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8/19/2019 VERSAO 9 http://slidepdf.com/reader/full/versao-9 1/5 18.3.3 Em completo contraste, a condição elementar para o sucesso do projecto socialista é o pluralismo inerente a ele, e que parte do reconhecimento das diferenças e desigualdades existentes; não para preservá-las (que é uma necessidade de toda a unidade fict!cia e ar"itrariamente imposta#, mas para superá-las da $nica forma viável% assegurando o envolvimento activo de todos os interessados& 'esnecessário dier que este envolvimento é imposs!vel sem a ela"oração de estratégias e mediaç)es espec!ficas, que emergem das determinaç)es particulares das necessidades e circunst*ncias mutáveis, o que representa o maior desafio + teoria marxista contempor*nea& $nica e exclusiva perspectiva ampla que pode servir de estrutura de referncia comum para a grande variedade de forças socialistas politicamente mais ou menos organiadas e conscientes é a rejeição do slogan omnipresente de que não há alternativa& E nem mesmo isto pode ser admitido como um dado não pro"lemático& .ão s/ por ser uma negatividade que necessita da sua articulação positiva para se tornar viável como estratégia mo"iliadora, mas tam"ém por ser, em primeira inst*ncia, equivalente a nada mais que a mera afirmação de que "deveria haver uma alternativa& inda assim, a rejeição deste slogan continua a ser o ponto de partida necessário, pois aqueles que aceitam a sa"edoria do não há alternativa 0 em nome do triunfo do capitalismo organiado, ou da integração da classe tra"alhadora, ou ainda de qualquer outra coisa 0 dificilmente poderiam alegar que oferecem a perspectiva de uma transformação socialista, mesmo que +s vees, curiosamente, continuem a afirmá-lo&  ssim como o capital é estruturalmente incapa de pluralismo (com a excepção de uma espécie muito limitada, que tam"ém se tem tornado cada ve mais restrita com o avanço da concentração e da centraliação necessárias do capital#, o empreendimento socialista é estruturalmente irrealizável sem uma articulação plena com os m$ltiplos projectos aut/nomos (auto-administrados#, e, por isso, irrepreensivelmente pluralistas da revolução social em andamento& 1 amplo princ!pio geral que rejeita o determinismo econ/mico do capital oferece não mais que um ponto de partida necessário em relação ao qual todos os grupos particulares (reflectindo inevitavelmente uma multiplicidade de interesses e divis)es determinados# tm que definir a sua posição so" a forma de o"jectivos e estratégias espec!ficas interligados e, se as condiç)es o permitirem, tam"ém coordenados, mas definitivamente não idnticos& 1 que está

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18.3.3Em completo contraste, a condição elementar para o sucesso doprojecto socialista é o pluralismo inerente a ele, e que parte doreconhecimento das diferenças e desigualdades existentes; não parapreservá-las (que é uma necessidade de toda a unidade fict!cia ear"itrariamente imposta#, mas para superá-las da $nica forma viável%assegurando o envolvimento activo de todos os interessados&

'esnecessário dier que este envolvimento é imposs!vel sem aela"oração de estratégias e mediaç)es espec!ficas, que emergemdas determinaç)es particulares das necessidades e circunst*nciasmutáveis, o que representa o maior desafio + teoria marxistacontempor*nea& $nica e exclusiva perspectiva ampla que pode

servir de estrutura de referncia comum para a grande variedade deforças socialistas politicamente mais ou menos organiadas econscientes é a rejeição do slogan omnipresente de que não háalternativa& E nem mesmo isto pode ser admitido como um dado nãopro"lemático& .ão s/ por ser uma negatividade que necessita da suaarticulação positiva para se tornar viável como estratégia mo"iliadora,mas tam"ém por ser, em primeira inst*ncia, equivalente a nada maisque a mera afirmação de que "deveria haver uma alternativa& indaassim, a rejeição deste slogan continua a ser o ponto de partidanecessário, pois aqueles que aceitam a sa"edoria do não háalternativa 0 em nome do triunfo do capitalismo organiado, ou daintegração da classe tra"alhadora, ou ainda de qualquer outra coisa0 dificilmente poderiam alegar que oferecem a perspectiva de umatransformação socialista, mesmo que +s vees, curiosamente,continuem a afirmá-lo&

 ssim como o capital é estruturalmente incapa de pluralismo (com aexcepção de uma espécie muito limitada, que tam"ém se tem tornadocada ve mais restrita com o avanço da concentração e da

centraliação necessárias do capital#, o empreendimento socialista éestruturalmente irrealizável sem uma articulação plena com osm$ltiplos projectos aut/nomos (auto-administrados#, e, por isso,irrepreensivelmente pluralistas da revolução social em andamento&

1 amplo princ!pio geral que rejeita o determinismo econ/mico docapital oferece não mais que um ponto de partida necessário emrelação ao qual todos os grupos particulares (reflectindoinevitavelmente uma multiplicidade de interesses e divis)esdeterminados# tm que definir a sua posição so" a forma de o"jectivos

e estratégias espec!ficas interligados e, se as condiç)es o permitirem,tam"ém coordenados, mas definitivamente não idnticos& 1 que está

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em jogo é a invenção de uma alternativa viável para um sistema glo"alimensamente complexo que tem a seu favor a maldição dainterdependncia para resistir + mudança&

2sto é expresso com "rutal clarea nas palavras do senhor 3o4'enman, por muitos anos o principal negociador da 5EE pararelaç)es de comércio internacionais%Não há alternativa. s pessoas não são suficientemente insanas paradesejar a desintegração total de todo o sistema. 5ontudo, os perigossão muito grandes, a situação é agora mais séria que em qualqueroutro momento desde a $ltima guerra& [17] 

 ssim, os porta-voes do capital, até mesmo quando são forçados areconhecer a severidade da crise, s/ encontram aquela segurança na

sanidade existente que protege e imp)e o sistema para o qual nãohá alternativa& E, em"ora não seja muito tranquiliador depender denada mais s/lido que o $ltimo fiat de sanidade para defender ainsanidade capitalista, continua a ser verdade que a $nica alternativareal + crise estrutural do capital que se aprofunda é livrar-secompletamente de todo o sistema.

.inguém pode sugerir seriamente que a insanidade aperce"ida pelosenhor 3o4 'enman 0 a desintegração total de todo o sistema e asua su"stituição por outro sistema viável 0 possa ser realiada pormeio de pequenos grupos de pessoas fragmentadas, isoladas& .arealidade, não existe alternativa ao programa de 6arx de constituiruma conscincia socialista de massa pelo empreendimento prático deenvolvimento numa acção comum realmente poss!vel e inerentementepluralista&

Em"ora se torne dolorosamente /"vio que as alternativas do capitalhoje se limitam cada ve mais a flutuaç)es manipuladoras entrevariedades de 7e4nesianismo e monetarismo [18] , com movimentos

oscilat/rios cada ve menos eficaes, perigosamente tendentes aorepouso a"soluto de uma cont!nua depressão, a recusa socialista +falta de alternativa deve ser positivamente articulada com o"jectivosintermediários, cuja realiação possa promover avanços estratégicosno sistema a ser su"stitu!do, mesmo que apenas parciais numprimeiro momento&

1 que decide o destino das várias forças socialistas na suaconfrontação com o capital é o grau da sua capacidade de faermudanças tang!veis na vida quotidiana, hoje dominada pormanifestaç)es u"!quas das contradiç)es su"jacentes& ssim, não"asta focaliar determinantes estruturais 0 mesmo que isto seja

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realiado com perspicácia, de um ponto de vista adequado 0 se aomesmo tempo as suas manifestaç)es directamente sentidas foremdespreadas porque as suas implicaç)es estratégicas socialistas nãosão vis!veis aos interessados& 1 significado do pluralismo socialista 0

envolvimento activo em acção comum que não compromete, mas, aocontrário, constantemente renova os princ!pios socialistas queinspiram as quest)es glo"ais 0 emerge precisamente da capacidadedas forças participantes de combinar, num todo coerente comimplicaç)es socialistas em ltima análise inevitáveis, uma grandevariedade de demandas e estratégias parciais que, em si e por si, nãoprecisam ter a"solutamente nada de especificamente socialista.

.esse sentido, as demandas mais urgentes da nossa época, quecorrespondem directamente +s necessidades vitais de uma grande

variedade de grupos sociais 0 empregos, educação, assistnciamédica, serviços sociais decentes, assim como as demandasinerentes + luta pela li"eração das mulheres e contra a discriminaçãoracial 0 podem, sem uma $nica excepção, ser a"raçadas semrestriç)es por qualquer li"eral genu!no& Entretanto, é a"solutamentediferente quando não são consideradas como quest)es singulares,isoladamente, mas em conjunto, como partes do complexo glo"al queconstantemente as reprodu como demandas não realiadas esistematicamente irrealiáveis&

'esse modo, o que decide a questão é a sua condição de realiação(quando definidas na sua pluralidade como demandas socialistasconjuntas!, e não o seu carácter considerado separadamente& 8orconseguinte, o que está em jogo não é a enganosa politiaçãodestas quest)es isoladas, pela qual poderiam cumprir uma funçãopol!tica directa numa estratégia socialista, mas a efectividade deafirmar e sustentar tais demandas não-socialistas, tão largamenteauto-motivadoras no front mais amplo poss!vel&

 s preocupaç)es imediatas da vida quotidiana, do cuidado médico +produção de grãos, não são directamente tradu!veis nos princ!pios evalores gerais de um sistema social& (té mesmo as comparaç)es s/são pertinentes e efectivas quando houver carncia numa área comoresultado das demandas mais ou menos injustificáveis de outra;exemplo disso são os cortes feitos hoje em serviços sociais vitais nointeresse da ind$stria de guerra&# 9ualquer tentativa de impor umcontrolo pol!tico directo a tais movimentos, seguindo a tradição"astante infeli do passado não tão distante, em ve de ajudar afortalecer a sua autonomia e a sua eficácia, corre o risco de sercontraproducente (por melhores que sejam as intenç)es dapolitiação#&

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: um sinal importante das condiç)es historicamente alteradas queestas demandas e as forças que existem por trás delas já não possamser incorporadas ou integradas + din*mica o"jectiva de auto-

expansão do capital& 'evido + sua insolu"ilidade cr/nica, "em comopelo seu poder motivador imediato, elas deverão definir a estrutura daconfrontação social num futuro previs!vel& .aturalmente,independentemente da sua import*ncia, as quest)es acima referidassão aqui mencionadas como eemplos que pertencem a um n$meromuito maior de preocupaç)es espec!ficas por meio das quais devemser mediadas as aspiraç)es e estratégias socialistas hoje&

1utro tipo de demanda envolve um compromisso sociopol!tico mais/"vio e directo, em"ora este conjunto tão pouco possa ser

caracteriado como especificamente socialista& 8or exemplo, a lutaque se intensifica para preservar a pa contra interesses disfarçadosdo complexo industrial-militar, ou a necessidade de restringir o poderdas transnacionais, ou ainda de esta"elecer uma "ase de cooperaçãoe troca que assegure as condiç)es de desenvolvimento real noerceiro 6undo está "astante /"vio que o capital não tem condiç)esde atender a nenhuma destas demandas e, portanto, que o seucontrolo so"re as forças por trás delas está diminuindo, tam"ém éverdade que o potencial li"erador da sua perda de controlo não podeser realiado sem a articulação de estratégias socialistas adequadas esuas formas organiacionais correspondentes&

 s demandas que manifestam directamente a necessidade de umaalternativa socialista estão relacionadas com a perdularidade inerenteao modo de funcionamento do capital& 8aradoxalmente, o capitalconsegue impor + sociedade a lei de ferro do seu determinismoecon#mico sem sequer conhecer o significado de economia. <áquatro direcç)es principais nas quais se manifesta, comconsequncias crescentemente danosas, a perdularidade necessária

do capital + medida que se alcançam os limites $ltimos do seupotencial produtivo%

(=# a procura incontrolável por recursos 0 isto é, a irreprim!veltendncia crescente do capital ao uso intensivo de recursos, da qualo uso intensivo de energia é s/ um exemplo 0 sem consideraçãopelas consequncias futuras so"re o am"iente, nem pelasnecessidades das pessoas afectadas pelas suas assim denominadasestratégias de desenvolvimento;

(># a crescente intensdade de capital dos seus processos deprodução, inerente + concentração e + centraliação necessárias de

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capital, que contri"ui grandemente para a produção dosu"desenvolvimento não s/ na periferia mas tam"ém no centro deseu dom!nio metropolitano, gerando desemprego maciço edevastando uma "ase industrial antes florescente e perfeitamente

viável;(?# o impulso crescente em direcção $ multiplicação do valor de

troca, no princ!pio simplesmente divorciado, mas agora a"ertamenteoposto ao valor de uso ao serviço da necessidade humana, paramanter intacta a dominação do capital so"re a sociedade; e

(@# o pior tipo de desperd!cio% o desperd!cio de gente, pela

produção em massa de pessoas supérfluas que, como resultadotanto dos avanços produtivos do capital como das suas dificuldades

crescentes no processo de realiação, não podem mais ajustar-seaos esquemas estreitos da produção de lucro e da multiplicaçãoperdulária do valor de troca& (1 facto de a produção em massa detempo supérfluo do n$mero crescente de pessoas supérfluas seja o$nico tempo de vida das pessoas reais não pode ser, claro, o"jecto depreocupação para as dedicadas personificaç)es do capital&#