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Coisas absurdas que acontecem na Venezuela por Spotniks.TRANSCRIPT
Que as coisas não vão muito bem na Venezuela, você provavelmente já sabe.
O país vive em rota de colisão, na contramão do mundo. A cada minuto que
passa, a Venezuela vê crescer sua hiperinflação (a maior do mundo), sua
pobreza (que é maior do que quando Hugo Chávez assumiu) e sua
violência (já é osegundo país mais violento do planeta).
Trancafiado num círculo vicioso de destruição, o país comandado por Nicolás
Maduro se vê completamente tomado pela escassez de produtos básicos, a
falta de liberdade e a insegurança – de modo que a qualquer momento, tudo é
capaz de perder-se numa imensa explosão do que ainda resta de suas
instituições, em protestos violentos, guerrilhas intermináveis e descontrole sem
fim.
Até agora, 2015 vem sendo um ano duro para os venezuelanos. Aqui, as 7
coisas mais absurdas que já aconteceram no país nesse ano.
1) O BOLÍVAR VENEZUELANO JÁ VALE LITERALMENTE MAIS COMO PAPEL
HIGIÊNICO (E GUARDANAPO) DO QUE COMO DINHEIRO.
Como já falamos por aqui, a inflação venezuelana é tão gritante que o bolívar
vale literalmente mais como papel higiênico que como dinheiro. Ou, como é
possível ver na imagem acima – que causou comoção na imprensa
internacional após ser postada por um usuário do Reddit nessa semana –
vale mais como guardanapo que como dinheiro.
De acordo com o Dolar Today, um dólar está valendo 676 bolívares, mais
que o dobro do que registrado em maio e o triplo que em janeiro. Agora, a alta
inflação pode ter dado uma saída provisória para a crise dos banheiros: o uso
de células de Bolívar Fuerte como papel higiênico.
Há poucos dias, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano rejeitou
uma ação movida por uma ONG que pretendia obrigar o Banco Central da
Venezuela a divulgar a taxa de inflação ao público. Esse dado inofensivo para
a maioria esmagadora dos governos ao redor do mundo, costumava ser
divulgado mensalmente no país, mas atualmente se tornou um segredo de
Estado. Não sem motivo.
A inflação venezuelana está entre as mais altas do mundo há alguns anos. Em
2015, de modo especial, alcançou patamares ainda mais altos. O economista
Steve Hanke, catedrático da universidade Johns Hopkins, de
Maryland, advertiu em julho que o processo inflacionário na Venezuela tinha
ingressado em “uma espiral de morte” e que a elevação real do custo de vida
nos últimos 12 meses atingia 615%.
O Banco Central da Venezuela afirmou recentemente que o motivo da não
publicação do índice de inflação seria uma inconsistência metodológica com
outra instituição governamental que mede a inflação, o Instituto Nacional de
Estatística. A incompetência oficial é tamanha que até na hora de medir o
estrago o governo erra.
2) HÁ ESCASSEZ DE CERVEJA.
Sabe aquele final de tarde de sexta-feira em que a única coisa que você
deseja é tomar uma cerveja bem gelada depois do trabalho? Agradeça por não
morar na Venezuela. Os venezuelanos sofrem com a escassez de papel
higiênico, desodorante, alimentos e até de caixões. Não bastasse, se não é
possível viver e morrer em paz, há algumas semanas também não é possível
sequer se embriagar para esquecer dos problemas.
De acordo com a Federación Venezolana de Licoreros y Afines, 7 regiões do
país registravam falta de cerveja no último mês de julho – e a situação vem
piorando desde então. Fray Roa, diretor geral da federação, pediu uma reunião
com Maduro para solucionar a crise no setor, que ameaça 400 mil empregos
diretos e 1 milhão de empregos indiretos, além da interrupção das fábricas do
país. Roa explicou que durante o último ano, a venda de bebidas registrou uma
queda próxima de 50%, e que com o aumento do imposto de outros 50% para
a categoria, o custo dos produtos poderiam aumentar em 300% e 500%. Os
produtores reclamam que não conseguem comprar cevada e malte no exterior
porque não têm disponíveis os dólares necessários (há 12 anos, a Venezuela
impõe um rígido controle cambial e o governo limita o nível de divisas
disponíveis).
Fontes não oficiais dão conta que o setor produtor de cerveja deve mais de
US$ 217 milhões a fornecedores internacionais. Como o preço das demais
bebidas alcoólicas triplicou, a cerveja responde hoje por 70% das vendas dos
produtores. Mesmo que os empresários cheguem a um acordo com o executivo
seriam necessários mais de dois meses para que a matéria-prima usada na
produção de cerveja chegue ao país.
Após as declarações, o diretor da Federación Venezolana de Licoreros y
Afines foi preso por funcionários do Servicio Bolivariano de Inteligencia
(SEBIN), sem a menor justificativa.
3) A ESCASSEZ DE CONTRACEPTIVOS ESTÁ AUMENTANDO A TAXA DE GRAVIDEZ ENTRE
AS MULHERES ADOLESCENTES.
A crise econômica já gerou 85% de escassez de medicamentos contraceptivos
na Venezuela, de acordocom Freddy Ceballos, presidente da Federación
Farmacéutica de Venezuela. No início do ano, embalagens com 36 unidades
de camisinhas eram vendidas na internet pelo valor de um salário mínimo.
“O país está em tamanha bagunça que agora precisamos
esperar na fila até para o sexo”, lamentou na época Jonatan Montilla, de 31 anos, diretor de arte de uma empresa de publicidade.
A crise certamente afetou a sexualidade do país, já que a abstinência se tornou
a principal “solução” para escapar da gravidez não planejada – e de outra
consequência indesejada: a falta de fraldas e leite. Mas o inconveniente, que
obriga homens e mulheres a rodarem de farmácia em farmácia atrás de
contraceptivos, é pior do que parece. A Venezuela apresenta uma das maiores
incidências de AIDS e de gravidez na adolescência em toda América Latina.
“Sem camisinhas, não podemos fazer nada”, afirma Jhonatan Rodriguez, diretor geral do grupo StopHIV. “Essa escassez ameaça todos os programas de prevenção nos quais trabalhamos em todo o país.”
Em torno de 101 de cada 1.000 adolescentes com idades entre 15 a 19 anos
estão grávidas na Venezuela, de acordo com o Fundo de População das
Nações Unidas. No Estado de Aragua, localizado no centro-oeste do país, a
taxa de gravidez aumentou em pelo menos 50%. E segundo Dulce María
Blanco de Figallo, presidente do Colegio de Farmaceutas local e proprietária de
uma farmácia, “a situação se repete em todo o país”.
De acordo com o último censo realizado na Venezuela, a taxa de fecundidade
das mulheres de 22 anos ou mais tem diminuído, enquanto que a gravidez na
adolescência está em ascensão. Anteriormente, a idade mais comum entre
jovens grávidas era de 17 a 19 anos, agora de forma alarmante são
adolescentes de 16 anos para baixo. De acordo com estatísticas compiladas
pelo Fundo de População das Nações Unidas da Venezuela, todos os dias 580
mulheres engravidam no país – metade delas não são desejadas ou
planejadas.
Não é uma tarefa fácil ser mulher na revolução bolivariana.
4) COM A FALTA DE REMÉDIOS, OS VENEZUELANOS ESTÃO TENDO QUE
APELAR PARA MEDICAMENTOS VETERINÁRIOS.
E contraceptivos não são uma exceção. Segundo cálculos da Federação F