veyne, paul. quando nosso mundo se tornou cristão

48
5/14/2018 VEYNE,Paul.Quandonossomundosetornoucristo-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao v A 0 050 5e 0 0 - C 5 A0 "1 hi ori: or d

Upload: leandro-alves

Post on 17-Jul-2015

396 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

v

A 0

050

5e 0 0-

C 5 A0

• "1 hi ori: or d

Page 2: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

CAPiTULO I 0 salvadorda humanidade:

Con tantino

Page 3: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

U rn 0 conrecim nco ci ivo s da h isro ria oc iden t a l e a te

m esm o da h is ro r ia m und ia l d eu -se no ano d e 12 no im n 0

Im perio R om ano . A Igr ja ri f a t inha orne ad o m uito m a l

e e se cu lo IV de nos :1 era: de 30 3 _1, 0 rera urn das

p io re p r egu i 6 c : . d su h i t6r i m ilh a r s fo ram m orto s ,

Em 311 u rn d o s qua r to c o irn pe ra d o re s que rep r tia rn e n tre

j 0 gOY rn o d o Imp· r io ta v a d - id id o pa r lim aque lee ta d o d e co isa s , re co nh e endo marg m en te em ua r i r u d e

d e to le rfin c ia que pe rseguir n ao ad ian tav a n ad a , po ls m uito s

c r i raosque tin h a rn r n g do ua f pa ra a lv a r a v id a n ao

tin h am vo lrad o ao pa an ism o . A ss im (e e e , epo ca fo i um

unr de inqui t ao pa ra um go v rn an te ), c r ia ra rn - e bu-

raeos no tecido r e l ig iose da so ied de.

Ora no ana -guint J 12 u- urn do a c o n r e c im e n t o s

rnais im p re vis iv e is : o utro do co im p r do re C on ran tino , 0

h r6i d sa gr n d e h i s to r i a onv e rreu- e ao c r is rian ism o d e -

poi de um onho (~ob t in 1v nc r a ) . P o r epo a,

c o n id e ra -se que s6 c in 0 o u d e z po r c e n ro d a po pu la c a o d o

Im perio (70 m ilhoe de habiran te J ta lv z) ram ri -0.'" -0

'Ta lvez 0 d o b ro em ! um TC 1 amp l am e n r e cr i s r ianiz d as , o bre tud o

n A lr i e n o O rie n te C O. o n d e ~ po hid upo r u rn d ie us · 0 pro e i·

por "1 '1 • d vlzinh "0 Cf. I i.Gir rde i em um born livro, D ie

kOPfstonl.nische U' fi de ; Voraus se t: rm ~n IIttd geisttg« rw ndlag en der

R til lo nsp olllik K on sta ntln s d es CroSStll~ D arm s ta dt, ._0 6. pp. 82- •

11

Page 4: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QU.ANOO OSSO 'UNDO SE TORNOU C ISIAO

puc r", r ve J.B. B ry,2 "que revolu ao reli-

giosa prom vi por Con ran ino m j ,12 foi 0aro rnai

audacio 0ja com rido por urn aurocrata desafiando e des re-

zando 0que p nsava a rande rn ioria do 6dito

SA AliOADE 00 EXCEPCIONAL

Oir nra no mai arde como d cobrira d pois nurn

ourro c mpo de bar Ih e. I n d urn ourro rio 0paga-

ni rno sera proibido e acal ara vencido ern que renha j . 0

perseguido. Porque ao lorigo de rodo 0 eculo IV. propria

lgreja i ando d er pees guida como orinh sido 10n-

go de r~ ccu)os t r a 0apoio incondicional da maior i do

Cesar , tornado cri t-OS; as im no seculo VI 0 Imperio

est r ua e rodo p voado aperia re cri taos enos dias de

1 bilhao e meio d risrao m no 0planera. Tam-

bern ever dade que depois do. an ,60 met das rcgi -e

cdsta querinha pertencido ao Imperio rornou- e rnu ulma-

na em ificuldade parente.

Qu homcrn f i cs e Con ranrino e papel decisive?

Longe de sec 0 calculi t ctnico ou 0 uper ricioso d qu se

f I v ainda recent .menre, ~.I~ foi na minha opiriiao urn

homern de larga visao: suacon er ao perrniriu-lhe p rricip r

daquilo que ele considerava urna epopeia obren rural de

: Historyof'leLa:~rRDma,.,E.mp;rr.rce-d.195. ~o'a)'ofk,D ver B ks,

vol, I. p. 3 O . Cit do POf P er Brown. oc;iet)' nd tl Holv in Lute Araiquit '.

Sec' Ie ILo Anael . Uni"fer if. of II orrn Pres....12. p, 97 (l~u DC: I~

et le SQcri ans I'Anuqu;te t rdiue, (C d. ranc. de A. Rou S -Ile, ~, ris, cull

I s, reed. 2002).

12 ,

Page 5: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SAlVAOO DA HUM,A "'DADE CO STAN INO

a surrrir ire de e lovim or e, om 15 ~3 al a 30

d hurnanidade; rinh el errrimenr U ara e s I-

va ~o~ eu re ina seria, sob 0ponro de visr reli io . urn

ep a de rr n i- n ur I ele propri rer ia urn : 3 e) im r-

1 sc rornou eh f d id enre

- all -)! e reveu ern 31 bi p

ue ~ ied de

er e r n e il eus e recu ad ..m b 0-

U .3 perrrurrr que a c

temp a errar na rr V3 ",

in iero C nsranri no

u 0 e, n

11 " . I .

humana C ntmue p r In IS

foi. "In1, n13 dizer i e dizerc precise rer ern vi t hornem

re e ; 0men . h birua 10" a x-

C 4<. iru r em um

da vulgaridade, do c d-

rn ila-

preCl3va

r ivirio ads mperihar urn papel

rni mil n r 1\'3's3 ; el i

utcnti ciue e viler 01 i di nr , m sCOt:

a mai ~r pane d hi r ri re de pre7..anl I

e dele lIlao flam.

rc : u mpo

por s in n t nrin

e re-

ial na ec no-

el

er d

el

ue

ue tern

ern e lnacredir

cnl C C er

d urn pen ad r,

harriado 3. arv r

r

urn II er re iiuio

hUI ran idad ,

e tr tar de urn

o u poljri

renra-

re

revolu ion r 0 u r d

nst ntrn • II, 6.

Page 6: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUANDO OSSO MU DO SE TOR OU CRIST 0

mundo; eria urn gra e err'o du -id r de ua inceridade-

sin eridad tanto rnais rfv I quando se sabe que ern Roma 0

papel irnperi I as eze era interpret do d modo multo mais

livre do que 0dos nosso reis: n quele t mpo di t ntesquando a irnaginacao esrava no poder, nao era de esrudanres

que se tratava, rna d um porenraoo. Const ntino porern,

potentado cheio de imaglnacao e ate megalornaniaco, lem

di 0 ra rarnbern urn homem de a ao, tao cheio tanto de

prudencia qu nto d en rgi ;":1 sirn, atingiu suas finalidades:

o trono rom no se tornou risrao a Igr [a s tornou uma

porencia. Sem Constantino, .0 cristi nismo [ ria perrnaneci-do uma seira de vanguarda.

BREV,E iRESUMO DOS FATOS

Com c rno par urn re sumo em duas paginas da narracao do

onrecirnenros, A conversao de Consran ino :nao passou de

urn pisodio num desses mon6tono confliro enrre general

sem ourra coi a em jogo alern da po e do rrono - confliros

que con rirulam uma boa merade d hist6ria polfrica roma-

n • Or, , naqu le momenta inlcio do seculo r y . 0Imp rio

Romano estava divididoentre quarto coirnperadores que

par ciarn reparrir seu reino fr rernalmenre: doi des e im

peradore reparriarn entre' i0 rico Oriente rom no (Gre 1

Turqui Sfria, Egiro ourro lugar ) enqus nco 0 v to

~"Um r nde hom em que tudo fez para realizar uilo que IInh3 pensado em

( zer" (l';r .ingC'ns et Om"; t!/JICC'~ mlt!ns qvo« ammO srmu} p,., "par: S n

escreve ·ulr61"o ( '. ). que: tum p frlO' reh iosamenre indifererue entre

on t mino eJuh no (X, 16).

\4

Page 7: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SALVADOR DA UMA IDADE: CO STA TINO

o ident (r, gioes danubianas e 0 1agreb incluidos) esrava

reparrido entre, um cerro Li Inio, do u I vo t rerno tal r,

e 0no 0Con tanrino, qu go\-' rnava, por sua vez, a Gdlia,

lnglarerr e p nDeveria ele governar rarnbern a iralia mas um into

] 'r50, chamado axencio entrou na jogada: rinha usur-

pado Iralia e Roma. Mai ar e, os critaos como louva-

~ao Constantino dirao falsamenreque a' encio rinha

ido p r egui or. Poi para rornar a Iralia de axencio que

Con ranrino enrrou em guerra com el e fo] no cur 0 d

5 carnpanha que se converreu, depo irarido su confianca

no Deus do crisraos para obrer a vit6ria. E sa conversao

-eio num onhoque ele reve na noire da v e pera da ba a-

lha deci i'3 onho no qu I0 eu do cri [-0 prornereu-

lhe ,3 vit6ria e ele anunciasse publicamenre ua nov

re ligido.

De f to noia cguinte na jornada mernoravcl de 28 de

ourubro de 312 'Deus con edeu-Ihe no suburbio de Roma

margen do Tibre , a c -I bre viroria de Pont 1:11'io;

e n io foi e m g do e morro pelas rropas de I on sranrino,

ue anunciavarn a religiao pessoal do hefe qu defendiam."

seus escudos ficaram marcados por urn sfrnbolo toralrnenre

I I " r ue 0 ri m bre 0 escudo n: 0 igni 1C: b oiu( mente qu 0 old -

do que 0 ITe ava e rinh tornado pessoalrnenre cri:sr.ao; 0 conrrarlo 0

eXCrCJlOperm necera por Iongo tempo urn rcduto do p gani rno: Rams y

~ ia C o iullen, Christi nizing II:~ Romun Empire. A.D. 10000, H::avcn l

Londres, le Uni . r it. Pre s, 19 4. pp. 44- 7.

In scutis, docurnenro de ct nero, de pouco depois de 3! 2, em 5eu De

mortlbus persecutorum; XU '. 5. T C r ra ao x.:i da Per J , 0 pr6prio

Con t ntina eserev er ' u "rneu 01 0 tr zern no I mbro 0 Imbolo con-

i g . r do Deus" (E sebio, Vid de.Const ntina, I~ 9).

15

Page 8: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OUAt 00 NOSSO U 00 SE TO NOU CRIS Ao

no 0, rev ado na v spera da bat lha oimp rador nquan-

to dorrnia e que de mesmo dorou em eu cap ce ; er

aquila a que chamamos "crisma' , forrnado pelas du pri-

m .ira letras do nome de 'Cristo, quer dizer as lerras gregas

, e pit superpo ras e cruzada .

m dia depois da viroria de Ponte Ilvio dia 29, on-

ranrino, frent de ua tropas, azia sua nrrada solene em

Rom pela Via ra a atual Via del Cor o. E a ess 29 e

ourubro de 312 (e nao como e pretende," at do diro

de, ilao" em 313) que se podearribuir condi ao ata-limite entre .3 antiguidade pagd e a epoca rista.1o 3.0 nos

.nganemos: 0pap 1 hist6rico de Consran ino nfio sera 0de

por rm p r gui Des ( la cc saram dois anos antes quan-

do 0 cri riani mo foi reconhecido como igu 1, 0 pagani rno),

mas a de fazer corn que a crisriani rno rran forma 0em u

religiao fosse uma reli iao arnplarnente favore id dif ren-

ternenre do paganisrno.

Quante e se sfmbolo invent do pur Const nrino, ver Ch. Pierri em Histaire

du christt. rt f n (or ui do p r J.- ' ;t. eur, Ch .. 'L . Pierrr, •Vauchea e

. en rd), P rrs, csclec, I • \'01. II. ai. nc d'une d"oflienU ( 0-

0). pp. s -17; 0 ai rna acabou por C'I mar urna Insr m m im'ln r

do que: ristil! ver R. .:13 , 1u len, Christ,iJnlun II Roman Empire, op, CII.,

p. 4 • n. 23.Ver nil "Not Complementares" no rm 0volume, observ or-

r pondentes . t not

'Eu)~bio., d Con t ntis 0, I 31. .

·5 00 Xl 0 r6 (com -emo ler) m iu If (0 go. con -

p ndenr 0 nos 0, '.e 0 nosso : ( ndo 0 iequivalenre a urn "ch", la se

'e, em frances ou na ortogra 1 anti 3 do portugues, em UC:1<e zrafav

"Chri.sto"). (N. T.)

I (Orna "NO( C. mpJ .ment I ...no rm do vorume, 'IV -6 . cor-

r pondenres e { not 10.

16

Page 9: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SA .....00 OA U 10 DE. CONS

ESUMO DA A<;Ao DE CO ST TJ a

re to do lrnperio, no no eUIt 0

de iniou n-0 r urn p rs g i or \' nceu 0

coirn ue r in no Orien e. Tarnbern

icfnio rinha iclo urn sonho: na ves era dess aralh Lon r

o oirn er dol" do rre e, urn 6-

leu e

a upr erno u r u

i·inio conseguiu a i6ria tornou- e 0senhor do

mandou r urn ediro de (01 an ia. e e m

0.11

os cri tao orien uidor.

agao Licinio 0 ri ntino qu

r i I av m obre um 1m erio indi 'i

m lil-o p r unto

rrarados m p d igualdad . rat

or-

do

em

el ar urn e ocCp1'O ui te t nporls ) .12

Dcp is it6ri

ue

e m ornprorms 0

rrn Ipio rn s indi pen-

d ipo di nre effie

uma o conrrdr ia a to 0 os

quen

I lv i , p p m u-

por que em rela qu lh rirrh:

on t rino reri ali de que eu predece

d poi da vit6ri C IU obr - n 6nio

ugus 0tinh po.g do sua dfvid Apoo on

. . . .nona

ores;

1 'Ill. ( 0 0 ItO" i J ) .

17

Page 10: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUA 00 NOSSO MU 00 Sf TO NOU c ars A o

como e sr be urn anruario e urn culto local. Ora 0 cri rna

que igurava nos escudos do e erciro consranriniano signifi-

cava que a vit6ria fora conseguid gra~as ao rei dos risraos.

Ignorava- e que en r sse Deus e suas criaturas :1relacao ra

perrnanente, apaixon da mutua e Intima enquanro entre a

ra a humana e 3 raca dos deu e pagaos, que principalmenre

viviarn por si :m srnos, as rela oes erarn por a a m dizer in-

rernacionai , tJ onrraruaise ocasionais; Apolo n30 tinh s-

sumido a vanguarda em rela 30 Augu to. Augusto rinha e

dirigido ele, mas ele Jl50di ra ao irnperador que venceria

sob 0 seu sinal.

[ada mais diferenre do que a relacao dos pagao om ua

divindad e dos cristaos com seu Deus: um p gao con-

tenrava se seu deu e 0 0 orrcs em em seus pedidos e eus

desejos rna urncrisrao queria ant urn modo de fazer com

que seu Deus ficasse conren I corn ele, Augusto nao era IQ

servo de Apolo, apenas e rinha dirigido a leo longfn-quo n e trais pagaos de Apolo nao serao 0 r 0 do Sol

Inv n I V · 1 u proteror ou sua irnagern celeste: por ua v ez

n 25 no que c cguirarn Constantino nao deixou de

repetir que era apenas urn ervo de ri to qu 0 tornara a

seu service e sempre Ihe dera a vitoria,

im, er m me .rno asirnci i do proprio nome de Cri (0

que de rinha 'i to em onho; nquanro Licinio tinha ouvido

lip rmit -rn rem rer 0 leitor meu Empire ico·rornoin. Paris, euil, 2005,

pp. 21-428. 001 e .mplo.: por 0 j 0 da morre d um prfn ipe rmdo,

Cermanico, plebe rom. na p drCIQU 0 rernplos d rru ou 0 It re ,

como entre nOlimanifest nres apedrejarn urna ernbs Ide tr ngeira. 0

rm da Anriguidadc:. urn udo i ! > t . , 0imperador juliano, andi n do por rer

W ride uma derrot miJit t,re U50U-Sc:, dal ern dianre, 3 acrific, 3 1 \ ' 1 rte,

18

Page 11: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SALVADO OA HUMA IDAD£: CO STA INO

o •deus supremo" de urn rnonorefsmo an6nimo e chave mes-

tr em tor no da qual rodos os espfriro esclarecidos da epo-

a podiam esrar de acordo. Com essa vit6ria de 312 0

di urso" religiose rnanrido pelo poder mud ra, porran-

[0 radical mente. Entr t nto Con tantino nao pretendia, nao

pretendeni nunca, e seus sucessores rarnbern nao impor pela

for a a nova fe a seus sudiros, Muito menos 0 crisriani mo

era, ao eu olhos, urn "ideologia" a er in ucada aos

povo por calculo politico (voltar mos i 1 fine a essa expli-

ao aparenrernenre profunda que vern esponranearnenre

ao espfriro de muitos de n6s).No decenio eguinre ern 24, a religiao cri t3 a umia com

urn go p unico uma dim nsao "rnundial" Con tantino es-

t ria alcado a esrarura hisrorica que dati em diante seria a sua:

le acabava de e mag r i into no Oriente, ourro prer n 0

p rscguidor It im r tab lecia sob seu dominio a unida-

e do Imperio Romano, reunindo as duas merades sob 0seu

cerro cristao. '0crisrianismo dispunha dafem diante desseirncnso imperio que era 0 cen ro lo rnundo que e on id -

rava com a m rna t nsao da civilizacao. Aquilo a qu s

harnara por longos se ulo de Imperio Crisrao sim, a Cris-

tandade acebava de nascer, Con ranrino pre ou-sea 0se-

gar us novos udito e lh s promet r, inv rt ndo 0 t rrnos

d 12, que os pagaos do Oriente seriarn tratados em pe de

igualdade com os cri taos: que perrnanecessern insensararnen-

e pa 30 "que po sufs em, e a irn < 0 de eja em, eu tern-

• Enrretaruo vrrno na aberrur desre suhtfrulo, em seu prirneiro pardgrafo.

que l idnio "roao era urn perse uidor" e t~ m rno que "hvrou IstaO

orient i de seu pc eguidor ", Dar 0indi pensavel "pretense" ne 1 {r e.

(1 t. T.)

'9

Page 12: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OUA 00 OSSO U CO SE TO au CA.(STAo

plo c me nrir "1 , temp 0 que a irn n-o \'1 m

estruf 0.0 tempo a ' n cara: m 3 2a r ligiao rol ra I era

o risrianismo m 32 ra 0 pagani mo.P

D de 0prirnejro mom or d sua vi oria de 312 a poli

rica religios do irnpe rador ficara bra nao devia rnudar

irerno ralha-ls 0lorigo d to' 0 st Iivro : O. Ia parte do

Imperio' ual s tornara 0senhor e, ue tiber-tara da perse-

gui ao todas as gran es de .isoes "Iireralrnenre rodas"! po

ele rornadas desde 0inverno de 2-313 rem 0objerivo d

preparar urn futuro crisrao para 0mundo romano, 20Porern

muiro pruc enre ruiro r..gn a'tico p rn ir r i...onge, on-

nrino er I 0 0 er no pe os lrnei te rj [-0d urn Imperio

que it regrou 3lgrej: perm r e er do ofici 1 r ' 1 nt p g-o' a

imp ra or nao per eguir n om .0 culto p gao ncm 3 rnpl

maiori paga; limirar-se- r p .rir m eus 0 urn n os of i

ciais que 0paganismo e uma supersricao desprezfvel. 3° Sendo

o cririani rno 3convic ao pessoal do obe rano ele instal c

forrernenre a lgreja orno que or urn capr: ho iruperi I

porque ele se chamava leaD: urn Cesar era merros on idera

do do ue no .. 0 rei [0. reis de Fro:n a] par urn rr di -aIn ri a e por lei fundamenrai do reino ' - e por is 0

u . houve os celebre "Cesare lou 0 ", 01 cornpens ao

ele n-o irnpor 13 re ligiao ninguern. 0 lvo em urn pon

to: uma z que cle e pe oalrnenre cri r:io, nao toler-ani pa

ganisrno no dorntnio que toe n u: pe ssoa, 01110, po

l·EuliC;;bio Vid d Constant! :0. II. -6"

IA. AJf61 1. 111~Cor. U'SJOr. of Const ntine, op, cit.; p. g-'.

16 rarnos L"'Om re e de K us M. GIl' rder, O,nt nrrns II \(1 'ltd • op

0/., p. 4 •

20

Page 13: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SALVAOOR DA HU AN IDAOE: CO STA.

rerrrplo 0culto dos imperadores; da me rna orrn por

olidari d c com eu orr Iigionarios ira dispensa-lo

do de cr de exe curar riro p g-0 0 .ercfcio de ua

fun De publica. 5° p u pro undo esejo de ver

rodo < 0 seu uditos e tornarem crisraos nao se enrrcga-

r a a t r,e impassive] de converre-los, 0p rseguira 0

pagaos, nao Ih . n gar a palavra nao ira des a -orece-lo.

em u s carrerras: e esses super (lCIO 0 querem e an r

estao Ii e para faze-Io· os su es ore de Con t ntino n:1O

mai 0 con rat gerao e d i~ao 0cuida 0de can erre-

10 a Igre]a, qu usara rnais de persuasao que de persegui-

ca . 6° 0 mais urgente, aos olhos dele nao eria convert r

os p gao m bolir 0culto rnalefico d acrifi ar ani-

mais as alsos deuses, esses demoriios. urn din fa] r m

f ze-Io rna njio ou sard e d j 4 r. qu cui e is o s u de-

voro filho uces or. 7° D resto, Con rarrririo benfeiror

mp ao leigo da fe assurnira dianre de "seu irrnfio os

ipo • com mode ria rna em he ir -ao, fun-dira incla ifi a el uropr 1 m da um I

pre ideo d Igr j ;l'arribuira a si m rna neg6cios e le-

i' rices e usar a de rigor nao com 0 g- 0 m com 0"

maus cri r- os, separ ti r ou her ge .

( deCon I nrino 0 COl lio d Arl m 31 • m

_u C bient d sDonatismus, KJ in Te teo ·'XII.

Borm, 1 13. n 1 '; OU ern '01 III r ~ it. U lI4!lIsa",,,./ung %UT Reli-

iorrspolitik ' nst ntlnsdes Grossen, wbnsetv und beras« 1 ! 8 hen. 0 rrnsradr,

1 ~9. p, 7 .

2

Page 14: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUA 0,0 NOSSO MU DO Sf TORNOU cR,srAo

UMA TOlEAANCIA lNSINUANTE

Converter 0 pagao ? Tastoprograrna, Constantino re onh -

ce que a re itencia (epandstasis·) dele e r I que r nuncia a

irnpor-lhes a Verdade e apesar de eu de ejo , p rrnanecera

toler nre , depois de suas grande vitorias, m 312 e em 324.

tornara 0 cuidado de rranquilizar os pagaos das provincia

que acaba conquisrar: "Que as que estao equi -ocado

gozem da paz que cada urn conserve 0 que pr r ode para

sua alma que ninguern arorrnent ninguem."1S Ele curnpr ira

as prorne , 0 culro pagao 6 sera bolido meio seculo de-

pois d sua rnorre apenas Justiniano doi eculo mai tar-

de, come ara a querer converter os ultimo pagaos, sirn

como os [udeus,

oi e se 0 "pragrnatismo Con {antino,"19 que reve uma

grande vane g m.ao consrrangendo as pagaos a con er-

sao, Constantino evirou que ele e levanra m contra le e

contra 0en ria: irno ( ujo .uturo estava bern menos garan-tido 0que po a crer e que quase socobrou ern 364, como

·Cic d equi oc d mentesern cenro no ori inal, 3palavra em eu enri-

do prlmlrlvo lgnific ublcv.; 0".NAo se pode ne ar que, no coneexro,

"rc isr ncl .. (no orlglnal it I\~ s e [ "r~si [ nee") eja uma oa cradu-

~-o.( r.T.)

J'Tir:ado de E sebio, Vida de Constantino; Il, -6, 'I e 60, 1. Em ra H.A.

Drake pudesse susrenrar que 0d cjode Con ranrlno er .. riar umduradouro entre: pllg.305 e risr os nurn CSp:l)O p ....blico r Ii' m rue u-

tro" (Constantme nd tile Bishops: the Politics of Into/trance. Balrimor

John Hop i, University Press, 20 0, pp. 15 e 401- 09).:E po sfvel, mas 0

d prezo 0 lcl lmenre demon [ ~ o p 10 impen dor m rei 0 .~rolice do

p3 nisrno $Cconcili mal com ,C,S visao multo enero •.

gundo expressao de Pierre: Chuvin, Chronrque des derniers patens: 10

disparition du rx;g nisme dans /'£mp r remain, du rlgn d Constantin

celu! de Justin;~n. P ri II Let re Fayard, 1990. pp. 7-40.

22

Page 15: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SALVADOR 0,0. HUMANIOAOE: CO STA TINO

e vera). Diante da elite I ngajada que era a seita crista as

m ssas pagas puderarn viver de preo upadas, indiferentes ao

capricho de seu imperador· 6 uma minuscule elite de letra-

do pagaos sofria.

Constantino dizfamo deixou em paz 0 pagaos e seus

culros, mesmo depots de 324, quando a reunificacao de Ori-

nte e Ocidenre sob sua coroa 0 rornou todo-poderoso. 3-

quele ano, ele dirige proclama oe seus novas sudiros

orienrais depois a rodos 0 habirantes d s u irnperio.j" Es-

criras num esrilo mais pessoal do que oficial aern da pena

de urn cristae convicto que, em p 1 vra J deixa 0paganis-

mo no nivel mai baixo que pro lama que 0crisrianisrno e

a unica boa religiao, que argum nra nesse sentido (as vito-

ri do prfncipe sao uma prova do verdadeiro Deus), mas

que nao torn ncnhuma rnedida contra 0paganismo: Cons-

tanrino 030 er5 'Urnnovo per eguidor, 0 Imperio vivera em

paz. Melhor ainda, de profbe formalrnente a quem quer quesej de acu ar 0 pr6xirno por motivo religioso:a tran-

quili ade publica deve reinar: dirigia-se, sern duvida, a cris-

tao excessivamenre zelosos prontos a agre dir os rernplos

pagaos e suas cerimonias.

A fun 30 de imperador romano era de urna ambiguidade

nlouquecedora (tre eculo ante de Constantino, essa

rnbiguidade da fun~30 rornaria paranoico 0 prirneiro uc s-or Tiberio, do fundador do regime imperial), Urn Cesar d via

rer quatro linguagen : a e urn chefe cujo poder civil e dotipomilitar e qu d5 orden ; a de urn er superior (mas sern

23

Page 16: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUANOO OSSO MUINDO SE TOR OU C IS 0

·r urn dum rorno 0 q a e cria urn culro

persona idade: a de urn rnernbro do grand con Iho do Im-

perio 0 en do, onde ele ' nad m no U 0 prirneiro entre

s u pare que ne m por rem s eus par dei: am de rr erner

qu ndo p nsam ern suas cabe ase e a do primeiro magisrra-

do do Imperio que se comuni a orn seu con idadao

plica di nr d l .Em us ord nam nros ou proclarna-

oes de 324 Constantino optou pore sa linguagem, mi tu,

r ndo-a a uma quinta e urn prin ipe rrisrao convicro

propagandista de sua fe e que consider 0 paganismo urn

"supersticao desvanrajo a", enquanro 0 ri ti ni mo aantf sima lei divin .ll

Tamb m mantern ua prorne a . tolerancia religiosa e

de paz civil im como n nhurna p rs gui ao mancha de san-

gue 0 eu perfodo imperial, agirado apenas or querela nrr

en tao. ao for nir go m convert r: 21 nomei pagao para

as mais altas fun .Qesdo Estado nao cria nenhurna lei con fa

os culros pagaos (rnesmo depois de seus triunfo de" 2 aindaque'. 'eze rrnquern e ulr .)24 e permit u 0Sen' do

d Rom insi ta em arribuir cr ito aos ac r Ot oficiais e aos

cultos publico do Estado romano, que continuum como antes

e assim continuarao ate mai oumeno 0 fim do eculo.

Seria born manter uma palavra de tolerancia? COl rendo

o risco de sermos inutilrnenre didaricos, varnos distinguir. Po-

Hod.. 'I. 2 .. 5: eli 1:0 :surstitio. sanctissima Ie (0C6 i0

Teodosiano.ique e do lo seguirue, itu eSS pr I macao ce Cont ntlno

em 323).

HR. MacMullen. Christian;·;" tl e Ro an F..rnp;r£, op. cit.; pp. 6·101.

:z er urna lista de names em A. Alfo dj The: COPJIIt."TjrO" of COIfSliJ"'In~. op

cit.; p. 119.

l~De 31., tl uo morre, em • C OM e ntino nfio 1 roy nenhum le

tip ( '. 1. Gir rder, Die onst ntlnisch 'w . nde, op. cit•• p. 2.,).

24

Page 17: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SAlVADO OA HUMA IDADE: CONSTAN I 0

der·se-i!1 ser roleran e por agnosncisrno OU ainda por achar

que muito carninho Ievam a poueo acce sf -e l Verda e.2S

Pode-s ~ er to eranre em fun -0de urn cornprornisso, por se

esrar can ado das guerra de Religiao ou porque a persegui-

~ao fracassou, Pode-se achar rarnbern, como os franceses, que

o E t do nada tern a ver com a eventual religiao dos cida-

ios que a religiao , e as unto privado dele , ou como 0

mericano ) que nao , e fun ao do, [ado reconhecer, proibir

ou favor cer n nhurna con isao. Quanro a Con r an r i no

redirando na unica Verdade, senria-s no direito e no de-

ver de irnpo-la lti porern, sern se arriscar a passar aos aros

dei cava em paz aqucle que e tavam enganado e sin, gia

no interesse, c cr ve ele. da tranquilidade publica', m ourros

rermos, porque ele enfrenrava urna forte oposicao. 0 faro , e

que. eu imperio era imulranearnente cristae e pagao.

13 Con ranrino considers por outro lado, que exisre

m fa or d 1 urn dominic r s rvado: cndo 0 cri tiani mo

sua religiao pessoal (que depois onrinuard praricarnenre, comseu uce sores n tao 3 religiao do rrono), ele nao perrmre

que u propria p S oa eja con pur ada pelo culto pagao.!

l~E 0 que n im do f.:ulo 0p 'I 0 Imaco dir:l aos Crt , 0 : "N 0 se pode

cheg r por urn u n , oc minho ur n 011 [~rio t50 sr nde" (R~Jutio. IH 10).

Po' 0 nhor J us deu como mi 0 seu di cip J os 'on 'crrer [OW3 terra.

llu:mbrcmos 0 texto multo dJ urido de Z6Limo, II, 9~ S, n qual h

mesma dupla ondura, eix que I) p gavs umpra em u C n n13.

u""o se onspurcar cum elus; ern urn data irnpre -~ • Con t ntin I"paruci-

puu da rl:~r <be(),tl)". ma... U sc manreve fasrado do anro S3 lifido (h/~T

UJ~lSte(a)". IN . I.: on inn I mda urna \'C1.dCJJI:JJ de acenruar IUp lavra do

re 0d~ i0: h In - e h:n1j60 para 0 faro de que em triton os, orno na

ullomil p lnvr:l, 0 ill: nco r flee , 'ur01 obre segunda vog J, m3S ,:1 primeira

C qu ~ vogaltonlca.] V r rudull nora d fr o Paschoud ern sua cdili3o.

vo _ I. pp, 220-224, e d. CUs:.30 de '. { Girorder, D ie II.Olf5j(J"tinl5CIJ~

Wmde. op, cit. ,p. 61, numero 17 (c rodo 0 conrex [0 de SI: .abJo).

25

Page 18: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OU NDO OSSO U DO Sf TO NO C IS 0

em Roma para lebrar u d cimo no de

t decenais eram el br 6 patri6 ia nas

no do mai liz. do r Inados, urnpriarn-

e cornpr orru os tab 1o ob rano estabe leci rn- eano nr

pormeio de no. 0 sacriffcios os conrrato para 0 del. arios

fururos; Constantino de· ou 0povo di er nr em gr n e

f ra mas proibiu u lqu r sacriff io nimais,"'s, esirife-

tando assim (no dize,r Alfoldi) os riros pagaos.

Para nao nos alongarmos fiquemos em urn do urnenro

celebre, no qual se ericonrra 0mesmo pagarrisrno deslrrfera-

do 0rnesmo horeor agrado pelo ngue dos criftcios.

ci ade de pello na ' mbria, pedi urorrza-

o p ra bel r hi urn gr nee r .nu I cujo pr rc ,0

obrigat6.rio r' 0 ul 0aos imp ra or s· h g va-se a pro-

por para a realizacao da fesra a cons ru<;.aode urn 'templo 0

irnper dores morros e di iniz do da dina' ria reinan e en-

rr 0 qu i0pr6prio p ide Con t ntino).2 Corno ro f

cr r ~ ~omo recem

de Constantino?

urn

rnerror riro p 30.

Iacitid es p r ue foc:a

do p g n. mo-o

r enr

010 tr Za 0 (fluto de d ~us em Igurn moed pO tUffin •

2

Page 19: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

t' de cui 0imperial, ne h veria comb te de gl diador s

prazer upremo raro di p n io 0e purarn nte secular.

Con ranrino urorizou a festa, os gladiadores (cuja apre-

en::l~ao el 5 mpre hesirou proibir de tal forrna as cornba-

re eram populares), 0rernplo dinastico 0sacer dote irnperi )

m proibiu a este ultimo que infligisse a sua dinastia a man-

cha dos sacr iffcios: haveria 0culto imperial sem 0sangue das

V I imas. Urna ez que dada sua funcao urn' acerdore irnpe-

ial ra indicacao do pro rio imperador, Con tantino apro-

veitou 3. int rferencia pol para proibir urn culto pagao,

Porque ele nao profbe 0paganisrno e nao favorece 0cristia-ni mo 3. nao ser na esfera que se refere 3. sua pessoa (esfera

cern mpla e verdade); da me rna forma lembrerno-nos dis-

so, uando maudou pinrar 0crisrna no escudos de seus

olda 0 ta denrro de a e Cera por er 0exerciro in -

rurnenro do imperador, que ~ u chef ir to.

Por solidari dade com us corr ligionario , Constantino

teve 0cuidado de poupa-Ios cornoa si pr6prio, do contaro

irnpuro com 0sangue das vftirnas sacrificiais: os magistrados

ri tao ficarn di pen do d curnprir, como exigi m suas

uncoes 0rho pagao da Iu rr -0[puri i -0], que rerrni-

nava corn urn sacriffcio: lei arneac , d· urra Oll d rnult

quem or as e os conselhos municipals cristaos a cumprir a

. uper ri ao".30 Beneftcio duplo e te trrplo: num golp uni-

co os ri 0 cri t-o dei avarn de rer urn prerexro para se re-

usar a pagar os altos tribute muni ip i, " 1 e aos crisraos

'. XVI. 2. • ern 323.

I 01. PIC r i o "Con'ST nnn (:0 _ -. em Crises et redre en' 7f$/~ vinc~s

~uropien"es de rEn7pUT. At do Col6 uio de Esrr sbur 0edit das por E.

Freaouls, Estrasburgo, AECR, 19~J, p, 75.

27

Page 20: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUA 00 NOSSO U DO SE TO OU C ISTAo

pouco escrupulosos ficava sugesrao de conduzir- ernodo

mais conform ali.

Con nrino rnbern poupou aos crisraos - sern exclu-

ao dos crimino 0 - a obrigacao legal de pecar, lgun

culpado eram condenados a combater como gladiadores

for ados. Ora a lei divina diz "nao rnataras", e nunca os

gladiadores foram admitidos na Igreja. Constantino ecidiu

que as condenacoes aos cornbares na arer a pa ariarn a rer

substiruidas, no caso dos cristae ) pelos tr balho for ados

nas minas e pedreiras 'e assirno onden do- t riam 0 as-

rigo por seus crimes sem que se derrarna e angue '; os su-

cessores do grande irnperador ob ervararn a mesma lei.J2 .

Convern e clarecer que 0 eondenado rnorre aos rra-

bal ho forcado ou ren rornavarn-se propriedade do

Fi co imp riarn e, nesse senrido do proprio imperador.

Constantino manrern eritao seu principia de nao impor ua

religiao a nao ser na esfera pessoal. Par causa de se princf-

pio, s u filho Consrancio II proibira os alto magisrrado

pagaos de conri nuar ern a dar aRoma esperdculo dear e-

na, e de transformar os soldados rom nos e 0 oficiai do

Palacio imperial ern gladiadore (0 e ercito e rribui - 0 do

pr incipe) ...

Em suma Constantino respeitou de urn modo gera seu

principio pragmarico de rolerancia. Entreranro chegou em

~Saoas seguinres leis: COdlg'O Teod t IX. O. 8 e ) 1 (em 6 e 57).

JIOFi 0percen - 0 irnper ador. As mina e pedr eir rambem per renciarn

o Imp r dor e erarn did do fico; O~conden dos na pedrerr i e

rom elm e avo do Flsco, que er uma e r~dc . : d Gul dnh pos

de: rrsbalho e nao era pcn:lS uma drninistr -0 de rmposros.

iC6di Tead.• X ~12,

28

Page 21: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SALVADOR DA HUMA 'DADE. CONSTANTINO

3 1 a "esquecer " de celebrar-" 0 solenfssimos jogos e-

culares, que, de cern em cern anos, fe tejavam, em varios

dia e noires de cerimonias pagas e de sacriflcios, a data

Jendaria da fundacao de Roma. Tarnbern nao deixou de

rornar algumas medidas muiro suri , como a que esrabele-

era 0repouso dominical da qual adiante falarernos mais

longamente; ver-se-a rambern que uma lei pela qual Cons-

tantino impunha a aboJi~ao total de sacriffcios pagaos nao

foi aplicada. 0 culro pagao s6 cornecara a se enfraquecer

a partir de seu sucessor.

Com maior facilidade, Constantino quebrou 0equilibrio

entre as duas religioes, menos se voltando contra 0paganis-

mo do que favorecendo os cristaose mostrava a todo os su-

ditos que seu soberano era cri tao, qualificava 0paganismo

de baixa supersricao em seu rextos oficiais e reservava as

tradicionais liberalidades imperiais a religiao crista (mandouconstruir rnuira igrejas e nenhum templo pagao), Porque,

inda que 0pag ni mo continuasse a ser uma religio licita e

que Constantino fosse, como todo imperador, 0Grande Pon-

tffice do paganismo ele se conduzia, em todos os dornfnios,

como proretor dos crisraos - e sornenre deles.

Gracas a Con tanrino, a lenra porern cornpleta cristiani-

za 30 do Imperio pade cornecar; a Igreja, de "seita proibi-

da que tinha sido, tornou-se rnai do que uma eita lfcirar

e rava instalada no Estado e acabara urn dia por uplant r 0

pagani mo como religiao integrada aos costumes. Durante os

tre primeiros seculos, 0cri tiani rno perrnaneceu como uma

seita, porern de modo algum no senrido pejorative que 0

I I'Zoumo. II. 7.

29

Page 22: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUANDO OSSO U DO Sf TORNOU CRiSt 0

alernae ao a - sa palavra: urn grupo para 0qual indi ,rduos

decidern enrrar, urn conjunro de cren a ao qual alguns e

convertern por oposicao a urna "igreja , a urn conjunro de

cren as dentro do qu 1 e nee que sao as de todos. "Tor-

narno-nos cri tao ) nao na erno cri taO e crevia Ter-

(uliano16 no ano de 197. Essa lenra pas agem da eira 30

costume era a obra do enquadramenro clerical da popul -

30, tornado po vel porque a Igreja era apoiada e favorecida

sob 0ponto de vista fiscal pelos irnperadore e tarnbern por-

que 0 rt riani m~ ra a religi -0do pr6prio governo que

de prezava publicamenre 0pagani mo.

Assirn, por volta do ano 400, umcri tao podiater urn

senrirnenro de triunfo proximo: 'A auroridade da e e

e pande pelo mundo inreiro" .J7 as de onde a nova religiao

tirava eu poder obre 0 e piriros? ua up rioridadeespiri-

Nat sobre 0 paganismo era inconrestavel vai-se ver, m 6

um elite religio a podia er n r el a isso. E por que 0im-

perador em pessoa se converteu?

Qu ndo Con tanrino v io 0mundo 0cristianismo se

tornou" questao a alorada do se UIO"·l quem quer que

ri e e urn mlnimo de en ibilid de religiose ou filos6fj a fi-

cava preocupado e multo inrelecru is j~ se tinham converri-

do. Devo, assim, no temor e no tremor tent r esbo ar um

qu dro do cri tiani mo no decorrer dos anos 200 e 300 para

enumerar os rnorivos r-0 diver 0 que pudcram rornar t en-

radora uma coriversfio. 0 morivo da conversao de Con -

14Tc:rtuli no. Apol itlca, XV])(. 4.

IS nro Ago rinho, Co,,{isw s, VI. Xl, 19.

Como m 1 87 veu V . uleze, it , do por A.AUoldi. Tbe Comltrr"si<m

of Constantsne; op, ctr•• p. 10.

o

Page 23: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

o SiAL.VA,DOR DA 'HlIJiMlAN I DADE: r;:ON SlFAN'"rINO

rantirio e simples, diz-rne H.elelilf: Monsacre: para aquele que

prete fa dia ser urn grande •rnpe rador, ha via. a ]1ece ssidad e de

'Umdeus grande, U :m .D e u s gigan tcSCO e arnoroso que se apai-

xona va pel a human ida de, desp ertando Sf:ntimenres rnais for-

' res: do que a rnultidao de deuses do paganisrno, que ' v iv ia rn

par si mesmos, esse Dew desenvolvia urn pla:no nno menos

giganresco para a salv.a~aoete rna da humanidade. Intervinha

ria vida de seus flieis f:xi,gilIldo deh:s urria estrita moral.

Page 24: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

C AP I, U LO II U :m a obra-prima: 0 cristianismo

Page 25: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

Duran te esses ano s ocri rian ism o nao en on trando rna is do

ue hostilid ade ou ind ife renca na rnassa d populacao con -

guira jun to 3 elite 0 status de um a d iscutid a van uard a: para

o erudiros, repre ent va Q grande probl m religio 0 do

colo ou . eu pie r rro . m no a epo a, and uer que haja

lgum a elev a a o 0 - pirito d i ut rn-se que t6 eti o -po-

llticas sobre a evo lu a o mundial; no seculo HI a inquieracaor:m 3 gr nde verdad 0 de tina da lm a; af 0 U so

do n opla ton isrno jun to dos in te lec tua is , A questao ndo 0

b i '0num ero de cristaos , m as 0grande lugar que 0c ris tia ..

ni 010 ocupava na ,0 iniao e n o e a te publ ico na ida

d e u up r i o r i d d - -m r e l a aoo p g n i s r n o ,

] n tem o num rar a d i r a up rioric d r lari ..vas, po rque a lgum as delas v iriam a ser dec isi vas na S olha

que Con tan in fez. de. religi- 0 com o verd deira e com o

digna d e s u trono , Poucas r ligioe - r a l v e z n nhum a-

onhecera rn no co rre r dos eculos um en riquec im nto e s pi-

ritua i n r l e c t u I igua l a o do ' ri tian i m o : no seculo de

Con tan tino r ligiao ind r um aria, m as, m esm ossim , up rou mplament 0 paganism o. I un hisroriado-

re agn6 rices acharao pouco ci n tffico lab ·Icer urn es ..

c la de meri tos en t re as re ligio e . Ma no m u m odo d ver

is 0 n - a e violar 0 prin cfpio de neutn lid de r io log]

3S

Page 26: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUANDO osso : ut DO SE 'TO OU C IST3.0

orno r onh rrno "'up non rra cria ,oes a

tiri as au lit r rias, up rior'id a o a qual 0 on

rernporaneos nao orammeno en Iveis do ue nos. Por u

a irnagin .. 30 riadora d religioes n-o red eJ tamben ua

obr: -prirna ?

is precisarnente sua superioridade prejudicava e

religiao de e ire, n e igenre para com eu f ie i 0

promet .dor. de boas colheiu ou e cur : n:-0 fa me

propr is do qu a gran mu ia OU3 grande lireratura par

e irnpor roda urna popu a~:o cuja rellgiosidade tin 1 m

nor Icon c. Para que en es e urori be 0 Irnpcrio e d

Igrcjs pc ou m..j int n amerire do que eus meriros. Aler

di 00crisriani rnotern urn a vad r ori ina} que ( 50 pod

agrac r 4 todo sgo ros. 0 neoj 1 r ni Jl10 r~ meno melo

dram to 0 0 olho [guns ' ru ito. I' 1 hi t6ri

1 mzr nO: 6 urn urori L I" error on gurrr

fazercom u urn ostum suplanra se ourro co rurne. le

e enrido papel de Canst nrino foi decisive.

PAIXAO MUTUA, ALTO DESTINO

Com cerno por riunci r a sup riori a t prin ipal: a ri

riani n10 prirnitivo dev u eu rapi 0 suce so ini .ial junto

ntim nt de urn lis-~. 0 e gr tid. :> em r I - C:1 I) 1 'P r eus co

(£I.;JO , em rd. ". FHho r eu sr rif do. dC\.];J pare ermuir hum no

u neopl t<>ni~o. nos olhos de qucnl seri edade do gr:lr de: prO<.: .0 ·o. . ;

co nad einha u ver om esse rom. nee de piedade amilial, Da me m tor II

o pnpeld Re entor p de p recer I n 01.1 ornph do e n IOOr.rn:

o 'f que 0 d 0 memo, simples C rocanre, o e um ano i~o. I' mo t n trajcl(IT3do 0buds t .J

Page 27: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

UMA OBRA-P IMA: 0 C ISTtA (SMO

urna lite a sua grande originalidade 3 d . r urna religiao

de amor; deveu-o rarnbern 3 urorida C obr -hurn n que

ernanava de seu mestre, 0 enhor J e U~.Para quem r cebia a

te a vida se rornava mais inrensa, organized po ta sob uma

grande pressao. 0 individuo devia nq adrar-s em uma re-

gr que p ra Ie e rornav urn tilo de vida, como nas seiras

filosoficas daepoca mas a esse preco, sua existencia recebia

de repente uma significacao ererna no conrexto de urn plano

co mico, oisa que nao lhe dari m n .m a filo ofias n e m 0

pagani mo. E re ultimo rnantinha a vida humana ral como

era] cfcmera feita de dctalhes. Gracas ao deus cristae, essa

vida recebia a unidade de urn campo rnagnetico no qual cada

a~3o, cada movirnenro interior adquiria urn sentido, born

ou mau - entido que 0 proprio hornern nao dava por si

proprio, difcrcnternenre dos filosofos, rna 0 orienrava na

dire ao de urn ser absoluto e ererno, que nao era urn princi-

pio rna urn er ivo. Para. cirar Etienne Gil on, a alma cri -

r5 bu ca e olidificar no . c r para e lib rtar da angu ria 0

futuro. Ea. cguranca interior era ace sfvelarodo , crudi-

[s an: lfabero .

Ampliando a religiao judia e os Salrnos, 0cristiani rno

tern por fundarnento uma paixfio mutua da divindade com

a humanid. de ou m i e aramenre com cada urn de nos.

Para sug rir 0 abisrno qu 0 para do pagani rno peco

perdao para tornar urn exemplo trivial, subalterno indigno

desse grande assunro: uma mulher do povo podia i f contar

uas infelicidades familiares ou conjugais a {adona; se as

rive se conrado a Hera ou Afrodite. a deusa se perguntaria

que extr avagancia rinha passado pela cabeca daquela tala

rnulhcr que lhe vinh fir de coisas corn as quais ela nolo

til ha nada a v r.

37

Page 28: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUA 00 NOSSO U 00 Sf TOR OU C 1ST 0

UMA PAlAVRA ENGANADORA: 0 ONOTEfsMO

Foi por ,es e arnor, pelo senrimento que de seu Senhor e

irr diava par uma concepcao sublime do mundo do ho-mem quea nova religiao e impos. E nao, acredi 0 por eu

monor irna duvidoso, esse laborio 0 ponro d honra dos

te61ogos. 0 rnonoref rno, por si, nada 'tern d particularmen-

te excitante. Essa de resto e urna palavraenganadora que

abrange especies muiro diferent s que e vaga dernais par

ser uma das chaves da hisroria das religioe . go tarfarnos de

exernplificar com 0 rnonor Ismo" da religiao judia anriga,

mas faremo i 0 num apendice.i 0 moni srno filos6fico dos

erudiros pagaos nao 0 Imp dia de acredirar na exisrencia d

deu es subordinados ao Deus supremo. J E os "rre rno-

11m do \' lumer ':i6.pfndioe - htdsm ou mon

'Par os pensadores gr~go5. 0 monlsrnc, esse corcamenrc do r 1\ li mo,

exi ia urn 6 deus upr moou um prfnclpe, 0 Bern-Uno irnpe seal, imp ssr-

vel e passi mente uniCic:anr . Sob es e prindpio, podia aver urna multid. 0

de deuses, P13t.30, os estoicos e Plorlnc do politer ta mont ( . 0monoietsmo, c:uj~ impon~ncii1 e ex er n. hi t6ria a re l i 'Oe , ~ uma

p I yr en an dora e confusa, um problema rnenor e, na rnelhor c J h,p6tc-

Se'S urna idela popular. 0 pr6prio Constantino 0 revel ngenu mente m

eu Discurso do ~rtD-k,ro nt (Hl, 34): e e ramos na pre en~a de urna

muJrid 0 de:deu es, dil ele, ficarn perplexe t nfio sabemos a qual no diri-

girrnos portanto 0monotdsmo I;m is comodo. Como di~ pmoza, E f 0

ingenuo e supersricioso acredit r scm l o a O que hA apena urn u i l i Q deus

como credirar ue h muiros dies. Oil' veze ue0rnonoret mo rem

da , .100 la grega. Sed. 0 m mo? Contra 0 "lgn6stico". quer dizer, os

cri-tflos, Plonno escreve: "E preci cnnrar 0 deuses inreligfvel e, elm. de:(ados del, ogr nd rei des Jere inreli i qu r e s e e r nunh u gr nd ~

pela pr6pria plur lid de d deu e "(II. •9, rr d. de Brehier), Cert mente,

rel ~:lo mutua apai: .onada entre Deu e humanidade e, mais -que 0

moneret rno, inven~o m is origin Io crt n ni m oo mas e origin Ilda-

de solutam nre n 0 exige 0 monoret moi no polirelsmo, pode-se ter urn

deus olhido, pensar 6 nele, mar apenas ele ( so de Elio Arhtides om

eu querido Asdl!1 io), assirn como. par um arnoro 0, mulher que ele m

~ par c!e rod a rnulheres,

38

Page 29: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

U. OBRA-PRIMA: 0 CRISTIANIS 0

not Isrnos" de que hoje tanto e fala e ao quai sa o atrjbuf-os ranros male p rren em a tres especies disrinras. (Entre

parenreses, moe 0monoreismo que pode rorriar r rnf el umareligiao mas 0imper ialismo de sua verdade.)

originalid e 0 ristianisrno nfio e 0sell preren 0

rnonorefsrno rna 0giganri rno eu de us, criador do ceu e

da terra" giganrismo e rranho aos d us s pagaos e her deiro

do d us biblico· 0 deus do cristianismo e [aO gr nd que,

pesar do e antropomorfismo (0 homem pade ser feito 3

sua irnagem) pode se rornar urn deu m taff ico: em deixar

de manter seu cararer humano vivo apai onado, prate or.

ogiganri mo do d u jud u p rrnirira que ele urn dia assuma

a fun~ao de fun, am nco e de auror d or dem cosrnica e do

Bern fun~ao desemperihada pelo deus upremo no palido

d asmo dos filosofos gregos.

Ti ndo dois ou tres objeros de amor sobrenatural Deus, 0

Cristo e mai tarde a Virgem a r ligiao crista, us rrno de

rigor e polirefsta mas que importa? Essas figuras divinas nada

r rn ern com urn com os deuses antigos airida que sejam figu-

fa pessoai (e ate m smo corporals ate Santo Agostinho").

Com 3divind de cris - a inventivid d religio a aringiu de

uma hor para ourra 0plano da irn gina ao narradora ssa

"Rercmo aqui - e a m nrer ipor rode 0livro - 'elh If di~'o de Irn u

ponuguc:saentre n6s cern Porru al S~ 'undo a qual se zr (a a expressao e

trat mento " . nto" (au "S30·" ern ua forma apocopada) com irri -a J malus-

I cula quando li da die ( m nre 0no ea que e refere, ~ te. emplo:" n-

ItO nlonio". com empre :e fou, e no" anro AnfOnio". Es t orma,

di amos, moderna, em no idiorna ("samo Amcmio' ), ,~rnera irnira 0de:

n de • a come ar do ,pr6prio {ran c • m n da rem ver corn

porxugu 3. j remo com rr di 0, d prcz.ando

3

Page 30: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OUANDO NOSSO MV DO Sf TO au CRISTAo

fabulisra que j mais e cab e enrr tanto e polirefsra; al ou- e

a urn ni el rran cendeure: a igur plurais do cr isri nisrno

esrao re rnda numa Or m cosrnica de tal modo que el "cri ti ni rno, e uno. 0cristianismo e urn politer mo monisra.

E ess monismo, e porranro a natureza rneraffsica do cris-

.ianismo que faz dele urna re li iao uperior. 0 crisriarsismo

nao passava de uma hisroria popul r 0 olho dos neo-

pia onicos rna era uma hisroria filos6 ica· siruava-se muito

acirn e urn pane' 0 duma poeira de culros: 0 cri ri ni -

mo consi rava a unica verdade in pondo- e humanidc de

inreira dando a todos 0 hornen urn VO\,;3 50 sobrenarural

e urna igualdade e pin ual. rna Igr ja una sancionava e e

moni mo. Era urna rcligiao capaz de onvencer nurnero 0

ru ito era dign urn grande irnperador pie do 0como

o JOY m Constantino e digrra de seu rrorio.

AMOR. CARISMAOO SENHOR. MORALIS 0

Ourra diferenca espectfica do cri rial irno r r uma

religiao de arnor. Por meio do prof t j eu J sus de azare,

e arnor e 0d nvolvirn nro (al m de rudo ligado a famf-lia e as irn ousarnos dizer : 0Pai a . fie 0Irrnao, 0 ilho)

da rela ao nao menos original entre J3 e e os eu no Liuros

bistoricos da Bfblia e mais ainda no Salrno . 0 ri tiani mod· eu u uc 0 um inv n ao col riva de genio (nao, S-0

Paulo nao foi 0 u n a 0): a mis ricordia infirrira de urn Deus

que se apaixoria p 13 sorre da humanidade - nao d hun a-

nidade nao mas pela sorre das almas uma urna, a mirth a

sua, e nao apenas p la sorre dos reinos dos irnperios ou da

hurnanidade em geral; um Pai uja Lei e severn que faz corn

410

Page 31: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

U AA OBRI'4'PRI oIIA. 0 CRISTIA ISMO

que voce ande rerarnente mas que como 0 u e I rae],

ernpre pronto perdo f."

rna parerica relacao de amor reunia de modo profunda-

mente piedo a humanid de e a divind de em rorno do e-

nhor Jesus. Enrreranro, por sua vez, a alma humana recebia

urna n tur za 1 tevO paganismo nao ignorara roralrn nt

rnizade entre uma di ind de e um dererrninado individuo

(pensemos em Hipolito de Euripedes, que ama Artemis); em

cornpen a ao (pens rno na arirud dis ranre de Arrerni diant

de Hipolito morrendo)ignorou qualquer relacdo apaixona-

da e mutua de arnor e de auroridade rela ao qu nao rerrni

n nunca, que nao e oca ional como no paganismo porque , e

e sencial tanto para Deus como para 0homem. Quando urn

eri tao punha em p n am nro di nr Ie s u cus ..bi que

n50 deix de ser olhado e de ser amado. I nquanro os deu-

ses pagaos viviarn ant s de tudo para si me rno .

o ornern-Deus, em ornpen a~ao, 0Cristo acrificou-

se pelos homens. Outra grand razao sue 0 ira rt ta

e figure do enhor, u urorjdade, seu carisrna. Sim, auto-

ridade rnais que rerna, porque nao no ng nerno t ainda

. ramo n .poca d ~Sao B rn rdo ou de ao Fr ncisco de

s i_Cri to do primeiros eculos rambern nao era a rgu-

ra humanit "'ria de vida e cernplar em que se transformou de -

de Renan, Cristo tao caro aos in reu . Nao eram e razoes

(elcvad erramente universal que levavam Cristo: alit rarura pal ocrisra e ralt vaanre de tudo • nao a tracao

"Por e emplo, Exodo 4, 6; lrnos 6, IS e 103, 8-10; 1 Rei t 8, 30-50

(or 'I i o cie :alom:io). Esse senrimenro era efeuvarnenre vivido, e 2 uns 3tt

abusavam ddt: e ..-iarn n mi en rd' divin "urn direlro de tirar fert s no

pe do" (eommt Iwmdeltn uendi; e creve Terrull no),

41

Page 32: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OUA 100, 05S0 U 00 SE TORNOU CRISTAo

c ia humanidade de Jesu rna ua natureza obre-hurnana, na-

rur za anunciada antecipadarnent pelos profetas e demonstra-

c ia pelos milagres a ressurreicao e 0ensinarnento do - 1 tren•s

Esrava-se rna. ligado a es a natureza sobrenatural do que

a pessoa do deus-hornem, a sua vida a tudo que estd narrado

nos evangelhos (em Santo Agostinho, ainda, a humanidade

de Cristo conrinuara em egundo plano)·" qualidades hu-

manas e os sofrimentos humane de j sus desernpenham

papel singularrnenre reduzido na apologerica desse perio 0".'

A Cruz era slrnbolo nao de suplfcio mas de vitoria tropaeum

Passionis triumpbalem crucem? A Pai ao e a rnorre de Cris-

to nao estavarn continuarnenre diante dos olhos do cri tdo;'

nao era a virirn expiatoria, 0 criffcio do Cruci icado sobre

'A.D. 'ode, Conu« lion, op, cit., , p o 210.

-Eric R. Dodds. lbgan and Christian in an I\g~of ,A"Xleoty. Cambndge U niv e rr '

Pre • 1965 (P-:t;'ens et ehr f;e_"s e n un age d'Jngo;u IPoIlgdos e o cnstaos em11m idad« dea"gWstia] . tr d. fr, de H.D. S Ifre • C J ix, La ~rufl" Sauva e,

197 • r )) .rudeneio, Cathemerinon, IX. 3:":. crez rriunfal, cue trofeu d P.I 0".

a cnn sabre, qu foi exalrade por sua >it6,-i Cristo rinha r a

e rtndidc:» i\ direita e l e querda; e e ge to de "en edor unh3 5'do pre ,gur 0

por Mois~ por oc sio d vir61t sobee os Am:llc:cH : e Moi ..e esrendi OS

br ~Oi ~ direlra e esquerds t que lsr el er 0 mais Iorre (Exodo. 17. 11·13).

Tambern, n pnmcira represenrJ~.lo que temos d Cruci rc " o, obre s

porras de Santa abina do Aventino (cerca de 420 30), madeu d cruz.

nao ,~d represenrada, a n~o ser aluslv mente.'Vcr. enrreranto, sobre 0que en to sofreu na cruz a unda ep{s,olu do

P s udo-Clemenre, I. 2; Eptstol« de Barn II • S,.s : Inacio de AndoqUl •

Eptstol« uos ~sm;m",ses.~, 1. 1a muh d

res OU eman m dos pt6prio- m rtires que e eguir m, marriresque aceitarn

verter seu sangue, um~ vez que 0 pr6prio Senhor rinh vertido 0 seu, "lmua-

.e" jesus so rendo-se como ele, ~ 0 que fazern os m. rlir que verrem seu

sangue como Cristo verreu 0 scu: Sao pri no. 6. 2 (d •.a E pr (ala os roma-

n 5: . ,16-17),31,; .2..2. Ma tlr 0 de Policarp«, 17: "os m4rtir ~o

disclpulos e os lmlt ..dores do Senhor", que sofrcu pdll no

Page 33: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

UMA 08 A-PRI A: 0 CR STIANISMO

o Calvario que f zia con ersoes, mas 0criunfo do Ressusci-

t., do obre a rnorte,

1\ Figura d Jesus se impunha tarnbern por eu tempo deperrnanencia na terra por seu cararer hi rorico, recenre, bern

darado;? Cri to nao era urn er mirologico vivendo em urna

temporalidade feerica. Diferentemente dos deuses pagaos ele

'era real» e ate hurnano, Ora sua epoca era muito recepriva

aos "hornens di inos" itbeioi dndres"), ao taumarurgos aos

profe que viviarn entre os homens e que rnuiros rornavam

por mestres. Sobre os sarcofagos (cuja decora ao ilusrra 3

r la~ao do defunro om 0 enhor), 0 cnhor aparcce como

Pastor que apascenra as ovelhas (entre as quais 0defunro) que

ele arna e que 0seguem, ou como jovem Dourer do qual 0

d Iunro ouviu 0 mand men lOS etico .

Na verdade ourro morivo de conversao foi, para 0novo

fiel urn zelo rnoralizador, parente do esroicisrno popular, urn

gosro pela respeirabil idade, esse orgulho humilde. Var ias

pe 0 30 ensfvei ao calor erico e ficam Iogo renra urn

pregacao moral. 'Nao c adora 0Deu ri tao cornofercnda ,

nao se lhe sacrificarn vitirnas, mas obedece-se ua Lei. 0

papel fundamental que a moral desempenha no cristianismo

era arnplamenre estran ho ao paganismo; rrarava-se de mais

uma originalidade crista.

a infcio dc sua "ida de .Ap%nio de Tiano [Tiana era urna cidade d nriga

Cap3d6ciaj, Filo traro chama aren o. com 0 ubi nvo de glori rear 5CU

hcc6i. para 0bto de que es e S blo pen nee ~ no. epoc e nao a fabulosaanriguidade do Sere S~bios. Haver urna mirologia crir>d na qual e ere sem

nel crer, com rexros como a LL"da dourada, os Evangelho d nf nci , os

( peri 0$ dos martlres e OUU3S narrativa par d cite do leiror,

ud deiectandum;

•Ainda urna vez C J original ornire cenro rafleos (par n6s acrescenr -

des), sem os quai M urn rd deir mutll.1.;ao do g;rcgod ICO. ( • T.)

41

Page 34: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OUANOO OSSO U 00 5,E TO OU C IS T 0

Para grandesurpresa nos a os rexro Crist 0 lam corn

muito mal frequcncia de se moralismo do que de amor.

n uanro Epistol a Diogneto; 0 ra de erudite onvid vaa imitar 0amor de Deus pelos homens arnando-o e ajudando

os pobre e os fracos 0 hi po Cipri no pre ere e a neccssi-

da le de nao pecar e de obed cer a Deus sem pretender irnird-

10 , S .irn como urn e erciro nao imit seu g ncral mas 0

segue, obedece-oj.'" uma autoridade qualquer que se]a, pre-

f r g ralmente os subordinados 'que se ontentam ern nao

de ob ecer ao que tornarn po itivamente iniciarivas,

o suce so do crisrianisrno ralvez po sa er comp r do ao

d um be t eller (no case de uma obra-prirna mundial, 0

olhos do increu que ou).. le U garra pelastripa eus leiro-

res e, se es e agarrar nao chega a aringir s multidoe , pelo

meno aringe a religiao dominant pre edenre no rninirno

junto a urna elite espirirual ou etica vind d rodasa 1 3 S

da so icdade, rices e pobres ignoranres e cultos ou sernicultos

ntr .0 quai urn cerro imp r dor ... Nao afirmo mui 0pelo

contrdrio.que 0crisrianismo eja Imanente a alma hum na,

ou qu ociedad 0aguardava. Seu sucesso e explica de

our form :T11 be t eller (como A nova Heloisa ou como

Werther·) r vela a algun urna cnsibili ade ante insus-

III au Cipri no, Con spond 'ncla,XIII, 4, 2: X\~ 1, 1.

·0 tllulo omplero d famoa bra do em 0Joh nn W . lr~ ng von G the

(17 _·183:!) ~Os so{r.;mt'fJtasdo [ovem W,,:hn-, romance episrolar I n~ do

em 177 • que contribuiu para criar rma em do ller6i rom5ntJco e errou

urns lenda se undo qual aurnenrou multo 0 mimero de suicldios p6s 0 StU

I ncamen o, 'ertbe inspirou 0dr rna Unco de Massenet, de:' 1 9' com

Iibrero de E_Sinu e P .. tWicr. Quante [ulle au a NOt a Helotsa (esre 0drulo

complero), e Dutro roman e eplsrolar (17 1), nesre C3SO de: Jean·Jacqut.-s

Rousseau (1712-1778). e n rr 0 amor des vrrtuos julie d'E nges e MU

pre ep or p eb u S inr-Pre • que e rorno um mor im Ive] di nre d

barreira ..so i j levantad p [tir d l J' ide Julie. qu n 0supott .

de over Ih ad' om urn plebeu, (N. 1:)

4

Page 35: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

U A OBRA-PRIMA: 0 CRISTIANIS 0

peirs da: e a en ibilidade nova qu 0cristianismo fez nas-

er (no en 0 con iderado, a de uma religiao que fala de, mor)

proporcionou-lhe em conrraparrida seu sucesso, do qual,as irn, ele pr6prio criou as causas.!'

Obra-prirna tao original que em nossa merade do rnun-

do a partir de enrf 0 ditou a moda: provocou urn corte geo-

logico na evolu 30 bimilcnar das religioe ,abriu uma era nova

p ra a irnaginacao que as cria e vai servir de modele as reli-

gloes que a sucederam rnaniquelsrno ou islam." Quai quer

que sejam suas diferencas, nenhuma das tres (em nada em co-mum com os velhos paganisrnos ao redor do mundortem,

Urot' exemplo, 0 budi mo de obriu, invemou, revelou, Inculcou 0 senti-

menro do so rrmenrc universal ligado condicao human • 0que, em

contr p r t ida , fez 0 suce 0 de :\1doutr in d alva 0 (~L had C rrithers,

The Forest MCinks of Sri LAnka. Oxford, 19 3, citado par Perce Brown, Le

Rel1ol1cem~nt a 1 chair: t'; "l1itl. ciHbal et continence ians l« christ, nisme

p imiti], tr d. fr , 0.: P.e. Dau l e C h r . J c o b, P c is .. G a11 im a rd . I 95. ,p o

91). Num terrene rnais vulgar e segundo as ideias ~ons3gr das, umaern-

pr . • eli • com ba c n publicid de. '" lsa .. n ce sid: de nov • que: (a-

zern com que sejam omprados os produro que re spondem a eSS3S

nee idad· •

..Vern a pelo charnar a aten(j3o, aqui p3ni:J gnfia vitanda "isU" que e

\'111 • rlzo« em nos ;1 Impr nS3 e por I so domina absolura no Bras]] ~JtU31.

Cerramente sera taO impr6pria como ·Vie'n~f·.1por e emplo, em vez de

'Ietn. m. 0 "n" fins. em nOHa oreogr af antigav sempre oi um simplesrndl e de nasaliz ~ 0 d· vogal nrerior ("irman". 3(u31 ~irm~"), '~o ~ 35-

srrn, por~m, com 0"m" final. que onstitui omo qu um no it ba, Ao

e .emplo ir Ida...("islam", "Vietnam"), acrescenrernos "Amsterdam", para

o qual chama a aren ~o 0 gr nde aid .Ah (Dificuldade.s da Ungwa Portu-

u S3, Rio de J neiro, Laernmerr, 1 08). Devernos pronunciar a pal. vr •

di~ 0 me tr e, COmO . Ios 0 Ir ncrt~ ..rn. Se fosse c rrero ..is'·· .. erla-

mos, leml fa 0 crfrlco lirerdric ilson Martins, "i Hii mo" em vel. d 13:1

Iorrn "i~l mi mo". (N. .)

4'5

Page 36: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUA 00 NOSSO UNDO SE ORN'OU CRISTAO

irn, em comum entre si um profera, siruarn hi tori am nt .

¥ rdade e a salvacao tern urnlivro santo do qual faz m u 0

liturgico e ignorarn 0 sacriffcio de animai .12

Porque a hisroria inova, nao se faz pen d "re po ras"

a s "necessidades da epoca" ou "da ociedade". E preci 0colher: ou bern se dira que 0 cristianisrno e imp6 porque

respondia a uma expectativa marca de uma religio id de nov

ate srada pelo sucesso das religioes orienrai tanto quanto da-

quele neoplaroni mo, muito diferenr , mar a do 'espirito do

tempo' do Zeitgeist da "angusria da cpoca"; ou ao con ra-

rio preferir- e-a upor que 0crisrianisrno se irnpos porque

of ere cia lgurna coi a c diferent e de novo.

,A RELIGIAO E U MA QUAUDADE IRREDUTivEL

o uce 0do ri rianisrno se e. plica rarnbern por sua promes-

sa de uma irnorralidade da alma clou de uma ressurrei ao ciaalma do corpo? Quante a isso, devo confessar ao leitor meu

cericisrno e abrir urn parentese de tre paginas quando, con-

trariarnenre a minha conviccao, mais que rudo farei 0papel de

ad ogado do diabo. e plicacao, direi aind que em crcr

nisso, s ni boa e ~ verdade que 0 sentim nro religiose nao

exisre por si mesmo mas tern rafzes psicologicas inconscien-

res: a religiao serviria de anteparo ao medo da rnorre. Uma

explicacao da Anriguidade para a religiao: primus in orbe deos

"GU)' G. SUoumS3, lA Find« sac" Ice: lesmutations r: !J ~ usesde I'Anl,qu,te

tardiv«, Pri~, Odile Job. 200S, p. J 62. cltando J. "!lrubrou h, Context

.md Composition of Islamic Soh· tion 1llstory, 191 .

6

Page 37: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

UMA OBRA·PRIMA: 0 CR:S IANIS 0

fecit timor: I)0senrimenro do divino nao seria uma cat goria

apriori que nao e pode derivar de ourra oisa' como acredi-

[0 com Simrnel;" mas derivaria do m 0 da rnorte, 0 enig-

ma meraff ico da necessidade de consolacao e de 6piolS etc.Outra raZ30 para ser cerico dianre da e plicacao psicol6-

gica, C3'£a ao diabo: enquanto a rnorte esrd di {ante 0 medo

da rnorre e0desejo de erernid de podern dar impulses espo-

radicos de angusria ou de desejo de crermas que rararnenre

chegarn 3levar a urna mudan a de vida· dur rite os seculos

cristaos, muitas onversoes dar-se-ao in extremis e mesmo

dianre da morte;' 0 fumante invererado n-0 ignoram que

o tabaco mata mas 0futuro ainda esta longe.! Apesar disso,

nao se pode ter mai do que uma meia crenca, - urn cr nca

U"Foi originariamenre 0terr r que Invenrou os deuses" (0medo do 'r.:tio, p r

e ernplo): E ( 10, 'eba;da, III, 661; re(r~nio, fr igrnento 27. uc: 0 div no

oonsrirua urna sensibilidade espec [ica, irredunvel 0 m do (lU qual Ler ou-

tro sentlrnenro, ve-se d3C3mCntc: quando CSS3 ensibilidade 5 .urne urna forma

em ti imen a e pectfic ( \:00100 tl ambos Irnedo" •"e p nco". "estup r"

e parricuh rrnenre "adrnira '0-) do gregos: ou como n p rr srbac J ~ . pl-riros, descrira par Hrnaco no inr 10 de seu Hino Apolo; quando 0multldao

reunida para urn cerimonia enre que 0 deus se aproxirna,

•• eorg Sirnrnel, Die Relig;on. Frankfurt, 1912, p. 96 (LA &Iigion~ trad, f r o

de Ph. lv rn 1, Belforr, Circe, 'I 9 ).

I5QU ndo M r dl.que :IJellgl. 0 ~ 0 6pto do povo, n: 0 quer dizer que 5Ctrara de: urn ideologia que: cngan ...0proletariado "oprimido" {unurdriickt}.

m que f . n 01 c;ao meno srosa, rnais popul r ,que pos a ter "a

cri rura oprirnida" (b ru e t).

16Acrenlj3 no rcrr res do lern ngu ti:3 sobrerudo quando a morce se apro-

xirna, ia dizia PI tAo no inlcio d Republica.

• Cf, ° proverbio trivial m s multo evidentee "Viv 0Par' {so. porern 0an It rep tvel."

IComo 0 imple lei q e, 110 tempo de Luls 111.morris nos en imemos

mats piedosos de arnor e e cspcran~ tinha presente no esplriro, nAo ·u

crenca unreal no Parafso, mas B re lidade e plric d U3 morre irrunenree em

leu eire de morte, n 0 Ial v. d P af 0ncm do Inferno, mas dizia a seu

4: nfe or:"A perm nf.ncia dessa c:ns3~aoda rnorte, j ornbras is cobr m

rneus olhos, ~ para mirn urn des onf rro em igu al," v e · ui duas

010 alidades de cren :3 diferenres e desi auais em m t(!ri

Page 38: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUA 00 NOSSO MU 00 SE TORNOU CRISTAO

unreal (no sentido em que 0 ardeal ewman ernpregou

palavr ) em urn alern acerca do qui n -0 terno mai do qu

3pala r de ourrern'" e nenhuma "peri nci ru ab mosenigmdrico. _ preci 0 j. e t r conv errido ja crer m Deus e

ma-lo para 'tel" fc m u pal vra sobr 0alern.

'.las por ourro lado, ao r mpo em que nascia 0crisrianis-

rna corriarn, havia urn born rnilenio no mundo p: gao mil' ou-

trinas e lend 0 re 0 lern ou obre irnorralidade da alma os

pfrito irnpre ionavarn com essas doutrinas e lendas:20 n-o

rinharn renunciado como 3maioria de n6, a r ilguma oi-

sa obre iso. 0 alern ,er a ep " urn problem. qu vivia

vivamer re e que em onsequencia, provo ou conversoes, Pa-

r I~O u In .rno, a cri r i an i rno re pondeu L questao: "De onde

viemos? Para onde vamos?

a ,precisamente, mo par 0 Para. 0 ou para 0 In-

erno? Cla ii dore situararn 0 ristianismo no genero ou

pede das 'religioes de salvacdo " 0 que eri m i verda-

deiro em fda -0 a ourrin: ori ntai d aurorran figura a o 'quaruo ao cri tianisrno prornetia uma prova rnais propria a

I~C• 0 cticismo d e : que e Li te ternunho a epis ola" de Clem 'me Ti go,

pub icada na aberrura d:J.SHomlllas clementlnas, 10. : "Dcu decidiu que:

haven urn jul nrr enro na consurn 30 des tempos ... Que: e B e tarn ore

assirn c:r~razo el duvid r.t31 ..-ez, se 0 Pro era da Verd de: n a o nvesse a rr-made ob [urarnento que lsso se darla" (trad, r, de • :t.- ,Calvct), AD contra-

rio do monoret mo, preocup3~iio com 0 l~m (do qual munas reli ioc nlio

Ialam) n 0p rec er um ei '0fund m rual n hi u5n f r ligi6 i0euho

d morro. por c. emplo, con rirul r qu nrern me um domfnio il p nco

revel urn ..crenca .... scm d(J Ida, m por que onf mdir essa crcnca com a

cren n rei izlosa?

ara dar pc:nas uma mosrra de urn ample le ue de: public oes Ira anco

do sunro, 0eornbare de Lu~rc: ic, de Lu ano e t~ de ene ontr os

f turon: d c!m P J Ute dam com u

de rod i d

48

Page 39: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

UMA 08 A-PRIMA: 0 C ISHA ISMO

fastar urn novo adepro do que a converre-lo: a salv 30 OU

o upllcio rerno do InCrna.

Esse In erno nao deixa de consrituir urn difi uldade p rao pr6prios crenres e levava . anro go tinho dizer que

jus t i~a de Deu nao ~ 3 no a : 0 dud a r n o r de jusrica etarnbern 0 deu qu preparou para urna infinidade de seres

humanos 30 cabo de uma prova ou de uma loreria da qual

era 0 inventor 0 confinamento nu r n campo e perrnanencia

eterna para impre sionantes suplfcios sem fim. Eis 0que diz

lim teologo a(\13I: "I ..uma questao de saber por que esse Deus

laO .'mora 0 de ejou urna ordem de coi a' i t luindo 0 peca-

do e 0 Inferno; definirivamente, a quesrao e insoluvel, '21

c nao se e nern reologo nem crenre pode-se tentar urna

solucao: ess diktat ineompr ns i v 1, e la d de o r nb r a que

o best seller acre centa ao parerico, E, afinal urn rente p de

imultanearnente arnar a Deus e saber para onde de ' nvia

t. nro ere hurnanos porque 0 Inferno n:io pas a de uma

eren .a ob palavra que e refere a um futuro longfnquo; nao

pa sa de uma repre n ra c a o d um a idei que nao con e-

gui ria igualar a for a afetiva do amor e da fe em Deus. D t I

modo que,. in oerencia, alern de eu grande efeito melodra-

matico nao Iva revolra ou des renca: nos cerebros os

aferos e as ideia n -0 tao n: m m arnada,

Depois uma dourrina religio a nao urna (' oria da [usti-

, a e [ rnbem nao prerende ter uma co ren ia {it 6fi a; emer ncrn longinquamenre UR1a obra de arte, urna r ligiao e

enraiza na rnesrna f uldade criadora dessas obras, 'Ora, 0

dogma do Inferno rnais e xa lta d o u r r in a cri :1 do que a preju-

lrede tMolo it! catholiqu«, verbete E n / 4 • \'01. V,

49

Page 40: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUANDO NOSSO U 00 Sf ORNOU CRIST 0

dica; , e uma arra a o a mais para urn best seller essa de jun-

tar orerror ao amor. Os inventores do Infernoe das penns

erernas em dobro (0 fogo, no senrido pr6prio da palavr e

o castigo da privacao de Deus) acredirararn em urn thriller

que obtivesse urn grande suce so: arerrorizou urn grande pu-blico porque a pe soa sernpre se deixarn irnpressionar

pelas fic~6 apavorantes; quanto aos autores do thriller m

duvida lhes agradava irnaginar os inirnigos da V, rdad s n-

do queirnados.

Com sua invert a o de urn d us do arnor que criou 0In-ferno, poder- e-ia reprovar-lhe 0 faro d terern criado urn

personagem incoerenre, Ma , no diferentes dominies do

imaginario, a incoerencia bsolutarnenre nao e irremediavelrnuiro pelo conrrario: "Quando se afirrn que o rei ta criou

personagens erdadeiro hega-se a uma grande ilu .10: 0

arrista traca esbocos de homem, tao esquemaricos quanro

nosso conhecimento do homem. Urn ou doi tra os frequ n-

ternenre reperido om muira JUl. obr e rnuira penumbra

em volta, m i algun efeiros poderosos, satisfazem suficien-

remente as nos 3 C tigen ias" (Nietzsche Humano demo-

siado bumano}, Urn pai rnisericordioso mas impiedoso uma

loreria do tudo ou nad 0 pavore inf rnais que aumentam

o ucesso do best ller envolvendo as imaginacoes (a pintu-

ra religiosao resrernunha) e que rudo isso seja anto: n:io pe-

dimos mais nada,Mas, afinal, a principal razao para cs e suce so do cris-

rianisrno est~ m ourro ponro. 0medo da danacao nao

repr sentava uma dificuldade para as conversoes cujas mo-

rivacoes eram menos ciradas entre "o arrependirnenro e a da-

n ~ao",mas estavarn principalrnenre no faro de que Deu

re ama . Isro ~ 0 motivos para alguern s conv rt r cram

so

Page 41: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

UMA 08 A· o C ISTtANISMO

mais de 'ado do que 0medo d morte, E e i 0que querf-

amos hegar: reduzir a religiosidade e plica oe psicol6gi-

s seria tee uma 'IS30 rnuito curt e pass r ao largo da

realid de irre urfvel que e 0s nrirnenro re ligioso. ao 3

religiao nao e urna jogada psicol6gica irnpressenrida, n6s nao

nos ntregarnos a pequenos arriff ios revelia de nossas cren-

3Sconsolador S.ll 0 ivino 0 sagrado e uma qualidade pri-

m ria que n50 e pode d rivar de ourra coisa. Ha qualid e,

s , p ra errnos compreendidoqu ndo designamo algurna

coi a for necessario que 0proprio inrerlo uror tenha expe-riencia dessa coi a. Se ele nao a tiv f, srarnos reduzidos '

raurologia ou 3 fcifra, omo para falar de core a urn, ego.

ra, rnuito indivlduos -0cego diante do divino. m La

Represent tion du monde chez l'enfant [A representaq -0 do

rnundo no crian~] jean Piager considera que 0senrimento

religioso "rem sua fonre na r la ao da rian a com os pais e

ue esse sentimenro e 0 proprio 5 ntim nro filial". ~as qu 1-

uer r ntariva de assirn deriver 0di -ino de ourra coi ue

,UF.m prirn iro lugar, dizi Hume, 0 ai ti nlsmo

inferno ou d p fa ~ m i proprio rerrori r do que onsol r. (au

eria, dizerno n •" rirude do j I 0 di Of do .I~m nlo fo C' esrranha

a { I ciIculo c.m i Siuril:0cristlani mo no' rcduz urna receira con 01 dora.

e um rande rom nee no qual e desco rem sent menta diver 0$ ~ suris

b m mal ricos do que 3 h exp i Ocs pels u ca de uma religlt a

con 01 dora.) Depois • .3 mimi das outr reli i es n 0prornereo I~m.

nem OC'up3diSMl. 56 n pro irnidade de no er 0jud { rna ndon

IlS ombras d morros 30 S eol, I~O Iii ubre qu nro inferno hom~ri

Em ~eu lc:ito d morre, 0rei 03\'& de ( "0 mlrit amado de J v e , ben a

seu Deus. mas : liSp'" : "Dinnte d iMO sorno mass do que p3 nres. h6 •

pedes. nos-sol d,llS s~o como sornbra sabre U:rr3. e neuhuma esper n~!"

(lCr 29, 15). r maior parte d 550 ied des, cren no I~m form mum

domfnlo di unto d rell Ilia. domfnio que 6, ecreramo como [eli ioso ob

analo ia en nadora 0crisri nismo. De qualquer

e C0 zulco dos mono nao o rnesrna oi

51

Page 42: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUA 00 NOSSO MU DO H TO OU CI ISTAo

nao eja 0 pr6prio divino quer se trare do me do do arnor

da angu ria do sen' imcnro filial nunea explicara como se

pode produzir esse salro no senrido de urna qualid de tao

diferente e tao especifica; acredirar-se-d antes que 0 bcbe

descubr 0divino em eu pais. 0 infira d31 que os s res

que tern es a qualidade do divino realmente existem: acre-

dirarei perfeitamenre em Deus, nenhuma uirnui~50inrele rual'

me rani ver Deus de acordo com a minha inrui '-0quanto

aos ob] ros que me cercarn como s ] que p nso.

UM BESTSELLERINOVADOR

, a o ra a uma esperanca no alern que se deviarn as conver-

soes mas a alga muiro rnais arnplo: a descoberra pelo ne6firo

deurn v to projero divino doqual 0 hom .rn ra 0 c tina-

tario no qual a irnorralidade at m smo a inc rt za da

salvacao erarn "penas irnplica ,oes. Atr aves da epopeia his-

rorico-mera Isica da Cria ao e da Redencao com seus efei-

ros de somb.., e de luz sabe-se gora de onde vierno par

qu estarnos d tinado. em e s epopeia e I t ora. cren

~a na irnorralidade da alma nao seria mais do que uma su-

persri .10 in uficierite para f zer mudar de vida. Quanro aepop ia m i,~am pia dernai para er ape n urn rruque

psicologico ou urn fazer-cr r para supcrar a angu ria tu 0

rnais que houver: a fabulacao religiosa nao e inconscicnre-mente urijirdr'ia ela e 0proprio rim em ie suficienre para

ua pr6pria s risfa a o .ohom m recebeu uma vo a<;50 sublime, "nao somos 10

tempo para m s gui a serrnos di olvidos pelo tempo " di-

zem os Atas de Andre gregos, "sorno de (0 0modo preren-

52

Page 43: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

u os

no

que e e

6 or dur

n m

n.0 r n pro'

mor m smo

n 0 tr s pr

Ao hurnilhar-

e 'pert ncer

nt .

e .n10ro

i rerr g

pas

m31S

maca a e p ,55031

oal do neopla ani mo (

oP

o. .

01 mo m l

Ii.rno impes

g m

nsmo

x raor dindei

parecia com nad

rna) im e rr

e

.rsrno errn

'-A~,,",_ do ri

.orpo

iusao no Imper-io

teri pre ara do cam do

ioes

o inroma dessa es-

mo. in 'er a e

• P n•

53

Page 44: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OUA DO NOSSO MU DO Sf TORNOU C IsrAo

quee verdade, As religioes orient is nao pa avarn de ulga-

re paganismo com algumas cinra de Oriente. E .3sua dife-renca a ua originalidade que ocri tiani rno de e seu sucesso .

. E precise que nos re ign rno a adrnitir que nem rudo na his-

t6ria e explica pelo "esrado da socied de .25

A nov religiao se impunha rambern por seu senrido agu-

do da fraternid de; do amor ao pr6ximo, e a irnir ao do

mar de D u p los homens, diz a Eplstolaa Diogneto. 'Par

suas obras carirativas diferenr do m enato 'evergerico"

dos ricos pagao que ofereciam ediffcioseesperaculo . Por

urn entirn nro comunirario de conhecido do pagaosqu nao

U era inov ~o, acribuir rudo 0 ;tdo ou cied de, ~ perm ne rem

urn confwlo: es, as palavras sao rornadas ern doi 5 nrido dif tent : omo

3. PbuslS (Nafwt:·:.a) gte a. a Socied de: ou Mdo l: urns marril. e dela na c u,

por exernplo, 0 u e so d s religiees orient J ; mas, como a pr6pn Phusis.

11..,0 ied de lt mbern um r e ept ulo que en rloba rudo aquila que e isre e

p rranto earnbem 0crisrianismo, Por ori InIque e] •0cri tl.nism nem

p rio deixou de fazer parte da re ltd. de rn p~r.1 1: e de re lid de n 0provem, pelo meno bou por inregr r-51: d •• 0 1 em L .I , " ' ' 0 , uei

em publico 0 P pel d • ra ao" n hi~t6ria. d ndo como exernplo :Iinov -

~o impres lonise • objet r rn-me ue inovar t mbern era Iigar-se li.ocieda-

de. no nrldo em ue er d I que no, re lid de se t v - a , A0 e~ 0

confundia, pe Ide Lc.bniz.um r l.~ 0mt rn ere I. U er deS I 0'." (n30

e pode ser dh.dpuJo ou filho em que d outr p re e it um me: tre ou urn

'pa·). e um rc:la-rao exrerna e for I, .. er difereme de •.•II (um vlolAo ~ dire-

renre de urn a .sopctra, mas "ao lnecess no que urna opeir it p r que

m viol 0 seja 0 que ~). Portanro, que: $C(ll.esse doc lmenre como os outro

ou que se faze se 0 contr rio, viri dar no mesmo ... 0 segundo 0' mholl tieo on 151eem tt r r como ,ufgamC'nlo ne ..es ario C' universal ("tudo

ue e ~ ala oacd de 'em d ed d ..) 0 ue de eria : r penas um Julga-

mente num ricamenre coler] '0. qu n pod er firm do lob mente: e

que ~ p sslvel de er examinadc por C da membro da colec 0 na verd de de

SWlas.sers: 0, a 8S0: Mitra. 0 Cristo, Isis__ Hi, por firn, 0 sofisma que

nao d~ 0 mC3mo senti do () terrno Sociedade (ou Meio, Natureza, Phusis) na

parte: maior do ilogi mo (m ttit) en menor (cole ~o); ~ confundir 0 pinri-

nho que w do eve e 0 coelho ue id rot do pre idigit dor.

5

Page 45: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

u OBRA·PRIM o CRISTIANIS 0

e comunic am deritro d u crenca enquanto os cri taos

e r uniarn rode para cclebrar 0culto.! Pelo fervor oleri-

o dessas reunioe dorninicais, n s quai 3 eucarisria rege-

nera va os fie is.

TAMBEM FAZIA 0 CORA<;AO PALPITAR]

Viria a forrnar- urna piritu Ii .ade urna religi -0do cora-

ao rn a como 0 aberfamo hoje? nre de um ra l a unto,

o hi roriador em bu a de documenro fica larnenrando. ma

p ece CUJ3 palavras saern do coracao " nasce e morre no

mesrno instante, urn u piro de d \'0 -0, urn Ora 300jacu-

latoria 05.0 deixam mai trace na hi roria do que 0 breve 'eu

t rno' dedoi mora 0 po re em pa avras. Quanta coisa

Io i vivida sem ter ido dital 0 amor rnuito particular que se

mpor uma divind de esse amor que 0convertido acha

inteiro t em seucora~ao);u e diff c i l de des rever. A r dirarem Deus rerne-lo arna-lo urn rado habitual e [410 normal

I"Nao exlste equivalenre p Ao p mi 3, t e ep ion "que um s n r~IO

reuni e tod s pesso de urn. dererrninad: dade. Todos os crist50s e •

( 0 reunidos"cm Cri to". OS areniense .n~oesrao reunidos sob d u • Atel141,

11J'enuli no, Apolog ttca, ·XX. 4: "Rezarnos sern ninguem no dirigir

(mottitor) porqu r zamos com 0cora 30 (d~ ~ctore)."Diferenrernenr do mar humane 0 mor divino ~ urn 'nti

crenre descohre 'no <;or. lio. urn amor lrueiro, na _' oamcclp. .mente

(nau :se .. 3; d e : arnores" par Deu ). dir -i urn imor vindo do proprio

DeL1~.perque e 'It ta de urn mor que se ImpoC' COmo uma evid n e n: 0

-mo urn olha. nao e podc conhecer urn dew. In m -10. Como ir n

rei, Deus rinha anr cip damenre direiro . 0 rnor, era porencialmenre :.lJTI3-

do. par-5c amar ~ urna sirnpl P!\' gem da poccnCl o ato, uma p em

da 1: 7 h bituala urna gra at\l~J. e n 0uma inici riva hum n •

5S

Page 46: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

OU toO NOSSO UNDO SE TO OU CRISTAo

que a pe soa se e uece de alar nisso;2. 0rnaiscornurn e re-

colher- e em ez de medirar dis ursivarnente .

.Alem de rude, como muiras outras convicco a ft pode

er cornpleta e agir m nada de afetivo, sem qu haja pal pi-

ta~ao· da m sma forma nern s mprc C \,1 rdadciro apesar de

A po llin a ir ] que dans le coeur du soldat il p lpite fa France '.

(salvo irnplicitarnenre em rigor).lO Por isso e que os historia-dotes da Prirneira Guerra. 1undial continuum a se p rgunr r

e os cornbarenres luravarn por parriotisrno: os pr6prio com-

bat nres ignoravam 0motive p 10 qu Icornbatiarn. Os 'ex-

to paleocristaos em pro 3, nos quai rararnente corre 0 leire

1V() -sde que nao s~ja cuhu da, pro ur da r r im e m . • que alndn nao

renha seu \'I.)c.abuliirio nern u (6pi • del it 0cspir irual, rnesmo quan-

do ' e consciente, semida, prov: da, n1\1)C cornpreendida por urna consciencia

reflexi ..·!) e n~o ~ rem anz .• da, de .31 modo que: nat> se (ala dl~ 0, n m r-c

e.5-.:re\ 'C sobrc iso ; .sa o O~ deveres da caridade e da obedi ncia ao m nd -

mer co..que ocuparn con encia refle 'i,' I. D m m iorm • 05 :lSCt'1 :30

rnni vislveis do que OJ. oruemplarivus, em' u ...Jd•• iso r i rnbe rn CTa -erda-

deiro p. ra 0 p ni mo: I,) rmporcinre era 0 rlro, e ecurado respeirosamen-

re , mn: fre quem em en te sem c ln ()() o .

.... 0 or .10 do 'sold do palpira :l Fr n~ ., ( . T.)

I omo rnurtas outr onviccoes. fc pode cr salida e ariva scm ter nad

de a erivo e em pal' vra : r ' 1 ( IdI2~·lo, lrnnglnernos m soldado que lu~a~~t'

ver .d irmcnte por patriori mo (e n 0 por rncdo de ser fuzilado nern por

olid riedade com 0 companherroserc). liede e live e pergunr do s .

por patriotismn ,e rivesse e debru ado sobr e seu or o, [v z n~() tivcsse

per cebido nuda e n m de pr6pno saberia ' e er. [fIO(. Cf. uma analogiareJiglO S< em Henri Bremond, Histoir litteruire du sentiment rei 'ICUX n

France, reed. r r . Trernoli r • Grenoble, J~r6mc iillon. 2006 ... -ol, I. pp.

1 1 2-1 J 4; vo], 11. pp. 170-171. Alcm disso •. inda que -er dizad.,

remanzada, t e me mo culruada, 3 erno 0 e t Ion U esrar dl3ri. mente

pre nte. COIllO O~tc61ogos ur odoxo urn di fro )bie~ 0 os .ansenistas.

a celt r Ij'Aod I santa rnissa Irequentem IHe n l serla mais do que: urn l-

Ie 10.!i1.:nao p uJ C :$ S~ s er mpanhada sem pee do, como urn exp .nC:ncl.

de d ele -ita ..-0.

56

Page 47: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

U A. OIRA·PRIMA; 0 CRISTIA.NISMO

da ternura evangelica permanecem mudos quanto aos senti-

mentos: rirrharn ourras urgencia (a moral a ortodoxia, a

polernica) rnais importantes do que verbalizar afero para

ulrivar a espiriru Iidade como uma planta rara; isso vira em

algun seculos.

o arnor ocupava 0subconscienre dos crenres, motivava-

lhes a fe mas era com a moral que eles tinham de se preocu-

par, dela tinharn de dar prova; I0arnor divino perrnanecia

para eles orno uma questao intima. Para um converrido a

grande rnudanca era comecar uma vida santa. Sob a vlgilan-

i de seuscorrellgionarios. 0 Pastor, de Herrnas," prepara-va eu numero os leitores para a obediencia que a sua Igreja

esperava de u fiei jmais do que 0arnor, a grande palavra

era a disciplina quando se aderisse a Igreja.Jl Procurar-se-ia

'Dois leJlcomunho so re e5S ,pri nc:bade da di5dphn eond] 10 da :l1~

~ eterna, 530 homilia que con utui ~u,.da E,pistola do Pseodo-Cle-

mente: assim como a Epistola d~ Clement« II Tiago. que abre a~ Hom,/ias

cJem~"tin.as QU Roma"c~ dos reconhecimentos, no qual 0 papel do blSPO~ 0

de-fazer reinar s virrudes em eu rebanh (Os.]X" :ado rnai frequt'ntn Uo

heresia, essa desobediencia, e 0adulter io),

• Hermas (~cuJo II) era urn dos 'Poorc : s Apost6licos. t:alva irmA<>de Pio I.Dele

6 se onhecem, em se escriros, pam ulMi<bd sobee imC$fT1O em rextos

que parecern rornanceados, Sua obra 0 lbstor. urn trOt do de:penitencia, dqw-

riu gr n<k celebridade. Pcx muiro tempo foi visro como :&Utornspinado. Louva-

do pclos Padres gregos. 0 Pastor fol severamente aiti 0pot Terruhano e por

s a o Jer6mmo. e fin I excluldo definirivamenre do Canon das E.5critura!Opelo

p3pa ("~l~io. no .sCculo Iv.De qualquer maneir u ta e de urn preeioso t re-

munho da vida rdlglDW na cornumdadc cruta de Roma no se u 0 II. (N. T.)IlEm 1952, a inal convereido, mal OKab r:a eu de receber meu cer'nficado de

dc~ioao Partido CornunisCJ (voltado para prop':' no elev do , C idenre-

mente). 0 secrersrie de minha c~Ju1a, Emmanuel Le Roy ladurie: ft " mbem

historiador de nomead uror da Hist6n'a dos carnponeses [ranceses, 2 yol.

RIo de Janeiro. CiYihz 0 Br rleira, 2 07. rrad, de Marcos de Castro],

d,z.ia-me: -Agora. voc:i 56 serve par au If descomposruras." Certarnente,

urn hi po rr t:an urn nc6fito com mais un o, p r4!m. no fundo, mud n~

de rirude ap65 a entrada na seha er sern dUY1da 3n~loS3.

57

Page 48: VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão

5/14/2018 VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou crist o - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/veyne-paul-quando-nosso-mundo-se-tornou-cristao

QUANDO NOSSO U 00 SE TORNOU CRISTAO

m vao 0arnor no Comentdrio do C" ntico 0 Canrico de

Orfgcne . As unicas tesremunha de e 3n10r er m 0 exros

onvenedores" prorreprico como a ultima paginas daEpistola a Diogneto; n qu 1 a oracao-elevacao e superior 3

oracao-peclido. Essa epf rola fala em rerrnos cornovenres

ne sas ultima paginas da caridade rnurua entre Deu e ua

datura. E rarnb m os poetas: "Licor de ambro ia, per ume

de nectar a fe correern mim vinda do eio do pr6prio PaL .,

As Odes de Salorndo canrarn em iriaco as aguas da fonte

viva" do Senhor, n qual 'b b m rodos 0 sedenros" pois

e as .oiguas"fizerarn cr ntes".'Sl

JIIPrud~n '0.Catbem ri"on. 111.23·25. O ...~$ de Solomaa, 6 passim; tr d. de

Pierrevem Eseritos 4lp&.rifos crtstso«, vol. I, p. 687, Bib iorheque de 1 PI I de.

E . n fonre do que canrarao urn dia 0jo. 0da Cruz num poerna celebre e

Jean R 'ne em seu belo CAnt ue splnt.ul,

S8