voz de esperança mar/abr 2014

16
Uma das abordagens menos habituais sobre a celebração da fé é, sem dúvida, a dimensão do corpo, não tanto no seu significado mísco mas sobretudo na sua acepção sica. Contudo, o ges- to, a presença, a voz, os sendos, são, na liturgia, parte integrante e insubstuível. Hoje em dia, a expressão “corpo presente” talvez idenfique um número razoável das nossas assembleias, pelo que vão perdendo dos pequenos gestos e símbolos, como o sinal da cruz, a genuflexão ou a inclinação, em si mesmos muito simples, mas fundamentais para entrarmos em profundidade no Mistério celebrado. É possível que estejamos a viver experiência semelhante aos discípulos que, na aurora da ma- nhã de Páscoa, não encontraram senão o lugar do corpo do Senhor... mas, a Ele, não o acharam, se não depois de repararem nos sinais materiais da sua corporeidade - as ligaduras, os panos de linho e o lenço, o parr do pão, o sinal dos pregos e a observação das mãos, dos pés e do peito. De modo análogo, não celebraremos encontro com o Senhor ressuscitado se apenas nos avermos ao lugar sagrado. Precisamos de estar lá nós, por inteiro, com o nosso corpo também. Um dos espaços mais aprazíveis da nossa ar - quidiocese, idenficavo da nossa região, e que se prepara como candidato mais que merecido a património da humanidade, ajuda-nos a fazer caminho nesta compreensão. É o Bom Jesus do Monte, na proposta do seu monumental esca- dório, sobretudo no espaço dedicado aos cinco sendos, como aprofunda o tema das primeiras páginas desta edição. E CORPO EDITORIAL Director: P.e Avelino Marques Amorim Ano XX - 5ª Série | Nº 39 | Bimestral 1,00 € A PARTILHA E O RESPEITO “A parlha e o respeito são as duas palavras que fazem mais sendo numa casa como esta.” Tiago Costa p. 7 CELEBRAR A FÉ COM O CORPO “Celebrar a fé sem o corpo é impossível (...), porque, sem ele, não seríamos nós” Luís Silva Pereira p. 2-3 MAR - ABR / 2014

Upload: seminario-arquidiocesano-braga

Post on 08-Apr-2016

216 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Revista bimestral do Seminário Arquidiocesano Braga

TRANSCRIPT

Page 1: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

Uma das abordagens menos habituais sobre a celebração da fé é, sem dúvida, a dimensão do corpo, não tanto no seu significado místico mas sobretudo na sua acepção física. Contudo, o ges-to, a presença, a voz, os sentidos, são, na liturgia, parte integrante e insubstituível. Hoje em dia, a expressão “corpo presente” talvez identifique um número razoável das nossas assembleias, pelo que vão perdendo dos pequenos gestos e símbolos, como o sinal da cruz, a genuflexão ou a inclinação, em si mesmos muito simples, mas fundamentais para entrarmos em profundidade no Mistério celebrado.

É possível que estejamos a viver experiência semelhante aos discípulos que, na aurora da ma-nhã de Páscoa, não encontraram senão o lugar do corpo do Senhor... mas, a Ele, não o acharam, se não depois de repararem nos sinais materiais da sua corporeidade - as ligaduras, os panos de linho e o lenço, o partir do pão, o sinal dos pregos e a observação das mãos, dos pés e do peito. De modo análogo, não celebraremos encontro com o Senhor ressuscitado se apenas nos ativermos ao lugar sagrado. Precisamos de estar lá nós, por inteiro, com o nosso corpo também.

Um dos espaços mais aprazíveis da nossa ar-quidiocese, identificativo da nossa região, e que se prepara como candidato mais que merecido a património da humanidade, ajuda-nos a fazer caminho nesta compreensão. É o Bom Jesus do Monte, na proposta do seu monumental esca-dório, sobretudo no espaço dedicado aos cinco sentidos, como aprofunda o tema das primeiras páginas desta edição.

FÉ E CORPO

EDITORIAL

Director: P.e Avelino Marques AmorimAno XX - 5ª Série | Nº 39 | Bimestral1,00 €

A PARTILHA

E O RESPEITO

“A partilha e o respeito são as duas palavras que fazem mais sentido numa casa como esta.”

Tiago Costap. 7

CELEBRAR A FÉ

COM O CORPO

“Celebrar a fé sem o corpo é impossível (...), porque, sem ele, não seríamos nós”

Luís Silva Pereirap. 2-3

MAR - ABR / 2014

Page 2: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

VISÃO

CELEBRAR A FÉ COM O CORPO

Luís da Silva Pereira

No hino “Veni creator Spiritus”, atribuído ao monge beneditino Rábano Mauro, vulto maior do renascimento carolíngio do séc. IX, pede-se, numa das estrofes, que o Espírito Santo acenda a luz dos sentidos (Accende lumen sensibus). À primeira vista, parece contradizer o que, mui-tas vezes, ouvimos acerca do nosso corpo: que é preciso controlá-lo, até por meio de penitências, se quisermos voar mais facilmente até Deus. Mas se assim é, por que pedimos ao Espírito Santo que avive as nossas faculdades corporais?

Perguntei, um dia, isto mesmo ao meu professor de Fi-losofia Medieval e ele deu-me uma resposta que achei lu-minosa. Respondeu que o que pedimos ao Espírito Santo é que torne os nossos sentidos tão argutos que nos per-mitam descobrir Deus em toda a realidade. E acrescen-tava que é essa perspicácia dos sentidos, despertos pela acção do Espírito, que leva os santos a entrar em êxtase perante a beleza de uma flor ou do simples canto de um pássaro.

Temos, aqui em Braga, uma espécie de tratado sobre os sentidos, escrito em pedra e água. Refiro-me ao Bom Jesus. Os barrocos, inspirados por correntes de espiritu-alidade anteriores, nomeadamente a chamada Devotio Moderna, prestavam muita atenção aos sentidos. Eles sa-biam que para viver plenamente a nossa fé, temos de im-plicar o corpo, porque ele faz parte da nossa identidade,

2

Page 3: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

e por meio dele nos relacionamos com o mundo material, com os outros, com Deus. Por isso, o Bom Jesus, simbo-licamente, nos convida a um esforço físico de ascensão desde a cidade terrena até à Jerusalém celeste, subida que inclui a meditação da paixão de Cristo e a purificação dos sentidos, simbolizada pela água que escorre de cada um deles, no escadório final.

Celebrar a fé com o corpo é, desde logo, estar presen-te, fisicamente, nos actos em que a celebramos. Se de-sejamos reviver a morte e ressurreição de Cristo, temos que participar, presencialmente, no sacrifício da missa, se pudermos. Aí devemos, pela postura do corpo, significar a fé com que vivemos tamanho mistério. De pé, de joelhos, sentados, ouvimos, vemos, adoramos, louvamos, supli-camos, agradecemos. Através do corpo, manifestamos as disposições interiores em cada momento. De mãos postas ou levantadas, de cabeça erguida ou inclinada, de olhos abertos ou fechados, cantando ou, simplesmente, falando, cada gesto tem significado, faz parte de uma lin-guagem corporal. Bem sei que podemos elevar o coração para Deus, a qualquer hora, em qualquer lugar, mesmo enquanto o corpo faz outra coisa qualquer. Devemos, contudo, reservar certos momentos especiais para que o corpo acompanhe o espírito na sua oração. Sentimo-nos mais concentrados e completos. Dizemos, assim, a Deus que a nossa inteira realidade está na sua presença.

Quem fala na celebração eucarística, fala em qualquer outro acto da vida cristã. Em qualquer sacramento, o cor-po participa. Aliás, os sacramentos são sinais sensíveis precisamente para que também o corpo os possa sentir compreender. Eles são a arte divina, a matéria através da qual Deus comunica connosco.

Nós, cristãos, porém, somos também um corpo social. Daí que nos reunamos em grupos maiores ou menores, para celebrar a nossa fé: além dos actos litúrgicos, também nos reunimos numa peregrinação, numa procissão, por exem-plo. Dizemos assim que existimos como corpo visível, que estamos presentes fisicamente, que pertencemos todos a uma comunidade. Com a nossa presença física, afirmamos a nossa identidade de Igreja. Se nos alheássemos comple-tamente dessas manifestações, tão ricas de significado, até culturalmente, perderíamos a nossa dimensão comunitária.

Não queria esquecer uma outra forma de celebrarmos a fé com o corpo. É a ajuda que levamos a quem tem fome e sede, a quem precisa de roupa para se vestir, a quem se encontra doente, a quem precisa de uma palavra ami-ga, de um sorriso, de um consolo na aflição, enfim, todas aquelas obras de amor, corporais e espirituais, sem as quais a fé é morta, como diz o apóstolo S. Tiago.

Celebrar a fé sem o corpo é impossível. Ou a celebra-mos com ele ou, simplesmente, não a celebramos, por-que, sem ele, não seríamos nós.

3

Page 4: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

ARTE

DAVID E A ARCA DA ALIANÇA

Luís da Silva Pereira

4

Este quadro a óleo sobre tela re-presenta David tocando harpa dian-te da Arca da Aliança. É seu autor o pintor barroco flamengo Jan de Bray, nascido em Haarlem, em 1627, e falecido em Amesterdão, em 1697. Aprendeu a pintar com o pai, Salo-mon de Bray e, sobretudo, com o grande Frans Hals, a quem sucedeu como retratista das personalidades importantes da sociedade de Haar-lem. Supõem-se que era católico, uma vez que casou, três vezes, com mulheres também católicas, as quais morreram pouco tempo depois do casamento.

O episódio da vida do rei David que o quadro evoca está relatado no segundo livro de Samuel, cap. 6. Aí se narra que, durante a trasladação da Arca da Aliança para a cidade de Da-vid, núcleo original de Jerusalém, o rei cantou e dançou entusiasticamente, acompanhado de vários instrumen-tos, nomeadamente de trombetas, que se podem ver, à nossa direita, no quadro. Uma tradução mais rigorosa do texto, concretamente do versícu-lo 14, sugere que David pulava, ro-dopiava de alegria, provavelmente despojado das vestes reais. É esse comportamento que Mical, a filha de Saul e mulher de David, condena. No

versículo 20, dirigindo-se ao marido, repreende-o, ironicamente: “Que linda figura fez hoje o rei de Israel, dando-se em espectáculo às servas dos seus vassalos, e descobrindo-se sem pudor”. Esta última observação não significa, necessariamente, que David tivesse dançado de forma in-decente, meio nu, como por vezes se interpreta. Significa, sim, que terá dançado sem as suas vestes reais. A mulher não apreciou porque enten-deu que o marido se tinha rebaixado aos olhos do povo, mas não deixa de ser comovente ver um rei celebran-do tão jubilosamente a sua fé, con-tagiando o próprio corpo, com a sua alegria e fervor íntimos.

É a essa cena que o quadro de Jan de Bray se refere. Como podemos ob-servar, a Arca da Aliança encontra-se ao fundo, do nosso lado esquerdo. Ainda se vislumbram os dois querubins que a encimavam. É transportada pelos levi-tas, membros da tribo de Levi, encarre-gados especialmente do serviço divino. Têm uma coroa na cabeça, em sinal de alegria e de triunfo, e empunham enor-mes castiçais acesos.

Sabemos que a figura vestida de branco é o rei David pelos seus atri-butos: a coroa, por cima do turbante, e a harpa, com a qual acompanhava

o cântico dos salmos. Os olhos ergui-dos para o céu, a boca entreaberta e o rosto prazenteiro sugerem que é isso que ele está a fazer. Não usa ves-tes reais, em sinal de humildade, mas enverga uma modalidade do éfode, veste própria dos sumos-sacerdotes, cuja função pediu para desempenhar, naquela ocasião.

O pintor retrata-o com modera-ção. Terá entendido, como a mulher de David, que não ficaria bem pintar uma figura real e um santo, ascen-dente do próprio Cristo, dançando entusiasticamente. Mas o ambiente de descontraída alegria popular é acentuado pelo pormenor um tanto cómico do miúdo, no canto inferior direito, que segura um caderno de pautas, - a música dos salmos, certa-mente - e como que serve de estante ao enorme volume da Tora que um sisudo levita de óculos vai lendo.

O espaço em que a cena se de-senrola é muito reduzido. Parece que todos se acotovelam. Mas o pintor soube ampliá-lo, desenhando as per-sonagens a olhar em várias direcções. E não é impossível que o levita que olha para nós, logo atrás do rei Da-vid, seja o retrato do próprio pintor, Jan de Bray. Era costume dos pintores retratarem-se deste modo.

Page 5: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

5

Page 6: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

SEMINÁRIO MENOR

O ACAV é um acampamento vo-cacional que está a cargo dos pionei-ros do seminário e dirige-se a jovens entre os 15 e os 18 anos de idade da Diocese. Esta é a sua 2ª edição para a qual decidimos convidar os pioneiros dos agrupamentos das paróquias dos seminaristas e formadores.

Este acampamento tem lugar no recinto exterior do seminário de Nos-sa Senhora da Conceição de Braga e pretende oferecer um tempo de ex-periência para que os jovens do se-minário e os escuteiros convidados possam, em conjunto, aprofundar a amizade com Deus e a descoberta da vocação, aproximando-se do seminá-rio e do escutismo. Assim, os jovens ficam a conhecer o seminário, que é a casa onde os seminaristas vivem o dia-a-dia, desta feita de uma forma mais criativa e dinâmica.

O tema do imaginário desta edi-ção do ACAV II é a busca do tesouro escondido em Tamaclave. Este tema foi inspirado e desenvolvido a partir da célebre BD “ Astérix e Obélix “ e decorre com o fornecimento de pis-tas durante os primeiros dias, pistas essas que servirão para a caça ao tesouro que terá lugar nos últimos dias. Desta forma, surgirão surpre-sas, algumas agradáveis e outras que causarão desafios. O objectivo final é que cada um encontre o tesouro oculto para o qual têm a chave.

As atividades que decorrem nes-

ACAV II O TEU RUMO PASSA POR AQUI!

Bili Teixeira, 11º Ano

6

tes dias vão desde a oração á diver-são, sendo normalmente propostos jogos tradicionais, caminhadas voca-cionais, pedipapers e ateliês.

Segundo as opiniões dos jovens que no ano passado frequentaram este acampamento, o ACAV foi uma experiência muito marcante, pois para quase todos foi a primeira vez que fizeram um acampamento, com

teor vocacional, no seminário. Além disso, as actividades em que partici-param, serviram para melhor se afir-marem e começarem a pensar em termos de futuro.

Espera-se que esta 2ª edição fi-que igualmente na memória de to-dos e que os objectivos sejam alcan-çados com muita amizade, animação, empenho e entrega.

Page 7: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

A PARTILHA E O RESPEITO

Tiago Costa, 11º Ano

7

Inicialmente o seminário era me desconhecido, sabia apenas que era uma casa onde se estudava para ser padre. Isto mudou rapidamente após uma proposta que o meu pároco me fez de frequentar o pré-seminário, visto que na paróquia era acólito.

Durante este tempo de pré-se-minário apercebi-me que realmente estava errado quanto à imagem do seminário. Antes pensava que a vida de seminário era demasiado austera, o que não se constatou. Na realida-de, a vida de seminário é muito equi-librada, faz-se um pouco de tudo: há o tempo de oração, de silêncio, de estudo, de trabalho e de várias ati-vidades que potenciam os relaciona-mentos de amizade, de forma a unir a comunidade. Frequentei os encon-

tros do pré-seminário, para perceber se realmente me sentia preparado para fazer parte da comunidade do seminário e assim ao fim de 2 anos de pré-seminário, decidi entrar para o seminário menor. Depois disto e sem dúvidas, entrei para o seminá-rio o que inicialmente foi difícil para mim, pois tive que deixar a minha terra, Ribeirão, os amigos e, sobretu-do, a família.

Após 2 meses de seminário sen-tia-me completamente integrado, a pouco e pouco foram-se criando la-ços de amizade com os seminaristas e com os formadores.

Passados 2 anos encontro-me no 11ª ano do ensino secundá-rio e sinto uma grande satisfação por poder viver em comunidade,

uma realidade nova durante a qual aprendi muito.

Aprendi, por exemplo, a ser res-ponsável, pois tenho que ser autóno-mo e não ficar à espera que os pais resolvam os meus problemas, mas ser eu mesmo a solucioná-los, às vezes com a ajuda dos formadores e do diretor espiritual. Aprendi ainda, e sobretudo, a respeitar o próximo, pois antes de viver nesta comunida-de vivia com os meus pais e com as minhas irmãs, e agora vivo com mais 20 pessoas. Por isso, tenho que saber respeitar o espaço de cada uma de-las. Como passamos o dia todo jun-tos, é inevitável a criação e o fortale-cimento dos laços de amizade. Logo, a partilha e o respeito são as duas pa-lavras que fazem mais sentido numa casa como esta.

Este caminho de seminário tem me ajudado a crescer muito como jo-vem principalmente a nível espiritual e humano. Sempre que me surgem dúvidas e questões, tenho consegui-do responder com êxito, pelo que este tempo tem favorecido o meu percurso vocacional e de discerni-mento.

Futuramente, gostava de prosse-guir esta caminhada de descoberta no seminário maior, preparando-me para conseguir responder aos desa-fios que ainda me vão surgir, e procu-rando ultrapassar os obstáculos que se colocarem no meu percurso.

Page 8: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

8

SEMINÁRIO MAIOR

S. BENTOPAI E PADROEIRO DA EUROPA

Filipe Alves, 3º Ano de Teologia

O Congresso S. Bento – Pai e Pa-droeiro da Europa, decorreu entre os dias 21 e 22 de Março em S. Bento da Porta Aberta, Terras de Bouro. O Seminário Conciliar associou-se a este congresso marcando a sua par-ticipação pelo canto de Vésperas no primeiro dia, 21 de Março.

Após o canto de Véspera, foram retomados os trabalhos do Congres-so no qual os seminaristas do Semi-nário Conciliar tiveram a oportunida-de de participar.

No final das vésperas foi apresen-tado o livro São Bento e a vida fami-liar: Uma leitura original da Regra beneditina. A apresentação do livro contou com a presença do seu autor, D. Massimo Lapponi O.S.B, Monge Beneditino da Abadia de Santa Maria de Farfa. Pode a Regra beneditina fa-zer sentido ainda hoje e, sobretudo, ser aplicada à família? O seu autor afirma que o modelo beneditino, que emerge da regra e da tradição, é o único modelo que pode hoje ser proposto às famílias de forma eficaz.

O Professor Adriano Moreira foi, certamente, um dos conferencistas mais aguardados. A sala tomou-se de um grande silêncio para o ouvir falar de S. Bento e a identidade Europeia, onde, para além de S. Bento e da Eu-ropa, falou de Portugal e da crise que estamos a passar. Vive-se, referiu, um período de derrube de constru-ções que começou, precisamente,

Page 9: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

9

no Monte Cassino. Seguiu-se o Muro de Berlim e, mais recentemente, as Torres Gêmeas. O pensamento terá de ser o de reconstruir. Contudo, um dos problemas atuais é a falta de au-tenticidade. A sociedade não vive da sã distribuição da sua riqueza, onde a luta pela igualdade tem sido len-tíssima. Um dos grandes problemas apontados, e diversas vezes subli-nhado, foi o da prevalência do credo dos mercados sobre o credo dos va-lores, referindo que esta problemáti-ca tem vindo a ser denunciada pela Igreja, lembrando, por exemplo, o Papa Paulo VI na sua comunicação à Assembleia Geral das Nações Unidas (4 de Outubro de 1965), ou João Pau-lo II que falava do desenvolvimento sustentado como o novo nome da paz, apelando para que se vissem os valores. Existe, contudo, um gesto de esperança, gesto de paz, do desen-volvimento sustentado, tendo sido iniciado, há pouco mais de 50 anos, por Jean Monnet, Robert Schuman, Konrad Adenauer e Alcide de Gaspe-ri (estes três últimos com processo de beatificação aberto em Roma). Este gesto de esperança é o projeto europeu, de uma Europa de paz. O pós muro de Berlim trouxe um novo riquismo e esta é a crise que vivemos ou o estado a que chegámos. É pre-ciso apelar a S. Bento, refere o Pro-fessor. Ele, S. Bento, que teve inter-venção importantíssima pós queda

do Império Romano, fez reaparecer o Limes desse mesmo império. O espí-rito de Assis é, de igual modo, uma semente de esperança para o mundo hodierno.

Quando focado em Portugal, re-fere que existem sinais notáveis de se estar a erguer com pessoas que se juntam sem estar condicionadas. Porém, a pior situação é a de um pai precisar de teto e não ter emprego para proporcionar esse teto. É preci-so apostar no ensino e investigação e mudar o aspeto das faculdades de hu-manidades totalmente secularizadas. Para o Professor “não escolhemos o país onde nascemos mas decidir fi-car é um gesto de amor”. Por isso, é necessário uma comunidade de afe-tos, trocar o combate pelo diálogo, a intolerância pelo respeito e não ver no diferente um inimigo. Vivemos o quarto império: “viúvas de homens vivos que ficaram cá”. É preciso au-tenticidade, solidariedade e vivência da comunidade de afetos.

O professor Doutor Frei Geraldo Coelho Dias fechou o dia com uma excelente comunicação sobre S. Ben-to da Porta Aberta: a hospitalidade e acolhimento na regra de S. Bento. Apresentou S. Bento como pilar/su-porte de uma Europa em construção pós Império Romano. S. Bento, que pode ser visto como o organizador e legislador, mostrou que o monge vive do trabalho das suas mãos, do contacto cotidiano com os instru-mentos que o auxiliam. A sua regra permanece. Os Mosteiros Benediti-nos apresentavam-se (e apresentam-se) como centros de hospitalidade, prontos a acolher, num conceito que apelidou de domésticos da fé, onde estão sempre prontos a acolher os peregrinos, à imagem de S. Bentinho da Porta Aberta, como é apelidado pelos muitos peregrinos que lá aco-lhem. Para o Frei Geraldo a hospitali-dade é uma atração para o sagrado.

O dia terminou como um concer-to pelo Orfeão de Terras de Bouro.

Page 10: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

Grupo de Cantares do Seminário Conciliar

SEMINÁRIO MAIOR

CANTO DOS REIS: ALEGRIA E GRATIDÃO

Cumprindo a tradição, o Grupo de Cantares do Seminário Conciliar cantou os Reis em diversas paróquias da Arquidiocese de Braga e da Dioce-se de Viana do Castelo.

Na Ceia de Natal das famílias dos seminaristas fez-se a primeira actua-ção. Durante o mês de Janeiro, o Gru-po de Cantares esteve, para além das paróquias, nos Seminários de Viana do Castelo, de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, e, pela primei-ra vez, no Seminário Interdiocesano de S. José. Também foram visitadas as casas Sacerdotais de Viana e de Braga, onde os seminaristas pude-ram prestar uma homenagem e um agradecimento aos sacerdotes que, após uma vida dedicada ao serviço de Deus, estão agora, por força da idade ou da saúde, em maior repouso.

Quanto às paróquias, o Grupo foi recebido com muito carinho e afecto.

As pessoas, para além de gostarem das músicas, acabavam por partici-par e cantar.

De facto, foi uma experiência muito gratificante poder levar alegria às pessoas, em especial àquelas que por força das circunstâncias estão de-sanimadas, podendo sentir a alegria que consiste em servir e anunciar Je-sus Cristo.

O cantar dos reis é muito mais do que uma mera actividade do se-minário. É um momento importan-te, no qual se pode contactar com

muitas pessoas, na sua diversidade, trocando palavras, ideias, que per-mitem alargar os horizontes do co-nhecimento. Por outro lado, consiste numa forma de levar Jesus, pois a evangelização faz-se pela alegria e amizade que se testemunha, assim como pelo diálogo com o próximo, que muitas vezes precisa de uma pa-lavra amiga. Esta actividade reveste-se de grande importância para cada elemento do grupo, na medida em que é um tempo propício para forta-lecer as relações.

A estes aspectos destaca-se ou-tro: ao cantar os reis, as pessoas são convidadas, dentro das suas possibi-lidades, a dar uma contribuição para o Grupo de Cantares, que reverterá a favor das actividades do seminário e no apoio a alguma instituição de so-lidariedade.

Assim, aqui fica a nossa gratidão a todos os párocos que aceitaram a nossa presença, assim como a todas as pessoas que contribuíram para que tudo corresse bem, desde a ale-gria com que nos receberam às suas diversas contribuições.

10

Page 11: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

11

A CAMINHO DA FONTE DE ÁGUA VIVA…

Pais do Renato Oliveira, 5º Ano de Telogia

No decurso de cada ano lectivo, os pais dos seminaristas que inte-gram o Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo reúnem-se por di-versas vezes, acompanhando, desse modo, o percurso dos seus filhos.

De entre as várias actividades, a recolecção quaresmal reveste-se, sob o ponto de vista espiritual, de um significado muito especial. Real-mente, neste encontro, aquilo que se procura é, essencialmente, inten-sificar a experiência de “deserto” que cada cristão é chamada a viver em cada Quaresma: não um deserto qualquer, mas um deserto orientado para a fonte de água viva que jorra da cruz de Cristo.

Foi com este espírito que no pas-sado dia trinta de Março se realizou

mais uma recolecção quaresmal para os pais dos seminaristas. Nesta tarde, intensamente vivida, houve oportu-nidade para escutar as palavras do Pe. Afonso, director espiritual, e para fazer a experiência do encontro com Jesus Cristo, nos sacramentos da Re-conciliação e da Eucaristia.

Quer na conferência da tarde, quer na eucaristia, os pais foram de-safiados a assumir uma atitude com-prometedora no percurso dos seus filhos, ajudando-os nas suas “ceguei-ras”, tal como Jesus fez com o cego de nascença (Jo 9).

Assim, ao longo desta tarde, foi possível que cada um se deixasse tocar pelo amor de Deus, em pleno tempo quaresmal, sentindo-se, assim, tam-bém “pedra viva” daquela que, sendo a casa de cada seminarista, é também a casa de cada mãe e de cada pai.

Page 12: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

12

SEMINÁRIO MAIOR

Rui Araújo, 3º Ano de Teologia

A AMIZADE QUE NOS CONGREGA EM DEUS!

«A amizade desenvolve a felicida-de e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor. A alegria de fazer o bem é a única fe-licidade verdadeira».

Leon Tolstoi

De facto, nutridos pela amizade de Deus não podemos deixar que as palavras de ordem sejam a ilusão e o egoísmo, mas devemos viver, tal como as comunidades cristãs pri-mitivas, no sentido da partilha e da união. Foi com este espírito que a Comunidade do Seminário Conciliar, à semelhança do que tem vindo a acontecer nos anos passados, rece-beu a Comunidade Pedro Arrupe.

Já o sol declinava quando, numa tarde de segunda-feira, dia 17 de Março, se ouvia o apito inicial de jogo com que foi inaugurado este nosso

encontro. Depois de algum tempo de desgaste físico deu-se por finalizado o jogo. Posteriormente ao acolhi-mento dos nossos irmãos, dirigimo-nos para a capela, onde celebramos a Eucaristia, momento em que nos foi possível agradecer a Deus pelo facto de nos proporcionar estes encontros. Terminada a celebração seguiu-se o jantar, onde de uma forma mais descontraída pudemos compartilhar os vários testemunhos de vida, que de uma ou de outra forma nos aju-dam e enriquecem a nossa caminha-da vocacional. Apesar de em alguns momentos nos encontrarmos na Faculdade, não é suficiente para nos conhecermos, para abrirmos espaço na nossa comunidade e na nossa vida a mais um.

Os encontros com os outros são muito importantes, porque propi-

ciam a que cada um saia um pouco daquilo que marca o seu relógio bio-lógico. Se neles não se constroem pontes entre a nossa vida e a vida do outro, é porque tudo aquilo que ali aconteceu foi um desperdício de tempo.

Finalmente, nada disto poderia ser possível se não tivéssemos uma Pessoa que nos une, isto é, Deus. Foi, por isso, que findamos a noite com a oração das Completas, fazendo o exame de cons-ciência em ambiente sereno e de me-ditação, absorvidos na intimidade da relação com Deus, acolhidos na Capela Árvore da Vida. É na vivência destes momentos que devemos procurar a felicidade e o bem do outro, só assim é que estaremos a descerrar as amarras do individualismo. Somos e seremos sempre seres com os outros, na exis-tência em comunidade.

Page 13: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

13

A POBREZA NO OLHAR PARA A RIQUEZA DO OUTRO…

Moisés Pereira, 3ºAno de Teologia

O tempo quaresmal evidencia-se, sobretudo, pela dinâmica do despojamento ou, se preferirmos, pela dinâmica da pobreza. Natural-mente, não falamos de uma pobreza económico-social, mas, e sobretudo, de uma pobreza humana e espiritual, as quais pautam-se pela autenticida-de das relações estabelecidas não só com o outro, que se me apresenta, mas com o Outro, que Se revela e é reconhecido como digno de confian-ça, digno da minha vida.

Neste sentido, e como fora habitu-al, a comunidade do Seminário Conci-liar de Braga realizou a sua recolecção do tempo da quaresma nos dias 28, 29 e 30 de Março, um re-colher de si para um autêntico “acolher” o outro. De facto, o dinamismo de re-encon-tro e de re-conhecimento da nossa pobreza, que fomos aprofundando neste fim-de-semana, provoca-nos à compreensão da necessidade de um olhar que contempla a beleza do

fracção do pão e às orações, (…) vi-viam unidos e possuíam tudo em co-mum (Cf. Act 2, 42-44).

Portanto, a escuta no silêncio, propício no ambiente em que esti-vemos, para a concretização do si-lêncio na escuta gerou a capacidade de re-conhecermos a necessidade de edificarmos neste tempo de especial formação, o tempo de seminário, o sentido da pobreza perante não só

outro. Tal purificação do olhar ruma a uma prática essencial para qual-quer comunidade: a dinâmica vital do amor que não só compreende e que é capaz, no seu silêncio e na sua inter-ajuda, acolher a pobreza como oportunidade de evidência de uma riqueza mais autêntica, mas também é capaz de “gerar” vida, na medida em que age como representação da beleza do amor de Deus no mundo. Este deve ser o estilo de qualquer comunidade à semelhança da comu-nidade primitiva: assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à

do outro, mas também diante de Deus, a fim de uma construção sólida e eficaz no sentido da humildade, da pobreza, da generosidade ou, por ou-tras palavras, na gratuidade do servi-ço por amor a Deus e ao Seu povo. Nesta linha, e como o Papa Francisco apela na sua mensagem para esta quaresma, procuramos e procuremos em cada dia configurarmo-nos com Jesus Cristo, isto é, sermos imagem de Cristo, que Se fez pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza (Cf. 2 Cor 8, 9), para “gerar” vida em nós e vida em abundância (Cf. Jo 10, 10).

Page 14: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

PASTORAL UNIVERSITÁRIA

14

“VEM QUEBRAR A ROTINA”

UNIVERSITÁRIOS ACEITAM O DESAFIO DA PASTORAL UNIVERSITÁRIA E PARTEM PARA RETIRO QUARESMAL

Sofia Ledesma, estudante da Universidade do Minho

“Vem quebrar a Rotina” foi o desafio lançado pela Pastoral Uni-versitária aos universitários e alguns aceitaram esse desafio. Foram 18 os estudantes universitários que, de forma destemida e com vontade de fortalecer a sua Fé, se juntaram no passado fim-de-semana, 15 e 16 de março, em Castelo de Neiva (Espo-sende), encontro que coincidiu com o 2º domingo da Quaresma e que foi o mote para a reflexão inicial com a meditação da passagem bíblica da Transfiguração de Jesus.

Com o mar como pano de fundo e no contacto com a Natureza, o Retiro permitiu a vivência em grupo e a fuga ao quotidiano, na verdade foi mais do que uma experiência religiosa, pois permitiu despertar consciências para as atitudes e ações do dia-a-dia de cada um dos jovens, através de momentos de reflexão individual, de partilha de experiências, de oração em grupo e com o momento alto da eucaristia no final do primeiro dia de encontro.

O Retiro da Pastoral foi também uma oportunidade de encontro, pois

há sempre jovens que despertam em si a vontade de “quebrar a rotina”, desafiando-se a olhar para a sua re-lação com Deus de uma forma mais despojada das distrações comuns à vida académica e à experiência de um jovem.

A Pastoral continua a sua missão de convocar os universitários para o encontro com a mensagem de Cristo e a vivência desta nas suas academias através da dinamização de diferentes atividades, para as quais todos estão convidados a participar.

Page 15: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

15

Preparamos já o Encontro Na-cional de Jovens em Fátima - Fátima Jovem 2014, com o tema: Bem-aven-turados... no amor de Deus pelo mundo.

No dinamismo da fé, propomos à semelhança do ano passado, iniciar um itinerário de preparação, entre o Domingo de Ramos e o Fátima Jovem com “8 semanas 8 palavras” e assim meditar sobre a mensagem do Papa para o dia Mundial da Juventude, numa caminhada de preparação para este grande Encontro.

Convidamos novamente os jo-vens a trazer a máquina fotográfica e a inscrever-se em “novos olhares”.

O acolhimento tem inicio a par-tir das 10:00h da manhã no Centro Pastoral Paulo VI, neste período da manhã (certamente as dioceses de mais perto) podereis organizar um programa diocesano, se assim o en-tenderdes.

O programa oficial iniciar-se-á às 14:00h com uma peregrinação por dioceses, vinda dos 4 pontos cardeais (atempadamente enviaremos infor-mações mais precisas) até ao grande Encontro na Praça Luís Kondor.

Relembramos que o valor de con-tribuição de cada jovem nesta pere-grinação é de 4€ e que a alimentação e alojamento está a cargo de cada Diocese.

Toda a informação estará dis-ponível em permanência no site do Departamento: www.dnpj.pt e que

em breve na RTP2, programa Ecclesia passarão spots: é “lembrança”, é con-vite, é testemunho e é também (in)formação…

Informações e Inscrições em www.diocese-braga.pt/pastoraljovens

FÁTIMA JOVEM 2014

PASTORAL DE JOVENS

Page 16: Voz de Esperança Mar/Abr 2014

Propriedade do Semináriode Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B4710 - 435 BragaTelf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821

www.diocese-braga.pt/seminariomenorwww.fazsentido.com.ptseminariomenor@[email protected]

N.º de Registo: 1152 88Depósito Legal N.º 40196/91Tiragem: 4000 Exemplares

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 1.500,00 €.

Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB:0007 0602 00472310008 15.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem,ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.