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Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018.
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Viabilidade econômica de diferentes agroecossitemas em unidades de
produção familiares: estudo de caso para Iperó-SP e Ibiúna-SP
Henrique Ryosuke Tateishi; Fernando Silveira Franco; Eduardo Rodrigues de Castro;
Aline Roja Holmos
Universidade Federal de São Carlos - Campus Sorocaba
Grupo de Pesquisa: GT4. Questão ambiental, agroecologia e sustentabilidade
Resumo
Este trabalho analisou a viabilidade econômica de produção com base nos sistemas
agroflorestal, orgânico (não agroflorestal) e convencional, concentrando em estudos de casos
em propriedades familiares de Ibiúna e Iperó. A metodologia foi a avaliação de viabilidade
econômica de projetos e considerou analisar a estrutura de custos e as receitas das
propriedades, indicadores de viabilidade econômica de projetos, produtividade total dos
fatores e a razão de rentabilidade e produtividade entre os três sistemas analisados. Um dos
principais resultados mostrou que a substituição dos fatores terra, capital e trabalho são
imperfeitos, sendo que, como os produtores agroflorestais são mais intensivos em mão de
obra em alguns casos houve uma subutilização da área total da propriedade pela falta de mão
de obra disponível, por exemplo. Os resultados apontaram que os sistemas agroflorestais são
tão viáveis quanto os outros sistemas e, em algumas situações, mais rentáveis. Em relação à
produtividade, o valor da produtividade por hectare nos sistemas agroflorestais foram os
maiores. Contudo, ainda persistem outras dificuldades econômicas para os produtores,
incluindo sua transição econômica para práticas agroecológicas.
Palavras-chave: Agricultura Familiar. Agroecologia. Produtividade Total dos Fatores. Razão
de Rentabilidade.
Abstract
This paper has proposed to analyze the economic feasibility of production by agroforestry,
organic and not agroforestry and conventional systems, focused in cases from family farms in
Ibiúna and Iperó. It uses the economic viability methodology and considered the cost
structure and the income of each unit, economic feasibility indicators, total factor
productivity and the ratio of profitability and productivity between the three analyzed
systems. One of the main results has shown that the substitution of labor, land and capital are
imperfect; in example, the agroforestry producers are more labor intensive, that caused, in
some cases, an underutilization of total available land due to scarcity of labor force. The
results pointed out that agroforestry systems are equally feasible compared with the other two
and can be even more profitable. The productivity per hectare in agroforestry systems were
the most significant. Nevertheless, farmers still face some difficulties, including the economic
transition to agroecological practices.
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Key words: Family Farms. Agroecology. Total Factor Productivity. Profitability Ratio.
1. Introdução
Os sistemas de produção sustentáveis têm sido objeto de discussão no Brasil e em
nível internacional ao passo que aumenta a demanda mundial e nacional por alimentos
produzidos de forma sustentável. Esses sistemas estão à disposição do produtor e podem
elevar a sua competitividade no cenário externo e interno, contribuindo para a segurança
alimentar e energética do país, o que salienta a importância da adoção destas ferramentas.
(EMBRAPA & MAPA, 2013).
Nessa linha, os sistemas de agricultura alternativos, como os sistemas agroflorestais e
os sistemas de produção orgânicos (DULLEY, 2003), propõem uma nova tecnologia de
produção que integrem o modo de produção às restrições ambientais, minimizando danos ao
meio ambiente, como poluição do solo e dos lençóis freáticos devido ao uso de insumos
químicos, seja pequena, média ou grande propriedade (ASSIS; ROMEIRO, 2002). Portanto,
destaca-se a importância de se analisar esses sistemas de produção alternativos no âmbito
econômico, analisando a sua viabilidade e identificando eventuais gargalos existentes nesses
sistemas de produção.
É importante salientar que existe uma diferença entre os sistemas agroflorestais e os de
produção orgânica, apesar de ambos serem práticas da agroecologia, de forma que não se
utiliza insumos sintéticos ou agroquímicos, como adubos químicos, fertilizantes e defensivos.
Os sistemas agroflorestais são aqueles que apresentam uma policultura consorciada,
envolvendo uma associação de espécies arbóreas, cultivos agrícolas e possivelmente da
pecuária, na mesma área, com a premissa de que, desta forma, aumente a produtividade
(MEDRADO, 2000). Para a agricultura orgânica, porém, não é necessária a policultura
consorciada, a monocultura ou a policultura não consorciada podem ser usadas (DULLEY,
2003), caracterizando um processo de substituição de insumos químicos por orgânicos, mas
com pouca ênfase em aspectos ecológicos como a biodiversidade do sistema que pode levar a
um maior equilíbrio, no que diz respeito às pragas e doenças.
A agroecologia é uma ciência introduzida a partir de 1970 e não deve ser entendida
como uma prática agrícola, pois, como ciência, busca compreender o relacionamento ente os
ecossistemas e a atuação antropogênica nestes, propondo uma intervenção sustentável
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economicamente, ecologicamente e social do ser humano no ecossistema a partir de práticas
de agricultura alternativas (ASSIS; ROMEIRO, 2002).
A unidade básica de estudo na agroecologia é o agroecossistema, como é o
ecossistema na ecologia. Desta forma, quando falamos de um sistema agroflorestal, um
sistema orgânico e um sistema convencional, todos são considerados agroecossistemas, e seu
estudo, engloba não somente aspectos biológicos e físicos, mas também sociais, econômicos e
culturais (PASSOS, PIRES, 2008).
Em relação à importância econômica, esta deriva do conceito de sustentabilidade, que
segundo Romeiro (2003), pela corrente da sustentabilidade forte, denominada também de
economia ecológica, propõe que o sistema econômico é um subsistema de um todo maior que
o contém, este, impõe uma restrição absoluta à sua expansão. Logo, é fundamental que se
aumente a eficiência da utilização dos recursos (inclusive os naturais), na lógica de curto
prazo através do progresso científico e tecnológico. No longo prazo, a sustentabilidade
econômica não é possível sem a estabilização do consumo per capita de acordo com a
capacidade de carga do planeta.
Ainda nesta corrente, é importante salientar que não só os aspectos econômicos sejam
satisfeitos, pois isto resulta em uma marginalização de aspectos sociais, em determinados
casos. Por isso, é necessário que o rigor metodológico e o desenvolvimento científico sejam
interdisciplinares, considerando aspectos ecológicos, econômicos e sociais. Assim, por
exemplo, aliar estudos sobre a capacidade de suporte do ambiente em conjunto com a
definição de padrões de segurança para grupos locais (ROMEIRO, 2003).
Segundo Altieri (1998) sistemas de produção sustentáveis são aqueles que mantêm em
equilíbrio plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade, entre outros organismos coexistentes
em tolerância a estresses e adversidades, onde podem prevalecer e se desenvolver. Este
sistema de agricultura propõe alternativas para o manejo de culturas de formas sustentáveis
ecologicamente, com a responsabilidade sobre os recursos naturais.
No que concerne à situação social, segundo Alves e Rocha (2010), considerando que
os pequenos e médios agricultores não possuem a tecnologia nem o capital necessários para
produzirem em larga escala, como os grandes do agronegócio, a dependência financeira
destes produtores em relação aos grandes fornecedores de insumos pode contribuir para que o
custo médio unitário desses pequenos produtores seja maior. Com isso, haveria uma redução
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da margem de lucro no curto prazo, tornando a produção economicamente insustentável no
longo prazo, além de reproduzir um sistema cíclico de concentração de renda e
marginalização da agricultura familiar.
De acordo com Alves e Rocha (2010:276), apesar de todo o dinamismo do
agronegócio brasileiro, o valor bruto da produção é concentrado. Com base nos dados do
Censo Agropecuário de 2006, os autores mostram que 423.689 estabelecimentos (8,19% do
total dos 5.175.489 estabelecimentos) produziram dez ou mais salários mínimos (SM)
mensais. Eles geraram 84,89% do valor da produção total, considerando-se a soma da
produção vendida e o autoconsumo”.
Esses dados demonstram que a maioria dos produtores está à margem da
modernização cunhada pela adoção de tecnologias e estruturas produtivas de alta
produtividade que, na maioria das vezes, requerem valores altos de investimentos que muitos
produtores não têm. Podemos salientar as práticas utilizadas na Revolução Verde, que,
baseadas na mecanização agrícola, sementes e animais com modificação genética e insumos
industrialmente produzidos, provocaram consequências como endividamento dos agricultores
(ASSIS & ROMEIRO, 2002).
Em vista dessa realidade, é importante que se crie alternativas para a agricultura
praticada nas pequenas propriedades, sendo que a agroecologia e suas práticas podem vir a ser
uma dessas alternativas, em função de suas características, especialmente no que diz respeito
a uma maior demanda por mão de obra rural, de maior valor. Uma vez que esta surgiu em
contraposição às produções advindas da revolução industrial e posteriormente implementadas
pela Revolução Verde, que criou um grau de dependência entre o produtor e o consumidor de
insumos (ALTIERI, 1998).
Os sistemas alternativos apresentam técnicas como práticas de adubação verde,
adubação orgânica e adubação mineral essencialmente tradicional e natural, produzido por
produtores diversos, incluindo o próprio dono da propriedade, pois não necessitam de alta
tecnologia. Isso contribui para uma menor dependência dos produtores em relação aos
grandes fornecedores de insumos (WEINÄRTNER et al., 2006)
Diversos trabalhos têm analisado aspectos relacionados à agricultura agroecológica,
focando principalmente nos aspectos agronômicos, como: estudos de regeneração da
biodiversidade, de aumento na fertilidade do solo, contribuição para a preservação de
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mananciais, rios e lagos, entre outros trabalhos desenvolvidos. No entanto, existe uma
carência de estudos econômicos em relação à produção nesses sistemas.
Nascimento et al. (2011) realizaram um estudo no município de Cananeia-SP cuja
população se sustenta por meio de atividades extrativas e da agricultura. A produção da
comunidade caiçara é de policultura, com cerca de 20 espécies de plantas, sejam lavouras
perenes ou temporárias, em uma área de 16 ha. O plantio destas é realizado em consórcio,
caracterizado pelo sistema agroflorestal, de modo que a ciclagem dos nutrientes e os serviços
ecossistêmicos provenientes deste sustente a produção sem a utilização de insumos
artificialmente produzidos e melhore sua produtividade. Percebe-se, com base nesse exemplo,
que é possível reduzir os custos com insumos e serviços. No entanto, deve-se analisar também
a receita obtida a partir desse sistema de produção, ressaltando a importância da análise de
viabilidade econômica desse sistema produtivo.
Um segundo caso ilustra um sistema orgânico e não agroflorestal no submédio do vale
do São Francisco no cultivo de manga Tommy Atkins, realizado por Britto (2010), com seis
produtores orgânicos certificados e outros vinte convencionais, através de questionários
diferenciados. Este difere do caso anterior ao estudar a viabilidade em médias e grandes
propriedades, de 80 a 120 ha. Adicionalmente, o plantio da manga é realizado por meio da
monocultura, com acesso à infraestrutura e tecnologias modernas de irrigação.
Ao se analisar a rentabilidade financeira da produção convencional e orgânica, foram
observados: o payback para a manga convencional é menor (2,25 meses) e para a manga
orgânica é, portanto, maior (9,37 meses); o Valor Presente Líquido para a manga
convencional é de R$ 24.846,70 e para a manga orgânica, R$ 46.998,11, calculados a partir
de uma taxa de 10% ao ano; a Taxa Interna de Retorno da manga convencional foi de 33,90%
e da manga orgânica, 35,32%. Concluindo que a manga convencional apresenta um retorno
mais rápido do investimento, porém a agricultura orgânica apresentou uma maior
rentabilidade no longo prazo (BRITTO, 2010).
Além do aspecto produtivo considerado nos estudos de caso citados, deve-se
considerar ainda o nicho de mercado que está se desenvolvendo com o advento da
agroecologia. As crescentes oportunidades de inserção nesse mercado se dão por alguns
fatores, citados por Campanhola e Velarini (2001), como o aumento da preocupação dos
consumidores em relação à saúde e bem estar e influência do movimento ambientalista. É
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importante salientar a atuação das cooperativas nesse processo, pois facilitam a inserção do
agricultor familiar no mercado, oferecem apoio e assistência a eles, seja por meio de cursos
especializados e/ou assistência técnica, o que auxilia na viabilidade da produção alternativa
(FINATTO e CORRÊA, 2010).
Nesse aspecto, a criação do Programa Nacional de Alimentação Escolar pela Lei
11947/2009, ilustra como a abertura de um novo mercado contribui para o escoamento da
produção familiar. Esquerdo et al. (2014) realizaram um estudo de caso para averiguar como
o cumprimento desta Lei estava sendo organizado no município de Atibaia-SP1 e quais as
consequências para os envolvidos no programa. O contrato entre as entidades governamentais
do município e os agricultores familiares determinava a aquisição de uma cesta de bens com
31 produtos alimentícios – dos quais 10 eram orgânicos – de 51 produtores familiares, da
cooperativa Entre Serra e Águas. Este projeto contribuiu com o aumento da produção das
culturas orgânicas e garantiu a compra dos produtos, de forma que houve uma menor perda da
produção.
Portanto, a hipótese deste trabalho suporta a ideia de que os diferentes
agroecossistemas apresentados, os quais, o sistema agroflorestal, o sistema orgânico e o
sistema convencional apresentam potencial de serem viáveis economicamente. O trabalho não
pretende qualificar ou ranquear o melhor modo de produção, uma vez que o sistema estudado
se encontra em uma região específica e com circunstâncias diferentes de outros locais. A
escolha do sistema de produção seja esta convencional, orgânica ou agroflorestal devem ser
escolhas dos produtores, que variam seus métodos juntamente com sua localização
geográfica, uma vez que a agricultura em si está diretamente relacionada com os fatores
específicos de determinadas regiões, as quais serão descritas a seguir.
2. Metodologia
Caracterização dos locais de pesquisa
Foram escolhidas propriedades de agricultura familiar da região de Iperó e Ibiúna no
estado de SP, para se realizar entrevistas semiestruturadas através de dois tipos de
questionários: o primeiro sobre a estrutura dos custos de produção e o segundo, sobre as
receitas da produção, ambos mais bem detalhados na seção seguinte.
1 O município de Atibaia-SP foi o primeiro município a colocar a lei em prática.
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A primeira região consiste no Assentamento Fazenda Ipanema, reconhecido em 1998
pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que ocupa 1601 hectares da
Fazenda Ipanema - 23º25’S 47º34’W (CASTRO, 2007). Esta área abrange produtores que se
utilizam de sistemas agroflorestais e há produtores convencionais na região, possibilitando
inferências “coeteris paribus” no que diz respeito ao clima (sub-tropical) e vegetação
(complexa de transição de Floresta Estacional Semidecidual para cerrado).
A segunda região apresenta similaridade em relação ao clima e vegetação e
possibilitou aplicar a metodologia para outro grupo de produtores, caracterizados como
agricultores familiares, mas não assentados da reforma agrária. Além disso foi possível
entrevistar produtores orgânicos que não se utilizam do sistema agroflorestal, possibilitando
realizar inferirências em relação aos três sistemas de produção.
A produção no assentamento consiste principalmente em algumas culturas perenes de
frutas e hortaliças, optando pela diversificação de culturas, cujas principais culturas comuns
entre os agricultores, foram: banana, feijão, mandioca, hortaliças em geral, citros, cana-de-
açúcar e criação de galinhas. Em se tratando de Ibiúna-sp, a região considerada foi
principalmente o Bairro do Piaí e arredores (23º45’S 47º12’W). A produção é semelhante e se
concentra em hortaliças, mandioca, banana e feijão.
Para os sistemas alternativos, o que os caracteriza é a adoção de práticas de adubação
usando recursos da propriedade como a adubação verde e compostagem orgânica de esterco
animal. Em alguns casos, tais práticas não apresentam um valor de mercado específico, uma
vez que são consideradas técnicas e práticas, como o plantio de leguminosas apenas para
adubação por fixação biológica de Nitrogênio, que foram contabilizados pelo valor do
processo de produção, em outros casos, como no uso de esterco da própria propriedade ou
comprado de fora, existe um valor de mercado e este foi contabilizado.
Para os sistemas convencionais, os fertilizantes são de origem inorgânica, produzidos
através de laboratórios e indústrias, geralmente são proporções de uma mistura de Nitrogênio,
Fósforo e Potássio, denominando-os de fertilizantes N-P-K. Outros utilizados são: Nitrato de
amônia, Fósforo e Magnésio (ARCHIPAVAS, 2013), sendo o seu custo cada vez mais
elevado devido à exaustão das fontes minerais, distância de transporte e o custo de produção
Os defensivos e agrotóxicos utilizados pelos sistemas convencionais apresentam uma
vantagem em termos de seu manuseio, incluindo uma redução da necessidade da mão de obra,
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mas por outro lado, sua aquisição pode representar um custo elevado para os produtores. Os
principais utilizados no estado de São Paulo são os inseticidas, dos grupos químicos de
organofosforado, piretróide e biológicos e os moluscicidas (SUCEN, 2000-2001).
É importante salientar que os produtores desta região participam de dois projetos
governamentais. Um deles é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado pela lei
10696/2003 (BRASIL, 2003), artigo 19º, que garante a compra de uma variedade de produtos
até o total de 8 mil reais por propriedade. O principal objetivo deste programa é incentivar a
agricultura familiar dos grupos enquadrados no Pronaf, que é o caso de parte dos produtores
de Iperó-SP. O Outro programa é estabelecido pela lei 11947/2009 (BRASIL, 2009), relativo
a compra dos produtos advindos da agricultura familiar de cooperativas e associados da
região de Sorocaba para destiná-los à merenda escolar do município de São Bernardo (SÃO
PAULO, 2009).
Além destes canais, os produtores dos sistemas de produção alternativos também
comercializam em feiras abertas, como a feira do Parque Chico Mendes, em Sorocaba e a
feira do Parque da Água Branca, em São Paulo, em que o preço do produto orgânico é
diferenciado, sendo mais elevado do que o preco do produto convencional. Dessa forma, em
relação aos produtores convencionais, os produtores agroflorestais e orgânicos, por seus
produtos serem categorizados como orgânicos, possuem alternativas à comercialização, em
que o preço do produto é mais elevado. Contudo, a compra não é garantida e uma das
dificuldades que os produtores salientam é em relação ao tempo de permanência nessas feiras:
se o produtor é antigo no local, ele vende mais do que em relação ao novo comerciante.
Análise de viabilidade para os sistemas
Com base em Guiducci et al. (2012), esta seção se dedica a apresentar a metodologia
de análise de viabilidade econômica para os três diferentes sistemas de produção, analisando-
os por grupos e posteriormente individualmente. Os valores foram atualizados para uma data
𝑛 = 0 caracterizando-a como data inicial, determinando-se o Valor Presente Líquido, isto é,
descontado a TMA na soma dos fluxos de caixa (𝑎𝑛). Dessa forma, obtiveram-se através das
equações mostradas na parte quatro da metodologia, quais foram os ganhos ou perdas dos
produtores em termos de renda e produtividade.
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Para a análise da viabilidade dos sistemas, substituíram-se os valores encontrados na
equação do Valor Presente Líquido (VPL):
𝑉𝑃𝐿 = ∑𝑎𝑛
(1 + 𝑇𝑀𝐴)
𝑁
𝑛=1
(1)
Isso significa: para uma propriedade que utiliza o sistema agroflorestal ou orgânico ou
convencional, os valores futuros atualizados para valores presentes no período n=0 do fluxo
de caixa dessa propriedade, somados ao investimento inicial, retornarão o Valor Presente
Líquido, o que demonstra que a esta é viável, , caso positivo, ou que não é viável, caso
negativo. Como foram analisadas propriedades que já estão estabelecidas, não foram
contabilizados os custos com investimento. Foram considerados quatro ciclos produtivos de
um ano.
Definiu-se o período de quatro anos para a análise de viabilidade em
decorrência da maior parte das culturas trabalhadas serem de hortaliças, cujo ciclo produtivo é
curto, ainda que alguns dos agricultores entrevistados disseram que já pensam realizar
investimentos em culturas alternativas. A coleta dos dados foi realizada em 2015,
considerando-se as informações relativas ao período de um ano, anterior à coleta. Dessa
forma, o período de coleta corresponde ao ano de 2014-2015 e o período utilizado para se
calcular o Valor Presente Líquido foi de quatro anos.
A equação da Produtividade Total dos Fatores (𝑃𝑇𝐹) demonstra a relação de qual foi a
eficiência do investimento, ou seja, matematicamente informa qual foi o ganho do produtor
por valor do investimento nos insumos/fatores de produção.
𝑃𝑇𝐹 =𝑟𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
(2)
A Taxa de Rentabilidade (𝑇𝑅) mostra qual o percentual do valor investido que
retornou para o produtor; se negativo, os gastos foram maiores do que os ganhos, caso
contrário, o produtor obteve lucro contábil.
𝑇𝑅(%) =𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑝𝑜𝑠𝑖𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠
𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑛𝑒𝑔𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠− 1
(3)
Para efeitos contábeis, os fluxos de caixa, que estão em datas diferentes,
caracterizando Valores Futuros, foram atualizados para o Valor Presente e então puderam ser
substituídos na equação (4). Assim, o Valor Presente é dado por:
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𝑃𝑉 = ∑𝐹𝑉
(1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑛
𝑁
𝑛=1
(4)
O procedimento foi repetido para um sistema agroflorestal e orgânico. Dessa forma,
foram obtidos resultados para a produtividade total de fatores e para a taxa de retorno, para os
diferentes sistemas.
A comparação entre os resultados obtidos são dadas pelas equações de: Razão de
Produtividade (RP) entre a produtividade do sistema agroflorestal em relação à produtividade
do sistema convencional, por exemplo, representados por 𝑃𝑇𝐹′ e 𝑃𝑇𝐹, respectivamente.
𝑅𝑃 =𝑃𝑇𝐹′
𝑃𝑇𝐹− 1
(7)
A RP compara dois sistemas de produção e informa se um sistema de produção é mais
produtivo ou menos produtivo na mesma magnitude do valor do resultado da RP. Ou seja,
caso o valor da RP seja positivo, o sistema de produção do numerador (neste caso, o sistema
agroflorestal) será mais produtivo no mesmo valor que a RP, caso contrário, se RP for
negativa, o sistema de produção do numerador será menos produtivo no valor congruente ao
da RP.
A Razão de Rentabilidade (RR) compara a rentabilidade do sistema agroflorestal e a
rentabilidade do sistema convencional, por exemplo, representados por 𝑇𝑅′ e 𝑇𝑅,
respectivamente:
𝑅𝑅 =𝑇𝑅′
𝑇𝑅− 1
(8)
A RR compara dois sistemas de produção e avalia se a rentabilidade de um sistema é
maior ou menor que do outro. Caso o resultado seja positivo, o sistema de produção do
numerador (neste caso, novamente o sistema agroflorestal) é mais rentável no valor
correspondente ao resultado da RR, caso negativo, o sistema de produção do numerador será
menos rentável no valor correspondente ao resultado da RR.
Os indicadores apresentados foram calculados para se realizar a análise do sistema
orgânico em relação aos outros dois sistemas de produção.
O custo de oportunidade determina a taxa mínima de atratividade (TMA) do capital
investido em determinada atividade, pois considera o rendimento de outros investimentos em
que o capital destinado à atividade atual poderia ter sido empregado. Dessa forma, foi
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calculado o custo de oportunidade, separando os custos de oportunidade da (i) terra, do (ii)
capital e do (iii) trabalho empregado: para o fator terra, utiliza-se a taxa de 4% ao ano sobre o
valor médio e imobilizado do mesmo quando não há informações específicas sobre o valor do
arrendamento na região; a remuneração do fator capital será realizado pelo Sistema Price; a
mão de obra são remuneradas considerando a taxa de 6% sobre o seu valor (GUIDUCCI et
al., 2012).
Dessa forma, o valor adotado para a TMA foi de 6%, pois o valor de arrendamento da
terra foi desconsiderado, em decorrência do fato de os produtores assentados não poderem por
lei, arrendar sas terras e os produtores de Ibiúna não consideram o arrendamento da terra uma
alternativa interessante, em decorrência de experiências anteriores (próprias ou de
conhecidos). Adicionalmente, o custo de remuneração do capital já foi considerado nos custos
gerais.
Enfim, o cálculo dos fluxos de caixa (𝑎𝑛) para os 𝑛 períodos é dado pela diferença
entre as receitas e os custos de produção do mesmo período.
A comparação dos custos foi observada pela média aritmética dos custos em cada
etapa do processo produtivo, agrupados pelos diferentes sistemas de produção: agroflorestal,
orgânico e convencional, em relação ao total dos custos. Essa medida gera uma análise de
custos relativos por etapa de produção. Dessa maneira, é possível observar para cada um dos
três sistemas analisados qual é a etapa do custo operacional com o maior impacto e quais as
principais diferenças entre os sistemas.
Levantamento dos dados
O levantamento de dados foi realizado no período de 2015, com base em respostas
referentes ao período compreendido entre os anos de 2014 e 2015, considerando um ano de
produção. No total, foram entrevistados 12 produtores nas áreas amostradas, sendo seis
convencionais, três agroflorestais e três orgânicos. Os convencionais estão distribuídos
igualmente em Iperó e Ibiúna, enquanto os agroflorestais estão apenas em Iperó e os
orgânicos, em Ibiúna. É importante salientar que os produtores foram amostrados ao acaso e
que o critério de seleção para participar ou não da entrevista foi em relação à receptividade do
produtor à pesquisa.
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Em relação aos dados, estes foram separados em duas categorias: custos e receitas. A
estrutura de custos foi subdividida em treze etapas, sendo as primeiras dez utilizadas para
compor os custos operacionais da propriedade, isto é, as despesas necessárias para produzir:
sistematização do solo, preparo do solo, correção do solo, plantio, tratos culturais, colheita,
mão de obra familiar, depreciação, manutenção e outros custos; as duas seguintes referentes
ao custo de oportunidade: terra e trabalho, pois o custo do capital foi considerado na
depreciação; e a última concerne à soma total dos custos da propriedade.
Na categoria do custo operacional entram, por exemplo, adubos químicos ou
agroecológicos, combustíveis em geral (operação de máquinas, equipamentos, veículos para
transporte), mão de obra (mesmo que seja familiar, há o custo de oportunidade para estar
remunerando os fatores de produção), medicamentos e vacinas, alimentos concentrados e
volumosos, entre outros.
Na sistematização do solo, as principais atividades consideradas foram: roçagem
manual e encoivaramento. No preparo do solo: aração, gradagem e algum insumo, caso
utilizado. Na correção de solo: calcário, fosfato e custo com envio de amostragem por
laboratório. No plantio, o custo das mudas e sementes, adubação e transporte interno. Nos
tratos culturais: adubação de cobertura, adubação (outro tipo), capina, irrigação e consumo de
energia. Na colheita: sacaria, beneficiamento e transporte interno. Mão de obra familiar:
número de ajudantes familiares na propriedade. Depreciação: custo da depreciação do capital
pela Tabela Price (sistema de amortização Frances). Manutenção: gastos com reparo de cerca,
portão, tubos e conexões, tratores, pulverizadores, entre outros. Outros custos: impostos,
seguros e administrativos.
Em relação à mão de obra familiar, foi contabilizado um valor normalizado para 200
dias homem por ano, considerando-se o valor de 60 reais por diária, preço médio da mão de
obra, se contratada, nos locais estudados. Esta abordagem da mão de obra familiar foi
embasada também em Guiducci et al. (2012). Adicionalmente, para todas as subdivisões,
exceto na categoria da mão de obra familiar, foi considerada também a mão de obra
contratada, quando era o caso.
Em relação às receitas, foi coletado o quanto é produzido por cada cultura e por
quanto cada cultura foi vendida, totalizando as receitas de cada propriedade em específico.
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Além disso, contabilizaram-se os valores referentes à recuperação do capital, como a venda da
sucata, por exemplo.
O preço considerado para produção vendida não foi único. A isso, destacam-se dois
fatores: caracterização da produção e destinos da produção. O primeiro fator se relaciona com
as diferentes culturas produzidas durante um ciclo produtivo, pois foi analisada a viabilidade
média por propriedade, sendo que em cada propriedade, era possível identificar a produção de
duas ou mais culturas ao mesmo tempo. Isso se deve ao simples fato da tomada de decisão
dos agricultores pelo que produzir em determinada época, como foi evidenciado pelas
entrevistas em campo. O segundo corresponde aos diferentes mercados pelos quais a
produção é escoada. O valor final da produção por hectare também foi calculado através da
média ponderada dos produtos vendidos pelos seus respectivos valores. O preço foi parte da
composição das receitas, cujo detalhamento se encontra mais bem explicado na seção
seguinte.
Todos os valores, exceto o custo de oportunidade do capital (depreciação), foram
normalizados para a unidade de medida valor por hectare ano, para fins de comparação.
3. Resultados e Discussões
Primeiramente é apresentada participação de cada etapa de produção nos custos
totais das 12 propriedades analisadas (Tabela 1). A partir daí, a análise se concentrará em três
pontos: produtividade do solo, devido aos estudos sobre a ciclagem da matéria orgânica e
aumento da produtividade; a intensidade da utilização da mão de obra familiar; e a disposição
de capital.
Tabela 1 - Médias da Estrutura dos Custos de Produção (%)
Participação nos custos C. Iperó C. Ibiúna Convencionais Orgânicos Agrofloresta
Sistematização do solo 2.25 0.00 1.13 0.00 0.45
Preparo do solo 0.00 15.23 7.62 10.91 0.00
Correção do solo 1.54 4.78 3.16 0.21 0.89
Plantio 7.06 9.97 8.52 1.81 4.01
Tratos culturais 10.90 11.56 11.23 10.07 14.82
Colheita 25.65 4.17 14.91 2.20 0.56
Mão de obra familiar 21.73 18.59 20.16 73.16 54.85
Depreciação 5.61 17.69 11.65 0.61 10.69
Manutenção 2.67 18.01 10.34 0.83 4.74
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Outros custos
operacionais 22.59 0.00 11.30 0.18 8.99
Total 100.00 100.00 100.00 100.00 100.00
Fonte: Elaboração própria através dos resultados da pesquisa. 2015.
As primeiras duas colunas mostram a média dos custos de cada etapa para os
produtores convencionais de Iperó e Ibiúna (C. Iperó e C. Ibiúna), respectivamente, a terceira
representa a média de tais custos em relação aos seis produtores, caracterizando o sistema de
produção convencional. A quarta coluna mostra a média dos custos para os três produtores
orgânicos e a quinta, para os três produtores agroflorestais.
É importante salientar que os produtores agroflorestais entrevistados em Iperó pouco
se utilizaram das técnicas de adubação verde, optando por comprar os adubos, representando
o maior custo relativo em Tratos Culturais (14,8%) entre os demais grupos. Isso se deve ao
fato de que, segundo dois dos três produtores, para realizar essas técnicas, seria necessária
uma maior intensidade de mão de obra (54%) ou maior volume desta, que apesar da procura,
não há oferta suficiente. Ou seja, o limite de oferta de mão de obra eleva os custos na compra
de insumos de adubação verde, pois estes não conseguem ser produzidos na propriedade.
Com aproximadamente 73% dos custos totais relativos em mão de obra, indicando
uma intensidade no fator mão de obra bastante significativa, pois neste estudo de caso, os
produtores orgânicos utilizaram mais práticas de adubação orgânica, segundo a Tabela 1, do
que os agroflorestais, sendo os mais eficientes nos custos da etapa de tratos culturais
(10,07%). Isso corrobora para a ideia de que as práticas agroecológicas podem (têm potencial)
para redução dos custos, contudo, este depende das restrições de fatores as quais os
produtores estão submetidos em relação à escassez de mão de obra ou a disponibilidade de
outros fatores de produção.
Outro fator decorrente da limitação da mão de obra familiar, tanto para os produtores
orgânicos quanto agroflorestais, foi a subutilização da área total da propriedade,
principalmente no caso dos produtores orgânicos e, em seguida, dos agroflorestais, pois as
atividades levam muito mais tempo para serem concluídas.
Em relação aos produtores convencionais, tanto em Iperó quanto em Ibiúna
apresentaram menor intensidade no fator mão de obra, de 21,7% e de 18,6% respectivamente,
o que permite que os produtores sejam menos dependentes da oferta de mão de obra, contudo,
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na média dos custos agregados em Preparo do Solo (7,6%), Correção do Solo (3,16%),
Depreciação (11,6%) e Manutenção do capital (10,34%) sejam superiores. No que concerne o
Preparo do Solo, para os produtores convencionais é necessário que se contrate mão de obra
terceirizada apenas para atividades relacionadas, como gradagem aradora ou para arar o solo
com maior frequência. Sobre a correção do solo, na produção convencional é necessário
maior utilização de calcário, relativamente.
Em relação à utilização do capital, o sistema convencional apresentou maior
intensidade no uso do capital, destacando-se o bairro do Piaí, em Ibiúna, com (17,7%), e
revelou um contraste econômico em relação ao assentamento Ipanema, em Iperó (5,6%).
Tabela 2 - Indicadores de Viabilidade Econômica para as médias dos grupos
de produtores convencionais de Iperó e Ibiúna, para os produtores orgânicos
e agroflorestais
Indicador C. Iperó C. Ibiuna Convencionais Orgânicos Agrofloresta
VPL
(R$) 10429.16 66653.32 38541.24 223740.42 33933.01
PTF 1.316 2.723 2.032 1.408 1.691
TR (%) 0.316 1.723 1.032 0.408 0.691
Fonte: Elaboração própria através dos resultados da pesquisa. 2015.
Pela Tabela 2 é possível inferir que todos os três sistemas de produção foram, na
média, viáveis economicamente, pois nenhum deles obteve resultado negativo no Valor
Presente Líquido, com destaque para os produtores orgânicos de Ibiúna, com o maior retorno
financeiro para um período de quatro anos. Foram os produtores convencionais de Ibiúna que
apresentaram maior taxa de rentabilidade, de 1,72, ou seja, para cada um real investido na
propriedade, o lucro é de R$ 1,72, com taxa de retorno de um real investido para R$ 2,72 em
decorrência da PTF, que é a razão entre a receita total e do custo total.
Para Iperó, é possível observar que os produtores de base agroecológica apresentam
maior eficiência entre custos e receitas, observando-se a produtividade total dos fatores, em
relação aos convencionais da mesma região. Para cada, real investido na propriedade, o
produtor de base agroecológica obtém lucro de R$ 0,69, no curto prazo, e capitalização de 34
mil no longo prazo. Como existe um lucro diferente de zero para este mercado, há uma
possibilidade de novas firmas entrarem no mercado, o que significa que o mercado está em
expansão.
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Para um melhor detalhamento da situação nas duas áreas amostradas e nas nuances de
cada produtor entrevistado, a Tabela 3 apresenta, de forma sucinta, os resultados de
viabilidade através do VPL e a Taxa de Rentabilidade (TR), demonstrando que o potencial
dos sistemas alternativos pode ser tão bom quanto o sistema de produção convencional, tanto
em pequenas propriedades de agricultura familiar de assentamentos quanto as demais.
Contudo, a inviabilidade também está presente, pois dois produtores, um assentado
convencional de Iperó e um orgânico de Ibiúna.
Tabela 3 - Valor da Produtividade Total dos Fatores e Taxa de Rentabilidade
Conv. Iperó Conv. Ibiúna Orgânicos Agrofloresta
Produtores
VPL
(R$)
TR
(%)
VPL
(R$)
TR
(%)
VPL
(R$)
TR
(%)
VPL
(R$)
TR
(%)
P1 -247 -0.02 52780 1.06 219624 0.36 44211 0.87
P2 3254 0.04 133644 3.82 468478 0.92 16796 0.45
P3 28280 0.93 13535 0.29 -16880 -0.06 40791 0.75
Média 10429 0.32 66653 1.72 223740 0.41 33933 0.69
Fonte: Elaboração própria através dos resultados da pesquisa. 2015.
A inviabilidade econômica, que ocorre quando o VPL é negativo, como para o
produtor P1 convencional de Iperó e para o produtor P3 orgânico de Ibiúna, ou seja, o
somatório dos valores presentes dos fluxos de caixa para os quatro anos é menor que zero.
As propriedades convencionais de Iperó participam do PAA e do projeto de merenda
escolar para São Bernardo, onde pode ocorrer a presença de atravessadores para a o
escoamento da produção, enquanto os agroflorestais participam de ambos os programas e de
feiras de produtores especializados em orgânicos, cuja venda é direta. É possível perceber que
os programas governamentais realizados contribuem com a renda dos produtores, juntamente
com a receita da produção escoada de maneira indireta, porém, a receita obtida da venda nas
feiras especializadas em produtos orgânicos contribuiu com uma diferença interessante, de
acordo com os indicadores para P1, P2 e P3 agroflorestais.
Os produtores convencionais de Ibiúna não participam de ambos os programas
governamentais citados, bem como não são assentados. Contudo, apresentam viabilidade
econômica e a maior taxa de rentabilidade, isso pode estar relacionado com a menor
dependência de custos pela mão de obra, relativamente, e pela substituição e distribuição, dos
fatores de produção, como se observa na Tabela 1.
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Finalmente, a Tabela 4 indica uma comparação entre os três sistemas, através dos
resultados obtidos a partir da substituição dos valores numéricos em (7) e (8), considerando os
produtores de ambas as regiões. Verifica-se que o sistema agroflorestal, de base
agroecológica, é 66% mais produtivo ou mais eficiente que o sistema convencional, porém
33% menos rentável. Ainda este sistema, é 20% mais eficiente em relação ao orgânico, e
quase 70% mais rentável. O sistema orgânico, por sua vez, é 38% mais produtivo do que o
sistema convencional, porém 60% menos rentável.
A diferença entre a produtividade e a rentabilidade pode ser explicada pela questão do
volume de mercadoria, em que os produtores convencionais apresentam maior volume de
venda, e na produtividade, em que o sistemas mais intensivos em mão de obra, o orgânico,
neste estudo de caso, apresentam uma produtividade média menor do que os convencionais.
Tabela 4 - Indicadores comparativos
Razão Agro x Conv Agro x Org Org x Conv
RP 0.659 0.201 0.381
RR -0.330 0.693 -0.604
Fonte: Elaboração própria através dos resultados da pesquisa. 2015.
CONCLUSÃO
Conclui-se que sistemas agroflorestais e orgânicos podem ser viáveis economicamente
a partir do estudo de caso realizado em Iperó-SP e Ibiúna-SP com 12 produtores, sendo
destes, seis convencionais, três orgânicos e três agroflorestais.
Os sistemas orgânicos e agroflorestais são mais intensivos em mão de obra em relação
aos convencionais, de forma que os produtores orgânicos e agroflorestais sejam mais
dependentes de variações na oferta e nos preços da mão de obra. Uma das consequências
verificadas foi que a utilização de adubação verde é restrita, no caso dos agroflorestais, de
modo que estes optam por comprar os adubos. Contudo, a utilização da adubação orgânica
pode reduzir os custos de Tratos Culturais, como no caso dos produtores orgânicos.
Apesar dos produtores convencionais serem menos intensivos em mão de obra, no que
diz respeito aos custos relativos de produção, os custos em preparo do solo e correção do solo
foram mais significativos do que nas propriedades orgânicas e agroflorestais.
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Os três sistemas são potencialmente viáveis economicamente, uma vez que os três
sistemas apresentaram pelo menos um produtor cujo VPL é maior que zero. Adicionalmente,
na média entre os produtores, os três sistemas apresentaram resultados positivos.
Os canais de comercialização diretos tiveram um papel importante sobre a
rentabilidade das propriedades, sejam estes políticas públicas de garantia de compra de
alimentos ou feiras especializadas em produtos orgânicos. Contudo, para participar das
políticas públicas existem especificações em relação aos produtores e em concernente à venda
em feiras orgânicas, o tempo de atividade na feira pode determinar a preferência dos
consumidores pela escolha entre os produtos.
Em relação ao manejo do solo e a sua produtividade, o sistema agroflorestal é o mais
eficiente em valor por hectare. Por fim, é importante salientar os canais de comercialização
diretos, pois permitem aos produtores auferir uma maior receita.
AGRADECIMENTOS
Os pesquisadores agradecem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo
(FAPESP) pelo apoio financeiro na categoria de Bolsa de Iniciação Científica e à
Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba.
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