versidade estadual do oeste do paranÁ centro de ...tede.unioeste.br/bitstream/tede/1917/1/ariane...

58
VERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS PESQUEIROS E ENGENHARIA DE PESCA ARIANE FURTADO DE LIMA ALIMENTAÇÃO INICIAL DO JUNDIÁ, Rhamdia voulezi Haseman 1911: EFEITOS DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO E PADRÕES NA SELEÇÃO DE PRESAS AO LONGO DO PERÍODO LARVAL Toledo 2013

Upload: duongdang

Post on 18-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

VERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS PESQUEIROS E

ENGENHARIA DE PESCA

ARIANE FURTADO DE LIMA

ALIMENTAÇÃO INICIAL DO “JUNDIÁ”, Rhamdia voulezi Haseman 1911: EFEITOS

DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO E PADRÕES NA

SELEÇÃO DE PRESAS AO LONGO DO PERÍODO LARVAL

Toledo

2013

ARIANE FURTADO DE LIMA

ALIMENTAÇÃO INICIAL DO “JUNDIÁ”, Rhamdia voulezi Haseman 1911: EFEITOS

DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO E PADRÕES NA

SELEÇÃO DE PRESAS AO LONGO DO PERÍODO LARVAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Recursos Pesqueiros e

Engenharia de Pesca – Nível de Mestrado, do Centro

de Engenharias e Ciências Exatas, da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em Recursos

Pesqueiros e Engenharia de Pesca.

Área de concentração: Recursos Pesqueiros e Engenharia

de Pesca.

Orientadora: Profa. Dr

a. Maristela Cavicchioli Makrakis

Toledo

2013

Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca Universitária

UNIOESTE/Campus de Toledo.

Bibliotecária: Marilene de Fátima Donadel - CRB – 9/924

Lima, Ariane Furtado de

L732a Alimentação inicial do Jundiá, Rhamdia voulezi Haseman

1911 : efeitos da privação alimentar sobre o crescimento e

padrões na seleção de presas ao longo do período larval /

Ariane Furtado de Lima. -- Toledo, PR : [s. n.], 2013.

59 f.

Orientadora: Profa. Dra. Maristela Cavicchioli Makrakis

Dissertação (Mestrado em Recursos Pesqueiros e

Engenharia de Pesca) - Universidade Estadual do Oeste do

Paraná. Campus de Toledo. Centro de Engenharias e Ciências

Exatas.

1. Aqüicultura 2. Jundiá (Peixe) – Larva – Nutrição 3.

Jundiá (Peixe) – Larva – Crescimento 4. Peixe – Tamanho 5.

Alimentação (Zooplâncton) 6. Alimentação (Artêmia) 7.

Seletividade alimentar I. Makrakis, Maristela Cavicchioli,

Orient. II. T

CDD 20. ed. 639.3752

FOLHA DE APROVAÇÃO

ARIANE FURTADO DE LIMA

ALIMENTAÇÃO INICIAL DO “JUNDIÁ”, Rhamdia voulezi Haseman 1911: EFEITOS

DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO E PADRÕES NA

SELEÇÃO DE PRESAS AO LONGO DO PERÍODO LARVAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Recursos Pesqueiros

e Engenharia de Pesca – Nível de Mestrado, do Centro de Engenharias e Ciências Exatas, da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de

Mestre em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca, pela Comissão Julgadora composta

pelos membros:

COMISSÃO JULGADORA

____________________________________________

Profa. Dr

a. Maristela Cavicchioli Makrakis

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(UNIOESTE)

____________________________________________

Profa. Dr

a. Elaine Antoniassi Luiz Kashiwaqui

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

(UEMS)

____________________________________________

Prof. Dr. David Augusto Reynalte-Tataje

Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC)

____________________________________________

Prof. Dr. Sérgio Makrakis

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(UNIOESTE)

____________________________________________

Aprovada em:

Local de defesa: Auditório da Unioeste/Campus de Toledo.

DEDICO:

Aos meus pais Eli Lima e Nuceli Furtado de Lima, pela educação, exemplos,

e incentivo na vida.

A minha irmã Neuzeli e meu cunhado Júlio pelo suporte e apoio nos estudos.

A minha irmã Silvia, meu cunhado Neemias, meus sobrinhos André e Filipe e minhas

sobrinhas Camille e Danielle

Por fazerem parte da minha vida.

Ao meu Pai Celestial (Jesus)

por ser o sustento e a

razão da minha vida.

Sempre amarei todos vocês!!

Á meus grandes amigos Cerly e Pr. Werner Maier pelos conselhos, orações, carinho e

suporte em toda trajetória dos meus estudos no Paraná. Muito Obrigada!

“Com Deus conquistaremos a vitória (...)”

Salmos 108:13

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora Dra. Maristela Cavicchioli Makrakis por tudo que nos ensinou desde a

graduação, por suas idéias de pesquisa, orientação, confiança e principalmente pelo seu

profissionalismo, honestidade e postura ética que serão espelhos na minha vida profissional. Muito

Obrigada Maris....

Ao meu cunhado Júlio Amilcar Ramos Cabral, por dedicar seu precioso tempo nas correções

ortográficas.

Ao professor Dr. Sérgio Makrakis, por ter aberto as portas do GETECH para o meu estágio e

pesquisa tanto durante o mestrado como também durante toda a trajetória da graduação. Obrigada

também por acreditar no meu potencial em realizar o meu mestrado.

À Dra. Michele de Faveri Gimenes, pela sua preciosa amizade, sugestões de análise, auxílio e apoio

durante o treinamento em Maringá (Nupélia) e durante a fase experimental deste trabalho.

Á Dra. Elaine Antoniassi Luiz Kashiwaqui, pela sua disposição em sanar as frequentes dúvidas em

estatística e pela sua preciosa amizade.

A minha amiga Suelen Pini, pelo companheirismo, dedicação e indispensável ajuda durante a fase

experimental e na tabulação dos dados. Muito Obrigada Sú!!

Ao Luiz Antonio Hesper, assistente do PREP, pela disposição e excelente atendimento ao longo deste

tempo. Muito obrigada Luizinho!!!

As todos os colegas e amigos do GETECH: Tiago; Leandro; Dimas; Fábio; Regis; Carol; Fer,

Dhonatan; Adriano; Bruna, Luciana; Lucileine; Paty e todos aqueles que já passaram pelo Getech,

muito Obrigada pela amizade, apoio nos meus trabalhos de laboratório e memoráveis momentos de

diversão e algumas vezes de contrariedades. Gente sentirei saudades!!! Vocês fizeram parte do

plano de Deus na minha vida para o meu crescimento pessoal e espiritual, acreditem!!

Ás minhas queridas amigas Micheli, Wiviany, Salete, Rúbia, Jurací, Celma e Elieusa pela nossa

amizade.

Ás minhas queridas companheiras do InPAA, Renate e Sília.

Á todos do Nupélia pelo estágio e treinamento na identificação do zooplâncton. Em especial ao Diogo

Castanho de Amaral, Clarisse Leal, Fabiana Palazzo, Ana Paula Fernandes e Louizi Braghin pela

atenção especial. Muito Obrigada!!

Ao InPAA (Instituto de Pesquisa em Aquicultura Ambiental), pelo espaço concedido para a realização

do experimento.

Á equipe do CDT-Iguaçu (Centro de Difusão de Desenvolvimento Tecnológico do Rio Iguaçu), pelo

fornecimento das larvas.

Ao GETECH (Grupo de Pesquisa em Tecnologia de Produção e Conservação dos Recursos

Pesqueiros e Hídricos), pelo apoio logístico para a realização desta pesquisa.

A CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela concessão de bolsa

e apoio financeiro para a execução deste trabalho.

ALIMENTAÇÃO INICIAL DO “JUNDIÁ”, Rhamdia voulezi Haseman 1911: EFEITOS

DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO E PADRÕES NA

SELEÇÃO DE PRESAS AO LONGO DO PERÍODO LARVAL

RESUMO

Neste estudo foram avaliados os efeitos da privação alimentar sobre o crescimento das larvas

de jundiá Rhamdia voulezi bem como a preferência alimentar durante o período larval. Para

isto foram realizados dois experimentos que tiveram início logo após a absorção completa do

saco vitelínico, que ocorreu no 4o dia após a eclosão (DAE). O primeiro experimento de

privação alimentar foi realizado com 8 tratamentos constituídos por diferentes regimes

alimentares, incluindo o tratamento controle (TC) no qual não houve fornecimento de

alimento. O alimento foi fornecido pela primeira vez no 4o, 5

o, 6

o, 7

o, 8

o, 9

o e 10

o DAE,

correspondendo aos tratamentos: T4; T5, T6, T7, T8; T9 e T10, respectivamente. A

alimentação consistiu de zooplâncton e artêmia recém-eclodida. Para avaliar a preferência

alimentar, foram realizados 3 ensaios de seletividade alimentar ao longo de todo o período

larval, compreendendo diferentes estágios de desenvolvimento e classes de comprimento

padrão. Neste, as larvas foram alimentadas exclusivamente com zooplâncton coletado de

tanques de cultivo. Os resultados demonstraram que as larvas de jundiá que receberam

alimento do 4o ao 6

o DAE tiveram desenvolvimento significativamente maior que aquelas

alimentadas mais tardiamente, a partir do 7o DAE. O ponto de não retorno foi registrado neste

mesmo período, no 7o DAE. Com relação à seletividade alimentar, houve variações nos

padrões de seleção de presas nos diferentes dias de vida analisados. Inicialmente no 5o

DAE,

estágio de pré-flexâo, as larvas selecionaram fortemente os rotiferas (não identificados) e os

cladoceras (Diaphanosoma spinulosum, D. brevireme, Moina sp., M. micrura, M. minuta).

Nos demais dias de vida analisados, os cladoceras continuaram a ser fortemente selecionados.

Entretanto no 8o DAE, estágio de flexão, selecionaram menos intensamente os copepodas

Argyrodiaptomus azevedoi e Termocyclops decipiens e no 10o DAE, estágio de pós-flexão,

consumiram especialmente Argyrodiaptomus furcatus, Notodiaptomus spinuliferus e

Metacyclops mendocinus. Conclui-se que o retarde da primeira alimentação afeta

drasticamente o crescimento das larvas, e que, se a alimentação for iniciada antes do ponto de

não retorno há chances de recuperação e sobrevivência larval. Para isto, é importante que haja

disponibilidade adequada de alimento, com variedade de tipo e de tamanho de modo que

possam compensar as limitações morfológicas das larvas no início do seu desenvolvimento.

Concomitante ao seu crescimento, as larvas tendem a se especializar em determinados itens

presa, existindo uma seleção de presas tanto pelo tipo como também pelo tamanho, onde o

tamanho da presa consumida está relacionado com o tamanho da larva e o tamanho de sua

boca. Inicialmente as larvas de jundiá têm preferência por itens presas menores, os rotíferos e

cladoceras, posteriormente, quando estão mais desenvolvidas, preferem alimentar-se de presas

maiores, os copepodas.

PALAVRAS-CHAVE. Inanição, crescimento, alimentação, seletividade alimentar, seleção

de presas, tamanho de boca.

INITIAL FEEDING OF “JUNDIÁ”, Rhamdia voulezi Haseman 1911: EFFECTS OF

FEEDING PRIVATION ON GROWTH AND PATTERNS IN THE SELECTION OF

PREY ALONG LARVAL PERIOD

ABSTRACT

The effects of feeding privation on growth of larvae of “jundiá” Rhamdia voulezi as well as

the feeding preference during larval period were evaluated. For this purpose two experiments

were conducted which began soon after complete absorption of the yolk sac, the fourth day

after hatching (DAH). The feeding privation experiment was performed in 8 treatments

consisting of different diets, including the control treatment (CT) in which there was no food

supply. The food was provided for the first time in the 4th, 5th, 6th, 7th, 8th, 9th and 10th

DAH corresponding to treatments: T4, T5, T6, T7, T8, T9 and T10, respectively. The food

consisted of zooplankton and newly hatched artemia. We performed 3 trials of selectivity to

analyze the feeding preference throughout the larval period, comprising different larval stages

and classes of standard length. In this, the larvae were fed exclusively on zooplankton

collected from fish ponds. The results demonstrated that the larvae fed on the fourth to sixth

DAH had a significantly higher growth than those fed later, from the seventh DAH. The point

of no return was recorded in the same period in the 7th DAH. With respect to feeding

selectivity, there were variations in the patterns of prey selection in different days of life

analyzed. Initially on the 5th DAH, preflexion stage, larvae strongly selected rotiferas

(unidentified) and cladocerans (Diaphanosoma spinulosum, D. brevireme, Moina sp., M.

micrura, M. minuta). In the remaining days of life examined, the cladocerans continued to be

strongly selected. However on the 8th DAH, flexion stage, they selected less intensely the

copepods Argyrodiaptomus azevedoi and Termocyclops decipiens and more strongly A.

furcatus, Notodiaptomus spinuliferus and Metacyclops mendocinus at 10 DAH, postflexion

stage. The delay of the first feeding drastically affected the growth of the larvae, and that if

feeding is started before the point of no return there are chances of recovery. So, it is

important to have suitable availability of food, with a variety of type and size so that they can

compensate for the morphological limitations of larvae in the early of their development.

Concomitant to its growth, the larvae tend to specialize in certain prey items. The size of prey

consumed is related to the size of the larvae and the gape size. Initially larvae have a

preference for smaller prey, rotifers and cladocerans, and later when they are more developed

prefer to feed on larger prey, the copepods.

KEYWORDS. Starvation, growth, feeding, feeding selectivity, prey selection, gape size.

Dissertação elaborada e formatada conforme as

normas da publicação científica Animal Feed and

Technology e Aquaculture Disponíveis em: <

http://www.scielo.br/revistas/isz/pinstruc.htm> e

http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1111/%28I

SSN%291365-2109/homepage/ForAuthors.html>

SUMÁRIO

I EFEITOS DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO LARVAL DO

“JUNDIÁ” Rhamdia voulezi Haseman 1911

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 12

2 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................................... 14

2.1 Análise de dados ............................................................................................................................ 16

3 RESULTADOS ................................................................................................................................... 16

3.1 Eclosão e início da alimentação exógena ...................................................................................... 16

3.2 Período crítico para a sobrevivência larval .................................................................................... 17

3.3 Comprimento padrão e ganho de peso ........................................................................................... 17

3.4 Ponto de não retorno ...................................................................................................................... 21

3.5 Relação peso/comprimento e coeficiente de crescimento ............................................................. 21

4 DISCUSSÕES ..................................................................................................................................... 23

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 28

II SELETIVIDADE ALIMENTAR DE LARVAS DO “JUNDIÁ” Rhamdia voulezi

Haseman 1911: ALGUMAS IMPLICAÇÕES PARA O SEU CULTIVO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 34

2 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................................... 35

2.1 Análise de dados ............................................................................................................................ 37

3 RESULTADOS ................................................................................................................................... 39

3.1 Seletividade alimentar taxonômica ................................................................................................ 39

3.2 Seletividade por classe de tamanho ao longo do período larval .................................................... 44

3.3 Relação entre tamanho de boca e comprimento padrão ................................................................ 46

3.4 Tamanho da presa x tamanho de boca do predador ....................................................................... 47

3.5 Seletividade por tamanho de boca ................................................................................................ 47

4 DISCUSSÕES ..................................................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 54

CAPÍTULO I

EFEITOS DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO LARVAL DO

“JUNDIÁ” Rhamdia voulezi Haseman 1911

EFEITOS DA PRIVAÇÃO ALIMENTAR SOBRE O CRESCIMENTO LARVAL DO

“JUNDIÁ” Rhamdia voulezi Haseman 1911

RESUMO

Neste estudo foram avaliados os efeitos da privação alimentar sobre o crescimento das larvas

de jundiá Rhamdia voulezi. O experimento foi iniciado imediatamente após a completa

absorção do saco vitelínico, que ocorreu no 4o dia após a eclosão (DAE). Para tanto, foram

realizados 8 tratamentos constituídos por diferentes regimes alimentares, incluindo o

tratamento controle (TC), no qual não houve fornecimento de alimento. O alimento foi

fornecido pela primeira vez no 4o, 5

o, 6

o, 7

o, 8

o, 9

o e 10

o DAE, correspondendo aos

tratamentos: T4; T5, T6, T7, T8; T9 e T10, respectivamente. Para a alimentação das larvas foi

utilizado zooplâncton coletado de tanques piscícolas previamente adubados e artêmia salina

recém-eclodida. Ao final do experimento, após 14 dias, foram avaliados o comprimento

padrão (CP) e peso de um total de 594 larvas. As larvas que receberam alimento do 4o ao 6

o

DAE tiveram desenvolvimento significativamente maior que aquelas alimentadas mais

tardiamente, a partir do 7o DAE. A partir deste momento, as larvas alcançaram o ponto de não

retorno. Conclui-se que a primeira alimentação deve ser iniciada até o 6o DAE de modo que

seu desenvolvimento e crescimento não sejam afetados.

PALAVRAS-CHAVE. Inanição, primeira alimentação, desenvolvimento larval.

EFFECTS OF FEEDING PRIVATION ON LARVAL GROWTH “JUNDIÁ” Rhamdia

voulezi Haseman 1911

ABSTRACT

The effects of feeding privation were evaluated on growth of larvae of “jundiá” Rhamdia

voulezi. The experiment was started immediately after complete absorption of the yolk sac,

coinciding with the 4th days after hatching (DAH). Then, we conducted seven treatments

including the control treatment (TC) in which food was not provided. The food was provided

for the first time in 4th, 5th, 6th, 7th, 8th, 9th and 10th DAH corresponding to the treatments:

T4, T5, T6, T7, T8, T9 and T10, respectively. Zooplankton collected from previously

fertilized fish ponds and newly newly hatched artemia was used to feed the larvae. At the end

of the experiment, after 14 days, we assessed the standard length (SL) and weight of a total of

594 larvae. Larvae that received food from the 4th to the 6th DAH had a development

significantly greater than those fed later, from the 7th DAH. From this moment, the larvae

reached the point of no return. It was concluded that the first feeding should be initiated on

the 6th DAH so that their development and growth is not affected.

KEYWORDS. Starvation, first feeding, larval development.

12

1. Introdução

Assim que eclodem, muitas larvas de peixes são exclusivamente dependentes das

reservas nutritivas provenientes do saco vitelínico (Geurden et al., 2007). Uma vez que estas

reservas endógenas se esgotam, as larvas precisam estabelecer com sucesso a transição da

alimentação endógena para exógena de modo a garantir a sua sobrevivência e crescimento

nesta fase (Blaxter e Ehrlich, 1974). Para isto alguns fatores são importantes, como a

disponibilidade e composição do alimento (Hunter, 1981; Sánchez-Velasco, 1998),

temperatura, fotoperíodo (Paul, 1983; Porter e Bailey, 2007) desenvolvimento do aparelho de

digestão, acuidade visual e habilidade natatória da larva (Makrakis et al., 2005). Assim sendo,

quando estes fatores não estão em conformidade com o presente estado das larvas, as mesmas

podem não ter êxito na sua primeira alimentação, tornando-as vulneráveis à inanição (Gisbert,

2004; Zhang et al., 2009).

A inanição tem sido uma das maiores causas de mortalidade de larvas de peixes tanto

no ambiente natural como na aquicultura (May, 1971; Leggett e Deblois, 1994; Dou et al.,

2002; Yúfera e Darias, 2007). Isto porque durante o desenvolvimento ontogenético inicial, a

maioria dos peixes apresentam baixa capacidade de natação e de alimentação (Houde, 1974;

Dou et al., 2002). Assim, se forem privados de alimentos adequados nesta fase, os reflexos

mais notórios são o aumento da vulnerabilidade a predadores, mortalidade, deformidades

morfológicas e reduzida taxa de crescimento (Houde, 1974; Hunter, 1981; Dou et al., 2002;

Gisbert et al., 2004; Zhang et al., 2009; Faria et al., 2011). A privação alimentar também afeta

outros parâmetros, em especial os bioquímicos e peso (Hung et al., 1997).

Muitas espécies de peixes adultos podem suportar consideráveis períodos de privação

alimentar, desenvolvendo, portanto, uma habilidade de sobrevivência na ausência ou escassez

do alimento e de se recuperarem completamente se realimentadas (Love, 1970; Salam et al.,

13

2000). O mesmo não é verificado em peixes na fase larval, pois em questão de poucos dias as

larvas chegam a um estado de inanição irreversível, em que mesmo que estejam vivas e haja

disponibilidade de alimento não conseguem mais se alimentar e a mortalidade aumenta

acentuadamente. Blaxter e Hempel (1963) denominaram este estado crítico de “ponto de não

retorno”.

Vários métodos tem sido utilizados para descrever os efeitos da privação alimentar em

adultos e larvas de peixes, tais como: medidas morfométricas e gravimétricas (peso) (Blaxter

e Hempel, 1963; Ehrlich et al., 1976; Powell e Chester, 1985; Bisbal e Bengstson, 1995;

Mookerji e Rao, 1999; Gisbert et al., 2004; Peña e Dumas, 2005; Shan et al., 2009; Faria et

al., 2011); faixa de RNA/DNA (Faria et al., 2011); critérios histológicos (Gisbert et al., 2004);

atividade enzimática (Chen et al., 2007) e atividade natatória (Faria et al., 2011). Tais

informações são importantes porque permitem determinar o tempo máximo no qual os peixes

são capazes de suportar a ausência do alimento até alcançar o ponto de não retorno (Gisbert et

al., 2004; Peña e Dumas, 2005). Além disto, estes estudos podem ser uma ferramenta útil para

entender as causas de mortalidade precoce de peixes em ambiente natural (O'Connell, 1976),

bem como, em condições de cultivo numa das etapas mais críticas, a larvicultura.

Até o momento, existem poucos trabalhos que enfoquem inanição em larvas de peixes.

As pesquisas mais recentes são com espécies marinhas, como os de Gisbert et al. (2004) com

larvas de Paralichthys californicus, Penã e Dumas (2005) para larvas de Paralabrax

maculatofasciatus, Chen et al. (2007) com larvas de Seriola lalandi e Shan et al. (2008, 2009)

para larvas de Oplegnathus fasciatus e Miichthys miiuy, respectivamente. No Brasil, estas

informações são praticamente inexistentes tanto para espécies de água doce como marinhas.

Neste contexto, os efeitos da privação alimentar sobre o crescimento larval do jundiá

Rhamdia voulezi Hanseman 1911 foram avaliados no presente estudo. O jundiá Rhamdia

voulezi Hanseman 1911, é uma espécie de médio porte, endêmica da bacia do rio Iguaçu

14

(Baumgartner et al., 2012), cuja reprodução acontece entre setembro a fevereiro com picos

entre novembro e dezembro (Suzuki e Agostinho, 1997). Seu cultivo em cativeiro ainda está

em fase inicial, provavelmente devido ao endemismo e as poucas informações existentes

sobre a mesma. Especificamente neste estudo foram avaliados: (1) o início da alimentação

exógena; (2) os efeitos do retarde da primeira alimentação no crescimento larval e (3) o ponto

de não retorno.

2. Materiais e métodos

O experimento foi desenvolvido no Instituto de Pesquisa em Aquicultura Ambiental

(InPAA) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, município de Toledo-PR, no mês de

fevereiro de 2012. As larvas de jundiá Rhamdia voulezi foram obtidas por meio de reprodução

induzida e fornecidas pelo Centro de Difusão e Desenvolvimento Tecnológico do rio Iguaçu

(CDT), localizado no município de Boa Vista da Aparecida, PR.

O experimento foi inteiramente casualizado e teve início logo após a absorção do saco

vitelínico, no 4o dia de vida após a eclosão (DAE). Foram realizados 8 tratamentos em

triplicatas constituídos por diferentes regimes alimentares. O alimento foi fornecido pela

primeira vez no 4o, 5

o, 6

o, 7

o, 8

o, 9

o e 10

o DAE, correspondendo aos tratamentos: T4; T5, T6,

T7, T8; T9 e T10, respectivamente. Também foi realizado um tratamento controle (TC), do

qual não recebeu alimento. Os tratamentos foram conduzidos em recipientes plásticos com

volume útil de 10L cada, dotados de sistema de aeração constante, numa densidade de 20

larvas/L. Cada recipiente foram cobertos por lona preta para a ausência total de luz, sendo

descobertos apenas para os manejos diários de limpeza e alimentação.

O alimento foi fornecido duas vezes ao dia, às 09h00min e 16h00min, com

zooplâncton coletado de viveiros aquícolas e artêmias recém-eclodidas. Estes viveiros foram

previamente calados com CaCo3 (250g/m²) e adubados com NPK 4-14-8 (200g/m²) para

15

promover o crescimento da comunidade planctônica. A eclosão das artêmias foi feita em

garrafas pet de 2L, utilizando-se uma salinidade de 10 ppm, luz e aeração constante. Antes de

serem colocadas nas garrafas para a eclosão, era feito a descapsulação com hipoclorito de

sódio (1 mL NaClO/100 mL H2O) durante 15 minutos. A coleta do zooplâncton foi feita

através de rede de plâncton de malhagem de 100 µm. Posteriormente, era feita a

homogeneização e em seguida, distribuídos na mesma proporção para todos os aquários por

meio de um copo de 200 mL. Procedimento semelhante foi adotado para o fornecimento das

artêmias, porém, antes era feita a lavagem para a remoção do sal, e só então eram fornecidas

por meio de pipetas de 5 mL.

Antes da última alimentação, era feita a sifonagem de todos recipientes para remoção

dos detritos. Neste momento, era feito a coleta de três larvas de cada tratamento e a leitura dos

parâmetros físico e químicos da água. As larvas coletadas foram submetidas à eutanásia, em

solução contendo benzocaína (250 mg/L) e em seguida fixadas em formol 4% para posterior

análise em laboratório. As leituras da temperatura, oxigênio dissolvido, pH e condutividade

elétrica foram realizadas com o uso do multiparâmetro da marca YSI modelo professional

Plus, com a finalidade de controlar o experimento, mantendo-os dentro do limite de tolerância

para peixes neotropicais conforme Kubtza (1999) e Sipaúba -Tavares (1994).

Simultaneamente à coleta de larvas, eram feitas observações visuais quanto ao

comportamento das mesmas na coluna de água. Com estas observações foi possível notar os

primeiros reflexos causados pela inanição.

Ao final do experimento, após 14 dias, foram avaliados o comprimento padrão-CP

(mm) e peso (g) de 594 larvas no total. Alguns tratamentos foram finalizados antes que os

demais devido à mortalidade em massa causada pela privação, logo, tiveram menor duração

(9 e 6 dias). Isto também justifica as diferenças do número amostral (N) entre os tratamentos

16

(ver Tabela 1). As medições do CP foram realizadas em um microscópio estereoscópico da

marca Olympus, modelo SZX7 equipado com câmera digital DP-25 com captura de imagem e

software DP2-BSW. Quando as pesagens, foram feitas com balança analítica (0,00001 g) da

marca SHIMADZU, modelo AW 220.

2.1. Análise dos dados

O crescimento das larvas submetidas à privação alimentar por diferentes períodos

(tratamentos) foi avaliado através da Análise não paramétrica de Kruskal-Wallis, sendo o

comprimento padrão (CP) e peso as variáveis dependentes e dias de vida (DAE) a variável

independente. As amostras coletadas nos diferentes dias de vida que não tinham um número

amostral mínimo de 6 larvas, devido à mortalidade, foram desconsideradas da análise.

Também foram observados a relação peso/comprimento e o coeficiente de crescimento

em relação aos diferentes tratamentos. Para isto, foram feitas regressões lineares com dados

transformados em log(x). A relação peso/comprimento foi observada por meio do coeficiente

de determinação (valor de R²) e o coeficiente de crescimento através do valor de b, que é o

coeficiente de regressão extraído da equação da reta: y = a + bx.

O software Statistica v.7.0 foi utilizado para as análises.

3. Resultados

3.1. Eclosão e início da alimentação exógena

A eclosão das larvas de Rhamdia voulezi ocorreu 15 horas após a fertilização numa

temperatura média de 29,28 ºC. No 2o DAE (dias de vida após a eclosão), a boca apresentava-

se aberta e saco vitelínico relativamente grande. Somente no 4o DAE (CP: 4,45±0,38 mm), a

larva apresentou o saco vitelínico completamente absorvido. Neste momento, o alimento foi

17

disponibilizado pela primeira vez para as larvas do tratamento 4 (T4). A ocorrência de

canibalismo foi observada imediatamente após este período.

Convêm ressaltar, que mesmo antes da exaustão completa do saco vitelínico, as larvas

exibiram elementos típicos de comportamento de forrageamento, como boa habilidade

natatória, olhos bem pigmentados, barbilhões formados e tentativas de abocanhar.

3.2. Comprimento padrão e peso

O crescimento em comprimento padrão só foi observado para os tratamentos T4, T5 e

T6 (Kruskal-Wallis, p<0,05), ao contrário dos demais (T7, T8, T9 e T10) (Kruskal-Wallis,

p>0,05) que não apresentaram crescimento (Tabela 1).

Com relação ao peso das larvas, os resultados não foram distantes do crescimento em

comprimento padrão. As larvas dos tratamentos T4, T5 e T6 foram significativamente

maiores em peso do que aquelas dos tratamentos T7, T8, T9 e T10 (Kruskal-Wallis, p<0,05 e

p>0,05, respectivamente) (Tabela 1).

Isto indica que o desenvolvimento das larvas de Rhamdia voulezi só é possível se

alimentadas a partir do 4o, 5

o e 6

o DAE. Se alimentadas após este período, o desenvolvimento

das larvas é interrompido (Fig. 1 e Fig. 2).

18

Tabela 1

Resultados da Análise Kruskal-Wallis (H) do comprimento padrão e peso das larvas para cada

tratamento em relação aos dias de vida.

Comprimento padrão (mm) Peso (g)

Tratamento DAE1 GL

2 N

3 H p H p

T4 4 13 126 111, 91 0,00 112, 63 0,00

T5 5 13 124 115, 72 0,00 115, 34 0,00

T6 6 7 71 46,08 0,00 54,99 0,00

T7 7 3 36 1,80 0,61 5,51 0,13

T8 8 4 45 8, 50 0,07 8,50 0,07

T9 9 4 45 4, 87 0,30 5,11 0,27

T10 10 4 44 3,73 0,44 5,28 0,26

TC (controle) - 4 45 5,34 0,25 7,59 0,10 1 DAE, dias de vida após a eclosão

2 GL, grau de liberdade

3 N, número de exemplares analisados

19

Fig. 1. Valores do comprimento padrão (mm) e peso (g) (média ± erro padrão) das larvas de

jundiá, Rhamdia voulezi, nos tratamentos em relação aos dias de vida: T4: 4o DAE, T5: 5

o

DAE,T6: 6o DAE; T7: 7

o DAE.

20

Fig. 2. Valores do comprimento padrão e peso (média ± erro padrão) das larvas de jundiá, Rhamdia voulezi, nos

tratamentos em relação aos dias de vida: T8: 8o DAE; T9: 9

o DAE; T10: 10

o DAE; TC: Tratamento controle.

21

3.4. Ponto de não retorno

O sétimo dia de vida após a eclosão (7o DAE) numa temperatura média de 29,79 ºC,

foi caracterizado como o ponto de não retorno para a larva de jundiá Rhamdia voulezi. O

alimento foi disponibilizado pela primeira vez neste período, porém, as larvas não

conseguiram se recuperar, havendo grande mortalidade (Fig. 1 e Fig. 2).

A partir do 5o DAE, foi observado nas larvas submetidas à privação alimentar a prática

de canibalismo, apresentando sinais de ferimentos e nadadeiras retalhadas. Também foi

possível notar mudanças de comportamento relacionado à natação. Algumas larvas exibiam

natação horizontal e sinais de letargia.

3.5. Relação peso e comprimento

A análise de regressão linear do peso em função do comprimento padrão para os

diferentes tratamentos indicou que apenas nos tratamentos T4, T5 e T6 (4o, 5

o e 6

o DAE) o

peso apresentou-se fortemente associado com a variação do comprimento padrão (Fig. 3). O

T5 apresentou um valor relativamente alto do coeficiente de determinação (R² = 0,72), o que

não se pode afirmar que o peso variou em função do comprimento padrão neste tratamento,

pois se trata de um número reduzido de larvas (7 do total de 52 larvas) que se destacaram em

relação as demais, provavelmente devido ao canibalismo. Assim sendo, para esta relação, tais

larvas canibalistas foram desconsideradas, e o coeficiente de determinação passou a ter um

valor não significativo (R² = 0,14), assim como os demais tratamentos (T7, T8, T9, T10 e TC)

(Fig. 3).

22

Fig. 3. Relação log do peso e log do comprimento padrão (CP) para os diferentes tratamentos: T4: 4o DAE,

T5: 5o DAE, T6: 6

o DAE, T7: 7

o DAE, T8: 8

o DAE, T9: 9

o DAE, T10: 10

o DAE e TC: controle.

23

O padrão de crescimento observado a partir do coeficiente de regressão (valor de b)

mostra que o peso tem um aumento maior que o crescimento (b > 3) para o T4, T5 e T6 (4o,

5o e 6

o DAE), em seguida, é observado um decréscimo brusco no T4 que possivelmente está

relacionado ao ponto de não retorno que ocorreu no 7o DAE (Fig. 4). O T5 (8

o DAE) também

apresentou uma alometria positiva do peso em função do crescimento, entretanto, este valor

só foi representativo devido à uma minoria de larvas canibais (7 do total de 52) observadas

neste tratamento (Fig. 4).

Fig. 4. Coeficiente de crescimento das larvas de Rhamdia voulezi nos diferentes tratamentos.

4. Discussões

O período ou o tempo da primeira alimentação varia entre as espécies de peixes e é

geralmente influenciado por outros fatores como o tamanho do ovo e temperatura (Shan et al.,

2008). Algumas espécies de peixes, podem apresentar um período misto de alimentação antes

24

da completa exaustão do vitelo (Zhang et al., 2009), porém, outras, só iniciam a primeira

alimentação logo após a total absorção do saco vitelínico (Houde, 1974) ou dias depois

(Gisbert e Williot, 1997; Gisbert et al., 2004). Nakaghi et al. (2011) evidenciaram para larvas

de tilápia Oreochromis niloticus que o início da primeira alimentação antes ou logo após a

depleção total do saco vitelínico não influenciou a sobrevivência das mesmas. Desta forma,

presume-se que o início da primeira alimentação deve ser feita dentro do limite de tolerância

ao jejum de cada espécie.

Sabe-se que o período larval é caracterizado por altas taxas de mortalidade,

principalmente na transição da alimentação endógena para exógena (Blaxter e Ehrlich, 1974;

Fuiman, 2002). Assim, a sobrevivência e o crescimento nesta fase depende, dentre outros

fatores, com o grau de desenvolvimento de órgãos e estruturas necessários a alimentação,

como boca e aparelho digestivo (Makrakis et al., 2005; 2008), capacidade de natação, que está

relacionado com o sucesso de busca pelo alimento, acuidade visual (Yúfera e Darias, 2007;

Makrakis et al., 2008) e disponibilidade de alimento (Sánchez-Velasco, 1998). Larvas que não

conseguem superar essas limitações a tempo, tornam-se vulneráveis a inanição e

consequentemente, à predação (Gisbert et al., 2004; Dou et al., 2005).

A inanição ainda nas primeiras fases de desenvolvimento resulta em graves

deformidades morfológicas, atraso no crescimento e alta mortalidade (Gisbert et al., 2004;

Shan et al., 2009). Para Blaxter e Hempel (1963), as larvas privadas de alimento podem

alcançar um estado de inanição irreversível, tornando-se demasiadamente fracas para se

alimentar e morrem. Estes autores denominou este estado como “ponto de não retorno”. O

ponto de não retorno (PNR) para larvas de Rhamdia voulezi foi verificado no sétimo dia de

vida após a eclosão a uma temperatura de 29,79 ºC. Os tratamentos que receberam alimento

após este período continuaram a apresentar acentuada mortalidade e não tiveram um padrão

de desenvolvimento semelhante àqueles que foram alimentados precocemente (até o 6o DAE).

25

A capacidade de resistência à privação alimentar antes do ponto de não retorno é

dependente do tamanho da larva, temperatura e também da espécie de peixe (Blaxter e

Ehrlich, 1974; Houde, 1974). Como exemplo, uma espécie de água doce, Odontesthes

bonariensis, Strussmann e Takashima (1989) observou o ponto de não retorno em oito dias de

vida após a eclosão a uma temperatura de 26 ºC. Para espécies marinhas, o ponto de não

retorno aconteceu em sete dias após a eclosão para larvas de Paralichthys californicus

(Gisbert et al. 2004) e quatro à cinco dias após a eclosão para larvas de Paralabrax

maculatofasciatus (Peña e Dumas 2005).

Alguns métodos, desde morfológicos até bioquímicos têm sido utilizados para avaliar

as condições das larvas de peixes submetidos a diferentes períodos de privação alimentar.

Neste estudo, o atraso da primeira alimentação foi avaliado através do crescimento

(comprimento padrão) e peso, que foram intensamente afetados em larvas alimentadas mais

tardiamente, após o 6o

DAE. Larvas de outras espécies de água doce, tais como: Later

calcarifer (Kailasam et al., 2007) e Siniperca scherzeri (Zhang et al., 2009), o crescimento

também foi influenciado pelo atraso da primeira alimentação. Vale ressaltar ainda que

mudança de comportamento do peixe como letargia, natação errática (natação horizontal) e

canibalismo, constatados neste estudo, também podem ser os primeiros sinais de inanição.

Para Chen et al. (2007) a habilidade que as larvas tem em suportar determinados

períodos de privação alimentar é crucial para a sobrevivência e crescimento da mesmas,

embora, deve ser evitada antes do seu completo desenvolvimento, pois podem causar danos

em células do intestino que são importantes na digestão e absorção dos alimentos. Não

obstante desta hipótese, Dou et al. (2002) alertam que a alimentação iniciada em torno do

ponto de não retorno reduz a capacidade das larvas de se alimentarem devido ás deformidades

morfológicas e fisiológicas causadas pela inanição.

26

Neste sentido, as informações acerca dos efeitos da privação alimentar sobre o

desenvolvimento dos peixes, bem como, o tempo máximo em que as larvas são capazes de

resistir antes do PNR, são primordiais para a piscicultura, pois permite fornecer um protocolo

do tempo ideal para o inicio da primeira alimentação, e assim, evitar maiores mortalidades na

fase larval. Na ecologia, permite entender as altas taxas de mortalidade precoce de populações

de ambiente natural que levam a variações no tamanho do estoque (O'Connell, 1976).

No geral, nossos resultados indicam que o crescimento larval do jundiá tanto em

tamanho como em peso foram significativamente afetados pelo atraso da primeira

alimentação que deve ser iniciada no quarto dia de vida após a eclosão, sendo tolerável até o

sexto dia de vida após a eclosão. A partir deste período, no sétimo dia após a eclosão, as

larvas de Rhamdia voulezi atingem o ponto de não retorno (Fig. 5), não sendo, portanto,

capazes de se desenvolver mesmo que o alimento seja fornecido pela primeira vez.

Fig. 5. Maiores eventos observados durante a ontogenia do jundiá, Rhamdia voulezi. Esquema

adaptado do modelo de Honji et al. (2012).

27

Agradecimentos

Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

pela concessão de bolsa e ao Grupo de Pesquisa em Tecnologia de Produção e Conservação

dos Recursos Pesqueiros e Hídricos (GETECH) pelo apoio logístico e financeiro para a

realização da pesquisa.

Referências

Baumgartner, G., Pavanelli, C.S., Baumgartner, D., Bifi, A.G., Debona, T., Frana, V.A.,

2012. Peixes do Baixo rio Iguaçu. Primeira ed. Eduem, Maringá.

Blaxter, J.H.S., Hempel, G., 1963. The influence of egg size on herring larvae (Clupea

harengus). J. Cons. Int. Explor. Mer. 28, 211-240.

Blaxter, J.H.S., Ehrlich, K.F., 1974. Changes in behavior during starvation of herring and

plaice larvae. In: Blaxter, J.H.S (ed.), The early life history of fish. Springer-Verlag, Berlin,

pp. 575-588.

Bisbal, G., Bengtson, D.A., 1995. Descriptions of the starving condition in summer flounder,

Paralichthys dentatus, early life-history stages. Fish B-NOAA. 93, 217-230.

Chen, B.N., Qin, J.G., Carragher, J.F., Clarke, S.M., Kumar, M.S., Hutchinson, W.G., 2007.

Deleterious effects of food restrictions in yellowtail kingfish Seriola lalandi during early

development. Aquacult. 271, 326-335.

Dou, S.Z., Masuda, R., Tanaka, M., Tsukamoto, K., 2002. Feeding resumption,

morphological changes and mortality during starvation in Japanese flounder larvae. J. Fish

Biol. 60, 1363-1380.

Dou, S., Masuda, R., Tanaka, M., Tsukamoto, K., 2005. Effects of temperature and delayed

first feeding on survival and growth of Japanese flounder larvae. J. Fish Biol. 66, 362-377.

Ehrlich, K.F., Blaxter, J.H.S., Pemberton, R. 1976. Morphological and histological changes

during growth and starvation of herring and plaice larvae. Mar. Biol. 35, 105-118.

Faria, A.M., Muha, T., Morote, E., Chícaro, M.A. 2011. Influence of starvation on the critical

swimming behaviour of the Senegalese sole (Solea senegalensis) and its relationship with

RNA/DNA ratios during ontogeny. Sci. Mar. 75, 87-94.

Fuiman, L.A., 2002. Special considerations of fish eggs and larvae. In: Fuiman, L.A., Werner,

R.G. (eds.), The unique contributions of early life stages. Fishery science, Oxford, Blackwell

Science, pp.1-32.

Geurden, M. Aramendi, J. Zambonino-Infante, Panserat, S., 2007. Early feeding of

carnivorous rainbow trout (Oncorhynchus mykiss) with a hyperglucidic diet during a short

28

period: effect on dietary glucose utilization in juveniles. Am. J. of Physiol. 292, R2275-

R2283.

Gisbert, E., Williot, P., 1997. Larval behavior and effect of the timing of initial feeding on

growth and survival of Siberian sturgeon (Acipenser baeri) larvae under small scale hatchery

production. Aquacult. 156, 63-76.

Gisbert, E., Conklin, D.B., Piedrahita, R.H., 2004. Effects of delayed first feeding on the

nutritional condition andmortality of California halibut larvae. J. Fish Biol. 64, 116-132.

Gomes, L.C., Golombieski, J.I., Gomes, A.R.C., Baldisserotto, B., 2000. Biologia do jundiá

Rhamdia quelen (Teleostei, Pimelodidae). Ciênc. Rural. 30, 179-185.

Hempel, G., Blaxter, J.H.S., 1963. On the condition of herring larvae. Rapports et Proces

Verbaux des Reunions du Conseil International pour l’Exploration de la Mer. 154, 35-40.

Honji, R.M., Tolussi, C.E., Mello, P.H., Caneppele, D., Moreira, R.G., 2012. Embryonic

development and larval stages of Steindachneridion parahybae (Siluriformes: Pimelodidae):

implications for the conservation and rearing of this endangered neotropical species. Neotrop.

Ichthyol. 10, 313-327.

Houde, E.D., 1974. Effects of temperature and delayed feeding on growth and survival of

larvae of three species of subtropical marine fishes. Mar. biol. 26, 271-285.

Hung, S.S.O., Liu,W., Li, H., Storebakken, T., Cui, Y., 1997. Effect of starvation on some

morphological and biochemical parameters in while sturgeon, Acipenser transmontanus.

Aquacult. 151, 357-363.

Hunter, J.R., 1981. Feeding ecology and predation of marine fish larvae. In: Lasker, R. (ed.)

Marine Fish Larvae: Morphology, Ecology and Relation to Fisheries. University of

Washington Press, Seattle, pp. 34-77.

Kailasam, M., Thirunavukkarasu, A. R., Selvaraj, S., Stalin, P., 2007. Effect of delayed initial

feeding on growth and survival of Asian sea bass Lates calcarifer (Bloch) larvae. Aquacult.

271, 298-306.

Kubitza, F., 1999. Qualidade da água na produção de peixes, primeira ed. CIP-USP, Jundiaí,

São Paulo.

Love, R.M., 1970. The chemical Biology of Fishes, Primeira ed. Academic Press, London.

Leggett, W.C, Deblois, E., 1994. Recruitment in marine fishes: is it regulated by starvation

and predation in the egg and larval stages? Neth. J. Sea Res. 32, 119-134.

Makrakis, M.C., Nakatani, K., Bialetzki, A., Sanches, P.V., Baumgartner, G., Gomes, L.C.,

2005. Ontogenetic shifts in digestive tract morphology and diet of fish larvae of the Itaipu

Reservoir, Brazil. Environ. Biol. Fishes. 72, 99-107.

29

Makrakis, M. C., Nakatani, K., Bialetzki, A., Gomes, L. C., Sanches, P. V. & Baumgartner,

G., 2008. Relationship between gape size and feeding selectivity of fish larvae from a

Neotropical Reservoir. J. Fish Biol. 72, 1690-1707.

May, R. C. 1971. Effects of delayed initial feeding on larvae of the grunion, Leuresthes tenuis

(Ayres). Fish B-NOAA. 69, 411-425.

Mookerji, N., Rao, R., 1999. Rates of yolk utilization and effects of delayed initial feeding in

the larvae of the freshwater fishes rohu and singhi. Aquacult. 7, 45-56.

Nakaghi, L.S.O., Batista, W.K., Paes, M.C.F., Makino, L.C., Koberstein, T.C.R.D., 2011.

Influence of the first feeding on absorption of yolk and survival rate of Oreochromis niloticus

larvae. Rev. Acad., Ciênc. Agrár. Ambient. 9, 257-262.

O'Connell, C.P., 1976. Histological criteria for diagnosing the starving condition in early post

yolk sac larvae of the northern anchovy, Engraulis mordax Girard. J. Exp. Mar. Biol. Ecol.

25, 285-312.

Paul, A.J., 1983. Light, temperature, nauplii concentrations, and prey capture by first feeding

pollock larvae Theragra chalcogramma. Mar. Ecol. Prog. Ser. 13, 175-179.

Peña, R.A., Dumas, S., 2005. Effect of delayed first feeding on development and feeding

ability of Paralabrax maculato fasciatus larvae. J. Fish Biol. 67, 640-651.

Porter, S.M., Bailey, K.M., 2007. Optimization of feeding and growth conditions for walleye

pollock Theragra chalcogramma (Pallas) larvae reared in the laboratory. Alaska Fisheries

Science Center (U.S.), United States, National Marine Fisheries Service, Seattle, WA, Alaska

Fisheries Science Center.

Powell, A.B., Chester, A.J., 1985. Morphometric indices of nutritional condition and

sensitivity to starvation of spot larvae. Trans. Am. Fish. Soc. 114, 338-347.

Salam, A., Ali, M., Masud, S., 2000. Effect of various food deprivation regimes on body

composition dynamics of thaila, Catla catla. J. Mater. Sci. Res. 11, 26-32.

Sanchez-Velasco, L. 1998. Diet composition and feeding habits of fish larvae of two

coccurring species (Pisces: Callionymidae and Bothidae) in the North-western Mediterranean.

J. Mar. Sci. 55, 299-308.

Shan, X.J., Quan, H.F., Dou, S.Z., 2008. Effects of delayed first feeding on growth and

survival of rock bream Oplegnathus fasciatus larvae. Aquacult. 277, 14-23.

Shan, X.J., Cao, L., Huang, W., Dou, S.Z., 2009. Feeding, morphological changes and

allometric growth during starvation in miiuy croaker larvae. Environ. Biol. Fishes. 86, 121-

130.

Sipaúba-Tavares, L.H. 1994. Limnologia aplicada à aquicultura. Primeira ed. FUNEP, São

Paulo.

Strussmann, C.A., Takashima, F., 1989. PNR, histology and morphometry of styarved

pejerrey Odontesthes bonariensis larvae. Nippon Suis. Gak. 55, 237-246.

30

Suzuki, H.I., Agostinho, A.A., 1997. Reprodução de peixes do reservatório de Segredo. In:

Agostinho, A.A., Gomes, L.C. (Eds.), Reservatório de Segredo: bases ecológicas para o

manejo. Eduem, Maringá, pp. 163-182.

Yúfera, M., Darias, M.J., 2007. The onset of exogenous feeding in marine fish larvae.

Aquacult. 268, 53-63.

Zhang, L., Wang, Y.J., Hu, M.H., Fan, Q.X., Cheung, P.K.S., Shin, H., Cao, L., 2009. Effects

of the timing of initial feeding on growth and survival of spotted mandarin fish Siniperca

scherzeri larvae. J. Fish Biol. 75, 1158-1172.

31

CAPÍTULO II

SELETIVIDADE ALIMENTAR DE LARVAS DO JUNDIÁ Rhamdia

voulezi Haseman 1911: ALGUMAS IMPLICAÇÕES PARA O SEU

CULTIVO

32

SELETIVIDADE ALIMENTAR DE LARVAS DO JUNDIÁ Rhamdia

voulezi Haseman 1911: ALGUMAS IMPLICAÇÕES PARA O SEU

CULTIVO

RESUMO

A seletividade alimentar nos diferentes dias de vida, bem como o papel da boca na seleção de

presas foi avaliado. Para tanto, foram realizados 3 ensaios de seletividade alimentar nos

diferentes dias de vida após a eclosão (DAE). As larvas foram alimentadas com zooplâncton

coletados em tanques piscícolas. Houve variações nos padrões de seleção de presas nos

diferentes dias de vida analisados. Inicialmente no 5o

DAE, estágio de pré-flexão, as larvas

selecionaram fortemente os rotiferas (não identificado) e os cladoceras (Diaphanosoma

spinulosum, D. brevireme, Moina sp., M. micrura, M. minuta). Nos demais dias de vida

analisados, os cladoceras continuaram a ser fortemente selecionados. Entretanto no 8o DAE,

estágio de flexão, selecionaram menos intensamente os copepodas Argyrodiaptomus azevedoi

e Termocyclops decipiens e no 10o DAE, estágio de pós-flexão, mais fortemente

Argyrodiaptomus furcatus, Notodiaptomus cf. spinuliferus e Metacyclops mendocinus.

Concomitante ao seu crescimento, as larvas tendem a se especializar em determinados itens

presa, existindo uma seleção de presas tanto pelo tipo como também pelo tamanho, onde o

tamanho da presa consumida está relacionado com o tamanho da larva e o tamanho de sua

boca. Inicialmente as larvas têm preferência por itens presas menores, os rotíferos e

cladoceras, posteriormente, quando estão mais desenvolvidas, preferem alimentar-se de presas

maiores, os copepodas.

Palavras-chave: Alimentação, larvas de peixes seleção de presas, tamanho da boca.

33

FEEDING SELECTIVITY OF THE LARVAE JUNDIÁ Rhamdia voulezi Haseman

1911: SOME IMPLICATIONS FOR YOUR CULTURE

ABSTRACT

The feeding selectivity on different days of life, as well as the role of the mouth in prey

selection was evaluated. Thus, we performed 3 trials of feeding selectivity in different days

after hatching (DAH), comprising different larval stages and classes of standard length. The

larvae were fed zooplankton collected in fish ponds. There were variations in the patterns of

prey selection in different days of life analyzed. Initially on the 5th DAH, preflexion stage,

larvae strongly selected rotiferas (unidentified) and cladocerans (Diaphanosoma spinulosum,

Diaphanosoma brevireme, Moina sp., Moina micrura, Moina minuta). In the remaining days

of life examined, the cladocerans continued to be strongly selected. However on the 8th DAH,

flexion stage, they selected less intensely the copepods Argyrodiaptomus azevedoi and

Termocyclops decipiens and more strongly Argyrodiaptomus furcatus, Notodiaptomus cf.

spinuliferus and Metacyclops mendocinus at 10 DAH, postflexion stage. Concomitant to its

growth, the larvae tend to specialize in certain prey items. The size of prey consumed is

related to the size of the larvae and the gape size. Initially larvae have a preference for

cladocerans, and later when they are more developed prefer to feed on copepods.

Keywords: Feeding, larvae fish, prey selection, gape size.

34

1. Introdução

A maior parte da mortalidade em peixes de ambiente natural ou de condições de cultivo,

ocorre em suas primeiras fases de desenvolvimento, principalmente durante a transição da

alimentação endógena para a exógena (Kamler, 1992; Fuiman, 2002; Braaten et al., 2007;

Olivotto et al., 2010; Anto e Turingan, 2010). No entanto, a sobrevivência e o crescimento

nesta fase, estão diretamente relacionado com a quantidade do suprimento alimentar

endógeno e com a disponibilidade de presas zooplanctônicas adequadas à sua primeira

alimentação (Mercier et al., 2004; Makrakis et al., 2008).

O termo “adequadas” é porque muitas larvas de peixes não consomem

indiscriminadamente todos os recursos alimentares em sua volta. Estudos mostram que boa

parte das espécies mesmo em suas primeiras fases de desenvolvimento, apresenta um

comportamento seletivo na escolha do alimento, mantendo sua alimentação associada a tipos

e tamanhos específicos de presas (por exemplo, Sabates e Saiz, 2000; Nip et al., 2003;

Ostergaard et al., 2005; Makrakis et al., 2008; Anto et al., 2009; Morote et al., 2011).

Mas, nem sempre a preferência alimentar por determinados tipos de presas é constante

ao longo do período larval, podem variar simultaneamente com o desenvolvimento (Anneville

et al., 2011). Logo, presume-se que as limitações morfológicas, como tamanho da larva e

tamanho da boca influenciam diretamente na captura do alimento. Além disto, as interações

entre presa e predador também são levadas em consideração. Grande parte destas interações

são determinadas por processos como o número de encontro, ataque, captura, ingestão,

rejeição e escape (Fiksen e MacKenzie, 2002, Sarma et al., 2003).

A compreensão de todos os mecanismos que regem a tomada de alimento pelas larvas,

é essencial para entender alguns aspectos relacionados ao comportamento alimentar (Mikheev

35

e Wanzenböck, 2010), como também, colaborar com alguns “insights” para o seu cultivo,

principalmente no processo de gerir a transição da dieta entre os alimentos.

O jundiá Rhamdia voulezi pertence à família dos Heptapteridade, é uma espécie

nativa, de médio porte, encontrada apenas na bacia do rio Iguaçu (Bockmann e Guazzelli

2003, Baumgartner et al., 2012). O cultivo desta espécie está em fase inicial, pois há carência

de uma literatura especializada que contemple todos os aspectos biológicos e

comportamentais da mesma. Neste contexto, este estudo investigou o comportamento

alimentar das larvas desta espécie, buscando responder as seguintes questões: As larvas

selecionam o alimento ou capturam conforme sua abundância? Existe mudanças na

preferência alimentar durante o desenvolvimento larval? O tamanho do zooplâncton ingerido

acompanha o tamanho da larva e o incremento de sua boca?

2. Materiais e métodos

Este estudo foi conduzido no Instituto de Pesquisa em Aquicultura Ambiental (InPAA) da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, município de Toledo-PR, no mês de fevereiro de

2012. As larvas foram obtidas por meio de reprodução induzida utilizando reprodutores

capturados no rio Iguaçu e fornecidas pelo Centro de Difusão e Desenvolvimento

Tecnológico do rio Iguaçu (CDT), localizado no município de Boa Vista da Aparecida, PR.

Para avaliar a seletividade alimentar ao longo do período larval, foram realizados três

ensaios de seletividade alimentar com larvas em diferentes dias de vida após a eclosão (DAE,

contemplando os diferentes estágios de desenvolvimento/classes de tamanho. O primeiro

ensaio foi feito logo após a absorção completa do saco vitelínico, no 4o DAE, o segundo

ensaio foi realizado no 8o DAE e o terceiro no 10

o DAE, sendo conduzidos aleatoriamente em

4 repetições mais o controle que conteve somente zooplâncton. Para tanto, as larvas foram

previamente submetidas ao jejum num período de 24 horas. Posteriormente, estas foram

36

transferidas para recipientes plásticos com volume útil de 3L cada, dotados de sistema de

aeração constante numa densidade de 10 larvas/L. Estes recipientes foram cobertos por lona

preta, mantendo-se o ambiente interno escuro, sendo descobertos apenas para alimentação.

O alimento foi fornecido duas vezes ao dia, às 8h30min e às 16h30min, com

zooplâncton provenientes de tanques piscícolas. Estes tanques foram previamente calados

com CaCo3 (250 g/m²) e adubados com NPK 4-14-8 (200 g/m²) para promover o crescimento

do plâncton. A coleta do zooplâncton foi feita através de rede de plâncton de malhagem 68

µm. Posteriormente, era feita a homogeneização e em seguida, distribuídos na mesma

proporção para todos os aquários.

Ao final de cada ensaio, após 24 horas, as larvas eram coletadas, submetidas à

eutanásia, em solução contendo benzocaína (250 mg/L) e em seguida fixadas em formol 4%

para posterior análise em laboratório. O mesmo procedimento foi adotado para a coleta do

zooplâncton do ensaio controle.

Para controle dos parâmetros físico e químicos da água, foi realizado para cada

ensaio a leitura, às 16h30min, da temperatura, pH, oxigênio dissolvido e condutividade

elétrica através do multiparâmetro da marca YSI modelo professional Plus, mantendo-os

dentro do limite de tolerância conforme Kubtza (1999) e Sipaúba -Tavares (1994) para peixes

neotropicais.

As larvas coletadas foram classificadas em diferentes estágios de desenvolvimento:

pré-flexão; flexão e pós-flexão conforme Ahlstrom e Ball (1954) e Kendall et al. (1984).

Concomitante as classificações em estágios de desenvolvimento, foram realizadas as

medições do comprimento padrão (CP) e do comprimento da maxila superior, conforme a

metodologia de Shirota (1978), a fim de analisar o tamanho da boca (TB) das larvas. As

medições das mesmas foram feitas em um microscópio estereoscópico Olympus modelo

37

SZX7 equipado com câmera digital DP-25 com captura de imagem e software de medição

DP2-BSW.

Os organismos zooplanctônicos da dieta e do ambiente (ensaio controle) foram

identificados, mensurados e quantificados ao menor nível taxonômico possível com o auxílio

de Matsumura-Tundisi (1976), El-Moor Loureiro (1997), Silva (2003), Previattelli (2006),

Neves (2011) e Joko (2011) através de um microscópio óptico Olympus modelo CX21. Para a

análise do zooplâncton do ambiente foram retiradas três sub-amostras de 2,5mL e

posteriormente extrapolado para o volume total do ambiente (aquário de 3L).

Para a análise dos itens alimentares consumidos, foram analisadas 40 larvas por

ensaio, totalizando 120 larvas. Para larvas em estágio de pré-flexão e flexão analisou-se o

conteúdo total e aquelas em estágio de pós-flexão, apenas 2/3 do tubo digestório foi analisado

devido ao grau de digestão dos itens alimentares na sua porção final. As presas intactas tanto

da dieta quanto do ambiente foram medidas, considerando o comprimento total que inclui

espinhos e elmos.

2.1. Análise dos dados

Para caracterizar a seletividade alimentar pelas larvas através da composição taxonômica e

tamanho do zooplâncton disponível, foram obtidos valores de seletividade alimentar (Chesson

1978, 1983) através da seguinte fórmula:

m

1jjj

iii

n/r

n/r

,i = 1,...m

onde ri e ni são a proporção do tipo de presa i/tamanho i na dieta e no ambiente

respectivamente, e m corresponde ao número de tipos/tamanhos de presas disponíveis. Esse

38

índice varia de 0 a 1, onde valores de seletividade igual a 1/m indicam seleção neutra, valores

acima de 1/m indicam seleção positiva e valores inferiores a 1/m indicam seleção negativa.

Para determinar os valores de seletividade pelo tamanho da presa, os organismos

zooplanctônicos foram divididos em 8 classes de tamanho (incremento 0,19). E para calcular

a seletividade alimentar por tamanho de boca, as larvas foram separadas em quatro classes de

tamanho de boca com incremento de 0,2.

Para analisar se o tamanho do zooplâncton ingerido aumenta conforme o aumento do

tamanho da boca e idade larval foi realizado a MRPP (Procedimento de Permutação Multi-

resposta). Para isto, consideraram-se as diferentes classes de tamanho de boca (classe 1,2, 3 e

4) com os tamanhos de presas na dieta, e diferentes dias de vida (4o, 8o e 10o DAE) em

relação aos diferentes tamanhos de presas na dieta. Antes desta análise, as larvas foram

separadas em 4 classes de tamanho de boca com incremento de 0,2.

O teste de Mantel (Fortin e Gurevitch, 1993) foi usado para examinar se há associação

entre os itens consumidos com os disponíveis no ambiente. A matriz das classes de tamanho

presente na dieta com a matriz das classes de tamanho disponível no ambiente e a matriz das

espécies de zooplâncton ingerido com a matriz das espécies do zooplâncton disponível foi

correlacionada. Todas as análises foram conduzidas no PC-ORD software versão 5.0.

Com o objetivo de verificar se o aumento do tamanho da boca da larva de Rhamdia

voulezi foi significativo com a variação do comprimento padrão, foi feito uma análise de

regressão linear com dados logaritimizados.

39

3. Resultados

3.1. Seletividade alimentar taxonômica

Foi possível verificar diferenças nos padrões de seletividade alimentar nos diferentes dias de

vida das larvas (Fig. 1). As larvas do 4o DAE (4,42 a 5,48 mm de comprimento padrão-CP;

estágio de pré-flexão e início de flexão) selecionaram positivamente os cladoceras,

especialmente Diaphanosoma spinulosum (Dspi), Diaphanosoma brevireme (Dbr), Moina sp.

(Msp), Moina micrura (Mmc) e Moina minuta (Mmi) e também os rotiferas não identificados

(Rotni).

Para as larvas do 8o DAE (6,08 a 7,37 mm de comprimento padrão-CP; estágio de

flexão), observou-se uma forte seleção para os cladoceras: Diaphanosoma spinulosum (Dspi),

Diaphanosoma brevireme (Dbr) e Diaphanosoma birgei (Dbi) e para o copépoda

Metacyplops mendocinus (Mme). Os demais copepodas, Argyrodiaptomus azevedoi (Argz) e

Termocyclops decipiens (Tde), foram fracamente selecionados.

Já as larvas com 10o DAE (7 a 10 mm de comprimento padrão-CP; estágio em início

de pós-flexão e pós-flexão), selecionaram preferencialmente os copepodas da ordem

Calanoida, Argyrodiaptomus furcatus (Argf) e Notociaptomus cf. spinuliferus (Nots) e da

ordem dos Cyclopoidas, Metacyclops mendocinus (Mme). Os cladoceras Diaphanosoma

brevireme (Dbr) continuaram a fazer parte da seleção.

42

Fig.1. Seletividade alimentar (α) taxonômica para os diferentes dias de vida das larvas de Rhamdia voulezi. Rotni, Rotífero não identificado; Lsp, Lecane sp.; Lbul, Lecane

bulla bulla; Lcal, Lecane altusa.; Plat, Platyas sp.; Asp, Asplanchna sp.; Braq, Brachionus quadridentatus; Braqq, Brachionus quadriculatus quadriculatus; Dspi,

Diaphanosoma spinulosum; Dbr, Diaphanosoma brevireme; Dbi, Diaphanosoma birgei; Dfl, Diaphanosoma fluviatile; Dge, Daphnia gessneri; Msp, Moina sp.; Mmc, Moina

micrura; Mmi, Moina minuta; Mro, Moina rostrata; Mac, Macrothrix sp.; Ncy, náuplio de cyclopoida; Nca, náuplio de calanoida; Copdi, copépodo digerido; Cocy,

copepodito de cyclopoida; Cocal, copepodito de calanoida; Adcy, adulto de cyclopoida; Adca, adulto de calanoida; Argf, Argyrodiaptomus furcatus; Argz, Argyrodiaptomus

azevedoi; Nots, Notodiaptomus cf. spinuliferus; Mme, Metacyclops mendocinus; Tsp, Thermocyclops sp.; Tmi, Thermocyclops minutos; Tde, Thermocyclops decipiens; Culi,

Culicidae. Barras e linhas verticais, média ± erro padrão; _________Linha de neutralidade.

43

3.2. Seletividade por classe de tamanho do zooplâncton ao longo do período larval

A seletividade alimentar pelo tamanho do zooplâncton, diferiu entre os dias de vida (Fig. 2).

As larvas no 4o DAE selecionaram preferencialmente presas menores de 0,01 a 0,50 mm. As

larvas do 8o DAE, selecionaram fracamente presas de 30 e 70 mm e mais fortemente presas de

50mm de tamanho. As larvas maiores do 10o DAE, selecionaram presas de todas as classes de

tamanho, sendo positivamente somente para os tamanhos de 0,50, 0,70 e 1,30 mm.

Na MRPP, aplicada com o objetivo de testar tais diferenças de seletividade por

tamanho nos diferentes dias de vida após a eclosão (comparação por pares), as comparações

por pares evidenciaram que o tamanho das presas consumidas no 4o DAE foram

significativamente diferentes daquelas consumidas no 8o

e 10o DAE. Aquelas consumidas no

8o e 10

o DAE foram semelhantes. A Tabela 1 mostra os resultados da análise.

Tabela 1 Comparações pareadas do tamanho do zooplâncton

consumido para os diferentes grupos (dias de vida após a eclosão-

DAE).

Grupos

comparados

T

A

p (Monte Carlo)

1ax2

b -15,2119 0,0862 p<0,01

1ax3

c -8,8562 0,0448 p<0,01

2bx3

c 3,5224 0,0163 p<0,01

a 4o DAE;

b 8

o DAE;

c 10

o DAE.

44

Fig. 2 Seletividade alimentar (α) pelo tamanho do zooplâncton para os diferentes dias de vida das larvas de Rhamdia voulezi. Barras e linhas verticais, média ± erro padrão;

_________Linha de neutralidade.

46

O teste de Mantel aplicado para comparar as presas consumidas com as que estavam

disponíveis no ambiente revelou que não há uma relação entre estas variáveis tanto para as

espécies (Mantel teste: N= 114, r= 0,026, Z= 0,184, p<0,05) como para as classes de tamanho

(Mantel teste: N=113, r= 0,026, Z= 0,17, p<0,5). Isto reforça a hipótese de que as larvas

selecionaram o alimento conforme a composição e tamanho do mesmo.

3.3. Relação entre tamanho de boca e comprimento padrão

A análise de regressão mostrou uma relação significativa do tamanho da boca com o aumento

do comprimento padrão para larva de Rhamdia voulezi (Fig. 3). Foi possível observar que nos

primeiros dias de vida, especificamente no 4o DAE, as larvas estavam em estágio de pré-

flexão e início de flexão e apresentavam tamanho de boca entre 0,3 e 0,69 mm e comprimento

padrão de 4,42-5,48 mm. No 8o DAE, as larvas já estavam em estágio de flexão com tamanho

da boca de 0,72 a 1,03 mm e comprimento padrão de 6,08 a 7,37 mm. Já aquelas do 10o DAE,

em estágio de pós-flexão, apresentaram tamanho de boca entre 0,81 e 1,50 mm e

comprimento padrão de 7-10 mm.

Fig. 3 Relação tamanho de boca e comprimento padrão em larvas de Rhamdia voulezi.

47

3.3. Tamanho da presa x tamanho de boca do predador

O tamanho dos itens consumidos acompanhou significativamente o incremento da boca

(MRPP: N=113, A= 0,0446, T= -7,6291 p<0,01) (Fig. 4). Quando examinados por pares, o

tamanho das presas consumidas para a classe 1 de tamanho de boca diferiu em relação as

classes 1, 2, 3 e 4. A comparação pareada para as demais classes de tamanho de boca, o

tamanho dos itens consumidos foi similar. A Tabela 2 mostra os resultados da análise.

Tabela 2 Comparações pareadas do tamanho do zooplâncton

consumido para os diferentes grupos (classes de tamanho de boca).

Grupos (classes)

comparados

T

A

P (Monte Carlo)

1ax2

b -9,4501 0,0557 p<0,01

1ax3

c -6,1165 0,0375 p<0,01

1ax4

d -5,7794 0,0596 p<0,01

2bx3

c -0, 6350 0,032 p<0,01

3cx4

d -1,4483 0,0122 p>0,01

a classe 1 (0,3-0,59 mm); b classe 2 (0,6-0,89 mm);

c classe 3 (0,9-1,19

mm); d classe 4 (1,2-1,49 mm).

Fig. 4. Relação entre o tamanho da presa e o tamanho da boca observada em larvas de Rhamdia voulezi.

48

3.5. Seletividade alimentar por tamanho de boca

A seletividade alimentar pelo tamanho de presa conforme o tamanho da boca do predador,

mostrou que as larvas de Rhamdia voulezi com tamanhos de boca entre 0,3-0,59 mm,

selecionaram itens menores de 0,01 a 0,50 mm, e conforme o aumento do tamanho da boca

foram selecionando positivamente itens maiores (Fig. 5).

Fig. 5. Seletividade alimentar (α) pelo tamanho da presa por larvas de Rhamdia voulezi nas diferentes classes de

tamanho de boca. Barras e linhas verticais, média ± erro padrão; _________Linha de neutralidade.

4. Discussões

As interações entre presa e predador, determinados por processos de taxa de encontro, sucesso

de ataque e de captura têm um papel fundamental na alimentação de larvas de peixes (Fiksen

e MacKenzie, 2002). Tudo indica que estes processos são condicionados por fatores como:

tamanho da larva associado ao tamanho de sua boca; composição taxonômica e tamanho da

49

presa, e tais fatores se mostraram determinantes nos padrões de seletividade alimentar pelas

larvas de Rhamdia voulezi.

As larvas em geral, no início da alimentação exógena, apresentam-se pouco

desenvolvidas, com tamanho de boca limitado e sistema digestivo pouco funcional no qual

dificulta a sua alimentação (Wittenrich et al., 2009; Anto et al., 2009; Anto e Turigan, 2010).

Contudo, mesmo limitadas tanto morfologicamente quanto fisiologicamente, as larvas,

conseguem escolher ativamente as presas que preferem se alimentar (Nip et al., 2003;

Ostergaard et al., 2005; Islam e Tanaka, 2006; Anto et al., 2009; Russo et al., 2009).

Entretanto, a escolha pelo alimento é influenciada por diversos fatores que vão desde

os próprios atributos da larva até as condições do ambiente em que vivem. Dentre estes

fatores a preferência alimentar da espécie, grau de desenvolvimento e disponibilidade de

alimento no ambiente tem sido amplamente relatados em outros estudos com larvas, como por

exemplo os de: Shaw et al., 2003; Nunn et al., 2007; Russo et al., 2009; Makrakis et al., 2005;

Hunter, 1981; Sánchez-Velasco, 1998; Mikheev e Pavlov, 2003.

Para Nunn et al. (2007) a disponibilidade de alimento é considerada um fator chave

que determina o padrão da alimentação de larvas. Portanto, deve-se levar em consideração

que o forrageamento larval não depende somente da abundância do alimento, mas também da

qualidade e distribuição do tamanho disponível (Soares, 2003; Makrakis et al., 2008). Uma

das razões, pode ser decorrentes de suas limitações morfológicas, assim como, da estratégia

alimentar da espécie. Estudos mostram que larvas de determinadas espécies, não utilizam todo

o alimento em sua volta, mas, mantem sua preferência associada a tipos e tamanhos

específicos de presas (Checkley, 1982; Govoni et al., 1986; Scharf et al., 2000). Porém, em

outros casos, há espécies (larvas) que apresentam um comportamento mais generalista,

mudando sua preferência conforme a disponibilidade do alimento (Scharf et al., 2000). Como

exemplo, um estudo feito por Makrakis et al., 2008, constatou que larvas Hypophthalmus

50

edentatus alimentam-se de itens presas mais abundantes no ambiente, ao passo que larvas de

Plagioscion squamosissimus e de Iheringichthys ilabrosus mantem sua preferência alimentar

associada a tipos específicos de presas. Neste estudo, a comparação do alimento consumido

com o que estava disponível mostrou que estas duas variáveis não estiveram associadas,

indicando que as larvas de Rhamdia voulezi selecionaram o alimento independente da sua

disponibilidade.

De acordo com Morote et al. (2008) as estratégias alimentares das larvas estão

associadas, além da disponibilidade de alimento, com o grau de desenvolvimento das

mesmas. Não obstante desta hipótese, neste estudo, o padrão de seletividade alimentar variou

gradativamente ao longo de todo o período larval. Os rotiferas e os cladoceras foram as

principais presas selecionadas pelas larvas mais novas do 4o DAE, entretanto, à medida que

foram crescendo, estenderam sua preferência pelos copepodas, principalmente no 10o DAE.

Ribeiro e Nuñer (2008) também verificaram algumas variações na seleção de presas por

larvas de Salminus brasiliensis no decorrer dos dias. A preferência por cladoceras foram

registrados até o 11o DAE, a partir daí, selecionaram preferencialmente larvas de insetos. Para

larvas de Sorubim lima, Rossi (2001) constatou que inicialmente, os rotiferas foram os

principais componentes da dieta, e, à medida que foram crescendo predaram seletivamente os

cladoceras e também as larvas de insetos. Sabatés et al. (2003) ao estudar o padrão de

alimentação de larvas de duas espécies marinhas, constatou mudanças no padrão alimentar ao

longo do desenvolvimento larval, como também verificou diferenças na estratégia de

forrageamento entre as espécies estudadas.

Variações na utilização dos recursos ainda nas primeiras fases de desenvolvimento dos

peixes foram constatados em outros estudos como os de Rossi, 2001; King, 2005; Makrakis et

al., 2005; Tonkin et al., 2006; Anneville et al., 2011; Robert et al., 2011; Santim, 2012.

Provavelmente estas variações podem ser coincidentes com o desenvolvimento da larva,

51

associado com o melhoramento na visão, habilidade natatória (Schiemer, 1989; Bremigan e

Stain, 1994; Machácek e Matena, 1997; Sabatés et al., 2003; Ibrahim et al., 2006; Makrakis et

al., 2008; Nunn et al., 2012) e desenvolvimento do aparelho de alimentação (Turingan et al.,

2005, Makrakis et al., 2005, Beck e Turingan, 2007; Anto et al., 2009).

Entretanto, à medida que as larvas crescem suas limitações morfológicas diminuem e

consequentemente são capazes de explorarem outros tipos de alimento (Santim, 2012). Isto

justifica o fato das larvas de jundiá terem transacionado sua alimentação para copepodas a

partir do 8o DAE.

Makrakis et al. (2005) ao estudar a alimentação inicial de Plagiosciom

squamosissimus, associou o consumo de copepodas, com a maior acuidade visual, capacidade

natatória e protração da boca da larva. O consumo de presas maiores como os copepodas de

calanoida (Argyrodiaptomus azevedoi, Argyrodiaptomus furcatus e Notodiaptomus cf.

spinuliferus), além de estar relacionado com o maior desenvolvimento da larva, pode vir da

suposição de que as mesmas tentam maximizar o ganho de energia disponível a fim de

compensar os gastos de energia com ataques, captura, ingestão e manipulação do alimento

(Beyer, 1980; Pyke, 1984; Adriaens et al., 2001; Nunn et al., 2012). Para Zaret (1980), os

copepodas em geral, são realmente difíceis de serem capturados porque possuem movimentos

erráticos de natação, ao passo que os rotíferos e cladóceros são mais vulneráveis, pois sua

velocidade de natação é menor (Zaret, 1980; Epp e Lewis, 1984). Além do movimento mais

lento, os olhos contrastantes dos cladóceros aumentam sua visibilidade o que pode torná-los

ainda mais vulneráveis aos predadores. Sendo assim, se levar-se em consideração as

características destes organismos, explica-se o fato das larvas mais velhas e mais

desenvolvidas terem continuado a selecionar cladoceras, mesmo sendo capazes de capturar

outros itens (como, por exemplo, os copepodas). Para Drenner et al. (1978 e 1986) e Mayer e

52

Wahl (1997) a preferência alimentar das larvas de peixes geralmente está associado a

determinados tamanhos e tipos específicos de presas e preferem cladócera à copépoda.

Neste estudo o tamanho da larva associado ao tamanho da boca dominou os padrões

de seleção. Zavala-Camin (1996) ressalta que o tamanho da presa tem relação direta com o

tamanho do predador, e que como a maioria dos peixes ingerem suas presas inteiras, existe

um tamanho máximo de presa em relação ao tamanho da boca do predador. O tamanho dos

itens ingeridos por larvas de Rhamdia voulezi aumentou conforme o crescimento das mesmas.

A relação positiva entre tamanho de presa e tamanho da larva de peixes também foi

constatado em outros trabalhos como, por exemplo, Govoni et al. (1983); Kellermann (1990);

Sabate e Saiz (2000). Já com relação ao tamanho de boca, o aumento no tamanho de presas

ingeridas acompanhou o incremento da boca. Resultado semelhante foi verificado por

Makrakis et al. (2008) para larvas de P. squamosissimus, I. labrosus e H. edentatus. Assim,

estes resultados reforçam a hipótese de que para algumas espécies de peixes, o tamanho da

boca da larva muitas vezes limita o tamanho da presa a ser consumida (Gerking, 1994; Rao,

2003; Makrakis et al., 2008; Anto e Turingan, 2010; Nunn et al., 2012).

Em conclusão, os resultados obtidos mostraram que as larvas de Rhamdia voulezi

tendem a se especializar em determinados itens presa ao longo do desenvolvimento larval

(Fig. 6). Inicialmente as larvas têm preferência por itens presas menores, os rotíferos e

cladoceras, e, à medida que foram crescendo, estenderam sua preferência por presas maiores,

os copepodas. Variações no tamanho do zooplâncton ingerido em relação ao tamanho da larva

e de sua boca indicam que estes fatores são determinantes na alimentação inicial desta

espécie. Considerando que a sobrevivência e o crescimento das larvas estão diretamente

relacionados à eficiência na primeira alimentação, tais informações podem ser importantes

para a larvicultura das mesmas, principalmente no processo de gerir a transição entre os

alimentos ao longo do período larval.

53

Fig. 6. Preferência alimentar por tipo e tamanho durante o período larval do jundiá, Rhamdia voulezi. Rotni,

Rotífero não identificado; Msp, Moina sp.; Mmi, Moina minuta; Mmc, Moina micrura; Dspi, Diaphanosoma

spinulosum; Dbr, Diaphanosoma brevireme; Argz, Argyrodiaptomus azevedoi; Argf, Argyrodiaptomus furcatus;

Tde, Thermocyclops decipiens; Mme, Metacyclops mendocinus; Nots, Notodiaptomus cf. spinuliferus.

Agradecimentos

Agradecemos a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior) e ao Grupo de Pesquisa em Tecnologia de Produção e Conservação dos Recursos

Pesqueiros e Hídricos (GETECH) pelo apoio logístico e financeiro para a realização da

pesquisa.

54

Referências

Adriaens, D., Aerts P., Verraes, W., 2001. Ontogenetic shift in mouth opening mechanisms

in catfish (Clariidae, Siluriformes): A response to increasing functional demands. J.

Morphol. 247, 197-216.

Alhstrom, E.H., Ball, O.P., 1954. Description of eggs and larvae of jack mackerel (Trachurus

symetricus) and distribuition and abundance of larvae in 1950 and 1951. Fish. B-NOAA. 56,

209-245.

Anneville, O., Berthon, V., Glippa, O., Mahjoub, M.S., Molineiro, J.C., Souissi, S., 2011.

Ontogenetic dietary changes of whitefish larvae: insights from field and experimental

observations. Environ Biol Fishes. 91, 27-38.

Anto J., Majoris J., Turingan R.G., 2009. Prey selection and functional morphology through

ontogeny of Amphiprion clarkii with a congeneric comparisson. J. Fish Biol. 75, 575-590.

Anto, J., Turingan, R.G., 2010. Relating the Ontogeny of Functional Morphology and Prey

Selection With Larval Mortality in Amphiprion frenatus. J. Morphol. 271, 682-696.

Baumgartner, G., Pavanelli, C.S., Baumgartner, D., Bifi, A.G., Debona, T., Frana, V.A., 2012.

Peixes do Baixo rio Iguaçu, Primeira ed. Eduem, Maringá.

Beck, J.L., Turingan, R.G., 2007. The effects of zooplankton swimming behavior on prey-

capture kinematics of red drum larvae, Sciaenops ocellatus. Mar. Biol. 151,1463-1470.

Beyer, J.E., 1980. Feeding success of clupeoid fish larvae and stochastic thinking. Dana. 1,

65-91.

Boockmann, F.A., Guazzelli, G.M., 2003. Family Heptapteridae. In: Reis, R.E., Kullander,

S.O., Ferraris Junior, C.J. (Eds.), Check list of the freshwater fishes of south and Central

America, EDIPUCRS, Porto Alegre, pp. 406-331.

Braaten, P.J., Fuller, D.B., McClenning, N.D., 2007. Diet composition of larval and young-

of-year shovelnose sturgeon in the Upper Missouri River. J. Appl. Ichthyol. 23, 516-520.

Bremigan, M.T., Stain, R.A., 1994. Gape-dependent larval foraging and zooplankton size:

implications for fish recruitment across systems. Can. J. Fish Aquat. Sci. 51, 913-922.

Checkley, D.M., 1982. Selective feeding by Atlantic herring (Clupea harengus) larvae on

zooplankton in natural assemblages. Mar. Ecol. Prog. Ser. 9, 245-253.

Chesson, J., 1978. Measuring preference in selective predation. Ecol. 59, 211-215.

Chesson, J., 1983. The estimation and analisys of preference and its relationships to foraging

models. Ecol. 64, 1297-1304.

Drenner, R.W., Strickler, J.R., O’Brien, W.J., 1978. Capture probability: the role of

zooplankton escape in the selective feeding of planktivorous fish. J. Fish Res. Board Can. 35,

1370-1373.

55

Drenner, R.W., Threlkled, S.T., McCracken, M.D., 1986. Experimental analysis of direct and

indirect effects of clupeid on plankton community structure. Can. J. Fish Aquat. Sci. 43,

1935-1945.

El-Moor, Loureiro L., 1997. Manual de identificação de cladóceros límnicos do Brasil.

Primeira ed. Editora Universa, UCB, Brasília.

Epp, R.W., Lewis, W.M.Jr., 1984. Cost and speed of locomotion for rotifers. Oecol. 61, 289-

292.

Fiksen, Ø., Mackenzie, B.R., 2002. Process-based models of feeding and prey selection in

larval fish. Mar. Ecol. Prog. Ser. 243, 151-164.

Fortin, M., Gurevitch, J., 1993. Mantel tests: spatial structure in field experiments. In:

Scheiner, S.M., Gurevitch (eds.), Design and Analysis of Ecological Experiments, Chapman

& Hall, New York. pp. 342-359.

Fuiman, L.A., 2002. Special considerations of fish eggs and larvae. In: Fuiman, L.A,

Werner, R.G (Eds.), The unique contributions of early life stages. Fishery science, Blackwell

Science, Oxford. pp. 1-32.

Gerking, S.D., 1994. Feeding Ecology of Fish. Academic Press, San Diego, London.

Gomes, L.C., Golombieski, J.I., Gomes, A.R.C., Baldisserotto B., 2000. Biologia do jundiá

Rhamdia quelen (Teleostei, Pimelodidae). Ciênc. Rural. 30, 179-185.

Govoni, J.J., Hoss, D.E., Chester, A.J., 1983. Comparative feeding of three species of larval

fishes in the northern Gulf of Mexico: Brevoortia patronus, Leiostomus xanthurus, and

Micropogonias undulatus. Mar. Ecol. Prog. Ser. 12, 189-199.

Govoni, J.J., Ortner, P.B., Al-Yamani, F., Hill, L.C., 1986. Selective feeding of spot,

Leiostomus xanthurus, and Atlantic croaker, Micropogonias.undulatus, larvae in the northern

Gulf of Mexico. Mar. Ecol. Prog. Ser. 28,175-183.

Hunter, J.R., 1981. Feeding ecology and predation of marine fish larvae. In: Lasker, R. (Ed.),

Marine Fish Larvae: Morphology, Ecology and Relation to Fisheries. University of

Washington Press, Seattle, pp. 34-77.

Ibrahim, F.S., Rana, K.J., Goddard, J.S., Alamri, I.S., 2006. Morphological development

of post hatch larval goldlined sea bream Rhabdosargus sarba (Forskal, 1775). Aquacult. Res.

37, 1156-1164.

Islam, M.S., Tanaka, M., 2006. Ontogenetic dietary shift of Japenese sea bass during larva -

juvenile transition in Ariake Bay. Mar. Ecol. Prog. Ser. 323, 305-310.

Joko, C.Y., 2011. Taxonomia de rotíferos monogonontas da planície de inundação do alto rio

Paraná (MS/PR). Tese (Doutorado), Programa de Pós Graduação em Ecologia de Ambientes

Aquáticos e Continentais, UEM, Maringá, 187 pp.

Kamler, E., 1992. Early life history of fish: an energetics approach. Chapman e Hall, London.

56

Kellermann, A., 1990. Food and feeding dynamics of the larval Antarctic fish Nototheniops

larseni. Mar. Biol. 106,159-167.

Kendall, A.W.Jr., Alhstrom, E.H., Moser, H.G., 1984. Early life history stages of fishes and

their characters. Special Publication of the American Society of the Ichthyologists and

Hepertologists. 1, 11-22.

King, A.J., 2005. Ontogenetic dietary shifts of fishes in an Australian floodplain river. Mar

Freshwat. Res. 56, 215-225.

Machácek, J., Matena, J., 1997. Diurnal feeding patterns of age-0 perch (Perca fluviatilis) and

roach (Rutilus rutilus) in a steep-sided reservoir. Arch. Hydrobiol. 49, 59-70.

Makrakis, M.C., Nakatani, K., Bialetzki, A., Sanches, P.V., Baumgartner, G., Gomes, L.C.,

2005. Ontogenetic shifts in digestive tract morphology and diet of fish larvae of the Itaipu

Reservoir, Brazil. Environ. Biol. Fishes. 72, 99-107.

Makrakis, M.C., Nakatani, K., Bialetzki, A., Gomes, L.C., Sanches, P.V., Baumgartner, G.,

2008. Relationship between gape size and feeding selectivity of fish larvae from a Neotropical

Reservoir. J. Fish Biol. 72, 1690-1707.

Mayer, M., Wahl, D.H., 1997. The relationship between prey selectivity and growth and

survival in a larval fish. Can. J. Fish Aquat. Sci. 54, 1504-1512.

Matsumura-Tundisi, T., 1976. Latitudinal distribution of Calanoid Copepods in freshwater

aquatic systems of Brazil. Rev. Bras. Biol. 46, 527-553.

Mercier, L., Audet, C., Noue, J., Parent, B., Parrish, C.C., Ross, N.W., 2004. First feeding of

winter flounder (Pseudopleuronectes americanus) larvae: use of Brachionus plicatilis

acclimated at low temperatures as live prey. Aquacult. 229, 361-376.

Mikheev, V.N., Pavlov, D.S., 2003. Nonlethal Interspecific Interactions among Foraging Fish

and the Concept of “Triotroph”. J. Ichthyol. 43, S151-S167.

Mikheev, V.N., Wanzenböck, J., 2010. Diet changes in prey size selectivity in larvae of perch

Perca fluviatilis. J. Ichthyol. 50, 1014-1020.

Morote, E., Olivar, M.P., Pankhurst, P.M., Villate, F., Uriarte, I., 2008. Trophic ecology of

bullet tuna Auxis rocheilarvae and ontogeny of feeding-related organs. Mar. Ecol. Prog. Ser.

353, 243-254.

Morote, E., Olivar, M.P., Bozzano, A., Villate, F., Uriarte, I., 2011. Feeding selectivity in

larvae of the European hake (Merluccius merluccius) in relation to ontogeny and visual

capabilities. Mar. Biol. 158, 1349-1361.

Neves, G.P., 2011. Copépodes planctônicos (Crustacea, Calanoida e Cyclopoida) em

reservatórios e trechos lóticos da bacia do Rio da Prata (Brasil, Paraguai, Argentina e

Uruguai): taxonomia, distribuição geográfica e alguns atributos ecológicos. Tese (Doutorado),

Instituto de Biociências de Botucatu, Unesp, São Paulo, 238 pp.

57

Nip, T.H.M., Ho, W.Y., Wong, K., 2003. Feeding ecology of larval and juvenile black

seabream (Acanthopagrus schlegeli) and Japanese seaperch (Lateolabrax japonicus) in Tolo

Harbour, Hong Kong. Environ. Biol. Fish. 66, 197-209.

Nunn, A.D., Harvey, J.P., Cowx, I.G., 2007. The food and feeding relationships of larval and

0+year juvenile fishes in lowland rivers and connected waterbodies. II. Prey selection and the

influence of gape. J. Fish Biol. 70, 743-757.

Nunn, A.D., Tewson, L.H., Cowx, I.G., 2012. The foraging ecology of larval and juvenile

fishes. Rev. Fish Biol. Fisher. 22, 377-408.

Olivotto, I., Piccinetti, C.C., Avelha, M.A., Rubio, C.M., Carnevali, O., 2010. Feeding

strategies for striped blenny Meiacanthus grammistes larvae. Aquacult. Res. 41, e307-e315.

Ostergaard, P., Munk, P., Janekarn, V., 2005. Contrasting feeding patterns among species of

fish larvae from the tropical Andaman Sea. Mar. Biol. 146, 595-606.

Paul, A. J., 1983. Light, temperature, nauplii concentrations, and prey capture by first feeding

pollock larvae Theragra chalcogramma. Mar. Ecol. Prog. Ser. 13, 175-179.

Paula-Souza, G., 1978. Reprodução de Rhamdia branneri, 1911 (Pisces, Siluriformes) e suas

relações com fatores abióticos. Dissertação (mestrado), Pós-graduação em Zoologia, UFPR.

Porter, S.M., Bailey, K.M., 2007. Optimization of feeding and growth conditions for walleye

pollock Theragra chalcogramma (Pallas) larvae reared in the laboratory. AFSC Processed

Rep. 2007-06, 20 p. Alaska Fish. Sci. Cent., NOAA, Natl.Mar, Fish. Serv.,7600 Sand Point

Way NE, Seattle WA 98115.

Previattelli, D., 2006. Sistemática do gênero Argyrodiaptomus Brehm, 1933 (Crustacea:

Copepoda: Diaptomae). Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Biologia

Tropical e Recursos Naturais. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, UFAM, Manaus.

Pyke, G.H., 1984. Optimal foraging theory: a critical review. Rev. Ecol. Evol. Systemat. 15,

523-575.

Rao, T.R., 2003. Ecological and ethological perspectives in larval fish feeding. J. Appl.

Aquacult. 13, 145-178.

Ribeiro, D.F.O., Nuñer, A.P.O., 2008. Feed preferences of Salminus brasiliensis (Pisces,

Characidae) larvae in fish ponds. Aquacult. 274, 65-71.

Robert, D., Levesque, K., Gagné, J.A., Fortier, L., 2011. Change in prey selectivity during the

larval life of Atlantic cod in southern Gulf of Lawrence. J. Plankton Res. 33, 195-200.

Rossi, L.M., 2001. Ontogenetic diet shifts in a neotropical catfish, Sorubim lima (Schneider)

from the River Paraná System. Fish. Manag. Ecol. 8, 141-152.

Russo, T., Boglione, C., Marzi, P., Cataudella, S., 2009. Feeding preferences of the dusky

grouper (Epinephelus marginatus, Lowe 1834) larvae reared in semi-intensive conditions: a

contribution addressing the domestication of this species. Aquacult. 289, 289-296.

58

Sabatés, A., Saiz, E., 2000. Intra and interspecific variability in prey size and niche breadth of

myctophiform fish larvae. Mar. Ecol. Prog. Ser. 201, 261-271.

Sabatés, A., Bozzano, A., Vallvey, I., 2003. Feeding pattern and the visual light environment

in myctophid fish larvae. J. Fish Biol. 63, 1476-1490.

Scharf, F.S., Juanes, F., Rountree , R.A., 2000. Predator size–prey size relationships of marine

fish predators: interspecific variation and effects of ontogeny and body size on trophic-niche

breadth. Mar. Ecol. Prog. Ser. 208, 229-248.

Schiemer, F., Keckeis, H., Wanzenböck, J., 1989. Foraging in cyprinids during early

development. Pol. Arch. Hydrobiol. 36, 467- 474.

Sánchez-Velasco, L., 1998. Diet composition and feeding habits of fish larvae of two

coccurring species (Pisces: Callionymidae and Bothidae) in the North-western Mediterranean.

J. Marine Sci. 55, 299-308.

Santin, M., 2012. Ontogenia e seletividade alimentar de larvas e juvenis de três espécies de

peixes Neotropicais de diferentes categorias tróficas. Tese (doutorado), Uem, Maringá,

Paraná.

Sarma, S.S.S., López-Rómulo, J.A., Nandini, S., 2003. Larval feeding behaviour of blind fish

Astyanax fasciatus (Characidae), black tetra Gymnocoryabus tennetzi (Characidae) and angel

fish Pterophyllum scalare (Cichlidae) fed zooplankton. Hydrol. 510, 207-216.

Shaw, G.W., Pankhurst, P.M., Purser, G.J., 2003. Prey selection by greenback Flounder

Rhombosolea tapirina (Günther) larvae. Aquacult. 228, 249-265.

Shirota, A., 1978. Studies on the mouth size of fish larvae. II: Specific characteristics of the

upper jaw length. B. Jpn. Soc. Sci. Fish. 44, 1171-1177.

Silva, W.M., 2003. Diversidade dos Cyclopoida (Copepoda, Crustacea) de água doce do

Estado de São Paulo: taxonomia, ecologia e genética. Tese (doutorado), Centro de Ciências

Biológicas e da Saúde, UFSCAR, São Paulo.

Silva, W.M., 2003. Diversidade dos Cyclopoida (Copepoda, Crustacea) de água doce do

Estado de São Paulo: taxonomia, ecologia e genética. Tese (doutorado), Centro de Ciências

Biológicas e da Saúde, UFSCAR, São Paulo.

Soares, C.M., 2003. Relações ecológicas de quatro espécies de peixes nativos em fase de

desenvolvimento inicial: alterações nas comunidades, alimentação e tamanho da boca. Tese

(doutorado), UEM, Maringá, Paraná.

Tonkin, Z.D., Humphries, P., Pridmore, P.A., 2006. Ontogeny of feeding in two native and

one alien fish species from the Murray-Darling Basin, Australia. J. fish Biol. 76, 303-315.

Turingan, R.G., Beck, J.L., Krebs, J.M., Licamele, J.D., 2005. Development of feeding

mechanics in marine fish larvae and the swimming behavior of zooplankton prey:

Implications for rearing marine fishes. In: Lee, C.S., O’Bryen, P.J., Marcus, N.H. (Eds.),

Copepods in Aquaculture. Blackwell Publishing, Ames, Lowa, pp.119-132.

59

Zaret, T.M., 1980. Predation and Freshwater Communities. Yale University Press, New

Haven.

Zavala-Camin, L.A. 1996. Introdução aos estudos sobre alimentação natural em peixes.

EDUEM, Maringá.