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Prezados, abaixo alguns comentários na forma de esquema sobre a matéria: I - TRILOGIA ESTRUTURAL DA CIÊNCIA DO PROCESSO – DA JURISDIÇÃO, DA AÇÃO E DO PROCESSO I.1. DA JURISDIÇÃO A jurisdição consiste na função do estado de eliminar conflitos estabelecidos entre sujeitos de direitos, sendo que esta função é exercida através do processo. I.2 DA AÇÃO Direito público subjetivo, abstrato, de natureza constitucional, de pedir ao estado juiz o exercício da atividade jurisdicional no sentido de solucionar determinada lide. A ação é o direito que qualquer um titulariza para pedir a atuação jurisdicional – tenha ou não razão naquilo que pede, detenha ou não o direito que afirma deter. Então se o juiz julga improcedente o pedido, isso significa que o autor não tinha o direito material alegado, mas recebeu a prestação juridicional. Para Liebman, "Ação é o poder de realizar a condição que põe em exercício o órgão judicante".

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Prezados, abaixo alguns comentários na forma de esquema sobre a matéria:

I - TRILOGIA ESTRUTURAL DA CIÊNCIA DO PROCESSO – DA JURISDIÇÃO, DA AÇÃO E DO PROCESSO

I.1. DA JURISDIÇÃO

A jurisdição consiste na função do estado de eliminar conflitos estabelecidos entre sujeitos de direitos, sendo que esta função é exercida através do processo.

I.2 DA AÇÃO

Direito público subjetivo, abstrato, de natureza constitucional, de pedir ao estado juiz o exercício da atividade jurisdicional no sentido de solucionar determinada lide. A ação é o direito que qualquer um titulariza para pedir a atuação jurisdicional – tenha ou não razão naquilo que pede, detenha ou não o direito que afirma deter. Então se o juiz julga improcedente o pedido, isso significa que o autor não tinha o direito material alegado, mas recebeu a prestação juridicional.

Para Liebman, "Ação é o poder de realizar a condição que põe em exercício o órgão judicante".

Para Carnelutti, "Ação é o direito de obter uma sentença sobre o litígio deduzido no processo".

Para Chiovenda, "Ação é o poder jurídico de realizar a condição necessária para a atuação da vontade da lei".

Para Moacyr Amaral Santos, "Ação, em suma, é um direito subjetivo público, distinto do direito privado invocado, ao qual não pressupõe necessariamente, e, pois, neste sentido, abstrato; genérico, porque não varia, é sempre o mesmo; tem por sujeito passivo o Estado, do qual visa a prestação jurisdicional numa caso concreto. É o direito de pedir ao Estado a prestação de sua atividade jurisdicional num caso concreto. Ou, simplesmente, o direito de invocar o exercício da função jurisdicional".

Para José Frederico Marques, "Ação é o direito de pedir a tutela jurisdicionl do Estado, para ser atendida uma pretensão insatisfeita".

I.3. DO PROCESSO

Conjunto de atos, realizados sob o crivo do contraditório, que cria uma relação jurídica da qual surgem deveres, poderes, faculdades, ônus e sujeições para as artes que dela participam.

I.4 LIGAÇÃO DOS CONCEITOS

O direito de ação põe em movimento a jurisdição através do processo. É no processo que o direito de ação se encontra com a jurisdição. Na medida em que o autor exerce o direito de ação, tem direito a uma resposta do juiz (jurisdição), através de um instrumento técnico, que é o processo.

II. ESPÉCIES DE AÇÕES – CLASSIFICAÇÃO SOB O CRITÉRIO DA NATUREZA DO PROCESSO

Dentro do direito processual, a doutrina usa como ponto de referência, para a classificação, a natureza da tutela jurisdicional invocada, "conforme se trate de tutela jurisdicional de conhecimento, de execução, preventiva ou cautela, se classificam as ações em ações de conhecimento, ações de execução e ações cautelares" na linha dos ensinamentos do mestre Moacyr Amaral Santos.

Essa classificação deve ser acolhida, não só pela sua autoridade, mas também pelo fato de ter o legislador seguido esse caminho.

II.1. Da ação de Conhecimento

Assim, nos termos consagrados pela doutrina ação de cognição ou de conhecimento visa o exame mais completo possível do litígio, com oportunidade ampla de defesa, coleta exaustiva de provas, para que o juiz chegue a uma decisão final de mérito, dizendo na sentença quem tem e quem não tem razão. Da sentença proferida outorgando ou não direito ao Autor, caberá recurso de apelação e posteriormente, eventual recurso especial e extraordinário.

Dessa forma, após o trânsito em julgado da decisão, isto é, após o decurso de prazo de todos os recursos eventualmente cabíveis, poderá a parte que teve seu direito reconhecido iniciar a fase do cumprimento de sentença. A título de curiosidade, vale dizer que até alteração legislativa do ano de 2005, a atual fase de cumprimento de sentença era conhecida como execução de sentença (com suas especificidades e diferenças do novel procedimento).

II.2. Da ação de Execução

Ao lado da Ação de conhecimento, tem-se a ação de execução, instauradora de um processo de execução que visa a efetivação das disposições constantes dos títulos executivos, documentos aos quais a lei, e somente esta, atribui o privilégio da executividade.

Neste tipo de processo é que se verifica com maior clareza o poder de imperium da jurisdição, porquanto desde o início do processo, há pratica de atos que influenciam direitamente no patrimônio do Executado (Réu), in casu, a penhora.

Portanto, se o credor estiver portando um documento que a lei atribui o status da título executivo, e se este título guardar os requisitos da certeza, liquidez e exigibilidade, poderá ingressar com uma ação de execução visando receber seu crédito.

II.3. Da ação Cautelar

Já a ação cautelar, chamada também de tutela preventiva, visa assegurar a efetividade dos efeitos da sentença a ser proferida no processo de cognição ou de execução. Logo, ela só pode ser acessória e provisória, e vigorará enquanto se aguarda a decisão da ação principal.

Assim, qual é a lógica de uma esposa, no âmbito de uma ação de divórcio litigioso, comprovadamente agredida por seu marido, aguardar a sentença da ação residindo com o mesmo debaixo do mesmo teto?

Cabível neste caso, uma ação cautelar de separação de corpos com pedido liminar para que o marido deixa a residência enquanto pender a ação de divórcio ( que ainda será distribuída) para que ao término desta ação (divórcio), a sentença nele proferida tenha eficácia.

II.4. Da Ação de Conhecimento – Comentários complementares

A ação de conhecimento gera, por óbvio, um processo de conhecimento (ou cognição), que o código de processo civil subdivide em 4 ritos, também chamado de procedimentos.

Assim, para que a questão não fique demasiadamente no campo da teoria, torna-se importante diferenciar processo de procedimento.

Assim, como visto, se processo é o conjunto de atos, realizados sob o crivo do contraditório, que cria uma relação jurídica da qual surgem deveres, poderes, faculdades, ônus e sujeições para as artes que dela participam. Procedimento é o conjunto regulador desses atos concatenados, de que se constitui o processo, esteado em disposições legais e que dizem respeito à forma, à sequência, ao lugar, à oportunidade etc..., com que devem eles se desenvolver. O procedimento é noção formal, é o meio pelo qual se instaura, desenvolve-se e termina o processo.

O processo de conhecimento, portanto, pode tramitar sob 4 tipos de procedimentos ou ritos. A lei sempre vai dizer qual é o tipo de rito que a ação deverá tramitar.

São eles o ordinário, sumário, sumaríssimo (ou rito dos Juizados Especiais) e o rito especial.

Tramitarão sob o rito especial, no âmbito da jurisdição comum cível, as causas disciplinadas no livro IV do Código de Processo Civil e em várias legislações esparsas. O referido livro IV e as referidas leis esparsas disciplinam de forma profunda uma série de ações específicas, contendo cada uma seu próprio regramento, inclusive diferentes entre si.

Como exemplo podem ser citadas as ações possessórias de força nova, a ação de despejo, divórcio, alimentos, nunciação de obra nova, consignação em pagamento e etc... .

Tramitarão sob o rito sumário, no âmbito da jurisdição comum cível, as causas disciplinas no artigo 275 e seguintes do Código de Processo Civil, além de algumas ações disciplinas em leis esparsas. Este procedimento possui como característica marcante a concentração de atos, resultando em um rito mais célere que o ordinário.

Para se ter uma rápida ideia e a título de exemplo dessa concentração de atos, nas ações que tramitam sob este rito, deverá o autor na petição inicial arrolar as testemunhas que pretende ouvir na audiência de instrução e julgamento. Em outro rito, caso do ordinário, as testemunhas serão arroladas em momento posterior. Este é um, dos vários exemplos que poderiam ser dados.

Tramitarão sob o rito dos juizados especiais cíveis as causas disciplinadas nos artigos 3º, 4º e 8º, da lei 9.099/95. Embora o legislador utilize o nome “sumaríssimo” somente para os procedimentos criminais disciplinados por essa lei, a praxe forense adotou o rito sumaríssimo como o rito dos juizados cíveis. Porém, tecnicamente não está certo dizer isso.

Dessa forma, pode-se dizer que o rito dos juizados especiais cíveis é o mais célere de todos, porquanto norteado pelos princípios da informalidade, oralidade, simplicidade, enfim, todos os princípios que regem a atuação dos juizados.

Por fim, tem-se o rito ordinário, o menos célere de todos. Aquele que possui a maior quantidade de prática de atos processuais.

Assim, pode-se afirmar que tramitarão sob o rito ordinário as causas que a lei assim determinar e aquelas que não tramitarem sob os outros ritos.

Conclui-se, portanto, que o rito ordinário é um rito, digamos, residual, isto é, aquilo que não tramitar sob o rito especial, sumário ou sumaríssimo, será ordinário, além é claro, das hipóteses em que a lei expressamente assim definir.

III - ESPÉCIES DE AÇÕES – CLASSIFICAÇÃO SOB O CRITÉRIO DA PROVIDÊNCIA BUSCADA PELO AUTOR – CORRENTE QUINÁRIA

III.1. Ação declaratória

A doutrina ensina que a ação declaratória tem a finalidade de obter provimento jurisdicional declarando a existência ou a inexistência de uma relação jurídica, de forma que por esse enunciado postula-se não a condenação, a constituição, mandamento ou execução. Ex, Ação declaratória de União estável. Ação de investigação de paternidade.

III.2. Ação constitutiva

Através desta ação busca-se a pretensão constitutiva, de forma que o titular da ação age buscando um provimento para a constituição ou desconstituição de algo a que entende ter direito, tanto por ato próprio – direito de denúncia, direito de resolução -, quanto através de ato judicial – a sentença -, quanto, ainda, por outra autoridade semelhante ao juiz. Ex: Ação de Divórcio, Ação de Dissolução de Sociedade.

III.3. Ação Condenatória

Pontes de Miranda diz que esta ação supõe que os sujeitos passivos – aquele ou aqueles a quem se dirige a ação -, tenham atuado contra direito e, assim, causando dano, merecendo ser condenados. Exemplo, ação de indenização por danos morais.

III.4. Ação mandamental

Refere-se esta ação à busca de pretensão que determine um fazer ou não fazer. Ex: Ação Possessória, Ação de Obrigação de fazer.

III.4. Ação Executiva

Aquela que é embasada por um título executivo. Assim, aquele que detiver o título que a lei atribui o status de executivo, poderá ingressar com a ação de execução.

Por fim, vale reproduzir os ensinamentos do mestre Pontes de Miranda sobre a identificação da natureza da ação.

"Na vida de estudos diários, intensas, de mais de meio século, nunca encontramos, nem conhecemos qualquer ação ou sentença que não caiba numa das cinco classes – declarativa, constitutiva, condenatória, mandamental e executiva. Não há nenhuma ação, nenhuma sentença, que seja pura. Nenhuma é somente declarativa. Nenhuma é somente condenatória. Nenhuma é somente mandamental. Nenhuma é somente executiva.

A ação somente é declaratória porque a sua é a ação preponderantemente declaratória. Mais se quer que se declare do que se mande, do que se constitua, do que se condene, do que se execute. A ação somente é constitutiva porque a sua carga maior é a de constitutividade. A ação constitutiva é a ação preponderantemente constitutiva. A sentença, que ela espera, mais constitui do que declara, do que manda, do que executa, do que condena.

A ação somente é condenatória porque preponderantemente o é.

A ação condenatória é a ação preponderantemente condenatória.

Mais se pode condenar do que declarar, do que executar, do que constituir, do que mandar.

A ação executiva é ação que, predominantemente executa".

Feitas tais considerações, necessário adentrar no tópico, ELEMENTOS DA AÇÃO.

IV - DA AÇÃO - DOS ELEMENTOS DA AÇÃO – POR QUAL MOTIVO OS ELEMENTOS DA AÇÃO MERECEM SER ESTUDADOS?

Cada ação proposta, considerada em particular, tem certos elementos próprios que a identificam, servindo para isolá-la e distingui-la das demais. Assim, pode-se afirmar que os ELEMENTOS DA AÇÃO Prestam-se à identificação da AÇÃO, pois somente os conhecendo será possível, por exemplo, evitar a sua repetição em juízo.

Logo, A PARTIR DOS MESMOS, torna-se possível identificar a ocorrência da LITISPENDÊNCIA (quando a mesma ação é proposta contemporaneamente a outra idêntica já em curso), ou a coisa julgada, quando a ação repetida já estiver com decisão transitada em julgado.

Ocorrendo a Litispendência ou a coisa julgada, o juiz deverá extinguir o processo (no caso a repetida) sem resolução de mérito (vide artigo 267 CPC).

Conforme discutido em sala de aula, são 3 os elementos da Ação, sem os quais a petição inicial será LIMINARMENTE INDEFERIDA.

São eles:

A) Partes;B) Causa de Pedir;C) Pedido (objeto)

Nas causas que tramitam perante a jurisdição comum civil, os elementos da ação estão disciplinados no artigo 282, incisos II, III e IV do Código de Processo Civil. Tal artigo e incisos, embora se refiram, como dito, aos elementos da ação, são indicados pelo legislador do código como REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL. VALE DIZER QUE OS DEMAIS REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL PREVISTOS NOS DEMAIS

INCISOS DO ARTIGO 282 NÃO SÃO ELEMENTOS DA AÇÃO, MAS APENAS REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL, VEJA-SE:

Art. 282. A petição inicial indicará:

I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV - o pedido, com as suas especificações;

V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII - o requerimento para a citação do réu.

ASSIM, REMATANDO, OS TRÊS ELEMENTOS DA AÇÃO ASSIM DENOMINADOS PELA DOUTRINA SÃO, POR FORÇA DO ARTIGO 282, REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL (INCISOS II,III E IV), MAS OS DEMAIS INICISOS, EMBORA REQUISITOS DA INICIAL, NÃO SÃO ELEMENTOS DA AÇÃO.

No âmbito penal, os elementos da Ação Penal estão disciplinados no artigo 41 do CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, veja-se:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

No âmbito da jurisdição especial do trabalho, os requisitos da petição inicial estão disciplinados no artigo 840 da CLT, veja-se:

Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.

§ 1º - Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do Presidente da Junta, ou do juiz de direito a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e do reclamado, uma breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante.

§ 2º - Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em 2 (duas) vias datadas e assinadas pelo escrivão ou secretário, observado, no que couber, o disposto no parágrafo anterior.

IV.1 Das Partes

São as pessoas que participam do contraditório perante o Estado-Juiz. Para Giuseppe Chiovenda, parte é aquele que demanda em seu próprio nome a atuação da vontade da lei (autor), e aquele em face de quem essa atuação é demandada (réu).

Assim, na ação há dois sujeitos, que são os mesmos da lide a que visa compor, um sujeito ativo, autor, e outro sujeito passivo, o réu, aos quais são abrangidos pela denominação jurídica de partes.

Porém, conforme adiante demonstrado, não basta ser parte, tem que ser legítima!!!!!!!!!!

DA AQUISIÇÃO DA QUALIDADE DE PARTE – QUANDO O AUTOR SE TORNA AUTOR E QUANDO O RÉU SE TORNA RÉU (DO PONTO DE VISTA TÉCNICO)

A) AUTOR: PROPOSITURA DA AÇÃO;B) RÉU: CITAÇÃO VÁLIDA

IV.2. PRINCÍPIOS DO PROCESSO INERENTES ÀS PARTES

INÉRCIA – O processo se inicia por iniciativa da parte (Autora) e se desenvolve por impulso oficial.

DUALIDADE: As partes, necessariamente, devem ocupar posições antagônicas;

ISONOMIA OU IGUALDADE DAS PARTES - ver artigo 125 CPC

Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

IV.3. DA CAUSA DE PEDIR

Nos dizeres de Antônio Carlos Barbosa Moreira, encontrar a causa de pedir de determinada ação é responder à seguinte pergunta: “Por qual o motivo o autor buscou a tutela jurisdicional?”.

A resposta, na linha dos ensinamentos do ilustre mestre é a causa de pedir da ação.

LEMBREM-SE QUE, PARA CADA PEDIDO FORMULADO NA AÇÃO, DEVERÁ SER APONTADA A RESPECTIVA CAUSA DE PEDIR. ASSIM, OS PEDIDOS QUE ESTIVEREM DESACOMPANHADOS DA RESPECTIVA CAUSA DE PEDIR, SERÃO CONSIDERADOS INEPTOS.

Se a ação contiver apenas um pedido, desacompanhado da causa de pedir, a petição inicial será indeferida por ser inepta (INÉPCIA DA INICIAL ART. 295 CPC).

DESSA FORMA, CASO A PARTE FORMULE DOIS PEDIDOS EM SUA AÇÃO, CADA UM DELES DEVERÁ CORRESPONDER A UMA CAUSA DE PEDIR AINDA QUE A CAUSA DE PEDIR SEJA A MESMA, SENÃO VEJA-SE O EXEMPLO ABAIXO:.

Diante de uma ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança dos aluguéis em atraso, qual seria a causa de pedir?

Na linha do que foi exposto, deve ser perguntado, por qual motivo o Autor pretende o despejo do Réu e o recebimento dos valores?

A causa de pedir ou a resposta da pergunta seria: A ação foi proposta em razão do autor possuir um contrato de locação com o Réu que não vem sendo honrado pelo último, e que, diante deste fato, cabível nos termos da lei seu despejo. Pela mesma razão, isto é, pela existência do contrato e pela inadimplência, cabível será a cobrança dos valores.

Neste caso a causa de pedir de ambos os pedidos é idêntica. Porém, em outros casos, como por exemplo numa ação de reintegração de posse cumulada com pedido de indenização por perdas e danos, as causas de pedir dos pedidos são diferentes.

Ora, busca-se a tutela possessória em razão da perda da posse (esbulho); busca-se a indenização em razão dos danos causados pelo invasor do imóvel.

Vê-se, portanto, que a causa de pedir, também chamada de causa petendi é composta por razões de ordem fática e também por razões de ordem jurídica. No exemplo do despejo, as razões de ordem fática são representadas pela existência

de um contrato de locação e pelo inadimplemento do mesmo. Os fundamentos jurídicos são representados pela previsão em lei do cabimento do pedido na hipótese de não pagamento dos aluguéis.

Afinal, como sabido, o direito, ou mesmo a lei, existem em virtude de fatos relevantes, e não para tratativa de meras hipóteses abstratas. Ou seja, a lei é abstrata, mas serve para regular situações concretas.

É por isso que o primeiro elemento da causa de pedir é o fato (jurídico) que justifica a recorrência ao judiciário, in casu, a relação jurídica (no exemplo a existência de contrato de locação e o inadimplemento).

Porém, não basta suscitar os fatos e entrar com a ação. É preciso que ao fato seja agregado a um fundamento jurídico. PORÉM, QUE FIQUE CLARO QUE OS FUNDAMENTOS NÃO SÃO NECESSARIAMENTE OS ARTIGOS E DEMAIS DISPOSIÇÕES LEGAIS!!!!!. Há outras fontes de Direito (doutrina, jurisprudência, costume etc..) que acabam por servir de sustentáculo ou sustentação (fundamento jurídico) das alegações da parte.

Vejam o exemplo do chamado mensalão (Ação Penal 470), amplamente divulgado pela mídia. Vejam que o Ministério Público pretendia a condenação de um Réu que, embora não tivesse praticado diretamente as ações ilícitas, era considerado pela acusação como mentor intelectual de todo o esquema.

Na falta de dispositivos específicos para fundamentar a acusação, apoiou-se o Ministério Público em uma teoria, chamada de teoria do domínio do fato, não expressa em lei.

Este é apenas um dos milhares de exemplos que poderiam ser dados, já que não é incomum situações em que, tanto o autor, como o juiz, necessitam se apoiar numa determinada

corrente jurisprudencial ou doutrinária, quiçá contrária à letra da lei para fundamentar seu pedido ou sua decisão.

Nestes casos, embora tais alegações sejam fundamentos jurídicos, não são, por óbvio, consideradas texto de lei. Logo, apontar o fundamento jurídico de uma ação não é a mesma coisa de apontar um dispositivo legal.

Dessa forma, diante da constatação de que a causa de pedir é fruto da conjugação de dois elementos (fatos e fundamentos), estabeleceu-se na doutrina a distinção entre uma causa de pedir próxima e uma causa de pedir remota. Ambas, em conjunto, formam a causa de pedir da ação.

A causa de pedir remota é identificada como “fato gerador do direito pretendido”. A causa de pedir próxima, é associada ao fundamento jurídico, ou com “a natureza do direito controvertido, o fundamento jurídico geral”, isto é, relaciona-se com a situação ou condição jurídica invocada.

Dessa forma, no exemplo do despejo, a causa de pedir remota seria a relação jurídica existente entre as partes (existência de um contrato de locação) bem como o inadimplemento desse contrato. FATO = REMOTA

A causa de pedir próxima seria a consequência jurídica extraída da lei que autoriza o despejo, que é o próprio despejo.

A título de lembrete é preciso dizer que para verificação da similitude de ações também é exigido que a causa de pedir próxima e remota sejam idênticas, senão veja-se o exemplo:

LOCADOR “A” PROPÕE CONTRA O LOCATÁRIO “B” AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO. EM SEGUIDA, PORTANTO, NO CURSO DA PRIMEIRA AÇÃO, OUTRA DEMANDA É PROPOSTA PELO MESMO “A” CONTRA O MESMO “B” COM A MESMA PRETENSÃO

(DESPEJO), DESTA VEZ POR DESCUMPRIMENTO DE OUTRA CLÁUSULA CONTRATUAL (FALTA DE CONSERVAÇÃO DO IMÓVEL, v.g.,). Neste caso não haverá identidade de ações propostas concomitantemente, já que a causa de PEDIR REMOTA em ambas as situações são DISTINTAS. Temos, isso sim, o fenômeno da CONEXÃO, devendo ambas as ações serem processadas e julgadas perante o mesmo juízo.

Esta discussão é originária do debate entre a teoria da substanciação e a teoria da individuação.

Segundo Nelson Nery Júnior, ambas tiveram sua origem na Alemanha, estando hoje a teoria da individualização em declínio. Segundo o doutrinador, para esta teoria, a exposição da causa petenti marca-se pela identificação, na inicial, da relação jurídica da qual o autor extrai certa consequência jurídica”. Vê-se, portanto, que tal teoria despreza a necessidade de exposição dos fundamentos, mas somente dos fatos.

Já para a teoria da substanciação, adotada pelo direito brasileiro, constituem os fundamentos da demanda o conjunto de fato em que o autor baseia a ação.

A identificação da causa de pedir tem relevância na delimitação do conteúdo da sentença. Assim, vigendo o princípio da adstrição, e estando o juiz adstrito ao pedido do autore à causa de pedir, tem-se que “ a petição inicial define a causa, de modo que fundamento jurídico não descrito não pode ser levado em consideração, mesmo porque a causa de pedir é um dos elementos que identificam a causa, não podendo ser modificada sem o consentimento do réu, após a citação. Tal pontuação, todavia, não vale para o fundamento legal.

LOGO, CONCLUI-SE QUE FUNDAMENTO JURÍDICO É DIFERENTE DE FUNDAMENTO LEGAL. ASSIM, PODE OCORRER QUE A PARTE, AO INGRESSAR COMUMA AÇÃO, AFIRME SER DETENTORA DE ALGUM DIREITO CONFORME ARTIGO X DA LEI Y.

Porém, ao julgar a lide, é possível que juiz entenda que a parte autora, de fato faz jus ao direito pleiteado, porém, em virtude de outro dispositivo legal que não o anteriormente invocado.

Neste caso, não se trata de alteração da causa de pedir próxima por parte do magistrado (o que é vedado) por não ser esta o dispositivo legal. Logo, isso poderá ocorrer.

V - DO PEDIDO

O pedido é a conclusão lógica dos fatos e fundamentos expostos na inicial. É o objeto da ação, é a demonstração da pretensão do autor, pois expressa o desejo de recebimento de um provimento jurisdicional que seja apto a resolver a questão conflituosa levada a juízo.

Também conhecido como objeto da ação, pode-se afirmar que é através do pedido que o autor da ação requer ao judiciário o bem da vida cuja pretensão ele defende, é o seu veículo em posse de outro, dívida não adimplida, aluguel não pago dentre vários.

O pedido nada mais é do que a exteriorização da intenção daquele que ingressa com uma demanda no judiciário, é a materialização de sua pretensão, é o que ele pretende que lhe seja outorgado, reconhecido ou ainda constituído. Segundo a lei, deve ser claramente demonstrado na petição inicial.

Afinal, não é outro o entendimento da lei, senão veja-se o disposto no artigo 286 do Código de Processo Civil:

Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:

I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;

II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato ilícito;

III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.

A par daquilo que está expressamente disposto no caput do artigo 286, entende a doutrina e jurisprudência que os requisitos, certeza e determinação, são cumulativos e não excludentes como faz parecer a letra da lei. Logo, a correta dicção do artigo seria “o pedido deve ser certo e determinado”, não “certo ou determinado”.

Entende-se como certo aquele pedido que é expresso, isto é, que não é implícito. Por determinado entende-se aquele pedido cuja pretensão esteja limitada, isto é, que não seja indeterminado.

Ocorre que, como o próprio artigo preceitua, somente nas hipóteses previstas nos incisos do artigo 286 é que o Autor estará autorizado a desobedecer a regra da certeza e determinação de seu pedido. Em qualquer outro caso o pedido deverá ser certo e determinado, sob pena de ser considerado inepto.

A inépcia, como visto, pode atingir a petição inicial integralmente, resultando na extinção do processo. Poderá se referir, porém, a apenas um dos pedidos. Neste caso o processo é extinto em relação àquele determinado pedido inepto, prosseguindo em relação àqueles que não forem.

Ocorre que os temas envolvendo o instituto “pedido” são amplos e inúmeros. Assim, para adequar o presente estudo à capacidade de compreensão dos senhores, passa-se a tratar da classificação dos pedidos, sendo necessário para tal fim a observância de alguns critérios.

Dessa forma, voltando no tema dependendo da natureza deste pedido é possível ter um pedido cautelar, cognitivo ou pedido de natureza executiva, vai depender da natureza do provimento desejado pelo autor da ação. (processo de conhecimento, execução ou cautelar).

Ocorre que, assim como a causa de pedir, um único pedido se desdobra em dois conceitos distintos.

Como exemplo, veja o seguinte pedido extraído de uma ação qualquer:

Diante do exposto requer o Autor a condenação do Réu ao pagamento de x mil reais a título de indenização por danos morais advindos do abalo sofrido em razão da inscrição indevida constante da SERASA S.A.

Mediante uma análise do pedido supra é possível extrair que o Autor pretende, em verdade, duas providências, ligadas é verdade, mas acima de tudo duas providências. A primeira delas é a condenação. A segunda delas é o pagamento da quantia x, ou seja, o bem da vida perseguido.

O primeiro é o chamado pedido imediato, ligado a natureza da pretensão do autor, pode ser declaratória, constitutiva, mandamental, condenatória ou executiva.

Discorre o desembargador mineiro Elpídio Donizetti a respeito do pedido imediato como elemento essencial da ação:

Desdobra-se o pedido em imediato que é a providência ou o tipo de tutela jurisdicional solicitada pelo autor, e pedido mediato, que constitui o bem jurídico pretendido. (DONIZETTI, 2009, p.40)

Em síntese exemplificativa temos que em uma ação de cobrança, a condenação ao pagamento constitui o pedido imediato (relacionado ao direito processual), ao passo que o recebimento do crédito constitui o pedido mediato (relaciona-se com o direito material).

Em uma ação de despejo, tem-se que o pedido imediato é a determinação (providência mandamental) da desocupação compulsória que é o mediato.

Tecidas tais considerações, fala-se neste momento das condições da ação.

V - DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO.

Para melhor explanação do tema, necessário recorrer aos ensinamentos do mestre José Roberto dos Santos Bedaque:

Falar em condições da ação, que se situam no plano do dever-ser, é considerar as situações tutelandas e, a partir delas, a ação, para verificar se a tutela pleiteada é, em tese, possível.

(...)Muitas vezes o exame superficial da relação material posta pelo demandante na petição demonstra que seu pedido é inviável, pois está ele pleiteando algo que o ordenamento jurídico veda expressa ou implicitamente.(“in” Direito e Processo – Influência do Direito Material sobre o Processo, 4ª. ed., editora Malheiros, 2006, São Paulo, pág. 86)

(...)

Vê-se, portanto, que as condições da ação são requisitos que devem estar presentes de forma cumulativa, sob pena de ser o autor considerado carecedor de ação.

Portanto, a carência de ação ocorre quando faltar a ação uma, duas ou todas as suas condições, quais sejam LEGITIMIDADE DAS PARTES, POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO E INTERESSE DE AGIR, ESTE ÚLTIMO TAMBÉM CHAMADO DE INTERESSE PROCESSUAL.

V.1 Da legitimidade ad causam (para a causa)

Falando de legitimidade, tem-se que a mesma deve estar presente tanto na pessoa do autor como na pessoa do réu. Sendo o autor, o Réu ou ambos ilegítimos, deverá a ação ser extinta sem resolução de mérito por ilegitimidade ativa (no primeiro caso e ilegitimidade passiva no último).

Para José Roberto do Santos Bedaque:

Da mesma forma, é possível que a cognição superficial da relação substancial revele que o autor, ou o réu, não ocupa nenhum de seus pólos. Isto é, um deles ou ambos não participam daquela situação da vida da qual o autor pretende extrair uma conseqüência jurídica... Nessa medida, ou o autor não pode pleitear direito de uma relação da qual não faz parte, ou o réu não está sujeito aos efeitos daquela relação. Se tal circunstância fica evidenciada com o exame da situação posta na inicial, permiti-se que o juiz diga desde logo que o autor não tem direito decorrente da relação jurídica por ele descrita, ou o réu não tem obrigação, por não estar vinculado a ela.(“in” Direito e Processo – Influência do Direito Material sobre o

Processo, 4ª. ed., editora Malheiros, 2006, São Paulo, pág. 87)

V.2. Do Interesse Processual

Nesse sentido, a advertência de NELSON NERY JUNIOR:

"Existe interesse processual quando a parte tem necessidade de ir a juízo para alcançar a tutela pretendida e, ainda, quando essa tutela jurisdicional pode trazer-lhe alguma utilidade do ponto de vista prático. Movendo ação errada ou utilizando-se do processo incorreto, o provimento jurisdicional não lhe será útil, razão pela qual a inadequação do processo acarreta a inexistência de interesse processual." ("in" Código de Processo Civil comentado, 6ª ed., São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 2002, pág. nº 594)

Sobre o tema, ALEXANDRE FREITAS CÂMARA leciona:

"O interesse de agir é verificado pela presença de dois elementos, que fazem com que esse requisito do provimento final seja verdadeiro binômio: ‘necessidade da tutela jurisdicional’ e ‘adequação do provimento pleiteado’. Fala-se, assim, em ‘interesse-necessidade’ e em ‘adequação do provimento pleiteado’. A ausência de qualquer dos elementos componentes deste binômio implica ausência do próprio interesse de agir.

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Não basta, porém, que a ida a juízo seja necessária para que o interesse de agir esteja presente. É mister, ainda, que haja, o interesse-adequação, ou seja, é preciso que o demandante tenha ido a juízo em busca do provimento adequado para a tutela da posição jurídica de vantagem narrada por ele na petição inicial, valendo-se da via processual adequada." ("in" Lições de Direito Processual

Civil, vol. 1, 6ª edição, ed. Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2001, pág. 111)

V.3. Da Possibilidade Jurídica do Pedido

HUMBERTO THEODORO JÚNIOR ao discorrer sobre possibilidade jurídica do pedido:

"Pela possibilidade jurídica, indica-se a exigência de que deve existir, abstratamente, dentro do ordenamento jurídico, um tipo de providência como a que se pede através da ação. Esse requisito, de tal sorte, consiste na prévia verificação que incumbe ao juiz fazer sobre a viabilidade jurídica da pretensão deduzida pela parte em face do direito positivo em vigor. O exame realiza-se, assim, abstrata e idealmente, diante do ordenamento jurídico." ("in" Curso de Direito Processual Civil, Vol. 1 39ª edição, editora forense, Rio de Janeiro, 2003, pág. 50)

É ISSO AÍ!!!! BONS ESTUDOS PARA TODOS