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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 433 • ANO XXXIX AGOSTO 2009 • MENSAL • 1,50 VISITA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA À MARINHA Generated by PDFKit.NET Evaluation Click here to unlock PDFKit.NET

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Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

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A Escola Naval iniciou a sua actividade nas novas instalações no Alfeite no ano lectivo 1936/37.A nova Reforma da Escola saiu em Outubro de 1936, mas o novo Regulamento só se aplicou integralmente ao curso

de 1937.No entanto, algumas modificações foram logo introduzidas no curso de 1936, como a indicação do patrono, no caso, o In-

fante D. Henrique e a alteração no plano de uniformes, onde os cadetes, nova designação dos alunos da Escola Naval, pas-saram a utilizar em serviço interno o uniforme de marinheiro, com alcache e panamá, situação esta que vigorou até 1950.

A foto superior apresenta a nova Escola Naval vista por cima do Arsenal do Alfeite no dia da inauguração deste em 3 de Maio de 1939 e a inferior, os Cadetes do Curso de 1936, a bordo do NE “Sagres”, da direita para a esquerda: Daniel Sexton Muller; Manuel Ventura da Cruz; Vicente Almeida D’Eça; Fernando Limpo Toscano; Eugénio da Silva Gameiro; Guilhermino Vila Real; Emmanuel Ricou; Luís da Cunha e Freitas; João dos Santos Benfeito; Gustavo da Silva Pires e Manuel Alves Deniz.

Faltam na foto os cadetes Armando Moreira de Campos e José Saraiva Cabral.

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 433 • Ano XXXIX

Agosto 2009

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedacçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito,

montagem e produçãoPágina Ímpar, Lda.

Estrada de Benfica, 317 - 1º F1500-074 Lisboa

Tiragem média mensal:6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73

com o nº 44/23Depósito Legal nº 55737/92

ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: MAN FERRoSTAAl PoRTUgAl, lda.; RoHDE & SCHWARZ, lda.

FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2O NRP “CORTE-REAL” NA STANDING NATO MARITIME GROUP 1 6EXERCÍCIO CONTEX – PHIBEX 0109 8EUROMAFOR 10DIA DO FUZILEIRO 12RESIGNAÇÃO E OBEDIÊNCIA 14NOTÍCIAS DO “TRIDENTE” 15DOUTRINA NAVAL 1 18A MARINHA DE JOÃO III (48) 20O REGIME DAS ARMAS E MUNIÇÕES 21HOMENAGEM A ROGER E FRANCIS CHAPELET / MARINHA PRESTA HOMENAGEM A PHILIPPE COUSTEAU SÉNIOR 22VISITA DO ALMIRANTE CEMA AO CLUBE DO SARGENTO DA ARMADA / 25º ANIVERSÁRIO DA DELEGAÇÃO DO CLUBE DO SARGENTO DA ARMADA /REVISTA DA ARMADA – WYSIWYG NA NET 23IDA E VOLTA A TETE E AO CHILOMBO EM 1963 24VIGIA DA HISTÓRIA 13 / “HISTÓRIA DAS LDM” / NOVO TARIFÁRIO DE ENTRADA DE VISITANTES NO MUSEU DE MARINHA 27LIVROS 29HISTÓRIAS DA BOTICA (66) 30A MARINHA NA XXVIIIª PEREGRINAÇÃO MILITAR NACIONAL A FÁTIMA /PEREGRINAÇÃO A FÁTIMA EM BICICLETA DO “GRUPO UNIDADE A PEDAL” 31QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIO 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS / ACADEMIA DE MARINHA 34INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • Agosto 2009 3

Obras de Pedro NunesFinalmente o 4º Volume

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Foto CAB L Figueiredo

Visita do Presidente da República à Marinha

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O Baptismo do “Arpão”

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 433 • ANO XXXIX AGOSTO 2009 • MENSAL • € 1,50

VISITA DOPRESIDENTE DA REPÚBLICA

À MARINHA

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No passado dia 3 de Julho, o Presidente da República, Professor Doutor Aníbal C avaco Silva, visitou a Marinha Portuguesa, acompanhado pelo Ministro da Defesa Nacional, Professor Doutor Nuno Severiano Teixeira, pelo Chefe do Estado-Maior

General da Forças Armadas, General Valença Pinto, pelo Secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna, Dr. Mário Mendes e por diversas entidades civis e militares.

O Presidente da República embarcou no NRP “Centauro”, no porto de Setúbal, rumo ao ponto de apoio naval em Tróia, local onde assistiu a uma apresentação do Almirante Melo Gomes, Chefe do Estado-Maior da Armada, sobre o conceito da Marinha de duplo uso, o seu papel fundamental na Defesa militar, na segurança e autoridade do Estado e no desenvolvimento científico e cultural do país. O Almirante CEMA sublinhou a importância da coordenação e articulação de todas as entidades com competências nos espaços ma-rítimos sob soberania e jurisdição nacional, relevando o papel do Centro Nacional Coor-denador Marítimo (CNCM) neste domínio e o apoio proporcionado pelas capacidades de comando e controlo existentes no Centro de Operações Marítimas (COMAR), centro este, que ainda no passado mês de Junho, durante uma operação de combate à imigração ilegal1, demonstrou a sua capacidade em agregar diversas entidades, responder às neces-sidades de coordenação e apoiar a condução das operações de forma sustentada.

Seguiu-se uma apresentação do VALM Saldanha Lopes, Comandante Naval, sobre o programa da demonstração naval, que viria a ter lugar no estuário do Sado, e das capa-cidades anfíbias, que se realizaria no Pinheiro da Cruz. O Comandante Naval sublinhou que o cenário suscitava o envolvimento do CNCM, através da realização de uma reunião extraordinária para agilizar as relações inter-agências, de nível operacional, necessárias para a actua ção cooperativa. Seguidamente, introduziu o COMAR, com o qual foi estabe-lecida uma ligação de vídeo-conferência e onde foram apresentados os representantes das entidades presentes na reunião extraordinária do CNCM2. Seguiu-se uma exposição das valências e das capacidades dos sistemas de comando e controlo disponíveis no COMAR pelo CFR Marcelo Correia, Chefe da Divisão de Operações do Comando Naval.

O programa de demonstração desenvolveu-se, em duas fases:Uma primeira fase, conduzida pelo Comandante do grupo-tarefa naval português (COM-

POTG), CMG Sousa Pereira, embarcado no N.R.P. “Bérrio”, no estuário do Sado, junto ao ponto de apoio naval de Tróia, onde foram demonstradas as capacidades da Marinha para actuar em cooperação com outras entidades, fazendo uso da capacidade de comando e controlo residente no COMAR e das valências e especificidades inerentes às operações de segurança marítima.

A demonstração iniciou-se com a simulação de recepção de um alerta de segurança no MRCC Lisboa, Centro de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa co-localizado com o COMAR, proveniente de um navio de pavilhão português (simulado pelo N.R.P. “Bérrio”), cuja informação inicial indicava a existência de quatro indivíduos armados a bordo, os quais fizeram o comandante refém e ameaçavam explodir dois tanques de combustível;

O cenário desenvolveu-se com o assalto ao navio sequestrado por duas equipas do DAE, uma projectada por uma embarcação de alta velocidade e outra por inserção vertical a partir do helicóptero Lynx (método fast rope), enquanto a lancha de desembarque “Ba-

VISITA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA À MARINHA

Foto Luís Filipe Catarino/Presidência da República Foto Luís Filipe Catarino/Presidência da RepúblicaFoto Luís Filipe Catarino/Presidência da República

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camarte” se posicionava de forma a poder combater um eventual incidente de poluição, dispondo para o efeito dos meios de combate à poluição do mar por hidrocarbonetos;

Seguiu-se a demonstração de uma transferência vertical de mergulhadores sapadores do submarino “Barracuda” para o helicóptero Lynx e a entrada a bordo do navio sequestrado, de um grupo da Polícia Marítima, transportado em duas embarcações de alta velocidade. Com o navio já seguro, processou-se a entrada a bordo de outras autoridades policiais en-volvidas no cenário (PJ, SEF e ASAE);

A demonstração naval incluiu ainda a intercepção e abordagem a um navio (simula-do pelo N.R.P. “Andrómeda”) suspeito de crime aduaneiro por uma lancha de vigilância e intercepção da GNR, e o resgate de um homem ao mar pela embarcação Salva-vidas da Capitania do Porto de Setúbal, com apoio de mota de água no mar e de uma moto--quatro em terra;

Por fim foi lançada no mar por helicóptero Lynx uma equipa de mergulhadores sapado-res e efectuada a sua recolha por semi-rígida, pelo método de “argola”.

A segunda fase da demonstração decorreu no Pinheiro da Cruz, conduzida pelo Co-mandante do Batalhão Ligeiro de Desembarque, CFR FZ Almeida Gabriel, onde foram de-monstradas as capacidades de projecção de força, através de uma acção de desembarque em costa aberta, manobra táctica no terreno e reembarque.

A demonstração iniciou-se com um briefing no Posto de Comando Móvel em Pinheiro da Cruz, de onde a comitiva seguiu para a Praia da Raposa para assistir a acção de desem-barque anfíbio a partir do N.R.P. “Afonso Cerqueira”;

Seguiu-se uma demonstração de manobra táctica, com execução de tiro real, seguida do reembarque em costa aberta.

A visita terminou após um almoço no Pinheiro da Cruz.A visita do Presidente da República honrou a Marinha e permitiu demonstrar algumas

das capacidades no quadro de actuação em operações de segurança marítima e operações de projecção de forças, bem como assinalar a importância nuclear do COMAR, no quadro do CNCM, particularmente ao nível das suas capacidades intrínsecas para a coordenação e apoio a operações que requeiram articulação inter-agências.

Por fim sublinha-se o elevado brio e extremo profissionalismo demonstrado por todos os participantes nas demonstrações efectuadas.

Colaboração do COMANDO NAVAL

Notas1 Operação de combate à imigração ilegal “EPN-A 2009”, no âmbito da agência europeia FRONTEX,

desenvolvida no sul de 03 a 30 de Junho, numa área compreendida entre Sagres e Huelva (Espanha). O COMAR desempenhou as funções de International Co-ordination Center nesta operação coordenada pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que contou com representantes em permanência no COMAR da agência FRONTEX, da Guarda Nacional Republicana (GNR), da Guardia Civil espanhola e da Marinha (Comando Naval e Direcção-geral de Autoridade Marítima).

2 Estiveram presentes representantes da Marinha, da Autoridade de Saúde Nacional, do Gabinete Co-ordenador de Segurança, da Guarda Nacional Republicana, da Força Aérea Portuguesa, do Serviço de Es-trangeiros e Fronteiras e da Polícia Judiciária.

VISITA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA À MARINHA

Foto Luís Filipe Catarino/Presidência da República Foto Luís Filipe Catarino/Presidência da República

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6 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

após a passagem da Linha do Equador, no dia 31 de Maio, a fragata “Corte­­Real”, em trânsito para sul, atracou

no dia 2 de Junho no porto de Mombaça, Quénia. Eram 0940h locais quando lançan-tes, regeiras e contra-regeiras alcançaram terra no maior porto de África Oriental, antigo território por-tuguês durante o séc. XVII. A estadia da “Corte­Rea l” neste porto no hemisfério sul pos-sibilitou o descanso da guar-nição e proporcionou um conhecimento mais pormeno-rizado das exóticas paisagens africanas, incluindo a reali-zação de um safari, aventura inédita e única para muitos dos marinheiros portugueses. No dia da largada, foi ao NRP ”Corte­Real” atribuída a nobre tarefa de escoltar dois navios da UN WFP (United Nations World Food Program).

A fragata portuguesa integrada na ope-ração Allied Protector da NATO, largou na chuvosa tarde do dia 5 de Junho e aguar-dou ao largo de Mombaça pela chegada dos navios contratados pela UN WFP. Entre 6 e 10 de Junho, efectuou a escolta aos navios mercantes “Marwan H” e “Bright Star”, que haviam largado, respectivamente, dos por-tos de Mombaça, no Quénia, e de Dar Es Salaam, na Tanzânia, com destino ao pe-rigoso porto de Mogadíscio, na Somália. A tarefa atribuída tinha implícita a necessidade de proteger ambos os navios mercantes, nas ameaçadoras águas que banham a costa Leste da Somália, de possí-veis ataques de piratas até à sua chegada, em segurança, a Mogadíscio. O Hand­over dos MV’s “Marwan H” e “Bri­ght Star” para a WFP Organi­zation, deu-se durante a tarde do dia 10 de Junho, com os navios fundeados à entrada do porto de Mogadíscio, de forma a poderem descarregar, em se-gurança, a sua valiosa carga.

A ajuda alimentar transportada pelos na-vios mercantes, destina-se a uma popula-ção de cerca de 3,2 milhões de Somalis, carenciados e a necessitarem de urgente apoio humanitário, muitos deles em fuga para campos apinhados de refugiados, que se vêm concentrando junto à fronteira com o Quénia e a Etiópia. A fome e a morte vêm

assolando este país, em guerra civil há cerca de vinte anos, considerado neste momento, a nível internacional, como o mais perigoso do mundo. Face a este cenário de profun-da crise humanitária, a WFP vem respon-dendo através do envio de ajuda alimen-

tar, 95 por cento da qual transportada por via marítima.

No final da tarde do dia 10 de Junho, a fragata “Corte­Real” iniciou o trânsito para norte, a apenas algumas milhas da costa da Somália, em missão de reconhecimento e recolha de informação. Durante sete dias, a “Corte­Real” e o seu helicóptero, Daxter, compilaram várias centenas de fotografias que, após árduo e minucioso trabalho, per-

mitiu disponibilizar à NATO informações preciosas, para serem usadas no combate à pirataria. Neste reconhecimento, foram positivamente identificados quatro navios alvo de sequestro, neste momento ainda sob controlo dos piratas Somalis, a aguar-dar resgates de avultadíssimas quantias de dinheiro. As tripulações, regra geral, per-

manecem a bordo em difíceis condições de vida, desnutridas e psicologicamente abaladas, a aguardarem, com desespero, o dia da sua libertação! “Esta foi a pior expe­riência da minha vida. Nunca vi nada assim! Não sei como ainda estou vivo”, dizia o co-

mandante do navio “Yenegoa Ocean”, recentemente liber-tado, após ter recebido apoio do navio da SNMG1, HNLMS “De Zeven Provincien”.

Nessa navegação rumo a norte, durante a manhã do dia 13 de Junho, pouco tempo de-pois do final de uma operação de reabastecimento de com-bustível no mar entre a “Cor­te­Real” e o reabastecedor ale-mão FGS “Berlin”, os sensores da fragata portuguesa detecta-ram uma Dhow de carga que pelo seu comportamento le-vantou suspeitas. Encontrava--se a cerca de 20 milhas da

costa da Somália, num mar deserto, sem se-guimento, ao sabor da forte corrente e des-concertante ondulação, numa zona onde a Monção é rainha até Outubro. Após inú-meras tentativas, sem sucesso, para entrar em contacto via rádio com esta embarcação típica do Índico, a semi-rígida da “Corte­­Rea l”, foi lançada à água. Cautelosamente, e com a cobertura do seu navio-mãe, diri-giu-se com a equipa de segurança compos-

ta por Fuzileiros, em direcção à Dhow que, repentinamente, pareceu acordar do desespero dos últimos dias! Elementos da tripulação saltaram para o convés e, com furor, agitaram os braços, em sinal de eviden-te pedido de auxílio aos por-tugueses. A Dhow de nome “Vishvakalyan”, de pavilhão indiano, encontrava-se no mar, à deriva, após dez dias de sequestro por piratas Somalis. Libertada há três dias, a tripu-lação constituída por catorze marinheiros de nacionalidade Indiana, encontrava-se sem combustível, sem comunica-

ções rádio, sem alimentos e praticamente sem água potável, queixando-se de dores no corpo devido a maus tratos físicos infli-gidos pelos piratas que, cumulativamente, haviam roubado todos os seus pertences e partiram, deixando-os à mercê da sua sorte. E foi efectivamente muita sorte terem sido encontrados!

“Corte­Real” e a Dhow Indiana.

Vigia atento ao MV “Bright Star” durante a escolta dos navios do WFP até Mogadíscio.

O N.R.P. “Corte-Real” na Standing Nato Maritime Group 1

Na Zona de Acção 4 … 6ª PARTE

O N.R.P. “Corte-Real” na Standing Nato Maritime Group 1

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 7

Prontamente a “Corte­Real” accionou o plano de Assistência Humanitária no Mar. Foram prestados cuidados médicos e dispo-nibilizados medicamentos, apoio técnico na reparação de equipamentos, incluindo o sistema rádio VHF, fornecida alimenta-ção, água e cerca de 3000 litros de combustível. A transferência de combustível foi efectuada utili-zando tanto a semi-rígida como o bote do navio, através do transpor-te sucessivo de jerrycans. Esta ope-ração de Assistência Humanitária concluiu-se, já noite dentro, cerca das 2200h locais, após terminado o reabastecimento de combustí-vel. A Dhow indiana, carregada de carvão vegetal e com destino final Sharjah, Dubai, nos Emiratos Árabes Unidos, pôde então prosse-guir mar fora, em segurança e rea-bastecida no essencial, prevendo efectuar uma paragem na ilha de Socotra, a leste da Somália, antes do destino final. O Comandan-te da Dhow “Vishvakalyan”, em nome da sua tripulação, agrade-ceu humildemente esta acção de salvaguarda da vida humana no mar que, conduzida pela fragata portuguesa, os salvou de destino incerto, em pleno Oceano Índico. Soube-se, entretanto, que a embar-cação alcançou, em segurança, o porto de Muscat, na Costa Norte do Sultanato de Omã. Com a sen-sação do dever cumprido, a “Cor­te­Real” prosseguiu a sua missão, rumo a norte, em direcção ao Gol­fo de Aden. “Foi a mais gratificante tare­fa conduzida por todos nós desde que cá chegamos”, comentavam muitos dos marinheiros em conversas de corredor. E para todos nós, aqueles que andam no mar, certamente que o foi!

No dia 22 de Junho, a 145 milhas a nordeste de Bossaso, na Somália, o NRP “Corte­Real” conduziu mais uma acção que resultou na apreensão de uma eleva-da quantidade de armas e diverso mate-rial passível de ser usado em acções de pirataria. Esta eficaz operação iniciou-se após o ataque de uma skiff, ao navio mer-cante “Maersk Phoenix”, de pavilhão de Singapura, que se encontrava a cerca de 4 milhas da fragata portuguesa quando solicitou auxílio, via VHF. No momento do ataque, a “Corte­Real” encontrava-se a escoltar, para leste, no IRTC (International Recommeded Transit Corridor), o navio de risco elevado MV Bolan. O “Maersk Phoenix”, ao difundir o pedido de socor-ro, recebeu, de imediato, instruções da “Corte­Real” para aumentar a velocida-de até à máxima disponível, e tomar todas as medidas anti-pirataria necessárias, desig-nadamente a utilização de mangueiras em carga do circuito de incêndios e alterações frequentes de rumo para ambos os bordos,

de modo a responder o melhor possível, à aproximação da skiff.

No seguimento do ataque, conduzido através de tiros de armamento ligeiro para a ponte do navio, conforme reportado, posteriormente, pelo Comandante do MV

“Maers k Phoenix”, foi efectuado o hand­over do MV “Bolan” para a fragata turca “Gaziantep”, que se encontrava na área a 8 milhas do local da ocorrência, possibi-litando assim à “Corte­Real” iniciar perse-

guição à skiff que entretanto se colocara em fuga. Foi uma perseguição a alta velocida-de, a cerca de 30 nós e, meia-hora depois, a “Corte­Real” tinha já alcançado a skiff que, com dois motores de 40 cavalos e 8 piratas a bordo, persistia em manter-se em fuga,

não obstante os avisos verbais para parar o seguimento. Como tal não aconteceu, a “Corte­Real”, depois de devidamente autorizada pelo COMSNMG1, procedeu à execu-ção de tiros de aviso, primeiro para o ar e depois para a proa da embar-cação, o que veio a forçar a altera-ção do seu comportamento.

Eram 0948h locais quando a ski­ff parou com os 8 suspeitos pira-tas de mãos no ar e mostrando um pano branco, em sinal de rendi-ção. Já com o bote dentro de água, a equipa de boarding rapidamen-te se apoderou da skiff, tomando--a sob controlo. Foram identifica-dos e registados os 8 tripulantes e, após busca minuciosa, foram apreendidas 4 metralhadoras AK-47, 1 RPG com 3 granadas, 2 car-gas propulsoras para RPG, diversas munições e 2 escadas metálicas. A este armamento somar-se-ia muito outro, não fosse ter sido, propo-sitadamente, deitado borda fora durante a perseguição, conforme atestam as imagens entretanto re-colhidas e que, naturalmente, não pôde ser recuperado.

No final, os suspeitos piratas fo-ram deixados a bordo da skiff com os meios necessários para pode-

rem demandar, em segurança, a costa Norte da Somália. Pela lei portuguesa, o NRP “Corte­Real”, sem legitimidade para os deter, nada mais poderia fazer.

Pela segunda vez durante a Opera-ção Allied Protector, esta operação foi um sucesso. Pela segunda vez a acção concreta da “Corte­Real” evitou que um navio mercante fosse sequestrado e alvo de pilhagem. BZ!

O fim da Operação Allied Protector ocorreu a 28 de Junho, já depois do es-treito de Bab El Mandeb, em pleno Mar Vermelho. A SNMG1 foi rendida pela SNMG2, nesta importante missão de combate à pirataria, dando assim corpo ao compromisso assumido pela NATO de ter uma força empenhada em permanên-cia nesta AOO (Area of Operations).

A “Corte­Real”, juntamente com os restantes navios da SNMG1, navega ago-ra rumo ao Mar Mediterrâneo, estimando atracar, no dia 9 de Julho, na base espa-nhola de Rota, onde, no dia 13 de Julho, se comemorará o NAC (North Atlantic

Council) SEA DAY. A esperada chegada a Lisboa, deverá ocorrer no dia 14 de Julho.

Colaboração do COMANDO DO NRP “Corte­Real”

Equipa médica a tratar um Indiano da tripulação da Dhow.

Equipa médica a trocar informação na Dhow.

Transferência de material para a Dhow pela semi­rígida da “Corte­Real”.

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8 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

Quando se faz uma apresentação oral existem algumas técnicas para cap­tar a atenção da audiência: introdu­

zir o tema através de um filme com imagens apelativas (ou mesmo chocantes); contar uma história engraçada; falar de algo estranho ao tema proposto, etc. Qualquer destas opções focará os ouvintes no orador, despertando­­lhes a curiosidade para o que se seguirá. Já num texto escrito, en­contrar uma solução desta natu­reza é bastante mais complicado, o que se torna tanto mais sensí­vel quando se sabe que é nos pri­meiros parágrafos que um leitor se decide por continuar a leitura, ficar­se apenas pela apreciação das imagens (quando as há!), ou avançar directamente para outro escrito.

Ao olhar para a imagem inicial (figura 1.), perguntar­se­á, porven­tura, o leitor, o que têm peças de “LEGO” em comum com o CON­TEX / PHIBEX (tema do artigo)? Nada de facto! Todavia, o que aqui lhe proponho é não só falar do exercício, mas fazer o balanço do que foi o ano ope­racional no que respeita ao treino da Força Naval Permanente (PO TG) e, nesse contex­to, apresentar a metodologia que procurou garantir que tal treino se desenvolvesse de forma sustentada e estruturada. Sustentada, na medida em que se apoia em definições objectivas; estruturada, porque se desenvol­ve para responder a necessidades concretas e para atingir determinadas metas.

Se o leitor pensar agora no LEGO, e se se propuser construir uma “parede” sólida, chegará à conclusão de que a lógica a se­guir, é exactamente a mesma: co­loca a peça maior na base (se a deixar para o topo, e lhe faltarem peças no meio, a estrutura corre o risco de não se equilibrar ou po­derá “implodir”), e vai colocan­do as peças seguintes de forma a só avançar para o próximo nível quando o anterior estiver com­pleto (utilizando, quando for caso disso, vários tamanhos, para que, ao agrupar peças mais pequenas, possa obter o tamanho padrão da sua estrutura).

Já aqui falámos (relembro o artigo sobre o INSTREX 0109) sobre a importância de subordinarmos a nossa acção no mar a um “conceito de emprego”. Elaborou­se, na al­tura sobre a forma como esse conceito se de­senvolve e sobre o contributo de cada tipo de navio para um todo coerente (figura 2.). Aten­te o leitor, que a definição deste conceito nos permite identificar o que os navios precisam de “saber fazer”, e, assim, ajustar a sua orga­

nização interna, encontrar a melhor manei­ra de explorar determinados equipamentos, definir os requisitos de formação do pessoal, exercitar as perícias individuais, e orientar o treino em força­naval, para que melhor se materializem as capacidades de que preci­samos. Esta é a nossa peça de base.

Já as competências em áreas específicas

– como o Boarding, o Comando e Controlo (C2), o RAS, a Force Protection, etc. –, ou a proficiência nas disciplinas tradicionais da guerra no mar – anti­submarina (ASW), anti­superfície (ASUW) e anti­aérea (AAW)1 – são os requisitos modelo, sendo objecto de uma caracterização que nos permite definir os padrões de referência para cada tipo de na­vio, bem como as metas para o treino. São as nossas “peças padrão”.

Antes de continuar, e porque mencionei a

questão do “conceito de emprego”, o verda­deiro alicerce na metodologia de treino2, im­porta salientar que existem dois grandes vec­tores que contribuem para a sua definição. O primeiro, relaciona­se com a noção de Ma-ritime Situation Awareness (MSA), expressão que traduz a necessidade de se manter um profundo conhecimento sobre o ambiente marítimo que nos rodeia. Na “gíria” das ope­rações o MSA é o que se designa por um force

enabler, reforçando as restantes capacidades através de um melhor conhecimento sobre todas as condicionantes que caracterizam uma determinada área de operações (aspec­tos políticos e sociais, comportamento dos actores, factores ambientais, meteorológi­cos e físicos, etc.). Se esta sistematização nos ajuda no plano da execução, é tão ou mais

importante numa perspectiva mais lata, ao nível dos conceitos, por nos permitir identificar o contex­to em que vamos operar: no caso em apreço, o conceito de empre­go foi desenvolvido tendo em vis­ta as missões ou tarefas em águas litorais e as operações de apoio marítimo (Maritime Support Ope-rations – MSO), compreendendo a protecção da navegação mercante e/ou de portos, a interdição e/ou o garante do acesso a portos, a assis­tência humanitária, etc.

O segundo vector relaciona­se com o que, no plano da estratégia da Marinha, se conhece como o “paradigma operacional”: indica­

­nos como correlacionar e empregar os di­ferentes meios, unidades e capacidades, no sentido de se optimizarem os produtos da sua acção. A ele está intimamente relacio­nado o conceito de “Marinha de duplo uso” que assenta numa estrutura organizativa, de formação, e de apoio logístico comuns, bem como na flexibilidade de emprego devido à polivalência das unidades navais, de fuzilei­ros e dos destacamentos de mergulhadores3. Deste paradigma retiramos como melhor in­

tegrar os diferentes tipos de navios numa força naval, e como melhor adaptar as suas capacidades aos requisitos de cada missão.

Quando conduzimos um exer­cício, procuramos articular os di­ferentes meios para que, no con­texto de uma situação imaginada com base no que poderá ocorrer na realidade (cenário), se encon­tre a solução para um determina­do número de desafios, ou seja, se atinja um conjunto de objectivos de natureza operacional. Estes se­rão mais ou menos adequados ou ambiciosos, conforme a capaci­dade de cada unidade para con­tribuir com o produto operacional

que dela se espera, sendo que tal desígnio se relaciona, obviamente, com o nível de treino e com a mestria das respectivas guarnições. Para isso, é fundamental que se consigam quantificar e medir os desempenhos, com­parando­os com as metas que se pretendem alcançar (igualmente caracterizadas segundo variáveis que sejam mensuráveis). Este é ou­tro dos aspectos fundamentais da nossa me­todologia (medir para analisar).

Exercício CONTEX – PHIBEX 0109Exercício CONTEX – PHIBEX 0109

Fig. 1

Fig. 2

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 9

A sequência dos exercícios deverá ainda garantir um crescendo de dificuldade, sendo que no início de um ciclo operacional se de­vem desenvolver os atributos mais básicos, para que nas fases mais avançadas se possam conduzir treinos mais complexos, integrando todas as áreas (forças navais, forças anfíbias e forças especiais) num contexto conjunto e combinado.

Porque o entusiasmo poderá a ter levado longe de mais as presentes reflexões, impõe­­se um ponto de situação. Falamos da meto­dologia de treino da POTG! Esta assenta numa pedra basilar con­substanciada na definição de um “conceito de emprego” que se su­bordina a duas linhas directoras: a MSA, que nos sugere o contexto em que vamos operar; o “paradig­ma operacional”, que nos orienta na forma de articular e de utilizar os meios. Sobre aquele conceito apoia­se um conjunto de neces­sidades que podem, por sua vez, ser traduzidas num conjunto de atributos a que as diferentes uni­dades deverão ser capazes de dar corpo. Os exercícios visam, numa primeira fase, o desenvolvimento de perícias básicas e, numa etapa posterior, a conjugação dos efeitos parcelares num produto consolidado.

Perguntar­se­á então o que acontece quan­do os objectivos para um exercício não são alcançados, uma vez que tal terá óbvias con­sequências no nível inicial da próxima acção de treino? Segundo a metodologia ora de­senvolvida, e fazendo um paralelismo com a imagem do LEGO, estas são as peças pe­quenas que fogem do tamanho padronizado que temos como necessário para garantir a consistência da nossa parede. A solução é preencher o espaço re­correndo a uma outra peça de cuja conjugação com a primeira resul­tem as dimensões pretendidas. No nosso caso isso foi consegui­do agendando treinos em perío­dos de sobreposição de missões, na circunstância entre os navios que saem e entram de SAR e nas rendições das corvetas nos Aço­res. Tal permitiu manter um treino continuado, corrigir deficiências identificadas durante os exercícios anteriores e ensaiar soluções para os problemas que foram sendo encontrados. Desta forma, à data de início do CONTEX / PHIBEX, tinham já sido corrigidas muitas daquelas lacunas ou deficiências, permitindo prosseguir na lógi­ca da evolução que se pretende para cada novo exercício.

Por esta altura sentir­se­ão alguns leitores defraudados nas suas expectativas, por preten­derem saber algo sobre o CONTEX / PHIBEX, mas pouco lhes ter sido, até agora, revelado. Refira­se, a bem da abordagem seguida, que esta será a altura adequada para o fazer.

Sendo o CONTEX a continuação natural de todo o treino que, até à data, tinha sido feito, observemo­lo em justaposição a situa­ções anteriores. Assim, ao cenário do INS­TREX, foi acrescentada uma vertente relacio­nada com incidentes em terra, o que sugeria e justificava o emprego de forças de fuzileiros: a POTG, passou a integrar uma componente anfíbia e o planeamento da operação incluiu um desembarque anfíbio. O exercício con­tou com a participação do LPD “FS Foudre” da Marinha francesa que permitiu dotar a TG

de um meio altamente capaz, numa lógica de condução das operações num contexto combinado. O conceito de defesa por ca­madas (layered) incluiu também operações de desminagem junto a terra, e o emprego do submarino em apoio integrado da força de superfície, não só na edificação da RMP (Recognized Maritime Picture) como se fizera durante o INSTREX, mas também no apoio ao desembarque anfíbio, como contribuinte activo para a edificação do panorama INTEL

da TG (compare as figuras 2. e 3.). Já no que concerne às disciplinas tradicionais da guer­ra no mar, o treino incidiu sobre as opções no plano táctico, dado que as operações no litoral se inserem numa lógica de “operações de área”, onde os processos de decisão e as soluções (protecção unidades valiosas, eva­são, disposição de forças etc.) diferem bas­tante da prática (coberturas ASW, dispositivos AAW, etc.) dos trânsitos oceânicos4.

Conduziram­se ainda alguns exercícios

cujos resultados no INSTREX tinham ficado aquém do que se pretendia, sendo um bom exemplo as séries de combate à pirataria (de-fense boarding), onde se ensaiaram opções tácticas que se revelaram bastante interessan­tes e promissoras. Foram também realizadas séries dedicadas ao disparo de armas (desig­nadamente torpedos de exercício e tiro AWW que incluiu o PHALANX CIWS ­ Close­in Weapon System – em modo AAW e de su­perfície), um exercício de para-jumping, que integrou componentes de operações especiais

da Marinha e do Exército a partir de uma aeronave da Força Aérea (verdadeiro paradigma de uma ac­ção conjunta!). Foi ainda possível responder a requisitos de treino específicos, como o que respeita à assistência a um submarino em emergência (SMASHEX), tarefa que exige uma cuidada coordenação e o emprego de um conjunto muito significativo de meios e de unida­des. De referir que o dia dedicado ao disparo de armas, 29 de Junho, foi também aproveitado para aco­modar uma visita no âmbito do cur­so de “Auditores de Defesa Nacio­nal para jovens”, que contou com a presença de cerca de trinta e cinco

militares e civis representativos das mais va­riadas áreas da sociedade (segurança, teleco­municações, justiça, etc.).

De relevar ainda a visita, em 03 de Junho, do Ministro da Defesa Nacional, que, acom­panhado pelo Almirante CEMA, pelo Vice­­almirante Comandante Naval e por uma comitiva de distintas entidades, teve opor­tunidade de presenciar uma demonstração de capacidades, quer no plano da força na­val no mar, quer ao nível do desembarque

anfíbio e da progressão táctica da força desembarcada.

Por fim, saiba o leitor que o exercício CONTEX / PHIBEX 0109 decorreu entre os dias 27 de Maio e 05 de Junho nas áreas de exer­cício do Comando Naval compre­endidas entre o cabo da Roca e o paralelo de Sines.

Luís Carlos de Sousa PereiraCMG

COMPOTG

Notas1 Sendo que a ASUW e a AAW se agru­

pam e são também referidas segundo o conceito de Above Water Warfare (AWW)

2 Treino entendido no contexto de For­ça­naval, responsabilidade intrínseca do Comando Na­val, e não treino individual de unidades, esse da égi­de da Flotilha.

3 Esta lógica permite­nos realizar, com os mesmos meios, um leque muito alargado de missões, seja no plano da defesa militar, seja no cumprimento de ta­refas que caem na esfera das outras missões militares de interesse público.

4 No qual ainda nos revemos, muito em especial para o desenvolvimento do tactical awareness, das reac ções pré­planeadas, ou do conceito CWC (Com-posite Warfare Commander), em especial nas fases mais precoces do treino em força­naval.

Fig. 3

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10 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

CONCEITO DA EMF

a EUROMARFOR – European Maritime Force (EMF) nasce em 1995 como um contributo de Portugal, França, Espa-

nha e Itália para uma “Identidade de Defesa Europeia”. Neste contexto, e na decorrên-cia da Declaração de Petersberg (1992), as quatro nações criam uma Força Marítima Multinacional com capacidade para ser empregue de forma independente ou em conjunto com outras forças, em operações autónomas ou patrocinadas por entidades supranacionais (UEO, UE, ONU etc.) em missões humanitárias, de resgate, de manu-tenção de paz e de combate em gestão de crises incluindo « peace making ».Com um relacionamento histórico muito forte com a União Europeia Ocidental (UEO), a EMF foi inicialmente declarada como força primariamente dispo-nível para ser empregue no âmbito desta organização e aberta à participação de to-dos os seus membros.

Após 2001, com a trans-ferência das responsabilida-des militares da UEO para a União Europeia (UE) a EMF desenvolve uma maior apro-ximação a esta última, ten-do-se mantido desde 2003 como uma presença cons-tante no European Force Ca-talogue. A muito curto-pra-zo, por decisão já tomada pelas quatro nações a EMF vai também ser oferecida à UE para inte-grar o grupo mais restrito de forças do ca-talogo das Maritime Rapid Response For-ces da União.

ESTRUTURA DA EMF

O Comité Interministerial (CIMIN) é o ní-vel máximo de decisão da EMF e assegura a condução política da organização. O comi-té é constituído pelos quatro CHOD (Chief of Defense) e pelos quatro Directores Ge-rais de Politica Externa do MNE dos quatro estados-membros.

O Comité Político-militar (POLMIL) é o órgão executivo do CIMIN para a coorde-nação político-militar. No POLMIL têm as-sento os representantes dos Ministérios da Defesa, dos Negócios Estrangeiros e dos CHOD dos quatro países. Na prática asse-gura a condução dos assuntos correntes e prepara as tomadas de decisão do CIMIN. No âmbito da EMF, o POLMIL possui como grupo de trabalho e aconselhamento técni-co, o Sub Working Group Euromarfor (SWG EMF), constituído por representantes das Marinhas dos 4 países.

A CIMIN Operations Cell (COC) localiza-

-se em Bruxelas e é composta pelos MILREP dos quatro países membros. Esta célula, apenas activada em caso de necessidade, destina-se a agilizar durante a execução de “Real World Operations” (RWO), o pro-cesso de tomada de decisão, garantindo os necessários contactos em tempo útil entre os comandantes das forças e os represen-tantes no CIMIN.

O COMEUROMARFOR (CEMF), é o Co-mandante Operacional da EMF, nomeado em rotação, por períodos de 2 anos, entre os Comandantes Navais dos quatro países. No período em que um dos quatro coman-dantes navais assume o cargo, o seu Quar-tel-general passa a acumular a função de Quartel-general da EMF e o seu Estado--Maior nacional passa a acumular a função de Estado-Maior do CEMF.

A Célula Permanente da EMF (EMFPC), é parte integrante do Estado-Maior do CEMF. É constituida pelo Director (1 CMG do país do CEMF), por 4 oficiais Representantes Nacionais dos países membros, por 2 Ob-servadores da Grécia e Turquia e por uma secretaria de apoio.

O COMGRUEUROMARFOR (CGEMF), Comandante da Força no mar é um oficial especialmente nomeado para o efeito pelo CIMIN. Este oficial, conta para o desem-penho das suas funções com o apoio de um Estado-Maior Internacional embarca-do, composto por oficiais nomeados para o efeito pelos quatro paises.

PROCESSO DE ACTIVAÇÃO E MISSÕES ATRIBUIDAS

A Força Naval da EMF é uma força não--permanente, sob a forma de TG (Task Group) ou TF (Task Force) que é activada para o cumprimento de missões ou exer-cícios determinados. A constituição da for-ça, em número e tipo de meios varia de acordo com as características da missão podendo ser activada desde uma pequena TG de Draga-minas, até uma TF de grandes

dimensões, incluindo porta-aviões e respec-tiva escolta.

Ao longo da sua historia a EMF tem sido chamada a desempenhar um sem número de missões em operações autónomas ou in-tegradas em quadros multinacionais mais vastos. Historicamente as missões mais em-blemáticas cumpridas foram:

- Operação Coherent Behaviour no Me-diterrâneo Oriental no âmbito da Operação Active Endeavour de Outubro a Novembro de 2002.

- Operação Resolute Behaviour no Ocea-no Indico no âmbito da Operação Enduring Freedom de Janeiro de 2003 a Dezembro de 2005.

- Operação Impartial Behaviour, no Medi-terrâneo Oriental, junto às águas Libanesas, sob a égide das Nações Unidas, como par-

te da UNIFIL, de Março de 2008 a Fevereiro de 2009.

- Várias visitas e exercicios de cooperação com os paises da orla sul do Mediterraneo nomeadamente Marrocos, Tunisia e Argélia.

A EMF DE 1995 A 2007

Após a sua criação em 1995, a EMF atravessa um período de intensa activida-de. De 1996 a 2005 assiste--se ao crescimento da orga-nização que tem o seu ponto mais alto no empenhamento,

durante 2 anos, no Oceano Índico no âm-bito da Operação Enduring Freedom, onde o CGEMF assumiu em períodos alternados, num total de 12 meses, a função de Coman-dante da TF 150 (CTF 150). Esta Operação no Índico coincidiu aproximadamente com o ultimo período de um CEMF francês, de 2003 a 2005.

A fase de crescimento da organização de 1995 a 2005 coincide também com o iní-cio da sua projecção internacional e com o pedido de adesão da Grécia e da Turquia, que data de 1997 e na sequência do qual, a partir de 2001 passa a ser integrado um observador de cada um destes países na Cé-lula Permanente.

Embora até hoje os “dossiers” da adesão da Grécia e da Turquia continuem por resol-ver, a presença dos observadores na EMFPC tem sido mantida constante e ininterrupta e tem permitido uma ligação próxima entre o CEMF e as marinhas Grega e Turca. Esta pre-sença tem ainda facilitado a integração de oficiais gregos e turcos nos Estados-Maiores do CGEMF sendo disso exemplo o recente empenhamento na UNIFIL.

Em Setembro de 2005 dá-se início ao comando espanhol e o CEMF passa a ser o

EUROMARFOREUROMARFOR

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 11

Almirante ALFLOT (Almirante de la Flota). Em Dezembro de 2005 assiste-se ao fim da Operação Resolute Behaviour e à retirada do Índico e de Dezembro de 2005 a Setem-bro de 2007 a EMF cumpre o seu calendário de exercícios e não participa em RWO.

O BIÉNIO EM CURSO, SET 2007 A SET 2009

Em Setembro de 2007 o Almirante ALFLOT Vice-Almirante Armada Vadillo passa o Co-mando da EMF ao Almirante CINCNAV, Vi-ce-Almirante Giuseppe Lèrtora (Comandante in Capo della Squadra Navale Italiana).

Cedo após a transferência de comando nota-se um grande esforço do Almirante CEMF e das autoridades italianas em bus-ca de alternativas para empenho da Força em Operações Reais. Estas diligências, en-contram uma resposta afirmativa por parte das nações e a EMF volta ao mar, em RWO, cerca de 2 anos depois do Índico e menos de 6 meses após a Itá-lia assumir o comando. Desta feita a EMF passa a operar sob a égide da ONU, comandando a Componente Naval da Força de Interposição das Nações Unidas no Líbano. Esta missão, his-tórica por ser a primeira missão de paz com co-mando directo da estru-tura da ONU no mar e por ser a primeira vez que a EMF opera sob a égide desta organização prolonga-se por 1 ano, de Março de 2008 a Fe-vereiro de 2009.

A Operação Impartial Behaviour (OIB) (“nick name” da participação da EMF na UNIFIL) aumenta significativamente a expe-riência da EMF em operações reais e valida mais uma vez o conceito de facilidade de emprego, de interoperabilidade e de exce-lente relação custo/eficácia desta força.

O comando Italiano da EMF decorre de Setembro de 2007 a Setembro de 2009 e durante estes 2 anos, para além da OIB a EMF efectua ainda 2 exercícios de guerra de minas e um exercício de cooperação com a Marinha da Argélia.

O 2° COMANDO PORTUGUÊS, SET 2009 A SET 2011

No próximo mês de Setembro o coman-do da EMF passa da Itália para Portugal de-vendo ser entregue pelo actual CINCNAV, Vice-Almirante Luigi Mantelli em cerimó-nia formal em Lisboa ao Comandante Na-val, Vice-Almirante Saldanha Lopes. Para os 2 anos de comando nacional encon-tra-se aprovado o Plano de Treino da EMF (EMFTP ), que servirá de guia às actividades e exercícios da força.

Não obstante o planeamento de treino aprovado, segundo a doutrina da EMF o empenhamento em RWO tem precedên-cia sobre o calendário de exercícios e parecem estar relativamente próximos da aprovação por parte dos países novos em-penhamentos em Operações Reais. Con-cretamente, na última reunião do Comité Político-Militar em 30 de Abril em Roma, foi declarado o apoio de principio a um empenhamento da EMF no Corno de Áfri-ca. Este regresso ao Índico, para colaborar no combate ao crescente fenómeno da pi-rataria, prevê-se que possa ser concretiza-do através de uma oferta da EMF à União Europeia com meios navais e capacidade de comando que permita participar e co-mandar a TF empenhada na Operação Ata-lanta actualmente em curso, desde que o mandato da UE para a operação seja pro-longado após Dezembro de 2009.

O comando de Portugal vai assim ocorrer num momento em que a EMF já atingiu a

maioridade, em que se perspectivam gran-des desafios e que coincide ainda com as esperadas celebrações do 15° aniversario da assinatura dos documentos constitutivos da EMF em Lisboa, em 15 de Maio de 1995.

Na perspectiva indicada, os próximos 2 anos sob comando nacional, serão um im-portante período de continuação da afirma-ção da EMF, da sua capacidade operacional e da sua visibilidade a nível internacional. Este facto, aconselha a investir substancial e consideravelmente na participação portu-guesa por forma a que as Forças Armadas e em concreto o COMEUROMARFOR (Co-mandante Naval) possa dispor de recursos que lhe permitam um desempenho conso-nante com o nível das responsabilidades que vai assumir. A Marinha Portuguesa, pela sua parte, dispõe dos meios para asse-gurar a participação nacional, agora refor-çados pela recente aquisição das fragatas da classe “Bartolomeu Dias”, e dispõe de comprovada experiência capaz de supor-tar o Comando.

Também, a exposição mediática que pode ser prevista, aconselha a mobilizar os recursos necessários de modo a apoiar

a acção de comando com uma estrutura de relações públicas que possa capitalizar em termos de opinião pública os inerentes dividendos de imagem para a EMF, para as Forças Armadas e para Portugal.

QUE FUTURO? O provável empenhamento sob a bandei-

ra da UE na Operação Atalanta, enquanto factor de uma maior aproximação entre a estrutura militar da UE e a EMF pode vir a ser mais um vector de força, catalisador da possibilidade da EMF vir a ser o embrião de uma Força Marítima Europeia “alargada”, que no âmbito da PESD possa dotar a União de uma capacidade naval efectiva, comum a todos os estados-membros.

A EMF possui valências específicas de grande relevo e que permitem um espaço de actuação próprio e complementar ao pi-lar atlântico da defesa e à NATO.

Em termos militares é visível que a EMF atravessa um período de franco desenvolvimen-to, afirmação e divulga-ção da sua imagem nos “fora” internacionais. Ao mesmo tempo os re-centes empenhamentos em operações reais e os previsíveis num futuro próximo, continuam a apontar para a viabili-dade, sustentabilidade, actualidade e validade do conceito base subja-cente à sua criação.

Também na vertente político-militar pare-ce haver espaço para o desenvolvimento e re-

forço da EMF como garante da segurança nos mares e como actor de paz na gestão de conflitos locais ou regionais.

Não obstante o clima aparentemente favorável persistem questões a resolver e parece incontornável, a necessidade de solucionar o ainda pendente “dossier” Grécia/Turquia o qual condiciona de for-ma indelével o futuro.

Nas actuais condições propícias ao de-senvolvimento e fortalecimento da EMF considera-se ainda fundamental iniciar uma profunda reflexão no seio dos 4 estados--membros que possa vir a produzir uma vi-são concertada sobre as linhas mestras a se-guir e sobre a EMF do futuro. Torna-se assim imperioso a (re)colocação desta questão no centro do debate das quatro Nações, através das agendas dos Comités Político-Militar e Interministerial de modo a aproveitar uma oportunidade conjuntural favorável ao au-mento do peso-específico e da influência da EMF e consequentemente de Portugal na cena internacional.

Nuno Sobral DominguesCFR

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12 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

As comemorações do Dia do Fuzileiro – que este ano tiveram lugar pela primeira vez – resultam de um fe-

nómeno persistente que congrega as várias gerações de fuzileiros, em romagem anual à Escola que os formou, recordando os tempos em que andaram em África, os episódios da Arrábida e Aveiro, as noites de frio e chuva passadas dentro do rio, as pistas de lodo, as marchas, Tróia e Pi-nheiro da Cruz, enfim, tudo aquilo que fez e faz um fuzileiro e lhe dá o orgulho de usar ou de ter usado uma boina azul ferrete. E era esta origem comum que le-vava a que se reunissem os destacamen-tos, as companhias, os filhos da escola desta ou daquela incorporação, aqueles que na solidariedade de uma formação militar especial, revivem com saudade a razão do seu orgulho comum. Por inicia-tiva do Comando do Corpo de Fuzileiros, este ano essa peregrinação fez-se numa festa comum para todos os fuzileiros e ex-fuzileiros, no que passará a ser o Dia do Fuzileiro.

Ensina-nos a História que em Abril de 1621, o rei Filipe III de Portugal despa-chou os pedidos do General do Mar da Coroa de Portugal e criou, com carácter permanente, uma força de soldados de infantaria destinados a andar embarca-dos nos navios da Armada. Foi formado o Terço da Armada da Coroa de Portu-gal, que três anos depois iria desalojar os holandeses da Baía. A maioria dos que regressaram do Brasil perdeu a vida em 1926, num imenso naufrágio ocorrido no Golfo da Biscaia, quando andavam em perseguição de piratas argelinos. Quase todo o Terço desapareceu nessa noite fa-tídica, mas renasceu e recompôs-se, es-tando presente quando D. João IV assu-miu a coroa, continuando a combater na fronteira do Alentejo ou onde quer que o Rei ou a Pátria os chamou.

Eram assim os soldados da marinha, que ocupavam as vergas, o convés ou os castelos, combatendo com coragem e va-lor. O mesmo valor com que saltavam nas praias ou percorriam, a partir de 1961, os rios e a selva africana, escrevendo mais um capítulo da gloriosa história que já contava com três séculos e meio. E, mais recentemente, estiveram na Bósnia, na Guiné, no Congo, em Timor e no Afega-nistão, cumprindo com o mesmo brilho e empenho as missões que decorrem dos novos tempos, de um mundo diferente, onde Portugal quer estar confiando que os seus fuzileiros continuarão a respon-der “presente” onde quer que seja preci-so actuarem.

Não é difícil imaginar o que diriam uns aos outros se fosse possível reunir os que sobreviveram em 1626 com os que estive-

ram em África ou na Bósnia: contariam his-tórias do seu tempo, diriam que já não há guerras como essas, que hoje tudo é mais fácil, que até o mar é diferente, que já não há sudoeste rijo, etc. Comportar-se-iam uns

com outros como todos os marinheiros de todas as épocas, como fazem os actuais fu-zileiros e como sempre fizeram desde que me lembro de os ouvir. Porque os homens fazem mudar o mundo e mudam com ele,

mas não perdem (nunca perderam) o seu carácter humano. Esta é a grande lição que colhemos da História.

Unidos num destino comum, os solda-dos da marinha, os marinheiros do fuzil ou os fuzileiros estão a pouco mais de uma década de completar quatro séculos de vida ao serviço da Pátria, e é nessa pesada mas gloriosa herança que se revêem e que revivem a própria experiência com orgu-lho, cumprindo o seu dever nas diferenças impostas pelos tempos e na constância da sua imutável condição. O Dia do Fuzileiro é, por isso, um dia de recordações (de in-tensas recordações), como já eram os en-contros de unidades ou de incorporações que visitavam a casa mãe que é a Escola de Fuzileiros. Mas é também um dia de en-contro de gerações, onde os novos podem compreender o que foram os tempos pas-sados, e os veteranos podem constatar que ali está uma nova geração, cheia de força e de vida, bem treinada e preparada, com novos meios e equipamentos, com outras formas de actuar e capacidades, mas com a garra dos tempos que a sua memória al-cança, quando combateram na Guiné, em Angola ou Moçambique.

A data das comemorações do Dia do Fuzileiro 2009 foi a de 27 de Junho, não porque corresponda a uma efeméride específica e notável da história dos fu-zileiros, mas apenas por ser um sábado, numa altura do ano adequada para juntar o maior número de militares, ex-militares e famílias. O programa começou cerca das 08h30 da manhã com a concentração de antigos e actuais fuzileiros, podendo visitar-se a Sala Museu e participar num conjunto de actividades, hoje muito agra-dáveis aos jovens mais afoitos. Os partici-pantes e as suas famílias puderam recor-dar os tempos em que andaram de bote neste mesmo rio Coina, desfrutar de um passeio de LARC, tentar a sua sorte no tiro de Air-Soft ou experimentar a escala-da de uma parede vertical, com controlo técnico e com a segurança necessária.

Cerca das 10h30 teve lugar uma missa campal de sufrágio por todos os fuzilei-ros mortos, celebrada pelo Vigário Ge-ral Castrense, Capelão Manuel Amorim, acolitado pelos Capelães Ilídio Costa e Licínio Silva. O Capelão Amorim iniciou a sua carreira como Capelão Militar na Escola de Fuzileiros, nos já longínquos tempos de 1978. A sua actividade desen-volvia-se muito perto da instrução dos novos fuzileiros, participando em algu-mas das suas provas mais duras, de tal

Dia do FuzileiroDia do Fuzileiro

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 13

fora que o seu empenho lhe mereceu a atri-buição da boina de fuzileiro, numa situa-ção inédita, só depois repetida com outros que seguiram o seu estilo e a sua forma de encarar o apoio aos alunos. Ao celebrar esta missa, no primeiro Dia do Fuzileiro, o padre Amorim era, além do mais, um ho-mem da casa, e foi nessa condição, tam-bém, que se dirigiu aos presentes, confe-rindo ao acto religioso o especial calor de uma celebração em família.

Cerimónia militarCerca das 12h00 deu-se início a uma

cerimónia militar, presidida pelo Co-mandante do Corpo de Fuzileiros, Con-tra-Almirante Cortes Picciochi. As forças em parada, comandadas pelo Capitão-de-fragata FZ Ova Correia, englobavam o Batalhão de Fuzileiros nº 1, a Compa-nhia de Equipagem da Base de Fuzileiros, um pelotão da Escola de Fuzileiros, e três pelotões pertencentes à UMD, à CAT e à CAF, respectivamente. A força operacio-nal, comandada pelo Capitão-de-Fragata Almeida Gabriel, integrava-as num nú-cleo separado, constituído pelo elemen-to de manobra, com duas companhias do BLD, e uma força motorizada, com os elementos de apoio de combate e de apoio de serviços.

Com as forças prontas, e chegado o Co-mandante do Corpo de Fuzileiros, teve lugar a breve cerimónia de inauguração de uma placa que designa a parada da Escola de Fuzileiros com o nome de “Pa-rada Almirante Roboredo e Silva”, numa homenagem à figura do chefe militar que, em 1961, levou à recriação dos fuzi-leiros na Marinha Portuguesa. De segui-da teve lugar a homenagem aos fuzileiros mortos ao serviço da Pátria, momento so-lene em que todos recordam com especial emoção os companheiros caídos em com-bate, lembrando que ali somos, mais uma vez, a voz dos nossos mortos e a garantia da sua imortalidade no nosso respeito e na nossa memória.

Terminada a emocionada láurea, usou da palavra o Vice-Presidente da Asso-ciação de Fuzileiros, Dr. António Gomes Beltrão, representando o seu Presiden-te, Dr. Ilídio Neves Luís, impedido por prolongada e grave doença. A Associa-ção de Fuzileiros saudou a realização do Dia do Fuzileiro e todas as iniciativas a ele agregadas, na medida em que constituem uma forma de juntar todos os fuzileiros, de várias gerações, num só evento, con-gregador e dignificante. Seguiu-se o dis-curso do Contra-Almirante Cortes Piccio-chi, Comandante do Corpo de Fuzileiros que começou por explicar as razões deste evento, em substituição das sucessivas vi-sitas à Escola de Fuzileiros dos numero-sos destacamento e companhias. Foi sua intenção dar uma maior grandiosidade a essas “romagens de saudade”, ao mesmo

tempo que juntava numa festa de grande significado as diferentes gerações de fuzi-leiros, unindo-os “como um todo, como um corpo”, que consubstancia a «interio-

rização do epíteto “fuzilei-ro uma vez, Fuzileiro para sempre”». E, «Não havendo “ex-fuzileiros” mas apenas “fuzileiros” – acrescentou adiante – tem o Corpo o dever de procurar manter o elo de ligação, chaman-do quem está fora,... dizer-lhes que não os esquecemos e que contamos com eles”. Salientou ainda como é importante que os novos aprendam o significado dos episó-dios do passado e o que eles representam,

como devem os veteranos aperceber-se das mais recentes realidades vividas pelos jo-vens que hoje usam a mesma boina de azul ferrete. “Cumprindo processos de reestru-

turação, redimensionamento e reequipa-mento, os fuzileiros têm sabido ajustar-se aos novos cenários de actuação, onde os conflitos assimétricos que começaram a emergir se assumiram como mais um desafio a enfrentar e vencer. Foi assim antes, será assim no futuro”. E termi-nou o seu discurso dizendo: “ Os fuzi-leiros vieram aqui dizer... que honram a sua Pátria. Que nada esperam em troca da sua devoção e entrega até às últimas consequências, porque crêem no serviço que prestam a Portugal, porque sabem que são um só, com a força de todos”. A cerimónia militar terminou com o desfile das forças em parada.

memórias de um guerreiro Colonial

Antes de dar início ao almoço de con-fraternização, no refeitório da Escola de Fuzileiros, teria lugar o lançamento de um livro escrito pelo Sargento-Mor Fu-zileiro José Talhadas, com o título Memó-rias de um guerreiro colonial. Eu conheci o Sargento Talhadas há quase três dezenas de anos, quando desempenhava funções no Batalhão de Instrução. Foi-me apre-sentado por um camarada seu que não se cansou de elogiar o prestígio e a aura de respeito que aquele homem carrega-va consigo, dado o seu passado como combatente. Um passado ímpar, espelha-do nas condecorações que ostentava ao peito. Mas foi na convivência que depois tive com ele que percebi a real dimensão do homem e do militar. As Memórias de um guerreiro colonial relatam a experiência das quatro comissões no Ultramar (duas em Angola e duas na Guiné), mostrando a experiência de uma guerra dura e difí-cil, onde os fuzileiros tiveram o seu lugar de honra. Num discurso simples, resistin-do quanto podia à tentação de se colocar no centro da narrativa, emerge uma lin-

guagem viva dominada por um sentido humano invul-gar. Mesmo quando fala do inimigo. Da leitura do livro apenas me ocorre reforçar como o sargento Talhadas é um homem de quem me orgulho de ser amigo. O lançamento do livro foi um ponto alto das comemora-ções do Dia do Fuzileiro, que terminaram com o almoço e com a confraternização que se prolongou até ao final da tarde.

J. Semedo de MatosCFR FZ

Fotos de 1SAR FZ Pereira e SAJ FZ Silva

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14 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

Resignação e ObediênciaResignação e ObediênciaCaros cadetes, neste artigo falo-vos

da resignação e da obediência, duas virtudes estruturantes do

carácter e da vontade de todo o militar. A resignação consiste na aceitação da adversidade com elevação e sem hesita-ções. Traduz o estoicismo, é essencial ao sucesso e à ordem, e obriga a dispor de um carácter inabalável. A obediência ci-fra-se na observância rigorosa das ordens e das instruções. Exprime a autoridade, é indispensável à disciplina e à hierarquia, e implica possuir uma vontade inque-brantável.

A resignação só é possível a quem dispõe de um carácter inabalável e, por isso, consegue aceitar de for-ma voluntária ou convencio-nal, mas sem-pre com grande firmeza de âni-mo, a angústia resultante das adversidades do quotidiano, suportando-as sem nunca de-sistir e adop-tando quer uma atitude de per-manente busca do sucesso, que permite melhores reali-zações futuras, quer um comportamento consistentemente ordeiro, que preserva a tranquilidade institucional.

Quando a resignação está associada a um erro próprio, resulta da assunção cla-ra do ónus da culpa. Quando esse erro é provocado por outrem e não nos pode-mos opor às suas consequências, exige grande coragem, por desencadear um sentimento de frustração difícil de su-portar. No entanto, o respeito à Marinha impõe-nos que, nas circunstâncias des-critas, sejamos capazes de conter as pala-vras, evitando lamentações, e de refrear os actos, impedindo reacções.

Caros cadetes, como é óbvio, as ofensas à honra e à dignidade de cada um de vós não são susceptíveis de merecer resigna-ção. Se ocorrerem, a vossa inacção e silên-cio significarão menoridade de carácter, condição típica daqueles que praticam a conivência acomodatícia, que nada tem a ver com o respeito reflectido e consciente à Marinha. Para além disso, a resignação

também não deve ser confundida com a humildade ou com a modéstia. A hu-mildade é uma qualidade nobre daque-les que não têm vaidade ou arrogância, e adoptam uma conduta parcimoniosa e simples, que confere dignidade. Porém, a modéstia é uma característica daque-les que têm ânimo fraco. Por isso, nada possui de honroso ou dignificante, visto traduzir-se no desapreço por si mesmo, na ausência de amor-próprio e no avil-tamento da personalidade, aspectos que minimizam a criatura humana.

A obediência só é possível a quem dispõe de uma vontade inquebrantá-vel e, por isso, consegue aceitar de for-ma voluntária ou convencional a auto-ridade dos seus superiores hierárquicos legítimos, adoptando uma atitude de permanente disciplina e subordinação, que viabiliza o cumprimento comple-to e frontal das ordens e instruções re-lacionadas com o serviço. Por meio da disciplina e da hierarquia, o exercício do comando é dotado de um poder, competência ou jurisdição, que o tor-na respeitável e leva os subordinados a cumprir as ordens e instruções. Nestas circunstancias, a obediência não é uma consequência da coacção moral decor-rente do temor de um castigo, mas da consciência dos deveres militares de dis-ciplina e de subordinação relativamente a uma autoridade superior legítima, em situações na órbita das suas atribuições, desde que das ordens e instruções emi-tidas não resultem infracções às leis e aos regulamentos.

A vontade para obedecer é essencial à vida militar, porque as leis e os regula-mentos, por mais restritivos que sejam, por si só pouco permitem, quando se re-quer que os militares desempenhem as suas funções em circunstâncias diversas, imprevistas, desconhecidas e exigentes, muitas vezes em estados de grande ten-são e cansaço, e sujeitos a correr riscos sé-rios de vida. Na realidade, a vontade dos militares para obedecer no cumprimento dos seus deveres tem de ser inquebran-tável, porque só dessa forma, na paz ou

na guerra, con-sistentemente e em todas as circunstâncias, cada um reali-zará ou cessará qualquer servi-ço para o qual tiver sido com-petentemente nomeado ou in-timado, e cum-prirá as ordens e instruções le-gítimas dos seus superiores hie-rárquicos.

Caros cadetes notem, porém, que a obediên-cia não resulta do livre arbítrio daquele que co-

manda. Está balizada pelos limites da lei e dos regulamentos militares, e decorre da disciplina e da hierarquia entre os vários escalões, onde o comandante de cada ní-vel emite as suas ordens e instruções no contexto de determinações superiores le-gítimas. Também não deve ser confundida com a passividade amorfa, que se traduz na submissão plena às ordens e instruções recebidas, postas em prática sem raciocí-nio ou discussão. A obediência está ligada à dignidade e ao respeito do subordinado, bem como à sua iniciativa para contribuir de forma leal e pronta para a tomada de decisões e para a realização de acções de-terminadas pelo superior hierárquico no âmbito do serviço. Desta forma, nada tem de vergonhoso ou aviltante. É natural e evita a anarquia e a insubordinação, dois males que, quando ocorrem, anulam a dis-ciplina e a hierarquia, os pilares básicos da instituição militar.

António Silva RibeiroCALM

AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 5

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 15

se bem se lembro, como diria o saudoso Vitorino Nemésio, pai dum ilustre sub-marinista, o CMG M Ref. Manuel Mon-

jardino de Azevedo Gomes Nemésio, o “Tri-dente” foi baptizado e colocado a nado em 15 de Junho de 2008, no estaleiro da HDW, em Kiel – Alemanha.

A partir dessa data iniciou oficialmente as denominadas Provas de Aceitação a Cais, também conhecidas como HAT’s (Harbour Acceptance Tests).

Estas provas, em número de 157 por navio, destinam-se a comprovar o bom funcionamen-to dos sistemas e equipamentos após a sua ins-talação e integração a bordo.

De referir, que as Provas de Aceitação a Cais são realizadas em condições muito idênticas ás de um navio de superfície, dado não estarem preenchidos os requisitos que só as Provas de Mar impõem a um submarino, como a profun-didade e a pressão hidrostática, mas são fundamentais para que o submarino possa mergulhar e governar em imersão com intei-ra segurança.

De entre as 157 Provas de Aceitação a Cais, cuja enume-ração seria fastidiosa, referem-se as que são exclusivas dum navio desta natureza:

- prova de estanqueidade às anteparas;

- provas ao snorkel ou snort;- provas à bateria e ao sistema de arrefeci-

mento e de mistura do electrólito. Refira-se que esta bateria pesa 230 toneladas e é composta por 638 elementos;

- Provas ao motor eléctrico de propulsão. Este motor pesa 54 toneladas e é de ímans permanentes;

- Provas a todos os sistemas de segurança e de combate a incêndio;

- Provas aos tanques de lastro, que quando cheios de ar mantém o submarino à superfície, e que são esvaziados desse mesmo ar para o submarino entrar em imersão;

- Provas aos tanques de regulação em peso e em caimento;

- Provas ao sistema de ventilação, de controlo da atmosfera e de respiração de emergência;

- Provas de funcionamento ao telefone sub-marino;

- Provas aos mastros içáveis. Esta prova per-mite testar o periscópio, mastro optrónico, ante-nas de comunicações e de guerra electrónica.

- Provas aos tubos lança torpedos;- Prova ao ejector de sinais, fundamental

para o submarino possa indicar a sua posição em situação de perigo.

Em simultâneo com as provas a cais, houve necessidade de preparar o pessoal da Missão de Construção dos Submarinos (MCSUB) para as provas de mar, de acordo com as regras da marinha mercante alemã.

Até ser içada a bandeira nacional, todas as na-vegações efectuadas pelos navios – no decurso das Provas de Mar e do treino das guarnições – sê-lo-ão sob pavilhão mercante alemão, tendo o estaleiro construtor HDW como armador.

Terminadas as provas a cais ou HAT’s, o “Tridente” iniciou em 16 de Março de 2009 as denominadas Provas de Aceitação no Mar, também chamadas de SAT’s (Sea Acceptance Trials), em numero de 60 por navio. Parte des-tas provas decorreram na proximidade de Kiel, tendo o submarino partido em 05 de Maio para a Noruega - Kristiansand, onde iniciou as pro-vas de mar em águas profundas.

O “Tridente” voltou de novo a Kiel em 8 de Julho para pequenas reparações e correc-ções, para retornar a Kristiansand – Noruega, em 21 de Julho.

Relativamente às Provas de Mar, vamos ago-ra debrucarmo-nos um pouco sobre algumas das provas mais importantes já realizadas pelo submarino.

- Ida à cota ou profundidade máxima – Esta prova destina-se a testar o casco e elementos estruturais do submarino, os equipamentos co-locados no exterior e os circuitos com ligação ao mar, em termos de estanqueidade e elasticidade, comprovando que não “existe entrada de água” e/ou “deformação permanente”. É uma prova muito morosa e efectuada por patamares;

- Sistema de propulsão – Esta prova sujeita o motor propulsor Siemens “Permasyn” a di-versos regimes de velocidade e de sentido de rotação, comprovando que o mesmo satisfaz os requisitos de vibração, ruído, consumo e velocidade exigidos contratualmente;

- Sistema de Governo – permite-nos confir-mar o bom funcionamento dos três lemes do submarino. O leme vertical, horizontal a vante e horizontal a ré. Ao contrário dos anteriores submarinos Classe “Albacora”, no “Tridente” basta um homem para manobrar o submarino em rumo e em cota ou profundidade, através da utilização de um único comando seme-lhante ao dos aviões;

- Ar de emergência aos tanques de lastro – este sistema é fundamental para que o submari-no possa ganhar flutuabilidade positiva a vante, permitindo a sua subida rápida para a superfície

ou cota periscópica em caso de alagamento ou avaria nos lemes horizontais.

- Tronco de Escape – Este sistema é uma das novidades introduzidas nesta classe de sub-marinos e vai permitir que os elementos da guarnição possam “escapar” do submarino, um a um, sem estarem sujeitos à pressão de imersão mais do que o tempo necessário para alagar o tronco e subirem à superfície a par-tir da profundidade de 180 metros, equipados com um fato próprio. É um sistema vital para a sobrevivência da guarnição em caso de ala-gamento parcial;

- Produção de água doce – é também uma novidade nesta classe de submarinos, permi-tindo que pela primeira vez se possa tomar banho a bordo com maior frequência. A água doce é produzida por “osmose inversa”, méto-

do já em utilização nos restantes navios da Marinha;

- Fuel Cell – Este sistema, de concepção e fabrico Siemens, permite que o submarino pro-duza a sua energia eléctrica debaixo de água e a qualquer cota, através da utilização de Oxigénio (armazenado no es-tado líquido) e Hidrogénio (ar-mazenado no estado gasoso), libertando água doce a 80ºC como sub-produto. Os subma-rinos de construção alemã são os únicos no mundo a utilizar este sistema, que difere do sis-

tema MESMA (Module d’Energie Sous-Marin Autonome) de concepção francesa. As provas à FC permitem comprovar que as temperaturas e pressões de funcionamento estão dentro dos valores normais e que a voltagem e intensida-de da corrente produzida está de acordo com os valores contratuais. A título de curiosidade refira-se que, tanto as naves espaciais america-nas como os actuais Space Shuttles, utilizam a Fuel Cell para a produção de energia eléctrica e água doce.

Muitas outras provas foram realizadas até à data, todas de igual importância para um sub-marino, nomeadamente: Ejecção de lixo, ejec-ção de fachos luminosos, prova de capacidade às bombas de esgoto a várias cotas, ruído emiti-do pelo submarino, tanques sanitários, sistema de regeneração do ar ambiente, carga da bate-ria, navegação ao snorkel ou snort, utilização do periscópio e do mastro optrónico.

Para terminar, refira-se que está previsto o regresso do “Tridente” a Kiel durante o mês de Outubro para ser empenhado no Treino a Cais e no Mar da sua primeira guarnição, que se prevê estar concluído no início de 2010.

Será então sujeito a um período destinado ao seu apresto final, prevendo-se a sua entre-ga ao Estado Português durante o primeiro tri-mestre de 2010.

Colaboração da MCSUB

Notícias do “Tridente”Notícias do “Tridente”

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16 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

No ar fresco pairava, vigiando as águas cristalinas do fiorde na busca de peixe que lhe mitigas-

se a fome.Lá do alto apercebeu-se da azáfama e

do ruído anormais que da margem Les-te, junto ao estaleiro provinham; curiosa desceu em círculos cada vez mais cerra-dos para finalmente pousar, atenta a tudo. Assim se deixou estar, imperturbável até que, subitamente, o barulho de vidro a quebrar-se a fez levantar voo e afastar-se para distância segura.

Sem o saber, tinha a assustada gaivota sido testemunha da cerimónia, simples mas de grande significado para a Marinha de Guerra Portuguesa e para Portugal, de baptismo do “Arpão” o segundo subma-rino da futura classe “Tridente”.

Estava-se a 18 de Junho e afinal o ruí-do que tanto assustara a atenta gaivota era tão só o da garrafa de champanhe que a madrinha, Drª Maria Barroso Soares, quebrara com visível satisfação contra o casco do navio, assim lhe gravando para sempre o nome.

Este momento culminava uma cerimó-nia que começara cerca das 1030 locais, quando da chegada ao recinto contíguo ao “hidrolift” (plataforma hidráulica onde estava assente o submarino e que, qual elevador, o baixaria para a água após o baptismo) dos diversos convidados de honra, de que destacamos os VALM DGAED, COMNAV e SSM e os CALM DN e DI, bem como o futuro Coman-dante do “Arpão”, CTEN Batista Pereira e senhora, animados e entretidos pela “Schleswig-Holstein Polizei Big Band”; cerca das 1100 locais, com todos os con-vidados já sentados no pontão-palanque contíguo ao “hidrolift”, foi a vez de che-garem os convidados VIP: a Madrinha do novo navio, Drª Maria Barroso Soares, o Ministro da Defesa Nacional, Prof. Dou-tor Nuno Severiano Teixeira, o Embaixa-dor de Portugal em Berlim, Dr. José Costa Pereira, Sr.ª Cathy Kietzer, Presidente da cidade de Kiel, Sr. Torsten Albig, Mayor da cidade de Kiel, o Deputado Dr. Henrique de Freitas, o VALM Hans Joachim-Stricker, COMGERFLEET e o ALM Melo Gomes, Chefe do Estado-Maior da Armada, acom-

panhados pelo Sr. Walter Freitag, Presi-dente do Conselho Executivo da HDW e membro do Conselho de Administração da ThysenKrupp Marine Systems.

Discursou então o Sr. Freitag, que após agradecer aos convidados a sua presença referiria: “(…)A introdução de submarinos ultra-modernos na Armada Portuguesa ocorre quando podemos reconhecer um renascimento do Poder Naval nos ocea-nos deste planeta.

Isto é particularmente verdade no Ocea no Índico – uma zona bem conhe-cida de Portugal e pela sua Marinha. Nele todos os sinais apontam para uma cres-cente rivalidade marítima entre as Mari-nhas da Índia e da China e é também aí que os piratas levam a cabo o seu sujo empreendimento.

A NATO e a EU, bem assim como na-vios de marinhas doutras nações aí de-senvolvem um esforço de protecção das SLOCS. E Portugal toma parte activa nesta empresa.(…) Ainda recentemente Portugal assumiu o comando da força da NATO que tinha por missão o controlo e combate à pirataria junto às costas da Somália. (…)”.

Prosseguiria referindo os cinco pilares definidos pelo ALM CEMA como funda-mentais para que a nossa Marinha possa enfrentar os complexos desafios de hoje em dia. Sobre estes teceria o seguinte co-mentário: “(…)A definição destes pilares vai de encontro à visionária decisão do Governo Português de adquirir submari-nos modernos no contexto da Moderni-zação das Forças Armadas Portuguesas. (…) Torna-se possível o assumir de um es-pectro completamente novo de Missões. (…) (Os submarinos) poderão ser empre-gues quer na protecção de SLOCS e de Portos. Podem combater o Terrorismo no e do mar. Serão capazes de detectar pla-taformas utilizadas para o narcotráfico e para a emigração ilegal. Revelam-se pla-taformas únicas no que toca à observa-ção, vigilância e recolha de informação em extensas áreas marítimas, (…) sejam estas as profundas águas de Oceanos como o Atlântico ou o Índico ou as águas costeiras do Mediterrâneo. A Marinha de Guerra Portuguesa ficará dotada de

O Baptismo do “Arpão”O Baptismo do “Arpão”

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 17

submarinos modernos capazes de cumprir a sua Missão.”

Abordou ainda a forte tradição marítima de Portugal, apontando-o como a primeira potência marítima à escala global e relevan-do a importância do Mar para a sua afirma-ção e sobrevivência.

Finalizaria com uma referência ao traba-lho conjunto levado a cabo pelo Consórcio (GSC – German Submarine Consortium) e pela Marinha e formulando o voto de que o “Arpão” sempre realizasse viagens se-guras e protagonizasse felizes regressos à sua base.

Terminada a sua intervenção, a Sr.ª Cathy Kietzer, Presidente do Conselho Municipal da cidade de Kiel, no seu breve discurso começou por tecer alguns considerandos sobre a longa tradição de construção naval de Kiel, tradição essa ainda hoje patente na actividade desenvolvida pelo estaleiro da HDW, para prosseguir afirmando que: “(…) Mesmo nações amigas da Paz como as nossas aprenderam nos últimos anos que as operações militares são muitas das vezes necessárias para a preservação des-sa Paz. (…) É pois uma grande honra para Kiel que os seus submarinos contribuam para esse importante papel na Marinha de Guerra Portuguesa. (…) Desejo que este navio sirva sempre bem o seu país. E que sempre regresse à sua base com as guarni-ções sãs e salvas.”.

A terminar discursaria o ALM CEMA que após os tradicionais agradecimen-tos a todos os presentes, em particular à Drª Maria Barroso, Madrinha do navio, começaria por afirmar que: “(…) O bap-tismo de um navio é um momento único. A partir dele este desenvolve o seu carác-ter pois, como é crença entre os Homens do Mar, os navios, tais com os homens são todos diferentes e únicos.”. De seguida re-censearia as vantagens da arma submari-na, declarando: “(…) os submarinos têm uma capacidade de dissuasão única, que em muito aumenta o valor das Marinhas. Tal foi desde cedo reconhecido e, como tal, a Marinha de Guerra Portuguesa de-tém uma longa tradição de condução de operações submarinas o que se considera ser um factor relevante na manutenção da segurança nas águas sob jurisdição nacio-nal e uma base sólida para o emprego dos novos sub-marinos. (…) A aquisição dos novos submarinos de-verá ser encarada como um investimento e não como uma despesa, pois eles irão, indubitavelmente desem-penhar um importante pa-pel nas futuras missões da Marinha de Guerra Portu-guesa e potenciarão a nos-sa contribuição a amigos e aliados.(…) Estou convicto de que estamos a erguer uma capacidade capaz de

enfrentar os riscos e ameaças actuais e fu-turas, ampliando a nossa percepção e con-sequente capacidade como contribuintes válidos para um Mundo mais pacífico.”.

O ALM CEMA dirigiria ainda palavras de agradecimento à Madrinha, declarando. “(…) Drª Maria Barroso, mais uma vez mui-to obrigado por ter aceite ser parte desta

tradição naval. Sendo um símbolo da nossa História contemporânea, o seu nome para sempre ficará ligado a este (…) submarino. Estou certo que os seus votos ecoarão nas almas dos que servirem a bordo do “Arpã o”, inspirando guarnições prontas a servir o nos-so País.”.

Terminaria formulando o voto de: “(…) Abençoe Deus este navio e todos os que nele servirem.”.

Após os três discursos a Madrinha seria convidada a subir ao palanque montado ao lado do navio a fim de selar o baptismo com o tradicional arremesso de uma gar-rafa de champanhe.

Antes de libertar o mecanismo que segu-rava a garrafa, a Madrinha formularia, com sentida emoção, o seguinte voto: “Baptizo este Navio com o nome de “Arpão” e de-sejo à sua guarnição as maiores felicidades. Faço votos para que navegue sempre em águas safas e que regresse em segurança à sua Base.”

Quebrada a garrafa de encontro ao casco do a partir de então “Arpão”, fizeram -se ou-vir os hinos nacionais de Portugal e da Repú-blica Federal da Alemanha, executados pela “Schleswig-Holstein Polizei Big Band”.

De seguida, enquanto os convidados se dirigiam a uma tenda montada nas imedia-ções onde foi servido um almoço, o “hidro-lift” era activado, iniciando a sua descida colocando o “Arpão” na água.

Findo o almoço, antes de empreender o regresso a Portugal, a comitiva VIP teve a oportunidade de visitar o navio, já a flutua r; de todos sem dúvida a mais entusiástica foi a Madrinha, que apesar de trajar saia evi-denciou melhor forma que muitos jovens e não deixou escapar a oportunidade de vi-sitar aquele que é o seu mais novo afilha-do, percorrendo com detalhe o interior do navio, atenta e curiosa acerca das explica-ções que lhe iam sendo dadas.

Terminado o evento, após todos os con-vidados terem abandonado o recinto onde tudo decorreu, prosseguiram os trabalhos no “Arpão”: o reboque para o cais onde permanecerá atracado enquanto decorrem as restantes fases das Provas de Aceitação a Cais (HAT – Harbour Acceptance Trials). Depois, no início de 2010, iniciar-se-ão as Provas de Mar, primeiro em águas pouco

profundas, nos fiordes de Kiel e Eckernförde, e de-pois em águas profundas, com o submarino basea-do em Kristiansand e Ber-gen (nesta última cerca de uma semana, para realiza-ção de medições do ruído irradiado).

Concluídas estas, o “Ar-pão” regressará a Kiel onde será empenhado no treino da sua primeira guarnição.

Colaboração da MCSUB

Fotos CAB FZ Chorão

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20 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

A MARINHA DE D. JOÃO III (48)

O epílogo de um reinadoO epílogo de um reinado

A última nomeação feita por D. João III para governar os destinos da Índia re-caiu na figura de D. Pedro de Masca-

renhas, provido do cargo de vice-rei em 1554, apesar de ter ultrapassado já os setenta anos. Diogo do Couto não rejeita a possibilidade de que a escolha resultasse da situação privilegia-da do velho fidalgo, enriquecido na metrópole, sem filhos que pudessem herdar o seu pecú-lio, liberto de partidos e facções quanto ao go-verno ultramarino. A figura ideal para pôr ordem nos conflitos e desordens constantes entre os fidalgos portugue-ses no Oriente, criando situações em-baraçosas para o prestígio nacional e cau sando prejuízos avultados à coroa. Pediu várias vezes ao Rei que o liber-tasse daquela obrigação, mas o sobera-no insistiu com ele, recorrendo inclu-sivamente à influência de seu irmão, o infante D. Luís, para que o conven-cesse a aceitar de bom grado o cargo para que o julgava calhado. D. Pedro fora mordomo-mor do Infante e tinha por ele grande consideração, acabando por se conformar ao que sabia ser uma partida sem regresso.

Fez-se ao mar com uma armada de seis velas, nos finais de Março de 1554, e os seus navios tiveram sortes diver-sas na viagem, só o seu conseguindo chegar a Goa em Setembro desse ano. É Couto que comenta a situação, no-tando que “levava melhores officiais”, vinculando a ideia de que a qualidade dos pilotos e mestres, que andavam na Carreira da Índia, era muito desigual e merecera algum desleixo por parte das autoridades responsáveis. Na cidade foi bem recebido pelo seu antecessor e alojou-se nas conhecidas “casas do Sabaio”, como era costume dos gover-nadores da Índia, mas não lhe agradou o edifício de dois sobrados, com longas esca-darias que o fatigavam, e mandou arranjar as instalações existentes na fortaleza, para onde foi viver e onde passou a estar a residência ofi-cial dos governantes portugueses.

Já estava em pleno exercício do cargo quan-do chegou a notícia da vitória de D. Fernando de Meneses sobre a armada de galés turcas (Marinha de D. João III (47)), com as novas de que aprisionara vários navios, mas que sete se tinham refugiado em Surate e de lá não con-seguiam sair, porque o porto fora cercado por três caravelas portuguesas que vinham em sua perseguição. Como lhe exigia o regimento dado por D. João III, D. Pedro ouviu o parecer do conselho para a nomeação do novo capitão--mór do mar da Índia, cargo que queria atri-buir ao seu sobrinho Fernão Martins Freire, e foi óbvia a sua intervenção na escolha. Apesar

da legalidade do acto e de ter sido lavrado o respectivo auto do parecer colegial, não se li-vrou das críticas que apontavam a inexperiên-cia do novo capitão. “Aquelle Fidalgo era Rei-nol, criado sempre na Corte, e nunca cursara a milícia” – alegavam as vozes discordantes. Mas o cargo estava atribuído, e a 10 de Outu-bro a armada saía a barra de Goa com 30 na-vios de remo e dois galeões a que se deveriam juntar reforços de Baçaim e Chaul. Em Surate,

exigiu, em nome da amizade e dos acordos firmados com o governo da Índia, que lhe fossem entregues os sete navios e os “Turcos que dentro estavam, por serem inimigos dos Portuguezes”. O capitão mouro ficou numa posição bem difícil, mas tentou negociar com os portugueses. Os turcos – segundo ele – já tinham abandonado o porto e não os podia entregar. Quanto aos navios, a sua eventual entrega poderia desencadear represálias sobre as naus que tinha nessa altura no Mar Verme-lho. Propôs que fossem destruídas, o que não interessava nada aos portugueses, mas acabou por ser aceite pelo Vice-Rei, entendendo que não tinham outra solução.

A armada de D. Pedro de Mascarenhas – como disse – não tivera muita sorte nem en-genho em alcançar a Índia, e quis o destino que a sua própria nau fosse descarregada em

Goa sem que os mestres cuidassem do lastro, levando a que se virasse na barra sem nenhum remédio. Esta sucessão de problemas fez com que a frota que nesse ano devia regressar Lis-boa, ficasse muito diminuída em capacidade de carga. Uma parte dessa dificuldade foi su-prida pelo frete de um excelente navio, chama-do “S. Paulo”, pertença de um tal Antão Mar-tins “casado em Goa”. Poderam carregar-se em Cochim a “Conceição” e a “Sª Cruz”, que

ali foram ter, e agora a “S. Paulo”, que Afonso de Noronha escolhia para re-gressar à pátria por ser o melhor na-vio dos três.

O Vice-Rei governou a Índia du-rante esse ano de 1555, cumprindo as correntes missões que sempre empe-nhavam os portugueses, com uma ou noutra variação circunstancial. Enviou nova armada ao Estreito de Aden, sob o comando de Manuel de Vasconce-los, nada havendo a registar de notó-rio nessa missão, não fora a presença do grande poeta e soldado Luís de Ca-mões. E deteve-se em Goa, procuran-do interferir em conflitos locais com as potências que circundavam a cidade e que, amiúde, afrontavam os portugue-ses ou pediam a sua intervenção para a resolução dos seus próprios proble-mas. E foi na sequência destas conver-sações que regressou agastado a Goa, sentindo-se muito cansado e doente. O seu estado de saúde piorou rapida-mente e, poucos dias depois recebia os sacramentos católicos preparando--se para morrer. Mandou, então, cha-mar Francisco Barreto, ordenando-lhe que se sentasse numa cadeira ao pé da sua cama, e ouvisse o que lhe que-ria dizer. Este recusou o assento, que a sua condição não permitia, mas – se-gundo nos conta Diogo do Couto – o

Vice-Rei moribundo ripostou: “Assentaivos, senhor, nessa cadeira, que o quer assim S. A., e vós lho mereceis”. Diz-se que um dos dese-jos insistentemente pedidos por Pedro Masca-renhas a D. João III foi o de que lhe revelasse quem seria o seu sucessor quando falecesse na Índia. Pelos vistos o Rei acedeu ao pedido de um velho que não voltaria vivo a Lisboa. Abertas as sucessões, depois da sua morte a 23 de Junho de 1555, lá estava o nome de Francisco Barreto que governaria a Índia até à chegada de D. Constantino de Bragança, um vice-rei já nomeado pela regente Dª Catarina, em nome de seu neto D. Sebastião. D. João III morrera nos Paços da Ribeira, em Lisboa, a 11 de Junho de 1557.

J. Semedo de MatosCFR FZ

Dom Pedro de Mascarenhas, Vice-Rei da Índia.Livro de Lisuarte de Abreu.

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 21

O regime das armas e muniçõesO regime das armas e munições

No passado dia 4 de Junho, entrou em vigor uma alteração ao regi-me das armas e munições por

força da publicação da Lei 17/2009, de 6 de Maio, alterando pela segunda vez a Lei n.º 5/2006, de 23 de Fevereiro.

Convém desde logo referir que o uso de armas de fogo fora de campos ou carreiras de tiro, acto venatório ou des-portivo no contexto da nova lei, apenas será atendível como o último meio de defesa, para fazer cessar ou repelir uma agressão actual e ilícita dirigida conta o próprio ou terceiros, quando exista pe-rigo iminente de morte ou ofensa grave à integridade física, ou para fazer cessar ou repelir uma agressão actual e ilícita dirigida contra o património do próprio ou de terceiro e quando essa defesa não possa ser garantida por agentes da auto-ridade, devendo, neste caso, os disparos ser exclusivamente de advertência.

Logo no primeiro artigo, é estabele-cido o âmbito de aplicação do diplo-ma, deixando de fora, como não pode-ria deixar de ser, as armas destinadas às Forças Armadas e de segurança. Por fim, ao contrário do que acontecia nas re-dacções anteriores, este diploma vem fi-nalmente prever que as espadas e outras armas destinadas a cerimoniais militares estão excluídas do âmbito de aplicação da nova lei. Descansados poderão estar igualmente os coleccionadores, uma vez que as armas fabricadas em data anterior a 1891, ou que usem munições obsole-tas, apenas necessitam de ser submetidas a peritagem da PSP passando a sua pos-se ou transacção a ser livre por motivos históricos e de coleccionismo.

À semelhança do regime anterior, as ar-mas são classificadas nas classes A, onde se incluem a título exemplificativo as ar-mas brancas sem afectação a actividades venatórias ou desportivas, bem como as vulgo “ponta e mola”, cuja venda, aqui-sição, detenção e uso é proibido; a clas-se B, onde se inserem as armas de fogo curtas de repetição ou semi automáticas de calibre superior a 6,35mm (.25ACP ou .25Auto) e os revolveres de calibres supe-riores a .32S&W Long ou .32H&R Mag-mun, sendo estes calibres a classe B1. Em ambas as classes o uso, posse e detenção por militares das Forças Armadas pode ser autorizada em virtude da dispensa de licença, no caso dos militares, decorren-te do art. 124.º do EMFAR, conforme es-tabelece o art. 1.º n.º 5 da Lei n.º 5/2006 na actual redacção. O mesmo acontece com as armas da classe C e D, vulgo “ca-rabinas”, bem como as “shotgun” de cano liso até 60cm ou as vulgo “caçadeiras” de cano liso de cumprimento superior a 60cm, estas últimas da classe D.

O novo regime vem ainda introduzir as armas da classe E, como os aerossóis de gás pimenta com uma concentração não superior a 5% e as armas eléctricas até 200 000V, também estas podendo ser autorizadas aos militares por força do seu estatuto.

Aos coleccionadores interessará es-sencialmente a classificação das armas da classe F, onde se inserem as armas de ornamentação, as armas inutilizadas e, curiosamente as “matracas” ou outras armas brancas destinadas à prática de artes marciais.

Já relativamente às armas da classe G onde se inserem as armas de sinalização (very light), cuja autorização de compra (PSP) deverá ser prévia à sua aquisição e apenas, como é óbvio, a quem desen-volver actividade que o justifique, como a náutica de recreio.

Uma particularidade interessante, que já existia no anterior regime e que per-dura, é o facto de, um indivíduo que be-neficiou de isenção ou dispensa de uso e porte de arma por mais de 4 anos, por exemplo um militar em regime de con-trato (RC), poder solicitar que lhe seja concedida a licença da classe B, para armas das classes B, B1 e E, após a ces-sação da circunstância que lhe conferia isenção ou dispensa, justificando essa pretensão.

Relativamente à detenção de arma no domicílio, é prevista uma licença para esse efeito, quando qualquer outra li-cença tenha cessado por vontade do seu titular, ou quando a arma tenha sido adquirida por sucessão ou doação, após avaliação da idoneidade do requerente. Há no entanto que salientar, que esta de-tenção de armas nunca poderá ser acom-panhada das suas munições.

A concessão de qualquer licença po-derá ser recusada, quando licença an-terior tiver sido cassada ou não forem considerados relevantes ou adequados os motivos justificativos da pretensão. Salta no entanto à vista na redacção do art. 20.º, quanto à recusa de concessão, a expressão “nomeadamente”, deixando a porta aberta a qualquer tipo de recusa que a Direcção Nacional da PSP consi-dere atendível. O Código do Procedi-mento Administrativo prevê mecanismos para atacar esta decisão, tais como a re-clamação, o recurso hierárquico para o Ministro da Administração Interna ou a impugnação de acto administrativo para o Tribunal Administrativo, nos termos da legislação reguladora do contencioso ad-ministrativo.

A concessão de licenças das classes B1, C e D estão dependentes de certi-ficado de aproveitamento em curso de

formação técnica e cívica, bem como a sua actualização em cada 5 anos para as licenças B1 e 10 anos para as licenças C e D. No entanto a lei prevê a isenção aos requerentes que, pela sua experiência profissional nas Forças Armadas, tenham adquirido instrução no uso e manejo de armas que seja considerada adequada, emitida pela Direcção competente e cuja regulamentação ainda se aguarda.

Outro aspecto importante são os limi-tes de detenção de armas. Aos titulares das licenças B e B1 apenas é permitida a detenção até duas armas de cada uma das classes. Os titulares das licenças C e D apenas poderão deter duas armas de cada classe, podendo no entanto exce-der este limite, desde que possuam cofre ou armário de segurança não portátil. O mesmo acontecendo aos titulares de li-cença de detenção no domicílio. Quan-do o número de armas, na totalidade das classes, exceder 25 será então obrigató-rio instalação fortificada devidamente verificada pela PSP.

Quanto ao limite de munições, não pode o detentor de armas da classe B e B1 deter mais de 250 munições de cada classe. Limite que cresce para 2000 para os detentores de armas das classes C e D, ou 250 para cada calibre da classe C, cuja aquisição é livre, dependendo ape-nas de exibição do livrete da arma e da respectiva licença ou título válido que isente o seu titular da mesma.

Convém por fim referir algumas obri-gações dos portadores de armas no que diz respeito ao seu uso. É assim obri-gatório comunicar às autoridades poli-ciais situações em que tenham recorri-do a arma por razões de defesa pessoal ou de propriedade, bem como qualquer tipo de acidente ocorrido. De salientar é também a obrigatoriedade de seguro de responsabilidade civil prevista no art. 77.º n.º 6 que passou a incluir também aqueles a quem a respectiva lei orgânica dispensa licença de uso e porte de arma, como os militares. Já no que diz respeito ao transporte das armas de fogo curtas, este deverá ser sempre em coldre ou es-tojo com dispositivo de segurança sem qualquer munição na câmara, à excep-ção dos revólveres. As restantes armas de fogo deverão ser transportadas em bolsa ou estojo, separadas das suas munições com cadeado de gatilho, desmontadas ou sem peça que possibilite o seu dispa-ro. Importante é referir que a violação de qualquer destas imposições faz incorrer o responsável em contra-ordenação pu-nível com coima de 500 a 5000€.

Filipe Batista Reis2TEN TSN

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22 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

Homenagem a Roger e Francis ChapeletHomenagem a Roger e Francis Chapelet

No passado dia 12 de Junho, decorreu em Montpon-Menéstérol no Depar-tamento da Dordogne, em França,

terra onde o Mestre Roger Chapelet viveu os seus verdes anos e onde se veio a fixar no úl-timo quartel da sua vida, uma homenagem dos seus concidadãos, presidida pela Mairie da cidade.

A relação entre Roger Chapelet e a Marinha Portuguesa vem de longe e foi mantida até à sua morte. Começou nos anos 59 do século passado, através duma pintura da velha “Sa-gres”, prosseguindo depois de 1962 com a sua nova barca, retratada inúmeras vezes, com a mestria do grande Pintor e Marinheiro que foi Roger Chapelet que nela efectuou em 1979 o seu último embarque. Ao todo sete.

Em 1992 aquando da recuperação da “D. Fernando II e Glória”, pediu para Lisboa os elementos indispensáveis para executar vá-rios quadros magníficos com a Fragata, um dos quais tendo por fundo o Cabo de S. Vicente, e navegando a todo o pano, foi oferecido ao Mu-seu de Marinha, com a condição de que o pro-duto da venda de 2000 reproduções (garantidas também por outro cidadão de Montpon a titulo gratuito – o Sr. Jacques Fonmarty) se destinasse integralmente à recuperação do navio.

Convidado para a cerimónia o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, decidiu fazer-se representar pelo Presidente da Comis-são Cultural da Marinha.

A cerimónia iniciou-se pelas 19h00, com uma recepção no “Hotel de Ville” da cidade, onde além da presença portuguesa estavam igualmente outras deputações estrangeiras,

nomadamente do Quebec, da “Fundação Ri-ckmer – Rickmers”, de duas agremiações es-panholas – mais ligadas à música e a Francis Chapelet, um organista de renome internacio-nal, uma representação da Marinha Francesa, constituída por vários oficiais, entre os quais o actual Presidente dos “Peintres de La Mari-ne”, titulo que Roger Chapelet ostentava desde 1936, e diversas autoridades locais.

Seguiu-se um Concerto de Órgão, numa Igreja românica do século XII, em Ménesté-rol, com obras de João Sebastião Bach e de Liszt, esplendidamente executadas por Fran-cis Chapelet.

Após o recital, foi então inaugurada num dos cunhais da vetusta e recém restaurada Igreja de “Saint-Pierre” a placa toponímica que atribui ao Terreiro fronteiro o nome de “Roger et Francis Chapelet – Peintre de La Marine e Organiste”.

Antes do descerramento, usaram da pala-vra um dos elementos da deputação espa-nhola, D. António Mediavilla, a que se seguiu o CALM Rui de Abreu, que utilizou um texto es-crito para a ocasião pelo Com. Martins e Silva.

Falaram a seguir o CMG Jean-Louis Gou-bim, representando os “Peintres de La Mari-ne”, Monsieur Le Maire Jean-Paul Lotterie e finalmente o Presidente do “Conseil de Dor-dogne” a mais alta autoridade administrati-va do departamento da região do Perigord, onde fica Montpon-Ménestérol.

Durante a estadia em França, o PCCM, teve ocasião de visitar a residência de R oger Chapelet, actualmente utilizada pelo seu filho Francis, onde lhe foram mostrados o Atelier do Pintor, com ainda um impressio-nante espólio e o seu último quadro, quase acabado, no cavalete, e a colecção de órgãos, de Francis Chapelet todos reconstruí dos pelo Artista, que nos obsequiou com dois peque-nos trechos.

Francis Chapelet lembrou que continuava de pé a oferta que fizera em tempos, de, em agenda a acordar, oferecer à Marinha Portu-guesa um recital de órgão em Lisboa. Frisou que só estaria disponível para tocar no órgão de S. Vicente de Fora.

Deve salientar-se que Francis Chapelet doou ao Museu de Marinha um apreciável conjunto de obras de seu Pai.

Na pessoa de seu representante, as Autori-dades da cidade fizeram sentir de forma bem expressiva o quanto honradas se sentiam pela presença da Marinha Portuguesa.

Uma palavra de agradecimento ao Coman-dante António de Oliveira Bento, ex-submari-nista, de há muito radicado em França, e que se disponibilizou acompanhar o CALM Rui de Abreu durante a sua estadia na região.

Marinha presta homenagem a Philippe Cousteau SéniorMarinha presta homenagem a Philippe Cousteau Sénior

No passado dia 28 de Junho, no âmbito a realização de uma ce-

rimónia no mar em Homena-gem a Philippe Cousteau Sr. embarcaram a bordo do NRP “João Coutinho” a viúva, Jan

Cousteau, os filhos Philippe e Alexandra Cousteau e alguns amigos mais próximos.

Philippe Cousteau, filho de Jacques-Yves Cousteau e Simone Cousteau, foi um reco-nhecido oceanógrafo francês que partici-pou em diversas expedições pelo mundo, também como fotógrafo e mergulhador profissional.

A 28 de Junho de 1979, durante um inter-valo das filmagens para a série “The Under-sea World of Jacques Cousteau”, Philippe traz o seu hidroavião “Catalina”, também conhecido por “Flying Calipso, a Portugal para efectuar algumas reparações. Philippe Cousteau viria a falecer durante a amaragem no rio Tejo, deixando a filha, Alexandra, de 3 anos e a mulher grávida de 2 meses.

Na altura, a 3 de Junho de 1979 e a pedido da família, o seu corpo foi sepultado no mar, a cerca de 20 milhas a sudoeste da entrada do Porto de Lisboa, numa Cerimónia que decor-reu a bordo do NRP “Baptista de Andrade”.

Passados trinta anos, e uma vez mais com o apoio da Marinha Portuguesa, o NRP “João Coutinho” fez-se ao mar em direcção ao local onde o corpo de Philippe Cousteau Sr. foi se-pultado, a fim de ser depositada uma coroa de flores em sua homenagem.

Hoje, a causa em torno da defesa do meio ambiente e dos oceanos, outrora iniciada por

Philippe Cousteau Sr., é assumida pelos seus filhos como uma herança a que têm dado con-tinuidade através das organizações não lucra-tivas EarthEcho International (1) e Blue Legacy (2) fundadas em honra do pai, as quais têm por missão alertar a humanidade para a recupe-ração e protecção do planeta e, em particular, dos oceanos.

Já no regresso à Base Naval de Lisboa, os fa-miliares de Philippe Cousteau Sr. foram con-vidados a assinar o Livro de Honra do navio, no qual Mrs. Jan Cousteau deixou expressa a seguinte mensagem:

My husband, Philippe Cousteau Sr. was an inspi-ration to the world and he would be proud to know that we are here in his honor to celebrate his dedica-tion to pursuing the rainbows of a better world.

Com a colaboração do COMANDO DO N.R.P “JOÃO COUTINHO”

Notas1 A organização EarthEcho International pode ser visi-

tada através do site www.earthecho.org2 A organização Blue legacy pode ser visitada através

do site www.alexandracousteau.org

Foto CAB L Figueiredo

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 23

Visita do Almirante CEMA ao Clube do Sargento da Armada

25º Aniversário da Delegação do Clube do Sargento da Armada

Visita do Almirante CEMA ao Clube do Sargento da Armada

25º Aniversário da Delegação do Clube do Sargento da Armada

No dia 14 de Maio a Delegação do Clu-be do Sargento da

Armada teve um momento alto da comemoração do seu 25º Aniversario com a visita do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Melo Gomes.

À chegada o Almirante CEMA recebeu os devidos cumprimentos do Presiden-te da Direcção do CSA e de-mais elementos dos Órgãos Sociais, seguiu-se a visita às varias instalações da Delega-ção tendo sido servido um beberete que serviu de con-vívio entre o CEMA e a massa associati-va, suas famílias, dirigentes, funcionários e colaboradores.

Na intervenção feita pelo Presidente da

Direcção, Albano Ginja, para além de agra-decer o convite que o Almirante CEMA aceitou para visitar a Delegação num mo-mento tão alto da sua existência, agrade-

ceu também o apoio que a Marinha vem dando ao Clu-be e referiu também ser in-tenção deste manter e se pos-sível reforçar, as relações que vem mantendo com a Admi-nistração da mesma.

O Almirante CEMA agra-deceu o convite e felicitou o CSA pela sua grandeza en-quanto Clube e disse ser in-tenção da Marinha continuar dentro do possível a ajudar o mesmo.

Foram feitas trocas de lem-branças que um dia recorda-rão mais uma data histórica na vida deste Clube.

Antes do Almirante CEMA abandonar as instalações assistiu ainda à actuação do nosso Coro Polifónico.

Decorreram durante todo o mês de Maio as comemorações do 25º Ani-versario da Delegação do Clube do

Sargento da Armada no Feijó, com vá-rios eventos na área da cultura, recreio e desporto.

De referir a inauguração no dia 1 de Maio de uma Exposição do associa-do, Pintor e Homem do Mar “Arlin-do Mateus”.

Evento simples mas de um enorme valor cultural para o Clube, que a par de ocupar os seus espaços sociais, dá a conhecer à sua massa associativa os Grandes Artistas e as suas Obras. Após umas breves trocas de palavras entre o Presidente da Direcção e o Pintor foi servido um Porto de Honra como é da tradição.

No dia 5 de Maio teve lugar a Sessão Comemorativa do 25º Aniversario da

sua inauguração abrindo com uma Ex-posição sob o lema “25 Anos Sempre a Crescer”, houve a participação do Coro

Polifónico do Clube do Sargento da Ar-mada dirigido pelo ilustre Maestro Eu-clides Pio.

Na mesa de honra estiveram para além do Presidente da Direcção, o Presidente da Mesa da Assembleia-Geral, o Coorde-

nador Principal da Delegação, o Co-mandante da Base Naval de Lisboa e o representante do Município de Al-mada, havendo na assistência outros convidados de Clubes e Associações Civis e Militares.

Com o Salão de Festas cheio de as-sociados e suas famílias foram feitas algumas intervenções onde foram fo-cados principalmente os laços de ami-zade e de forte cooperação que se pre-tende ter com todas as partes.

No final foi servido um Beberete aos convidados, associados e suas fa-mílias, partiu-se o bolo e cantou-se os

parabéns pelos 25 anos passados.

Colaboração do CSA

WYSIWYG* na NET

Desde o passado dia 20 de Maio, Dia da Marinha, a Revista da Armada passou a ser disponibilizada com um novo arran-jo nos Portais da Marinha na Internet (www.marinha.pt) e

Intranet. A utilização de uma nova tecnologia permite que a Revista possa agora ser lida e folheada de modo interactivo num computa-dor, à semelhança do que acontece na sua edição em papel.

A Revista pode ser ampliada, impressa e/ou gravada em formato

PDF e, a partir de Agosto, os seus conteúdos poderão ser pesquisá-veis por palavras ou frases.

Actualmente é possível a consulta das revistas publicadas desde Julho de 2008. Tenciona-se, no futuro, disponibilizar todas as revis-tas, ficando acessíveis até ao princípio do mês de Setembro as re-vistas desde 1998.

* What You See Is What You Get

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24 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

Foi no dia 13 de Maio de 1963 que teve ínicio essa viagem de vistorias, que se prolongou por 42 dias, terminando

assim no dia 24 de Junho. Navegaram-se cerca de 500 milhas nos rios Zambeze e Chire em 210 horas e 35 minutos, com um gasto de 647 m3 de lenha.

Antes porém da descri-ção da viagem direi que a “Tete” tinha estado enca-lhada na praia da Vila do Chinde desde 1/9/62 até a 12/3/63, período em que efectuou uma grande reparação. Foram substi-tuídas diversas chapas do fundo e do costado, assim como balizas, esco-as, pés de carneiro, chapas de caverna, etc. Como es-trutura do navio, foram igualmente substituídas as lanças, (lugar onde as-sentam as máquinas) e chumaceiras de apoio da roda propulsora. Além da revisão das má-quinas principais, foi montada, em Fevereiro de 63, uma nova caldeira que acendeu pela primeira vez a 22/3/63, sendo dada apta para o serviço em 27/3/63.

Esta caldeira gastubu-lar, do tipo locomotiva, era semelhante às utiliza-das nos antigos combóios na C.P. com a diferença de utilizar lenha em vez de carvão e trabalhar a uma pressão de 150 libras por polegada ao quadrado.

No ano anterior, devi-do à fraqueza da caldeira a lancha não tinha conse-guido navegar até Tete.

A viagem começou com a largada do funde-adouro no Chinde, local onde a “Tete“ fazia base, com 25 metros cúbicos de lenha, numa das lanchas de apoio.

Esclareço que a “Tete“ navegava de braço dado com as duas lanchas de apoio, uma de cada bor-do, que serviam de paiol da lenha a consumir e reforço da estabili-dade.do navio.

Após 5.30 horas de navegação chegámos ao Chacuma, primeiro posto de abasteci-mento. Aí se fez o embarque de 100 m3 de

lenha, sendo esta de fraco poder calorífico porque era cortada do mangal, nome dado ao arvoredo existente nas margens do rio Zambeze.

No dia seguinte, em 6.20 horas de nave-gação, chegamos ao Luabo.

A 15/5, depois da pernoita no Luabo, um dos principais lugares visitados por

estar ali instalada a gerência da Sena Su-gar Estates, uma importante firma da Zam-bézia, rumámos até Marromeu, após mais 4.50 horas de navegação e novo abasteci-mento, desta vez de 22 m3 de lenha.

Dia 16/5 saída de Marromeu para Chaí-na com 4.50 horas de viagem. No dia 17/5, houve lugar a mais 3 etapas, com saída de Chaína para Maruro trajecto que durou 3.05

horas, de Maruro para Mopeia - 2.05 horas e des-ta para Chupanga - 1.55 horas. Aí chegados mais um embarque de 30 me-tros cúbicos de lenha.

Para não se tornar en-fadonho para quem lê, saliento que depois da saída de Chupanga e até à chegada a Tete, ainda se fizeram mais cinco abas-tecimentos de lenha num total de 175 m3 , em locais devidamente assinalados como posto de abasteci-mento.

Eram estes postos guarnecidos por Chefes de Posto que com ante-cedência eram solicita-

dos para fazer o dito abastecimento, pagos pela lancha.

Como no ano anterior a “Tete” não ti-nha conseguido completar a viagem, hou-

ve postos que a partir de Mutarara se encontra-vam pouco fornecidos de lenha pelo que, por uma questão de segu-rança para o regresso, foi empregue a guarnição da lancha no corte de algum mangal.

Continuando a narra-ção da viagem e após a saída de Chupanga, pas-sámos por Lacerdónia, Missongue, Vila Fon-tes, Chimuara, Chindiu, Murraça Velha, Hnalu-gué, Magagade, Sanjara, e Mutarara aonde estive-mos nos dias 21/5 e 22/5. A seguir escalou-se Sin-jal, Chiramba,Anquási, Tambara, Bandara, Lu-pata, (local onde o rio estreita e se forma uma forte corrente que com bastante dificuldade foi vencida pela máquina) Sungo, Praia Marura,

Massangane, Casenha e a 28/5 chegámos finalmente a Tete, a localidade mais a mon-tante que se escalou no rio Zambeze. A sa-ída deu-se a 1/6.

De notar que ao longo da viagem pelo

Ida e Volta a Tete e ao Chilombo em 1963A bordo da Lancha de Fiscalização “TETE”

Ida e Volta a Tete e ao Chilombo em 1963

A Lancha de Fiscalização “Tete” no rio Zambeze.

Percurso da Lancha “Tete”.

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 25

Zambeze, no sentido de montante a demo-ra para percorrer a mesma distância era o dobro em relação à viagem em sentido con-trário. Efeitos da força da àgua do rio. O mesmo viria a acontecer no Chire.

A passagem da “Tete” era motivo para admiração e festa, por parte das popula-ções que habitualmente faziam batuques no local onde a lancha atracava.

Muitas vezes, depois de partirmos, o pessoal da terra ainda tentava acompa-nhar-nos ao longo da margem, cantando e dançando. A paisagem física e humana, diversificava-se de região para região, só o acolhimento era sempre igual.

Àcerca da paisagem, há a referir a dife-rença entre o Zambeze e o Chi-re, este último que depois de Tete, também foi por nós visi-tado, até à fronteira com o Ma-lavi (antiga Niassalândia).

Enquanto o Zambeze era lar-go e pouco profundo, com ex-tensões que formavam peque-nas ilhas de areia onde muitas vezes se viam os crocodilos estiraçados ao sol, que só com o ruído da máquina da “Tete”, (semelhante ao ruído dos anti-gos combóios, pouca terra-pou-ca terra), se deslocavam para a água. O Chire, afluente do Zambeze, era estreito, muito estreito mesmo, mas bastante profundo, e com curvas forte-mente acentuadas, que às ve-zes faziam com que a lancha tocasse nas margens devido à força da àgua quando a nave-gar no sentido da vazante.

Vou agora tentar descrever como funcionava a manobra de atracação da “Tete”.

Na lancha de apoio do bordo onde se ia atracar, eram colocados três marinheiros à proa e outros tantos à popa da dita lancha. No momento em que havia sinais de enca-lhe, entravam em acção esses marinheiros, que saltando para terra, cada um cumpria uma determinada missão.

Assim, um levava uma espécie de esta-ca (não era mais do que uma ponta de um carril em aço), pronta para ser espetada na margem. Outro levava uma marreta com que dava umas marretadas na dita es-taca para a fixar e o terceiro transportava o cabo, que às vezes era de aço, e enfiava a mãozinha na estaca já preparada para o receber. O que era feito na proa era igual-mente feito na popa.

Como pormenor destaco que os mari-nheiros autóctones praticavam o comércio de troca. Do Chinde levavam açucar, coco e sal, que trocavam por galinhas e às vezes por um ou outro cabrito. Como exemplo diria que um coco no Chinde custava $50 e em Tete valia 5 vezes mais.

Após a saída de Tete em 1/6, voltámos a passar pela maioria dos lugares já visita-

dos, foi o caso de Cassenha, Sungo, Lupa-ta, Bandarra, Tamara, Anquási, Chiramba, Mutarara, onde permanecemos dois dias. Em 6/6 saímos com destino a Docuta, de-pois Magagade, Saíca, Malheiro, Murraça, Chindiu e já no rio Chire: Nema; Madaua; Moane; Bona Pona; Jornar; Vila Bocage; Supia; Pinda; Tola Tola; Megaza; Manuel Domingos; Port Herald; Missangue; Chi-romb; e Chilombo, término da viagem no rio Chire. Depois de termos chegado a 14/6 saímos a 16/6 voltando a passar por Chirombo, Chatengo, Megaza, Tola Tola, Pinda, onde estivemos dois dias, depois Vila Bocage, Jornar, Bona Pona, Madaua, Ximuara, Lacerdónia, Chupanga, Mopeia,

Marromeu, com a chegada a 20/6 e saída em 22/6 para o Luabo, a que se seguiu Fer-nando, Magalhães, Chacuma e finalmente o Chinde com a chegada a 24/6/63.

A navegação só se fazia durante o dia, mesmo assim houve uma vez que se enca-lhou no Zambeze, porque o local de passa-gem escondia um banco de areia, embora o calado da “Tete” fosse sómente de 0,85 metros. O desencalhe fez-se com o auxi-lio do escaler, transportando este o ferro de fundear que se largou no local mais profundo ao alcance da respectiva amar-ra. Depois com o auxilio do cabrestante e da máquina propulsora (neste caso era a roda propulsora) o navio acabou por des-lizar pela areia.

No que respeita à guarnição, a europeia era composta por um oficial da classe de marinha, Comandante, um sargento artífi-ce condutor de máquinas, um cabo foguei-ro motorista, e um marinheiro artilheiro. A guarnição autóctone compreendia 20 ele-mentos, com diferentes categorias a saber: um piloto; um sota-piloto; um capitão da máquina; um capitão da caldeira; um aju-dante da máquina; dois chegadores da cal-

deira e os restantes eram marinheiros.Para terminar e com base nos elementos

recolhidos a bordo em 1962 e 1972, resumi-rei um pouco de história daquela que foi inicialmente a lancha canhoneira e mais tarde lancha de fiscalização., ou seja o prin-cípio e o fim da “Tete”.

Construída por Yarrow & Cª. Ldª.,foi montada pela Companhia da Zambézia de Fevereiro a Maio de 1920, com o custo da montagem de 1.100 libras. Data de entrega em 25 de Maio desse ano.

Ao longo dos tempos a “Tete” sofreu vá-rias reparações e beneficiações assim como as duas lanchas de apoio, que continuaram ao serviço, tendo até uma delas sido moto-

rizada. Estas lanchas passaram a fazer parte do apoio a uma que chamaremos nova lancha, pois foi o aproveitamento do casco e de algumas superes-truturas de um antigo navio da Sena Sugar Estates, chama-do “Chire” cuja transformação e motorização deu origem à NRP “Sabre” (1972-1975)

Mas, voltando à “Tete”, que fez a sua última viagem em 1971, acabou encalhada na praia do Chinde, de onde se retiraram ainda alguns ma-teriais, ferramentas e equi-pamentos que serviram para equiparem o NRP “Sabre” como foi o caso das duas peças de artilharia. Faço notar que as duas lanchas de apoio tinham cada uma na zona da prôa um reparo para montagem da me-tralhadora.

Acabou assim a história da lancha “Tete” que navegou um

pouco mais de meio século principalmente no rio Zambeze

Por último deixo aqui as características principais da “Tete”.

- Comprimento de fora a fora .................................... 26,92 metros- Boca máxima ................... 6,15 “- Calado máximo ................ 0,85 “- Velocidade máxima ........ 7/8 nós- Deslocamento - (Toneladas métricas) .......... 73,32- Propulsão – Duas máquinas a vapor

alternativas horizontais de alta-pressão.Potência cêrca de 90 C.V.,que transmitiam movimento a uma roda propulsora, mon-tada na popa.

As lanchas de apoio eram mais peque-nas e tinham as seguintes características principais:

- Comprimento ................... 18,50 metros- Boca .................................... 3,75 “- Calado ............................... 0,79 “

(quando carregadas)- Deslocamento ................... 30 toneladas

C. Batista Velez1TEN OTT

O autor com o pessoal da guarnição da Lancha na serra da Morrumbala.

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 27

VIGIA DA HISTÓRIA 13

A biblioteca do Bispo do AlgarveA biblioteca do Bispo do Algarve

Na sequência do ataque e ocupação de Cadiz, levada a cabo pelas forças do conde Essex e de Thomas Howard, em 1596, os ingleses, tal qual como Drake havia feito uns anos antes,

tencionavam assaltar Lagos.Por motivos que se desconhecem mas a que não devem ter sido

alheios os preparativos de defesa e a falta de víveres, tal propósito foi abandonado vindo os ingleses a desembarcar, na tarde do dia 23 de Julho, em Farrobilhas e , no dia seguinte, entraram em Faro que ha-via sido abandonada pelos seus habitantes.

A pilhagem não deve ter tido grande valor já que um dos intervenien-tes, William Monson, deixou registado ser Faro uma cidade sem rique-zas e que “só era famosa pela biblioteca do bispo Osório.... biblioteca essa que trouxemos para Inglaterra e muitos dos livros foram recentemente entregues na recém constituída biblioteca de Oxford ... (1)

Esta afirmação, que hoje se sabe ser incorrecta, correu como sen-do verdade durante longos anos, tanto em Portugal como em Ingla-terra. (2)

Logo no primeiro dia um dos chefes da expedição, Thomas Ho-ward, contrariamente ao que hoje em dia sucede com os seus con-terrâneos, não suportou o calor tendo reembarcado, enquanto Essex se instalou nas casas do bispo do Algarve que, com os seus homens, fora chamado à defesa de Lagos.

Saqueada a cidade os ingleses reembarcaram tendo incendiado a Sé, os conventos e as igrejas.

Uma tentativa de assalto a Lagos foi cedo abandonada, apesar do de-sembarque de alguns ingleses em Porto de Mós, por, conforme William Monson escreveu “os portugueses nos seus corações são nossos ami-gos” expressão que, podendo ser verdade, não deixa de ser curiosa dita por quem acabava de participar no assalto e destruição de Faro.

Só em 1600 é que o conde de Essex doou à Biblioteca de Oxford um conjunto de cerca de 200 livros, alguns certamente filhados em Cadiz e outros que pertenciam à biblioteca do bispo do Algarve que, contra-riamente ao indicado por William Monson, não era Jerónimo Osório mas sim Francisco Martins Mascarenhas, mais tarde Inquisidor Mor de Portugal; dos livros entregues cerca de 70 eram indubitavelmente pro-

priedade sua já que ostentam gravado o seu brazão de armas.A perda dos livros foi bastante sentida pelo bispo que, no prefácio de

um seu tratado de Teologia, editado em 1604, a ela se refere inculpando os “bárbaros” ingleses pela sua perda, na qual se incluía também um seu manuscrito sobre S. Tomás de Aquino.

Entre os livros saqueados encontravam-se dois claramente mutila-dos (folhas coladas e frases obliteradas) pela censura inquisitorial, facto esse que foi veementemente atacado, num livro publicado por Thomas James, então bibliotecário de Oxford, no final do ano de 1604.

A única obra em português que integrava o saque era um manuscri-to sobre a vida de S. João Baptista, da autoria de António Pereira, com dedicatória ao bispo Francisco Mascarenhas, manuscrito esse que se crê ter sido o primeiro a integrar a biblioteca de Oxford.

A maioria dos livros versam sobre teologia, filosofia e direito canóni-co, editados tanto em Portugal (Lisboa, Coimbra e Évora) como em Es-panha, França, Itália e Alemanha, sendo a edição portuguesa mais anti-ga a das Epistollae de Cataldus Siculus, editada em 1500 em Lisboa.

Consta que o bispo terá chegado a oferecer dinheiro para reaver a sua biblioteca o que não conseguiu já que os livros, na sua maior parte, ainda hoje ocupam as prateleiras que, em 1600, Bodley lhes destinou.

De acordo com a informação facultada pela Biblioteca de Oxford não há conhecimento de quaisquer outros livros portugueses ou pertença de portugueses adquiridos de forma idêntica.

Com. E. GomesFontes: Naval Tracts of sir William Monson, vol 1, Londres 1914

- Cod. 8570 da Biblioteca Nacional- Cod. 1537 da Biblioteca Nacional

Notas:(1) Dado que a expedição era patrocinada pela Rainha de Inglaterra e por par-

ticulares é compreensível que o valor do saque fosse desvalorizado, por forma a reduzir os respectivos quinhões.

(2) Ainda há poucos anos, numa obra de um autor inglês do séc. XVIII, editada em Lisboa, se encontra referida que, em 1596, foi levada a biblioteca do bispo D. Jeróni-mo Osório para a biblioteca de Oxford.

NOvO taRiFÁRiO de eNtRada de visitaNtes NO mUseU de maRiNHa

Bilhete Normal 4,00 €Estudantes 2,00 €Maiores de 65 anos 2,00 €Visitas de estudo 1,50 €Agências de viagens 3,00 €Bilhete familiar2 Adultos + 1 criança (< 18 anos) 8,75 €2 Adultos + 2 crianças (<18 anos) 9,50 €2 Adultos + 3 crianças ou mais (<18 anos) 10,00 €

PROtOCOLO em viGORFamílias numerosas 2,00 €Adultos 2,50 €Jovens Estudantes 1,50 €Maiores de 65 anos 1,50 €

Notas: Aos domingos e dias de feriado nacional as entradas são gratuitas no período das 10.00 às 14.00 horas.No Dia da Marinha (20 de Maio) as entradas são gratuitas durante todo o dia.

“História das LDM”Pretendem as Edições Culturais da Marinha levar a cabo

a publicação dum livro sobre a “História das LDM”, em que mais que um relato da sua actividade operacional nos três teatros africanos, traduza e registe para a posteridade a vivência diária das suas guarnições, verdadeiros heróis obscuros e ignorados da maioria dos portugueses.

Para isso solicitam-se aos elementos que em Angola, no Zaire e nas Terras do Fim do Mundo, no Niassa e na Guiné fi-zeram parte das guarnições das LD, depoimentos sob a forma escrita ou oral (gravações ou entrevista) sobre as suas comis-sões e episódios vividos e disponibilizá-los à Comissão Cul-tural da Marinha, com o endereço a seguir discriminado:

BIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHAPRAÇA DO IMPÉRIO

1400-206 LISBOA

Informações complementares poderão ser prestadas pelos telefones: 213658521 / 213658523

Os textos poderão ser enviados por e-mail para: [email protected]

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28 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

Pedro Nunes – todos sabemos—foi um matemático de grande prestígio. Lido e seguido por cientistas estrangeiros do seu tem-po, deixou-nos uma obra sublime. De facto, no campo da náu-

tica, Pedro Nunes interessou-se pelas linhas de rumo descritas pelos navios, o que o leva a conceber a loxodrómia, uma curva que irá su-gerir, a Gerard Mercator, a carta de latitudes crescidas, onde passou a ser possível registar, com enorme rigor, a rota percorrida pelo navio. É de Nunes o conceito do nónio. Estudou a duração dos crespúsculos. Mas foi, também, Professor em Coimbra e Cosmógrafo Real e, ainda encarregado de educação de Luís e de Henrique, filhos mais novos de D. João III. Foi Cavaleiro do Hábito de Cristo, participou na Reforma dos Estatutos Universitários e, em 1577, consultado pelo Papa Gregó-rio XIII sobre o Novo Calendário, não chegou a pronunciar-se pois irá falecer no ano seguinte, precisamente no dia 11 de Agosto.

Pelo que acabámos de afirmar, podemos deduzir que Pedro Nunes, foi um homem realizado. Todavia, devido ao facto da sua aproxima-ção à prática da Náutica ser especulativa e não ter sido aproveitada na condução do navio, criou-se um certa incompatibilidade entre Nunes e os homens do mar. Talvez devesse ter embarcado numa nau da Índia. Pedro Nunes apenas navegou por terra entre Lisboa, Sala-manca e Coimbra

Todavia, para além de uma vida aparentemente calma e de grande sucesso, acontece algo de extraordinário no último ano de vida deste Mestre que veneramos, que se transformará numa penitência que se arrastará para além de sua morte. Essa penitência que Nunes já não irá enfrentar será, uma sorte de praga, que se manifestará, durante longos anos, como uma força inabalável. Só assim podemos justificar o que irá acontecer, especialmente aos seus herdeiros e, ainda, à sua Obra que será esquecida por vários séculos.

Tudo começa quando, em 1577, D. Guiomar, filha solteira de Pedro Nunes se apercebe que Heitor de Sá, que lhe prometeu casamento, foge ao compromisso. Nunes queixa-se a D. Manuel de Menezes, bispo de Coimbra, que convoca uma reunião, na qual Heitor continua a negar a promessa. Guiomar, desesperada, puxa de uma navalha e golpeia, na face, o seu desejado noivo. Por ordem do Bispo, Guiomar é pre-sa e recolhida no Convento de Santa Clara. Um escândalo que teve a maior repercussão e que ficou conhecido pelo episódio da cutilada. Comentou-se pelas esquinas. Fizeram-se versos que foram cantados por populares. Pedro Nunes, desgostoso, não resiste à afronta e acaba por falecer no ano seguinte.

Heitor de Sá, por seu lado, sentindo-se ultrajado, procura vingar-se na Família de Nunes. É levantada, melhor, é provocada a suspeita que o nosso Cosmógrafo é de origem judaica. Os seus netos Matias Pereira e Pedro Nunes Pereira irão ser vítimas condenadas pela Inquisição. Com a família destroçada não há quem cuide do património, seguramente, precioso, de Pedro Nunes. Uma única excepção: a cópia de um ma-nuscrito, que ficou conhecido por “Tratado da maneira de delinear o Globo para uso da Arte de navegar”, que foi herdado por Matias Perei-ra de Sampayo, neto de Pedro Nunes. Este documento, que não é da mão de Nunes, viria a ser oferecido, em 1669, pelo cosmógrafo-mor do Reino, Luís Serrão Pimentel, a Cosme II, príncipe de Médicis (1642-1723) por ocasião da sua viagem a Portugal. Felizmente, este manus-crito foi guardado e encontra-se, actualmente, na Biblioteca Nacional de Florença. Tudo o resto se perdeu, a não ser algumas assinaturas de Nunes e raras notas de margem, que se julga serem de sua pena. Para cúmulo, até se desconhece o local onde foram sepultados os ossos do nosso mais famoso Cosmógrafo Mór! Não deve ser fácil encontrar, na História dos Grandes Homens, um caso semelhante.

Ficou-nos, assim, do Mestre insigne, apenas a sua obra publica-da em Basileia e em Lisboa, da qual se fizeram várias tentativas de reedição, relativamente às quais Semedo de Matos já se ocupou em

artigo publicado nesta Revista1. Todavia, merece a pena recordar que o maior esforço foi feito, nos anos 40 a 60 do século passado, por uma comissão onde destaca-mos o Coman dante Abel Fontou-ra da Costa, conceitua do Professor de Navegação na Escola Naval e autor de A Marinharia dos Desco-brimentos, a obra mais importante que se escreveu acerca das técni-cas usadas na navegação dos Des-cobrimentos. Foram então publi-cados quatros volumes seguintes, pois a comissão extiguiu -se devido ao sucessivo falecimento dos seus vários membros:

I – Tratado da Spera, 1940,II – De Crepusculis, 1943III – De Erratis Orontii Finei 1960VI – Libro de Álgebra, 1950Todavia, de 16 a 18 de Novembro de 2000, vai acontecer algo de

importante na história da obra de Pedro Nunes. A Sociedade Portuguesa de Matemática organiza em Óbidos, um Seminário Nacional de Histó-ria da Matemática, que intitula “A Prática da Matemática em Portugal” Durante este encontro, os Professores Henrique Leitão, João Queiró e Luís Saraiva, ponderando sobre o modo de comemorar condignamente o 5º Centenário do nascimento de Pedro Nunes, que aconteceria em 2002, consideram que seria obrigatório editar a sua Obra Completa2. Conseguem interessar a Academia das Ciências de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian que irá dar o indispensável apoio financeiro a uma Comissão Científica que ficou constituída pelos Professores Henrique Leitão (Presidente). João Queiró e Contente Domingues e os oficiais da Armada Semedo de Matos, Costa Canas e o signatário. A ligação entre a Comissão e a Academia das Ciências é feita pelo Professor Dias Agu-do que será também o responsável pela edição.

Já foram publicados os seguintes volumes:I – Tratado da Sphera, 2002II – De Crepusculis, 2003III – De Erratis Orontii Finei, 2005IV – De Arte Atque Ratione Navigandi, 2008Destes volumes, os três primeiros constituem actualização dos que

foram editados pela Comissão, constituída nos meados do século pas-sado, mas o volume IV, originalmente em latim, é o resultado de não ter sido traduzido anteriormente. Consideramos que esta era a grande barreira pois, agora, com os dois restantes volumes, praticamente, ter-minados, podemos afirmar que em breve teremos publicada a colecção completa, que será acrescentada com dois volumes contendo estudos e bibliografia. Está ainda prevista a edição, em língua inglesa, de um volume contendo o essencial da Obra de Pedro Nunes.

Assim, com a actual publicação, em português, 442 anos depois da primeira edição da obra original, podemos dizer, com alguma seguran-ça, que a praga rogada por Heitor de Sá foi, seguramente, desfeita.

António Estácio dos ReisCMG

Notas1 Revista da Armada, nº 362, Março de 2003.2 Curiosamente e, por força do acaso, o signatário apresentou neste Seminário uma

comunicação sobre o nónio de Pedro Nunes

Em fundo reproduz-se a loxodrómia no trabalho “Bola com espirais” de M. C. Escher.

Obras de Pedro NunesFinalmente o 4º Volume

Obras de Pedro NunesLIVROS

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 29

No passado dia 28 de Maio, no Pavilhão das Galeotas do Museu de Marinha, foi apre-

sentado o livro “Grandes Batalhas Navais Portuguesas”, da autoria do CMG Rodrigues Pereira.

O evento foi iniciado com umas breves palavras da Drª Margarida Damião da Esfera dos Livros, editora da obra, que a considerou uma im-portante contribuição para a História da Marinha.

Seguidamente o CALM Leiria Pin-to, após reportar-se a algumas referências biográficas do autor, re-sultantes de contactos profissionais que com ele teve ao longo dos anos, fez a apresentação do livro. Salientou então que a obra tinha como Introdução – uma breve História da Marinha Portuguesa que, criada com a nacionalidade, se confunde com a História da Nação, desenrolando-se desde 1147, data da conquista de Lisboa, até ao fim do século XX. Relativamente aos combates indicou que o pri-meiro descrito é a Batalha Naval do Cabo Espichel (1180) e o último a “Operação Mar Verde” (1970), constando, nos 39 apresentados, as lutas que a Marinha enfrentou durante as Campanhas de Ocupação e Pacificação em África (fins do século XIX início do século XX), as-sim como as correspondentes à I Guerra Mundial, nas fronteiras sul

de Angola e norte de Moçambique, lutas essas que não estando propria-mente no âmbito das batalhas navais são combates que marcaram a His-tória de Portugal. Referiu-se depois à parte iconográfica, composta pela reprodução de quadros, a maioria do acervo do Museu de Marinha e de pormenorizados diagramas adapta-dos dos “Combates e Batalhas da Ma-rinha Portuguesa”, um valioso estudo do Comandante Saturnino Monteiro. Mencionou ainda que a obra inclui

um Glossário de Termos Navais com 240 entradas e a indicação da vasta bibliografia consultada. O CALM Leiria Pinto concluiu felicitando o autor de “Grandes Batalhas Navais Portuguesas” – uma meritória obra que, de um modo pragmático e apelativo, dá a conhecer aos portugueses o que tem sido em situações de guerra a notável ac-ção da sua Marinha.

A cerimónia terminou com os agrade-cimentos do CMG Rodrigues Pereira aos presentes e a todos os que o apoiaram em mais este seu projecto literário.

Realizou-se no passado dia 17 de Junho nas i nstalações da Biblioteca Central da Marinha, a cerimónia de apresentação pública do livro

“A Marinha de Goa e outros ensaios náuticos”, da au-toria do Comandante Adelino Rodrigues da Costa.

Assistiram à cerimónia alguns oficiais generais, ou-tros oficiais e muitos amigos do autor, onde se incluía o Comandante Abel de Oliveira, o último Capitão dos Portos do Estado da Índia.

A apresentação do autor foi feita pelo Presidente da Comissão Cultural da Marinha, CALM Rui Abreu, que identificou alguns elementos curriculares do au-tor através de alguns episódios em que as suas vidas profissionais se cruzaram.

Em primeiro lugar evocou “o sentimento e a emoção de quem há quase quarenta anos, nos rios da Guiné e a bordo da LFG Sagitário, ci-mentou uma amizade com um jovem comandante, de porte atlético, boa disposição, profissionalismo e interesse por temas históricos”, refe-rindo também que, mais tarde, voltaram a embarcar nos mesmos na-vios por diversas vezes em viagens de instrução, quando o autor era instrutor de Navegação da Escola Naval.

Depois, já noutra fase das suas vidas profissionais, lembrou ter sido “seu aluno no Instituto Superior Naval de Guerra. Economia e Finan-ças, matéria algo arrevesada para um médico, mas que a competência do professou tornou aparentemente simples”.

O CALM Rui Abreu salientou de seguida que o livro apresentado é o resultado da experiência oriental do autor, designadamente o tem-po passado em Goa, Timor, Macau e outras paragens asiáticas, “numa aliança do saber histórico, conhecimento documental e vivência am-biencial de gentes, paisagens e cultura, cheiros e sabores”.

A apresentação do livro foi depois feita pelo Comandante José Ma-nuel Malhão Pereira, um reputado historiador da expansão portuguesa no Oriente, que fez uma análise dos importantes contributos que os

oficiais de Marinha têm dado para a investigação e a divulgação histórica, devido à especificidade dos seus conhecimentos geográficos e náuticos, mas também em resultado do seu entusiasmo pela História.

Na sua apresentação afirmou que o trabalho do Comandante Rodrigues da Costa - A Marinha de Goa e outros trabalhos náuticos – se enquadra exactamen-te naquele contexto, sendo constituído por um tra-balho mais extenso sobre “A Marinha de Goa”, uma organização criada ainda no século XVI e que per-

durou até meados do século XIX, incluin-do depois quatro ensaios cujos temas são “O farol da Aguada”, “A Navegação e a Cartografia Náutica de Goa”, “A Constru-ção Naval em Damão” e “O ensino náuti-co em Goa”.

De acordo com o Comandante Malhão Pereira, os temas escolhidos referem-se a regiões que o autor bem conhece, uma vez que neles residiu enquanto representante da Fundação Oriente na Índia e em Timor Leste, bem como noutras oportunidades mais recentes.

Dirigindo-se ao autor, o Comandante Malhão Pereira afirmou “que muito aprendi com a leitura do seu livro, e dou-lhe desde já os para-béns”, salientando as abundantes referências que o trabalho inclui, que o tornam muito útil a investigadores e historiadores, pelo que sugeriu a todos os presentes a leitura do “excelente trabalho” do Comandante Rodrigues da Costa.

A Revista da Armada que se fez representar nesta cerimónia pelo seu Director, felicita o Comandante Adelino Rodrigues da Costa por este seu trabalho.

“GRANDES BATALHAS NAVAIS PORTUGUESAS”

A Marinha de Goa e outros ensaios náuticos

“GRANDES BATALHAS NAVAIS PORTUGUESAS”

A Marinha de Goa e outros ensaios náuticos

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30 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

sempre gostei de fotografia. Desde muito pequeno usei uma máquina velha que o meu pai nos ofereceu. Lembro-me que

usava uma espécie de cartuchos, que se en-viavam para revelar. Tínhamos que ser par-cimoniosos, pois a fotografia era cara e cada “click” do obturador tinha que fazer a dife-rença...Guardo muitas das fotos desse tem-po...Desse tempo, ainda, aprendi que para fazer uma boa fotografia há que saber esco-lher a luz e que a fotografia, que é apenas um momento, depende disso mesmo de um simples momento. E, através da fotografia, sabemos todos, há momentos que vão durar toda uma eternidade. É essa a principal força desta arte e de alguns dos seus artistas...

Nunca tive igual interesse pelo vídeo em movimento. Pois no vídeo é mais difícil eter-nizar a luz e o silêncio, que caracterizam os momentos que guardamos na alma e nos moldam a vida. Como eu existem muitos marinheiros, com muito mais jeito e arte para esta técnica. Houve até concursos de foto-grafia a bordo de navios onde embarquei. Lembro-me particularmente de um deles a bordo do NRP “Álvares Cabral”, em que me atribuíram um prémio. Tratava-se de um livro de um grande fotógrafo social, de renome mundial, Sebastião Salgado. A foto premiada, que tenho orgulhosamente exposta em casa, demorou cerca de três horas a conseguir, pois foi num determi-nado pôr do sol, num país da América do Sul, mas valeu bem a pena, pois capturou aquela ambiência, aquela luz de um fim de tarde que muitos partilharam...

Vem esta introdução a propósito de um determinado marinheiro que há mui-to tempo havia perdido o rasto. Homem com cerca de 35 anos, em tempos de olhar muito vivo e sempre agarrado a uma máquina fotográfica, apresentava-se ago-ra com olhar baço e aspecto algo pesado. A tristeza do olhar e o aumento de peso disseram-me imediatamente que algo se passava de profundo na sua vida. Ele é ar-tilheiro e tinha como é habitual, a bordo, o encargo do “Detalhe”. Era ainda, por vocação, o “fotógrafo” oficial daquele na-vio. Gostava em especial de fazer retratos e tinha, digamos, um “Detalhe ilustrado” com as fotografias de cada um dos mem-bros da guarnição. É claro tudo isto era feito numa época pré – fotografia digital, o que representava compreensivelmente muito esforço e determinação.

Cumprimentou-me com um esboço de sorriso. Mandei que se sentasse e come-cei exactamente pelas fotos. Quis saber o que fazia agora. Respondeu-me que havia deixado de fazer retratos, ou qual-quer outro tipo de fotografia. – “Tinha

perdido o interesse”, afirmou de um ápice, como se as palavras lhe azedassem a boca, lá no mundo solitário em que agora parecia estar…Deixei-o ir, mas fiquei curioso, pois deixar perder um artista daqueles parecia uma grande pena…

Ao outro dia o Fotógrafo voltou. Trazia uns exames que alguém lhe tinha pedido. Não estavam bem, ele estava preocupado. Lá lhe dei uns comprimidos, mas avisei que enquanto a mente estivesse mal, o corpo iria, naturalmente, atrás – uma verdade que com-provo insistentemente. Nesse dia insisti com ele para que, em visita posterior, me trouxes-se cópia da minha velha fotografia – sim, a que estivera exposta no Detalhe, já faz muito tempo…Saiu calado mais uma vez…

Passadas cerca de três semanas, lá estava ele, vinha mostrar novos exames. Desta fez tirou do envelope um CD e uma cópia digital da foto de um jovem médico naval, onde já quase me não reconheci. Elogiei-lhe a foto-grafia (porque de facto está excelente). Per-guntei-lhe pela máquina, afirmou que ain-da a tinha – “Por lá perdida…” Finalmente avancei, com o afinal o que é que se passa

– então deixou de fotografar? Parecia quase incrível. A medo lá lhe arranquei. Tinha sido o divórcio. Estava separado e em processo contencioso pela custódia partilhada de um único filho…O processo arrastava-se pelo tribunal, já há vários anos…tinha perdido o interesse pela vida e consequentemente pelo seu hobby de sempre, a fotografia…

Cada um de nós será lembrado pela sua arte e esta parece passar muitas vezes des-percebida mas está lá, sempre esteve ao lon-go da humanidade e – acredito eu profunda-mente – sempre fez a diferença. A arte foi e será sempre uma forma do homem, mesmo o mais poderoso, se elevar acima de si pró-prio. A arte supera toda a fadiga, toda a dor. Faz, neste nosso tempo (ampliado até qua-se ao infinito pela máquina gigantesca dos média), de homens banais verdadeiros deu-ses como é o caso de certos futebolistas e de certos músicos de rock… Por isto era preciso avisar o Fotógrafo - Precisamente porque a sua vida parecia um imbróglio sem resolu-ção é que era preciso que não deixasse de fotografar. Ainda mais ele que fazia retratos, que traziam a alma dos seus sujeitos, mes-

HISTÓRIAS DA BOTICA (66)

O fotógrafo e os retratos da alma…O fotógrafo e os retratos da alma…

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este ano, como tem sido tradição, a Marinha participou na Peregrinação Militar Nacional a Fátima.

Um grupo de peregrinos da Marinha, incluindo militares, militarizados, civis e familiares, iniciou a Peregrinação no dia 18 de Junho de 2009.

O programa, não se afastando do que tem sido hábito, iniciou-se com a con-centração dos peregrinos na Igreja da Santíssima Trindade por volta das 1830.

Tivemos o privilégio de ouvir o teólogo Juan Ambrósio, docente na UCP, a falar sobre questões importantes, em particular para os que professam a religião católica, mas cujo alcance é de facto universal. Fa-lou do amor, amizade, companheirismo ao próximo e a importância de valorizar-mos a humanidade.

O ambiente que envolve a presença dos peregrinos militares, militarizados e civis, das Forças Armadas e dos pere-grinos militares e civis das Forças de Se-gurança cria as condições necessárias para que de facto em cada um renasça o sentimento de comunhão e partilha. A prova disto, materializou-se na atitude e devoção que cada um colocou no momento que se seguiu ao Jantar. O rezar o Terço na Capelinha das Aparições e a Procissão do Santíssimo Sacramento.

Ao final do dia a tranquilidade e serenidade que cada um transpirava era a indicação inequívoca que Fátima já estava a cumprir com as suas expectativas.

O dia 19 de Junho começou com o prenuncio de muito calor, não só resul-tante do estado do tempo, mas também do calor humano resultante do número de peregrinos que se iam concentrando junto da Capelinha das Aparições. Este ano, uma vez mais, o tecido humano criado pela presença dos militares e mi-litarizados da Marinha embelezou ainda mais a Cova da Iria.

A tradicional Via-sacra que antecede a Missa, foi este ano realizada no interior da Igreja da Santíssima Trindade.

Por volta das 11h00 e na presença dos mais altos responsáveis dos três Ramos das Forças Armadas e de Segurança, deu-se início ao momento mais impor-tante da Peregrinação: a celebração da Eucaristia presidida pelo Bispo das For-ças Armadas e de Segurança, D. Januá-rio Torgal Ferreira e concelebrada por muitos capelães militares.

A animação litúrgica esteve a cargo do Exército.

Sinto que Fátima cumpriu mais uma vez a sua missão, deixando os peregri-

nos mais completos e mais esperançados que o caminho que escolhe-ram trilhar na busca da felicidade e da paz, em comunhão com a tole-rância, o respeito e a vida, sejam de facto uma realidade.

J. Coutinho de LucenaCFR

Revista da aRmada • AGOSTO 2009 31

Nos dias 1 e 2 de Maio, realizou-se a 2ª Peregrinação a Fátima em bicicleta do Grupo Unidade a Pedal (UAP).

Este grupo é constituído por elementos que no seu dia-a-dia se deslocam de bicicleta para as suas unidades - Alcântara e Ministério da Marinha - em Lisboa. Contou também com a participação de alguns civis convidados.

O primeiro dia, com partida do Parque Expo, teve como trajecto Lisboa / Alcanena (Olhos de Água). Foram cerca de 120 km com as dificul-dades a surgirem a partir de Santarém já com al-guns kms nas pernas e com o relevo do terreno bastante acentuado a provocar algum desgaste.

Chegámos ao Santuário de Fátima e fomos recebidos na Casa de Re-

tiro Nossa Senhora das Dores.Os elementos que participaram nesta 2ª Pe-

regrinação ao Santuá rio de Fátima a pedalar fo-ram os seguintes: 1SAR HE CAD Pereira; 1SAR CM Taveira; CAB A Martins; CAB FZ Abreu; CAB L Nunes; CAB A Pita; CAB FZ Silva; CAB A Fi-gueiras; CAB A Ramos; CAB A Trindade; CAB FZ Alves; CAB A Mendes; Civis - Carla; Luis; Ví-tor. Agradecemos o apoio e o acompanhamento nestes dois dias de difíceis pedaladas ao 1ºMAR V Nunes e ao CAB V Santos que nos trouxe de regresso a Lisboa.

Carlos Alves CAB FZ

Peregrinação a Fátima em bicicleta do “Grupo Unidade a Pedal”

Peregrinação a Fátima em bicicleta do “Grupo Unidade a Pedal”

A Marinha na XXVIIIª Peregrinação Militar Nacional a FátimaA Marinha na XXVIIIª Peregrinação Militar Nacional a Fátima

mo quando a luz não era mais que um ape-trecho de mergulho nocturno, o cenário um lençol esticado por dois marinheiros e o es-túdio a antiga barbearia do navio que ambos conhecêramos…

A Marinha terá certamente este pequeno mérito – valoriza as capacidades paralelas de muitos dos seus marinheiros. Assim se fazem excelentes barbeiros de outros tantos artilheiros, assim se transformam electricis-tas e comunicativos em músicos de eleição, quais animadores culturais, em noite de Na-

tal a bordo de um qualquer navio, num qual-quer lugar longínquo. Assim, finalmente, se permite que médicos anónimos (com pouco jeito e ainda menos arte) contem histórias na Revista da Armada…

Instei, consequentemente, este marinheiro a regressar ao mister eleito do seu coração. Garanti-lhe que o mundo lhe parecerá um lugar melhor e a sua saúde melhorará. Afi-nal tem um jeito único, para captar a alma de quem se coloca na frente do seu visor e nada, nem ninguém, vai poder mudar esse

facto. No processo talvez perceba melhor a abrangência da vida de quem o rodeia e, terá percebido, particularmente, a abrangência focal sua própria vida. Nesse dia – segura-mente daqui a muito, muito tempo – terá a sua arte atingido o seu desiderato de exce-lência. Anónimo, é certo, mas seguramente seu. Os seus retratos terão alma profunda e ele, consigo sentir mesmo do fundo da cave de onde escrevo, encontrará paz …

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Intercepção, análise de sinais e guerra electrónicaSoluções para intercepção, identificação e contra medidas electrónicas

Forças armadas, organismos governamentais e policiais com tare-fas de segurança relevantes só poderão ser bem sucedidas se os seus equipamentos técnicos estiverem ao nível dos últimos desen-volvimentos. Sobreviver no “campo de batalha digital” é apenas possível através da utilização de uma tecnologia flexível. Apenas terá de ser o mais rápido e “inteligente” ao interceptar e analisar a multitude de sinais e informações para ter sucesso na era da guerra de informação.

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Revista da aRmada • AGOSTO 2009 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 121

Todos vuln. S joga 4♠ recebendo a saída de ♣10, mete a D e E faz de R. Analise as 4 mãos e diga onde gostaria de se sentar: na linha N-S para cumprir o contrato contra qualquer defesa, ou em E-W para marcar na sua coluna.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 121

Na linha E-W, pois E tem um ataque na 2ª carta que derrota o contrato.O ataque mais natural de E seria ♠D, mas se o fizer S pega de A, joga ♣ para o A, ♣ cortado, passagem a ♦R, último ♣ cortado, ♦ para o A, ♦ para cortar, baldando a ♠ perdente caso E fizesse a asneirada de cortar; ♥AR e R de trunfo, perfazendo um total de 10 vazas (5♠+2♥+2♦+1♣). Com o ataque a ♠ ou a ♣ o desenvolvimento seria o mesmo para fazer as 10 vazas.O ataque mortífero é precisamente a ♦ para a fourchette do morto, pois S perde um tempo e impede-o de fazer 3 cortes na mão para juntar ao seu AR de trunfo, o que evita a possibilidade de somar a 10ª vaza.Trata-se de um problema de flanco frequente à mesa, em que muitos jo-gadores sentem grande relutância neste tipo de ataque, pensando que es-tão a facilitar a vida ao carteador.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):

3

V765

R10875

1098

Este (E):

DV109

D98

V9

RV65

Norte (N):

82

1043

AD62

AD43

AR7654

Sul (S):

AR2

43

72

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 404

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

HORiZONtais: 1 – Parte da Zoologia que trata dos peixes (pl). 2 – Pequena bigorna de ourives; nota musical; apre. 3 – Suco vegetal concreto; nome próprio masculino. 4 – Aquilo que se remeteu; partícula negativa. 5 – Calculara; símb. quím. do samário. 6 – Aquece os egípcios; consoante dobrada. 7 – Imposto de valor acrescentado; nota musical; nica na confusão. 8 – Vã; seis letras de domi-cílio. 9 – Eliminara; cio, na confusão. 10 – Que é do tempo de Adão; pessoa muito virtuosa (fig). 11 – Família de Castela, rival dos Castros (pl); raças.

veRtiCais: 1 – Cidade e município do estado de S. Paulo, Brasil; árvore com cuja casca se aromatiza o vinho. 2 – Une; basta. 3 – Misto na confusão; recuar. 4 – Que é do ar; essência material da vida humana. 5 – Artº defenido masculino (pl); símbolo quím. do escândio; suspiros. 6 – Aparelho para alisar e lustrar, nas fábricas de fiacção. 7 – Rio da Suíça; entrega. 8 – Instrumento para encurvar as calhas das linhas férreas; haste flexível com que se despede frechas; rio costei-ro francês. 9 – Cidade de Espanha à beira do Bidassoa, na fronteira francesa; italiana do séc. XIII, mulher de Lanciotto Malatesta, e cujos amores com seu cunhado Paolo Malatesta foram imortalizados por Dante, em O Inferno (ap.) 10 – Superfícies planas; meta em loja. 11 – Relativo a Salomão.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 404

HORiZONtais: 1 – Ictiologias. 2 – Tai; Si; Irra. 3 – Assa; Samuel. 4 – Re-messa; Não. 5 – Orcara; SM. 6 – Ra; Rr. 7 – Iva; Re; Cian. 8 – Oca; Idomli. 9 – Anulara; Ioc. 10 – Adamia; Anjo. 11 – Laras; Laias.

veRtiCais: 1 – Itariri; Aal. 2 – Case; Avonda. 3 – Tismo; Acuar. 4 – Aero; Alma. 5 – Os; Sc; Ais. 6 – Lissadeira. 7 – Aar; Da. 8 – Gim; Arco; Aa. 9 – Irun; Rimini. 10 – Areas; Aloja. 11 – Salomonicos.

Carmo Pinto1TEN REF

CONVÍVIO

l O Grupo Amizade dos Marinheiros da Lousã, “navegou”, no passado dia 7, rumo ao Aquário Vasco da Gama, Museu da Marinha, Planetário Ca-louste Gulbenkian, e Instalações Na-vais de Alcântara, onde o grupo de 108 pessoas acabariam por degustar um almoço “à Marinheiro”.

Após a “formatura”, na Lousã, a comitiva, comandada por Francisco Ferrão e Guilherme Vaz, de An-tuzede, Coimbra, e Cruz de Ferro, Lousã, rumaram em dois autocar-ros até à cidade de Lisboa.

Assim, desde o anoitecer até à alvorada, incluindo os variados fe-

nómenos celestes, de tudo se obser-vou um pouco. E, para se cumprir a “odisseia marítima”, fez-se a entrega de lembranças ao almoço.

A exaltar a frase do Sargento Ferrão, uma das “almas materes” do “passeio-convívio”, “navios de madeira... ho-mens de ferro” cumpriu-se com o ri-gor dos “Homens da Marinha”, que o

“TREVIM” acompanhou e... saúda! A Organização agradece a todas as Instituições envolvidas e as facili-

dades concedidas, no sentido deste “passeio-convívio” poder tornar-se num êxito, de que os participantes se orgulham e jamais esquecerão.

GRUPO AMIZADE MARINHEIROS DA LOUSÃ

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34 AGOSTO 2009 • Revista da aRmada

NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVA CMG MN Rui Manuel dos Santos Martins SMOR TRI Fernando Pedro de Matos SMOR TRC Ilídio da Silva Sardico SCH E Joaquim Luís Miranda dos Santos SAJ C João Martins David SAJ B Carlos Manuel de Jesus Freire Pereira 1 SAR C Cecílio Manuel Amador Gabriel 1 SAR R António Luís da Silveira Monteiro Pinto de Almeida CAB CM João Gonçalves Lopes.

REFORMA ALM Francisco António Torres Vidal de Abreu CALM EMA Luís Fernando Pereira da Silva Nunes CFR OT Geraldo da Silva Dias CFR SEH João Luís Vieira Filipe CTEN OT Vasco Falcão Peres Galvão 1TEN OT Manuel Augusto Lima de Oliveira SMOR TRC João Gaspar de Almeida SMOR A Manuel da Silva Pintor SMOR H José Augusto Cardoso Marques SCH E Henrique Pa-trício Gonçalves Martinho SAJ L José Afonso Freitas Ventura SAJ TF Francis-co Dias Romão SAJ H Francisco Simões Miguel SAJ E António Luís Descalço Gameiro SAJ CM Mário Fernando Vieira Joaquim 1SAR TF Camilo Gomes de Carvalho 1SAR SE José Maricato Gonçalves Figueiredo 1SAR T Aníbal Ferreira dos Prazeres Pereira 1SAR E José Lourenço Pereira Narciso 1SAR FZ António Gonçalves da Silva 1SAR B Hernâni Ribeiro Pereira de Moura CAB FZ Manuel Tapado Meireles CAB FZ Hermenegildo António do Nascimento Ropio.

FALECIMENTOS CMG REF António Augusto Gomes da Silva CMG RES Mário Ceríaco Dores Sousa CMG AN RES Manuel António Lopes CFR REF Horácio Augusto Car-valho da Costa Ferreira CFR EMQ REF Alexandre Joaquim Calado Amaro de An-drade SMOR H REF António Luís Vidal SMOR FZ REF Abel da Silva Lomba SAJ L Esequiel Palma Gonçalves 1SAR CM RES Custódio Alves Vaz 1SAR CM REF António dos Santos Gonçalves 1SAR C REF Francisco Dias Mendes Gordo CAB TFD REF Diogo Silva Seixas Patrão de Costa APOS Armindo Marques de Oliveira CHEFE PM APOS António de Jesus Cadima AJ MANOB APOS José Alberto de Melim AJ MANOB APOS António Gonçalves da Silveira.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

CMG AN Nuno Manuel Nunes Neves Agostinho nomeado Chefe do Serviço de Apoio Administrativo, em substituição do CMG AN Silvio Manuel Henriques da Silva Ramalheira CTEN Paulo Jorge Palma Alcobia Portugal para o cargo de Comandante do NRP João Roby em substituição do CTEN Ricardo Freitas Braz 1 TEN Rubens Robalo Rodrigues nomeado Comandante do Destacamento de Mergulhadores Sapadores nº 3.

CONVÍVIOS

DFE9 MOÇAMBIQUE 71/73

III PAssEIO nO TEjO DOs PIlõEs nAvAIs

Realizou-se mais um almoço-convívio do DFE9, desta vez na simpática aldeia de Orvalho (Castelo Branco). A ocasião serviu

para juntar ex-camaradas e familiares, e foi com muita alegria e en-tusiasmo que este encontro decorreu.

Enquadrado com as comemorações do 98º aniversário do Ins-tituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE), decorreu, no pas-sado dia 31 de Maio, mais um passeio no Tejo, a bordo da UAM “Zêzere”, promovido pelo Núcleo dos Pilões Navais.

O evento, que foi acompanhado de um almoço de confraterni-zação servido a bordo, foi presidido pelo CMG Valentim Antu-nes Rodrigues, Comandante da Escola de Tecno-logias Navais, tendo contado com a presen-ça do Presiden-te da Associa-ção dos Pupilos do Exército, Dr. Américo Ferrei-ra, num grupo de seis dezenas de convivas constituído por anti-gos alunos do IMPE e respectivas famílias.

Os Pilões Navais agradecem a colaboração da Base Naval de Lisboa e da Direcção de Transportes, a qual contribuiu decisiva-mente para o êxito desta iniciativa.

XI sIMPÓsIO DE HIsTÓRIA MARÍTIMAO PODER DO ESTADO NO MAR E A HISTÓRIA

A Academia de Marinha vai realizar nos dias 25 e 26 de Novembro de 2009, o XI Simpósio de História Marítima, dedicado ao tema geral “O PODER DO ESTADO NO MAR E A HISTÓRIA”, a tratar em três painéis com os subtemas:

- “O Poder do Estado no Mar e os Impérios Marítimos”- “O Poder do Estado no Mar e o Desenvolvimento Económico”- “O Poder do Estado no Mar: Mahan em perspectiva histórica”.Está aberto a todos os membros da Academia e a todos os estudiosos e

investigadores nacionais e estrangeiros que se inscrevam para o efeito.As comunicações deverão enquadrar-se o mais possível no tema ge-

ral indicado e versar principalmente aspectos que se integram no tema geral ou que com ele estejam mais relacionados.

Cada comunicação deverá constar de um máximo de 30 páginas A4, dactilografadas a 2 espaços, mas para efeitos de publicação nas Memó-rias do Simpósio o texto e imagens deverão ser apresentados em for-mato digital (Word e jpg) e enviadas para o endereço electrónico men-cionado ou por meio de disquete ou CDRom.

A inscrição, meramente provisória, para a apresentação das comuni-

cações deverá ser feita impreterivelmente até 30 SET 2009 (4ªF), devendo ser acompanhada de um resumo da comunicação contido numa página A4, dactilografada a 1 espaço, a fim de habilitar a Comissão Científica a pronunciar-se em tempo útil sobre a sua aceitação, caso em que se considera que a inscrição provisória passou a definitiva.

As inscrições para os participantes que não apresentem comunica-ções deverão ser feitas até 6 NOV 2009, com a apresentação do respec-tivo Boletim de Inscrição e nos termos nele indicados.

Toda a correspondência e pedidos de informação deverão ser diri-gidos a:

COMISSÃO ORGANIZADORA DO XI SIMPÓSIO DE HISTÓRIA MARÍTIMAACADEMIA DE MARINHAEdifício da Marinha Rua do Arsenal1100-038 LISBOATelef: +351 21 325 54 93 + 351 325 54 96 Fax: + 351 21 342 77 83E-mail: [email protected]

ACADEMIA DE MARINHA

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18. O Departamento marítimo do norte

Instalações da MarinhaInstalações da Marinha

MISSÃOO Departamento Marítimo do Norte (DMN) é um dos órgãos regionais

da Direcção Geral da Autoridade Marítima (DGAM) ao qual compete, no espaço marítimo sob a sua jurisdição, coordenar e apoiar as acções e ser-viço das Capitanias.

Ao Chefe do DMN, que por inerência de funções é o Comandante Re-gional da Polícia Marítima do Norte (CRPMN), compete:

- Assegurar o cumprimento das disposições relativas à AMN.- Coordenar e controlar as actividades das capitanias dos portos.- Exercer os demais poderes conferidos por lei.Para o cumprimento da missão o DMN/CRPMN conta com um efectivo

de 271 elementos (47 militares, 146 militarizados (Polícia Marítima, Troço de Mar e Faroleiros) e 78 civis (administrativos e do ISN), onde se inclui o pessoal do DMN/CRPMN, Capitanias e Comandos Locais dependentes, De-legações Marítimas e pessoal dos QP’s do ISN no espaço de jurisdição.

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E ACTUAL ESPAÇO DE JURISDIÇÃO

Do Diário do Governo Nº 168 de 29 de Julho de 1882, transcreve-se a seguinte Carta de Lei:

“DOM LUIZ, por graça de Deus, Rei de Portu-gal e dos Algarves, etc. Fazemos saber a todos os nossos subditos, que as côrtes geraes decretaram e nós queremos a lei seguinte:

Artigo 1º A costa de Portugal, desde a foz do rio Minho até á do Guadiana, é dividida em tres de-partamentos maritimos. O primeiro departamen-to maritimo, ou o do norte, comprehende o litoral desde a foz do rio Minho até á margem esquerda do Mondego; o segundo departamento …

Artigo 3º Em cada departamento maritimo há as capitanias e delegações seguintes:

Departamento Maritimo do NorteCaminha.Vianna do Castello, delegação Espozende.Porto, delegações: Villa do Conde e Povoa de

Varzim.Aveiro.Figueira da FozConforme descrito anteriormente, o espaço de jurisdição do DMN não mu-

dou muito desde 1882; com a entrada em vigor do Regulamento Geral das Capitanias e, posteriormente, com a sua alteração através do Decreto Regula-mentar 5/85, de 16 de Janeiro, que cria a Delegação Marítima (DM) da Régua, face à importância crescente da navegabilidade do Douro desde o Porto até Barca d’Alva (cerca de 210 Km), o espaço do DMN é o seguinte:

ORLA MARITIMA: Do rio Minho internacional a norte, até ao paralelo 39° 55’ 4’’ N – próxi-

mo de Pedrógão (farol do “Penedo da Saudade” junto à Nazaré). ÁGUAS INTERIORES: Rio Minho, Lima, Cávado, Douro, Águeda, Mondego.

CAPITANIAS RESPECTIVAS E ESPAÇO DE JURISDIÇÃOOs espaços de jurisdição das diversas Capitanias do DMN são os se-

guintes:– CAPITANIA DO PORTO DE CAMINHA: incluindo a Delegação Ma-

rítima de Vila Praia de Âncora (Forte da Lagarteira)Desde a foz do rio Minho até ao Forte do Cão, incluindo a Ínsua.Rio Minho, desde a foz até ao rio Trancoso; rio Coura, desde a sua con-

fluência com o rio Minho até à Ponte de Vilar de Mouros; rio Âncora até ponte de Caminho de Ferro.

– CAPITANIA DO PORTO DE VIANA DO CASTELO: incluindo DM Esposende

Desde o Forte do Cão até à foz do rio Alto, definida pela intersecção do

curso do rio com a linha de baixa-mar, com as seguintes coordenadas:ϕ= 41º 28’ 2’’ NL= 008º 46’ 4’’ W;Rio Lima desde a foz até à linha que une a torre da igreja de Vila Nau à

torre da igreja de Santa Maria de Moreira do Geraz; Rio Cávado, desde a foz até à primeira ponte.

– CAPITANIA DO PORTO DA PÓVOA DO VARZIMDesde a foz do rio Alto, até ao molhe sul do Porto da Póvoa de Varzim. – CAPITANIA DO PORTO DE VILA DO CONDEDesde o molhe sul do Porto da Póvoa de Varzim até a foz do rio Donda,

definida pela intersecção do curso do rio com a linha de baixa-mar, com as seguintes coordenadas:

ϕ= 41º 16’ 0’’ NL= 008º 43’ 6’’ W. – CAPITANIA DO PORTO DE LEIXÕESDesde a foz do rio Donda, até ao cais de Carreiros, com as seguintes

coordenadas:ϕ= 41º 09’ 22’’ NL= 008º 41’ 4’’ W. ” – CAPITANIA DO PORTO DO DOURO: in-

cluindo DM RéguaDesde o cais de Carreiros, até ao Monte Negro,

a sul da praia de Cortegaça. Rio Douro, da Foz até ao limite do curso na-

cional - Barca de Alva.– CAPITANIA DO PORTO DE AVEIRODesde o Monte Negro, até à margem sul da

lagoa de Mira. Toda a ria de Aveiro e o rio Vouga até à ponte do

caminho-de-ferro e toda a lagoa de Esmoriz.– CAPITANIA DO PORTO DA FIGUEIRA

DA FOZDesde a margem sul da lagoa de Mira até Pedró-

gão, exclusive, no ponto em que a ribeira entre esta povoação e a de Casal Ventoso encontra a linha de baixa-mar com as seguintes coordenadas:

ϕ= 39° 55’ 4’’ NL= 008° 57’ 1’’ W,

e rio Mondego e rio Lavos, além da sua confluência até ao paralelo da marca do Pontão.

INSTALAÇÕESConforme previsto na Directiva de Política Naval, no conceito de Mari-

nha de duplo uso, o Comandante da Zona Marítima do Norte acumula as funções de Chefe do DMN e, por inerência, as funções de CRPMN.

Dentro deste conceito, permitindo uma gestão mais eficiente e eficaz dos meios à disposição, o DMN, no dia 16 de Fevereiro de 2009, transitou do edifício onde se encontra a Capitania do Porto do Douro para um edifício novo de dois pisos, construído nas Instalações Navais da Boa Nova (INBN), em Leça da Palmeira; sendo um edifício moderno, não destoa em traça e cor dos já aí existentes, a maior parte dos quais, ainda do tempo da extinta Esta-ção Radionaval Almirante Ramos Pereira. Este novo edifício passou a albergar todos os gabinetes, serviços administrativos, e secretarias do CZMN, DMN e CRPMN, dispondo também de salas de reuniões e um auditório, permitindo também a realização de acções de formação de âmbito regional.

Nas INBN, existem também dois hangares da Autoridade Marítima, sendo um para o material de combate à poluição e outro para viaturas.

Neste esforço de centralização dos organismos regionais da Marinha, está ainda prevista a mudança do Centro de Comunicações de Leixões para as INBN, libertando-se assim espaço na Capitania do Porto de Leixões - Forte Nossa Sra. das Neves.

Colaboração do DEPARTAMENTO MARÍTIMO DO NORTE

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14 Janeiro 2003 • Revista da aRmada

18. O Departamento marítimo do norte

Instalações da MarinhaInstalações da Marinha

departamento marítimo do Norte. Boa Nova

Capitania do Porto de Caminha

Capitania do Porto da Póvoa de varzim

Capitania do Porto de Leixões

Capitania do Porto de aveiro

Capitania do Porto de viana do Castelo

Capitania do Porto de vila do Conde

Capitania do Porto do douro

Capitania do Porto da Figueira da Foz

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