violência e sociedade b - estudos da seguridade...

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Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 2007 3 Editorial Editorial Editorial Editorial Editorial B Violência e sociedade em-estar social não combina com criminalidade. Não se trata de relacionar po- breza com o crime. O estado de bem-estar não se resume a ser rico ou a ser pobre. Um rico pode ser um "pobre diabo": abandonado pelos pais, que só pensam em enriquecer. Jogado à própria sor- te, por não ter diálogo dentro de casa, nem afeto, e às vezes nem companhia, a não ser um computador ou o cão de estimação. Um pobre, por sua vez, pode não ser um "pobre diabo", porque os pais, apesar de normalmente sem a opção de um bom estudo, even- tualmente lhe oferecem aquilo que um ambiente fa- miliar sadio pode propiciar. Mas, evidentemente, não se pode esquecer que nas periferias o que prevalece é o abandono, a miséria humana, a violência e a força como "armas" para a obtenção de bens materiais e até de alimentos, sem contar o tráfico de drogas oferecido como única op- ção de "emprego" para quem não vê perspectiva alguma de futuro decen- te. Então, imaginar que nisso não possa estar plantada a fonte da vio- lência é tentar esconder o óbvio. Os brasileiros ficaram alarmados com a onda de violência nos últi- mos meses, com os incêndios pro- vocados em ônibus, com as crian- ças quase-anjo que experimentaram o suplício de uma morte violenta causada por balas perdidas. E junto com a violência prevaleceu a busca de mais violência: a turba pedindo pena de morte, redução da maioridade penal e todas as demais "pro- vidências" que atacam a violência apenas depois que ela ocorre. Pouco ou nada se falou sobre prevenção da violência. Imaginar que a pena de morte irá dimi- nuir a criminalidade é um delírio que já foi desmistificado nos países que a adotaram. Nesta edição, a Revista de Seguridade Social trata de uma questão que virou notícia nos jornais de iní- cio de ano e que compõe um quadro social caótico sobre o qual todos devem se debruçar com inteli- gência, imparcialidade e equilíbrio. Coincidentemen- te, a violência explode num momento em que se prepara o ambiente para mais uma reforma da previ- dência social, que sempre conduz à defesa - por al- guns segmentos - do corte de benefícios e direitos. Já está provado e comprovado: a previdência no Brasil retira da linha da miséria milhões de brasileiros. Está na hora de compreender que seguridade é investimen- to, e não gasto. Já passou da hora de se pensar os problemas do Brasil examinando suas causas, e não ten- tando combatê-los em suas consequências. Medidas emergenciais são necessárias: melhor aparelhamento e valorização da polícia, construção de novos presídi- os, reeducação de presos, agravamento de algumas pe- nas e eliminação de benefícios que muitas vezes são concedidos a criminosos que efetivamente não estão em condições de voltar ao convívio com a sociedade. Mas o fundamental é pensar no que está por trás de toda essa onda de violência. O funda- mental é atacar as causas. Punir quem mata crianças inocentes é fazer justi- ça, e a justiça deve ser feita, mas isso não traz as vítimas de volta. É preciso sobretudo evitar que o crime ocorra. É preciso impedir que crianças sejam supliciadas, que meninos sejam mor- tos a caminho da escola em troca de um par de tênis. A Seguridade Social foi concebida pe- los constituintes de 1988 como uma das formas de trazer a paz social ao nosso convívio. Mas o que ocorre - sem meias palavras - é que muitas ve- zes as verbas da seguridade são utilizadas para fins estranhos à sua destinação. A sociedade, que se revolta com o clima de violência imperante, precisa organizar- se para estancar esse estado de coisas. É a ela que com- pete pressionar os políticos para que efetivamente os tributos pesados que são pagos pelo trabalhador tenham a contrapartida do Estado em matéria de saúde, sanea- mento básico, segurança e, sobretudo, educação. Cons- truir um cadafalso é muito fácil, e de baixo custo. Mas os que tombam sobre o cadafalso já cometeram os cri- mes. É preciso construir um país em que não sejam necessários cadafalsos, por absoluta falta de quem pa- gue com a própria vida por vidas que não podem ser trazidas de volta. É possível construir esse novo país. Basta que a sociedade comece a agir, deixando de lado discursos tantas vezes demagógicos, que apenas adiam as verdadeiras soluções. A justiça deve ser feita, mas o fundamental é impedir que os crimes continuem ocorrendo, ou seja, atacar suas causas, e não apenas as conseqüências

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Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 2007 3

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BViolência e sociedade

em-estar social não combina comcriminalidade. Não se trata de relacionar po-breza com o crime. O estado de bem-estar nãose resume a ser rico ou a ser pobre. Um rico

pode ser um "pobre diabo": abandonado pelos pais,que só pensam em enriquecer. Jogado à própria sor-te, por não ter diálogo dentro de casa, nem afeto, eàs vezes nem companhia, a não ser um computadorou o cão de estimação. Um pobre, por sua vez, podenão ser um "pobre diabo", porque os pais, apesar denormalmente sem a opção de um bom estudo, even-tualmente lhe oferecem aquilo que um ambiente fa-miliar sadio pode propiciar. Mas, evidentemente, nãose pode esquecer que nas periferias o que prevaleceé o abandono, a miséria humana, aviolência e a força como "armas" paraa obtenção de bens materiais e atéde alimentos, sem contar o tráficode drogas oferecido como única op-ção de "emprego" para quem não vêperspectiva alguma de futuro decen-te. Então, imaginar que nisso nãopossa estar plantada a fonte da vio-lência é tentar esconder o óbvio.Os brasileiros ficaram alarmadoscom a onda de violência nos últi-mos meses, com os incêndios pro-vocados em ônibus, com as crian-ças quase-anjo que experimentaramo suplício de uma morte violenta causada por balasperdidas. E junto com a violência prevaleceu a buscade mais violência: a turba pedindo pena de morte,redução da maioridade penal e todas as demais "pro-vidências" que atacam a violência apenas depois queela ocorre. Pouco ou nada se falou sobre prevençãoda violência. Imaginar que a pena de morte irá dimi-nuir a criminalidade é um delír io que já foidesmistificado nos países que a adotaram.Nesta edição, a Revista de Seguridade Social tratade uma questão que virou notícia nos jornais de iní-cio de ano e que compõe um quadro social caóticosobre o qual todos devem se debruçar com inteli-gência, imparcialidade e equilíbrio. Coincidentemen-te, a violência explode num momento em que seprepara o ambiente para mais uma reforma da previ-dência social, que sempre conduz à defesa - por al-

guns segmentos - do corte de benefícios e direitos. Jáestá provado e comprovado: a previdência no Brasilretira da linha da miséria milhões de brasileiros. Estána hora de compreender que seguridade é investimen-to, e não gasto. Já passou da hora de se pensar osproblemas do Brasil examinando suas causas, e não ten-tando combatê-los em suas consequências. Medidasemergenciais são necessárias: melhor aparelhamentoe valorização da polícia, construção de novos presídi-os, reeducação de presos, agravamento de algumas pe-nas e eliminação de benefícios que muitas vezes sãoconcedidos a criminosos que efetivamente não estãoem condições de voltar ao convívio com a sociedade.Mas o fundamental é pensar no que está por trás de

toda essa onda de violência. O funda-mental é atacar as causas. Punir quemmata crianças inocentes é fazer justi-ça, e a justiça deve ser feita, mas issonão traz as vítimas de volta. É precisosobretudo evitar que o crime ocorra.É preciso impedir que crianças sejamsupliciadas, que meninos sejam mor-tos a caminho da escola em troca deum par de tênis.A Seguridade Social foi concebida pe-los constituintes de 1988 como umadas formas de trazer a paz social aonosso convívio. Mas o que ocorre -sem meias palavras - é que muitas ve-

zes as verbas da seguridade são utilizadas para finsestranhos à sua destinação. A sociedade, que se revoltacom o clima de violência imperante, precisa organizar-se para estancar esse estado de coisas. É a ela que com-pete pressionar os políticos para que efetivamente ostributos pesados que são pagos pelo trabalhador tenhama contrapartida do Estado em matéria de saúde, sanea-mento básico, segurança e, sobretudo, educação. Cons-truir um cadafalso é muito fácil, e de baixo custo. Masos que tombam sobre o cadafalso já cometeram os cri-mes. É preciso construir um país em que não sejamnecessários cadafalsos, por absoluta falta de quem pa-gue com a própria vida por vidas que não podem sertrazidas de volta. É possível construir esse novo país.Basta que a sociedade comece a agir, deixando de ladodiscursos tantas vezes demagógicos, que apenas adiamas verdadeiras soluções.

A justiça deve ser feita,mas o fundamental éimpedir que os crimescontinuem ocorrendo,ou seja, atacar suascausas, e não apenas

as conseqüências

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C a r t a sC a r t a sC a r t a sC a r t a sC a r t a s ANFIPAssociação Nacional dos Auditores

Fiscais da Previdência SocialSBN, Quadra 1, Bloco H,

Ed. ANFIP - CEP 70.040-907Brasília, DF

Fone: (61) 3326- 8113Fax: (61) 3326- 6078

E-mail: [email protected] page: http//www.anfip.org.br

CONSELHO EXECUTIVOOvídio Palmeira Filho

PRESIDENTE

Armando dos SantosVICE-PRESIDENTE

Raul Chamadoiro Cabadas FilhoASSUNTOS FISCAIS

Benedito Cerqueira SebaPOLÍTICA DE CLASSE

Maria do Carmo Costa PimentelPOLÍTICA SALARIAL

Marcelo OliveiraSEGURIDADE SOCIAL

Misma Rosa SuhettAPOSENTADOS E PENSIONISTAS

Assunta Di Dea BergamascoCULTURA PROFISSIONAL

Antônio Silvano Alencar de AlmeidaSERVIÇOS ASSISTENCIAIS

Nildo Manoel de SouzaASSUNTOS JURÍDICOS

José Avelino da Silva NetoADMINISTRAÇÃO

João Alves MoreiraPATRIMÔNIO E CADASTRO

Josemar Jorge Cecatto SantosFINANÇAS

Décio Bruno LopesPLANEJAMENTO E CONTROLE ORÇAMENTÁRIO

Rodrigo da Costa PossasCOMUNICAÇÃO SOCIAL

Maria Aparecida F. Paes LemeRELAÇÕES PÚBLICAS

Rodolfo Fonseca dos SantosASSUNTOS PARLAMENTARES

Augusto Conte Soares NetoINTERASSOCIATIVA

CONSELHO FISCALRoswílcio José Moreira Góis (BA)Tarciso Cabral de Medeiros (RN)

Albenize Gatto Cerqueira (PA)

CONSELHO DE REPRESENTANTES

COORDENADORA: Léa Pereira de Mattos - DFVICE-COORD.: Maria Janeide da Costa R. e Silva - PB

SECRETÁRIA: Eucélia Maria Agrizzi Mergar - ESADJUNTO: Ademar Borges – PR

Heliomar Lunz - ACFrancisco de Carvalho Melo - AL

Emir Cavalcanti Furtado - APMiguel Arcanjo Simas Novo - AM

Luiz Antônio Gitirana - BAManoel Eliseu de Almeida - CEFiloneto José dos Santos - GO

Carlos Alberto Reis de Andrade - MAJosé Caetano de Melo - MTJoão de Brito Torres - MS

Afonso Ligório de Faria - MGEnnio Magalhães Soares da Câmara - PA

Zélia Duarte Costa - PEJoão Soares da Silva Sobrinho - PI

Alfredo Miranda de Lemos - RJJonilson Carvalho de Oliveira - RN

Ocenir Sanches - ROAndré Luiz Spagnuolo Andrade - RR

Dulce Wilennbring de Lima - RSCaetano Évora Silveira Neto - SC

Pedro Augusto Sanchez - SPJorge Lourenço Barros - SE

Márcio Rosal Bezerra Barros - TO

Publicação da Associação Nacional dosAuditores Fiscais da Previdência Social

CONSELHO EDITORIAL

Assunta Di Déa Bergamasco

Benedito Cerqueira Seba

Marcelo Oliveira

Ovídio Palmeira Filho

Raul Chamadoiro Cabadas Filho

Rodrigo da Costa Pôssas

DIRETOR RESPONSÁVEL:

Rodrigo da Costa Pôssas

Permitida a reprodução total ou parcial dos textos. Pede-se citar a fonte. As matérias e artigospublicados não refletem, necessariamente, a opinião do Conselho Executivo da Anfip.

REDAÇÃO,

COORDENAÇÃO E EDIÇÃO:

TEXTOSMIL Produção Jornalística

(www.textosmil.com.br)

REPORTAGEM:Gerson Menezes e Gustavo Sousa Jr.

EDITOR:

Gerson Menezes

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA :Kenia Dias Almeida/Gilmar Eumar Vitalino

FOTOS: Júlio Fernandes e Arquivo

Esta edição: 20.000 exemplares Distribuição gratuita

A assinatura da Revista de Seguridade Social é gratuita.Envie seus dados (nome e endereço completos) para o e-mail: [email protected]

PrevidênciaA reportagem publicada no número

88 da Revista de Seguridade Social, sobo título "O eterno bode expiatório", fa-lando sobre a Previdência Social, é temaque tem que se tornar uma constante.Não é mais possível que o aposentadono Brasil continue sendo vítima perma-nente de reformas que subtraem direi-tos e suprimem cláusulas que sempreestão claras quando o trabalhador co-meça a contribuir e, de uma hora paraoutra, são alteradas.

Infelizmente, comecei a ter acessohá pouco tempo a essa brilhante revis-ta, e acredito que o mesmo tema já te-nha sido tratado inúmeras vezes nessapublicação. Solicito, inclusive, que osnúmeros anteriores, se ainda houveralgum disponível, me sejam enviados.Acho que é até pedir demais, mas pelaqualidade da revista a solicitação ficamais do que justificada.

Berenice A. Mendes C. BevilácquaManaus - Amazonas

DemocraciaExtremamente importante a contri-

buição da Revista de Seguridade Socialpara a democracia, com a reportagempublicada no número 87. De fato, a vi-são generalizante que muitas vezes deri-va de fatos lamentáveis não se justifica,uma vez que, a exemplo de qualquer par-cela da sociedade, a classe política tempessoas boas e pessoas que não a hon-ram, como deveriam.

As generalizações e os pré-julgamen-tos fazem com que os eleitores menos cons-cientes politicamente acabem por incor-rer em equívocos, atribuindo fatos lamen-táveis, como corrupções e roubos, ao sis-tema de governo, o que não é coerente.

Como sempre, a Revista de Seguridadetrouxe a debate um tema enfocando-o commuita acuidade, o que mais uma vez con-firma a qualidade dessa grande publica-ção. Exatamente por oferecer margem atodo tipo de manifestação, a democraciaprecisa ser constantemente fortalecida,pois a conscientização política do nossopovo ainda é frágil demais.

Viriato L Sousa S. S. MotaSão Paulo - SP

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Emprego, segurança, saúde e educaçãosempre estiveram entre as maiores preocupaçõesdos brasileiros. Mas nas últimas semanas o tema“segurança” ganhou destaque além do imaginável,em razão do clima de brutalidade que dominougrandes centros urbanos, como Rio de Janeiro eSão Paulo. O debate ganha conotações emotivas ea sociedade, desesperada, começa a restringir seupensamento às ações emergenciais, que atacamapenas o problema em suas consequências,deixando de lado as causas. Há inúmeras formasde ação preventiva contra a criminalidade, alémda educação. A Previdência também tem o papelnesse elenco de providências destinadas acombater a criminalidade.

E por falar em Previdência, o SeminárioInternacional realizado em Brasília, no mês demarço, foi uma oportunidade de o brasileiroconhecer, de forma pormenorizada, algumasquestões que permanecem obscuras para a maiorparcela da população brasileira. Emergiu nodebate a evidência de que a situação econômicado país é peça-chave para que o brasileiro tenhaum sistema de proteção social e uma previdênciade melhor qualidade. O debate não pode se resumirà quantidade de dinheiro que entra e que sai dosistema. Além disso, estudiosos do cenáriointernacional apresentaram uma panorâmica decomo anda a previdência em todo o mundo.

Receita para a Previdência também éimportante, obviamente. E neste sentido acriação da Receita Federal do Brasil ganhaespecial destaque nesse cenário de debates. Asuposta inconstitucionalidade da criação da RFBjá foi por água abaixo, com a opinião de váriosjuristas sobre o tema.

Boa Leitura

S u m á r i oS u m á r i oS u m á r i oS u m á r i oS u m á r i o○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Ao leitorPrevidência contra violênciaA solução para a criminalidade deve se amparar na

família, na religião, na educação, no trabalho e na Pre-vidência Social. Esse é o ponto de vista de pessoas quejá vivenciaram de perto o problema que se transfor-mou na grande preocupação dos brasileiros que vi-vem nos grandes centros urbanos.

Reformar sem deformarSeminário internacional deixa evidente que as dis-

cussões sobre reforma da Previdência Social devem to-mar novos rumos, que levem em conta questões comoinclusão social, massa salarial e conjuntura econômicado país. Conheça a opinião de especialistas do Brasil ede outros países.

É legal unificarA eterna cantilena dos que se posicionam contra a

unificação dos fiscos, já aprovada pelo Congresso, nãoencontra respaldo no entendimento de pessoas denotável saber jurídico. A criação da Receita Federal doBrasil é claramente constitucional e não prejudicanenhuma das categorias envolvidas, além de resultarem benefícios para o Estado, para o país e para ocidadão.

Perdendo o sonoAposentados e pensionistas pedem empréstimo porque

não têm dinheiro, mas não têm dinheiro para pagar oempréstimo.

Tributação e desenvolvimentoO problema dos impostos indiretos, que incidem

sobre o consumo, é o maior ônus sobre a populaçãode baixa renda, que gasta todo seu ordenado. Já osdetentores de rendas mais elevadas são menos afetadose conseguem poupar parte de sua remuneração.

Assessoria EconômicaArrecadação bancária cresce 12,75% em 2006. Já o

Resultado da Ação Fiscal (RAF) totalizou R$ 19,9 bilhões nomesmo ano.

Idéias & DebatesO presidente da ANFIP, Ovídio Palmeira Filho, fala

em artigo sobre a necessidade de se renovarmentalidades para garantir uma reforma da Previdênciacorreta e eficiente, sem prejuízos para os aposentadose os pensionistas.

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C om a onda de violência que invadiu os grandescentros urbanos, o brasileiro vê-se aturdido, embusca de soluções, que não podem se resumir às

emergenciais. No amplo debate que deve ser feito sobre otema, mecanismos preventivos, como educação eseguridade social, têm que ganhar espaço, como únicaforma de se evitar que a criminalidade continue setornando um pesadelo aparentemente sem solução.

Violência:uma questão(também)previdenciária?

Sociedade em pânicoSociedade em pânicoSociedade em pânicoSociedade em pânicoSociedade em pânico

Gustavo Sousa Jr, repórter

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João Hélio, 6 anos. O pequeno mo-rador da capital fluminense se tornouo mais recente ícone da violência des-medida que toma conta do País. O cri-me chocou pela barbaridade com quesua vida foi tirada. Ao parar em umsemáforo, na noite do dia 7 de feverei-ro, o carro dirigido por sua mãe, adona-de-casa Rosa Vieites, foi aborda-do por dois assaltantes armados. Elesordenaram que todos saíssem do car-ro. A mãe e a filha, Aline, de 13 anos,e uma amiga, deixaram o veículo. Po-rém, os bandidos arrancaram sem queJoão Hélio tivesse se soltado comple-tamente do cinto de segurança, arras-

tando a criança pelo chão por quilô-metros durante a fuga. Mais uma mor-te, mais uma família abalada, mais umnúmero nas estatísticas da violência eda criminalidade no Brasil. E, certa-mente, mais uma história drástica quecorre o risco de, em poucas semanas,não estar nem mais na memória.

O acontecimento, que chocou oPaís, reacendeu discussões sobre comocoibir a escalada da violência. Parla-mentares, ONGs e os mais diversosgrupos da sociedade organizada come-çaram a buscar soluções para o pro-blema que não respeita idade, sexo ouclasse social.

"O Brasil vive uma época assusta-dora, tanto pelas péssimas condiçõesde convívio entre os cidadãos, quantopela omissão e incompetência do Esta-do em agir para coibir e estancar a vio-lência", avalia o pesquisador de Gestãode Políticas Públicas da Universidade deBrasília Antônio Flávio Testa.

Para o juiz federal substituto e ex-procurador do INSS Nazareno CésarMore i ra Re is , a so lução para acriminalidade deve se amparar na fa-mília, na religião, na educação, no tra-balho e na Previdência Social. Segun-do o magistrado tem defendido, inclusiveem artigos, dessa forma se "atacam ascausas geradoras desses fenômenos,não os seus resultados. Absorvem-seas forças que seriam criminosas, e faz-se delas algo socialmente útil".

Moreira Reis ressalta que, das cin-co instituições citadas, a Previdênciaé aquela que está predominantemen-te a cargo do Estado. "Nos países cujastaxas de criminalidade são baixas, in-variavelmente tem-se uma Previdênciaforte, o que é perfeitamente explicá-vel se tivermos em conta o papel queesse Serviço Público desempenha nomeio social", explica.

Esse papel é explicitado pelo pró-prio Ministério da Previdência Socialna sua apresentação institucional. Se-gundo o órgão, a "Previdência Social éutilizada para substituir a renda dotrabalhador contribuinte, quando eleperde a capacidade de trabalho, sejapela doença, invalidez, idade avança-da, morte e desemprego involuntário,ou mesmo a maternidade e a reclusão".

Em todo o mundo, as principaiscausas da violência são, em grandeparte, associadas a motivações subje-tivas, como fracassos e frustrações.Um pai de família que esteja desem-pregado e sem qualquer forma de pro-ver o mínimo de recursos necessáriosa sua esposa e filhos, pode ter rea-ções violentas ou que geram, de algu-ma forma, a violência.

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Os índices brasileiros de violên-cia urbana contemplam questões que vãoalém daquela que atingiu a família deJoão Hélio - praticadas nas ruas, comoassaltos, seqüestros, extermínios -, maslevam em consideração, também, a vio-lência praticada no próprio lar.

"Um desempregado que percebe umaprestação pecuniária razoável da Previdência,assim entendida a que é capaz de manter a elee a sua família, é um cidadão que passa pordificuldades.” Por isso mesmo, “ele vê no Esta-do a mão amiga, a ampará-lo da desgraça. Umdesocupado, sem dinheiro e perspectiva de vida,alijado da sociedade e renegado pelo PoderPúblico, é um potencial criminoso e um ônuspara a sociedade. Ele enxerga o Estado comoseu maior inimigo e não medirá esforços paramostrar o desdém que alimenta em relação aoseu Povo”, explica Moreira Reis.

Fraudes

A relação da Previdência com a vio-lência conta, ainda, com outras verten-tes. Se por um lado é a Seguridade Socialuma das formas de coibir as causas, poroutro ela é a vítima. A fraude é um dosreflexos da violência que, quando prati-cado contra a Previdência, atinge toda asociedade. Estima-se que as fraudes con-tra a Previdência representem 11% detudo o que é pago por ano em aposenta-dorias e benefícios. Se forem considera-dos os últimos 12 meses, até janeiro de2007, esse percentual alcança valor su-perior a R$ 18 bilhões.

Essa forma de violência gera prejuízospara todo o País, considerando o fato de apopulação também ser um dos elementosque, ao lado do governo, compõe o Estado.

Há, ainda, o ônus gerado de formaindireta, quando vítimas da violência tor-nam-se, prematura e involuntariamente,beneficiários. Dados do Centro de Estudosde Criminalidade e Segurança Públicaapontam que os custos de atendimento às

vítimas e anos perdidos por incapacidadee morte prematura passam de 1 milhão dedólares, em um ano, no Rio de Janeiro.

São pessoas que passam ou levamsuas famílias à condição de beneficiáriosao se tornarem alvos de uma bala perdi-da, por exemplo. Um desses

O preço da violênciaA violência custa muito caro. Cus-

tos que vão além daqueles meramenteeconômicos. São custos sociais e políti-cos. Segundo informações da Secreta-ria Nacional de Segurança Pública, "pes-quisas de vitimização tem demonstra-do que a incidência da criminalidadeleva a uma redução na intensidade darelação entre as pessoas. Por serem ví-timas de delitos ou conhecerem pesso-as que foram vítimas, as pessoas pas-sam a se relacionar menos com as ou-tras pessoas, buscando reduzir o riscoa que poderiam estar submetidas".

Além disso, a redução na qualida-de de vida das pessoas tam-

"involuntários" foi o ex-baterista do grupoO Rappa, Marcelo Fontes NascimentoSanta Ana, o Marcelo Yuka, que levou seistiros durante tentativa de assalto naTijuca, zona norte do Rio de Janeiro, emnovembro de 2000. Aos 35 anos, o músicoficou paralisado da cintura para baixo e

bém é um fenômeno resultante do au-mento da violência. As pessoas mudamseus hábitos do dia-a-dia na busca porreduzir o risco a que estariam submeti-das.

Uma pesquisa realizada, em 2002,pela Universidade Federal de MinasGerais (UFMG), apontou que 85 em cadacem moradores de Belo Horizonte con-sideram inseguro sair de casa à noite.Porém, a residência também não foi con-siderada um local seguro para quase ametade dos entrevistados.

No viés político, como demonstra-do pelas discussões que a morte do João

Hélio provocou, a in-cidência da

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criminalidade gera uma pauta fragmentada ereativa das agências responsáveis pelas polí-ticas de segurança pública. Essa pauta émarcada profundamente pela repetição dotrabalho e distanciamento das instituições.

Todo esse processo aponta a fragmen-tação, inexistência de gestão, sobreposiçãode ações e falta de orientação comum no per-fil das políticas públicas estaduais e federais.

Sob a ótica econômica, os custos tam-bém são substanciais. Há aqueles diretos, as-sociados a bens e serviços públicos e privadosgastos no tratamento dos efeitos da violênciae prevenção da criminalidade no sistema dejustiça criminal, encarceramento, serviços mé-dicos, serviços sociais e proteção das resi-dências. E há, ainda, os indiretos, caracteri-zados pela perda de investimentos, bens eserviços que deixam de ser captados e pro-duzidos em função da existência dacriminalidade e do envolvimento das pessoas- agressores e vítimas - nessas atividades.

Segundo os dados da UFMG, a violênciagera, na capital do Rio de Janeiro, custos equiva-lentes a 5% do PIB do município. Isso equivale aR$ 51 bilhões. Em São Paulo, o gasto do PoderPúblico no combate à criminalidade ultrapassaR$ 4,2 bilhões. Não obstante, outros R$ 470 mi-lhões são contabilizados como prejuízo geradopor bens e serviços que deixam de ser produzidosa cada ano.

Outro impacto da violência diz respeito àredução nos valores dos imóveis. Segundo esta-tísticas calculadas para Belo Horizonte, a dimi-nuição da taxa de homicídio por cem mil habitan-tes, em uma única unidade, elevaria o aluguel

dos domicílios em 0,61%. Assim, a reduçãodos homicídios pela metade levaria ao in-cremento de 12% no valor dos aluguéis.

Diante de um cenário que se mostracada vez mais complexo, os três poderestêm se movimentado na busca por medidasque tragam soluções. Após pedidos do Exe-cutivo e de toda a sociedade, a Câmara dosDeputados anunciou que segurança públi-ca é uma das prioridades para março.

"Não há necessidade de acontecernenhum caso novo para ser retomada a dis-cussão sobre a violência", garantiu o presi-dente da Câmara, deputado ArlindoChinaglia. Restam agora os resultados.

No fundo, paliativosAinda sob o impacto dos atos de vio-

lência noticiados pelos meios de comunica-ção, a Comissão de Constituição, Justiça eCidadania do Senado aprovou, no início demarço, proposta criando o Fundo de Com-bate à Violência e Apoio às Vítimas daCriminalidade. Da mesma forma que o Fun-do de Combate à Pobreza não diminuiu oíndice de pobreza no Brasil, o Fundo deCombate à Criminalidade também não teráprovavelmente quase nenhum efeito sobreos índices alarmantes verificados atualmen-te. São medidas paliativas, que não atacamo problema em sua origem, e mais uma vezestão centradas muito mais na violência jácometida do que na busca de alternativasdestinadas a preveni-la.

A mesma CCJ aprovou também, em

teve de deixar os palcos.Outro caso, mais recente, é o de

Priscila Aprígio, 13 anos, que ficouparaplégica após ser atingida por umabala na tarde de 28 de fevereiro, duranteassalto a uma agência bancária na capi-tal paulista. A nova cena de horror acon-

teceu apenas três semanas depois damorte de João Hélio.

"Ela ligou e disse: 'Mãe, me ajudaque eu levei um tiro nas costas'. Foi quan-do eu me desesperei e ela não falou maisnada", contou a mãe da adolescente, no diaque mudou a vida de sua filha e de sua famí-

decisão terminativa, projeto de lei quealtera a Lei 8.429/92, conhecida como Leide Improbidade Administrativa, paraaumentar as sanções nos casos em queestejam envolvidas verbas públicas des-tinadas à saúde e à educação. O PLS 119/05 é do senador Papaléo Paes (PSDB-AP)e foi relatado pela senadora SerysSlhessarenko (PT-MT).

Pelo projeto, os que praticarematos de improbidade administrativa en-volvendo especificamente verbas públicasdestinadas à saúde e à educação terão agra-vadas as penas nos casos de enriquecimen-to ilícito e de lesão ao erário. A aprovaçãotem o mérito de penalizar com mais rigoros que praticam crimes que prejudicam doissetores que certamente contribuem para ocombate à violência - saúde e, principal-mente, educação. Resta esperar que as pro-vidências do Parlamento não se limitem apunir os corruptos que agravam a situaçãosocial do País com o sangramento de ver-bas do erário destinadas a setores básicos,pois o que a população espera é que hajaefetivamente um incremento dos investimen-tos do Estado no sentido de melhorar essesserviços públicos, uma expectativa mais doque justificada, para um país cuja carga tri-butária está entre as maiores do mundo.Caso contrário, a população desassistidacontinuará à mercê de novos casos deviolência, uma vez que, no fundo no fun-do, a criação de fundos não resolve oproblema, que tem que ser atacado prin-cipalmente em suas causas, e não emsuas consequências.

lia. E completou: "Ela é tão jovem. Ficar numacadeira de rodas, em cima de uma cama. Vaiser muita infelicidade para ela, com tantossonhos que ela tem. Injustiça".

Yuka e Priscila, ao lado do pequenoJoão Hélio, são ícones do drama cotidia-no que aflige toda a sociedade.

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Sociedade em pânicoSociedade em pânicoSociedade em pânicoSociedade em pânicoSociedade em pânico○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

PPPPPena de vidaena de vidaena de vidaena de vidaena de vidaGerson Menezes,Editor

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O debate sobre a violência no Brasil sem-pre é feito de forma muito mais emotiva doque racional, o que dificulta ainda mais aidentificação dos melhores caminhos paracombater esse mal que se alastra de formaalarmante. Casos como o do pequeno JoãoHélio e o da pequena Alana Ezequiel sãotrágicos demais para impedirem que aemotividade ganhe corpo, mas o ódio con-tra facínoras que cometem tais atrocida-des não irá resolver a questão porque,muito mais urgente do que punir os culpa-dos (o que não significa dizer que eles de-vem permanecer impunes) é evitar que es-ses crimes continuem ocorrendo. E "provi-dências" invariavelmente defendidas quan-do esses casos dramáticos vêm à tona -como a pena de morte, redução da maiori-dade penal e prisão perpétua - não trarãode volta à vida os que já foram vitimadospela violência. A prioridade, portanto, deveser a de impedir que tais mortes continu-em ocorrendo, o que está fora daabrangência dessas supostas "soluções".

É fato reconhecido que a violência nãoderiva apenas da miséria, encarada estaapenas como "falta de dinheiro" ou "pobre-za excessiva". Os ricos também matam, masé preciso ter em mente que a miséria hu-mana não se resume à quantidade de di-nheiro que se tem no bolso ou depositadanuma agência bancária. A miséria humanaestá presente também nas mentes massa-cradas pelo preconceito, pelo sofrimentomoral e físico, pelas injustiças, pelo conví-vio social preenchido por ingredientes comoa ausência de ligações afetivas com ami-gos e parentes, a partir da recorrente im-posição de receitas retrógradas e ainda poruma série de circunstâncias de que padecea sociedade. Mas não é só isso. Há os fato-res mais "objetivos", como a falta de edu-cação, o desamparo social e outras chagasque, infelizmente, persistem num país onde

o bolo sempre cresce, mas nunca é reparti-do com justiça.

Apesar de se tornar tema obrigatóriodurante as campanhas políticas, a educa-ção - por exemplo - nunca é encarada coma mesma seriedade quando as urnas sãoabertas e o resultado é anunciado. O mes-mo ocorre com a Previdência Social, sobrea qual persiste a visão monetarista, emprejuízo do enfoque social.

Os financistas que encaram a Previ-dência como "despesa" parecem ignorar atémesmo os números cujo entendimento nãoexige sabedoria excepcional de ninguém.Estudos insistentemente divulgados pelaANFIP mostram que a Seguridade Socialexerce um papel crucial para mudar o qua-dro de pobreza e indigência no país, queseria avassaladoramente mais grave semessas políticas sociais. Os benefíciosprevidenciários e assistenciais, segundoestudos do IPEA, conseguem, potencial-mente, retirar mais de 17 milhões de pes-soas da indigência.

Da miséria humana derivam a igno-rância e uma série de fatores que resultamde ambientes sociais desestruturados, solofértil para a criminalidade. Para que essequadro de miséria social seja decisivamen-te revertido, seria necessário que a socie-dade se engajasse num projeto de recons-trução cujos pilares básicos são a educa-ção, a previdência e a assistência social,de onde se conclui facilmente que cabe àsociedade equacionar o problema da vio-lência, embora boa parte dela cultive osimplismo de supostas providências queapenas adiam as verdadeiras e definitivas

soluções.Uma das primeiras providências seria

acabar com o inadmissível sistema de edu-cação em meio-período. Se todas as crian-ças e adolescentes permanecessem na es-cola das 8 da manhã até, no mínimo, às 17horas, não apenas estudando, mas prati-cando esportes, atividades artísticas e ou-tras práticas de socialização, seria impos-sível imaginar-se que ainda tivessem ener-gia ou disposição suficientes para aliar-seao crime após encerrar essa maratona. Masestamos num país em que votar é obriga-tório, o serviço militar é obrigatório, pagarimposto de renda é obrigatório, e não setransforma em obrigatória a freqüência di-ária à escola. Mas, para isso, é lógico, seránecessário investir altas somas para quese tenha não apenas escolas em númerosuficiente, como também qualidade de en-sino e remuneração honesta para os pro-fessores, que, por sua vez, deveriam sersubmetidos a um rigoroso processo de es-pecialização.

A sociedade não quer pagar esse pre-ço: prefere as propostas simplistas, quenada resolvem. Não seria necessário criarnenhum programa novo, como o que foi in-ventado para "combater a pobreza". Os re-cursos existem, basta direcioná-los para oque é realmente prioridade.

A violência no Brasil - e em qualquerparte do mundo - só vai ser equacionada eefetivamente combatida quando, no lugarda pena de morte, passar-se a adotar apena de vida, que consiste em mostrar (esobretudo sentir) que a vida vale a pena.Mas para isso é preciso investir em educa-ção, de forma séria; é necessário deixar deencarar a previdência e a assistência socialcomo "despesa", e passar a compreender queela significa investimento no ser humano.E isso é muito dispendioso, difícil, comple-xo, e pode "não dar voto". Fica mais fácil,simples e barato construir uma forca, ou amais sofisticada cadeira elétrica, mandan-do para lá os que mataram joãos e alanas,como se isso pudesse trazer essas criançasde volta à vida, ou impedir que novos joãose alanas sejam assassinados, que é o querealmente importa.

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estão previdenciária e custeiosão dois dos temas que predo-minaram nos debates sobre re-forma da Previdência, duranteo Seminário Internacional so-

bre Previdência Social, promovido em mar-ço, em Brasília, pelo Fórum Nacional Per-manente das Carreiras Típicas do Estado,do qual a ANFIP faz parte. Contrapondo-sea uma visão de governo que sempre predo-mina quando o assunto ganha destaque,

os palestrantes projetaram nova luz sobreo debate, mostrando nuanças que sempresão evitadas ou mesmo ignoradas pelascorrentes que forçam o predomínio da vi-são meramente monetarista que se con-centra em números frios e calculistas, ig-norando que no processo estão envolvidosseres humanos.

Historicamente, as reformasprevidenciárias têm se limitado a cortarbenefícios, "cassar" direitos adquiridos e

penalizar quem entrou para o sistema navigência de regras que acabam por ser al-teradas de forma unilateral, na mais gri-tante quebra de contrato de que se temnotícia no país. Como diz o professor Cláu-dio Dedecca, da Unicamp, se essa linha deprocedimento resolvesse alguma coisa, asreformas da Previdência teriam surtido al-gum efeito. Ao contrário disso, os aposen-tados hoje vivem em situação bem pior doque no passado, e a cantilena em torno da

Reforma da Previdência

Luz sobre o debate○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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"necessidade de reformas" continua sendoouvida nos quatro cantos do país.

O primeiro palestrante, o professordoutor do Instituto de Economia da Uni-versidade de Campinas (Unicamp), LuizGonzaga Belluzzo, falou sobre a necessi-dade de se promover um debate amplosobre a insistente idéia de se promovernova reforma da Previdência no Brasil.Essa discussão deve envolver governo eespecialistas, professores, profissionais esociedade em geral. Cláudio Dedecca,outro palestrante do Seminário, tem ma-nifestado a mesma opinião. Ele vem fri-sando, com insistência, devido às reitera-das notícias sobre uma nova reforma, que

é preciso atacar de frente problemascomo a renda do assalariado e o cresci-mento econômico, pressupostos sem osquais nenhuma reforma surtirá resultado.

O professor Belluzzo ressaltou, du-rante o seminário, que o tema "reformada Previdência" é de fundamental impor-tância para o Estado e para a sociedade,e que é necessário cada vez mais tratarsobre a Previdência no âmbito das políti-cas sociais e econômicas do País, de for-ma clara e transparente. Outra advertên-cia feita por ele foi de que a intenção dese transformar o sistema em um negóciofinanceiro pode levar a Seguridade ao fra-casso, uma vez que o propósito da Previ-

dência Social é proteger os indivíduos e,com isso, deve-se pensar no assuntoconcomitantemente com a idéia de cida-dania. A luta principal da sociedade atu-al, segundo o professor, deve se concen-trar na defesa da previdência pública, poissomente assim é possível idealizar um sis-tema solidário, para o qual toda a socie-dade deva contribuir.

Outro especialista da Unicamp, tam-bém participante do Seminário, o doutorem Economia e consultor de Organiza-ções Multilaterais, Milko Matijascic, res-saltou a importância de se valorizar osaspectos sociais sempre que se queirareal izar mudanças na estruturaprevidenciária. Ele avaliou comparativa-mente o caso da última reforma realiza-da no Chile e demonstrou, com base emdados numéricos, que o sistema é, hoje,praticamente desconhecido para a mai-or parte da população daquele país. Comisso, fica evidente que não houve preo-cupação com os aspectos sociais, umatendência que prevalece quando os go-vernos se propõem a fazer reformas demaneira unilateral, do que resultam osfracassos e as necessidades de novas re-formas, numa espiral que não tem fim.Referindo-se à reforma chilena, o consul-tor explicou que a redução das alíquotasnão aumentou o número de contribuintes.

Milko Matijascic disse que, apesar deser muito criticada, a Previdência brasilei-ra é a única na América Latina capaz deatender ao maior número de pessoas ido-sas. Entretanto, o desemprego é um dosmaiores entraves ao crescimento do siste-ma, pois a parcela de trabalhadores de-sempregados não contribui para a Previ-dência e, mesmo assim, tem direito a be-nefícios. Com isso, novamente emerge aquestão apontada por Dedecca, referindo-se ao aspecto do crescimento econômico,sem o qual não se consegue absorver amão de obra desempregada.

Milko Matijascic mostrou que o desemprego é um dos maiores entraves aocrescimento do sistema previdenciário

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SuperávitNenhuma dúvida: ele existe!

Tema inevitável em qualquer debatesobre reforma da Previdência, a polêmicasobre o propalado "déficit" previdenciário -cuja existência já foi contestada inclusivepelo presidente da República, Luiz InácioLula da Silva - não teve vez durante o Semi-nário Internacional. Na verdade, o que édenominado hoje de "déficit" se resume auma conta mal explicada, pois o sistema ésuperavitário.

O senador Paulo Paim (PT/RS) reafirmouque os números indicam que a SeguridadeSocial têm recursos para cobrir as suasdestinações constitucionais. Por diversasvezes, Paim citou os estudos produzidos pelaANFIP para comprovar a inexistência do tãofalado déficit. A Previdência Social é um dostemas recorrentes nos projetos de iniciativado parlamentar. Está em tramitação a Pro-posta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2003 que estabelece que os recursos daSeguridade Social não podem ser destina-dos a outros fundos. Dados de 1999 a 2005provam que foi desviado um total de R$ 56bilhões da Seguridade Social.

Paim alertou que é preciso ficar atentoao bombardeio que a mídia promove na ten-tativa de destruir a Previdência Social. "Nósprecisamos resgatar a credibilidade da Pre-vidência para que não haja privatização",advertiu. Segundo o parlamentar, o orçamen-to da Seguridade Social é um grande atrati-vo para o setor financeiro; por isso, o inte-resse do mercado em destruir a imagem daPrevidência Social. "A Previdência pública éum patrimônio do país", lembrou.

A doutora em Economia e professorado Instituto de Economia da UFRJ (Universi-dade Federal do Rio de Janeiro), Denise Gen-til, também enfatizou que a Previdência So-cial, definitivamente, não é deficitária. E foimais além. Segundo ela, a situação finan-ceira da Previdência divulgada pela impren-

sa é alarmista e mentirosa, e deixa de ladooutras receitas de suporte da PrevidênciaSocial, previstas no artigo 195 da Constitui-ção Federal, como a COFINS, CPMF, CSLL ereceitas de concursos de prognósticos. Opropalado "déficit" nada mais é do que o sal-do previdenciário negativo do sistema, istoé, a soma de receitas provenientes das con-tribuições ao INSS sobre a folha de salários edemais rendimentos do trabalho deduzidasdos benefícios previdenciários do RGPS, semlevar em conta as demais fontes de custeio.

Durante a sua explanação, a doutoraem Economia fez questão de lembrar que afalácia da existência de "déficit da Previdên-cia Social" tem sido desmistificada constan-temente com a divulgação de estudos, comoos elaborados pela ANFIP, que comprovamque a utilização dessas receitas, de formacorreta, torna o sistema superavitário. Ao

apresentar o quadro do resultadoprevidenciário e saldo operacional entre1990 e 2006, Gentil mostrou que houve su-perávit em praticamente todo o período dosúltimos sete anos, mas lembrou que essesuperávit, denominado por ela como supe-rávit operacional, por algum motivo não édivulgado para a população como sendo oresultado da Previdência Social.

Outro quadro apresentado pela especi-alista revelou que o sistema de SeguridadeSocial também tem-se mostradosuperavitário. Ela mostrou aos participan-tes do seminário que o desequilíbrio or-çamentário não está no orçamento daSeguridade Social ou da Previdência Soci-al e, sim, no orçamento fiscal. Essa afirma-ção está em harmonia com o que tem repe-tido o presidente da República ao longodos últimos meses.

Segundo o senador Paulo Paim, é preciso ficar atento ao bombardeio que a mídiapromove na tentativa de destruir a Previdência Social

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A professora lembrou que é precisodesmistificar a visão equivocada da situa-ção financeira do Regime Próprio de Pre-vidência Social (RPPS) da União e afirmouque ele também não é responsável pelodesequilíbrio fiscal. Nesse sentido, Deni-se Gentil descartou qualquer necessida-de de haver uma nova reforma da Previ-dência, declarando que a Previdência So-cial e o RPPS são auto-sustentáveis.

O professor e mestre em DireitoPrevidenciário João Ernesto AragonésViana, por sua vez, enfatizou que qual-quer modelo de proteção social tem porfinalidade propiciar ao indivíduo a supe-ração de um estado de necessidade so-cial gerado por um risco social. "Não émeramente um investimento financeiro",frisou. Ele alertou para a doutrina doBanco Mundial, segundo a qual o siste-ma público fracassou e deve ser substi-

tuído por um sistema privado, o de capi-talização, que na verdade deixa aodesabrigo as camadas mais pobres dapopulação, que não têm renda sequerpara sobreviver de forma digna, muitomenos para pensar em qualquer tipo decapitalização individual. O professor ci-tou as experiências do Chile e da China,países que "privatizaram" seus modelosprevidenciários. Nesses países, reforçou,o Estado abandonou a proteção socialdos trabalhadores. No Chile, o governomanteve os benefícios mínimos, comopensões por velhice, invalidez e sobrevi-vência. Na China, onde a economia re-gistrou um crescimento de 10,6%, exis-tem 150 milhões de pessoas, quase a po-pulação do Brasil, que vivem com menosde um dólar por dia. "A privatização daPrevidência Social elimina a idéia de so-lidariedade", finalizou.

Merrien:inclusão e melhor rendapara o trabalhador

"É difícil acreditar que o Brasil, um paísextremamente rico, possua uma taxa de tra-balho formal extremamente baixa. Na Euro-pa, cerca de 90% da população está ocupa-da; no Brasil, apenas 50% tem trabalho for-mal". Essa foi uma das críticas feitas peloprofessor da Universidade de Lausanne, naSuíça, o francês François Xavier Merrien,durante mesa redonda presidida pelo presi-dente da ANFIP, Ovídio Palmeira Filho.

Mais uma vez ficou evidente que o Bra-sil precisa alterar o enfoque das reformas,em especial a reforma da Previdência, quese concentra demasiadamente nos efeitos,menosprezando as causas. Merrien, numacrítica severa ao sistema de proteção soci-al no Brasil, alertou que o país precisapensar não apenas na racionalização dasdespesas, mas também em melhorar asreceitas e em aumentar a massa salarial.Ele lembrou que, nos países europeus, todaa sociedade trabalhadora tem a coberturasocial perto dos 100%.

"Pensar no futuro é apropriar-se da nos-sa história e do nosso passado para poderpensar nas soluções", disse ele num dosmomentos de sua palestra. O consultor in-ternacional comparou as evoluções das re-formas no Brasil e nos países europeus. Se-gundo ele, a implantação do projeto de Es-tado Social e da Seguridade Social na Euro-pa, na modernização pós-guerra, contribuiude forma significativa para a diminuição dasdesigualdades sociais, principalmente apósos anos 40 e 50. O resultado dessa difusão,segundo ele, estimulou a redistribuição dasriquezas dos países e facilitou a aberturaeconômica internacional, favorecendo o au-mento da concorrência estrangeira.

No Brasil, explicou, foi parcial o suces-so das constantes e recentes reformasprevidenciárias, sendo necessária, portan-

Merrien observou que as sucessivas reformas não foram suficientes para promover ainclusão e para melhorar o quadro caótico de estagnação da massa salarial

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to, uma reformulação da forma do sistemano país. Para Merrien, essas sucessivas re-formas previdenciárias no Brasil não foramainda suficientes para, por exemplo, incluiras pessoas que estão fora do sistema e paramelhorar o quadro caótico de estagnaçãoda massa salarial, problemas que, em suaavaliação, podem ser resolvidos. A visão doespecialista está em harmonia com um dospontos insistentemente citados pela ANFIP,no que se refere à necessidade de se cria-rem mecanismos de atração dos trabalha-dores que não contribuem para o sistema.

Chile:um caso emblemático

Um caso sempre citado quando se falaem reforma da Previdência é a reforma rea-lizada no Chile, tida como um modelo deprivatização que acabou não surtindo osresultados alardeados. Novamente surge odiapasão referente à necessidade de pre-sença das duas premissas básicas: a ques-tão econômica e a questão social.

O diretor de Desenvolvimento Socialda Cepal no Chile, András Athoff, um dosconvidados estrangeiros que participaramdo seminário, destacou que todo sistemaprevidenciário, para ter sucesso, precisaabranger funções sociais e levar em contaas implicações econômicas, e não apenasum desses dois aspectos.

András Athoff explicou que, ao daremênfase ao aspecto econômico, muitos paí-ses cometem erros nas reformas estruturais,pois o sistema de capitalização e repartiçãode benefícios pode falhar se o mercado detrabalho não se comportar adequadamen-te, como ocorre quando há aumento inespe-rado nos índices de informalidade e precari-edade do trabalho e nas taxas de desem-prego. Em outras palavras: de nada adiantamontar um modelo que parece ser o "ideal",mas que acaba sendo idealizado levando-seem conta um cenário em que a economia

está funcionando bem. Quando isso não ocor-re, surgem as falhas, e quem paga a conta éa população, especialmente a maisdesassistida.

András Athoff explicou que existe hoje,no Chile, um sistema integrado, que prevêuma pensão básica para todos os cidadãos(desde que residentes no país há mais de 15anos), independentemente de terem eles con-tribuído ou não para a Seguridade Social.

Entretanto, o erro da reforma chilena -explicou ele - foi confundir o sistemaprevidenciário como sendo um pilar de ca-pitalização individual, e não como um sis-tema contributivo. Torna-se evidente que,num caso desses, a classe mais pobre dasociedade - que não tem a menor chancede capitalizar-se individualmente - acabanão sendo beneficiada, embora o custodesse sistema de capitalização recaia so-bre toda a população.

Esses fatores fazem com que o risco fi-nanceiro seja arcado pelo contribuinte, o que,no emblemático caso chileno, acarretou au-mento da pobreza. Percebeu-se, então, que o

pilar de capitalização era insuficiente; comisso, 70% da população do país receberá, nofuturo, apenas a pensão básica, e essa parce-la é justamente a que não se satisfaz com oatual sistema. Sabe-se que no Chile a novaestrutura serve apenas aos que têm capaci-dade de capitalização individual, o que signi-fica que o aspecto social ficou completamen-te marginalizado do processo.

Serviço público:um caso à parte

Intencional ou não, o equívoco semprecometido por boa parte da Imprensa estáem confundir o regime geral de PrevidênciaSocial (RGPS), com o sistema próprio, dosservidores públicos, quando são duas coisascompletamente distintas. Essa confusãoocorre sobretudo quando o tema é novamen-te o "déficit" previdenciário, bem como o tetodos benefícios. A campanha de desgaste daimagem do servidor público, promovida pordeterminados segmentos, costuma repisar

András Athoff mostrou os erros do sistema chileno, como o de encarar a previdênciacomo um pilar de capitalização individual, o que a torna excludente

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que os servidores têm direito a aposentado-ria integral, enquanto os trabalhadores dainiciativa privada têm suas aposentadoriaslimitadas a um teto. Esquecem-se, no entan-to, de dizer que os servidores estatutárioscontribuem sobre a totalidade dos seus ven-cimentos, enquanto os trabalhadores regi-dos pela CLT contribuem sobre faixas distin-tas que se limitam ao teto. Além do mais, anova legislação retirou dos servidores públi-cos o direito à aposentadoria integral, obri-gando-os a constituírem um fundo de previ-dência complementar no caso de pretende-rem manter seu poder aquisitivo após a apo-sentadoria.

No caso do déficit, a questão ainda émais complicada. Ao entrar para o serviçopúblico, o trabalhador concursado passa afazer parte de uma categoria com regraspróprias, que lhe impõe inclusive limitações,como a de não poder - por exemplo - exercermais de uma atividade, salvo algumas exce-ções previstas em lei. Ao contrário do quese diz comumente, também, o servidor con-tribui para a Previdência, embora, emcontrapartida, o seu "patrão" (o governo)acabe não recolhendo a parte que lhe cabe.É uma questão invariavelmente ignoradapela corrente que se esmera em fazer cam-panha aberta contra o funcionalismo, sem-pre com a idéia de reforçar o lema da"privatização"a qualquer custo.

Em sua participação no Seminário In-ternacional, o deputado João Eduardo Dadoquestionou a razão de terem sido feitas tan-tas reformas da previdência no país. Em seuentendimento, as reformas da Previdênciano serviço público fazem parte de uma es-tratégia de desvalorização das carreiras tí-picas de Estado; por conseqüência, da des-valorização do próprio Estado. "Ao desvalo-rizar o Estado, nos tornamos ainda mais co-lônia do capital estrangeiro", advertiu ele.

Dado sustenta que as emendas consti-tucionais editadas em governos díspares emsuas ideologias demonstram a existência de

forças internas e externas do capital quebuscam impor um modelo de Estado míni-mo, com servidores desvalorizados, levan-do o país a um estado anterior à evoluçãodas relações trabalhistas. "Já não vivemosnum estado de direito. Vivemos num estadoem que o direito é concedido a uns e negadoa outros de maneira caótica".

O deputado apresentou um quadro com-parativo do que aconteceu a partir de junho de1998 nas diferentes reformas que se sucede-ram no sistema previdenciário do serviço pú-blico. Para a avaliação, Dado considerou seisconceitos que representavam um suporte davalorização dos servidores, quais sejam: esta-bilidade, irredutibilidade salarial, aposentado-ria, pensão, paridade e direito adquirido.

O parlamentar explicou que, até 1998,as pessoas que ingressavam no serviço pú-blico assinavam um contrato em que eragarantida a estabilidade. Com a EmendaConstitucional nº 19/98, os servidores pas-saram a poder ser demitidos não só median-te processo administrativo, mas também emdecorrência de uma avaliação do superiorhierárquico. Outro dispositivo, advindo daLei de Responsabilidade Fiscal, determinaainda que a União, Estados e Municípios,para adequar as despesas de pessoal ao teto

determinado pela Constituição, podem de-mitir servidores estáveis.

A Constituição Federal garantia tam-bém a irredutibilidade salarial, e o teto sa-larial era baseado no subsídio dos ministrosdo Supremo Tribunal Federal. Com a Emen-da Constitucional nº 19/98, houve a inclu-são de vantagens pessoais no teto, reduzin-do-se as remunerações, e a criação do tetoredutor. A aposentadoria, até 1998, era in-tegral. A Emenda Constitucional nº 20/98instituiu a aposentadoria proporcional, coma idade mínima. Na avaliação do deputado,essa regra poderia ter sido implantadagradativamente. Os novos servidores tam-bém passaram a ter direito à aposentadoriaproporcional, calculada por uma média.

As pensões, até 1998, eram integrais, epermaneceram assim até 2003, quando aEC 41 reduziu o benefício ao teto do INSS,mais 70% do que excedesse esse teto. "Nes-te processo, 30% do valor da pensão se per-deu", afirmou. A paridade entre ativos, inati-vos e pensionistas foi quebrada também coma EC 41, sendo garantida somente aos quejá estavam aposentados na data de sua edi-ção. Os novos servidores perderam o direitoà paridade. O conceito do direito adquiridoenfraqueceu com a EC 19/98 e a EC 41/03.

O Seminário Internacional, com a participação da ANFIP, levou a um grande públicoenfoques diferenciados do lugar-comum que domina quando se fala em reforma

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Ao final do encontro, foi divulgada aCarta de Brasília. Conheça a íntegra:

O "FÓRUM NACIONAL PERMANEN-TE DAS CARREIRAS TÍPICAS DO ESTA-DO", integrado pelas entidades de re-presentação nacional abaixonominadas, vem a público, no âmbito do"1º Seminário Internacional sobre Previ-dência Social", CONSIDERAR e, ao final,DECLARAR o quanto segue:

1. Que a Previdência Social brasilei-ra é auto-sustentável e integra o comple-xo de Seguridade Social, sendo definido,na Constituição Federal, como o "conjun-to integrado de ações de iniciativa dopoder público e da sociedade destinadasa assegurar os direitos relativos à saúde,à previdência e à assistência social";

2. Que a Constituição de 88 inovouao tutelar os direitos sociais e criar umorçamento dotado de recursos própriose exclusivos para as ações daSeguridade Social, distinto e inconfun-dível daquele que financia as demaispolíticas de governo, e que, ademais, oorçamento da Seguridade Social ésuperavitário e o seu custeio é auto-sus-tentável, tendo parte dos seus recursospróprios transferida para a execução doOrçamento Fiscal;

3. Que a Previdência do Setor Pú-blico apresenta-se, na Carta Magna, noCapítulo sobre a organização do Esta-do e não no da Seguridade Social, queas carreiras típicas do Estado são es-senciais, indelegáveis e caracteristica-mente distintas das do setor privado,

Carta de Brasília sobre Previdência Social

que o seu regime de contratação é ad-ministrativo-estatutário, cujas regrassão fixadas em lei de forma unilateral,não se regendo pela legislação traba-lhista, e que os dados econômico-finan-ceiros oficiais comprovam a sua esta-bilização e regressividade percentualem relação ao PIB, bem como a auto-sustentabilidade do seu custeio nosmarcos legais vigentes;

4. Que a instituição de um regime deprevidência complementar para os servi-dores da União e, na seqüência, para osdos entes federativos, só trará prejuízosfiscais para o Estado, resultando em per-da de receitas, aumento de despesas ecomprometimento das políticas de res-ponsabilidade fiscal;

5. Que, com a adoção dos critériosdo regime geral (RGPS) para os regi-mes próprios (RPPS), na realidade aprevidência dos servidores públicosserá privatizada, pois o valor dos be-nefícios deverá provir de aplicaçõesobrigatórias dos fundos complementa-res no mercado financeiro, sendo-lhesentregue o filão mais atraente da mas-sa salarial: as insonegáveis contribui-ções previdenciárias sobre as remune-rações públicas;

6. Que a unificação de regimes e ainstituição dos fundos privados de previ-dência complementar, ao contrário doargumento oficial, vão dificultar o recru-tamento de recursos humanos qualifica-dos para os quadros do Estado,desestruturar internamente as suas car-reiras típicas e criar desigualdades funci-onais entre iguais no campo das aposen-

tadorias e pensões;7. Que a União e os demais entes

federativos não terão nenhuma respon-sabilidade jurídica e financeira no casode malversação ou quebra destes fundoscomplementares, e que as experiênciasprevidenciárias do Chile e da Argentinacom o regime de capitalização e contasindividuais resultaram em rotundo fracas-so sócio-econômico, já admitido, inclusi-ve, pelo próprio Banco Mundial.

Diante disto, o "FÓRUM NACIONALPERMANENTE DAS CARREIRAS TÍPICASDO ESTADO" declara ser fundamentalpara a manutenção da estrutura do Esta-do nacional:

1. a defesa do fortalecimento do Es-tado e a valorização do seu aparelho or-gânico e funcional no âmbito do sistemaprevidenciário;

2. a manutenção dos regimes própri-os (RPPS) e geral (RGPS) de previdênciasocial hoje existentes, respeitando-se osdireitos sociais adquiridos, os atos jurídi-cos perfeitos e a coisa julgada dos servi-dores públicos e trabalhadores da inicia-tiva privada e seus congêneres;

3. a preservação do custeioprevidenciário solidário e de repartiçãosimples, integralmente público estatal,com a ampliação dos direitosprevidenciários dos servidores públicos edos trabalhadores da iniciativa privada,bem como a rejeição à adoção do regimegeral para as carreiras típicas do Estadoe a instituição regulamentar de fundosprivados de previdência complementar.

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provado o projeto de lei 6272,o país se prepara para convivercom uma nova AdministraçãoTributária, mais moderna e efi-caz, e cujo principal resultadoserá um combate mais rigoro-

so à sonegação, que tem prejudicado o con-tribuinte em seu direito não só de usufruirda contrapartida que o Estado tem que ofe-recer em conseqüência dos tributos recolhi-dos, como também da igualdade de direitosque deve prevalecer no sistema tributário,de modo a que todos contribuam com osseus deveres enquanto cidadãos.

O projeto de lei foi aprovado apósexaustivo debate no Congresso Nacional,com ampla participação de entidades re-presentativas, de parlamentares e de seg-mentos da sociedade civil que participa-ram das discussões. Apesar disso, mesmoapós a aprovação pela instituição que me-

lhor representa a democracia brasileira - oParlamento - persistem acusações de quese trata de matéria viciada por"inconstitucionalidade", o que já foi rebati-do por juristas de renome e respeitabilida-de indiscutíveis.

O próprio Supremo Tribunal Federal jáexpressou seu entendimento de que a arre-cadação e a fiscalização de contribuiçõessociais por parte da administração diretasão "providências de natureza simplesmen-te executiva, por economia da administra-ção pública". Ou seja, conforme tem frisado aANFIP ao longo de toda a tramitação da ma-téria, a unificação, entre outros benefícios,significa economia para o contribuinte, umavez que o Estado deixa de mobilizar recursospara manter duas instituições distintas cujoobjetivo é um só: arrecadar tributos.

O projeto da chamada "Super Recei-ta" em momento algum trata de "normas

de gestão financeira e patrimonial". Eleapenas organiza a cobrança e a fiscaliza-ção de tributos federais, não lhes alteran-do alíquota, fato gerador, contribuintes oudestinação. Não se verifica, portanto, mu-dança em relação ao quantum do tributodevido ou prejuízo a quaisquer dos envol-vidos na relação tributária.

Mais uma vez convém destacar, tam-bém, que, das várias fontes de financia-mento da Seguridade Social previstas noartigo 195 da Constituição Federal, ape-nas a contribuição sobre a folha de salári-os não está sob a responsabilidade da Re-ceita Federal. Isso coloca por terra o argu-mento de que a unificação traria prejuízosà Previdência Social, pois o que se observaé que a Receita Federal já participa, hámuito tempo, da arrecadaçãoprevidenciária, não se constituindo novi-dade. Se houvesse esse prejuízo, ele já

A

Unificação dos fiscosUnificação dos fiscosUnificação dos fiscosUnificação dos fiscosUnificação dos fiscos

Melhor para o Brasil.E de acordo com aConstituição

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estaria sendo produzido.Em decisão unânime, o STF já se pro-

nunciou no sentido de que a ConstituiçãoFederal não exige uma entidadearrecadadora própria para a SeguridadeSocial, ao contrário do que vem sendo in-sistentemente propagado pelos que pre-tendem tornar a criação da RFB uma medi-da supostamente "inconstitucional". Em seuvoto referente ao recurso extraordinário138.284, o ministro-relator Carlos Vellosodeixa claro que a União, por meio da Re-ceita Federal, pode arrecadar e fiscalizarcontribuições sociais. "O que importa per-quirir - diz o relator - não é o fato de aUnião arrecadar a contribuição, mas se oproduto da arrecadação é destinado ao fi-nanciamento da seguridade social (C.F., art.195, I). A resposta está na própria Lei 7.689,de 15.12.88, que, no seu artigo 1º., dispõe,expressamente, que "fica instituída contri-

buição social sobre o lucro das pessoas ju-rídicas, destinada ao financiamento daseguridade social." De modo que, se o pro-duto da arrecadação for desviado de suaexata fina1idade, estará sendo descumpridaa lei, certo que uma remota possibilidade dodescumprimento da lei não seria capaz, evi-dentemente, de torná-la inconstitucional. Tam-bém o juiz Fleury Pires, ao abordar a questão,no Tribunal Federal da 3ª. Região (São Paulo),na AMS 10.856 (argüição deinconstitucionalidade), pronunciou-se nos se-guintes termos: “Nem se argumente que a re-ceita da Seguridade Social não pode abrangerórgão da administração direta". Também o pro-fessor Wladimir Novaes Martinez pronunciou-se de forma bastante clara a respeito:

"A idéia de que, aproximando umas dasoutras, normativamente, as ações de saú-de, os serviços assistenciais, o custeio e asprestações previdenciárias, a Constituiçãopretende criar - sem ter criado - a seguridadesocial, é mais uma vez confirmada com adisposição do art. 194 par. 2º. : 'A propostade orçamento da seguridade social será ela-borada de forma integrada pelos órgãos res-ponsáveis pela saúde, assistência e previ-dência social, tendo em vista as metas eprioridades estabelecidas na lei de diretri-zes orçamentárias, assegurada a cada áreaa gestão de seus recursos'. O orçamentoserá, senão único, pelo menos unificado ouintegrado, mas não será da seguridade so-cial, já que a essa técnica não correspondeainda um ministério ou órgão centralizadore sim cada uma das três medidas que a com-põem. Cada uma das áreas administrará oseu próprio orçamento , que será elaboradointegrado, propiciando, no futuro, a decisãopolítico-administrativa de um único e gigan-tesco órgão controlador das três ações".

Cuidando especificamente dos orça-mentos, o art. 165, parág. 5º., inciso III, daConstituição, dispõe que a lei orçamentá-ria anual compreenderá o orçamento daseguridade social, abrangendo todas asentidades e órgãos a ela vinculados, admi-nistração direta ou indireta, bem como osfundos e fundações instituídos e mantidospelo Poder Público. Dai que a administra-ção direta também tem receita deseguridade social, já que não se pode com-

preender orçamento apenas de despesas.Por conseguinte, a Constituição não veda(ao contrário: admite) a arrecadação decontribuição social para financiamento daseguridade social pela administração dire-ta da União, não podendo ser consideradainconstitucional a Lei n 7.689/88, pelo fatode a contribuição por ela criada ser arreca-dada pela própria União, através da Secre-taria da Receita Federal (arts. 6 e 72) nempela remissão à legislação do imposto derenda para disciplinar a administração, lan-çamento, consulta, cobrança, penalidades,garantias e procedimento administrativo,no que couber (parágrafo único do art. 72),visto que não há vedação constitucionalpara tanto. E tais circunstâncias não afas-tam a natureza de contribuição da exaçãoreferida, inconfundivel com o imposto derenda, uma vez que, consoante asseveraWagner Balera, "desde que bem delimita-dos os contornos jurídicos de cada uma dasespécies tributárias de que se cuida e, as-segurada a correta destinação do produtoda arrecadação das contribuições, sempreserá possível distinguir, no plano teórico,os dois tributos (Revista de Direito Tribu-tário, vol. 49, pág. 114).

O ministro Moreira Alves, relator doRecurso Extraordinário 146.733, preservaa mesma linha de entendimento do RE138.284, ao entender que a ConstituiçãoFederal não impõe um sistema autônomode cobrança e arrecadação das contribui-ções sociais. "E isso decorre da naturezada base de cálculo dessa contribuição - dizMoreira Alves - que é o lucro das pessoas

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jurídicas representado pelo "valor do resul-tado do exercício antes da provisão para oimposto de renda(arts. 1º. e 2º. da lei 7689/88). Para que fosse inconstitucional essaforma de arrecadação, necessário seria quea Constituição tivesse criado um sistemade seguridade social cuja realização, emtodas as suas etapas, tivesse de ser dacompetência exclusiva de um órgão au-tônomo de seguridade social. E não é issoo que resulta dos textos constitucionaisconcernentes à seguridade social, comobem demonstra, a propósito, o voto doSr. Juiz Fleury Pires, quando do julgamen-to, pelo Plenário do TRF da 3a. Região,da argüição de inconstitucionalidade noqual se baseou o acórdão ora recorrido.Em seu voto, Fleury Pires, após enumeraros argumentos dos que pretendem darcaráter de inconstitucionalidade à medi-da, conclui de forma inquestionável: "... Oargumento de que a União, por si própria,não poderia arrecadar contribuição paraa seguridade social, só teria sentido seefetivamente a Constituição tivesse cria-do a Seguridade Social com individualida-de própria e autônoma. Aí, sim, somentea entidade ou os entes específicos daSeguridade é que poderiam arrecadar ascontribuições. Todavia, nos termos em quedelineados os contornos da SeguridadeSocial com a simples aproximação dasações de saúde, de assistência e de pre-vidência e com a manutenção de varia-das fontes de custeio, direto e indireto,não há como vislumbrar na Constituiçãoproibição a que a União institua e arre-cade contribuição social expressamenteprevista no art. 195, 1, incidente sobre olucro dos empregadores, desde que desti-ne os recursos exclusivamente àSeguridade Social. Ora, o art. 1 da Lei n.7.689/88 estabelece que a contribuição édestinada ao financiamento da seguridadesocial. Se os recursos obtidos tiverem des-tino diverso, haverá desvio de finalidade.Mas tal cogitação situa-se em dimensãofutura, sujeitando os responsáveis àsconsequências legalmente previstas.

No tocante às contribuições sociais -que dessas duas modalidades tributárias éa que interessa para este julgamento -, não

só as referidas no artigo 149 - que se su-bordina ao capítulo concernente ao siste-ma tributário nacional - têm natureza tri-butária, como resulta, igualmente, da ob-servância que devem ao disposto nos arti-gos 146, III, e 150, 1 e III, mas também asrelativas à seguridade social previstas noartigo 195, que pertence ao título "Da Or-dem Social. Por terem esta natureza tribu-tária é que o artigo 149, que determinaque as contribuições sociais observem oinciso III do artigo 150 (cuja letra consagrao princípio da anterioridade), exclui dessaobservância as contribuições para aseguridade social previstas no artigo 195,em conformidade com o disposto no par.

6º. deste dispositivo, que, aliás, em seuparágrafo 4º., ao admitir a instituição deoutras fontes destinadas a garantir a ma-nutenção ou expansão da seguridade soci-al, determina se obedeça ao disposto noart. 154,I, norma tributária, o que reforça oentendimento favorável à natureza tribu-tária dessas contribuições sociais".

Na mesma linha, o ministro IlmarGalvão entende que "a especificidade dadestinação do produto da arrecadação dotributo em causa é que, obviamente, lheconfere o caráter de contribuição. Eventu-

al desvio de finalidade que se possa verifi-car na administração dos recursos por elaproduzidos não pode ter o efeito detransmudar-lhe a natureza jurídica.Irrelevante, igualmente, para tanto, acircunstancia de a sua cobrança e fiscali-zação serem realizadas pelos agentes en-carregados do Imposto de Renda. Está maisdo que claro que a lei não quis transferirpara a "caixa única" do Tesouro Nacional oproduto da arrecadação da contribuiçãosocial, ao incumbir a Receita Federal dasatribuições de administrar e fiscalizar otributo, O que, razoavelmente, se deveentender é que cabe aos agentes da Recei-ta Federal disciplinar e realizar os lança-mentos pertinentes, fiscalizando as empre-sas, a fim de evitar sonegações e retarda-mentos nos recolhimentos. Enfim, obviou-se a duplicidade de meios com vistas à ar-recadação dos dois tributos, já que têmeles, praticamente, fonte de referência co-mum, ou seja, o balanço anual das empre-sas. A Constituição não veda essa provi-dência posta em prática no prol do interes-se público.

A gestão a que se refere o art. 194, VII,da nova Carta, não é da arrecadação, nemda fiscallzação dos contribuintes, mas daprópria seguridade, dos programas a seremcumpridos e dos objetivos a serem alcança-dos, em face dos recursos disponíveis".

O ministro Sepúlveda Pertence re-força a convicção quanto à completa im-propr iedade de se cons iderar"inconstitucional" a arrecadação de con-tribuições previdenciárias pela ReceitaFederal. E deixa claro esse seu enten-dimento: "O argumento a que se deumaior ênfase , no sent ido dainconstitucionalidade, consiste em ex-trair do artigo 32, da Lei questionada,que confia à Secretaria da Receita Fe-deral a fiscalização e a arrecadaçãodesse tributo específico, e sua própriadescaracterização como contribuiçãodestinada à seguridade social e, daí, suaconseqüente invalidez. Os argumentosexpendidos nessa linha, nos vários tra-balhos - e me refiro especialmente a um,que foi o meu primeiro contato com otema - o belo parecer da Professora

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Unificação dos fiscosUnificação dos fiscosUnificação dos fiscosUnificação dos fiscosUnificação dos fiscos

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Misabel Derzi sobre questão similar(Contribuição para o Finsocial, RDTrib.,55/194) - data venia, não me convence-ram. O que a lei estabeleceu, naqueledispositivo, foi apenas a centralizaçãodo processo administrativo de arrecada-ção e fiscalização, o que, como notoubem o voto vencido a que se reportou oeminente relator, Juiz Fleury Filho, doTribunal Regional Federal de São Pau-lo, decorre de que à seguridade socialnão corresponde, na própr iaConstituição,um órgão único, totalmen-te distinto da administração direta: dei-xa-o claro o próprio artigo 165, III, CF,ao incluir, no âmbito da seguridade so-c ia l , não apenas as autarquiasprevidenciárias e outras entidades daadministração direta, mas também osórgãos da administração direta envolvi-dos na consecução dos seus objetivos. Oorçamento da seguridade social - maisabrangente que o da Previdência Social -teria, portanto, que ter em vista, tam-bém, a arrecadação desses recursos des-tinados à Administração Direta, emboraafetados, vinculados a determinadasdespesas com o amplo e complexo setorque nela se compreende. De qualquersorte, ainda com relação aos recursos vo-tados às entidades da administração in-direta, a centralização na Receita Fede-ral de sua arrecadação e fiscalização nãolhes descaracteriza a destinação espe-cífica que lhes haja emprestado o orça-mento da seguridade social: não meconvenci de que o problema se distingaontologicamente do que se dá com a ar-recadação pela União ou pelos Estadosda totalidade de determinados impos-tos, não obstante, segundo a Constitui-ção, parte do produto deles pertença,desde a sua efetivação, aos Municípios(CF, art. 158).

Novamente os ministros Ilmar Galvãoe Carlos Velloso, em voto referente à ADC-1, consolidaram os entendimentos resul-tantes dos recursos extraordinárias queacabaram por determinar a improcedênciadas alegações de inconstitucionalidade.

Diz o ministro Ilmar Galvão: "Cogi-ta-se de regra em que o legislador, a par

de afirmar o óbvio, seja, a destinaçãoconstitucional da contribuição em foco,ratifica a norma contida no dispositivosob remissão, segundo a qual, "ao De-partamento da Receita Federal - DRF,compete arrecadar, fiscalizar, lançar enormatizar o recolhimento das contribui-ções sociais" da espécie.

Sobre o tema, também já se pronun-ciou o STF, no RE 146.733, onde aconstitucionalidade da Lei n 7.689/88 foireconhecida, no tocante à contribuiçãoincidente sobre o lucro das pessoas jurí-dicas, havendo sido consignado que o as-pecto relevante para caracterização dacontribuição social, como tributo, é queo produto de sua arrecadação tenha umadestinação específica, e não o modo peloqual é arrecadada.

Naquela oportunidade, foi afirmado,pelo subscritor deste, ser irrelevante acircunstância de a cobrança e fiscaliza-ção da contribuição social serem realiza-das pelos agentes encarregados do Im-posto de Renda, estando claro que a leinão quis transferir para a caixa única do

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Tesouro Nacional o produto da arrecada-ção, ao incumbir a Receita Federal dasatribuições de administrar e fiscalizar otributo, havendo-se, razoavelmente, deentender que cabe aos ditos agentes dis-ciplinar e realizar os lançamentos perti-nentes, e fiscalizar as empresas, a fimde evitar sonegações e retardamentosnos recolhimentos.

O ministro Carlos Velloso tambémnão deixa margem de dúvidas: "A alega-ção de que haveria inconstitucionalidadeem razão de a arrecadação ser executa-da pela Receita Federal também não pro-cede. Reporto-me ao decidido pelo Su-premo Tribunal Federal nos RREE146.733-SP e 138.284-CE, já indicados(RTJ 143/313 e 584)".

Por mais que se alegue que matériajurídica sempre é objeto de controvérsiase de várias interpretações, fica evidente,a partir de entendimento de juristas deinegável respeitabilidade, não haver mar-gem alguma para se considerar que a cri-ação da Receita Federal do Brasil possaser inconstitucional.

A idéia de modernização da Administração Tributária envolveu grande número deentidades e acabou sendo plenamente compreendida pelos deputados e senadores

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A fim de não criar obstáculos paraas pessoas que necessitam do emprésti-mo, o governo desburocratizou a conces-são e acabou exagerando na dose, poisisso tem facilitado as fraudes, com em-préstimos sendo concedidos em nome depessoas que não o solicitaram.

A Revista de Seguridade Social ou-viu o presidente do Mosap, Edison Gui-lherme Haubert, que abordou também aquestão dos empréstimos consignados emfolha para os servidores públicos, semnenhum risco para a instituição bancária.Esses empréstimos, segundo ele, acabamse configurando como um "mal necessá-rio", em decorrência da enorme defasa-gem salarial resultante da nefasta políti-

O

Empréstimo para aposentadosEmpréstimo para aposentadosEmpréstimo para aposentadosEmpréstimo para aposentadosEmpréstimo para aposentados

Pegar oulargar?

empréstimo consignado paraaposentados e pensionistas doINSS, que vem sendo concedido

pelo governo como mais um benefíciode cunho social, tem sido motivo depolêmica em meio ao próprio públicoa que se destina. Independentementedos aspectos econômicos envolvidos,o que era para ser um benefício podeexigir cuidado do tomador, para quenão se transforme em dor de cabeça.

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ca governamental e de extraordinário ar-rocho contra os servidores ativos, que severifica também em relação aos aposen-tados e pensionistas.

Já no caso do dinheiro emprestadoaos aposentados e pensionistas do INSS,a situação fica parecida com a história docachorro correndo atrás do próprio rabo:o aposentado precisa do empréstimo por-que ganha pouco, e fica em dificuldade nahora em que as parcelas passam a sercobradas, exatamente em decorrênciados seus baixos vencimentos.

Aposentados do INSS

No dia 28 de fevereiro, por decisão do

Conselho Nacional de Previdência Social(CNPS), o teto dos juros para esse tipo deempréstimo foi reduzido de 2,78% para 2,72%.Quando os empréstimos passaram a ser con-cedidos, em 31 de maio de 2006, esse tetoera de 2,90%, mas houve uma reduçãogradativa devido às quedas na taxa Selic.De qualquer modo, o presidente do Mosapconsidera que os juros ainda são altos, umavez que não há risco nenhum para o bancoque concede o empréstimo, em decorrênciado desconto em folha.

Haubert cita como fatores que con-tribuem para a necessidade de emprésti-mos as altas alíquotas impostas ao apo-sentado e pensionista, tais como: imposto

de renda retido na fonte, contribuiçãoprevidenciária (no caso dos servidores pú-blicos) de 11% (na parcela de vencimentosa partir do teto do regime geral), osaltíssimos custos de planos de saúde e aelevação constante dos preços dos produ-tos farmacêuticos, o que prejudica princi-palmente os idosos.

"Na verdade - diz Haubert - esse em-préstimo transformou-se num mal neces-sário, com repercussões negativas na vidafinanceira do tomador".

Ele admite que praticamente nãoexiste obstáculo algum para a obtençãodo empréstimo, bastando estar dentroda margem estabelecida em relação àrenda para obter a liberação do dinheirocom facilidade. Mas "é uma facilidadecom conseqüências drásticas se não hou-ver cultura positiva e compreensiva natomada do recurso, que é descontado,na fonte, sem nenhuma interveniência doservidor. Portanto, é o lucro mais fácilque o banco aufere". E acrescenta que,embora o governo propague a idéia deque os juros são baixos, eles ainda "es-tão altíssimos em relação ao custo e aorisco, praticamente zero", referindo-se aosistema bancário, uma vez que o des-conto é feito automaticamente em folha,não havendo portanto nenhuma possibi-lidade de atraso ou falta de pagamento."O grande problema são as propagandas,o marketing e a ilusão que os bancosvendem", completa.

Edison Haubert acredita que serianecessário maior rigor na concessão des-ses empréstimos, "além de maior escla-recimento quanto à composição dos ju-ros, comissões e taxas de administração,informações que nunca são claramenteexplicitadas". Enfatiza ainda que o go-verno só tem um caminho a tomar: de-terminar a redução de juros, sua unifica-ção, além de aumento do prazo consig-nado, compatibilizando a capacidade depagamento do tomador em combinaçãocom a capacidade de quem concede osempréstimos.

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E c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i a

Tributação para gerardesenvolvimento

QA alta cargaA alta cargaA alta cargaA alta cargaA alta carga

tributáriatributáriatributáriatributáriatributária

brasileira ébrasileira ébrasileira ébrasileira ébrasileira é

inibidora doinibidora doinibidora doinibidora doinibidora do

crescimentocrescimentocrescimentocrescimentocrescimento

uando se analisa o tema desen-volvimento econômico dos paí-ses, sempre se coloca, comouma das variáveis mais impor-tantes a ser considerada, a tri-butação1.

Países em estágios iniciais de desen-volvimento caracterizam-se, via de regra, porreduzido mercado interno e grande depen-dência dos fluxos internacionais de bens eserviços. A principal fonte de recursos tribu-tários situa-se no comércio exterior.

Países que experimentam um proces-so continuado de desenvolvimento, dentreeles o Brasil, caracterizam-se pela adoçãode políticas de substituição de importações,de incentivos à formação de um parque in-dustrial e de ampliação do seu mercado in-terno. Esses países tendem a tributar, maisintensamente, a produção e a circulação,devido à importância e ao volume das tran-sações internas.

Os países mais desenvolvidos, deten-tores de um parque industrial mais moder-no e diversificado, além de manterem altataxa de consumo, tendem a privilegiar a tri-

1 Os dados utilizados neste artigo não obedecem à nova metodologia do SCN - Sistema de Contas Nacionais - do IBGE.2 O conceito de carga tributária, utilizado neste artigo, compreende a relação percentual entre o total de tributos -taxas, impostos e contribuições, pagos ao Estado, que devem se reverter à coletividade sob forma de benefícios eserviços - e o Produto Interno Bruto (PIB), que compreende o valor agregado de todos os bens e serviços produzidosdentro do território brasileiro. Também inclui o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)3 O crescimento econômico brasileiro em 2005 foi de apenas 2,3% do PIB.

butação sobre a renda e o patrimônio, demodo a fazer com que cada indivíduo ouempresa recolha o tributo em função de suacapacidade econômica. A eficiência tributá-

ria se dá de forma progressiva nos paísesricos, detentores de renda per capita eleva-da e distribuição de renda equânime.

Hoje, em países como os EUA, Alema-nha, Reino Unido, Canadá e Japão, a cargatributária sobre bens e serviços gira emtorno de 33%, em média, e sobre a renda,

46%. No Brasil ocorre o inverso: bens e ser-viços são tributados em 63%, e a renda, emmédia, 26%.

No Brasil, quem ganha até dois salári-os mínimos gasta algo em torno de 26% darenda no pagamento de tributos indiretos.Em contrapartida, aqueles com renda supe-rior a trinta salários mínimos arcam com tri-butos equivalentes a 7% da renda, o que cer-tamente contribui para agravar a concen-tração de renda. O problema dos impostosindiretos, que incidem sobre o consumo, é omaior ônus sobre a população de baixa ren-da, que gasta todo seu ordenado. Já os de-tentores de rendas mais elevadas são me-nos afetados e conseguem poupar parte desua remuneração.

Essa política se inviabiliza cada vezmais, tendo em vista que a carga tributáriabrasileira2 , hoje próxima dos 40% do PIB,mostra-se como um dos fatores de inibiçãodo crescimento econômico3 , pré-requisitopara o desenvolvimento econômico e social.E crescer, gerando empregos formais, é umasituação mais do que desejável para milhõesde brasileiros que se encontram sem ocupa-ção, e, particularmente, para o fortalecimen-to da Previdência Social.

O PIB cresceu 2,9% em 2006 - abaixo,portanto, do estimado pela CEPAL (Tabela1) e pelo próprio governo no início de 2006

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 2007 25

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

(4%). Esse fato conduz à constatação de que,apesar do excelente cenário, tanto internocomo externo, o Brasil ainda se mantém li-gado à tendência de baixo crescimento dosúltimos 20 anos. Estamos deixando de apro-veitar a onda de crescimento mundial.

Muitos países latino-americanos, den-tre eles alguns emergentes, apresentamnúmeros melhores que o Brasil. Encabe-çam o crescimento médio projetado entre2004 e 2007, segundo relatório do Centrode Projeções Econômicas da CEPAL (Tabe-la 1): Venezuela, com 9,7%; Argentina(7,8%), Uruguai (6,9%), Panamá (6,6%), Chi-le (6%) e República Dominicana, com 5,6%.O Peru, por exemplo, um país com um his-tórico de conflitos sociais e guerrilha, de-verá crescer, entre 2004 e 2007, a umamédia de 5,5% ao ano. O crescimento mé-dio dos países da América latina, em suamaioria menos desenvolvidos que o Bra-sil, deverá ficar em torno de 4,8%. O Bra-sil, na média desses 4 anos, deverá cres-cer em torno de 3,6%, ou seja, ¼ aquémdos latino-americanos e caribenhos.

Medidas tidas como promotoras docrescimento somente geram desenvolvimen-to humano e social com a construção de am-bientes socialmente favoráveis, priorizando

a qualidade de vida da população, o grau deproteção trabalhista e previdenciária e a dis-tribuição de renda.

A partir do Plano Real, o baixo cresci-mento da economia deveu-se à forma deimplementação da política econômica. A com-binação de política fiscal tímida e política mo-netária de caráter restritivo domina a econo-mia brasileira nos últimos anos. Acerca dessaspolíticas macroeconômicas há idéias conver-gentes sobre o aperto monetário excessivopara conter a inflação, opondo-se a uma políti-ca desenvolvimentista. Os juros elevados, porum período dilatado, fazem com que as deci-sões de investir no mercado interno se retrai-am. Em decorrência, percebemos a limitaçãodo crescimento da produção e a continuidadedos altos níveis de desemprego.

Há aparente falta de sintonia entregoverno e Copom. Almejar um crescimen-to econômico de 5% ao ano por meio doPAC - Programa de Aceleração do Cresci-mento - que prioriza investimentos eminfraestrutura, e ao mesmo tempo praticaruma política contracionista de juros altosque não "destrava" a economia, não fazsentido. É o mesmo que dar um passo parafrente e outro para trás.

Apesar da dissonância entre política

de crescimento e política monetária, é re-levante mostrar alguns pontos positivos doPAC: i) as desonerações tributárias benefi-ciando a construção civil. Em qualquer país,esse segmento acelera o desenvolvimen-to, pois gera empregos formais e cria ri-queza em cascata na economia; ii) a recu-peração acelerada de créditos do PIS/Cofinspara edificações, de 25 anos para 24 me-ses, visando a estimular novos investimen-tos; iii) alteração no prazo de recolhimen-to das contribuições previdenciárias, do dia2 para o dia 10 de cada mês, além do PIS/Cofins, do dia 15 para o dia 20 de cadamês. Essas alterações, principalmente noINSS, resolvem um problema operacionaldas empresas, especialmente daquelascom uso intensivo de mão-de-obra.

A Tabela 2 faz um comparativo entrePIB e carga tributaria em percentual do PIB,mostrando que sua redução é condicionantepara fazer a economia crescer. No Brasil, osvalores equivalem aos de muitos países ri-cos como Grã-Bretanha e Canadá. No entan-to, nesses países, a exigência de tributosestá associada à promoção da igualdade derenda e à melhoria da qualidade de vida. OEstado garante educação, transporte,seguridade, entre outros serviços, desde onascimento do cidadão; enquanto aqui, osistema tributário e de gastos sociais aindaenfrenta o desafio de diminuir a desigualda-de de renda existente no País. São paísesque já alcançaram elevados padrões de vidacom equidade na distribuição de renda, bai-xa taxa de desemprego e altíssima rendaper capita. No estágio em que eles se en-contram, mesmo um crescimento modesto,como o observado, pode ter grande impac-to. Não é o caso do Brasil.

Em um de seus relatórios, o FMI atri-bui o aumento da carga tributária, obser-vado em quase todos os países desenvolvi-dos nas últimas duas décadas, ao aumentodas contribuições sociais e a impostos di-retos mais elevados. Dados apresentadosno estudo mostram que os impostos indi-retos permaneceram praticamente estáveiscomo proporção do PIB, enquanto os im-postos diretos e as contribuições sociaisaumentaram de modo expressivo nos paí-ses desenvolvidos desde 1970.

Países 2004 2005 2006* 2007*Argentina 9,0 9,2 7,5 5,5

Brasil 4,9 2,3 3,5 (2,9) 3,7

Caribe 4,0 4,2 5,9 4,3

Chile 6,1 6,3 5,7 5,5

Colômbia 4,0 5,1 4,8 4,5

Costa Rica 4,2 4,1 3,7 3,5

Guatemala 2,7 3,2 4,0 4,0

Honduras 5,0 4,2 4,0 4,0

Nicarágua 5,1 4,0 4,0 4,0

Panamá 7,6 6,4 6,0 6,5

Peru 4,8 6,7 5,6 5,0

República Dominicana 2,0 9,3 6,0 5,0

Uruguai 12,3 6,6 4,5 4,0

Venezuela 17,9 9,3 7,0 4,5

Fonte: Centro de Projeções Econômicas (CPE) da CEPAL. Elaboração ANFIP(*) Crescimento do PIB estimado pelo CPE.(1) O PIB (Produto Interno Bruto) a preços de mercado acumulado em 2006 tevecrescimento de 2,9% em relação a 2005, segundo o IBGE.

Tabela 1

Crescimento Econômico na América Latina e Caribe 2004 a 2007 - países selecionados

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 200726

Tabela 2

Produto Interno Bruto (PIB) e Carga Tributária (em % do PIB) - países selecionados

Carga Tributária e crescimento do PIB (média 2004/2005)Carga Tributária(%do PIB)

PIB(%)

Países Desenvolvidos

EUA

Grã-Bretanha

Japão

França

Canadá

Reino Unido

Alemanha

Países Emergentes

China

Índia

Singapura

Coréia do Sul

Argentina

Brasil

Chile

México

África do Sul

Rússia

Turquia

25,60

36,60

26,35

42,25

37,25

39,85

39,25

13,40

13,80

12,5(*)

28,25

22,00

36,95

18,55

18,10

28,4(*)

31,2(*)

31,1(*)

3,55

1,45

2,45

1,60

3,10

2,70

2,10

9,70

7,10

7,60

4,30

8,70

3,15

6,00

3,80

5,60

6,85

5,75

Fonte: OECD e The Economis (*)2005t

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E c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i a

Carga tributária elevada

É forçoso apurar a evolução da nossacarga tributária. Analisando os últimos quin-ze anos, ela aumentou mais de dez pontospercentuais, como mostra o Gráfico 1. O quehouve foi uma mudança radical de padrãohistórico: no passado, a receita tributáriaapresentava elasticidade alta em relação aoproduto interno, ou seja, a carga tributáriaaumentava quando a economia crescia. Des-de a virada do milênio, a carga tributáriavem crescendo diante de uma economia emritmo de desaceleração4.

No período mais recente, o ano de2003 foi atípico, não apresentando cresci-mento em relação ao ano anterior. Essefato deve-se basicamente a uma expressi-va parcela de receitas federais, referentesa vários exercícios, e que em 2002 foi reco-lhida, de uma única vez (once for all) pelosfundos fechados de previdência.

O crescimento da carga tributária bra-sileira é decorrente de uma série de mu-danças na legislação realizadas a partir de1995. A crise financeira no final de 1998 noslevou a firmar um acordo com o Fundo Mo-netário Internacional (FMI) fazendo com queo governo lançasse um "pacote" com medi-das para aumentar a arrecadação e assegu-rar o superávit fiscal. A incidência tributáriasobre bens e serviços (consumo) saltou de17,2% do PIB, em 1996, para 20,8%, em 2005.Entre as medidas anunciadas no "pacote51"5, que permitiram ao governo asseguraras chamadas "receitas extraordinárias", des-taca-se a alteração da legislação das Con-tribuições para o PIS e COFINS. A Lei 10.833/2004 instituiu a não-cumulatividade e ele-vou a alíquota da contribuição da COFINS,que passou a variar de 3% a 7,6%.

É importante ressaltar que o problemaenvolvendo a tributação não se deve somen-te aos aumentos, que oneram as classes maisbaixas, mas também, à maneira como essestributos são alocados. Se, por exemplo, aCOFINS, a CPMF ou a CSLL, que têm seusdestinos assegurados pela Constituição Fe-deral, são desviadas para outros fins, perde-se a capacidade de ter seus objetivos finais

4 Exceto em 2004, quando a economia cresceu 4,9%.

5 Pacote Fiscal de outubro de 1997 - com 51 medidas - que alterou uma das faixas de alíquota do IRPF de 25% para

27,5%, promovendo arrocho fiscal exatamente sobre o segmento social de rendas médias. Na história recente daeconomia brasileira, a transitoriedade em matéria tributária está se tornando cada vez mais um expediente utilizadopelo governo para camuflar medidas impopulares.6 O IBPT, para cálculo de carga tributária e dias trabalhados para pagamento de tributos, diferentemente da Receita

Federal, considera todos os valores arrecadados pelas três esferas de governo, além de multas, juros e correção,inclusive receitas de contribuições sindicais, dentre outras.

30,5

25,22

25,86

25,73

29,46

29,7428,96

29,03

29,74

32,1533,18

34,01

35,61

34,92

35,88 37,37

38,50

20

25

30

35

40

Fonte: Secretaria da Receita Federal - Carga Tributária no Brasil.Nota: Dados estimados para 2006.

Gráfico 1

Evolução da carga tributária brasileira - em % do PIB

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 2007 27

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alcançados perante a sociedade. Esse é umgrande problema que pouco se discute.

Pagamento de tributos

O Gráfico 2 mostra o quanto é difícilpara o trabalhador brasileiro pagar tribu-tos. A porcentagem da renda destinada aesse pagamento cresce a cada ano: em2003, o contribuinte brasileiro, no con-junto, teve que destinar, em média, 37%do seu rendimento bruto agregado parapagar a tributação. Em 2006, de acordocom o IBPT6 , os brasileiros trabalharão145 dias (4 meses e 25 dias) somente parapagar tributos, que comprometerão cer-ca de 40% de sua renda anual.

Comparando a quantidade de dias tra-balhados pelos brasileiros com a de outrospaíses, percebemos que apenas franceses (149dias) e suecos (185 dias) têm tributação maispesada. Os norte-americanos têm que traba-lhar, em média, 102 dias por ano para pagarseus tributos. Exceto o Brasil, países emer-gentes oneram muito menos seus contribuin-tes. O México, por exemplo, compromete 91dias de trabalho para o pagamento de tribu-tos. Já chilenos e argentinos têm que traba-

7 Nota sobre a política de ajuste fiscal de longo prazo - IPEA - julho/2005. www.ipea.gov.br/Destaques/

deficitzero_notaipea1.doc8 Exclusive o gasto com o Refinanciamento da Dívida (ou seja, a troca de títulos velhos por novos)

lhar 92 e 97 dias, respectivamente.Além do setor empresarial, grande par-

te da sociedade, principalmente a classe mé-dia, tem se mostrado insatisfeita. Mesmo comuma tributação elevada, torna-se evidente anecessidade de aumento do dispêndio famili-ar com serviços privados, por conta da defici-ência na prestação dos serviços públicos, comoeducação, saúde, segurança etc. Tomando-secomo exemplo, uma família de classe média(R$ 3 mil a R$ 10 mil de renda mensal), com-posta por um casal e dois filhos, terá que des-tinar 31%, ou 113 dias trabalhados em 2006,para efetuar o pagamento desses serviços.Na década de 70, apenas 7% (25 dias) eramdestinados a tais gastos. Já na década de 80,12% (44 dias) da renda eram comprometidos,pouco abaixo dos 14% (51 dias) em 1990 e 24%(88 dias) no ano 2000.

Política de ajuste fiscal

A política de ajuste fiscal tem se acir-rado desde que o País passou a gerar se-guidos superávits primários, a partir de1999. Tal como é realizado, esse instrumen-to de forma alguma contribui para o cresci-mento da economia, tampouco para o pro-

gresso da Previdência Social. Provavelmen-te, no 2º mandato, o presidente Lula farácom que haja a retomada de um programade ajuste fiscal de longo prazo. Segundonota do IPEA7 "a combinação de jurosdeclinantes e de crescimento da economiaprovocaria uma redução da dívida públicade 52 % do PIB em 2005, para 45 % do PIBem 2008". Atualmente, o governo usa ape-nas o "resultado primário", não consideran-do os gastos com juros. Nessa conta, em2005, o governo federal teve um saldo po-sitivo de 4,82% do PIB. Mas, considerandoos juros, o país teve um saldo negativo deR$ 68,7 bilhões - 3,54% do PIB.

Em 2006, os gastos federais com jurose amortizações das dívidas interna e exter-na, segundo o Orçamento Geral da União8,atingiram nada menos que R$ 275 bilhões,valor este equivalente a quase 37% do Orça-mento de 2006, como mostra o Gráfico 3.

É difícil acreditar, mas o montante gas-to com pagamento de juros da dívida públicafoi maior que todos os pagamentos da Previ-dência Social, que, somados, equivaleram em2006 a R$ 191 bilhões. Ao contrario dos ju-ros, que beneficiam os rentistas financei-ros, a Previdência Social atende 24,6 mi-lhões de beneficiários e suas famílias -21,6 milhões do Regime Geral de Previ-dência Social.

A destinação orçamentária compro-va que os gastos com os juros da dívidapública superam muitas vezes as despe-sas com importantes áreas sociais, como:saúde, trabalho, educação previdênciasocial, habitação, agricultura etc. EssesR$ 275 bilhões gastos com a dívida, ape-nas em 2006, equivalem a mais da meta-de do valor anunciado para o PAC paraos próximos 4 anos (R$ 503 bilhões). En-quanto limita pesadamente os gastossociais, o PAC, assim como todas as me-didas econômicas deste governo e dosanteriores, não traz limite algum aos gas-tos com a dívida pública.

As políticas de redução dos gastos públi-cos, visando à criação de um superávit primá-rio, se intensificaram nos últimos anos sob ajustificativa de sanar os problemas financeirosdas contas públicas. Tal performance das fi-

Fonte: IBPT. Elaboração ANFIPNota: Dados Estimados para 2006.

8274 73

81

109

90 93 92

104 106100 100

107115

121130 133 135 138 140

145

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Gráfico 2

Dias médios trabalhados ao ano para pagamento de tributos no Brasil

Evolução do número de dias trabalhados por ano para pagamento de tributos no Brasil - 1966 a 2006

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 200728

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E c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i aE c o n o m i a

9 A dívida com o Clube de Paris - instituição informal sem existência jurídica reconhecida, mas com certas regras para renegociar as dívidas governamentais dos países em

dificuldades financeiras - é um vestígio da época em que o Brasil devia muito ao exterior e decretou moratória.

nanças públicas é atribuída não só a um mai-or volume de arrecadação das contribuiçõessociais apropriadas pela União, mas tambémà elevação da carga tributária no período re-cente. Trata-se de um ajuste fiscal que se faz,já há algum tempo, penalizando a renda dotrabalho e a produção. Sob essa ótica, é im-portante ressaltar que, mesmo com aDesvinculação de Recursos da União (DRU),há vários anos o resultado da SeguridadeSocial permanece positivo. Pode-se entender,então, por que surgem propostas para ampli-ar a desvinculação de receitas. O Orçamentoda Seguridade Social é o principal alvo naestratégia de robustecer o ajuste fiscal, pormeio de corte de despesas a ele relacionadas.

O desequilíbrio fiscal brasileiro sóse resolverá no dia em que o país nãotiver que pagar os volumosos juros dadívida pública. Os gastos com juros nogoverno Lula somaram R$ 591 bilhões(ou 8,04% do PIB) nos últimos quatroanos, contra R$ 204 bilhões (6,35% doPIB) e R$ 366 bilhões (7,92% do PIB) doprimeiro e segundo mandatos do gover-no FHC, respectivamente. É importanteexplicar que a soma elevada do paga-mento de juros no governo Lula se deuem decorrência da quitação da dívida como FMI e com o Clube de Paris9 .

A SELIC - taxa básica de juros da

economia - serve de referência para astransações financeiras e remunera os cre-dores da dívida pública, que constituem

um conjunto diversificado, abrangendograndes investidores estrangeiros e aclasse média, entre outros. A crítica àpolítica de juros altos deve-se ao fato deque a SELIC elevada acaba por inibir osinvestimentos e o consumo, inviabilizando

o crescimento econômico, e fazendo comque mais da metade dos tributos arreca-dados anualmente sejam consumidospelos gastos com juros da dívida pública- hoje a maior despesa orçamentária dogoverno federal.

O economista Amir Khair, citando le-vantamento feito pela revista The economist,mostra que, se a taxa de juros no Brasilfor reduzida para o nível médio pratica-do pelos países emergentes, algo em tor-no de 6,5% ao ano em termos nominais e1,5% ao ano em termos reais, em dois outrês anos o governo passará a economi-zar mais de R$ 70 bilhões ao ano com aredução do pagamento dos juros da dívi-da pública. São recursos mais que sufici-entes para ampliar investimentos, redu-zir a carga tributária e fortalecer os pro-gramas sociais.

Ao lidar com esses problemas, ficacada vez mais evidente a necessidadede canalizar os recursos orçamentáriospara atender às prioridades sociais e eco-nômicas da população. A proporção dasreceitas em relação ao PIB, perto de 40%,já é alta se comparada internacionalmen-te, tendo inclusive ultrapassado a médiados países da Organização para a Coo-peração e Desenvolvimento Econômico(OCDE). O alívio da carga tributária so-bre o trabalho tornaria a Seguridade So-cial mais acessível a trabalhadores dosetor informal de baixa produtividade,ao mesmo tempo em que tornaria acontratação formal desses trabalhadoresmais atraente para os empregadores.

Assim que as finanças públicas sefortalecerem, será necessário um esfor-ço adicional para reduzir a carga tribu-tária ao longo do tempo, favorecendo gra-dualmente o uso de impostos diretos, emvez dos indiretos. Isso exigirá umareavaliação da tributação da renda daspessoas jurídicas, inclusive da Contribui-ção Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Não basta diminuir a carga tributá-ria. Faz-se imprescindível criar mecanis-mos para manter a economia estável; re-duzir as taxas de juros; compatibilizar

Será necessário umesforço adicional

para reduzir a cargatributária ao longo

do tempo, favorecendogradualmente o usode impostos diretos,em vez dos indiretos

Outros

Agricultura

Administração

Judiciária

Defesa Nacional

Trabalho

Educação

Assistência Social

Saúde

Fonte: Orçamento Geral da União - (Sistema Access da Câmara dos Deputados)

Saneamento, Habitação, Desporto e Lazer, Cultura, Energia, Comunicações, Urbanismo, Direitos da Cidadania, Gestão Ambiental, RelaçõesExteriores, Comércio e Serviços, Indústria, Ciência e Tecnologia, Essencial à Justiça, Organização Agrária, Segurança Pública e Legislativa.

Nota: Não inclui o Refinanciamento da Dívida. A rubrica “Outros” corresponde a uma agregação das seguintes rubricas:

OutrosEncargosEspeciais15,84%

Juros eAmortizações daDívida

36,7%

Previdência Social25,73%

Gráfico 3

Orçamento Geral da União - 2006

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 2007 29

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10Dados preliminares do SIAFI

11 É importante salientar que não é apenas uma política monetária contracionista que agrava a dívida líquida do Setor Público. Um exemplo típico foi a desvalorização cambial

ocorrida a partir do Plano Real. De 1994 a 1997, a dívida se concentrou na casa dos 30%, mas com a desvalorização do câmbio entre 1997 e 1999, a dívida saltou de 30% para 49%do PIB. Com a continuidade dessa política cambial, a dívida chegou em 2003 a 57% do PIB. Hoje, não temos mais dívida indexada ao câmbio. No entanto, ela tem se tornado cadavez mais de curto prazo, o que torna o país mais vulnerável a instabilidades dos mercados externos. Em dezembro de 2006 o valor estava em 50% do PIB.

metas fiscais com o objetivo de asseguraro ambiente macroeconômico favorável,propiciando melhoraria na educação, saú-de, segurança etc - direitos do cidadão edever do Estado. Embora no atual gover-no tenha havido avanços em diversas áre-as, os desafios para o novo mandato sãoenormes. A evolução da criminalidade eda violência urbana; a saúde à beira docolapso e a educação de qualidade sendotransferida de forma acelerada para a ini-ciativa privada estão à espera de solução.

A Previdência Social

No que se refere à Previdência Soci-al, maior programa de redistribuição derenda em curso no país, deve-se criar me-canismos para torná-la mais acessível aostrabalhadores de baixa renda,implementando-se, por exemplo, taxas decontribuições variáveis que permitam aostrabalhadores escolherem entre níveis al-ternativos de proteção, o que aumentariaa inclusão previdenciária. A tributação so-bre a renda e o patrimônio, apesar de serbase para a progressividade do sistematributário, é fonte de financiamento combaixa ou nenhuma expressão nesse cus-teio.

No Brasil, ocorre apropriação do fun-do público da Seguridade para acumula-ção de capital vinculado à dívida pública.Desviam-se recursos que deveriam seraplicados em políticas sociais, mas que,por questões políticas, são utilizados paraoutras finalidades, principalmente, com-posição do superávit primário e pagamen-to de juros da dívida pública, cujos credo-res são os rentistas do capital financeiro.A DRU, por exemplo, subtrai parcelas dasreceitas de contribuições sociais. Somen-te em 2006, quase R$ 34 bilhões10 foramretirados do Orçamento da SeguridadeSocial (OSS) para o Orçamento Fiscal poresse instrumento. Esse é o motivo peloqual surgem propostas de manter adesvinculação de receitas.

Não são os gastos sociais, os in-vestimentos ou a manutenção da má-quina administrativa que produzem aexpansão e o ritmo do endividamentopúblico. Afinal, se os recursos que asociedade recolhe aos cofres do Esta-do são aplicados nessas finalidades emum volume inferior ao disponível no Te-souro, fica claro que o "ralo" das con-tas públicas se encontra nas despesasfinanceiras, infladas, não por umavolúpia esbanjadora do Estado, em in-vestimentos e gastos de custeio, e simpor uma política monetária11 que ali-menta, de forma contínua, o negócioda dívida pública.

A polêmica em torno de alternati-

vas para a gestão do s istemaprevidenciário remete aos fundamentosdo papel do Estado e de sua relaçãocom a sociedade, pondo em questão omodelo de desenvolvimento econômico

É precisoÉ precisoÉ precisoÉ precisoÉ preciso

desonerar o setordesonerar o setordesonerar o setordesonerar o setordesonerar o setor

produtivo daprodutivo daprodutivo daprodutivo daprodutivo da

nossa economia enossa economia enossa economia enossa economia enossa economia e

acentuar aacentuar aacentuar aacentuar aacentuar a

arrecadaçãoarrecadaçãoarrecadaçãoarrecadaçãoarrecadação

sobre renda esobre renda esobre renda esobre renda esobre renda e

patrimôniopatrimôniopatrimôniopatrimôniopatrimônio

dominante na América Latina e no Brasilna última década do século XX, e nosprimeiros anos deste século.

É dentro deste aspecto que, na vi-são da ANFIP, o Fórum Nacional de Pre-vidência Social - criado para discutir asustentabilidade da Previdência no lon-go prazo - não deve funcionar como umleilão de propostas, mas, sim, como ummecanismo promotor de diagnósticostécnicos, que busque, sobretudo, a sus-tentação do RGPS, levando em conta arealidade econômica, demográfica e domercado de trabalho. É importante rea-firmar que os problemas da PrevidênciaSocial são, em grande parte, decorren-tes das baixas taxas de crescimento eco-nômico, que, combinadas ao aumento dalongevidade da população, têm conduzi-do ao crescimento desproporcional douniverso de beneficiários inativos em facedos contribuintes em atividade. É preci-so gerar empregos formais, via incremen-to da produção, pois a crise do mercadode trabalho da década de 90 e as mudan-ças nas relações trabalhistas fizeramaumentar a informalidade e, conseqüen-temente, a exclusão previdenciária. Achave mestra do crescimento tem comocondições fundamentais, juros mais bai-xos e uma tributação mais eficiente.

Para melhorar os indicadores soci-ais e econômicos, e propiciar que nossatributação gere crescimento e desenvol-vimento, é essencial realizar uma refor-ma no aparelho tributário nacional, a fimde aperfeiçoar a distribuição da cargafiscal, desonerar o setor produtivo danossa economia e acentuar a arrecada-ção sobre renda e patrimônio. É funda-mental, sob todos os aspectos, moderni-zar o sistema arrecadador; melhorar arepartição da receita tributária; reduziras alíquotas dos tributos e diminuir a bu-rocracia. Para tanto, é preciso vontadepolítica, que faça com que as contribui-ções sejam integralmente direcionadasàs políticas públicas

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 200730

ANÁLISE DA AÇÃO FISCAL - JANEIRO A DEZEMBRO DE 2006

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 200730

Resultado da Ação Fiscal (RAF)totalizou R$ 19,9 bilhões no ano de2006. Devido a modificaçõesmetodológicas, a simples compara-

ção com o mesmo período de 2005 distorceriaa avaliação dos resultados. Neste caso, é plau-sível a comparação entre semestres do mes-mo ano. No primeiro semestre de 2006, ototal da Ação Fiscal somou R$ 5,45 bilhões,enquanto no segundo semestre totalizou aincrível cifra de R$ 14,45 bilhões, quase trêsvezes o valor dos seis primeiros meses doano. Dessa forma, verifica-se um acréscimonominal de 165% e real1 de 156%, do 1º parao 2º semestre.

De janeiro a dezembro foram fiscali-zadas em todo Brasil 22.085 empresas, rea-lizadas diligências (visitas) em outras 11.671e Atividades Específicas (AE)2 em 45.260empresas. A rubrica recolhimento alcançoua cifra de R$ 943,77 milhões.

Foram emitidas 19.111 NotificaçõesFiscais de Lançamento de Débito (NFLD) -lavradas pelos AFPS devido ao atraso totalou parcial no recolhimento de contribuições,ou em caso de falta de pagamento de bene-fício reembolsado - que totalizaram R$ 14,83bilhões, ou seja, 74,5% do valor total da AçãoFiscal no ano de 2006.

Com relação aos parcelamentos, foramemitidos 11.857 Lançamentos de DébitosConfessados (LDC), que alcançaram a cifrade R$ 3,08 bilhões, equivalente a 15,5% doacumulado. A rubrica Auto de Infração (AI) -Infração à Legislação Previdenciária - somouR$ 1,05 bilhão, ou seja, 5,3% do RAF de ja-neiro a dezembro de 2006. A Informação

Fiscal de Débito (IFD) totalizou R$ 758 mil.Com relação ao resultado dos Estados

da Federação, São Paulo foi responsável por44,21% do total do RAF, seguido pelo Rio deJaneiro, com 13,12%; Minas Gerais, com

Resultado da Ação Fiscalatinge quase R$ 20 bilhõesem 2006O

7,36%; Rio Grande do Sul, com 5,06%; SantaCatarina, com 4,86%; Paraná, com 4,48%; Dis-trito Federal, com 2,84%, e Goiás, com 1,84%.Somados, esses oito Estados representaram83,77% do RAF no ano de 2006.

1 Os valores reais foram atualizados mensalmente pelo INPC a preços de dezembro de 2006.2 De acordo com a Orientação Interna MPS/SRP nº 11, de 12/8/2005, art. 123 "AE é a atividade interna ou externa desenvolvida pelo AFPS na execução de tarefas relativas aocontribuinte, que, em razão de suas especificidades, não implica emissão de MPF", enquadrando-se em diversas espécies, tais como: tarefas do plantão fiscal, monitoramentode sujeitos passivos, análise e regularização de divergências entre GFIP e GPS, assistência técnica pericial, informação em processos de restituição ou de reembolso, informaçõesfiscais em reclamação trabalhista, dentre outras.

Fonte: MPS - Divisão de Avaliação e Controle da Fiscalização

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1º semestre de 2006 2º semestre de 2006

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RAF - 2006 (em R$ bilhões)Resultado da Ação Fiscal -

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Gráfico 5

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Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 200732

ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA - JANEIRO A DEZEMBRO DE 2006

nalisando-se a movimentaçãofinanceira da Previdência So-cial - Fluxo de Caixa do INSS -de janeiro a dezembro de

2006, verifica-se que a Receita To-tal, que engloba todas as rubricasrelativas aos recebimentos de cai-xa, teve crescimento nominal de16,81% e real de 13,61%, saltandode R$ 172,72 bilhões em 2005, paraR$ 201,7 bilhões em 2006, compa-rados períodos equivalentes.

As Receitas Previdenciárias Pró-prias (Recebimentos Próprios) atin-giram, nesse período, R$ 133,01 bi-lhões. Deduzidas as Transferênciasa Terceiros, iguais a R$ 9,49 bi-lhões, apuram-se Receitas PrópriasLíquidas equivalentes a R$ 123,52bilhões. Se comparadas a 2005,quando o valor líquido totalizou R$108,43 bilhões, o crescimento no-minal foi de 13,91% e o real de 10,79%.

A Arrecadação Bancária, rubricamais expressiva das ReceitasPrevidenciárias Próprias, teve incre-mento nominal de 12,75% e real de9,67%. Em valores monetários corren-tes, passou de R$ 109,01 bilhões em2005, para R$ 122,92 bilhões em 2006.

Já os recursos provenientes doOrçamento da Seguridade Social(OSS) totalizaram em 2006 o equi-valente a R$ 67,73 bilhões, repre-sentando um crescimento real de

Arrecadação Bancária cresce12,75% em 2006

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44,62% em relação a 2005, quandoperfizeram R$ 45,55 bilhões.

A COFINS/LOAS, rubrica quesuporta o pagamento de benefíci-os pelo INSS, representou, em2006, cerca de 17,82% do total re-passado pelo Ministério da Fazen-da. Em valores nominais e reais,respectivamente, o acréscimo, emrelação ao total de 2005, foi de28,91% e de 25,38%, variando de R$9,36 bilhões em 2005 para R$ 12,07bilhões em 2006.

Sob a ótica das Despesas To-tais (Pagamentos), o acumulado de2006 foi de R$ 200,51 bilhões, oque expressa um aumento nominalde 16,71% e um crescimento real de13,52%, haja vista que em 2005totalizou R$ 171,8 bilhões.

A diferença entre as Receitas

Próprias Líquidas do INSS e o To-tal de Benefícios do RGPS foi de R$42,06 bilhões negativos em 2006.O saldo teve variação real negativade 8,88%, já que em 2005 somouR$ 37,58 bilhões negativos. É im-portante ressaltar que esse resul-tado não computa nenhuma outrareceita do orçamento da SeguridadeSocial , o qual se mantémsuperavitário.

Constata-se que a ReceitaPrevidenciária segue apresentandoresultados satisfatórios, que ten-dem a melhorar, já que foi publicadaa lei nº 11.457 de 16 de março de2007, que cria a Receita Federal doBrasil. A retomada do processo detransição é o passo inicial para ple-na dinamização da ArrecadaçãoPrevidenciária.

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 200732

1 Os valores reais foram atualizados mensalmente pelo INPC a preços de dezembro de 2006.2 Receitas Próprias Líquidas correspondem a Receitas Previdenciárias Próprias deduzidas as Transferências a Terceiros.

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61

JAN/2006 FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Arrecadação Líquida Benefícios do RGPS

Fonte: MPS - Vol. 11 Nº 12.Ministério da Previdência Social. Boletim Estatístico da Previdência Social -

Evolução mensal da Arrecadação Líquida e da Despesa com Benefícios do RGPS - 2006 ) (em R$ Mil)

Gráfico 6

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 2007 33Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 2007 33

FONTE: Divisão de Programação Financeira do INSS.(1) Recursos transferidos pela União. (2) Inclui valores de benefícios devolvidos.Nota: A conta Transferência à Terceiros engloba as contas de transferências de recursos ao SENAR, SENAI, SESI, etc.Os valores relativos a Sentenças Judiciais - INSS, até dezembro/2005, eram apropriados na rubrica Benefícios - INSS.Arrecadação Líquida corresponde a Recebimentos Próprios menos Transferencias a Terceiros.Os valores de Benefícios Previdenciários incluem: provisionamento da maciça, empresas convenentes, benefícios no exterior, COMPREV, sentençasjudiciais, reembolso de salário-família e maternidade e RPB (auxílios).Dados preliminares, sujeitos a alterações.

Fluxo de Caixa do INSS - Jan/Dez de 2006 (em R$ mil)

2005

5.354.274172.719.638115.955.568109.014.594

5.057.101345.017

6.51956

599.7691.197.461

-57.286-207.662187.214

2.540184.674697.820

10.326.53945.552.497

112.82232.2991.788

130.29325.193.7275.821.6104.088.101

9.6722.003

798.6959.361.487

171.798.592164.277.121156.703.262156.009.591146.010.130141.922.029

4.088.101–

9.999.462746.395

9.253.067-693.671

4.540.5153.727.0157.521.471

-37.576.033-47.575.495

921.0466.275.320

- Arrecadação CDP (1)- Arrecadação FIES (1)- Depósitos Judiciais- Ressarcimento de Arrecadação- Restituições de Arrecadação

2.2 Rendimentos Financeiros- Remuneração s/ Arrecad. Bancária- Rendimentos Aplicações Financeiras

2.4 Antecipação da Receita (Tesouro Nacional)

2.5 Transferências da União- Recursos Ordinários- Concursos e Prognósticos- Operações de Crédito Externa- Contribuição Social sobre o Lucro- COFINS e Contribuição do Plano de Seguridade Social Servidor- Contribuição Provisória s/ Mov. Financeira

- Recursos Ordinários / COFINS - TRF- Contribuição Social sobre o Lucro - Contrapartida- Devolução do PSS / PASEP / Outros

- COFINS - EPU- COFINS/LOAS

3. PAGAMENTOS3.1 Pagamentos do INSS3.1.1 - Total de Benefícios (2)3.1.1.1 - Total de Benefícios Pagos (a + b)a) Benefícios do RGPS

- Benefícios - INSS- Sentenças Judiciais - TRF- Sentenças Judiciais - INSS

b) Benefícios não Previdenciários- Encargos Previdenciários da União - EPU

- LOAS e RMV3.1.2 - Benefícios devolvidos3.1.3 Pessoal3.1.4 Custeio3.2 Transferências a Terceiros4. Saldo Previdenciário (Arrec. Líquida – Benefícios do RGPS)

5. Saldo Arrecadação Líquida – Total de Benefícios Pagos

6. Saldo Operacional (Recebimento Total - Pagamento Total)7. Saldo Final

1. SALDO INICIAL2. RECEBIMENTOS

- Arrecadação Bancária- Arrecadação SIMPLES (1)- Arrecadação REFIS (1)- Arrecadação FNS (1)

2.3 Outros

2.1 Próprios

2006

201.756.676133.015.292122.917.740

200.510.523191.015.427178.795.304177.917.923165.585.300161.273.653

6.275.320

8.225.275325.827

1.1400

682.5771.152.381

-49.504-240.145

-2.5402.347

-4.8871.371.258-357.808

67.730.476957.48482.06011.448

619.54142.801.4236.572.5163.986.554

3.97719

627.50012.067.954

3.986.554325.093

12.332.623693.769

11.638.854-877.380

5.872.8747.224.6299.495.096

-42.065.104-54.397.728

1.246.1537.521.472

Revista de Seguridade Social - Janeiro/Março - 200734

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Ovídio Palmeira FilhoPresidente da ANFIP

Reforma de mentalidade

A ANFIP tem demonstrado sistematica-mente ao longo dos últimos dez anosque o chamado "déficit" da Previdência

Social resulta, na verdade, da inobservância dospressupostos estabelecidos pelo constituinte de1988, nos art. 194 e 195 da Constituição Federal.

A formulação contestada pela Anfip compa-ra tão-somente a arrecadação da Previdência eas despesas com benefícios.

Os críticos da Previdência Social omitemque o Legislador Constituinte considerouque, num país com vasta mão-de-obra agrí-cola e urbana com baixos salários e ocupação precária, não épossível conceber um sistema de amparo à velhice, morte ouinvalidez baseado exclusivamente em contribuições regula-res dos trabalhadores.

A Constituição Federal, ao definir o Orçamento da SeguridadeSocial, estabelece uma pluralidade de fontes para arcar com oconjunto dos gastos em saúde, previdência e assistência social.Essa pluralidade está baseada em contribuições sociais incidentessobre a folha de salários, na tributação do lucro (CSLL), dofaturamento das empresas (Cofins) e de fatos outros, como a movi-mentação financeira (CPMF).

Ao idealizar a pluralidade de fontes, o constituinte afastou aespecificação. Somente a pluralidade de fontes é capaz de, aquila-tando a capacidade contributiva, melhor distribuir os encargos soci-ais para garantir os direitos relativos à saúde, à Previdência e àassistência social.

A Previdência Social não pode ser segregada do conjuntoSeguridade Social, cujas contas foram sempre superavitáriasao longo dos anos.

Uma visão holística da realidade brasileira é indispensávelpara que se deixe de encarar a Previdência como um comparti-mento estanque, que dependa apenas de si para gerar a suaprópria saúde financeira. Mais do que isso, é necessário ter emmente que a Previdência Social - e, em dimensão mais ampla, aSeguridade Social - deve ser encarada como um investimento doEstado para produzir bem-estar social e, em contrapartida, paraestancar o aguçamento de males que derivam de um país extre-mamente desigual, quais sejam: a violência, os grandes focos de

miséria absoluta, que terminam inexoravelmentepor deflagrar o caos social nos grandes centrosurbanos, com reflexos em todo o país.

Há outras questões de uma clareza límpidaque poucas pessoas se dispõem a admitir. Umadas mais evidentes é a de que a saúde financeirada Previdência depende basicamente do desem-penho da economia. Aqueles que dizem o contrá-rio, de que a economia vai mal porque há umdéficit nas contas da Previdência, querem iludir edesinformar a opinião pública, não querem parti-cipar seriamente do debate.

Há diferenças marcantes entre um defensor da Previdência So-cial e um defensor de reformas na Previdência. O primeiro atua nodia-a-dia para viabilizar o sistema, aperfeiçoá-lo, melhorar sua ges-tão e abrangência, resolver os seus problemas, estudando epesquisando seriamente, com clareza e responsabilidade. O segun-do almeja simplesmente substituir a organização existente,construída historicamente, por outro modelo que descarta o passa-do. Embora declarem preocupação de longo prazo, interessam aosreformistas "conservadores" as medidas de curto prazo, apressadas,adotadas em clima emergencial e irresponsável, pois favorecem osinteresses que tiram proveito imediato das situações de incerteza davida humana para captar recursos da população.

Os defensores dos interesses do capital financeiro têm umavisão simplista, a visão fiscalista. Não perguntam qual o sistemade Previdência que a sociedade quer para o futuro. Só vêem aquestão orçamentária do Estado e não o desejo da sociedade deconstruir uma proteção que considere adequada. O reformista sóolha a Previdência pelo lado do gasto e se esquece do financiamen-to. Este é o grande equívoco da visão fiscalista. Ela desconsidera aimportância de fortalecer o financiamento da Previdência, melho-rando a gestão, o mercado de trabalho.

O resgate da Seguridade Social, as políticas de geração deempregos e a inclusão no sistema de mais de 30 milhões de brasilei-ros ocupados e com capacidade contributiva, são as principais açõesque permitem a criação de condições para a retomada do desenvol-vimento econômico e social porque redistribuem renda para aquelesque possuem menores rendimentos, incentivando o aumento da de-manda e o consumo da produção local.