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VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O. niloticus ) DE TAMANHOS DIFERENTES NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR E SUA IMPORTÂNCIA PRÁTICA NA ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO. GELSON HEIN MÉDICO VETERINÁRIO EMATER TOLEDO – PARANÁ ABRIL – 2006

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Page 1: VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O. niloticus ) DE

VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O. niloticus ) DE TAMANHOS DIFERENTES NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR E SUA IMPORTÂNCIA PRÁTICA NA ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO.

GELSON HEIN MÉDICO VETERINÁRIO

EMATER

TOLEDO – PARANÁ ABRIL – 2006

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1.INTRODUÇÃO

A tilápia tornou-se o peixe mais importante e representativo na produção de

pescados do Brasil com um total estimado de 75.000 toneladas no ano de 2002

(KUBITZA,2003). O estado do Paraná ocupa o primeiro lugar com 72% da sua

produção total de tilápias, que em 2004 foi de 11.921,7, toneladas, sendo a região

oeste responsável por 6.318,5 toneladas deste total.

As tilápias têm origem africana e foram introduzidas no Brasil em 1971, e se

adaptaram muito bem as condições climáticas do país (MAINARDES-PINTO,2000), e

tem seu melhor desenvolvimento em temperaturas da água entre 26ºC e 30ºC

(OSTRENSKI e BOEGER,1998), que ocorrem de forma mais estável no final da

primavera, verão e início de outono, totalizando no máximo em cinco meses no ano,

em grande parte das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Sua carne vem conquistando

os consumidores principalmente pelo sabor agradável, textura, coloração, sendo um

peixe preferido pela indústria de filetagem, que vem aumentando anualmente a sua

participação na aquisição de tilápias junto aos produtores, no Paraná em 1996, 2000

e 2004 era 6%, 19% e 31%, respectivamente (EMATER-PR,2005).

Os peixes são animais pecilotérmicos e tem seu metabolismo influenciado

pela temperatura da água, chegando à inapetência total quando a temperatura fica

abaixo de 15ºC, tornando-se altamente suscetíveis a doenças e morte por parada

das funções vitais (KUBITZA,2000). Sendo o período de inverno de alta instabilidade

na produção de tilápias, com grandes riscos de perdas por mortalidade, este fato

mostra a dependência e a influência dos peixes dos fatores ambientais sobre a sua

sobrevivência.

A criação de tilápias é desenvolvida em viveiros de terra explorados de forma

semi-intensiva com pouca aplicação de tecnologia e sem o devido conhecimento

técnico da atividade pelo piscicultor. Essa situação, na região Sul e parte da região

Sudeste, associada à temperaturas baixas da água por longos períodos, requerem

intervenções no processo de produção capazes de auxiliar na sustentabilidade da

cadeia.

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Outro fator que pode influenciar a sobrevivência de alevinos das espécies

utilizadas na piscicultura é o grau de desenvolvimento destes no momento da

transferência para os viveiros. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo

avaliar a taxa de sobrevivência de alevinos e juvenis de tilápias nilóticas em

diferentes graus de desenvolvimento e sugerir mudanças no manejo de povoamento

dos viveiros de engorda com peixes juvenis acima de 32 g de peso vivo inicial.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Tilápia

Tilápia é a denominação comum dada a uma grande variedade de espécies

de peixes ciclídeos que se distribuem no centro sul da África até o norte da Síria,

atualmente existem aproximadamente 22 espécies de que são cultivadas em todo o

mundo, porém a tilápia do Nilo, (Oreochromis niloticus), é a que apresenta melhores

resultados em cultivos quando comparada com as demais (POPMA e PHELPS,

1990).

A primeira introdução oficial de tilápia nilótica no país foi no início da década

de 70 na região Nordeste, com um reduzido número de exemplares provenientes da

África ocidental (CASTAGNOLI, 1992). Com o passar das décadas, descendentes

destes peixes foram espalhados por todo o Brasil até que em setembro de 1996

ocorreu a segunda importação oficial de tilápias nilóticas da linhagem Chitralada ou

Thai-Chitralada, do Asian Institute of Technology (AIT), de Bangkok na Tailândia.

Estas Tilápias apresentavam um desempenho muito superior as primeiras, pois

foram submetidas à intensa seleção especialmete para ganho de peso, conformação

corporal e docilidade (ZIMERMANN,1999).

A linhagem Chitralada foi distribuída entre os produtores de alevinos do estado

do Paraná, inicialmente aos associados da ALEVINOPAR, posteriormente espalhada

por todo o Brasil, e peixes juvenis desta linhagem comparados a tilápias locais

(comuns), mostraram em alguns experimentos conduzidos em Maringá, que tiveram

desempenho superior (BOSCOLO et al., 1998), maior grau de heterozigose e

resistência a patógenos (MOREIRA,1999) e maior resistência ao frio verificada a

campo em cultivos no oeste do estado do Rio Grande do Sul (ZIMERMANN,1999).

É prática comum nas larviculturas da região oeste do Estado do Paraná o

cruzamento entre reprodutores machos de tilápias nilóticas da linhagem Chitralada e

fêmeas das tilápias locais (comuns), devido às fêmeas comuns produzirem maior

número de larvas.

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As fêmeas de tilápias desovam várias vezes por ano, acarretando um

problema de superprodução e desviando grande parte da sua energia que poderia

ser utilizada no crescimento para a produção de óvulos, e devido ao cuidado parental

das fêmeas (incubam os ovos na boca) estas praticamente não se alimentam e por

estas razões a diferença de crescimento entre machos e fêmeas é cerca de dois a

quatro vezes maior para os machos sendo por esta razão, utiliza-se a técnica de

reversão sexual na fase larval dos peixes, com o uso de hormônios masculinizantes

utilizados na ração por um curto período de tempo (FERRARI et al.,1998).

O Paraná é, atualmente, o estado maior produtor de tilápias. No entanto, no

período do inverno, as baixas temperaturas comprometem a produtividade e colocam

em risco os estoques, onerando demasiadamente a produção (KUBITZA,2000).

2.2 Fatores ambientais que influenciam no desenvolvimento dos peixes

2.2.1 Qualidade da Água

A água é o composto considerado com essência da Terra e domina por

completo a composição química de todos os organismos, além de ser o meio onde

vivem os peixes. Sendo assim especificamente, as suas características regulam

eficazmente o metabolismo do ecossistema a variações climáticas e geográficas

(BOYD,1997).

Vários fatores alteram a composição e as condições da água, interferindo que

os peixes e outros organismos aquáticos vivam de forma equilibrada e possam

expressar todo o seu potencial de crescimento. Avaliar e monitorar alguns

parâmetros pode ser fundamental para o êxito em qualquer sistema de produção de

peixes, evitando muitas vezes a ocorrência de grandes prejuízos por desequilíbrios

no meio onde vivem os peixes.

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2.2.2 Temperatura

Através da condução, a radiação incidente na água é transformada em

energia calorífica e nela se propaga, de molécula para molécula. Este processo de

absorção de energia térmica é mais intenso quanto mais se aproxima da superfície

d’água, principalmente até um metro de profundidade (KUBITZA,2000). De maneira

geral a distribuição e disponibilidade de gases e sais na coluna da água afetam

diretamente a distribuição e a sobrevivência dos organismos aquáticos, por isso

Woynarovich (1993) destaca a importância do uso de aeradores, que além de

atuarem como oxigenadores, ainda desempenham papel importante na

desestratificação dos ambientes aquáticas.

As tilápias são peixes tropicais que apresentam conforto térmico entre 27 a

32ºC. Temperaturas acima de 32ºC e abaixo de 27ºC reduzem o apetite e o

crescimento, e abaixo de 18ºC o sistema imunológico é suprimido. Temperaturas na

faixa de oito a 14ºC geralmente são letais, dependendo de espécie, linhagem e

condição corporal dos peixes e do ambiente (OSTRENSKI E BOEGER,1998).

2.2.3 Transparência da água.

A transparência da água é uma medida diretamente relacionada com a

produção primária (fitozooplâncton). A medida da transparência da água é feita da

maneira mais simplificada, com a utilização de um disco branco com faixas negras

alternadas com 20 a 30 cm de diâmetro, este aparelho é chamado disco de Secchi.

“a profundidade do Secchi” é aquela na qual a radiação de 400 a 740 nm, portanto a

faixa visível, refletida do disco não é mais visível ao olho humano. A faixa ideal para

a profundidade de Secchi em tanques de piscicultura, dependendo da profundidade

do tanque e, desde que o fundo não esteja visível, está entre 25 a 70 cm

(OSTRENSKI E BOEGER,1998).

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2.2.4 Oxigênio Dissolvido

O oxigênio é o gás mais importante para os peixes , por isso, em termos de

piscicultura é a ele que devemos dar maior importância. As fontes de O2 dissolvido é

o processo de fotossíntese/respiração e a decomposição. A amplitude desta variação

é função principalmente das densidades das populações de fitoplâncton, micrófitas

aquáticas e de bactérias, que por sua vez estão diretamente relacionados com as

horas de luz por dia, luminosidade, temperatura e disponibilidade de nutrientes, e

também pela profundidade do tanque (BOYD,1997).

Nos viveiros de piscicultura, por serem de forma geral ambientes rasos, a

concentração de O2 apresenta seu menores valores no período da madrugada ou da

manhã, o que torna a coluna d’água freqüentemente anaeróbia, daí a alta taxa de

mortalidade apresentada em alguns casos nesses horários. De modo geral, os

valores entre zero e um miligrama de oxigênio por litro de água é letal aos peixes, de

dois a três, os peixes permanecem em estresse e, de quatro a seis miligramas de

oxigênio por litro de água, é a condição ideal para maior parte das espécies de

peixes cultivados no Brasil (OSTRENSKY E BOEGER, 1998).

É importante salientar que cada espécie de peixe possui um limite de

resistência quanto a concentração de O2 dissolvido na água e isso varia com a idade

e o estado filosófico, por este motivo é importante o acompanhamento visual dos

animais para que as providências necessárias possam ser tomadas de imediato, a

partir do momento que as concentrações desse elemento atinjam níveis inferiores a

quatro miligramas por litro, principalmente no período noturno, em dias nublados e na

fase final de terminação, caso em que a demanda bioquímica de O2 é maior. Como

nota prática, problemas com O2 dissolvido em qualquer viveiro podem ser notados a

partir da observação da aparência da água, como mudança rápida da cor da mesma,

verde para marrom ou cinza, por exemplo e, do comportamento dos peixes com

presenças de um grande número deles na superfície da água, “bloqueando” ou

tentando “sugar” o oxigênio existente no limite ar-água (KUBITZA,2000) .

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2.2.5 Potencial Hidrogeniônico (pH)

O pH, que é definido como logaritmo negativo da concentração molar de íons

hidrogênio é à medida que expressa a acidez o alcalinidade de uma solução e, além

de ser influenciado pela quantidade de íons H+ e OH, ainda é afetado fortemente por

sais, ácidos e bases que ocorram no meio. Os valores de pH variam de 1,0 a 14,0

sendo que abaixo de 5,0 é fatal a maioria dos peixes, entre 5,0 e 6,0 causa queda no

desenvolvimento, entre 6,5 a 9,5 permite um desenvolvimento satisfatório, entre 7,0

a 8,5 é a faixa ideal ao desenvolvimento dos peixes e, acima de 11,0 também é letal

(BOYD,1997).

O comportamento do pH no período de 24 horas de um dia, segue de maneira

diretamente proporcional o do O2 dissolvido, inversamente o do CO2> Portanto

intensos “blooms” de algas, em tanques com baixas taxas de renovação de água,

dependendo da densidade de estocagem, poderão apresentar altas taxas de

mortalidade de peixes, principalmente durante a noite e na madrugada, devido às

altas concentrações de CO2 no meio, oriundo do processo de respiração

(ODETRENSKI e BOEGER, 1998).

2.2.6 Alcalinidade

É a capacidade da água em neutralizar ácidos. Refere-se à concentração total

de sais na água, sendo expressa em miligramas por litro em equivalente de

carbonato de cálcio ( CaCO3 ), bicarbonato ( HCO3 ), carbonato (CO3 ), amônia (NH3

), hidroxila (OH), fosfato (PO4=), sílica (SiO4 ) e alguns ácidos orgânicos podem reagir

para neutralizar íons hidrogênio (H+). Para viveiros de piscicultura são desejáveis

valores de alcalinidade acima de 20mg/l, sendo que valores entre 200-300mg/l são

os mais indicados(BOYD,1997).

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Fazenda Cascatinha, município de Toledo, no

período de 09/06/2004 a 20/11/2004.

Foram utilizados nove viveiros de terra identificados individualmente, com 15

m2 de área, contendo 12 m3 de água, construídos ao ar livre, com entrada e saída da

água individualizada e telas (1mm) de proteção no viveiro de abastecimento para

evitar a entrada de peixes indesejáveis, predadores e fuga de alevinos.

No preparo inicial do viveiros foi efetuada uma desinfecção com 20 g de cal

virgem/m2, corrigido o pH com 300 g de calcário agrícola/m2 e adubado com 200g de

cama de aves de postura/m2.

Foram adquiridos alevinos de tilápia do Nilo, Oreochoromis niloticus,

revertidos sexualmente, conforme metodologia descrita por Popma e Green (1990),

oriundos de cruzamento de machos tailandêses (chitralada) e fêmeas nilóticas

(comum) trazidos de outra propriedade que padroniza por tamanho e comercializa

esta espécie. No total do experimento foram utilizados 723 peixes divididos em três

lotes com três repetições por lote. Para cada lote foram utilizados 3 viveiros, sendo o

lote A (VIVEIROS 1, 2 e) com 480 peixes com peso médio de 1,3g. O lote B (viveiros

4,5 e 10) teve 192 peixes com médio de 32g, e o lote C (viveiros 6,7 e 8) com 51

peixes com peso médio de 87g.

Não foram realizadas biometrias durante o período do experimento para evitar

o estresse nos peixes e com isso causar alguma mortalidade que viesse a interferir

nos resultados de sobrevivência.

Para o lote A foi administrada ração comercial com 45% de proteína bruta,

conforme composição básica do rótulo discriminada na Anexo 1. Para os lotes B e C

foi administrada ração comercial com 30% de proteína bruta, conforme composição

básica do rótulo discriminada no Anexo 2, nas dosagens recomendadas por

OSTRENSKI e BOEGER (1998)(Anexo 3), ajustada semanalmente conforme a

previsão de crescimento e número mais provável de peixes nos viveiros.

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No final do período do experimento os viveiros foram esvaziados e todos os

alevinos foram contados possibilitando calcular a taxa de sobrevivência de cada lote.

Os parâmetros físicos químicos para a avaliação da qualidade da água nos

viveiros foram: temperatura, oxigênio dissolvido, pH, transparência e alcalinidade.

Para analise de temperatura, oxigênio dissolvido e pH foram utilizados aparelhos

digitais portáteis e as medidas de transparências foram feitas com o uso do disco de

secchi a alcalinidade utilizou – se kit de análise de água com reagentes químicos.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na região oeste do Paraná a temperatura da água de viveiros de peixes no

período de verão tinge picos máximos de até 35ºC e no período de inverno picos

mínimos de até 10ºC, dependendo da profundidade da coluna d’água e da

localização destes viveiros.

Os viveiros foram povoados com peixes num período em que as temperaturas

da água encontravam-se muito baixas para realizar qualquer tipo de manejo, mas a

boa condição corporal aparente permitiu que os manejos fossem realizados.

O ganho de peso médio durante o período de cultivos obtidos pelos Lotes A,B

e C, que foi de 51,5g; 83,7g e 233,3g respectivamente; e biomassa final média de

258,6g/m3; 535,0g/m3 e 434,7g/m3, respectivamente; demonstrados na Tabela 1

confirmam o potencial de crescimento e rusticidade desta espécie. O Lote B

apresentou a maior biomassa, destacando-se o viveiro número 4 com 631,7 g/m3.

Em nenhum dos viveiros foi observada falta de oxigênio o que provavelmente não

ocorreu pela baixa densidade de biomassa, renovação constante de água e alta

transparência da água.

Poucos dias após o povoamento dos viveiros houve queda acentuada da

temperatura, conforme demonstrado na Figura 1, ocasionando uma maior

mortalidade nos viveiros do Lote A. Também nos primeiros 70 dias de duração do

experimento, de 09/06 a 18/08 ocorreram 35 dias de temperatura da água entre 10ºC

e 15ºC. Neste mesmo período de tempo ocorreram 13 dias com temperaturas entre

10 e 13ºC. Do dia em que se iniciou o experimento até a ocorrência da primeira

temperatura da água acima de 20ºC passaram-se 90 dias, o que demonstra a grande

capacidade de adaptação desta espécie de peixe ao longo dos anos nesta região,

sobrevivendo a baixas temperaturas. Segunda Kubitza (2000), em temperaturas

abaixo de 14ºC observa-se letalidade. O que neste experimento também foi

observado, embora com taxas variáveis nos diferentes tamanhos, sugerindo que

peixes maiores apresentam maior resistência que os peixes menores.

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De meados de julho a meados de agosto a temperatura se manteve abaixo de

15ºC (digura1), o que impediu a alimentação dos peixes quase que totalmente por

um período excessivamente longo, embora não tenha ocorrido mortalidade

provocada por alguma doença ou presença de parasitos. Alguns peixes encontrados

mortos apresentavam fungos e eram retirados diariamente dos viveiros. Naõ foi

utilizada nenhuma medicação preventiva durante o todo período do experimento.

No povoamento foi observado que a condição corporal aparente dos peixes

era muito boa o que provavelmente se refletiu na sua sobrevivência dos peixes,

mesmo em condições adversas de temperatura e períodos longos com baixa

ingestão alimentar.

Quando as temperaturas se mantinham em torno de 15ºC pode-se observar a

busca dos peixes por alimentos de forma discreta, mas de grande importância para a

sua sobrevida. E o que aumentava a busca por alimentos era quando durante o dia a

temperatura da água na camada superior aquecida de 1ºC a 3ºC, possibilitando a

administração de um pouco mais ração, que nessas condições ficavam em torno de

0,5% da biomassa estimada de peixes em cada viveiro.

Não foram observados predadores nos viveiros durante o período

experimental, e o número de peixes encontrados mortos foi bem menor do que os do

resultado final da despesca, o que pode ter ocorrido é que em baixas temperaturas

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da água muitos peixes permaneceram no fundo dos viveiros onde são decompostos

lentamente não emergindo a superfície logo após a morte.

A média de conversão alimentar dos peixes no período experimental foi de

0,96; 1,05 e 1,31, para os Lotes A, B e C, respectivamente (Tabela 1); o que

demonstra a excelente capacidade de conversão alimentar desta espécie e sua

provável ingestão de alimentos naturais encontrados nos viveiros de terra que podem

suprir até mais de 50% das necessidades dos peixes onívoros (SANTOS, 1998).

As tilápias do Lote A tiveram taxas de sobrevivência de 24,3%; 42,5% e 41,2%

nos viveiros 1, 2, e 3, respectivamente, conforme demonstrado na Tabela 1. A maior

mortalidade ocorreu no período inicial logo após o povoamento e se deve

principalmente aos manejos, transporte e manipulação, agravado pelas baixas

temperaturas ocorrida neste período. Experimentos realizados com alevinos no

período do verão em situações semelhantes, embora com temperaturas médias de

24,3ºC, verificaram taxas de sobrevivência superiores a 80% (HEIN, 2002), e BARAS

et al (2000) com taxas médias de 76,2% de sobrevivência em temperaturas de 24 a

33ºC, o que demonstra que a temperatura é um fator limitante para a sobrevivência

de alevinos e tilápias.

A mortalidade de 11,0%; 18,8% e 9,4% ocorrida nos peixes dos viveiros 44, 5

e 10, respectivamente, do lote B (Tabela1);pode ser considerada normal diante do

grande desafio a que foram submetidos de baixas temperaturas e pouca ingestão

alimentar por longos períodos, conforme Ostrenski e Boeger (1998) que afirmam que

temperaturas na faixa de oito a 14ºC geralmente são letais, dependendo da espécie,

linhagem e condição corporal dos peixes e do ambiente.

A sobrevivência dos peixes do lote C, nos viveiros 6, 7 e 8 (Tabela 1) pode ser

considerada excelente e dá condições para que se possa buscar uma alternativa de

viabilidade na produção de tilápias, com a manutenção de peixes maiores durante o

período de inverno , com baixos investimentos e riscos, para posterior povoamento e

engorda, o que também é sugerido por SONODA (2002), que ao analisar diversos

parâmetros encontrou melhores resultados econômicos para povoamento de

engorda com tilápias maiores.

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Em condições de temperatura ideal para o crescimento das tilápias, o ganho

de peso no período experimental de 165 dias dos Lotes B e C , seria o suficiente

para concluir a engorda destes peixes até o peso de 450g (EMATER, 2004), o que

não ocorreu devido ao baixo ganho de peso, conforme Tabela 1, provavelmente

provocado pelas baixas temperatura da água.

Figura 2. Médias de transparência (cm) e oxigênio(mg/l) ocorridas nos viveiros no

período de 09/06 a 20/11/2004.

As médias de transparência da água dos viveiros variaram de 31,7 a 39,1 cm,

conforme a Figura 2, o que demonstra a produção razoável de zoofitoplâncton nos

viveiros, e a presença de oxigênio disponível de 4,5 a 6,5 mg/l suficiente para o bom

desenvolvimento dos peixes, segundo Ostrenski e Boeger, (1998).

Os parâmetros de qualidade da água observados durante o período de cultivo

nos viveiros, conforme Figura 2 e 3, não tiveram grandes oscilações devida à

renovação de água no viveiro de abastecimento. O pH variou de 6,5 a 6,8, e a

alcalinidade de 22 a 29 mg/l, embora Boyd (1997) destaca que o pH de 7,0 a 8,5 com

pouca variação e alta alcalinidade de 200-300 mg/l seja mais recomendado para

viveiros de piscicultura.

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Tabela 1. Identificação dos lotes, viveiros e números de peixes utilizados no lotação e retirados na despesca, durante o período de 09/06 a 20/11/2004, na Fazenda Cascatinha, município de Toledo, Paraná.

LOTAÇÃO DESPESCA

Viveiros

Peixes (nº)

PI Médio (g)

Peixes (nº)

PF Médio (g)

GPP (g)

Consumo Ração (g)

CA Biomassa Final TS (%)

LOTE A

480 1,3 173 52,8

51,5 8.717 0,96 258,6 36,0

1 160 1,3 39 46,2

44,9 1.991 1,11 149,5 24,3

2 160 1,3 68 55,1

53,8 3.222 0,86 312,2 42,5

3 160 1,3 66 57,1

55,8 3.504 0,93 314,0 41,2

LOTE B 192 32 167 115,7

83,7 20.199 1,05 535,0 86,9

4 64 32 57 133,3

101,3 8.035 1,06 631,7 89,0

5 64 32 52 117,3

85,3 5.840 0,96 507,0 81,2

10 64 32 58 96,5

64,5 6.324 1,13 466,4 90,6

LOTE C 51 87 49 320,3

233,3 20.318 1,31 434,7 96,0

6 17 87 16 318,7

213,7 6.832 1,34 424,9 94,1

7 17 87 16 315,7

228,7 6.832 1,39 420,9 94,1

8 17 87 17 323,5

236,5 6.654 1,21 458,3 100,0

Legenda: PI – Peso Inicial; PF M- Peso Final; TS – Taxa de Sobrevivência; GPP – Ganho de Peso no Período; CA – Conversão Alimentar (kg peixe: kg ração)

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a execução deste trabalho, foi possível concluir que os alevinos de maior

porte apresentaram maiores taxas de sobrevivência em relação aos menores. Tal

resultado pode ser utilizado como parâmetro para o desenvolvimento dos cultivos, a

fim de aumentar a viabilidade e a produtividade dos viveiros; uma vez que quanto

mais desenvolvidos os alevinos, maior resistência às adversidades ambientais,

especialmente em relação à variação de temperatura.

Como a região do Paraná é caracterizada por um período de inverno (4-5

meses) pronunciado com baixas temperaturas, que atingem níveis que oferecem

riscos ao sistema de produção de peixes em viveiros de terra, com mortalidade de

alevinos e juvenis, atraso no crescimento e impedimentos de manejo de peixe; a

alternativa de passar esse período com peixes juvenis tornou-se uma necessidade e

vem sendo difundida pela extensão rural e adotada pelo piscicultores, pois:

- induziu à mudanças de manejo e maiores cuidados no período de inverno;

- antecipa o final da engorda em até 3 meses com povoamento após o

inverno;

- evita a aquisição de alevinos após o mês de abril, pelos altos riscos de

mortalidade no inverno.

- Estimula o aumento da produção de peixes por ano pela diminuição da

mortalidade no período da engorda e necessidade de organização da

produção na propriedade;

- Auxiliar na padronização dos lotes da engorda

- Reduz o aparecimento de doenças e gastos;

- Auxilia a indústria com maior disponibilidade de peixes durante o ano;

Page 18: VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O. niloticus ) DE

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REFERÊNCIAS

BARAS, E., PRIGNON, C.; GOHOUNGO, G. et al Phenotypic sex differentiation of

blue tilapia undeer constant na fluctuating thermal regims and its adaptive and

evolutionary implications. Journal os Fish Biology, v.57, p.210-223, 2000.

BOYD, C. Dynamics of Pond Aquaculture. USA.1997.

BOSCOLO, W.R; HAYASHI, C.; SOARES, C.M; FURUYA, W.M; e NAGAE, M.Y.

Desempenho de machos revertidos de Tilápia-do-Nilo (Oreochromisniloticus),

linguagens tailandesa e comum, na fase inicial . In: resumos do Acuicultura Brasil’98 (ed. Valenti, W>C> et al.), Recife, 2 a 6 novembro 1998, 248p.

CATAGNOLI, N. Piscicultura de Água Doce. Jaboticabal: FUNEP, 1992, 189 p.

EMATER-PARANÁ. Realidade Estadual da Piscicultura 2005. Disponível em

(www.emater-pr.gov.br) acessado em 15/11/2005.

EMATER-PARANÁ. Modelo Emater de produção de tilápias. Disponível em

(www.emater-pr.gov.br) acessado em 15/11/2005.

FERRARI, A.P.; MAKRAKIS, S.;SIGNOR, A.;HOLZBACH, A.J;BARD,

J.J.;NAKAI,K.L.;HEIN,G. e BRIANESE, R. Análise de efetividade de reversão sexual de tilápias, oreochromis niloticus, em quatro propriedades na região oeste do Paraná – Brasil. UNIOESTE. (mimeo).

Page 19: VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O. niloticus ) DE

2

HEIN. G, Avaliação da ação do vorzol, um inibidor não esteroidal específico da aromatase, em tilápias (Oreochromis niloticus). I. Reversão sexual de alevinos. II. Desempenho nas fases de crescimento e engorda. Tese de Mestrado (mimeo),

UEM, Maringá, 2002.

KUBITZA, F. Tilápia: tecnologia e planejamento na produção comercial. 1 ed.

Jundiaí [S.n], 2000.

KUBITZA, F. A evolução da tilapicultura no Brasil: produção e mercados. Panorama da Aquicultura, Rio de Janeiro, v.13, n.76, p.25-35, mar/abr, 2003.

MAINARDES-PINTO, C. S. R.;FENERICH-VERANI, N.; CAMPOS B.E.S.; SILVA

A.L.. Masculinização da Tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus, utilizando diferentes

rações e diferentes doses de 17 α-methiltestoterona. Revista Brasileira de

Zootecnia,2000, 29(3):654-659p.

MOREIRA, H.L.M. Análises da estrutura de populações e diversidade genética de estoques de reprodutores de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) estimadas por microsatélite. Porto Alegre, 1999. 112f. Tese (Doutorado em

genética e Biologia Molecular) – Universidade Federal do rio Grande do Sul,1999.

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POPMA, T.J.; GREEN, B.W. Aquaculture prodution manual – Sex reversal of

tilapia in earthen ponds. Research and Development Series n. 35. Auburn University,

Alabama, USA, 1990, 15p.

Page 20: VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O. niloticus ) DE

3

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cuidados. Ênfase à produção de tilápias. Panorama da Aquicultura, Jan/Fev.1998,

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SONODA, D.Y. Análise econômica de sistemas alternativos de produção de tilápias em tanque rede para diferentes mercados. ESALQ. Dissertação de

Mestrado Economia Aplicada. Piracicaba, SP, Out/2002, 92p.(mimeo).

WOYNAROVICH, E. Manual de Piscicultura. Brasília: MIR/CODEVASF, 1993.

ZIMMERMANN, S. Incubação Artificial. Panorama da Aquicultura. Jul/Ago,1999,

p.15-21.

ZIMMERMANN, S. Observações no crescimento de tilápias Nilóticas (Oreochromis

niloticus) da linhagem Chitralada em dois sistemas de cultivo em três temperaturas

de água. In: TILAPIA AQUACULTURE IN THE 21 ST CENTURY, 2, 2000, Rio de

Janeiro:Panorama da Aquicultura, p.323-327, 2000.

Page 21: VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O. niloticus ) DE

4

ANEXO

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Anexo 1. Composição da ração comercial Peixes 45%

NÍVEIS DE GARANTIA %

Proteína Bruta (Min.) Fibra (Máx.) Extrato Etéreo (Min.) Mineral (Máx.) Cálcio (Máx.) Fósforo (Min.) Umidade (Máx.) ENRIQUECIMENTO POR QUILO

45 6 4 13 3 0,5 12

Vitamina A(UI) Vitamina D3 (UI) Vitamina E (mg) Vitamina K3 (mg) Vitamina B1 (mg) Vitamina B2 (mg) Vitamina B6 (mg) Vitamina B12 (mg) Vitamina C (mg) Ac. Nicotínico (mg) Ac. Pantotênico (mg) Ac. Fólico (mg) Biotina (mg) Antioxidante (mg) Ferro (mg) Cobre (mg) Manganês (mg) Zinco (mg) Iodo (mg) Selênio (mg) Colina (mg)

8.000 2.100 10,0 3,0 2,0 4,0 6,0 10,0 450,0 30,0 10,0 0,5 0,5 120,0 40,0 8,0 70,0 50,0 1,2 0,12 500,0

Fonte: ração Kowalski Alimentos Ltda

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6

Anexo 2. Composição da ração comercial Peixes 30% cresca/eng

NÍVEIS DE GARANTIA % Proteína Bruta (Min.) Fibra (Máx.) Extrato Etéreo (Min.) Mineral (Máx.) Cálcio (Máx.) Fósforo (Min.) Umidade (Máx.) ENRIQUECIMENTO POR QUILO

30 5 4 12 3 0,5 12

Vitamina A(UI) Vitamina D3 (UI) Vitamina E (mg) Vitamina B1 (mg) Vitamina B2 (mg) Vitamina B6 (mg) Vitamina B12 (mg) Vitamina C (mg) Ac. Nicotínico (mg) Ac. Pantotênico (mg) Ac. Fólico (mg) Biotina (mg) Antioxidante (mg) Ferro (mg) Cobre (mg) Manganês (mg) Zinco (mg) Iodo (mg) Selênio (mg) Colina (mg)

8.000 2.100 10,0 2,0 4,0 6,0 10,0 200,0 30,0 10,0 0,5 0,5 120,0 40,0 8,0 70,0 50,0 1,2 0,12 500,0

Fonte: Ração Kowalski Alimentos Ltda

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7

Anexo 3. Tabela de Arraçoamento de Tilápias TEMPERATURA (ºC)/

% DA BIOMASSA PESO

MÉDIO(G)

<15 15-17 18-20 21-23 24-26 27-29 >30

1-5 0 3 6 9 12 15 6

5-10 0 1,6 3,2 4,8 6,4 8 3,2

10-20 0 1,4 2,8 4,2 5,6 7 2,8

20-50 0 1 2 3 4 5 2

50-70 0 0,8 1,6 2,4 3,2 4 1,6

70-100 0 0,8 1,6 2,4 3,2 4 1,6

100-150 0 0,6 1,2 1,8 2,4 3 1,2

150-200 0 0,54 1,08 1,62 2,16 2,7 1,08

200-300 0 0,48 0,96 1,44 1,92 2,4 0,96

300-400 0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 0,8

400-500 0 0,38 0,76 1,14 1,52 1,9 0,76

Ostrensky & Boeger, 1998