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13 set 2006
Nº 12
Valorização do salário mínimoreduz a desigualdade
O desenvol-vimento deuma socie-dade não émedido ape-
nas pelo aumento da sua ca-pacidade de gerar riquezas,mas também pela distribuiçãode seus recursos econômicos,culturais e políticos. Viven-ciamos, na história brasileirado século XX, momentos emque o PIB se expandiu muitoacima da média mundial (anos50 e anos 70). Infelizmente,por incipiência ou ausência dedemocracia, o aumento darenda concentrou-se em ape-nas alguns segmentos sociais,
Se você quer receber os próximos números destapublicação envie e-mail para
Por Antonio Prado¹Economista do BNDES
não beneficiando a imensa mai-oria da população.
O instrumento por excelênciadesse processo de concentraçãofoi o desmantelamento do salá-rio mínimo, acompanhado dacriação de políticas salariaisque impediam o repasse dosganhos de produtividade aostrabalhadores e a correta apli-cação dos índices de inflação.O leque salarial foi aberto e comele o desnível social pré-exis-tente, o que contribuiu para cri-ar uma das sociedades mais de-siguais do mundo.
O salário mínimo, em si, nãoé a única solução para os queestão estruturalmente fora do
Visão do Desenvolvimento é uma publica-ção da Secretaria de Assuntos Econômicos(SAE), da Presidência do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social. As opi-niões deste informe são de responsabilidadedos autores e não refletem necessariamente opensamento da administração do BNDES.
1 Antonio Prado é economista, professor do Depar-tamento de Economia da PUC-SP (licenciado), foi Co-ordenador da Produção Técnica do Dieese nos anos 90e é chefe da representação do BNDES em Brasília.
Estudos do IPEAcomprovam aeficácia dastransferências sociais
2
mercado de trabalho e que nãoacessam a renda através de suaatividade produtiva, mas certa-mente ajuda na redução da po-breza entre os trabalhadores si-tuados na base da pirâmide so-cial. Dada essa fragmentaçãotrágica, as políticas de comba-te à pobreza no Brasil conside-ram duas di-mensões, a dasações atravésdo mercado detrabalho, queatendem o tra-balhador po-bre; e daquelas através das po-líticas de inclusão social, ori-entadas para os excluídos domercado. As políticas de inclu-são social são feitas através detransferências diretas de ren-da e de acesso aos serviços pú-blicos de saúde, educação e as-sistência social. O programaBolsa Família, o SUS e a LOASsão fundamentais nesse esfor-ço, com resultados já detecta-dos em estudos do IPEA2 . Nocaso brasileiro, o salário míni-mo tem duplo efeito, tanto atra-vés do mercado de trabalho
como das transferências soci-ais, pois muitas delas sãoindexadas, por lei, ao seu va-lor, tanto no que se refere aobenefício quanto às faixas derenda adotadas para acessá-lo.
Não parece haver controvérsi-as relevantes em relação à con-tribuição do salário mínimo
para a di-m i n u i ç ã oda pobrezaatravés daspolíticas dep r o t e ç ã osocial de-
correntes de inserção atual oupretérita no mercado de traba-lho, implementadas através dopagamento do abono salarial,seguro-desemprego, aposenta-dorias e pensões, licença ma-ternidade, auxílio-doença; oudas transferências diretas àspopulações excluídas e vulne-ráveis. Mas, há controvérsiasem relação ao ritmo e sustenta-bilidade da contribuição do sa-lário mínimo, principalmenteem ambiente de restrição fis-cal, conflito distributivo peloorçamento público e baixocrescimento do PIB.
Recente estudo do CPS-FGVrevela a nítida redução da taxade miséria baseada em renda dotrabalho nas regiões metropoli-tanas (CPS-FGV, 2006). Detec-ta também uma inelasticidadecrescente da taxa de miséria no
As políticas de transferênciade rendas estão abrangendosegmentos cada vez mais amplosdos trabalhadores pobres
da) na cesta básica. (Ver Gráfi-co III)
Mesmo se o valor real do salá-rio mínimo for calculado em re-lação a uma cesta ampla debens e serviços assalariados,como a coberta pelo INPC, suaevolução é bastante positiva. Oforte arrocho durante o períodoautoritário demoliu o saláriomínimo real do patamar de ime-diato pós-guerra (II Guerra) deR$ 400,00 para R$ 300,00. Osefeitos da hiperinflação dosanos 80 trouxeram o mínimopara valores reais abaixo de R$200,00. No entanto, há mais deuma década, entrou em umatrajetória lenta e consistente derecuperação. Agora, em julho de2006, está em R$ 350,00.
O salário mínimo no Brasiltem mais de 60 anos. Semprefoi motivo de controvérsias in-tensas e sofreu várias mudan-ças abruptas ao longo de suahistória. Mas os últimos anos
têm sido particularmente im-portantes, pois testemunham arevalorização contínua e consis-tente do salário mínimo. Não épouco, pois os resultados des-sa política são contundentespois,
a) a pobreza vem caindo deforma significativa entre os tra-balhadores da base da pirâmi-de social;
b) as políticas de transferên-cia de rendas estão abrangen-do segmentos cada vez maisamplos dos segmentos em ex-clusão social e dos pobres domercado de trabalho;
c) há uma consistente que-da na desigualdade das rendaspessoais.
São esses resultados que con-tribuem para a construção deum desenvolvimento econômi-co e social para todos.
Referências bibliográficas
CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS- FGV. Redistribuição TrabalhistaRecente. Rio de Janeiro, 2006 (ver em www.fgv.br/cps).
SOARES, Sergei S.D. Distribuição de Renda no Brasil de 1976 a2004 com ênfase no período entre 2001 e 2004. IPEA. Texto paraDiscussão no. 1166. Brasília, fev.2006.
VEDDER, Richard K. & GALLAWAY, Lowell E. Does the MinimumWage Reduce Poverty? EPI. OHIO University: Employment PoliciesInstitute, jun-2001.
2 �Como seria de se esperar...a grande notícia emtermos de Coeficientes de Concentração é a mudançada categoria de renda �juros, dividendos e Bolsa Famí-lia� de campeã de concentração de 1995-1998 a vice-campeã em desconcentração em 2004. ...Também no-tável é a diminuição na progressividade dasaposentadorias e pensões indexadas ao salário, que noentanto, ainda em 2004 constituem a categoria de ren-da mais progressiva� (Soares, 2006:22)
7
mercado de trabalho em rela-ção ao salário mínimo e lançaa hipótese de que talvez a suavalorização real já tenha cum-prido seus efeitos máximos eatingido um ponto de satura-ção. Essa hipótese é ainda pre-matura e não deve orientar de-cisões de políticas públicassem a realizaçãode mais estudos3 .Mas tem um ladoque merece regis-tro, pois reconhe-ce que o saláriomínimo já teve“impactos favoráveis na pobre-za sob a ótica do trabalho”, coi-sa negada desde os primórdiosdos 66 anos de história do sa-
lário mínimo brasileiro, por mui-tos especialistas neoclássicos.
É inequívoco que houve umimportante aumento do saláriomínimo real desde 1994. Todasas instituições de pesquisa me-dem essa trajetória, com maiorou menor entusiasmo. Esse au-mento se deve à sua proteção
contra a in-flação, à in-corporaçãodo cresci-mento doPIB percapita, à
desinflação da economia e àoferta adequada de bens sala-riais básicos, elementos de umapolítica explícita de recuperaçãodo poder de compra do mínimo.A hipótese levantada pelo CPS-FGV deve ser investigada comprofundidade, mas não é rele-vante para a função principal dapolítica de salário mínimo. A po-breza vem sendo reduzida atra-
3
Nunca houve um períodotão longo de crescimentonominal do mínimo comestabilidade na cesta básica
6
3,97 vezes.Do início de 1995 ao final de
2003 não há diferenças relevan-tes nas taxas de crescimento doPIB que poderiam explicar ta-manhas quedas noleque salarial.Tampouco houvealgum dinamismosetorial na econo-mia urbana que pu-desse ampliar fortemente a de-manda por trabalhadores debaixa renda, seja na constru-ção civil ou nos serviços, comoocorreu no período do PlanoCruzado, em 1986 e nos pri-meiros meses do Plano Real,em 1994. O salário mínimoapresenta-se, portanto, comofator determinante principal.
A política do salário mínimo foi
capaz de garantir o seu poderde compra em relação a umacesta básica de alimentos e pro-dutos de higiene e limpeza du-rante mais de dez anos. Mas a
partir de 2000, elejá sobe discreta-mente acima dovalor desta cestae a partir de 2003,o valor da cesta se
estabiliza enquanto o saláriomínimo continua em cresci-mento. Isto faz com que o salá-rio mínimo esteja atualmentecerca de duas vezes maior queo valor da cesta. Exatamente,75% acima. Essa é uma novi-dade histórica, pois nuncahouve um período tão longo decrescimento nominal do míni-mo com estabilidade (e até que-
Gráfico 1Gráfico 4
Amplitude da Pirâmide de Rendimentos(10o. Decil/1o.Decil)
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Salário Mínimo Real desde 1944
0100200300400500600700
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1955
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1995
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mesesFonte: Ipeadata- IPEA
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(julh
o de
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6)
3 A linha de pobreza per capita utilizada pelo CPS-FGV está abaixo dos rendimentos que podem ser afe-tados pela dinâmica do mercado de trabalho organi-zado. Desta forma, a inelasticidade identificada emrelação ao salário mínimo pode estar relacionada àprópria lógica de construção da linha de pobreza ede suas atualizações no tempo.
Desde 1994, o SalárioMínimo subiu mais quea cesta básica
4
vés do salário mínimo, no mer-cado de trabalho e através deseu efeito indexador sobre astransferências sociais, mas oseu papel principal é o de re-duzir as desigualdades. É a de-sigualdade afonte da trági-ca história so-cial do país.
Como o salá-rio mínimopode reduziras desigualda-des? É evidente que se todos osrendimentos fossem indexadosao seu valor, não poderia haverredução nenhuma da desigual-dade nas rendas do trabalho.Logo, a elevação do salário mí-nimo, como fator de redução dedesigualdades, pressupõe afe-tar apenas os rendimentos re-
ais dos trabalhadores de baixarenda.
Não é difícil demonstrar amelhoria dos indicadores deconcentração durante o proces-so de elevação do salário míni-
mo real. Paraisso, usaremosprincipalmenteos dados dapesquisa doDieese e daF u n d a ç ã oSeade para a
Região Metropolitana de SãoPaulo, devido à sua longa sériede dados mensais, disponíveisdesde 1985. A PME-IBGE, la-mentavelmente, sofreu umaruptura de sua série em 2001,o que impede a análise do últi-mo período de recuperação con-sistente do salário mínimo, que
Tabela 4- Geração Líq. de Empregos por Região e Participação de cada Região no no Saldo Líquido Total
Gráfico 2 começa em 1994. E a PNAD éanual, portanto, indicadoresproduzidos a partir dela sãomenos sensíveis para avalia-ção dos efeitos das correçõesdo mínimo.
A amplitude dapirâmide de ren-dimentos poderevelar se háuma tendênciade redução das desigualdadeseconômicas. Note-se nos Grá-ficos I e II que há uma nítidaqueda das diferenças entre osrendimentos mais elevados nomercado de trabalho, encon-trados entre os 10% mais ri-cos e aqueles dos 10% maispobres. Esta diferença flutuou
em torno de 40 vezes na últimadécada e desmoronou a partirde 2004, para 30 vezes em ju-nho de 2006. Isto representauma redução de 25% na ampli-
tude dos rendi-mentos. A diferen-ça entre a médiatotal dos rendi-mentos e a médiado 1o. quartil, fai-
xa mais afetada pela política devalorização do salário mínimo,apresenta trajetória de quedaainda mais definida. Cai segui-damente desde 1995. A diferen-ça era de 5,4 vezes no 1º semes-tre de 1995 e chegou a 4,2 no1º semestre de 2006, queda de22%. Em junho de 2006 já é de
5
Caiu a diferença entreos assalariados maisricos e os mais pobres
Diferen ça da Média dos Rendimentos e a Média do 1o. Quartil
(jan-95 a jun-06)
3,5
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4,5
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mesesFonte: PED-RMSP - Convênio Dieese/Seade
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Evolu ção do Salário Mínimo Nominal e da Cesta Básica
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50100
150200
250
300350
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mesesFontes: IPEA e Convênio Dieese-Procon
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Por mais de dez anos oSalário Mínimo tem garantidoo poder de compra emrelação à cesta básica
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vés do salário mínimo, no mer-cado de trabalho e através deseu efeito indexador sobre astransferências sociais, mas oseu papel principal é o de re-duzir as desigualdades. É a de-sigualdade afonte da trági-ca história so-cial do país.
Como o salá-rio mínimopode reduziras desigualda-des? É evidente que se todos osrendimentos fossem indexadosao seu valor, não poderia haverredução nenhuma da desigual-dade nas rendas do trabalho.Logo, a elevação do salário mí-nimo, como fator de redução dedesigualdades, pressupõe afe-tar apenas os rendimentos re-
ais dos trabalhadores de baixarenda.
Não é difícil demonstrar amelhoria dos indicadores deconcentração durante o proces-so de elevação do salário míni-
mo real. Paraisso, usaremosprincipalmenteos dados dapesquisa doDieese e daF u n d a ç ã oSeade para a
Região Metropolitana de SãoPaulo, devido à sua longa sériede dados mensais, disponíveisdesde 1985. A PME-IBGE, la-mentavelmente, sofreu umaruptura de sua série em 2001,o que impede a análise do últi-mo período de recuperação con-sistente do salário mínimo, que
Tabela 4- Geração Líq. de Empregos por Região e Participação de cada Região no no Saldo Líquido Total
Gráfico 2 começa em 1994. E a PNAD éanual, portanto, indicadoresproduzidos a partir dela sãomenos sensíveis para avalia-ção dos efeitos das correçõesdo mínimo.
A amplitude dapirâmide de ren-dimentos poderevelar se háuma tendênciade redução das desigualdadeseconômicas. Note-se nos Grá-ficos I e II que há uma nítidaqueda das diferenças entre osrendimentos mais elevados nomercado de trabalho, encon-trados entre os 10% mais ri-cos e aqueles dos 10% maispobres. Esta diferença flutuou
em torno de 40 vezes na últimadécada e desmoronou a partirde 2004, para 30 vezes em ju-nho de 2006. Isto representauma redução de 25% na ampli-
tude dos rendi-mentos. A diferen-ça entre a médiatotal dos rendi-mentos e a médiado 1o. quartil, fai-
xa mais afetada pela política devalorização do salário mínimo,apresenta trajetória de quedaainda mais definida. Cai segui-damente desde 1995. A diferen-ça era de 5,4 vezes no 1º semes-tre de 1995 e chegou a 4,2 no1º semestre de 2006, queda de22%. Em junho de 2006 já é de
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Caiu a diferença entreos assalariados maisricos e os mais pobres
Diferen ça da Média dos Rendimentos e a Média do 1o. Quartil
(jan-95 a jun-06)
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Por mais de dez anos oSalário Mínimo tem garantidoo poder de compra emrelação à cesta básica
mercado de trabalho em rela-ção ao salário mínimo e lançaa hipótese de que talvez a suavalorização real já tenha cum-prido seus efeitos máximos eatingido um ponto de satura-ção. Essa hipótese é ainda pre-matura e não deve orientar de-cisões de políticas públicassem a realizaçãode mais estudos3 .Mas tem um ladoque merece regis-tro, pois reconhe-ce que o saláriomínimo já teve“impactos favoráveis na pobre-za sob a ótica do trabalho”, coi-sa negada desde os primórdiosdos 66 anos de história do sa-
lário mínimo brasileiro, por mui-tos especialistas neoclássicos.
É inequívoco que houve umimportante aumento do saláriomínimo real desde 1994. Todasas instituições de pesquisa me-dem essa trajetória, com maiorou menor entusiasmo. Esse au-mento se deve à sua proteção
contra a in-flação, à in-corporaçãodo cresci-mento doPIB percapita, à
desinflação da economia e àoferta adequada de bens sala-riais básicos, elementos de umapolítica explícita de recuperaçãodo poder de compra do mínimo.A hipótese levantada pelo CPS-FGV deve ser investigada comprofundidade, mas não é rele-vante para a função principal dapolítica de salário mínimo. A po-breza vem sendo reduzida atra-
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Nunca houve um períodotão longo de crescimentonominal do mínimo comestabilidade na cesta básica
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3,97 vezes.Do início de 1995 ao final de
2003 não há diferenças relevan-tes nas taxas de crescimento doPIB que poderiam explicar ta-manhas quedas noleque salarial.Tampouco houvealgum dinamismosetorial na econo-mia urbana que pu-desse ampliar fortemente a de-manda por trabalhadores debaixa renda, seja na constru-ção civil ou nos serviços, comoocorreu no período do PlanoCruzado, em 1986 e nos pri-meiros meses do Plano Real,em 1994. O salário mínimoapresenta-se, portanto, comofator determinante principal.
A política do salário mínimo foi
capaz de garantir o seu poderde compra em relação a umacesta básica de alimentos e pro-dutos de higiene e limpeza du-rante mais de dez anos. Mas a
partir de 2000, elejá sobe discreta-mente acima dovalor desta cestae a partir de 2003,o valor da cesta se
estabiliza enquanto o saláriomínimo continua em cresci-mento. Isto faz com que o salá-rio mínimo esteja atualmentecerca de duas vezes maior queo valor da cesta. Exatamente,75% acima. Essa é uma novi-dade histórica, pois nuncahouve um período tão longo decrescimento nominal do míni-mo com estabilidade (e até que-
Gráfico 1Gráfico 4
Amplitude da Pirâmide de Rendimentos(10o. Decil/1o.Decil)
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Salário Mínimo Real desde 1944
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mesesFonte: Ipeadata- IPEA
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6)
3 A linha de pobreza per capita utilizada pelo CPS-FGV está abaixo dos rendimentos que podem ser afe-tados pela dinâmica do mercado de trabalho organi-zado. Desta forma, a inelasticidade identificada emrelação ao salário mínimo pode estar relacionada àprópria lógica de construção da linha de pobreza ede suas atualizações no tempo.
Desde 1994, o SalárioMínimo subiu mais quea cesta básica
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mercado de trabalho e que nãoacessam a renda através de suaatividade produtiva, mas certa-mente ajuda na redução da po-breza entre os trabalhadores si-tuados na base da pirâmide so-cial. Dada essa fragmentaçãotrágica, as políticas de comba-te à pobreza no Brasil conside-ram duas di-mensões, a dasações atravésdo mercado detrabalho, queatendem o tra-balhador po-bre; e daquelas através das po-líticas de inclusão social, ori-entadas para os excluídos domercado. As políticas de inclu-são social são feitas através detransferências diretas de ren-da e de acesso aos serviços pú-blicos de saúde, educação e as-sistência social. O programaBolsa Família, o SUS e a LOASsão fundamentais nesse esfor-ço, com resultados já detecta-dos em estudos do IPEA2 . Nocaso brasileiro, o salário míni-mo tem duplo efeito, tanto atra-vés do mercado de trabalho
como das transferências soci-ais, pois muitas delas sãoindexadas, por lei, ao seu va-lor, tanto no que se refere aobenefício quanto às faixas derenda adotadas para acessá-lo.
Não parece haver controvérsi-as relevantes em relação à con-tribuição do salário mínimo
para a di-m i n u i ç ã oda pobrezaatravés daspolíticas dep r o t e ç ã osocial de-
correntes de inserção atual oupretérita no mercado de traba-lho, implementadas através dopagamento do abono salarial,seguro-desemprego, aposenta-dorias e pensões, licença ma-ternidade, auxílio-doença; oudas transferências diretas àspopulações excluídas e vulne-ráveis. Mas, há controvérsiasem relação ao ritmo e sustenta-bilidade da contribuição do sa-lário mínimo, principalmenteem ambiente de restrição fis-cal, conflito distributivo peloorçamento público e baixocrescimento do PIB.
Recente estudo do CPS-FGVrevela a nítida redução da taxade miséria baseada em renda dotrabalho nas regiões metropoli-tanas (CPS-FGV, 2006). Detec-ta também uma inelasticidadecrescente da taxa de miséria no
As políticas de transferênciade rendas estão abrangendosegmentos cada vez mais amplosdos trabalhadores pobres
da) na cesta básica. (Ver Gráfi-co III)
Mesmo se o valor real do salá-rio mínimo for calculado em re-lação a uma cesta ampla debens e serviços assalariados,como a coberta pelo INPC, suaevolução é bastante positiva. Oforte arrocho durante o períodoautoritário demoliu o saláriomínimo real do patamar de ime-diato pós-guerra (II Guerra) deR$ 400,00 para R$ 300,00. Osefeitos da hiperinflação dosanos 80 trouxeram o mínimopara valores reais abaixo de R$200,00. No entanto, há mais deuma década, entrou em umatrajetória lenta e consistente derecuperação. Agora, em julho de2006, está em R$ 350,00.
O salário mínimo no Brasiltem mais de 60 anos. Semprefoi motivo de controvérsias in-tensas e sofreu várias mudan-ças abruptas ao longo de suahistória. Mas os últimos anos
têm sido particularmente im-portantes, pois testemunham arevalorização contínua e consis-tente do salário mínimo. Não épouco, pois os resultados des-sa política são contundentespois,
a) a pobreza vem caindo deforma significativa entre os tra-balhadores da base da pirâmi-de social;
b) as políticas de transferên-cia de rendas estão abrangen-do segmentos cada vez maisamplos dos segmentos em ex-clusão social e dos pobres domercado de trabalho;
c) há uma consistente que-da na desigualdade das rendaspessoais.
São esses resultados que con-tribuem para a construção deum desenvolvimento econômi-co e social para todos.
Referências bibliográficas
CENTRO DE POLÍTICAS SOCIAIS- FGV. Redistribuição TrabalhistaRecente. Rio de Janeiro, 2006 (ver em www.fgv.br/cps).
SOARES, Sergei S.D. Distribuição de Renda no Brasil de 1976 a2004 com ênfase no período entre 2001 e 2004. IPEA. Texto paraDiscussão no. 1166. Brasília, fev.2006.
VEDDER, Richard K. & GALLAWAY, Lowell E. Does the MinimumWage Reduce Poverty? EPI. OHIO University: Employment PoliciesInstitute, jun-2001.
2 �Como seria de se esperar...a grande notícia emtermos de Coeficientes de Concentração é a mudançada categoria de renda �juros, dividendos e Bolsa Famí-lia� de campeã de concentração de 1995-1998 a vice-campeã em desconcentração em 2004. ...Também no-tável é a diminuição na progressividade dasaposentadorias e pensões indexadas ao salário, que noentanto, ainda em 2004 constituem a categoria de ren-da mais progressiva� (Soares, 2006:22)
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Valorização do salário mínimoreduz a desigualdade
O desenvol-vimento deuma socie-dade não émedido ape-
nas pelo aumento da sua ca-pacidade de gerar riquezas,mas também pela distribuiçãode seus recursos econômicos,culturais e políticos. Viven-ciamos, na história brasileirado século XX, momentos emque o PIB se expandiu muitoacima da média mundial (anos50 e anos 70). Infelizmente,por incipiência ou ausência dedemocracia, o aumento darenda concentrou-se em ape-nas alguns segmentos sociais,
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Por Antonio Prado¹Economista do BNDES
não beneficiando a imensa mai-oria da população.
O instrumento por excelênciadesse processo de concentraçãofoi o desmantelamento do salá-rio mínimo, acompanhado dacriação de políticas salariaisque impediam o repasse dosganhos de produtividade aostrabalhadores e a correta apli-cação dos índices de inflação.O leque salarial foi aberto e comele o desnível social pré-exis-tente, o que contribuiu para cri-ar uma das sociedades mais de-siguais do mundo.
O salário mínimo, em si, nãoé a única solução para os queestão estruturalmente fora do
Visão do Desenvolvimento é uma publica-ção da Secretaria de Assuntos Econômicos(SAE), da Presidência do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social. As opi-niões deste informe são de responsabilidadedos autores e não refletem necessariamente opensamento da administração do BNDES.
1 Antonio Prado é economista, professor do Depar-tamento de Economia da PUC-SP (licenciado), foi Co-ordenador da Produção Técnica do Dieese nos anos 90e é chefe da representação do BNDES em Brasília.
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