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BIBLIOTECA UNIVERSITARIA DE COMUNICAÇAO Orientador: PROF. DR. J-OSÉ MARQUES DE MELO voi, 1 - COMUNICAÇÃO/INCOMUNICAÇÃO NO BRASIL VoI. 2 - HISTóRIA DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL (no prelo) voi, 3 René Berger, LA TÉLÉ-FISSION - ALERTE A LA TÉLÊVISION (uma crítica à T.V.). FICHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Centro de Catalogação-na-Fonte, Câmara Brasileira do Livro, SP) União Cristã Brasileira de Comunicação So- cial. U49c oomunícação/íncomunícação no Brasil; ~osé Marques de Melo, coordenador. São Paulo, Ed. Loyola, 1976. Inclul textos de vários autores e do- cumentos da UCBC. l. Comunicação - Brasil. 2. Comuni- cação de massa - Brasil. I. Melo, José Marques de, 1943- II. Título. 76-0575 CDD--0O1.50981 -301.160981 Inâices para catálogo sistemático: 1. Brasil: Comunicação 001.50981 2. Brasil: Comunicação de massa: Sociologia 301.160981

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Page 1: voi, 1- COMUNICAÇÃO/INCOMUNICAÇÃO NO BRASIL · JUAN DIAZ BORDENAVE Assessor de Comunicação do IICA - OEA ... ria preocupar a Igreja, que é a criação da pessoa menos "imagofilia"

BIBLIOTECA UNIVERSITARIA DE COMUNICAÇAO

Orientador: PROF. DR. J-OSÉ MARQUES DE MELO

voi, 1 - COMUNICAÇÃO/INCOMUNICAÇÃO NO BRASIL

VoI. 2 - HISTóRIA DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL(no prelo)

voi, 3 René Berger, LA TÉLÉ-FISSION - ALERTE ALA TÉLÊVISION (uma crítica à T.V.).

FICHA CATALOGRAFICA

(Preparada· pelo Centro de Catalogação-na-Fonte,Câmara Brasileira do Livro, SP)

União Cristã Brasileira de Comunicação So-cial.

U49c oomunícação/íncomunícação no Brasil;~osé Marques de Melo, coordenador. SãoPaulo, Ed. Loyola, 1976.

Inclul textos de vários autores e do-cumentos da UCBC.

l. Comunicação - Brasil. 2. Comuni-cação de massa - Brasil. I. Melo, JoséMarques de, 1943- II. Título.

76-0575CDD--0O1.50981

-301.160981

Inâices para catálogo sistemático:

1. Brasil: Comunicação 001.509812. Brasil: Comunicação de massa: Sociologia 301.160981

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13UMA VISÃO SISTÊMICA DOSFLUXOS DE COMUNICAÇÃO

NO POVO DE DEUS

JUAN DIAZ BORDE NAVE

Assessor de Comunicação do IICA - OEA

Os católicos e grande parte do clero estão reconhecendomais e mais a importância da comunicação. Entretanto; oseu interesse se concentra em geral, apenas no fluxo da comu-nicação Igreja-Povo e, particularmente, no papel dos meiosde comunicação social em relação com os valores, a opiniãopública, a "imagem" da Igreja etc.

Embora esta preocupação seja válida,'ela tende a nos fa-zer esquecer que o fluxo de mensagens centrífugas, via "massmedia", é apenas um dos tantos fluxos circulantes no seiodo Povo de Deus e talvez não o mais importante ou decísívo.

Cremos que uma análise dos fluxos de comunícação Intrae extra-eclesial é necessária e urgente. E que, para realízá-la,é conveniente formular um modelo sistêmico, que permitater uma visão dinâmica de conjunto.

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178 COMUNICAÇÃO/INCOMUNICAÇÃO NO BRASIL

Dirigentemáximo

Modelo Sistémico dos Fluxos de Comunicação e Influência

A) Uma primeira abordagem ao modelo nos apresentaa existência de diversos subsistemas, organizados segundouma dimensão que poderíamos chamar de "intensidade deafiliação eclesíal".

Na parte superior estaria o dirigente máximo, depois ahierarquia decísóría. Entre esta e o clero encontraríamosuma "interface"- composta por membros do clero que tam-bém servem na hierarquia decisória.- Dentro do subsistema Clero, incluímos tanto os religio-

sos que vivem em comunidades como os párocos e tambémo .clero secular. Entre o Clero e o subsistema dos CatólicosLeigos Participantes, há uma "interface" ocupada pelos pa-dres que diretamente trabalham com os leigos, tais como ospãrocos, os assistentes de movimentos como o MFC, ENS,Cursilhos etc.

- O subsistema dos Católicos Participantes é bastantegrande e complexo. Mas temos ainda outro subsistema, o

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dos Católicos Não-Participantes, que, sendo batizados e re-gendo pelo menos parcialmente seu sistema de valores e con-dutas pelos princípios da fé cristã, não trabalham pelo avan-ço do Reino de Deus, pelo menos conscientemente.

É natural supor que os fluxos serão mais intensos entreos subsistemas próximos, do que com os mais distantes.A simples observação da realidade, por outra parte, mostraque os fluxos que vêm de cima para baixo são muito maisatendidos e usados que os que vão da base para cima.

Essa conclusão pode ser obtida também através daspesquisas em geral feitas.

Perguntamo-nos, por exemplo, se existem pesquisas sobreo modo, excetuados jornais e revistas, pelo qual os católicosconhecem as idéias e as aspirações dos não-católicos. Pergun-tamo-nos se se sabe por quais "canais" os católicos Partici-pantes fazem chegar à Hierarquia Decisória os seus proble-mas, idéias e dúvidas. Existirão canais - o que desconhece-mos - para que os católicos de base, atuantes nas paróquias,dialoguem com a hierarquia? 'Até que ponto os Párocos sãobons veículos para que o pensamento da massa paroquialchegue junto aos que fazem.a política e a estratégia de comu-nicação e de ação?

O modelo apresenta ainda uma questão interessante:qual é o papel das "interfaces", isto é, das áreas comunsque estão entre um subsistema e o próximo? Por exem-plo, se -ímagínamos os movimentos organizados de cató-licos leigos, tais como MFC, ENS, Cursílhos etc. como "inter-face" entre seu subsistema e o Clero, qual é seu papel nofluxo das comunicações?

B) Numa segunda abordagem do modelo, caberia anali-sar minuciosamente o conta to de cada subsistema com osdois subsistemas imediatos. Achamos que essa análise podeservir de 'base para toda uma estratégia global de melhora-mento e dinamização da comunicação.

Vamos tomar apenas um exemplo. Quais seriam 05-fluxos de comunicação entre o Clero e os' Católicos Partici-pantes? Concretamente, como se comunicam entre si os Páro-cos e seus Paroquianos; por exemplo?

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180 COMUNICAÇÃO/INCOMUNICAÇÃO NO BRASIL

Vejamos:

COMUNICAÇÃO PÁROCO --~ PAROQUIANOS

1. Quais são os canais do pároco para os paroquianos?Sermões - Visita aos lares - Conselho paroquial- Boletim paroquial - Casamentos e batismos -Confissão - Direção espiritual - Reuniões de gru-pos paroquiais formais - Reuniões informais (re-flexão, bate-papo) - OUtros.

2. Qual é a qualidade da comunicação em cada umdestes veículos? 1

3 . Como poderia a qualidade de todos esses veículosser melhorada?Exemplo - Idéias para melhorar a pregação (ser-mão)- gravar vários sermões do pároco e analisá-los em

grupo na sua presença- cursos de oratória para párocos e leigos partici-

pantes- responsabilizar bons leigos pelos sermões- usar recursos visuais nas pregações-- melhorar a acústica do templo- melhorar o equipamento de som-... fazer que o sermão se baseie nos problemas con-

cretos da comunidade, iluminados pelo Evangelho- trocar de pároco

Vejamos agora o fluxo inverso:

COMUNICAÇÃO CATóLICOS PARTICIPANTES --"---+

1. Quais são os canais usados?Confissão - Reuniões formais - Reuniões informais- Entrevistas pessoais - Diálogo formal. .

PÁROCO

. 1; Seria interessante estudar critérios para julgar a qualidade.Características tais como: dificuldade de linguagem, tom autoritárioou cordial, conteúdo relevante, consistência das mensagens, confiabi-lidade, credibilidade etc., deveriam ser consideradas.

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2. Qual é a qualidade da comunicação em cada um des-tes veículos?

Possibilidades:Os leigos não falam ao Pároco o que realmente sen-tem, particularmente se este é velho e conservador.Os leigos falam só sobre assuntos puramente conec-tados com o culto e a vida espiritual, não sobreos problemas mais amplos da comunidade.Em certas paróquias, a situação pode ser bem dífe-rente.

3. Como se poderia melhorar?Sugestões:

Curso de dinâmica de grupo para padres e leigos.Jantar mensal na Paróquia, eafezinho após cadamissa.Cine-foruns na Casa Paroquial.Pesquisas periódicas nas missas sobre assuntos pa-roquiais.Pesquisa mais geral sobre situação global da cornu..nidade.Conselho Paroquial realmente atuante e represen-tativo..Assembléiamensal da comunidade com agenda livre.Formação 'de grupos de 'reflexão sobre a realidade.

Advertência importante: Estes estudos de fluxos de co-municação não devem ser feitos de forma isolada, mas comoparte de um visão global da situação paroquial. Se feitoseparadamente, as conclusões podem ser divorciadas do con-texto e, portanto, irreais.

-. ;;-1~IPál:ocol . > '! Paroquianos

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j o,.

JSituação

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182 COMUNICAÇAOjINCOMUNICAÇAO NO BRASIL

C) Numa terceira abordagem, a análise seria focalizadasobre a comunicação entre os membros de cada subsistema.Como se comunicam os membros do Clero? Sabe o Clerosecular o que está acontecendo nas Ordens Religiosas, e více--versa? Conhece uma Paróquia, as inovações litúrgicas oueatequétícas que se estão experimentando em outras? Comose comunicam entre si os Católicos Participantes? Existemcanais institucionalizados para o intercâmbio de idéias eexperiências? Sabem as Equipes de Nossa Senhora, o queestá acontecendo no Movimento Familiar Cristão?

Uma análise assim mostraria, por exemplo, que dentrodo Povo de Deus há diversas lacunas. Por exemplo, umcatólico que deseje participar e contribuir, mas não gostedos três movimentos clássicos (Equipes, MFC e Cursilhos),onde poderia se engajar? Quem lhe comunica a existênciade oportunidades de engajamento e serviço? Outro exemplo:é gritante a necessidade de que' existam movimentos de jo-vens, verdadeiramente funcionais e modernos, que respondamà necessidade .de ação, de idealismo heróico, de reunião e deprotesto, dos jovens. Como sabe um pai católico onde con-seguir uma oportunidade assim para seus filhos? Aqui noRio, dizem que existe algo interessante no Colégio SantoInácio e também na Paróquia da Divina Providência. Como.se divulgam estes movimentos e as condições de admissãoé participação? ]É um verdadeiro mistério, um segredo bemguardado.

Esta comunicação lateral é extremamente importante,pois as pesquisas de comunicação estão cansadas de mostrarque as mensagens recebidas pelos meios massivos nem sem-pre influem diretamente sobre os receptores individuais, massim, depois que outras pessoas exerceram influência pessoal

.~_.-~sobre aqueles. A comunicação pessoa a pessoa continuasendo talvez mais crucial para a tomada de decisões impor-tantes, pois a ação dos meios coletivos é apenas de apoio ede reforço, não de mudança. De modo que a atenção nãodeve ser colocada unicamente na melhoria do conteúdo dosmeios como o rádio, a TV e o cinema, mas sobretudo noconteúdo e na forma de cantata pessoal e grupal.

D) Finalmente, numa quarta abordagem do modelo éque se entraria a estudar a verdadeira influência dos meios

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de comunicação social, por um lado, e por outro, o papel das"correntes culturais ascendentes", veiculadas pela opiniãopública e as condutas diversas da população.

Depois das análises anteriores, é evidente que esta açãodos MCS não se efetua no vácuo, mas constitui apenas umadas forças que entram a agir num complexo de influênciasrecíprocas.

Assim, por exemplo, certo interesse em averiguar se exis-tem grupos interessados em deturpar a "imagem" da Igrejanos meios de massa, não deixa de ser válido. Mas se a Igrejase preocupasse em incentivar um fluxo intenso e aberto deinformações para baixo e para cima, se existisse um diálogofranco sobre seus problemas e limitações - assim como so-bre suas magníficas realizações - o perigo de deturpação daimagem seria muito secundário.

Aliás, o conceito de "imagem" éa coisa que menos deve-ria preocupar a Igreja, que é a criação da pessoa menos"imagofilia" que apareceu na História. A preocupação deve-ria estar em fazer coisas que, por serem boas, produzemboa imagem, não com a imagem em si. A imagem é, a médioou longo prazo, um produto do comportamento e não dasrelações públicas.

A título de sugestões, vão aí algumas idéias sopre açõesque se poderiam tomar e que redundariam em "imagem"positiva, não precisamente a curto prazo: .

1. Criação de um Serviço de Voluntariado, pelo qual aIgreja atuaria como centro de informação, e de co-ordenação, para que todos os leigos dispostos a pres-tar serviços voluntários de cooperação social (orfa-natos, hospitais, favelas, mendigos, presos etc.)saibam onde e como fazê-lo.

2. Informação ao público, de forma bem organizada,sobre as reais posses da Igreja; e o uso que vem sen-do' dado a seus bens. Indicação de leigos bem con-ceituados para assessorar a Igreja na forma de exibire explicar sua administração.

. .3. Definição clara e pedagógicà das inovações legítimas,

das superstições superadas, das recomendações com-

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portamentais. Em linguagemclara, deveria explicar--se ao povo as mudanças em assuntos como:

- culto dos santos- uso da água benta- indulgências- significado da Eucaristia (agora significa alimen-

to que pode ser mastigado, pode ser tomado namão, pode ser bebido com-o vinho etc.)

- batina dos padres e hábito das freiras, novo con-ceito do Padre

- nova orientação da confissão (incluindo abando-no da diferença entre "venial" e "mortal")

- preferência pela oração espontânea sobre a defórmulas..

Embora tudo deva ser feito com todo o respeito juntoaos que ainda aderem às práticas antigas, creio que a Igrejadeve se pronunciar categoricamente contra tudo que é su-perstição, mito e práticas ultrapassadas, características deseus tempos mais infantis e mais autocráticos.

4.' Abandono das discriminações sociais e econômicasque as paróquias fazem quanto a casamentos, bati-zados 'etc. Deveria'haver um mesmo casamento oubatísmo, independente da espórtula -paga. A Igrejade Jesus não pode continuar sendo um lugar de os-tentação e de luxo, mesmo que a supressão de taiscasamentos luxuosos produza uma diminuição dasrendas das paróquias.

5. Entrega dos prédios faustosos ocupados pela Igreja,para utilização de obras sociais, e alojamento mo-desto dos representantes da hierarquia (a exemplode alguns bispos brasileiros e do cardeal de Lima).

6. Tomada de posição, enérgica e fundamentada emfatos pesquisados, contra as torturas, a escravidão

..--""'-,'"' branca, a corrupção policial, o erotismo comer-cial etc.

Esta lista, naturalmente, é apenas uma forma que utilizo, para comunicar uma idéia: a de que a imagem da Igreja se

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consegue quando ela vive o que prega, quando faz o que devefazer e não se deixa dominar pela estrutura sócio-econômicade seu tempo. (Sal da terra!)

2. PESQUISAR PARA SABER OU PESQUISARPARA AGIR?

Desde que a Igreja descobriu a utilidade das CiênciasSociais e do Método Científico de Pesquisa, ela tem patroci-nado a sua utilização com duas finalidades diferentes: pes-quisar para conhecer e pesquisar para agir. Ambos os tiposde pesquisa são válidos, mas deve ficar muito claro quandose utiliza um e quando se utiliza outro.

Mais concretamente, a Igreja poderia gastar muito tempoe dinheiro pesquisando sobre Comunicação, já que este cam-po é simplesmente inesgotável. Entretanto, se a pesquisa tema finalidade de orientar a ação, ela deve ser mais focalizada,mais concreta e mais útil. Isto está claramente indicado noseguinte esquema do funcionamento de um sistema:

,EfeitosI ® Ação sobre o

0 _\. Sistema e o) Objetivos

I7 Ambiente

.

Centros Ide I

) ~--=-~-~"'="'" ®Controle I Análise Ação corretivaI daI

--'" I retro-ín.r I formação

li' AMBIENTE

Informação sobrea situação

(Pesquisa Prévia) Colheita de informaçãosobre .L

"-Retro,informação Efeitos da Ação

(Pesquisa Operacional) "I

" ,.. ..' . ' _

• Papel "da Pesquisa na Estratéçia de Ação de um Sistema

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Aqui vemos que as afirmações da pesquisa servem paratraçar uma estratégia de ação e também para reajustar gra-dualmente a ação já iniciada, para que ela continue a avan-çar na direção do objetivo, mas tendo em conta as reaçõesdo ambiente.

O que pretendo afirmar é o seguinte: em lugar de estu-dar exaustivamente, apenas para aumentar o conhecimentoda situação - conhecimento que é muito relativo pela sim-ples razão de que a situação muda continuamente - o quedeveria ser feito, é traçar uma estratégia de ação com osdados que já se tem (Pesquisa Prévia) e INICIAR A AÇÁODE INFLUÊNCIA SOBRE O AMBIENTE. Uma vez iniciadaa ação, ir pesquisando constantemente as reações do públicoe ir ajustando a estratégia conforme o "feed-back" recebido.Não há melhor aprendizado do que o obtido na ação, poiso que se aprende não é como o público é, mas como o públicopode ser transformado.

Graças ao mecanismo de retro-informação e ajuste, esteprocesso de transformação não é um intento de manifesta-ção ou de doutrinação, mas um verdadeiro diálogo com opovo. Se a estratégia fosse inflexível, poderíamos falar deimposição, invasão cultural etc. Como ela consiste em tra-balhar dialeticamente com o povo, isto é, adaptar-se a suaspróprias mudanças, apenas catalizando-as com nossa ação enossas mensagens, não podemos falar de "brainwashing",pois neste caso nós seríamos os "brainwashed" pelo povocom o qual dialogamos e que nos faz mudar nossa própriaestratégia de ação .

. Vamos verificar um exemplo. Suponhamos que vamostraçar uma estratégia de melhoria da comunicação Pároco--Paroquíanos. Em lugar de estudar indefinidamente estefenômeno, eu partiria para a ação. Isto é, introduziria mo-dificações nos procedimentos atuais e estudaria cuidadosa-mente os efeitos. Logo faria os ajustes aconselhados pelapesquisa de efeitos. Mais tarde, introduziria outra modifi-cação etc.

Acho que a mesma idéia poderia ser aplicada em empre-endimentos maiores, como o demonstrou a Campanha daFraternidade. Ela aprendeu pela ação e não pela pesquisaprévia exaustiva de públicos, mensagens, meios etc.

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-lEm resumo, mediante uma visão sistêmica pode-se, como

diz Buckley, "chegar até uma plena complexidade dos fenô-menos em interação - ver não só as causas que atuam sobrefenômenos e as possíveis interações mútuas de alguns destesfatores, mas também ver os processos totais emergentes co-mo uma função dos 'feed-backs' positivos e/ou negativos, me-diatizados pelas decisões seletivas, ou 'escolhas' dos indiví-duos e grupos direta ou indiretamente envolvidos".

3. CAPACITAR O POVO PARA SE COMUNICAR

.) .

o que tínhamos para dizer nas páginas anteriores pareceIndicar a necessidade de montar um mecanismo para capa-citar os católicos de base para a comunicação entre si epara cima. O que falta na atualidade é um processo de cons-cientização - não das bases - mas das lideranças. Elas sãoas que estão emperrando o desenvolvimento de uma novacomunidade. Por isso, o povo deve ser ensinado a comuni-car: a se reunir, a discutir, a tomar decisões, a redigir, afilmar suas emoções e comportamentos, a pintar e expressarsua vida, suas aspirações, a participar de debates, a ser entre-vistado no rádio e na TV, a mandar cartas aos diretores dejornais etc.

Então a estratégia da Comunicação do Povo de Deusdeveria começar conseguindo que o próprio Povo de Deus, opovinho de Cristo, se comunique, abra a boca, questione,pergunte, dê palpites. Só assim os fluxos sistêmicos serãoabertos e renovados e se escutará a voz do povo, nos hojetão formais e ortodoxos canais.

Por que as Casas Paroquiais não poderiam dar cursosde Jornalismo, de Fotografia, de Poesia, de Pintura, de Histó-rias em Quadrinhos? Por que as Paróquias não poderiampatrocinar experiências de "paint-out", dando tinta aos me-ninos pobres e conseguindo permissão dos donos de murosde terrenos baldios para que as crianças pintem suas idéiascoloridas?

Se algum mérito têm os Cursilhos, é que eles abrem ascomportas da comunicação entre seus membros, privilegia-

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dos pela experiência comum. Por que não "cursilificar" asparóquias com cursos de dinâmica de grupos, com círculosde estudo da própria realidade, com debates sobre problemasda atualidade?

Acho que é aí, na base, onde a comunicação cristã ven-cerá ou será derrotada, não nos meios de comunicação social,os quais são apenas uma superestrutura, uma emanação darealidade concreta que está por baixo.

(1973)

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