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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS A BANANICULTURA NO MUNICÍPIO DE LUÍS ALVES (SC) E O DESENVOLVIMENTO LOCAL: A CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DO ASSOCIATIVISMO RURAL VERA LÚCIA ROSSI Itajaí (SC), 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE

POLÍTICAS PÚBLICAS

A BANANICULTURA NO MUNICÍPIO DE LUÍS ALVES (SC) E O

DESENVOLVIMENTO LOCAL: A CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

E DO ASSOCIATIVISMO RURAL

VERA LÚCIA ROSSI

Itajaí (SC), 2006

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VERA LÚCIA ROSSI

A BANANICULTURA NO MUNICÍPIO DE LUÍS ALVES (SC) E O

DESENVOLVIMENTO LOCAL: A CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

E DO ASSOCIATIVISMO RURAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora no Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí – INIVALI, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas. Orientadora: Profª Dra. MARIA JOSÉ REIS

Itajaí (SC), 2006

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A todos que contribuíram nesta caminhada, especialmente aos agricultores e técnicos entrevistados; A Professora e Orientadora Maria José que indicou o melhor caminho a seguir; A meu pai Orlando e minha tia Lurdes que sempre estiveram ao meu lado.

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“E a terra eu acho uma coisa formidável. Tu colocas uma semente na terra e daqui a pouco se torna uma planta e, daqui a pouco dá fruto. Como ela consegue gerar esses frutos? Um cacho de bananas, por exemplo, tem uma média de 120, 160 frutas tudo num cacho só. Aí tu cortas esse cacho e sobra o broto e daqui a um ano esse broto tem cacho de novo, aí começa tudo de novo. É um ciclo interessante” (agricultor de Arataca).

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS RESUMO

INTRODUÇÃO 14

CAPÍTULO I 20

A PROBLEMÁTICA E A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA 20

1.1 A AGRICULTURA PRODUTIVISTA 20 1.2 AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO 23 1.3 AGRICULTURA FAMILIAR, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS 27 1.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL, ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E CAPITAL SOCIAL 32 1.5 AGRICULTURA E SUSTENTABILIDADE SÓCIO-AMBIENTAL 38 1.6 AGRICULTURA FAMILIAR E POLÍTICAS PÚBLICAS EM SANTA CATARINA 41 1.7 A HISTÓRIA DA BANANICULTURA BRASILEIRA 45 1.8 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR CATARINENSE E A BANANICULTURA 47

CAPÍTULO II 52

O CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE LUÍS ALVES 52

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS 52 2.2 ASPECTOS DEMOGRÁFICOS 54 2.3 INDICADORES SOCIAIS 56 2.4 ASPECTOS ECONÔMICOS 62 2.5 PRODUÇÃO AGRÍCOLA 64 2.6 POLÍTICAS PÚBLICAS AGRÍCOLAS 68 2.7 BANANICULTURA EM LUÍS ALVES 76 2.8 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL 83

CAPITULO III 94

O PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS 94

3.1 PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS AGRICULTORES 94 3.2 DIMENSÕES E FORMAS DE ACESSO E USO DA TERRA 97 3.3 PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO 99 3.4 COMPOSIÇÃO DA RENDA FAMILIAR 101 3.5 PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL 102 3.6 CONDIÇÕES AMBIENTAIS E DE SANEAMENTO 104

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CAPITULO IV 108

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS AGRICULTORES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA BANANICULTURA NO MUNICÍPIO 108

4.1 SOBRE O INÍCIO DA BANANICULTURA 108 4.2 A UTILIZAÇÃO E A OPINIÃO DOS AGRICULTORES SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS 109 4.2.1 O CRÉDITO RURAL 109 4.2.2 A PESQUISA E A EXTENSÃO NA PERSPECTIVA DOS AGRICULTORES 111 4.3 LIMITES E POSSIBILIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SOB A ÓTICA DOS

AGRICULTORES 115 4.3.1 O DESENVOLVIMENTO LOCAL E A BANANICULTURA 115 4.3.2 FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O DESENVOLVIMENTO DA BANANICULTURA 117 4.3.3 CONDIÇÕES DE VIDA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO 119

4.3.3.1 Aspectos positivos 119

4.3.3.2 Aspectos negativos 123

4.3.3.3 Expectativas sobre o futuro: políticas públicas, sociedade civil e continuidade geracional 125

CAPITULO V 132

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS TÉCNICOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA BANANICULTURA NO MUNICÍPIO 132

CONSIDERAÇÕES FINAIS 141

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 145

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa de Santa Catarina e Luís Alves 53 Figura 2 Atrações turísticas de Luís Alves 61 Figura 3 Vista aérea de plantações de banana de Luís Alves 67 Figura 4 Exposição de cachos de banana 75 Figura 5 Festa de confraternização dos bananicultores 76 Figura 6 Vista aérea das plantações de banana de Luís Alves 78 Figura 7 Casas de embalagem da banana 79 Figura 8 Lavoura de banana 81 Figura 9 Sede da ABLA e pista de aviação 86

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Evolução da população de 1970 a 2004 – Luís Alves 55 Gráfico 2 Material utilizado para a construção das residências 56 Gráfico 3 Destino de resíduos humanos (%) 57 Gráfico 4 Destino do lixo (%) 58 Gráfico 5 Arrecadação de ICMS – 1995 A 2003 62 Gráfico 6 Evolução do quadro social CRESOL/2001 – 2005 88 Gráfico 7 Volume de empréstimos CRESOL/2001 – 2005 89

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Agricultura familiar atendida pela assistência técnica rural no Brasil 31 Tabela 2 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – SC – 1999 43 Tabela 3 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – SC – 2004 44 Tabela 4 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – Brasil/1999 44 Tabela 5 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – Brasil/2004 44 Tabela 6 Banana – evolução no mundo – 1996-2003 45 Tabela 7 Consumo per capita da fruta no Brasil – 1996 a 2001 46 Tabela 8 Banana/área/produção/rendimento médio dos Estados/2005 47 Tabela 9 Número de produtores de banana em área cultivada – SC/1995-1996 49 Tabela 10 Informações básicas sobre o município 54 Tabela 11 Taxa de crescimento do município/2000 – 2005 55 Tabela 12 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal/1991 – 2000 59 Tabela 13 Analfabetismo funcional por faixa etária – 1991 e 2000 59 Tabela 14 Resultados finais do Censo Escolar 2004 59 Tabela 15 PIB dos municípios da AMFRI 62 Tabela 16 Movimentação no emprego em Luís Alves – jan./2003 a jul./2005 63 Tabela 17 Ocupações 63 Tabela 18 Ocupação da área rural – Luís Alves 64 Tabela 19 Estrutura fundiária – Luís Alves 64 Tabela 20 População ativa – Luís Alves 64 Tabela 21 Condição do produtor – Luís Alves 65 Tabela 22 Produção animal – Luís Alves 67 Tabela 23 Produção vegetal – Luís Alves 67 Tabela 24 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas/Luís Alves/1999 72 Tabela 25 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas/Luís Alves/2003 72 Tabela 26 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas/Luís Alves/2004 73 Tabela 27 Banana/área/produção/rendimento médio/SC – 2002/2003 77 Tabela 28 Evolução da área plantada, produção e preço 80 Tabela 29 Evolução da aplicação de insumos na cultura da banana/Luís Alves 82 Tabela 30 Área plantada/quantidade de pés/produção 99 Tabela 31 Entidades/organizações das quais os agricultores participam 103 Tabela 32 Quantidade de insumos utilizados pelos agricultores ao ano 106 Tabela 33 Serviços públicos mais utilizados pelos agricultores 113

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LISTA DE ABREVIATURAS ABCAR - Associação Brasileira de Credito e Assistência Rural ABLA - Associação dos Bananicultores de Luís Alves ACAR - Associação de Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais ACARPESC - Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa Catarina AGRECO - Associação dos Agricultores Ecológicos da Serra Geral AMFRI - Associação dos Municípios da Foz do Vale do Itajaí APACO - Associação dos Pequenos Produtores do Oeste Catarinense APL - Arranjo Produtivo Local APPs - Associações de Pais e Professores ASBRAER - Associação Brasileira de Assistência e Extensão Rural ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural BADESC – Banco do Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina BANALVES - Empresa de Aviação Agrícola de Luís Alves BDE - Banco do Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul CEPAGRO - Centro de Estudos e Promoção da Agricultura em Grupo CIMMYT - Centro Internacional de Pesquisa de Melhoramento de Milho e Trigo CRESOL - Sistema Integrado de Crédito Rural com Interação Solidária DNPEA - Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuária EMATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural EMPASC - Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária EPAGRI - Empresa de Pesquisa e de Extensão Rural de Santa Catarina ETA - Escritório Técnico de Agricultura FEBANANA - Federação das Associações e Cooperativas de Produtores de Banana do Estado de Santa Catarina FUMDERURAL - Fundo Municipal de Desenvolvimento Rural FENACA - Festa Nacional da Cachaça FEPRO - Fundo de Estímulo à Produtividade FUNDESC - Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina IASC - Instituto de Apicultura de Santa Catarina IPEAS - Institutos Regionais de Pesquisa e Extensão IRRI - Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz PAB-A - Piso de Atenção Básica Ampliada PIB - Produção Integrada de Banana PIF - Produção Integrada de Frutas PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PSF - Programa Saúde da Família SERAL - Sociedade Esportiva e Recreativa Amigos de Luís Alves SIBRATER - Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural SITRULA - Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Luís Alves SPC - Serviço de Proteção ao Crédito VBP - Valor Bruto da Produção

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RESUMO

Com a aceleração do processo de industrialização, na década de 1960, intensifica-se, também, um novo projeto para a agricultura brasileira. Pretendia-se, sobretudo, alterar radicalmente a estrutura da produção agrícola, seguindo o modelo de rentabilidade e produtividade dos países já desenvolvidos Privilegiando algumas culturas e regiões e as grandes e médias propriedades, essa modernização foi induzida através de pesados custos sociais e com o amparo do Estado. Tanto a política de crédito, como os serviços de extensão rural e os de pesquisa agropecuária foram estruturados de maneira descendente e centralizada, objetivando viabilizar o novo modelo agrícola. Este modelo de produção agrícola é uma das modalidades que mais apresenta conflitos com a questão ambiental. A monocultura e a indústria de sementes, de agrotóxicos e de fertilizantes, são a base do referido modelo, que já mostra sinais de exaustão, contabilizando rendimentos decrescentes de produtividade/custo, com o empobrecimento do solo e o comprometimento do volume e qualidade das fontes de água. Por outro lado, a agricultura familiar, apesar de ter sido colocada em segundo plano no processo de modernização da agricultura brasileira é responsável por cerca de 86,4% da produção de alimentos do país, constituindo-se a base econômica de cerca de 90% dos municípios, concentrando 86,6% das pessoas ocupadas na atividade agrícola, e conservando a paisagem rural ocupada e produtiva. Contudo, se verifica a permanência da produção familiar, como um universo bastante heterogêneo, assumindo uma diversidade de formas sociais no tempo e no espaço. Essa diversidade pode ser verificada em relação à disponibilidade de recursos, de acesso ao mercado, de capacidade de geração de renda e acumulação. Além destes aspectos, ainda se verifica uma grande diversidade regional. Este trabalho procurou demonstrar a trajetória bem sucedida dos agricultores familiares que cultivam banana no município de Luís Alves(SC), destacando o papel determinante das políticas públicas agrícolas e da organização dos agricultores, inicialmente através da sua Associação, a ABLA. Deste modo, a experiência dos bananicultores de Luís Alves vem confirmar que, quando o agricultor familiar recebe apoio da política de crédito agrícola e de assistência técnica, os resultados deste setor são muito mais eficientes, tanto socialmente, do ponto de vista da geração de empregos, como também do ponto de vista técnico e econômico. Daí a importância de um projeto de desenvolvimento rural apoiado na agricultura familiar.

Palavras chaves: Agricultura familiar, políticas públicas, associativismo e desenvolvimento local.

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ABSTRACT

With the intensification of the industrialization process in the nineteen-sixties, a new project for Brazilian agriculture came about. The aim of this project was to radically alter the structure of agricultural production, based on a model of profit-making and productivity in the developed countries. Giving preference to certain crops and regions, as well as large and medium sized properties, to the detriment of others, this modernization process involved heavy social costs and was supported by the State. Both the credit policy, and the services of rural extension and farming research, were structured in a top-down, centralized way, with the aim of implementing the new agricultural model. But this model is one of the types that presents most conflicts in relation to environmental issues. Monoculture and the seed industry, as well as the pesticide and fertilizer industries, form the basis of this model, which is already showing signs of exhaustion, with decreasing productivity/cost yields, exhaustion of the soil and the diminishing volume and quality of water resources. On the other hand, family farming, though relegated to second place in the Brazilian agricultural modernization process, accounts for 86.4 % of the country’s food production, and is the economic basis of about 90% of all Brazilian municipal districts, with 86,6 % of the population of those towns involved in agricultural activity, keeping the rural areas occupied and productive. Nonetheless, it is seen that family farming, which is very heterogeneous, takes a variety of social forms in time and space. This diversity can be seen in relation to the availability of resources, access to markets, income generating capacity and wealth accumulation. Besides these aspects, there is also considerable regional diversity. This paper seeks to demonstrate the successful work of family farmers who cultivate bananas in the municipal district of Luis Alves (State of Santa Catarina), emphasizing the important role of both public agricultural policies and the organization of rural workers, initially through their association, the ABLA. Thus, the experience of banana growers in Luis Alves proves that when family farmers receive support from agricultural credit policies, and technical assistance, the results of the sector are much more efficient, both socially and in terms of view of job generation, as well as from the economic and technical perspectives. Hence the importance of a rural development project, based on family agriculture. Key words: family agriculture, public policies, association, local development.

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INTRODUÇÃO

Apesar das pequenas e médias propriedades rurais brasileiras serem responsáveis por

cerca de 86,4% da produção de alimentos do país, constituindo-se a base econômica de cerca

de 90% dos municípios, concentrando 86,6%1 das pessoas ocupadas na atividade agrícola, e

conservando a paisagem rural ocupada e produtiva, a agricultura familiar2 foi colocada em

segundo plano no processo de modernização agrícola3 promovido pelo Estado brasileiro, a

partir de meados da década de 1950, e depara-se com dificuldades em responder aos desafios

de maior competitividade da agricultura globalizada. Na transição da década de 80 para a de

90, a agricultura brasileira, anteriormente protegida, foi exposta à concorrência internacional

através da política neoliberal adotada. Em decorrência, a agricultura em geral e a familiar em

particular, sofreram os efeitos do modelo de exportação de produtos primários, da importação

substitutiva de produtos nacionais e da assimetria das regras internacionais.

Neste contexto em que as políticas públicas têm favorecido o agro-negócio, ou seja, a

produção agrícola empresarial, em detrimento da agricultura familiar, a experiência dos

agricultores de Luís Alves (SC), auto-identificados como colonos4, mostra-se como um

fenômeno a ser estudado, pois apesar de todos os desafios colocados, os bananicultores têm

apresentado índices crescentes de ascensão econômica, organizados através da formação da

Associação dos Bananicultores de Luís Alves – ABLA, que desde 1989 congrega os

produtores de banana do município. Analisada numa perspectiva de capital social5, esta

1 Dados retirados da cartilha “Desmascarando o Latifúndio”, (OLIVEIRA, 2004), tendo como fonte o Censo Agropecuário do IBGE 1995/1996. 2 Agricultura familiar para Wanderley (1999, p. 23), é “aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo”. Para a autora o fato de uma estrutura produtiva associar família-produção-trabalho, tem conseqüências em relação à forma como irá agir econômica e socialmente. Outro aspecto importante ressaltado pela autora é a diversidade de formas sociais que esta categoria assume no tempo e no espaço. 3 Trata-se de um sistema inspirado num ideário técnico-produtivo, baseado no modelo euro-americano de modernização agrícola, que ficou conhecido como “Revolução Verde”, que por sua vez, apregoava o aumento da produção/produtividade agropecuária mediante o uso intensivo de insumos químicos, de variedades vegetais e animais melhorados geneticamente e de motomecanização (EHLERS, 1999). 4 De acordo com Seyferth (1992), se auto-identificam como colonos os produtores familiares descendentes de europeus. Segundo a autora esses produtores apresentam algumas características norteadas por um conjunto de valores com forte acento na propriedade privada da terra, no trabalho familiar, na dedicação e eficiência do trabalho e na vida comunitária. 5 Capital social, segundo Putnam (1996, p. 177 a 190), “diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas”. Assim como outras formas de capital, o capital social também é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos que seriam inalcançáveis se ele não existisse. Para o autor as associações comunitárias são exemplos claros de sistemas de participação cívica, onde não ocorre hierarquia de poder, e onde são desenvolvidas muitas ações de cooperação em benefício de todos. Essas associações acabam por

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experiência demonstra alto grau de cooperação e confiança, marcada pela horizontalização

das relações baseada em atitudes democráticas.

Outro fator importante a ser considerado na trajetória desses agricultores foi o seu

acesso às diferentes políticas públicas, tais como a assistência técnica e transferência de

tecnologia, prestadas inicialmente pela ACARESC e mais tarde pela EPAGRI e o crédito

rural, tanto em financiamentos de custeio quanto de investimento.

Ao mesmo tempo, esse processo de ascensão econômica dos bananicultores de Luís

Alves tem contribuído significativamente para o desenvolvimento econômico e social do

município, além de ter estancado o êxodo rural, que na década de 1970 apresentou índices

negativos de crescimento populacional. Também contribuiu para que nos últimos 20 anos

houvesse aumento da renda per capita do município, que em 1991 era de R$ 225,29 e em

2000 passou para R$ 507,63, significando uma variação de 125,32% (IPEA/PNUD/ Fundação

João Pinheiro).

Investindo em tecnologia, os produtores têm buscado o melhoramento da qualidade e

da produtividade do produto. Com isso, os agricultores têm conseguido inserir-se no processo

de globalização, conquistando mercados externos e ampliando o interno, embora seja

necessário ressaltar as recentes dificuldades enfrentadas pelo setor em relação ao sistema de

comercialização da fruta. Outro aspecto destacado recentemente é a sustentabilidade

ambiental da bananicultura no município, principalmente relacionada ao desmatamento e a

aplicação dos insumos químicos nas lavouras, questões estas que já vem sendo debatidas

pelos bananicultores.

Em síntese, a cultura da banana possibilitou aos agricultores familiares do município

de Luís Alves uma significativa ascensão econômica iniciada, entre outros aspectos, com sua

adesão ao processo de modernização agrícola. Contudo, a trajetória desses agricultores

apresenta, a rigor, múltiplos fatores, que podem ter contribuído positivamente para essa

ascensão. Considerando que esta pesquisa pretendeu responder a seguinte questão básica, qual

seja, explicitar que fatores e atores contribuíram para a ascensão econômica dos

bananicultores de Luís Alves, encaminhamos, preliminarmente, na tentativa de respondê-la,

duas hipóteses: em primeiro lugar, destacamos o acesso a políticas públicas agrícolas, tanto de estabelecer regras de relacionamento baseadas na reciprocidade, facilitam a comunicação e a confiança dos indivíduos. Outros autores trataram originalmente do tema “capital social”, como Loury (1977), Bourdieu (1984), Coleman (1990), e mais recentemente Fukuyama (1996) e Armatya Sen (2000).

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pesquisa e de extensão, quanto de crédito, pelos agricultores do município; e em segundo

lugar, a organização dos bananicultores, através da formação de diversas entidades criadas a

partir das necessidades impostas pela evolução desta atividade.

Face à realidade acima descrita, a presente pesquisa tem, como objetivo geral, a

proposta de reconstituir a trajetória do cultivo da banana no município de Luís Alves,

analisando os fatores e atores que contribuíram para sua ascensão, verificando sua

contribuição no desenvolvimento social e econômico do município considerando, ainda, seus

efeitos do ponto de vista ambiental. Para atingir o referido objetivo foram propostos alguns

objetivos específicos, a rigor, como etapas da investigação, quais sejam:

� Caracterizar o município de Luís Alves, quanto a seus aspectos históricos,

geográficos e socioeconômicos;

� Analisar os indicadores socioeconômicos do município a partir da década

de 1980;

� Reconstituir a história da ABLA – Associação dos Bananicultores de Luís

Alves;

� Identificar e analisar as políticas públicas a que tiveram acesso os

bananicultores do município;

� Analisar as representações sociais6 dos agricultores e técnicos, sobre a

trajetória histórica dos bananicultores, procurando investigar quais fatores e

atores que marcaram positivamente esta trajetória;

� Identificar as conseqüências sociais e ambientais locais decorrentes do

processo em questão.

Para dar conta dos objetivos acima descritos, na realização da presente pesquisa foram

utilizados os recursos metodológicos apresentados a seguir. Para desvendar a trajetória desses

bananicultores, inicialmente aprofundamos a revisão bibliográfica acerca das categorias

centrais de análise que utilizamos. Esta revisão nos possibilitou apreender as mudanças

ocorridas na agricultura brasileira, e as implicações dessas mudanças na agricultura familiar

6 As representações sociais, nas Ciências Sociais, “são definidas como categorias de pensamento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando” (MINAYO, 1994, p. 89). De acordo com esta autora (idem) elas se manifestam em palavras, sentimentos e condutas, parte constitutiva da realidade sociocultural das sociedades humanas.

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contribuindo, também, para a ampliação do conhecimento sobre o contexto vivido pelos

agricultores familiares em análise.

Por outro lado, através do levantamento dos dados estatísticos acerca do município,

desde a década de 1980, buscou-se aprofundar o conhecimento sobre as suas transformações

social, econômica e ambiental.

Tendo em vista a proposta de avaliação do papel das políticas públicas no processo em

questão, foi realizada a caracterização e a análise documental das políticas agrícolas

implementadas no município e utilizadas pelos agricultores. Do mesmo modo, objetivando

reconstruir sua história, foram analisados os documentos relativos à Associação dos

Bananicultores e demais associações que serão tratadas mais adiante, como folders, relatórios

de atividades, jornais e informativos destas organizações.

Para traçar o perfil socioeconômico dos agricultores e possibilitar o acesso a suas

representações sociais, bem como a de técnicos rurais envolvidos com o cultivo de bananas no

município em questão, utilizamos a entrevista semi-estruturada. Conforme Minayo (2000, p.

108) este tipo de recurso metodológico “combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e

abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem

respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador”.

Para a autora a fala é reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores,

normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e, além disso, ela tem o poder de transmitir,

através de um porta-voz, as representações de determinados grupos, em condições históricas,

sócio-econômicas e culturais específicas. Assim, esta característica da fala faz da entrevista

um instrumento privilegiado de coleta de informações para as ciências sociais (MINAYO,

2000, p.109-110).

Estas entrevistas foram realizadas com sete agricultores e com três técnicos. Para a

escolha da amostra de agricultores utilizamos alguns critérios. Entre eles, procuramos ouvir

agricultores das diferentes localidades do município, conforme indicação do mapa

apresentado no texto; procuramos, ainda, incluir a diversidade existente entre os agricultores

que produzem banana, desde a diferença em relação ao tempo que cultivam a fruta, aos

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índices de renda e, por ultimo, ao tipo de sistema produtivo (monocultores, policultores, ou

pluriativos7).

Quanto aos técnicos, os critérios utilizados para escolha da amostra foram: o tempo de

trabalho na instituição e no município (Técnico I); o conhecimento acerca da entidade em que

trabalha e representa (Técnico II); e o trabalho realizado especificamente na bananicultura no

período descrito pela pesquisa (Técnico III). Os técnicos serão citados na pesquisa através de

números romanos, conforme os critérios utilizados.

Este recurso metodológico nos permitiu um detalhamento da trajetória

socioeconômica dos agricultores e da evolução da bananicultura no município, através da

versão dos próprios sujeitos da pesquisa. Neste sentido, buscamos apreender esta trajetória,

não somente através de dados estatísticos, mas também das constatações empíricas e da

subjetividade destes agricultores e técnicos envolvidos cotidianamente na atividade agrícola.

Os resultados obtidos com base nos procedimentos metodológicos acima descritos são

apresentados em três capítulos. No primeiro capítulo é apresentada a revisão bibliográfica

referente à problemática da modernização da agricultura e dos impactos deste processo sobre

a agricultura familiar; a identificação e o breve histórico das políticas públicas agrícolas; dos

conceitos de desenvolvimento local e capital social; e, por fim, a história da bananicultura

brasileira, com ênfase especial para a caracterização deste cultivo em Santa Catarina.

No segundo capítulo efetivamos a caracterização do município de Luís Alves,

apresentando dados de sua evolução histórica e apontando seus principais indicadores

socioeconômicos, além de identificar a infraestrutura existente no município acerca das

políticas públicas e das organizações da sociedade civil e a história dos sistemas agrícolas

adotados pelos agricultores familiares.

No terceiro capítulo apresentamos o perfil socioeconômico dos agricultores. Já no

quarto capítulo foram destacadas as suas representações sociais sobre as políticas públicas;

sobre as associações de certo modo vinculadas à bananicultura das quais participam; sobre

questões ambientais e, por último, sobre suas expectativas em relação ao desenvolvimento da

7 Para Carneiro (1998) a noção de pluriatividade compreende as atividades complementares ou suplementares à produção agrícola, exercida por um ou vários membros pertencentes à unidade familiar de produção. Essa temática é discutida por outros autores, entre eles Seyferth, 1983-1984 e Alentejano, 1999).

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bananicultura no município. No quinto e último capítulo apresentamos o perfil dos técnicos e

suas representações sociais a respeito do desenvolvimento da bananicultura no município

Ao final, buscamos traçar algumas considerações levantando elementos conclusivos

com vistas a responder a questão que norteou a presente pesquisa, qual seja explicitar que

fatores e atores contribuíram para a ascensão econômica desses agricultores, confirmando ou

não as hipóteses acima apresentadas.

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CAPÍTULO I

A PROBLEMÁTICA E A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA

1.1 A agricultura produtivista

A partir de meados da década de 1960, com a aceleração do processo de

industrialização, intensifica-se, também, um novo projeto para a agricultura brasileira.

Pretendia-se, sobretudo, alterar radicalmente a estrutura da produção agrícola, seguindo o

modelo de rentabilidade e produtividade dos países já desenvolvidos. O novo modelo se

articulava com o complexo industrial internacional e era apoiado tanto pela oligarquia rural,

que se preocupava com o aumento dos movimentos sociais no campo, como por setores mais

modernos do capital urbano que buscavam ampliar seus investimentos (MARTINE e

GARCIA, 1987).

O modelo de modernização da agricultura brasileira tem origem nas formas de

produção implantadas na agricultura norte–americana na década de 1930. No entanto, é na

década de 1960 que este modelo avança, principalmente em função de dois fatores: por um

lado, o aperfeiçoamento da pesquisa e tecnologia na produção de sementes melhoradas e na

identificação de fertilizantes e defensivos adequados a ambientes diferentes; por outro, a

internacionalização de grandes empresas de máquinas e insumos agrícolas. Desta forma a

agricultura passou a ter um papel importante, não somente como produtora de matérias primas

e alimentos, mas também como mercado para o parque industrial que se formava.

Outro fator que proporcionou a efetivação desse novo modelo agrícola, segundo

Martine e Garcia (1987, p.20), foi a internacionalização de um “pacote” tecnológico chamado

popularmente de “Revolução Verde” 8, o qual prometia a elevação da produtividade através

8 A Revolução Verde nasceu nos escritórios da Fundação Rockfeller em 1943, que financiava quatro geneticistas norte-americanos para, no México, criar variedades de milho e trigo buscando aumentar a produtividade destas culturas. A partir deste trabalho foi criado o Centro Internacional de Pesquisa de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT). Mais tarde a Fundação Rockfeller se alia a Fundação Ford e repete a atuação na Ásia, fundando o Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz (IRRI). Mussoi (1999, p.22) ressalta a notável dependência à indústria (de insumos químicos e metal mecânicos) que a dita modernização trouxe à agricultura, além da degradação do meio ambiente.

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de sementes melhoradas. Entretanto, o aproveitamento efetivo dessas sementes era

condicionado ao uso integrado de máquinas e de insumos químicos. A estes fatores – pesquisa

agrícola e indústrias de insumos – acrescentou-se o crédito rural, o que possibilitou rápida

expansão deste modelo.

No Brasil, segundo Goularti Filho (2002), as políticas de crédito e de subsídios

liberados pelo Estado possibilitaram a modernização da agricultura, tornando-a um ramo da

indústria, através da formação do que foi chamado de “complexos agroindustriais”. Este

processo se consolidou com a introdução de implementos, tratores, fertilizantes e defensivos,

elementos diretamente ligados ao complexo eletro-metal-mecânico e químico.

Tanto os serviços de extensão rural, como os de pesquisa agropecuária foram

estruturados de maneira descendente e centralizada, objetivando viabilizar o novo modelo

agrícola. Assim, a pesquisa agropecuária foi outro fator fundamental para o desenvolvimento

da agricultura dita moderna. Em 1962 é criado o Departamento Nacional de Pesquisa e

Experimentação Agropecuária (DNPEA), que coordenava os Institutos Regionais de Pesquisa

e Extensão, que no caso do sul, era o IPEAS. As pesquisas do DNPEA eram classificadas a

partir de algumas prioridades de cultivo que produziam divisas, entre elas, podem ser citadas

algumas pesquisas fundamentais, como as: pesquisas zootécnicas; pesquisas veterinárias e

pesquisas em tecnologia de alimentos. Passa a existir uma relação intensa entre o DNPEA e o

serviço de assistência técnica e extensão rural, representado na época pela Associação

Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) (MUSSOI, 1999).

Para Mussoi (1999, p. 22-23), estavam dadas as condições que dariam viabilidade ao

novo modelo de desenvolvimento da agricultura, segundo o autor,

Estruturam-se então no Brasil duas instituições que correspondem a um pré-requisito fundamental da “Revolução Verde”: uma geradora de tecnologia e outra “difusora” dos pacotes tecnológicos. O caráter centralizador e descendente deste arranjo institucional vai implicar na organização de entidades estaduais (associações de credito e assistência rural, no caso da extensão rural e institutos de pesquisa, no caso da investigação agropecuária) que implementasse as determinações da “nova” política de modernização da agricultura.

A dinamização, ampliação e implantação de estações experimentais de pesquisa se

tornam imprescindíveis para a implementação do novo modelo. A pesquisa passa por um alto

grau de especialização de seus técnicos, com programas de capacitação de pesquisadores em

nível de mestrado e doutorado condição esta essencial para responder às demandas do novo

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papel a ela atribuído, e inaugurando um novo estágio na trajetória de sofisticação da base

tecnológica produzida/adaptada.

Nos anos 1970, a estratégia agrícola definida pelo “Primeiro Plano Nacional de

Desenvolvimento (17/12/1971)”, era desenvolver a agricultura moderna de base empresarial

que alcançasse condições de competitividade internacional em todos os principais produtos.

Para viabilizar essa modernização, o Estado garantiria um conjunto de intervenções, como

leis, regulamentos, programas e instituições. Entre esses instrumentos, o crédito agrícola teve

um papel fundamental, oferecendo linhas de crédito atreladas à compra de insumos

agropecuários, criando uma dependência entre o setor produtivo agrícola e o setor produtor de

insumos. Todas as medidas adotadas garantiram a manutenção da estrutura fundiária, baseada

nos latifúndios e na propriedade patronal, uma vez que essas propriedades eram consideradas

mais adequadas para o processo de modernização do que as propriedades familiares

(EHLERS, 1999, p.38).

Entretanto, essa modernização, que Graziano da Silva e Kageyama (1998), chamam de

“conservadora”, foi mais ampla do que a industrialização da agricultura. Para os autores, foi

um processo genérico de crescente integração da agricultura no sistema capitalista industrial,

que ocorreu através da mudança tecnológica e de ruptura das relações de produção arcaicas e

do domínio do capital comercial, perpassando várias décadas e se acentuando após a década

de 60.

Privilegiando algumas culturas e regiões e as grandes e médias propriedades, essa

modernização foi induzida através de pesados custos sociais e com o amparo do Estado.

Fazendo parte do “modelo econômico brasileiro”, a modernização da agricultura veio

acompanhada de novos padrões de consumo, com acesso restrito a uma classe média

conservadora, com a intervenção estatal beneficiando grupos estrangeiros e grandes blocos

nacionais e principalmente com a exclusão social (GOULARTI FILHO, 2002).

Mussoi (2002) destaca que este modelo de desenvolvimento, no qual a agricultura está

inserida, desgastou-se ao longo do tempo, e esteve norteado por uma concepção “urbano-

industrial-exportadora”, privilegiando setores específicos. Outra característica deste modelo,

segundo o autor, tem sido a definição de um novo desenho de ocupação do espaço territorial

nacional, onde o urbano é potencializado, principalmente as grandes cidades e pólos

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industriais, em detrimento ao agrário; provocando um esvaziamento demográfico, produtivo e

político do espaço rural.

1.2 Agricultura familiar e desenvolvimento

O processo de inclusão ou exclusão de agricultores decorrente da modernização

conservadora da agricultura contraria, de certo modo, as teorias clássicas a respeito do destino

do campesinato nas formações capitalistas. De acordo com a perspectiva leninista

(ABRAMOVAY, 1991), esses produtores familiares tradicionais ou se transformariam em

empresários agrícolas ou teriam como única saída a sua proletarização rural ou urbana,

ocorrendo, portanto, seu progressivo desaparecimento como produtores rurais familiares.

O que se constata, no entanto, no caso brasileiro, é a permanência da produção

familiar, como um universo bastante heterogêneo, assumindo uma diversidade de formas

sociais no tempo e no espaço. Buainain et al (2003) reforça esse universo profundamente

heterogêneo da agricultura familiar. Para os autores, esse caráter heterogêneo é verificado em

relação à disponibilidade de recursos, de acesso ao mercado, de capacidade de geração de

renda e acumulação. Além destes aspectos, ainda se verifica uma grande diversidade regional.

Além desta diversidade, Wanderley (1999, p. 36), destaca o fato de que a grande

propriedade sempre se impôs como modelo socialmente reconhecido. Ou Seja, “foi ela que

recebeu o estímulo social expresso na política agrícola, que procurou modernizá-la e

assegurar sua reprodução”. A agricultura familiar, por outro lado, sempre ocupou um espaço

secundário e subalterno em relação à política agrícola e mesmo na própria sociedade era

reconhecida sob o “signo da precariedade estrutural”.

Entretanto, ainda segundo a autora, “... vencedores ou perdedores nesse campo de luta,

os camponeses, no passado como atualmente, dele participam com o objetivo de ter acesso a

atividades estáveis e rentáveis. É esse o objetivo que norteia suas estratégias econômicas”

(WANDERLEY, 1999, p. 41,42).

Para Guimarães (2005), nos estabelecimentos acima de 50 hectares e até 500 hectares

estaria, possivelmente, dentro das condições brasileiras, o campesinato rico ou a exploração

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agrícola de caráter capitalista. Estes utilizam, regularmente, mão de obra assalariada e

empregam processos de produção de nível técnico mais elevado.

Esta diversidade interna dos produtores familiares tem sido constatada através de

diferentes autores, entre os quais Lovisolo (1989), que analisa dois casos distintos de evolução

histórica da agricultura familiar tradicional. Um deles, resultando no empobrecimento destes

agricultores a ponto de produzirem apenas para autoconsumo, vendendo em parte sua força de

trabalho, fenômeno este denominado pluriatividade9 e o outro em sua capitalização. Ambos,

no entanto, mantendo sua condição social de agricultores familiares.

Além da diversidade e heterogeneidade da agricultura em termos de sua capitalização

ou empobrecimento, descrita anteriormente, outro aspecto, diretamente relacionado a estas

condições estruturais, é a área dos estabelecimentos, sendo que a média é de 26 hectares. Na

região Nordeste, os estabelecimentos apresentam a menor área, em média de 17 ha, e a região

Centro-Oeste a maior de 84 ha.

Para Graziano (2002), nos últimos 25 ou 30 anos houve um processo muito rápido e

profundo de modernização da agricultura brasileira. Não se pode mais pensar na agricultura

brasileira como se fosse nos anos 1950, 1960. Na verdade, hoje, há muitas agriculturas

brasileiras, seja pela sua diferenciação regional, no país, seja mesmo dentro de uma mesma

região pelo tipo de inserção do produto ou pelo tipo de articulação entre capitais que se fazem

nessa agricultura.

Wanderley (2003) apresenta uma reflexão acerca da importância da agricultura

familiar através do conceito de sua multifuncionalidade. A partir da experiência francesa, a

autora apresenta a polarização entre duas visões distintas da atividade agrícola,

Por um lado uma visão econômica da crise da agricultura – baseada na determinação das leis do mercado que, em ultima instância, se traduziria pela drástica redução do número de agricultores e pela extinção desta atividade em grande parte do território nacional – e por outro lado, uma visão sociopolítica que defendia o princípio de que a atividade agrícola não se esgota na simples oferta de produtos ao mercado, mas que oferece igualmente outros bens à sociedade, inclusive bens considerados imateriais, o que faz da agricultura uma atividade com múltiplas funções, isto é, multifuncional (WANDERLEY, 2003, p.13).

9 Esse fenômeno foi estudado por Seyferth (1984), quando descreveu a condição dos colonos operários no Vale do Itajaí, e por outros autores como Alentejano (1999) e Schneider (1999).

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No entanto, a autora alerta para o fato de que este debate sobre a multifuncionalidade

da agricultura no Brasil esteja ocorrendo num momento em que a agricultura familiar

finalmente vem conquistando certo reconhecimento, pela sua produção e contribuição

significativa para o mercado. Não se trata, assim, segundo ela, “da substituição da produção

de riquezas materiais pela de riquezas imateriais, mas da afirmação da simultaneidade desta

dupla dimensão, inerente ao ato de produzir e de viver em sociedade dos agricultores

familiares” (WANDERLEY, 2003, p.15).

Este fenômeno vem sendo caracterizado como “novo mundo rural”, onde são

evidenciadas novas formas de ocupação no meio rural, vinculadas direta ou indiretamente a

atividades urbanas, associadas tanto a expansão da indústria rural como ao setor de serviços.

Outros autores, como Buainain et al (2003), trazem à tona questionamentos sobre este

debate em relação ao futuro da agricultura familiar baseado em atividades não - agrícolas.

Para eles, o desenvolvimento do meio urbano sempre se deu pela apropriação dos espaços

rurais, e alertam para o fato de as ocupações periurbanas sempre terem sido impulsionadas por

atividades urbanas. A agricultura em si produz insumos e bens finais respondendo à demanda

e dinâmica do mundo urbano. Assim agricultura familiar e o novo mundo rural, representado

por atividades não-agrícolas, não se opõem, ao contrário se complementam.

Na realidade brasileira, para a maior parte, cerca de 65% da população

economicamente ativa (PEA rural), que se encontra ocupada em atividades agrícolas, a

expansão dos empregos rurais não-agrícolas da década de 1980, não representou uma

ampliação das oportunidades de trabalho para os membros da família, mas sim uma chance de

sobrevivência, em geral precária, para produtores sem acesso ao progresso técnico, à credito,

à terra suficiente. Além disso, quando os produtores familiares contam com apoio suficiente, a

tendência é a redução da importância das rendas obtidas fora da unidade familiar

(BUAINAIN et al, 2003, p. 317).

Sendo condicionada a mudar seu perfil, a agricultura familiar adequou-se ao modelo

de desenvolvimento hegemônico, subordinando-se à indústria e ao “místico” mercado

neoliberal. Para Mussoi (2002, p.26), a conseqüência deste processo foi a perda da identidade

deste tipo de prática agrícola, que acabou se degradando num processo de “erosão cultural”.

Sem pressupor um tipo ideal, o autor, caracteriza “a agricultura familiar, como possuidora de

um conjunto de elementos fundamentais que configuram um sistema integrado, uma forma de

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vida, onde seus integrantes sociais detêm um saber/conhecimento construído histórica e

coletivamente”.

Mussoi (2002) acredita que estas características da agricultura familiar não estão sendo

levadas em conta no recente discurso sobre a “agricultura empresarial” e a “formação

profissional de um novo agricultor” (voltado à agricultura de mercado e, portanto,

especializado). O autor alerta para algumas questões como a adaptação deste setor à realidade

segundo a lógica do capital, além de questionar a produção para o mercado sem discutir o que

é, e quem é o mercado, pois caso contrário se estaria subordinando a agricultura familiar a

uma lógica que não é a sua.

Ainda segundo Mussoi (2002, p.27), talvez a agricultura familiar seja incompatível

com o atual modelo de crescimento econômico, e seu desenvolvimento futuro dependa de

uma revisão profunda do paradigma dominante de desenvolvimento, que deve ser

fundamentado em dimensões agroecológicas e de sustentabilidade, possibilitando a

viabilização de um novo modelo agrário e de sociedade, considerado ambientalmente sadio e

socialmente justo. Para ele:

Buscando “alternativas econômicas” fora do agrário ou em “nichos de mercado” através da reconversão, significa admitir que a agricultura familiar é insuficiente para o seu auto-desenvolvimento e – por suas características próprias – incapaz de se integrar (sem se subordinar) a outros setores da vida social. Certamente ela não deve ser vista como “insuficiente” em função de suas características fundamentais. “Insuficiente” é o modelo de crescimento econômico hegemônico (e as políticas governamentais que lhe dão suporte). Certamente, antes de se pensar em “reconverter” este tipo de prática agrícola (com suas qualidades implícitas), o certo seria “reconverter” a mentalidade monetarista e consumista que permeia um significativo conjunto de processos de tomada de decisão na atualidade.

Para o autor, o Estado, neste atual modelo de desenvolvimento foi (e é)

concentracionista (de riquezas e de poder político); socialmente excludente, pois não

considera a satisfação das necessidades básicas da grande maioria da população e é agressivo

em termos ambientais.

Em síntese, constata-se desta forma, que o universo dos agricultores familiares é

profundamente diferenciado, tampouco formam uma categoria estanque, imóvel ou isolada

das demais. Alguns estão em processo de acumulação de capital e outros em processo de

descapitalização (GUANZIROLI et al 2001, p. 114).

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1.3 Agricultura familiar, desenvolvimento e políticas públicas

As políticas públicas historicamente, em seu conjunto, ao invés de promover o

desenvolvimento rural e local, promoveram o esvaziamento do campo e inibiram o

desenvolvimento local em favor das grandes metrópoles e cidades. No quadro

macroeconômico a agricultura familiar sempre enfrentou a instabilidade monetária e inflação

elevada, uma política comercial e cambial desfavorável e a tendência a uma discriminação

negativa das políticas agrícolas que favorecem os produtores patronais em detrimento dos

familiares, além da deficiência dos serviços públicos de apoio ao desenvolvimento rural.

Para Seibel e Rover (1999), o debate sobre as políticas públicas no Brasil identifica

elementos institucionais comuns a quase todas as áreas e contribuem negativamente para sua

implementação e eficácia; quais sejam: centralização administrativa, especificamente nos

processos decisórios; centralização financeira, instabilidade e não regularidade nas fontes de

financiamento; a não delimitação de responsabilidades entre as esferas governamentais;

transferência de verbas sem critérios objetivos; dispersão institucional; falta de controle e

avaliação objetiva pela sociedade civil. Para os autores estes fatores são expressão de uma

debilidade institucional crônica e recorrente na história e cenário político administrativo no

Brasil. Conseqüentemente as políticas públicas relativas a agricultura não estão imunes a estas

condições e processos.

Nesse sentido, o Estado segundo Bobbio (apud MUSSOI 1999), ou qualquer outra

entidade donde existe uma esfera pública, não importa se total ou parcial, caracteriza-se por

relações de subordinação entre governantes e governados, ou melhor, entre os detentores do

poder e destinatários, com dever de obediência, e essas são relações entre desiguais. Assim, o

Estado para o autor pode ser representado como um lugar onde os conflitos se desenvolvem e

se articulam, para novamente desarticular-se e rearticular-se, através do instrumento jurídico

de um acordo continuamente renovado, representando uma forma moderna da tradicional

figura do contrato social.

Para Paulilo (apud MUSSOI 2002), o Estado sempre esteve presente no

desenvolvimento da agricultura brasileira. A autora ressalta que a idéia de uma agricultura

supostamente atrasada antes do advento da modernização não é verdadeira. Esta idéia,

segundo a autora, serviu para impor o novo padrão, que por sua vez foi e continua sendo

bastante excludente. O Estado impulsionou o novo modelo alterando as regras do jogo que

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fazia funcionar a economia agrário-exportadora, confiscando lucros, como fez com o café,

baixando o custo do dinheiro emprestado para as indústrias, o que fez com que o dinheiro

emprestado para a agricultura ficasse relativamente mais caro. Outro exemplo das medidas

tomadas pelo Estado no sentido de favorecer o novo modelo de desenvolvimento, foi o

estabelecimento da legislação trabalhista apenas para a cidade e não para o campo. Somente

na Constituição de 1988 é que os dois tipos de trabalhadores foram equiparados.

Mussoi (2003) ressalta que houve uma gradual “conformação” do Estado no sentido

de organizar os recursos oficiais para a introdução da modernização agrícola, através da

implementação de políticas agrícolas, tais como a pesquisa, extensão e crédito rural. Segundo

o autor,

A estruturação e as decisões institucionais que vão dar suporte para a aplicação da política de ciência e tecnologia definida podem ser constatadas pelo surgimento, reestruturação e definição de papéis de instituições oficiais para o desenvolvimento agrícola, assim como pelos seus sistemas organizativos internos, pela criação de níveis claros de “concepção e coordenação, supervisão e execução”. Este mecanismo tipo “correia de transmissão” garantiria a “transferência” das políticas “públicas” e sua adoção pela população rural (ou parte dela) (op. cit 2003, p. 217).

O primeiro serviço público de extensão rural implantado no Brasil foi a Associação de

Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais (ACAR), criada em 1948. Em 1954, o governo

brasileiro em convênio com o Ponto IV (programa norte americano de ajuda a países

subdesenvolvidos), criou o Escritório técnico de Agricultura (ETA), com sede no Rio de

Janeiro. Este escritório foi o principal responsável pelos serviços de extensão rural no Sul do

País, e a partir dele, foram criados os escritórios nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e

Santa Catarina. Estes escritórios eram denominados através de números, sendo que o de Santa

Catarina, era o ETA – Projeto17 (FURTADO FILHO et al, 1996).

Segundo Mussoi (1999, p.23), inicialmente havia uma concepção de extensão rural,

voltada para o desenvolvimento a partir das comunidades, entretanto, o que prevaleceu foi

uma gradual mudança no entendimento de uma extensão transformada num instrumento da

modernização conservadora, ou seja “num instrumento de mudança técnica sem mudanças

estruturais significativas”.

A princípio, a Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), foram implantadas como

um serviço privado ou paraestatal, com apoio de entidades públicas e privadas.

Posteriormente, em 1956, foi criada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural

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(ABCAR). Foi essa associação que estimulou e coordenou o período de expansão da extensão

rural no Brasil. Constituiu–se, então, um Sistema Nacional articulado com as Associações de

Crédito e Assistência Rural nos estados.

O crédito rural desde sua institucionalização em 196510 cumpre com os objetivos de

estimular o incremento dos investimentos rurais, inclusive para armazenamento,

beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários, quando efetuados por

cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade rural; favorecer o custeio da produção e a

comercialização dos produtos agropecuários; possibilitar o fortalecimento econômico dos

produtores; e incentivar a introdução de métodos racionais de produção, visando o aumento

da produtividade e a melhoria do padrão de vida das populações rurais e a adequada defesa do

solo (BANCO DO BRASIL, 2004).

Em meados da década de 1970, este serviço foi estatizado, sendo implantado o

Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (SIBRATER). Este sistema era

coordenado pela Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER),

e executado pelas empresas estaduais de ATER, as EMATER. Durante mais de uma década a

participação do Governo Federal chegou a representar, em média, 40% do total dos recursos

orçamentários das EMATER, alcançando até 80%, em alguns estados (MDA/SAF, 2004).

Com a tendência neoliberal de desresponsabilização do Estado em relação às políticas

públicas, principalmente às de cunho social, assumida a partir da década de 1990, o Governo

Federal resolveu extinguir a EMBRATER. Desativou o SIBRATER, e abandonou os esforços

antes realizados para garantir a existência de serviços de ATER no país. As empresas

estaduais ficaram à mercê das políticas de ajuste estrutural e das difícies condições financeiras

dos respectivos estados. A participação financeira do Governo Federal, desde os anos 90, caiu

abruptamente, passando a ser irrisória. Este afastamento do Estado Nacional resultou em forte

golpe aos serviços, levando a uma crise sem precedentes na ATER oficial, que foi tanto maior

quanto mais pobres eram os estados e municípios (MDA/SAF, 2004).

De acordo com Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural diante da

ausência do apoio federal, e da inexistência de uma política nacional para o setor, alguns

estados da federação, num esforço de manutenção deste importante instrumento de política

pública, reestruturaram os serviços dando-lhes diversas formas institucionais e criando novos

10 Lei nº 4.829, que institucionalizou o Crédito Rural, em 5 de novembro de 1965.

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30

mecanismos de financiamento e operacionalização das empresas oficiais, além de apoiarem

outras entidades emergentes (MDA/SAF, 2004).

A valorização e o fortalecimento da agricultura familiar é algo recente. Mesmo

representando um setor estratégico para o desenvolvimento do país, ainda não conquistou do

poder público a mesma relevância que possui o agronegócio. As pequenas propriedades rurais

são as responsáveis pela produção do maior volume dos alimentos da cesta básica, e dão

sustentação, com matéria prima, para outras atividades agropecuárias e industriais

(OLIVEIRA, 2004).

Os agricultores familiares, segundo Buainain, et al (2003), representam 85,2% do total

de estabelecimentos, ocupam 30,5% da área total e são responsáveis por 37,9% do valor bruto

da produção agropecuária nacional. Estes estabelecimentos ainda respondem por 50,9% do

total de R$ 22 bilhões da renda total agropecuária (RT) de todo o Brasil. De acordo com estes

autores, estas informações demonstram que os agricultores familiares são mais eficientes que

os patronais, pois mesmo possuindo menores áreas e utilizando a menor fatia dos

financiamentos públicos, produzem e empregam mais que os patronais.

Segundo Gehlen (2004) começa a se construir um conceito positivo da atividade rural,

verificado pela auto-estima crescente e pela afirmação social da agricultura familiar, a partir

das lutas sociais de resistência, de reivindicações e de produção de políticas para o setor.

Embora tenha havido investimentos públicos na pesquisa, extensão e crédito voltados

para a agricultura familiar nas décadas anteriores, como ocorreu no caso específico da

bananicultura em Santa Catarina, um marco histórico da agricultura familiar foi a criação em

1995, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)11.

Conquistado através da luta dos agricultores familiares organizados e dos movimentos sociais,

este programa busca: valorizar e divulgar o conceito de agricultura familiar como atividade

econômica fundamental para o desenvolvimento socioeconômico sustentado do meio rural;

satisfazer a necessidade da criação e/ou fortalecimento de mecanismos que permitam à

11 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), tem a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda. O PRONAF assenta-se na estratégia da parceria entre os Governos Municipais, Estaduais e Federal, a iniciativa privada e os agricultores familiares e suas organizações.

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agricultura familiar uma maior capacidade de compatibilizar a produção para o seu próprio

consumo e para o mercado; a manutenção e/ou geração de ocupações produtivas; a

diversificação das atividades rurais, por meio da pluriatividade; e a construção de mecanismos

que permitam a agregação de valor à sua produção (MDA/SAF, 2006).

Recentemente também foi elaborada a Lei nº 11.326 de 24 de março de 2006, que

estabelece a Política Nacional da Agricultura Familiar, através da qual agricultura familiar

passa a ser reconhecida como uma categoria produtiva e se encerram as dúvidas sobre a sua

conceituação legal. Garante, também, a participação dos agricultores e agricultoras familiares

na formulação e implementação das políticas públicas. Assim, as relações de trabalho e

organizacionais desse segmento se fortalecem com a aplicação de diversas políticas

fundamentais para os agricultores familiares, como ocorreu com a Previdência Social Rural,

garantida através da Constituição de 1988 e regulamentada através das Leis nº 8.212 e 8.213

de 24 de julho de 1991 (MDA/SAF, 2006).

Mesmo diante de um cenário adverso, para Simon (2003), atualmente, o serviço de

extensão rural público pode ser considerado o sistema ligado ao meio rural que possui a maior

capilaridade e presença de profissionais capacitados e experientes em todo o território

nacional. Segundo dados da ASBRAER, em 2001, nos 27 Estados, o serviço de extensão

contava com 24.127 trabalhadores. Destes 14.500 atuavam diretamente no campo. Podemos

verificar, na tabela abaixo, que a Assistência Técnica Rural atende 5.185 municípios

brasileiros, perfazendo um total de atendimento de 93% das cidades brasileiras, e abrange

1.700.202 produtores em regime de agricultura familiar. No entanto, este número ainda

representa um atendimento de somente 40% dos 4.216.608 agricultores familiares existentes

em todo Brasil.

Tabela 1 Agricultura familiar atendida pela assistência técnica rural no Brasil Região Agr. Familiares (nº) Assistidos pela ATER Percentagem (%) Norte Nordeste Sudeste Centro Oeste Sul

405.332 2.071.944 633.604 222.588 883.140

232.947 524.508 391.282 079.931 471534

57% 26% 62% 36% 53%

Total 4.216.608 1.700.202 40% Fonte: Novo Retrato da Agricultura Familiar – MDA/ASBRAER 2001

Verifica-se na tabela 1 que a região Sul só perde para a região Nordeste tanto em

número de agricultores existentes quanto em quantidade atendida pela Assistência Técnica.

No entanto, o Norte e o Sudeste têm uma abrangência maior de atendimento.

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1.4 Desenvolvimento local, organizações da Sociedade Civil e capital social

Segundo Gehlen (2004, p.10), o local é um território natural, porém socialmente

construído, delimitado por um conjunto complexo de variáveis e indicadores como clima,

fauna, flora, modo de vida, interesses, política, etc, que no seu conjunto atribuem

especificidades ao local. Assim, segundo o autor, pode-se definir desenvolvimento local como

“as dinâmicas social, econômica, política e cultural num território demarcado por

especificidades que induzem mudanças qualitativas naquele espaço”.

Para Cazella et al (2004, p. 63), “o ‘espaço-lugar’, de desenvolvimento, ou seja, aquele

que serve somente como suporte das atividades econômicas, é substituído pela idéia de

‘espaço-território’, portador de vida e de cultura, além de potencialidades de

desenvolvimento”. Este espaço território é construído, segundo o autor, a partir do dinamismo

dos indivíduos que nele habitam, e contém a idéia de criação do espaço pela apropriação,

pertencimento e uso coletivo.

A noção de desenvolvimento local, no Brasil, se fortalece através de políticas públicas,

de organizações locais formais e informais e resulta, sobretudo, da mobilização de recursos.

Está associada, de certa forma, segundo Cazella et al (2004), ao debate sobre a agricultura

familiar. Ainda segundo o autor, a construção do pensamento sobre desenvolvimento local

está associada, também, a fenômenos socioeconômicos e políticos diversos.

Abramovay (2003) considera o desenvolvimento local como um processo de

desenvolvimento centrado num território concreto, em que os protagonistas são uma

pluralidade de atores que ocupam determinadas posições no espaço e que estabelecem

relações em função de metas e projetos comuns. A favor dessa ênfase no desenvolvimento,

tem-se o fato de que os desafios locais impulsionam a sociedade local para, em conjunto com

a diversidade de atores institucionais que a integram, traçar estratégias que fortaleçam suas

capacidades nas soluções dos problemas. Para tanto, é imprescindível o fortalecimento das

capacidades do Estado nas três esferas – federal, estadual e municipal – e dos atores sociais

coletivos, em nível local, de modo a se promover articulação entre todos visando à

implementação e a gestão de políticas públicas.

Neste sentido, o espaço rural é palco de inúmeras experiências de organizações não

governamentais que se mobilizam objetivando soluções para seus problemas. Na agricultura

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familiar em especial, as associações de produtores tiveram um papel fundamental não só para

o encaminhamento de demandas à produção e à comercialização, que são vitais para sua

viabilidade econômica, mas, também, para o desenvolvimento de novas formas de

relacionamento social, construção de identidades, formação de novas lideranças políticas e

colocação de novos problemas na pauta de reivindicações dos agricultores (PINHEIRO,

1999).

O associativismo, segundo Pinheiro (1999), é um movimento que vem alcançando

amplitude nacional desde a década de 1980. Geralmente tais movimentos têm em comum a

preocupação em relação a temas como a obtenção de crédito agrícola, a melhoria das

condições de produção e comercialização. Entretanto, um aspecto bastante visível neste

processo é a de construção de novas formas de participação, capaz de influir no processo de

tomada de decisão a respeito de suas reivindicações específicas e, ao mesmo tempo,

possibilita democratizar internamente suas organizações e conseqüentemente a sociedade e o

Estado.

A existência de associações civis contribui para a eficácia e a estabilidade de governos

democráticos, tanto pela mudança que a participação nestas entidades provoca sobre os

indivíduos, quanto pelos efeitos provocados por esse processo sobre a própria sociedade. De

acordo com Putnam (1996) “as associações incutem em seus membros hábitos de cooperação,

solidariedade e espírito público”.

O movimento cooperativista no Brasil, segundo Bialoskorski Neto (2000 apud

SOUZA, 2005), também foi sofrendo mudanças, podendo ser dividido segundo o autor em

cinco fases. A primeira fase pode chamada de introdutória e vai até 1907, quando surge a

primeira lei sobre cooperativismo. Até então, ocorreram tentativas isoladas a partir de

experiências trazidas por pessoas de outros países que já praticavam o cooperativismo.

A segunda fase compreende o período entre 1907 a 1926. Período em que surgem as

primeiras portarias, decretos e leis voltadas exclusivamente para as cooperativas de crédito

tipo Raiffeisen e bancos populares tipo Luzzati. A principal característica desta fase é a forte

ligação entre o sindicalismo e o cooperativismo, tanto que muitas cooperativas surgiram como

seções de sindicatos.

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O período entre 1926 e 1964 compreende a terceira fase, quando são elaboradas as leis

específicas sobre cooperativas, desvinculando-as dos sindicatos. Neste período surgiram

muitas cooperativas no Brasil e um marco importante foi o ano de 1932, quando foi publicada

uma lei que adotava os princípios da Aliança Cooperativa Internacional.

A quarta fase abrange o período entre 1964 a 1988, e compreende o período da

ditadura militar, onde o cooperativismo foi controlado pelo governo sofrendo sérias restrições.

Em 1971, foi promulgada a lei que rege as cooperativas brasileiras. Na prática esta lei inibe a

organização e funcionamento das cooperativas, principalmente por criar tributos e exigências

que antes não existiam. Neste período, privilegiam-se as grandes cooperativas agropecuárias,

com sócios de muito capital e grandes áreas, inibindo as pequenas propriedades que são a

base da agricultura familiar.

Por último, a quinta fase que começa a partir de 1988 com a promulgação da nova

Constituição Brasileira, a qual confere maiores liberdades e condições para a associação entre

pessoas. Entretanto, muitos artigos, ainda estão sem regulamentação, vigorando para os casos

não contemplados, a Lei 5.764, de 1971 (BIALOSKORSKI, 2000 apud SOUZA, 2005).

A sociedade civil que marcou as décadas de 1970 e 1980 com movimentos de

resistência e lutas no combate a um Estado fortemente centralizado, excludente e autoritário,

se vê nas últimas décadas diante de uma fase propositiva, ao invés de combativa,

estabelecendo práticas cooperativas e dialógicas, com novas relações, mais duradouras e

conciliadoras e ao mesmo tempo desafiadoras da difícil tarefa de construção de instituições

efetivamente representativas dos anseios e demandas sociais (LÜCHMANN, 2003, p.168).

Este movimento de lutas da Sociedade Civil culminou com a institucionalização na

Constituição Federal de 1988, de mecanismos que garantem a participação da Sociedade Civil

organizada na gestão e no controle social das políticas públicas. Entre eles podemos citar os

Conselhos Setoriais.

Os conselhos constituem espaços públicos, que acenam para a possibilidade de

representação de interesses coletivos na cena e na agenda pública. Mas se distinguem de

movimentos e de manifestações estritas da sociedade civil, pois sua estrutura é legalmente

definida e institucionalizada e sua razão de ser reside na ação conjunta com o aparato estatal

na elaboração e gestão de políticas sociais. Seu aparato legal concebido como espaço de

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participação, de controle social voltado para a elaboração e gestão de políticas, impede sua

autonomia em relação ao sistema econômico e político (CARNEIRO, 2003).

Neste processo, a sociedade civil também é impelida a modificar-se, a construir

alianças em torno de pautas coletivas, a transcender a realização de interesses particularistas e

corporativistas, convocada ao exercício de mediações sociais e políticas para o atendimento

de demandas populares. Trata-se, portanto, de um movimento que pretende modificar tanto o

Estado, quanto a sociedade, em direção à construção de esferas públicas autônomas e

democráticas no campo das decisões políticas (RAICHELIS, 2000).

Sendo construídos pela ação coletiva de inúmeros sujeitos sociais, especialmente no

âmbito dos municípios, buscam a ampliação e o fortalecimento do poder local. No entanto

não se espera que a participação popular seja reduzida apenas ao espaço dos conselhos. O

acompanhamento das práticas dos conselhos, nas diferentes políticas sociais e nos vários

níveis governamentais, aponta para o risco de burocratização e rotinização do seu

funcionamento. A centralização do poder nas mãos do executivo fragiliza, em muitos casos, a

autonomia dos conselhos diante das condições que os governos reúnem para interferir,

neutralizar ou mesmo minar suas ações e decisões.

Verifica-se, desta forma que a simples participação de atores e/ou setores da sociedade

civil não garante por si própria, a reversão de uma lógica de poder em direção ao

aprofundamento da democracia. Faz-se necessário qualificar essa participação, e compreender

que os fatores impeditivos dos processos de participação são complexos e envolvem questões

de natureza política, econômica, social e cultural, e que dizem respeito a uma sociedade

estruturalmente assentada sob os pilares do clientelismo, do autoritarismo e das desigualdades

sociais (LÜCHMANN, 2003, p.168-169).

Abramovay (2003), destaca que é relativamente fácil transferir do Governo Federal

para o plano local, regras formais, estruturas administrativas e procedimentos burocráticos,

entretanto não é possível transferir, segundo o autor, num passe de mágica, valores,

comportamentos, coesão social e, sobretudo, a confiança entre indivíduos que os estimula a

tomar em conjunto iniciativas inovadoras. Assim o risco de os conselhos existirem apenas

como formalidade necessária para obtenção de recursos públicos é inerente ao próprio

processo de descentralização, contra o qual não existe uma proteção administrativa genérica.

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Nesse sentido, além da importância da existência de uma sociedade organizada, o

poder público passa a ter um papel fundamental, concretizado na vontade política

governamental de ser o elo condutor da implementação de espaços públicos deliberativos e de

investimentos na inversão das prioridades sociais. Segundo Lüchmann (2002, p. 169) “é nesta

perspectiva que se destaca a combinação entre a vontade e o empenho do governo, com a

tradição associativa sólida enquanto elementos centrais na avaliação do maior ou menor

sucesso das experiências de gestão participativa”.

Tendo em vista as enormes disparidades e desigualdades sociais os modelos

alternativos de gestão democrática devem ter a capacidade de remover os obstáculos que

historicamente têm minado o campo da promoção da cidadania, enquanto direito de

participação e deliberação dos assuntos da coletividade, além de ampliar a representatividade

dos diferentes segmentos e atores sociais, deve introduzir um conjunto de práticas, regras e

critérios que interfiram positivamente nas condições subjacentes de desigualdades sociais,

ampliando tanto as possibilidades de participação aos setores historicamente excluídos,

quanto ampliando a densidade e a qualidade de representação, garantindo, portanto

oportunidades igualitárias de participação para a concretização do controle social democrático

(LÜCHMANN, 2003, p.169).

Para Lüchmann a “democracia deliberativa (ou participativa) articula: participação

social em condições de igualdade e liberdade: processos de decisão advindos de uma

discussão coletiva e pública: condições de pluralismo: e a busca ou promoção da justiça

social” (LÜCHMANN, 2003, p.170).

Robert Putnam (1996), em seu estudo sobre o desenvolvimento desigual da Itália,

divulgou o conceito de “capital social”, que originalmente foi desenvolvido por James

Coleman e Glenn Loury. Mas tarde, outros autores utilizaram o conceito com variações

ideológicas, como Francis Fukuyama e mais recentemente o Prêmio Nobel de economia,

Amartya Sen.

Utilizando as análises de Maquiavel e vários contemporâneos seus sobre a história das

instituições republicanas na Antiguidade e também na Itália renascentista, Putnam (1996)

concluiu que o êxito ou o fracasso das instituições livres dependia dos cidadãos, ou seja, de

sua “virtude cívica”.

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Numa comunidade onde impera a virtude cívica, a cidadania se caracteriza

principalmente pela participação nos negócios públicos. Destaca-se a busca pelo bem público

em detrimento ao interesse puramente individual e particular. Em tal comunidade os cidadãos

interagem como iguais, e ela se mantém unida por relações horizontais de reciprocidade e

cooperação e não por relações verticais de autoridade e dependência.

Esse conjunto de características de uma comunidade pode contribuir, segundo Putnam

(1996), para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas. Em seu

estudo sobre as diferenças regionais da Itália, percebeu que as regiões mais cívicas, isto é,

com maior índice de capital social, eram as que promoviam maior crescimento econômico. E

a explicação para isso é que nessas regiões cívicas as instituições públicas são mais eficazes,

porque há maior comunicação entre os cidadãos, há um fortalecimento do consenso sobre as

decisões comunitárias, ocorre ainda a consolidação de organizações sociais e da economia

local, e como conseqüência acontece a cooperação voluntária. A confiança mútua entre os

indivíduos é mais que uma crença; ela gera regra e ação comunitária e se torna um

componente básico do capital social.

No entanto, outras virtudes como a reciprocidade, o cumprimento de obrigações, a

honestidade e a participação cívica são essenciais na produção do capital social. Esse conjunto

de virtudes contribui para a prosperidade econômica e são por sua vez reforçados por essa

prosperidade (PUTNAM, 1996, p. 190).

Vários são os exemplos atuais da criação de associações de produtores familiares que

tem promovido o desenvolvimento local e regional, como é o caso da Associação dos

Agricultores Ecológicos da Serra Geral (AGRECO) (SCHMIDT; SCHMIDT; TURNES,

2003) e da Associação dos Pequenos Produtores do Oeste Catarinense (APACO)

(BADALOTTI; REIS, 2005) e, de modo especial, o da Associação dos Bananicultores de

Luís Alves (ABLA) de que trataremos mais adiante.

A experiência da AGRECO de acordo com Schmidt et al (2003), teve início no

município de Santa Rosa de Lima (SC) em 1996 e ilustra, por sua vez, a aplicabilidade de

práticas agroecológicas. A associação contou com o apoio de algumas pessoas e entidades,

dentre elas Professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), de técnicos do

Centro de Estudos e Promoção da Agricultura em Grupo (CEPAGRO) e da Empresa de

Pesquisa e de Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), além do incentivo do poder

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público local. As atividades foram desenvolvidas em torno da produção de olericultura sem o

uso de agrotóxicos e sem fertilizantes sintéticos.

Já a APACO (BADALOTTI; REIS, 2005) foi criada em 20 de novembro de 1989 e

sua sede está localizada no município de Chapecó (SC). Sua formação ocorreu através da

articulação entre técnicos, movimentos sociais, ONGS, e grupos de agricultores interligados a

uma rede genericamente denominada “Rede de Viabilização da Agricultura Familiar”. Esta

rede tem estimulado, entre outros aspectos, diferentes formas de cooperação entre unidades

familiares de produção do Oeste catarinense e práticas agrícolas em bases agroecológicas,

assentadas em princípios e valores como a solidariedade, o resgate da cultura e conhecimento

local, a participação democrática, a auto-gestão, etc. Tem por objetivos, deste modo, a

viabilização econômica da agricultura familiar e, por extensão, a reprodução social das

famílias de produtores rurais e, ao mesmo tempo, sua sustentabilidade ambiental, mantendo

como um de seus principais objetivos estimular e assessorar o desenvolvimento da agricultura

coletiva no Oeste de Santa Catarina. A cooperação agrícola assessorada pela APACO possui

uma organização em âmbito regional, manifestando-se, em âmbito municipal, através da

manutenção de Cooperativas para Comercialização e de Crédito.

1.5 Agricultura e sustentabilidade sócio-ambiental

Os impactos da agricultura moderna foram questionados, desde o princípio, por

setores que valorizavam as práticas mais equilibradas, entre produção agrícola e meio

ambiente. A sustentabilidade surge a partir dos anos 1980, como um novo paradigma para o

desenvolvimento, através da divulgação do Relatório de Brundtand, documento realizado pela

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, que

“apontou a sustentabilidade como a possível solução para os complexos problemas nas

relações entre ambiente e desenvolvimento”. Este documento introduz a idéia de que o

desenvolvimento econômico de hoje deve se realizar sem comprometer a existência das

gerações futuras, e que a conservação dos recursos naturais é algo benigno tanto para o

ambiente quanto para a própria sociedade. O desenvolvimento deve ser, desta forma,

sustentável (EHLERS, 1999, p. 102 e 116).

O termo “desenvolvimento sustentável” passa a ser difundido e incorporado ao

vocabulário sendo utilizado corriqueiramente,

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[...] no conceito de desenvolvimento sustentável cabem todos os significados: é sinônimo de sociedade racional do terceiro milênio, de industrias limpas, de crescimento econômico, de forma disfarçada da continuação imperialista sobre o Terceiro Mundo, de utopias românticas...tudo nele parece caber (HERCULANO, 1992, p. 43).

Assim, o conceito de sustentabilidade adquire sentido e é usado de acordo com

interesses variados, além de determinar a proposição e formulação de diferentes estratégias de

desenvolvimento. Por ele transitam economistas, ecologistas, organizações sociais, agências

financeiras multilaterais, políticos e até grandes empresas.

Em relação ao Brasil, até a década de 1970, prevalecia no país o mito

desenvolvimentista. A questão ambiental, sob a perspectiva de valores predatórios era tratada

como antítese do desenvolvimento nacional. Além disso, o rápido crescimento econômico

tinha prioridade sobre a conservação ambiental. No período de 1945 a 1980, a sociedade

brasileira obteve taxas bastante elevadas de crescimento econômico e sofreu profundas

transformações estruturais. Da sociedade predominantemente rural, cujo dinamismo fundava-

se na exportação de produtos primários de base agrícola, emergiu uma complexa e intrigante

sociedade urbano-industrial (FERREIRA, 1999, p.101).

Deste modelo de crescimento baseado no desenvolvimento a qualquer preço surgiram

os problemas ambientais, e junto aos problemas ambientais surgiram àqueles próprios do

subdesenvolvimento, acentuando-se a segregação espacial e a profunda desigualdade social.

Deste modo, a questão ambiental finalmente foi introduzida nos debates sobre política

econômica, e relações internacionais, entre outros circuitos de difícil penetração, a partir da

década de 1980. Já não se fala mais de proteção ambiental independente do desenvolvimento

econômico. A preocupação central do debate é como atingir um novo estilo de

desenvolvimento que interiorize a proteção ambiental. Busca-se um estilo de desenvolvimento

socialmente justo e ecologicamente sustentável.

A partir de então, tanto o Banco Mundial, quanto a UNESCO e outras entidades

passaram a adotar o conceito de desenvolvimento sustentável para marcar uma nova filosofia

do desenvolvimento que combinaria eficiência econômica com justiça social e prudência

ecológica. Para Brüseke (1995, p.35), esse tripé virou fórmula mágica, que é prerrogativa para

solicitação de verbas para projetos de natureza mais variada no campo eco-sócio-econômico

dos países do Terceiro Mundo.

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O modelo de produção agrícola produtivista é uma das modalidades que mais

apresenta conflitos com a questão ambiental. A monocultura e a indústria de sementes, de

agrotóxicos e de fertilizantes, são a base do referido modelo, que já mostra sinais de exaustão,

contabilizando rendimentos decrescentes de produtividade/custo, com o empobrecimento do

solo e o comprometimento do volume e qualidade das fontes de água.

Em meados da década de 1980 a discussão sobre sustentabilidade se intensifica e

amplia-se para vários setores. O termo “agricultura sustentável” começa a ser empregado com

maior freqüência. A partir das múltiplas definições atribuídas ao termo, podemos verificar a

incorporação de alguns aspectos comuns a todos:

Como a manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola; o mínimo de impactos adversos ao ambiente; retornos adequados aos produtores; otimização da produção das culturas com o mínimo de insumos químicos; satisfação das necessidades humanas de alimentos e de renda; atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais (EHLERS, 1999, p. 103).

No Brasil, a consolidação dos avanços da política ambiental ocorre com a

promulgação da Constituição de 1988, que iguala o direito ao meio ambiente aos direitos e

garantias fundamentais, quando estabelece que “todos têm o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e

futuras gerações” (SILVA-SANCHES, 1999).

Entretanto, Neumann e Loch (2002) destacam que a legislação ambiental brasileira12,

mesmo prevendo três categorias de instrumentos de gestão, qual sejam: os de incentivos

econômicos; os de informação; e os de regulação e punição, os que geralmente prevalecem

são os instrumentos de controle e punição.

Para os autores, o fato da legislação ambiental no Brasil ter sido elaborada de modo

autocrático, sem haver a socialização dos conhecimentos junto à população para gestar as

mudanças necessárias, resulta em conflito com as práticas agrícolas de grande parcela de

agricultores familiares, resultando muitas vezes na inviabilidade produtiva destas unidades de

produção.

12 Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81), Código Florestal (Lei 4.771/65), Lei das Águas (Lei 9.433/97) entre outras.

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41

Outro aspecto destacado pelos autores acima citados é a rigidez e a padronização das

normas e regulamentos que são aplicadas linearmente a toda realidade rural brasileira,

concebendo este espaço de maneira homogênea e, como tal, propondo normas e soluções

padronizadas. Para Neumann e Loch (2002), os agricultores familiares só poderão realizar a

gestão dos espaços rurais, em sintonia com os preceitos da sustentabilidade, se os

instrumentos de gestão considerarem as particularidades dos diferentes sistemas de produção

praticados por esses agricultores.

No sul do país, uma grande parcela das pequenas propriedades familiares se concentra

nas escarpas das serras, as quais foram recortadas em colônias que abrigam os imigrantes

italianos e alemães, entre outros. É justamente sobre essas áreas que incide a maior carga de

instrumentos coibitivos, como o Código Florestal, as Áreas de Proteção Permanente, a Mata

Atlântica, etc. Neste sentido, a construção dos diferentes mecanismos de gestão e

desenvolvimento, a partir da noção de sustentabilidade, deve ocorrer através de situações

específicas da realidade, objetivando produzir respostas adequadas às condições singulares

desses agricultores (NEUMANN E LOCH, 2002).

1.6 Agricultura familiar e políticas públicas em Santa Catarina

Em Santa Catarina, as grandes transformações econômico-produtivas no rural se

intensificaram no decorrer da década de 1960, acompanhando o modelo desenvolvimentista

de caráter nacional. Com a criação do Serviço de Extensão Rural (ACARESC) em 1956; com

o reforço e redirecionamento das atividades de pesquisa agropecuária; e criação de

instituições financeiras, principalmente o Banco do Desenvolvimento do Estado de Santa

Catarina (BDE) foram criadas as condições básicas para impulsionar a transformação da

agricultura catarinense (MUSSOI, 2003).

O Plano diretor da ACARESC de 1970, conforme Mussoi (2003, p. 223-224),

afirmava a determinação de:

Transformar a agricultura tradicional mediante mudanças de métodos de produção e da utilização intensiva de insumos modernos.com expansão das facilidades de crédito e fortalecimento do poder de compra da população rural”. E acrescenta: “(...) as mudanças que desejamos introduzir nas técnicas de trabalho, produção e comercialização devem corresponder aos últimos avanços tecnológicos, devidamente testados nos estabelecimentos de pesquisa e experimentação

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A extensão rural desempenhou um papel determinante na introdução do modelo de

transformação da base técnica da agricultura, sendo orientada para trabalhar com produtos

específicos e com agricultores que dessem respostas, no que se refere ao aumento da

produtividade e da produção (MUSSOI, 2003, p. 223).

Tanto a estrutura institucional assumida, como a metodologia de trabalho,

pressupunham um forte componente indutor da nova proposta técnica, na medida em que se

condicionava o uso de métodos que propunham ampliar ao alcance e a velocidade de adoção

por parte das famílias rurais. Isto fica evidenciado no Plano Diretor da ACARESC de 1970,

onde é explicitada a determinação de transformar a agricultura tradicional mediante mudanças

de métodos de produção e da utilização intensiva de insumos modernos, através das

facilidades de crédito e fortalecimento do poder de compra da população rural, além de

reforçar que as mudanças introduzidas nas técnicas de trabalho, produção e comercialização

deveriam corresponder aos últimos avanços tecnológicos (MUSSOI, 2003).

Em Santa Catarina o processo de modernização agrícola em relação às pesquisas

culmina com a criação em 1975, da Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária

(EMPASC), a qual vai intensificar o nível de especialização e dinamização da atividade de

pesquisa em Santa Catarina, sempre obedecendo aos programas e prioridades definidos a

nível nacional pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) (MUSSOI,

2003).

Atualmente, a empresa prestadora de assistência técnica rural é a EPAGRI – Empresa

de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S/A, que foi criada em 1991, no

bojo de uma profunda reforma administrativa promovida pelo governo estadual no Serviço

Público Agrícola, que fundiu e incorporou numa só instituição os serviços de pesquisa

agropecuária até então desenvolvidos pela EMPASC – Empresa Catarinense de Pesquisa

Agropecuária S.A., de extensão rural pela ACARESC – Associação de Crédito e Assistência

Rural de Santa Catarina, de extensão pesqueira pela ACARPESC - Associação de Crédito e

Assistência Pesqueira de Santa Catarina, além do serviço de fomento apícola, a cargo do

IASC – Instituto de Apicultura de Santa Catarina.

Os objetivos que deveriam ser alcançados pela pesquisa e extensão em Santa Catarina,

conforme o Plano acima mencionado e ratificando o modelo nacional de desenvolvimento, era

o de melhorar a tecnologia de produção agrícola, tendo em vista o aumento da produtividade

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para iniciativas agrícolas mais significativas no conjunto da economia agropecuária, bem

como o de restaurar a organização, visando torná-la melhor equipada para fazer frente aos

desafios impostos a este modelo (MUSSOI, 2003).

Compondo o tripé junto com a pesquisa e a extensão, o credito rural foi condição

básica para viabilizar o projeto modernizador. A partir de 1960 são fundados o Banco de

Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (BDE), o Banco Regional de Desenvolvimento

do Extremo Sul (BRDE), que vão dar suporte financeiro às iniciativas industriais privadas e

ao início de uma política de transformação da agricultura. Outra ação importante do governo

foi a criação, em 1963, do Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina

(FUNDESC), que atuava através da aplicação de fundos fiscais, subsidiando juros de

empréstimos e levando a cabo financiamentos, com recursos do orçamento estatal e de

incentivos fiscais (MUSSOI, 2003).

Em 1970 também é criado o Fundo de Estímulo à Produtividade (FEPRO), que tem

por finalidade subsidiar os produtores na compra dos principais insumos modernos. Este

subsídio consistia no pagamento dos custos de transporte de corretivos e fertilizantes e dos

juros que incidiam nos financiamentos de compra de maquinas agrícolas, mudas de arvores

frutíferas e reprodutores suínos e bovinos. Assim com uma base técnica garantida pelo pacote

tecnológico dos insumos modernos; um conjunto de mecanismos indutores do uso destes

insumos como o FEPRO e a ampliação do crédito rural; e a ampliação do serviço de extensão

rural para a difusão e indução planejadas de tecnologias modernas, completavam-se as

condições básicas para a viabilização do projeto de modernização da agricultura em Santa

Catarina (MUSSOI, 2002).

Quanto a sua finalidade, o crédito pode ser agrupado em três linhas: a de custeio,

quando atende às despesas do ciclo produtivo; a de investimento, quando é destinado a

inversões em bens e serviços que gerem benefícios por mais de um ciclo de produção; e a de

comercialização, quando atende às despesas de pós-produção.

Tabela 2 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – SC - 1999 Atividade – Banana NºContratos Total Financiado (R$) Área Financiada (Ha) Custeio 308 3.387.527,89 4.150,86 Investimento 02 41.016,00 15,00 Comercialização 0 0 0

Fonte: Anuário Estatístico Do Crédito Rural

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No caso específico da política de crédito para a bananicultura, podemos constatar nas

tabelas, que tanto o Estado de Santa Catarina, quanto o Brasil como um todo, tem ampliado o

número de contratos e o volume de recursos, destinados ao crédito para o desenvolvimento

desta atividade.

No estado de Santa Catarina no período de cinco anos, o número de contratos para a

linha de custeio, aumentou 76,38% e o valor total financiado teve um acréscimo de 71,85%. O

mesmo ocorre com a linha de investimento que aumentou 96,44% e o valor total financiado

aumentou 95.64%. Por outro lado, a área plantada no estado teve uma ampliação de apenas

30,50%.

Tabela 3 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – SC - 2004 Atividade – Banana NºContratos Total Financiado (R$) Área Financiada (Ha) Custeio 1.304 12.037.441,78 5.972,88 Investimento 57 941.494,37 546,00 Comercialização 0 0 0 Fonte: Anuário Estatístico Do Crédito Rural

À progressiva evolução ao acesso da política de crédito agrícola pelos agricultores que

cultivam banana, podemos creditar o incremento desta cultura no estado, o qual se encontra

entre os principais produtores da fruta do país. Outro aspecto importante a ser destacado é o

fato de que a área plantada não teve aumento significativo, isso nos leva a crer que o

agricultor recebeu assistência técnica e utilizou tecnologias que possibilitaram este

incremento da produção no estado. Vale destacar desta forma, também o papel estratégico das

políticas públicas de pesquisa e extensão rural do estado.

Tabela 4 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – Brasil/1999 Atividade NºContratos Total Financiado (R$) Área Financiada (Ha) Banana 3.228 15.322.375,01 15.506,20

Fonte: Anuário Estatístico Do Crédito Rural Tabela 5 Financiamentos concedidos a Produtores e Cooperativas – Brasil/2004

Atividade NºContratos Total Financiado (R$) Área Financiada (Ha) Banana 5.313 37.510.457,96 19.602,27

Fonte: Anuário Estatístico Do Crédito Rural

Estes números parecem se repetir também em termos de país. O número de contratos

sofreu um acréscimo de 39,24% e o valor financiado aumentou 59,15%, enquanto que a área

plantada aumentou 20,89%. Conforme tabelas acima.

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45

Segundo Buainain et al (2003) as políticas públicas, apoiaram as atividades

consideradas competitivas, por ocuparem nichos de mercado. A bananicultura pode ser

considerada uma atividade que atende a estes critérios, visto ser a banana uma fruta com valor

tanto para comercialização interna, quanto para a exportação.

Como já foi visto anteriormente, a agricultura familiar, embora tenha enfrentado e

ainda enfrente um cenário macroeconômico adverso, sofrendo discriminação em relação às

políticas públicas que favorecem os produtores patronais que, ao invés de promover o

desenvolvimento rural e local promovem o esvaziamento do campo e inibem o

desenvolvimento local, o caso dos bananicultores de Luís Alves se destaca na direção oposta.

Ao contrário da exclusão ou pauperização desses agricultores, o que se verifica é sua inclusão

no referido processo de modernização (GUANZIROLI, 2001).

1.7 A história da bananicultura brasileira

A banana é uma fruta tropical, cultivada nas regiões quentes do mundo, produzindo

praticamente durante o ano todo. É originária do Sudeste Asiático. Foi trazida para a América

Latina no ano de 1516, quando foi introduzida em São Domingos. A partir da segunda metade

do século 19, ganhou expressão no comércio mundial com as produções da América Central e

Caribe. No comércio mundial, a banana é a fruta que apresenta maior volume de vendas por

ser consumida também nas regiões frias e temperadas. Ela é a fonte de divisas para muitos

países, principalmente da América Latina, como o Equador, Colômbia (Instituto CEPA,

2004).

Tabela 6 Banana – evolução no mundo – 1996-2003 Discriminação 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Área (mil ha) 3.838 3.905 3.900 4.149 4.178 4.404 4.472 4.544 Produção (mil t) 54.969 60.450 60.015 64.883 66.145 67.792 68.015 69.286 Rendimento kg/ha 14.324 15.480 15.390 15.640 15.833 15393 15.209 15.245

Fonte: FAO/ICEPA/Síntese Anual da Agricultura em Santa Catarina, 2003-2004.

Sua produção vem crescendo a cada ano no mundo inteiro, com o aumento da

produtividade e da área plantada. A área plantada em 2003, segundo a FAO, ocupou

4.544.702 hectares, superando em 1,6% o cultivo anterior. A produtividade média dos

pomares aumentou de 15.209 kg/ha em 2002 para 15.245 kg/ha em 2003, garantindo a

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produção de 69.286.046 toneladas; um incremento de 1,9% em relação à safra passada

(Instituto CEPA, 2004).

Segundo a “Síntese Anual da Agricultura em Santa Catarina 2003-2004”, a produção

brasileira de bananas é superada em volume apenas pela laranja. Esta fruta apresenta-se,

também, como de grande importância por ser o Brasil o maior consumidor mundial, mesmo

sendo o segundo em produção, perdendo somente para a Índia. O consumo per capita da fruta

no Brasil é de 29,8 kg/habitante ano, sendo que o consumo mundial é de 9,0 kg/habitante

/ano.

Tabela 7 Consumo per capita da fruta no Brasil – 1996 a 2001 Fruta 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Banana 26,9 27,8 26,8 27,4 29,9 29,8 Laranja 28,9 40,0 24,1 38,5 38,4 56,3 Maçã 5,2 4,8 4,8 5,0 4,8 3,8 Uva 2,1 2,9 2,8 2,3 2,9 3,0 Limão 2,1 2,2 2,3 2,2 2,1 2,4 Outras frutas 19,4 21,0 19,7 19,0 19,6 21,2

Fonte: FAO/ ICEPA/Síntese Anual da Agricultura em Santa Catarina, 2003-2004.

A produção de bananas do Brasil enfrenta dificuldades na concorrência com as

bananas de outros países. Os custos de comercialização, os negócios realizados sem a garantia

por meio de contratos, a deficiência na classificação, a falta de padronização do produto e da

embalagem e, ainda, a ausência de linhas de crédito para a comercialização, estão entre os

principais entraves para uma maior inserção do produto no mercado mundial. Outro aspecto

que dificulta a maior inserção da banana brasileira no mercado é a falta de uma política de

exportação específica para a fruta, assim como a inexistência de acordos comerciais para o

produto no Mercosul (Instituto CEPA, 2004).

Conforme dados da Síntese Anual da Agricultura em Santa Catarina (2004, p.51-52),

em 2002, as exportações mundiais da fruta apresentaram cifras superiores a quatro bilhões de

dólares, movimentando 14,7 milhões de toneladas. Este fato pode ser explicado por alguns

aspectos como: a) o grande rendimento por hectare – em regiões tropicais é possível

conseguir uma produção de 75 a 100 toneladas por hectare; b) ciclo curto – ciclo de 12 a 14

meses após o plantio da muda; c) facilidade de propagação – a bananeira permite a obtenção

de grande quantidade de mudas em pouco tempo e a um preço baixo; d) produção contínua –

a bananeira pode produzir a ano todo, permitindo uma oferta constante em todos os meses; e)

facilidade de manejo da fruta verde; f) condições de armazenamento e maturação acelerada.

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A bananeira vem sendo cultivada em todos os estados da Federação conforme dados

da tabela 8. Os programas governamentais que visam ao aumento das exportações têm

favorecido a superação de problemas de qualidade e apresentação da fruta e isto contribuiu

para a diminuição das perdas ao longo da cadeia produtiva.

Tabela 8 Banana/área/produção/rendimento médio dos Estados/2005 Estado Produção(t) Part. (%) Área (ha) Part. (%) Rendimento(kg/ha) SP 1.977.834 29,7 52.700 10,4 20.693 BA 844.739 12,7 61.148 12,1 14.056 SC 662.224 9,9 30.247 6,0 21.894 MG 555.366 8,3 39.754 7,9 14.629 PA 540.312 8,1 42.314 8,4 12.793 CE 365.956 5,5 42.233 8,3 8.665 AM 354.433 5,3 32.357 6,4 10.984 PE 350.716 5,2 39.118 7,7 9.960 PB 284.896 4,3 16.542 3,3 17.223 PR 247.835 3,7 10.970 2,2 22.592 RN 199.135 3,0 6.375 1,3 31.237 ES 170.509 2,6 21.383 4,2 8.659 GO 168.000 2,5 15.000 2,9 12.000 RJ 161.459 2,4 24.158 4,8 6.683 Fonte: IBGE

A grande preocupação dos bananicultores brasileiros continua sendo a Sigatoka13

Negra, doença cuja incidência já foi observada nas Regiões Norte e Centro-Oeste.

Preocupados com a doença, produtores, comerciantes e técnicos de todas as regiões discutem

providências, para evitar que a Sigatoka Negra se alastre para as áreas que ainda estão livres

de sua contaminação, pois o alto custo para o seu controle poderá inviabilizar a exploração

comercial da fruta.

1.8 A produção agrícola familiar catarinense e a bananicultura

A Agricultura Familiar em Santa Catarina, conforme a classificação do PRONAF, é

formada por cerca de 180 mil propriedades. Estas famílias de agricultores ocupam apenas

41% da área rural. Respondem por mais de 70% da produção agrícola e pesqueira do estado e

por aproximadamente 78% da produção de banana do estado. Cerca de cinco mil famílias têm

nessa atividade sua principal fonte de renda, projetando Santa Catarina como o terceiro maior

produtor de bananas do país. Dessa forma, a bananicultura tem extrema importância

13 Doença fúngica que ataca os bananais, existe a sigatoka amarela e a negra. A de maior incidência na região é a amarela.

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48

socioeconômica no estado e representa um forte componente na renda de um grande número

de pequenos agricultores (SOUZA e CONCEIÇÃO, 2002).

Embora apresente qualidade considerada elevada para os padrões nacionais, a banana

produzida em Santa Catarina ainda necessita melhorar sua qualidade para competir nos

mercados externos, especialmente da Argentina e do Uruguai, onde o seu maior concorrente é

o produto oriundo do Equador, o maior fornecedor de bananas do mundo (SOUZA e

CONCEIÇÃO, 2002).

Conforme dados da Síntese Anual da Agricultura 2003- 2004, em Santa Catarina, o

PIB agropecuário cresceu 6,3% em 2003, atingindo um valor estimado de R$ 7,6 bilhões. A

produção de bananas sofreu uma ligeira redução em 2003, devido à queda na produtividade

dos pomares, apesar de um crescimento estimado de 2% na área. Os preços estimularam a

produção, que vem aumentando nos últimos anos. A qualidade do produto garantiu

exportações crescentes e fez a safra 02/03 bastante favorável à bananicultura (Instituto CEPA,

2004, p. 17).

A produção de Santa Catarina atende aos diversos mercados da fruta. Cerca de 13%

vai para as indústrias instaladas no Estado; 21% é consumida in natura no próprio Estado;

30% é registrado como perdas que ocorrem desde a colheita até a mesa do consumidor, e a

maioria, ou seja, 36%, destina-se a outros mercados. Em 2003, as exportações absorveram

14% do total produzido, restando 22% para os mercados dos outros estados brasileiros. Por

isso, a “banana-catarina”, conforme designação dos agentes do mercado, está sempre presente

na mesa dos consumidores da maioria dos estados brasileiros e dos vizinhos países do

Mercosul. A área plantada no estado cresceu gradativamente nos últimos cinco anos.

Estimulados pelos bons preços recebidos, os produtores confiam cada vez mais na atividade,

aumentando de 25.932 hectares em 1999, para 29.714 em 2003. O uso de tecnologia

recomendada aos agricultores fez o rendimento médio dos pomares crescer em 16% neste

período. A produção, que em 1999 era de 490 mil toneladas, passou para 618,4 mil toneladas

ano (Instituto CEPA, 2004).

Esse aumento de produtividade se deve às novas cultivares introduzidas pela pesquisa

local da EPAGRI e às modernas tecnologias de cultivo geralmente superiores às adotadas em

outras regiões. As cultivares de banana exploradas em Santa Catarina se dividem em dois

grandes subgrupos: Cavendish (Nanica, Nanicão, Grande Naine) e Prata (Prata, Branca,

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Enxerto, Maçã, Ouro). Estes aspectos fazem do estado um dos principais produtores e

exportadores de banana do Brasil.

Na década de 1980, com a introdução de novas tecnologias de cultivo, recomendadas

pela pesquisa e repassadas aos bananicultores pelo serviço de assistência técnica da EPAGRI,

ocorreu um novo aumento da área plantada com bananais. Entretanto, na década de 90, as

restrições impostas pela legislação ambiental com o objetivo de preservação da Mata

Atlântica interferiram na tendência de expansão da área. Nos últimos anos constatou-se uma

maior ênfase na profissionalização dos bananicultores, no associativismo e na melhoria da

qualidade do produto para o mercado. Contudo, faltam conhecimentos a respeito de alguns

aspectos importantes do funcionamento da cadeia produtiva, principalmente no que diz

respeito à comercialização (SOUZA e CONCEIÇÃO, 2002).

Tabela 9 Número de produtores de banana em área cultivada/SC – 1995-1996 Área Cultivada Nº de Produtores

Menos de 1 ha 21.930 De 1 a menos de 2 ha 1.009 De 2 a menos de 5 ha 1.417 De 5 a menos de 10 ha 840 De 10 a menos de 20 ha 422 De 20 a menos de 50 ha 140 De 50 a menos de 100 ha 11 De 100 a menos de 200 ha 5 De 200 a menos de 500 ha 4 Mais de 500 há 0

Fonte: IBGE/ICEPA/(Síntese Anual da Agricultura em Santa Catarina, 2003-2004).

Sendo a bananeira a principal frutífera em área cultivada do Estado, tem importância

econômica significativa. O valor de sua produção é estimado em R$ 70 milhões anuais. Além

disso, também apresenta importância social, pois segundo dados do Censo agropecuário de

1995-1996 do IBGE, em Santa Catarina são 25.778 os produtores rurais que cultivam a fruta,

e em cerca de 5.000 estabelecimentos agrícolas a banana é a principal fonte de renda. Destas

propriedades, aproximadamente 78% possuem menos de 50 hectares, e cerca de 97,7% dos

produtores catarinenses possuem estabelecimentos com área de 10 hectares, ou menos,

conforme tabela 9 (Instituto CEPA, 2004).

Esta característica dos estabelecimentos rurais de Santa Catarina é resultado de sua

colonização, que se desenvolveu com uma notável capacidade de expansão e subdivisão das

pequenas propriedades que foram dando origem a outros núcleos. O estabelecimento de

pequenos agricultores, artesãos, proletários e pequenos comerciantes, desempenhou uma,

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[...] significativa divisão social do trabalho (os agricultores compravam tecidos, instrumentos de trabalho, etc.), tinham sua origem em uma Europa em ‘processo de industrialização’, portanto em conjuntura histórica distinta daquela vivida pelos imigrantes provenientes dos Açores (MAMIGONIAN, 1986 apud PEREIRA; VIEIRA, 1997, P. 458).

Constatamos que o conjunto geográfico bastante diversificado de Santa Catarina

influenciou o tipo de ocupação do seu território, distinguindo-o dos outros Estados do Brasil.

Além disso, as diferentes correntes migratórias que povoaram a região constituíram um

“mosaico sócio-cultural representado pelos diferentes fluxos colonizadores” (LINS, 2002

apud PEREIRA 2003, p. 109-111).

Outro aspecto natural significativo na região é a diversidade da cobertura florestal e

campestre. No entanto, o principal elemento de originalidade da região é o clima subtropical,

ocorrendo invernos com temperaturas muito baixas. Este aspecto foi também responsável pelo

povoamento tardio da região. As características naturais do Estado influenciaram tanto o seu

povoamento quanto a sua atividade econômica.

Durante o século XIX, com a independência do Brasil, ocorreu a imigração européia.

As condições climáticas semelhantes às da Europa favoreceram a fixação dos imigrantes nesta

região. A primeira leva de imigrantes europeus se instalou nos vales atlânticos e nas áreas

florestais mais orientais, modificando as características naturais e promovendo o

desenvolvimento da região. Os primeiros alemães chegaram a São Pedro de Alcântara em

1829, fundaram Blumenau em 1850 e Joinville em 1851. Constituíram colônias menores mais

a oeste do Estado desenvolvendo uma diversificada produção mercantil (rural e urbana).

O dinamismo das relações econômicas (venda dos excedentes e compra de

mercadorias) entre as regiões, decorrentes da evolução do capitalismo no Brasil propiciou o

surgimento e a consolidação de um importante parque industrial. O desenvolvimento desse

parque industrial, principalmente a indústria têxtil, no Vale do Itajaí/SC, desempenhou um

importante papel na reprodução das colônias, pois empregando em regime parcial os

camponeses que habitavam a região, permitiu a preservação de sua condição de colono

(SEYFERTH, 1992).

Descendentes de imigrantes europeus, principalmente alemães, identificados como

“colonos”, valorizavam e ainda valorizam o trabalho, e a mão de obra familiar. Essa

“capacidade e dedicação ao trabalho”, segundo Seyferth (1992), baseia-se na imagem do mito

do “pioneirismo” de seus antepassados, que teriam vencido todas as adversidades decorrentes

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51

da imigração e colonização, graças a sua capacidade e amor ao trabalho, herdado e aprendido

na terra de origem e passado a seus descendentes.

De acordo com Reis (1998, p. 136), a condição de pobreza no início da colonização,

causa e efeito das privações de muitos desses “colonos”, era mais um obstáculo a ser vencido.

A preocupação pela situação vivida apontava para a perspectiva de sua superação através da

dedicação ao trabalho, garantindo a sua reprodução enquanto “colonos”, assim como a

possibilidade de garantir a propriedade da terra para os filhos. Apontava, ainda, para a

possibilidade de acumulação através da previsão, da poupança e da parcimônia nos gastos.

Esses colonos apresentam algumas características marcantes, como um forte acento na

apropriação privada da terra, a valorização do trabalho familiar, a dedicação e a eficiência do

trabalho e a valorização da vida comunitária (SEYFERTH,1992).

Estes traços, característicos dos colonos de origem européia parecem estar presentes

nos agricultores familiares do município de Luís Alves, que a princípio tinham um objetivo

em comum: buscar alternativas de sobrevivência na agricultura, mas com o seu trabalho,

fizeram da bananicultura uma possibilidade para além da sobrevivência: uma alternativa de

permanência no campo, gerando renda suficiente, para também contribuir para o

desenvolvimento do município, como veremos no capítulo a seguir.

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52

CAPÍTULO II

O CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE LUÍS ALVES

2.1 Aspectos históricos e geográficos

O município de Luís Alves está localizado na região nordeste do Estado de Santa

Catarina. Para efeito de planejamento estadual, Luis Alves integra a Microrregião da Foz do

Rio Itajaí, composta por 11 municípios, tendo como centro polarizador Itajaí e fazendo parte

da Associação dos municípios da Foz do Rio Itajaí – AMFRI. As principais rodovias de

acesso a Luís Alves são: a SC 413 que liga Luís Alves a Navegantes, com 29 km de acesso

asfáltico terminando na junção com a SC 470. Esta rodovia, depois de concluída fará ligação

do município até Massaranduba, com junção da Rodovia Guilherme Jensen; a ligação de Luís

Alves com Blumenau é feita por estrada de barro com 30 km de extensão (Plano Plurianual de

Assistência Social/Luís Alves, 2001).

Luís Alves tem como limites territoriais os Municípios: Barra Velha e Massaranduba

ao norte; Gaspar e Ilhota ao sul; Barra Velha, Navegantes e Piçarras a leste; Blumenau,

Gaspar e Massaranduba a oeste. Está dividido em 29 comunidades que ocupam uma área de

260,3 Km². Com uma população de 8.447 habitantes em 2003, destes 2.597 moram na área

urbana, correspondendo a 30.74% e 5.850 moram na área rural, correspondendo a 69.25% da

população do município (Plano Plurianual de Assistência Social/Luís Alves, 2001).

Possui um clima classificado como subtropical, o qual se caracteriza por chuvas bem

distribuídas, invernos frios e verões quentes, apresentando uma temperatura média de 19,9º C

e uma precipitação anual de 1.500 a 1.600 milímetros cúbicos. O relevo é constituído de

superfícies planas, onduladas e montanhosas com serras de embasamento cristalino. O solo é

álico e de baixa fertilidade com altos teores de alumínio trocáveis e baixos teores de bases

trocáveis, de textura argilosa e média/argilosa, em muitos casos com cascalho ou cascalheta,

normalmente argila de atividade baixa, apresentando restrições no manejo da terra (Plano

Plurianual de Assistência Social/Luís Alves, 2001).

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53

A colonização de Luís Alves foi iniciada em 1877. Os primeiros colonizadores

imigrantes foram italianos, em seguida austríacos, alemães, portugueses e poloneses. A

maioria dos imigrantes era agricultores que recebiam lotes demarcados anteriormente pelo

engenheiro do “Serviço de Terras e Colonização” de Itajaí. Quando da formação da Colônia

foram medidos 77 lotes, sempre as margens dos rios. Inicialmente foram distribuídos 52 lotes

“rústicos” de 275 metros de frente e 1.100 de fundos, para os primeiros 230 imigrantes que

formaram a colônia de “Luiz Alves”, no ano de 1877. Segundo decreto nº 5663 de 17 de

junho de 1874 os imigrantes deveriam ser agricultores sadios, laboriosos e moralizados, sendo

que somente 20 por cento deles poderiam pertencer a outras profissões. Mais tarde, em 1930,

muitos imigrantes alemães da região de São Pedro de Alcântara – SC se transferiram para

Luís Alves, trazendo consigo a arte da fabricação da cachaça artesanal (OLIVEIRA. 1997).

Em 10 de outubro de 1902, Luís Alves passou a ser “Freguesia”, em 13 de julho de

1903, passou a “Distrito”, e em 31 de março de 1938, a “Vila”. A Lei Estadual n.º 348

emancipou-a, tornando-a município em 18 de julho de 1958 (Plano Plurianual de Assistência

Social/Luís Alves, 2001).

Figura 1 Mapa de Santa Catarina e Luís Alves

Fonte: mapainterativo.ciasc.gov.br

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54

2.2 Aspectos demográficos

O município de Luís Alves, como muitos outros de Santa Catarina, no final dos anos

70, sofreu intenso êxodo rural, apresentando índices negativos de crescimento populacional.

Podemos verificar através da tabela 10, que em 1970 a população era de 7.651 habitantes.

Vinte seis anos depois, essa população era de 7203 habitantes, o que demonstra que houve

neste período um decréscimo de 5.8% da população do município, só voltando a ter índices

positivos na década de 1990. Este fato foi decorrente do alto êxodo rural, observado neste

período.

Tabela 10 Informações básicas sobre o município Informações 1970 1996 2000 2003 População residente total 7651 7203 7974 8447 População urbana 549 1986 2124 2597 População rural 7102 5217 5850 5850 Área geográfica (Km2) 260,3 260,3 260,3 260,3 Número de comunidades 29 29 29 29 Número de famílias rurais 1240 890 1170 1170 Número de escolas 24 24 12 12 Densidade demográfica (hab/km2) 30,2 28,5 30,64 33,4

Fonte: IBGE, censo demográfico 2000. (EPAGRI/PAT/2005) 14

A problemática das migrações ainda atinge muitos municípios, conforme reportagem

do Jornal Santa Catarina15, que analisando os dados do censo 2000, com as estimativas para

2005, destaca que nos últimos cinco anos algumas cidades do Vale do Itajaí, vivenciam um

processo de desertificação em relação a sua população, enquanto outras, localizadas no litoral

viram sua população aumentar significativamente.

Conforme gráfico 1, podemos verificar que em 1970 havia 7.651 habitantes, dez anos

depois em 1980, eram 6.480 pessoas, uma redução de 15% da população. Somente a partir de

1990 que o crescimento populacional começa a apresentar índices positivos. Através destes

indicadores se constata, que o município sofreu as conseqüências do modelo da política

econômica e agrária adotadas nacionalmente.

14 Plano Anual de Trabalho da EPAGRI para 2005/ Município de Luís Alves. 15 Reportagem do Jornal de Santa Catarina dos dias 24 e 25 de setembro de 2005, com a manchete “Migrações provocam efeito sanfona no Vale: em cinco anos, litoral inchou na proporção em que as cidades agrícolas perderam habitantes, constata estimativa do IBGE”.

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55

Gráfico 1 Evolução da população de 1970 a 2004 – Luís Alves

1980 1991 1996 2000 2001 2002 2003 2004

7.651

6.480 6.440

7.203

7.9748.163

8.2978.447

8.761

1970

Fonte: IBGE

De acordo com Siebert (apud VIEIRA, 2005), a tendência é que os municípios

pequenos, essencialmente agrícolas, fiquem menores ainda. Sem estrutura de escolas,

hospitais e trabalho, os jovens de pequenas cidades migram para municípios com mais

opções. Ainda segundo a autora, o crescimento populacional de uma cidade se relaciona

intimamente com a perspectiva de emprego.

O município de Luís Alves vem contrariando esta lógica. Mesmo sendo pequeno e

essencialmente agrícola, com cerca de 69,25% de sua população residindo na zona rural, vem

apresentando um aumento significativo de sua população, como mostra os dados da tabela 11.

Tabela 11 Taxa de crescimento do município – 2000 - 2005 Censo 2000 Estimativa 2005 Diferença %

Luís Alves 7.974 8.935 961 12%

Santa Catarina 5.356.360 5.866.590 510.230 10%

Fonte: IBGE

Podemos concluir com esses dados que a população, principalmente os jovens têm

encontrado perspectivas de emprego e renda no município. Segundo Guanziroli et al (2001), a

agricultura familiar é a principal fonte de ocupação de trabalho no meio rural brasileiro. Dos

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56

17,3 milhões de pessoas ocupadas na agricultura brasileira 13.780.201 estão empregadas na

agricultura familiar. Mesmo dispondo de apenas 30% da área, ela é responsável por 76,9% do

pessoal ocupado. Em Luís Alves, a população ocupada na agricultura é de 3.500 pessoas,

correspondendo a 65,17% do total da população economicamente ativa.

Luís Alves oferece uma infra-estrutura relativamente favorável à permanência da

população no município. Outro aspecto é a relativa facilidade de acesso aos centros maiores,

como Blumenau, Itajaí, Joinville e Florianópolis.

2.3 Indicadores sociais

A maioria das casas do município é de alvenaria e/ou madeira. Em virtude da

economia rural forte, a distribuição das habitações é bastante irregular, a densidade

demográfica é baixa (33,4 hab./km²), dificultando o acesso ao saneamento básico no meio

rural. As condições de moradia são de boa qualidade para a maioria dos moradores, sejam da

região urbana ou rural. Conforme evidencia gráfico 2, a maior parte das casas do município é

construída em alvenaria.

Gráfico 2 Material utilizado para a construção das residências

Fonte: SIAB/PSF ano 2003 e 2005

O fornecimento de energia elétrica, que é de responsabilidade da CELESC, atualmente

atende a 100% da população rural e urbana do município, sendo que o consumo atinge 75%

da capacidade de fornecimento. Luís Alves, juntamente com Bombinhas, Camboriú, Ilhota,

Penha, Piçarras e Porto Belo, representam 26,0% do total dos consumidores de energia

elétrica da AMFRI (Plano Municipal de Saúde, 2005).

43,72

32,69

23,58

46,7

36,98

16,32

0

10

20

30

40

50

Alvenaria Madeira MISTO

2003

2005

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57

O abastecimento de água é administrado pela CASAN e atende 70,42% da população

urbana. Segundo o IDS/2000, esta porcentagem representa um índice de 0,72% considerado

um nível de atendimento baixo. Em 1987, Luís Alves apresentava exatamente 01 economia

por ligação de água, fato singular dentre os demais municípios, e que não se alterou

substancialmente em 1994, quando este valor encontrava-se em 1,04. Neste período, o

crescimento no número de economias abastecidas pela CASAN foi de 67,6 % (Plano

Municipal de Saúde, 2005).

De acordo com dados da Secretaria da Saúde, (SIAB, 2005) das 2512 famílias

cadastradas no ano de 2005, 514 são abastecidas pela rede pública (20,46%), 1998 famílias

utilizam água de poços ou nascentes (79,54%). Este índice é decorrente da predominância das

áreas rurais. A dispersão populacional dificulta e aumenta o valor dos investimentos para o

pleno atendimento da população (Plano Municipal de Saúde, 2005).

Quanto ao esgoto, não há rede coletora, nem sistema de tratamento centralizado. Na

área urbana foram implantados no município 309 sistemas individuais de tratamento de

esgoto doméstico, constituído de tanque séptico, filtro anaeróbico e caixa de gordura. Na área

rural, a maioria dos domicílios não tem sistemas individuais de tratamento e acabam jogando

seus dejetos diretamente nos córregos e ribeirões contaminando as águas e o solo.

Gráfico 3 Destino de resíduos humanos (área urbana)

Fonte: SIAB/PSF ano 2005

A coleta de lixo do município atende toda área urbana e parte da rural, atendendo um

total de 61,82% das residências (SIAB/2001), sendo realizada duas vezes por semana. Nas

áreas rurais existem 15 depósitos para o lixo inorgânico e tóxico, os quais são recolhidos duas

330

1505

677

Rede de esgoto Fossa Céu aberto

2005

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58

vezes por mês. A Prefeitura Municipal tem contrato com uma empresa de reciclagem da

cidade de Brusque, a qual é responsável pelo destino final do lixo.

Gráfico 4 Destino do lixo (%)

Fonte: SIAB/PSF – ano 2005

Outro item que integra a infra-estrutura do município é o transporte. O transporte

intermunicipal é realizado exclusivamente pela Empresa Auto Viação Rainha Ltda., com sede

em Blumenau. Os itinerários oferecidos pela empresa são para as cidades de Blumenau, Itajaí,

Navegantes e Barra Velha. A população se desloca, sobretudo, por meio de veículos próprios.

Não há transporte interestadual a partir do município. Para tal, é necessário o

deslocamento às cidades de Blumenau ou Itajaí. O transporte da produção é realizado por

transportadoras e veículos particulares.

Quanto à comunicação, nos últimos anos houve acréscimo de linhas telefônicas no

município. Os telefones convencionais estão instalados principalmente no centro e na Vila do

Salto, porém houve expansão também para a área rural. O município também é servido pela

telefonia celular fixa em algumas propriedades da zona rural, além da telefonia celular móvel.

De acordo com a Lista Telefônica Luís Alves – ano 2005/2006, há 1.120 linhas telefônicas

residenciais, além das comerciais. Entretanto, este serviço ainda não está acessível para a

maioria dos agricultores do município, sendo uma das suas maiores reivindicações,

principalmente daqueles que moram nas localidades mais distantes, por se tratar de um

equipamento essencial para a venda da produção.

Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano, o município melhorou

significativamente seus indicadores em dez anos. Dos três indicadores que compõe o IDH -M,

o indicador que mais se destacou foi a renda, apresentando um aumento de 16,72%, conforme

tabela abaixo.

61,82

35,47

2,71

Coleta pública Queimado/

enterrado

Céu aberto

2005

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59

Tabela 12 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – 1991 -2000 Município Estado Brasil

1991 2000 2000 2000

Total 0,742 0,841 0,806 0,757

Renda 0,677 0,813 0,750 0,720

Longevidade 0,753 0,825 0,762 0,710

Educação 0,797 0,884 0,906 0,830

Rank no Brasil - 70º 4º -

Rank no Estado - 22º -

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego

Como podemos constatar na tabela 13, houve melhora significativa também no

indicador educação. A taxa de analfabetismo funcional vem caindo em todas as faixas etárias

desde 1991.

Tabela 13 Analfabetismo funcional por faixa etária – 1991 e 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 Município % 10 a 14

anos com menos de

quatro anos de estudo,

% 10 a 14 anos

com menos

de quatro anos de estudo,

% 15 a 17 anos

com menos

de quatro anos de estudo,

% 15 a 17 anos

com menos

de quatro anos de estudo,

% 18 a 24 anos

com menos

de quatro anos de estudo,

% 18 a 24 anos

com menos

de quatro anos de estudo,

% 15 anos ou

mais com menos de

quatro anos de estudo,

% 15 anos ou mais

com menos de

quatro anos de estudo,

Luiz Alves 38,11 28,23 8,44 2,59 8,07 6,11 30,81 23,68

Fonte: PNUD/ Atlas do Desenvolvimento Humano

Atualmente a rede de ensino é composta por dez escolas, sendo quatro estaduais, cinco

municipais e uma privada.

Tabela 14 Resultados finais do Censo Escolar 2004 Município Matrícula inicial

Ensino Fundamental (regular) Educação Supletiva de Jovens e

Adultos (supletivo presencial)

Creche

Pré-escola

Educação Especial

(incluídos)

Total 1ª a 4ª

série

5ª a 8ª

série

Ensino Médio

(Regular)

Total Fundamental Médio Luís

Alves

133 220 02 1.511 768 743 458 261 261 0 Fonte: Ministério da Educação - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

A rede de serviços básicos de saúde de Luís Alves é formada por cinco Unidades de

Saúde e um ambulatório geral. O ambulatório presta atendimento nas Clínicas Básicas

(Ginecologia, Obstetrícia, Pediatria e Clínica Geral) e está estruturado nas dependências do

Hospital HOSCOLA. Duas Unidades de Saúde estão localizadas no perímetro urbano

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60

(Unidade de Saúde Central) e quatro na zona rural, nas localidades de Ribeirão Máximo,

Braço Serafim, Rio do Peixe e Rio Canoas. Após a implantação do Piso de Assistência Básica

(PAB), toda a atenção básica é realizada pela rede municipal de saúde, que desenvolve ações

de promoção, prevenção e recuperação da saúde, realizando atendimento médico,

odontológico, de enfermagem, fonoaudiológico e psicológico (Plano Municipal de Saúde,

2005).

Quanto à taxa de mortalidade infantil, (por 1000/nascidos vivos), o município ocupa o

215º lugar, com taxa de 22,21%, representando o índice de 0,50 considerado médio, segundo

dados do IDS/2000. O Programa Saúde da Família (PSF) do município é composto por três

equipes médicas, formadas por 01 médico, 01 enfermeira e 01 técnico em enfermagem; e duas

equipes de odontologia, com 01 dentista e um técnico. Atualmente o PSF possui uma

cobertura de 100% de atendimento à população. E conta ainda, com o Programa de Agentes

Comunitários, formado por vinte profissionais que realizam visitas domiciliares mensais. O

Município de Luís Alves se enquadra no perfil projetado para a região sul que, em relação às

demais regiões do país, mantém melhores indicadores de saúde (Plano Municipal de Saúde,

2005).

Quanto ao lazer, como a população do município de Luís Alves tem um forte traço de

religiosidade, este, se manifesta nas várias festas religiosas que ocorrem durante o ano nas

capelas e igreja matriz (foto abaixo). Outras festas que acontecem tradicionalmente são as

festas juninas, promovidas pelas APPs (Associações de Pais e Professores) das escolas, em

que, além dos pratos típicos, há apresentação de casamento caipira, pau de fita, quadrilha e

boi-de-mamão.

Também são festas tradicionais as de escolha do Rei e Rainha do Tiro, realizada pela

Sociedade Duque de Caxias, de Braço Francês, e a escolha do Rei e Rainha do Tiro e do

Bolão, realizada pela SERAL - Sociedade Esportiva e Recreativa Amigos de Luís Alves.

Além destas atividades, outras sociedades recreativas do município também promovem em

seus eventos anuais, festas, bailes, campeonatos de bolão e de futebol.

A maior festa popular é a FENACA (Festa Nacional da Cachaça), promovida

anualmente próximo ao dia 18 de julho, data do aniversário do município. Iniciada em 1984,

no ano de 2006 chegou à sua 21ª edição. É a atração turística que mais traz visitantes ao

município. Paralelamente a esta festa, são realizadas a Festa da Banana, exposição de gado

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61

bovino, feira agroindustrial e rodeio crioulo interestadual. Esta festa sempre é precedida de

baile para a escolha da rainha e das princesas.

Além das festas, há também atrativos naturais, tais como: Recanto Rio Canoas

(Canoas), Recanto da Pousada Santa Rita (Braço Bugre), Recanto Braço Dauer (Braço

Dauer), Associação Acearia Frederico Missner S.A (Baixo Máximo), Gruta de Nossa Senhora

da Imaculada Conceição (Braço da Onça), e as várias cachoeiras e quedas d’água existentes

no município, conforme foto abaixo.

Figura 2 Atrações turísticas de Luís Alves

Foto: Cachoeira do Centro Foto: Igreja Matriz – Centro Foto: Cachoeira do Salto

Foto: Casa em estilo germânico – Braço Serafim

Foto: Casarão em estilo italiano – Braço Serafim

Foto: Casa em estilo germânico – Braço Serafim

As construções antigas, datadas do início ou meados do século passado, e a igreja

matriz São Vicente de Paulo, também são atrações turísticas. Podemos vê-las nas fotos acima.

São atrativos, ainda, as apresentações da Banda Municipal de Luís Alves e as atividades de

pesque-pague, existentes nas localidades de Braço Paula Ramos, Braço Serafim, Braço

Francês, Alto Máximo e Alto Canoas.

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62

2.4 Aspectos econômicos

O valor do PIB Municipal per capita (R$1,00/hab) cresceu de R$ 6.054,54 em 1998

para R$ 11.412,60 em 2002, conforme a comparação da tabela abaixo com os municípios da

região da Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí-Açu - AMFRI. Em

relação aos outros municípios catarinenses, Luís Alves saltou da 71ª posição para a posição

56ª, um aumento de 46,95% .

Tabela 15 PIB dos municípios da AMFRI Municípios 1998 1999 2000 2001 2002

PIB p/c Pos PIB p/c Pos PIB p/c Pos PIB p/c Pos PIB p/c Pos Luís Alves 6.054,54 71 7.142,23 60 9.300,79 47 10.621,84 43 11.412,60 56

Itajaí 5.934,19 74 6.165,91 87 6.944,20 101 7.634,75 102 10.112,76 75 Ilhota 2.875,29 272 2.859,74 277 3.626,31 267 4.933,45 218 8.612,60 106

Baln Camb 4.937,19 128 4501,47 172 4.798,78 210 5.542,19 178 5.627,49 217 Baln. Piçarras 5.066,01 122 4.098,02 207 4.770,81 212 4.982,88 215 5.579,44 219

Porto Belo 4.729,10 136 3.947,76 222 4.644,77 221 5.145,37 201 5.571,94 220 Itapema 7.759,31 38 6.959,17 64 5.018,90 189 5.230,72 199 5.468,82 224

Bombinhas 5.124,22 116 4.088,37 208 4.670,00 219 5.025,94 210 5.409,30 226 Navegantes 4.333,57 155 3.876,14 225 4.554,71 233 4.874,69 223 5.054,33 243

Penha 2.950,04 269 2,876,99 276 3.299,81 278 3.458,66 281 3.561,84 284 Camboriú 2.664,85 280 2.447,69 288 2.679,65 289 2.779,54 290 2.974,69 290

Fonte: Diretoria de Estatística e Cartografia/SPG Gráfico 5 Arrecadação de ICMS – 1995 A 2003

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

1995

(R$)

1996

(R$)

1997

(R$)

1998

(R$)

1999

(R$)

2000

(R$)

2001

(R$)

2002

(R$)

2003

(R$)

Fonte:Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina

Além do aumento significativo do PIB Municipal renda per capita constatado na

tabela 15, o município também apresentou crescimento significativo na arrecadação do ICMS,

conforme gráfico acima.

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63

Quanto ao nível de emprego e desemprego no município de Luís Alves, as tabelas

abaixo traçam um perfil local, no período de janeiro de 2003 a julho de 2005. Na tabela 16,

podemos constatar que houve 2415 admissões no período - representando 0,15% do Estado de

Santa Catarina, e 1.861 desligamentos, representando 0,13% do Estado.

Tabela 16 Movimentação no emprego em Luís Alves – jan./2003 a jul./2005 Movimentação Município/ Qtde % UF/qtde

Admissões 2.415 0,15 1.578.895

Desligamentos 1.861 0,13 1.403.635 Variação Absoluta 554 175.260

Variação Relativa 30,46 % 16,4 %

Nº de empregos formais – 01/01/2005 2.136 0,18 1.212.833

Total de Estabelecimentos – 01/2005 713 0,22 330.400

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego

Conforme a tabela 17, considerando as dez colocações que mais admitiram/demitiram

no período, duas estão diretamente relacionadas à bananicultura: 1º lugar: trabalhador no

cultivo de árvores frutíferas; 10º lugar: embalador, a mão (embalador de bananas). As outras

colocações estão relacionadas ao setor têxtil, educação, metalurgia e industrialização de

madeiras.

Tabela 17 Ocupações Código Brasileiro de Ocupações Adm. Desl. Saldo 622505 Trabalhador no cultivo de árvores frutíferas 327 254 73 784205 Alimentador de linha de produção 308 224 84 331205 Professor de nível médio no ensino fundamental 95 49 46 763215 Costureiro, a máquina na confecção em série 94 32 62 717020 Servente de obras 78 91 -13 521110 Vendedor de comércio varejista 73 68 5 772105 Classificador de madeira 71 49 22 722205 Fundidor de metais 70 52 18 784105 Embalador, a mão 67 55 12 411005 Auxiliar de escritório, em geral 66 63 3 515105 Agente comunitário de saúde 57 29 28 414105 Almoxarife 46 24 22 782510 Motorista de caminhão (rotas regionais e internacionais) 44 36 8 715210 Pedreiro 37 36 1 521125 Repositor de mercadorias 31 30 1 774105 Montador de móveis e artefatos de madeira 308 224 84 514210 Faxineiro 95 49 46 761410 Estampador de tecido 94 32 62 991405 Trabalhador da manutenção de edificações 78 91 -13 Fonte: http/www.mte.gov.br (Ministério do Trabalho e Emprego)

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2.5 Produção agrícola

A área total do município é de 260,3 km², sendo que a área ocupada com atividade

pecuária e agrícola, segundo dados do IBGE é de 19.644 hectares, conforme tabela 18.

Tabela 18 Ocupação da área rural – Luís Alves Categoria Área (ha) % Área total 19.644 100 Lavouras permanentes e temporárias 6.080 30,95 Pastagem nativa e plantada 3.250 16,54 Reflorestamento 800 4,07 Matas nativas 9.264 47,15 Lavoura em descanso 250 1,27 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995-1996. (EPAGRI/PAT/2005)

De acordo com o Censo Agropecuário 1995-1996, a estrutura fundiária do Município

caracteriza-se pela predominância da pequena propriedade, possuindo em sua maioria uma

área entre 10 a 50 hectares, conforme tabela 19. Este fato reforça uma característica própria

do Estado de Santa Catarina, no tipo de estrutura fundiária.

Tabela 19 Estrutura fundiária – Luís Alves Grupo de área (ha) Número % Área (há)

0 a menos de 10 259 29,10 1.092 10 a menos de 20 273 30,67 3.843 20 a menos de 50 282 31,68 8.143 50 a menos de 100 65 7,30 3.935 100 a menos de 500 09 1,01 1.326 Mais de 500 02 0,22 1.300 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995-1996. (EPAGRI PAT/2005)

Estes estabelecimentos, conforme tabela 20, ocupam em torno de 3.500 pessoas,

representando de 65,17% da população ativa do município ocupadas na agricultura.

Tabela 20 População ativa – Luís Alves Categoria Número %

Total 5.370 100 Agricultura 3.500 65,17 Indústria 1.210 22,53 Serviços (comércio) 510 9,49 Construção Civil 150 2,79 Fonte: IBGE, Censo 2000. (EPAGRI PAT/2005)

Em relação à condição do produtor, a maioria dos agricultores, 66,52% é proprietário

de aproximadamente de 73,9% da área total ocupada do município, conforme dados da tabela

21.

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Tabela 21 Condição do produtor –Luís Alves

Especificação Número Área % Proprietários 612 15.736 66,52 Arrendatários 273 5.057 29,67 Parceiros 10 231 1,08 Ocupantes 25 267 2,71 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995 -1996. (EPAGRI/PAT/2005)

Os produtores familiares do município também cultivam cana de açúcar, hortaliças e

arroz, assim como as culturas para autoconsumo como o milho, o feijão, aipim, batata doce,

etc, e os derivados do leite, como o queijo artesanal, a nata, o requeijão e outros.

O cultivo do arroz irrigado é efetuado no sistema pré-germinado, com elevado nível

tecnológico no que se refere ao uso de insumos. Os produtores comercializam a produção

diretamente às indústrias de beneficiamento, que oferecem a opção de receber a produção

com o preço em “aberto”, ou seja, a produção é armazenada e a venda da produção ocorre no

momento em que melhor convier ao produtor (EPAGRI/PAT/2005).

O município, nas décadas de 1950 a 1970 era grande produtor de aguardente. Na

época, havia em torno de 100 alambiques artesanais, chegando a ser reconhecido

nacionalmente como a “capital da cachaça”, pela excelente qualidade da aguardente

produzida. No entanto, nos anos 70, os engarrafamentos começaram a introduzir no município

a cachaça paulista, que era mais barata. Isto provocou uma queda significativa na produção

artesanal, pois o pequeno produtor não conseguia competir com o preço do produto paulista.

Embora alguns agricultores continuem a produzir cachaça, houve uma queda significativa no

número de alambiques, totalizando 12 produtores, conforme tabela 23. Além deste fato, a

industrialização das cidades vizinhas foi um grande atrativo para o agricultor nesta época, que

sem incentivo algum e pouco retorno financeiro, vendia suas terras para empresas de

reflorestamento como a Tupy e a Cofloresta, mudando para as cidades próximas

(SALVADOR, 2000).

A produção de cachaça é totalmente artesanal, o que proporciona um produto de alta

qualidade. No entanto, o produtor tem dificuldade de viabilizar economicamente a produção,

já que não consegue agregar algum diferencial para valoração do produto. Luís Alves possui

uma estratégia de mercado em torno da cachaça aqui produzida em função da divulgação feita

pela Festa Nacional da Cachaça, que acontece todos os anos no mês de julho. A produção é

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comercializada pelos engarrafadores instalados no município para todo o sul do Brasil

(EPAGRI/PAT/2005).

O cultivo de hortaliças é realizado pelos produtores da comunidade do Ribeirão

Máximo. A produção é destinada principalmente ao município de Blumenau, abastecendo as

redes de supermercados e feiras (EPAGRI/PAT/2005).

O setor industrial também tem uma importância crescente na arrecadação municipal

em diversas atividades, como o têxtil, fundição de aço e madeireiras. Grande parte das

famílias agricultoras tem sua renda complementada através do trabalho das mulheres no setor

têxtil. Wanderley, chama a atenção para a importância do trabalho externo do agricultor, pois

“a renda obtida neste tipo de trabalho vem a ser indispensável para a reprodução não só da

família como do próprio estabelecimento familiar” (WANDERLEY, 1999, p. 19).

Conforme Carneiro (1998), a noção de pluriatividade compreende as atividades

complementares ou suplementares à produção agrícola, exercida por um ou vários membros

pertencentes à unidade familiar de produção.

A associação de trabalho industrial ao trabalho agrícola, por parte de membros das

famílias de colonos, principalmente mulheres e crianças, em Santa Catarina, é um processo

bastante antigo, datado do inicio do século passado. Para Seyferth (1992), o trabalho na

indústria passa a compor a reprodução camponesa, institucionalizando-se assim uma

agricultura em tempo parcial. Vale ressaltar que nessa relação de pluriatividade dos

agricultores, segundo Cazella e Mattei (2002), são mantidos em maior ou menor grau os

vínculos com a unidade familiar de produção agrícola, preservando assim o estatuto social de

agricultor.

Este processo contribuiu segundo Seyferth (1992), para preservar a condição de

colonos viabilizando a reprodução de suas famílias. Para Alentejano (1999), alguns fatores

impulsionam o desenvolvimento da pluariatividade, entre eles o autor cita a possibilidade de

preservação ambiental, a realização dos gostos pessoais e a busca por maior rentabilidade e

rendas complementares para a família. A pluriatividade na agricultura familiar se caracteriza

como uma perspectiva de permanência dos jovens na propriedade, garantindo a manutenção e

a sucessão do patrimônio familiar aos descendentes.

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Em relação à produção animal no município, o que mais se destaca, conforme tabela

22, é a criação de gado de corte e de leite, e de aves de corte.

Tabela 22 Produção animal – Luís Alves Produtos Unidade Quantidade Valor (R$) % Aves de corte Cabeça 3.667.000 486.000,00 16,43 Bovinos de corte Arroba 19.800 1.089.000,00 36,83 Peixe de água doce Tonelada 134 241.200,00 8,15 Produção leite Litros 2.592.000 1.036.800,00 35,06 Ovos de galinha Dúzias 79.915 79.915,00 2,70 Ovos de codorna Dúzias 5.760 5.970,00 0,20 Mel de abelha Kg 3.500 17.500,00 0,59 Total 2.956.385 100 Fonte: IBGE, Secretaria Municipal de Agricultura 2002. (EPAGRI PAT/2005)

Na produção vegetal o que se destaca hoje é a banana, sendo a principal fonte de renda

agrícola do município. Conforme dados da tabela 23, esta fruta é responsável por 78,1% da

renda total. Em seguida vem a produção de arroz com uma renda de 8,6% e da cachaça com

uma renda de 4,1%. A cana de açúcar que era uma das principais atividades nos anos 1960 e

1970, hoje parece não contribuir para a renda dos agricultores, visto que os agricultores que

cultivam cana, geralmente utilizam a cana na produção de cachaça.

Tabela 23 Produção vegetal – Luís Alves Projeto/ Atividade

% N° produtores

Área (ha)

Produção (t)

Rendimento (t/há)

Bruto total (R$) %

Banana 41,17 380 4200 130.200 31 33.852.600,00 78,1 Arroz irrigado 7,04 65 650 5.850 9 3.744.000,00 8,6 Cana/açúcar 3,90 36 300 18.000 60 - 0 Cachaça 1,30 12 1.800 6 1.800.000,00 4,1 Olericultura 6,50 60 200 4.000 20 1.600.000,00 3,7 Palmeira real 10,29 95 120 - 12.000 cab/ha 360.000,00 0,9 Milho 12,45 115 60 144 2,4 - 0 Madeira 17,34 160 50 40.000m³ 800m³ 2.000,000,00 4,6 Total 923 43.356.600,00 100

Fonte: IBGE/Levantamento Sistemático da Produção Agrícola Abril/ 2004. (EPAGRI/PAT/2005) Figura 3 Vista aérea de plantações de banana de Luís Alves

Fonte:ABLA

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2.6 Políticas públicas agrícolas

O município de Luís Alves conta com uma Secretaria Municipal da Agricultura e

Meio Ambiente que é responsável pela gestão da política agrícola e de meio ambiente. Quanto

aos recursos humanos, a Secretaria possui um secretário que é responsável pela pasta; dois

veterinários: um deles presta atendimento clínico através de visitas nas propriedades e o outro

faz inspeção nos abatedouros; um agrônomo é responsável pelas liberações ambientais e pela

orientação técnica para os agricultores que cultivam hortaliças orgânicas; um técnico agrícola

é responsável pelo programa de inseminação artificial; um auxiliar administrativo e três

auxiliares de serviços gerais que são responsáveis pelo horto florestal, onde são produzidas

mudas de árvores para reflorestamento.

Entre os serviços prestados aos agricultores estão: a patrulha mecanizada composta de

arado, rotativa, subsolador e trator de pneu; as campanhas para aquisição de calcário, árvores

frutíferas e alevinos. A Secretaria Municipal de Obras presta atendimento aos agricultores no

que se refere à manutenção das estradas, com colocação de macadame e abertura de valas e

lagoas.

Em relação à articulação da Sociedade Civil com o poder público, o setor agrícola

possui o conselho mais antigo do município. Sua lei foi aprovada em 1968, sob o nº 134 de 31

de maio, que criava o Conselho Municipal de Desenvolvimento Agropecuário de Luís Alves.

Este conselho é criado para cumprir a exigência de um convênio firmado entre a Prefeitura

Municipal e a Secretaria de Estado da Agricultura. O conselho era composto pelos seguintes

membros que foram designados na própria lei: o Prefeito Municipal, o Presidente da Câmara

de Vereadores, o Vigário da Paróquia, o Presidente do Sindicato Rural e o Técnico de

Extensão Rural. A Lei previa que o conselho poderia ser extinto ao término da vigência do

convênio.

O Conselho foi reativado novamente em 1993, em 28 de abril e sua composição foi

modificada incluindo um representante de cada atividade agrícola desenvolvida no município.

Também foi criado neste ano o Fundo Municipal de Desenvolvimento Rural –

FUMDERURAL, Lei nº 752/93 de 24 de junho. O principal objetivo da formação do

conselho foi a distribuição do calcário do Programa Estadual de Correção de Acidez do Solo,

novamente cumprindo uma exigência legal para repasse de benefícios.

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Observa-se, analisando as atas das reuniões, que os membros do Conselho reuniam-se

prioritariamente quando havia benefícios a serem repassados aos agricultores. Não eram

realizadas reuniões sistemáticas. Entretanto, a partir de 1993, o Conselho passou a ser mais

dinâmico, reunindo-se de três a quatro vezes por ano. Em 1996 reuniu-se apenas uma vez no

ano.

Em 1997, o município foi contemplado com o PRONAF – Infra-Estrutura e Serviços

Municipais. Esta linha de ação abrangia o apoio financeiro e técnico, sem reembolso, aos

municípios rurais pobres, com grande concentração de agricultores familiares e previa a

implantação, ampliação, modernização, racionalização e realocação de infra-estrutura e

serviços necessários, visando dinamizar o setor produtivo e assegurar a sustentação ao

desenvolvimento da agricultura familiar. O Conselho chegou a reunir-se até oito vezes no ano

de 1998. No entanto, as pautas principais permaneciam restritas aos benefícios imediatos

oriundos dos programas, campanhas ou recursos repassados do Governo Estadual ou Federal.

Atualmente o Conselho não tem se reunido.

Outra política pública importante que contribuiu, e tem contribuído significativamente

no desenvolvimento da agricultura no município é o escritório da EPAGRI. Este escritório foi

implantado no município no final da década de 1950. Inicialmente se chamava Associação de

Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina – ACARESC. O quadro de funcionários

contava com um agrônomo, uma extensionista e um técnico administrativo, e tinha como

projetos principais o trabalho com os produtores de arroz e gado leiteiro. O objetivo principal

era aumentar a produtividade desses produtos. A estratégia era trabalhar com os jovens, pois

estes seriam mais receptivos para introduzir as novas tecnologias desenvolvidas pela empresa.

A metodologia de trabalho utilizada com os jovens era os clubes 4-S (saber, sentir, servir, e

saúde), onde se organizavam grupos de jovens nas diversas localidades do município16. Esta

metodologia foi copiada dos Estados Unidos e adaptada para nossa realidade. Inclusive na

década de 1960, dois voluntários daquele país trabalharam dois anos no município, em projeto

que objetivava a organização dos jovens agricultores.

No início década de 1990, como já foi visto anteriormente, o governo estadual,

seguindo a tendência do modelo neoliberal de administração pública, procedeu a uma

profunda reforma no Serviço Público Agrícola, criando a atual Empresa de Pesquisa

16 Informações obtidas com a primeira auxiliar administrativa, Srª Rute Schwanke, que trabalhou nos primeiros anos da implantação do escritório no município.

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Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI, fundindo e incorporando numa

só instituição os serviços de pesquisa, extensão rural e pesqueira e o Instituto Apícola

(FURTADO FILHO et al, 1996).

A partir desta fusão administrativa, se seguiu a municipalização dos serviços de

execução e extensão rural, o que significava repassar a administração destes serviços ao

âmbito municipal, ou seja, às prefeituras. Este processo, conforme Mussoi (1999), ao invés de

representar um real processo de participação e publicização na tomada de decisões de

políticas públicas, representou ao contrário um verdadeiro processo de prefeiturização,

caracterizando, segundo o autor, a realização da maior desmontagem já vista da estrutura dos

serviços públicos do estado. A importância dos pressupostos da descentralização

administrativa, como a maior autonomia municipal e a racionalização administrativa

(inclusive a integração efetiva entre pesquisa e extensão rural), foram reduzidos a um

conjunto de ações, que em geral, trouxeram conseqüências desastrosas, tanto à estrutura dos

serviços públicos, quanto à assistência aos produtores.

A municipalização da agricultura consistiu-se principalmente, na transferência da

responsabilidade de gestão das estruturas de execução, com transferência de pessoal, veículos

e materiais, às prefeituras municipais. Estas transferências eram realizadas através de

convênios firmados entre a EPAGRI e as Prefeituras, no qual ficavam expressas as

responsabilidades e compromissos de ambos. A prefeitura assumia o compromisso de formar

o Conselho Municipal de Agricultura e a elaboração de um Plano de Ação para o

desenvolvimento da agricultura no município. Além de assumir as responsabilidades dos

custos de manutenção de veículos, escritórios e demais custos operacionais derivados das

atividades conveniadas, assegurando infraestrutura adequada em relação às instalações físicas,

meios de comunicação e de locomoção, máquinas, equipamentos e materiais necessários. Ao

governo do Estado cabia pagar os salários do pessoal de seu quadro funcional que eram

mantidos no município, e contribuir mensalmente com um valor correspondente a 500 litros

de gasolina por veículo da Secretaria Estadual localizado em regime de comodato no

município (MUSSOI, 1999, p 32).

Em Luís Alves a lógica seguida foi a mesma. Segundo um dos técnicos entrevistados

(I), parece haver dificuldade em relação ao valor dos recursos repassados, que não são

suficientes para ampliação em investimentos.

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Na verdade existe um convênio, entre a EPAGRI e o município, o recurso basicamente é suficiente para as despesas do escritório e dos veículos. Não é possível com esse dinheiro fazer investimentos, só a manutenção. Esse valor do convênio é em função do número de técnicos do município, então ele pode variar. E uma parte desse recurso é usada pelo meu supervisor, ou chefe, ele usa desse dinheiro também para locomoção, para vir assessorar o município.

O escritório contava inicialmente com apenas um agrônomo. Nos finais da década de

1980, início de 1990, o município passou a receber assessoria de um técnico específico de

banana. Atualmente, o escritório conta com um auxiliar administrativo e um agrônomo. Existe

uma vaga para mais um agrônomo, uma extensionista e um técnico agrícola. Entretanto, a

ampliação do quadro de funcionários do escritório local depende da ampliação do valor do

convênio firmado entre a Prefeitura e o Estado. Desde a criação da EPAGRI, no início da

década de 1990, não houve concurso público para contratação de novos profissionais.

Somente em 2006 foi realizado concurso para suprir a deficiência da empresa em recursos

humanos.

O agrônomo local atualmente está respondendo por toda assistência técnica prestada

aos agricultores, tanto na área de bananicultura, quanto às outras atividades agrícolas

desenvolvidas no município, como hortaliças, área florestal, palmeira entre outras. A

assistência técnica à bananicultura é uma das principais linhas de atuação do escritório local,

por ser uma das atividades mais desenvolvidas pelos agricultores do município.

Outro programa desenvolvido no município é o Microbacias II17, que conta com mais

um agrônomo que trabalha especificamente em duas micro-bacias do município: a do

Ribeirão do Braço Serafim e do Máximo. Este programa desenvolve atividades objetivando

contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população rural de Santa Catarina, através

da preservação, recuperação e conservação dos recursos naturais; do aumento da renda; da

melhoria das condições de moradia e no estímulo a uma melhor organização e participação

dos atores sociais no planejamento, gestão e execução das ações; de preservação do meio

ambiente, principalmente às que se referem às nascentes de água.

Além da assistência técnica prestada aos agricultores, a EPAGRI, também presta

assistência em relação ao crédito, realizando projetos individuais e emitindo cartas de

17 Projeto de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural - PRAPEM/MICROBACIAS 2 .Projeto, atende

prioritariamente, os pequenos agricultores familiares com renda de até 2 salários mínimos por mês, empregados rurais e populações

indígenas. E tem como um dos seus executores a EPAGRI.

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aptidão18 para liberação das linhas de crédito do PRONAF e de outras linhas de crédito. A

EPAGRI era a única empresa no município que realizava estes projetos. A partir de 2001 a

Cooperativa de Crédito – CRESOL também começou a prestar esse serviço.

Tabela 24 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas/Luís Alves 1999 Custeio Investimento Comercialização Total contrato valor Contrato valor Contrato Valor contrato Valor

Agrícola 109 1.053.856,12 2 30.000,00 2 0,00 111 1.083.856.,12

Pecuária 05 58.357,00 1 15.000,00 0 0,00 6 73.357,00 Total 114 1.112.213,12 3 45.000,00 1 0,00 117 1.157.213,12

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural

A assistência ao crédito, prestada pela EPAGRI foi fundamental para o

desenvolvimento da bananicultura. Como podemos verificar através dos dados das tabelas 24

e 25, o volume de crédito liberado para os agricultores do município sofreu um acréscimo

bastante significativo no período de 1999 a 2003, e esta tendência permanece em 2004.

Comparando as duas tabelas, constatamos um aumento de 43,20% no número de contratos, e

78,10% no montante de recursos do crédito rural que foram acessados no período de quatro

anos.

Analisando os dados das tabelas 25 e 26, verificamos que houve aumento do número

de contratos de custeio e comercialização. Na linha de investimento, em 2003 não havia

contrato, já em 2004 foram realizados oito contratos de crédito para esta linha de

financiamento.

Tabela 25 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas/Luís Alves 2003 Custeio Investimento Comercialização Total contrato valor Contrato valor contrato Valor contrato Valor

Agrícola 189 2.126.682,98 0 0,00 2 3.000.000,00 191 5.126.682,98

Pecuária 14 117.486,00 1 40.000,00 0 0,00 15 157.486.,00 Total 203 2.244.168,98 1 40.000,00 1 3.000.000,00 206 5.284.168,98

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural

Outro aspecto a ser destacado é a diminuição do número de contratos da pecuária.

Observa-se ainda que ao longo destes anos de 1999 a 2004 o volume de crédito teve uma

curva ascendente, o que demonstra que a política pública de crédito agrícola tem sido

utilizada pelos agricultores do município de forma bastante sistemática, tendendo sempre a

18 Declaração fornecida pela EPAGRI, aos agricultores, onde são apresentadas informações sobre o tipo de produção, a quantidade e o

rendimento, para a classificação do produtor dentro das linhas de crédito existentes no PRONAF.

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73

aumentar o volume dos recursos, conforme dados acima. Este fator tem contribuído, para o

desenvolvimento da agricultura familiar e em especial da bananicultura do município.

Tabela 26 Financiamentos concedidos a produtores e cooperativas/Luís Alves – 2004 Custeio Investimento Comercialização Total contrato valor contrato valor contrato Valor contrato Valor

Agrícola 192 2.544.823,05 08 234.000,00 03 2.760.000,00 201 5.538.823,05

Pecuária 09 61.459,87 0 0,00 0 0,00 09 61.459,87 Total 201 2.606.282,92 08 234.000,00 1 2.760.000,00 206 5.600.282,92

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural

Segundo Guanziroli et al (2001), a ausência de crédito impõe serias restrições ao

funcionamento da agricultura familiar mais moderna e principalmente à sua capacidade de

manter-se competitiva em um mercado cada vez mais agressivo e exigente.

Os bananicultores acessaram sobretudo as linhas de financiamento para o custeio e

investimento. Para Martine e Garcia (1987, p. 25), estas duas linhas de crédito, custeio e

investimento, são o elo entre a indústria e a agricultura. A linha de crédito de custeio

relaciona-se principalmente com a indústria produtora de insumos, como adubos, defensivos e

herbicidas; e a de financiamento relaciona-se com a indústria produtora de máquinas

agrícolas. Destas três linhas de crédito rural – custeio, investimento e comercialização –

segundo os autores acima citados, foi a linha de custeio que se expandiu de forma bastante

significativa, em função do uso intensivo de insumos agrícolas, tanto para corrigir o solo,

como para combater pragas. A linha de crédito para comercialização começou a ser utilizada

pelos produtores de Luís Alves mais recentemente.

O escritório local da EPAGRI possui estreita ligação com a Estação Experimental de

Itajaí, tanto pela distância, que é significativamente pequena entre os dois municípios, Itajaí e

Luís Alves, como pelo bom relacionamento entre os técnicos locais e da Estação e, por fim, a

boa receptividade dos produtores a cerca de novas tecnologias. Estes fatores contribuíram

para que a Estação Experimental de Itajaí optasse em aplicar muitas dessas novas tecnologias,

inicialmente, nas propriedades do município.

A Estação Experimental de Itajaí desenvolve pesquisa em bananicultura há

aproximadamente 30 anos. A pesquisa se intensificou quando ocorreu a incidência da doença

da Sigatoka, e foram criadas as primeiras estações de observação do avanço desta doença na

região. Atualmente, a Estação conta com quatro técnicos específicos para área de pesquisa, e

um específico para extensão, o qual presta assessoria aos técnicos locais dos municípios.

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Entre as tecnologias desenvolvidas para a cultura, tendo em vista o seu maior

desempenho, podemos citar: a) produção de mudas sadias; b) fertilidade dos solos; c)

espaçamento; d) controle de pragas e doenças; e) desenvolvimento de embalagens; f) colheita

e pós-colheita.

O nível tecnológico adotado na região é o mais avançado do estado. Grande parte dos

produtores utiliza o tratamento das mudas, o desbaste e a desfolha freqüentes, a poda de

pencas, a poda do coração, o escoramento das plantas, a adubação química e a adubação

orgânica, a calagem, o ensacamento dos cachos, o controle de plantas daninhas com

herbicidas e o controle do mal-da-Sigatoka. Muitos produtores investiram no pós-colheita,

principalmente na construção de casas de embalagens e no transporte protegido dos cachos.

Outros foram além, e implantaram os primeiros sistemas de transporte de bananas por cabos

aéreos.

A metodologia da EPAGRI para a prestação de assistência técnica, segundo um dos

técnicos (I), é a formação de grupos. Assim, o repasse de tecnologias é realizado

principalmente, através de palestras, reuniões, dia de campo19, entre outras atividades, sempre

envolvendo grupos de agricultores. Se os agricultores não estão organizados, a orientação da

empresa é incentivar a formação de grupos, visando a sua organização.

Em decorrência deste trabalho dos técnicos da EPAGRI no município, os agricultores,

que já vinham se reunindo para compra dos insumos, em 1989 formalizam a criação da

Associação dos Bananicultores de Luís Alves – ABLA, a qual passaremos a descrever no

próximo item.

Os profissionais da EPAGRI também orientaram e participaram da organização da

Festa da Banana, juntamente com a ABLA. Esta festa é realizada paralelamente com a Festa

da Cachaça, todo ano no mês de julho, na qual ocorre a exposição de melhores cachos e

pencas de Nanicão, de cachos de banana Prata, raridades em bananas, conforme figura 4, além

de um estande montado com diversos produtos industrializados a partir da banana A aplicação

das tecnologias por parte dos agricultores, pode ser constatada através dos resultados desses

concursos, pois segundo outro técnico entrevistado (III), na primeira festa o maior cacho da

19 Atividade de demonstração de determinada tecnologia realizada numa propriedade onde participam vários agricultores.

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exposição pesava em torno de 48 kg e atualmente a média de peso dos cachos expostos, está

em torno de 70 kg.

Figura 4 Exposição de cachos de banana

Fonte: ABLA

Outra atividade idealizada pela EPAGRI e implementada juntamente com a ABLA foi

o Dia de Campo Festivo, no qual os agricultores, no mês de setembro, sempre numa sexta

feira, realizam uma festa de confraternização entre produtores, autoridades e pessoas

envolvidas na cadeia produtiva. Nas primeiras edições da festa eram realizadas diversas

atividades. Inicialmente era realizada uma Missa e, em seguida, acontecia a visita a uma

propriedade, onde tinha uma unidade de observação. Ali eram demonstradas as técnicas

utilizadas; a produtividade da propriedade; e os seus resultados econômicos. Depois era

servido um almoço na Sociedade Esportiva e Recreativa Faixa Azul, na localidade de Canoas.

No período da tarde, eram distribuídos prêmios, realizadas atividades esportivas, e para

encerrar acontecia o baile.

Mais recentemente foi organizado, ainda, o concurso de culinária feita com a banana.

Atualmente, não é mais realizada a visita de campo. O restante das atividades permanece até

hoje. A Festa já faz parte do calendário de eventos do município, e participam em média mil

pessoas, com a participação expressiva das famílias de agricultores que cultivam banana no

município, conforme figura 5(Técnico III).

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Figura 5 Festa de confraternização dos bananicultores

Fonte: ABLA 2.7 Bananicultura em Luís Alves

A produção de cachaça, como foi visto, era a principal atividade econômica nas

décadas de 1960 e 1970, esta produção era oriunda de pequenas propriedades, com mão-de-

obra exclusivamente familiar. Os insumos utilizados eram provenientes da própria

propriedade, como esterco de bovinos, suínos, bagaço de cana e feijão mucuna, utilizado

como cobertura na entressafra. O transporte era baseado em tração animal. As propriedades

eram auto-suficientes do ponto de vista alimentar, apenas alguns produtos básicos eram

adquiridos fora da propriedade como a querosene, o sal, tecidos e vestuário (SALVADOR,

2000).

Com a concorrência da cachaça paulista introduzida no município com preços

inferiores, poucos produtores ainda sobrevivem da atividade. Outras atividades como o arroz

irrigado, a bovinocultura de leite, a olericultura e o fumo conseguiam de certa forma

remunerar satisfatoriamente os produtores. No entanto, a grande maioria das famílias rurais,

por falta de terras adequadas para exploração das atividades mencionadas, necessitava de

outra opção que lhes garantisse a permanência no meio rural (SALVADOR, 2000).

Em 1978 foi cultivado o primeiro bananal no município com fins comerciais surgindo,

assim, a grande opção de renda para as famílias rurais possibilitando sua permanência no

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campo. No início os produtores se deparam com muitas dificuldades principalmente

relacionadas à escolha da tecnologia a ser utilizada na comercialização e na produção. Por

falta de conhecimento, muitos bananais foram implantados em locais inadequados, com

mudas de baixo potencial genético e contaminadas por pragas principalmente nematóides20

(SALVADOR, 2000).

Segundo Salvador (2000), com a exigência do consumidor por produtos de qualidade e

de preços baixos, os produtores investiram em tecnologias que aumentaram a qualidade e

produtividade dos bananais, tais como o uso de adubos químicos, o uso de defensivos para

controle de pragas, o uso de fitas para sustentação das plantas devido ao peso excessivo dos

cachos, sacos plásticos para melhorar a aparência da fruta e o uso de herbicidas diminuindo o

custo da mão de obra para controle de ervas daninhas.

Com o atendimento prestado pela EPAGRI, através da pesquisa em termos de geração

de tecnologia, e da extensão rural, para transferência desta tecnologia aos produtores, o

município, alcançou níveis de produtividade e qualidade semelhantes a dos países da América

Central, tradicionais exportadores de banana. Desde 1996, o município de Luís Alves, é um

dos principais exportadores brasileiros de banana para o Mercosul.

Tabela 27 Banana/área/produção/rendimento médio – SC – 2002/2003 Área /há Produção/t Rendimento/kg/ha

Municípios 2002 2003 2002 2003 2002 2003 Luís Alves 3.900 4.200 117.000 104.160 30.000 24.800 Corupá 4.000 4.000 107.000 102.185 26.750 25.546 Jaraguá do Sul 1.900 1.900 46.100 43.975 24.263 23.145 Massaranduba 1.300 1.720 31.590 41.656 24.300 24.219 S.J. Itaperiú 1.370 1.355 34.788 34.563 25.397 25.508 Garuva 1.298 1.298 32.400 32.400 24.961 24.961 Joinville 1.250 1.250 29.941 29.941 23.953 23.953 Schoereder 900 900 29.800 27.740 33.111 30.822 Guaramirim 936 936 27.620 27.620 29.508 29.508 Barra Velha 840 840 25.200 25.200 30.000 30.000 J. Machado 3.540 3.540 23.040 23.040 6.508 6.508 Piçarras 353 400 14.120 16.000 40.000 40.000 Criciúma 750 800 9.300 11.040 12.400 13.800 Siderópolis 900 700 12.600 9.800 14.000 14.000 Araquari 250 250 8.750 8.750 35.000 35.000 Santa Rosa Sul 1.000 1.000 8.300 8.300 8.300 8.300 Ilhota 180 180 7.200 7.200 40.000 40.000 Navegantes 150 150 6.000 6.000 40.000 40.000 Fonte: IBGE

20 Vermes parasitos, cilíndricos, finos e alongados que atacam a raiz da bananeira.

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Conforme tabela 27, Luís Alves é o maior produtor de bananas do Estado de Santa

Catarina. São utilizadas tecnologias desenvolvidas e adaptadas pela EPAGRI para a realidade

regional, como já foi visto anteriormente. Aproximadamente 51% da produção de bananas do

município é exportada para os Países do Mercosul, principalmente Argentina e Uruguai. O

restante da produção é comercializado para diversos Estados brasileiros, principalmente RS,

SC, PR, SP, RJ, MG, MS.

De acordo com dados da “Síntese Anual da Agricultura 2003-2004”, Luís Alves

possui o maior volume de produção da microrregião de Blumenau, com participação de

16,8% da oferta estadual, seguido por Corupá, com 16,5%. A maior área plantada, em 2003,

também foi a de Luís Alves, com participação de 14,1% do total plantado.

Figura 6 Vista aérea das plantações de banana de Luís Alves

Fonte: ABLA

Aproximadamente 25% das lavouras são pulverizadas por aviões agrícolas,

contratados através das associações de produtores. Em termos de adubação, o uso comum é de

2.000 kg/ha./ano de NPK.

O maior entrave está no manejo pós-colheita, que por falta de casas de embalagens

adequadas e ou pessoas qualificadas para o beneficiamento da produção depreciam

acentuadamente o produto. Este é considerado um ponto de estrangulamento para a

comercialização da fruta. Este fator motivou os produtores a buscar financiamentos nesta

linha de crédito a partir de 2003, conforme os dados das tabelas 25 e 26. O aporte de recursos

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obtidos possibilitou a construção de oito casas de embalagem da fruta, conforme foto abaixo,

com as condições previstas pelo marco legal de Produção Integrada de Fruta no Brasil, através

da Instrução Normativa nº 20 de 27 de setembro de 2001, do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento.

Figura 7 Casas de embalagem da banana

Fonte: ABLA

Atualmente, Luís Alves conta com uma população de 8.761 habitantes, e a maioria

dos jovens permanecem e trabalham no meio rural. O crescimento do número de famílias

produtoras pode ser destacado na tabela 28. Em 1980 eram apenas 09, vinte anos depois, em

2000 eram 350 famílias, um aumento de 97,42%. O número de pessoas envolvidas na

produção da banana, também aumentou significativamente. Em 1980 eram 27 pessoas, em

2000, esse número aumentou 98,34%, passando para 1631 pessoas. Inicialmente, a mão-de-

obra era exclusivamente familiar. Com o incremento da produção, as famílias se obrigaram a

contratar mão-de-obra externa, na maioria das vezes migrantes oriundos do Estado do Paraná.

Segundo Wanderley (1999), não se trata da substituição do trabalho familiar pelo

alugado. No caso da bananicultura, se os produtores dependessem exclusivamente da força de

trabalho de suas famílias, dificilmente poderiam ampliar a área plantada nos estabelecimentos,

ou adquirir novos estabelecimentos para aumentar sua produção.

Wanderley (1999, p. 51) ressalta que:

O fato de poder ampliar o número de homens nessa tarefa manual, através do emprego de trabalhadores assalariados, permite que a família aumente sua

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capacidade produtiva em outras fases do processo de produção, através, sobretudo, da utilização de maquinas e insumos. Nesses casos, porém, de uma certa forma, o lugar do trabalho familiar é reiterado e, mesmo, reforçado: os membros da família continuam envolvidos no trabalho do estabelecimento – suas tarefas consistem agora, fundamentalmente, na operação de maquinas (meios de produção e também patrimônio familiar) e na fiscalização dos assalariados – e, sobretudo, esses estabelecimentos têm capacidade para absorver um maior número de filhos.

Tabela 28 Evolução da área plantada, produção e preço. Ano Área (há)

Banana

Famílias

Envolvidas

Nº Pessoas

Envolvidas

Rend./med

t/há

Produção

Total (t)

M. Preços

U$ / t

Faturamento

Total U$

1980 35 9 27 15,0 525 70,00 36.750,00

1983 120 20 40 15,0 1.800 40,00 72.000,00

1985 230 35 76 15,0 3.450 38,00 131.100,00

1986 270 36 90 17,5 4.725 56,00 264.600,00

1987 310 40 103 17,5 5.425 54,00 292.950,00

1988 450 55 150 17,5 7.875 65,00 511.875,00

1989 550 62 220 17,5 9.625 76,00 731.500,00

1990 590 65 236 17,5 10.325 108,00 1.115.100,00

1991 950 100 380 20,0 19.000 76,00 1.444.000,00

1992 1200 120 545 21,0 25.200 82,00 2.066.400,00

1993 1300 130 590 23,0 29.900 61,00 1.823.900,00

1994 1500 155 714 25,0 37.500 107,00 4.012.500,00

1995 1800 170 900 25,0 45.000 190,00 8.550.000,00

1996 2200 225 1100 28,0 61.600 130,00 8.008.000,00

1997 2500 250 1315 28,5 71.250 80,00 5.700.000,00

1998 2600 265 1368 28,5 74.100 85,00 6.298.500,00

1999 2700 300 1425 28,5 76.950 80,00 6.156.000,00

2000 3100 350 1631 28,5* 88.350* 110,00* 9.718.500,00*

Fonte: INSTITUTO CEPA, IBGE, EPAGRI (SALVADOR, 2000) Obs. (*) São valores estimados a partir de dados do 1º semestre de 2000

Segundo Guanziroli et al (2001), a agricultura familiar é a principal geradora de postos

de trabalho no meio rural. O número de pessoas ocupadas está diretamente relacionado com a

renda. À medida que aumenta a renda, aumenta também o número de pessoas ocupadas

envolvidas nas atividades agrícolas. Neste sentido, se a renda agropecuária for superior à que

poderia ser obtida fora da propriedade, o produtor lutará para manter-se na atividade

produtiva agropecuária. Ainda segundo o autor, a utilização exclusiva do trabalho familiar é

muito forte entre os agricultores familiares. Entre os agricultores familiares, no país, 76,9%

utilizam-se apenas do trabalho familiar em seus estabelecimentos. Esses agricultores ocupam

58,5% da área e produzem 59,2% do Valor Bruto da Produção – VBP. Outros 4,8%

combinam o uso da mão-de-obra familiar com a contratação de trabalhadores temporários.

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De acordo com Salvador (2000), o crescimento da área plantada, o nível tecnológico

alcançado pelos produtores, e o comércio realizado no Mercosul se deve em grande parte a

Associação dos Bananicultores do Município de Luís Alves – ABLA, que tem procurado em

conjunto com a EPAGRI promover o desenvolvimento da bananicultura no município.

Figura 8 Lavoura de banana

Fonte: ABLA

Segundo o referido autor, o cultivo da banana, no município de Luís Alves, está

concentrado nas microbacias do Rio Canoas e Ribeirão Braço Miguel. Nelas, 40% da área

total está envolvida com a cultura da fruta, bem como 90% da população. Normalmente o

cultivo da banana é a única atividade da propriedade.

Em relação à questão ambiental, verifica-se através da tabela 29, que a quantidade de

insumos aplicados vem aumentando gradualmente. Esse aumento ocorreu gradativamente a

partir dos anos 80. A princípio, para aumentar a produtividade dos bananais, depois, para

compensar o desgaste do solo e a resistência das ervas daninhas e das pragas.

Outro fator que contribuiu para o gradual aumento do uso de insumos foi o aumento

de 98,8% da área plantada de 1980 a 2000. Por outro lado, analisando os dados da tabela 29,

observa-se que os agricultores estão utilizando também adubo orgânico e com um aumento

expressivo na quantidade aplicada.

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Tabela 29 Evolução da aplicação de insumos na cultura da banana – Luís Alves Ano Área

Há Adubo Quim.

T

Adubo Org.

T

Herbi- cida

l

Inseti- cida

l

Fungi- cida l/kg

Óleo Mineral

l

Saco Plástico

Mil

Fitilho Poliet.

Kg

Escora Bambú

Mil 1980 35 26 00 00 30 00 00 00 00 00

1983 120 108 00 120 150 00 00 00 00 00

1985 230 241 00 250 300 230 6.900 00 00 115

1986 270 324 00 610 320 357 10.800 00 00 135

1987 310 372 20 992 400 465 12.400 00 00 160

1988 450 540 50 1.440 550 720 18.000 00 100 220

1989 550 660 110 1.925 600 990 27.500 00 250 400

1990 590 708 147 2.360 700 1.062 29.500 00 590 520

1991 950 1.282 332 3.800 1.100 1.710 47.500 2 1.800 850

1992 1.200 1.620 480 4.800 1.300 2.280 72.000 10 3.600 1.000

1993 1.300 1.755 637 5.200 1.350 2.470 104.000 50 5.200 900

1994 1.500 2.250 960 5.700 1.700 2.850 112.500 100 9.000 850

1995 1.800 2.700 1.440 6.300 2.200 3.600 135.000 200 14.400 700

1996 2.200 3.630 2.640 6.600 2.500 4.400 154.000 350 19.800 530

1997 2.500 4.500 3.750 7.250 2.700 5.000 175.000 650 25.000 450

1998 2.600 4.680 4.420 7.280 2.800 5.200 156.000 930 31.200 230

1999 2.700 4.860 5.400 7.290 3.000 5.400 135.000 1.500 40.500 150

2000 3.100* 5.580* 6.200* 7.750* 3.100* 6.200* 155.000* 1.900* 55.800* 120*

Fonte: IBGE, EPAGRI/ABLA (SALVADOR, 2000) Obs. (*) São valores estimados a partir de dados do 1º semestre

Segundo Ehlers (1999, p. 42), o crescimento do consumo de agrotóxico provocou um

aumento significativo do número de pragas. Além da resistência que essas pragas

desenvolvem em relação aos produtos químicos, outra explicação é o efeito nocivo que tais

produtos provocam também aos inimigos naturais das pragas, ocasionando desequilíbrio nos

ecossistemas. Por outro lado, constata-se o aumento gradativo do uso de adubo orgânico nas

propriedades e uma tendência a redução da quantidade de herbicidas e inseticidas se

comparado com o aumento significativo da área plantada.

A utilização do saco plástico é uma tecnologia utilizada para proteger a fruta do ataque

de pragas e agentes físicos que podem danificar o produto. No entanto, o uso do plástico pode

causar grandes prejuízos ao meio ambiente caso não sejam recolhidos para o processo de

reciclagem (SALVADOR, 2000). Visando reduzir o impacto provocado pelos resíduos das

lavouras, a Prefeitura municipal, através de uma parceria com a PETROBRÁS, construiu nas

localidades do município depósitos para recolhimento de material reciclável e lixo tóxico.

Outro aspecto positivo é que a própria legislação, atualmente, obriga as lojas que

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comercializam agrotóxico solicitarem o retorno dos mesmos aos agricultores. Além disso,

existem no município, coletores de materiais recicláveis, que recolhem das propriedades esses

resíduos para posteriormente reciclar.

Dentre os problemas fitossanitários, podem ser destacados: o mal-do-Panamá em

bananais do subgrupo Prata, a ocorrência de nematóides em bananais do subgrupo Cavendish,

e o mal-da-Sigatoka em bananais dos dois subgrupos (SOUZA E CONCEIÇÃO, 2002, p. 22).

De acordo com Souza e Conceição (2002), o mal-da-Sigatoka causa prejuízos aos

bananais, mas já se dispõe de eficiente tecnologia de controle da doença que é realizado com

pulverizações de óleo mineral com fungicida, através de canhões adaptados a tratores ou com

avião. Outra grande preocupação é com a ameaça da entrada da Sigatoka negra no sul do

país. Esta doença já está presente na Bolívia e em alguns estados da Amazônia brasileira. Seu

controle, além de difícil, é muito caro, pois exige maior número de pulverizações, o que

inviabiliza economicamente as pequenas propriedades.

Em alguns municípios produtores, a incidência de nematóides tem-se constituído no

principal problema em bananais das cultivares Nanicão e Grande Naine. O uso das fitas

sintéticas para amarrio das bananeiras, se deve ao aumento do tombamento das plantas

provocadas por esses nematóides (SOUZA E CONCEIÇÃO, 2002).

Mesmo com o repasse das variadas tecnologias existentes no cultivo da banana, os

produtores, normalmente não praticam todas as técnicas indicadas para uso adequado do solo.

Muitos bananais estão plantados em terrenos acidentados, o que além de dificultar os tratos

culturais e a colheita, favorecem também a erosão do solo.

Para que a bananicultura alcançasse o grau de desenvolvimento que atingiu neste

período foram determinantes as políticas públicas e a organização dos agricultores, através de

sua associação, cooperativa e outras entidades que foram sendo criadas posteriormente,

conforme veremos a seguir.

2.8 Organizações da Sociedade Civil

A Associação dos Bananicultores de Luís Alves - ABLA foi fundada em 06 de julho

de 1989. Entretanto, os agricultores já se reuniam antes disso para realizar a compra de

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insumos em conjunto. Com a orientação do técnico da EPAGRI, a Associação foi

formalizada, e os objetivos da mesma foram sendo ampliados ao longo do tempo.

Inicialmente, os principais objetivos eram a compra de insumos e a divulgação do

município como produtor de banana, em quantidade e qualidade para comercializar, tanto

para as cidades do próprio estado, quanto para outros estados da Federação. Essa divulgação

aconteceu através da realização da Festa da Banana, que teve sua primeira edição em 1987. A

partir daí se verificou a necessidade de buscar mais tecnologias e a Associação passou a

prestar também a assistência técnica aos produtores associados, sempre em parceria com a

EPAGRI (agricultor de Arataca).

As ações promovidas pela Associação foram sendo ampliadas, de acordo com a

evolução da cultura da banana no município. Com a assistência técnica e a adoção das

tecnologias por parte dos produtores, a qualidade e a produção da fruta aumentavam, e

automaticamente a comercialização também. Em 1990 a produtividade média era de 17,6 t/ha,

em 1995 passou para 25 t/ha.

A Associação, sempre atenta às necessidades dos produtores foi realizando diversas

benfeitorias a fim de garantir o desenvolvimento desta cultura no município. Inicialmente fez

a aquisição de uma balança, pois na época a banana era pesada em cachos. A balança

facilitava o trabalho dos agricultores, pois não era mais preciso pesar os cachos manualmente.

O caminhão, já carregado com a fruta, é que era pesado. Em seguida, com o avanço da

Sigatoka e a necessidade de realizar o controle da doença, a ABLA adquiriu um terreno e

realizou a terraplanagem para a pista de aviação. Atualmente, a pista já está asfaltada e a

ABLA em parceria com a empresa de aviação BANALVES presta o serviço de pulverização

área aos agricultores (agricultor de Arataca).

A Associação tem como principais objetivos prestar assistência técnica aos produtores,

e o repasse de tecnologias que são desenvolvidas principalmente pela EPAGRI. A

preocupação da associação com tecnologia se refere a todas as fases de manejo da fruta, tanto

na produção, no pós-colheita e na comercialização. Tecnologias estas, que venham a aumentar

a qualidade da fruta, reduzir custos de produção e garantir mercados (Técnico II).

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Os benefícios que a ABLA oferece aos produtores associados, também estão

disponíveis aos que não são sócios. Entretanto os valores cobrados pelos mesmos são

diferenciados. Os principais benefícios oferecidos pela Associação aos agricultores são:

� Implantação do sistema de previsão para Sigatoka Amarela e o monitoramento de

pragas quarentenárias em seis pontos estratégico do município;

� Realização de reuniões com a cadeia envolvida na produção de banana (compradores

de banana, vendedores de insumos e outras associações);

� Dispõe em parceria com a CRESSOL, de um jornal mensal para levar informações aos

associados;

� Centraliza as informações através da sede;

� Dispõe de uma sala climatizada para o crescimento da Beauvéria bassiana21

responsável pelo controle biológico do moleque da bananeira;

� Realização de reuniões técnicas nas comunidades em parceria com EPAGRI e

CIDASC;

� Palestras técnicas realizadas nas assembléias ordinárias;

� Emissão do Certificado Fitossanitário de Origem e Permissão de Trânsito para

Vegetais;

� Emissão de etiquetas para exportação e mercado interno;

� Promove mensalmente, exceto nos meses de maio, junho e dezembro a compra

conjunta de insumos;

� Realiza dois eventos já tradicionais no município, no mês de julho a Festa da Banana,

com exposição e concursos de cachos, e em setembro a Festa de Confraternização

entre produtores, autoridades e pessoas envolvidas na cadeia produtiva;

� Disponibiliza consulta ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC);

� Implantação do sistema de mitigação de risco.

A ABLA está organizada através de uma diretoria e um conselho fiscal. Este conselho

é composto por vinte membros, de várias localidades do município que produzem banana. E

tanto a diretoria quanto o conselho se reúnem mensalmente. Em cada reunião dois membros

da diretoria ou conselho fiscal oferecem um jantar aos demais, em forma de rodízio. A

Associação faz três assembléias por ano e organiza, também, reuniões nas comunidades.

21 Fungo que combate o moleque da bananeira.

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Estas reuniões acontecem em cinco a sete localidades no município, uma vez por ano,

onde são repassadas novas tecnologias e orientações técnicas, sendo que qualquer produtor

pode participar, independente de ser sócio ou não. Esta participação é fundamental devido ao

controle das doenças. Se um produtor não faz o controle, ele acaba prejudicando todos, pois

doenças como a Sigatoka são transmitidas facilmente, se não houver o controle adequado.

Atualmente a Associação congrega 240 sócios, entre eles cinco mulheres. Dos

associados, 32% possuem de trinta a trinta e nove anos e 29,16%, deles possuem entre

quarenta e quarenta e nove anos. Outro aspecto bastante significativo é a participação das

mulheres nas reuniões. Tanto nas assembléias, como nas reuniões da diretoria elas se fazem

presente e compartilham das decisões e atividades desenvolvidas.

Figura 9 Sede da ABLA e pista de aviação

Fonte: ABLA

A sede da ABLA está localizada na localidade de Alto Canoas, juntamente com a pista

de aviação, que foi inaugurada recentemente, conforme figura acima.

Diante da crise pela qual a bananicultura tem atravessado nos últimos anos, a ABLA

vem buscando fortalecer a organização dos agricultores e a sua qualificação. Para isso,

desenvolveu ações de capacitação para produtores em parceria com o SEBRAE; vem

realizando reuniões mensais do Arranjo Produtivo Local – APL, programa criado a partir de

uma iniciativa nacional, onde os setores econômicos que possuem problemas comuns se unem

para, em conjunto, buscar as soluções possíveis. Este grupo de trabalho é formado pela

ABLA, CRESOL, BANALVES, EPAGRI, Banco do Brasil, BADESC, SEBRAE, BRDE,

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Prefeitura Municipal e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional da Mesorregião de

Itajaí (Revista Metrópole, 2005).

Visando a adequação às exigências do mercado foi implantado também no município,

o Projeto de Produção Integrada de Banana (PIB). Luís Alves é o primeiro município no

estado de Santa Catarina a implantar este projeto, e o segundo no Brasil. Este projeto segue as

normativas da Produção Integrada de Frutas (PIF), do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, e visa a obtenção do certificado para comercialização da banana,

principalmente pelo mercado europeu, onde os requisitos de qualidade e sustentabilidade são

rigorosos, enfatizando a proteção ao meio ambiente, segurança alimentar, condições de

trabalho, saúde humana e viabilidade econômica. Para isso, os agricultores estão sendo

capacitados com apoio do Ministério da Agricultura e de parcerias com a EPAGRI, a

CRESOL, o SEBRAE. Os agricultores também têm contribuído com recursos próprios para se

capacitarem.

Outro aspecto a ser destacado é a formação de outras entidades a partir da ABLA. Em

2000 foi criada a Empresa de Aviação Agrícola - BANALVES, que presta serviços de aviação

agrícola aos agricultores. Atualmente ela congrega 24 sócios e possui dois aviões. Sua sede

está localizada no mesmo local da ABLA. A ABLA disponibiliza as instalações e a pista de

pouso para BANALVES, através de um contrato de locação. O contrato foi realizado através

de licitação, onde foi levado em conta os quesitos qualidade e menor preço.

A BANALVES possui o diferencial que é trabalhar em conjunto com a ABLA. Ela é

parceira da Associação na questão do monitoramento da Sigatoka. Outro fator relevante é que

ela só usa produtos registrados pelo Ministério da Agricultura. Pelo fato de ser uma empresa

formada por agricultores do município, ela tem uma aproximação muito maior do que se fosse

qualquer outra empresa, tendo uma visão de parceria com o produtor e com a Associação

(agricultor de Arataca).

Outra instituição formada por integrantes da ABLA foi a CRESOL, criada em 2001.

Através da iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais - SITRULA, um grupo de

agricultores e principalmente agricultoras, passou a se reunir com o objetivo de implantar no

município uma cooperativa de crédito. Depois de visitar várias experiências de outros

municípios, realizar reuniões e estudos, o grupo implanta a cooperativa ligada ao Sistema

CRESOL, que é um Sistema Integrado de Crédito Rural com Interação Solidária. As

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cooperativas deste sistema são instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central do

Brasil, constituídas e administradas por agricultores familiares, articuladas com movimentos e

organizações populares e integradas entre si através da CRESOL Baser e das Bases Regionais

de Serviço. Essas instituições atuam no fortalecimento e no estímulo a interação solidária

entre os agricultores familiares e suas organizações, através do crédito e da apropriação do

conhecimento, visando o desenvolvimento local sustentável. A estratégia da CRESOL é

gerenciar o crédito de forma diferente de outras instituições financeiras, captando recursos

municipais, estaduais, federais e internacionais para reaplicá-los no próprio município,

visando a promoção do desenvolvimento local (CRESOL,2006).

Atualmente a CRESOL de Luís Alves congrega aproximadamente 1.200 sócios, com

um patrimônio líquido de R$ 2.176.134,00, conforme gráficos abaixo.

0

500

1000

1500

2001 2002 2003 2004 2005

Gráfico 6 Evolução do quadro social

CRESOL 2001- 2005

Fonte: Folder Relatório das Atividades – 2005

Segundo Búrigo (1999), as cooperativas de crédito no Brasil experimentaram avanços

e retrocessos ao longo da história. Na década de 1990, este tipo de cooperativismo passou a

ser visto como uma alternativa de organização dos agricultores familiares, possibilitando às

comunidades ampliar e democratizar a utilização do crédito rural oficial. E principalmente,

passou ser encarado como entidades que podem vir a assumir um papel relevante no

desenvolvimento local, em especial das regiões onde predominam as comunidades rurais.

A política pública de crédito rural é condição essencial para o desenvolvimento da

agricultura familiar. Para Guanziroli et al (2001, p. 171), a ausência de recursos, seja pela

insuficiência da política de crédito rural, ou pelas condições contratuais inadequadas, impõe

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sérias restrições ao funcionamento da agricultura familiar mais moderna, e principalmente, à

sua capacidade de manter-se competitiva em um mercado cada vez mais exigente e agressivo.

Em relação ao volume de empréstimos, a CRESOL teve um incremento nos valores

emprestados de 99,4% entre os anos de 2001 a 2005. Apesar da crise de baixos preços pela

qual a bananicultura vem atravessando nos últimos dois anos, os agricultores continuaram a

investir na atividade, conforme gráfico abaixo.

0

2000000

4000000

6000000

8000000

2001 2002 2003 2004 2005

Gráfico 7 Volume de empréstimos

CRESOL - 2001 - 2005

Fonte: Folder Relatório das Atividades CRESOL - 2005

Entre as várias ações da CRESOL podemos destacar, principalmente o incentivo à

criação de novas cooperativas no município. Com o intuito de gerar alternativas de renda para

os agricultores familiares, através de agregação de valor à banana, a CRESOL incentivou a

criação de duas novas cooperativas, a Cooperativa de Industrialização de Frutas e Artesanato

de Luís Alves – MUZA BRASIL, que foi formada em 2005 e congrega atualmente sessenta

cooperados, a maioria mulheres (esposas e filhas dos bananicultores). Elas utilizam a fruta e a

fibra da bananeira para produzir assessórios de moda, artesanato e alimentos. A outra

cooperativa foi criada em 2006. É a Cooperativa de Beneficiamento, Embalagem e

Comercialização de Laranjeiras, que foi formada pela necessidade de incrementar o processo

de pós-colheita – beneficiamento e processamento de banana – para que os produtores possam

expandir o mercado em direção à Europa, visto que Luís Alves hoje exporta mais da metade

de sua produção para os países do Mercosul.

A CRESOL ainda se destacou, juntamente com a ABLA, na busca por minimizar a

crise vivenciada pelos bananicultores catarinenses, estando presente em audiências públicas,

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eventos e reuniões com representantes de entidades ligadas à cadeia produtiva da banana.

Uma das conquistas obtidas foi a prorrogação das dívidas dos bananicultores da safra

2004/2005 do PRONAF. A outra conquista foi a liberação de quatrocentos mil reais, através

da Secretaria de Desenvolvimento Regional da Mesorregião de Itajaí, para o fortalecimento

das associações de bananicultores.

Outra instituição formada com a participação da ABLA foi a Federação das

Associações e Cooperativas de Produtores de Banana do Estado de Santa Catarina

(FEBANANA), constituída em julho de 2004, quando em decorrência da entrada do mal da

Sigatoka Negra, os produtores de banana viviam momentos de crise. O objetivo desta

entidade é buscar a união dos produtores através das Associações de Bananicultores,

incentivando-os a se organizarem, visando melhorias na qualidade, comercialização e preço

do produto (ABLA/CRESOL, 2006).

Schmidt et al (2002) destaca, o surgimento de uma cooperação alternativa de

agricultores, que se encontravam marginalizados pelo sistema tradicional cooperativo. Estes

agricultores buscavam fortalecer a sua organização social e política e procuravam maneiras de

solucionar uma série de problemas, relacionados à falta de recursos financeiros para

produção, à obtenção de técnicas para melhorar a produção e a busca de melhores condições

de comercialização dos seus produtos.

Esta nova cultura política, segundo Pinheiro (1999), se expressa através da tentativa de

construção de novos padrões de relacionamento, tanto internamente, com formas mais

democráticas de organização, valorizando mais a participação do que a representação, quanto

nas suas relações com as demais forças políticas presentes, onde a autonomia contrapõe-se a

idéia de posturas não democráticas do Estado e de outras instituições para a ação coletiva.

Entre os principais agentes envolvidos na fundação de associações estão os técnicos de

extensão rural. Na década de 1980, segundo Pinheiro (1999), a partir da constatação de que o

modelo de extensão baseado na utilização intensiva de insumos e de defensivos industriais,

vigentes na década de 1970, tinha reduzida penetração entre os pequenos agricultores; e ao

mesmo tempo a escassez de recursos decorrentes das reformulações da política de crédito

agrícola na década de 1980, levou o sistema de extensão rural a buscar novas formas de

trabalhar com os agricultores. Suas atividades se concentraram no desenvolvimento do

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trabalho social e na organização comunitária, resgatando assim o aspecto mais humanista da

extensão, que anteriormente havia sido substituído por uma visão excessivamente tecnicista.

Outro aspecto importante a ser destacado é que muitas entidades financiadoras viam

no associativismo a solução ideal para a organização dos agricultores a serem beneficiados.

Mesmo não sendo norma oficial, os requisitos legais e as avaliações dos projetos

pressupunham a existência de uma organização prévia dos agricultores. Assim a organização

em associações, representava para os agricultores uma diferenciação positiva, na disputa

envolvendo um grande número de produtores e um pequeno volume de recursos. Desta forma,

a organização dos agricultores em associações passou a ser vista como um tipo ideal, pela

combinação da participação democrática de todos os membros e as vantagens de uma

coletividade organizada, pensada em termos de uma maior capacidade de pressão por

benefícios para o grupo (PINHEIRO, 1999).

A partir do contexto do governo militar de 1964, as organizações sociais,

especialmente as cooperativas, passaram a ser vistas como instrumento estatal de

desenvolvimento das forças produtivas e de controle de conflitos sociais. Segundo Seiffert,

citada por Schmidt et al (2002), o cooperativismo consolidou-se como um elemento básico

para reorganizar a estrutura produtiva agrícola baseada na utilização de técnicas industriais

(fertilizantes sintéticos, agrotóxicos, máquinas e equipamentos), e a opção por este

instrumento pode estar relacionada com a presença marcante, especialmente no Sul do país,

da agricultura familiar, o que exigiria uma estrutura capilarizada de abastecimento.

No aspecto organizacional os agricultores de Luís Alves ainda contam com o

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Luís Alves (SITRULA). Fundado em 1967 por

trezentos e trinta e dois sócios, através de uma iniciativa do Estado, buscava principalmente

oferecer aos agricultores associados, serviços de saúde e repasse dos benefícios que o Estado

dispunha para atender os agricultores. Estes benefícios diziam respeito às campanhas, e a

principal delas foi a distribuição de calcário para correção do solo. Este fato demonstra a

capilaridade dos projetos desenvolvidos pelo Estado, para implementação do novo modelo de

agricultura no país, intensificado na década de 1960.

Os serviços de saúde prestados pelo Sindicato, junto com o movimento dos

agricultores do município, culminaram com a construção de um hospital, que até hoje vem

prestando serviços de saúde à população do município e região.

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Segundo Venceslau (1989), com a ditadura militar de 1964 os sindicatos passaram a

desempenhar uma função essencialmente assistencialista em detrimento das suas

reivindicações específicas. Os sindicatos foram transformados em postos avançados da

Previdência Social, em que a aposentadoria, a pensão, o auxílio funeral, o atendimento

médico-odontológico eram os únicos serviços prestados.

A partir dos anos 70 foram criados mecanismos que estimulavam a obtenção de

empréstimos por parte dos sindicatos, para adquirir sedes próprias, colônias de férias,

hospitais etc. Essa situação favoreceu durante todo o tempo a troca de favores entre políticos e

autoridades regionais com o governo federal (VENCESLAU, 1989). Houve, entretanto, a

partir da década de 1980, o surgimento de um sindicalismo combativo, estimulado

especialmente pela Pastoral da Terra, organizado pelo Setor Progressista da Igreja Católica

que, em Santa Catarina vem ocorrendo sobretudo no Oeste do Estado (MEDEIROS,1989).

Atualmente, o sindicato possui 1.190 associados, destes 585 são aposentados. Sua

estrutura funcional conta com três funcionárias, sendo que uma delas é cedida pela Prefeitura

Municipal, e um presidente que ocupa esta função a cerca de vinte anos. Possui uma sede

própria, localizada no Bairro Vila do Salto. Presta atualmente os seguintes serviços:

atendimento aos benefícios da Previdência Social; o cadastro do INCRA e do Imposto

Territorial Rural; o pedido da certidão do INCRA; serviço de despachante aos associados;

Bloco de notas para produtores rurais; consulta com oftalmologista; declaração anual de

isento do Imposto de Renda de pessoa física (CPF).

O Sindicato se organiza através de duas assembléias anuais, onde é discutido o

orçamento e o planejamento das atividades do ano seguinte e a prestação de contas do ano

anterior. Os principais eventos promovidos pelo Sindicato são: o Encontro de Mulheres

Agricultoras, realizado no mês de março em comemoração ao Dia Internacional da Mulher,

em parceria com a EPAGRI; o encontro de aposentados e de jovens. A maior dificuldade

enfrentada pelo Sindicato, segundo a funcionária, é a reduzida participação dos jovens nos

eventos e atividades do mesmo.

Um dos aspectos que contribuiu para o enfraquecimento do movimento sindical rural,

segundo Venceslau (1989), foi a proliferação de associações de pequenos produtores por todo

o Brasil, principalmente na região Sul, abrindo espaço para ação do governo no processo de

organização desse setor, através de repasses de recursos. Essas associações conseguem dar

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respostas mais imediatas às demandas dos pequenos proprietários, principalmente quando se

trata de questões ligadas à política agrícola.

O fato de grande parte dos associados serem aposentados, ou estarem em vias de se

aposentar, nos leva a crer, que os principais serviços buscados pelos agricultores no sindicato

são os de Previdência Social. Além disso, a contribuição dos aposentados tornou-se uma das

fontes importantes de arrecadação de fundos para a sustentação do sindicalismo. Assim, as

ações em relação aos aposentados (emissão de guias, certificados, acompanhamentos, etc)

ocupam parte importante do cotidiano sindical rural.

Constata-se, a existência no município, de uma rede de entidades não governamentais,

as quais foram criadas a partir da busca de respostas para os problemas enfrentados pelos

agricultores. Schmidt et al (2002), analisando a trajetória do cooperativismo e do

associativismo de Santa Catarina, ressalta que sua evolução pressupõe o estabelecimento de

relação mais equilibrada entre a lógica exclusivamente econômica e de mercado e a outra,

quase exclusivamente sócio-política. Parece-nos que este equilíbrio vem sendo alcançado por

estas entidades, pois ao mesmo tempo em que vêem lutando para melhorar a qualidade do

produto e se manter no mercado, também têm buscado a socialização destas novas conquistas,

tanto no que se refere às novas tecnologias, quanto à garantia de crédito para viabilizar a

aplicação das mesmas, por todos os produtores de banana do município. Até porque desta

cadeia depende o sucesso da atividade no município.

Os atores sociais envolvidos nesse processo compõem o que Putnam (1996, p. 186)

chamou de círculos virtuosos, onde os “estoques de capital social, como confiança, normas e

sistemas de participação, tendem a ser cumulativos e a reforçar-se mutuamente, com elevados

níveis de cooperação, confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar coletivo”.

Para Abramovay, o fortalecimento deste capital social dos territórios, muito mais do

que o crescimento de qualquer atividade econômica é condição essencial para o

desenvolvimento rural.

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CAPITULO III

O PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS AGRICULTORES ENTREVISTADOS

3.1 Perfil sócio-econômico dos agricultores

Abordaremos neste item o perfil sócio-econômico dos agricultores, destacando as

principais características do grupo de agricultores que foram entrevistados.

As propriedades dos agricultores entrevistados estão localizadas nas seguintes

comunidades: Arataca, Baixo Canoas, Rio Novo, Garuva, Alto Braço Miguel, Boa Vista e

Braço Joaquim22. Dois deles não moram na propriedade: um mora no Centro e outro na

localidade de Rio do Peixe.

Dos agricultores entrevistados (seis homens e uma mulher), quatro possuem de 35 a 47

anos; três têm de 51 a 60 anos; dois deles são aposentados, um como agricultor e o outro pela

empresa na qual trabalhava, embora os dois continuem trabalhando na agricultura.

Quanto à escolaridade, um dos agricultores possui o ensino médio completo, a

agricultora está cursando o supletivo do ensino fundamental, e o restante da amostra cursou

até a 4ª série primária, possuindo assim o ensino fundamental incompleto23.

Alguns dos agricultores entrevistados não puderam estudar por falta de condições,

como se observa na seguinte fala:

Mas eu também gostava de estudar, tanto é que eu estudei meio ano no João Gaya (Escola de Ensino Básico Estadual). Mas aí foi cortado o ônibus, nós fizemos a 5ª série, mas a empresa cortou a linha. Então nós não podíamos mais estudar. Eu concluí meu 1º grau através do NAES (escola de ensino supletivo estadual) em 1986, eu tinha 27 anos. E fiz o meu 2º grau, através do Telecurso 2000, comecei no ano 2000 e terminei em 2001. Então eu sempre tinha vontade de estudar mas não tinha oportunidade (agricultor de Arataca).

Observa-se, na fala acima, que o agricultor reconhece a importância de políticas

públicas nessa conquista de ampliação do nível de escolaridade. Entretanto, devemos

22 Conforme mapa do município em anexo. 23 Entenda-se ensino fundamental a conclusão da 8ª série. Dos entrevistados, três concluíram a 4ª série e um estudou até a 5ª série.

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reconhecer que também aquelas políticas públicas mais recentes, que dizem respeito à

permanência da criança e adolescente na escola, como o programa de transporte escolar e da

merenda escolar, são fundamentais para garantir um nível básico de escolaridade,

principalmente em se tratando do meio rural, onde a distância entre as localidades é na

maioria das vezes, impedimento ao acesso à escola.

Stein (2003), destaca que o grau de instrução é um dos itens que compõe o capital

humano. Para a autora este tipo de capital é fundamental para o desenvolvimento econômico e

social dos indivíduos, neste sentido, ganha corpo a compreensão de que a educação seria

compatível a um investimento produtivo.

Quanto à origem étnica, três agricultores são descendentes de alemães, dois são

italianos, e dois são “brasileiros”, segundo eles, filhos de caboclo com mãe alemã e outro de

mãe italiana. Apenas um deles não é nascido em Luís Alves e está morando há três anos no

município. Os outros são naturais das localidades deste município, onde possuem suas

propriedades.

As mulheres dos agricultores cursaram, na sua maioria, até a 4ª série primária, e uma

possui o ensino fundamental completo.

Em relação à origem étnica das esposas dos entrevistados, a maioria delas é alemã.

Uma delas tem descendência polonesa e outra italiana. Apenas uma não é natural de Luís

Alves, está morando no município há dezenove anos.

Os agricultores possuem em média três filhos, totalizando 22 jovens, adolescentes e

crianças, com idades que variam de 25 a 01 ano. Sendo que nove deles são jovens de 18 a 25

anos; oito são adolescentes com idade de 12 a 17 anos; e cinco deles são crianças com idade

de 08 a 01 ano.

Quanto à escolaridade dos filhos dos entrevistados, todos que estão em idade escolar

estão estudando. Apenas dois deles que completaram o ensino fundamental não cursaram o

ensino médio. Segundo a mãe: “Os dois mais velhos estudaram até a 8ª série, mas eles querem

volta a estudar, fazer o 2º grau, querem fazer o supletivo, pararam porque tinha que ajudar na

roça” (agricultora do Braço Miguel).

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Dos seis adolescentes que completaram o ensino médio, três estão cursando o ensino

superior. Duas jovens estão cursando enfermagem e uma cursa fisioterapia; outra jovem fez o

vestibular para o curso de direito e não passou, e outro ainda pretende fazer “quando tiver

condições” (agricultor do Braço Joaquim).

No Brasil, segundo Abramovay (2003), ainda persiste o costume de ficar na

propriedade o filho que tem menos vocação para o estudo e assim se forma um “círculo

vicioso entre a escassez de oportunidades e a precariedade dos talentos para explorá-las”. E o

desafio que se coloca é uma mudança do ambiente educacional existente no meio rural, não se

tratando, segundo o autor, de apenas melhorar a escola rural, mas de modificar o conjunto do

ambiente que se refere à aquisição e ao uso do conhecimento no meio rural (2003, p. 93).

A percepção de que a educação é um ponto fundamental para o desenvolvimento do

município aparece em uma das falas de um dos agricultores entrevistados:

Na educação, aí vem a questão do apoio público. Hoje os filhos dos agricultores estão chegando no 3º grau, antes não acontecia, então isso é um diferencial muito grande. Porque as pessoas hoje estão fazendo no mínimo o 2º grau, e tem muita gente no campo tendo a possibilidade de fazer o 3º grau e creio, que elas não estão pensando em estudar pra morar fora. Eu creio que se elas puderem ficar por aqui, elas vão ficar. Diferente de 10 a 15 anos atrás. Então vamos ter uma geração mais bem preparada também no campo, do que a nossa geração. Então, sabe que as pessoas mais cultas, muitas vezes elas tem mais meios de achar uma alternativa (Agricultor da Arataca).

Abramovay (2003, p.77) ressalta que o revigorante das regiões rurais brasileiras

depende de iniciativas que procurem associar, no meio rural, o trabalho e o conhecimento, que

ofereçam horizontes promissores aos jovens e, sobretudo, que transformem a experiência de

gestão de unidades produtivas agropecuárias em fonte de estímulo ao empreendedorismo e à

criação de novas organizações econômicas que não sejam a pura repetição daquilo que os pais

já faziam.

O trabalho em sete das propriedades é desenvolvido exclusivamente pelos membros da

família sob a chefia dos proprietários. Dois agricultores empregam ocasionalmente mão de

obra externa, principalmente para realizar atividades relacionadas ao manuseio dos

agrotóxicos. Um deles possui um empregado permanente.

O aspecto do emprego de mão de obra assalariada é discutido por Wanderley (1999).

Para a autora, o fato de poder ampliar o número de homens nas tarefas da propriedade, em

alguns casos, permite que a família aumente sua capacidade produtiva e por outro lado ainda

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97

permite que se poupe a exploração do trabalho doméstico (WANDERLEY, 1999 apud

GARCIA 1990).

Um dos entrevistados que planta e também comercializa bananas, se destaca como

empresário, pois já não utiliza mais a mão de obra familiar, empregando mão de obra externa

para realizar o trabalho agrícola. Este agricultor possui catorze empregados, sendo que a

maioria deles é migrante do Estado do Paraná. Todos moram nas propriedades e recebem em

média dois salários mínimos e meio, além da moradia.

Quanto ao trabalho feminino na propriedade, três delas responderam que desenvolvem

todas as atividades da agricultura e duas falaram que realizam tarefas mais leves, como a

limpeza e a desfolha da bananeira. No entanto, uma delas destacou que tem “ido pouco por

causa da criança menor” (agricultora do Braço Miguel) e uma delas não trabalha na

propriedade.

Seyferth (1982), em seu estudo sobre a colonização do Vale do Itajaí, destaca o

trabalho feminino na cultura dos teuto-brasileiros como um fator determinante na própria

colonização e sua valorização é um elemento de identidade étnica. Por serem regiões onde

predominam pequenas unidades produtivas, estas, se caracterizam pela exploração máxima do

trabalho da família e para alcançarem uma produção agrícola razoável, a força do trabalho da

mulher “colona” se tornou fundamental, chegando até a substituir o homem, quando este sai

em busca de trabalho temporário.

Em relação aos filhos que trabalham, três deles trabalham fora da propriedade e nove

trabalham na propriedade. Esse fato tem implicações sociais relevantes, uma vez que, de um

modo geral, a continuidade da profissão agrícola depende da reprodução social com base

familiar.

3.2 Dimensões e formas de acesso e uso da terra

Quanto ao tamanho das propriedades estudadas, seis delas possuem de 12 hectares a

34 hectares. Um dos agricultores da amostra possui 170 hectares de terras.

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Santa Catarina, segundo Goularti Filho (2002), apresenta uma estrutura fundiária

diferenciada da maior parte do país. A base fundiária do Estado centra-se na pequena

propriedade. Esta característica, para o autor, tem origem no processo de colonização

minifundiária24 ocorrido em Santa Catarina. Vale destacar que Luís Alves segue esse padrão

de estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades.

Todos os agricultores entrevistados são proprietários da terra, seu principal meio de

produção. Três deles herdaram a terra, e quatro a compraram de seus familiares. Três deles

possuem terras em outras localidades, além daquelas em que residem. Apenas um agricultor

fez empréstimo para compra de mais terra. Outro entrevistado também comprou mais terra,

mas não fez financiamento para isso. Um dos agricultores, além da terra que possui, também

arrenda para o cultivo da banana.

Constata-se, assim, que todos os agricultores entrevistados trabalham em terras que

eram de suas famílias. Para Carneiro25 (2001), as formas de transmissão do patrimônio

mudam de acordo com o contexto histórico, geográfico e institucional e não podem ser

entendidas dentro de uma concepção formal. “A diversidade de soluções possíveis é fruto não

apenas de diferentes tradições, mas, sobretudo, de diferentes sistemas de reprodução cultural,

social e econômica” (2001, p. 2). Desta forma, a transmissão dos direitos da propriedade de

uma geração para outra pode ser realizada através de múltiplas estratégias. E estas estratégias

serão de acordo com as condições de cada família, tanto em relação às negociações e

compensações, quanto a sua possibilidade econômica.

Quanto à área dos estabelecimentos familiares, Guanziroli (2001), afirma ser é um dos

fatores determinantes na obtenção da renda, havendo uma clara relação entre renda e área

média. Para o autor, a exploração sustentável dos estabelecimentos agropecuários depende do

tamanho das propriedades. Aquelas com área menor de cinco hectares têm maior dificuldade,

e na maioria das vezes sua reprodução se torna inviável.

A área ocupada com plantações de banana pelos agricultores entrevistados tem uma

extensão entre oito e 23 hectares, um deles possui cinco hectares e outro possui 90 hectares de

área plantada com a fruta. Conforme tabela abaixo.

24 Autores como PELUSO JR (1991) e PEREIRA (1997), (2004), (2003), também debatem sobre o tema. 25 Outros autores, entre eles Seyferth, também discutem a respeito desta temática.

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Tabela 30 Área plantada/quantidade de pés/produção Área plantada/ha Quantidade de pés plantados/mil Produção

90 há 100 mil 3,2 toneladas/mês

23 há 34 mil 3 mil Caxias/mês

15 há 20 mil 1.500 caixas/mês

13 há 20 mil 1.300 caixa/mês

08 há 12 mil 1.250 caixas/mês

08 há 10 mil 700 caixas/mês

05 há 09 mil 200 caixas/mês

Fonte: Entrevistas realizadas

3.3 Produção e comercialização

A maioria dos agricultores entrevistados, antes de iniciarem com a cultura da banana,

cultivava principalmente cana, fumo e arroz. Quatro deles eram monocultores, plantando

somente cana e três diversificavam a produção. Essa tendência ao cultivo de monocultura

permaneceu com o cultivo da banana.

Quanto à principal atividade econômica, todos os entrevistados responderam ser o

cultivo da banana sua principal atividade.

Dos sete agricultores entrevistados, dois cultivam banana há mais de vinte anos.

Quatro deles plantam a fruta entre dez a vinte anos; um deles cultiva banana há três anos.Três

só cultivam a banana, e quatro são policultores, cultivando também arroz, palmeira real e

eucalipto e um deles possui também aviário.

O sistema de policultura, segundo Wanderley (1999, p. 24) “foi se aperfeiçoando ao

longo do tempo até atingir um equilíbrio numa relação específica entre um grande número de

atividades agrícolas e de criação animal”. Este tipo de produção para Jollivet (1974 apud

WANDERLEY, 1999), além de ser uma característica da agricultura familiar é também a

mais elaborada e produtiva da economia agrícola. A importância da diversificação das

culturas aparece na fala de um dos entrevistados:

Nós começamos a plantar banana pra diversificar na verdade um pouco, essa foi a idéia, pra não ficar dependo só de uma atividade, e cometemos o mesmo erro, primeiro nós só plantava cana, e depois começamos a plantar banana e ficamos só com a banana (agricultor de Arataca).

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Guanziroli (2001) destaca a diversificação dos sistemas produtivos como resultado da

busca por segurança, pois possibilita a elevação do rendimento total por unidade de área

agrícola quando facilita a integração da agricultura com a pecuária (nas trocas e reciclagem de

nutrientes) e a rotação de culturas (com o controle de doenças e pragas), entre outros.

Seis dos entrevistados vendem toda sua produção para um intermediário, sendo que é

sempre o mesmo. Um deles comercializa diretamente sua produção.

Atualmente, em Luís Alves, cerca de sessenta produtores de banana, desenvolvem a

função de intermediários, comercializando diretamente a sua produção e a de outros

agricultores. Na fala do agricultor de Arataca podemos observar como a comercialização da

fruta se desenvolveu, ampliando as vendas tanto para o mercado interno, quanto para o

externo. Segundo ele:

A partir de 1990, eu comecei a comprar banana de dois vizinhos e vender direto pro Rio Grande do Sul. Uma carga por semana. Então a minha produção e a do meu irmão; a gente trabalhava junto, não dava uma carga por semana, e tinha que ter uma carga por semana. E começamos a comprar de dois vizinhos. E teve uma época que dava mais de uma carga por semana. E isso virou uma bola de neve. E aí arrumei mais um comprador; daqui a pouco não dava pra atender os dois compradores e comecei a pegar de outro vizinho. E assim foi crescendo, que de 1990 a 1993, eu já estava vendendo dez caminhões de banana por semana.

A maior parte da produção dos agricultores entrevistados é exportada, principalmente

para o Uruguai e a Argentina. No entanto, alguns produtores têm sua produção de banana

comercializada também no mercado interno, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo Guanziroli et al (2001), os agricultores muito integrados ao mercado são os

que apresentam a maior renda média por estabelecimento e por hectare. Estes agricultores são

os responsáveis por 38,8% do Valor Bruto da Produção – VBP da agricultura familiar, no

país, mesmo dispondo de 21,6% da área.

Quanto ao custo da produção, a maioria dos agricultores investe mais de 50% de sua

renda no custeio da atividade, principalmente em insumos agrícolas, como adubo, herbicidas,

fungicidas, calcário, óleo mineral, sacos plásticos para ensacar o cacho, fitilho para amarrar a

bananeira, aviação agrícola, manutenção de equipamentos e estradas, e mão de obra.

As condições de acesso à tecnologia, segundo Guanziroli et al (2001), são

diferenciadas regionalmente entre os agricultores familiares e na região Sul este percentual

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101

alcança 47%. Em relação à utilização de adubos químicos, no Sul, aproximadamente 77,1%

dos agricultores familiares fazem uso deste recurso.

3.4 Composição da renda familiar

Para a maioria dos entrevistados a renda principal vem do cultivo da banana. No

entanto, quatro deles também possui renda gerada pelo cultivo de arroz, palmeira real e

eucalipto, como já foi citado anteriormente.

Em relação à safra do ano passado, à renda média bruta da comercialização da banana,

para a maioria dos entrevistados ficou entre 08 a 50 mil reais. Para dois agricultores a renda

da safra passada ficou entre 130 a 350 mil reais.

Dois deles têm sua renda complementada através da aposentadoria. A importância

desta fonte de renda tem sido estudada por autores como Cazella (2003) e Delgado e Cardoso

Jr (2000). Segundo estes autores, esta renda tem uma significativa importância social para os

produtores rurais. Destaca-se nas últimas décadas como a mais importante contribuição à

renda e à subsistência das famílias rurais pobres, revelando-se como uma política social de

impacto positivo para o meio rural no Brasil.

Outro aspecto que compõe a renda das propriedades é o cultivo de produtos para

autoconsumo26. Seis dos agricultores entrevistados cultivam aipim, batata doce, feijão e taiá,

para consumo próprio. Cultivam também pomares, com frutas como a tangerina, laranja,

goiaba, jabuticaba, acerola, abacate, caqui, uva pêssego, abacaxi e nona. Cinco deles possuem

horta e seis deles criam animais como galinha, vaca leiteira, gado para corte, porco e cabrito.

Apenas um deles não planta nem cria animais para consumo próprio.

Foi também constatado que um dos agricultores entrevistados utiliza o trabalho

externo como estratégia de garantir renda diante da situação de instabilidade pela qual o preço

da banana se encontrava naquele momento. Conforme seu próprio depoimento:

A gente trabalha muito fora por empreita. Por fora a gente pega uns bananais prá limpar, ou passar veneno; ou plantando eucalipto pro vizinho. A gente trata um preço, tipo uns três hectares de bananal limpo por quinhentos reais. A gente trata assim e faz por esse preço. Só da banana não da prá viver porque dá muito pouco.

26 Guanziroli (2001) destaca a importância da produção de alimentos para auto-consumo, principalmente para aqueles agricultores menos capitalizados, sendo que para o autor, a renda obtida com o auto-consumo é contabilizada na renda total dos estabelecimentos familiares.

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Trabalho mais fora, na semana, três dias trabalho fora da propriedade, só assim a gente consegue se manter (Agricultor de Rio Novo).

Este fenômeno tem sido chamado de pluriatividade e vem sendo estudado por autores

como Seyferth (1984), que estudou a condição de colonos operários do Vale do Itajaí, entre

outros como Alentejano (1990) e Schneider (1999).

Segundo Wanderley (1999), em muitos casos este tipo de trabalho se torna uma

necessidade estrutural, que passa a ser indispensável para a reprodução não só da família

como do próprio estabelecimento familiar.

Por outro lado, autores como Guanziroli et al (2001, p. 35) acreditam que quando

existem políticas agrícolas de apoio à produção familiar, com crédito disponível, como no

caso o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, se

fortalecem estes sistemas produtivos familiares e há uma tendência de as atividades exercidas

fora da unidade familiar serem deixadas de lado, pois não entram mais na lógica do processo

de acumulação e nem há mais tempo disponível para exercê-los.

No caso da amostra de agricultores entrevistados o que se observa, portanto, é que ela

se aproxima do universo dos agricultores familiares do município: de um modo geral é

profundamente diferenciado, pois não formam uma categoria estanque, imóvel ou isolada das

demais. Alguns estão em processo de acumulação de capital e outros em processo de

descapitalização, o que é comum aos espaços rurais brasileiros (GUANZIROLI et al 2001, p.

114).

Entretanto, o autor destaca que quando além do apoio de crédito e a da assistência

técnica, existe a organização dos agricultores, ocorre uma redução dos custos de transação,

criando um ambiente de confiança, que permite novos modos de inserção social e

conseqüentemente, as chances de sucesso são infinitamente maiores.

3.5 Participação em organizações da sociedade civil

A expansão de associações de produtores é um movimento que ocorreu a nível

nacional de forma bastante significativa na década de 1980. A agricultura familiar, para

Pinheiro (2003), hoje ocupa espaços os mais variados como a mídia, à agenda política

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nacional, e para o autor “é impossível pensar a construção desse espaço político para o tema

sem considerar as experiências acumuladas nos últimos anos, principalmente através das

diferentes formas de organização e mobilização dos trabalhadores rurais” (PINHEIRO, 2003,

p. 337).

Para Mussoi (2002), quando um conjunto de atores sociais adere a projetos coletivos

em torno de interesses, expectativas, crenças e valores compartilhados, se constroem uma

lógica de ação coletiva que passa a ser o motor de um processo de desenvolvimento.

Neste sentido, todos os agricultores entrevistados participam de alguma entidade ou

organização civil. Segue abaixo a relação das entidades/organizações citadas pelos

agricultores.

Tabela 31 Entidades/organizações das quais os agricultores participam Entidades/organizações Nº de agricultores

Abla 6

Cressol 3

Sindicato dos Trabalhadores Rurais 2

Igreja 2

Fundação Hospitalar 1

Cooperativa Juriti 1

Fonte: Entrevistas realizadas

A maioria dos entrevistados é associada da ABLA. Um dos agricultores é sócio

fundador da associação, outros três agricultores se associaram há cerca de dois anos. Um

deles não lembra, e outro agricultor associou-se há três meses.

Quanto ao motivo que os levou a associar-se, dois entrevistados responderam que se

associaram em função da emissão do certificado fito sanitário que é um dos benefícios

oferecidos pela associação. A agricultora de Baixo Canoas acredita que a Associação não vem

trazendo benefícios, e não tem claro porque se associou. Segundo ela

No momento eu não sei. Claro, tem os insumos, mas a gente consegue comprar pelo mesmo valor nem sendo participante da associação. Mas é uma coisa correta, pra isso existe a associação, que eles conseguem comprar, por exemplo, adubo mais em conta um pouco. Só que a gente também consegue, porque os vendedores passam em casa e vendem, só que é uma coisa que a associação não concorda, que fica meio incorreto, só que eu não sei. Acho que a ABLA não está trazendo muitos benefícios. A ABLA devia fazer como em outros lugares, por exemplo, em São Paulo. A ABLA mesmo devia ter uma venda de banana, pra comercialização.

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Outros benefícios oferecidos pela Associação foram citados por três entrevistados,

como a assistência técnica, o repasse de informações e a própria organização. Para o

agricultor de Arataca o motivo que o levou a ser sócio fundador da ABLA é

Ser beneficiado pela organização, ela facilita a assistência técnica, através dos grupos, o técnico ele consegue levar com mais facilidade pra mais pessoas, do que se fosse individual. Então assistência técnica, compra de insumos, busca de novos mercados, é um grande objetivo. Hoje tem os monitoramentos que ela coordena, monitoramento da Sigatoka, de pragas, vamos dizer assim. Hoje ela faz da Sigatoka, mas nós já temos projetos. Enfim ela tem toda uma estrutura, por exemplo, toda carga de banana que sai ela tem que ter um atestado fito-sanitário. Então a ABLA presta esse serviço. E aí tem essa pista de aviação, isso facilita muito a questão da aplicação de óleo, a ABLA tem essa estrutura com a pista, é cedida pra uma empresa, mas é dela. São inúmeras pequenas vantagens, quando tem problemas fito-sanitários nas fronteiras, ou mesmo dentro do Brasil, de um Estado pra outro, ela é nosso órgão de defesa, nossa ferramenta de defesa.

Para Abramovay (2003, p. 86), o capital social é produtivo, já que ele torna possível

que se alcancem objetivos que não seriam atingidos na sua ausência. Ainda para o autor, a

acumulação desse capital é um processo de aquisição de poder e pode até se converter em

mudança na correlação de forças no plano local. “O capital social corresponde a recursos cujo

uso abre caminho para o estabelecimento de novas relações entre os habitantes de uma

determinada região” (ABRAMOVAY, 2003, p. 88).

Três agricultores entrevistados são cooperados da cooperativa de crédito (CRESSOL),

e o principal motivo que os levou a se associar foram os benefícios oferecidos pela mesma.

Dois agricultores da amostra participam do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Luís Alves (SITRULA). Os motivos citados são a aquisição do bloco de notas do produtor

que o sindicato fornece e a comprovação da atividade agrícola para o benefício da

aposentadoria.

3.6 Condições ambientais e de saneamento

Quatro agricultores entrevistados possuem em média sete hectares de mata nativa, e

um agricultor possui 80 hectares de mata preservada em sua propriedade.

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Seis deles têm nascente de água em suas terras, no entanto somente quatro deles fazem

proteção das mesmas preservando a mata ciliar, conforme depoimento do agricultor da

localidade de Braço Joaquim: “não desmato onde tem água”.

Questionados sobre as leis ambientais, todos os agricultores responderam que é uma

legislação necessária. Segundo depoimento do agricultor de Arataca as leis ambientais “são

necessárias, extremamente necessárias, porque tá na hora de parar de derrubar mata nativa,

prá conservar as nascentes de água principalmente”.

Por outro lado, a maioria dos agricultores destacou a ambigüidade da legislação que,

segundo o agricultor de Boa Vista:

Num lado é bom, por outro também complica porque estão querendo demais, um pouco a gente até concorda, mas como estão fazendo eles vão acabar com o agricultor. Porque é muita área que eles querem que deixe, tantos metros de reserva, é muita reserva, muitas vezes já tem pouco, aí não sobra nada pra ele plantar. Tem agricultor que tem pouca terra.

Sobre este aspecto Neumann e Loch (2002) ressaltam que a legislação ambiental

brasileira está baseada essencialmente nos mecanismos fiscalizatórios e coibitivos. Para os

autores este fato tem reflexos no desenvolvimento global da sociedade, e em particular ao

meio rural, pois somente estes mecanismos não contribuem para uma mudança efetiva na

prática cotidiana destes agricultores. E, muitas vezes a falta de opções alternativas às práticas

predatórias agrava a situação já precária de sobrevivência de grande parcela dos agricultores

familiares, pois oneram o processo produtivo agrícola e não propiciam as condições para que

o público envolvido cumpra as obrigações exigidas.

Outro agricultor destaca a contradição da legislação, pois segundo ele pagando a

licença o agricultor pode derrubar a mata, para ele “por um lado tá certo, por outro ta errado,

porque se paga a licença pode derrubar”.

Neste sentido, os autores acima citados, ainda destacam que a legislação brasileira é

composta de instrumentos de comando e controle, isto é por regras e padrões a serem

seguidos, atribuindo penalidades aos que não as cumprirem.

Segundo o Código Florestal, o proprietário rural deve preservar, como Reserva Legal,

20% de sua propriedade, onde não é permitido derrubar a mata, apenas explorar seus produtos

através do manejo sustentável. E a preservação destas áreas naturais no interior da

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propriedade tem importância estratégica para o produtor, pois protege recursos como o solo e

a água, permitindo a sobrevivência de plantas e animais da região, além de deixar o ambiente

mais equilibrado.

Entretanto, a legislação ambiental permite explorar, com autorização da FATMA, a

capoeira que tenha, em média: até 4 metros de altura, tronco com grossura de até 8

centímetros e área de até 8 m² por hectare. As áreas com vegetação que não tem rendimento

lenhoso não é preciso ter autorização da FATMA.

Todos os agricultores fazem análise do solo a cada dois a três anos, quando o solo

apresenta acidez aplicam o calcário para diminuir a acidez da terra, este processo, portanto, é

realizado a cada dois ou três anos.

Todos os entrevistados responderam que sempre usaram insumos químicos.

Entretanto, cinco deles não lembraram a quantidade de alguns insumos. Conforme tabela

acima.

Tabela 32 Quantidade de insumos utilizados pelos agricultores ao ano Produtos Agricultores

Adubo/sacos 02 mil 800 400 750 300 200 40

Fungicida/lts 200 lts 28 lts 48 lts 8 lts

Herbicida/lts 80 lts 80 lts 30 lts 50 lts 5 lts 25 lts 10 lts

Óleo 1500 lts 1500 lts 800 lts 400 lts

Calcário/ t/2an 120 t 36 t 30 t 17 t

Fonte: Entrevistas realizadas

Questionados sobre o aumento da quantidade de insumos, cinco entrevistados

responderam que a quantidade de herbicida aplicada não aumentou. Dois entrevistados

diminuíram a quantidade de herbicida aplicada. Os agricultores demonstram certa

preocupação quanto à aplicação dos produtos químicos, principalmente os herbicidas, como

transparece no depoimento do agricultor de Arataca:

Diminuiu muito, porque nós descobrimos; nós concluímos que muitas ervas não são daninhas, na verdade são ervas daninhas que não causam danos. O mato atrapalha, mas, ao contrário traz algumas vantagens: deixa o solo mais úmido. Muito herbicida prejudica a raiz da bananeira. Então deixar aquela erva ali, ela não é prejudicial, ao contrário. A consciência dos agricultores já tá mudando bastante, por que no início não era assim. Ainda muita gente não aderiu, mas já mudou bastante.

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Paschoal citado por Ehlrs (1999), ressalta que o crescimento do consumo de

agrotóxicos provocou um aumento significativo do número de pragas. Este fato se deve ao

uso intensivo de praguicidas, que ao combaterem as pragas também atacam os inimigos

naturais das mesmas, o que provoca um desequilíbrio nos agrossistemas e a resistência que as

pragas desenvolvem em relação a esses produtos.

Um dos agricultores entrevistados destacou que o aumento da quantidade de adubo

químico ocorreu em função da ampliação da área plantada e outro agricultor destacou o

desgaste do solo. Outro agricultor ainda ressaltou a diminuição da aplicação do adubo

químico em função de sua substituição pelo adubo orgânico. A maioria dos agricultores

utiliza adubo orgânico na lavoura. Esta iniciativa visa reduzir impactos negativos sobre o

meio ambiente e por outro lado objetiva também a diminuição dos custos de produção. O

“Programa de Produção Integrada da Banana” prevê o mapeamento de todos os produtos

utilizados durante a cadeia produtiva, para posterior etiquetagem das embalagens da fruta.

Desta forma, a redução de insumos químicos, além de melhorar a qualidade da fruta estará

agregando valor ao produto, e motivando o agricultor às práticas agrícolas mais sustentáveis.

Todos os agricultores entrevistados recolhem os resíduos da lavoura (sacos plásticos e

fitilhos), que posteriormente são vendidos ou doados para os coletores de material reciclável.

A maioria dos entrevistados separa o lixo doméstico para reciclagem e queima o que

não é possível reciclar. Apenas um deles não possui fossa séptica, sendo que os dejetos são

jogados direto no ribeirão.

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CAPITULO IV

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS AGRICULTORES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA BANANICULTURA NO MUNICÍPIO

4.1 Sobre o início da Bananicultura

Todos os entrevistados possuem familiares, principalmente irmãos, que foram morar

em cidades próximas e o motivo mais citado foi à busca por emprego e a falta de perspectiva

para a agricultura, conforme expressa o agricultor de Arataca: “Porque não havia perspectiva

na atividade agrícola, não tinha estrutura, estradas, energia elétrica, colégio e a terra não era

mecanizável”.

Guanziroli et al (2001) destacam que o desenvolvimento e o aumento da produção

familiar dependem também do aceso aos serviços essenciais de educação, saúde e

infraestrutura, como comunicação e transporte. Quando esses serviços são inexistentes ou

precários, a tendência é que as famílias rurais migrem buscando esses benefícios nos centros

urbanos.

A maioria dos familiares dos agricultores entrevistados foi para cidades vizinhas entre

as décadas de 1970 e 1980. Apenas um deles partiu na década de 1990. Este período coincide

com o período de grande êxodo rural, quando muitos agricultores vendiam suas terras e

migravam para cidades vizinhas como Blumenau, Jaraguá do Sul e Joinville, para trabalharem

nas fábricas. Segundo Martine e Garcia (1987), na década de 1970 ocorreu o maior êxodo

rural já visto no Brasil. Aproximadamente 16 milhões de pessoas deixaram o campo para

buscar novas oportunidades nas cidades.

Segundo dados do IBGE, o município de Luís Alves, no ano de 1970, possuía 7.651

habitantes; dez anos depois, em 1980, este número caiu para 6.480 habitantes, uma redução de

15% da população. Somente a partir de 1990 que a densidade demográfica do município

começou a apresentar índices positivos, apresentando, em 1996, uma população de 7.651

habitantes.

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Em relação ao motivo que levou os agricultores entrevistados a permanecerem no

município trabalhando na agricultura, a maioria respondeu que “era o que sabiam fazer”, além

de gostar da atividade. Um deles expressa a importância do cultivo da banana na decisão de

continuar no município quando jovem. Segundo ele:

Como meus irmãos, quase todos já tinham saído, eu me sentia muito angustiado, sendo colocado na parede. Porque eu não tinha vontade de sair e não sabia o que fazer da vida. Eu devia ter uns 15 a 18 anos. Foi justamente naquela época que meu pai resolveu começar a plantar banana, senão com certeza eu tinha que ter saído também da propriedade (Agricultor da Arataca).

O principal motivo que os levou a optar pelo cultivo da banana foi a boa rentabilidade

da cultura; em seguida, a baixa rentabilidade da cultura da cana e do fumo que eram as

culturas que eles produziam; a necessidade de diversificar a produção e por último a

observação de que muitos agricultores que cultivavam a banana estavam se saindo bem

economicamente.

Quando perguntados se foram influenciados por alguém para começar a plantar

banana, cinco deles responderam que não foram influenciados por ninguém; um disse ter sido

influenciado por um amigo; e outro disse que quem o incentivou a plantar banana foi o

agrônomo da ACARESC27. Constata-se que a maioria dos entrevistados iniciou a produção da

banana, ao observarem que os agricultores que cultivavam a fruta obtiveram uma certa

ascensão econômica.

4.2 A utilização e a opinião dos agricultores sobre as políticas públicas 4.2.1 O Crédito Rural

Segundo Gehlen (2004), há um consenso de que o fortalecimento da agricultura

familiar tem impacto positivo sobre a geração de renda agropecuária, visto que os indicadores

de rentabilidade e produtividade são superiores se comparados à agricultura patronal.

27 Este agricultor iniciou o cultivo de banana em 1979 e recebeu assistência técnica da ACARESC – Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina, que mais tarde fundiu-se com a EMPASC – Empresa de Pesquisa Agropecuária, com a ACARPESC – Serviço de Extensão Pesqueira e o IASC - Instituto de Apicultura de Santa Catarina, e passou a chamar-se EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina.

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Conseqüentemente, este segmento social vem contribuindo para a redução da pobreza no

campo. Daí a importância da implantação e implementação de políticas públicas de crédito, de

pesquisa e de assistência técnica para a agricultura familiar, aspecto que, no caso da

bananicultura em Luís Alves tem sido fundamental, como foi visto.

Assim, um aspecto fundamental relativo às políticas públicas destinadas ao

desenvolvimento da agricultura é o crédito rural. Questionados se já haviam feito empréstimo

para financiamento da agricultura, cinco agricultores responderam que já utilizaram o crédito

rural e dois deles responderam que nunca fizeram empréstimo para agricultura.

A política de crédito rural foi utilizada pelos bananicultores desde o inicio, e tanto o

número de contratos quanto o volume de recursos têm aumentado de forma significativa.

Constatamos, conforme dados já apresentados, um aumento de 43,20% no número de

contratos, e 78,10% no montante de recursos do crédito rural que foram acessados no período

de quatro anos, entre os anos de 1999 a 2003.

Dos cinco agricultores que utilizaram o crédito rural, dois deles utilizaram a linha de

custeio; dois utilizaram a linha de investimento e um deles utilizou a linha de custeio e de

investimento.

Todos os agricultores que fizeram empréstimos realizaram seus contratos através do

Banco do Brasil ou do Banco do Estado de Santa Catarina (BESC). Mais recentemente, desde

2001, a cooperativa de crédito, CRESSOL, vem oferecendo esse serviço aos agricultores

associados. Entretanto, apenas um deles disse ter utilizado o crédito rural através da

CRESSOL.

Segundo Oliveira (2006), a concepção de agricultura familiar como aquela praticada

em pequenas propriedades onde trabalham famílias inteiras, com no máximo dois

empregados, têm orientado a política de financiamento agrícola. Seguro, renegociação das

dívidas atrasadas, descontos para quem pagar em dia, preços mínimos a valor de mercado e

compromisso de compra de parte da produção são algumas das condições oferecidas pela

política governamental.

Os agricultores que acessaram o crédito rural disseram tê-lo feito há mais de dez anos.

Os dois agricultores que plantam banana há mais de vinte anos disseram que sempre

utilizaram o crédito de custeio, desde o início da atividade. Entretanto, um deles ressaltou que

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“os empréstimos deveriam ser menos complicados, menos papelada” (agricultor de Garuva).

A política de crédito foi e continua sendo mais utilizada pelos agricultores que cultivam a

banana há mais tempo.

Segundo Buainain et al (2003), ao contrário do que é comumente divulgado, parte da

agricultura familiar maneja sistemas produtivos modernos que utilizam intensivamente os

insumos adquiridos no mercado e carregam custos elevados de manutenção/depreciação de

equipamentos/instalações. Desta forma, a grande maioria dos agricultores necessita de

recursos de terceiros para operar suas unidades de maneira mais eficaz, rentável e sustentável.

Para os autores, a ausência destes recursos, seja pela insuficiência da oferta de crédito, seja

por causa das condições contratuais inadequadas, impõe sérias restrições ao funcionamento da

agricultura familiar mais moderna e, principalmente, a sua capacidade de manter-se

competitiva em um mercado cada vez mais agressivo e exigente.

Deste modo, a experiência dos bananicultores de Luís Alves vem confirmar aspectos

comuns aos registrados com o estudo Buainaim et al (2003) sobre a agricultura familiar no

Brasil. Para o autor, quando o agricultor familiar recebe um mínimo de apoio da política de

crédito agrícola e de assistência técnica, os resultados deste setor demonstram ser muito mais

eficientes, tanto socialmente, do ponto de vista da geração de empregos, como também do

ponto de vista técnico e econômico. Daí a importância de um projeto de desenvolvimento

rural apoiado na agricultura familiar

4.2.2 A Pesquisa e a extensão na perspectiva dos agricultores

O serviço de extensão rural público pode ser considerado o sistema ligado ao meio

rural que possui a maior capilaridade e presença de profissionais capacitados e experientes em

todo o território nacional. (SIMON, 2003).

Questionados se receberam assistência técnica quando começaram a plantar banana,

três dos agricultores entrevistados responderam que receberam assistência técnica e quatro

deles disseram que não receberam .

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Verificou-se que os três agricultores que receberam assistência no início da atividade

são os que plantam banana há mais tempo, 29 anos, 27 anos e 14 anos. Podemos concluir que

houve orientação técnica aos primeiros agricultores que iniciaram com a cultura da banana no

município, o que não se verificou com os agricultores que iniciaram com a bananicultura mais

tarde. Provavelmente o número de produtores que iniciaram o cultivo da banana era pequeno

e, portanto, o técnico conseguia atender a demanda de todos. Atualmente, existem no

município 420 produtores de banana, e apenas um técnico da EPAGRI, para atender todos os

agricultores, além dos bananicultores. Mesmo diante desta problemática, mais de 50% da

amostra recebe alguma assistência técnica.

Entre os que recebem assistência técnica, um deles avaliou o atendimento como

“excelente” e para três deles, “o atendimento foi bom”, não havendo necessidade de mudar.

Um deles considerou haver a necessidade de mais técnicos para atender aos agricultores,

reforçando o aspecto da quantidade de profissionais existentes para prestar assistência técnica.

Um dos agricultores destaca que “deveria ter mais técnicos; isso deixa a desejar” (agricultor

de Arataca).

Os quatro agricultores entrevistados que recebem assistência técnica disseram que essa

assistência foi prestada pelo agrônomo da EPAGRI; um deles, além da EPAGRI recebe

também da ABLA – Associação dos Bananicultores de Luís Alves.

Observa-se que há uma valorização da presença do técnico, pois questionado sobre o

que deveria ser diferente no atendimento da assistência técnica, um dos agricultores que disse

não ter recebido assistência técnica respondeu que “o agrônomo deveria vir na propriedade”

(agricultor do Braço Miguel). Esse aspecto também é ressaltado por outro agricultor quando

diz: “eles deviam perguntar se precisamos de alguma coisa, mas isso eles não fazem, pelo

menos pra mim, não sei pros outros” (agricultor da Boa Vista).

Contudo, os agricultores que disseram não receber assistência técnica não participam

das reuniões e outros eventos propostas tanto pela EPAGRI, quanto pela ABLA. Se sentem,

assim, à margem deste sistema de assistência técnica, pois para eles o técnico deveria visitá-

los na propriedade.

É indispensável ressaltar, entretanto, todos os agricultores responderam que fazem o

controle da Sigatoka e de outras pragas que atacam a banana, e este controle é um conjunto de

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tecnologias desenvolvidas pela EPAGRI. Podemos concluir que essas tecnologias acabaram

sendo disseminadas, se transformando num conhecimento que com o tempo foi sendo

socializado para os agricultores, pois mesmo dizendo que nunca receberam assistência técnica

eles aplicam tais tecnologias.

Tabela 33 Serviços públicos mais utilizados pelos agricultores Serviços públicos (municipais, estaduais e federais). Agricultores que utilizaram

Saúde (Posto de Saúde e Hospital) 5

Educação (municipal e estadual) 5

Máquinas (municipal) 5

EPAGRI 3

Financiamento 3

Calcário (municipal) 2

Macadame (municipal) 2

Veterinário (municipal) 1

Estradas (municipal e estadual e federal) 1

BADESC 1

Banco do Brasil 1

Bolsa Família 1

Fonte: Entrevistas realizadas

Questionados se já haviam utilizado ou utilizam serviços de algum órgão do governo

municipal, estadual ou federal, todos os agricultores entrevistados responderam que já

utilizaram. Além daqueles voltados para as atividades agrícolas de que tratarei mais adiante,

os serviços mais usados são os de saúde e os de educação, conforme tabela acima.

Um dos agricultores destaca que muitas vezes os serviços públicos são utilizados e não

são reconhecidos como tal. Segundo ele “com certeza a gente usa mesmo sem perceber”

(agricultor de Arataca), aspecto que ficou evidente no caso da assistência técnica.

Quanto à qualidade do atendimento, cinco agricultores responderam que foi bom; um

deles disse que “podia estar melhor, mas a gente não pode reclamar, sempre que a gente

precisou fomos atendidos” (agricultor da Boa Vista). Outro agricultor disse não estar satisfeito

com nenhum dos serviços que utilizou. Segundo ele “o atendimento no Posto de Saúde é

muito ruim, no hospital quando precisa não tem médico, falta profissional. Na EPAGRI

quando avisam sobre financiamento já acabou; fiz uma vez a papelada, mas nunca recebi o

recurso, só repassam pros amigos, não tem assistência técnica” (agricultor do Braço Miguel).

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As falas desses agricultores demonstram a sua condição de meros consumidores dos

serviços. Não se percebem como possíveis sujeitos capazes de alterar a situação que

descrevem como crítica. Neste sentido, Macpherson (1978 apud BRANDÃO, 1997, p.121)

argumenta que para chegar a uma percepção da importância da participação democrática, faz-

se necessário que ocorra uma “mudança na consciência do povo do ver-se e agir como

consumidor para o ver-se e agir como executor e desfrutador da execução e desenvolvimento

da sua própria capacidade”. Entretanto, não é possível mudar esta concepção sem a

participação da população.

Brandão (1997 apud PATEMAN 1992), destaca o caráter pedagógico da participação.

De acordo com a autora, a participação desenvolve nos indivíduos o senso de eficácia e a sua

auto-estima. Em troca, se empenham ainda mais, exatamente por se sentirem mais

autoconfiantes e terem maior clareza sobre os resultados da sua ação.

Em relação aos serviços utilizados especificamente para a agricultura, seis agricultores

responderam que receberam ou utilizaram algum serviço. Um deles disse que solicitou o

serviço de máquina da esfera municipal, mas não conseguiu. Segundo ele, “no ano passado,

na época da política pedi a máquina pra fazer uma lagoa, mas não fui atendido, aí desisti,

porque devia ter muito serviço por ser época de política” (agricultor do Rio Novo).

A fala do agricultor revela o caráter “clientelista” que as políticas públicas podem

assumir, quando em épocas de campanha eleitoral os governantes se apropriam da coisa

pública, buscando potencializar resultados políticos eleitorais imediatos.

Segundo Raichelis (1998), as políticas públicas historicamente apresentaram um

padrão básico, fundamentalmente assentado no tipo meritocrático-particularista, em que

direitos são transformados em ajuda por meio da aplicação de critérios seletivos, numa

situação de concessão de quem tem o poder de atribuir mérito ou autorizar a concessão do

benefício.

Questionados sobre sua participação no Conselho Municipal de Desenvolvimento

Rural, seis agricultores responderam desconhecer sua existência, um deles sabia que o

Conselho existia, mas disse não participar porque está inativo.

Abramovay (2003) em seu estudo sobre os conselhos municipais de desenvolvimento

rural aponta alguns problemas básicos. Um deles é o fato de que os conselhos são formados

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unicamente como contrapartida à exigência legal para a obtenção de recursos públicos por

parte dos municípios e não expressam uma dinâmica local significativa.

Gohn (2003), também ressalta que a operacionalização não plena dos conselhos como

instâncias democratizantes se dá devido à falta de tradição participativa da sociedade civil em

canais de gestão dos negócios públicos e ao desconhecimento de suas possibilidades, entre

outros. No caso de Luís Alves é necessário, ainda, destacar que outras instituições não

governamentais, especialmente relacionadas à bananicultura, assumiram o papel que, em parte

podia ser desempenhado pelo Conselho Municipal.

4.3 Limites e possibilidades para o desenvolvimento local sob a ótica dos agricultores

4.3.1 O desenvolvimento local e a bananicultura

Uma questão que vem se colocando dentro do contexto das transformações do mundo

rural é a relação entre desenvolvimento rural e desenvolvimento local (GEHLEN, 2004).

Questionados sobre se a bananicultura ajudou ou ainda tem ajudado no

desenvolvimento do município, todos os entrevistados foram unânimes em responder que a

bananicultura contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento do município.

Segundo o agricultor do Braço Joaquim

Tem ajudado bastante. Como em Canoas tinha muita gente pobre, a maioria trabalhava com melado. Então hoje aquela gente lá dentro ta tudo rico. Quem era pobre tem tudo, casa de material. Eu conheci lá dentro era tudo gente que derrubou tudo pra plantar banana, então essa banana desenvolveu esse pessoal, e ajudou o município. Como aqui no Braço Joaquim, ninguém tinha trator, quando surgiu a banana todo mundo comprou trator. Foram vendendo a banana e pagando o trator. Mas decerto também teve ajuda do governo porque pegaram dinheiro.

Neste depoimento, o agricultor cita a localidade de Canoas, onde foram plantados os

primeiros bananais e destaca o sucesso econômico daqueles agricultores, identificando

principalmente a melhoria de suas habitações. Em contrapartida, cita o problema do

desmatamento daquela região, causado pela ampliação da área plantada com a fruta.

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Reafirma, ainda, a importância da bananicultura, quando fala da aquisição de tratores pelos

produtores de banana de sua própria localidade.

O principal aspecto que contribuiu para o desenvolvimento, segundo os entrevistados,

foi a geração de renda que a atividade proporcionou e continua proporcionando para o

município. Conforme a fala do agricultor da Garuva, “quem fez dinheiro com banana aplicou

o dinheiro no município”. Além disso, os agricultores ressaltaram o fato de que essa renda foi

e tem sido aplicada no próprio município. Segundo a maioria deles, gerando “uma corrente”,

como afirma o agricultor de Arataca:

Então a bananicultura trouxe renda pros agricultores, trazendo renda pros agricultores, trouxe renda pro comércio local. Sabe que gira, um compra roupa, o que vende roupa já compra um carro, o que compra um carro já compra um pneu, o que compra o pneu já tem que arrumar o pneu.

Podemos comprovar estas afirmações, através dos dados apresentados no capítulo

anterior, em relação ao aumento do valor do PIB Municipal per capita (R$1,00/hab), que

cresceu de R$ 6.054,54 em 1998, para R$ 11.412,60 em 2002.

Quanto aos setores que mais se desenvolveram através da renda gerada pela

bananicultura, a maioria dos entrevistados citou, em conjunto, o comércio, a construção civil e

a aquisição de mais terras. Em segundo lugar foi citada a diversificação das atividades dos

próprios agricultores, como criação de gado, a abertura de lojas e o investimento no mercado

imobiliário.

Em terceiro lugar, os agricultores ressaltaram a importância da bananicultura como

geradora de emprego no município. Para o agricultor do Braço Miguel essa atividade ajudou o

desenvolvimento do município “porque deu emprego e bastante renda pro município”. O

quarto aspecto citado foi a importância da atividade para a permanência das pessoas no

município, evitando o êxodo rural.

A banana e as fábricas agüentaram as pessoas aqui, não foram embora. Fizeram aumentar, melhorou o comércio, o dinheiro gira aqui. Outros investiram em outras coisas, construção, gado. Quando a banana, o arroz vai bem, tudo vai bem, a oficina tem serviço, o comércio vai bem, tudo vai bem. (agricultor da Boa Vista).

Como já foi afirmado, além do pessoal ocupado, que corresponde à cerca de 65% da

PEA do município, a bananicultura tem contribuído para a permanência da população no

município.

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O quinto aspecto destacado foi que a cultura da banana ajudou a divulgar o município,

conforme depoimento da agricultora de Baixo Canoas: “Luís Alves era conhecido só pela

cachaça e com a Festa da Banana também divulgou o município”. Esta fala ressalta a

importância da Festa da Banana, que é realizada no mês de julho, juntamente com a Festa

Nacional da Cachaça, como forma de divulgar a produção de bananas e conseqüentemente o

próprio município.

4.3.2 Fatores que contribuíram para o desenvolvimento da bananicultura

Questionados sobre o motivo pelo qual a bananicultura em Luís Alves se desenvolveu

tanto, foi destacado pela maioria dos agricultores, o esforço e o trabalho do agricultor.

Seyferth (1982), em seu estudo sobre a colonização do Vale do Itajaí, destaca a

importância dada ao trabalho pelos migrantes “colonos”, principalmente, os de descendência

alemã. O trabalho, segundo a autora, é a fórmula usual de chamar a atenção para as diferenças

étnicas, indicando sua superioridade. Estes estereótipos relacionados à “eficiência” e à

“capacidade de trabalho” são constantes quando é necessário identificar as pessoas que não

pertencem ao grupo. Neste sentido, está subjacente a idéia de que a superioridade do trabalho

é dada pela sua superioridade racial e cultural. Alguns historiadores que estudam a

colonização alemã no Sul do país acreditam serem estes estereótipos, em relação ao

“trabalho” e a “produtividade”, a razão do progresso das comunidades teuto-brasileiras.

Para o agricultor de Arataca, os principais motivos do desenvolvimento da bananicultura no município são as:

Terras boas e essa assistência técnica. Ela ensinou, ela colocou na cabeça do agricultor, colocou uma cultura de reinvestir na atividade. Porque muitos produtores ali fora, quando sobrava dinheiro investiam no carro, na casa, ou um terreno, mas aqui sempre se procurava primeiro adubar o bananal, depois, se sobrasse dinheiro fazia algum investimento. Então essa cultura ali, esse incentivo, eu acho que foi muito importante essa orientação técnica. Não só pela tecnologia, mas a mudança da mentalidade de investir bastante na atividade. Porque ele [agrônomo da EPAGRI que era técnico específico da banana] falava muito do ciclo do diabo. O que é isso: não tem dinheiro pra comprar adubo, como não tem dinheiro pra comprar adubo o agricultor não tem produção, como não tem produção não tem dinheiro pra comprar adubo. Ele vai mordendo a própria cola. Então se não tem dinheiro tem que emprestar dinheiro. Ele dizia: tem que emprestar do vizinho, do banco, em qualquer lugar, mas tem que adubar o bananal. Porque senão não têm produção, não saem do zero nunca, e ele chamava isso do ciclo do diabo. São frases que marcaram, tanto é que eu me lembro até hoje.

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Conforme a fala acima, a assistência técnica também teve um papel preponderante

como propulsora do desenvolvimento da bananicultura, sendo destacada em segundo lugar

pelos agricultores entrevistados. O depoimento demonstra a mudança de mentalidade dos

agricultores, tanto em relação à importância do investimento na cultura da banana, quanto na

possibilidade de buscar o recurso para o investimento, através da política de crédito,

desmistificando o receio que os agricultores tinham em acessar esta política, confirmando

assim, a importância da assistência técnica prestada a esses agricultores.

Neste sentido Guanziroli et al (2001), ressaltam a capacidade da agricultura familiar se

adaptar ao ambiente em rápida transformação, seja pela crise de produtos tradicionais, que no

caso de Luís Alves foi a decadência da cultura da cana de açúcar e da cachaça, seja pela

emergência de novos mercados e/ou mudanças mais gerais da situação econômica.

A transição para cultivos mais intensivos em investimentos e utilização de insumos

(fertilizantes químicos, pesticidas, calcário) requer, segundo o autor, um período de

aprendizado por parte dos agricultores e o acesso ao financiamento de custeio e investimento.

Este processo implica no aumento do risco de produção e é nesta etapa que a assistência

técnica se torna imprescindível.

A qualidade do solo e do clima, segundo os agricultores entrevistados foi um fator que

contribuiu para o desenvolvimento da bananicultura. Guanziroli et al (2001) adverte sobre a

importância do solo para as culturas de renda (banana e mandioca). Estas culturas dependem

da fertilidade natural do solo. Com a queda desta ficam sujeitas ao ataque de doenças, pragas

e plantas invasoras, comprometendo o rendimento e elevando os custos de produção.

A exportação da banana e o fato de agricultores iniciarem a atividade por constatarem

o progresso econômico de outros agricultores que cultivavam a banana, são aspectos que

também contribuíram para o desenvolvimento da bananicultura, segundo o depoimento do

agricultor do Braço Joaquim:

Todo mundo fica com vontade de plantar, porque vê que quem tá plantando vai bem. A gente pega essa vontade de plantar e aí um passa pro outro, é que nem uma doença. Também porque começou a vender pra fora, começou a exportação. Então todo mundo vende pra exportação, aonde melhorou pra Luís Alves.

As políticas específicas no campo da comercialização também são necessárias,

segundo Guanziroli et al (2001), especialmente para apoiar alguns sistemas baseados em

produtos altamente perecíveis e de preços instáveis, como é o caso da banana. Deve-se

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facilitar, segundo o autor, o acesso dos produtores às informações necessárias (quanto a

preços, canais de comercialização, compradores, classificação, etc.) e o acesso a canais de

comercialização mais eficazes e mais estáveis. Estes esforços podem se apoiar em formas

associativas ou cooperativas de organização, como ocorre com os bananicultores do

município, através da ABLA.

Outro fator determinante, segundo a agricultura de Baixo Canoas, foi a qualidade da

banana produzida no município. Para ela “Luís Alves teve uma fama boa, a qualidade do

produto é boa, ele era preferido entre outros, em Santa Catarina Luís Alves ficou em primeiro

lugar da qualidade”. A qualidade da fruta citada por esta agricultora está diretamente

relacionada à aplicação das tecnologias repassadas pela assistência técnica, e também aos

fatores climáticos e de qualidade do solo.

4.3.3 Condições de vida: passado, presente e futuro

4.3.3.1 Aspectos positivos

Quanto às mudanças ocorridas na vida dos agricultores entrevistados, todos

responderam que houve mudanças. Para o agricultor de Arataca:

Houve mudanças radicais. A gente hoje tem muito mais conforto do que nossos pais tinham. A gente hoje tem todo conforto necessário, meio de transporte que eles não tinham, utensílios domésticos, tv, geladeira, a própria energia elétrica, nem vou falar na área da informática que é uma coisa bem mais recente. A evolução, a mudança foi muito grande. E isso se deve a cultura da banana com certeza. A gente tem os números na cabeça, qual era a produção de cana, de melado ou de cachaça que a gente fazia. Uma família grande produzia uma média de 300 barris de cachaça por ano, pegando os preços de hoje, que vale uma média de R$ 70,00 o barril, a renda média bruta da família era de 20 mil reais. Nos valores de hoje, como trabalhavam umas seis a sete pessoas, transformando isso numa renda mensal não dá um salário mínimo. Então hoje os nossos funcionários, a maioria deles ganha acima de dois salários mínimos. Os funcionários ganham o dobro, porque hoje tudo gira em torno do dinheiro e antes era diferente, a realidade era diferente.

O depoimento deste agricultor demonstra a importância da bananicultura

primeiramente em relação ao conforto obtido pelos produtores, através da renda desta

atividade. Em seguida, ressalta a melhoria da infraestrutura do município citando a energia

elétrica como exemplo. Atualmente, 100% da população do município é atendida por este

serviço. Outro aspecto citado pelo agricultor é a capacidade que esta cultura tem para gerar

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renda. Guanziroli (2001) afirma que a bananicultura é uma atividade bastante remuneradora,

por isso a opção de muitos agricultores pela produção de bananas como instrumento de

acumulação. Comparando a renda que era gerada pela cultura da cana, com a renda gerada

pela banana, o agricultor demonstra através de dados que houve melhoria das condições de

vida não só das famílias produtoras, mas também de seus funcionários, que atualmente,

possuem renda muito superior àquela das famílias que produziam cana anteriormente.

A maioria dos agricultores citou como melhoria a compra de carro. Para o agricultor

da Garuva, “é difícil um agricultor hoje, não ter um carro pra passear, a maioria tem seu

carrinho”. Outros aspectos citados foram: a construção das casas; a compra de

eletrodomésticos e móveis; além do investimento na própria agricultura, como a compra de

trator, camionetes, construção de galpão. Para o agricultor do Braço Miguel “não dá pra falar

mal da banana, porque deu pra se manter, comprava as coisas e conseguia pagar e conseguia

se manter na roça”.

Questionados sobre o que está bom, um dos entrevistados não sabia dizer. Dois

apontaram a saúde como algo que está bom. Um se referia à saúde pública e o outro a saúde

da família. Segundo o agricultor do Braço Joaquim:

O que tá bom é a saúde da gente pra trabalhar. A gente não é muito rico e não é muito pobre, meio por meio. O importante é a saúde, se não trabalhar a gente não tem. Se a gente ficar dormindo na palha amanhã ou depois, aí a cabeça pesa. Se ficar dentro de casa o barco não vai pra frente. Deu não deu tem de levantar a cabeça e ir. Se esperar o dinheiro cair do céu não vai. E quem compra a banana sempre dá uma força pra gente, eles sempre dizem que no ano que vem vai melhorar, capricha. A gente não perde a vontade de lutar.

Neste depoimento o agricultor ainda demonstra que continua acreditando na

bananicultura. Entretanto parece ter a consciência de que precisa trabalhar muito para obter

bons resultados com a atividade.

Outro aspecto destacado como “bom” foi a existência de infra-estrutura. Conforme

depoimento do agricultor de Arataca:

Hoje o produtor tem todos os meios, uma boa infra-estrutura, comunicação, transporte, educação, tranqüilidade do campo. Eu costumo dizer que antigamente morar num lugar desse era um castigo, hoje morar num lugar desse é um privilégio. Também está bom porque a gente mora perto dos grandes centros que tem recursos. Com essa estrutura de transporte, comunicação e a gente morando perto dos grandes centros; você pode ir a praia em meia hora, você pode ir a um centro de lazer, a um centro comercial, você pode ir ao shopping. Eu me empolgo quando

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começo a falar, eu acho que tá ótimo, acho que ta bom, apesar da crise. Hoje a pessoas tem internet, tem televisão, tem informação. As pessoas que moram no sítio têm informação que antes não tinham. Eu acho que esse é um item, um dos principais itens é a comunicação. Hoje muita gente se engana, quem pensa que aquele povo que mora lá naquele canto, tá desinformado, é um burrinho, tá totalmente enganado. Esse sabe mais do que aquele lá da cidade. Porque ele tem mais tempo de tá num computador, numa televisão que traz informação, enquanto aquele que tá na cidade, eles têm que correr mais atrás. Também a tranqüilidade é importante.

Nesta fala o agricultor evidencia a valorização do espaço rural. Para Wanderley

(2000), os municípios brasileiros com menos de 20 mil habitantes correspondem a 72,6%,

tendo em vista que é neles que vive grande parte da população brasileira. Assim, o contato

intermitente ou permanente entre o rural e o urbano pode significar a reiteração de uma

experiência de vida rural menos precária, embora, como aponta Veiga (2002), os limites entre

o “rural” e o “urbano” sejam discutíveis nas atuais condições brasileiras.

Segundo Wanderley (2000), alguns autores estimam que pequenos centros urbanos

também fazem parte integrante do mundo rural. Para a autora:

O meio rural é entendido, neste contexto, como um espaço suporte de relações sociais específicas, que se constroem, se reproduzem ou se redefinem sobre este mesmo espaço e que, portanto, o conformam enquanto um singular espaço de vida. Para compreendê-lo, é preciso considerar sua dinâmica social interna, isto é aquela que resulta da menor intensidade e complexidade da vida local e, por outro lado, as formas de sua inserção em uma dinâmica social “externa” (WANDERLEY, 2000, p.2).

O agricultor em sua fala também destaca a importância dos meios de comunicação

como ponte com o mundo externo. Reforça, ainda, o privilegio de viver num espaço onde

existe certa tranqüilidade, podendo ao mesmo tempo, pela facilidade proporcionada pela

infraestrutura, usufruir os benefícios que os centros urbanos oferecem. Outro aspecto

fundamental ressaltado pelo mesmo agricultor é a comparação entre o “povo” que mora no

interior e aquele que mora na cidade. Ele acredita que atualmente, as pessoas não podem mais

ser menosprezadas por viverem no campo, pois estas na verdade, possuem melhores

condições de vida, combinando infraestrutura adequada e a tranqüilidade que a vida no campo

proporciona.

Nesta lógica, outro agricultor ressalta ainda como algo bom, o fato da família

permanecer unida. Para o agricultor do Braço Miguel é “bom porque fica com a família toda

junta. A gente planta pra comer e não precisa comprar muita coisa”.

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O espaço rural, segundo Wanderley (2000, p.2), é fundamentalmente o lugar da

família, centrado em torno do patrimônio familiar, elemento de referência e de convergência.

Para a autora estas coletividades rurais são depositárias de uma cultura, cuja reprodução é

necessária para a dinamização técnico-econômica, ambiental e social do meio rural, ao

mesmo tempo em que são portadoras de um sentimento de pertencimento a este espaço de

vida.

Outro valor destacado pelo agricultor do Rio Novo é a liberdade28 da atividade.

Segundo ele, “é mais fácil pelo trabalho, porque tem mais opção, mais liberdade do que se

tivesse trabalhando em firma, aí tu tens que trabalhar tuas horas. Na agricultura a gente

trabalha com mais liberdade. Quer sair ao meio dia sai. Nesse ponto é melhor”.

Para Bloemer (2000), a liberdade é decorrente do modo como é definido o uso do

tempo dos agricultores familiares; assim ser livre é ser dono do próprio tempo. Implica ainda

numa certa autonomia para definir como será o processo de trabalho. Enfim “ser livre é não

ter patrão”.

O agricultor de Arataca avalia que apesar da crise que a bananicultura vem

enfrentando atualmente, os produtores vivenciaram um período em que a atividade

possibilitou aos agricultores o aumento bastante significativo de sua renda. Conforme seu

depoimento:

Nós estamos vivendo uma crise, mas eu tenho que avaliar os últimos dez anos. Porque nenhuma crise dura pra sempre. Nós tivemos dez anos de época boa, foi de 1994 a 2004, foram dez anos que a bananicultura começou a fazer a diferença, até 1994 a renda era razoável. Foi em 1994 o divisor de águas, porque foi acabado com a inflação. Então nós vendíamos a banana sempre pra trinta dias, o mínimo era trinta dias. Nós vendíamos nossa produção depois de vendida nós perdíamos a metade ou quase a metade. A partir do plano real que diminuiu, ou quase extinguiu a inflação acabou com esse problema e isso foi em 1994. E também o plano real proporcionou uma pequena melhora no poder aquisitivo da população e aumentando também o consumo. Mas nesse período também teve dificuldade e crises também, por exemplo, em 1997, quase o ano inteiro ruim. Mas sempre voltavam as épocas boas, eram alguns meses e depois melhorava.

Este agricultor ressalta que a bananicultura no município obteve os melhores

rendimentos num período de dez anos. Conforme apresentado no capítulo anterior, podemos

constatar esta afirmação pelo valor do PIB Municipal per cápita (R$1,00/hab), que cresceu de

28 Outros autores como Santos (1984), Bloemer; Reis; Scherer-Warren (1990) e Moura (1991), discutem sobre o tema da valorização da liberdade pelos agricultores familiares.

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R$ 6.054,54 em 1998, para R$ 11.412,60 em 2002. O município saltou da 71ª posição para a

posição 56ª, em relação aos outros municípios catarinenses, um aumento de 53.05% (Índice

de Desenvolvimento Social/2002).

Observa-se que foi neste período que houve também, a maior expansão da área

plantada no município. A cultura da banana, que em 1994 ocupava 1500 hectares passou a

ocupar 4200 hectares em 2005, um aumento de 64,28% da área plantada.

4.3.3.2 Aspectos negativos

Em relação à situação atual do agricultor, cinco entrevistados responderam que “está

ruim”. Dois deles avaliaram o período anterior à crise, colocando que apesar desta crise que a

bananicultura está atravessando, a vida do agricultor hoje “é bem mais confortável”

(agricultor de Garuva).

Dois agricultores citaram a falta de apoio das políticas públicas de crédito e de

assistência técnica. Um deles citou a falta de assistência para orientar a implantação de outras

culturas. Para ele “o agrônomo deveria orientar pra plantar outras culturas e deixar de plantar

banana, falta incentivos para cultivar outras plantas” (agricultor do Braço Miguel). Este

agricultor demonstra certo interesse em estar diversificando sua produção em função da crise

da banana.

O agricultor do Braço Joaquim destaca a lei ambiental que proíbe a derrubada de mata

nativa para ampliação da área plantada, mas ao mesmo tempo, evidencia a preocupação de

preservar estes recursos. Segundo ele:

Tá pesada porque se não caprichar, se não manter como deve ser, vai pro brejo. Porque se ele [o agricultor] começar a gastar, ali ele se acaba, porque tá muito cara as coisas, tem que cuidar. Primeiro se tu queria fazer uma roça, tu ia lá e fazia, agora não dá. Nós plantamos essa banana onde era tudo pasto do falecido pai, então nós conseguimos plantar a banana. Eu derrubei lá em cima, faz uns oito anos mais ou menos que nós fizemos uma coivara lá atrás. Nós pedimos licença pra derrubar uma área pequena, aí depois disso, nós não derrabamos mais. Aí deixamos ali, tem palmito e não dá pra derrubar muito porque aí a gente acaba com tudo.

Como já foi citado anteriormente, a legislação ambiental brasileira está baseada

essencialmente nos mecanismos fiscalizatórios e coibitivos, entretanto, somente estes

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mecanismos não contribuem para uma mudança efetiva na prática cotidiana destes

agricultores, além de não propiciar as condições para que o público envolvido cumpra as

obrigações exigidas. Comprometendo muitas vezes a reprodução econômica e social dos

agricultores e agravando a situação já precária de sobrevivência de grande parcela dos

agricultores familiares. (NEUMANN e LOCH 2002).

Outro aspecto ressaltado pelo agricultor é a necessidade da parcimônia quanto aos

gastos. A preocupação pela situação vivida aponta para a perspectiva de sua superação através

da dedicação ao trabalho, garantindo a sua reprodução enquanto agricultores familiares.

Aponta, também, para a possibilidade de acumulação através da previsão, da poupança e da

parcimônia nos gastos (REIS, 1998).

Outros dois agricultores acreditam que o que está ruim é o baixo preço da banana.

Para o agricultor do Rio Novo “os preços já não colaboram. Os insumos, tudo é caro, adubo a

gente paga o preço muito alto e o produtor vende e o preço é muito baixo”.

A divulgação da Sigatoka Negra no município foi destacada por dois entrevistados

como a causadora dos problemas. Segundo a agricultora de Baixo Canoas;

Espalharam que tinha essa doença aqui, a Sigatoka negra. Isso foi uma pena, agora essa palhaçada que foi feita, agora a fama ficou. Adianta dizer que não tem na fruta? Agora a fama ficou. E nós sofrendo pra caramba.

Ainda foi citado por dois agricultores que a causa dos problemas está no excesso de

produção e na comercialização. Segundo o agricultor do Braço Joaquim o problema dos

agricultores está na forma como a banana é comercializada. Para ele:

Quem compra banana nossa, é ali que fica encalhado, porque quem ganha o dinheiro é esse que leva pra fora, nós aqui não. Porque o que eles pagam nós temos que ficar contente com isso aí. Quem paga pra nós paga como quer, quem fica com o dinheiro é o atravessador. No mercado não baixa de R$ 1,90 o kg, então o atravessador é o problema, porque eles são nossos patrão, se eles não compram a banana quem sai perdendo somos nós.

Os agricultores entrevistados parecem ter clareza sobre sua condição de dependência

de um sistema de comercialização da fruta, que segundo eles é “injusto”.

Portanto, o futuro da bananicultura no município parece incerto para a maioria dos

agricultores entrevistados. O agricultor de Arataca destaca principalmente o problema da

diminuição do mercado como um dos aspectos mais importantes da atual crise do setor. De

acordo com seu depoimento:

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Então a preocupação também é grande, além desses fatores que eu to falando. Porque a gente não sabe até onde vai essa crise na bananicultura. A gente ta preocupado em relação ao nosso comércio, nosso mercado, porque dá impressão que ele diminuiu. Nós vendíamos muito pra São Paulo, como eu falei, nós já vendíamos mais pra lá, pra Argentina já vendíamos mais, então o comércio ta encolhendo. Então a crise da bananicultura pode quebrar muita gente, se ela continuar, e aí a pobreza pode aumentar. Eu sou um dos mais otimistas, mas eu tenho que ser realista. A situação ta preocupante. Em relação ao futuro a questão da mão de obra e a crise, esse excesso de produção, que a gente não sabe até quando termina.

Outro aspecto citado pelo mesmo agricultor é sua preocupação com o excesso de mão

de obra, pois a cultura da banana é essencialmente manual exigindo, assim, mão de obra que

inicialmente foi suprida por famílias oriundas principalmente do Estado de Paraná. Hoje a

diminuição de campo de trabalho diante da possibilidade da diminuição da área cultivada se

torna motivo de preocupação para o futuro. Conforme seu depoimento:

Houve uma migração muito grande, atraiu muitas famílias, então daqui a dez anos ou 15 anos irá triplicar a oferta de mão de obra, e isso vai acontecer. A oferta de trabalho para os filhos dessas famílias que estão trabalhando hoje de empregados nossos. Porque eles têm uma cultura assim, eles têm mais filhos que o nosso povo daqui, são de outra cultura, a cultura um pouco diferente, de muitos filhos. Então a gente tem preocupação em relação ao emprego, por exemplo. É uma velha preocupação de sempre. Hoje ainda não temos problemas, ainda não tem gente sobrando, essa é uma preocupação pro futuro, essa piazada que está indo à aula hoje.

4.3.3.3 Expectativas sobre o futuro: políticas públicas, sociedade civil e continuidade geracional

Em relação ao que precisa ser mudado, três entrevistados responderam que o

agricultor precisa ser mais valorizado, necessita ter acesso mais facilitado ao crédito rural e à

assistência técnica. Para o agricultor do Braço Miguel “o agricultor deveria ter mais apoio,

mais assistência técnica. O crédito até existe, mas o agricultor não tem retorno quando planta

e daí não consegue pagar”.

Outros dois entrevistados acreditam que o sistema de comercialização deveria mudar.

O agricultor do Rio Novo ressalta a ganância dos intermediários e sugere a formação de

cooperativas para implementar um sistema de comercialização mais justo. Entretanto, acredita

que quem deveria tomar a iniciativa de formar estas cooperativas seria o governo. Conforme

seu depoimento:

Tinha que mudar, por exemplo, os compradores, eles tem que ver os dois lados. A gente vende o produto, eles podiam pagar melhor, mas não pagam, não sei se por ganância. Eu penso assim que o governo tinha que juntar os pequenos agricultores e

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fazer assim tipo umas cooperativas, pra evitar esses atravessadores, a gente vender direto pro mercado, coisa assim. E acho que a gente podia conseguir melhores preços.

O sistema de monocultura foi destacado por dois entrevistados como algo que deveria

mudar. O agricultor do Braço Joaquim destaca também, o problema do tamanho da

propriedade como fator limitante para a diversificação. Além disso, fica evidente em sua fala

a preocupação com a questão ambiental, pois para ele:

Poderia mudar se a gente plantasse outra coisa, como o eucalipto, a palmeira, aí a gente podia levar a vida melhor. Não sei se ia ficar melhor ou não ia, mais o eucalipto ia demorar de cinco a dez anos, a palmeira é quatro a cinco anos também, aí podia melhorar um pouco. Mesmo a banana se ela aumentasse um pouco, que sobrasse um pouco, já tava bom. Não dá pra plantar outra coisa porque não tem terra, e não da pra derrubar tudo. Se eu desmatar tudo, amanha ou depois se eu quiser alguma coisa da terra, um palmito, um pé de árvore, eu não tenho mais. Em Canoas já desmataram tudo e não tem nem água mais. Se lá pra cima do morro eu desmatar tudo eu vou acabar com a água, pra que eu vou fazer isso, isso eu não faço, eu cuido das coisas.

Neste sentido, Guanziroli et al (2001) alerta para a importância da diversificação dos

sistemas produtivos para a diminuição dos riscos, os quais os agricultores estão sujeitos, por

exemplo, na monocultura. Além disto, os sistemas diversificados são os que possuem maior

renda.

Quanto ao questionamento a quem caberia melhorar a situação dos agricultores, cinco

entrevistados responderam que quem deve ajudar a melhorar é o governo. Dois deles

destacaram a necessidade da presença do agrônomo. O agricultor da Boa Vista acredita que a

responsabilidade de melhorar a situação dos agricultores é do agrônomo, pois para ele a

assistência técnica é fundamental para o cultivo da banana. Além disto, ele ainda destaca a

necessidade da existência de uma política de crédito efetiva.

Um agrônomo, ou técnico. Deveria vir do governo. A Prefeitura tem ajudado com o trator, quando a gente precisa, mas a ajuda técnica não. E hoje sabe tem que ser tudo na técnica, se não, não adianta. Se tivesse uma ajuda do governo, um empréstimo mais barato ia melhorar.

Outro agricultor ressaltou que caberia ao agrônomo a organização dos agricultores

para levar a reivindicação ao poder público, para ele “primeiro os agrônomos junto com o

povo deveriam levar para o governo isso” (agricultor do Braço Miguel).

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Nesta mesma lógica, outro entrevistado acredita que o governo é responsável. No

entanto, os agricultores devem primeiramente se organizar no município. De acordo com seu

depoimento quem deveria ajudar a melhorar a situação é

O governo. Eu acho que na própria comunidade devia ter alguém pra poder crescer melhor. No município devia ter alguém responsável, o governo municipal, tipo o sindicato dos trabalhadores rurais. Eu penso que tinha que começar com o municipal, por que eles tinham que encaminhar pro governo do Estado. Não sei se precisa mais o Federal se meter nisso, ou só o Estado consegue intermediar isso. Acho que a comunidade que se reunisse mais pra conversar sobre esses assuntos e poder fazer alguma coisa, os agricultores, os que mexem com banana (agricultor do Rio Novo).

Outro entrevistado acredita que o município não tem força. Que cabe ao governo do

Estado e ao governo Federal a responsabilidade de alterar a situação dos agricultores.

Conforme seu depoimento: “acho que o município não tem tanta força, acho que o Governo

do Estado e a União. Não sei se a Prefeitura pode ajudar alguma coisa. A mesma coisa, se o

governo conseguir a venda lá pra fora, tudo depende do governo” (agricultor da Garuva).

O agricultor do Braço Joaquim enfatiza a importância do crédito rural para garantir a

permanência do agricultor na atividade, destacando assim o papel da política pública para o

fortalecimento da agricultura familiar. Segundo ele

Pra melhorar aí era o governo, pra dar uma ajuda pra gente, fazer mais um empréstimo. A gente poderia ir lá tirar um dinheiro pra ajudar. O pessoal é pobre porque? Eles não têm com que começar, se quiser começar tem que ir no banco tirar 50 a 100 mil reais, pra comprar um pedaço de terra. Se o governo liberava aí tudo bem, gente podia fazer alguma coisa, mas assim não tem como começar, se não a gente podia ter mais coisa, assim não dá.

Em relação aos baixos preços da banana e ao problema da comercialização, a

agricultora de Baixo Canoas, acredita que a Associação dos Bananicultores deveria intervir.

De acordo com ela “quanto ao preço, as associações deveriam ajudar mais, em São Paulo a

associação de lá não deixa o preço cair assim, tanto que lá não houve crise, só aqui. A

associação devia trabalhar na venda também”. Esta agricultora não se coloca como parte

integrante da Associação. Mesmo sendo sócia não se coloca como responsável pelas

deliberações e ações da organização.

De acordo com Pateman (1993 apud GOHN 2003), este tipo de participação pode ser

descrito como uma participação parcial, onde muitos tomam parte do processo, mas só uma

parte decide de fato. Gohn (2003) ainda descreve a teoria de Rousseau sobre a participação.

Ressaltando seu caráter educativo, onde a participação teria efeitos tanto sobre o sistema

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social, quanto sobre os próprios indivíduos, tornando-os psicologicamente mais abertos. Neste

sentido Pateman, citado por Gohn (2003), também acreditava que quando o indivíduo se

ocupa somente de seus assuntos privados, não participando das questões públicas, sua auto-

estima é afetada, e sua capacidade para a ação pública responsável não se desenvolve.

O caráter educativo da participação parece ser comprovado na fala de outro agricultor

que, por ser sócio fundador da Associação, visualiza a organização dos produtores de banana

como a única possibilidade de buscar saídas para as dificuldades enfrentadas por eles.

Conforme seu depoimento:

Eu acho que a iniciativa pode partir dos próprios produtores, com discussão das entidades locais. Eu acho que a partir daí é que podem surgir as idéias. Porque eu vou fazer um experimento de plantação de acerola, por exemplo. Hoje é fácil produzir, mas primeiro você tem que fazer um estudo de mercado, pra ver se essa acerola você tem que vender in natura ou pra suco. Então vê se tem mercado pra isso, aí vai envolver outros setores, vai envolver assistência técnica, pra ensinar como produzir, vai envolver SEBRAE pra fazer um trabalho de busca de mercado. Então eu acho que a solução tem que partir dos próprios produtores com discussão com as entidades locais, que são várias. Aqui na bananicultura inclusive nós nos reunimos mensalmente com o SEBRAE, Banco do Brasil, EPAGRI, CIDASC, Secretaria Regional de Desenvolvimento, a Cooperativa de Crédito CRESSOL, a própria ABLA, a BANALVES, e ali estamos já discutindo. Inclusive já estamos dando suporte, mas o suporte principal é a CRESSOL, pra cooperativa MUZA que foi criada.

Nesta fala o agricultor descreve, como já foi destacado anteriormente, a iniciativa de

organização e articulação dos bananicultores com entidades locais, estaduais e federais, no

sentido de discutir e buscar soluções para enfrentar os problemas encontrados pelos

agricultores.

Esta perspectiva é ressaltada igualmente por Abramovay (2003), que acredita ser

difícil o município sozinho viabilizar um processo de desenvolvimento. O processo de

desenvolvimento só será viável se o município apresentar capacidade de ligar-se a atores

sociais que não pertencem à vida cotidiana local. Para o autor:

Tão importante quanto a confiança entre os membros de uma certa localidade é a capacidade de ampliar as relações sociais fazendo da coesão interna uma alavanca para aproveitar oportunidades que o próprio município, por seu próprio tamanho, é incapaz de oferecer (ABRAMOVAY, 2003, p. 71).

Esta característica parece estar presente na fala do agricultor, quando cita as várias

entidades que se reúnem mensalmente para discutir os problemas. Entretanto, estes vínculos

internos e externos devem apoiar-se num terceiro elemento, também fundamental, que é a

burocracia estatal. A criação de regras universais, não clientelistas, baseadas em critérios

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racionais na distribuição dos recursos públicos, é um desafio para os processos de

desenvolvimento (ABRAMOVAY, 2003, p. 71).

Do mesmo modo, o desenvolvimento local, para Gehlen (2004) resulta da

potencialização da participação dos beneficiários, através de suas iniciativas comunitárias,

buscando parcerias com o poder púbico, nas esferas municipal, estadual e federal, assim como

com empresas privadas. Para o autor, o desenvolvimento local está fundamentado nas

potencialidades dos recursos humanos, institucionais e naturais, compondo o patrimônio

sociocultural que também é chamado “capital social”, já discutido anteriormente.

A reprodução da bananicultura pelas novas gerações, através da permanência dos

jovens na atividade é outro aspecto a ser destacado. Segundo Weisheimer (2005), observa-se

que quando novas possibilidades se colocam aos jovens agricultores estes tendem a

permanecer no meio rural. Este parece ser o caso da bananicultura no município de Luís

Alves, que se constituindo como uma atividade geradora de renda, possibilitou aos jovens,

filhos dos agricultores a permanência na atividade.

Este aspecto fica evidenciado na fala do agricultor do Braço Joaquim, quando

questionado se os filhos gostariam de permanecer trabalhando na agricultura, afirmava que

Hoje está meio desanimado, mas ainda está segurando, ele tava trabalhando sete anos na empresa, Rovitex. Aí quando tava melhorando o preço da banana, quando nós conseguimos comprar até o trator, ele voltou pra trabalhar em casa, faz uns dois anos. Ele prefere trabalhar em casa, ele gosta, mas se não dá pra viver tem que sair fora, se a banana não tem preço.

Todos os agricultores entrevistados manifestaram o desejo da permanência dos filhos

na atividade. O agricultor do Braço Miguel afirma que “sim, mesmo com as dificuldades eles

gostam”. O agricultor de Garuva destaca a importância da geração de renda que a

bananicultura proporciona para a permanência dos filhos na agricultura. Conforme seu

depoimento: “acredito que sim, se a banana continuar tendo bom preço”.

Dois agricultores demonstraram a preocupação em relação à educação dos filhos, e o

desejo de que pelo menos um dos filhos continue com o seu trabalho como agricultor.

Segundo depoimento do entrevistado de Arataca:

Eu gostaria que pelo menos um filho meu, eu tenho três, continuasse a se dedicar à agricultura. Porque é uma coisa fora de série, tu coloca uma semente na terra daqui a pouco se torna uma planta que daqui a pouco dá fruto. E a terra eu acho uma coisa formidável. Como ela consegue gerar esses frutos sabe? Um cacho de bananas, por exemplo, tem uma média de 120, 160 frutas, tudo num cacho só. Aí tu corta esse

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cacho e sobra o broto, daqui a um ano esse broto tem cacho de novo e começa tudo de novo, é um ciclo interessante. Mas eu não influencio os meus filhos nessa decisão eu só falo pra eles, eu tento levar junto, o mais velho já vi que não vai seguir. Mas eu não me preocupo com isso não. Minha preocupação é dar estudo pra eles, uma faculdade, pra eles tomar a própria decisão. Porque são duas coisas que são importantes na vida de uma pessoa na escolha de seu ideal, de sua profissão, fazer o que gosta e ganhar dinheiro, se der pra conciliar as duas coisas, ótimo. Se tá ganhando dinheiro, é ótimo, se não tá ganhando dinheiro, mas tá fazendo o que gosta também é bom. A gente tem que gostar do que faz. Hoje é o que me consola, não to ganhando dinheiro, mas gosto do que faço.

Neste sentido, também o entrevistado de Boa Vista, destaca a importância da

educação, e também espera que um dos filhos siga seu exemplo.

Gostaria, mas só se o filho, porque as filhas já não querem. Porque não gostam. Como o pai dá a oportunidade de estudar e fazer uma coisa melhor, porque elas não gostam de trabalhar na terra. Não é fácil dá o estudo, mas a gente quer o melhor, porque eu sei o que eu sofri já. A gente dá o estudo pra elas e amanhã ou depois elas podem ser alguma coisa na vida. A gente pensa assim, o estudo pra ter alguma coisa melhor. Não que quem estuda já consegue melhorar, porque a gente sabe que às vezes a terra dá mais, consegue mais bens. Mas o estudo que tu consegue ninguém pode tirar de ti. Os grandes agricultores conseguem mudar quando uma coisa não dá mudam pra outra, soja, gado, eu assisto o globo rural eu vejo. Mas os pequenos não conseguem fazer isso, é ruim.

Esta fala demonstra certa contradição, pois para o agricultor, mesmo que, por um lado,

a agricultura possa gerar renda, isso não significa que a pessoa possa “ser alguma coisa na

vida” sendo agricultor. Assim, o investimento na educação dos filhos não está direcionado

para a sua permanência na propriedade, e sim para evitar que passem pelo sofrimento que

seus pais passaram sendo agricultores.

Para Abramovay (2003), o Brasil não tem uma instância de reflexão do que deva ser

uma educação no meio rural. Se o meio rural representar estagnação, atraso ou

conservadorismo, principalmente aos mais jovens, será difícil acontecer iniciativas

inovadoras. Assim, para o autor:

Não se trata de melhorar a escola rural ou de ampliar a realização de cursos profissionais, mas de modificar o conjunto do ambiente que se refere à aquisição e ao uso do conhecimento no meio rural. Se a formação for estritamente profissional e não estiver associada à permanente busca de oportunidades locais de desenvolvimento, o máximo que poderá acontecer é que a região se torne uma exportadora de mão-de-obra com formação um pouco melhor que a média (ABRAMOVAY, 2003, p. 94).

No Brasil, as condições geralmente adversas para as pequenas unidades produtivas, os

jovens filhos de agricultores familiares vêem reduzidas suas possibilidades de permanência na

agricultura. Entretanto, é preciso desmistificar as razões para a saída dos jovens agricultores,

pois além da insuficiência de terras ou dificuldades apresentadas atualmente para que o jovem

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tenha condições de sobreviver na agricultura, ele também possui suas opções pessoais

(NEVES apud BLOEMER, 2000).

Por outro lado, nos parece que a bananicultura a partir da década de 1980 e

principalmente na década de 1990, se transformou numa atividade atrativa e geradora de

renda, possibilitando aos jovens filhos dos agricultores, que gostam da atividade, continuar

trabalhando na propriedade. Conforme os dados mostrados no capítulo anterior, entre as

décadas de 1970 do século passado, e 2005 deste século, houve um aumento de 14,37% da

população e isto pode ser creditado ao fato de a bananicultura ser uma atividade que

proporcionou à população renda suficiente para sua permanência no município.

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CAPITULO V

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS TÉCNICOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA BANANICULTURA NO MUNICÍPIO

Dos técnicos escolhidos para fazerem parte da amostra (dois homens e uma mulher),

dois possuem formação em agronomia e um deles possui formação técnica em nível de

segundo grau. Os critérios utilizados para escolha dos mesmos foram: o tempo de trabalho na

instituição e no município (Técnico I); o conhecimento acerca da entidade em que trabalha e

representa (Técnico II); e o trabalho realizado especificamente na bananicultura, no período

descrito pela pesquisa (Técnico III). Conforme já citado na introdução, os técnicos serão

citados na pesquisa, através de números romanos, conforme os critérios utilizados.

O Técnico I ressalta a importância da política de crédito para a agricultura do

município, destacando o papel das agências bancárias, inicialmente do Banco do Brasil, e

posteriormente do BESC. Segundo seu depoimento:

Aqui em Luís Alves, só pra entender um pouco, o Banco do Brasil financiou na época que eu estou aqui, alguma coisa mais no início, depois o BESC entrou muito forte. O BESC chegou a emprestar 2 milhões por ano pros agricultores, sempre custeio. Ficaram muitos anos sem dinheiro pra investimentos. A única coisa que se podia comprar, que tinha para investimento era a compra de máquina. Sempre teve, através do Finame ou outras linhas. Mas o grosso, o BESC aqui financiou só custeio.

Nesse sentido, este técnico evidencia a importância da EPAGRI na articulação entre o

agricultor e o acesso à política de crédito. Prestando orientação e elaborando projetos, a

EPAGRI, possibilita que os agricultores acessem esta política. Segundo ele:

Existe em nível federal diferentes linhas de crédito para várias faixas de produtores. Então para a agricultura familiar, é o PRONAF e outras linhas para os demais produtores. A EPAGRI presta esses serviços, ela dá as cartas de aptidão. No caso do PRONAF não precisa de projeto é só uma declaração dizendo que é produtor e que ele produz tanto, que ele tá trabalhando na atividade. Então essa é a função da EPAGRI no Estado todo. Com a carta de aptidão você está dizendo que o agricultor está apto a receber recurso daquela linha do PRONAF. Quando não é PRONAF, aí você tem que fazer um projeto técnico e esse projeto você faz junto com o produtor e depois, você tem a obrigação de fazer duas ou três supervisões, para ver se ele aplicou o recurso. Mas a orientação e a supervisão são assistência técnica.

Outro aspecto destacado pelo Técnico I é o fato de que em Luís Alves esta mediação

entre o agricultor e o crédito, mesmo podendo ser realizada por outras empresas, sempre foi a

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EPAGRI que realizou, e por sua vez a EPAGRI utiliza o crédito como estratégia para repassar

tecnologias aos agricultores, até porque segundo ele,

Existem empresas de planejamento que são credenciadas para fazer projetos, mas aqui no município não tem nenhuma.Aqui em Luís Alves o agricultor nem imagina que outro profissional fora da EPAGRI pode fazer o projeto. Como é que se orienta o produtor para tomar crédito? Primeiro ele tem que ir ao Banco ver o cadastro dele, pra ver se ele tem condições de tomar esse dinheiro, porque o banco precisa de garantia. Bom, se ele tem essa garantia e tem a linha de crédito específica, ele procura a EPAGRI para fazer o projeto técnico. Lógico que acontece o contrário. Primeiro ele vai a EPAGRI, aí a gente orienta pra ir ao banco, e fazer o cadastro. A gente mais ou menos sabe se tem aquela linha de crédito ou não. Aí se tá ok vamos fazer o projeto. Acontece dessa forma. Não é obrigação da EPAGRI, para ela é uma ferramenta que ajuda repassar tecnologia. Quando tu elabora o projeto, tu acaba levando tecnologia, oferecendo tecnologia. Mas não obrigatoriamente, precisa ser pela EPAGRI. Você só faz um projeto se naquela avaliação da propriedade você acha que o produtor precisa recurso para investir. Mas não é a função principal pegar dinheiro para emprestar porque o Banco faz isso. O objetivo principal é a formação de renda.

Quanto aos critérios ou prioridade de atendimento em relação ao crédito e a demanda

por projetos, o Técnico I diz não existir critérios. Conforme seu depoimento:

Quem chega vai sendo atendido e o atendimento é individual. Tem uma demanda grande e nós não conseguimos, às vezes, fazer o serviço que tem que ser feito. Vamos dizer fazer todas as supervisões com todas as visitas obrigatórias do crédito rural. Nós temos muita dificuldade de fazer isso. Que às vezes não dá tempo. Tem ano que dá 200, 300 projetos, são 400 visitas, isso dá duas por dia e dependendo do caso, meio dia ou no mínimo duas horas cada visita. Não tem como tu fazer uma assessoria sem ir lá na lavoura. A gente deixa a desejar. A EPAGRI fazia 100% dos projetos, hoje a CRESSOL faz alguma coisa, não existe outro profissional. Das casas de embalagens especificamente foram feitos 8 a 9 projetos na faixa de l00 até l50 mil reais, senão normalmente é 20, l5 e 30 mil.

Este técnico evidencia a dificuldade em relação à falta de profissionais para atender os

agricultores do município, fato que já foi destacado anteriormente pelos agricultores.

Já em relação à prestação de assistência técnica, a prioridade dos atendimentos da

EPAGRI, segundo o Técnico I, é o trabalho em grupo. De acordo com ele:

Primeiro se atende grupos, a idéia é trabalhar em grupos, não individual, sempre em grupos. A prioridade é formar grupos, se eles já existirem é trabalhar com esses grupos, sempre procurar a organização. Quando não há organização, mesmo assim se deve dar prioridade para grupos com palestras, reuniões, dia de campo, ou outro evento, sempre em grupo. A idéia é essa. Agora se conseguir fazer formal melhor. Essa é a idéia pode ser informal, mas quanto mais formal melhor. Essa é uma linha da empresa. Mas alguma prestação de serviço você não pode fazer em grupo, por exemplo, um projeto técnico tem que ser individual.

Podemos ressaltar, ainda, a relação entre a assistência técnica e o crédito rural. No

depoimento do Técnico III, verifica-se o incentivo aos agricultores para tomarem crédito,

desconstruindo o receio de contrair o empréstimo e depois não conseguir quitar as dívidas.

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E isso eu também ensinei para eles no inicio: como se faz pra produzir mais banana no inverno do que no verão. Tínhamos o problema do gasto na bananicultura, pois as maiores despesas eram no verão, justamente no período do preço baixo. No verão eu dizia que aquele era o momento no qual eles deveriam comprar e jogar o adubo, porque depois, no inverno, o preço seria alto e eles teriam banana para vender. Então eles diziam que não tinham dinheiro, e eu dizia que no Banco tinha e que depois eles pagariam. Foi assim que a situação começou a melhorar.

Neste sentido, este Técnico procura construir uma nova mentalidade junto aos

agricultores, incentivando-os a investir na produção. Esta mudança de mentalidade foi citada

por um dos bananicultores no item anterior. O agricultor lembrou das orientações do

agrônomo, quando este chamava a falta de investimentos na lavoura de “ciclo do diabo”. O

agricultor não tem dinheiro para comprar adubo, não aplicando o adubo o bananal não produz,

não produzindo ele não consegue comprar o adubo. Assim sendo, parece que havia

receptividade dos agricultores em relação à assistência que era prestada pelos técnicos.

Constata-se, por outro lado, a presença do técnico da EPAGRI desde a introdução da

cultura da banana no município. De acordo com o depoimento do Técnico I:

O papel da EPAGRI foi fundamental isso não se discuti. A questão da existência do técnico específico é fundamental para motivar e transferir tecnologia. Esse elo de ligação entre a pesquisa e o município é muito importante. Porque depende quem ta aí existe sucesso ou não naquela cidade. Então o técnico local é fundamental. Não existe a mínima possibilidade de existir pesquisa e o município aplicar sem o técnico viabilizar isso.

Segundo Seibel e Rover (1999), é importante ressaltar o vínculo fortemente orgânico

que o extensionista tem ou pode ter com os produtores rurais, no fomento, comprometimento

e legitimação de um projeto, no caso aqui em especial a bananicultura.

Outro aspecto destacado pelo Técnico I é a pesquisa desenvolvida pela EPAGRI para

a bananicultura. Segundo seu depoimento, as tecnologias desenvolvidas pela empresa, eram e

continuam sendo aplicadas, inicialmente no município de Luís Alves. De acordo com ele:

A EPAGRI teve um papel importante, por que toda a tecnologia gerada de uns 15 anos pra cá, sempre foi em função de Luís Alves, praticamente. Antes tinha Corupá, Guaramirim, Jaraguá do Sul, eles estavam anos luz na nossa frente. Então há uns 15 anos para cá Luís Alves começou a aparecer. E toda a tecnologia desenvolvida ou melhorada, porque muita coisa é copiada da América Central e adaptada, sempre foi gerada e colocada aqui primeiro. Porque a chance de dar certo aqui era maior, por causa desse elo e da questão do produtor em si.

Neste depoimento, o Técnico I destaca a evolução do município no desenvolvimento

da cultura da banana em relação a outros municípios que também produziam a fruta. E aponta

ainda para o fato de que as tecnologias teriam sido aplicadas primeiramente em Luís Alves,

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em função tanto do vínculo existente entre os agricultores e o técnico, como pelo fato de que

os agricultores do município aplicavam as tecnologias repassadas. Este período coincide com

o que foi descrito anteriormente pelo agricultor, que falava de um “período de ouro” da

banana. Com o repasse dessas tecnologias, a assistência técnica e o acesso à política de

crédito, por um lado, e o produtor receptivo às orientações da assistência técnica e às novas

tecnologias por outro, criou-se um ambiente favorável para o desenvolvimento da

bananicultura no município. Ainda segundo o Técnico I:

Luís Alves está muito próximo da Estação Experimental de Itajaí, e talvez pelo fato de eu estar muito tempo aqui, eu tenho um relacionamento muito bom com todas as áreas lá dentro da EPAGRI, da Estação. Então não tenho dificuldade de conseguir um pesquisador, um palestrante para vir fazer isso em arroz, em palmeira, em banana nem se fala.

A proximidade do município com a Estação Experimental de Itajaí, e o bom

relacionamento do técnico local da empresa, são citados como fatores positivos para que o

processo de desenvolvimento da bananicultura tivesse êxito.

A definição de políticas públicas voltadas para o setor agrícola deve levar em conta,

segundo Mussoi (2003), as recentes transformações institucionais, socioeconômicas e

principalmente políticas. Para o autor, diante deste novo contexto, o Estado deve intervir

buscando o aumento da participação cidadã nos aspectos político, econômico, social e cultural

e principalmente ser permeável a esta nova relação que está se construindo no seio da

sociedade.

Neste sentido, outro fator determinante para este processo foi a formação da

Associação dos Bananicultores de Luís Alves (ABLA), que foi constituída a partir da

necessidade dos produtores se organizarem, inicialmente em função da compra de insumos

em conjunto, como já foi descrito no capítulo anterior.

A relação de parceria é entre a EPAGRI e a ABLA é destacada pelo Técnico I.

Entretanto, segundo ele esta relação não se converte em dependência. Conforme seu

depoimento:

Como a EPAGRI precisa da Associação, a Associação também precisa da EPAGRI. Então hoje a gerência, a própria diretoria central, usa esse relacionamento que existe entre a EPAGRI e a ABLA como exemplo. A idéia é dar independência pra Associação, autonomia, a idéia é essa. Mas eu entendo que se o poder público não assessorar os grupos, qualquer um, que não seja uma empresa ainda. Ele tem que assessorar, dependendo da administração dessa associação, pode ir por água abaixo. Então o poder público municipal ou estadual, alguém tem que assessorar.

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Porque às vezes não tem condições de uma associação pequena andar sozinha. Hoje em Luís Alves, eu acho que ela caminha.

Parece-nos que a fala do Técnico I se coaduna com a lógica do papel do Estado

enquanto fomentador da participação e autonomia das organizações civis e reforça, o que

Abramovay (2003, p. 75) acredita ser o maior desafio para a extensão rural no Brasil, qual

seja a de “que sua competência técnica e seu crescente comprometimento político com a

agricultura familiar permita que ela se converta, de organismo voltado a assistência aos

agricultores, em unidade que planeja, juntamente com os atores locais, o processo de

desenvolvimento territorial”.

O Técnico I destaca também a importância da ABLA no repasse de tecnologia. De

acordo com seu depoimento, a “Associação sempre foi voltada para a organização em cima da

busca de tecnologia, e isso beneficia muito, porque nós não temos condições, uma pessoa

sozinha, de mover um grupo muito grande, é difícil mobilizar, então a ABLA consegue isso”.

A ABLA contribui principalmente com a disseminação das tecnologias, e vale destacar que

neste repasse das tecnologias, a Entidade não discrimina o produtor que não é associado.

Como afirma a Técnica II em seu depoimento:

A ABLA organiza também reuniões nas comunidades, em cinco a sete comunidades uma vez por ano. Nestas reuniões são repassadas novas tecnologias, orientações e um detalhe importante é que qualquer produtor pode participar não é preciso ser sócio. Isso é importante por causa do controle das doenças. Se um não faz o controle acaba prejudicando todos.

Segundo Guanziroli et al (2001, p. 184), essa experiência com as ONGS, mostra que

os agricultores podem ter um papel fundamental na geração e difusão de tecnologias, além

disso, podem reforçar o controle sobre a assistência técnica, estabelecendo, segundo os

autores, uma governança que comprometa e responsabilize todas as partes envolvidas com

resultados efetivos.

Questionada sobre o papel da ABLA no desenvolvimento da bananicultura no

município de Luís Alves, a Técnica II acredita que a

A ABLA ajudou na organização dos bananicultores, e contribuiu para o surgimento de outras entidades, como a BANALVES, a CRESSOL, a FEBANANA, a MUZA. Atualmente está participando do programa de desenvolvimento de cadeias e arranjos produtivos, do qual fazem parte várias entidades locais e regionais. Ela foi como que uma escola, pois participando as pessoas percebem que juntas têm mais possibilidades de resolverem os problemas e valorizam mais a Associação. Quem participa mais das reuniões tem essa visão. Com as pessoas que participam pouco já é mais difícil trabalhar, pois não tem essa visão. Um fator importante é a faixa

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etária, a maioria dos produtores que participam das reuniões é jovem. Mesmo nas famílias percebo que há uma abertura para as idéias dos jovens. E isso contribui na hora de repassar algo novo é mais aceito e principalmente aplicado. Outro fator importante ainda é a participação das mulheres, tanto nas reuniões como nas decisões nas propriedades, elas estão juntas. E buscando alternativas, um exemplo é que a presidente da CRESSOL é mulher e outro mais recente foi a criação da MUZA, cooperativa de beneficiamento de subprodutos da banana, formada por mulheres e filhas de produtores.

Cole, citado por Gohn (2003), em sua teoria sobre participação, preconiza a

necessidade de os homens atuarem por meio de associações para satisfazerem suas

necessidades. O autor acreditava que seria pela participação em nível local, em associações

locais, que o indivíduo poderia aprender a democracia. O depoimento da Técnica II demonstra

que os agricultores que têm participação mais efetiva na Associação apresentam este

aprendizado, ao contrário daqueles que participam pouco, reforçando o caráter educativo da

participação, o qual já foi citado anteriormente.

A fala da Técnica II enfatiza, também, a importância da ABLA como propulsora de

uma interação dinâmica entre várias instituições, a maioria delas organizadas a partir da

própria Associação.

A ABLA, neste sentido, parece visualizar a importância da participação do jovem e da

mulher para o desenvolvimento local, quando estimula e incentiva a formação de outras

organizações de iniciativas destes segmentos, pois como afirma Abramovay (2003, p. 77),

O revigorante nas regiões rurais brasileiras depende, antes de tudo, de iniciativas que procurem associar, no meio rural, o trabalho ao conhecimento, que ofereçam horizontes promissores aos jovens e, sobretudo, que transformem a experiência de gestão de unidades produtivas agropecuárias em fonte estímulo ao empreendedorismo, à criação de novas organizações econômicas que não sejam a pura repetição daquilo que os pais já faziam.

O fato das organizações da sociedade civil, no caso especifico aqui dos bananicultores,

buscarem resolver seus problemas também através de ações próprias, com menor intervenção

do Estado, para Avritzer (1997), é uma modalidade de atuação de associações, caracterizada

por um modelo de democracia onde os atores sociais já não buscam a sua incorporação ao

Estado. Além de ser um processo de mudança da cultura política, esta nova prática, seria, para

o autor, outra forma de conceber a democracia, não mais baseada somente na relação entre

Estado e sociedade política, mas também nas práticas e ações coletivas de atores sociais.

A Técnica II ressalta esta característica quando destaca que:

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Com o Governo Municipal tem pouquíssima relação. Nessa época que estou trabalhando, houve ajuda quando a pista foi construída. Parece que não há o conhecimento sobre a importância da Associação. Sempre são entregues os convites das atividades realizadas pela Associação, mas raramente participam. Atualmente o Secretário Municipal da Agricultura tem participado das reuniões da APL – Arranjo Produtivo Local. Quanto ao Governo do Estado, temos relação através da EPAGRI, que é parceira da Associação desde seu início e tem um papel fundamental no desenvolvimento e repasse de tecnologias. Quanto ao Governo Federal, recebemos um financiamento para a pavimentação da pista do avião.

Outro aspecto que contribuiu para o desenvolvimento da bananicultura no município

foi o trabalho do agricultor familiar. Os dois técnicos entrevistados destacaram o trabalho do

agricultor, como fator determinante para o desenvolvimento desta cultura. Segundo o Técnico

I:

Primeiro que a EPAGRI encontrou lugar ideal para trabalhar. Esse agricultor deve ser considerado, eles vinham de uma atividade ou de várias atividades de insucesso, foi a cana de açúcar, depois o fumo. Então eles estavam desesperados, não tinham uma alternativa clara para eles naquele momento. O sucesso aqui também se deve a origem. Acho que tem um diferencial, que é a descendência. Porque eles vieram de famílias que trabalhavam muito pra sobreviver. Então isso ficou neles, no sangue, é cultural, que tem que trabalhar. E isso ajudou, a família toda trabalhou. Esse pessoal não teve muita opção a não ser ficar nessa atividade. E como são pessoas que também vêem o futuro e vislumbram, aí ficaram na atividade e deram certo. A origem dos agricultores, a falta de opção de outras atividades, ou alternativas, fez com que Luís Alves se destacasse em relação a outros municípios.

Este depoimento ressalta a importância da descendência dos agricultores, a maioria

deles descendentes de imigrantes europeus. Sobre este aspecto Seyfert (1982), em seu estudo

sobre a colonização do Vale do Itajaí, destaca que a capacidade de trabalho e a eficiência no

trabalho são valores cultuados como diferenciação étnica. Para estes imigrantes,

principalmente os alemães, a capacidade para o trabalho seria herdada e desta forma, segundo

esta representação, o “colono” teuto-brasileiro seria um indivíduo que gosta do trabalho na

terra e, por essa razão é um bom colono, melhor que os outros, pois trabalha mais, envolvendo

toda a sua família e se fixando na terra.

Este Técnico ainda aponta o fato destes agricultores não possuírem outra alternativa

viável sem ser a bananicultura, necessitando assim direcionar todos os seus esforços e de suas

famílias para que esta atividade se transformasse na saída para a crise que estavam

vivenciando com as culturas anteriores.

Quanto aos problemas enfrentados atualmente pelos bananicultores, o Técnico I, como

alguns dos agricultores, considera o sistema de comercialização da fruta como um dos

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principais entraves para o desenvolvimento da bananicultura do município e do Estado.

Conforme seu depoimento:

O problema da bananicultura em SC é da colheita para frente. Hoje no Estado, todos estão sofrendo com o esquema de comercialização que existe no momento. Então o que eu vejo para o futuro no Estado, tem que ter centrais de comercialização. A Federação já pensa nisso, mas tem que ter uma interferência do Governo pra fazer centrais de comercialização. O que é uma central? É um CEASA. É um local onde o produtor vai levar sua banana, onde vai ser comercializada por um grupo. Sei lá, pode ser uma cooperativa, mas que tenha alguém comercializando essa banana para eles. Se cada produtor comercializar individualmente sua banana ele vai ter problema, porque ele não está preparado para isso. O problema da comercialização é o nó, é o maior problema. Nós não temos problemas de produzir, nós não temos problema de tecnologia de produção. O pequeno produtor tem dificuldade de comercializar a banana, não só o pequeno, quase todos têm dificuldades. Então, não é muito simples comercializar banana nem outra fruta, nada é muito simples.

Outro aspecto destacado neste depoimento é a iniciativa da Federação das Associações

de Bananicultores do Estado de Santa Catarina (FEBANANA), na discussão deste problema.

Percebe-se que já existe uma articulação entre estes atores na busca de soluções para o

problema.

Outro entrave é o excesso de produção. De acordo com o Técnico I, a região produz

mais do que consome e esse excesso empurra o preço da fruta para baixo. Conforme seu

depoimento:

O problema do Estado de Santa Catarina é que nós temos uma produção de 700 mil toneladas. O consumo dos três Estados do Sul não passa de 400 mil toneladas por ano. Isso entrando Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Aí tem mais a produção do Paraná que tá grande, a produção do Rio Grande do Sul é grande, banana branca eles tem muita fruta. Então existe um volume estimado em 600 a 700 mil toneladas de excesso na nossa região. Então pra onde vai essa banana? Agora o que devia acontecer é ter uma redução de oferta aí tu aumenta o preço na marra. O problema é o excesso de produção.

Apesar da crise pela qual a bananicultura vem atravessando, o Técnico I destaca que o

fato da bananicultura ser exigente de mão de obra vem favorecendo as unidades produtivas

familiares, pois segundo ele, apesar da crise, o agricultor familiar não tem gastado com

empregados. De acordo com seu depoimento:

A cultura da banana é uma atividade extremamente exigente de mão de obra e em alguns casos a mão de obra representa quase 40%, de todo o faturamento, 40% é destinado à mão de obra. E hoje quem tem mais dificuldade não é o pequeno produtor. Não é que ele está melhor. Mas o agricultor que depende de mão de obra contratada está se vendo amarelo, está se vendo louco. Porque um empregado para ele custa hoje mil reais, 800 a mil reais, se considerar férias, 13ª, energia, água, etc. Então isso custa muito para o produtor, e aquelas pequenas propriedades não estão desembolsando esse dinheiro. Eles estão até deixando de botar no bolso, mas eles

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não estão tirando esse dinheiro do bolso para pagar alguém, tá ficando pelo menos aí. Então lógico, se eles tivessem combinado de cada filho tirar mil reais por mês, eles podem combinar outra coisa neste momento.

Conseqüentemente, para este Técnico o agricultor familiar tem melhores condições

para superar as adversidades da atual crise do setor. Entretanto, este agricultor precisará

apresentar alguns fatores importantes para o cultivo da bananicultura para permanecer na

atividade com relativo sucesso. Segundo ele

Na banana vai ficar quem? Aquele produtor que tem o solo bom, propriedade boas para se produzir banana principalmente disposição solar. Aquelas propriedades que têm problemas com sombreamento, a banana produzida é de qualidade inferior. Quanto maior a exposição solar melhor a qualidade da banana. Se ele tem um solo bom, uma propriedade com 15 a 10 hectares de banana, eu acho que ele vai conseguir muito bem. Essa é uma condição mínima para produzir banana de qualidade. E ele vai ter que usar toda tecnologia possível para produzir bem. Existe uma relação entre o gasto e o retorno destes gastos e é possível equalizar isso.

Este depoimento enfatiza as vantagens da agricultura familiar no cultivo da banana,

em relação ao menor custo de gestão e supervisão da mão-de-obra familiar. Neste sentido vale

destacar a redução do custo operacional associado à utilização do trabalhador familiar, que

tem incentivo direto para evitar desperdícios, além de aumentar a produtividade em tarefas de

manuseio e atenção delicados quando comparada ao trabalho assalariado e finalmente, a

maior qualidade do produto obtido sob os cuidados dos próprios interessados

(GUANZIROLI, et al 2001). Outros fatores são reforçados pelo Técnico, como a qualidade do

solo e das propriedades em relação à exposição solar para a produção de uma fruta de

qualidade.

A opinião dos técnicos, portanto, sobre os aspectos em pauta, coincide com a de parte

dos agricultores entrevistados, especialmente dos com melhor situação econômica, que

reconhecem o papel desempenhado pelas políticas públicas orientadas para o setor agrícola e,

de modo especial, sua articulação com organizações da sociedade civil. Coincide, do mesmo

modo no diagnóstico das principais problemas que têm criado desafios ao desenvolvimento da

bananicultura no município.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da importância estratégica que a agricultura familiar sempre representou e

continua representando para o país, somente na última década, à custa dos vários movimentos

e lutas sociais, é que este setor vem ganhando, em parte, o devido reconhecimento, tanto do

poder público, através das políticas públicas orientadas para a categoria, quanto da sociedade

em geral.

Contudo, através da literatura específica sobre o universo rural brasileiro, é

indispensável reconhecer a profunda heterogeneidade sócio-econômica dos agricultores

familiares. Alguns se encontram em processo de capitalização, já outros apresentam situação

bastante precária econômica e socialmente. Do mesmo modo, consta-se que este não é um

segmento social imóvel ou estanque podendo, quando apoiados por um conjunto de políticas

públicas, superar as condições adversas e responder positivamente aos incentivos, melhorando

os indicadores de renda e produtividade e contribuindo para o desenvolvimento rural local.

O presente trabalho procurou explicitar a trajetória histórica dos bananicultores do

município de Luís Alves que, de certo modo, reproduziu localmente as condições acima

referidas, atestadas nacionalmente. Contatou-se, assim, que também entre os bananicultores

há uma diversificação interna, do ponto de vista econômico. Contudo, apesar de uma pequena

parcela de bananicultores estarem descapitalizados e das inúmeras adversidades enfrentadas, a

maior parte dos agricultores dedicados a esta cultura alcançou um relativo sucesso econômico,

contribuindo de maneira bastante significativa para o desenvolvimento do município.

Conforme os dados apresentados nos capítulos anteriores, além do aumento de 46,95% da

renda per capita, num período de cinco anos, o município apresentou, também, melhores

índices educacionais e demográficos, num momento em que a maioria dos pequenos

municípios de economia agrícola vivencia o êxodo de sua população rural.

Para atingirem tal desenvolvimento, estes agricultores familiares foram favorecidos

por alguns fatores decisivos. Inicialmente, foi destacado o papel preponderante das políticas

públicas agrícolas. A assistência técnica rural prestada aos agricultores possibilitou, conforme

seus próprios depoimentos, uma mudança de mentalidade, orientada para a importância da

aplicação das novas tecnologias e do reinvestimento na produção, visando com isso o

melhoramento da qualidade da cultura agrícola em questão.

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Assim, destacou-se o papel da pesquisa e da extensão rural prestados, inicialmente por

técnicos da ACARESC e, em seguida, da EPAGRI. Mesmo sendo em número bastante

reduzido, estes técnicos conseguiram perceber o potencial da bananicultura para o

desenvolvimento do município. Muitas das novas pesquisas desenvolvidas pela EPAGRI para

o setor eram e continuam sendo transferidas primeiramente aos agricultores do município.

Constatou-se, através dos depoimentos de alguns dos agricultores entrevistados, que mesmo

dizendo não terem recebido assistência técnica, aplicavam as tecnologias desenvolvidas para a

bananicultora. Este fato indica que este saber, gerado pelas pesquisas da EPAGRI, foi

disseminado, tanto pela própria Empresa, quanto pela ABLA, que acabou sendo apropriado e

socializado pelos bananicultores, de tal forma que não é mais reconhecido como um saber

científico, desenvolvido por uma política pública, e sim naturalizado como um saber popular

que já faz parte de seu cotidiano.

Constatou-se, ainda, que os bananicultores utilizaram a política de crédito agrícola,

principalmente na linha de custeio, a qual objetiva a manutenção da produção, por exemplo,

para a compra de insumos químicos. Vale destacar novamente o papel relevante da assistência

técnica prestada pelos técnicos da EPAGRI na orientação e elaboração dos projetos e na

desmistificação dos riscos causadores de insegurança e de medo nos agricultores de acessar as

políticas de crédito rural.

Outro aspecto decisivo para o sucesso da trajetória dos bananicultores foi a sua

organização, através da Associação dos Bananicultores de Luís Alves (ABLA). A Associação,

além de oferecer vários benefícios, foi um “laboratório” de formação de lideranças, pois, a

partir dela, foram criadas outras organizações, como a CRESOL, a BANALVES, a MUZA e a

FEBANANA, entre outras, todas ligadas à agricultura familiar. Observa-se, neste sentido, a

importância da participação dos agricultores em organizações da Sociedade Civil, para além

dos benefícios e aquisições materiais, principalmente no seu aspecto pedagógico e de

formação de indivíduos e comunidades mais solidárias, além de sujeitos de sua própria

história. Em outros termos, constatou-se o papel fundamental do capital social acumulado

através das instituições associativas com seus sistemas de participação cívica, com base na

confiança interpessoal.

Alguns agricultores entrevistados destacaram, também, a importância do empenho e

do trabalho do agricultor familiar para o sucesso da bananicultura no município, evidenciando

determinados valores comuns entre os agricultores para a reprodução social das unidades

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familiares, como a valorização do trabalho e da família. Neste sentido, é indispensável

ressaltar, também, a participação das mulheres e jovens nesta trajetória, tanto no que se refere

a sua participação na ABLA, pois grande parte dos associados é jovem, quanto na

administração da propriedade.

Cabe frisar ainda, nesta trajetória, a constatação de certa preocupação, por parte dos

agricultores, com a problemática da preservação ambiental, relacionada principalmente com a

aplicação dos insumos químicos e com o desmatamento. Observou-se, neste sentido, ao longo

da pesquisa, que os agricultores parecem mais conscientes da complexidade desta questão.

Alguns deles utilizam métodos que visam diminuir o impacto dos produtos químicos

sobre o meio ambiente, como é o caso da substituição, nas lavouras, do adubo químico pelo

adubo orgânico; tem diminuído, também, a aplicação de herbicidas, reconhecendo que muitas

ervas daninhas são, na verdade, benéficas para determinados cultivos, pois protegem o solo e,

por último, vêem manifestando sua preocupação com a proteção das matas nativas, a partir da

constatação de sua importância para a proteção das nascentes de água.

Por último, cabe enfatizar que a presente pesquisa permitiu, a partir do que foi

explicitado acima, a reflexão e a decorrente identificação do tipo de desenvolvimento que a

bananicultura tem proporcionado ao município. Não parece haver dúvidas de que houve

melhora nos indicadores econômicos. Entretanto, conforme Abramovay (2003), o conceito de

desenvolvimento vai além da capacidade produtiva e econômica de uma sociedade; ele deve

refletir a qualidade de vida em comum, a confiança das pessoas no futuro e, sobretudo, sua

possibilidade de levar adiante iniciativas pelas quais possam realizar seu potencial e contribuir

para a vida em comunidade.

Verificou-se, em síntese, com esta pesquisa, que apesar das adversidades enfrentadas

pelos agricultores, inclusive a recente crise que a bananicultura vem atravessando, decorrente

de fatores naturais e sociais, além da redução do número de técnicos, ela continua

representando um importante potencial para o desenvolvimento do município, tanto

econômico quanto social e ambiental. Isto pode ser constatado através da capacidade destes

agricultores de se organizarem na busca por soluções coletivas, como é o caso das várias

entidades criadas a partir da ABLA que, por outro lado, contribuíram para estimular e

potencializar a presença de políticas públicas, cujas intervenções pioneiras foram

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fundamentais para o desenvolvimento da bananicultura e através dela, do desenvolvimento

local em seu sentido pleno.

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