instrex 12 · novas histÓrias da botica (13) 30 livros 31 quarto de folga / convÍvios 33...

36
PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 463 • ANO XLI MAIO 2012 • MENSAL • € 1,50 INSTREX 12 TREINAR PARA GARANTIR O USO DO MAR

Upload: others

Post on 19-Jul-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 463 • ANO XLI MAIO 2012 • MENSAL • € 1,50

INSTREX 12TREINAR PARA GARANTIR O USO DO MAR

Page 2: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •
Page 3: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 463 • Ano XLI

Maio 2012

DiretorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedaçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redação1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedaçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redação e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Paginação eletrónica e produçãoPágina Ímpar, Lda

Tiragem média mensal:4500 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: ALM - OFTALMOLASER; LISSA - AGÊNCIA DE DESPACHOS E TRÂNSITOS, Lda.; ROHDE & SCHWARZ, Lda.

PROGRAMA DO DIA DA MARINHA 2ATRIBUIÇÃO DA ORDEM MILITAR DE CRISTO AO NRP SAGRES – FUNDAMENTO 5REFLEXÃO ESTRATÉGICA 2 8A NATO NO ANO 2012 12SIG-DN 14A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (30) 16“CARTOGRAFIA NÁUTICA – SÉCULOS XVI A XIX” EXPOSIÇÃO 17CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ARMADA – 50 ANOS 20MARINHA MOTIVA PROFISSIONAIS DA PT 22CURSO DE EMERGÊNCIA EM COMBATE 23A PRESENÇA MILITAR PORTUGUESA EM NÁPOLES 24CADETES DA ESCOLA NAVAL NO RIO COINA 25O ACASO 26HIERARQUIA DA MARINHA 16 / VIGIA DA HISTÓRIA 43 27ACADEMIA DE MARINHA 2850.º ANIVERSÁRIO DO CURSO “NUNO TRISTÃO” / ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO DA 1ª. GUARNIÇÃO DA FRAGATA ALMIRANTE MAGALHÃES CORRÊA (1968-1971) 29NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30LIVROS 31QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 3

Foto 1SAR C Bolinhas

Condecoração do NRP Sagres com a Ordem Militar de Cristo.4

6A reorganização do

Estado-Maior da Armada.

10Exercício Naval “INSTREX 12”.

NRP Corte-Real na Operação ATALANTA.

9

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 463 • ANO XLI MAIO 2012 • MENSAL • € 1,50

INSTREX 12TREINAR PARA GARANTIR O USO DO MAR

Page 4: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

Foto

1MAR

M F

errei

ra

4 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

No dia 12 de março, o Presidente da República e Grão-

-Mestre das Ordens Hono-ríficas Portuguesas confe-riu ao NRP Sagres – e pela primeira vez a uma Unida-de da Marinha Portuguesa – o título de Membro Ho-norário da Ordem Militar de Cristo, numa cerimónia realizada a bordo do na-vio e que contou também com a presença do Minis-tro da Defesa Nacional, do GEN C EMGFA e do ALM CEMA.

Após o início da cerimó-nia, o ALM CEMA usou da palavra, começando por agradecer a presença do Presidente da Repúbli-ca. Referiu também que o legado da Sagres ao servi-ço da Marinha Portuguesa se traduziu no reconheci-mento do navio como um embaixador de Portugal no mar e como uma escola de homens e de marinheiros, que tem contribuído para cimentar os valores e o ta-lento de bem-fazer.

De seguida, o Presiden-te da República dirigiu-se aos presentes, reconhecen-do que o NRP Sagres con-sagrou, ao longo de meio século, os mais proemi-nentes e distintos serviços a Portugal e aos portugueses, constituindo-se num símbolo e numa referência de Portugal

e de todos os portugueses, pelo que considerou de toda a justiça reconhe-cê-lo publicamente com a concessão da

Ordem Militar de Cristo, pelos destacados serviços prestados ao País no âmbi-to da diplomacia.

Após impor a condecora-ção ao Estandarte Nacional do NRP Sagres, o Presiden-te da República dirigiu-se à Câmara de Oficiais, onde deixou um testemunho no Livro de Honra do navio.

À saída do Presidente da República, o navio esten-deu a sua orgulhosa guar-nição pela borda e pelos passadiços, tendo os seus elementos prestado as hon-ras militares devidas sol-tando três “vivas”.

Recorde-se que a Sagres já possuía uma Ordem Hono-rífica Portuguesa: a Ordem do Infante D. Henrique ou-torgada, em 1985, pelo en-tão Presidente da Repúbli-ca, GEN Ramalho Eanes, em reconhecimento pelos relevantes serviços presta-dos na expansão da cultu-ra, da história e dos valores de Portugal. Além dessa or-dem, o navio recebera, em 2007, a Medalha Naval de Vasco da Gama, pelas mãos do então Chefe do Estado--Maior da Armada, ALM Melo Gomes, destinada a galardoar aqueles que se têm distinguido pelos atos

e pelos serviços prestados no mar.

Colaboração do COMANDO DO NRP SAGRES

Condecoração do NRP Sagres com a Ordem Militar de CristoCondecoração do NRP Sagres

com a Ordem Militar de Cristo

Foto

1MAR

M F

errei

ra

Foto

1SAR

FZ

Perei

ra

Page 5: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 5

De acordo com o legado que nos foi transmitido, a ponta de Sagres cons-tituiu sede da mítica Escola edifica-

da pelo Infante D. Henrique, que esteve na génese daquele que identificamos como o período áureo da História de Portugal.

Se a muitos povos o Mar Oceano inicial-mente intimidou, para os insignes marinhei-ros lusos constituiu apenas mais um desafio gizado à medida da sua própria existência e ambição. A bordo dos seus frágeis navios, caracterizados pela purpúrea Cruz de Cris-to nas alvas velas, ou-saram dar novos mun-dos ao mundo. Da sua gesta nos séculos XV e XVI, resultou a afirma-ção de Portugal como primeira potência ma-rítima à escala global.

Cinco séculos mais tarde, o navio-esco-la da Marinha Portu-guesa era, com toda a propriedade, baptiza-do com o nome Sagres, passando, pouco tem-po depois, a ostentar como figura-de-proa o Infante D. Henrique e a exibir nas velas as fa-mosas Cruzes de Cris-to, que se tornaram no seu ex-libris.

O actual navio-escola Sagres foi adquiri-do em 1961, no sentido de dar continuidade ao extraordinário legado do seu antecessor (1924-1961), dele herdando todos os sím-bolos, incluindo o próprio nome. Constru-ído em Hamburgo, na Alemanha, foi lan-çado à água no dia 30 de Outubro de 1937, atingindo em 2012 a provecta idade de 75 anos – número raro mesmo para um navio – depois de anteriormente haver navegado como navio-escola com as bandeiras alemã (1937-1945) e brasileira (1948-1961), com os nomes de Albert Leo Schlageter e Guanabara, respectivamente.

O navio arvorou pela primeira vez a ban-deira portuguesa em 8 de Fevereiro de 1962. Desde esse ano, à excepção de 1987 e 1991 – anos em que foi sujeito a importantes acções de manutenção e modernização –, todos os cursos da Escola Naval tiveram o privilégio de efectuar a sua grande viagem de instru-ção a bordo do NRP Sagres, pondo em prá-tica os seus conhecimentos teóricos (nome-adamente os respeitantes à marinharia e à navegação costeira e astronómica) e estabe-lecendo, dessa forma, a ponte com os ensi-

namentos dos egrégios navegadores portu-gueses de antanho.

Ao serviço de Portugal e da Marinha Por-tuguesa, o NRP Sagres efectuou, até à data, mais de 150 viagens, navegando pelos oce-anos Atlântico, Pacífico e Índico, mares do Norte, das Caraíbas, do Japão, da China, Mediterrâneo, Arábico, Báltico, Vermelho e Amarelo, a que juntou 31 passagens da Li-nha do Equador.

Frequentemente em articulação com a Pre-sidência da República e com o Governo, tem

prestado um importante apoio à participa-ção de Portugal em diversos eventos inter-nacionais como a Expo Mundial em Nova Iorque (1964), o bicentenário da Independên-cia dos Estados Unidos (1976), o bicentená-rio da Estátua da Liberdade (1986), o Festival Cabrilho em S. Diego (1978, 1983 e 1992), as comemorações de Jacques Cartier no Cana-dá (1984), as celebrações do Desembarque da Normandia em Rouen (1989), os 500 anos da descoberta da América (1992), os 450 anos da chegada dos portugueses ao Japão (1993), as comemorações do descobrimento do ca-minho marítimo para a Índia por Vasco da Gama (1998), as comemorações do Descobri-mento do Brasil por Álvares Cabral (2000), a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos em Atenas (2004), o bicentenário da Batalha de Trafalgar (2005), o bicentenário das inde-pendências dos países da América do Sul (2010) ou a Expo de Xangai (2010).

Num mundo em constante mudança, cou-be ao NRP Sagres ser o primeiro navio da Marinha Portuguesa a visitar Goa (1979), depois da anexação daqueles territórios por-tugueses pela Índia em 1961, tendo também sido o único a visitar um porto na antiga

União Soviética: Leninegrado, actua l S. Pe-tersburgo (1975). Foi igualmente o primeiro navio de uma Marinha ocidental a visitar um porto na China, Xangai (1983), depois da re-volução que teve lugar naquele país em 1949.

Em 2012, no dia 8 de Fevereiro, cumpriu--se meio século desde que o actual NRP Sa-gres içou, pela primeira vez, a bandeira por-tuguesa. Com efeito, vai para 50 anos que presta os mais relevantes serviços a Portugal, sendo, com toda a justiça, conhecido como o nosso Embaixador Itinerante. Além da sólida

formação que propor-ciona aos cadetes da Escola Naval – também ela her deira dos prin-cípios cultivados pelo Infante D. Henrique –, o NRP Sagres constitui ainda o pedaço de solo pátrio que enche de or-gulho os nossos imi-grantes, aquando da visita do navio aos seus países de acolhimento.

Com três voltas ao mundo realizadas, 180 portos e 60 países vi-sitados, quase 600 000 milhas navegadas e centenas de milhar de visitantes acolhidos a bordo, o NRP Sagres

é, presentemente, um dos veleiros mais co-nhecidos em todo o mundo, tendo inclusiva-mente acolhido a bordo inúmeros visitantes ilustres, desde presidentes da república, pri-meiros-ministros, reis, príncipes, bem como figuras ímpares da cultura como a fadista Amália Rodrigues, o Captain Alan Villiers, o pintor Roger Chapelet, o jornalista Fernan-do Pessa ou o realizador Manoel de Olivei-ra, que a bordo deixaram o seu testemunho no Livro de Honra do navio.

De forma ímpar e conferindo expressão ao importante legado de nação marítima que nos caracteriza, o NRP Sagres consagrou, ao longo de meio século, os mais proeminentes e dis-tintos serviços a Portugal e aos portugueses, contribuindo, desta forma, para o enalteci-mento da nossa história, para a afirmação da nossa cultura e para a difusão dos nossos va-lores. Constitui, por isso, um símbolo e uma referência de Portugal e de todos os portugue-ses – tanto dos cerca de 10 milhões que habi-tam o território nacional como dos cerca de 5 milhões espalhados pela diáspora.

Proposta de fundamento apresentada pela Marinha em outubro de 2011

Atribuição da Ordem Militar de Cristo ao NRP Sagres

FUNDAMENTO

Atribuição da Ordem Militar de Cristo ao NRP Sagres

Foto

Luí

s Mig

uel C

orrei

a

Page 6: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

6 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A Revista da Armada publicou, em Abril de 2010 e Agosto de 2011, dois artigos sobre a reorganiza-

ção do Estado-Maior da Armada (EMA). Neles foram descritos os trabalhos rea-lizados, a estrutura visada e os prazos estabelecidos, isto é, os aspectos mais visíveis e concretos do plano de reorga-nização. Importa agora perenizar, para memória futura, os objectivos e as linhas de acção que deram corpo à estratégia de reorganização do EMA, operaciona-lizados no plano sintetizado naqueles dois artigos.

A formulação da estratégia e a elabora-ção do plano de reorga-nização do EMA foram tarefas muito exigen-tes e complexas, que se desenvolveram sob responsabilidade direc-ta dos Vice-almirantes Vice-chefes do Estado--Maior da Armada, Tel-les Palhinha, Conde Baguinho e Carvalho Abreu. Nelas partici-param empenhadamen-te os chefes de divisão e os oficiais do EMA, que colaboraram nos estudos e nos debates, bem como nas múlti-plas decisões tomadas. Cumpre realçar, no en-tanto, o papel relevante do CMG Fon-seca Ribeiro na coordenação dos tra-balhos, coadjuvado pelo CFR Fialho de Jesus na persistente busca das melhores soluções técnicas, e na incansável moti-vação e envolvimento de todos os oficiais no processo.

A estratégia de reorganização do EMA estabeleceu quatro tipos de objectivos a alcançar:

a) Clarificar as funções do EMA;b) Melhorar os fluxos de informação;c) Alinhar os factores de motivação;d) Adequar as estruturas.Em qualquer trabalho de reorganiza-

ção é muito comum privilegiarem-se as alterações estruturais, porque estas pro-vocam mudanças visíveis e concretas no imediato. Todavia, com as alterações es-truturais, na maior parte dos casos ape-nas se obtêm ganhos circunstanciais de eficiência, resultantes do tratamento dos sintomas das disfunções dos órgãos e não das suas causas. Por isso, pouco tempo depois voltam a ganhar evidência as de-ficiências de desempenho que estiverem na origem dessas alterações.

Assim acontece, porque as alterações estruturais, embora indispensáveis em toda a reorganização, são apenas um ele-mento e não o fundamento da mudança organizacional. Com efeito, organizar para o desempenho das funções básicas de gestão estratégica, alargar o âmbito do controlo de nível estratégico, ou flexibi-lizar a interacção interna e externa infor-mal, são medidas estruturais que lidam com os sintomas visíveis do desempenho deficiente, sem o corrigirem de forma consistente. Para isso, toda a reorganiza-ção deve, igualmente, solucionar os pro-blemas ligados à definição das funções

do órgão, à circulação da informação e à responsabilização e reconhecimento do trabalho realizado.

De posse deste entendimento, e com base na missão do EMA como órgão de estudo, concepção e planeamento das ac-tividades da Marinha, para apoio à tomada de decisão do Almirante Chefe do Estado--Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional (ALM CEMA/AMN), nos termos dispostos no artigo 11º, n.os 1 e 2 da LO-MAR, desenhou-se a estratégia de reorga-nização, tendo presente os quatro objec-tivos antes enunciados, relativamente aos quais se desenvolveram as linhas de acção a seguir discriminadas.a) Clarificar as funções do EMA

– Focalizar o EMA no planeamento e preparação do futuro da Marinha;

– Aperfeiçoar a intervenção do EMA no apoio à tomada de decisão do ALM CEMA/AMN;

– Privilegiar o tratamento das questões estratégicas;

– Manter uma permanente actualiza-ção e difusão da política naval e da doutrina naval;

– Conceber e pôr em prática os proce-dimentos de gestão estratégica;

– Fomentar uma cultura de diálogo e de propósito comum, com um relacio-namento aberto e transparente com todos os sectores e o exterior.

b) Melhorar os fluxos de informação– Maximizar as potencialidades das

tecnologias da informação;– Definir os parâmetros qualitativos da

informação produzida;– Clarificar os níveis de disponibiliza-

ção da informação, compatíveis com os cargos, as funções e as tarefas a desempenhar;

– Comunicar, de for-ma célere, apelativa e clara, a informa-ção necessária aos interessados;

– Estabelecer as orien-tações e os propósi-tos para a produção de informação;

– Criar um arquivo central vivo.

c) Alinhar os factores de motivação– Promover uma me-

lhor compreensão das razões subja-centes ao empenho do tempo, do talen-to e da energia dos oficiais;

– Incrementar as oportunidades de apren-dizagem;

– Aumentar e clarificar as responsabi-lidades;

– Ponderar as necessidades e as expec-tativas dos oficiais, compatibilizando as vidas profissional e familiar;

– Reconhecer o mérito em função dos desempenhos;

– Instituir os cerimoniais de apresenta-ção, destacamento e imposição públi-ca e regular dos prémios e das recom-pensas por serviços prestados no EMA.

d) Adequar as estruturas– Organizar as divisões para o desem-

penho das funções básicas da gestão estratégica;

– Alargar o âmbito do controlo de ní-vel estratégico;

– Flexibilizar a interacção interna e ex-terna informal.

Não sendo, naturalmente, estanques entre si os quatro tipos de objectivos atrás identificados, da sua inter-relação resul-taram outras tantas linhas de acção, se-guidamente descritas.

A reorganização do Estado-Maior da Armada

A reorganização do Estado-Maior da Armada

Page 7: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 7

a) Relação entre a clarificação das fun-ções do EMA e a melhoria dos fluxos de informação– Agregar todas as funções de natureza

similar na mesma divisão, ampliando a dimensão relacional da informação;

– Definir os responsáveis pelos proces-sos internos de cada área técnica das divisões, incumbindo-os de coorde-nar as actividades e a respectiva in-formação;

– Adoptar procedimentos claros e ri-gorosos de difusão da informação relativa à execução, ao controlo e à revisão perió dica de processos, ob-jectivos e metas, tendo em vista eli-minar o supérfluo e reforçar o que for estratégico;

– Incentivar as reuniões de coordena-ção internas e interdepartamentais, como forma de disseminação e de nivelamento da informação pelos vá-rios escalões;

– Usar a informação para suportar o pro-cesso de melhoria contínua, procuran-do constituir uma referência institu-cional.

b) Relação entre a cla-rificação das fun-ções do EMA e o al inhamento dos factores de moti-vação– Seleccionar oficiais

com as capacida-des adequadas ao estudo, concepção e planeamento dos meios, da organiza-ção e das actividades;

– Incorporar, nas funções dos oficiais, a frequência de acções de forma-ção tendentes a conferir-lhes valên-cias e conhecimentos acrescidos, no quadro de um processo contínuo de aprendizagem;

– Difundir e cultivar os princípios éti-cos e deontológicos do rigor, da im-parcialidade, da eficiência, da ética e da inovação, que devem pautar a conduta de quem serve no EMA;

– Conferir acrescidas responsabilida-des aos oficiais, nos processos de apoio à tomada de decisão do ALM CEMA/AMN;

– Adequar as instalações e as condi-ções de trabalho às exigências das funções.

c) Relação entre a melhoria dos fluxos de informação e do alinhamento dos factores de motivação– Desenvolver as dinâmicas próprias

das equipas multifuncionais coesas, constituídas por pessoal de diferentes divisões do EMA e, quando necessá-rio, de outros sectores, apoiadas na

utilização e no inter-relacionamento da informação sectorial;

– Estimular a criatividade e o trabalho em equipa dos oficiais, na elabora-ção de estudos e planos, de médio e longo prazos, relevantes para o futuro da Marinha, apoiados no tratamento da informação institucional.

e) Relação entre a melhoria dos fluxos de informação e a adequação das es-truturas– Valorizar a posição dos oficiais nos

seus cargos, disponibilizando a infor-mação adequada para lhes aumentar a capacidade de decisão;

– Aproveitar as competências técnicas específicas e outros activos intangíveis associados à informação e ao conhe-cimento dos oficiais, como contributo para os processos a cargo das divisões do EMA, independentemente da colo-cação do oficial na estrutura orgânica;

– Promover a modernização, a inova-ção e a melhoria das prática de gestão e de recurso às tecnologias de infor-mação, tendo em vista incrementar permanentemente a eficiência estru-tural da organizacão;

– Criar novos canais de partilha da in-formação, promovendo a credibilida-de interna e externa do EMA.

Tendo definido os quatro tipos de ob-jectivos da estratégia de reorganização do EMA e as correspondentes linhas de acção, foi depois elaborado, com asses-soria externa, o plano de reorganização sintetizado nos dois artigos publicados na Revista da Armada e acima mencionados. Os detalhes desse plano foram reitera-damente discutidos por todos os oficiais do EMA, de forma a serem submetidos à aprovação do ALM CEMA/AMN, de-pois de ouvido o Conselho do Almiran-tado. Entre Janeiro de 2009 e Dezembro de 2011, o EMA esteve convictamente empenhado na boa execução desse pla-no que, além de ter proporcionado uma redução de 21% dos efectivos, permitiu, através de uma redefinição funcional dos

cargos, passar a dedicar mais atenção às actividades de estudo, concepção e pla-neamento, há muito definidas na sua mis-são, mas frequentemente preteridas em benefício das tarefas de gestão corrente na área da administração dos recursos. Para além disso, o reforço da cultura de trabalho em equipa permitiu eliminar al-gumas das sobreposições residuais de tarefas que ainda existiam e, consequen-temente, facultar um desempenho mais eficiente e eficaz do EMA como um todo.

Esta reforma gerou, no entanto, alguns desafios que importa ter presente. Em primeiro lugar e como estava previsto, tornou mais exigente a selecção e a pre-paração dos oficiais para servir no EMA, nomeadamente ao nível das suas ca-pacidades de estudo, concepção e pla-neamento. Em segundo lugar, é ainda necessário desenvolver um esforço su-plementar para uma clara definição do

conteúdo funcional da actividade de coorde-nação das áreas de tra-balho, bem como das responsabilidades por determinados proces-sos técnicos.

Esta reorganização, feita com a determina-ção que todas as gran-des reformas exigem, trouxe ao EMA uma dinâmica acrescida, cujos resultados só se-rão plenamente men-suráveis a médio e lon-go prazos. Contudo, passado que foi o pe-ríodo probatório, pode afirmar-se com alguma

segurança que o EMA se encontra agora melhor preparado para responder, com acrescido rigor e superior exigência, aos desafios com que a Marinha se depara no quadro da definição da política naval e da doutrina naval, bem como da formulação e operacionalização do planeamento es-tratégico, que são as principais tarefas de todo o estado-maior deste nível.

Como nota final importa realçar que a estratégia de reorganização do EMA e o plano dela decorrente, incentivaram o desenvolvimento de uma nova cultura organizacional e de um reforçado em-penhamento dos oficiais. Foi um desafio complexo, cujo sucesso está intimamen-te ligado ao comprometimento do ALM CEMA/AMN e do Conselho do Almiranta-do, à criação de uma equipa de trabalho interdisciplinar que dinamizou a transfor-mação, ao estabelecimento de um plano de comunicação interna, que motivou e esclareceu, e ao envolvimento de todos os oficiais no processo de mudança.

António Silva RibeiroCALM

Page 8: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

8 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A História nos Estudos Estratégicos MilitaresOs estudos estratégicos militares desti-

nam-se a analisar e explicar o agre-gado do conhecimento e da conjec-

tura humana sobre as relações internacionais de conflito, de oposição e de competição que recorrem ao uso das Forças Armadas, bem como a evolução das motivações va-lorizadas, dos meios empregues e dos pro-cessos adoptados naquelas disputas. Desses estudos devem resultar teorias, com validade e aceitação contextualizada, que se destinam a estabelecer um conjunto ou sistema lógico de conceitos e mé-todos, sustentáveis e plausíveis, desti-nados a edificar, estruturar e empregar as capacidades militares. Essas teorias também devem reflectir a dinâmica in-teractiva entre as disputas militares e as sociedades onde têm lugar.

O saber necessário à realização dos estudos estratégicos militares tem duas componentes primaciais: uma teórica, adquirida pela formação académica e pela instrução; outra prática, obtida pela participação directa e indirecta nas acções militares. A primeira com-ponente (teórica) é insuficiente, por si só, para as necessidades dos estudos estratégicos militares, por estar estru-turada sobre o conteúdo das matérias leccionadas e dos processos de treino e exercício, ambos muito condiciona-dos pela conjuntura e grandemente influenciados pela tecnologia. A se-gunda componente (prática) oferece um campo de análise extraordinaria-mente mais vasto e variado, de maior alcance e assente em factos reais. Por isso, incrementa largamente a infor-mação necessária aos estudos estra-tégicos militares. Com efeito, à experiência directa vivida por cada um, acrescenta todas as vivências indirectas das acções militares que foram objecto de perenização histórica. Nestas circunstâncias, como o estrategista militar, ao contrário da maioria dos profis-sionais de outros ofícios, não tem possibi-lidade de vivenciar, com regularidade e de forma directa, toda a gama das acções do seu ofício, deve dar muita atenção e valor à História, da qual retira a experiência in-directa necessária à realização dos estudos estratégicos militares.

Para que estes estudos tenham validade científica, o estrategista militar deve estar aten-to, sobretudo, ao poder mítico de certas ver-sões dos factos históricos, de forma a explorar conscientemente a informação histórica que não é narrativa mitológica.

O poder mítico de certas versões dos factos históricos deve ser considerado, porque exis-tem muitas reconstruções deliberadas das dis-putas militares, tendo em vista produzir efeitos motivacionais ou identitários nas pessoas. São exemplos disso os relatos em que, numa ba-talha, todos se comportaram com bravura, os planos de campanha foram seguidos à risca, as intenções do comandante tiveram cumpri-mento intencional e racional, ninguém teve

medo e os que morreram patentearam sempre uma extraordinária coragem.

Estas versões míticas dos factos históricos são deliberadamente propagandeadas em várias ocasiões e círculos sociais, porque fomentam o espírito de corpo, motivam as novas gerações e alimentam a alma nacional. Porém, também po-dem contribuir para abalar a auto-estima dos jo-vens, quando estes, ao serem confrontados com a realidade da guerra, têm de lidar, de forma inevitável, duradoura e intensa, com o medo, o egoísmo e a covardia. Para além disso, as nar-rativas mitológicas dos factos históricos, tendem a tornar-se a versão oficial dos acontecimentos, encobrindo a realidade caótica, aterrorizante e letal da guerra. Isto acontece, porque alguns au-tores tomam as fábulas pelos factos e deslocam--nas da sua função motivacional ou identitária, para as edificar em História.

A exploração da informação histórica que não é narrativa mitológica tem grande utili-dade nos estudos estratégicos militares, por-que constitui a base da percepção do estra-tegista militar sobre o presente, e serve para instruir a sua reflexão quanto ao futuro das Forças Armadas ao serviço do país. Por isso, considero essencial usar a História, quer para a formação académica e instrução dos mi-litares, quer para explorar a informação re-

sultante da participação indirecta nas acções militares.

A História é indispensável à formação académica e à instrução dos militares, porque além de encerrar o conheci-mento da sociedade e da vida humana, é um campo privilegiado onde se pode exercitar o raciocínio que as disputas militares exigem. Nestas circunstân-cias, o estrategista militar deve encon-trar tempo para estudar a História, e esta deve ser incluída nos currículos acadé-micos de base de todos os militares.

A História, quando considerada com a abrangência, profundidade e contex-tualização, também é relevante para explorar a informação resultante da participação indirecta nas acções mi-litares, porque estes fenómenos pole-mológicos têm muito mais em comum entre si, do que com qualquer outra actividade humana. Na realidade, a disputa, que é o elemento central das relações internacionais de conflito, de oposição e de competição militar, não mudou nas suas características essen-ciais ao longo do tempo, naquilo que se relaciona com os empreendimen-tos e os raciocínios polemológicos. Por isso, faz todo o sentido que os estrate-

gistas militares estudem os fenómenos po-lemológicos passados, para deles retirarem a experiência indirecta e, com inovação in-telectual, poderem especular sobre o futuro daquelas relações estratégicas.

É um facto que a História tem grande utili-dade para a realização de estudos estratégicos militares. Porém, o estrategista militar deve ter em conta que ela não serve para deduzir lições prontas ou receitas destinadas a resolver pro-blemas estratégicos concretos e actuais. Ape-nas ilumina o entendimento da realidade, as circunstâncias e os relacionamentos ligados às disputas militares.

António Silva RibeiroCALM

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

A História nos Estudos Estratégicos Militares

REFLEXÃO ESTRATÉGICA 2

Page 9: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 9

No âmbito dos seus compromissos in-ternacionais com a União Europeia, Portugal enviou a Fragata Corte-Real

para integrar a força naval da UE (EUNA-VFOR) na Operação Atalanta.

A Operação Atalanta tem como principal propósito assegurar a proteção dos navios do World Food Program (WFP) que trans-portam ajuda alimentar ao povo Somali, fornecer apoio logístico à Afri-can Union Mission in Somalia (AMISOM) e contribuir para o esforço militar na prevenção e repressão de atos de pirataria e de assalto à mão armada no mar.

Após uma intensa fase de aprontamento, que contou com a colaboração dos vários orga-nismos e entidades da Marinha Portuguesa, o NRP Corte-Real largou da Base Naval de Lisboa no dia 12 de março. Esse dia fi-cou marcado pela visita a bordo do o Presidente da República, Professor Dr. Aníbal Cavaco Sil-va, que se despediu da guarni-ção, fazendo votos de sucesso para a missão.

Ao dar volta à faina, deu-se então início ao trânsito para a área de operações. A primeira semana de mar serviu para toda a guarnição retomar o ritmo operacional exigido a um navio que integra uma força naval em operações. Tratou-se de um pe-ríodo repleto de exercícios des-tinados a reforçar a organização de bordo para o combate à pi-rataria. Foram efetuados treinos de tiro, de abordagem com as equipas do Pelotão de Aborda-gem do Corpo de Fuzileiros, de proteção próxima, de limitação de avarias e de operações de voo com o helicóptero orgâni-co, Fénix. Este primeiro perío-do no mar permitiu melhorar os padrões de prontidão do navio, garantindo a prontidão de toda guarnição para desempenhar a sua missão.

Na manhã do dia 18 de março, a Corte--Real atracou na Base Naval de Souda Bay, na ilha grega de Creta. Esta primeira escala teve como objetivo primordial reabastecer o navio e permitir às equipas de abordagem e vistoria do navio receber formação espe-cífica no NATO Maritime Interdition Ope-rational Training Centre, aumentando a sua proficiência no desempenho das suas fun-ções num diversificado leque de cenários táticos. No dia 20 de março, o navio lar-gou de Souda Bay, com rumo traçado para

a área de operações, apenas com o Suez e o Mar Vermelho a separar-nos do Golfo de Áden. Inserida num longo comboio de na-vios, a fragata iniciou o trânsito no canal do Suez no dia 21 de março. Com uma exten-são de 163 quilómetros, este canal permite que a navegação transite entre o Mar Medi-terrâneo e o Mar Vermelho, evitando con-tornar o continente africano pelo cabo da

Boa Esperança. Anualmente é atravessado por cerca de 15.000 navios, representando 14% do transporte mundial de mercadorias. De 25 para 26 de março, a Corte-Real che-gou ao estreito de Bab Al Mandeb, que se-para o Mar Vermelho do Golfo de Áden, tendo integrado, oficialmente, a EUNA-VFOR na Operação Atalanta. Esta força naval era então composta por seis navios das marinhas de Portugal, Espanha, França e Alemanha e comandada pelo Contra-Al-mirante da Marinha espanhola Jorge Man-

so, embarcado no navio espanhol “Patino”. Na manhã do dia 26, o navio efetuou a

primeira operação de reabastecimento no mar com o reabastecedor da Marinha Ame-ricana “USNS Pecos”. Trata-se duma opera-ção em que um navio reabastece outro de combustível, água potável, sobressalentes e alimentos, permitindo aumentar o tempo de permanência de uma unidade naval no mar.

Nos dois dias que se seguiram, a Corte-Real, efetuou pela pri-meira vez patrulha no Golfo de Áden. Esta é uma área do globo conhecida atualmente pelos atos de pirataria vindos da costa da Somália, um estado fragmentado e em guerra civil. No entanto, o Golfo de Áden trata-se da única linha de comunicação marítima entre o oceano Índico e o Mar Vermelho, essencial para ligar o Ocidente ao Oriente. Para ga-rantir a segurança dos 80 navios que diariamente atravessam esta zona do globo, foi definido in-ternacionalmente um corredor de trânsito recomendado para a navegação mercante, o IRTC (Internationally Recommended Transit Corridor).

Recorrendo aos seus senso-res e ao helicóptero “Fénix”, a Corte-Real contribuiu, conjunta-mente com outras unidades na-vais, para a manutenção de uma vigilância atenta e permanente nesse corredor que se estende ao longo de mais 500 milhas náuticas. Durante a patrulha, a fragata efetuou também ações de sensibilização dedicadas à navegação mercante, relativas às ameaças a que está sujeita nesta zona do globo, alertando-a para diversas medidas que pode implementar para incrementar a sua própria segurança.

Na manhã de 28 de março, o navio português atracou no Djibuti, porto obrigatório para todos os navios que operam no Oceano Índico, devido à sua

posição estratégica, à saída do Mar Verme-lho. É, aliás, no Djibuti que está instalada a Atalanta Support Area, uma base avan-çada da União Europeia que facilita a sus-tentação logística da EUNAVFOR na área de operações.

No dia 30 de março, a Corte-Real largou do Djibuti iniciando mais um período des-tinado a proteger a navegação mercante e a combater a pirataria no Oceano Índico.

Colaboração do COMANDO DO NRP CORTE-REAL

NRP CORTE-REAL NA OPERAÇÃO ATALANTANRP CORTE-REAL NA OPERAÇÃO ATALANTA1ª PARTE

Page 10: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

10 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A Marinha realizou entre 14 e 23 de mar-ço o exercício “INSTREX 12” (ITX12) composto por uma fase de treino no

porto, que decorreu entre os dias 14 e 16, e por uma fase de treino no mar, realizada na costa Oeste de Portugal Continental, entre 18 e 23. No período de 12 a 16 de Março decor-reram operações de reconhecimento ambien-tal expeditas (rapid environment assessment) conduzidas pelo Instituto Hidro-gráfico e executadas pela lancha hidrográfica NRP Auriga.

O ITX12 é um exercício para preparação das forças atribuídas ao Comando Naval e decorreu de forma seriada. Este exercício teve como finalidade exercitar as capacidades da força naval portu-guesa e estado-maior embarcado em operações navais, com ênfase na condução de operações de se-gurança marítima (MSO1). O seu objetivo geral foi proporcionar treino às unidades participantes por forma a manter e melhorar os padrões de prontidão operacio-nal estabelecidos, habilitando-as para o cumprimento das missões específicas e sua integração em forças navais

Na sua edição deste ano, pro-vou ser, mais uma vez, uma ex-celente oportunidade de treino e validação de capacidades em ambiente marítimo para todas as unidades participantes. A missão foi cumprida com sucesso, tendo o desempenho conjunto de todos sido pautado pelos valores funda-mentais do profissionalismo e da segurança.

Conduzido pelo VALM Montei-ro Montenegro (CTF 443), Coman-dante Naval, embarcado a bordo do NRP Vasco da Gama entre 22 e 23 de Março, o exercício contou com a participação de dez2 navios de superfície, dois submarinos3 (um português e um espanhol), dois tipos diferentes de aeronaves da Força Aérea Portuguesa (P3C--CUP+ e F16 MLU), uma equipa de mergulhadores (CDT4), militares do Desta-camento de Ações Especiais (SOF5), uma ro-busta força de Desembarque (LF6) composta por cerca de 200 militares do Corpo de Fuzi-leiros, a rede de comando e controlo do Co-mando Naval, onde se inserem o Centro de Operações Marítimas (COMAR) e o Centro de Comunicações de Dados e de Cifra da Mari-nha (CCDM), e também o comando e estado--maior do grupo de tarefa naval, envolvendo um total de cerca de 1200 militares.

Na fase de treino no porto, além das séries táticas que decorreram a bordo das unidades

navais envolvidas, foram realizadas séries de treino de embarque e desembarque da força anfíbia, séries de navegação tática no simula-dor de navegação (SIMNAV) do Centro Inte-grado de Treino e Avaliação Naval (CITAN) e Escola Naval (EN) e treino de reabastecimento no mar (RAS7), que contou com as facilidades do Departamento de Formação Geral (DFG) da Escola de Tecnologias Navais (ETNA).

Na fase de mar, o programa seriado permi-tiu abranger um leque alargado de perícias, contemplando séries de luta de superfície, de defesa aérea e com especial enfoque na luta antissubmarina, rentabilizando a presença dos dois submarinos. Foram também realiza-dos vários reabastecimentos no mar, séries de embarque e desembarque da componente an-fíbia da força (LF8), séries de proteção de força e uma série de operações contra a pirataria, esta com o objetivo de dar treino às unidades navais para as missões de combate à pirataria e o empenhamento dum Destacamento Autó-

nomo de Proteção a Navios (AVPD9) embar-cado no NRP Bérrio. Este destacamento, para efeitos de exercício simulou estar embarcado num navio mercante, e teve como tarefa pri-mordial a sua segurança, impedindo e dissua-dindo os ataques de piratas ao respetivo navio.

No âmbito da validação de emprego de armas e sensores foi efetuada, no dia 20 de Março, uma série de disparo de torpedos pe-

los NRP Vasco da Gama e NRP Bartolomeu Dias, com a colabo-ração do submarino Arpão e do NRP D. Carlos I.

No último dia (23 de março), foi executada uma série de multia-meaça especialmente vocaciona-da para a conclusão do plano de treino básico (PTB) da fragata NRP Álvares Cabral, que integrando-se na força naval, assumiu o coman-do táctico e conduziu as acções de defesa às ameaças submarinas, de superfície e aéreas, materia-lizadas pelos submarinos, pelas lanchas rápidas e pelos caças F16 da Força Aérea.

Em apoio e em complemento aos programas de ensino e for-mação da Marinha, decorreram, em simultâneo, a viagem de ins-trução dos cadetes do 4º ano da Escola Naval, vocacionada para as operações navais, o embarque dos oficias dos Cursos de Aperfei-çoamento em Tática e Operações Navais, que são parte do programa de especialização de oficiais em operações, a participação dos As-pirantes do 5.º ano da Escola Na-val, em estágio de embarque nas diversas unidades de superfície e a conclusão do Curso de Aperfei-çoamento em Equipa de Convés de Voo (qualificação de uma ECV do NRP Vasco da Gama).

No dia 22 de março, realizou-se um conjunto de séries cuja com-plexidade e sequência tiveram por objetivos, por um lado, aprofun-dar o desenvolvimento das perí-cias marinheiras e operacionais dos navios e da força, e por outro,

demonstrar as capacidades da Marinha à Co-missão de Defesa Nacional da Assembleia da República (CDNAR), e complementarmen-te, ao Curso de Auditores de Defesa Nacional, do Instituto de Defesa Nacional (IDN) e aos oficiais do Curso de Estado-Maior Conjunto, do Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), estes embarcados respetivamente na fragata NRP Bartolomeu Dias e no reabaste-cedor NRP Bérrio.

Assim, com a presença a bordo do NRP Vasco da Gama do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante Saldanha Lopes

Exercício Naval “INSTREX 12”Exercício Naval “INSTREX 12”

Foto

1SA

R C

Bol

inha

s

Page 11: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 11

e da CDNAR, presidida pelo Dr. José Matos Correia, foram executadas séries de demons-tração de capacidades operacionais da força--naval: proteção de força contra ameaça assi-métrica, reabastecimento no mar, exercício de homem ao mar com recolha por helicóptero, demonstração de capacidades do NRP Arpão, interação entre a força naval e a aeronave de patrulha marítima da Força Aérea Portuguesa P3C-CUP+ e a inserção por helicóptero de uma equipa do destacamento de ações espe-ciais a bordo de um navio suspeito, simulado pelo NRP D. Carlos I.

Durante o ITX12, o grupo de tarefa naval, comandado pelo CMG Novo Palma (CTG 443.20), embarcado com o respetivo Esta-do-Maior a bordo do NRP Vasco da Gama, além dos objetivos an-teriormente descritos, deu ênfa-se à exploração de ferramentas e validação de procedimentos que contribuem para o conhecimento situacional do espaço de envol-vimento marítimo, bem como à consolidação de procedimentos de comando e controlo e execu-ção de operações de embargo no âmbito das MSO.

A força de desembarque pla-neou e executou uma operação que teve como principal missão, reprimir atividades em terra de apoio a ações de pirataria, assegu-rando um ambiente de segurança que permitisse a liberdade de mo-vimentos e a possível extração do pessoal. A magnificência do cená-rio criado permitiu conjuntamen-te e em estreita coordenação com os meios navais, praticar ações de natureza anfíbia que há muito não eram treinados, tais como, o re-embarque tático sob pressão em costa aberta, incursões anfíbias e proteção de navios.

No dia 23 de março, no decur-so do exercício de multi ameaça, o Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco e o Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Dr. Paulo Braga Lino, acompanhados pelo Almirante CEMA, embarcaram no NRP Vasco da Gama . Após uma breve apresentação pelo CTG 443.20, foi mostrada a organização e o desempenho do navio em postos de comba-te, com ênfase nos desafios colocados pela coordenação da batalha externa e da bata-lha interna, passando por todos os centros de comando e controlo (Centro de Operações, MCR10 e Ponte), e observando as valências nas áreas da Limitação de Avarias (combate a um incidente interno, em regra incêndio ou alagamento), da medicina operacional (com visita às enfermarias de combate e principal) e na área da logística de combate, em primeiro grau de prontidão para combate (com visita à

cozinha e refeitório onde decorriam os prepa-rativos para ACTION MESSING11).

Uma vez mais, a Marinha assinalou a im-portância que o treino assume na obtenção de elevados padrões de segurança e eficácia na condução das operações navais, garantindo desta forma as adequadas e exigidas pronti-dão e capacidade de resposta em caso de ne-cessidade de empenhamento.

Importa sublinhar a relevância que este exercício teve para a generalidade das uni-dades e guarnições envolvidas, em especial para as que estão mais vocacionados para

operar em ambiente de força tarefa naval, na manutenção dos padrões de prontidão opera-cional, mitigando as consequências negativas para as operações que decorrem da redução de oportunidades de operação. Na verdade, a manutenção de elevados padrões de pron-tidão naval constitui, face à conjuntura atual, um relevante desafio para as Marinhas, desig-nadamente para a Marinha Portuguesa.

Sendo o treino fator indiscutível na edifi-cação da capacidade12, esta por sua vez fator sem o qual não se materializa o poder naval, a prontidão naval acaba por ser a cristalização

dinâmica do produto final de todos os proces-sos que preparam uma unidade ou força naval para a sua ação no domínio das tarefas espe-cíficas que lhe são atribuídas.

A gestão da prontidão naval é um processo extremamente complexo para ser aqui conve-nientemente endereçado, no entanto ressalva--se a sua enorme variabilidade. São inúmeros os fatores passíveis de interferir na prontidão de determinada unidade naval. De entre os mais conhecidos está a dinâmica teórica do DOTMPLFI, no qual o Treino e a Formação assumem especial relevo.

Para o poder político, o atributo “prontidão” de cada unidade e for-ça naval é, sinteticamente, o fator de medida mais tangível de toda a Marinha. Mais do que números e estatísticas, a crua capacidade de destacar em missão, de forma cé-lere, uma ou mais unidades, ou até uma força naval, completamente guarnecidas de material e pessoa l, cujo treino (otimizado em terra, mas acima de tudo no mar), cuja operação é capaz de ultrapassar os limites da eficácia, atingindo uma plena eficiência, isso sim, re-presenta a verdadeira medida de análise política, no que às ques-tões de emprego operacional mi-litar diz respeito. Muito oportuna-mente, o exercício INSTREX 2012 enriqueceu a perceção política nesta matéria, ao ter embarcado a Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da República e o Mi-nistro da Defesa Nacional.

Ao nível da Marinha, este exer-cício permitiu validar a flexibili-dade dos seus meios e pessoal, empregues em variados cenários e missões, assim como a formação, o treino e toda a cadeia logística, contribuindo simultaneamente para elevação dos níveis de mo-tivação e confiança dos militares envolvidos.

Colaboração do CTG 443.20

Notas1 Maritime Security Operations.2 NRP Vasco da Gama, NRP Bartolo-

meu Dias, NRP Bérrio, NRP Baptista de Andrade, NRP Afonso Cerqueira, NRP D. Carlos I, NRP Bacamarte, NRP Aurig a,

NRP Orion e NRP Sagitário.3 NRP Arpão e ESPS Tramontana.4 Combat Diving Team.5 Special Operations Forces.6 Landing Forces.7 Replenishment at Sea.8 Landing Force9 Autonomous Vessel Protection Detachment10 Machinery Control Room11 Refeição quente servida a toda a guarnição, em

grupos sequenciais de um quarto de cada vez, num curto espaço de tempo.

12 São elementos essenciais na edificação da capa-cidade a doutrina (D), a organização (O), o treino (T), o pessoal (P), o material, (M), a liderança (L) e as in-fraestruturas e os serviços (F).

Foto

s 1S

AR

C B

olin

has

Page 12: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

12 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A NATO surge em 1949, tendo por base o Tratado do Atlântico Norte, assina-do em Washington DC a 4 de Abril

desse ano. Desde esse já longínquo ano até hoje, a NATO tem vindo a evoluir a par com o cenário geopolítico mundial, por forma a “be effective in a changing world, against new threats, with new capabilities and new partners” 1.

Muita coisa mudou des-de a célebre frase do seu primeiro Secretário-Geral, de que a missão da NATO seria “to keep the Russians out, the Americans in, and the Germans down”2.

Hoje a NATO integra 28 Estados, e conta com mais 22 Partners-for-Pea-ce 3. Na Cimeira de 2010, que decorreu em Lisboa, os Chefes de Estado e de Governo concordaram e assinaram o novo Con-ceito Estratégico (CE) da Aliança Atlântica (Sétimo CE na história desta Orga-nização). Dito da forma mais abreviada possível, as grandes alterações desde o primeiro CE passam pelo aumento do número de Estados--membros de 12 para 28, pela substituição de uma “major threat” por várias ameaças, pelo facto de, e ao contrário dos primeiros 4, o Conceito Estratégico da NATO ter agora a classificação de seguran-ça “unclassified”, e por úl-timo, pelo facto da Aliança assumir um carácter mui-to mais político e menos militar. A NATO será hoje, mais do que nunca, uma aliança política, com ca-pacidade militar.

O Mundo estará em 2012 mais perigoso do que em 1949, onde o “ini-migo” estava identificado e a ameaça só acontecia em consequência de ce-nários de guerra. Hoje, na era da globalização, para além dos cenários de conflito militar, e da ameaça nuclear, a ameaça existe no cen-tro das grandes metrópoles, nas estâncias de férias, ou em qualquer lugar do planeta. A título de exemplo de uma nova ameaça, refira-se o cyber attack, que poderá só por si cortar comunicações, paralisar um país, fazer encerrar o espaço aéreo mundial, ou provocar danos incalculáveis na economia global. Com a agravante que neste tipo de ataque, poderá nem nos ser possível detec-tar a sua origem.

Hoje em dia há civis a viver no local onde decorrem combates e operações militares, e na esmagadora maioria dos casos, os mili-tares que aí se encontram a operar não são sequer nacionais desses países. Há igual-mente inúmeras organizações civis não--governamentais no terreno, e os media não só estão presentes como conseguem

uma cobertura H24 dos acontecimentos. O tempo dos combates navais, combates aé-reos, combates na selva, no deserto ou nas montanhas acabou. O centro de gravidade, mais que o poder bélico do inimigo, passou a ser a percepção que as populações civis

têm dos militares NATO que “invadem” os seus países. Para além disso, a opinião pública mundial que influenciará sempre qualquer decisão política, construirá a sua opinião com base na informação recebida via televisão. Uma imagem na CNN pode manchar irreversivelmente uma campanha de enorme sucesso.

Para a NATO também se tornou muito mais difícil prever e determinar onde vai ocorrer o próximo conflito, ou de onde

virá a próxima ameaça. Ao invés do “Les-te”, agora poderá ser necessário intervir na Costa da Somália, na Líbia, no Afeganistão, no Adriático, ou em qualquer outro ponto dos Polos ao Equador, muito para lá das tra-dicionais fronteiras da Aliança. Utilizando o típico exemplo do Jogo de Xadrez, diría-mos que os grandes mestres mundiais, num

tabuleiro com 64 casas e 16 pedras de que conhe-cem os movimentos, não conseguirão antecipar mais do que 3 ou 4 lan-ces. Transfira-se agora este exemplo para um cenário de dimensão mundial.

A NATO é também, ainda hoje, a única or-ganização mundial que opera a nível global, sem um verdadeiro plano de marketing por trás. As po-pulações dos Estados em que a NATO se encontra a operar irão construir a sua imagem da NATO ten-do unicamente por base a sua percepção indivi-dual, a atitude e o com-

portamento dos militares, enquanto indiví-duos e enquanto grupo, enquanto pessoas e enquanto soldados. Mais do que nunca estará actualizada a frase do estratega Sun Tzu4, “For to win one hundred victories in one hundred battles is not the acme of skill.

To subdue the enemy wi-thout fighting is the acme of skill”.

A NATO tem também vindo a sentir a crescente necessidade de ser, como organização, mais céle-re a tomar decisões. A NATO toma as suas deci-sões, não por maioria, não por unanimidade, mas por consenso. É evidente que se doravante a NATO de-cidisse por maioria e não por consenso, o proces-so de tomada de decisão seria muito mais rápido, mas isso não implicaria uma decisão mais acerta-

da, e o processo em si fugiria por absoluto ao espírito e génese desta Organização. O que é um facto é que em 1999 a NATO le-vou 6 meses para decidir a sua intervenção no Kosovo, e em 2011 uma semana bastou para decidir intervir na Líbia.

O dinheiro que cada Estado-membro es-tará disposto a investir na sua defesa indi-vidual e colectiva passou também a ser de importância capital. Cada vez mais a opi-nião pública condiciona as decisões políti-

A NATO NO ANO 2012A NATO NO ANO 2012

O Secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, abre a Reunião sobre o Afega-nistão durante a Conferência da NATO em Lisboa (NOV2010). À sua direita, o Presi-dente Afegão Hamid Karzai.

Organograma NATO.

Page 13: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 13

cas. Por regra as Nações NATO estabelecem objectivos bastante ambiciosos no que res-peita ao produto final a atingir pela Aliança, mas a tomada de contacto com os custos que tal representa faz com que muitas das metas traçadas não passem de projectos. Apesar disso a NATO tem vindo a aumen-tar o número de operações que realiza, bem como o número de militares envolvidos. No ano de 1993 a NATO não tinha milita-res sob a sua bandeira para lá dos limites territoriais dos Estados que a compõem. No final de 2011 a NATO tinha 145.000 milita-res envolvidos em operações em territórios alheios à Aliança. Acrescente-se a este facto um aspecto curioso, em 1993 a NATO dis-punha de 32 Quartéis-generais, e em 2011 este número estava reduzido a 12. O in-vestimento financeiro de cada país na área da Defesa (em valores percentuais do PIB) está longe de ser homogéneo, tendo recentemente vários políticos americanos mani-festado o seu desagrado por este desequilíbrio, uma vez que indirectamente implica que os custos financeiros da NATO não sejam suportados de forma proporcional entre os seus membros. Não é pre-visível que na presente con-juntura económica os Esta-dos tenham capacidade de aumentar a sua contribuição financeira para a Defesa em geral e para a NATO em par-ticular; o que será expectável, é que Estados que agora in-vestem na Defesa valores da ordem, ou superiores, dos 2% do seu PIB, decidam reduzir o investimento. A NATO procura já solu-ções, e o conceito “Smart Defence”5 é um dos principais pontos da agenda da próxima Cimeira da Aliança, que terá lugar em Chi-cago em Maio de 2012. Presentemente, a ambição da NATO com o actual orçamento é ter a capacidade de conduzir, em simultâ-neo, duas “major operations” e seis “sma-ller operations”. Como exemplo de “major operation” podemos referir a intervenção no Afeganistão, e como exemplo de “small operation” a Operação Ocean Shield, reali-zada ao largo da Somália, com o objectivo de combater a pirataria.

Como já acima sublinhado, e tendo como referência os territórios dos Estados-mem-bros, o mundo estará muito mais perigoso hoje do que há 63 anos. Apesar do risco de um ataque convencional contra a NATO ser muito baixo, há uma série de realidades que não poderão ser ignoradas. Proliferam os países com capacidade de disparo de mis-seis balísticos, aumenta o número de paí-ses que estarão muito próximo de conseguir fabricar armas de destruição maciça, con-tinua igualmente a aumentar o número de grupos extremistas que executam ataques terroristas, ataques estes com a sua capa-

cidade letal exponenciada em virtude da evolução tecnológica. Surgem ainda uma série de “Ameaças Híbridas”6 de carácter transnacional que, apesar de desenvolvidas para lá das fronteiras físicas da Aliança, têm consequências directas para a segurança da NATO e dos seus Estados-membros, e de que destacaríamos a pirataria, o tráfico de armas e estupefacientes, o terrorismo, a instabilidade política em certas regiões do globo e, evidentemente, a Cyber Warfare.

A NATO procura também cada vez mais atingir uma interoperabilidade perfeita. Al-gumas das recentes intervenções demons-traram lacunas e fraquezas na capacida-de de interoperabilidade intra-Aliança. A NATO opera e combate em ambiente de co-ligação. Ninguém hoje em dia opera ou vai sozinho para a guerra. Os Estados NATO te-rão, pois, que estar confortáveis a trabalhar

e a combater em ambiente de coligação, e aqui, por paradoxal que possa parecer, um dos principais passos para uma coligação é precisamente não tomar essa coligação como garantida. Haverá sempre pontos di-fíceis de integrar na coligação e interope-rabilidade, pontos esses que certos Estados não estão dispostos a partilhar, pelo que fi-carão sempre a cargo de cada membro. A título de exemplo refira-se o Combat Search and Rescue (CSAR).

Outro ponto que tem trazido graves e ne-fastas consequências para a NATO enquan-to organização, prende-se com a capacida-de (ou falta dela) de liderança, ao nível dos postos mais baixos. Nos cenários de hoje, as decisões tomadas por um militar de pos-to inferior, como sendo cabo ou soldado, poderão ter implicações directas e imedia-tas em toda a operação. Operar por longos períodos em cenários urbanos, no meio de populações civis, sob cobertura permanente dos media, exige liderança firme e efecti-va. Para além de casos de avaliação errada e precipitada, que levam a que a decisão tomada não seja a mais adequada, já exis-tiram também casos de violência física e emprego de força excessiva contra civis.

Há também registo de casos de assédio se-xual e bullying. Uma liderança efectiva as-sociada a um maior cuidado na escolha do elemento certo para cada função iria sem dúvida combater este problema.

Assim, neste início da segunda década do Séc. XXI, para além dos clássicos desa-fios e dos tradicionais obstáculos, a NATO, enquanto organização de Estados sobera-nos, terá que:

– Manter um processo contínuo de re-forma, modernização e transformação por forma a ir um passo sempre à frente da amea ça. Mais do que nunca a transforma-ção acontece diária e globalmente com al-teração constante dos tradicionais cenários;

– Estar pronta para dar a resposta adequa-da às novas “Ameaças Híbridas” (Hybrid Threats), que agora surgem;

– Estar confortável a combater e a operar em ambientes de coligação;

– Aumentar os níveis de interoperabilidade entre Es-tados-membros;

– Saber trabalhar em fren-te aos media, transformando este facto numa capacidade, ao invés de uma limitação;

– Estar confortável a traba-lhar com organizações civis, nomeadamente as Organiza-ções-não-Governamentais;

– Procurar atingir um equi-líbrio relativo, em termos de contribuições financeiras por parte dos Estados-membros;

– Melhorar a capacida-de de liderança ao nível dos postos mais baixos das forças que se encontram no terreno;

– E, por último, operacio-nalizar o conceito Smart Defence.

Luís Nicholson LavradorCFR

Notas1 Parágrafo primeiro do Conceito Estratégico da

Aliança Atlântica.2 General Hastings Lionel Ismay, Secretário-Geral

da NATO entre 1952 e 1957.3 Parceria para a Paz (PfP) é um programa de coope-

ração bilateral entre a NATO e Estados amigos. Permi-te que estes parceiros construam um relacionamento individual com a NATO, escolhendo as suas próprias prioridades para a cooperação.

4 Sun Tzu n. China no ano 544 a.C.5 “I know that in an age of austerity, we cannot spend

more. But neither should we spend less. So the answer is to spend better. And to get better value for money. To help nations to preserve capabilities and to deliver new ones. This means we must prioritise, we must specialise, and we must seek multinational solutions. Taken toge-ther, this is what I call Smart Defence.” NATO Secretary General Anders Fogh Rasmussen 30 September 2011.

6 A inerente diversidade de Ameaças Híbridas repre-senta um problema para que se estabeleça uma só de-finição. Presentemente a usada pela NATO é: “Ameaças híbridas são aquelas representadas por adversários, que disponham da capacidade de, simultaneamente, em-pregar meios convencionais e não convencionais, que possam ser adaptados em função dos seus objectivos”.

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

Cenários de Operações NATO.

Page 14: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

14 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

O Sistema de Informação de Gestão da Defesa Nacional (SIG-DN), que entrou em funcionamento em 1 de

janeiro de 2006, só foi plenamente adota-do pela Marinha em janeiro de 2008, ainda que o planeamento orçamental para 2007 e 2008 tivessem sido efetuados no novo sistema antes daquela data. Com a adesão plena, realizou-se a migração completa para aquela plataforma de to-dos os processos de natureza financeira e logística, que até ali eram executados no Siste-ma Integrado de Informação Financeira e Abastecimento, designado por SIIF-SIA, cuja base tecnológica (SAP) era se-melhante à do SIG-DN.

A razão subjacente à tran-sição tardia deveu-se ao facto do SIG-DN não disponibilizar, no início, todas as funcionali-dades que o SIIF-SIA oferecia. Esta decisão provou ser a mais adequada uma vez que mi-nimizou os riscos associados a uma vasta e complexa mi-gração de informação de na-tureza financeira e logística, tendo-se, assim, proporciona-do uma transição sem sobres-saltos e sem descontinuidades de serviço, para um sistema que só naquela altura passou a disponibilizar as mesmas ca-pacidades daquele que seria substituído.

Desde essa altura o SIG-DN cresceu bastante no universo da Defesa em geral e na Ma-rinha em particular, tornando--se um verdadeiro fornecedor de um serviço partilhado no âmbito dos processos de ges-tão de recursos e planeamen-to, sendo hoje utilizado, entre outros, pelo MDN, EMGFA, Marinha, Exér-cito, Força Aérea e IASFA, num universo de cerca de 2700 utilizadores, dos quais 930 na Marinha, distribuídos por 140 unidades incluindo navios e capitanias (Fig. 1).

Desde a sua adoção pela Marinha, o sis-tema, para além de consolidar e melho-rar as funcionalidades nas áreas iniciais, de que se realça a prestação de contas em POCP por via eletrónica, a implementação dos procedimentos previstos no novo Có-digo de Contratação Pública e a execução do controlo financeiro da LPM e da LPIM, foi progressivamente cobrindo outras áre-as. Destas, são de salientar o processo de Vendas no Museu de Marinha e no Aquá-

rio Vasco da Gama, o módulo de Manuten-ção de Viaturas, a Gestão do Medicamento no Centro de Abastecimento Sanitário e a Gestão de Materiais no LAFTM. Na ótica da arquitetura de referência da Marinha para a informação, esta evolução converge para a visão de que o SIG-DN deverá progres-sivamente contemplar todos os processos associados à gestão de recursos, com liga-

ção cada vez mais forte ao planeamento e gestão estratégica (Fig. 2).

Um dos fatores de sucesso da implantação do sistema na Marinha deve-se, em larga me-dida, ao modelo de governabilidade que foi estabelecido desde o início, no qual, para cada área funcional que passou a utilizar o SIG-DN, foi criada uma estrutura no EMA, na SSF e na SSM/DA que gere funcionalmente o sistema em toda a Marinha, respetivamente no âmbito do planeamento (EMA), proces-sos financeiros (SSF) e processos logísticos/abastecimento (SSM/DA). A coordenação geral e a ligação da estrutura com a chefia da equipa SIG-DN do Ministério da Defesa foi efetuada por uma equipa residente, na

altura, na DITIC-CE e chefiada pelo seu Di-retor, que desempenhava as funções de Co-ordenador-Geral, sendo coadjuvado, nessa função, por dois oficiais. Com a criação da SSTI em 21 de Fevereiro de 2010, aquela função passou a ser desempenhada pelo in-cumbente do cargo, num mesmo modelo or-ganizacional, e tendo a DITIC e a DAGI em suporte para o efeito do impacto do sistema

na arquitetura de referência da Marinha e demais atividades re-lacionadas com a gestão do seu ciclo de vida, designadamente a garantia que, através da SSP/DSF, eram criados e ministra-dos os diversos cursos para a correta exploração do SIG-DN. A esta estrutura corresponde uma congénere na equipa de projeto SIG, contemplando as mesmas áreas funcionais. Desta forma, viabilizou-se a articula-ção harmoniosa entre ambas as entidades, o que tem permitido que, de forma eficaz, a ligação se efetue a dois níveis confor-me o teor ou a complexidade do problema: se a situação é específica de uma área funcio-nal, então a interação opera-se no primeiro nível. Se por outro lado o assunto está relaciona-do com o ciclo de vida do sis-tema ou é transversal às diver-sas área s funcionais, então sobe um nível e é dirimido pela co-ordenação geral. Sempre que forem criadas novas áreas no SIG-DN, como é o caso do pro-jeto dos recursos humanos e vencimentos a que se aludirá a adiante, acrescentam-se novos núcleos funcionais semelhan-tes aos existentes para as áre-as já em produção no sistema. Em duas auditorias efetuadas

em 2010 e 2011 pela Inspeção da Defesa Nacional ao SIG-DN, o modelo de gover-nabilidade da Marinha para gerir o sistema foi considerado como um modelo de refe-rência (Fig. 3).

À medida que o SIG-DN foi evoluindo, houve necessidade de estabelecer ligações com outros sistemas de informação em ex-ploração na Marinha e externos ao universo da Defesa. Relativamente aos primeiros, tra-tou-se de automatizar os processos e a ine-rente troca de informação entre o Sistema Integrado de Informação da Autoridade Ma-rítima (SIIAM), os sistemas de informação da área da logística do material (SICALN, SLIS, sistema de catalogação) e o SIG-DN.

SIG-DNTestemunho de 4 anos de exploração na Marinha

SIG-DN

Page 15: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 15

No que diz respeito aos segundos, tem ha-vido um grande esforço em desenvolver li-gações com os diversos sistemas do Minis-tério das Finanças. Se neste último caso as equipas da Marinha foram chamadas a par-ticipar, sobretudo na fase de elaboração das especificações, no primeiro caso, porque se tratava de colocar em diálogo o SIG-DN com sistemas cuja autoridade operacional pertencia à Marinha, a nossa participação foi bastante mais profunda. Neste contexto, aproveitou-se a oportunidade para inovar, através da introdução de uma arquitetura orientada aos serviços (Service Oriented Ar-chitecture - SOA), concebida, entre outras coisas, para permitir que sistemas de dife-rentes gerações e tecnologias possam trocar informação de forma automática e transpa-rente. A decisão de introdução da SOA na Marinha, em linha com as melhores práticas para as TIC, tem permitido incre-mentar de forma sustentada o conhecimento sobre a sua uti-lização sendo, neste momento, utilizada noutros subsistemas que servem outras áreas da Marinha, viabilizando, assim, tornar mais eficiente o inves-timento efetuado, que se vê, desta forma, rentabilizado em benefício de sistemas que ser-vem várias áreas da Marinha (BlueEye, EPM, CLIP). Também a adoção da SOA pela Mari-nha mereceu referências posi-tivas nas duas auditorias acima mencionadas.

Quatro anos volvidos, é ago-ra possível fazer um balanço tendo em vista identificar o que é que se ganhou e o que se perdeu com a introdução deste sistema. Os ganhos são claros: a unicidade dos processos em todo o universo da Defesa em geral e das FFAA em particu-lar, a partilha de informação que propicia a rápida propa-gação de boas práticas por todo o universo de utilizado-res, a criação de um sistema de apoio ao utilizador comum são de assinalar. No entanto, a vantagem mais significativa reside na economia de escala que se con-seguiu alcançar: ao invés de cada um dos utilizadores efetuar investimentos nos seus próprios sistemas de informação ao longo do seu ciclo de vida, para consubstanciar processos congéneres, foi possível otimizar a aplicação dos dinheiros públicos, por se concentrarem os investimentos num só sis-tema. Os aspetos menos positivos são pou-co significativos quando comparados com as vantagens já assinaladas: salientar-se-ia a relativa perda de autonomia na condução da evolução do sistema e a relativamente baixa poupança de efetivos atribuídos ao

projetos SIG-DN e ao Centro de Dados da Defesa (CDD), quando comparados com o quantitativo que existia, quando a Mari-nha geria o sistema central autonomamen-te. Não obstante, prevê-se que, quando os projetos que se encontram em desenvolvi-mento estiverem concluídos, o número glo-bal de pessoas da Marinha a prestar serviço no projeto SIG-DN possa vir a decrescer.

Relativamente à prevista evolução futura, o projeto mais relevante que está em curso, e no qual já estão investidas centenas de horas de trabalho na elaboração das análi-ses e desenho dos processos, e subsequen-te desenvolvimento das especificações, é o que permitirá que todo o universo da Defesa

passe a efetuar a gestão dos recursos huma-nos e o processamento de vencimentos em SIG-DN (SIG-RHV). Este projeto só poderá ser concretizado se a plataforma tecnológica onde o SIG-DN atualmente funciona for mo-dernizada. A decisão de avanço desta atua-lização, que é absolutamente determinante para a prossecução do SIG-RHV, cabe à tu-tela do MDN. Para a Marinha este projeto é particularmente importante uma vez que o Sistema Integrado de Informação do Pessoa l (SIIP) é de 1986 e, embora tenha sido migra-do para uma nova tecnologia aquando do fecho do sistema de processamento central da Marinha, pouco evoluiu funcionalmente. O sistema de processamento de vencimen-

tos encontra-se numa situação semelhante, pese embora já possua uma ligação com o SIG-DN. Releva-se, ainda, que, só com a supracitada atualização da plataforma tec-nológica, será possível concretizar uma ar-quitetura que garanta a continuidade da ex-ploração global do sistema, caso lhe ocorra uma falha catastrófica.

Outras evoluções em curso com impacto significativo na utilização diária do SIG-DN e na extração de informação para a tomada de decisão, prendem-se com a implementa-ção de um portal para utilização descentra-lizada (SIGnet), através do MS Sharepoint e SAP ERP, e com o aprofundamento do pro-jeto dos indicadores de gestão. O primeiro

caso materializa-se numa solu-ção de formulários interativos de exploração mais amigável para os utilizadores, permitin-do, ainda, poupar no número de licenças SAP em uso. No segundo caso, e uma vez que a Marinha tem também em cur-so iniciativas ligadas à temática dos indicadores de gestão, está em curso uma interação com o responsável por este projeto na equipa SIG-DN de modo a que, numa lógica de otimização de recursos, seja possível a extra-ção de indicadores já processa-dos naquele sistema e a subse-quente integração com portais desenvolvidos na Marinha para o mesmo propósito.

Com a anteriormente mencio-nada atualização da plataforma tecnológica, será possível efetu-ar a instalação da mais recente versão do software de base da SAP e assim poder não só con-cretizar o projeto RHV como também planear a extensão do sistema às áreas da Gestão de Transportes, Manutenção de Sistemas Complexos e Gestão de Infraestruturas, aumentando--se, assim, o leque de áreas que passarão a ser cobertas por este importante sistema (Fig. 4).

Concluindo, e na qualidade de coordenador geral do SIG-

-DN da Marinha, diria que este sistema de informação é absolutamente vital para o funcionamento da Marinha, não havendo qualquer outro sistema alternativo para os processos que hoje em dia nele residem. Ao nível da Defesa, e salvo melhor opi-nião, considero que é um exemplo a reter no que concerne a implementação de ser-viços partilhados no Estado, bem em linha com o que se preconiza na Resolução do Conselho de Ministros n.º 12/2012 de 7 de Fevereiro de 2012.

COORDENAÇÃO GERAL DO SIG MARINHA

A. Gameiro MarquesCALM

Page 16: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

16 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (30)

D. António de Noronha e o estado de guerra por toda a Índia

D. António de Noronha e o estado de guerra por toda a Índia

No ano de 1571, quando Francisco Bar-reto vogava na costa oriental africana, hesitando no avanço para o Mono-

motapa, chegava a Moçambique uma armada de cinco naus, comandada por D. António de Noronha, que iria substituir D. Luís de Ataíde no cargo de vice-rei da Índia. Para além da ren-dição normal do vice-rei, com esta armada ia também uma instrução específica que visava reestruturar o governo do Estado Português da Índia: D. Sebastião entendeu dividir o espa-ço de influência portuguesa em três partes, entregando a região ocidental, do Cabo da Boa Esperança ao Cabo Guardafui, a um governador que ficaria em Moçambique; em Goa continuaria um vice-rei, com tute-la do espaço compreendido entre a entrada do Golfo de Adém até à ilha de Ceilão, e em Malaca ficaria um governador com jurisdi-ção em todo o Extremo Oriente. Francisco Barreto acrescentava assim os poderes que lhe tinham sido conferidos para a conquis-ta do Monomotapa, D. António substituiria D. Luís de Ataíde, em Goa, e para Malaca seguia António Moniz Barreto, partido de Lisboa na mesma armada do vice-rei. A 6 de Setembro de 1571 os navios entravam juntos na barra de Goa, depois de uma via-gem abençoada, surpreendendo D. Luís, que andava em preparos de guerra com o Hidalcão. Digamos que a situação militar da Índia não era nada favorável aos por-tugueses, ainda na sequência dos aconteci-mentos que se seguiram à queda do império do V ijaynagar e da grande aliança contra a p resença nacional, referida nas Marinha de D. Sebastião (10) e (11), aproximando--se tempos ainda mais violentos e difíceis.

Por alturas de 1570, começaram a correr rumores de que o Hidalcão se preparava para atacar Goa. As notícias não eram muito concretas, mas – como diz um autor da épo-ca – “as coisas que assim começam a soar, vão adquirindo crédito com a continuação de se di-zer”. Pela mesma altura, chegou a informação de que, mais para o norte, o Nizâmu’l-mulk – ou Nizamaluco na forma aportuguesada – avançava com todo o seu poder sobre Chaul. Estes ataques eram concertados entre aliados, propositadamente feitos num momento em que D. Luís já tinha despedido duas armadas para outras missões de guerra e Goa ainda es-tava diminuída da sua guarnição, porque os homens se dispersavam pelo interior durante a época das chuvas, só regressando à cidade durante esse mês de Setembro.

Em face de todas as notícias e rumores, D. Luís de Ataíde ouviu conselhos e tomou as suas próprias decisões. Recomendavam-lhe

que abandonasse Chaul, alegando que não seria possível defender-se em todas as fren-tes, mas entendeu que não deveria fazê-lo. Nomeou Francisco de Mascarenhas para de-fender Chaul, dotando-o de uma armada de quatro naus, cinco fustas e várias embarcações miúdas carregadas com munições, pólvora e abastecimentos diversos, enquanto prepara-va a defesa de Goa, enchendo os armazéns e guarnecendo as passagens de acesso à ilha, por

onde era possível invadir a cidade. Constava que o Hidalcão dispunha de 35 000 homens de cavalo, 70 000 infantes e 2000 elefantes de combate, com que avançavam em direcção a Pondá, preparando-se para atravessar no “Passo de Benestarim”, na parte leste (sueste) da ilha, onde estava a fortaleza de Santiago. E, em Novembro, já se viam na outra margem as tendas inimigas, movimentando-se as gen-tes para atulhar o canal, não só para facilitar a passagem de soldados, como para impedir a acção dos navios portugueses que se podiam aproximar pelo rio Zuari.

Enquanto Goa e Chaul viviam estas horas de aperto, a rainha de Onor atacava a fortaleza portuguesa e o Samorim – inimigo persistente – punha cerco a Chalé. Era esta a situação militar da Índia, quando a armada de D. António de Noronha entrava a barra de Goa, no princípio

de Setembro de 1571. D. Luís de Ataíde andava pelo Passo de Benestarim, acompanhando sol-dados e acorrendo a tudo o que podia, mas vol-tou imediatamente para a cidade para entregar prontamente o cargo ao novo vice-rei da Índia. Poucos dias depois recolheu-se em Pangim e aos Reis Magos e partiu na armada seguinte, chegando a Lisboa a 21 de Julho de 1572.

Nessa altura, a guerra de Chaul já tivera um desfecho que satisfazia os portugueses, com

um acordo de paz assinado a 24 de Julho. O conflito tinha sido de uma violência inu-sitada, mas a guarnição aguentou-se heroi-camente, forçando um tratado satisfatório, no contexto global em que as posições na-cionais eram atacadas em várias frentes, por uma imensa aliança ofensiva. Em Chalé, contudo, a situação piorava de dia para dia, com as gentes da fortaleza sufocadas pela força inimiga e sem capacidade de abaste-cimento por causa da monção de sudoeste. Defendia-a D. Jorge de Castro, um veterano com oitenta anos de idade que corria pelos adarves de espada em punho, exaltando a defesa. Mas a fome venceu os sitiados, obri-gando a um acordo, em que a guarnição se entregou ao rei de Tanor, para garantir a sua sobrevivência, entregando a praça ao Samo-rim que a arrasou completamente, ficando apenas com a artilharia.

O Hidalcão, que mantivera uma enorme pressão sobre a ilha de Goa, durante mais de um ano, viu com apreensão a chegada do novo vice-rei e, sobretudo, de mais uma esquadra poderosa. A sua vontade enfra-queceu e apressou-se a pedir a paz. Apa-ren temente tudo acalmava com a chegada de D. Antão de Noronha, mas a sua glória viria a ser efémera, vítima provável das in-trigas da Índia ou do reino. No ano de 1573

chegou a armada de Lisboa, comandada por D. Francisco de Sousa. Aportou a Cochim em Outubro, mas o capitão-mor seguiu de ime-diato para Goa, onde devia entregar instruções urgentes emanadas de D. Sebastião. D. António de Noronha era desapossado antecipadamente do cargo de vice-rei da Índia e nomeado como governador António Moniz Barreto, que ainda não seguira para Malaca. Deste caso diz Diogo do Couto que “foi o mais novo, e escandaloso caso que na Índia aconteceu, do qual muitos ti-veram culpa, porque deram ocasião a se desa-possar do governo um fidalgo tão honrado e tão benemérito”. Eram os tempos e os costumes.

J. Semedo de MatosCFR FZ

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

D. António de Noronha, vice-rei da Índia (1571-1573). Livro de S. Julião.

Page 17: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 17

Comemora-se este ano o quinto centená-rio do nascimento de Gerard Mercator. Para assinalar a efeméride, no quadro

da Ação Cultural da responsabilidade da Co-missão Cultural de Marinha (CCM) foi pla-neada, concebida e encontra-se em exibição, no Museu de Marinha, uma exposição de car-tografia. Subordinada ao tema «Cartografia náutica – séculos XVI a XIX», a exposição foi inaugurada no dia 8 de março, na presença do Almirante Chefe do Estado-Maior da Ar-mada. A cerimónia de abertura da exposição constituiu oportunidade para a concretização de dois outros momentos de in-cidência cultural: a apresentação pública de um vídeo promocio-nal do património cultural da Marinha e dos órgãos mais di-retamente responsáveis por esse património e a incorporação do modelo do primeiro navio-escola Sagres na exposição permanente do Museu de Marinha.

No vídeo, intitulado “Por uma Cultura Marítima em Portugal – A Herança e o Património”, rele-va-se a importância do patrimó-nio cultural material e imaterial da Marinha, através de um enfo-que nos diversos órgãos de natu-reza cultural na dependência da CCM e respetivas missões.

No que respeita ao modelo da antiga Sagres, importa ter pre-sente que, até à data, não existia no Museu de Marinha nenhum modelo dos navios-escola Sagres, já que o modelo que tinha sido construído, na sequência de de-cisão tomada em 1962, acabara por ficar destruído no incêndio que em 1969 afetou parte das instalações da Marinha no Ter-reiro do Paço.

Para se entender melhor o significado da exposição que foi inaugurada, assim como a forma como o seu conteúdo está organizado, im-porta explicar, sucintamente, o modo como evoluiu a Cartografia, no período coberto pela exposição.

Na Idade Média desenvolveu-se, no Me-diterrâneo, um método de navegação que ficou conhecido entre os historiadores da náutica como método de «rumo e estima». Para a sua aplicação, os pilotos precisavam de conhecer a direção e a distância entre os diferentes pontos. No mar, o piloto conhecia a direção através da agulha de marear e esti-mava a distância percorrida, em função das condições meteorológicas. Esses dados cons-tavam de textos, designados «portulanos». A informação poderia também ser apresentada

de uma forma gráfica, nas chamadas «cartas--portulano». O esquema geral destas cartas era sempre semelhante. Consistia numa gre-lha de direções, normalmente 32, que se con-tavam a partir do Norte e que irradiavam a partir de vários pontos da carta, de forma a cobrir toda a superfície desta. Além dessa grelha, existia ainda uma escala de distâncias, que era conhecida como «tronco das léguas».

O processo anterior servia perfeitamente para o Mediterrâneo e para as navegações feitas junto a costa para o Norte da Europa. No entanto, quando os Portugueses se aven-

turaram em viagens oceânicas este processo revelou-se insuficiente. A necessidade de pas-sar longos períodos ao largo, sem avistar ter-ra, conduzia a uma acumulação de erros na posição. Para minimizar esses erros, os Portu-gueses desenvolveram técnicas de navegação astronómica. Assim, nos finais do século XV começaram a ser usados a bordo processos para determinar a latitude dos navios, nome-adamente pela observação da estrela Polar e da passagem meridiana do Sol.

As cartas de navegar acompanharam a evolução da Arte de Navegar e passaram a refletir as novas técnicas de navegação. O método de rumo e estima manteve-se a base de condução da navegação. Por esse motivo,

o processo de construção das cartas manteve a grelha de direções, caraterística das «cartas--portulano». Era no entanto necessário acres-centar o novo elemento que se obtinha por métodos astronómicos: a latitude. As cartas passaram a conter também uma escala de latitudes, que permitia marcar esta coorde-nada na carta.

A planificação de uma superfície esféri-ca tem sempre erros associados, sendo estes mais significativos no caso de se pretender planificar uma superfície mais extensa. Cedo se percebeu que a representação da superfície

terrestre neste género de cartas apresentava algumas limitações. Quem primeiro notou essas li-mitações foram os cosmógrafos, nomeadamente Pedro Nunes. Ao analisar matematicamente os problemas da navegação perce-beu que as «cartas quadradas» como lhes chamava, não repre-sentavam corretamente a super-fície da Terra. Ele usava a expres-são «cartas quadradas» porque se considerava que nelas estava implícita a existência de uma gre-lha de paralelos e de meridianos, igualmente espaçados uns dos outros, formando portanto qua-drados. Ora nesse tipo de cartas, os meridianos eram representa-dos paralelos uns aos outros, en-quanto que na superfície terrestre eles convergem todos nos pólos. Depois de identificar os erros da carta, Nunes sugeriu formas de os minimizar. As ideias de Nunes ti-veram uma difusão significativa pela Europa culta do seu tempo, tendo influenciado outros cosmó-grafos que se dedicavam ao estu-do dos problemas matemáticos da navegação. Entre estes mere-ce destaque Gemma Frisius, que viria a ser professor de Gerard Mercator. Este último sugeriu um

processo de eliminar os erros que Nunes tinha identificado nas cartas quadradas. Assim, em 1569 publicou um planisfério construído numa nova projeção que recebeu o seu nome e que se tornou a projeção mais usada na náutica até aos nossos dias.

Embora Mercator tenha desenhado um mapa na projeção que recebeu o seu nome, não explicou como se calculava a mesma ma-tematicamente. Foi necessário esperar até ao final do século para que a projeção de Merca-tor fosse explicada em termos matemáticos. Esse papel foi desempenhado pelo inglês Edward Wright, que em 1599 publicou um texto dedicado à náutica, no qual ensinava a calcular a projeção.

«Cartografia náutica – séculos XVI a XIX»Exposição

«Cartografia náutica – séculos XVI a XIX»

Page 18: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

18 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

No início do século XVII existiam todas as condições para produzir cartas de Mercator. No entanto, a generalidade dos marinheiros continuou a preferir as antigas cartas quadra-das. Uma explicação para esta opção reside na forma como eram transmitidos os conheci-mentos dos pilotos. Tratava-se de um proces-so de aprendizagem essencialmente empírico, em que o mestre ensinava ao aprendiz aquilo que tinha aprendido com o seu mestre. Este processo tem como consequência que os no-vos conhecimentos demoram bastante tem-po a ser adotados. Isto apesar de muitos dos marinheiros irem percebendo as limitações do tipo de cartas que usavam. Nalguns ca-sos eram mesmo introduzidos artifícios para minimizar essas limitações sem ser necessário alterar os métodos, de condução dos navios, que estavam habituados a utilizar. Entre es-ses artifícios conta-se os «troncos particulares de léguas» que serviam para medir as distâncias no senti-do Leste-Oeste em diferentes latitudes, compensando as-sim o facto de as cartas não considerarem a convergên-cia dos meridianos.

Se na prática dos mari-nheiros demoraram a adotar a nova projeção, algo dife-rente aconteceu com aque-les que estudavam os pro-blemas da navegação de um ponto de vista teórico. Os textos dos cosmógrafos e dos professores de náutica come-çam a incluir explicações so-bre o modo de construir car-tas na projeção de Mercator, assim como a forma de resol-ver os problemas de navegação nessas car-tas. Os espólios cartográficos do Museu de Marinha e da Biblioteca Central da Marinha possuem diversos exemplares de cartas que abrangem um período que vai desde o século XVI até praticamente aos nossos dias. Nesta exposição procurou-se mostrar parte desse espólio que reflete essa lenta transição para as cartas na projeção de Mercator.

A primeira parte da exposição é dedica-da aos referidos textos, abrangendo todo o perío do coberto pela mesma. Para o século XVI, embora não esteja exposto nenhum tex-to original da época, existe uma edição fac--símile do texto de Pedro Nunes editado em 1537 e onde ele expõe pela primeira vez os problemas que identificou em relação às car-ta de marear. Da centúria seguinte exibe-se uma obra do Padre Carvalho da Costa onde se representa uma quadrícula de Mercator e o modo de a construir. Expõe-se ainda textos teóricos de cosmógrafos e oficiais de Marinha que analisam as cartas de marear e a sua apli-cação na náutica.

Em Portugal, no século XVIII surgem cada vez mais cartas de Mercator, ou cartas redu-zidas como se dizia na época. Isto apesar de continuarem a ser usadas imensas cartas qua-dradas. Esta resistência à introdução desta

projeção não ocorre apenas em Portugal. Por exemplo, no Mediterrâneo, os marinheiros franceses opõem-se a uma medida dos ser-viços hidrográficos centrais, que pretendia que eles passassem a usar cartas de Mercator. Como consequência desta oposição foi neces-sário voltar a produzir cartas-portulano, que eram aquelas a que eles estavam habituados e que serviam perfeitamente para a navega-ção naquele mar interior.

Na segunda parte da exposição apresen-tam-se diversos exemplares de cartas que seriam certamente semelhantes às que eram usadas a bordo dos navios. Trata-se de cartas quadradas, quase todas manuscritas, existin-do apenas uma delas que é impressa. Entre as cartas mais antigas merecem destaque dois fragmentos de cartas do século XVI, sendo que um deles tem representadas linhas isogó-nicas, isto é linhas que unem pontos de igual

declinação magnética. Trata-se da mais anti-ga carta que se conhece com a representação destas linhas. Para o século seguinte merecem realce dois interessantes atlas de João Teixeira Albernaz, com a descrição da costa de Por-tugal; e outro de José da Costa Miranda, no qual se apresentam diversas cartas do Índico. Ainda deste último cartógrafo existem duas magníficas cartas iluminadas, representando o Atlântico e o Índico, respetivamente. Nestas últimas podem observar-se os já menciona-dos troncos particulares de léguas. Para a cen-túria de Setecentos realçamos o planisfério de Eusébio da Costa, pela sua beleza e dimensão.

Na transição para a centúria de Oitocentos ocorre em Portugal a primeira tentativa de levar a cabo um levantamento geodésico do território. Nos primeiros anos do século XIX surgem algumas cartas que têm por base os resultados desse levantamento. No entanto, o país conheceu imensas perturbações naquela época, nomeadamente as Invasões Francesas e a Guerra Civil. Em meados do século foram retomadas as atividades ligadas à cartografia e à geodesia. Foram criados os cursos de enge-nheiro geógrafo e de engenheiro hidrógrafo. Iniciou-se um levantamento sistemático dos portos do Reino, sendo essa atividade esten-dida aos territórios ultramarinos. No final do

século foi criada a Comissão de Cartografia que centralizava todas as atividades relacio-nadas com a cartografia das colónias, tanto a nível dos espaços terrestres como dos maríti-mos. Nestes trabalhos que conduziram à pro-dução de cartografia desses territórios parti-ciparam inúmeros elementos da Marinha.

As cartas de Mercator são exibidas na ter-ceira parte da exposição. As mais antigas, do século XVIII, e anteriores aos mencionados levantamentos geodésicos, datadas de 1772 e de 1774 são ainda manuscritas. Finalmen-te, para o século XIX existem imensas cartas, especialmente portuárias, que resultaram dos trabalhos da Comissão de Cartografia.

A exposição encerra com o tema da histó-ria da cartografia. São diversas as razões que explicam o elevado interesse que esta disci-plina tem merecido. Em Portugal ela nasceu no século XIX por intermédio do 2º Visconde

de Santarém. O seu objetivo era demonstrar a prioridade das navegações portuguesas para além do Bojador. Para tal, pesquisou em bibliote-cas e arquivos em busca de cartas antigas. Dos resulta-dos da sua investigação sur-giu um Atlas no qual repro-duziu em fac-símile as cartas que encontrou e que abran-giam vários séculos. No es-paço expositivo é mostrado um dos quatro exemplares do seu Atlas que o Museu de Marinha possui. A beleza e a espetacularidade da gene-ralidade das cartas também ajudam a aumentar o inte-resse pelo seu estudo. Daí

que o assunto tenha sido tema de inúmeras exposições e obras monumentais. Entre as várias que estão expostas merece ainda des-taque a que foi publicada por ocasião das co-memorações henriquinas de 1960: Portugaliae Monumenta Cartographica.

CICLO DE CONFERÊNCIAS NO INSTITUTO HIDROGRÁFICO

Como complemento da exposição patente no Museu de Marinha, organizou-se um ci-clo de conferências sobre a mesma temática, no dia 14 de Março, no Instituto Hidrográ-fico. Assistiram às mesmas cerca de sessen-ta pessoas. Para este ciclo de conferências foram convidados quatro especialistas da área da cartografia: Professor Doutor Fran-cisco Contente Domingues, Comandante Jo-aquim Alves Gaspar, Comandante Adelino Rodrigues da Costa e Comandante António Estácio dos Reis.

Após as boas-vindas pelo Diretor-geral do Instituto Hidrográfico, Vice-almirante Ramos da Silva, usou da palavra o Diretor da Co-missão Cultural de Marinha, Vice-almirante Vilas Boas Tavares. Chamou a atenção para a efeméride que se comemora este ano e que serviu de pretexto para a realização da ex-

Page 19: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 19

posição e do ciclo de conferências. Realçou a importância da exposição como uma via para divulgar o magnífico património cartográfi-co pertencente à Marinha, servindo as confe-rências para apresentação dos resultados da investigação científica no mesmo domínio.

O primeiro orador foi o Professor Contente Domingues. Professor Associado com Agrega-ção, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tem desenvolvido vasta investigação no âmbito da História Marítima, sendo Presi-dente da Comissão Internacional de História da Náutica. Tem também feito investigação no âmbito da história da cartografia, publicando alguns textos nesta área. O título da sua pales-tra foi: «Espião ou negociante? O planisfério dito de Cantino, catálogo de problemas em aberto na cartografia portuguesa dos inícios do século XVI». Após apresentar, sucintamen-te, a história deste mapa, que chegou a servir como cortina numa salsi-charia, passou a expor as principais ideias que a his-toriografia tem apresen-tado sobre a construção do mapa e a sua ida para Itália. Como o próprio tí-tulo indica, existem mui-tos pontos por esclarecer em relação à tese que de-fende que o mapa tenha resultado de um ato de espionagem. De acordo com o professor, existem algumas informações no planisfério que deveriam ter uma difusão alargada, facto que questiona a hi-pótese de sigilo que justi-ficava a necessidade de o mapa ser obtido por um espião.

O segundo conferencista foi o Comandan-te Joaquim Alves Gaspar. Oficial da Armada, na situação de reforma, concluiu recentemen-te, em 2010, o seu doutoramento, com uma dissertação intitulada From the Portolan Chart of the Mediterranean to the Latitude Chart of the Atlantic: Cartometric Analysis and Modeling.

Presentemente é investigador do Centro In-teruniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, num projeto de pós-doutoramento sobre estudo cartométrico de cartas antigas. A sua conferência abordou também esse tema que tem merecido a sua atenção na generalida-de dos estudos que tem levado a cabo. Tendo como título Quadrando o círculo: como Mercator construiu a sua projeção em 1569, nela o autor apresentou a sua análise, numa perspetiva cartométrica, das cópias conhecidas do Atlas de Mercator de 1569. Na sua abordagem, tirou importantes conclusões sobre os estudos ante-riores que procuraram explicar a forma como Mercator teria construído a sua carta.

A segunda sessão de comunicações come-çou com a palestra Manuel Godinho de Erédia, um pioneiro da cartografia náutica no Orien-te, pelo Comandante Adelino Rodrigues da Costa. Entrou para a Escola Naval em 1962,

tendo passado à reserva em 1983, estando atualmente reformado. Da sua carreira naval destacam-se diversas comissões de embar-que, tendo comandado navios em Moçam-bique e na Guiné. Desempenhou funções no Instituto Hidrográfico e ministrou aulas de Navegação na Escola Naval e na Escola Náu-tica. Com uma ligação especial ao Oriente, a

sua palestra analisou vários contributos de cartógrafos para o conhecimento de alguns territórios naquela área do globo. O seu in-teresse incidiu especialmente sobre a infor-mação náutica de interesse prático para os navegantes, nomeadamente a marcação de profundidades nas cartas.

O ciclo de conferências foi encerrado pelo Comandante António Estácio dos Reis, com uma apresentação intitulada Globos – Uma co-leção feita por acaso. O Comandante Estácio in-gressou na Escola Naval em 1943. Após uma carreira recheada de comissões de embarque e missões nos territórios ultramarinos e no es-trangeiro, passou os últimos anos da sua pres-tação de serviço ativo na Marinha prestando serviço no Museu de Marinha e na Biblioteca Central de Marinha. Especialista em assuntos de náutica, nomeadamente em instrumentos náuticos e científicos, integrou a Comissão

Nacional para as Come-morações dos Descobri-mentos Portugueses. Na sua palestra falou dos glo-bos, terrestres e celestes, que existem em Portugal. Explicou a forma como surgiu o seu interesse por estes objetos antigos e os esforços que desenvolveu para procurar identificar todos aqueles que existem no nosso país.

As palestras desper-taram bastante interesse na audiência, tendo sido seguidas de animados debates. Em jeito de con-clusão pode afirmar-se que estas iniciativas con-

tribuíram para divulgar importantes peças cartográficas que integram o património cul-tural da Marinha, assim como dar a conhecer investigação levada a cabo por especialistas nestas matérias.

Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DE MARINHA

http://ccultural.marinha.pt – http://www.marinha.pt

CONSULTE A …

Page 20: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

20 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

O interesse da Marinha pela prática da atividade física, de forma estru-turada e abrangente por todos os

militares da Armada, é muito an-terior à portaria 19-114 do Minis-tro da Marinha, Almirante Quin-tanilha e Mendonça Dias, que criou o Centro de Educação Físi-ca da Armada (CEFA) a 5 de abril de 1962. Esta iniciativa teve um papel decisivo na nova forma de organizar a atividade física, com o objetivo de melhorar o desem-penho e a eficácia operacional.

A criação do CEFA foi, neste sentido, um marco importante para a Marinha. Inicialmente ads-trita ao Comando da Base Naval de Lisboa (BNL), em 1970 passou para a alçada da Direção do Ser-viço de Educação Física (DSEF), mas, com a sua extinção em 1985, passou a estar subordinada à Di-reção do Serviço de Instrução e Treino (DSIT). Em 1994, aquan-do da reestruturação da Mari-nha, a DSIT passou a designar-se Direção do Serviço de Formação (DSF), mantendo o CEFA sob a sua dependência com as seguin-tes atribuições: assegurar/coor-denar a formação do monitor de educação física e de nadador sal-vador; apoiar o treino físico do pessoal dos Órgãos e Serviços da Marinha; organizar provas des-portivas internas e preparar as seleções da Marinha; assessorar o Diretor do Serviço de Forma-ção nas atividades de educação física do pessoal da Marinha; e assegurar o desenvolvimento de atividades no domínio da medi-cina desportiva.

OS 50 ANOSPor Despacho do Almirante

CEMA, de 18 de Fevereiro de 1981, entrou em vigor o primeiro regula-mento interno do CEFA, simulta-neamente com o estabelecimento de toda a estrutura no edifício do novo pavilhão (atualmente desig-nado por pavilhão gimnodesporti-vo), dando início a uma nova fase de expansão e desenvolvimento.

No que respeita a instalações e meios dis-poníveis, o CEFA ocupa atualmente uma área de cerca de 9 hectares com diversas instalações desportivas: campo relvado de futebol 11 circundado por uma pista de

atletismo; quatro campos exteriores (três de futebol 5 e um de basquetebol); duas pisci-nas cobertas de 25 metros; o edifício gimno-

desportivo (pavilhão, sala de musculação, sala de judo); nave de destrezas (parede de escalada, rappel e boxe); uma carreira de tiro (com 10 linhas de 25 metros e 2 linhas de 50 metros); e, a partir do dia 5 de abril de 2012, um campo de voleibol de praia.

Ao longo destes 50 anos, sempre foi re-conhecida ao CEFA a enorme capacidade de organização, quer internamente nos

campeonatos da Marinha quer no âmbito das Forças Armadas, preparando e conduzindo cam-peonatos nacionais militares. São da sua iniciativa e fruto de experi-ências acumuladas a organização das primeiras edições, em modali-dades recentes na altura, de triatlo e de duatlo. Sob a sua responsa-bilidade tem-se realizado igual-mente as provas de modalidades de prática corrente do país (fu-tebol, futsal, atletismo, andebol, basquetebol e voleibol), as de in-teresse militar (orientação, tiro e desportos de combate), as de in-teresse específico naval (natação e pentatlo naval) e as de tradição da nossa Marinha, como sejam a “tração à corda” e lançamento da retenida.

Também o CEFA e a Marinha têm apoiado e proporcionado as condições para os militares fede-rados poderem singrar no âmbi-to dos campeonatos nacionais e internacionais civis. De relevar a participação do Engenheiro Fer-reira Neto nos jogos olímpicos de 1984, em Los Angeles, na modali-dade de Tiro, disciplina de Pisto-la de Velocidade. Nessa altura, o CEFA atingiu um lugar de proe-minência no tiro nacional como equipa federada. Com a entra-da recente de nova legislação so-bre o desporto federado, o CEFA deixou de poder apresentar-se como um clube, mas continua a dar apoio às federações, clubes desportivos, grupos de escutei-ros, escolas e atletas individuais, sempre que o solicitam.

Dos diversos cursos de for-mação ministrados pelo CEFA – como o de Aperfeiçoamento em Nadador Salvador, Monitor Nadador Salvador, Iniciação e Aperfeiçoamento Defesa Pessoa l, Adaptação ao Meio Aquático e Atualização de Monitor de Edu-cação Física – destacam-se as 50 edições do curso de especializa-

ção em monitor de educação física (MEF), suporte indispensável ao desenvolvimen-to e controlo da aptidão física do pessoal da Marinha.

Neste âmbito, a realização e o controlo das Provas de Aptidão Física (PAF) tem

Centro de Educação F ísica da Armada50 anos

Centro de Educação F ísica da Armada

Page 21: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 21

vindo a evoluir e, pelo estabelecido no Des-pacho do Almirante CEMA nº 02/2002, de 17 de janeiro, a obrigatoriedade das PAF para os militares dos quadros permanen-tes estendeu-se aos que se encontram em regime de contrato, alargando o limite de idade para os 45 anos. Esta medida teve um particular impacto levando ao aumen-to considerável do número de militares que têm de realizar estas provas.

No âmbito do apoio médico, o CEFA assegura consultas e trata-mentos na área da medicina físi-ca e de reabilitação a todos os mi-litares do ativo das unidades da margem sul.

COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS

Completaram-se agora os 50 anos sobre a criação do CEFA, pelo que se entendeu comemorar esta data de uma forma especial. Deste modo, durante o ano de 2012, levaram-se a efeito várias iniciativas visando promover ati-vidades de carater cultural e des-portivo, relacionadas com a mis-são e tarefas desenvolvidas. Para o efeito, deu-se início a um ciclo de palestras e atividades despor-tivas, tendo sido convidadas vá-rias personalidades pertencentes à Marinha, bem como outras civis que mantiveram ao longo destes anos uma relação próxima ou de colaboração com o CEFA.

No passado dia 5 de abril de 2012, o CEFA “equipou-se” a rigor para celebrar o seu Cinquentená-rio. A cerimónia foi presidida pelo Superintendente dos Serviços do Pessoal (SSP), VALM Bonifácio Lopes, acompanhado pelo Diretor interino da Direção do Serviço de Formação, CMG Bastos Ribeiro. Estiveram presentes diversos ofi-ciais generais, muitos militares e civis da Marinha e, em particular, da área da Educação Física. Espe-cial referência à vinda de antigos Diretores e Professores do CEFA e de Presidentes de algumas Fe-derações que, ao longo de vários anos, têm mantido relações com este Organismo.

A cerimónia militar foi prece-dida por uma palestra proferida pelo CALM Cortes Picciochi, o oficial mais graduado especiali-zado em Educação Física, que fez uma resenha histórica da educa-ção física na Marinha e, em particular, das atividades desenvolvidas pelo CEFA neste seu meio século de existência.

No pavilhão gimnodesportivo, formou toda a guarnição e alunos da 50ª edição do Curso de Especialização em Monitores de

Educação Física, comandados pelo STEN TSN Vale Nóbrega. O início desta cerimó-nia militar foi marcado pela imposição de condecorações a militares da Marinha que se destacaram no desempenho das suas funções, devendo realçar-se a atribuição, por despacho do Almirante CEMA, da “Medalha de Filantropia e Dedicação” ao Centro de Educação Física da Armada, em reconhecimento dos serviços prestados ao

Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). Foram ainda entregues prémios desporti-vos, de que se destaca a entrega do troféu ao Comandante da Base Naval de Lisboa, CMG Dores Aresta, premiando a unidade (agrupamento BNL/FLOT) que, no ano

de 2011, obteve os melhores resultados nas competições de desportos coletivos.

Seguidamente, usou da palavra o Diretor do CEFA, CMG Lopes Pires, realçando os 50 anos em que a unidade, através do es-forço coletivo de sucessivas gerações que ali serviram, sempre soube dar resposta às necessidades internas da Marinha, bem como à grande capacidade de interagir com o meio civil, no âmbito da atividade física e

desporto. Foram 50 anos a formar, a organizar, a apoiar e a praticar com o objetivo de “(...) desenvolver da melhor forma a educação física e o desporto na Marinha, não se em-penhando apenas por uma marinha melhor, mas lutando também pelo profundo significado do seu lema In Corpore Sano.”

Por fim, o Vice-Almirante SSP proferiu um discurso, em que re-levou a “(…) honra de presidir à ce-rimónia dos 50 anos do CEFA, (…) não só pela circunstância protocolar (…) mas sobretudo pelo elevado apre-ço pelo trabalho aqui desenvolvido (…) e (…) sublinhar de forma ine-quívoca, a relevância da missão deste Órgão da Marinha.” Realçou ainda a importância que os comandan-tes, diretores ou chefes têm na promoção da atividade física e desportiva, sendo determinante o seu exemplo e proatividade na criação de condições para a práti-ca regular da educação física. Para além de enaltecer as atividades que o CEFA tem vindo a desen-volver relevou o mote In Corpore Sano, que se deve constituir como um desiderato de todos nós e uma obrigação abrangida pelo dever de dedicação ao serviço.

Encerrada a cerimónia militar, os convidados deslocaram-se para o topo norte do campo relvado de futebol 11, onde foi inaugurado o campo de voleibol de praia, com o descerrar de uma placa alusiva. A inauguração deste campo vai ao encontro da tomada de decisão da Marinha, através do CEFA, em or-ganizar o “III Campeonato Nacio-nal Militar de Voleibol de Praia”, como forma de implementar esta modalidade no seio da Armada. De realçar que a Marinha é a atual campeã nesta modalidade recente-mente introduzida nas Forças Ar-madas, tendo-se realizado já dois campeonatos nacionais militares.

No final, foi servido a todos os presentes um “porto de honra”

no bar das praças da BNL, edifício que, em tempos, pertenceu ao CEFA, onde esteve a sua direção e onde funcionou um ginásio e sala de desportos de combate.

Colaboração da DIREÇÃO DO CEFA

Page 22: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

22 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

Quatrocentos e cinquenta profissio-nais da PT Corporate (segmento que endereça as maiores empresas

e instituições clientes do grupo PT), realiza-ram, no dia 16 de março, na Escola Naval, o evento anual de motivação de equipas e de comunicação dos objetivos a atingir em 2012, onde foram recebidos pelo Coman-dante da EN, CALM Sea bra de Melo, em re-presentação do Almi-rante CEMA.

A PT solicitou a co-laboração da Marinha para a realização deste evento, reconhecendo o papel da instituição como “um exemplo de posicionamento, evo-lução e resiliência ao longo dos tempos”. O tema escolhido foi a “Guerra à crise”, tendo ficado a cargo da Ma-rinha a apresentação sobre “As novas artes da guerra”.

Correspondendo ao pedido da PT Cor-porate, que considera que a crise que atra-vessamos é também uma crise de valores, foi dado especial enfoque neste tema e nas virtudes militares navais, as quais conferem uma identidade própria à Marinha e promo-vem a coesão das pessoas que aqui servem os interesses de Portugal.

À chegada à Base Naval de Lisboa, os 450 elementos da PT foram acompanhados por vários cadetes da Escola Naval, que os con-

duziram numa visita guiada pela estação naval e os familiarizaram com os diferentes tipos de navios que aí se encontravam atra-cados. Já na Escola Naval, assistiram a uma instrução prática de infantaria pelo Corpo de Alunos, finda a qual os elementos da PT fo-ram também convidados a formar na parada, para que o Comandante do Corpo de Alunos

proferisse uma alocução sobre o simbolismo da formatura, os valores que esta envolve e o lema que a Escola Naval herdou do Infante D. Henrique, “Talant de bien faire”. De segui-da, “o batalhão da PT” dirigiu-se em marcha organizada para o auditório da Escola Naval, onde, após uma curta pausa para café, com a exposição dos “75 anos da Escola Naval no Alfeite” como pano de fundo, se iniciou a conferência.

A primeira intervenção esteve a cargo dos Contra-almirantes Silva Ribeiro e Gameiro Marques (Sub-CEMA e SSTI, respetivamen-

te), que abordaram o tema central da guerra, ligando-o com os desafios que se colocam à Marinha, nas vertentes do conhecimen-to situacional marítimo, e do processo de gestão estratégica, através do qual a Mari-nha se transforma para se manter relevante para o país. Foi ainda exibido um pequeno filme, que mostra quão relevante a Marinha

é para Portugal, atento o imperativo de garan-tir o exercício da sobe-rania e de impor a Au-toridade do Estado na imensa área de jurisdi-ção marítima que o País possui, a qual, fruto do alargamento da plata-forma continental, pas-sa a ser 40 vezes supe-rior à área do território continental.

A conferência pros-seguiu com as interven-ções de vários quadros

superiores da PT, que se basearam no lema da Marinha e na sua prontidão operacio-nal, para comunicarem os objetivos da PT para 2012.

Este evento foi muito bem recebido pelos colaboradores da PT, que revelaram enorme interesse em conhecer melhor a sua Mari-nha. Para a Marinha, foi mais uma excelente oportunidade para divulgar a sua utilidade, contribuindo de forma efetiva para promover uma maior abertura à sociedade.

Colaboração do EMA e da SSTI

MARINHA MOTIVA PROFISSIONAIS DA PTMARINHA MOTIVA PROFISSIONAIS DA PT

Realizou-se no dia 4 de março, no Pavi-lhão das Galeotas do Museu de Marinha, a cerimónia de admissão de novos membros da Confraria Europeia da Vela. Foram ad-mitidos vinte e oito novos confrades, oriun-dos de diversos países. Entre os empos-sados contava-se o Almirante CEMA, um anterior CEMA, o Almirante Vieira M atias, assim como um antigo Chefe de Estado--Maior da Marinha Espanhola. De real-çar que outro anterior CEMA português, o Almirante Melo Gomes, era já membro da Confraria.

Este evento estava integrado num progra-ma mais vasto de atividades relacionadas com a Marinha. Assim, foi proporcionada uma visita à Fragata D. Fernando II e Glória e a cerimónia no Pavilhão das Galeotas foi antecedida de uma visita guiada ao M useu de Marinha. A Banda da Armada esteve presente na referida cerimónia.

Confraria Europeia da Vela

Page 23: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 23

Decorreu no passado mês de Fevereiro, no Centro de Simulação Médica da Marinha (CSMM), a primeira edição

do Curso de Emergência em Combate (ASS30).Este curso, com a duração total de 36 ho-

ras distribuídas por 6 dias (10 horas teóricas e 26 horas práticas), foi ministrado por oficiais e sargentos das classes de médicos navais (MN), enfermeiros (HE), fuzileiros (FZ) e mergulha-dores (U).

O objetivo é dotar oficiais, sargentos e praças da Marinha Portuguesa com o conhecimento e competências téc-nicas necessárias ao desempenho de funções de socorrismo sob fogo, sobre-tudo os que participam em missões de maior risco.

Considerando a tipologia das opera-ções em que o isolamento dos militares longe das linhas amigas (ações de pro-fundidade) é mais provável, o risco de ocorrência de incidentes na atividade operacional é maior.

Dado que a evacuação dum militar em operação pode ser mais demorada, este curso visa facultar uma formação mais exigente em termos de suporte de vida. Assim como um maior domínio da utilização de recursos/dispositivos médi-cos no terreno quando comparado com outros cursos de socorrismo também mi-nistrados no CSMM.

Neste sentido, foram nomeados oito fuzileiros que integram o Destacamento de Ações Especiais (DAE), Batalhão Nº2 e Escola de Fuzileiros e três mergulhado-res do Destacamento de Mergulhadores Sapadores.

O desenho do curso e o desenvolvi-mento dos seus conteúdos – o manual dos alunos, as aulas teóricas, os cená-rios práticos e os métodos de avaliação - efetuaram-se em estreita colaboração do CSMM com o Centro de Medicina Naval (representado pelo 1TEN MN Duarte e Silva), com o Corpo de Fuzileiros (1SAR FZ Miranda Neto) e com a Esquadrilha de Submarinos (SAJ H Dias Melo).

O curso tem por base as orientações mais recentes do Tactical Combat Ca­sualty Care (TCCC), concebido em 1996 pelo Comando Conjunto de Operações Especiais norte-americano como resposta à ne-cessidade de associar ao Advanced Trauma Life Support (ATLS) e ao Prehospital Trauma Life Sup­port (PHTLS) a componente prática e tática dos cenários de guerra, nomeadamente visibilidade reduzida, sob fogo inimigo, temperaturas extre-mas, ambientes e terrenos áridos e pantanosos, entre outros.

Também em Portugal, o ensino de primeiros--socorros assenta no pressuposto da proximida-de à estrutura de assistência hospitalar. A Ma-rinha, através do treino e avaliação contínuos das Unidades Navais, sempre tentou contornar

esta “limitação” desenvolvendo meios de actua-ção próprios que permitissem o socorro eficaz e atempado em alto mar.

A importância da concretização do Curso de Emergência em Combate (ASS30), ultrapassa a regular formação em socorrismo, por se tratar dum curso inédito, com um conteúdo especí-fico e exigente, vocacionado para o ambiente de combate. Resulta dum longo trabalho de

pesquisa, adaptação e reflexão no sentido de adequar os conhecimentos de socorrismo uni-versalmente aceites à realidade da guerra e da Marinha Portuguesa.

Os contextos militar e civil apresentam dife-renças significativas na abordagem de situações de emergência médica: numa sala de emergên-cia hospitalar assistir uma vítima de trauma é a missão principal, em cenário de guerra essa as-sistência é apenas uma parte.

Os prestadores de cuidados no contexto mi-litar e civil diferem grandemente. Em contexto de guerra, o primeiro-socorro e estabilização

das vítimas está totalmente dependente da ca-pacidade de resposta e dos conhecimentos dos próprios indivíduos envolvidos no combate.

O equipamento disponível no “kit” de so-corrismo é também menor que os dispositivos médicos de qualquer infraestrutura de saúde, por mais simples que seja, mas o domínio das técnicas capazes de salvar uma vida humana é um objetivo possível para o qual se direcionou

toda a conceção do curso ASS30 – Emer-gência em Combate.

Globalmente pretende-se minimizar a vulnerabilidade dos militares sem redu-zir os padrões de desempenho. Os três objetivos-chave do curso são: (1) trata-mento do ferido, (2) prevenção de feridos adicionais e (3) cumprimento da missão. As competências táticas e de emergência pré-hospitalar são ensinadas e treinadas neste curso, agrupadas em três fases dis-tintas: (1) primeiros-socorros sob fogo, (2) socorro no terreno tático e (3) evacuação tática de feridos em combate.

Numa primeira fase, em que se veri-fiquem vítimas em combate, as funções do socorrista resumem-se a orientar o próprio ferido para se auto-socorrer e transportá-lo para um abrigo quando possível, mantendo-se ambos a salvo do fogo hostil.

Quando a vítima estiver segura, é pres-tado o socorro visando a sua estabiliza-ção e posterior evacuação. O choque hipovolémico por hemorragia de feridas nos membros, o pneumotórax hiperten-sivo e os traumas associados à via aérea são considerados as causas de morte evitáveis em combate mais frequentes. O perfeito domínio da atuação nestas situações específicas é o tema princi-pal das componentes teórica e prática do ASS30.

Por fim, a fase de evacuação tática, que inclui o relato verbal e escrito sobre o incidente e os cuidados de socorro já prestados à vítima, termina com a trans-ferência da vítima para a equipa médica e o seu transporte para terreno não hostil.

Tratando-se duma primeira edição, fo-ram naturalmente identificados conteú­dos e cenários de aprendizagem práti-ca que podem ser otimizados. Decorre

ainda o debriefing do curso com o objetivo de que o feedback dos alunos e dos formadores, vertido nos opinogramas preenchidos por todos, permita aperfeiçoar o Curso de Emergência em Combate de forma a ir ao encontro da realida-de da nossa Marinha e eventualmente vir a tor-nar esta formação num instrumento conjunto e combinado, disponível a outros ramos das For-ças Armadas, Forças de Segurança nacionais e países da CPLP.

Filipa Albergaria1TEN MN

Curso de Emergência em CombateCurso de Emergência em Combate

Page 24: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

24 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

O JFC NAPLES

Localizado em Bagnoli, na parte ociden-tal da cidade de Nápoles, em Itália, o Joint Force Command (JFC) Naples é

um comando operacional conjunto de âmbi-to regional (2º nível) da NATO, directamen-te subordinado ao Allied Command Opera-tions (ACO), de nível estratégico (situado em Mons, Bélgica).

As actuais instalações, alugadas ao Ban-co di Napoli, foram ocupadas em 1952 pelo comando que o antecedeu, o Headquarters Allied Forces South Europe (HQ AFSOUTH), depois de, numa primeira fase, se ter instalado provisoriamente a bordo do navio de coman-do americano USS “Mount Olym-pus”, que estava atracado no porto de Nápoles.

Responsável, genericamente, pela condução das operações na região do Mediterrâneo (embora formal-mente não tenha área de responsa-bilidade atribuída), o JFC Naples tem sob a sua supervisão três comandos de componente:

• Force Command (FC) Madrid, em Espanha, na componente ter-restre;

• Air Command (AC) Izmir, na Turquia, que comanda as opera-ções aéreas;

• Maritime Command (MC) Naples.Para além de alternar com o JFC

Brunssum (Holanda) e o JFC Lisbon (Portugal) o comando da Força de Reacção Rápida da NATO (NRF), o JFC Naples tem atribuídas as seguin-tes tarefas:

1. Conduzir as operações cor-rentes;

2. Preparar as operações futuras;3. Cooperar com os parceiros da

NATO;4. Apoiar o processo de transfor-

mação da Aliança;5. Garantir o cumprimento da missão da

NATO.No âmbito da primeira tarefa, o JFC é,

actual mente, responsável pela condução das seguintes operações:

• Kosovo Force (KFOR) – força de estabili-zação no Kosovo;

• NATO Trainining Mission in Iraq (NTM-I) - missão de Treino das Forças Armadas e de Se-gurança do Iraque (em fase de encerramento);

• Operação ACTIVE ENDEAVOUR – defe-sa contra o terrorismo no Mar Mediterrâneo (a partir do próximo ano limitar-se à a um pa-pel de apoio).

Além destas operações correntes, o coman-do coordena ainda as missões da NATO em Sarajevo (Bósnia), Skopje (Antiga República Jugoslava da Macedónia – ou FYROM) e Bel-grado (Sérvia).

No que concerne à preparação das opera-

ções futuras, leva a cabo, com regularidade anual, exercícios que visam preparar as forças destacáveis da NATO para o planeamento e condução de operações de resposta a crises, no restabelecimento da paz, apoio à reconstrução e auxílio humanitário em regiões remotas. Es-tes treinos, dos quais se salientam os exercícios conjuntos da série STEADFAST1 (intercalados com outros dirigidos a componentes específi-cas2), servem, nomeadamente, para o apron-tamento e certificação das Forças de Reacção Rápida da NATO (NATO Reaction Forces – NRF), envolvendo comandos NATO de dife-rentes níveis (operacional e táctico) e requeren-do, por vezes, a coordenação entre dois JFCs,

como é o caso do STEADFAST JOIST 2011, repartido entre o JFC Naples e o JFC Lisbon.

No âmbito da cooperação, o JFC colabo-ra, ao seu nível, com os parceiros da NATO aderentes aos seguintes acordos de parceria:

• Partnership for Peace (PfP): – Antigas repúblicas soviéticas: Arménia,

Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Caza-quistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Turquemenistão, Ucrânia e Uzbequistão;

– Ex-repúblicas jugoslavas: Bósnia-Herzego-vina, FYROM, Montenegro e Sérvia

– Países da Europa: Áustria, Finlândia, Irlan-da, Malta e Suíça;

• Mediterranean Dialogue (MD): Marrocos, Mauritânia, Tunísia, Argélia, Líbia, Egipto, Jor-dânia e Israel;

• Istambul Cooperation Iniciative (ICI): Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Qatar.

Acompanhando as diversas transforma-ções a que a NATO tem sido sujeita nos últi-mos anos, o JFC Naples passou recentemente por uma reorganização da sua estrutura in-terna, em que as antigas divisões (J1 a J9) se reagruparam em 4 Directorados – Operações (OD), Recursos (RD) e Gestão da Informação (KMD) -, cada um dos quais subdividido em Branches. Das antigas divisões ficou apenas a Divisão de Cooperação Militar (MCD). Esta reorganização, implementada em 1 de Agosto de 2010 após um período experimental de 9 meses, conduziu, por sua vez, a uma alteração da lotação humana do aquartelamento (Pea-cetime Establishment, PE), na qual se verificou

uma significativa redução de efecti-vos, que passaram de 800 para 668.

Está também em curso o proces-so de relocalização do HQ, que, de acordo com o previsto, se transferirá, em 2012, quinze quilómetros para Noroeste, junto ao Lago Patria. Ac-tualmente, o JFC Naples é comanda-do pelo almirante Bruce Clingan, da Marinha dos Estados Unidos.

O MC NAPLESSituado na ilha napolitana de Nísi-

da, a cerca de 2 Km do seu coman-do superior, o Maritime Command (MC) Naples é o resultado de diver-sas transformações pelas quais pas-sou, desde 1951, o Comando Naval Aliado do Mediterrâneo (inicialmen-te COMNAVSOUTH). Tendo a sua localização mudado em várias oca-siões, incluindo uma passagem pela ilha de Malta, ocupa as suas actuais instalações desde 1972.

Tendo a seu cargo, como atrás foi referido, a componente naval das operações, compete-lhe, nomea-damente:

1. Garantir o controlo marítimo no Mediterrâneo e Mar Negro;

2. Conduzir vigilância marítima;3. Planear e executar operações anti-minas;4. Exercer o Comando e Controlo de forças

navais multinacionais;5. Coordenar o apoio logístico e naval mul-

tinacional;6. Conduzir exercícios navais NATO e PfP;7. Conduzir, ao seu nível, actividades milita-

res de cooperação com os parceiros da NATO.No âmbito destas atribuições enquadra-se o

comando da Operação ACTIVE ENDEAVOUR, que se ocupa do combate ao terrorismo no Mediterrâneo. Registe-se que esta operação, iniciada logo após os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, é, actualmente, a úni-ca exercida ao abrigo do Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte (defesa colectiva dos mem-bros da Aliança).

Embora tenha passado por reestruturações recentes, o MC Naples mantém na sua orga-

A Presença Militar Portuguesa em NápolesA Presença Militar Portuguesa em Nápoles

As actuais instalações do JFC Naples.

Operação ACTIVE ENDEAVOUR.

Page 25: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 25

nização o clássico conceito das Divisões, em que estas se designam por “Ns” em lugar dos “Js” dos comandos conjuntos (N1 – Pessoal; N2 – Informações; N3 – Operações; N4 – Lo-gística; N5 – Planeamento; N6 – Comunica-ções e Sistemas de Informação; N7 - Treino; N8 - Finanças; N9 – Cooperação Civil-Militar).

Na sequência da última revisão da Estrutura de Comando da NATO, o MC Naples passará, durante o ano de 2013, as suas responsabilidades para o MC Northwood, que per-manecerá como único comando naval aliado.

O MC Naples é comandado pelo almirante Rinaldo Veri, da Marinha Italiana.

A REPRESENTAÇÃO N ACIONAL

Presentemente, Portugal con-tribui com três oficiais superiores (dois do Exército e um da Marinha) para o staff do JFC Naples. Dois ou-tros militares – um oficial superior e um sargento (ambos da Marinha) – servem na componente naval em Nísida, o que faz ascender a cinco o número de militares portugueses em Nápoles. A alteração no PE re-centemente ocorrida e atrás referida fez com que estes militares fossem sujeitos a uma recolocação interna, sendo de mencionar que um dos postos hoje ocupados no JFC por militares nacionais deixará brevemente de ser guarnecidos por portugueses quando o actu-al titular completar a sua comissão de servi-ço. Quanto aos dois militares no MC Naples, regressarão a Portugal sem ser substituídos, pois aquele Comando encerrará brevemente as suas portas.

A presente distribuição destes militares é a seguinte:

• JFC Naples:– Knowledge Management Directorate

– 1 oficial superior do Exército3 no Joint Policy Application and Lessons Identified/Lessons Learned Branch e 1 sargento da

Marinha no Knowledge Centre;– Operations Directorate – 1 oficial superior

do Exército no Joint Synchronisation and Execution Branch e 1 oficial superior da Marinha no Joint Plans Branch.

• MC Naples:– Plans Division (N5)/Maritime Ops – 1 oficial

superior da Marinha;• Information Division (N2)/OPINTEL –

1 sargento da Marinha.Actualmente servem em Nápoles os seguin-

tes militares da Marinha Portuguesa:No JFC Naples:– CFR Jorge Moreira Silva - Operations

D irectorate/Joint Plans Branch.No MC Naples:– CFR M Rui Santos Amaral –

D ivisão de Planos (N5)/Mariti-me Ops;

– 1SAR FZ António Guerreiro L opes – Divisão de Informações (N2)/OPINTEL.

Embora futuramente reduzida a 2 elementos, a delegação nacional no JFC Naples continuará empe-nhada em bem servir os interesses do País junto da NATO e a honrar o nome de Portugal, mantendo vi-sível a presença lusa no centro do Mediterrâneo.

NOTA: De 23 de Março a 31 de Outubro de 2011, o JFC Naples teve a seu cargo a condução da opera-ção UNIFIED PROTECTOR, na Lí-bia, sendo o MC Naples responsá-vel pela sua componente naval. Do desenrolar desta operação já demos conta aos leitores da RA.

Colaboração da DELEGAÇÃO MILITAR P ORTUGUESA EM NÁPOLES

Notas1 Em Dezembro de 2010 realizou-se o STEADFAST

JUNO, enquanto para Julho de 2011 foi programado o STEADFAST JOIST.

2 Como, por exemplo, o NOBLE MARINER 2011, conduzido pelo MC Naples,virado para a compo-nente naval.

3 Não será rendido por um militar português.

Instalações do MC Naples.

Os militares portugueses em Nápoles – Fevereiro de 2011. De regis-tar que, na altura, Portugal dispunha de mais três elementos no JFC.

Como manda a tradição, realizou-se no passado dia 16 de Março um exercício de subida do rio, o REMEX, desta vez com um trajeto que se iniciou no cais da Escola de Tecnologias Navais. Foram percorridos 9,5 km no Rio Coina, até

ao cais da Escola de Fuzileiros.Todas as companhias de alunos, do ensino universitário e politécnico, participaram

neste exercício que tem como principais objetivos incutir nos participantes o espírito de entreajuda dentro de cada equipa, e o espírito de competição entre as diversas equipas.

Para além de ser um teste à resistência psicológica dos cadetes, o REMEX foi tam-bém um grande desafio às capacidades físicas, não só pela dificuldade do próprio exercício, mas também por nessa madrugada, ainda na Escola Naval, se ter realizado um exercício de simulação de catástrofe natural. Para esse exercício foram organiza-das três equipas, nas quais cada líder ficou responsável por coordenar todas as ações que iriam permitir o resgate seguro dos feridos e proteção de todos os habitantes, no-meadamente através da construção de um hospital de campanha.

O curso vencedor do REMEX foi o Curso VALM Mendes Cabeçadas Júnior, do 2º ano, com uma diferença de dois minutos para o segundo lugar, mas o que verdadei-ramente se pretende destacar é o entusiasmo e empenho de todos os cadetes, que com estes exercícios puderam testar a forma como os valores defendidos na Escola Naval estão incutidos na sua conduta.

Disciplina, lealdade, honra, integridade, coragem e coesão (DSEN 2011) Colaboração da ESCOLA NAVAL

Cadetes da Escola Naval no Rio CoinaCadetes da Escola Naval no Rio Coina

Page 26: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

26 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

Uma das principais particularidades do acaso é, sem dúvida, a surpre-za. Quanto a mim, que já tenho

alguma pratica na sua procura e identifi-cação, confesso que, por vezes, enfrento algumas dificuldades para acreditar no que está a acontecer. Todavia, quero esclarecer o leitor que só estou a considerar o acaso feliz, aquele que Horace Walpole classifi-cou de serendipidade. Quanto aos outros, abomino-os.

Para encontrar manifestações do acaso, na nossa vida, é indispensável atender o seguinte procedimento: ir ao sótão buscar a máquina do tempo, lubrificá-la, atestá--la de combustível, carregar no botão “re-turn” e, depois, estar com toda a atenção para registar os acontecimentos do nosso passado, que têm desfechos inesperados. O leitor nem vai acreditar no que irá des-cobrir ao longo deste exercício.

Todavia, há ainda um outro aspecto que interessa considerar: o sucesso no acaso nem sempre resulta de um só golpe. Foi o que aconteceu com o episódio a que me referi no Primeiro Ciclo de Conferências do Património, que teve lugar, recentemente, no Museu de Marinha, onde li um “papel” que intitulei: “O acaso na valorização do Património.” No entanto, previamente, para que os meus leitores se familiarizassem com os aspectos, por vezes, inacreditáveis do acaso, decidi descrever uma situação de que fui testemunha e que aconteceu em três tempos:

1º Tempo: Após a minha promoção a guarda-marinha, deram-me o lugar de ime-diato da Corvina, uma lancha que fazia a fiscalização das pescas nas águas da zona norte do país. O navio era comandado por Almeida Brandão. Corria o ano de 1947 e, justamente, a 16 de Janeiro, uma data que não posso esquecer, assisti a um trágico acidente marítimo. Estávamos pairando, a aguardar a entrada na barra do Rio Dou-ro, fechada devido ao mau tempo, quan-do aparece o Meteoro, uma pequena em-barcação que, desrespeitando as ordens da capitania, forçou a entrada. Vimo-la ser levantada por uma onda e virar-se como se fosse um brinquedo de criança. Os tripu-lantes, esses, lançaram-se à água, sem que nada se pudesse fazer para os salvar. Julgo que, de todos esses marinheiros, apenas um conseguiu atingir as areias do Cabede-lo. Este episódio foi, para mim, a primeira grande lição da minha nova vida. Aprendi que, no mar, é obrigatório – imprescindí-vel, até – cumprir todas as regras de segu-rança (inclusive) atender aos avisos de mau tempo. Por favor fixem o nome da embar-cação: Meteoro.

2º Tempo: Em Maio de 1959, era capitão do porto do Chinde, em Moçambique, uma pequena povoação, situada no distrito da

Zambézia, num dos braços do delta gigan-tesco do rio Zambeze. Eu era comandante da Tete, uma vetusta lancha de fiscaliza-ção, cuja propulsão era devida a uma roda à popa, movimentada pela força do vapor. Um das minhas missões era efectuar uma viagem de fiscalização, ao longo daquele imenso rio, até à cidade de Tete, mostrando a Bandeira Nacional às populações. Seria a única viagem que faria, dado que, no ano seguinte, fui transferido para a Capitania de Quelimane.

Logo à saída do Chinde, deparei com um navio encalhado, num dos braços do delta. Era o Nereid, esse nome genérico das 50 filhas de Nereu e de Dóris, deuses gregos. Estava ali havia longos anos e exibia uma figura-de-proa, naturalmente uma bela Ne-reida, onde a cor branca – para meu espanto -- ainda se mantinha. Estava a vê-la a deco-rar a entrada da Capitania. Falei ao sargento, mestre do navio, na remoção da carranca, explicando-lhe o interesse que havia em a retirar com o maior cuidado, dado que ma-deira devia estar muito ressequida e podia quebrar-se. A montagem duma plataforma seria indispensável, para que a figura de proa não se perdesse. O mestre entusias-mou-se com a operação e lá seguimos via-gem nas águas calmas do Zambeze.

No posto de Chacuma, depois de algu-mas horas de navegação, desembarcámos os familiares dos elementos da guarnição, que, tradicionalmente, acompanhavam a guarnição no primeiro troço do percurso.

Foi um encanto fazer uma viagem de bar-co por dentro duma floresta de vegetação exuberante e, como não existia balizagem luminosa, todas as tardes atracávamos a uma árvore num dos muitos postos admi-nistrativos que existiam ao longo do rio. Os únicos brancos que encontrávamos eram os Chefes de Posto, que viviam, quase todos, sem família. A nossa chegada era uma fes-ta para as populações. Nós oferecíamos sal e arroz. Por vezes comprávamos galinhas. E, também metíamos combustível, previa-mente encomendado, constituído por le-nha seca que enchia dois batelões, que nos acompanhavam de braço dado.

Em Tete fomos recebidos pelo Governa-dor. No regresso, subimos o rio Chire e, numa política de boa vizinhança, fomos cumprimentar as autoridades na vizinha Niassalândia. Regressámos ao rio Zambeze e, ao fim de três semanas, já estávamos, de novo, nas proximidades da minha dama.

“Vamos ver a Nereida!”, disse eu, muito ufano, ao piloto que era, também, o mari-nheiro do leme. Mas quando nos aproximá-mos; “Qu’é dela? Roubaram-me a Nereida?”

Vim a saber que, ainda com os familia-res a bordo, o Mestre do navio apregoou a operação que iria fazer quando chegas-se ao Chinde. Pois bem, um jovem atento,

antecipou-se, quis fazer uma flor, raptando a dama, mas não tendo tomado as neces-sárias percauções, sucedeu o pior: a frágil Nereida não tendo sida tratada com carinho, não aguentou, desfez-se e caiu nas águas do Zambeze para se ir perder na imensidão do Índico. Por favor fixem o nome da carran-ca: Nereida.

3º Tempo: Passados mais de 30 anos, es-tou a prestar serviço no Museu de Marinha onde, praticamente, não existiam figuras de proa. Qual a razão? Tivemos, de facto, um belo lote reunido na Casa do Risco, como nos diz Brás de Oliveira: eram carrancas, provenientes de bem conhecidos navios do passado, tais como: as corvetas Estefânia e Raínha de Portugal, a barca Martinho de Melo, os vapores Barão de Lazarim e Minde-lo, o couraçado Vasco da Gama, carrancas, essas, que iriam ser integradas no nosso Mu-seu. Todavia, um pavoroso fogo destruiu-as completamente, no ano de 1916, juntamen-te com outros preciosos objectos.

Entretanto vim a saber, que António He-rédia tinha em sua casa um bela figura de proa. Herédia era bem conhecido por ter sido um ás do automobilismo. Mas como conseguir esta figura de proa? Certo dia, vou almoçar à Casa Seixas, em Cascais e Herédia estava numa mesa onde também se encontrava o comandante Gervásio Leite, bastante mais antigo do que eu, mas que me conhecia. A certa altura levanta-se da mesa e eu aproximei-me dele para lhe dizer que gostava de falar ao seu amigo Herédia, acerca duma figura de proa que ele tinha em casa e que ficava bem no Museu de Ma-rinha. Quando terminaram o almoço, para espanto meu, os dois amigos passam pela minha mesa e Herédia convida-me a mim e a minha mulher para almoçar, no sába-do seguinte, em sua casa no Monte Estoril.

Herédia vivia numa bela moradia, agora cheia de troféus, que tinha sido residência do rei D. Luís e de D. Maria Pia de Sabóia. Só a meio do almoço é que Herédia me pergunta o que eu queria dele? Falo-lhe da tragédia que nos levou as figuras de proa, que estavam destinadas ao Museu de Ma-rinha e da carranca, que eu sabia que ele possuía. Ouviu-me e, quando acabei a mi-nha arenga, Herédia diz-me: “Na segunda--feira, pode mandar buscar a carranca!” Agradeci efusivamente e quando lhe per-guntei o nome do iate que a figura de proa adornava, respondeu-me: “Nereida, mas o iate vendi-o e, o novo proprietário, mudou--lhe o nome para Meteoro.”

O acaso, por vezes, parece bruxedo!

António Estácio dos ReisCMG

[email protected]

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

O acasoO acaso

Page 27: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 27

HIERARQUIA DA MARINHA 16

Na segunda metade do século XVIII, du-rante o período de governação do mar-quês de Pombal, foram implementadas

grandes reformas na Marinha e no Exército . A re-gulamentação dos distintivos militares a usar nos uniformes militares, decretada pelo rei D. José, em 27 de Abril de 1761, foi uma das primeiras medidas indiciadoras dos novos tempos, mar-cados pelo génio do grande ministro. Pelo seu interesse histórico, transcreve-se o texto do res-pectivo decreto.

«Atendendo aos inconvenientes que resultaõ de naõ haver disposiçaõ que regule as distincções, de que nos seus uniformes devem usar os Generaes, e Officiaes Mi-litares: Sou servido, que da publicação deste Decreto em diante, o Capitaõ General dos Galeões da Minha Arma-da Real de alto bordo; os Mestres de Campos Generaes, que tiverem Patente, ou exercício de Governadores das Armas nas suas respectivas Províncias, usem de ala-mares de ouro nas casacas com galaõ de três dados de largura á borda, e nas vestias de hum galaõ da mesma largura também á borda, com guarniçaõ nos bolsos, sendo tudo guarnecido com casas de ouro, e botões de metal dourado: Os Mestres de Campo Generaes, ou se achem com exercicio dos seus postos, ou sem ele, usaraõ

sómente de dois galões de ouro lavrados, e abertos, hum deles da largura assima referida, que se porá direito, sem outra alguma figura, que não seja a que requer a guar-nição dos bolsos, e o outro mais estreito á borda, sendo as vestias na mesma fórma, e os botões, e casas como assima tambem fica declarado: os Sargentos Móres de Batalha usaraõ de um só galão tambem lavrado, e aber-to, e assentado na mesma conformidade em casacas, e vestias com abotoaduras iguais ás sobreditas: os Briga-deiros, e Coroneis do mar, usaraõ em casacas, e vestias das mesmas abotoaduras com hum galão á borda liso, e fechado, que tenha dois dedos e meio de largura: os Co-ronéis das Tropas de terra, e Capitães de Mar e Guerra, usaraõ de hum galaõ lizo de ouro, ou de prata, segundo os seus respectivos uniformes, de dedo e meio de largu-ra, posto á borda com casas da cor da farda, e botões de metal. Todos os outros Officiais de Patente usaraõ de hum só galão estreito á borda na vestia, e sendo lavrado, e aberto o dos Tenentes Coroneis, Capitães Tenentes, e Sargentos Móres; e lizo o dos Capitães: os Ajudantes de Campo, que forem do Capitaõ General da Minha Arma-da, e dos Generaes, que governarem o Exercito, ou tive-rem a seu cargo os governos das Provincias, usaraõ nos seus uniformes da guarniçaõ, que, segundo a Patente que tiverem, lhe competir, pelo que neste meu Decreto,

tenho determinado: Sou servido outrosim dispensar a Pragmatica para os sobreditos effeitos sómente, ficando aliás em seu vigor. E considerando que nenhum vesti-do póde haver mais nobre, nem mais digno de entrar na minha Corte, do que os uniformes Militares: Orde-no, que depois das ordens expedidas em execuçaõ des-te, nenhum General, Official de Patente, Subalterno, e Soldado, ou pessoa de qualquer qualidade, ou condi-ção que seja, com exercicio nas Minhas Tropas, ou sem ele, vencendo soldo militar, possa vir á minha presença nas funções públicas, ou audiencias com outros vesti-dos, que não sejam os seus respectivos uniformes, ou fardas, sob pena de perdimento do posto, ou praça, que tiverem até nova mercê Minha. Exceptuo as pessoas, que em razaõ dos seus empregos políticos me acompa-nharem nos dias em que forem chamados, e isto sómente quando nos avisos, que lhes forem feitos para esse fim, se lhes declararem os vestidos, com que devem assistir--me, posto que sejaõ Militares. O Conselho de Guerra o tenha assim entendido, e faça expedir nesta conformi-dade as ordens necessárias. Nossa Senhora da Ajuda a vinte e sete de Abril de mil setecentos e sessenta e um.»

António Silva RibeiroCALM

DISTINTIVOS MILITARESDISTINTIVOS MILITARES

VIGIA DA HISTÓRIA 43

Naquele Verão de 1973 tudo se propiciava para ser uma agradável viagem a bordo do NRP Sagres; na verdade para quem

acabara de chegar de uma comissão na Guiné pouco haveria que não fosse agradável, quanto mais uma viagem pelo Norte da Europa. Logo de início, no trajecto para Vigo, houve que supor-tar mau tempo, o vento de proa era de tal forma que a chungosa1 levou 5 dias a vencer a distância.

Já a Mancha parecia um lago, no qual, ao na-vegar com o pano todo, a Sagres era um chama-riz para os navios de turismo, os Mirage da força aérea francesa e até um submarino nuclear que se vieram posicionar a “barlafotografia” para mais tarde recordar. A estadia no Havre foi bas-tante curiosa, face à recusa da autarquia em rece-ber um navio de guerra português, a autarquia era maioritariamente comunista, a Marinha francesa destacou vários oficiais e sargentos de ligação, todos eles falando português e propor-cionou um programa de visitas diárias a Paris e às praias da Normandia. A saída do Havre , efectuada , desde a largada do cais, unicamente à vela, despertou uma onda de entusiasmo en-tre as largas centenas de espectadores que, no cais e na eclusa, não se cansaram de aplaudir com especial relevo para um grupo de velhos marinheiros da Associação dos Cap Horniers2.

Descontando os primeiros dias tudo parecia corresponder às expectativas iniciais que, adivi-nhava-se, iam ser superadas na escala seguinte em Hamburgo, local onde a Sagres havia sido construída e onde voltava pela primeira vez os-tentando pavilhão estrangeiro.

Na véspera da chegada, eu e um “filho da es-cola“ fomos escolhidos para representar o navio junto dos militares portugueses deficientes que estavam em tratamento num hospital militar em Hamburgo.

Em contacto com o Adido Militar português soubemos que aqueles militares tinham, na maioria dos casos, grandes dificuldades eco-nómicas, não sendo o dinheiro suficiente para, inclusive, comprar cigarros. Face a esta infor-mação, logo nos prontificámos a oferecer uns pacotes de cigarros.

À hora aprazada lá saímos do navio carre-gando, cada um, uns sacos de plástico com os pacotes de cigarros a oferecer e quando nos aprestávamos para sair do cais eis que surge um guarda vociferando, num dialecto que para os alemães era certamente perceptível e compreen-sível mas que para nós, por incompreensível, até poderia ser chinês.

Não fora o grande “pistolão“ que ameaça-doramente empunhava e cuja linguagem era

facilmente compreensível de certeza que não o teríamos acompanhado até uma sala onde aguardámos o desenrolar dos acontecimentos.

Tanto quanto me lembro, a resolução da si-tuação passou pela intervenção das entidades diplomáticas, que levaram o guarda a desistir da prisão que efectuara a dois contrabandistas .

Regressados a bordo e perante a impossi-bilidade de transportarmos os pacotes, logo se pôs em prática um plano alternativo que consistiu no transporte, por grande número de membros da guarnição, de dois maços de cigarros cada um, que iam depositando no porta-bagagens do carro que nos haveria de transportar e que se encontrava estacionado longe do cais em lugar fora de vista. A alegria com que fomos recebidos, e que no dia seguin-te, em almoço a bordo da Sagres, se voltou a manifestar, compensou totalmente aqueles longos minutos de prisão.

Com. E. Gomes

Notas 1 Designação dada, ao tempo, ao propulsor do navio. 2 Designação dada aos homens do mar que passaram

o Cabo Horn.

N.R.O autor não adota o novo acordo ortográfico.

PRISÃO EM HAMBURGORecordando o Zé Heitor, companheiro de aventura

PRISÃO EM HAMBURGO

Page 28: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

ACADEMIA DE MARINHA

e INSTITUTO DE

CULTURA EUROPEIA E ATLÂNTICA

VIII Sessão Cultural

Conjunta

29 de Maio de 2012

Programa 0930 – Recepção dos participantes 1000 – Sessão de Abertura Saudação do Presidente

da AM e do Presidente do ICEA

1030 – A contribuição do Observatório Astronómico de Lisboa, para a Navegação de Precisão

Professor Doutor Rui Agostinho

(Director do OAL) 1115 – Pausa para Café 1130 – A Navegação Aérea - da

Astronomia à Electrónica Cte. Luís Nuno Sardinha Monteiro (Comandante do NE Sagres)

1215 – Os Mares – novos mundos descobertos na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra

Dr.ª Teresa Amaral (Directora da Biblioteca

do P.N.M.) 1300 – Almoço

1430 – Partida para o Museu de

Marinha (MM) 1500 – Recepção

CALM António José Bossa Dionísio

(Director do Museu de Marinha)

Visita guiada ao Núcleo Museológico da 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul

C Frag. António Costa Canas

(Subdirector do Museu de Marinha)

1600 – Recepção e apresentação do Planetário Calouste Gulbenkian

Cte. João F. Franco Facada

(Director do Planetário C.G.) 1645 – Os céus de Gago

Coutinho e Sacadura Cabral em 1922

Cte. José Manuel Malhão Pereira

(Sec. Classe Artes, Letras e Ciências da AM)

1730 – Sessão de Encerramento Presidente da AM e

Presidente do ICEA

ACADEMIA DE MARINHA

e INSTITUTO DE

CULTURA EUROPEIA E ATLÂNTICA

VIII Sessão Cultural

Conjunta

29 de Maio de 2012

Programa 0930 – Recepção dos participantes 1000 – Sessão de Abertura Saudação do Presidente

da AM e do Presidente do ICEA

1030 – A contribuição do Observatório Astronómico de Lisboa, para a Navegação de Precisão

Professor Doutor Rui Agostinho

(Director do OAL) 1115 – Pausa para Café 1130 – A Navegação Aérea - da

Astronomia à Electrónica Cte. Luís Nuno Sardinha Monteiro (Comandante do NE Sagres)

1215 – Os Mares – novos mundos descobertos na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra

Dr.ª Teresa Amaral (Directora da Biblioteca

do P.N.M.) 1300 – Almoço

1430 – Partida para o Museu de

Marinha (MM) 1500 – Recepção

CALM António José Bossa Dionísio

(Director do Museu de Marinha)

Visita guiada ao Núcleo Museológico da 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul

C Frag. António Costa Canas

(Subdirector do Museu de Marinha)

1600 – Recepção e apresentação do Planetário Calouste Gulbenkian

Cte. João F. Franco Facada

(Director do Planetário C.G.) 1645 – Os céus de Gago

Coutinho e Sacadura Cabral em 1922

Cte. José Manuel Malhão Pereira

(Sec. Classe Artes, Letras e Ciências da AM)

1730 – Sessão de Encerramento Presidente da AM e

Presidente do ICEA

Page 29: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 29

Realizou-se no passado dia 17 de março no “Clube de Tiro do Biscaínho” mais um almoço de confraternização da 1ª guarnição da Fragata Almirante Magalhães Corrêa (1968-1971). Contou, como sempre, com a magnífica organização do nosso João Faria e, este ano, com a atuação do rancho folclórico local. O convívio que se realiza todos os anos, marca bem o espírito de camaradagem marinheira que se estabeleceu e perdura há mais de 4 décadas e decorreu num ambiente de evocação de “estórias” de um passado que todos recordam com saudade.

Almoço de confraternização da 1ª guarnição da Fragata Almirante Magalhães Corrêa (1968-1971)

Almoço de confraternização da 1ª guarnição da Fragata Almirante Magalhães Corrêa (1968-1971)

No final do mês de março realizaram-se os últimos eventos

ainda integrados nas come-morações do cinquentenário da entrada na Escola Naval do curso “Nuno Tristão”.

No dia 19, uma delegação do curso foi recebida pelo Almirante CEMA, a quem foram apresentados cumpri-mentos, sendo-lhe referida a forma como decorreram as comemorações e manifes-tada a grande satisfação do curso pelo apoio recebido da Marinha, designadamen-te nos aspetos relacionados com as diversas e significati-vas visitas realizadas no ano transato (Comando Naval, Escola de Tecnologias Na-vais, Instituto Hidrográfico e Escola Naval). Ao Almirante CEMA foi entregue na opor-tunidade o primeiro exem-plar do livro do Curso e uma medalha comemorativa.

No dia 21, teve lugar no Clube Militar Naval o an-siosamente aguardado pelos NT’s lançamento do Livro do Curso.

Ao evento, com a presen-ça de expressivo número de NT’s, tive-ram a gentileza de se associar o Supe-rintendente dos Serviços do Pessoal, o Diretor da Revista da Armada, o Coman-

dante da Escola Naval, alguns represen-tantes de outros organismos da Marinha e o Presidente do Clube Militar Naval. Foi também com grande satisfação que

contamos com a presença de alguns dos antigos profes-sores, bem como de repre-sentantes dos cursos (mais antigos e mais modernos) que connosco partilharam os saudosos tempos da Es-cola Naval, neles incluídos os da Reserva Naval.

O Coordenador da “co-missão organizadora das co-memorações” (Vidal Abreu) endereçou as boas-vindas aos presentes e expôs os passos mais significativos do desenrolar dos trabalhos preparativos para a elabo-ração do Livro. De seguida, o Jacinto Rego de Almeida fez uma breve apresentação do Livro do Curso referindo os aspectos mais relevantes que o enformam.

No convívio que se se-guiu, igualmente com a presença de familiares de alguns camaradas infeliz-mente já falecidos, houve então a oportunidade de distribuir o ansiado Livro do Curso. Os NT’s foram ainda brindados com a entrega de DVD’s e CD com o registo em vídeo, fotos e áudio (“Fa-

dos Nossos”) de acontecimentos vários relacionados com o Curso.

Colaboração do Curso “NUNO TRISTÃO”

50º Aniversário do curso “Nuno Tristão”50º Aniversário do curso “Nuno Tristão”

Page 30: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

30 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

Habitualmente gosto de fazer despor-to. Alivia a alma e fornece-me a força que muitas vezes é necessária para

levar a vida. Daquela vez levei a minha filha e fui à piscina. Como todos, tive que colo-car um daqueles barretes de aspecto mais ou menos ridículo. Não estava só, naquele do-mingo à tarde, haviam imensas pessoas, des-de homens mais ou menos barrigudos, com um barrete até às orelhas, até jovens tatuados com uma espécie de lenços plastificados, de padrões camuflados com cores de amarelo e laranja (certamente criados para camuflagem nocturna numa qualquer discoteca, onde os perigos abundam nos dias que correm). Como o meu barrete era azul a minha filha apelidou-me de “smurf”, baseando-se numa série infantil que eu mal conheço…

No meu fato smurfiano continuei a frequen-tar a piscina. Percebi que os smurfs regulares, particularmente os mais maduros, se cumpri-mentam – atitude rara hoje em dia –, dizem os bons dias, as boas tardes e, um verdadei-ro crime, sorriem uns para os outros, mesmo para aqueles que só viram uma vez… Con-tam histórias de um tempo que já não existe...

Com as visitas regulares à piscina – como seria expectável – começaram a contar-me as suas mazelas. De uma forma discreta e delicada, particularmente quando a con-versa é temperada pela água quente daque-le pântano borbulhante, invenção exótica que dá pelo estranho nome de “Jacussi”, ou qualquer coisa assim...Percebi então aquilo que já sabia, todos têm o seu caminho, todos carregam as suas mágoas físicas. As hérnias

discais, a artrose da anca, havia até o smurf obeso que já tinha feito “bypass” coronário e estava na piscina para “perder peso”…entre muitos outros. Contudo, a forma como foram avançando as “histórias clínicas” era livre e descontraída, de modo que nem eu me sen-ti perturbado na distribuição de conselhos, nem os “doentes” pareciam nervosos com as intimidades que partilhavam de forma quase pública – só perturbada pela chegada da tri-bo da hidroginástica (composta por senhoras apressadas, que dançam ao som de cânticos de guerra entoados da margem, orquestrados por um agitado xamã exótico, que as castiga até ao transe…).

No geral, as conversas dos smurfs, mes-mo as de assuntos tão sérios, são marcadas por um sentido de humor leve e um olhar descomprometido sobre o mundo em geral e sobre o nosso país em particular que – di-zem alguns deles – sempre saltou de crise em crise. É o “modo de ser português”, di-zia outro, enquanto ajeitava o dito barrete, que lhe caía ridiculamente para os olhos, de forma mais ou menos ostensiva…

Ora a este tempo perguntarão alguns dos meus – certamente poucos – leitores, porque é que eu falo aqui da experiência smurfiana. A verdade é que recomendo muitas vezes aos meus pacientes navais que façam exer-cício regularmente e, nos últimos tempos, que procurem a piscina. A prescrição tornou--se tão frequente e (admito intimamente) tão enfática, que já houve quem perguntasse:

– Doutor tem alguma quota nos fabrican-tes de piscinas ou nos clubes de natação?

Daqui respondo que não, não tenho quo-ta. No entanto, nunca conseguiria explicar--lhes, sem ser desta forma, os outros benefí-cios que as colónias smurfianas trazem para a alma – para além dos óbvios benefícios para o corpo, que muitos discípulos de Es-culápio promoveram, ao longo dos séculos. Parece-me, que num tempo agitado, cheio de incerteza, medo e perene em padecimen-tos a existência de um oásis assim, acessível, e disponível todos os dias, é de primordial importância.

Afigura-se-me, também, que os smurfia-nos dão uma ideia humana excelente. Mui-to diferente dos portugueses “plastificados” em ideias feitas, noções boçais sobre o que é importante e uma vida de relação marca-da pela futilidade – com que frequentemen-te me deparo.

Fique-se, portanto, daqui a conhecer que as férias nas Caraíbas já não colhem. Reco-mendo uma pausa na piscina. Garantia para o alívio nas dores nas costas, promotor da muito importante redução do perímetro ab-dominal e um bálsamo para o espírito. Exis-te todavia uma condição importante. Todos os smurfianos têm que se despir – no corpo e no preconceito. Têm que reconhecer que os outros existem como pessoas. Só assim serão aceites. Só assim usarão a sua touca com orgulho.

Só assim serão verdadeiros smurfs…

DocN.R.O autor não adota o novo acordo o rtográfico.

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13)

Eu SMURF me confesso…Eu SMURF me confesso…

Page 31: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2003 11REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2012 31

Com a publicação dos volu-mes V e VI, em inglês, da sua obra Batalhas e Com-

bates da Marinha Portuguesa, res-petivamente LOSS OF SEA MAS-TERY 1604-1626 e THE MIRACLE OF RESTORATION 1627-1668, o Comandante Saturnino Monteiro consegue disponibilizar em inglês a parte mais importante da sua obra, constituída pelos primeiros seis volumes faltando apenas dois volumes de menor importância.

A Revista da Armada agradece a oferta dos dois referidos volu-mes e enaltece uma vez mais esta iniciativa que, como já se disse, é efetuada por conta própria.

Bem haja Comandante Saturni-no Monteiro.

PORTUGUESE SEA BATTLESVOLUMES V E VI

PORTUGUESE SEA BATTLESLIVROS

Page 32: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •
Page 33: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 151

W – E vuln. Com 9 cartas em ♥ o contrato natural na linha N-S será 4♥, po-dendo, no entanto, verificar-se que 3ST são feitos à cabeça com qualquer saída (1♠+5♥+2♦+1♣). Este contrato pode ser pensado por S, se após abrir em 1♥ e ou-vir 2♥ do parceiro marcar naturalmente 2ST, ouvindo 3ST de N para mostrar uma distribuição regular, o que será tentador para admitir uma passagem…não queren-do arriscar marcará 4♥. Analise as 4 mãos e veja como deve S jogar para cumprir o seu contrato, recebendo a saída a ♦6, numa opção que contrariou a que pare-ceria ser uma mais lógica a ♠.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 151Existem 4 perdentes (2♠+1♦+1♣), pelo que haverá que eliminar uma. Efetivamen-te, a saída a ♠ tornaria o contrato incumprível, pois inviabilizaria a linha de jogo que permitiria fazê-lo, como adiante perceberá, mas assim S vai poder aproveitar esta opção favorável para o fazer, servindo igualmente de exercício de carteio. Ve-jamos como: E joga a D e S o R; segue com A♣ e ♣ e faz a vaza no naipe de ata-que da defesa, seja ele qual for; destrunfa a acabar no morto e corta o último ♣, eliminando esse naipe; dá a mão para fora em ♦ e repare que existe sempre uma situação de bloqueio de W em ♠, vendo-se obrigado a jogar para corte e balda de uma ♠ perdente, o que permitirá o cumprimento do contrato.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):RD

6

V862

R108732

Este (E):V8762

V109

D94

D9

Norte (N):953

D743

A75

V64

A104

Sul (S):AR852

R103

A5

HORIZONTAIS: 1- Relativo ao Imperador Justiniano. 2-Substâncias azotadas que se encontram nas urinas; é quase nauta. 3-Plantas faseoláceas, Também chama-das sanfeno-de-espanha; unidade de medida de irradiação ionizante absorvida. 4-Após; no princípio de catitismo. 5-Rio Suiço; fecundar (falando-se das galináce-as). 6-Símb.quím. do lutécio; castigar; no princípio e no meio do Sul. 7-Pecados; de modo irregular. 8-Ninfa dos prados e das matas; leito. 9-Três consoantes iguais; ratos na confusão. 10-Montanha da Grécia (Macedónia), situada no sul da penín-sula mais oriental da Calcídice; cidade e município do est. De Santa Catarina, Bra-sil. 11- Filologia românica.

VERTICAIS: 1- Diz-se de uma tradução, em que o texto e a versão ocupam duas linhas contíguas, correspondendo uma linha desta a uma linha daquela. 2- Es-pécie de lagarto voraz; reco. 3-Pôr a sela ou o selim ao cavalo, ao burro, etc; ci-dade da Inglaterra, afamada pelas suas águas minerais. 4- Irmãs da mãe; ligeire-za. 5- Andavas; crianças (Bras). 6-No meio da ansa; pequena embarcação; dois romanos. 7- Competição automóvel ou de motociclos, destinada a comprovar a destreza dos pilotos e as capacidades dos veículos ao longo de um percurso cro-nometrado e por etapas (pl); organização mundial de Saúde (sigla). 8- Cobrira de natas; e quase tasco (inv). 9-Ponto da abóbada celeste que se acha directamente por baixo dos nossos pés, e ao qual chegaria uma recta que passasse pelo pon-to em que estamos e pelo centro da Terra; no início de matrícula. 10-Pronome pessoal; rio de Moçambique, braço do Zambeze (pl. e inv.) 11-Genero de plan-tas herbáceas aquáticas.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 433HORIZONTAIS: 1-Justinianeu. 2-Ureias; naut. 3-Sulas; rad. 4-Tras; catiti. 5-Aar; galar. 6-Lu;punir; su. 7-Erros; mal. 8-Napeia; cama. 9-Sss; ostar. 10-Atos; imarui. 11-Romanistica.

VERTICAIS: 1-Justalinear. 2-Ururau; to. 3-Selar; epsom. 4-Tias; pressa. 5-Ias; gu-ris. 6-Ns; canoa; ii. 7-Ralis; oms. 8-Anatar; csat; 9-Nadir; matri. 10-Eu; samauc; 11-Utricularia.

Carmo Pinto1TEN REF

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 433

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

CONVÍVIOS

l No próximo dia 2 de junho realiza-se a 2ª edição do almoço de confraternização de radiotelegrafistas. Convidam-se todos os radiotelegrafistas a participarem no evento.

Mais informações em http://www.radiotelegrafistas.com/ ?attachment_id=724.

Contacto para inscrições: Carlos Horta: Telf: 91 922 27 84 – E -Mail: [email protected], [email protected].

ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO DE RADIOTELEGRAFISTAS

GRUPO AMIZADE MARINHEIROS DO CONCELHO DE ESPOSENDE

l Comemora-se no próximo dia 19 de maio o XXVII aniversário do G.A.M. concelho de Esposende.

Este ano as comemorações serão realizadas na fre-guesia de Fonte Boa.

Os interessados em participar no evento devem contactar os delegados das freguesias, ou o Grupo Marinheiros de Fonte Boa, email: [email protected].

Page 34: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

34 MAIO 2012 • REVISTA DA ARMADA

NOTÍCIAS PESSOAISFALECIDOS

VALM REF Ilídio Carlos Rodrigues Elias da Costa 1TEN OT REF Joaquim Pereira Cardoso Mendes SMOR DFA FZ REF José Lopes SMOR CM REF José Joaquim SAJ CM REF Francisco de Jesus Santos SAJ M REF António Lopes SAJ M REF Manuel Pires SAJ C REF Manuel Monteiro Lopes SAJ CM REF Paulo Parreira SAJ FZ REF Joaquim António Afonso 2SAR DFA REF Virgílio António Lopes 1SAR C REF Fran-cisco de Jesus Magalhães CAB TFH REF Manuel Guerreiro Pacheco CAB FZ REF Serafim Vicente Gomes Maciel CAB FZV João Manuel Ribeiro Marques CAB T REF Francisco José Romão Rebeca 1MAR CM REF António do Rosário Francis-co 2GRT REF José Marques Viegas P COSTA QPMM APOS Carlos Manuel Correia Bollano Romero AG 1/A CLAS QPMM APOS José Luís de Almeida SUBCHEFE QPMM APOS João Pereira dos Santos.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

CFR FN Humberto Manuel Rodrigues Tavares nomeado Sub-diretor do Serviço de Saúde.

RESERVA

CMG SEC Manuel Pratas Freitas CMG MN Egídio José J orge Pedro.

REFORMA

CMG Leonel Esteves Fernandes CFR SEH Manuel Abílio Matias SMOR FZ João Joaquim da Cunha SMOR TEA Daniel Valério Candeias Mendes SCH R António Sequeira Cardoso SAJ L Cesar Manuel Nabo Pisco 1SAR L Salvador Lopes da Silva Brito CAB L Luís da Silva Ramos.

CONVÍVIOS

V ENCONTRO NACIONAL DOS ANTIGOS ALUNOS DA FRAGATA

D. FERNANDO II E GLÓRIA Vai realizar-se no dia 2 de junho na localidade do Bombarral, o V Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Fragata D. Fernan-do II e Glória.

A concentração terá lugar junto ao Continente/Modelo pelas 11.00 horas, seguindo--se a receção e convívio pelas 11.30 horas e almoço às 13.00 horas no Restaurante “Zélia”.

As inscrições devem ser efe-tuadas até ao dia 15 de maio para os seguintes contactos:

Joaquim António Pereira Lopes, Avenida Dr. Joaquim de Albuquerque, nº 15, 2540-004 Bombarral, Telemóvel 967970171, E-mail: [email protected].

CÂMARA DE OFICIAIS DA VEDETA DO BARREIRO

Realizou-se no passado dia 24 de fevereiro, em Olhos de Água, Pinhal Novo, a 11ª edição do jantar do equinócio da Câmara de Oficiais da vedeta do Barreiro. Contou com a presença de 19 con-vivas e foi antecipado por forma a garantir a presença neste de alguns Oficias do NRP Corte-Real, que irá estar presente na ope-ração Atalanta, na Somália.

Nos últimos 25 anos, contam-se para cima de meia centena o número de Oficiais que assiduamente frequentam e/ou frequen-taram esta vedeta. Esta tem sido muito mais do que um meio de ligação entre a BNL e o Barreiro, pois tem-se constituído como uma plataforma de encontro, e de debate de ideias, entre Oficiais com responsabilidades nas mais variadas áreas da nossa Mari-nha, proporcionando assim a possibilidade de conhecer melhor a Instituição que orgulhosamente servem.

FAMÍLIA NAVAL DA ZONA DO PINHAL

ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

A Associação de Marinheiros de Trás-os-Montes e Alto Douro, vai realizar o seu encontro anual, no dia 3 de junho, em Vila Real. Este encontro vai ter lugar na Quinta do Carmo, em Mouçós, de-vendo as inscrições ser feitas para o TM: 965068967.

Realiza-se dia 9 de junho, no Restaurante “Ponte Velha”, na Sert ã, o almoço-convívio dos “Filhos da Escola” da zona do Pinhal.

Para mais informações contactar: Vitor Silva TM 969 283 473, Manuel Barata TM967 281 888 e Armando Almeida TM916 802 288.

1ª GUARNIÇÃO DO NRP ÁLVARES CABRAL (1991/1994)

Realiza-se no próximo dia 26 de maio o almoço-convívio da 1ª guar-nição do NRP Álvares Cabral (1991/1994). O local da realização do even-to está condicionado à adesão verificada por parte dos intervenientes.

Para mais informações contactar: [email protected] TM 965274456 ou [email protected] RPTM 327271.

Page 35: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

16. O NaviO HidrOgráficO Comandante almeida Carvalho iO N.H. Comandante Almeida Carvalho I foi construído em

Vancouver, no Canadá, nos estaleiros North Van Ship Repairs, em 1941, com o nome Fort York. À semelhança do N.H. Almi-rante Lacerda, também pertencia à classe “Bangor”, tendo sido utilizado pela Marinha Canadiana como lança-minas e, mais tarde, pela Marinha do Reino Unido.

Em 1950, o Governo Português procedeu à sua compra ten-do sido adaptado no Arsenal do Alfeite a navio hidrográfico e aumentado ao Efetivo dos Navios da Armada em 26 de se-tembro de 1950. Tomou então o nome de Comandante Almei-da Carvalho em homenagem ao Capitão-de-fragata Ernesto Tavares de Almeida Carvalho a quem se deve, entre outros trabalhos, o le-vantamento hi-drográfico do litoral de Sines e a publicação de diversos es-tudos sobre a densidade da água do mar e profundidade dos oceanos.

O navio apre-sentava as se-guintes carac-terísticas:

Deslocamento máximo ................................... 900 toneladasComprimento (fora a fora) ............................ 54,9 metrosBoca ................................................................... 8,7 “Calado .............................................................. 2,9 “Velocidade ....................................................... 16 nósPropulsionado por duas máquinas alternativas de tríplice

expansão com uma potência de 2.400 cavalos, estava armado com uma peça de 76 mm e duas de 20 mm e a sua guarnição era constituída por 89 homens.

Inicialmente deu apoio aos trabalhos hidrográficos realiza-dos nos Açores pela Missão Hidrográfica das Ilhas Adjacentes (MHIA) substituindo nessas funções o N.H. D. João de Castro.

Entretanto, em 22 de Setembro de 1960, foi criado o Ins-tituto Hidrográfico que passou a coordenar a atividade das Missões Hidrográficas. No ano seguinte, procedeu-se a um reajustamento no tocante à distribuição geográfica de algu-mas missões, tendo a MHIA sido extinta. Passou a antiga Brigada Hidrográfica Independente do Continente, entretan-to elevada à categoria de Missão com a designação Missão Hidrográfica do Continente e Ilhas Adjacentes (MHCIA), a abranger a área respeitante aos arquipélagos dos Açores e Madeira. Para a realização dos seus trabalhos, contava esta Missão com o apoio do N.H. João de Lisboa.

Em simultâneo, foi criada a Missão Hidrográfica do Ar-quipélago de Cabo Verde (MHACB), para onde transitou o pessoal que prestava serviço na extinta MHIA, juntamente com o N.H. Comandante Almeida Carvalho I.

A este respeito, refere o então Diretor-geral do Instituto Hi-drográfico, Capitão de mar e guerra José Parreira, nas suas “Notas sobre o Instituto Hidrográfico. 1961-1962”, o seguinte: Este novo arranjo, ligando o Continente às Ilhas da Madeira e dos

Açores, mais convenientes do que a ligação existente entre aquelas ilhas e Cabo Verde, foi possível, nesta altura, por o Instituto poder dispor de um navio com condições para esse serviço, o que anterior-mente não sucedia. A proposta do Instituto, que mereceu a concor-dância de Sua Exª o Ministro da Marinha, visava ainda o propósito de acelerar os levantamentos no arquipélago de Cabo Verde, onde, das suas 10 ilhas, só quatro têm as suas cartas de costa concluídas, sem atrasar os trabalhos nos Açores, antes pelo contrário, já numa fase em que era possível prever-se que, com mais 2 a 3 campanhas, todas as ilhas ficariam a ter as suas cartas de costa.

Em regra, à semelhança do que se verificava com os navios atribuídos às demais missões hidrográficas nos territórios

ul t ramar inos mais distantes, uma vez que não vinham à Me-trópole fora do período de cam-panha, também o N.H. Coman-dante Almeida Carvalho I rece-bia do Institu-to Hidrográfico as instruções de carácter técnico

as quais eram fornecidas através do Estado-Maior da Arma-da e de quem eram recebidas instruções especiais para o na-vio com carácter permanente. Antes do final de cada campa-nha era fixado o número de oficiais que permanecia no navio, sendo que no período de folga das campanhas, alguns oficiais regressavam à Metrópole para realizar os trabalhos de gabi-nete, o que criava um ambiente de trabalho sazonal no Insti-tuto Hidrográfico.

Refletindo a intensidade dos trabalhos realizados, o Pla-no de Actividades para 1962 atribuiu à Missão Hidrográfica do Arquipélago de Cabo Verde a realização de importantes trabalhos como o levantamento hidrográfico do Porto da Furna, na Ilha Brava, para o Plano nº. 275 à escala 1:5000; as sondagens com vista à conclusão da carta nº. 203, das Ilhas do Sal e da Boavista à escala 1:200.000 e a sondagem nas Ilhas de Santiago e do Maio, para a carta nº. 210, à escala de 1:100.000, abrangendo a determinação da linha de costa, correntes, valores da declinação magnética e fundeadouros. Contudo, o N.H. Comandante Almeida Carvalho I não reali-zou esta campanha por se encontrar em fabricos desde 16 de Abril de 1962.

Com o eclodir da guerra de África, houve a necessidade de dotar a Marinha de navios de pequena dimensão que fossem capazes de operar em águas costeiras e interiores, sobretudo na Guiné. Por essa razão o N.H. Comandante Almei da Carva-lho I, que desde 1950 tinha efetuado trabalhos hidrográficos, inicialmente nos Açores e, a partir de 1960, em Cabo Verde, foi classificado, em 1 de junho de 1963, como corveta, pas-sando a denominar-se Cacheu e terminando nessa data as suas missões ao serviço da hidrografia.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

Page 36: INSTREX 12 · NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 LIVROS 31 QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33 NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA REVISTA DA ARMADA •

Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

16. O NaviO HidrOgráficO Comandante almeida Carvalho i