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Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciencias
Departamento de Matematica
Variedades M-solidas de Linguagens
Pedro Baltazar
Mestrado em Matematica
2005
Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciencias
Departamento de Matematica
Variedades M-solidas de Linguagens
Dissertacao orientada pela Profª. Doutora Margarita Ramalho
Pedro Baltazar
Mestrado em Matematica
2005
iii
O severas matematicas, eu nao te esqueci desde que as tuas sabias
licoes, mais doces do que o mel, se infiltraram no meu coracao
como um onda refrescante; instintivamente e desde o berco, eu
desejava beber na tua fonte, mais antiga do que o sol, e continuo
ainda a deambular pelo sagrado vestıbulo do teu templo solene,
como o mais fiel dos teus iniciados.
Lautreamont, Cantos de Maldoror.
Agradecimentos
Comeco por agradecer a Professora Margarita Ramalho ter-me aceite como seu ori-
entando, mas principalmente, agradecer o apoio e disponibilidade mostrados ao longo do
tempo que elaborei esta tese, sobre sua orientacao. Aos meus pais, simplesmente por tudo.
iv
v
Resumo
Motivado pela correspondencia entre linguagens livre de estrela e monoides aperio-
dicos, na decada de setenta, Eilenberg estabelece o isomorfismo entre o reticulado das
pseudovariedades de monoides e o reticulado das variedades de linguagens regulares. No
inıcio dos anos oitenta, Therien mostrou que estes dois reticulados sao tambem isomorfos
ao reticulado das variedades de congruencias do monoide livre. Estas correspondencias
foram estendidas a linguagens de arvore, independentemente, por Almeida e Steinby, ao
longo da decada de oitenta. Devido ao resultado inicial de Eilenberg, estes isomorfismos
denominam-se correspondencias tipo-Eilenberg.
Um modo de descrever a estrutura do reticulado das pseudovariedades e estudar os seus
subreticulados completos. Alguns dos subreticulados completos do reticulado das pseu-
dovariedades surgem a partir de pseudovariedades M -solidas. Dados os isomorfismos das
correspondencias tipo-Eilenberg, a cada subreticulado completo de pseudovariedades cor-
responde um subreticulado completo de variedades de linguagens e outro de variedades de
congruencias. Nesta dissertacao, apresenta-se uma caracterizacao das variedades de lingua-
gens correspondentes as pseudovariedades M -solidas, como tambem das correspondentes
variedades de congruencias. No caso das linguagens de arvore, apresentam-se mesmo as
restricoes das correspondencias tipo-Eilenberg ao subreticulado completo das pseudovar-
iedades M -solidas.
Palavras chave: Subrelacoes Galois-fechadas, variedades M -solidas, pseudovariedade M -
solidas, linguagens formais, correspondencias tipo-Eilenberg, variedades M -solidas de lin-
guagens.
vi
vii
Summary
Motivated by the connection between star-free languages and aperiodic monoids Eilen-
berg establishes an isomorphism between the lattice of all monoid pseudovarieties and the
lattice of all varieties of regular languages. In the beginning of the eighties Therien proved
that this two lattices are also isomorphic to the lattice of all varieties of congruences of
the free monoids. These connections were independently extended to tree languages by
Almeida and Steinby during the eighties. Due to the original result achieved by Eilenberg
this kind of connections have come to be known as Eilenberg-type correspondences.
One way to describe the structure of the pseudovariety lattice is by studying their
complete sublattices. Some of this complete sublattices arise from M -solid pseudovari-
eties. Taking into account the isomorphisms of the Eilenberg-type correspondences, each
complete sublattice of pseudovarieties corresponds to a complete sublattice of language
varieties, and another one of congruence varieties. In this thesis, a characterization of the
language varieties and congruence varieties corresponding to the M -solid pseudovarieties is
presented. As for the tree language varieties, the actual restrictions of the Eilenberg-type
correspondences are presented to the complete sublattice of all M -solid pseudovarieties.
Keywords: Galois closed subrelations, M -solid varieties, M -solid pseudovarieties, formal
languages, Eilenberg-type correspondence, M -solid varieties of languages.
viii
Conteudo
Introducao 1
0 Preliminares 5
0.1 Algebras, reticulados e variedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
0.2 Termos, identidades e algebras livres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
0.3 Pseudovariedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
0.4 Operadores de fecho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
0.5 Conexoes de Galois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
0.6 Subrelacoes Galois-fechadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
0.7 Pares conjugados de operadores de fecho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1 Variedades M-solidas de algebras 33
1.1 Hipersubstituicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.2 Monoides de hipersubstituicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.3 Variedades M -solidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.4 Congruencias totalmente M -invariantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.5 Logica M -hiperequacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
1.6 Pseudovariedades M -solidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2 Correspondencias tipo-Eilenberg 61
2.1 Algebras sintacticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.2 Conjuntos reconhecıveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
2.3 Correspondencias tipo-Eilenberg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3 Variedades M-solidas de linguagens 81
3.1 Variedades M -solidas de linguagens e de congruencias . . . . . . . . . . . . 82
ix
x CONTEUDO
3.2 Linguagens de arvore . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4 Exemplos 89
4.1 Algebras rectangulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.2 Algebras diagonais e linguagens rotuladas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
4.3 Algebras nilpotentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4.4 Linguagens de arvore determinadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Conclusao 98
Bibliografia 101
Indice remissivo 105
Introducao
O estudo algebrico das linguagens formais iniciou-se com Kleene, na decada de cin-
quenta, ao mostrar que as linguagens reconhecidas por automatos finitos sao exactamente
as linguagens racionais. Poucos anos mais tarde, na mesma decada, Rabin e Scott in-
troduzem a nocao de monoide sintactico de uma linguagem, que permite a caracter-
izacao puramente algebrica das linguagens reconhecıveis. Esta nova abordagem permi-
tiu que algumas classes de linguagens pudessem ser descritas por propriedades dos seus
monoides sintacticos. Um importante exemplo, e a ligacao entre linguagens livre de estrela
e monoides aperiodicos, determinada por Schutzenberger em meados dos anos sessenta.
Outros importantes exemplos se seguiram, mas foi Eilenberg [ES76] que encontrou as fer-
ramentas adequadas para formular este tipo de resultados. Eilenberg mostrou que existe
uma correspondencia bijectiva entre as pseudovariedades de monoides e as variedades de
linguagens regulares. Na realidade, esta bijeccao e um isomorfismo entre o reticulado
das pseudovariedades de monoides e o reticulado das variedades de linguagens regulares.
Outra caracterizacao das linguagens regulares foi dada por Therien [The80], em termos
de congruencias dos monoides livres, mostrou que os anteriores reticulados sao tambem
isomorfos ao reticulado das variedades de congruencias. Resultado que e bastante util, ja
que alguns importantes exemplos de linguagens sao descritos em termos de congruencias.
Devido ao resultado inicial de Eilenberg, estas bijeccoes sao denominadas correspondencias
tipo-Eilenberg.
A teoria dos automatos de arvore e das linguagens de arvore emergiu nos meados dos
anos sessenta tomando a perspectiva que os automatos finitos deterministas sao vistos
como algebras unarias, como advogado por Buchi e Wright. Nesta perspectiva, a gener-
alizacao das palavras para arvores e feita considerando uma algebra finita, de tipo finito,
como um automato para arvores. As linguagens de arvore comecaram por ser uma im-
portante ferramenta utilizada por Thomas e Wright, para mostrar a decidibilidade da
1
2 INTRODUCAO
logica monadica de segunda ordem. De modo a estabelecer resultados analogos as cor-
respondencias tipo-Eilenberg, agora para linguagens de arvore foi necessario encontrar
uma estrutura sintactica. A utilizacao de monoides sintacticos, introduzidos por Thomas,
revelou-se pouco satisfatoria. No caso das linguagens de palavras, as estruturas sintacticas
sao monoides, pois as linguagens sao subconjuntos de um monoide livre. Assim sendo,
como as linguagens de arvore sao subconjuntos de uma algebra de termos, as algebras
do mesmo tipo revelaram-se uma estrutura sintactica apropriada. Independentemente,
Almeida [Alm90] e Steinby [Ste79, Ste92] estenderam a correspondencia de Eilenberg e o
resultado de Therien para linguagens de arvore.
O conjunto de todas as variedades [resp. pseudovariedades] de um determinado tipo
forma um reticulado completo. O estudo destes reticulados e bastante importante mas
difıcil, quando sao reticulados infinitos nao numeraveis. Em ambos os casos de interesse, os
reticulados completos sao conjuntos de pontos fixos de um operador de fecho induzido por
uma conexao de Galois. Um modo de descrever estes reticulados e em estudar e analisar
alguns dos seus subreticulados completos. Assim, um problema importante e o de carac-
terizar todos os subreticulados completos de um dado reticulado completo. No contexto
da Analise Conceptual Formal, Ganter e Wille [GW96] encontram uma caracterizacao e
um meio de produzir subreticulados completos de um dado subreticulado completo asso-
ciado a uma conexao de Galois. Estas ferramentas foram utilizadas por Denecke e Reichel
[DR95] para provar que o conjunto de todas as variedades M -solidas forma um subretic-
ulado completo do reticulado das variedades. No caso das pseudovariedades, as mesmas
ferramentas foram utilizadas por Denecke e Pibaljommee [DP03] para obter subreticulados
completos do reticulado das pseudovariedades, a partir de conjuntos de pseudovariedades
M -solidas.
Tendo em conta os isomorfismos de reticulado das correspondencias tipo-Eilenberg,
a cada subreticulado completo do reticulado das pseudovariedades corresponde um sub-
reticulado completo de variedades de linguagens e outro de variedades de congruencias.
Logo, surge o problema de encontrar uma caracterizacao destes subreticulados. Nesta
tese, apresenta-se uma caracterizacao dos subreticulados completos correspondentes aos
reticulados completos das pseudovariedades M -solidas. No caso das linguagens de arvore,
obtem-se mesmo, a restricao dos isomorfismos das correspondencias tipo-Eilenberg ao
reticulado das pseudovariedades M -solidas.
No capıtulo inicial apresentam-se os principais resultados de Algebra Universal necessarios
para os capıtulos subsequentes. Nas duas ultimas seccoes do capıtulo introdutorio, desenvolvem-
INTRODUCAO 3
se as ferramentas necessarias para obter subreticulados completos de um dado reticulado
associado a uma conexao de Galois. Resultados estes, que serao fundamentais na obtencao
dos principais resultados do capıtulo seguinte. No capıtulo 1, apresenta-se a teoria das
estruturas M -solidas, nomeadamente variedades M -solidas e pseudovariedades M -solidas.
Dar-se-a uma caracterizacao tipo-Birkhoff das variedades M -solidas em termos de sat-
isfacao de equacoes e apresenta-se a logica equacional associada. No final deste Capıtulo, a
analoga caracterizacao das pseudovariedades M -solida em termos de satisfacao de filtros de
equacoes e apresentada. No capıtulo 2, apresentam-se as correspondencias tipo-Eilenberg
usando uma generalizacao que engloba o caso das linguagens de palavras e o caso das
linguagens de arvore. No capıtulo 3, definem-se as nocoes de variedade M -solida de lin-
guagens e de variedade M -solida de congruencias. Mostra-se que sao estas as variedades
de linguagens e as variedades de congruencias correspondentes as pseudovariedades M -
solidas. No caso das linguagens de arvore, prova-se que existe mesmo uma bijeccao entre
os membros M -solidos dos tres reticulados envolvidos nas correspondencias tipo-Eilenberg.
No final, sao apresentados alguns exemplos de variedades de linguagens M -solidas.
4 INTRODUCAO
Capıtulo 0
Preliminares
Neste primeiro capıtulo apresentam-se os principais conceitos e resultados de Algebra
Universal, que serao uteis nos capıtulos subsequentes.
0.1 Algebras, reticulados e variedades
Seja A um conjunto nao vazio e n > 1 um inteiro positivo. Uma funcao f : An → A
designa-se operacao n-aria ou de aridade n de A. No caso n = 0, convenciona-se que
A0 = ∅ e uma funcao constante f : ∅ → A diz-se uma operacao nularia de A. Para
n > 0, seja OnA o conjunto de todas as operacoes n-arias de A e OA := ∪∞
n=0OnA o conjunto
de todas as operacoes de aridade finita de A. Usualmente, as operacoes de aridade 1
dizem-se unarias e as operacoes de aridade 2 dizem-se binarias.
Por sobreposicao de operacoes entenda-se a construcao de uma operacao n-aria
g(f1, . . . , fm) : An → A, a partir de m operacoes n-arias f1, . . . , fm : An → A e de uma
operacao m-aria g : Am → A, em que a nova operacao e definida do seguinte modo:
g(f1, . . . , fm)(a1, . . . , an) = g(f1(a1, . . . , an), . . . , fm(a1, . . . , an)),
para todo a1, . . . , an ∈ A.
As operacoes projeccao de aridade n, no conjunto A, sao as operacoes pi,n : An → A,
tais que pi,n(a1, . . . , an) = ai, para todo a1, . . . , an ∈ A, com 1 6 i 6 n. Um conjunto de
operacoes C ⊆ OA que contenha as operacoes projeccao e seja fechado para a sobreposicao
de operacoes diz-se um clone de operacoes.
Definicao 0.1.1. Uma algebra e um par ordenado A = 〈A;FA〉, onde A e um conjunto
nao vazio e FA e um conjunto de operacoes de A, de aridade finita. O conjunto A diz-se
5
6 CAPITULO 0. PRELIMINARES
universo da algebra A e o conjunto FA diz-se o conjunto das operacoes fundamentais da
algebra A.
Usar-se-ao letras maiusculas em negrito A,B,C, . . . para representar algebras e as re-
spectivas letras maiusculas A,B,C, . . . para representar os seus universos. Seja I um
conjunto nao vazio tal que FA = fA
i : i ∈ I e fA
i e uma operacao de aridade ni em A,
entao A diz-se uma algebra do tipo τ = (ni)i∈I . Ao conjunto F = fi : i ∈ I onde fi
e um sımbolo operacional de aridade ni, diz-se um conjunto de sımbolos operacionais do
tipo τ = (ni)i∈I . Reserva-se a letra I para indexar o conjunto de sımbolos operacionais
de determinado tipo de algebras τ . Consideram-se apenas tipos nao vazios, ou seja, onde
I e um conjunto nao vazio. Uma algebra A diz-se finita se o seu universo e finito. Um
tipo de algebras τ diz-se finito se o conjunto I e finito. Uma algebra diz-se trivial se o seu
universo tem apenas um elemento.
Exemplo 0.1.2. 1. Um semigrupo e uma algebra A = 〈A; 〉 do tipo (2) tal que, para
qualquer a, b, c ∈ A,
(a b) c = a (b c). (propriedade associativa)
Um semigrupo diz-se comutativo se a b = b a.
Um semi-reticulado e um semigrupo comutativo tal que
a a = a (propriedade de idempotencia).
Um semigrupo diz-se nilpotente se existe um n > 0, tal que a1 · · · an b =
b a1 · · · an = a1 · · · an, para todo a1, . . . , an, b ∈ A.
2. Um monoide e uma algebra A = 〈A; , e〉 do tipo (2, 0), tal que 〈A; 〉 e um semigrupo
e para todo a ∈ A,
e a = a e = a (elemento neutro).
3. Um grupo e uma algebra A = 〈A; ,−1 , e〉 do tipo (2, 1, 0) tal que 〈A; , e〉 e um
monoide e para todo a ∈ A,
a−1 a = a a−1 = e (elemento inverso).
Um semigrupo diz-se aperiodico se todo o seu subsemigrupo que e um grupo e trivial.
0.1. ALGEBRAS, RETICULADOS E VARIEDADES 7
4. Um reticulado e uma algebra A = 〈A;∧,∨〉 do tipo (2, 2) tal que 〈A;∧〉 e 〈A;∨〉 sao
semi-reticulados e para todo a, b ∈ A,
a ∨ (a ∧ b) = a;
a ∧ (a ∨ b) = a.
Um reticulado limitado e uma algebra A = 〈A;∧,∨, 0, 1〉 do tipo (2, 2, 0, 0) tal que
〈A;∧,∨〉 e um reticulado e para todo a ∈ A,
a ∧ 0 = 0, a ∨ 0 = a, a ∧ 1 = a e a ∨ 1 = 1.
Um reticulado diz-se distributivo se satisfaz
a ∧ (b ∨ c) = (a ∧ b) ∨ (a ∧ c);
a ∨ (b ∧ c) = (a ∨ b) ∧ (a ∨ c).
Um conjunto parcialmente ordenado (abreviadamente c.p.o.) e um par 〈L; 6〉, onde
L e um conjunto nao vazio e 6 e uma relacao de ordem parcial em L. Um c.p.o.
〈L; 6〉 forma um reticulado se existe ınfimo e supremode quaisquer dois elementos
de L.
Por outro lado, a partir de um reticulado L forma-se sempre um conjunto parcial-
mente ordenado 〈L; 6〉, com a relacao de ordem parcial definida por a 6 b se a∧b = a,
para a, b ∈ L. Deste modo, a operacao ∧ e designada por ınfimo e a operacao ∨ e
designada por supremo.
Um reticulado L diz-se completo se existe ınfimo e supremo de qualquer subconjunto
de L. Um elemento a ∈ L diz-se compacto se, sempre que, para C ⊆ L, existe∨C
e a 6∨C, tem-se a 6
∨D, para algum subconjunto finito D ⊆ L. Um reticulado
L diz-se compactamente gerado se todo o elemento de L e supremo de elementos
compactos e L diz-se algebrico se e completo e compactamente gerado.
5. Uma algebra de Boole e uma algebra A = 〈A;∧,∨, ′, 0, 1〉 do tipo (2, 2, 1, 0, 0) tal
que 〈A;∧,∨, 0, 1〉 e um reticulado limitado e distributivo e para todo a, b ∈ A,
(a ∧ b)′ = a′ ∨ b′, (a ∨ b)′ = a′ ∧ b′, a′′ = a, a ∧ a′ = 0 e a′ ∨ a = 1.
8 CAPITULO 0. PRELIMINARES
A operacao ′ e denominada complementacao. Seja A um conjunto. Denota-se por
P(A) o conjunto das partes de A. Considerando as usuais operacoes sobre con-
juntos interseccao, reuniao e complementacao tem-se que 〈P(A);∩,∪, \, ∅, A〉 e uma
algebra de Boole. Qualquer algebra de Boole com estas operacoes e com o universo
constituıdo por subconjuntos de A e designada corpo de subconjuntos de A.
Definicao 0.1.3. Uma algebra B diz-se subalgebra de A se sao do mesmo tipo τ , B ⊆ A
e cada operacao fundamental fB
i e a restricao a B da operacao fundamental fA
i , para todo
i ∈ I. Escreve-se B ≤ A para indicar que B e uma subalgebra de A.
Um conjunto B ⊆ A, diz-se um subuniverso de A se e fechado para as operacoes
fundamentais de A.
Da definicao anterior, resulta que se B e subalgebra de A, entao B e um subuniverso de
A. O conjunto vazio e subuniverso de uma algebra se e so se a algebra nao tem operacoes
nularias.
Proposicao 0.1.4. Seja A uma algebra e S uma famılia nao vazia de subuniversos de
A. Entao⋂S e um subuniverso de A.
Seja A uma algebra e B ⊆ A. Define-se o subuniverso de A gerado por B como a
interseccao de todos os subuniversos de A que contem B. Representa-se esse subuniverso
por SgA(B), ou simplesmente por 〈B〉. Diz-se que o conjunto B ⊆ A gera a algebra A se
SgA(B) = A. Uma algebra diz-se finitamente gerada se e gerada por um conjunto finito.
Definam-se os conjuntos Bn, para n > 0, da seguinte forma:
B0 = B; Bn+1 = Bn ∪ fA
i (a1, . . . , ani) : i ∈ I e a1, . . . , ani
∈ Bn.
Proposicao 0.1.5. Seja A uma algebra e B ⊆ A. Entao
SgA(B) =⋃
n>0
Bn.
Proposicao 0.1.6. Seja A uma algebra. O conjunto SubA, de todos os subuniversos de
A, forma um reticulado algebrico SubA = 〈SubA,⊆〉 tal que:
∧S =
⋂S e
∨S = SgA(
⋃S),
para qualquer conjunto de subuniversos S ⊆ SubA.
0.1. ALGEBRAS, RETICULADOS E VARIEDADES 9
Teorema 0.1.7 (Princıpio de inducao estrutural). [Wec92] Seja A uma algebra gerada
pelo conjunto B ⊆ A. Para provar que uma propriedade P e valida para todos os elementos
de A e suficiente mostrar a validade das condicoes (1) e (2):
(1) Caso base: a propriedade P e valida para todos os elementos de B;
(2) Passo indutivo: Se P e uma propriedade valida para a1, . . . , an ∈ A (hipotese indu-
tiva) entao a propriedade P e valida para fA
i (a1, . . . , an) e para todo i ∈ I.
Definicao 0.1.8. Sejam A e B algebras do mesmo tipo τ . Uma aplicacao ϕ : A → B e
um homomorfismo da algebra A para B se
ϕ(fA
i (a1, . . . , ani)) = fB
i (ϕ(a1), . . . , ϕ(ani)),
para todo a1, . . . , ani∈ A e i ∈ I. Denota-se por ϕ : A → B um homomorfismo da algebra
A para a algebra B.
Se a aplicacao ϕ e bijectiva entao diz-se que ϕ : A → B e um isomorfismo. Neste
caso, diz-se que as algebras A e B sao isomorfas e escreve-se A ∼= B. Se a aplicacao ϕ e
sobrejectiva diz-se que B e uma imagem homomorfa de A.
Um homomorfismo ϕ : A → A e designado por endomorfismo de A. Seja EndA o
conjunto de todos os endomorfismos de A e ϕid a aplicacao identidade, entao EndA =
〈EndA; , ϕid〉 e um monoide, onde a operacao e a usual composicao de aplicacoes.
Uma consequencia do Princıpio de inducao estrutural e o seguinte resultado.
Teorema 0.1.9. Seja A uma algebra gerada pelo conjunto C ⊆ A. Sejam ϕ1, ϕ2 : A → B
homomorfismos que coincidem em C, i.e. ϕ1(a) = ϕ2(a) para todo a ∈ C, entao ϕ1 = ϕ2.
Definicao 0.1.10. Sejam A e B algebras do mesmo tipo. Diz-se que B divide A, ou que
B e um divisor de A e escreve-se B A, se a algebra B e uma imagem homomorfa de
uma subalgebra de A.
Seja A uma algebra, uma relacao de equivalencia θ sobre A diz-se uma relacao de
congruencia de A, se para todo i ∈ I e para quaisquer (a1, b1), . . . , (ani, bni
) ∈ θ, tem-se
(fA
i (a1, . . . , ani), fA
i (b1, . . . , bni)) ∈ θ.
10 CAPITULO 0. PRELIMINARES
Denote-se por ConA o conjunto de todas as congruencias de A. As relacoes de
equivalencia ∆A = (a, a) : a ∈ A e ∇A = A × A sao, respectivamente, a menor e a
maior relacao de congruencia de A. Usar-se-a a notacao [a]θ = b ∈ A : (a, b) ∈ θ, para
designar a θ-classe de congruencia de a ∈ A e A/θ = [a]θ : a ∈ A, para representar o
conjunto de todas as θ-classes.
Proposicao 0.1.11. Seja A uma algebra e S uma famılia de relacoes de congruencia de
A. Entao,⋂S e uma relacao de congruencia sobre A.
Seja A uma algebra e B ⊆ A × A. A relacao de congruencia de A gerada por B e
a interseccao de todas as relacoes de congruencia de A que contem B. Representa-se tal
congruencia por CgA(B).
Proposicao 0.1.12. Seja A uma algebra. O conjunto ConA, de todas as congruencias
de A, forma um reticulado algebrico ConA = 〈ConA,⊆〉 tal que:
∧S =
⋂S e
∨S = CgA(
⋃S),
para qualquer famılia de congruencias S ⊆ ConA.
Definicao 0.1.13. Seja A uma algebra e θ uma relacao de congruencia de A. A algebra
quociente A/θ e a algebra do mesmo tipo de A, de universo A/θ e tal que
fA/θi ([a1]θ, . . . , [ani
]θ) = [fA
i (a1, . . . , ani)]θ,
para todo [a1]θ, . . . , [ani]θ ∈ A/θ e i ∈ I. Uma congruencia diz-se de ındice finito se o
conjunto A/θ e finito.
Dado um homomorfismo ϕ : A → B, a relacao igualdade de imagem de ϕ, denominada
kernel ou nucleo e definida por
Kerϕ = (a, b) ∈ A×A : ϕ(a) = ϕ(b)
e uma congruencia de A. Dada uma algebra A e θ ∈ ConA, existe um homomorfismo
sobrejectivo
ϕθ : A −→ A/θ
a 7−→ [a]θ
que se denomina homomorfismo canonico, tal que Kerϕθ = θ.
0.1. ALGEBRAS, RETICULADOS E VARIEDADES 11
Teorema 0.1.14 (Teorema do Homomorfismo). [BS81] Sejam A e B algebras do mesmo
tipo τ e ϕ : A → B um homomorfismo sobrejectivo de A para B. Entao, existe um
isomorfismo ψ : A/Kerϕ → B, tal que ϕ = ψ ϕKerϕ, onde ϕKerϕ e o homomorfismo
canonico de Kerϕ.
Se L e um reticulado e a, b ∈ L, com a 6 b, entao [a, b] := c ∈ L : a 6 c 6 b e um
subuniverso de L.
Teorema 0.1.15 (Teorema da Correspondencia). [BS81] Seja A uma algebra e θ ∈ ConA.
Entao, a aplicacao
/θ : [θ,∇A] −→ Con(A/θ)
ϑ 7−→ ϑ/θ
e um isomorfismo de reticulados, onde ϑ/θ = ([a]θ, [b]θ) ∈ A/θ ×A/θ : (a, b) ∈ ϑ.
O seguinte Corolario e uma importante aplicacao dos dois resultados anteriores.
Corolario 0.1.16. Sejam A,B e C algebras do tipo τ . Seja ϕ : A → B um homomorfismo
sobrejectivo e ψ : C → B um qualquer homomorfismo. Entao, existe um homomorfismo
γ : C → A, tal que ϕ γ = ψ.
Definicao 0.1.17. Seja (Aj)j∈J uma famılia de algebras do mesmo tipo τ . O produto
directo A =∏j∈J Aj e a algebra do mesmo tipo τ , com universo
∏j∈J Aj e para cada
i ∈ I
fA
i ((a1j)j∈J , . . . , (anij)j∈J) = (fAj
i (a1j , . . . , anij))j∈J ,
para todo (a1j)j∈J , . . . , (anij)j∈J ∈∏j∈J Aj . O produto da famılia vazia e a algebra trivial
de universo ∅.
Para cada k ∈ J , a aplicacao k-projeccao
πk :∏j∈J Aj −→ Ak
(aj)j∈J 7−→ ak
e um homomorfismo sobrejectivo πk : A → Ak.
Para k > 1, sejam A1, . . . ,Ak,B1, . . . ,Bk algebras do tipo τ e ϕj : Aj → Bj um
homomorfismo, para cada j = 1, . . . , k. Define-se o homomorfismo produto
ϕ := ϕ1 × · · · × ϕk : A1 × · · · × Ak → B1 × · · · × Bk,
12 CAPITULO 0. PRELIMINARES
tal que ϕ(a1, · · · , ak) = (ϕ1(a1), . . . , ϕk(ak)), para todo a1 ∈ A1, . . . , ak ∈ Ak.
Definicao 0.1.18. Uma algebra A diz-se um produto subdirecto de uma famılia de algebras
(Aj)j∈J se A ≤∏j∈J Aj e πj(A) = Aj , para todo j ∈ J .
Um homomorfismo injectivo ϕ : A →∏j∈J Aj e uma imersao subdirecta se ϕ(A) e
um produto subdirecto de (Aj)j∈J . Se J = ∅ entao A e produto subdirecto da famılia
vazia se e so se A e uma algebra trivial.
Proposicao 0.1.19. Seja A uma algebra e θj ∈ ConA : j ∈ J uma famılia de con-
gruencias de A, tal que⋂j∈J θj = θ. Entao, a aplicacao
ϕ : A/θ −→∏j∈J A/θj
[a]θ 7−→ ([a]θj)j∈J
e uma imersao subdirecta.
Definicao 0.1.20. Uma algebra A diz-se subdirectamente irredutıvel, se para cada imersao
subdirecta
ϕ : A →∏
j∈J
Aj ,
existe k ∈ J , tal que πk ϕ : A → Ak e um isomorfismo.
Teorema 0.1.21. [BS81] Uma algebra A e subdirectamente irredutıvel se e so se A e triv-
ial ou existe uma congruencia minima em ConA\∆A. No segundo caso, a congruencia
minima e⋂ConA\∆A.
Corolario 0.1.22. Seja A uma algebra subdirectamente irredutıvel e θj : j ∈ J ⊆ ConA
um conjunto congruencias de A tal que⋂j∈J θj = ∆A, entao ∆A = θk, para algum k ∈ J .
Seja L um reticulado completo, a ∈ L diz-se completamente ∧-irredutıvel se, para cada
C ⊆ L tal que a =∧C, entao a ∈ C.
Proposicao 0.1.23. Seja A uma algebra e θ ∈ ConA. Entao, A/θ e subdirectamente
irredutıvel se e so se θ e completamente ∧-irredutıvel em ConA.
0.1. ALGEBRAS, RETICULADOS E VARIEDADES 13
Teorema 0.1.24 (Birkhoff). [BS81] Toda a algebra A e isomorfa a um produto subdirecto
de algebras subdirectamente irredutıveis, que sao imagens homomorfas de A.
Corolario 0.1.25. Toda a algebra finita e isomorfa a um produto subdirecto de um numero
finito de algebras finitas subdirectamente irredutıveis, que sao suas imagens homomorfas.
Seja Alg(τ) a classe de todas as algebras do tipo τ . Definam-se os seguintes operadores
sobre classes de algebras do mesmo tipo. Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras, entao
A ∈ I(K) se e so se A e isomorfa a alguma algebra de K;
A ∈ S(K) se e so se A e uma subalgebra de alguma algebra de K;
A ∈ H(K) se e so se A e uma imagem homomorfa de alguma algebra de K;
A ∈ P(K) se e so se A e um produto directo de uma famılia nao vazia de algebras
de K;
A ∈ Pf (K) se e so se A e um produto directo de uma famılia finita nao vazia de
algebras de K.
Proposicao 0.1.26. [BS81] Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras do tipo τ . Tem-se
as seguintes inclusoes
SH(K) ⊆ HS(K), PS(K) ⊆ SP(K), PH(K) ⊆ HP(K).
Alem disso, os operadores H,S e IP sao idempotentes.
Definicao 0.1.27. Uma classe nao vazia de algebras K ⊆ Alg(τ), do tipo τ , diz-se uma
variedade se e fechada para subalgebras, imagens homomorfas e produtos directos, i.e.
S(K) ⊆ K, H(K) ⊆ K e P(K) ⊆ K.
Para uma classe de algebras K ⊆ Alg(τ), define-se V (K) como a menor variedade que
contem K e diz-se a variedade gerada por K. Seja L(τ) a classe de todas as variedades
do tipo τ , que mais a frente se verificara ser um conjunto.
Teorema 0.1.28 (Tarski). [BS81] Dada uma classe K ⊆ Alg(τ) de algebras do tipo τ .
Tem-se que V (K) = HSP(K).
Teorema 0.1.29. Seja K uma variedade de algebras do tipo τ . Entao, a variedade K e
gerada pela classe de todas as suas algebras subdirectamente irredutıveis.
14 CAPITULO 0. PRELIMINARES
0.2 Termos, identidades e algebras livres
Seja n > 1 um inteiro positivo e Xn = x1, . . . , xn um conjunto de elementos distintos
denominados variaveis. Seja Xω = x1, . . . , xn, . . . um conjunto infinito numeravel de
variaveis e X um qualquer dos anteriores conjuntos de variaveis.
Seja τ = (ni)i∈I um tipo de algebras e F = fi : i ∈ I um conjunto de sımbolos
operacionais do tipo τ , disjunto de Xω, tal que fi e um sımbolo operacional de aridade
ni > 1, para i ∈ I. Por questoes tecnicas, consideram-se tipos de algebras sem operacoes
nularias, ou seja, onde as operacoes nularias sao consideradas como operacoes unarias
constantes.
Os termos n-arios do tipo τ sao definidos indutivamente por:
(1) as variaveis x1, . . . , xn sao termos n-arios;
(2) se t1, . . . , tnisao termos n-arios, entao fi(t1, . . . , tni
) e um termo n-ario, para todo
i ∈ I.
Seja Tτ (Xn) o conjunto de todos os termos n-arios do tipo τ , ou seja, o menor conjunto
que contem as variaveis x1, . . . , xn e e fechado para finitas aplicacoes de (2).
De outro modo, definam-se os conjuntos
T (0)τ (Xn) = Xn e
T (k+1)τ (Xn) = T (k)
τ (Xn)⋃
fi(t1, . . . , tni) : i ∈ I e t1, . . . , tni
∈ T (k)τ (Xn),
para k > 1. Entao, o conjunto dos termos n-arios do tipo τ , ou termos do tipo τ sobre
Xn, e
Tτ (Xn) =⋃
k>0
T (k)τ (Xn).
Define-se o conjunto dos termos do tipo τ sobre Xω como
Tτ (Xω) =⋃
n>1
Tτ (Xn).
Para um termo t ∈ Tτ (Xω), escreve-se t(x1, . . . , xn) para indicar que as variaveis que
ocorrem no termo t estao entre x1, . . . , xn e portanto t ∈ Tτ (Xn) e um termo n-ario. Alem
0.2. TERMOS, IDENTIDADES E ALGEBRAS LIVRES 15
disso, sejam t1, . . . , tn ∈ Tτ (Xm) termos m-arios, entao t(t1, . . . , tn) representa o termo
m-ario que se obtem substituindo simultaneamente em t cada variavel xk pelo termo tk,
para todo k ∈ 1, . . . , n.
Seja A uma algebra do tipo τ . Cada termo t ∈ Tτ (Xn) define uma operacao tA em A
de aridade n, do seguinte modo:
(1) se t = xk, para 1 6 k 6 n, entao tA = xA
k = pk,n e a operacao k-projeccao n-aria;
(2) se t = fi(t1, . . . , tni), para i ∈ I, entao tA = fA
i (tA1 , . . . , tAni
).
Uma operacao tA de A, para um termo t ∈ Tτ (Xω), diz-se uma operacao termo da
algebra A. O conjunto CloA de todas as operacoes termo de A e um clone de operacoes
de A. Para n > 1, ClonA denota o clone das operacoes termo n-arias de A.
Para cada elemento a ∈ A, seja ca a operacao nularia constante igual a a. O clone
de operacoes de A, que contem todas as operacoes termo de A e o conjunto de operacoes
constantes ca : a ∈ A, diz-se o clone polinomial de A e denota-se PolA. Denota-se
PolnA o clone das operacoes polinomiais n-arias de A, para n > 0.
O resultado seguinte permite obter qualquer operacao polinomial a partir de uma
operacao termo.
Teorema 0.2.1. [MMT87] Seja A uma algebra do tipo τ . Se t(x1, . . . , xk, xk+1, . . . , xn)
e um termo n-ario do tipo τ e ak+1, . . . , an ∈ A entao
p(x1, . . . , xk) = tA(x1, . . . , xk, ak+1, . . . , an) (∗)
define uma operacao polinomial k-aria de A. Por outro lado, se p ∈ PolkA e uma
operacao polinomial k-aria de A, existe n > k, uma operacao termo n-aria tA ∈ ClonA e
ak+1, . . . , an ∈ A que satisfazem (∗).
Definicao 0.2.2. Seja τ um tipo de algebras e X um conjunto de variaveis. A algebra dos
termos do tipo τ sobre X, que se representa por Tτ (X), e a algebra com universo Tτ (X)
e com operacoes fundamentais definidas por
fTτ (X)i (t1, . . . , tni
) = fi(t1, . . . , tni),
para cada i ∈ I e todo t1, . . . , tni∈ Tτ (X).
16 CAPITULO 0. PRELIMINARES
As algebras de termos sao o exemplo mais simples de algebras com a seguinte proprie-
dade. Se K ⊆ Alg(τ) e uma classe de algebras do tipo τ e U(Y ) e uma algebra do tipo τ
gerada por Y . Diz-se que a algebra U(Y ) tem a propriedade universal para K sobre Y ,
se para cada algebra A ∈ K e cada aplicacao α : Y → A, existe um unico homomorfismo
α : U(Y ) → A que estende α, i.e. α(y) = α(y) para todo y ∈ Y . Neste caso, diz-se que Y
e um conjunto de geradores livres de U(Y ) e U(Y ) diz-se livremente gerada por Y .
Teorema 0.2.3. [BS81] Seja τ um tipo de algebras e X um conjunto de variaveis. Entao,
a algebra Tτ (X) tem a propriedade universal para a classe Alg(τ) sobre X.
A propriedade universal da algebra dos termos do tipo τ permite definir medidas de
complexidade dos termos, vejam-se alguns exemplos.
Exemplo 0.2.4. Os seguintes exemplos mostram a aplicacao da propriedade universal de
Tτ (X) na definicao de algumas conhecidas aplicacoes sobre termos.
1. Seja Tτ (X) a algebra dos termos dos tipo τ sobre X e N = 〈N ; (fN
i )i∈I〉 a algebra
do tipo τ , onde N = 0, 1, 2, . . . e o conjunto de todos os inteiros nao negativos e
fN
i (a1, . . . , an) = 1 +maxa1, . . . , ani,
para todo i ∈ I. Assim sendo, existe um unico homomorfismo hg : Tτ (X) → N, tal
que
hg(x) = 0, para todo x ∈ X e com
hg(fi(t1, . . . , tni) = 1 +maxhg(t1), . . . , hg(tni
),
para todo i ∈ I. A altura de um termo t ∈ Tτ (X) e definida como sendo hg(t).
2. Seja N = 〈N ; (fN
i )i∈I〉 a algebra do tipo τ , onde N = 0, 1, 2, . . . e o conjunto de
todos os inteiros nao negativos e
fN
i (a1, . . . , an) = 1 + a1 + · · · + ani,
para todo i ∈ I. Pelo propriedade universal de Tτ (X), existe um unico homomor-
fismo op : Tτ (X) → N tal que
op(x) = 0, para todo x ∈ X e com
op(fi(t1, . . . , tni) = 1 + op(t1) + · · · + op(tni
),
0.2. TERMOS, IDENTIDADES E ALGEBRAS LIVRES 17
para todo i ∈ I. A imagem op(t) da o numero de sımbolos operacionais que ocorrem
no termo t. Para termos t, t1, . . . , tn ∈ Tτ (X), prova-se por inducao estrutural que
op(t(t1, . . . , tn)) = op(t) + op(t1) + · · · op(tn).
Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras do tipo τ . Dado um conjunto de variaveis X,
define-se o conjunto
ΦK(X) := θ ∈ ConTτ (X) : Tτ (X)/θ ∈ IS(K)
e a congruencia θK(X) de Tτ (X) por θK(X) =⋂
ΦK(X). Entao, sendo X = [x]θK(X) :
x ∈ X, a algebra K-livre sobre X e a algebra FK(X) = Tτ (X)/θK(X).
Nota 0.2.5. Observe-se os seguintes factos.
1. Relativamente a congruencia definida anteriormente tem-se que
θK(X) :=⋂
ΦK(X) =⋂
Kerϕ : ϕ : Tτ (X) → A e um homomorfismo e A ∈ K.
2. Se K e uma classe de algebras nao trivial, entao |X| = |X|, ou seja, X e X tem o
mesmo numero de elementos.
3. Se |X| = |Y |, entao FK(X) ∼= FK(Y ).
Dado isto, para um inteiro n > 1, denota-se FnK a algebra K-livre gerada livremente
por um conjunto de n elementos.
Teorema 0.2.6. [BS81] Seja K uma classe de algebras do tipo τ e X um conjunto de
variaveis. Entao, a algebra FK(X) tem a propriedade universal para K sobre X.
Um dos resultados mais importantes em Algebra Universal, obtido por Birkhoff, afirma
que uma variedade e o mesmo que uma classe equacional de algebras.
Definicao 0.2.7. Seja τ um tipo de algebras e X um conjunto de variaveis. Uma equacao
do tipo τ sobre X e uma formula
t ≈ s,
onde t, s ∈ Tτ (X) sao termos do tipo τ sobre X. Seja EqX(τ) o conjunto de todas as
equacoes do tipo τ sobre X e por Eq(τ) denota-se o conjunto de todas as equacoes do tipo
τ , i.e. as equacoes do tipo τ sobre Xω.
Uma algebra A do tipo τ satisfaz a equacao t ≈ s se tA = sA. Neste caso, diz-se que
a equacao t ≈ s e uma identidade em A e escreve-se A |= t ≈ s.
18 CAPITULO 0. PRELIMINARES
Para uma classe de algebras K ⊆ Alg(τ), diz-se que a classe K satisfaz a equacao
t ≈ s se todas as algebras de K satisfazem t ≈ s e escreve-se K |= t ≈ s. Para um
conjunto de equacoes Σ ⊆ Eq(τ), escreve-se K |= Σ se a classe de algebras K satisfaz
todas as equacoes de Σ. Denota-se por Id(K) o conjunto de todas as identidades de K e
por IdX(K) = Id(K)⋂EqX(τ) o conjunto das identidades de K de entre as equacoes de
EqX(τ).
Nota 0.2.8. Observe-se os seguintes factos.
1. Dado um algebra A do tipo τ e uma equacao t ≈ s sobre X, tem-se que
A |= t ≈ s se e so se ϕ(t) = ϕ(s),
para todo o homomorfismo ϕ : Tτ (X) → A.
2. Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras do tipo τ e X um conjunto de variaveis.
Entao, tem-se que
IdX(K) = t ≈ s ∈ EqX(τ) : (t, s) ∈ θK(X).
Teorema 0.2.9. Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras do tipo τ e X um conjunto de
variaveis. Entao, as classes de algebras K, I(K), S(K), H(K), P(K) e V (K) satisfazem
as mesmas equacoes do tipo τ sobre X.
Teorema 0.2.10. Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras do tipo τ e t, s ∈ Tτ (Xn).
Entao,
K |= t ≈ s se e so se FnK |= t ≈ s se e so se (t, s) ∈ θK(Xn).
Seja Σ ⊆ Eq(τ) um conjunto de equacoes do tipo τ . Define-se Mod(Σ) como a classe
das algebras do tipo τ que satisfazem todas as equacoes de Σ. Neste caso, a classe de
algebras K = Mod(Σ) diz-se uma classe equacional e Σ diz-se uma base equacional de K.
Teorema 0.2.11 (Birkhoff). [BS81] Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras do tipo τ .
Entao K e uma variedade se e so se K e uma classe equacional. Em particular, se K e
uma variedade, entao K = Mod(Id(K)).
0.2. TERMOS, IDENTIDADES E ALGEBRAS LIVRES 19
A caracterizacao dos conjuntos de identidades de uma classe de algebras e feita us-
ando regras de inferencias e estabelecendo uma ligacao com as denominadas congruencias
completamente invariantes.
Definicao 0.2.12. Uma congruencia θ ∈ ConA de uma algebra A diz-se completamente
invariante se para todo o endomorfismo ϕ de A,
(a, b) ∈ θ ⇒ (ϕ(a), ϕ(b)) ∈ θ.
Seja ConfiA o conjunto de todas as congruencias completamente invariantes de A.
Proposicao 0.2.13. O conjunto das congruencias completamente invariantes de A forma
um subreticulado algebrico do reticulado das congruencias de A.
Para um conjunto de equacoes Σ ⊆ EqX(τ), define-se a relacao em Tτ (X)
Θ(Σ) = (t, s) ∈ Tτ (X) × Tτ (X) : t ≈ s ∈ Σ.
Proposicao 0.2.14. [BS81] Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras do tipo τ e X um
conjunto de variaveis. Entao, Θ(Id(K)) e uma congruencia completamente invariante de
Tτ (X).
Um conjunto de equacoes Σ ⊆ EqX(τ) diz-se uma teoria equacional sobre X, se existe
uma classe de algebras K ⊆ Alg(τ), tal que Σ = IdX(K). Denote-se E(τ) o conjunto de
todas as teorias equacionais do tipo τ sobre Xω.
Teorema 0.2.15. [BS81] Um conjunto de equacoes Σ ⊆ EqX(τ) e uma teoria equacional
se e so se Θ(Σ) e uma congruencia completamente invariante de Tτ (X).
Teorema 0.2.16. O conjunto das teorias equacionais sobre X forma um reticulado algebrico
que e isomorfo ao reticulado das congruencias completamente invariantes de Tτ (X).
Seja Σ ⊆ EqX(τ) um conjunto de equacoes e t ≈ s ∈ EqX(τ) uma equacao. Escreve-se
Σ |= t ≈ s se A |= Σ implica que A |= t ≈ s, para toda a algebra A ∈ Alg(τ). Escreve-se
Σ ⊢ t ≈ s se existe uma deducao formal da equacao t ≈ s, comecando com as equacoes de
Σ e usando as seguintes regras de inferencia:
20 CAPITULO 0. PRELIMINARES
(1) ⊢ t ≈ t;
(2) t ≈ s ⊢ s ≈ t;
(3) t ≈ s, s ≈ r ⊢ t ≈ r;
(4) tj ≈ sj : 1 6 j 6 ni ⊢ fi(t1, . . . , tni) ≈ fi(s1, . . . , sni
), para todo i ∈ I;
(5) sejam t′ e s′ os termos obtidos de t e s, substituindo todas as ocorrencias de uma
variavel x ∈ X pelo termo r, entao t ≈ s ⊢ t′ ≈ s′, para termos t, s, r ∈ Tτ (X) (regra
da substituicao).
O seguinte Teorema estabelece a correccao e adequacao do sistema dedutivo da logica
equacional.
Teorema 0.2.17 (Birkhoff). [BS81] Dado um conjunto Σ ⊆ EqX(τ) e t ≈ s ∈ EqX(τ),
entao
Σ |= t ≈ s se e so se Σ ⊢ t ≈ s.
Corolario 0.2.18. Seja Σ ⊆ Eq(τ) um conjunto de equacoes. Entao, Σ e uma teoria
equacional se e so se Σ e fechado para as regras de inferencia (1) − (5).
0.3 Pseudovariedades
Seja Algf (τ) a classe de todas as algebras finitas do tipo τ .
Definicao 0.3.1. Uma classe de algebras finitas K ⊆ Algf (τ) diz-se uma pseudovariedade
se e fechada para subalgebras, imagens homomorfas e produtos directos finitarios, i.e. se
S(K) ⊆ K, H(K) ⊆ K e Pf (K) ⊆ K.
Seja K uma variedade do tipo τ , entao a classe Kf de todos os elementos finitos de
K forma uma pseudovariedade do tipo τ . As pseudovariedades obtidas desta forma sao
definidas por equacoes e denominam-se pseudovariedades equacionais. No entanto, nem
todas as pseudovariedade surgem desta forma. Exemplos disso sao as pseudovariedades
do tipo (2) dos grupos, dos semigrupos aperiodicos ou dos semigrupos nilpotentes.
Para uma classe de algebras finitas K ⊆ Algf (τ), denota-se Vf (K) a menor pseudovar-
iedade do tipo τ que contem a classe K.
0.3. PSEUDOVARIEDADES 21
Proposicao 0.3.2. Seja K ⊆ Algf (τ) uma classe de algebras. Entao, Vf (K) = HSPf (K).
Proposicao 0.3.3. Seja K uma pseudovariedade do tipo τ e A ∈ Algf (τ) uma algebra
finita. Entao, A ∈ K se e so se existem algebras subdirectamente irredutıveis
A1, . . . ,Ak ∈ K, para k > 1, tal que
A A1 × · · · × Ak.
Seja L um reticulado, um conjunto F ⊆ L diz-se um filtro se
(i) a, b ∈ F entao a ∧ b ∈ F e
(ii) a ∈ F , b ∈ L e a 6 b entao b ∈ F .
Seja D ⊆ L um subconjunto. O filtro gerado por D, que se representa [D), e o conjunto
dos elementos a ∈ L, para os quais existem b1, . . . , bk ∈ D, tais que a > b1 ∧ . . . ∧ bk, para
k > 1, i.e. [D) = a ∈ L : ∃b1, . . . , bk ∈ D, a > b1 ∧ . . . ∧ bk.
Um filtro de equacoes do tipo τ e um filtro do reticulado 〈P(Eq(τ));⊆〉. O conjunto
FEq(τ) de todos os filtros de equacoes do tipo τ forma um reticulado completo.
Definicao 0.3.4. Seja A uma algebra do tipo τ . Diz-se que a algebra A ultimamente
satisfaz o filtro de equacoes Ω ∈ FEq(τ), se existe um conjunto Σ ∈ Ω, tal que A |= Σ,
i.e.
A |=u
Ω se e so se ∃Σ ∈ Ω tal que A |= Σ.
Teorema 0.3.5. [Alm94] Para cada filtro de equacoes Ω ∈ FEq(τ), a classe de algebras
que ultimamente satisfaz Ω e uma pseudovariedade do tipo τ . Reciprocamente, para toda
a pseudovariedade K, existe um filtro de equacoes Ω ∈ FEq(τ), para o qual K e a classe
de algebras finitas do tipo τ que ultimamente satisfaz Ω.
Seja Lps(τ) o conjunto de todas as pseudovariedades do tipo τ . A Proposicao anterior
estabelece uma correspondencia bijectiva entre as pseudovariedades do tipo τ e os filtros
de equacoes, o que permite concluir o seguinte resultado.
Corolario 0.3.6. Seja τ um tipo de algebras. Entao, Lps(τ) e um reticulado completo.
22 CAPITULO 0. PRELIMINARES
0.4 Operadores de fecho
SejaA um conjunto e P(A) o conjunto das partes deA. Uma aplicacao µ : P(A) → P(A)
diz-se um operador de fecho em A, se para todos os subconjuntos X e Y ⊆ A, valem as
seguintes propriedades:
(i) X ⊆ µ(X) (extensividade)
(ii) X ⊆ Y ⇒ µ(X) ⊆ µ(Y ) (monotonia)
(iii) µ(X) = µ(µ(X)) (idempotencia)
Os conjuntos X ⊆ A, tais que µ(X) = X designam-se por conjuntos fechados, ou
pontos fixos, do operador µ. Denota-se Hµ o conjunto de todos os pontos fixos de µ. A
definicao de operador de fecho aplica-se tambem a operadores sobre classes.
Sejam 〈L; 6〉 e 〈D; 6〉 conjuntos parcialmente ordenados. Uma aplicacao δ : L → D
diz-se
(1) isotona ou monotona se a 6 b implica δ(a) 6 δ(b);
(2) um isomorfismo de ordem se a 6 b se so se δ(a) 6 δ(b) e δ e bijectiva;
(3) anti-isomorfismo de ordem se a 6 b se e so se δ(b) 6 δ(a) e δ e bijectiva (neste caso
diz-se que L e D sao dualmente isomorfos);
para todo a, b ∈ L.
Proposicao 0.4.1. [BS81] Sejam L e D reticulados e δ : L → D uma aplicacao. As
seguintes condicoes sao equivalentes.
(i) δ : L → D e um isomorfismo de reticulados;
(ii) δ e uma bijeccao, com δ e δ−1 isotonas;
(iii) δ e um isomorfismo de ordem.
O seguinte Corolario sera bastante util.
Corolario 0.4.2. Sejam L e D reticulados. Se δ : L → D e δ′ : D → L sao aplicacoes
isotonas tais que δ δ′ = idD e δ′ δ = idL, i.e. mutuamente inversas. Entao, δ e δ′ sao
isomorfismos de ordem.
0.4. OPERADORES DE FECHO 23
De modo a caracterizar os pontos fixos de um operadores de fecho, define-se sistema
de fecho.
Definicao 0.4.3. Seja A um conjunto. Um subconjunto H ⊆ P(A) diz-se um sistema de
fecho de A se satisfaz as seguintes condicoes:
(i) A ∈ H,
(ii) ∩B ∈ H, para todo o subconjunto nao vazio B ⊆ H.
Um sistema de fecho H, com a relacao de ordem parcial inclusao de conjuntos, e um
conjunto parcialmente ordenado 〈H,⊆〉.
Seja A um conjunto. Para um qualquer sistema de fecho H ⊆ P(A), define-se o
operador
µH : P(A) → P(A)
em A, por
X 7→ µH(X) := ∩Y ∈ H : X ⊆ Y ,
para todo X ⊆ A.
O seguinte teorema explicita as estreita relacao entre sistemas de fecho e operadores
de fecho.
Teorema 0.4.4. [DW02] Seja H um sistema de fecho e µ um operador de fecho no
conjunto A. Entao para µH e Hµ valem as seguintes propriedades:
(1) µH e um operador de fecho em A e Hµ e um sistema de fecho em A.
(2) O subconjunto X ⊆ A pertence a Hµ se e so se µH(X) = X.
(3) µHµ = µ e HµH = H.
Proposicao 0.4.5. [DW02] Se µ : P(A) → P(A) e um operador de fecho no conjunto A,
entao Hµ e um reticulado completo, tal que para qualquer subconjunto Xi : i ∈ I ⊆ Hµ,
o ınfimo e supremo sao dados por
∧Xi : i ∈ I =
⋂
i∈I
Xi, e∨
Xi : i ∈ I = µ(⋃
i∈I
Xi ), respectivamente.
24 CAPITULO 0. PRELIMINARES
No caso de operadores de fecho sobre classes e necessario outras propriedades para
garantir que os seus pontos fixos formam um conjunto e consequentemente um reticulado
completo.
Exemplo 0.4.6. Seja τ um tipo de algebras e A ∈ Alg(τ).
1. O operador SgA : P(A) → P(A), tal que para cada B ⊆ A, SgA(B) e o subuniverso
gerado por B em A e um operador de fecho em A. Os pontos fixos de SgA sao os
subuniversos de A e portanto 〈SubA;⊆〉 e um reticulado completo.
2. O operador CgA : P(A × A) → P(A × A), tal que para cada C ⊆ A × A, CgA(C)
e a congruencia de A gerada por C, e um operador de fecho em A. Os seus pontos
fixos sao as congruencias de A e portanto 〈ConA;⊆〉 e um reticulado completo.
3. O conjunto L(τ) de todas as variedades do tipo τ forma um reticulado completo.
Considere-se o operador V ( ), em Alg(τ), que a cada classe de algebras K ⊆ Alg(τ)
faz corresponder V (K) a variedade do tipo τ gerada por K (i.e. a menor variedade
que contem K). Verifica-se que V ( ) e um operador de fecho em Alg(τ) e que o
conjunto dos seus pontos fixos e exactamente o conjunto de todas as variedades do
tipo τ .
De modo analogo, os pontos fixos do operador de fecho Vf ( ), em Algf (τ), sao
exactamente as pseudovariedades do tipo τ . Dado isto, a Proposicao anterior, da o
modo de calcular o ınfimo e supremo de qualquer conjunto de variedades ou pseu-
dovariedades.
0.5 Conexoes de Galois
Sejam A e B conjuntos e sejam P(A) e P(B), respectivamente, os seus conjuntos das
partes. Uma conexao de Galois entre os conjuntos A e B e um par de aplicacoes (γ, ρ),
com γ : P(A) −→ P(B) e ρ : P(B) −→ P(A), que satisfazem as seguintes condicoes:
(1) X ⊆ X ′ ⇒ γ(X) ⊇ γ(X ′) e Y ⊆ Y ′ ⇒ ρ(Y ) ⊇ ρ(Y ′);
(2) X ⊆ ρ γ(X) e Y ⊆ γ ρ(Y ),
para todo X,X ′ ⊆ A e Y, Y ′ ⊆ B.
Denote-se a composicao de operadores γ ρ, simplesmente por γρ.
0.5. CONEXOES DE GALOIS 25
Proposicao 0.5.1. [DW02] Seja (γ, ρ) uma conexao de Galois, entre os conjuntos A e B
entao
i) os operadores ργ e γρ sao operadores de fecho em A e B, respectivamente;
ii) os conjuntos fechados para o operador ργ sao os conjuntos da forma ρ(Y ), para
Y ⊆ B;
iii) os conjuntos fechados para o operador γρ sao os conjuntos da forma γ(X), para
X ⊆ A;
iv) os sistemas de fecho Hγρ e Hργ formam reticulados completos dualmente isomorfos,
com respeito a inclusao de conjuntos.
Se na definicao de conexao de Galois se permitir que A seja uma classe, o Teorema
anterior permanece valido. As conexoes de Galois, entre conjuntos A e B, surgem a partir
de relacoes R ⊆ A×B e vice-versa, como se afirma na Proposicao seguinte.
Proposicao 0.5.2. [DEW04] Seja R ⊆ A × B uma qualquer relacao entre os conjuntos
A e B. Entao, o par de aplicacoes (γR, ρR) definidas em P(A) e P(B), respectivamente,
do seguinte modo
γR(X) = y ∈ B : ∀x ∈ X, (x, y) ∈ R
e
ρR(Y ) = x ∈ A : ∀y ∈ Y, (x, y) ∈ R,
para todo X ⊆ A e Y ⊆ B, e uma conexao de Galois entre A e B. Diz-se que (γR, ρR) e
a conexao de Galois definida por R.
Reciprocamente, para uma conexao de Galois (γ, ρ), entre os conjuntos A e B, a relacao
que define esta conexao de Galois e dada por
R(γ,ρ) :=⋃
X × γ(X) : X ⊆ A.
ou seja, (γR(γ,ρ), ρR(γ,ρ)
) = (γ, ρ).
Exemplo 0.5.3. Vejam-se algum exemplos vindos da Algebra Universal.
26 CAPITULO 0. PRELIMINARES
1. Um caso importante de uma conexao de Galois e (Id,Mod), entre o conjunto das
equacoes do tipo τ e a classe de todas as algebras do tipo τ . Considere-se a relacao
satisfazer uma equacao R|= ⊆ Alg(τ) × Eq(τ), onde
(A, t ≈ s) ∈ R|= se e so se A |= t ≈ s,
para qualquer algebra A ∈ Alg(τ) e equacao t ≈ s ∈ Eq(τ).
Deste modo, facilmente se observa que R|= define a conexao de Galois (Id,Mod),
pois
Mod(Σ) = A ∈ Alg(τ) : ∀t ≈ s ∈ Σ,A |= t ≈ s e
Id(K) = t ≈ s ∈ Eq(τ) : ∀A ∈ Alg(τ),A |= t ≈ s,
para K ⊆ Alg(τ) e Σ ⊆ Eq(τ).
Logo, os operadores ModId e IdMod sao operadores de fecho e os seus pontos fixos
sao, respectivamente, as variedades e as teorias equacionais do tipo τ . Assim sendo,
os conjuntos L(τ) e E(τ) formam reticulados completos dualmente isomorfos.
2. Outra conexao de Galois importante surge da relacao de ultimamente satisfaz um
filtro de equacoes. Seja R|=u
⊆ Algf (τ) × FEq(τ) a relacao definida por
(A,Ω) ∈ R|=u
se e so se A |=u
Ω,
para qualquer algebra A ∈ Algf (τ) e filtro de equacao Ω ∈ FEq(τ). Pelo observado
acima, a relacao R|=u
define a conexao de Galois dada pelos operadores
FMod(F) := A ∈ Algf (τ) : ∀Ω ∈ F , A |=u
Ω e
FId(K) := Ω ∈ FEq(τ) : ∀A ∈ K, A |=u
Ω,
para K ⊆ Algf (τ) e F ⊆ FEq(τ).
Logo, os pontos fixos dos operadores de fecho FModFId e FIdFMod formam retic-
ulados completos dualmente isomorfos. Para um conjunto de filtros de equacoes
F ⊆ FEq(τ) tem-se que
FMod(F) =⋂
Ω∈F
FMod(Ω),
0.6. SUBRELACOES GALOIS-FECHADAS 27
e um ponto fixo de FModFId, onde cada classe FMod(Ω) e a uma pseudovariedade
do tipo τ . O conjunto Lps(τ) de todas as pseudovariedades do tipo τ forma um
reticulado completo e portanto FMod(F) e tambem uma pseudovariedade do tipo
τ . Por outro lado, facilmente se observa que qualquer pseudovariedade do tipo τ e
um ponto fixo de FModFId e portanto os pontos fixos do operador FModFId sao
exactamente as pseudovariedades do tipo τ .
0.6 Subrelacoes Galois-fechadas
Nestas duas ultimas seccoes deste capıtulo, apresentam-se caracterizacoes de todos
os subreticulados completos dos reticulados completos associados a uma conexao de Ga-
lois. Pelo facto de os reticulados completos associados a uma conexao de Galois serem
dualmente isomorfos, a cada subreticulado completo de um corresponde um subreticu-
lado completo do outro e portanto os subreticulados completos vem aos pares. Na seccao
0.6 mostrar-se-a que a cada par de subreticulados esta associada uma conexao de Ga-
lois, definida por uma subrelacao da relacao original. Na seccao 0.7 estudar-se-a um caso
especial destas subrelacoes que surgem a partir de pares de operadores de fecho.
Exemplos da aplicacao destes resultados nao sao apresentados aqui, ja que no capıtulo
seguinte aplicar-se-a esta teoria ao reticulado completo das variedades e ao reticulado
completo das pseudovariedades.
Estes resultados surgem originalmente no contexto da Analise Conceptual em [GW96]
e surgem inicialmente na forma como sao aqui apresentados em [Den99]. Os resultados
que se seguem nao sao propriamente resultados basicos. Apesar disso, serao aqui enun-
ciados sem se apresentar as suas demonstracoes. O facto de ja terem sido amplamente
divulgados em varias publicacoes e livros, com tambem, o elevado grau de tecnicidade das
demonstracoes, esteve na base desta opcao. Os resultados apresentados seguem [Den98],
[DW02] e [Arw01].
No que se segue, sejam A e B conjuntos nao vazios e R uma relacao binaria entre A e
B. A relacao R induz a conexao de Galois (γ, ρ) a partir da qual se obtem os reticulados
completos Hργ e Hγρ dos pontos fixos em A e em B dos operadores de fecho ργ e γρ,
respectivamente. Considera-se uma subrelacao R′ da relacao original R, a partir da qual
se obtem uma nova conexao de Galois e dois novos reticulados completos. Apresenta-se
uma propriedade da relacao R′ que e suficiente para garantir que os novos reticulados
completos sao subreticulados completos dos reticulados originais. Mostrar-se-a que todos
28 CAPITULO 0. PRELIMINARES
os subreticulados completos surgem desta forma.
A definicao seguinte estabelece a propriedade que caracteriza as subrelacoes pretendi-
das.
Definicao 0.6.1. Seja R ⊆ A×B uma relacao entre A e B e (γ, ρ) a conexao de Galois
definida por R. Seja R′ ⊆ R e (γ′, ρ′) a correspondente conexao de Galois. Diz-se que
R′ e uma subrelacao Galois-fechada de R, se para X ⊆ A e Y ⊆ B, com γ′(X) = Y e
ρ′(Y ) = X entao γ(X) = Y e ρ(Y ) = X.
Caracterizacoes alternativas de subrelacoes Galois-fechadas sao dadas pela proposicao
seguinte.
Proposicao 0.6.2. [DW02] Sejam R,R′ ⊆ A × B relacoes entre A e B, com (γ, ρ) e
(γ′, ρ′) as conexoes de Galois definidas por R e R′, respectivamente. Se R′ ⊆ R, entao as
seguintes propriedades sao equivalentes:
(i) R′ e uma subrelacao Galois-fechada de R;
(ii) ρ′γ′(X) = X ⇒ γ′(X) = γ(X) e γ′ρ′(Y ) = Y ⇒ ρ′(Y ) = ρ(Y );
(iii) γ′ρ′(Y ) = γρ′(Y ) e ρ′γ′(X) = ργ′(X);
para todo X ⊆ A e Y ⊆ B.
O Teorema seguinte e o resultado principal que estabelece a bijeccao entre as sub-
relacoes Galois-fechadas e os subreticulados completos de Hργ e Hγρ. Neste Teorema
prova-se que a qualquer subrelacao Galois-fechada R′ corresponde um subreticulado com-
pleto de Hργ de subconjuntos de A. Reciprocamente, prova-se que qualquer subreticu-
lado completo de Hργ e induzido por uma subrelacao Galois-fechada de R e que estas
correspondencias sao bijectivas. Pelo processo analogo, encontram-se os subreticulados
completos de Hγρ.
Teorema 0.6.3. [DW02, Arw01] Seja R ⊆ A × B uma relacao e (γ, ρ) a conexao de
Galois definida por R. Se R′ ⊆ R e uma subrelacao Galois-fechada de R e (γ′, ρ′) e a
conexao de Galois definida por R′. Entao, o conjunto UR′ := Hρ′γ′ e um subreticulado
completo de Hργ.
0.7. PARES CONJUGADOS DE OPERADORES DE FECHO 29
Reciprocamente, se U e um subreticulado completo de Hργ, entao a relacao
RU :=⋃
Z × γ(Z) : Z ∈ U
e uma subrelacao Galois-fechada de R. Ainda, URU= U e RUR′ = R′.
O seguinte resultado mostra o modo como se relacionam as varias subrelacoes Galois-
fechadas.
Proposicao 0.6.4. Sejam R′, R′′ ⊆ R subrelacoes Galois-fechadas de R. Se R′′ ⊆ R′,
entao R′′ e uma subrelacao Galois-fechada de R′.
0.7 Pares conjugados de operadores de fecho
Apresenta-se um modo de obter subreticulados completos de Hργ e de Hγρ a partir de
subrelacoes de Galois-fechadas induzidas por pares de operadores de fecho introduzidos
em [DR95]. Os resultados apresentados seguem [DR95], [Den98] e [DW02].
Definicao 0.7.1. Seja µ : P(A) → P(A) um operador em A. O operador µ diz-se aditivo
se, para todo B ⊆ A, satisfaz
µ(B) =⋃
b∈B
µ(b).
Note-se que por µ(b), entende-se µ(b).
Definicao 0.7.2. Seja µ um operador em A e ν um operador em B. Seja R ⊆ A×B uma
relacao entre os conjuntos A e B. Os operadores µ e ν dizem-se conjugados, com respeito
a R, se para todo a ∈ A e b ∈ B
µ(a) × b ∈ R se e so se a × ν(b) ∈ R.
Claramente, se (µ, ν) e um par de operadores aditivos em A e B, respectivamente,
conjugados com respeito a relacao R ⊆ A × B, entao, para todo X ⊆ A e Y ⊆ B,
verifica-se
X × ν(B) ⊆ R se e so se µ(X) × Y ⊆ R.
30 CAPITULO 0. PRELIMINARES
Nota 0.7.3. Se (γ, ρ) e a conexao de Galois definida por uma relacao R ⊆ A × B, entao
(γρ, ργ) e um par de operadores de fecho conjugados, com respeito a R, nao necessaria-
mente aditivos.
Seja (µ1, µ2) um par de operadores em A e B, respectivamente. Definam-se as relacoes
Rµ1 := (a, b) ∈ A×B : µ1(a) × b ⊆ R
e
Rµ2 := (a, b) ∈ A×B : a × µ2(b) ⊆ R.
Se (µ1, µ2) e um par de operadores conjugados, com respeito a R, entao µ1(a)×b ⊆ R
se e so se a × µ2(b) ⊆ R e portanto Rµ1 = Rµ2 .
Definicao 0.7.4. Seja µ := (µ1, µ2) um par conjugado de operadores, com respeito a
relacao R ⊆ A×B. Seja Rµ a relacao entre A e B definida por
Rµ := Rµ1 = Rµ2 .
Seja (γ, ρ) a conexao de Galois definida pela relacao R e (γµ, ρµ) a conexao de Galois
definida pela relacao Rµ.
Verificam-se as seguintes propriedades relacionadas com as conexoes de Galois (γµ, ρµ)
e (γ, ρ).
Proposicao 0.7.5. [DR95, DW02] Seja µ := (µ1, µ2) um par conjugado de operadores de
fecho aditivos, com respeito a relacao R ⊆ A × B. Entao, para todo X ⊆ A e Y ⊆ B,
valem as seguintes propriedades:
(1) γµ(X) = γµ1(X), (1’) ρµ(Y ) = ρµ2(Y );
(2) γµ(X) ⊆ γ(X), (2’) ρµ(Y ) ⊆ ρ(Y );
(3) µ2γµ(X) = γµ(X), (3’) µ1ρµ(Y ) = ρµ(Y );
(4) µ1ργµ(X) = ργµ(X), (4’) µ2γρµ(Y ) = γρµ(Y );
(5) γµρµ(Y ) = γρµ2(Y ), (5’) ρµγµ(X) = ργµ1(X).
O teorema seguinte e o principal resultado relativamente aos pares conjugados de
operadores de fecho. Prova que para os pontos fixos da conexao de Galois original, o facto
de serem pontos fixos dos novos operadores e equivalente a outras tres condicoes.
0.7. PARES CONJUGADOS DE OPERADORES DE FECHO 31
Teorema 0.7.6. [DR95, DW02] Seja µ := (µ1, µ2) um par conjugado de operadores de
fecho aditivos, com respeito a relacao R ⊆ A×B. Seja (γ, ρ) a conexao de Galois definida
por R. Entao, para todo o X ⊆ A e Y ⊆ B, tal que ργ(X) = X e γρ(Y ) = Y , as pro-
priedades (i) − (iv) sao equivalentes, dualmente sao tambem equivalentes as propriedades
(i′) − (iv′):
(i) ρµγµ(X) = X (i’) γµρµ(Y ) = Y
(ii) µ1(X) = X (ii’) µ2(Y ) = Y
(iii) γ(X) = γµ(X) (iii’) ρ(Y ) = ρµ(Y )
(iv) µ2γ(X) = γ(X) (iv’) µ1ρ(Y ) = ρ(Y )
A equivalencia das condicoes (i) e (ii), dualmente (i′) e (ii′), no Teorema anterior
traduz-se no facto que para os pontos fixos dos operadores fecho da conexao de Galois
original, ser ponto fixo dos operadores conjugados e equivalente a serem pontos fixos dos
operadores da conexao de Galois induzida por Rµ.
No Teorema seguinte prova-se de facto que Rµ e uma subrelacao Galois-fechada de R.
Teorema 0.7.7. [Den98] Seja µ := (µ1, µ2) um par conjugado de operadores de fecho
aditivos, com respeito a R. Entao Rµ e uma subrelacao Galois-fechada de R.
Aplicando o Teorema 0.6.3 a subrelacao Rµ conclui-se o seguinte resultado.
Corolario 0.7.8. [DW02] Seja µ := (µ1, µ2) um par conjugado de operadores de fecho
aditivos, com respeito a relacao R ⊆ A×B. Seja (γ, ρ) a conexao de Galois definida por R.
Entao, Hγµρµ e Hρµγµ sao subreticulados completos de Hγρ e Hργ, respectivamente. Com
Uµ1 := Hρµγµ = Hµ1 ∩Hγρ e Uµ2 := Hγµρµ = Hµ2 ∩Hργ.
Sejam µ := (µ1, µ2) e ν := (ν1, ν2) pares conjugados de operadores de fecho, com re-
speito a relacao R ⊆ A×B. Define-se uma ordem entre os pares conjugados de operadores
de fecho, com respeito a uma mesma relacao, do seguinte modo
µ ν se e so se µ1(X) ⊆ ν1(X) e µ2(Y ) ⊆ ν2(Y ),
para todo X ⊆ A e Y ⊆ B.
Proposicao 0.7.9. [DW02] Sejam µ := (µ1, µ2) e ν := (ν1, ν2) pares conjugado de op-
eradores de fecho, com respeito a relacao R ⊆ A × B, tal que µ ν. Entao, Uν1 e um
subreticulado completo de Uµ1 e Uν2 e um subreticulado completo de Uµ2. Como tambem,
a relacao Rν e uma subrelacao Galois-fechada de Rµ.
32 CAPITULO 0. PRELIMINARES
No proximo capıtulo, usar-se-ao estas ferramentas para encontrar alguns dos subretic-
ulados completos do reticulado das variedades e do reticulado das pseudovariedades.
Capıtulo 1
Variedades M-solidas de algebras
O objectivo deste capıtulo e obter alguns dos subreticulados completos, dos reticulados
L(τ) e Lps(τ), usando a nocao de hiperidentidade. Para definir de modo mais rigoroso
hiperidentidade, na seccao 1.1, define-se hipersubstituicao e prova-se que as hipersubsti-
tuicoes constituem um monoide. Usando a nocao de hipersubstituicao, descreve-se a con-
strucao de algebras derivadas e relaciona-se esta construcao algebrica com outras. Alguns
subconjuntos de hipersubstituicoes, que formam submonoides, sao apresentados na seccao
1.2. Na seccao 1.3, define-se hiperidentidade e da-se uma caracterizacao tipo-Birkhoff das
classes hiperequacionais. A partir dos resultados da seccao 0.7 e usando submonoides de
hipersubstituicoes, descreve-se o modo de obter subreticulados completos de L(τ). Nas
seccoes 1.4 e 1.5, apresenta-se a caracterizacao das teorias hiperequacionais em termos
de congruencias e tambem atraves de regras de inferencia. Por ultimo, na seccao 1.6,
aplicando agora os resultados da seccao 0.6, descreve-se o modo de obter subreticulados
completos de Lps(τ).
1.1 Hipersubstituicoes
A nocao de hipersubstituicao aparece ja de forma intuitiva em [GS90], sendo in-
troduzida em [DLPS91]. A sua utilizacao na definicao das hiperidentidades, ate entao
definidas intuitivamente, tem como objectivo expressar a substituicao das operacoes fun-
damentais por termos da mesma aridade. Um nocao central nesta teoria e a de algebra
derivada. Dada uma algebra, utilizando uma hipersubstituicao e possıvel definir uma
nova algebra, com o mesmo universo e onde as operacoes fundamentais sao substituıdas
por operacoes termo da algebra inicial. Os resultados seguintes seguem [DLPS91], [DR95]
33
34 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
e [Sch98].
Definicao 1.1.1. Seja fi : i ∈ I o conjunto dos sımbolos operacionais do tipo τ . Uma
hipersubstituicao do tipo τ e uma aplicacao σ : fi : i ∈ I → Tτ (Xω) que preserva
aridades, ou seja, o sımbolo operacional fi de aridade ni e aplicado no termo σ(fi) de
aridade ni, para todo i ∈ I.
Pode-se entender um hipersubstituicao como um aplicacao dos termos fundamentais
fi(x1, . . . , xni), para i ∈ I, em Tτ (Xω). Portanto, devido a estrutura indutiva de Tτ (X),
cada hipersubstituicao induz uma aplicacao σ : Tτ (X) → Tτ (X), tal que para t ∈ Tτ (X),
a imagem σ[t] e definida do seguinte modo:
(1) σ[x] := x, para todo o x ∈ X;
(2) σ[fi(t1, . . . , tni)] := σ(fi)(σ[t1], . . . , σ[tni
]), para t = fi(t1, . . . , tni), com i ∈ I.
Em que o lado direito da expressao (2) e interpretado como a sobreposicao do termo
σ(fi) com os termos σ[t1], . . . , σ[tni]. Pela definicao de extensao de uma hipersubstituicao,
conclui-se que σ[fi(xi, . . . , xni)] = σ(fi). Por inducao estrutural nos termos, conclui-se
facilmente que σ[t(t1, . . . , tn)] = σ[t](σ[t1], . . . , σ[tn]), para t ∈ Tτ (Xn) e t1, . . . , tn ∈ Tτ (X).
Seja Hyp(τ) o conjunto de todas as hipersubstituicoes do tipo τ . Defina-se a multi-
plicacao h em Hyp(τ), da seguinte forma
σ1, σ2 ∈ Hyp(τ) σ1 h σ2 := σ1 σ2,
onde denota a composicao usual de aplicacoes e onde σ1 σ2 e a hipersubstituicao
que aplica o sımbolo fi no termo σ1[σ2(fi)], para todo i ∈ I. Seja σid a denominada
hipersubstituicao identidade , que aplica o sımbolo fi no termo fundamental correspondente
fi(xi, . . . , xni), para todo i ∈ I.
Proposicao 1.1.2. [DR95] Seja τ um tipo de algebras. Valem as seguintes propriedades:
(i) Para quaisquer hipersubstituicoes σ1 e σ2 do tipo τ , tem-se
(σ1 h σ2) = (σ1 σ2) = σ1 σ2;
(ii) a operacao binaria h e associativa;
(iii) Hypτ = 〈Hyp(τ); h, σid〉 e um monoide.
1.1. HIPERSUBSTITUICOES 35
Demonstracao: (i) Prova-se por inducao estrutural nos termos. Seja t ∈ Tτ (Xn) um
termo n-ario, para n > 1. Se t = xi, para 1 6 i 6 n, entao (σ1 h σ2) [xi] = (σ1 σ2) [xi] =
σ1 σ2[xi], pela definicao de extensao de uma hipersubstituicao. Seja t = fi(t1, . . . , tni)
e por hipotese de inducao (σ1 h σ2) [tj ] = (σ1 σ2) [tj ] = σ1 σ2[tj ], para todo 1 6
j 6 ni. Entao, (σ1 h σ2) [t] = (σ1 h σ2)(fi)((σ1 h σ2) [t1], . . . , (σ1 h σ2) [tni]) = (σ1
σ2(fi))((σ1 σ2) [t1], . . . , (σ1 σ2) [tni]) = (σ1 σ2) [t]. Do mesmo modo, (σ1 σ2) [t] =
(σ1σ2)(fi)((σ1σ2) [t1], . . . , (σ1σ2) [tni]) = (σ1σ2(fi))((σ1σ2)[t1], . . . , (σ1σ2)[tni
]) =
σ1[σ2(fi)(σ2[t1], . . . , σ2[tni])] = σ1 σ2[t]. Portanto, (σ1 hσ2) [t] = (σ1 σ2) [t] = σ1 σ2[t],
para todo t ∈ Tτ (Xn).
(ii) Sejam σ1, σ2 e σ3 ∈ Hyp(τ) hipersubstituicoes do tipo τ . Entao, σ1 h (σ2 h σ3) =
σ1 (σ2 σ3) = (σ1 σ2) σ3 = (σ1 σ2) σ3 = (σ1 h σ2) h σ3, usando o facto de ser
associativa e as igualdades de (i).
(iii) Seja σ ∈ Hyp(τ), entao σhσid = σσid = σ e σidhσ = σidσ = σ, simplesmente
pela definicao de h. Portanto, como a operacao h e associativa, por (ii), e como σid se
comporta como elemento neutro, conclui-se que 〈Hyp(τ); h, σid〉 e um monoide.
Usando as hipersubstituicoes, define-se a seguinte construcao algebrica.
Definicao 1.1.3. Seja A uma algebra e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao do mesmo
tipo τ . A algebra σ[A] := 〈A; (σ(fi)A)i∈I〉 e uma algebra do tipo τ , denominada algebra
derivada de A pela hipersubstituicao σ. A algebra σ[A] diz-se uma algebra M -derivada
de A se σ ∈M , para M ⊆ Hyp(τ).
Exemplo 1.1.4. Seja Z3 = 〈0, 1, 2; +〉 o grupo cıclico de ordem 3, onde + denota a adicao
modulo 3.
Como a operacao + e associativa e comutativa, logo Z3 pertence a variedade de todos
os semigrupos comutativos. Para t ∈ T(2)
(X2), seja σt ∈ Hyp(2) a hipersubstituicao que
aplica o sımbolo operacional binario f no termo t e σt[Z3] = 〈1, 2, 3; tZ3〉 a algebra
derivada de Z3, pelo hipersubstituicao σt. Se t = f(x, f(y, y)), entao tZ3(a, b) = a + 2b,
para todo a, b ∈ Z3. Mas como tZ3(0, tZ3(1, 2)) = tZ3(0, 2) = 2 e tZ3(tZ3(0, 1), 2) =
tZ3(2, 2) = 0, conclui-se que tZ3 nao e associativa. Portanto, σt[Z3] nao e um semigrupo
e portanto nao pertence a variedade dos semigrupos comutativos. Contudo, se t(x, y) =
f(y, x), entao σt[Z3] = Z3, devido ao facto de + ser comutativa.
36 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Lema 1.1.5. [Sch98] Sejam A e B algebras do tipo τ e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao.
Cada homomorfismo (resp. isomorfismo) ϕ : A → B e tambem um homomorfismo (resp.
isomorfismo) ϕ : σ[A] → σ[B], entre as algebras derivadas σ[A] e σ[B].
Demonstracao: Pelo facto de ϕ : A → B ser um homomorfismo e por inducao estrutural
nos termos, prova-se que, para todo t ∈ Tτ (Xω), ϕ(tAi (a1, . . . , ani)) = tBi (ϕ(a1), . . . , ϕ(ani
)),
para todo a1, . . . , ani∈ A. Em particular, ϕ(σ(fi)
A
i (a1, . . . , ani)) = σ(fi)
B
i (ϕ(a1), . . . , ϕ(ani)),
para todo i ∈ I e a1, . . . , ani∈ A. Portanto, tem-se o homomorfismo ϕ : σ[A] → σ[B].
Corolario 1.1.6. [Sch98] Seja A uma algebra do tipo τ e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubsti-
tuicao. Entao, ConA e um inf-subsemirreticulado de Conσ[A].
Demonstracao: Pelo Lema anterior, conclui-se que ConA ⊆ Conσ[A], para qualquer
σ ∈ Hyp(τ). Pelo facto de o ınfimos de ConA e Conσ[A] coincidirem com a interseccao
das relacoes, conclui-se que ConA e um inf-subsemirreticulado de Conσ[A].
O Lema seguinte descreve o modo como as algebras derivadas se relacionam com out-
ras construcoes algebricas, nomeadamente imagens homomorfas, subalgebras e produtos
directos.
Lema 1.1.7. [Sch98] Sejam A e B algebras do tipo τ e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao.
Valem as seguintes propriedades:
(i) para toda a congruencia θ ∈ ConA, vem σ[A/θ] = σ[A]/θ;
(ii) se B e uma subalgebra de A entao σ[B] e uma subalgebra de σ[A] e SubA e um
inf-subsemirreticulado de Sub σ[A];
(iii) seja Ajj∈J uma famılia de algebras, entao σ[∏j∈J Aj ] =
∏j∈J σ[Aj ].
Demonstracao: (i) Seja A uma algebra do tipo τ e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao.
Seja θ ∈ ConA uma congruencia de A. Entao, pelo Lema 1.1.6, vem que θ ∈ Conσ[A] e
portanto existe a algebra quociente σ[A]/θ. Ambas as algebras, σ[A/θ] e σ[A]/θ, tem como
1.1. HIPERSUBSTITUICOES 37
universo as θ-classes do conjunto A. Para que σ[A/θ] = σ[A]/θ e necessario, tambem, que
as operacoes de ambas as algebras coincidam. Tem-se que
fσ[A/θ]i ([a1]θ, . . . , [ani
]θ) = [σ(fi)A(a1, . . . , ani
)]θ =
= [fσ[A]i (a1, . . . , ani
)]θ = fσ[A]/θi ([a1]θ, . . . , [ani
]θ),
para todo [a1]θ, . . . , [ani]θ ∈ A/θ e i ∈ I. Portanto, σ[A/θ] = σ[A]/θ.
(ii) Sejam A e B algebras do tipo τ , tal que B e uma subalgebra de A. Seja σ ∈ Hyp(τ)
uma hipersubstituicao. Claramente, o universo de σ[B] e um subuniverso nao vazio de
σ[A]. Para que σ[B] seja uma subalgebra de σ[A] e necessario que fσ[B]i = f
σ[A]i|B
, para
todo i ∈ I. Tem-se que fσ[B]i (b1, . . . , bni
) = σ(fi)B(b1, . . . , bni
) = σ(fi)A(b1, . . . , bni
) =
fσ[A]i (b1, . . . , bni
), para todo b1, . . . , bni∈ B e i ∈ I. Portanto, σ[B] ∈ Sub σ[A]. Deste
modo, prova-se que SubA ⊆ Sub σ[A] e pelo facto de os ınfimos dos reticulados SubA e
Sub σ[A] coincidirem, conclui-se SubA e um inf-subsemirreticulado de Sub σ[A].
(iii) Seja Ajj∈J uma famılia de algebras do tipo τ e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersub-
stituicao. Tanto a algebra P = σ[∏j∈J Aj ] como a algebra P′ =
∏j∈J σ[Aj ], tem como
universo o produto cartesiano∏j∈J Aj . E necessario provar que as operacoes fundamen-
tais, de ambas as algebras, tambem coincidem. Tem-se que
fP
i (a1, . . . , ani) = σ(fi)
Q
j∈J Aj (a1, . . . , ani) = (σ(fi)
Aj (a1,j , . . . , ani,j))j∈J =
= (fσ[Aj ]i (a1,j , . . . , ani,j))j∈J = f
Q
j∈J σ[Aj ]
i (a1, . . . , ani) = fP
′
i (a1, . . . , ani),
para todo a1, . . . , ani∈
∏j∈J Aj e i ∈ I. Consequentemente, σ[
∏j∈J Aj ] =
∏j∈K σ[Aj ].
Relacionando a propriedade universal de Tτ (X) com as algebras derivadas, estabelece-
se a seguinte propriedade.
Lema 1.1.8. [DLPS91] Seja A uma algebra do tipo τ e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao.
Para todo o homomorfismo ϕ : Tτ (X) → A, vem que ψ = ϕ σ e o unico homomorfismo
ψ : Tτ (X) → σ[A], tal que ϕ(x) = ψ(x), para todo x ∈ X. Reciprocamente, para todo o
homomorfismo ψ : Tτ (X) → σ[A], vem que ψ = ϕ σ, onde ϕ : Tτ (X) → A e o unico
homomorfismo tal que ϕ(x) = ψ(x), para todo x ∈ X.
38 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Demonstracao: Seja A uma algebra do tipo τ , σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao e
ϕ : Tτ (X) → A um homomorfismo. Seja σ : Tτ (X) → Tτ (X) a aplicacao que estende a
hipersubstituicao σ ao conjunto de todos os termos do tipo τ , sobre X. Como
σ(fTτ (Xn)i (t1, . . . , tni
)) = σ(fi)Tτ (Xn)(σ[t1], . . . , σ[tni
]) ∈ Tτ (X),
para todo t1, . . . , tni∈ Tτ (X) e i ∈ I, entao σ e um homomorfismo entre as algebras
Tτ (X) e σ[Tτ (X)]. Pelo Lema 1.1.5, temos o homomorfismo ϕ : σ[Tτ (X)] → σ[A]. Seja
ψ : Tτ (X) → σ[A] o homomorfismo ψ = ϕ σ, entao ψ(x) = ϕ(x), para todo x ∈ X.
Pela propriedade universal de Tτ (X), a aplicacao ψ e o unico homomorfismo que estende
a aplicacao ψ|X : X → A. Reciprocamente, seja ψ : Tτ (X) → σ[A] um homomorfismo.
Seja ϕ : Tτ (X) → A o unico homomorfismo que estende a aplicacao ψ|X : X → A, a
um homomorfismo de Tτ (X) para A. Como ϕ σ(x) = ψ(x), para todo x ∈ X, entao
ϕ σ = ψ.
A Proposicao seguinte descreve o modo como as identidades de uma algebra estao
relacionadas com as identidades das suas algebras derivadas. Esta propriedade tem um
papel central na aplicacao dos resultados da seccao 0.7.
Proposicao 1.1.9. [DR95] Seja A uma algebra e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao, do
mesmo tipo τ . Para todo s, t ∈ Tτ (X),
A |= σ[s] ≈ σ[t] se e so se σ[A] |= s ≈ t.
Demonstracao: (⇒) Seja A uma algebra e σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao. Suponha-
se que A |= σ[s] ≈ σ[t]. Pelo lema 1.1.8, para qualquer homomorfismo ψ : Tτ (X) → σ[A],
vem que ψ = ϕ σ, onde ϕ : Tτ (X) → A e o homomorfismo que estende a aplicacao
ψ|X : X → A a um homomorfismo para A. Desde modo, ψ(t) = ϕ(σ(t)) = ϕ(σ(s)) = ψ(s).
Portanto, σ[A] |= t ≈ s.
(⇐) Reciprocamente, suponha-se que σ[A] |= s ≈ t. Pelo Lema 1.1.8, para qualquer
homomorfismo ϕ : Tτ (X) → A, ϕ σ e o unico homomorfismo que estende a aplicacao
ϕ|X : X → A, a um homomorfismo para σ[A]. Consequentemente, ϕ(σ[t]) = ψ(t) =
ψ(s) = ϕ(σ[s]) e portanto A |= σ[s] ≈ σ[t].
Como consequencia da Proposicao tira-se que tσ[A] = σ[t]A, para todo t ∈ Tτ (X).
1.2. MONOIDES DE HIPERSUBSTITUICOES 39
1.2 Monoides de hipersubstituicoes
Em [DR95], mostrou-se o papel relevante dos submonoides de hipersubstituicoes, na
obtencao de subreticulados completos de L(τ). Existem varios submonoides de hiper-
substituicoes de Hyp(τ), que se obtem de modo natural, baseadas em propriedades das
hipersubstituicoes. Os resultados seguinte baseiam-se em [DW00].
Definicao 1.2.1. Seja σ ∈ Hyp(τ) uma hipersubstituicao do tipo τ . A hipersubstituicao
σ diz-se:
(i) regular se todas as variaveis x1, . . . , xniocorrem em σ(fi), para todo o i ∈ I. Seja
Reg(τ) o conjunto de todas as hipersubstituicoes regulares do tipo τ .
(ii) simetrica se existe uma permutacao αi, do conjunto 1, . . . , ni, tal que
σ(fi) = fi(xαi(1), . . . , xαi(ni)),
para todo i ∈ I. Seja Sim(τ) o conjunto de todas as hipersubstituicoes simetricas
do tipo τ .
(iii) pre-hipersubstituicao se σ(fi) nao e uma variavel, para todo o i ∈ I. Seja Pre(τ) o
conjunto de todas as pre-hipersubstituicoes do tipo τ .
(iv) alfabetica se σ(fi) = fj(x1, . . . , xnj), para algum j ∈ I, com nj = ni, para todo o
i ∈ I. Seja Alf(τ) o conjunto de todas as hipersubstituicoes alfabeticas do tipo τ .
(iv) ordem k se o numero de operacoes em σ(fi) e menor ou igual que k > 0, ou seja
op(σ(fi)) 6 k para todo o i ∈ I. Seja Hypk(τ) o conjunto de todas as hipersubsti-
tuicoes de ordem k.
O conjunto Hyp0(τ) e constituıdo pelas hipersubstituicao para a quais
σ(fi) ∈ x1, . . . , xni, para todo i ∈ I, que se denominam hipersubstituicoes projeccao.
Assim sendo, vem que Pre(τ) ⊆ Hyp(τ)/Hyp0(τ).
Proposicao 1.2.2. [DW00] Para todo o tipo τ , os conjuntos Reg(τ), Sim(τ), Pre(τ),
Alf(τ) e Hyp1(τ) sao subuniversos do monoide Hyp(τ).
Demonstracao: Facilmente se conclui que a hipersubstituicao identidade σid pertence a
qualquer um dos conjuntos. Seja σ ∈ Reg(τ) e t ∈ Tτ (Xω) um termo. Pretende-se provar
40 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
que as variaveis que ocorrem em t e σ[t] sao as mesmas. Prove-se por inducao estrutural.
O caso base t = x e obvio. Suponha-se que t = fi(t1, . . . , tni) e para todo o j = 1, . . . , ni,
as variaveis que ocorrem em tj e σ[tj ] sao as mesmas. Como σ[t] = σ(fi)(σ[t1], . . . , σ[tni])
e σ e regular, conclui-se que em t e σ[t] ocorrem as mesmas variaveis. Usando este facto
para hipersubstituicoes σ1, σ2 ∈ Reg(τ), vem que em σ1 h σ2(fi) = σ1[σ2[fi]] ocorrem as
mesmas variaveis de fi(x1, . . . , xni), para todo i ∈ I. Logo, σ1 h σ2 ∈ Reg(τ) e portanto
Reg(τ) e um subuniverso de Hyp(τ).
Sejam σ1, σ2 ∈ Sim(τ) hipersubstituicoes simetricas, com as respectivas famılias de
permutacoes (αi)i∈I e (α′i)i∈I . Para todo o i ∈ I, vem que
σ1 h σ2(fi) = σ1[fi(xα′i(1)
, . . . , xα′i(ni))] = fi(xαi(α′
i(1)), . . . , xαi(α′
i(ni))).
Como αi α′i e uma permutacao do conjunto 1, . . . , ni, para todo i ∈ I, entao σ1 h σ2
e uma hipersubstituicao simetrica e portanto Sim(τ) e um subuniverso de Hyp(τ).
Para os conjuntos Pre(τ) e Alf(τ), conclui-se facilmente das suas definicoes que sao
subuniversos.
Sejam σ1, σ2 ∈ Hyp1(τ). Para todo i ∈ I, pretende-se verificar que σ1 h σ2(fi) tem
no maximo uma operacao. Prove-se por inducao estrutural, que para σ ∈ Hyp1(τ) e
qualquer termo t ∈ Tτ (Xω), vem op(σ[t]) 6 op(t). O caso base t = x e obvio. Suponha-se
que t = fi(t1, . . . , tni) e que a propriedade se verifica para os termos t1, . . . , tni
. Tem-se que
op(fi(t1, . . . , tni)) = 1 +op(t1) + · · ·+op(tni
) e que op(σ[t]) = op(σ(fi)(σ[t1], . . . , σ[tni])) =
op(σ(fi)) + op(σ[t1]) + · · · + op(σ[tni]) 6 1 + op(t1) + · · · + op(tni
) = op(t). Usando esta
facto, vem que op(σ1 h σ2(fi)) = op(σ1[σ2(fi)]) 6 op(σ2(fi)) 6 1, para todo i ∈ I, e
portanto σ1 h σ2 ∈ Hyp1(τ). Donde se conclui que Hyp1(τ) e um subuniverso de Hyp(τ).
As relacoes entre estes diferentes submonoides de hipersubstituicoes sao descritas na
Proposicao seguinte.
Proposicao 1.2.3. [DW00] Seja τ um tipo de algebras. Entao, valem as seguintes
condicoes:
i) Sim(τ) ⊂ Reg(τ) ⊆ Pre(τ) ⊂ Hyp(τ);
ii) Alf(τ) ⊂ Reg(τ), Alf(τ) ⊂ Hyp1(τ) e Sim(τ) ⊂ Hyp1(τ);
1.2. MONOIDES DE HIPERSUBSTITUICOES 41
iii) Sim(τ) ∨Alf(τ) = Hyp1(τ) ∧Reg(τ).
Demonstracao: i), ii) As inclusoes concluem-se directamente das definicoes. Como
Pre(τ) ⊆ Hyp(τ)/Hyp0(τ), entao Pre(τ) ⊂ Hyp(τ).
A hipersubstituicao σ(fi) = fi(fi(x1, . . . , xni), . . . , fi(x1, . . . , xni
)) e regular mas nao e
simetrica nem alfabetica, logo Sim(τ) ⊂ Reg(τ) e Alf(τ) ⊂ Reg(τ). Por ultimo, Alf(τ) ⊂
Hyp1(τ) e Sim(τ) ⊂ Hyp1(τ) visto que Hyp0(τ) ⊆ Hyp1(τ), mas Hyp0(τ) * Alf(τ) e
Hyp0(τ) * Sim(τ).
ii) Pelas inclusoes de i) e ii), vem que Sim(τ) ∨ Alf(τ) ≤ Hyp1(τ) ∧ Reg(τ). Por
outro lado, toda a hipersubstituicao σ de Hyp1(τ) ∧ Reg(τ) e da forma σ1 h σ2, para
algum σ1 ∈ Sim(τ) e σ2 ∈ Alf(τ). Assim, conclui-se a outra inclusao e portanto
Sim(τ) ∨ Alf(τ) = Hyp1(τ) ∧ Reg(τ).
Exemplo 1.2.4. Considere-se o conjunto Hyp(2) das hipersubstituicoes do tipo (2). Seja
σt ∈ Hyp(2) a hipersubstituicao que aplica a operacao binaria no termo t ∈ T(2)(X2).
Existem apenas duas hipersubstituicoes projeccao σx e σy. Tem-se a pre-hipersubstituicao
σxx, que nao e regular. A unica hipersubstituicao simetrica alem da hipersubstituicao
identidade e σyx. Nao existem hipersubstituicao alfabeticas, alem da hipersubstituicao
identidade, visto que ha apenas um sımbolo operacional.
Seja Id(τ) o monoide trivial, constituıdo apenas pela hipersubstituicao identidade. O
seguinte diagrama de Hasse ilustra a Proposicao anterior.
42 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
s
ss
s
s
s
s
s
@@
@@@
@@
@@@
@@
@@@
JJ
JJ
JJJ
Id(τ)
Alf(τ)Sim(τ)
Sim(τ) ∨ Alf(τ)
Reg(τ)
Pre(τ)
Hyp(τ)
Hyp1(τ)
No Capıtulo 4, mostra-se como alguns destes submonoides de hipersubstituicoes tem
aplicacao na teoria das linguagens de arvore.
1.3 Variedades M-solidas
No que se segue, M ⊆ Hyp(τ) denota o universo de um submonoide de hipersubsti-
tuicoes de Hyp(τ). Comeca-se por definir hiperidentidade, a satisfacao de uma hiperiden-
tidade e variedade M -solida. De seguida, consideram-me dois operadores fecho e prova-se
que sao conjugados relativamente a relacao R|=. Utilizando os resultados da seccao 0.7,
da-se uma caracterizacao tipo-Birkhoff das variedades M -solidas, a custa das hiperidenti-
dades. Para cada M ⊆ Hyp(τ), prova-se que o conjunto das variedades M -solidas forma
1.3. VARIEDADES M -SOLIDAS 43
um subreticulado completo de L(τ). Os resultados da seccao baseiam-se em [DR95],
[Gra98] e [DW00].
Definicao 1.3.1. Seja A uma algebra do tipo τ e s ≈ t ∈ Eq(τ). Diz-se que a algebra A
M -hipersatisfaz a equacao s ≈ t, ou que s ≈ t e uma M -hiperidentidade em A, se para
qualquer hipersubstituicao σ ∈ M , a equacao σ[s] ≈ σ[t] e uma identidade na algebra A.
Denota-se por A |=M -h
s ≈ t.
Uma algebra M -hipersatisfaz um conjunto de equacoes, se M -hipersatisfaz todas as
suas equacoes. Uma classe M -hipersatisfaz um conjunto de equacoes, se todas as suas
algebras M -hipersatisfazem o conjunto de equacoes. Denote-se por IdMh (A) o conjunto
de todas as M -hiperidentidades de A e, para uma classe de algebras K, seja IdMh (K) o
conjunto de todas as equacoes M -hipersatisfeitas por K, que se designa teoria M -hiper-
equacional. Para um conjunto de equacoes Σ ⊆ Eq(τ), denote-se por ModMh (Σ) a classe
de todas as algebras que M -hipersatisfazem todas as equacoes de Σ, denominada classe
M -hiperequacional, ou de M -hipermodelos de Σ. A definicao de M -hiperidentidade induz
a relacao binaria R |=M-h
⊆ Alg(τ) × Eq(τ), tal que para (A, t ≈ s) ∈ Alg(τ) × Eq(τ),
tem-se que (A, t ≈ s) ∈ R |=M-h
se A |=M -h
t ≈ s. Deste modo, facilmente se observa que
(IdMh ,ModMh ) e o par operadores em Alg(τ) e Eq(τ), que forma a conexao de Galois
induzida pela relacao R |=M-h
. Portanto, as classe M -hiperequacionais sao os pontos fixos do
operador de fecho ModMh IdMh , assim como, as teorias M -hiperequacionais sao os pontos
fixos do operador IdMh ModMh .
Segue-se a definicao de dois operadores sobre classes de algebras e conjuntos de equacoes.
Definicao 1.3.2. Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras e A uma algebra do tipo τ .
Denote-se por XMa [A] := σ[A] : σ ∈M o conjunto de todas as algebras M -derivadas de
A; e por XMa [K] :=
⋃A∈K
XMa [A] a classe de todas as algebras M -derivadas de K.
Seja Σ ⊆ Eq(τ) um conjunto de equacoes do tipo τ e s ≈ t ∈ Σ uma equacao. Denote-
se por XMe [s ≈ t] := σ[s] ≈ σ[t] : σ ∈ M conjunto de todas as equacoes M -derivadas
da equacao s ≈ t; seja XMe [Σ] :=
⋃s≈t∈Σ
XMe [s ≈ t] o conjunto de todas as equacoes
M -derivadas de Σ.
Lema 1.3.3. [DR95] Os operadores XMa e XM
e sao operadores de fecho aditivos sobre a
classe de todas as algebras do tipo τ e sobre o conjunto de todas as equacoes do tipo τ ,
respectivamente.
44 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Demonstracao: Seja K ⊆ Alg(τ) uma classe de algebras. Claramente, XMa [K] e uma
classe de algebras do tipo τ . Como σid ∈M e σid[A] = A, entao K ⊆ XMa [K] e portanto
XMa e um operador extensivo. Pela definicao de XM
a , conclui-se que se K1 ⊆ K2 ⊆ Alg(τ)
sao classes de algebras, entao XMa [K1] ⊆ XM
a [K2] e portanto XMa e um operador monotono.
Pela extensividade de XMa , conclui-se que XM
a [K] ⊆ XMa [XM
a [K]]. Seja B ∈ XMa [XM
a [K]],
entao B = σ2[σ1[A]], para A ∈ K e σ1, σ2 ∈ M . Ou seja, B = 〈A, (σ2(fi)σ1[A])i∈I〉.
Usando o facto de, para σ ∈ Hyp(τ), se ter fσ[A]i = σ(fi)
A, para todo i ∈ I, e por
inducao estrutural, prova-se que tσ[A] = σ[t]A, para todo t ∈ Tτ (Xω). Em particular,
σ2(fi)σ1[A] = σ1[σ2(fi)]
A, para todo i ∈ I. Deste modo, aplicando o Lema 1.1.2, vem
que σ1[σ2(fi)]A = σ1 h σ2(fi)
A, para todo i ∈ I, e portanto B = σ1 h σ2[A]. Como
σ1 h σ2 ∈M , entao B ∈ Xa[K] e portanto XMa [XM
a [K]] ⊆ XMa [K]. De ambas as inclusoes
conclui-se que XMa [XM
a [K]] = XMa [K], ou seja, XM
a e um operador idempotente. Da
definicao de XMa conclui-se que e aditivo. Portanto, XM
a e uma operador de fecho aditivo.
De modo analogo, prova-se que XMe e tambem um operador de fecho aditivo.
Definicao 1.3.4. Seja V uma variedade do tipo τ . A variedade V diz-se uma variedade
M -solida se for fechada para algebras M -derivadas de algebras de V , ou seja, XMa [V ] ⊆ V .
Seja Σ ⊆ Eq(τ) uma teoria equacional. A teoria equacional Σ diz-se M -solida se
XMe [Σ] ⊆ Σ, ou seja, se Σ e um conjunto fechado para equacoes M -derivadas.
Para uma variedade M -solida V , tem-se de facto que X aM [V ] = V , pois M contem a
hipersubstituicao identidade. As variedades Alg(τ) e I(τ) sao M -solidas e sao, respectiva-
mente, a maior e a menor variedade M -solida do tipo τ . Seja SM (τ) o conjunto de todas
as variedades M -solidas, do tipo τ . Claramente, a interseccao de variedades M -solidas
e uma variedade que e tambem M -solida. Dado isto, para uma classe K ⊆ Alg(τ) de
algebras do tipo τ , denote-se por VMh (K) a menor variedade M -solida que contem a classe
K, ou seja, a variedade M -solida gerada por K.
Teorema 1.3.5. [DW00, Gra98] Seja K uma classe de algebras do tipo τ . A classe K e
uma variedade M -solida se e so se K = HSPXMA [K].
Demonstracao: (⇐) Seja K um classe de algebras do tipo τ e suponha-se que K =
HSPXMa [K]. A classe K e claramente uma variedade. Prove-se que a variedade K e
fechada para algebras M -derivadas de K.
1.3. VARIEDADES M -SOLIDAS 45
(1) XMa [P(K)] ⊆ P(XM
a [K]). Seja B ∈ XMa [P(K)], entao B = σ[
∏j∈J Aj∈J ], para
σ ∈ M e Aj ∈ K, para todo j ∈ J . Pelo Lema 1.1.7 (iii), vem que B =∏j∈J σ[Aj ] e
portanto B ∈ P(XMa [K]).
(2) XMa [S(K)] ⊆ S(XM
a [K]). Seja C ∈ XMa [S(K)], entao C = σ[B], com B 6 A, para
σ ∈M e A ∈ K. Pelo Lema 1.1.7 (ii), vem que C 6 σ[A] e portanto C ∈ S(XMa [K]).
(3) XMa [H(K)] ⊆ H(XM
a [K]). Seja C ∈ XMa [H(K)], entao C = σ[B], para σ ∈ M
e B ∼= A/θ, tal que A ∈ K e θ ∈ ConA. Pelos Lemas 1.1.7 (i) e 1.1.5, vem que
σ[B] ∼= σ[A/θ] = σ[A]/θ. Portanto, C ∈ H(XMa [K]).
Deste modo, XMa [K] = XM
a [HSPXMa (K)] ⊆ H(XM
a [SPXMa [K]] ⊆ HS(XM
a [PXMa [K]]) ⊆
HSPXMa [XM
a [K]] = HSPXMa [K] = K, pelas propriedades (1) (2) (3) e pela idempotencia
do operador XMa . Conclui-se que a variedade K e M -solida.
(⇒) Seja K uma variedade M -solida. Da definicao de variedade M -solida, vem que
HSPXMa [K] = HSP(K) = K.
Da demonstracao do Teorema anterior, conclui-se o seguinte resultado.
Corolario 1.3.6. Para uma classe de algebras K ⊆ Alg(τ), vem que X aM [P(K)] ⊆
P(X aM [K]), X a
M [S(K)] ⊆ S(X aM [K]) e X a
M [H(K)] ⊆ H(X aM [K]).
Corolario 1.3.7. [Gra98] Seja K uma classe de algebras. Entao, VMh (K) = HSPXM
A (K).
Demonstracao: Pelo Teorema anterior, HSPXMA (K) e uma variedade M -solida e pela
extensividade dos operadores H,S,P e XMa , vem que K ⊆ HSPXM
A (K). Seja V uma
variedade M -solida, tal que K ⊆ V . Entao, XMa [K] ⊆ V , PXM
a [K] ⊆ V , SPXMa [K] ⊆ V
e HSPXMa [K] ⊆ V . Portanto, HSPXM
a [K] e a menor variedade M -solida que contem a
classe K.
O seguinte resultado sera bastante util no tarefa de verificar se uma determinada
variedade e M -solida.
Corolario 1.3.8. Seja V = HSP(K) uma variedade do tipo τ , gerada pela classe de
algebras K ⊆ Alg(τ). Entao, a variedade V e M -solida se e so se XMa [K] ⊆ V .
46 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Demonstracao: (⇒) Pelo facto de XMa ser um operador de fecho e V ser M -solida, vem
que XMa [K] ⊆ XM
a [V ] = V .
(⇐) Pelo Corolario 1.3.6, vem que XMa [V ] = XM
a [HSP(K)] ⊆ HSPXMa [K] ⊆ HSP(V ) =
V . Donde se conclui que V e uma variedade M -solida.
A Proposicao seguinte e o resultado chave na aplicacao dos resultados da seccao 0.7.
Proposicao 1.3.9. [DR95] Os operadores XM := (XMa ,XM
e ) formam um par de op-
eradores de fecho conjugados relativamente a relacao R|= e a subrelacao Galois-fechada
definida por XM e a relacao R |=M-h
.
Demonstracao: Pelo Lema 1.3.3, XM := (XMa ,XM
e ) e um par de operadores de fecho
aditivos. De acordo com a Definicao 0.7.2, para que XM seja um par de operadores
conjugados, com respeito a R|=, e necessario que
XMa [A] × t ≈ s ⊆ R|= se e so se A × XM
e [t ≈ s] ⊆ R|=,
para qualquer A ∈ Alg(τ) e t ≈ s ∈ Eq(τ). Suponha-se que XMa [A] × t ≈ s ⊆ R|=,
para A ∈ Alg(τ) e t ≈ s ∈ Eq(τ). Deste modo, (σ[A], t ≈ s) ∈ R|=, para todo σ ∈ M .
Pela Proposicao 1.1.9, vem que (σ[A], t ≈ s) ∈ R|= se e so se (A, σ[t] ≈ σ[s]) ∈ R|=, para
σ ∈ M . Ou seja, A × XMe [t ≈ s] ⊆ R|=. Seja RXM a relacao definida pelo par de
operadores XM , entao
RXM := (A, t ≈ s) ∈ Alg(τ) × Eq(τ) : (A,XMe [t ≈ s]) ∈ R|=.
Pela Proposicao 0.7.7, RXM e uma subrelacao Galois-fechada deR|=. Seja (A, t ≈ s) ∈ RXM ,
entao A |= σ[t] ≈ σ[s] , para todo σ ∈M . Portanto, A |=M -h
t ≈ s, ou seja, (A, t ≈ s) ∈ R |=M-h
.
Do mesmo modo, se (A, t ≈ s) ∈ R |=M-h
, entao A |= σ[t] ≈ σ[s] , para todo σ ∈ M e por-
tanto (A, t ≈ s) ∈ RXM . Logo, conclui-se que RXM= R |=
M-h
, ou seja, R |=M-h
e a subrelacao
Galois-fechada de R|=, definida pelo par de operadores XM .
O Teorema seguinte e consequencia directa do Teorema 0.7.6, para a relacao R|= e o
par de operadores conjugados XM := (XMa ,XM
e ).
1.3. VARIEDADES M -SOLIDAS 47
Teorema 1.3.10. [DR95] Seja V uma variedade do tipo τ . Entao, as seguintes afirmacoes
sao equivalentes:
(i) V = ModMh (IdMh (V )), V e uma classe M -hiperequacional;
(ii) V e uma variedade M -solida;
(iii) Id(V ) = IdMh (V ), toda a identidade de V e M -hipersatisfeita em V ;
(iv) XMe [Id(V )] = Id(V ), Id(V ) e uma teoria equacional M -solida.
Seja Σ ⊆ Eq(τ) uma teoria equacional do tipo τ . Entao, as seguintes condicoes sao
equivalentes:
(i’) Σ = IdMh (ModMh (Σ)), Σ e uma teoria M -hiperequacional;
(ii’) Σ e uma teoria equacional M -solida;
(iii’) Mod(Σ) = ModMh (Σ);
(iv’) XMa [Mod(Σ)] = Mod(Σ), Mod(Σ) e uma variedade M -solida.
Como consequencia da Proposicao 0.7.9, obtem-se o seguinte Teorema.
Teorema 1.3.11. [DR95] Sejam N 6 M submonoides de hipersubstituicoes. Entao, S(τ)
e SM (τ) formam subreticulados completos de L(τ) com SM (τ) ⊆ SN (τ).
Demonstracao: Pelo facto de XN := (XNa ,X
Ne ) e XM := (XM
a ,XMe ) serem pares conju-
gados, com respeito a relacao R|=, e pelo corolario 0.7.8, conclui-se que SN (τ) e SM (τ) for-
mam subreticulados completos de L(τ). Se N ⊆M , entao para K ⊆ Alg(τ) e Σ ⊆ Eq(τ),
vem que XNa [K] ⊆ XM
a [K] e XNe [Σ] ⊆ XM
e [Σ], pelo facto de os operadores serem aditivos.
Desde modo, tem-se que XN XM . Pelo enunciado na Proposicao 0.7.9, vem que SM (τ)
e um subreticulado completo de SN (τ).
48 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Por exemplo, se M = σid, entao Sσid(τ) = L(τ). No caso em que M = Hyp(τ),
deixa-se cair a letra M de prefixo das definicoes e escreve-se apenas S(τ) para o reticulado
completo das variedades solidas, que e o menor subreticulado completo de L(τ), que se
obtem desta forma.
Como observado no Teorema 1.3.10, os conjuntos fechados para o operador IdMh ModMh
sao os mesmos, que sao fechados simultaneamente para os operadores XMe e IdMod. Ou
seja, as teorias M -hiperequacionais sao as teorias equacionais que sao M -solidas. Pelo
enunciado na Proposicao 0.7.8, vem que o conjunto das teorias M -hiperequacionais forma
um subreticulado completo do reticulado das teorias equacionais. Consequentemente, dao
origem a um subreticulado completo de ConciTτ (Xω). De seguida, dar-se-a a caracter-
izacao destas congruencias, o que possibilitara a descricao das teorias M -hiperequacionais
atraves de regras de inferencia.
1.4 Congruencias totalmente M-invariantes
Seja V um variedade do tipo τ . Ao conjunto Id(V ) de todas identidades satisfeitas por
V , corresponde a congruencia completamente invariante Θ(Id(V )), da algebra de termos
Tτ (Xω). No entanto, se V for uma variedade M -solida e normal que Θ(Id(V )) satisfaca
condicoes adicionais. Comeca-se por definir uma nocao mais fraca de endomorfismo, intro-
duzida em [Kol84]. Introduz-se a nocao de congruencias totalmente invariante, que surge
originalmente em [DLPS91], apresentando uma generalizacao a submonoides contida em
[Gra98]. Os resultados desta seccao seguem [DLPS91] e [Gra98]
A nocao de semi-homomorfismo fraco introduzida por Kolibiar [Kol84] e refinada, em
[Gra98] por Graczynska, utilizando hipersubstituicoes.
Definicao 1.4.1. Sejam A e B algebras do tipo τ . A aplicacao ϕ : A → B diz-se um
semi-homomorfismo fraco se se tem o homomorfismo ϕ : A → σ[B], para alguma hiper-
substituicao σ ∈ M . No caso em que σ ∈ M , diz-se que ϕ e um M -semi-homomorfismo
fraco. Escreve-se ϕ : Asw−→ B.
Um semi-homomorfismo fraco ϕ : Asw−→ A denomina-se semi-endomorfismo fraco.
Denote-se por Endsw(A) o conjunto de todos os semi-endomorfismos fracos de A e por
EndMsw(A) o subconjunto de todos os M -semi-endomorfismos fracos de A.
Facilmente se observa que um usual homomorfismo satisfaz a definicao anterior. Tem-
se os seguintes resultados.
1.4. CONGRUENCIAS TOTALMENTE M -INVARIANTES 49
Lema 1.4.2. Seja A um algebra do tipo τ e ϕ1, ϕ2 M -semi-endomorfismos fracos de A.
Valem as seguintes propriedades:
(i) ϕ1 ϕ2 e tambem um M -semi-endomorfismo fraco de A;
(ii) 〈EndMsw(A); , ϕid〉 e um monoide, onde ϕid e o endomorfismo identidade.
Demonstracao: (i) Se ϕ1, ϕ2 ∈ EndMsw(A) sao M -semi-endomorfismos fracos de A, entao
existem hipersubstituicoes σ1, σ2 ∈M , tal que
ϕ1(fA
i (a1, . . . , ani)) = σ1(fi)
A(ϕ1(a1), . . . , ϕ1(ani)) e
ϕ2(fA
i (a1, . . . , ani)) = σ2(fi)
A(ϕ2(a1), . . . , ϕ2(ani)),
para todo a1, . . . , ani∈ A e i ∈ I. Usando este facto e por inducao estrutural, prova-se
que
ϕ1(tA(a1, . . . , an)) = σ1[t]A(ϕ1(a1), . . . , ϕ1(an)),
para todo o a1, . . . , ani∈ A e t ∈ Tτ (Xω). Deste modo, vem que ϕ1ϕ2(fA
i (a1, . . . , ani)) =
ϕ1(σ2(fi)A(ϕ2(a1), . . . , ϕ2(ani
))) = σ1[σ2(fi)]A(ϕ1 ϕ2(a1), . . . , ϕ1 ϕ2(an)), para todo
a1, . . . , ani∈ A e i ∈ I. Portanto, ϕ1 ϕ2 e um semi-endomorfismo fraco de A. Pela
Proposicao 1.1.2, tem-se que σ1 σ2 = σ1 h σ2 e como σ1 h σ2 ∈M , entao ϕ1 ϕ2 e em
particular um M -semi-endomorfismo fraco de A.
(ii) Por (i), vem que EndMsw(A) e um conjunto fechado para a composicao de aplicacoes.
A composicao de aplicacoes e associativa e ϕϕid = ϕidϕ = ϕ, para todo ϕ ∈ EndMsw(A).
Portanto, 〈EndMsw(A); , ϕid〉 e um monoide.
Denote-se EndMsw(τ) e End(τ), respectivamente, os conjuntos de todos os M - semi-
endomorfismo fracos e dos endomorfismos da algebra Tτ (Xω). Se σ ∈M e um hipersubsti-
tuicao, entao pela definicao da sua extensao ao conjunto Tτ (X), vem que
σ : Tτ (X) → Tτ (X) e um M -semi-endomorfismo fraco de Tτ (X).
Lema 1.4.3. Sejam X e Y quaisquer conjuntos de variaveis. Seja ψ : Tτ (X)sw−→ Tτ (Y )
um M -semi homomorfismo fraco. Entao, existe uma hipersubstituicao σ ∈M e um unico
homomorfismo ϕ : Tτ (X) → Tτ (Y ), tal que ψ = ϕ σ.
50 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Demonstracao: Seja ψ : Tτ (X)sw−→ Tτ (Y ) um M -semi homomorfismo fraco. Assim
sendo, tem-se o homomorfismo ψ : Tτ (X) → σ[Tτ (Y )], para alguma hipersubstituicao
σ ∈ M . Pelo Lema 1.1.8, existe um unico homomorfismo ϕ : Tτ (X) → Tτ (Y ), tal que
ψ = ϕ σ.
Definicao 1.4.4. Seja A um algebra e θ ∈ ConA uma congruencia de A, diz-se que θ
e totalmente M -invariante se (ϕ(a), ϕ(b)) ∈ θ, para todo (a, b) ∈ θ e ϕ ∈ EndMsw(A).
Denote-se por ConMti (A) o conjunto de todas as congruencias totalmente M -invariantes
de A.
Facilmente se conclui que ConMti (A) ⊆ Conci(A). O Teorema seguinte caracteriza as
congruencias de Tτ (Xω), induzidas por teorias M -hiperequacionais.
Teorema 1.4.5. [DLPS91, Gra98] Uma teoria equacional Σ ⊆ Eq(τ) e uma teoria
M -hiperequacional se e so se Θ(Σ) e uma congruencia totalmente M -invariante de Tτ (Xω).
Demonstracao: (⇒) Suponha-se que Σ e uma teoria M -hiperequacional. Pelo Teorema
1.3.10, vem que Σ e uma teoria M -solida, ou seja, XMe [Σ] = Σ. Seja (t, s) ∈ Θ(Σ) e
ϕ ∈ EndMsw(τ) um M -semi-endomorfismo fraco. Pelo Lema 1.4.3, vem que ϕ = ψ σ,
para um endomorfismo ψ ∈ End(τ) e hipersubstituicao σ ∈ M . Desde modo, vem que
(ϕ(t), ϕ(s)) = (ψ σ[t], ψ σ[s]). Pelo facto de Σ ser uma teoria M -solida, tem-se que
(σ[t], σ[s]) ∈ Θ(Σ), visto que σ ∈M . Como Σ e uma teoria equacional, entao Θ(Σ) e uma
congruencia completamente invariante de Tτ (Xω) e portanto (ψ σ[t], ψ σ[s]) ∈ Θ(Σ).
Logo, Θ(Σ) e uma congruencia totalmente M -invariante de Tτ (Xω).
(⇐) Suponha-se que Θ(Σ) e uma congruencia totalmente M -invariante de Tτ (Xω) e
σ ∈M uma hipersubstituicao. Tem-se o M -semi-endomorfismo fraco
σ : Tτ (Xω)sw−→ Tτ (Xω).
Para t ≈ s ∈ Σ, vem que (σ[t], σ[s]) ∈ Θ(Σ), visto Θ(Σ) ser uma congruencia totalmente
M -invariante. Logo, σ[t] ≈ σ[s] ∈ Σ, para todo σ ∈ M , e portanto Σ e uma teoria
M -solida, que e equivalente a ser uma teoria M -hiperequacional.
1.5. LOGICA M -HIPEREQUACIONAL 51
Proposicao 1.4.6. [DLPS91, Gra98] O conjunto de todas as congruencias totalmente
M -invariantes de Tτ (Xω) forma um subreticulado completo do reticulado das congruencias
completamente invariantes de Tτ (Xω). Os reticulados ConMti (τ) e SM (τ) sao dualmente
isomorfos.
Demonstracao: Conclui-se directamente do Corolario 0.7.8.
O seguinte resultado apresenta uma outra caracterizacao das variedades M -solidas,
usando os M -semi-homomorfismos fracos.
Teorema 1.4.7. Seja V uma variedade de algebras do tipo τ . A variedade V e M -solida
se e so se para todo o M -semi-homomorfismo fraco ϕ : Asw−→ B bijectivo, se B ∈ V entao
A ∈ V .
Demonstracao: (⇒) Seja V uma variedade M -solida e ϕ : Asw−→ B um M -semi-
homomorfismo fraco bijectivo, com B ∈ V . Logo, existe uma hipersubstituicao σ ∈ M ,
tal que ϕ : A → σ[B] e um isomorfismo. Como V e M -solida, entao σ[B] ∈ V e portanto
A ∈ V .
(⇐) Seja A ∈ V e σ ∈ M uma hipersubstituicao. A aplicacao idA : σ[A] → A e
um M -semi-homomorfismo fraco bijectivo, logo σ[A] ∈ V . Portanto, V e uma variedade
M -solida.
1.5 Logica M-hiperequacional
As teorias equacionais foram caracterizadas por Birkhoff, como os conjuntos de equacoes
fechados relativamente a cinco regras de inferencia da logica equacional. As teorias
M -hiperequacionais podem ser caracterizadas de modo analogo, usando as mesmas cinco
regras de inferencia, juntamente com uma nova regra de inferencia denominada regra da
M -hipersubstituicao. Os resultados da seccao seguem [Den98], [Gra98] e [DW00].
52 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Definicao 1.5.1. (Logica M -hiperequacional.) Seja Σ ⊆ Eq(τ) um conjunto de equacoes
e t ≈ s ∈ Eq(τ) uma equacao. Escreve-se Σ |=M -h
t ≈ s se A |=M -h
Σ implica A |=M -h
t ≈ s, para
toda a algebra A ∈ Alg(τ). Escreve-se Σ ⊢M -h
t ≈ s se existe uma deducao formal de t ≈ s
a partir de equacoes de Σ e usando as seguintes regras de inferencia:
(1) ⊢M -h
t ≈ t;
(2) t1 ≈ t2 ⊢M -h
t2 ≈ t1;
(3) t1 ≈ t2, t2 ≈ t3 ⊢M -h
t1 ≈ t3;
(4) tj ≈ sj : 1 6 j 6 ni ⊢M -h
fi(t1, . . . , tni) ≈ fi(s1, . . . , sni
) para todo o sımbolo
operacional fi, i ∈ I;
(5) sejam t, s, r ∈ Tτ (Xω) e t′ e s′ os termos obtidos de t e s, substituindo todas as
ocorrencias de uma variavel xi pelo termo r, entao t ≈ s ⊢M -h
t′ ≈ s′ (regra da
substituicao);
(6) t1 ≈ t2 ⊢M -h
σ[t1] ≈ σ[t2], para toda a hipersubstituicao σ ∈ M (regra da
M -hipersubstituicao).
Por outras palavras, para um conjunto de equacoes Σ ⊆ Eq(τ), Σ ⊢M -h
t ≈ s significa
que existe uma sequencia finita de equacoes t1 ≈ s1, . . . tk−1 ≈ sk−1, tk ≈ sk, com tk = t e
sk = s, tal que ti ≈ si pertence a Σ ou e obtida de algumas das equacoes suas anteriores
aplicando uma das regras de inferencia (1) − (6), para todo 1 6 i 6 k.
Lema 1.5.2. [DW00, Gra98] Seja Σ ⊆ Eq(τ) um conjunto de equacoes. Se XMe [Σ] ⊢ t ≈ s
entao XMe [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s], para σ ∈M .
Demonstracao: Prove-se por inducao sobre o numero de passos da deducao formal.
Seja XMe [Σ] ⊢ t ≈ s em um passo, ou seja, aplicando apenas uma das regras (1) − (5).
Considere-se os varios casos possıveis:
(1) Claramente, se t = s, entao σ[t] = σ[s] e portanto XMe [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s], para todo
σ ∈M .
(2) Tem-se que s ≈ t ∈ XMe [Σ], logo σ[s] ≈ σ[t] ∈ XM
e [Σ] e portanto XMe [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s],
para todo σ ∈M .
1.5. LOGICA M -HIPEREQUACIONAL 53
(3) Logo, existem equacoes t ≈ r, r ≈ s ∈ XMe [Σ]. Como σ[t] ≈ σ[r], σ[r] ≈ σ[s] ∈
XMe [Σ] entao XM
e [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s], para todo σ ∈M .
(4) Entao, t = fi(t1, . . . , tni) e s = fi(s1, . . . , sni
), com tj ≈ sj ∈ XMe [Σ], para todo
1 6 j 6 ni. Deste modo, como para 1 6 j 6 ni, vem que σ[tj ] ≈ σ[sj ] ∈ XMe [Σ],
para σ ∈ M . Portanto, XMe [Σ] ⊢ σ(fi)(σ[t1], . . . , σ[tni
]) ≈ σ(fi)(σ[s1], . . . , σ[sni]),
ou seja, XMe [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s], para todo σ ∈M .
(5) Os termos t e s resultam da substituicao de todas as ocorrencias de uma variavel
xi ∈ X por um termo r, nos termos t′ e s′, respectivamente, com t′ ≈ s′ ∈ XMe [Σ].
Assim sendo, como σ[t′] ≈ σ[s′] ∈ XMe [Σ], para σ ∈ M , e os termos σ[t] ≈ σ[s]
resultam dos anteriores, substituindo todas as ocorrencias de xi, pelo termo σ[r],
vem que XMe [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s], para todo σ ∈M .
Como hipotese de inducao, considere-se que para todas as deducoes formais
XMe [Σ] ⊢ t ≈ s, em k passos, se tem XM
e [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s], para todo σ ∈ M . Seja
XMe [Σ] ⊢ t ≈ s uma deducao formal em k + 1 passos. A ultima regra aplicada na
deducao de t ≈ s e uma das regras (1) − (5). Viu-se acima, que a aplicacao da regra da
M -hipersubstituicao comuta com qualquer uma das regras (1)− (5). Seja σ ∈M , pode-se
deduzir σ[t] ≈ σ[s] aplicando a regra (6) ao termo t ≈ s. Mas como a regra (6) comuta
com a regra utilizada no passo k+ 1, pode-se deduzir σ[t] ≈ σ[s] aplicando os primeiros k
passos, da deducao de t ≈ s, de seguida aplicar a regra (6), e por ultimo a regra do passo
k+ 1. Por hipotese de inducao, a equacao σ[t′] ≈ σ[s′] que se obtem ao aplicar a regra (6)
a equacao t′ ≈ s′ que se obtem do passo k, pode ser obtida apenas com as regras (1)− (5).
Portanto, tambem σ[t] ≈ σ[s] pode ser deduzida, de XMe [Σ], apenas aplicando as regras
(1) − (5), ou seja, XMe [Σ] ⊢ σ[t] ≈ σ[s], para todo σ ∈M .
Lema 1.5.3. [DW00, Gra98] Seja Σ ⊆ Eq(τ) um conjunto de equacoes. Entao,
Σ ⊢M-h
t ≈ s⇔ XMe [Σ] ⊢ t ≈ s.
Demonstracao: (⇐) Seja t ≈ s ∈ Eq(τ), tal que XMe [Σ] ⊢ t ≈ s. Como toda a equacao
de XMe [Σ] pode ser obtida de Σ, aplicando a regra (6), entao Σ ⊢
M -ht ≈ s.
(⇒) Prove-se que XMe [Σ] ⊢
M -ht ≈ s se e so se XM
e [Σ] ⊢ t ≈ s, para toda a equacao
t ≈ s ∈ Eq(τ). Claramente, tem-se que XMe [Σ] ⊢
M -ht ≈ s⇐ XM
e [Σ] ⊢ t ≈ s.
54 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Suponha-se que XMe [Σ] ⊢
M -ht ≈ s. Prove-se por inducao no numero de passos da
deducao formal que XMe [Σ] ⊢ t ≈ s. Claramente, e valido para deducoes com apenas um
passo. Por hipotese de inducao, suponha-se que e valido para deducoes em k passos. Se
XMe [Σ] ⊢
M -ht ≈ s e uma deducao em k+1 passos. Por hipotese de inducao, a equacao t′ ≈ s′
que se obtem no passo k, tem uma deducao a partir de XMe [Σ], apenas utilizando as regras
(1) − (5). Se no passo k + 1 se aplicar alguma das regras (1) − (5), entao XMe [Σ] ⊢ t ≈ s.
Se por outro lado, no passo k + 1 se aplicar a regra da M -hipersubstituicao, entao pelo
Lema 1.5.2, tambem se tem XMe [Σ] ⊢ t ≈ s. Como Σ ⊆ XM
e [Σ], entao Σ ⊢M -h
t ≈ s implica
que XMe [Σ] ⊢
M -ht ≈ s ⇔ XM
e [Σ] ⊢ t ≈ s.
O Teorema seguinte enuncia a adequacao e coerencia da logica M -hiperequacional, que
pode ser entendida como um fragmento de uma logica equacional de segunda ordem.
Teorema 1.5.4. [DW00, Gra98] Para um conjunto Σ ⊆ Eq(τ) e qualquer equacao
t ≈ s ∈ Eq(τ),
Σ |=M-h
t ≈ s se e so se Σ ⊢M-h
t ≈ s.
Demonstracao: Suponha-se que Σ |=M -h
t ≈ s, ou seja, A |=M -h
t ≈ s para todo A ∈ Alg(τ),
tal que A |=M -h
Σ. Deste modo, t ≈ s ∈ IdMh (ModMh (Σ)). Mas, pelo Teorema 1.3.10
(iii) e Corolario 1.3.7, vem que IdMh (ModMh (Σ)) = IdMod(XMe [Σ]) e portanto t ≈ s ∈
IdMod(XMe [Σ]), ou seja, XM
e [Σ] |= t ≈ s. Deste modo, Σ |= t ≈ s⇔ XMe [Σ] |= t ≈ s. Pela
adequacao e coerencia da logica equacional, vem que XMe [Σ] |= t ≈ s ⇔ XM
e [Σ] ⊢ t ≈ s.
Aplicando o Lema anterior tem-se Σ |=M -h
t ≈ s ⇔ XMe [Σ] ⊢ t ≈ s ⇔ Σ ⊢
M -ht ≈ s, o que
prova o teorema.
1.6 Pseudovariedades M-solidas
Nesta seccao, de modo analogo ao realizado na seccao 1.3, pretende-se aplicar os resul-
tados da seccao 0.6 as pseudovariedades e mostrar como produzir subreticulados completos
de Lps(τ). Para isso, considera-se uma subrelacao de R|=u
e prova-se que e uma sua sub-
relacao Galois-fechada. Os resultados seguintes seguem [GPV97] e [DP03].
1.6. PSEUDOVARIEDADES M -SOLIDAS 55
Definicao 1.6.1. Seja V uma pseudovariedade do tipo τ . Diz-se que V e M -solida se for
fechada para algebras M -derivadas de V , ou seja, XMa [V ] ⊆ V .
A conexao de Galois que se pretende encontrar e dada pela relacao
R |=u.M−h
⊆ Algf (τ) × FEq(τ),
definida do seguinte modo.
Definicao 1.6.2. Seja ∆ ∈ FEq(τ) um filtro de equacoes e A ∈ Algf (τ) uma algebra, do
mesmo do tipo τ . Diz-se que A ultimamente M -hipersatisfaz ∆ se para toda a hipersub-
stituicao σ ∈M , existe um conjunto de equacoes Σσ ∈ ∆, tal que A |= σ[Σσ], i.e
A |=u.M−h
∆ :⇔ ∀σ ∈M, ∃Σσ ∈ ∆ : A |= σ[Σσ],
onde σ[Σ] denota o conjunto das equacoes derivadas de Σ ⊆ Eq(τ), pela hipersubstituicao
σ ∈M .
Diz-se que uma classe de algebras finitas ultimamente M -hipersatisfaz um filtro de
equacoes se todas as suas algebras o ultimamente M -hipersatisfazem. O proximo Teorema
apresenta a caracterizacao das pseudovariedade M -solidas, utilizando esta nova nocao de
satisfacao de filtro de equacoes.
Teorema 1.6.3. [GPV97, DP03] Para cada classe de algebra finitas V do tipo τ , as
seguintes condicoes sao equivalentes:
(i) V e uma pseudovariedade M -solida;
(ii) V e uma pseudovariedade e para todo o filtro de equacoes ∆ ∈ FEq(τ), V ultima-
mente M -hipersatisfaz ∆ se e so se V ultimamente satisfaz ∆, i.e.
V |=u
∆ se e so se V |=u.M−h
∆.
(iii) Existe um filtro de equacoes ∆ ∈ FEq(τ), tal que V consiste na classe de todas
as algebras finitas do tipo τ que ultimamente M -hipersatisfazem ∆. Denota-se
V = FModMh (∆).
56 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Demonstracao: (i) ⇒ (ii) Seja ∆ ∈ FEq(τ) um filtro de equacoes, tal que V ultima-
mente satisfaz ∆. Seja A ∈ V e σ ∈ M . Como V e uma pseudovariedade M -solida,
entao σ[A] ∈ V . Deste modo, σ[A] ultimamente satisfaz ∆, ou seja, σ[A] |= Σ, para
algum conjunto Σ ∈ ∆. Assim sendo, pela Proposicao 1.1.9, vem que A |= σ[Σ]. Como A
ultimamente M -hipersatisfaz ∆, vem que V |=u
∆ ⇒ V |=u.M−h
∆. Suponha-se, agora, que
V |=u.M−h
∆. Usando a hipersubstituicao identidade σid ∈M , conclui-se imediatamente que
V |=u
∆.
(ii) ⇒ (iii) Pelo facto de V ser uma pseudovariedade, existe um filtro de equacoes
∆ ∈ FEq(τ), tal que V = FMod(∆). Por (ii), a pseudovariedade V ultimamente
M -hipersatisfaz ∆ se e so se ultimamente satisfaz ∆, logo V = FModMh (∆).
(iii) ⇒ (i) Seja ∆ ∈ FEq(τ) um filtro de equacoes e V uma classe de algebras finitas
que ultimamente M -hipersatisfaz o filtro ∆. Prove-se que V e uma pseudovariedade
M -solida. Pelo facto de todas as equacoes satisfeitas por uma algebra A ∈ V , serem
tambem satisfeitas pelas suas subalgebras e imagens homomorfas, vem que A ultimamente
M -hipersatisfaz ∆, entao tambem as suas subalgebra e imagens homomorfas. Logo, a
classe V e fechada para subalgebras e imagens homomorfas. Sejam A1, . . .Ak ∈ V e
A = A1 × . . . × Ak o seu produto directo. Para qualquer hipersubstituicao σ ∈ M ,
pelo facto de cada algebra A1, . . . ,Ak ultimamente M -hipersatisfazer ∆, vem que existem
conjuntos Σjσ ∈ ∆, tal que Aj |= σ[Σj
σ], para 1 6 j 6 k. Deste modo, como Σσ = ∩kj=1Σjσ
pertence ao filtro de equacoes ∆ e A satisfaz σ[Σ] = ∩kj=1σ[Σjσ], entao A ultimamente
M -hipersatisfaz o filtro ∆. Logo, V e fechada para produtos directos finitarios e portanto
e uma pseudovariedade. Prove-se que tambem e fechada para algebra M -derivadas. Seja
σ ∈ M uma hipersubstituicao e A ∈ V . Pretende-se provar que σ[A] ∈ V , mostrando
que σ[A] ultimamente M -hipersatisfaz ∆. Seja σ′ ∈ M uma hipersubstituicao, entao
σ h σ′ ∈ M . Como A ultimamente M -hipersatisfaz ∆, existe um conjunto de equacoes
Σ′ ∈ ∆, tal que A |= σ h σ′[Σ′]. Pela Proposicao 1.1.2, vem que σ h σ
′[Σ′] = σ[σ′[Σ′]].
Logo, se A |= σ[σ′[Σ′]] entao σ[A] |= σ′[Σ′]. Portanto, σ[A] ultimamente M -hipersatisfaz
∆, o que implica que σ[A] ∈ V . Deste modo, conclui-se que V e uma pseudovariedade
M -solida.
1.6. PSEUDOVARIEDADES M -SOLIDAS 57
A relacao R |=u.M−h
define a conexao de Galois (FModMh , F IdMh ), tal que
FModMh (F) := A ∈ Algf (τ) : ∀∆ ∈ F , A |=u.M−h
∆ e
FIdMh (K) := ∆ ∈ FEq(τ) : ∀ ∈ K, A |=u.M−h
∆,
para K ⊆ Algf (τ) e F ⊆ FEq(τ). Logo, os conjuntos dos seus pontos fixos formam
reticulados completos dualmente isomorfos.
Proposicao 1.6.4. [DP03] Seja F ⊆ FEq(τ) um filtro de equacoes. Entao, toda a classe
de algebras finitas da forma ModMh (F) e uma pseudovariedade M -solida. Reciprocamente,
para toda a pseudovariedade M -solida V existe um conjunto F ⊆ FEq(τ) de filtros de
equacoes, tal que V = FModMh (F).
Demonstracao: Seja F ⊆ FEq(τ) um filtro de equacoes e ModMh (F) a classe de algebras
finitas que ultimamente M -hipersatisfaz, todas os filtros de equacoes de F . Deste modo,
FModMh (F) = ∩∆∈FFModMh (∆). Pela Teorema 1.6.3, vem que FModMh (∆) e uma pseu-
dovariedade M -solida, para todo o filtro ∆ ∈ F . Claramente, FModMh (F) e uma pseu-
dovariedade, pois e a interseccao da famılia de pseudovariedades FModMh (∆) : ∆ ∈ F.
De modo a provar que FModMh (F) e uma pseudovariedade M -solida, e suficiente provar
que a interseccao de uma famılia de pseudovariedades M -solidas e tambem uma pseudovar-
iedade M -solida. Seja Vjj∈J uma qualquer famılia de pseudovariedades M -solidas do
tipo τ , entao V = ∩j∈JVj e um pseudovariedade. Mas, XMa [∩j∈JVi] ⊆ XM
a [Vj ], para todo o
j ∈ J , pela monotonia do operador XMa . Assim sendo, vem que XM
a [∩j∈JVi] ⊆ ∩j∈JVj = V
e portanto V e uma pseudovariedade M -solida. Em particular, FModMh (F) e uma pseu-
dovariedade M -solida. Pelo Teorema 1.6.3, existe um filtro de equacoes ∆′ ∈ FEq(τ), tal
que FModMh (F) = FModMh (∆′).
Reciprocamente, se V e uma pseudovariedade M -solida, existe um filtro de equacoes
∆ ∈ FEq(τ) tal que V = FModMh (∆). Logo, pode-se tomar o conjunto F = ∆ e
portanto V = FModMh (F).
Como corolario, obtem-se a caracterizacao dos pontos fixos do operador de fecho
FModMh FIdMh , provando que sao exactamente as pseudovariedades M -solidas.
58 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Corolario 1.6.5. [DP03] Uma classe de algebras finitas V , do tipo τ , e uma pseudovar-
iedade M -solida se e so se V = FModMh (FIdMh (V )).
Demonstracao: (⇒) Suponha-se que V e uma pseudovariedadeM -solida. Pela Proposicao
anterior, existe um conjunto de filtros de equacoes F ⊆ FEq(τ), tal que
V = FModMh (F). Como os pontos fixos do operador FModMh FIdMh sao exactamente
da forma V = FModMh (F), para F ⊆ FEq(τ), conclui-se que V = FModMh (FIdMh (V )).
(⇐) Reciprocamente, suponha-se que V = FModMh (FIdMh (V )). Deste modo,
F = FIdMh (V ) e um conjunto de filtros de equacoes. Pela Proposicao anterior, V =
FModMh (F) e uma pseudovariedade M -solida.
As pseudovariedadesM -solidas sao os pontos fixos do operadorModMh FIdMh e portanto
formam um reticulado completo, que se denota SpsM (τ). Se M = Hyp(τ) escreve-se apenas
Sps(τ). Pretende-se provar que SpsM (τ) e de facto um subreticulado completo de Lps(τ).
Proposicao 1.6.6. [DP03] A relacao R |=u.M−h
⊆ Algf (τ) × FEq(τ) e uma subrelacao
Galois-fechada da relacao R|=u
.
Demonstracao: Para uma algebra finita A ∈ Algf (τ) e um filtro de equacoes
∆ ∈ FEq(τ), tem-se que (A,∆) ∈ R |=u.M−h
se e so se A |=u.M−h
∆. Por outras palavras,
para qualquer hipersubstituicao σ ∈ M , existe um conjunto de equacoes Σσ ∈ ∆, tal
que A |= σ[Σσ]. Em particular, para σid ∈ M , vem que existe um conjunto Σσid∈ ∆,
tal que A |= Σσid, visto que σid[Σσid
] = Σσid. Deste modo, se (A,∆) ∈ R |=
u.M−h
entao
(A,∆) ∈ R|=u
, ou seja, R |=u.M−h
⊆ R|=u
.
Seja F ⊆ FEq(τ) um conjunto de filtro de equacoes e V ⊆ Algf (τ) uma classe de
algebras finitas tal que FModMh (F) = V e FIdMh (V ) = F . Da primeira equacao e da
Proposicao 1.6.5, conclui-se que V e uma pseudovariedade M -solida e da Proposicao
1.6.3 (ii), conclui-se que FId(V ) = FIdMh (V ) = F . Entao, tem-se que FMod(F) =
FMod(FIdMh (V )) = FMod(FId(V )). Mas como V e uma pseudovariedade vem que
V = FMod(FId(V )) = FMod(F). Provou-se que FMod(F) = V e FId(V ) = F e
portanto conclui-se que R |=u.M−h
e uma subrelacao Galois-fechada de R|=u
.
1.6. PSEUDOVARIEDADES M -SOLIDAS 59
Teorema 1.6.7. [DP03] Sejam N ≤ M submonoides de hipersubstituicoes. Entao, SpsN (τ)
e SpsM (τ) formam subreticulados completos de Lps(τ) com SpsM (τ) ⊆ SpsN (τ).
Demonstracao: Consequencia directa da Proposicao 0.6.4, visto que R |=u.M−h
⊆ R |=u.N−h
sao subrelacao Galois-fechadas de R|=u
.
60 CAPITULO 1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE ALGEBRAS
Capıtulo 2
Correspondencias tipo-Eilenberg
Neste Capıtulo, apresentam-se as generalizacoes das correspondencias de Eilenberg e
de Therien, que englobam os dois casos importantes na Teoria das Linguagens Formais, as
linguagens de palavras e as linguagens de arvore. As linguagens de arvore sao subconjuntos
das algebras dos termos de determinado tipo finito τ . No entanto, as linguagens de palavras
sao subconjuntos do semigrupo (resp. monoide) livre, finitamente gerado. O semigrupo
livre nao e a algebra dos termos do tipo (2), mas um seu quociente. De modo a englobar
ambos os casos, consideram-se subconjuntos das algebras V -livres, para uma qualquer
pseudovariedade V de um tipo finito τ . A restricao a tipos finitos de algebras nao e
necessaria e toda a teoria sera apresenta sem se fazer uso deste facto, como aparece em
[Alm94]. No entanto, a finitude e uma caracterıstica importante quando se pretende
decidibilidade. Logo, a grande parte das linguagens estudadas sao sobre tipos finitos.
Comeca-se por definir algebra sintactica de um subconjunto e apresentar algumas das
suas propriedades. Os conjuntos reconhecıveis sao definidos de modo algebrico e relaciona-
dos com as suas algebras sintacticas. Na seccao 2.3, definem-se os conceitos de variedade
de V -linguagens e variedade de V -congruencias, apresentam-se as correspondencias que
estabelecem os isomorfismos e que generalizam os resultados de Eilenberg e Therien. Os
seguintes resultados seguem [Ste79], [Ste92] e [Alm94].
2.1 Algebras sintacticas
Uma linguagem de palavras tem como congruencia sintactica uma congruencia do
semigrupo livre. Esta nocao e generalizada para subconjunto de uma algebra.
61
62 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
Definicao 2.1.1. Seja A uma algebra do tipo τ e L ⊆ A um qualquer subconjunto. A
congruencia sintactica de L e a relacao ∼L definida do seguinte modo:
a ∼L b se p(a) ∈ L⇔ p(b) ∈ L,
com a, b ∈ A e para toda a operacao polinomial unaria p ∈ Pol1(A).
Um subconjunto L ⊆ A diz-se saturado por uma congruencia θ de A, se L e uniao de
algumas θ-classes. As congruencias sintacticas caracterizam-se pela propriedade descrita
na Proposicao seguinte.
Proposicao 2.1.2. [Alm94, Ste92] Seja A uma algebra do tipo τ . A congruencia sintactica
∼L de um subconjunto L ⊆ A e a maior congruencia de A (relativamente a inclusao de
conjuntos) que satura o conjunto L.
Demonstracao: Claramente, ∼L e uma relacao de equivalencia. Para cada i ∈ I,
considerem-se os elementos ak, bk ∈ A, tais que ak ∼L bk para 1 6 k 6 ni. E necessario
provar que fA
i (a1, . . . , ani) ∼L f
A
i (b1, . . . , bni). Seja p ∈ Pol1(A) uma operacao polinomial
unaria de A. Considerem-se as seguintes operacoes polinomiais unarias
q1(x) = p(fA
i (x, a2 . . . , ani)),
q2(x) = p(fA
i (b1, x, a3, . . . , ani)),
...
qni−1(x) = p(fA
i (b1, b2, . . . , bni−2, x, ani)) e
qni(x) = p(fA
i (b1, b2, . . . , bni−2, bni−1, x)).
Facilmente se conclui, que para quaisquer duas operacoes polinomiais consecutivos qj e
qj+1, tem-se que qj(bj) = qj+1(aj+1), para 1 6 j 6 ni − 1. Pelo facto de ak ∼L bk, vem
que qj(ak) ∈ L ⇔ qj(bk) ∈ L, para todo 1 6 k, j 6 ni. Mas, qk(bk) = qk+1(ak+1) e
portanto qk(ak) ∈ L ⇔ qk+1(ak+1) ∈ L, para todo 1 6 k 6 ni − 1. Logo, para quaisquer
1 6 k 6 j 6 ni, vem que
qk(ak) ∈ L⇔ qk+1(ak+1) ∈ L⇔ · · · ⇔ qj−1(aj−1) ∈ L⇔ qj(aj) ∈ L.
Portanto, tem-se que
p(fA
i (a1, a2 . . . , ani)) = q1(a1) ∈ L⇔ qni
(ani) ∈ L⇔ qni
(bni) = p(fA
i (b1, b2 . . . , bni)) ∈ L.
2.1. ALGEBRAS SINTACTICAS 63
Conclui-se que ∼L e uma congruencia de A.
Seja a ∈ L e b ∈ A tal que a ∼L b. Considerando a operacao polinomial identidade
idA(x), conclui-se que b ∈ L e portanto ∼L satura o subconjunto L.
Seja θ uma congruencia de A que satura o subconjunto L e a, b ∈ A, tais que (a, b) ∈ θ.
Seja p ∈ Pol1(A) uma operacao polinomial unaria de A. Sem perda de generalidade,
considere-se que p = tA(x, a2, . . . , an), para um termo t ∈ Tτ (Xn) e a2, . . . , an ∈ A.
Suponha-se que p(a) ∈ L. Como θ e uma congruencia de A e aθb, entao
(tA(a, a2, . . . , an), tA(b, a2, . . . , an)) ∈ θ,
ou seja, (p(a), p(b)) ∈ θ. Como a congruencia θ satura L e p(a) ∈ L, entao p(b) ∈ L. Logo,
θ ⊆∼L e portanto ∼L e a maior congruencia que satura o subconjunto L.
Lema 2.1.3. [Ste92] Seja ϕ : A → B um homomorfismo entre as algebras A e B do
tipo τ . Para toda a operacao polinomial p ∈ Pol1(A), existe uma operacao polinomial
pϕ ∈ Pol1(B), tal que ϕ(p(a)) = pϕ(ϕ(a)), para todo a ∈ A. Se ϕ e sobrejectivo, entao
para todo q ∈ Pol1(B) existe p ∈ Pol1(A) tal que q = pϕ.
Demonstracao: Seja p ∈ Pol1(A) uma operacao polinomial unaria de A e a ∈ A.
Considere-se que p = tA(x, a2, . . . , an), para algum termo t ∈ Tτ (Xn) e a2, . . . , an ∈ A.
Deste modo,
ϕ(p(a)) = ϕ(tA(a, a2, . . . , an)) = tB(ϕ(a), ϕ(a2), . . . , ϕ(an)) = tB(ϕ(a), b2, . . . , bn),
fazendo ϕ(aj) = bj , para 2 6 j 6 n. Deste modo, para a operacao polinomial pϕ =
tB(x, b2, . . . , bn), tem-se que ϕ(p(a)) = pϕ(ϕ(a)).
Suponha-se que ϕ e um homomorfismo sobrejectivo e q = tB(x, b2, . . . , bn) ∈ Pol1(B)
e uma operacao polinomial, com t ∈ Tτ (Xn) e b2, . . . , bn ∈ B. Pelo facto de ϕ ser so-
brejectivo, existem a2, . . . , an ∈ A, tais que ϕ(aj) = bj , para 2 6 j 6 n. Assim sendo,
ϕ(tA(a, a2, . . . , an)) = tB(ϕ(a), b2, . . . , bn) = q(ϕ(a)), para todo o a ∈ A. Portanto, q = pϕ
para p = tA(x, a2, . . . , an) ∈ Pol1(A).
64 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
Seja L ⊆ A um subconjunto de um algebra A. A algebra sintactica de L e a algebra
quociente A/ ∼L, que se denota A/L. O homomorfismo canonico ϕL : A → A/L
denomina-se homomorfismo sintactico de L. Por [a]L denota-se a ∼L-classe do elemento
a ∈ L, para um subconjunto L ⊆ A.
Para uma operacao polinomial unaria p ∈ Pol1(A), define-se a operacao L 7→ p−1L
sobre subconjuntos L ⊆ A da algebra A, tal que p−1L := a ∈ A : p(a) ∈ L, que
se denomina cancelamento. Seja ϕ : B → A um homomorfismo. Define-se a operacao
L 7→ ϕ−1L, sobre subconjuntos L ⊆ A da algebra A para subconjuntos da algebra B, tal
que ϕ−1L := ϕ−1(L) = a ∈ A : ϕ(a) ∈ L, denominada homomorfismo inverso.
Para um homomorfismo ϕ : B → A e congruencia θ ∈ ConA, define-se a relacao de
equivalencia (ϕ×ϕ)−1θ em B, tal que (a, b) ∈ (ϕ×ϕ)−1θ se (ϕ(a), ϕ(b)) ∈ θ, com a, b ∈ B.
Seja ϕL : A → A/L o homomorfismo sintactico de L, entao claramente (ϕ × ϕ)−1 ∼L=
Ker(ϕ ϕL) e portanto e uma congruencia de B.
Tem-se as seguintes propriedades relativamente as congruencias sintacticas.
Proposicao 2.1.4. [Alm94, Ste92] Sejam A e B algebras do tipo τ . Para quaisquer
subconjuntos K,L ⊆ A, valem as seguintes propriedades:
(i) ∼A = ∇A, ∼A\L = ∼L , ∼K ∩ ∼L⊆∼K∩L e ∼K ∩ ∼L⊆∼K∪L ;
(ii) para p ∈ Pol1(A), vem que ∼L⊆∼p−1L ;
(iii) para um homomorfismo ϕ : B → A, vem que (ϕ× ϕ)−1 ∼L⊆∼ϕ−1L e verifica-se a
igualdade se ϕ for sobrejectiva.
Demonstracao: (i) A congruencia ∇A satura o conjunto A e portanto ∼A= ∇A. Seja
a ∈ A\L e b ∈ A, tais que a ∼L b. Como ∼L satura o conjunto L, entao b ∈ A\L e
portanto ∼L tambem satura o conjunto A\L. Deste modo, tem-se que ∼L⊆∼A\L. Para
qualquer p ∈ Pol1(A) e a, b ∈ A, tais que a ∼A\L b, vem p(a) ∈ A\L⇔ p(b) ∈ A\L. Logo,
tambem p(a) ∈ L ⇔ p(b) ∈ L e portanto a ∼L b. Donde se conclui igualdade, ou seja,
∼A\L = ∼L . Seja a, b ∈ A, tais que a ∈ K ∩ L e (a, b) ∈∼K ∩ ∼L. Seja idA ∈ Pol1(A) a
operacao identidade. Como a ∼K b, entao idA(a) = a ∈ K ⇔ idA(b) = b ∈ K e portanto
b ∈ K. Do mesmo modo, a ∼L b implica que idA(a) = a ∈ L ⇔ idA(b) = b ∈ L e
portanto b ∈ L. Consequentemente, tem-se que b ∈ K ∩ L e portanto ∼K ∩ ∼L satura o
subconjunto K ∩ L. Assim sendo, pela Proposicao 2.1.2, vem que ∼K ∩ ∼L⊆∼K∩L. De
modo semelhante, prova-se que ∼K ∩ ∼L⊆∼K∪L.
2.1. ALGEBRAS SINTACTICAS 65
(ii) Seja p ∈ Pol1(A) uma operacao polinomial unaria e a, b ∈ A, tais que a ∼L b e
a ∈ p−1L. Assim sendo, p(a) ∈ L⇔ p(b) ∈ L e portanto ∼L satura o conjunto p−1L. Pela
Proposicao 2.1.2, vem que ∼L⊆∼p−1L.
(iii) Sejam a, b ∈ B, tais que a ∈ ϕ−1L e ϕ(a) ∼L ϕ(b), i.e. (a, b) ∈ (ϕ × ϕ)−1 ∼L.
Assim sendo, usando a operacao polinomial unaria identidade de A, vem que ϕ(a) ∼L ϕ(b),
implica que ϕ(a) ∈ L⇔ ϕ(b) ∈ L. Logo, b ∈ ϕ−1L e portanto a congruencia (ϕ×ϕ)−1 ∼L
satura o subconjunto ϕ−1L. Donde se conclui que (ϕ× ϕ)−1 ∼L⊆∼ϕ−1L.
Supondo que ϕ e sobrejectiva, seja a, b ∈ B, tal que a ∼ϕ−1L b. E necessario provar
que ϕ(a) ∼L ϕ(b). Seja q ∈ Pol1(A). Como ϕ e sobrejectiva, pelo Lema 2.1.3, existe
uma operacao polinomial pϕ ∈ Pol1(B), tal que q(ϕ(a)) = ϕ(pϕ(a)) e q(ϕ(b)) = ϕ(pϕ(b)).
Deste modo, como a ∼ϕ−1L b, entao pϕ(a) ∈ ϕ−1L ⇔ pϕ(b) ∈ ϕ−1L. Donde se conclui
que q(ϕ(a)) = ϕ(pϕ(a)) ∈ L ⇔ q(ϕ(b)) = ϕ(pϕ(b)) ∈ L e portanto ϕ(a) ∼L ϕ(b), ou seja,
(a, b) ∈ (ϕ× ϕ)−1 ∼L. Consequentemente, (ϕ× ϕ)−1 ∼L= ∼ϕ−1L.
As propriedades da Proposicao anterior tem as seguintes consequencias relativamente
as algebras sintacticas.
Proposicao 2.1.5. [Ste92] Sejam A e B algebras do tipo τ . Para quaisquer subconjuntos
K,L ⊆ A, verificam-se as seguintes propriedades:
(i) A/(A− L) = A/L e A/K ∩ L A/K × A/L;
(ii) para p ∈ Pol1(A), existe um homomorfismo sobrejectivo A/L→ A/p−1L;
(iii) para um homomorfismo ϕ : B → A, tem-se que B/ϕ−1L A/L e se ϕ e um
homomorfismo sobrejectivo entao B/ϕ−1L ∼= A/L.
Demonstracao: As propriedades (i) e (ii) concluem-se directamente das propriedades
(i) e (ii), da Proposicao 2.1.4.
(iii) Analise-se primeiro o caso em que ϕ : B → A e um homomorfismo
sobrejectivo. Considere-se a aplicacao ψ : B/ϕ−1L → A/L, tal que [b]ϕ−1L 7→ [ϕ(b)]L,
para b ∈ B. Sejam a, c ∈ B, tal que [a]ϕ−1L = [c]ϕ−1L. Pela Proposicao 2.1.4 (iii), vem
que (ϕ × ϕ)−1 ∼L=∼ϕ−1L e portanto [a]ϕ−1L = [c]ϕ−1L ⇔(a, c) ∈ (ϕ × ϕ)−1 ∼L, ou seja,
ϕ(a) ∼L ϕ(c). Logo, [ϕ(a)]L = [ϕ(c)]L e conclui-se que ψ esta bem definida e e injectiva.
Seja a ∈ A, como ϕ e sobrejectiva, existe b ∈ B, tal que ϕ(b) = a. Logo, ψ([b]ϕ−1L) =
66 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
[ϕ(b)]L = [a]L e conclui-se que ψ e sobrejectiva. Para i ∈ I, sejam b1, . . . , bni∈ B, entao
ψ(fB/ϕ−1Li ([b1]ϕ−1L, . . . , [bni
]ϕ−1L)) = ψ([fB
i (b1, . . . , bni)]ϕ−1L) = [ϕ(fB
i (b1, . . . , bni)]L =
[(fA
i (ϕ(b1), . . . , ϕ(bni))]L = f
A/Li ([ϕ(b1)]L, . . . , [ϕ(bni
)]L) = fA/Li (ψ([b1]ϕ−1L, . . . , ψ([bni
]ϕ−1L)).
Consequentemente, ψ e um homomorfismo e portanto B/ϕ−1L ∼= A/L.
Considere-se, agora, ϕ : B → A um qualquer homomorfismo. Seja C a subalgebra
de A/L que e imagem homomorfa de ϕL ϕ : B → A/L. Tem-se o homomorfismo
sobrejectivo γ : B → C, tal que γ(b) = ϕL(ϕ(b)) = [ϕ(b)]L, para todo b ∈ B. Seja
L′ = γ(ϕ−1L) ⊆ C, entao γ−1L′ = ϕ−1L. Pelo provado anteriormente, para o caso de um
homomorfismo sobrejectivo, conclui-se que B/γ−1L′ ∼= C/L′, ou seja, B/ϕ−1L ∼= C/L′.
Logo, B/ϕ−1L A/L.
Os seguintes Lemas estabelecem algumas das propriedades importantes que serao us-
adas mais a frente.
Lema 2.1.6. [Alm94, Ste92] Seja A uma algebra do tipo τ . Seja L ⊆ A tal que ∼L tem
um numero finito de classes. Entao, o conjunto p−1L : p ∈ Pol1(A) e finito.
Demonstracao: Pela Proposicao 2.1.4 (ii), vem que ∼L⊆∼p−1L e portanto ∼p−1L tem
um numero finito de classes. Existe um numero finito de congruencias de A, que contem
∼L e possuem um numero finito de classes. Logo, existe um numero finito de conjuntos
da forma p−1L, com p ∈ Pol1(A).
Lema 2.1.7. [Alm94] Seja L ⊆ A um subconjunto de uma algebra do tipo τ . Para a ∈ A,
tem-se que
[a]L =⋂
p∈Pol1(A)
p−1L : a ∈ p−1L\⋃
q∈Pol1(A)
q−1L : a /∈ q−1L.
Demonstracao: Seja b ∈ [a]L, por definicao vem que p(a) ∈ L ⇔ p(b) ∈ L, para
todo p ∈ Pol1(A). Deste modo, b ∈ p−1L se e so se a ∈ p−1L e assim sendo
b ∈⋂p∈Pol1(A)p
−1L : a ∈ p−1L e b /∈⋃q∈Pol1(A)q
−1L : a /∈ q−1L. Destas equivalencias
tiram-se as duas inclusoes o que conclui a prova.
2.1. ALGEBRAS SINTACTICAS 67
Lema 2.1.8. [Alm94] Seja ϕ : B → A um homomorfismo, entre algebras do tipo τ , e
L ⊆ A. Entao,
(ϕ× ϕ)−1 ∼L=⋂
∼ϕ−1(p−1L): p ∈ Pol1(A).
Demonstracao: Seja L′ = p−1L, para uma operacao polinomial p ∈ Pol1(A). Pela
Proposicao 2.1.4, tem-se que (ϕ×ϕ)−1 ∼L⊆ (ϕ×ϕ)−1 ∼L′⊆∼ϕ−1L′ . Logo, (ϕ×ϕ)−1 ∼L⊆⋂∼ϕ−1(p−1L): p ∈ Pol1(A). Reciprocamente, seja (a, b) ∈
⋂∼ϕ−1(p−1L): p ∈ Pol1(A)
e prove-se que (a, b) ∈ (ϕ × ϕ)−1 ∼L. Seja p ∈ Pol1(A) uma operacao polinomial. Se
p(ϕ(a)) ∈ L, entao ϕ(a) ∈ p−1L. Como (a, b) ∈ ϕ−1(p−1L), entao ϕ(b) ∈ p−1L, ou seja,
p(ϕ(b)) ∈ L. Donde se conclui que ϕ(a) ∼L ϕ(b) e portanto (ϕ×ϕ)−1 ∼L=⋂∼ϕ−1(p−1L):
p ∈ Pol1(A).
Lema 2.1.9. [Alm94] Seja A uma algebra do tipo τ . Se θ ∈ ConA, entao
θ =⋂
∼L: L e uma θ-classe .
Demonstracao: Como θ satura todas as suas classes, conclui-se que θ ⊆∼L, para toda
a θ-classe L ⊆ A. Logo, θ ⊆⋂∼L: L e uma θ-classe . Por outro lado, se (a, b) /∈ θ e
considerando o subconjunto L = [a]θ ⊆ A, vem que a ∈ L, mas b /∈ L. Logo, (a, b) /∈∼L.
Consequentemente, (a, b) /∈⋂∼L: L e uma θ-classe . O que permite concluir que
θ =⋂∼L: L e uma θ-classe .
Deste ultimo Lema conclui-se que toda a congruencia em ConA e ınfimo de con-
gruencias sintacticas.
Lema 2.1.10. Sejam ϕ : A → B e ψ : B → C homomorfismos entre algebras do tipo τ e
L ⊆ C. Entao,
((ψ ϕ) × (ψ ϕ))−1 ∼L= (ϕ× ϕ)−1((ψ × ψ)−1 ∼L) ⊆∼(ψϕ)−1L .
68 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
Demonstracao: Seja (a, b) ∈ ((ψ ϕ) × (ψ ϕ))−1 ∼L, ou seja, ψ ϕ(a) ∼L ψ ϕ(b) ⇔
ψ(ϕ(a)) ∼L ψ(ϕ(b)) ⇔ (ϕ(a), ϕ(b)) ∈ (ψ × ψ)−1 ∼L⇔ (a, b) ∈ (ϕ× ϕ)−1((ψ × ψ)−1 ∼L).
Logo, conclui-se que ((ψ ϕ) × (ψ ϕ))−1 ∼L= (ϕ× ϕ)−1((ψ × ψ)−1 ∼L).
Pela Proposicao 2.1.4 (iii), vem que (ϕ× ϕ)−1((ψ × ψ)−1 ∼L) ⊆ (ϕ× ϕ)−1 ∼ψ−1L⊆
⊆∼ϕ−1(ψ−1L)=∼(ψϕ)−1L.
Considere-se a seguinte definicao.
Definicao 2.1.11. Seja A uma algebra, diz-se que a algebra A e sintactica se for iso-
morfa a algebra sintactica de um qualquer subconjunto de uma algebra do tipo τ . Um
subconjunto L ⊆ A diz-se disjuntivo se a sua congruencia sintactica e a relacao identidade
em A, i.e. ∼L= ∆A.
Tem-se a seguinte caracterizacao das algebras sintacticas.
Proposicao 2.1.12. [Ste92] Uma algebra A e sintactica se e so se possui um conjunto
disjuntivo.
Demonstracao: (⇒) Seja A uma algebra sintactica. Entao, A ∼= B/L, para alguma
algebra B do tipo τ e L ⊆ B. Prove-se que o conjunto K = [b]L : b ∈ L e um conjunto
disjuntivo em B/L. Se [b]L ∼K [b′]L para b, b′ ∈ B, entao para todo p ∈ Pol1(A), vem que
p(b) ∈ L⇔ ϕL(p(b)) = pϕL([b]L) ∈ K ⇔ pϕL
([b′]L) = ϕL(p(b′)) ∈ K ⇔ p(b′) ∈ L,
usando o Lema 2.1.3. Logo, [b]L = [b′]L e portanto o subconjunto K e disjuntivo em B/L.
Assim sendo, o subconjunto de A, correspondente a K, e disjuntivo em A.
(⇐) Trivial. Se L e um conjunto disjuntivo de A, entao A ∼= A/L e portanto A e uma
algebra sintactica.
As algebras sintacticas englobam um conjunto especial de algebras e por isso tem
um papel importante na construcao das pseudovariedades, com mostram os resultados
seguintes.
2.2. CONJUNTOS RECONHECIVEIS 69
Proposicao 2.1.13. [Ste92] Toda a algebra subdirectamente irredutıvel e sintactica.
Demonstracao: Seja A uma algebra subdirectamente irredutıvel, do tipo τ . Para
a, b ∈ A, tem-se que a ∼a b, se e so se a = b. Visto que⋂∼a: a ∈ A = ∆A,
entao pelo Corolario 0.1.22, ∆A =∼a, para algum a ∈ A. Assim sendo, a e um
subconjunto disjuntivo de A e pela Proposicao anterior, conclui-se que A e uma algebra
sintactica.
Corolario 2.1.14. [Ste92] Toda a pseudovariedade [resp. variedade] do tipo τ e gerada
pelas suas algebra sintacticas.
2.2 Conjuntos reconhecıveis
No que se segue, seja V uma determinada pseudovariedade nao trivial do tipo τ e FnV
a algebra V -livre gerada por um conjunto de n elementos.
Definicao 2.2.1. Seja A uma algebra do tipo τ . Um subconjunto L ⊆ A diz-se
V -reconhecıvel se existe um homomorfismo ϕ : A → B, com B ∈ V , e um subcon-
junto K ⊆ B tal que L = ϕ−1(K). Neste caso, diz-se que o triplo 〈B, ϕ,K〉 reconhece L,
ou simplesmente que L e reconhecido por B.
Claramente, se L ⊆ A e V -reconhecıvel entao ∼L tem um numero finito de classes. O
triplo 〈B, ϕ,K〉, na definicao anterior, desempenha o mesmo papel que um automato de
arvore determinista [GS84], onde B e o conjunto dos estados, K o conjunto dos estados
finais e ϕ a atribuicao inicial de estados.
Tem-se a seguinte caracterizacao dos conjuntos reconhecıveis.
Lema 2.2.2. [Ste92] Seja A uma algebra e L ⊆ A um subconjunto. As seguintes condicoes
sao equivalentes:
(i) L e V -reconhecıvel;
(ii) A/L B, para alguma algebra B ∈ V ;
70 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
(iii) A/L pertence a V .
Demonstracao: (i) ⇒ (ii) Se L ⊆ A e V -reconhecıvel entao existe um homomorfismo
ϕ : A → B, com B ∈ V , e um subconjunto K ⊆ B tal que L = ϕ−1(K). Pela Proposicao
2.1.5 (iii), vem que A/L = A/ϕ−1K B/K B.
(ii) ⇒ (iii) Se A/L B, com B ∈ V , entao A/L ∈ V .
(iii) ⇒ (i) Considere-se o homomorfismo sintactico ϕL : A → A/L e seja
K = [a]L : a ∈ L ⊆ A/L. Deste modo, L = ϕ−1L (K) e como A/L ∈ V , conclui-se
que L e V -reconhecıvel.
Concentre-se a atencao, agora, nos subconjuntos L ⊆ FnV da algebra V -livre, para
n > 1. Quando V e a classe de todas as algebras finitas do tipo τ , aos subconjuntos
L ⊆ FnV correspondem as denominadas linguagens de arvore. Quando V e a variedade
dos semigrupos [resp. monoides] finitos, entao L ⊆ FnV e uma linguagem de palavras.
Portanto, o estudo dos conjuntos reconhecıveis das algebras V -livres FnV , finitamente
geradas, unifica o estudo destes dois importantes ramos da Teoria das linguagens formais.
Denote-se por RecnV o conjunto de todos os subconjuntos L ⊆ FnV que sao
V -reconhecıveis e seja RecV = (RecnV )n>1.
Proposicao 2.2.3. [Alm94] Seja V uma pseudovariedade do tipo τ .
(i) O conjunto RecnV e um corpo de subconjuntos fechado para o cancelamento.
(ii) A sequencia RecV e fechada para homomorfismos inversos, no sentido em que, para
todo o homomorfismo ϕ : FnV → FmV se L ∈ RecmV , entao ϕ−1L ∈ RecnV .
Demonstracao: Trivial, consequencia directa da Proposicao 2.1.5.
Seja ConnV o conjunto de todas as congruencias θ ∈ ConFnV , tal que FnV/θ ∈ V . O
conjunto ConnV e constituıdo por congruencias de FnV , com um numero finito de classes.
No entanto, facilmente se conclui-se que apenas contem todas as congruencias finitas de
FnV se V e uma pseudovariedade equacional.
2.3. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG 71
Lema 2.2.4. [Alm94] O conjunto ConnV e um filtro de congruencias de ConFnV , para
todo n ∈ N.
Demonstracao: Sejam θ1, θ2 ∈ ConnV . Pela Proposicao 0.1.19, vem que
FnV/(θ1∩θ2) FnV/θ1×FnV/θ2 e como FnV/θ1,FnV/θ2 ∈ V , entao FnV/(θ1∩θ2) ∈ V .
Logo, θ1∩θ2 ∈ ConnV . Sejam θ1 ∈ ConnV e θ2 ∈ ConFnV , tal que θ1 ⊆ θ2. Como FnV/θ1
e imagem homomorfa de FnV/θ2 ∈ V , vem que FnV/θ1 ∈ V e portanto θ1 ∈ ConnV .
Proposicao 2.2.5. [Alm94] Seja Sn uma corpo de subconjuntos de RecnV fechado para
o cancelamento e seja θ ∈ ConFnV , para n > 1. Entao, θ pertence ao filtro gerado pelo
conjunto de congruencias sintacticas ∼L : L ∈ Sn se e so se as classes de θ sao em
numero finito e pertencem todas a Sn.
Demonstracao: (⇐) Seja Γn o filtro de congruencias gerado pelas congruencias sintacticas
∼L : L ∈ Sn. Se todas as classes de θ pertencem a Sn e sao em numero finito, entao
θ ∈ Γn, pelo Lema 2.1.9.
(⇒) Seja θ ∈ Γn. Deste modo, existem linguagens L1, . . . , Lk ∈ Sn, tal que
θ ⊇ ∼L1 ∩ . . . ∩ ∼Lk.
Como todas as congruencias sintacticas de linguagens reconhecıveis tem um numero finito
de classes, conclui-se que θ tambem tem um numero finito de classes. Pelo Lema 2.1.7,
todas as classes das congruencias ∼L1 , . . . ,∼Lkpertencem a Sn. Logo, tambem as classes
de θ pertencem a Sn.
2.3 Correspondencias tipo-Eilenberg
Define-se, agora, variedade de V -linguagens e variedade de V -congruencias.
Definicao 2.3.1. Uma variedade de V -linguagens e uma sequencia, ou famılia, de con-
juntos V = (Vn)n>1, tal que:
L.1) Vn e um corpo de subconjuntos de Recn;
72 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
L.2) Vn e fechado para o cancelamento;
L.3) V e fechada para homomorfismos inversos FnV → FmV .
Denote-se por VL(V ) o conjunto de todas as variedades de V -linguagens.
Considere-se a relacao de inclusao em VL(V ) definida componente a componente.
Logo, tem-se o conjunto parcialmente ordenado 〈VL(V ),⊆〉. Pela Proposicao 2.2.3, a
sequencia RecV = (Recn)n>1 e uma variedade de V -linguagens e portanto a maior var-
iedade de V -linguagens em VL(V ). Por outro lado, LTriV = (∅, FnV n)n>1 e a menor
variedade de V -linguagens de VL(V ).
Proposicao 2.3.2. [Alm94, Ste92] Seja V = (Vn)n>1 uma variedade de V -linguagens e
L ⊆ FnV . Se L ∈ Vn entao todas as classes de ∼L tambem pertencem a Vn.
Demonstracao: Conclui-se directamente do Lema 2.1.7.
Definicao 2.3.3. Uma variedade de filtros de V -congruencias e uma sequencia
Γ = (Γn)n>1, tal que:
C.1) Γn e um filtro de congruencias de ConnV ;
C.2) se ϕ : FmV → FnV e um homomorfismo e θ ∈ Γn, entao (ϕ× ϕ)−1θ ∈ Γm.
Denote-se por VC(V ) o conjunto de todas as variedades de filtros de V -congruencias, que
se designar-se-ao simplesmente por variedades de V -congruencias.
As variedades de V -congruencias sao geradas pelas suas congruencias sintacticas.
Lema 2.3.4. [Ste92] Seja θ ∈ ConFnV uma congruencia de ındice finito. Se θ e inf-
irredutıvel entao θ e a congruencia sintactica de algum subconjunto L ⊆ FnV que e
V -reconhecıvel.
Demonstracao: Trivial, conclui-se directamente do Lema 2.1.9.
2.3. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG 73
Lema 2.3.5. [Ste92] Seja θn ∈ ConFnV uma congruencia de ındice finito, para cada
n > 1. Entao, a sequencia Γ = ([θn)n)n>1 e uma variedade de V -congruencias se e so se
para todo o homomorfismo ϕ : FmV → FnV , se tem que θm ⊆ (ϕ× ϕ)−1θn.
Demonstracao: Trivial.
O seguinte resultado da uma caracterizacao bastante util das algebras sintacticas,
relacionando-as com as V -linguagens.
Lema 2.3.6. [Ste92] A algebra A ∈ V e sintactica se e so se existe um subconjunto
L ⊆ FnV , tal que A ∼= FnV/L, para algum n > 1.
Demonstracao: (⇒) Seja A uma algebra sintactica de V e D ⊆ A o seu conjunto
disjuntivo. Seja G ⊆ A um conjunto gerador da algebra A e n > 1, tal que |G| 6 n. Como
A ∈ V , entao existe um homomorfismo sobrejectivo ϕ : FnV → A. Logo, pela Proposicao
2.1.5 (iii), vem que A ∼= A/D ∼= FnV/ϕ−1(D), com ϕ−1(D) ⊆ FnV .
(⇐) Trivial.
Uma pseudovariedade W do tipo τ diz-se uma subpseudovariedade de V se W ⊆ V .
Seja Lps(V ) o subreticulado completo de Lps(τ), constituıdo por todas as subpseudo-
variedades de V do tipo τ . Apresenta-se a correspondencia entre as subpseudovariedade
de V e as variedades de V -linguagens.
Proposicao 2.3.7. [Ste79, Alm94] As correspondencias
( )ℓ : Lps(V ) → VL(V ) W 7→W ℓ = (L ⊆ FnV : FnV/L ∈Wn)n>1
e
( )a : VL(V ) → Lps(V ) V 7→ Va = VfA/L ∈ V : L ∈ Vn, n > 1
sao isomorfismos de reticulado, mutuamente inversos.
74 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
Demonstracao: Seja W ∈ Lps(V ), conclui-se directamente da Proposicao 2.1.5 que
W ℓ ∈ VL(V ). Para V ∈ VL(V ), por definicao de V a tem-se que V a ∈ Lps(V ). Logo,
as aplicacoes ( )ℓ e ( )a estao bem definidas. Facilmente se conclui que sao monotonas.
Verifique-se que as aplicacoes satisfazem as condicoes do Corolario 0.4.2.
•W ℓa = W
A pseudovariedade W ℓa e gerada pelas algebras sintacticas FnV/L, tal que L ∈ W ℓn,
para algum n > 1. Como todas estas algebras sintacticas pertencem a W , conclui-se que
W ℓa ⊆ W . Seja A ∈ W uma algebra sintactica de W . Entao, A ∼= FnV/L, para alguma
linguagem V -reconhecıvel L ⊆ FnV e para algum n > 1. Deste modo, vem que L ∈W ℓn e
portanto A ∈W ℓa. Donde se conclui que W ⊆W ℓa e portanto W ℓa = W .
•V aℓ = V
Para n > 1, seja L ∈ Vn. Tem-se que FnV/L ∈ V a e portanto L ∈ V aℓn . Donde se
conclui que V ⊆ V aℓ.
Seja L ∈ V aℓn , para n > 1. Tem-se que FnV/L ∈ V a. Como a pseudovariedade V a e
gerada pelas algebras sintacticas das linguagens de V , existem linguagens L1 ∈ Vn1 , . . . , Lk ∈
Vnk, para k, n1, . . . , nk > 1, tais que
FnV/L Fn1V/L1 × . . .× FnkV/Lk.
Pelo Lema 2.2.2, existe um homomorfismo
ψ : FnV → Fn1V/L1 × . . .× FnkV/Lk
e um subconjunto finito H ⊆ Fn1V/L1 × . . .× FnkV/Lk, tal que L = ψ−1(H).
Seja ϕLi: Fni
V → FniV/Li, com 1 6 i 6 k, o homomorfismo sintactico de Li e
η = ϕL1×· · ·×ϕLko homomorfismo produto. Pelo Corolario 0.1.16, aplicado ao homomor-
fismo sobrejectivo η e ao homomorfismo ψ, e possıvel definir um homomorfismo λ : FnV →
Fn1V × . . .×FnkV , tal que η λ = ψ. Sejam πi : Fn1V/L1 × . . .×Fnk
V/Lk → FniV/Li e
φi : Fn1V × . . .×FnkV → Fni
V os homomorfismos projeccao, com 1 6 i 6 k. Deste modo,
πi ψ = ϕLi φi λ, para todo 1 6 i 6 k. Como H e finito e L =
⋃ψ−1(h) : h ∈ H,
entao L e a uniao finitaria das linguagens ψ−1(h), para h ∈ H. De modo a mostrar
que L ∈ Vn, basta mostrar que ψ−1(h) ∈ Vn, para todo h ∈ H, pois Vn e um corpo de
subconjuntos. Seja h = (h1, . . . , hk) ∈ H, entao ψ−1(h) =⋂(ϕLi
φi λ)−1(hi) : i =
1, . . . , k =⋂(φi λ)−1(ϕ−1
Li(hi)) : i = 1, . . . , k. Basta mostrar que cada elemento desta
ultima interseccao finitaria esta em algum membro da sequencia V . Como Li ∈ Vni, pelo
2.3. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG 75
Lema 2.3.2, as classes da sua congruencia sintactica ∼Lnitambem pertencem a Vni
. Logo
ϕ−1Li
(hi) ∈ Vni, para todo 1 6 i 6 k. Como V e uma variedade de V -linguagens, e fechada
para homomorfismos inversos e portanto (φi λ)−1(ϕ−1Li
(hi)) ∈ Vn, para todo 1 6 i 6 k.
Deste modo, conclui-se que L ∈ Vn e portanto V aℓ ⊆ V . Das duas inclusoes tira-se a
igualdade V aℓ = V . Pelo observado no Corolario 0.4.2, provado que as aplicacoes ( )a e
( )ℓ sao monotonas e mutuamente inversas, conclui-se que os reticulados Lps(V ) e VL(V )
sao isomorfos.
De modo a facilitar a demonstracao da correspondencia seguinte, veja-se o seguinte
Lema.
Lema 2.3.8. [Alm94, Ste92] Seja Γ ∈ VC(V ) uma variedade de V -congruencias e A uma
algebra finita do tipo τ . Entao, A ∈ VfFnV/θ : θ ∈ Γn, n > 1 se e so se existe um
homomorfismo sobrejectivo ϕ : FnV → A, tal que Kerϕ ∈ Γn, para algum n > 1.
Demonstracao: (⇒) Seja A ∈ Γa. Logo, existem congruencias θ1 ∈ Γn1 , . . . , θk ∈ Γnk,
para k > 1, com n1, . . . , nk > 1, tais que A Fn1V/θ1 × · · · × FnkV/θk. Deste modo,
existe um algebra finita B, um homomorfismo sobrejectivo β : B → A e um homo-
morfismo injectivo ϕ : B → Fn1V/θ1 × · · · ×FnkV/θk. As algebras Fn1V/θ1, . . . ,Fnk
V/θk
pertencem a pseudovariedade V , logo B ∈ V e portanto existe um homomorfismo so-
brejectivo ψ : FnV → B, para algum n > 1. Seja η = ϕθ1 × · · ·ϕθko homo-
morfismo produto, onde ϕθi: Fni
V → FniV/θi e o homomorfismo canonico de θi, para
1 6 i 6 k. Para cada i = 1, . . . , k, seja πi : Fn1V × · · · × FnkV → Fni
V o i−esimo
homomorfismo projeccao. Aplicando o Corolario 0.1.16 ao homomorfismo sobrejectivo η
e ao homomorfismo ϕ ψ, existe um homomorfismo γ : FnV → Fn1V × · · · × FnkV ,
tal que η γ = ϕ ψ. Tem-se que o homomorfismo β ψ : FnV → A e sobrejectivo e
Ker(β ψ) ⊇ Kerψ = Ker(ϕ ψ) = Ker(η γ) =⋂(πi γ × πi γ)−1θi : 1 6 i 6 k.
Como (πi γ × πi γ)−1θi ∈ Γn, para todo 1 6 i 6 k, logo Ker(β ψ) ∈ Γn.
(⇐) Trivial.
Veja-se, agora, a correspondencia entre as pseudovariedades e variedades de
V -congruencias.
76 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
Proposicao 2.3.9. [Ste92] As correspondencias
( )c : Lps(V ) → VC(V ) W 7→W c = (θ ∈ ConnV : FnV/θ ∈Wn)n>1
e
( )a : VC(V ) → Lps(V ) Γ 7→ Γa = VfFnV/θ : θ ∈ Γn, n > 1
sao isomorfismos de reticulado, mutuamente inversos.
Demonstracao: Seja Γ ∈ VC(V ), por definicao tem-se que Γa ∈ Lps(V ) e uma sub-
pseudovariedade de V . Seja W ∈ Lps(V ) uma subpseudovariedade de V . Prove-se
que W c e uma variedade de V -congruencias. Para n > 1, sejam θ1, θ2 ∈ W cn. Como
FnV/θ1 ∩ θ2 FnV/θ1 × FnV/θ2 e FnV/θ1,FnV/θ2 ∈ W , entao FnV/θ1 ∩ θ2 ∈ W e
portanto θ1 ∩ θ2 ∈W cn. Seja θ1 ∈W c
n e θ2 ∈ ConnV , tais que θ1 ⊆ θ2. Logo, existe um ho-
momorfismo sobrejectivo β : FnV/θ1 → FnV/θ2. Como FnV/θ1 ∈W , entao FnV/θ2 ∈W
e portanto θ2 ∈W cn. Assim sendo, tem-se que W c
n e um filtro de congruencias de ConnV ,
para todo n > 1. Seja ϕ : FmV → FnV um homomorfismo, para n,m > 1, e θ ∈ W cn.
Faca-se θ′ = (ϕ×ϕ)−1θ. Considere-se o homomorfismo injectivo ψ : FmV/θ′ → FnV/θ, tal
que ψ([a]θ′) = [ϕ(a)]θ, para todo a ∈ FmV . Logo, como FnV/θ ∈W , entao FnV/θ′ ∈W e
portanto (ϕ×ϕ)−1θ ∈ Γm. Donde se conclui que W c e uma variedade de V -congruencias.
Deste modo, conclui-se que as aplicacoes ( )a e ( )c estao bem definidas e facilmente
se verifica que sao monotonas. Prove-se, agora, que verificam as condicoes do Corolario
0.4.2.
•W ca = W .
Pelo Lema 2.3.8, tem-se que A ∈W ca se e so se existe um homomorfismo sobrejectivo
ϕ : FnV → A, para algum n > 1, tal que Kerϕ ∈W c. Pelo Teorema do homomorfismo,
A ∼= FnV/ kerϕ e portanto A ∈W . A outra inclusao tira-se dos mesmos argumentos.
•Γac = Γ.
Para n > 1, seja θ ∈ Γacn , entao FnV/θ ∈ Γa e pelo Lema 2.3.8, existe m > 1
e um homomorfismo sobrejectivo ψ : FmV → FnV/θ, tal que Kerψ ∈ Γm. Aplicando o
Corolario 0.1.16 ao homomorfismo sobrejectivo ψ e ao homomorfismo canonico de θ, existe
um homomorfismo ϕ : FnV → FmV tal que ψ ϕ = ϕθ. Assim sendo, θ = Ker(ψ ϕ) =
(ϕ × ϕ)−1Kerψ ∈ Γn. Logo, Γac ⊆ Γ. A inclusao contraria e evidente. Se θ ∈ Γn, para
algum n > 1, entao FnV/θ ∈ Γa e portanto θ ∈ Γacn . Conclui-se que Γac = Γ. Verificadas
as condicoes do Corolario 0.4.2, conclui-se a prova.
2.3. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG 77
A partir das duas Proposicoes anteriores e possıvel concluir que VL(V ) e VC(V ) sao
reticulados completos isomorfos. No entanto, a Proposicao seguinte descreve as corre-
spondencias que dao origem este isomorfismo e generaliza o resultado de Therien [The80].
Proposicao 2.3.10. [Ste92] As correspondencias
( )c : VL(V ) → VC(V ) V 7→ Vc = ([∼L: L ∈ Vn)n)n>1
e
( )ℓ : VC(V ) → VL(V ) Γ 7→ Γℓ = (L ⊆ FnV : ∼L∈ Γnn)n>1
sao isomorfos de reticulado, mutuamente inversos.
Demonstracao: Seja V ∈ VL(V ) um variedade de V -linguagens. Por definicao, para
cada n > 1, V cn e um filtro de congruencias gerado pelo conjunto de congruencias sintacticas
∼L: L ∈ Vn. Para qualquer θ ∈ V cn , existem V -linguagens L1, . . . , Lk ∈ Vn, para k > 1,
tal que θ ⊇ ∼L1 ∩ · · · ∩ ∼Lk. Como L1, . . . , Lk sao V -reconhecıveis, usando o Lema 2.2.2,
conclui-se que todas as algebras FnV/Li, para 1 6 i 6 k, pertencem a pseudovariedade
V . Deste modo,
FnV/θ FnV/(∼L1 ∩ · · · ∩ ∼Lk) FnV/L1 × · · · × FnV/Lk
e portanto FnV/θ ∈ V . Assim sendo, prova-se que todas as congruencias de V cn pertencem
a ConnV , ou seja, V cn e um filtro de V -congruencias, para todo n > 1.
Seja ϕ : FmV → FnV um homomorfismo e θ ∈ V cn . Tem-se que θ ⊇ ∼L1 ∩ · · · ∩ ∼Lk
,
para V -linguagens L1, . . . , Lk ∈ Vn e k > 1. Assim sendo, vem que
(ϕ× ϕ)−1θ ⊇ (ϕ× ϕ)−1 ∼L1 ∩ · · · ∩ (ϕ× ϕ)−1 ∼Lk.
Pelo Lema 2.1.8 tem-se que
(ϕ× ϕ)−1 ∼Li=
⋂∼ϕ−1(p−1Li): p ∈ Pol1(FnV ),
para todo i = 1, . . . , k. Para cada i = 1, . . . , k, os conjuntos ϕ−1(p−1Li) ∈ Vm, com
p ∈ Pol1(FnV ), sao em numero finito. Logo, (ϕ× ϕ)−1 ∼Li∈ V c
m, para cada 1 6 i 6 k, e
portanto (ϕ× ϕ)−1θ ∈ V cm. Donde se conclui que V c ∈ VC(V ).
Seja Γ ∈ VC(V ). Usando as propriedades enunciadas na Proposicao 2.1.4, conclui-se
que Γℓ e uma variedade de V -linguagens. Logo, as correspondencias ( )ℓ e ( )c estao bem
definidas e facilmente se conclui que sao monotonas.
78 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
Das Proposicoes 2.3.7 e 2.3.9 estabelece-se que os conjuntos parcialmente ordena-
dos VL(V ) e VC(V ) sao reticulados completos isomorfos, visto serem ambos isomorfos
a Lps(V ). Logo, os isomorfismos entre VL(V ) e VC(V ) sao dados pela composicao dos
isomorfismos estabelecidos nas Proposicoes 2.3.7 e 2.3.9. Assim sendo, pretende-se provar
que ( )ℓ e ( )c sao os isomorfismos de reticulado mutuamente inversos entre VL(V ) e
VC(V ). Para isso, basta mostrar que V ac = V c e Γaℓ = Γℓ, para qualquer V ∈ VL(V ) e
Γ ∈ VC(V ). Onde ( )a, ( )ℓ e ( )c sao as aplicacoes que tem significado no contexto em
que sao usadas.
• Γaℓ = Γℓ.
Seja W ∈ Lps(V ) uma subpseudovariedade de V . Verifique-se que W ℓ = W cℓ, proprie-
dade que sera usada de seguida. Para n > 1 e L ∈W ℓn, vem
L ∈W ℓn ⇔ FnV/L ∈W ⇔ ∼L∈W c
n ⇔ L ∈W cℓn ,
e portanto tem-se que W ℓ = W cℓ.
Seja Γ ∈ VC(V ) uma variedade de V -congruencias. Entao, Γaℓ = (Γa)ℓ = (Γa)cℓ =
(Γac)ℓ = Γℓ, usando a propriedade acima e a Proposicao 2.3.9.
• V ac = V c.
Seja n > 1 e θ ∈ ConnV . Se θ ∈ V cn , entao θ ⊇∼L1 ∩ · · · ∩ ∼Lk
, para algum
k > 1 e linguagens L1, . . . , Lk ∈ Vn. Como todas as algebras FnV/Li, para 1 6 i 6 k,
pertencem a V a e FnV/θ FnV/L1 × · · · × FnV/Lk, conclui-se que FnV/θ ∈ V a e
portanto θ ∈ V ac. Donde se conclui que V ac ⊇ V c. Se θ ∈ V acn , entao FnV/θ ∈ V a
e portanto existem V -linguagens Li ∈ Vni, com 1 6 i 6 k, para k, n1, . . . , nk > 1, tal
que FnV/θ Fn1V/L1 × · · · × FnkV/Lk. Logo, existe um algebra finita B ∈ V a, um
homomorfismo sobrejectivo ψ : B → FnV/θ e um homomorfismo injectivo η : B →
Fn1V/L1 × · · · × FnkV/Lk. Aplicando o Corolario 0.1.16 ao homomorfismo sobrejectivo
ψ e ao homomorfismo canonico de θ, existe um homomorfismo ϕ : FnV → B, tal que
ψ ϕ = ϕθ. A algebra B pode ser escolhida de modo que ϕ seja sobrejectivo. Logo,
Ker(ψ ϕ) = θ. Para cada i = 1, . . . , k, seja πi : Fn1V × · · · × FnkV → Fni
V o i−esimo
homomorfismo projeccao e seja φ = ϕLi× · · · × ϕLk
o homomorfismo produto, dos ho-
momorfismo sintacticos ϕLi: Fni
V → FniV/Li, com 1 6 i 6 k. Aplicando novamente
o Corolario 0.1.16, agora ao homomorfismo sobrejectivo φ e ao homomorfismo ϕ η, ex-
iste um homomorfismo γ : FnV → Fn1V × · · · × FnkV , tal que φ γ = η ϕ. Logo,
θ = ker(ψ ϕ) ⊇ ker(η ϕ) = ker(φ γ) =⋂(πi γ × πi γ)−1 ∼Li
: 1 6 i 6 k. Para
2.3. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG 79
cada i = 1, . . . , k, tem-se que ∼Li∈ V c
ni. Logo, (πi γ × πi γ)−1 ∼Li
∈ Vn e portanto
θ ∈ V cn . Donde se conclui que V ac ⊆ V c e portanto V ac = V c. Conclui-se a prova,
ao mostrar que as aplicacoes ( )ℓ ( )c, definidas no enunciado da Proposicao, sao os
isomorfismos entre VL(V ) e VC(V ).
A Proposicao seguinte e um resultado bastante util na caracterizacao de alguns exem-
plos.
Proposicao 2.3.11. Seja W = HSPf (K) uma subpseudovariedade de V , gerada pela
classe de algebras finitas K, nao vazia. Para cada n > 1, W ℓn e a corpo de subconjuntos ger-
ado pelo conjunto de linguagens L ⊆ FnV : L e reconhecida por alguma algebra de K.
Demonstracao: Seja L ⊆ FnV , tal que L ∈ W ℓn, para n > 1. Sabe-se que W ℓ
n e um
corpo de subconjuntos. Prove-se que L e dado por um numero finito de interseccoes e
unioes de linguagens de L ⊆ FnV : L e reconhecida por alguma algebra de K. Como L
pertence a W ℓn, entao FnV/L ∈ W e portanto, existem algebras A1 . . . ,Ak ∈ K, tal que
FnV/L A1×· · ·×Ak, para k > 1. Assim sendo, a algebra A = A1×· · ·×Ak reconhece
L e portanto existe um homomorfismo ϕ : FnV → A e um conjunto P ⊆ A1 × · · · × Ak,
tal que L = ϕ−1(P ) =⋃a∈P ϕ
−1(a), com a = (a1, . . . , ak) ∈ A1 × · · · × Ak. Como
P e um conjunto finito, basta provar que cada ϕ−1(a) e uma combinacao booleana de
linguagens de Vn. Seja πj : A → Aj o j−esimo homomorfismo projeccao e considerem-se
os homomorfismo ϕj = πj ϕ, para 1 6 j 6 k. Deste modo, ϕ−1(a) =⋂kj=1 ϕ
−1j (aj) e
a linguagem ϕ−1j (aj) e reconhecida pela algebra Aj ∈ K, logo ϕ−1
j (aj) ∈ Vn. Portanto,
conclui-se que L e obtida a partir de unioes e interseccoes finitarias de linguagens de Vn.
De facto, da demonstracao da Proposicao anterior mostra-se que basta considerar ape-
nas as operacoes interseccao e uniao, podendo-se prescindir da operacao complementacao.
Como Corolario tem-se o seguinte resultado.
Corolario 2.3.12. Seja W uma subpseudovariedade de V . Entao, para cada n > 1, W ℓn
e corpo de subconjuntos gerado pelas linguagens L ⊆ FnV , reconhecidas pelas algebras
subdirectamente irredutıveis [resp. algebras sintacticas] de W .
80 CAPITULO 2. CORRESPONDENCIAS TIPO-EILENBERG
Capıtulo 3
Variedades M-solidas de
linguagens
Seja M ⊆ Hyp(τ) um subuniverso do monoide das hipersubstituicoes do tipo τ . Nos
capıtulos anteriores, constatou-se que o reticulado SpsM (τ) das pseudovariedades M -solidas
forma um subreticulado completo do reticulado Lps(τ) das pseudovariedades do tipo τ .
Seja V uma determinada pseudovariedade do tipo τ . Considere-se o subreticulado de L(V )
SpsM (V ) := Lps(V )⋂
SpsM (τ)
das subpseudovariedades M -solidas de V . Dados os isomorfismos entre o reticulado
Lps(V ) e os reticulados das variedades de V -linguagens e V -congruencias, conclui-se que
ao subreticulado LpsM (V ) corresponde um subreticulado de V -linguagens em VL(V ) e um
subreticulado de V -congruencias em VC(V ). Surge como um problema natural, tentar
encontrar uma caracterizacao dos membros destes subreticulados de V -linguagens e de
V -congruencias.
Inspirado no trabalho de Esik em [Esi99] e de Steinby em [Ste98], neste capıtulo o autor
estabelece algumas correspondencias e caracterizacoes das variedades de V -linguagens e
V -congruencias associadas a subpseudovariedades M -solidas de V .
Ao longo deste capıtulo consideram-se apenas V -linguagens, onde V e uma pseudovarie-
dade equacional do tipo τ , de modo a contornar as particularidades das pseudovariedades
nao equacionais. Esta restricao nao coloca grandes limitacoes, pois como ja foi frisado,
os dois casos importantes sao quando V e a pseudovariedade dos semigrupos finitos ou a
classe de todas a algebra finitas de determinado tipo finito, que sao ambos exemplos de
pseudovariedades equacionais.
81
82 CAPITULO 3. VARIEDADES M -SOLIDAS DE LINGUAGENS
De modo a ilustrar as definicoes e proposicoes seguintes, veja-se o seguinte exemplo
usando o caso que deu origem a toda esta teoria.
Seja V a pseudovariedade dos monoides finitos e W a subpseudovariedade dos monoides
finitos aperiodicos. De modo a facilitar a escrita, usar-se-a a notacao infixa para a operacao
binaria. Seja X um conjunto de variaveis (ou letras) e X∗ o monoide livre gerado por X.
Uma linguagem L ⊆ X∗ diz-se livre de estrela se pode ser obtida usando apenas as
operacoes booleanas e a concatenacao a partir dos elementos de X. Schutzenberger, nos
anos sessenta, mostrou que a variedade de linguagens regulares W ℓ correspondente a W e
exactamente a variedade de linguagens constituıda pelas linguagens livre de estrela.
Seja A = 〈A; 〉 ∈ W um monoide aperiodico, o grupoide A = 〈A; ⋄〉, tal que x ⋄ y :=
yx e um monoide aperiodico, ja que um subgrupo de A e um subgrupo de A e vice versa.
Portanto A pertence a W . Mas o monoide A pode ser obtido como um grupoide derivado
de A, pela hipersubstituicao σyx ∈ Hyp(2), que aplica a operacao binaria no termo yx.
Logo, a pseudovariedade W e M -solida, para M = σid, σyx. Por outro lado, observa-
se facilmente que se A reconhece a linguagem L ⊆ X∗, entao A reconhece a linguagem
L = u ∈ X∗ : u = a1 . . . an, an . . . a1 ∈ L, donde se conclui que L e livre de estrela.
Usando a hipersubstituicao σyx, vem L = u ∈ X∗ : u = σyx[v], v ∈ L = σ−1yx (L). Deste
modo, observa-se que o facto de W serM -solida esta relacionado com o facto de a variedade
de linguagens correspondente ser fechada para imagens inversas das hipersubstituicoes
de M . Passe-se ao estudo do caso geral.
3.1 Variedades M-solidas de linguagens e de congruencias
O seguinte conjunto de hipersubstituicoes, introduzido por Plonka em [Plo94], tem um
papel importante.
Definicao 3.1.1. Seja K uma classe de algebras do tipo τ . A hipersubstituicao σ ∈
Hyp(τ) diz-se K-propria se para t ≈ s ∈ Id(K) vem σ[t] ≈ σ[s] ∈ Id(K). Denota-se por
P (K) o conjunto de todas as hipersubstituicoes K-proprias.
A variedade U = HSP(K) satisfaz as mesmas equacoes que a classe K. Logo, P (U) =
P (K), como tambem P (U) = P (Uf ).
Lema 3.1.2. [DW00] Para toda a classe de algebras K do tipo τ , P(K) = 〈P (K); h, σid〉
e um submonoide de Hyp(τ).
3.1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE LINGUAGENS E DE CONGRUENCIAS 83
Demonstracao: Claramente, tem-se que P (K) ⊆ Hyp(τ) e um subconjunto de hiper-
substituicoes nao vazio, pois σid ∈ P (K). Sejam σ1, σ2 ∈ P (K) hipersubstituicoes
K-proprias. Pela Proposicao 1.1.2, vem que (σ1 h σ2) = σ1 σ2. Para t ≈ s ∈ Id(V ),
vem que σ2[t] ≈ σ2[s] ∈ Id(K) e portanto tambem σ1[σ2[t]] ≈ σ1[σ2[s]] ∈ Id(K). Logo,
(σ1 h σ2) [t] ≈ (σ1 h σ2) [s] ∈ Id(K), donde se conclui que σ1 h σ2 ∈ P (K).
Facilmente se conclui, do Lema anterior, que se uma pseudovariedade equacional (resp.
variedade) V e M -solida entao M ⊆ P (V ) e P(V ) e o maior submonoide de hipersubsti-
tuicoes, para o qual V e P (V )-solida.
Proposicao 3.1.3. Seja V uma pseudovariedade do tipo τ . Seja σ ∈ P (V ) uma hiper-
substituicao V -propria, entao σ : FnVsw−→ FnV e um M -semi-endomorfismo fraco.
Demonstracao: Tem-se o homomorfismo σ : Tτ (Xn) → σ[Tτ (Xn)]. Como as hipersub-
stituicoes V -proprias preservam as identidades de V , conclui-se que θV (Xn) ⊆ Kerσ e
pelo Teorema da Correspondencia 0.1.15, tem-se o homomorfismo
σ : FnV → σ[Tτ (Xn)]/θV (Xn).
Pelo Lema 2.1.7, θV (Xn) e tambem uma congruencia em σ[Tτ (Xn)] e alem disso tem-se
que σ[FnV ] = σ[Tτ (Xn)/θV (Xn)] = σ[Tτ (Xn)]/θV (Xn). Deste modo, σ : FnVsw−→ FnV
e um M -semi-endomorfismo fraco.
Apresenta-se a definicao de variedade M -solida de V -linguagens.
Definicao 3.1.4. Seja V = (Vn)n>1 uma variedade de V -linguagens. A variedade V
diz-se uma variedade M -solida de linguagens se para todo n,m > 1, todo o M -semi-
homomorfismo fraco h : FmVsw−→ FnV e L ∈ Vn, vem h−1(L) ∈ Vm.
Tem-se o seguinte resultado, utilizando as correspondencias do Capıtulo anterior.
Proposicao 3.1.5. Seja W uma subpseudovariedade M -solida de V . Entao, W ℓ e uma
variedade M -solida de V -linguagens.
84 CAPITULO 3. VARIEDADES M -SOLIDAS DE LINGUAGENS
Demonstracao: Seja W uma subpseudovariedade M -solida de V . Pela Proposicao 2.3.7,
tem-se que W ℓ e uma variedade de V -linguagens. Para n,m > 1, seja h : FmVsw−→
FnV um M -semi-homomorfismo fraco e L ∈ W ℓn. Pretende-se provar que h−1(L) ∈ W ℓ
m.
Como L ∈ W ℓn, entao FnV/L ∈ W . Deste modo, L e W -reconhecıvel e pelo Lema 2.2.2,
existe uma algebra finita A ∈ W , um homomorfismo ϕ : FnV → A e um conjunto
K ⊆ A, tal que ϕ−1(K) = L. Tem-se o homomorfismo h : FmV → σ[FnV ] e pelo
Lema 1.1.5 o homomorfismo ϕ : σ[FnV ] → σ[A], para uma hipersubstituicao σ ∈ M .
Logo, h−1(L) = h−1(ϕ−1(K)) = (ϕ h)−1(K). Portanto, h−1(L) e reconhecida pelo triplo
〈σ[A], ϕ h,K〉, ou seja, pela algebra finita σ[A] e portanto FmV/h−1(L) σ[A]. Como
W e M -solida, entao σ[A] ∈W e consequentemente FmV/h−1(L) ∈W . Assim sendo, vem
que h−1(L) ∈W ℓm. Donde se conclui que W ℓ e uma variedade M -solida de V -linguagens.
Da Proposicao anterior concluem-se os seguintes resultados.
Corolario 3.1.6. Seja L ∈ RecnV uma linguagens V -reconhecıvel e h : FmV → FnV
um M -semi-homomorfismo fraco. Entao, h−1(L) e reconhecida pela algebra σ[A], para
alguma hipersubstituicao σ ∈M .
Corolario 3.1.7. Seja V uma variedade de V -linguagens. Se V a e uma pseudovariedade
M -solida, entao tambem V e uma variedade M -solida.
O seguinte resultado, que surge enunciado em [Sah04], da uma caracterizacao das
algebras que pertencem a uma pseudovariedade recorrendo as linguagens por si reconheci-
das.
Lema 3.1.8. Seja V uma variedade de V -linguagens e A ∈ V uma algebra finita. A
algebra A pertence a pseudovariedade V a se e so se cada V -linguagem reconhecida por A
pertence a Vn, para algum n > 1.
Demonstracao: (⇒) Seja L ⊆ FnV uma V -linguagem reconhecida por A. Pelo Lema
2.2.2, tem-se que FnV/L A e portanto FnV/L ∈ V a, ou seja, L ∈ Vn.
(⇐) Suponha-se que todas as V -linguagens reconhecidas por A pertencem a algum
membro da sequencia V . Seja A ∈ V uma algebra finita. Toda a algebra finita e isomorfa
3.1. VARIEDADES M -SOLIDAS DE LINGUAGENS E DE CONGRUENCIAS 85
a um produto subdirecto finitario de algebra finitas subdirectamente irredutıveis, que sao
suas imagens homomorfas, pelo Corolario 0.1.25. Assim sendo, A ∏ki=1 Ai, para k > 1,
onde Ai e uma algebra finita subdirectamente irredutıvel, para 1 6 i 6 k. Pela Proposicao
2.1.13, vem que as algebras A1, . . . ,Ak sao sintacticas e como sao imagens homomorfas
de A, pertencem a pseudovariedade V . Deste modo, pelo Lema 2.3.6, vem que existem
linguagens Li ⊆ FniV , para i = 1, . . . , k, tal que Ai
∼= FniV/Li, com n1, . . . , nk > 1.
Como FniV/Li A, para 1 6 i 6 k, entao as linguagens L1, . . . , Lk sao reconhecidas por
A. Por hipotese, tem-se que Li ∈ Vni, para todo 1 6 i 6 k. Logo, as algebra sintacticas
Fn1V/L1, . . . ,FnkV/Lk pertencem a V a e portanto A ∈ V a.
Aplicando o Lema anterior, tem-se a seguinte Proposicao relativa as variedades de
linguagens.
Proposicao 3.1.9. Seja V uma variedade M -solida de V -linguagens. Entao, a pseu-
dovariedade V a e M⋂P (V )-solida.
Demonstracao: Seja A ∈ V a e σ ∈ M⋂P (V ) uma hipersubstituicao. Pretende-se
provar que σ[A] ∈ V a. Pelo Lema 3.1.8, basta provar que toda a V -linguagens reconhecida
por σ[A] pertence a algum membro da sequencia V . Para n > 1, seja L ∈ RecnV , tal que L
e reconhecida por σ[A]. Logo, existe um homomorfismo ϕ : FnV → σ[A] e um subconjunto
K ⊆ A, tal que ϕ−1(K) = L. Como σ ∈ P (V ), entao σ[A] ∈ V e σ : FnVsw−→ FnV e
um M -semi-endomorfismo fraco. Seja ψ : FnV → A o unico homomorfismo, tal que
ψ σ = ϕ. Assim sendo, tem-se que L = ϕ−1(K) = (ψ σ)−1(K) = σ−1(ψ−1(K)). Como
A reconhece a linguagem L′ = ψ−1(K), entao FnV/L′ A e portanto L′ ∈ Vn. Mas
como V e M -solida, entao L = σ−1(L′) ∈ Vn. Donde se conclui que todas as V -linguagens
reconhecidas por σ[A] estao em algum membro de V e portanto σ[A] ∈ V a. Portanto,
V a e uma pseudovariedade M⋂P (V )-solida.
Apresenta-se, agora, a definicao de variedade M -solida de V -congruencias.
Definicao 3.1.10. Seja Γ = (Γn)n>1 uma variedade de V -congruencias. A variedade Γ
diz-se uma variedade M -solida de congruencias se para todo o n,m > 1,todo o M -semi-
homomorfismo fraco h : FmVsw−→ FnV e θ ∈ Γn, vem que (h× h)−1θ ∈ Γm.
86 CAPITULO 3. VARIEDADES M -SOLIDAS DE LINGUAGENS
O resultado que se obtem entre variedade de linguagens e variedades de congruencias
e o seguinte.
Proposicao 3.1.11. Seja V uma variedade de V -linguagens. Entao, V e M -solida se e
so se V c e M -solida.
Demonstracao: (⇒) Para n,m > 1, seja h : FmV → FnV um M -semi-homomorfismo
fraco e θ ∈ V cn . Combinando os Lemas 2.1.6, 2.1.8 e 2.1.9, vem que
(h× h)−1θ =⋂
p
⋂
L
∼h−1(p−1(L)): p ∈ Pol1(FnV ) e L uma θ-classe
e uma interseccao finitaria. Pela Proposicao 2.2.5, todas as classes de θ pertencem a
Vn. Como V e uma variedade M -solida de V -linguagens, entao p−1(L) ∈ Vn e tambem
h−1(p−1(L)) ∈ Vm, para todo p ∈ Pol1(FnV ) e θ-classe L. Logo, (h× h)−1θ ∈ V cn .
(⇐) Seja V uma variedade de V -linguagens, tal que V c e variedade M -solida de
V -congruencias. Para n,m > 1, seja L ∈ Vn e h : FmVsw−→ FnV umM -semi-homomorfismo
fraco. Tem-se o homomorfismo h : FmV → σ[FnV ], para alguma hipersubstituicao σ ∈M .
Pela Proposicao 2.1.4 (iii), vem que (h× h)−1 ∼L⊆∼h−1(L). Deste modo, como ∼L∈ V cn
e V c e uma variedade M -solida, entao (h × h)−1 ∼L∈ V cm. Assim sendo, como V c
m e um
filtro de congruencias, entao tambem ∼h−1(L)∈ V cm. Logo, h−1(L) ∈ V cℓ
m = Vm. Donde se
conclui que V e M -solida.
Corolario 3.1.12. Seja Γ uma variedade de V -congruencias. Entao, Γ e M -solida se e
so se Γℓ e M -solida.
3.2 Linguagens de arvore
No caso em que V e a classe de todas algebras finitas do tipo τ , entao FnV e a algebra
dos termos do tipo τ sobre Xn. Neste caso, um subconjunto L ⊆ Tτ (Xn) designa-se por
linguagem de arvore do tipo τ , ou simplesmente por linguagens de arvore. Neste caso,
obtem-se resultados bastante mais elegantes.
Repare-se que aplicacoes denotadas ( )a, ( )ℓ e ( )c e definidas nas Proposicoes 2.3.7,
2.3.9 e 2.3.10 dependem da pseudovariedade V .
3.2. LINGUAGENS DE ARVORE 87
Teorema 3.2.1. Seja V = Algf (τ) a pseudovariedade de todas as algebras finitas do
tipo τ . Entao, a pseudovariedade W e M -solida se e so se a variedade de linguagens W ℓ
e M -solida se e so se W c e M -solida.
Demonstracao: Conclui-se directamente das Proposicoes 3.1.5 e 3.1.9, usando o facto
de P (Algf (τ)) = Hyp(τ).
No caso das variedades de linguagens de arvore, tem-se uma correspondencia bijectiva
entre as varias estruturas M -solidas dos reticulados Lps(τ), VL(τ) e VC(τ). Assim sendo,
conclui-se que ao subreticulado completo SpsM (τ) corresponde o subreticulado completo
VLM (τ), de todas as variedades M -solidas de linguagens de arvore. De modo analogo,
para as variedades de congruencias VC(τ), tem-se o correspondente subreticulado completo
VCM (τ), de todas as variedades M -solidas de congruencias. As correspondencias sao
estabelecidas no Corolario seguinte.
Corolario 3.2.2. Os conjuntos VLM (τ) e VCM (τ) formam subreticulados completos dos
reticulados VL(τ) e VC(τ), respectivamente, ambos isomorfos ao reticulado SpsM (τ).
Demonstracao: Consequencia directa na Proposicao anterior e das correspondencia das
Proposicoes 2.3.7, 2.3.9 e 2.3.10.
Da mesma forma que no Capıtulo 1 se usaram submonoides de hipersubstituicoes
para determinar subreticulados completos do reticulado das variedade L(τ) e do reticu-
lado das pseudovariedades Lps(τ), o Corolario anterior mostra a forma, usando tambem
submonoides de hipersubstituicoes, de se obterem subreticulados completos de VL(τ) e
VC(τ).
No caso das linguagens de arvore, e possıvel dar uma caracterizacao mais simples das
variedades M -solidas de linguagens e das variedades M -solidas de congruencias usando
hipersubstituicoes.
Proposicao 3.2.3. A variedade de linguagens arvore V e M -solida se e so se para todo
n > 1, toda a hipersubstituicao σ ∈M e L ∈ Vn, vem que σ−1(L) ∈ Vn.
88 CAPITULO 3. VARIEDADES M -SOLIDAS DE LINGUAGENS
Demonstracao: (⇒) Seja n > 1, σ ∈ M e L ∈ Vn. Tem-se o M -semi-endomorfismo
fraco σ : Tτ (Xn)sw−→ Tτ (Xn). Por hipotese V e uma variedade M -solida de linguagens
de arvore e portanto σ−1(L) ∈ V .
(⇐) Pretende-se provar que V e uma variedade M -solida de linguagens de arvore. Seja
h : Tτ (Xm)sw−→ Tτ (Xn) um M -semi-homomorfismo fraco. Pelo Lema 1.4.3, tem-se que
h = ϕ σ, para um homomorfismo ϕ : Tτ (Xm) → Tτ (Xn) e hipersubstituicao σ ∈ M .
Deste modo, h−1(L) = σ−1(ϕ−1(L)). Como V e uma variedade de linguagens de arvore,
vem que ϕ−1(L) ∈ Vm e pela hipotese, conclui-se que h−1(L) = σ−1(ϕ−1(L)) ∈ Vm.
Conclui-se que V e M -solida.
Da mesma forma para as variedade de congruencias.
Proposicao 3.2.4. Seja Γ ∈ VC(τ) uma variedade de congruencias. Entao, Γ e M -solida
se e so se para todo n > 1, θ ∈ Γn e σ ∈M , vem que (σ × σ)−1θ ∈ Γn.
Demonstracao: (⇒) Seja n > 1, θ ∈ Γn e σ ∈M . Tem-se o M -semi-endomorfismo fraco
σ : Tτ (Xn)sw−→ Tτ (Xn). Como Γ e uma variedade M -solida de congruencias, vem que
(σ × σ)−1θ ∈ Γn.
(⇐) Seja h : Tτ (Xm)sw−→ Tτ (Xn) um M -semi-homomorfismo fraco. Pelo Lema 1.4.3,
tem-se que h = ϕ σ, para um homomorfismo ϕ : Tτ (Xm) → Tτ (Xn) e hipersubstituicao
σ ∈M . Assim sendo,
(h× h)−1θ = (ϕ σ × ϕ σ)−1θ = (σ × σ)−1((ϕ× ϕ)−1θ),
pelo Lema 2.1.10. Como Γ e uma variedade de congruencias, vem que (ϕ × ϕ)−1θ ∈ Γm.
Pela hipotese, conclui-e que (h × h)−1θ = (ϕ σ × ϕ σ)−1θ ∈ Γm. Portanto Γ e uma
variedade M -solida de congruencias.
Uma importante nocao, na teoria das linguagens de arvore, e a de morfismo de arvore
[GS84], que de determinada forma e uma generalizacao da nocao de homomorfismo para as
linguagens de palavras, consideradas como termos de tipo unario. Os semi-homomorfismo
fracos sao um tipo especial de morfismos de arvore. Portanto, e possıvel caracterizar as
variedades M -solidas de linguagens e de congruencias, utilizando determinadas famılias
de morfismos de arvores, como em [Ste98].
Capıtulo 4
Exemplos
Neste Capıtulo, dar-se-ao alguns exemplos de variedades, pseudovariedades, variedades
de linguagens de arvore e de congruencias que sao M -solidas, para submonoides M ⊆
Hyp(τ).
4.1 Algebras rectangulares
Uma algebra A = 〈A; fA
i i∈I〉 do tipo τ diz-se uma algebra projeccao se para todo
para todo i ∈ I, se tem fA
i = pAki,ni, para algum 1 6 ki 6 ni, ou seja, se todas as operacoes
de A sao operacoes projeccao.
Seja PA(τ) a classe de todas as algebras projeccao do tipo τ . As algebras da variedade
gerada pelas algebras projeccao RA(τ) = HSP(PA(τ)) = Mod(Id(PA(τ))) denominam-se
algebras rectangulares do tipo τ .
Proposicao 4.1.1. [PR93] Seja V uma variedade solida do tipo τ nao trivial. Entao, V
contem todas as algebra projeccao do tipo τ e portanto RA(τ) ⊆ V .
Demonstracao: Seja A = 〈A; pAki,ni〉i∈I ∈ PA(τ) uma algebra projeccao do tipo τ .
Como V e uma variedade nao trivial, contem algebras de cardinalidades arbitrariamente
”grandes”. Logo, existe uma algebra B ∈ V , tal que |A| < |B|. Seja σ ∈ Hyp(τ) a
hipersubstituicao tal que σ(fi) = xki∈ Xni
, com 1 6 ki 6 ni. Deste modo, σ[B] =
〈B; pAki,nii∈I〉. Pelo facto de V ser uma variedade solida, vem que σ[B] ∈ V . Qualquer
aplicacao sobrejectiva ϕ : B → A e um homomorfismo sobrejectivo de σ[B] para A, logo
A ∈ V . Donde, facilmente se conclui que RA(τ) ⊆ V .
89
90 CAPITULO 4. EXEMPLOS
Lema 4.1.2. Seja A ∈ PA(τ) uma algebra projeccao. Para m > 1 e todo o termo
t ∈ Tτ (Xm), a operacao termo tA : Am → A e uma operacao projeccao.
Demonstracao: Prove-se por inducao estrutural. Se t = xj ∈ Xm, entao obviamente
tA = xA
j = pAj,m, com 1 > j > m. Seja t = fi(t1, . . . , tni), para algum i ∈ I. Suponha-se
que as operacoes tA1 , . . . , tAni
sao operacoes projeccao. Deste modo, tA = fA
i (tA1 , . . . , tAni
) =
tAk , para algum k ∈ 1, . . . , ni, visto que fA
i e uma operacao projeccao. Logo, conclui-se
que tA e uma operacao projeccao.
O seguinte resultado que surge em [PR93], utilizando a base equacional de RA(τ) e
aqui demonstrado de um modo mais simples.
Teorema 4.1.3. A variedade RA(τ) e a menor variedade solida nao trivial do tipo τ .
Demonstracao: Da Proposicao anterior, tem-se que a variedade RA(τ) esta contida em
todas as variedades solidas, nao triviais, do tipo τ . Falta apenas verificar que RA(τ) e
uma variedade solida. Pelo Corolario 1.3.8, basta que Xa[PA(τ)] ⊆ RA(τ). De facto,
Xa[PA(τ)] ⊆ PA(τ). Seja A ∈ PA(τ) e σ ∈ Hyp(τ). Pelo Lema anterior, cada
operacao σ(fi)A, com i ∈ I, e uma operacao projeccao e portanto σ[A] ∈ PA(τ). Logo,
Xa[PA(τ)] ⊆ PA(τ) e portanto RA(τ) e a menor variedade solida, nao trivial, do tipo τ .
Seja RAf (τ) a pseudovariedade de todas as algebras rectangular finitas. Pelo facto de
RA(τ) ser solida, i.e. fechada para algebras derivadas, conclui-se que RAf (τ) e tambem
fechada para algebras derivadas e portanto solida. As demonstracoes anteriores podem-se
refazer considerando algebras finitas. Donde se conclui que RAf (τ) e a menor pseudovar-
iedade, nao trivial, solida do tipo τ .
Como corolario obtem-se os seguintes resultados relacionados com variedades de lin-
guagens de arvore e de congruencias.
Corolario 4.1.4. A variedade de linguagens de arvore RA(τ)ℓ e a variedade de con-
gruencias RA(τ)c sao, respectivamente, as menores variedades solidas, nao triviais, de
linguagens de arvore e de congruencias.
4.2. ALGEBRAS DIAGONAIS E LINGUAGENS ROTULADAS. 91
4.2 Algebras diagonais e linguagens rotuladas.
Considere-se o tipo de algebras finito τ = (n), para n > 1. Em [Plo66], P lonka
denominou as algebras de RA(n) de algebras diagonais de dimensao n.
Na Proposicao seguinte e dada a caracterizacao das algebras subdirectamente irre-
dutıveis de RAf (n)
Proposicao 4.2.1. [PR93] As algebras subdirectamente irredutıveis de RAf (n), sao as
algebras projeccao de dois elementos do tipo (n).
Denote-se PA2(n) o conjunto de todas as algebras projeccao de dois elementos, do
tipo (n). Facilmente se conclui que a menos de isomorfismo PA2(n) = A1, . . . ,An, com
Ak = 〈0, 1; pk,n〉, para 1 6 k 6 n.
Agora, pretende-se caracterizar a variedade de linguagens de arvore solida RAf (n)ℓ,
correspondente a pseudovariedade solida RAf (n), de todas as algebras diagonais finitas
de dimensao n. De modo a simplificar a escrita, denote-se a variedade de linguagens de
arvore RAf (n)ℓ simplesmente por Diag(n) = (Diag(n)m)m>1. Pelo Corolario 2.3.12, para
cada m > 1, o conjunto Diag(n)m e o corpo de subconjuntos gerado pelas linguagens
L ⊆ T(n)(Xm) reconhecidas pelas algebras projeccao de dois elementos do tipo (n).
De modo a encontrar uma caracterizacao das linguagens reconhecidas pelas algebras
de PA2(n), veja-se o seguinte.
Para um termo t ∈ T(n)(X) e 1 6 k 6 n, defina-se ydk(t) como o seu k−rotulo, ou o
rotulo do seu k−caminho, da seguinte maneira:
i) ydk(x) = x, para x ∈ X;
ii) ydk(t) = ydk(tk), se t = f(t1, . . . , tn).
A seguinte Proposicao sera bastante util mais a frente.
Proposicao 4.2.2. Seja t ∈ T(n)(Xm) e A ∈ PA(n) uma algebra projeccao com
A = 〈A; pAk,n〉, para 1 6 k 6 n. Se ydk(t) = xj, entao tA = pAj,m , com 1 6 j 6 m.
Demonstracao: Prove-se por inducao estrutural. Se t = xj , para xj ∈ Xm, entao
obviamente tA = xA
j = pAj,m. Seja t = f(t1, . . . , tn), com ydk(t1) = xj1 , . . . , ydk(tn) = xjn ,
para xj1 , . . . , xjn ∈ Xm. Por hipotese de inducao tA1 = pAj1,m, . . . , tAn = pAjn,m. Assim sendo,
ydk(t) = ydk(tk) = xjk e como fA = pAk,n, entao tA = fA(tA1 , . . . , tAn ) = tAk = pAjk,m.
92 CAPITULO 4. EXEMPLOS
Caracterize-se Diag(n)m, para m > 1. Seja L ⊆ T(n)(Xm) uma linguagens arvore re-
conhecida por alguma algebra de PA2(n). Assim sendo, existe uma algebra
A ∈ PA2(n), um homomorfismo ϕ : T(n)(Xm) → A e um conjunto P ⊆ A, tal que
L = ϕ−1(P ). Suponha-se que A = 〈0, 1; pk,n〉, para 1 6 k 6 n. Considerem-se os
conjuntos Z0 = x ∈ Xm : ϕ(x) = 0 e Z1 = x ∈ Xm : ϕ(x) = 1. Denote-se
aj = ϕ(xj) ∈ 0, 1, para j = 1, . . . ,m. Considerem-se os diferentes casos:
• Se P = 0, 1, entao L = ϕ−1(P ) = T(n)(Xm) e o conjunto de todos os termos
m-arios do tipo (n). Se P = ∅, entao ϕ−1(P ) = ∅.
• Se P = 0, entao L = t ∈ T(n)(Xm) : ϕ(t) = 0 = t : tA(a1, . . . , am) = 0. Pela
Proposicao 4.2.2, para t ∈ T(n)(Xm) se ydk(t) = xj entao tA = pj,m, para 1 6 j 6 m,
e neste caso tA(a1, . . . , am) = aj = ϕ(xj). Logo, L = t ∈ T(n)(Xm) : ydk(t) ∈ Z0 e
portanto
L =⋃
x∈Z0
t ∈ T(n)(Xm) : ydk(t) = x.
O caso P = 1 e analogo ao anterior e vem L =⋃x∈Z1
t ∈ T(n)(Xm) : ydk(t) = x.
Estas unioes sao finitarias, visto que os conjuntos Z0 e Z1 sao finitos.
Pelo facto de Diag(n)m ser gerado pelas linguagens reconhecidas por algebras de
PA2(n) e pelo observado acima, conclui-se que Diag(n)m e gerado pelas linguagens da
forma L ⊆ T(n)(Xm), tal que existe k ∈ 1, . . . , n e x ∈ Xm com ydk(t) = x, para todo
t ∈ L. Por outras palavras, sao as linguagens L ⊆ T(n)(Xm), para a quais todos os termos
de L tem o mesmo k−rotulo, para um determinado 1 6 k 6 n. Dado isto, dizer-se-a
que uma linguagem L ⊆ T(n)(Xm) e k-rotulada, se todos os termos de L tem o mesmo
k−rotulo, ou diz-se simplesmente que L e rotulada. O Teorema seguinte resume todos
estes resultados e observacoes.
Teorema 4.2.3. Para m > 1, Diag(n)m e a corpo de subconjuntos gerado pelas linguagens
rotuladas.
Do Corolario 4.1.4, ja se pode concluir que Diag(n) e uma variedade solida de lin-
guagem de arvore. Conclui-se ate, que e a menor variedade de linguagens de arvore solida,
nao trivial, em VL(n). No entanto, nao e difıcil de se verificar directamente.
4.3. ALGEBRAS NILPOTENTES 93
Sejam > 1 e L ∈ Diag(n)m uma linguagem de arvore. Pela Proposicao 3.2.3, basta ver-
ificar que σ−1(L) ∈ Diag(n)m, para toda a hipersubstituicao σ ∈ Hyp(n). Pelo Teorema
anterior, as linguagens de Diag(n)m sao dadas por combinacoes booleanas de linguagens
rotuladas. Logo, basta considerar o caso em que L e uma linguagem rotulada.
Denote-se por σt ∈ Hyp(n) a hipersubstituicao que aplica f no termo t ∈ T(n)(Xn).
Sera necessario o seguinte Lema.
Lema 4.2.4. Para todo o termo t ∈ T(n)(Xm), com m > 1, tem-se que ydk(t) = σxk[t],
para todo k = 1, . . . , n.
Demonstracao: Prova-se por inducao estrutural. Se t = xj ∈ Xm, entao ydk(t) = xj =
σxk[t]. Seja t = f(t1, . . . , tn) e suponha-se que ydk(t1) = σxk
[t1], . . . , ydk(tn) = σxk[tn].
Entao, ydk(t) = ydk(tk) = σxk[tk] e σxk
[t] = xk(σxk[t1], . . . , σxk
[tn]) = σxk[tk]. Logo,
ydk(t) = σxk[t].
Como L ⊆ T(n)(Xm) e uma linguagem rotulada, existe uma variavel xj ∈ Xm e
k ∈ 1, . . . , n, para 1 6 j 6 m, tal que σxk[t] = xj , para todo o termo t ∈ L. Para
uma qualquer hipersubstituicao σs ∈ Hyp(n), pretende-se verificar que σ−1s (L) e tambem
uma linguagem rotulada. Seja t ∈ σ−1s (L), entao σs[t] ∈ L e portanto xj = ydk(σs[t]) =
σxk[σs[t]] = (σxk
σs)[t] = σxℓ[t] = ydℓ(t), onde σxk
[s] = xℓ e o k-rotulo do termo s. Logo,
a linguagem σ−1s (L) e ℓ−rotulada pela variavel xj e portanto σ−1
s (L) ∈ Diag(n)m, o que
permite concluir que Diag(n) e solida.
4.3 Algebras nilpotentes
Uma algebra A do tipo τ diz-se nilpotente se existe um elemento a ∈ A, dito absorvente,
e k > 1 tal que tA = a, para todo o termo t ∈ Tτ (Xω), com hg(t) > k. O grau de nilpotencia
de A e menor inteiro k, para o qual se verifica esta condicao.
Seja Nil(τ) a classe de todas as algebras finitas nilpotentes do tipo τ . Considere-se
a sequencia de conjuntos N il(τ) = (N iln(τ))n>1, tal que para cada n > 1, o conjunto
N iln(τ) contem todas as linguagens finitas e cofinitas de Tτ (Xn).
Proposicao 4.3.1. [Ste92] A sequencia N il(τ) e uma variedade de linguagens de arvore
e N il(τ)a = Nil(τ).
94 CAPITULO 4. EXEMPLOS
O seguinte Lema e fundamental neste exemplo.
Lema 4.3.2. [DW03] Seja σ ∈ Reg(τ) uma hipersubstituicao regular e t ∈ Tτ (Xω), entao
hg(σ[t]) > hg(t).
Relativamente a pseudovariedade das algebras nilpotentes prova-se o seguinte.
Proposicao 4.3.3. A classe de algebras finitas Nil(τ) e uma pseudovariedade
Reg(τ)-solida.
Demonstracao: Basta verificar que a pseudovariedade Nil(τ) e fechada para algebra
Reg(τ)-derivadas. Seja σ ∈ Reg(τ) e A ∈ Nil(τ) uma algebra nilpotente de grau de
nilpotencia k, com k > 1. Pretende-se verificar que σ[A] e tambem um algebra nilpotente.
Seja t ∈ Tτ (Xω), tal que hg(t) > k. Pelo Lema anterior tem-se que hg(σ[t]) > hg(t) > k.
Entao, tσ[A] = σ[t]A = a, pois A e uma algebra nilpotente, onde a e o elemento absorvente
de A. Logo, σ[A] e tambem uma algebra nilpotente de grau k e portanto Nil(τ) e uma
pseudovariedade Reg(τ)-solida.
Pode-se concluir o seguinte resultado, como consequencia da Proposicao 3.2.1.
Corolario 4.3.4. A variedade de linguagens de arvore N il(τ) e Reg(τ)-solida.
4.4 Linguagens de arvore determinadas
As linguagens de palavras determinadas sao caracterizadas pelos seus sufixos. A nocao
correspondente a sufixo num termo e a de raiz.
Seja τ um tipo de algebras finito. A raiz de comprimento k de um termo t ∈ Tτ (X),
ou a k−raiz de t, que se representa Rk(t), com k > 0, e definida por:
i) R0(t) = ε, onde ε e um sımbolo especial que representa a raiz vazia, e R1(t) = root(t),
para todo o termo t ∈ Tτ (X);
ii) para k > 2, se hg(t) < k entao Rk(t) = t; se hg(t) > k entao
Rk(t) = fi(Rk−1(t1), . . . , Rk−1(tni)), com t = fi(t1, . . . , tni
) e i ∈ I.
4.4. LINGUAGENS DE ARVORE DETERMINADAS 95
Onde root(t) = x, se t = x ∈ X e root(t) = fi, se t = fi(t1, . . . , tni), para algum i ∈ I.
Exemplo 4.4.1. Seja τ = (2, 1) um tipo de algebra e f, g um conjunto de sımbolos
operacionais do tipo τ , onde f e o sımbolo operacional binario e g o sımbolo operacional
unario. Seja t ∈ Tτ (X3) o termo t = f(x1, g(f(x3, x1)).
t t
t
tt
t
@@
@@
@@
@@
x1 x3
x1
f
g
f
A altura do termo e hg(t) = 3. Logo,
R0(t) = ε, R1(t) = f, R2(t) = f(R1(x1), R1(g(f(x3, x1))) = f(x1, g)
e
R3(t) = f(R2(x1), R2(g(f(x3, x1))) = f(x1, g(R1(f(x3, x1))) = f(x1, g(f)).
Para todo k > 4, vem sempre que Rk(t) = t.
Uma linguagem L ⊆ Tτ (Xn) diz-se k-determinada, ou simplesmente determinada, para
k > 0, se para todo t, s ∈ Tτ (Xn) com Rk(t) = Rk(s), t ∈ L se e so se s ∈ L.
Seja Dk(τ) = (Dkn(τ))n>1 a sequencia onde Dk
n(τ) denota o conjunto de todas as
linguagens k-determinadas de Tτ (Xn). Considere-se a sequencia D(τ) = (Dn(τ))n>1, com
Dn(τ) =⋃
k>0
Dkn(τ)
o conjunto de todas as linguagens determinadas de Tτ (Xn). Das definicoes anteriores,
concluem-se as inclusoes
D0(τ) ⊆ D1(τ) ⊆ · · · ⊆ Dk(τ) ⊆ · · · ⊆ D(τ).
Para k > 0, define-se a relacao ∼k,n no conjunto Tτ (Xn), tal que
t ∼k,n s se e so se Rk(t) = Rk(s),
96 CAPITULO 4. EXEMPLOS
com t, s ∈ Tτ (Xn). Por vezes, denota-se simplesmente t ∼k s, se t ∼k,n s, para algum n > 1
e termos t, s ∈ Tτ (Xn). Tem-se que t ∼0,n s, para todo os termos t, s ∈ Tτ (Xn) e portanto
∼0 e a relacao total em Tτ (Xn). Para k > 1, tem-se que t ∼k s se t = fi(t1, . . . , tni) e
s = fi(s1, . . . , sni), para algum i ∈ I e tais que t1 ∼k−1 s1, . . . , tni
∼k−1 sni. Da definicao
de linguagem k−determinada, vem que L ⊆ Tτ (Xn) e k-determinada se ∼k,n satura L.
Logo, concluem-se os seguintes resultados.
Lema 4.4.2. [Ste92] Uma linguagem L ⊆ Tτ (Xn) e k−determinada, para k > 0, se e so
se ∼k,n⊆∼L .
Lema 4.4.3. [Ste92] Para todo k > 0 a relacao ∼k,n e uma congruencia de ındice finito
da algebra Tτ (Xn), com n > 1.
O facto de se restringir no inıcio o estudo a linguagens sobre tipos finitos e fundamental
no resultado anterior, para garantir a finitude do numero de classes.
Seja Γk,n = [∼k,n) o filtro de congruencias de ındice finito em ConTτ (Xn), gerado
por ∼k,n.
Teorema 4.4.4. [Ste92] Para todo k > 0, a sequencia Γk = (Γk,n)n>1 e uma variedade
de congruencias. Alem disso, Γℓk = Dk(τ) e as sequencias Dk(τ) e D(τ) sao variedades de
linguagens de arvore.
Pretende-se verificar se estas variedades sao M -solidas, para algum M ⊆ Hyp(τ).
Vejam-se os seguintes Lemas.
Lema 4.4.5. Sejam t ∈ Tτ (Xn) e s1, . . . , sn, t1, . . . , tn ∈ Tτ (X) termos do tipo τ . Para
k > 0 , se hg(t) > 1 e t1 ∼k−1 s1, . . . , tn ∼k−1 sn, entao t(t1, . . . , tn) ∼k t(s1, . . . , sn).
Demonstracao: Prove-se por inducao sobre k. Para k = 0, 1 e obvio. Seja k > 2 e
suponha-se que a propriedade e valida para k − 1. O termo t tem altura maior que um,
logo nao e uma variavel. Seja t = fi(r1, . . . , rni), para i ∈ I. Tem-se que
t(t1, . . . , tn) = fi(r1(t1, . . . , tn), . . . , rni(t1, . . . , tn)) e
t(s1, . . . , sn) = fi(r1(s1, . . . , sn), . . . , rni(s1, . . . , sn)).
4.4. LINGUAGENS DE ARVORE DETERMINADAS 97
Pelo facto de ∼k−1 ser uma congruencia, vem que
r1(t1, . . . , tn) ∼k−1 r1(s1, . . . , sn), . . . , rni(t1, . . . , tn) ∼k−1 rni
(s1, . . . , sn).
Logo, t(t1, . . . , tn) ∼k t(s1, . . . , sn).
Lema 4.4.6. Sejam t, s ∈ Tτ (X) e σ ∈ Pre(τ). Para k > 0, se t ∼k s entao σ[t] ∼k σ[s].
Demonstracao: Prove-se por inducao sobre k. O caso base k = 0 e obvio. Seja k > 1 e
suponha-se que a propriedade e valida para k − 1. Seja σ ∈ Pre(τ) e t, s ∈ Tτ (Xn), tal
que t ∼k s. No caso em que um dos termos e uma variavel, entao ambos sao a mesma
variavel e o Lema conclui-se trivialmente. Caso contrario, tem-se que t = fi(t1, . . . , tni)
e s = fi(s1, . . . , sni), para algum i ∈ I, e com t1 ∼k−1 s1, . . . , tni
∼k−1 sni. Deste modo,
vem que σ[t] = σ(fi)(σ[t1], . . . , σ[tni]) e σ[s] = σ(fi)(σ[s1], . . . , σ[sni
]). Por hipotese de
inducao, vem que σ[t1] ∼k−1 σ[s1], . . . , σ[tni] ∼k−1 σ[sni
]. Logo, pelo facto de σ(fi) nao
ser uma variavel e pelo Lema 4.4.5, conclui-se que σ[t] ∼k σ[s].
Proposicao 4.4.7. Para k > 0, a sequencia Γk = (Γk,n)n>1 e uma variedade de con-
gruencias pre-solida.
Demonstracao: Seja k > 0, pelo Teorema 4.4.4, Γk e uma variedade de congruencias.
Seja σ ∈ Pre(τ) uma pre-hipersubstituicao e θ ∈ Γk,n uma congruencia. Logo, tem-se o
homomorfismo σ : Tτ (X) → σ[Tτ (X)]. E necessario verificar que (σ× σ)−1θ ∈ Γk,n. Para
tal, basta verificar que ∼k,n⊆ (σ × σ)−1θ. Sejam t, s ∈ Tτ (Xn), tais que t ∼k,n s. Pelo
Lema 4.4.6, vem que σ[t] ∼k,n σ[s] e portanto (t, s) ∈ (σ × σ)−1 ∼k,n⊆ (σ × σ)−1θ. Logo,
∼k,n⊆ (σ× σ)−1θ e portanto (σ× σ)−1θ ∈ Γk,n. Donde se conclui que Γk e uma variedade
pre-solida de congruencias.
Aplicando o Teorema 3.2.1, tem-se o seguinte resultado.
Corolario 4.4.8. Para k > 0, tem-se que Dk(τ) e D(τ) sao variedades de linguagens de
arvore pre-solidas.
98 CONCLUSAO
Conclusao
A aplicacao das hipersubstituicoes nas linguagens de arvore surge apenas em [DW02]
e [DP01], relacionada com tradutores de arvore e automatos de arvore. Nesta dissertacao,
encontrou-se mais uma aplicacao das hipersubstituicoes e das estruturas M -solidas, no
estudo das linguagens de arvore. Na seccao 3.1, deu-se a caracterizacao das variedades
de linguagens e das variedades de congruencias, correspondentes as pseudovariedades M -
solidas. No caso das linguagens de arvore, na seccao 3.2, mostrou-se mesmo que os mem-
bros M -solidos, dos tres reticulados L(τ), VL(τ) e VC(τ), formam subreticulados com-
pletos isomorfos. No caso das linguagens de palavras, nao se obtem tao bons resultados.
O problema e que existem poucas hipersubstituicoes proprias, para a pseudovariedade
de todos os semigrupos finitos. Logo, este caso necessita de ser mais profundamente es-
tudado. Principalmente, no sentido de se investigar se a limitacao da Proposicao 3.1.9,
”V a e M⋂P (V )-solida”, e obrigatoria.
No Capıtulo 4, deram-se alguns exemplos de conhecidas variedades de linguagens, que
sao M -solidas, para determinados monoides M de hipersubstituicoes. Nomeadamente,
provou-se que a variedade das linguagens determinadas e pre-solida e que a variedade das
linguagens nilpotentes e Reg(τ)-solida. Mostrando assim, que estes resultados encontram
aplicacao no seio das linguagens de arvore. Contudo, falta investigar outras conhecidas
variedades de linguagens de arvore, como as reverso-determinadas, aperiodicas, locais,
testaveis na fronteira, entre outras [Ste98]. A aplicacao de uma hipersubstituicao numa
arvore e uma operacao bastante rica e poderosa, em termos de resultados, que nao pode
ser simulada por homomorfismos inversos, nem quocientes. Daqui resulta, que as hiper-
substituicoes parecem ser uma ferramenta fundamental, num estudo mais profundo das
linguagens de arvore.
Em [Esi99] e [Ste98] e generalizado o estudo das correspondencias tipo-Eilenberg, a
variedades de linguagens que contem linguagens sobre todos os tipo finitos. Neste caso,
99
100 CONCLUSAO
Steinby considerou variedades generalizadas, que sao pseudovariedades contendo algebras
de todos os tipo finitos, e Esik considerou variedades de teorias algebricas. As teorias
algebricas sao equivalentes a clones de operacoes termo, das algebras livres. Neste con-
texto mais geral, consideram-se aplicacoes entre as algebras de termos dos diferentes
tipos, que nao sao mais do que casos especiais de M -semi-homomorfismos fracos, para
determinados monoides de hipersubstituicoes. No caso das variedades generalizadas de
Steinby, consideram-se morfismos de arvore alfabeticos, que podem ser obtidos a partir
das hipersubstituicoes alfabeticas. No caso das variedades de teorias algebricas de Esik,
utilizam-se morfismos de clone. Neste ultimo caso, Esik apresenta as nocoes de ∗-variedade
de linguagens (fechadas para morfismos inversos de clones) e +-variedade de linguagens
(fechadas para morfismos inversos de clones sem operacoes projeccao). Em [Esi99], prova-
se que as linguagens determinadas sao uma +-variedade de linguagens, no sentido de
Esik. Daqui sai, que as +-variedades de linguagens de Esik estao relacionadas com as pre-
hipersubstituicoes, assim como as ∗-variedades de linguagens, estao relacionadas com o
monoide de todas as hipersubstituicoes. Portanto, afirma-se que as hipersubstituicoes sao
a ferramenta adequada, para estudar as diferentes classes de linguagens de arvore. Neste
sentido, o autor conjectura que considerando hipersubstituicoes entre os varios tipos fini-
tos, que se prova serem uma categoria, e possıvel generalizar os resultados de Esik e
Steinby.
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[Ste98] M. Steinby, General varieties of tree languages, Theor. Comput. Sci. 205 (1998),
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[Tay81] W. Taylor, Hyperidentities and hypervarieties, Aequationes Mathematicae 23
(1981), 111–127.
[The80] D. Therien, Classifications of regular languages by congruences, Rep. CS-80-19,
Univ. Waterloo, Dept. Comput. Sci., Waterloo, Ontario 1980.
[Wec92] W. Wechler, Universal Algebra for Computer Scientist, Springer-Verlag, Berlin,
1992.
Indice
algebra, 5
de Boole, 7
de termos, 15
derivada, 35
diagonal, 91
finita, 6
finitamente gerada, 8
livremente gerada, 16
nilpotente, 93
projeccao, 89
quociente, 10
rectangular, 89
sintactica, 64, 68
subdirectamente irredutıvel, 12
trivial, 6
ınfimo, 7
adequacao, 20
altura, 16
anti-isomorfismo de ordem, 22
aplicacao
isotona, 22
monotona, 22
automato, 69
cancelamento, 64
classe equacional, 18
clone, 5
polinomial, 15
complementacao, 8
conexao de Galois, 24
congruencia, 9
completamente invariante, 19
de ındice finito, 10
sintactica, 62
totalmente invariante, 50
conjunto
dijuntivo, 68
fechado, 22
reconhecıvel, 69
saturado, 62
conjunto parcialmente ordenado, 7
corpo de subconjuntos, 8
correccao, 20
divisor, 9
dualmente isomorfos, 22
endomorfismo, 9
equacao, 17
satisfazer uma, 17
filtro, 21
filtro de equacoes, 21
grupo, 6
hiperidentidade, 43
105
106 INDICE
hipersatisfazer, 43
hipersubstituicao, 34
alfabetica, 39
de ordem k, 39
identidade, 34
projeccao, 39
regular, 39
simetrica, 39
homomorfismo, 9
canonico, 10
inverso, 64
produto, 11
sintactico, 64
identidade, 17
imagem homomorfa, 9
imersao subdirecta, 12
isomorfismo, 9
isomorfismo de ordem, 22
kernel, 10
logica
equacional, 19
hiperequacional, 51
linguagens
de arvore, 70
de palavras, 70
determinadas, 95
reconhecıveis, 69
rotuladas, 92
monoide, 6
operacao, 5
projeccao, 5
termo, 15
operacoes fundamentais, 6
operador de fecho, 22
operadores conjugados, 29
ponto fixo, 22
pre-hipersubstituicao, 39
Princıpio de inducao estrutural, 9
produto
directo, 11
subdirecto, 12
propriedade universal, 16
pseudovariedade, 20
equacional, 20
reticulado, 7
distributivo, 7
algebrico, 7
completo, 7
limitado, 7
semi-homomorfismo fraco, 48
semi-reticulado, 6
semigrupo, 6
aperiodico, 6
comutativo, 6
nilpotente, 6
sistema de fecho, 23
sobreposicao, 5
subalgebra, 8
subpseudovariedade, 73
subrelacao Galois-fechada, 28
subuniverso, 8
supremo, 7
teoria
INDICE 107
equacional, 19
hiperequacional, 43
ultimamente hipersatisfaz, 55
ultimamente satisfaz, 21
universo, 6
variaveis, 14
variedade, 13
M -solida, 44
M -solida de congruencias, 85
M -solida de linguagens, 83
de congruencias, 72
de linguagens, 71
Errata
pagina, linha ou local onde esta devia estar
11, Corolario 0.1.16 Corolario 0.1.16 (suprimir o Corolario)(1)
16, linha 11 U(Y ) diz-se que U(Y ) e a algebra K-livre
livremente gerada por Y livremente gerada por Y .
17, linha 10 op(t) + op(t1) + · · · op(tn) op(t) + op(t1) + · · · + op(tn)
17, linha 16 Observe-se Observem-se
18, linha 17
22, linha 9 A Proposicao O Teorema
25, linha 24 o Teorema a Proposicao
31, Corolario 0.7.8 sao subreticulados completos sao subreticulados completos
dualmente isomorfos
47, linha 14 S(τ) SN (τ)
48, linha 25 σ ∈M σ ∈ Hyp(τ)
54, linha 17 pelo Teorema 1.3.10 pela Proposicao 0.7.5 (5)
57, linha 6 F ⊆ FEq(τ) um filtro F ⊆ FEq(τ) um conjunto de filtros
58, linha 10 ModMh FIdM
h FModMh FIdM
h
59, linha 3 Proposicao 0.6.4 Proposicao 0.6.4 e do Teorema 0.6.3
59, linha 4 subrelacao subrelacoes
67, linha 8 (a, b) ∈ ϕ−1(p−1L) (a, b) ∈∼ϕ−1(p−1L)
71, linha 2 n ∈ N n > 1
71, linha 5 θ1 ∈ ConnV e θ2 ∈ ConFnV θ1 ∈ ConFnV e θ2 ∈ ConnV
72, Lema 2.3.4 ConFnV ConnV
73, linha 1
75, linha 11 VfFnV/θ : θ ∈ Γn, n > 1 Γa := VfFnV/θ : θ ∈ Γn, n > 1
77, linha 8 isomorfos isomorfismos
78, linha 30 ϕ η η ϕ
81, linha 4 L(V ) Lps(V )
99, linha 7
81, linha 8 LpsM (V ) Sps
M (V )
83, linha 15 Pelo Lema 2.1.7 pois pelo Lema 2.1.7
84, linha 13 V -reconhecıvel reconhecida por A ∈ V
96, Lema 4.4.5 Prove-se por inducao (nao e necessario usar inducao)
(1) O Corolario 0.1.16 e falso, e verdadeiro quando a algebra C e livre relativamente as
outras duas. Quando na seccao 2.3 e usado o Corolario 0.1.16, deve-se considerar como
justificacao o facto de FnV ser V -livre.