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    ZaniniMario Ramiro, Altamira, 1986 11

    Uma reviravolta de grandeza maior operou-se no cenrio da arte tec-

    nolgica com a assimilao da informtica pelos artistas de vrias reas. Cada

    vez mais atuantes e imprescindveis em ilimitados aspectos da sociedade moder-

    na, os computadores digitais logo foram assimilados e pesquisados com uso

    prprio pelo pensamento da arte. As mquinas cerebrais tornaram-se instru-

    mento de novas formas de inventividade e tambm passaram a influir nas for-

    mas de arte em vigor.

    A passagem da imagem produzida pelas mquinas pticas para a

    imagem gerada pelos processamentos numricos constitui o fundamento deuma indita condio da realizao da arte. Gerada pelas tecnologias digitais, a

    imagem de sntese ou de ltima gerao, possui a singularidade e a capaci-

    dade de uma transformabilidade infinita. Ela resulta do dilogo que se estabe-

    lece entre o artista e colaboradores cientficos e tcnicos e o computador.

    Determinante se torna o deslocamento da criao individual e isolada da arte

    assentada em suportes fsicos tradicionais - artesanais ou industriais - para a

    atmosfera de forte instigao coletiva da criao eletrnica. O universo da arte

    ganha a dimenso da interatividade.

    Edmond Couchot realizou exaustivo estudo da matriz matemtica aque se deve um novo estado da arte na sua especfica qualidade metamrfica,

    automatizadora de funes, simblica, imaterial, indestrutvel, capaz de inter-

    pretar tanto o real como exprimir o imaginrio, contextualizar tcnicas e con-

    ceitos, ajudar o artista a pensar e a imaginar, e disponvel interveno comu-

    tativa do destinatrio da obra. Com essa anlise, Couchot interpreta a imagem

    resultante como um simulacro, embora no possa ela escapar da condio de

    uma representatividade, mesmo sui generis, em seu modo de recriao do

    mundo, no a partir do real, mas de um seu modelo conceitual1.

    No obstante a mutao estrutural provocada pelas tecnologias

    eletrnicas na arte, no seria crvel no vincul-la, de algum modo, investi-

    gao de reciprocidade entre as figuras do artista e do espectador que vimos

    estabelecer-se em aspectos fundamentais na histria do modernismo, como na

    arte cintica e, a seguir, no momento novo da desmaterializao provocada

    pelas concepes conceitualistas. Na imagem de sntese, o envolvimento do

    espectador , entretanto, de um alcance de natureza diversa de sua antiga par-

    ticipao em trabalhos artesanais ou de natureza eletro-mecnica ou em situ-

    aes comportamentais (como nos happenings, na body art e na performance e

    Walter Zanini A ARTE DE COMUNICAO TELEMTICAA INTERATIVIDADE NO CIBERESPAO*

    1. EDMOND

    COUCHOT. De loptique

    au numrique Les arts

    visuels et lvolution des

    technologies. Paris,

    Hermes, 1998.

    p. 211-212.

    Professor Emrito do Departamento de Artes Plsticas da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade

    de So Paulo. e-mail: [email protected]

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    outras aes caractersticas desenvolvidas a partir das dcadas de 1950-60).Atravs dos novos meios computacionais, o imaginrio artstico ganha outroshorizontes, transtornando compreenses sedentrias em unvocos espaos pls-ticos bi e tri-dimensionais. Potica de fluxo ininterrupto, em tempo real, aimagem de sntese, de propriedade reprodutora, torna obsoleta, numa perspec-tiva avanada de obra aberta, no sentido pleno da palavra, a obra nica,consumada definitivamente e desfaz a noo de cpia.

    Uma problemtica esttica absolutamente original se configura nessarelao do homem com a mquina de inteligncia artificial, capaz de converterem imagens as informaes ( ou a proviso de smbolos codificados) contidosem seus circuitos. A imagem torna-se o produto de alguma forma vivente datela e igualmente dos dedos, da retina e do pensamento do observador; ela oproduto de uma surpreendente hibridao de carne, de smbolos e de silcio ,como diz Couchot2, que, ao mesmo tempo, reala o fato de nos encontrarmos

    diante de uma nova esttica de distribuio, na forma de como a imagem socializada3.

    A arte das novas tecnologias configurou-se em mltiplas e conhecidasmodalidades, expandindo-se internacionalmente em pases do chamadoprimeiro mundo e ingressando com dificuldades tambm em pases como oBrasil. No obstante tratar-se de um fenmeno fundamental da cultura denossa poca, no arco que descreveu em poucas dcadas, essa cultura no foiainda, em geral, seno insuficientemente conscientizada e reconhecida. Noconjunto de realizaes diferenciadas dessa arte, as compartilhaes so fre-

    quentes, ao mesmo tempo em que se afirma uma fora identificadora, a exem-plo do que se constata nos usos do no h muito estabelecido territrio dasredes artstico-telemticas.

    A penetrao do microcomputador no mundo de consumo desde o in-cio dos anos 80 foi responsvel pelo acesso dos artistas a uma nova ordem desensibilidade espacial, caracterizada pelo domnio das distncias. As potencia-lidades do sistema integrado das tecnologias em evoluo, com seus consi-derveis e crescentes recursos interfaciais, aps longo perodo de desenvolvi-mento isolado de diferentes mdias - desde o rdio e a televiso - despertou, de

    incio, o interesse de uma frao significativa de artistas, principalmente deorigem anglo-sax, interessados na utilizao das redes de longa distncia (umconjunto de computadores que utiliza links de telecomunicaes).

    Na arte telemtica (a palavra telemtica, cunhada na Frana em 1977,por Simon Nora e Alain Minc, significa a conectividade entre a tecnologia dainformtica e a da telecomunicao) atinge-se um dos pontos mais frente doimpulso de imaterialidade das linguagens poticas contemporneas.Operacionalizada com as disponibilidades interfaciais das mquinas, a novaarte criada em espao multidimensional - o ciberespao (termo criado por

    2. Idem, p.170.

    3. Idem, p.201.

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    William Gibson, em seu romance Neuromancer, de 1984) - um estado deinvestigao de fora contingencial que se aproxima na fsica teoria quntica.

    Antes das novas possibilidades criadas pelos dispositivos eletrnicos decomunicao instantnea ao redor do mundo, e nas vias de desmaterializaoda arte conceitual, a arte postal (mail-art) - um sistema prtico de comunicaoque aproveita como suporte os servios dos correios - ou seja, uma forma deintercmbio que se estabelece fora dos circuitos do establishment artstico e emcondies econmicas favorveis - desempenhou um papel nico de articulaocomunitria, que indispensvel reconhecer. Com origens remotas nas van-guardas iniciais do sculo XX, mais tarde resgatada pelo Grupo Fluxus, a artepostal foi sinnimo, nas dcadas de 1960-70, de uma grande atividade multi-mdia. Todo o seu projeto, da produo aos atos de remessa e recepo, colo-cava-se em situao de confronto diante do complexo sistema econmico-administrativo institucional que envolve a obra-objeto. Espalhados pelos conti-

    nentes, os artistas elegeram os meios reprodutveis adaptados ao canal, nopropsito de estabelecer uma malha sem intermedirios de comunicao. Noraro seus trabalhos seriam expostos publicamente. Tratava-se sobretudo dematerial impresso (cartes postais, grficos, fotografias, offsets, serigrafias,

    xerox, jornais, revistas, etc., mas tambm de filmes super8 e vdeos), um prol-fico mundo de imagens e palavras dirigidas reflexo da arte e de grandeenvolvimento em questes sociais e polticas na ordem do dia, em problemasecolgicos, etc.. Essa arte, de profunda vocao dialgica, destituda de valorde mercado, estabeleceu incontveis alianas, situando-se para alm das fron-

    teiras nacionais e blocos ideolgicos. Por um especfico sentido humano e glob-al, ela se projetou como presente pleno de verdadeiras indicaes do futuro.Seu maior mrito acha-se na busca de uma convivialidade mental de dimensoplanetria, hoje com razo invocada pela esttica que se revela na amplitudedas tecnologias comunicacionais de sntese, desenvolvidas no ciberespao.

    Sem intermitncias, passamos dessa arte tipicamente mensageira euniversal - no totalmente abandonada ainda em 1997 - para o que ser a inte-rao humana e social nas dimenses do espao/tempo telemtico - uma formarevolucionria de interpenetrar idias e emoes e gerar alianas de trabalho,

    incidente a fundo na transformao do estatuto da arte. Uma questo maiorque emerge a do desfazimento do clssico estado individualizador da criao.A potncia dos dispositivos tecnolgicos digitais conjugados traz a eliminaodas distncias geogrficas e permite a extenso e a imediatidade de contatosplurais. possvel acreditar na grande importncia que isso representa pararelacionamentos culturais de maior densidade, advindos de uma ordem geradapelo que amplamente internacional, a exemplo do que ocorre no mundo daeducao, da economia, da poltica, etc., enquanto se nota a contrapartida dosque assimilam mal as transformaes por que passa a sociedade hodierna,

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    temerosos de que tombemos numa cultura destituda de cor local ou namonotonia da uniformidade. Na utilizao do espao da comunicao telemti-ca vemo-nos diante de um trabalho alicerado na co-responsabilidade de cola-boraes articuladas por um projeto. uma instaurao de mundos virtuaisconstituindo uma psico-realidade no continuum do fluxo eletrnico, em estadode provisoriedade suscetvel a renovadas incrustaes. No h mais, assim, adependncia a um nico agente, o encargo de um s locus de realizao, masuma distribuio de participaes nos chamados ns, os dispositivos das redesde longa distncia (as WANs, Wide Area Networks), como a Internet. Assimcomo se transforma o conceito de autoria tambm mudado o conceito depblico, ou antes, ele desaparece ou tende a desaparecer. A procura de umaoutra formao criadora, inteiramente distinta da obra de arte tradicional.

    O mundo da sociedade globalizada de nossos dias, ou seja de espaose tempos acomunados, cada vez mais contguos e interdependentes, o , numa

    escala essencial, pelas inditas e poderosas faculdades agregativas das novastecnologias da comunicao. Nosso conhecimento eletrnico do mundo, que sefaz em tempo real, um fato que se tornou cada vez mais parte da experinciacotidiana nos ltimos lustros - pela intermediao de computadores, satlites eoutros sistemas integrados de transmisso. Aos novos e potentes dispositivos, osartistas tm dirigido sua vocao exploratria para alcanar outros limites depercepo, agora na forma da comunicao interativa configurada em imagens,palavras ou sons. Salientamos os vnculos com as condies pretritas, mas oenvironment que agora se estabelece de outra ordem.

    Em artigo publicado em nmero especial da revista Leonardo, em1991, Roy Ascott, um dos fundadores da arte telemtica, afirma: estamos re-escrevendo e reconstruindo o mundo atravs da percepo, memria, intelign-cia e comunicao dos sistemas de mediatizao do computador; habitamoscada vez mais o que essencialmente um dataspace, um environment telemti-co, uma realidade virtual4.

    Em 1968, ele havia previsto a emergncia dessa potica tecnolgica5.Diz, peremptrio, o artista, terico e educador ingls : Sabemos que se tratado virtual, de uma construo telemtica, e ainda assim vivemos a sua reali-

    dade. E isto porque nos damos conta de que, em toda a parte e em todas aspocas, a realidade sempre foi construda e mediada pela ltima tecnologia alinguagem humana - em toda a variedade de sua configurao filosfica, cul-tural e tecnolgica. As telecomunicaes interativas - a tecnologia telemtica -so uma linguagem antes de qualquer outra coisa e nos falam, ou melhor, nostransmitem uma nova linguagem e, ao fazer isso, para o nosso melhor, falam-nos uma linguagem de cooperao, criatividade e transformao. a tecnolo-gia no do monlogo mas da conversao, que alimenta fecundos fins abertos,e no uma esttica fechada e conclusiva. A telecomunicao interativa uma

    4. ROY ASCOTT. Artand Interactivit

    Telecommunications . InLeonardo, San Francisco,

    vol.24, n.2, 1991, p.115.

    5. ERIC GIDNEY, Artand Telecommunications

    10 Years On.In Leonardo,

    San Francisco, vol. 24, n.2,1991, p.148.

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    tecnologia que capacita o indivduo a conectar-se com outros6 .Cabe ressaltar o novo conceito antropolgico da arte tecnolgica de

    Ascott (coincidente com a preocupao de no raros outros intelectuais e artis-tas). Num de seus artigos mais recentes, ele afirma: Estamos entrando nummundo-mente (world-mind) e nossos corpos esto desenvolvendo a faculdadede cibercepo (cyberception), isto , a amplificao tecnolgica e o enrique-cimento de nossos poderes de cognio e percepo7.

    As tecnologias so fatores agudos de transformao de nossa mente. Valendo-nos de uma citao de Mario Costa, acenamos aqui ao fato de aspesquisas neuroculturais estudarem, desde o incio dos anos 80, as transfor-maes dos modelos cognitivos induzidos pelas tecnologias, tendo sido aquesto tratada no colquio McLuhan and 1984, realizado pelo CentroCultural Canadense, de Paris , em 19838. Derrick de Kerckhove ressaltou, emcomunicao, que essas pesquisas partiram da idia segundo a qual a utiliza-

    o de um instrumento tcnico pode exercer uma ao retroativa sobre a orga-nizao fisiolgica do sistema nervoso... 9. As transformaes foram decisivaspara a conscientizao da extenso dinmica de que a inteligncia humana investida pela ao das mquinas de que se serve.

    Em texto mais recente, Ascott, seguro do ser que se transforma bio-logicamente pela logstica espacial das redes, declara: Cada fibra, cada n,cada servidor na Net parte de mim. medida que interajo com a rede, recon-figuro a mim mesmo. Minha extenso-rede me define exatamente como meucorpo material me definiu na velha cultura biolgica. No tenho nem peso nem

    dimenso em qualquer sentido exato. Sou medido pela minha conectividade.Minha paixo plantar sementes conceituais no substrato da Net e v-lascrescer; olhar a Net atentamente numa atitude Zen medida que novas formasemergem, medida que a energia criativa da conectividade gera novas idias,novas imagens, uma nova vida. Emergncia (emergence) o comportamento-chave da Net. a chave para compreender tudo sobre o que a arte na Net10.

    Entre outras mltiplas consideraes, para as quais preciso neces-sariamente remeter o leitor, Ascott reala a mente humana nesse processo tec-nolgico da rede (que noz faz perceber) que cada um de ns feito de vrios

    eus11

    . A cultura telemtica diz respeito conectividade global das pessoas,dos lugares, mas, acima de tudo, da mente. A Internet a infra-estrutura cruade uma conscincia emergente, um crebro global. A Net refora o pensamen-to associativo, hipermediado, pensamento hiperlincado - o pensamento doartista. a inteligncia das redes neurais. Isso o que eu chamo de hipercr-tex12, ou seja, o mundo-mente emergente13.

    Em sua viso influenciada por Bergson, Wiener, o I Ching, Teilhard deChardin, Peter Russel, entre outras fontes14, acredita Ascott que, graas inte-rao planetria entre indivduos explorando as novas tecnologias da comuni-

    6. ROY ASCOTT. Op.

    Cit., p. 115.

    7. ROY ASCOTT,

    Cultivando oHipercortx (trad. deFlavia Saretta). In Diana

    Domingues (org.)A Artedo Sculo XXI ahumanizao das tec-nologias. So Paulo,Editora UNESP, 1997,

    p.336.

    8. MARIO COSTA. OSublime Tecnolgico.(trad. Dion Davi Macedo)

    So Paulo, Editora

    Experimento, 1995,

    p. 68.

    9 - DERRICK DE

    KERCKHOVE. Larecherche neuro-cul-turelle. 1984, Apud

    Mario Costa. Op. cit.,p. 68.

    10. ASCOTT, 1997:336.

    11. Idem: 344.12. Idem: 337.

    13. Idem: 344.

    14. EDWARD A.

    SHANKEN. Technologyand Intuition. A LoveStory? Roy AscottsTelematic Embrace.(www-mitpress mit

    edu/ejournals/Leonardo/isas

    t/articles/shanken.html)ISAST,1997.

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    cao, uma rica, trans-pessoal e multicultural perspectiva se abra face a umasociedade de informao dominada por interesses militares, industriais e co-merciais15 - posio condividida, como dissemos, por outros artistas e tericosdesafiantes que igualmente pensam numa presena mais ampla, atuante e efi-caz da arte na poca contempornea. A seu ver utpico, se delineia um futurode rematerializao radical, por meio das redes de bioeletrnica e nanotec-nologia 16.

    Para Ascott, a conectividade global tornada possvel pela culturatelemtica significa a efetivao de um outro estado de humanizao, de umanova mentalidade. Por esse conceito, transcendemos o horizonte das relaesestabelecidas entre o sujeito individual e as mdias de comunicao, caracteri-zadas por McLuhan e outros autores como sendo essencialmente as extensesdos principais rgos sensrios do homem. Tal compreenso , alis, rejeitadano vis de Pierre Lvy, que reivindica as dimenses coletivas, dinmicas e

    sistmicas das relaes entre cultura e tecnologias intelectuais, consideradaspor ele como dimenses gravemente subestimadas pelo terico canadense17.O socilogo e professor da Universidade de Paris, quando trata da questo queintitula ecologia cognitiva, no livro As Tecnologias da Inteligncia, desen-

    volve sua dialtica envolvendo o indivduo e o social. Ao referir-se, em contex-to histrico, s coletividades, afirma que no so constitudas apenas porseres humanos, uma vez que as tcnicas de comunicaes e de processamen-to das representaes tambm desempenhavam, nelas, um papel igualmenteessencial18.

    O MOVIMENTO DA ESTTICA DA COMUNICAO

    a Mario Costa, professor de Histria das Doutrinas Estticas daUniversidade de Salerno, fundador do Movimento da Esttica daComunicao, ao lado do artista francs Fred Forest e do artista conceitualargentino Horacio Zabala19, dirigente das manifestaes internacionaisArtMedia e das publicaes do mesmo nome, autor de O SublimeTecnolgico, que se remete toda uma conceituao acompanhada de ao no

    territrio das neotecnologias da comunicao. Coube-lhe, em 1983, definirpelo nome de Esttica da Comunicao - campo de investigao emergido dasnovas tecnologias comunicacionais - como um verdadeiro e prprio eventoantropolgico, capaz de reconfigurar radicalmente a vida do homem e a suaexperincia esttica20.

    Tratando as novas tecnologias luz de uma retomada dos conceitos dosublime, essencialmente em Kant, o pensador italiano analisa em sua obra oque considera a superao da artisticidade pelo sublime tecnolgico, ou seja, apassagem da arte, como a entende a tradio humanstica, para a fase das for-

    15. ASCOTT, 1991:117.

    16. ASCOTT, 1997:337.

    17. PIERRE LEVY.

    As tecnologias daInteligncia. (trad.Carlos

    Irineu da Costa). Rio deJaneiro, Editora 34, 1995,

    p.148. (1990).

    18. Idem, p.144.

    19. O movimento foi fun-dado no Mercato San

    Severino (Salerno, Itlia),out. de 1983.

    20. MARIO COSTA.

    Per lestetica dellacommunicazione. In

    Artmedia, Universidade deSalerno,1984,

    p.125-127 e 1995:27.

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    mas estticas tecnolgicas, das quais fazem parte as imagens de sntese, ondea produo subtrai-se notavelmente intencionalidade, vontade expressiva, subjetividade do artista21 tornando-se a atividade do hiper-sujeito, capaz deobjetivar o sublime no mbito da terribilidade da tecnologia, como uma novaforma de composio do esprito22 ou uma nova espiritualidade intelectual.23

    Assim, noo da fraqueza do sujeito e da sua relativa dissoluo sucedeuma forma de atividade superior ou de hipersujeito planetrio , isto , opesquisador esttico, que se realiza na interatividade das comunicaes dis-tncia, em tempo real24. Uma referncia de apoio s suas reflexes Mario Costaencontra na planetizao humana, intuda por Teilhard de Chardin - que,nesse sentido, meditara o grande alcance das ampliaes possibilitadas pelacincia e a tcnica modernas, mais tarde conscientizadas por McLuhan25.Igualmente aproxima-se ele da defesa dos valores supra-individuais que seconstata em Nietzsche e depois em Norbert Wiener, Jacques Derrida e mais

    recentemente, em Pierre Lvy.Fundamentando-se na concepo do sublime em Kant, exposta na

    Crtica da Faculdade do Juzo - ou seja , de um lado, o sentimento do abso-lutamente grande, da magnitude e infinitude da natureza e sua fora ame-drontadora; de outro, o sentimento de que essa magnitude e ameaa (suscita-doras do sublime) no suportam o confronto com a capacidade intelectual dohomem, que discerne o seu prprio poder, incomparavelmente maior - Costareflete sobre o novo tipo de poder e ameaa mortal constitudo pela tcnica,que gera o perigo supremo de uma expropriao e de uma opresso do homem,

    no apenas sobre o plano da sensibilidade, como j para a natureza, mas tam-bm sobre aquele da mente26. Assim, prximo ao terrificante natural, agoranecessrio considerar o terrificante tecnolgico e s formas de sublimidadederivadas da natureza necessrio acrescentar o novo acontecimento da su-blimidade tecnolgica27 posta em obra por dispositivos de telecomunicaoque capturam o absolutamente grande da natureza e o restituem nosmodos de uma fruio socializada e controlada, ou substituem ao absoluta-mente grande da natureza, a grandeza absoluta da sua essncia, fazendo-aser qual um novo produto do esprito28. Ou ainda em outras palavras: para

    Costa, as tecnologias da comunicao prestam-se a oferecer uma percepo con-trolada das excessivas dimenses da natureza, e a introduzi-las num dispositivotecnolgico que, a um s tempo, as deixe inalteradas e as oferea, dominadas, aoolhar e reflexo29. Ou como ele diz em outro trecho: as novas tecnologias tor-nam possvel, finalmente, uma domesticao do sublime, acrescentando quepela primeira vez na histria da experincia esttica, a sublimidade pode serobjeto de uma produo controlada e de um consumo socializado e repetvel30.

    Na anlise da imagem sinttica - uma epifania revelada em si, umaespcie totalmente nova do sensvel31 -, Mario Costa v uma derrota para a

    21.COSTA, 1995: 32.

    22. Idem, ibidem.

    23. Idem: 40.

    24. Idem: 38.

    25. Idem: 27. 32.

    26. Idem: 22.

    27. Idem: 48. 23.

    28. Idem: 55.

    29. Idem: 40.

    30. Idem: 49.

    31. Idem: 50.

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    imaginao32 diante de um fato incomensurvel que ela no entende, situaoresgatada, no entanto, pela razo, que produz o sentimento positivo do sub-lime e a tal direo que o nosso discurso deve agora se encaminhar 33. Costaexalta a superioridade da razo evocada pela imagem sinttica34. Para ele, aresposta decisiva parece ser a seguinte: a auto-gerao e a auto-suficinciaexistencial das novas imagens , enfim, ainda e sempre, a exposio de parte dens mesmos e o que nelas contemplamos , na verdade, a colocao em cena da nossa potncia (grifos nossos)35. Noutras palavras, trata-se aqui do objetomesmo da tese sobre o sublime tecnolgico do autor, que, como vimos, descar-ta a continuidade da arte como um fenmeno de subjetividade pessoal, incluin-do-se a que prope a artistificao da tecnologia, e atribui importncia vital aopesquisador que desvela a essncia da tcnica e a permite manifestar-se nosmodos do esttico36. Costa reafirmaria essas idias, trs lustros mais tarde, noartigo Corpo e Redes, publicado entre ns37.

    A criao do Movimento da Esttica da Comunicao concomitante-mente conduziu elaborao terica das novas tecnologias da comunicao e formao de uma rede de artistas e estudiosos com vistas a uma atividadecomum.

    Os conceitos da Esttica da Comunicao - que Mario Costa con-sidera o pressgio de uma nova idade do esprito, baseada numa extraordinriafuso da arte, tecnologia e cincia - foram por ele expostos consoante dezprincpios fundamentais, publicados pela primeira vez na revista ArtMedia em1986 e anos mais tarde em Leonardo38. A esttica da comunicao - afirma -

    uma esttica de eventos. O evento definido em suas propriedades e, sin-teticamente, podemos dizer: no se reduz a uma forma; apresenta-se como umfluxo espao-temporal, um processo interativo vivente; expande-se ilimitada-mente no espao-tempo; sua importncia no reside no contedo permutadomas nas condies funcionais da troca; seu processo se faz em tempo real; uma mobilizao de energia que substitui forma e objeto; o resultado de duasnoes interativas temporais: o presente e a simultaneidade; consiste noemprego do espao-tempo para criar balanos sensoriais: refere-se particular-mente s teorias da Escola de Toronto (de H.Innis a McLuhan) e a hipteses

    levantadas pelas pesquisas neuro-culturais; ativa uma nova fenomenologia dapresena puramente qualitativa e baseada na extenso tecnolgica planetriado sistema nervoso; ofeeling de no se tratar do belo e sim do sublime eo fato indito de este poder ser pela primeira vez domesticado pela esttica dacomunicao. Mais acima havia-se acenado para tais pontos.

    No retrospecto das comunicaes de longa distncia, podemos optarpor uma bela imagem que se perde na lenda, evocada por Derrick deKerckhove, quando preparou a sua vdeo-conferncia para o evento Trans-interactivity (entre Paris e Toronto), de 1988, ou seja, a sinaltica luminosa

    32. Idem, ibidem.

    33. Idem: 51.

    34. Idem: 52.

    35. Idem: 51.

    36. Idem: 56.

    37. MARIO COSTA.

    Corpo e Redes(trad. Dion Davi

    Macedo), 1997,p. 303-314.

    38. MARIO COSTA,

    Technology ArtisticProduction and theAesthetics of

    Communication.In Leonardo,

    San Francisco, vol.24, n.2,

    1991, p.123-125. InArtMedia. jan. 1986.

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    inventada pela rainha Clitemnestra, que, de um topo de montanha a outro,

    conduziu at Argos a notcia da derrota de Tria39. Em tempos modernos, em

    seguida antolgica partida de xadrez transmitida via telgrafo entre Nova York

    e Baltimore, em 1844, e na dimenso esttica, diversas vanguardas histricas e

    concepes mais prximas como o conceitualismo, prenunciam os propsitos

    que sero explorados pela esttica que utiliza as tecnologias ps-industriais.

    No se poderia deixar de assinalar etapas como as do segundo manifesto do

    spazialismo, datado de 1948, em que Lucio Fontana prega o uso do rdio e da

    televiso para uma expresso artstica de novo tipo, e, como lembra Mario

    Costa, a performance Paisagem Imaginria n 4, de John Cage, na

    Universidade de Columbia, em 1952, com l2 aparelhos de rdio manipulados

    por 24 executores que interferem na sintonizao e volume das transmisses

    e o ballet virtual para o Satellite Art Project, produzido por Kit Galloway e

    Sherrie Rabinovitz, com o apoio da NASA, em 1977, fazendo interagir dois gru-

    pos de danarinos distanciados por 3 mil quilmetros, entre as costas do

    Atlntico e do Pacfico, nos Estados Unidos (Maryland e Califrnia) (ver mais

    adiante p.20). A Esttica da Comunicao originou-se de forma independente

    ao concentrar-se especificamente nas comunicaes tecnolgicas que fun-

    cionam por controle remoto40.

    NOMES E NCLEOS

    O movimento da Esttica da Comunicao aproximou artistas de

    diferentes nacionalidades e formaes, recordando-se, entre outros nomes, osde Roy Ascott, Fred Forest, Robert Adrian, Marc Denjean, Jean-Marc Philippe,

    Pierre Comte, Christian Sevette, Eric Gidney, Jean-Claude Anglade, David

    Rokeby, Natan Karczmar, Bill Bartlett, Stphan Barron, Mit Mitropoulos,

    Giovanna Colacevich, Orlan, Philippe Helary, Jean-Pierre Giovanelli, Tom

    Klinkowstein, Maria Grazia Mattei, Patrick Prado, Norman T.White, Tom

    Sherman e Alberto Mayr.

    Sob lideranas diversas, surgiram os ncleos de Toronto (Derrick de

    Kerckhove), Tel Aviv (Natan Karczmar), Paris (Robert Allezaud), Colnia

    (Wolfgang Zeiner-Chrobatzeck), Roma (Giuseppe Salerno), Atenas (MitMitropoulos)41. A esttica da comunicao exerceu-se atravs de manifestaes

    terico-prticas, de encontros e exposies, como foram O imaginrio tec-

    nolgico (Benevento, 1984), Art Com Israel (Tel Aviv/Jerusalm, 1984),

    Artmedia I (Salerno, 1985 e outras nos anos seguintes), Communication in

    Art Seminar (Toronto, 1985), Art et Communication (Paris, 1985) , Art

    Com Paris (Paris, 1986), Art Com Koln (Colnia,1986), Esttica e

    Tecnologia (Salerno, 1987), Les Transinteractifs (Paris/Toronto, 1988), Il

    suono da lontano (Salerno, 1989)42. Costa aponta exemplos de realizaes

    39. DERRICK DE

    KERCKHOVE.

    Communication Arts

    for a New Spatial

    Sensibility.

    In Leonardo, San

    Francisco, n.24, n.2,

    1991, pp.134.

    40. COSTA, 1991:124.

    41. Idem: 125, nota 3.

    42. Idem, ibidem.

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    telemticas dessa comunidade de artistas e tericos, registrando performancesde Fred Forest, Tom Klinkowstein, Stphan Barron e Giovanna Colacevich,instalaes de Mit Mitropoulos e Patrick Prado, happenings de NatanKarczmar,Christian Sevette, Jean-Pierre Giovanelli, Wolfgang ZiemerChrobatzek e Roberto Barbanti, projetos interativos robtico/telemticos deDavid Rokeby e Norman White43.

    EVENTOS EM GERAL

    No artigo Art and Telecommunications 10 Years On, que publicouem Leonardo44, o terico e educador Eric Gidney, do College of Fine Arts daUniversidade de South Wales (Canad), traou breve retrospecto do que con-sidera os eventos de maior significao do perodo, interessado unicamente naproduo interativa e omitindo aquela relativa a artistas que utilizaram a mdia

    para performances pessoais. O texto enfatiza os indissolveis componentestericos e prticos do novo paradigma. Ressalta a experincia nica que cons-titui o environment que foi criado. Exemplifica-a com duas figuras que trouxe-ram uma contribuio essencial esttica da participao, as de Robert

    Adrian e Roy Ascott, cujos projetos so analisados. Distingue grupos de obje-tivos: o dos que usam o computador e mantm-se em rede e o dos que prefe-rem o satlite, oslow scan (varredura lenta) e o fax, para os quais foram maio-res as dificuldades de permanncia em dilogo. A complexidade em rede decomputadores envolvendo os componentes hardware e software era razo para

    afastar muitos artistas de sua utilizao, o que estabelecia uma situao deelitismo tecnolgico. Os que se valiam de mdias visuais como o satlite, oslow-scan (televiso de varredura lenta) e o fax, point-to-point, no podiammanter a mesma coeso internacional da comunidade telemtica que se for-mava nas redes. Gidney salientou outros aspectos desses anos inaugurais da artcommunication. Em sua sntese, relaciona a interatividade da arte telemtica sreflexes sobre a linguagem e a dinmica de sua comunicao, como propostaspor Mickhail Bakhtin, Gilles Deleuze e Felix Guattari. Um trabalho conside-rado por ele como exemplar na expresso de uma conscincia coletiva, ou

    seja, de um pensamento associativo que no poderia emergir de uma s mente:La Plissure du Texte, projeto de Ascott de 1983. A atividade artstica telemtica interativa entre 1977 e 1990, nos

    vrios continentes, em que contextualizada s naes ocidentais, registra-se apresena significativa de um pas como a Austrlia, foi parcialmente compiladapor Carl Eugene Loeffler e Roy Ascott e publicada pela revista Leonardo, emnmero especial45. O levantamento abarca mais de 70 eventos. Por sua vez, EricGidney, no artigo mencionado, aponta e comenta a atividade de vrios artistasque considera proeminentes iniciadores da nova esttica46. Uma outra cronolo-

    43. Idem, nota 5.

    44. ERIC GIDNEY:

    1991:147-152.

    45. CARL EUGENE

    LOEFFLER e ROYASCOTT, Chronologyand Work in Survey of

    Select Telecommun-ications Activity.In Leonardo, San

    Francisco, 1991, n.24, n.2,

    p.236-240.

    46. GIDNEY, Op. Cit.p. 147-152.

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    gia do trabalho artstico interativo de telecomunicaes foi anos mais tardeestabelecida no Brasil pelo artista e terico Gilbertto Prado47, que igualmenteparte das primeiras experincias em 1977 e estende-se at o final de 1994,acrescentando numerosos dados aos constantes na lista de Carl EugeneLoefflere Roy Ascott. O professor da UNICAMP situa em prlogo eventos essenciaisque precorrem de perto a arte telemtica e registra o crescente nmero de pro-

    jetos em muitos pases com a utilizao dos vrios recursos eletrnicos, sendoparticularmente citada a produo brasileira.

    Reportamo-nos ao trabalho desses autores, compondo um conjunto deintensas realizaes no uso de mltiplas tecnologias, com uso bsico do tele-fone, que englobam transmisses em rede de computadores, satlites, varredu-ra lenta, rdio, vdeotexto (sistema interativo de informaes transmitidas portelefone, com uso de modem, ligando terminais a banco de dados), vdeofone,fax, etc., acrescentando algumas referncias. Observa-se, particularmente, o

    frequente uso do fax, da varredura lenta de TV e do satlite, antes do novotempo representado pela Internet. sobremodo complexo o trabalho de par-ticipao em rede, envolvendo desde o organizador at os que aderem ao pro-grama. Como afirma Prado, nossos sentidos na atividade artstica em rede noexistem a no ser na medida em que eles so tambm uma doao do outro 48,ou, ainda, que se trata de uma rica combinatria de vontades e de intervenesque requerem nada menos que um conjunto de importantes qualidades artsti-cas individuais para se chegar a uma experincia comum49.

    Os artistas produziram obras de arte telemtica interativa a contar do

    perodo entre o final da dcada de 1970 e incio da de 80, vrias das quais per-tencentes ao movimento da esttica da comunicao. Entretanto, cabe lem-brar uma precoce experincia de eletrnica interativa, como o fez Popper, citan-do a instalao Vdeo Communication Games, de Jacques Polieri, preparadapara a Olimpada de Munique em 1972, com uso de numerosos monitores deTV e enormes telas; tambm de Polieri a posterior vdeo-transmissosimultnea interativa por satlite nomeada Men, Images, Machines, envol-

    vendo Tquio, Cannes e Nova York, realizada em 198350.Alguns projetos pioneiros de arte telemtica, realizados no obstante

    as dificuldades operacionais e os custos elevados, no atenuados nos imediatosanos seguintes, tiveram lugar em 1977: Liza Beer, Willoughby Sharp e KeithSonnier fundaram em 1977 a Send/Receive Satellite Network, em Nova York,programando um primeiro evento de telecomunicaes a 11 de setembro,denominado Two-Way Demo, ao se articularem via satlite CTS da NASA,aos artistas Sharon Grace e Carl Loeffler, em San Francisco, cumprindo 3horas de transmisso, incluindo conferncias. Trata-se de uma manifestaohistrica uma vez que assinala a primeira conexo ponto a ponto entre artis-tas telecomunicadores. Participaram artistas visuais, diretores de cinema,

    48. GILBERTTO

    PRADO. As redesartstico-telemticas.In Imagens, Editora da

    UNICAMP, n.3,

    dez. 1994, p.43.

    49. Idem, p.42.

    50. FRANK POPPER,Artof the Electronic Age.Nova York, Harry N.

    Abrams Inc., 1993, p.138.

    47. GILBERTTO

    PRADO. Cronologiade ExperinciasArtsticas nas Redesde Telecomunicaes.In Trilhas. Campinas (SP),

    Editora da UNICAMP,

    n.6, dez.1997, p. 77-103.

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    danarinos e msicos51. (Os obstculos tcnicos e financeiros inerentes a essaforma de comunicao iriam conduzir os seus promotores a procurar outrosrumos de interatividade, iniciando-se ento a utilizao da varredura lenta)52.

    Outro acontecimento significativo deveu-se iniciativa do artista eterico americano de vdeoarte Douglas Davis: contando com a participao deNam June Paik e Joseph Beuys, ele apresentou na inaugurao da Documenta6, em Kassel, um programa interativo de TV ao vivo, transmitido por satlitepara mais de 30 pases. J mencionada mais acima, deu-se em 1977 a dana deimagens interativas concebida por Kit Galloway e Sherrie Rabinowitz, uma pro-duo no mundo virtual que se desdobraria em outros projetos com uso desatlite, a exemplo de Hole Space (1980), trabalho em que usaram cmarasde vdeo e quando pessoas situadas em Nova York e Los Angeles puderam secomunicar sem que fossem notadas. Galloway e Rabinowitz criariam a rede deagremiaes Electronic Caf, no Museu de Arte Contempornea de Los

    Angeles, em 1984, para interrelacionar comunidades culturalmente distintasda cidade, utilizando equipamentos tecno-comunicativos em vrios pontos deacesso. Mais adiante, o Electronic Caf, sediando-se em Santa Mnica, naCalifrnia, estabeleceria contatos internacionais, via varredura lenta-TV, comoutros cafs-clubes no gnero.

    Roy Ascott, terico e artista da arte telemtica, como vimos - inces-santemente expandida em anos mais recentes, apoiada em tecnologias de cres-cente complexidade - autor do primeiro projeto de arte internacional de com-puter conferencing (sistema de comunicao, via rede de computador, que per-

    mite ler e responder mensagens dos participantes, em frum eletrnico pbli-co), entre o Reino-Unido e os Estados Unidos, intitulado TerminalConsciousness, com uso da rede Planet da sociedade Infomedia (1980).Outro projeto seu, apresentado na exposio Electra, no Museu de ArteModerna da Cidade de Paris (1983), foi La Plissure du Texte, antes citado,que homenageia Roland Barthes. Trata-se de um texto elaborado em conjuntopelos participantes de onze cidades de diversas partes do mundo. Ascott foi umdos artistas telemticos a participar em 1985 do setor Art access da exposioLes immatriaux, concebida e coordenada por Jean-Franois Lyotard, no

    Centre Georges Pompidou, apresentando o vdeotexto de La Plissure du Texte(Organe et Fonction dAlice au Pays des Merveilles), transmitido pelo sistemafrancs de vdeotexto Minitel.

    Em 1988, Ascott realizou um intercmbio de imagens digitais intitula-do Digital Body Exchange, em colaborao com Paul Thomas, Eric Gidney eoutros e To Make the Invisible Visible, imagens e textos transmitidos por redede computadores, associado a Robert Pepperell (Gand), Bruce Breland, DAX(Digital Art Exchange, da Universidade de Carnegie-Mellon, Pittsburgh),Don Foresta (Center for Media Art doAmerican Center, em Paris) e Zelko

    52. Idem, p. 206.

    51. ARTUR MATUCK,

    O potencial dialgicoda televiso. So Paulo,Annablume / ECA/USP,

    1995, p. 204.

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    Wiener (Viena), no Nono Encontro Europeu de Ciberntica e Pesquisa deSistemas. Organizou para a Bienal de Veneza de 1986, assistido por DonForesta, Tom Sherman, Maria Grazia Mattei e o curador Tomasso Trini, o pro-

    jeto Planetary Network and Laboratory Ubiqua (uma troca de informaesreais e virtuais), de 3 meses de durao, contando com a participao de 100artistas dos Estados Unidos, Europa e Austrlia, ligados por vdeotexto, slow-scan, televiso e fax. Seguiu-se, em 1989, o projeto Aspects of Gaia: DigitalPathways Across the Whole Earth, em colaborao com Peter Appleton,Mathias Fuchs e outros. Trata-se de uma instalao interativa pblica com aparticipao de artistas, msicos e interessados de 3 continentes, realizada,com a utilizao de sons e textos, no Electronic Festival of Art andTechnology, em Linz (ustria).

    Fred Forest um dos criadores do movimento da Esttica daComunicao, comunidade a que levou a contribuio dos anos de experin-

    cia vivida enquanto integrante do Collectif dArt Sociologique ao lado deHerv Fischer e Jean-Paul Thnot, em Paris, nos anos 70 e artista de muitaconvivncia com o Brasil. Podemos nos dar conta da extenso e variedade desselabor, marcado pela afetividade (Restany), consultando o livro 100 Actions,publicado em 199553. Sua transio de um movimento para outro, no nicio dosanos 80, no demonstrou mudanas maiores de comportamento. O que nopassa despercebido uma evoluo no sentido do maior apuro e penetrao nosseus objetivos de realizao de uma arte determinada pela necessidade do dil-ogo. As incessantes aes de inquirio do real que empreendeu, em mltiplas

    formas de manifestao humana e social, por meio da utilizao de complexosdispositivos tecnolgicos de comunicao, situam-se na disposio de mantera preponderncia das redes e das funes prprias da informao, ou seja, oprincpio mesmo da Esttica da Comunicao.

    Exemplificamos essa atividade, com participao interativa do pblico,atravs de alguns de seus eventos caractersticos. O primeiro deles, pouco ante-rior criao do movimento Esttica da Comunicao, intitulou-se LaBourse de LImmaginaire e foi organizado no Centre Georges Pompidou, emParis, em junho de 1982, com a durao de 5 semanas. Tratava-se de um vasto

    jogo de trocas e de criao de fatos diversos, em escala nacional, empregan-do-se os mais diversos equipamentos de comunicao (linhas telefnicas, telexde agncias de notcia, fotocopiadoras, vdeo, telemtica, instalaes de rdio,etc.). Dois outros eventos tiveram lugar no Museu de Belas Artes de Toulon:Avis de recherche de Julia Margaret Cameron (ou a criao de uma persona-gem imaginria graas fora repetitiva da mdia), com uso de telefone, rdio,cartaz e imprensa (1988) e Znaide et Charlotte lassaut des mdias, ttulode quadro de David do mesmo museu, diante do qual o leitor de jornais locaisera solicitado a imaginar o assunto da conversa entre as duas figuras, valendo-

    53. FRED FOREST.

    100 Actions. Nice,Zditions, 1995.

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    se Forest das mesmas mdias da ao anterior e do sistema Minitel para asse-gurar um mximo de interao pblica. Em outro trabalho, Les Miradors de laPaix, na Galerie International Pluridisciplinaire de Graz (ustria) e na GalerieLe Monde de lArt, de Paris (maio-julho,1993), denunciou os massacres daguerra civil na ex-Iugoslvia. O projeto consistia na disseminao de uma men-sagem de paz em vrios pases, via televiso, rdio, imprensa e ainda peladifuso do apelo dos participantes atravs de amplificadores situados no alto deestruturas metlicas de 20 metros de altura, implantadas na fronteira daEslovnia. Sem o poder para transformar, em nvel prtico, as situaes decrise, os artistas, no entanto, atravs de suas intervenes simblicas, no semostram menos fundamentalmente necessrios, afirma Forest.54

    Robert Adrian, artista de amplos recursos miditicos, um dos inici-adores da Esttica da Comunicao, o criador da rede Artbox (depoisdenominada Artex), utilizando o sistema da empresa I.P.Sharp, do Canad

    (1980). Artbox de imaginar-se como uma espcie de caixa eletrnica.Trata-se de uma estratgia pioneira para reunir artistas em ambiente de rede. Aexemplo de Ascott e Bill Bartlett, como diz Eric Gidney, Adrian foi motivadopela vontade de estabelecer um meio que permitisse a artistas geograficamenteisolados constituir uma comunidade descentralizada para a troca e o desen-

    volvimento de idias55. evidente o enraizamento dele no iderio da artepostal.

    Entre os eventos que organizou, contam-se TelecommunicationPerformance via Facsimile, juntamente com Tom Linkowsten, ligando

    Amsterdam e Viena, com interveno do pblico; The World in 24 Hours, em1982, reunindo artistas de 16 cidades de 3 continentes, por meio de varreduralenta, fax, e computador, no contexto de uma outra sua inicativa a ArsElectronica. Alm de Adrian, participaram Helmut Mark (Viena), Roy Ascott(Bath), David Garcia(Amsterdam), Eric Gidney (Sidney), Kazue Kobata(Tquio), entre outros. Ele foi um dos integrantes do projeto La Plissure duTexte para a exposio Electra.

    De carter pioneiro tambm a sua organizao do grupo BLIX emViena, junto a Helmut Mark, para um evento interativo musical, ligando Viena,

    Berlim e Budapest via telefone (1982), experincia sucedida de outra, que tam-bm utiliza a varredura lenta para interrelacionar - em tempos de muro deBerlim - a cidade alem, Viena, Varsvia e Vancouver (1983). Em fins de 1984,o artista austraco emitiu severo juzo sobre os rumos individualistas que muitosartistas seguiam no uso telemtico. Ele diz, por exemplo: Infelizmente, a maiorparte dos artistas, inclusive aqueles mais insatisfeitos com a atual situao, nose acham prontos para renunciar aos seus sonhos de encontrar um posto nahierarquia da arte e empenhar a si mesmos no trabalho interativo que tende aeliminar esta mesma hierarquia56.

    54. Idem, p.187.

    55. ERIC GIDNEY. Op.

    Cit., p.148.

    56. ROBERT ADRIAN.Larte e il consumatore

    passivo. In ArtMedia,1985, p.141.

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    Uma obra de organizador das mais consistentes reconhecida em BillBartlett. Afirma Eric Gidney: Seus projetos pioneiros com varredura lenta,televiso ou SSTV (transmisses de imagens de TV em freeze-frame preto ebranco, via telefone) constitura-se em uma base emprica para trabalhos cria-tivos fundamentados nos sistemas de comunicao por linha telefnica57.Bartllet foi o primeiro a realizar uma experincia de interao artstica com osistema de varredura lenta-TV (julho de 1978), em projeto junto a Liza Bear e

    Willoughby Sharp (Hands across the Board), ligando a Amrica do Norte Europa e Austrlia em 1979. Em 1980, ao lado de Sharon Grace e Carl EugeneLoeffler, coordenou o evento de Art Com/ La Mamelle,Inc., nomeadoTelecommunications: Live International Vdeo and Audio Link, no Museu de

    Arte Moderna de San Francisco, utilizando varredura lenta e conexes porcomputador para intercmbio com centros de pesquisa e artistas de vriascidades e continentes, a exemplo de Hank Bull, Douglas Davis, Liza Bear,

    Willoughby Sharp, Aldo Tambellini, Robert Adrian e Norman White. Na Austrlia, Eric Gidney realizou Telesky, o evento inaugural de telecomuni-caes no pas (1982).

    Antecedido por Galloway e Rabinowitz, Jean Marc Philippe destacou-se pela utilizao de satlites artificiais, concebendo vrios projetos (nem sem-pre realizados). Em Celestial Wheel - objetivando uma fuso entre arte ecincia - props a metfora do envolvimento do planeta Terra num cinturo desatlites em rbita, os quais eram assim deslocados de suas funes habituaisa fim de desempenhar um papel que atendesse s razes do imaginrio

    (1981)58. Com o esprito de convivialidade dos artistas de uma nova antropolo-gia, Philippe realizou tambm uma Mensagem dos homens ao universo,

    vdeotexto, transmitido por Minitel, entre junho de 1986 e janeiro de 1987.Pierre Comte, que colaborou com Philippe no projeto Celestial

    Wheel, voltou-se do mesmo modo, numa via prpria, para o uso de satlites.Concebeu instalaes artsticas na Terra para serem observadas do espao ouprojetadas para a colocao em rbita para serem vistas daqui59. Na exposioCriadores Utpicos da Europa (Paris, Grand Palais, 1989) apresentou essassolues no projeto Selenpolis. A 6 de outubro de 1989, a 830 metros acima

    da Terra, o satlite SPOT 1 fotografou o smbolo do planeta que desenhou nosolo - o primeiro evento esttico no gnero60.Christian Sevette citado como uma presena ativa entre os artistas

    da Esttica da Comunicao. Nele, Mario Costa localizava - como tambmem Bure-Soh - prenncios de uma telemtica interativa que se estende fusotecnolgica dos corpos na direo de um organismo ultra-humano planetrio,identificvel em Le Toucher Transatlantique, de 1988. A constatao vli-da tambm para Bure-Soh e seu trabalho Le corps vibratoire, daquele mesmoano.61 A transmisso de uma sensorialidade e mesmo de estados afetivos por

    57. ERIC GIDNEY. Op.

    Cit., p.147

    58. FRANK POPPER.Op.Cit., p. 129-130.

    59. Idem. p. 132.

    60. Idem, ibidem.

    61. COSTA, 1995:39.

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    meio do sistema da vdeoconferncia ( a interatividade via televiso), apare-cia j manifesta em trabalhos como os de David Rokeby, Norman White eRandy Raine-Reusch62. Derrick de Kerkhove cunharia o termo psicotecnolo-gia, segundo o modelo de biotecnologia, para o que emula, estende ou ampli-fica funes sensrio-motoras, psicolgicas ou cognitivas do crebro63.

    Jean-Claude Anglade, outro nome de meno destacada, o coorde-nador da criao coletiva Imagem do Vale(1987-1988), a monumental super-fcie vtrea que reveste o grande reservatrio de gua de Quattre-Pavs, emMarne-la-Valle (Noisiel, Frana), de composio randmica, cujas formasgeomtricas de intenso colorido so resultado da participao, atravs do enviode sinais grficos por Minitel, dos habitantes da nova cidade, construda nasimediaes.

    David Rokeby produziu Body Concert for Two Cities, construindo,em 1986, para ArtMedia (Salerno), dois dispositivos complexos semelhantes

    (compostos de telecmera, sensores e computador), algo como um campo mag-ntico, situados de um lado e outro do Atlntico e conectados por telefone, detal modo que os dois ressoam toda vez que no outro se verifica a passagem deum corpo64.

    Um exemplo, entre tantos, da interatividade psico-somtica natelemtica artstica o do projeto Queda-de-brao transatlntico (uma dis-puta que se fez com os contendores separados por mais de 7 mil km., entreParis e Toronto) (1986), supervisionado por Mario Costa e Derrick deKerckhove e realizado por Norman White e outros colaboradores. O dispositi-

    vo constava de de um brao mecnico ativado por computador e modem quetinha a funo de transmitir a sensao da presso exercida65.

    Transinteractivity, concebida por Kerkhove, foi o nome dado vdeoconferncia realizada entre Paris (Centre Culturel Canadien de Paris) eToronto (Ontario Science Centre), em novembro de 1988. PorTransinteractivity, Kerkhove entende a extenso de nossos poderes de pen-samento, sentimento e ao atravs do oceano ou atravs de qualquer distn-cia que possa ser coberta pela tecnologia. Ele foi inspirado na produo desseevento pelo trabalho Hole in Space de Kit Galloway e Sherrie Rabinovitch

    (1980) assim como por uma percepo que descreve em seu textoCommunication Arts for a New Spatial Sensibility66. O evento compreendeu17 performances interativas, entre elas Le Toucher Transatlantique deSevette, Le ruban de 7253 km, entre Paris e Toronto, de Fred Forest, Alice,de Stphan Barron, Echange de Neurones entre Paris e Toronto, de PhilippeHlary, La danse transatlantique, de David Rokeby, entre outras.

    Stphan Barron organizou La Nuit Internationale de la Tlmatique,em Caen, ligando a cidade da Normandia a outras cidades europias e Nova

    York (1986). Em setembro de 1989 realizou, em colaborao com Sylvia

    62. Idem. ibidem.

    63. KECKHOVE,

    1991: 131.

    64. COSTA, 1995: 39.

    65. Idem, ibidem.

    66. KERKHOVE,

    1991: 134.

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    Hansemann, a performance Lines, utilizando um carro fax, no qual via-

    jaram ao longo do Meridiano de Greenwich, desde Villers-sur Mer (Frana) at

    Castellon de la Plana (Espanha). De pontos do trecho percorrido, enviavam tex-

    tos e imagens a receptores de determinados locais na Europa. Barron procura-

    va uma soluo tecnolgica nova para a representao da linha e foi movido por

    idias ecolgicas. As impresses no fax constituam-se em projees fragmen-

    tadas do Meridiano.

    Um exemplo frisante do sublime de Mario Costa (apreenso do des-

    medidamente grande na natureza e sua restituio na forma de fruio

    socializada e controlada), encontra-se no projeto Sundown, de Mit

    Mitropoulos, em que props a troca via satlite de imagens eletrnicas do

    ocaso do sol entre diversas cidades67. Em outro projeto - Fax :Line of horizon

    - de 1986, de conceituao geopoltica, o artista grego estabeleceu uma rede de

    mltiplos ns para que os participantes enviassem representaes de suas li-

    nhas de horizonte e assim se compusesse, dos fragmentos recebidos, um hori-

    zonte de extenso global (uma analogia cabe aqui com o projeto de Stphan

    Barron, do mesmo ano, comentado mais acima). Explorou ainda instalaes

    interativas de vdeo, como em Face- Face 4 , trabalho realizado na Holanda

    em 1989, onde as imagens de duas pessoas eram conectadas em monitores de

    televiso68.

    Nomes muito presentes nas telecomunicaes artsticas distncia

    so os de Marc Denjean, autor de trabalhos como Labyrinthe, em Benevento,

    ligando a Itlia e a Frana (1984) e Tom Klinkowstein, autor de Levittown,

    na Holanda (set.1989)69. Assinale-se o projeto de Paolo Barrile e RuggeroMaggi Linha Infinita de Piero Manzoni, instalado no Centro de Arte de Milo

    (1993), com a idia de formar uma linha a partir do recebimento de linhas de

    fax, transmitidas pelos artistas participantes. Releve-se os vrios projetos de

    Giovanna Colacevich (Mosaico Telemtico entre Roma e Nairobi, 1988), de

    Maria Grazia Mattei (Telefaxart:Mquina/Memria,em Paris, 1984), de

    Philippe Helary, Andreas Raab, Steve Soreff, entre outros.

    Saliente-se a atividade de Karen ORourke, criadora do projeto City

    Portraits, junto ao U.F.R. dArts Plastiques da Universidade de Paris I e seus

    orientandos (integrando o Groupe Art-Rseaux), assim como em corres-pondncia com artistas de universidades de diversos pases70. Consistiu o pro-

    jeto, iniciado em 1988, com prosseguimento em anos seguintes, no intercm-

    bio de imagens de cidades via fax. Gilbertto Prado, integrante do Groupe Art

    Rseaux, nos informa sobre o que era essa construo de cidades virtuais:

    Partindo de pares de imagens de entrada e sada (fotos e outros documentos)

    transmitidas aos parceiros, os participantes eram convidados a perfazer e esta-

    belecer retratos de cidades as quais no conheciam. Com a explorao da meta-

    morfose entre essas duas imagens (de entrada e de sada) intercambiadas via

    67. COSTA. 1995:55.

    68. POPPER. Op. Cit., p.133.

    69. Idem, p. 138.

    70. Ver KARENOROURKE.

    Art-Rseaux. Paris,

    ditions du C.E.R.A.P.,1992.

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    fax, os participantes faziam uma enquete sobre os seus prprios imaginriosque se abriam sobre o imaginrio do outro, ou seja, a descoberta de sua prpriacidade pela viso do outro. Uma viagem imaginria por si mesmo e pelo outro,com itinerrios-retratos que se construam durante o percurso71. Participaram,entre outros, do Groupe Art-Rseaux, Christophe Le Franois, Isabelle Millet,Delphine Notteau, Laurence Naud, Hlne Spychiger e Michel Suret-Canale.

    Mencione-se a exposio Machines communiquer, que teve lugarna Cidade das Cincias e Indstria, em La Villette (Paris), entre outubro de1991 e junho de 1992, com o fito de exibir equipamentos avanados de comu-nicao. Ofereceu-se oportunidade para diversas manifestaes artsticas, soba curadoria de Jean-Louis Boissier. Foram apresentados projetos de FredForest, Jean-Claude Anglade, Patrick Dupuis, Grard Pel e dos membros dogrupo Art-Rseaux, Christophe Le Franois, Gilbertto Prado, Michel Suret-Canale, Marie-Dominique Wicker e Olivier Auber.

    Em 1993, o Museu Internacional de Electrografia de Cuenca(Espanha), organizou o evento Fax Art: New possibilities for contemporarypraxis, com a presena de Kepa Landa, Ricardo Echevarria, Rebeca Padin,

    Jorge Liopis, Guillermo Navarro entre outros.Relembre-se os eventos internacionais Sky Art Conference, dirigidos

    por Otto Piene, antigo fundador do Grupo Zero, com uma primeira realizaono CAVS, em 1981. Segundo ele, o acontecimento inaugural, com vrios pro-

    jetos tecnolgicos, demonstrou que o ato criativo de unir a terra ao cu tovital, hoje em dia, quanto ao tempo em que as culturas antigas produziram os

    zigurates da Mesopotmia, os desenhos na plancie peruana de Nasca e outrostrabalhos de inspirao astrolgica72.

    Nas grandes manifestaes internacionais peridicas de arte, houve,por vezes, a presena de eventos de arte de comunicao telemtica como soexemplos o mencionado projeto Planetary Network and Laboratory Ubiqua,de Roy Ascott, na Bienal de Veneza, em 1986; o de Douglas Davis na Docu-menta 6; a teleconferncia de Hank Bull, na Documenta 8 em Kassel (1987),com participantes dos Estados Unidos e do Canad, e Van Gogh TV-Piazza

    Virtual - 100 days of Interactive Art-Television, na Documenta IX, de Kassel,

    em 1992. Este ltimo projeto, desenvolvido ao longo da mostra, consistia deuma piazza virtual junto ao Fredericianum conectada em rede televisiva, viasatlite, a outras situadas em vrias cidades da Europa, Estados Unidos e Japo.O pblico pde intervir na manifestao - preocupada em ser a arquitetura deuma atmosfera e no resultado da expresso individual - via telefone, com-putador, modem e fax. A organizao do evento coube ao Grupo Van Gogh dePonton European Media Art Lab. de Hamburgo, dirigido por Karl Duclesek,Benjamin Heidersberger, Mike Hentz, Salvatore Vanasco e seu corpo depesquisadores73.

    71. PRADO, 1991: 90

    (nota 64). 102.

    72. Sobre as idias gerais de

    Otto Piene, ver ROBERT

    RUSSETT Escala,Espao e Arte

    Tecnolgica: Uma con-versa com Otto Piene.

    In Catlogo da XVIIBienal de So Paulo, So

    Paulo, 1983, p. 125-127.

    73. Catlogo daDocumenta IX - Kassel.

    Stuttgart, EditionCantz/Nova York, Harry

    Abrams, 1992, vol.1, p.

    250-251.

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    A XVII Bienal de So Paulo, em 1983, apresentou no seu setor deNovas Mdias o evento Arte e Vdeotexto, organizado por Julio Plaza com aparticipao de vrios poetas e artistas do Pas (vide adiante) e, sob a curadoriade Berta Sichel, uma rea de trabalhos composta de seis setores: cabodifuso,computadores, satlites de comunicao, varredura lenta-TV, videofone e

    vdeotexto, contendo o catlogo da manifestao textos de Berta Sichel, RobertRussel (entrevistando Otto Piene), Marco Antonio de Menezes, Katty Huffmane Andr Martin. A iniciativa, embora as grandes limitaes tecnolgicas do Pas,representava um passo adiante dos projetos habituais da instituio74.

    Popper menciona a atividade de artistas usurios de fax para comuni-caes a longa distncia, como James Durand que, em 1991, produziu umapea de largas propores intitulada 10.05 metres, 1 hour 40 minutes, 590grams, valendo-se da tcnica de imprimir Bubble Jet e David Hockney (queexperimentou vrias outras tcnicas de comunicao)75, presente em trabalho

    de interatividade na XX Bienal de So Paulo (1989).Entre os chamados pases emergentes, que, em seus centros de cultura

    avanada, atravs dos anos, tm mantido interesse pela Esttica deComunicao, encontra-se o Brasil. No obstante as condies tecnolgicasprecrias do pas, de defasagens notrias sobretudo at o incio dos anos 90,observa-se, no desenrolar do tempo, a existncia de um nmero importante deprojetos oriundos de pesquisadores concentrados na Universidade.

    Arte por Telefone, foi projeto pioneiro de vdeotexto no Brasil, coor-denado pelo artista e terico Julio Plaza. Realizado com infraestrutura da

    TELESP no Museu da Imagem e do Som, em So Paulo, em 1982 , contou coma participao dos poetas Paulo Leminski, Lenora de Barros, Omar Khouri,Regis Bonvicino e Paulo Miranda e dos artistas visuais Julio Plaza, CarmelaGross, Lon Ferrari, Mario Ramiro e Roberto Sandoval76. Igualmente de JulioPlaza a organizao do evento Arte Vdeotexto, na XVII Bienal de So Paulo(1983), mais acima mencionado, tendo a participao, entre outros, do prprioPlaza, Paulo Leminski, Lenora de Barros, Omar Khouri, Philadelpho Menezes,Paulo Miranda, M. L. Santaella, Lon Ferrari, Jos Wagner Garcia, MarioRamiro, Alice Ruiz, Samira Chalhub, Carmela Gross e Regina Silveira77.

    Em 1985, Paulo Bruscky (Recife) e Roberto Sandoval (So Paulo)realizaram o projeto FAC-similarte, apresentado na exposio Arte novosmeios/ multimeios, acompanhada de publicao histrico-crtica, dirigida porDayse Peccinini de Alvarado, na Fundao Armando vares Penteado, em SoPaulo 78.

    No que concerne ao uso da varredura lenta-TV, o artista e terico ArturMatuck comenta, em texto indito, vrios eventos do binio 1986-88 em SoPaulo e faz referncias ao incio das pesquisas por esse sistema no Brasil,atravs do Departamento de Artes Plsticas da ECA-USP, conduzidas por Joe

    74. Catlogo da XVIIBienal de So Paulo. SoPaulo, 1983, p. 103-150.

    75. FRANK POPPER.

    Op. Cit., p. 123-124.

    76. Cf. Folheto doMuseu da Imagem e doSom. So Paulo, 1982,com textos de Julio Plaza

    e do autor.

    77. Catlogo da XVIIBienal de So Paulo,p. 105-120)

    78. DAYSE PECCININI

    DE ALVARADO.Artenovos meios/multimeios,Brasil 70/80. So Paulo,Instituto de Pesquisa Setor

    de Arte / FAAP, 1985.

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    Davis, do CAVS, em 1986 79.Na noite de 14 de outubro de 1986, com a coordenao de Joe Davis

    e a colaborao de Jos Wagner Garcia (fellow do CAVS), realizou-se umaedio especial de Sky Art Conference. Por via telefnica e utilizando apare-lhos de varredura lenta, artistas de So Paulo localizados no campus da USP edo CAVS, em Cambridge, cumpriram uma ao telemtica interativa interna-cional indita no pas80. No obstante os lapsos e deficincias de uma parte dastransmisses de imagens (presumivelmente ocorridas em Cambridge), a exper-incia alcanou apenas momentos da efetividade aguardada. Em So Paulo, asimagens vindas dos Estados Unidos foram vistas em tela mltipla para 12 pro-

    jees de vdeo, acompanhadas por um pblico numeroso de artistas, profes-sores e estudantes. Nos Estados Unidos, a coordenao esteve a cargo de OttoPiene e Elizabeth Goldring. Entre os seus participantes figurava Nam JunePaik, que apresentou SKY-TV. O artista coreano passou a imagem de um

    ideograma representando uma partitura sincronizada com o som da violon-celista Charlotte Moorman, que todavia no pde ser ouvido81.

    Entre os organizadores do encontro telemtico no Brasil, de que par-ticipamos, achava-se o professor Fredric Michael Litto, da ECA-USP e os artis-tas Julio Plaza, Artur Matuck, Marco do Valle, Jos Wagner Garcia, MarioRamiro e Guto Lacaz, os compositores de msica eletrnica Conrado Silva e

    Wilson Sukorski e o poeta Augusto de Campos. Plaza, Wagner Garcia, Sukorskie Artur Matuck produziram trabalhos especialmente para o acontecimento.Plaza transmitiu um poema verbo-visual utilizando processos de traduo

    intersemitica. Os dois hexagramas cu e terra do I Ching, associadosrespectivamente s palavras SKY e EARTH, recompunham-se para formarum novo hexagrama que o artista nomeou ART. As constelaes do Cruzeirodo Sul e da Ursula Maior designavam os Cus dos hemisfrios Sul e Norte. Atraduo do poema para varredura lenta num movimento de cons-truo/desconstruo de imagens criou imprevistas terceiras pginas, decor-rentes do modo de produo visual especfico do medium, que deste modoprops sua prpria verso intersemitica da SKY ART82. J Matuck, comSPECIMORTIGO, produzido numa oficina da cidade com Joe Davis, apre-

    sentava a imagem de um prisioneiro atrs de grades. Sua agonia era acompa-nhada por uma trilha sonora na qual um texto ficcional em ingls intituladoThe Language of Kali era repetidamente transmitido, relatando as tentativasde se decifrar sinais emitidos por Kali, um continente distante. A proposta eraquestionar a intercomunicao humana em nvel pessoal e planetrio, estabe-lecendo uma crtica ao desenvolvimento tecnolgico que amplia a comunicaoem escala mas no oferece respostas eficazes ao nvel humano83. Outros artis-tas utilizaram trabalhos j realizados em diferentes mdias.

    No encerramento do encontro, Otto Piene transmitiu a primeira ver-

    80. Idem, p. 58-63.

    81. Idem, p. 60.

    82. Idem, p. 60-61.

    83. Idem. p. 61.

    79. ARTUR MATUCK,

    So Paulo CidadePlanetria - Breve

    Histria do Slow-Scanem So Paulo (texto

    indito), So Paulo,

    s/d, p. 67.

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    so do Manifesto Sky-Art, que recebeu adeses dos participantes. O texto

    seria depois reelaborado e em verso definitiva preparado por Lowry Burgess,

    Otto Piene e Elizabeth Goldring, ouvidos os participantes, datado de Paris, 3

    de novembro de 1986. Includo no artigo Desert Sun/Desert Moon, de

    Elizabeth Golding, publicado por Leonardo n4 (1987), o documento, traduzi-

    do por Artur Matuck, aqui reproduzido na ntegra:

    MANIFESTO SKY- ART

    Nosso alcance no espao constitui uma extenso infinita da vida

    humana, imaginao e criatividade.

    A ascenso aos cus espelhada pela imerso no espao interior

    refletindo o cosmos.

    Nossa liberao da gravidade representa uma transformao fundamen-

    tal na conscincia humana - vo e liberao que abrem uma nova dimenso de

    humanidade.

    Desde o passado remoto, artistas tm formado imagens e sonhos, enalte-

    cido a imaginao, construdo estruturas de aspirao para oferecer ao mundo

    asas para voar, e a viso para ver novas sociedades no cu. Vivemos em sua luz

    cumulativa.

    No apenas aqui na Terra, mas tambm no espao, ns devemos ver,

    tocar, sentir e pensar de modo a transportarmos a alma e o esprito.

    Assim um portal atravessado onde a radincia da arte conduz uma

    conscincia ampliada para a reciprocidade com a Terra.Enquanto permaneo contemplando o jardim do espao, eu sinto que

    estava observando as profundezas abissais, as mais secretas regies do meu prprio

    ser, e eu sorri porque nunca me havia ocorrido que eu pudesse ser to puro, to

    grande, to belo. Meu corao lanou-me no entoar de uma cano de graa para

    o universo. Todas estas constelaes so suas, elas existem em voc, fora de seu

    amor, elas no tm nenhuma realidade (Milosz).

    Ns vemos implicaes internacionais em nossa arte fomentando uma

    conscincia global atravs de exposies em grande escala, tele-educao e jogo

    exploratrio. Artistas celestes entusiasticamente procuram alianas produtivas com

    agncias espaciais, estamos pedindo o estabelecimento de conselhos nacionais e

    internacionais que defendero projetos artsticos especficos para instituies e

    agncias apropriadas. Adicionalmente estes conselhos iro colaborar com a

    implantao de projetos artsticos de longo alcance incorporando propsitos

    humanos e sublimes.

    Ns empenhamos nossa imaginao e capacidade, nosso esprito explo-

    rador e nossos poderes expressivos neste esforo de buscar o horizonte mais amplo

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    para a introviso e a experincia humanas.

    Interagindo a princpio com veculos e sistemas atuais, e ento desen-

    volvendo mtodos, utilidades e implementos especiais.

    O artista criando e contextualizando fenmenos e mensagens modelares

    sobe ao espao para de l enviar sinais Terra.

    O artista como explorador do ser interior continua o dilogo com o uni-

    verso no espao.

    O artista como um poeta no limite com o seu instrumental sensrio viaja

    ao espao para ampliar a perspectiva humana no novo mundo - o cu e o espao.

    O artista viaja entre os mundos para colher lendas e imagens conduzin-

    do-as a muitos lugares prximos e distantes84

    Mencione-se, entre outros eventos envolvendo artistas do Brasil e ou-tros pases, a experimentao de telecomunicao por meio de varredura lenta,

    coordenada por Fredric Michael Litto, entre So Paulo e Toronto, com a par-ticipao de Jos Wagner Garcia, Wilson Sukorski e Mario Ramiro e corres-pondentes canadenses, em fins de 1986, na ECA-USP, consistindo de umatroca fotogrfica de vistas de ambas as cidades85; Intercities: So Paulo/Pittsburgh, realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS-SP), fruto de inter-cmbio do Instituto de Pesquisas em Arte e Tecnologia de So Paulo (IPAT) eo grupo DAX, de Pittsburgh, coordenado por Artur Matuck no terminal de SoPaulo, em colaborao com Paulo Laurentiz (So Paulo) e Bruce Breland(Pittsburgh), tendo a participao de Carlos Fadon Vicente (So Paulo), entre

    outros (1987)86, no faltando dificuldades para a execuo do programa desseprojeto que incluiu a fuso de imagens estticas entre ambas as cidades;Faxarte I e Faxarte II, consistindo de troca de fax entre a ECA-USP e aUNICAMP, com a coordenadoria de Artur Matuck e Paulo Laurentiz, oprimeiro, e de Matuck, o segundo, tendo a participao, alm dos coordena-dores, de Gilbertto Prado, Milton Sogabe, Marco do Valle, Regina Silveira,

    Anna Barros, entre outros (maro de 1989); I Studio Internacional de Elec-trografia, sob a direo de Luiz Monforte, na XX Bienal de So Paulo (1989),com a presena, atravs de varredura lenta e fax, dos artistas Carlos Vicente

    Fadon, Eduardo Kac, Artur Matuck, Paulo Bruscky, Gilbertto Prado, MiltonSogabe, Mario Ramiro, Anna Barros e Paulo Laurentiz, entre outros (1989);Earthday 90 Global Telematic Network & Impromptu, evento do grupo DAXque, celebrando o Dia da Terra, conectou, via slow-scan e fax, artistas dePittsburgh, Baltimore, Chicago, Boston, Los Angeles, Vancouver, Viena,Lisboa, Campinas (SP), So Paulo, e, ainda, atravs do Caf Eletrnico deSanta Mnica, via videofone, artistas de Tquio e Moscou, participando peloBrasil Eduardo Kac, Milton Sogabe, Paulo Laurentiz, Vicente Carlos Fadon,

    Artur Matuck, Gilbertto Prado, Andr Petry, Anna Barros, Mario Ramiro, ao

    84. Idem, p. 64-66.

    85. Idem, p. 68.

    86. Idem, p. 76.

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    lado de Roy Ascott, Karen ORourke e outros (1990); Poticas Instantneas,intercmbio de imagens, via fax, entre Campinas (SP) e Porto Alegre, organiza-da por Andr Petry (10-11 de dezembro de 1990); Telesthesia, de ArturMatuck, texto interativo transmitido por rede de computador entre a USP eThe Studio for Creative Inquiry, de Pittsburgh (1991); II Studio Internacionalde Tecnologia de Imagem, coordenado por Luiz Monforte e sediado no SESC-Pompia, em So Paulo, pequeno evento que incluiu contatos via fax duranteum s dia (7 de junho de 1991), participando, entre outros, Monforte e grupoparisiense formado por James Durand, Nathalie Hamard-Wang, Christophe LeFranois e Gilbertto Prado; Faxelstico, de Eduardo Kac, no contexto daexposio Luz Elstica, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1991);Reflux, de Artur Matuck, para a XXI Bienal de So Paulo (1991), srie de liga-es telemticas entre vrios ns, com projetos que, alm de Matuck, foramde Karen O Rourke e Gilbertto Prado (pelo Art-Rseaux, de Paris), Otvio

    Donasci e Anna Couey (Art/Com/ de San Francisco), entre outros; EarthSummit Fax, instalao de Lilian Bell, como parte da mostra Omane Project(Ben Fonteles & Lia do Rio), em Braslia, DF (1991); Moone: La face cachede la lune, de Gilbertto Prado, consistindo na construo de desenhos e ima-gens em tela mltipla, transmitidos diretamente via R.N.I.S.(Rede Numricade Servios Integrados) entre o Caf Electronic de Paris e o da Documenta IX,em Kassel (1992); Ornitorrinco, trabalho de telepresena de Eduardo Kac,apresentado na edio de Siggraph 92, juntamente com vrios outros proje-tos internacionais (julho de 1992); Proto Arte Telemtica, coordenado por

    Artur Matuck no MAC-USP com a participao de Octvio Donasci, MadalenaBernardes e outros (1992); participao de Ornitorrinco on the Moon, deEduardo Kac e Ed Bennett, em telepresena, na exposio Networth Art Graz(ustria, 1993); Em contacto, projeto, com uso de fax, coordenado por DianaDomingues e seu grupo formado por Ana Mery S. de Carli e Fabiana deLucena, produzido na Universidade de Caxias do Sul (RS), em 1994; Via Fax,realizada no Museu do Telefone, no Rio de Janeiro, participando 18 artistas de

    vrias capitais brasileiras e Nova York (1994); The Electronic Carnival, pro- jeto consistindo de um dilogo e construo de personagens, de Artemis

    Moroni, Jos Augusto Mannis e Paulo Gomide Cohn, grupo de Campinas (SP),transmitido via Internet no 5th International Symposium on Electronic Art,do Minneapolis College of Art and Design (1994), exemplo do uso desse sis-tema por artistas do Brasil no incio de sua expanso; Telage 94, projeto deCarlos Fadon Vicente, para o evento Arte Cidade (1994) coordenado por eleem So Paulo, por Eduardo Kac em Lexington, por Irene Faiguemboin, noRecife e por Prado, em Campinas.

    Uma grande transformao nos usos telemticos via computador,varredura lenta, fax, etc. seria provocada pelo uso da Internet, disseminado em

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    meados da dcada de 90, momento em que a rede tornou-se acessvel ao grandepblico. Para os artistas, a introduo da WEB significou uma interatividadeagora mais abrangente e eficaz em espaos de navegao que ganharam estru-tura permanente. A partir desse novo estgio das telecomunicaes o recensea-mento da produo em rede converteu-se em tarefa das mais difceis ou mesmoilusria, como diz Prado em seu trabalho de anlise dessa experimentaoartstica, quando aponta exemplos de projetos desenvolvidos em sites de vriosartistas87.

    A percepo de um mundo que emergiu da informao digitalizada narede de computadores, estabelecendo a instantaneidade/ubiquidade das comu-nicaes, vem dominando rapidamente todos os nveis da vida pragmtica mastambm atingindo esferas profundas do pensamento e da cultura. Uma dimen-so esttica indita despontou no ciberespao. interconexo (ou contami-nao) que se declara entre arte, cincia e tecnologia no tem faltado uma

    ateno aprofundada nas duas ou trs ltimas dcadas e foi exatamente essaconvergncia que, por exemplo, foi tema da exposio Les Immatriaux. Aomesmo tempo em que surgem novas categorias de conhecimento, outras per-dem a nitidez nos seus antigos compartimentos, diante da complexidade intro-duzida pelas relaes entre o homem e as mquinas cerebrais.

    Constata-se pela atividade brevemente registrada acima, apenas par-cial, o aprecivel contingente de artistas atrados pelas potencialidades dacomunicao atravs de redes, a variedade e o alcance de muitos dos seus pro-

    jetos. uma tarefa que deles exige a capacidade da codificao na interface

    com a mquina para lograr os resultados almejados.A desterritorializao representada pela constituio dessa nova comu-

    nidade poder ser vista como virtual, imaginria ou ilusria, mas se trata,como afirma Pierre Lvy, de verdadeira atualizao (no sentido de colocar efe-tivamente em contato) grupos humanos que eram somente potenciais antes doadvento do ciberespao88. H muitos anos, Robert Adrian falava-nos do traba-lho do artista diante do trabalho interativo, especialmente com as telecomuni-caes, que no mais permitem o antigo relacionamento com o pblico porqueno h mais pblico - somente participantes89, uma colocao de peso insofis-

    mvel quanto ao fenmeno da arte da comunicao no seu mais desenvolvi-do conceito atual.

    87. (http//www.twt.iar.uni-camp.br/gilbertto.htm).

    88. PIERRE LEVY. Folha

    de S.Paulo, So Paulo, 9

    nov. 1997.

    89. ROBERT ADRIAN,Op. Cit., p. 141.

    * Texto de 1998. Esta sua primeira publicao.

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