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A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO CENÁRIO BRASILEIRO

Isana Cristina dos Santos Lima

E-mail: [email protected]

Carmesina Ribeiro Gurgel

E-mail: [email protected]

RESUMO

O presente artigo faz uma análise da avaliação da educação básica no Brasil ao traçar um panorama do cenário educacional brasileiro, desde as primeiras manifestações de avaliação de forma sistêmica até os dias atuais de nossa sociedade. A trajetória da avaliação da educação básica é delineada levando-se em consideração sua função, seus objetivos, sua metodologia, sua abrangência e seus resultados. Usando revisões bibliográficas sobre a temática, a pesquisa propõe tornar evidente as mudanças significativas na educação do País que vem ocorrendo por conta das políticas públicas voltadas para a melhoria de ensino resultantes da aplicação desta avaliação. Mostraremos a importância do Sistema de Avaliação da Educação Básica, seus instrumentos e os avanços que proporcionam para a educação. Finalmente, propomos uma reflexão sobre sua contribuição para a qualidade de ensino das escolas que oferecem a educação básica no Brasil.

Palavras-Chave: Avaliação. Qualidade de ensino. Educação básica.

EVALUATION OF BASIC EDUCATION IN BRAZILIAN SCENARIO

ABSTRACT

This article makes an analysis of evaluation of basic education in Brazil and that be from a panorama of Brazilian educational scenario, since the first manifestations of systemic form assessment until the present day of our society. The trajectory of the assessment of basic education is outlined in light of its function, its objectives, its methodology, its scope and its results. Using bibliographic reviews on thematic research proposes to make evident the significant changes in the education of the country that has taken place on behalf of public policies aimed at improving education resulting from application of this evaluation. We'll show its the importance of the system of evaluation of basic education, their instruments and advancements that provide for education. Finally, we propose a reflection on its contribution to the quality of teaching in schools that offer basic education in Brazil.

Keywords: Assessment. Quality of teaching. Basic education.

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, refletir sobre qualidade de educação nos remete a pensar em ações

que vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos, principalmente após as reformas

educacionais que desde meados dos anos 1990 têm ganhado espaço nas políticas

públicas brasileiras. Estas ações passaram a se concretizar por conta das exigências

postas pela Constituição Federal de 1988. Até os dias atuais o Governo Federal, em

parceria com as secretarias estaduais e municipais de educação vem trabalhando para a

melhoria da educação básica. Para isso, utiliza-se como instrumento de controle e para a

medição de parâmetros a avaliação externa em larga escala que de acordo com Zanardi

(2008, p.100): “nessa perspectiva de avaliação, o controle direto dos processos baseado

na supervisão direta é substituído por ações que permitem aferir e comparar os

resultados.”

A avaliação externa em larga escala é uma das formas de avaliar a educação

brasileira nos diversos níveis de ensino por diagnosticar, visando oferecer subsídios

para o monitoramento das políticas públicas e, consequentemente, reformas na educação

(INEP, 2010). Esta modalidade de avaliação tem por objetivo fazer um diagnóstico das

condições de ensino e aprendizagem, com vistas à definição de ações voltadas para a

melhoria da qualidade da educação no País, bem como reduzir as desigualdades

existentes neste contexto. Os resultados desta sistemática de avaliação são revestidos em

recursos financeiros e técnicos direcionados às escolas.

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), na opinião de Castro

(1999, p. 30) consiste em “avaliar a efetividade dos sistemas de ensino, com enfoque na

qualidade, eficiência e eqüidade”. Dito de outra forma, as avaliações do SAEB

produzem informações a respeito da realidade educacional brasileira e, especificamente,

por regiões, redes de ensino público e privado nos Estados e no Distrito Federal, por

meio de exame de proficiência.

A avaliação nos últimos anos vem cada vez mais ganhando força e espaço no

âmbito educacional. Portanto, torna-se relevante para nós proporcionar aos que se

interessam pelo assunto uma melhor compreensão do que seja avaliação da educação

básica. Para isso, mostraremos sua função, seus objetivos, a metodologia, a abrangência,

sobretudo, seus resultados.

Nossa intenção com este trabalho é evidenciar as mudanças significativas na

educação mediada por políticas públicas, voltadas para a melhoria do ensino, resultantes

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da aplicação do SAEB com base em pesquisas e estudos realizados sobre a temática.

Desta maneira, o presente artigo foi organizado de modo que iniciaremos apresentamos

um estudo sobre a avaliação da educação básica no Brasil do ponto de vista legal, do

financiamento e do ponto de vista estrutural, logo após mostraremos algumas mudanças

no ensino que são proporcionadas pela avaliação da educação básica e para concluir,

propomos uma reflexão sobre a contribuição do SAEB para a qualidade de ensino no

Brasil.

2 UM ESTUDO SOBRE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL

Com a implantação da avaliação da educação básica no Brasil, o Governo

Federal objetiva definir ações direcionadas para o aprimoramento da qualidade da

educação no país e, ainda, reduzir as desigualdades existentes por meio de reformas

educacionais. Dessa forma, o Governo Federal destina recursos financeiros e técnicos

para escolas que possuem sistemas de ensino deficientes e norteia caminhos na busca da

melhoria da educação e um sistema de ensino democrático.

Do ponto de vista legal, a operacionalização do sistema nacional do SAEB, está

previsto na Constituição Federal de 1988, preconizado no artigo 6º - “refere-se que são

direitos sociais à educação, à saúde, ao trabalho, à segurança, à previdência social, à

proteção à maternidade e à infância, à assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição”. No âmbito educacional, de acordo com o art. 209 (Brasil, 1988) a

avaliação educacional está associada à qualidade da educação e essa avaliação parte do

poder público, isto é, do Governo Federal.

Para compreender a trajetória histórica do SAEB, é importante ressaltar alguns

aspectos. Nessa perspectiva, é importante destacar que 1988 foi o ano do seu

surgimento, cuja finalidade era dar transparência ao sistema educacional, embora o

interesse por uma avaliação de forma sistêmica da educação básica já se manifestasse

nos anos de 1930. Nesse sentido, o sistema iniciou medindo o desempenho acadêmico

dos alunos, ou seja, a aprendizagem de conteúdos e aquisição de habilidades e

competências. Chamava-se, inicialmente, Sistema de Avaliação do Ensino Público de 1º

Grau (SAEP) que funcionou como projeto piloto nas escolas do Paraná e no Rio Grande

do Norte. Sua primeira aplicação ocorreu em 1990 e, no ano seguinte, houve mudança

de nomenclatura, esclarece Pilati (apud HORTA NETO, p. 8, 2007) ao afirmar: “para

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adequar o recém-criado sistema à nomenclatura consagrada pela nova Constituição, em

1991, o SAEP passa a ser chamado de Sistema de Avaliação da Educação Básica –

SAEB”.

Do ponto de vista do financiamento das políticas públicas educacionais, o

governo brasileiro firmou convênio com o Banco Internacional para a Reconstrução e

Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como Banco Mundial, que por

intermédio de seus diretores, técnicos e conselheiros associaram-se à equipe de técnicos

do Ministério da Educação. Foi condição imposta para assinatura do empréstimo

financeiro, a realização de uma avaliação sistemática e permanente com a finalidade de

verificar a efetividade das propostas de ações apresentadas nos projetos de

desenvolvimento educacional. Sobre isso, Altmann (2002, p. 83) afirma que: “interessa

ao BIRD financiar o SAEB, pois ele é uma forma de obter taxas de retorno e estabelecer

critérios de investimentos”.

Esta avaliação foi organizada para acontecer a cada dois anos, mas o ciclo do

SAEB, que deveria ocorrer em 1992, foi reprogramado para o ano seguinte, por

problemas financeiros. Já em 1993, houve a divulgação pelo ministro Murílo Higel do

Plano Decenal de Educação para Todos. Este plano previa uma série de ações

objetivando a melhoria da educação no País, e encaminhava-se para a aplicação e o

desenvolvimento da avaliação da educação básica com a finalidade de aferir a

aprendizagem dos alunos e o desempenho das escolas de Ensino Fundamental e,

consequentemente, prover informações para a avaliação e revisão de planos e programas

de qualificação educacional. Naquele ano, a avaliação foi estruturada nos seguintes

eixos de estudo: rendimento do aluno, perfil dos docentes e suas práticas, perfil dos

diretores e suas atuações. Durante os dois primeiros ciclos, foram incluídos na aferição

alunos dos 2º; 4º, 6º e 8º anos de escolas das redes públicas de ensino, as provas dos

alunos abrangiam conhecimentos de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências.

No ciclo de 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, ocorreram

mudanças significativas. Uma delas foi a inclusão da rede particular de ensino e o nível

de ensino médio em sua amostragem. Ainda neste mesmo ano, foi incluso, no SAEB o

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que emergiu da necessidade de avaliar o

desempenho do aluno ao término da escolaridade básica. O mesmo é um dos

instrumentos de avaliação desse sistema, ao contrário da Prova Brasil que faz um

diagnóstico dos sistemas de ensino, o ENEM avalia o aluno de maneira individual.

Atualmente, este exame é utilizado como forma de seleção unificada para o ingresso às

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universidades públicas federais. Outra avaliação que emergiu nesse contexto foi o

Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA)

com o objetivo de verificar as habilidades e competências básicas de jovens e adultos

que não tiveram a oportunidade de acesso a escolaridade regular na idade apropriada

(MEC, 2010). No que se refere ao SAEB, as provas foram nas áreas de Língua

Portuguesa e Matemática, optou-se por avaliar os anos conclusivos, ou seja, o 5º e o 9º

ano do Ensino Fundamental e pela 3ª série do Ensino Médio. Outra alteração

metodológica foi o uso da Teoria de Resposta ao Item e das Escalas de Proficiência que

permitiu a comparação no tempo entre as diferentes séries, pois até então não poderiam

ser comparados.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em seu art. 9, potencializa o papel do País no

tocante a sua função de regulação e controle, ao estabelecer que cabe à União

“assegurar o processo nacional de avaliação do rendimento escolar no Ensino

Fundamental, Médio e Superior, em colaboração com os sistemas de ensino,

objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino”. Com a

aprovação desta lei, tornou-se obrigatória a avaliação, e os Estados e Municípios, desde

então, têm de participar do Sistema Nacional de Avaliação. No art. 87 das Disposições

Transitórias, em seu § 3º, o qual aponta os deveres dos Municípios, Estados e União, no

seu inciso IV, lê-se que o país deverá “integrar todos os estabelecimentos de Ensino

Fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação do rendimento escolar.

Vale ressaltar que no mesmo ano desta lei, durante a gestão do Ministro de Educação

Paulo Renato, houve a criação da Secretaria de Avaliação e Informação Educacional

(SEDIAE). Por meio desta, o MEC buscava concretizar a determinação da LDB, que é

assegurar um processo de avaliação do rendimento escolar.

No ciclo de 1997 foram acrescentadas as disciplinas de Física, Química e

Biologia nas provas aplicadas aos alunos da 3ª série do Ensino Médio, além de Ciências

para os alunos dos 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e também foram introduzidas as

“Matrizes de Referência”, que consistem em um documento onde estão descritas as

orientações para a elaboração dos itens da prova utilizados para avaliar o desempenho

do aluno nas diferentes disciplinas. O SAEB, neste ciclo, tinha por objetivo, segundo

Pestana (apud BONAMINO; FRANCO, 1999, p. 11): “gerar e organizar informações

sobre a qualidade, a eqüidade e a eficiência da educação nacional, de forma a permitir o

monitoramento das políticas brasileiras”. A amostra era obtida através de um sorteio dos

municípios nos quais sorteavam-se as escolas que iriam participar deste sistema.

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No ciclo seguinte, em 1999, incluíram as disciplinas de Estudos Sociais no

Ensino Fundamental e de História e Geografia no ensino médio. Também inovou na sua

metodologia de amostra, através da utilização da técnica de Números Aleatórios

Permanentes que prevê a repetição de certa quantidade de escolas, mas não faz escolhas

específicas. Quanto à amostra, diferentemente do ciclo anterior, as escolas foram

sorteadas diretamente.

No ano de 2001, foi aprovada a lei nº 10.172 que estabelece o Plano Nacional de

Educação (PNE) que tem por objetivos a articulação e o desenvolvimento do ensino em

seus diversos níveis e a integração das ações do Poder Público. Entre suas prioridades

temos o:

Desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino, inclusive educação profissional, contemplando também o aperfeiçoamento dos processos e difusão dos dados, como instrumentos indispensáveis para a gestão do sistema educacional e melhoria do ensino (BRASIL, 2002, p. 17).

Neste contexto, foi a partir do ciclo de 2001 que foram incluídas as questões

relativas às características sócio-econômicas e culturais sobre os alunos. A divulgação

dos resultados da avaliação foi apresentada em relatórios técnicos e, ainda, as

disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa passaram a ser as únicas avaliadas. Em

relação à primeira área de conhecimento, os conteúdos foram distribuídos da seguinte

forma: espaço e forma; grandezas e medidas; números e operações/ álgebra e funções;

tratamento da informação. Em Língua Portuguesa foram avaliadas competências e

habilidades no que se refere aos procedimentos de leitura; compreensão de textos;

relação entre textos; coesão e coerência no processamento de textos; relações entre

recursos expressivos e efeitos de sentido; variação lingüística. As matrizes de referência

foram atualizadas. Para isso, foi feita uma ampla consulta aos professores de doze

Estados, com representação de todas as regiões do Brasil.

Em 2003 foram incluídas nos questionários variáveis que possibilitaram coletar

dados sobre violência nas escolas, o trabalho infantil, os beneficiários do programa

Bolsa-Família e a subjetividade do professor, isto é, informações contextuais referentes

a aspectos que podem interferir ou não na aprendizagem dos alunos. Outra mudança

ocorrida neste ciclo foi a divulgação por meio de uma escala qualitativa com a seguinte

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classificação: muito crítico, crítico, intermediário e adequado. Esta nova metodologia de

avaliação tem por objetivo central, conforme Araújo e Luzio (2005, p. 19):

[...] apoiar Municípios, Estados e a União na formulação de políticas que visam à melhoria da qualidade do ensino. As informações coletadas permitem montar um quadro sobre o sistema educacional, revelando suas virtudes e seus defeitos. Esse conhecimento torna possível uma ação mais efetiva de todos os que se preocupam com a educação brasileira.

Em relação à sua estrutura, o SAEB é composto por dois processos, conforme a

Portaria nº. 931, de 21 de março de 2005 durante o governo do Presidente Luiz Inácio

Lula da Silva, são elas: a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a

Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC). A primeira é realizada por

amostragens das Redes de Ensino, em cada unidade da Federação, tendo como foco as

gestões dos sistemas educacionais. A avaliação seguinte é mais extensa e detalhada,

tendo foco em cada unidade escolar. O responsável por esse instrumento de avaliação é

o MEC por meio da avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Para complementar o SAEB, a Prova Brasil foi criada em 2005, pois havia a

necessidade de uma avaliação mais detalhada, envolvendo todos os estudantes da rede

publica urbana de ensino, dos 5º e 9º anos do Ensino Fundamental. A avaliação é

censitária, oferecendo resultados de cada escola participante, em que parte das

instituições participantes ajudou a construir os resultados do SAEB, por meio de

amostras.

Em 2007 houve a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

(IDEB), desenvolvido pelo INEP. Realiza a combinação das informações do

desempenho obtido pelos estudantes em exames padronizados (Prova Brasil ou SAEB)

com as informações do rendimento escolar (taxas de aprovação). O IDEB tem por

objetivo detectar as escolas e/ou as redes de ensino cujos alunos apresentem baixa

performance em termos de rendimento e proficiência e, ainda, monitorar a evolução

temporal do desempenho dos alunos dessas escolas e/ou redes de ensino. Lembramos

que neste ano todos fizeram uma única prova e as redes que participaram da Prova

Brasil ficaram cientes de que as médias de desempenho alcançadas por elas compõem o

IDEB.

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Com a aplicação da Prova Brasil nas escolas de todo o país, pôde-se constatar

que havia problemas na eficiência do ensino, sobretudo, em relação à leitura. Para

reverter esse quadro, o Governo Federal tomou a iniciativa de ampliar o Ensino

Fundamental de oito para nove anos, implementou o Plano de Metas Compromisso

Todos pela Educação e a realização da Provinha Brasil, que assim como a Prova Brasil,

é também uma avaliação diagnóstica, porém sua atenção está voltada para a

alfabetização das crianças, cuja primeira edição ocorreu em abril de 2008. Vejamos um

pouco de suas características:

A Provinha Brasil é uma avaliação elaborada pelo INEP, distribuída pelo MEC

para as Secretarias de Educação. Sua aplicação é feita anualmente, no início e no

término do ano letivo para avaliar alunos que estejam no 2º ano do Ensino Fundamental.

Ao contrário da Prova Brasil, o aplicador não é necessariamente externo, os próprios

professores podem aplicá-la e as respostas ou resultados vão diretamente para os

professores e gestores das escolas.

Em relação à Prova Brasil, a partir do ano de 2009, sua metodologia consistiu na

aplicação de testes padronizados para pelo menos 20 alunos de 5º e 9º anos com 26

questões sobre Matemática com foco na resolução de problemas e Língua Portuguesa

voltada para leitura. São também aplicados testes do próprio SAEB para uma faixa de

10 a 19 alunos de 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio de

forma amostral.

A aplicação da Prova Brasil é feita por profissionais especializados e contratados

especialmente para isso. Participam do SAEB estudantes de escolas públicas e

particulares, das áreas urbana e rural. Não estão incluídos na população avaliada alunos

de Educação de Jovens e Adultos, de escolas multisseriadas e as que ensinam apenas a

língua indígena. Contudo, os alunos com necessidades especiais podem participar da

avaliação conforme suas possibilidades, podendo utilizar os recursos de acesso

existentes na escola, desde que as adequações não interfiram na aplicação para os

demais alunos. É importante destacar que a participação da escola nesta avaliação é

voluntária.

3 MUDANÇAS NO ENSINO PROPORCIONADAS PELA AVALIAÇÃO DA

EDUCAÇÃO BÁSICA

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A partir do SAEB evidencia-se a melhoria do ensino. Os seus resultados

proporcionam a formulação de políticas educacionais e, nesse sentido, tem ocorrido

expansão dos programas de aceleração de aprendizagem. Além disso, influencia na

diminuição das taxas de repetência e abandono e também orientam a implementação dos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Sobre o assunto, Lima (2010, p.31) contata

em seus estudos que:

[...] professores e gestores reconhecem o valor da Prova Brasil como instrumento avaliativo associado ao SAEB e que propiciam efeitos, não apenas em relação ao desempenho do aluno, mas também na gestão administrativa e no processo ensino-aprendizagem, considerando o grau de mobilização que este evento provoca no âmbito da escola e da família dos alunos, levando-os a refletir as práticas educacionais realizadas no cotidiano.

Para a autora torna-se, evidente que as escolas, ao aderirem à Prova Brasil, estão

concordando com os objetivos desta avaliação em amenizar a ineficiência do ensino que

historicamente faz parte do cenário educacional brasileiro. Neste sentido, constatou

efeitos positivos da política de avaliação da educação básica por intermédio da Prova

Brasil nas escolas em que desenvolveu pesquisas. Os resultados de suas pesquisas vão

ao encontro de afirmações feitas por Castro (1999, p. 18):

[...] observa-se uma importante mudança cultural entre os dirigentes e gestores dos sistemas de ensino, que passaram a reconhecer os processos avaliativos externos das escolas como ferramenta indispensável para o monitoramento das políticas. Esta nova postura levou tanto ao engajamento das redes estaduais e municipais de ensino na implementação dos projetos de avaliação de âmbito nacional [...]

Esse sistema de avaliação permite identificar prioridades e alternativas para

aumentar a eficácia das ações e investimentos na educação, de acordo com os objetivos

expostos anteriormente. Dentre as ações, podemos destacar o investimento na formação

continuada dos profissionais da educação e, ainda, a expansão dos programas de

aceleração de aprendizagem com já foi mencionado anteriormente.

Vejamos a evolução das taxas de aprovação de acordo com os últimos três ciclos

em nível de Brasil do Ensino Fundamental no que se refere aos anos iniciais e finais e

do Ensino Médio nos gráficos abaixo:

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1. Evolução da Taxa de Aprovação - Brasil - 2005/2009

(Ensino Fundamental - Anos Iniciais)

Fonte: INEP/Prova Brasil. 2010. Disponível em: <http//: www.inep.gov.br/>. Acesso em: 15 set. 2010.

2. Evolução da Taxa de Aprovação - Brasil - 2005/2009

(Ensino Fundamental - Anos Finais)

Fonte: INEP/Prova Brasil. 2010. Disponível em: <http//: www.inep.gov.br/>. Acesso em: 15 set. 2010.

3. Ensino Médio (Evolução da Taxa de Aprovação - Brasil - 2005/2009)

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Fonte: INEP/Prova Brasil. 2010. Disponível em: <http//: www.inep.gov.br/>. Acesso em: 15 set. 2010.

Podemos verificar através dos gráficos acima que, de 2005 a 2009, houve um

crescimento significativo nas taxas de aprovação nos Ensinos Fundamental e Médio,

sobretudo, das séries iniciais do Ensino Fundamental, especialmente do 1º ao 5º ano,

passando de 81,6% para 88,5%. Estes resultados apontam que o trabalho desenvolvido

em relação à avaliação da educação básica tem sido positivo e de grande importância.

Zanardi (2008, p.109) afirma que: “As avaliações do rendimento escolar também

desempenham o papel de prestação de contas e de retorno educacional no que diz

respeito ao investimento financeiro, principalmente à otimização dos gastos

educacionais.”

4 PARA CONCLUIR E REFLETIR

Os estudos realizados acerca desta temática nos permitiram compreender de

maneira aprofundada como funciona o Sistema de Avaliação da Educação Básica,

sobretudo, a Prova Brasil no cenário brasileiro. Constatamos que, de um modo geral,

essa avaliação é bem vinda nas escolas e surte efeitos positivos tanto na gestão escolar,

quanto no trabalho dos professores e, consequentemente, na aprendizagem dos alunos.

Com a presente pesquisa observamos que esse sistema de avaliação, desde sua

criação em 1988, até os dias atuais, passou por algumas transformações, na sua

metodologia de aplicação, nos objetivos e na abrangência. Dentre elas, institui-se a

Prova Brasil, tendo em vista aperfeiçoar a avaliação da educação básica. Vale ainda

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ressaltar que essa política de avaliação por si só não é suficiente para uma

transformação da educação, é apenas um instrumento para que ações sejam feitas, tanto

por parte do poder público quanto pelos gestores escolares, professores, alunos e a

sociedade de um modo geral.

Contudo, a partir dos resultados da Prova Brasil e do IDEB a educação passa a

ser notícia e assunto do dia-a-dia daqueles que fazem parte das escolas. Os gestores

tornam-se mais atuantes, os professores refletem sobre sua prática, fazem uma auto-

avaliação e mudam sua maneira de trabalhar, os alunos, por sua vez, se sentem mais

estimulados a estudarem e, nesse sentido, a escola trabalha em parceria com os pais dos

alunos, para que continuem tendo um bom desempenho.

Percebemos que as avaliações em larga escala apesar de possuir em algumas

deficiências na sua operacionalização, buscam a cada ciclo, se aperfeiçoar. Se pararmos

para refletir sobre esse sistema de avaliação podemos ver que há mais de 20 anos ele

vem sendo aplicado e isso significa, a princípio, que é bem estabelecido e confiável.

Concluímos que a avaliação externa tem influência na prática docente à medida

que os professores revêem o que está sendo feito e o que precisa melhorar em relação ao

processo ensino-aprendizagem, o que resulta em efeitos positivos na aprendizagem dos

alunos, pois os professores tomam conhecimento da situação dos alunos e passam a

trabalhar de maneira que eles avancem nos estudos.

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REFERÊNCIAS

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