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O Desaparecimento de Suzumiya Haruhi Tradução: kwijibo Revisão: GardenAll Capítulo 3: 20 de dezembro. Era a manhã do terceiro dia desde que o mundo mudou completamente quando eu acordei do meu sono sem sonhos. Como sempre, sai da cama como se meu estomago tivesse sido preenchido por um punhado de balas 300mm. Shamisen, que estava dormindo na almofada, subitamente rolou pelo chão e ficou ali inerte de barriga para cima. Pisei levemente em seu estomago enquanto suspirava. Colocando sua cabeça porta adentro, minha irmãzinha me olhava entusiasmada quando percebeu que eu havia acordado. “Então, quer dizer que o Shami pode falar?” Ela vem me perguntando isso toda a hora desde a noite retrasada, mas a minha resposta é sempre a mesma. “Não.” Enquanto eu pensava sobre a sensação macia dos pelos do gato em minha mão, minha irmã começou a assobiar uma pequena canção enquanto levava Shamisen para fora. Deve ser bom ser um gato, tudo que eles fazem é comer, dormir e lamber seus pelos. Queria poder trocar de lugar com um deles por um dia. Quem sabe assim eu podia encontrar o que eu estou procurando. Sim, eu ainda não encontrei a chave. Sequer sei o que isso significa. Sem mencionar o que quer dizer a ativação do programa. Se não fizer nada hoje, o mundo vai continuar assim, e as coisas tendem a ficar ainda piores. Esse era o meu tempo limite – sendo sincero, de quem foi a idéia de colocar um limite? Será que era suficientemente problemático para Nagato me proporcionar uma oferta por tempo limitado? Fui para escola sem nenhum progresso em mente. O céu estava frio e cinzento, se arrastando sobre as nossas cabeças como se a qualquer momento pudesse despejar uma tempestade de neve. Acho que teremos um “Natal branco” esse ano, e dos grandes. Não tivemos muitas novidades sobre o volume de neve na previsão do tempo, mas ao julgar pela temperatura do inverno deste ano, é possível que seja grande. Haruhi provavelmente estaria empolgada como um filhote de cachorro com a viagem de inverno... isso é, se Haruhi ainda existisse. Não havia nada que conseguisse prender a minha atenção enquanto eu subia a mesma ladeira de sempre em direção aa escola, e foi assim o caminho todo até a sala 5-2. Minha exaustão se manifestou fisicamente nos meus passos arrastados. Acredito que só consegui chegar a minha cadeira quando o sinal tocou. Assim como fora ontem, haviam vários faltantes devido ao surto epidêmico, mas o que era mais incrível é que Taniguchi só teve um dia para descansar. Apesar de estar usando uma mascara, temos que dar-lhe o mérito pela presença. Só agora eu consegui perceber o quanto essa cara adora vir à escola. Falando nisso, Asakura, que estava sentada atrás de mim, mantinha um sorriso intrigante no rosto enquanto me olhava. Não acho que possa chamar isso de uma posição confortável. “Bom dia.”

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Page 1: Volume 4: O Desaparecimento de Suzumiya Haruhi · Esse era o meu tempo limite sendo sincero, – de quem foi ... teve um dia para descansar. Apesar de estar ... que significa literalmente

O Desaparecimento de Suzumiya Haruhi Tradução: kwijibo Revisão: GardenAll

Capítulo 3:

20 de dezembro. Era a manhã do terceiro dia desde que o mundo mudou completamente quando eu

acordei do meu sono sem sonhos. Como sempre, sai da cama como se meu estomago tivesse sido preenchido por um punhado de balas 300mm. Shamisen, que estava dormindo na almofada, subitamente rolou pelo chão e ficou ali inerte de barriga para cima. Pisei levemente em seu estomago enquanto suspirava.

Colocando sua cabeça porta adentro, minha irmãzinha me olhava entusiasmada

quando percebeu que eu havia acordado. “Então, quer dizer que o Shami pode falar?” Ela vem me perguntando isso toda a hora desde a noite retrasada, mas a minha

resposta é sempre a mesma. “Não.” Enquanto eu pensava sobre a sensação macia dos pelos do gato em minha mão,

minha irmã começou a assobiar uma pequena canção enquanto levava Shamisen para fora. Deve ser bom ser um gato, tudo que eles fazem é comer, dormir e lamber seus pelos. Queria poder trocar de lugar com um deles por um dia. Quem sabe assim eu podia encontrar o que eu estou procurando.

Sim, eu ainda não encontrei a chave. Sequer sei o que isso significa. Sem mencionar

o que quer dizer a ativação do programa. Se não fizer nada hoje, o mundo vai continuar assim, e as coisas tendem a ficar ainda piores. Esse era o meu tempo limite – sendo sincero, de quem foi a idéia de colocar um limite? Será que era suficientemente problemático para Nagato me proporcionar uma oferta por tempo limitado?

Fui para escola sem nenhum progresso em mente. O céu estava frio e cinzento, se

arrastando sobre as nossas cabeças como se a qualquer momento pudesse despejar uma tempestade de neve. Acho que teremos um “Natal branco” esse ano, e dos grandes. Não tivemos muitas novidades sobre o volume de neve na previsão do tempo, mas ao julgar pela temperatura do inverno deste ano, é possível que seja grande. Haruhi provavelmente estaria empolgada como um filhote de cachorro com a viagem de inverno... isso é, se Haruhi ainda existisse.

Não havia nada que conseguisse prender a minha atenção enquanto eu subia a

mesma ladeira de sempre em direção aa escola, e foi assim o caminho todo até a sala 5-2. Minha exaustão se manifestou fisicamente nos meus passos arrastados. Acredito que só consegui chegar a minha cadeira quando o sinal tocou. Assim como fora ontem, haviam vários faltantes devido ao surto epidêmico, mas o que era mais incrível é que Taniguchi só teve um dia para descansar. Apesar de estar usando uma mascara, temos que dar-lhe o mérito pela presença. Só agora eu consegui perceber o quanto essa cara adora vir à escola.

Falando nisso, Asakura, que estava sentada atrás de mim, mantinha um sorriso

intrigante no rosto enquanto me olhava. Não acho que possa chamar isso de uma posição confortável.

“Bom dia.”

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Ela me cumprimentou como havia feito com todos os outros. Eu apenas acenei de volta.

Quando o segundo sinal, que sinalizava o início das aulas tocou, Okabe-sensei

entrou cheio de energia para a seção do conselho de classe matinal. Já havia me perdido com os dias da semana. A grade curricular parecia diferente do

que me lembrava, mesmo não estando certo isso. Nem mesmo tinha certeza se nós estávamos tendo esse tipo de conteúdo semana passada. Apesar disso temo em dizer que mal perceberia se alterassem os horários de ontem e de hoje. Será que sou eu que estou ficando louco? A garota conhecida como Suzumiya Haruhi nunca existiu, Asakura era nossa colega mais popular, Asahina-san era uma veterana fora de meu alcance, e Nagato, de certa forma como no mundo original, era a única no Clube de Literatura.

Será que tudo isso era real? Ou a Brigada SOS, e tudo mais foi só uma peça pregada

pela minha mente? Droga, meus pensamentos estão cada vez mais negativos. Durante a aula de Educação Física antes do almoço, acabei tomando o papel de um

goleiro distraído que não está realmente interessado em defender alguma coisa; a próxima aula era Matemática, onde tudo que ouvi simplesmente escapou pelos meus ouvidos; e antes que tivesse me dado conta, o intervalo havia chego.

Deitei-me sobre a carteira para esfriar um pouco a cabeça. “Yo, Kyon,” Era Taniguchi. Ele segurava a mascara por baixo do queixo dando seu sorriso idiota

de sempre. “A próxima aula é Química, e acho que o professor vai escolher a minha fileira para

responder as perguntas, me dá uma ajuda.” Ajudar você? Está de brincadeira?! Você sabe muito bem das minhas fraquezas e

das minhas forças, não sabe? Então como eu deveria saber de algo que você mesmo não sabe?

“Ei, Kunikida,” Chamei o meu outro colega, que havia acabado de voltar do banheiro, “Explique para o Taniguchi tudo que você sabe sobe os hidróxidos de sódio. Ele quer

saber especificamente o que acontece quando ele se junta com os ácidos hidrocloridricos.” “Bem, essa é simples, eles se neutralizam depois de se misturar, gerando um sal e

água.” Kunikida disse enquanto folheava o caderno de Taniguchi, “Ah, então essa é a pergunta. Primeiro calcule o volume em mols e você vai poder

converter para quilogramas. Deixe-me ver...” Ver uma pessoa entendida explicando assim tão casualmente, me faz sentir

completamente inútil. Taniguchi concordava com a cabeça ferozmente, enquanto Kunikida seguia com a

matéria, ele nem pretendia mais calcular sozinho agora. Com um movimento ágil ele pegou a

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lapiseira de cima da minha mesa e rabiscou alguns números e símbolos no caderno de Taniguchi.

Quando tudo havia acabado, Taniguchi me deu um sorriso esquisito. “Kyon, Kunikida me contou tudo durante a aula de Educação Física, você parecia

estar atrás de alguma coisa anteontem.” Você não estava na aula aquele dia? “Acabei tendo que descansar um pouco na enfermaria durante o intervalo, e fiquei

meio zonzo a tarde toda. Então só ouvi essa história pela manhã. Ouvi dizer que você meio que entrou em um surto psicótico e ficou achando que a Asakura não existia, é isso?”

“Mais ou menos.” Levantei a minha mão e sinalizei algo como “Cai fora agora!”, mas mesmo assim

Taniguchi deu uma risada zombeteira e continuou. “Como eu gostaria de ter visto isso. É bem raro ver você se exaltando por alguma

coisa, deve ter sido hilário.” Kunikida pareceu lembrar de algo, “O Kyon parece estar melhor hoje. Mas naquela hora pareceu que ele iria voar em

cima do pescoço da Asakura-san. Ela fez algo que te irritou?” Se eu disser, ai sim é que vou ser considerado como um lunático. Acho então que é

melhor me manter em silêncio. “Ah, é, você disse que alguém havia sido substituído pela Asakura. Achou essa

pessoa. Haruhi, não? Quem é ela afinal?” Você pode parar de ficar me lembrando disso? Toda vez que alguém menciona esse

nome sinto um arrepio subindo pela minha espinha, mesmo que seja apenas um papagaio repetindo coisas.

“Haruhi?” Vi só, até mesmo Taniguchi se virou pra cá. E não foi só isso, ele até falou, “Aquela Haruhi, você não está falando de Suzumiya Haruhi, está?” Sim, aquela Suzumiya Haruhi... Os ossos do meu pescoço fizeram um ruído alto enquanto me virava para ver aquele

olhar estúpido que meu colega estava direcionando para mim. “Taniguchi, o que você disse?” “Eu disse Suzumiya, aquela garota selvagem da Escola Ginasial do Leste. Estive na

mesma sala dela por três anos. O que será que ela está fazendo... e como você a conhece? E essa história dela ter sido substituída pela Asakura, heim?”

Minha visão se apagou por um instante. “VOCÊ!! SEU GRISALHO IDIOTA!!”

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Gritei e saltei da cadeira simultaneamente. Talvez intimidados pela minha reação súbita, tanto Kunikida quanto Taniguchi recuaram instintivamente.

“Quem é que você está chamando de grisalho? Se eu sou grisalho você é um careca!

Alem do mais, minha família tem cabelos acinzentados por gerações, é você que deveria estar mais preocupado com a sua genética!”

Isso não é da sua conta! Agarrei Taniguichi pelo colarinho e o puxei para tão perto

que nossos narizes quase se tocaram. “Você disse que conhece Haruhi?” “Como não conhecer? Ninguém esqueceria dela nem em cem anos! Não há ninguém

que se formou na Escola Ginasial do Leste que não saiba de sua fama, arrisco dizer que quem esquecer de uma pessoa assim só pode estar sofrendo de amnésia.”

“Onde?” Como se recitasse um mantra, disparei questão atrás de questão. “Onde está essa garota? Onde Haruhi está agora? Diga-me!” “O que deu em você? Virou um tambor de taiko[1] ou coisa assim? Viu Suzumiya por

ai e se apaixonou instantaneamente? Desista! Estou dizendo isso para seu bem, ela pode parecer com a garota dos sonhos de qualquer um, mas a sua atitude com certeza vai jogar os seus sonhos para a estratosfera. Por exemplo, uma vez ela...”

1-[Nota do tradutor: o taikô é um instrumento de percussão, cuja superfície é confeccionada com pele de animal. É tocada com a mão ou com o uso de uma baqueta, mas sempre exige do músico a habilidade rítmica e o preparo físico para sustentar batidas homogêneas e obter som satisfatório].

Desenhou formas geométricas misteriosas no campo da escola com a máquina de

giz, não é? Eu sei disso. Não estou interessado em sua ficha criminal, só quero saber onde Haruhi está agora!

“Ela estuda na Kouyouen,” Taniguchi respondeu como quem recitava a seqüência atômica do hidrogênio. “Se não me engano, ela entrou para o colegial na base da colina, perto da estação de

trem. Ela era muito inteligente, acho que é natural que alguém assim estude em uma escola de elite.”

Escola de elite? “A Kouyouen é assim tão boa? Achei que só fosse uma escola para as filhas dos

ricos e famosos.” Taniguchi me olhou com olhos piedosos e disse, “Kyon, não sei o que te disseram no fundamental, mas essa escola sempre foi mista.

Sem mencionar que é uma das escolas com a maior taxa de aprovação nos vestibulares nessa região. Ter uma instituição assim bem aqui no nosso bairro simplesmente me deixa furioso!”

Enquanto ouvia os resmungos de Taniguchi, comecei a soltar as minhas mãos

lentamente.

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Por que não havia percebido isso antes? Poderia cometer sepukku[2] por causa disso.

2-[Nota do tradutor: Seppuku é o termo formal para o ritual suicida chamado popularmente de harakiri, que significa literalmente "cortar a barriga" ou "cortar o estômago"].

Só porque Haruhi não estava nessa escola, assumi que ela não existisse nesse

mundo. Como pode se ver, acho que a minha imaginação está pior do que daquele gafanhoto gigante. Quando for visitar meus parentes no interior durante o próximo verão, vou fazer questão de conversar com alguns dos seus primos descansando na varanda, acho que nos daremos muito bem.

“Controle-se!” - Taniguchi ajeitou a sua gola e disse - “Kunikida, você está certo. Ele

enlouqueceu, acho que condição desse cara piorou bastante.” Diga o que você quiser, mas não estou com ânimo para discutir isso agora, porque

tem algo que está me incomodando mais do que os insultos de Taniguchi ou a apatia de Kunikida sobre o assunto.

Essa série de eventos desafortunados era simplesmente demais para minha cabeça.

Se alguém da Escola Ginasial do Leste estivesse mais perto, ou se Taniguchi estivesse em sala, o nome de Haruhi teria sido ouvido muito mais cedo. De quem é a culpa? Pode vir, tenha certeza de que vou arrebentar a cara desse bastardo! Porém, essa rixa pode ser acertada outro dia. Tudo que precisava de respostas já foi perguntado, agora é hora de agir!

“Onde você está indo, Kyon? No banheiro?” Virei-me enquanto disparava para a porta dizendo, “Estou saindo mais cedo hoje.” O mais cedo possível. “E a sua mala?” Só vai me atrapalhar. “Kunikida, se o Okabe perguntar, diga que eu peguei peste bubônica com disenteria,

ou gripe, ou qualquer coisa assim que seja bem grave. E Taniguchi!” Agradeci sinceramente ao meu colega boquiaberto, que me estava me vendo avançar

para fora. “Obrigado!” “Huh? O que...?” A última coisa que vi foi Taniguchi girando seu dedo ao lado da cabeça em círculos,

logo em seguida, disparei pelos corredores, e em menos de um minuto já estava saindo pelos portões.

Era realmente complicado descer uma ladeira em alta velocidade. Acho que por

causa da minha empolgação, acabei correndo com todas as minhas forças, e uns dez minutos depois minhas pernas e pulmões já estavam reclamando do excesso de trabalho, e acho que o meu coração dividia essa opinião. Pensando bem, acho que eu ainda conseguiria chegar se esperasse a terceira aula terminar. Nessa época do ano, a Kouyouen também deveria estar com um calendário reduzido, e provavelmente estaria tudo bem se conseguisse

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chegar antes do sinal deles tocar. Mesmo andando da Escola Secundária do Norte, demorei menos de meia hora para chegar.

Enquanto estive ponderando sobre a deficiência das minhas habilidades de

administração do tempo, já havia cruzado quase todo o caminho e chego à frente dos portões da escola particular ao lado da estação, o ponto de partida da minha longa e obrigatória jornada diária. Estava muito silencioso lá dentro, será que eles ainda estavam em aula? Dei uma olhada no relógio, e pensei que se o horário deles fosse o mesmo que o nosso, eles provavelmente estavam no meio do terceiro horário. Em outras palavras, tinha uma hora inteira antes dos portões se abrirem. Estando nesse frio de mãos vazias, a única coisa que posso fazer é esperar.

“Talvez eu deva invadir...” Bem, se eu fosse Haruhi, não tenha duvida que faria esse tipo de coisa, e acredito

que se sairia muito bem. Infelizmente, não sou detentor desse tipo de confiança, e depois de andar lentamente até o portão virei freneticamente para os lados observando as redondezas. E ali ao lado do portão fechado estava um guarda com um olhar severo, como era de se esperar nesse tipo de escola particular endinheirada.

Na verdade, eu até podia me infiltrar na escola subindo a cerca, mas o problema que

até o chão havia uma distância considerável, sem contar com arame farpado de ponta a ponta. Assim, acho que tenho mais chances se esperar os portões se abrirem. Se eu for pego invadindo, vou ter de voltar para escola, e como já vim tão longe para isso, não tenho a intenção de deixar tudo escapar tão facilmente. Pois afinal de contas, ao contrario de Haruhi, eu sei me controlar quando é necessário.

E assim, esperei por quase 2 horas. O sinal tocou uma última vez, soando como um tipo de memória distante, e assim, os

portões se abriram com uma enxurrada de estudantes escapando como uma inundação que acabara de ser contida.

Taniguchi estava certo, era mesmo uma escola mista. O uniforme das garotas era o

mesmo de sempre, o típico vestido de marinheiro com um casaco preto. Andando lado a lado com elas, estavam os rapazes usando os tradicionais uniformes gakuran[3]. Exatamente o oposto do ambiente especialmente relaxado da Escola Secundária do Norte. A divisão de gênero parecia ser um pouco predominante para as mulheres...

3-[Nota do tradutor: gakuranou tsume-eri são uniformes para muitos meninos do ginasial e dp ensino médio dentro Japão. A cor é normalmente preta, mas algumas escolas usam azul marinho também].

“Como pode ser... esquece.” Havia vários rostos familiares entre os estudantes, eles eram os alunos da sala 1-9,

que eu achei que haviam desaparecido. No final, eles acabaram todos nessa escola. Não sei se posso chamar isso de coincidência, mas não vejo ninguém do meu fundamental. Felizmente, então, nenhuma dessas pessoas iria prestar muita atenção em mim, e no máximo iriam dar uma olhadela rápida antes de se virarem e continuarem caminhando. Nesse momento, eles provavelmente têm um novo conjunto de memórias, possivelmente mais felizes, visto que não precisam subir aquela maldita colina todos os dias.

Continuei a esperar, e as chances de ter acertado na minha suposição estavam em

aproximadamente 50/50. Se ele tivesse se unido a um clube ou algo assim, ou estivesse planejando algo e ficasse na escola, basicamente teria que ficar aqui plantado como um espantalho. Então, por favor, se apresse e apareça logo aqui.

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E o que aconteceria se houvesse outra Brigada SOS na Kouyouen, com membros diferentes da gente participando de todo o tipo de atividades...

Ao pensar nesse tipo de coisa, meus sentimentos ficaram um pouco revoltosos. Por

que, afinal, isso não tornaria Asahina-san, Nagato, Koizumi e eu em elementos dispensáveis? Se fosse o caso, poderia me considerar pior do que um personagem coadjuvante, seria um completo estranho. Não é isso que eu quero! Vou rezar para qualquer um! Seja Jesus, Mohammed, Buda, Mani, Zoroastro, ou até Lovecraft[4]! Se algum deles puder diminuir o meu desconforto, acreditarei em qualquer profecia ou lenda que me contarem. Mesmo se fossem esses profetas do fim do mundo, ficaria contente em seguir qualquer um deles. Agora sei como se sente uma pessoa que se agarra em qualquer pedaço de capim enquanto afunda em um grotesco pântano lamacento.

4-[Nota do tradutor: Jesus, filho de Deus na doutrina cristã; Mohammed, o abençoado, profeta do Islamismo; Buda, seres iluminados que alcançaram realização espiritual; Mani, um profeta iraniano fundador do Maniqueísmo; Zoroastro (ou Zaratrusta), líder religioso que viveu na região onde hoje se localizam o Irã e o Afeganistão; Lovecraft, autor americano de horror, fantasia e ficção científica, especialmente o subgênero de ficção de terror].

Depois de dez minutos sendo consumido por ansiedade e depressão, “... phew,” Suspirei pesadamente, mesmo sem saber o que estava por trás daquele suspiro. Eu

estava suspirando assim por estar tão aliviado? Afinal, ela apareceu. Enterrada em um mar de uniformes escuros, estava um rosto que nunca esqueceria,

nem mesmo no momento da minha morte. Como no momento em que ela se apresentou no primeiro dia de aula, deixando todos

sem fôlego, seus cabelos compridos ondulavam ao lado da cintura. Eu mesmo fiquei sem reação por alguns segundos, até começar a contar nos dedos para descobrir o dia da semana. Para a minha decepção não era o dia de deixar os cabelos soltos, acho que Haruhi não estava tão interessada em ficar brincando com o seu cabelo.

Mesmo descontentes comigo no caminho, os estudantes da Kouyouen desviavam

pela minha esquerda e direita, não tenho idéia do que eles pensavam sobre o sujeito parado como um idiota em frente ao portão da escola deles, mas que façam o que quiser, não tenho tempo para me preocupar com o que os outros acham ou deixam de achar de mim.

Fiquei ali imóvel, com o olhar fixo na garota de uniforme que se aproximava

lentamente. Suzumiya Haruhi. Eu finalmente te encontrei. Sorri involuntariamente, porque não foi apenas Haruhi que eu encontrei. Andando e conversando ao lado de Haruhi estava esse rapaz de uniforme,

carregando um sorriso que não suportaria ver em outra pessoa além de Koizumi Itsuki. Essa foi uma adição surpreendente.

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Quer dizer que esses dois ficaram tão próximos que estão voltando da escola juntos

todos os dias? Mesmo assim Haruhi não parece estar muito feliz, sua expressão era uma lembrança vivida daquela que estampava no rosto durante os primeiros dias de aula. Ela dava uma resposta rápida e logo voltava o seu olhar irritado para frente.

Era a mesma Haruhi de antes. Antes de pensar em criar a Brigada SOS, ela sempre

rodeava e escola com essa expressão severa de um mestre em artes marciais em busca de um oponente digno para mostrar suas habilidades. Essa expressão me trazia um senso de

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nostalgia. Era a Haruhi sempre chateada com a mediocridade da vida cotidiana, e buscando arduamente todos os dias algo excitante para ser feito, sem perceber que ela poderia materializar tudo que desejasse.

De todo modo, as lembranças podem esperar. Os dois não pareciam notar a minha

presença enquanto se aproximavam lentamente. Isso pode soar um pouco patético, mas não conseguia controlar o meu coração. Se

fosse ver um médico agora, esse ritmo compassado seria alto o suficiente para fazê-lo tirar o estetoscópio de mim imediatamente. O clima estava simplesmente gélido e, mesmo assim, eu estava suando. Minha única esperança é que as minhas pernas bambas sejam só uma mera manifestação da minha imaginação, não quero acreditar que sou tão covarde assim.

.... ali estavam eles. Haruhi e Koizumi chegaram perto de mim. “Ei!” Já foi um grande esforço fazer a minha voz sair. Haruhi levantou a cabeça e trocou olhares comigo. Suas pernas cobertas por meias escuras pararam relutantemente. “O que foi?” Seu olhar era frio como uma geladeira. Ela analisou todo o meu corpo com aqueles

olhos antes de virar para o outro lado. “O que você quer comigo? Não, melhor dizendo, quem é você? Não sou o tipo de

pessoa que deixa qualquer um me parar na rua dizendo ‘Ei!’ para mim. Se você está me cantando pode procurar outra, não tenho interesse nesse tipo de atividades.”

Eu já estava mentalmente preparado para esse tipo de coisa, então não posso dizer

que fiquei realmente chocado. Como já era esperado, essa Haruhi não me conhecia. Koizumi parou e me olhou de maneira igualmente fria. Devido a essa expressão, não

achei nem que ele está me vendo, quanto mais me reconhecendo. Virei-me e falei com Koizumi. “Essa é a primeira vez que nos vemos?” Ele deu de ombros e respondeu, “Acredito que sim. E se não o incomoda responder, quem você é?” “Você é um estudante que foi transferido para essa escola?” “Sim, eu fui transferido durante a primavera... e como você tem esse tipo de

informação?” “Você sabe, por acaso sabe, algo sobre um grupo que se autodenomina ‘A

Organização’?” “’A Organização’? O que você está implicando com isso?” Aquele sorriso inofensivo era uma marca registrada de Koizumi. Porém, seus olhos

deixavam transparecer um senso de alerta afiado. Como Asahina-san, era óbvio que esse cara não me conhecia.

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“Haruhi,” O seu rosto se contorceu enquanto ela me encarava com seus grandes olhos

escuros. “E quem te deu a permissão de me chamar pelo nome? Quem diabos é você!? Não

me lembro de ter pedido a companhia de pervertidos e malucos. Cai fora, você está no meu caminho.”

“Suzumiya,” “Você também não está autorizado a me chamar pelo sobrenome. E como você sabe

dele, afinal? Você era da Escola Ginasial do Leste? Você deve ser do Escola Secundária do Norte, posso dizer pelo uniforme. O que alguém como você está fazendo aqui?”

Haruhi grunhiu e me deu as costas. “Ignore-o, Koizumi-kun. Apenas finja que ele nunca existiu. Não vamos perder tempo

com esse sujeito sem educação, é só um idiota, afinal de contas. Vamos!” Por que Haruhi estava voltando para casa com Koizumi depois da aula? Será que ele

tomou o meu papel nesse mundo? Esse pensamento vagou por alguns instantes pela minha cabeça, mas francamente, não estava pensando tanto nisso naquele momento.

“Espere!” Agarrei o ombro de Haruhi enquanto ela se virava para me evitar. “Deixe-me ir embora!” Ela virou o seu braço, tirando a minha mão de perto. Neste momento seu rosto estava

cheio de raiva, mas aquele nível de fúria não seria o suficiente para me fazer desistir, afinal, se eu deixar que ela ir embora, essas horas paradas aqui terão sido inúteis.

“Você é muito irritante!” Haruhi se curvou elegantemente me dando um chute baixo. Uma forte dor emanava da minha canela, tão grande que eu senti minha respiração

falhar, apesar disso, não havia me derrubado. Depois de recuperar o meu equilíbrio, disse desconsolado.

“Só me diga uma única coisa.” Era a minha última grama de coragem. Se isso não funcionasse, então não teria mais

idéias para recorrer. Aquela pergunta que fiz – era a minha última esperança. “Você se lembra do festival de Tanabata de três anos atrás?” Justamente quando ela estava se afastando, Haruhi novamente parou. Olhando para

aqueles seus cabelos longos, eu continuei. “Naquele dia, você entrou na escola e desenhou figuras no campo da escola com giz

branco.” “E o que tem isso?” Ela se voltou para mim com um olhar furioso. “Todos sabem disso! Por que você esta mencionando uma coisa dessas?”

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Escolhi as minhas palavras com cuidado, para terminar o quanto antes a minha

sentença; “Você não estava sozinha aquele dia. Tinha outro rapaz que carregava Asahina...

uma garota pequena. Ele estava com você quando você desenhou aqueles padrões. E aqueles desenhos, que era uma mensagem para Orihime e Hikikoboshi, significavam algo mais ou menos como; ‘eu estou aqui’...”

Não fui capaz de terminar a minha frase. Haruhi agarrou o meu colarinho com sua mão direita me arrastando para perto dela.

Ao ser puxado por essa força monstruosa, involuntariamente cai para frente, batendo a minha testa na cabeça de Haruhi, que era dura como uma pedra.

“Ai!” Olhei para ela em protesto, seus olhos responderam com ferocidade. Era uma visão

nostálgica, na verdade essa expressão exasperada de Haruhi era algo que não via faz muito tempo.

A garota me olhou com uma expressão de perplexidade, com as veias prestes a

explodir, me perguntando, “Como você sabe disso!? Que te contou!? Eu nunca falei disso para ninguém.

Naquela vez...” Haruhi parou subitamente, sua atitude mudou dramaticamente quando percebeu o

meu uniforme. “Escola Secundária do Norte... não pode ser...!? Qual é o seu nome?” Respirava com dificuldade, já que a minha gravata estava sendo arrancada por

aquela garota selvagem. Não sei se é a melhor hora para recordar de todas estas manifestações absurdas de força que Haruhi já me deu. Meu nome? Será que eu devia dizer o meu verdadeiro nome, que provavelmente ela nunca ouviu, ou aquele apelido estúpido com que está acostumada?

Não, não faz diferença, isso não faria efeito sobre essa garota enraivecida na minha

frente. Não sei se ela já escutou algum desses nomes. Nesse caso, só tem um nome que eu posso usar,

“John Smith.” Tentei falar isso com calma, mas é complicado fazer esse tipo de coisa quando você

está sendo levantado pelo pescoço. Você não consegue ver que eu estou sufocando... justo quando eu estava pensando nisso, todo o peso no meu peito desapareceu.

“... John Smith?” Haruhi me soltou de uma só vez, me observando com um olhar desnorteado

enquanto balançava as mãos pelo ar. Acho que é muito raro ver alguém como ela assim. Suzumiya Haruhi parecia ter sido drenada de sua alma, com suas mãos e boca abertas escancaradamente.

“Então é você... você é John Smith? O estranho colegial que me ajudou... quando eu

estudava na Escola Ginasial do Leste...” Haruhi tropeçou subitamente. Seus cabelos longos cobriam seus olhos, e quando ela

estava prestes a cair, Koizumi a segurou.

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O elo estava conectado. Como assim eu “ajudei você!?” Você me obrigou a fazer praticamente tudo... mas não

vou perder o meu tempo reclamando disso. Bem, é isso, pelo menos eu achei alguma pista! Nesse mundo completamente alterado, fico feliz de ter encontrado alguém, uma única pessoa que seja, que compartilha a mesma memória que eu.

Então é você. E esta pessoa não é ninguém menos que Suzumiya Haruhi. Se esta Haruhi tinha me encontrado três anos atrás no Tanabata, então acho que

podemos traçar os acontecimentos daquele momento em diante. Nem tudo “desapareceu sem deixar rastros”. A parte da história em que voltei três anos no passado com Asahina-san e retornei ao presente com a ajuda de Nagato existe, de algum modo. Mas não se o que mudou no meio do caminho, afinal, três anos atrás esse mundo era o mesmo que eu conhecia.

O que deu errado? Por que eu era o único com as memórias originais? Acho que vou me questionar sobre isso mais tarde. Olhei para Haruhi, boquiaberta como se presenciasse uma das sete maravilhas do

mundo, e disse, “Eu vou explicar tudo. Você tem tempo? Porque essa é uma longa história...” Nós três andávamos lado a lado, enquanto Haruhi falava, “Eu me encontrei com John Smith duas vezes. A outra foi logo em seguida, quando

voltava para casa. Eu ouvi alguém gritar atrás de mim, o que era mesmo... ah, sim! Algo como, ‘Lembre-se de John Smith, que vai abalar o mundo!’ O que isso quer dizer, afinal?”

Nunca disse algo assim. Após ter certeza que Haruhi tinha se afastado, acordei

Asahina-san e fui correndo em direção ao apartamento de Nagato. Será que existe algum outro John Smith? E o que diabos ele estava dizendo com aquilo?

Parecia que eu estava fazendo uma charada para Haruhi. “Era o mesmo John que você viu na escola?” “Ele estava longe, e estava escuro àquela hora. Não me lembro de nenhum dos

rostos. Mas acho que a voz soava um pouco como a sua, e ele estava usando o uniforme da Escola Secundária do Norte.”

As coisas ficavam mais complicadas a cada instante. Justamente quando eu pensei

que tinha juntado as peças desse quebra-cabeça, os detalhes parecem não querer se encaixar.

Procurei por um café ali perto e entrei. Preferia ir para o lugar de sempre, aquele que

usamos para as reuniões da Brigada SOS, afinal isso já havia se tornado uma reunião dos membros da Brigada SOS. Mas desisti da idéia por estarmos um pouco longe demais do nosso destino.

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“A outra você que eu conhecia estudava na Escola Secundária do Norte, e disse algo assim no primeiro dia de aula...”

Comecei a contar a minha história sem ao menos esperar pelos pedidos, a ponto de

ter dado um compacto panorama da situação presente, antes mesmo do café com leite ter esfriado o suficiente para que pudéssemos o beber em um só gole, sem omitir nenhum detalhe. Coisas sobre uma alienígena, uma viajante do tempo e um esper juntos na Brigada SOS, e sobre a nossa sala no Clube de Literatura.

Dei especial atenção para os detalhes da minha aventura temporal durante o

Tanabata, como achei que essa seria a parte mais relevante para ela. Dei uma figura geral da situação em que ela se encontrava, podendo ser um deus,

uma distorção temporal e a chave para a evolução, mesmo que nenhuma destas teorias tenha sido confirmada. Disse a ela que tinha um poder oculto incrível, e que não era certo como e quanto esse poder desconhecido poderia alterar a realidade.

Apenas isso era o suficiente para deixá-la interessada. A ponto de ver constantes

pausas para a reflexão por parte dela, até que Haruhi falou, “Como você conseguiu ler a língua alienígena que eu inventei? É verdade que

aqueles símbolos significavam ‘estou aqui, venham me procurar’?” “Alguém traduziu para mim.” “Você fala da alienígena?” “Para ser preciso, uma interface humanóide criada por alienígenas com o intuito de

interagir com dos seres humanos; pelo menos é como ela descreve.” Contei tudo sobre Nagato Yuki. Que, a primeira vista, parecia um presente extra do

Clube de Literatura para a Brigada, mas que na verdade ela apenas parecia com uma tímida e inexpressiva leitora compulsiva. Falei sobre Asahina-san, nossa mascote e cosplayer por coação, assim como nossa oficial de relações publicas e exclusiva preparadora de chás da Brigada, que na verdade era uma viajante do tempo vinda do futuro. Foi com ela que voltei para o Tanabata de três anos atrás, e graças a esta primeira que consegui voltar.

“Quer dizer que aquele John era mesmo você, não é? Vou acreditar nisso tudo, afinal,

não vai fazer nenhum mal. Quer dizer que você viajou no tempo naquele dia...” Haruhi me olhou com olhos acostumados a analisar viajantes do tempo e concordou

com a cabeça. Você não está confiando demais nas pessoas? Não sabia que você acreditaria em

mim tão facilmente. Na vez em que saímos pela cidade atrás de coisas misteriosas, você tratou essa mesma história como uma piada.

“A outra eu é uma idiota, acredito em você.” Ela se inclinou para frente e acrescentou: “Porque acreditar é muito mais divertido!” Eu conhecia aquele sorriso, brilhante como uma centena de flores florescendo. Era

um sorriso assim que vi estampado no rosto de Haruhi na primeira vez que ela sorriu. Aquele sorriso de um milhão de watts que ela deu quando pensou na Brigada SOS durante aquela fatídica aula de Inglês.

“Depois daquele dia, fui investigar todos da Escola Secundária do Norte. Até mesmo

cheguei a me infiltrar lá por um tempo, mas não vi ninguém que se parecesse com John.

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Fiquei com raiva de mim mesma por não lembrar do rosto dele adequadamente. Mas agora tudo faz sentido, afinal, você não freqüentava aquela escola três anos atrás...”

Havia duas versões de mim naquele momento, uma era um despreocupado

estudante do fundamental e a outra estava congelada no tempo junto de Asahina-san naquele quarto de visita.

Acho que também posso falar algo sobre o garoto maravilha aqui. “No meu mundo, Koizumi é um esper. Você já me ajudou bastante, mas também

causou uma tonelada de problemas.” “Se isso é verdade, é uma coisa bastante incrível.” Bebendo seu chá elegantemente, Koizumi falava com um olhar suspeito. Virei-me novamente para Haruhi. “Por que você não veio para a Escola Secundária do Norte?” “Nenhum motivo em particular. Só me interessei pela sua escola por causa do

incidente do Tanabata. Na época que estava entrando no colegial, John já deveria estar formado, sem mencionar que não havia encontrado com ele antes. Alem do mais, a Kouyouen tem uma taxa de aprovação maior nas universidades, e meu professor orientador ficou me pressionando para entrar lá, tanto que acabei simplesmente seguindo a maré só para calar a boca dele. Na verdade, acho que o colegial que eu vou não faz a mínima diferença.”

Decidi perguntar isso para Koizumi também, “E você, por que foi transferido para lá?” “Se você me perguntar, bem, minha resposta não é muito diferente da de Suzumiya-

san. Eu simplesmente fui para onde minhas capacidades acadêmicas me levaram. Não que esteja falando que a Escola Secundária do Norte é ruim, mas convenhamos que a Kouyouen é muito melhor nos termos de infra-estrutura.”

Infelizmente, essa é a verdade. Nossa escola não tem nem ar condicionado. Haruhi suspirou e disse, “Brigada SOS, heim...? Parece divertido.” Graças a você. “Se o que você disse é verdade,” Koizumi era quem se intrometia, ele havia diminuído aquele sorriso contestador, e

falava com um olhar entretido, “Julgando pela sua história, existem duas possibilidades,” Isso é exatamente algo que Koizumi poderia dizer. “A primeira é que você entrou em um universo paralelo, em que você foi jogado do

seu mundo para este; a segunda é que o mundo todo mudou, com exceção de você.” Já havia pensado nisso.

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“Mesmo assim, existem questões pendentes. Se é a primeira possibilidade, onde a sua contraparte desse mundo foi parar? Se é a segunda, o intrigante é o fato de que você é o único que não foi alterado. A não ser, é claro, que você possua algum poder incrível, o que explicaria tudo.”

Não tenho, e isso eu posso garantir. Koizumi deu de ombros graciosamente, em uma perfeita exposição da sua irritante

marca registrada, e continuou, “Se você entrou em um universo paralelo, então você deve encontrar um meio de

retornar de onde veio. Se este mundo foi mudado, então devemos encontrar um modo de restaurá-lo a forma original. Independentemente da possibilidade, para resolvermos isso, temos que encontrar o responsável por estes fatos, afinal, é possível que só o culpado saiba como fazer tudo voltar ao normal.”

Quem poderia ser se não Haruhi? “Quem sabe? Talvez algum invasor de outra dimensão se usando da terra para os

seus joguinhos. Talvez uma mente maligna que vai aparecer futuramente.” Posso afirmar que ele estava inventando isso na hora, afinal, era obvio que o tom de

Koizumi era de chacota. Mesmo assim, Haruhi não percebeu nada, e seus olhos até brilhavam enquanto ouvia.

“Quero conhecer essas tais de Nagato-san e Asahina-san. E é claro, também quero

dar uma olhada nessa sala do clube. Se fui eu que mudei o mundo, talvez possa me lembrar de algo quando nos encontrarmos. Você não concorda, John?”

Claro, não vejo motivos para uma objeção. Se essa garota está por trás de tudo –

pelo menos é o que eu acho – então podemos ativar alguma coisa com ela, e quem sabe até mesmo Nagato e Asahina-san podem se lembrar de mim. Uma vez que a alienígena e a viajante do tempo voltem ao normal, então tudo pode ser resolvido mais facilmente. Espera ai, ela me chamou de John?

“Você falou que chamam você de Kyon, certo? John soa melhor, soa mais como o

nome de uma pessoa, sem mencionar que é um nome ocidental bastante comum. Quem te deu esse apelido estúpido afinal? Não parece ser de alguém que te respeita muito.”

Foi a minha tia que me deu o apelido, e minha irmãzinha foi a responsável pela

disseminação massiva. Posso até dizer que me sinto satisfeito com Suzumiya reclamando dele. Imagino por que, pois não faz muito tempo que eu ouvi esse apelido.

“Bem, vamos lá” Acho que não faz mal perguntar. “Agora, para onde?” Haruhi já se levantou e gritou orgulhosa para mim: “Para a Escola Secundária do Norte, é claro!” Em um piscar de olhos, Haruhi, que não podia nem esperar pela abertura da porta

automática, correu para fora da cafeteria. Fiquei aliviado em ver Haruhi fazendo essas coisas com as quais estava acostumado. Haruhi, você com certeza é uma pessoa notável. Uma vez pensa em algo para fazer,

em menos de dois segundos já se põe em ação. Definitivamente, algo que só você faz. Toda

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vez que você entra chutando a porta da sala de modo incontrolável, posso ter certeza que temos uma idéia incrível para ser anunciada. Nagato é a única de nós que ficaria calma...

“Droga!” Olhei para o meu relógio. Já havia passado da última aula. Esqueci-me

completamente da promessa que fiz a Nagato em seu apartamento ontem. Disse que iria ao clube no dia seguinte, e mesmo assim consigo me atrasar. A imagem de Nagato deprimida enquanto desesperadamente esperava alguém bater na porta flutuou em minha mente. Por favor, espere só um pouco, já estou chegando.

Koizumi pegou a conta que Haruhi deixou para trás e disse, “Então, sou eu que vou pagar a conta de Suzumiya-san?” Se pagar a minha também, posso contar ainda mais. “Então sou todo ouvidos.” Simplesmente arremessei tudo que este garoto esper me disse de volta para ele.

Coisas como o principio antrópico, ou como Haruhi era um deus, assim como o fato de nos forçar a andar longas distâncias e encenar um assassinato em uma ilha deserta apenas para deixar Haruhi entretida.

Vendo Koizumi pensando profundamente, perguntei: “Você acha que o culpado disso tudo é Haruhi, ou outra pessoa? Qual será a

alternativa mais correta?” “Se a Suzumiya-san que você menciona é realmente onipotente, então é possível que

isso seja obra dela. Não estou certo?” Bem, não consigo pensar em mais ninguém assim. Mas se esse é o caso, quer dizer

que Haruhi manteve Koizumi ao seu lado enquanto Nagato, Asahina-san e eu fomos completamente descartados. Não quero que pareça que estou reclamando, mas simplesmente não acredito que Haruhi esteja mais interessada em Koizumi do que em qualquer um de nós. Será que seria mais uma manifestação dos poderes vindos do inconsciente oculto de Haruhi?

“Acho, então, que deveria me sentir honrado por ter sido escolhido por Suzumiya-

san.” Koizumi riu e continuou “Afinal, eu... bem, eu gosto de Suzumiya-san” “... isso é sério!?” Só pode ser uma brincadeira. “Eu a acho uma pessoa bastante cativante,” Onde é que eu ouvi isso antes? Koizumi começou a usar um tom sério “Porém, acredito que Suzumiya-san está interessada apenas em meus atributos

superficiais. Ela disse que só falou comigo porque eu era um estudante transferido. E como você pode imaginar, como sou uma pessoa completamente normal, ela parece ter se cansado rapidamente desta história. Se esta Brigada SOS que você menciona existe, que tipo de atributo especial o qualifica estar lá? Se você não tem nenhum, quer dizer que

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Suzumiya-san tem muito apreço por você, isso é, se a Suzumiya-san que você conhece pensa como essa daqui.”

Não importa, não me lembro de ter colocado no meu currículo qualquer habilidade

que me mandaria direto para um manicômio, além da inútil capacidade de me ver sempre envolvido com esse tipo de evento misterioso.

Haruhi colocou a cabeça para dentro da porta, gritando conosco com um sorriso

brilhante estampado no rosto. “Por que vocês dois ainda estão ai? Se apressem um pouco!” Enquanto Koizumi esperava no balcão pelo troco da garçonete, dei o meu primeiro

passo do aquecido estabelecimento para o exterior gelado, onde qualquer respiração se tornava visível.

Um táxi nos esperava na entrada. Parece-me que Haruhi havia o chamado.

Aparentemente, ela queria chegar à escola o quanto antes. Só para constar, esse não é um daqueles misteriosos táxis pretos que Koizumi e eu ocasionalmente tomamos, apenas um normal e comum táxi amarelo.

“Para a Escola Secundária do Norte, toda velocidade à frente!” Haruhi assim ordenou ao motorista ao pular no carro. Eu e Koizumi a seguimos no

banco de trás. O senhor de meia idade que dirigia não pareceu incomodado ao receber esse tipo de ordem de uma estudante, ao invés disso apenas riu da situação e botou o pé no acelerador.

“Não me importo se você invadir a escola ou algo assim,” - comecei a falar ao lado de

Haruhi - “mas o seu uniforme se destaca demais. Estudantes de outras escolas precisam ter motivos para entrar, caso contrário, isso só vai gerar problemas se formos pegos pelos professores.”

Haruhi ostentava seu cardigã preto, e Koizumi permanecia com o seu gakuran.

Mesmo que não houvesse muitos estudantes durante o período da tarde, era loucura entrar em um território tão hostil vestidos daquela maneira. Em um lugar onde todos vestiam blazers azuis e uniformes de marinheiro, andar assim era declarar explicitamente que você era de outra escola.

“Bem, é verdade...” Haruhi pensou durante três segundos, e então disse, “John, vocês não tiveram Educação Física hoje? Bem, acho que nem importa se

vocês tiveram. Afinal, suponho que os uniformes estão dentro da sua sala, não?” Bem, jogamos futebol durante a aula de Educação Física no primeiro período. “Então posso concluir que você tem seu uniforme de Educação Física e o agasalho

para corrida?” Sim, mas por que você esta me pedindo isso? Haruhi sorriu enigmaticamente. “Vou contar o meu plano para esta missão. John, Koizumi-kun, emprestem-me os

seus ouvidos.”

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Será que era um pouco desagradável ter o motorista ouvindo tudo? Mesmo assim, obedientemente nos curvamos em direção a Haruhi e ouvimos silenciosamente todo o briefing da nossa missão.

“Realmente é algo digno de você.” Respondi, enquanto observava Koizumi, que parecia confuso com um sorriso

estranho estampado no rosto. Sai do táxi antes de todos, já próximo ao campus da escola, indo de volta a sala para

abrir terreno para a infiltração que Haruhi planejara. Devo esclarecer que o táxi foi pago por Koizumi. Acredito que, neste mundo, o

Koizumi não passa de uma carteira ambulante para Haruhi. Não sei o que este pobre rapaz fez para merecer isso. Será que ele tinha, realmente, sentimentos românticos em relação a Haruhi? Tive vontade de perguntar o que ele gostava em Haruhi, afinal. Lembro-me daquela vez em que Taniguchi disse que, apesar da excentricidade, Haruhi era bastante popular com os garotos na escola. Não me surpreende pensar que, se ela não tivesse criado a Brigada SOS, Haruhi passaria o seu tempo dispensando cada sujeito que viesse indiscriminadamente atrás dela. Será que isso significa que a Brigada SOS não é nada menos do que o santuário de Haruhi? Pois, ao se tornar a líder absoluta de tal clube misterioso, todo rapaz com o mínimo de bom senso iria evita-la como um batedor desviando de um arremesso forte demais? Ao invés de tentar rebater três arremessos correndo o risco de levar uma forte pancada na cabeça, a maioria das pessoas prefere desviar da bola enquanto facilmente caminham em direção a primeira base.

Era no que eu estava pensando enquanto me dirigia ao terceiro andar. Não havia muita gente na escola, mas também não posso dizer que ela estava vazia.

Muitos estudantes que ficaram pelos clubes, ou por não ter nada melhor para fazer em casa, se reuniam aqui. Felizmente, a sala 1-5 estava vazia. Tive medo de ser pego pelo professor Okabe. Se fosse ele, com certeza iria querer saber porque alguém que matou metade das aulas estava de volta a escola.

Aparentemente, alguém decidiu limpar a sala, afinal, minha mesa estava brilhando.

Suponho que tenha sido Asakura. Estava pensando onde, então, minhas coisas haviam ido parar, mas felizmente descobri que estavam apenas colocadas ao lado da mesa. Minha bolsa estava pendurada de um lado da carteira, enquanto os sapatos de couro que eu estava procurando balançavam do outro lado.

“Ela pensou em tudo.” Suspirei ao pensar na meticulosidade do plano de Haruhi, enquanto pegava a sacola

com o meu uniforme de educação física. Dentro daquela bolsa esportiva estava uma camiseta curta, um par de bermudas, uma jaqueta e calças de agasalho, todos já usados no primeiro horário. O plano de infiltração que Haruhi havia bolado não era nada alem de “se disfarçar de estudantes da Escola Secundária do Norte.” “Koizumi-kun usa o seu uniforme, e eu fico com o agasalho. Então corremos portão adentro, e eles vão pensar que somos de algum Clube de Atletismo terminando uma caminhada. Esse plano é simplesmente perfeito.”

Em outras palavras, como insetos, aprenderíamos a nos camuflar. Pelo menos era

melhor do que roubar a roupa de um pobre coitado que estivesse indo para casa naquele horário.

“Bem, não acho que isso seria uma má idéia.” Haruhi disse isso sem o mínimo de vergonha, encostada em uma esquina um pouco

longe da escola, enquanto esperava a minha chegada.

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“Realmente, seria menos suspeito se nos vestíssemos como você. Por que não me

contou dessa idéia antes?” Isso seria um assalto! Você espera que eu faça algo assim? Haruhi desamarrou as cordas que prendiam a sacola e impiedosamente a virou de

cabeça para baixo, esvaziando seu conteúdo. Como resultado, as quatro peças de roupa agora repousavam no concreto sólido.

“Você lavou isso?” Há uma semana atrás, talvez. “Desculpe-me, Suzumiya-san,” Koizumi olhou para o meu uniforme enlameado, como um rato do deserto encarando

um tigre mongol em algum beco sem saída, e disse: “Aonde vamos nos trocar? Existe algum lugar escondido por perto?” “Podemos nos vestir aqui mesmo.” Haruhi respondeu rápido, e pegou as calças do chão. “Não tem muitas pessoas por aqui, e o frio não é tão ruim se você conseguir se vestir

logo. Não se preocupe, nós ficamos de costas. John, se vire também, vamos dar cobertura para ele.”

A garota rapidamente olhou para mim. O que isso significava? “Não importo que me olhem.” Ela sorriu de maneira travessa, colocando as calças embaixo da saia. “Não imaginava que você tinha pernas tão compridas.” Haruhi se abaixou para dobrar a barra do longo agasalho, depois de ajustar a altura,

se levantou e soltou a saia, que simplesmente deslizou pela sua cintura. Então começou a desabotoar o blazer. Minha reação foi imediata, me virando para o lado rapidamente.

“Não importa. Estou com uma camiseta por baixo.” As peças de roupa começaram a se empilhar no chão. Então, finalmente voltei meu

olhar para ela. Usando uma camiseta branca simples e um agasalho, Haruhi estava orgulhosamente parada ali, com o seu longo cabelo ao vento. Enquanto a olhava, subitamente senti a necessidade de ver uma coisa novamente.

“Ei, você pode amarrar um rabo de cavalo?” Haruhi olhou de volta para mim, “Por quê?” Nenhum motivo em particular, é mais uma preferência pessoal. Ela deu um riso irônico. “Fazer um rabo de cavalo pode parecer uma tarefa simples, mas fazer um bom

penteado é mais complicado do que parece!”

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Apesar disso, Haruhi abaixou-se e pegou um elástico do bolso do casaco e

elegantemente ajeitou seu longo e escuro cabelo em um rabo de cavalo. “Na verdade, não ficou tão ruim assim. Até pareço mais com alguém do Clube de

Atletismo. Você acha que ficou bom?” Maravilhoso. Para mim, o seu charme aumentou em, pelo menos, 36%

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“Imbecil.” Pensei como iria reagir, mas percebi que ela estava apenas fingindo estar brava.

Deveria saber muito bem disso. Mesmo tendo demorado um pouco mais, Koizumi terminou de se trocar. Deve ser

difícil para ele usar uma roupa curta em um clima tão gélido. Sem mencionar que ele está vestindo as roupas de outra pessoa, então suponho que deve ser uma sensação peculiar. Tremendo com o frio, Koizumi perguntou,

“Suzumiya-san, se você não for usar o seu agasalho, poderia me emprestar? Estou

congelando.” Haruhi também estava de mangas curtas, mas nos deu um sorriso que facilmente

poderia repelir todo o calor da terra, respondendo: “Não posso. Preciso dela para esconder a minha mochila. Se viemos tão longe

vestindo isso, não vou deixar que uma bolsa estrague o meu disfarce.” Realmente, as mochilas de nossas escolas são levemente diferentes em seu design

exterior. Haruhi abriu o casaco do agasalho como um papel de presente, e o embrulhou sobre as mochilas dela e de Koizumi, mandando eu carrega-las. Então, colocou todas as suas coisas dentro da minha mochila e me pediu para carregar ainda mais peso.

“Então.” Haruhi colocou os braços na cintura e prosseguiu o seu discurso. “Agora estamos parecendo alunos que acabaram de voltar de um treino. Nada mal,

não é?” Com certeza você está bem, mas e eu? Você não acha estranho um membro do

Clube de Atletismo carregando um monte de coisas enquanto treina com uma roupa completamente não apropriada?

“Bem, você pode fingir que é o gerente do clube, então vamos! Um, dois, lutar! Um,

dois, lutar!” A garota de rabo de cavalo saiu correndo em disparada, enquanto eu trocava olhares

com Koizumi. Acho que não tínhamos alternativa se não dar de ombros e a seguir. A questão é que ambos sabíamos quão tremendamente difícil era impedir Haruhi de

sair correndo por ai, independente das circunstâncias. Então, não podíamos fazer nada além de ir atrás dela.

Sempre foi assim, não? Não sei se isso era uma coisa boa ou ruim, mas ao contrario da Kouyouen, os

portões da Escola Secundária do Norte estavam sempre abertos. E não havia nenhum sinal de vigilância. Tudo estava indo de acordo com o plano. A corrida de Haruhi, que berrava arbitrariamente seus gritos de guerra, chegou ao seu fim quando aterrissamos com segurança em nosso destino, o hall de entrada. Nunca pensei que seria tão complicado trazer esses dois para cá, tomando em conta que até semana passada eles estavam entrando e saindo naturalmente.

“Que prédio velho! Essas paredes são pré-fabricadas? Todas as escolas municipais

são assim, tão pobres? Estava certa em não me inscrever para cá.”

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Ouvi aquele relato tão preciso enquanto me movia para os armários de sapatos. Já tinha colocado os meus calçados para andar na escola, quando pensei onde estariam os chinelos para as visitas. Haruhi, como esperado, não levou em consideração estes meus pensamentos, e abriu o armário mais próximo e surrupiou os calçados de algum estudante aleatório.

Era uma atitude muito Haruhi por parte dela. Instintivamente dei um sorriso contido. “Está rindo do quê? Você parece um idiota, não é como se eu estivesse fazendo nada

de engraçado.” Bem, ela está certa, tirei o sorriso da cara. Pois não importa que crime ela esteja

cometendo, não é hora de dar risadas. Pensei com os meus botões que o pé de Taniguchi era provavelmente do mesmo

tamanho do que de Koizumi, então fui atrás de seu armário e entreguei seus sapatos a ele. “Desculpe-me por isso.” Com um tom de quem não parecia nem um pouco arrependido, Koizumi me

agradeceu polidamente e colocou os sapatos, enquanto eu colocava os dele no armário de Taniguchi.

Peguei novamente as malas, que estavam enroladas sob a jaqueta, e as coloquei

devidamente embaixo dos braços. “Eu mostro o caminho, me sigam.” “Espera!” Quando eu ia me afastar, Haruhi me parou. Ela inconscientemente enrolou os

cabelos do rabo de cavalo com os dedos, e disse, “A alienígena... Nagato-san, ela está no Clube de Literatura, não é verdade?” Para ser preciso, a atual Nagato é só uma tímida colegial que anteriormente foi uma

alienígena. E suspeito que ela esteja me esperando até agora. “Acho que ela não vai sair de lá. Vamos até a viajante do tempo primeiro. Asahina-

san. Onde ela está?” Provavelmente em casa - pensei... mas outro pensamento subitamente correu pela

minha mente. Meus instintos não eram apenas para exibir, não preciso nem esforçar a minha memória para saber, com certeza, que esta Asahina-san que não me conhece está agora carregando aparatos de caligrafia com ela. Antes de ser arrastada para a Brigada SOS, era o que ela fazia. Então, isso significa que ela deve estar na escola neste exato momento.

“Então, venham por aqui.” Desculpe-me Nagato. Por favor, espere mais um pouco. Tenho que procurar a

Asahina-san antes de te encontrar. Rezando silenciosamente para que eu estivesse certo sobre o Clube de Caligrafia, instintivamente apressei meus passos.

Quem abriu a porta da sala, obviamente, foi Haruhi. Aquela garota não tinha o mínimo

conceito de etiqueta ao entrar sem bater, em qualquer lugar a que fosse. Apesar disso, não estava no clima para dar sermão sobre essas pequenas coisas. Enquanto isso, Koizumi esperava desconfortável no corredor.

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Havia três garotas na sala do clube; elas pareciam estar praticando caligrafia para as gratificações de ano novo.

“Qual de vocês é a Asahina-san?” “... como posso ajudar?” A menor das três garotas arregalou os olhos e disse com uma voz tímida que

escapava por seus lábios vermelhos. “O que foi...” Asahina-san estava sentada elegantemente na cadeira, com o pincel em pleno ar. Inclinei-me sobre o ombro de Haruhi, e inspecionei a sala. Tsuruya-san não estava

ali. Suspirei aliviado, enquanto me lembrava que ela não estava neste clube. Haruhi cochichou no meu ouvido. “É ela, não é? Sério, que esta menina é do segundo ano? Parece mais com uma

garotinha do fundamental.” “Também tenho esta impressão. Mas você está certa, ela é a Asahina-san.” Após ouvir isso, Haruhi avançou em passos largos em direção a aquele pequeno anjo

que estava paralisado com o pincel em mãos. “Sou Suzumiya, da Divisão de Informação do Conselho Estudantil. Asahina-san, eu

vim até você porque tenho algumas perguntas que precisam ser feitas. Tem um momento livre?”

Você deveria planejar melhor as suas mentiras, especialmente quando está usando

uma roupa esportiva dessas! Asahina-san piscou continuamente em um estado de profunda confusão, falando

nervosamente. “Divisão de Informação... Conselho Estudantil? O que... mas eu não sei de nada,” “Não importa, apenas venha comigo!” Haruhi surrupiou o seu pincel e o jogou para longe, agarrando fortemente o braço de

Asahina-san e a levantando a força. Os outros membros estavam tão confusos e aterrorizados com a situação que não conseguiram esboçar qualquer reação. Se Tsuruya-san estivesse aqui, talvez eu fosse testemunha de uma interessante e épica batalha entre ela e Haruhi. Mas nessa situação, Haruhi apenas colocou os seus braços ao redor da cintura de Asahina-san e a levou embora sem dar explicações.

“Seus peitos... eles são enormes. Hmm, você é realmente uma pessoa única. Gostei

disso!” Haruhi dizia isso alegremente enquanto apertava os seios de uma veterana de outra

escola. “Kyaa! Wah! O... o quee... ehh!?” Percebendo que eu estava parado ao lado da porta, Asahina-san arregalou ainda

mais os seus olhos. Provavelmente pensando algo nas linhas de, ‘é o pervertido daquele dia!’ Asahina-san olhou igualmente atemorizada para Koizumi, que se equilibrava em um só pé

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para se manter aquecido - possivelmente evitando o total congelamento - enquanto esperava no corredor. Koizumi olhou para Asahina-san como um completo estranho, e disse;

“Não sou uma má pessoa, acredite em mim.” Pare de agir como se você não tivesse nada a ver com isso. Quando você está

vestido desse jeito, sua credibilidade cai por terra. Como uma mãe tentando impedir a sua filha de fugir assim que descobriu que iriam

ao dentista, Haruhi arrastava uma reticente Asahina-san corredor acima. “Ei John, agora só falta a tal Nagato-san. Apresse-se e me leve até ela.” Você não precisa me dizer isso! Afinal de contas, tenho que correr para lá antes que algum professor ou estudante

dedo duro descubra que matei aula e acabe sendo pego. Então, para o lugar que está no terceiro andar do chamado “prédio velho”, o

autodenominado quartel general da Brigada SOS, oficialmente conhecida como sala do Clube de Literatura.

Desta vez, eu bati na porta antes de abri-la. “Ei, Nagato.” A retraída e míope garota levantou o seu olhar do grosso livro da biblioteca que

estava sobre a mesa, se virando para mim. “Ah...” Ao ver que eu havia chegado, Nagato soltou um suspiro aliviado. “Eh?” Quando ela viu Haruhi entrando, seus olhos se encheram de surpresa. “... hah?” Para piorar, quando viu Asahina-san sendo carregada para dentro, seu queixo caiu. “ ... ” E finalmente, quando Koizumi entrou, ela já não tinha mais palavras. “Olá a todos!” Haruhi dava seu sorriso mais brilhante. Após se certificar que todos estavam na sala,

ela foi até a porta e girou a chave. Click! Após ouvir o som da porta trancando, tanto Nagato quando Asahina-san tiveram a mesma reação – seus corpos endureceram de pavor.

“O... o que você está fazendo?” Como naquele dia, Asahina-san estava no limite de suas lágrimas. “Qu... que lugar é esse? Por que vocês me trouxeram aqui? E p... por que você está

trancando a porta? O que vocês querem comigo?”

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Era a mesma resposta que ela deu na primeira vez, fui comovido por esta nostalgia. “Cale a boca!” Como naquele dia, Haruhi tomou as rédeas da situação à força, então seguiu para a

inspeção da sala. “Essa quatro-olhos ai é a Nagato-san? Olá! Sou Suzumiya Haruhi! E esse no

uniforme de Educação Física é o Koizumi-kun; essa garota extremamente peituda é a Asahina-san. E esse cara ai, você deve conhecê-lo, não? Ele é o John Smith!”

“John Smith...?” Nagato me olhava completamente atordoada, levantando os óculos com um rosto

cheio de descrédito. Simplesmente eu joguei a toalha e aceitei este apelido estúpido. E sendo sincero, tanto Kyon quanto John soam estúpidos, no final das contas.

“Bem... essa é a tal Brigada SOS, não? Não tem quase nada aqui dentro, mas não é

uma sala ruim. Vale a pena trazer algumas coisas para cá.” Como um gato curioso que foi trazido para uma nova residência, Haruhi vagueou pela

sala, olhando pela janela, e analisando com cuidado os livros na estante, com um olhar de interesse no rosto, ela então me disse,

“Então, o que vamos fazer?” Não me diga que você não pensou nisso antes de decidir vir aqui! Cara, isso é muito

típico de você... “Até sou a favor de transformar esta sala na nossa base, mas é um grande

inconveniente chegar aqui. E pensando bem, é uma perda de tempo enorme vir aqui depois da aula. Afinal, não tenho conexão alguma com esta escola. Então, por que não combinamos um horário pra nos encontrarmos no café em frente à estação?”

Mesmo dizendo isso, ninguém além de mim e da própria discursante sabia o que

estava acontecendo. Nagato se parecia com uma boneca de porcelana com um olhar confuso, Asahina-

san tremia em um canto aterrorizada, enquanto Koizumi estava prestes a começar um ato desesperado de mímicas.

Tinha que dizer algo a respeito, porém, antes que eu pudesse falar qualquer coisa. Ding! Subitamente, o computador que ninguém havia sequer tocado começou a emitir

estranhos sons eletrônicos. Nagato moveu a cabeça instintivamente. “Huh?” Asahina-san teve de se levantar para ver o que estava acontecendo. Acredito que

todo o meu conhecimento sobre o funcionamento dessas máquinas foi pulverizado por esse estranho computador.

O antigo monitor de tubo soltou um ruidoso barulho de estática e lentamente se

iluminou. Só consegui saber disso pela reflexão tênue nos óculos de Nagato.

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Ao invés do familiar som do disco rígido girando, um silêncio estranho inundou a sala.

Eu já vi isso acontecer antes... na verdade, eu me lembro quando tive de ligar a máquina para que isso acontecesse... o logotipo do SO[5] não apareceu com o carregamento, mas no lugar dele uma estranha - porém familiar - tela preta surgiu.

5-[Nota do tradutor: Sistema Operacional].

“Deixe-me dar uma olhada nisso,” Meu corpo se moveu sozinho. Empurrei Haruhi para o lado e corri para frente do

monitor. Silenciosamente na tela cinzenta, uma linha de palavras começou a se formar. YUKI.N > Se você está lendo isso, provavelmente eu não sou mais

a mesma. ... sim, era ela, Nagato... “O que está acontecendo aqui? Não tem ninguém digitando, que coisa mais

medonha!” “Será que ele foi programado para ligar em um momento especifico? Mas esse

computador parece tão velho. É trabalho demais para uma máquina tão antiga.” Não conseguia prestar atenção no que Haruhi e Koizumi diziam atrás de mim. Não

ousava nem mesmo piscar, com medo de perder qualquer palavra ou frase. Sentia o meu coração pulsando forte enquanto olhava atentamente para a tela.

YUKI.N > Se essa mensagem apareceu, significa que você, eu,

Suzumiya Haruhi, Asahina Mikuru e Koizumi Itsuki foram reunidos neste local.

Era como se as palavras estivessem se movendo de acordo com a minha velocidade

de leitura. Sem nenhuma discrição, o cursor se mexeu novamente, escrevendo as seguintes palavras;

YUKI.N > Essa é a chave. Você encontrou a sua resposta. Na verdade, não posso dizer que encontrei coisa alguma. É mais como se eu tivesse

trombado com ela quando fui arrastado para cá por Haruhi. Falando nisso, devo considerar a utilidade dessa Haruhi, muito obrigado por tudo... e Nagato, devo dizer que senti a sua falta.

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Com um grande sentimento de nostalgia, observei o monitor. Mesmo que as linhas se movessem no mais absoluto silêncio, dentro do meu coração conseguia ouvir Nagato recitando cada linha em um tom monótono. O cursor continuou a sua trajetória.

YUKI.N > Esse é o programa de escape de emergência. Para ativá-

lo, pressione a tecla “Enter”, caso contrario, aperte qualquer outra tecla. Uma vez ativado, você terá a oportunidade de reparar o espaço tempo continuo.

Porém, tanto o sucesso quanto a sua segurança não podem ser garantidos.

Escape de emergência... programa. É isso! Está nesse computador! YUKI.N > Esse programa só pode ser executado uma única vez. Uma

vez executado, será permanentemente desativado. Se você escolher não ativa-lo, ele também será desativado. Você está pronto?

Essa foi a última linha. O cursor piscava sem parar na parte de baixo da tela. Devo apertar “Enter”? Ou qualquer outra coisa? Quando voltei aos meus sentidos, percebi que Haruhi estava olhando por cima dos

meus ombros. “O que isso significa? É algum tipo de organização secreta? John, pare de brincar e

explique logo tudo isso!” Ignorei completamente Haruhi, Koizumi e Asahina-san. Durante aquele momento,

meus olhos não se fixavam nem em Haruhi e seu rabo de cavalo, nem em Koizumi com o meu uniforme de Educação Física, e muito menos a sempre graciosa Asahina-san. Toda a minha atenção estava focada naquele computador e na outra pessoa nessa sala. Virei-me para falar com a tímida garota que olhava com absoluta surpresa para a tela do computador.

“Nagato, você se lembra de alguma coisa dessas?” “... não,” “Tem certeza?” “Por que você está perguntando isso?” Por que ela parece estar com tanta pressa para negar qualquer envolvimento? É você

quem está escrevendo isso... gostaria de dizer uma coisa dessas, mas temo que se o fizer, essa Nagato provavelmente vai surtar.

Decidi examinar a última parte da mensagem novamente. Era uma mensagem que Nagato deixara para mim, escrita pela Nagato que eu

sempre conheci. Para ser honesto, não entendia realmente o que era este programa de escape, mas aquela parte sobre a minha segurança e sucesso me deixou um pouco perturbado.

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Mesmo assim, eu cheguei muito longe, então, não tem porque pensar demais no caso. Nagato sempre teve a minha completa confiança, e sinto que posso continuar confiando nela, afinal, não me lembro de nenhum erro por sua parte. Se não posso confiar em Nagato, a alienígena silenciosa que já salvou a minha vida dezenas de vezes, em quem mais eu confiaria? Acho que posso ter mais dúvidas sobre o que eu mesmo penso do que sobre aquilo que ela diz.

“Ei John, o que aconteceu? Você está meio esquisito.” A voz de Haruhi soava como se estivesse à milhas de distância. “Por favor, preciso de um segundo para organizar os meus pensamentos.” Realmente, acho que preciso ponderar um pouco sobre as coisas ao meu redor.

Haruhi e Koizumi não estudam nessa escola, Asahina-san não é uma viajante do tempo e Nagato não sabe de nada. Após pensar um pouco nisso, percebo que não são as coisas com que eu mais deveria me preocupar agora.

As palavras de Nagato refletem a sua opinião pessoal a respeito da situação. A

veracidade dessa mensagem não pode ser questionada. Estiquei os meus braços com uma respiração profunda. É isso... A única coisa de que posso ter certeza é que eu quero dar um fora desse mundo.

Quero me encontrar com a Brigada SOS novamente, pois essa é uma coisa com que me familiarizei tanto que passou a fazer parte do meu cotidiano, assim como todos naquele mundo. Essa Haruhi, Koizumi, Asahina-san e Nagato não são aqueles que eu conhecia. Aqui não há nenhuma “Organização”, Entidade Senciente de Dados Integrados ou uma versão adulta de Asahina-san que me visita ocasionalmente, afinal, tudo está uma bagunça.

Não demorou muito para que eu tomasse uma decisão. Então, tirei um pedaço amassado de papel do meu casaco... “Desculpe-me, Nagato, mas acho que vou ter que devolver isso.” Os seus dedos pálidos lentamente alcançaram o formulário para se juntar ao Clube

de Literatura, totalmente em branco. Uma vez que eu soltei a folha, ela se agitou no ar, mesmo mal havendo vento na sala. Após perder a firmeza uma vez, ela finalmente segurou o papel com força.

“Isso é...” A voz de Nagato tremia, seus olhos se escondiam sob os cílios. “De todo modo,” - expliquei - “para dizer a verdade, eu já sou um membro dessa

sala, desde sempre. Não tem motivos para me juntar ao Clube de Literatura, e é porque...” Haruhi, Koizumi e Asahina-san olhavam para mim com uma sincera cara de quem

pensava. Bem, do que diabos ele está falando? A expressão de Nagato estava coberta pelos seus cabelos, então não conseguia ver claramente. Mas não importa. Não se preocupe, Nagato. Não importa o que aconteça, eu vou voltar para esta sala.

“E é porque, afinal de contas, eu sou um membro da Brigada SOS.” Você está pronto? Pode apostar.

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Estiquei os meus dedos e apertei a tecla “Enter”. No momento seguinte... “Whoa!?” Quando me levantei, fui vitima de uma tontura intensa. Involuntariamente, agarrei-me

a mesa antes que minha visão desvanecesse completamente. Sentia meus ouvidos zumbindo e o som de pessoas conversando ao longe. E, de repente, tudo a minha volta ficou escuro. Meu senso de equilíbrio desapareceu, e me senti como se estivesse flutuando no espaço. Como uma folha em uma corredeira que gira sem parar. As vozes que me chamavam começaram a ficar cada vez mais distantes, e era mais difícil entender o que elas estavam dizendo. Era John ou Kyon? Não tinha certeza, mas não parecia com a voz de Haruhi. Estava escuro e me sentia em queda, mas para onde eu estava caindo? Alguém poderia pelo menos me dizer isso?

Meus pensamentos se engalfinhavam em um completo caos. Não sabia se meus

olhos estavam abertos ou fechados, e nem conseguia ouvir coisa alguma ao meu redor, apenas me sentia flutuando, sem entender ao menos onde estava o meu corpo. E onde estava Haruhi? Tudo ficou ainda mais distorcido. Koizumi, Asahina-san, onde eu estou? O que está acontecendo? O que mais me aguarda nesse programa de escape de emergência?

Nagato... “Whoa!?” Gritei novamente, meus calcanhares quase se despedaçaram enquanto eu mal

conseguia suportar o meu próprio peso. Foi então que eu percebi que estava de pé novamente.

“Mas que diabos...?” Estava escuro, mas não escuro o suficiente para que eu não conseguisse ver os

meus próprios dedos. Na verdade, fiquei aliviado por ainda conseguir ver alguma coisa. “Onde é que estou...?” Olhando para as fracas luzes reluzindo atrás da janela, confirmei a minha posição.

Parecia com uma sala, e eu parecia estar me apoiando em uma mesa. E sobre esta mesa, estava um computador...

“O Clube de Literatura!” Era a mesma sala de antes. Mesmo assim Nagato não estava ali. Haruhi, Asahina-san, e Koizumi também

desapareceram. Apenas eu estava ali. O sol havia se posto, apesar de que poucos segundos este ainda brilhava através da janela. Posso dizer que anoiteceu um pouco rápido demais. Olhei para fora para o pouco populoso céu noturno, observando umas poucas estrelas cintilarem. Cara, como o tempo passa rápido.

A sala continuava a mesma. Havia uma estante de livros, uma longa mesa e um

velho computador. Percebi só de olhar para isso que não voltei ao meu mundo original, afinal,

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não havia nada da Brigada SOS jogado por ai. Nem a mesa da comandante, nem as roupas de Asahina-san. Era apenas uma sala vazia do Clube de Literatura... porém...

O suor na minha testa escorreu para cima dos meus olhos, fazendo-me limpa-los

prontamente com a manga da minha blusa. Alguma coisa estava errada. O que era este sentimento de desorientação? Eu já sabia onde estava. Claramente,

essa era a sala do Clube de Literatura. Virou um tambor de taiko ou coisa assim? Lembrei-me da piada que Taniguchi havia feito anteriormente, mas não era esse o problema. Sim, o problema não era “onde”...

“Isso é...” Subitamente, descobri o porque da minha confusão! Ao mesmo tempo, senti que a

minha temperatura corporal aumentou rapidamente, mas não era uma observação muito precisa. A verdade era que, como a temperatura ambiente havia subido, a do meu corpo apenas acompanhou a tendência, então não era apenas impressão.

Não agüentando mais o calor, tirei o meu casaco. Todos os meus poros, então, se

abriram juntos e começaram a suar. Tirei também o suéter, e puxei as mangas da camisa para cima, mesmo assim o calor acumulado mal se dissipou.

“Está muito quente!” Comecei a resmungar. “Tão quente como uma...” Uma noite quente de verão. Nesse caso, não era “onde”, e sim “quando”. Assim apenas uma questão que deveria

ser respondida, Em que estação estamos agora?