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Leandro Nunes Soares da Silva 1 William Monarin 2 Juliana Franco Afonso 3 INDICADORES DE PRODUTIVIDADE DA AGROPECUÁRIA PARANAENSE E TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS NO PERÍODO DE 1990 A 2014 RESUMO: O Paraná sofreu várias mudanças em seu cenário econômico, sendo marcado por áreas de pouca exploração e culturas com baixa intensidade tecnológica, como o café, chegando a culturas que possibilitou articular uma cadeia produtiva, interligando o campo com a indústria, no qual se desenvolve cada vez mais tecnologias poupadoras de mão de obra, com o auxílio da mecanização em seus processos produtivos, como o caso da soja. O objetivo é estudar a modernização da agropecuária no Paraná através da elaboração de indicadores que evidenciam a produtividade, o progresso técnico e a intensidade do uso do capital e suas transformações decorrentes da modernização. Serão utilizados dados do IBGE no período compreendido entre 1990 e 2014. Para tanto, foram calculados indicadores que verificam o comportamento entre o produto e seu fator de produção. Além disso, foi mensurada a evolução da tecnologia e intensidade do uso de capital e dos índices de mudança estrutural e de especialização. Foi possível verificar que houve concentração na exploração de alguns produtos. Conclui-se que ocorreram ganhos de produtividade no setor agrícola, com sinais de concentração na produção em alguns produtos, mostrando-se dinâmico aos fatores adversos, evidenciando que sua respectiva modernização acarretou um processo de crescimento da economia paranaense. Palavras-Chave: desenvolvimento agropecuário; economia regional; modernização; transformações estruturais. ABSTRACT: Paraná underwent several changes in its economic scenario, being market by area so flow exploitation and crops with low technological intensity, such as coffee, reaching crops that allowed to articulate an entire productive chain, interconnecting the field with industry, in which more and more labor-saving technologies are being developed, with the aid of mechanization in their production processes, such as the case of soybeans. The objective is to study the modernization of agriculture in Paraná through the elaboration of 1 Doutorando em Economia pela Universidade Estadual de Maringá. Professor de economia na mesma instituição. [email protected] 2 Graduado em Economia pela Universidade Estadual de Maringá. 3 Doutora em Economia pela Universidade estadual de Maringá. Professora de economia nas Instituições de Ensino Unicesumar e Falcudade Cidade Verde. [email protected]

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Leandro Nunes Soares da Silva1

William Monarin2

Juliana Franco Afonso3

INDICADORES DE PRODUTIVIDADE DA AGROPECUÁRIA PARANAENSE E TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS NO PERÍODO DE 1990 A 2014

RESUMO: O Paraná sofreu várias mudanças em seu cenário econômico, sendo marcado por áreas de pouca exploração e culturas com baixa intensidade tecnológica, como o café, chegando a culturas que possibilitou articular uma cadeia produtiva, interligando o campo com a indústria, no qual se desenvolve cada vez mais tecnologias poupadoras de mão de obra, com o auxílio da mecanização em seus processos produtivos, como o caso da soja. O objetivo é estudar a modernização da agropecuária no Paraná através da elaboração de indicadores que evidenciam a produtividade, o progresso técnico e a intensidade do uso do capital e suas transformações decorrentes da modernização. Serão utilizados dados do IBGE no período compreendido entre 1990 e 2014. Para tanto, foram calculados indicadores que verificam o comportamento entre o produto e seu fator de produção. Além disso, foi mensurada a evolução da tecnologia e intensidade do uso de capital e dos índices de mudança estrutural e de especialização. Foi possível verificar que houve concentração na exploração de alguns produtos. Conclui-se que ocorreram ganhos de produtividade no setor agrícola, com sinais de concentração na produção em alguns produtos, mostrando-se dinâmico aos fatores adversos, evidenciando que sua respectiva modernização acarretou um processo de crescimento da economia paranaense.Palavras-Chave: desenvolvimento agropecuário; economia regional; modernização; transformações estruturais.

ABSTRACT: Paraná underwent several changes in its economic scenario, being market by area so flow exploitation and crops with low technological intensity, such as coffee, reaching crops that allowed to articulate an entire productive chain, interconnecting the field with industry, in which more and more labor-saving technologies are being developed, with the aid of mechanization in their production processes, such as the case of soybeans. The objective is to study the modernization of agriculture in Paraná through the elaboration of indicators that show productivity, technical process, the intensity of the use of capital and its transformations due to modernization. They will be used IBGE data in the period between 1990 and 2014. To do so, we calculated the indicators that verify the behavior between the product and its production factor. In addition, the evolution of the technology and intensity of the use of capital and the rates of structural change and specialization were measured. It was possible to verify that there was concentration in the exploitation of some products. It was concluded that productivity gains occurred in the agricultural sector, with signs of concentration in the production of some products, being dynamic to the adverse factors, evidencing that their respective modernization led to a process of economic growth economy of Paraná.Keywords: Agricultural development; regional economics; modernization; structural transformations.

Área 4: Economia Agrária e AmbientalCódigos JEL: R11, Q13 e Q16.

1Doutorando em Economia pela Universidade Estadual de Maringá. Professor de economia na mesma instituição. [email protected] em Economia pela Universidade Estadual de Maringá.3Doutora em Economia pela Universidade estadual de Maringá. Professora de economia nas Instituições de Ensino Unicesumar e Falcudade Cidade Verde. [email protected]

INTRODUÇÃO

O setor agropecuário possuía e ainda possui uma forte importância para a economia brasileira. O processo de modernização, que se iniciou na década de 1960, consolidando-se a partir da década de 1970 fez com que este setor ganhasse em complexidade produtiva. A pequena diversidade de bens que eram anteriormente produzidos, basicamente com os insumos terra e mão de obra, passam, a partir dos anos 70, a aumentar de número e a utilizar cada vez mais insumos modernos, representados pelos fertilizantes inorgânicos (potássio-K, fósforo-P e nitrogênio-N), defensivos, máquinas e implementos agrícolas.

Segundo Alves e Contini (1988), várias foram as transformações sofridas pela agricultura brasileira no período de início de sua modernização tecnológica (1960 a 1980): a agricultura no Brasil cresce a taxas expressivas, devido não somente a expansão da fronteira agrícola que caminha em direção ao Centro-Oeste e ao Norte do país, mas pelo aumento da produtividade da terra e do trabalho, que passam a fazer parte da dinâmica do setor; altera-se o mix de produção com o aparecimento do soja; alguns produtos elevaram a sua composição técnica de produção, principalmente os destinados ao mercado internacional, entre outros. Cabe ressaltar aqui, que o processo de transformação ocorrido na agricultura só foi viável devido à implementação de uma estratégia definida de modernização agrícola, amparada pela política de crédito rural subsidiado destinada à aquisição de insumos modernos aliado a um processo de substituição de importações, tanto na área mecânica, quanto na área química de insumos agrícolas, destinado a desenvolver internamente o setor de insumos modernos (BARROS,1983 e MANOEL, 1986 apud BRANDÃO, 1988).

Com relação à parte de adaptação e difusão da tecnologia, foram importantes a criação (em 1974) e o desempenho das empresas estatais de assistência técnica e extensão rural: EMBRATER e EMATERES nos estados. A extensão rural representou ideia inovadora no Brasil e influenciou toda a estrutura de poder da agricultura, sendo substituída na década de 1970 pela EMBRAPA, neste aspecto com relação às pesquisas agropecuárias e à área de treinamento (ALAVES & CONTINI, 1988). Outros fatores de elevada importância no processo de modernização são as iniciativas privadas e organizações de produtores, principalmente nas regiões mais avançadas. A extensão privada elevou a sua importância com o desenvolvimento econômico, sendo muito mais especializada em transferência tecnológica, deixando para a extensão pública o trabalho de organização dos agricultores e os aspectos sociais.

Contudo, este crescimento da agricultura brasileira não é uniforme, visto que estudos realizados por autores como Mello (1988), mostram que setorialmente, os produtos destinados à exportação crescem a taxas superiores aos dos produtos destinados ao mercado interno. Este fato é evidenciado também na estrutura produtiva da agropecuária paranaense. Segundo Pereira (1992), existem no estado, segmentos modernos expressivos, responsáveis por parcela significante, especialmente da produção de lavouras comerciais; mas ainda possui com alguma expressão, uma agricultura tradicional e de baixo padrão tecnológico. Então de um lado observa-se um desempenho bastante favorável de um grupo importante de lavouras comerciais, cuja produção aumentou graças principalmente a melhorias tecnológicas; e, do outro lado, uma retração na lavoura, como por exemplo, o café que na década de 1960 tinha forte participação no mercado e hoje perdeu seu apogeu.

A modernização tecnológica paranaense, no início, se deu com a transferência de pesquisas e técnicas que haviam sido desenvolvidas em São Paulo, sendo financiadas pelo Crédito Rural, principalmente no cultivo da Soja. Pereira et al. (1998), aponta fatores que contribuíram para isso como: o fato do Paraná possuir clima e solo semelhante ao de São Paulo, pelo menos na região Norte do Paraná, houve fácil adaptação das técnicas e pesquisas desenvolvidas na agricultura paulista para a agricultura paranaense; o fato de a região Norte paranaense ter sido colonizada por imigrantes paulistas na década de 1940 e 1950; o Paraná se tornou um grande produtor de produtos que haviam passado por inovações tecnológicas em São Paulo como o café, algodão, milho, soja e trigo; e, por fim, o fato da agricultura

paranaense adotar nos processo produtivos de uma grande variedade de produtos, altos níveis tecnológicos sem ter tido uma tradição de pesquisa.

Assim, frente às transformações ocorridas no setor e à importância do tema produtividade, surge uma importante questão relacionada ao processo de modernização, que modificou a forma de produção da agropecuária tanto a nível nacional como a nível regional. Deste modo, considera-se interessante investigar o processo de transformação que ocorreu no próprio setor agrícola paranaense, no que se refere às mudanças na composição da produção e no uso de insumos, que acontecem tanto no aumento da quantidade utilizada dos insumos como na sua participação nos custos de produção agrícola.

É nesse sentido que a presente pesquisa tem como objetivo examinar as transformações estruturais e a evolução da produtividade dos fatores da agropecuária paranaense entre 1990 a 2014. Dessa forma, é relevante verificar quais foram às transformações ocorridas na estrutura produtiva da agropecuária decorrentes da modernização da agropecuária.

A estrutura do trabalho está dividida em três seções, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira seção, será apresentado o processo de modernização da agricultura no Brasil e no Paraná, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, observando a ação do Governo, como foi conduzida tal política e quais setores que ela impactou. A segunda seção apresenta a metodologia utilizada, explicando como será feito os cálculos e a base de dados utilizada. Enquanto que a terceira seção apresenta os resultados, por meio dos indicadores, que buscam verificar o comportamento das variáveis através de suas mudanças no período, juntamente com análises e justificativas, além da apresentação e discussão dos índices de mudança estrutural e de especialização.

1 – MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA E PARANAENSE

A partir da segunda metade do século XX, o Brasil e o Paraná, sofreram inúmeras transformações em suas bases produtivas. A ocupação do Paraná ocorreu um pouco mais tarde, no qual os imigrantes de origem europeia vindos de São Paulo e de Minas Gerais, tentando fugir das pragas de difícil controle, ocuparam o interior do Estado, principalmente as regiões Norte e Oeste, com o cultivo de café em larga escala para exportação. Este produto gerava capacidade de importação de bens que não eram produzidos internamente, contribuindo no equilíbrio da balança comercial. Um movimento capitalista que foi apoiado pelo setor público e privado, onde a entrada da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná (antiga Plantations) foi uma espécie de loteadora, que construía rodovia e fundava as cidades permitindo a compra parcelada dos terrenos pelos colonos que abriam a mata para plantar café e em troca pagava parcelado, fomentando de forma expressiva a economia.

O êxito do café possibilitou o inicio da indústria, na qual parte do excedente das exportações seria investido no processo de industrialização. No início a produção era voltada aos bens de consumo não duráveis, logo depois viria as de consumo duráveis seguida dos bens de capital. A continuidade do modelo agroexportador foi interrompida pela crise de 1929 (Grande Depressão) e a II Guerra Mundial, na qual os países importadores diminuíram seu ritmo de compra. Segundo Bacha (2004), esses fatos começaram a pôr em cheque o modelo agroexportador brasileiro, com a crise da cafeicultura. Assim, surge uma nova oportunidade de negócios para a produção voltada ao mercado interno, com o crescimento dos centros urbanos, pois à medida que crescia, consumiam-se mais alimentos, ocorrendo uma crise de abastecimento na década de 1950. Diante de tal situação, era preciso políticas que buscassem o desenvolver do setor agropecuário.

Segundo Hespanhol (2008), o processo de incorporação tecnológica, que inicialmente esteve concentrado nos países desenvolvidos, passa a se alastrar também pelos países

subdesenvolvidos, denominado como Revolução Verde4, um padrão agrícola químico, moto mecânico e genético, gestado nos EUA e na Europa, vai gradativamente se espalhando e se instalando em todo o mundo, criando uma nova racionalidade produtiva. “O chavão deste modelo era: “acabar com a fome no mundo”, e preconizava-se que, com a modernização tecnológica haveria o aumento da renda familiar e, portanto, desenvolvimento rural”. (ARL, 2008, p. 157, apud, GAIOVICZ, SAQUET e BELTRÃO p.4).

No âmbito brasileiro, ocorreu a partir dos anos 1960, essa incorporação de novas tecnologias, fruto de acordos entre Empresas Nacionais, Internacionais e o Governo, no qual é descrito a seguir:

(...) a modernização da agricultura brasileira teve seu inicio fortemente direcionado e estimulado pelo Estado, através de medidas de políticas econômicas. As ideias oriundas da Revolução Verde criaram a expectativa de superação do subdesenvolvimento através de transformações no setor agropecuário. Com isso o setor agrícola se dinamizaria e geraria um aumento de produção através do qual acabaria com a fome da população e, com o excedente, incrementar suas exportações. (FLEISCHFRESSER, p. 12, 1998).

Segundo (SANTOS, 2008), “no Brasil ocorre um processo de modernização capitalista da agropecuária, com a importação de tecnologias e um novo direcionamento na pauta de produtos para atender o ramo agroindustrial que se estabelecia”. Essa nova dinâmica ocorreu também no Paraná, de forma mais intensa no norte do estado, provocada pelos fatores dinâmicos do processo de colonização e seus desdobramentos regionais. Posteriormente, tal movimento, porém menos acentuado, se verificou em outras regiões do Paraná. Ainda de acordo com o autor, as manifestações territoriais constituídas a partir da Revolução Verde, criam um campo de poder de grandes proprietários que têm acesso ao crédito e a formas de produção baseadas em tecnologias de última geração.

Assim, o Estado estava criando condições favoráveis à concentração de renda ao mesmo tempo em que fomentava o crescimento econômico, pois pequenos produtores nem sempre tinham capacidade de geração de renda suficiente para financiar sua produção e o aumento em infraestrutura produtiva. Conseguia ser atendido principalmente aqueles com maior renda, provocando concentração de recursos, com crescimento de forma desigual, no qual aquele com menos chances, acaba não conseguindo se manter no negócio e sai da propriedade. Desta maneira, o Estado era capaz de controlar a produção agrícola e os movimentos sociais. Além disso, surgiram várias organizações como, o Estatuto dos Trabalhadores Rurais (1963), Estatuto da Terra (1964) e o Sistema Nacional de Crédito Rural (1965). Dessa forma, tais incentivos em pesquisa e extensão rural, segundo Moreira (1990), favoreceu a disseminação do modelo produtivista na política fundiária, valorizou a propriedade privada atrelada ao mercado de terras.

As empresas privadas trabalharam pesado com propagandas, incentivando o uso de seus produtos químicos como forma inevitável para aumentar a produtividade (FLEISCHFRESSER, 1998). Desse modo, constituem-se em elemento de pressão ideológica sobre os produtores. Portanto, houve um movimento de expulsão do pequeno produtor que não consegue esses recursos, buscando novas oportunidades em outras regiões agricultáveis. Nesse sentido, surgem os grupos organizados reivindicando o seu pedaço de terra, conhecido por MST5. Segundo Graziano da Silva (1982, apud Rosa e Muniz), “a modernização aumenta as exigências e diminui o período de ocupação da mão de obra não qualificada numa dada propriedade agrícola”, tendo sido substituído o trabalhador permanente pelo volante (temporário), e este último não necessariamente vai residir no meio rural. Após a década de 1970, segundo Barros e Graham (1998) apud Franco (2006), a agricultura brasileira crescia a

4A denominada Revolução Verde surgiu em 1966 numa conferência em Washington, porém o processo vinha sendo implantado desde a década de 40, onde tal programa visava aumentar a produtividade por meio da implantação de insumos modernos na agropecuária, através de pesquisa e desenvolvimento genético de sementes, criação de maquinários adequados a cada cultura.5Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra– MST - é um movimento que luta por terra e reforma agrária, cobrando mudanças na sociedade.

taxas anuais em torno de 4% a 7%, julgada suficiente para atender os anseios da economia, que eram: cooperar no crescimento do PIB; gerar saldos positivos de exportação; e abastecer o mercado interno sem elevação dos preços, ou seja, sem pressão inflacionária, viabilizando o setor industrial que estava se expandindo.

Em busca de manter sua política, o governo implanta entre 1975 e 1976 a política de subsídios de preços finais ao produto, visando diminuir os efeitos adversos que elevaram os custos de produção dado pelo choque do petróleo. A indústria de máquinas recebeu incentivos pela Lei do Similar6, com benefícios e isenções fiscais e cambiais para a importação dos insumos utilizados na fabricação, assim como o incentivo às exportações. Em relação a essa questão Barros e Manoel (1988, p. 300) apud Franco (2006 p.27), ressaltam que:

[...] iniciou-se em grande escala, num momento histórico de rápidas e profundas transformações tecnológicas. A crise energética dos anos 70, o desenvolvimento da biotecnologia, o agravamento da questão ecológica, entre outros, acabaram por acelerar significativamente o padrão tecnológico, inclusive criando incertezas com respeito a um possível perfil tecnológico, nestas áreas no futuro.

Além disso, Franco (2006) afirma que é preocupante esse processo de substituição de importações, pois acaba sendo mais lento, podendo adotar técnicas ultrapassadas, por vezes não acompanha a dinâmica das inovações, com atrasos e deformações. Com isso, Barros e Manoel (1988) apud Franco (2006) propõem que unicamente a pesquisa nacional poderia afetar o desenvolvimento completo das indústrias substitutivas. Esses autores buscam explicar que em momentos de substituição de importações, nem sempre as técnicas adotadas de produção local são as mesmas que se fossem importadas, por exemplo, podendo ocorrer prática de preços mais elevados, surgindo à necessidade de proteção por meio de barreiras para o setor. Após certo grau de desenvolvimento das técnicas locais, dado pelo incentivo em pesquisas e desenvolvimento tecnológico, o país consegue superar esse desafio de crescimento podendo competir com o mercado externo, na maioria das vezes.

Com o campo dependente da indústria, surgiram oportunidades de trabalho para as pessoas que se mudaram para as cidades. Aumentou a produtividade econômica dada pela especialização do trabalho, melhorando as relações comerciais pela eficiência nos termos de troca, aumentando as chances de consumo pela sociedade. Porém, isso não foi suficiente para acabar com a fome no mundo, tendo em vista as desigualdades sociais existentes. Aliado a isso, deve se destacar que com a modernização, vieram também os problemas ambientais, gerados pelas novas técnicas, que compactam o solo pelo uso de máquinas e produtos químicos, contaminando trabalhadores e meio ambiente, que por fim, acaba afetando a sociedade como um todo, tornando-se necessário adotar novas práticas que causassem o menor efeito adverso possível ao meio ambiente.

A seguir são evidenciados alguns fatores que marcaram a década de 1980, resultado de políticas da década de 1970. Seguida por bons momentos anteriores, o governo encontrava-se com recursos e parceiros internacionais suficientes para apoiar seus programas de crescimento econômico. O êxito obtido pelo II PND, atrelado às dificuldades de manter políticas econômicas, dado o primeiro e segundo choque do Petróleo, em 1973 e 1979, respectivamente, se deparou com um cenário insustentável, pois como apresentado, as políticas foram pontuais, deixando de adotar mecanismos que articulassem a economia como um todo. Ou seja, houve crescimento setorial sem que houvesse desenvolvimento geral.

Após os anos 1980, segundo Hespanhol (2008), “houve o esgotamento do padrão de modernização da agricultura brasileira. O Estado passou a encarar uma grave crise fiscal, tornando - se incapaz de enfrentar e continuar subsidiando todo esse movimento”. Já Alves e Contini (1980) afirmam que na década de 1980, o crescimento da agricultura brasileira tinha alguns entraves, em que segue alguns pontos: a) a elevação produtiva era movida pelo aumento no nível tecnológico, não sendo mais obtidos bons resultados nas combinações entre recursos naturais e fator trabalho; e b) necessidades de ajustes em uma economia fundamentalmente urbanizada e industrializada.6 Era proibido importar produtos similares ao que se produzia internamente, cujo objetivo era fomentar o setor.

Como observa Camargo (2002), a década de 80, foi considerada uma década perdida para a economia brasileira, devido aos inúmeros problemas políticos e econômicos que assolaram o país. Contudo, Filho (1998) observa que tais mecanismos políticos adotados permitiram que a agricultura fosse menos afetada em relação à indústria em termos agregados, pois o maior impacto ocorreu na demanda por produtos industriais do que os agrícolas no período. Ou seja, a elasticidade na demanda por produtos agrícolas foi menor que os da indústria. O setor rural se beneficiou do desaquecimento do setor industrial através da queda do preço dos insumos.

De acordo com Filho (1992), houve a moratória mexicana em 1982, que desencadeou a crise cambial, provocando desvalorização do real em busca de diminuir as importações estimulando as exportações7, atrelando o câmbio à indexação do IGP. Ao mesmo tempo havia a contenção do crédito para a agricultura e correção monetária nos contratos, devido à forte inflação, pois era preciso reduzir a demanda interna, atrapalhando o crescimento da economia.

Para Filho (1998), a crise pela qual a economia passou nesse período pode ser característica da crise do investimento, no momento em que o país se depara com a necessidade de mudar radicalmente seu modelo de financiamento baseado na poupança externa. Aos produtores agrícolas, restou continuar utilizando tecnologias em busca de ganhos produtivos, período no qual foi marcado por ganhos em eficiência, ou seja, houve aumento de produção sem ampliar a área plantada, ao contrário que ocorreu até o fim dos anos 1970, em que os ganhos de escala se davam mais pela ampliação da área plantada que da eficiência.

A década de 1990, por sua vez, é marcada por um cenário macroeconômico turbulento, marcado pela abertura da economia, implantação do Plano Real, e um enorme desequilíbrio fiscal. Conforme Barros (1991 apud Bragagnolo, p.32), neste período o crédito rural atuou como um fator de compensação das distorções macroeconômicas (fiscais e cambiais) impostas à agricultura, porém de forma ineficiente, dada a sua distribuição concentrada. A abertura comercial em 1990 e a valorização do câmbio em 1994 com a implantação do Plano Real trouxeram dificuldades ao setor.

a globalização tem gerado profundas readaptações estruturais das economias nacionais, configuradas na valorização do mercado, com aumento da competitividade, maior importância dada aos ganhos de produtividade e menor participação do Estado Nacional na economia dos países com a volta do liberalismo econômico. GREMAUD (2002)

Nota-se a redução nos gastos do governo com a agricultura em comparação aos recursos de outros setores. Nos anos seguintes continuaram a tendência de queda na participação governamental, conforme observa Gasques e Villa Verde (2003), sendo a menor dos últimos quinze anos, fruto de modificações na política de preço e estoques.

Entretanto, as produtividades deste setor continuavam crescendo, explicado pelo termo de Produtividade dos Fatores (PF), isto é, a elevação da produtividade que os produtores vêm obtendo que não é explicada pelo aumento no uso dos produtos e sim por técnicas mais eficientes, pela evolução na qualidade de máquinas, fertilizantes, sementes, mão de obra, defensivos que controlam melhor as pragas, dentre outros.

Bragagnolo (2012, p.32) afirma que “o crescimento da produtividade nesse período ocorre por dois fatores: defasagem no aparecimento dos efeitos de investimentos em ciência e tecnologia e; o corte ocorrido nos gastos governamentais não ter atingido os investimentos de forma significativa”. Há uma divisão na forma de se apresentar a PF, como progresso técnico e mudança na eficiência técnica. Nishimizu e Page (1982) apud Bragagnolo (2012) argumentam que é importante essa divisão. Quando ocorrem elevações na PF decorrentes de progresso técnico, existem inovações que proporcionam este avanço. Por outro lado, ganhos de PF provenientes de mudanças na eficiência são resultados da difusão de tecnologia, ou fatores conjunturais. Assim, essa distinção nos permite avaliar apolítica utilizada de acordo com a natureza dos avanços da PF, se não houver progresso técnico, ocorre deficiência em pesquisa

7 Em 1996 cria-se a lei Kandir que isenta as exportações de produtos agropecuários in naturado pagamento do ICMS, aumentado à rentabilidade dessas exportações.

e se não houver eficiência técnica, os problemas estão na difusão de novas tecnologias ou na forma de adequá-las ao setor.

Por outro lado, para Johnston e Kilby (1977) uma parte significativa do aumento do produto não é explicada pelo acréscimo da quantidade dos insumos, mas sim pelos seus ganhos de produtividade. Sendo assim, estabeleceu-se uma estrita correlação entre produtividade dos fatores e mudança estrutural. Veeman (1995) argumenta que a mensuração da produtividade é uma questão crítica para a compreensão do crescimento da agricultura. Ele afirma que a análise conceitual e a medida empírica da produtividade da agricultura envolvem diversos desafios. Ele ressalta a importância da mensuração sempre que possível, das medidas produtivas baseadas na produtividade total dos fatores, e não parciais. Assim consegue-se ter uma real dimensão da interação entre esses fatores. Esse aumento da produtividade do trabalho está diretamente relacionado à introdução de máquinas agrícolas no processo produtivo, principalmente ao uso de trator, visto que, o aumento da produtividade do trabalho só é possível com o aumento do fator capital (BACHA, 2004).

A escolaridade da população é um fator essencial na evolução da produtividade dos fatores. De acordo com Hoffman (2003), as pessoas escolhem o seu grau de escolaridade buscando maximizar o seu nível de bem-estar ao longo da vida, de acordo com suas preferências individuais e na expectativa de renda gerada a cada ano de educação formal. No setor primário, a escolaridade têm se tornado cada vez mais importante, ao se produzir máquinas cada vez mais eficientes e automatizadas, equipadas com softwares que controlam o seu funcionamento. Com isso se exige cada vez mais do profissional, que busca minimizar seus custos de produção, ao substituir homem pela máquina, induzindo o aumento da produtividade (MALFITANO, 2004).

Portanto, o movimento de modernização progressivo observado na agricultura, não acontece por acaso, e sim conforme as condições conjunturais e disponibilidade de recursos. Dessa forma, percebe-se como o Brasil e o Paraná em praticamente um século passaram por fortes mudanças no cenário econômico e político.

Composição da pauta de ProduçãoAnalisando como se comportou a produção agrícola, notou-se que houve uma

completa modificação na composição dos produtos produzidos. Com forte incentivo às culturas voltadas ao mercado externo, que passou de apenas um produto (café) para vários outros, como soja, laranja, cana de açúcar, fumo, café e algodão. E os produtos voltados ao mercado interno, com destaque para o trigo, milho, arroz, feijão e mandioca.

O fraco crescimento dos produtos de abastecimento interno, aliados à crescente demanda, provocou a elevação nos níveis de seus preços. Isso diminuiu o bem-estar da população através da redução no seu poder de compra. Segundo Fleischfresser (1988), houve falta de interesse por parte do governo, não incentivando esse tipo de cultura aos produtores, ocasionando redução na área plantada e volume produzido, além de relativa manutenção das técnicas antigas de produção. Tal fato pode ser evidenciado em:

entre 1970 a 1977 houve aumento no preço dos alimentos de 52%, transformando o setor agrícola de produtos domésticos no principal agente de instabilidade interna de preços, ou seja, a agricultura deixa de ser um problema de crescimento para ser de instabilidade, dada a sua importância na formação do preço básico do sistema, o salário, e na geração de divisas mediante a exportação. Barros (1978) apud Franco (2006 p.35).

Sendo assim, a política teria que contribuir em setores específicos possibilitando a expansão e diversificação da oferta de produtos agrícolas exportáveis e domésticos, pois dessa forma era possível evitar o colapso econômico no país. O que houve, de fato, foi a falta de remuneração aos produtores, seja através do mercado ou de políticas do Governo, que criasse condições para não se produzir apenas as culturas voltadas à exportação.

Mecanismos de Incentivo para a agriculturaEste item trata dos aspectos que possibilitaram situar a maneira que vinha sendo feita

as práticas de incentivo agrícola. Dessa forma, Barros (1979) observou que a partir de 1973, houve mudanças nas políticas com forte aumento no volume de subsídios no Brasil. Ele destaca as seguintes consequências:

Carência de política de longo prazo no sentido de investimento e infraestrutura ao setor agrícola;

Modernização desuniforme, que ocorreu em alguns produtos e regiões; Agricultura divida entre produção doméstica e exportável; Política de crédito com baixa eficiência, equidade e estabilidade monetária.

Assim, é possível elencar várias medidas de suporte ao produtor com o objetivo de impulsionar a produtividade do setor, como o crédito rural, o suporte de preços, as empresas estatais, as cooperativas e o uso intensivo de fator capital.

O crédito rural tem um papel fundamental desde a estruturação do processo produtivo até a comercialização dos produtos.Ele permite ao produtor utilizar o recurso desde a construção de instalações em sua propriedade, compra de máquinas, insumos, com subsídios em alguns setores específicos. O suporte de preços consegue gerar certa margem de segurança ao produtor, pois o deixa mais seguro em relação à previsão de retorno do seu investimento. Tais circunstâncias podem ser observadas a seguir:

Porém, Bacha (2004) observou que havia um crescimento diferenciado entre produtos, onde as culturas voltadas para a exportação ou para substituir importações tiveram maior crescimento de produtividade do que as culturas voltadas ao mercado doméstico. Os produtores rurais que conseguem obter estes recursos, inevitavelmente, estão aptos a vantagem comparativa em relação aos que não tem recursos, acabando por comprar suas propriedades. Segundo Rolim (1996), a modernização gerou aumento da concentração fundiária em detrimento dos pequenos produtores.

Nesse contexto, buscando minimizar esses efeitos negativos, surgem as cooperativas, com o objetivo de desempenhar, em benefício comum, determinadas atividades, somando forças para um mercado significativo, com fortes ganhos produtivos e competitivos.Ou seja, os produtores rurais se unem para gerar um grande fluxo de produção, conseguindo na maioria das vezes, industrializar o que produz, gerando valor e renda extra, comparado com a venda in natura ao mercado. Ao conseguir um volume considerável de demanda de insumos e oferta de produtos, conseguem buscar recursos com mais facilidade.

Também é criada em 1973 a Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (EMBRAPA) que é um órgão do governo, vinculado ao Ministério da Agricultura que busca desenvolver a agropecuária, criando novas tecnologias, visando adaptar sementes de acordo com cada região para se obter a máxima de produtividade. De acordo com Gasques (2004, apud Sepulcri e Paula p.28):“a pesquisa realizada pela Embrapa é considerada o fator individual mais importante para explicar o desempenho da produtividade da agropecuária”.

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), por sua vez, é uma empresa pública, com divisão estadual, com várias unidades que fazem sua representação. No Paraná existe o IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná, vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), esse órgão de pesquisa que gera novas tecnologias de desenvolvimento rural do Estado do Paraná, visa obter soluções para os problemas produtivos. Segundo Franco (2006),a extensão rural representou ideia inovadora no Brasil e influenciou toda a estrutura de poder da agricultura.

A automatização dos serviços alterou radicalmente a realidade no campo, à medida que desenvolvia máquinas em busca de melhores técnicas, substituía em grande parte a mão de obra. Segundo Graziano da Silva (1982) a indústria não quer tornar a agricultura rentável, apenas torná-la submissa aos interesses do capital industrial e financeiro. Complementa Assis e Rosa (2005), o desenvolvimento tecnológico da agricultura ocorreu justamente por “pressão” do setor industrial e financeiro.

Por outro lado, Fleischfresser (1988, apud Muniz e Rosa p.7), argumenta que:[...] com a disseminação de tecnologias no campo, as relações produtivas se subordinam às exigências do mercado, e os produtos a ela destinados devem seguir a padronização e qualidade tecnológica estabelecidos pelos “compradores”, o que só é possível mediante a “tecnificação” da produção. E para se efetivar essa tecnificação o agricultor teve que recorrer ao mercado industrial para obter equipamentos, insumos, etc; o que exige altos investimentos.

Sendo passível de criticas, não podemos negar que a agricultura e a indústria passaram a ter uma forte relação na qual uma depende da outra, fornecendo insumos e comprando seus produtos entre si. A inovação na agricultura passa a surgir no interior da indústria com o crescimento do uso de insumos modernos para agricultura, como fertilizantes, inseticidas, fungicidas, maquinaria e outros (KAGEYAMA, 1997; apud Sepulcri e Paula p.04). Ou seja, a indústria cresce em função da expansão da agricultura.

2–METODOLOGIA

Os indicadores de modernização utilizados na pesquisa têm como referência os trabalhos de Figueiredo e Corrêa (2006), mas com algumas alterações nas características das variáveis utilizadas. Os autores utilizaram informações sobre vendas de fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas. Nesta pesquisa foram utilizadas informações sobre consumo de fertilizantes, agrotóxicos e estoque de trator.

Para avaliar a o impacto da modernização na agricultura paranaense, foram construídos indicadores parciais de produtividade dos fatores, que segundo Wen (1993), são obtidos pela relação entre o produto e um único fator de produção (terra, capital, mão de obra, fertilizantes e defensivos agrícolas). A produção pode ser medida em termos de um único produto, podendo ser expressa em quantidade ou como um agregado de produtos, tendo como fator de ponderação, a variável preço que, pode ser corrente ou constante. Na presente pesquisa foram utilizados preços constantes de 2013, para todos os períodos.

Assim, a produtividade parcial da terra e do trabalho foram medidas pela razão entre o valor da produção das lavouras e pecuária por unidade de área e pessoal ocupado.

Já o progresso técnico foi mesurado pela razão entre estoque de trator, consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas por pessoal ocupado, mensurados da seguinte forma:

Razãoestoque d e trator por pessoal ocupado :

estoque tratorpessoal ocupado (1)

Razãoconsumo de fertilizantes por pessoal ocupado :

kgde fertilizanteconsumidopessoal ocupado (2)

Razão consumodeagrotóxicos por pessoal ocupado :

Kgde agrotóxicospessoal ocupado (3)

Cabe aqui ressaltar, que uma limitação da pesquisa é que a mão de obra ocupada representa aquela ocupada na agricultura, pecuária, silvicultura, pesca, entre outras atividades relacionadas.

A intensidade do uso do capital foi estimada através das seguintes relações:

Razãoárea ocupadacomlavouras e pecuária por pessoalocupado :

área plantada comlavoura e com pastagens naturaise plantadas(hectare )pessoal ocupado

(4)

Razãoconsumo de fertilizantes porunidade de área :

Kgde fertilizantesárea comlavouras plantada(hectare) (5)

Razão consumodeagrotóxicos agrícolas por unidade deárea :Kgdeagrotóxicos

área comlavouras plantada(hectares) (6)

Razão estoque de trator porunidade de ár ea:

estoque de tratorárea comlavoura plantada(hectare) (7)

Outro indicador utilizado para analisar as transformações na agropecuária paranaense é o índice de mudança estrutural. Este Índice investiga as transformações que ocorrem na agropecuária, baseada no co-seno, como uma medida de similaridade, que mede o ângulo θ, formado entre dois vetores correspondentes a períodos de tempo, Ramos (1991) . Esta representação esta explicitada na fórmula a seguir:

cosθ=∑i=1

n

(Sit∗Sit−1)

√∑i=1n

(Sit)2∗∑i=1

n

(Sit−1)2(8)

Sendo Sit e Sit−1 a participação do produto i no valor total da produção em períodos sucessivos, servindo como parâmetros estruturais para o cálculo do indicador proposto.

O valor do ângulo θ é medido em graus de mudanças estruturais e encontra-se entre os limites de maior ou igual a zero e menor ou igual a um.

Este indicador é interpretado da seguinte forma: quanto mais próximo de zero estiver o ângulo θ calculado, maiores são as mudanças estruturais ocorridas entre dois períodos; e quanto mais próximo de 1, menores são as mudanças ocorridas.

Outro indicador utilizado para analisar as transformações na agricultura, é o Índice de Especialização. Onde S¿2 é a participação do produto i no valor total da produção elevada ao quadrado. Este índice, como o de mudança estrutural, toma como base para a sua construção o valor agregado das medidas de participação dos produtos, sendo definido pela seguinte expressão (Hoffmann et al, 1984):

E= 1∑ S¿

2 (9)

Quanto maior o valor do índice em relação aos períodos de análise, menor é o grau de especialização e maior o grau de diversificação da produção.

Segundo Gasques e Conceição (2000), os Índices de Mudança Estrutural e de Especialização podem captar alterações na composição dos insumos, pois existe uma relação estreita entre as decisões de produção e o uso de insumos. Assim, pode se ter nestes índices uma análise complementar à explicação da evolução da produtividade.

2.1 Base de Dados

a) Valor da produção agrícola e pecuária

Foram utilizados as quantidades e o valor da produção de 67 produtos agregados das lavouras temporárias e permanentes, obtidos pela Produção Agrícola Municipal (PAM) e 6 produtos de origem animal obtidos pela Produção Pecuária Municipal (PPM), ambos publicadas anualmente pelo IBGE (2015). Foram utilizados também os dados relativos a peso das carcaças suína, bovina e de frango, publicados pelo IBGE (2015), e os preços foram obtidos pela CEPEA (2015). No entanto, os valores para Boi, por esta fonte, são cotados em arroba, sendo necessário realizar a conversão, dividindo o preço da arroba do boi por 15 kg, para ter uma estimativa do peso médio da carcaça.

Com relação ao peso das carcaças, a Pesquisa Trimestral de Abate de Animais, disponibiliza dados apenas a partir de 1997. Assim as informações para o período de 1990 a 1996 foram calculados da seguinte forma: Primeiramente foi obtido os dados de pesos das carcaças de animais e o número de animais abatidos para o Brasil, disponível nos Anuários Estatísticos do IBGE e calculado o peso médio nacional de carcaça por animal abatido para cada ano. Com os Censos Agropecuários de 1980, 1985, 1995/96 e da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais para os anos de 1997 a 2014, foram obtidos o número de animais abatidos por Estado da Federação. Assim para os anos faltantes da amostra, foi calculado por interpolação linear, o número de animais abatidos, que quando multiplicado pelo peso médio nacional de carcaça por animal se obtém o peso da carcaça total de animais por Estado. O procedimento de agregação da produção se deu com base na quantidade produzida de cada produto no respectivo ano e no preço médio estadual para o ano de 2013.

b) Dados dos Fatores de Produção

A variável terra é representada pela área colhida com lavouras permanente e temporária, pastagens naturais e plantadas. As áreas colhidas foram obtidas na PAM do IBGE (2015). Já os dados sobre pastagens naturais e plantadas tiveram que ser mensurados. Para tanto foi, primeiramente, calculada a relação entre área ocupada com pastagens e efetivo de bovinos, através das informações contidas nos Censos do IBGE de 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96 e 2006. A média destas relações foi multiplicada pelo efetivo de bovinos dos anos de 1990 a 2014, contidos na PPM. O resultado desta multiplicação indica a área de pastagens. Esta forma de mensuração da área de pastagem, para períodos mais recentes, foi utilizada por Gasques et al (2004, 2012 e 2014).

Com relação à mão de obra, a fonte de informações para o Pessoal Ocupado é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE. A quantidade de mão de obra refere-se ao total de pessoas ocupadas de dez anos de idade ou mais que estão ocupadas na atividade agrícola como trabalho principal. São subtraídas deste total, as pessoas ocupadas na produção para o próprio consumo; em atividades de construção para o próprio uso; e as não remuneradas que trabalhavam menos de 14 horas por semana.

Utilizou-se neste trabalho como proxy do capital, a quantidade de tratores de roda, por classe de potência, utilizado na agricultura. Para tanto, foi necessário construir uma série de

estoque de tratores, visto que esta informação só aparece disponível nos Censos Agropecuários. A construção do estoque de tratores de roda baseou-se na metodologia adotada por Barros (1999)8.

Para a quantidade de agrotóxicos, foi utilizado o consumo aparente de: acaricida, inseticidas, fungicidas e herbicidas, obtidos a partir do Anuário Estatístico do Brasil divulgado pelo IBGE para o período de 1990 a 1999. Para o período de 2000 a 2014, os dados foram obtidos pelo Relatório de Comercialização de Agrotóxicos divulgados no site do IBAMA. Este relatório divulga os dados para o Brasil e para as unidades da federação.

Os dados por estado para o período de 1990 a 1999 foi obtido da seguinte forma: primeiramente foi calculado o consumo de defensivos agrícolas por hectare (lavouras plantadas) para os anos que existiam dados disponíveis (2000 a 2014) e calculado uma média por estado. Posteriormente esta média de consumo por hectare foi multiplicada pelo número de hectares de lavouras plantadas para cada unidade da federação.

As informações coletadas de fertilizantes referem-se ao consumo aparente de nutrientes nitrogenados, fosfatados e potássicos obtidos da Associação Nacional de Difusão de Adubos e Corretivos Agrícolas – ANDA e do Ministério da Ciência e Tecnologia (que possui vários dados da ANDA). Os dados por estado foi obtido no Instituto de Economia Aplica (IEA) no relatório de Análise de indicadores do agronegócio para os anos de 2005 a 2014. Já para o período de 1990 a 2004 as quantidades consumidas de fertilizantes para os estados foram calculadas da seguinte forma: primeiro estimou-se o consumo de fertilizantes por hectare (área plantada) por estado para o período de 2005 a 2014 e foi calculada uma média por estado. Posteriormente esta média foi multiplicada pelo número de hectares de área plantada obtidas na PAM para os estados.

3 – INDICADORES DE MODERNIZAÇÃO E DE TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS DA AGROPECUÁRIA PARANAENSE

Durante as décadas de 1990 e 2000 houve a modernização dos segmentos do setor rural que foram capazes de incorporar as mudanças tecnológicas ocorridas ao longo do período. No entanto, Vieira Filho et al (2011) , constataram que ainda existe bastante espaço para o desenvolvimento do setor, visto que grande parte dos produtores agrícolas possui baixa capacidade de absorção de conhecimento externo e novas tecnologias, causando um crescimento disforme da produtividade entre os produtores.

Atualmente, o Paraná se consolida como um dos estados brasileiros mais importantes para a formação do PIB agrícola e de acordo com Gasques & Bastos et al (2012), este crescimento da agricultura vem ocorrendo pelos ganhos da produtividade, que traduz os efeitos de um processo de mudança tecnológica em curso, que gera crescimento produtivo e eficiência alocativa dos recursos e tem sido impulsionado pela mudança no padrão de comércio internacional.

A Tabela 1 apresenta os indicadores de produtividade parcial da terra da Agropecuária (PPTA), produtividade parcial da terra com lavouras (PPTL), produtividade parcial da terra com pecuária (PPTP), produtividade parcial do trabalho (PPL) e produtividade parcial do capital (PPK) para o Paraná.

Com relação à produtividade parcial do trabalho (PPL), os dados contidos na Tabela 1, evidenciam que o Paraná registrou crescimento bruto na ordem de 560,26% entre o período de 1990 e 2014. Em 1990, apresentava produtividade de R$10.901,47/homem. Após 24 anos, no ano de 2014, apresentou produtividade de R$ 71.978,53/homem. Ou seja, cresceu em média, 7,44% ao ano. Esse aumento da produtividade do trabalho está diretamente relacionado à introdução de máquinas agrícolas no processo produtivo, no qual foi possível elevar a eficiência de cada trabalhador, investindo cada vez mais em modernização de suas atividades,

8 Ver o capítulo 4 de Barros (1999).

juntamente com a mudança na composição da pauta produtiva, que contribuiu para essa transformação, como por exemplo, migrando do café para a soja. Este aumento da mecanização o campo é evidenciado pelo índice de uso intensivo do capital analisado mais a diante.

Tabela 1: Indicadores Parciais de Produtividade da Terra, Trabalho e CapitalPeríodos PPTA PPTL PPTP PPL PPK

1990 1,32 1,80 0,73 10.901,47 148,351995 1,56 2,14 0,95 16.059,13 177,202000 1,84 2,37 1,27 22.296,10 219,002005 2,17 2,26 2,03 30.528,43 287,662010 3,24 3,06 3,63 54.975,59 386,802014 3,42 2,91 4,68 71.978,53 368,70

Variação 159,67% 61,73% 544,47% 560,26% 148,53%Crescimento médio a.a.* 1,97% 0,98% 7,32% 7,44% 1,66%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE – SIDRA. Base 2013.(*) taxa geométrica de crescimento.

Em seguida, apresenta-se a produtividade parcial do Capital (PPK), que no ano de 1990, foi R$ 148,35/trator e no fim desse período, fechou com crescimento de 148,53%, com R$ 368,70/trator, um crescimento médio na ordem de 1,66% ao ano. Já os indicadores de produtividade parcial da terra, quando analisados de forma separada, verifica-se que a terra destina a pecuária foi a que apresentou maiores ganhos de produtividade no Paraná, em torno de 545%,registrando um crescimento médio anual de 7,32% ao ano. Assim verifica-se que em todo o período os indicadores parciais de produtividade registraram elevados ganhos de produtividade, evidenciando o grau de modernização da agropecuária paranaense.

Para melhor exploração do assunto, também foram calculadas os indicadores que representam o progresso técnico, cujos resultados estão registrados na Tabela 2.

Tabela 2: Indicadores de Progresso TécnicoPeríodos Estoque de

trator/ PO*Consumo

fertilizante/PO*Uso de agrotóxico/PO* Mão de

Obra Ocupada**

1990 73,48 648,00 5,76 1.6621995 90,62 1.056,42 6,65 1.3442000 101,81 1.872,37 19,61 1.1472005 106,13 2.438,77 30,95 1.0852010 142,13 3.600,57 47,15 8422014 195,22 5.519,76 80,69 717

Variação 165,67% 751,81% 1.301,51% -56,86%Crescimento

médio a.a. 2,13% 8,77% 11,28% -2,32%

*Por pessoal ocupado.** Mil PessoasFonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE – SIDRA. Base 2013.

Verifica–se pelos dados da Tabela 2, que a relação entre o estoque de trator de roda por pessoal ocupado, no início do período (1990) era em torno de 73 tratores para cada mil trabalhadores no campo, após 24 anos o estoque de trator passa a ser em torno de 195 tratores para cada mil trabalhadores, apresentando assim um crescimento na ordem de 165,68%. Isso evidencia a intensidade da redução da mão de obra no campo em favor do aumento

da mecanização com crescimento médio anual de 2,13%. De acordo com a última coluna referente à mão de obra ocupada no Paraná, verifica-se uma queda considerável no número da mão de obra ocupada no campo, que no ano de 1990 era de 1,66milhão, passando para 717 mil em 2014, apresentando assim uma queda de 56,86%, no período e uma taxa média de redução de 2,32% ao ano.

Também pode-se verificar o aumento do uso de insumos modernos como agrotóxicos e fertilizantes por pessoal ocupado, que cresceram vertiginosamente no período de 1990 a 2014 em torno de 751,81% e 1.301,51%, respectivamente. Isso quer dizer que no ano de 1990 a relação entre fertilizante/trabalhador era de 648 quilos e o de agrotóxico de 5,76 quilos. Em 2014, esta mesma relação passa a ser de 5.519,76 e 80,69 quilos, nesta ordem.

Cabe aqui ressaltar que a saída de trabalhadores da agricultura pode se relacionar a outros fatores como a legislação trabalhista e seus efeitos sobre as relações de trabalho e salários, assim como desarranjos nas políticas agrícolas que oferecesse condições de vida semelhante aos empregos nas cidades ao longo desses últimos anos. Este tema foi amplamente discutido na década de 1970 onde a modernização e mecanização provocaram saída de mão de obra da agricultura.

Portanto, os dados da Tabela 1 ajudam entender que a relação terra/homem teve efeito significativo sobre a produtividade da mão de obra, concluindo que a modernização da agricultura, associado à mecanização, afetaram os empregos no Paraná.

Os indicadores que apresentam a intensidade da utilização do capital estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3: Indicadores que medem o uso intensivo do capitalPeríodos Área lavoura e

pecuária/PO*Consumo

fertilizante/AT**Consumo

agrotóxicos/AT**Estoque de trator/AT**

1990 8,28 78,30 1,26 8,881995 10,27 102,87 1,25 8,822000 12,10 154,76 3,11 8,412005 14,07 173,39 3,59 7,552010 16,96 212,24 4,09 8,382014 21,04 262,29 5,40 9,28

Variação 154,27% 235,00% 329,14% 4,48%Crescimento

médio a.a. 1,82% 3,62% 5,09% 0,2%

*Por pessoal ocupado.** Área total (Hectare).Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE – SIDRA e Anuário estatístico do Brasil.Base 2013.

O indicador que sofreu maior variação foi o de consumo de agrotóxicos por hectare, seguido pelo consumo de fertilizantes por hectare, com crescimento de 329% e 235% respectivamente, no período analisado. Ou seja, no ano de 1990 se utilizava 1,26 quilos de agrotóxico e 78,3 quilos de fertilizante por hectare, chegando ao ano de 2014 consumindo 5,4 quilos de agrotóxico e 262,29 quilos de fertilizante em cada hectare. A elevação do uso destes componentes deve-se a busca de maximizar o lucro produtivo por área, ou seja, tendência de transformação do modelo extensivo para o modelo intensivo, em prol do aumento da produtividade.

Quanto ao estoque de trator de roda em relação à área total, houve discreto crescimento nas unidades por mil hectares, no ano de 1990 era de 8,88 passou para 9,28 em 2014, crescendo 4%. Isso se dá pelo fato de os incrementos de área agrícola ser maior que o estoques de tratores e pela depreciação da frota de tratores de roda paranaense. Mesmo assim, a relação máquina-área está aumentando.

A relação entre área de lavoura (permanente e temporária) e pecuária por pessoa ocupada apresentou um crescimento de 154% no período, saindo de 8,28 em 1990 para 21,04 em 2014, que indica o número de hectares que uma unidade de trabalho consegue operar. Portanto, verifica-se uma relação linear entre o aumento do uso de fertilizantes, agrotóxicos e capitais, pelo grau de mecanização, gerando aumento das produtividades parciais da terra e do trabalho.

De acordo com os indicadores apresentados, verifica-se que no período de análise foi possível elevar a produtividade agrícola em seus diversos setores pela utilização e desenvolvimento de insumos modernos específicos, como agrotóxicos, fertilizantes e máquinas, poupando mão de obra por área cultivada. Assim, os ganhos de produtividade gera o crescimento da economia paranaense em seus diversos setores.

O Gráfico 1, apresenta a evolução do índice de mudança estrutural da agropecuária paranaense para vários subperíodos.

Gráfico 1: Índice de Mudança Estrutural

1990-1995 1995-2000 2000-2005 2005-2010 2010-2014

0.94550.9510

0.9821

0.99690.9939

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE – SIDRA e PAM. Base 2013.

Quanto à interpretação do índice tem-se que quando o ângulo θ for mais próximo é um indício de maior mudança estrutural no período. Quanto mais próximo de um, menores são as mudanças. Como o índice de mudança estrutural é calculado a partir de medidas de participação dos produtos sobre o produto total, quanto maior fora variação desta participação, maior será a mudança estrutural. Assim sendo, a evolução dessa variável no Gráfico 1 indica que o valor do ângulo θ está cada vez mais próximo de um,com exceção do último período (2010-2014) que apresentou uma queda discreta de 0,003 em relação ao período anterior. Ou seja, está aproximando cada vez mais do valor limite a cada período. Tais resultados indicam que a partir de 1990, há pequena indicação de mudança estrutural na agropecuária paranaense, indicando poucas alterações na composição da produção no que se refere aos cinco principais produtos. Isto pode ser comprovado pelo Gráfico 2.

O Gráfico 2 nos ajuda a entender de que forma está composto os principais produtos da agropecuária paranaense ao longo do período analisado.

No período analisado, a soja aparece como principal produto no Paraná, com participação de 21,64% em 1990, chegando em 2014 com 24,37%, um crescimento de 2,73 pontos percentuais no período.

Gráfico2: Participação dos cinco principais produtos no valor da produção do Paraná

19901992

19941996

19982000

20022004

20062008

20102012

20140.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

70.00%

80.00%

Soja

Milho

Leite

Frango

Suíno

Participação dos 5 maiores

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE – SIDRA e PAM. Base 2013.

O milho é outro importante produto, que ao passar do tempo veio se consolidando, por ser uma boa alternativa de complemento e rotação de cultura com a soja. De 1993 a 1999, apareceu em segundo lugar na participação, variando de 11% a 13%. Um crescimento de 0,73 pontos percentuais comparando 1990 e 2014. Isso se deu graças ao desenvolvimento genético das sementes, juntamente com outras técnicas, que possibilitou a introdução do plantio durante o inverno, chamado milho segunda safra, ficando conhecido como “milho safrinha”, pois o cereal era visto meramente como opção para complementar a renda dos produtores.

De acordo com Favro (2014), o Brasil é o quarto maior produtor mundial de milho, na safra 2011/2012 sua produção representou 7,2% da produção mundial, pois seus ganhos provenientes do aumento da produtividade contribuem significativamente para a expansão do mercado. Ressaltando que a modesta evolução de 0,73 pontos percentuais não quer dizer baixo crescimento total e sim a participação relativa no valor da produção.

Como o milho é um dos principais produtos para a criação de frangos, estimulou a avicultura que após 1994 aparece em quarto lugar no ranking, com participação de 6,95%, chegando em 2014 em segundo lugar, com 19,67%. Um crescimento de 14,45 pontos percentuais entre1990 e 2014. Isso se deve aos melhoramentos genéticos das aves, possibilitando a redução do tempo de abate, associado à melhora na nutrição via alimentos e a grande aceitação no mercado nacional e principalmente no internacional. Nesse sentido, Silva (2002) apud Cavichiolli (2013),com essa evolução tecnológica na exploração avícola, as granjas podem ser caracterizadas como verdadeiras “fábricas” de produção de proteína animal. A genética tem buscado, ao longo dos anos, animais cada vez mais pesados, com conversão alimentar melhor, em menor tempo de alojamento. Abreu & Abreu (2011), apud Cavichiolli (2013) observaram que, nos últimos vinte anos, a avicultura de corte tem investido constantemente em inovações tecnológicas, o que permite novos conceitos e sistemas de produção de frangos.

O açúcar aparece de 2007 a 2010, com participação em torno de 5% a 8%. Pode-se escolher de acordo com a produção em transformá-lo em açúcar ou álcool, dependendo muito das políticas de incentivo e conjuntura internacional no setor de energia e preços dos alimentos, pois compete diretamente em área com esses produtos.

O rebanho suíno aparece entre os cinco principais produtos em 2011 a 2014, com participação girando em 5% a 6% ao ano9, mostrando-se um produto importante, com algumas características similares à do frango, com sua principal fonte alimentar sendo o milho, apresentando uma boa opção em pequenas propriedades. Segundo WINTER (2005), apud Busch (2009), a cadeia produtiva da suinocultura influencia as cadeias produtivas do milho, da soja, e de avanços genéticos na espécie animal, visando o seu fortalecimento, com efeitos multiplicadores de renda e emprego em todos os setores da economia, os quais intensificam a demanda de insumos agropecuários, a expansão e modernização dos setores de comercialização e transformação.

O leite entra na lista no ano de 1992, com 6,36%, chegando ao final do período, em 2014 com 8,31% exceto no ano de1994. Um crescimento de 2,36 pontos percentuais, no período de 1990 a 2014, pois em 1990 tinha 6,06% de participação.

Portanto, a participação dos cinco principais produtos está aumentando ao longo do tempo. Conforme a linha superior no gráfico 2, tendo em vista o início do período analisado, esses produtos representavam 54,63% do total, chegando a representar quase 70% em 2013, terminando 2014 com 67,89%, uma leve queda de 1,11 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Porém, no período houve um crescimento de 13,26 pontos percentuais.

Guilhoto, Furtuoso e Barros (2000) alegam que a modernização da agricultura brasileira ocorreu com a inserção de máquinas e produtos químicos, deixando de ser, assim, uma agricultura artesanal rural para se tornar uma agricultura moderna, intensiva e mecanizada. Ainda comentam que se especializar buscando economias de escala é o meio que deve ser seguido pelos produtores para acompanhar o processo de modernização da agricultura. Diante disto o Gráfico 3 apresenta o índice de especialização da Agropecuária paranaense.

O índice de especialização da agricultura é apresentado no Gráfico 3, tomando como base para a sua construção o valor agregado das medidas de participação dos produtos. Segundo Franco (2006), o objetivo é mensurar o grau de especialização de determinada região ou país, servindo como indicador de transformações ocorridas na agricultura. Quanto maior o valor do índice em relação aos períodos de análise, menor é o grau de especialização e maior o grau de diversificação da produção.

Gráfico 3: Índice de Especialização da Agricultura.

1990 1995 2000 2010 2014

10.72769.8222

9.2626 8.93237.7256

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE – SIDRA e PAM. Base 2013.

9Porém, no período analisado, o suíno apresenta um crescimento de 2,18 pontos percentuais, com participação de 3,15% em 1990 chegando a 5,33% em 2014.

Assim verifica-se que no Paraná há uma tendência de especialização. No ano de 1990, o valor está em 10,73, chegando em 2014 com 7,73. Uma variação de -27,98%, o que evidencia, pela sua definição, menor grau diversificação e maior especialização da produção da agropecuária no decorrer do período.

Desta forma, a composição da pauta produtiva na agricultura paranaense como foi demonstrado no Gráfico 2 em que aparece os principais produtos, conforme suas respectivas participações no valor total da produção, pode-se afirmar que o estado esta se especializando nas culturas que apresentam maior rentabilidade, se tornando culturas atrativas aos produtores e sua cadeia. Segundo Joseph Schumpeter as inovações tecnológicas vêm da iniciativa e da criatividade empreendedora do capitalista em busca do aumento da produtividade e do crescimento rápido da economia. Tal conceito que era comum no setor industrial, também está sendo inserido nos meios rurais, à medida que a agricultura ganha importância econômica.

Sendo assim, é possível concluir, de acordo com as análises dos índices de mudança estrutural e de especialização da agricultura, que o Paraná no período analisado apresenta tendência de especialização em algumas culturas, com menor diversificação da pauta produtiva, com destaque dos produtos com forte demanda do mercado externo e que se adaptaram bem à estrutura produtiva paranaense, como o caso da soja, milho, leite, frango e suíno. Tal fato é verificado por sua participação em relação ao total da produção, e alguns produtos como o café e algodão, foram perdendo terreno, passando a ser cultivado em larga escala em outros estados. Outros produtos que apresentaram crescimento no período, mas não chegou a se situar entre primeiros da lista, encontram-se o rebanho bovino, cana de açúcar e a mandioca.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer desse trabalho foi possível constatar o dinamismo do setor agrícola paranaense com números expressivos em seu volume de produção. Onde foi capaz de verificar através dos indicadores, a evolução no transcorrer do período, que ao introduzir em conjunto, técnicas modernas de produção, a produtividade dos fatores sofreu constante evolução, como é o caso da produtividade do capital, trabalho, agropecuária, pecuária e lavoura. Isso se deve a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) voltados ao melhoramento genético das sementes, agrotóxicos, fertilizantes e tratores, elevando a eficiência da terra e dos trabalhadores, pelas novas técnicas de manejo do solo e nível de escolaridade da mão de obra empregada no campo.

O índice de Mudança Estrutural revela sinais de tendência à concentração na produção, demonstrando que a participação dos cinco principais produtos está aumentando ao longo do tempo. Assim sendo, o índice de Especialização apresentou tendência de especialização em produtos com caráter comercial de maior integração com a agroindústria, como as commodities, voltadas ao comercio internacional, que possuem um maior valor agregado, cuja produção é intensiva em capital como soja, milho, frango, leite, bovinos e suínos.

Dessa forma, a utilização e desenvolvimento de insumos modernos específicos, como agrotóxicos, fertilizantes e máquinas, que poupam mão de obra por área cultivada, geram ganhos de produtividade que proporciona o crescimento da economia paranaense em seus diversos setores, principalmente nos explicitados pela pesquisa.

Esses resultados evidenciam que mesmo com a redução dos incentivos governamentais, abertura da economia e logo mais a instituição de um plano de estabilização, o Plano Real, o setor conseguiu enfrentar, com dinamismo, as dificuldades dos períodos subsequentes, que foi globalização da economia, com menor proteção e forte competição interna externa. É importante lembrar as duas correntes teóricas que explicam esse

crescimento, no qual a primeira defende a ideia de reestruturação produtiva como principal fator do crescimento da produtividade (mudanças estruturais) destacando a abertura comercial como o principal fator de crescimento da produtividade, e a segunda corrente defendendo que a elevação da produtividade ocorre somente pelas flutuações cíclicas da economia, com preços atraentes, estimulando os investimentos que geram mudanças tecnológicas, não se chega a um consenso como verdade absoluta, mas há evidências que a primeira corrente se tornou relevante no período analisado.

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