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Universidade de Aveiro Ano 2011 Secção Autónoma de Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas Vera Lúcia Ribeiro da Rocha Estratégia Organizacional Gabinete Comunicação e R.P. o caso da CM de Vagos

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  • Universidade de Aveiro

    Ano 2011

    Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas

    Vera Lcia Ribeiro da Rocha

    Estratgia Organizacional Gabinete Comunicao e R.P. o caso da CM de Vagos

  • Universidade de Aveiro

    Ano 2011

    Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas

    Vera Lcia Ribeiro da Rocha

    Estratgia Organizacional Gabinete Comunicao e R.P. o caso da CM de Vagos

    Trabalho de Projecto apresentado Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Administrao e Gesto Pblica, realizado sob a orientao cientfica do Doutor Jos Manuel Lopes da Silva Moreira, Professor Catedrtico da Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas da Universidade de Aveiro e co-orientao cientfica da Mestre Conceio Maria Oliveira Cunha, Assistente do Departamento de Economia, Gesto e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro.

  • Dedico este trabalho a meus pais, pelo apoio incansvel. A Vasco Pereira, por acreditar sempre nas minhas capacidades e competncias. Ao Doutor Jos Manuel Lopes da Silva Moreira e Mestre Conceio Maria Oliveira Cunha pela partilha de conhecimentos e incansvel apoio.

  • o jri

    Presidente Professor Doutor Rui Armando Gomes Santiago professor associado com agregao da Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas da Universidade de Aveiro

    Professora Doutora Maria Joo Aibo Carneiro professor auxiliar do Departamento de Economia, Gesto e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro

    Professor Doutor Jos Manuel Lopes da Silva Moreira professor catedrtico da Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas da Universidade de Aveiro

    Mestre Conceio Maria Oliveira da Cunha assistente do Departamento de Economia, Gesto e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro

  • agradecimentos

    A todos os que colaboraram na realizao deste projecto, os meus agradecimentos pela disponibilidade e contributos prestados. Um agradecimento especial ao Sr. Presidente da CM de Vagos (Dr. Rui Cruz), ao Vereador da rea de Comunicao e ao Tcnico Superior da CM de Vagos Antnio Castro, pela disponibilidade e ateno.

  • palavras-chave

    Nova Gesto Pblica, Poder Local, Comunicao Autrquica, Servios, Marketing, Marketing Pblico, Estratgia de Marketing, Comunicao Integrada de Marketing (CIM), Mix Comunicao.

    resumo

    A presente proposta de projecto intenta alertar para a necessidade dos rgos da A.P. desenvolverem uma estratgia de enfoque no cidado, mediante o recurso e integrao eficaz e eficiente dos sistemas de informao e comunicao. A forma de comunicar tem evoludo, e a AP, face emergncia de um novo tipo de gesto pblica Gesto do Valor Pblico ou Governao. A importncia crescente da comunicao e do marketing na reorganizao dos servios pblicos tem adquirido especial importncia no sector pblico, com particular incidncia, no Poder Local, devido proximidade fsica das autarquias face aos cidados. A criao de Gabinetes de Comunicao e Relaes Pblicas nos rgos pblicos, em especial nas autarquias, podero ser uma soluo para as crescentes competncias imputadas s Cmaras Municipais, implicando eficcia na gesto de relacionamentos com os vrios pblicos-alvo das autarquias. Desta forma, urge planear e criar uma estratgia de Marketing e comunicao que corresponda s expectativas e necessidades dos muncipes.

  • keywords

    New Public Management, Local Government, Local Government Communication, Local Government Services, Marketing, Public Sector Marketing, Marketing Strategy, Integrated Marketing Communication, Mix Communication.

    abstract

    The main purpose of this work is to bring out the attention to the need of developing a strategy focus on the citizen in Public Administration services. This strategy should include effective and efficient information systems, technology and marketing management and communication tools. The way we communicate has evolved, and the Public Administration services way of communicating and working should be updated, especially regarding the emergence of a new type of public management - Governance. The growing importance of communication and marketing in the reorganization of public services has acquired special importance in the public sector, with particular focus on Local Government, due to the physical proximity of local authorities towards the citizens. A possible solution in finding a balance between the particularities of the Local Government services and the need to communicate may be the creation of offices and teams specialized in managing Communication and Public Relations processes. A marketing and communication strategy can also be efficient tools in creating bounds with local citizens.

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    8

    NDICE

    NDICE ....................................................................................................................................................................................................................... 8

    NDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................................................................................... 10

    NDICE DE TABELAS ....................................................................................................................................................................................... 10

    NDICE DE SIGLAS............................................................................................................................................................................................ 11

    CAPTULO I INTRODUO ................................................................................................................................................................... 13

    1) Apresentao e Estrutura do Projecto ......................................................................................................................................... 13

    1.1. Relevncia e actualidade .............................................................................................................................................. 13

    1.2. Objecto de anlise e estrutura .................................................................................................................................... 14

    CAPTULO II DA ADMINISTRAO PBLICA GOVERNAO ................................................................................... 15

    1) Introduo ........................................................................................................................................................................................... 15

    2) A Evoluo da Gesto Pblica e a Comunicao ..................................................................................................................... 16

    CAPTULO III MARKETING E MARKETING DE SECTOR PBLICO ............................................................................. 26

    1) Introduo ........................................................................................................................................................................................... 26

    2) Conceito: definies e evoluo ..................................................................................................................................................... 27

    2.1. Definies ....................................................................................................................................................................... 27

    2.2. Evoluo .......................................................................................................................................................................... 29

    3) Aplicao do Marketing no Sector Pblico ............................................................................................................................... 32

    3.1. Introduo ....................................................................................................................................................................... 32

    3.2. Marketing no Sector Pblico..................................................................................................................................... 33

    3.3. Comunicao Integrada de Marketing .................................................................................................................... 40

    CAPTULO IV COMUNICAO POLTICA E ORGANIZACIONAL NO PODER LOCAL .................................... 43

    1) Introduo ........................................................................................................................................................................................... 43

    2) Tenses entre o Poder Central e o Poder Local: o papel da comunicao e implicaes no Poder Local ............... 44

    3) Marketing Local e Comunicao Autrquica ............................................................................................................................ 51

    4) Breve anlise organizacional dos servios da Cmara Municipal de Vagos ....................................................................... 57

    5) Modelo de estratgia organizacional de um Gabinete de Comunicao estudo de caso ........................................... 60

    CAPTULO V PROPOSTA DE PROJECTO: ESTRATGIA ORGANIZACIONAL DE UM GABINETE DE

    COMUNICAO E R.P. PARA CMARA MUNICIPAL DE VAGOS ....................................................................................... 66

    1) Anlises Externa e Interna ............................................................................................................................................................... 66

    1.1. Anlise Externa .......................................................................................................................................................... 70

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    9

    1.1.1. Anlise PEST - A (Macroambiente) ........................................................................................................... 70

    1.1.2. Anlise da Concorrncia ................................................................................................................................. 75

    1.2. Anlise Interna ............................................................................................................................................................... 77

    1.2.1. Anlise do Concelho de Vagos ..................................................................................................................... 77

    1.2.2. Viso .................................................................................................................................................................... 81

    1.2.3. Misso .................................................................................................................................................................. 81

    1.2.4. Anlise Organizacional da Cmara Municipal de Vagos: ..................................................................... 82

    1.3. Anlise SWOT .............................................................................................................................................................. 83

    1.4. Segmentao de mercado e pblicos - alvo ................................................................................................................. 84

    1.5. Posicionamento................................................................................................................................................................... 86

    2) Planeamento Estratgico: Estratgia Organizacional e de marketing/ comunicao .................................................... 86

    2.1. Estrutura Organizacional para um Gabinete de Comunicao e R.P. ................................................................. 87

    2.1.1. Viso .......................................................................................................................................................................... 87

    2.1.2. Misso ....................................................................................................................................................................... 87

    2.1.3. Pblicos alvo ........................................................................................................................................................ 87

    2.1.4. Posicionamento ...................................................................................................................................................... 87

    2.1.5. Objectivos ................................................................................................................................................................ 88

    2.1.6. Estrutura e Recursos ............................................................................................................................................. 88

    2.2. Mix de Comunicao ........................................................................................................................................................ 91

    2.3. Exemplo de uma interveno do Gabinete de Comunicao e R.P. .................................................................... 95

    CAPTULO VI BALANO FINAL: CONCLUSES, LIMITAES E DESAFIOS ........................................................ 100

    BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................................................. 103

    LEGISLAO CONSULTADA: ................................................................................................................................................................. 107

    WEBGRAFIA: ...................................................................................................................................................................................................... 108

    ANEXOS ............................................................................................................................................................................................................... 110

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    10

    NDICE DE FIGURAS

    Ilustrao 1 - Evoluo do Marketing ................................................................................................... 31

    Ilustrao 2 - Mudana de Abordagem do Marketing ............................................................................. 31

    Ilustrao 3 - Processo de Comunicao ................................................................................................ 41

    Ilustrao 4 - Princpios estruturantes da organizao e funcionamento de servios ................................... 59

    Ilustrao 5 Proposta de Organograma Funcional para Gabinete Comunicao e R.P., CM Vagos .......... 89

    Ilustrao 6 Comparao da utilizao de media ................................................................................. 95

    Ilustrao 7 - Um sistema de Marketing simples .................................................................................. 117

    Ilustrao 8 - Papel do Marketing na actualidade (importncia do consumidor e Marketing como funo

    integradora do processo organizacional) .............................................................................................. 117

    Ilustrao 9 - Marketing - mix ............................................................................................................ 117

    Ilustrao 10 - Comunicao Integrada de Marketing ........................................................................... 118

    Ilustrao 11 - NUTS I, NUTS II e NUTS III em Portugal (2007)..................................................... 119

    Ilustrao 12 - Nvel de Marketing Territorial ..................................................................................... 120

    Ilustrao 13 - Organograma dos Servios C. M. de Vagos ................................................................... 120

    Ilustrao 14 - Localizao Geogrfica de Vagos ................................................................................. 121

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Dimenses da abertura da administrao ao cidado .................................................. 23

    Tabela 2 - Administrao Pblica Tradicional, Nova Gesto Pblica e Governao ..................... 25

    Tabela 3 - Evoluo Marketing ............................................................................................... 30

    Tabela 4 - Limitaes das Principais caractersticas da Comunicao Municipal .......................... 53

    Tabela 5 - As especificidades da comunicao municipal a partir das particularidades institucionais

    ............................................................................................................................................. 54

    Tabela 6 - Anlise de variveis dos Municpios de bidos e Vagos ............................................ 61

    Tabela 7 - Extenso das funes de Marketing .......................................................................... 67

    Tabela 8- Populao residente e densidade populacional Concelho de Vagos (por freguesia) ........ 78

    Tabela 9- Anlise Comparativa Populacional ............................................................................ 78

    Tabela 10 - Anlise Comparativa da Estrutura Etria ................................................................ 79

    Tabela 11 - Anlise das principais reas internas CM Vagos ...................................................... 82

    Tabela 12 Anlise SWOT do Municpio de Vagos ................................................................ 83

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    11

    Tabela 13 - Anlise SWOT dos servios da Cmara Municipal de Vagos ................................... 84

    Tabela 14 - Critrios para segmentao e definio dos pblicos - alvo da CM de Vagos. ............ 85

    Tabela 15 Mix de Comunicao ........................................................................................... 92

    Tabela 16 - Pblicos - alvo e Mix de Comunicao do Gabinete de Comunicao e R.P. ............. 94

    Tabela 17 - Principais conceitos de Marketing ........................................................................ 111

    Tabela 18 - Servio Pblico vs Sector Privado ........................................................................ 112

    Tabela 19 - rgos das Autarquias Locais .............................................................................. 112

    Tabela 20 - Funes dos rgos Autrquicos ......................................................................... 112

    Tabela 21 - Nveis e dimenses da Comunicao Municipal .................................................... 113

    Tabela 22 - As reas de interveno municipal resultantes da articulao dos nveis (Nveis

    comunicacionais) com as dimenses da comunicao (Dimenses Comunicacionais) ................. 113

    Tabela 23 - "XX Encontro de Comunicao Autrquica da ATAM" ....................................... 114

    Tabela 24 Complementaridade entre Marketing Estratgico e Marketing Operacional ............ 114

    Tabela 25 - Anlise Macro .................................................................................................... 115

    Tabela 26- Anlise Comparativa do Nmero de Estabelecimentos de Ensino, 2006/07 ............ 115

    Tabela 27 - Recursos Naturais .............................................................................................. 116

    Tabela 28 - Recursos Culturais .............................................................................................. 116

    Tabela 29 - Infra-estruturas ................................................................................................... 116

    NDICE DE SIGLAS

    AM (rea Metropolitana)

    AMA (American Marketing Association)

    AP (Administrao Pblica)

    ATAM (Associao dos Tcnicos Administrativos Municipais)

    CAF (Common Assessement Framework)

    CCDR (Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional)

    CIM (Comunidade Intermunicipal)

    CIM (Comunicao Integrada de Marketing)

    CM (Cmara Municipal)

    CPCJ (Comisso de Proteco a Crianas e Jovens)

    CRM (Customer Relationship Management)

    CRP (Constituio da Repblica Portuguesa)

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    12

    DGAL (Direco Geral Autarquias Locais)

    FC (Fundo de Coeso)

    FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional)

    FSE (Fundo Social Europeu)

    GP (Gesto Pblica)

    I&D (Investigao e Desenvolvimento)

    IGAL (Inspeco Geral Administrao Local)

    IPSS (Instituio Particular de Solidariedade Social)

    NPM (New Public Management) ou NGP (Nova Gesto Pblica)

    NUTS Nomenclatura para Unidades Territoriais para Fins Estatsticos

    ONU (Organizao das Naes Unidas)

    PALOP (Pases Africanos de Lngua Oficial Portuguesa)

    PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento)

    PDM (Plano Director Municipal)

    POCAL (Plano Oficial de Contabilidade para Autarquias Locais)

    PPP (Parceria Pblico - Privada)

    PRACE (Programa Reestruturao Administrao Central do Estado)

    QREN (Quadro de Referncia Estratgico Nacional)

    RP (Relaes Pblicas)

    SIADAP (Sistema de Avaliao de Desempenho da Administrao Pblica)

    SIG (Sistema de Informao Geogrfica)

    TIC (Tecnologias da Informao e da Comunicao)

    TQM (Total Quality Management)

    OCDE (Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico)

    ONG (Organizao No Governamental)

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    13

    Captulo I Introduo

    1) Apresentao e Estrutura do Projecto

    1.1. Relevncia e actualidade

    Os vrios programas de governo destes ltimos anos perspectivam medidas significativas no

    cenrio da Administrao Pblica (A.P.), nomeadamente, processos de descentralizao de funes e

    competncias para organizaes do poder regional e local e intervenes ao nvel da simplificao

    administrativa e implementao de TIC (programas como o e-Government, por exemplo), medidas

    estas j implementadas em determinados sectores da funo pblica como o caso do Servio de

    Finanas e da Segurana Social. O propsito passa por fomentar a interaco e relao dos cidados

    e empresas com o Estado, agilizando o funcionamento dos rgos da A.P. Central e Local, deixando

    transparecer uma imagem de uma A.P. moderna, mais transparente e preocupada em compreender os

    cidados.

    Transpondo este cenrio para o Poder Local, as autarquias debatem-se com vrios problemas

    e desafios que no so alheios ao que acontece na A.P. Central: a modernizao administrativa

    mediante criao de procedimentos, instrumentos e ferramentas de gesto, definio de estratgias,

    objectivos, planeamento de aces, organizao de servios e prestao de contas; a transferncia de

    competncias em reas como, por exemplo, Educao, Aco Social, Planeamento e Ordenamento

    Territorial, e respectiva gesto dos diversos recursos inerentes a estas e outras reas; a questo do

    desenvolvimento econmico local, onde as autarquias, enquanto agentes activos, tm como algumas

    das tarefas a efectuar, o desenvolvimento de planos estratgicos locais e a gesto de verbas; uma

    actuao semelhante do sector privado, nomeadamente, na divulgao de informao, na

    responsabilizao das funes, bem como a prestao de servios eficientes e com qualidade.

    Este alargado campo de novas reas de competncias s Cmaras Municipais (CM) colocou

    novos problemas e desafios aos seus dirigentes locais; um deles, e que est no centro deste trabalho,

    o da comunicao: saber comunicar, como comunicar, o que comunicar e quando

    comunicar com os vrios pblicos - alvo.

    Gradualmente, a Comunicao torna-se essencial na relao entre A.P. e o cidado, neste

    caso concreto, entre as autarquias e os muncipes, dado a maior proximidade entre este aparelho

    institucional e as populaes. Um caminho que pressupe um maior envolvimento da sociedade civil

    e para o qual grande parte das autarquias portuguesas se tm vindo a preparar, mas que encerra

    algumas dificuldades no mbito da comunicao e de um modo especial no que se refere definio

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    14

    dos tipos, meios e canais de comunicao com os muncipes. A Cmara Municipal de Vagos (CM

    Vagos), semelhana de vrias Cmaras Municipais em Portugal, no possui pessoas e recursos que

    permitam uma comunicao e um relacionamento eficaz, transparente e unvoco com a comunidade

    local, da que a criao de um Gabinete de Comunicao e Relaes Pblicas (RP) tenha passado a

    ser encarado como um elemento que poder contribuir para a gesto de alguns dos problemas

    colocados anteriormente. Atravs da aplicao de ferramentas de gesto j utilizadas no sector

    privado, entre as quais, as ferramentas de marketing e de comunicao, adaptando-as s

    caractersticas do sector pblico, poder permitir a gesto da informao, tendo em vista uma atitude

    de orientao para os muncipes, com a prestao de servios de qualidade e capacidade de dar

    resposta rpida, eficaz e eficiente s solicitaes, pedidos e desejos a partir da identificao e

    compreenso das necessidades dos muncipes; afirmar as Cmaras Municipais como agentes de

    desenvolvimento dos municpios, com vista a aumentar a competitividade e atrair fontes de riqueza

    (estratgia de marketing territorial); tudo isto sem esquecer, claro, o controlo e eficincia dos

    processos e, acima de tudo, a comunicao com os diversos pblicos.

    1.2. Objecto de anlise e estrutura

    Este projecto ter como objecto de anlise a CM de Vagos e ser subordinado ao tema:

    Estratgia Organizacional de um Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da CM Vagos pois a

    situao problema identificado na autarquia em causa a inexistncia de um Gabinete deste tipo

    que, por consequncia, poder condicionar o tipo de comunicao at agora praticado por esta

    mesma autarquia.

    Como objectivo, este projecto pretender pensar e gizar uma estratgia de comunicao -

    planeada e adequada capaz de contribuir para o dinamismo e eficcia da CM Vagos atravs da

    definio de uma estratgia organizacional de um Gabinete de Comunicao e R.P. no sector

    pblico, podendo tirar partido da aplicao de certas tcnicas e meios de marketing e comunicao j

    utilizados no sector privado.

    A proposta de projecto que ser ostentada, basear-se-, primeiramente, numa anlise

    estratgica da CM para tal prev-se uso de ferramentas de gesto como anlise externa, interna e

    SWOT, definio de uma possvel viso e misso, de objectivos e de segmentao de pblicos alvo,

    posicionamento, e, por fim, a proposta de plano de comunicao, sustentado pelas competncias e

    funes do gabinete em questo.

    Quanto sua estrutura, o presente estudo encontra-se dividido em seis Captulos. Depois de

    um captulo introdutrio de enquadramento terico do projecto - Captulo I seguir-se-o os

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    15

    captulos II e III, correspondentes reviso da literatura e respectiva definio de conceitos

    pertinentes para a explanao e desenvolvimento do projecto em questo, nomeadamente, um

    conjunto de conceitos decorrentes da evoluo gesto pblica e autrquica; descritivo a incidir na

    evoluo da comunicao no sector pblico; do marketing (definies e evoluo), marketing

    aplicado ao sector pblico e comunicao integrada de marketing.

    No Captulo IV, sero referenciadas algumas das implicaes a da evoluo do papel da

    comunicao no Poder Local, a importncia do Marketing Territorial/ Local, uma anlise

    organizacional aos servios da C.M. de Vagos e a identificao e descrio de um modelo boas

    prticas enquanto Gabinete de Comunicao numa autarquia: o da C.M. de bidos.

    O ensaio propriamente dito ser desenvolvido no Captulo V, onde sero feitas sugestes

    para o planeamento estratgico e organizacional de um Gabinete de Comunicao e R.P. na C.M. de

    Vagos.

    Por fim, surgiro algumas Consideraes Finais sobre o projecto, no Captulo VI: referncia

    s principais concluses e limitaes elaborao deste trabalho, principais recomendaes e

    implicaes do trabalho, eventuais opes a ter em considerao, como por exemplo, funes,

    possveis projectos e tendncias comunicacionais a desenvolver pelo Gabinete em questo, e no

    futuro.

    Captulo II Da Administrao Pblica Governao

    1) Introduo

    O presente captulo prope-se apresentar uma perspectiva sobre a evoluo das diversas

    formas de entender a Administrao Pblica (A.P.), que em parte se explica por um debate entre

    predominncias (Cincia Poltica, Direito e Governao) e como elas se traduzem na sucesso de

    reformas que acabam por influenciar os rgos e estruturas da A.P. central, regional e local.

    Pretende-se tambm, neste captulo, ter em conta o tipo de comunicao que acompanhou,

    evoluiu e se desenvolveu em simultneo com a sucesso de modelos de A.P., tentando dar conta da

    coerncia e consistncia entre esses modelos e tipos de comunicao, assim como o maior ou menor

    sucesso na soluo de problemas que visavam resolver.

    Por ltimo, ser descrita, de forma breve, a relao de comunicao existente entre o

    Governo Central e Local, com nfase para suas vantagens, mas tambm limitaes e eventuais

    melhorias a considerar.

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    16

    2) A Evoluo da Gesto Pblica e a Comunicao

    O uso do conceito Gesto Pblica (G.P.) implica a sua relao com o conceito de A.P.,

    sendo que o primeiro surge como um campo da A.P. onde se analisam as polticas pblicas, isto , o

    modo como o exerccio do poder por parte do Estado mediante legislao, regulao, reduo ou

    aumento do valor dos impostos, - afecta a sociedade (Bilhim, 2004: 23). A A.P. tem como funes

    primordiais a preparao das polticas pblicas, o acompanhamento e avaliao da execuo de

    polticas pblicas, a prestao de servios, o fomento de polticas pblicas e a regulao. (Neves,

    2009:40). O papel e influncia do Estado verificam-se atravs dos seus rgos representativos, do

    desempenho dos servios e agentes do Estado e mediante aplicao de leis e meios tcnicos em reas

    que contribuem para o desenvolvimento do pas, sua soberania e coeso interna. Esta administrao

    pode ser directa atravs dos rgos do Estado (Ministrios, Agncias, Institutos, Direces - Gerais,

    etc.) ou indirecta atravs de organizaes regionais e, claro, as autarquias. O Estado descrito como

    um conjunto de sistemas de funcionamento que estrutura as relaes entre a sociedade civil e a

    autoridade poltica e, particularmente, no seio do prprio sistema poltico. (Mozzicafreddo, 1997:

    3).

    O conceito de G.P. pode ser descrito como uma abordagem que utiliza tcnicas de gesto

    (na maioria das vezes oriundas do sector privado) para incrementar o valor produzido pelos vrios

    servios pblicos.

    Estes so os conceitos que continuam a ser associados temtica da reforma da A.P., embora

    esteja a emergir, presentemente, um terceiro: o conceito de governao ou gesto do valor pblico,

    termo complexo e alvo, ainda, de acesa e actual discusso. Este conceito remete para uma nova

    forma de governar a sociedade, isto , o modo como os governos, a A.P. e as restantes organizaes

    sociais interagem, como se relacionam com os cidados, e como se processam as decises tomadas

    num ambiente cada vez mais complexo, embora sempre numa perspectiva de valor acrescentado para

    a sociedade em geral, valorizando-se, segundo Bovaird e Lffler, o processo e os meios usados em

    detrimento dos fins e resultados (Moreira e Alves, 2010: 21). face a este novo paradigma que o

    papel da comunicao seja interna e/ ou externa, organizacional, institucional se torna

    proeminente no estabelecimento de relaes entre os rgos da A.P. e a sociedade. A reforma da A.P.

    incontornvel: novos desafios surgem na esfera poltica (U.E e Estado portugus), a evoluo

    econmico - social revela novos problemas e necessidades por parte da sociedade; as Tecnologias da

    Comunicao e Informao evoluem e contribuem para o domnio de uma sociedade da informao

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    17

    e do conhecimento, introduzindo no trabalho em rede, alteraes nas estruturas orgnicas, partilha

    de conhecimento e difuso de dados.

    Para melhor se entenderem as dificuldades da reforma da A.P., urge analisar o movimento

    que vai da A.P. Tradicional Governao, as medidas introduzidas ao longo dos tempos e quais as

    implicaes e limitaes que sortiram da alterao nas relaes de poder, quer no seio da prpria

    sociedade, quer entre esta e o sistema poltico e o mercado. Surge, aqui, como pertinente identificar o

    tipo de comunicao utilizada em cada uma das fases, enquadrando-o no contexto poltico - legal,

    scio econmico e cultural.

    Existem trs grandes momentos de necessidade de resposta, mudana e reforma por parte da

    A.P., os quais diferem quanto ao papel e poder do Estado, papel do burocrata e tipos de relao e

    comunicao entre A.P. e a sociedade, ao longo dos sculos XIX, XX e XXI.

    O ano de 1887 - altura em que Woodrow Wilson publicou o seu artigo The Study of

    Administration surge como o ano do aparecimento da A.P. moderna e enquanto disciplina. Neste

    artigo, Wilson defende a existncia de uma dicotomia entre poltica e administrao sendo que os

    polticos deveriam definir as polticas e aos administradores pblicos competiria a respectiva

    implementao, com base nos princpios de economia e eficincia. Tal dicotomia levantou a

    discusso sobre A.P. enquanto cincia e separada da Cincia Poltica, embora vozes actuais defendam

    que os valores e princpios bsicos desta ltima sejam vitais para o desempenho correcto dos gestores

    pblicos (Moreira e Alves, 2010: 7).

    Numa primeira etapa, a A.P. Tradicional surge como resposta a um at ento Estado que se

    confundia com o prprio representante deste rgo; a A.P. burocrtica implementada para separar

    o Estado e sua propriedade, dos bens e poderes individuais do chefe de Estado. Houve, assim, a

    necessidade de profissionalizar os rgos e agentes da A.P.. Durante um considervel perodo de

    tempo, os procedimentos da A.P. eram justificados por um Estado de Direito, onde papel do

    administrador pblico se deveria limitar a aplicar as decises polticas expressas em grande medida na

    forma de leis. () e () a um entendimento da administrao pblica como brao activo do

    Poder Executivo, cuja funo principal consistiria na aplicao de leis votadas no Parlamento.

    (Moreira e Alves, 2010: 7).

    Neste contexto, Max Weber desenvolveu a teoria da burocracia baseada numa racionalidade

    do tipo legal, ou seja, o uso da norma como o principal meio para alcanar os objectivos da

    organizao (Moreira e Alves, 2010: 8), reforando a crescente autonomia do estatuto dos

    funcionrios pblicos, os quais desempenhavam as suas funes baseadas em desempenhos

    administrativos fixos e com legitimao jurdico legal, isto , assegurar o cumprimento da lei

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    18

    mediante a aplicao de regras e procedimentos de forma automtica. Weber promoveu, tambm, a

    existncia de uma estrutura organizacional hierrquica rgida (organizao estruturada de forma

    piramidal, do tipo top - down) que favorecia a ausncia de tomada decises e de responsabilidade

    directa por estas, assim como a limitao ao acesso informao. Um agente pblico, durante largos

    anos, regia a sua funo com base na normatividade, tornando-se impessoal no relacionamento com

    o pblico e evitando, deste modo, a parcialidade da tomada de decises (Lhrisson, in Moreira e

    Alves, 2009:15). Durante dcadas o pensamento e filosofia de Weber influenciou os Estados e

    rgos polticos ocidentais, onde um poder era soberano detinha o monoplio do fornecimento de

    certos servios pblicos a saber, energia, saneamento, educao, sade, entre outros - e onde a

    tica a lei (Moreira e Alves, 2010: 8).

    Com o aparecimento dos princpios cientficos de Taylor, rapidamente estes foram

    integrados no sector pblico, incrementando-se valores como eficincia, eficcia e produtividade

    (Moreira e Alves, 2010: 11).

    Neste cenrio, o tipo de comunicao nos rgos pblicos cingia-se divulgao

    institucional de decises que deveriam ser tornadas pblicas atravs da afixao de editais e outros

    normativos legais em lugares destinados para o efeito o que em parte ainda acontece entre ns com

    a publicao em Dirio da Repblica, Juntas de Freguesia, Cmaras Municipais cabendo, aqui, a

    publicao de despachos, de editais, de certificados de bito e casamento, entre outros. Mais tarde,

    com o aparecimento e a evoluo de alguns meios de comunicao no incio do sculo XX o

    telgrafo, o telefone, a mquina de escrever, o servio de correio, a difuso da rdio, o aparecimento

    da televiso a preto e branco, etc. a comunicao expandiu-se, atingindo um pblico mais vasto e

    exigindo, consequentemente, a adaptao necessria a esses novos meios, criando-se novos modelos

    de editais, de ofcios, de informaes internas e de despachos, assim como novos documentos que

    satisfizessem a necessidade de informar novas situaes. Contudo, a relao com o pblico

    continuava a ser presencial e a divulgao da informao era limitada s deliberaes, despachos, leis

    e normas. A nvel organizacional, a comunicao era top-down, assim como o conhecimento e a

    informao eram restritas; a participao do cidado na vida pblica era limitada, resumindo-se,

    muitas vezes, ao exerccio do direito de voto.

    Entretanto, o enfraquecimento do movimento liberal, desencadeou uma segunda etapa na

    A.P.. De Estado rbitro, passa-se, para um Estado mais interveniente nas diversas reas da

    sociedade at que, tambm este modelo (Estado Providncia), despoletou, na dcada de 70 do sculo

    XX, um conjunto de crticas ao Estado, A.P. e ao Governo - crticas dimenso e ao custo do

    Estado e at (in)eficcia do intervencionismo governamental e do sector pblico(). (Moreira e

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    19

    Alves, 2010: 11), o que desencadeou o desejo de mudana na forma como os servios pblicos eram

    prestados e a censura face actuao do governo. Este movimento foi denominado de Nova Gesto

    Pblica / New Public Management (NGP/ NPM) e foi apresentado como opo s diversas

    propostas de reduo dos gastos e do nmero de agentes da A.P.. Do ponto de vista desta

    abordagem, o sector privado considerado como modelo a seguir, da o enfoque no servio e na

    adopo de valores como eficcia e eficincia, fixao de objectivos e metas para a organizao;

    simultaneamente, alertava-se para a importncia do ressurgimento do mercado e para a necessidade

    de se privatizar determinados servios pblicos como meio de diminuio da despesa pblica. Vrios

    foram os projectos de modernizao da A.P. para reformar e inovar este sector, difundindo-se um

    discurso ps-burocrtico assente em conceitos como enfoque no cliente ou qualidade de servio.

    (Moreira e Alves 2010: 12). Estes mesmos autores destacam num documento da OCDE (1977) as

    principais caractersticas e estratgias a implementar com NGP:

    Enfoque nos resultados e importncia da relao qualidade/ preo;

    Transferncia de competncias e mais flexibilidade processual e organizacional;

    Importncia da responsabilidade e controlo;

    Orientao para o cliente e para o servio;

    Capacidade para se definirem estratgias e polticas;

    Incentivos concorrncia e aplicao de mecanismo de mercado;

    Melhoria e alterao de relaes com outros rgos da A.P..

    Em 1993, um outro documento da OCDE, retrata a NGP como:

    nfase na gesto de desempenho;

    Gesto financeira mais flexvel e autnoma;

    Gesto de pessoas e remunerao salarial de acordo com desempenhos, bem como

    celebrao de contratos personalizados;

    Maior responsabilidade para os utentes e outros clientes dos servios pblicos;

    Descentralizao do poder;

    Recurso a mecanismos de mercado (franchising, contratao externa, mercados

    internos, etc.);

    Privatizao de empresas pblicas.

    Paralelamente, o mundo evolua e mudava. O fenmeno de globalizao da economia; o

    aparecimento e desenvolvimento das TIC, potenciando redes globais de produo e comrcio, entre

    outros factores, permitiram a transio de uma sociedade industrial para uma sociedade dominada

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    20

    pela informao e conhecimento, onde a necessidade de comunicar eficaz e correctamente, aumentava

    de dia para dia e onde os diversos stakeholders comeavam ter parte activa na tomada de decises.

    No que comunicao diz respeito, a adopo de instrumentos e ferramentas vindas do

    sector privado e o incentivo a uma poltica de mercado levou ao aparecimento do Marketing -

    disciplina que procura desenvolver meios de entrada no mercado, tentando satisfazer as necessidades

    dos clientes/ consumidores, mediante a criao de um processo de troca, que, aps anlises de vrias

    variveis, seja vantajoso para ambas as partes. Para tal, a comunicao surge essencial neste processo:

    para comunicar internamente, para comunicar objectivos e procedimentos, divulgar servios/

    produtos, atingir os pblicos alvo e mobilizar financiamentos. No que concerne ao sector pblico,

    tambm este se confrontou com a necessidade de se adaptar a novas formas e meios de comunicao.

    De sistema puramente hierrquico, um novo paradigma organizacional levou adopo de

    modelos mais orgnicos e em rede; aqui, o contributo das TIC possibilitou a disponibilizao da

    informao, tornando-a mais acessvel, fomentando novas formas e meios de comunicao.

    Desenvolveram-se programas de modernizao e inovao que visavam a introduo das novas

    tecnologias como os computadores, impressoras, faxes, e mais tarde, a internet no desempenho

    das funes, necessitando-se, para tal, de se criarem aces de formao para os funcionrios

    pblicos. De facto, o computador difundia-se entre as empresas e os cidados, e o acesso internet

    crescia significativamente, comeando a dar os primeiros sinais de possvel ferramenta de trabalho.

    Tal no poderia ser avesso aos administradores pblicos nem aos dirigentes polticos. A relao entre

    os vrios pblicos dependia da eficcia da comunicao, a qual deveria ser objectiva e rpida. Ao

    sector pblico comeava-se a exigir rapidez de resposta aos problemas da sociedade abastecimento

    de gua, novos mtodos de ensino, criao de novos cursos nas escolas para corresponder procura

    de novas profisses essenciais ao mercado de trabalho, etc. -; a aldeia global crescia

    expressivamente e as relaes tornavam-se mais complexas.

    Nesta etapa, no sector privado, os modelos de gesto utilizados estavam a mostrar os

    primeiros resultados; a prpria comunicao, neste sector, era fulcral para a definio da viso e

    misso de qualquer empresa, divulgao do produto/ servio e angariao de clientes. Saber

    comunicar comeava a ditar a sobrevivncia, ou no, de uma empresa no mercado.

    Paralelamente, o sector pblico deparava-se com a necessidade de se adaptar a certos

    modelos de gesto privada realidade do sector. Concretamente ao nvel da comunicao e da

    necessidade de gesto de resultados na A.P., as TIC permitiam a simplificao dos processos

    internos, interaco dos poderes pblicos com as empresas e os cidados, facilitavam a circulao de

    informao, a comunicao das organizaes com o ambiente externo, a automatizao dos processos

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    21

    e a partilha do conhecimento. Face a tudo isto, nesta segunda abordagem, a comunicao na A.P.

    tornou-se mais complexa, exigindo estratgias e linhas orientadoras que tirassem proveito e vantagem

    do seu uso; novas formas de comunicar tambm surgiram, exigindo a adaptao necessria, ainda que,

    a alguma resistncia consiga persistir em muitos sectores da A.P. e se traduza de diversas formas:

    Falta de formao dos agentes pblicos;

    Desconhecimento do que comunicar;

    Ausncia de partilha de conhecimento e informao;

    Complexidade do sector (instituies, regras, valores, relaes, motivaes, dimenses

    formais e informais);

    Desvalorizao do cidado.

    Isto que, o clima de mudana e de medidas tidas como correctas para a reforma da A.P., as

    polticas levadas a cabo na dcada de 80 e no incio da dcada de 90 no tenham produzido, em

    parte, o efeito desejado na resoluo dos principais problemas da A.P. dando origem a novas crticas

    como, por exemplo, o nfase desmesurado nos outputs, nos objectivos e na maximizao, o que est

    em linha com a ideia de fazer mais com menos (Moreira e Alves, 2009: 22).

    Surge, entretanto, um terceiro momento, e com ele uma nova forma de pensar o sistema

    pblico, assim como a uma redescoberta da poltica com sentido cvico. Ao mesmo tempo, ocorrem

    mudanas no servio pblico, especialmente, na forma de prestao e oferta de servios que visam a

    satisfao das necessidades dos cidados. Outras tantas transformaes verificam-se, tambm, ao

    nvel da gesto interna, gesto de processos, gesto de recursos humanos e integrao das TIC

    (Moreira e Alves, 2010: 24).

    Esta tendncia do servio pblico denomina-se de Governao ou Gesto de Valor Pblico e

    incide numa gesto pblica no apenas virada para os cidados, mas centrada neles, valorizando a

    qualidade de vida, as capacidades e competncias dos cidados bem como a sua autonomia e

    liberdade de escolha; uma gesto pblica centrada nos indivduos em detrimento do enfoque no

    Estado, coloca a imagem do agente pblico como civil servant em oposio do funcionrio do

    Estado. Esta fase acompanhada por uma dinmica exigida e que implica (Moreira e Alves, 210:

    25):

    Aceitar as consequncias positivas da inovao;

    Utilizar as TIC para facilitar a evoluo, no para reestruturar a Administrao

    Pblica em torno das TIC, rentabilizando o seu uso (por exemplo, o e-

    Government);

    Incentivar partilha;

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    22

    Dispor de uma liderana que favorea a aceitao dos novos conceitos e quadros de

    trabalho;

    Proporcionar uma mudana organizacional mais do que tecnologias, estruturas ou

    processos, uma mudana de valores;

    Considerar e medir o impacto social e o valor pblico da actuao dos servios.

    A governao pblica, ao reconhecer os limites das duas lgicas anteriores, enaltece a

    importncia da interaco das diversas organizaes, valoriza a participao activa da sociedade civil

    na vida pblica, a partilha de valores e o redescobrir da antiga tica do servio pblico que visa servir

    o cidado.

    Os governos vem-se perante a necessidade de descentralizar o poder e reestruturar uma

    A.P. orientada para os cidados, os quais comeam a ser encarados, tambm, como pessoas que

    escolhem servios, reclamam e sugerem e, cada vez mais, querem ser parte activa na produo e

    gesto dos servios, exigindo informao e influenciando os resultados.

    O paradigma actual apela ao equilbrio entre eficincia e equidade na oferta de servios

    pblicos. Procura-se consciencializar a comunidade para as consequncias futuras das suas escolhas.

    A sustentabilidade do sistema no pode ser equacionada e colocada em risco, da o equilbrio possa

    passar pela conjugao de caractersticas da NGP com elementos da Gesto do Valor Pblico e que

    permitam encontrar harmonia entre Estado/Governo, Mercado e Sociedade Civil. Assim, eventuais

    melhorias na A.P. e no modelo de governao podem advir de (Moreira e Alves, 2010: 32):

    Repensar a forma de organizao e prestao do servio pblico;

    Definio da misso;

    Correcta percepo sobre o interesse pblico;

    Promoo de antigos valores associados ao agente pblico: tica, integridade e humildade;

    Cooperao entre parceiros com vista a servir a sociedade civil, respectivo bem-estar,

    qualidade de vida e sensibilizao para as capacidades individuais de cada cidado, isto ,

    promover o desenvolvimento humano;

    Conscincia face diferena entre o conceito de cidado (descrito como pessoa com direitos

    e deveres num contexto de um Estado Constitucional, respeitando leis, normas e hierarquias)

    e o conceito de cliente de servios pblicos (procura satisfazer suas necessidades e desejos

    atravs da compra de produtos e/ou servios Mercado);

    Invocar princpios e valores da cincia poltica - tica, participao, democracia, equidade,

    respeito pela norma em consonncia com variveis de gesto: eficcia, eficincia e

    produtividade.

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    23

    Da que se possa dizer que ao conceito de valor pblico se possa associar, no apenas uma

    tentativa de compreenso, anlise e definio dos meios para atingir os objectivos, mas tambm a

    forma como tal conseguido. Para tal, este novo paradigma conduz a uma maior interactividade

    social, limitando o poder dos polticos, impondo transparncia no processo de obteno dos

    resultados, responsabilizao pelos mesmos, accountability nos processos de avaliao das medidas e

    de programas polticos.

    Para tudo isto, encontrar canais de comunicao, defini-los, adequar-lhes os meios de

    divulgao, mold-los aos vrios pbicos segundo a mensagem a difundir - torna-se vital para

    qualquer organizao, inclusive, para o sector pblico.

    Potenciar as TIC, pode ser uma mais-valia para a A.P., como se pode constatar atravs de

    exemplos como a implementao da plataforma e-Government. Trazer valor pblico possvel,

    tambm, atravs da diversificao de formas e meios de comunicao e apelando participao cvica

    desde uma sociedade, at mais pequena comunidade local de um pas.

    Poder-se- dizer que a interaco e cooperao entre A.P. e os cidados ser tanto mais

    possvel quanto a existncia de mecanismos de comunicao que faam chegar a informao certa e

    correcta aos vrios grupos interessados, e destes aos diversos rgos pblicos, seja mediante

    sugestes, reclamaes, apresentao de propostas, participao cvica na comunidade, entre outros

    exemplos.

    Numa A.P., moderadora dos diversos interesses das organizaes, grupos e cidados

    participantes, poder ser vantajoso a criao de gabinetes de comunicao, que recepcionem

    informao e a faam chegar ao destino, preocupando-se em dar sempre feedback do ponto situao

    do procedimento ao requerente, envolvendo-o neste processo. Vejamos:

    Tabela 1 - Dimenses da abertura da administrao ao cidado

    Administrao Abertura Cidado

    Fornecer de imediato informaes e

    servios

    Acessibilidade Obter servios e realizar transaces

    Expor os seus actos e os indivduos

    que os praticam

    Transparncia Solicitar e receber informao

    pertinente e compreensvel

    Acolher ideias, expectativas e

    necessidades novas

    Receptividade Participar na tomada de deciso

    Fonte: Fonseca e Carapeto (2009), pp. 262

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    24

    Analisando a Tabela 1, pode-se concluir que a A.P. tende a seguir um modelo flexvel,

    inovador, comunicativo, de resoluo rpida dos problemas, com base numa lgica centrada no

    cidado (modelos participativos).

    Como exemplos da aplicao vantajosa das TIC, colocada ao servio da comunicao, temos

    os programas apresentados no Website do Gabinete da Secretria de Estado da Modernizao

    Administrativa (GSEMA)1: Portal do Cidado, Registo Online, Carto do Cidado, Empresa na

    Hora, Casa Pronta, entre outros. Aqui, acedendo a cada um dos portais, qualquer cidado pode

    usufruir de um atendimento online em certos casos, em tempo real -, pode proceder a vrios tipos

    de operaes de acordo com o seu problema ou simplesmente, consultar e obter informao e

    sugerir melhorias ou expor situaes.

    Tal possvel mediante a cooperao entre Gabinetes como o de Informtica e de

    Comunicao e R. P., mediante anlise e planificao conjunta de iniciativas a implementar,

    estratgias de mix de comunicao a definir de acordo com os eventos, projectos, iniciativas, servindo

    os objectivos da organizao.

    Existem certas iniciativas levadas a cabo por alguns municpios portugueses que seguem esta

    tendncia mas que sero descritos no subcaptulo seguinte.

    Este paradigma emergente de gesto e comunicao vem na sequncia, por um lado, da

    exigncia por parte dos cidados de que seja tida em conta a sua opinio junto dos administradores

    pblicos e, por outro lado, na oportunidade detectada por parte dos servios pblicos, em poder

    saber o que o cidado espera dos servios, quer ao nvel da qualidade, quer ao nvel do tipo e grau

    dos servios a prestar. Directamente ligado a um novo conceito de governao, a Gesto do Valor

    Pblico tenta promover o bom e fluente relacionamento e comunicao profissional, laboral e

    interpessoal entre os gestores e os polticos de forma a prestar o devido servio pblico, com

    resultados valorizados, fornecendo benefcios directamente aos cidados e grupos, bem como

    melhorando o prprio servio pblico enquanto activo.

    Dos gestores pblicos espera-se que favoream o dilogo e o envolvimento dos vrios targets

    atravs de relaes interpessoais e inter-organizacionais para que as opinies e sugestes sejam

    ouvidas e tidas em considerao numa posterior reflexo e tomada deciso.

    1 Para saber mais, consultar http://www.gsema.gov.pt/.

    http://www.gsema.gov.pt/

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    25

    Urge criar redes complexas de actores, com ideias e opinies diversas, potenciando

    alternativas no fornecimento de bens e servios com valor pblico rede composta por empresas

    privadas, grupos de presso, partidos polticos, organizaes pblicas e instituies sociais.

    Em suma, clama-se por um novo perfil de servidores pblicos que possa contribuir para

    situaes de win win a desenvolver pelos vrios stakeholders e a favor de todas as partes

    interessadas; da a valorizao da capacidade de liderana que, cada vez mais, leva consonncia entre

    os clssicos valores organizacionais de imparcialidade, legalidade e integridade, com os princpios de

    transparncia, performance, accountability, suportada pelas novas TIC, trabalhando para um modelo

    de governo que, em vez de sobrevalorizar a formalidade dos procedimentos e normas, promova a

    tomada de deciso, a partilha de informao, a comunicao com os cidados, bem como reforce

    mecanismos de consulta e participao. Assim, a sucesso de etapas descritas anteriormente pode ser

    representada, sucintamente, na seguinte tabela:

    Tabela 2 - Administrao Pblica Tradicional, Nova Gesto Pblica e Governao

    ADMINISTRAO

    PBLICA

    TRADICIONAL

    NOVA GESTO

    PBLICA

    GOVERNAO

    GESTO DO VALOR

    PBLICO

    Chave pblica A legislao O servio O cidado

    Objectivo

    Gestores

    Conformidade legal

    assegurada por

    cumprimento de regras

    e procedimentos

    Definio de meios

    competitivos para

    cumprir objectivos que

    implicaro avaliao

    Qualidade de vida, autonomia

    dos cidados, diversidade

    organizacional e escolha entre

    alternativas

    Perspectiva Estado Sector pblico Sociedade civil

    Mecanismo de

    Controlo

    Hierrquico Mercado Parcerias e redes cvicas

    Lgica Jurdico legal Econmica (com base

    em incentivos e

    resultados)

    Cvica (reconhece os limites

    das 2 lgicas anteriores,

    incentivando vrias formas de

    participao activa)

    Ethos (tica)

    Pblico

    Monoplio do sector pblico O monoplio pode levar

    ineficincia? nfase no

    servio ao cliente/

    consumidor

    Valores partilhados e

    alinhamento entre pluralismo

    e copetio

    Fonte: Moreira (2010), adaptado de Bovaird e Lffler (2003) e Stoker (2008)

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    26

    Concluindo, com esta breve descrio e anlise dos trs grandes momentos da evoluo da

    A.P. pretende-se alertar para as causas e consequncias das medidas, modelos de gesto e governao

    aplicados em cada um deles, referindo valores e limites que podem ser considerados como algo

    positivo e construtivo. Reala-se, tambm, que cada um destes momentos no existiu isoladamente e,

    com efeito, a modernizao da A.P. poder beneficiar da conjugao das vantagens de cada uma

    destas etapas e da coexistncia, aperfeioamento e desenvolvimento de determinadas medidas,

    modelos, ferramentas, projectos e programas em cada uma delas. Tudo isto, teve reflexo na forma de

    comunicar em cada uma das fases. Se num primeiro momento a quase obrigatoriedade da

    conformidade legal dos procedimentos levou a um tipo de comunicao legal, de mera informao

    e publicao de normas e legislao, despachos, de cariz meramente institucional, num segundo e

    terceiro momento, as mudanas verificadas transformaram a forma de comunicar.

    Na segunda fase, e fruto da implementao e adaptao de ferramentas e instrumentos de

    gesto e planeamento aplicados no sector privado, um novo paradigma organizacional teve de ser

    pensado, criando um tipo de organizao mais flexvel, adequando o mtodo e metodologia de

    trabalho aos objectivos e avaliao de resultados; para tal, novos meios, canais e formas de

    comunicao tiveram de evoluir ou de serem criados para corresponder a novos procedimentos de

    trabalho, cada vez mais virados para apresentao e comunicao de objectivos, medidas e resultados.

    Mas, perante mudanas na envolvente social, um novo momento comeou e continua a

    delinear-se, momento este caracterizado pelo desejo se no mesmo j uma necessidade mtuo

    por parte do cidado e da A.P., em que aquele participe e coopere mais na vida pblica. Uma A.P.

    adequada nova realidade determinante para a competitividade de um pas, na implementao da

    inovao, mas, acima de tudo, necessrio instituir uma A.P. sobretudo relacional. Deve existir,

    assim, um compromisso maior entre o Estado e os seus stakeholders (engagement) no colmatar de

    necessidades, na resoluo de problemas, no fundo, na construo de redes de actores sociais

    dinmicas e interventivas.

    Captulo III Marketing e Marketing de Sector Pblico

    1) Introduo

    O interesse deste captulo surge na sequncia das reformas verificadas e que ainda se

    verificam, no sector pblico, mais concretamente, a introduo de ferramentas e tcnicas do sector

    privado como uma das possveis respostas a princpios de eficcia e eficincia, na gesto de servios e

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    27

    de qualidade, na divulgao de informao pertinente e conducente melhoria dos servios e da

    relao com profissionais e cidados.

    Entre outras tantas tcnicas e ferramentas, destaca-se neste projecto, a crescente relevncia do

    Marketing no sector pblico, sector este que se confronta com a necessidade de gerir, atravs de um

    sistema de comunicao eficiente, expectativas, desejos e necessidades dos cidados, por um lado e,

    por outro lado, a liberdade de escolha e de opinio evidenciadas por estes.

    Sendo assim, ser pertinente complementar as definies de Marketing e de Marketing de

    Sector Pblico, com uma breve perspectiva da evoluo do conceito de Marketing ao longo dos

    anos, seguindo-se uma abordagem sobre a noo de Comunicao Integrada de Marketing (CIM) e

    sua importncia, reportando-a, por fim, para o contexto do sector pblico, definindo-se as

    caractersticas prprias do marketing no sector pblico e possveis reas de aplicao.

    2) Conceito: definies e evoluo

    2.1. Definies

    No existe uma s definio de Marketing, sendo que sero considerados neste subcaptulo,

    alguns autores e livros que se insurgem sobre esta disciplina.

    Segundo Kotler (2004: 3) o marketing definido como um processo administrativo e

    social pelo qual os indivduos e grupos obtm o que necessitam e desejam, por meio da criao,

    oferta e troca de produtos e valor com os outros.; este refere, ainda, que o marketing, hoje em dia,

    visa satisfazer as necessidades dos clientes., numa perspectiva de , por um lado, manter actuais

    clientes, e por outro lado, de fidelizar consumidores em troca de valor superior dos produtos e/ou

    servios2. Ainda segundo este autor, e para melhor compreenso desta definio, urge entender certos

    conceitos como as necessidades, desejos e procura; produtos e servios; valor satisfao e qualidade;

    troca, transaces e relacionamentos e, por fim, mercados (ver Tabela 2, em Anexos).

    Trata-se, voltando definio de marketing, de uma administrao e gesto de mercados que

    visem favorecer trocas e redes relacionais que ofeream valor e satisfaam as necessidades, os desejos

    e as expectativas dos cidados, atravs do processo de comunicao (Kotler, 2004:3).

    Generalizando, Kotler apresenta duas perspectivas de marketing: uma social, com os

    indivduos e os grupos a exercerem a troca de produtos e servios com os outros indivduos e grupos

    de um modo livre e visando a satisfao das necessidades; uma outra perspectiva est ligada gesto,

    2 Ver Ilustrao 7, em Anexos Um estrutura de marketing simples

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    28

    atravs da definio de estratgias, de objectivos e de ferramentas de comercializao adequadas ao(s)

    pblico(s), mediante a oferta de valor superior e diferenciador.

    A agncia American Marketing Association (AMA) caracteriza marketing como the

    activity, set of institutions, and processes for creating, communicating, delivering, and exchanging

    offerings that have value for customers, clients, partners, and society at large.. 3

    Uma outra anlise apresenta o marketing como um conjunto de meios escolhidos por uma

    dada empresa com o propsito de comunicar e vender os seus produtos aos seus clientes,

    respondendo s necessidades destes; esta posio pode implicar uma anlise constante do mercado,

    identificando oportunidades e tendncias de mercado. O marketing, no fundo, sempre foi praticado

    desde que o Homem necessitava tanto de vender como de comprar (Mercator, 1999: 24 e 516).

    Uma outra viso refere que o marketing, mais especificamente, as suas ferramentas de anlise

    e de gesto, pode permitir um conhecimento adequado de um dado produto/ servio, como este

    deve ser desenvolvido e como dever ser feita a sua introduo no mercado; no fundo, esta viso

    reala a importncia do planeamento estratgico na relao entre o produto mercado, e

    consequente alcanar dos objectivos e metas (Yanaze, 2006: 7).

    Considerando as definies de marketing atrs referidas, estas possuem em comum o que se

    pode entender como a essncia do marketing: procurar os meios mais adequados e eficientes para

    comunicar com o cliente, satisfazendo as suas necessidades atravs da troca de bens e produtos.

    Porm, as definies em causa tambm se complementam. Se Kotler enfatiza a satisfao das

    necessidades dos consumidores, j os autores de Mercator XXI enaltecem a importncia de estar

    atento s mudanas e inovaes do mercado. Yanaze, por sua vez, reala o processo de planeamento

    em marketing, sendo essencial definirem-se as estratgias de entrada do produto/ servio no mercado

    e de comunicao com os actuais e eventuais clientes.

    So cada vez mais as organizaes que adoptam uma orientao para o marketing, definindo

    estratgias que levam reestruturao da prpria organizao, o que se torna difcil para muitas

    (organizaes) devido, por um lado, aos custos que implica, e por outro lado, escassa informao

    sobre os seus actuais clientes, desconhecendo o que estes realmente desejam e precisam.

    Perante as alteraes de comportamento, quer de profissionais quer da sociedade em geral, os

    diversos rgos da A.P. Central e do Poder Local sentem necessidade de adaptar e inovar a forma de

    comunicar e de gerir os servios, de forma a melhorar a opinio pblica geral.

    3 Ver, por exemplo, definio presente em http://www.marketingpower.com, aprovada em 2007. Traduo do autor: Marketing

    uma actividade, um conjunto de processos que envolvem a criao, a comunicao e a entrega de valor para os clientes, assim como a

    gesto do relacionamento entre a organizao e os consumidores, clientes, parceiros e sociedade em geral.

    http://www.marketingpower.com/

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    29

    Considerando que o marketing tem como principal desafio orientar os produtos/ servios

    para o seu mercado, valorizando o processo de comunicao, esta disciplina poder apoiar a criao

    de relaes entre A.P. e a sociedade, melhorando a opinio pblica, bem como ser um veculo de

    transformao de mentalidade, de introduo de mudanas e inovaes no seio dos rgos pblicos.

    No caso concreto dos municpios, a proximidade fsica entre as autarquias e os muncipes

    poder implicar uma forma de gesto de servios e de informao mais acautelada e ponderada, numa

    tentativa de valorizao da oferta de servios ajustados s necessidades da populao local, da

    qualidade dos mesmos, da pessoa humana; face a isto, torna-se fundamental controlar a imagem da

    autarquia.

    Deste modo, o marketing de sector pblico poder ser percebido como o conjunto de

    actividades desempenhadas por indivduos e/ou organizaes que permitam incentivar uma troca

    que satisfaa ambas as partes; aproveitar as oportunidades de forma a atender s necessidades dos

    cidados por exemplo, atravs da oferta de programas e servios de qualidade que visem aumentar

    o interesse no cidado assim como o grau de satisfao deste ltimo.

    Para melhor entender o conceito em anlise, seguir-se- um breve descritivo da evoluo do

    conceito de marketing ao longo das ltimas dcadas.

    2.2. Evoluo

    O maior reconhecimento do impacto do marketing na sociedade est directamente

    relacionado com a evoluo dos vrios sectores da actividade econmica, com aparecimento e

    desenvolvimento das diversas reas das TIC, desencadeando, deste modo, o fenmeno da

    globalizao e do consumo.

    Todas as actividades de marketing que existem actualmente e que so conhecidas pela

    maioria dos consumidores resultam de diversas transformaes no seu conceito, definio e

    estratgias ao longo da histria embora seja de realar que marketing, enquanto conceito e

    estratgia, somente se tornou conhecido na dcada de 50 (Yanaze, 2006: 16).

    Assim, desde sempre o Homem tenta suprir as suas necessidades e desejos; assim foi ao

    longo da Histria (sociedade recolectora, relaes de troca directa, primeiros mercados e feiras, entre

    outros episdios do mercantilismo). Todavia, os principais momentos da evoluo do marketing

    podem sistematizar-se do seguinte modo (Tabela 3, em baixo).

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    30

    Tabela 3 - Evoluo Marketing

    Evoluo do

    Marketing

    Revoluo Industrial

    XIX

    No final do sc. XIX, o consumo superou imenso a oferta; como soluo surgiu a

    Revoluo Industrial do sc. XIX que, atravs da racionalizao da produo, haveria de

    produzir em massa para corresponder procura. Foi evidente a preocupao com os

    avanos tecnolgicos que levassem ao aumento e rapidez da produo - a produo em

    massa, sistema para o qual contriburam tcnicas como as desenvolvidas por Henry

    Taylor.

    Ps - Revoluo

    Industrial

    Com todo este desenvolvimento e ambiente prspero quer para patres, quer para

    empregados a figura do consumidor apareceu, dinamizando ainda mais o mercado e a

    indstria. produo, junta-se a necessidade de diferenciao da concorrncia e, claro a

    venda. Com a I Guerra Mundial, as empresas assumem como alvos os consumidores e

    clientes. Surgem novas tcnicas de venda.

    Crise de 1930

    A Grande Depresso foi um dos episdios fulcrais que conduziram mudana de

    cenrios por parte dos empresrios: excesso de oferta perante um mercado sem poder de

    compra devido recesso; desenvolvem-se estudos de adequao dos produtos

    realidade do mercado.

    Ps II Guerra

    Mundial

    (1950-)

    A partir de 1960, o sistema fordista de produo entra em colapso, para o qual

    contribuiu o aumento da concorrncia internacional, a crise petrolfera de 1970, a

    revoluo tecnolgica que modificou o mtodo de trabalho.

    Surgiu o sistema ps - fordista de produo: flexibilidade na organizao da produo e

    da prpria empresa, especializao, subcontratao, implementao de modelos logsticos

    como just-in-time (no h stocks); surgem os estudos de mercado que contribuem com

    informao importante para a definio de estratgias nas organizaes.

    Em 1960, Jerome Mcarthy concebeu os 4 Ps (product, price, place and promotion),

    produto, preo, distribuio e promoo/ comunicao, respectivamente, para compor o

    mix de marketing, isto , as 4 variveis pilares que forma estratgia de actuao de uma

    empresa no mercado.

    Na perspectiva do consumidor, este torna-se mais exigente, valorizando o conforto,

    qualidade e rapidez, assumindo-se adepto do progresso tecnolgico.

    4 Ps

    e

    Marketing nas

    empresas

    Face a um novo tipo de consumidor, a preocupao das empresas incidiu na percepo

    das motivaes, desejos e necessidades dos consumidores; a pesquisa de mercado, o

    desenvolvimento de novos produtos, o controlo de vendas, a publicidade, foram algumas

    das tcnicas a serem implementadas.

    Fonte: Anlise do autor (2010), baseado em Kotler (2004) e Yanaze (2006)

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    31

    Os autores de Mercator XXI apresentam uma outra perspectiva da evoluo do marketing

    visvel na Ilustrao 2:

    Ilustrao 1 - Evoluo do Marketing

    (18001900) (1900 1930) (1940-50) (1970-80) (1990 - )

    Artesanal Indstria Consumidor Valor Marketing Relacional

    (troca directa) (produo) (CRM)+(e-commerce Web)

    Fonte: anlise do autor, baseado Mercator XXI (1999)

    Com se pode concluir a partir da Ilustrao I, tem-se verificado, nestas ltimas dcadas, o

    primado do cliente na orientao estratgica e posicionamento da empresa, bem como na concepo

    dos prprios produtos e servios, contribuindo para uma mudana de paradigma no papel do

    marketing (ver Ilustrao 8, em Anexos).

    Compete, assim, ao marketeer (profissional de marketing) compreender e perceber as

    principais mudanas e tendncias que ocorrem, gradualmente, no mercado, procurando desenvolver

    as estratgias de marketing para, eventualmente, redefinir e at, reposicionar o meio de abordagem ao

    mercado e ao cliente.

    Ilustrao 2 - Mudana de Abordagem do Marketing

    Fonte: b- Mercator, Dionso et al (2009: 31)

    Como se pode verificar atravs da Ilustrao 2, existe uma mudana de paradigma na viso

    de marketing. Se antes marketing era encarar as vendas e promoo de produtos e servios, a procura

    constante de clientes, conjuntamente com o desejo de obteno do maior lucro possvel em cada

    venda, relegando o cliente para segundo plano, actualmente, num mundo onde as TIC dominam -

    conectando tudo e todos mediante ferramentas como as redes sociais, por exemplo - a fidelizao de

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    32

    clientes torna-se vital, inclusive para os rgos da A.P., visto serem os maiores prestadores de servios

    ao cidado que, cada vez mais, exige bom atendimento, informao e comunicao.

    As organizaes tendem a apostar no marketing como um meio de construo de

    relacionamentos a mdio/ longo prazo com os seus consumidores e clientes, definindo uma

    estratgia de marketing baseada numa comunicao integrada, isto , num mix de comunicao que

    sirva os interesses das partes envolvidas, podendo optar-se por uma comunicao de marketing tipo

    mass - marketing ou por marketing segmentado/ personalizado.

    Actualmente, o conceito de marketing supera o mero estigma de satisfao do cliente; com

    efeito, deseja-se criar uma relao permanente e directa com o cliente, procurando superar, inclusive,

    as expectativas deste, dando-lhe a conhecer o conceito de valor da marca em produtos e servios,

    tudo mediante uma abordagem de Comunicao Integrada de Marketing (CIM).

    Face a um consumidor cada vez mais determinante nas tendncias dos mercados e na criao

    dos produtos, o marketing torna-se um processo social de gesto pois, por um lado, procura oferecer

    aos consumidores o que necessitam e desejam e, por outro lado, obriga as empresas a definirem e a

    desencadearem um rol de procedimentos que as faam adaptar ao ambiente de forma criativa e

    lucrativa, pois s assim podero sobreviver no mercado. Conhecer o mercado e ver onde esto as

    oportunidades, posicionar-se e definir o seu pblico - alvo, perceber o consumidor, saber comunicar

    com ele e aumentar a sua participao, fidelizando-o, devero ser algumas das peas basilares de uma

    estratgia de marketing que, acima de tudo, dever comear no seio da prpria organizao,

    comunicando aos funcionrios a viso, misso e valores da organizao onde so colaboradores, para

    que eles prprios as possam transmitir aos clientes e prolongar-se pelos parceiros de marketing.

    Apesar das novas reas e tendncias do marketing em especial devido ao avano das TIC

    as vrias abordagens do marketing continuam temporais. A evoluo marketing de massas,

    marketing segmentado e marketing personalizado poder ser encarada como a adaptao das

    empresas a novas disposies tecnolgicas, econmicas, culturais, sociais, entre outras.

    3) Aplicao do Marketing no Sector Pblico

    3.1. Introduo

    A A.P. dever ter como prioridade a prestao de servios com qualidade, inovadores,

    eficientes e centrados no cidado. Assim, a introduo de ferramentas de marketing pode contribuir

    para a melhoria na prestao destes servios, atravs, por exemplo, da divulgao e promoo destes,

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    33

    planificao, adaptao e reformulao de servios e/ ou produtos, metodologias, a captao da

    ateno dos cidados para estes, a definio da misso, viso e objectivos, a fixao de um marketing

    mix e de um mix de comunicao, entre outros exemplos.

    O confronto com factores macro e micro ambientais, o facto de no possuir ferramentas

    que permitam s diversas organizaes do sector pblico responder a estes, e a prpria evoluo da

    A.P., com seus vrios momentos que no so mais do que tentativas de melhoria s medidas e

    polticas implementadas, tudo isto tem conduzido a que cada vez mais administradores e gestores

    pblicos se interessem pelo marketing, tentando, deste modo, encontrarem solues para certos

    problemas, com base no planeamento do mtodo de trabalho e funes.

    Com este captulo, pretende-se apresentar os principais benefcios, bem como algumas das

    dificuldades, de uma orientao de marketing no sector pblico. Pretende-se, tambm, enumerar os

    principais tipos de marketing aplicados ou a aplicar neste sector, assim como as caractersticas

    principais de cada um deles.

    Neste mbito, surgir a importncia da comunicao neste planeamento e sua projeco ao

    nvel da comunicao autrquica.

    3.2. Marketing no Sector Pblico

    visvel, no quotidiano de qualquer cidado, o recurso, por parte do Governo e dos servios

    pblicos, a ferramentas de marketing: as campanhas para poupana de energia e gua que aparecem

    na TV ou em outdoors pelas ruas, as campanhas de sensibilizao para proteco do ambiente, de

    incentivo educao, entre outros exemplos como actividades municipais de atraco de

    investimento, turistas ou moradores.

    Todavia, o conceito de marketing a aplicar s organizaes sem fins lucrativos deve ser mais

    vasto. Os conceitos de cliente e empresa, devem, no sector pblico, serem substitudos pelos

    conceitos de pblicos e organizaes, respectivamente, uma vez que so vrios os pblicos alvo

    - partidos polticos, muncipes, cidados, contribuintes, turistas, beneficirios sociais, associaes

    locais, investidores, entre tantos outros (Mercator XXI, 1999: 28). Neste contexto, em vez da

    venda de produtos, dever-se- falar de promover comportamentos, desde comportamentos

    sociais, polticos, de consumo, de lazer e de compra. Tambm substitudo o termo rendibilidade

    pela ideia de realizao de objectivos que no visem o lucro, mas sim resultados.

    Assim, em contexto de sector pblico, marketing o conjunto dos mtodos e dos meios de

    que uma organizao dispe para promover, nos pblicos pelos quais se interessa, os

    comportamentos favorveis realizao dos seus prprios objectivos. (Mercator XXI, 1999: 28).

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    34

    Esta abrangncia na aplicabilidade do marketing conduziu definio de marketings

    sectoriais, isto , especializados em reas como o Desporto, Servios, Sector Pblico e Social,

    Marketing Interno, Webmarketing.

    Tendencialmente, e face ao poder cada vez maior por parte do cidado, as agncias

    pblicas que no satisfaam as necessidades dos seus diversos pblicos ou no prestem servios com

    celeridade e eficincia, so frequentemente alvo de crticas por parte destes, dos grupos de interesse e

    dos prprios meios de comunicao social.

    A relao das organizaes do sector pblico com as empresas e os cidados est a mudar,

    fruto de (Mercator XXI, 1999: 574):

    Circulao e fluxo de capitais;

    Cidados mais exigentes e habituados ao mtodo de prestao de servios privados,

    desejando igual tratamento;

    Necessidades competitivas das empresas, dependentes do tempo de resposta das

    organizaes pblicas.

    Estes so alguns dos elementos de um vasto cenrio que implica uma mudana de atitude

    por parte do sector pblico. Mas, para facilitar e melhorar a eficcia, celeridade e qualidade dos

    servios pblicos, preciso estabelecerem-se e implementarem-se ferramentas e instrumentos que

    auxiliem os gestores pblicos a aproximarem-se e a conhecerem os seus pblicos, a definirem

    estratgias de Marketing de Servios, a criarem Planos de Comunicao, e a conceberem estratgias

    de Marketing Territorial (City Branding), por exemplo.

    A NGP permitiu os primeiros passos na aplicao de ferramentas de gesto de marketing no

    sector pblico, como a definio da misso e viso, dos objectivos e mtodos de avaliao, etc. Na

    eminncia de um novo momento na A.P. a Gesto do Valor Pblico torna-se visvel a crescente

    preocupao com cidado, em criar situaes que permitam que este seja mais interveniente na esfera

    pblica; aqui, o papel do marketing aumenta de importncia, apelando definio de procedimentos

    e ao planeamento4, realando a importncia das TIC e a criao de planos de comunicao como um

    meio de interaco com os vrios pblicos.

    Deste modo, a implementao de conceitos e ferramentas de marketing num rgo pblico

    pode contribuir para o amenizar das relaes entre este e os rgos de comunicao social, conseguir

    verbas e apoio legislativo, conhecer o servios e perceber como melhor-los. A principal funo do

    4 Por exemplo, Planos de Marketing Territorial que, entre outras reas, projectam o desenvolvimento sustentvel da

    regio e/ou a oferta turstica, tudo numa perspectiva de comunicao e planeamento integrado.

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    35

    marketing num rgo pblico poder ser a definio das necessidades dos seus diversos pblicos, o

    desenvolvimento de servios e/ ou produtos adequados a estes, a definio dos meios de distribuio

    e de comunicao mais eficientes, assim como a avaliao e controlo dos objectivos e metas

    definidos.

    Comparativamente ao sector privado, os servios pblicos so menos sensveis s

    necessidades do mercado logo, menos flexveis e autnomos. Os servios pblicos esto sujeitos a

    um nvel mais elevado de responsabilidade, regulao e controlo. () O Estado e os seus

    organismos tm por misso servir e beneficiar a comunidade como um todo, atravs de fundos

    pblicos, de onde provm os recursos financeiros. Existem, por isso, menos razes ou incentivos para

    reduzir os custos e aumentar a produtividade. (Mercator XXI, 1999: 576).

    Tambm a diversidade e quantidade dos servios prestados pela A.P. e (quase) inexistncia

    de concorrncia em servios como a justia, leva a existirem procedimentos de trabalho de cariz

    burocrtico, caracterizando-se pela demora na resposta s necessidades e problemas do seus pblicos

    e em qualidade inferior quando comparados ao sector privado. Assim, o marketing aplicado no

    sector privado no serve as necessidades do sector pblico, fazendo com que tenha de ser adaptado,

    requerendo novas metodologias e meios de actuao especficos que correspondam natureza do

    servio pblico (ver Tabela 6, em Anexos).

    Marketing mais do que simples publicidade e vendas; so vrios os benefcios de que uma

    organizao pblica pode usufruir da aquando aplicao do marketing como plataforma de

    planeamento e desenvolvimento (Kotler e Lee, 2007: 23):

    Elaborao de meios para a valorizao e satisfao do cidado;

    Planificao e desenvolvimento da Misso;

    Soluo de problemas e obteno de resultados;

    Aumento de receitas;

    Aumento utilizao dos servios;

    Aumento da procura;

    Aumento aceitao das leis;

    Melhoria da segurana e sades pblicas;

    Aumento participao cvica do cidado em reas como proteco do ambiente, preservao

    espaos e infra-estruturas;

    Diminuio dos custos para entrega de servios;

    Criao de programas de apoio ao cidado;

    Comunicao mais clara, eficiente e eficaz.

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    36

    Uma outra viso enaltece o facto da A.P. poder beneficiar com as ferramentas de marketing,

    pois o seu pblico alvo vasto, isto , so todos os cidados logo, existe a oportunidade de ouvir

    toda uma sociedade no que s suas necessidades, expectativas, meios de comunicao e informao

    diz respeito; de oferecer servios eficazes e com qualidade, revelando tambm, vontade de estar

    prximo do cidado, interagindo com ele atravs da comunicao (Mercator XXI, 1999: 577):

    A criao de uma nova lgica de gesto associada ao marketing pblico e baseada nas

    particularidades deste sector - nomeadamente, a diversidade dos pblicos alvo da A.P. conduz

    especializao por servios e no por cliente; a misso social da A.P. na gesto e oferta de bens

    pblicos; a (ainda) existncia de burocracia processual; a influncia dos programas polticos do

    partido em governao permitiria A.P. corresponder a uma nova postura do cidado: mais activo

    e interventivo na vida pblica, este tende a exigir A.P. o mesmo grau de qualidade de servio

    prestado pelo sector privado, mesmo consciente de que no existe alternativa na oferta de certos

    servios como justia, defesa, entre outros.

    De acordo com a filosofia de marketing e uma vez que a A.P. envolve a gesto e prestao de

    servios5, para alm do foco no cliente, da segmentao, da seleco dos mercados e pblicos alvo e

    da identificao da concorrncia, uma das ferramentas a considerar na gesto de aspectos crticos de

    uma organizao poder ser o marketing mix. As variveis mais conhecidas desta ferramenta so os

    4 Ps ( Product, Price, Place, Promotion); contudo, no marketing de servios, a esta

    ferramenta prope-se incluir mais 3 Ps: People, Process, Physical Evidences, denominando de

    marketing mix estendido. Assim, os equivalentes dos 7Ps do marketing - mix na lngua

    portuguesa so:

    Poltica de Produto: produto fsico ou servio oferecido ao consumidor;

    Poltica de Preo: margens de lucro e resposta aos preos praticados pela concorrncia;

    Poltica de Vendas e Distribuio: seleco dos canais de distribuio que fazem chegar o

    produto/ servio ao pblico alvo de modo a compr-lo e consumi-lo;

    Poltica de Comunicao: actividades de comunicao que promoveem o consumo do

    produto/ servios a potenciais clientes;

    Pessoas: as pessoas directamente envolvidas na produo do servio;

    Processos: procedimentos, mecanismos e actividades envolvidos na produo do servio;

    Evidncias Fsicas: o ambiente onde o servio prestado.

    5 Eiglier e Langeard desenvolveram o conceito de servuco: contrariamente ao sistema de produo de um bem

    tangvel (o produto), o sistema de produo de servios implica um interface entre os clientes e a organizao prestadora,

  • Estratgia Organizacional Gabinete de Comunicao e R.P. o caso da C.M. Vagos

    37

    Em sntese6:

    DECISES DE MARKETING MIX

    Produto Preo Vendas e

    Distribuio

    Comunicao Pessoas Processo Evidncias

    Fsicas

    - Funcionalidade

    - Aspecto

    - Qualidade

    - Marca

    - Embalagem

    - Servio

    - Preo b