Corrida para o fundo? Fábio Wanderley Reis A crise das bolsas deflagrada por Xangai evidencia e dramatiza de novo o aspecto de incerteza e r isco envolvido num traço de crucial relevância política da nova di nâmica econômica: a finance irização e a singularmobilidade dos capitais. Essa mobilidade é talvez o principal fator a alterar os termos do conflito distributivo nos diferentes países, com consequências para a operação da democracia e eventualmente mesmo a possibilidade de sustentá- la, ou para sua implantação mais sólida onde se mostre precária. Os estudos têm convergido, com discrepâncias ocasionais de maior ou menor monta, em torno da conexão entre as perspectivas democráticas e a mobilidade de que dispõe o capital, com o caráter mais ou menos “específico” dos recursos em que ele se traduz: o conflito distributivo terá feições diferentes conforme os trabalhadores, ou as forças pró-redistribuição em geral, devam defrontar-se com donos de terra, num extremo, ou, no outro, com proprietários de capital financ eiro facilmente deslocável de um p aís a outro –tanto mais no ambiente tecnológico da atualidade, em que nem Estados poderosos chegam a ter condiçõ es de controlar a movimentação dos recursos. Na análise de Carles Boix, p or exemplo, no premiado volu me “Democracy and Redistribution”, de 2003, a sorte da democracia é ligada ao jogo que a mobilidade do capital manteria com dois outros fatores: o grau de desigualdade existente na sociedade e os recursos políticos em poder dos estratos populares, em particular sua organização e capacidade de mobilização e ação. É bem claro, porém, que esses três fatores dificilmente poderiam sertomados como agindo com independência recíproca. A mobilidade do capital e a globalização afetam de maneira negativa as organizações trabalhistas e populares e sua capacidad e de ação, bem como a do p róprio Estado como agente redistributivo. E, se essa mobilidade pode atuar de modo a diminuir, junto aos proprietários, o tem or de radicalismos e revoluções e assim disp ô-los 1
