que, certamente, terá boas condições para respostas para essa questão. Passarei a palavra para o Doutor Guilherme Mendonça para fazer algumas considerações sob o ponto de vista da modelagem que o BNDES está conduzindo. Guilherme Mendonça. Boa noite, Doutor José Alexandre. Em relação aos TACs, um ponto que sempre temos destacado é que, assim que o contrato for celebrado, na verdade, 6 meses após a celebração do contrato, que é quando termina a operação assistida, o concessionário assume a responsabilidade por todo o sistema de esgotamento sanitário e a CEDAE passa a ser responsável pelo sistema de produção de água, então a CEDAE perderia essa competência para realizar investimentos no esgotamento sanitário assim que o modelo for implantado, o que teria uma data que provavelmente acontecerá e o concessionário assumirá essa responsabilidade por fazer a operação e, por consequência, a responsabilidade pelos investimentos. Assim, o nosso entendimento é o de que todos os investimentos que estão definidos nos TACs que não forem ser realizados pela CEDAE até a data de celebração do contrato, a partir da data de assunção dos serviços pelo concessionário, deveria ser o concessionário a ficar responsável pela execução desses investimentos. Assim, há essa questão temporal do investimento, onde hoje a CEDAE é a responsável por fazer o investimento porque assinou um TAC para isso, então, se o Projeto não for para a frente, ela continua responsável pelo TAC, de modo que o Ministério Público e a Justiça cobrarão isso, pois a CEDAE tem que se responsabilizar e executar, neste momento, os investimentos que ela se comprometeu a realizar. Tendo conhecimento disso que foi dito, acho que são dois momentos, o primeiro, é a questão temporal, que é o momento em que a CEDAE está responsável, e outro momento em que está o concessionário responsável, para nós isso está bem claro. Ressalto, apenas, a preocupação é como incorporar isso com a assunção da responsabilidade pelo concessionário, pois acredito que isso deva ser incorporado sim, para o concessionário ter essa obrigação, mas, com incorporação, para que não ocorra de uma forma que ele já assuma a operação descumprindo um TAC, sendo esse o pior cenário, onde assume a obrigação da concessão e, por exemplo, em 3 meses vence o prazo do TAC do PSAM para terminar a reforma de algum lugar, mas não há como, em 3 meses. ele terminar isso, então já assume com risco de ser penalizado. Por isso, acho que o importante é conseguirmos compatibilizar essas obrigações que estão no TAC com as obrigações que o concessionário assumirá e isso seja uma coisa mais fluida, que não haja uma possibilidade de penalização ao concessionário por algo que estava totalmente fora do controle dele

Page 65:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

e não faria sentido, nesse caso, que o concessionário assuma esses TACs que foram assinados pela CEDAE no passado. Então, será que faz sentido ficar o concessionário responsável por essas obras que a CEDAE não consiga concluir? Sim. Alguém tem que assumir essa obra e, se o concessionário é o responsável pela operação do esgotamento sanitário, ele que faça essas obras, pois não dá para deixar a cargo da CEDAE se ela não opera mais o sistema. Acho que faz sentido, mas acho que faz sentido, também, pensarmos em como compatibilizar essa transferência da obrigação para o concessionário, mas que não seja simplesmente a transferência direta e pura da forma que está no TAC. Então, a preocupação é, justamente, a de compatibilizar os prazos, acho que é importante uma discussão mais aprimorada para chegarmos em um ponto comum. O ponto que todos queremos é que as obras sejam feitas e os TACs sejam atendidos e, nesse sentido, estamos todos alinhados. Outro ponto que eu gostaria de falar é sobre o TAC do Imunana–Laranjal, recebemos a informação do Ministério Público e estamos avaliando como incorporar isso nas minutas, para que essa obrigação que foi criada com o TAC, de aguardar a elaboração do planejamento para que se possa fazer esse investimento, podendo, ainda, o planejamento indicar outro caminho, então a nossa intenção é a de compatibilizar esse TAC com as regras contratuais. Além disso, o TAC prevê também recursos da Petrobras para investir na barragem de Imunana, então, tendo em vista que já possuímos recursos para isso, podemos, de repente, tirar uma parte desse investimento que foi projetado para essa barragem e alocar em outras localidades, poderíamos tirar da projeção esse investimento e alocar em outros, tendo em vista que já existem recursos da Petrobras destinados para esse tipo de investimento. Novamente, como já mencionei, acredito que seja mais uma compatibilização das regras contratuais com o disposto no TAC Comperj que foi mencionado. No que tange ao tempo seco, o controle de tempo seco é igual ao controle das áreas irregulares, então se controla o volume de investimento, mas entendemos que há, obviamente, uma necessidade de aprimorar isso e já tem no indicador de desempenho especifico para tempo seco dentro do anexo de indicador de desempenho, então podemos discutir se aquele indicador é suficiente, se ele pega, exatamente, a forma como gostaríamos de controlar a eficiência da operação do tempo seco, acredito que possamos ter uma discussão técnica em relação a esse indicador, mas já há uma previsão para isso. Assim, acho que a ideia é mais uma discussão para saber se o indicador atende ao objetivo de controlar a eficiência na prestação do tempo seco. Por fim, sobre as áreas informais, como já mencionamos, temos discutido com a Prefeitura e outros órgãos e, realmente, a ideia é compatibilizar o planejamento do concessionário com o da Prefeitura e o concessionário, também, assumir operações nessas áreas de investimentos que foram feitos pela Prefeitura, pois, diversas vezes, a Prefeitura investe e fica uma discussão se a CEDAE tem que operar, se é a Prefeitura ou quem é o responsável pela operação e o que queremos é deixar claro que, tendo a estrutura, o concessionário opera, não havendo mais discussão sobre a quem cabe a responsabilidade, se é da Prefeitura, CEDAE, do estado, onde um joga a responsabilidade para o outro e ninguém assume a responsabilidade direta da operação nessas áreas e aqui nós estamos, de certa forma, resolvendo essa discussão, de modo que qualquer tipo de estrutura que exista nessas áreas terá como responsável o concessionário. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Guilherme. Passo a palavra ao Doutor Augusto Werneck que tem considerações a fazer. Augusto Werneck. A minha consideração sobre o tema era apenas, para em nome da Procuradoria Geral do Estado, da qual estou como representante, cumprimentar o Doutor Maximino, que tem uma conduta excelente e sempre uma boa manifestação a fazer e que trouxe esse resumo de tantas tratativas. Acredito que sempre que a Procuradoria Geral do Estado e o Ministério Público estão juntos, há uma unidade entre o Estado e a sociedade, que é exatamente o que nós queremos aqui. Arnaldo Goldemberg. Seguiremos. Por favor, senhor Luiz Eduardo Amorim Ramos, que havia tentado se conectar, mas que estava com problemas técnicos, pode liberar o vídeo e acionar o áudio. Luís Eduardo Amorim Ramos. Boa noite a todos. Tenho formação em engenharia mecânica, estou Presidente do Conselho de Saúde de Paraíba do Sul, participo do Conselho do Ambiente de Paraíba do Sul e estou

Page 66:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Secretário-Executivo do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha. A primeira coisa que eu gostaria de colocar é: por que os Comitês de Bacia não foram consultados na construção deste estudo? O Guilherme, do BNDES, havia colocado que esse seria o momento de manifestação, mas eu discordo. Entendo que, assim como os Comitês de Bacia, a Fiocruz e as Universidades são atores muito importantes para essa construção e queria ressaltar que, tanto o Conselho de Meio Ambiente, quanto de Saúde, têm um controle social paritário em 50% de Poder Público e 50% sociedade civil; já nos Comitês de Bacia, o controle social é um pouco diferente, sendo paritários, mas com outras proporções, sendo 1/3 Poder Público, 1/3 usuários, 1/3 sociedade civil. Então, gostaria de sugerir isso ao comitê de monitoramento, que o Doutor Augusto comentou e acredito que seja importante melhorar o controle social disso. Gostaria de ressaltar, ainda, que aqui no Rio de Janeiro existe o Fórum Fluminense dos Comitês de Bacias Hidrográficas, então acho que ainda há tempo de o Banco chamar o Fórum, nesses atores principais que eu citei, para uma contribuição mais efetiva. Queria também destacar que é obvio que todos queremos a universalização do saneamento e que já está demorando muito, e vejo com bons olhos que o BNDES esteja com interesse nisso, e o que acontecia antigamente é que não havia interesse político e nem financeiro. Uma segunda questão, para que possamos resolver, definitivamente, a questão do saneamento, é que temos que abordá-lo nas quatro vertentes: (I) água, (II) esgoto, (III) drenagem, e (IV) resíduos sólidos. Então, acho que é um equívoco abordar apenas a água e o esgoto. Se estamos nos propondo a resolver de forma definitiva, devíamos atuar dessa forma. Gostaria, também, de pontuar, rapidamente, sobre a privatização, o modelo foi inserido nos anos 80/90 pelo Banco Mundial e FMI, quer dizer, já tem mais ou menos 40 anos e o índice de privatização mundial é de apenas 14%, então acho que essa escolha é muito temerária, conforme diz o professor Wagner Ribeiro: “Uma empresa pública pode não perseguir lucro, se bem administrada, naturalmente, sem servir a interesses político-partidários, já uma empresa privada objetiva o lucro, sendo uma condição de vida”. Então, basicamente, o que eu tinha para falar é sugerir que o Fórum seja chamado, mas o Presidente do Fórum, Arimathéa, falará daqui a pouco. O outro ponto que eu gostaria de colocar é que a Agenersa e a ANA não estão estruturadas para saneamento, infelizmente, o que, por óbvio, demanda tempo, então, por isso, há mais um motivo para que devamos estudar a forma melhor para fazer isso de forma definitiva. Acho que o tempo está passando e devemos aproveitar a oportunidade para resolver o problema do saneamento, mas de forma inteligente. Obrigado pela oportunidade. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, senhor Luís Eduardo. Solicito ao Doutor Guilherme que faça rápidas considerações pois temos apenas 50 minutos pela frente e muitos inscritos. Guilherme Mendonça. Boa noite, senhor Luís Eduardo. Em relação à consulta ao Comitê de Bacias, temos falado o tempo todo é que agora é momento da interação com qualquer interessado ou agente relevante. Temos conversado com muita gente, fizemos várias reuniões com diversos atores, não vejo nenhum problema de marcarmos uma nova reunião com o Fórum Comitê de Bacias, podemos tentar agendar essa conversa, posteriormente, para discutir com vocês, acredito que vocês já tenham tido acesso ao material da Consulta Pública e estudado, talvez tenham até algumas contribuições, o que não impede, também, de enviarem contribuições para a Consulta Pública. Já recebemos diversos materiais e sempre ressaltamos que a Consulta Pública é importante e estamos analisando todas as contribuições, não sendo algo meramente pro forma, que simplesmente serão enviadas sugestões e ignoradas. Nós avaliaremos e esperamos que haja diversas contribuições relevantes que sirvam para o aprimoramento dos instrumentos do Projeto, buscando sempre a melhoria do que está sendo proposto. Em relação ao Comitê de Monitoramento, fique à vontade para mandar uma proposta mais estruturada de como você entende que poderia ser esse desenho desse Comitê. Como eu falei no início, ele está previsto no anexo 12 do Contrato de Concessão, então o senhor poderia fazer uma comparação com o que está previsto nele, onde já há a previsão de toda a estrutura do Comitê, a participação popular, a participação dos titulares dos serviços, a participação da sociedade organizada, possuindo assim, toda uma estrutura de governança para esse Comitê para permitir,

Page 67:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

efetivamente, a participação popular na fiscalização da operação dos serviços. Havendo alguma sugestão de aprimoramento desse Comitê, sugiro enviar por Consulta Pública para fazermos essa análise. Em relação a abordar todo o escopo de saneamento, é tradicional ter essa divisão de fazer concessões de água e esgoto de forma diferente de como trata outras vertentes do saneamento básico, como a drenagem e o resíduo sólido. Não é comum ou usual estabelecer tudo em um mesmo contrato. São atividades muito diferentes, então, normalmente, contrata-se o serviço de água e esgoto, pode-se contratar um serviço de resíduos sólidos, e até um de manutenção da rede de drenagem, mas, de fato, são atividades que são tratadas de formas diferentes, porque demandam conhecimentos técnicos diferentes para cada operação dessa e por isso não se coloca sempre no mesmo contrato. É mais eficiente se segregar as atividades, bem como os prestadores de serviços nesses casos. Com relação à discussão do Público x Privado, acho que é uma discussão eterna, porque um consenso, aqui, é improvável, vez que temos bons exemplos de bons prestadores privados e públicos, então sempre há alguns defendendo um lado e outro, mas acho que há bons exemplos para todos os lados. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor Guilherme. Passo a palavra agora para o senhor José Miguel da Silva e solicito que o senhor Jose Novato fique pronto pois será o seguinte. José Miguel da Silva. Estou aqui desde às 14:00hrs e gostaria de receber uma declaração por tempo de reunião do BNDES, do Governo do estado, pois acredito que já chegamos às 20:00h. Bem, faço parte do Comitê de Bacia , mas acredito que o Arimathéa entregará um documento coletivo, então a minha solicitação seria que a PGE conseguisse, junto do Banco e do Gustavo Prado, marcar essa reunião ainda em tempo de receber nossas contribuições, visto que somos voluntários, a maioria parte da sociedade civil é voluntaria no Comitê e não está recebendo para estar lá, mas, por sua vez, é demandada a entender de assuntos tão complexo como essa questão de saneamento. Quanto à questão das favelas, está faltando alguém escrever exatamente qual é a proposta, pois parece que é passivo ambiental que ninguém quer assumir a responsabilidade, ninguém resolve, ficam postergando o problema. Com quem ficará a responsabilidade? Se não temos esgoto hoje e estamos buscando a universalização, alguém tem que se responsabilizar pelas favelas, porque elas existem, e no caso da Região Metropolitana, abuso ainda do meu achismo, arrisco dizer que mais da metade é composta por favelas. Estou com 57 anos, a CEDAE tem 45 e eu não conheço o nome da estação de tratamento de esgoto da minha cidade, ou seja, Duque de Caxias tem um milhão de habitantes e não tem estação de tratamento de esgoto. Coleta de tempo seco nós já temos, companheiro Guilherme Mendonça, está faltando é estação de tratamento, que está do outro lado do Rio Meriti e que está um coletor tronco para levar o esgoto de 500 mil pessoas até a estação que está pronta. Assim, não há que inventar coleta em tempo seco, é sistema separador absoluto. A questão é que coleta de tempo seco é que nem estelionato, é enganar o cidadão, ainda mais por se tratar apenas de água e esgoto. Assim, vocês têm que tirar a palavra saneamento, porque diz respeito aos quatro componentes: água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem e, no caso de vocês, há apenas água e esgoto. Como é que ficará a questão dos resíduos sólidos? Hoje os cursos d’água recebem chorume dos aterros. Quem assumirá isso? Quanto à questão da regulação, Augusto Werneck, gostaria que o senhor se posicionasse de forma mais firme em relação à Agenersa, pois, com 15 pessoas, não dá para fiscalizar nem um subcomitê da Bahia de Guanabara, nem da Lagoa Rodrigo de Freitas. Em resumo, a história precisa de algo incisivo e concreto que passe confiança, precisa que alguém diga que a Agenersa passará por uma reestruturação, caso contrário, é melhor acabar com a Agenersa, porque, da forma como está hoje, não tem como fiscalizar nem a Lagoa de Jacarepaguá. Do ponto de vista aqui das favelas, eu pergunto ao Doutor Guilherme Mendonça para ficar claro, pois ainda não foi atendido de forma objetiva, não consegui identificar. Amanhã, participarei de uma live na favela do Complexo de Manguinhos, Maré, do Alemão e da Penha; como o nome já diz, é complexo, não é mais favelinha como era antigamente, sendo elas, inclusive, maiores que a maior parte das cidades do Brasil. Então, o que eu falo para eles amanhã? Respondo que estamos vendo, estudando? Não dá. É

Page 68:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

preciso ter respostas claras e objetivas. Outra questão que eu quero colocar é para o Doutor Gustavo Prado. Eu participei do Plano de Saneamento da minha cidade como sociedade civil e lá estava prevista a universalização da água até 2030 e a do esgoto até 2038, mas, agora, vocês misturam com Bloco 4 e dizem que levará 10 anos para universalização da água e 18 para esgoto. Porém, nós temos uma companhia municipal de água e esgoto, temos manancial, contudo, o grande consumidor da água, de fato, é o polo petroquímico e não a população de Caxias, ou seja, o petróleo aqui consome mais água que toda população de Caxias e isso está errado, está na hora de arrumar isso. Queria chamar a atenção, ainda, para o Comitê de Acompanhamento, acredito que seja melhor discutir com os Comitês de Bacia, apesar de que o Arimathéa deve trazer um documento mais representativo, mas ressalto a solicitação de ouvir os Comitês, pois eles contribuíram com dinheiro na elaboração dos planos municipais e hoje estão colocando recursos para construir Estação de Tratamento de Esgoto – ETE. Assim, se, hoje, o Comitê de Bacia faz a cobrança de 4 centavos por metro cúbico de água, com esse valor não é possível construir uma elevatória, logo, queria saber se nós, do Comitê de Bacia, se financiarmos isso, vamos ter esse dinheiro de volta quando for privatizado o setor de saneamento. Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, doutor José Miguel. Passo a palavra ao Doutor Augusto Werneck. Augusto Werneck. Eu quero dizer, José Miguel, que eu gostei muito da sua intervenção e acho que você tem razão em grande parte das suas considerações e críticas. Eu estava, inclusive, falando, em relação à fala anterior do Amorim, que, realmente, nós tenhamos que envolver os Comitês de Bacia Hidrografia de alguma maneira no processo, podendo ser, inclusive, no Comitê de Monitoramento, ou no de Titularidade, e até mesmo em novos mecanismos de participação, mas é algo já está fixada, já existe tradição, massa crítica, e cultura e que tem muito a contribuir nesse modelo que, por necessário subsidio cruzado, nem sempre terá em cada Bloco todos os municípios componentes de Bacias Hidrográficas. Então, acho muito interessante absorvermos essa sua sugestão. Mais do que isso, marcar essa reunião que vocês estão reivindicando, acredito que seja o nosso dever ouvir, receber os documentos que vocês tenham elaborado e, ainda que Consulta Pública esteja aberta, que estejamos discutindo aqui agora e que vocês possam juntar documentos na internet, nada substitui esse contato com essa realidade especifica que vocês representam, por isso, concordo e acho importante fazermos essa reunião. Acho, também, que o Projeto é muito difícil, às vezes, de ser lido e entendido em sua integralidade, por isso eu peço que prestem grande atenção agora na fala do Guilherme e Gustavo sobre as questões das favelas, até mesmo devido ao montante de investimento, que é notável, já faz muito tempo que não se vê um volume tão grande de investimentos para as áreas de habitações chamadas subnormais, como é chamada pelo IBGE. Contudo, acredito que a fórmula também possa receber muitos insumos de quem conhece o problema melhor do que simplesmente os técnicos. Por fim, digo três coisas a você. Deve-se incluir a bacia hidrográfica, deve-se marcar a reunião e, como sempre, os grandes locutores e interlocutores Guilherme e Gustavo continuarão, enquanto eu terei que sair . Gostaria de dizer ainda que muito me agradou participar dessas três Audiências Públicas, mesmo com todas desarrugas e eventuais divergências, às vezes as pessoas podem ficar zangadas, mas é natural e faz parte do debate e espero que todos nós passemos por cima de tudo isso e possamos ajudar o estado e a população a fazer o melhor. Eu agradeço e passo a palavra de volta ao Presidente. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Augusto Werneck. Agradeço a sua participação muito importante e produtiva, as suas excelentes respostas e considerações nesta Audiência Pública. São 21:23hrs agora, passo a palavra para o doutor Guilherme Mendonça para considerações e, após, ao Doutor Gustavo Prado diretamente. Guilherme Mendonça. Boa noite, senhor José Miguel. Em relação à área irregular, eu tentarei ser o mais direto e objetivo, mas, talvez, ainda não tenha sido claro. Essas áreas serão operadas pelo concessionário, ou seja, o futuro concessionário será o responsável pela operação das áreas irregulares. Como o Procurador Werneck mencionou, o contrato tem uma série de regras que regulam como será essa prestação, então é importante uma leitura atenta ao contrato e do

Page 69:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

caderno de encargos para verificar quais são essas regras. Então, como o Werneck mencionou sobre o volume grande de investimentos nessas regiões, volume que, talvez, nunca tenha sido realizado em tal magnitude, então há uma obrigação da necessidade de continuar fornecendo caminhão-pipa para as regiões que hoje são supridas por ele. Há uma obrigação da concessionária em não cortar a água dessas pessoas se ainda não houver um fornecimento regular de abastecimento de água, entre outras inúmeras obrigações e responsabilidades da concessionaria que estão previstas no contrato. Mas, novamente, para que não haja dúvida, de forma bem direta, a obrigação para prestação de serviços nessas regiões é da concessionaria, assim como está previsto no contrato e é assim que está na Consulta Pública hoje. Por óbvio, também, trabalharemos para aperfeiçoar as regras, bem como para tornar as regras mais claras sobre as responsabilidades, assim como as contribuições são sempre bem-vindas para auxiliar no aprimoramento. Em relação ao tempo seco, é importante destacar que não é uma solução definitiva, senão temporária. Claro que, naquelas regiões que já conseguem ser atendidas simplesmente com um coletor tronco, serão colocados os coletores tronco para já fazer o atendimento, de modo que não precisará do tempo seco para atender essas regiões. Agora, há regiões em que existe uma carência de investimento muito grande e que, para atingir aquela meta de investimento no esgotamento sanitário, o prazo será de 15 a 20 anos, então, para que as áreas não fiquem aguardando de 15 a 20 para se alcançar essa universalização, se previu o tempo seco como uma solução provisória para tentar solucionar esses problemas específicos encontrados nessas regiões, principalmente hoje, que contribuem com a Baia de Guanabara, bem como para os corpos lagunares e com as praias da Região Metropolitana. Então, o que se pretende é uma solução temporária, ela não vai se tornar definitiva e única em substituição à rede separativa, porque há obrigação contratual, diferente do que está na discussão da Prolagos da Região dos Lagos, em que não havia essa obrigação tão bem desenhada, ao contrário do caso deste Projeto, em que há uma obrigação expressa, tanto do tempo seco quanto da rede separativa. Então, o tempo seco não substituirá a rede separativa, mas, tentará, no curto prazo, resolver o problema que existe em boa parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Então, a proposta é essa relação ao tempo seco e entendemos que ele realmente pode ajudar nesse curto prazo, mas, de fato, não é e não deverá ser uma solução definitiva. Em relação ao Comitê de Monitoramento e à participação dos Comitês de Bacia, eu acho que é uma boa proposta, eu não vejo o Comitê de Bacia substituindo o de Monitoramento, mas eu vejo, e aqui pensando alto, que é algo para a discussão essa ideia de representantes do Comitê de Bacia participando do de Monitoramento. Então, é como se fosse uma representação dos Comitês de Bacia dentro desses de Monitoramento, pessoas seriam indicados pelos de Bacias para participarem do de Monitoramento e, obviamente, fariam esse intercâmbio entre ambos levando informações de um Comitê para outro e fazendo essa ligação entre essas duas instituições. Essa é uma boa possibilidade até para ampliar também essa participação de um agente relevante do setor na fiscalização e acompanhamento da prestação dos serviços. De novo, em relação às 4 vertentes, acredito que o último ponto que eu anotei aqui do seu comentário, é usual dizer o termo saneamento básico quando se está tratando de água e esgotamento sanitário, não vejo problema em relação a isso, mas o termo do escopo do contrato está bem claro que é operação do abastecimento de água e esgotamento sanitário, não estando incluso aqui construção de rede de drenagem e operação de resíduos sólidos. Obrigado, Presidente. Arnaldo Goldemberg. Doutor Gustavo Prado, possui alguma consideração a fazer? Se possível, de forma breve para que possamos ouvir mais inscritos. Gustavo Prado. Presidente, até mesmo em favor dos demais inscritos não tenho muito a acrescentar, só repetiria o que os colegas já comentaram. Acho que podemos passar para o próximo inscrito. Arnaldo Goldemberg. Por favor, senhor Josenil Renovato e o senhor Alessandro Zelesco já se prepare. Josenil Renovato. Boa noite, Doutora Angélica. A única mulher que está presente desde o início. Boa noite a todos, já são 21:30hrs e estou desde às 14:30hrs acompanhando esta Audiência Pública. Então, tudo o que foi dito, inclusive, eu queria fazer uma correção ao Professor Arildo, eu acho que ele não teve a intenção, mas o Serviço

Page 70:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Autônomo de Água e Esgoto de Casimiro de Abreu não é CEDAE, então é um serviço autônomo, não é responsabilidade da CEDAE. Da vez passada, eu coloquei, também, os problemas que estão sendo agravados na região de Campos, como o aumento de tarifa no meio da pandemia; o Ministério Público pediu para apreender documentos dentro da empresa porque era um aumento noticiado pela imprensa de mais ou menos 10%. Além disso, há, também, a questão da Zona Oeste. Algumas pessoas que me antecederam colocaram essa questão da AP5, deve acontecer uma manifestação dia 11 de agosto aqui em Campo Grande, o maior bairro da Região Metropolitana e do Brasil, em termos de número de população. Conforme mencionado por algumas pessoas da mesa, o último IBGE indicou o crescimento de 340 mil habitantes dessa região no último censo, mas acredito que esse número já avançou pelos empreendimentos que se instalaram aqui e pela migração natural de pessoas para uma área de menos violência para mais violência e vice-versa. Então, é essa a vertente que eu quero pegar, justamente o que o Doutor Edson colocou sobre Maricá que o IBGE não leva em conta porque o CENSO foi feito há 10 anos. Os dois mandatos do Governo da Prefeitura de Maricá vêm dando qualidade de vida àquela população e o crescimento daquela população naquela região, tendo mais qualidade de vida, a população flutuante e a população que migrou para aquela região foi grande, então o crescimento daquela região foi grande, tanto que, hoje, Maricá é abastecida com água vindo de Laranjal, do Manancial e de Maricá. Então, esses estudos estão desconsiderando essas grandes questões, tal como a possibilidade de abastecimento do Rio Guandu ao COMPERJ, ou também como a Petrobras queria o abastecimento para o COMPERJ a partir do Paraíba do Sul, que também está sendo feito o estudo pelo Paraíba do Sul que foi desconsiderado. Mas, tudo isso está sendo desconsiderado, são algumas questões técnicas que deveriam ser discutidas com as Câmaras Técnicas e o Comitê de Bacia, mas está sendo deixado de lado, quando, na realidade, esse quadro de pessoal possui grande expertise e deveria estar sendo ouvido sobre isso. Agora, essa questão do tempo seco até em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, que não é ocupação irregular, não é favela, é um tipo de cinturão que se fez necessário pela Prefeitura, quer dizer, a Prefeitura mesmo não conseguiu tirar as ligações clandestinas de esgoto da própria instalação de águas pluviais dela e criou um cinturão, uma elevatória bombeando para o sistema da CEDAE. Quer dizer, isso tudo que está sendo discutido é dentro de uma área da Zona Sul que é uma das áreas mais nobres, que é a Lagoa Rodrigo de Freitas e, ainda assim, com grande dificuldade, imagina em outras áreas irregulares, como é que será difícil esse trabalho. Então, como colocado pelo Doutor Celso, estão querendo só privatizar a arrecadação. Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, senhor Josenil. Vou passar para o professor Arildo, que tem considerações a fazer. Arildo Mendes. Eu queria realmente pedir desculpas ao Josenil, pois Casimiro de Abreu, realmente, possui uma empresa própria de água e saneamento. Eu posso ter me enrolado na minha fala, quando queria citar, na realidade, era Rio das Ostras, então me perdoa se falei Casimiro de Abreu por equivoco, mas fiz questão de me manifestar para poder pedir desculpa se eu tiver, de fato, trocado na minha fala, obrigado. Guilherme Mendonça. Só alguns comentários. Em relação a Casimiro de Abreu, já autorizou a inclusão no Projeto, mas fez uma autorização para inclusão do Distrito de Barra de São João, então Casimiro é um município que está incluído, de modo que já há uma autorização do município para serem incluídas no Projeto. Em relação a Maricá, é um município diferenciado hoje, porque a Prefeitura tem muitos recursos, então consegue fazer investimentos por conta própria por conta dessa capacidade financeira que tem, mas não é algo comum na situação dos municípios e dos entes públicos atuais, onde sabemos que os entes públicos estão passando por dificuldades financeiras e isso reflete na incapacidade de investimento próprio no setor de saneamento básico. Então, há essa necessidade pelo interesse de ampliar o acesso à água e ao esgotamento sanitário e de se contar, também, com recursos privados no investimento do setor. Em relação ao COMPERJ e sobre pegar água de Paraíba do Sul, como o representante do Ministério Público, José Maximino, mencionou, há a necessidade de se concluir o Plano de Utilização dos Recursos Hídricos da região e, havendo essa conclusão, é que será definida qual será a estratégia

Page 71:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

do planejamento para se atender aquela região. Pode ser a estratégia de se fazer a barragem do Guapiaçu? Pode, mas pode, também, ser utilizada alguma outra estratégia que seja definida no planejamento aprovado pelo ente público competente. Então, na verdade, hoje, esse assunto fica pendente da conclusão do planejamento para que tenha um encaminhamento direto sobre qual a solução a ser utilizada, que pode ser a solução de pegar água do Paraíba do Sul, que é uma solução mais custosa, digamos, sendo necessário fazer a captação de Guandu e jogar até o outro lado da Baía de Guanabara, ou pode ser a barragem, entre outras soluções a serem avaliadas. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Prosseguindo, pode abrir o áudio e vídeo para o senhor Alessandro Zelesco. Alessandro Zelesco. Sou engenheiro, até dois meses atrás, fui membro do Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara e do Subcomitê Oeste, em nome da Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro, e, atualmente, sou colaborador do Subcomitê de Bacia do Guanabara da parte Oeste. Eu gostaria de fazer a minha intervenção comentando com base no anexo 12, cujo nome dado foi Comitê de Monitoramento. Primeira sugestão é que ele fosse refeito do zero, para que não pareça uma peça “para inglês” ver, ou seja, pois da forma como está aqui, não possui efeito prático. Trataremos sobre o controle social sobre os serviços; já começa, de início, no primeiro item “quando o estado convocará”, Nós sabemos o que é o estado e, então, gostaria de usar as palavras do Doutor Werneck, em falar que não podemos considerar bom o passado que tivemos, quer dizer, os governos condenáveis que nós tivemos no passado – refiro-me ao conflito, contradição entre interesse público e privado. Então, é temerária a ideia de deixar na mão do estado essa responsabilidade de montar esse Comitê de Monitoramento, de modo que poderíamos, pelo menos, aprender com as lições tomadas com as gestões passadas, referindo-me, especificamente, ao episódio em que participei e vi como é a atuação do estado, especificamente da Procuradoria Geral do Estado, que foi o da privatização do Estádio de Remo da Lagoa, no qual, diante de um oficial de justiça com uma liminar em mãos para impedir a implosão de uma arquibancada, a Procuradoria Geral do Estado, naquela ocasião, ordenou que se executasse a implosão, que se dinamitasse a arquibancada, para levantar, no mesmo local, uma nova que arquibancada com dinheiro público, satisfazendo uma nova geometria para que tenha os cinemas da iniciativa privada no seu interior. Então, se o próprio estado, a própria Procuradoria Geral do Estado não respeita o oficial de justiça com uma liminar em mãos, devemos aprender com o passado e nos preparar para isso. Então, desse jeito que está aqui solto, vago e cheio de termos, como no item 2.2, ”que a participação dos titulares de abastecimento de água e esgotamento sanitário será facultativa”. Quer dizer, o estado convocará, mas e se ele não convocar, reclama para quem, para a justiça, a primeira e a segunda instâncias, ao Ministério Público? Continuando, “mas, a participação dos titulares de serviços é facultativa”, ou seja, ele pode dizer que não participará, pois é facultativo, o que é inaceitável. Da mesma forma, no item 3.1, nas atribuições, menciona que o “trabalho de avalição e submeter os pareceres tem que ser enviado à agência reguladora” e nós sabemos como é hoje, sabemos que não funciona. Quer dizer, é mais um trabalho inútil que não funciona, onde tentamos apontar irregularidades e exercer controle sem sucesso. Por fim, também precisa ser visto no contrato, no item 51.1., onde se menciona que a participação do comitê de transição que não contempla o controle social, a operação assistida que é justamente a fase de transição. Esse é o início das eternas discussões, onde o concessionário que assume o ativo dirá que já recebeu assim e, do outro lado, o estado dirá que entregou de outra forma. Então, não incluir nesse item, no Contrato de Concessão, a participação desse comitê de transição, a participação da sociedade civil, é outra falha que demanda alteração desse anexo, pois o “Comitê de Monitoramento” deveria se chamar “Comitê de Controle Social”. Obrigado. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Alessandro. As suas manifestações e sugestões estão devidamente anotadas e serão levadas à Consulta Pública, devidamente. Não havendo nenhum questionamento na manifestação, passo ao senhor João Roberto Pinto, próximo escrito e peço a senhora Priscila Gonçalves Moura que já fique preparada, que será a manifestante a se pronunciar logo em seguida. Senhor José Roberto. João Roberto.

Page 72:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Boa noite. Eu sou o João Roberto, sou professor de Ciências Políticas da UNIRIO e de Políticas Públicas do Instituto Mais Democracia, além de compor a Campanha “Água Boa Para Todas e Todos”, assim como vários outros companheiros que me antecederam. Antes de falar o meu ponto, eu queria só que ficasse registrado a pergunta que me parece que ainda não foi respondida em relação ao processo da Consulta. Ele será continuado ou ele será interrompido nesta Consulta conforme previsão anterior? Porque houve reinvindicações de que as consultas deveriam prosseguir em função dos vários questionamentos aqui colocados. O ponto que eu pretendo tratar aqui é em relação à pesquisa que o Instituto Mais Democracia fez sobre quem são os proprietários do saneamento. Nós investigamos o mercado, ou seja, dentro de 245 municípios hoje em que a concessão já está feita no setor privado, quem são esses grupos? Eu queria chamar a atenção porque falamos em privatização, e concessão, ou outro nome que se dê, mas o que interessa saber é quem é o agente privado hoje, pois parece que estamos falando do mesmo agente privado de 30 anos atrás. Então, primeiro aspecto da pesquisa revela uma alta concentração de mercado com algumas poucas concessionárias e corporações, que, por sua vez, atuam conjuntamente também. Só a BRK, herdeira da Odebrecht Ambiental, controla 45% dos contratos. Somada à AEGEA, as duas controlam 65% do mercado. A elas, se juntam mais 3: Iguá Saneamento, Águas do Brasil e GS INIMA. As cinco controlam 85% desse pequeno mercado de 245 municípios, então nós sabemos que esses são os atores privados que estão jogando. Eu acho até intrigante que a ABCON não esteja aqui e eu queria saber onde ela está nesse processo? Se alguém puder me responder, eu acho importante. Comentamos vários problemas aqui, como a cidade de Manaus, onde a empresa Águas do Brasil passou para AEGEA em 2018 e a população que mora do lado do Rio Solimões, do Rio Amazonas, não tem água, boa parte da população, nem saneamento, até hoje, depois de 20 anos de concessão. Falamos da Prolagos, vários problemas com a AEGEA novamente, a mesma empresa que a Luana, em algum momento, falou de Água de Meriti. A BRK é o caso da Saneatins que houver o problema da empresa Estadual, única empresa Estadual em que houve a privatização e problemas em relação ao atendimento. Qual é a minha perspectiva aqui com vocês? É dizer que há uma concentração do mercado, nós não estamos falando de pequenas empresas que competirão por essa concessão. Quais são as proteções do ponto de vista do interesse público que vocês aqui apresentam para assegurar que não haja a troca de um monopólio estatal por um monopólio privado? Outro aspecto fundamental da pesquisa é: quem são os controladores dessas concessionárias? Há uma clara dimensão financeira e instituições financeiras, Fundo de Participação, Fundos Soberanos como caso de Singapura, no caso da AEGEA, IFC do Banco Mundial, e a Brookfield, que controla 70% da BRK, um dos maiores fundos de investimentos do mundo. Então, a minha pergunta é: até onde, salvo engano, os Blocos podem ser adquiridos por um consórcio? Não há uma divisão entre os Blocos, uma empresa, um consórcio pode adquirir um, dois, três ou os quatro Blocos. Nós estamos falando em investimento e, mesmo assim, continua não estando clara a questão dos investimentos nas áreas subnormais, mas esse é outro assunto. O que eu queria chamar atenção é que, na Europa, onde houve processo de reestatização, a pesquisa de opinião junto à população na Alemanha, na França, era dizendo que essas empresas estão mais preocupadas em remunerar os seus acionistas do que investir. Como é que vai garantir o investimento? Está lá no contrato. Só que existe o reequilíbrio econômico-financeiro. Teremos controle sobre a planilha de custos? Sobre a remessa de recursos que essas empresas farão de ganhos de capital de lucro a partir desses concessões? Então, eu quero saber, do ponto de vista público: qual é o interesse público que vocês estão aqui defendendo? Como assegurar a não monopolização, a não concentração do mercado de setores privados e garantir que não haja aditivos, reequilíbrios sucessivos para garantir o ganho dos investidores financeiros desses grupos? Muito obrigado. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutor João Roberto. Sobre a Consulta Pública, esclareço, rapidamente, que o prazo se encerra dia 07 de agosto, foram 60 dias de prazo concedido. Por favor, doutor Guilherme Mendonça. Guilherme Mendonça. Boa noite, Doutor João Roberto.

Page 73:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

Em relação a essa questão do mercado, primeiro, a ABCON pode estar acompanhando aqui a Audiência Pública, podendo se manifestar como qualquer parte interessada que tem interesse em acompanhar a discussão, então tem total possibilidade dela participar do evento como ela quiser e se ela quiser. Em relação à questão do mercado hoje do saneamento, nós também entendemos que é um mercado que precisa expandir, a participação privada no mercado brasileiro ainda é muito baixa, mas se você for olhar, há somente 6% do mercado total em que o saneamento é operado pela iniciativa privada, então a maior parte é operada por companhias estaduais de saneamento, então, a participação da iniciativa privada ainda é muito pequena e pouco relevante dentro do total do Brasil, mas entendemos que, realmente, deve-se fomentar competição. Concordamos com você nessa leitura que temos que fomentar a entrada de novos agentes no setor e exatamente por isso que a habilitação técnica foi definida com base na demonstração de capacidade de alavancagem de recursos; a experiência técnico-profissional exigida no setor de saneamento, que é uma experiência decorrente devida para assinatura do contrato, mas a experiência de alavancagem de recursos que poderia ser demonstrada por uma empresa, por exemplo, que hoje não atue no setor de saneamento. Então, a intenção é que ocorra a abertura para novos entrantes, que haja novos players no setor, para que fomentemos a competição e a concorrência no setor de saneamento. Arnaldo Goldemberg. Passo a palavra para Priscila Gonçalves Moura. Priscila Gonçalves Moura. Boa noite a todos. Sou a Doutora Priscila Gonçalves Moura, Pesquisadora pós-doutoral da Fiocruz na Escola Nacional de Saúde Pública e faço parte do Grupo de Pesquisa Saúde Ambiental e Saneamento. A minha fala corrobora com o já dito por alguns colegas a respeito da universalização do saneamento em áreas consideradas como irregulares, uma vez um dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável nº 6 da ONU para Agenda de 2030 é que o acesso à água e ao saneamento deve ser assegurado e fornecido a todos, independente da sua condição social, econômica, cultural, de gênero ou etnia. O projeto de concessão em questão tem como um dos seus norteadores a universalização do saneamento, mas, embora se fale que existam recursos para as áreas irregulares, as favelas não estão descritas no Projeto com relação a como será a distribuição de recursos para as áreas, quais valores. Quais indicadores estão sendo considerados para essa distribuição? Os indicadores de saúde estão sendo considerados? Até mesmo a garantia de que todas as favelas do estado e fazem parte do Projeto serão atendidas e não apenas as favelas do município do Rio de Janeiro. Já foi dito que isso está sendo avaliado, considerado e discutido, mas o que temos, concretamente, escrito até o momento não atende a essa população que mais carece dos serviços de saneamento e, só na cidade do Rio de Janeiro, representa 22%. Eu ouso dizer que deveriam ter apresentado um projeto a parte com estudo aprofundado das regiões de favela por tamanha complexidade. Quando se diz que as áreas que receberão saneamento são aquelas que atendem ao critério de planejamento de urbanização do estado, entende-se que, se o estado não entrar, essa área não será atendida, inviabilizando a universalização. Se há compromisso da concessionária, ela tem que fazer independente do Estado. Considerá-las da forma até aqui apresentada no Projeto, ainda assim, é muito raso, sendo o devido detalhamento necessário. Não nos convence que a universalização será atingida, mas sim que a desigualdade será mantida. Além disso, reforça que é preciso mais consultas públicas e que o prazo seja estendido visto uma maior discussão e garantia de ampla participação social, principalmente em período de Pandemia. Obrigada. Arnaldo Goldemberg. Obrigado, Doutora Priscila. Passo a voz para Doutor Guilherme para esclarecimento. Guilherme Mendonça. Boa noite, Priscila. Tudo bem? Em relação ao ponto das áreas irregulares, eu acho que tem que ficar claro que, quando falamos como critério de priorização de investimentos, as áreas urbanizadas ou que têm planejamento de urbanização e as áreas que apresentam condições de segurança são critérios de priorização. Não quer dizer que áreas que não se enquadram nesses critérios não poderão ser objeto de investimento, pelo contrário, elas podem ser, nós só estamos colocando um norte para direcionar quais áreas poderíamos ter uma atuação inicial já da concessionária por uma tentativa de racionalizar o investimento. Se já há um

Page 74:  · Web viewEntão, o direito ao contraditório para nós é um princípio democrático, mas a minha pergunta se remete ao final do processo, porque várias análises, críticas e

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICAPROJETO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SANEAMENTO BÁSICO

planejamento do município pelo qual organizará a Rocinha, é desejável que o concessionário entre junto com o município na Rocinha, de modo que façam uma atuação conjunta para que você consiga, efetivamente, racionalizar esse investimento e não ter que, daqui a 2/3 anos, voltar lá e quebrar de novo todas as ruas para colocar o esgotamento e a rede de água, se já foi quebrado para colocar a drenagem. Então, os critérios são na tentativa de racionalizar o investimento e não de limitar investimento. Não estamos, de forma alguma, limitando o investimento para essas localidades, senão, simplesmente, dizendo quais áreas poderiam ser priorizadas e realizadas dentro deste universo de áreas irregulares que existem dentro do município do Rio de Janeiro. O outro ponto que também já explicamos é essa regra específica que hoje está para o município do Rio de Janeiro, mas não quer dizer que áreas irregulares dos outros municípios também não tenham que ser atendidas; elas têm que ser atendidas porque é obrigação do concessionário atuar em todas as áreas urbanas de todos os municípios, estando excluído do escopo somente as áreas rurais, de modo que todo o restante permanece como obrigação da concessionaria. Arnaldo Goldemberg. Muito obrigado, Doutor Guilherme. Agradeço a presença de todos. Neste momento, são, exatamente, 22 horas da noite, então esta Audiência teve a duração de 8 horas. Gostaria de pedir aos que não conseguiram se manifestar que mandem as suas manifestações por escrito em razão da duração mais do que alongada desta Audiência. Infelizmente, não houve a possibilidade de todos se manifestarem. As respostas, como nós dissemos, são necessariamente mais alongadas do que as perguntas, isso é da natureza da própria resposta da própria Consulta que precisa ser atendida e, por isso, leva mais tempo do que a pergunta. Agradeço a todos presentes e destaco o sucesso e a produtividade desta sessão. Houve, realmente, o aperfeiçoamento da licitação e da concorrência internacional e declaro encerrada a terceira e última Audiência Pública. Saliento que a Consulta Pública permanece aberta até o dia 7 de agosto de 2020. Reforço que todos aqueles que não conseguiram fazer o uso da palavra podem enviar por escrito à Consulta, no site próprio. Agradeço a todos; ao Secretário Marcelo Lopes; ao Professor Arildo Mendes; ao Procurador do Estado Augusto Werneck; ao Engenheiro da CONCREMAT, Doutor Gustavo Prado; ao Guilherme Mendonça, do BNDES; ao Guilherme Albuquerque, do BNDES; à Doutora Angélica Petian, do escritório VGP; a todo o público; à minha equipe; Rodrigo e Natália Andrade; ao Pedro Pamplona e aos demais membros da Secretaria de Desenvolvimento, à equipe do PRODERJ, cujo apoio fui fundamental. A todos, o meu boa noite e muito obrigado.