vivências em teatro-educação - reflexões através da práxis - danilo frança

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 Danilo França do Nascimento VIVÊNCIAS EM TEATRO-EDUCAÇÃO: REFLEXÕES ATRAVÉS DA PRÁXIS EXPERIÊNCIAS NO ENSINO FORMAL E NÃO-FORMAL Ouro Preto Universidade Federal de Ouro Preto 2009

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Portfólio de conclusão do Curso de Licenciatura em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em 2010. Autor: Danilo França do Nascimento.

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  • Danilo Frana do Nascimento

    VIVNCIAS EM TEATRO-EDUCAO: REFLEXES ATRAVS DA PRXIS

    EXPERINCIAS NO ENSINO FORMAL E NO-FORMAL

    Ouro Preto

    Universidade Federal de Ouro Preto

    2009

  • 2

    Danilo Frana do Nascimento

    VIVNCIAS EM TEATRO-EDUCAO: REFLEXES ATRAVS DA PRXIS

    EXPERINCIAS NO ENSINO FORMAL E NO-FORMAL

    Portflio apresentado ao Curso de Licenciatura em Artes Cnicas do Departamento de Artes Cnicas do Instituto de Filosofia, Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito obteno do ttulo de Licenciado em Artes Cnicas. Orientador: Prof. Ms. Davi de Oliveira Pinto

    Ouro Preto

    Universidade Federal de Ouro Preto

    2009

  • 3

    Dedico este Portflio a todos que se sentem tocados pelas inquietaes desta

    importante rea educacional: o Teatro-Educao.

  • 4

    Agradecimentos

    Agradeo primeiramente a Deus, pela vida. Agradeo tambm minha famlia

    Frana do Nascimento: Denes, Terezinha, Dener e Daner, por terem me dado

    as bases que hoje possuo com um convvio de aprendizagem, prazer, paz, e

    harmonia, e por terem me apoiado na profisso que escolhi, e na qual quero

    muito continuar. Amo vocs incondicionalmente.

    Agradeo aos meus amigos de Ita de Minas e Passos pelo carinho,

    companheirismo, apoio, amizade: Junia Souza, Amanda Silva, Danilo Ruan,

    Daline Souza, Rodrigo de Oliveira, Cleber Medeiros. Guardo vocs todos em

    meu corao, apesar da distncia. Aprendi muito com vocs. Aos amigos e

    colegas de Ouro Preto: Repblica Bombocado, Luciana Antunes, Priscila

    Borges, Gualter Thiago, Laura Severo, Ana Paula Piunti, Eliane Rocha,

    Mariana Hippertt, Nicole Leo. Obrigado por todos os grandes momentos. Para

    Darleny Goes, escrevo aqui um agradecimento muito especial, pois com seu

    jeito meigo, amoroso, amigvel, me conquistou e pudemos compartilhar muitos

    bons momentos e vlidos conhecimentos. Obrigado por todo o apoio!

    Em especial, gostaria de agradecer a minha amiga, parceira de trabalho e

    desventuras em Ouro Preto, Renata Patrcia da Silva. Durante estes quatro

    anos, fizemos muita coisa juntos: rimos, choramos, brigamos, amamos,

    aprendemos, ensinamos, sem nunca termo-nos separado. Obrigado por tudo,

    esta amizade foi essencial no meu tempo universitrio. Pode estar certa que

    nossa relao no ser cortada por causa do fim do nosso curso, ela

    continuar para sempre, independente de onde cada um estiver. Eu acredito no

    sempre. Ns ainda teremos a nossa prpria empresa, a DanRh Corporation

    Unlimited Forever: desde 2006 tornando as pessoas mais cidas.

  • 5

    Tambm merecem um agradecimento muito especial os meus amigos e

    companheiros de casa: Soraya Batista, Gardnia Leo e Marcos Eduardo

    Batista. Muito obrigado por este tempo em que estivemos morando juntos, para

    mim foi muito prazeroso, e fui capaz de aprender muito com vocs,

    principalmente com voc, Sol, que foi como uma me para mim. As

    dificuldades que Ouro Preto me proporcionou foram muito menores. G: posso

    dizer que amo realmente poucas pessoas. Voc certamente uma delas. Du:

    obrigado por todos os timos momentos juntos, confidncias, lealdade, alegria,

    muita alegria... Com vocs dois, tudo foi to melhor e mais leve, nossas piadas,

    brincadeiras, bobagens... Realmente, a gente se entende!

    Paulo Henrique (Hirritchy), voc tambm merece um agradecimento especial

    por tudo que voc fez por mim em Ouro Preto. Pelo apoio, escuta, ateno,

    pacincia, considerao. Temos timas histrias em Ouro Preto, sempre me

    lembrarei de voc com todo o carinho que voc merece. Voc sempre estar

    em meu corao, e nossa amizade sempre existir, tenho certeza disto.

    Gostaria tambm de agradecer a uma pessoa que surgiu j na minha ltima

    instncia em Ouro Preto, porm na mais decisiva: Eric Colini. Obrigado pela

    pacincia, planos, segurana, companheirismo, apoio. Esta ltima fase em

    Ouro Preto foi mais tranqila com voc ao meu lado. E no meio de tanta gente

    eu encontrei voc...

    Por fim, tenho o prazer de agradecer aos meus mestres, que me orientaram no

    complexo e fascinante caminho do Teatro-Educao: Neide das Graas de

    Souza Bortolini, Davi de Oliveira Pinto, Ricardo Carvalho de Figueiredo, Ailtom

    Gobira Alves, Nicaulis Conserva.

    Quero vocs todos para sempre na minha vida.

    Obrigado! Amo muito vocs!

  • 6

    A educao exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida.

    Sneca

  • 7

    Sumrio

    Introduo........................................................................................................09

    1. Estgio Supervisionado: Observao.......................................................11

    1.1 Introduo..................................................................................................14

    1.2 Centro Educacional Ouro Preto (CEOP)..................................................14

    1.2.1 A Escola e sua Proposta Pedaggica........................................14

    1.2.2 Observao e Prtica sobre as Aulas de Teatro-

    Educao...............................................................................................16

    1.3 Breves Prticas de Observao: Relatos................................................18

    1.3.1 Projeto Arte Livre.........................................................................18

    1.3.2 Centro Pedaggico da UFMG......................................................19

    1.4 Perspectivas Educacionais das Observaes........................................20

    2. Estgio Supervisionado: Planejamento e Regncia I..............................23

    2.1 Introduo..................................................................................................24

    2.2 A Escola Estadual Professor Soares Ferreira.........................................27

    2.2.1 Projeto Pedaggico no Ensino Fundamental............................27

    2.2.1.1 Introduo.......................................................................27

    2.2.1.2 Justificativa.....................................................................27

    2.2.1.3 Objetivos.........................................................................29

    a) Geral..............................................................................29

    b) Especficos...................................................................29

    2.2.1.4 Metodologia.....................................................................30

    2.2.2 O Ensino de Arte na Escola Pblica: uma Lio.......................30

    2.2.3 Descrio e Reflexes das Aulas de Arte..................................31

    2.3 Centro Educacional Pequeno Mundo......................................................40

    2.3.1 Projeto Pedaggico na Educao Infantil..................................40

  • 8

    2.3.1.1 Introduo e Justificativa..............................................40

    2.3.1.2 Objetivos.........................................................................41

    a) Geral..............................................................................41

    b) Especficos...................................................................41

    2.3.1.3 Metodologia....................................................................42

    2.3.2 A Escola e seu Projeto Poltico Pedaggico.............................43

    2.3.3 Experincia Pedaggica das Aulas de Teatro...........................45

    3. Estgio Supervisionado: Planejamento e Regncia II.............................48

    3.1 Projeto Pedaggico do Luz que Anda.....................................................51

    3.1.1 Introduo.....................................................................................51

    3.1.2 Justificativa...................................................................................52

    3.1.3 Objetivos.......................................................................................53

    a) Geral........................................................................................53

    b) Especficos.............................................................................53

    3.1.4 Metodologia..................................................................................53

    3.2 O Projeto Luz que Anda............................................................................54

    3.2.1 Introduo.....................................................................................54

    3.2.2 A Comunidade de Serra Negra com o apoio do Projeto Luz que

    Anda.......................................................................................................55

    3.2.2.1 A Comunidade................................................................55

    3.2.2.2 Projeto Luz que Anda.....................................................58

    3.2.3 Os Primeiros Encontros em Serra Negra em 2008...................61

    3.2.4. O Trabalho com Prticas Psicomotoras e Expresso Corporal

    em 2009..................................................................................................64

    4. Consideraes Finais..................................................................................69

    Referncias Bibliogrficas..............................................................................78

    Anexos..............................................................................................................80

  • 9

    Introduo

    Neste Portflio voc, caro leitor, ter um contato com as experincias de um

    estudante-pesquisador acerca da prtica pedaggica do Teatro com crianas e

    adolescentes, abarcando a faixa etria de dois a dezessete anos, nos Ensinos

    Formal e No-Formal. Estas diversas experincias ocorreram atravs do

    sistema de Estgios Supervisionados do curso de Licenciatura em Artes

    Cnicas do Departamento de Artes Cnicas do Instituto de Filosofia, Artes e

    Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (DEART/IFAC/UFOP).

    Primeiramente, no estgio de observao, acompanhei o trabalho de um

    professor de Teatro nos anos iniciais do Ensino Fundamental no Centro

    Educacional Ouro Preto, uma escola particular; observei o processo de ensaio

    de um professor de Teatro no Centro Pedaggico da Universidade Federal de

    Minas Gerais; e analisei o desempenho pedaggico de outro professor de

    Teatro em um Projeto Social ligado Prefeitura de Belo Horizonte.

    Aps este primeiro passo na Licenciatura em Artes Cnicas, comecei a lecionar

    no 8 ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Professor Soares

    Ferreira como professor de Arte contratado do Estado. Tambm, exercitei a

    docncia em Teatro, juntamente com uma colega de curso, numa escola de

    Ensino Infantil, o Centro Educacional Pequeno Mundo, em Ouro Preto, com

    crianas de dois a cinco anos. Por fim, vivenciei a prtica pedaggica em

    Teatro-Educao numa comunidade rural em Serra Negra, distrito de So

    Sebastio do Oeste - MG, como bolsista do Projeto de Extenso da UFOP Luz

    que Anda.

    Cada parte deste Portflio organiza-se na seguinte seqncia: uma introduo

    ao estgio desenvolvido, o projeto pedaggico (apenas para as prticas de

    regncia), uma contextualizao poltico-pedaggica da instituio em foco e o

    relato reflexivo das atividades desenvolvidas. Tanto na elaborao dos projetos

  • 10

    quando na anlise das prticas pedaggicas observadas ou realizadas,

    importantes tericos de uma busca pedaggica do Teatro foram tomados como

    interlocutores: Viola Spolin, Augusto Boal, Olga Reverbel, Flvio Desgranges,

    entre outros.

    Com relao s metodologias desenvolvidas nas regncias, aponto algumas

    das mais significativas em meu percurso formativo: Jogos Teatrais e

    Dramticos, Prticas Psicomotoras, Expresses Corporal e Vocal, e a

    Pedagogia do Espectador. Procurei, atravs da prxis1, refletir sobre a

    importncia do Teatro como prtica pedaggica, considerando-o, sobretudo,

    uma das mais complexas e fascinantes reas do conhecimento humano.

    1 Segundo Olinda Maria Noronha, com base em estudos sobre Feuerbach Marx, Prxis pode ser definida como uma ligao entre teoria e prtica de um determinado trabalho. Para Marx, o trabalho pode ser definido como um caso especial de prxis, desde que este seja uma atividade social conscientemente dirigida a um fim, levando em considerao o objeto do trabalho e os meios do trabalho. (NORONHA, 2005:89;92).

  • 11

    11.. EEssttggiioo SSuuppeerrvviissiioonnaaddoo:: OObbsseerrvvaaoo

    Prticas de observao realizadas no Centro

    Educacional Ouro Preto, em Ouro Preto, Minas

    Gerais; Centro Pedaggico da Universidade de

    Minas Gerais; e no Projeto Social Arte Livre, os dois

    ltimos em Belo Horizonte, Minas Gerais

  • 12

    A mente que se abre a uma nova idia jamais voltar ao seu tamanho original.

    Albert Einstein

  • 13

    Danilo Frana do Nascimento

    PRTICAS DE OBSERVAO

    UM COMEO NA LICENCIATURA

    Relatrio apresentado disciplina Estgio Supervisionado: Observao, do Curso de Licenciatura em Artes Cnicas do DART/IFAC/UFOP, sob orientao do Professor Ailtom Gobira Alves

    Ouro Preto

    Universidade Federal de Ouro Preto

    2008

  • 14

    1.1 Introduo

    A experincia mais significativa para mim, como observador das prticas

    pedaggicas de Teatro, aconteceu no Centro Educacional Ouro Preto (CEOP),

    em Ouro Preto, Minas Gerais. Sob a regncia de um professor formado em

    Licenciatura em Artes Cnicas pela UFOP, pude acompanhar aulas de Teatro

    com crianas de seis a dez anos de idade, nas sries iniciais do Ensino

    Fundamental. Tambm fui observador, durante um nico dia, no Centro

    Pedaggico da UFMG e no Projeto Arte Livre, ambos em Belo Horizonte, Minas

    Gerais. Tive como orientador deste estgio o Professor Ailtom Gobira Alves.

    1.2 Centro Educacional Ouro Preto (CEOP)

    1.2.1 A Escola e sua Proposta Pedaggica2

    O Centro Educacional Ouro Preto (CEOP) tem como finalidade e objetivos,

    segundo sua Proposta Pedaggica enquanto instituio de ensino, desenvolver

    integralmente a personalidade do educando, fazendo-o compreender os seus

    direitos e deveres perante a sociedade, para que possa se tornar um cidado

    independente, feliz e equilibrado. Tambm, a instituio possui como objetivo a

    incluso de alunos com necessidades especiais de forma igualitria perante a

    comunidade escolar. Outro objetivo abolir qualquer tipo de tratamento

    desigual e discriminatrio, seja por causa de raa, religio ou poltica.

    O CEOP uma instituio de Ensino Fundamental (primeiro ao nono ano), com

    uma carga horria mnima de 800 horas, e usa o material didtico do Sistema

    Anglo de Ensino, nas disciplinas do Ncleo Comum. Estas so: Lngua

    Portuguesa, Geografia, Histria, Cultura Afro-Brasileira e Indgena, Cincias,

    Educao Ambiental, Matemtica, Educao para o Consumo, Arte, Msica,

    2 CENTRO EDUCACIONAL OURO PRETO, 2009. Disponvel em: . Acesso em: 04/11/2009.

  • 15

    Educao Fsica, Ingls, Espanhol, Filosofia, Estudo sobre Drogas e

    Dependncia Qumica, Direito das Crianas e Adolescentes, Temas

    Transversais. Algumas destas disciplinas citadas no so especficas no

    currculo de ensino, sendo desenvolvidas no decorrer de outras disciplinas

    especficas.

    A Disciplina Arte, na Proposta Pedaggica do CEOP, abrange apenas as Artes

    Visuais, com estudos e prticas de diferentes escolas e estilos que

    caracterizam os pintores contemporneos, modernos e acadmicos, num

    estudo da abrangncia criadora de cada poca. Apesar desta Proposta

    Pedaggica no incluir o Ensino de Teatro, este na verdade realizado como

    atividade curricular da instituio, com aulas semanais de 50 minutos nos anos

    iniciais do Ensino Fundamental (1 ao 5 ano) e em forma de projeto teatral

    extraclasse para os anos seguintes (6 ao 9 ano), no qual apenas alunos

    interessados participam.

    Quanto estrutura fsica, a escola possui salas de aula de aproximadamente

    28 m2, um galpo coberto para atividades de Educao Fsica, quadra

    esportiva, parque de recreao infantil, laboratrio de Informtica e laboratrio

    de Cincias, biblioteca, cantina, videoteca, e as salas destinadas diretoria.

    A instituio preza pela articulao com a comunidade, executando reunies

    peridicas com pais do aluno, afim de mostrar as propostas pedaggicas para

    o ano letivo. Alm dos projetos extraclasses desenvolvidos pela prpria

    instituio, o CEOP ainda possui projetos em parceria com a UFOP, e a

    Prefeitura de Ouro Preto.

  • 16

    1.2.2 Observao e Prtica das Aulas de Teatro-Educao

    Como a instituio pequena, em cada turma h aproximadamente dez

    alunos. Os alunos sempre foram muito receptivos s aulas, e demonstraram

    muito carinho pelo professor. A escola no tem uma estrutura fsica prpria

    para as aulas de Teatro-Educao, sendo estas ministradas nas prprias salas

    de aula, no galpo, ou na quadra esportiva. O professor sempre tenta deslocar

    seus alunos para fora da sala, o que acho muito oportuno, por desenvolver

    assim outro ambiente para as aulas de Teatro-Educao, ocasionando um

    trabalho com resultados mais interessantes que aqueles alcanados em sala

    de aula.

    Muitos jogos utilizados durante as aulas foram baseados em Olga Reverbel

    (1917-2008). Esta foi uma pesquisadora e precursora de Teatro-Educao no

    Brasil, com estudos da prtica pedaggica do Teatro nas escolas. Em seus

    livros, Reverbel expe metodologias para serem realizadas atividades teatrais

    na Escola de uma maneira prtica e organizada. O objetivo do ensino do

    Teatro, para Reverbel (1997:22), no ter um aluno-autor, um aluno-pintor ou

    um aluno-compositor, mas sim dar oportunidades a cada um de descobrir o

    mundo, a si prprio e a importncia da arte na vida humana.

    Reverbel (1997:12) no tem como inteno mudar o ensino de teatro j

    estabelecido. Mas, antes, tem como objetivo apenas relatar o seu trabalho

    como arte-educadora, a importncia do teatro na formao da criana e do

    adolescente. No s do teatro, mas tambm das expresses plstica e musical

    para a formao da personalidade do aluno. A criana aprende atuando, por

    isso que importante que haja este encorajamento por parte do professor. A

    imitao o primeiro passo no desenvolvimento da individualidade da criana.

    Ento o jogo de imitao pode ser um timo comeo para o ensino da arte. Por

    isso que o ensino do teatro fundamental para que, com jogos de criao e

    imitao, a criana possa descobrir a si prpria.

  • 17

    Entre as tcnicas expostas por Reverbel para se trabalhar com os alunos,

    esto: tcnica corporal, vocal, musical, coreogrfica, da mmica, plstica e

    dramtica. Sobre o jogo dramtico na sala de aula, Reverbel (1997:25) o define

    como essencial para o desenvolvimento das capacidades criativas das

    crianas. Diferentemente do ator, a criana no finge ser um personagem, mas

    sim a mesma a personagem que inventa ou imita.

    Assim, as atividades foram realizadas satisfatoriamente, com as crianas

    desenvolvendo jogos dramticos com base em histrias contatas pelo

    professor, buscando formas criativas e espontneas de represent-las. Era

    notvel o prazer com que a maioria dos alunos realizava as atividades,

    questionando as histrias, recriando os finais, enfim, cada aluno, por meio do

    teatro, descobrindo o mundo, a si prprio e a importncia da arte na vida

    humana (REVERBEL, 1997:22). Achei muito animadoras as aulas onde os

    exerccios propostos por Reverbel foram utilizados.

    Alm disso, o professor sempre procurou me incluir nas suas aulas, dividindo a

    turma em dois grupos de trabalho, onde um destes ficava sob minha

    responsabilidade. Montamos cenas principalmente a partir do uso de imagens

    de revistas. Este foi a minha primeira experincia concreta como professor de

    Teatro. Foi muito interessante e ao mesmo tempo desafiador desenvolver uma

    cena com um grupo com o qual j tinha contato, porm no muito, pois s os

    observava at ento. Um grupo apresentou ao outro as cenas, e foi muito

    estimulante ver os resultados tanto do meu grupo quanto do grupo do

    professor, foi uma forma de se trabalhar um mesmo tema com perspectivas

    diferentes.

  • 18

    1.3 Breves Prticas de Observao: Relatos

    1.3.1 Projeto Arte Livre

    A Fundao Municipal de Cultura, juntamente com a Secretaria Municipal de

    Assistncia Social, ambas de Belo Horizonte, Minas Gerais, financiada pela

    Secretaria dos Direitos Humanos do Governo Federal, criaram um projeto

    social como uma ao piloto denominado Arte Livre. Neste projeto, por um ano

    (2008), foram realizadas oficinas no mbito artstico para jovens em estado de

    risco, vindos principalmente dos programas sociais da cidade de Belo

    Horizonte, a saber: Prestao de Servios Comunidade e Liberdade

    Assistida. Foram desenvolvidas oficinas nas reas de Artes Visuais, Dana,

    Msica, Teatro, e Literatura3.

    Eu e alguns colegas do Curso de Licenciatura em Artes Cnicas do

    DEAR/IFAC/UFOP fomos Belo Horizonte para observar, por um dia, o

    trabalho de um professor durante uma oficina de Teatro neste projeto.

    Observamos as atividades desenvolvidas apenas durante uma manh. Foi um

    contato breve, obviamente, porm no deixou de ser uma experincia

    significativa para mim, enquanto licenciando.

    Neste dia, houve a continuidade das cenas desenvolvidas durante os encontros

    anteriores, e, nestas cenas, a violncia urbana foi notoriamente evidenciada.

    Os adolescentes estavam ensaiando como um exerccio de memorizao para

    uma apresentao que os mesmos iriam fazer em breve. Infelizmente, aps

    este dia de observao, no tive mais contato com o projeto. Porm, foi muito

    interessante presenciar pela primeira vez, num projeto de forte cunho social, a

    utilizao de prticas pedaggicas em Teatro como uma tentativa para a

    transformao social do indivduo.

    3 Portal da Prefeitura de Belo Horizonte. Disponvel em: . Acesso em: 10/11/09.

  • 19

    1.3.2 Centro Pedaggico da UFMG

    O Centro Pedaggico da Universidade Federal de Minas Gerais (CP/UFMG)

    surgiu primeiramente como Ginsio de Aplicao da UFMG, como uma forma

    de suprir uma Lei Federal (9053/46) que visou criao de uma instituio

    para a prtica docente dos alunos de Licenciatura da UFMG. De Ginsio se

    tornou Colgio e, aps uma poltica de reestruturao, desde 1968 foi

    denominado como Centro Pedaggico da UFMG, atendendo sociedade na

    Educao Fundamental.

    O Centro Pedaggico tem como maior objetivo ser um local de renovao e

    experimentao educacionais, ou seja, tenta propor novos caminhos do

    cotidiano escolar, no s atendendo sociedade na prtica educativa das

    crianas e adolescentes, mas tambm criando novos caminhos para educar. O

    objetivo principal da instituio constituir-se como um local para a prtica

    pedaggica dos alunos de Licenciatura da UFMG, e assim ser tambm um

    campo de investigao, reflexo e experimentao da rea pedaggica,

    incentivando a pesquisa e a produo de conhecimento acadmico4.

    A observao nesta instituio aconteceu, a exemplo do Projeto Arte Livre, em

    apenas um dia. Tive a oportunidade de observar, primeiramente, um

    alongamento e um aquecimento que os estagirios do curso de Licenciatura

    em Artes Cnicas da UFMG realizaram com os adolescentes. O professor

    assumiu o seu posto de diretor logo aps esta prtica inicial, dando

    continuidade ao ensaio da j desenvolvida pea teatral sobre o bilogo Charles

    Darwin (1809-1882), j com figurino e cenrio. Por causa do pouco tempo de

    observao no Centro Pedaggico, no consegui perguntar ao professor se a

    pea foi desenvolvida atravs de uma criao coletiva com os alunos, ou como

    foram confeccionados os figurinos e cenrios. Ainda assim, foi interessante

    observar o trabalho do professor enquanto diretor teatral como motivo para

    4 Centro Pedaggico da UFMG. Disponvel em: . Acesso em: 12/11/09.

  • 20

    reflexo. Como dirigir uma cena com alunos? At que ponto se pode solicitar

    destes alunos aspectos mais diretamente ligados atuao teatral?

    realmente necessrio concluir o trabalho de Teatro-Educao com a montagem

    e apresentao de uma pea teatral? So questes importantes para refletir

    desde a observao, e novas respostas viro com mais estudos e

    experimentaes na rea.

    1.4 Perspectivas Educacionais das Observaes

    Certamente, esta minha experincia como observador de diversas aulas de

    Teatro foi muito relevante. Tive a oportunidade de observar aulas de Teatro em

    diferentes instituies educacionais: uma escola particular em Ouro Preto, uma

    instituio de ensino ligada a uma Universidade Federal, e um Projeto Social,

    os dois ltimos em Belo Horizonte. Os trs professores de Teatro-Educao

    que observei eram todos formados em Artes Cnicas, com diferentes prticas

    pedaggicas. Foi notvel, tambm, a diversidade da situao socioeconmica

    dos alunos que observei em aula: crianas e adolescentes de classe alta a

    baixa, sendo inclusive alguns em situao de vulnerabilidade social.

    Percebi que os trabalhos em escolas onde a maioria dos alunos teve a

    oportunidade de assistir a aulas de Arte desde o primeiro ano do Ensino

    Fundamental (CEOP e CP/UFMG), as aulas ocorreram num fluxo melhor, a

    grande maioria dos alunos participou ativamente dos exerccios e dos jogos

    propostos pelos professores. Estes discentes, ainda, receberam com mais

    disponibilidade s atividades propostas pelos professores, no mbito teatral,

    sem muitas restries.

    Quanto s prticas pedaggicas propriamente ditas, considero que os

    professores poderiam ter trabalhado melhor a forma pela qual os exerccios e

    jogos teatrais e dramticos foram solicitados. Melhor no sentido de terem mais

    cuidado para no usar muito de termos especificamente teatrais, ou se o

  • 21

    fizerem, que as expliquem, pois observei, em alguns momentos, muitas

    crianas e adolescentes confusos com o que era solicitado pelo professor.

    Penso, tambm, que houve pouca pacincia de alguns professores quanto s

    dificuldades enfrentadas por alguns alunos em algumas aulas prticas. Por fim,

    acredito ser importante uma seleo mais minuciosa dos jogos dramticos e

    teatrais, principalmente de acordo com a idade de cada turma.

    Percebi neste estgio minha preferncia educacional pela Educao Infantil e

    os anos iniciais da Educao Fundamental. Em algumas prticas com os

    alunos de sete a oito anos, quando o professor dividiu a turma em dois grupos,

    extrapolando minha funo de observador, gostei muito do trabalho

    desenvolvido. Notei que as crianas estavam mais dispostas s aulas de

    Teatro-Educao, as atividades propostas pelo professor foram melhor

    recebidas pelos mesmos, posso dizer que senti mais f cnica5 da parte deles.

    Por outro lado, nos alunos de treze a quinze anos no notei esta

    disponibilidade, esta havia apenas em poucos alunos, o que causou o meu

    desnimo em trabalhar com esta faixa etria. Tenho um maior interesse ainda

    em crianas de um a cinco anos, por ter afinidade com este pblico. Vejo que

    nesta fase da Educao Infantil que eles tm as primeiras relaes sociais, e

    que nesta faixa etria o Teatro pode contribuir muito para que estas relaes

    desenvolvam-se com mais tranqilidade, expressividade, alegria e afeto.

    Vejo uma grande importncia do Teatro na Educao Infantil porque o faz-de-

    conta, ou jogo dramtico, pode desenvolver na criana a curiosidade, interesse

    por novas experincias, originalidade, ter um comportamento ativo, etc. Alm

    disto, a criana pode lidar melhor com seus impulsos e desejos reprimidos pelo

    adulto, e sem precisar enfrentar as reais conseqncias de determinados atos.

    No entanto, o faz-de-conta no apenas uma imitao da realidade, este pode

    ajudar a criana a transformar a realidade, reformando-a a seu jeito para

    5 Expresso criada pelo teatrlogo russo Constantin Stanislavski (1863-1938), forma pela qual uma pessoa interpreta um sentimento fictcio com o mximo de convico possvel. Fonte: Info Escola. Disponvel em: . Acesso em: 10/11/09.

  • 22

    dominar a situao. Por exemplo: imitar a ida ao dentista pode ajudar a criana

    a lidar melhor com tal situao, por poder fazer tudo no seu tempo, recusar

    alguma atividade, corrigindo o que acha ser errado (JAPIASSU, 2007:32). A

    prtica do jogo dramtico auxilia a criana a apropriar-se da realidade para

    compreender aspectos da vida, dramatizando os diferentes papis da

    sociedade. Alm disso, a prtica pedaggica do Teatro na educao Infantil

    pode auxiliar as crianas a exercitarem tons de voz, corpo, fala, expresses

    faciais, alm de muitos outros aspectos psicomotores e expressivos.

    Portanto, comecei a vislumbrar, por meio da observao, o que pode ser um

    Teatro-Educador. Tive uma experincia nica, onde consegui definir melhor o

    meu caminho na vastido de possibilidades desta rea do Teatro-Educao.

    Espero que nos prximos estgios esta minha vontade em ser Teatro-

    Educador esteja cada vez mais presente na minha vida. Estou ansioso para

    mais desafios, eles surgiro para me auxiliar no meu caminho.

  • 23

    22.. EEssttggiioo SSuuppeerrvviissiioonnaaddoo:: PPllaanneejjaammeennttoo ee

    RReeggnncciiaa II

    Prticas de regncia na Escola Estadual Professor Soares Ferreira, em Mariana, Minas Gerais;

    e no Centro Educacional Pequeno Mundo, em Ouro Preto, Minas Gerais.

  • 24

    2.1 Introduo

    Sob a orientao do Professor Ailtom Gobira Alves, de fevereiro a agosto de

    2008, eu trabalhei como professor contratado para a disciplina Arte na Escola

    Estadual Professor Soares Ferreira, em Mariana MG. Trabalhei com todas as

    turmas da 7 srie (atual 8 ano) do Ensino Fundamental, de faixa etria entre

    treze e dezoito anos. Depois desta experincia como professor no Ensino

    Fundamental, procurei estagiar numa escola de educao infantil, pois era esta

    a idade com a qual eu mais me havia identificado durante meu perodo de

    estgio de observao. Por isso escolhi o Centro Educacional Pequeno Mundo,

    em Ouro Preto, Minas Gerais, uma escola de Educao Infantil e Fundamental

    - anos iniciais, que abrange as idades de um a dez anos. Neste Centro, lecionei

    para crianas entre dois e cinco anos, com a parceria da tambm aluna de

    Licenciatura em Artes Cnicas, Nicole Leo.

  • 25

    Perante um obstculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.

    Bertolt Brecht

  • 26

    Danilo Frana do Nascimento

    PROJETO PEDAGGICO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

    Projeto Pedaggico apresentado disciplina Estgio Supervisionado: Planejamento e Regncia I, do Curso de Licenciatura em Artes Cnicas do DEART/IFAC, sob orientao do Professor Ailtom Gobira Alves. FINALIDADE: Desenvolvimento de Prtica Pedaggica em Teatro-Educao no Ensino Fundamental.

    Ouro Preto

    Universidade Federal de Ouro Preto

    2008

  • 27

    2.2 Escola Estadual Professor Soares Ferreira

    2.2.1 Projeto Pedaggico no Ensino Fundamental

    2.2.1.1 Introduo

    Neste projeto pedaggico sero desenvolvidas pedagogicamente prticas

    cnicas como um meio de Ensino de Teatro na Educao Fundamental. O

    pblico-alvo so alunos de escolas formais do sexto ao nono ano, conjunto de

    turmas que abarca a faixa etria de onze a quatorze anos de idade.

    2.2.1.2 Justificativa

    No sculo XX, iniciou-se o movimento por uma educao ativa6 conhecido

    como Escola Nova. por meio deste que o papel do Teatro na Educao

    Formal adquire uma importncia psicopedaggica.

    Por outro lado, a incluso da Arte nos currculos escolares ocidentais vai ao

    encontro das influncias que a economia industrializada exerce, como diz

    Anbal Ponce (1995:145-146):

    [...] a burguesia no podia recusar instruo ao povo, na mesma medida em que o fizeram a Antiguidade e o Feudalismo. As mquinas complicadas que a indstria criava no podiam ser eficazmente dirigidas pelo saber miservel de um servo ou de um escravo [...] a livre concorrncia exigia uma modificao constante das tcnicas de produo e uma necessidade permanente de invenes.

    6 Movimento liderado por John Dewey, no qual a pedagogia de Jean-Jacques Rousseau que enfatiza a atividade da criana no processo educativo e defendia a importncia do jogo como fonte de aprendizagem encontrou campo para ser trabalhado. Fonte: MACHADO, Joo. John Dewey e a Escola Ativa. Disponvel em: . Acesso em: 13/11/2009.

  • 28

    Esta necessidade permanente de invenes pode ter influenciado a

    Pedagogia, no sentido de que se deveria dar importncia criatividade num

    sistema econmico em que so necessrios, cada vez mais, desempenhos

    criativos dos envolvidos. Alm disto, a criatividade tem importncia nas

    concepes pedaggicas atuais para atender aos ideais democrticos de

    liberdade de expresso e livre iniciativa do futuro cidado. E a presena do

    Teatro no currculo escolar justifica-se como um estmulo criatividade do

    educando. Pouco a pouco, foram sendo identificadas outras funes

    pedaggicas, teraputicas, semiticas e, sobretudo, artsticas, do Teatro na

    Educao.

    A obrigatoriedade do ensino do Teatro na educao formal brasileira entrou em

    vigor por meio da Lei 5.692/71, a qual determinou o ensino da Educao

    Artstica nos atuais Ensinos Fundamental e Mdio. Este foi o nome dado ao

    ensino integrado das linguagens cnicas (teatro e dana), plstica e musical.

    J a atual Lei 9.394/96 muda a expresso Educao Artstica para Ensino de

    Arte, fazendo da falta do S no termo ARTES um duplo sentido, sendo possvel

    diferentes leituras de seu significado. Pode significar tanto o ensino das artes

    plsticas ou visuais como ensino das diversas formas de expresso e

    linguagens artsticas (JAPIASSU, 2003:53).

    No jogo teatral no qual existem regras bem definidas, diferentemente do jogo

    dramtico o como se gradativamente trabalhado, proporcionando o

    conhecimento da linguagem artstica teatral. Este tipo de jogo pode, ainda,

    proporcionar ao jovem e adulto a possibilidade de trabalhar o coletivo e a

    socializao, alm de permitir a observao de diversos pontos de vista. Para

    Japiassu (2003:24) o Ensino da Arte tem uma abrangncia ainda maior:

    As justificativas para o ensino do teatro e das artes na educao escolar, inicialmente de carter contextualista ou instrumental, passaram a destacar, pouco a pouco, a contribuio singular das linguagens artsticas para o desenvolvimento cultural e o crescimento pessoal do ser humano, apresentando uma nova perspectiva para apreciao do papel das artes na educao: a abordagem essencialista ou esttica. Essa abordagem, diferentemente da perspectiva instrumental, defende a presena das artes no

  • 29

    currculo das escolas como contedos relevantes para a formao cultural do educando.

    Na perspectiva essencialista, portanto, o papel do ensino do Teatro nas

    escolas no se d somente para trabalhar habilidades correlatas, tais como

    criatividade, concentrao e memria, entre outras, nem somente para

    desenvolver atitudes como a cooperao e a socializao. O Teatro, como rea

    de conhecimento, leva, prinicipalmente, ao domnio, fluncia e

    compreenso estticas das diversas formas teatrais, que abarcam o patrimnio

    cultural milenar construdo pela humanidade no mbito da arte teatral.

    2.2.1.3 Objetivos7

    a) Geral

    Compreender o teatro em suas dimenses artstica, esttica, histrica, social e

    antropolgica.

    b) Especficos

    Reconhecer a prtica do teatro como tarefa coletiva de desenvolvimento

    da solidariedade social;

    Empregar vocabulrio apropriado para a apreciao e caracterizao

    dos prprios trabalhos, dos trabalhos de colegas e de profissionais do

    teatro;

    Compreender a organizao dos papis sociais em relao aos gneros

    (masculino e feminino) e contextos especficos como etnias, diferenas

    culturais, de costumes e crenas, para a construo da linguagem

    teatral;

    7 Os objetivos aqui propostos so baseados integralmente nos PCN de Arte (BRASIL, 1997).

  • 30

    Estabelecer relao de respeito, compromisso e reciprocidade com o

    prprio trabalho e com o trabalho de colegas na atividade teatral na

    escola;

    Compreender e distinguir as diferentes formas de construo das

    narrativas e estilos: tragdia, drama, comdia, farsa, melodrama, circo,

    teatro pico.

    2.2.1.4 Metodologia

    Com base nos PCN (BRASIL, 2007), como metodologia haver um estudo das

    diversas linguagens teatrais, seja atravs de figurinos, cenrios, iluminao,

    maquiagem, etc. Tambm, atividades no mbito corporal sero realizadas,

    como proposta para experimentar e se expressar enquanto linguagem teatral.

    Outro caminho metodolgico a realizao de improvisaes, atravs de

    estudos relacionados aos papis sociais e gneros. Como avaliao, pretende-

    se usar da auto-avaliao dos alunos, como uma forma de desenvolver o

    senso crtico, e tambm de um exerccio constante de discusses entre os

    alunos sobre as atividades desenvolvidas.

    2.2.2 O Ensino de Arte na Escola Pblica: uma Lio

    A Escola Estadual Professor Soares Ferreira se situa na Avenida Juscelino

    Kubitschek, nmero 21, em Mariana, Minas Gerais. Comecei o meu trabalho

    nesta escola em fevereiro de 2008, como contratado pelo Estado de Minas

    Gerais. Na poca eu estava ainda no quinto perodo do meu curso de Artes

    Cnicas, quando, durante a disciplina Estgio Supervisionado: Observao,

    havia ministrado apenas algumas aulas, ocasionalmente.

    Como esta escola pertence rede estadual de ensino de Minas Gerais, eu fui

    orientado pelas coordenadoras pedaggicas a usar como auxlio para o meu

    planejamento de aulas o Contedo Bsico Comum (CBC) de Arte que o

  • 31

    governo de Minas Gerais disponibiliza num site8. Este CBC afere como

    principal diretriz norteadora o contato do aluno com as diversas expresses

    artsticas, atravs da apreciao, do fazer e da contextualizao. O CBC

    considera como fator importante um ambiente propcio para as atividades de

    Arte, principalmente de um espao fsico prprio para o desenvolvimento das

    aulas. Ao contrrio do que preconiza este documento, notavelmente raro uma

    escola pblica estadual possuir uma estrutura fsica prpria para a disciplina

    Arte, e com a Escola Estadual Professor Soares Ferreira no diferente. Por

    muitas vezes foi necessrio utilizar o espao das salas de aula, do ptio ou da

    quadra esportiva, nunca tendo um espao especfico para as aulas de Arte.

    Ainda, o CBC enfatiza a importncia de diversas expresses artsticas

    Teatro, Dana, Msica e Artes Visuais em contato com o aluno, para que

    este compreenda a arte como um aspecto cultural, a si mesmo como um

    produtor e apreciador, e o artista como um ser social. Tambm, o CBC prope

    ao professor que escolha qual contedo ser estudado mais detalhadamente, de

    acordo com sua formao. Quanto queles contedos que no sejam do

    domnio do professor, que este busque juntamente com a escola membros da

    comunidade que dominem o assunto em questo e possam ajudar no processo

    ensino/aprendizagem de Arte, atuando como agentes informadores.

    2.2.3 Descrio e Reflexes sobre as Aulas de Arte

    Conforme os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN), base para o CBC, a

    disciplina de Arte abrange quatro reas: Artes Visuais, Msica, Dana e Teatro.

    Por esta razo, no pude focar totalmente as minhas aulas no Teatro, minha

    rea especfica de formao. Para os dois primeiros bimestres, fiz o

    planejamento de trabalhar as Artes Visuais e o Teatro, com jogos teatrais, Pop

    Art, Cinema e improvisaes atravs de notcias de jornais.

    8 Centro de Referncia Virtual do Professor. Disponvel em: . Acesso em: 30/10/2009.

  • 32

    Para os ltimos dois bimestres do ano, havia planejado trabalhar as reas de

    Dana e Msica, mas infelizmente no continuei o meu contrato com a escola,

    encerrando-o em agosto de 2008, pois no me identifiquei com o trabalho

    nesta faixa etria, alm da direo da escola ter me desestimulado muito em

    continuar o meu trabalho na mesma, mesmo considerando o apoio da

    coordenao pedaggica.

    Era a primeira vez que os meus alunos faziam uma aula de Arte, sendo algo

    totalmente novo para eles. Este um problema do sistema de ensino pblico,

    pois o contato com a arte comea muito tarde, no oitavo ano. Para introduzi-los

    s minhas aulas, decidi trabalhar os jogos teatrais de Viola Spolin (1906-1994).

    Esta foi uma importante autora e diretora teatral norte-americana, sendo muito

    conhecida por ter sistematizado um Sistema de Jogos Teatrais, conhecidos

    internacionalmente como Spolin Games. O primeiro contato com os alunos foi

    bem complicado, pois eles no estavam dispostos ao combinado para as

    atividades de Jogos Teatrais, como tirar o tnis, usar uma roupa mais

    confortvel, ou at mesmo sentar no cho do ptio. Antes de comear as

    atividades, eu sempre propus um alongamento, onde tambm os alunos no

    queriam, por no praticarem isto regularmente, nem mesmo nas aulas de

    Educao Fsica. Portanto, houve muita indisponibilidade da parte deles, que

    me mostrou um grande desafio a superar neste meu primeiro estgio de

    regncia.

    Para trabalhar com as Artes Visuais, ministrei aulas de um movimento artstico

    que particularmente acho muito interessante: o Pop Art. O Movimento Pop Art

    surgiu na Inglaterra no final da dcada de 1950, sendo denominado pela

    primeira vez pelo crtico ingls Lawrence Alloway (1926-1990). Neste

    movimento artstico, smbolos e produtos principalmente dos Estados Unidos

    foram utilizados como temas das obras de diversos artistas da poca9. Para

    comear a trabalhar com a Pop Art, primeiro explicitei sobre a teoria da

    Indstria Cultural, dos filsofos alemes Theodor Adorno e Horkheimer (1986).

    9 Fonte: Enciclopdia Ita Cultural. Disponvel em: . Acesso em: 15/11/2009.

  • 33

    Nesta teoria, entende-se que o Sistema Capitalista transformou a arte e a

    cultura num mercado, para serem consumidas em massa, manipulando e

    padronizando-as, com o foco apenas no lucro10.

    Portanto, na idia do consumismo, propus para que os alunos recortassem

    imagens de revistas que remetessem a este tema. Assim, foram aparecendo

    imagens de modelos com roupas e sapatos de grifes famosas, ltimos

    lanamentos de notebooks, carros, celulares e qualquer produto que esteja, de

    uma forma direta ou indireta, tentando atingir a necessidade do leitor da revista

    em consumir cada vez mais. As turmas foram divididas em grupos, e cada um

    ficou incumbido de fazer um quadro de Pop Art, usando como tcnica a

    colagem. Os quadros ficaram muito interessantes e criativos11, todos foram

    plastificados e expostos num grande mural no ptio da escola, sendo notvel

    um melhor aproveitamento e interesse no aprendizado dos alunos quanto ao

    contedo proposto.

    No segundo bimestre, ministrei aulas de improvisao atravs de notcias de

    jornais. Tive esta idia atravs de um estudo sobre as atividades do Teatro-

    Jornal, de Augusto Boal (1971-2009), um importante teatrlogo brasileiro,

    idealizador do Teatro do Oprimido (TO). Boal (1971:57) desenvolveu a tcnica

    do Teatro-Jornal, o qual, segundo o autor,

    [...] a realidade do jornalismo porque apresenta a notcia diretamente ao espectador sem o condicionamento da diagramao. Algumas de suas tcnicas, como a do improviso so a realidade mesma: aqui no se trata de representar uma cena, mas de viv-la cada vez. E cada vez nica em si mesma como nico cada segundo, cada fato, cada emoo. Neste caso, jornal fico, Teatro-Jornal realidade.

    No fiz o meu trabalho nesta escola nos moldes polticos do Teatro-Jornal,

    usei-o como base de um trabalho de criao de cenas a partir de improvisao

    a ser desenvolvido com os meus alunos. Cada turma foi dividida em quatro

    grupos, e selecionei algumas notcias de jornais de Mariana e Belo Horizonte.

    10 DUARTE, 2004. 11 Um destes quadros de Pop Art est em Anexos II (Figura 1).

  • 34

    Cada grupo selecionou uma notcia, a partir da qual deveria criar cenas com

    outros possveis desfechos. Depois de trs semanas de criao e ensaios,

    cada grupo apresentou a cena aos outros grupos, que serviram de platia.

    Pude notar nos grupos alguns alunos que assumiram espontaneamente o

    papel de diretor, enquanto em outros grupos a minha interveno direta era

    mais necessria.

    Apesar da maioria dos alunos desta escola no ser de regies pobres e

    violentas de Mariana, o tema que surgiu em praticamente todas as cenas foi a

    violncia urbana. Acredito que seja por que este o tema mais explorado pela

    mdia atualmente. Suzana Cabral (2001:62) reflete sobre a influncia da mdia

    no comportamento dos alunos:

    Os modelos da mdia, dos artistas, ou, no outro oposto, dos bandidos e aproveitadores, podem ser mais atrativos para os pr-adolescentes que vivem sua crise de identidade, a busca de modelos de identificao. [...] O referencial do grupo de iguais e bando pode encontrar modelos desviantes como o dos arrastes, dos bandos de pivete, dos bailes funk, com suas pancadarias, ou das lutas entre torcidas organizadas nos campos de futebol.

    Dentro do campo da violncia urbana, surgiram cenas de conflitos entre pais e

    filhos, marido e mulher, assaltos a mo armada, seqestros, etc. Acredito que

    seja prazeroso para os alunos realizarem tais cenas de brutalidade porque

    nesta atividade de criao de cenas a partir de improvisaes com notcias de

    jornais foi aberta a possibilidade de praticar e, de certa forma, pensar sobre os

    crimes que so proibidos pela sociedade, mesmo sendo to comuns,

    principalmente por serem notificados amplamente pela mdia. No mbito

    teatral, este foi o melhor resultado de minha experincia nesta escola.

    No decorrer do segundo bimestre, uma professora da disciplina de Literatura

    que estava estudando com os seus alunos sobre o poeta Castro Alves (1847-

    1871)12, me solicitou que a ajudasse a montar algumas cenas com algumas

    12 Poeta baiano que usava suas poesias como uma forma para o combate escravido, sendo muito conhecido como o Poeta dos Escravos. Fonte: Enciclopdia Ita Cultural. Disponvel em: . Acesso em: 13/10/09.

  • 35

    poesias. Eu j havia programado e comeado o meu contedo para o segundo

    bimestre, mas mesmo assim eu acolhi a solicitao da minha colega em duas

    turmas. O problema que parte do meu contedo foi deixada de lado, para o

    aprendizado de outra disciplina. Vianna e Strazzacappa (2008:127) constatam

    que esta situao vivenciada por mim no infreqente. Segundo estas

    autoras, comum professores de literatura, lngua portuguesa ou histria

    lanarem mo de recursos teatrais em seus cursos, por meio da dramatizao

    de textos literrios ou de fatos histricos, para dinamizar as aulas expositivas.

    O problema no fazer aes multidisciplinares, o que realmente se coloca

    como um desservio que o interesse dessas atividades no fazer Teatro,

    mas us-lo como um mecanismo para que o aluno compreenda o contedo

    que estudado em determinada disciplina.

    Num primeiro momento pensei mesmo que se tratava de uma proposta para

    multidisciplinaridade13 entre Literatura e Arte, mas, infelizmente, o que

    aconteceu foi simplesmente o uso da prtica teatral para o ensino de um

    contedo de outra disciplina. Como eu tive muito pouco tempo para montar as

    cenas, fui logo no contedo da disciplina de Literatura, sem trabalhar muito

    com o contedo teatral. H que se tomar cuidado para que a Arte no se

    transforme apenas numa ferramenta para o ensino das disciplinas

    consideradas mais importantes, como o Portugus, a Histria ou a Matemtica.

    Antes, h que se firmar como uma rea de conhecimento. extremamente

    importante a participao da escola, que no considere a Arte como

    secundria, menos importante diante das outras.

    Infelizmente, notei que esta disciplina era bem vista pela diretora desta escola,

    pois sempre que precisei da ajuda da escola como uma base para mostrar aos

    alunos a importncia da Arte, esta ajuda me foi negada. Como exemplo, posso

    citar: num processo de criao de cenas atravs de notcias de jornais14, usei o

    13 A multidisciplinaridade a desfragmentao das disciplinas escolares consideradas de um nico nvel, uma apoiando outra para atingir um objetivo. Fonte: Dicionrio Interativo da Educao Brasileira. Disponvel em: . Acesso em: 12/11/09. 14 Para mais informaes a respeito desta atividade desenvolvida, vide p. 33.

  • 36

    ptio da escola. Como este local ficava prximo s salas de aula, e os meus

    alunos precisavam em algumas cenas de fazer barulho, a diretora pediu para

    que eu no ministrasse mais aulas l, mas que eu fosse trabalhar na quadra

    esportiva, sendo de difcil disponibilidade (todas as aulas de educao fsica

    so realizadas ali), alm de no ser coberta. No novidade este pouco caso

    que a disciplina de Arte recebe de muitas instituies de ensino, principalmente

    se formos atentar para a estrutura fsica das aulas teatrais das escolas. Trago

    novamente para o meu texto Vianna e Strazzacappa (2008:119), e fao minhas

    as palavras destas autoras:

    Se uma escola compreende que a fsica, a qumica e a biologia precisam de laboratrios minimamente equipados para o bom desempenho de suas funes, no seria desprezo considerar que o estudo de arte pode ser realizado em qualquer lugar, com qualquer coisa, em vez de criar recursos para realiz-lo com qualidade? E por que a escola aceita to facilmente a desculpa de que no existe material para o trabalho artstico e fica to indignada com a falta de recursos para outros aprendizados? No ser porque, no fundo, todos temos esse certo preconceito sobre a arte, por consider-la menor ou suprflua, a primeira da lista em caso de conteno de despesas e a ltima em questo de investimento?

    Era exatamente este preconceito apontado pelas autoras, o que eu encontrei

    na postura da diretora da escola aqui referida. Considerando que o estudo de

    Teatro-Educao em grande parte realizado atravs da prtica, o que se usa

    so o corpo e a voz do aluno, um trabalho fsico, que se d no tempo e no

    espao, elementar que haja uma estrutura prpria para as aulas de Teatro na

    escola. Estas normalmente so ministradas dentro da sala de aula

    convencional, sendo necessria a remoo das carteiras e cadeiras, o que

    ocasiona um espao pequeno e limitado, alm de perda de tempo. Tambm,

    vlido considerar que outras salas esto muito prximas, podendo assim

    atrapalhar as outras aulas por causa do natural barulho das prticas teatrais.

    Felizmente, pude sempre contar com as coordenadoras pedaggicas da

    escola, pois elas foram o meu maior refgio, sempre me apoiaram no que

    precisava. Certamente o meu estgio como professor de Arte numa escola

    pblica estadual de Ensino Fundamental foi uma grande lio, por ter me

    possibilitado vivenciar profissionalmente o que a maioria dos professores de

  • 37

    escola pblica mais reclama na atualidade: a falta de estrutura e apoio da

    escola e do governo, indisciplina dos alunos, baixa remunerao salarial, etc.

    Consequentemente, o professor fica desmoralizado diante desta situao

    conflituosa. Esta experincia me possibilitou o que o sistema de estgios do

    curso de Artes Cnicas da UFOP tenta oferecer: o contato do estudante com a

    prtica pedaggica do Teatro em diversos nveis de Ensino, de uma forma

    diversificada.

  • 38

    Cada vez que ensinamos prematuramente a uma criana algo que ela poderia

    ter descoberto por si mesma, esta criana foi impedida de inventar e

    conseqentemente de se desenvolver.

    Jean Piaget

  • 39

    Danilo Frana do Nascimento

    PROJETO PEDAGGICO NA EDUCAO INFANTIL

    ATIVIDADES LDICAS NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANA

    Projeto Pedaggico apresentado disciplina Estgio Supervisionado: Planejamento e Regncia I, do Curso de Licenciatura em Artes Cnicas do DEART/IFAC, sob orientao do Prof. Ailtom Gobira Alves. FINALIDADE: Desenvolvimento de Prtica Pedaggica em Teatro-Educao na Educao Infantil, no Centro Educacional Pequeno Mundo.

    Ouro Preto

    Universidade Federal de Ouro Preto

    2008

  • 40

    2.3 Centro Educacional Pequeno Mundo

    2.3.1 Projeto Pedaggico na Educao Infantil

    2.3.1.1 Introduo e Justificativa

    Na proposta oficial do MEC Referncia Curricular Nacional para a Educao

    Infantil (RCNEI)15 defendida a especificidade da Educao Infantil, expondo

    as diferentes concepes da infncia. O texto governamental RCNEI esclarece

    que brincar significa garantir o espao da atividade ldica na Educao Infantil.

    O texto ainda expe a importncia do faz-de-conta como um meio de os

    professores analisarem o processo de desenvolvimento da criana, atravs do

    uso de diversificadas capacidades e recursos afetivos. Ainda sobre o faz-de-

    conta, o documento enfatiza a sua importncia, como interao para as

    crianas, devendo ser assegurado como uma rotina pedaggica ao longo de

    toda a Educao Infantil.

    A experincia do faz-de-conta faz com que a criana aja de uma forma

    controlada, onde a mesma consiga dominar a sua maneira de sentir o

    sentimento, o mesmo recurso que um ator usa nas suas representaes

    teatrais. O sentimento esttico e o sentimento ldico se constituem e so

    mantidos pela imaginao, que os refora. Ento, as emoes suscitadas pelo

    faz-de-conta, segundo Japiassu (2007:56), so inteligentes, pois so emoes

    provocadas atravs da imaginao.

    Piaget (1971), Luria (1932) e Vygotsky (1984) escreveram sobre a importncia

    pedaggica do faz-de-conta na Educao Infantil. Este possui diferentes tipos

    de terminologias por vrios estudiosos na rea: jogo infantil (Freud), jogo

    simblico (Piaget), brinquedo (Vygotsky), jogo de papis (Ekonin), jogo

    dramtico (Peter Slade); outros o tm chamado como dramatizao, bem como

    teatro infantil.

    15 BRASIL, 1998.

  • 41

    Vygotsky (apud JAPIASSU, 2007:19-22) conceituou a atividade criadora como

    toda realizao humana criadora de algo novo. Ele explica que h duas

    modalidades bsicas que servem como impulso na conduta humana: o impulso

    reprodutivo (vinculado memria) e o criador (vinculado criatividade).

    Segundo Japiassu (2007:33), a criatividade, pensada de maneira mais ampla,

    possibilita enxergar com nitidez a importncia dos estmulos capacidade

    esttica do pr-escolar e o papel da imaginao criadora no pleno

    desenvolvimento cultural da criana.

    2.3.1.2 Objetivos

    a) Geral

    Desenvolver a criana de at seis anos de idade nos aspectos psicolgico,

    social, intelectual e fsico, enfatizando o seu desenvolvimento na cultural e nas

    artes.

    b) Especficos16

    Ter uma imagem positiva de si, ampliando sua autoconfiana,

    identificando cada vez mais suas limitaes e possibilidades, e agindo

    de acordo com elas;

    Identificar e enfrentar situaes de conflitos, utilizando seus recursos

    pessoais, respeitando as outras crianas e adultos e exigindo

    reciprocidade;

    Valorizar aes de cooperao e solidariedade, desenvolvendo atitudes

    de ajuda e colaborao e compartilhando suas vivncias;

    Brincar;

    16 Os objetivos especficos aqui propostos so baseados integralmente no RCNEI (BRASIL, 1998).

  • 42

    Adotar hbitos de autocuidado, valorizando as atitudes relacionadas

    com a higiene, alimentao, conforto, segurana, proteo do corpo e

    cuidados com a aparncia;

    Identificar e compreender a sua pertinncia aos diversos grupos dos

    quais participam, respeitando suas regras bsicas de convvio social e a

    diversidade que os compe.

    2.3.1.3 Metodologia

    Haver nas aulas, tendo como ponto de partida a perspectiva ldica do faz-de-

    conta, apropriada faixa etria atendida, o uso de estratgias pedaggicas

    como rodas de conversa e contao de histria, jogos dramticos

    improvisacionais sobre as relaes sociais, confeco de bonecos e materiais

    cnicos, representao de cenas cotidianas ou fictcias, e Jogos Teatrais.

    Juntamente com estas prticas, podem-se trabalhar tambm as Prticas

    Psicomotoras17, principalmente na Educao Infantil. Durante uma aula de

    cinqenta minutos, podem ser trabalhados com as crianas materiais

    relacionais pouco estruturados, tais como: jornais, bolas grandes, tecidos,

    bambols, bales, argila, caixas de papelo, bastes, pintura, bastes,

    barbantes ou ls, bolinhas de borracha, massagem corporal ou todos estes

    elementos reunidos numa prtica s.

    17 As Prticas Psicomotoras no mbito da Psicomotricidade Relacional so um conjunto de prticas onde o corpo se movimenta atravs do espao e do tempo, com o apoio da msica e pelo uso de materiais pouco estruturados, como jornais, tecidos ou bales. A Psicomotricidade pode ser entendida como conceitos da psicologia gentica e da psicanlise (atividade ldica). J a Psicomotricidade Relacional significa jogo livre e espontneo; expresses ldicas corporais tnico-motoras. (CABRAL, 2001).

  • 43

    2.3.2 A Escola e seu Projeto Poltico Pedaggico18

    O Centro Educacional Pequeno Mundo se situa na Rua Tom de Afonso,

    nmero 88, gua Limpa, Ouro Preto, Minas Gerais. Uma escola particular,

    sendo as professoras-scias as administradoras da instituio. Em seu Projeto

    Poltico Pedaggico, a escola identifica o aluno como o responsvel pelo seu

    prprio crescimento. Sendo assim, a escola garante o envolvimento ativo do

    mesmo no processo ensino-aprendizagem, com liberdade em pesquisar,

    ensinar, aprender, pesquisar, divulgar a sua prpria cultura, o pensamento, a

    arte, o saber, estimulando o desenvolvimento do raciocnio e da crtica.

    Ainda de acordo com o seu Projeto Poltico Pedaggico, a escola tem como

    objetivo alcanar sempre o dilogo e a participao efetiva dos pais e da

    comunidade na vida escolar de seus filhos e no cotidiano da escola, como

    parceiros. Ainda, a escola Pequeno Mundo entende a criana enquanto ser

    social, psicolgico e cultural, situada histrica e geograficamente, em pleno

    processo de aprendizagem e desenvolvimento de suas habilidades scio-

    afetivas, fsicas e cognitivas, desenvolvendo assim seus direitos e deveres de

    cidado.

    Por isso, a pr-escola tem um espao educativo de formao pessoal e social e

    de conhecimento do mundo, possibilitando assim a vivncia da cidadania, as

    trocas culturais, sociais e afetivas, construindo valores, habilidades e

    conhecimentos. Como se pode notar, esta escola utiliza dos mtodos do

    sciointeracionismo para reger suas concepes pedaggicas, pois acredita

    que a criana constri conhecimento na interao com o meio scio-cultural

    que a envolve e que envolvido por ela.

    A vertente interacionista tem como maior representante Jean Piaget (1896-

    1980) este acredita que o desenvolvimento cognitivo da criana se d atravs

    de fatores biolgicos em interao com o meio no qual o sujeito est inserido; a

    relao se d entre o sujeito e o objeto. J a vertente sciointeracionista

    18 CENTRO EDUCACIONAL PEQUENO MUNDO, 2007.

  • 44

    tendo como maior representante Lev Vygotsky (1896-1934) acredita que o

    desenvolvimento cognitivo acontece atravs de trocas entre parceiros sociais,

    por meio de processos de mediao (professor) e interao (cultura); a relao

    se d entre o sujeito e o objeto, porm esta relao est sempre fortemente

    mediada pela cultura.

    Acredito que a Escola Pequeno Mundo realmente tem esta viso quanto

    educao das crianas. As professoras sempre foram preocupadas que as

    crianas mantivessem contato com diversos tipos de vivncias, como exemplo:

    livros, filmes, brinquedos para serem utilizados em grupo, reas de lazer,

    passeios pela cidade e regio, alm das aulas de Teatro. Mas infelizmente o

    Teatro no faz parte da grade de disciplinas da escola, apesar de ser muito

    apreciada por todos da escola. As aulas sempre acontecem por meio de alunos

    de Licenciatura em Artes Cnicas que precisam de horas de Estgio de

    Regncia estes trabalham sem uma remunerao mensal , sendo assim

    financeiramente confortvel para a Escola, mas para o trabalho de Teatro-

    Educao no interessante, pois sempre se comea um trabalho novo e

    termina junto com o Estgio.

    Quanto estrutura fsica, a Escola Pequeno Mundo possui cinco salas de aula,

    uma biblioteca com sala de vdeo, trs banheiros, uma cozinha, refeitrio e

    espaos para lazer. E num destes espaos de lazer onde so realizadas as

    aulas de Teatro. Esse local fechado para que as aulas possam ocorrer sem

    interrupes de outros alunos, que brincam nos outros espaos.

    Como avaliao de aprendizagem do aluno, preenchida uma ficha individual,

    pelo professor regente de cada turma, ao final de cada trimestre. Para a escola,

    a avaliao tem como papel a verificao dos conhecimentos e habilidades de

    aprendizagem que foram oferecidas criana, que ajudaro no replanejamento

    da ao educativa. importante que a avaliao seja processual, contnua,

    investigativa, diagnstica, prevalecendo os aspectos qualitativos.

  • 45

    2.3.3 Experincia Pedaggica das Aulas de Teatro

    As professoras-diretoras que nos receberam sempre foram muito receptivas s

    aulas de Teatro, facilitando ao mximo possvel o acesso aos recursos da

    escola. Comprometidas com o trabalho, elas sempre nos ajudaram no

    desempenho das aulas e no trato com os alunos. O projeto pedaggico que

    apresentei Escola Pequeno Mundo foi o mesmo que fiz para a disciplina

    Jogos Dramticos e Prticas Psicomotoras na Educao Infantil no 5 perodo

    universitrio, com algumas adaptaes. Os alunos so muito receptivos s

    aulas, mesmo com muitos desvios de ateno, o que normal nesta faixa

    etria, e competindo a mim saber mediar problemas como este durante as

    aulas.

    Foi muito complicado e sensvel o primeiro contato com as crianas,

    principalmente das crianas de dois e trs anos. Tive que tomar cuidado, pois

    apenas a minha presena j as assustava, por eu ser um estranho entre elas.

    Com o tempo, este medo foi acabando, principalmente quando eu contava

    pequenas histrias e as representava com fantoches, que depois os alunos

    podiam tambm experimentar, brincando com os mesmos. Com estas crianas,

    procurei tambm trabalhar as Prticas Psicomotoras, que estavam previstas no

    meu Projeto Pedaggico apresentado escola.

    Estas prticas auxiliam o sujeito a se manifestar espontaneamente, tanto no

    campo Imaginrio, quanto nos Simblico e Real19, surgindo assim os jogos

    dramticos espontneos. uma brincadeira livre, onde h poucas regras, que

    tem um carter educacional e ao mesmo tempo psicoprofiltico20, abrindo

    espao para a construo de si mesmo por meio da relao com o outro. As

    principais prticas realizadas na escola foram com os seguintes materiais:

    19 Lacan, de acordo com teorias freudianas, explicita o Imaginrio como sendo o registro psquico do ego do sujeito. O Real o que sobra desta captao psquica do Imaginrio. J o Simblico a lei que rege o indivduo, atravs do Outro. Fonte: BRAGA, Maria Lucia. As trs categorias Peircianas e os trs registros Lacanianos. Disponvel em: . Acesso em: 21/10/09. 20 Psicoprofilaxia o estudo que tem por objetivo antecipar a ocorrncia de disfunes no indivduo, com base na Psicologia. Fonte: Vinculum. Disponvel em: . Acesso em: 02/12/09.

  • 46

    jornais, giz de cera em papis, bales, e tecidos, garantindo bons resultados de

    interao, espontaneidade e criatividade dos alunos. nas aulas de Teatro

    onde se pode melhor aplicar tais prticas, pois nestas onde h um espao

    para que as experimentaes ldicas melhor aconteam.

    As prticas psicomotoras certamente ajudaram muito o desenvolvimento de

    minhas aulas com as crianas da faixa etria de dois e trs anos. Aos poucos

    elas foram se acostumando a mim e minha parceira de trabalho. Com os

    jornais, esta interatividade foi muito maior, pois as crianas iam a mim quando

    estavam com medo ou para me mostrar algo de novo que fizeram com os

    jornais. Isto possibilitou uma proximidade maior dos professores com os alunos

    e um prazer para a criao dos jogos dramticos desenvolvidos nas aulas.

    Com as crianas de quatro e cinco anos foram realizados jogos dramticos,

    como meio de estimular os processos criativos infantis, pois na brincadeira do

    faz-de-conta que faz com que os mesmos ocorram. Por meio destes, segundo

    Japiassu (2007:56), as crianas podem reelaborar as experincias vividas,

    construindo realidades imaginrias de acordo com seus desejos, necessidades

    e motivao.

    Eu e minha parceira de trabalho utilizamos em muitas aulas roupas de fantasia

    (figurinos, no vocabulrio teatral) que a escola possui num acervo, sendo muito

    solicitadas pelos alunos de quatro e cinco anos. Num primeiro momento,

    estavam livres para criarem personagens, movimentos, vozes, situaes,

    sentimentos, juntamente com os figurinos. Aos poucos as regras eram

    estabelecidas, para o bom andamento das aulas. Depois das experimentaes

    com regras, a turma era dividida entre os atores e a platia, e vice-versa.

    Todos atuavam e tambm assistiam.

    Em outubro de 2008, na escola foi realizada durante uma semana uma

    comemorao pelo Dia da Criana. Nicole Leo, Gardnia Leo e eu ficamos

    responsveis pela parte artstica da comemorao, com peas teatrais infantis,

    improvisaes com clowns, contao de histria e oficina de mscaras. A

    semana transcorreu muito satisfatria, por fazer com que houvesse uma

  • 47

    interao bem maior entre ns e os alunos, e tambm por nos ter

    proporcionado levar aos mesmos um pouco do nosso trabalho como artistas

    Teatro-Educadores.

    Notei que, aps esta semana, os personagens apresentados por ns nas

    peas teatrais surgiram em muitos jogos dramticos das crianas durante as

    aulas. Elas recriaram as histrias, desenvolvendo principalmente novos

    desfechos. Tambm, numa atividade desenvolvida com as crianas de

    desenhos a base de tinta guache, estas evidenciaram muito os personagens

    apresentados por ns nas peas teatrais21. Foi muito interessante notar esta

    importante interveno das peas teatrais nas aulas de Teatro-Educao.

    A minha experincia nesta escola foi essencial na minha formao. Tive a

    oportunidade de conhecer e praticar o que o trabalho de Teatro-Educao pode

    oferecer para o desenvolvimento do ldico e da criatividade das crianas,

    atravs de jogos dramticos, prticas psicomotoras, contao de histrias,

    Jogos Teatrais, etc. Assim, reafirmei a minha preferncia profissional, pois

    realmente foi o pblico com o qual mais me identifiquei para trabalhar entre

    todas as minhas experincias no mbito educacional, seja por causa do

    carinho que sinto pelo pblico infantil, seja pelos bons resultados que obtive

    com as atividades nesta escola.

    21 Trs destes desenhos esto em Anexos II (Figuras 2, 3, 4).

  • 48

    33.. EEssttggiioo SSuuppeerrvviissiioonnaaddoo:: PPllaanneejjaammeennttoo ee

    RReeggnncciiaa IIII

    Prticas de regncia no Projeto de Extenso Luz que Anda: a ao sociocultural do teatro na

    comunidade de Serra Negra, Minas Gerais.

  • 49

    A educao sozinha no transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

    Paulo Freire

  • 50

    Danilo Frana do Nascimento Renata Patrcia da Silva

    LUZ QUE ANDA: A AO SOCIOCULTURAL NA COMUNIDADE DE SERRA NEGRA-MG

    A PRTICA PEDAGGICA DO TEATRO EM COMUNIDADE

    Projeto Pedaggico apresentado disciplina Estgio Supervisionado: Planejamento e Regncia II, do Curso de Licenciatura em Artes Cnicas do DEART/IFAC, sob orientao do Professor Ailtom Gobira Alves e da Professora Nicaulis Conserva. FINALIDADE: Desenvolvimento de Prtica Pedaggica em Teatro na Comunidade, no Projeto de Extenso Luz que Anda.

    Ouro Preto

    Universidade Federal de Ouro Preto

    2009

  • 51

    3.1 Projeto Pedaggico do Projeto de Extenso Luz que Anda

    3.1.1 Introduo

    O Projeto Luz que Anda foi idealizado em 2004 pela professora Bettina Vlter,

    da Universidade Alice Hochschule Salomon e a pedagoga brasileira Geralda

    Araujo Guevara. Posteriormente, a professora Marion Kster, da Universidade

    de Msica e Teatro de Rostock foi convidada a estabelecer parceria para

    desenvolver atividades ligadas ao Teatro com as crianas e adolescentes da

    comunidade. A iniciativa do Projeto resultou na criao da Associao de

    Moradores de Serra Negra (AMOSENA), sob presidncia da moradora de

    Serra Negra e importante agente sociocultural, Taciana de Arajo Soares. A

    AMOSENA atualmente trabalha na ampliao de sua sede na praa principal

    da comunidade a fim de transform-la em um espao cultural.

    A comunidade conta com dois grupos de Teatro, um de crianas e outro de

    adolescentes, com atividades que envolvem jogos tradicionais, teatrais,

    Prticas Psicomotoras22 e montagem de espetculos. Tendo em vista a

    continuidade mais prxima do trabalho e, levando em considerao a distncia

    entre os dois pases, a Professora Marion firmou parceria com o

    DEART/IFAC/UFOP, em 2008, com o intento de que as atividades j

    desenvolvidas h cerca de quatro anos tivessem uma continuidade. Portanto, o

    objetivo do Projeto Luz que Anda: a ao sociocultural em Teatro na

    comunidade de Serra Negra-MG est focado na formao de Arte-Educadores

    locais e na capacitao de professores de escolas da regio, alm do resgate

    da cultura local e da construo da autonomia da comunidade.

    22 Para mais informaes sobre os conceitos de Prticas Psicomotoras, vide p. 42.

  • 52

    3.1.2 Justificativa

    A dinamizao da Comunidade proposta por este Projeto implica em um

    trabalho voltado para o resgate da histria dessas pessoas, traos culturais

    desse local que sero abordados nos processos artsticos e,

    conseqentemente, resgatados pela Comunidade que participa das

    apresentaes artsticas, seja como criadores ou espectadores que completam

    essa criao artstica.

    Um aspecto proposto pelo presente Projeto a formao de agentes locais e a

    capacitao de professores. Mas por que capacitar professores? A capacitao

    dos professores da regio se d pelo fato de que Serra Negra uma

    comunidade rural que no possui escola. Crianas e adolescentes precisam se

    deslocar cidade mais prxima, So Sebastio do Oeste, para estudarem.

    Assim, ao proporcionar aos professores um contato maior com as linguagens

    artsticas, cultiva-se o terreno para que o trabalho desenvolvido na

    Comunidade desses alunos seja levado e reconhecido no mbito escolar.

    Alm de desenvolverem Oficinas de Teatro com as crianas da comunidade, os

    adolescentes de Serra Negra, atravs do trabalho que desenvolvem dentro do

    Projeto Luz que Anda, oferecem oficinas na escola para alunos do Ensino

    Fundamental, em que a autonomia, na qual o Projeto se objetiva, j vem sendo

    fomentada com o apoio de um dos parceiros, que a escola. Portanto, o

    Projeto desenvolvido na comunidade de Serra Negra prope uma insero

    scio-cultural atravs do Teatro-Educao, possibilitando aos envolvidos um

    contato com o fazer/contextualizar/ver/contextualizar artstico23.

    23 Proposta Triangular, idealizada por Ana Mae Barbosa (BARBOSA, 1998).

  • 53

    3.1.3 Objetivos

    a) Geral

    Dinamizar na comunidade a construo da identidade, autonomia e resgate da

    cultura.

    b) Especficos

    Desenvolver oficinas de Teatro-Educao para/com os moradores de

    Serra Negra, e educadores da regio;

    Realizar apresentaes artsticas;

    Acompanhar a construo da nova sede da AMOSENA.

    3.1.4 Metodologia

    Como metodologia, pretendemos usar de situaes relacionadas

    Comunidade em processos artsticos, sendo elas de grupos internos da

    Comunidade ou no, a fim de proporcionar o contato com as vrias

    manifestaes artsticas e gerar discusses, visando formao de

    espectadores e a incluso scio-cultural. Haver a parceria do Grupo

    Mambembe de Msica e Teatro Itinerante24, que realizar as seguintes oficinas

    em Serra Negra: Expresso Corporal, Texto Teatral e Musicalizao. Ns da

    equipe da UFOP pretendemos juntamente a estas oficinas ministrar a de Jogos

    Teatrais.

    Quanto s crianas da comunidade, sero trabalhados Prticas Psicomotoras,

    jogos tradicionais e Jogos Teatrais. Para os adolescentes, haver aulas de

    24 Grupo de Teatro de Rua, sob coordenao da Professora do DEART, Neide das Graas de Souza Bortolini. Este tambm um Projeto de Extenso da UFOP.

  • 54

    prticas teatrais, a saber: expresso corporal, expresso vocal, jogos teatrais e

    interpretao. Em dezembro, as crianas e adolescentes apresentaro uma

    pea teatral produzida por eles prprios, com o acompanhamento das equipes

    da UFOP e FUNEDI25 em Serra Negra e regio.

    Ainda, h a preocupao de envolver a comunidade com outro Projeto de

    Extenso da UFOP, o Grupo Mambembe de Msica e Teatro Itinerante. Com

    esta parceria, sero realizadas oficinas de Texto Teatral, Musicalizao e

    Expresso Corporal na Comunidade com os moradores, estudantes da

    FUNEDI e os professores das crianas e adolescentes da comunidade.

    Juntamente destas oficinas, a equipe do Projeto Luz que Anda realizar

    tambm uma oficina de Jogos Teatrais. Para finalizar este encontro, ser

    realizado um ensaio aberto e uma apresentao da pea Delrios de Will:

    Shakespearaes musicais brasileira.

    3.2 O Projeto Luz que Anda

    3.2.1 Introduo

    O Projeto de Teatro teuto-brasileiro Luz que Anda surgiu no final de 2004,

    sendo a Professora de Servio Social da Universidade Alice Hochschule

    Salomon, de Berlim (Alemanha), Bettina Vlter, sua idealizadora. Em 2004,

    Vlter estava procurando por um parceiro para um Projeto Social a ser

    realizado por uma Instituio de Ensino Superior alem e uma iniciativa

    brasileira. Foi ento que Geralda Arajo pedagoga brasileira que na poca

    morava na Alemanha e possui parentes em Serra Negra se disps a ajud-la,

    tendo como idia o trabalho com adolescentes e crianas na comunidade rural

    de Serra Negra, Minas Gerais. Marion Kster, Professora da Universidade de

    Msica e Teatro de Rostock (Alemanha) integrou-se ao Projeto ainda no seu

    25 Fundao Educacional de Divinpolis da Universidade Estadual de Minas Gerais, localizada em Divinpolis, Minas Gerais. A equipe da FUNEDI composta por estudantes de Psicologia e Pedagogia, sob orientao do Professor Jos Heleno Ferreira.

  • 55

    comeo com o convite de Bettina Vlter. Taciana de Arajo Soares, residente

    de Serra Negra e agente sociocultural, deu suporte ao Projeto desde o seu

    incio.

    No ano de 2008, as Professoras Vlter e Kster solicitaram ao

    DEART/IFAC/UFOP apoio ao Projeto, devido evidente distncia entre os dois

    pases, o que dificultava o acompanhamento que as duas Professoras

    pretendiam realizar. Aps encontros em Serra Negra entre os Professores do

    DEART Ailtom Gobira Alves e Neide das Graas de Souza Bortolini,

    juntamente com a Professora Marion Kster, firmou-se um termo de

    cooperao entre a UFOP e a Universidade de Rostock, alm da realizao de

    um workshop de Kster na UFOP. Ento, desde agosto de 2008, atendendo

    solicitao das docentes, a equipe da UFOP formada pelos mesmos dois

    Professores do DEART: Gobira Alves e Neide das Graas, e dois estagirios

    do curso de Licenciatura em Artes Cnicas: Danilo Frana do Nascimento e

    Renata Patrcia da Silva visita a comunidade de Serra Negra mensalmente.

    Na visita de Vlter e seus estudantes a Serra Negra em fevereiro de 2009, esta

    sugeriu mais apoios das instituies da regio ao Projeto. Foi assim que desde

    fevereiro de 2009 o Projeto tambm conta com os parceiros: Escola Municipal

    Deputado Jaime Martins (So Sebastio do Oeste, Minas Gerais), e

    FUNEDI/UEMG (Divinpolis, Minas Gerais).

    3.2.2 A Comunidade de Serra Negra com o apoio do Projeto

    Luz que Anda

    3.2.2.1 A Comunidade

    Serra Negra uma pequena comunidade rural com cerca de 130 famlias,

    pertencente ao municpio de So Sebastio do Oeste, prximo a Divinpolis,

    Minas Gerais. Uma parte da populao vem da regio nordeste do Brasil, e a

  • 56

    maior parte trabalha numa granja industrial, que atualmente enfrenta problemas

    financeiros. Com o nosso contato com a comunidade pude notar que muitas

    pessoas da localidade querem mudar de situao, mas j perderam a

    esperana de mudana, devido s dificuldades enfrentadas no dia-a-dia.

    Um dos maiores objetivos do Projeto dinamizar a comunidade de Serra

    Negra, com propostas no mbito do Servio Social e do Teatro-Educao. Ns

    da equipe da UFOP, buscando conhecer mais sobre Serra Negra, desde junho

    de 2009, realizamos entrevistas com os seus moradores, para que a

    comunidade seja melhor atendida. De acordo com o socilogo Phil Bartle

    (2007, no paginado)26,

    A Animao Social (...) mobiliza e organiza uma comunidade. Tal significa que a organizao social da comunidade alterada, de modo mais ou menos intenso. Por conseguinte, o mobilizador ou animador um agente de mudana social ou catalisador. Compreender a natureza da mudana social, a sua natureza social, numa comunidade, uma ferramenta indispensvel para o mobilizador.

    Como mobilizadores na comunidade de Serra Negra, ns no podamos deixar

    de conhecer melhor a comunidade, seu povo, sua histria, seus smbolos27.

    Bartle (2007, no paginado) corrobora a nossa iniciativa, pois, a seu ver,

    Para ser um mobilizador mais eficiente, para empoderar ou fortalecer as comunidades, precisa conhecer a natureza das comunidades, e o seu comportamento. As comunidades so organizaes sociais ou culturais e, consequentemente, so caracterizadas pelas seis dimenses culturais28. As comunidades no so como os seres humanos, mas crescem e mudam de acordo com o seu prprio conjunto de princpios.

    26 BARTLE, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 15/10/2009. 27 Todos os elementos sociais e culturais de uma comunidade, desde a sua tecnologia at s crenas comuns, so transmitidos e armazenados atravs de smbolos (BARTLE, 2007, no paginado). 28 As seis dimenses culturais propostas por Bartle (2007, no paginado) que toda comunidade possui so: Tecnolgica, Econmica, Poltica, Institucional (social), Valores Estticos, Crenas e Conceitos.

  • 57

    Nas entrevistas que realizamos com os moradores de Serra Negra,

    questionamos sobre aspectos da comunidade, como a sua histria, suas

    lendas, sua populao, etc. Alm de poder conhecer melhor a comunidade,

    ainda possvel receber um retorno pelos pais dos nossos alunos, acerca do

    trabalho j realizado. H tambm a elaborao das fichas individuais das

    crianas, com o nome da criana, nome dos pais, foto e observaes

    importantes, como idade, caractersticas da criana, possveis doenas, etc.

    Para concluir a entrevista, entregamos uma autorizao para que os

    responsveis pelas crianas assinem, podendo assim saber tambm quem so

    os educadores do Projeto, para mais segurana e confiabilidade29. Assim, o

    trabalho tambm pde ser mais focado nas necessidades primeiras dos

    envolvidos no Projeto.

    Esta dinamizao da comunidade pode ser entendida como a ampliao da

    criatividade, da potencialidade e do horizonte de todos os envolvidos, mas

    principalmente, como a oportunidade das crianas, dos jovens e dos adultos da

    comunidade terem uma oportunidade de um maior desenvolvimento scio-

    cultural, fomentando o intercmbio transcultural e apoiando o engajamento civil.

    importante tambm considerar os trs modelos do trabalho de Teatro na

    Comunidade que Mrcia Pompeo Nogueira (2009:177) nos apresenta: Teatro

    para Comunidades, Teatro com Comunidades, e Teatro por Comunidades.

    Quanto ao primeiro modelo, Nogueira defende que realizado atravs de

    artistas que apresentam comunidade uma pea teatral, sem conhecer antes a

    realidade de determinada comunidade. J o segundo modelo pode ser

    entendido como uma pea teatral que feita a partir de estudos acerca a

    comunidade. Por fim, o modelo Teatro por Comunidades designado a uma

    pea teatral que conta com um apoio muito mais expressivo da comunidade,

    um trabalho cuja principal funo fortalecer a comunidade. E este ltimo

    modelo de trabalho que acredito que realizamos em Serra Negra, pela

    metodologia que utilizamos. Sempre tivemos a preocupao de deixar as

    29 Um modelo da Autorizao est em Anexos II (Figura 5).

  • 58

    crianas e adolescentes livres para falar o que estavam achando das aulas,

    sobretudo depois das entrevistas com os moradores de Serra Negra, quando

    perguntamos sobre a comunidade, o Projeto e assuntos relacionados.

    3.2.2.2 Projeto Luz que Anda

    O Projeto j trouxe alguns benefcios para a comunidade de Serra Negra, como

    o transporte pblico regular de graa para os jovens irem escola no municpio

    de So Sebastio do Oeste; foi fundada a Associao dos Moradores de Serra

    Negra (AMOSENA), tendo como objetivos primeiros a construo de uma

    praa, e que um antigo prdio de uma escola na praa seja transformado em

    um centro de convivncia. Atualmente, a comunidade tem mais um forte

    representante, pois o marido da agente cultural local Taciana Arajo Soares,

    Dorinato Soares, desde 2009, um dos vereadores do municpio de So

    Sebastio do Oeste, Minas Gerais30, podendo assim defender melhor as

    necessidades da comunidade. Inclusive, com esforos conjuntos, a verba para

    a construo da praa j foi liberada31.

    Um ponto interessante neste intercmbio internacional entre instituies

    brasileiras e alems o idioma. Quase nenhum alemo tem o domnio da

    lngua portuguesa, sendo essencialmente necessria a comunicao gestual

    dos alemes com os moradores de Serra Negra. Interessante notar que com as

    atividades de Teatro-Educao, a linguagem teatral ultrapassa qualquer

    barreira de idiomas. As reunies e discusses entre as Universidades

    aconteceram na lngua inglesa, com tradues simultneas para o idioma

    portugus aos brasileiros que no tinham o domnio da lngua inglesa.

    Desde agosto de 2008, h um encontro mensal com mais ou menos vinte e

    cinco crianas e adolescentes na localidade. Neste ano, foram ministradas,

    30 A comunidade de Serra Negra pertence ao municpio de So Sebastio do Oeste, Minas Gerais. 31 Em frente igreja h apenas terra batida servindo como uma praa, evidenciando assim a necessidade de urbanizar a comunidade.

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    principalmente, aulas de jogos teatrais baseados em Viola Spolin. Os seus

    jogos incluram at mesmo na eliminao das qualidades de amador dos

    alunos. H trs bases fundamentais nos jogos teatrais spolinianos: o foco, a

    instruo e a avaliao.

    O foco pode ser um aliado muito til para o professor, por poder colocar o jogo

    em movimento, num mesmo tema compartilhado por todos. A instruo por

    parte do professor essencial para que o foco seja mantido por todos. A

    instruo deve ser espontnea, de acordo com a necessidade suscitada pelo

    determinado jogo. E a avaliao, por fim, no consiste num julgamento, nem

    crtica ao que foi realizado. Esta lida com o que foi proposto pelo foco, e se o

    mesmo foi solucionado.

    Os livros de Spolin muitas vezes utilizam de uma linguagem muito acessvel, e

    muito detalhada, servindo assim at mesmo para professores que nunca

    tiveram, ou muito pouco, contato com o Teatro. Os jogos teatrais no so feitos

    apenas como um passatempo, mas sim como um complemento para a

    aprendizagem escolar. Estes ajudam os alunos a desenvolverem a

    comunicao do discurso, da escrita e das formas no-verbais. Alm de ajudar

    na concentrao e interao em grupo. (SPOLIN, 2007:45)

    Estes Jogos Teatrais eram trabalhados com as crianas (de faixa etria entre

    trs e treze anos), sendo estes encontros ministrados pelos prprios

    adolescentes que participaram do Projeto desde o seu incio (2004).

    Atualmente, esses encontros no so mais realizados, pois, semanalmente, a

    equipe da FUNEDI com professores e alunos dos cursos de Pedagogia e

    Psicologia visita a comunidade, trabalhando pa