vislumbre para a sustentabilidade planetÁria · a exploração desenfreada da natureza, ... b -...

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VISLUMBRE PARA A SUSTENTABILIDADE PLANETÁRIA Reynaldo França Lins de Mello Doutorando em ciências pela Universidade de São Paulo. RESUMO A sustentabilidade surge como princípio-mestre de uma nova organização social que começa a ser enunciada como necessária para a sobrevivência humana. A proposta deste trabalho é entender o conceito de desenvolvimento sustentável como uma perspectiva de estratégia para a sustentabilidade planetária. Palavras-chave: desenvolvimento; sustentabilidade; sociedade mundi al. www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=1&cod_artigo=10 ©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected] 1

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VISLUMBRE PARA A SUSTENTABILIDADE PLANETAacuteRIA

Reynaldo Franccedila Lins de Mello

Doutorando em ciecircncias pela Universidade de Satildeo Paulo

RESUMO

A sustentabilidade surge como princiacutepio-mestre de uma nova organizaccedilatildeo social

que comeccedila a ser enunciada como necessaacuteria para a sobrevivecircncia humana A proposta

deste trabalho eacute entender o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel como uma

perspectiva de estrateacutegia para a sustentabilidade planetaacuteria

Palavras-chave desenvolvimento sustentabilidade sociedade mundial

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copyCopyright 2006 Todos os direitos satildeo reservadosSeraacute permitida a reproduccedilatildeo integral ou parcial dos artigos ocasiatildeo em que deveraacute ser observada a obrigatoriedade de indicaccedilatildeo da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS com a citaccedilatildeo completa da fonte

Em caso de duacutevidas consulte a secretaria interfacehsinterfacehscombr

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INTRODUCcedilAtildeO BREVE DIAGNOacuteSTICOi

A exploraccedilatildeo desenfreada da natureza percebida unicamente como um conjunto

de recursos naturais a serem utilizados somente pelo Homo sapiens submete-se a uma

cadeia infinita de demandas comprometendo a teia da vida sobre a Terra

A humanidade estaacute enfrentando um desafio sem precedentes em vaacuterias

instacircncias da sociedade civil concorda-se que os ecossistemas da Terra natildeo podem

sustentar os niacuteveis atuais de atividades econocircmicas e de consumo de recursos naturais

As atividades econocircmicas globais estatildeo crescendo 4 ao ano ndash medidas em Produto

Global Bruto (PGB) cresceram de US$ 38 trilhotildees em 1950 para US$ 193 trilhotildees em

1993 Isso quer dizer que a cada 18 anos o PGB dobra A populaccedilatildeo mundial que era de

25 bilhotildees em 1950 atingiu seis bilhotildees na virada do milecircnio e o consumo per capita de

energia supera esse crescimento levando assim a uma rota de colisatildeo entre sistema

econocircmico e meio ambiente e gerando mais conflitos poliacuteticos e sociais (BROWN 2000)

Essa corrida pelo consumo natildeo se deu sem produzir desigualdades profundas

Enquanto 20 da populaccedilatildeo mundial gozam de bem-estar material sem precedentes

consumindo ateacute 60 vezes mais do que os 20 mais pobres amplia-se o fosso entre ricos

e pobres e instala-se a insustentabilidade social poliacutetica econocircmica e ecoloacutegica

(BROWN 2000)

Podemos argumentar que a produtividade natural do planeta tende sempre a

baixar mesmo com praacuteticas conservacionistas afinal a economia natildeo estaacute submetida agrave

lei da entropia de acordo com a qual a proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel

seria insustentaacutevel Como tambeacutem as espeacutecies vivas natildeo conseguem crescer

ilimitadamente umas sobre as outras de forma impune sem que haja uma regulaccedilatildeo ou

um caos

O corolaacuterio dessa crise encontra-se nas cidades Aqui as pessoas facilmente

esquecem os elos com a natureza Os alimentos satildeo comprados em supermercados (que

estatildeo sempre abastecidos) consumidos e seus resiacuteduos descartados em lixeiras e na

rede de esgoto ou em fossas que funcionam como ldquosumidouros maacutegicosrdquo dos detritos Os

dejetos ldquosomemrdquo levados por tubulaccedilotildees com aacutegua sempre disponiacutevel e abundante O

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mesmo acontece com a energia eleacutetrica e o gaacutes (cada processo com sua peculiaridade

mas com o mesmo resultado ldquomaacutegicordquo de disponibilidade imediata e descarte

inconsequumlente)

O metabolismo do megaconsumo das sociedades capitalistas industriais eacute

convenientemente escondido dos olhos das suas populaccedilotildees agrave exceccedilatildeo daqueles

miseraacuteveis que vivem das sobras autecircnticos detritiacutevoros humanos (catadores de resiacuteduos

nos lixotildees populaccedilotildees que habitam na periferia e co-habitam nos e com os lixotildees e

outros)

A despeito dos esforccedilos envidados para tornar os cidadatildeos do mundo mais

sensibilizados para as questotildees ambientais os inuacutemeros relatoacuterios de diagnoacutestico

socioambiental de diversas ONGs atuantes neste setor permanecem convergindo para

um ponto as mudanccedilas ainda satildeo tiacutemidas e insuficientes para provocar uma alteraccedilatildeo

substancial de rota e livrar a espeacutecie humana de uma possiacutevel desadaptaccedilatildeo em futuro

proacuteximo

Os instrumentos criados para promover mudanccedilas nas diversas esferas de

atuaccedilatildeo da sociedade ndash tais como educaccedilatildeo ambiental legislaccedilatildeo e licenciamento

avaliaccedilatildeo de impacto aacutereas de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo gestatildeo e certificaccedilotildees

ambientais oacutergatildeos puacuteblicos ligados agrave temaacutetica movimentos da sociedade civil fundos de

financiamento para projetos ambientais e sociais e afins ndash mostram paacutelidos resultados

frente agrave devastadora alteraccedilatildeo socioambiental provocada pelo capitalismo global na

sociedade contemporacircnea (com raras exceccedilotildees) Mesmo o mais recente avanccedilo da

sociedade civil representado pela confecccedilatildeo da Agenda 21ii e de seus ldquofilhotesrdquo as

agendas locais (documento fruto da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio

Ambiente e desenvolvimento ndash Unced realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992)

encontra seacuterias dificuldades de implementaccedilatildeo

Como avaliar entatildeo o uso humano da natureza a forma como este se daacute quanto

de natureza noacutes usamos Afinal quando a demanda de um modo de produccedilatildeo especiacutefico

da sociedade humana pela natureza aumenta em volume e ritmo (crescimento econocircmico

industrial e financeiro ilimitado como expressatildeo maacutexima de desenvolvimento) a

regeneraccedilatildeo da biosfera fica ameaccedilada e por conseguinte os recursos naturais tambeacutem

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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua

sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera

A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre

esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma

objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas

atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise

da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e

Rees (1996)iii

Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental

total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de

natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de

aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um

instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para

sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo

sociobiofiacutesico

Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave

atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente

como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e

pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo

Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos

ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos

biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para

sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na

realidade sociobiofiacutesica da humanidade

Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e

refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de

sustentabilidade

A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para

embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis

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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta

metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da

capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o

fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia

O QUE Eacute VIDA

A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos

de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo

incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da

organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato

deste processo)

A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este

conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002

MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar

toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento

externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo

Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos

fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade

Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo

viva

nascimento

adaptaccedilatildeo

sobrevivecircncia

sustentabilidade

morte

(re) nascimento

A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da

natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-

reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da

mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo

geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela

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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em

nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir

ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da

espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres

humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre

ADAPTACcedilAtildeO

A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um

processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este

processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana

muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida

seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade

das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio

Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da

seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo

escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no

niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem

vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima

por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia

ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica

comportamental etcrdquo (1994 p 87)

Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura

das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e

no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu

meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade

de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que

melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados

para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente

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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural

em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo

para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo

com o ambiente

No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico

tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e

classificados

A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com

o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para

que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana

apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura

SOBREVIVEcircNCIA

Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo

idecircnticos

Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um

indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma

ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as

consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva

Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos

biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave

manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos

A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em

consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se

manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim

compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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INTRODUCcedilAtildeO BREVE DIAGNOacuteSTICOi

A exploraccedilatildeo desenfreada da natureza percebida unicamente como um conjunto

de recursos naturais a serem utilizados somente pelo Homo sapiens submete-se a uma

cadeia infinita de demandas comprometendo a teia da vida sobre a Terra

A humanidade estaacute enfrentando um desafio sem precedentes em vaacuterias

instacircncias da sociedade civil concorda-se que os ecossistemas da Terra natildeo podem

sustentar os niacuteveis atuais de atividades econocircmicas e de consumo de recursos naturais

As atividades econocircmicas globais estatildeo crescendo 4 ao ano ndash medidas em Produto

Global Bruto (PGB) cresceram de US$ 38 trilhotildees em 1950 para US$ 193 trilhotildees em

1993 Isso quer dizer que a cada 18 anos o PGB dobra A populaccedilatildeo mundial que era de

25 bilhotildees em 1950 atingiu seis bilhotildees na virada do milecircnio e o consumo per capita de

energia supera esse crescimento levando assim a uma rota de colisatildeo entre sistema

econocircmico e meio ambiente e gerando mais conflitos poliacuteticos e sociais (BROWN 2000)

Essa corrida pelo consumo natildeo se deu sem produzir desigualdades profundas

Enquanto 20 da populaccedilatildeo mundial gozam de bem-estar material sem precedentes

consumindo ateacute 60 vezes mais do que os 20 mais pobres amplia-se o fosso entre ricos

e pobres e instala-se a insustentabilidade social poliacutetica econocircmica e ecoloacutegica

(BROWN 2000)

Podemos argumentar que a produtividade natural do planeta tende sempre a

baixar mesmo com praacuteticas conservacionistas afinal a economia natildeo estaacute submetida agrave

lei da entropia de acordo com a qual a proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel

seria insustentaacutevel Como tambeacutem as espeacutecies vivas natildeo conseguem crescer

ilimitadamente umas sobre as outras de forma impune sem que haja uma regulaccedilatildeo ou

um caos

O corolaacuterio dessa crise encontra-se nas cidades Aqui as pessoas facilmente

esquecem os elos com a natureza Os alimentos satildeo comprados em supermercados (que

estatildeo sempre abastecidos) consumidos e seus resiacuteduos descartados em lixeiras e na

rede de esgoto ou em fossas que funcionam como ldquosumidouros maacutegicosrdquo dos detritos Os

dejetos ldquosomemrdquo levados por tubulaccedilotildees com aacutegua sempre disponiacutevel e abundante O

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mesmo acontece com a energia eleacutetrica e o gaacutes (cada processo com sua peculiaridade

mas com o mesmo resultado ldquomaacutegicordquo de disponibilidade imediata e descarte

inconsequumlente)

O metabolismo do megaconsumo das sociedades capitalistas industriais eacute

convenientemente escondido dos olhos das suas populaccedilotildees agrave exceccedilatildeo daqueles

miseraacuteveis que vivem das sobras autecircnticos detritiacutevoros humanos (catadores de resiacuteduos

nos lixotildees populaccedilotildees que habitam na periferia e co-habitam nos e com os lixotildees e

outros)

A despeito dos esforccedilos envidados para tornar os cidadatildeos do mundo mais

sensibilizados para as questotildees ambientais os inuacutemeros relatoacuterios de diagnoacutestico

socioambiental de diversas ONGs atuantes neste setor permanecem convergindo para

um ponto as mudanccedilas ainda satildeo tiacutemidas e insuficientes para provocar uma alteraccedilatildeo

substancial de rota e livrar a espeacutecie humana de uma possiacutevel desadaptaccedilatildeo em futuro

proacuteximo

Os instrumentos criados para promover mudanccedilas nas diversas esferas de

atuaccedilatildeo da sociedade ndash tais como educaccedilatildeo ambiental legislaccedilatildeo e licenciamento

avaliaccedilatildeo de impacto aacutereas de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo gestatildeo e certificaccedilotildees

ambientais oacutergatildeos puacuteblicos ligados agrave temaacutetica movimentos da sociedade civil fundos de

financiamento para projetos ambientais e sociais e afins ndash mostram paacutelidos resultados

frente agrave devastadora alteraccedilatildeo socioambiental provocada pelo capitalismo global na

sociedade contemporacircnea (com raras exceccedilotildees) Mesmo o mais recente avanccedilo da

sociedade civil representado pela confecccedilatildeo da Agenda 21ii e de seus ldquofilhotesrdquo as

agendas locais (documento fruto da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio

Ambiente e desenvolvimento ndash Unced realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992)

encontra seacuterias dificuldades de implementaccedilatildeo

Como avaliar entatildeo o uso humano da natureza a forma como este se daacute quanto

de natureza noacutes usamos Afinal quando a demanda de um modo de produccedilatildeo especiacutefico

da sociedade humana pela natureza aumenta em volume e ritmo (crescimento econocircmico

industrial e financeiro ilimitado como expressatildeo maacutexima de desenvolvimento) a

regeneraccedilatildeo da biosfera fica ameaccedilada e por conseguinte os recursos naturais tambeacutem

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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua

sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera

A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre

esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma

objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas

atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise

da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e

Rees (1996)iii

Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental

total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de

natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de

aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um

instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para

sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo

sociobiofiacutesico

Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave

atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente

como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e

pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo

Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos

ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos

biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para

sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na

realidade sociobiofiacutesica da humanidade

Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e

refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de

sustentabilidade

A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para

embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis

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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta

metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da

capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o

fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia

O QUE Eacute VIDA

A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos

de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo

incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da

organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato

deste processo)

A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este

conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002

MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar

toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento

externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo

Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos

fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade

Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo

viva

nascimento

adaptaccedilatildeo

sobrevivecircncia

sustentabilidade

morte

(re) nascimento

A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da

natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-

reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da

mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo

geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela

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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em

nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir

ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da

espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres

humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre

ADAPTACcedilAtildeO

A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um

processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este

processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana

muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida

seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade

das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio

Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da

seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo

escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no

niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem

vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima

por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia

ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica

comportamental etcrdquo (1994 p 87)

Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura

das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e

no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu

meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade

de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que

melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados

para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente

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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural

em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo

para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo

com o ambiente

No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico

tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e

classificados

A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com

o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para

que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana

apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura

SOBREVIVEcircNCIA

Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo

idecircnticos

Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um

indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma

ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as

consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva

Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos

biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave

manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos

A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em

consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se

manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim

compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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mesmo acontece com a energia eleacutetrica e o gaacutes (cada processo com sua peculiaridade

mas com o mesmo resultado ldquomaacutegicordquo de disponibilidade imediata e descarte

inconsequumlente)

O metabolismo do megaconsumo das sociedades capitalistas industriais eacute

convenientemente escondido dos olhos das suas populaccedilotildees agrave exceccedilatildeo daqueles

miseraacuteveis que vivem das sobras autecircnticos detritiacutevoros humanos (catadores de resiacuteduos

nos lixotildees populaccedilotildees que habitam na periferia e co-habitam nos e com os lixotildees e

outros)

A despeito dos esforccedilos envidados para tornar os cidadatildeos do mundo mais

sensibilizados para as questotildees ambientais os inuacutemeros relatoacuterios de diagnoacutestico

socioambiental de diversas ONGs atuantes neste setor permanecem convergindo para

um ponto as mudanccedilas ainda satildeo tiacutemidas e insuficientes para provocar uma alteraccedilatildeo

substancial de rota e livrar a espeacutecie humana de uma possiacutevel desadaptaccedilatildeo em futuro

proacuteximo

Os instrumentos criados para promover mudanccedilas nas diversas esferas de

atuaccedilatildeo da sociedade ndash tais como educaccedilatildeo ambiental legislaccedilatildeo e licenciamento

avaliaccedilatildeo de impacto aacutereas de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo gestatildeo e certificaccedilotildees

ambientais oacutergatildeos puacuteblicos ligados agrave temaacutetica movimentos da sociedade civil fundos de

financiamento para projetos ambientais e sociais e afins ndash mostram paacutelidos resultados

frente agrave devastadora alteraccedilatildeo socioambiental provocada pelo capitalismo global na

sociedade contemporacircnea (com raras exceccedilotildees) Mesmo o mais recente avanccedilo da

sociedade civil representado pela confecccedilatildeo da Agenda 21ii e de seus ldquofilhotesrdquo as

agendas locais (documento fruto da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio

Ambiente e desenvolvimento ndash Unced realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992)

encontra seacuterias dificuldades de implementaccedilatildeo

Como avaliar entatildeo o uso humano da natureza a forma como este se daacute quanto

de natureza noacutes usamos Afinal quando a demanda de um modo de produccedilatildeo especiacutefico

da sociedade humana pela natureza aumenta em volume e ritmo (crescimento econocircmico

industrial e financeiro ilimitado como expressatildeo maacutexima de desenvolvimento) a

regeneraccedilatildeo da biosfera fica ameaccedilada e por conseguinte os recursos naturais tambeacutem

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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua

sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera

A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre

esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma

objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas

atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise

da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e

Rees (1996)iii

Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental

total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de

natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de

aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um

instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para

sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo

sociobiofiacutesico

Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave

atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente

como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e

pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo

Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos

ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos

biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para

sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na

realidade sociobiofiacutesica da humanidade

Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e

refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de

sustentabilidade

A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para

embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis

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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta

metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da

capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o

fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia

O QUE Eacute VIDA

A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos

de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo

incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da

organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato

deste processo)

A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este

conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002

MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar

toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento

externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo

Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos

fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade

Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo

viva

nascimento

adaptaccedilatildeo

sobrevivecircncia

sustentabilidade

morte

(re) nascimento

A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da

natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-

reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da

mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo

geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela

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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em

nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir

ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da

espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres

humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre

ADAPTACcedilAtildeO

A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um

processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este

processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana

muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida

seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade

das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio

Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da

seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo

escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no

niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem

vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima

por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia

ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica

comportamental etcrdquo (1994 p 87)

Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura

das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e

no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu

meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade

de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que

melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados

para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente

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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural

em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo

para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo

com o ambiente

No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico

tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e

classificados

A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com

o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para

que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana

apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura

SOBREVIVEcircNCIA

Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo

idecircnticos

Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um

indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma

ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as

consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva

Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos

biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave

manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos

A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em

consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se

manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim

compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua

sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera

A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre

esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma

objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas

atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise

da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e

Rees (1996)iii

Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental

total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de

natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de

aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um

instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para

sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo

sociobiofiacutesico

Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave

atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente

como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e

pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo

Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos

ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos

biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para

sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na

realidade sociobiofiacutesica da humanidade

Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e

refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de

sustentabilidade

A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para

embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis

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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta

metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da

capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o

fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia

O QUE Eacute VIDA

A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos

de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo

incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da

organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato

deste processo)

A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este

conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002

MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar

toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento

externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo

Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos

fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade

Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo

viva

nascimento

adaptaccedilatildeo

sobrevivecircncia

sustentabilidade

morte

(re) nascimento

A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da

natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-

reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da

mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo

geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela

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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em

nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir

ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da

espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres

humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre

ADAPTACcedilAtildeO

A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um

processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este

processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana

muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida

seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade

das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio

Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da

seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo

escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no

niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem

vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima

por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia

ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica

comportamental etcrdquo (1994 p 87)

Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura

das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e

no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu

meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade

de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que

melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados

para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente

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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural

em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo

para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo

com o ambiente

No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico

tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e

classificados

A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com

o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para

que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana

apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura

SOBREVIVEcircNCIA

Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo

idecircnticos

Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um

indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma

ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as

consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva

Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos

biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave

manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos

A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em

consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se

manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim

compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta

metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da

capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o

fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia

O QUE Eacute VIDA

A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos

de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo

incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da

organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato

deste processo)

A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este

conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002

MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar

toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento

externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo

Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos

fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade

Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo

viva

nascimento

adaptaccedilatildeo

sobrevivecircncia

sustentabilidade

morte

(re) nascimento

A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da

natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-

reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da

mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo

geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela

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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em

nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir

ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da

espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres

humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre

ADAPTACcedilAtildeO

A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um

processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este

processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana

muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida

seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade

das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio

Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da

seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo

escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no

niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem

vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima

por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia

ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica

comportamental etcrdquo (1994 p 87)

Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura

das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e

no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu

meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade

de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que

melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados

para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente

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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural

em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo

para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo

com o ambiente

No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico

tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e

classificados

A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com

o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para

que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana

apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura

SOBREVIVEcircNCIA

Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo

idecircnticos

Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um

indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma

ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as

consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva

Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos

biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave

manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos

A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em

consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se

manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim

compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

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Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

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MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

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Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

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da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em

nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir

ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da

espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres

humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre

ADAPTACcedilAtildeO

A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um

processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este

processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana

muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida

seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade

das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio

Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da

seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo

escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no

niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem

vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima

por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia

ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica

comportamental etcrdquo (1994 p 87)

Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura

das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e

no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu

meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade

de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que

melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados

para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente

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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural

em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo

para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo

com o ambiente

No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico

tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e

classificados

A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com

o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para

que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana

apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura

SOBREVIVEcircNCIA

Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo

idecircnticos

Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um

indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma

ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as

consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva

Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos

biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave

manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos

A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em

consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se

manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim

compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural

em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo

para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo

com o ambiente

No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico

tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e

classificados

A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com

o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para

que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana

apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura

SOBREVIVEcircNCIA

Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo

idecircnticos

Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um

indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma

ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as

consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva

Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos

biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave

manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos

A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em

consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se

manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim

compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua

relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de

instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo

se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos

(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta

com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos

o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e

diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)

Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade

Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas

relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a

intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que

temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo

moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)

Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza

Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de

interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees

imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz

cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza

Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a

necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da

sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando

tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana

SUSTENTABILIDADE

Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees

Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento

sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem

comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

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Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

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MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo

de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio

ambiente

O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e

econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com

capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo

proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais

Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e

social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto

faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento

de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda

hoje um processo a ser implementado

Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua

sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo

o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser

usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)

mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)

Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento

sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e

financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico

com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos

encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura

do ciacuterculo

A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana

sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual

o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo

socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como

expresso a seguir

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

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2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

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MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

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Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)

Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo

a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede

de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera

(MELLO 2000)

A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas

no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais

discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro

deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a

sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na

poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e

outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para

conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)

Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato

acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma

reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala

DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS

No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo

humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de

forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais

como

Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo

tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da

produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros

regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos

econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e

globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os

que morrem pelo consumo excessivo de alimentos

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

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2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

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Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e

confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)

Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser

sintetizado pelo comentaacuterio de Braun

Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta

aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no

que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e

insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se

extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos

verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco

Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em

torno de seis hectares por habitante para suportar seus

niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam

necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para

que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de

habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a

difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees

de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para

satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)

Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre

produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista

industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande

escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio

ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris

A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a

queimada e nivelamento com tratores de florestas para a

monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de

fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de

combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de

mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas

ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de

Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel

para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o

lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos

natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro

agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)

Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura

a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma

Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente

apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo

ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as

questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas

socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos

contextos da e para a vida humana em sociedade

Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a

educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a

vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada

pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo

Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou

numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia

do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado

(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do

socialismo real

Precisamos antever que

A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala

planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder

puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o

Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com

qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto

do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou

padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das

necessidades humanas principalmente as necessidades

econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo

do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia

alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de

vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente

sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)

As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social

humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os

atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o

modo de produccedilatildeo teraacute de assumir

Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte

cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv

I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o

consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e

de reservas drsquoaacutegua potaacutevel

a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em

1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar

fome e sede mundial

II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade

humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos

biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e

portanto da biosfera

alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do

crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees

provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial

Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio

III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de

produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada

a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito

superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos

infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos

produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro

da cadeia troacutefica

IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva

do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do

sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas

espeacutecies animais e vegetais

quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha

sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva

poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou

atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho

ecoloacutegico

V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos

recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente

vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em

massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica

VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento

industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que

preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e

em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves

necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras

A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial

mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas

de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo

contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio

ambiente

Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e

complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como

diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl

Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a

regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela

sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa

de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash

proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais

que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado

O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser

alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra

organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de

uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos

produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia

quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o

mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado

Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver

sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser

este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois

seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado

A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois

o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer

proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num

ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as

relaccedilotildees sociais

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre

sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e

com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos

socioculturais e socioambientais

METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO

A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de

produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a

falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do

meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades

mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de

relaccedilotildees Ser Humano Natureza

Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar

como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados

canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo

ou de verdade final

Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime

bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao

mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para

ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se

manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se

em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural

Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para

compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo

sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no

planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando

natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo

de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica

individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da

sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora

o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por

mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos

(MELLO 2000)

A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa

sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto

significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o

desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa

sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta

pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste

Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo

sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos

ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro

do Sistema Terra

Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o

aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus

usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de

processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte

crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de

sua vida uacutetil (Organograma 1)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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Organograma 1

Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos

E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados

no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil

proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel

de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do

planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)

Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento

quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de

mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes

dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a

extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou

reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica

Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser

extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar

recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada

pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a

resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de

interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto

continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer

sustentaacutevel

Ecoeficiecircncia

Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade

Aumento da oferta de bens

Aumento da depleccedilatildeo de recursos

Aumento do descarte de bens

Aumento do consumo

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL

Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua

sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma

autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os

ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente

versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de

mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como

os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades

urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro

sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo

para debaixo do solo)

O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou

acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso

processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees

ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia

humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)

A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo

adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana

em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma

estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual

(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a

consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos

prontos para assumir este novo pacto social e ambiental

Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas

adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute

hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do

planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o

conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo

dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais

interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o

processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com

o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica

ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees

econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a

importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos

ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura

humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo

social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus

artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina

nuclear

Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os

setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade

incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da

cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute

fundamental

A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo

cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a

Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja

soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente

cientificidade a este conceito

A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica

apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que

prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato

uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)

Afinal

Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia

como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo

adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso

atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a

Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia

desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta

como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos

mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)

Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo

Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as

suas proacuteprias correccedilotildees

Assim seja

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994

MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas

Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro

Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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Vislumbre para a Sustentabilidade Planetaacuteria

Reynaldo Franccedila Lins de Mello INTERFACEHS

copyINTERFACEHS ndash Revista de Gestatildeo Integrada em Sauacutede do Trabalho e Meio Ambiente - v1 n1 Art 2 ago 2006 wwwinterfacehsspsenacbr

WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo

2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo

nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo

Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed

Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa

Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-

consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997

GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio

de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro

Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor

2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais

Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da

reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999

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Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo

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Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis

Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo

da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed

Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997

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Reynaldo Franccedila Lins de Mello INTERFACEHS

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998

WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996

Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006

i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)

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