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MODIFICAÇÕES NO USO DA TERRA PARA A AGRICULTURA NO PARANÁ: ANÁLISE DAS MESORREGIÕES EM 1994 E 2016 PALOSCHI TOMÉ, Luiz Henrique 1 MICHELLON, Ednaldo 2 RESUMO O estudo analisou as modificações no uso da terra, nas 10 mesorregiões paranaenses de 1994 a 2016, com o objetivo de verificar as atividades agrícolas que mais ganharam/perderam área colhida e identificar os principais fatores que impulsionaram a produção agrícola do Paraná. Foram analisadas 35 culturas permanentes e 33 temporárias pelo método shift-share, dividindo o crescimento de cada atividade em cinco efeitos: rendimento, localização geográfica e área, esse último subdividido em efeitos escala e substituição. Os resultados mostram que área colhida total cresceu 52,57%, nas atividades permanentes houve queda de 39,72% e nas temporárias elevação de 55,53%. Do total da área cedida por outras culturas, 91,12% foi incorporado por cana-de- açúcar e soja. As culturas café, feijão e milho foram responsáveis por 75,25% de toda a área cedida para outras culturas. Os ganhos de área nas temporárias foram destacados nas culturas aveia, cana- de-açúcar, cevada, fumo, milho, soja e trigo, e as perdas se mostraram em algodão, arroz, batata-inglesa e feijão. Nas lavouras permanentes, as quedas nas áreas concentram-se em café e as elevações em erva-mate. Todas as mesorregiões com a cultura cafeeira em 1994 tiveram queda na produção e na área colhida. Já para soja e cana-de-açúcar todas as mesorregiões elevaram a área colhida. Esses dados evidenciam a continuidade do processo em que culturas consideradas tradicionais passaram a dar lugar para culturas tecnificadas, em sua maioria commodities. Palavras-chave: Efeito Substituição. Crescimento da Produção. Análise Shift-Share. MODIFICATIONS IN LAND USE FOR AGRICULTURE IN PARANA STATE: ANALYSIS OF MESOREGIONS IN 1994 AND 2016 1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Estadual de Maringá (PCE | UEM), mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (PGDRA | UNIOESTE | Toledo) e bacharel em Ciências Econômicas (FCV). E-mail: [email protected]. 2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá (PCE | UEM). E-mail: [email protected].

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MODIFICAÇÕES NO USO DA TERRA PARA A AGRICULTURA NO PARANÁ: ANÁLISE DAS MESORREGIÕES EM 1994 E 2016

PALOSCHI TOMÉ, Luiz Henrique1

MICHELLON, Ednaldo2

RESUMOO estudo analisou as modificações no uso da terra, nas 10 mesorregiões paranaenses de 1994 a 2016, com o objetivo de verificar as atividades agrícolas que mais ganharam/perderam área colhida e identificar os principais fatores que impulsionaram a produção agrícola do Paraná. Foram analisadas 35 culturas permanentes e 33 temporárias pelo método shift-share, dividindo o crescimento de cada atividade em cinco efeitos: rendimento, localização geográfica e área, esse último subdividido em efeitos escala e substituição. Os resultados mostram que área colhida total cresceu 52,57%, nas atividades permanentes houve queda de 39,72% e nas temporárias elevação de 55,53%. Do total da área cedida por outras culturas, 91,12% foi incorporado por cana-de-açúcar e soja. As culturas café, feijão e milho foram responsáveis por 75,25% de toda a área cedida para outras culturas. Os ganhos de área nas temporárias foram destacados nas culturas aveia, cana-de-açúcar, cevada, fumo, milho, soja e trigo, e as perdas se mostraram em algodão, arroz, batata-inglesa e feijão. Nas lavouras permanentes, as quedas nas áreas concentram-se em café e as elevações em erva-mate. Todas as mesorregiões com a cultura cafeeira em 1994 tiveram queda na produção e na área colhida. Já para soja e cana-de-açúcar todas as mesorregiões elevaram a área colhida. Esses dados evidenciam a continuidade do processo em que culturas consideradas tradicionais passaram a dar lugar para culturas tecnificadas, em sua maioria commodities.

Palavras-chave: Efeito Substituição. Crescimento da Produção. Análise Shift-Share.

MODIFICATIONS IN LAND USE FOR AGRICULTURE IN PARANA STATE: ANALYSIS OF MESOREGIONS IN 1994 AND 2016

ABSTRACTThe study analyzed land use changes in the 10 Parana State mesoregions from 1994 to 2016 in order to verify the agricultural activities that most gained/lost area harvested and to identify the main factors that drove the state's agricultural production. 35 permanent and 33 temporary crops were analyzed by the shift-share method, dividing the growth of each activity into five effects: yield, geographic location and area, the latter subdivided into scale and substitution effects. The results show that total harvested area increased 52.57%, permanent activities decreased 39.72% and temporary activities increased 55.53%. Of the total area ceded by other crops, 91.12% was incorporated by sugarcane and soybean. The coffee, beans and maize crops accounted for 75.25% of the total area ceded to other crops. Area gains in temporary crops were highlighted in the oats, sugarcane, barley, tobacco, maize, soybean and wheat crops, and the losses were in cotton, rice, potato and beans. In permanent crops, the falls in the areas are concentrated in coffee and the elevations in yerba mate. All mesoregions with the coffee crop in 1994 had a decrease in production and in the area harvested. For soybeans and sugarcane, all mesoregions increased the area harvested. These data show the continuity of the process in which traditional cultures started to give place to technological crops, mostly commodities.

Keywords: Substitution effect. Production Growth. Shift-Share Analysis.1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Estadual de Maringá (PCE | UEM),

mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (PGDRA | UNIOESTE | Toledo) e bacharel em Ciências Econômicas (FCV). E-mail: [email protected].

2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá (PCE | UEM). E-mail: [email protected].

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JEL Classification: Q15. R14.

1. Introdução

Significativas transformações ocorridas no Paraná nos setores agrícola e industrial foram decorrentes do processo de desenvolvimento brasileiro impulsionado pela industrialização a partir da década de 1970 e pelos efeitos de transbordamento do estado de São Paulo (PIFFER et. al , 2002). No que tange à produção agropecuária, a desconcentração iniciada nas décadas de 1940 e 1950 se intensificou com o processo de desconcentração da indústria na década de 1970, principalmente no estado de São Paulo. Além disso, por meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), lançado em 1974, houve forte investimento federal em infraestrutura, produção de bens de capital e no setor energético de vários estados brasileiros, incluindo o Paraná (Itaipu Binacional começou a ser construída nesse ano) (DINIZ, 1995). Desse modo, ao longo dessa década houve relevante crescimento e inserção da economia paranaense na economia nacional (ROLIM, 1995).

Ademais, a agropecuária, nos anos 1970, foi pautada pela concentração fundiária, inserção de culturas tecnificadas (soja e trigo) e forte progresso tecnológico, com a incorporação de novos insumos e implementos, além do avanço nos sistemas de negociação e de financiamento, que levaram ao surgimento de uma nova indústria de processamento dos produtos agropecuários e também de suporte às atividades agrícolas (ROLIM, 1995; DINIZ; LEMOS, 1990). O Paraná, nesse período, vivenciou uma diversificação de sua base exportadora pautada em produtos como a soja, o café (embora em processo de decadência pós 1975), o algodão, a madeira, o fumo e o açúcar (PIFFER et. al, 2002).

Contudo, dado o esgotamento da fronteira agrícola paranaense a partir dos anos 1980, implicando a escassez de terras, o avanço da agricultura passou a depender fortemente da adoção de novas tecnologias de manejo e trato do solo, de máquinas e equipamento mais eficientes, entre outros fatores voltados à elevação da produtividade no campo. Nessa década houve desaceleração do crescimento da soja, que deu lugar para um maior desenvolvimento do trigo, do milho, do algodão e da cana-de-açúcar, enquanto produtos como o feijão e o café continuaram caindo significativamente. Além disso, até a década de 1980 o Estado ainda financiou diversas políticas públicas de desenvolvimento e fortalecimento da agricultura (ROLIM, 1995; TRINTIN, 2006).

A partir do início da década de 1990, o Estado iniciou um processo de desregulamentação e abertura da economia brasileira, fazendo com que o setor agrícola passasse a atuar mais de acordo com às regras de oferta e demanda, ditadas principalmente pelo mercado internacional. Apesar dessa mudança na dinâmica de crescimento da agricultura, o setor continuou elevando sua produção e produtividade, sendo o único setor com superávit na balança comercial após a implantação do Plano Real, em 1994 (SANTOS; SILVA, 2001). Em continuidade com a busca por maior produtividade, nos anos 1990 houve difusão da tecnologia entre os pequenos produtores e intensificação do uso de agrotóxicos (TRINTIN, 2006).

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar, de modo geral, as modificações no uso da terra para a agricultura nas dez mesorregiões geográficas paranaenses, entre 1994 e 2016, e identificar as atividades agrícolas que mais ganharam e mais perderam área no período e os fatores que impulsionaram o crescimento das principais culturas agrícolas no estado pós estabilização da economia brasileira a partir de 1994. Para tanto, foram analisadas, pelo método shift-share, todas as atividades agrícolas com dados disponíveis no Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), sendo 35 culturas permanentes e 33 temporárias. Essa metodologia possibilitou determinar as taxas médias anuais de variação na produção das culturas mais relevantes, decompondo-as nos efeitos área, rendimento e localização geográfica. A partir disso, decompôs-se o efeito área nos efeitos escala e substituição, com o intuito de verificar em que medida a variação

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na produção de cada lavoura ocorreu devido às modificações da área total das culturas ou à substituição de uma lavoura por outra.

Portanto, além dessa introdução, outras quatro seções compõem o artigo. Na segunda seção é feita uma breve revisão teórica sobre o desenvolvimento da agricultura brasileira e paranaense, principalmente a partir da segunda metade do século XX. Na terceira seção são descritos os dados utilizados e suas fontes, bem como a metodologia aplicada ao estudo. Na quarta seção constam as análises e discussões. A quinta seção finaliza o trabalho com as conclusões.

2. Breves Considerações Acerca do Desenvolvimento Agrícola no Brasil e no Paraná a partir da segunda metade do século XX

Desde os primórdios do Brasil colônia, com as primeiras atividades produtivas iniciadas no segundo quartel do século XVI com a expedição de Martim Afonso de Sousa, a agricultura tem sido considerada estrategicamente relevante para o crescimento da economia brasileira. Ressalta-se que a produção açucareira foi uma das primeiras e a principal atividade na colônia até a segunda metade do século XVIII, depois acompanhada, principalmente, pelas produções de algodão, cacau, borracha e café (FURTADO, 2007; BAER, 2008). Esses produtos, orientados ao mercado externo, foram a base da economia nacional até os anos 1930, sendo responsáveis por mais da metade de todas as exportações brasileiras até a década de 1960 (THORP, 1998; PEREIRA et al. 2012).

Na década de 1960 houve um forte crescimento da população urbana em detrimento da rural, pelo avanço da urbanização das regiões, levando a uma queda no contingente de mão de obra disponível para o setor agrícola. A aceleração da industrialização gerou oportunidades nos centros urbanos, impulsionando esse processo de migração e movendo também o poder político para as cidades. Nesse cenário o modelo tradicional da agricultura foi pressionado a buscar novas formas para que continuasse a crescer (MARTHA JUNIOR; ALVES; CONTINI, 2012). A partir de então, tornou-se evidente a necessidade de modernização da agricultura, não só para elevação da produtividade mas também para o avanço em áreas inicialmente improdutivas, como o Cerrado (PEREIRA et al. 2012).

De acordo com Vieira Filho (2014), o Brasil foi bem sucedido na transição de um setor agrícola tradicional e ultrapassado para uma agricultura moderna e dinâmica, em que o país deixou de ser um importador de alimentos, nos anos 1960, para se tornar um exportador nos anos 1980. Para Bacha (2004), alguns fatores importantes favoreceram o setor entre 1965 e 1986, sendo um deles a política cambial com um regime de minidesvalorizações (crawling peg) a partir de agosto de 1968, em que as autoridades econômicas brasileiras tentavam frear a especulação no mercado de câmbio em função da aceleração da inflação que duraria até a década de 1990. Outro fator destacado pelo autor se refere as políticas de estímulo às exportações, especialmente às de isenção e incentivo fiscal (IPI, ICMS), que beneficiaram os produtos semi-processados da agropecuária, apesar de discriminarem produtos in natura; além da política de expansão da malha rodoviária, que elevou de 548.510 km em 1964 para 1.397.711 km em 1986.

Ainda nesse sentido, destacam-se as políticas específicas que formaram o tripé para a modernização do setor agrícola brasileiro, quais sejam: (i) fornecimento de crédito rural subsidiado para investimento em insumos e bens de capital; (ii) financiamento e criação de organizações na área da pesquisa agrícola; e, (iii) transferência de conhecimento por meio da promoção da extensão rural. A esse respeito, destaca-se a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em 1965, que foi bastante importante na viabilização da aquisição de insumos (agrotóxicos, fertilizantes) e equipamentos (tratores, colheitadeiras e demais implementos) modernos que, consequentemente, contribuiu para a expansão e a modernização do setor. Da mesma forma, ressalta-se a importância da atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada em 1973, na promoção da ciência e tecnologia para a agricultura, e das Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) estaduais na extensão rural (PEREIRA et al. 2012; VIEIRA FILHO,

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2014). Além disso, conforme Santana et al. (2012), a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), lançada em 1966, também exerceu papel relevante na política agrícola brasileira e nas decisões dos produtores sobre o plantio, atenuando as oscilações de preços, que são bem características dos mercados agrícolas.

A partir de 1987 as políticas macroeconômicas e as políticas setoriais implicaram em redução dos incentivos para o setor agrícola. Mesmo assim, houve elevado crescimento, devido, principalmente, ao aumento de produtividade. A aceleração inflacionária no final da década de 1980, que se seguiu até o primeiro semestre de 1994, juntamente com as crises do balanço de pagamentos, levaram à adoção de diferentes regimes cambiais, implicando flutuações, com períodos de grande valorização. De março de 1990 a junho de 1994 foi instituída a trava de câmbio com flutuação administrada, em que o mercado determinava a taxa de câmbio, mas o Banco Central intervinha; o câmbio flexível passou a vigorar em 1° de julho de 1994. A valorização cambial penalizou a exportação e favoreceu a compra de equipamentos e insumos, forçando a queda nos preços domésticos. Para compensar a queda de rentabilidade das exportações, em setembro de 1996 foi sancionada a Lei Kandir, dando isenção de ICMS para produtos agropecuários destinados à exportação. Em janeiro de 1999 a taxa de câmbio voltou a ser administrada, mas, as crises financeiras e a falta de reservas do Banco Central fizeram com que o mesmo não intervisse constantemente nesse mercado, levando a forte desvalorização cambial entre 1998 e 2002 (BACHA, 2004).

As crises fiscais do governo federal levaram, a partir de 1987, a medidas de redução de gastos públicos (diminuição dos subsídios como o crédito rural e a política de preços mínimos). Além disso, ao longo da década de 1990 se evidenciou um processo de desregulamentação da economia, principalmente ligados à agropecuária. A redução do volume de crédito rural, a partir de 1987, está vinculada a dois fatores: o primeiro relacionado à crise fiscal, levando o Tesouro Nacional a praticamente cortar a oferta de crédito rural, e o segundo foi a inadimplência dos agricultores, tornando-os inaptos à demanda de mais crédito rural. Para suprir essa diminuição de recursos surgiram diversas operações, como: empréstimos obtidos de pessoas físicas ou empresas privadas; troca de produtos agrícolas por insumos; empréstimos obtidos de cooperativas ou fornecedores de insumos; venda a termo de produtos agrícolas para comerciantes e agroindústrias, por meio de Cédula de Produto Rural e do contrato de soja verde, por exemplo (BACHA, 2004).

Como já mencionado, na década de 1990 houve mudanças institucionais no Brasil que visavam à desregulamentação da economia e à venda de empresas estatais. Nesse processo ocorreram: liberalização das importações de trigo e das exportações de açúcar; extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e do Instituto Brasileiro do Café (IBC); e, venda de empresas estatais produtoras de fertilizantes (BACHA, 2004). Também nesse sentido, houve redução progressiva da intervenção do Estado no sistema agroindustrial da cana-de-açúcar, de tal forma que, em fevereiro de 1999, todos os produtos desse sistema deixaram de ter seus preços tabelados e passaram a ser definidos pelo mercado, e suspensão de subsídio aos produtores (ALVES, 2002; VIAN; BELIK, 2003).

Por sua vez, o processo histórico de formação econômica e territorial do Paraná tem ligação direta e predominante com as atividades agropecuárias. Apesar de no período colonial o estado ter sido ocupado para a mineração aurífera, essa não predominou por muito tempo e foi pouco significativa economicamente, enquanto que todas as fases econômicas subsequentes tiveram uma atividade agropecuária dominante e representativa. Dessa forma, a ocupação e o crescimento econômico paranaenses ocorreram por meio das atividades de pecuária, inicialmente com o tropeirismo, da produção e industrialização da erva-mate, da extração e do beneficiamento de madeira, café, soja etc. (FAJARDO, 2007).

A exemplo do que ocorreu no cenário nacional, no estado do Paraná, a partir da década de 1970, uma importante variável para a modernização da agricultura foi a política de crédito rural, em que os agricultores conseguiram otimizar o parque de maquinários, equipamentos, insumos etc.

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(PEREIRA, 1995; FAJARDO, 2008). A agricultura modificou suas características artesanais manufatureiras, após o maior desenvolvimento da indústria, alterando sua forma de trazer benefícios, processamento, armazenamento e comercialização. Como consequência, provocou impacto significativo na agricultura, na produção, na comercialização dos produtos, influenciando no aceleramento da modernização agrícola (FAJARDO, 2008).

Também nessa década houve fomento à pesquisa e fortalecimento das iniciativas de extensão rural, com a criação, em 1972, do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR); em 1975, da Embrapa Soja, no estado; e, em 1977, da EMATER Paraná (atualmente uma autarquia denominada Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) (EMBRAPA SOJA, 2019; EMATER, 2019; IAPAR, 2013). Dessa forma, observa-se que as bases para a modernização do setor agrícola paranaense pautaram-se na mesma tríade de políticas implementadas nacionalmente: crédito rural, pesquisa agrícola e extensão rural.

Como já mencionado, esse período foi caracterizado pela concentração fundiária, a inserção de culturas consideradas mais tecnificadas (soja e trigo) e um expressivo avanço tecnológico (ROLIM, 1995). A agricultura evoluiu de forma que as grandes fazendas, as grandes propriedades que tinham uma produção de consumo interno, se transformaram em grandes complexos, como o complexo da soja e o canavieiro, por exemplo (GRAZIANO DA SILVA, 1982). O que antes na agricultura era baseado nos recursos naturais da terra, na fertilidade dos solos e a mão de obra direta, após a modernização passou a vigorar a utilização de insumos e equipamentos modernos e a busca por técnicas mais sofisticadas, como a do sistema plantio direto (SPD), que foi introduzido no Brasil com os primeiros experimentos em Londrina e Ponta Grossa, para a sucessão das culturas trigo/soja, no Paraná em 1971 (BRUM, 1988; DENARDIN et al., 2011).

A partir da década de 1980, com o esgotamento da fronteira agrícola do Paraná, o crescimento da produção agrícola tornou-se ainda mais dependente da inovação tecnológica por meio da elevação da produtividade. Contudo, em virtude das crises inflacionária, do balanço de pagamentos e financeira do governo, houve queda do consumo interno e enfraquecimento do modelo de financiamento público, que dificultaram a continuidade da inovação do setor agrícola nos moldes do século anterior (ROLIM, 1995). Desse modo, a inovação teve que se dar por outras vias e, nesse sentido, as cooperativas agrícolas e agroindustriais, as grandes empresas e os grandes produtores rurais, atores fortalecidos durante a década de 1970, exerceram papel fundamental. O que se seguiu foi a continuidade do processo de concentração fundiária, a diversificação produtiva, manutenção dos programas de manejo e conservação do solo, além da expansão de redes elétricas nas áreas rurais, esses dois últimos por organizações públicas estaduais (MAGALHÃES FILHO, 1993).

Em termos de culturas, a geada de 1975 impactou forte e negativamente na cultura cafeeira, que continuou perdendo espaço para outras culturas nos anos 1980. Além disso, o feijão, produzido em grande medida por produtores de pequeno porte, também acabou se enfraquecendo, com redução na produtividade, principalmente em virtude da incapacidade desses produtores de investirem em inovação. Há, nesse período, consolidação da soja enquanto predominante na agricultura paranaense e, juntamente com ela, outras culturas passaram a se destacar, como o trigo, o algodão, o milho e a cana-de-açúcar, essa última impulsionada principalmente pelos incentivos do Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL) (ROLIM, 1995; KAEFER; SHIKIDA, 2000; TRINTIN, 2006).

A década de 1990 é marcada fortemente pela abertura comercial e a desregulamentação de diversos setores econômicos, implicando o desmonte da estrutura de subsídios à agricultura e a elevação da concorrência. No entanto, aliado a isso, tem-se a estabilização da economia nacional a partir de 1994, diminuindo a imprevisibilidade e as incertezas do ambiente econômico. Nesse interim, o mercado internacional, sob a égide das leis de oferta e demanda, gradativamente passou a imperar sobre os setores agrícolas brasileiro e paranaense. Com essas mudanças na dinâmica do

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setor, mais uma vez a agricultura teve que se reinventar e continuou elevando sua produção e produtividade, principalmente por meio da difusão da tecnologia entre os pequenos produtores, a intensificação do uso de agrotóxicos e a constituição de uma agricultura científica globalizada, como aquela apontada por Santos (2002) (ROLIM, 1995; TRINTIN, 2006; FAJARDO, 2008).

3. Metodologia

Para analisar as modificações no uso da terra para a agricultura no Paraná, verificar as atividades agrícolas que mais ganharam e mais perderam área no período 1994-2016 e identificar os fatores mais relevantes para o crescimento da produção dessas atividades, utilizou-se o método estrutural-diferencial. Esse método possibilita medir o crescimento de agregados econômicos em um nível analítico regional e identificar os componentes desse crescimento dividindo-o em efeitos explicativos distintos.

A metodologia tem sido utilizada por vários autores para estudar a agricultura no Brasil. Dentre os estudos pioneiros das atividades agrícolas brasileiras utilizando o referido método, destacam-se os trabalhos de Patrick (1975), Zockun (1978), Cunha e Daguer (1982), Igreja (1987) e Yokoyama, Igreja e Neves (1990). Trabalhos mais recentes também tem se utilizado do método shift-share, como Shikida e Alves (2001), Santos, Faria e Teixeira (2008), Santos e Araújo (2014), Cuenca, Dompieri e Sá (2015), Verão, Costa e Forest (2016), dentre outros. A análise quantitativa matemática diferencial-estrutural permite mensurar o crescimento da produção agrícola dividindo-o em três diferentes efeitos: área, rendimento e localização geográfica. O efeito área pode ainda ser dividido em outros dois efeitos, escala e substituição, sendo que esse último permite verificar a substituição de uma cultura por outras dentro do sistema.

Figura 1 – Mesorregiões geográficas do estado do Paraná

Fonte: autor, com base em IPARDES (2018).

Analisou-se os dados para as dez mesorregiões geográficas paranaenses, identificadas na Figura 1, em 1994 e 2016, a fim de identificar as modificações no uso da terra no período em um nível analítico desagregado para o Paraná. Foram consideradas todas as culturas com dados disponíveis no banco de dados do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA) (IBGE,

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2018), sendo 35 permanentes e 33 temporárias3. Os dados utilizados foram: área colhida (em hectares), quantidade produzida (em toneladas) e rendimento médio da produção (em toneladas por hectare). Não foram incluídos dados de pastagens e de produtividade da pecuária devido a indisponibilidade dos mesmos em nível de desagregação mesorregional para o período considerado, impossibilitando o estudo dessa atividade.

Após investigação preliminar dos dados, as culturas permanentes algodão arbóreo, azeitona, borracha (látex coagulado ou líquido), cacau, caju, castanha de caju, coco, dendê, guaraná, marmelo, palmito, pimenta-do-reino, sisal e tungue, e as culturas temporárias alfafa, algodão herbáceo, fava, girassol, juta, linho, malva, mamona, sorgo e triticale foram descartadas do cálculo dos diferentes efeitos explicativos do crescimento da produção dessas culturas por não apresentarem dados em algum ou nos dois anos analisados, o que impede a aplicação da metodologia empregada no estudo. Também foram excluídos os dados das culturas permanentes abacate, banana, caqui, figo, goiaba, laranja, limão, maçã, mamão, manga, maracujá, marmelo, pera, pêssego e tangerina, e das culturas temporárias abacaxi, melancia e melão, pois até 2000 eram expressas em unidades ou cachos, mudando para toneladas a partir de 2001, o que impede a comparação entre os dados de 1994 e 2016. Dessa forma, o método shift-share foi efetivamente aplicado a 5 culturas permanentes e 19 temporárias, embora a análise da variação da área colhida tenha sido efetuada para todas as culturas com dados pelo menos em 1994.

Avançando, de acordo com a abordagem de Yokoyama, Igreja e Neves (1990), formaliza-se a metodologia aplicada. Inicialmente, define-se que a produção total da j-ésima atividade agrícola na região de referência (Paraná) no período inicial (0 = 1994) é dada por:

Q j0=∑i=1

m

Aij 0 R ij0=∑i=1

m

λij 0 A j 0 R ij0 (1)

No período final (t = 2016):

Q jt=∑i=1

m

Aijt R ijt=∑i=1

m

λijt A jt Rijt (2)

Em que, em (1) e (2),i é a microrregião, que varia de 1 a m, sendo m=10 (quantidade de mesorregiões

geográficas paranaenses);j é a atividade agrícola, que varia de 1 a n, sendo n=68 (quantidade de atividades agrícolas

consideradas).Aij é a área total utilizada pela j-ésima atividade na i-ésima mesorregião (em hectares);Rij é o rendimento da j-ésima atividade na i-ésima mesorregião (em toneladas por hectare);λ ij é a participação relativa da i-ésima mesorregião na área total da j-ésima atividade no

Paraná;A j é a área total cultivada da j-ésima atividade no Paraná (em hectares).Considerando uma variação somente na área total da j-ésima atividade na região de

referência, a produção total dessa atividade é obtida por:

Q jtA=∑

i=1

m

λ ijo A jt Rijo (3)

Considerando uma variação na área total da j-ésima atividade no Paraná e no rendimento em cada mesorregião, a produção final é:

3 De acordo com IBGE (2015), a culturas permanentes são aquelas com ciclo vegetativo longo, com possibilidade de colheitas sucessivas e que não necessitam de novo plantio para produzir, e as culturas temporárias são aquelas de duração curta ou média, em geral com ciclo vegetativo inferior a um ano e que após a colheita necessitam novo plantio para produzir.

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Q jtAR=∑

i=1

m

λijo A jt R ijt (4)

Se forem alteradas a área total, o rendimento e também a participação relativa da i-ésima mesorregião na área total da j-ésima atividade no Paraná, tem-se:

Q jtARλ=∑

i=1

m

λijt A jt Rijt=Q jt (5)

A variação total na produção da j-ésima atividade, do período 0 ao período t é dada por:

Q jt−Q j 0=∑i=1

m

λijt A jt Rijt−∑i=1

m

λij 0 A j 0 Rij 0 (6)

Ou ainda,Q jt−Q j 0=(Q jt

A−Q j 0)+(Q jtAR−Q jt

A )+(Q jt−Q jtAR ) (7)

Em que,Q jt

A−Q j 0 é o efeito área (EA);

Q jtAR−Q jt

A é o efeito rendimento (ER);

Q jt−Q jtAR é o efeito localização geográfica (ELG).

Voltando às equações (4) e (5), observa-se que o efeito localização geográfica pode ser expresso por:

ELG=∑i=1

m

λ ijt A jt Rijt−∑i=1

m

λij 0 A jt Rijt=A jt (∑i=1

m

λ ijt Rijt−∑i=1

m

λ ij0 Rijt) (8)

Em relação aos efeitos destacados anteriormente, o efeito área possibilita analisar a variação na produção dada por alterações na área colhida, demonstrando os efeitos de expansão ou redução na área de determinadas atividades. O efeito rendimento mostra as alterações da produção oriundas da produtividade das atividades, estando ligado a produtividade. O efeito localização geográfica demonstra as variações na produção em decorrência de modificações na localização das atividades, esse efeito será positivo se a participação das mesorregiões com maior produtividade no período final aumentar, conforme demonstrado na equação (8).

A fim de tornar a análise mais intuitiva e os efeitos comparáveis entre si, os três efeitos supracitados são apresentados na forma de taxas médias anuais de crescimento, e a somatória das mesmas é igual a taxa anual média de crescimento da produção. De acordo com Igreja (1987), multiplicando-se ambos os lados da equação (7) por:

1Q jt−Q j 0

tem-se:

1=(Q jt

A−Q j 0 )(Q jt−Q j 0 )

+(Q jt

AR−Q jtA )

(Q jt−Q j 0 )+

(Q jt−Q jtAR )

(Q jt−Q j 0 )

(9)Em seguida multiplicando-se ambos os lados da equação (9) por:

r=( t√ Q jt

Q jo−1)100

Sendo r a taxa anual média de crescimento na produção da j-ésima atividade. Desse modo, obtém-se:

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r=r(Q jt

A−Q j 0 )(Q jt−Q j 0 )

+r(Q jt

AR−Q jtA )

(Q jt−Q j 0 )+r

(Q jt−Q jtAR )

( Q jt−Q j 0 )

(10)Em que,

r(Q jt

A−Q j 0 )(Q jt−Q j 0 )

é o efeito área (EA);

r(Q jt

AR−Q jtA )

(Q jt−Q j 0) é o efeito rendimento (ER);

r(Q jt−Q jt

AR )(Q jt−Q j 0)

é o efeito localização geográfica (ELG).

Sendo que, dessa forma, os efeitos são expressos em taxas percentuais anuais médias de crescimento da produção da j-ésima atividade agrícola.

Além disso, a variação na área utilizada por uma determinada atividade, expressa por:A jt−A jo (11)pode ser decomposta em outros dois efeitos: efeito escala (EE) e efeito substituição (ES),

conforme equações (12) e (13).EE=(γA¿¿ j0−A j 0)¿

(12)ES=( A¿¿ jt−γA j 0)¿

(13)

Em que γ=AT t

AT 0 é o coeficiente que mede a variação na área total ( AT ) utilizada por todas

as atividades agrícolas, entre os períodos inicial e final.Assim, o efeito área é:( A¿¿ jt−A j 0)=(γA j 0−A j 0)+( A jt−γA j 0)¿ (14)O efeito substituição demonstra a alteração de participação de cada atividade no total de

área disponível, ou seja, se a participação de uma atividade diminuiu, o efeito substituição será negativo, indicando que essa atividade foi substituída por outra(s), e se a participação se elevou, o efeito substituição será positivo, indicando que a atividade substituiu outra(s), tomando área dessa(s) dentro do sistema. Uma vez considerada a participação relativa de cada atividade na área total constante, o efeito escala mostra as modificações na área da atividade em virtude apenas da alteração na amplitude do sistema, dessa forma, o efeito demonstra como seria o comportamento de cada atividade se a variação na área total fosse distribuída de maneira uniforme entre todas as atividades (SANTOS; FARIA; TEIXEIRA, 2008).

Ainda, seguindo a formulação de Igreja (1987), de maneira similar as manipulações matemáticas aplicadas à equação (7), os efeitos escala e substituição também podem ser apresentados em forma de taxas anuais médias de crescimento. Nesse sentido, multiplicando-se ambos os lados da equação (14) por:

1A jt−A j 0

obtém-se:

1=(γA j 0−A jo )( A jt−A j 0)

+(A jt−γA j 0)

( A¿¿ jt−A j 0)¿

(15)

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10

Em seguida multiplicam-se ambos os lados da equação (15) pelo efeito área, conforme definido na equação (10). Assim, obtém-se:

EA=EA(γA j 0−A jo)( A jt−A j 0)

+EA( A jt−γA j 0)

( A ¿¿ jt−A j 0)¿

(16)Em que,

EA(γA j 0−A jo)( A jt−A j 0)

é o efeito escala;

EA( A jt−γA j0)

( A¿¿ jt−A j 0)¿ é o efeito substituição.

Da mesma forma, aqui os efeitos escala e substituição são expressos em taxas percentuais anuais médias de crescimento da produção da j-ésima atividade agrícola.

Destarte, analisou-se as modificações no uso da terra para a agricultura nas mesorregiões paranaenses, verificando as atividades agrícolas que mais ganharam e mais perderam área no período 1994-2016, identificando o avanço das culturas nas unidades geográficas consideradas e os efeitos mais relevantes para o crescimento da produção dessas atividades. A partir dessa metodologia, os resultados são apresentados na próxima seção.

4. Resultados e Discussões

Com o objetivo de analisar as modificações no uso da terra nas dez mesorregiões geográficas paranaenses, entre 1994 e 2016, na presente seção é feita inicialmente uma análise da área colhida de lavouras permanentes e temporárias, além da análise da variação na área colhida total. Em seguida, verifica-se o efeito substituição e demais efeitos em algumas atividades agrícolas selecionadas e os principais fatores que impulsionaram o crescimento da produção dessas atividades no referido período.

Assim, atentando-se aos dados das 35 culturas permanentes e das 33 temporárias disponíveis em IBGE (2018), é possível identificar na Tabela 1 que a área colhida total das atividades agrícolas passou de aproximadamente 6,99 milhões de hectares (ha) em 1994 para 10,66 milhões em 2016, apresentando uma variação positiva de 52,57%, ou ainda um crescimento anual médio de 1,94% a.a.. No entanto, quando se analisa de forma separada as lavouras permanentes e temporárias, verifica-se comportamentos bastante distintos. As atividades permanentes apresentaram uma queda de 39,72% na área colhida, o que representa uma taxa média de -2,27% a.a.. Já as atividades temporárias tiveram uma elevação de 55,53%, o que indica uma taxa média de crescimento da área colhida de 2,03% a.a.. Os dados indicam que o crescimento da área das lavouras temporárias pode ter se dado tanto pela expansão da fronteira agrícola, quanto pela incorporação de áreas antes ocupadas por lavouras permanentes.

Tabela 1 – Área colhida (em ha) das culturas permanentes e temporárias no Paraná – 1994 e 2016Tipo de cultura 1994 2016 Δ%

Permanentes 217.460 131.093 - 39,72%

Temporárias 6.771.613 10.532.159 55,53%

Total 6.989.073 10.663.252 52,57%Fonte: autor, com base dados do IBGE (2018).

Faz-se importante observar que os produtos agrícolas amendoim, batata-inglesa, feijão e milho podem apresentar mais de uma safra em um mesmo ano civil, incorrendo em duplicidade ou

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triplicidade da área. Além disso, existem culturas de verão e de inverno que são exploradas nas mesmas áreas em períodos distintos do ano. Assim, subentende a possibilidade de cultivos sucessivos ou simultâneos (simples, associados e/ou intercalados) no mesmo ano civil e no mesmo local, o que faz com que o total de área do sistema calculado pela soma das áreas utilizadas em todas as culturas permanentes e temporárias seja naturalmente maior que a área geográfica real de terras disponíveis para a agricultura. Contudo, como o objetivo é analisar a dinâmica na modificação do uso da terra entre as culturas e calcular os determinantes do crescimento das mesmas, acredita-se que essa limitação em termos de área total do sistema não afete a consistência dos resultados.

Na Figura 2 tem-se a variação na área colhida (em hectares) de culturas permanentes e temporárias nas mesorregiões geográficas paranaenses de 1994 a 2016. Analisando a área destinada a culturas permanentes, seis mesorregiões apresentaram queda na área colhida, com destaque para Noroeste e Norte Central, que tiveram redução de 39.548 e 37.188 ha respectivamente, principalmente pela queda nas áreas com café (51.714 e 44.764), apesar de significativas elevações na área com laranja (10.198 e 7.015); apenas quatro mesorregiões tiveram ganho de área para culturas permanentes, das quais se destaca a Sudeste, com elevação de 19.978 ha, impulsionada pelo aumento na área com erva-mate (19.056). De modo geral, as quedas nas áreas das lavouras permanentes concentram-se na redução do cultivo de café, ao passo que as elevações são vistas em erva-mate.

Ainda, em relação à Figura 2, nas culturas temporárias todas as dez mesorregiões apresentaram elevação na área colhida; as que tiveram os menores ganhos foram Sudoeste (29.937) e Metropolitana de Curitiba (52.707) e as que demonstraram maior aumento foram Norte Central (798.072) e Oeste (617.544). De maneira global, no Paraná, os ganhos de área nas temporárias foi destacado nas culturas aveia, cana-de-açúcar, cevada, fumo, milho, soja e trigo, e as perdas se mostraram em algodão (que teve queda de 100% na sua área, não sendo mais produzido em 2016 e por isso não analisados seus efeitos), arroz, batata-inglesa e feijão.

Figura 2 – Variação na área colhida (em hectares) nas mesorregiões paranaenses (1994-2016)

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Fonte: autor, com base dados do IBGE (2018), utilizando o software GeoDa.

Esses dados evidenciam a continuidade do processo de tecnificação produtiva, em que culturas consideradas tradicionais passaram a dar lugar para culturas tecnificadas, em sua maioria commodities. Observa-se perdas líquidas na área colhida das culturas permanentes da maior parte das mesorregiões, sobretudo no café no norte do estado, enquanto os ganhos foram mais relevantes no Sudeste e focados em apenas um produto (erva-mate), demonstrando um processo de especialização que preocupa por poder criar uma dependência em um único produto. Enquanto isso, houve ganho líquido em várias das culturas temporárias, principalmente cana-de-açúcar, soja e cereais.

Avançando, analisa-se o crescimento da produção e os respectivos efeitos área, escala, substituição, rendimento e localização geográfica de algumas culturas selecionadas. A escolha dos produtos se deu pela relativa importância dos mesmos no que tange ao efeito substituição em hectares, ou seja, optou-se por analisar aquelas atividades que tiveram os maiores ganhos ou as maiores perdas, em hectares, em relação ao movimento total de área colhida entre todos os produtos e em todo o território paranaense.

Nesse sentido, dentre as atividades permanentes consideradas, o café foi o único com queda na produção, de 163.981 toneladas em 1994 para 62.299 toneladas em 2016, a uma taxa de -4,30% ao ano. Os dados da Tabela 2 demonstram que essa redução na produção se deu em virtude da redução de área, evidenciada por um efeito área de -5,28% a.a. que, por sua vez, ocorreu pela

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substituição dessa cultura por outras, com um efeito substituição negativo em 8,93% a.a.. Todas as mesorregiões com a referida cultura em 1994 tiveram queda na quantidade produzida e na área colhida, com destaque para Noroeste, Norte Central, Norte Pioneiro e Centro Ocidental, com diminuição de hectares na ordem de 51.714, 44.764, 21.661 e 15.944 respectivamente.

Tabela 2 – Culturas permanentes - efeito total (ET), efeito área total (EAT), efeito escala (EE), efeito substituição (ES), efeito rendimento (ER), efeito localização geográfica (ELG) no Paraná – 1994 a 2016.

Culturas PermanentesCrescimento da Produção – Efeitos (Δ % a.a.)

ETEfeito Área ER ELG

EAT EE ESCafé (em grão) Total -4,30 -5,28 3,65 -8,93 0,80 0,18Erva-mate (folha verde) 12,45 10,11 0,54 9,57 1,28 1,06Noz (fruto seco) 8,39 9,48 0,90 8,58 0,44 -1,54Urucum (semente) 2,28 4,61 1,87 2,75 -2,34 0,01Uva 0,85 0,61 2,18 -1,57 0,72 -0,49

Fonte: autor, com base em dados do IBGE (2018).

Ainda, em relação às permanentes, a erva-mate foi a cultura com maior crescimento da produção, passando de 17.246 toneladas em 1994 para 227.804 toneladas em 2016, a uma taxa média de 12,45% a.a.. A expansão da área por meio da incorporação de terras de outras culturas foi o principal fator desse crescimento elevado na produção, o que pode ser evidenciado pelo efeito área total de 10,11% a.a. e o efeito substituição de 9,57% a.a.. A elevação na produtividade também foi relevante para o crescimento da produção de erva-mate, expressa por um efeito rendimento de 1,28% a.a.. As mesorregiões Sudeste e Centro-Sul destacaram-se nessa cultura, com elevações na área colhida de 19.056 e 5.526 hectares respectivamente.

Em relação às culturas temporárias analisadas, as que tiveram maior variação negativa na área colhida foram arroz, batata-inglesa, feijão e mandioca. Dentre essas, milho foi a que mais perdeu área colhida no período considerado, representando 47,04% de toda a área cedida na agricultura paranaense, seguida por feijão (19,41%), arroz (5,01%), mandioca (3,45%) e batata-inglesa (1,43%). Apesar do feijão ter demonstrado forte queda na área colhida, sendo substituído por outras culturas (com um efeito substituição de -3,82% a.a.), houve uma pequena elevação na quantidade produzida, a uma taxa de 0,53% a.a., impulsionada pelos ganhos em produtividade evidenciados pelo efeito rendimento positivo de 1,95% a.a.. Apenas uma mesorregião obteve elevação na área colhida de feijão, que foi a Centro Oriental.

Conforme Tabela 3, batata-inglesa e mandioca demonstraram o mesmo comportamento de feijão, com perdas em área, mas ganhos na quantidade produzida em virtude da elevação na produtividade. A batata-inglesa, apesar de um efeito área de -1,37% a.a. (dado o efeito substituição de -3,55% a.a.), o efeito rendimento positivo em 1,95% a.a. possibilitou o crescimento da produção em 0,85% a.a.. Para mandioca, a produção cresceu a uma taxa de 0,59% a.a., com um efeito área negativo em 0,28% a.a. (efeito substituição de -2,52% a.a.) e um efeito rendimento positivo em 0,83% a.a.. O efeito localização geográfica positivo nessas três culturas, mesmo que pequeno, demonstra que elas se concentraram em mesorregiões com maior produtividade em 2016. Houve elevação na área colhida com batata-inglesa nas mesorregiões Norte Pioneiro, Centro Oriental e Centro-Sul, já as mesorregiões Noroeste e Metropolitana de Curitiba aumentaram a área de mandioca; na Sudeste ocorreu aumento de área tanto para batata-inglesa, como para mandioca.

Na cultura arroz houve redução significativa na quantidade produzida, caindo de 217.466 em 1994 para 119.001 em 2016, a uma taxa média de -2,70% a.a., que se deveu sobretudo pela forte queda na área colhida em 79.628 hectares no período, evidenciada pelo efeito área de -4,51% a.a. que, por seu turno, foi em virtude da substituição de arroz por outras culturas, como pode ser notado com o elevado efeito substituição negativo de 7,65% a.a.. A única mesorregião paranaense com aumento na área colhida de arroz foi a Noroeste, que foi a que mais elevou a produção; a

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Metropolitana de Curitiba também obteve um crescimento na produção, embora tenha reduzido sua área colhida, o que demonstra uma forte elevação na produtividade da região, que pode ter impactado no efeito rendimento positivo em 0,54% a.a..

Tabela 3 – Culturas temporárias efeito total (ET), efeito área total (EAT), efeito escala (EE), efeito substituição (ES), efeito rendimento (ER), efeito localização geográfica (ELG) no Paraná – 1994 a 2016.

Culturas TemporáriasCrescimento da Produção – Efeitos (Δ % a.a.)

ETEfeito Área ER ELG

EAT EE ESAlho -4,34 -4,92 3,66 -8,58 0,39 0,19Amendoim (em casca) 2,94 0,19 1,73 -1,54 1,73 1,02Arroz (em casca) -2,70 -4,51 3,14 -7,65 0,54 1,28Aveia (em grão) 4,24 0,73 1,49 -0,76 3,47 0,04Batata-doce -0,55 -1,98 2,53 -4,51 1,35 0,08Batata-inglesa 0,85 -1,37 2,18 -3,55 1,95 0,26Cana-de-açúcar 5,08 5,18 1,35 3,82 0,44 -0,53Cebola 1,78 -1,47 1,97 -3,45 3,45 -0,20Centeio (em grão) 4,40 0,46 1,46 -1,01 1,46 2,48Cevada (em grão) 9,41 2,98 0,79 2,18 6,88 -0,45Ervilha (em grão) 10,56 11,30 0,69 10,61 11,97 -12,71Feijão (em grão) 0,53 -1,56 2,26 -3,82 1,95 0,13Fumo (em folha) 3,90 3,59 1,55 2,03 0,34 -0,02Mandioca 0,59 -0,28 2,25 -2,52 0,83 0,03Milho (em grão) 2,45 0,07 1,83 -1,76 3,36 -0,99Rami (fibra) -13,78 -13,98 7,53 -21,51 -0,31 0,51Soja (em grão) 5,42 3,75 1,30 2,45 1,71 -0,04Tomate 4,98 3,28 1,37 1,91 1,17 0,54Trigo (em grão) 5,31 1,87 1,32 0,55 3,35 0,08

Fonte: autor, com base em dados do IBGE (2018).

Considerando as principais culturas temporárias com elevação na área e na produção, destacam-se cana-de-açúcar, milho (efeito área total pequeno), soja e trigo. Todas essas atividades obtiveram crescimento significativo na quantidade produzida e efeitos área total e rendimento positivos, evidenciando elevação tanto na área como na produtividade. A produção de soja cresceu 11,69 milhões de toneladas, a uma taxa de 5,42% a.a.; essa cultura, de maneira isolada, foi a que mais avançou em termos de área colhida, com uma elevação de 3,27 milhões de hectares, o que contribuiu para o crescimento da produção com um efeito área de 3,75% a.a.. O crescimento da produtividade de 2,48 toneladas por hectare em 1994 para 3,14 t/ha em 2016 também foi importante, gerando um efeito rendimento de 1,71% a.a. sobre a quantidade produzida. Além disso, houve aumento na área de soja em todas as mesorregiões paranaenses, com destaque para Norte Central e Centro-Sul, com elevações de 459,38 mil e 441,49 mil hectares respectivamente.

A produção de trigo cresceu 2,28 milhões de toneladas, a uma taxa média de 5,31% a.a., impulsionada por uma elevação de 471 mil hectares na área colhida que produziu um efeito área total de 1,87% a.a.. Além disso, o expressivo avanço na produtividade, que passou de 1,71 toneladas por hectare em 1994 para 3,05 t/ha em 2016, impactou em um efeito rendimento de 3,35% a.a. sobre a produção. No trigo, apenas três mesorregiões apresentaram queda na área, Noroeste, Centro Ocidental e Oeste, e, dentre as que tiveram elevação na área, Norte Pioneiro e Norte Central foram as que se destacaram, com elevações de 135,19 mil e 127,22 mil hectares respectivamente.

A quantidade produzida de cana-de-açúcar avançou 31,52 milhões de toneladas de 1994 a 2016, crescendo a uma taxa média de 5,08% a.a.. O principal determinante desse resultado foi o

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crescimento na área colhida de 215,80 mil hectares em 1994 pra 650,15 mil hectares em 2016, gerando um efeito área total de 5,18% a.a. que, por sua vez, se deveu principalmente à incorporação de terras cedidas por outras culturas (efeito substituição de 3,82% a.a.). Assim como na soja, na cana-de-açúcar todas as mesorregiões do Paraná elevaram a área colhida, com destaque para Noroeste e Norte Central, com elevações de 300,39 mil e 94,41 mil hectares respectivamente.

A produção de milho aumentou de 8,16 milhões de toneladas em 1994 para 13,89 milhões em 2016, representando um crescimento médio de 2,45% a.a.. No caso do milho, o expressivo avanço na produtividade de 3,25 toneladas por hectare em 1994 para 5,41 toneladas por hectare foi o fator de maior relevância para o crescimento da produção, evidenciado pelo efeito rendimento de 3,36% a.a.. Cinco mesorregiões elevaram a área colhida dessa cultura, Noroeste, Centro Ocidental, Norte Central, Norte Pioneiro e Oeste, sendo essa última a que mais obteve elevação na área colhida (308,64 mil hectares). Dentre as outras cinco mesorregiões com queda na área, a Sudoeste foi a que perdeu área com milho (304,91 mil hectares). Apesar de milho ser a cultura que mais cedeu área pelo efeito substituição absoluto, o efeito escala foi superior, o que fez com que o efeito área total fosse positivo, embora pequeno.

As culturas temporárias ervilha e rami apresentaram valores elevados em termos de taxa de variação anual por, no caso da primeira, apresentar uma produção ínfima em 1994 e, no caso da segunda, uma produção muito baixa em 2016, fazendo com que a variação percentual seja muito elevada no período. Contudo, seus montantes de área colhida e quantidade produzida não são significativos vis-à-vis as demais culturas. Além disso, noz, urucum, uva, alho, amendoim, batata-doce, cebola, centeio e tomate apresentaram pouca representatividade frente ao montante de área colhida e variação nessa área no Paraná.

5. Conclusões

O presente trabalho analisou, de modo geral, as modificações no uso da terra para a agricultura nas dez mesorregiões geográficas do estado do Paraná, entre 1994 e 2016, a fim de identificar as atividades agrícolas que mais ganharam e mais perderam área no período e os fatores que impulsionaram o crescimento das principais culturas agrícolas no estado pós estabilização da economia brasileira a partir de 1994.

Por meio dos dados analisados, verificou-se um expressivo aumento de cerca de 52,57% na área colhida total das atividades agrícolas, que se deve principalmente à expansão nas mesorregiões Norte Central, Oeste, Noroeste e Norte Pioneiro, embora em todas as demais tenha havido crescimento na área. Esse resultado não significa necessariamente uma expansão absoluta na área geográfica cultivável do estado, pois, como mencionado, há possibilidade de cultivos sucessivos ou simultâneos no mesmo ano civil e no mesmo local. Contudo, em termos de dinâmica, essa forte expansão da área colhida pode evidenciar uma intensificação do uso da terra com as técnicas de manejo modernas.

Ainda nesse sentido, observa-se que enquanto as culturas permanentes apresentaram queda de 39,72%, as atividades temporárias tiveram uma elevação de 55,53%, demonstrando um crescimento dessas ultimas também pela potencial incorporação de áreas antes ocupadas por lavouras permanentes. Em relação a área destinada às culturas permanentes, seis mesorregiões apresentaram queda, com destaque para Noroeste e Norte Central, que tiveram as maiores reduções. Apenas quatro mesorregiões tiveram ganho de área para culturas permanentes, das quais se destaca a Sudeste. De modo geral, as quedas nas áreas das lavouras permanentes concentram-se na redução do cultivo de café, ao passo que as elevações são vistas em erva-mate. Nas culturas temporárias, todas as mesorregiões demonstraram elevação na área colhida; as que tiveram os menores ganhos foram Sudoeste e Metropolitana de Curitiba e as que demonstraram maior aumento foram Norte Central e Oeste. Os ganhos de área nas temporárias foram destacados nas culturas aveia, cana-de-açúcar, cevada, fumo, milho, soja e trigo, e as perdas se mostraram em algodão, arroz, batata-inglesa e feijão.

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Em termos de dinâmica do uso da terra, das 24 atividades selecionadas para análise detalhada dos efeitos, o resultado de destaque foi que 91,12% da área cedida por outras culturas foi incorporado por apenas duas atividades, a cana-de-açúcar e a soja. Dentre as atividade com efeito substituição negativo, café, feijão e milho foram responsáveis por 75,25% de toda a área cedida para outras culturas. Todas as mesorregiões com a cultura cafeeira em 1994 tiveram queda na quantidade produzida e na área colhida, principalmente em virtude de efeitos área e substituição bastante elevados. Já para soja e cana-de-açúcar todas as mesorregiões elevaram a área colhida.

A erva-mate foi a cultura com maior crescimento da produção, impulsionada pela expansão da área, com um efeito substituição significativo. Apesar do feijão ter demonstrado forte queda na área colhida, houve pequena elevação na quantidade produzida impulsionada pelos ganhos em produtividade evidenciados pelo efeito rendimento positivo, o que também ocorreu com batata-inglesa e mandioca. Na cultura de arroz houve redução significativa na quantidade produzida, que se deveu pela forte queda na área colhida em virtude da substituição por outras culturas, com elevado efeito substituição negativo. Considerando as principais culturas temporárias com elevação na área e na produção, destacam-se cana-de-açúcar, milho, soja e trigo. Todas essas atividades obtiveram crescimento significativo na quantidade produzida e efeitos área e rendimento positivos, evidenciando elevações na área e na produtividade. No caso do milho, o expressivo avanço na produtividade (efeito rendimento) foi o fator de maior relevância para o crescimento da produção.

Portanto, para novas pesquisas, sugere-se o aprofundamento desse estudo, considerando análises qualitativas que melhor expliquem o comportamento de cada atividade agrícola e dos efeitos aqui encontrados. Salienta-se que estudos mais detalhados são necessários para verificar as áreas de expansão nessas culturas nas mesorregiões, considerando também a pecuária, que não foi abordada nesse trabalho por indisponibilidade de dados. Além disso, há necessidade de uma investigação detalhada de particularidades regionais que podem ter influenciado o desenvolvimento agrícola nas mesmas.

Referências

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